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O uso abusivo dos ELETRÔNICOS E DA INTERNET
from Revista Informando
by Grupo Coruja
Com a pandemia da Covid-19, as telas de tablets, computadores e celulares se tornaram instrumentos abusivamente presentes na vida das crianças e dos adolescentes.
O período da quarentena foi um grande desafio para o convívio familiar, na medida em que as crianças passaram a ficar sob o cuidado dos pais 24 horas por dia, sem poder compartilhá-los com a escola, com outros familiares, com as babás ou as empregadas domésticas.
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Era do conhecimento de todos que o uso de tecnologias por crescente nos últimos tempos. Os debates e reuniões de profissionais das áreas educacionais, psicoterapeutas, fonoaudiólogos e médicos já vinham alertando sobre os prejuízos no desenvolvimento psíquico e neurológico.
É importante citar alguns desses prejuízos: atrasos na aquisição de habilidades motoras e cognitiva, atraso da fala, perturbação do sono, irritabilidade, ansiedade, depressão, déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de alimentação, sedentarismo, problemas visuais e auditivos, transtornos posturais, entre outros.
Crianças cada vez menores estão sendo seduzidas ou até mesmo levadas para esse mundo digital, na qual as telas são protagonistas de grande parte do seu dia a dia. As viagens em família, almoços e momentos de lazer, contextos em que a interação e o diálogo se faziam presentes, hoje são escassos já que, o contato com tablets e celulares atraem total atenção das crianças, inclusive nesses momentos. As crianças cada vez mais estão deixando de aprender e a se familiarizar com ambientes, pessoas e situações diferentes. Resumindo, as crian - ças estão deixando de aprender como se “comportar” ou como lidar com um mundo real cheio de adversidades.
A infância é um momento de estruturação em que o cérebro, o corpo e o psiquismo estão em formação. As experiências de vida são decisivas para a criança, e por isso é importante pensar que “lugar” pertence a ela em casa, na escola e na sociedade. É na relação com o outro que a criança se estrutura.
O problema seriam os instrumentos eletrônicos ou o fato de os adultos estarem demasiadamente ocupados trabalhando, vivendo um afastamento das reuniões familiares, do convívio com a vizinhança, enquanto as crianças ficam sozinhas? A infância é um tempo da vida crucial para a formação, mas ela termina. Por isso, é importante pensar em como arrumar tempo e lugar para transmitir à criança aquilo que é decisivo para que ela se torne um adulto saudável e realizado.
Educar dá muito trabalho, mas ao conviver com uma criança, o adulto acaba inventando brincadeiras e evocando passagens da sua própria infância que, se não fossem por esses momentos especiais, cairiam em esquecimento. As crianças acabam por fazer um favor ao tirar seus pais do automatismo da vida adulta, levando-os a dividir e a divulgar as brincadeiras de suas gerações.
Não há dúvida de que a internet é a pior “babá eletrônica” do que foi a televisão em outras épocas. A facilidade que cada integrante de uma família encontrou em usar uma tela para assistir ou jogar o que bem entendesse, incentivou a individualização de um processo que antes era coletivo. Ao dar um tablet ou um celular para uma criança com o objetivo de deixá-la quieta é abrir a porta para um estado de passividade.
A televisão já foi alvo de grandes debates e discussões sobre o tempo apropriado que as crianças deveriam assistir, mas o seu uso implicava e proporcionava o encontro de amigos e famílias, provocando conversas e comentários após os programas. Com uma tela individual não há mais conversa. Enquanto a programação da televisão termina, a da internet não termina. Os pais não conseguem muitas vezes ter o controle do que as crianças estão assistindo, conteúdos muitas vezes inapropriados e pouco instrutivo são oferecidos. A criança que brinca está em atividade, construindo uma história. A criança que fica na frente da tela é uma mera espectadora, o que pode trazer diferentes consequências para cada idade.
A criança de 0 a 3 anos vive um momento decisivo para a apropriação e reconhecimento do seu corpo e a entrada na linguagem. Quando ela fica diante de uma tela passivamente por muito tempo, deixa de circular, de se movimentar pelo espaço, o que pode impedir o seu reconhecimento corporal.
Se fica exposta a um eletrônico que emite sons e não sustenta a lógica de uma conversa, como irá desenvolver de forma eficaz a linguagem? Nesse período de vida é fundamental a relação da criança com o outro. O outro que fala, escuta, estimula, brinca e que muitas vezes se faz de espelho. Espelho esse que aponta, reconhece e auxilia no desenvolvimento da criança.
Existe a fase da construção do faz de conta, de criar brincadeiras que impliquem em fantasiar. A criança constrói uma história que é dividida com outro participante e, conjuntamente, passam a dividir a mesma fantasia. Isso possibilita a interação, a criação de vínculos e estimula a criatividade. Nos jogos virtuais, esse trabalho é poupado. Mesmo nos mais criativos, os contextos aparecem prontos, seja o cenário, a missão ou o personagem de cada um.
Mais importante do que consultar tabelas que indicam um limite de tempo de uso de eletrônicos para cada idade, é pensar “que lugar” esse mundo dos eletrônicos está ocupando na vida das crianças e dos jovens.
O que está sendo permitido a essas crianças é um reflexo das dificuldades dos adultos em estabelecer uma divisão entre o tempo de trabalho e o lazer. A internet móvel só vem facilitar ainda mais a dificuldade de se colocar limites às invasões constantes de pessoas que não estão presentes, nos fazendo esquecer e, às vezes, ignorar as pessoas que nos esperam chegar em casa, que nos aguardam para contar as novidades, dividir uma conquista ou até mesmo para compartilhar uma refeição. Muitas vezes, os pais entram em casa com os celulares nas mãos, respondendo mensagens de chefes, dando continuidade a reuniões, fazendo compras em aplicativos, conversando com amigos... E, dessa forma, a noite chega, todos se recolhem para dormir, poucas palavras foram ditas, a troca de carinho ficou esquecida e os laços familiares, rompidos.
Para as crianças que dependem radicalmente do lugar que os pais lhe dão, isso tem consequências inegáveis.
Para conseguir elaborar o que lhes acontece no dia a dia, na escola, na família, nos grupos sociais, as crianças precisam produzir, ativamente, suas representações em vez de ficarem como espectadoras passivas de um entretenimento digital. Desenhar, modelar argila ou massinha, criar peças de teatro, brincar de “casinha” e de “escolinha” são alguns exemplos de como a criança pode elaborar aquilo que é vivido e a faz transformar acontecimentos em experiências sobre as quais se produz algum saber. Essa elaboração subjetiva é que dá significado à vida.
Há alguns anos que os terapeutas estão recebendo nos consultórios crianças que não sabem “brincar”, não conseguem dar sequência a uma conversa, não perguntam e não sabem compartilhar atividades.
Parecem totalmente paralisadas no mundo dos games, dos vídeos, e TikToks. Apresentam muitas vezes, linguagens com repetição de fragmentos dos jogos eletrônicos e aplicativos, sem conseguir sustentar um diálogo ou compartilhar uma brincadeira.
Muitas vezes, os tablets ou celulares passaram a ser entregues na mão de crianças pequenas como “chupetas eletrônicas”. É necessário que o bebê explore o espaço para se deparar com os perigos reais do mundo e ser advertido simbolicamente das regras de convívio. Se ele fica isolado desses perigos reais, deixa de fazer um registro do seu próprio corpo no espaço e isso traz sérias consequências.
O que fazer diante desse “problema”? É suficiente e eficaz apenas dizer “não”? Precisamos pensar o que é esperado da criança e é necessário considerar o que o próprio adulto envolvido faz. As crianças não aprendem apenas pelo que lhes é transmitido pela linguagem, mas pela relação disso com os exemplos dados e vistos.
A era digital traz uma possibilidade de acesso à informação indiscutivelmente importante, mas as crianças precisam de outros seres humanos para se construírem enquanto seres pensantes, questionadores e psiquicamente saudáveis.
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Carnaval:
Registro Fotogr Fico
O Baile Infantil, realizado no Salão de Festas, no dia 19 de fevereiro, reuniu muitas famílias com os seus pequenos fantasiados com criatividade. O desfile teve muitos super-heróis, bailarinas, princesas e diversos personagens dos desenhos animados.
Veja algumas fotos para você se encantar com essa meninada.
Mães e fi lhas...
O Amor Feminino
Por Eda Fagundes
Falar do amor entre pais e filhos é coisa muito séria, intensa e complexa. Certamente essa é a relação determinante de muitos aspectos de nossos padrões de percepção e de reação a nós mesmos, aos outros e a diversos aspectos da vida. O tema proposto é a relação mãe-filha, portanto o encontro de seres femininos.
A maternidade é, para muitas mulheres, a experiência amorosa mais forte que se estabelece ao longo da vida.A mãe costuma reagir de forma bastante diferente em relação ao bebê ao saber se é do gênero feminino ou masculino. Geralmente, ao receber a notícia de uma menina já começa, ainda que inconscientemente, um processo de identificação por gênero. É como se regredisse a sua própria infância, a seus desejos não realizados, a seus sonhos construídos.
Não é nada incomum, mães que se perdem nesse caminho e terminam por tentar fazer da história de suas filhas a realização de sua própria.
Do ponto de vista da mãe, a “bebezinha” é finalmente a bonequinha com quem ela tanto brincou de casinha.
A diferença é que a realidade traz, inevitavelmente, as limitações impostas à vida. Na brincadeira de criança, sua vida e a de seu bebê são idealizadas e, nesse mundo, todos os desejos se realizam. É incrível como as meninas preferem as bonecas aos bonecos, estes costumam sobrar nas prateleiras. Enfeitar, arrumar, proteger, encher de mimos e presentes é quase que proporcionar tudo isso a si mesma. A identificação mulher-mulher muitas vezes caminha no sentido patológico, com a presença de competição e dificuldades no relacionamento.
Do ponto de vista da filha, a mãe costuma ser a imagem padrão de si mesma no futuro. Para fugir disso, algumas optam pela diferenciação através do desenvolvimento, em si, do lado oposto. Por adesão ao modelo e/ou contraposição a ele, filhas precisam desenvolver sua autoimagem e, ao longo desse caminho, muitos conflitos aguardam essa dupla de mulheres.
Evidentemente, generalizações sempre estreitam a visão de que existem muitas mulheres que, maduras emocionalmente, transcendem ou sequer fazem contato com tais complexidades. São capazes de viver essa relação com lucidez e de usufruir o grande prazer de participar de forma tão efetiva das diversas etapas do desenvolvimento do feminino, estar tão perto da formação de uma outra mulher.
As relações mãe-filho, pai-filho e pai-filha também têm suas especificidades e, diga-se de passagem, bem interessantes.
Mas esse é um outro papo...
Eda Fagundes é psicóloga clínica. Atua há 40 anos na área de terapia individual, de casal e de família, na Barra Tijuca.