Guimarães Arte e Cultura |CIAJG | jornal 2º ciclo expositivo 2017

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PLATAFORMA DAS ARTES E DA CRIATIVIDADE

Durante este verão celebramos uma parcer​ia com o Museu de Serralves e apresentamos um conjunto de exposições que oferecem ao público um espectro muito alargado de artistas de várias gerações que marcam o panorama artístico em Portugal, desde 1960 até aos nossos dias. Com efeito, autores cujas obras surgem na década de 1960, como Joaquim Bravo, Álvaro Lapa, Fernando Lanhas, José de Guimarães, ou na década de 1980, como Rui Chafes, Xana ou Fernando Brito, introduzem e ajudam a contextualizar um extenso número de práticas e de conceitos protagonizados por alguns dos mais destacados e influentes artistas que despontaram nas décadas de 1990 e de 2000, representados na Coleção de Ivo Martins, cuja apresentação no CIAJG é a mais extensa realizada até à data.​

This summer we are celebrating a partnership with the Serralves Museum and will present a series of exhibitions offering the general public a broad spectrum of artists from various generations that have marked the Portuguese artistic panorama – from the 1960s to the present day. Artists whose works first appeared in the 1960s – such as Joaquim Bravo, Álvaro Lapa, Fernando Lanhas, José de Guimarães –

or in the 1980s – such as Rui Chafes, Xana or Fernando Brito – introduce and help contextualize many of the artistic practices and concepts pioneered by some of the most outstanding and influential artists that emerged in the 1990s and 2000s, represented in the Ivo Martins Collection. The CIAJG exhibition is the most extensive exhibition of works from the Ivo Martins Collection ever held to date.

COSMIC, SONIC, ANIMISTIC COLEÇÃO PERMANENTE E OUTRAS OBRAS


CIAJG

PISO 1 / SALAS #1-8 | 1ST FLOOR / ROOMS #1-8

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Obras de / Works by

CURADORIA / CURATED BY NUNO FARIA

INAUGURAÇÃO / OPENING 29 JUNHO / JUNE 2017

A coleção permanente, como convencionámos chamar ao conjunto de obras que colocamos em diálogo no piso superior do CIAJG, abre um espaço de pluralidade que nos convoca a todos, espetadores, a interrogar e a reinventar as noções que nos foram transmitidas pelos manuais de história da arte. A cada ano, renovamos o mote para esse diálogo e em cada nova montagem ensaiamos novas relações, trazemos novos artistas, repensamos os nexos, as atrações e as oposições entre objetos e imagens que aqui se encontram vindos de lugares e tempos díspares. Esse movimento, simultaneamente excêntrico e centrífugo, mimetiza o mecanismo da espiral e põe o acento, não tanto na proximidade formal que possa existir entre os objetos, mas sobretudo nas ressonâncias, na energia que a convivência entre esses objetos pode gerar. Estamos em pleno campo do visível, mas, neste lugar, falamos sobretudo das relações invisíveis entre as coisas materiais, a forma como os objetos atravessam o tempo e espaço, como guardam uma energia e uma memória próprias. Neste contexto, acolhemos a obra de Fernando Lanhas, seguramente um dos artistas portugueses mais singulares, exemplo maior de um pensamento artístico e humanista que assenta numa conceção cósmica do mundo, e repomos a Instalação do Museu de Luanda, importante exposição que José de Guimarães realiza em Angola em 1968 e que reúne um conjunto de obras seminais no percurso do artista. Na sala 3, também chamada “As Magias”, fazemos conviver o impressivo conjunto de máscaras africanas com uma seleção de registos sonoros recolhidos na importante “Missão de Pesquisas Folclóricas” que, em 1938, com idealização do escritor brasileiro Mário de Andrade, uma equipa chefiada pelo engenheiro e arquiteto Luís Saia conduziu no Norte e Nordeste do Brasil, em torno de manifestações ritualísticas populares de dança e música. A concluir o percurso expositivo, apresentamos, na sala 8, dedicada à “figura humana”, a exposição “Stefano Serafin, Arte em Estado de Guerra”, uma reflexão em torno das possibilidades e da condição da imagem fotográfica, entre original e cópia.

"Missão de Pesquisas Folclóricas"

"Stefano Serafin, Arte em Estado de Guerra"

Com a colaboração de / With the collaboration of Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarenga / Centro Cultural São Paulo / SMC / PMSP

Curadoria de / Curated by Paula Pinto Com a colaboração de / With the collaboration of FAST - Foto Archivio Storico Trevigiano E apoio de / and with the support of Henry Moore Foundation

José de Guimarães, Vasco Araújo, f.marquespenteado, Franklin Vilas Boas, Rosa Ramalho, Jaroslaw Fliciński, Rui Chafes, Filipe Feijão, Mestre Caçoila, Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade

Arte Africana, Arte Pré-Colombiana e Arte Chinesa Antiga da Coleção de José de Guimarães African Art, Pre-Columbian Art and Ancient Chinese Art of the José de Guimarães Collection

COSMIC, SONIC, ANIMISTIC PERMANENT COLLECTION AND OTHER WORKS The “permanent collection” – the term used to describe the works located on the top floor of the CIAJG, placed in dialogue with each other – opens a space of plurality which invites all spectators to question and reinvent the concepts conveyed to us by art history manuals. Each year we have renewed the theme underpinning the dialogue of the permanent collection and in each new assembly we explore new relationships, add new artists, and rethink the connections, attractions and oppositions between the objects and images brought from different times and places. This simultaneously eccentric and centrifugal movement, mimics a spiral mechanism and emphasizes not so much the formal proximity that may exist between objects, but above all the resonances and energy that may be generated by the coexistence between these objects. We are in the realm of the visible, but in this context we’re primarily addressing the invisible relations between material things, the way that objects cross time and space, how they maintain their own intrinsic energy and memory. In this context, we will exhibit the work of Fernando Lanhas, undoubtedly one of Portugal’s most distinctive artists, a major example of an artistic and humanist outlook based on a cosmic world view. We will also recreate the Installation from Luanda Museum, an important exhibition that José de Guimarães held in Angola in 1968, that brings together a set of seminal works in his career. In room 3, also called “As Magias” ("The Spells"), we complement the impressive set of African masks with a selection of sound recordings collected by the important 1938 "Folklore Research Mission" which based on an idea from the Brazilian writer Mário de Andrade, sent a team led by engineer and architect Luís Saia to collect information on popular ritualistic manifestations of dance and music in the North and Northeast of Brazil. In conclusion of this itinerary, in room 8, dedicated to the "human figure", we present the exhibition, "Stefano Serafin, Art in a State of War", a reflection on the possibilities and condition of the photographic image, between the original and copy.

Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarenga Centro Cultural São Paulo / SMC/ PMSP


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PISO 1 / SALAS #4-6 | 1ST FLOOR / ROOMS #4-6

INAUGURAÇÃO / OPENING 29 JUNHO / JUNE 2017 CURADORIA / CURATED BY MARTA MOREIRA DE ALMEIDA

Fernando Lanhas (Porto, 1923-2012) sempre quis, como todos os arquitetos, compreender a geometria do mundo. A sua formação académica contribuiu tanto para esse objetivo como o ser pintor, desenhador, arqueólogo, paleontólogo, astrónomo, etnólogo e poeta. A obra pictórica de Lanhas, que deve ajudar a compreender como pode a pintura concorrer para o conhecimento do mundo, não pode, como veremos, ser separada das muitas outras atividades que o ocuparam durante mais de 50 anos. Enquanto pintor, Fernando Lanhas ocupa um lugar destacado na história da arte portuguesa, que varia entre ser apontado como pioneiro do abstracionismo geométrico em Portugal ou como o introdutor da abstração no nosso país. Chegou à abstração enquanto estudante de arquitetura da Faculdade de Belas-Artes do Porto, nos anos de 1940, e frequentador assíduo, na mesma década, do Centro de Cultura Musical do Porto. Por isso, os vários comentadores da sua obra apontam para essas duas circunstâncias – académica e cultural – como as duas condições que melhor explicam a depuração geométrica traduzida por Fernando Lanhas nos seus desenhos, aguarelas e pinturas sobre tela e seixos. A escola artística do Porto, conhecida na altura pelas inovações implementadas pelo seu diretor, Carlos Ramos (Porto, 1897-1969), no ensino da arquitetura, é comummente apontada como o ambiente ideal para fomentar num jovem curioso como Lanhas a vontade de experimentar noutros suportes que não desenhos e projetos arquitetónicos, as noções de geometria que aspirantes a arquitetos deveriam dominar para compreender e transformar o mundo circundante. O percurso de Fernando Lanhas enquanto estudante demonstra ainda a forma como as discussões culturais eram à época independentes de espartilhos disciplinares, com jovens oriundos de várias práticas artísticas e correntes estéticas – Júlio Pomar (Lisboa, 1926), Júlio Resende (Porto, 1917-Gondomar, 2011), entre muitos outros – a organizarem as célebres Exposições Independentes (realizadas entre 1943 e 1950), nas quais Lanhas trabalhou como organizador e onde apresentou alguns dos seus primeiros trabalhos abstratos. Estas obras são absolutamente pioneiras no panorama nacional, ainda mais se atendermos ao isolamento cultural do contexto português, que impedia Lanhas de conhecer as experiências abstracionistas internacionais da década de 1910. De facto, apenas anos depois das suas primeiras experiências abstratas – nomeadamente numa viagem a Paris em 1947 – Fernando Lanhas se vai confrontar com a existência de um contexto internacional no qual os seus trabalhos se poderiam integrar. A pulsão subtrativa de Lanhas tem assim origem, mais do que numa lógica de diálogo com a arte do seu tempo (que chegava a Portugal com um considerável desfasamento), na convicção, alicerçada pelo seu precoce interesse pela astronomia e pela arqueologia, assim como pelos seus estudos em arquitetura e pela sua convivência com a música clássica, de que subjaz ao Universo uma lógica geométrica comum a todas as eras e a todas as disciplinas que tentam compreender o seu funcionamento. Digamos que Fernando Lanhas aproxima os mundos tradicionalmente afastados das ciências e das artes. Para ele, ambos se podem socorrer de ferramentas similares na sua interrogação do Cosmos.

E M PA R C E R I A CO M F U N DAÇ ÃO D E S E R R A LV E S

Fernando Lanhas · P74-84, 1984 · Seixo pintado · 2 x 5 x 9,5 cm · Col. Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto. Doação do artista em 2011 · Foto Filipe Braga, © Fundação de Serralves, Porto

FERNANDO LANHAS – FRAGMENTS: SOME WORKS IN THE SERRALVES COLLECTION Fernando Lanhas (Porto, 1923-2012), like all architects, always wanted to understand the geometry of the world. His academic training helped him in this aim as much as the fact of being a painter, designer, archaeologist, palaeontologist, astronomer, ethnologist and poet. His pictorial work, which aids understanding of how painting can contribute to the knowledge of the world, cannot, as we shall see, be separated from the many other activities that occupied him for over 50 years. As a painter, Lanhas holds a privileged position in the history of Portuguese art, being seen as the pioneer of geometric abstraction in Portugal. He came to abstraction when he was an architecture student at the Porto School of Fine Arts in the 1940s, and a frequent visitor, in the same decade, at the Porto Centre for Musical Culture. Various commentators on his work have pointed to these two circumstances – academic and cultural – as the two influences that best explain the geometrical sparseness Lanhas brought into his drawings, watercolours and paintings on canvas and pebbles. The Porto School of Fine Arts, known at the time for innovations in the teaching of architecture introduced by its director, Carlos Ramos (Porto, 1897-1969), is also seen as the ideal environment to stimulate an inquiring young mind such as Lanhas’ into trying out media other than drawing and architectural models to translate the notions of geometry that aspiring architects had to master in order to un-

derstand and change the world around them. Lanhas’ career as a student also shows how discussions about culture were, at the time, independent of disciplinary constraints, with young people from various artistic practices and aesthetic currents – Júlio Pomar (Lisbon, 1926), Júlio Resende (Porto, 1917 – Gondomar, 2011), among many others – organising the celebrated Exposições Independentes [Independent Exhibitions], held between 1943 and 1950. Lanhas helped to organise these events and exhibited some of his first abstract works at them. These were considered pioneering pieces in Portugal, especially in the light of the country’s cultural isolation, which prevented Lanhas from coming into contact with the abstract art of early modernism. In fact, it was only years after his first attempts at making abstract works – when on a trip to Paris in 1947 – that Lanhas would come face to face with an international context into which his work could fit. More than coming from a dialogue with contemporary art movements (whose arrival in Portugal was considerably delayed), Lanhas’ reductive forms lay in the conviction (supported by his early interest in astronomy and archaeology, as well as his architectural studies and familiarity with classical music) that there was a geometrical logic common to all ages and all disciplines underlying the universe and trying to understand how it functions. We could say that Lanhas brought the traditionally separated worlds of science and the arts closer together. For him, both can make use of similar tools in their interrogation of the Cosmos.


A instalação no Museu de Luanda, realizada em 1968, numa altura em que o artista se encontrava em Angola incorporado no exército português no contexto da guerra colonial, marca um momento muito importante no percurso de José de Guimarães e resulta das dinâmicas relacionais entretanto desenvolvidas com a cena artística e intelectual de Luanda. Realizada com meios precários, é um exemplo de engenho ao nível das soluções expositivas: painéis apostos à parede circular do espaço do museu forrados a juta, iluminação autoportante, desmultiplicação do espaço expositivo entre parede e espaço, diversidade de suportes e materiais. De facto, a instalação baseia-se num princípio de diferença e repetição, para citar o tão influente conceito de Gilles Deleuze (no exato ano da edição da seminal tese do filósofo francês), a partir da transferência da imagem de elementos diversos e por vezes repetidos (fragmentos de corpo, algarismos, signos) sobre diversas superfícies (tecido, papel, madeira) e de uma ideia de modularidade que explora mecanismos de combinação, justaposição e sobreposição de objetos (em caixas de transporte, por exemplo, que se viriam a tornar um elemento recorrente e distintivo do vocabulário do artista, e de outros contentores, como uma cabine telefónica). Elaborada sobre conceitos como nomadismo, transferência, reciclagem e circulação, a exposição que, segundo os relatos de época, provocou grande surpresa e forte impressão, apresenta-nos a produção de um artista sintonizado com a linguagem da “pop art” europeia, através da criação de um elaborado sistema de signos – letras, números, símbolos gráficos universais, tais como setas ou alvos e fragmentos do corpo humano em silhueta – que aparecem articulados com um conjunto de objetos de uso quotidiano que remetem para um mundo em anunciada transformação (globalização) - tais como caixas em madeira e uma cabine telefónica, que compõem a icónica instalação “Retrato de família”. Conjugando gravura, pintura sobre platex, estampagem, materiais pobres, como a juta ou a madeira usada nas caixas, José de Guimarães constrói uma exposição que respira o ar refrescante das mais estimulantes propostas contemporâneas, igualmente no que às soluções instalativas concerne (paredes, suportes e iluminação), ao ponto de estas se fundirem com os objetos apresentados, como forma e conteúdo, fundo e figura, dispositivo e discurso.

The installation at the Museu de Luanda (Museum of Luanda), created in 1968 when the artist was in Angola serving in the Portuguese army during the Colonial War, marked a very important moment in José de Guimarães' path, resulting from the relational dynamics developed at the time with Luanda's artistic and intellectual circles. Created with precarious means, it is an example of ingenuity regarding the solutions he came up with for the exhibition: panels apposed to the circular walls of the museum's space lined with jute, self-supporting lighting, reduction of the exhibition area between wall and space, diversity of media and materials. In fact, the installation was based on a principle of difference and repetition, to quote Gilles Deleuze's highly influential concept (in the exact year the French philosopher's seminal thesis was published), following the projection of the image of several elements, which were sometimes repeated (body fragments, numbers, signs), on various surfaces (cloth, paper, wood), and an idea of modularity that explored mechanisms of the combination, juxtaposition and overlapping of objects (in transport boxes, for instance, which became a recurring and distinctive element in the artist's vocabulary, and other containers, like a telephone box). Developed on concepts such as those of nomadism, transference, recycling and circulation, the exhibition caused, according to reports written at the time, major surprise and reactions, both of acceptance or rejection. It shows us the production of an artist who was in tune with the language of European "pop art", through the creation of an elaborate system of signs - letters, numbers, and universal graphic symbols, such as arrows or targets and silhouetted fragments of the human body – which appear to be articulated with a set of everyday items that refer to a world in transformation (globalization) – e.g. the wooden boxes and a telephone booth, included in the iconic installation, "Family portrait". Combining engraving, painting on hardboard, stamping, and simple materials, such as jute or wood used in the boxes, José de Guimarães produced an exhibition that was imbued with the refreshing air of the most exciting contemporary proposals, also with regard to the installation solutions (walls, supports and lighting), to the point where they merge with the objects on display, as form and content, background and figure, device and discourse.

INSTALLATION AT THE MUSEU DE LUANDA, 1968

PLATAFORMA DAS ARTES E DA CRIATIVIDADE

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CIAJG

PISOS 0 E -1 / SALAS #9-13 | GROUND AND LOWER GROUND FLOOR / ROOMS #9-13

INAUGURAÇÃO / OPENING 29 JUNHO / JUNE 2017

CURADORIA / CURATED BY NUNO FARIA

O CIAJG acolhe uma grande mostra composta por peças da coleção de Ivo Martins, em depósito no Museu de Serralves, em que pontificam alguns dos artistas mais relevantes da produção artística nacional das últimas três décadas, enquadrados por núcleos de obras de artistas referenciais tais como Joaquim Bravo, Álvaro Lapa ou Rui Chafes. A coleção de Ivo Martins constitui-se como uma das mais singulares e consistentes visões do panorama artístico de uma geração de autores e a sua apresentação em Guimarães é um desígnio há muito tempo traçado. Esta é a apresentação mais extensa da coleção alguma vez realizada, após as duas mostras que lhe foram dedicadas, respetivamente 321m2, Trabalhos de uma coleção particular, no CAPC - Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, em 2001, e Proximidades e Acessos: Obras da Coleção de Ivo Martins, na Culturgest Porto, em 2004. O interesse institucional que a coleção tem merecido e que é agora reativado com a presente exposição deve-se, seguramente, ao facto de conjugar no seu modus operandi duas caraterísticas aparentemente insanáveis: uma irredutível e até radical singularidade — na escolha dos universos autorais e na recorrência e longevidade da relação estabelecida com os artistas que integram o elenco da coleção, o que se traduz na existência de núcleos de peças de um mesmo autor consideravelmente estendidos no tempo — e, não obstante, a qualidade de ser representativa de uma dinâmica estética, sociológica e política que emergiu num período de charneira do panorama da arte contemporânea em Portugal, a década de 1990.

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Em 2017, numa altura em que, à escala global e num âmbito mais lato do que o artístico, as dúvidas são mais do que as certezas, por um lado, e em que assistimos no nosso país à desagregação e até ao desaparecimento das políticas de colecionismo público, por outro lado, a apresentação da coleção de Ivo Martins sob o nome de “A Arte como Experiência do Real”, pedido de empréstimo a um trabalho de Miguel Leal, é um gesto político que, ainda mais do que querer gerar debate, quer apontar evidências — é, hoje, urgente repensar no campo da cultura a noção e o lugar daquilo a que chamamos interesse público. Sendo certo que uma coleção é muito mais do que uma acumulação de peças e que para ser ativa e atuante do ponto de vista da produção discursiva tem de estar visível e exposta ao escrutínio público, a coleção de Ivo Martin desenha, antes de mais, uma teia de cumplicidades e uma comunidade — ampla, plural e por vezes dissonante — de afetos, interesses e conceções do mundo. Nas trajetórias estéticas e políticas que distintamente traça, e que procuramos descortinar nesta exposição, Ivo Martins vai estabelecendo uma curadoria atenta, sensível e aberta à transformação e à metamorfose. Os trabalhos que apresentamos, e outros que não couberam nesta exposição, tecem uma visão poética e material, por vezes direta, outras vezes metafórica, do humano no mundo e do mundo no humano, mostrando à evidência a importância de um conjunto de autores no panorama contemporâneo. É afinal isso que em última instância faz a relevância de uma coleção privada — o seu interesse público.

Obras de / Works by Joaquim Bravo, Álvaro Lapa, Xana, António Palolo, Pedro Casqueiro, Rui Chafes, Pedro Sousa Vieira, Paulo Mendes, Fernando Brito, Fernando José Pereira, Susana Mendes Silva, António de Sousa, Miguel Soares, Armanda Duarte, Fernando J. Ribeiro, Armando Ferraz, Miguel Leal, Cláudia Ulisses, Nuno Ramalho, Carla Filipe, Cristina Mateus, João Queiroz, Susanne S. D. Themlitz, Pedro Cabral Santo, Isabel Carvalho, Gonçalo Ruivo, Jaime Lebre, António Olaio

Joaquim Bravo · M. est Mort, 1987 · Col. Ivo Martins, em depósito na Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1994 · Foto Filipe Braga, © Fundação de Serralves, Porto


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PISOS 0 E -1 / SALAS #9-13 | GROUND AND LOWER GROUND FLOOR / ROOMS #9-13

Joaquim Bravo · Série "Sul Americanos" nº4, 1988 · Col. Ivo Martins, em depósito na Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto · Depósito em 1994 · Foto Filipe Braga, © Fundação de Serralves, Porto.

ART AS AN EXPERIENCE OF REALITY IVO MARTINS’ COLLECTION ON DEPOSIT AT THE SERRALVES MUSEUM The José de Guimarães International Arts Centre (CIAJG) will host a major exhibition of works from the Ivo Martins’ Collection on deposit at the Serralves Museum, which encompasses works by some of the Portugal’s most important artists from the last three decades, including nuclei of works by leading artists such as Joaquim Bravo, Álvaro Lapa or Rui Chafes. The Ivo Martins’ Collection is one of the most unique and consistent visions of the artistic works produced by a generation of artists and the idea to exhibit works from the collection in Guimarães is a long cherished goal. This is the most extensive presentation of works from the collection ever made to date, in the wake of two previous exhibitions: “321m2,

Álvaro Lapa · Os Mouros, 1989 · Col. Ivo Martins, em depósito na Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto · Depósito em 1994 · Foto Filipe Braga, © Fundação de Serralves, Porto.

works from a private collection”, in the CAPC - Círculo de Artes Plásticas, Coimbra, in 2001, and “Proximities and Accesses: Works from the Ivo Martins Collection”, held at Culturgest Porto, in 2004. Institutional interest in the collection, which is now reactivated as a result of this exhibition, derives from the fact that its modus operandi combines two apparently contradictory characteristics. On the one hand, it has an irreducible and even radical uniqueness - given the choice of its authorial universes and the recurrence and longevity of the relationship that it establishes with the artists whose works are included in the collection, which leads to the existence of sets of works by the same artist produced over a long period of time. On the other hand, the collection represents a sociological, political and aesthetic dynamic that emerged in a key period of the Portuguese

contemporary art panorama – the 1990s. In 2017, it is now urgent to rethink the concept and place of “public interest” in the world of culture, given that there are more doubts than certainties at a global scale, that extend well beyond the artistic field. In Portugal there has also been a weakening, and even eradication, of public policies in the field of art collections. In this context, the presentation of the Ivo Martins’ collection under the name of "The Art as an Experience of Reality" – a title borrowed from a work by Miguel Leal – is a political gesture that doesn’t just try to generate discussion, it instead aims to identify specific examples. A collection is much more than a mere accumulation of works. In order to be active and interventive in terms of discursive production, a collection must be visible and subject to public scrutiny. The Ivo Martins Collection, first and foremost, traces a web of complicity and a broad, plural and sometimes dissonant community of affections, interests and conceptions of the world. In the aesthetic and political trajectories that Ivo Martins distinctly traces, and which we aim to discover in this exhibition, he establishes an attentive and sensitive curatorship that is open to transformation and metamorphosis. The works we present here, and others that couldn’t be framed within the context of this exhibition, weave a poetic and material vision - sometimes direct, sometimes metaphorical - of humanity in the world and of the world in humanity, highlighting the importance of a specific set of artists in the contemporary panorama. Ultimately that which determines the relevance of a private collection is its public interest.


CIAJG

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“O CIAJG é uma instituição de convergência de culturas e civilizações aberta também aos criadores contemporâneos que se reveem nas valências culturais de todas as épocas. Tornar-se amigo do CIAJG significa participar na vida do Centro, acompanhar o seu desenvolvimento e viver as suas atividades. O apoio individual dos amigos do CIAJG é essencial para reforçar o seu reconhecimento nacional e internacional e sentir-me-ei muito feliz se puder contar com a sua adesão.” José de Guimarães, Amigo

O cartão AMIGO CIAJG foi criado para juntar a comunidade em torno de um projeto museológico sem fronteiras e que reúne objetos de diferentes culturas, tempos e lugares. Queremos que o CIAJG seja um ponto de encontro, um lugar sem limites para a reflexão, onde a única regra seja a do prazer de ver e de pensar, a liberdade de formar um pensamento próprio. Ambicionamos tornar o CIAJG um lugar de referência na cidade, na região, à escala nacional e internacional, e para atingir esse ambicioso objetivo precisamos de si. Bem-vindos ao CIAJG: um museu com a forma do mundo! REGALIAS Como forma de estímulo, o cartão Amigo CIAJG reserva várias regalias aos seus portadores:

A utilização do cartão é pessoal e intransmissível. O cartão deverá ser apresentado na bilheteira do CIAJG e sempre que solicitado.

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Válido até:

do CIAJG (nº1)

"Ser amigo do CIAJG é acreditar na capacidade transformadora da arte, é combater a resignação ou o conformismo, é pensar a política cultural como processo contínuo de depuração. O CIAJG tem sabido ser acervo de conhecimento, arte e memória, numa conceção organizada e sistemática que responde às exigências da contemporaneidade." Domingos Bragança, Presidente da Câmara

CIAJG FRIEND CARD The CIAJG FRIEND card has been created to build a community around a museum project without frontiers, that brings together objects from different cultures, times and places. We want the CIAJG to be a meeting place, a place without limits, that will foster reflection, where the only rule is the pleasure of seeing and thinking, the freedom to form our own thoughts. We aim to make the CIAJG a place of reference in Guimarães, the region, Portugal and internationally. We need you to help us achieve this ambitious goal. Welcome to the CIAJG: a museum shaped like the world!

Para adquirir o cartão Amigo CIAJG basta preencher o formulário de adesão e entrega-lo na bilheteira do CIAJG ou envia-lo por correio para a morada: Plataforma das Artes e da Criatividade / Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Av. Conde Margaride, 175, 4810-535 Guimarães.

• Entrada livre nas exposições do CIAJG; • 50% de desconto nas visitas orientadas às exposições do CIAJG; • Visita exclusiva com o Diretor Artístico do CIAJG para Amigos, por ciclo expositivo; • Museu Fora de Horas: encontros/leituras seguidas de conversa sobre questões de arte contemporânea; • Acesso gratuito às atividades para famílias do CIAJG, até ao limite da lotação disponível; • 10% de desconto em todas as compras na loja do CIAJG; • 25% de desconto na compra de edições do CIAJG; • Convites para as inaugurações, lançamentos de catálogos e outros eventos; • Envio de newsletters regulares sobre a programação do CIAJG; • Parque de estacionamento gratuito na Plataforma das Artes e da Criatividade, sempre que for visitar as exposições do CIAJG, num período máximo de 2 horas, condicionado à lotação do parque; • 50% de desconto nos espetáculos na Plataforma das Artes e da Criatividade; • Entrada livre nas exposições do Palácio Vila Flor.

O pagamento poderá ser efetuado em numerário (no momento da subscrição), através de cheque enviado por correio à ordem de “A Oficina, CIPRL”, ou através de referência multibanco a gerar no ato de subscrição. O seu cartão será emitido no prazo de uma semana, após confirmação do pagamento e enviado para a morada indicada no formulário. Para tornar mais cómodo o processo de adesão, o CIAJG disponibiliza-lhe ainda um formulário em www.ciajg.pt, que depois deverá ser submetido por e-mail para amigo@ciajg.pt.

VALOR DA ANUIDADE CARTÃO AMIGO CIAJG - INDIVIDUAL 50,00 eur CARTÃO AMIGO CIAJG - FAMÍLIA 75,00 eur (pai, mãe e filhos)

O cartão é válido por um ano a partir do momento da sua emissão e é renovável consoante intenção do portador. A utilização do cartão é pessoal e intransmissível. O cartão deverá ser apresentado na bilheteira do CIAJG e sempre que solicitado.

Municipal de Guimarães, Amigo do CIAJG (nº2)

Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) Plataforma das Artes e da Criatividade Horário de funcionamento terça a domingo, 10h00-13h00 / 14h00-19h00 (últimas entradas às 12h30 e às 18h30)

Terça a domingo, das 10h00 às 19h00, por marcação através do e-mail servicoeducativo@aoficina.pt (a última visita terá início até às 18h00) Público-alvo maiores de 3 anos Duração 60 a 90 min. Lotação min. 10 pessoas, máx. 20 pessoas  Preço 2,00 eur (grupos escolares) / 5,00 eur (outros públicos)

3 aos 5 anos Mas-caretos (construção, máscaras, corpo) Desenhos escondidos (desenho, descoberta, revelação) 6 aos 10 anos Histórias desembaralhadas (desenho, alfabeto, histórias) Nkisi e os feitiços (coleção, objetos mágicos, artes plásticas) 11 aos 15 anos A viagem do Rinoceronte (geografia, desenho, perceção) M/ 15 anos Paisagens da China (escrita, oralidade, história) De 20000 a.C a 2000 d.C. (história, pensamento, artes visuais)

Terça a domingo, por marcação através do e-mail servicoeducativo@aoficina.pt Duração 90 min. a 2 horas Lotação 1 turma / 25 pessoas  Preço Oficinas 2,00 eur Preço Vai e Vem (1 visita ao CIAJG + 1 oficina na escola) 2,00 eur

Tarifário 4 eur / 3 eur Cartão Jovem, Menores de 30 anos, Estudantes, Cartão Municipal de Idoso, Reformados, Maiores de 65 anos, Cartão Municipal das Pessoas com Deficiência, Deficientes e Acompanhante / Cartão Quadrilátero Cultural desconto 50% / Entrada Gratuita crianças até 12 anos / domingos de manhã (10h00 às 12h30) José de Guimarães International Arts Centre (CIAJG) Platform of Arts and Creativity

Terça a domingo Público-alvo alunos e professores de desenho Lotação máx. 25 pessoas / grupo Atividade sujeita a marcação prévia através do e-mail servicoeducativo@aoficina.pt

Opening hours tuesday to sunday, 10.00am-1.00pm / 2.00pm-7.00pm (last visits 12.30am and 6.30pm) Tariffs 4 eur / 3 eur Holders of the Cartão Jovem, Under 30 years, Students, Holders of the Cartão Municipal de Idoso, Reformados (Senior and Pensioner’s Card), Over 65 years, Handicapped patrons and the person accompanying them / Cartão Quadrilátero Cultural 50% discount / Free Entrance children until 12 years old / sunday morning (10.00 am to 12.30 pm)

Morada / Address Av. Conde Margaride, nº 175 4810-535 Guimarães Portugal N 41.443249, W 8.297915 Telefone / Phone + 351 253 424 715 www.ciajg.pt

Central de Informação | 2017

Organização

Parceria

Financiamento

Cofinanciamento

"Stefano Serafin, Arte em Estado de Guerra" Colaboração e Apoio

Apoio oficial da Oficina

Apoios


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