APRESENTAÇÃO Tércia Montenegro
Emily Brontë demonstrou a capacidade que a literatura tem de expandir – fazendo crescer nossos pensamentos, e em consequência as próprias dimensões do mundo. É difícil conceber uma vida tão solitária quanto a dela; Emily cresceu num severo lar inglês do século XIX e passou quase toda a idade adulta em reclusão doméstica. Na companhia das irmãs Charlotte e Anne, também escritoras, ela aprendeu a desenvolver experiências alternativas, aventuras através das palavras. Hoje sabemos o quanto de observação foi importante nesse processo criador. A atmosfera de Haworth, com sua paisagem triste e cruel, assim como a residência, isolada pela chuva, neve ou monotonia, eram cenários que a autora conhecia profundamente. Em seu romance também há vários outros elementos emprestados da realidade, tais como a recorrente tuberculose, que vitimou tantos da família Brontë, e ainda uma homenagem a Thabitha (Tabby), a empregada doméstica que durante a infância costumava entreter Emily e as irmãs com relatos. Em O morro dos ventos uivantes, Nelly Dean encarna essa figura. Desde o título, fica evidente o ambiente de mistério da história que iremos ler. Wuthering Heights, no original em inglês, sugere um espaço alto, deserto e assombrado. Emily Brontë deixa o(a) leitor(a) em alerta – e contribui para esse suspense a construção narrativa em forma de camadas. É uma personagem transitória, alheia aos acontecimentos, quem primeiro nos relata o que se passou. O senhor Lockwood anuncia, bem no início, que tudo ocorreu numa propriedade do senhor Heathcliff alugada por ele. Curioso a respeito do temperamento desse homem, o senhor Lockwood incentiva a senhora Nelly Dean, 7