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CONCENTRAÇÃO NO KARATÉ-DO

GRUPO UNITIS

IMPORTÂNCIA DA CONCENTRAÇÃO NA PRÁTICA DE KARATÉ-DO A

CONCENTRAÇÃO É DOS ASPECTOS MAIS IMPORTANTES NA PRÁTICA

DESTA ARTE MARCIAL, E TALVEZ UM DOS MAIS DIFÍCIEIS DE MASTERIZAR.

O

PRATICANTE PASSA POR DIVERSAS FASES DE CONCENTRAÇÃO, QUE

EVOLUEM CONFORME A SUA GRADUAÇÃO E PRÁTICA.

UM

BOM PRATICANTE DE ARTES MARCIAIS POSSUI SEMPRE UMA

HARMONIA ENTRE O SEU ESTADO MENTAL E A SUA PARTE FÍSICA.

JOÃO PEREIRA


CONCENTRAÇÃO NO KARATÉ-DO

CONCENTRAÇÃO NO KARATÉ-DO IMPORTÂNCIA

DA

CONCENTRAÇÃO

NA

PRÁTICA

DE

KARATÉ-DO

O QUE É A CONCENTRAÇÃO?

2

SETE MÁXIMAS DO KARATÉ-DO IMPORTÂNCIA DA CONCENTRAÇÃO NAS CRIANÇAS

2 2

ESTADOS DE EVOLUÇÃO

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YOI IRIMI ZANSHIN SATORI

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APLICAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO NO TREINO

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KUMITE KIHON KATA MOKUSO

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CONCENTRAÇÃO NO KARATÉ-DO

O QUE É A CONCENTRAÇÃO? Quando um praticante inicia o seu caminho no Karaté é desde logo confrontado com o termo Yoi. Mesmo sem saber nada sobre a prática, rapidamente se interioriza a noção de “não mexer” ao ouvir este termo, pois sabe-se que se vai iniciar um exercício. Assim, num momento inicial da prática associamos Yoi a um estado mental onde estamos prontos a reagir, à espera de algo para fazer. Este é o princípio de concentração, estar atento, quer ao mestre, quer ao parceiro, de forma a reagir ao que nos rodeia. A concentração é um factor importante do estado mental de qualquer praticante de artes marciais, e é algo que se evolui conforme a prática. S E T E M Á X IM A S D O K A R A T É -D O Existem sete príncipios básicos e fundamentais, referidos como as sete máximas, que são aplicados no trabalho a pares e no Kumite. Estes príncipios devem ser interiorizados pelo praticante, compreendendo-os e praticando-os, de forma a poder utilizá-los de forma eficaz numa situação de treino. Entre esses sete príncipios está a concentração, que é definida como estar pronto a reagir, para que a técnica, quer de defesa ou ataque, possa ser aplicada com a maior correcção técnica e decisão final. Só assim se pode inutilizar correctamente a accção do nosso oponente. I M P O R T Â N C IA D A C O N C E N T R A Ç Ã O N A S C R IA N Ç A S O Karaté é uma arte marcial que não só ensina os seus praticantes auto-defesa, uma das principais razões pelas quais se procura o Karaté, mas também tem valores filosóficos muito presentes, como a humildade, o respeito e a dedicação. Estas caracteristicas podem ter um efeito bastante positivo na formação das crianças, onde se pode observar uma melhoria em vários aspectos da vida, como a escola por exemplo, entre os praticantes de Karaté. Um dos aspectos em que o Karaté influencia a formação das crianças é na concentração. Já diversos estudos foram feitos e verifica-se que entre os praticantes de Karaté existe uma melhoria na concentração, em comparação com outras crianças. Isto acontece porque o Karaté não só procura o desenvolvimento físico e técnico dos seus praticantes, mas também o desenvolvimento mental e moral.

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ESTADOS DE EVOLUÇÃO Durante a prática, existe uma evolução da parte mental do praticante e, por consequência, uma evolução do seu estado de concentração. Assim, podemos dividir esse desenvolvimento em quatro estados distintos. YOI O primeiro estado de concentração pelo qual todos os praticantes passam. Este estado caracteriza-se por um reacção após uma acção, ou seja, o praticante está concentrado ao que o rodeia e reage após uma acção contrária. Apesar deste estado ser ineficaz numa situação real é ponto de partida na prática de qualquer arte marcial, onde normalmente a nossa concentração ainda se encontra num estado pouco desenvolvido. Todos os praticantes são diferentes, e por isto mesmo, o seu nível de concentração evolui a ritmos diferentes. O ideal será que o praticante transcenda o primeiro estado de concentração o mais brevemente possível, embora por vezes se possa sentir mais dificuldades neste aspecto. Conforme a graduação do praticante aumente o seu estado mental, que contempla a concentração, terá que aumentar também, caso contrário as dificuldades em acompanhar graduações mais elevadas será maior. I R IM I - 入 り 身 A tradução da palavra Irimi do japonês significa entrada com o corpo, ou seja, entrada com o nosso corpo na técnica do oponente. Este príncipio, como é óbvio, requer um nível de concentração mais elevado do que o Yoi, pois se o praticante apenas agir após uma reacção contrária esta entrada será realizada tardiamente e poderá provocar situações de confronto desnecessárias. Sendo assim, para aplicar correctamente este estado de concentração, o praticante terá que agir não após o adversário agir mas sim ao mesmo tempo, criando uma harmonia como se houvesse um espelho entre os parceiros. Desta forma, os confrontos desnecessários são reduzidos. Este estado de concentração já permite ao praticante ter um maior controlo sob o ambiente que o rodeia, o que começa a ser aplicado nos diferentes tipos de kumite em graduações mais elevadas. Este é o caso do Gohon e Sanbon Kumite, onde existem as aplicações de Taisabaki, esquiva do corpo, e Irimi, entrada no nosso opontente.

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Z A N S H IN - 残 心 O Zanshin é um dos estados de concentração mais desenvolvidos, onde o praticante se encontra numa situação de alerta constante ao seu redor. A sua tradução literal do japonês é “espírito remanescente”, o que faz lembrar Mokuso – estudo do vazio. A aplicação prática do Zanshin requer que o praticante esteja não só atento ao seu adversário ou adversários, para reagir de acordo com a sua acção, como ao ambiente que o rodeia. Ou seja, o praticante tem que estar num estado de atenção total ao que se passa em seu redor, ao mesmo tempo que está preparado para agir. Mas como será possível que um ser humano consiga, ao mesmo tempo, perceber tanta coisa? A resposta está na tradução de Zanshin, “espírito remanescente”, e na sua ligação com o Mokuso. Para o praticante entrar num estado de concentração de Zanshin não pode estar focado em uma coisa só, seja essa o nosso oponente, o ambiente à sua volta ou a dor que poderá estar a sentir, mas sim estar atento a tudo isso constantemente. Para isso é necessário o trabalho do Mokuso. O estudo do vazio permite-nos retornar ao estado mental de uma criança recémnascida, ou seja, onde não existe a percepção de dor, medo, perigo e, deste modo, não são desencadeadas reacções como receio, precaução ou hesitação. Assim, o nosso corpo irá reagir de forma automática e natural ao que o rodeia, não havendo espaço para movimentos pré-concebidos na nossa mente. O praticante entra num modo de instinto reflexo, onde o corpo apenas obedece ao seu instinto natural de defesa e sobrevivência. Não existe pensamento de técnicas, de movimentos de deslocação, ou qualquer outro tipo de pensamento. A mente encontra-se vazia e o praticante é capaz de perceber, de forma total e natural, todo o ambiente que o rodeia e agir correctamente. O corpo não se encontra tenso mas sim descontraído, o que permite que sirva de condutor energético para realizar as suas técnicas com o maior Kime possível. O praticante atinge assim o sentimento de Mushin, ou seja, move-se sem dar conta disso. O que se pretende atingir com a aplicação do Mokuso na concentração, e num aspecto prático como o Kumite, é então o sentimento de Mushin, “sem mente”. Este termo é uma abreviação da expressão mushin no shin que significa “mente sem mente”. Embora este sentimento seja prático durante o Kumite, pode e deve ser aplicado em todos os restantes componentes da prática, como o Kihon e a Kata, para que a execução da técnica seja o mais perfeita possível.

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Uma vez que esse príncipio esteja interiorizado no praticante, o objectivo será atingir esse nível de concentração e completa atenção nos restantes aspectos da vida. Para finalizar este estado de concentração, e dando um exemplo prático do mestre budista Takuan Sōhō que disse: A mente tem que estar sempre num estado de fluxo contínuo, porque quando este fluxo pára de algum modo significa que o fluxo foi interrompido e que essa interrupção é prejudicial para o bem estar da mente. No caso do espadachim significa a morte. Quando o espadachim se encontra em frente ao seu oponente, ele não pode pensar no oponente, nem em si próprio, nem nos movimentos da espada do seu inimigo. Ele apenas se encontra com a sua espada que, esquecido de todas as técnicas, está pronto apenas para seguir o que o seu subconsciente mandar. O homem não é mais o portador da espada. Quando ele ataca, não é o homem mas sim a espada na mão do subconsciente do homem que ataca.

SATORI - 悟 り Este é o último estado de concentração que se pode obter na prática de Karaté, em que se atinge a perfeição do ser. Satori é o termo do budismo japonês para “acordar” ou “compreensão”. Este estado de concentração está bastante relacionado com o budismo zen, e na sua tradição refere-se à contínua experiência de kenshō, que se pode traduzir como “ver a verdadeira naturaza/essência" de algo. Pretende-se assim que neste estado o praticante atinja um nível de concentração tão elevado que se cria uma harmonia entre o seu estado mental e a sua parte física, criando-se então uma harmonia interior. Esta harmonia ligada à experiência de kenshō, permite ao praticante integrar-se com o seu exterior, com o meio que o envolve, entrando em harmonia total. Com essa harmonia atingida deixa de haver espaço para confrontos, já que o praticante encontra-se em controlo de tudo o que se passa ao seu redor.

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APLICAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO NO TREINO No treino de Karaté, como já foi referido, a concentração é bastante importante e deve ser trabalhada de modo a que o praticante consiga evoluir pelos quatros estados possíveis. K U M IT E Conforme a graduação vai aumentando, o praticante terá que desenvolver mais a sua parte mental para a aplicação nos Kumite. Enquanto que nos primeiros Kyu, 8º Kyu cinto branco e 7º Kyu cinto amarelo, a situação de Kumite treinada é estática, o praticante normalmente não terá um estado de concentração muito elevado. Normalmente nestas graduações os alunos usam o estado de concentração Yoi, ver para reagir. No Kumite estático, e com as técnicas definidas, esse estado de concentração pode resultar, sendo que o ideal seria o estado Irimi, sentir para reagir. Nestas graduações os praticantes trabalham mais o aspecto físico e técnico para o corpo se habituar às diferentes técnicas existentes no Karaté. Quando se passa para graduações mais elevadas, 6º Kyu cinto laranja, o trabalho de Kumite, apesar de ser com técnicas pré-definidas, começa a ter um trabalho de movimentação que não é estático. Nesta graduação também se começa a trabalhar o Taisabaki e Irimi, sendo que este tipo de treino requer um nível de concentração mais elevado. Os praticantes deverão assim estar pelo menos em Irimi, caso contrário sentirão dificuldades em acompanhar o movimento do oponente. Para as restantes graduações, os praticantes devem estar nos últimos níveis de concentração. O trabalho de Kumite começa a ser um treino mais livre em que não existe pré definição de técnicas ou deslocamentos. O praticante deverá então entrar num estado de Mushin, deixando o corpo reagir de forma natural e automática ao seu redor. Neste nível mais elevado de Kumite é quando se começa a notar melhor a discrepância entre a parte física e o estado mental dos alunos, sendo que desta forma não se consegue atingir a tal harmonia que se pretende para o último estado de concentração, Satori. Quando se atinge um nível de concentração elevado, o praticante tem total controlo sobre a situação e não existe confrontos ou acidentes desnecessários, apenas fluidez de movimentos. PÁGINA 6


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K IH O N Existem dois tipos de Kihon que podem ser trabalhados no Karaté, o Kihon individual ou o Kihon a pares. No Kihon a pares, tal como o Kumite, o praticante deverá sentir uma evolução constante do seu estado mental conforme a sua graduação. Neste tipo de trabalho, existe um Uke e um Tori definidos, o que pode levar a pensar, em praticantes menos graduados, que enquanto o Tori apenas ataca o Uke apenas pode defender. Este tipo de pensamento é natural em praticantes com menos graduação, e pode levar a condicionamentos na forma de agir, ou seja, na forma como estão concentrados. Normalmente o Uke, como pensa que se encontra em situação de desvantagem, redobra a sua concentração. O inverso acontece com o Tori. Em graduações mais elevadas, caso o praticante mantenha este tipo de pensamento, o nível de concentração não estará de acordo com o aspecto prático do exercício. Neste tipo de trabalho, tanto o Uke como o Tori têm que manter um nível elevado de concentração pois nenhum deles está em vantagem ou desvantagem. Tal como o Kumite, pretende-se que o praticante atinga um sentimento de Mushin, em que o corpo reage instintivamente. No Kihon individual, apesar de não ser um trabalho a pares em que as sete máximas estão sempre presentes, a concentração é um aspecto que não pode faltar ao praticante. Esta concentração vai permitir que as técnicas sejam realizadas de forma mais correcta possível, já que o praticante tem total atenção ao que está a fazer, e com maior Kime. Um bom trabalho de Kihon individual vai permitir que o praticante sinta menos dificuldades quando fizer trabalho a pares, já que o corpo está habituado a realizar as técnincas pormenorizadamente e com Kime. KATA Tal como no Kihon individual, em que o praticante terá que manter um nível de concentração elevado para que as técnicas sejam efectuadas da melhor maneira possível, e no Kumite em que se pretende que o praticante atinga o sentimento de Mushin para deixar o corpo reagir instintivamente, na Kata prentende-se uma mistura dessas duas aplicações. A Kata é a forma do Karaté, é como um combate imaginário contra vários oponentes. Assim, a concentração não pode ser apenas com a aplicação de Kihon mas também de Kumite. O treino da Kata passa por diversas fases, como a aprendizagem do esquema de técnicas, o aperfeiçoamento das técnicas e por fim a aplicação do Zanshin da Kata. Ou seja, o praticante para efectuar uma boa Kata precisa de sentir o Mushin, para que as técnicas sejam o mais naturais para o corpo. PÁGINA 7


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MOKUSO Este tipo de meditação, realizado na posição seiza, permite que o praticante atinga o estado mental que necessita de aplicar durante o treino. Durante o estado de Mokuso, o nosso corpo é colocado numa posição dolorosa, de forma a que o praticante consiga colocar a mente vazia, não ter nenhum pensamento, mesmo sentido a dor do pé. Quando se consegue abstraír da dor, a parte mental sobrepõe-se à parte física, sendo esse o príncipio que se pretende obter ao aplicarmos o Mokuso noutro treino qualquer. Assim, para podermos aplicar o Mokuso na prática de Karaté, em que estamos constantemente a tomar atenção ao nosso oponente e ao ambiente que nos rodeia, temos que conseguir aplicá-lo num ambiente calmo e controlado, como fazemos na posição de seiza. Apenas após o praticante perceber o trabalho de Mokuso na posição seiza, consegue aplicar o conceito no prática de Karaté. Isto faz com que o treino de Mokuso, normalmente no ínicio e no final de cada aula, não só permita uma “limpeza” do estado mental do praticante, mas que seja também uma base importante para o desenvolvimento da concentração.

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