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Novo momento

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Base sólida

Base sólida

Fotos Mônica Debortoli/Phytus Group

Novo momento

Manejo integrado de percevejos em soja ganha importantes aliados com a chegada de novidades para a safra 2020/21 no Brasil. Inseticidas químicos com modo de ação diferenciado, cultivares tolerantes ao ataque e primeiro bioproduto contra ovos da praga alargam as opções de ferramentas disponíveis ao produtor

Os percevejos são as principais pragas da fase reprodutiva da soja, por alimentarem-se dos grãos ou sementes, o que compromete a produtividade da lavoura e a qualidade da soja produzida, reduzindo o valor que o produtor receberá na indústria. A estratégia comumente utilizada para controlar essas pragas tem sido o controle químico, com uso de inseticidas sintéticos. Porém, sua utilização abusiva e de forma preventiva acarreta aumento nos custos de produção, promove a seleção de percevejos resistentes, elimina seus inimigos naturais e pode deixar resíduos nos grãos produzidos, além de contaminar o aplicador e o ambiente.

Até a última safra o produtor contava com apenas algumas poucas ferramentas de manejo para o controle do percevejo, o que, na prática, se restringia ao uso de inseticidas químicos. Mesmo os inseticidas, apesar das diferentes marcas comerciais existentes, podiam ser reunidos em apenas dois grupos, de acordo com o seu modo de ação: 1) Os inseticidas do grupo 1 (inibidores da acetilcolinesterase), que na prática é o acefato, e 2) Os inseticidas formados por misturas de um neonicotinoide (grupo 4: moduladores competitivos de receptores nicotínicos da acetilcolina) com um piretroide (grupo 3: moduladores de canais de sódio). Com essa pequena diversidade de opções, a rotação de produtos de modos de ação diferenciados ficava comprometida.

O uso repetido do mesmo grupo de modo de ação associado ao uso abusivo desses inseticidas, o que em algumas regiões pode chegar a até três ou mais aplicações por safra, levou à seleção de

populações de percevejos resistentes. A ocorrência de populações de percevejos resistentes aos inseticidas disponíveis no mercado é um dos grandes problemas atualmente enfrentados pelo agricultor. Entretanto, para a safra 2020/2021 que se inicia, o sojicultor conta com algumas novidades, que serão importantes aliadas para um melhor manejo de percevejos no campo.

Uma das novidades reside na entrada de novos produtos químicos no mercado com diferentes modos de ação. Isso facilita o manejo de resistência de percevejos aos inseticidas. Com a oferta de um novo inseticida (etiprole) com modo de ação (bloqueador de canais de cloro mediados pelo Gaba) pertencente a um grupo diferente (grupo 2) do grupo 1 ou grupo 4 + 3, que eram os únicos disponíveis até o momento, o produtor pode mais facilmente rotacionar o modo de ação no uso de inseticidas para controle de percevejos em sua área.

Outro fato novo é o registro de cultivares de soja tolerantes ao ataque de percevejos (tecnologia Block). Também se soma às novas alternativas o registro do primeiro bioproduto com um agente de controle biológico (Telenomus podisi) para manejo dos ovos de percevejos.

Essas novidades, se utilizadas dentro dos conceitos de manejo integrado de pragas (MIP-Soja), irão marcar um novo momento na sojicultora, com resultados mais eficientes no manejo de percevejos pelo produtor.

SOJA BLOCK

Principalmente para áreas com histórico recorrente de problemas com percevejos é importante que, a partir do momento do plantio, o sojicultor possa optar por utilizar cultivares mais tolerantes ao ataque da praga. Para tornar isto possível, a Embrapa, através do melhoramento genético convencional, selecionou cultivares de soja que apresentam maior tolerância ao ataque de percevejos. Assim, em 2019 foi lançada no mercado brasileiro a tecnologia Block.

Essa tecnologia identifica as cultivares de soja que apresentam menor perda de produção quando submetidas ao ataque intenso de percevejos, comparativamente às cultivares sem a tecnologia Block.

Figura 1 - Comparativo dos grãos em diferentes intensidades de infestação

Agente de controle biológico (Telenomus podisi) é uma das ferramentas para o manejo dos ovos de percevejo

São cultivares que, como pode ser observado na Figura 1, têm alto potencial produtivo, comparado aos melhores padrões do mercado. Além da alta produti vidade, quando submetidas a populações mais altas de percevejos, não terão sua produção comprometida com a presença de grãos chochos e danificados na mesma intensidade das cultivares sem a tecnologia.

Essas cultivares são oferecidas associadas ou não a outras tecnologias. Sendo assim, já é possível encontrar cultivares Block como soja Bt, soja RR ou mesmo soja convencional (para mais informações sobre a Tecnologia Block, consulte https://www.embrapa.br/en/soja/block). TELENOMUS PODISI

Telenomus podisi é um inseto parasitoide de ovos de percevejos, naturalmente encontrado no ambiente. O adulto desse inseto é uma microvespa (~1mm) que se desenvolve (de ovo a adulto) dentro dos ovos do percevejo hospedeiro, matando-o e impedindo a emergência de ninfas. Sendo assim, no ovo parasitado, ao invés da emergência de uma ninfa de percevejo, emerge um adulto do parasitoide, que continuará parasitando e controlando novos ovos de percevejo durante sua vida adulta. Esse parasitoide é um agente de controle biológico bastante eficaz no controle do percevejo-marrom, sendo que uma fêmea adulta do parasi-

Figura 2 - Ação de Telenomus podisi em ovos de percevejo

toide pode parasitar até 100 ovos deste inseto-praga.

Considerando que a quantidade de T. podisi na natureza pode ser insuficiente para manter a população de percevejos em níveis baixos, o produtor já pode comprar esse parasitoide e liberar em sua lavoura. Isso deve-se ao fato de que após anos de pesquisa foi registrado, em dezembro de 2019, o primeiro bioproduto com esse agente de controle biológico no Brasil. Portanto, a partir da safra 2020/2021 em vias de estabelecimento, a oferta e o uso dessa nova ferramenta de manejo devem aumentar gradativamente nas diferentes regiões.

É importante que o sojicultor que fizer uso dessa “vespinha” no campo fique atento a algumas de suas peculiaridades. Como esse parasitoide não controla o percevejo e sim os ovos que darão origem aos percevejos, o momento certo de sua utilização no campo é crucial para seu sucesso. A pesquisa recomenda iniciar a liberação dessas microvespas quando for detectada a presença dos primeiros adultos dos percevejos nas lavouras, realizando duas a três aplicações no intervalo de sete dias. Isso aumentará as chances de coincidir a presença do parasitoide no campo com seus hospedeiros, que são os ovos de percevejos.

A liberação do parasitoide é realizada usualmente no estádio de pupa. Essas pupas podem ser distribuídas no campo de forma avulsa ou protegidas dentro de cápsulas contendo ovos parasitados pela vespinha, que devem ser distribuídos estrategicamente na área, em pontos equidistantes. É importante que essa liberação seja realizada o mais próximo possível da emergência dos adultos, evitando-se dias muito quentes (o final da tarde é o período usualmente mais indicado) para reduzir a mortalidade dos parasitoides. Também, é importante considerar que essas vespinhas são organismos vivos, razão pela qual deve-se evitar aplicações de inseticidas na área onde ocorreu a liberação dos parasitoides, pelo menos dez dias antes e duas semanas após a liberação desses parasitoides.

Logo após sua emergência no campo, as fêmeas do parasitoide irão localizar os ovos dos percevejos e depositar neles seus ovos, interrompendo o desenvolvimento da praga e dando início ao desenvolvimento de um novo parasitoide. Os ovos parasitados levam cerca de duas semanas para darem origem a uma nova população de “vespinhas”, cujas fêmeas são copuladas e saem em busca de novas posturas do percevejo para parasitá-los, evitando o nascimento de mais percevejos-praga.

MANEJO DE RESISTÊNCIA

É natural e esperado que existam na natureza percevejos resistentes. Entretanto, quando esses insetos são manejados corretamente, aqueles considerados resistentes serão minoria na população e sua presença não comprometerá a eficiência do controle. Entretanto, quando um inseticida com o mesmo modo de ação é usado repetida e abusivamente na lavoura, os insetos resistentes serão os únicos a sobreviver. Cruzando entre si, esses insetos resistentes irão se multiplicar e passar a ser maioria na população, quando então o inseticida não mais irá funcionar. Para evitar a

Adulto do percevejo-marrom (Euschistus heros) Bioproduto tem como alvo os ovos da praga

seleção de insetos resistentes é preciso adotar algumas medidas de manejo de resistência.

A principal consiste na rotação de produtos de diferentes modos de ação. Isto, até a safra passada, era mais difícil de ser realizado devido à existência de poucos grupos de inseticidas com modos de ação diferentes. Com a oferta do etiprole no mercado, a partir da nova safra que se aproxima haverá mais um grupo distinto de modo de ação que pode ser usado na rotação com os outros produtos do mercado e assim auxiliar no manejo de resistência de percevejos aos inseticidas. O ideal seria que a cada aplicação necessária no campo, o sojicultor adotasse um inseticida com modo de ação diferente (para consultar o grupo de modo de ação de um inseticida, acesse https://www. irac-br.org/modo-de-acao).

MANEJO INTEGRADO DE

PRAGAS PARA PERCEVEJOS

É importante relembrar que qualquer estratégia de manejo de pragas (nova ou antiga) somente será eficiente a longo prazo se adotada dentro dos conceitos de MIP-Soja. Os resultados positivos com a adoção de MIP-Soja vão além de pesquisas e já podem ser observados no campo em áreas de produtores que adotam a tecnologia. No estado do Paraná, o MIP-Soja é levado ao produtor em um trabalho conjunto entre o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater (IDR-Paraná) e a Embrapa Soja. Os resultados dos primeiros cinco anos do MIP-Soja indicaram economia no uso de inseti cidas entre 43,2% (safra 2016/2017) e 55,9% (safra 2017/2018).

No sexto ano do projeto (safra 2018/2019), os resultados foram separados para as áreas cultivadas com soja Bt e soja não Bt. Foi observada uma redução de 48,8% no uso de inseticida devido à adoção do MIP-Soja em áreas de soja não Bt e uma redução de 53,6% em inseticidas em áreas de soja Bt.

Essa redução no uso de inseticidas economizou o valor equivalente a duas sacas de soja de 60kg/ha nessa safra. Em geral, a grande vantagem do MIP-Soja é a possibilidade de reduzir o uso de inseticidas sem nenhuma perda de

Bueno e Dall'Agnol estão otimistas com a chegada de novas tecnologias

produtividade. Assim, aqueles agricultores que adotaram o MIP-Soja no estado do Paraná, economizaram um valor equivalente entre 1,8 (safra 2016/2017) e três sacas de soja de 60kg por hectare/ ano (safra 2014/2015), ao longo dos seis anos de vigência do projeto. Isto se traduz em maiores lucros para os produtores e, também, benefícios para o ambiente.

A adoção do MIP-Soja não apenas reduziu o uso total de inseticidas, como também atrasou a primeira aplicação de inseticidas. Na média, no Paraná, a primeira pulverização de inseticida nas áreas que não utilizaram o MIP-Soja foi realizada entre 33 dias e 43,6 dias após a semeadura. Essa primeira aplicação nas lavouras com MIP-Soja ocorreu apenas entre 60 dias e 78,7 dias após a semeadura.

Da mesma forma, na safra 2018/2019 na média do estado do Paraná, a primeira pulverização de inseticida ocorreu 38,7 dias e 48,7 dias após a semeadura da soja não Bt e Bt, respectivamente, enquanto a primeira pulverização de inseticida nas áreas de MIP foi realizada 66,2 dias e 80,8 dias após a semeadura da soja não Bt e Bt, respectivamente.

Esse maior período sem inseticidas na lavoura permite maior preservação dos inimigos naturais das pragas, o que auxilia na manutenção do seu controle. As novidades de manejo de percevejos ofertadas no mercado deverão aumentar ainda mais o sucesso do MIP e consequentemente seus benefícios. É importante salientar que outras novas tecnologias de controle de percevejos estão em vias de desenvolvimento e deverão estar disponíveis em um futuro próximo, como o uso de RNAi, microbiológicos, entre outras. Todas deverão ser integradas no MIP-Soja para garantir o sucesso e a sustentabilidade de sua utilização ao longo das safras.

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Adeney de Freitas Bueno e Amélio Dall’Agnol, Embrapa Soja

Resultados Médios do MIP-Soja no Paraná. (Adaptado de Conte et al., 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018)

Variáveis Comparação

Número de aplicações de inseticidas por safra Dias até a primeira aplicação de inseticida Controle de pragas (sacos de 60kg) Produtividade (sacos de 60kg/ha)

MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP

2013/14 2,3 (46 áreas) 5,0 (333 áreas) 60 dias 33 dias 2,41 5,03 49,23 48,67

2014/15 2,1 (106 áreas) 4,7 (330 áreas) 66 dias 34 dias 2.00 5.00 60.20 58.60 Safra 2015/16 2,1 (123 áreas) 3,8 (314 áreas) 66.8 dias 36 dias 2.00 4.00 57.10 54.70

2016/17 2,0 (141 áreas) 3,7 (390 áreas) 70.8 dias 40.5 dias 2.30 4.10 64.50 64.20

2017/18 1,5 (196 áreas) 3,4 (615 áreas) 78.7 dias 43.6 dias 1.41 3.27 61.7 60.4

Resultados Médios do MIP-Soja no Paraná na safra 2018/2019 (Adaptado de Conte et al., 2019)

Variáveis Comparação

Número de aplicações de inseticidas por safra Dias até a primeira aplicação de inseticida Controle de pragas (sacos de 60kg) Produtividade (sacos de 60kg/ha)

MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP

não-Bt 2,1 (113 áreas) 4,1 66,2 38,7 2,6 5,0 50,9 48,3

Safra 2018/19 Bt 1,3 (128 áreas) 2,8 80,8 48,7 1,6 3,4 49,5 51,1 Média 1,7 (241 áreas) 3,4 (773 áreas) 74,0 40,3 2,1 4,1 50,1 48,6

Mitigação da resistência

Na luta contra plantas daninhas resistentes o uso de boas práticas agrícolas é fundamental. Manter a cultura no limpo com diversidades de práticas agronômicas no sistema de produção, usar diferentes mecanismos de ação de herbicidas, praticar rotação de culturas, usar doses recomendadas dos produtos e realizar controle em pré e póscolheita estão entre as principais recomendações

Prevenção ou manejo dos problemas crescentes de resistência de plantas daninhas a herbicidas é na atualidade um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores de soja no Brasil. Para enfrentar este problema é recomendado que seja aplicado o conceito de mitigação da resistência, que consiste na ação de reduzir a propagação, a severidade e o impacto econômico da resistência, através do uso de boas práticas agrícolas (BPA). Uma BPA envolve principalmente o conceito de diversidade, que se aplica de forma ampla ao sistema de produção como um todo na propriedade, assim como nas práticas específicas de manejo dentro da condução dos tratos da cultura. Nas áreas produtoras de soja pelo Brasil é adotado um sistema de produção que envolve diferentes cultivos em sucessão em um mesmo ano agrícola, assim, diversificar estes cultivos significa mudar o ambiente de produção, e dessa forma quebrar o sincronismo entre a planta daninha resistente e a monocultura. Da mesma forma, na condução de uma cultura é recomendável diversificar práticas de manejo, principalmente aplicando herbicidas de diferentes mecanismos de ação, onde o uso de residuais desempenha um papel importante no processo.

Destacam-se cinco BPAs, juntamente com algumas orientações ao produtor, para adoção no processo de mitigação da resistência em seu sistema de produção. Uma BPA a ser adotada e que resulta em grande ajuda no manejo da resistência é o manejo outonal

Figura 1 - Área dessecada com glifosato após o cultivo da cultura de cobertura com capim-braquiária, na região de Sinop (MT)

no pousio. Um bom exemplo reside no sistema de produção do Cerrado, onde o produtor utiliza a sucessão de soja/milho, e em seguida tem um período de pousio, com baixa precipitação pluvial, até o novo plantio da soja.

Nesse sistema, uma prática que com certeza resulta na supressão da infestação das plantas daninhas resistentes é o uso de cultura de cobertura. Porém, a baixa incidência de chuva limita essa prática. Para isso é recomendado o cultivo do capim-braquiária, que além da rusticidade, apresenta uma excelente cobertura e grande produção de fitomassa, suprimindo completamente a população de plantas daninhas resistentes, além das vantagens agronômicas desta prática. Na Figura 1 é possível observar uma área após a dessecação do cultivo da braquiária, com a excelente cobertura do solo e supressão total da infestação de plantas daninhas. Em outras regiões são recomendadas outras culturas, adaptadas às condições locais.

Caso o produtor não esteja disposto a utilizar uma cultura de cobertura, é recomendável que após o cultivo do milho, como segunda safra, seja empregado um tratamento herbicida, chamado de manejo outonal. Para isso, são utilizadas associações de herbicidas com ação pós e pré-emergente, como glifosato, 2,4-D, graminicidas, saflufenacil, diclosulan, flumioxazin, dentre outros recomendados para essa modalidade de aplicação.

A segunda BPA recomendada é a dessecação sequencial, ou seja, em áreas onde as plantas daninhas resistentes ao glifosato fazem parte da comunidade infestante nas proximidades do momento da semeadura da soja, há necessidade de aplicações sequenciais, para que o produtor utilize o conceito de “plantio no limpo”. Para isso, é realizada primeiramente a aplicação de glifosato associado com um herbicida de translocação, como o 2,4-D, para controle de folhas largas, ou um graminicida para controle do capim-amargoso ou do capim-pé-de-galinha. Sequencialmente, dez a 15 dias após, para complementar o controle dessas plantas resistentes, utiliza-se geralmente um herbicida de ação de contato.

Na semeadura da soja, vem a terceira BPA recomendada, que é o uso do herbicida residual. Pode ser aplicado junto com a sequencial do herbicida de contato ou após a semeadura da soja. Esta prática proporciona uma dianteira competitiva para a soja, que inicia seu desenvolvimento no limpo, e flexibiliza a aplicação do glifosato na soja, evitando a matocompetição precoce (Figura 2). A escolha do herbicida residual depende do espectro de plantas daninhas existentes na área, sendo que se espera do produto alta efi cácia, amplo espectro, seletividade para a cultura, sustentabilidade econômica e ambiental, além de que permita associações com outros herbicidas, sem efeito de carryover para culturas em sucessão.

A etapa seguinte de uma BPA é a aplicação seletiva de herbicidas depois da implantação da cultura da soja, ou seja, os herbicidas seletivos. Claro que neste momento o produtor lança mão do glifosato como principal ferramenta da manejo, porém, a eventual presença de plantas daninhas resistentes ao glifosato exige herbicidas alternativos. Destacam-se os herbicidas inibidores da Protox e ALS para folhas largas, e os graminicidas pós-emergentes para o controle de gramíneas. A grande preocupação neste momento é a seletividade dos pós-emergentes para folhas largas.

Finalmente, a eliminação das plan-

Figura 2 - Área de soja em Alto Parnaíba (MA), com uso integrado de cultura de cobertura e herbicidas residuais

tas daninhas resistentes na pré-colheita, juntamente com o controle das plantas daninhas em bordas de talhão e estradas, bem como preventivamente limpar colhedeiras após o uso em áreas com plantas daninhas resistentes, completa as BPAs. Através desta BPA, adota-se o conceito de “tolerância zero” para as plantas daninhas resistentes, pois é nesta fase que essas plantas constroem o seu banco de sementes, e se o objetivo é mitigar a resistência, o banco de sementes das plantas daninhas resistentes deve ser exaurido, evitando a introdução de novas sementes.

A mensagem aos produtores é simples: “cultura no limpo com diversidades de práticas agronômicas no sistema de produção”. Use diferentes mecanismos de ação dos herbicidas, pratique rotação de culturas, use doses recomendadas de herbicidas e faça controle em pré e pós-colheita. Boas práticas agrícolas contribuem para a sustentabilidade da produção no campo.

C C

Pedro Jacob Christoffoleti Agrocon Assessoria Agronômica

Christoffoleti chama atenção para importância de boas práticas agrícolas

Fotos Acácio Neto

Plano conjunto

Manejar plantas daninhas e a resistência a herbicidas na cultura do milho exige um olhar atento e amplo, que leve em consideração os sistemas de produção, a pressão das infestações e as interações com as outras culturas presentes na área

Quando se menciona o manejo de plantas daninhas em culturas como o milho, deve-se considerar que estas são produzidas no Brasil dentro de complexos e diversos sistemas de produção e tratadas dentro de cada sistema como um ciclo de produção. Assim, quando se almeja a produção de soja, esta pode ser sucedida por milho, o qual seria encarado como safrinha, e depois, dependendo da região, a área pode ser explorada com uma cultura de inverno. Dessa forma ocorre uma intensificação das práticas de manejo e no caso de plantas daninhas é possível ter situações em que as áreas de produção se tornem mais manejáveis.

Mas quando se aplica uma visão simplista do sistema ou se explora apenas uma cultura, ocorrem oportunidades que proporcionam (em uma situação mais normal e aceitável) as reinfestações das áreas com plantas daninhas de ocorrência normal, ainda que em pressão de infestação muito maior. Em situações em que se simplifica muito o sistema de produção quanto ao manejo de plantas daninhas, a resistência dessas plantas é um sintoma natural, observado com mais frequência na cultura da soja, onde plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ALS, da ACCase e da EPSPs têm mais frequência. Ou seja, quanto mais simples o manejo de plantas daninhas, mais complexo será o controle e vice-versa.

Para um manejo de plantas daninhas adequado e bem-sucedido, a primeira etapa de cada ciclo de produção é a dessecação das áreas para semeadura. Esta prática torna possível a diminuição da pressão de infestação de daninhas oriundas de sementes e elimina restos de plantas daninhas com capacidade para propagação vegetativa. Nesta etapa, o uso do glifosato é fundamental, representando a principal ferramenta neste processo e necessitando de parceiros para boa dessecação de plantas daninhas tolerantes e resistentes a esse herbicida. Ainda, a colocação de herbicidas residuais neste processo auxilia a ação do glifosato e promove a desinfestação almejada, diminuindo a pressão de infestação de certas espécies de plantas daninhas.

A dessecação pode ser dividida em duas etapas espaçadas de duas semanas, em que, na primeira, é o glifosato o protagonista, tornando a área semeável pelo simples fato de se eliminar a cobertura vegetal que dificulta a semeadura, sendo auxiliado principalmente pelo 2,4-D ou herbicidas inibidores da Protox, como saflufenacil, flumioxazina e carfentrazone.

Na segunda etapa há espaço para uma complementação, com herbicidas de contato como diquat ou amônio glufosinato, os quais complementaram a ação do glifosato sobre as plantas mais entouceiradas ou de mais difícil controle (aplique e plante). Seja junto com o glifosato ou na segunda etapa da dessecação, a inserção de produtos residuais como atrazina, flumioxazina, s-metolaclhor e outros, ajuda na

dianteira competitiva sobre as plantas daninhas “dentro da cultura”.

Com relação aos residuais utilizados na dessecação ou mesmo em pós-emergência das culturas, há de se considerar a capacidade desses produtos em serem seletivos ao milho obviamente, mas tão importante quanto será entender qual a capacidade destes herbicidas em causar danos às culturas em sequência, no fenômeno conhecido como “carry over”.

Culturas como o milho, agora resistente ao glifosato e ao amônio glufosinato, não há mais a “cultura da fitotoxicidade”, o que não é tolerado, seja por residuais de outras culturas, seja pelo pós-emergente. A dessecação é um momento vital no manejo de plantas daninhas dentro do sistema de produção de soja e milho, sendo fundamental sua realização, bem como a manutenção do tempo entre dessecação e semeadura, mesmo que as condições da região se mostrem proibitivas. Ignorar esta etapa em função do operacional é o segundo maior entrave do sistema de produção, responsável direto pelos problemas com plantas daninhas resistentes em meio à soja e também ao milho.

Após a etapa de dessecação e semeadura existe a oportunidade de uso do pré-emergente, principalmente se não foi utilizado herbicida residual na dessecação normal ou no “aplique e plante”. Todo herbicida registrado como pré-emergente, para cada cultura, tem espaço, desde que considerados o alvo (planta daninha) e a composição do solo do local, principalmente quanto à argila e à matéria orgânica. Estas observações evitam as fitotoxicidade e as reaplicações em áreas de resistência de plantas daninhas herdadas da soja ou do algodão, especialmente aquelas resistentes ao fotossistema II (FSII). A atrazina, presente nas recomendações oficiais de manejo de plantas daninhas em milho, é uma ferramenta importantíssima nesse manejo.

O uso de glifosato ou amônio glufosinato em pós-emergência da cultura de milho, com tecnologia de resistência aos respectivos herbicidas, é uma ferramenta indispensável, pois maneja uma gama de espécies infestantes, além de controlar velhos problemas de resistência nacionais, provenientes da soja na maioria dos sistemas de produção brasileiros. É muito bem-vindo o auxílio de herbicidas parceiros em pós-emergência para o glifosato, desde que sejam seletivos à cultura e sempre respeitando como limite de aplicação o estádio de desenvolvimento V4 (Rodrigues & Almeida, 2011).

O milho possui dois produtos recomendados que são inibidores da síntese de carotenoides, grupo restrito de herbicidas, sem outras opções em pós-emergência seletiva, por hora no País. Assim, a despeito da possibilidade de uso de glifosato e amônio glufosinato em pós-emergência, o uso de mesotrione e tembotrione deve estar presente em uma programação de uso de herbicidas sustentável.

PLANTAS TIGUERAS E VOLUNTÁRIAS

Não se pode deixar de mencionar a questão das plantas voluntárias ou tigueras. Cada sistema de produção no Brasil tem uma situação em que a semente caída na colheita das áreas comerciais gerará uma planta que se tornará daninha no cultivo em sucessão, como observa-se claramente com o milho geneticamente modificado para resistência a glifosato, nas áreas de soja RR. Tal situação demanda práticas de manejo voltadas a este problema, como aumento do intervalo entre os ciclos de produção para alongar a janela de manejo destas plantas voluntárias, além, claro, do uso de herbicidas desti nados a estes alvos. CULTURAS DE COBERTURA

Dentro de um sistema de produção, com o intuito de conservação de solo, eliminação de plantas daninhas e produção de grãos, existem as culturas de inverno ou de cobertura. Na região Sul do Brasil, as culturas utilizadas são os chamados cereais de inverno, muitas vezes com intuito de produção de grãos. São exemplos disso o trigo, a cevada e o triticale. Ainda, a aveia, o centeio e o azevém servem de cobertura vegetal para geração de palhada no plantio direto. No Cerrado, o uso de sorgo, milheto, braquiária (B. ruziziensis) e girassol são os exemplos mais comuns. Todas estas culturas possibilitam a cobertura no solo no inverno, impedem as altas produções de sementes do pousio (como ocorre com a buva) e fazem uso, ainda que não frequente, de herbicidas alternativos ao glifosato.

A pós-colheita da cultura do milho, se não imediatamente seguida por outras culturas como o próprio milho ou alguma cobertura/ cultura de inverno, deve ser incrementada com o uso de herbicidas pós-emergentes ou com efeito residual. Isso é uma tentativa de evitar a produção de sementes de plantas daninhas, resistentes ou não, e consequente incremento do banco de sementes das áreas, no pousio.

BOAS PRÁTICAS

Por fim, não deve ser esquecido que as boas práticas agronômicas indicam que culturas bem conduzidas quanto à sanidade e à nutrição têm menos problemas com plantas daninhas. O uso de sementes de qualidade, a definição de orientações espaciais de semeadura (espaçamento) e variedades com ciclos mais precoces são estratégias de manejo integrado de plantas daninhas muito presentes nos sistemas de produção brasileiros. No tocante à questão de resistência de plantas daninhas, o manejo e principalmente a prevenção são preocupações constantes devido ao crescimento do problema e à falta de engajamento do produtor em função da questão do custo. O produtor deve entender o conceito de investimento no sistema de produção e isso é a principal barreira para um bom manejo de plantas daninhas. Assim, a continuidade das orientações técnicas dentro do sistema de produção de milho é fundamental. É muito importante que se pense em prevenção do problema de resistência com algum tipo de investimento no sistema de produ-

Importância da utilização de um parceiro junto ao glifosato na dessecação. Na imagem, uma área com alta infestação de buva e capim-amargoso. À direita, foi utilizado glifosato + saflufenacil, e à esquerda, somente glifosato. Foto tirada três dias após a aplicação

Importância da utilização de pré-emergentes na cultura do milho. À esquerda, uma área sem aplicação de pré-emergente, e à direita, uma área com aplicação de s-metolaclhor + atrazina

ção, seja mediante variação de estratégias herbicidas (residual), seja com a diversificação do sistema de produção utilizando-se rotação de culturas, palhada e eliminação do pousio com manejo outonal. O glifosato deve ser auxiliado no manejo de plantas daninhas e não utilizado como única ferramenta, pois o tempo em que se fazia tal utilização já passou.

PRINCIPAIS HERBICIDAS

RECOMENDADOS PARA

A CULTURA DE MILHO

ATRAZINA

Na cultura do milho no Brasil, a utilização de herbicidas do grupo dos inibidores do fotossistema II (triazinas - atrazina/ametrina/simazina) em pré e pós-emergência é muito grande na maioria das propriedades, sendo aplicados em forma isolada ou em associação. Já existem no Brasil casos de resistência de plantas daninhas à atrazina, como para a planta daninha picão-preto (Bidens subalternans) (resistente aos herbicidas inibidores da ALS e do Fotossistema II). Dessa forma, é certo que a seleção de biótipos resistentes à atrazina leva um longo período de tempo até o problema se tornar evidente. Entretanto, nos Estados Unidos, os casos de resistência de plantas daninhas às triazinas são inúmeros, com milhões de hectares infestados, justamente pelo uso destes herbicidas em milho. A sucessão das culturas de soja e milho constitui-se em uma forma excelente de retardar o aparecimento de biótipos resistentes em regiões de cultivo destas culturas, pois na literatura mundial não existem relatos de desenvolvimento de biótipos resistentes às triazinas em áreas com esta rotação.

NICOSULFURON

A maioria dos casos de resistência aos herbicidas inibidores da ALS estudados (A. retroflexus, A. palmeri, A. viridis, Bidens pilosa, B. subalternans, Conyza sumatrensis, Cyperus difformis, Echinochloa crusgalli, Euphorbia heterophylla, Fimbristylis miliace, Oryza sativa, Parthenium hysterophorus, Raphanus sativus e Sagittaria montevidensis) apresenta resistência cruzada aos diversos grupos químicos de herbicidas que têm este mecanismo de ação (mecanismo de resistência relacionada à alteração no sítio de ação do herbicida). Na cultura do milho, existem riscos para os herbicidas inibidores da ALS como nicosulfuron aplicados em pós-emergência, devido ao amplo uso deste herbicida e pela sua eficácia.

MESOTRIONE

O modo de ação do herbicida mesotrione consiste na inibição da biossíntese de carotenoides através da interferência na atividade da enzima HPPD (4-hidroxifenilpiruvato-dioxigenase) nos cloroplastos. Pertence ao grupo químico das tricetonas. Sua aplicação é recomendada em pós-emergência e a associação com atrazina ou nicosulfuron é encorajada, no intuito de ampliar o número de plantas daninhas controladas na cultura do milho, bem como prevenir o desenvolvimento de biótipos de plantas daninhas resistentes ou manejar os eventualmente já presentes.

TEMBOTRIONE

Trata-se de outro herbicida pertencente ao grupo químico das tricetonas, como mecanismo de ação de inibição da biossíntese de carotenoides. É capaz de manejar plantas daninhas resistentes ao glifosato e inibidores da ALS, bem como plantas daninhas tolerantes ao glifosato, como trapoeraba (Commelina benghalensis) e corda-de-viola (Ipomoea grandifolia). Tembotrione tem seu uso indicado para o controle pós-emergente das plantas daninhas na cultura do milho, com sua dose variando entre 180ml/ha e 240ml/ha de produto comercial, dependendo da espécie de planta daninha e de seu estádio de desenvolvimento.

GLIFOSATO

O glifosato possui mais de 50 produtos comerciais disponíveis no mercado brasileiro, com recomendações que vão desde 180 gramas por hectare de equivalente ácido de glifosato (g e.a./ha) até 2.160g e.a./ha. A recomendação para o controle de plantas daninhas em milho ocorre com aplicações entre 360g e.a./ha e 1.080g e.a./ha, em uma ou mais intervenções até o fechamento da cultura.

Se por um lado o glifosato é uma alternativa de manejo para plantas daninhas resistentes a outros mecanismos de ação, como os inibidores da ALS, por outro o aparecimento de casos de resistência de plantas daninhas até o momento envolvendo esse herbicida está diretamente relacionado com a sua utilização intensiva nas áreas de plantio direto e em outras áreas de controle não seletivo de plantas daninhas (café, fruticultura, florestas, etc.) e também pelo potencial de aplicação em culturas geneti camente modificadas, particularmente nas culturas de soja, algodão e milho.

AMÔNIO-GLUFOSINATO

O amônio-glufosinato é um herbicida de contato, não seletivo e de amplo espectro de controle sobre plantas daninhas. No Brasil e no mundo, este herbicida é amplamente utilizado em dessecação pré-plantio, culturas perenes ou em pós-emergência de culturas anuais contendo a tecnologia Liberty Link.

Uma das características marcantes do amônio-glufosinato é o seu rápido efeito de dessecação sobre plantas suscetíveis. Apesar de ser um herbicida inibidor da glutamina sintetase, as causas do rápido efeito (ação de contato) sobre as plantas eram atribuídas ao acúmulo de amônia e à inibição da fotossíntese.

Sua recomendação pode variar de dois litros por hectare a três litros por hectare de produto comercial, dependendo da espécie de planta daninha presente na área.

Acácio Gonçalves Netto, Agrocon Assessoria Agronômica

Biotecnologia protegida

Observar as áreas de refúgio, fazer uso de inseticidas Observar as áreas de refúgio, fazer uso de inseticidas não Bt, lançar mão de tratamento de sementes não Bt, lançar mão de tratamento de sementes e de aplicações na parte aérea fazem parte das e de aplicações na parte aérea fazem parte das alternativas para o manejo de resistência em áreas alternativas para o manejo de resistência em áreas de soja e de milho cultivadas com organismos de soja e de milho cultivadas com organismos geneticamente modificados geneticamente modificados

Ocrescimento da agricultura brasileira tem gerado um aumento no mercado de defensivos no País. Na safra 2018/19, conforme pesquisa realizada com produtores pela agência Kleffmann Group, apud SNA 2020, em volume, as vendas totais de defensivos aumentaram 7% em relação ao ciclo 2017/18, para 809.700 toneladas. Dentre os defensivos utilizados é possível destacar o uso de inseticidas, pois há aumento de incidência de pragas nas lavouras nas últimas décadas.

Inseticidas podem acarretar consequências ao homem e ao ambiente em geral, já que além de exterminar populações de insetos não alvos, causam o aparecimento de pragas resistentes. Portanto, esta prática deve ser reduzida, adotando-se alternativas mais seguras para o controle de pragas (Praça et al., 2004), dentre as quais destaca-se uma muito recorrente atualmente: o uso da biotecnologia com a transgenia.

Transgênico – organismo geneticamente modificado (OGM) – é um organismo que recebeu um gene de outro organismo. Vale ressaltar que essa técnica não foi inventada em laboratórios. Foi observando a natureza que se descobriu que alguns organismos têm a capacidade natural de transferir características genéticas, como é o caso, por exemplo, de uma bactéria do solo chamada Agrobacte-

rium tumefasciens, que há milênios transfere genes naturalmente. Então, passou-se a utilizar essa bactéria para transformar as plantas, em laboratório, com o objetivo de promover uma agricultura mais saudável.

O avanço dessa tecnologia, denominada como biotecnologia, tem alterado o manejo de lagartas nas culturas da soja e do milho no Brasil. A tecnologia Bt na soja, também conhecida por tecnologia Intacta, caracteriza-se pelos genes utilizados, os quais têm origem na proteína da bactéria Bacillus thuringiensis.

SOJA

No ano de 2013 foi lançada no mercado brasileiro a segunda geração de transgênicos, a soja Bt (Intacta RR2 PRO), com a expressão da proteína Cry1Ac. A tecnologia Intacta RR2 PRO controla quatro espécies de lagartas falsa-medideira (Chrysodeixis includens), lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-da-maçã (Heliothis virescens) e broca-das-axilas (Epinotia aporema); e causa supressão às lagartas do gênero Helicoverpa (Helicoverpa zea e Helicoverpa armigera) e à lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).

A pesquisa do BIP (Business Inteligence Panel) Soja Sementes detectou avanço da tecnologia Intacta na região Sul e no Cerrado brasileiro, consolidando quase 75% das áreas de soja, contra 65% do ciclo 2018/19, divulgado pela consultoria Spark Inteligência Estratégica. Segundo o coordenador de projetos da Spark, o economista Rodrigo Lorenzon, o BIP Sementes apurou ainda que 42% das propriedades visitadas pelos pesquisadores tinham 100% da área cultivada com as variedades Intacta. No ano de 2017, em uma área da localidade de Chapadão do Céu, em Goiás, a Equipe Pragas e Plantas Daninhas da Fundação Chapadão, apud Gottems 2017, verificou H. armigera resistente à soja Intacta RR2 PRO. Uma ferramenta fundamental para

evitar a seleção de lagartas resistentes nas lavouras com a tecnologia Intacta RR2 PRO é a utilização de áreas de refúgio. Esta é uma medida preventiva que consiste na coexistência de lavouras com a tecnologia Intacta RR2 PRO ao lado de lavouras não dotadas desta tecnologia – no mínimo 20% de soja não Bt, a uma distância máxima de 800 metros.

O aumento da área cultivada da soja com tecnologia Intacta provoca maior pressão de seleção de genótipos resistentes. A melhor prática de manejo é seguir o Manejo Integrado de Pragas (MIP), utilizando o manejo conjunto com a biotecnologia.

A tecnologia Intacta não controla as lagartas do gênero Spodoptera (S. frugiperda, S. cosmioides, S. eridanea e S. albula). Além de polífaga, a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) alimenta-se das plantas em diferentes estágios, fazendo com que a planta fique vulnerável por um longo período quando atacada em estágio inicial (SÁ et al., 2005).

Monica Debortoli/Elevagro

O uso de inseticidas, com exceção dos inseticidas Bt, é necessário para evitar a formação de genótipos resistentes e também para controlar as lagartas do gênero Spodoptera e percevejos na cultura da soja, no entanto, a necessidade do uso de inseticidas deve ser determinada pelo monitoramento de pragas. Dentre as técnicas disponíveis, o uso do pano de batida na cultura da soja é uma excelente técnica de monitoramento de lagartas na lavoura.

Pesquisas realizadas comparando a eficácia do pano de batida, quanto à sua capacidade de extração de insetos em uma e duas fileiras de soja, mostraram maior eficiência de extração em apenas uma fileira de soja (Corrêa-Ferreira, 1993; Corrêa-Ferreira; Pavão, 2005; Ribeiro et al., 2006). Através da batida de pano em apenas uma fileira é possível determinar a quantidade de lagartas por pano de batida, e com o parâmetro nível de controle da praga, toma-se a decisão de aplicação de inseticidas.

MILHO

O estudo anual BIP Milho, da Spark Inteligência Estratégica, apud Campos 2020, apontou que as cultivares de milho Bt+RR ocuparam aproximadamente 78% das áreas plantadas com o grão no País, o que representa um avanço de 4% na safra 2019-20 em relação à safra anterior.

A facilidade de utilização da tecnologia Bt, a não interferência nas demais práticas culturais e o fato de normalmente apresentarem compatibilidade com outros métodos de controle, como físico, biológico, químico, dentre outros, tornam esta técnica adequada para ser incorporada em programas de manejo integrado de pragas (Vendramim; Nishikawa, 2001).

A espécie Spodoptera frugiperda, conhecida como lagarta-do-cartucho, é considerada a praga-chave da cultura do milho no Brasil, por proporcionar perdas significativas na produção, especialmente pela voracidade das lagartas e pela sua ocorrência durante todo o ciclo da cultura, com capacidade de completar mais de oito gerações por ano em alguns sistemas de produção de cultivos do Brasil (Rosa et al., 2011; Barros et al., 2010).

Após o lançamento da tecnologia Bt no milho, em 2007, em poucos anos já foram reportadas a quebra da resistência e a consequente redução de eficácia das proteínas Cry1F e Cry1Ab à lagarta-do-cartucho e à S. frugiperda a essas tecnologias (Farias et al., 2014; Omoto et al., 2016).

Do mesmo modo como a cultura da soja, em milho é fundamental a utilização de áreas de refúgio para evitar a seleção de lagartas resistentes nas lavouras com a tecnologia Bt, sendo também indicada a coexistência de lavouras com a tecnologia Bt ao lado de lavouras não dotadas desta tecnologia – no mínimo 20% de soja não Bt, a uma distância máxima de 800 metros.

O uso de inseticidas não Bt também pode ser considerado uma ferramenta para evitar a formação de genótipos resistentes à tecnologia Bt. O uso do tratamento de sementes com inseticida tem se mostrado uma excelente alternativa para o controle de S. frugiperda, principalmente na fase inicial do desenvolvimento da cultura. O tratamento de sementes é mais seletivo que a pulverização, em função da formulação do produto e do modo de utilização (Embrapa, 2015). A seletividade de um inseticida ou do modo de aplicação tem relação direta com a preservação dos inimigos naturais das pragas. Isto comprova que o tratamento de semente é uma ótima alternativa para evitar genótipos resistentes no milho Bt. Outra alternativa reside na aplicação de inseticidas na parte aérea, quando aparecerem as primeiras raspagens nas folhas das plantas, ainda no período do desenvolvimento vegetativo da cultura.

Jonas Dahmer, Phytus Group/Elevagro Coord. de Entomologia, Herbologia e Nutrição Vegetal • Sul

Dahmer aborda aspectos relacionados ao manejo de resistência

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