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Economia & Negócios

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Equídeos

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O que está mais difícil prever: o clima ou a economia?

Sergio De Zen Professor Esalq/USP; coordenador pecuárias Cepea

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Mariane Crespolini dos Santos Pesquisadora do Cepea

Oque podemos esperar para o período de seca que se aproxima? Pelo lado da receita, rendimentos firmes e chances de pressão, com a possibilidade de animais prontos para abate no final das águas. O mercado futuro em alta acima da inflação no pico da entressafra, e,

| Noticiário 24 ao mesmo tempo, há ainda o consumo interno desaquecido. Do outro lado,temos custos em alta, relacionados ao aumento nos valores de insumos – influenciados pelo câmbio, como sal mineral, milho e soja, além dos preços de animais de reposição estarem ainda em patamares elevados.

Primeiramente, vamos analisar o consumo. Sabemos que os brasileiros gostam mesmo é de um bom bife. E os números mostram isso: consumimos 80% da produção nacional de carne. Se a picanha ou o contrafilé estão com preços elevados, antes de mudar para o frango ou suíno, o brasileiro costuma optar por cortes mais baratos de carne bovina.

Ao descontar a inflação, dados do Cepea demonstram que, em março deste ano, o preço médio do dianteiro

Dados indicam que a inflação começa a perder força, mas isso ocorre principalmente devido à retração econômica, que inibe investimentos.

Crise Econômica e Política CONSUMO

Inflação em alta

Desemprego em alta

Redução do poder de compra do brasileiro

CÂMBIO

Crescem as exportações

Reduz oferta interna de milho e soja

Aumento dos preços dos insumos importados

Aumento dos custos de produção de grãos

Preços da suplementação mineral em alta

Clima

Bezerros comercializados em 2016: “filhos” da crise hídrica de 2013/2014

Sem grande aumento da oferta, mas animais de maior peso; preços firmes

Demanda interna: procura por carnes mais baratas

Demanda externa: maior em volume

Alta dos preços de milho e soja Pode haver alta nos preços de aves e suínos (aumento dos custos e até possível redução da oferta)

Dificuldades de repassar os preços da arroba para a carne

Custos de produção no período de seca tendem a aumentar

Pastagem na “pré-seca” - pecuaristas seguram os animais Possibilidade de maior oferta quando as chuvas reduzirem; preços pressionados

subiu 4,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já o traseiro registrou queda de 0,6% - ambos no atacado da Grande São Paulo. Ainda assim, representantes de frigoríficos consultados pelo Cepea dizem que “está sobrando” carne no mercado e que está difícil repassar as altas da arroba para o consumidor.

Isso ocorre porque, no “desmonte do boi”, são gerados mais de 400 produtos e mais de 15 diferentes cortes. O volume vendido de cada um não é proporcional ao volume gerado, então pode haver cortes em alta e em baixa, dependendo do mercado que atendem. Além disso, há elasticidade cruzada dos preços de demanda entre os cortes. Ou seja, o consumidor migra de um para outro, dependendo dos preços. Em resumo, existe concorrência entres os cortes.Cabe ao frigorífico e ao varejo a habilidade de manejar esses preços.

Em março, os preços nominais da arroba ultrapassaram a barreira dos R$ 156,00 em São Paulo. Mas é preciso ter atenção, já que o Brasil passa por um momento de desequilíbrio econômico, com forte inflação, que encerrou 2015 a 10,67% (IPCA – inflação oficial). Em termos reais,a arroba valia R$ 159,50 em março do ano passado, quantia 2,7% inferior à atual.

Dados indicam que a inflação começa a perder força, mas isso ocorre principalmente devido à retração econômica, que inibe investimentos. Nesse cenário, se, por um lado, frigoríficos reduzem escala, dão

férias coletivas e até fecham algumas unidades, por outro lado, pecuaristas têm boa oferta de pasto e optam por segurar os animais. Com expectativa de preços melhores, deverão comercializar animais mais pesados nos próximos meses, aumentando a oferta e, possivelmente, pressionando os preços.

Custos - Além de ter de equilibrar as receitas, há o desafio dos custos de produção. Em 2015, na “média Brasil”, avançaram um pouco mais que a inflação. Uma parcela expressiva do custo se refere à compra de animais e, ainda que as chuvas tenham se regularizado, os bezerros comercializados neste início de 2016 carregam reflexos da seca que atingiu o centro-sul do País no verão de 2013/2014.

Em algumas regiões, há maior oferta. Em outras, os animais estão mais pesados graças à abundância recente de pasto. Mas, quem for ao mercado de reposição antes da seca, não deve esperar queda nos preços, já que os valores devem continuar firmes,ainda que inferiores aos de 2015. O bezerro de 8 a 12 meses, em março do ano passado, teve média de aproximadamente R$1.500 e, na parcial deste mês, está em R$1.390 em Mato Grosso do Sul. Tudo indica que a reposição atingiu o “teto” da máxima.

Fundamental no período pré-seca, o suplemento mineral subiu 17,76% em 2015 e 4,22% apenas este ano. A sua base é importada e o câmbio atual encarece o produto. O milho e a soja, insumos relevantes para o período em que piora a condição das pastagens, também são afetados pela relação real/dólar, porque exportá-los está atraente, o que reduz a oferta interna.

No segmento de rações, em valores reais, o farelo de soja esteve cerca de 15% acima da média de um ano atrás em Rio Verde (GO). No mesmo comparativo, o milho valorizou quase 50%, conforme levantamentos do Cepea. A situação de baixa oferta interna do cereal, decorrente do bom ritmo das exportações, impacta os custos de todas as carnes, situação que não deixa espaço para o descolamento entre os preços.

Por fim, a crise política tem agravado ainda mais a economia. A verdade é que, pelo menos até a data final deste artigo, não havia luz no final do túnel. O produtor terá que lidar com um cenário em que a arroba, até então, foi sustentada pela baixa oferta resultante das condições climáticas. Nesse momento, as pastagens se recuperam e os pecuaristas seguram os seus animais. A conclusão é que o pré-seca de 2016 será mais arriscado pelos fatores externos que internos da atividade, pois o clima está dentro do esperado, mas as incertezas políticas afetam a economia e atingem todas as atividades do País.

Toda cautela este ano parece pouca, ainda mais em atividades como a pecuária bovina de corte e de leite, nas quais os investimentos são de longo prazo. As decisões baseadas na conjuntura atual parecem muito arriscadas, pois a crise irá passar e a economia se recuperar. Portanto, a decisão de curto prazo tem instrumentos de gestão de riscos muito claros – mercado a termo com preços fixos, mercado futuro e de opção, mas o produtor terá que conhecer muito bem os seus custos, e, somente assim, decidir. Quem optar pelo famoso “achômetro”, terá grandes chances de perder muito.

Toda cautela este ano parece pouca, ainda mais em atividades como a pecuária bovina de corte e de leite, nas quais os investimentos são de longo prazo. As decisões baseadas na conjuntura atual parecem muito arriscadas, pois a crise irá passar e a economia se recuperar.

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