ahe ESPORTES ahebrasil.com.br
01
Usain Bolt
Ă?dolo de verdade AlĂŠm das pistas, como se faz uma lenda
Nesta edição
8
Atletas Fabiana Murer, Bruninho, Logan Tom, Isadora Williams, Alexandre Rocha
18
querer é poder
28
Usain bolt, O Ídolo
36
de bike no paraíso
42
os atletas do cob
46
José carlos brunoro
TristarRio: por dentro da prova que começa a revolucionar o triatlo
Além das pistas, como se faz uma lenda do esporte
A participação da ciclista Adriana Morrone na versão amadora da maior prova de ciclismo do mundo
Quem são os atletas que deixaram as competições e agora fazem o esporte brasileiro evoluir
Expert em gestão esportiva indica o caminho do sucesso para as modalidades olímpicas
seções AHEBRASIL.COM.BR 06 RÁPIDAS 16 Um giro pelo esporte mundial
ciência
23
O doping, o gato e o rato
o jogo da minha vida 24 Hortência: Brasil 99 x 97 Austrália
Pôster 26 Roger Federer
você vai ouvir falar de... 34 Matheus Santana
Carlos eduardo novaes
35
Quem inventou o esporte?
performance 40 O tênis mais eficiente do mundo
ponto de vista 49 Desafios olímpicos no “país do futebol”
paulo caruso 50 Usain Bolt e o Cristo Redentor
AHEBRASIL.COM.BR Confira as últimas novidades do portal ahe! Seção de atletas atualizada Na seção de atletas, confira as fichas atualizadas de quem conquistou medalhas nos Jogos Olímpicos de Londres. www.ahebrasil.com.br/atletas/ index.html.
Hélio Rubens abre o jogo Se hoje Franca é a capital do basquete brasileiro, Hélio Rubens certamente tem sua parcela de colaboração. Após 50 anos trabalhando pelo esporte na cidade paulista, o treinador migrou para Uberlândia (MG). Em uma série de três entrevistas ao ahe!, ele fala sobre seus novos desafios, relembra a vitoriosa passagem pelo Vasco e saúda o bom momento do basquete masculino. www. ahebrasil.com.br/noticias/ entrevistas/1.html
Copa 2014: home especial Atento aos Campeonatos Mundiais de todos os esportes olímpicos, o ahe! resolveu dedicar uma capa especificamente à Copa do Mundo de 2014. Por lá, é possível encontrar notícias sobre as seleções de todo o planeta que disputam as Eliminatórias e novidades nas obras para a construção dos estádios. A Copa das Confederações de 2013 também está em foco. www.ahebrasil.com.br/ copa2014/
homenagem na Líbia A convite do Comitê Paralímpico Líbio e do governo do país, o ahe! foi conhecer e respirar o ar da nova Líbia. A repórter Natália da Luz participou, no país, das comemorações pelo Dia Internacional das Pessoas com Deficiências, que aconteceu no dia 3 de dezembro - a data foi criada a partir de uma proposta do ativista líbio Monsour El-Kikhia, capturado e morto pelo regime do ex-ditador Muamar al-Gaddafi.
Djokovic seguido de perto Em sua primeira passagem pelo Brasil, o sérvio Novak Djokovic foi seguido de perto pelo ahe! O portal acompanhou o tenista número 1 do mundo na Rocinha, onde ele e Gustavo Kuerten inauguraram quadra pública de tênis; no Maracanãzinho, onde protagonizaram jogo de exibição; e, por fim, no Engenhão, palco de uma descontraída pelada entre os times de Petkovic e Zico, “reforçados” por Djokovic e Kuerten. Busque “Djoko no Rio” e encontrará toda a fotos e reportagens sobre o tema.
Além disso, a repórter conversou com personalidades que ficaram caladas por muito tempo por causa do regime ditatorial e, em nome do portal, recebeu um prêmio do governo por conta de sua reportagem sobre a expectativa do paradesporto na Líbia após a revolução que depôs o regime de Gaddafi. Natália também esteve em contato com atletas, ativistas, artistas – enfim, líbios de muitas gerações que compartilham o sonho de uma sociedade justa e igualitária.
Drama africano pós-Londres Década esportiva
Momento único do Brasil é retratado em pesquisa que mostra o avanço do PIB do esporte. Na seção Performance
O ahe! entrevistou atletas e dirigentes da República Democrática do Congo que pediram asilo em Londres após o país participar, pela primeira vez na história, dos Jogos Paralímpicos. “O governo está muito perigoso”, conta Guy Nkita, técnico da Federação de Atletismo do país. Dedeline Mibamba, atleta de lançamento de disco, perdeu as pernas, após a explosão de uma mina terrestre. Em Olimpíadas.
EDITORIAL
ahe ESPORTES
Diretor Geral Eduardo Larangeira Jácome eduardojacome@gsnsports.com.br Direção de Conteúdo Robert Halfoun robert@gsnsports.com.br Editor Chefe Revista AHE!Esportes Daniel Costa e Silva danielcosta@ahebrasil.com.br Direção de Arte Revista AHE!Esportes Luciano Araujo luciano@gsnsports.com.br Editor Chefe Portal AHE! Bernardo Coimbra bcoimbra@ahebrasil.com.br Editora Chefe Projetos Especiais Natalia da Luz natalialuz@ahebrasil.com.br Editores de Esportes Fernanda Thurler fernandat@ahebrasil.com.br Gustavo Novaes gustavonovaes@ahebrasil.com.br Repórteres Camila Pereira camilapereira@ahebrasil.com.br Francisco Junior franciscojunior@ahebrasil.com.br Estagiário Thiago Mendes thiagomendes@ahebrasil.com.br Participações especiais Carlos Eduardo Novaes Gustavo Maia Lázaro Alessandro Soares Nunes Paulo Caruso Colaboradores João Guilherme Lidington (repórter) Zô Guimarães (fotógrafa) Gerente de Marketing Frederico Guaragna fredericomandelli@gsnsports.com.br Gerente de RH e Administração Fernanda Monte fernandamonte@gsnsports.com.br Gerente de Gestão Mário Vassalo mariovassalo@gsnsports.com.br Gerente de Projetos Fernando Marques fernando.marques@gsnsports.com.br Tecnologia Anderson Carvalho andersoncarvalho@gsnsports.com.br Assistente Administrativa Josi Peixoto josipeixoto@gsnsports.com.br
Diretor GSN Internacional (Paris) Felipe Jácome felipejacome@gsnsports.com.br
Muito além de 2016 O slogan acima, criado em julho de 2010 para a GSN – Global Sports Network, traduz a essência do envolvimento da nossa empresa com o esporte no Brasil, aplicado diretamente no portal dedicado aos esportes olímpicos ahe!Brasil, desde outubro de 2011. E agora também na nossa mais nova empreitada: a revista ahe!Esportes. Ela nasce com o mesmo compromisso de cobrir o universo esportivo da forma mais completa possível. ahe!Esportes dá luz à atletas, cobre torneios, olha para o passado, traz as notícias mais relevantes do segmento. Tudo isso com um tempero especial: um olhar mais atrevido, seja fotograficamente quanto editorialmente. A intenção é que você, leitor, reflita conosco, encante-se com as belas imagens que o esporte nos proporciona. Na primeira fase de lançamento, ahe!Esportes será veiculada no portal ahe!Brasil e, depois, de forma impressa com distribuição gratuita nos pontos onde o público que ama o esporte está: nos clubes, nas academias esportivas, nos locais de competição. Trata-se de uma fórmula vencedora, aplicada na Europa e que agora a GSN traz para o Brasil. Claro, o momento do país é propício para isso, com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos que vêm por aí. Mas, vale reforçar, o nosso compromisso com o esporte vai muito além. O portal ahe!Brasil e a revista ahe!Esportes vieram para ser ferramentas fundamentais para a informação e o desenvolvimento do esporte no País. Sim, já evoluímos muito. Mas com o nosso comprovado potencial esportivo, não há dúvida: vamos muito além de 2016. Não poderia deixar de agradecer a todos os que tornaram possível essa realização. Ter a qualidade profissional do Robert Halfoun na concepção desse projeto é uma satisfação e a garantia de qualidade do mesmo. Agradeço especialmente também ao Daniel Costa, Editor Chefe, e ao Luciano Araujo, Diretor de Arte, que foram fundamentais para que atingíssemos nosso objetivo. Ao Frederico Guaragna, nosso Gerente de Marketing, por toda a criatividade, dedicação e incentivo que fizeram com que fôssemos nessa direção. Eduardo Larangeira Jácome Diretor geral
FABIANA
MURER Saltar de novo Depois do fracasso em Londres, ela quer superar sua maior marca – e brilhar no próximo Mundial Depois de “refugar” em Londres com receio da ventania e atrair para si certa antipatia da torcida brasileira, Fabiana Murer tem um calendário extenso pela frente em busca de voos mais altos sobre o sarrafo. “Estou muito animada para continuar desenvolvendo a minha técnica para salto alto. Tenho condição de saltar 4,85 metros, que é minha melhor marca, e de chegar aos 5m”. Murer estará em ação já em janeiro, em Reno, nos Estados Unidos, dando início à temporada indoor – sem interferência do vento. Serão, ao todo, seis competições nestas circunstâncias. O planejamento, claro, visa o Mundial de Moscou, em agosto, principal evento de atletismo em 2013. Um bom resultado é essencial para a campeã atual ter certeza de que a volta por cima – com ou sem vento – virá nos Jogos do Rio. “Tem muita coisa pela frente. Estou muito motivada para 2013 e para ir além.”
BRUNINHO
Tal pai, tal filho
Há mais de Bernardinho no levantador do que o laço fraternal – mas pouca gente vê isso
Levantador titular do RJX e da seleção brasileira, Bruninho aparenta ser um rapaz sereno, tranquilo – a antítese do pai, Bernardinho. Hora ou outra, no entanto, ele explode, faz careta, chora e mostra que há mais traços comuns entre eles do que possa aparentar. Espírito de liderança, garra e determinação são características, segundo Bruninho, herdadas do DNA de Bernardinho. “Quando era criança, acabava o treino, logo pegava uma bola para brincar de ataque e defesa com ele. Cresci na quadra. Também sou perfeccionista, dedicado, acabo me cobrando muito, então, de alguma maneira, essa vibração vem à tona junto com a adrenalina do jogo”. Se ele se imagina, no futuro, orientando e esbravejando ao lado da quadra? “Acho que tenho essa vontade, sim, mas é melhor esperar. Está muito cedo, então fica difícil de dizer. Ainda tenho um bom tempo para jogar e não posso dizer isso, não quero planejar.”
Alexandre
Rocha
Grande tacada Brasileiro compete com Tiger Woods, em busca de medalha nos Jogos do Rio Único brasileiro na disputa do PGA Tour, o circuito de golfe mais prestigiado do mundo, nos EUA, o paulista Alexandre Rocha, 35 anos, reprogramou sua carreira após a confirmação de que o esporte faria parte dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016: trocou de instrutor, empresário e equipamento. Alexandre tem como meta elevar seu nível disputando os torneios com nomes como o norte-irlandês Rory Mcllroy, líder do ranking mundial, e o norte-americano Tiger Woods. Os bons resultados já começaram a aparecer. O brasileiro fez sua melhor temporada em 2012. No início de agosto, ele foi vicecampeão do Reno-Tahoe Open, em Nevada; em novembro, terminou em quarto no Frys.com Open, na Califórnia. Nos dois torneios, esteve muito perto da vitória até os últimos buracos. Em 2013, o objetivo é conquistar um título e ratificar a condição de ser o nome mais importante de uma modalidade que, no Brasil, esbarra no alto custo para a prática e é visto como “esporte de rico”. “O trabalho que tenho feito desde o início do ano já demonstrou resultados. Estou confiante”, resume.
Isadora
Williams
Olho nela Patinadora revelação lança site em busca de verba para representar o Brasil Isadora Williams, filha de mãe nascida em Minas Gerais e pai americano, sonha fazer história vestindo o uniforme verde e amarelo na patinação no gelo, esporte, por motivos óbvios, de pouca repercussão no tropical Brasil. Vivendo em Ashburn, em Virginia, nos Estados Unidos, a jovem de 16 anos se esmera com um objetivo em mente: representar o país que ama nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, na Rússia. A caminhada até lá, no entanto, é árdua. Praticamente sem apoio, Isadora criou um link em sua página oficial na internet para arrecadar fundos que a permitam investir em competições classificatórias. “Todo este custo com viagens, treinos e uniformes ainda são pagos pelos meus pais...”, garante a jovem, que divide seu tempo entre quatro horas de treinos diários, estudos, aulas de ballet, coreografia e musculação. A dedicação já dá resultado: ela surpreendeu ao se qualificar para as finais do Mundial Júnior, na Bielorússia. Para colaborar e ver mais de Isadora, acesse: www.isadorawilliams.wix.com/br
LOGAN
Tom
Bela e craque De volta à Superliga feminina, a americana se impressiona com o assédio sobre ela A ponteira de 32 anos, reforço do Unilever para a temporada 2012/2013, atrai naturalmente as atenções – e até se incomoda com o assédio. Os fãs a cercam por onde ela anda, algo com o qual não está acostumada – nos EUA, o vôlei está longe de ser popular. Status de estrela à parte, ela é reservada e vem enfrentando alguns bloqueios com o jeito “solto” dos cariocas. “Há dez anos tive minha primeira experiência por aqui (no Minas). Mudou muita coisa, eu também mudei. É incrível como o vôlei é tão popular. Você passa pela praia e fica impressionado com a quantidade de pessoas praticando a modalidade.” Por que jogar no Brasil? “No Rio, o vôlei é muito forte e estou jogando entre as bicampeãs olímpicas, né?” Em outras palavras, veio aprender um pouco.
RÁPIDAS A noite do último dia 18 de dezembro foi de celebração para o esporte olímpico brasileiro. No palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, os atletas que se destacaram nas mais diversas modalidades foram homenageados e tiveram seus esforços reconhecidos. Após o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) indicar seis finalistas aos principais prêmios da noite, Sheilla Castro, da seleção feminina de vôlei, e Arthur Zanetti, ginasta campeão em Londres nas argolas, foram escolhidos por votação popular como os grandes nomes do país em 2012. No feminino, Sheilla disputou a preferência com Sarah Menezes (judô) e Yane Marques (pentatlo moderno). Entre os homens, também foram indicados Esquiva Falcão (boxe) e Thiago Pereira (natação).
> Pé de meia. Além de assumir o
posto de número 1 do mundo neste fim de 2012, Novak Djokovic subiu uma posição em mais um ranking. Desta vez, o sérvio ultrapassou Pete Sampras e agora é o terceiro tenista que mais recebeu premiação em dinheiro na história, com nada menos que US$ 45.686.497. Perde apenas para Roger Federer (US$ 76.014.777) e Rafael Nadal (US$ 50.061.827).
> Braçadas na Turquia. A seleção brasileira de natação terminou o 11º Mundial em Piscina Curta, em dezembro, em Istambul, com um ouro (Nicholas Santos - 50m borboleta) e um bronze (Guilherme Guido - 100m costas). Cesar Cielo não competiu. Thiago Pereira, Felipe França, Nicolas Oliveira e Graciele Hermann, numa delegação formada por 22 atletas não foram tão bem quanto se esperava. A boa notícia é que a equipe mesclou juventude e experiência já visando os Jogos de 2016.
> Por ippon. Victor Penalber (até 81kg) subiu ao lugar mais alto do pódio no Grand Prix da China, em Qingdao, o último da temporada. Ele faturou o ouro derrotando na final o russo Murat Khabachirov por ippon. O país ainda conquistou mais cinco medalhas. Quatro de prata (Maria Portela, Renan Nunes, Ketleyn Quadros e Érika Miranda) e um bronze (Gabriela Chibana). > Time Nissan. A Nissan escolheu 30 atletas – entre eles, seis paralímpicos – para patrocinar visando os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Os mentores do projeto são a ex-jogadora de basquete Hortência Marcari e o nadador paralímpico Clodoaldo Silva. Entre os atletas escolhidos estão o judoca Felipe Kitadai e o pugilista Yamaguchi Falcão, ambos medalhistas de bronze nos Jogos de Londres. > Laureado. No fim do mês, o velocista sul-africano Oscar Pistorius recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Strathclyde, em Glasgow, na Escócia, por ser o primeiro biamputado a disputar tanto os Jogos Olímpicos quanto os Paralímpicos em Londres.
Os números do NBB 5ª edição da competição já começou com recorde de times
18
120
É o número de times que vão participar do NBB 5. Número recorde na história da competição
Horas de transmissão na TV (fechada) teve a temporada regular do NBB4
10
1
São os times do Estado de São Paulo. Mais da metade
63
Recorde de pontos de um jogador na história do NBB. Marcelinho, na vitória do Flamengo por 101 a 89 sobre o São José, dia 07/03/2010
25.270
cestas convertidas no NBB 4 – 3.743 arremessos convertidos de três; 10.555 convertidos de dois; 10.972 lances livres convertidos
3.610
É o número de pontos que Marcelinho marcou na história do NBB. Ele é o maior cestinha de todos os tempos da competição
3
É o número de títulos do Brasília
62
pontos é a maior diferença de placar de um time para o outro. Aconteceu na vitória de 103 a 41 do Flamengo sobre o Vila Velha, dia 17/12/2011, no Rio de Janeiro
4
É o número de jogos que o armador Arthur, do Brasília, não participou somando as quatro edições do NBB. Ao todo, ele é o recordista de jogos na competição, com 158
Foram os números de triplos-duplos (dois dígitos em três categorias diferentes durante um jogo) que já aconteceram na história do NBB. Três deles foram de Larry Taylor, norte-americano naturalizado brasileiro que joga no Bauru
2
São os times de “camisa” no futebol: Flamengo e Palmeiras
159
É o número de jogos que o Brasília fez na história do NBB. Ninguém entrou em quadra mais do que o time da capital
Querer é
poder Versão inédita de triatlo, no Rio, reúne atletas de vários níveis e confirma: há uma nova era para o esporte por francisco junior
A largada do TristarRio, na Praia do Flamengo: mais de 600 atletas participantes
C
ariocas não gostam de dias nublados, diz a canção – principalmente nos fins de semana. A turma que passa pela base do TristarRio, no Aterro do Flamengo, porém, está feliz como pinto no lixo. A foto com sorriso fácil e o número da inscrição nas mãos, tirada um dia antes da largada, é prova disso. A explicação para tamanha felicidade é a expectativa de participar da primeira edição do triatlo inclusivo, feito também para dissolver a ideia de que a prova que inclui natação, ciclismo e corrida fora criada apenas para homens de ferro. O Tristar nasceu em Mônaco, em 2009, e já promoveu 15 edições da prova desde então, em lugares como Cannes (França) e Mallorca (Espanha). Todas com o formato fundamental: belas locações, em pontos estratégicos, para atrair o público, celebridades do esporte e relacionadas a ele, feira de produtos e ações sustentáveis e sociais (veja quadro). Há dois percursos: um para atletas de alto nível e outro para gente muito bem condicionada, mas que está longe de ter a performance de um pró.
Área de transição para as bikes e detalhe da triatleta Carla Moreno: circuito menor dá a chance para testar variações de performance
O formato da prova, com dois percursos, permite que atletas de outras modalidades busquem mais qualidade para o seu treinamento
O percurso mais intenso tem 111 km ( 1 km de natação, 100 km de ciclismo e 10 km de corrida). O outro, 55.5 km (500 metros de natação, 50 km de ciclismo e 5 km de corrida)
O mais intenso tem 111 km – 1 km de natação, 100 km de ciclismo e 10 km de corrida. O outro, 55.5 km – 500 metros de natação, 50 km de ciclismo e 5 km de corrida. O domingo não tem sol e a temperatura é amena às margens da Baía de Guanabara, onde 600 participantes aguardam a largada. O ótimo número de atletas inscritos confirma a ideia de que flexibilizar a prova é um passo fundamental para democratizá-la. Na areia, entre os competidores, vê-se gente de todas a idades e, aparentemente, condições diversas de preparo físico. Lucas Di Grassi, piloto de testes de F1 e um dos sócios da One Sports Business, agência de marketing esportivo que ajudou a trazer o evento para o país, está entre eles. “Participei do evento em Mônaco e, durante a prova, fiquei pensando que o Rio é o cenário ideal para ela. Não tinha como dar errado”, diz. Não deu. Além de inclusivo, o formato da prova permite que atletas profissionais de outras modalidades busquem mais qualidade para o seu treinamento; e que os triatletas de ponta façam variações de performance, seja no circuito maior, seja no menor, quando intensificam o ritmo, para cumprir a prova no menor tempo possível. Carla Moreno, que participou de duas edições de Jogos Olímpicos (2000 e 2004), planejou fazer isso. “Para mim é uma novidade participar de uma competição que tem distâncias diferentes das quais estou acostumada. É uma grande oportunidade, inclusive para treinar ciclismo, que é a parte mais longa.” Outros feras estão na prova. Vanessa Gianinni, Santiago Ascenço e Diogo Sclebin (este, representante do Brasil em Londres), Marcus Ornellas, embaixador do TriStar Rio e até o empresário-atleta Pedro Paulo Diniz. Ao longo da prova, os pelotões se definem naturalmente. A disputa é intensa entre os participantes – a diferença entre eles é pequena, até o final, o que dá um tempero de emoção a mais ao evento. A performance de ponta, como esperado, também chama atenção. Ao visar um treinamento especial no percurso mais curto, profissionais como Diogo Sclebin tem uma participação arrasadora, voam no circuito – “puxam” os outros atletas.
De uma forma geral, o TristarRio teve o percurso plano, num dia nublado, com temperatura agradável: condição perfeita para voar nas pistas
O modelo do Tristar gera pegas incríveis entre os competidores. As chegadas costumam ser emocionantes E tome emoção. O final é eletrizante: Santiago Ascenço vence o TriStar 111 com 03:12:58, Adriano Sacchetto faz 03:14:39 e Luiz Francisco Ferreira, na cola dele, 03:15:43. Diogo Sclebin completa o TriStar 55.5 em incríveis 01:47:13, seguido do pega entre Wesley Matos, 01:50:12, e Pedro Arieta, 01:51:08. Entre as mulheres, a tricampeã brasileira de triatlo Vanessa Gianini tem um excelente desempenho e garante o primeiro lugar, após manter a liderança durante todo o percurso mais longo, 03:34:52. Suzana Festner faz 03:37:30 e Bruna Mahn, 03:44:44. Carla Moreno sobra no circuito menor e completa com 02:20:25. No podium montado no emblemático Monumento Aos Pracinhas, onde estão os soldados brasileiros que morreram em combate na Segunda Grande Guerra, a empolgação dos atletas de todos os níveis dá pistas claras de por que o triatlo conquista cada vez mais adeptos, principalmente dentro das academias. Em 2013, garante a organização, tem mais. E aí, vai encarar?
Corrida engajada
Proteção ambiental e responsabilidade social também fazem parte da prova Antes da largada do TriStar Rio o Projeto Ecoboat retirou 500 kg de resíduos sólidos da Baía de Guanabara. Toda a produção do evento também foi neutralizada, a partir da compesação de Co2. Mais: uma parceria com a ONG Rio Eu Amo Eu Cuido deu o exemplo na proposta de valorizar pequenos gestos em prol da cidade. Fez com que os competidores fossem orientados a jogar os copos d’água consumidos em locais determinados.
ciência
por Lázaro Alessandro Soares Nunes
Gato e rato
Perseguição ao doping: substâncias proibidas se desenvolvem mais rapidamente do que os testes para detectá-las
R
ecentemente, um grande esquema de doping foi revelado e um dos maiores nomes do ciclismo mundial, Lance Armstrong, foi banido do esporte perdendo seus sete títulos do Tour de France. Uma maneira de se descobrir se um atleta está dopado é através da pesquisa direta da substância proibida em algum fluído biológico (sangue ou urina). Mas a velocidade com que novas substâncias utilizadas para o aumento do desempenho são desenvolvidas não é a mesma dos testes laboratoriais disponíveis para identificar estas substâncias. É como uma briga de gato e rato. Para tentar solucionar este problema a UCI e a Agência Mundial Anti- Doping (WADA, sigla em inglês) passaram a realizar vários testes nos atletas fora dos períodos de competição. É o chamado Passaporte Biológico do atleta (ABP). Nesta modalidade, o atleta é submetido a testes comuns, como o hemograma, não só após as competições, mas durante os períodos de treino. Tais análises são comparadas aos valores do próprio atleta e alertam quando existe uma variação muito grande, fora dos valores normais propostos para este atleta. Este tipo de análise pode ser realizado de forma retrospectiva e o atleta é convocado a dar explicações sobre sua conduta.
No caso Armstrong, embora ele tenha alegado que nunca “testou positivo”, foi possível identificar a conduta ilegal do atleta. O problema é que o “passaporte” permite pesquisar apenas o uso de esteróides na urina e o doping sanguíneo. Além disso, problemas relacionados à análise das amostras coletadas, tais como conservação de sangue e urina, podem provocar alterações que levem a resultados falsos. O doping sanguíneo, que consiste na utilização de substâncias que aumentam a produção de glóbulos vermelhos e consequentemente a capacidade de transportar mais oxigênio para os tecidos, é um requisito para o sucesso em modalidades de longa duração com predominância aeróbia, como por exemplo, a maratona e o ciclismo. A nova conduta da WADA e das federações esportivas internacionais busca evidenciar alterações bioquímicas relacionadas à utilização constante do doping. Este é um caminho que necessita de mais ferramentas que busquem não apenas detectar a substância dopante, mas também o desempenho do atleta ao longo de treinos e competições. Lázaro Alessandro Soares Nunes Bioquímico - Doutor em Biologia Funcional e Molecular
o jogo DA MINHA VIDA
Brasil 99 X 97 Austrália
A segundos do fim do jogo, Hortencia faz cesta épica e abre caminho para a primeira participação do basquete feminino nos Jogos Olímpicos por Robert Halfoun
P
ré-olímpico de Vigo, Espanha, 1992. Depois do fracasso nos dois préolímpicos anteriores, a brilhante seleção brasileira de basquete feminino, comandada pelo talento de Hortencia e Paula, precisa ganhar o jogo contra a poderosa Austrália, de Michele Timms, Sandy Brondello e Robyn Maher, para continuar viva na competição e tentar a vaga inédita no confronto seguinte. E o que se vê é um jogo histórico. Pau a pau, cesta a cesta. 81 x 81, no tempo regulamentar. A prorrogação segue na mesma toada, até que, a três segundos do final, a Austrália abre 3 pontos de vantagem. Parece o fim. O Brasil, no entanto, tem a posse de bola. Paula parte para o ataque, cai pela direita, gira... faz o passe, perde a bola. Recupera na raça, encontra um paredão australiano, fechando toda a entrada no garrafão, pouco atrás da linha do arremesso de três metros. Hortência percebe, cai pela esquerda, dá opção para a companheira. “Ela não tinha qualquer chance de chutar e me desloquei para a lateral para receber a bola”, conta a ahe!Esportes, anos depois. Faltam três segundos, é a última chance. A camisa número 4 do Brasil então recebe a redonda, avança um pouco mais para o flanco esquerdo e arremessa com a precisão de sempre. O lance é espetacular: rápido, consistente, fruto de puro instinto, treino, talento. “Se pensar, você não arremessa, não converte. Não dá tempo”, conta. Hortencia Marcari fez 3.160 pontos em 127 jogos pela seleção brasileira de basquete feminino. Esses três, no entanto, definem a brilhante carreira da maior jogadora de basquete que o Brasil já viu jogar. A célebre filha da pequena Potirendaba, no interior paulista, não seria quem é se não fosse absolutamente determinada, persistente e com uma personalidade forte a ponto de envolver o interlocutor com um olhar. Se você, um dia, encontrar com essa lenda do esporte mundial, perceberá que ela olha fundo no seu olho, é objetiva, emana uma força pouco vista. Características que a mantinham, sozinha, na quadra, todo santo
espetacular O lance é fruto de puro instinto, treino, talento. “Se pensar, você não arremessa. Não dá tempo”
dia, depois de todo santo treino, para lançar 100, 200 bolas à cesta. Perfeccionismo? Também. O que a então menina nascida em 23 de setembro de 1959 mais buscava, acima de tudo, era diminuir a chance de sentir o amargo gosto da derrota. “Sempre odiei perder. Desde muito, muito pequena”, conta. “Sabia que tinha uma performance diferenciada e precisava fazer jus a isso. As minha bolas tinham de cair – sempre”, diz, referindo-se aos inúmeros arremessos que fez durante toda a sua carreira. Por outro lado, curiosamente, a vitória e os pontos não eram motivo de euforia, mas de dever cumprido. E vinham acompanhadas de uma certeza e de uma pergunta: que venha a próxima bola; qual é o próximo jogo? Hoje, aos 53 anos, a diretora da seleção brasileira de basquete feminino continua a mesma e com mais um traço forte que marca a sua personalidade: Hortencia é uma pessoa bastante generosa. Na quadra, sempre usou a sua presença marcante e espírito natural de liderança para levar o time para frente, em equipe. “As peças têm de ser encaixar, uma jogadora leva a outra. Nunca cogitei a possibilidade de jogar sozinha.” O basquete, ela diz, é um esporte complexo demais. “Envolve estratégia e sensibilidade de perceber até onde vai o limite do outro. E quando é possível superá-lo.” É com esse conceito que deixa claro, sem papas na língua, que os Jogos do Rio, em 2016, não serão bolinho para o time brasileiro. “Temos uma equipe muito jovem e ainda não identificamos um grande destaque. Estamos trabalhando duro para formar uma jogadora que ocupe essa posição”, garante. Em tempo, depois da cesta salvadora, a talentosa equipe australiana ainda teria a posse de bola, perderia a mesma e só não tomou a virada por que não foi marcada a falta na pivô Marta, centésimos de segundos antes do cronometro ser zerado. A segunda prorrogação terminou com a vitória do Brasil, dois pontos à frente. O jogo todo, um dos grandes clássicos da história do basquete, está disponível, em cinco partes, no Youtube. Para ver acesse: www.youtube.com/watch?v=6q_1U4b3xWo
ahe ESPORTES
“No tênis e na vida, sempre há altos e baixos. Aprenda com eles”
Roger
FEDERER
O ídolo Não é apenas o talento que dá vida a lenda Usain Bolt. O homem mais rápido do mundo tem o dom de conquistar pessoas por Thiago Mendes
A
cada helicóptero que sobrevoava a Vila Olímpica Mato Alto, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, os olhos de centenas de crianças se voltavam para o céu. Tanta ansiedade não era em vão: a qualquer hora, ninguém menos que Usain Bolt iria aparecer. Sim, o homem mais rápido do mundo, ícone do esporte olímpico, esteve pela primeira vez no Rio de Janeiro cumprindo agenda de um de seus patrocinadores. Em solo carioca, onde promete dar um novo show nos Jogos de 2016, o jamaicano esbanjou carisma e simplicidade, características que o aproximam do homem comum – embora, com seis medalhas de ouro em Olimpíadas e três recordes mundiais (100m, 200m e revezamento 4x100m) nas costas, é impossível reconhecê-lo como tal. “Para mim, Usain Bolt é maior que Pelé”, diz Lauter Nogueira, comentarista de atletismo no Sportv e treinador.
Em cinco etapas, da largada à chegada, como Usain Bolt constrói sua vitória nos 100m
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Reação à largada Apesar de ser muito alto, Bolt tem uma boa largada. Ele perde pouquíssimo tempo por conta de sua estatura.
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Aceleração inicial Aqui, as passadas são mais curtas e os mais baixos têm mais tração. Bolt, porém, domina o seu centro de gravidade e inverte essa desvantagem.
Uma história que teve início em 21 de agosto de 1986, em Trelawny, uma pequena cidade rural da Jamaica, onde o menino esguio nasceu. Nas brincadeiras de criança, o atletismo não tinha vez. Bolt dedicava o tempo livre para arriscar sua habilidade no futebol e cricket, modalidade popular em seu país. O “problema” é que o garoto corria um bocado, e isso chamava a atenção. Até que seu treinador de cricket na época sugeriu que ele calçasse sapatilhas e tentasse a sorte nas pistas. Ainda na infância, Bolt iniciava a escrever sua história. Antes mesmo de completar 13 anos, já era o mais rápido do All-Age School nos 100 metros. Mesmo assim, insistia em jogar cricket. Mas acabou convencido do contrário à medida que seu corpo evoluía de forma ideal para a prática do atletismo. “Bolt tem um biotipo perfeito para as provas de velocidade. Ele consegue aliar sua incrível velocidade à sua altura (1,96m). Isso faz com que sua frequência de passadas seja superior a de qualquer um de seus adversários, além de ser extremamente coordenado”, explica Robson Caetano, único sulamericano até hoje a correr os 100m abaixo dos 10s. Em 2004, quando tinha apenas 18 anos, Bolt fez história ao se tornar o primeiro atleta júnior a completar os 200m com tempo abaixo de 20s – 19s93, recorde na categoria até hoje. Naquele mesmo ano, disputou seus primeiros Jogos Olímpicos, em Atenas. Mas se machucou e não passou das eliminatórias.
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Manutenção de velocidade A disparada. Ele tem um ritmo de passadas espetacular que lhe garante uma vantagem sobre os outros na metade da prova.
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Perda de velocidade Aqui, ele se diferencia ainda mais dos demais. Ao contrário dos “normais”, Bolt não perde velocidade e consegue manter o ritmo.
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Chegada Depois de abrir grande vantagem por não perder velocidade, Bolt se diverte. Com a vitória garantida, o jamaicano se dá ao luxo de olhar para o lado, brincar, sorrir...
A vida na Jamaica Durante o treino, a simplicidade da sua รกrea de treinamento e Bolt entre os seus, na pequena Trelawny, na Jamaica
Um tropeço que não o esmoreceu. Muito mais alto do que a média dos velocistas, Bolt sabia que isso o atrapalhava na hora da largada. Seu tempo de reação ao tiro o fazia perder preciosos segundos, principalmente nos 100m. Para compensar, tratou de aprimorar seus movimentos e passou a se aproximar cada vez mais da perfeição. “Após a saída, na etapa de aceleração inicial, as passadas são mais curtas e os mais baixos têm mais tração. Mas, apesar de ser alto, o Bolt consegue dominar sua altura e seu centro de gravidade e, assim, reverter essa desvantagem”, explica Lauter. Após os 40 metros iniciais é que o show de Usain Bolt começa. Com passadas largas, o jamaicano deixa os adversários para trás, como se não houvesse adversários. Com coordenação perfeita, o “showman” cruza a linha de chegada sozinho – e sorrindo. “Ele possui uma técnica apuradíssima, é extremamente coordenado, não falha. Por isso leva tanta vantagem. Ele alia altura e velocidade de uma maneira “extraterrestre”, exagera Robson Caetano. Não foi, porém, apenas seu talento que o elevou ao patamar de ídolo mundial. Bolt tem o dom natural de conquistar pessoas. Antes da largada, o jamaicano “brinca” de maestro. Seus comandados? Nada menos que um estádio inteiro. O fato é que Usain Bolt é garantia de espetáculo a cada aparição, seja ela em provas, pódios ou entrevistas. Ninguém domina uma situação de tensão tão bem quanto ele, que consegue transformar um ambiente extremamente nervoso em um verdadeiro show. Isso não é desconcentração, é algo natural. No Mundial de Berlim, em 2009, no dia seu aniversário, quando disputou mais uma final, antes da largada, mais de
85 mil pessoas presentes ao estádio cantaram parabéns para ele. Bolt brincou, se divertiu, fez a festa... Depois, pediu silêncio e venceu a prova com recorde mundial. “Fez isso com a maior naturalidade do mundo, como se nada tivesse acontecido”, testemunha Lauter. O que se vê no telão, se vê também nos bastidores. Um homem simples, de origem humilde, que não faz a menor questão de ser tratado em meio ao luxo. Em sua vinda ao Brasil, Bolt fez questão de viajar de classe econômica, contrariando seu patrocinador, que havia comprado passagem para a classe executiva. Na volta, o próprio jamaicano levou seu bilhete ao balcão para que fosse substituído por um mais simples. “Estive uma vez com ele. Apesar de toda história que o envolve, é um cara sensacional”, diz Robson Caetano. O carisma dele no tratamento pessoal, diz o ex-atleta brasileiro, é o mesmo que qualquer um vê na TV, quando ele aparece brincando antes de disputar uma prova. “Quando nos encontramos, ele logo me cumprimentou, sorriu. É humilde e isso tem enorme valor. Não tem segredo, não tem mágica envolvendo Usain Bolt, ele é isso que se vê.” E foi justamente assim que se comportou o “raio” em sua visita à Cidade Maravilhosa. Atenciosamente, Bolt acenou e posou para fotos
“ele tem uma técnica apuradíssima, é extremamente coordenado, não falha. Por isso leva tanta vantagem” ROBSON CAETANO
O Mito fora das pistas Documentário dirigido por francês captou Usain Bolt em momentos de descontração antes das Olimpíadas O outro lado de Usain Bolt foi o que diretor francês Gael Leiblang apresentou ao público no documentário The Fastest Man Alive , exibido pela BBC britânica duas semanas antes dos Jogos de Londres. Durante sete meses, Leiblang flagrou Bolt jogando bola, passeando por Roma e lamentando a saída falsa no Mundial de Daegu, em 2011, que lhe custou o título dos 100m. O documentário reforça a ideia de que Bolt é um sujeito simples, família, e dedicado. Após relutar, o técnico Glen Mills liberou Leiblang para gravar cenas do treino do velocista. Em uma delas, Mills chama a atenção do pupilo para a largada – justamente o problema que teve em Daegu. A cena que resume a autoconfiança de Bolt é uma onde ele explica o que faz e o que pensa em cada fase dos 100m. “Nos últimos dez metros, você não vai me alcançar, não importa quem você seja, não importa o quanto esteja concentrado. Nos últimos dez metros, preciso de três passadas e meia para cruzar a linha de chegada”.
ao lado das centenas de crianças que o cercavam e aguardavam por um simples gesto do ídolo. Em suas refeições, nada de lagosta e afins. O cardápio? Nuggets! Pelo visto, o calor brasileiro encantou o jamaicano, que revelou desejo de voltar ao Rio de Janeiro antes mesmo da disputa das Olimpíadas de 2016. A participação nos Jogos por aqui, aliás, é motivo de grande expectativa por parte de Bolt e do público, claro. Mas há quem duvide que o jamaicano irá conseguir defender pela segunda vez o título nos 100m, nos 200m e no revezamento 4x100m. Para Katsuhiro Nakaya, técnico da equipe brasileira de revezamento, o jamaicano precisaria se poupar para se manter em alto nível nos próximos quatro anos, já que a idade certamente pesará sobre seu desempenho no Rio. “A carga de treinamento de um atleta como ele é muito alta. Então, quando chega à idade que tem, é preciso se poupar, ainda mais com esse desejo que ele possui de disputar os Jogos de 2016. Para ele voltar a quebrar um recorde, por exemplo, precisaria forçar muito nos treinamentos, e isso pode prejudicá-lo mais para frente”, pondera Katsuhiro. Bolt já acenou com a possibilidade de disputar, em 2016, os 400m e o salto em distância. Seria uma maneira de se motivar para novos desafios e, ao mesmo tempo, evitar o desgaste de provas mais explosivas como os 100m e os 200m, onde seu compatriota Yohan Blake desponta. Segundo Lauter Nogueira, no entanto, Bolt não tem medo de perder, e por isso qualquer especulação não teria fundamento: “Ele jamais optaria por não disputar alguma prova apenas por ter sua vitória ameaçada. Correr é a grande diversão dele. Por que ele iria se privar disso? Ele vem e vem para fazer a festa...”.
VOCÊ VAI OUVIR FALAR DE...
Matheus Santana Comparado a Cesar Cielo, nadador de 16 anos fará estágio com ex-técnico de Popov Por Thiago Mendes
M
ais rápido do que Cesar Cielo aos 16 anos, Matheus Santana se prepara para, em janeiro, dar um “upgrade” na curta carreira, que promete ter como primeiro ponto alto os Jogos do Rio em 2016. Visto por especialistas como a maior revelação das piscinas brasileiras, o nadador do Botafogo vai passar três semanas no CT de Tenero, na Suíça, treinando sob o comando do russo Guennadi Tourestky, ex-técnico de Alexander Popov. “Esse reconhecimento só me estimula a treinar cada vez mais, buscar sempre os melhores resultados. A experiência será muito proveitosa”, aposta Matheus. Há dois meses, o jovem abaixou em 11 centésimos o recorde juvenil dos 50m livre do Troféu Chico Piscina, que desde 2003 pertencia a Cielo. E a comparação com o campeão olímpico, claro, aumentou. “A brincadeira é sadia, mas não me baseio nisso. Quero fazer meu trabalho, com os pés no chão”, diz. Ou melhor, na água. Matheus Santana sabe que é um velocista promissor, tem um ciclo de braçadas forte e eficiente, assim como virada e a parte submersa. O tempo de reação ao tiro inicial, porém, é um fundamentos que precisa ser aprimorado. Para isso, ele nada e faz musculação todos as tardes, depois do colégio. “É um dia a dia pesado, mas faz parte. Nado desde os 5 anos por que tinha problemas respiratórios. Hoje, amo a piscina e estou de olho em 2016.” Foco, como se vê, também não lhe falta.
futuro
por Gustavo Maia
A hora é essa É possível que as modalidades olímpicas tenham grande sucesso no ‘país do futebol’
O
esporte olímpico do Brasil convive há muito tempo com diversos problemas estruturais e organizacionais que dificultam ou mesmo impedem o crescimento de distintas modalidades. A escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 representa uma enorme janela de oportunidades que poderá proporcionar condições muito favoráveis para alavancar o crescimento do esporte olímpico do país. A conquista de resultados esportivos cada vez mais elevados deve ser considerada meta prioritária de toda Entidade Nacional Dirigente do Esporte Olímpico (ENDEO). Porém, infelizmente, o modesto histórico de resultados alcançados pelo Brasil nos Jogos Olímpicos, revela, de maneira contundente, que estamos distantes do desempenho obtido pelos melhores do mundo na grande maioria das modalidades. É evidente que não se pode imputar aos gestores das ENDEO toda responsabilidade pelo fraco desempenho alcançado até o presente momento. Isso porque o resultado esportivo de classe mundial deriva, e não se pode fugir disso, de um contexto social amplo e complexo, onde diversas variáveis são determinantes. Não cabe aos gestores toda responsabilidade, porém, não faz sentido afirmar que não lhes compete nenhuma responsabilidade, certo?
É preciso criar condições concretas para que as organizações esportivas diminuam a lacuna de desempenho que as separa das melhores nações do mundo. Espera-se que os gestores esportivos empreendam profundas mudanças na cultura das organizações. Com isso, vão se abrir grandes oportunidades para que se possa romper a tradição de baixo desempenho técnico e gerencial comum ao esporte brasileiro. É possível uma modalidade olímpica obter sucesso no “país do futebol”? A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) consistentemente tem demonstrando que isso é plenamente possível. As boas práticas de gestão da entidade são responsáveis pelo círculo virtuoso em torno de si. Consequentemente, ela é capaz de atrair recursos que garantem a continuidade e a melhoria de suas operações. A marca de excelência conquistada pela CBV dá a ela uma vantagem competitiva sob todas as demais ENDEO! Não se pode desperdiçar período tão oportuno como o vivido pelo esporte do Brasil.
gustavo maia é Mestre em Educação Física e sócio da Global Sports Network (GSN)
ahe! & voCÊ
DE BIKE NO
PARAÍSO Nos moldes da La Tour de France, prova na Patagônia argentina é tão bela quanto instigante, conta a ciclista e publicitária Adriana Morrone
É Acima, Adriana Morrone. Ao lado, trecho da L’etape Argentina: belo cenário, estradas perfeitas. A prova contou com a participação de mais de 600 atletas
primavera, são 8 da matina e faz um frio miserável em Bariloche, na Patagônia argentina. A publicitária Adriana Morrone, 47 anos, está de bermuda e mangas curtas, parada ao lado da sua bike, pouco antes da largada da segunda edição da L’etape Argentina, a versão sul americana do modelo para amadores da La Tour de France, a maior prova de ciclismo do mundo. O conceito aqui é o mesmo da competição original: expor atletas não profissionais às mesmas condições de prova impostas aos prós, porém em doses menores. A brasileira já havia participado da versão francesa, no ano passado, e, como diz, “não poderia ficar de fora da argentina”. Além do frio (ela não podia usar agasalhos, uma vez que iria ter de descartá-los ao longo da prova, quando a temperatura do corpo, naturalmente, sobe), ela tem mais um desafio a superar, logo de cara, no início dos 113 quilômetros da prova: um subidão radical, desses de assustar os ciclistas mais experimentados. Adriana, aliás,
está entre eles. Sempre gostou e fez esporte – corrida, spinning, natação. No começo do ano passado, ouviu falar da La Tour de France. Ficou pilhada. Pilhou o marido. Ambos compraram bikes e partiram para o treinamento intensivo, orientado por uma equipe de profissionais (técnico, nutricionista, coisa séria). Sem trocadilho, pedalou muito até chegar aqui. Por isso está segura, sabe que seu batimento cardíaco vai disparar (literalmente partir do zero ao limite, em segundos), que os músculos vão arder e que, no fundo, é a cabeça que vai levá-la para cima. Afinal, já vivera situação bem pior, durante a La Tour francesa, quando percorreu 144 km de subida e, no trechos mais intensos, viu muita gente cair ou descer da magrela, diante de tamanha adversidade. Na época, ela também pensou em parar. Até que foi ultrapassada por um francês que pedalava com… uma perna só. “Era um local, pedalava sorrindo, apesar do grande esforço. Fui na cola dele. Ver a força de vontade daquele homem era o aditivo que eu precisava”, conta.
A prova foi dividida em dois dias, ambos partindo de San Carlos de Bariloche. Apesar do bom tempo e céu azul, o vento contra constante dava pouca chance dos competidores escaparem dos pelotões
“Os lagos, os cerros, a vegetação. É tudo muito bonito. Quem participa dessa prova vive momentos inesquecíveis.”
ahe! & Você – Se você é atleta amador em qualquer esporte, conte-nos a sua história.
O depoimento da publicitária resume o porquê dela, agora, se dispor a enfrentar um frio miserável e um paredão em forma de estrada, assim como acordar de madrugada para treinar, quase diariamente: superação. A determinação que leva a superar os próprios limites e descobrir outros é o que move atletas amadores ao imergirem numa atividade esportiva. Com Adriana, como dito, não é diferente. Há recompensas, obviamente. Há lazer, viagem – claro, tudo conta. E prova na bela Bariloche, conta Adriana, reuniu todos esses ingredientes numa tacada só. A L’etape Argentina contou com uma organização impecável, paisagens deslumbrantes, estradas perfeitas. Ao todo, contou com a participação de mais de 600 atletas, a maior parte da própria Argentina – muitos brasileiros entre eles. Rixa? “Não, isso é coisa do futebol. A hospitalidade era enorme. O convívio foi ótimo”, diz, referindo-se a relação dentro e fora da estrada. De um maneira geral, Adriana seguiu em pelotões, principalmente nos momentos em que, apesar do céu azul que emoldurou os dois dias de competição, o vento contra soprava forte. E, como o objetivo era pessoal e não competitivo, ela se deu ao luxo de desacelerar, em certos trechos, onde a paisagem era tão impactante que seria um desperdício passar zunindo por ela. Não à toa, esta parte da Patagônia argentina é considerada uma das regiões mais bonitas do planeta – mais ainda na primavera. “Os lagos, os cerros, a vegetação. É tudo muito bonito. Quem participa dessa prova, acredite, vive momentos absolutamente inesquecíveis.” Em busca de outros, Adriana Morrone, diz, não para mais de pedalar. Agora faz treinos mais técnicos durante a semana e mais longos aos sábados e domingos. Vai até trocar de bike. “Com esses quase três anos de prática, já sei qual é o meu estilo de pedalar e usarei um equipamento mais adequado a ele.”
L’Etape Argentina, 2012 > A prova foi dividida em dois dias, ambos partindo de Bariloche. A chegada, no segundo dia, foi em Villa Angostura, na província de Néuquen. > Dia 1,113 km; dia 2, 133.5 km. > Os atletas foram divididos em sete categorias, a partir de faixas etárias. Não houve premiação em dinheiro. > Para participar da edição 2013, fique ligado em ahebrasil.com.br. Para ver mais do L’etape 2012, acesse www.laetapaargentina.com.
Ela pode ser publicada na revista Ahe!Sports e no portal Ahe!Brasil. Acesse www.ahebrasil.com.br e clique no link “ahe! e você”.
EQUIPAMENTOS Boa compressão Bermuda de compreensão é fundamental para praticantes de triatlon e ciclistas profissionais ou amadores
Magrela eficiente SL 300, da Soul, para mountain bike visa melhorar muito a performance do ciclista Com aro 29, ela tem direito a 27 velocidades, o que garante mais conforto para os trechos de maior inclinação, mostrando superioridade em relação aos modelos de 21 e 24 marchas. A suspensão com travas promete deixar o equipamento mais flexível para o dia a dia e o freio a disco hidráulico oferece mais potência e maciez para os praticantes. R$ 3.300; www.soulcycles.com.br
Confeccionada com poliamida e elastano, a bermuda de compressão oferece uma variedade de benefícios como a melhor execução do movimento, o aquecimento muscular, a recuperação acelerada após o esforço físico e o aumento da oxigenação muscular. Também auxilia na prevenção de lesões. Uma bermuda para triatlon da marca Flets, por exemplo, pode ser encontrada por R$ 185; www.flets.com.br
Desafio virtual Aplicativo Nike+Running compara performance de atletas e provoca a superação de marcas
Ele faz isso, basicamente, ao registrar os avanços no treino do atleta (amador ou pro). Com uma sacada: permite que os usuários acompanhem, compartilhem e comparem suas marcas, por meio de estatísticas e rotas traçadas pelo GPS. Através do aplicativo, também é possível selecionar uma trilha sonora para o treino e receber dicas para vencer desafios. O programa pode ser baixado de graça para o celular e a comunidade virtual do Nike+Running já reúne 6 milhões de corredores. www.nike.com
Pisada mais macia O tênis Mizuno Wave Prophecy tem amortecedor que vai do calcanhar até a ponta dos pés
Braçada sonora O Speedo Aquabeat é um MP3 que está virando moda entre os nadadores amadores
O equipamento pequenino, que pesa 35 gramas e pode ser usado em até três metros de profundidade, serve para estimular quem acha o exercício nas piscinas monótono ou silencioso. Ele tem 2GB de memória, espaço suficiente para uma seleção de mil músicas, que podem ser tocadas por até 18 horas. R$ 400; www.speedo.com.br
A novidade, diz o fabricante, proporciona maior absorção na pisada. A sola é feita de borracha e carbono no calcanhar e, para evitar que o corredor flexione o tênis mais do que o necessário, as travas limitam o movimento em 15 graus. A evolução se reflete no preço: R$ 1000; www. mizunobr.com.br
OS ATLETAS O Comitê Olímpico Brasileiro põe campeões no escritório em busca de mais medalhas para o Brasil por João Guilherme Lidington
DO COB A
o todo são 21 feras das pistas, quadras e piscinas, como a ex- jogadora de vôlei Adriana Behar, que atua no departamento de alto rendimento, o ex-judoca Sebástian Pereira, integrante da área de Gestão de Preparação Esportiva, e a exginasta Soraya Carvalho, gerente do Instituto Olímpico Brasileiro. Gente que trocou a disciplina esportiva pela corporativa. Por um ótimo motivo: “O Brasil precisa de pessoas com experiência para trabalhar com esporte e ninguém melhor que o ex-atleta para cumprir essa missão”, defende o superintendente executivo do Comitê e ex-jogador de vôlei Marcus Vinícius Freire. “Quem conhece as necessidades de quem está atuando, usa isso nas tomadas de decisão”, diz. E essa é a chave para o desenvolvimento do esporte nacional. Ser apenas ex-atleta, porém, não basta. O COB se preocupa com a qualificação desses profissionais e oferece cursos de especialização e programas em parceria com o Instituto Olímpico Brasileiro. Dessa forma, acerta dois alvos com um tiro só: desenvolve o esporte e dá oportunidade para o ex-atleta se descobrir gestor e decidir quais caminhos irá trilhar após encerrar a primeira fase de sua carreira. A ideia, gradativamente, torna-se um círculo virtuoso, e o resultado, inevitavelmente, são mais medalhas no peito dos nosso atletas. O objetivo inicial é posicionar o Brasil até a 10ª posição no quadro dos Jogos Olímpicos de 2016. Em tempo, o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, era jogador de vôlei.
Soraya Carvalho ex-ginasta
O que faz: Gerente do Instituto Olímpico Brasileiro Aos 18 anos a carreira na ginástica chegou ao fim. Formada em Educação Física, Soraya virou treinadora, mas em 2007 ingressou no COB. Quis o destino que ela trabalhasse atualmente com a capacitação de ex-atletas para o mercado de trabalho. “Eu cuido da parte de gestão de planejamento estratégico e de projetos que ajudam os esportistas a identificarem suas vocações e adquirirem qualidades para exercê-las”, explica. Soraya, de 33 anos, foi um exemplo dessa difícil transição de carreira pela qual o atleta passa. Por isso sabe quais características são necessárias neste processo. “´É importante trazer a força de vontade, a gana e a responsabilidade que um atleta possui. Atrelar isso com estudos é a garantia de sucesso”, indica.
Sebástian Pereira
Paulinho Villas Boas
ex-judoca
ex-jogador de basquete
O que faz: Trabalha na área de Gestão de Preparação Esportiva
O que faz: Atua como Gerente Técnico
Do tatame para a organização dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Foi essa a trajetória de Sebástian, de 36 anos. Antes mesmo de pendurar o kimono, o caminho rumo à vida executiva já estava planejado. “Minha adaptação foi fácil. Já vinha me especializando na área da administração”, lembra. Em busca da capacitação, adicionou dois MBA’s ao currículo e participou de um intercâmbio de três meses no Comitê Olímpico Australiano. Experiências que ele leva para o dia a dia de sua função. “Planejamos e executamos projetos individualizados de preparação esportiva de atletas e modalidades, que vão desde a compra de equipamentos à ciência do esporte”, detalha.
Medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987, Paulinho Villas Boas ainda contribui diretamente para o esporte que o consagrou, o basquete. Chegou ao COB em 2002, mas depois foi “emprestado” pela à Confederação Brasileira de Basquete (CBB), onde atua como Diretor de Relações Institucionais. “Mantenho contato com as entidades internacionais da modalidade.” Aos 49 anos, fez cursos de gestão esportiva reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional. No entanto, é dos tempos de atleta que vem o “know-how” mais valioso. “Os 30 anos em que joguei me deram experiência para negociar contratos com clubes, fazer o relacionamento com a imprensa e uma bagagem de tudo que envolve o esporte.”
“os atletas conhecem as necessidades de quem está atuando e usa isso nas tomadas de decisão”, Marcus Vinícius Freire, ex-jogador de vôlei e superintendente executivo do Comitê
Marina Canetti
Daniela Polzin
Monique Ferreira
Camila Carvalho
O que faz: planeja a compra de equipamentos para atletas de ponta
O que faz: Coordenadora de instalações esportivas
O que faz: Atua na Unidade de Desenvolvimento Esportivo (Gestão de preparação esportiva)
O que faz: planeja a compra de equipamentos para atletas de ponta
jogadora de polo aquático
Melhor jogadora de sua modalidade em 2011, a centro da seleção ainda ajuda o país dentro das piscinas – mas não só lá. Uma rotina cansativa, com a qual já está acostumada. “São 9h no COB mais o treino de 3h no Flamengo. Não tem jeito. O meu esporte não é muito popular no Brasil, então já sabemos que precisamos trabalhar em algo paralelo para nos sustentarmos”, conta. Entre os treinamentos e os planejamentos de compra de materiais para o COB, Marina mantém um desejo comum às duas atividades. “Quero ajudar o país a evoluir no polo. Se pudesse contribuía ainda mais no Comitê. Na piscina vou me dedicar até as próximas Olimpíadas, onde quero ver o Brasil competindo com os grandes”, ressalta.
judoca
Arquiteta por formação, Daniela passou a planejar espaços para outros atletas brilharem depois que uma lesão a impediu de chegar aos Jogos Olímpicos de Londres. “Utilizo as experiências vividas como judoca para implementar os projetos, tentando adequá-los para o padrão de um atleta de alto rendimento. Foi assim no centro de treinamento do taekwondo no Parque Aquático Maria Lenk e no Velódromo”, explica. Com 33 anos, ela se vê pronta para se dedicar apenas à função no COB, mas os valores dos tatames continuarão presentes em seu trabalho na entidade. “Já tenho ideia de quando vou parar. Só que sempre serei uma pessoa determinada e persistente como fui no judô. A diferença é que agora os desafios são os projetos e metas”, destaca.
ex-nadadora
Formada em direito, se viu “perdida” após largar as piscinas em dezembro do ano passado. Aos 32 anos, nunca tinha exercido a profissão até receber o convite do COB. “Meu primeiro dia de trabalho foi tenso, não sabia procedimento nenhum daqui”, lembra. Como estava acostumada a ralar durante nove horas diárias enquanto nadava, imaginou que auxiliar a preparação dos atletas de alto rendimento com chances de medalhas em Jogos Olímpicos e Pan-Americanos seria menos desgastante. Mas se enganou. “Confesso que eu não imaginava que trabalhar cansasse tanto. É um cansaço diferente, que não é físico, e sim mental. Chego em casa exausta”, completa.
remadora
Aos 31 anos, ela ainda não se desvinculou totalmente do remo, mas já se prepara para o adeus definitivo das raias. “Hoje, o trabalho no Comitê é minha prioridade. Venho me preparando para estar aqui.” Camila é formada em relações internacionais em ciências políticas e é aluna de pós-graduação em administração. No COB, fez o curso de fundamento de administração esportiva, no Instituto Olímpico Brasileiro, e o avançado de gestão esportiva. Além de pesquisar, orçar e comprar o material esportivo necessário para atletas de alto rendimento, atua na programação das viagens das delegações. “É cansativo, mas estou bem feliz. E não preciso acordar 4h da manhã para treinar”, brinca.
10 perguntas para
José Carlos
Brunoro O mestre na gestão e marketing esportivo indica o caminho para o sucesso – em todas as modalidades por Daniel Costa
E
x-atleta, preparador-físico, técnico e atualmente dirigente. Aos 62 anos, José Carlos Brunoro é um profundo conhecedor do esporte brasileiro. Acompanhou o vertiginoso crescimento do vôlei brasileiro e, em 1997, criou a Brunoro Sport Business (BSB), empresa focada em gestão de negócios. Em 2009, assumiu a direção-técnica da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e viu a seleção masculina voltar aos Jogos Olímpicos pela primeira vez em 16 anos. Nesta entrevista, a Ahe!Sports, Brunoro falou sobre o atual cenário esportivo brasileiro, traçou as dificuldades que o basquete feminino vem enfrentando e comentou sobre a importância de ex-atletas em se especializarem em cargos de gestão esportiva. “Eles precisam se preparar”.
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Na visão do marketing, em que estágio o Brasil está a três anos e meio dos Jogos de 2016? O Brasil passa um momento interessante em termos de investimento e estratégia, mas ainda não é o ideal. Quase todos os esportes dependem do apoio de uma Estatal. Salvo poucas como Correios, Caixa Econômica e Banco do Brasil, as outras não fazem o dever de casa. Há muito oferta e espaço para crescimento.
jogadoras. Criamos três divisões de Campeonatos Brasileiros de base. Técnicos serão chamados para assistir às finais destes campeonatos e fazer uma convocação, seja por altura, seja por aspecto técnico. A seleção sub-19 terceira colocada do Mundial da categoria, no ano passado, e que tem a Damiris, será a base do time nos Jogos de 2016.
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O que o sucesso do vôlei pode ensinar aos outros esportes? O que o vôlei fez foi investir na qualidade técnica. A partir daí, passou a ser visto, criou ídolos e tornouse um produto, garantindo o retorno de investimento. O que as outras modalidades devem fazer é exatamente isso: investir em desenvolvimento técnico. Há 20 anos, o basquete feminino brasileiro vivia seu auge. Hoje caiu. Em que estágio estará em 2016? Há três anos, antes de a nova diretoria assumir a Confederação Brasileira de Basquete (CBB), o basquete feminino vivia dos antigos ídolos. Quando a Janeth se aposentou, a deteriorização foi total. A antiga diretoria gostava mais do basquete masculino, e isso trouxe problemas. Hoje, estamos tendo de viabilizar mais os clubes para que haja uma maior demanda de
Quais as principais mudanças que foram implementadas na CBB desde sua entrada lá? Antes de a nova diretoria assumir a CBB, em 2009, o basquete brasileiro vinha muito mal, com problemas de gestão, financeiros, de planejamento...As seleções de base e adulta treinavam pouco. Não havia intercâmbio. Hoje, esse panorama mudou. Também estamos em busca de novos recursos financeiros. O Governo só nos oferece a Eletrobrás, mas temos ido ao mercado procurar outras fontes de receita.
Há esporte sem marketing esportivo? Difícil, mas há outros pontos que precisam ser observados. A BSB, por exemplo, não pretende só atuar no marketing. Seria cômodo. Estamos estruturados para atender qualquer Confederação. A gente não pretende ser gestor, mas queremos opinar.
como o vôlei, outras modalidades
devem investir em desenvolvimento tĂŠcnico
10 perguntas para JOSÉ CARLOS BRUNORO
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As Confederações e Federações, em geral, ainda estão muito atrasadas no que diz respeito à profissionalização de sua gestão? De um modo geral, falta às Confederações entender esse processo (de profissionalização) de forma mais clara. Acham que se pagar um profissional isso automaticamente leva à profissionalização. Se você não cria processos de trabalho, de nada adianta. Falta essa visão.
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É mais fácil quando um ex-atleta assume a gestão de um clube ou de uma Confederação, certo? Sim, quando o atleta quer aprender a gerir. Falta aos atletas se especializarem e dizerem: estou pronto. E somar a este conhecimento a experiência que tiveram quando ainda estavam na ativa. Às vezes o atleta até quer assumir um clube, mas não se prepara. Acha que o nome dele resolve, mas não é assim. Existe um lado político forte, e nem sempre ele presta atenção nisso.
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O futebol não ocupa um espaço exagerado na mídia se comparado aos outros esportes? O futebol, realmente, é um inibidor. Mas a TV aberta está preocupada com audiência, e isso acontece em qualquer lugar do mundo. Em qualquer país, as outras modalidades estão na TV fechada. Acontece que, no canal fechado, seu público é outro. Esse é um processo que precisa ser mais bem elaborado quando o esporte vai em busca de patrocinadores.
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Não há espaço para o esporte olímpico na TV aberta, certo? TV aberta, esquece. Mas é preciso aproveitar melhor o canal fechado. Temos três Sportvs, duas ESPNs, Bandsports e Fox. Cada uma delas transmite 24 horas de esporte por dia. Espaço na TV, tem. O que se pode é negociar com a TV aberta uma aparição nos noticiários.
Às vezes o atleta até quer assumir um clube, mas não se prepara. Acha que o nome dele resolve, mas não é assim
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De que maneira gostaria de se envolver nos Jogos de 2016? A BSB estará presente no basquete, através do trabalho que estamos fazendo na CBB e que esperamos que renda bons frutos nos Jogos Olímpicos. Também estamos fazendo um trabalho diferente, de colaboração, na ACD (Associação Caboverdiana de Deficientes). Esperamos que algum atleta do projeto já tenha sucesso nos Jogos Paralímpicos.
ARTIGO
por Carlos Eduardo Novaes
Quem inventou o esporte? A resposta sai da boca do professor de educação física e causa a perplexidade dos seus alunos
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embro como se fosse anteontem: o professor Mattos, mestre em Educação Física do Colégio Zaccaria na minha adolescência, reunindo a turma no pátio e anunciando: “Santos Dumont inventou o avião; Graham Bell inventou o telefone. E quem inventou o Esporte? Girou o olhar pela garotada à procura de uma resposta e não viu uma única boca se abrir. Diante do silencio, um aluno mais esperto levantou o braço: — Foi aquele barão que não me lembro o nome..., arriscou. — Coubertin, acrescentou o mestre. — Não! Ele apenas inspirou as Olimpíadas modernas. Novamente fez-se silêncio e o professor Mattos, saboreando a ignorância geral, mandou: — Quem inventou o Esporte... Foram as guerras! A afirmação deu um nó na cabeça da garotada. Esporte não rima com guerra! Pedimos uma explicação e o mestre viajou à Pré-História para nos dizer que os fundamentos iniciais do Esporte estavam ligados às ações do homem de correr, saltar, nadar e lançar objetos à distancia. É provável, acrescentou, que a primeira competição entre nossos antepassados tenha surgido de um desafio: “Vamos ver quem chega primeiro naquela árvore?”. Mas – afirmou ele de dedo em riste – o desenvolvimento do Esporte veio através das guerras. Foram os gregos – sempre eles – os primeiros a perceberem a necessidade de preparar seus homens através de exercícios físicos para as contínuas batalhas que marcaram a Antiguidade. Os boletins iniciais dos Jogos Pan-Helênicos (depois chamados Olímpicos), porém, perderam-se na poeira dos tempos. O registro mais antigo que ficou na História vem de 776 a.C. quando o cozinheiro Coroebus de Elis venceu uma corrida de 192,27 metros tornando-se o primeiro campeão olímpico de que se tem noticia. Seu tempo na prova, no entanto, nunca foi conhecido por absoluta falta de cronômetros na Grécia Antiga!!! Depois das corridas surgiu o pentatlo (corrida, luta livre, salto em distância e lançamentos de disco e dardo), mais a frente o pancrácio (similar à luta de boxe) e em 608 a.C. os cavalos entraram em cena nas corridas de charretes, bigas e quadrigas. Os Jogos Olímpicos eram realizados de quatro em quatro anos – como atualmente – disputados apenas por cidadãos livres que competiam pelados, como vieram ao mundo. Mulheres, nem nas arquibancadas. O professor perguntou: lembram da Guerra do Peloponeso?
Ninguém lembrava. Éramos péssimos alunos de História Geral. Pois bem, continuou ele, esta guerra resultou da rivalidade entre as duas maiores cidades-estado, Atenas e Esparta. Uma guerra desastrosa – entre torcidas? – que acabou por enfraquecer o mundo grego, abrindo caminho para o domínio macedônio e dois séculos depois para o Império Romano. O Esporte ainda teve uma sobrevida em Roma até os anos 300 d.C. quando o imperador Teodósio I adotou o cristianismo e pôs fim às festividades ditas pagãs em solo romano, entre elas os Jogos Olímpicos. Tarde demais, contudo. Apesar de ter atravessado uma fase de estagnação na Idade Média, a semente do Esporte lançada pelos gregos não parou de dar frutos e alimentar as emoções do planeta. Concluindo sua aula teórica o professor Mattos nos jogou no colo uma informação que bem revela como o mundo dá voltas. — O Esporte tornou-se tão mais importante do que as batalhas que durante a realização dos Jogos na Grécia... As guerras eram interrompidas! Ao que o aluno mais esperto retrucou: — Não seriam as guerras interrompidas porque os soldados estavam competindo? Vai saber. Foi a vez de o mestre permanecer em silêncio.
PAULO CARUSO
Usain Bolt parad達o no Cristo