Jornal Fala Bicho n. 3

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Informativo da Sociedade Amigos dos Animais . Ano 1 . Nº 3. Outubro 2003 Distribuição dirigida

Abandono é crime A justiça foi feita. Pela primeira vez em Florianópolis um homem foi multado por abandonar seu cão. Você também pode fazer com que a lei seja cumprida. Página 3 Uma ninhada de cinco gatinhos, entre eles essa da foto, foi abandonada com apenas um dia de vida, dentro de uma caixa de sapato. Por não terem sido amamentados, os filhotes precisam tomar um leite especial de mamadeira várias vezes por dia. Apesar do empenho de vários voluntários, que se revezam nos cuidados, um dos filhotes não resistiu e morreu depois de duas semanas. Tanto trabalho e sofrimento foram causados por algum(a) irresponsável que não esterilizou sua gata e não assumiu a cria. Apesar de ser crime, o abandono continua sendo tolerado pela sociedade.

ÉTICA

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Doutora da UFSC fala sobre a utilização de animais em pesquisas científicas CASA PRÓPRIA

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SAA precisa conseguir recursos para viabilizar a obra da sede. Veja como ajudar GRÁVIDAS X GATOS

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Gravidez e convivência com animais não são incompatíveis. Entenda porquê. APOIO

Seja ecologicamente responsável. Um mesmo exemplar deve circular para pelo menos cinco pessoas.


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Sociedade Amigos dos Animais

EDITORIAL

Carta à melhor prefeita do Brasil Vivemos em Florianópolis. Nas ruas, nas praias. Somos milhares e estamos em toda parte. Afinal, nascemos aqui. Não temos teto, passamos fome, somos espancados, atropelados, envenenados e exterminados. Eutanasiados para os mais técnicos, ainda que palavra não modifique sofrimento. Somos mamíferos, temos um sistema nervoso central semelhante ao dos humanos. Sentimos o mesmo: fome, sede, frio, calor, dor, tristeza e medo. Como nossa miséria enfeia a cidade dizem que transmitimos zoonoses. Na verdade, nós somos as vítimas das doenças contraídas e transmitidas pelos humanos entre si: egoísmo, ambição, ganância, omissão, falta de amor, de compaixão e até estupidez. Mas não nos contaminamos, continuamos leais, amorosos, agradecidos e inteligentes. Vivemos num mundo antropocêntrico onde há 2000 anos o homem era a medida de todas as coisas. Hoje ele é apenas a medida da destruição do planeta e das espécies e do nosso infortúnio. Mas vamos levando um pontapé aqui, uma lata de lixo lá...Ainda temos a sorte de ter a melhor prefeita do Brasil e poder endereçar a ela esta carta com uma reivindicação. Seria demais pedir que ela nos olhasse como seres vivos, que sofrem, porque não votamos. Seria por isso mesmo impossível pedir que nos acolhesse, nos tratasse, nos curasse, nos esterilizasse e nos desse em adoção a pessoas responsáveis. Pedir que educassem as crianças das escolas para que nossos filhos e netos sejam

respeitados em um futuro próximo, nem pensar! Porque não queremos "enfeiar" a cidade ou agredir os turistas com nosso sofrimento. Sabemos que a prefeita é muito ocupada e o Fórum tem outros interesses, por isso nos contentamos com pouco. Nossa reivindicação é: Queremos aprender a ler! Estando alfabetizados poderemos respeitar as placas recém colocadas nas praias e nas praças da cidade proibindo a presença de cães. Afinal, Florianópolis não é a capital mais estudada do Brasil? Assinado: Os cães abandonados de Florianópolis Por Procuração: Maria da Graça Dutra

Sede própria depende de recursos Objetivo é reunir em um só local abrigo , esterilização e tratamento para os animais e educação para as pessoas Um modelo para tratamento, esterilização e abrigo de cães e gatos. Essa será a filosofia da sede da Sociedade Amigos dos Animais. O terreno de 3 mil metros quadrados foi doado pelo empresário Luiz Camisão, que este ano conheceu a SAA e abraçou a causa em prol dos animais. A primeira fase da construção já começou, graças à participação da Construtora Hantei, que doou o material para o levantamento do muro. O projeto arquitetônico foi desenvolvido voluntariamente pelo arquiteto Marcelo Cabral Vaz. "A proposta arquitetônica leva em conta a preocupação de se criar um espaço adequado, confortável e higiênico para os animais", resume o arquiteto. As edificações serão construídas em alvenaria sobre fundações de concreto armado, tudo projetado de acordo com a legislação vigente. Segundo a presidente da Ong, Maria da Graça Dutra, a esterilização dos animais também estará entre as prioridades da sede, bem como a educação ambiental. A sede terá setores didático, veterinário e de serviços. O projeto já foi encaminhado

para aprovação na prefeitura municipal. A Sociedade Amigos dos Animais vai contar com as seguintes instalações: Estacionamento Loja Sala de Exposições Clínica Veterinária Banho e tosa Ambulatório/enfermaria Sala de cirurgia Dois gatis Hotel para gatos Sete canis coletivos (até 70 cães) Três canis para filhotes Canil pós-operatório Hotel para cães Pátio de recreio Praça de adestramento A SAA sobrevive de recursos arrecadados com a venda de produtos e a contribuição de voluntários, e agora busca novas parcerias para concretizar o projeto da sede. Quem quiser contribuir pode entrar no site da ong em Fale Conosco e enviar um e-mail para contribuições ou entrar em contato pelo telefone (48) 9907.8384.

Projeto está sendo desenvolvido voluntariamente e prevê abrigo e tratamento para os animais

Fala, Bicho! é o informativo trimestral da Sociedade Amigos dos Animais. www.amigosdosanimais.org.br – E-mails para a redação: primeiravia@1via.com.br Presidente: Maria da Graça Dutra – Vice-presidente: Cristina Di Bernardi – Produção Editorial: Primeira Via Comunicação Editoração: Raquel Sabrina e Gustavo Cabral – Redação: Aline Cabral, Ariana Casagrande, Fabiane Tomaselli, Giovana Sanchez e Mariana Baima Edição: Aline Cabral - Fotografia: Gustavo Cabral e Arquivo SAA Todos os profissionais trabalharam voluntariamente. Contato comercial: (48) 99078384 Apoio e Impressão: jornal A Notícia - Tiragem: 6 mil exemplares - Distribuição Gratuita e Dirigida

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SAA consegue primeira condenação A partir de uma denúncia e de acompanhamento jurídico, a lei foi cumprida e o infrator foi punido A Sociedade Amigos dos Animais recorreu à justiça e pela primeira vez obteve uma condenação por abandono de um cão, em Florianópolis. O caso aconteceu no dia 07 de março, quando um homem abriu a porta de um veículo Del Rey, placas LYW-4817, e deixou um cão, da raça poodle, numa das ruas do centro da cidade. O fato foi testemunhado por uma pessoa, que relatou o caso à Sociedade Amigos dos Animais. Por meio de orientação da sua advogada, Beatriz Tancredo, a SAA registrou um Boletim de Ocorrência, na 5ª D.P., onde foi lavrado um Termo Circunstanciado, tratando-se de infração de menor potencial ofensivo. O caso foi para a Justiça e no dia 22 de agosto aconteceu a audiência, no Fórum da Comarca de Florianópolis. O responsável pelo abandono foi compelido a pagar meio salário mínimo (R$ 120,00), sendo que o infrator recebe um salário de R$ 500,00 por mês. Como se trata de um crime contra o Estado, o dinheiro foi doado ao GAPA, o Grupo de Apoio aos Portadores de AIDS. Denúncias encaminhadas A Sociedade Amigos dos Animais já tem o conhecimento de outras denúncias encaminhadas para a justiça da capital, todas por abandono. As ocorrências aconteceram no Rio Vermelho. Na primeira, registrada na 5ª D.P., no dia 25 de agosto de 2003, o condutor do veículo placas MBA-0428 abandou filhotes de cachorro numa das ruas do bairro. O outro caso foi registrado pela própria delegada da 10ª Delegacia de Polícia do Rio Vermelho, Regina Régis. Ela testemunhou o abandono de um filhote de cachorro pelo condutor do um veículo de placas MAW-0485, no dia 15 de agosto de 2003. A delegada identificou o condutor do veículo, um Corsa Super 2000 de cor cinza. No dia 7 de setembro foi registrada mais uma ocorrência, na 10ª D.P. Foi encontrada uma cachorra da raça rotweiller, no Condomínio Nascente do Rio Vermelho, que estava sofrendo maus tratos, desnutrida e doente, sem água e sem comida. Após ser alimentada no centro de recuperação da SAA, a cachorra vomitou uma luva de látex e muita grama, que ingeriu na tentativa de matar a fome. Também em setembro, foi registrado um B.O. (nº361) na mesma delegacia, contra o condutor do veículo placa LYO 0655, que abandonou dois gatinhos em frente ao nº 1001 do Travessão do Rio Vermelho.

Na primavera, gatas e cadelas entram no cio; até o final do ano muitos filhotes nascerão aumentando o problema da superpopulação. Muitas pessoas ainda optam pelo abandono ou o extermínio sistemático das crias, mesmo sendo uma prática criminosa.

Responsáveis pelos animais de rua de Florianópolis: Prefeitura Municipal, através da Vigilância Sanitária, coordenadora do Fórum de Zoonoses e Bem Estar Animal. Representante da Prefeitura de Florianópolis junto ao Fórum: Engenheiro Cláudio Silveira. Telefones: Fórum de Zoonoses: 239-1580 Vigilância Sanitária Estadual: 251-7806 E-mail: vigilanciasanitaria@pmf.sc.gov.br

Comemoremos, enfim! Por Beatriz Couto Tancredo, advogada A condenação de um homem em virtude do abandono de um cão em pleno centro de Florianópolis, é um acontecimento marcante, principalmente por coincidir com a comemoração dos 15 anos de nossa Constituição Federal, que prevê o dever do Poder Público de proteger a fauna, vedando práticas que submetam os animais à crueldade. A infeliz atitude do cidadão, que se repete diariamente, é conduta criminosa prevista na Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/ 98, art. 32). Cumpre esclarecer aos nossos leitores que o crime em questão é de ação pública incondicionada, o que significa que sua iniciativa cabe ao Ministério Público. Assim, a pessoa que presenciar ato de abuso ou maus-tratos contra animais não estará processando quem, em tese, praticou o crime, mas tão somente denunciando o fato e seu autor à autoridade policial, que seguirá com o procedimento cabível. Isto porque a vítima do crime em questão não é apenas quem denuncia, mas toda a coletividade, já que é dever e interesse do Estado a proteção de nossos animais. Feita a denúncia por meio do boletim de ocorrência, cabe à autoridade, apurando os fatos, efetuar a lavratura do TC - Termo Circunstanciado - enviando-o ao Juizado Especial Criminal (Lei 9099/95), por se tratar de crime de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima não é superior a 1 (um) ano. Sendo assim, como integrantes da sociedade, devemos seguir denunciando aqueles que praticam atos criminosos contra os animais, seja abandonando-os, agredindo-os ou não lhes proporcionando condições de sobrevivência digna, a fim de contribuir para amenizar-lhes o sofrimento e dar início a uma mudança de comportamento social, mesmo que seja por meio da imposição de penalidades como a multa. Afinal, sabe-se que a cultura de um povo é medida pela maneira como ele trata suas crianças, idosos e animais. Portanto, em caso de testemunho de crime ambiental praticado contra animais: a) Anote o nome, endereço e/ou placa do carro da pessoa, quando for o caso, a fim de possibilitar sua identificação; b) Comunique a polícia, registrando um Boletim de Ocorrência; c) Exija a apuração dos fatos por você denunciados; d) De posse do 'BO', procure a 'Sociedade Amigos dos Animais' para que possamos ajudar na fiscalização do fiel cumprimento da lei.


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Desempregada cuida de 40 cães Uma situação inusitada chama mais uma vez a atenção para o problema da superpopulação de animais de rua na Capital. O caso em questão é o da desempregada Olga Maria de Jesus, que mora com nada menos que 40 cachorros em uma pequena casa nos Ingleses. Ela mantém os animais dentro de casa para evitar que sejam envenenados pelos vizinhos, como já aconteceu anteriormente. A maioria dos cães é filhotes, muitos deles são abandonados ali por moradores da região. A situação é calamitosa, já que Olga não tem condições financeiras para manter água e luz na residência, e inclusive já recebeu uma ação de despejo. A SAA soube do caso e passou a oferecer há um ano um pacote de 25 quilos de ração por mês e medicamentos para ajudar a manter os cães, já que não tem espaço nem condições para abrigá-los. Um veterinário do bairro também contribui com alimentos e medicamentos. Mas, no dia 8 de setembro, a situação para Olga ficou ainda mais complicada. Duas fiscais da Vigilância Sanitária do Município foram até a casa e lavraram um auto de infração, alegando que Olga está descumprindo as leis 4.565, de 1994, e 01.94, de 2001, por manter uma grande quantidade de cães num espaço muito pequeno, sem estrutura e nem condições de higiene adequadas para abrigá-los. A Vigilância deu um prazo de 15 dias para que Olga cumpra as exigências para poder manter os cães que adotou: providenciar alvará sanitário, registro dos cães, ter uma área compatível para abrigar os animais, sistema de iluminação e ventilação, piso, sistema de tratamento de esgoto, controle sanitário do canil, manter sempre água e ração e fazer a limpeza diária do local. “Não vemos solução imediata para este caso. É surrealista que o culpado pelo problema, que é a Vigilância Sanitária, culpe a vítima. Essa mulher não poderia manter tantos animais, mas

Olga divide com os cães o pouco que tem

entendemos que ela é movida pelo sentimento de compaixão, já que divide com os animais o pouco que ela consegue para se alimentar”, diz Maria da Graça Dutra, presidente da SAA. Segundo ela, é importante que a população saiba que não existe solução do poder público para esse tipo de situação. Graça lembra que da última vez que cães foram recolhidos pela Vigilância, cerca de 24 foram sacrificados, mesmo estando em boas condições de saúde. “Reconhecemos que a situação é drástica, mas não podemos crucificá-la por querer ajudar, já que quem deveria fazê-lo, com o dinheiro dos nossos impostos, não está agindo”, diz. Graça ainda questiona quantas outras “Olgas” precisarão ser punidas até que o Fórum de Controle de Zoonoses e Bem Estar Animal decida adotar um programa de esterilização em massa dos animais. “O que faremos com as centenas de filhotes de cães e gatos que nascerão nessa primavera?”, se pergunta a presidente da Ong. Até o dia 30 de setembro, fechamento dessa edição, a Vigilância não havido aparecido na casa de Olga.

Florais de Bach em medicina veterinária Por Carmen Lúcia Cocca de Resende, veterinária A Terapia Floral foi desenvolvida por um médico inglês em 1928 e desde então vem ganhando adeptos por todo o mundo. Há aproximadamente dez anos alguns veterinários, preocupados com a saúde mental de seus pacientes, iniciaram pesquisas clínicas nesta área e descobriram que os animais se comportam como verdadeiras esponjas, absorvendo muita das energias e estados mentais de seus donos e do ambiente em que vivem. Os florais agem sobre o emocional dos animais e seres humanos, facilitando o tratamento e até mesmo curando doenças de difícil solução, como dermatites de fundo psicológico, gravidez psicológica, infecções que teimam em voltar de tempos em tempos, doenças psicossomáticas decorrentes de estresse, trauma, choque físico e/ ou emocional, depressão entre outros. Mas é nas alterações comportamentais que o tratamento com florais mostra seus

resultados mais surpreendentes. Ciúme excessivo, agressividade, animais que destróem coisas, que se auto-mutilam, que cavam por todo o terreno, que não páram de latir, que não admitem outros animais no seu espaço, que fogem, que matam suas crias, que pulam nos donos e visitas, são desafios diários que o terapeuta floral consegue resolver necessitando apenas de observação e conhecimento na área de comportamento animal. E, claro, de uma boa descrição emocional do animal, feita por seu dono ou pela pessoa mais chegada a ele. Como o comportamento do proprietário normalmente determina o comportamento do animal, muitas vezes faz-se necessário tratar também o dono. O tratamento floral não apresenta efeitos colaterais ou contra indicações e pode ser administrado conjuntamente a tratamentos alopáticos e homeopáticos. É importante frisar que este tratamento por si só não substitui a visita ao veterinário, sejam quais forem os sinais clínicos do seu amigão.

CONFORTO PARA PETS E DONOS A presença de animais no interior de supermercados é vetada por uma questão sanitária, e isto impede que muitos clientes, ao saírem para passear com seus animais de estimação, possam realizar suas compras. Prevendo esta necessidade dos clientes, o Supermercado Hippo e a Pet Shop Bichinhos da Ilha estão disponibilizando um espaço apropriado, seguro e, acima de tudo, muito higiênico, para acomodar os bichinhos de estimação. O espaço foi batizado de “HIPPOCÃO” e já é um sucesso. Parabéns pela iniciativa!


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PONTOS DE VENDA Nestes estabelecimentos em Florianópolis e Blumenau você pode encontrar os produtos da Sociedade Amigos dos Animais. São agendas telefônicas, blocos, camisetas, moletons e adesivos que trazem mensagens de amor e respeito aos animais. Os valores arrecadados são inteiramente revertidos para a manter as atividades que a ONG desenvolve, como recolhimento e tratamento veterinário dos bichos, castrações e compra de medicamentos.

Nós e os gatos Por Renata Palandri Sigolo Sell, historiadora e professora de História da UFSC

Não gosto de gato: é bicho traiçoeiro, ladrão. Gato não gosta do dono, gosta da casa. Gato é um animal agourento; pior ainda se for preto. Frases como estas ainda ecoam em nossa sociedade, apesar de termos relações cada vez mais próximas e afetivas com nossos animais domésticos. Porém, nem sempre o gato foi alvo do desprezo e, muitas vezes, da crueldade das pessoas. Na Antigüidade, este animal era venerado e respeitado como amigo dos homens. Ao ser domesticado há aproximadamente quatro mil anos no antigo Egito, o gato era visto como um animal útil e sagrado, que auxiliava os homens no controle de roedores. Poderia ser punida com pena de morte a pessoa que os matassem, assim como os donos de um felino expressavam luto por ocasião de sua morte raspando as sobrancelhas. As pessoas de posses embalsamavam seus gatos para que eles as acompanhassem no mundo dos mortos. O animal representava a desusa Bastet, ligada à maternidade, e ao deus solar Rá, prestando-lhe auxílio durante a noite. No Extremo Oriente, o gato também era e ainda é apreciado. No Japão, os gatos eram úteis espantando os camundongos que molestavam os bichosda-seda. A gata Maneki-Neko, sentada com a pata levantada em saudação, possui um templo em sua honra e é evidência da adoração dos felinos naquele país. Na China, o deus Li-Shou se assemelha a um gato e na Índia, a deusa da fecundidade Sasti era a equivalente à Bastet egípcia. No mundo greco-romano, existia a crença de que o gato acompanhava seu dono após a morte e também durante sua vida como um guia. Para os gre-

Florianópolis

Quem tem a oportunidade de conviver com gatos, percebe o quão afetuosos eles podem ser, desde que respeitemos sua natureza gos, o gato relacionava-se à deusa Artemis, também por associação à Bastet. Segundo o mito, ao ser perseguida pelo monstro Piton, a deusa teria fugido ao Egito após transformar-se em gata. O auge da perseguição aos gatos deu-se na Idade Média. Porém, a aversão a esses felinos deriva da cultura judaico-cristã: ao instituir o monoteísmo, o judaísmo promoveu a abolição ao politeísmo, incluindo aí o culto às divindades relacionadas a animais. A sociedade ocidental a qual pertencemos herdou os costumes judeus e cristãos que originaram a aversão ao gato: seus hábitos de predador noturno o fizeram um animal incompreendido e associado ao mal. Quem tem a oportunidade de conviver com gatos, percebe o quão afetuosos eles podem ser, desde que res-

peitemos sua natureza, como acontece com qualquer outro animal. Os relatos de bom relacionamento entre seres humanos e gatos que são observados através da história, podem nos ajudar a devolver a este felino o status que lhe foi tirado. Transformar a visão depreciativa que a sociedade tem do gato, elegendo-o como um de nossos amigos mais queridos é concordar com a frase de Leonardo Da Vinci: "o menor de todos os felinos é uma obraprima". Fazemos um parêntese aqui para destacar a grande estima dos islâmicos pelos gatos. Desde tempos imemoráveis sua função de controladores de roedores foi respeitada e muito apreciada. Conta também a tradição islâmica que, no tempo de Maomé, viveu um Iman (espécie de sacerdote e instrutor) chamado Malik. Era um homem muito bem quisto que amava e protegia os gatos. Em certa ocasião ao levantar-se, notou que um gato dormia sobre suas vestes, e para não importuná-lo, fez com que cortassem sua rica vestimenta. Hoje, nas grandes capitais islâmicas, podemos encontrar ruas ou praças com o nome de Iman Malik, recordando o homem que amava os gatos. Ao desembarcar em cidades islâmicas encontramos já nos aeroportos inúmeros gatos que vivem em liberdade pelas ruas sendo alimentados e respeitados pela população.

Anapele - Av. Osmar Cunha, nº 251, loja 1, Centro. Fone: (48) 2226074 Agropecuária Campo Verde - R. Intendente João Nunes Vieira, n º 1135 (fundo do posto Texaco), Ingleses. Fone (48) 269-1570 Bichinhos da Ilha - R.Luiz Delfino, 35 (esquina Av.Trompowsky), Centro. Fone (48) 224-9825 Big Dog Brasil - R. Bocaiúva, 1662, Centro. Fone (48) 228-5750 Doctor Pet - R. São Jorge, 160, Centro. Fone (48): 322-0101 Mix Paper - R. Lauro Linhares, Trindade Shopping, nº 2.123, loja 18, Trindade. Fone(48): 233-1935 Via Papel - R. Dom João Becker, 160, sala 3, Ingleses. Fone (48): 369-2785. The Dog's Place - R. Altamiro Guimarães, 260, loja 6. Fone (48) 2336655. Feira de Cães Usados - todos os sábados das 9h às 13h embaixo do viaduto do CIC, em frente à Agropecuária 3 Irmãos.

Blumenau Clínica Veterinária Dr. Utan Antonioli - R. Almirante Barroso, 1324 - Vila Nova - Fone: (47) 323.4171 Bicholândia Clínica Veterinária R.General Osório, 810 - Bairro Velha - Fone: (47) 325.3008 Pet Shop Bicho Grilo- R.XV de Novembro, 759, 2 Piso, Loja 54 Shopping H Fone: (47) 326.3969 Bio Bichos Clínica Veterinária R.São Paulo, 2253 B.Victor Konder e Velha Fone: (47) 323.8158 e 328.1669


6 Depoimentos de quem adotou

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Esses humanos foram muito bem adotados por animais de rua. Conheça algumas dessas histórias de amor

Loba

Peteca Para a família de Marcelo Vieira, a Loba foi uma grande aquisição. Depois que o cachorro Felipe faleceu, a família sentiu falta de um companheiro e foi até a Feira de Cachorros Usados para procurar um novo amigo. Queriam um cão bravo, para guarda. Conheceram a Loba e decidiram adotála. Em dois meses de convivência, ela cativou toda família, especialmente Ricardo, de 8 anos. "A Loba é dócil com a gente, meu filho adora ela, é uma boa companhia e cuida bem do quintal", diz Marcelo.

A família do senhor Nilson se mudou para uma casa nova e sentiu falta de um cão para fazer companhia. O senhor Nilson e a filha dele, Michele Terezinha da Silva, foram então até a Feira de Cachorros Usados para adotar um novo amigo. Conheceram Peteca e não pensaram duas vezes, levaram a cachorrinha para casa. Hoje, Peteca faz a festa com a família, ela gosta de brincar com a Camile, a filha de dois anos de Michele.

Esses e muitos outros animais estão precisando de um lar. Conheça os candidatos na Feira de Cachorros Usados e na Galeria de Adoções do nosso site: www.amigosdosanimais.org.br

Cleópatra A adoção de Cleópatra pela família de Roger Amaral foi amor à primeira vista. Roger viu a foto no banner da Campanha para a Construção da Nova Sede da SAA e se apaixonou. No dia seguinte Roger chegou na Feira de Cachorros Usados antes mesmo dela ser montada. “A gente queria garantir que ela seria nossa". Ele e sua esposa Vanessa têm um filho de dois anos, que está adorando a nova companheira.

Florzinha Depois de visitar a Feira algumas vezes, Rogério Blankenburg e a filha Sara decidiram fazer a adoção quando conheceram a pinsher Florzinha. Sara sempre quiz um bichinho e Florzinha virou sua companheira inseparável. Segundo Rogério, eles preferiram adotar para ajudar a causa. “Se as pessoas adortassem em vez de comprar, estaria ajudando a resolver um problema”, diz Rogério.


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A gravidez e os animais Muitas grávidas acreditam que o contato com animais, em especial os gatos, é prejudicial ao bebê. Saiba em que casos pode haver risco A toxoplasmose é uma doença que ainda assusta as mulheres grávidas. Por falta de informação, muitas gestantes nem sequer chegam perto de gatos com receio de contrair a doença que pode provocar aborto ou má formação do feto. Mas com poucos cuidados bási- SEM MEDO: Grávidas e gatos podem conviver em harmonia cos, a possibilidade de ter a doença é praticamente nula e, ao meses estando no meio ambiente. A doença só é transmitida através das contrário do que se pensa, a gestante não precisará se afastar de seus felinos de es- fezes do gato. “Os cães não transmitem a toxoplasmose. Alguns podem adoecer, como timação. Segundo a médica veterinária Alejandra acontece nos homens, mas o protozoário Curti, a doença é transmitida através das não se reproduz em seu organismo”, exfezes dos felinos contaminados e em fase plica a médica veterinária. Outra informação importante é que alde multiplicação dos toxoplamas - os protozoários responsáveis pela doença. Mas a gumas pessoas que convivem com gatos contaminação não é imediata. “Quando o já adquiriram a imunidade contra a toxogato contaminado evacua, as suas fezes plasmose, pois já tiveram contato com o ainda não transmitem a toxoplasmose. Isso toxoplasma sem desenvolver a doença. Não existe vacina para a toxoplasmosó ocorre quando as fezes estão há mais de 24 horas no ambiente”, explica Alejandra. se. Nunca se isolou o vírus no pelo de um Portanto, o principal cuidado é manter a gato, portanto está comprovado que o caixinha de areia do seu gato sempre lim- contato da grávida com o animal não ofepa, de preferência por outra pessoa, que rece riscos. Com poucos cuidados com a higiene do não seja a gestante. “Pode acontecer de ter um resquício de fezes na caixinha por local onde os gatos evacuam, a veterinámais de 24 horas e aí sim pode ocorrer a ria garante que a possibilidade de se concontaminação. Por prevenção, é melhor que trair a doença é muito baixa. “É muito a gestante evite de fazer a limpeza”, aler- mais fácil ser contaminada através de uma verdura mal lavada ou uma carne mal cota Alejandra. Os toxoplasmas são protozoários bem re- zida do que convivendo com os gatos”, sistentes e podem contaminar durante 3 a 4 afirma.

A gestação das gatas e cadelas Assim como as mulheres, as gatas e cadelas também sofrem alterações relacionadas à maternidade. Entenda como funciona a gestação das bichinhas: GATAS Alcançam a maturidade sexual entre 8 e 12 meses e período de fertilidade dura aproximadamente sete anos. A gestação dura de 57 a 63 dias para um parto normal e as ninhadas são em média de cinco filhotes, que só abrem os olhos a partir do décimo dia. Podem ter duas crias ao ano, uma na primavera e outra no fim do verão. Só se pode comprovar se a fêmea está ou não prenha, após 30 dias do ato da cópula. Nas fêmeas, o cio é provocado pela presença de outro animal, ou até mesmo por sua própria imagem refletida em um espelho. Iniciam um miado irritante que dá a falsa impressão de estarem adoentadas. Quando o parto se aproxima a fêmea fica inquieta, mia constantemente e busca um local para fazer o ninho, para onde carrega panos, papéis, palha e penas. Ao nascer, o filhote procura mamar, se alimentando durante 40 dias. Durante esse tempo, a mãe faz a limpeza do ninho, comendo inclusive os dejetos dos filhotes. Nas primeiras semanas a mãe só abandona o ninho em caso de extrema necessidade, voltando para ele o mais rápido possível. CADELAS A gestação dura entre 58 e 63 dias. Nesta fase da vida geralmente a cadela se alimenta com 50% a mais de comida que seu normal. É recomendado dar leite à vontade e oferecer uma ração adequada. A cadela tem o parto geralmente deitada, com o focinho próximo a vulva, com fortes contrações. O feto é expelido envolto no saco amniótico, que normalmente a cadela rompe com os dentes. Junto pode também vir a placenta, ligada ao filhote pelo cordão umbilical. A cadela geralmente ingere a placenta (ela é rica em hormônios que ajudam o útero voltar ao normal e a descida do leite) e lambe os filhotes, para limpar, esquentar e incentivar a respiração. O trabalho de parto pode demorar até 36 horas.


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O cão nas religiões Por Maria da Graça Dutra, presidente da SAA

O cão no judaísmo Na antiguidade, os judeus consideravam os cães animais impuros. A origem desse preconceito é o fato de que estes animais viviam fora das muralhas das cidades e sua sobrevivência dependia dos dejetos lançados pelos habitantes, inclusive cadáveres. Segundo o ritual israelita, o contato com cadáveres implica em desonra, por motivos religiosos e pelo risco de transmissão de doenças. A veneração que os egípcios tinham pelos animais também contribuía para que os judeus os rejeitassem. Mesmo assim encontramos no Talmud (código de direito dos judeus ortodoxos) uma passagem que declara que os cães, mesmo impuros, deveriam ser tolerados como recompensa por haverem guardado silêncio na noite em que foi iniciado o êxodo do Egito. Outro aspecto positivo é o símbolo da proteção oferecida por Deus a Caim: um cão. Uma fábula de Rabbi Meir conta a história do cão de um pastor que, ao observar como uma serpente cuspia veneno num tacho de coalhada prestes a ser consumida por seu amo, começou a dar voltas ao redor do prato, latindo freneticamente. Como o pastor não entendeu sua mensagem, o cão debruçou-se sobre o prato, comendo seu conteúdo com sofreguidão, vindo a morrer em poucos minutos. Como agradecimento a este ato heróico, os pastores o enterraram com honras e orações.

O cão no islamismo A tradição islâmica, assim como a judaica, também considerava o cão um animal impuro pelos mesmos motivos. Para os fundamentalistas islâmicos, ser tocado por um cão significava desonra e requeria um ritual de purificação. O prato onde comeu um cão deveria ser lavado 7 vezes e esfregado com areia para poder ser usado novamente. As matilhas de cães chamados "pários" representavam um problema nas cidades islâmicas antigas, pois transmitiam a raiva. Entretanto, se reconhecia que livrar a cidade dos dejetos era um benefício proporcionado pelos cães. Em certa ocasião o profeta Maomé (Séc. VII d.C.) tomou a decisão de exterminar os "cães pários" da cidade de Medina. Mas voltou atrás na sua decisão, argumentando que os cães eram criaturas de Alá e somente aquele que os criara poderia expulsá-los da terra; e algumas categorias de cães, como os de guarda, caça e pastoreio eram úteis aos humanos, com direito a existir. Vivendo no séc. VII d.C., Maomé teve uma visão generosa e digna de espíritos evoluídos, que o Fórum de Controle de Zoonoses de Florianópolis, em pleno Séc. XXI é incapaz de ter. Conta a tradição que o próprio Maomé tinha um cão da raça Saluri.

O cão no cristianismo O cristianismo também herdou do judaísmo aspectos negativos em

relação aos cães, mas que foram sendo atenuados graças às inúmeras lendas positivas existentes na vida de diversos santos. O próprio nascimento de Cristo está relacionado com pastores e estes convivem com cães, sem qualquer conotação negativa. Existe uma lenda na cidade de Granada (Espanha) que lembra que os três reis magos vieram acompanhados de três cães: Cubilon, Lubina e Melampo. Atualmente inúmeros cães nesta cidade assim se chamam, para atrair boa sorte e prosperidade. A visão mais comum sobre os cães que oferece o cristianismo é a de fiel companheiro, como Tobias, do Antigo Testamento que era acompanhado pelo anjo Rafael e um pequeno cão, que o acompanhou ao céu. O nome de Toby, dado a inúmeros cães, tem origem nessa passagem. São Roque foi salvo pelo seu cão, que o alimentou quando adoeceu atacado pela peste. São João Bosca foi salvo mais de uma vez de assaltos e emboscadas pelo seu fiel cão cinza de nome Grifio.

Os animais fazem parte da história de várias religiões. A filosofia budista é a que mais respeita a convivência com eles

O cão no Budismo O Budismo, mesmo não sendo uma religião, não poderia deixar de ser lembrado, pois é a filosofia de vida que mais respeita aos animais. O "Sutra do Diamante" é o texto conhecido mais antigo que trata do respeito a todas as formas de vida da terra, os animais, os vegetais e até os minerais. Ensina Buda que o homem só sobreviverá através da sobrevivência de outras espécies e que devemos desvencilhar-nos no nosso pequeno e egoísta "EU" e olhar a todos os seres com os olhos da compaixão e da interação. Conta que, um monge, ao se alimentar pela manhã, antes de sair para ensinar o dharma (doutrina de Buda), perguntou a outro monge: "Amigo, você está vendo aquela vaca no campo? Pois ela está comendo a erva que produzirá o leite que eu beberei para poder ir ensinar o dharma. Portanto, quem ensinará o dharma hoje, também será a vaca!".


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www.amigosdosanimais.org.br O fim da experimentação com animais é defendido por muitos cientistas

Ética Animal A utilização de animais em pesquisas científicas é um tema que opõe cientistas e Organizações de Defesa dos Animais. Mais do que isso: põe em questão nossos princípios e valores. A pergunta principal é: até que ponto o sofrimento animal é necessário para o progresso da ciência? A doutora em Teoria Política e Filosofia Prática, Sônia T. Felipe, foi além das discussões ideológicas e estudou a violência contra os animais. Ela é professora do Departamento de Filosofia da UFSC e cofundadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Violência. Sônia prepara agora, dois livros sobre a questão ética na consideração animal.

O que fez você se interessar pela questão dos animais? Os principais temas que me ocuparam em filosofia política sempre foram os da igualdade, da não-violência e da não-discriminação. O interesse pessoal veio do fato de eu não comer carne animal há 22 anos. Apenas nove anos depois de ter tomado essa decisão é que fui ler os primeiros filósofos defensores do vegetarianismo. Que relação existe entre a filosofia e a proteção dos animais? De todas as ciências, a filosofia é aquela que mais prima pelo desenvolvimento da capacidade de raciocinar, de forma abstrata, sobre todas as questões que dizem respeito à qualidade do ser humano. Nesse sentido, todas as perguntas que nos fazemos sobre o certo e o errado em relação aos humanos, também devem ser feitas para tratar dos interesses de outros animais. No ano passado, você integrou a Comissão de Ética no Uso de Animais no ensino e pesquisa na UFSC. Como os animais são usados para pesquisa na Universidade Federal? Há duas áreas distintas da pesquisa com animais. Uma delas é a da Agronomia, em que as pesquisas feitas visam aumentar a produtividade e a eficiência da produção para o abate e favorecer o bem-estar dos animais. Nas áreas ligadas à medicina e à psicologia, as pesquisas feitas são de

ordem neurológica, comportamental, além de testes farmacêuticos. Talvez o que já diferencie um pouco nossa Universidade nos últimos anos seja o fato de que aquelas pesquisas feitas com absoluta indiferença em relação ao sofrimento animal já não existem mais. Por que essas pesquisas, que envolvem o sofrimento do animal, ainda são consideradas essenciais pelos cientistas? Nos últimos dois séculos a ciência só foi desenvolvida com a utilização de animais como modelo e se tornou quase impossível imaginar que o cientista pudesse buscar conhecimento por outras vias. Na verdade, se todo esse investimento tivesse sido empregado na busca por métodos alternativos, hoje nós olharíamos para aqueles que usaram animais do mesmo modo como nós olhamos para a Santa Inquisição, para a queima das bruxas. Se o profissional treinar a cirurgia, por exemplo, em bonecos, estaria preparado para operar pessoas tanto quanto aquele que treina em animais? Eu penso que nem os bonecos nem os animais são a solução para treinar o

cirurgião. O tecido mais apto a permitir o desenvolvimento da habilidade do médico é o tecido humano vivo. Eu sei que isso pode espantar, mas os grandes cirurgiões treinaram seus alunos fazendo-os observar cirurgia por cirurgia, das mais simples às mais complexas, até eles se formarem. Na sua opinião, qual é a situação dos animais de rua atualmente e qual seria a solução para esse problema? A situação é desastrosa. Mas penso que nós já estivemos em momentos piores. Hoje já há movimentos em defesa dos animais de rua e ONGs que tratam de atender esses animais. Para a questão da quantidade de animais abandonados, nós devemos ter políticas publicas de atendimento. Se os animais de rua tiverem atendimento sanitário e médico podem viver na rua e conviver com os seres humanos sem representar ameaças. O abandono e a negligência seriam fatores culturais? Com certeza. Eu diria até que os povos que têm tradições católicas são mais desumanos em relação aos animais. Isso por causa de uma teoria típica da igreja católica que considera que todos os seres que estão abaixo do homem não são tão dignos de consideração. Essa hierarquia faz com que muitas pessoas acreditem que os animais são seres que podem ser tratados com descaso, negligência e despreocupação, já que não têm sensibilidade e consciência como nós e, portanto, não têm direitos morais como nós. J


10 Um olhar de gratidão Uma reflexão sobre o sofrimento dos animais abandonados, por Marcos Fabiano Reinlein, veterinário Quem já assistiu ao filme "A Dama e o Vagabundo”, de Walt Disney, sem se apaixonar pela história do cão de rua, superesperto, herói, conquistador? Talvez muitos pensem que é assim que vivem os nossos animais de rua. Infelizmente, a realidade não é romântica, e sim, cruel e violenta. Essa realidade que muitos não vêem está na nossa frente e não estamos livres dela e de suas conseqüências. Os animais de rua, abandonados à própria sorte, têm de lutar pela sobrevivência. E como fazem isso? Revirando nossas latas de lixo, mendigando nas lanchonetes e restaurantes, comendo restos de animais e fazendo uma série de outras coisas - muitas das quais não gostaríamos nem de saber! Essa busca pela sobrevivência traz uma série de conseqüências, não só para os animais, mas também para toda a sociedade. Comecemos pelos animais... Manchete: Cão pastor vítima de sadismo, chega na clínica veterinária com queimaduras de 3º grau em 60% do corpo... Manchete: Sujeito é processado e condenado em Chapecó, por matar cão a golpes de facão na frente de crianças, pois o cão "estava incomodando e sujando seu quintal"... Manchete: Frentistas de posto em Lages ateiam fogo (gasolina) em cão porque todo dia ele vinha revirar o lixo do restaurante que existe no posto... Animal mal nutrido tem imunidade baixa, pré-disposição a todo tipo de doença. Muitas dessas doenças são transmissíveis ao homem. Animal mal nutrido tem que caminhar quilômetros atrás de alimento, e nesse caminho pode ser um grande transmissor, disseminador, só para citar: de vermes, carrapatos, sarnas, pulgas, bicho-do-pé, etc. Animal mal nutrido é animal que sofre. Ou alguém, por acaso, pode se sentir bem, disposto e alegre quando está mal alimentado? Não só os animais de rua passam fome. Muitos cães, freqüentemente os de guarda, sofrem de maus

VIA PAPEL

tratos, principalmente quanto à alimentação, e são largados no canil lá no fundo do quintal. Nossa responsabilidade é grande, principalmente se pensarmos em todas as relações que existem e em como estamos envolvidos, o quanto somos interdependentes na vida, queiramos ou não. Controlando, prevenindo e participando nós não estaremos apenas, por exemplo, adotando um cão ou um gato. Estaremos prestando um grande serviço à comunidade, à família e a nós mesmos. Seremos parte de uma ação social, que pensa no bem-estar de todos, animais ou seres humanos. O que gostaria de propor não é nenhum "ovo de Colombo". É simplesmente um convite à reflexão sobre a responsabilidade que temos em relação a tudo que está à nossa volta.

Veja o que estamos fazendo Resultados de dois anos da Ong, de agosto de 2001 a agosto de 2003 Animais recolhidos: Atendim. veterinários:

717 410

Cirurgias diversas:

22

Eutanásias:

44

Castrações:

531

Denúncias:

105

Orientação Telefônica:

939

Resgates:

9

Veja também como funcionam a Feira de Cachorros Usados e o Vale-castração, na página 12

Sociedade Amigos dos Animais

Alimentar nossos animais pode ser muito, sim! Seja qual for o alimento: amor, caridade, solidariedade, tanto faz. O fato é que quem alimenta bem o seu animal, também se preocupa com a fome alheia. E não existe preço para um olhar de gratidão. Envolva-se, participe, seja responsável e solidário!

ONGs atuantes em Florianópolis: SOCIEDADE AMIGOS DOS ANIMAIS Telefone: 9907-8384 Site: www.amigosdosanimais.org.br ACAPRA Telefone: 9992-9929 (das 13 às 17h) Site: www.acabra.hpg.com.br ASSOCIAÇÃO FRANCISCO DE ASSIS Telefone: 9982-8706 É O BICHO www.eobicho.org.br SOCIEDADE ANIMAL Telefone: 48 232 0778 Site: www.sociedadeanimal.com.br


Chega de enrolação!

www.amigosdosanimais.org.br

Não somos brinquedos Virei a cabeça, olhei para trás, e vi a estrada afunilar-se no horizonte. Sabia que não deveria olhar para trás. Deveria olhar em frente. Sempre na direção do sol que despontava diante de mim, mas não conseguia. Vez que outra me pegava olhando novamente para trás. Queria constatar com meus próprios olhos o quanto já havia caminhado. Ah! Quantas pedras cruzaram o meu caminho. Quantos sorrisos arranquei das crianças e dos adultos... É...Fui feliz! Ontem sonhei que era um anjo. Foi uma sensação boa. Sentir-se com asas, voar... Se eu fosse um anjo talvez pudesse acertar as coisas. Mas não sou! Às vezes custo a acreditar que estou caminhando por esta longa, longa estrada. Talvez ela pareça tão longa porque estou andando sozinho. Não sei. Lembro-me quando tinha amigos e uma companheira ao meu lado. Naquela época não percebia o quanto era feliz. Agora estou só! Jogaram-me na estrada como fazem com o lixo que já não tem mais utilidade. Eu não sou um brinquedo que quando fica velho é descartado. Mas sinto-me assim, como se fosse um. Vejo o quanto andei e tomo a decisão de que não posso parar. Nem de andar e nem de acreditar. Quem sabe logo mais adiante as coisas melhorem? É... Quem sabe... Dizem que a esperança é a última que morre. Será mesmo? Sei que se parar no meio desta estrada, eu é que vou morrer! Já vi dezenas de colegas na mesma situação que a minha e que já não estão nesta vida. Muitos deles viraram sabão. Outros tiveram suas peles arrancadas sem dó nem piedade. Outros tantos foram mortos por pura maldade. Mas isso não vai acontecer comigo! Eu juro! Quero conservar minha integridade. Afinal, sou nobre! Tenho pedigree! Por isso, não vou parar. Talvez encontre um Éden!

É... Um lugar onde poderei viver meus últimos dias sem o sofrimento de virar latas de lixo a procura de restos de comida, para pelo menos sobreviver. Meus donos já não viam mais graça em mim e então num belo dia me levaram para fazer um longo passeio. Tão longo que já dura mais de dois anos. Longe de um lugar que um dia foi o meu lar. Sabem o que mais dói em minha alma canina? É saber que um dia eu fui amado por meus donos e que hoje tudo acabou. Como puderam fazer isso comigo? Eu era obediente, limpo, livre de pulgas e nunca saía atrás de outras cadelas. Onde foi parar o amor que sentiam por mim? Quem vive nas ruas, sem coleira, é desprezado. Muitos humanos jogam pedra na gente. Nos maltratam. Como argumento dizem em alto e bom som que somos apenas animais. Será que o nosso fim será assim? Descartados como brinquedos velhos? Temos sentimentos. Até protegemos nossos donos como se fossem membros de nossa matilha... Eu até perdoaria tudo o que eles fizeram comigo por um simples afago, um pouco de ração, um abraço. Minhas patas estão cansadas. Sei que não devo, mas me deito um pouco na beira da estrada. Logo vem um sono profundo. Meus ouvidos captam o som de latidos. Agora já não sinto mais cansaço algum. Vejo vários outros animais fazendo festa com a minha presença, e em minha frente, surge como se fosse mágica uma porção generosa da ração que eu mais gosto. Enfim, encontrei o Éden. Por João Carlos Zeferino (www.zeferino11.hpg.com.br) Crônica publicada no Diário Catarinense, dia 26/07/2003

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Em matéria publicada no jornal AN Capital no dia 14 de agosto, o gerente da divisão de Vigilância Sanitária de Florianópolis, Cláudio Soares da Silveira, afirmou que várias atitudes seriam tomadas de imediato pelo Fórum de Controle de Zoonoses e Bem Estar Animal. Abaixo, transcrevemos algumas delas: “Atualmente esterilizamos animais em áreas carentes, e associações de animais podem utilizar a sala de esterilização” Gostaríamos de saber quantos animais foram castrados, como a população pode usufruir desse serviço e onde fica essa sala de cirurgia que está a disposição das Ongs. “A partir desse mês (agosto) será iniciado um projeto de educação nas escolas municipais” Em quais escolas e em que séries este trabalho está sendo feito? Qual o teor do conteúdo passado aos alunos? “As feiras de vendas de animais foram proibidas e os responsáveis multados, mas elas continuam acontecendo e por isso começaremos a recolher os filhotes” Realmente as feiras continuam. Se os filhotes foram recolhidos, o que foi feito com eles? “A campanha em placas será retomada e em breve iniciaremos uma campanha no rádio” A prefeitura vai ensinar os cães abandonados a ler? A campanha do rádio terá o mesmo teor das placas, que acusam de bandidos os animais que perambulam pela rua? “Intensificação da proibição de animais perigosos sem focinheira” Os animais continuam sem focinheira. Recentemente tivemos um relato de ataque para o qual a pessoa agredida registrou um boletim de ocorrência. O papel da Sociedade Amigos dos Animais é o de questionar. O espaço está aberto ao Fórum para enviar sua resposta, desde que as afirmações sejam comprovadas.


BENÇÃO DOS ANIMAIS Leve seu animal para ser abençoado na Feira Especial em Homenagem a São Francisco de Assis No dia de São Francisco de Assis, 4 de outubro, a SAA realiza uma feirinha especial com a benção dos animais. O frei Junípero, da Ordem de São Francisco, de Florianópolis, estará a disposição abençoando os animais que forem levados à feira nesse sábado. Cachorro, gato, passarinho, tartaruga, ou qualquer que seja o seu animal de estimação poderá ser abençoado durante a feira que acontece em frente à Agropecuária 3 Irmãos, próximo ao elevado do CIC, das 9h às 13h. Francesco Bernardone, nascido em Assis, Itália, em 1181, e mais tarde conhecido como São Francisco de Assis, é o santo do cristianismo mais relacionado com o amor aos animais. O amor de São Francisco era cósmico e universalista, considerava irmãos o sol, a lua, a água e todos os seres vivos. Ele viu a natureza inteira como um espelho de Deus e amou todas as criaturas sem distinção.

CONCURSO O desenho de Laura Barbosa David, de 7 anos, foi o vencedor do concurso realizado durante a esposição da SAA no Beiramar Shopping no mês de agosto. Parabésn a ela e a todas as crianças que participaram!

Sociedade Amigos dos Animais

Adote essas idéias Entenda como funciona a Feira de Cachorros Usados e o Vale-castração A Feira de Cachorros Usados é uma oportunidade de um final feliz para os cães e os gatos que foram recolhidos pela Sociedade Amigos dos Animais. Alguns estavam em situação de risco, sofreram maus tratos ou foram abandonados pelas ruas da cidade. O evento acontece há dois anos, todos os sábados, das 9h às 13h, em frente à Agropecuária 3 Irmãos, próximo ao elevado do CIC, em Florianópolis. Quem visita a feira pode conhecer "pessoalmente" alguns dos gatos e cachorros que estão na Galeria de Adoção do site da Sociedade Amigos dos Animais (www.amigosdosanimais.org.br). Eles foram recolhidos e tratados pela Ong e mantidos num Centro de Recuperação enquanto esperam pela adoção. Todos recebem muito carinho, boa alimentação e têm espaço para correr, brincar e se desenvolver saudavelmente. Eles contam ainda com cuidados veterinários, de higiene e estão desverminados. Mas o que estes bichinhos querem mesmo é uma casa própria e um dono para mimá-los. Venha conhecer nossos candidatos e ser muito feliz com seu novo amigo! Para fazer a adoção basta preencher um termo de responsabilidade e ser maior de 18 anos. Na Feira de Cachorros Usados também são vendidos produtos da Ong e o espaço já é um ponto de encontro conhecido dos amigos dos animais.

Você sabia que para cada criança que nasce, nascem 15 cachorrinhos e 30 gatinhos?

Como funciona o vale-castração O vale-castração é um sistema adotado pela Sociedade Amigos dos Animais para facilitar a esterilização de cães e de gatos para minimizar a superpopulação de animais abandonados na nossa cidade. A esterilização é uma cirurgia simples, que pode ser realizada a partir dos quatro meses de idade. A fêmeas têm o útero e ovários removidos e os machos, o testículos. O método é seguro e indolor, pois o animal permanece sob efeito de anestesia geral. Alguns veterinários associados da SAA utilizam a chamada “técnica do gancho”, que permite que a cirurgia nas fêmeas seja realizada através de um corte de apenas 1cm, resultando numa

recuperação muito mais rápida. O vale-castração é vendido na Feira de Cachorros Usados por R$43,00, para gatos, e R$53,00, para cães. Estes valores equivalem a menos de um terço do que é usualmente cobrado por clínicas veterinárias. De posse do vale, o dono do animal escolhe um dos veterinários cadastrados e com ele agenda a cirurgia do seu bichinho. Basta apresentar o vale ao veterinário. Se você já decidiu pela esterilização do seu bichinho entre em contato. Não espere o primeiro cio ou a primeira ninhada indesejada. Esterilize seu cão ou gato e evite sofrimento desnecessário.


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