Manual da Fauna Urbana: Aves

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A Ana Paula e ao Valdecir, a minha velhinha Pipoca, ao Fernando Miyabara por me ajudar a registrar algumas das espĂŠcies aqui presente, aos meus amigos e aos meus professores...

...E aos animais assassinados pelo descaso ambiental do atual governo. Aqui, combato ignorância com conhecimento.


ATENÇÃO: Este livro não é indicado para consultas com o objetivo de realizar artigos científicos, por se tratar de um exemplar com animais mais populares e com informações mais sucintas. Considere este livro como um ponto de partida para conhecimentos mais profundos sobre o tema.

Nome do Aluno: Guilherme Evangelista de Alencar Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Design - UniSagrado Orientadora: Prof.a Ma. Vanessa Grazielli Amaral


AVES

Objetivo 15.

Vida Terrestre Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a

desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda

Os seres humanos e outros animais dependem da natureza para terem alimento, ar puro, água limpa e também como um meio de combate à mudança do clima. As florestas, que cobrem 30% da superfície da Terra, ajudam a manter o ar e a água limpa e o clima da Terra em equilíbrio – sem mencionar que são o lar de milhões de espécies. Promover o manejo sustentável das florestas, o combate à desertificação, parar e reverter a degradação da terra, interromper o processo de perda de biodiversidade são algumas das metas que o ODS 15 promove. Usar sustentavelmente os recursos naturais em cadeias produtivas e em atividades de subsistência de comunidades, e integrá-los em políticas públicas é tarefa central para o atingimento destas metas e a promoção de todos os outros ODS.

Saiba mais em:

www.agenda2030.org.br

Realização:

5


MANUAL DA FAUNA URBANA

P

ara iniciarmos a falar de espécies urbanas, precisamos

habilis e o Homo neanderthalensis (considerado por alguns

abordar um assunto primeiro. O ser humano é um

como Homo sapiens neanderthalensis). O Homo sapiens,

animal como todos os outros seres pertencentes ao

praticamente, é o único que carrega o gênero no planeta.

Reino Animalia: somos eumetazoários por termos sistema

Tudo isso foi dito com o intuito de explanar que todos

digestivo (somente as esponjas não pertencem a esse sub-

nós, homens e mulheres de todas as etnias, somos tão

reino); localizamos no Filo Chordata, no Subfilo Vertebrata,

seres vivos como qualquer outra espécie existente na Terra,

por possuirmos sistema nervoso e simetria bilateral (aqui,

seja um pardal ou um tigre siberiano. Todos convivem

compartilhamos o mesmo espaço que os peixes, as aves,

em comunidade com outros animais, plantas, fungos e

repteis e anfíbios); estamos na classe dos mamíferos por

bactérias, seja em uma floresta tropical na Indonésia ou

portar glândulas mamárias e pelas fêmeas terem o ato

a Caatinga do Nordeste brasileiro.

de amamentar seus filhotes, além de possuirmos pelos

Todas os indivíduos ali presente causam impacto no

(salvo algumas baleias e golfinhos); somos primatas, uma

ambiente que vive, vide os Elefantes-africanos que destroem

classificação científica que engloba os mamíferos denominados

árvores para alcançarem as folhas longe dos seus poderes

genericamente “macacos”: símios e lêmures. Podem andar

e as Antas que dispersam sementes e contribuem para a

sobre quatro ou dois membros, detêm um cérebro maior

continuidade do bioma. Ambos têm a sua devida importância

comparado aos outros mamíferos, tardam para alcançar

para o ecossistema que convivem, em razão de que suas

a maturidade sexual e portam uma longa longevidade;

atitudes impactam diretamente o solo, a água e o ar

Repartimos a superfamília chamada Hominoidea, que

do local que vivem. O ser humano não é diferente. Seu

incluem os grandes primatas mais os macacos do Velho

impacto prejudicial já é notado desde a Era do Gelo, com

Mundo; junto com chimpanzés, gorilas e orangotangos,

a caça demasiada dos mastodontes que contribuiu com

somos batizados de hominídeo: Não possuímos caudas,

a sua extinção, por exemplo. A criação da agricultura e,

temos unhas achatadas, gozamos de polegares oponíveis,

consequentemente, a civilização e a revolução industrial,

somos onívoros e temos comportamento social complexo,

coadjuvaram a impactar com demasia o ambiente por onde

contando com comunicações faciais, verbais e não-verbais;

o Homem galgou. Um artigo publicado na Revista Science

Temos um parentesco maior com o gênero Pan (Chimpanzé-

em Março de 2012 propõe que a chegada do ser Humano na

comum e o Bonobo) por comparação de DNA, portanto,

Austrália há 40 mil anos causou a extinção da megafauna

uma classificação taxonômica intitulado tribo Hominini;

da região, desencadeando uma substituição de florestas.

A subtribo Hominina engloba os antepassados já extintos

Centenas de artigos corroboram a ideia de que vivemos

dos primatas, onde o único sobrevivente é o Homem.

um aquecimento global nos últimos 150 anos, contribuído

Chegamos ao gênero Homo, o primeiro nome binominal

com a influência humana com a emissão de CO2 e metano,

de Homo sapiens. Aqui estão todos os “homens” que pisaram

grandes desmatamentos para vastas monoculturas e criação

na Terra, como: Homo erectus, Homo floresiensis, Homo

de gado e, no caso, expansão das cidades. Espécies nativas

6


introdução

acabam se adaptando (algumas até se beneficiando) com

planando no céu da cidade. O marsupial contribui com

a interferência da sociedade humana no meio ambiente,

controle de pragas (como baratas) e a ave auxilia com a

como é o caso de muitas aves que avistamos em qualquer

degradação da matéria orgânica, facilitando sua decomposição. A vida selvagem nos rodeia, seja por adaptação, seja

parte que olhamos na zona urbana. A perturbação do equilíbrio da Natureza não é somente

por perda de habitat natural. Portanto, o objetivo deste

por conta da modificação do ambiente que o ser humano

exemplar é justamente sensibilizar e conscientizar os leitores

vive, mas também perturbação em deslocar espécies de

sobre as espécies de aves que podem manifestar-se na

habitats originais e aloca-los em ecossistemas distintos,

civilização, além de ilustrar a sua diversidade. Guilherme Alencar

criando então uma competição desleal e/ou se dispersar sem ter um predador natural naquele espaço. Há casos de introduções intencionais, como o caso do pardal-doméstico (Passer domesticus) que é originário do Oriente Médio e se alastrou para a Europa, foi trazido de Portugal para o Brasil. Também foi levado para outros países, sendo a ave terrícola mais amplamente distribuída no mundo. E também há casos de introduções acidentais, como Mexilhão-Dourado (Limnoperna fortunei), natural do Sudeste Asiático, foi transportado pelos navios mercadantes e hoje está presente nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, dando prejuízo de R$ 1 milhão de reais por dia de limpeza das turbinas das hidrelétricas. Levando em consideração as introduções, as espécies de plantas e animais domésticos entram no quesito de alteração do ecossistema. A ciência de sermos um integrante de uma comunidade de seres vivos nos revela o poderoso impacto que nossos atos podem acarretar nas espécies que nos rodeiam. A necessidade de ser respeitoso com a Natureza não deve se restringir somente fora das cidades, pensando apenas nos grandes e afastados biomas, a cautela se deve originar dentro do seu convívio social, seja na zona rural ou urbana. Não é preciso se deslocar muito para encontrar um gambá enroscado em um galho ou um urubu-de-cabeça-preta

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MANUAL DA FAUNA URBANA

POR QUE TODO PÁSSARO É UMA AVE, V

ocê já parou para pensar na diferença entre ave e

Ainda falando a respeito da tendência ao corpo mais

pássaro? Para responder, antes temos que definir:

leve, não podemos deixar de falar sobre os ossos ocos e

o que é uma ave?

com ar, chamados de pneumáticos. Esses ossos são muito mais leves do que os nossos ossos, por exemplo.

As aves são animais vertebrados que apresentam como

característica mais marcante a presença de um corpo coberto

As aves possuem sistema digestório completo e também

por penas. A presença de penas está diretamente relacionada

complexo. Nesses animais, verificamos algumas importantes

com o voo, entretanto, não é apenas essa sua função. As

adaptações, como a presença de papo e moela, estruturas

penas apresentam papel importante no isolamento térmico,

que ajudam muito esses animais que não possuem dentes.

na camuflagem e na atração de parceiros, por exemplo.

O papo é uma porção dilatada do esôfago e está relacionada

As aves destacam-se ainda pela presença de um bico

com o armazenamento e amolecimento de alimento, enquanto

que torna a cabeça desses animais mais leve, sendo essa

a moela funciona como um estômago mecânico.

também uma característica importante para o voo. Além

As aves possuem respiração pulmonar e contam com a

disso, verificamos nas aves a presença de diversos bicos

presença de estruturas chamadas de sacos aéreos. Os sacos

diferentes, os quais estão adaptados à dieta de cada espécie.

aéreos funcionam como um reservatório de ar e tornam

As aves que comem insetos, por exemplo, possuem bicos

esse sistema ainda mais eficiente. O sistema circulatório é

mais curtos e finos. Já as aves carnívoras possuem bicos

fechado, ou seja, o sangue corre dentro de vasos sanguíneos.

pesados e pontiagudos.

O coração das aves apresenta quatro cavidades, assim

Galinha: Ordem Galliformes

Papagaio: Ordem Psitaciformes

8


introdução

MAS NEM TODA AVE É UM PÁSSARO? como o coração dos mamíferos. Esses animais destacam-

periquitos, maritacas, cacatuas, etc., fazem parte da mesma

se também por apresentarem a capacidade de controlar a

ordem (ordem Psittaciformes), pois todos eles apresentam

temperatura do corpo, a qual não varia com as alterações do

características semelhantes, como cabeça larga, pés curtos,

meio ambiente. Por apresentar essa característica, dizemos

bico curvo e muito resistente, etc.

que se tratam de animais endotérmicos.

Já as aves que fazem parte da ordem Passeriforme, muito

Não podemos nos esquecer ainda que todas as aves

conhecidas como passarinhos ou aves canoras, reúnem

são ovíparas, ou seja, todas as aves botam ovos. Uma

mais da metade de todas as espécies de aves.

grande parcela das aves bota seus ovos em ninhos para

Todos os pássaros possuem penas e bicos, botam ovos,

garantir a proteção do filhote.

são endotérmicos, possuem sistema digestório completo,

Agora que sabemos a definião de uma ave, voltamos

sistema circulatório, coração com quatro cavidades e

à pergunta principal: qual a diferença de ave e pássaro?

respiração pulmonar.

A resposta está na classificação dos animais: A ordem.

Entretanto, algumas características que merecem

Todos os animais de uma classe que possuem características

destaque e ajuda a diferenciá-los de outras aves, como o

semelhantes são reunidos em um grupo, e a esse grupo

fato de possuirem capacidade de canto, ou seja, são aves

damos o nome de”ordem” (faz parte da classificação

canoras; terem pés anisodáctilos, ou seja, possuem três

científica, um modo de agrupar e categorizar os seres

dedos voltados para frente e um dedo voltado para trás e

vivos). No caso das aves, por exemplo, papagaios, araras,

não possuirem membrana na base de seu bico.

SOMENTE ESTA AVE É UM PÁSSARO

Pombo: Ordem Columbiformes

Pardal: Ordem Passeriformes

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MANUAL DA FAUNA URBANA

BIOMA DO INTERIOR PAULISTA

A

cidade de Bauru se localiza na região Centro-Oeste do

a rica avifauna compreende cerca de 837 espécies. Os

estado de São Paulo, estando a 326 km de distância

números de peixes (1200 espécies), répteis (180 espécies)

da capital paulista. A cidade possui 48 cidades na

e anfíbios (150 espécies) são elevados. O número de

sua região intermediária (antigas mesorregiões criadas

peixes endêmicos não é conhecido, porém os valores

pelo IBGE), muitas delas compartilhando o mesmo bioma

são bastante altos para anfíbios e répteis: 28% e 17%,

(conjunto de seres vivos de uma área; ecossistema terrestre).

respectivamente. De acordo com estimativas recentes,

Originalmente, a vegetação do estado de São Paulo era bem diversificada. A maior parte do estado era coberto pela Floresta Atlântica, concentrada principalmente na Serra do Mar (Floresta Ombrófila Densa), enquanto no interior predominavam florestas mais secas, em que é comum boa parte do dossel perder as folhas na estação desfavorável (seca). Até meados do século XIX, o estado de São Paulo ainda apresentava sua vegetação praticamente intacta. A partir de então, houve um intenso uso da terra, principalmente para o cultivo de café, extremamente exigentes quanto ao tipo de clima e do solo. Tais processos levaram ao desenvolvimento econômico do estado e do país, mas às custas de impacto ambiental severo (o que se pode ver é que as maiores reservas de floresta se encontra na Serra do Mar, cujo o espaço não oferece um acesso adequado às funções agrícolas). Os ecossistemas que formam o interior de São Paulo são basicamente: Floresta estacional semidecidual – FES (também conhecida como Mata Atlântica do Interior) o

Mapa de biomas no interior de São Paulo. Fonte: bauru.sp.gov.

Cerrado e o ecótono: um ambiente que compartilha os biomas vizinhos da mata atlântica e o cerrado. Então, a região interiorana de Bauru pode avistar os animais e

o Cerrado é o refúgio de 13% das borboletas, 35% das

as plantas de ambos ecossistemas, como o Bem-te-vi da

abelhas e 23% dos cupins dos trópicos.

floresta atlântica e a Seriema da savana brasileira.

Contudo, inúmeras espécies de plantas e animais correm risco de extinção. Estima-se que 20% das espécies nativas

CERRADO

e endêmicas já não ocorram em áreas protegidas e que pelo

O Cerrado é o segundo maior bioma da América do

menos 137 espécies de animais que ocorrem no Cerrado

Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22%

estão ameaçadas de extinção. Depois da Mata Atlântica,

do território nacional. Do ponto de vista da diversidade

o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações

biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a

com a ocupação humana. Com a crescente pressão para a

savana mais rica do mundo, abrigando 11.627 espécies

abertura de novas áreas, visando incrementar a produção de

de plantas nativas já catalogadas. Existe uma grande

carne e grãos para exportação, tem havido um progressivo

diversidade de habitats, que determinam uma notável

esgotamento dos recursos naturais da região. Nas três

alternância de espécies entre diferentes fitofisionomias.

últimas décadas, o Cerrado vem sendo degradado pela

Cerca de 199 espécies de mamíferos são conhecidas, e

expansão da fronteira agrícola brasileira. Além disso, o

10


introdução

Mesmo assim, estima-se que existam na Mata Atlântica cerca de 20 mil espécies vegetais (35% das espécies existentes no Brasil, aproximadamente), incluindo diversas espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Essa riqueza é maior que a de alguns continentes, a exemplo da América do Norte, que conta com 17 mil espécies vegetais e Europa, com 12,5 mil. Esse é um dos motivos que torna a Mata Atlântica prioritária para a conservação da biodiversidade mundial. Em relação à fauna, o bioma abriga, aproximadamente, 850 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes. As florestas e demais ecossistemas que compõem a Mata Atlântica são responsáveis pela produção, regulação e abastecimento de água; regulação e equilíbrio climáticos; proteção de encostas e atenuação de desastres; fertilidade e proteção do solo; produção de alimentos, madeira, fibras, óleos e remédios; além de proporcionar paisagens cênicas e preservar um patrimônio histórico e cultural imenso.

Exemplo de vegetação do Cerrado. Fotografia: Brasil Escola

bioma Cerrado é palco de uma exploração extremamente predatória de seu material lenhoso para produção de carvão. MATA ATLÂNTICA A Mata Atlântica é composta por formações florestais nativas (Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual), e ecossistemas associados (manguezais, vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste). Originalmente, o bioma ocupava mais de 1,3 milhões de km² em 17 estados do território brasileiro, estendendose por grande parte da costa do país. Porém, devido à ocupação e atividades humanas na região, hoje resta cerca de 29% de sua cobertura original. Exemplo de vegetação da Mata Atlântica. Fotografia: Brasil Escola

11


SUMÁRIO


INTRODUÇÃO AVES

8 14

PERIQUITÃO-MARACANÃ

96

NEINEI

100

NOIVINHA-BRANCA

102

PARDAL 104

ANDORINHA-DOMÉSTICA-GRANDE

16

PERIQUITO-DE-ENCONTRO-AMARELO

108

ANDORINHA-PEQUENA-DE-CASA

18

PICA-PAU-DE-BANDA-BRANCA

112

ANU-BRANCO 22

PICA-PAU-DO-CAMPO

116

ANU-PRETO

26

POMBAS 120

BEIJA-FLOR-TESOURA

30

QUERO-QUERO

124

BEM-TE-VI

34

SABIÁ-DO-CAMPO

126

BIGUÁ

38

SABIÁ-LARANJEIRA

132

CANÁRIO-DA-TERRA

44

SABIÁ-POCA

136

CARCARÁ

48

SANHAÇU-CINZENTO

138

CHOCA-BARRADA

54

SERIEMA

142

CHUPIM

58

SUIRIRI

146

COLEIRINHO

62

TICO-TICO

152

CORUJA-BURAQUEIRA

66

TIZIU

156

GARÇA-BRANCA-GRANDE

72

TRINCA-FERRO

160

GARÇA-BRANCA-PEQUENA

78

URUBU-DE-CABEÇA-PRETA

166

GAVIÃO-CABLOCO

80

GAVIÃO-CARIJÓ

84

GRAÚNA 88 JOÃO-DE-BARRO

90

AMEAÇAS À VIDA REFERÊNCIAS

170

174


PERIQUITÃO-MARACANÃ Página 96

GAVIÃO-CABOCLO Página 80

QUERO-QUERO Página 124


AVES

Avifauna é uma classificação para comunidade de aves, sendo esssa classe uma das mais diversificadas e representativas em número de espécies dentre os vertebrados terrestres. Isto também é notado no meio urbano. As aves podem ocupar ambientes muito variados, e por serem de fácil detecção, servem como “bioindicadoras” - uma ferramenta de avaliação do meio-ambiente, onde se pode considerar a presença ou a ausência de certas espécies como indicador de alteração e/ou preservação ambiental.


MANUAL DA FAUNA URBANA

AN DORI NHA -D OMÉ S T ICA-G R A N D E Progne chalybea A andorinha-doméstica-grande é uma ave passeriforme da família Hirundinidae. Conhecida nos diversos lugares por vários nomes populares, tais como: andorinha-católica, andorinha-da-casa, andorinha-grande, andorinha-mestre e tapérá.

Fotografia: Isabel Gomes

CARACTERÍSTICAS

esbranquiçadas na porção subterminal e os flancos são

Mede entre 16 e 22 centímetros de comprimento e pesa

ocasionalmente tingidos de marrom.

entre 33 e 50 gramas. Apresenta cabeça e as costas de coloração preto azul metálico brilhante. A face tem uma máscara preta fosco mais escura abaixo dos olhos. A íris é preta. O bico curto, chato e triangular é negro e apresenta uma ampla abertura bucal. As asas, longas e pontiagudas são pretas com reflexos azulados sobre as coberteiras. Têm um voo rápido e ágil. A cauda bifurcada é preta com leve brilho azulado. A garganta, peito e flancos são branco acinzentados sendo marcado com marrom pardacento. O resto do peito e da barriga são brancos. A fêmea apresenta a plumagem da cabeça e das costas mais desbotada, com menos brilho azul metálico que a plumagem dos machos da espécie. A plumagem juvenil é muito parecida com a plumagem da fêmea da espécie, apresentando coloração amarronzada sobre a parte dorsal. As retrizes exteriores possuem manchas Fotografia: Adriano Campos

16


AVES

A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de insetos capturados em vôo.

participa do cuidado da prole. Costuma aproveitar o ninho do joão-de-barro.

R E P R O D U ÇÃO

HÁBITOS

Faz o ninho, em forma de tigela, com palha e fezes secas de

Habita fazendas e cidades. Formam bandos numerosos,

gado, solidamente presas, forrado com penas internamente.

pousam em árvores, fios de eletrificação e também no solo.

Os ninhos são colocados em cavidades de pedras e locais

As espécies que residem no Brasil Meridional são migratórias

protegidos em edificações urbanas; neles são postos 2 a 5

e no outono partem em direção ao norte, embora nem

ovos brancos, que medem 23 por 16 mm. Como é regra na

todos os indivíduos de uma população migrem.

família, cabe à fêmea a maior parte de incubação e o casal

Fotografia: Jederson Schwanz

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MANUAL DA FAUNA URBANA

A N D O RIN H A-P EQUENA-DA- C ASA Pygochelidon cyanoleuca A andorinha-pequena-de-casa está quase sempre presente em nosso dia-a-dia e na maior parte dos locais onde ocorre basta olhar para o céu em dias de tempo bom que elas estarão lá, dando um verdadeiro show com suas acrobacias aéreas enquanto caçam insetos voadores.

CARACTERÍSTICAS As partes superiores são azul-metálicas, mas dependendo da incidência da luz parecem negras. As asas e a cauda são negras, inclusive nas partes inferiores. A região negra da parte inferior da cauda vai até a altura da cloaca, o que a distingue da andorinha-de-sobre-branco (Tachycineta leucorrhoa). A divisão das cores é bem nítida. Não há manchas brancas nas partes escuras, nem manchas escuras na parte branca, o que a diferencia das outras andorinhas brasileiras, a não ser da andorinha-doméstica-grande (Progne chalybea), que é bem maior. Mede cerca de 12-13 centímetros. Pesa cerca de 12 gramas. A L I M E N T A ÇÃO Sobrevoam os mais variados tipos de formações vegetais, mas são especialmente abundante em campos, especialmente na época de revoadas de formigas e cupins alados, quando formam bandos de dezenas de indivíduos nas áreas dos formigueiros e cupinzeiros.

Fotografia: Cláudio Lopes

R E P R O D U ÇÃO Na natureza essas aves usam buracos em barrancos, escarpas e rochas tanto para nidificar quanto para pernoitar. Este hábito representou uma pré-adaptação desta ave ao meio urbano, que se sente muito à vontade nas frestas de telhados ou qualquer outro espaço em nossas construções. O ninho é uma tigela feita de palha, as vezes cimentada com fezes de gado e recoberta por penas. Os ovos, geralmente de 3 a 5, são incubados pela fêmea enquanto o macho a alimenta. O casal se reveza na alimentação dos filhotes. HÁBITOS Passam a maior parte do dia voando, só pousando em

Fotografia: AvifaunaCamburiu.com

árvores, antenas e fios de eletricidade para descansar ou quando o tempo está ruim.

Andorinha jovem

18


AVES

Fotografia: Chico Helder

19


MANUAL DA FAUNA URBANA Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Hirundinidae Espécie

P. Cyanoleuca

Fotografia: AviFaunaCamboriu.com

20


AVES

Fotografia: Leonardo Casadei

É migratória, especialmente nos locais mais frios, mas

colônias. Gostam de pousar em fios elétricos, em grande

ao contrário de outras espécies de andorinhas não realiza

número. Algumas não gostam muito do frio e migram para

migrações muito longas.

passar o inverno em outras regiões mais ao norte. Têm

Às vezes é vista fazendo vôos rasantes sobre lagos

um vôo um pouco irregular, já que ficam para lá e para

para beber água. Tem grande afinidade pelas habitações

cá procurando insetos. Algumas árvores floridas, como as

humanas. Muitas vezes são vistas voando dentro de

tipuanas, atraem insetos e as andorinhas logo aparecem

grandes igrejas, e por isto são muito respeitadas. Faz seus

e ficam borboleteando por sobre as copas. É encontrada

ninhos em cavidades, próximos uns dos outros, formando

em cidades, áreas rurais e áreas mais abertas.

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MANUAL DA FAUNA URBANA

AN U - B R A N C O Guira guira O anu-branco é uma ave cuculiforme da família Cuculidae. Também conhecido como rabo-de-palha, alma-degato, quiriru, pelincho, pipiriguá(ceará), piririgua,e anum-branco (Rio Grande do Norte), cigana (sul do Piauí).

Fotografia: Rodrigo Conte

CARACTERÍSTICAS Mede entre 36 e 42 centímetros de comprimento, incluindo

Ao redor dos olhos, um fino anel periocular amarelo pálido.

seus 20 centímetros da cauda, e pesa entre 113 e 168,6

O dorso e as coberteiras das asas são finamente estriados,

gramas. É usualmente encontrado em bandos familiares.

as penas são escuras apresentando as bordas claras. As

O adulto da espécie apresenta coloração ocre-amarelada

rêmiges são marrom enegrecidas. O uropígio é branco.

com uma crista desgrenhada, pele facial nua amarela, bico

A cauda é graduada, longa e apresenta belas retrizes,

forte e curvo com uma bela coloração amarelo-alaranjada e

cada uma delas dividida em três partes com colorações

íris variando entre o amarelo-alaranjado e branco-azulado.

distintas: camurça pálido na porcão basal, preto no centro

22


AVES

e, na porcão distal, a cor é branca. A garganta, peito e ventre são pálidos com finas estrias escuras na garganta e no peito. O juvenil da espécie apresenta as rêmiges com pequenas faixas brancas nas pontas, bico acinzentado, íris escuras e as retrizes acinzentadas. O cheiro do corpo é forte e característico, perceptível para nós a vários metros e capaz de atrair morcegos hematófagos e animais carnívoros. Quando empoleira arrebita a cauda e joga-a até às costas. Anda sempre em bandos. São aves extremamente sociáveis. Sua vocalização é alta e estridente: “iä, iä, iä” (chamada e grito durante o voo); “i-i-i-i” (advertência); sequência fortemente descendente e decrescendo de melodiosos “glüü” (canto); cacarejo baixo. A L I M E N T A ÇÃO É essencialmente carnívoro, comendo gafanhotos, percevejos, aranhas, miriápodes etc. Preda também lagartas peludas e urticantes, lagartixas, camundongos, rãs e filhotes de outras aves. Cospe pelotas. Pesca na água rasa; periodicamente come frutas, bagas, coquinhos e sementes, sobretudo na época seca, quando há escassez de artrópodes. Já foi visto na Região dos Lagos, RJ, predando

Fotografia: Paulo Vale (Poloca).jpg

pequenos caramujos-africanos.

R E P R O D U ÇÃO Os seus ovos são relativamente muito grandes, tendo de 17 a 25% do peso da fêmea. A cor dos ovos é verdemarinho e uma rede branca calcária em alto relevo se espalha sobre toda a superfície. Tanto há ninhos individuais, como coletivos. A fêmea que construiu um ninho e ainda não começou a pôr os seus ovos joga fora os ovos postos ali por outras fêmeas. Joga também os ovos, quando a fêmea poedeira encontra o ninho onde quer pôr ocupado por outra ave. Os adultos nem sempre zelam bem pelos ninhos com ovos, abandonando-os. Os filhotes deixam o ninho antes de poder voar, com a cauda curta, e são Fotografia: Miguel Calmon Neto

alimentados ainda durante algumas semanas. Quando os seus ninhos são abandonados, às vezes são aproveitados

Ovos de Anu-branco

por outros pássaros, serpentes e por pequenos mamíferos, sobretudo marsupiais.

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica

Fotografia: Gabriel Toledo

Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Cuculiformes Família

Cuculidae Subfamília

Crotophaginae Espécie

G. guira

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AVES

Fotografia: Kassius Santos

HÁBITOS

À noite, para se esquentar, junta-se em filas apertadas

Até certo ponto é beneficiado pelo desaparecimento

ou aglomera-se em bandos desordenados; acontece de

da mata alta, pois vive em campos, lavouras e ambientes

um correr sobre as costas dos outros que formam a fila

mais abertos. Migra para regiões onde era desconhecido e

a fim de forçar a sua penetração entre os companheiros.

torna-se a ave mais comum ao longo das estradas. Devido

Procura moitas de taquara para pernoitar. Esta espécie

ao seu voo lerdo e fraco, é frequentemente atropelado

morre de frio no inverno.

nas estradas e arrastado ao mar por fortes ventos. É

As aves arrumam as suas plumagens reciprocamente.

atingido pela ação funesta dos inseticidas, fato tanto mais

Animais carnívoros em geral são seus predadores naturais.

lamentável por ser muito útil à lavoura.

Esta espécie é atacada por outras aves, por exemplo o

Gosta de apanhar sol e banhar-se na poeira, muitas

suiriri, mas é reconhecida como possível inimiga da coruja,

vezes adquire plumagem com coloração adventícia, ficando

provavelmente a coruja-buraqueira. Algumas espécies da

fortemente tingida com a cor da terra do local ou de cinza

família Columbidae, como as rolinhas, se assustam com o

e carvão, sobretudo se correr antes pelo capim molhado,

aparecimento de anus-brancos. O anu-branco por sua vez

o que torna suas penas pegajosas. Pela manhã e após as

enxota o gavião-carijó quando este pousa nas imediações

chuvas, pousa de asas abertas para enxugar-se.

do seu ninho.

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MANUAL DA FAUNA URBANA

ANU -PR E TO Crotophaga ani O anu-preto é uma ave cuculiforme da família Cuculidae. Conhecido também como anu-pequeno e anum (Pará e Rio Grande do Norte) e na região da Amazônia central é chamado de coró-coró.

Fotografia: José Reynaldo da Fonseca

CARACTERÍSTICAS

ave extremamente sociável. Tem grande habilidade em

Corpo franzino, mede entre 35 e 36 centímetros de

pular e correr pela ramagem. O cheiro do corpo é forte e

comprimento e pesa entre 76 e 222 gramas de peso,

característico, perceptível para nós a vários metros e capaz

sendo que as fêmeas da espécie apresentam peso menor

de atrair morcegos hematófogos e animais carnívoros.

que os machos.

Possui mais de uma dúzia de vocalizações diferentes.

Sua coloração é preto uniforme, possui um bico alto,

Tem dois pios de alarme: a um certo grito todos os

forte e curto que apresenta cúlmen na mesma coloração

componentes do bando se empoleiram em pontos bem

do bico. Cauda longa e graduada.

visíveis, examinando a situação; outro grito, emitido quando

Apesar de formar casais, vive sempre em bandos,

um gavião se aproxima, faz desaparecer num instante

ocupando territórios coletivos durante todo o ano. É

no matagal todo o grupo. Eles se divertem cavaqueando

26


AVES

capturando também pequenas cobras e rãs. Frequentemente

Fotografia: Sovernigo

segue tratores que aram os campos. R E P R O D U ÇÃO Os ovos das fêmeas do anu-preto perfazem 14% do peso de seu corpo. São de cor azul-esverdeada, cobertos por uma crosta calcária, raspada sucessivamente pelo processo de virá-los durante a incubação. O anu-preto costuma trazer comida quando visita a fêmea no ninho. O macho dança em torno da fêmea, no solo. As fêmeas, embora possuam ninhos individuais, se associam mais frequentemente a um ou dois casais do seu bando para construir ninho coletivo, pôr ovos e criar a prole juntas, tendo a cooperação de machos e filhotes crescidos de posturas anteriores. Seus ninhos são grandes e profundos. Pode acontecer de um ninho ser ocupado por 6 ou 10 aves, e conter 10, 20 e até mais ovos. A postura de uma fêmea é calculada em 4 a 7 ovos. A incubação é curta, durando de 13 a 16 dias, sendo criados com sucesso meia dúzia de filhotes por vez. A boca aberta vermelha do filhote do anu-preto é marcada por três sinais amarelos. Quando os

Anu-preto se alimentando

seus ninhos são abandonados, às vezes são aproveitados por outros pássaros e por pequenos mamíferos, sobretudo marsupiais, e por cobras. Os filhotes deixam o ninho antes baixinho, de modo bem variado, causando às vezes a

de poder voar, com a cauda curta, e são alimentados ainda

impressão de estar tentando imitar a voz de outra ave.

durante algumas semanas.

A L I M E N T A ÇÃO É essencialmente carnívoro, comendo gafanhotos, percevejos, aranhas, miriápodes etc. Preda também lagartas peludas e urticantes, lagartixas e camundongos. Pesca na água rasa, e periodicamente come frutas, bagas, coquinhos e sementes, sobretudo na época seca, quando há escassez de artrópodes. Alimenta-se sobretudo de ortópteros (gafanhotos), que apanha acompanhando o gado. Quando não há gado no pasto executa, às vezes, caçadas coletivas no campo: o bando espalha-se no chão, em um semicírculo, ficando as aves afastadas umas das outras por dois ou três metros. Permanecem assim imóveis e atentas e quando aparece um inseto, a ave mais próxima salta e o apanha.

Fotografia: Parassinhologa

De tempos em tempos o bando avança. Quando pousa

Interação entre a Capivara e Anu-branco

sobre o dorso dos bois geralmente o faz para ampliar seu campo visual. Às vezes apanha insetos em pleno voo,

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Cuculiformes Família

Cuculidae Subfamília

Crotophaginae Espécie

C. ani

Fotografia: Gilberto Adriano Cervati

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AVES

Fotografia: Biotodos.com

Os filhotes ainda pequenos são facilmente espantados

Gosta de apanhar sol e banhar-se na poeira. Muitas

e fogem para todos os lados sobre os galhos em torno

vezes adquire plumagem com coloração adventícia, ficando

do ninho, mas costumam regressar ao mesmo quando o

fortemente tingida com a cor da terra do local ou de cinza

perigo passa.

e carvão, sobretudo se antes correr pelo capim melado. Pela manhã e após as chuvas pousa de asas abertas para enxugar-se. À noite, para se esquentar, junta-se em filas

HÁBITOS

apertadas ou aglomera-se em montões desordenados;

Vive em paisagens abertas com moitas e capões entre

acontece de um correr sobre as costas dos outros que formam

pastos e jardins; ao longo das rodovias costuma ser quase a

a fila, para forçar a sua penetração entre os companheiros;

única que se vê, como habitante de lavouras abandonadas.

arrumam as suas plumagens reciprocamente. Procura moitas

Prefere lugares úmidos. Sendo um fraco voador, mal resiste

de taquara para pernoitar.

à brisa, e qualquer vento mais forte leva-o para longe.

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MANUAL DA FAUNA URBANA

BEIJA-FLOR-TESOURA Eupetomena macroura Os beija-flores são sem dúvida um dos grupos de aves mais típicos do continente americano, com suas cores iridescentes, rapidez descomunal, capacidade de pairar no ar e tamanho reduzido. O beija-flor-tesoura é talvez o integrante mais famoso desse grupo, ao menos no Brasil não amazônico, provavelmente pela sua abundância em locais urbanizados, pela beleza de sua coloração, pela tesoura facilmente reconhecível e principalmente pelos seu comportamento abusado, pois é um dos maiores e mais briguentos beija-flores. É também conhecido como beija-flor-rabo-de-tesoura e tesourão.

Fotografia: Dário Sanches

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AVES

CARACTERÍSTICAS Mede entre 15 e 19 centímetros de comprimento, sendo um dos maiores beija-flores brasileiros, pesando em torno de 6-11 gramas. Cabeça, pescoço e parte superior do tórax de um profundo azul violeta; restante da plumagem verde-escuro iridescente. Pequena mancha branca

atrás

raques

das

dos

olhos;

primárias

rêmiges

externas

castanho-escuro;

alargadas,

embora

sejam bem menos evidentes que as espécies do gênero Campylopterus; cauda azul-escuro; calções brancos; bico ligeiramente curvado para baixo e preto. Tem como característica principal a cauda longa e profundamente furcada que toma quase 2/3 do seu tamanho total. Esporadicamente apresenta as penas azuladas da fronte tingidas de branco, amarelo ou de cores diversas, em

Fotografia: Flávio Brandão

virtude do acúmulo de pólen proveniente das flores que poliniza. A fêmea é quase igual ao macho, sendo um pouco menor e mais pálida. O imaturo é como a fêmea,

Os beija-flores têm o mais acelerado metabolismo

mas a cabeça é particularmente mais pálida e tingida de

entre as aves. Podemos dizer que eles vivem em outro

marrom.

ritmo, pois tudo é acelerado. Quando em voo, podem bater as asas dezenas de vezes por segundo. O canto é muito agudo e rápido, parecendo um simples assovio para nossos ouvidos, mas quem estuda bioacústica sabe que quando a vocalização destas aves é analisada

Fotografia: Bruno Antunes Machado

com cuidado em um sonograma, esta mostra-se muito complexa e até melodiosa.

A L I M E N T A ÇÃO Assim

como

outros

beija-flores,

alimenta-se

basicamente de néctar de flores, mas também caça pequenos insetos com grande habilidade em voos curtos. Tem um papel importante na polinização de muitas plantas. O ninho, em forma de tigela, é assentado em um ramo mais ou menos horizontal ou numa forquilha de arbusto ou árvore, a cerca de 2 a 3 metros do solo. O material utilizado na construção é composto por fibras vegetais macias, incluindo painas. Fragmentos de folhas, musgos e líquens são aderidos extremamente com teias de aranha. Põe de dois a três ovos brancos e alongados nos meses de janeiro e fevereiro. Somente a fêmea incuba os ovos e os filhotes nascem após 15 a 16 dias. Ninho de Beija-flor-tesoura com filhotes

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Apodiformes Família

Trochilidae Espécie

E. macroura

Fotografia: Fabrício Corsi Arias

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AVES

Fotografia: Guilherme Alencar

São alimentados pela fêmea principalmente com

nas garrafas com água e açúcar ou nas flores de seus

insetos, enquanto o macho defende seu território e as

jardins. É territorialista e extremamente agressivo,

flores com que se alimenta. Os filhotes deixam o ninho

principalmente na época da reprodução, quando é capaz

com 22 a 24 dias.

de atacar outros pássaros muito maiores e pequenos mamíferos. Em algumas épocas do ano, quando há menos

HÁBITOS

disponibilidade de néctar, adota uma única árvore, que

É frequentemente o beija-flor mais comum do Brasil

pode ser um mulungu ou um ipê, como a sede de seu

centro-oriental. Vive em áreas semiabertas, bordas de

território e a defende ferozmente contra qualquer outra

florestas, capoeiras, parques e jardins, sendo comum até

ave, principalmente contra outros beija-flores e contra

em grandes metrópoles. Não costuma ter medo do ser

a cambacica. Ocorrem lutas ritualísticas intraespecíficas

humano, aproximando-se das pessoas para se alimentar

em voo em defesa do território.

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MANUAL DA FAUNA URBANA

B E M- T E -V I Pitangus sulphuratus O bem-te-vi é uma ave passeriforme da família dos Tiranídeos. Conhecido também como bem-te-vi-de-coroa e bemte-vi-verdadeiro, é provavelmente o pássaro mais popular de nosso país, podendo ser encontrado em cidades, matas, árvores à beira d’água, plantações e pastagens. Em regiões densamente florestadas habita margens e praias de rios. É também muito popular nos outros países onde ocorre, recebendo nomes onomatopeicos em várias línguas como kiskadee em inglês, qu´est ce em francês (Guiana) e bichofêo em espanhol (Argentina).

te-vi, que dão o nome à espécie. Portanto, seu nome popular possui origem onomatopeica.

Fotografia: José Branco

Possui uma variada alimentação. É insetívoro, podendo devorar centenas de insetos diariamente. Mas também come frutas (como bananas, mamões, maçãs, laranjas, pitangas e muitas outras), ovos e até memso filhotes de outros pássaros, flores de jardins, minhocas, pequenas cobras, lagartos, crustáceos, além de peixes e girinos de rios e lagos de pouca profundidade e até mesmo pequenos roedores. Costuma comer parasitas (carrapatos) de bovinos e equinos. Apesar de ser mais comum vê-lo capturar insetos pousados em ramos, também é comum atacá-los durante o voo. Pode capturar aves muito jovens de espécies pequenas que estejam fora do ninho (ninhegos), tendo sido observada a captura de um jovem Bico-de-lacre (Estrilda astrild) que era alimentado no chão pelos pais e que provavelmente havia caído do ninho.

Bem-te-vi com sua crista à mostra

CARACTERÍSTICAS Ave de médio porte, o bem-te-vi mede entre 20,5 e 25 centímetros de comprimento e pesa aproximadamente de 52-68 g. Tem o dorso pardo e a barriga de um amarelo vivo; uma listra (sobrancelha) branca no alto da cabeça, acima dos olhos; cauda preta. O bico é preto, achatado, longo, resistente e um pouco encurvado. A garganta (zona logo abaixo do bico) é de cor branca. Possui um topete amarelo somente visível quando a ave o eriça em determinadas situações. O seu canto trissilábico característico lembra as sílabas bemFotografia: Guilherme Alencar

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AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Tyranni Família

Tyrannidae Subfamília

Tyranninae Espécie

P. sulphuratus

Fotografia: Marta Mitie Ogawa

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Fotografia: Douglas Fernandes

Aprecia os frutos da fruta-de-sabiá ou marianeira (Acnistus arborescens), chala-chala (Allophyllus edulis), araticum ou marolo (Annona coriacea), maria-preta (Solanum americanum), magnólia-amarela (Michelia champaca) e do tapiá ou tanheiro (Alchornea glandulosa). Costuma frequentar comedouros com frutas. É uma ave que está sempre descobrindo novas formas de alimento. Devido ao seu regime alimentar generalista, por vezes contribui para o controle de pragas de insetos, inclusive cupins urbanos. É cada vez mais comum observar em áreas antropizadas, principalmente nas grandes metrópoles, indivíduos se alimentando de ração industrializada de animais domésticos, como a de cachorros e de gatos.

R E P R O D U ÇÃO Faz ninho grande e esférico, com capim e pequenas ramas de vegetais em galhos de árvores geralmente bem cerradas, com entrada lateral; porém, já foram encontrados ninhos em formato de xícara aberta.

Fotografia: Caco Schwertner

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AVES Pode utilizar para construir o seu ninho, sobretudo em

se aproximam de seu “território”. Costuma pousar em

zonas urbanas, material de origem humana, como papel,

lugares salientes como postes e topos de árvores. Pode-se

plástico e fios. Põe de 2 a 4 ovos de cor creme com poucas

vê-lo facilmente cantando em fios de telefone, em telhados

marcas marrom-avermelhadas.

ou banhando-se nos tanques ou chafarizes das praças públicas, demonstrando grande capacidade de adaptação.

Existem muitos registros de nidificação em cavidades em

É um dos primeiros a cantar ao amanhecer.

árvores, rochas e estruturas artificiais, em vários países;

Anda geralmente sozinho, mas pode ser visto em grupos

é, portanto, ave que nidifica em cavidades.

de três ou quatro que se reúnem habitualmente em antenas de televisão.

HÁBITOS

Podem ser encontrados em áreas urbanas,matas densas

É agressivo, ameaça até gaviões e urubus quando esses

e ambientes aquáticos como lagoas,rios e praias.

Fotografia: Cláudio Cesar

Casal de Bem-te-vi alimentando filhote

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MANUAL DA FAUNA URBANA

BIGUÁ Nannopterum brasilianus O biguá é uma ave suliforme da família Phalacrocoracidae. Ave aquática, mergulha em busca de peixes e permanece um bom tempo debaixo d’água, indo aparecer de novo bem lá na frente, mostrando apenas o pescoço para fora d’água. Para facilitar seus mergulhos, suas penas ficam completamente encharcadas, eliminando o ar que fica entre elas. Para secá-las é comum vê-lo pousado com as asas abertas ao vento. Também é conhecido pelos nomes de biguá-una, imbiuá, mergulhão, cormorão, miuá e pata-d’água. Por ser inteiramente negro, recebe o nome comum, também, de corvo-marinho.

nua e com tufos brancos atrás das regiões auriculares. No período nupcial, as cores ficam mais vivas na plumagem de ambos os sexos. Não existe nenhuma diferença na plumagem entre o macho e a fêmea. Os indivíduos juvenis apresentam a plumagem amarronzada, um pouco mais clara na garganta e nas asas escuras. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de peixes e crustáceos. Para capturar sua presa, mergulha a partir da superfície da água e, submerso, persegue-a. Os pés e o bico possuem função primordial na perseguição e captura. Um exímio mergulhador, não se contenta com os peixes da superfície. Mergulha mar abaixo e em meio a ziguezagues e viravoltas, conseguindo capturar sua presa. Come também girinos, sapos, rãs e insetos aquáticos. Fotografia: Luiz Kagiyama

R E P R O D U ÇÃO É monogâmico. Na época do acasalamento, o ritual de corte envolve uma ampla gama de movimentos e sons,

CARACTERÍSTICAS

com as aves agitando as asas e movimentando o pescoço

Mede entre 58 e 73 centímetros de comprimento, e

de maneira peculiar. Os membros do casal roncam como

pesa entre 1,2 a 1,4 quilos, envergadura entre 100 e 102

um porco, empoleirados lado a lado, e executam curiosos

centímetros.

meneios laterais com a cabeça, por repetidas vezes, copulando

Sua plumagem é totalmente preta com saco gular

a seguir. Nidifica em colônias sobre árvores em matas

amarelo. Possui pescoço longo, cabeça pequena, bico

alagadas, sarandizais, etc. O ninho é construído pelo casal.

cinzento amarelado longo e fino, sendo que a ponta da

Enquanto o macho escolhe os locais de nidificação e traz

maxila termina em forma de gancho.

material de ninho, é a fêmea que realmente constrói o

É possível observar uma discreta sobrancelha esbranquiçada.

ninho. Porções de ninhos anteriores são frequentemente

Íris azuis, pernas e pés palmados pretos. Na época da

reutilizadas. Os ninhos são geralmente compostos por uma

reprodução apresenta penas brancas beirando a garganta

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AVES

Fotografia: Ger Bosma Photos

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Fotografia: Marco Guedes

camada externa espessa de galhos e gravetos, forrada

mas voa para ilhas próxima à costa, podendo aí nidificar.

com gramíneas moles e algas.

Não possui glândula uropigiana, encharcando totalmente sua

A fêmea põe geralmente 3 a 4 ovos ovais, de cor azul

plumagem para aumentar o peso e facilitar os mergulhos.

a azul-claro, que são incubados pelo casal.

Quando sai da água, seca sua plumagem abrindo a cauda e

O período de incubação varia de 23 a 26 dias. Os filhotes

as asas ao sol, ofegando de bico aberto, por vezes revelando

são alimentados por ambos os pais, que regurgitam o alimento

seu saco gular amarelo.

em seus bicos. São alimentados até as 11 semanas de

Descansa pousado na beira d’água, sobre pedras, árvores,

vida, e com 12 semanas já são totalmente independentes.

estacas ou mesmo sobre cabos. Empoleirado em um só pé, coça o píleo com as unhas, de forma cômica. Dorme em árvores ressequidas, ao lado de garças, nos manguezais ou

HÁBITOS

em sarandizais. Devido a suas fezes serem ácidas, podem

Vive em águas interiores e na orla marítima, também

danificar árvores, mas adubam a água, favorecendo a

ocorrendo em rios, lagos, banhados, açudes, represas,

manutenção das populações de peixes, e assim atraindo

estuários, manguezais e nas cidades em parques com

outras aves para se alimentar.

lagoas. Não se afasta da costa para se aventurar no mar,

40


AVES

Fotografia: Evaldo Resende

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Suliforme Família

Phalacrocoracidae Subfamília

Tyranninae Espécie

N. brasilianus

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AVES

Fotografia: Socioambiental.org

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MANUAL DA FAUNA URBANA

CA N Á RIO- DA-TERRA Sicalis flaveola O canário-da-terra-verdadeiro, também é conhecido como canário-da-horta, canário-da-telha (Santa Catarina), canário-do-campo, chapinha (Minas Gerais), canário-do-chão (Bahia), coroinha e cabeça-defogo, é uma ave admirada pelo canto forte e estalado e por isso é frequentemente aprisionado como ave de cativeiro (está entre as 10 mais apreendidas, segundo o IBAMA), mesmo tal ato sendo considerado crime federal inafiançável pela Lei de Crimes Ambientais. Graças à ação das autoridades e da conscientização da população, registros do canário-da-terra-verdadeiro vêm se tornando mais frequentes nos últimos anos

Fotografia: Marcio Belli

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AVES

Canรกrio-da-terra jovem Fotografia: Guilherme Alencar

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MANUAL DA FAUNA URBANA CARACTERÍSTICAS Tamanho aproximado: 13,5 centímetros. Peso médio: 20 gramas. Cor amarelo-olivácea com estrias enegrecidas nas costas e próximo das pernas. Asas e cauda cinza-oliva. A íris é negra e o bico tem a parte superior cor de chifre e a inferior é amarelada. As pernas são rosadas. A fêmea e o jovem têm a parte superior do corpo olivácea com densa estriação parda por baixo, com as penas e cauda e tarso quase enegrecidos, mas quando adultos assumem a coloração amarela. Com 4 a 6 meses de idade, os filhotes machos já estão cantando, e levam cerca de 18 meses para adquirir a plumagem de adulto. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de sementes no chão. É uma espécie predominantemente granívora (come sementes). O formato do bico é eficiente em esmagar e seccionar as sementes,

Fotografia: portaldasmissoes.com

sendo, portanto, considerada predadora e não dispersora de sementes. Ocasionalmente alimenta-se de insetos. Costuma

Canário-da-terra adulto ao lado de um jovem

frequentar comedouros com sementes e quirera de milho. R E P R O D U ÇÃO Faz ninhos cobertos, na forma de uma cestinha, em lugares que variam desde uma caveira de boi até bambus perfurados. Frequentemente utiliza ninhos abandonados de outros pássaros, sobretudo do joão-de-barro. Pode fazer ninhos em forma de cesta em plantas epífitas (orquídeas e bromélias), em buracos de telhas e outros locais que ofereçam proteção. A fêmea põe em média 4 ovos, que são chocados por 14 ou 15 dias. HÁBITOS Vive em campos secos, campos de cultura e caatinga, bordas de matas, áreas de cerrado, campos naturais, pastagens abandonadas, plantações e jardins gramados, sendo mais numeroso em regiões áridas. Costuma ficar em bandos quando não está em período de acasalamento. Vive em grupos, às vezes de dezenas de indivíduos. O macho tem um canto de madrugada bem extenso e áspero, diferente do canto diurno. O canto de corte é melodioso e baixo, acompanhado de um display parecido com uma dança em volta da fêmea.

Fotografia: Guilherme Alencar

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AVES

Classificação Científica

Fotografia: Lelasca

Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Thraupidae Espécie

S. flaveola

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MANUAL DA FAUNA URBANA

C AR C AR Á Caracara plancus Também conhecido como caracará, carancho, caracaraí (Ilha do Marajó),gavião-de-queimada e gavião-calçudo, o carcará não é, taxonomicamente uma águia, e sim um parente distante dos falcões. É tanto visto sozinho como em bandos numerosos em redor de mamíferos e carcaças. Ocorre em campos abertos, cerrados, borda de matas e inclusive centros urbanos de grandes cidades.

Fotografia: mundoecologia.com

CARACTERÍSTICAS

tipo “carijó”; patas compridas e de cor amarela; em voo,

Medindo cerca de 50-60 centímetros da cabeça a cauda,

assemelha-se a um urubu, mas é reconhecível por duas

o peso do macho é de 834 g , e a fêmea de 953 g e mede

manchas de cor clara na extremidade das asas.

cerca de 123 centímetros de envergadura, o carcará é

Deve seu nome à vocalização que emite. O peso varia

facilmente reconhecível quando pousado, pelo fato de

de 786-953 gramas.

possuir uma espécie de solidéu preto sobre a cabeça, assim como um bico adunco e alto, que assemelha-se à

A L I M E N T A ÇÃO

lâmina de um cutelo; a face é vermelha.

Não é um predador especializado, e sim um generalista

É recoberto de preto na parte superior e possui o peito

e oportunista assim como o seu parente próximo, o

de uma combinação de marrom claro com riscas pretas, de

carrapateiro (Milvago chimachima). Onívoro, alimenta-se

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AVES

Fotografia: Raul M. R. T. Fonseca

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MANUAL DA FAUNA URBANA

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AVES

Fotografia: Luiz Ricardo Fernandes

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MANUAL DA FAUNA URBANA de quase tudo o que acha, de animais vivos ou mortos até

o seu nome comum, “carcará”. Nesse chamado, dobra o

o lixo produzido pelos humanos, tanto nas áreas rurais

pescoço e mantém a cabeça sobre as costas, enquanto

quanto urbanas. Adaptou-se à presença humana, comendo

emite o som (algumas espécies de aves de rapina tem

restos de comida no lixo das casas ou as vísceras de peixe

o mesmo habito de dobrar o pescoço para trás quando

nos acampamentos de pescadores. Suas estratégias para

emitem som). É visto com frequência em áreas urbanas.

obtenção de alimento são variadas: caça lagartos, cobras, sapinhos e caramujos; rouba filhotes de outras aves, até de espécies grandes como garças, colhereiros e tuiuiú (Jabiru mycteria); arranha o solo com os pés em busca de amendoim e feijão; apanha frutos de dendê; ataca filhotes recém-nascidos de cordeiros e outros animais. Também segue tratores que estão arando os campos, em busca de minhocas e larvas ou pequenos vertebrados, como anfíbios Leptodactylus fuscus. É muito comum ser avistado ao longo das rodovias para alimentar-se dos animais atropelados. Fica nas proximidades dos ninhais para comer restos de comida caídos no chão, ovos ou filhotes deixados sem a presença dos pais. Chega a reunir-se a outros carcarás para matar uma presa maior. É também uma ave comedora de carniça e é comumente visto voando ou pousado junto a urubus pacificamente, principalmente ao longo de rodovias ou nas proximidades de aterros sanitários e locais de depósito de lixo. Dois hábitos pouco conhecidos são a caça de crustáceos nos manguezais (seja entrando na água para abocanhar os que estão perto, ou percorrendo o mangue a pé, na maré baixa) e a pirataria (o fato de perseguir gaivotas e águias-pescadoras (Pandion haliaetus), forçando-as a deixar a presa cair, que apanha em voo). HÁBITOS Vive solitário, aos pares ou em grupos, beneficiando-se da conversão da floresta em áreas de pastagem, como aconteceu no leste do Pará. Pousa em árvores ou cercas, sendo freqüentemente observado no chão, junto à queimadas e ao longo de estradas. Passa muito tempo no chão, ajudado pelas suas longas patas adaptadas à marcha, mas é também um excelente voador e planador, costuma acompanhar as correntes de ar ascendentes. Durante a noite ou nas horas mais quentes do dia, costuma ficar pousado nos galhos mais altos, sob a copa de árvores isoladas ou nas matas ribeirinhas. Para avisar os outros carcarás de seu território ou

Fotografia: mundoecologia.com

comunicação entre o casal, possui uma chamado que origina

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AVES Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Falconiforme Família

Falconidae Espécie

C. plancus

Fotografia: Schopfkarakara

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MANUAL DA FAUNA URBANA

CH O CA -B A R R A DA Thamnophilus doliatus A choca-barrada é uma ave passeriforme da família Thamnophilidae. Também conhecida como maria-cocá, gata-véia (interior paulista) e em algumas cidades do triângulo mineiro também é chamado se-eu-sou-seu-coroné, devido ao canto o nome é onomatopeico.

Fotografia: Caio Britto

Choca-barrada macho

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AVES É a choca de distribuição mais ampla e a que mais se aproxima do ser humano, tanto por não ser arisca quanto

Fotografia: Carlos Funes

por ser bem generalista e se adaptar a áreas alteradas. Sua distribuição original compreendia cerradões, bordas de matas de galeria e outras formações florestais não muito densas. No fim da década de 80 sua aparição em áreas urbanas foi até motivo para publicações em periódicos ornitológicos, mas hoje em dia sua presença em nossas cidades já não é mais novidade e já foi encontrada até mesmo em parques próximos ao centro de metrópoles como Campinas e Ribeirão Preto. Sua distribuição vem crescendo e recentemente chegou à cidade de São Paulo, que está fora de sua distribuição original que era restrita a áreas de cerrado.

Choca-barrada fêmea

CARACTERÍSTICAS Domina no macho a coloração negra, enquanto na fêmea ela é amarronzada. Entretanto, o macho é todo barrado (razão de um dos nomes comuns), exceto pelo negro uniforme do alto da cabeça, enquanto a fêmea possui somente os lados da cabeça estriados. Na ave adulta, o olho é branco com leve tom amarelado (marrom avermelhado nos juvenis). Também mantém as penas da cabeça eriçadas boa parte do tempo, em um topete muito destacado. Apresenta um comprimento de 16 centímetros. A L I M E N T A ÇÃO Percorrem a parte central e alta dos arbustos, caçando invertebrados e mantendo contato com piados graves. HÁBITOS Costumam freqüentar as capoeiras, bordas da mata ciliar, cerradões e matas secas, raramente entrando alguns metros na vegetação mais alta.

Fotografia: Marcelo Belarmino

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Tyranni Família

Thamnophilidae Espécie

T. doliatus

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AVES

Fotografia: José Getúlio de Oliveira

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MANUAL DA FAUNA URBANA

CHU PI M Molothrus bonariensis Também conhecido por azulego, maria-preta, chopim, vira-bosta, chupim-vira-bosta, godero, gaudério, cupido (Maranhão), papa-arroz-escuro (Paraíba), rola-bosta (Espírito Santo), engana-tico, maria-vadia (nordeste do Goiás) e azulão-de-chiqueiro (Bahia e sul do Piauí). Dá nome a uma canção de Renato Teixeira. É provavelmente a ave mais odiada do Brasil, principalmente por causa de seus hábitos reprodutivos parasitários, pois nunca cuida de seus próprios ovos, sempre os botando nos ninhos de outras aves para que elas criem seus filhotes. Nada menos do que 62 espécies já foram listadas como hospedeiras, desde aves maiores até menores do que o chupim.

A L I M E N T A ÇÃO Possui uma dieta onívora, alimentando-se principalmente de insetos e sementes, mas ocasionalmente come frutos. Costuma frequentar comedouros com sementes e quirera de milho. Também pode se alimentar de carrapatos em capivaras. R E P R O D U ÇÃO O período entre julho e dezembro marca o início da reprodução, mas é após o acasalamento que se inicia a fase pela qual a espécie é mais conhecida. Esta espécie não constrói ninho e a fêmea põe 4 ou 5 ovos por postura, sendo um no ninho de cada hospedeiro. Porém, em ninhos de sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e joão-de-barro (Furnarius rufus), já foram encontrados

Fotografia: Guilherme Alencar

Fotografia: Internet

CARACTERÍSTICAS Mede cerca entre 17 e 21,5 centímetros de comprimento e pesa entre 44,9 e 63,7 gramas. O macho adulto é preto-azulado, mas dependendo da iluminação só se enxerga a cor negra. A fêmea é marromescura. Pode ser confundido com a graúna (Gnorimopsar chopi), mas ela é maior e possui o bico mais alongado e fino. Tico-tico (Zonotrichia capensis) alimentando filhote de Chupim

58


AVES

Fotografia: Caduagne

Chupim jovem

HÁBITOS

35 e 14 ovos de chupim, respectivamente. Para chegar ao ninho hospedeiro, segue os futuros “pais adotivos”.

Habita paisagens abertas como campos, pastos, parques

Os ovos são de colorido uniforme e com a casca sem

e jardins. Entre junho e setembro é muito gregário,

brilho, branco-esverdeados, vermelho-claros ou verdes, ou

concentrando-se em pousos noturnos comunitários ou

ainda com manchas e pintas, conforme a região geográfica.

buscando alimentos em gramados e áreas campestres

O tico-tico (Zonotrichia capensis) é muito parasitado e a

com capim baixo.

adaptação vantajosa para o chupim é a postura de seu ovo antes, ou no mesmo dia, daquela do primeiro ovo do hospedeiro.

Fotografia: João Daltro

Como o período de incubação do vira-bosta é de 11 ou 12 dias, um a menos do que o do tico-tico, seu filhote, que é bem maior, nasce antes. Desta forma, o filhote do chupim pode eliminar do ninho seus companheiros ticoticos ou receber mais alimento, tendo maior probabilidade de sobrevivência. Quando abandona o ninho, o filhote chupim é alimentado pelos pais adotivos por 15 dias, solicitando alimento no bico através de um chamado característico, abaixando o corpo e tremulando as asas. Também pode colocar seus ovos em ninhos de galinhas domésticas, como a garnisé.

Chupim fêmea

59


MANUAL DA FAUNA URBANA

Nessas concentrações, é possível observar os machos ameaçando-se

mutuamente

com

seu

catar migalhas em locais públicos e a seguir arados para

característico

capturar minhocas e outros pequenos animais.

comportamento de apontar o bico para cima e caminhar

É considerado uma praga agrícola, especialmente em

em direção ao oponente com as penas brilhando ao sol.

arrozais do sul do país.

Na região da caatinga realiza pequenas migrações locais,

O macho se exibe para a fêmea com voos curtos nos

sempre em busca de áreas verdes e com água.

quais canta sem parar, arrepia suas penas e bate as asas

O hábito de fuçar nas fezes do gado à procura de sementes

semiabertas, e também com apresentações que envolvem

mal digeridas lhe conferiu seu nome popular vira-bosta.

eriçar as penas, balançando-as rapidamente e vocalizar.

Segue o gado para capturar os insetos por ele deslocados.

Uma caracterísitca do seu canto é que sua vocalização

Aprende a comer em comedouros artificiais de aves, a

atinge frequências inaudíveis para os seres humanos.

Fotografia: Geancarlo Merighi

Cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana) alimentando filhote de Chupim

60


AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Tyranni Família

Icteridae Espécie

M. bonariensis

Fotografia:Chico Helder

61


MANUAL DA FAUNA URBANA

C OL E IR IN H O Sporophila caerulescens Também conhecido como coleiro, coleiro-zel-zel, coleirinha, papa-capim, papa-capim-de-coleira, papaarroz, gola de cruz (Bahia) ou coleiro-tuí-tuí, papa-mineiro (Paraíba) e gola (Ceará). É a espécie mais popular do grupo dos papa-capins, sendo também a mais abundante na maioria dos locais onde ocorre. Como todos os outros membros do gênero Sporophila, pode ser chamado de “papa-capim” acompanhado de algum outro adjetivo. Sua principal ameaça é a captura indiscriminatória por admiradores de pássaros canoros (tráfico de animais)

Fotografia: Leonardo Casadei

Coleirinho macho

CARACTERÍSTICAS

do desenho da garganta do macho. Os machos juvenis

Mede 12 cm. O macho, com seu inconfundível colar

saem do ninho com a plumagem idêntica à da fêmea. As

branco e negro recebeu essa denominação. Além do colar,

fêmeas não são canoras.

ao lado da garganta negra um “bigode” branco define a

R E P R O D U ÇÃO

área sob o bico amarelado ou levemente cinza-esverdeado.

No período reprodutivo (outubro a fevereiro), o casal

Existem machos com peito branco e outros com peito

afasta-se do grupo e estabelece seu território.

amarelo (ambos pertencem à forma nominal, sendo a

No início, o ninho é construído pelo macho e todas as

forma de peito amarelo apenas um morph ou variação).

demais tarefas correspondem à fêmea, ficando o macho

A fêmea é toda parda, mais escura nas costas. Sob luz

com a atribuição de cantar para afastar outros coleiros da

excepcional, é possível ver que ela também possui o esboço

62


AVES

Fotografia: Frodoaldo Budke

Coleirinho Fêmea

ou menos; cada fêmea choca 3 ou 4 vezes por ano. Os filhotes abandonam o ninho após 13 dias de vida e, com 35 dias, já estão aptos a comerem sozinhos, atingindo a maturidade sexual logo no primeiro ano de vida. Podem viver em média de 10 a 12 anos. HÁBITOS Fora do período reprodutivo, é uma ave de comportamento gregário, vivendo em grupos de 6 a 20 indivíduos, inclusive às vezes formando grupos mistos com outras espécies de Fotografia: Alex Bovo

papa-capins e tizius. O peso e tamanho reduzidos permitem a esta ave alcançar as sementes de gramíneas trepando pela haste das plantas.

área. Apesar de viver nas áreas abertas, procura árvores

Assim como outras aves, o coleirinho foi beneficiado pela

da borda das matas nos horários quentes do dia e nidifica

introdução de algumas gramíneas africanas, especialmente

em árvores e arbustos do contato mata/campo aberto.

da braquiária, que parece ser a base de sua alimentação

O ninho, feito à base de gramíneas, raízes e outras

em áreas alteradas pelo homem.

fibras vegetais, é construído em forma de tigela rasa sobre

As populações mais meridionais são migratórias e

arbustos a poucos metros do solo. A fêmea põe geralmente

deslocam-se para latitudes mais baixas nos perídos do

2 ovos, que são incubados por cerca de duas semanas

ano que são mais frios.

63


MANUAL DA FAUNA URBANA Fotografia: Dário Sanches

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Thraupidae Subfamília

Sporophilinae Espécie

S. caerulescens

64


AVES

Fotografia: Dรกrio Sanches

65


MANUAL DA FAUNA URBANA

CORUJA-BURAQUEIRA Athene cunicularia Também conhecida pelos nomes de caburé, caburé-de-cupim, caburé-do-campo, coruja-barata, coruja-docampo, coruja-mineira, corujinha-buraqueira, corujinha-do-buraco, corujinha-do-campo, guedé, urucuera, urucureia, urucuriá, coruja-cupinzeira (algumas cidades de Goiás) e capotinha. Com o nome científico cunicularia (“pequeno mineiro”), recebe esse nome por cavar buracos no solo. Vive carca de 9 anos em habitat selvagem. Costuma viver em campos, pastos, restingas, desertos, planícies, praias e aeroportos.

Fotografia: Guilherme Alencar

Coruja-buraqueira jovem

CARACTERÍSTICAS

Ao contrário da maioria das corujas, o macho é ligeiramente

Ave de pequeno porte, seu tamanho médio é de 21,5 a

maior que a fêmea e as fêmeas são normalmente mais

28,5 cm (machos) e de 22 a 25 cm (fêmeas). Pesa entre

escuras que os machos. Tem voo suave e silencioso. Ela

110 e 285 g (machos) e entre 150 a 265 g (fêmeas).

tem que virar a pescoço, pois seus grandes olhos estão

Possui a cabeça redonda, sem penachos e os olhos estão

dispostos lado a lado num mesmo plano. Essa disposição

dispostos lado a lado, num mesmo plano. As sobrancelhas

frontal proporciona à coruja uma visão binocular (enxerga

são brancas e os olhos amarelos.

um objeto com ambos os olhos e ao mesmo tempo). Isso

A coloração é cor de terra, mimética, podendo apresentar

significa que a coruja pode ver objetos em três dimensões,

plumagem em tons de ferrugem causados por solos de

ou seja, com altura, largura e profundidade. Os olhos

terra roxa (coloração adventícia).

da coruja-buraqueira são bem grandes, em algumas

66


AVES

subespécies de corujas são até maiores que o próprio

totalmente branco, sem as variações marrons, possui uma

cérebro, a fim de melhorar sua eficiência em condições de

barra amarela passando por toda a asa superior.

baixa luminosidade, captando e processando melhor a luz

Estudos indicaram que não existe forma segura de

disponível. Além de sua privilegiada visão, a buraqueira

diferenciar os sexos nesta espécies, pois são similares

possui uma ótima audição, conseguindo localizar sua presa

em tudo, sendo quase impossível diferenciar o casal.

com apenas este sentido.

O maior inimigo da coruja buraqueira é o homem, visto

Não possui topetes na orelha, tem um disco facial aplainado.

que, por ser uma ave de rapina, quase não tem predadores

Sua sobrancelha é branca, possui um remendo branco no

naturais. Entretanto, o danoso trânsito de carros sobre a

queixo, que se assemelha a uma boca grande desenhada.

vegetação da praia é o principal fator da destruição da

O adulto possui um tom de cor forte, tem o peito e a

coruja buraqueira, juntamente com outras espécies da

barriga com coloração parda, traços cor de terra, variações

fauna da praia que compõem a cadeia alimentar, pois, ao

de marrom, que lembram manchas e barras. O jovem é

passarem sobre a boca dos ninhos, esses veículos soterram

similar na aparência, mas é gorduchinho, desengonçado,

o túnel, matando mãe e filhotes asfixiados debaixo da

com as penas descabeladas e coloração leve. Seu peito é

camada de areia em que se encontram.

Fotografia: Guilherme Alencar

Coruja-buraqueira adulta

67


MANUAL DA FAUNA URBANA do ninho com capim seco. As covas possuem em torno Fotografia: Marcio Varchaki

de 1,5 a 3 metros de profundidade e 30 a 90 centímetros de largura. Ao redor acumula estrume e se alimenta dos insetos atraídos pelo cheiro. Botam, em média, de 6 a 11 ovos; o número mais comum é de 7 a 9 ovos. A incubação dura de 28 a 30 dias e é executada somente pela fêmea. Enquanto a fêmea bota os ovos, o macho providencia a alimentação e a proteção para os futuros filhotes. Os cuidados da cria enquanto ainda estão no ninho são tarefa do macho. Os filhotes saem do ninho com aproximadamente 44 dias e começam a caçar insetos quando estão com 49 a 56 dias. Os filhotes, ao escutarem o alerta, entram no ninho, enquanto os adultos voam para pousos expostos e atacam decididamente qualquer fonte de perigo para os filhos. Podem defender o ninho, voando em direção a um predador potencial, inclusive pessoas, desviando no último momento; visualizada várias vezes vocalizando e espantando invasores como cachorros e gatos. HÁBITOS Costuma viver em campos, cerrados, pastos, restingas, planícies, praias, aeroportos e terrenos baldios em cidades. Coruja terrícola, tem hábitos diurnos e noturnos, mas é ativa, principalmente durante o crepúsculo, quando faz

Corujas-buraqueira jovens no ninho

A L I M E N T A ÇÃO

Fotografia: Guilherme Ortiz

É uma predadora de pequeno porte com hábito carnívoroinsetívoro, sendo considerada generalista por consumir as presas mais abundantes de acordo com a estação, tendo preferência por roedores. As ordens de insetos consumidas são: coleópteros (besouros), ortóptera (grilos e gafanhotos), díptera e himenóptera. Os vertebrados consumidos são representados pelos: roedentia, marsupialia, amphibia, répteis squamata, microquiroptero (morcegos verdadeiros). R E P R O D U ÇÃO A reprodução da coruja-buraqueira começa entre março ou abril. Faz seus ninhos em cupinzeiros, buracos de tatu e buracos na areia em regiões litorâneas, costumando cavar túneis de até 2 metros e forrar o fundo com capim seco. O casal se reveza, alarga o buraco, cava uma galeria horizontal usando os pés e o bico e por fim forra a cavidade

Coruja-buraqueira se alimentando

68


AVES Fotografia: Guilherme Alencar

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Strigiformes Família

Strigidae Espécie

A. cunicularia

69


MANUAL DA FAUNA URBANA

Fotografia: Guilherme Alencar

uso de sua ótima audição. Tem o campo visual limitado,

baixo, onde prenda com facilidade insetos e pequenos

mas essa deficiência é superada pela capacidade de girar

roedores no solo. O casal se reveza, alargando o buraco,

a cabeça até 270 graus, o que ajuda na focalização.

cavando uma galeria horizontal usando os pés e o bico e,

Ocupa ambientes alterados pela ação humana, inclusive

por fim, forrando a cavidade do ninho com capim seco.

cidades e pistas de pouso ou aeroportos. A coruja-buraqueira

As corujas foram observadas em colônias, havendo uma

possui um comportamento peculiar, além dos próprios feitos

área pequena de buraco para buraco. Tais agrupamentos

pelas corujas, por ser vista durante o dia e ficar pousada,

podem ser uma resposta a uma abundância de buracos

ereta, em locais expostos ou no solo, em postes, troncos,

e alimento ou uma adaptação para a defesa mútua. Os

muros, em cima de cactos etc. Tem o hábito de ficar

membros da colônia podem alertar-se à aproximação dos

sobre uma perna, o que não é copiado por outras corujas.

predadores e juntar-se e fugir.

Utiliza um buraco não somente para assentamento, mas

Essas corujas têm o costume de coletar uma larga

para descansar, esconder-se, como um refúgio durante

variedade de materiais para revestir seu ninho. O material

o dia e construir ninhos, normalmente ocupados por um

mais comum é o estrume, que é colocado dentro da câmara

casal. É uma coruja tímida, mas é ligeiramente tolerante

do ninho e em volta da entrada. Acreditava-se que a coruja

à presença humana. Cava seus próprios buracos com a

fazia isso para encobrir o cheiro dos ovos e dos filhotes,

ajuda dos pés e do bico, ficando até mesmo toda suja na

a fim de protegê-los de predadores, como os texugos-

construção da toca, mas ela prefere os buracos já feitos,

americanos. No entanto, foi descoberta uma utilização

abandonados por outros animais como os tatus, cães-da-

mais nutritiva e criativa. As tocas com estrume contêm dez

pradaria, texugos ou esquilos de chão.

vezes mais besouro-do-estrume do que as das corujas que

Na chegada da primavera, a buraqueira macho escolhe

não usam estrume. Isso ocorre porque os besouros, cuja

ou escava um buraco, normalmente em regiões de capim

própria atividade nidificadora consiste em achar estrume

70


AVES

para depositar seus ovos, acabam sendo atraídos pelas

o dia, chamando a atenção para a coruja. Os filhotes, ao

buraqueiras. Assim, o estrume proporciona alimento fácil

escutarem o alerta, entram no ninho, enquanto os adultos

para as fêmeas incubadoras e, é claro, também para os

voam para pousos expostos e atacam decididamente qualquer

próprios machos, que passam a maior parte do tempo

fonte de perigo para os filhos. Eles também fazem outros

protegendo os buracos dos ninhos e por isso não têm

sons que são descritos como pancadas e gritos, que é

oportunidade de caçar. Esse esterco também serve para

parecido com “piá, piar, piaaar”. Quando as buraqueiras

ajudar a controlar o microclima dentro da cova, não o

emitem esses sons, normalmente estão movimentando a

deixando quente demais.

cabeça, para baixo e para cima. Os filhotes também emitem

A qualquer sinal de perigo, a coruja buraqueira emitem

sons: quando perturbados, produzem um som que lembra

um som alto, forte e estridente. Esse alarme é dado durante

o de uma cascavel, espantando assim os predadores.

Fotografia: Cristian Dimitrius

71


MANUAL DA FAUNA URBANA

GA RÇA - BRANCA-GRANDE Ardea alba A garça-branca-grande (Ardea alba, sinônimo Casmerodius albus), também conhecida apenas como garçabranca, é uma ave da ordem Pelecaniformes. É comum à beira dos lagos, rios e banhados. Foi muito caçada para a retirada de egretas - penas especiais que se formam no período reprodutivo - para a indústria de chapéus para mulheres.

Fotografia: Hillebrand Steve

CARACTERÍSTICAS Mede entre 65 e 104 centímetros de comprimento e pesa

no período reprodutivo). Muitas pessoas pensam que a

entre 700 e 1700g. Seu corpo é completamente branco, com

garça-branca-pequena (Egretta thula, página 78) é o filhote

a íris amarela É facilmente identificada pelas longas pernas

da garça-branca-grande, porém trata-se de uma espécie à

e pescoço, característica dos membros da família.

parte, que difere da última por apresentar a ponta do bico e as pernas escuras, enquanto a base do bico e os pés são

O bico é longo e amarelo, e as pernas e dedos pretos.

amarelados, sendo também menor.

Apresenta enormes egretas (penas especiais que se formam

72


AVES

Fotografia: Raquele Marin

Garças-branca-grande jovens

A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se principalmente de peixes, mas já foi vista comendo quase tudo o que possa caber em seu bico. Pode consumir pequenos roedores, anfíbios, répteis, insetos, pequenas aves e até lixo. Em pesqueiros aproxima-se muito dos pescadores para pegar pequenos peixes por eles dispensados, chegando a comer na mão. É muito inteligente e pode usar pedaços de pão como isca para atrair os peixes dos quais se alimenta. Engole às vezes cobras e preás. Aproxima-se sorrateiramente com o corpo abaixado e o pescoço recolhido e bica seu alimento, esticando seu longo pescoço. Há relatos de pessoas que afirmam que atacam ninhos de pequenas aves em áreas de mangue, onde costumam se alimentar. R E P R O D U ÇÃO Na época da reprodução os indivíduos de ambos os sexos apresentam longas penas no dorso chamadas egretas.

Garça-branca-grande expondo suas penas “egretas”

73


MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Pelicaniformes Família

Ardeidae Espécie

A. alba

74


AVES Fotografia: Guilherme Alencar

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Fotografia: Dário Sanches

Estas egretas foram por muito tempo moda como adorno de chapéus e roupas na Europa e a demanda pelas penas

HÁBITOS

levou centenas de milhares de garças à morte justamente

Vive em grupos de vários animais à beira de rios, lagos e

em seu período reprodutivo. Felizmente é uma prática quase

banhados. É migratória, realizando pequenos deslocamentos

inexistente hoje em dia e a população desta garça é bem

locais ou mesmo se deslocando para além dos Andes durante

numerosa. Constrói o ninho, grande e feito de gravetos,

os períodos de enchentes anuais. Passa voando em áreas

em ninhais que podem ter milhares de indivíduos de várias

urbanas indo para dormitórios.

espécies de aves aquáticas.

76


AVES

Fotografia: Guilherme Alencar

77


MANUAL DA FAUNA URBANA

GARÇA -BRANCA-PE QU EN A Egretta thula A garça-branca-pequena é uma ave da ordem Pelecaniformes da família Ardeidae. Também conhecida como garcinha-branca, garça-pequena e garcinha. Geralmente confundida por aparentar ser filhote da Garça-branca-grande (Aldea alba) por conta do seu tamanho.

Fotografia: Johnath

78


AVES

Fotografia: Guilherme Alencar

CARACTERÍSTICAS Mede de 51 a 61 centímetros de comprimento e apresenta grandes egretas no período reprodutivo (Egreta: Feixe

R E P R O D U ÇÃO

de plumas alongadas que enfeitam a cabeça de algumas

Associa-se em colônias formando ninhais com outras

garças na época de reprodução, mesma vista na Garça-

espécies. O casal constrói uma plataforma de galhos secos

branca-grande), mais evidenciado nos machos. Totalmente

sobre uma árvore, geralmente próxima à água, onde

branca, além do bico e tarsos serem negros e pés amarelos.

são postos, com 2 ou 3 dias de intervalo, de 3 a 7 ovos

A plumagem é rica em pó, o qual é produzido por

esverdeados ou verde-azulados que medem cerca de 43

plumas de pó concentradas no peito e nos lados do corpo.

por 32 milímetros cada um. Estes ovos são incubados pelo

A L I M E N T A ÇÃO

casal durante 25 a 26 dias e, quando nascem os filhotes,

Alimenta-se de peixes de forma bastante ativa. Aprecia

que são nidícolas (filhotes que permanecem muito tempo

também insetos, larvas, caranguejos, anfíbios e répteis.

no ninho), os pais fornecem-lhes alimento regurgitado.

79


MANUAL DA FAUNA URBANA

G A V IÃO - CAB OC LO Heterospizias meridionalis O gavião-caboclo, também conhecido pelos nomes de gavião-casaca-de-couro, gavião-telha (São Paulo), gavião-fumaça (Mato Grosso), gavião mariano (Ceará) e gavião-tinga (Pará), é um gavião campestre da família dos acipitrídeos, que ocorre do Panamá à Argentina e em todo o Brasil, porém na Amazônia apenas em alguns locais, como o leste do Pará e a região do Baixo Amazonas. Comum em campos, pastagens, borda de alagados, manguezais, pequenas florestas de eucaliptos em áreas campestres e no cerrado.

Fotografia: Marco Cruz

Gavião-carijó se alimentando

CARACTERÍSTICAS A espécie mede cerca de 55 centímetros de comprimento, com plumagem ferrugínea. O adulto é todo marrom avermelhado, com a ponta das asas e cauda negras e penas longas. Possui uma faixa branca, estreita, na cauda. Pernas e pele nua das narinas, amarelas. Bico negro e olho marrom avermelhado. Como em outros gaviões, o jovem é muito diferente. Cores apagadas, cinza amarronzado nas costas e barriga creme, com riscos verticais escuros e uma semi-coleira escura. Sobre os olhos, uma listra clara. A cauda é creme, com finas listras escuras. Faixa larga subterminal negra. Penas longas das asas com listras finas e ponta negra. Fotografia: Gustavo Masuzzo

80


AVES A L I M E N T A ÇÃO É um gavião de áreas abertas, campos e cerrados, onde

Na parte dianteira do incêndio, apanha os pequenos

alimenta-se de várias presas, como pequenos mamíferos,

vertebrados e insetos fugindo da queimada, enquanto na

aves, cobras, lagartos, rãs, sapos e grandes insetos. Na

parte posterior come os animais e insetos moribundos ou

baixa das águas, apanha caranguejos.

mortos pelo fogo. Possui um território de caça exclusivo, afastando os outros gaviões-caboclos. Possui o hábito de ficar por minutos

R E P R O D U ÇÃO

pousado em árvores, estacas ou locais altos onde consegue

Se reproduz de julho a novembro. Faz ninho à pouca

visualizar todo o movimento a sua volta, fazendo do seu

altura, sobre árvores baixas ou palmeiras.

bote certeiro o ataque, passa longos períodos caçando em

Põe 1 ou, raramente, 2 ovos brancos.

um mesmo local. O casal se comunica através de um assobio fino, longo

HÁBITOS

e choroso, repetido continuamente. Voa alto, aproveitando

É o seu hábito de seguir incêndios que chama mais a

as correntes de ar quente para planar, ou através de vôo

atenção, razão do nome comum, gavião-fumaça. Voa para

ativo, com batimento ritmado das asas.

a queimada, geralmente pousando em galhos à frente

Extremamente arisco, o gavião caboclo sempre está

do fogo, ou caminha logo atrás das chamas, às vezes a

alerta a qualquer movimento, levantando vôo rapidamente

poucos metros das labaredas.

quando se sente ameaçado.

Fotografia: Constantino Melo

81


MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Accipitriformes Família

Accipitridae Espécie

H. meridionalis

82


AVES

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MANUAL DA FAUNA URBANA

G AV I Ã O - C AR IJÓ Rupornis magnirostris Encontrado em diferentes ambientes, ocorrendo do México à Argentina e em todo o Brasil. É o terror dos galinheiros. Também é conhecido pelos nomes de anajé, gavião-indaié, gavião-pinhel, gavião-pega-pinto, inajé, gavião-pinhé, indaié, pega-pinto e papa-pinto. Como toda ave de rapina, tem um papel indispensável no equilíbrio da fauna, como regulador da seleção. Evita uma superpopulação de roedores e aves pequenas (como é o caso dos ratos e pombos nos centros urbanos), além de eliminar indivíduos defeituosos e doentes.

Fotografia: Andrew M. Allport

CARACTERÍSTICAS

ave amadurece. O peito é ferruginoso e apresenta largas

Mede de 31 a 41 centímetros de comprimento , e o peso

estrias verticais. O ventre e as pernas são brancos, com

do macho varia entre 206-290 gramas e da fêmea 257-350

primoroso barrado ferrugíneo. A base da cauda é branca,

gramas , sendo os machos 20% menores que as fêmeas.

mas vai se tornando barrada em direção à extremidade.

Há grande diferença entre os adultos e os imaturos,

Existem duas listras negras bem visíveis na extremidade

sendo que os últimos podem ser confundidos com vários

da cauda. Quando em voo, suas asas são largas e de

outros gaviões, pois apresentam a coloração marrom-carijó.

comprimento médio. A coloração básica da parte inferior

Já os adultos apresentam a ponta do bico negra com a

das asas é o bege estriado com finas listras escuras.

base amarelada; a cabeça e a parte superior das asas

Bico recurvado escuro com cere amarela. A íris é clara.

são amarronzadas, mas tornam-se cinza à medida que a

Os tarsos e pés são amarelos e apresentam garras escuras.

84


AVES A L I M E N T A ÇÃO

Fotografia: Pedro C. Lima

Sua ampla distribuição geográfica também se reflete nos seus hábitos alimentares generalistas, pois consome desde insetos até aves e lagartos. Procura os abrigos diurnos de morcegos para atacá-los enquanto dormem. Ataca ninhos de outras aves e por isso é ferozmente perseguido por suiriris, bem-te-vis e tesourinhas. HÁBITOS Costuma voar em casais, fazendo movimentos circulares enquanto os dois vocalizam em dueto. Possui o hábito de utilizar o mesmo poleiro de caça por longo tempo (dias e até semanas). É uma das espécies mais comuns de nosso país, ocorrendo em todos os estados, habitando os mais variados ambientes: campos, bordas de mata, áreas urbanas, etc., sendo mais raro em áreas densamente florestadas. Nas últimas décadas, este gavião passou a se tornar mais comum nos centros urbanos, adaptando-se com sucesso a este ambiente, pois nas cidades a oferta de presas é maior e os seus

Ninho do Gavião-carijó

predadores naturais (outras aves de rapina maiores) são escassos.

Fotografia:Caio Belleza

Gavião-carijó se alimentando

85


MANUAL DA FAUNA URBANA

86


AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Accipitriformes Família

Accipitridae Espécie

R. magnirostris

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MANUAL DA FAUNA URBANA

GR AÚ N A Gnorimopsar chopi O graúna (derivado do tupi “guira-una” = ave preta), é também conhecido como pássaro-preto, chico-preto (Maranhão e Piauí), arranca-milho, chopim, chupão (Mato Grosso), assum-preto e cupido (Ceará), melro e craúna (Paraíba).

Fotografia: Wander Reis

Fotografia: Luciano Bernardes

CARACTERÍSTICAS Mede entre 21,5 e 25,5 centímetros de comprimento e pesa entre 69,7 e 90,3 gramas. É inteiro negro incluindo pernas, bico, olhos e penas, o que origina seu nome popular. Filhotes e jovens não possuem penas ao redor dos olhos. Trata-se de um dos pássaros de voz mais melodiosa deste país. A fêmea também canta. A L I M E N T A ÇÃO Onívoro. Come frutos, sementes, insetos, aranhas e outros invertebrados. Aprecia o coco maduro da palmeira buriti. Apanha insetos atropelados nas estradas e aproveita

Fotografia: Érica Curto

restos de milho junto às habitações humanas ou desenterra sementes recém-plantadas.

88


AVES

Fotografia: Rodrigo Duro Zanini

R E P R O D U ÇÃO

HÁBITOS

Atinge a maturidade sexual aos 18 meses.

É comum em áreas agrícolas, buritizais, pinheirais, pastagens

Faz ninho em árvores ocas, troncos de palmeiras, ninhos

e áreas pantanosas, plantações com árvores isoladas, mortas,

de pica-pau, em mourões, dentro do penacho de coqueiros

remanescentes da mata. Vive normalmente em pequenos

e nas densas copas dos pinheiros, utilizando também ninhos

grupos que fazem bastante barulho. Há quem confunda o

abandonados de joão-de-barro. Ocupa buracos também

graúna com o atrevido chupim (Molothrus bonariensis),

em barrancos e cupinzeiros terrestres.

famoso por parasitar o ninho de várias espécies (ex.:

Às vezes, a graúna faz um ninho aberto, situado em

tico-tico). Enquanto o chupim é elegantíssimo, esguio e

uma forquilha de um galho distante do tronco, em uma

traja cintilantes vestes de tom violáceo, o graúna é negro

árvore densa e alta.

e de porte mais avantajado, além de saber nidificar, não se descuidando da criação da ruidosa prole.

89


MANUAL DA FAUNA URBANA

JO ÃO - D E - B ARRO Furnarius rufus Conhecido também como barreiro, joão-barreiro (Rio Grande do Sul), maria-barreira (Bahia), forneiro, pedreiro, oleiro, hornero (Argentina) e amassa-barro. A fêmea é conhecida como “joaninha-de-barro”, “maria-de-barro” ou “sabiazinho” em certas regiões. É conhecido por seu característico ninho de barro em forma de forno. O joão-de-barro é tido como passarinho trabalhador e inteligente. Seu canto parece uma gargalhada (no Sul dizem que, quando ele canta, é sinal de bom tempo)

Fotografia: Guilherme Alencar

João-de-barro em seu ninho em construção

90


AVES

Fotografia: Rogério Furlanetti

Fotografia: Guilherme Alencar

Gambá-de-orelha-branca em um ninho de João de Barro

CARACTERÍSTICAS Mede 18 a 20 centímetros de comprimento e pesa 49 gramas. Possui o dorso inteiramente marrom avermelhado (por isso o epíteto específico rufus). Apresenta uma suave

Fotografia: Marcelo Vilarta

sobrancelha, formada por penas mais claras, em leve contraste com o restante da plumagem da cabeça. Rêmiges primárias (penas de voo, nas asas) anegradas, visíveis em voo, com as asas abertas. Ventralmente é de coloração clara (alguns indivíduos podem possuir o peito, flancos e barriga amarronzados, semelhante ao dorso), sendo o queixo e pescoço brancos. Excetua-se a cauda, que é avermelhada tanto dorsal quanto ventralmente. É uma das aves de mais fácil observação nos locais onde ocorre, pois além de não se afastar muito de seu território não é nem um pouco arisca, deixando o observador chegar a poucos metros de distância. Quando não está empoleirada desce ao solo, onde passa boa parte de seu tempo caminhando de modo bem típico, alternando pequenas corridas com intervalos nos quais anda mais devagar. A L I M E N T A ÇÃO O pássaro, revirando as folhas, busca cupins, formigas

Periquito-de-encontro-amarelo em um ninho de João-de-barro

ou içás no solo ou sob troncos caídos. Alimenta-se também de outros invertebrados, como minhocas e possivelmente

91


MANUAL DA FAUNA URBANA moluscos. Aproveita restos alimentares humanos, como

adequados, o joão-de-barro faz seu ninho até no peitoril de

pedaços de pão. Pode, em certas épocas de escassez,

janelas. Neste caso ele escolhe o encontro entre a janela

alimentar-se de frutas e quirera de milho em comedouros.

e a parede, assim como escolhe o encontro de galhos quando faz ninho em árvores. As janelas devem estar em locais altos e de difícil acesso.

R E P R O D U ÇÃO

Em locais descampados, com pouca ou nenhuma árvore

O casal constrói em conjunto um ninho interessante,

alta, e como medida de proteção à espécie, recomenda-se

em formato de forno de barro, o qual pode ser facilmente

erguer postes altos dotados de travessas horizontais, que

identificado no alto de árvores e postes em regiões campestres.

serão usados para sua nidificação. A construção do ninho

No interior do ninho há uma parede que separa a entrada e

demora entre 18 dias e 1 mês, dependendo da existência

a câmara incubadora, construída para diminuir as correntes

de chuvas e, portanto, de barro em abundância.

de ar e o acesso de possíveis predadores.

O ninho pesa em torno de 4 quilos e às vezes ocorre a

Utiliza como matéria-prima o barro úmido, esterco e palha,

construção de vários deles, sobrepostos (até 11), em anos

cujas proporções dependem do tipo de solo (se arenoso, a

consecutivos. Põe de 3 a 4 ovos, a partir de setembro, e

quantidade de esterco chega a ser maior do que a de terra).

a incubação dura de 14 a 18 dias.

Não utiliza o mesmo ninho por duas estações seguidas,

O casal chega sempre em posições diferente da árvore,

parecendo realizar um rodízio entre dois a três ninhos,

ora por cima, ora por trás, esquerda ou direita.

reparando ninhos velhos semi-destruídos.

O casal, além de se revezar na construção, em alguns

Quando não há mais espaço para a construção de novos

momentos divide tarefas, sendo que um fica no ninho ajeitando

ninhos, o pássaro o constrói em cima (até 11) ou ao lado

o barro e o outro traz o material. Uma vez abandonados,

do velho. Em locais urbanizados, quando faltam suportes

os ninhos são reutilizados por outras espécies de aves

Fotografia: Dário Sanches

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AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Tyranni Família

Furnariidae Espécie

F. rufus

Fotografia: Guilherme Alencar

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MANUAL DA FAUNA URBANA

(canário-da-terra-verdadeiro, tuim, pardal e andorinhas).

em postura altiva e tremulando as asas, com um canto

Também são reutilizados por lagartixas, rãs, pequenas

extremamente estridente. Há várias lendas sobre esta

cobras, ratos silvestres e até por abelhas.

espécie e a mais famosa, que já virou até tema de uma canção intitulada João-de-barro, diz que se o macho for traído ele pode trancar a fêmea no ninho até que ela morra.

HÁBITOS

Tal comportamento nunca foi registrado cientificamente.

É muito comum em paisagens abertas, como campos,

Uma provável dificuldade para a utilização dos ninhos

cerrados, pastagens, ao longo de rodovias e em jardins.

é a temperatura de seu interior, que lhes confere o nome

Caminha pelo chão em busca de insetos, frequentemente

forno tanto no nome científico Furnarius quanto no nome

pousando em postes, cercas, galhos isolados e outros

em espanhol hornero.

pontos que permitam uma boa visão dos arredores. Vive

Esta ave tipicamente campestre vem aumentando

geralmente aos casais.

significativamente tanto a sua distribuição quanto abundância.

Canta em dueto (macho e fêmea juntos, cada qual de

E uma curiosidade: é a ave símbolo da Argentina.

um modo um pouco diferente) nos arredores do ninho,

Fonte: Cássio Marcelino/TV TEM

Registro de uma “torre” de ninhos de João-de-barro

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AVES

Fotografia: Thiago Oliveira Castro Vieira

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MANUAL DA FAUNA URBANA

PERIQUITÃO-MARACANÃ Psittacara leucophthalmus Também conhecido por aratinga-de-bando, é uma ave da ordem Psittaciformes, família Psittacidae. Apresenta outros nomes populares como: araguaí e maritaca (São Paulo e Minas Gerais), araguari, aratinga, arauá-i, aruaí, cravo, guira-juba, maracanã, maracanã-malhada maricatã (Minas Gerais). Não é considerada como sendo ameaçada, embora o tráfico venha afetando suas populações.

Fotografia: Caroline S. Borges

96


AVES

Fotografia: Rafael Martos Martins

Bando de Periquitão-maracanã

CARACTERÍSTICAS

R E P R O D U ÇÃO

Possui a cabeça com forma “oval”. Possui coloração geral

Os casais nidificam isoladamente em ocos de pau,

verde, com os lados da cabeça e pescoço com algumas penas

palmeiras de buriti, paredões de pedra, e também embaixo

vermelhas, apenas as coberteiras inferiores pequenas da

de telhados de edificações humanas, o que ajuda muito na

asa são vermelhas, sendo as grandes inferiores amarelas,

sua ocupação de espaços urbanos. Mantêm-se discretos

chamando muito a atenção em voo.

quando nidificam em habitações, chegando e saindo do

Região perioftálmica nua e branca, íris laranja, bico cor

ninho silenciosamente e esperando pousados em árvores

de chifre clara, pés acinzentados.

até que possam voar para o ninho sem serem percebidos.

Tamanho médio de 30 á 32 centímetros. O peso varia

Como a maior parte dos psitacídeos, não coletam materiais

entre 140 e 171 gramas. Nos jovens as penas vermelhas

para a construção do ninho, colocando e chocando os ovos

da cabeça e sob as asas são ausentes, sendo de cor verde.

diretamente sobre o solo do local de nidificação. Quando

Quando em bando vocaliza de forma bem característica.

nidificam em habitações, costumam roer fios e causar curto-circuitos.

A L I M E N T A ÇÃO

Não frequenta regiões com rios de águas escuras, e

O periquitão-maracanã se alimenta principalmente de

em geral encontra-se em terras baixas. Voa em bandos

frutos e sementes.

de 5 a 40 indivíduos. Dorme coletivamente em variados

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Psittaciformes Família

Psittacidae Espécie

P. leucophthalmus

Fotografia: Ricardo Venerando

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AVES

lugares. É muito frequente em áreas urbanas, onde passam

em áreas urbanas como do Rio de Janeiro, onde passam voando

voando em bandos grandes fora do período de reprodução.

em bandos grandes fora do período de reprodução. Ocorre em quase todo o Brasil, sendo encontrado

HÁBITOS

desde em florestas até cidades. É uma ave adaptável a

Habita florestas úmidas, semi-úmidas, pântanos, florestas

ambientes alterados pelo homem e em alguns locais pode

de galeria e palmares de buriti nas planícies, até 2500

ser considerada uma espécie sinantrópica.

metros. Não frequenta regiões com rios de águas escuras,

É encontrado a leste dos Andes, estendendo-se até o

e em geral encontra-se em terras baixas. Voa em bandos

litoral, e desde a Colômbia e Venezuela até o norte da

de 5 a 40 indivíduos.

Argentina e Uruguai, incluindo parte da Amazônia.

Dorme coletivamente em variados lugares. É muito frequente

Fotografia: Wagner Machado Carlos Lemes

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MANUAL DA FAUNA URBANA

N E IN E I Megarynchus pitangua À primeira vista muito parecido com o bem-te-vi, dele se distingue pelo bico nitidamente maior, o que motivou o nome do gênero, e principalmente pela voz, claramente diferente, que lhe valeu o nome onomatopaico. Costuma-se encontrar esta espécie em florestas, paisagens abertas com árvores esparsas e cerrados. Vive nas copas da mata.

te-vi. O problema é que o bico é mais largo que comprido, então seu tamanho chama mais atenção quando visto por baixo do que de perfil. Mede cerca de 21-23 cm. E pesa em torno de 52-68 gramas. A L I M E N T A ÇÃO Seu grande bico o ajuda a apanhar os insetos e as frutinhas dos quais se alimenta. Já foi visto pescando pequenos peixes e caçando pequenos lagartos e filhotes de outras aves. R E P R O D U ÇÃO A fêmea é encarregada da construção do ninho, que é uma tigela rasa feita de gravetos e grama, enquanto o macho traz o material. Ninho pequeno e situado nas partes altas das árvores isoladas. A fêmea bota 2 ou 4 ovos claros com pequenas manchas e os choca sozinha. Os pais se revezam na alimentação dos filhotes, que saem do ninho após 23 a 26 dias.

Fotografia: Frodoaldo Budke

HÁBITOS CARACTERÍSTICAS

Ave migratória, sendo encontrada nos meses mais quentes

Bico extremamente largo e chato, que é, aliás, muito

do ano. O casal tem o hábito de cantar em dueto, porém

variável; tem o tarso muito curto. Ave que lembra muito

este é mal sincronizado. Apesar da aparência quase idêntica

o bem-te-vi(Pitangus sulphuratus) mas seu bico é muito

ao seu primo bem-te-vi, o neinei se comporta de forma

robusto e sua vocalização difere totalmente.

um tanto diferente.

Os dois únicos meios de diferenciar o neinei são pela

É muito mais tímido, sendo mais fácil de ouvir que ver,

vocalização, bem diferente da vocalização do bem-te-vi,

pois passa a maior parte do seu tempo na copa das árvores.

ou pelo tamanho do bico, que é bem maior que o do bem-

Também é encontrado em áreas urbanas arborizadas.

100


AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Tyranni Família

Tyrannidae Subfamília

Tyranninae Espécie

M. pitangua

Fotografia: Cláudio Marcio

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MANUAL DA FAUNA URBANA

N OIVIN HA-BR A N CA Xolmis velatus Também conhecida como lavadeira, lavadeira-grande, lavandeira (Maranhão), noivinha (Pernambuco) e pombinha-das-almas. A noivinha-branca (Xolmis velatus) é uma espécie migratória, típica de áreas campestres, da família Tyrannidae.

CARACTERÍSTICAS Mede cerca de 20 centímetros. Cabeça esbranquiçada, uropígio e coberteiras superiores da cauda brancas, assim como a base da cauda. Pode ser confundida com duas outras espécies do gênero, a noivinha (Xolmis irupero), que possui o corpo quase inteiro branco, exceto pelas asas e cauda, e a primavera (Xolmis cinereus), que é mais cinzenta, tendo a noivinha-branca, portanto, uma coloração intermediária entre estas duas espécies. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se principalmente de insetos capturados em voos curtos, retornando em seguida ao poleiro, mas também consome pequenos frutos. Encontrada apanhando insetos a partir de seu poleiro favorito, bem exposto. Às vezes é vista caçando usando voos a pouca altura, no mesmo

Fotografia: Luiz Carlos Ramassotti

lugar (peneirando). HÁBITOS Típica de áreas campestres, passa a maior parte do tempo imóvel, pousada em árvores isoladas na paisagem, em postes de eletricidade ou mourões de cerca. Habita o campo, às vezes ao lado de primavera (Xolmis cinereus). É é uma espécie migratória. Vive solitária ou aos casais, sendo pouco notada por seu canto, dificilmente emitido. De dia é silenciosa, surpreende Fotografia:Cláudio Lopes

de madrugada com seu canto intenso: um pio monótono, repetido a intervalos de 1 a 5 segundos; com pouca frequência

Noivinha-branca alimentando filhote

faz ouvir esse assovio também de noite.

102


AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Tyranni Família

Tyrannidae Subfamília

Fluvicolinae Espécie

X. velatus

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MANUAL DA FAUNA URBANA

P A R D AL Passer domesticus O pardal (Passer domesticus) tem sua origem no Oriente Médio, entretanto este pássaro começou a se dispersar pela Europa e Ásia, chegando na América por volta de 1850. Sua chegada ao Brasil foi por volta de 1903 (segundo registros históricos), quando o então prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, autorizou a soltura deste pássaro exótico proveniente de Portugal. Hoje, estas aves são encontradas em quase todos os países do mundo, o que as caracteriza como uma espécie cosmopolita. Essa ave tem se expandido pelo espaço rural e, em alguns casos, prejudicado a produtividade agrícola.

Fotografia: Freeimages.com

CARACTERÍSTICAS

penas coberteiras e as rêmiges apresentam cor preta

Mede entre 13 e 18 centímetros de comprimento, sendo

no centro e as pontas são em tons queimados. O bico é

que sua envergadura está entre 19 a 25 centímetros,e o

preto e os pés são cinza-rosados. (2) Durante o outono

peso varia entre 10 e 40 gramas. Esta espécie apresenta

apresentam cor preta no loro; garganta com coloração

dimorfismo sexual.

apagada ou quase inexistente.

Os machos apresentam duas plumagens: (1) durante

A plumagem no outono é menos evidente; a maxila é

a primavera, apresentam cor acinzentada na região do

preta e a mandíbula é preta-amarelada.

píleo e na fronte; cor preta no loro e na garganta; cor

As fêmeas, chamadas de pardocas ou pardalocas,

marrom com riscos pretos nas asas e região dorsal; cor

apresentam cor acinzentada no píleo; marrom nos loros,

cinza-claro ou branca no rosto, peito e abdômen. As

fronte e bochechas; e uma lista supraciliar clara. As

104


AVES

Fotografia: Internet

Pardal macho

rêmiges e a região dorsal são similares às dos machos.

Fotografia: André Brito

I n d i v í d u o s j ove n s a p r e s e n t a m c a ra c t e r í s t i c a s semelhantes às das fêmeas. A L I M E N T A ÇÃO Sua alimentação consiste de sementes, flores, insetos, brotos de árvores e restos de alimentos deixados pelos seres humanos. Costuma frequentar comedouros com sementes e quirera de milho. Alimenta-se também de frutos como banana, maçã e mamão. HÁBITOS O pardal-comum é bastante abundante ao longo do território, sendo geralmente ubíquo em zonas humanizadas, tanto em grandes cidades como em lugarejos habitados. Ocorre durante todo o ano, podendo formar bandos de grandes dimensões, especialmente em zonas agricultadas ou em dormitórios de parques urbanos. Porém,vem declinando a sua população.

Pardal fêmea

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Passeridae Espécie

P. domesticus

Fotografia: Luis Flávio dos Santos

106


AVES

Fotografia: Sharon Day / Shutterstock.com

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MANUAL DA FAUNA URBANA

PER I Q UI T O-D E -E NC O NTR O -AMA RELO Brotogeris chiriri O periquito-de-encontro-amarelo é uma ave psittaciforme da família Psittacidae. Também conhecido como periquito-de-asa-amarela e periquito-estrela. Para os desavisados será considerado como sendo o periquito-rico (Brotogeris tirica), com o qual é extremamente parecido, exceto pela marca amarela no ombro. Para complicar é comum vê-lo na cidade de São Paulo junto a esses periquitos

Fotografia: Lindolfo Souto

CARACTERÍSTICAS

de 12,5 centímetros. Possui bico resistente e de cor branco-

Apresenta uma faixa amarela nas coberteiras superiores

amarronzada, com o qual parte seu alimento.

das rêmiges secundárias de cada asa, isto é, na região

Ao redor de seus olhos escuros, existe uma delimitação

superior das asas, e uma coloração amarelo-esverdeada

branca formada apenas pela pele.

em sua face.

Possui difícil diferenciação sexual.

Os indivíduos adultos medem de 22,0 a 23,5 centímetros

A L I M E N T A ÇÃO

de comprimento, a cauda 10 centímetros e as asas cerca

Alimenta-se de frutos, sementes, flôres e néctar. Em

108


AVES certas épocas do ano podem frequentar comedouros com

sementes e frutos regurgitados mesmo após o abandono

sementes como milho por exemplo.

do ninho, que ocorre 8 semanas após o nascimento. HÁBITOS

R E P R O D U ÇÃO Faz o ninho em cavidades de árvores, telhas de edificações

Estas aves podem ser encontradas em campos de vegetação

e até mesmo em ninhos escavados em cupinzeiros arborícolas

baixa, ilhas de matas intercaladas, matas ciliares, cerrados

e em casas de joão-de-barro abandonadas. Costuma botar

e cerradões.

cerca de 5 ovos brancos com dimensões de 23 por 19

Desloca-se em bandos, muitas vezes de muitos indivíduos.

milímetros. Após 26 dias, a fêmea conclui a incubação,

É uma espécie que se adaptou muito bem aos ambientes urbanos, onde sua presença tornou-se comum.

nascendo os filhotes. Estes são alimentados pelos pais com

Fotografia: Chico Helder

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Fotografia: Antรณnio Guerra

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AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Psittaciformes Família

Psittacidae Espécie

B. chiriri

Fotografia: Guilherme Alencar

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MANUAL DA FAUNA URBANA

PICA- PA U- DE -BANDA-BRA N C A Dryocopus lineatus O pica-pau-de-banda-branca é uma ave piciforme da família Picidae. Também conhecido com pica-pau-detopete-vermelho.

Fotografia: Lindolfo Souto

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AVES

Fotografia: Amarildo Gonçalves

Pica-pau-de-banda-branca macho

CARACTERÍSTICAS Mede cerca de 33 centímetros de comprimento, com topete e estria malar vermelhos, asas, peito superior e lados da cabeça pretos, faixa branca que se estende do bico às laterais do peito, garganta manchada, mácula escapular branca e barriga branca barrada de preto. O macho apresenta a região anterior da cabeça e uma faixa próxima ao bico de cor vermelha; a fêmea possui a região anterior da cabeça preta e não tem a faixa vermelha. Na subespécie Dryocopus lineatus erythrops pode faltar a

Fotografia: Roberto Gallacci

mancha branca escapular. A L I M E N T A ÇÃO

Pica-pau-de-banda-branca macho

Alimentam-se de insetos, larvas, sementes e frutos. Sua alimentação é principalmente a base de insetos, especialmente brocas da madeira. Para encontrar a galeria vai dando batidas curtas na madeira até delimitar o final do túnel escavado pela larva. Nesse ponto, começa a dar fortes pancadas inclinadas, retirando lascas grandes da madeira até chegar ao canal. Retira a larva usando a longa língua, pegajosa e com cerdas na ponta, parecendo uma flecha. Procura formigas (Azteca sp.), seus ovos e pupas, perfurando galhos de embaúba (Cecropia sp.). Gosta também de frutas, como o abacate. HÁBITOS Habita o interior e as bordas de florestas altas, capoeiras, cerrados, campos e plantações com árvores esparsas. Vive solitário ou aos pares, arrancando a casca e “martelando” troncos e galhos maiores em busca de insetos, tanto em árvores vivas como mortas. Dormem sempre em ocos, onde também se abrigam da chuva pesada; alguns elaboram cavidades que servem para dormir. Recolhem-se cedo para dormir.

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MANUAL DA FAUNA URBANA

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AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Piciformes Família

Picidae

Espécie

D. lineatus

Fotografia: Pardal Atelier

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MANUAL DA FAUNA URBANA

PI CA-PAU-DO-C AM P O Colaptes campestris O pica-pau-do-campo (Colaptes campestris) é um grande pica-pau sul-americano, campestre e terrícola. Também é conhecido como chã-chã e bico-chã-chã.

pode, até substituir o canto estando, os dois, ligados à quadra reprodutiva e, portanto, sendo executados apenas periodicamente. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de insetos, principalmente formigas e cupins. A secreção de sua glândula mandibular é como uma cola que faz com que a língua funcione como uma vara de fisgo para capturar os insetos. R E P R O D U ÇÃO Os ninhos são bastante elaborados, e em muitos casos, construídos a cada período reprodutivo. Preferem cavar a face do barranco que se inclina para o solo, o que facilita a proteção quanto à chuva e a defesa de entrada. Geralmente fazem mais de uma cavidade, sendo que a entrada corresponde ao tamanho do corpo desta espécie, não permitindo que outras aves e/ou predadores tenham

Fotografia: Ivo Zecchin

acesso. Põe de 4 a 5 ovos brancos, límpidos e brilhantes. Macho e fêmea fazem a incubação.

CARACTERÍSTICAS

Os filhotes nascem nus e cegos e são alimentados

Possuindo 32 centímetros de comprimento, essa espécie

com bolas de insetos conglomerados e larvas de cupim,

é facilmente identificável por conta da sua coloração; tem

regurgitadas pelos pais.

os lados da cabeça e do pescoço amarelos, assim como o peito, o alto da cabeça e a nuca são negros, da mesma forma que o bico e os tarsos, manto e barriga barrados e o baixo

HÁBITOS

dorso é visivelmente branco ao voo. O macho apresenta

Habita campos e cerrados, vive em casais e, às vezes

em ambos os lados da cabeça duas faixas avermelhadas.

em pequenos grupos. Terrícola, costuma capturar insetos

Sua voz, bem variada e forte, serve para a marcação

no solo, mas ao se sentir ameaçado procura árvores ou

territorial, e como meio de comunicação entre o macho

grandes pedras para se proteger.

e a fêmea, tal como o tamborilar nesta família. Este

Vivem aos pares ou em pequenos bandos.

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AVES

Fotografia:boasnovasmg.com

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MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Piciformes Família

Picidae

Espécie

C. campestris

Fotografia:capturandovidas.com

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AVES

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MANUAL DA FAUNA URBANA

V ARIAÇÕ ES POM BA AS A-BR ANCA Patagioenas picazuro Vive nos campos com árvores, áreas urbanas, cerrados, caatingas e florestas de galeria. Freqüentemente encontrada no solo. É migratória como outras pombas, estendendo seus domínios acompanhando o desmatamento, aparecendo em grande quantidade. Voa longas distâncias e a grandes altitudes, exibindo seu espelho alar branco; está aproveitando as áreas urbanas, é comum ser encontrada comendo milho em galinheiros.

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Columbiformes Família

Columbidae Espécie

P. picazuro

Fotografia: pxhere.com

Obs.: Esta ave inspirou Luis Gonzaga e Humberto Teixeira a compor uma das mais conhecidas canções populares, “Asa Branca”

120


AVES

D AS POMBAS P OM B A-D O MÉ S TI C A Columba livia Esta espécie é originária da Eurásia e África e foi introduzida no Brasil no início da colonização portuguesa. É considerada um grave problema ambiental, pois compete por alimento com as espécies nativas, danifica monumentos com suas fezes e pode transmitir doenças ao homem. Até recentemente 57 doenças eram catalogadas como transmitidas pelos pombos, tais como: histoplasmose, salmonella, criptococose.

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Columbiformes Família

Columbidae Espécie

C. livia

Fotografia: José Frade

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MANUAL DA FAUNA URBANA

POM BA FOGO-APAG OU Columbina squammata Fogo-apagou é uma ave columbiforme da família Columbidae. O nome popular fogo-apagou é sem dúvida a melhor tradução escrita para o canto desta ave, um dos sons mais típicos da “roça”. No Sudeste, é tida como espécie arisca, sendo muito mais ouvida do que vista em cidades como Campinas ou Ribeirão Preto. Ornitólogos e observadores de aves do estado de São Paulo vêm relatando um certo declínio nas populações desta espécie. Muitos atribuem este declínio à competição com a Rolinha (Zenaida auriculata), que vem aumentando sua distribuição e abundância.

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Columbiformes Família

Fotografia: Dário Sanches

Columbidae Espécie

P. picazuro

122


AVES

Fotografia: Guilherme Alencar

P OM B A R O L IN H A Zenaida auriculata Migratória no nordeste do Brasil, suas populações no interior de São Paulo e Paraná explodiram a partir de 1970, ao adaptar-se aos ambientes criados pela agricultura e pecuária. Nessa área do país é conhecida como pomba-amargosa. Originalmente ave campestre típica da caatinga, cerrado e campos, atualmente vem aumentando significativamente sua distribuição, beneficiada pelo desmatamento e nas ultimas décadas conquistou efetivamente o ambiente urbano, chegando ate mesmo a grandes metrópoles como São Paulo, onde sua população vem aumentando a cada ano.

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Columbiformes Família

Columbidae Espécie

Z. auriculata

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MANUAL DA FAUNA URBANA

QUE R O - QU E R O Vanellus chilensis O quero-quero, quem-quem, tetéu, xexéu ou também conhecido como abibe-do-sul é uma ave da ordem Charadriiformes da família Charadriidae.

Fotografia: passaros.com

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AVES

CARACTERÍSTICAS

Fotografia: Luis Carlos Heringer

Mede 37 centímetros de comprimento e pesa cerca de 277 gramas. Possui um esporão pontudo, ósseo, com 1 centímetro de comprimento no encontro das asas, uma faixa preta desde o pescoço ao peito e ainda umas penas longas (penacho) na região posterior da cabeça, tem um desenho chamativo de preto, branco e cinzento na plumagem. A íris e as pernas são avermelhadas. O esporão é exibido a rivais ou inimigos com um alçar de asa ou durante o voo. A L I M E N T A ÇÃO O quero-quero se alimenta de invertebrados aquáticos e peixinhos que encontra na lama. Para capturá-los, ele agita a lama com as patas para provocar a fuga de suas presas. Também se alimenta de artrópodes e moluscos terrestres. HÁBITOS Costuma viver em banhados e pastagens; é visto em estradas, campos de futebol e próximo a fazendas, frequentemente longe d’água. O quero-quero é sempre

Filhote de Quero-quero

o primeiro a dar o alarme quando algum intruso invade seus domí­nios. É uma ave briguenta que provoca rixa com qualquer outra espécie habitante da mesma campina. As capivaras tiram bom proveito da convivência com o quero-quero, pois, conforme a entonação, o grito dessa ave pode significar perigo. Então, os grandes roedores procuram refúgio na água. Essa característica faz do quero-quero um excelente cão de guarda, sendo utilizado por algumas empresas que possuem seu parque fabril populado por estas aves. R E P R O D U ÇÃO Na primavera, a fêmea põe normalmente de três a quatro ovos. Nidificam em uma cavidade esgravatada no solo; os ovos têm formato de pião ou pera, forma adequada para rolarem ao redor de seu próprio eixo e não lateralmente, sendo manchados, confundindo-se perfeitamente com o solo. Quando os adultos são espantados do ninho fingemse de feridos a fim de desviar dali o inimigo; o macho, torna-se agressivo até mesmo a um homem. Os filhotes são nidífugos: capazes de abandonar o ninho quase que imediatamente após o descascamento do ovo.

Fotografia: Guilherme Alencar

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MANUAL DA FAUNA URBANA

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AVES Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Charadriiformes Família

Charadriidae Espécie

V. chilensis

127


MANUAL DA FAUNA URBANA

SA BIÁ -DO-CA MP O Mimus Saturninus O sabiá-do-campo é uma ave passeriforme da família Mimidae. Também conhecida como Tója, tejo-do-campo, calhandra, arrebita-rabo, galo-do-campo, papa-sebo, sabiálevanta-rabo e sabiá-conga. É uma ave famosa por seu vasto repertório de cantos, que incluem imitações de outras espécies.

Fotografia: Guilherme Alencar

CARACTERÍSTICAS

Possui a cauda comprida com as pontas de cor branca.

Mede entre 23,5 e 26 centímetros de comprimento e

A vocalização desta espécie é notável pela maestria com

pesa entre 55 e 73 gramas. Possui uma coloração cinzenta

que imita os cantos e chamados de outras aves.

no dorso, alto da cabeça, asas e cauda. O peito e o ventre

Voz: agudo e penetrante “tschrip”, “tschik” (chamada

são branco-amarelados ou arroxeado pela terra. A listra

característica da espécie); scha-scha-scha“, “krrrra” bufando

superciliar branca, destacada pela faixa negra na altura dos

(advertência, zanga).

olhos é uma característica importante para identificação. Os olhos dos adultos são amarelados, marrom escuros nas

A L I M E N T A ÇÃO

aves juvenis, as quais também possuem o peito rajado

São onívoros, alimenta-se principalmente de invertebrados

de cinza escuro.

e frutos. Dentre os invertebrados, os insetos (formigas,

128


AVES cupins, besouros) constituem a maior parte das presas. Os frutos podem ser silvestres (neste caso de pequeno tamanho, engolidos inteiros) ou cultivados, como laranja e abacate. Aprecia muito os frutos do Tapiá ou tanheiro (Alchornea glandulosa). As sementes não são digeridas, e atravessam intactas o tubo digestivo. A ave atua, assim, como dispersora das sementes dos frutos que ingere. A maior parte do alimento é obtida enquanto a ave caminha pelo solo. Outros métodos de alimentação com presas animais são menos freqüentes, como a captura de insetos em voo a partir de poleiros elevados, ou com saltos a partir do solo. Frutos são coletados pela ave empoleirada; frutos de grande tamanho, cultivados, podem ter parte de sua polpa consumida após caírem ao solo. Ocasionalmente predam ninhos com ovos e filhotes de outros pássaros. Aproveita-se de gordura e carne em mantas de charque ao sol, (daí o nome papa-sebo) costuma comer pimenta Malagueta (Capsicum frutescens) madura. Podem eventualmente frequentar comedouros artificiais de fruta. HÁBITOS Apresenta uma série de comportamentos, muitos deles pouco entendidos, talvez pela dificuldade de se aplicar um método muito comum de pesquisa, que é o de anilhamento. Algumas pessoas que tentaram anilhar esta ave para

Fotografia: Guilherme Alencar

estudar seu comportamento desistiram deste recurso pois a ave parece ser tão sensível ao estresse da captura que alguns indivíduos morreram após o anilhamento. Anda pelos campos e cerrados ou parques e terrenos baldios de cidades geralmente em bandos, que podem ter

Fotografia: Diogo S. Gonçalves

até 13 integrantes. Na porção sul de sua distribuição não forma bandos, e costuma viver em casais. Possui o hábito de erguer as asas semi-abertas de tempos em tempos enquanto anda pelo chão, numa exibição denominada “lampejo de asas”, cuja finalidade não é entendida e que é observada também em outras espécies do gênero. O lampejo pode ser executado também quando a ave se depara com uma ameaça em potencial (humanos próximos demais, serpentes). Apesar de viver em grupos familiares, são muito agressivos entre si e usam os longos bicos e as garras fortes em brigas sem trégua (origem do nome galo-do-campo).

Filhote de Sabiá-do-campo

129


MANUAL DA FAUNA URBANA Apresenta a característica de ave sinantrópica, ou seja,

época reprodutiva (julho a dezembro), possui um canto

pode se adaptar as grandes cidades, desde que estejam

próprio, onde lança mão dos chamados mais graves e

disponíveis água e áreas verdes onde eles possam pousar,

agudos característicos, iniciando ou terminando a imitação.

caçar e fazer ninhos.

Em sua grande obra Ornitologia Brasileira, Helmut Sick

É um dos melhores imitadores de outras aves na

cita que as populações de sabiás-do-campo mais ao sul

natureza. Alguns indivíduos repetem o canto de até 6

apresentam repertório de vocalização mais rico e melodioso

espécies diferentes. Além dessas imitações, usadas na

do que as populações mais setentrionais.

Fotografia: Dário Sanches

130


AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Mimidae Espécie

M. saturninus

Fotografia: Guilherme Alencar

131


MANUAL DA FAUNA URBANA

SA B IÁ - LARANJ EIR A Turdus rufiventris Ave símbolo do estado de São Paulo, também considerada ave símbolo do Brasil (apesar de muitos contestarem alegando a Ararajuba como a representante brasileira), o sabiá-laranjeira, também conhecido como sabiá-cavalo, sabiá-ponga, piranga, ponga, sabiá-coca, sabiá-de-barriga-vermelha, sabiágongá, sabiá-laranja, sabiá-piranga, sabiá-poca, sabiá-amarelo, sabiá-vermelho e sabiá-de-peito-roxo, é uma ave popular, citada por diversos poetas como o pássaro que canta na estação do amor, ou seja, na primavera. Foi imortalizado na “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, juntou-se oficialmente aos outros quatro símbolos nacionais – a bandeira, o hino, o brasão de armas e o selo, passando a ter a mesma importância deles na representação do Brasil em 3 de outubro de 2002, por decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o ornitólogo Johan Dalgas Frisch (mentor do decreto de 3 de outubro), são 12 as espécies de sabiás no Brasil, sendo que o pássaro assume outras denominações em regiões diferentes. Assim, ele tanto pode ser caraxué (Amazonas), sabiá-coca (Bahia), sabiá-laranja (Rio Grande do Sul) e ainda sabiáde-barriga-vermelha, sabiá-ponga e sabiá-piranga em lugares diferentes. Em tupi, sabiá significa “aquele que reza muito”, em alusão à voz dessa ave. Segundo uma lenda indígena, quando uma criança ouve, durante a madrugada, no início da primavera, o canto do sabiá, será abençoada com muita paz, amor e felicidade.

Fotografia: Leonardo Casadei

132


AVES

Fotografia: Cláudio Timm/Flickr

CARACTERÍSTICAS Fotografia: JPeralta

Mede 20-25 centímetros de comprimento e o macho pesa 70 gramas e a fêmea, 80 gramas. Tem plumagem parda, com exceção da região do ventre, destacada pela cor vermelho-ferrugem, levemente alaranjada, e bico amarelo-escuro. É ave de canto muito apreciado, que se assemelha ao som de uma flauta. Canta principalmente ao alvorecer e à tarde. O canto serve para demarcar território e, no caso dos machos, para atrair a fêmea. A fêmea também canta, mas numa frequência bem menor que o macho. O canto do sabiá-laranjeira é parcialmente aprendido, havendo linhagens geográficas de tipos de canto, e se a ave conviver desde pequena com outras espécies, pode ser influenciada pelo canto delas e passar a ter um canto “impuro”.

Ninho de Sabiá-laranjeira com ovos

133


MANUAL DA FAUNA URBANA

Fotografia: topetinhomagnifico.com

A L I M E N T A ÇÃO

o local escolhido é formado por vãos entre numerosos suportes

Sua nutrição se compõe basicamente de insetos, larvas,

iguais de um telhado, o sabiá-laranjeira pode construir

minhocas e frutas maduras, incluindo frutas cultivadas

vários ninhos ao mesmo tempo, por confundir os vãos.

como o mamão, a laranja e o abacate. Come coquinhos de várias espécies de palmeiras e de

HÁBITOS

espécies introduzidas, como o dendê.

É comum em bordas de florestas, parques, quintais e

Cospe os caroços após cerca de 1 hora, contribuindo

áreas urbanas arborizadas. Vive solitário ou aos pares,

assim para a dispersão dessas palmeiras, comportamento

pulando no chão. Em regiões mais secas é, de certa forma,

apresentado também por outros sabiás.

restrito a áreas próximas à água.

Ração de cachorro também atrai esta espécie, podendo servir

É uma ave que convive bem com ambientes modificados

de alimento em cidades grandes com menor disponibilidade

pelo homem, seja no campo ou na cidade, desde que tenha

de alimentos naturais. Aprecia os frutos do tapiá ou tanheiro

oportunidades de encontrar abrigo, alimento e água.

(Alchornea glandulosa).

Na natureza, é encontrado em casais e grupos familiares quando em processo de criação. É uma ave de ambientes

R E P R O D U ÇÃO

abertos, preferindo viver em bordas de matas, pomares,

Pode fazer seu ninho em beirais de telhados. A construção

capoeiras, entorno de estradas, praças e quintais, sempre

de ninhos pode se tornar confusa em certas ocasiões: quando

por perto de água abundante.

134


AVES Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Turdidae Espécie

T. rufiventris

135


MANUAL DA FAUNA URBANA

SABI Á - P O C A Turdus amaurochalinus É um dos sabiás mais conhecidos pelos brasileiros, seja por seu aspecto físico, seja por seu canto triste. Nas diversas regiões possui os mais variados nomes comuns: bico-de-osso, sabiá-branco, sabiá-do-peitobranco, sabiá-bico-amarelo, sabiá-bico-de-osso e sabiá-bico-de-louça.

no loro, região que fica entre o bico e o olho dando a ele um ar de bravo, bico longo, forte e levemente curvo, além das suas pernas de cor-de-avelã. Em agosto inicia-se a reprodução. Nessa época, aparecem as aves com o bico amarelo vivo, uma característica ligada à reprodução. Aves juvenis ou adultos fora do período reprodutivo têm o bico escuro ou com diferentes proporções de amarelo. A L I M E N T A ÇÃO Alimentam-se de invertebrados e pequenos frutos, principalmente no solo. Gosta muito do fruto da aroeira (schinus terebinthifolius). Como outros sabiás, gostam de ciscar com o bico as folhas secas e escavar o chão.

Fotografia: Leonardo Casadei

A cada movimento com o bico para a lateral, dão um salto para trás e ficam procurando presas, imóveis por

CARACTERÍSTICAS

alguns segundos. Se nada aparece, saltam para a frente,

Para identificá-lo, a característica mácula escura, parecendo

ciscam e retornam à posição original.

ser negra em alguns exemplares, entre o olho e o bico.

Quando os frutos das figueiras estão caindo no chão,

Além disso, a cabeça é mais achatada, parecendo que o

concentram-se sob a árvore e fartam-se.

bico está no mesmo plano da testa. O papo branco e os riscos variam conforme o indivíduo. Algumas aves parecem ter uma gola branca separando

HÁBITOS

os riscos do peito.

Pousado ou no chão, possuem o característico hábito

Logo que saem dos ninhos, os juvenis apresentam o

de balançar a cauda rapidamente na vertical. O piado de

peito e barriga todo pontilhado de bolas marrom-oliváceas,

contato é traduzido por póca, nome tupi para barulho. Além

bem como as costas e asas pontilhadas de marrom claro.

desse chamado, um característico miado baixo. Espécie

As penas das asas mantém essas características por

semi-florestal. Adapta-se também a áreas urbanas muito

mais tempo, provavelmente até o segundo ano de vida.

arborizadas e só canta na época de reprodução, fora isso

Apresenta tamanho médio em torno de 21 centímetros

só emite chamados fora dessa época. Também é visto em

de comprimento, olhos grandes com uma marca escura

bordas de matas e clareiras.

136


AVES Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Turdidae Espécie

T. amaurochalinus

Fotografia: João Vitor Perin Andriola

137


MANUAL DA FAUNA URBANA

S A NH A Ç U-CINZEN TO Tangara sayaca O sanhaçu-cinzento é uma ave passeriforme da família Thraupidae. Também conhecido como sanhaçudo-mamoeiro, sanhaçu, sanhaçu-comum, sanhaçu-da-amoreira, e no Nordeste como pipira-azul (Piauí), sanhaçu-azul (Natal/RN) e sanhaçu-de-ateira (Ceará). É uma das aves mais comuns do país, conhecida por realizar acrobacias em meio a disputa por frutas com outros pássaros.

Fotografia: Danbrazil

138


AVES

Fotografia: José Getúlio de Oliveira

CARACTERÍSTICAS

A L I M E N T A ÇÃO

Mede entre 16 e 19 centímetros de comprimento e pesa

Frutos, costuma consumir muito o fruto da aroeira-

entre 28 e 43 gramas. O adulto de Tangara sayaca apresenta

mansa (Schinus terebinthifolius), folhas, brotos, flores

coloração geral cinzenta, com as asas e cauda de coloração

de eucaliptos e insetos, entre estes os alados de cupim

azul turquesa. Sua cabeça é cinza com uma fina e tênue

(“aleluias” ou “siriris”) capturados em voo. Vive normalmente

faixa pós ocular cinza escuro que nem sempre está visível.

na copa das árvores em busca dos frutos maduros, mas

Testa, coroa e nuca também cinza.

é intrépido o suficiente para apanhar também os caídos,

Os lores são cinza, da mesma coloração da cabeça. A

preferindo até os que já estejam infestados de larvas e

coloração do manto é cinza, porém mais escuro que a nuca.

desfrutando-os com outras aves, como a saíra-amarela e o

As penas coberteiras são cinza azuladas. As rêmiges (penas de

sabiá-da-praia. Aprecia muito os frutos do tapiá ou tanheiro

voo) apresentam bela coloração cinza azulada, com reflexos

(Alchornea glandulosa). Costuma frequentar comedouros

metálicos esverdeados e com as bordas internas das penas

com frutas, como a banana e laranja. Foi observado em

escuras. O uropígio, assim como as penas supracaudais, são

Jaú-SP um sanhaçu-cinzento alimentando-se das flores

cinza azulados e as retrizes são azuladas com os mesmos

de um ipê-amarelo.

reflexos metálicos verdes das rêmiges. A garganta, peito e

HÁBITOS

ventre são cinza e o crisso é branco. Os olhos são escuros

Quando um macho apronta-se para agredir outro, seu

e o bico apresenta coloração cinza escuro, sendo a porção

canto torna-se rouco e monótono. Anda quase sempre

proximal do bico de coloração mais clara que a porção distal.

em casais ou pequenos bandos. Também é visto junto

Tarsos e pés são cinza.

com outra espécie de sua família, como o sanhaçu-do-

O jovem ou imaturo é similar ao adulto da espécie,

coqueiro, cujo canto é bem parecido. É bem ativo. Costuma

entretanto sua coloração é mais esverdeada, mais pálida e

ter medo de humanos, assim se assustando e voando

mais opaca que este.

desesperadamente. Vive na copa ou entre as árvores à busca de alimentos. Frequenta comedouros com frutas.

139


MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Thraupidae Espécie

T. sayaca

Fotografia: Guilherme Alencar

140


AVES

141


MANUAL DA FAUNA URBANA

S E R IE MA Cariama cristata A seriema é uma ave cariamiforme da família Cariamidae. Conhecida também como sariema (Ceará) e seriema-de-pé-vermelho. O nome seriema deriva das palavras em tupi “çaria” (= crista) + “am” (= levantada). Ave símbolo do Estado de Minas Gerais. Ave típica dos cerrados do Brasil, a seriema possui porte imponente e cauda longa.

Fotografia: Guilherme Alencar

142


AVES

CARACTERÍSTICAS

e pequenos répteis. Mata as presas com o bico, uma vez

Sua plumagem é cinza-amarelada, com finas riscas

que os dedos são relativamente pequenos e sem garras.

escuras: abdômen um pouco mais claro, bico e pernas

Uma presa maior é desmembrada, pisando sobre ela e

vermelhos. Tem a crista formada por um tufo de penas

retirando pedaços com o bico poderoso.

longas, com cerca de 12 centímetros. É uma das poucas

Graças ao hábito de comer cobras, é protegida pelos

aves que possuem pestanas. Atinge uma altura média

fazendeiros e sitiantes. Pode ficar acostumada à presença

de 70 centímetros, podendo chegar a 90 centímetros de

humana e frequentar os jardins das casas.

comprimento e pesar até 1,4 quilo. O porte dos jovens

Além dos insetos e dos pequenos vertebrados, fazem

pode ser igual ao dos adultos e, para diferenciá-los, a cor

ainda parte de sua dieta vermes e ovos de outras espécies.

dos olhos é uma das melhores maneiras. Nos adultos, os olhos são acinzentados; já nos jovens, são amarelados,

HÁBITOS

podendo a cor do bico ser em tom mais escuro.

Comum em cerrados, campos sujos e pastagens, sendo

Seu canto é marcante, podendo ser ouvido a mais de

beneficiada pelo desmatamento. Anda pelo chão, aos pares

1 quilômetro. Seus gritos, seja de uma ave solitária, seja

ou em pequenos bandos.

de um casal em dueto, são altos e longos. Parecem longas

Se perseguida, foge correndo, deixando para voar somente

risadas, as quais vão acelerando-se e aumentando de tom

se muito pressionada, chegando a atingir velocidades

à medida que a ave repete o canto. Pode permanecer

superiores a 50 km/h antes de levantar voo. Cansada,

gritando por vários minutos a fio.

voa pequenos trechos antes de pousar e voltar a correr. Vive aos casais, sendo mais facilmente escutada do que

A L I M E N T A ÇÃO

observada. De hábitos terrestres, empoleira-se no alto de árvores para dormir. Ao voar, destacam-se as faixas claras

Sua alimentação é semelhante à de um gavião, comendo

e escuras de asas e cauda.

desde insetos até pequenos vertebrados, como roedores

Fotografia: Manfred Werner

Uma seriema jovem (esquerda) e uma adulta (direita)

143


MANUAL DA FAUNA URBANA

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Cariamiformes Família

Cariamidae Espécie

C. cristata

144


AVES

145


MANUAL DA FAUNA URBANA

S U I R IR I Tyrannus melancholicus O suiriri é encontrado em todo o Brasil. Adapta-se até aos maiores conglomerados urbanos, desde que haja alguma arborização. Pode ser visto no meio de São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo. A população do sul do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai (parte) é completa ou parcialmente migratória. Seu nome popular, de origem onomatopeica, origina-se de sua vocalização “si-ri-ri”

CARACTERÍSTICAS Mede entre 18-24,5 centímetros de comprimento e pesa entre 32 e 43 gramas. A cabeça é cinza e o píleo é de coloração laranja, uma característica visível quando eriça o topete em suas disputas territoriais. Apresenta distinta faixa trans-ocular escura que se inicia nos lores e vai até a região auricular. Face e garganta cinza claro, algumas vezes quase brancas. O dorso é cinza e as asas são acinzentadas sendo as rêmiges (penas de voo) com as bordas claras levemente acastanhadas. A cauda é cinza e apresenta as bordas das retrizes claras. O peito é amarelo com distinta faixa peitoral de coloração cinza-olivácea por sobre o amarelo. O ventre e crisso são amarelos. O bico é robusto e preto, tarsos e pés são escuros, quase pretos e a íris é castanho escura. Os imaturo são similares aos adultos sendo que as bordas das coberteiras são acastanhadas. O canto mais emitido é uma forte risada aguda, responsável pelo nome comum. A L I M E N T A ÇÃO A partir do poleiro, realiza um voo de poucos até dezenas de metros, em todas as direções, apanhando a presa no ar.

Fotografia: Dário Sanches

Classicamente, retorna ao local de origem para consumi-la, muitas vezes batendo fortemente no galho HÁBITOS

para matá-la ou estonteá-la. Está em seu poleiro nas primeiras horas da manhã e

Costuma ficar pousado em poleiros expostos, seja na

muitas vezes permanece todo o dia, apesar do sol e calor.

parte alta da mata, seja em arbustos. Usa também fios,

Além de insetos, alimenta-se de frutos, esses últimos muito

cercas e estruturas criadas pela ação humana.

consumidos por aves em migração. Aprecia muito os frutos

Vive solitário ou em casais, muito agressivos entre si.

do tapiá ou tanheiro.

Pode viver em grupos de até duas dezenas de suiriris, que podem ser visto empoleirando-se próximos, algumas

146


AVES

Fotografia: Antônio Maliceski

Fotografia: Guilherme Alencar

vezes junto a tesourinhas. Durante o dia, fluxos constantes de suiriris voando na mesma direção a poucos metros das copas podem ser notados. Chama a atenção pela pequena distância entre si e a continuidade do movimento, às vezes por 30 ou 40 minutos, com 2 ou 3 aves de cada vez. Canta frequentemente do final da madrugada ao início da noite, geralmente pousado em fios, antenas, mourões de cerca ou nos galhos mais altos das árvores, o que amplia seu campo de visão para a captura de insetos, defesa da prole, etc. Um fato interessante observado é que os indivíduos costumam escolher os mesmos horários e lugares para seus gorjeios, mesmo em diferentes épocas do ano. Na época da primavera/verão chega a cantar 2 ou 3 horas da manhã. Suiriri-cavaleiro (Machetornis rixosa), da mesma família do Suiriri (Tyrannus melancholicus), podendo ser avistados juntos

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MANUAL DA FAUNA URBANA

TE SO U R IN H A Tyrannus savana Também conhecida como tesoura, tesoureira e tesourinha-do-campo. A tesourinha é uma ave passeriforme da família Tyrannidae. Migrante inconfundível, onde passa em grupos de até centenas de indivíduos, em concentrações típicas nos meses de setembro e outubro. Dormem em uma mesma árvore ou árvores próximas quando estão migrando, seja em áreas naturais, seja em áreas urbanas.

Fotografia: Flávio Cruvinel Brandão

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AVES CARACTERÍSTICAS Apesar de não ser colorida, a leveza e graça do voo, bem como a distribuição de cores são muito chamativas. O capuz é negro, apresenta no meio do píleo (topo da cabeça da ave) uma coloração amarela, na maioria das vezes escondido, distingue-se contra a garganta e partes inferiores brancas. Dorso cinza uniforme, com destaque para a longa cauda, que é maior do que o próprio corpo. Há um discreto dimorfismo sexual, sendo que os machos possuem um prolongamento grande da cauda, especialmente das duas penas mais externas. Esta diferença é visível quando as aves estão próximas. O formato da cauda deu origem aos nomes comuns. A L I M E N T A ÇÃO Hábitos alimentares como o do suiriri, com grande consumo de frutos no período de migração. Dispersa os frutos da ervade-passarinho no cerrado, com sua característica semente onde um pé adesivo ressalta-se. A polpa envolvente é uma das fontes principais de abastecimento na migração para o norte, mas como não ingere a semente, limpa o bico nos galhos, deixando presa a semente da próxima ervade-passarinho. Frutos podem ser vistos em fios e arames, resultado dessa limpeza do bico. Em vôo, consegue uma enorme destreza, alterando direção com facilidade, em perseguições mútuas ou à presa (insetos).

Fotografia: Emerson Kaseker

Tesourinhas brigando com predador

149


MANUAL DA FAUNA URBANA

R E P R O D U ÇÃO

em espirais com asas e cauda abertos, ao mesmo tempo

O período de reprodução é entre os meses de setembro

em que emite o canto longo e rápido, terminado com três

e dezembro. Os pais preferem fazer seus ninhos em cerrado

ou quatro notas mais espaçadas. Localmente, procuram as

ralo. O tamanho da ninhada é de 1 a 3 ovos. A incubação

áreas abertas, como os cerrados (daí a razão do savana

leva, em média, 13,6 dias, e após 15 dias os ninhegos

em seu nome científico), pastagens e áreas de cultura,

(filhotes dependentes dos pais) deixam o ninho. Os filhotes

onde ficam pousadas em mourões de cerca, postes, fios

nascem no final do ano e em fevereiro/março voam para

e árvores isoladas. Também podem procurar as matas,

o norte, no segundo grande movimento de migração da

ou até mesmo cidades.

espécie. Todas dirigem-se para a parte norte do continente,

Talvez poucas aves conheçam melhor a América do

onde irão passar o outono/inverno austrais. O casal constrói

Sul do que a tesourinha. Existem tesourinhas que vivem

um ninho ralo, aberto e em forma de tigela de gravetos

no sul (Argentina, Paraguai e extremo sul do Brasil), em

porcamente amontoados.

várias outras partes do Brasil, no Caribe e no sul do México.

A taxa de sucesso dos ovos é de 39,2%. É comum os

Depois do verão, as tesourinhas migram aos milhares

filhotes e ovos serem derrubados pelo vento. Os pais se

para a região da Amazônia, onde permanecem até o

revezam na criação dos filhotes. Os ovos medem 22,2 mm

inverno acabar. No início da primavera, cada uma volta

de comprimento e 15,8 de largura e pesam 3,2 g.

para a sua região de origem, onde vão reproduzir, criar os filhotes e começar tudo novamente no ano seguinte.

HÁBITOS

Assim, as tesourinhas são muito abundantes nas regiões

Apesar de migrarem em grupos, em setembro os machos

onde vivem, mas apenas em algumas épocas do ano. Em

já estão exibindo seu característico vôo territorial, pairando

outras, desaparecem completamente.

150


AVES

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MANUAL DA FAUNA URBANA

T I C O -TI C O Zonotrichia capensis O tico-tico é uma ave passeriforme da família Passerellidae. É um dos pássaros mais conhecidos e estimados do Brasil. Seu nome vem do tupi e deriva do seu chamado. Esta ave e o pardal são duas espécies comuns em áreas urbanas e muitas pessoas as confundem apesar de terem diferenças facilmente percebíveis. Entre os nomes populares conhecidos, destacam-se: salta-caminho (Pernambuco e interior da Paraíba), titiquinha e ticão, gitica, mariquita-tio-tio (São Paulo), tiquinho (Paraná), catete, cata-pilão, jesusmeu-deus (Bahia), chuvinha (Sul do Piauí), toinho (Paraíba - região do Seridó Ocidental) e piqui-meu-deus (sul do Ceará), e também tico-tico-jesus-meu-deus. A canção Tico-tico no Fubá, composta em 1917 por Zequinha de Abreu e interpretada por Carmém Miranda, é um chorinho de fama internacional.

152


AVES comedouros com sementes,bananas e quirera de milho. Também já foi visto comendo ração para cães. HÁBITOS É comum em paisagens abertas, plantações, jardins, pátios e coberturas ajardinadas de edifícios. Abundante em regiões de clima temperado e também em cumes altos expostos a ventos frios e fortes. É favorecido pelo desmatamento e pela drenagem de alagados, aumentando sua área de ocorrência. Vive em casais isolados, sendo que o macho ataca tico-ticos vizinhos que invadam seu território. Entre os traços interessantes do seu comportamento figura a técnica de esgravatar alimento no solo por meio de pequenos pulos, para remover a camada superficial de folhas ou terra solta que recubra o alimento. Perscrutando o terreno a sua frente, pula até 4 vezes consecutivas verticalmente sem alterar a posição das pernas e esgravatando o chão com ambos os pés sincronizadamente, jogando para trás o material impeditivo. A tendência de executar tal movimento pelo tico-tico é tão forte que, mesmo quando come algo sobre uma laje de cimento limpo ou num quintal, pula da mesma forma.

CARACTERÍSTICAS

Sofre pesadas perdas de sua própria prole, pois o vira-

Pássaro de porte médio que mede 15 centímetros de

bosta é uma ave parasita que retira os ovos do ninho do

comprimento. Possui o corpo compacto, com asas e cauda

tico-tico e põe os seus. A pressão exercida chega a ser

de tamanhos regulares, pernas e pés delgados e bico cônico

tão grande que, em certos locais, o tico-tico é eliminado.

e forte. A coloração dorsal é pardo-acinzentada, tendo a cabeça cinza com duas tiras negras que partem da base da maxila indo até a nuca, com parte central cinza, também partindo da mesma base e alargando-se para a nuca. As faces são de cor cinza, com duas tiras negras de cada lado que vão até a região do pescoço, uma partindo do

Fotografia: Murido Nascimento

canto posterior do olho e outra do canto do bico. Pescoço com uma faixa cintada de cor vermelho-ferrugínea que desce até os lados do peito alto, onde se encontra com uma mancha negra. Porção intermediária dorsal de cor pardo-cinza com coberteiras, inclusive das asas com manchas negras e restante do baixo dorso pardo-cinza. No encontro das asas as penas terminam com faixa branca. Garganta branca, peito e abdômen cinza-esbranquiçados, sendo mais claro na parte central. Apresenta um pequeno topete com desenho estriado na cabeça. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de sementes, brotos, frutas, insetos (besouros, formigas, grilos, cupins alados e larvas). Costuma frequentar

Ovos de Tico-tico

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MANUAL DA FAUNA URBANA Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Passerellidae Espécie

Z. capensis

Fotografia: Hudson Pontes da Silva

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AVES

Fotografia: Guilherme Alencar

155


MANUAL DA FAUNA URBANA

TI Z IU Volatinia jacarina O tiziu é uma ave passeriforme da Família Thraupidae. Conhecido também como tizirro, saltador, veludinho, papa-arroz, bate-estaca (Rio de Janeiro), serrador, serra-serra e alfaiate.

Fonte: aope.org

CARACTERÍSTICAS Tem cerca de 11,5 centímetros de comprimento. O

alguns caboclinhos (Sporophila bouvreuil, Sporophila

macho é todo preto com brilho azul-metálico, exceto por

ruficollis, Sporophila melanogaster), o tiziu (Volatinia

uma pequena mancha branca na parte inferior das asas.

jacarina) e os beija-flores (Heliomaster squamosus) e (Heliomaster furcifer) (Mallet-Rodrigues, 2000).

Apresentam duas mudas de plumagem por ano. Após a muda pós-nupcial adquirem uma plumagem de

A fêmea é marrom-oliva na parte superior, amarelo-

descanso. O macho adulto perde a plumagem preta azulada

amarronzado na inferior, com o peito e laterais estriados

da cabeça, do dorso e do peito e torna-se semelhante

de escuro. Fêmeas e imaturos são quase idênticos a

aos jovens machos da sua espécie. São raras as espécies

várias outras espécies da família, especialmente às

residentes no Brasil que apresentam esse padrão, como

fêmeas dos papa-capins.

156


AVES

Fotografia: feomg.com

R E P R O D U ÇÃO Procria em qualquer época do ano, pelo menos em algumas regiões quentes próximas à linha do Equador, como em Belém (PA). Quando solta seu canto (semelhante ao som da palavra “tiziu”, o que lhe valeu o nome popular), principalmente durante a reprodução, o macho dá um salto curto para o ar e mostra uma região branca sob a asa, voltando a empoleirar-se no mesmo local. Acredita-se que este ritual seja para defender seu território. Faz ninho na forma de uma xícara fina e profunda, sobre gramíneas. Põe de 1 a 3 ovos branco-azulados com pontos marromavermelhados. HÁBITOS Estes pequenos pássaros são vistos com grande frequência, geralmente aos pares, em áreas alteradas, descampados, savanas, campos e capoeiras baixas da América do Sul, exceto no extremo sul. Vive aos pares durante o período reprodutivo, porém, fora deste, reúne-se em bandos que podem chegar a dezenas de indivíduos. Nestas situações, frequentemente mistura-se a outras espécies de pássaros que alimentam-se de sementes. Em regiões do Sudeste e Sul do País, como em São Paulo, desaparece durante o inverno, migrando para regiões mais quentes.

Tiziu macho

Tiziu fêmea

157


MANUAL DA FAUNA URBANA

Fotografia: Wagner Gomes

158


AVES

Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Passeriformes Subordem

Passeri Família

Thraupidae Espécie

V. jacarina

Fotografia: thenatureadmirer.com

159


MANUAL DA FAUNA URBANA

TR I NC A- FE R RO Saltator similis O trinca-ferro é uma ave passeriforme da família Thraupidae, sendo um dos pássaros silvestres mais apreciados pelo brasileiro, especialmente pelo seu canto. Também é chamado de bico-de-ferro, temperaviola, pixarro, pipirão, estevo, papa-banana (Santa Catarina), titicão, tia-chica, chama-chico (interior de São Paulo), tico-tico guloso (Sul do Espírito Santo) e joão-velho (Minas Gerais). No Brasil, existem cerca de sete formas do gênero Saltator, todas relativamente parecidas. São muito caçados e apreciados por seu belo canto.

Fotografia: Frodoaldo Budke

CARACTERÍSTICAS Um pouco menor do que outras espécies do mesmo gênero, possui o mesmo bico negro e forte que originou o nome comum dessas aves. Como no tempera-viola (Saltator maximus), apresenta dorso verde, cauda e lados da cabeça acinzentados. A listra superciliar é a mais comprida das três espécies (ave adulta), com o “bigode” menos definido e a garganta toda branca. Por baixo, domina o cinza nas laterais, tornando-se marrom alaranjado e branco no centro da barriga. As asas são esverdeadas. O juvenil não possui a listra tão extensa, sendo a mesma falhada ou inexistente, logo após sair do ninho. Alguns juvenis são listrados abaixo. Bico bastante enérgico e fortificado (o que deu cunho ao nome “trinca-ferro”), com cauda diferenciada em tamanho.

Fotografia: focoregional.com

160


AVES

Fotografia: fontecomunicacao.com

Não existem diferenças corporais entre machos e fêmeas. Seu canto varia um pouco de região a região, embora mantenha o mesmo timbre.

R E P R O D U ÇÃO

Para diferenciar o macho da fêmea é necessário perceber

O ninho, construído em arbustos a 1 a 2 metros de altura,

o canto do macho e o piado da fêmea.

é uma tigela espaçosa, com cerca de 12 centímetros de diâmetro externo, feita com folhas grandes e secas seguras

A L I M E N T A ÇÃO

por alguns ramos, resultando uma construção frouxa; no

O trinca-ferro-verdadeiro é um típico onívoro, alimentando-

interior são colocadas pequenas raízes e ervas.

se de frutos, insetos, sementes, folhas e flores (como

Os 2 ou 3 ovos, alongados, medem cerca de 29 por 18

as do ipê). Aprecia os frutos do tapiá ou tanheiro

milímetros e são azul-claros ou verde-azulados, com manchas

(Alchornea glandulosa). Na infância, seu regime alimentar

pequenas e grandes no polo rombo, formando uma coroa.

é predominantemente animal. O macho costuma trazer

Durante o período de reprodução, vive estritamente aos

alimento para sua fêmea.

casais, sendo extremamente fiel a um território.

161


MANUAL DA FAUNA URBANA

TUC A N U Ç U Ramphastos toco Também conhecido como tucano-toco, o tucanuçu é o maior dos tucanos, vivendo em todo o Brasil central e partes da Amazônia. No Cerrado e na Mata Atlântica pode-se encontrar a espécie em maior número, em rápidas visitas a pomares e árvores com frutos. Os tucanos são, junto com as araras e papagaios, um dos símbolos mais marcantes das aves do continente sul-americano. Seu colorido, o formato e tamanho do bico chamam a atenção com facilidade, tornando-os inconfundíveis.

Fotografia: Leca Carvalho

CARACTERÍSTICAS

de 20 centímetros, é duro e cortante, sendo usado como

Com a característica marcante de possuir enorme bico

uma pinça para capturar alimento. Apesar do tamanho,

alaranjado com uma mancha negra na ponta. Sua plumagem

é muito leve, devido à estrutura interna, onde existem

é negra, destacando-se o papo e o uropígio brancos, além

grandes espaços vazios.

do crisso manchado de vermelho.

O tucano usa-o com grande habilidade, apanhando desde

Destaca-se também a área de pele nua de cor laranja

pequenas presas até separando pedaços de alimentos

ao redor dos olhos e as pálpebras azuis. O bico amarelo-

maiores. Suas bordas são serrilhadas e a força do tucano

alaranjado de tecido ósseo esponjoso, que mede cerca

corresponde a seu tamanho. Para ingerir o alimento, lança-o

162


AVES

para trás e para cima, em direção à garganta, enquanto abre o bico para o alto. Mede 56 centímetros de comprimento e pode pesar 540 gramas. A L I M E N T A ÇÃO Sua dieta consiste basicamente de frutas, insetos e artrópodes, mas também costuma saquear ninhos de outras aves e devorar ovos e filhotes. Devido a essa característica, são prontamente perseguidos pelas aves em período reprodutivo. R E P R O D U ÇÃO Faz seu ninho em árvores ocas, buracos em barrancos ou em cupinzeiros. Costuma botar de dois a quatro ovos, que são incubados por período de 16 a 18 dias. O macho costuma alimentar a fêmea na época da reprodução. Seus predadores são: os macacos que saqueiam o ninho e os gaviões. Vivem em casais no período reprodutivo, formando bandos após a saída dos filhotes dos ninhos.

Fotografia: Stephane Passera

HÁBITOS Vive aos pares ou em bandos de duas dezenas de aves que voam em fila indiana. Voa com o bico reto, em linha com o pescoço, alternando curtas batidas com um planar mais demorado. Ao dormir vira a cabeça e descansa o bico nas costas. Comunicam-se com chamados graves, parecendo um pouco o mugido do gado (vindo daí o nome goiano de tucano-boi). Habitam as matas de galeria, cerrado, capões; única espécie da família Ramphastidae que não vive exclusivamente na floresta, sobrevoa freqüentemente os campos abertos e rios largos; gosta de pousar sobre árvores altaneiras. Menos sociável que os outros tucanos. Os ocos também são usados para dormir, quando a grande ave dobra-se de tal forma que diminui o seu tamanho em dois terços. Inicialmente, coloca o bico sobre as costas e, em seguida, cobre-se com a cauda. Essa posição de dormida também é

Fotografia: Taís Pires

usada quando dorme no meio das folhas da parte superior da copa das árvores. Filhote de Tucanuçu

163


MANUAL DA FAUNA URBANA Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Piciformes Família

Ramphastidae Espécie

R. toco

Fotografia: Ricardo Ribeiro

164


AVES

165


MANUAL DA FAUNA URBANA

URUBU-D E-CABEÇA-PRETA Coragyps atratus O urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) é uma ave cathartiforme da família Cathartidae. Pertencente ao grupo dos abutres do Novo Mundo. Conhecido também como urubu-comum, urubu-preto e apitã.

Fotografia: biotodos.uerj

CARACTERÍSTICAS

Para diferenciá-lo dos outros urubus, em voo, destaca-

Dentre os urubus, é o de menor envergadura. Apesar

se o formato mais curto e arredondado das asas, com a

de seu tamanho, é o mais agressivo dos urubus menores,

ponta mantida um pouco à frente da cabeça. Quase no

disputando avidamente uma carcaça com as outras espécies.

final de cada asa, forma-se uma área mais clara, quase

Não possui o olfato apurado do gênero Cathartes, localizando

um círculo. Exceto por essa área mais clara, adultos e

a carniça pela visão direta ou observando os outros urubus

jovens são totalmente negros, inclusive a pele nua da

pousando para comer. Costuma deslocar-se a grande altura,

cabeça e o pescoço.

usando as correntes de ar quente para diminuir o custo

Além do planeio passivo, batem ativamente as asas,

energético do voo. Sua visão é excepcional, tendo boa

produzindo um ruído forte e característico. Outro som único

acuidade para objetos a grande distância.

é produzido pelas asas, soando como se fosse um avião

166


AVES

Fotografia: diariodoengenho.com

Filhotes de Urubu-de-cabeça-preta

a jato. Deixam-se cair de grande altura, em voo picado,

pontos marrons. Sua área de ocorrência tem-se expandido

para frear nas proximidades do solo ou da vegetação,

com a colonização humana.

abrindo as asas. O ar passando rapidamente pelas penas das asas produz o som.

HÁBITOS

O urubu-de-cabeça-preta possui de comprimento 56-76

No ambiente natural, alimenta-se nas mesmas carniças

centímetros e de envergadura cerca de 143 centímetros.

das outras espécies. Nas proximidades das casas, busca

O peso varia de 1 a 3 quilos.

restos de comida e partes de animais domésticos abatidos. Acostuma-se com a presença humana e, em alguns locais,

A L I M E N T A ÇÃO

circula até junto de galinhas e outras aves domésticas,

Saprófaga, alimenta-se de carcaças de animais mortos

quando sua forma peculiar de andar bamboleando chama

e outros materiais orgânicos em decomposição, bem como

a atenção, sendo popularmente chamada de passo do

de animais vivos impedidos de fugir, como filhotes de

urubu malandro.

tartarugas e de outras aves.

Quando está andando próximo a outros urubus, deixa a cauda ereta aparecendo entre as asas. Além de carniça, costuma comer pequenos vertebrados e ovos. Em dias

R E P R O D U ÇÃO

muito quentes, pousa nas margens de rios e lagoas para

Faz ninho em ocos de árvores mortas, entre pedras

beber água e resfriar as pernas. Entra na água rasa e molha

e outros locais abrigados, geralmente com incidência de

as pernas completamente. Ocorre em campos naturais,

árvores. Põe 2 ovos branco-azulados manchados com muitos

borda de matas , áreas rurais e urbanas.

167


MANUAL DA FAUNA URBANA Classificação Científica Reino

Animalia Filo

Chordata Classe

Aves

Ordem

Cathartiformes Família

Cathartidae Espécie

C. atratus

Fotografia: Lucas Longo

168


AVES

Fotografia: portaldocampogrande.com

Urubu-de-cabeça-preta e Carcará

Allopreening: comportamento social onde indivíduos de determinada espécie executam a limpeza em outro indivíduo pertencente ao seu grupo social. Os motivos mais aceitos para este comportamento são: remoção de ectoparasitos, posicionamento hierárquico e reestabelecimento do bom convivio. O Allopreening entre estas duas espécies de famílias diferentes, (cathartidae e falconidae), uma necrófaga e a outra predadora, torna o entendimento deste comportamento, além de difícil, ainda mais belo.

169


MANUAL DA FAUNA URBANA

A ME A ÇA S À VI D A

P

or mais que o estado de São Paulo possua os biomas

Só a cidade de São Paulo, a maior do país, produz 56 mil

com maiores diversidades de seres vivos no mundo,

toneladas de lixo diariamente.

a fauna e a flora não estão livres dos possíveis riscos

Estima-se que o Brasil produza, a cada 24 horas, 240

a sua existência – muito desses riscos causado pela ação

mil toneladas de lixo. O dado mais alarmante é que em

humana. Mas se engane que somente as grandes queimadas,

20 anos, entre 1982 e 2012, dobrou a quantidade de lixo

o desmatamento ilegal e o tráfico de animais são somente

gerado por pessoa.

responsáveis pela vulnerabilidade do ecossistema: Atitudes

E não é apenas isso. O lixo que é descartado incorretamente

cotidianas dentro das cidades e nas estradas podem impactar

no interior paulista pode parar no organismo de algum

negativamente o equilíbrio natural.

ser vivo, seja o animal se prendendo em algum lacre de garrafa PET ou confundindo sacola com alimento, seja o plástico estar em nível de partícula o suficiente para estar

LIXO

na corrente sanguínea. O microplástico que vai parar no

Em geral, todo o lixo produzido por um cidadão comum

oceano tem origem no descarte inadequado de embalagens;

acaba indo parar nos lixões, o que contribui para o aumento

escape de embalagens de aterros por meio do vento e da

da poluição e leva à ocorrência de alagamentos e diversos

chuva; lavagem de roupas de fibras de plástico como o

outros problemas que afetam milhares de vida e espalham

poliester; escape de matéria primária de plástico como

doenças. Além disso, o descarte inadequado é responsável

o nurdles; entre outras. Ao chegar à natureza, produtos

pela morte de milhões de animais, entre peixes e pássaros.

como garrafas, embalagens e brinquedos que não foram

Em 2012, apenas no Brasil foram produzidas 64

descartados corretamente, passam por um processo de

milhões de toneladas de resíduos, dos quais 24 milhões

quebra mecânica realizada pela chuva, pelos ventos e

de toneladas foram descartadas de forma inadequada.

pelas ondas do mar, que fazem com que os produtos se

No mesmo ano, a estimativa era de que cada brasileiro

fragmentem em pequenas partículas plásticas.

gerasse, em média, 383 kg de lixo ao longo dos 365 dias.

Em Sorocaba/SP, foi encontrada uma garça com um lacre de garrafa PET em seu bico. Fotografia: Fábio Rogério

170


ameaças à vida

Pomba atropelada. Fotografia: Uol Notícias

ATROPELAMENTOS Algo que acontece sem a devida intensão, mas que é prejudicial para a fauna local, são os atropelamentos de animais em ruas e estradas. Em uma entrevista para a revista National Geographic Brasil, a vencedora do prêmio “Future for Nature Awards 2019”, um dos mais importantes do mundo para iniciativas voltadas à proteção de animais silvestres, Fernanda Abra, diz que o abatimento dos animais nas estradas é a principal perda crônica de fauna no Brasil, junto com a caça ilegal e o tráfico de animais, já que a supressão de indivíduos é muito maior do que a reprodução lenta das espécies, tendendo ao risco de extinção. Sobre este fato, existe um dado alarmante: 15 animais são atropelados por segundo no Brasil, ou 1,3 milhão por dia. A imensa maioria, cerca de 430 milhões, são pequenos vertebrados, como sapos, cobras e aves. Amassados pelas rodas, acabam confundidos com o asfalto para quem passa em alta velocidade. Urubus e carcarás, quando não são também atingidos por algum carro ou caminhão, fazem o Tamanduá-mirim atropelado Fonte: Internet

171


MANUAL DA FAUNA URBANA serviço de levá-los embora da pista. Outras 43 milhões de vítimas são animais de médio porte, como gambás, lebres e macacos. A menor parte, correspondente a dois milhões de mortes, é composta por animais de grande porte, como capivaras, tamanduás, veados e onças. Muitos deles são ameaçados de extinção. Rodovias e ferrovias permitem o deslocamento de pessoas, o escoamento de produção industrial e agrícola, a comunicação entre as diferentes regiões do país. Contudo, a estrada mal planejada é também um problema ambiental. O som dos carros atrapalha o acasalamento dos sapos, animais que coaxam para encontrar o parceiro. A luminosidade das rodovias que cortam áreas de mata fechada impede a passagem de aves acostumadas ao ambiente mais escuro. “Dependendo da região, um animal pode precisar de 50, 100 km² para viver, se alimentar e se reproduzir”, diz o biólogo Alex Bager, do CBEE. Ao se depararem com uma estrada, muitos animais se assustam e ficam com medo de passar. Segundo Alex Bager (biólogo do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas.), as rodovias causam impacto numa distância de ao menos 500 metros a partir de sua borda. Para algumas

Gato se alimentando de uma lebre. Fotografia: New York Times

espécies mais sensíveis à poluição sonora, hídrica (sujeira da estrada que escorre com a chuva) e do ar (fumaça dos escapamentos), o impacto pode alcançar até 5 km. “Esses animais ficam presos em área que pode não ser suficiente para sobreviverem”, afirma o especialista. ANIMAIS DOMÉSTICOS Nossos cães e gatos, seres que consideramos entes familiares, são, acima de tudo, animais movidos por instinto. E este último apontamento aparentemente é ignorado por muitas pessoas, criando um hábito de dar liberdade além do perímetro residencial. Pois saiba que tal atitude é um erro e é totalmente prejudicial ao meio-ambiente inserido. Estudos ao redor do mundo mostram que populações de aves e repteis estão sendo impactadas pela presença dos gatos domésticos. Por conta disso, o felino está entre as cem espécies invasoras que causam maior estrago no mundo. Suas garras contribuíram, mesmo que indiretamente, para a extinção de 33 mamíferos, aves e répteis em ilhas oceânicas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. Em áreas continentais, porém, seu impacto sempre foi negligenciado. Um estudo, publicado esta semana pela revista “Nature Communications”, dedicou-se a este Gato se alimentando de um pássaro. Fotografia: Internet

172


ameaças à vida

Cães abandonados são um problema de saúde e de meio-ambiente. Fotografia: Sintra Notícias

levantamento. E mostra que os gatos matam anualmente

com o Mauro Galetti, professor do Departamento de Ecologia

entre 1,4 bilhão e 3,7 bilhões de pássaros e entre 6,9

da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro.

bilhões e 20,7 bilhões de mamíferos apenas nos Estados

Segundo cientistas, a maioria dos cães domésticos que

Unidos. Segundo a estimativa, cada gato americano mata

caçam em florestas tem donos. Mas estes os criam soltos.

1.443 bichos por ano — ou 3,95 por dia.

Passam dias a perambular fora de casa e ninguém se importa

Neste caminho, o cão doméstico também oferece risco

se comem, se estão doentes ou por onde andam. Quase

à vida selvagem. Na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro,

nunca são castrados e se reproduzem livremente. Alguns

onde os maiores predadores não existem, as matilhas – nem

são animais abandonados pelos mais variados motivos,

todas formadas por animais abandonados, tomaram o espaço

verdadeiros cães sem dono. Alguns voltam a um estado

vago. Diferente dos felinos que caçam sozinhos e animais

que a ciência chama de feral. Isolados dos humanos, se

menores, os cachorros invadem áreas de preservação e

reproduzem na floresta e adotam um comportamento totalmente

atacam animais grandes, como veados e antas. A bióloga

selvagem. A maioria, porém, é o que os pesquisadores

Isadora Lessa da Universidade de Brasília (UnB) diz que

chamam de semisselvagem. Eles não temem o homem e,

os grupos de cães podem chegar a 20 indivíduos, onde ela

por isso mesmo, são os mais agressivos. Podem ir para a

diz: “As pessoas temem a onça. Deveriam temer os cães”.

casa de um dono buscar abrigo e usar a floresta como área

Aqui no estado paulista, os cães também causaram danos

de caça. Cães são ótimos caçadores. É só lembrar que o

profundos à fauna local. A Mata de Santa Genebra, em

lobo e ele são a mesma espécie: Canis lupus e Canis lupus

Campinas (99 km de São Paulo) tiveram os veados extintos

familiaris , respectivamente. Além disso, como o homem,

por ação das matilhas que se tornaram selvagens, de acordo

se adaptam a qualquer ambiente e são resistentes.

173


REFERÊNCIAS Aves&Árvores: http://www.avesarvores.com.br/2015/12/ diferenca-entre-passaro-e-ave.html Brasil

Escola:

impacto-mortal-repteis-felino-australia-populacao-animais-

https://brasilescola.uol.com.br/biologia/

diferenca-entre-ave-passaro.htm Ecycle:

https://www.ecycle.com.br/component/content/

article/9-no-mundo/1157-estimativa-revela-que-quantidadede-lixo-produzida-no-mundo-sera-quase-70-maior-em-2030.html Escola Kids Uol: https://escolakids.uol.com.br/ciencias/porque-nem-todas-as-aves-sao-passaros.htm

diz-que-homem-cacou-ate-extinguir-a-fauna-da-australia,852504 G1 – Portal de Notícias: http://g1.globo.com/natureza/ noticia/2015/08/cerca-de-90-das-aves-marinhas-tem-plasticohttps://g1.globo.com/

natureza/desafio-natureza/noticia/2019/04/26/proliferacao-deespecie-invasora-de-mexilhao-afeta-hidreletricas.ghtml Ministério do Meio Ambiente: https://www.mma.gov.br/ biomas/mata-atlântica_emdesenvolvimento.html - https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado National

Geographic

Brasil:

passaros

-

https://www.nationalgeographicbrasil.

com/animais/2019/09/atropelamentos-antecipam-extincaode-especies-da-fauna-brasileira?fbclid=IwAR3mG7apizJe8DQft SelEcun2SdkDAroNBPUBEgzqsVinNgLl1bG7GXJn0g O Globo: https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/gatosmatam-ate-37-bilhoes-de-passaros-por-ano-nos-eua-7435210 - https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/ caes-abandonados-viram-predadores-na-floresta-da-tijuca-19583787

Estadão: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,estudo-

no-organismo-diz-estudo.html -

nationalgeographicbrasil.com/animais/2018/08/gatos-

O Jornal Cruzeiro: https://www.jornalcruzeiro.com.br/ sorocaba/grupo-pede-ajuda-para-resgatar-garca-com-o-bicopreso-por-plastico/ Pensamento Verde: https://www.pensamentoverde.com. br/meio-ambiente/descubra-quantidade-de-lixo-produzido-poruma-pessoa-diariamente-no-brasil/ Prefeitura de Bauru: http://www2.bauru.sp.gov.br/arquivos/ arquivos_site/sec_meioambiente/plano_de_manejo_agua_parada/ Encarte%201%20-%20Informações%20Gerais%20e%20Diagnóstico. pdf

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https://www.wikiaves.com.br/wiki/gaviao-caboclo

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https://www.wikiaves.com.br/wiki/gaviao-carijo

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https://www.wikiaves.com.br/wiki/grauna

https://www.wikiaves.com.br/wiki/tico-tico

https://www.wikiaves.com.br/wiki/joao-de-barro

https://www.wikiaves.com.br/wiki/tiziu

https://www.wikiaves.com.br/wiki/periquitao-maracana

https://www.wikiaves.com.br/wiki/trinca-ferro

https://www.wikiaves.com.br/wiki/neinei

https://www.wikiaves.com.br/wiki/tucanucu

https://www.wikiaves.com.br/wiki/noivinha-branca

https://www.wikiaves.com.br/wiki/urubu-de-cabeca-preta



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