O terceiro ciclo expositivo de 2014 revisita duas obras de certa forma excêntricas ao campo da arte mas que com ele tecem relações profundas e profícuas: os universos literário de Maria Gabriela Llansol e cinematográfico de João Botelho. As duas novas e inéditas exposições trazem ao contacto do público dois imensos e generosos imaginários artísticos, sempre renovados pela forma desassombrada como se desdobram, em discurso plural e diverso, e como se reinventam, mantendo uma forte ligação à origem e ao lugar. Para além dos modos de contar próprios a cada uma das disciplinas – o cinema e a escrita -, as duas exposições convocam aquilo que está nos intervalos, as zonas de sombra, o labor invisível que produz diferença, a capacidade que ambos os autores têm de "fulgorizar" as coisas no mundo com a linguagem que lhes é dada. O CIAJG reúne peças oriundas de diferentes épocas, lugares e contextos em articulação com obras de artistas contemporâneos, propondo uma re(montagem) da história da arte, enquanto sucessão de ecos, e um novo desígnio para o museu, enquanto lugar para o espanto e a reflexão.
26.07 12.10
The third exhibition cycle of 2014 revisits two oeuvres that, to a certain extent, lie on the outskirts of the world of fine art, but nonetheless weave deep and fruitful relations with it: the literature of Maria Gabriela Llansol and the cinema of João Botelho. The two new exhibitions enable the general public to discover two generous and immense artistic imaginary universes, that are constantly being renewed through the fearless manner in which they unfold, in plural and diverse discourse, reinventing themselves, while maintaining a strong link to origin and place. In addition to the specific storytelling modes that are intrinsic to each of the disciplines – film and writing – the two exhibitions explore in-between zones, grey areas, invisible toil that produces difference, and the two artists’ capacities to add brilliance to worldly things, through the language that is given to them. The CIAJG assembles works from different times, places and contexts, in articulation with works by contemporary artists, and proposes a re (assembly) of art history, as a succession of echoes, and a new purpose for the museum – as a place for wonder and reflection.
"Não admira que durante milénios o ar, que ninguém vê, fosse imaginado como um ser sobrenatural que penetrava no corpo dos homens e lhes concedia a vida. Um deus, portanto. Assim, foi considerado o ar como um deus muito temido, umas vezes protetor, quando se deixava aspirar em haustos reconfortantes, outras vezes terrível, quando bramia, soprava, assobiava, fazia estremecer as robustas árvores e as arrancava do solo, tombando-as. Um deus que merecia toda a veneração e respeito." Rómulo de Carvalho, A Composição do Ar
Obras de / Works by Vasco Araújo Franklin Vilas Boas João Botelho Otelo Fabião Jarosław Flici´ nski José de Guimarães f.marquespenteado Rosa Ramalho Ernesto de Sousa
"It’s unsurprising that during millennia, the air – which no one can see – was imagined as a supernatural being who in soothing vacuums, but at other times terrible, when he bellowed, blowed, whistled, and shook robust trees and uprooted and toppled them. A god who deserved our every reverence and respect." Rómulo de Carvalho, A Composição do Ar
P I S O 1 SA L A S #1-8 1st floor rooms #1-8
A Composição do Ar
Composition of Air Permanent Collection and other Works
Coleção permanente e outras obras
Representar o ar, ou seja, representar aquilo que não se vê, é, talvez desde tempos de que já não nos lembramos, uma das aspirações da prática artística. O ar é matéria e meio. É matéria (vital) sem estrutura, sopro sem corpo. É um meio: transporta coisas, engendra ideias, faz-se respirar. A tentação do ar é também uma aspiração ao voo, uma fuga ao peso, a superação da gravidade. Subir acima do horizonte para ver mais e melhor. Se pensarmos bem, o ar é aquilo que nos liga – na mais integral aceção da palavra ligação – aos corpos, às coisas, aos objetos em geral. À ínfima camada de ar, impalpáRecipiente com animal | Vessel with animal Mambila, Nigéria/ Camarões | Mambila, Nigeria/ Camaroon Terracota | Terracotta 46 x 24 x 32 cm CIAJG – Coleção José de Guimarães | Collection José de Guimarães
vel e imperscrutável, que envolve um objeto, de arte ou não, chamamos aura. Trata-se de uma qualidade inexplicável que algumas coisas transportam e que as transforma em objetos de desejo, em coisas amadas e contempladas. No CIAJG os objetos atravessam o tempo e cruzam fronteiras para estabelecerem encontros cujo sentido é mais ou menos evidente, mais ou menos visível. Porquê fazer, recolher e guardar objetos? Entre as muitas respostas plausíveis e possíveis, para além do mistério que engendra o gesto artístico ou o simples ato criador, poderíamos dizer que fazemos, recolhemos e guardamos para preservar e projetar a memória, ou seja, para sobreviver ao desaparecimento. Tanto ou mais misterioso é saber qual o íntimo, o profundo significado de mostrar, de dar a ver. Não seria demasiado arriscado afirmar que mostramos para fundar um lugar, para nos constituirmos enquanto comunidade que partilha aspirações e temores, medos e desejos que estão para lá da nossa própria compreensão. Exumamos, escavamos, fazemos, construímos mais para compreender do que para explicar, mais para perguntar do que para afirmar. No CIAJG juntamos objetos e imagens de tempos e lugares muito distantes, por
Arte tribal africana, Arte pré-Colombiana e Arte Chinesa Antiga da coleção de José de Guimarães. Objetos do património arqueológico, popular e religioso. Obras de artistas contemporâneos. African Tribal Art, Pre-Columbian Art and Ancient Chinese Art of the José de Guimarães Collection. Objects of the folk, religious and archaeological heritage of the region of Guimaraes. Works of contemporary artists.
vezes sem aparente ligação, como se viessem até nós trazidos pelo vento, como se fossem sementes voadoras. Queremos refundar o museu como lugar do espanto e da reflexão, como corrente de ar e como espelho, como horizonte a perder de vista. Para isso, cruzamos diferentes linguagens e metodologias, desde a arqueologia à etnologia, passando pela história da arte; procuramos fazer conviver dimensões tantas vezes inconciliáveis como o popular, o ancestral, o artesanal, o vernacular, o conhecimento transmitido pela oralidade ou pela gestualidade; propomos lançar um olhar do lugar e do tempo em que nos encontramos sobre as mais diversas manifestações e sobrevivências materiais e imateriais da nossa cultura. Devolver ao visitante o espaço entre os objetos, as pausas para inspirar, mostrar o ar.
Vasco Araújo Botânica #3, 2012-14 Esculturas | Sculpture Mesa de madeira, 15 fotografias digitais, molduras de madeira e metal | Wood table, 15 digital photographs, wood and metal frames 100 x 100 x 120cm Cortesia do artista | Courtesy of the artist Vasco Araújo Botânica #5, 2012-14 Esculturas | Sculpture Mesa de madeira, 21 fotografias digitais, molduras de madeira e metal | Wood table, 21 digital photographs, wood and metal frames 100 x 100 x 120cm Cortesia do artista | Courtesy of the artist
To represent the air, i.e. to represent that which we can’t see, has perhaps been one of artists’ greatest aspirations, since time immemorial. Air is both matter and medium. It is matter (life) without structure, it blows but has no body. It is also a medium: it transports things, engenders ideas, enables us to breathe. The temptation posed by the air is the desire to fly, to flee from weight, to overcome gravity. To rise above the horizon and see things with greater amplitude and clarity. In fact, the air is what connects us together – in the most comprehensive meaning of the word, “connection” – it connects us to bodies, to things, to objects in general. We use the word “aura” to describe the tiny, impalpable and inscrutable layer of air, that encompasses an object, whether an artwork or any other item. This is an inexplicable quality that some things transport and which turns them into objects of desire, into things that are loved and contemplated. At the CIAJG, objects traverse time and cross borders in order to establish encounters whose meaning is more or less clear, more or less visible. Why should we do make, collect and store objects? Amongst the many plausible and possible answers to this question, in addition to the mystery that engenders the artistic gesture or the simple creative act, we could say that we make, collect and store things, in order to preserve and project memory, i.e., to guarantee their longevity. Equally mysterious is to understand the intimate, profound meaning of showing, giving and seeing. Would it be too risky to assert that we show things in order to establish a place, to constitute ourselves as a community that shares aspirations and anxieties, fears and desires that lie beyond our understanding. We exhume, dig, make and build things more because we want to understand them, rather than to explain them, more in order to ask questions than to assert things. At the CIAJG, we combine objects and images from very distant times and places, sometimes without any apparent connection, as if they came to us brought by the wind, as if they were flying seeds. We want to refound the museum as a place of wonder and reflection, as an air stream and mirror, as an infinite horizon. For this reason, we intermingle different languages and methodologies, from archaeology to ethnology, passing through the history of art. We try to blend dimensions that are often irreconcilable, such as the popular, ancestral, artisanal, vernacular, and knowledge that is transmitted orally or by gestures. We propose to cast a gaze from the time and place in which we find ourselves, regarding the wide array of tangible and intangible manifestations and vestiges of our culture. To return to visitors the space between objects, the pauses in which they can breathe. To show the air.
P I S O 0/1 SA L A S #5- 6/8-1 1 ground floor / 1st floor rooms #5-6 / 8-11
A frase que dá título à exposição de João Botelho (1949) é uma máxima do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, inscrita num dos mais famosos e influentes livros do autor “Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém”, escrito entre 1883 e 1885. A dança está frequentemente presente nos filmes e é omnipresente na vida de João Botelho, um dos mais singulares realizadores contemporâneos. É a prova material de um vínculo invisível que une os homens à energia cósmica do universo, um desafio à gravidade, uma afirmação de liberdade, de leveza e de graça. “Danço, pois, quando vejo dançar”, dizia Fernando Pessoa no Livro do Desassossego, evocando a viagem experimental e espiritual que é a vida. Pessoa, que tanto e tão surpreendentemente Botelho revisitou.
João Botelho “só acredito num deus que saiba dançar”
Dança (“Filme do Desassossego”) | Danse (The Film of Disquiet) Cortesia | Courtesy Ar de Filmes João Botelho por | by Pablo Bruno
A exposição que o CIAJG apresenta não é uma exposição clássica sobre a obra de um cineasta, mas antes a construção de um atlas de referências e de afinidades que procura dar a ver as múltiplas e profundas relações que com o imaginário da arte, desde a pré-história à contemporaneidade, detendo-se sobre a pintura, dos séculos XVI e XVII sobretudo, mas também mais recente, o cinema de Botelho ensaia. Aqui, o desafio é o da mudança de contexto, de escala e de suporte, mas, sobretudo, o de outra temporalidade e de uma experiência percetiva proposta ao espetador radicalmente distinta da do espaço abstracto da sala de cinema. Desta forma, demos carta branca a João Botelho para dialogar com a coleção permanente e apresentamos um conjunto de instalações inéditas especificamente concebidas para o espaço, em que o som, a imagem e a palavra se tornam elementos concretos para repropor e reconsiderar a experiência do mundo, do cinema e da arte. Por vezes, numa lógica de transposição de escala ou de suporte, outras de transfiguração ou ainda em forma de eco, João Botelho convoca lugares – de Trás-os-Montes, a sua terra de origem, até ao Algarve, passando pelo Douro, Guimarães, Lisboa, entre outros –, cenários, imagens de outras épocas, a terra e o céu, a visão de Deus e a dos homens, rostos, paisagens, textos. Qual dançarino, entre o voo e a queda, em deriva, o autor de "Conversa Acabada" revisita obras suas e convoca obras de outros artistas, do passado ou seus contemporâneos (como é o caso da singular abordagem ao trabalho de João Queiroz, Francisco Tropa, Jorge Queiroz e Pedro Tropa, que aborda no filme "4", aqui mostrado em formato instalação e em diálogo com peças destes artistas), com um genuíno desejo das coisas, estabelecendo relações, mais ou menos evidentes, simultaneamente obscuras e luminosas. Paralelamente à exposição será apresentado um ciclo de cinema dedicado à obra de João Botelho coproduzido com o Cineclube de Guimarães.
João Botelho “I could only believe in a god who dances” The title of the João Botelho exhibition (b. 1949) is a maxim by the German philosopher, Friedrich Nietzsche, taken from one of his most famous and influential books, Thus Spake Zarathustra, a book for everyone and no one, written between 1883 and 1885. As one of the world’s most distinctive contemporary filmmakers, dance is both a recurrent feature of João Botelho’s films and an omnipresent aspect of his life. It provides physical evidence of the invisible bond that unites men with the cosmic energy of the universe – as a challenge to gravity, and an affirmation of freedom, lightness and grace. "When I see others dance, I dance too", said Fernando Pessoa in The Book of Disquiet, evoking life’s experimental and spiritual journey. Pessoa, of course, was recently revisited by Botelho in depth and in such an amazing manner.
The exhibition presented by the CIAJG isn’t a classic exhibition on the filmmaker’s work. Instead, it’s the construction of an atlas of references and affinities, seeking to explore the multiple and deep relationships traced within Botelho’s cinema with the imaginary universe of art – from pre-history to the contemporary era, focusing above all on the painting of the sixteenth and seventeenth centuries, and also contemporary works. Here, the challenge is the change of context, scale and support, and, above all, the different temporality and perceptual experience proposed to the spectator – which is radically different from the abstract space of the traditional cinema. We have thus given João Botelho carte blanche to forge a dialogue with the permanent collection. We present a set of new installations that have been specifically conceived for this space, in which sound, image and word become concrete elements in order to re-propose and reconsider the experience of the world, cinema and art. Sometimes via a logic of transposition of scale or support, sometimes via transfiguration, and also in the form of an echo, João Botelho conjures up places – from his homeland in Trás-os-Montes, to the Algarve, passing through the Douro, Guimarães, Lisbon, among others – including scenarios, images of other times, the land and the sky, the vision of God and that of men, faces, landscapes, texts. Like a dancer, between flight and fall, drifting, the author of "Unfinished Conversation" revisits his own works and conjures up those of other artists, both from the past and his contemporaries (such as the unique approach to the work of João Queiroz, Francisco Tropa, Jorge Queiroz and Pedro Tropa, which he develops in his film "4", shown here in the format of an installation and in dialogue with works by these artists). He thereby demonstrates a genuine desire for things, establishing more or less evident relationships – that are simultaneously dark and light. A film series dedicated to João Botelho’s oeuvre, co-produced with the Guimarães film club, will also be presented in parallel with the exhibition.
P I S O -1 SA L A S #12-13 lower ground floor rooms #12-13
Maria Gabriela Llansol O encontro inesperado do diverso Com Ilda David e Duarte Belo
A exposição O encontro inesperado do diverso inaugura um ciclo de exposições dedicadas a poetas ou a universos literários próximos da poesia sem serem formalmente poesia. Maria Gabriela Llansol (1931-2008) construiu uma das obras mais fascinantes e enigmáticas do panorama literário contemporâneo, inesgotável na leitura do mundo, na fulgorização dos seres, na transfiguração da escrita. A presente exposição apresenta a novidade de ter origem num livro fulcral na obra de Llansol, LISBOALEIPZIG, recentemente reeditado, em que se tece um amplo conjunto de ramificações com outros livros, anteriores ou posteriores, da autora. A narrativa vai-se construindo em torno do encontro entre o escritor Fernando Pessoa (Aossê, em terminologia Llansoliana) e o compositor Johann Sebastian Bach, duas figuras maiores da criação artística que viveram fisicamente em séculos distintos mas que coabitam no imaginário de Llansol. A escrita dá corpo, torna o imaginável possível e o impossível imaginável. O título da exposição, O encontro inesperado do diverso, tomado de empréstimo ao livro, é programático: representa, por um lado, a pluralidade e a abertura do projeto literário de Llansol, onde confluem outras obras, imagens e objetos reais
escrevo, para que o romance não morra. Escrevo, para que continue, mesmo se, para tal, tenha de mudar de forma, mesmo que se chegue a duvidar se ainda é ele, mesmo que o faça atravessar territórios desconhecidos, mesmo que o leve a contemplar paisagens que lhe são tão difíceis de nomear. Maria Gabriela Llansol, 1991
e sonhados, em que a experiência da vida dá forma à escrita e em que a performatividade da escrita se verte no vivido quotidiano, reinventando-o, repropondo-o; e, por outro lado, é meta-representativo do encontro em que se constitui a própria exposição, para onde convocámos dois outros universos autorais, da artista Ilda David e do fotógrafo Duarte Belo, que conheceram Maria Gabriela Llansol e com quem colaboraram. Os trabalhos de Ilda David e Duarte Belo são, em Portugal, daqueles que mais íntima e aprofundadamente têm convivido com a literatura, mantendo um diálogo permanente com diversos autores dessa área ou tomando a escrita como matéria de inspiração. Assim, através da pintura, da gravura, do mosaico, do bordado ou do desenho, atravessados por personagens e objetos do livro, entre planos de representação e de corporalização, procura-se o sulco inscrito pela escrita de Llansol. Em contraponto, as fotografias propõem o espaço quotidiano e encenado da escrita, tornam presentes, apesar de distantes, as coisas e o tempo delas, todo um imaginário. O encontro inesperado do diverso é uma experiência que transporta para o espaço físico e codificado do museu, o lugar da apresentação, o espaço encapsulado e mágico do livro e, mesmo arriscando o desencontro ou a paralaxe, tentando dar corpo à voz interior da escrita e procurando o milagroso.
Ilda David “O bordado com o desenho do falcão” 02 / Llansol, 2014 Tinta acrílica e bordado sobre tecido | Acrylic paint and embroidery on fabric 146 x 137 cm Fotografia | Photography Duarte Belo Tecido estampado com desenhos campestres | Printed fabric with country designs Algodão | Cotton 132 x 150 cm Cortesia | Courtesy Espaço Llansol f.marquespenteado anel de catarina | catarina’s ring, 2012 Bordado à mão e à máquina sobre tripas de animal | Hand and machine embroidery on animal tripe Ø 300 cm Coleção | Collection CIAJG
The exhibition, The unexpected encounter with diversity, inaugurates an exhibition cycle dedicated to poets or literary universes that draw close to poetry without formally constituting poetry. Maria Gabriela Llansol (1931-2008) forged one of the most fascinating and intriguing works within the contemporary literary scene – inexhaustible in her interpretation of the world, in the brilliance of her beings, in her transfiguration of writing. One of the novel aspects of this exhibition is that it revolves around a key work in Llansol’s oeuvre, LISBOALEIPZIG, recently republished, in which she weaves a broad set of links with her previous and subsequent books. The narrative is built around an encounter between the writer Fernando Pessoa (Aossê, in her terminology) and the composer Johann Sebastian Bach – two major artistic figures that lived in different centuries but cohabit Llansol’s imaginary universe. Writing endows physical form – it makes the imaginable possible and the impossible imaginable. The exhibition’s title, The unexpected encounter with diversity, is borrowed from the book and is programmatic. On the one hand, it represents plurality and an open outlook towards Llansol’s literary project, encompassing her other works, images and real and dreamt objects, in which living experience endows form to the writing and in which the performativity of the writing is
encapsulated in everyday life, reinventing it and re-proposing it. On the other hand, the title is meta-representative of the encounter created by the exhibition itself, for which we have convened two other authorial universes – that of the artist Ilda David and the photographer Duarte Belo, who knew Maria Gabriela Llansol and worked with her. The works of Ilda David and Duarte Belo are those that have most intimately and profoundly interacted with literature in Portugal, maintaining a permanent dialogue with several authors from this area or using writing as a source of inspiration. Thus the grooves inscribed within Llansol’s literature are explored through painting, printmaking, mosaics, embroidery or design, populated by characters and objects from the book, between planes of representation and corporalisation. By contrast, the photographs suggest the everyday and staged space of writing – making things and their respective moments in time feel present, although they are distant, within an entire imaginary universe. The unexpected encounter with diversity is an experience that transports spectators to the physical and codified space of the museum, the place of presentation, the encapsulated and magical space of the book, while even risking a mismatch or parallax, as it tries to endow physical form to the inner voice of writing and seek the miraculous.
Maria Gabriela Llansol The unexpected encounter with diversity with Ilda David and Duarte Belo I write, to keep the novel alive. I write, to continue, even if, for this purpose, it has to change shape, even if one starts to doubt whether it’s still the same, even if this makes it voyage through unknown territories, even if it has to contemplate landscapes that it finds it hard to name. Maria Gabriela Llansol, 1991
HA L L CI A JG hall of the CIAJG
f. marquespenteado anel de Catarina
f. marquespenteado Catarina’s ring “Catarina’s ring”, is one of a set of items designed by the artist, f.marquespenteado, during his residency in Guimarães for preparation of the Beyond History exhibition, inaugurated by the José de Guimarães International Centre for the Arts.
Inspired by the subject of Catholic relics, f.marquespenteado worked with local artisans to produce a set of items that establish strong resonance with some of the city’s most deeply-rooted rituals, including the festivities of São Gualter. By means of this work, hand-embroidered on animal casings, the artist evokes one of the Catholic Church’s most precious relics, the holy prepuce that was removed from the infant Jesus during circumcision, in observance of Jewish tradition. This relic – that is claimed to have worked many miracles – was worn by Catherine of Siena, a devout worshipper who lived between 1347 and 1380 (and died in Rome at the age of 33), to signal her vaunted “mystic marriage” with Jesus in 1368, when she was 21.
“anel de Catarina” faz parte de um conjunto de peças concebidas aquando da residência que o artista f.marquespenteado realizou em Guimarães durante a preparação da exposição “Para além da História” que inaugurou o Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Partindo do tema das relíquias católicas, f.marquespenteado trabalhou com artesãos locais para realizar um conjunto de peças que estabelecem forte ressonância com alguns dos mais enraizados rituais da cidade, nomeadamente as festas dedicadas a São Gualter. Com esta peça, bordada à mão sobre tripas de animais, o artista evoca uma das mais preciosas relíquias da Igreja Católica, o prepúcio sagrado, retirado do corpo de Jesus Cristo aquando do ritual de circuncisão a que, em obediência à tradição judaica, foi submetido enquanto jovem. Esta relíquia, a que são atribuídos diversos milagres, terá sido usada por Catarina de Siena, reconhecida devota que viveu entre 1347 e 1380 (tendo morrido em Roma aos 33 anos), para assinalar o seu propalado casamento místico com Jesus, quando tinha 21 anos, em 1368.
Nuno Faria Curadoria / Curator
26.07 - 12.10 piso 1 salas #1-8 A Composição do Ar Coleção permanente e outras obras pisos 0/1 salas #5-6/8-11 João Botelho / “só acredito num deus que saiba dançar” piso -1 salas #12-13 Maria Gabriela Llansol / O encontro inesperado do diverso Com Ilda David e Duarte Belo
26.07 - 12.10 1st floor rooms #1-8 The Composition of Air Permanent collection and other works
Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) Plataforma das Artes e da Criatividade Horário de funcionamento
ground floor/1st floor rooms #5-6/8-11 João Botelho / “I could only believe in a god who dances”
terça a domingo 10h00 às 19h00 (última entrada às 18h30)
lower ground floor rooms #12-13 Maria Gabriela Llansol / The unexpected encounter with diversity With Ilda David and Duarte Belo
4 eur / 3 eur menores de 30 anos, estudantes, cartão jovem, maiores de 65 anos, cartão municipal de idoso e reformados, pessoa com deficiência e acompanhante, cartão quadrilátero cultural / Entrada Gratuita crianças até 12 anos / domingos de manhã (10h00 às 14h00)
hall f. marquespenteado / Catarina’s ring
Tarifário
José de Guimarães International Arts Centre (CIAJG) Platform of Arts and Creativity Opening hours
hall f.marquespenteado / anel de Catarina
tuesday to sunday 10am to 7pm (last visit 6.30pm) Tariffs 4 eur / 3 eur under 30 years, students, holders of the cartão jovem, over 65 years,holders of the cartão municipal de idoso, reformados (senior and pensioner’s card), handicapped patrons and the person accompanying them, holders of the cartão quadrilátero cultural / Free Entrance children until 12 years old / sunday morning (10 am to 2.00 pm)
Av. Conde Margaride, 175 4810-535 Guimarães, Portugal Telefone/Phone + 351 253 424 715 N 41.443249, W 8.297915 www.ciajg.pt
Visita Especial
Sábados em Família
Quarta 10 setembro 18h30-20h00 Visita especial com João Botelho
2º sábado do mês / Horário 16h00 / Público-alvo dos 4 aos 12 anos / Duração 90 min. / Lotação mín. 10 pessoas, máx. 20 pessoas / Preço 2,00 eur / Atividade sujeita a marcação prévia com 48h de antecedência através do e-mail servicoeducativo@aoficina.pt
Visitas Orientadas Terça a domingo / Horário das 10h00 às 19h00 por marcação através do e-mail servicoeducativo@aoficina.pt (a última visita terá início até às 18h00) / Público-alvo Maiores de 4 anos / Duração 60 a 90 min. / Lotação mín. 10 pessoas, máx. 20 pessoas / Preço 2,00 eur (grupos escolares), 5,00 eur (outros públicos)
Oficinas CIAJG / Vai e Vem 4 aos 10 anos Desalfabeto (desenho) Trocar os pés pelas mãos (escultura) 10 aos 14 anos O avesso do volume (escultura) M/ 15 anos Superfície da pele (escultura) De 2000 a.C a 2000 d.C. (história, artes visuais)
Horário terça a domingo, por marcação / Duração 90 min. a 2 horas / Lotação 1 turma / 25 pessoas / Preço Oficinas 2,00 eur | Vai e Vem (1 visita ao CIAJG + 1 oficina na escola) 2,00 eur (Oferta exclusiva para IPSS e escolas públicas de Guimarães)
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