F E S T I VA I S
GIL GIL VICENTE VICENTE 05~15 05~15
JUNHO
2014
Q u i n ta 0 5 Fáb r i c a A SA / B l ac k B ox / 22 h 0 0
A TEMPESTADE De William Shakespeare E n c e n aç ão M a rta Pa zos Voa d o r a Pr e ç o 7 , 5 0 e u r / 5 , 0 0 e u r c / d e s c o n t o
AT I V I DA D E S PA R A L E L A S Q u i n ta 0 5 P e rc u rs o d e s d e a AV. D. A fo n s o H e n r i ques até ao CC V F / 1 9 h 0 0 RUA AC I M A ! D e P e d ro Ba s tos E n c e n aç ão E m í l i o G o m e s T u r m a d e I n i c i aç ão T e at r a l d o T e atro O f i c i n a - A d u ltos C r i aç ão Entrada Livre
S e xta 0 6 PAC / B l ac k B ox / 22 h 0 0
OZZZZZ
Dire ç ão A rt í s t i c a A l f r e d o M a rt i n s Cocr i aç ão A l f r e d o M a rt i n s , C l áu d i a Gaiola s , E s t e l l e F r a n co, Lu í s G o d i n h o, Pau l a D i o g o e M a sa ko H at to r i teatro m e i a vo lta e d e p o i s à e s q u e r da q ua n d o e u d i ss e r Pr e ç o 7 , 5 0 e u r / 5 , 0 0 e u r c / d e s c o n t o Sá ba d o 0 7 Fáb r i c a A SA / B l ac k B ox / 22 h 0 0
TrAHISONS
D e H a ro l d P i n t e r C r i a d o p o r Ro b by C l e i r e n , J o l e n t e D e K e e rs m a e k e r e F r a n k V e rc ru yss e n tg S TA N Pr e ç o 7 , 5 0 e u r / 5 , 0 0 e u r c / d e s c o n t o Q u i n ta 1 2 CCV F / G r a n d e Au d i tó r i o / 22 h 0 0
TArTUFO
De Molière Enc e n aç ão Ro g é r i o d e C a rva l h o Co m pa n h i a D E T e at ro D E A l m a da Pre ç o 1 0 , 0 0 e u r / 7 , 5 0 e u r c / d e s c o n t o S e xta 1 3 CCV F / P e q u e n o Au d i tó r i o / 22 h 0 0
DEMÓNIOS
D e L a rs N o r é n E n c e n aç ão N u n o C a r d os o Ao C a b o T e at ro Pr e ç o 7 , 5 0 e u r / 5 , 0 0 e u r c / d e s c o n t o Sá ba d o 1 4 e D o m i n g o 1 5 Fábri c a A SA / B l ac k B ox / 22 h 0 0 ( Sá b ) e 17h00 (Dom)
NA SOLIDÃO DOS CAMPOS DE ALGODÃO D e B e r n a r d - M a r i e Ko lt è s Enc e n aç ão Ro g é r i o d e C a rva l h o T e at ro O f i c i n a Pr e ç o 7 , 5 0 e u r / 5 , 0 0 e u r c / d e s c o n t o
Q ua rta 1 1 a S e xta 1 3 CC V F / Sa l a d e E n sa i os / 1 0 h 0 0 - 1 3 h00 WO R KS H O P D E VOZ E E LO C U Ç ÃO CO M LU Í S M A D U R E I R A Preço 25,00 eur Q ua rta 1 1 PAC / B l ac k B ox / 1 9 h 0 0 ADN D e D e n n i s K e l ly E n c e n aç ão D i a n a Sá e E m í l i o G o mes T u r m a d e I n i c i aç ão T e at r a l d o T e atro Oficina - Teen Entrada Livre Q ua rta 1 1 PAC / B l ac k B ox / 22 h 0 0 SA N G U E N O P E S CO ÇO D O GATO D e R a i n e r W e r n e r Fa ss b i n d e r E n c e n aç ão D i a n a Sá T u r m a d e I n i c i aç ão T e at r a l d o T e atro O f i c i n a - A d u ltos Entrada Livre Q u i n ta 1 2 PAC / B l ac k B ox / 1 9 h 0 0 A S TAT E A F FA I R ( U N H A C U E S T I Ó N D E E S TADO) D e Ro b i n S oa n s E n c e n aç ão D e l f i n a M i g u é l e z-Val E SA D – V i g o Entrada Livre S e xta 1 3 PAC / B l ac k B ox / 1 9 h 0 0 E S T U D OS | F R AG M E N TOS | TC H E K H OV CO O R D E N AÇ ÃO T I AG O P O RT E I RO U n i v e rs i da d e d o M i n h o Entrada Livre Sá ba d o 1 4 PAC / B l ac k B ox / 1 6 h 0 0 M I L L I VA N N I L I T e xtos d e M a rcos Ba r b osa e a lu n os do 3 º A n o d o C u rs o d e T e at ro da E s cola P ro f i ss i o n a l Ba l l e t e at ro Entrada Livre Sá ba d o 1 4 P e rc u rs o d e s d e a AV. D. A fo n s o H e n r i ques até ao CC V F / 1 9 h 0 0 RUA AC I M A ! D e P e d ro Ba s tos E N C E N AÇ ÃO E M Í L I O G O M E S T u r m a d e I n i c i aç ão T e at r a l d o T e atro O f i c i n a - A d u ltos C r i aç ão Entrada Livre D u r a n t e o F e s t i va l C A R - C í rc u lo d e A rt e e R e c r e i o MEETING POINT CO N V E RSA S CO M A RT I S TA S E E S P E TÁC ULOS I N FO R M A I S Entrada Livre
ASSINATURA Festivais Gil Vicente 2014 30,00 eur
Acesso a todos os espetáculos + 1 visita à exposição patente no Palácio Vila Flor +1 visita às exposições patentes no Centro Internacional das Artes José de Guimarães + parque de estacionamento gratuito em dias de espetáculo Preços com desconto (C/D) Cartão Jovem Municipal, Cartão Jovem, Menores de 30 anos e Estudantes Cartão Municipal de Idoso, Reformados e Maiores de 65 anos Cartão Municipal das Pessoas com Deficiência; Deficientes e Acompanhante Sócios do CAR – Círculo de Arte e Recreio Cartão Quadrilátero Cultural Venda de bilhetes oficina.bilheteiraonline.pt www.ccvf.pt www.guicul.pt Centro Cultural Vila Flor Plataforma das Artes e da Criatividade Multiusos e Complexo de Piscinas de Guimarães Espaço Guimarães Lojas Fnac, El Corte Inglés, Worten Entidades aderentes da Bilheteira Online
Os Festivais Gil Vicente, a grande festa do teatro da cidade de Guimarães, apresentam nesta edição uma programação construída à volta de textos e autores incontornáveis da cultura teatral. Desde os clássicos como “A Tempestade” de Shakespeare, apresentado pela companhia galega Voadora, com encenação de Marta Pazos, ou “Tartufo” de Molière, encenado por Rogério de Carvalho e interpretado pela Companhia de Teatro de Almada, até ao rebelde Bernard-Marie Koltès, num dos textos mais marcantes do teatro contemporâneo, “Na Solidão dos Campos de Algodão”, igualmente encenado por Rogério de Carvalho, numa produção do Teatro Oficina, os nossos espetadores terão ainda a ocasião de descobrir alguns dos textos mais brilhantes da dramaturgia do século XX. De salientar ainda a interpretação pela reputada companhia belga tg Stan, de “Trahisons”, um belíssimo texto de Harold Pinter, nome gigante do teatro contemporâneo, sempre perturbador e atual. Teremos ainda oportunidade de renovar o encontro com o encenador Nuno Cardoso, na sua estreia de “Demónios”, do poeta e dramaturgo sueco Lars Norén, outra figura de referência do teatro do nosso tempo. Finalmente, ocasião ainda para descobrir a deliciosa obra “Ozzzzz”, assinada por um coletivo de jovens intérpretes e encenadores: Alfredo Martins, Cláudia Gaiolas, Paula Diogo, Estelle Franco e Luis Godinho. Os Festivais Gil Vicente não estariam completos sem a vertente formativa e festiva que sempre os caraterizaram e onde o teatro se afirma como espaço de poética, de tertúlia e de encontro de gerações. Um programa que inclui um workshop com Luís Madureira, bem como a participação de alguns dos mais importantes projetos de formação teatral desta região, tais como o Balleteatro, a Universidade do Minho, a ESAD de Vigo e as Turmas de Iniciação Teatral do Teatro Oficina. Encontros com artistas, espetáculos informais e tertúlia acontecem à noite no meeting point do festival, no Círculo de Arte e Recreio. Bom Festival! Viva o Teatro! This year, the Gil Vicente Festivals, the city of Guimarães’ great theatre festival, will present a program built upon the plays of some of the greatest playwrights to ever have written for the stage. Audiences will be treated to the classics, from Shakespeare’s, “The Tempest” presented by the Galician company Voadora and directed by Marta Pazos or Molière’s “Tartuffe”, directed by Rogério de Carvalho and performed by the Almada Theatre Company as well as discover the rebellious Bernard-Marie Koltès and one of the most remarkable plays in contemporary theatre, his “In the Loneliness of the Cotton Fields”, also directed by Rogério de Carvalho in a Teatro Oficina production, in addition to other brilliant plays from the 20th century. One such example is the selection from the renowned Belgian company tg STAN, “Betrayal”, a beautiful and powerful play written by Harold Pinter, a giant in contemporary theatre and always unsettling, always current. We will also have the opportunity to work again with director Nuno Cardoso and his premiere of “Demons” by the Swedish poet and playwright Lars Norén, and finally a chance to discover a delicious collaborative work called “Ozzzzz”, performed by a collective of young actors and directors: Alfredo Martins, Cláudia Gaiolas, Paula Diogo, Estelle Franco and Luis Godinho. The Gil Vicente Festivals would not be complete without an educational and festive focus – one which always characterizes the event where the theatre comes into the spotlight as a place devoted to poetry, conversations, and the meeting of various generations. The program includes a workshop with Luís Madureira, as well as the participation of some the region’s foremost entities in theatre education: Balleteatro, Minho University, ESAD-Vigo (The Galician School for the Dramatic Arts), and the Introductory Theatre classes at Teatro Oficina. Meetings with the artists-in-residence, informal performances and get-togethers will happen at night at the meeting point of the festival, The Art and Recreation Circle. Enjoy the Festival! Long live the theatre!
Q u i n ta 0 5 Fá b r i c a A S A / B l ac k B ox / 2 2 h 0 0
A A TEMPESTADE TEMPESTADE De William Shakespeare E n c e n a ç ã o M a r ta Pa z o s Voa d o r a !ESTREIA!
“A Tempestade” vem a Guimarães para a sua grande estreia, numa peça que junta o classicismo de Shakespeare com representação inovadora dos galegos da Voadora. Com muitos elementos em comum entre o texto e a linguagem da companhia, muita música, comédia, magia e amor, a expetativa está no ar para saber como resultam dois universos tão distintos, mas que se juntam no ponto fulcral: o teatro. A companhia de Marta Pazos, Hugo Torres e José Diaz atira-se para este projeto sem redes, arriscando-se num texto do mais emblemático dramaturgo clássico de todos os tempos. “A Tempestade” é uma história sobre vingança, mas também amor e perdão. Uma história de conspirações oportunistas que contrapõe os instintos animais que habitam o homem à figura etérea, espiritualizada pelas aspirações humanas, como o desejo de liberdade e a lealdade. Uma Ilha é habitada por Próspero, Duque de Milão, feiticeiro dotado de poderes, e sua filha Miranda, que para lá foram levados à força, num ato de traição política perpetrado pelo próprio irmão que lhe toma o cargo de duque. Próspero tem a seu serviço Caliban, seu escravo, e Ariel, um espírito servil que se pode metamorfosear em ar, água ou fogo. Os poderes mágicos de Próspero e Ariel unem-se, provocando um naufrágio que coloca na Ilha de Próspero os seus inimigos, que o exilaram há anos atrás, com o intuito de levá-los à insanidade. No náufrago, um príncipe, filho de um dos rivais, que irá apaixonar-se à primeira vista pela filha de Próspero. Considerado por muitos críticos uma obra-prima e tida como a última peça escrita por Shakespeare, o dramaturgo coloca aqui todos as caraterísticas fundamentais para uma peça fabulosa: a família, o amor entre dois jovens, a sede de vingança, o mundo onírico e um toque de comédia. Em suma, o relato de uma tempestade e das consequências que a mesma provoca, imaginada pela mente brilhante de Shakespeare que aqui coloca grandes doses de magia, bem ao gosto da companhia que produz a peça. Um dos motivos para a escolha desta obra é por nela estarem presentes todos os elementos recorrentes nas obras da Voadora: os sentimentos e o amor, a beleza e a estética, a magia e a música. Adaptar Shakespeare tem sempre vantagens mas é também um enorme desafio e a Voadora, apesar de ter um enorme projeto em mãos, não quis deixar de crivar o seu cunho pessoal nesta peça tentando conciliar a lealdade à obra clássica com as caraterísticas especiais dos seus espetáculos através da liberdade criativa. É esta interseção de duas linhas antagónicas que confere a esta peça a sua singularidade. Ao nível da cenografia, a Voadora isolou-se para imaginar a sua Ilha que é a Ilha de Shakespeare. A Ilha que é, em si mesma, um mundo de magia pelas mãos de Shakespeare é, também aqui, um mundo do teatro, pelas mãos da companhia que produz a peça. Esta é a primeira vez que a Voadora é fiel a uma obra clássica por vontade artística própria, cuja motivação é almejar a junção de duas sensibilidades teatrais tão díspares, elevando a fasquia para uma sinestesia entre a visão cénica irreverente da Voadora e o teatro clássico no seu expoente máximo, um texto de Shakespeare.
“SOMOS FEITOS DA MESMA M AT É R I A D E Q U E SÃO FEITOS OS SONHOS.” WILLIAM SHAKESPEARE
Outro fator que motivou a equipa para este trabalho foi o elenco, um conjunto de atores experientes, que se conhecem há anos e cujos caminhos se vão cruzando, aqui e ali, ao longo do tempo. Contudo, é a primeira vez que todos trabalham juntos, logo num projeto desta envergadura e cujas personagens são tão ricas. São oito atores e uma atriz para contar a história de uma ilha, de um naufrágio, de um desterro, de uma vingança, sob a direção de Marta Pazos. “Embarco-me com toda a minha tripulação num mar bravo de ondas extremas, diretamente ao epicentro da tempestade com o vento a bater na cara e rindo às gargalhadas. Vemo-nos na praia”, conclui a encenadora.
“WE ARE SUCH STUFF AS DREAMS ARE MADE ON.”
“The Tempest” comes to Guimarães for its grand première in a play that brings together the classicism of Shakespeare with the innovative performance by the Galician company, Voadora. With many elements in common between the play and the creative language of the company, with quite a lot of music, comedy, magic and romance, expectations run high as to what will come of these two distinct universes intersecting in one place – the theatre. The company led by Marta Pazos, Hugo Torres and José Diaz has jumped into this performance as if without a safety net, taking a risk with a text from the most emblematic classical playwright of all times. “The Tempest” is a story about vengeance, but also one of love and forgiveness. It is a story of opportunistic conspiracies that show the counterpoint between the animal instincts which live inside us and the lofty figure of the ethereal man which is spiritualized by human aspirations, such as the yearning for freedom or the notion of loyalty. In the play, we find a desert island inhabited by Prospero, the Duke of Milan who possesses great magical powers, and his daughter Miranda, who have been exiled there by an act of political treachery perpetrated by Prospero’s brother, who has usurped the Duke’s title. Serving Prospero are Caliban, a slave, and Ariel a spirit who can take the form of air, water, or fire. Prospero and Ariel use their magic to conjure up a storm which shipwrecks Prospero’s enemies on the same island where he himself has lived in exile for so long, with the idea of driving these men mad. Amongst the shipwrecked men is a prince, the son of one of Prospero’s rivals, who immediately falls in love with Miranda. In “The Tempest,” considered a masterpiece by many critics and widely believed to be the last play written by Shakespeare, the playwright masterfully uses all the fundamental elements of a fabulous play: the bonds of family, young lovers, the thirst for vengeance, the world of dreams, and a touch of comedy. In a word, this is the story of a storm and the consequences that ensue as imagined by the brilliant mind of William Shakespeare, with enough ample doses of magic and fantasy to appeal to the tastes of whichever company produces it. One of the reasons for choosing this work is that all the elements represented in the play are represented in the works done by Voadora: the feelings of love, beauty, aesthetics, magic, and music. Adapting Shakespeare always brings advantages but there are always challenges as well, and Voadora, despite the enormity of the project handed to them, could not help but put their own stamp on the show by balancing faithfulness to a classical play with the special characteristics and creative liberties that their performances are known for. It is at the intersection of these two crisscrossing lines that the performance finds its uniqueness. In terms of the staging, Voadora has made itself an island just as Shakespeare did. Its island is a world of magic from the hands of Shakespeare and also one molded in the company’s theatrical hands. This is the first time that Voadora has specifically chosen to stay so close to a classical work, with its motivation being the yearning to bring together two quite disparate theatrical sensibilities and thus to raise the bar to a greater synthesizing balance between Voadora’s irreverent scenic vision and that of the classical theatre at the core which is Shakespeare’s play. Another factor which motivated the company to select this play is the cast: a group of experienced actors who have known each other for quite some time and whose careers have crisscrossed here and there over the years. Nevertheless, this is the first time the complete cast has worked together and on a project whose scope is so broad and whose characters are so rich. Here we have are eight actors and one actress telling the story of an island, a shipwreck, an exile, and revenge, all under the direction of Marta Pazos, who commented, “I am embarking with my entire crew onto tempestuous seas with rough waves, sailing right into the epicenter of a storm, with the wind lashing at our faces but we’re all laughing out loud. And we’ll all see each other on the beach.”
WILLIAM SHAKESPEARE
Fotografia © Tamara de la Fuente
Texto William Shakespeare • Encenação Marta Pazos • Adaptação Fernando Epelde • Tradução Manuel Cortés • Interpretação Diego Anido, Jose Díaz, Fernando Epelde, Borja Fernández, Iván Marcos, Olalla Tesouro, Hugo Torres, Guillermo Weickert, Sergio Zearreta • Assistência de Direção Uxía P. Vaello, Joana Magalhães • Movimento Guillermo Weickert • Música Original Hugo Torres, Jose Díaz, Fernando Epelde • Sonoplastia David Rodriguez • Iluminação José Álvaro Correia • Cenografia Ana Luena • Figurinos Uxía P. Vaello • Confeção de guarda roupa Cloti Vaello • Maquilhagem e Cabelos Fany Bello • Produção Jose Díaz • Auxiliar produção. Denis García • Distribuição Cecilia Carballido • Coprodução Voadora, Centro Cultural Vila Flor, XXX MIT-Mostra Internacional de Teatro de Ribadavia, Teatro Bruto • Colaboração especial Centro Dramático Galego • Colaboração Pousadas de Compostela, A Cocotte, Mesón El Serrano, Montse Triola, Dalia Antas, Concha Antas, Video Voz, Fresh Pizza e TNSJ Teatro Nacional São João • Duração 120 min. s/intervalo • Maiores de 12
Direção Artística Alfredo Martins • Desenvolvido e Interpretado por Alfredo Martins, Carlos Alves, Cláudia Gaiolas, Estelle Franco, Luís Godinho e Paula Diogo • Vídeo Masako Hattori • Cenografia Fernando Ribeiro • Colaboração, Cenografia e Adereços Rita Lopes Alves • Apoio à Iluminação Catarina Côdea • Participação Coro da Escola de Jazz do Convívio • Produção Executiva Pedro Pires • Apoio à residência Alkantara, São Luiz Teatro Municipal, Galeria Zé dos Bois | Negócio • Coprodução TMV, Festival Temps d’Images, CCB • Espetáculo financiado pela Secretaria de Estado da Cultura / Direção-Geral das Artes • O espetáculo decorre no palco (lotação 90 lugares) • Duração 90 min. s/intervalo • Maiores de 8
S e x ta 0 6 PA C / B l a c k B ox / 2 2 h 0 0
OZZZZZ OZZZZZ
D i r e ç ão A rt í s t i c a A l f r e d o M a rt i n s Co c r i aç ão A l f r e d o M a rt i n s , C l áu d i a Gaiolas, Estelle Franco, Luís Godinho, Pa u l a D i o g o e M a s a ko H at t o r i t e at r o m e i a v o lta e d e p o i s à e s q u e r d a q ua n d o e u d i ss e r
Fotografias © Nuno Torres
Guimarães recebe o espetáculo “Ozzzzz”, uma peça musical em que o clássico “Feiticeiro de Oz” é deslocado para a modernidade, abordando o binómio casa/viagem num contexto contemporâneo de mobilidade à escala mundial. O protótipo do viajante contemporâneo, que transforma a viagem em linguagem de criação e adere a um movimento planetário. Num mundo e num tempo como o nosso, em que as distâncias se encurtam pela tecnologia e pela facilidade em nos deslocarmos, aparece aqui em perspetiva a frase mais emblemática do filme original: “There’s no place like home”. Em plena era da globalização, esta peça aborda o conceito que temos de “casa”. Todos podemos ir para algum lado, mas a questão que se impõe é o que nos faz voltar. Esta demanda pelo regresso a casa impulsiona toda a narrativa de “O Feiticeiro de Oz”, decalcando o paradigma da viagem do herói – começa em casa, parte para um mundo novo de aventura e, por fim, regressa a casa. Este espetáculo surge da inquietação da companhia que o produz, de se questionar sobre as problemáticas que a obra original levanta. Seremos nós nómadas ou sedentários? “Fizemos este espetáculo porque a Dorothy nos irrita, porque não conseguimos perceber porque é que se quer voltar a casa quando se chegou à Cidade Esmeralda. There’s no place like home? Mesmo?” A peça nasce na busca da resposta: “porque nos aborrecemos, porque permanecer muito tempo no mesmo sítio nos enfastia. Queríamos testar a nossa inquietação e a nossa curiosidade, a nossa capacidade de permanecer e o nosso ímpeto de partir.” A adaptação desta obra vem com a reflexão que nos motiva para tentar perceber o lugar que ocupamos no mundo, num tempo de voos low cost, da world wide web e do skype, das megacidades, do facilitismo da mobilidade. São tempos em que a crise faz temer o futuro e em que todos conhecemos alguém que vai emigrar ou já emigrou há procura das oportunidades que o seu “lar” lhe negou. A estrada de tijolos amarelos como um caminho para falar de coisas sérias, do mundo, do nosso mundo no nosso tempo. Se, por si só, a adaptação desta obra ao teatro não é suficiente para nos cativar, atentemos ao paralelismo que ela nos oferece ao fundir o universo mágico de Dorothy com o frenesim das nossas vidas, ligadas a um mundo que não pára nunca. Será que em casa, na nossa casa, conseguimos parar o mundo e parar-nos a nós mesmos? Será que o nosso lar está em nós ou temos sempre de ter uma referência de nós e da nossa origem para nos ligarmos ao que somos e nos desligarmos do resto. “Eu queria fazer este espetáculo para resolver a minha ansiedade do lugar; para saber parar, para resolver o eterno conflito entre a contínua vontade de partir e a insistente ansiedade por não ficar. Queria fazer este espetáculo para poder partir sem o horror de perder a casa e poder voltar sem o horror de morrer na casa. Eu queria fazer este espetáculo para encontrar a casa e poder descansar ou não”, explicam. Nesta peça a audiência é convidada a subir ao palco e encontrar o seu lugar por entre o cenário, os espetadores são envolvidos nesta viagem e convidados a fazê-la também. Todos juntos vão procurar a casa, procurar o lugar que pertence a cada um. Um desafio extra, uma obra que não se limita a provocar o espetador e fazê-lo pensar o mundo em que vivemos e como o vivemos. Uma peça que nos obriga a fazer a viagem com Dorothy e tirar as nossas conclusões sobre o que é ir, mas também sobre o que é regressar. Porque precisamos de sair de onde estamos, o que é isso que nos move e que nos faz procurar. Procurar o quê? E por que queremos voltar depois da demanda.
Guimarães is proud to host the show “Ozzzzz,” a musical in which the film classic “The Wizard of Oz” is given a more modern twist, taking up the duality of “home versus journey” in a more contemporary context of mobility on a global scale. Here is the prototype of a modern traveler who transforms a journey into new language for creative expression, thus joining a global movement. In a world like ours and at a time like this, when technology and the ease with which we travel means that distance hardly matters any more, the most famous sentence from the film takes on greater importance: “There’s no place like home.” With fullblown globalization upon us, the play takes up the topic of having a “home.” We can all go off and travel somewhere but the question is what makes us return? The need to return home is at the core of the entire story of “The Wizard of Oz” and reflects the paradigm of the hero’s voyage – it begins at home where the main character must then go off to some new world of adventure only to return after a series of trials and tribulations. In this show, the company takes up the worrisome question that the original film raises – are we at heart nomads or are we more tied down by our roots? “We did this show because Dorothy irritates us, because we can’t understand why she wants to go home after she has reached the Emerald City. There’s no place like home? Really?” The play stems from the need to answer the question: Why do we become restless? Why do we stay in the same play which bores us so? We wanted to test the waters of our restlessness and our curiosity, to delve into our ability to stay where we are and what impels us to go off on a journey.” This adapted work urges us to reflect on what motivates us to understand the place we occupy in the world at a time when low-cost flights, the Internet, Skype, mega-cities and the ease of travel predominate. These are times when the crisis makes us fear the future and in which we all know someone who plans to emigrate or who has already left the country in search of opportunities which his “home” has denied him. The “yellow brick road” is a path along which we can discuss serious things – talk about the world, our world, and our time. If the adaptation of this film is not captivating enough on its own, let’s delve into the parallelism that it offers by inviting us to blend Dorothy’s magical world with the frenetic, non-stop world we inhabit. Is it possible that at home we are able to bring the world to a halt and stop the craziness in our lives? Might it be that “home” is something that resides within us and so we must always have a reference to who we are and where we are from so that we can stay connected to who we are and unplug the rest? “I wanted to do this show to settle my anxiety about place, to learn how to stop, to resolve the eternal conflict between the continual desire to leave on a journey and the insistent call to not stray far from home for too long. I wanted to do this show so that I could leave home without the specter of losing it and return home without fear of dying alone in my bed. I wanted to do the show to find home, and to be able to find rest or not, based on my whim.” In this play the audience is invited to come on stage a find a spot amongst the scenery. The audience is involved in the journey and encouraged to take part in it as well. All together, we will find home and find the place which everyone belongs to. This is an added challenge, a play that doesn't stop at just provoking the audience, asking everyone to think about the world we live in and how we live. This is a play which forces us to take the journey with Dorothy and arrive at our own conclusions about what it means to go away and what it means to come back. If we need to leave that place where we are, then what is it that moves us and makes us go out in search of things? What are we looking for? It might well be that we are simply waiting to be called back.
Sábado 07 Fá b r i c a A S A / B l ac k B ox / 2 2 h 0 0
TrAHISONS TrAHISONS De Harold Pinter Criado por Robby Cleiren, Jolente De K e e r s m a e k e r e F r a n k V e rc ru yss e n t g S TA N
Durante sete anos, Emma enganou o seu marido, Robert, com o melhor amigo deste, Jerry (também ele casado). A peça, que visita Guimarães com a produção da companhia belga tg STAN, tem uma estrutura dramática invulgar, sendo contada em cronologia invertida, ou seja, começa no fim e desenrola-se para o início dos acontecimentos. Pinter, que escreveu a obra em 1978, usou esta estrutura de forma a captar a atenção do público para pormenores que lhe escapariam caso ela fosse contada na ordem cronológica natural. Se a história tivesse sido contada na cronologia tradicional, não se reconheceria o significado de cada pequena ação e dos detalhes que levam à conclusão da história. Desta forma, o impacto emocional de cada palavra e incidente assume o peso pretendido. Esses detalhes contribuem para o espetador experimentar, passo a passo, o doloroso desenrolar de uma traição, apercebendose de todas as manobras e calculismos necessários para enganar alguém. As personagens são apanhadas na insustentabilidade de uma paixão que tudo consome, no desejo cego de romper com tudo para se entregarem a um amor que esteve sempre condenado e na ira de quem foi traído. Como num corte cirúrgico, Pinter expõe o orgulho e os anseios, as mentiras e as fraquezas das personagens envolvidas num enredo que nunca terá uma resolução feliz. A peça é um relato cruel de como uma pessoa pode ser arrastada pela mentira e infidelidade. O texto não poupa ninguém, todos são culpados, numa história em que a aparente vítima, o marido traído, Robert, também engana e sabe que está a ser enganado. Robert não revela o que sabe, mostrando uma frieza glaciar para testar os limites da infidelidade da mulher com o seu melhor amigo. Outra questão se levanta, até onde vai um homem traído numa das mais icónicas deslealdades do mundo. Quando a mulher, devorada pela culpa, decide contar ao marido que mantém uma relação extraconjugal há anos está, também ela, a trair o próprio amante ao revelar o segredo dos dois. Cada uma das três personagens violou a confiança da outra, de alguma forma. O adultério como uma viagem que só pode levar ao abismo e de onde ninguém sai ileso. Pinter escreveu esta obra inspirado na sua experiência de vida, em que o próprio manteve um caso clandestino durante 7 anos com uma apresentadora de televisão. O enredo explora as repercussões que um ato de traição provoca na vida dos envolvidos, tendo estabelecidas as diferenças entre o homem e a mulher em situação de adultério, deixando escapar que, para o homem, tudo gira em torno do desejo. Sendo certo ou errado, essa é uma conclusão que fica à responsabilidade do público. Pinter escreve um mundo que, em simultâneo, glorifica e rebaixa o amor deixando o espetador num impasse agridoce. “Trahisons” explora, com o brilhantismo da escrita de Pinter, os efeitos demolidores da mentira na vida das personagens. Um jogo perigoso, com um texto fabuloso e com interpretações executadas com enorme naturalidade. A peça que, numa análise superficial, parece reunir os ingredientes de uma novela de segunda linha, tornou-se uma obra de referência na literatura pela escrita magistral de Pinter, pelos diálogos espirituosos e pela inversão cronológica que o autor usou de forma arrojada e brilhante para relatar um tema clássico recorrente. No mundo do teatro e do cinema foi já adaptada por diversas vezes ao longo dos anos em vários pontos do mundo. A representar estes papéis já estiveram nomes conhecidos da representação como Juliette Binoche, Jeremy Irons, Ben Kingsley e, mais recentemente, Daniel Craig e Rachel Weisz. Os atores, da companhia belga tg STAN, não querem que nada se intrometa entre eles e os seus espetadores, por isso nunca trabalham com encenadores. Sem Deus nem chefe – nem mesmo na sombra. As peças são sempre criações coletivas, como se não fossem uma companhia de teatro, mas antes uma cooperativa. STAN – cujo nome é o acrónimo de Stop Thinking
“TRAHIS ONS”, COM TEXTO DE HAR OLD PINTER ( NOME ORIGINAL, “BETRAYAL”), PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA EM 200 5, CONTA A HISTÓRIA DE UM CLÁSSICO TRIÂNGULO AMO R O S O.
About Names – não são uma companhia de atores-encenadores. “Acho que somos uma companhia de quatro atores-executantes. Não encenadores, mas executantes. E isso está presente em nós desde o conservatório: uma vontade de fazer as nossas coisas, de nos dirigirmos a nós próprios. O que significa, também, que, a dada altura, temos de distanciar-nos do que estamos a fazer”, explica Jolente De Keersmaeker, uma das fundadoras e atriz, que nesta peça interpreta Emma. Em palco estará também Robby Cleiren (Jerry) e Frank Verccruyssen (Robert). For seven years, Emma has been cheating on her husband Robert, having an affair with his best friend, Jerry, who is also married. The play, which comes to Guimarães in a performance by the Flemish company tg STAN, has an unusual dramatic structure in that it is told in reverse chronology; in other words, it begins at the end and the story unfolds by going back to the beginning of events. Pinter, who wrote the play in 1978, used this technique as a way to call the audience’s attention to details that might easily be lost in telling the story in normal chronological time. If the story had been written using traditional chronology, the audience would find it much more difficult to recognize the significance of each little detail and each small action which lead to conclusion of the story. Thus, the emotional impact of each word and incident carries the weight it was intended to assume. These details allow the audience to experience the painful unfolding of a betrayal step by step and to see all the maneuvering and machinations necessary to deceive another person. The characters are caught up in the unsustainability of a passion that consumes everything, in the blind desire to tear apart their lives to surrender to a love that was doomed from the start, and in the rage of the betrayed. With the precision of a surgeon, Pinter exposes the pride and anxieties, the lies and the flaws of characters involved in a web of deceit which will never see a happy resolution. The play is a cruel recounting of how a person can be dragged along by lies and infidelity. And it spares no one – everyone is guilty in a story in which the apparent victim, Robert, himself plays with deceit and knows that he is being cheated on. Robert does not reveal what he knows, instead showing a glacial coldness to push the boundaries and see just how far the infidelity of his wife and best friend will go. Another question is raised: just how far will a man go in one of the most iconic forms of betrayal in the world? And what about the woman, eaten away by guilt who decides to tell her husband that she’s been having an affair for years, thus betraying her lover by telling their secret? Each one of the three has betrayed another’s trust in some way or another. Adultery as a journey is like driving over a cliff and no one escapes unscathed. Pinter wrote the play based on his own experience, in which he kept an affair with a TV presenter hidden for seven years. The plot explores the repercussions that an act of betrayal can cause in the lives of those involved, showing all the differences between men and women in cases of infidelity, noting plainly that for men, everything revolves around desire. Whether it’s right or wrong, this is the conclusion that the audience is left with. Pinter describes a world which at the same time glorifies and debases the notion of love, leaving the audience at a bittersweet impasse. Pinter’s brilliant writing in “Betrayal” explores the devastating effects of lies on people’s lives. This is a dangerous game, a play with a fabulous text and performances given with enormous natural talent. This is a play which on the surface seems to bring together all the elements of a second-rate soap opera but which has become recognized as a foremost work of literature given Pinter’s masterful writing, the witty dialogues and the inverse chronology so bravely and brilliantly used to recount a recurring and classical theme, infidelity. In the world of the theatre and the cinema, the play has been adapted many times over the years and around the world. Acting in these roles we see the likes of such well-known talents as Juliette Binoche, Jeremy Irons, Ben Kingsley and more recently, Daniel Craig and Rachel Weisz. The actors from the Flemish company tg STAN want nothing to come between themselves and their audience for this reason they never work with directors. No God, no boss – not in the least. The plays are always created collectively, less in the mold of a traditional theatre and more like an actor-oriented theatrical cooperative. STAN – which means Stop Thinking About Names – is not a company of actor-directors. “I think we are a company of four actor-performers. Not directors but performers. This has been in our blood since our days at the Conservatory: our desire to do things ourselves, to direct ourselves. This also means that at a certain point we have to distance ourselves from what we are doing,” explains Jolente De Keersmaeker, one of the founding members and actress, here in the role of Emma. Joining her on stage will be Robby Cleiren (Jerry) and Frank Vercruyssen (Robert).
T H E P LAY “ B E T R AYA L ” , W R I TT E N BY HAROLD PINTER, THE RECIPIENT OF THE NOBEL PRIZE F O R L I T E R AT U R E IN 2005, TELLS T H E S T O RY O F T H E C LA S S I C L OV E TRIANGLE.
Fotografias © National Archives of Australia e Paul De Malsche
Texto Harold Pinter • Versão em francês Eric Kahane • Criado e interpretado por Jolente De Keersmaeker, Robby Cleiren e Frank Vercruyssen • Figurinos Ann D’Huys • Desenho de Luz Thomas Walgrave • Régie Tim Wouters • Cenário tg STAN • Produção tg STAN • Estreia da versão holandesa 19 de outubro de 2011, Monty, Antwerp • Estreia da versão francesa 15 de maio de 2014,Théâtre Garonne, Toulouse • STAN são Jolente De Keersmaeker, Sara De Roo, Damiaan De Schrijver, Sigrid Janssens, Luca Lemmens, Ann Selhorst, Renild Van Bavel, Frank Vercruyssen, Thomas Walgrave e Tim Wouters • tg STAN são financiados pelo Governo Flamengo • tg STAN é uma companhia associada do Théâtre Garonne, Toulouse • Espetáculo em língua francesa, com tradução para português • Duração 90 min. aprox. s/ intervalo • Maiores de 16
Personagens Emma, Robert e Jerry Cenas Cena 1 1977. Primavera. Meio-dia. Um bar. Cena 2 Imediatamente depois. Jerry. No seu local de trabalho. Cena 3 1975. Inverno. Estúdio de Wessex Groove. Cena 4 1974. Outono. Robert e Emma. Na sala. Cena 5 1973. Verão. Um quarto de hotel. Veneza. Cena 6 Mais tarde. Estúdio de Wessex. Cena 7 Mais tarde. Um restaurante italiano. Cena 8 1971. Verão. Estúdio de Wessex Groove. Cena 9 1968. Inverno. Robert e Emma. No quarto. É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol É peroba do campo, é o nó da madeira Caingá, candeia, é o Matita Pereira É madeira de vento, tombo da ribanceira É o mistério profundo, é o queira ou não queira É o vento ventando, é o fim da ladeira É a viga, é o vão, festa da cumeeira É a chuva chovendo, é conversa ribeira Das águas de março, é o fim da canseira É o pé, é o chão, é a marcha estradeira Passarinho na mão, pedra de atiradeira É uma ave no céu, é uma ave no chão É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão É o fundo do poço, é o fim do caminho No rosto o desgosto, é um pouco sozinho É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando É a luz da manhã, é o tijolo chegando É a lenha, é o dia, é o fim da picada É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada É o projeto da casa, é o corpo na cama É o carro enguiçado, é a lama, é a lama É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um resto de mato, na luz da manhã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É uma cobra, é um pau, é João, é José É um espinho na mão, é um corte no pé É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um belo horizonte, é uma febre terçã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração Águas de Março, Tom Jobim
Q u i n ta 1 2 CCVF / Grande Auditório / 22h00
TArTUFO TArTUFO
De Molière E n c e n a ç ã o R o g é r i o d e C a r va l h o C o m pa n h i a D E T e at r o D E A l m a d a
O ES CÂNDALO D O MUND O É O QUE FAZ A OFENSA, E PECA R EM SILÊNCIO NÃO É PECAR TOTALMENTE .
Uma das mais famosas comédias de Molière, “Tartufo”, chega a Guimarães pela mão da Companhia de Teatro de Almada que regressa, desta forma, aos grandes textos. A obra é dirigida, pela terceira vez, pelo encenador Rogério de Carvalho e trata temas sempre atuais, o oportunismo, o individualismo e a hipocrisia. Este texto trouxe grandes problemas a Molière, na sua época, porque expõe de forma desapiedada os impostores. Neste caso, Tartufo, um clérigo que apregoa uma moral que não pratica para deitar mão a bens de ingénuos crentes que se deixam enganar pelas suas patranhas. Na casa de Orgon, Tartufo é rei e senhor. O clérigo alcançou a confortável – e muito vantajosa – posição de guia espiritual das almas de Orgon e de sua mãe, a Sra. Pernelle, a todo o momento assombradas pela tentação do pecado. A devoção de Tartufo, porém, não é sincera, constitui apenas um expediente para satisfazer as suas pretensões de poder, riqueza e volúpia. Quando Marianne, filha de Orgon, lhe é prometida em casamento, a necessidade de desmascarar o impostor impõese. “Tartufo” estreou em Paris em 1664. Embora tenha agradado ao público e ao rei, a oposição da Igreja Católica e da Companhia do Santo Sacramento foi imediata e contundente: o arcebispo de Paris chegou a ameaçar com a excomunhão todos aqueles que vissem, representassem ou lessem o texto. As apresentações públicas foram, por isso, proibidas até 1669, quando, em resultado do apreço de Luís XIV pela peça, a versão final de Tartufo regressou finalmente – e definitivamente – aos palcos. O tema, a genialidade do texto e a crítica corrosiva tornam a peça intemporal tendo-se afirmado como um dos grandes clássicos da literatura francesa. Numa comédia mordaz, Molière aproveita-se do riso para fazer uma crítica social da época, tendo o Clero como alvo principal mas abrangendo a sociedade como um todo através das personagens-tipo. Como o encenador explicou, “Tartufo pode ser uma metáfora do nosso tempo. É uma questão de olharmos para as estruturas sociais que Molière enfrentou e olharmos para as nossas
estruturas de hoje.”. Rogério de Carvalho justifica porque não se cansa deste texto: “Molière defendia-se dizendo que não atacava a Igreja, nem o clero, nem os bons devotos: atacava apenas os falsos devotos. Aqueles que utilizam a devoção, a religião, no sentido do aproveitamento próprio e de praticar atos que não se coadunam com a condição humana.” Ou seja, o tópico central desta obra é, de facto, a hipocrisia, esse mal que envenena e corrompe o homem; o oportunismo, esse defeito que sempre esteve presente nas sociedades e que continua a estar, se calhar de forma mais evidente em momentos de crise como os que hoje atravessamos. Esta é uma peça que critica os excessos, que infetam o homem como se de uma doença se tratasse. Mas, se por um lado, a obra é uma crítica aos maus costumes, também ela sabe enaltecer as personagens de carácter, a sapiência da velhice, a sabedoria popular e os ingénuos. Rogério de Carvalho explica que não se cansa de revisitar este clássico, “para já (porque) é um texto que, por mais que se faça, está sempre em aberto. E, por outro lado, nós vamos tendo experiências sobre experiências, e isso vai-nos abrindo novas perspetivas, novos ângulos, novas visões. (…) O próprio teatro, na sua parte técnica, também se vai alterando. Vão aparecendo novas soluções e, por vezes, em face de novas soluções, temos a tentação de querer retornar a textos antigos utilizando novos processos, novas maneiras de olhar para a mesma situação.” Mas o motivo maior é simples, não descurando ser um texto intemporal e de qualidade inquestionável, “penso que o texto assenta como uma luva na atualidade”, justifica o encenador.
Texto Molière • Encenação Rogério de Carvalho • Intérpretes Alexandre Pieroni Calado, Ana Cris, André Gomes, Catarina Reis, Celestino Silva, João Farraia, Maria Frade, Marques D’Arede, Miguel Eloy, Pedro Walter, Teresa Gafeira e Teresa Mónica • Tradução Manuel João Gomes • Cenário José Manuel Castanheira • Figurinos Mariana Sá Nogueira • Luz José Carlos Nascimento • Voz e Elocução Luís Madureira • Duração 120 min. c/intervalo • Maiores de 12
One of Molière’s greatest comedies, “Tartuffe” comes to Guimarães via the Almada Theatre Company, which for its part is also returning with a more classical play. The performance, directed for the third time by Rogério de Carvalho, deals with falsehood, selfishness and hypocrisy. The play caused quite a stir at the time Molière wrote it because it ruthlessly exposed imposters concealed as religious fanatics. In this case, Tartuffe is a man of God who does NOT practice what he preaches, with his eye more keenly fixed on getting his hands on the fortune of a family led by Orgon, an unsuspecting man obsessed with instilling moral virtue. A guest in Orgon’s house, Tartuffe is lord and master, and the religious charlatan has gained the very comfortable and advantageous upper hand in convincing Orgon and his mother, Madame Pernelle, that he should become their spiritual guide, since they may indeed fall victim to temptation at any moment. Tartuffe’s religious devotion is anything but sincere – it is just a useful tool as he moves forward with his plans to obtain power, wealth and sex. When Mariane, Orgon’s daughter, is promised to him in marriage, it becomes time to unmask the imposter. “Tartuffe” was first shown in Paris in 1664. Although the play was well received by the King and the general public, opposition came immediately from the Catholic Church and the Company of the Blessed Sacrament, so much so that the Archbishop of Paris threatened anyone who saw, acted in or read the play with excommunication. Public performances were thus prohibited until 1669, when as a result of King Louis XIV’s appreciation of the play, the last version of “Tartuffe” finally and definitively returned to the stage. The theme, the playfulness of the text and its caustic criticism make it a timeless play and one of the classics of French literature. A biting comedy, Molière uses laughter to launch his social criticism, targeting a cleric but denouncing society at large which tolerates such characters. As the Director puts it, “Tartuffe can well be a metaphor for our times. We need only look at the social structures which Molière faced in his time and look at the structures we have today.” Rogério de Carvalho goes on to explain why he never tires of this play: “Molière defended himself by saying that he was not attacking the Church, and neither the clergy nor the faithful – he was attacking only the religious charlatans, those who use faith and religion for their own advantage and to perpetrate frauds against the human condition.” In other words, the main focus of the play is, in fact, hypocrisy, the evil which poisons and corrupts men, and opportunism, a defect of society which has always been present and which will continue to be the easiest way out in times of crisis such as those which we are living right now. This is a play which criticizes excesses – those which infect people as if they were a disease. But if on the one hand the play is a criticism of the shady side of what is fashionable, it also praises those who are genuinely upright and honest, those who are wise from age or from common knowledge, or those who are innocent. Rogério de Carvalho explains that he never tires of this classic play “because it is a play that whatever you do, it’s always open to what you want. On the one hand, we have experiences about experiences, and this opens up new perspectives, new angles, and new outlooks on things. (…) Theatre itself, and its technical aspect in particular, is changing. New solutions to problems will come up and when you’ve got these solutions sometimes there is the temptation to return to the classical texts and use these new interpretations, these news ways of looking at a familiar situation.” But the greater motivation is simple: with no disregard to the timeless play that it is and the unquestionable quality that it embodies, the director states “I think that the play still fits us today like a glove.”
Fotografias © Rui Carlos Mateus
IT’S S CANDAL, MADAM, THAT MAKES IT AN OFFENSE. AND I T’S NO SIN TO SIN IN CON FIDENCE
S e x ta 1 3 CCVF / Pequeno Auditório / 22h00
DEMÓNIOS DEMÓNIOS De Lars Norén E n c e n aç ão N u n o C a r d os o A o C a b o T e at r o
Fotografia © Nuno Cardoso
“DEM Ó N I O S ” , P E Ç A D I R I G I D A P E L O C O N C E I T UA D O ENCE N A D O R N U N O CA R D O S O , COM T E X T O H O M Ó N I M O D O FAMO S O D R A M AT U R G O S U E C O LAR S N O R É N , E S T R E I A E M GUIM A R Ã E S N O Â M B I T O D O S FES T I VA I S G I L V I C E N T E .
!ESTREIA!
Na história, que aparenta a simplicidade da vida quotidiana, quatro personagens, dois casais que se vão cruzar e vão perceber que os pequenos dramas do dia-a-dia escondem algo maior. O caos diário aqui espelhado, os medos e preocupações que cabem na vida de todos, os afetos, a família, o medo da solidão, as tentações, a morte. Tudo o que nos move, o bom e o mau que nos torna humanos, o que nos fragiliza mas que também, ao desmoronar, nos faz sedentos de mudança. Um casal, Frank e Katarina, no final dos seus trinta anos, sem filhos e numa relação há nove anos. Outro casal, vizinho do primeiro, Jenna e Thomas, também na casa do trinta e com dois filhos. Não se conheciam, fora os encontros ocasionais nas áreas comuns do prédio que todos habitam. Convivem pela primeira vez no dia do funeral da mãe de Frank, num encontro que começa como uma reunião agradável e que se transforma num perigoso encontro, que depressa caminha para um jogo de provocações do qual ninguém irá sair ileso. O desenrolar da trama vai fazer com que as personagens se confrontem não só com os seus demónios mas também com os dos outros. O maior demónio de todos a espreitar a cada esquina da história: a solidão. A solidão agressiva do casal que não tem filhos irá infetar a relação aparentemente idílica do outro casal que vive feliz, apesar de extenuado com as crianças. Um rastilho aceso que queima em forma de provocações sexuais, humilhações, confissões inesperadas e ataques exibicionistas. Tudo junto e nasce a fórmula que faz a história descambar numa série de tentativas confusas e embaraçosas para uma vida desinibida e selvagem. A tensão sexual pelo outro, que, após centenas de cruzamentos nas escadas, se transforma numa fantasia contínua. O aborrecimento da relação, a esperança arruinada de algo mudar, o medo da solidão, esse medo maior que todos os outros é o mote mais íntimo para esta peça. É o catalisador de tudo o resto e o motor de tudo, para tudo. A solidão da morte da mãe de Frank, a solidão de não ter um filho que nos perpetue, nem que seja no sangue, a solidão na ausência do desejo de quem partilha uma vida connosco, a solidão de uma casa desarrumada. Tudo nos leva a esse medo que, na peça, faz com que as personagens se transfigurem e se revelem. Revelam segredos e angústias, revelam mesquinhez e rancor, revelam ameaças e todos os demónios saltam pela fenda quebrada na perfeição da rotina. O realismo da vida no realismo do teatro. Personagens comuns com problemas, igualmente, comuns. O desenrolar da vida com os demónios que todos carregamos dentro dela, mesmo quando aparenta ser perfeita mas nunca o é porque, de facto, isso simplesmente não existe. A simplicidade dos gestos e das palavras num texto que traduz a nossa existência enquanto indivíduos que, inevitavelmente, precisam uns dos outros. Essa simplicidade que, no fundo, é tudo o que somos porque a vida tropeça nesses defeitos que faz de nós homens. Porque se houvesse perfeição ela seria solidão.
“DEMONS”, A SHOW FR OM THE PR OMINENT DIRECTOR NUNO CARD O S O IS FR OM THE SWEDISH PLAYWRIGHT, LAR S NORÉN, AND WILL BE PREMIERED IN GUIMARÃES AT THE GIL VICENTE FESTI VALS IN A PERFORMANCE FR OM THE AO CAB O THEATRE COMPANY.
In this story, four characters (two couples) who meet by chance will come to understand how those small, every-day dramas hide something bigger. Daily chaos is mirrored in the fears and worries which invade our lives, our affections, our family, the fear of loneliness, what tempts us, and finally, death. It is everything that moves us, the good and the bad which make us human, that which makes us fragile but which also makes us thirst for change when things fall apart. In the play we have a couple in their late 30s, Frank and Katarina, childless, and in a relationship for nine years. Their neighbors, also in their late 30s, are a couple with two children, Jenna and Thomas. They barely know each other except for the occasional meetings in the common areas of the building where they all live. They really only interact for the first time on the day of Frank’s mother’s funeral, when a pleasant initial encounter becomes something more dangerous and leads to a game of provocation from which no one will escape unharmed. The unfolding of the plot will make the characters confront not only their own demons but those of others. And the greatest demon of all is looming just around the corner: loneliness. The aggressive loneliness of the childless couple will come to infect the apparently idyllic relationship of their blissful neighbors, albeit lessened somewhat by the children. An ember still burns in the form of sexual provocation, humiliation, unexpected confessions and attacks of exhibitionism. All of this together unveils the story of a series of confusing and embarrassing attempts at an uninhibited and wild life. Sexual tension for another person encountered casually in the staircase is transformed into an on-going fantasy. The boredom of a relationship, the dashed hopes that something might change, the fear of loneliness – the greatest fear of all – is the most intimate message from the play. It is the catalyst for all the rest, the driving motor of everything and for everything. The loneliness of Frank’s mother’s death, the loneliness of not having children to live on after us, the loneliness of the absence of desire for the spouse you share your life with, the loneliness of an untidy house. All of this leads to the fear which in the play makes the characters change and reveal themselves. They reveal secrets and anguish, they reveal pettiness and spitefulness, they reveal threats, and all the demons come out of the cracks in that perfect façade which is our daily routine. This is the realism of life and the realism of the theatre. Everyday people with problems which themselves are quite ordinary. This is life being played out with all the demons we carry inside, so even when you might think it’s perfect it never is because, in fact, such perfection is not possible. It’s the simplicity of gestures and words from a text that explains our existence as individuals where we inevitably need each other. It’s the simplicity which in the end is everything that we are because life stumbles on this defects which make us human. Because if perfect really were attainable, it would be loneliness.
Texto Lars Norén • Tradução Ricardo Braun • Encenação Nuno Cardoso • Cenografia F. Ribeiro • Desenho de Luz José Álvaro Correia • Interpretação João Melo, Joana Carvalho, Micaela Cardoso, Pedro Frias • Coprodução Ao Cabo Teatro, CCVF, O Cão Danado e Companhia • A Ao Cabo Teatro e o Cão Danado e Companhia são estruturas por Governo de Portugal / Secretário de Estado da Cultura / Direção-Geral das Artes • Duração 135 min. s/intervalo • Maiores de 16
Sábado 14 e Domingo 15 Fá b r i c a A S A / B l ac k B ox / 2 2 h 0 0 ( S á b ) e 17h00 (Dom)
Fotografia © Direitos Reservados
NA SOLIDÃO NA SOLIDÃO DOS DOS CAMPOS CAMPOS DE DE ALGODÃO ALGODÃO D e B e r n a r d - M a r i e Ko lt è s E n c e n a ç ã o R o g é r i o d e C a r va l h o T e at r o O f i c i n a
Guimarães vê subir ao palco a peça “Na Solidão dos Campos de Algodão”, obra escrita pelo dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès, encenada por Rogério de Carvalho, que terá certamente um sabor especial visto ser a primeira produção deste ano do Teatro Oficina, companhia nascida e criada na cidade berço. A peça promete ser uma celebração do teatro, subindo ao palco no âmbito dos Festivais Gil Vicente numa coprodução com a companhia Útero, que também habita a cidade. Rogério de Carvalho, num gesto de absoluta modernidade, fazendo corar os encenadores Miguel Moreira e Marcos Barbosa, agarra este texto furioso e transforma os atores Miguel Moreira e Marcos Barbosa em instrumentos de uma tragédia contemporânea. Como o próprio título sugere, a solidão está presente neste texto. A solidão que faz parte de nós e que, por vezes, nos lança para nos procurarmos nos meandros mais obscuros. A solidão que lança dois homens numa noite em que cada um tem as suas motivações, apesar de as mesmas nunca serem claras. O enredo é aparentemente simples mas é história é bem complexa, à medida da complexidade humana. Duas personagens, um dealer e um cliente, que se encontram na volúpia de uma transação ilícita, porém nunca sabemos concretamente do que trata. Um conceito que tem tanto de compreensível como de misterioso, algo que se pode comparar à própria condição humana. Podemos ser simples na generalidade pelas nossas semelhanças mas somos complexos enquanto indivíduos de vontades próprias. Vamo-nos desenvolvendo para o mistério, para os desejos e segredos que todos temos e que são só nossos. Na peça nunca sabemos o que está a ser vendido pelo dealer e nunca sabemos as pretensões do cliente. Talvez até, o cliente se arraste na paciência do breu da noite, expectante por uma qualquer oferta do dealer para depois somente a negar. Porque dizer não, é em si mesmo, uma escolha, é preciso saber dizer não. O desejo de saber dizer não ou a força de dizer não ao desejo. Talvez se fale aqui da pobreza das vontades que temos, ser-se pobre no que se procura e no que se pretende. “Na Solidão dos Campos de Algodão” constrói-se pelos monólogos destas duas personagens, dois estranhos cujos caminhos se cruzam e onde um não se revela sem que o outro faça o mesmo. Porque não nos devemos oferecer, a nós e ao que somos, de bandeja ao outro. Não devemos revelar as nossas fraquezas, as angústias profundas que se escondem nos desejos mais íntimos da nossa essência. Esses segredos tão nossos que só revelamos para dentro, esses mistérios que se guardam na profundidade da noite, na viela mais escura e solitária, como se a noite fossemos nós. Este deal, este jogo que aqui se faz e que resume a própria vida. O que se oferece e o que se procura. Dois homens que têm tanto de orgulhosos como de enigmáticos, que se aguardam um ao outro nas revelações que nunca chegam. Um dealer que não se revela porque talvez não possua a infinidade do que promete e um cliente que não se confessa talvez porque já não saiba como pedir. A peça junta em palco Marcos Barbosa, diretor artístico do Teatro Oficina, e Miguel Moreira, diretor da Útero Associação Cultural e chega agora a Guimarães, depois de ter estreado no Teatro-Cine Torres Vedras.
“O DESEJO DE UM COMPRAD O R É A COISA MAI S MELANCÓLICA QUE EXISTE… ”
“THE DESIRE OF THE BUYER IS THE MOST M E LA N C H O LY THING THERE IS…”
Guimarães welcomes the play “In the Loneliness of the Cotton Fields” to the stage, written by the French playwright Bernard-Marie Koltès and directed by Rogério de Carvalho, as it will certainly add a bit of spice as the this year’s first production from the Teatro Oficina, a company born and bred here in The Birthplace of the Nation, Guimarães. The play, a co-production with the Útero Company, will be a strong celebration of the theatre for the Gil Vicente Festivals. Rogério de Carvalho, in a totally modern move, has taken his fellow directors Miguel Moreira and Marcos Barbosa and this unruly text, turning Miguel Moreira and Marcos Barbosa into actors who become instruments in this contemporary tragedy. As the play’s title suggests, loneliness is present, the loneliness which is part of us and which sometimes leads us down dark and meandering paths. Loneliness drives two men into the night, and each one is spurred on by his own motivations, although they are veiled and unclear. The plot is apparently simple, but the story is rather complex, as in the intricacies of the human being. There are two characters, the Dealer and the Buyer, enjoying the delightful interplay of an illicit transaction of some kind although we never quite get to know concretely what they are transacting. The concept is as understandable as it is mysterious, something which we can compare to the human condition. We as people might be simple in our overall similarities but we are complex as individuals with our own desires to consider. We go on developing the mystery in the desires and secrets which we all have and which are uniquely ours. In the play we never really know what is being sold by the Dealer and we never truly know the intentions of the Buyer. Perhaps the Buyer is just lurking in the darkness of night waiting for an offer from the Dealer just so he can refuse it. Because in saying no there is also a choice – you have to know how to say no and that’s the desire to know how to say no or the strength to say no to desire. Maybe people are speaking about the lack of desire we show, how we are poor in our search for desire and ambivalent in our intentions. “In the Loneliness of the Cotton Fields” is built upon the monologues of two characters, two strangers who cross paths, where neither one will reveal anything unless the other does the same. This is because we shouldn’t offer ourselves and what we are on a silver platter to just anyone. We mustn’t expose our weaknesses and our deepest anguish hidden in the most intimate yearnings of the soul. These are secrets held so closely to ourselves and mysteries that are kept in the depths of the night, in the darkest and loneliest alleyways, as if we were the night ourselves. This deal, this game is played and it reflects our very lives. What is offered up for sale and what one is looking to buy. These are two men who are as headstrong as enigmatic, always waiting for the other to make a revelation that never comes. The Dealer doesn’t reveal himself since he doesn’t fully possess what he’s promising the Buyer, and the Buyer doesn’t confess perhaps because he no longer knows how to ask for what he wants. The play brings to the stage Marcos Barbosa, Artistic Director of the Teatro Oficina, and Miguel Moreira, Director of the Útero Cultural Association. It is being performed in Guimarães following its opening at the Teatro-Cine in Torres Vedras.
Texto Bernard-Marie Koltès • Encenação Rogério de Carvalho • Tradução José Paulo Moura • Assistência de Encenação Diana Sá e Emílio Gomes • Desenho de Luz Jorge Ribeiro • Sonoplastia Pedro Lima • Interpretação Marcos Barbosa e Miguel Moreira • Produção Executiva Teatro Oficina • Duração 80 min. s/ intervalo • Maiores de 12
AT I V I D A D E S pA r A l e l A s
Novos Modos Novas Modas Um festival é um espaço de encontros, o lugar do acontecimento, onde se devem multiplicar as possibilidades de vivência da criação teatral no máximo número de experiências possíveis. Desta definição surge a ideia de convidar as Turmas de Iniciação Teatral do Teatro Oficina e algumas escolas de teatro da região circundante para participarem no Festival, para uma assunção da componente festiva e de celebração conjunta que desejamos para os Festivais Gil Vicente. Vamos por isso ver-nos uns aos outros, discutir aquilo que fazemos, e como o fazemos, e questionar a nossa relação com a programação do próprio Festival. Sabemos que fazendo isto estamos a criar público, mas estamos também numa ideia de democratização da criação, algo absolutamente urgente na vida das cidades onde a cultura é um bem comum verdadeiramente prezado. Olhando para a realidade dos diferentes modos de criação dentro do teatro, e das diferentes relações que as pessoas podem ter com essa criação, mais ou menos profissional, ou mais ou menos académica, observamos uma falta de ligação entre esses mundos, e apetece perguntar o que aconteceria se provocássemos nós esse encontro no Festival de teatro da nossa cidade? Partindo da realidade existente, escolas profissionais e universidades onde se estuda o teatro, pessoas que estudam teatro como um complemento a outras atividades, e uma programação e criação nos nossos espaços onde a participação destas comunidades não é um dado adquirido, e acreditando na necessidade partilhada de urgência nesta aproximação, provocamos esse encontro. Uma espécie de laboratório de “primeiro público”, na esperança que os profissionais da criação também recebam desse impacto ideias, formas, propostas, e abram por outro lado caminhos a esse público. Sabemos que estas realidades vivem separadas, e que isso é uma das causas da fragilização da nossa atividade. Ora, se queremos inscrever na consciência de todos esta importância da criação artística, multiplicamos estas possibilidades de relações, estimulando as transições entre diversos modos de fazer teatro, abrindo as portas do nosso Festival que é dos novos modos de fazer, a quem de novo muito perto de nós, também o faz.
New Means, New Fashions The Festival is a space devoted to encounters, a place for things to happen, a place where there should be the greatest number of opportunities possible to create something theatrical. From this definition an idea emerged to invite the Beginning Theatre Arts classes from Teatro Oficina and other theatre arts schools in the surrounding region to participate in the Festival and join in on the festive, celebratory aspect that we encourage at the Gil Vicente Festivals. Thus, we come together to socialize, to discuss what we do and how we do it, and to question our relationship with Festival programming. We know that by doing this, we are not only expanding our audience but also defending the idea of democratizing the creative act, something which is absolutely vital in the lives of those cities where culture is a precious commodity held in high esteem by the community. Looking at the variety of ways that exist to create within the theatre and the different ways that people can relate to these creative acts – however greater or lesser their professional or academic level – we have observed a weak bond among these worlds, and thus we feel like asking: what would happen if we were responsible for such an encounter at our city’s theatre festival? Our present reality is one in which we have professional schools and universities where theatre arts are studied, amateurs who study the theatre as something complementary to other activities, and the Festival programming and creative impetus surrounding it where the participation of these two groups is not always a given (but understood as vital for bringing everyone together) – and for this reason, we are sponsoring this encounter. This will be a type of laboratory of this “first audience,” inviting the aforementioned people to meet the professionals in the hope that the latter may also feel the impact of the discussion of ideas, forms, and proposals as well as enhancing the perspective of the participants from the general public. We know that these worlds live apart, and we need to rectify this to make our activities stronger. So if we want to impress the importance of artistic creation upon the minds of everyone, to increase the potential for closer relationships, encourage the interplay among the different ways to do theatre and open the doors to the Festival, which is all about new ways of doing things, then we want you to do it with us.
Q u i n ta 0 5 P e rc u rs o d e s d e a Rua D. A fo n s o H e n r i q u e s at é ao CC V F / 1 9 h 0 0 RUA AC I M A ! D e P e d ro Ba s tos E n c e n aç ão E m í l i o G o m e s T u r m a d e I n i c i aç ão T e at r a l d o T e at ro O f i c i n a - A d u ltos C r i aç ão Interpretação Graziela Alvarez, Elisabete Eustáquio, Ana Rosa Silva, Angelina Silva, Francisca Silva, Isabel Moura, Filipa Pereira, Diana Viana, Patrícia Carvalho, Paulo Silva, Armanda Crisália Machado, Bruno Barreto, Maria Isabel Lisboa, Patrício Torres, Rui Cunha, Nuno Pacheco • Duração 90 min. aprox. • Todas as idades
Q ua rta 1 1 a S e xta 1 3 CC V F / Sa l a d e E n sa i os / 1 0 h 0 0 - 1 3 h 0 0 WO R KS H O P D E VOZ E E LO C U Ç ÃO CO M LU Í S M A D U R E I R A Conteúdos exercícios técnicos tendo em vista a obtenção de postura correta, respiração eficiente, disponibilidade do órgão vocal para a fala e para o canto; leitura e análise de textos em prosa e/ou verso • Público-alvo atores profissionais ou amadores • Nº limite de inscrições 16 • Preço 25,00 eur • Data limite de inscrições 05 de junho As inscrições e o respetivo pagamento podem ser efetuados no Centro Cultural Vila Flor ou através do preenchimento do formulário online disponível no site www.ccvf. pt. As inscrições só serão consideradas válidas após realizado o pagamento. Em caso de desistência, o valor apenas será reembolsado se a mesma ocorrer até 72 horas antes do início da atividade.
Q ua rta 1 1 PAC / B l ac k B ox / 1 9 h 0 0 ADN D e D e n n i s K e l ly E n c e n aç ão D i a n a Sá e E m í l i o G o m e s T u r m a d e I n i c i aç ão T e at r a l d o T e at ro Oficina - Teen Interpretação Ana Sofia Malheiro, Célia Ribeiro, Francisco Gonçalves, Hugo Gomes, Inês Sampaio, Joana Lisboa, Lívia Hartmann, Margarida Lopes, Natacha Salgado, Rodrigo Souza • Duração 50 min. aprox. s/ intervalo • Maiores de 12
Q ua rta 1 1 PAC / B l ac k B ox / 22 h 0 0 SA N G U E N O P E S CO ÇO D O GATO D e R a i n e r W e r n e r Fa ss b i n d e r E n c e n aç ão D i a n a Sá T u r m a d e I n i c i aç ão T e at r a l d o T e at ro O f i c i n a - A d u ltos Interpretação Andreia Soares, Filipe Esteves, Maria José Silva, Maria Teresa Coimbra, Natacha Salgado, Pedro Lemos, Raquel Guedes, Sara Faria, Cenografia António Matos • Duração 50 min. aprox. s/ intervalo • Maiores de 12
D u r a n t e o F e s t i va l C A R - C í rc u lo d e A rt e e R e c r e i o MEETING POINT CO N V E RSA S CO M A RT I S TA S E E S P E TÁC U LOS I N FO R M A I S
Numa ideia de verdadeiro festival, que propõe o encontro e festa à volta da celebração conjunta a que o teatro convoca, teremos um ponto de encontro oficial no CAR, onde artistas e público se juntam, para uma reflexão mais ou menos ruidosa sobre os espetáculos, num espírito de tertúlia, e entre uma e outra cerveja, uma programação alternativa e fora de horas.
Qui n ta 1 2 PAC / Blac k B ox / 1 9 h 0 0 A STATE AFFAIR (UNH A C U E S T I Ó N D E E S TA D O) De Rob i n S oa n s Encenação Del f i n a M i g u é l e z-Va l ESAD – V i g o Interpretação Susi Álvarez, Aarón Gallego, Celia González, Sabela Mascuñana, Muriel Pernas, Daniela Rodas • Luz e figurinos Diego Valeiras • Espaço cénico e espaço sonoro Delfina Miguélez-Val • Encenação e dramaturgia Delfina Miguélez-Val • Duração 90 min. s/intervalo • Maiores de 12
Sexta 1 3 PAC / Blac k B ox / 1 9 h 0 0 ES TUDOS | FRAGM E N TOS | TC H E K H OV COORDENAÇÃO T I AG O P O RT E I RO Universida d e d o M i n h o Interpretação Ana Rita Silva, Ana Rita Trigo, Bárbara Fonseca, Cristiana Lima, Diogo Rosas, Júlio Cerdeira, Luís Fernandes, Maíra Ribeiro, Maria Antunes, Mário Pereira, Marta Ferreira, Rita Gomes, Rute Fernandes, Sérgio Silva, Tatiana Rocha, Vânia Silva • Coordenação geral (docente) Tiago Porteiro • Duração 45 min. aprox. s/intervalo • Maiores de 12
Sába d o 1 4 PAC / Blac k B ox / 1 6 h 0 0 MILLI VA N N I L I Textos de Marcos Ba r b osa e a lu n os do 3º Ano do Curso d e T e at ro da E s co l a Profissiona l Ba l l e t e at ro Interpretação Alexandre F. Correia, Amândia Silva, Bruno Gusmão, Alexandre Martins, Carolina Guerra, Cristina Gomes, Fábio Henrique, Filipa Costa, Francisca Baldaque, Inês Cunha Nunes, Joana Garcia, Joana Vilar, José Neto, Lia Tenreiro, Luís Miguel Cerqueira, Mariana Dixe, Miguel Chucha, Nuno André Ferraz, Pedro Parente, Rui Pedro Castro, Sílvia Amorim, Sofia Afonso, Sofia Ribeiro • Direção Marcos Barbosa • Duração 60 min. aprox. s/intervalo • Maiores de 12
Sába d o 1 4 Percurso desde a Rua D. A fo n s o H e n r i q u e s até ao CC V F / 1 9 h 0 0 RUA AC I M A ! De Pedro Ba s tos ENCENAÇÃO E M Í L I O G O M E S Turma de Iniciação T e at r a l d o T e at ro Oficina - Ad u ltos C r i aç ão
S E XTA 0 6 / 2 4 H 0 0 SERMÕES? A PA RT I R DA L E I T U R A D E T E XTOS D E PA D R E A N TÓ N I O V I E I R A Texto e Interpretação Marcos Barbosa • Vídeo Jorge Quintela • Produção executiva Teatro Oficina • Duração 51 min. s/ intervalo • Maiores de 12
SÁ BA D O 0 7 / 2 4 H 0 0 N O I T E S D E I M P RO DE EMÍLIO GOMES Criação Emílio Gomes • Improvisadores Ana Simões, Ana Rosa Silva, Boaventura Rodrigues, Edite Mendes, Elisabete Abreu, Graziela Suarez, Teresa Coimbra, Paulo Silva, Patrício Torres • Duração 30 min. s/ intervalo • Maiores de 12
S E XTA 1 3 / 2 4 H 0 0 6 9 CO N TOS D E P E D RO BA S TOS Texto Pedro Bastos • Encenação e Interpretação Diana Sá • Assistência de encenação Emílio Gomes • Produção executiva Teatro Oficina • Duração 50 min. s/ intervalo • Maiores de 16
SÁ BA D O 1 4 / 2 4 H 0 0 T R A N S I ÇÕ E S CO N V E RSA M O D E R A DA P O R T I AG O P O RT E I RO E F R A N C E S C A R AY N E R
COMISSÃO ORGANIZADORA DOS FESTIVAIS GIL VICENTE A Oficina Câmara Municipal de Guimarães Círculo de Arte e Recreio A Oficina Direção de Programação José Bastos Consultor para as Artes Performativas Rui Horta Diretor Executivo Frederico Queiroz Assistente de Programação Rui Torrinha Educação e Mediação Cultural Elisabete Paiva (Direção) Lara Soares Sandra Barros Produção Tiago Andrade (Direção) Ana Bragança Andreia Abreu Andreia Novais Hugo Dias João Covita Paulo Covas Pedro Silva Ricardo Freitas Rui Salazar Sérgio Castro Sofia Leite Susana Pinheiro Técnica José Patacão (Direção) Carlos Ribeiro Emanuel Valpaços Helena Ribeiro Nuno Eiras Pedro Lima Ricardo Santos Sérgio Sá Instalações Luís Antero Silva (Direção) Comunicação e Marketing Bruno Barreto Carlos Rego Marta Ferreira Susana Magalhães Susana Sousa Tradução Scott M. Culp
Organização
Cofinanciamento
Centro Cultural Vila Flor Av. D. Afonso Henriques, 701 • 4810-431 Guimarães Tlf +351 253 424 700 N 41.4371, W 8.295442 Plataforma das Artes e da Criatividade Av. Conde Margaride, 175 • 4810-535 Guimarães Tlf +351 253 424 715 N 41.443249, W 8.297915 Fábrica ASA Rua da Estrada Nacional 105 • Covas - Polvoreira 4835-157 Guimarães N 41.419431, W 8.303167 Toda a Informação em WWW.CCVF.PT