A Caixa de Música
Ambiente para experiências e aprendizado através da arquitetura impregnada de som
Guilherme Antonio Sousa Macedo
Centro Universitário Senac
A Caixa de Música
Ambiente para experiências e aprendizado através da arquitetura impregnada de som
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac -Santo Amaro, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo Orientadora professora Dra. Myrna Nascimento.
São Paulo 2020
Elaborada pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo autor(a). Macedo, Guilherme Antonio Sousa A Caixa de Música / Guilherme Antonio Sousa Macedo - São Paulo (SP), 2020. 51 f.: il. color. Orientador(a): Myrna de Arruda Nascimento Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2020. 1. Música 2. Atmosfera 3. Madeira 4. Experimentação I. Nascimento, Myrna de Arruda (Orient.) II. Título
À minha família, amigos e todos aqueles que enriqueceram meu caminho ao longo desse projeto. Àqueles que me deram forças quando não soube mais procurar. Um forte abraço
SUMÁRIO
7 RESUMO 7 ABSTRACT 8 INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO 1: SOM E MEMÓRIA: A PERCEPÇÃO DAS ESPACIALIDADES 13 CAPÍTULO 2: O SOM DO ESPAÇO: A SENSAÇÃO DAS MATERIALIDADES 19 CAPÍTULO 3: SOM, MÚSICA E ARQUITETURA 23 3.1: PAVILHÃO SWISS SOUND 25 3.2: SHANGYIN OPERA HOUSE 27 3.3: CENTRO DE MÚSICA VICTOR MCMAHON 29 3.4: RAIN AMPLIFIER 30 3.5: PAVILHÃO OUTSIDE-IN 31 CAPÍTULO 4: A CAIXA DE MÚSICA 32 4.1: O PROGRAMA 35 4.2: A IMPLANTAÇÃO 38 4.3: O PROJETO
RESUMO
O som é uma forma sensorial de experimentação do espaço, muitas vezes ofuscada pelos estímulos dos outros sentidos. O intuito deste Trabalho de Conclusão de Curso é estudar experiências sonoras e entender como elas podem agregar valor arquitetônico, estabelecendo reciprocidade entre Arquitetura e música. O trabalho também pretende especular como a arquitetura modifica e amplia a percepção de sons e a relação sensorial que indivíduos (e o corpo humano, em particular) estabelecem com o espaço. A partir do estudo sobre acústica, suas implicações e técnicas de execução, e com base em estudos de caso que exploram a presença do som ou a possibilidade de produzi-lo em arquiteturas especialmente desenvolvidas para essa finalidade, desenvolveu-se a Caixa de Música, projeto arquitetônico que apresenta um ambiente sensorial propício para o estudo, prática e convívio com a música/ som, de forma experimental e lúdica. Palavras Chave: arquitetura, som, experimentação, ambiente sensorial, música
ABSTRACT
Sound is a sensory form of experimenting the space, often overshadowed by stimuli from other senses. The purpose of this Course Conclusion Work is to study sound experiences and understand how they can add architectural value, establishing reciprocity between Architecture and music. The work also aims to speculate how architecture modifies and expands the perceptions of sounds and the sensory relationship that individuals (and the human body, in particular) establish with space. To this end, a study was developed on acoustics, its implications and performance techniques, and, based on this knowledge, a survey of case studies was carried out that explore the presence of sound or the possibility of producing it in specially developed architectures for this purpose, The Music Box has been developed to present an architectural project that explores constructive techniques and ambiance resources, in order to conceive a sensorial environment conducive to the study, practice and living with music / sound in an experimental and playful way. Key words: architecture, sound, experimenting, sensorial environment, music.
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INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso apresenta um ambiente de modularidade simplificada que possa ser aplicado em diferentes lugares planos em terrenos disponíveis, a fim de levar o conhecimento e experiência da música para um maior número de pessoas, estimulando o desenvolvimento da sensibilidade musical, e ampliando o horizonte cultural dos usuários. O ambiente criado utiliza-se da arquitetura para enaltecer, elucidar e ensinar sobre o som, oferecendo também a experiência de lidar com o caráter efêmero do espaço arquitetônico. Para tanto, buscamos entender como se dá a relação da propagação de som e suas variações de acordo com a modelagem do espaço arquitetônico, e a expressão do som na exploração sensorial obtida através da composição de atmosferas, que constituem o local. O produto final proposto é um espaço concreto dedicado a nos fazer experimentar e conhecer a relação da música, espaço e corpo. Para sua definição exploramos diferentes materiais e ambientações do espaço, através da sensação extraída das materialidades e da percepção das espacialidades. A partir destes objetivos, justificamos esse projeto afirmando a importância do desenvolvimento da cognição infantil a partir de experiências sonoras e lúdicas, e da sensibilidade musical para todos indivíduos. Isso se dá na Caixa de Música a partir de experiências tangíveis, possíveis de serem vivenciadas por indivíduos de várias faixas etárias, em convívio com crianças. Como é sabido que a música é considerada uma linguagem universal, partimos da exploração de recursos sonoros, produzidos pelo espaço, e pela manipulação de objetos e estruturas, para estimular a interação com os ambientes da Caixa de Música, e assim, construir um espaço voltado para educação musical. Como metodologia, adotamos a pesquisa bibliográfica em fontes sobre acústica, propagação de som e suas tecnologias, além de estudos sobre fenomenologia e o conceito de atmosfera elaborado pelo arquiteto Peter Zumthor, e também defendido por Juhani Pallasmaa, escolhido como base para a concepção futura do projeto. Também foi desenvolvida pesquisa exploratória em estudos de caso que exploram a presença do som ou a possibilidade de produzi-lo em arquiteturas, e ambientes específicos, especialmente desenvolvidas para essa finalidade. Assim, este TCC está organizado em quatro capítulos. O primeiro trata da relação entre o som e a influência deste estímulo sonoro na percepção das espacialidades, dando ênfase ao caráter primário das experiências humanas em contato com a manifestação sonora ou sua ausência. No segundo capítulo, a partir da atmosfera identificada por Zumthor como “O som do espaço”, estudamos as reflexões do arquiteto suíço, que incluem a percepção da temperatura e das materialidades exploradas na arquitetura como estímulos “táteis”, que interferem na experiência do corpo humano quando inserido no espaço construído ( dentro, transitando pelo seu interior, e fora dele, estabelecendo o diálogo entre interior e exterior). No capítulo três, apresentamos os estudos de caso e projetos que se relacionam direta e indiretamente com o tema proposto neste trabalho, com o intuito de identificar inspirações e possibilidades de ampliação do repertório conceitual e material, que será utilizado no projeto desejado. O capítulo quatro apresenta a Caixa de Música desde sua concepção até sua conclusão como projeto. Concluímos o TCC com as considerações finais, a apresentação da lista de imagens e das referências utilizadas na pesquisa. 8
CAPÍTULO 1 SOM E MEMÓRIA: A PERCEPÇÃO DAS ESPACIALIDADES
SOM E MEMÓRIA: A PERCEPÇÃO DAS ESPACIALIDADES O poder da música vai além da transmissão da mensagem sonora. As sensações trazidas por ela são capazes de conectar, reativar lembranças e lugares em uma única sentença musical. Pequenos gestos imperceptíveis à mente momentânea, que dão liberdade para um florescer de ideias e memórias infindáveis. A música é capaz de explorar, acender, instigar memórias. Sentimentos indescritíveis vêm à tona, guiados pela melodia. Uma ordem de racionalidade quase matemática, milimetricamente disposta e organizada, é capaz de aflorar as sensações mais impalpáveis e abstratas; é capaz de nos levar a alcançar o âmago do mais amargo e desarmar as mais fortes barreiras. Como afirma Juhani Pallasmaa, arquiteto finlandes e teórico de arquitetura em seu livro Essências (2018): “As percepções dos sentidos interagem com a memória e a imaginação para constituir uma experiência total integrada com distintas conexões e significados” (PALLASMAA 2018) As percepções são meros registros de estímulos sem significado que absorvemos através dos sentidos, assim através da memória atribuímos contextualização às percepções, criando narrativas e carregando de sentimento os estímulos que evocam lembranças. É fascinante poder se deparar com lembranças das quais desconhecíamos possuir, saber que nossa consciência do som vai muito além da expressão superficial, e que há muito mais a ser explorado não longe, mas aqui, dentro de cada um de nós. Usar dos sons como guias, que nos mostram o caminho do que devemos sentir sem dizer nenhuma palavra. Algo que toca, ecoa ou ressoa lá dentro, que sabe algo que não sabemos, instintivo e primitivo. (Figura 1)
Fig. 1 - A expressão sonora para demonstrar a emoção do contato com a primeira chuva, por uma criança: espontaneidade e felicidade. (Fonte:http://www.virgula.com. br/inacreditavel/veja-video-de-reacao-de-menininha-ao-ver-chuva-pela-primeira-vez/)
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Kayden e a Chuva A reação mais instintiva de alguém a uma experiência inédita pode ser observada na propaganda da marca de eletrônicos Apple, ao mostrar uma menina experimentando a “chuva”, pela primeira vez (Fig. 1). Embora o foco da propaganda seja o celular, que filma esse evento genuíno, com qualidade e precisão, para imortalizá-lo; e embora a novidade para a criança seja mais o contato com a água caindo do céu, do que com o som gerado pelo fenômeno, o exemplo serve para nos mostrar como o som da reação espontânea e natural da menina nos sensibiliza e transforma, enquanto somos privilegiados por poder assistir à sua reação com emoção. A audição foi essencial para evolução e perpetuação da raça humana, funcionando como ferramenta para identificar perigo ou buscar objetivos. Anos de evolução e aperfeiçoamento foram necessários para que pudéssemos entender as variações de sons e como melhor reagir. Um exemplo da sensibilidade auditiva humana são pessoas que mesmo sem estudo musical conseguem identificar uma nota errada em uma escala pentatônica, isso mostra como o cérebro se adapta a padrões com facilidade e usa a audição para reconhecê los. O som é um elemento chave para a percepção de espacialidades; através das reverberações sonoras em um ambiente é possível mensurá-lo, conhecer seu formato irregular ou neutro. Estudos feitos pela Universidade de Durham mostram como alguns deficientes visuais conseguiram desenvolver a técnica de Ecolocalização. Segundo esta técnica, através de sons emitidos pela boca os cegos conseguem identificar objetos, suas distâncias e até mesmo formatos. Através de treinamento, simplesmente, já se faz possível para o cérebro humano identificar as mudanças mais sutis de frequência. Somos sensibilizados por som desde o início de nossas vidas. O som nos faz ver. Os sons emitidos e refletidos pelo ambiente são capazes de moldar a atmosfera do espaço, transformar um restaurante aconchegante em uma algazarra de bater de talheres contra a louça e burburinhos de conversas cruzadas. (Figura 2)
Fig. 2 - Restaurantes gregos são conhecidos pela dança após a quebra de pratos, como símbolo de alegria e fartura (Fonte: https://vimviecurti. wordpress.com/2011/08/26/ quebrando-pratos-opaa)
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Ou o silêncio, que antevê a crescente vibração do contrabaixo que se engrandece, apoiado às paredes do teatro, inundando o ambiente de emoção: a ausência de som também é audível, pois reverbera tensão. (Figura 3)
Fig. 3 - Yo-yo Ma solo no Odeon do Atticus Herodes, em apresentação solo. (Fonte : https://whyathens. com/events/yo-yo-ma-odeon-athens)
A sonoridade do ambiente está diretamente ligada à percepção sensorial que temos do espaço, assim como uma música pode alterar seu humor, ou a sua expectativa do lugar visitado. Se no ambiente uma conversa é impossibilitada pelo som, isso pode tornar a experiência, e o contato com o outro, frustrante. Além disso, a materialidade empregada na arquitetura também pode influenciar a percepção das ondas sonoras e sua repercussão, dado explorado por vários arquitetos , a exemplo de Peter Zumthor, como apresentamos no próximo capítulo.
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CAPÍTULO 2 O SOM DO ESPAÇO: A SENSAÇÃO DAS MATERIALIDADES
O SOM DO ESPAÇO: A SENSAÇÃO DAS MATERIALIDADES Peter Zumthor, arquiteto suíço, prêmio Pritzker em 2009, em sua obra “Atmosferas” (2006) dedica atenção a materialidade da arquitetura, refletindo sobre como ela interfere no “som do lugar”. Para o arquiteto, essa relação entre os materiais empregados na construção do edifício arquitetônico colabora na produção de significados que se processa a partir da vivência da arquitetura cuja concepção enfatiza as sensações sentidas por aqueles que a frequentam. Ao discorrer sobre a experiência de estar em uma praça, Zumthor nos apresenta um ótimo exemplo destas sensações: “[...]Estou ali sentado, uma praça ao sol, uma arcada grande, longa, alta e bonita ao sol. A praça como panorama à minha frente. A parede do café nas minhas costas. A densidade certa de pessoas. Um mercado de flores. Sol. Onze horas. A parede do outro lado da praça na sombra, em tons agradavelmente azuis. Sons maravilhosos: conversas próximas, passos na praça, pedra, pássaros, um leve murmúrio da multidão, sem carros, sem barulho de motores, de vez em quando ruídos de obras ao longe”.(ZUMTHOR, 2003). Com esse trecho o autor elucida como a atmosfera do lugar é composta de um aglomerado de nuances como cada detalhe compõe a narrativa do espaço: como a noção de horário descreve a possível iluminação e a temperatura do lugar, através da posição do sol; como as flores e as sombras ditam a tonalidade da sensação de luminância do momento; como o som do caminhar revela a materialidade do ambiente, seja graças à grama ou à pedra que vibra com os passos, seja a audição do cantar dos pássaros que evocam natureza ao ambiente, ou os ruídos de construções que trazem a brutalidade do impacto, para o equilíbrio do espaço. Atmosfera, seria então, para o autor, “[...]um ambiente, uma disposição do espaço construído que comunica com os observadores, habitantes, visitantes e, também, com a vizinhança, que os contagia.” (ZUMTHOR, 2003) . “A atmosfera comunica com nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver.” (ZUMTHOR 2003)
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Pallasmaa também aborda a complexibilidade do que compõe as atmosferas. “A experiência atmosférica [...] é uma experiência relacional, não uma “coisa” ou um objeto definível, nomeável, mensurável. Ela também advém de relações e interações de inúmeros fatores irreconciliáveis [...] que juntos constituem a “atmosfera” ou, na verdade, a experiência que temos dela.” (PALLASMAA 2018) A percepção humana é, então, a operação principal utilizada para estabelecer essa conexão com o lugar, como se a atmosfera se comunicasse com nossa percepção emocional através de um contato imediato, seduzindo-nos ou nos colocando em posição de aversão imediata. Existe algo em nós que comunica imediatamente conosco. Compreensão imediata, ligação emocional imediata, recusa imediata. [...] A percepção emocional conhecemos por exemplo da música. O primeiro andamento daquela sonata para violoncelo de Brahms, a entrada do violoncelo - e em dois segundos surge aquele sentimento! (Sonata n°2 em F maior para violoncelo e piano). (ZUMTHOR 2003)
A música é repleta de construções meticulosas feitas para despertar emoções, manipular sentimentos e florir sensações, ou seja, é capaz de ditar nossa postura para com o ambiente. “O espaço em redor não me intimida, mas torna-me de alguma forma maior e deixa-me respirar mais livremente.” (ZUMTHOR, 2013)
Para Zumthor, a música é um dos estímulos que nossa percepção emocional identifica de forma inconfundível, como esclarece André Boucourechliev ao comentar a gramática musical do compositor Igor Stravinsky: escala diatônica radical, escalada rítmica poderosa e diferenciada, evidência da linha melódica, clareza e rudeza das harmonias, um radiar cortante das tonalidade, por fim a simplicidade e transparência do tecido musical e a solidez da construção. (BOUCOURECHLIEV apud ZUMTHOR, 2003, p.12)
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O arquiteto é o maestro do espaço, que capta a melodia para interpretar o que deve transmitir para a audiência. A forma com a qual decide criar o ambiente será o amplificador do espaço, assim como o corpo de um violão é apenas a caixa por onde as cordas transmitirão a mensagem, o lugar é a caixa que transmitirá o som da vida que ali habitará. (Figura 4)
Fig. 4: A capela Saint Benedict de Zumthor, cuja imagem remete a instrumentos musicais. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/ br/800382/classicos-da-arquitetura-capela-saint-benedict-peter-zumthor/5216214de8e44e7a1800012a-ad-classics-saint-benedict-chapel-peter-zumthor-image)
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Capela Saint Benedict A experiência sonora da visita a Capela Saint Benedict, de Zumthor, pode nos inspirar nesta reflexão. Materiais naturais e rústicos, dimensões singelas, simplicidade e implantação singular. O ranger do piso de madeira ecoa quebrando o silêncio que enaltece a calmaria do lugar. A capela repercute o som do corpo visitante. “O som do espaço. Ouçam! Cada espaço funciona com um instrumento grande, coleciona, amplia e transmite os sons. Isso tem a ver com a sua forma, com a superfície dos materiais e como a maneira como estes estão fixos” (ZUMTHOR, 2003) A consonância dos materiais é decisiva na criação de atmosferas da qual demanda muita sensibilidade para a escolha daqueles que comporão o edifício. Os materiais ditam a temperatura física e psíquica, como o ambiente retém e dissipa calor, ou se o espaço se caracteriza sombrio ou cheio de vida, tudo isso influenciado pelas experiências sensoriais como o que é visto ou o que é tocado mesmo com os pés. “[...] pensar o edifício como uma massa de sombras e a seguir, como num processo de escavação, colocar luzes e deixar a luminosidade infiltrar-se” (ZUMTHOR, 2003) Cada materialidade e superfície oferece sua própria linguagem, considerando que todo material é constituído de matéria única e influenciado pelo tempo e suas condições físicas que ditam sua forma final. Criando uma reflexão temporal e histórica do processo e valor atribuído a matéria. Juhani Pallasmaa, arquiteto finlandes e teórico de arquitetura, em seu livro Essências (2018) exemplifica os valores intrínsecos que a matéria possui. “A pedra nos fala de suas distantes origens geológicas, sua durabilidade e permanência. O tijolo nos faz pensar [...] nas tradições atemporais da construção. O Bronze evoca [...] a passagem do tempo indicada por sua pátina. A Madeira fala de suas duas existências e escalas temporais: sua primeira vida, como uma árvore que crescia, e a segunda, como um artefato humano esculpido pela mão afetuosa do carpinteiro ou marceneiro.” (PALLASMAA 2018).
O edifício funciona como invólucro dos objetos que vai receber, a fachada, sendo imponente, mostra o poder que ali habita ao mesmo tempo em que mantém o mistério do seu interior. Guarda os objetos que definirão o teor e a funcionalidade desse grande organismo, assim como dita a forma que as pessoas se relacionam com o espaço e hão de compor a atmosfera que age como alma do edifício. 17
Para Zumthor, a tarefa mais nobre da arquitetura é ela ser uma arte utilizável, porém sua beleza está no encontro e na harmonia dos elementos que a compõem: “[...] Formam um todo. O lugar, a utilização e a forma. A forma remete para o lugar, o lugar é este e a utilização é esta.” (ZUMTHOR 2003). Zumthor , no entanto, não é o único arquiteto que explora ou utiliza referências sonoras na concepção de espaços arquitetônicos. No capítulo seguinte apresentamos alguns exemplos, que serão comentados para ampliar nosso repertório de possibilidades e inspirações.
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CAPÍTULO 3 SOM, MÚSICA E ARQUITETURA
A relação entre som e arquitetura, ou melhor, entre música e arquitetura pode ser encontrada em alguns projetos contemporâneos que servem de referência para este Trabalho de Conclusão de Curso. “[...] Nisto Wolfgang Rihm e eu somos da mesma opinião, a arquitetura é uma arte temporal, como a música o é. [...] Achamos muito importante criar um certo ‘vaguear livre’, não conduzir mas seduzir.” (ZUMTHOR, 2003) Victorian Music Box
Fig. 6 Fachada principal revelando novas formas que surgem ao anoitecer
Fig.5 A luz interior transpassando pelos furos na fachada lateral
Fig. 8 Piano de cauda da família usado para recitais
Fig. 7 Escada para segundo pavimento, onde podemos observar o contraste de materialidades interior e exterior
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Fig. 9 Detalhe do tecido perfurado que cria as seções de transparência de luz, também utilizado como tela de chuva
Fig. 10 Padrão de furos criados a partir dos intervalos e notas da partitura
Fig. 5, 6, 7, 8, 9 e 10; imagens do projeto Victorian Music Box, CCY, 2019, cuja sedução ao olhar e ao tato se processa do exterior para o interior, graças à textura da fachada e sua inspiração musical. (Fonte: https://www.architectmagazine.com/project-gallery/victorian-music-box_1_o)
A casa “Victorian Music Box”, reforma executada pelo escritório CCY Architects, em 2019, foi premiada com menção honrosa no concurso Residential Architect Awards, com destaque a sua fachada, cujo efeito de luz e sombra dá relevância à solução. Os arquitetos incorporaram a música “Nocturne in E-Flat Major, Op.9, Nº 2” de Chopin - a peça de música favorita do cliente - na fachada de uma pousada independente a uma residência, desenvolvendo um tecido perfurado (Fig. 9), elaborado com inspiração na obra de Chopin (Fig. 6 e Fig. 10). O revestimento envolve as três faces da estrutura, vizinha a uma casa vitoriana dos anos 1880 em Aspen, Colorado. O pequeno edifício Music Box guarda o piano de cauda da família e é usado para recitais de música quando não é ocupado pelos hóspedes. O tecido é feito do revestimento de 10 cm de largura foi perfurado com padrão específico, e que resulta da divisão da peça do músico em notas e acordes individuais, aos quais foi atribuída uma variável que correspondia ao tamanho e número de furos de cada grupo. O tamanho do furo indica a afinação e o número de furos está correlacionado à duração da nota. Juntos, esses orifícios formam o padrão de perfuração que transforma a música em forma gráfica. O revestimento é utilizado como tela de chuva e corre continuamente sobre a fachada [...] (tradução livre do autor) 1
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Fonte da informação: https://www.architectmagazine.com/project-gallery/victorian-music-box_1_o
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O revestimento ora fica sobre uma parede sólida, ora sobre uma janela transparente. Quando coincide com um painel envidraçado ele produz sombreamento solar para o interior durante o dia; à noite, a luz interior sai pelos vidros (Fig. 5) e torna visível o padrão da tela, gerando um brilho particular e especial para o volume. (Fig. 7 e 9) [...] O Music Box parece ser o que Johann Wolfgang von Goethe tinha em mente quando chamou a arquitetura de “música congelada”: se o filósofo alemão do século 19 pudesse visitar Aspen, com um piano suficientemente grande, a metáfora do Music Box poderia se tornar realidade. (tradução livre do autor)2 A seguir, comentam-se os projetos selecionados como referências, através de um breve contexto sobre sua localização, autoria e data de construção, além da função ou programa a que se destina, e depois destaca-se alguns itens que são de interesse para o futuro projeto que será desenvolvido nesta temática.
2 (idem)
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3.1 Pavilhão Swiss Sound Criado para a Exposição Universal em Hannover na Alemanha de 2000 o pavilhão que representa a Suíça foi projetado pelo arquiteto Peter Zumthor e tinha como objetivo apresentar aspectos da cultura suíça através da arquitetura e dos sentidos. O edifício construído principalmente de madeira de pinheiros silvestres mantém sua estrutura através de encaixes e fricção da própria madeira criando uma característica de materialidade e odor explícitos.(Fig. 11) O vão criado pelas ripas de madeira permite que o som permeie os espaços seduzindo o vaguear dos visitantes que criam suas próprias experiências de atmosferas baseado nos caminhos que lhe convém seguir. Por ser um ambiente semi aberto o exterior exerce muita influência na atmosfera mutável do espaço.
Fig. 11 Pavilhão Swiss Sound, Zumthor, 2000, onde podemos observar o ritmo das texturas visuais e relevos gerados pela
Fig. 12 Pavilhão Swiss Sound, Zumthor, 2000, onde a permeabilidade de luz mostra a qualidade de espaço mutável.
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A simplicidade e delicadeza do pavilhão proporcionam um ambiente de imersão sonora e tátil. (Fig. 12) Isso se deve a materialidade e a perspicácia de construção que se apropriam dos vãos criados e sua dimensão para uma dispersão sonora suave com a baixa reverberação da madeira. (Fig. 13, 14, 15). Como comenta o arquiteto Lance Hosey em seu livro A Forma do Verde: Estética, Ecologia e Design (2012), Zumthor “[...] brinca com ambas as temperaturas térmica e acústica. A estrutura é um enorme armário de lariço e pinho, quente tanto para a mão quanto para os ouvidos... A estrutura respira e canta com belos pulmões de madeira.” (HOSEY, 2012, p.70)
Fig. 14 Esquema de molas e tensores de encaixe do Pavilhão Swiss Sound, Zumthor, 2000
Fig. 13 Planta Pavilhão Swiss Sound, Zumthor, 1999
Fig. 15 Pavilhão Swiss Sound, Zumthor, 2000, onde músicos fizeram apresentações para experimentar a permeabilidade do ambiente
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3.2 Shangyin Opera House O arquiteto francês Christian de Portzamparc é o responsável pelo projeto do conservatório em Xangai construído em 2019. O teatro para ópera multifuncional é construído em pavilhões que abrigam salas de ensaio para orquestra, um auditório e espaço comum para práticas musicais públicas. Externamente a textura e a cor do edifício fazem referência a tijolos, que, como na música, atribuem ao edifício valor rítmico e organizacional, além da familiaridade e conforto do ambiente. (Fig. 16)
Fig. 16 Fachada Shangyin Opera House, Portzamparc, 2019, utilizando a estética de tijolos
O projeto acústico possui consultoria grupo Xu Acoustique, especializado em tratamento acústico de projetos arquitetônicos, o que acrescentou ao projeto um conhecimento técnico através da exploração de experiências sobre tecnologias de engenharia sonora, e um grande entendimento sobre arquitetura e música. 25
A partir de um estudo aprofundado para a criação dos desenhos das placas de refração e absorção (Fig. 18 a 20) , assim como seus posicionamentos definidos por softwares para melhor aproveitamento de ondas sonoras, absorvedores de impacto na estrutura para diminuir vibrações, e testes de materialidade, sendo assim possível alcançar maior eficiência no desempenho do espaço construído. Como resultado obteve-se um projeto elaborado e de qualidade acústica excepcional. A sala de concertos (Fig 17) mantém o formato tradicional clássico em “U” já que para Portzamparc o auditório é um instrumento em si respeitando suas qualidades acústicas, enaltecendo assim a acústica, favorável à execução de repertórios românticos e clássicos.
Fig. 19 - Absorvedores de impacto do subsolo,Portzamparc, 2019
Fig. 17 - Sala de concertos, Portzamparc, 2019
Fig. 20 – Painéis de refração sonora da sala de ensaio
Fig. 18 - Painéis de refração do hall de entrada, Portzamparc, 2019
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3.3 Centro de Música Victor Mcmahon Um ambiente dedicado ao aprendizado e experiências musicais o Centro de Música Victor McMahon (2014) faz parte da faculdade e colégio St. Kevin localizado em Toorak na Austrália; o estúdio responsável pelo projeto é Baldasso Cortese Architects que executam com propriedade a técnica material rica em simbologia e tratamento acústico. Os tons escuros do exterior do edifício (Fig 21) resultados pelas placas de zinco trazem a tonalidade e forma robusta do Monastério de Glendalough (séc. X), fundado na Irlanda por St. Kevin, construído em granito; a paleta também se relaciona ao ginásio esportivo vizinho, expandindo a possibilidade do vaguear dos estudantes pelo espaço, acolhidos pela atmosfera que compõem a faculdade. O projeto homenageia o fundador do Monastério através de uma alusão as janelas de fendas que compunham a fachada original, elaborando um mosaico dourado e preto na parede do oratório (Fig 22), que na manhã de 3 de junho (dia de St.Kevin) é iluminado por um feixe de luz direcionado pela janela em fenda lateral.
Fig. 21 - Fachada principal que expõe a tonalidade adotada pelo edifício
Fig. 22 - Oratório revestido em pedra azulada para criar sensação monástica
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Em contraste com a rudeza material externa, o interior do edifício é composto por paredes e forros revestidos de madeira clara (como um instrumento musical), de diferentes texturas, que são responsáveis pelo conforto térmico e acústico, portanto dando expansão da prática musical além das salas de ensaio (Fig 23 , 25 e 26) . A rítmica de painéis e tons internos é ditada por placas pretas, intercaladas às madeiras, de padronagem em bloco fazendo referência a fachada externa. O tratamento acústico é elaborado para todo o edifício, não apenas as salas de concerto, propiciando ambientes para os alunos praticarem e entenderem que a música tem seu espaço inclusive em lugares que não foram planejados para receber essas manifestações artísticas. O cuidado acústico é também importante na relação do prédio com seu entorno, sendo elaborado para que não haja vazamento de som através das janelas (Fig 24), que possuem lâminas triplas de vidros para alcançar melhor eficiência acústica e térmica.
Fig. 23 – Hall de entrada, onde podemos observar como os alunos praticando graças a acústica favorável de todo o edifício
Fig. 24 – Fachada lateral
Fig.25 – Guarda volumes da entrada principa
Fig.26 – Sala de ensaios
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3.4 Rain Amplifier A escultura e palco de cedro Rain Amplifier (2020) foi montada em Anzegem na Bélgica pelo escritório Matthijs la Roi Architects como parte da trilha artística ‘Contrei Live’ junto à outras 16 intervenções que convidam à reflexão da importância da água na paisagem. A construção utiliza o formato de concha para amplificar o som da chuva que goteja sobre a fonte de água (Fig. 29), a estrutura de cedro apresenta ótima resistência a umidade e capacidade acústica.
Fig, 27 - Fachada lateral e traseira
Fig. 29 - Palco e filetes de captação hídrica
Fig. 28 - Fachada principal com vista para o bosque que apoia a amplificação sonora
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3.5 Pavilhão Outside-in Inaugurado também em 2020 o Pavilhão Outside-in projetado pelo escritório Valerie Schweitzer Architects foi construído aos fundos de uma casa, com o intuito de conectar a família com a natureza mantendo o conforto de um ambiente interno. A estrutura suspensa remete as árvores e silos de fazendas da região, com feixes de madeiras presos por um anel de aço (Fig. 31), os vãos criam uma relação clara com o entorno mantendo o espaço arejado ao mesmo tempo que protegidos.
Fig. 30 - Estrutura suspensa em conjunto com as árvores
Fig. 31 - Vista interna evidenciando a estrutura
A partir destas referências e estudos de caso, definimos o programa do edifício e aspectos particulares que dizem respeito a sua implantação e desenvolvimento enquanto espaço construído. Estão dados estão tratados no próximo capítulo, assim como o próprio projeto, e seus detalhamentos.
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CAPÍTULO 4 A CAIXA DE MÚSICA
Para a definição do programa partimos da reflexão sobre quais experiências musicais poderiam ser vivenciadas na caixa (edifício). Esse dado foi fundamental para definirmos ambientes e dimensões, antes de elaborarmos o programa propriamente dito. Assim, surge a Caixa de Música com o intuito de criar um ambiente lúdico, que se dispõe como experiência para desenvolver a sensibilidade humana em interação com espaços, através da forma e do som.
4.1 O Programa O edifício é dividido em cinco ambientes principais dispostos de forma linear fazendo alusão à progressão e tempo musical. Através de pesquisas e análise de fornecedores para o projeto, buscou-se conciliar o melhor tipo de material para desenvolvimento acústico com produção construtiva simples e sustentável. O material escolhido foi a madeira de cedro (Cedrela fissilis), muito usada para a construção de instrumentos (violão, baixo, violino, atabaques, pandeiros etc.) devido à sua maleabilidade, facilitando trabalhar os formatos que melhor reproduzem som. O cedro foi também utilizado por permitir obter um timbre mais grave e aveludado, além de conferir uma boa sustentação de frequências, fazendo as notas perdurarem por mais tempo. Muito usado também em construção civil, o cedro nem sempre agrada esteticamente por sua cor avermelhada e superfície aveludada, o que, no caso deste projeto, é uma virtude, tendo em vista que a própria textura da madeira funciona como tratamento sonoro na dissipação e absorção de ondas, além da cor propor ambientes mais aconchegantes. Devido a suas diversas aplicações e condições climáticas favoráveis, o cedro é abundante na maioria das florestas tropicais principalmente na região sul do país, tornando-se um material muito usado para reflorestamento, logo a produção dessa madeira possui um impacto ambiental baixo. Sua densidade alta concede boa resistência à umidade a todo objeto arquitetônico.
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A volumetria e dimensionamento do projeto foi proposta através de estudos para que sua implantação pudesse ser adequada à outros ambientes, desta forma, transformando o edifício em um instrumento musical que possa ser montado em outras localidades que suportem as dimensões do projeto. Sua formalidade resulta assim em formas geométricas básicas que apoiam a dissipação de ondas sonoras emitidas em cada ambiente.
Fig. 34 - Primeiro esboço sala de cordas
Fig. 32 - Croqui primeira planta
Fig. 35 - Especulação da Sala tambor
Fig. 36 - Estudo de texturas e disposição
Fig. 33 - Croqui de vista geral
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A fachada principal e entrada do edifício dá-se através do espaço teatro concha, um ambiente para apresentações musicais que ajuda a amplificar o som favorecendo concertos e apresentações. A entrada é feita diretamente na concha, com o objetivo de instigar a curiosidade e busca pela origem do som, criando a sensação de adentrar um instrumento. Como referência de construção e dimensionamento do teatro concha, foi estudado a obra Rain Amplifier do escritório Matthijs la Roi Architects, que utilizam o formato de concha para ampliar o som, além de utilizarem apenas cedro como matéria.
Fig. 37 - Croqui do teatro concha
Uma porta de dupla camada separa o teatro da sala de privação sonora, um ambiente para reflexão com dimensões delgadas gerando maior conforto e intimidade com o espaço. A sala evidencia o contraste da acústica de espaços, transicionando de um amplificador para um abafador sonoro, dessa forma também exemplificando para os visitantes a importância das formas arquitetônicas, suas implicações no som ambiente e como o corpo interfere no espaço. Outra porta de camada dupla ao lado oposto da entrada leva até a sala de percussão, um ambiente circular com feixes verticais de madeira que auxiliam na propagação de ondas sonoras circulares. Ao centro da sala fica uma mesa de bateria de canos de pvc (Fig. 38) com variações de tamanhos permitindo alcançar as notas desejadas através da relação de frequências e comprimento (Fig. 39), junto à baquetas de borracha. Através de uma escadaria engastada ao lado de fora da sala é possível chegar até a cobertura onde parte do piso é feito de membranas sintéticas de percussão que ecoam para o interior da sala e de volta para fora, exemplificando a diferença sonora de ambientes internos e externos, além do auxílio da forma do espaço na emissão de sons. 34
Fig. 39 - Proporção frequência por tamanho
Fig. 38 - Bateria de canos de pvc Fig. 40 - Tabela de notas musicais por frequência e tamanho
Entre a sala de percussão e o quarto de cordas fica o corredor de órgão metálico, feito de feixes de madeira verticais vazados, recuado em relação aos outros ambientes com paredes côncavas. Aproveitando o formato externo do edifício para captação de ventos que vibram oito tubos metálicos de órgão, sendo quatro de cada lado do corredor, criando uma escala de notas oitavas. O corredor gera a sensação de vibração trazida pelo metal com a sensibilidade dos ventos fazendo alusão as frequências musicais extremas opostas e as possibilidades de emoções.
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Na extremidade oposta ao teatro concha e subsequente ao corredor de órgão metálico fica a sala de cordas. Um tensionador ao chão, logo à frente da janela redonda, permite regular a tensão de cordas de harpa fixadas no teto. O som emitido pelas cordas tocadas pelos visitantes desviam na parede chanfrada e refletem na parede oposta direcionando a saída de som para a janela circular. A vibração e estética do ambiente busca ensinar como a vibração das cordas precisa de uma caixa de ressonância para soar melhor, além do sentimento de estar dentro de um violão. O corredor de órgão metálico auxilia o fluxo de ar e dispersão das ondas sonoras através da janela principal.
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4.2 A Implantação Existem várias manifestações arquitetônicas que enaltecem a música em São Paulo, porém o Theatro Municipal (1911) está entre as mais icônicas do país, tanto por seu valor acústico quanto pela construção imbuída de sentimentalismo ou as personalidades que ali tocaram. Separado pela praça Ramos de Azevedo está o Vale do Anhangabaú, também repleto de valor histórico para a cidade, que gerou muitas discussões sobre seu novo projeto de urbanização inaugurado em 2020. A atual formatação do Vale abre possibilidades para eventos e novas disposições do espaço, fazendo-se propício para a implantação deste projeto. A música está terminantemente ligada ao tempo, logo também conectada com a história, repleta de sentimentos e simbolismos assim como os espaços que permeia. O terreno plano do Vale do Anhangabaú é um exemplo da possibilidade de aplicação do projeto em locais diferentes, sendo necessário apenas um local plano que acomode as dimensões totais do projeto, remetendo ao caráter itinerante do qual o projeto se originou. A implantação é feita à frente do Viaduto do Chá em paralelo com o Theatro Municipal.
Fig. 41 - Theatro Municipal, Praça Ramos de Azevedo e Vale do Anhangabaú
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4.3 O Projeto Este capítulo apresenta o projeto proposto, resultante dos estudos de caso feitos, das análises de leitura e reflexão baseado nas discussões levantadas ao longo do desenvolvimento.
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Implantação
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Planta Baixa
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Fig. 42 - Imagem 3D visĂŁo geral
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Fig. 43 - Imagem 3D teatro concha
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Fig. 44 - Imagem 3D vista sala de cordas
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Fig. 45- Imagem 3D escada para membrana
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Fig. 46 - Imagem 3D vista lateral
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CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta apresentada para este Trabalho de Conclusão de Curso surgiu através das experiências com a música e a reflexão sobre o som; analisando como os espaços e pessoas são influenciados por estímulos sonoros. Através de pesquisas e leituras o pensamento da composição de atmosferas de Zumthor e Pallasmaa é introduzido, abrangendo a fenomenologia da composição do espaço constituído por um conjunto de nuances que moldam a presença que o espaço emana. As sensações humanas são a forma como nos relacionamos com as coisas, como visto em ‘Kayden e a Chuva’ a criança usa do tato, em uma experiência única, para entender como o espaço a sua volta é mutável; também na ‘Victorian Music Box’ é possível observar como uma obra musical e uma experiência sonora podem ditar padrões estéticos e inspirações artísticas. Com a possibilidade de projetar um espaço e moldar sua propensão à constituição de atmosferas, o projeto elaborado cria um ambiente lúdico rico em possibilidades de experiências, que ajudam a compreender como a propagação de som funciona e como podemos utilizar elementos arquitetônicos para que ampliem a relação humana com o lugar. A Caixa de Música, é destinada a elevar a percepção da propagação de ondas sonoras, compreender as diferentes frequências, relacionar os tons e apreciar suas ausências; entender os sons emitidos pelas estruturas tanto quanto instrumentos musicais e a confluência das artes da música e arquitetura. Esse projeto foi desenvolvido durante uma pandemia global o que alterou todas as perspectivas e planejamentos que possuíamos para realizar o trabalho, mas não obstante forçou perspectivas novas, formas de resolver problemas e métodos alternativos de estudo. Aprendi muito sobre mim no desenvolvimento do projeto, entendi que a arquitetura está mais perto das minhas mãos, aprendi também a incorporá-la à diversas filosofias de vida e a ter um olhar mais sensível para com o mundo. Apesar dos percalços e empecilhos concluo o projeto com orgulho do que alcancei e com anseio pelo futuro que há de nos fortalecer.
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LISTA DE IMAGENS Figura 1 - Imagem retirada de comercial - http://www.virgula.com.br/inacreditavel/veja-video-de-reacao-de-menininha-aover-chuva-pela-primeira-vez/ Figura 2 - Restaurante em Buenos Aires - https://vimviecurti.wordpress.com/2011/08/26/quebrando-pratos-opaa Figura 3 - Músico Yo-Yo Ma em apresentação - https://whyathens.com/events/yo-yo-ma-odeon-athens Figura 4 - Capela Saint Benedict, Suiça - https://www.archdaily.com.br/br/800382/classicos-da-arquitetura-capela-saintbenedict-peter-zumthor/5216214de8e44e7a1800012a-ad-classics-saint-benedict-chapel-peter-zumthor-image Figuras 5, 6, 7, 8, 9 e 10 – Victorian Music Box - https://www.architectmagazine.com/project-gallery/victorian-music-box_1_o Figura 11 – Pavilhão Swiss Sound - https://pt.wikiarquitectura.com/constru%C3%A7%C3%A3o/pavilhao-swisssound/#swiss-sound-pavilion-peter-zumthor-09 Figura 12 – Pavilhão Swiss Sound - https://www.subtilitas.site/post/87647332604/peter-zumthor-swiss-sound-box-a-pavilionfor#disqus_thread Figura 13 – Planta do Pavilhão Swiss Sound - https://plansofarchitecture.tumblr.com/post/81201213351/peter-zumthorswiss-pavilion-expo-hanover Figuras 14 e 15 – Vistas do Pavilhão Swiss Sound - https://www.subtilitas.site/post/87647332604/peter-zumthor-swisssound-box-a-pavilion-for#disqus_thread Figuras 16, 17,18, 19 e 20 - Shangyin Opera House - https://www.archdaily.com.br/br/934983/shangyin-opera-housechristian-de-portzamparc?ad_source=search&ad_medium=search_result_all Figura 21, 22, 23, 24 e 26 – Centro de Música Victor McMahon - https://www.bcarch.net/st-kevins-music-centre Figura 27, 28 e 29 - Rain Amplifier - https://www.archdaily.com.br/br/948586/instalacao-rain-amplifier-matthijs-la-roiarchitects
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Figura 30 e 31 - Pavilhão Outside-in - https://www.archdaily.com.br/br/949668/pavilhao-outside-in-valerie-schweitzerarchitects Figura 32, 33, 34, 35, 36 e 37 - Croquis de estudos feitos pelo autor Figura 38 - Bateria de canos - https://diyfamily.wordpress.com/category/wood/ Figura 39 - Proporção frequência por tamanho - https://www.wikihow.com/Make-a-PVC-Pipe-Drum Figura 40 – Tabela de notas musicais por frequência e tamanho - Tabela feita pelo autor Figura 41 – Vale do Anhangabaú - fonte Google Earth Figura 42, 43, 44, 45 e 46 – Imagens 3D produzidas pelo autor
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. SOUZA, L. BRAGANÇA, L. Bê-á-bá da Acústica Arquitetônica: Ouvindo a Arquitetura. São Carlos, 2006 BRANDÃO, E. Acústica de Salas: Projeto e Modelagem. São Paulo: Blucher, 2016 HOSEY, L. A Forma do Verde: Estética, Ecologia e Design. Island Press, 2012 PALLASMAA, J. Essências. São Paulo: Gustavo Gili, 2018 PALLASMAA, J. Os olhos da pele. São Paulo: Bookman, 2011 ZUMTHOR, P. Atmosferas. São Paulo: Gustavo Gili, 2009 Materiais, Técnicas e Processos para Isolamento Acústico – Pesquisa apresentada no 16° Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais. Foz do Iguaçu, 2006;
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