Com a abertura do segundo ciclo expositivo o CIAJG pros26.04 segue o desígnio de lançar um olhar renovado sobre percursos 06.07 autorais ou campos disciplinares cujo lugar na história da arte queremos questionar e reequacionar. A imagem fotográfica é o ponto de união dos dois projetos que agora inauguramos. Em ambos os casos a fotografia é tratada como uma linguagem e uma forma de ler e dizer o mundo – como articulação. Da imagem enquanto documento à imagem como descoberta da realidade que nos rodeia, é todo um mundo de inquietação e estranheza que se abre aos nossos olhos. Íntima, próxima de nós, a fotografia encerra sempre um ponto de vista – é da ordem da visão mas transporta visões, para além daquilo que vemos à vista desarmada. O CIAJG reúne peças oriundas de diferentes épocas, lugares e contextos em articulação com obras de artistas contemporâneos, propondo uma re(montagem) da história da arte, enquanto sucessão de ecos, e um novo desígnio para o museu, enquanto lugar para o espanto e a reflexão. With the opening of its second exhibition cycle, the CIAJG continues its mission to cast a fresh look on artistic careers or disciplinary fields – questioning and rethinking their place in art history. The connecting point between the two projects hereby inaugurated is the photographic image. In both cases, the photograph is treated as a language and a means of interpreting and expressing the world around us - as a form of articulation. From the image as document, to the image as a means of discovering our surrounding reality, there’s a whole world of unease and strangeness that opens up before our eyes. Intimate, close to us, the photograph always encapsulates a specific point of view – it’s a form of vision that also transports other visions, beyond that which we can see with the naked eye. The CIAJG has brought together works from different epochs, places and contexts, in conjunction with works by contemporary artists, thereby proposing re(assembly) of art history, as a succession of echoes, and a new purpose for the museum, as a place to foster a sense of amazement and reflection.
"Não admira que durante milénios o ar, que ninguém vê, fosse imaginado como um ser sobrenatural que penetrava no corpo dos homens e lhes concedia a vida. Um deus, portanto. Assim, foi considerado o ar como um deus muito temido, umas vezes protetor, quando se deixava aspirar em haustos reconfortantes, outras vezes terrível, quando bramia, soprava, assobiava, fazia estremecer as robustas árvores e as arrancava do solo, tombando-as. Um deus que merecia toda a veneração e respeito." Rómulo de Carvalho, A Composição do Ar
Máscara | Mask Tetela, Zaire/Congo Madeira, penas, cordas, fibras, pigmentos | Wood, feathers, cords, fibres, pigments CIAJG - Coleção José de Guimarães | José de Guimarães Collection Máscara | Mask Fang, Gabão | Gabon Madeira, pigmentos |Wood, pigments CIAJG - Coleção José de Guimarães | José de Guimarães Collection
P I S O 1 SA L A S #1-8 1st floor rooms #1-8
Composition of Air Permanent Collection and other Works African Tribal Art, Pre-Columbian Art and Ancient Chinese Art of the José de Guimarães Collection. Objects of the folk, religious and archaeological heritage of the region of Guimaraes. Works of contemporary artists.
To represent the air, i.e. to represent that which we can’t see, has perhaps been one of artists’ greatest aspirations, since time immemorial. Air is both matter and medium. It is matter (life) without structure, it blows but has no body. It is also a medium: it transports things, engenders ideas, enables us to breathe. The temptation posed by the air is the desire to fly, to flee from weight, to overcome gravity. To rise above the horizon and see things with greater amplitude and clarity. In fact, the air is what connects us together – in the most comprehensive meaning of the word, “connection” – it connects us to bodies, to things, to objects in general. We use the word “aura” to describe the tiny, impalpable and inscrutable layer of air, that encompasses an object, whether an artwork or any other item. This is an inexplicable quality that some things transport and which turns them into objects of desire, into things that are loved and contemplated.
"It’s unsurprising that during millennia, the air - which no one can see - was imagined as a supernatural being who in soothing vacuums, but at other times terrible, when he bellowed, blowed, whistled, and shook robust trees and uprooted and toppled them. A god who deserved our every reverence and respect." Rómulo de Carvalho, A Composição do Ar
A Composição do Ar
At the CIAJG, objects traverse time and cross borders in order to establish encounters whose meaning is more or less clear, more or less visible. Why should we do make, collect and store objects? Amongst the many plausible and possible answers to this question, in addition to the mystery that engenders the artistic gesture or the simple creative act, we could say that we make, collect and store things, in order to preserve and project memory, i.e., to guarantee their longevity. Equally mysterious is to understand the intimate, profound meaning of showing, giving and seeing. Would it be too risky to assert that we show things in order to establish a place, to constitute ourselves as a community that shares aspirations and anxieties, fears and desires that lie beyond our understanding. We exhume, dig, make and build things more because we want to understand them, rather than to explain them, more in order to ask questions than to assert things. At the CIAJG, we combine objects and images from very distant times and places, sometimes without any apparent connection, as if they came to us brought by the wind, as if they were flying seeds. We want to refound the museum as a place of wonder and reflection, as an air stream and mirror, as an infinite horizon. For this reason, we intermingle different languages and methodologies, from archaeology to ethnology, passing through the history of art. We try to blend dimensions that are often irreconcilable, such as the popular, ancestral, artisanal, vernacular, and knowledge that is transmitted orally or by gestures. We propose to cast a gaze from the time and place in which we find ourselves, regarding the wide array of tangible and intangible manifestations and vestiges of our culture. To return to visitors the space between objects, the pauses in which they can breathe. To show the air.
Representar o ar, ou seja, representar aquilo que não se vê, é, talvez desde tempos de que já não nos lembramos, uma das aspirações da prática artística. O ar é matéria e meio. É matéria (vital) sem estrutura, sopro sem corpo. É um meio: transporta coisas, engendra ideias, faz-se respirar. A tentação do ar é também uma aspiração ao voo, uma fuga ao peso, a superação da gravidade. Subir acima do horizonte para ver mais e melhor. Se pensarmos bem, o ar é aquilo que nos liga – na mais integral aceção da palavra ligação – aos corpos, às coisas, aos objetos em geral. À ínfima camada de ar, impalpável e imperscrutável, que envolve um objeto, de arte ou não, chamamos aura. Trata-se de uma qualidade inexplicável que algumas coisas transportam e que as transforma em objetos de desejo, em coisas amadas e contempladas. No CIAJG os objetos atravessam o tempo e cruzam fronteiras para estabelecerem encontros cujo sentido é mais ou menos evidente, mais ou menos visível. Porquê fazer, recolher e guardar objetos? Entre as muitas respostas plausíveis e possíveis, para além do mistério que engendra o gesto artístico ou o simples ato criador, poderíamos dizer que fazemos, recolhemos e guardamos para preservar e projetar a memória, ou seja, para sobreviver ao desaparecimento. Tanto ou mais misterioso é saber qual o íntimo, o pro-
Coleção permanente e outras obras Arte tribal africana, Arte pré-Colombiana e Arte Chinesa Antiga da coleção de José de Guimarães. Objetos do património arqueológico, popular e religioso. Obras de artistas contemporâneos.
fundo significado de mostrar, de dar a ver. Não seria demasiado arriscado afirmar que mostramos para fundar um lugar, para nos constituirmos enquanto comunidade que partilha aspirações e temores, medos e desejos que estão para lá da nossa própria compreensão. Exumamos, escavamos, fazemos, construímos mais para compreender do que para explicar, mais para perguntar do que para afirmar. No CIAJG juntamos objetos e imagens de tempos e lugares muito distantes, por vezes sem aparente ligação, como se viessem até nós trazidos pelo vento, como se fossem sementes voadoras. Queremos refundar o museu como lugar do espanto e da reflexão, como corrente de ar e como espelho, como horizonte a perder de vista. Para isso, cruzamos diferentes linguagens e metodologias, desde a arqueologia à etnologia, passando pela história da arte; procuramos fazer conviver dimensões tantas
Obras de / Works by
vezes inconciliáveis como o popular, o ancestral, o artesanal, o vernacular, o conhe-
f.marquespenteado Francisco Queimadela e Mariana Caló José de Guimarães Otelo Fabião Rui Chafes Vasco Célio
cimento transmitido pela oralidade ou pela gestualidade; propomos lançar um olhar do lugar e do tempo em que nos encontramos sobre as mais diversas manifestações e sobrevivências materiais e imateriais da nossa cultura. Devolver ao visitante o espaço entre os objetos, as pausas para inspirar, mostrar o ar.
P I S O 0 SA L A S #9/1 1 ground floor rooms #9/11
Carlos Relvas Um homem tem duas sombras Paisagens, (auto)retratos, objetos e animais
A presente exposição aborda o trabalho em fotografia de Carlos Relvas (1838-1894), procurando mostrar a singularidade de uma obra que, na segunda metade do século XIX, surgiu como um clarão no contexto da eclosão da fotografia em Portugal e na Europa.
07.06 Conversa em torno do lançamento da publicação "Carlos Relvas, um homem tem duas sombras".
Estamos perante um autor que desenvolve a sua prática artística durante um breve arco temporal de 30 anos, numa altura em que a linguagem da fotografia se estava apenas a articular, através, é certo, de crescentes e cada vez mais rápidas aquisições técnicas e processuais - as primeiras fotografias reconhecidas datam de meados dos anos 1820, mas em 1862, quando o fotógrafo português inicia, assim o cremos, a sua atividade, eram já muitos os processos fotográficos conhecidos e consolidados. A obra de Carlos Relvas incorpora, apesar de tudo, uma dupla descoberta: da própria fotografia e do mundo - duas realidades simultaneamente íntimas e estranhas uma à outra. Assim, podemos dizer que Carlos Relvas explora, como dois vasos comunicantes, a imagem da realidade e a realidade da imagem: utiliza a câmara para captar vistas do entorno, essa realidade sempre transitória e impermanente, aprende e desenvolve processos técnicos que lhe permitem fixar e revelar essas imagens. Mas, mais importante ainda, define e constrói a sua perspetiva sobre aquilo que o rodeia, constituindo-se, a partir daí, como indivíduo no mundo - a fotografia é uma forma de filosofia, de procura de conhecimento. Constitui-se seguramente como um dos mais fascinantes e obscuros casos de estudo do panorama artístico em Portugal e pertence por direito ao campo das exceções. Nascido na Golegã em 1838, o autor aí desenvolve a sua atividade criativa entre 1862 e a sua morte, em 1894. Durante esse período concebeu e acompanhou a construção de dois estúdios – o segundo pontifica, ainda, como um dos mais notáveis exemplos arquitetónicos de estúdio fotográfico – e desenvolveu uma prática singular no campo da fotografia, pautada pelo desenvolvimento de inúmeros procedimentos técnicos e por uma sistemática e obsessiva busca em torno das possibilidades da imagem. Esta exposição pretende dar a ver o universo autoral de Carlos Relvas à luz da contemporaneidade onde, apesar da paralaxe temporal, pertence por vocação. Desse ponto de vista, distingue-se das poucas abordagens, em exposição ou em livro, que até hoje foram feitas ao trabalho do autor (entre as quais a mais significativa foi a exposição realizada no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, em 2003, intitulada "Carlos Relvas e a casa da fotografia"), cuja principal preocupação foi dar a conhecer um espólio riquíssimo e muito vasto, resgatado in extremis do desaparecimento, e depois de anos de abandono, em 1988.
Jarosław Fliciński This is all very well… [Isto está tudo muito bem…], 2014 Tinta esmalte sobre parede | Acrylic enamel on the wall 764 × 782 cm You have only got to tell it [Tens apenas de o dizer], 2014 Tinta esmalte sobre parede | Acrylic enamel on the wall 813 × 834 cm Carlos Relvas Auto-retrato | Self-portrait, c.1870 Prova atual a partir de negativo em colódio | Contemporary photographic proof from collodion wet plate negative Coleção | collection Casa-Estúdio Carlos Relvas Câmara Municipal da Golegã | City Council of Golegã
Carlos Relvas desenvolveu uma obsessiva atividade em estúdio, sobretudo, mas também ao ar livre, tendo viajado no interior do país ou pelo estrangeiro. Interessou-se
Carlos Relvas A man has two shadows
pelos géneros herdados da pintura – retrato, paisagem e natureza-morta –, mas abordou também subgéneros mais excêntricos, como a fotografia de animais, em contexto de estúdio ou ao ar livre, ou a fotografia de nuvens. O cenário, que desenvolveu abundantemente, é um dos elementos centrais do seu trabalho, configurando uma fértil e
Landscapes, (self) portraits, objects and animals
perturbadora dialética entre o campo da imagem e o fora de campo. Para preservar e revelar esse traço, foi decidido imprimir a totalidade da chapa fotográfica, apesar de sabermos que as imagens eram posteriormente alvo de reenquadramento. Finalmente, a prática do autorretrato, constante e multifacetada, dá-nos, à imagem de um Rembrandt ou de um Warhol, a exata medida da autorreflexividade da obra de Relvas, plenamente consciente
This exhibition focuses on the photographic work of Carlos Relvas (1838-1894). It attempts to show the uniqueness of a work that was a source of major inspiration in the second half of the nineteenth century, in the context of the emergence of photography in Portugal and Europe.
do seu lugar enquanto autor. Há hoje condições para uma renovada leitura sobre o trabalho de Carlos Relvas. Nesse sentido, a exposição parte de um conceito operativo elementar: aborda o trabalho de Carlos Relvas como se se tratasse de um nosso contemporâneo, olha-o e considera a sua obra a partir daqui e agora, na expetativa de desvelar e abrir novos rumos de leitura para um fascinante universo autoral. A exposição Um homem tem duas sombras é uma colaboração entre o CIAJG e a Casa-Estúdio Carlos Relvas.
He developed his artistic practice during a short 30-year period, at a time when the language of photography was starting to be articulated, via growing and increasingly rapid technical and procedural acquisitions. The first known photographs date from the mid1820s, but by 1862 - when we believe that the Portuguese photographer began his activity - many photographic processes were already familiar and well consolidated. Carlos Relvas’ work nonetheless incorporates a dual discovery: of photography and the world two realities which are simultaneously intimate and yet strangers to one another. Thus, we can say that Carlos Relvas explores, a bit like two communicating vessels, the image of reality and the reality of the image. He used the camera to capture views of his surroundings, the constantly transient and impermanent nature of reality, and discovered and developed technical solutions that allowed him to capture and reveal these images. But more importantly, he defined and built his own view of his surroundings, and thereafter became like an individual in the world – viewing photography as a form of philosophy, in the search for knowledge. He is undoubtedly one of the most fascinating and obscure case studies in the Portuguese art scene and rightfully belongs to the field of exceptions. Born in Golegã in 1838, the artist developed his creative activity in this town, between 1862 and his death in 1894. During this
he designed and oversaw the construction of two studios – wherein the latter is one of the most remarkable architectural examples of a photography studio. He also developed a unique technique in the field of photography, guided by the development of numerous technical procedures and systematic and obsessive exploration of the possibilities of the image. This exhibition aims to provide an insight into the authorial universe of Carlos Relvas, from the contemporary perspective to which, by vocation, he pertains - despite the temporal parallax. From this point of view, this exhibition differs from the few approaches that have been made to date, via exhibitions or books concerning the artist’s work (perhaps the most significant example is the exhibition that was held at the National Museum of Ancient Art in Lisbon in 2003 entitled "Carlos Relvas and the house of photography"), whose main concern was to publicise a rich and vast collection, salvaged in 1988, in extreme circumstances, after many years of neglect. Carlos Relvas developed an obsessive activity, in particular in the studio, but also outdoors, and traveled widely within Portugal or abroad. He became interested in genres inherited from painting - portrait, landscape and still life – and also addressed more eccentric sub-genres, such as photographing animals in the studio or outdoors, or photography of clouds. Set design, which he developed abundantly, is one of the central elements of his work, creating a fertile and disturbing dialectic between that which lies within, and outside, the image. In order to preserve and reveal this trait, we have decided to print the entire photographic plate, even though we know that the images were subsequently reframed. Finally, his constant and multifaceted practice of self-portrait, gives us the image of a Rembrandt or a Warhol, the exact measure of the self-reflexivity of Relvas’ oeuvre, who was fully aware of his place as an artist. Today it’s possible to make a renewed reading of Carlos Relvas’ oeuvre. In this sense, the exhibition is integrated within a basic operating concept: it addresses the work of Carlos Relvas as if it were a contemporary work, it observes and considers it from the “here and now”, in the expectation of unveiling and opening up new paths of interpretation for a fascinating authorial universe. The exhibition, “A man has two shadows”, is the result of a collaboration between the CIAJG and the Casa-Estúdio Carlos Relvas.
P I S O 0 SA L A #10 ground floor room #10
Jarosław Flici´ nski Pinturas sobre parede
Jarosław Flici´ nski Mural Paintings To mark the launch of the “Black Star” publication, documenting the Jarosław Flici´ nski exhibition (January-April), we continue to display the exhibition’s most emblematic room - for which the artist has designed two new and impressive mural paintings.
Para assinalar o lançamento da publicação Estrela Negra, que documenta a exposição homónima de Jarosław Fliciński, que decorreu entre janeiro e abril, mantemos patente a mais emblemática sala dessa mostra, para a qual o artista concebeu duas inéditas e impressivas pinturas de parede.
P I S O -1_SA L A S #12-13 lower ground floor rooms #12-13
Ernesto de Sousa and popular art Around the exhibition Barristas e Imaginários This exhibition aims to reactivate Ernesto de Sousa’s research into Portuguese popular art and sculpture, against the background of the 1964 exhibition, “Barristas e Imaginários”, presented in the Galeria Divulgação in Lisbon, which featured the work of four popular artists from Northern Portugal – Rosa Ramalho, Mistério, Franklin Vilas Boas and Quintino Vilas Boas Neto.
Ernesto de Sousa was one of the most fascinating, complex and multi-faceted figures of Portuguese culture in the second half of the twentieth century. During his long trajectory, from neo-realism to contemporary art, he brought new interpretational tools and new discursive codes to the study of popular art. This is therefore effectively one exhibition about another exhibition. As a result, Ernesto de Sousa’ photographs and texts cohabit with objects by the artists studied by him, thereby reactivating the multiple and fruitful relations and layers of meaning, produced by this restless investigator (or aesthetic operator, a designation that he later claimed). His analytical methods were seen as being eccentric at the time, given the prevailing context, which in the field of art history was dominated by conservative and disciplinary readings. Ernesto de Sousa used a process of comparison, approach and observation, without discarding any barrier at the outset, or allowing himself to be dominated by any conceptual bias. He sought to establish bridges between “ popular art” and classical Western art or the art of other more distant cultures, such as African tribal art. He gathered seemingly dissonant images, thereby unleashing their visual sense, while simultaneously applying rigorous analysis and systematic research, either in the field or via archive-based enquiries. Popular art or, as Ernesto de Sousa preferred to call it, art "of naive expression", was the subject of
Ernesto de Sousa e a Arte Popular
considerable interest from the late 1950s onwards, including various contacts and research projects, either in the field of ethnology, or architecture, and also encompassing interest in popular artists that were "discovered", in a more or less casual manner, by artists such as António Quadros (who was the first person to recognize the idiosyncrasies of the work of Rosa Ramalho) or by various architects. With a neo-realist background, including the film, “D. Roberto”, that he directed in 1962, Ernesto de Sousa migrated towards popular art via a rewarding diversion through African primitive art, which, moreover, brought him closer to several objects by Franklin, for example. In the framework of the CIAJG’s exhibition programme, which brings together seemingly distant and irreconcilable artistic languages, always from the universe of the references of contemporary art, Ernesto de Sousa’s work is an exemplary case study. The exhibition, “Barristas e Imaginários” foreshadowed the manner in which the exhibition format and assembly methodology may trigger and demonstrate the hitherto undiscovered relationships between the two universes in dialogue herein: contemporary art and popular art. The “Ernesto de Sousa and Popular Art” exhibition includes the collaboration of the Ernesto de Sousa Center for Multidisciplinary Studies (CEMES), Barcelos Pottery Museum, Esposende Municipal Council, as well as several individual lenders.
Em torno da exposição Barristas e Imaginários
Ernesto de Sousa foi uma das figuras mais apaixonantes, complexas e multifacetadas
No âmbito do programa expositivo do CIAJG, que faz aproximar linguagens artísti-
da cultura portuguesa da segunda metade do século XX. Na longa caminhada que fez
cas aparentemente distantes e inconciliáveis, sempre a partir do universo de refe-
do neorrealismo para a arte contemporânea trouxe para o estudo da arte popular
rências da arte contemporânea, o trabalho de Ernesto de Sousa é um caso de estudo
novas ferramentas de leitura e novos códigos discursivos.
exemplar e a exposição Barristas e Imaginários um projeto prenunciador de como
Estamos, assim, perante uma exposição sobre outra exposição. Faz coabitar fo-
o formato exposição e a metodologia da montagem podem espoletar e dar a ver as
tografias e textos de Ernesto de Sousa com objetos dos artistas por ele estudados, pro-
relações ainda por descobrir entre os dois universos aqui em diálogo: a arte contem-
curando reativar as múltiplas e fecundas relações e estratos de sentido que o inquieto
porânea e a arte popular.
investigador (ou operador estético, designação que mais tarde reivindicaria) produzia,
A exposição Ernesto de Sousa e a arte popular conta com a colaboração do
a partir de métodos analíticos invulgarmente excêntricos para o contexto de então,
Centro de Estudos Multidisciplinares Ernesto de Sousa (CEMES), do Museu da
dominado, no campo da história da arte, por leituras conservadoras e disciplinares.
Olaria de Barcelos, do Museu Municipal de Esposende, bem como de diversos em-
Ernesto de Sousa operava por comparação, aproximação e observação, não co-
prestadores individuais.
locando à partida qualquer barreira nem sendo dominado por qualquer preconceito conceptual. Procurava aproximar a arte dita popular da arte ocidental erudita ou da de outras culturas mais distantes, como é o caso da arte tribal africana. Juntava imagens aparentemente dissonantes, operava por deflagração de sentido visual, juntando a esta operação um rigor de análise e um carácter sistemático na investigação, quer no arquivo quer no terreno. A arte popular ou, como Ernesto de Sousa preferia designar, "de expressão ingénua", foi alvo de um considerável interesse desde os últimos anos da década de 50 com diversos contactos e investigações, quer no campo da etnologia, quer da arquitetura, passando pelo interesse sobre artistas populares "descobertos" de forma mais ou menos ocasional por artistas como António Quadros (que é o primeiro a reconhecer a idiossincrasia do trabalho de Rosa Ramalho) ou por diversos arquitetos. Vindo do neorrealismo, no qual pontifica D. Roberto, filme que realizou em 1962, Ernesto de Sousa chega à arte popular através de um profícuo desvio pela arte primitiva africana, à qual, de resto, aproximará alguns objetos de Franklin, por exemplo.
Franklim Vilas Boas, c. 1964 Fotografia de Ernesto de Sousa | Photography Ernesto de Sousa Cortesia | courtesy CEMES “Cabeçudo” (fat headed) de Rosa Ramalho, 1964 Fotografia de Ernesto de Sousa | Photography Ernesto de Sousa Cortesia | courtesy CEMES
A presente exposição reativa as investigações de Ernesto de Sousa em torno da arte popular e da escultura portuguesa e tem como pano de fundo a exposição Barristas e Imaginários: quatro artistas populares do Norte, que o autor concebeu e apresentou na Galeria Divulgação, em Lisboa, em 1964, com obras de Rosa Ramalho, Mistério, Franklin Vilas Boas e Quintino Vilas Boas Neto.
21.06 Conversa a pretexto do lançamento da publicação "Ernesto de Sousa e a arte popular, em torno da exposição Barristas e Imaginários.
HA L L CI A JG E E SPAÇ O P ÚBL I C O hall of the CIAJG and public space
Preto no Branco Oficina ARARA Sopa de Pedra
O vento venta, não venta O mar que urra, não urra Atrás de mim não vem gente Oh! Meu Deus Quem é que tanto me empurra? The wind blows, doesn’t blow The sea howls, doesn’t howl No-one’s behind me Oh! My God Who’s pushing me so hard? (lengalenga popular | a popular rhyme)
Black On White Oficina ARARA Sopa de Pedra
Com o início da programação regular inauguramos um conjunto de intervenções no hall do CIAJG. A primeira dessas intervenções é da responsabilidade da Oficina ARARA, um projeto sediado no Porto que se estrutura em torno do trabalho coletivo, da força da colaboração e da energia do encontro; um espaço autónomo e aberto de experimentação em torno, essencialmente mas não exclusivamente, da produção de cartazes, livros e outras edições.
The intervention initially consists of the production of posters, created in workshops organised with students from the Francisco de Holanda Secondary School, located nearby the Plataforma das Artes. The posters were made using fabrics of different dimensions stamped with maskshaped Rorschach ink blots, resulting from a collaboration with the Lameirinho Factory in Guimarães - a contemporary example of the continued existence of the textile industry in this region. Subsequently, affixed in the public space, in the street, these posters and banners activate, so to speak, this process of circulation - we could say contamination - between different categories, that are short-circuited in their functions and representations. The poster, as an encoded medium of mass dissemination, is transformed, through (re)production of a formal archetype, into the projection of the space of idiosyncrasy and subjectivity; the mask, which traditionally represents the elimination of individuality, becomes a projection of a personal and intransmissible portrait. While, on the one hand, the poster preserves the energy, power and aura of protest and insubordination, the flag “launches an appeal to the sky. It creates a link between the high and the low, the heavenly and the earthly”. It signals the presence of the air (of the wind) and, in a way, is the materialization of this invisible dimension that unites us. Mystery and community. We have decided to extend the Oficina ARARA's intervention in CIAJG’s hall, which is now complemented by a new element, sound, that pays testimony to the collaboration in this intervention with the Sopa de Pedra collective, which resulted in the happening “Cantares de Sopa de Pedra ao vento que vent'arara” (Songs by the Sopa de Pedra in the blowing wind", that took place on April 5, during the TRANSFER publications fair.
With the start of our regular programming, we’ve inaugurated a series of interventions in the hall of CIAJG. The first of these is organized by the Oficina ARARA: a project based in Porto, structured around group work, the power of collaboration and the energy of the encounter, celebration and ritual. ARARA is an autonomous and open space of experimentation that is dedicated, essentially but not exclusively, to the production of posters, booksandothereditions.
ARARA is a palindrome (a symmetrical word that reads the same in both directions) that represents the workshop in an encrypted manner, as a rotating platform that aims to recover the function of art as a form of collective catharsis – through the power of the encounter and an idea of community. Furthermore, it is a word that unfolds into other words – air, rare – thus multiplying itself into different meanings and shuttling between the idea of reproduction and repetition, and the production of difference or variation on the same theme, that constantly marks the rhythm of Oficina ARARA’s work and discursive construction. Indeed, through its interventions in the public space and the energy generated from several collaborations between different disciplines and languages, Oficina ARARA has begun to rethink and propose the power of the multiple, as a way of reviving the artistic gesture. ARARA’s work museum and street, individual and collective, copy and original, new and archaic, organic and geometric - articulates, blurs and, in a certain manner, echoes, as two halves of the same face or two sides of the same coin. Hence, it is no accident that ARARA chose the Rorschach ink blot and the mask as axial elements in the Black on White project conceived for Guimarães.
ARARA é um palíndromo (uma palavra simétrica que se lê da mesma forma nos dois sentidos) que representa de forma criptada a oficina como uma plataforma rotativa que pretende recuperar, através da potência do encontro e de uma ideia de comunidade, a função da arte enquanto forma de catarse coletiva. Para além disso, é uma palavra que se desdobra noutras palavras – ar, arar, rara – multiplicando-se em sentidos e operando um vaivém entre a ideia de reprodução e de repetição e a produção de diferença ou variação sobre um mesmo tema, que constantemente marca o ritmo de trabalho e de construção discursiva da Oficina. De facto, a Oficina ARARA tem vindo a repensar e a propor, com as suas intervenções no espaço público e a energia gerada em torno de diversas colaborações entre várias disciplinas e linguagens, a potência do múltiplo como forma de reativação do gesto artístico. Na prática dos ARARA, museu e rua, indivíduo e coletivo, cópia e original, novo e arcaico, orgânico e geométrico, articulam-se, indistinguem-se e, de certa forma, ecoam-se como duas metades do mesmo rosto ou duas faces da mesma moeda. Assim, não é por acaso que escolheram a mancha de Rorschach e a máscara como elementos axiais do projeto "Preto no Branco" que conceberam para Guimarães. A intervenção consiste, num primeiro momento, na produção de cartazes, realizados em oficinas de trabalho promovidas com alunos da Escola Secundária Francisco de Holanda, vizinha da Plataforma das Artes, e de tecidos de diferentes dimensões estampados com manchas de Rorschach em forma de máscara, resultantes de uma colaboração com a Fábrica Lameirinho de Guimarães, um exemplo contemporâneo da persistência da indústria têxtil nesta região. Posteriormente afixados no espaço público, esses cartazes e bandeiras operam, por assim dizer, uma circulação - poderíamos dizer contaminação - entre categorias, curto-circuitadas nas suas funções e representações: o cartaz, enquanto suporte codificado de divulgação massiva, torna-se, através da (re)produção de um arquétipo formal, a projeção mesma do espaço da idiossincrasia e da subjetividade; a máscara, que tradicionalmente representa o apagamento da individualidade, torna-se numa projeção de um retrato pessoal e intransmissível. Se, por um lado, o cartaz preserva a energia, a potência e a aura do protesto e da insubmissão, a bandeira "lança um apelo ao céu, cria um elo entre o alto e o baixo, o celeste e o terrestre", sinaliza a presença do ar (do vento) é, de certa forma, a materialização dessa dimensão invisível que nos une. Mistério e comunidade. Prolongamos a intervenção da Oficina ARARA no hall do CIAJG, a que agora se junta mais um elemento, o som, testemunho da colaboração que a propósito desta intervenção vêm mantendo com o coletivo Sopa de Pedra, e que resultou no happening "Cantares de Sopa de Pedra ao vento que vent'arara", realizado no dia 5 de abril, por ocasião da feira de edições - TRANSFER.
Nuno Faria Curadoria / Curator *
Nuno Faria e Luís Pavão
26.04 - 08.06
26.04 - 08.06
Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) Plataforma das Artes e da Criatividade
1st floor rooms #1-8 The Composition of Air Permanent collection and other works
piso 1 salas #1-8 A Composição do Ar Coleção permanente e outras obras piso 0 salas #9/11 Carlos Relvas / Um homem tem duas sombras* Paisagens, (auto)retratos, objetos e animais piso 0 sala #10 Jarosław Flici´ nski Pinturas sobre parede
Horário de funcionamento
ground floor rooms #9/11 Carlos Relvas / A man has two shadows Landscapes, (self)portraits, objects and animals
terça a domingo 10H00 às 19H00 (última entrada às 18H30)
ground floor room #10 Jarosław Flici´ nski Mural paintings
4 eur / 3 eur menores de 30 anos, estudantes, cartão jovem, maiores de 65 anos, cartão municipal de idoso e reformados, pessoa com deficiência e acompanhante, cartão quadrilátero cultural / Entrada Gratuita crianças até 12 anos / domingos de manhã (10h00 às 14h00)
hall of the CIAJG Black on White Oficina ARARA Sopa de Pedra
José de Guimarães International Arts Centre (CIAJG) Platform of Arts and Creativity
26.04 - 06.07
hall Preto no Branco Oficina ARARA Sopa de Pedra
Tarifário
lower ground floor rooms #12-13 Ernesto de Sousa and popular art Around the exhibition Barristas e Imaginários
Opening hours tuesday to sunday 10am to 7pm (last visit 6.30pm) Tariffs 4 eur / 3 eur under 30 years, students, holders of the cartão jovem, over 65 years,holders of the cartão municipal de idoso, reformados (senior and pensioner’s card), handicapped patrons and the person accompanying them, holders of the cartão quadrilátero cultural / Free Entrance children until 12 years old / sunday morning (10 am to 2.00 pm)
26.04 - 06.07 piso -1 salas #12-13 Ernesto de Sousa e a Arte Popular Em torno da exposição Barristas e Imaginários
Av. Conde Margaride, 175 4810-535 Guimarães, Portugal Telefone/Phone + 351 253 424 715 N 41.443249, W 8.297915 www.ciajg.pt
27.04 11h00 Assembleia Popular Nos 40 anos do 25 de abril: reencontro com Jaime Silva 27.04 16h00 Visita com Nuno Faria e Luís Pavão à exposição Carlos Relvas / Um homem tem duas sombras
Visitas Orientadas
Atelier Aberto CIAJG
Sábados em Família
Terça a domingo / Horário das 10h00 às 19h00 por marcação através do e-mail servicoeducativo@aoficina.pt (a última visita terá início até às 18h00) / Público-alvo Maiores de 4 anos / Duração 60 a 90 min. / Lotação mín. 10 pessoas, máx. 20 pessoas / Preço 2,00 eur (grupos escolares), 5,00 eur (outros públicos)
Sábados 03 e 17 maio 11h00-13h00 e 14h30-17h30 Atelier com Carlos Lobo Prática fotográfica contemporânea
2º sábado do mês / Horário 16h00 / Público-alvo dos 4 aos 12 anos / Duração 90 min. / Lotação mín. 10 pessoas, máx. 20 pessoas / Preço 2,00 eur / Atividade sujeita a marcação prévia com 48h de antecedência através do e-mail servicoeducativo@aoficina.pt
Terça 06 maio 18h30-20h30 Conversa com Nuno Faria A fotografia como fantasmagoria
Vai e Vem / Oficinas
Sábado 10 maio 11h00-13h00 e 14h30-17h30 Atelier com Luís Pavão O retrato em estúdio no séc. XIX
4 aos 10 anos Desalfabeto (desenho) Trocar os pés pelas mãos (escultura) 8 aos 11 anos Lições da escuridão (desenho, performance)
Terça 20 maio 18h30-23h30 Atelier com António Ventura Fotografar objetos arqueológicos
10 aos 14 anos Palavras de ordem |Imagens de desordem (desenho, pintura) O avesso do volume (escultura)
Terça 27 maio 18h30-20h30 Conversa com Eduardo Brito A fotografia de Francisco Martins Sarmento
M/ 15 anos Labirinto (escrita) Superfície da pele (escultura)
Público-alvo Jovens e adultos (M/ 15 anos / Lotação limitada, sujeita a inscrição prévia / Preço Ateliers 20,00 eur, Conversas Gratuito / Inscrição com pelo menos uma semana de antecedência através de formulário online em www.ccvf.pt
Organização
Apoio e Colaboração CIAJG
Financiamento
Exposição “Preto no Branco” Apoio à produção
Parceiro oficial da Oficina
Exposição “Carlos Relvas / Um homem tem duas sombras” Coprodução
Horário terça a domingo, por marcação / Duração 90 min. a 2 horas / Lotação 1 turma / 25 pessoas / Preço 2,00 eur (Na realização de uma visita oferecemos uma oficina. Oferta exclusiva para escolas de Guimarães)
Apoios Oficina
Exposição “Ernesto de Sousa e a Arte Popular” Colaboração
Exposição “Ernesto de Sousa e a Arte Popular” Parceria
Exposição “Jaroslaw Flicinsky” Apoio