JORNAL DO SERVIÇO EDUCATIVO SETEMBRO A DEZEMBRO 2014 | NÚMERO 27 Coordenação Elisabete Paiva Edição Elisabete Paiva e Sandra Barros Produção Gráfica Susana Sousa Comunicação Bruno Barreto Marta Ferreira Susana Magalhães
Design Atelier Martino&Jaña Textos de Ema Nunes Grécia Rodriguez & Leonardo de Albuquerque Joana Providência Leonor Keil Manuela Calheiros Manuela Paredes Marta Martins
Patrícia Portela Laboratório LURA (conteúdos) Lara Soares Patrícia Portela & Cláudia Jardim & Sónia Baptista Distribuição Carlos Rego
servicoeducativo@ aoficina.pt ISSN 1646-5652 Tiragem 3000 exemplares
"SE A CRIANÇA SE ELEVA ATÉ AO ADULTO ATRAVÉS DO JOGO, O ADULTO TAMBÉM NECESSITA DO JOGO PARA RECONHECER NA CRIANÇA O SEU OUTRO. QUANTO MAIS AS SOCIEDADES TENDEM A ABSORVER AS SUAS CRIANÇAS NAS SUAS PREOCUPAÇÕES ANSIOSAS, MENOS VALOR ATRIBUEM AO JOGO. QUANTO MAIS RECONHECEM A SUA AUTONOMIA, MAIS ACEITAM A IDEIA DE AS VEREM REPRESENTAR, LONGE DAS SUAS DORES E DOS SEUS TRABALHOS." ROLAND DORON, IN LE JEU DE L'ENFANT (1972)
JORNAL DE ARTES E EDUCAÇÃO
EDITORIAL
PISTAS
Fazer parte de uma mudança significativa no mundo é uma possibilidade muito remota no tempo de vida de um indivíduo. Com alguma sorte (e atenção) integramos uma cadeia de mudança que pode demorar várias gerações a concretizar-se. Mesmo assim, contra as probabilidades, algumas pessoas dedicam a sua vida a ser “condutores” de conhecimento: professores, investigadores, intelectuais, artistas. Possuídos de um desejo de avançar para o que agora os ultrapassa, empreendem em estudar, compreender e modelar o desconhecido, na expectativa (entre outras, é certo) de oferecer algo novo, melhor, inspirador a quem venha depois.
No “país pequeno que faz por caber numa Europa cansada”, esse Portugal de que falava o espetáculo Cara, de Aldara Bizarro, as pessoas que se dedicam a tais causas vão sendo empurradas borda fora. Curiosamente, uma professora de Físico-química sensível à natureza da sua profissão, alertou-me mais uma vez para a problemática do esquecimento organizado: se uma geração, ou duas ou três, decidir privar os vindouros do acesso a de-
terminadas ligações numa cadeia de conhecimentos, o futuro ficará empobrecido, a escolha será menor, a mudança mais improvável. Por isso, sem recato, dedicamos estas linhas curtas aos intelectuais e criadores portugueses que silenciosamente vamos deixando de ler, de ouvir ou de ver.
Como nasceram as Fábulas elementares Patrícia Portela pág. 3
TRILHOS
A Arte como Farol… Manuela Calheiros pág. 9
A MONTANTE
Artemrede: Uma rede de mediação cultural inscrita no território Marta Martins pág. 4
Joana Providência e Leonor Keil *
PISTAS CAMINHOS PARA FAZER JUNTOS
MIRAGINAVA SOBRE O PROCESSO DE PESQUISA E CRIAÇÃO
…como se o mundo das sombras escondesse pequenos segredos inimagináveis, que nos transportam para um qualquer espaço poético bem longe daqui.
Um dia o Miraginava bateu-me à porta Faz talvez um ano que recebi uma chamada da Leonor Keil a propor-me que partilhasse consigo a reconstrução de um espetáculo que tinha desenvolvido com a sua Mãe. Miraginava, nome vindo de um livro de Mia Couto, era um espetáculo de sombras. Quando nos encontrámos para aprofundar a ideia, a Leonor foi falando de como se fora imbuindo do universo de Lourdes Castro para chegar àquelas sombras. Desta conversa, e depois do visionamento do vídeo do espetáculo, marcou-me a delicada e bela relação entre Mãe e Filha. Talvez influenciada pela força dessa imagem propus à Leonor o texto Quando eu nasci, de Isabel Minhós Martins. Neste texto, somos transportados de novo para dentro da barriga da nossa Mãe e é daí que somos levados a fazer uma viagem sem fim por tudo o que não conhecíamos quando apenas vivíamos na barriga da nossa mãe. É como se
voltássemos a nascer, a olhar, a sentir e a cheirar pela primeira vez. No processo de construção de Miraginava com a Margarida Gonçalves e a Leonor, passámos horas a explorar e a experimentar sombras; algumas dessas improvisações surgiram de propostas preestabelecidas, mas curiosamente fomos muitas vezes surpreendidas por imagens completamente mágicas, que nos deixavam estupefactas perante qualquer coisa que nos ultrapassava, cativando-nos de uma forma arrebatadora, como se o mundo das sombras escondesse pequenos segredos inimagináveis, que nos transportam para um qualquer espaço poético bem longe daqui. Joana Providência
Num dos livros do Mia Couto encontrei a palavra Miraginava, que não diz nada em concreto mas ao mesmo tempo abre portas e janelas à nossa pergunta.
O fascínio pelas sombras é algo que me acompanha desde muito pequena. Perseguir e brincar, dançar e gesticular, ficar hipnotizada pela sombra é algo que nos acontece frequentemente, suponho eu?! Quando eu e a minha mãe decidimos “Brincar” e criar algo, pensámos no mundo mágico da Lourdes Castro. O objetivo não só nos uniu como harmonizou o inverno, dos dias frios surgiram imagens para sonhar e pensar. Num dos livros do Mia Couto encontrei a palavra Miraginava, que não diz nada em concreto mas ao mesmo tempo abre portas e janelas à nossa pergunta. Surgiu a vontade de desenvolver o projeto e ampliá-lo, pensei logo na Joana Providência que acompanho há muitos anos, e cuja obra tem uma coerência, uma inspiração e um universo que me fascina. Voltou a chamar-se Miraginava, até parece que se descobriu uma palavra que descreve as sombras nas nossas vidas. Leonor Keil
Miraginava é um espetáculo que propõe ao público de todas as idades um encontro entre a dança e as sombras. Partindo da obra da artista plástica Lourdes Castro (Funchal, 1930-), que centra a sua pesquisa na sombra de plantas, pessoas ou objetos, tendo sempre como matéria de suporte a “poesia”, Miraginava é uma viagem misteriosa ao delicioso mundo das sombras, onde o universo poético de Lourdes Castro se cruza, rasga e dilui no texto Quando Eu Nasci, de Isabel Minhós Martins (publicado pela editora Planeta Tangerina).
As autoras deste texto seguem a norma do acordo ortográfico de 1990.
* Joana Providência e Leonor Keil são ambas mulheres “da dança” - Leonor mais conhecida enquanto intérprete, Joana mais conhecida enquanto coreógrafa. Aqui se juntam, enquanto cocriadoras de Miraginava.
© Paulo Pacheco
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PISTAS CAMINHOS PARA FAZER JUNTOS
Como nasceram as Fábulas elementares
em parceria com Christoph de Boeck, uma instalação para jardins sobre a relação entre os homens e a natureza que o rodeia, estreada no Teatro Maria Matos em 2012 (e desde então em circulação pela Europa e nos Estados Unidos) e em conversa com Cláudia Jardim, o outro lado deste duo que mantém deste 2008 uma química daquelas que não vem assinalada nas Tabelas periódicas. Falávamos então na nossa relação deficiente não só com a natureza mas com tudo o que produzimos ou mesmo reciclamos. Comecei a perguntar-me de que eram feitas as coisas. E não foi sem espanto que descobrimos que o vidro que entregamos para reciclar no vidrão é moído para se transformar em areia que depois é usada para fazer cimento e construir prédios na nossa cidade, e não propriamente para fazer novas garrafas. As notas de 100 dólares são feitas de calças de ganga recicladas. As caixas de telepizza são feitas de cartão reciclado a partir de documentos altamente confidenciais dos serviços secretos Norte Americanos. Os telemóveis precisam de chips minúsculos feitos de elementos químicos que só existem em dois ou três sítios do mundo onde há permanente guerra civil e onde um grama de tantalum vale mais do
© Helena Serra
Todos os dias nos confrontamos com variados objectos, muitos deles absolutamente banais e que usamos diariamente e sobre os quais pouco sabemos. Não sabemos de que são feitos, por quem são feitos, porque são feitos ou como vieram parar às nossas gavetas, às nossas casas ou às nossas vidas em geral. E quando falo de objectos não falo só de copos, pratos, cadeiras, armários, livros; falo também de instalações
eléctricas, de canalizações de gás e água ou incineradoras de lixo que mapeiam de forma quase invisível os nossos dias e que mantêm a nossa sociedade a funcionar na ilusão de que tudo se pode resolver carregando num botão. O espectáculo Fábulas elementares nasceu dessa vontade de saber o que está por detrás desse botão, dentro do computador mais high tech ou apenas na boneca de borracha mais desconjuntada que ainda guardamos com tanto afecto em casa como se a imagem da nossa infância dependesse dela. Todos os objectos têm uma história, têm um passado e são o resultado de alguma transformação, de alguma ideia ou de algum processo químico ou biológico de um ou vários materiais. O projecto Fábulas elementares nasceu de uma vontade de reflectir sobre a história secreta de muitos dos objectos diários que usamos e sobre os quais pouco sabemos. A ideia surgiu depois de estrear Hortus,
…falo também de (objectos) que mapeiam de forma quase invisível os nossos dias e que mantêm a nossa sociedade a funcionar na ilusão de que tudo se pode resolver carregando num botão. que cem de ouro. E eu poderia continuar… Ver o mundo pelas lentes do que é feito é procurar uma nova perspectiva para pensar sobre tudo o que gostamos mais de ver, fazer e experimentar. Uma tabela periódica pareceu-nos o catálogo perfeito para iniciar essa investigação: “ O catálogo de tudo o que pode cair em cima de um pé e fazer mossa”. Tudo é feito de partículas, células, átomos. Tudo é composto por elementos. Nós e as coisas. Somos todos feitos de matéria semelhante. E é sobre isso que falamos nas Fábulas elementares.
* Escritora e encenadora, cocriadora do espetáculo Fábulas elementares
A autora deste texto seguem a norma do acordo ortográfico de 1945.
© Direitos Reservados
Falávamos então na nossa relação deficiente não só com a natureza mas com tudo o que produzimos ou mesmo reciclamos. Comecei a perguntar-me de que eram feitas as coisas.
Patrícia Portela*
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Marta Martins*
A MONTANTE AS NOSSAS REFERÊNCIAS
Artemrede: Uma rede de mediação cultural inscrita no território
© Margarida Botelho
Criada em 2005 para apoiar os seus membros na programação dos teatros e cine-teatros recémreabilitados da região de Lisboa e Vale do Tejo, a Artemrede assume-se actualmente como um projecto de cooperação cultural com a missão de desenvolvimento dos territórios onde actua. Na verdade, nestes quase dez anos de funcionamento, o papel da Artemrede, a sua missão e os seus objectivos foram alvo de contínuo debate interno e externo: uma rede de programação? Uma central de compras? Um projecto político, artístico e/ou económico? Independentemente da maior ou menor relevância de algumas destas discussões, tudo isto
sustentável e arreigada num território geograficamente defi nido. Destaco assim estas três ideias, as quais, juntamente com o excerto da nova missão da Artemrede que inicia este texto, caracterizam o papel que a Associação pretende desempenhar nos próximos anos. É inquestionável que a programação cultural continua a ser o elemento central da razão de ser da Artemrede. No entanto, é agora
foi alvo de reflexão durante o processo de planeamento estratégico que a Artemrede desencadeou este ano tendo em vista o horizonte 2015-2020. Este processo, amplamente participado pelos Associados da Artemrede, contou ainda com contributos externos valiosos, provenientes das mais diversas áreas de intervenção na sociedade, num Encontro realizado em Abril passado. Surgiram assim doze orientações estratégicas, as quais comunicam uma Artemrede que se pretende mais aberta ao exterior, politicamente mais forte e com uma maior capacitação técnica. Uma rede de mediação cultural assente na promoção das artes (amplamente entendidas), coesa e fi nanceiramente
às artes e reforcem a participação dos É inquestionável agentes culturais locais”.(1) Na verdade, que a programação esta estratégia não é novidade no contexto da actividade da Artemrede. cultural continua Ela tem vindo a ser desenvolvida de forma reiterada ao longo dos últimos a ser o elemento anos. No entanto, o que é assumido central da razão de agora de forma clara é que as propostas mero acolhimento serão consideradas ser da Artemrede. de em segundo plano face à promoção de No entanto, é projectos que tenham como premissa a mediação entre a obra artística e as agora assumida comunidades às quais se dirige. Citando o fi lósofo Jacques Rancière: “É preciso como prioridade um teatro sem espectadores, no qual estratégica a aposta quem assiste aprenda, em vez de ser seduzido por imagens, na qual quem em projectos assiste se torne participante activo, em integrados, “que vez de ser um voyeur passivo.” (2) O desenvolvimento de projectos de arte potenciem o comunitária tem sido, efectivamente, uma das apostas da programação da envolvimento da Artemrede. O caso do espectáculo comunidade…” Vale, de Madalena Victorino, foi de tal assumida como prioridade estratégica a aposta em projectos integrados, “que potenciem o envolvimento da comunidade, estimulem a experimentação artística, o pensamento crítico, o conhecimento e a aproximação
forma marcante junto das populações que envolveu (e falo não apenas dos participantes locais, mas das próprias equipas dos teatros) que, passados quase cinco anos da estreia, ainda encontramos ecos da sua passagem pelo território. De igual forma, a
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A MONTANTE AS NOSSAS REFERÊNCIAS
© Margarida Botelho
* Diretora Executiva da Artemrede
Uma escola, uma associação ou uma empresa podem ser aliados indispensáveis na construção de projectos artísticos com ramificações de ordem social, pedagógica, ou outras. Artemrede tem vindo a aumentar a oferta das suas propostas de carácter educativo e pedagógico, as quais têm sido importantes instrumentos de comunicação com públicos organizados e famílias. No entanto, esta programação deve agora evoluir de uma proposta paralela aos espectáculos apresentados nos teatros, para uma programação integrada, que tenha em conta factores e dinâmicas locais. Deveras, o território
onde a Artemrede actua é social e culturalmente distinto, com diferentes níveis de experiência, investimento e reflexão no campo das artes e da cultura. O conhecimento desse território e a constituição de parcerias locais são, assim, elementos essenciais para o cumprimento dos objectivos a que a Artemrede se propõe. É evidente que os projectos artísticos não funcionam de igual forma nos treze concelhos que constituem a Artemrede e onde existem realidades tão díspares que influenciam de forma determinante a boa recepção das propostas. Neste sentido, uma relação de proximidade e confiança com os programadores e equipas dos teatros e de outros equipamentos culturais integrantes da Artemrede é fundamental. Mas, para além dos profissionais dos Associados, afigurase agora como importante a criação de parcerias locais que aprofundem essa relação com o território e o conhecimento das suas dinâmicas e dos seus agentes. Uma escola, uma associação ou uma empresa podem ser aliados indispensáveis na construção de projectos artísticos com ramificações de ordem social, pedagógica, ou outras. Ressalvo, no entanto, que o que se
pretende com a mediação dos projectos artísticos não é uma transmissão do saber (técnico, intelectual) do artista perante o espectador/receptor nem, por outro lado, a utilização indiscriminada e, por vezes, artificial, de participantes amadores em projectos de artistas profissionais. Pelo contrário, a mediação que pretendemos tem necessariamente que constituir-se como um diálogo, no qual ambas as partes contribuem e participam no mesmo nível hierárquico, embora, obviamente, desempenhando diferentes papéis. Volto, assim, a Rancière, quando afirma que o espectáculo, a performance, a obra artística “não é a transmissão do saber ou do respirar do artista ao espectador. É antes essa terceira coisa de que nenhum deles é proprietário, da qual nenhum deles possui o sentido”(3). É, assim, este o caminho que traçámos e que desenvolveremos nos próximos anos. É seguro, no entanto, de que ele só será bem sucedido se contarmos com um rede forte e coesa de membros, parceiros e cúmplices estratégicos.
A autora deste texto segue a norma do acordo ortográfico de 1945.
(1) Artemrede - Orientações Estratégicas 2015-2020, pág. 8. (2) Rancière, Jacques (2010), O espectador emancipado, Lisboa: Orfeu Negro, pág. 10. (3) Idem, pág. 25.
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LABORATÓRIO PARA METER AS MÃOS NA MASSA
EXPERIÊNCIA 1 A DENSIDADE DAS ÁGUAS
A Patrícia Portela, a Claúdia Jardim e a Sónia Baptista fazem teatro, dança, cinema, e escrevem noutros projetos como o Teatro Praga ou a Prado e juntas são um trio com muita química, daquela que não vem nas tabelas periódicas mas que é tão fundamental como o oxigénio. Os espetáculos que fazem são jogos, armadilhas, peripécias e sobretudo “coisas” que se transformam noutras e que são acessíveis para qualquer idade. Para este projeto inventaram, experimentaram e aprenderam sobre os materiais e partilham aqui algumas das suas experiências assim como algumas perguntas que as fascinaram. Ainda não conseguiram transformar o chumbo em ouro mas tentam fazê-o todos os dias com a criação de novos espectáculos e novos livros.
Experiência 1 Patrícia Portela, Claudia Jardim e Sónia Baptista Experiências 2 e 3 Lara Soares
Ingredientes 1 jarra comprida mel detergente água óleo de fritar batatas fritas álcool etílico parafina
http://www.stevespanglerscience.com/ lab/experiments/seven-layer-densitycolumn
Num jarro colocar primeiro uma camada de mel, depois uma camada de detergente, depois deitar água por cima até fazer mais uma camada, de seguida o óleo, depois o álcool e finalmente a parafina – irão reparar que os diferentes ingredientes nunca se misturam ficando separados uns dos outros e criando uma espécie de arco-íris de densidades.
EXPERIÊNCIA 2 BOLO ARCO-ÍRIS
Uma receita para domingo à tarde…
Ingredientes Para a Massa: Para cada camada colorida (serão 7 camadas no total!) 1 iogurte de sabor tuti-fruti 4 ovos Usando o copo do iogurte como medida: 4 copos de açúcar 4 copos de farinha de trigo peneirada com fermento ½ copo de óleo de girassol 1 colher (chá) de corante, escolhendo uma das seguintes cores: azul, verde, amarelo, rosa, roxo, vermelho e laranja Para a Cobertura: 500 gramas de natas para bater bem frias 2 colheres de sopa de açúcar ¼ xícara (chá) de essência de baunilha
Preparação A primeira coisa a fazer é ligar o forno a 180 0C para que quando lá coloques o bolo ele esteja bem quentinho! Coloca os ovos numa bacia e bate durante 3 minutos. Adiciona o iogurte, o açúcar e o óleo sem parar de bater. Quando conseguires um creme, diminui a velocidade e junta a farinha envolvendo bem todos os ingredientes. Coloca 1 colher (chá) de corante colorido e mistura bem. A massa está pronta !!! Após untar e enfarinhar uma forma redonda ou quadrada despeja a mistura e leva ao forno por aproximadamente 30 minutos a 180 0C. Espeta um palito e se ele sair seco é porque o bolo está pronto! Retira do forno e
deixa arrefecer. Repete a operação com todas as massas. Empratar Escolhe um prato muito bonito, que seja grande o suficiente para que o bolo fique seguro. Um a um, coloca os bolos sobrepostos e alinhados. Talvez seja necessário aparar as pontas com uma faca grande (pede ajuda a um adulto!). Por fim, a cobertura! Bate as natas com a essência de baunilha e com as colheres de açúcar. Cobre o bolo com as natas e serve a toda a família!!!
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LABORATÓRIO PARA METER AS MÃOS NA MASSA
EXPERIÊNCIA 3 OS DE CIMA E OS DE BAIXO*
Se desenharmos uma linha que atravessa esta folha de papel e a divide em duas partes iniciamos o nosso exercício. Agora temos o lugar dos de cima e o lugar
dos de baixo… Mas quem são os de cima e quem são os de baixo? O que existe nestes lugares? Pessoas? Objetos? Cores? Animais?
Será que os de baixo sobem e os de cima descem? Conseguimos desenhar um túnel que liga os dois lugares? E se virarmos a folha ao contrário, o que acontece?
*Os de cima e os de baixo, de Paloma Valdivia, é um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura, editado pela Kalandraka Portugal em 2009. Podes ler ao alto ou de pernas para o ar… Mas tens mesmo de o espreitar, porque te ajudará a viajar neste exercício de desenho que aqui te propomos.
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Manuela Paredes* e Ema Nunes **
LIVRE COMO UM LIVRO A Escola tem como um dos objetivos fundamentais, desenvolver, nos jovens, um domínio da língua com o máximo de eficácia, quando fala, ouve falar, lê e escreve. Então, se se pretende que no fi nal do seu percurso escolar, os alunos se tornem ouvintes ativos e críticos, bem como falantes capazes de adequar as variedades da língua oral às circunstâncias da comunicação, possuidores de uma capacidade comunicativa eficaz, é fundamental que essa mesma Escola lhes possibilite a participação em situações de intercâmbio oral onde possam expor, argumentar, explicar e debater com os pares e com os adultos sobre os mais vários conteúdos da vida escolar e/ou extraescolar. É, neste contexto, e consciente da importância do desenvolvimento da interação oral para a formação
integral do aluno, que a Escola se abre à comunidade, respondendo afi rmativamente aos desafios do Serviço Educativo do Centro Cultural Vila Flor, e tendo, desta vez, um outro parceiro, o Núcleo de Estudos 25 de Abril.. As bibliotecas das escolas sede Abril do Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda e Agrupamento Vertical de Escolas D. Afonso Henriques participaram no projeto “Livre como um livro”. Nos dias 14, 16 de abril e 1 de maio, um grupo de professores e alunos encontraram-se no Centro Cultural Vila Flor para desenvolver o projeto proposto. Tratava-se de trabalhar o texto poético com os alunos, que haviam já escolhido, com os professores, um poema subordinado ao tema “liberdade”. Para isso, contaram com o Igor Gandra e a Carla Veloso, do Teatro de Ferro.
© Direitos Reservados
* professora bibliotecária da Escola Secundária Francisco de Holanda ** professora bibliotecária da Escola EB2,3 D. Afonso Henriques
TRILHOS MARCAS QUE FICARAM E QUEREMOS PARTILHAR
para esse desenvolvimento pessoal, escolar e profi ssional dos jovens que se revelaram cidadãos sensíveis, ativos e interventivos. O poder da palavra está, sem dúvida, na forma como a vivemos e como fazemos os outros vivê-la! Manuela Paredes
O primeiro contacto com o projeto “Livre com um livro” fez-se através do convite do coordenador do Núcleo de Estudos 25 de Abril, Abril, o Prof. Amadeu Faria, ao qual a EB 2/3 D. Afonso Henriques respondeu afirmativamente. Quem poderia resistir a um tema tão entusiasmante? Mãos à obra! Havia que selecionar poesias de intervenção e talentos e motivar alunos para a leitura
À semelhança de outros trabalhos desenvolvidos com o CCVF, desta feita, o teatro associou-se à Escola, para desenvolver/aperfeiçoar e usufruir do prazer de sentir as palavras e a importância da expressão corporal, que a completa. Esta experiência inovadora, que levou os jovens da sala de aula para o palco do CCVF, marcá-los-á pela reflexão sobre o poder da palavra dita. A comunicação é um todo, constituído pela palavra, pela entoação que lhe é dada, pela força que lhe é conferida, que se completa com a expressão corporal, com a cumplicidade entre pares. Este projeto desenvolveu, com profissionais do mundo do teatro, essas competências, transmitindo aos jovens a paixão pela palavra dita, como se, eles próprios, se transformassem em atores, a prepararem-se para o palco da vida. O trabalho desenvolvido contribuiu
(na Biblioteca Escolar e nas aulas de Educação para a Cidadania e Português). Além disso, era fundamental descodificar o conteúdo dos poemas e aperfeiçoar a dicção. Em suma: dar às palavras a dimensão que requeriam! «O teatro é o palco do mundo», como dizia Shakespeare, e é essencial para olharmos a vida com outra dimensão e engrandecermo nos. Eis o mote dos que aderiram à iniciativa, trocando algumas manhãs da interrupção letiva da Páscoa para conviver e aprender com diretores artísticos no palco privilegiado do pequeno auditório do CCVF. A experiência foi rica pelas ferramentas importantíssimas do campo do teatro que facultou: exercícios corporais e de voz, concentração, posicionamento, controlo das palavras, autoestima, capacidade de absorver o sabor do texto poético — um dos conteúdos programáticos transversal a todos os níveis de escolaridade —, interação com discentes da ESFH [Escola Secundária Francisco de Holanda, também participante] e ensinamentos da companhia que nos recebeu. No dia 1 de maio, o Palco foi deles e gostaram! Desejamos que projetos similares se repitam, com periodicidade, pois são aliados eficazes do processo de ensino aprendizagem. Ajudaram-nos a dar mais voz à palavra escrita e oral. De facto, foi extremamente proveitoso vermos os alunos a agirem num contexto exterior à sala de aula, soltando talentos. Ema Nunes As autoras deste texto seguem a norma do acordo ortográfico de 1990.
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TRILHOS MARCAS QUE FICARAM E QUEREMOS PARTILHAR
A ARTE COMO FAROL… «Por que é bela a arte? Porque é inútil. Por que é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções. Todos os seus caminhos são para ir de um ponto a outro. Quem nos dera o caminho feito de um lugar donde ninguém parte para um lugar para onde ninguém vai! Quem desse a sua vida a construir uma estrada começando no meio de um campo e indo ter ao meio de um outro; que, prolongada, seria útil, mas que ficou, sublimemente, só o meio de uma estrada.» in Livro do Desassossego (330), Bernardo Soares
Confrontados com um desafio oriundo do CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães [Serviço Educativo d’A Oficina], os docentes da Escola Secundária de Caldas das Taipas dos conselhos de turma dos 12o anos do Curso Cientifico-Humanístico de Artes Visuais consideraram que seria motivador e enriquecedor que os seus alunos participassem no Projeto A Arte como farol e o tivessem como tema centralizador do seu Plano de Turma. Para que este projeto fosse possível, e em primeira instância, tivemos a aceitação dos órgãos de gestão da Escola, sendo, desde logo, um elemento facilitador do processo. Depois foi a vez dos alunos, ainda que alguns, inicialmente, algo apreensivos, nos tenham dado “carta branca” e confiado na nossa experiência pois, tal como nós, acreditaram que este Projeto lhes poderia vir a proporcionar
momentos de reflexão sobre temáticas do seu mundo, a arte, e poder-lhes-ia permitir questionar o que à partida poderia parecer resolvido, contribuindo para a partilha de experiência e para a construção do saber. Estes desafios contribuem para nos desassossegar, alterando quotidianos fossilizados, quebrando rotinas. Contribuem também para que nos espantemos com o mundo, para vermos nele uma eterna novidade. E foi com estes pressupostos que acreditamos nas palavras que a promotora do projeto colocou na sinopse de apresentação e quisemos segui-las: “A Arte como farol é um programa formativo concebido para o ensino secundário, que parte da ideia de que a arte, tal como um farol, nos ajuda a encontrar o nosso lugar, a situar-nos – aponta caminhos possíveis, fortalece escolhas e pode até salvar. Torna visível, ilumina, o
que frequentemente não vemos, seja que está ao nosso lado, seja nas profundezas da história da humanidade…Permitenos ver que não estamos sozinhos… que há outros que sentem ou veem como nós, aqui ou no outro lado do mundo… hoje como ao longo dos tempos…” A Arte como farol desenvolveu-se em quatro sessões de duas horas com cada turma inscrita, sempre antecedidas de um momento exclusivo para os professores, normalmente na semana anterior, no qual dávamos inputs específicos para o seguimento do trabalho, de acordo com o nosso conhecimento das turmas e as suas inquietações pessoais. Os temas foram variados A arte como lugar de resistência, de liberdade…; A arte faz-se para transformar as imagens do quotidiano… para tornar visível…; A arte faz-se para dizermos o que não podemos dizer de outra forma… e Visita à exposição patente no CIAJG. Ao longo destas sessões, falamos do valor do silêncio, da importância do saber escutar, refletimos através das palavras de Daniel Barenboim que “tudo está ligado” e que a música pode ser um elemento facilitador da comunicação e do diálogo entre os povos, descobrimos pela voz de Huxley que “a experiência não é o que nos acontece mas sim o que fazemos com o que nos acontece”; desta reflexão saltamos para outras como o que significa ser “génio”, ou como é que o ato criativo é vivenciado pelos diferentes autores, pintores, poetas…. Depois, houve tempo também para pensar sobre a importância do saber e o perigo da ignorância e como é que a arte nos ajuda a ver e a sentir isto melhor, nesse contexto também se pensou sobre o valor da liberdade e sobre a importância
Estes desafios contribuem para nos desassossegar, alterando quotidianos fossilizados, quebrando rotinas. Contribuem também para que nos espantemos com o mundo, para vermos nele uma eterna novidade.
Manuela Calheiros* e alunos da Escola Secundária de Caldas das Taipas
da rebeldia consciente. Os alunos e os professores que participaram neste projeto querem, aqui e agora, deixar o testemunho desta parceria; com certeza que haveria muito mais para dizer mas, por vezes, é difícil transmitir por palavras algumas das emoções que vivemos e experimentamos. Além disso, algumas delas queremos guardá-las nas caixinhas das nossas memórias e das nossas vivências… “A Arte como Farol foi um projeto intensamente enriquecedor no qual foi não só promovida a aquisição de conhecimentos acerca da arte, como a partilha de experiências, sentimentos e pontos de vista. Em cada sessão o tema era apenas um ponto de partida para uma viagem cujo fim não era o destino mas a própria viagem. Ao abrirmos a mente, o coração, descobrimos dentro de nós características e emoções que nos eram desconhecidas até então. Assim, a arte é apenas um ponto de partida, uma linha guia, que nos acompanha na hora da viagem ao longo da vida. Mais importante ainda é não esquecer a ideia de que a arte não é reservada para apenas um grupo específico, pelo contrário, é uma companheira disponível para qualquer Homem que mantenha o seu coração aberto aos corações dos outros.” Inês Miguel
* Docente de português na Escola Secundária de Caldas das Taipas
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TRILHOS MARCAS QUE FICARAM E QUEREMOS PARTILHAR
“Este farol guiou-me ajudando-me a perceber e aceitar certas obras como arte. Desta forma, no futuro, as minhas escolhas serão mais ponderadas, contribuindo para a realização de alguns sonhos. Todas as sessões foram profícuas pois tanto me ajudaram a mim como àqueles que me rodeiam, uma vez que as experiências que recebi, levei-as para um retiro para partilhar com um grupo de jovens ao qual pertenço.” Cláudia Antunes
espelho da sociedade. Com este projeto senti-me fortalecida pois descobri outras formas de entender e ver o mundo e isso contribuiu para ficar mais consciente de mim, dos outros e dos meus sonhos.” Rita Mendes
“O projeto Arte como Farol contribuiu para o nosso crescimento tanto a nível cultural, como pessoal. A dinamizadora do projeto foi excelente pela forma como cativou e como interagiu connosco. Ela fez-nos sonhar enquanto “Este projeto ajudou-me a adquirir novos assistimos às sessões.” conhecimentos sobre o que é a arte. Tal Patrícia Afonso como o farol que com a sua forte luz alcança quilómetros de visão, a arte também “O projeto Arte como Farol foi muito proé assim penetra no interior humano e veitoso, ajudou-me a desenvolver novas ajuda-nos a descobrir o verdadeiro signiideias e conhecimentos sobre a Arte e ficado desta simples palavra que designa- tudo o que a envolve. Ajudou-me também mos como arte.” a compreender o conceito de arte alarganMarta Castro e Carlos Barbosa do-o a outras manifestações artísticas que, por vezes, me era dificil considerá“Arte como farol, assim como o farol prelas como tal.” tende iluminar o caminho dos barcos no Ana Sofia mar, este projeto iluminou todos aqueles que nele participaram. “Quando fomos convidados a participar Aprender a olhar a arte de vários pontos, no projeto Arte como Farol, a ideia inicial de forma a termos outra visão do mundo que me assomou, até à primeira sessão, ajuda-nos a perceber melhor a sociedade foi que seria algo monótono, onde nos iríe o mundo que nos rodeia, pois a arte é um amos sentar a ouvir. Mas, depressa com-
Grécia Rodríguez e Leonardo de Albuquerque* E alunos do Colégio Luso-Internacional de Braga
preendi que não conhecia a professora Magda, uma professora que, ao longo das sessões, nunca temeu mostrar o olhar de curiosidade e de atenção, enquanto falávamos, colocando-se no lugar de aluna também. As sessões eram puro companheirismo. Aquela aprendizagem fez-me lembrar a escola de Bahaus, onde cada um tinha o direito de aprender e ensinar. A música, as letras, as pinturas… tudo me ajudou a ter uma visão mais atenta do que se passa ao meu redor, uma motivação em criar algo, por mais pequeno que fosse. Assim, ainda que já voltasse sempre para casa com aquela ânsia de usar o que crio para mudar mentalidades, agora, após participar neste projeto, essa ideia ficou mais reforçada e espero nunca a vir a perder.” Ana Vaz Perante as palavras dos alunos, os professores só querem deixar aqui o testemunho da sua satisfação por terem contribuido para este crescimento pessoal, íntimo, mas também crítico, social e interventivo dos seus alunos, ao terem aderido à proposta apresentada pelo Serviço Educativo. Trabalhar convosco foi, sem dúvida, um privilégio.
UMA CAMINHADA DE ELEFANTES PARA ENTENDER A VIDA E A MORTE “As crianças têm um entendimento muito grande, são capazes de absorver informação e estímulo como um adulto pode fazer. Nós sentimos, junto delas, uma relação de igualdade. É uma troca de saberes”.
Viver a partida de um ser querido na família talvez seja o primeiro momento de contacto que uma criança possa ter com a morte. Justamente, desse mundo das sensações que gera um processo natural mais inesperado como a morte, tratou a A Caminhada dos Elefantes, uma proposta teatral que fala sobre o significado do início e fim da vida. Este espetáculo inspira-se na história verídica de um homem de nome Lawrence e de uma manada de elefantes da África do Sul. Quando ele morre, os elefantes fazem uma caminhada misteriosa a sua casa, para lhe prestarem uma última homenagem. Miguel Fragata e Inês Barahona foram os responsáveis por esta criação artística. Ambos colocaram como premissa que as crianças são seres humanos plenos, competentes e, por isso, é ne-
cessário abordar todos os temas que as afetam, inclusive a morte. “As crianças têm um entendimento muito grande, são capazes de absorver informação e estímulo como um adulto pode fazer. Nós sentimos, junto delas, uma relação de igualdade. É uma troca de saberes”. Assim sublinha Miguel, que teve a responsabilidade de uma atuação impecável frente às crianças, professores e pais que assistiram. Inês, criadora e encenadora, destacou que existem certos desafios que devem estar presentes como elementos de construção em toda a peça de qualidade para crianças: “É preciso que elas se sintam confortáveis e envolvidas, que tenham surpresas e momentos de participação. As crianças ajudam-nos com o seu pensamento singular, misturam coisas impossíveis de acordo com as regras da lógica”.
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NA LURA ESPAÇO DE TODOS PARA TODOS
Uma chuva de ideias surgiu das crianças que assistiram à peça em interpretações, opiniões e recomendações. A Mafalda [8 anos], cheia de metáforas, explicou a partir do seu olhar, o significado da vida e da morte, inspirada no simbolismo que a peça apresentou sobre o primeiro sopro ao nascer e a ausência dele ao morrer: “O ar é o espírito que entra na pele, é como nós estarmos a vestir um casaco, esse casaco está em nós e depois, quando o tiramos, já não tem vida, já não se mexe, pois não, fica ali e pronto!” É assim essa despedida, sensível e agradecida como a caminhada de uns elefantes, tão breve como um respiro, tão profunda como a sabedoria de uma criança. “Nós podemos perder alguém de que nós gostamos, mas vamos estar sempre ao lado dela. Como quando a minha bisavó acabou de morrer e fiquei triste... Imaginamos que ela ainda está viva. Ela estava doente e nós pudemos falar com ela por e-mail… mas como essas pessoas já morreram já não podemos mais fazer isso”. Sara Joana Soares, 7 anos “Eu tenho uma forma de recordar as pessoas – no coração – e pensar que estão sempre ao nosso lado. Assim estou sempre feliz ao lado de minhas amigas quando se vão embora”. Sofia Morales Ramos, 7 anos
“É assim: quando nós ficamos tristes, temos que ser fortes. Não vou chorar. Isso já passou, é passado. O futuro e o presente ainda vamos ou estamos a passar. Esperamos bem que seja bom. Quando nós estivermos tristes, vamos brincar alguma coisa e depois esquecemos. Brincamos, já não choramos, já não ficamos tristes, e assim podemos alegrarnos mais. Se alguém estiver a chorar, a chuva também vai chorar, porque está triste; mas se estiverem felizes, a chuva vai cair, o sol vai aparecer e, depois, é um arco-íris de alegria… e depois temos que escolher cores de alegria”. MarIa Inês Vale Durão, 8 anos “Para não ficar triste, ensinaram-me, nós sorrimos. Quando nós sorrimos não conseguimos pensar em coisas tristes”. Gonçalo Horta, 9 anos “Eu gostei quando eles ajudaram o bebéelefante. Fizeram uma nova amizade”. Matilde Monteiro, 9 anos “Quando uma pessoa nasce é como soprar uma sopa que tem a sua vida, recebe ar fresco, não é muito quente, não é muito fria, quando sugamos o ar para dentro parece que estamos a comer esparguete. Na peça, vimos que Miguel deitava ar sobre um boneco, era como se o ar fosse o espírito dele, que entrava no corpo, e quando chupava o ar estava a tirar, a sugar o espírito – e depois, quando morria, ficava de cabeça para abaixo, sem alma, não tinha vida, com os olhos
fechados, não movia as mãos”. Mafalda Coelho, 8 anos “Nós podemos transformar a tristeza em alegria se vamos à praia ou vais para o mar. Pensarmos em todos os momentos bons que vivemos com essas pessoas. Depois podemos acompanhar dando-nos abraços, convidar a nossa família para nós sentir-nos bem e nós sorrimos. E assim lembramos dessa pessoa e sabemos que ela está sempre no nosso coração. Na casa de meus avós, os domingos todos, toda a gente traz uma porta lápis, lápis de cor, lápis de carvão, borracha, fita-cola, papel e depois desenhamos todos nós a sorrir e colamos na parede com o nosso nome”. Miguel Carvalho Araújo, 7 anos “Quando alguém da minha família morre, o meu cão ou os meus avós, eu faço um desenho e ponho na porta do meu quarto e na parede, e, depois, não sei porquê, mas faço uma dança à volta das folhas dos desenhos deles… “ Manuel Afonso Pereira, 8 anos “A parte que eu mais gostei foi quando o Miguel disse que não diria palavras tristes, eram 5 palavras e nós 2 tínhamos que fazer um sinal para ele não dizer”. Maria João Tavares Martins, 8 anos “Ninguém da minha família já morreu, mas acho que eu vou memorizar os momentos que passei com eles e se calhar fico um pouco triste... Para não
Aceitam-se Colaborações, Sugestões, Ideias e Outras Coisas… para publicação neste Jornal servicoeducativo@aoficina.pt
ficar triste posso fazer desenhos, como disseram os meus colegas”. Maria Barros Rodrigues, 9 anos Os autores deste texto seguem a norma do acordo ortográfico de 1990.
* estudantes de Doutoramento em Estudos da Criança – Instituto da Educação da Universidade do Minho; coordenadores da página Conversas Gigantes e da Associação “Soy Niño, Sou Criança”
Espetáculo "A Caminhada dos Elefantes" © Paulo Pacheco
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CIAJG A Composição do Ar João Botelho | "Só acredito num deus que saiba dançar" Maria Gabriela Llansol | O encontro inesperado do diverso Exposições/ Visitas orientadas
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