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Os sobrevivencialistas Frida e Turner sempre mantiveram em segredo seus pontos de desova. O estrategista Jools não quer morrer – nunca mais. A aventureira Stormie já mudou seu ponto de desova tantas vezes que não se lembra de como começou a jogar. Até mesmo o intrépido capitão não quer correr o risco de reaparecer longe do mar que o trouxe a esse mundo... senão, como vai conseguir voltar para casa? Se os soldados não concordarem com a mudança, nunca serão capazes de reaparecer em suas estações de batalha. Deixar de lado suas origens pode ser a única maneira de continuarem sua missão.
Nancy Osa
EMBARQUE NESTA NOVA AVENTURA QUE COLOCARÁ EM JOGO AS ORIGENS DO BATALHÃO ZERO NESTE TERCEIRO LIVRO DA SÉRIE OS GUARDIÕES DO MUNDO DA SUPERFÍCIE
Série Os Guardiões do Mundo da Superfície - 3
PONTO DE ORIGEM
PONTO DE ORIGEM
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NANCY OSA é autora de Cuba 15, um premiado romance para jovens adultos. Sua sede por aventura e paixão pela construção de mundos levaram-na a adorar Minecraft, onde cada dia é uma nova jornada e a sobrevivência depende da criatividade – e da ajuda de alguns bons amigos.
WWW.EDITORANEMO.COM.BR
ISBN 978-85-8286-282-7
9 788582 862827
uma aventura não of icial de
Minecraft
Nancy Osa
Traduzido por Ana Carolina oliveira
Depois de vários ataques do Dr. Sujeira e de Lady Craven às fronteiras, a aliança dos Biomas Unidos do Mundo da Superfície está por um fio e precisa ser reconstruída. Capitão Rob, Soldado Frida e os membros do Batalhão Zero fizeram disso a missão de suas vidas – mas eles terão que trazer a guerra para dentro de casa. Com as riquezas obtidas em seu último encontro com o exército griefer, eles decidem construir e defender uma capital para a aliança. No entanto, como todo jogador sabe, a vida em modo de sobrevivência não é fácil. O Batalhão Zero conquistou um período de trégua para o Mundo da Superfície, colocando Lady Craven em modo criativo. Sem a necessidade de lutar por todas as fronteiras de bioma, a cavalaria independente foca seus esforços em guardar uma fortaleza. Devem formar um exército permanente, criar prédios públicos e obter o apoio de outras aldeias. Enquanto isso, mobs hostis os ameaçam, e o Exército Imperial Griefer promete retornar para se vingar. Por segurança, Capitão Rob pede a seus soldados um sacrifício final: mudar seus pontos de desova para a capital. Será que eles farão isso?
NANCY OSA
PONTO DE ORIGEM Os Guardiões do Mundo da Superfície Livro 3 As origens são importantes...
Tradução de Ana Carolina Oliveira
Copyright © 2015 Skyhorse Publishing, Inc. Publicado mediante acordo com Skyhorse Publishing, Inc. Copyright © 2016 Editora Nemo Título original: Defenders of the Overworld #3: Spawn Point Zero Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. Ponto de origem é uma obra original de fanfiction de Minecraft que não está filiada a Minecraft, Mojang AB, Notch Development AB ou Scholastic, Inc. É uma obra não oficial e não está sancionada nem depende de aprovação dos criadores de Minecraft. Minecraft® é uma marca registrada de Mojang AB.
gerente editorial
capa
Arnaud Vin
Carol Oliveira (sobre ilustração de Victória Queiroz/VicTycoon)
editores assistentes
Carol Christo Eduardo Soares
diagramação
Guilherme Fagundes
revisão
Renata Silveira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Osa, Nancy Ponto de origem : uma aventura não oficial de Minecraft / Nancy Osa ; tradução de Ana Carolina Oliveira. -- São Paulo : Nemo, 2016. -- (Os guardiões do mundo da superfície ; 3) Título original: Defenders of the overworld # 3 : spawn point zero. ISBN 978-85-8286-282-7 1. Aventuras e aventureiros 2. Ficção - Literatura infantojuvenil 3. Ficção - Literatura juvenil I. Título. II. Série. 16-00868
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Aventuras : Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5 2. Aventuras : Ficção : Literatura juvenil 028.5
A NEMO É UMA EDITORA DO GRUPO AUTÊNTICA
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Para minha amiga Lil.
O comandante da cavalaria olhou para a soldada a seu lado. O rosto verde-oliva e sujo de Frida mostrava cicatrizes internas e externas da desventura à qual tinham acabado de sobreviver. Ela era durona, mas também era complexa. Na verdade, foi o agudo sexto sentido para a verdade da exploradora, e não sua habilidade para batalha, que impressionou Roberto desde o início. Seu respeito por ela tinha florescido em uma estima maior, que só recentemente ele tinha reconhecido. Tornaram-se parceiros por acaso. Quem poderia imaginar, quando eles se conheceram – dois indivíduos de origens tão diferentes –, que teriam o destino do Mundo da Superfície em suas mãos? O que quer que fizessem a seguir ressuscitaria um governo representativo e a liberdade prometida, ou jogaria as rédeas do poder para as forças das trevas. Seriam eles forçados a seguir sozinhos? Seus quatro amigos tinham ficado para trás, talvez para sempre. Depois de certo número de danos, uma nova desova tornava-se impossível para um jogador. Mas a pequena chance de poder renascer tinha levado os outros membros do Batalhão Zero a fazer o sacrifício final. Rob e Frida tinham sido incentivados a correr e não olhar para trás, na esperança de salvar a união, espalhar justiça e talvez... apenas talvez... se reencontrarem no acampamento de base. Juntos, os seis companheiros de cavalaria tinham defendido com sucesso as fronteiras de biomas e visto nascer uma capital nas colinas. Agora, era hora de Rob definir seus próprios limites. Não era suficiente saber de onde tinha vindo
e para onde queria ir. Precisava decidir se queria dedicar-se a esse lugar e a essas pessoas – ou continuar à procura de um caminho para casa. Mais uma vez, olhou para Frida. Sua mente e seu coração pediam que permanecesse com ela; seu desejo de deixar aquele mundo estava desbotando como um velho par de jeans. Será que realmente importaria onde estavam se não pudessem estar juntos? Se tinha uma coisa que o capitão aprendeu com os recentes acontecimentos era que, neste jogo, o tempo podia ser mais importante do que o espaço. Talvez o futuro dependesse de como ele aceitasse seu passado.
CAPÍTULO 1
R
oberto escreveu uma frase, cortou algumas palavras e sentou-se com um suspiro. Escrever era mais difícil que lidar com o laço, montar e criar gado juntos. No entanto, uma coisa que escrever e cavalgar tinham em comum, ele notou, era a necessidade de perseverança. Acomodar-se não levaria o gado para o mercado, nem resultaria neste anúncio escrito e publicado para que todos pudessem ver. – E ninguém vai me cutucar com esporas para me incentivar a terminar o trabalho – murmurou o cowboy que tinha se tornado comandante da tropa. Ele voltou sua atenção para a página com marcações. Nesse momento, uma aranha preta e peluda apareceu e avançou na direção dele. Tentando se concentrar, Rob puxou a espada de ferro e deixou o aracnídeo enfiar-se na lâmina. Instintivamente, ele estendeu a mão para pegar a linha, que tinha caído, e o olho da criatura, que saltou no chão algumas vezes antes de rolar. “Distrações, distrações”, pensou, enrolando sem pressa uma extremidade da linha em torno do olho e a outra em torno de sua mão, brincando com o globo ocular como um ioiô. 9
Ele se deu conta do que estava fazendo e jogou o brinquedo fora. – Pense! – ordenou a si mesmo. Depois de um pouco mais de esforço, completou um rascunho satisfatório, que dizia:
PROCURAM-SE PIONEROS A nova capital dos Biomas Unidos do Mundo da Superfície, em construção, procura por moradores e jogadores, que queiram se reestabelecer. Nenhum investimento necessário. A cidade Beta oferece: economia start-up atimosfera familiar protessão contra mobs e greifers Os imigrantes aprovados receberão abrigo gratuito, suprimento de alimentos para um mês e acesso a postos de trabalho. Bela localização nas colinas estremas. Candidatar-se na Prefeitura da Cidade Beta.
– O que é isso aí, senhor? – perguntou Stormie. Ela tinha feito uma pausa na fabricação de dinamite para ver o que o capitão estava fazendo. A jovem mulher de pele escura, em boa forma, parecia capaz de atacar ou defender poderosamente, com ou sem explosivos. 10
Rob franziu a testa, tentando não encarar o top preto curto e o short da moça. A atitude de um comandante de cavalaria em relação a sua tropa tinha de ser estritamente neutra. – É um anúncio para a nova cidade, soldada. Mas não sei se a ortografia está correta... Ela pegou o papel e o leu em silêncio. Só seus lábios se moviam. – Apenas alguns erros, Capitão. Mas está bom. Eu me canditaria, se já não estivesse aqui. – Seu sorriso contagiante tomou conta de Rob. – Obrigado. Ele observou o acampamento que o batalhão estava montando e o projeto de construção maior, em andamento na colina. Os assentamentos eram espremidos por uma encosta montanhosa que subia em degraus na direção do o céu atrás deles. – Imagine todas as possibilidades – Stormie disse para o capitão. – Neste momento, é a cidade perfeita. Rob queria estar tão entusiasmado quanto ela. Não havia como saber que tipo de pessoas seu anúncio atrairia. Desanimado, ele passou a mão bronzeada pelo cabelo negro. – Uma cidade é tão perfeita quanto as pessoas que vivem nela. – Ou as que estão sob seu comando – insistiu Stormie. “Nesse caso”, pensou Rob, irônico, “é melhor darmos mais uma demão de tinta”. Rob não conseguia deixar de se preocupar com a dedicação dos seus soldados... além da sua própria. A tropa tinha passado meses lutando contra griefers e mobs hostis, 11
antes mesmo de a cidade tomar forma. Agora, cada um dos seis jogadores ansiava por retornar a seu próprio estilo de vida: Stormie a vagar pelo globo; Frida e sua sobrevivência solitária na selva; Turner a trocar serviços por pedras preciosas; Jools a vender estratégias; e Kim a criar e treinar cavalos em suas amadas planícies de girassóis. O maior desejo de Rob não estava naquele mundo gerado, mas em um lugar maior, do qual tinha vindo não muito tempo atrás – um rancho tranquilo no Oeste, que ele esperava encontrar novamente. Enquanto voava de volta para lá, nas férias, se viu caindo pelo espaço, em uma situação totalmente nova. Tendo em vista que seu ponto de desova era um avião em movimento sobre um oceano, ir para casa seria... complicado, para dizer o mínimo. Lá embaixo, no vale onde Rob estava agora com seus safões, colete e botas de cowboy, flores da primavera tinham começado a brotar. O vigor e a expectativa delas pareciam anunciar o nascimento da nova cidade. – É isso, então – ele disse. – Estamos quase prontos para iniciar as atividades. Orgulho e pânico tomaram conta dele. Este último esforço traria a salvação ou o fim ao Mundo da Superfície – e qual das hipóteses se confirmaria era uma incógnita. – É um admirável mundo novo, Capitão – Stormie disse, observando a paisagem. A seus pés, abria-se um vale exuberante salpicado de flores e gramado turquesa, cortado por espumantes córregos azuis que se formavam de cachoeiras de neve derretida. Acima deles erguiam-se as colinas extremas – morros escarpados que tocavam as nuvens –, dividindo os hemisférios do 12
mundo e quase os isolando. Dali de baixo, as intrincadas esculturas de rocha formavam uma galeria de falésias, desfiladeiros, cavernas e vigas. Lá de cima, como Rob bem sabia, a visão desobstruída criava um mapa topográfico de cada bioma, tão longe quanto os olhos alcançavam. O local, já pitoresco, estava sendo transformado em uma área digna de sua finalidade: a primeira capital construída no Mundo da Superfície desde a destruição de Alpha na longínqua guerra. Por anos, o governo unificado tinha agido em cada uma das dezenas de biomas do mundo. Durante esse tempo, as forças do mal tinham tentado tomar a terra de seus residentes – até o Batalhão Zero aparecer e detê-los. Agora que a aliança griefer adversária tinha sido derrotada, a existência de uma sede central do poder tornara-se possível. Rob e sua cavalaria estavam entre um punhado de esperançosos que discutiam a ideia. No final, os defensores do Mundo da Superfície tinham se reunido para impulsionar o projeto... uma vez que todas suas diferenças tinham se acabado. # MESES ANTES – Só homens-porco zumbis iriam gostar de ir para um lugar como este! – resmungou Turner. Embora fosse o sargento de armas do batalhão, o mercenário bronzeado e tatuado não gostava da ideia de imposição de ordem. – Para mim – continuou ele –, uma cidade cheia de homens da lei e legisladores não é muito melhor do que o Nether. 13
– O qual, você deve se lembrar, é um completo caos – argumentou Jools, tamborilando os dedos finos e pálidos na longa mesa ao redor da qual estavam sentados, ao lado de seus companheiros de batalhão e assessores. O trabalho anterior de Jools, como consultor de tropa, o ajudava a ter uma noção do todo na maioria das vezes. Como contramestre da cavalaria, ele mantinha um meticuloso registro dos recursos e oferecia uma prática voz da razão. Ele soltou um de seus valiosos conselhos: – Precisamos é de um meio-termo. – Típico, vindo de você – Frida, a vanguardeira da tropa, observou. – Só porque você não gosta de tomar partido não significa que todas as pessoas do Mundo da Superfície concordam com um meio-termo. Jools subiu as mangas de seu paletó de tweed e se inclinou sobre a mesa. – Já você preferiria ir sozinha, certo? Estou surpreso que você esteja ao menos considerando a possibilidade de defender uma capital. Se não estou enganado, você é a verdadeira renegada, vinda de uma longa linhagem de solitários amargos. O rosto verde-oliva de Frida ficou ainda mais escuro. – Olha quem está falando! Quanto tempo você demorou para pegar em uma espada e lutar com a gente? – Mesmo sendo uma solitária de nascença, a sobrevivencialista tinha dado seu melhor em prol da causa do batalhão, e tinha precisado de menos estímulo do que o contramestre. As amigas de Frida, Stormie e Kim, olharam para Jools, desafiando o separatista confesso a continuar o ataque. Capitão Rob levantou a mão. 14
– Ok, ok, vamos manter a calma. Isto é um grupo focal, não um reality show. Juiz? Coronel? Onde estávamos em nossa pauta? Os membros principais do Batalhão Zero – Rob, Turner, Jools, Frida, Stormie e Kim – tinham se juntado, na sala de reuniões, a seus assessores, juiz Tome e Coronel M, para elaborar uma estratégia para a construção de uma nova capital do Mundo da Superfície. Primeiro, avaliariam se era possível. Depois, decidiriam se dariam continuidade à missão. Coronel M limpou sua garganta virtual. Tinha se perdido ao longo dos eventos e teria dado de ombros, se tivesse corpo. O veterano tinha escapado da batalha final da Primeira Guerra com apenas sua cabeça, que aumentara vinte vezes quando reapareceu. Agora ostentava uma enorme cabeleira prateada. Juiz Tome, um juiz de paz de óculos, folheou a pilha de papéis diante de si, procurando a ata escrita pelo grupo. Embora aposentado do serviço oficial, o magistrado mantinha uma aparência distinta, com o cabelo grisalho e curto e unhas bem-cuidadas. Ele ajustou a beca preta e logo localizou a página que queria. – Prossigamos. Vamos ver. Já cobrimos 1-A: localização; 1-B: edifícios comunitários e residências; e 1-C: necessidade de comida e água. Devemos estar em 1-D: transporte e defesa. – Rob se animou. Sabia lidar muito bem com cavalos e cavaleiros. Juiz Tome continuou: – Acho que o contramestre tinha pedido a palavra primeiro. Isso desviou a atenção de Jools das limitações de seus companheiros de cavalaria. O adolescente pálido abriu um arquivo no laptop sobre a mesa à sua frente. 15
– Vocês vão encontrar nas telas de sua rede um diagrama dos trilhos de carrinhos já existentes que servem a área e minha ideia para um sistema de trânsito mais completo. O grupo visualizou o arquivo compartilhado. No mapa dos trilhos abandonados, Rob reconheceu a rota que os griefers aliados e sindicalizados tinham usado para atravessar biomas e transportar seus saques. Seus cercos cruéis a aldeões inocentes fizeram com que Rob e a tropa se reunissem para combatê-los. – Já temos trilhos conectando Girassol à Cidade dos Espinhos através das colinas extremas, por aqui. – Jools apontou para o local com seu cursor. – Com um pouco de manutenção, algumas trilhas secundárias e estações ferroviárias aqui, aqui e aqui, teremos um circuito completo, adequado para passageiros ou carga. Sugiro colocar trilhos idênticos ao lado, para que o tráfego possa acontecer em ambos os sentidos ao mesmo tempo. Coronel M aprovou o plano meticuloso, mas rapidamente acrescentou uma advertência com sua voz de barítono: – Isso nos dá uma rota de abastecimento eficiente. Mas também cria um alvo atrativo para os griefers. Jools levantou o dedo. – Eu já tinha pensado nisso, Coronel. É simples: contrataremos uma polícia de transporte para garantir a segurança do tráfego ferroviário, além de equipes de construção e manutenção. E criaremos postos de trabalho – acrescentou, citando um dos principais estímulos da cidade para atrair habitantes. Stormie, a comandante de artilharia, interveio: 16
– Concordo com o coronel. Seria extremamente dispendioso montar trilhos para biomas distantes. – A renomada aventureira alegou já ter visitado todos os territórios do Mundo da Superfície, ao longo de suas viagens. Rob franziu a testa. – Análise de custos, por favor, contramestre. Jools supervisionou as reservas da cavalaria, que ainda incluíam uma grande quantidade de saques reapropriados de Cão Azul, um agiota inescrupuloso com quem tinham feito negócios. Era essa fortuna, junto com a substancial recompensa de tesouros do templo da selva, conquistada por Frida, que serviria para financiar a construção da cidade. Jools chamou a atenção de todos para as colunas de números, que deixavam o projeto ferroviário bem dentro das possibilidades. – Transporte público não vai ser barato, mas economizará dinheiro a longo prazo – ele lhes garantiu. Eles aceitaram a proposta e partiram para as questões de defesa, considerando onde montar um acampamento de base e abrigos para a cavalaria e suas montarias. Cabo Kim, a responsável pelos cavalos da tropa, sugeriu um exuberante vale no sopé das montanhas, a poucos minutos a pé dos portões da cidade. Rob respeitava a opinião de Kim e contava com ela para cuidar, treinar e equipar sua manada – a arma mais poderosa do batalhão. – No entanto, necessitamos de mais cavalos e equipamentos – ele observou. – Os novos trabalhadores e os viajantes vão precisar de selas e de animais de carga para ir aonde o sistema ferroviário não conseguir alcançar. – E deveríamos ter novas montarias em nosso estábulo – a pequena e rosada Kim acrescentou. Empurrou 17
o boné de couro rosa para trás, por sobre o cabelo preto brilhante, fazendo seu único brinco dourado balançar e refletir a luz das tochas. – Exigimos demais de nossos cavalos – continuou –, e por enquanto temos tido sorte. Eu gostaria de reiniciar o programa de reprodução em minha fazenda, nas planícies de girassol, e trazer um gerente que possa nos fornecer sangue novo na cidade de Beta, como precisamos. – De acordo, encantadora de cavalos – Frida reforçou a ideia, usando o apelido da talentosa mestre de cavalos. – Apoiado! – confirmou Jools. A personalidade circunspecta de seu garanhão palomino nem sempre era adequada para combates agitados. Montarias extras viriam a calhar. – Eu realmente adoro meu Beckett, mas de vez em quando um cavalo de corrida ajuda bastante. A discussão desviou-se para golems de ferro, armas e a hierarquia de comando – tudo seria crucial para a defesa da cidade. Coronel M ofereceu doar dois golems dos que ele tinha importado recentemente para proteger sua fortaleza no Nether. Sargento Turner, o especialista em armas, percorreu uma longa lista de lâminas e outras armas armazenadas no estoque do grupo. Sua sugestão de ele assumir o inventário de armamento do batalhão – “para guardar rotas de suprimento, por segurança” – foi rejeitada por unanimidade. – Guardar, talvez – disse Jools. Stormie balançou a cabeça. – Por segurança, tenho minhas dúvidas... Turner já tinha sido irresponsável com recursos da tropa muitas vezes. Rob só o manteve como sargento de armas por seu profundo conhecimento e excelente uso de armamento. 18
Rob olhou pela janela da sala de reuniões do abrigo e viu que as sombras tinham crescido muito lá fora. O batalhão tinha estado ali por horas debatendo o assunto. Ele se levantou e colocou uma tocha extra na parede. – Qual é o próximo item, juiz? O jurista leu em sua pauta: – Seção 2: Quais são os obstáculos e como vamos lidar com eles? Todos começaram a falar ao mesmo tempo: – Zumbis sanguinários! – Os griefers vão roubar nossos suprimentos de construção. – Roubar? Pior, eles vão explodir nossas rotas de suprimento. – Pode acontecer uma avalanche... – ...uma infestação de traças... – ...uma inundação imensa! O juiz bateu na mesa com o cabo de um machado de madeira. – Um de cada vez, pessoal. Um de cada vez! Coronel M acrescentou: – Essa questão pode ser crucial para o sucesso ou fracasso do projeto. Vamos discutir com cuidado o que pode dar errado para que não sejamos pegos de surpresa. Juiz Tome reforçou a fala do coronel: – Como se diz em latim: estote parati. Estejam preparados, meus amigos. Ou preparem-se para o fracasso. Rob memorizou essa abordagem para futura referência. O juiz era um mestre em análise do jogo. O coronel sabia exatamente como guiar os jogadores para onde ele 19
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