O Chamado do Oceano

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Os recursos marinhos do Mundo da Superfície estão sendo subtraídos, ao mesmo tempo que relíquias antigas e tesouros são roubados do grande museu da capital… E ninguém sabe o motivo.

O tempestuoso quarto livro da série Os Guardiões do Mundo da Superfície coloca nossos heróis diante da maior ameaça que já enfrentaram, algo que está destruindo os oceanos do Mundo da Superfície… ao mesmo tempo que Lady Craven, o Exército Imperial Griefer e Térmite, uma criatura feita de pura maldade, atacam o grupo por todos os lados.

O CHAMADO DO OCEANO

Esse é o início de uma nova aventura para o Capitão Rob e os soldados do Batalhão Zero, uma história que coloca nossos heróis contra Lady Craven, o Exército Imperial Griefer e a temida Térmite. Além disso, o Batalhão Zero precisará arquitetar um arriscado plano para recuperar o que pode ser a salvação da capital dos Biomas Unidos do Mundo da Superfície.

Nancy Osa

O BATALHÃO ZERO ENFRENTA A MAIOR AMEAÇA DESDE SUA FORMAÇÃO NESTE QUARTO LIVRO DA SÉRIE OS GUARDIÕES DO MUNDO DA SUPERFÍCIE

Série Os Guardiões do Mundo da Superfície - 4

Este volume também nos apresenta, pela primeira vez, as origens de Jools, o gênio adolescente do grupo sem a menor habilidade social e capaz de criar os planos mais mirabolantes. O que se esconde por trás das artimanhas e ironias do jovem inglês? E o que isso pode ter a ver com os acontecimentos recentes?

Leia também:

NANCY OSA é autora de Cuba 15, um premiado romance para jovens adultos. Sua sede por aventura e paixão pela construção de mundos levaram-na a adorar Minecraft, onde cada dia é uma nova jornada e a sobrevivência depende da criatividade – e da ajuda de alguns bons amigos.

WWW.EDITORANEMO.COM.BR

ISBN 978-85-8286-296-4

9 788582 862964

uma aventura não of icial de

Minecraft

Nancy Osa

Traduzido por Rodrigo Seabra

É no meio de todo o caos que o Batalhão precisa orquestrar uma complexa operação para reaver um tesouro roubado – que parece ser a única esperança daqueles que vivem na capital dos Biomas Unidos do Mundo da Superfície. O chamado do oceano é mais um livro repleto de ação e aventura da autora Nancy Osa.



NANCY OSA

O CHAMADO DO OCEANO Os Guardiões do Mundo da Superfície Livro 4

De vento em popa...

Tradução de Rodrigo Seabra


Copyright © 2015 Skyhorse Publishing, Inc. Publicado mediante acordo com Skyhorse Publishing, Inc. Copyright © 2016 Editora Nemo Título original: Defenders of the Overworld #4: Deep Ocean Six Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. O Chamado do Oceano é uma obra original de fanfiction de Minecraft que não está filiada a Minecraft, Mojang AB, Notch Development AB ou Scholastic, Inc. É uma obra não oficial e não está sancionada nem depende de aprovação dos criadores de Minecraft. Minecraft® é uma marca registrada de Mojang AB.

gerente editorial

preparação e revisão

Arnaud Vin

Renata Silveira

editores assistentes

capa

Carol Christo Eduardo Soares

Carol Oliveira (sobre ilustração de Victória Queiroz/VicTycoon)

assistente editorial

diagramação

Jim Anotsu

Guilherme Fagundes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Osa, Nancy O Chamado do Oceano: uma aventura não oficial de Minecraft / Nancy Osa ; tradução Rodrigo Seabra. -- 1. ed. -- São Paulo : Nemo, 2016. -- (Os Guardiões do Mundo da Superfície, 4) Título original: Defenders of the Overworld #4 : Deep Ocean Six ISBN 978-85-8286-296-4 1. Aventuras e aventureiros 2. Ficção - Literatura infantojuvenil 3. Ficção - Literatura juvenil I. Título. II. Série. 16-02006

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Aventuras : Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5 2. Aventuras : Ficção : Literatura juvenil 028.5

A NEMO É UMA EDITORA DO GRUPO AUTÊNTICA

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Para Marc e seus colegas professores de inglĂŞs ...com minhas desculpas a Sara e seus colegas pela piada com bibliotecĂĄrios.



CAPÍTULO 1

E

nquanto o Sol mergulhava no horizonte dourado e rosa, o contramestre do Batalhão Zero estava sentado na área do acampamento discutindo com o sargento de armas os planos para aquela noite. Seus quatro companheiros de cavalaria trabalhavam ali perto. O adolescente magro e muito branco olhava para o mercenário tatuado. – A não ser que eu esteja enganado, e nunca estou, esse vagãozinho de mineração tem a chave para o nosso sucesso. – Jools passou a mão pelos curtos cabelos castanhos e ondulados e esperou Turner elogiar suas habilidades de previsão. Turner, por sua vez, apenas coçou a barriga bronzeada por um buraco na camiseta. – Bom, tudo bem. Ninguém é perfeito. Jools fez uma careta. Se seus cálculos estivessem corretos, antes que a Lua aparecesse, o grupo teria simultaneamente destruído um mob de traças, matado o griefer que as controlava e desarmado uma bomba que colocava em risco mais de uma centena de desavisados habitantes das vilas. Era algo bem próximo da perfeição. O contramestre perfeccionista mal podia se lembrar da última vez em que um plano seu não tinha funcionado. Na verdade, conseguia contar seus poucos fracassos com os dedos de uma só mão. 7


– Não estar certo não é a mesma coisa que estar errado – Jools observou. – Senão, vejamos. Quando é que eu não estava certo? Bom, teve aquela vez em que eu cismei que conseguiria voar se fizesse asas de filme plástico. Foi um fracasso, pra dizer o mínimo. Apesar de que, se eu tivesse continuado tentando, arrisco dizer que a próxima grande descoberta da engenharia aeroespacial teria sido minha. Depois teve o vulcãozinho da aula de ciências que mirrou e não entrou em erupção, mas isso só porque eu mesmo estimei a chance de ele entrar em ação em menos de um por cento. Parece que eu era o único na minha sala que queria realismo – ele foi contando, puxando as mangas de seu casaco de tweed, que combinava com os jeans folgados. Pensou mais um pouco. – Ah, sim. Meu plano de circum-navegar o Mundo da Superfície andando em linha reta tinha uma falha óbvia. Mas nem eu poderia ter previsto isso quando era um novato que tinha acabado de entrar no jogo. – O quê? Que o Mundo da Superfície não é esférico? – Touché. Mas, fora esses pequenos eventos que podem ser facilmente desconsiderados, minha ficha não tem fracassos. E esse plano que eu proponho deve ser igualmente imaculado. – Imaculado, hein? – Turner lançou um olhar cético ao colega. – Então você vai me dizer que sempre tem sorte no amor? Eu não lembro de ter visto você com alguma boa companhia nos braços nesse tempo todo que eu te conheço. – Ele fez uma pausa. – E cavalos não contam – o mercenário musculoso completou, recostando-se em seu bloco de terra com uma expressão convencida no rosto. “Ai. Essa doeu.” Jools estava mesmo pensando em seu animal de estimação, mas só porque estava chegando a hora de lixar os cascos de Beckett. – Tudo bem, mas ainda não é 8


tarde demais para avisar a sua patroa a respeito da sua nova namoradinha – Jools jogou de volta. Vinha guardando aquela ameaça justamente para uma boa oportunidade como aquela. Aquilo nem abalou Turner. – Rose? É passado, senhor contramestre. Aquela menina não chega nem a amiga. Nunca foi. Sundra não precisa ficar sabendo dela. Por que, em vez disso, você não me conta das suas conquistas? E claro que eu não estou falando de zumbis e esqueletos. Jools não estava acostumado a receber farpas de Turner que ferissem de verdade seus sentimentos. “Como ele poderia saber que aqueles lixos dos meus colegas de sala votaram em mim como ‘o mais provável de continuar solteiro’? Posso ser meio sozinho mesmo, mas é bem difícil conhecer mulheres em um mundo como este, onde elas podem aparecer aleatoriamente. Não é como se eu pudesse ir procurar num salão de beleza onde elas vão tingir armaduras ou seja lá onde mulheres se reúnem”. O caso é que Turner parecia se dar bem nesse departamento. Magoado, Jools voltou a conversa para o problema em questão: – Minhas reais conquistas, como você tão bem colocou, consistem em estratégias infalíveis que resultam em ganhos de algum tipo. Essa aqui em particular vai nos render a incalculável virtude da paz mundial. Vai querer competir com isso? Turner fez cara de mau humor. – Olha só, colega. Essa história de paz é superestimada. Acho que nós dois sabemos, lá no fundo, que um Mundo da Superfície cheio de leis seria consideravelmente menos atraente pra caras feito eu e você. A gente ganha onde tem conflito. Nós somos pagos por quem tiver mais a oferecer. – Com certeza o conflito gera vantagens – Jools concordou. – Mas isso não quer dizer que nós não possamos 9


ganhar a vida honestamente em um Mundo da Superfície com mais equidade. – “Honestamente”? Você não tá falando a minha língua, soldado. – Se não honestamente, pelo menos de um jeito correto. Tudo bem, eu sei que “correto” também não é suficiente pra você. Mas então, por que você se juntou a esta cavalaria? – perguntou, arregalando os olhos castanho-claros algumas vezes e piscando deliberadamente. – Pela mesma razão que você. Um homem deve manter a terra debaixo dos pés, não em cima. Jools não estava acostumado a concordar com o sargento de armas do batalhão, mas Turner tinha razão. Ambos tinham se aliado ao Batalhão Zero de Rob quando a aliança griefer ameaçou seu estilo de vida, que consistia em oferecer serviços pelo melhor lance caso a caso. Na cabeça de Jools, essa carreira como freelancer é o que tinha possibilitado a ele viver com tanta liberdade. Tinha bastante tempo livre, sempre tinha trabalho quando estava procurando alguma coisa e nunca precisava tomar partidos de maneira permanente. Mesmo aquele bico com o batalhão era temporário até que ele voltasse para sua vida de sempre. “Ah, bons tempos aqueles”, Jools pensou. Antes que os líderes griefers fechassem as fronteiras dos biomas na tentativa de dominar o Mundo da Superfície, o autoproclamado consultor de tropa tinha levado seu garanhão palomino Beckett para qualquer lugar onde soprassem os ventos da sorte. Se o sindicato do crime precisasse de um jeito para extrair fundos de um projeto de construção de um prédio, Jools estaria lá. Se empreiteiros quisessem proteger sua obra de ladrões, mesma coisa. A reputação do empregador pouco importava; 10


só importava traçar o cenário perfeito para se conseguir o resultado desejado. Desde que o jovem estrategista ficasse fora dos quadros oficiais da organização, as consequências legais e morais não o alcançariam. Mas uma vez que os griefers começaram a usar mobs enfeitiçados para restringir as possibilidades de viagem, a carreira promissora de Jools estagnou. As fronteiras de biomas se tornaram zonas de guerra. Seus colegas de cavalaria Turner e Stormie, que também ganhavam suas pedras preciosas na base de contratos, se viram enfrentando o mesmo problema. Sendo assim, quando todos se encontraram por acidente, pareceu natural juntarem forças com Rob e os outros para restabelecer o equilíbrio natural da livre iniciativa, juntamente a um governo justo que fosse proteger esse direito. Todos ainda estavam trabalhando para alcançar esse objetivo. No entanto, a velha inclinação de Jools em permanecer sem qualquer afiliação parecia patinar naquele momento, e ele suspeitava que Turner e Stormie sentiam o mesmo. Depois de terem lutado juntos contra o Exército Imperial Griefer, os jogadores que antes se viam como lobos solitários agora sentiam certa lealdade uns para com os outros, e até mesmo com a incipiente organização dos Biomas Unidos do Mundo da Superfície. Afinal de contas, se a luta por um bem maior não pudesse conter a onda de maldade que se erguia, todos se veriam escravizados e sem um tostão. – Eu com certeza prefiro aumentar minha própria riqueza do que a do Dr. Sujeira ou de Lady Craven... ou de Térmite – Jools admitiu. – E, para conseguir ganhar a vida, é necessário estar vivo em primeiro lugar. – Ou pelo menos desovar ao lado do nosso inventário anterior – Turner concluiu. 11


Jools lançou a ele um olhar inquisidor. – Então quer dizer que você mudou seu ponto de desova, hein? Turner saiu pela tangente. – Não é o que eu estou dizendo – e tamborilou os dedos no joelho. – Posso fazer isso. Talvez depois de um trabalho que eu arrumei aí, de tomar conta de uma casa. Vou ter de... tirar um tempo pra mim. Depois que o meu plano funcionar hoje à noite. – Seu plano? – Jools exclamou, levantando as sobrancelhas. – Você pode ter tido a ideia geral, mas fui eu que elaborei. Isso sem falar em levar adiante o projeto de transportar o vagão, sem o qual não haveria plano nenhum. Sendo assim, na posição de entidade completamente dependente do meu próprio trabalho mental, digo que a estratégia é toda minha. Turner grunhiu e inclinou seu penteado militar para trás, fitando o céu. – Tá escurecendo. Se a gente não der um jeito naqueles mobs logo, não vai fazer diferença quem fez o plano, soldado – e então se levantou e bateu as mãos para tirar a poeira, mostrando assim a tatuagem das montanhas nos dedos. – Hora de mostrar um pouco de heroísmo. Turner estava mesmo disposto a fazer um massacre de traças, enquanto Jools pretendia exercer um papel diferente para frustrar a mais recente maquinação griefer. O contramestre não se importaria nem um pouco de faltar àquele encontro com os perigosos artrópodes. Preferia qualquer outro tipo de batalha na qual ele não precisasse sacar uma espada. – Vá em frente, então, sargento – Jools disse, fazendo pouco-caso de seu superior e também ficando de pé. – Estou indo declarar Beta como uma zona livre de zumbis. Aquela seria a última vez que ele consideraria uma vitória em termos de tudo ou nada. 12


# Jools observou Turner, o capitão Rob e a vigia do batalhão, Frida, partirem em direção à cidade de Beta para completar a missão. O contramestre então abriu o inventário do grupo e entregou algumas cargas de pólvora a Stormie, a oficial de artilharia, e um punhado de cenouras para Kim, a domadora de cavalos da companhia. – Queria poder ficar por aqui e assistir ao seu show com os cavalos, querida – disse para Kim, que tinha vestido sua melhor armadura cor-de-rosa a fim de impressionar a multidão na vila. A pequena Kim ia em cima do mais alto cavalo do batalhão e era conhecida por fazer um excelente show de truques de montaria. Seus olhos negros combinavam bem com o cabelo preto e brilhante, que insistia em aparecer por baixo do capacete tingido, assim como o solitário brinco dourado. Ela agradeceu a Jools pelas cenouras em nome dos cavalos. – E você se assegure de que aquele trem cheio de zumbis siga de volta para Lady Craven – disse com bravura. – Se fizer isso, eu armo o espetáculo inteiro só pra você. Kim nunca recuara frente ao perigo. Jools achava que ela tinha a maior proporção possível entre coragem e tamanho de todas as pessoas que ele já tinha conhecido – a não ser por Grimley, o chihuahua de sua tia em sua vida pregressa. Ele olhou para Stormie, uma experiente aventureira e expert em artilharia do batalhão. Sua pele era da cor de nuvens que se uniam para chover juntas, e seu rabo de cavalo encaracolado e preto pendia desde a camiseta preta rasgada até o short. Ela pegou um pouco da pólvora que Jools tinha lhe dado e a juntou com papéis e estrelas de fogos de artifício que vinha usando para fazer foguetes. Nem mesmo o latido e a 13


mordida de Grimley juntos seriam páreo para as habilidades explosivas de Stormie. – Mas eu acredito que você vai conseguir ver o meu show lá da sua torre de comando – ela disse a Jools. – É só olhar pra cima. O espetáculo circense e os fogos serviriam como fachada para ocultar o objetivo real do batalhão: uma resposta agressiva contra os planos griefers que o capitão tinha descoberto recentemente. O batalhão tinha ficado sabendo que, em uma tentativa de destruir a nova capital dos Biomas Unidos e o governo centralizado que se instalaria lá, mobs enfeitiçados tinham sido enviados em um vagão de mineração para matar qualquer um que a bomba deixasse vivo. Jools nunca teria se envolvido em um conflito daquele tipo antes de conhecer Kim, Stormie, Turner e companhia, mas tinha valido a pena confiar neles até ali. Era uma sensação boa ter combatentes tão capazes do seu lado. Ele ainda não tinha morrido nenhuma vez desde que se juntara à cavalaria. Jools olhou a hora. – Certo, amigos. Em uma hora, tudo isso já vai ter terminado – disse. Tocou o braço de Stormie e deu um sorriso. – Solte um foguete de brilho roxo por mim, ok? – E, com isso, se virou e foi em direção aos trilhos por onde o trem viria. A estação estava vazia quando ele chegou. Os trilhos que entravam e saíam continuariam sem uso, graças ao desvio em forma de U que a equipe de Jools havia instalado ao sul da cidade. Quando o trem cheio de mobs chegasse às colinas extremas em direção à cidade, os novos trilhos o conduziriam de volta para onde tinha saído. “Engole essa, Lady Craven”, pensou Jools, imaginando que a rainha griefer estivesse mesmo por detrás do plano malévolo. O contramestre tinha sentido 14


uma satisfação enorme em mudar o modo de jogo da vilã da última vez em que se encontraram. Talvez outra derrota humilhante fosse deixá-la longe do jogo de uma vez por todas. Ele correu até a torre de controle, subindo as escadas de dois em dois degraus. Tudo o que restava fazer era capturar o lacaio de Craven, Térmite, quando aparecesse para recepcionar suas tropas de mortos-vivos. Em sua cabeça, Jools imaginava assim aquela praga bípede: corpo em formato de pera, braços e pernas pontudos, olhos saltados e talvez duas antenas se projetando da cabeça. “Um verdadeiro filhote de cruz-credo”, disse para si mesmo. Enquanto chegava ao topo da torre na qual havia deixado uma armadilha de sufocamento, Jools ouviu um som vindo de trás dele nos degraus. – Steve? – chamou, pensando que talvez alguém da equipe de vagões tivesse interrompido seu descanso para se juntar a ele. Como resposta, ouviu um clique. Jools congelou no degrau mais alto. Sua cabeça começou a rodar. “Imobilizado por uma placa de pressão. Passos se aproximando. Kim: entrando no picadeiro. Stormie: longe na encosta do morro. Turner, Rob, Frida: fora de alcance em cavernas da cidade.” Correu os olhos para baixo, tomando muito cuidado para não se mexer. “O material parece ser ouro. Placa de pressão. Peso. Pode ativar armas ou explosivos. Pode não ser nada. Passos: chegando perto!” Uma onda de música e risadas vinha lá de baixo, onde acontecia o festival. “Ninguém vai me ouvir gritando. Ninguém está prestando atenção. Cavalos, armadura, poções: tudo lá no acampamento.” 15


Uma sensação de enjoo tomou conta dele. – Os planos mais bem traçados... – murmurou. – ...só existem para serem frustrados – veio uma voz baixa de trás dele. Jools quase pulou de susto, mas no último segundo se lembrou de manter os pés bem firmes no chão. – He... he... he... A risada que lembrava papel rasgando pareceu tirar todo o ar do cubículo no alto da torre. Jools lutou para respirar. Os cabelos em sua nuca ficaram eriçados. – Você achou que conseguiria me enganar – disse seu captor com uma voz tranquila que parecia embebida em más intenções. – Mas eu não estou aqui para esperar pelo trem da noite com você. Já sei muito bem o que você fez com os trilhos. “Térmite!” O corpo imóvel de Jools ficou todo pegajoso com o suor frio. – Como eu poderia querer te enganar? Eu nem sei quem você é. Sentiu algo duro cutucar suas costas. – Mentiroso. Vocês todos sabem meu nome. Assim como eu sei o seu... Julian Terceiro. Mais uma vez, ele deu um pulo de susto, agora como se sua mão suada tivesse encostado em um fio desencapado de redstone. “Como ele pode saber que o nome do pai do meu pai era Julian?” Se tinha uma coisa que Jools temia, era que alguém soubesse mais do que ele sabia. Ou que soubesse o mesmo tanto quando não deveria saber de nada. Fez o que sempre fazia quando confrontado com um desafio mental grande demais: blefou. – Meus companheiros vão estar em cima de você a qualquer segundo. Você já viu Stormie e Turner? Cada 16


um mais bruto que o outro. Eles vão te transformar em carne moída. – Seu mercenário já está sem munição – disse o líder griefer sem titubear. – E sua comandante de artilharia logo estará também. Jools tentou a todo custo não parecer preocupado. – O que deixa a maior parte do nosso batalhão pronto para a guerra. Eles vão nos encontrar. E você bem sabe que só existe um caminho para sair desta torre. – Pra mim, talvez seja só um. Mas por que você não dá mais um passo e descobre... um novo caminho? “Bomba!”, era tudo o que o cérebro de Jools gritava. – Ou então nem se preocupe. Honestamente, nem me importei com a fiação disso aí. Não está ligada a nada. Eu só queria te dar um susto. “Um contrablefe? A verdade? Uma mentira fedorenta de todo tamanho?” Jools não sabia se deveria se mover ou não. Seus joelhos estavam tão fracos que ele logo não teria escolha de qualquer forma. Sentiu outro cutucão nas costas, mas agora mais afiado. Estremeceu. – Parece que funcionou. He... he... he... Agora, vire-se bem devagar e vá na minha frente até lá embaixo na escada. A lâmina oculta finalmente perfurou sua pele, e os joelhos de Jools não aguentaram mais. Ele cambaleou para a frente e depois para trás. Quando finalmente se equilibrou de novo, conseguiu se virar e viu uma mulher de cabelos negros segurando uma espada de ouro contra suas costelas. Ela usava óculos de grossos aros brancos feitos de plástico que realçavam seus olhos escuros. Sua expressão era de quase serenidade, a não ser por um laivo de satisfação 17


imerecida – do tipo que alguém que furtou uma loja sente quando dá tchau para o dono do estabelecimento. – Você é Térmite?! – Jools exclamou. Ela o cutucou com a espada como resposta, e ele começou a descer os degraus calmamente. “É uma mulher! Não é um homem nem um bicho! Como eu pude me enganar tanto na minha suposição?” Jools pelejou para continuar com seu tom tranquilo: – Sua reputação te precede. – Por quê? O que você andou ouvindo de mim? Jools pensou em todo o prejuízo que aquela mulherinseto já tinha causado: roubo de materiais de construção, danos a propriedades, crime de ameaça... – O que eu ouvi? Que você é o tipo de praga que merece fumigação – respondeu. Parou de repente, ainda faltando muitos degraus até o chão, se abaixou e se inclinou para trás, tentando surpreender Térmite e fazê-la tropeçar. Nada aconteceu. Ele se virou rápido para vê-la, mas ela já havia pulado por cima dele e estava na base da torre. O movimento tão rápido deixou sua cabeça rodando de novo: “Me salvar, salvar meus amigos! Chegar até a porta...” – Lembre-se disso, caro bichinho – disse Térmite, voltando à sua posição ao lado de Jools e o empurrando mais uma vez para a saída da torre. – Existe uma pessoa no Mundo da Superfície que sabe exatamente o que você vai fazer antes de fazê-lo. Então, antes que puxe aquela corda para ativar a armadilha de sufocamento, vou te falar quem é essa pessoa. Sou eu. O cabo da espada de Térmite foi de encontro ao crânio de Jools e deu-lhe um ligeiro beijo de boa noite. 18


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