A Ana Paula e ao Valdecir, a minha velhinha Pipoca, ao Fernando Miyabara por me ajudar a registrar algumas das espĂŠcies aqui presente, aos meus amigos e aos meus professores...
...E aos animais assassinados pelo descaso ambiental do atual governo. Aqui, combato ignorância com conhecimento.
ATENÇÃO: Este livro não é indicado para consultas com o objetivo de realizar artigos científicos, por se tratar de um exemplar com animais mais populares e com informações mais sucintas. Considere este livro como um ponto de partida para conhecimentos mais profundos sobre o tema.
Nome do Aluno: Guilherme Evangelista de Alencar Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Design - UniSagrado Orientadora: Prof.a Ma. Vanessa Grazielli Amaral
AVES
Objetivo 15.
Vida Terrestre Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda
Os seres humanos e outros animais dependem da natureza para terem alimento, ar puro, água limpa e também como um meio de combate à mudança do clima. As florestas, que cobrem 30% da superfície da Terra, ajudam a manter o ar e a água limpa e o clima da Terra em equilíbrio – sem mencionar que são o lar de milhões de espécies. Promover o manejo sustentável das florestas, o combate à desertificação, parar e reverter a degradação da terra, interromper o processo de perda de biodiversidade são algumas das metas que o ODS 15 promove. Usar sustentavelmente os recursos naturais em cadeias produtivas e em atividades de subsistência de comunidades, e integrá-los em políticas públicas é tarefa central para o atingimento destas metas e a promoção de todos os outros ODS.
Saiba mais em:
www.agenda2030.org.br
Realização:
5
MANUAL DA FAUNA URBANA
P
ara iniciarmos a falar de espécies urbanas, precisamos
habilis e o Homo neanderthalensis (considerado por alguns
abordar um assunto primeiro. O ser humano é um
como Homo sapiens neanderthalensis). O Homo sapiens,
animal como todos os outros seres pertencentes ao
praticamente, é o único que carrega o gênero no planeta.
Reino Animalia: somos eumetazoários por termos sistema
Tudo isso foi dito com o intuito de explanar que todos
digestivo (somente as esponjas não pertencem a esse sub-
nós, homens e mulheres de todas as etnias, somos tão
reino); localizamos no Filo Chordata, no Subfilo Vertebrata,
seres vivos como qualquer outra espécie existente na Terra,
por possuirmos sistema nervoso e simetria bilateral (aqui,
seja um pardal ou um tigre siberiano. Todos convivem
compartilhamos o mesmo espaço que os peixes, as aves,
em comunidade com outros animais, plantas, fungos e
repteis e anfíbios); estamos na classe dos mamíferos por
bactérias, seja em uma floresta tropical na Indonésia ou
portar glândulas mamárias e pelas fêmeas terem o ato
a Caatinga do Nordeste brasileiro.
de amamentar seus filhotes, além de possuirmos pelos
Todas os indivíduos ali presente causam impacto no
(salvo algumas baleias e golfinhos); somos primatas, uma
ambiente que vive, vide os Elefantes-africanos que destroem
classificação científica que engloba os mamíferos denominados
árvores para alcançarem as folhas longe dos seus poderes
genericamente “macacos”: símios e lêmures. Podem andar
e as Antas que dispersam sementes e contribuem para a
sobre quatro ou dois membros, detêm um cérebro maior
continuidade do bioma. Ambos têm a sua devida importância
comparado aos outros mamíferos, tardam para alcançar
para o ecossistema que convivem, em razão de que suas
a maturidade sexual e portam uma longa longevidade;
atitudes impactam diretamente o solo, a água e o ar
Repartimos a superfamília chamada Hominoidea, que
do local que vivem. O ser humano não é diferente. Seu
incluem os grandes primatas mais os macacos do Velho
impacto prejudicial já é notado desde a Era do Gelo, com
Mundo; junto com chimpanzés, gorilas e orangotangos,
a caça demasiada dos mastodontes que contribuiu com
somos batizados de hominídeo: Não possuímos caudas,
a sua extinção, por exemplo. A criação da agricultura e,
temos unhas achatadas, gozamos de polegares oponíveis,
consequentemente, a civilização e a revolução industrial,
somos onívoros e temos comportamento social complexo,
coadjuvaram a impactar com demasia o ambiente por onde
contando com comunicações faciais, verbais e não-verbais;
o Homem galgou. Um artigo publicado na Revista Science
Temos um parentesco maior com o gênero Pan (Chimpanzé-
em Março de 2012 propõe que a chegada do ser Humano na
comum e o Bonobo) por comparação de DNA, portanto,
Austrália há 40 mil anos causou a extinção da megafauna
uma classificação taxonômica intitulado tribo Hominini;
da região, desencadeando uma substituição de florestas.
A subtribo Hominina engloba os antepassados já extintos
Centenas de artigos corroboram a ideia de que vivemos
dos primatas, onde o único sobrevivente é o Homem.
um aquecimento global nos últimos 150 anos, contribuído
Chegamos ao gênero Homo, o primeiro nome binominal
com a influência humana com a emissão de CO2 e metano,
de Homo sapiens. Aqui estão todos os “homens” que pisaram
grandes desmatamentos para vastas monoculturas e criação
na Terra, como: Homo erectus, Homo floresiensis, Homo
de gado e, no caso, expansão das cidades. Espécies nativas
6
introdução
acabam se adaptando (algumas até se beneficiando) com
planando no céu da cidade. O marsupial contribui com
a interferência da sociedade humana no meio ambiente,
controle de pragas (como baratas) e a ave auxilia com a
como é o caso de muitas aves que avistamos em qualquer
degradação da matéria orgânica, facilitando sua decomposição. A vida selvagem nos rodeia, seja por adaptação, seja
parte que olhamos na zona urbana. A perturbação do equilíbrio da Natureza não é somente
por perda de habitat natural. Portanto, o objetivo deste
por conta da modificação do ambiente que o ser humano
exemplar é justamente sensibilizar e conscientizar os leitores
vive, mas também perturbação em deslocar espécies de
sobre as espécies de aves que podem manifestar-se na
habitats originais e aloca-los em ecossistemas distintos,
civilização, além de ilustrar a sua diversidade. Guilherme Alencar
criando então uma competição desleal e/ou se dispersar sem ter um predador natural naquele espaço. Há casos de introduções intencionais, como o caso do pardal-doméstico (Passer domesticus) que é originário do Oriente Médio e se alastrou para a Europa, foi trazido de Portugal para o Brasil. Também foi levado para outros países, sendo a ave terrícola mais amplamente distribuída no mundo. E também há casos de introduções acidentais, como Mexilhão-Dourado (Limnoperna fortunei), natural do Sudeste Asiático, foi transportado pelos navios mercadantes e hoje está presente nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, dando prejuízo de R$ 1 milhão de reais por dia de limpeza das turbinas das hidrelétricas. Levando em consideração as introduções, as espécies de plantas e animais domésticos entram no quesito de alteração do ecossistema. A ciência de sermos um integrante de uma comunidade de seres vivos nos revela o poderoso impacto que nossos atos podem acarretar nas espécies que nos rodeiam. A necessidade de ser respeitoso com a Natureza não deve se restringir somente fora das cidades, pensando apenas nos grandes e afastados biomas, a cautela se deve originar dentro do seu convívio social, seja na zona rural ou urbana. Não é preciso se deslocar muito para encontrar um gambá enroscado em um galho ou um urubu-de-cabeça-preta
7
MANUAL DA FAUNA URBANA
POR QUE TODO PÁSSARO É UMA AVE, V
ocê já parou para pensar na diferença entre ave e
Ainda falando a respeito da tendência ao corpo mais
pássaro? Para responder, antes temos que definir:
leve, não podemos deixar de falar sobre os ossos ocos e
o que é uma ave?
com ar, chamados de pneumáticos. Esses ossos são muito mais leves do que os nossos ossos, por exemplo.
As aves são animais vertebrados que apresentam como
característica mais marcante a presença de um corpo coberto
As aves possuem sistema digestório completo e também
por penas. A presença de penas está diretamente relacionada
complexo. Nesses animais, verificamos algumas importantes
com o voo, entretanto, não é apenas essa sua função. As
adaptações, como a presença de papo e moela, estruturas
penas apresentam papel importante no isolamento térmico,
que ajudam muito esses animais que não possuem dentes.
na camuflagem e na atração de parceiros, por exemplo.
O papo é uma porção dilatada do esôfago e está relacionada
As aves destacam-se ainda pela presença de um bico
com o armazenamento e amolecimento de alimento, enquanto
que torna a cabeça desses animais mais leve, sendo essa
a moela funciona como um estômago mecânico.
também uma característica importante para o voo. Além
As aves possuem respiração pulmonar e contam com a
disso, verificamos nas aves a presença de diversos bicos
presença de estruturas chamadas de sacos aéreos. Os sacos
diferentes, os quais estão adaptados à dieta de cada espécie.
aéreos funcionam como um reservatório de ar e tornam
As aves que comem insetos, por exemplo, possuem bicos
esse sistema ainda mais eficiente. O sistema circulatório é
mais curtos e finos. Já as aves carnívoras possuem bicos
fechado, ou seja, o sangue corre dentro de vasos sanguíneos.
pesados e pontiagudos.
O coração das aves apresenta quatro cavidades, assim
Galinha: Ordem Galliformes
Papagaio: Ordem Psitaciformes
8
introdução
MAS NEM TODA AVE É UM PÁSSARO? como o coração dos mamíferos. Esses animais destacam-
periquitos, maritacas, cacatuas, etc., fazem parte da mesma
se também por apresentarem a capacidade de controlar a
ordem (ordem Psittaciformes), pois todos eles apresentam
temperatura do corpo, a qual não varia com as alterações do
características semelhantes, como cabeça larga, pés curtos,
meio ambiente. Por apresentar essa característica, dizemos
bico curvo e muito resistente, etc.
que se tratam de animais endotérmicos.
Já as aves que fazem parte da ordem Passeriforme, muito
Não podemos nos esquecer ainda que todas as aves
conhecidas como passarinhos ou aves canoras, reúnem
são ovíparas, ou seja, todas as aves botam ovos. Uma
mais da metade de todas as espécies de aves.
grande parcela das aves bota seus ovos em ninhos para
Todos os pássaros possuem penas e bicos, botam ovos,
garantir a proteção do filhote.
são endotérmicos, possuem sistema digestório completo,
Agora que sabemos a definião de uma ave, voltamos
sistema circulatório, coração com quatro cavidades e
à pergunta principal: qual a diferença de ave e pássaro?
respiração pulmonar.
A resposta está na classificação dos animais: A ordem.
Entretanto, algumas características que merecem
Todos os animais de uma classe que possuem características
destaque e ajuda a diferenciá-los de outras aves, como o
semelhantes são reunidos em um grupo, e a esse grupo
fato de possuirem capacidade de canto, ou seja, são aves
damos o nome de”ordem” (faz parte da classificação
canoras; terem pés anisodáctilos, ou seja, possuem três
científica, um modo de agrupar e categorizar os seres
dedos voltados para frente e um dedo voltado para trás e
vivos). No caso das aves, por exemplo, papagaios, araras,
não possuirem membrana na base de seu bico.
SOMENTE ESTA AVE É UM PÁSSARO
Pombo: Ordem Columbiformes
Pardal: Ordem Passeriformes
9
MANUAL DA FAUNA URBANA
BIOMA DO INTERIOR PAULISTA
A
cidade de Bauru se localiza na região Centro-Oeste do
a rica avifauna compreende cerca de 837 espécies. Os
estado de São Paulo, estando a 326 km de distância
números de peixes (1200 espécies), répteis (180 espécies)
da capital paulista. A cidade possui 48 cidades na
e anfíbios (150 espécies) são elevados. O número de
sua região intermediária (antigas mesorregiões criadas
peixes endêmicos não é conhecido, porém os valores
pelo IBGE), muitas delas compartilhando o mesmo bioma
são bastante altos para anfíbios e répteis: 28% e 17%,
(conjunto de seres vivos de uma área; ecossistema terrestre).
respectivamente. De acordo com estimativas recentes,
Originalmente, a vegetação do estado de São Paulo era bem diversificada. A maior parte do estado era coberto pela Floresta Atlântica, concentrada principalmente na Serra do Mar (Floresta Ombrófila Densa), enquanto no interior predominavam florestas mais secas, em que é comum boa parte do dossel perder as folhas na estação desfavorável (seca). Até meados do século XIX, o estado de São Paulo ainda apresentava sua vegetação praticamente intacta. A partir de então, houve um intenso uso da terra, principalmente para o cultivo de café, extremamente exigentes quanto ao tipo de clima e do solo. Tais processos levaram ao desenvolvimento econômico do estado e do país, mas às custas de impacto ambiental severo (o que se pode ver é que as maiores reservas de floresta se encontra na Serra do Mar, cujo o espaço não oferece um acesso adequado às funções agrícolas). Os ecossistemas que formam o interior de São Paulo são basicamente: Floresta estacional semidecidual – FES (também conhecida como Mata Atlântica do Interior) o
Mapa de biomas no interior de São Paulo. Fonte: bauru.sp.gov.
Cerrado e o ecótono: um ambiente que compartilha os biomas vizinhos da mata atlântica e o cerrado. Então, a região interiorana de Bauru pode avistar os animais e
o Cerrado é o refúgio de 13% das borboletas, 35% das
as plantas de ambos ecossistemas, como o Bem-te-vi da
abelhas e 23% dos cupins dos trópicos.
floresta atlântica e a Seriema da savana brasileira.
Contudo, inúmeras espécies de plantas e animais correm risco de extinção. Estima-se que 20% das espécies nativas
CERRADO
e endêmicas já não ocorram em áreas protegidas e que pelo
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do
menos 137 espécies de animais que ocorrem no Cerrado
Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22%
estão ameaçadas de extinção. Depois da Mata Atlântica,
do território nacional. Do ponto de vista da diversidade
o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações
biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a
com a ocupação humana. Com a crescente pressão para a
savana mais rica do mundo, abrigando 11.627 espécies
abertura de novas áreas, visando incrementar a produção de
de plantas nativas já catalogadas. Existe uma grande
carne e grãos para exportação, tem havido um progressivo
diversidade de habitats, que determinam uma notável
esgotamento dos recursos naturais da região. Nas três
alternância de espécies entre diferentes fitofisionomias.
últimas décadas, o Cerrado vem sendo degradado pela
Cerca de 199 espécies de mamíferos são conhecidas, e
expansão da fronteira agrícola brasileira. Além disso, o
10
introdução
Mesmo assim, estima-se que existam na Mata Atlântica cerca de 20 mil espécies vegetais (35% das espécies existentes no Brasil, aproximadamente), incluindo diversas espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Essa riqueza é maior que a de alguns continentes, a exemplo da América do Norte, que conta com 17 mil espécies vegetais e Europa, com 12,5 mil. Esse é um dos motivos que torna a Mata Atlântica prioritária para a conservação da biodiversidade mundial. Em relação à fauna, o bioma abriga, aproximadamente, 850 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes. As florestas e demais ecossistemas que compõem a Mata Atlântica são responsáveis pela produção, regulação e abastecimento de água; regulação e equilíbrio climáticos; proteção de encostas e atenuação de desastres; fertilidade e proteção do solo; produção de alimentos, madeira, fibras, óleos e remédios; além de proporcionar paisagens cênicas e preservar um patrimônio histórico e cultural imenso.
Exemplo de vegetação do Cerrado. Fotografia: Brasil Escola
bioma Cerrado é palco de uma exploração extremamente predatória de seu material lenhoso para produção de carvão. MATA ATLÂNTICA A Mata Atlântica é composta por formações florestais nativas (Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual), e ecossistemas associados (manguezais, vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste). Originalmente, o bioma ocupava mais de 1,3 milhões de km² em 17 estados do território brasileiro, estendendose por grande parte da costa do país. Porém, devido à ocupação e atividades humanas na região, hoje resta cerca de 29% de sua cobertura original. Exemplo de vegetação da Mata Atlântica. Fotografia: Brasil Escola
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO AVES
8 14
PERIQUITÃO-MARACANÃ
96
NEINEI
100
NOIVINHA-BRANCA
102
PARDAL 104
ANDORINHA-DOMÉSTICA-GRANDE
16
PERIQUITO-DE-ENCONTRO-AMARELO
108
ANDORINHA-PEQUENA-DE-CASA
18
PICA-PAU-DE-BANDA-BRANCA
112
ANU-BRANCO 22
PICA-PAU-DO-CAMPO
116
ANU-PRETO
26
POMBAS 120
BEIJA-FLOR-TESOURA
30
QUERO-QUERO
124
BEM-TE-VI
34
SABIÁ-DO-CAMPO
126
BIGUÁ
38
SABIÁ-LARANJEIRA
132
CANÁRIO-DA-TERRA
44
SABIÁ-POCA
136
CARCARÁ
48
SANHAÇU-CINZENTO
138
CHOCA-BARRADA
54
SERIEMA
142
CHUPIM
58
SUIRIRI
146
COLEIRINHO
62
TICO-TICO
152
CORUJA-BURAQUEIRA
66
TIZIU
156
GARÇA-BRANCA-GRANDE
72
TRINCA-FERRO
160
GARÇA-BRANCA-PEQUENA
78
URUBU-DE-CABEÇA-PRETA
166
GAVIÃO-CABLOCO
80
GAVIÃO-CARIJÓ
84
GRAÚNA 88 JOÃO-DE-BARRO
90
AMEAÇAS À VIDA REFERÊNCIAS
170
174
PERIQUITÃO-MARACANÃ Página 96
GAVIÃO-CABOCLO Página 80
QUERO-QUERO Página 124
AVES
Avifauna é uma classificação para comunidade de aves, sendo esssa classe uma das mais diversificadas e representativas em número de espécies dentre os vertebrados terrestres. Isto também é notado no meio urbano. As aves podem ocupar ambientes muito variados, e por serem de fácil detecção, servem como “bioindicadoras” - uma ferramenta de avaliação do meio-ambiente, onde se pode considerar a presença ou a ausência de certas espécies como indicador de alteração e/ou preservação ambiental.
MANUAL DA FAUNA URBANA
AN DORI NHA -D OMÉ S T ICA-G R A N D E Progne chalybea A andorinha-doméstica-grande é uma ave passeriforme da família Hirundinidae. Conhecida nos diversos lugares por vários nomes populares, tais como: andorinha-católica, andorinha-da-casa, andorinha-grande, andorinha-mestre e tapérá.
Fotografia: Isabel Gomes
CARACTERÍSTICAS
esbranquiçadas na porção subterminal e os flancos são
Mede entre 16 e 22 centímetros de comprimento e pesa
ocasionalmente tingidos de marrom.
entre 33 e 50 gramas. Apresenta cabeça e as costas de coloração preto azul metálico brilhante. A face tem uma máscara preta fosco mais escura abaixo dos olhos. A íris é preta. O bico curto, chato e triangular é negro e apresenta uma ampla abertura bucal. As asas, longas e pontiagudas são pretas com reflexos azulados sobre as coberteiras. Têm um voo rápido e ágil. A cauda bifurcada é preta com leve brilho azulado. A garganta, peito e flancos são branco acinzentados sendo marcado com marrom pardacento. O resto do peito e da barriga são brancos. A fêmea apresenta a plumagem da cabeça e das costas mais desbotada, com menos brilho azul metálico que a plumagem dos machos da espécie. A plumagem juvenil é muito parecida com a plumagem da fêmea da espécie, apresentando coloração amarronzada sobre a parte dorsal. As retrizes exteriores possuem manchas Fotografia: Adriano Campos
16
AVES
A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de insetos capturados em vôo.
participa do cuidado da prole. Costuma aproveitar o ninho do joão-de-barro.
R E P R O D U ÇÃO
HÁBITOS
Faz o ninho, em forma de tigela, com palha e fezes secas de
Habita fazendas e cidades. Formam bandos numerosos,
gado, solidamente presas, forrado com penas internamente.
pousam em árvores, fios de eletrificação e também no solo.
Os ninhos são colocados em cavidades de pedras e locais
As espécies que residem no Brasil Meridional são migratórias
protegidos em edificações urbanas; neles são postos 2 a 5
e no outono partem em direção ao norte, embora nem
ovos brancos, que medem 23 por 16 mm. Como é regra na
todos os indivíduos de uma população migrem.
família, cabe à fêmea a maior parte de incubação e o casal
Fotografia: Jederson Schwanz
17
MANUAL DA FAUNA URBANA
A N D O RIN H A-P EQUENA-DA- C ASA Pygochelidon cyanoleuca A andorinha-pequena-de-casa está quase sempre presente em nosso dia-a-dia e na maior parte dos locais onde ocorre basta olhar para o céu em dias de tempo bom que elas estarão lá, dando um verdadeiro show com suas acrobacias aéreas enquanto caçam insetos voadores.
CARACTERÍSTICAS As partes superiores são azul-metálicas, mas dependendo da incidência da luz parecem negras. As asas e a cauda são negras, inclusive nas partes inferiores. A região negra da parte inferior da cauda vai até a altura da cloaca, o que a distingue da andorinha-de-sobre-branco (Tachycineta leucorrhoa). A divisão das cores é bem nítida. Não há manchas brancas nas partes escuras, nem manchas escuras na parte branca, o que a diferencia das outras andorinhas brasileiras, a não ser da andorinha-doméstica-grande (Progne chalybea), que é bem maior. Mede cerca de 12-13 centímetros. Pesa cerca de 12 gramas. A L I M E N T A ÇÃO Sobrevoam os mais variados tipos de formações vegetais, mas são especialmente abundante em campos, especialmente na época de revoadas de formigas e cupins alados, quando formam bandos de dezenas de indivíduos nas áreas dos formigueiros e cupinzeiros.
Fotografia: Cláudio Lopes
R E P R O D U ÇÃO Na natureza essas aves usam buracos em barrancos, escarpas e rochas tanto para nidificar quanto para pernoitar. Este hábito representou uma pré-adaptação desta ave ao meio urbano, que se sente muito à vontade nas frestas de telhados ou qualquer outro espaço em nossas construções. O ninho é uma tigela feita de palha, as vezes cimentada com fezes de gado e recoberta por penas. Os ovos, geralmente de 3 a 5, são incubados pela fêmea enquanto o macho a alimenta. O casal se reveza na alimentação dos filhotes. HÁBITOS Passam a maior parte do dia voando, só pousando em
Fotografia: AvifaunaCamburiu.com
árvores, antenas e fios de eletricidade para descansar ou quando o tempo está ruim.
Andorinha jovem
18
AVES
Fotografia: Chico Helder
19
MANUAL DA FAUNA URBANA Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Hirundinidae Espécie
P. Cyanoleuca
Fotografia: AviFaunaCamboriu.com
20
AVES
Fotografia: Leonardo Casadei
É migratória, especialmente nos locais mais frios, mas
colônias. Gostam de pousar em fios elétricos, em grande
ao contrário de outras espécies de andorinhas não realiza
número. Algumas não gostam muito do frio e migram para
migrações muito longas.
passar o inverno em outras regiões mais ao norte. Têm
Às vezes é vista fazendo vôos rasantes sobre lagos
um vôo um pouco irregular, já que ficam para lá e para
para beber água. Tem grande afinidade pelas habitações
cá procurando insetos. Algumas árvores floridas, como as
humanas. Muitas vezes são vistas voando dentro de
tipuanas, atraem insetos e as andorinhas logo aparecem
grandes igrejas, e por isto são muito respeitadas. Faz seus
e ficam borboleteando por sobre as copas. É encontrada
ninhos em cavidades, próximos uns dos outros, formando
em cidades, áreas rurais e áreas mais abertas.
21
MANUAL DA FAUNA URBANA
AN U - B R A N C O Guira guira O anu-branco é uma ave cuculiforme da família Cuculidae. Também conhecido como rabo-de-palha, alma-degato, quiriru, pelincho, pipiriguá(ceará), piririgua,e anum-branco (Rio Grande do Norte), cigana (sul do Piauí).
Fotografia: Rodrigo Conte
CARACTERÍSTICAS Mede entre 36 e 42 centímetros de comprimento, incluindo
Ao redor dos olhos, um fino anel periocular amarelo pálido.
seus 20 centímetros da cauda, e pesa entre 113 e 168,6
O dorso e as coberteiras das asas são finamente estriados,
gramas. É usualmente encontrado em bandos familiares.
as penas são escuras apresentando as bordas claras. As
O adulto da espécie apresenta coloração ocre-amarelada
rêmiges são marrom enegrecidas. O uropígio é branco.
com uma crista desgrenhada, pele facial nua amarela, bico
A cauda é graduada, longa e apresenta belas retrizes,
forte e curvo com uma bela coloração amarelo-alaranjada e
cada uma delas dividida em três partes com colorações
íris variando entre o amarelo-alaranjado e branco-azulado.
distintas: camurça pálido na porcão basal, preto no centro
22
AVES
e, na porcão distal, a cor é branca. A garganta, peito e ventre são pálidos com finas estrias escuras na garganta e no peito. O juvenil da espécie apresenta as rêmiges com pequenas faixas brancas nas pontas, bico acinzentado, íris escuras e as retrizes acinzentadas. O cheiro do corpo é forte e característico, perceptível para nós a vários metros e capaz de atrair morcegos hematófagos e animais carnívoros. Quando empoleira arrebita a cauda e joga-a até às costas. Anda sempre em bandos. São aves extremamente sociáveis. Sua vocalização é alta e estridente: “iä, iä, iä” (chamada e grito durante o voo); “i-i-i-i” (advertência); sequência fortemente descendente e decrescendo de melodiosos “glüü” (canto); cacarejo baixo. A L I M E N T A ÇÃO É essencialmente carnívoro, comendo gafanhotos, percevejos, aranhas, miriápodes etc. Preda também lagartas peludas e urticantes, lagartixas, camundongos, rãs e filhotes de outras aves. Cospe pelotas. Pesca na água rasa; periodicamente come frutas, bagas, coquinhos e sementes, sobretudo na época seca, quando há escassez de artrópodes. Já foi visto na Região dos Lagos, RJ, predando
Fotografia: Paulo Vale (Poloca).jpg
pequenos caramujos-africanos.
R E P R O D U ÇÃO Os seus ovos são relativamente muito grandes, tendo de 17 a 25% do peso da fêmea. A cor dos ovos é verdemarinho e uma rede branca calcária em alto relevo se espalha sobre toda a superfície. Tanto há ninhos individuais, como coletivos. A fêmea que construiu um ninho e ainda não começou a pôr os seus ovos joga fora os ovos postos ali por outras fêmeas. Joga também os ovos, quando a fêmea poedeira encontra o ninho onde quer pôr ocupado por outra ave. Os adultos nem sempre zelam bem pelos ninhos com ovos, abandonando-os. Os filhotes deixam o ninho antes de poder voar, com a cauda curta, e são Fotografia: Miguel Calmon Neto
alimentados ainda durante algumas semanas. Quando os seus ninhos são abandonados, às vezes são aproveitados
Ovos de Anu-branco
por outros pássaros, serpentes e por pequenos mamíferos, sobretudo marsupiais.
23
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica
Fotografia: Gabriel Toledo
Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Cuculiformes Família
Cuculidae Subfamília
Crotophaginae Espécie
G. guira
24
AVES
Fotografia: Kassius Santos
HÁBITOS
À noite, para se esquentar, junta-se em filas apertadas
Até certo ponto é beneficiado pelo desaparecimento
ou aglomera-se em bandos desordenados; acontece de
da mata alta, pois vive em campos, lavouras e ambientes
um correr sobre as costas dos outros que formam a fila
mais abertos. Migra para regiões onde era desconhecido e
a fim de forçar a sua penetração entre os companheiros.
torna-se a ave mais comum ao longo das estradas. Devido
Procura moitas de taquara para pernoitar. Esta espécie
ao seu voo lerdo e fraco, é frequentemente atropelado
morre de frio no inverno.
nas estradas e arrastado ao mar por fortes ventos. É
As aves arrumam as suas plumagens reciprocamente.
atingido pela ação funesta dos inseticidas, fato tanto mais
Animais carnívoros em geral são seus predadores naturais.
lamentável por ser muito útil à lavoura.
Esta espécie é atacada por outras aves, por exemplo o
Gosta de apanhar sol e banhar-se na poeira, muitas
suiriri, mas é reconhecida como possível inimiga da coruja,
vezes adquire plumagem com coloração adventícia, ficando
provavelmente a coruja-buraqueira. Algumas espécies da
fortemente tingida com a cor da terra do local ou de cinza
família Columbidae, como as rolinhas, se assustam com o
e carvão, sobretudo se correr antes pelo capim molhado,
aparecimento de anus-brancos. O anu-branco por sua vez
o que torna suas penas pegajosas. Pela manhã e após as
enxota o gavião-carijó quando este pousa nas imediações
chuvas, pousa de asas abertas para enxugar-se.
do seu ninho.
25
MANUAL DA FAUNA URBANA
ANU -PR E TO Crotophaga ani O anu-preto é uma ave cuculiforme da família Cuculidae. Conhecido também como anu-pequeno e anum (Pará e Rio Grande do Norte) e na região da Amazônia central é chamado de coró-coró.
Fotografia: José Reynaldo da Fonseca
CARACTERÍSTICAS
ave extremamente sociável. Tem grande habilidade em
Corpo franzino, mede entre 35 e 36 centímetros de
pular e correr pela ramagem. O cheiro do corpo é forte e
comprimento e pesa entre 76 e 222 gramas de peso,
característico, perceptível para nós a vários metros e capaz
sendo que as fêmeas da espécie apresentam peso menor
de atrair morcegos hematófogos e animais carnívoros.
que os machos.
Possui mais de uma dúzia de vocalizações diferentes.
Sua coloração é preto uniforme, possui um bico alto,
Tem dois pios de alarme: a um certo grito todos os
forte e curto que apresenta cúlmen na mesma coloração
componentes do bando se empoleiram em pontos bem
do bico. Cauda longa e graduada.
visíveis, examinando a situação; outro grito, emitido quando
Apesar de formar casais, vive sempre em bandos,
um gavião se aproxima, faz desaparecer num instante
ocupando territórios coletivos durante todo o ano. É
no matagal todo o grupo. Eles se divertem cavaqueando
26
AVES
capturando também pequenas cobras e rãs. Frequentemente
Fotografia: Sovernigo
segue tratores que aram os campos. R E P R O D U ÇÃO Os ovos das fêmeas do anu-preto perfazem 14% do peso de seu corpo. São de cor azul-esverdeada, cobertos por uma crosta calcária, raspada sucessivamente pelo processo de virá-los durante a incubação. O anu-preto costuma trazer comida quando visita a fêmea no ninho. O macho dança em torno da fêmea, no solo. As fêmeas, embora possuam ninhos individuais, se associam mais frequentemente a um ou dois casais do seu bando para construir ninho coletivo, pôr ovos e criar a prole juntas, tendo a cooperação de machos e filhotes crescidos de posturas anteriores. Seus ninhos são grandes e profundos. Pode acontecer de um ninho ser ocupado por 6 ou 10 aves, e conter 10, 20 e até mais ovos. A postura de uma fêmea é calculada em 4 a 7 ovos. A incubação é curta, durando de 13 a 16 dias, sendo criados com sucesso meia dúzia de filhotes por vez. A boca aberta vermelha do filhote do anu-preto é marcada por três sinais amarelos. Quando os
Anu-preto se alimentando
seus ninhos são abandonados, às vezes são aproveitados por outros pássaros e por pequenos mamíferos, sobretudo marsupiais, e por cobras. Os filhotes deixam o ninho antes baixinho, de modo bem variado, causando às vezes a
de poder voar, com a cauda curta, e são alimentados ainda
impressão de estar tentando imitar a voz de outra ave.
durante algumas semanas.
A L I M E N T A ÇÃO É essencialmente carnívoro, comendo gafanhotos, percevejos, aranhas, miriápodes etc. Preda também lagartas peludas e urticantes, lagartixas e camundongos. Pesca na água rasa, e periodicamente come frutas, bagas, coquinhos e sementes, sobretudo na época seca, quando há escassez de artrópodes. Alimenta-se sobretudo de ortópteros (gafanhotos), que apanha acompanhando o gado. Quando não há gado no pasto executa, às vezes, caçadas coletivas no campo: o bando espalha-se no chão, em um semicírculo, ficando as aves afastadas umas das outras por dois ou três metros. Permanecem assim imóveis e atentas e quando aparece um inseto, a ave mais próxima salta e o apanha.
Fotografia: Parassinhologa
De tempos em tempos o bando avança. Quando pousa
Interação entre a Capivara e Anu-branco
sobre o dorso dos bois geralmente o faz para ampliar seu campo visual. Às vezes apanha insetos em pleno voo,
27
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Cuculiformes Família
Cuculidae Subfamília
Crotophaginae Espécie
C. ani
Fotografia: Gilberto Adriano Cervati
28
AVES
Fotografia: Biotodos.com
Os filhotes ainda pequenos são facilmente espantados
Gosta de apanhar sol e banhar-se na poeira. Muitas
e fogem para todos os lados sobre os galhos em torno
vezes adquire plumagem com coloração adventícia, ficando
do ninho, mas costumam regressar ao mesmo quando o
fortemente tingida com a cor da terra do local ou de cinza
perigo passa.
e carvão, sobretudo se antes correr pelo capim melado. Pela manhã e após as chuvas pousa de asas abertas para enxugar-se. À noite, para se esquentar, junta-se em filas
HÁBITOS
apertadas ou aglomera-se em montões desordenados;
Vive em paisagens abertas com moitas e capões entre
acontece de um correr sobre as costas dos outros que formam
pastos e jardins; ao longo das rodovias costuma ser quase a
a fila, para forçar a sua penetração entre os companheiros;
única que se vê, como habitante de lavouras abandonadas.
arrumam as suas plumagens reciprocamente. Procura moitas
Prefere lugares úmidos. Sendo um fraco voador, mal resiste
de taquara para pernoitar.
à brisa, e qualquer vento mais forte leva-o para longe.
29
MANUAL DA FAUNA URBANA
BEIJA-FLOR-TESOURA Eupetomena macroura Os beija-flores são sem dúvida um dos grupos de aves mais típicos do continente americano, com suas cores iridescentes, rapidez descomunal, capacidade de pairar no ar e tamanho reduzido. O beija-flor-tesoura é talvez o integrante mais famoso desse grupo, ao menos no Brasil não amazônico, provavelmente pela sua abundância em locais urbanizados, pela beleza de sua coloração, pela tesoura facilmente reconhecível e principalmente pelos seu comportamento abusado, pois é um dos maiores e mais briguentos beija-flores. É também conhecido como beija-flor-rabo-de-tesoura e tesourão.
Fotografia: Dário Sanches
30
AVES
CARACTERÍSTICAS Mede entre 15 e 19 centímetros de comprimento, sendo um dos maiores beija-flores brasileiros, pesando em torno de 6-11 gramas. Cabeça, pescoço e parte superior do tórax de um profundo azul violeta; restante da plumagem verde-escuro iridescente. Pequena mancha branca
atrás
raques
das
dos
olhos;
primárias
rêmiges
externas
castanho-escuro;
alargadas,
embora
sejam bem menos evidentes que as espécies do gênero Campylopterus; cauda azul-escuro; calções brancos; bico ligeiramente curvado para baixo e preto. Tem como característica principal a cauda longa e profundamente furcada que toma quase 2/3 do seu tamanho total. Esporadicamente apresenta as penas azuladas da fronte tingidas de branco, amarelo ou de cores diversas, em
Fotografia: Flávio Brandão
virtude do acúmulo de pólen proveniente das flores que poliniza. A fêmea é quase igual ao macho, sendo um pouco menor e mais pálida. O imaturo é como a fêmea,
Os beija-flores têm o mais acelerado metabolismo
mas a cabeça é particularmente mais pálida e tingida de
entre as aves. Podemos dizer que eles vivem em outro
marrom.
ritmo, pois tudo é acelerado. Quando em voo, podem bater as asas dezenas de vezes por segundo. O canto é muito agudo e rápido, parecendo um simples assovio para nossos ouvidos, mas quem estuda bioacústica sabe que quando a vocalização destas aves é analisada
Fotografia: Bruno Antunes Machado
com cuidado em um sonograma, esta mostra-se muito complexa e até melodiosa.
A L I M E N T A ÇÃO Assim
como
outros
beija-flores,
alimenta-se
basicamente de néctar de flores, mas também caça pequenos insetos com grande habilidade em voos curtos. Tem um papel importante na polinização de muitas plantas. O ninho, em forma de tigela, é assentado em um ramo mais ou menos horizontal ou numa forquilha de arbusto ou árvore, a cerca de 2 a 3 metros do solo. O material utilizado na construção é composto por fibras vegetais macias, incluindo painas. Fragmentos de folhas, musgos e líquens são aderidos extremamente com teias de aranha. Põe de dois a três ovos brancos e alongados nos meses de janeiro e fevereiro. Somente a fêmea incuba os ovos e os filhotes nascem após 15 a 16 dias. Ninho de Beija-flor-tesoura com filhotes
31
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Apodiformes Família
Trochilidae Espécie
E. macroura
Fotografia: Fabrício Corsi Arias
32
AVES
Fotografia: Guilherme Alencar
São alimentados pela fêmea principalmente com
nas garrafas com água e açúcar ou nas flores de seus
insetos, enquanto o macho defende seu território e as
jardins. É territorialista e extremamente agressivo,
flores com que se alimenta. Os filhotes deixam o ninho
principalmente na época da reprodução, quando é capaz
com 22 a 24 dias.
de atacar outros pássaros muito maiores e pequenos mamíferos. Em algumas épocas do ano, quando há menos
HÁBITOS
disponibilidade de néctar, adota uma única árvore, que
É frequentemente o beija-flor mais comum do Brasil
pode ser um mulungu ou um ipê, como a sede de seu
centro-oriental. Vive em áreas semiabertas, bordas de
território e a defende ferozmente contra qualquer outra
florestas, capoeiras, parques e jardins, sendo comum até
ave, principalmente contra outros beija-flores e contra
em grandes metrópoles. Não costuma ter medo do ser
a cambacica. Ocorrem lutas ritualísticas intraespecíficas
humano, aproximando-se das pessoas para se alimentar
em voo em defesa do território.
33
MANUAL DA FAUNA URBANA
B E M- T E -V I Pitangus sulphuratus O bem-te-vi é uma ave passeriforme da família dos Tiranídeos. Conhecido também como bem-te-vi-de-coroa e bemte-vi-verdadeiro, é provavelmente o pássaro mais popular de nosso país, podendo ser encontrado em cidades, matas, árvores à beira d’água, plantações e pastagens. Em regiões densamente florestadas habita margens e praias de rios. É também muito popular nos outros países onde ocorre, recebendo nomes onomatopeicos em várias línguas como kiskadee em inglês, qu´est ce em francês (Guiana) e bichofêo em espanhol (Argentina).
te-vi, que dão o nome à espécie. Portanto, seu nome popular possui origem onomatopeica.
Fotografia: José Branco
Possui uma variada alimentação. É insetívoro, podendo devorar centenas de insetos diariamente. Mas também come frutas (como bananas, mamões, maçãs, laranjas, pitangas e muitas outras), ovos e até memso filhotes de outros pássaros, flores de jardins, minhocas, pequenas cobras, lagartos, crustáceos, além de peixes e girinos de rios e lagos de pouca profundidade e até mesmo pequenos roedores. Costuma comer parasitas (carrapatos) de bovinos e equinos. Apesar de ser mais comum vê-lo capturar insetos pousados em ramos, também é comum atacá-los durante o voo. Pode capturar aves muito jovens de espécies pequenas que estejam fora do ninho (ninhegos), tendo sido observada a captura de um jovem Bico-de-lacre (Estrilda astrild) que era alimentado no chão pelos pais e que provavelmente havia caído do ninho.
Bem-te-vi com sua crista à mostra
CARACTERÍSTICAS Ave de médio porte, o bem-te-vi mede entre 20,5 e 25 centímetros de comprimento e pesa aproximadamente de 52-68 g. Tem o dorso pardo e a barriga de um amarelo vivo; uma listra (sobrancelha) branca no alto da cabeça, acima dos olhos; cauda preta. O bico é preto, achatado, longo, resistente e um pouco encurvado. A garganta (zona logo abaixo do bico) é de cor branca. Possui um topete amarelo somente visível quando a ave o eriça em determinadas situações. O seu canto trissilábico característico lembra as sílabas bemFotografia: Guilherme Alencar
34
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Tyranni Família
Tyrannidae Subfamília
Tyranninae Espécie
P. sulphuratus
Fotografia: Marta Mitie Ogawa
35
MANUAL DA FAUNA URBANA
Fotografia: Douglas Fernandes
Aprecia os frutos da fruta-de-sabiá ou marianeira (Acnistus arborescens), chala-chala (Allophyllus edulis), araticum ou marolo (Annona coriacea), maria-preta (Solanum americanum), magnólia-amarela (Michelia champaca) e do tapiá ou tanheiro (Alchornea glandulosa). Costuma frequentar comedouros com frutas. É uma ave que está sempre descobrindo novas formas de alimento. Devido ao seu regime alimentar generalista, por vezes contribui para o controle de pragas de insetos, inclusive cupins urbanos. É cada vez mais comum observar em áreas antropizadas, principalmente nas grandes metrópoles, indivíduos se alimentando de ração industrializada de animais domésticos, como a de cachorros e de gatos.
R E P R O D U ÇÃO Faz ninho grande e esférico, com capim e pequenas ramas de vegetais em galhos de árvores geralmente bem cerradas, com entrada lateral; porém, já foram encontrados ninhos em formato de xícara aberta.
Fotografia: Caco Schwertner
36
AVES Pode utilizar para construir o seu ninho, sobretudo em
se aproximam de seu “território”. Costuma pousar em
zonas urbanas, material de origem humana, como papel,
lugares salientes como postes e topos de árvores. Pode-se
plástico e fios. Põe de 2 a 4 ovos de cor creme com poucas
vê-lo facilmente cantando em fios de telefone, em telhados
marcas marrom-avermelhadas.
ou banhando-se nos tanques ou chafarizes das praças públicas, demonstrando grande capacidade de adaptação.
Existem muitos registros de nidificação em cavidades em
É um dos primeiros a cantar ao amanhecer.
árvores, rochas e estruturas artificiais, em vários países;
Anda geralmente sozinho, mas pode ser visto em grupos
é, portanto, ave que nidifica em cavidades.
de três ou quatro que se reúnem habitualmente em antenas de televisão.
HÁBITOS
Podem ser encontrados em áreas urbanas,matas densas
É agressivo, ameaça até gaviões e urubus quando esses
e ambientes aquáticos como lagoas,rios e praias.
Fotografia: Cláudio Cesar
Casal de Bem-te-vi alimentando filhote
37
MANUAL DA FAUNA URBANA
BIGUÁ Nannopterum brasilianus O biguá é uma ave suliforme da família Phalacrocoracidae. Ave aquática, mergulha em busca de peixes e permanece um bom tempo debaixo d’água, indo aparecer de novo bem lá na frente, mostrando apenas o pescoço para fora d’água. Para facilitar seus mergulhos, suas penas ficam completamente encharcadas, eliminando o ar que fica entre elas. Para secá-las é comum vê-lo pousado com as asas abertas ao vento. Também é conhecido pelos nomes de biguá-una, imbiuá, mergulhão, cormorão, miuá e pata-d’água. Por ser inteiramente negro, recebe o nome comum, também, de corvo-marinho.
nua e com tufos brancos atrás das regiões auriculares. No período nupcial, as cores ficam mais vivas na plumagem de ambos os sexos. Não existe nenhuma diferença na plumagem entre o macho e a fêmea. Os indivíduos juvenis apresentam a plumagem amarronzada, um pouco mais clara na garganta e nas asas escuras. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de peixes e crustáceos. Para capturar sua presa, mergulha a partir da superfície da água e, submerso, persegue-a. Os pés e o bico possuem função primordial na perseguição e captura. Um exímio mergulhador, não se contenta com os peixes da superfície. Mergulha mar abaixo e em meio a ziguezagues e viravoltas, conseguindo capturar sua presa. Come também girinos, sapos, rãs e insetos aquáticos. Fotografia: Luiz Kagiyama
R E P R O D U ÇÃO É monogâmico. Na época do acasalamento, o ritual de corte envolve uma ampla gama de movimentos e sons,
CARACTERÍSTICAS
com as aves agitando as asas e movimentando o pescoço
Mede entre 58 e 73 centímetros de comprimento, e
de maneira peculiar. Os membros do casal roncam como
pesa entre 1,2 a 1,4 quilos, envergadura entre 100 e 102
um porco, empoleirados lado a lado, e executam curiosos
centímetros.
meneios laterais com a cabeça, por repetidas vezes, copulando
Sua plumagem é totalmente preta com saco gular
a seguir. Nidifica em colônias sobre árvores em matas
amarelo. Possui pescoço longo, cabeça pequena, bico
alagadas, sarandizais, etc. O ninho é construído pelo casal.
cinzento amarelado longo e fino, sendo que a ponta da
Enquanto o macho escolhe os locais de nidificação e traz
maxila termina em forma de gancho.
material de ninho, é a fêmea que realmente constrói o
É possível observar uma discreta sobrancelha esbranquiçada.
ninho. Porções de ninhos anteriores são frequentemente
Íris azuis, pernas e pés palmados pretos. Na época da
reutilizadas. Os ninhos são geralmente compostos por uma
reprodução apresenta penas brancas beirando a garganta
38
AVES
Fotografia: Ger Bosma Photos
39
MANUAL DA FAUNA URBANA
Fotografia: Marco Guedes
camada externa espessa de galhos e gravetos, forrada
mas voa para ilhas próxima à costa, podendo aí nidificar.
com gramíneas moles e algas.
Não possui glândula uropigiana, encharcando totalmente sua
A fêmea põe geralmente 3 a 4 ovos ovais, de cor azul
plumagem para aumentar o peso e facilitar os mergulhos.
a azul-claro, que são incubados pelo casal.
Quando sai da água, seca sua plumagem abrindo a cauda e
O período de incubação varia de 23 a 26 dias. Os filhotes
as asas ao sol, ofegando de bico aberto, por vezes revelando
são alimentados por ambos os pais, que regurgitam o alimento
seu saco gular amarelo.
em seus bicos. São alimentados até as 11 semanas de
Descansa pousado na beira d’água, sobre pedras, árvores,
vida, e com 12 semanas já são totalmente independentes.
estacas ou mesmo sobre cabos. Empoleirado em um só pé, coça o píleo com as unhas, de forma cômica. Dorme em árvores ressequidas, ao lado de garças, nos manguezais ou
HÁBITOS
em sarandizais. Devido a suas fezes serem ácidas, podem
Vive em águas interiores e na orla marítima, também
danificar árvores, mas adubam a água, favorecendo a
ocorrendo em rios, lagos, banhados, açudes, represas,
manutenção das populações de peixes, e assim atraindo
estuários, manguezais e nas cidades em parques com
outras aves para se alimentar.
lagoas. Não se afasta da costa para se aventurar no mar,
40
AVES
Fotografia: Evaldo Resende
41
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Suliforme Família
Phalacrocoracidae Subfamília
Tyranninae Espécie
N. brasilianus
42
AVES
Fotografia: Socioambiental.org
43
MANUAL DA FAUNA URBANA
CA N Á RIO- DA-TERRA Sicalis flaveola O canário-da-terra-verdadeiro, também é conhecido como canário-da-horta, canário-da-telha (Santa Catarina), canário-do-campo, chapinha (Minas Gerais), canário-do-chão (Bahia), coroinha e cabeça-defogo, é uma ave admirada pelo canto forte e estalado e por isso é frequentemente aprisionado como ave de cativeiro (está entre as 10 mais apreendidas, segundo o IBAMA), mesmo tal ato sendo considerado crime federal inafiançável pela Lei de Crimes Ambientais. Graças à ação das autoridades e da conscientização da população, registros do canário-da-terra-verdadeiro vêm se tornando mais frequentes nos últimos anos
Fotografia: Marcio Belli
44
AVES
Canรกrio-da-terra jovem Fotografia: Guilherme Alencar
45
MANUAL DA FAUNA URBANA CARACTERÍSTICAS Tamanho aproximado: 13,5 centímetros. Peso médio: 20 gramas. Cor amarelo-olivácea com estrias enegrecidas nas costas e próximo das pernas. Asas e cauda cinza-oliva. A íris é negra e o bico tem a parte superior cor de chifre e a inferior é amarelada. As pernas são rosadas. A fêmea e o jovem têm a parte superior do corpo olivácea com densa estriação parda por baixo, com as penas e cauda e tarso quase enegrecidos, mas quando adultos assumem a coloração amarela. Com 4 a 6 meses de idade, os filhotes machos já estão cantando, e levam cerca de 18 meses para adquirir a plumagem de adulto. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de sementes no chão. É uma espécie predominantemente granívora (come sementes). O formato do bico é eficiente em esmagar e seccionar as sementes,
Fotografia: portaldasmissoes.com
sendo, portanto, considerada predadora e não dispersora de sementes. Ocasionalmente alimenta-se de insetos. Costuma
Canário-da-terra adulto ao lado de um jovem
frequentar comedouros com sementes e quirera de milho. R E P R O D U ÇÃO Faz ninhos cobertos, na forma de uma cestinha, em lugares que variam desde uma caveira de boi até bambus perfurados. Frequentemente utiliza ninhos abandonados de outros pássaros, sobretudo do joão-de-barro. Pode fazer ninhos em forma de cesta em plantas epífitas (orquídeas e bromélias), em buracos de telhas e outros locais que ofereçam proteção. A fêmea põe em média 4 ovos, que são chocados por 14 ou 15 dias. HÁBITOS Vive em campos secos, campos de cultura e caatinga, bordas de matas, áreas de cerrado, campos naturais, pastagens abandonadas, plantações e jardins gramados, sendo mais numeroso em regiões áridas. Costuma ficar em bandos quando não está em período de acasalamento. Vive em grupos, às vezes de dezenas de indivíduos. O macho tem um canto de madrugada bem extenso e áspero, diferente do canto diurno. O canto de corte é melodioso e baixo, acompanhado de um display parecido com uma dança em volta da fêmea.
Fotografia: Guilherme Alencar
46
AVES
Classificação Científica
Fotografia: Lelasca
Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Thraupidae Espécie
S. flaveola
47
MANUAL DA FAUNA URBANA
C AR C AR Á Caracara plancus Também conhecido como caracará, carancho, caracaraí (Ilha do Marajó),gavião-de-queimada e gavião-calçudo, o carcará não é, taxonomicamente uma águia, e sim um parente distante dos falcões. É tanto visto sozinho como em bandos numerosos em redor de mamíferos e carcaças. Ocorre em campos abertos, cerrados, borda de matas e inclusive centros urbanos de grandes cidades.
Fotografia: mundoecologia.com
CARACTERÍSTICAS
tipo “carijó”; patas compridas e de cor amarela; em voo,
Medindo cerca de 50-60 centímetros da cabeça a cauda,
assemelha-se a um urubu, mas é reconhecível por duas
o peso do macho é de 834 g , e a fêmea de 953 g e mede
manchas de cor clara na extremidade das asas.
cerca de 123 centímetros de envergadura, o carcará é
Deve seu nome à vocalização que emite. O peso varia
facilmente reconhecível quando pousado, pelo fato de
de 786-953 gramas.
possuir uma espécie de solidéu preto sobre a cabeça, assim como um bico adunco e alto, que assemelha-se à
A L I M E N T A ÇÃO
lâmina de um cutelo; a face é vermelha.
Não é um predador especializado, e sim um generalista
É recoberto de preto na parte superior e possui o peito
e oportunista assim como o seu parente próximo, o
de uma combinação de marrom claro com riscas pretas, de
carrapateiro (Milvago chimachima). Onívoro, alimenta-se
48
AVES
Fotografia: Raul M. R. T. Fonseca
49
MANUAL DA FAUNA URBANA
50
AVES
Fotografia: Luiz Ricardo Fernandes
51
MANUAL DA FAUNA URBANA de quase tudo o que acha, de animais vivos ou mortos até
o seu nome comum, “carcará”. Nesse chamado, dobra o
o lixo produzido pelos humanos, tanto nas áreas rurais
pescoço e mantém a cabeça sobre as costas, enquanto
quanto urbanas. Adaptou-se à presença humana, comendo
emite o som (algumas espécies de aves de rapina tem
restos de comida no lixo das casas ou as vísceras de peixe
o mesmo habito de dobrar o pescoço para trás quando
nos acampamentos de pescadores. Suas estratégias para
emitem som). É visto com frequência em áreas urbanas.
obtenção de alimento são variadas: caça lagartos, cobras, sapinhos e caramujos; rouba filhotes de outras aves, até de espécies grandes como garças, colhereiros e tuiuiú (Jabiru mycteria); arranha o solo com os pés em busca de amendoim e feijão; apanha frutos de dendê; ataca filhotes recém-nascidos de cordeiros e outros animais. Também segue tratores que estão arando os campos, em busca de minhocas e larvas ou pequenos vertebrados, como anfíbios Leptodactylus fuscus. É muito comum ser avistado ao longo das rodovias para alimentar-se dos animais atropelados. Fica nas proximidades dos ninhais para comer restos de comida caídos no chão, ovos ou filhotes deixados sem a presença dos pais. Chega a reunir-se a outros carcarás para matar uma presa maior. É também uma ave comedora de carniça e é comumente visto voando ou pousado junto a urubus pacificamente, principalmente ao longo de rodovias ou nas proximidades de aterros sanitários e locais de depósito de lixo. Dois hábitos pouco conhecidos são a caça de crustáceos nos manguezais (seja entrando na água para abocanhar os que estão perto, ou percorrendo o mangue a pé, na maré baixa) e a pirataria (o fato de perseguir gaivotas e águias-pescadoras (Pandion haliaetus), forçando-as a deixar a presa cair, que apanha em voo). HÁBITOS Vive solitário, aos pares ou em grupos, beneficiando-se da conversão da floresta em áreas de pastagem, como aconteceu no leste do Pará. Pousa em árvores ou cercas, sendo freqüentemente observado no chão, junto à queimadas e ao longo de estradas. Passa muito tempo no chão, ajudado pelas suas longas patas adaptadas à marcha, mas é também um excelente voador e planador, costuma acompanhar as correntes de ar ascendentes. Durante a noite ou nas horas mais quentes do dia, costuma ficar pousado nos galhos mais altos, sob a copa de árvores isoladas ou nas matas ribeirinhas. Para avisar os outros carcarás de seu território ou
Fotografia: mundoecologia.com
comunicação entre o casal, possui uma chamado que origina
52
AVES Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Falconiforme Família
Falconidae Espécie
C. plancus
Fotografia: Schopfkarakara
53
MANUAL DA FAUNA URBANA
CH O CA -B A R R A DA Thamnophilus doliatus A choca-barrada é uma ave passeriforme da família Thamnophilidae. Também conhecida como maria-cocá, gata-véia (interior paulista) e em algumas cidades do triângulo mineiro também é chamado se-eu-sou-seu-coroné, devido ao canto o nome é onomatopeico.
Fotografia: Caio Britto
Choca-barrada macho
54
AVES É a choca de distribuição mais ampla e a que mais se aproxima do ser humano, tanto por não ser arisca quanto
Fotografia: Carlos Funes
por ser bem generalista e se adaptar a áreas alteradas. Sua distribuição original compreendia cerradões, bordas de matas de galeria e outras formações florestais não muito densas. No fim da década de 80 sua aparição em áreas urbanas foi até motivo para publicações em periódicos ornitológicos, mas hoje em dia sua presença em nossas cidades já não é mais novidade e já foi encontrada até mesmo em parques próximos ao centro de metrópoles como Campinas e Ribeirão Preto. Sua distribuição vem crescendo e recentemente chegou à cidade de São Paulo, que está fora de sua distribuição original que era restrita a áreas de cerrado.
Choca-barrada fêmea
CARACTERÍSTICAS Domina no macho a coloração negra, enquanto na fêmea ela é amarronzada. Entretanto, o macho é todo barrado (razão de um dos nomes comuns), exceto pelo negro uniforme do alto da cabeça, enquanto a fêmea possui somente os lados da cabeça estriados. Na ave adulta, o olho é branco com leve tom amarelado (marrom avermelhado nos juvenis). Também mantém as penas da cabeça eriçadas boa parte do tempo, em um topete muito destacado. Apresenta um comprimento de 16 centímetros. A L I M E N T A ÇÃO Percorrem a parte central e alta dos arbustos, caçando invertebrados e mantendo contato com piados graves. HÁBITOS Costumam freqüentar as capoeiras, bordas da mata ciliar, cerradões e matas secas, raramente entrando alguns metros na vegetação mais alta.
Fotografia: Marcelo Belarmino
55
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Tyranni Família
Thamnophilidae Espécie
T. doliatus
56
AVES
Fotografia: José Getúlio de Oliveira
57
MANUAL DA FAUNA URBANA
CHU PI M Molothrus bonariensis Também conhecido por azulego, maria-preta, chopim, vira-bosta, chupim-vira-bosta, godero, gaudério, cupido (Maranhão), papa-arroz-escuro (Paraíba), rola-bosta (Espírito Santo), engana-tico, maria-vadia (nordeste do Goiás) e azulão-de-chiqueiro (Bahia e sul do Piauí). Dá nome a uma canção de Renato Teixeira. É provavelmente a ave mais odiada do Brasil, principalmente por causa de seus hábitos reprodutivos parasitários, pois nunca cuida de seus próprios ovos, sempre os botando nos ninhos de outras aves para que elas criem seus filhotes. Nada menos do que 62 espécies já foram listadas como hospedeiras, desde aves maiores até menores do que o chupim.
A L I M E N T A ÇÃO Possui uma dieta onívora, alimentando-se principalmente de insetos e sementes, mas ocasionalmente come frutos. Costuma frequentar comedouros com sementes e quirera de milho. Também pode se alimentar de carrapatos em capivaras. R E P R O D U ÇÃO O período entre julho e dezembro marca o início da reprodução, mas é após o acasalamento que se inicia a fase pela qual a espécie é mais conhecida. Esta espécie não constrói ninho e a fêmea põe 4 ou 5 ovos por postura, sendo um no ninho de cada hospedeiro. Porém, em ninhos de sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e joão-de-barro (Furnarius rufus), já foram encontrados
Fotografia: Guilherme Alencar
Fotografia: Internet
CARACTERÍSTICAS Mede cerca entre 17 e 21,5 centímetros de comprimento e pesa entre 44,9 e 63,7 gramas. O macho adulto é preto-azulado, mas dependendo da iluminação só se enxerga a cor negra. A fêmea é marromescura. Pode ser confundido com a graúna (Gnorimopsar chopi), mas ela é maior e possui o bico mais alongado e fino. Tico-tico (Zonotrichia capensis) alimentando filhote de Chupim
58
AVES
Fotografia: Caduagne
Chupim jovem
HÁBITOS
35 e 14 ovos de chupim, respectivamente. Para chegar ao ninho hospedeiro, segue os futuros “pais adotivos”.
Habita paisagens abertas como campos, pastos, parques
Os ovos são de colorido uniforme e com a casca sem
e jardins. Entre junho e setembro é muito gregário,
brilho, branco-esverdeados, vermelho-claros ou verdes, ou
concentrando-se em pousos noturnos comunitários ou
ainda com manchas e pintas, conforme a região geográfica.
buscando alimentos em gramados e áreas campestres
O tico-tico (Zonotrichia capensis) é muito parasitado e a
com capim baixo.
adaptação vantajosa para o chupim é a postura de seu ovo antes, ou no mesmo dia, daquela do primeiro ovo do hospedeiro.
Fotografia: João Daltro
Como o período de incubação do vira-bosta é de 11 ou 12 dias, um a menos do que o do tico-tico, seu filhote, que é bem maior, nasce antes. Desta forma, o filhote do chupim pode eliminar do ninho seus companheiros ticoticos ou receber mais alimento, tendo maior probabilidade de sobrevivência. Quando abandona o ninho, o filhote chupim é alimentado pelos pais adotivos por 15 dias, solicitando alimento no bico através de um chamado característico, abaixando o corpo e tremulando as asas. Também pode colocar seus ovos em ninhos de galinhas domésticas, como a garnisé.
Chupim fêmea
59
MANUAL DA FAUNA URBANA
Nessas concentrações, é possível observar os machos ameaçando-se
mutuamente
com
seu
catar migalhas em locais públicos e a seguir arados para
característico
capturar minhocas e outros pequenos animais.
comportamento de apontar o bico para cima e caminhar
É considerado uma praga agrícola, especialmente em
em direção ao oponente com as penas brilhando ao sol.
arrozais do sul do país.
Na região da caatinga realiza pequenas migrações locais,
O macho se exibe para a fêmea com voos curtos nos
sempre em busca de áreas verdes e com água.
quais canta sem parar, arrepia suas penas e bate as asas
O hábito de fuçar nas fezes do gado à procura de sementes
semiabertas, e também com apresentações que envolvem
mal digeridas lhe conferiu seu nome popular vira-bosta.
eriçar as penas, balançando-as rapidamente e vocalizar.
Segue o gado para capturar os insetos por ele deslocados.
Uma caracterísitca do seu canto é que sua vocalização
Aprende a comer em comedouros artificiais de aves, a
atinge frequências inaudíveis para os seres humanos.
Fotografia: Geancarlo Merighi
Cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana) alimentando filhote de Chupim
60
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Tyranni Família
Icteridae Espécie
M. bonariensis
Fotografia:Chico Helder
61
MANUAL DA FAUNA URBANA
C OL E IR IN H O Sporophila caerulescens Também conhecido como coleiro, coleiro-zel-zel, coleirinha, papa-capim, papa-capim-de-coleira, papaarroz, gola de cruz (Bahia) ou coleiro-tuí-tuí, papa-mineiro (Paraíba) e gola (Ceará). É a espécie mais popular do grupo dos papa-capins, sendo também a mais abundante na maioria dos locais onde ocorre. Como todos os outros membros do gênero Sporophila, pode ser chamado de “papa-capim” acompanhado de algum outro adjetivo. Sua principal ameaça é a captura indiscriminatória por admiradores de pássaros canoros (tráfico de animais)
Fotografia: Leonardo Casadei
Coleirinho macho
CARACTERÍSTICAS
do desenho da garganta do macho. Os machos juvenis
Mede 12 cm. O macho, com seu inconfundível colar
saem do ninho com a plumagem idêntica à da fêmea. As
branco e negro recebeu essa denominação. Além do colar,
fêmeas não são canoras.
ao lado da garganta negra um “bigode” branco define a
R E P R O D U ÇÃO
área sob o bico amarelado ou levemente cinza-esverdeado.
No período reprodutivo (outubro a fevereiro), o casal
Existem machos com peito branco e outros com peito
afasta-se do grupo e estabelece seu território.
amarelo (ambos pertencem à forma nominal, sendo a
No início, o ninho é construído pelo macho e todas as
forma de peito amarelo apenas um morph ou variação).
demais tarefas correspondem à fêmea, ficando o macho
A fêmea é toda parda, mais escura nas costas. Sob luz
com a atribuição de cantar para afastar outros coleiros da
excepcional, é possível ver que ela também possui o esboço
62
AVES
Fotografia: Frodoaldo Budke
Coleirinho Fêmea
ou menos; cada fêmea choca 3 ou 4 vezes por ano. Os filhotes abandonam o ninho após 13 dias de vida e, com 35 dias, já estão aptos a comerem sozinhos, atingindo a maturidade sexual logo no primeiro ano de vida. Podem viver em média de 10 a 12 anos. HÁBITOS Fora do período reprodutivo, é uma ave de comportamento gregário, vivendo em grupos de 6 a 20 indivíduos, inclusive às vezes formando grupos mistos com outras espécies de Fotografia: Alex Bovo
papa-capins e tizius. O peso e tamanho reduzidos permitem a esta ave alcançar as sementes de gramíneas trepando pela haste das plantas.
área. Apesar de viver nas áreas abertas, procura árvores
Assim como outras aves, o coleirinho foi beneficiado pela
da borda das matas nos horários quentes do dia e nidifica
introdução de algumas gramíneas africanas, especialmente
em árvores e arbustos do contato mata/campo aberto.
da braquiária, que parece ser a base de sua alimentação
O ninho, feito à base de gramíneas, raízes e outras
em áreas alteradas pelo homem.
fibras vegetais, é construído em forma de tigela rasa sobre
As populações mais meridionais são migratórias e
arbustos a poucos metros do solo. A fêmea põe geralmente
deslocam-se para latitudes mais baixas nos perídos do
2 ovos, que são incubados por cerca de duas semanas
ano que são mais frios.
63
MANUAL DA FAUNA URBANA Fotografia: Dário Sanches
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Thraupidae Subfamília
Sporophilinae Espécie
S. caerulescens
64
AVES
Fotografia: Dรกrio Sanches
65
MANUAL DA FAUNA URBANA
CORUJA-BURAQUEIRA Athene cunicularia Também conhecida pelos nomes de caburé, caburé-de-cupim, caburé-do-campo, coruja-barata, coruja-docampo, coruja-mineira, corujinha-buraqueira, corujinha-do-buraco, corujinha-do-campo, guedé, urucuera, urucureia, urucuriá, coruja-cupinzeira (algumas cidades de Goiás) e capotinha. Com o nome científico cunicularia (“pequeno mineiro”), recebe esse nome por cavar buracos no solo. Vive carca de 9 anos em habitat selvagem. Costuma viver em campos, pastos, restingas, desertos, planícies, praias e aeroportos.
Fotografia: Guilherme Alencar
Coruja-buraqueira jovem
CARACTERÍSTICAS
Ao contrário da maioria das corujas, o macho é ligeiramente
Ave de pequeno porte, seu tamanho médio é de 21,5 a
maior que a fêmea e as fêmeas são normalmente mais
28,5 cm (machos) e de 22 a 25 cm (fêmeas). Pesa entre
escuras que os machos. Tem voo suave e silencioso. Ela
110 e 285 g (machos) e entre 150 a 265 g (fêmeas).
tem que virar a pescoço, pois seus grandes olhos estão
Possui a cabeça redonda, sem penachos e os olhos estão
dispostos lado a lado num mesmo plano. Essa disposição
dispostos lado a lado, num mesmo plano. As sobrancelhas
frontal proporciona à coruja uma visão binocular (enxerga
são brancas e os olhos amarelos.
um objeto com ambos os olhos e ao mesmo tempo). Isso
A coloração é cor de terra, mimética, podendo apresentar
significa que a coruja pode ver objetos em três dimensões,
plumagem em tons de ferrugem causados por solos de
ou seja, com altura, largura e profundidade. Os olhos
terra roxa (coloração adventícia).
da coruja-buraqueira são bem grandes, em algumas
66
AVES
subespécies de corujas são até maiores que o próprio
totalmente branco, sem as variações marrons, possui uma
cérebro, a fim de melhorar sua eficiência em condições de
barra amarela passando por toda a asa superior.
baixa luminosidade, captando e processando melhor a luz
Estudos indicaram que não existe forma segura de
disponível. Além de sua privilegiada visão, a buraqueira
diferenciar os sexos nesta espécies, pois são similares
possui uma ótima audição, conseguindo localizar sua presa
em tudo, sendo quase impossível diferenciar o casal.
com apenas este sentido.
O maior inimigo da coruja buraqueira é o homem, visto
Não possui topetes na orelha, tem um disco facial aplainado.
que, por ser uma ave de rapina, quase não tem predadores
Sua sobrancelha é branca, possui um remendo branco no
naturais. Entretanto, o danoso trânsito de carros sobre a
queixo, que se assemelha a uma boca grande desenhada.
vegetação da praia é o principal fator da destruição da
O adulto possui um tom de cor forte, tem o peito e a
coruja buraqueira, juntamente com outras espécies da
barriga com coloração parda, traços cor de terra, variações
fauna da praia que compõem a cadeia alimentar, pois, ao
de marrom, que lembram manchas e barras. O jovem é
passarem sobre a boca dos ninhos, esses veículos soterram
similar na aparência, mas é gorduchinho, desengonçado,
o túnel, matando mãe e filhotes asfixiados debaixo da
com as penas descabeladas e coloração leve. Seu peito é
camada de areia em que se encontram.
Fotografia: Guilherme Alencar
Coruja-buraqueira adulta
67
MANUAL DA FAUNA URBANA do ninho com capim seco. As covas possuem em torno Fotografia: Marcio Varchaki
de 1,5 a 3 metros de profundidade e 30 a 90 centímetros de largura. Ao redor acumula estrume e se alimenta dos insetos atraídos pelo cheiro. Botam, em média, de 6 a 11 ovos; o número mais comum é de 7 a 9 ovos. A incubação dura de 28 a 30 dias e é executada somente pela fêmea. Enquanto a fêmea bota os ovos, o macho providencia a alimentação e a proteção para os futuros filhotes. Os cuidados da cria enquanto ainda estão no ninho são tarefa do macho. Os filhotes saem do ninho com aproximadamente 44 dias e começam a caçar insetos quando estão com 49 a 56 dias. Os filhotes, ao escutarem o alerta, entram no ninho, enquanto os adultos voam para pousos expostos e atacam decididamente qualquer fonte de perigo para os filhos. Podem defender o ninho, voando em direção a um predador potencial, inclusive pessoas, desviando no último momento; visualizada várias vezes vocalizando e espantando invasores como cachorros e gatos. HÁBITOS Costuma viver em campos, cerrados, pastos, restingas, planícies, praias, aeroportos e terrenos baldios em cidades. Coruja terrícola, tem hábitos diurnos e noturnos, mas é ativa, principalmente durante o crepúsculo, quando faz
Corujas-buraqueira jovens no ninho
A L I M E N T A ÇÃO
Fotografia: Guilherme Ortiz
É uma predadora de pequeno porte com hábito carnívoroinsetívoro, sendo considerada generalista por consumir as presas mais abundantes de acordo com a estação, tendo preferência por roedores. As ordens de insetos consumidas são: coleópteros (besouros), ortóptera (grilos e gafanhotos), díptera e himenóptera. Os vertebrados consumidos são representados pelos: roedentia, marsupialia, amphibia, répteis squamata, microquiroptero (morcegos verdadeiros). R E P R O D U ÇÃO A reprodução da coruja-buraqueira começa entre março ou abril. Faz seus ninhos em cupinzeiros, buracos de tatu e buracos na areia em regiões litorâneas, costumando cavar túneis de até 2 metros e forrar o fundo com capim seco. O casal se reveza, alarga o buraco, cava uma galeria horizontal usando os pés e o bico e por fim forra a cavidade
Coruja-buraqueira se alimentando
68
AVES Fotografia: Guilherme Alencar
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Strigiformes Família
Strigidae Espécie
A. cunicularia
69
MANUAL DA FAUNA URBANA
Fotografia: Guilherme Alencar
uso de sua ótima audição. Tem o campo visual limitado,
baixo, onde prenda com facilidade insetos e pequenos
mas essa deficiência é superada pela capacidade de girar
roedores no solo. O casal se reveza, alargando o buraco,
a cabeça até 270 graus, o que ajuda na focalização.
cavando uma galeria horizontal usando os pés e o bico e,
Ocupa ambientes alterados pela ação humana, inclusive
por fim, forrando a cavidade do ninho com capim seco.
cidades e pistas de pouso ou aeroportos. A coruja-buraqueira
As corujas foram observadas em colônias, havendo uma
possui um comportamento peculiar, além dos próprios feitos
área pequena de buraco para buraco. Tais agrupamentos
pelas corujas, por ser vista durante o dia e ficar pousada,
podem ser uma resposta a uma abundância de buracos
ereta, em locais expostos ou no solo, em postes, troncos,
e alimento ou uma adaptação para a defesa mútua. Os
muros, em cima de cactos etc. Tem o hábito de ficar
membros da colônia podem alertar-se à aproximação dos
sobre uma perna, o que não é copiado por outras corujas.
predadores e juntar-se e fugir.
Utiliza um buraco não somente para assentamento, mas
Essas corujas têm o costume de coletar uma larga
para descansar, esconder-se, como um refúgio durante
variedade de materiais para revestir seu ninho. O material
o dia e construir ninhos, normalmente ocupados por um
mais comum é o estrume, que é colocado dentro da câmara
casal. É uma coruja tímida, mas é ligeiramente tolerante
do ninho e em volta da entrada. Acreditava-se que a coruja
à presença humana. Cava seus próprios buracos com a
fazia isso para encobrir o cheiro dos ovos e dos filhotes,
ajuda dos pés e do bico, ficando até mesmo toda suja na
a fim de protegê-los de predadores, como os texugos-
construção da toca, mas ela prefere os buracos já feitos,
americanos. No entanto, foi descoberta uma utilização
abandonados por outros animais como os tatus, cães-da-
mais nutritiva e criativa. As tocas com estrume contêm dez
pradaria, texugos ou esquilos de chão.
vezes mais besouro-do-estrume do que as das corujas que
Na chegada da primavera, a buraqueira macho escolhe
não usam estrume. Isso ocorre porque os besouros, cuja
ou escava um buraco, normalmente em regiões de capim
própria atividade nidificadora consiste em achar estrume
70
AVES
para depositar seus ovos, acabam sendo atraídos pelas
o dia, chamando a atenção para a coruja. Os filhotes, ao
buraqueiras. Assim, o estrume proporciona alimento fácil
escutarem o alerta, entram no ninho, enquanto os adultos
para as fêmeas incubadoras e, é claro, também para os
voam para pousos expostos e atacam decididamente qualquer
próprios machos, que passam a maior parte do tempo
fonte de perigo para os filhos. Eles também fazem outros
protegendo os buracos dos ninhos e por isso não têm
sons que são descritos como pancadas e gritos, que é
oportunidade de caçar. Esse esterco também serve para
parecido com “piá, piar, piaaar”. Quando as buraqueiras
ajudar a controlar o microclima dentro da cova, não o
emitem esses sons, normalmente estão movimentando a
deixando quente demais.
cabeça, para baixo e para cima. Os filhotes também emitem
A qualquer sinal de perigo, a coruja buraqueira emitem
sons: quando perturbados, produzem um som que lembra
um som alto, forte e estridente. Esse alarme é dado durante
o de uma cascavel, espantando assim os predadores.
Fotografia: Cristian Dimitrius
71
MANUAL DA FAUNA URBANA
GA RÇA - BRANCA-GRANDE Ardea alba A garça-branca-grande (Ardea alba, sinônimo Casmerodius albus), também conhecida apenas como garçabranca, é uma ave da ordem Pelecaniformes. É comum à beira dos lagos, rios e banhados. Foi muito caçada para a retirada de egretas - penas especiais que se formam no período reprodutivo - para a indústria de chapéus para mulheres.
Fotografia: Hillebrand Steve
CARACTERÍSTICAS Mede entre 65 e 104 centímetros de comprimento e pesa
no período reprodutivo). Muitas pessoas pensam que a
entre 700 e 1700g. Seu corpo é completamente branco, com
garça-branca-pequena (Egretta thula, página 78) é o filhote
a íris amarela É facilmente identificada pelas longas pernas
da garça-branca-grande, porém trata-se de uma espécie à
e pescoço, característica dos membros da família.
parte, que difere da última por apresentar a ponta do bico e as pernas escuras, enquanto a base do bico e os pés são
O bico é longo e amarelo, e as pernas e dedos pretos.
amarelados, sendo também menor.
Apresenta enormes egretas (penas especiais que se formam
72
AVES
Fotografia: Raquele Marin
Garças-branca-grande jovens
A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se principalmente de peixes, mas já foi vista comendo quase tudo o que possa caber em seu bico. Pode consumir pequenos roedores, anfíbios, répteis, insetos, pequenas aves e até lixo. Em pesqueiros aproxima-se muito dos pescadores para pegar pequenos peixes por eles dispensados, chegando a comer na mão. É muito inteligente e pode usar pedaços de pão como isca para atrair os peixes dos quais se alimenta. Engole às vezes cobras e preás. Aproxima-se sorrateiramente com o corpo abaixado e o pescoço recolhido e bica seu alimento, esticando seu longo pescoço. Há relatos de pessoas que afirmam que atacam ninhos de pequenas aves em áreas de mangue, onde costumam se alimentar. R E P R O D U ÇÃO Na época da reprodução os indivíduos de ambos os sexos apresentam longas penas no dorso chamadas egretas.
Garça-branca-grande expondo suas penas “egretas”
73
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Pelicaniformes Família
Ardeidae Espécie
A. alba
74
AVES Fotografia: Guilherme Alencar
75
MANUAL DA FAUNA URBANA
Fotografia: Dário Sanches
Estas egretas foram por muito tempo moda como adorno de chapéus e roupas na Europa e a demanda pelas penas
HÁBITOS
levou centenas de milhares de garças à morte justamente
Vive em grupos de vários animais à beira de rios, lagos e
em seu período reprodutivo. Felizmente é uma prática quase
banhados. É migratória, realizando pequenos deslocamentos
inexistente hoje em dia e a população desta garça é bem
locais ou mesmo se deslocando para além dos Andes durante
numerosa. Constrói o ninho, grande e feito de gravetos,
os períodos de enchentes anuais. Passa voando em áreas
em ninhais que podem ter milhares de indivíduos de várias
urbanas indo para dormitórios.
espécies de aves aquáticas.
76
AVES
Fotografia: Guilherme Alencar
77
MANUAL DA FAUNA URBANA
GARÇA -BRANCA-PE QU EN A Egretta thula A garça-branca-pequena é uma ave da ordem Pelecaniformes da família Ardeidae. Também conhecida como garcinha-branca, garça-pequena e garcinha. Geralmente confundida por aparentar ser filhote da Garça-branca-grande (Aldea alba) por conta do seu tamanho.
Fotografia: Johnath
78
AVES
Fotografia: Guilherme Alencar
CARACTERÍSTICAS Mede de 51 a 61 centímetros de comprimento e apresenta grandes egretas no período reprodutivo (Egreta: Feixe
R E P R O D U ÇÃO
de plumas alongadas que enfeitam a cabeça de algumas
Associa-se em colônias formando ninhais com outras
garças na época de reprodução, mesma vista na Garça-
espécies. O casal constrói uma plataforma de galhos secos
branca-grande), mais evidenciado nos machos. Totalmente
sobre uma árvore, geralmente próxima à água, onde
branca, além do bico e tarsos serem negros e pés amarelos.
são postos, com 2 ou 3 dias de intervalo, de 3 a 7 ovos
A plumagem é rica em pó, o qual é produzido por
esverdeados ou verde-azulados que medem cerca de 43
plumas de pó concentradas no peito e nos lados do corpo.
por 32 milímetros cada um. Estes ovos são incubados pelo
A L I M E N T A ÇÃO
casal durante 25 a 26 dias e, quando nascem os filhotes,
Alimenta-se de peixes de forma bastante ativa. Aprecia
que são nidícolas (filhotes que permanecem muito tempo
também insetos, larvas, caranguejos, anfíbios e répteis.
no ninho), os pais fornecem-lhes alimento regurgitado.
79
MANUAL DA FAUNA URBANA
G A V IÃO - CAB OC LO Heterospizias meridionalis O gavião-caboclo, também conhecido pelos nomes de gavião-casaca-de-couro, gavião-telha (São Paulo), gavião-fumaça (Mato Grosso), gavião mariano (Ceará) e gavião-tinga (Pará), é um gavião campestre da família dos acipitrídeos, que ocorre do Panamá à Argentina e em todo o Brasil, porém na Amazônia apenas em alguns locais, como o leste do Pará e a região do Baixo Amazonas. Comum em campos, pastagens, borda de alagados, manguezais, pequenas florestas de eucaliptos em áreas campestres e no cerrado.
Fotografia: Marco Cruz
Gavião-carijó se alimentando
CARACTERÍSTICAS A espécie mede cerca de 55 centímetros de comprimento, com plumagem ferrugínea. O adulto é todo marrom avermelhado, com a ponta das asas e cauda negras e penas longas. Possui uma faixa branca, estreita, na cauda. Pernas e pele nua das narinas, amarelas. Bico negro e olho marrom avermelhado. Como em outros gaviões, o jovem é muito diferente. Cores apagadas, cinza amarronzado nas costas e barriga creme, com riscos verticais escuros e uma semi-coleira escura. Sobre os olhos, uma listra clara. A cauda é creme, com finas listras escuras. Faixa larga subterminal negra. Penas longas das asas com listras finas e ponta negra. Fotografia: Gustavo Masuzzo
80
AVES A L I M E N T A ÇÃO É um gavião de áreas abertas, campos e cerrados, onde
Na parte dianteira do incêndio, apanha os pequenos
alimenta-se de várias presas, como pequenos mamíferos,
vertebrados e insetos fugindo da queimada, enquanto na
aves, cobras, lagartos, rãs, sapos e grandes insetos. Na
parte posterior come os animais e insetos moribundos ou
baixa das águas, apanha caranguejos.
mortos pelo fogo. Possui um território de caça exclusivo, afastando os outros gaviões-caboclos. Possui o hábito de ficar por minutos
R E P R O D U ÇÃO
pousado em árvores, estacas ou locais altos onde consegue
Se reproduz de julho a novembro. Faz ninho à pouca
visualizar todo o movimento a sua volta, fazendo do seu
altura, sobre árvores baixas ou palmeiras.
bote certeiro o ataque, passa longos períodos caçando em
Põe 1 ou, raramente, 2 ovos brancos.
um mesmo local. O casal se comunica através de um assobio fino, longo
HÁBITOS
e choroso, repetido continuamente. Voa alto, aproveitando
É o seu hábito de seguir incêndios que chama mais a
as correntes de ar quente para planar, ou através de vôo
atenção, razão do nome comum, gavião-fumaça. Voa para
ativo, com batimento ritmado das asas.
a queimada, geralmente pousando em galhos à frente
Extremamente arisco, o gavião caboclo sempre está
do fogo, ou caminha logo atrás das chamas, às vezes a
alerta a qualquer movimento, levantando vôo rapidamente
poucos metros das labaredas.
quando se sente ameaçado.
Fotografia: Constantino Melo
81
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Accipitriformes Família
Accipitridae Espécie
H. meridionalis
82
AVES
83
MANUAL DA FAUNA URBANA
G AV I Ã O - C AR IJÓ Rupornis magnirostris Encontrado em diferentes ambientes, ocorrendo do México à Argentina e em todo o Brasil. É o terror dos galinheiros. Também é conhecido pelos nomes de anajé, gavião-indaié, gavião-pinhel, gavião-pega-pinto, inajé, gavião-pinhé, indaié, pega-pinto e papa-pinto. Como toda ave de rapina, tem um papel indispensável no equilíbrio da fauna, como regulador da seleção. Evita uma superpopulação de roedores e aves pequenas (como é o caso dos ratos e pombos nos centros urbanos), além de eliminar indivíduos defeituosos e doentes.
Fotografia: Andrew M. Allport
CARACTERÍSTICAS
ave amadurece. O peito é ferruginoso e apresenta largas
Mede de 31 a 41 centímetros de comprimento , e o peso
estrias verticais. O ventre e as pernas são brancos, com
do macho varia entre 206-290 gramas e da fêmea 257-350
primoroso barrado ferrugíneo. A base da cauda é branca,
gramas , sendo os machos 20% menores que as fêmeas.
mas vai se tornando barrada em direção à extremidade.
Há grande diferença entre os adultos e os imaturos,
Existem duas listras negras bem visíveis na extremidade
sendo que os últimos podem ser confundidos com vários
da cauda. Quando em voo, suas asas são largas e de
outros gaviões, pois apresentam a coloração marrom-carijó.
comprimento médio. A coloração básica da parte inferior
Já os adultos apresentam a ponta do bico negra com a
das asas é o bege estriado com finas listras escuras.
base amarelada; a cabeça e a parte superior das asas
Bico recurvado escuro com cere amarela. A íris é clara.
são amarronzadas, mas tornam-se cinza à medida que a
Os tarsos e pés são amarelos e apresentam garras escuras.
84
AVES A L I M E N T A ÇÃO
Fotografia: Pedro C. Lima
Sua ampla distribuição geográfica também se reflete nos seus hábitos alimentares generalistas, pois consome desde insetos até aves e lagartos. Procura os abrigos diurnos de morcegos para atacá-los enquanto dormem. Ataca ninhos de outras aves e por isso é ferozmente perseguido por suiriris, bem-te-vis e tesourinhas. HÁBITOS Costuma voar em casais, fazendo movimentos circulares enquanto os dois vocalizam em dueto. Possui o hábito de utilizar o mesmo poleiro de caça por longo tempo (dias e até semanas). É uma das espécies mais comuns de nosso país, ocorrendo em todos os estados, habitando os mais variados ambientes: campos, bordas de mata, áreas urbanas, etc., sendo mais raro em áreas densamente florestadas. Nas últimas décadas, este gavião passou a se tornar mais comum nos centros urbanos, adaptando-se com sucesso a este ambiente, pois nas cidades a oferta de presas é maior e os seus
Ninho do Gavião-carijó
predadores naturais (outras aves de rapina maiores) são escassos.
Fotografia:Caio Belleza
Gavião-carijó se alimentando
85
MANUAL DA FAUNA URBANA
86
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Accipitriformes Família
Accipitridae Espécie
R. magnirostris
87
MANUAL DA FAUNA URBANA
GR AÚ N A Gnorimopsar chopi O graúna (derivado do tupi “guira-una” = ave preta), é também conhecido como pássaro-preto, chico-preto (Maranhão e Piauí), arranca-milho, chopim, chupão (Mato Grosso), assum-preto e cupido (Ceará), melro e craúna (Paraíba).
Fotografia: Wander Reis
Fotografia: Luciano Bernardes
CARACTERÍSTICAS Mede entre 21,5 e 25,5 centímetros de comprimento e pesa entre 69,7 e 90,3 gramas. É inteiro negro incluindo pernas, bico, olhos e penas, o que origina seu nome popular. Filhotes e jovens não possuem penas ao redor dos olhos. Trata-se de um dos pássaros de voz mais melodiosa deste país. A fêmea também canta. A L I M E N T A ÇÃO Onívoro. Come frutos, sementes, insetos, aranhas e outros invertebrados. Aprecia o coco maduro da palmeira buriti. Apanha insetos atropelados nas estradas e aproveita
Fotografia: Érica Curto
restos de milho junto às habitações humanas ou desenterra sementes recém-plantadas.
88
AVES
Fotografia: Rodrigo Duro Zanini
R E P R O D U ÇÃO
HÁBITOS
Atinge a maturidade sexual aos 18 meses.
É comum em áreas agrícolas, buritizais, pinheirais, pastagens
Faz ninho em árvores ocas, troncos de palmeiras, ninhos
e áreas pantanosas, plantações com árvores isoladas, mortas,
de pica-pau, em mourões, dentro do penacho de coqueiros
remanescentes da mata. Vive normalmente em pequenos
e nas densas copas dos pinheiros, utilizando também ninhos
grupos que fazem bastante barulho. Há quem confunda o
abandonados de joão-de-barro. Ocupa buracos também
graúna com o atrevido chupim (Molothrus bonariensis),
em barrancos e cupinzeiros terrestres.
famoso por parasitar o ninho de várias espécies (ex.:
Às vezes, a graúna faz um ninho aberto, situado em
tico-tico). Enquanto o chupim é elegantíssimo, esguio e
uma forquilha de um galho distante do tronco, em uma
traja cintilantes vestes de tom violáceo, o graúna é negro
árvore densa e alta.
e de porte mais avantajado, além de saber nidificar, não se descuidando da criação da ruidosa prole.
89
MANUAL DA FAUNA URBANA
JO ÃO - D E - B ARRO Furnarius rufus Conhecido também como barreiro, joão-barreiro (Rio Grande do Sul), maria-barreira (Bahia), forneiro, pedreiro, oleiro, hornero (Argentina) e amassa-barro. A fêmea é conhecida como “joaninha-de-barro”, “maria-de-barro” ou “sabiazinho” em certas regiões. É conhecido por seu característico ninho de barro em forma de forno. O joão-de-barro é tido como passarinho trabalhador e inteligente. Seu canto parece uma gargalhada (no Sul dizem que, quando ele canta, é sinal de bom tempo)
Fotografia: Guilherme Alencar
João-de-barro em seu ninho em construção
90
AVES
Fotografia: Rogério Furlanetti
Fotografia: Guilherme Alencar
Gambá-de-orelha-branca em um ninho de João de Barro
CARACTERÍSTICAS Mede 18 a 20 centímetros de comprimento e pesa 49 gramas. Possui o dorso inteiramente marrom avermelhado (por isso o epíteto específico rufus). Apresenta uma suave
Fotografia: Marcelo Vilarta
sobrancelha, formada por penas mais claras, em leve contraste com o restante da plumagem da cabeça. Rêmiges primárias (penas de voo, nas asas) anegradas, visíveis em voo, com as asas abertas. Ventralmente é de coloração clara (alguns indivíduos podem possuir o peito, flancos e barriga amarronzados, semelhante ao dorso), sendo o queixo e pescoço brancos. Excetua-se a cauda, que é avermelhada tanto dorsal quanto ventralmente. É uma das aves de mais fácil observação nos locais onde ocorre, pois além de não se afastar muito de seu território não é nem um pouco arisca, deixando o observador chegar a poucos metros de distância. Quando não está empoleirada desce ao solo, onde passa boa parte de seu tempo caminhando de modo bem típico, alternando pequenas corridas com intervalos nos quais anda mais devagar. A L I M E N T A ÇÃO O pássaro, revirando as folhas, busca cupins, formigas
Periquito-de-encontro-amarelo em um ninho de João-de-barro
ou içás no solo ou sob troncos caídos. Alimenta-se também de outros invertebrados, como minhocas e possivelmente
91
MANUAL DA FAUNA URBANA moluscos. Aproveita restos alimentares humanos, como
adequados, o joão-de-barro faz seu ninho até no peitoril de
pedaços de pão. Pode, em certas épocas de escassez,
janelas. Neste caso ele escolhe o encontro entre a janela
alimentar-se de frutas e quirera de milho em comedouros.
e a parede, assim como escolhe o encontro de galhos quando faz ninho em árvores. As janelas devem estar em locais altos e de difícil acesso.
R E P R O D U ÇÃO
Em locais descampados, com pouca ou nenhuma árvore
O casal constrói em conjunto um ninho interessante,
alta, e como medida de proteção à espécie, recomenda-se
em formato de forno de barro, o qual pode ser facilmente
erguer postes altos dotados de travessas horizontais, que
identificado no alto de árvores e postes em regiões campestres.
serão usados para sua nidificação. A construção do ninho
No interior do ninho há uma parede que separa a entrada e
demora entre 18 dias e 1 mês, dependendo da existência
a câmara incubadora, construída para diminuir as correntes
de chuvas e, portanto, de barro em abundância.
de ar e o acesso de possíveis predadores.
O ninho pesa em torno de 4 quilos e às vezes ocorre a
Utiliza como matéria-prima o barro úmido, esterco e palha,
construção de vários deles, sobrepostos (até 11), em anos
cujas proporções dependem do tipo de solo (se arenoso, a
consecutivos. Põe de 3 a 4 ovos, a partir de setembro, e
quantidade de esterco chega a ser maior do que a de terra).
a incubação dura de 14 a 18 dias.
Não utiliza o mesmo ninho por duas estações seguidas,
O casal chega sempre em posições diferente da árvore,
parecendo realizar um rodízio entre dois a três ninhos,
ora por cima, ora por trás, esquerda ou direita.
reparando ninhos velhos semi-destruídos.
O casal, além de se revezar na construção, em alguns
Quando não há mais espaço para a construção de novos
momentos divide tarefas, sendo que um fica no ninho ajeitando
ninhos, o pássaro o constrói em cima (até 11) ou ao lado
o barro e o outro traz o material. Uma vez abandonados,
do velho. Em locais urbanizados, quando faltam suportes
os ninhos são reutilizados por outras espécies de aves
Fotografia: Dário Sanches
92
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Tyranni Família
Furnariidae Espécie
F. rufus
Fotografia: Guilherme Alencar
93
MANUAL DA FAUNA URBANA
(canário-da-terra-verdadeiro, tuim, pardal e andorinhas).
em postura altiva e tremulando as asas, com um canto
Também são reutilizados por lagartixas, rãs, pequenas
extremamente estridente. Há várias lendas sobre esta
cobras, ratos silvestres e até por abelhas.
espécie e a mais famosa, que já virou até tema de uma canção intitulada João-de-barro, diz que se o macho for traído ele pode trancar a fêmea no ninho até que ela morra.
HÁBITOS
Tal comportamento nunca foi registrado cientificamente.
É muito comum em paisagens abertas, como campos,
Uma provável dificuldade para a utilização dos ninhos
cerrados, pastagens, ao longo de rodovias e em jardins.
é a temperatura de seu interior, que lhes confere o nome
Caminha pelo chão em busca de insetos, frequentemente
forno tanto no nome científico Furnarius quanto no nome
pousando em postes, cercas, galhos isolados e outros
em espanhol hornero.
pontos que permitam uma boa visão dos arredores. Vive
Esta ave tipicamente campestre vem aumentando
geralmente aos casais.
significativamente tanto a sua distribuição quanto abundância.
Canta em dueto (macho e fêmea juntos, cada qual de
E uma curiosidade: é a ave símbolo da Argentina.
um modo um pouco diferente) nos arredores do ninho,
Fonte: Cássio Marcelino/TV TEM
Registro de uma “torre” de ninhos de João-de-barro
94
AVES
Fotografia: Thiago Oliveira Castro Vieira
95
MANUAL DA FAUNA URBANA
PERIQUITÃO-MARACANÃ Psittacara leucophthalmus Também conhecido por aratinga-de-bando, é uma ave da ordem Psittaciformes, família Psittacidae. Apresenta outros nomes populares como: araguaí e maritaca (São Paulo e Minas Gerais), araguari, aratinga, arauá-i, aruaí, cravo, guira-juba, maracanã, maracanã-malhada maricatã (Minas Gerais). Não é considerada como sendo ameaçada, embora o tráfico venha afetando suas populações.
Fotografia: Caroline S. Borges
96
AVES
Fotografia: Rafael Martos Martins
Bando de Periquitão-maracanã
CARACTERÍSTICAS
R E P R O D U ÇÃO
Possui a cabeça com forma “oval”. Possui coloração geral
Os casais nidificam isoladamente em ocos de pau,
verde, com os lados da cabeça e pescoço com algumas penas
palmeiras de buriti, paredões de pedra, e também embaixo
vermelhas, apenas as coberteiras inferiores pequenas da
de telhados de edificações humanas, o que ajuda muito na
asa são vermelhas, sendo as grandes inferiores amarelas,
sua ocupação de espaços urbanos. Mantêm-se discretos
chamando muito a atenção em voo.
quando nidificam em habitações, chegando e saindo do
Região perioftálmica nua e branca, íris laranja, bico cor
ninho silenciosamente e esperando pousados em árvores
de chifre clara, pés acinzentados.
até que possam voar para o ninho sem serem percebidos.
Tamanho médio de 30 á 32 centímetros. O peso varia
Como a maior parte dos psitacídeos, não coletam materiais
entre 140 e 171 gramas. Nos jovens as penas vermelhas
para a construção do ninho, colocando e chocando os ovos
da cabeça e sob as asas são ausentes, sendo de cor verde.
diretamente sobre o solo do local de nidificação. Quando
Quando em bando vocaliza de forma bem característica.
nidificam em habitações, costumam roer fios e causar curto-circuitos.
A L I M E N T A ÇÃO
Não frequenta regiões com rios de águas escuras, e
O periquitão-maracanã se alimenta principalmente de
em geral encontra-se em terras baixas. Voa em bandos
frutos e sementes.
de 5 a 40 indivíduos. Dorme coletivamente em variados
97
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Psittaciformes Família
Psittacidae Espécie
P. leucophthalmus
Fotografia: Ricardo Venerando
98
AVES
lugares. É muito frequente em áreas urbanas, onde passam
em áreas urbanas como do Rio de Janeiro, onde passam voando
voando em bandos grandes fora do período de reprodução.
em bandos grandes fora do período de reprodução. Ocorre em quase todo o Brasil, sendo encontrado
HÁBITOS
desde em florestas até cidades. É uma ave adaptável a
Habita florestas úmidas, semi-úmidas, pântanos, florestas
ambientes alterados pelo homem e em alguns locais pode
de galeria e palmares de buriti nas planícies, até 2500
ser considerada uma espécie sinantrópica.
metros. Não frequenta regiões com rios de águas escuras,
É encontrado a leste dos Andes, estendendo-se até o
e em geral encontra-se em terras baixas. Voa em bandos
litoral, e desde a Colômbia e Venezuela até o norte da
de 5 a 40 indivíduos.
Argentina e Uruguai, incluindo parte da Amazônia.
Dorme coletivamente em variados lugares. É muito frequente
Fotografia: Wagner Machado Carlos Lemes
99
MANUAL DA FAUNA URBANA
N E IN E I Megarynchus pitangua À primeira vista muito parecido com o bem-te-vi, dele se distingue pelo bico nitidamente maior, o que motivou o nome do gênero, e principalmente pela voz, claramente diferente, que lhe valeu o nome onomatopaico. Costuma-se encontrar esta espécie em florestas, paisagens abertas com árvores esparsas e cerrados. Vive nas copas da mata.
te-vi. O problema é que o bico é mais largo que comprido, então seu tamanho chama mais atenção quando visto por baixo do que de perfil. Mede cerca de 21-23 cm. E pesa em torno de 52-68 gramas. A L I M E N T A ÇÃO Seu grande bico o ajuda a apanhar os insetos e as frutinhas dos quais se alimenta. Já foi visto pescando pequenos peixes e caçando pequenos lagartos e filhotes de outras aves. R E P R O D U ÇÃO A fêmea é encarregada da construção do ninho, que é uma tigela rasa feita de gravetos e grama, enquanto o macho traz o material. Ninho pequeno e situado nas partes altas das árvores isoladas. A fêmea bota 2 ou 4 ovos claros com pequenas manchas e os choca sozinha. Os pais se revezam na alimentação dos filhotes, que saem do ninho após 23 a 26 dias.
Fotografia: Frodoaldo Budke
HÁBITOS CARACTERÍSTICAS
Ave migratória, sendo encontrada nos meses mais quentes
Bico extremamente largo e chato, que é, aliás, muito
do ano. O casal tem o hábito de cantar em dueto, porém
variável; tem o tarso muito curto. Ave que lembra muito
este é mal sincronizado. Apesar da aparência quase idêntica
o bem-te-vi(Pitangus sulphuratus) mas seu bico é muito
ao seu primo bem-te-vi, o neinei se comporta de forma
robusto e sua vocalização difere totalmente.
um tanto diferente.
Os dois únicos meios de diferenciar o neinei são pela
É muito mais tímido, sendo mais fácil de ouvir que ver,
vocalização, bem diferente da vocalização do bem-te-vi,
pois passa a maior parte do seu tempo na copa das árvores.
ou pelo tamanho do bico, que é bem maior que o do bem-
Também é encontrado em áreas urbanas arborizadas.
100
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Tyranni Família
Tyrannidae Subfamília
Tyranninae Espécie
M. pitangua
Fotografia: Cláudio Marcio
101
MANUAL DA FAUNA URBANA
N OIVIN HA-BR A N CA Xolmis velatus Também conhecida como lavadeira, lavadeira-grande, lavandeira (Maranhão), noivinha (Pernambuco) e pombinha-das-almas. A noivinha-branca (Xolmis velatus) é uma espécie migratória, típica de áreas campestres, da família Tyrannidae.
CARACTERÍSTICAS Mede cerca de 20 centímetros. Cabeça esbranquiçada, uropígio e coberteiras superiores da cauda brancas, assim como a base da cauda. Pode ser confundida com duas outras espécies do gênero, a noivinha (Xolmis irupero), que possui o corpo quase inteiro branco, exceto pelas asas e cauda, e a primavera (Xolmis cinereus), que é mais cinzenta, tendo a noivinha-branca, portanto, uma coloração intermediária entre estas duas espécies. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se principalmente de insetos capturados em voos curtos, retornando em seguida ao poleiro, mas também consome pequenos frutos. Encontrada apanhando insetos a partir de seu poleiro favorito, bem exposto. Às vezes é vista caçando usando voos a pouca altura, no mesmo
Fotografia: Luiz Carlos Ramassotti
lugar (peneirando). HÁBITOS Típica de áreas campestres, passa a maior parte do tempo imóvel, pousada em árvores isoladas na paisagem, em postes de eletricidade ou mourões de cerca. Habita o campo, às vezes ao lado de primavera (Xolmis cinereus). É é uma espécie migratória. Vive solitária ou aos casais, sendo pouco notada por seu canto, dificilmente emitido. De dia é silenciosa, surpreende Fotografia:Cláudio Lopes
de madrugada com seu canto intenso: um pio monótono, repetido a intervalos de 1 a 5 segundos; com pouca frequência
Noivinha-branca alimentando filhote
faz ouvir esse assovio também de noite.
102
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Tyranni Família
Tyrannidae Subfamília
Fluvicolinae Espécie
X. velatus
103
MANUAL DA FAUNA URBANA
P A R D AL Passer domesticus O pardal (Passer domesticus) tem sua origem no Oriente Médio, entretanto este pássaro começou a se dispersar pela Europa e Ásia, chegando na América por volta de 1850. Sua chegada ao Brasil foi por volta de 1903 (segundo registros históricos), quando o então prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, autorizou a soltura deste pássaro exótico proveniente de Portugal. Hoje, estas aves são encontradas em quase todos os países do mundo, o que as caracteriza como uma espécie cosmopolita. Essa ave tem se expandido pelo espaço rural e, em alguns casos, prejudicado a produtividade agrícola.
Fotografia: Freeimages.com
CARACTERÍSTICAS
penas coberteiras e as rêmiges apresentam cor preta
Mede entre 13 e 18 centímetros de comprimento, sendo
no centro e as pontas são em tons queimados. O bico é
que sua envergadura está entre 19 a 25 centímetros,e o
preto e os pés são cinza-rosados. (2) Durante o outono
peso varia entre 10 e 40 gramas. Esta espécie apresenta
apresentam cor preta no loro; garganta com coloração
dimorfismo sexual.
apagada ou quase inexistente.
Os machos apresentam duas plumagens: (1) durante
A plumagem no outono é menos evidente; a maxila é
a primavera, apresentam cor acinzentada na região do
preta e a mandíbula é preta-amarelada.
píleo e na fronte; cor preta no loro e na garganta; cor
As fêmeas, chamadas de pardocas ou pardalocas,
marrom com riscos pretos nas asas e região dorsal; cor
apresentam cor acinzentada no píleo; marrom nos loros,
cinza-claro ou branca no rosto, peito e abdômen. As
fronte e bochechas; e uma lista supraciliar clara. As
104
AVES
Fotografia: Internet
Pardal macho
rêmiges e a região dorsal são similares às dos machos.
Fotografia: André Brito
I n d i v í d u o s j ove n s a p r e s e n t a m c a ra c t e r í s t i c a s semelhantes às das fêmeas. A L I M E N T A ÇÃO Sua alimentação consiste de sementes, flores, insetos, brotos de árvores e restos de alimentos deixados pelos seres humanos. Costuma frequentar comedouros com sementes e quirera de milho. Alimenta-se também de frutos como banana, maçã e mamão. HÁBITOS O pardal-comum é bastante abundante ao longo do território, sendo geralmente ubíquo em zonas humanizadas, tanto em grandes cidades como em lugarejos habitados. Ocorre durante todo o ano, podendo formar bandos de grandes dimensões, especialmente em zonas agricultadas ou em dormitórios de parques urbanos. Porém,vem declinando a sua população.
Pardal fêmea
105
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Passeridae Espécie
P. domesticus
Fotografia: Luis Flávio dos Santos
106
AVES
Fotografia: Sharon Day / Shutterstock.com
107
MANUAL DA FAUNA URBANA
PER I Q UI T O-D E -E NC O NTR O -AMA RELO Brotogeris chiriri O periquito-de-encontro-amarelo é uma ave psittaciforme da família Psittacidae. Também conhecido como periquito-de-asa-amarela e periquito-estrela. Para os desavisados será considerado como sendo o periquito-rico (Brotogeris tirica), com o qual é extremamente parecido, exceto pela marca amarela no ombro. Para complicar é comum vê-lo na cidade de São Paulo junto a esses periquitos
Fotografia: Lindolfo Souto
CARACTERÍSTICAS
de 12,5 centímetros. Possui bico resistente e de cor branco-
Apresenta uma faixa amarela nas coberteiras superiores
amarronzada, com o qual parte seu alimento.
das rêmiges secundárias de cada asa, isto é, na região
Ao redor de seus olhos escuros, existe uma delimitação
superior das asas, e uma coloração amarelo-esverdeada
branca formada apenas pela pele.
em sua face.
Possui difícil diferenciação sexual.
Os indivíduos adultos medem de 22,0 a 23,5 centímetros
A L I M E N T A ÇÃO
de comprimento, a cauda 10 centímetros e as asas cerca
Alimenta-se de frutos, sementes, flôres e néctar. Em
108
AVES certas épocas do ano podem frequentar comedouros com
sementes e frutos regurgitados mesmo após o abandono
sementes como milho por exemplo.
do ninho, que ocorre 8 semanas após o nascimento. HÁBITOS
R E P R O D U ÇÃO Faz o ninho em cavidades de árvores, telhas de edificações
Estas aves podem ser encontradas em campos de vegetação
e até mesmo em ninhos escavados em cupinzeiros arborícolas
baixa, ilhas de matas intercaladas, matas ciliares, cerrados
e em casas de joão-de-barro abandonadas. Costuma botar
e cerradões.
cerca de 5 ovos brancos com dimensões de 23 por 19
Desloca-se em bandos, muitas vezes de muitos indivíduos.
milímetros. Após 26 dias, a fêmea conclui a incubação,
É uma espécie que se adaptou muito bem aos ambientes urbanos, onde sua presença tornou-se comum.
nascendo os filhotes. Estes são alimentados pelos pais com
Fotografia: Chico Helder
109
MANUAL DA FAUNA URBANA
Fotografia: Antรณnio Guerra
110
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Psittaciformes Família
Psittacidae Espécie
B. chiriri
Fotografia: Guilherme Alencar
111
MANUAL DA FAUNA URBANA
PICA- PA U- DE -BANDA-BRA N C A Dryocopus lineatus O pica-pau-de-banda-branca é uma ave piciforme da família Picidae. Também conhecido com pica-pau-detopete-vermelho.
Fotografia: Lindolfo Souto
112
AVES
Fotografia: Amarildo Gonçalves
Pica-pau-de-banda-branca macho
CARACTERÍSTICAS Mede cerca de 33 centímetros de comprimento, com topete e estria malar vermelhos, asas, peito superior e lados da cabeça pretos, faixa branca que se estende do bico às laterais do peito, garganta manchada, mácula escapular branca e barriga branca barrada de preto. O macho apresenta a região anterior da cabeça e uma faixa próxima ao bico de cor vermelha; a fêmea possui a região anterior da cabeça preta e não tem a faixa vermelha. Na subespécie Dryocopus lineatus erythrops pode faltar a
Fotografia: Roberto Gallacci
mancha branca escapular. A L I M E N T A ÇÃO
Pica-pau-de-banda-branca macho
Alimentam-se de insetos, larvas, sementes e frutos. Sua alimentação é principalmente a base de insetos, especialmente brocas da madeira. Para encontrar a galeria vai dando batidas curtas na madeira até delimitar o final do túnel escavado pela larva. Nesse ponto, começa a dar fortes pancadas inclinadas, retirando lascas grandes da madeira até chegar ao canal. Retira a larva usando a longa língua, pegajosa e com cerdas na ponta, parecendo uma flecha. Procura formigas (Azteca sp.), seus ovos e pupas, perfurando galhos de embaúba (Cecropia sp.). Gosta também de frutas, como o abacate. HÁBITOS Habita o interior e as bordas de florestas altas, capoeiras, cerrados, campos e plantações com árvores esparsas. Vive solitário ou aos pares, arrancando a casca e “martelando” troncos e galhos maiores em busca de insetos, tanto em árvores vivas como mortas. Dormem sempre em ocos, onde também se abrigam da chuva pesada; alguns elaboram cavidades que servem para dormir. Recolhem-se cedo para dormir.
113
MANUAL DA FAUNA URBANA
114
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Piciformes Família
Picidae
Espécie
D. lineatus
Fotografia: Pardal Atelier
115
MANUAL DA FAUNA URBANA
PI CA-PAU-DO-C AM P O Colaptes campestris O pica-pau-do-campo (Colaptes campestris) é um grande pica-pau sul-americano, campestre e terrícola. Também é conhecido como chã-chã e bico-chã-chã.
pode, até substituir o canto estando, os dois, ligados à quadra reprodutiva e, portanto, sendo executados apenas periodicamente. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de insetos, principalmente formigas e cupins. A secreção de sua glândula mandibular é como uma cola que faz com que a língua funcione como uma vara de fisgo para capturar os insetos. R E P R O D U ÇÃO Os ninhos são bastante elaborados, e em muitos casos, construídos a cada período reprodutivo. Preferem cavar a face do barranco que se inclina para o solo, o que facilita a proteção quanto à chuva e a defesa de entrada. Geralmente fazem mais de uma cavidade, sendo que a entrada corresponde ao tamanho do corpo desta espécie, não permitindo que outras aves e/ou predadores tenham
Fotografia: Ivo Zecchin
acesso. Põe de 4 a 5 ovos brancos, límpidos e brilhantes. Macho e fêmea fazem a incubação.
CARACTERÍSTICAS
Os filhotes nascem nus e cegos e são alimentados
Possuindo 32 centímetros de comprimento, essa espécie
com bolas de insetos conglomerados e larvas de cupim,
é facilmente identificável por conta da sua coloração; tem
regurgitadas pelos pais.
os lados da cabeça e do pescoço amarelos, assim como o peito, o alto da cabeça e a nuca são negros, da mesma forma que o bico e os tarsos, manto e barriga barrados e o baixo
HÁBITOS
dorso é visivelmente branco ao voo. O macho apresenta
Habita campos e cerrados, vive em casais e, às vezes
em ambos os lados da cabeça duas faixas avermelhadas.
em pequenos grupos. Terrícola, costuma capturar insetos
Sua voz, bem variada e forte, serve para a marcação
no solo, mas ao se sentir ameaçado procura árvores ou
territorial, e como meio de comunicação entre o macho
grandes pedras para se proteger.
e a fêmea, tal como o tamborilar nesta família. Este
Vivem aos pares ou em pequenos bandos.
116
AVES
Fotografia:boasnovasmg.com
117
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Piciformes Família
Picidae
Espécie
C. campestris
Fotografia:capturandovidas.com
118
AVES
119
MANUAL DA FAUNA URBANA
V ARIAÇÕ ES POM BA AS A-BR ANCA Patagioenas picazuro Vive nos campos com árvores, áreas urbanas, cerrados, caatingas e florestas de galeria. Freqüentemente encontrada no solo. É migratória como outras pombas, estendendo seus domínios acompanhando o desmatamento, aparecendo em grande quantidade. Voa longas distâncias e a grandes altitudes, exibindo seu espelho alar branco; está aproveitando as áreas urbanas, é comum ser encontrada comendo milho em galinheiros.
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Columbiformes Família
Columbidae Espécie
P. picazuro
Fotografia: pxhere.com
Obs.: Esta ave inspirou Luis Gonzaga e Humberto Teixeira a compor uma das mais conhecidas canções populares, “Asa Branca”
120
AVES
D AS POMBAS P OM B A-D O MÉ S TI C A Columba livia Esta espécie é originária da Eurásia e África e foi introduzida no Brasil no início da colonização portuguesa. É considerada um grave problema ambiental, pois compete por alimento com as espécies nativas, danifica monumentos com suas fezes e pode transmitir doenças ao homem. Até recentemente 57 doenças eram catalogadas como transmitidas pelos pombos, tais como: histoplasmose, salmonella, criptococose.
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Columbiformes Família
Columbidae Espécie
C. livia
Fotografia: José Frade
121
MANUAL DA FAUNA URBANA
POM BA FOGO-APAG OU Columbina squammata Fogo-apagou é uma ave columbiforme da família Columbidae. O nome popular fogo-apagou é sem dúvida a melhor tradução escrita para o canto desta ave, um dos sons mais típicos da “roça”. No Sudeste, é tida como espécie arisca, sendo muito mais ouvida do que vista em cidades como Campinas ou Ribeirão Preto. Ornitólogos e observadores de aves do estado de São Paulo vêm relatando um certo declínio nas populações desta espécie. Muitos atribuem este declínio à competição com a Rolinha (Zenaida auriculata), que vem aumentando sua distribuição e abundância.
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Columbiformes Família
Fotografia: Dário Sanches
Columbidae Espécie
P. picazuro
122
AVES
Fotografia: Guilherme Alencar
P OM B A R O L IN H A Zenaida auriculata Migratória no nordeste do Brasil, suas populações no interior de São Paulo e Paraná explodiram a partir de 1970, ao adaptar-se aos ambientes criados pela agricultura e pecuária. Nessa área do país é conhecida como pomba-amargosa. Originalmente ave campestre típica da caatinga, cerrado e campos, atualmente vem aumentando significativamente sua distribuição, beneficiada pelo desmatamento e nas ultimas décadas conquistou efetivamente o ambiente urbano, chegando ate mesmo a grandes metrópoles como São Paulo, onde sua população vem aumentando a cada ano.
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Columbiformes Família
Columbidae Espécie
Z. auriculata
123
MANUAL DA FAUNA URBANA
QUE R O - QU E R O Vanellus chilensis O quero-quero, quem-quem, tetéu, xexéu ou também conhecido como abibe-do-sul é uma ave da ordem Charadriiformes da família Charadriidae.
Fotografia: passaros.com
124
AVES
CARACTERÍSTICAS
Fotografia: Luis Carlos Heringer
Mede 37 centímetros de comprimento e pesa cerca de 277 gramas. Possui um esporão pontudo, ósseo, com 1 centímetro de comprimento no encontro das asas, uma faixa preta desde o pescoço ao peito e ainda umas penas longas (penacho) na região posterior da cabeça, tem um desenho chamativo de preto, branco e cinzento na plumagem. A íris e as pernas são avermelhadas. O esporão é exibido a rivais ou inimigos com um alçar de asa ou durante o voo. A L I M E N T A ÇÃO O quero-quero se alimenta de invertebrados aquáticos e peixinhos que encontra na lama. Para capturá-los, ele agita a lama com as patas para provocar a fuga de suas presas. Também se alimenta de artrópodes e moluscos terrestres. HÁBITOS Costuma viver em banhados e pastagens; é visto em estradas, campos de futebol e próximo a fazendas, frequentemente longe d’água. O quero-quero é sempre
Filhote de Quero-quero
o primeiro a dar o alarme quando algum intruso invade seus domínios. É uma ave briguenta que provoca rixa com qualquer outra espécie habitante da mesma campina. As capivaras tiram bom proveito da convivência com o quero-quero, pois, conforme a entonação, o grito dessa ave pode significar perigo. Então, os grandes roedores procuram refúgio na água. Essa característica faz do quero-quero um excelente cão de guarda, sendo utilizado por algumas empresas que possuem seu parque fabril populado por estas aves. R E P R O D U ÇÃO Na primavera, a fêmea põe normalmente de três a quatro ovos. Nidificam em uma cavidade esgravatada no solo; os ovos têm formato de pião ou pera, forma adequada para rolarem ao redor de seu próprio eixo e não lateralmente, sendo manchados, confundindo-se perfeitamente com o solo. Quando os adultos são espantados do ninho fingemse de feridos a fim de desviar dali o inimigo; o macho, torna-se agressivo até mesmo a um homem. Os filhotes são nidífugos: capazes de abandonar o ninho quase que imediatamente após o descascamento do ovo.
Fotografia: Guilherme Alencar
125
MANUAL DA FAUNA URBANA
126
AVES Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Charadriiformes Família
Charadriidae Espécie
V. chilensis
127
MANUAL DA FAUNA URBANA
SA BIÁ -DO-CA MP O Mimus Saturninus O sabiá-do-campo é uma ave passeriforme da família Mimidae. Também conhecida como Tója, tejo-do-campo, calhandra, arrebita-rabo, galo-do-campo, papa-sebo, sabiálevanta-rabo e sabiá-conga. É uma ave famosa por seu vasto repertório de cantos, que incluem imitações de outras espécies.
Fotografia: Guilherme Alencar
CARACTERÍSTICAS
Possui a cauda comprida com as pontas de cor branca.
Mede entre 23,5 e 26 centímetros de comprimento e
A vocalização desta espécie é notável pela maestria com
pesa entre 55 e 73 gramas. Possui uma coloração cinzenta
que imita os cantos e chamados de outras aves.
no dorso, alto da cabeça, asas e cauda. O peito e o ventre
Voz: agudo e penetrante “tschrip”, “tschik” (chamada
são branco-amarelados ou arroxeado pela terra. A listra
característica da espécie); scha-scha-scha“, “krrrra” bufando
superciliar branca, destacada pela faixa negra na altura dos
(advertência, zanga).
olhos é uma característica importante para identificação. Os olhos dos adultos são amarelados, marrom escuros nas
A L I M E N T A ÇÃO
aves juvenis, as quais também possuem o peito rajado
São onívoros, alimenta-se principalmente de invertebrados
de cinza escuro.
e frutos. Dentre os invertebrados, os insetos (formigas,
128
AVES cupins, besouros) constituem a maior parte das presas. Os frutos podem ser silvestres (neste caso de pequeno tamanho, engolidos inteiros) ou cultivados, como laranja e abacate. Aprecia muito os frutos do Tapiá ou tanheiro (Alchornea glandulosa). As sementes não são digeridas, e atravessam intactas o tubo digestivo. A ave atua, assim, como dispersora das sementes dos frutos que ingere. A maior parte do alimento é obtida enquanto a ave caminha pelo solo. Outros métodos de alimentação com presas animais são menos freqüentes, como a captura de insetos em voo a partir de poleiros elevados, ou com saltos a partir do solo. Frutos são coletados pela ave empoleirada; frutos de grande tamanho, cultivados, podem ter parte de sua polpa consumida após caírem ao solo. Ocasionalmente predam ninhos com ovos e filhotes de outros pássaros. Aproveita-se de gordura e carne em mantas de charque ao sol, (daí o nome papa-sebo) costuma comer pimenta Malagueta (Capsicum frutescens) madura. Podem eventualmente frequentar comedouros artificiais de fruta. HÁBITOS Apresenta uma série de comportamentos, muitos deles pouco entendidos, talvez pela dificuldade de se aplicar um método muito comum de pesquisa, que é o de anilhamento. Algumas pessoas que tentaram anilhar esta ave para
Fotografia: Guilherme Alencar
estudar seu comportamento desistiram deste recurso pois a ave parece ser tão sensível ao estresse da captura que alguns indivíduos morreram após o anilhamento. Anda pelos campos e cerrados ou parques e terrenos baldios de cidades geralmente em bandos, que podem ter
Fotografia: Diogo S. Gonçalves
até 13 integrantes. Na porção sul de sua distribuição não forma bandos, e costuma viver em casais. Possui o hábito de erguer as asas semi-abertas de tempos em tempos enquanto anda pelo chão, numa exibição denominada “lampejo de asas”, cuja finalidade não é entendida e que é observada também em outras espécies do gênero. O lampejo pode ser executado também quando a ave se depara com uma ameaça em potencial (humanos próximos demais, serpentes). Apesar de viver em grupos familiares, são muito agressivos entre si e usam os longos bicos e as garras fortes em brigas sem trégua (origem do nome galo-do-campo).
Filhote de Sabiá-do-campo
129
MANUAL DA FAUNA URBANA Apresenta a característica de ave sinantrópica, ou seja,
época reprodutiva (julho a dezembro), possui um canto
pode se adaptar as grandes cidades, desde que estejam
próprio, onde lança mão dos chamados mais graves e
disponíveis água e áreas verdes onde eles possam pousar,
agudos característicos, iniciando ou terminando a imitação.
caçar e fazer ninhos.
Em sua grande obra Ornitologia Brasileira, Helmut Sick
É um dos melhores imitadores de outras aves na
cita que as populações de sabiás-do-campo mais ao sul
natureza. Alguns indivíduos repetem o canto de até 6
apresentam repertório de vocalização mais rico e melodioso
espécies diferentes. Além dessas imitações, usadas na
do que as populações mais setentrionais.
Fotografia: Dário Sanches
130
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Mimidae Espécie
M. saturninus
Fotografia: Guilherme Alencar
131
MANUAL DA FAUNA URBANA
SA B IÁ - LARANJ EIR A Turdus rufiventris Ave símbolo do estado de São Paulo, também considerada ave símbolo do Brasil (apesar de muitos contestarem alegando a Ararajuba como a representante brasileira), o sabiá-laranjeira, também conhecido como sabiá-cavalo, sabiá-ponga, piranga, ponga, sabiá-coca, sabiá-de-barriga-vermelha, sabiágongá, sabiá-laranja, sabiá-piranga, sabiá-poca, sabiá-amarelo, sabiá-vermelho e sabiá-de-peito-roxo, é uma ave popular, citada por diversos poetas como o pássaro que canta na estação do amor, ou seja, na primavera. Foi imortalizado na “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, juntou-se oficialmente aos outros quatro símbolos nacionais – a bandeira, o hino, o brasão de armas e o selo, passando a ter a mesma importância deles na representação do Brasil em 3 de outubro de 2002, por decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o ornitólogo Johan Dalgas Frisch (mentor do decreto de 3 de outubro), são 12 as espécies de sabiás no Brasil, sendo que o pássaro assume outras denominações em regiões diferentes. Assim, ele tanto pode ser caraxué (Amazonas), sabiá-coca (Bahia), sabiá-laranja (Rio Grande do Sul) e ainda sabiáde-barriga-vermelha, sabiá-ponga e sabiá-piranga em lugares diferentes. Em tupi, sabiá significa “aquele que reza muito”, em alusão à voz dessa ave. Segundo uma lenda indígena, quando uma criança ouve, durante a madrugada, no início da primavera, o canto do sabiá, será abençoada com muita paz, amor e felicidade.
Fotografia: Leonardo Casadei
132
AVES
Fotografia: Cláudio Timm/Flickr
CARACTERÍSTICAS Fotografia: JPeralta
Mede 20-25 centímetros de comprimento e o macho pesa 70 gramas e a fêmea, 80 gramas. Tem plumagem parda, com exceção da região do ventre, destacada pela cor vermelho-ferrugem, levemente alaranjada, e bico amarelo-escuro. É ave de canto muito apreciado, que se assemelha ao som de uma flauta. Canta principalmente ao alvorecer e à tarde. O canto serve para demarcar território e, no caso dos machos, para atrair a fêmea. A fêmea também canta, mas numa frequência bem menor que o macho. O canto do sabiá-laranjeira é parcialmente aprendido, havendo linhagens geográficas de tipos de canto, e se a ave conviver desde pequena com outras espécies, pode ser influenciada pelo canto delas e passar a ter um canto “impuro”.
Ninho de Sabiá-laranjeira com ovos
133
MANUAL DA FAUNA URBANA
Fotografia: topetinhomagnifico.com
A L I M E N T A ÇÃO
o local escolhido é formado por vãos entre numerosos suportes
Sua nutrição se compõe basicamente de insetos, larvas,
iguais de um telhado, o sabiá-laranjeira pode construir
minhocas e frutas maduras, incluindo frutas cultivadas
vários ninhos ao mesmo tempo, por confundir os vãos.
como o mamão, a laranja e o abacate. Come coquinhos de várias espécies de palmeiras e de
HÁBITOS
espécies introduzidas, como o dendê.
É comum em bordas de florestas, parques, quintais e
Cospe os caroços após cerca de 1 hora, contribuindo
áreas urbanas arborizadas. Vive solitário ou aos pares,
assim para a dispersão dessas palmeiras, comportamento
pulando no chão. Em regiões mais secas é, de certa forma,
apresentado também por outros sabiás.
restrito a áreas próximas à água.
Ração de cachorro também atrai esta espécie, podendo servir
É uma ave que convive bem com ambientes modificados
de alimento em cidades grandes com menor disponibilidade
pelo homem, seja no campo ou na cidade, desde que tenha
de alimentos naturais. Aprecia os frutos do tapiá ou tanheiro
oportunidades de encontrar abrigo, alimento e água.
(Alchornea glandulosa).
Na natureza, é encontrado em casais e grupos familiares quando em processo de criação. É uma ave de ambientes
R E P R O D U ÇÃO
abertos, preferindo viver em bordas de matas, pomares,
Pode fazer seu ninho em beirais de telhados. A construção
capoeiras, entorno de estradas, praças e quintais, sempre
de ninhos pode se tornar confusa em certas ocasiões: quando
por perto de água abundante.
134
AVES Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Turdidae Espécie
T. rufiventris
135
MANUAL DA FAUNA URBANA
SABI Á - P O C A Turdus amaurochalinus É um dos sabiás mais conhecidos pelos brasileiros, seja por seu aspecto físico, seja por seu canto triste. Nas diversas regiões possui os mais variados nomes comuns: bico-de-osso, sabiá-branco, sabiá-do-peitobranco, sabiá-bico-amarelo, sabiá-bico-de-osso e sabiá-bico-de-louça.
no loro, região que fica entre o bico e o olho dando a ele um ar de bravo, bico longo, forte e levemente curvo, além das suas pernas de cor-de-avelã. Em agosto inicia-se a reprodução. Nessa época, aparecem as aves com o bico amarelo vivo, uma característica ligada à reprodução. Aves juvenis ou adultos fora do período reprodutivo têm o bico escuro ou com diferentes proporções de amarelo. A L I M E N T A ÇÃO Alimentam-se de invertebrados e pequenos frutos, principalmente no solo. Gosta muito do fruto da aroeira (schinus terebinthifolius). Como outros sabiás, gostam de ciscar com o bico as folhas secas e escavar o chão.
Fotografia: Leonardo Casadei
A cada movimento com o bico para a lateral, dão um salto para trás e ficam procurando presas, imóveis por
CARACTERÍSTICAS
alguns segundos. Se nada aparece, saltam para a frente,
Para identificá-lo, a característica mácula escura, parecendo
ciscam e retornam à posição original.
ser negra em alguns exemplares, entre o olho e o bico.
Quando os frutos das figueiras estão caindo no chão,
Além disso, a cabeça é mais achatada, parecendo que o
concentram-se sob a árvore e fartam-se.
bico está no mesmo plano da testa. O papo branco e os riscos variam conforme o indivíduo. Algumas aves parecem ter uma gola branca separando
HÁBITOS
os riscos do peito.
Pousado ou no chão, possuem o característico hábito
Logo que saem dos ninhos, os juvenis apresentam o
de balançar a cauda rapidamente na vertical. O piado de
peito e barriga todo pontilhado de bolas marrom-oliváceas,
contato é traduzido por póca, nome tupi para barulho. Além
bem como as costas e asas pontilhadas de marrom claro.
desse chamado, um característico miado baixo. Espécie
As penas das asas mantém essas características por
semi-florestal. Adapta-se também a áreas urbanas muito
mais tempo, provavelmente até o segundo ano de vida.
arborizadas e só canta na época de reprodução, fora isso
Apresenta tamanho médio em torno de 21 centímetros
só emite chamados fora dessa época. Também é visto em
de comprimento, olhos grandes com uma marca escura
bordas de matas e clareiras.
136
AVES Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Turdidae Espécie
T. amaurochalinus
Fotografia: João Vitor Perin Andriola
137
MANUAL DA FAUNA URBANA
S A NH A Ç U-CINZEN TO Tangara sayaca O sanhaçu-cinzento é uma ave passeriforme da família Thraupidae. Também conhecido como sanhaçudo-mamoeiro, sanhaçu, sanhaçu-comum, sanhaçu-da-amoreira, e no Nordeste como pipira-azul (Piauí), sanhaçu-azul (Natal/RN) e sanhaçu-de-ateira (Ceará). É uma das aves mais comuns do país, conhecida por realizar acrobacias em meio a disputa por frutas com outros pássaros.
Fotografia: Danbrazil
138
AVES
Fotografia: José Getúlio de Oliveira
CARACTERÍSTICAS
A L I M E N T A ÇÃO
Mede entre 16 e 19 centímetros de comprimento e pesa
Frutos, costuma consumir muito o fruto da aroeira-
entre 28 e 43 gramas. O adulto de Tangara sayaca apresenta
mansa (Schinus terebinthifolius), folhas, brotos, flores
coloração geral cinzenta, com as asas e cauda de coloração
de eucaliptos e insetos, entre estes os alados de cupim
azul turquesa. Sua cabeça é cinza com uma fina e tênue
(“aleluias” ou “siriris”) capturados em voo. Vive normalmente
faixa pós ocular cinza escuro que nem sempre está visível.
na copa das árvores em busca dos frutos maduros, mas
Testa, coroa e nuca também cinza.
é intrépido o suficiente para apanhar também os caídos,
Os lores são cinza, da mesma coloração da cabeça. A
preferindo até os que já estejam infestados de larvas e
coloração do manto é cinza, porém mais escuro que a nuca.
desfrutando-os com outras aves, como a saíra-amarela e o
As penas coberteiras são cinza azuladas. As rêmiges (penas de
sabiá-da-praia. Aprecia muito os frutos do tapiá ou tanheiro
voo) apresentam bela coloração cinza azulada, com reflexos
(Alchornea glandulosa). Costuma frequentar comedouros
metálicos esverdeados e com as bordas internas das penas
com frutas, como a banana e laranja. Foi observado em
escuras. O uropígio, assim como as penas supracaudais, são
Jaú-SP um sanhaçu-cinzento alimentando-se das flores
cinza azulados e as retrizes são azuladas com os mesmos
de um ipê-amarelo.
reflexos metálicos verdes das rêmiges. A garganta, peito e
HÁBITOS
ventre são cinza e o crisso é branco. Os olhos são escuros
Quando um macho apronta-se para agredir outro, seu
e o bico apresenta coloração cinza escuro, sendo a porção
canto torna-se rouco e monótono. Anda quase sempre
proximal do bico de coloração mais clara que a porção distal.
em casais ou pequenos bandos. Também é visto junto
Tarsos e pés são cinza.
com outra espécie de sua família, como o sanhaçu-do-
O jovem ou imaturo é similar ao adulto da espécie,
coqueiro, cujo canto é bem parecido. É bem ativo. Costuma
entretanto sua coloração é mais esverdeada, mais pálida e
ter medo de humanos, assim se assustando e voando
mais opaca que este.
desesperadamente. Vive na copa ou entre as árvores à busca de alimentos. Frequenta comedouros com frutas.
139
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Thraupidae Espécie
T. sayaca
Fotografia: Guilherme Alencar
140
AVES
141
MANUAL DA FAUNA URBANA
S E R IE MA Cariama cristata A seriema é uma ave cariamiforme da família Cariamidae. Conhecida também como sariema (Ceará) e seriema-de-pé-vermelho. O nome seriema deriva das palavras em tupi “çaria” (= crista) + “am” (= levantada). Ave símbolo do Estado de Minas Gerais. Ave típica dos cerrados do Brasil, a seriema possui porte imponente e cauda longa.
Fotografia: Guilherme Alencar
142
AVES
CARACTERÍSTICAS
e pequenos répteis. Mata as presas com o bico, uma vez
Sua plumagem é cinza-amarelada, com finas riscas
que os dedos são relativamente pequenos e sem garras.
escuras: abdômen um pouco mais claro, bico e pernas
Uma presa maior é desmembrada, pisando sobre ela e
vermelhos. Tem a crista formada por um tufo de penas
retirando pedaços com o bico poderoso.
longas, com cerca de 12 centímetros. É uma das poucas
Graças ao hábito de comer cobras, é protegida pelos
aves que possuem pestanas. Atinge uma altura média
fazendeiros e sitiantes. Pode ficar acostumada à presença
de 70 centímetros, podendo chegar a 90 centímetros de
humana e frequentar os jardins das casas.
comprimento e pesar até 1,4 quilo. O porte dos jovens
Além dos insetos e dos pequenos vertebrados, fazem
pode ser igual ao dos adultos e, para diferenciá-los, a cor
ainda parte de sua dieta vermes e ovos de outras espécies.
dos olhos é uma das melhores maneiras. Nos adultos, os olhos são acinzentados; já nos jovens, são amarelados,
HÁBITOS
podendo a cor do bico ser em tom mais escuro.
Comum em cerrados, campos sujos e pastagens, sendo
Seu canto é marcante, podendo ser ouvido a mais de
beneficiada pelo desmatamento. Anda pelo chão, aos pares
1 quilômetro. Seus gritos, seja de uma ave solitária, seja
ou em pequenos bandos.
de um casal em dueto, são altos e longos. Parecem longas
Se perseguida, foge correndo, deixando para voar somente
risadas, as quais vão acelerando-se e aumentando de tom
se muito pressionada, chegando a atingir velocidades
à medida que a ave repete o canto. Pode permanecer
superiores a 50 km/h antes de levantar voo. Cansada,
gritando por vários minutos a fio.
voa pequenos trechos antes de pousar e voltar a correr. Vive aos casais, sendo mais facilmente escutada do que
A L I M E N T A ÇÃO
observada. De hábitos terrestres, empoleira-se no alto de árvores para dormir. Ao voar, destacam-se as faixas claras
Sua alimentação é semelhante à de um gavião, comendo
e escuras de asas e cauda.
desde insetos até pequenos vertebrados, como roedores
Fotografia: Manfred Werner
Uma seriema jovem (esquerda) e uma adulta (direita)
143
MANUAL DA FAUNA URBANA
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Cariamiformes Família
Cariamidae Espécie
C. cristata
144
AVES
145
MANUAL DA FAUNA URBANA
S U I R IR I Tyrannus melancholicus O suiriri é encontrado em todo o Brasil. Adapta-se até aos maiores conglomerados urbanos, desde que haja alguma arborização. Pode ser visto no meio de São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo. A população do sul do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai (parte) é completa ou parcialmente migratória. Seu nome popular, de origem onomatopeica, origina-se de sua vocalização “si-ri-ri”
CARACTERÍSTICAS Mede entre 18-24,5 centímetros de comprimento e pesa entre 32 e 43 gramas. A cabeça é cinza e o píleo é de coloração laranja, uma característica visível quando eriça o topete em suas disputas territoriais. Apresenta distinta faixa trans-ocular escura que se inicia nos lores e vai até a região auricular. Face e garganta cinza claro, algumas vezes quase brancas. O dorso é cinza e as asas são acinzentadas sendo as rêmiges (penas de voo) com as bordas claras levemente acastanhadas. A cauda é cinza e apresenta as bordas das retrizes claras. O peito é amarelo com distinta faixa peitoral de coloração cinza-olivácea por sobre o amarelo. O ventre e crisso são amarelos. O bico é robusto e preto, tarsos e pés são escuros, quase pretos e a íris é castanho escura. Os imaturo são similares aos adultos sendo que as bordas das coberteiras são acastanhadas. O canto mais emitido é uma forte risada aguda, responsável pelo nome comum. A L I M E N T A ÇÃO A partir do poleiro, realiza um voo de poucos até dezenas de metros, em todas as direções, apanhando a presa no ar.
Fotografia: Dário Sanches
Classicamente, retorna ao local de origem para consumi-la, muitas vezes batendo fortemente no galho HÁBITOS
para matá-la ou estonteá-la. Está em seu poleiro nas primeiras horas da manhã e
Costuma ficar pousado em poleiros expostos, seja na
muitas vezes permanece todo o dia, apesar do sol e calor.
parte alta da mata, seja em arbustos. Usa também fios,
Além de insetos, alimenta-se de frutos, esses últimos muito
cercas e estruturas criadas pela ação humana.
consumidos por aves em migração. Aprecia muito os frutos
Vive solitário ou em casais, muito agressivos entre si.
do tapiá ou tanheiro.
Pode viver em grupos de até duas dezenas de suiriris, que podem ser visto empoleirando-se próximos, algumas
146
AVES
Fotografia: Antônio Maliceski
Fotografia: Guilherme Alencar
vezes junto a tesourinhas. Durante o dia, fluxos constantes de suiriris voando na mesma direção a poucos metros das copas podem ser notados. Chama a atenção pela pequena distância entre si e a continuidade do movimento, às vezes por 30 ou 40 minutos, com 2 ou 3 aves de cada vez. Canta frequentemente do final da madrugada ao início da noite, geralmente pousado em fios, antenas, mourões de cerca ou nos galhos mais altos das árvores, o que amplia seu campo de visão para a captura de insetos, defesa da prole, etc. Um fato interessante observado é que os indivíduos costumam escolher os mesmos horários e lugares para seus gorjeios, mesmo em diferentes épocas do ano. Na época da primavera/verão chega a cantar 2 ou 3 horas da manhã. Suiriri-cavaleiro (Machetornis rixosa), da mesma família do Suiriri (Tyrannus melancholicus), podendo ser avistados juntos
147
MANUAL DA FAUNA URBANA
TE SO U R IN H A Tyrannus savana Também conhecida como tesoura, tesoureira e tesourinha-do-campo. A tesourinha é uma ave passeriforme da família Tyrannidae. Migrante inconfundível, onde passa em grupos de até centenas de indivíduos, em concentrações típicas nos meses de setembro e outubro. Dormem em uma mesma árvore ou árvores próximas quando estão migrando, seja em áreas naturais, seja em áreas urbanas.
Fotografia: Flávio Cruvinel Brandão
148
AVES CARACTERÍSTICAS Apesar de não ser colorida, a leveza e graça do voo, bem como a distribuição de cores são muito chamativas. O capuz é negro, apresenta no meio do píleo (topo da cabeça da ave) uma coloração amarela, na maioria das vezes escondido, distingue-se contra a garganta e partes inferiores brancas. Dorso cinza uniforme, com destaque para a longa cauda, que é maior do que o próprio corpo. Há um discreto dimorfismo sexual, sendo que os machos possuem um prolongamento grande da cauda, especialmente das duas penas mais externas. Esta diferença é visível quando as aves estão próximas. O formato da cauda deu origem aos nomes comuns. A L I M E N T A ÇÃO Hábitos alimentares como o do suiriri, com grande consumo de frutos no período de migração. Dispersa os frutos da ervade-passarinho no cerrado, com sua característica semente onde um pé adesivo ressalta-se. A polpa envolvente é uma das fontes principais de abastecimento na migração para o norte, mas como não ingere a semente, limpa o bico nos galhos, deixando presa a semente da próxima ervade-passarinho. Frutos podem ser vistos em fios e arames, resultado dessa limpeza do bico. Em vôo, consegue uma enorme destreza, alterando direção com facilidade, em perseguições mútuas ou à presa (insetos).
Fotografia: Emerson Kaseker
Tesourinhas brigando com predador
149
MANUAL DA FAUNA URBANA
R E P R O D U ÇÃO
em espirais com asas e cauda abertos, ao mesmo tempo
O período de reprodução é entre os meses de setembro
em que emite o canto longo e rápido, terminado com três
e dezembro. Os pais preferem fazer seus ninhos em cerrado
ou quatro notas mais espaçadas. Localmente, procuram as
ralo. O tamanho da ninhada é de 1 a 3 ovos. A incubação
áreas abertas, como os cerrados (daí a razão do savana
leva, em média, 13,6 dias, e após 15 dias os ninhegos
em seu nome científico), pastagens e áreas de cultura,
(filhotes dependentes dos pais) deixam o ninho. Os filhotes
onde ficam pousadas em mourões de cerca, postes, fios
nascem no final do ano e em fevereiro/março voam para
e árvores isoladas. Também podem procurar as matas,
o norte, no segundo grande movimento de migração da
ou até mesmo cidades.
espécie. Todas dirigem-se para a parte norte do continente,
Talvez poucas aves conheçam melhor a América do
onde irão passar o outono/inverno austrais. O casal constrói
Sul do que a tesourinha. Existem tesourinhas que vivem
um ninho ralo, aberto e em forma de tigela de gravetos
no sul (Argentina, Paraguai e extremo sul do Brasil), em
porcamente amontoados.
várias outras partes do Brasil, no Caribe e no sul do México.
A taxa de sucesso dos ovos é de 39,2%. É comum os
Depois do verão, as tesourinhas migram aos milhares
filhotes e ovos serem derrubados pelo vento. Os pais se
para a região da Amazônia, onde permanecem até o
revezam na criação dos filhotes. Os ovos medem 22,2 mm
inverno acabar. No início da primavera, cada uma volta
de comprimento e 15,8 de largura e pesam 3,2 g.
para a sua região de origem, onde vão reproduzir, criar os filhotes e começar tudo novamente no ano seguinte.
HÁBITOS
Assim, as tesourinhas são muito abundantes nas regiões
Apesar de migrarem em grupos, em setembro os machos
onde vivem, mas apenas em algumas épocas do ano. Em
já estão exibindo seu característico vôo territorial, pairando
outras, desaparecem completamente.
150
AVES
151
MANUAL DA FAUNA URBANA
T I C O -TI C O Zonotrichia capensis O tico-tico é uma ave passeriforme da família Passerellidae. É um dos pássaros mais conhecidos e estimados do Brasil. Seu nome vem do tupi e deriva do seu chamado. Esta ave e o pardal são duas espécies comuns em áreas urbanas e muitas pessoas as confundem apesar de terem diferenças facilmente percebíveis. Entre os nomes populares conhecidos, destacam-se: salta-caminho (Pernambuco e interior da Paraíba), titiquinha e ticão, gitica, mariquita-tio-tio (São Paulo), tiquinho (Paraná), catete, cata-pilão, jesusmeu-deus (Bahia), chuvinha (Sul do Piauí), toinho (Paraíba - região do Seridó Ocidental) e piqui-meu-deus (sul do Ceará), e também tico-tico-jesus-meu-deus. A canção Tico-tico no Fubá, composta em 1917 por Zequinha de Abreu e interpretada por Carmém Miranda, é um chorinho de fama internacional.
152
AVES comedouros com sementes,bananas e quirera de milho. Também já foi visto comendo ração para cães. HÁBITOS É comum em paisagens abertas, plantações, jardins, pátios e coberturas ajardinadas de edifícios. Abundante em regiões de clima temperado e também em cumes altos expostos a ventos frios e fortes. É favorecido pelo desmatamento e pela drenagem de alagados, aumentando sua área de ocorrência. Vive em casais isolados, sendo que o macho ataca tico-ticos vizinhos que invadam seu território. Entre os traços interessantes do seu comportamento figura a técnica de esgravatar alimento no solo por meio de pequenos pulos, para remover a camada superficial de folhas ou terra solta que recubra o alimento. Perscrutando o terreno a sua frente, pula até 4 vezes consecutivas verticalmente sem alterar a posição das pernas e esgravatando o chão com ambos os pés sincronizadamente, jogando para trás o material impeditivo. A tendência de executar tal movimento pelo tico-tico é tão forte que, mesmo quando come algo sobre uma laje de cimento limpo ou num quintal, pula da mesma forma.
CARACTERÍSTICAS
Sofre pesadas perdas de sua própria prole, pois o vira-
Pássaro de porte médio que mede 15 centímetros de
bosta é uma ave parasita que retira os ovos do ninho do
comprimento. Possui o corpo compacto, com asas e cauda
tico-tico e põe os seus. A pressão exercida chega a ser
de tamanhos regulares, pernas e pés delgados e bico cônico
tão grande que, em certos locais, o tico-tico é eliminado.
e forte. A coloração dorsal é pardo-acinzentada, tendo a cabeça cinza com duas tiras negras que partem da base da maxila indo até a nuca, com parte central cinza, também partindo da mesma base e alargando-se para a nuca. As faces são de cor cinza, com duas tiras negras de cada lado que vão até a região do pescoço, uma partindo do
Fotografia: Murido Nascimento
canto posterior do olho e outra do canto do bico. Pescoço com uma faixa cintada de cor vermelho-ferrugínea que desce até os lados do peito alto, onde se encontra com uma mancha negra. Porção intermediária dorsal de cor pardo-cinza com coberteiras, inclusive das asas com manchas negras e restante do baixo dorso pardo-cinza. No encontro das asas as penas terminam com faixa branca. Garganta branca, peito e abdômen cinza-esbranquiçados, sendo mais claro na parte central. Apresenta um pequeno topete com desenho estriado na cabeça. A L I M E N T A ÇÃO Alimenta-se de sementes, brotos, frutas, insetos (besouros, formigas, grilos, cupins alados e larvas). Costuma frequentar
Ovos de Tico-tico
153
MANUAL DA FAUNA URBANA Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Passerellidae Espécie
Z. capensis
Fotografia: Hudson Pontes da Silva
154
AVES
Fotografia: Guilherme Alencar
155
MANUAL DA FAUNA URBANA
TI Z IU Volatinia jacarina O tiziu é uma ave passeriforme da Família Thraupidae. Conhecido também como tizirro, saltador, veludinho, papa-arroz, bate-estaca (Rio de Janeiro), serrador, serra-serra e alfaiate.
Fonte: aope.org
CARACTERÍSTICAS Tem cerca de 11,5 centímetros de comprimento. O
alguns caboclinhos (Sporophila bouvreuil, Sporophila
macho é todo preto com brilho azul-metálico, exceto por
ruficollis, Sporophila melanogaster), o tiziu (Volatinia
uma pequena mancha branca na parte inferior das asas.
jacarina) e os beija-flores (Heliomaster squamosus) e (Heliomaster furcifer) (Mallet-Rodrigues, 2000).
Apresentam duas mudas de plumagem por ano. Após a muda pós-nupcial adquirem uma plumagem de
A fêmea é marrom-oliva na parte superior, amarelo-
descanso. O macho adulto perde a plumagem preta azulada
amarronzado na inferior, com o peito e laterais estriados
da cabeça, do dorso e do peito e torna-se semelhante
de escuro. Fêmeas e imaturos são quase idênticos a
aos jovens machos da sua espécie. São raras as espécies
várias outras espécies da família, especialmente às
residentes no Brasil que apresentam esse padrão, como
fêmeas dos papa-capins.
156
AVES
Fotografia: feomg.com
R E P R O D U ÇÃO Procria em qualquer época do ano, pelo menos em algumas regiões quentes próximas à linha do Equador, como em Belém (PA). Quando solta seu canto (semelhante ao som da palavra “tiziu”, o que lhe valeu o nome popular), principalmente durante a reprodução, o macho dá um salto curto para o ar e mostra uma região branca sob a asa, voltando a empoleirar-se no mesmo local. Acredita-se que este ritual seja para defender seu território. Faz ninho na forma de uma xícara fina e profunda, sobre gramíneas. Põe de 1 a 3 ovos branco-azulados com pontos marromavermelhados. HÁBITOS Estes pequenos pássaros são vistos com grande frequência, geralmente aos pares, em áreas alteradas, descampados, savanas, campos e capoeiras baixas da América do Sul, exceto no extremo sul. Vive aos pares durante o período reprodutivo, porém, fora deste, reúne-se em bandos que podem chegar a dezenas de indivíduos. Nestas situações, frequentemente mistura-se a outras espécies de pássaros que alimentam-se de sementes. Em regiões do Sudeste e Sul do País, como em São Paulo, desaparece durante o inverno, migrando para regiões mais quentes.
Tiziu macho
Tiziu fêmea
157
MANUAL DA FAUNA URBANA
Fotografia: Wagner Gomes
158
AVES
Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Passeriformes Subordem
Passeri Família
Thraupidae Espécie
V. jacarina
Fotografia: thenatureadmirer.com
159
MANUAL DA FAUNA URBANA
TR I NC A- FE R RO Saltator similis O trinca-ferro é uma ave passeriforme da família Thraupidae, sendo um dos pássaros silvestres mais apreciados pelo brasileiro, especialmente pelo seu canto. Também é chamado de bico-de-ferro, temperaviola, pixarro, pipirão, estevo, papa-banana (Santa Catarina), titicão, tia-chica, chama-chico (interior de São Paulo), tico-tico guloso (Sul do Espírito Santo) e joão-velho (Minas Gerais). No Brasil, existem cerca de sete formas do gênero Saltator, todas relativamente parecidas. São muito caçados e apreciados por seu belo canto.
Fotografia: Frodoaldo Budke
CARACTERÍSTICAS Um pouco menor do que outras espécies do mesmo gênero, possui o mesmo bico negro e forte que originou o nome comum dessas aves. Como no tempera-viola (Saltator maximus), apresenta dorso verde, cauda e lados da cabeça acinzentados. A listra superciliar é a mais comprida das três espécies (ave adulta), com o “bigode” menos definido e a garganta toda branca. Por baixo, domina o cinza nas laterais, tornando-se marrom alaranjado e branco no centro da barriga. As asas são esverdeadas. O juvenil não possui a listra tão extensa, sendo a mesma falhada ou inexistente, logo após sair do ninho. Alguns juvenis são listrados abaixo. Bico bastante enérgico e fortificado (o que deu cunho ao nome “trinca-ferro”), com cauda diferenciada em tamanho.
Fotografia: focoregional.com
160
AVES
Fotografia: fontecomunicacao.com
Não existem diferenças corporais entre machos e fêmeas. Seu canto varia um pouco de região a região, embora mantenha o mesmo timbre.
R E P R O D U ÇÃO
Para diferenciar o macho da fêmea é necessário perceber
O ninho, construído em arbustos a 1 a 2 metros de altura,
o canto do macho e o piado da fêmea.
é uma tigela espaçosa, com cerca de 12 centímetros de diâmetro externo, feita com folhas grandes e secas seguras
A L I M E N T A ÇÃO
por alguns ramos, resultando uma construção frouxa; no
O trinca-ferro-verdadeiro é um típico onívoro, alimentando-
interior são colocadas pequenas raízes e ervas.
se de frutos, insetos, sementes, folhas e flores (como
Os 2 ou 3 ovos, alongados, medem cerca de 29 por 18
as do ipê). Aprecia os frutos do tapiá ou tanheiro
milímetros e são azul-claros ou verde-azulados, com manchas
(Alchornea glandulosa). Na infância, seu regime alimentar
pequenas e grandes no polo rombo, formando uma coroa.
é predominantemente animal. O macho costuma trazer
Durante o período de reprodução, vive estritamente aos
alimento para sua fêmea.
casais, sendo extremamente fiel a um território.
161
MANUAL DA FAUNA URBANA
TUC A N U Ç U Ramphastos toco Também conhecido como tucano-toco, o tucanuçu é o maior dos tucanos, vivendo em todo o Brasil central e partes da Amazônia. No Cerrado e na Mata Atlântica pode-se encontrar a espécie em maior número, em rápidas visitas a pomares e árvores com frutos. Os tucanos são, junto com as araras e papagaios, um dos símbolos mais marcantes das aves do continente sul-americano. Seu colorido, o formato e tamanho do bico chamam a atenção com facilidade, tornando-os inconfundíveis.
Fotografia: Leca Carvalho
CARACTERÍSTICAS
de 20 centímetros, é duro e cortante, sendo usado como
Com a característica marcante de possuir enorme bico
uma pinça para capturar alimento. Apesar do tamanho,
alaranjado com uma mancha negra na ponta. Sua plumagem
é muito leve, devido à estrutura interna, onde existem
é negra, destacando-se o papo e o uropígio brancos, além
grandes espaços vazios.
do crisso manchado de vermelho.
O tucano usa-o com grande habilidade, apanhando desde
Destaca-se também a área de pele nua de cor laranja
pequenas presas até separando pedaços de alimentos
ao redor dos olhos e as pálpebras azuis. O bico amarelo-
maiores. Suas bordas são serrilhadas e a força do tucano
alaranjado de tecido ósseo esponjoso, que mede cerca
corresponde a seu tamanho. Para ingerir o alimento, lança-o
162
AVES
para trás e para cima, em direção à garganta, enquanto abre o bico para o alto. Mede 56 centímetros de comprimento e pode pesar 540 gramas. A L I M E N T A ÇÃO Sua dieta consiste basicamente de frutas, insetos e artrópodes, mas também costuma saquear ninhos de outras aves e devorar ovos e filhotes. Devido a essa característica, são prontamente perseguidos pelas aves em período reprodutivo. R E P R O D U ÇÃO Faz seu ninho em árvores ocas, buracos em barrancos ou em cupinzeiros. Costuma botar de dois a quatro ovos, que são incubados por período de 16 a 18 dias. O macho costuma alimentar a fêmea na época da reprodução. Seus predadores são: os macacos que saqueiam o ninho e os gaviões. Vivem em casais no período reprodutivo, formando bandos após a saída dos filhotes dos ninhos.
Fotografia: Stephane Passera
HÁBITOS Vive aos pares ou em bandos de duas dezenas de aves que voam em fila indiana. Voa com o bico reto, em linha com o pescoço, alternando curtas batidas com um planar mais demorado. Ao dormir vira a cabeça e descansa o bico nas costas. Comunicam-se com chamados graves, parecendo um pouco o mugido do gado (vindo daí o nome goiano de tucano-boi). Habitam as matas de galeria, cerrado, capões; única espécie da família Ramphastidae que não vive exclusivamente na floresta, sobrevoa freqüentemente os campos abertos e rios largos; gosta de pousar sobre árvores altaneiras. Menos sociável que os outros tucanos. Os ocos também são usados para dormir, quando a grande ave dobra-se de tal forma que diminui o seu tamanho em dois terços. Inicialmente, coloca o bico sobre as costas e, em seguida, cobre-se com a cauda. Essa posição de dormida também é
Fotografia: Taís Pires
usada quando dorme no meio das folhas da parte superior da copa das árvores. Filhote de Tucanuçu
163
MANUAL DA FAUNA URBANA Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Piciformes Família
Ramphastidae Espécie
R. toco
Fotografia: Ricardo Ribeiro
164
AVES
165
MANUAL DA FAUNA URBANA
URUBU-D E-CABEÇA-PRETA Coragyps atratus O urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) é uma ave cathartiforme da família Cathartidae. Pertencente ao grupo dos abutres do Novo Mundo. Conhecido também como urubu-comum, urubu-preto e apitã.
Fotografia: biotodos.uerj
CARACTERÍSTICAS
Para diferenciá-lo dos outros urubus, em voo, destaca-
Dentre os urubus, é o de menor envergadura. Apesar
se o formato mais curto e arredondado das asas, com a
de seu tamanho, é o mais agressivo dos urubus menores,
ponta mantida um pouco à frente da cabeça. Quase no
disputando avidamente uma carcaça com as outras espécies.
final de cada asa, forma-se uma área mais clara, quase
Não possui o olfato apurado do gênero Cathartes, localizando
um círculo. Exceto por essa área mais clara, adultos e
a carniça pela visão direta ou observando os outros urubus
jovens são totalmente negros, inclusive a pele nua da
pousando para comer. Costuma deslocar-se a grande altura,
cabeça e o pescoço.
usando as correntes de ar quente para diminuir o custo
Além do planeio passivo, batem ativamente as asas,
energético do voo. Sua visão é excepcional, tendo boa
produzindo um ruído forte e característico. Outro som único
acuidade para objetos a grande distância.
é produzido pelas asas, soando como se fosse um avião
166
AVES
Fotografia: diariodoengenho.com
Filhotes de Urubu-de-cabeça-preta
a jato. Deixam-se cair de grande altura, em voo picado,
pontos marrons. Sua área de ocorrência tem-se expandido
para frear nas proximidades do solo ou da vegetação,
com a colonização humana.
abrindo as asas. O ar passando rapidamente pelas penas das asas produz o som.
HÁBITOS
O urubu-de-cabeça-preta possui de comprimento 56-76
No ambiente natural, alimenta-se nas mesmas carniças
centímetros e de envergadura cerca de 143 centímetros.
das outras espécies. Nas proximidades das casas, busca
O peso varia de 1 a 3 quilos.
restos de comida e partes de animais domésticos abatidos. Acostuma-se com a presença humana e, em alguns locais,
A L I M E N T A ÇÃO
circula até junto de galinhas e outras aves domésticas,
Saprófaga, alimenta-se de carcaças de animais mortos
quando sua forma peculiar de andar bamboleando chama
e outros materiais orgânicos em decomposição, bem como
a atenção, sendo popularmente chamada de passo do
de animais vivos impedidos de fugir, como filhotes de
urubu malandro.
tartarugas e de outras aves.
Quando está andando próximo a outros urubus, deixa a cauda ereta aparecendo entre as asas. Além de carniça, costuma comer pequenos vertebrados e ovos. Em dias
R E P R O D U ÇÃO
muito quentes, pousa nas margens de rios e lagoas para
Faz ninho em ocos de árvores mortas, entre pedras
beber água e resfriar as pernas. Entra na água rasa e molha
e outros locais abrigados, geralmente com incidência de
as pernas completamente. Ocorre em campos naturais,
árvores. Põe 2 ovos branco-azulados manchados com muitos
borda de matas , áreas rurais e urbanas.
167
MANUAL DA FAUNA URBANA Classificação Científica Reino
Animalia Filo
Chordata Classe
Aves
Ordem
Cathartiformes Família
Cathartidae Espécie
C. atratus
Fotografia: Lucas Longo
168
AVES
Fotografia: portaldocampogrande.com
Urubu-de-cabeça-preta e Carcará
Allopreening: comportamento social onde indivíduos de determinada espécie executam a limpeza em outro indivíduo pertencente ao seu grupo social. Os motivos mais aceitos para este comportamento são: remoção de ectoparasitos, posicionamento hierárquico e reestabelecimento do bom convivio. O Allopreening entre estas duas espécies de famílias diferentes, (cathartidae e falconidae), uma necrófaga e a outra predadora, torna o entendimento deste comportamento, além de difícil, ainda mais belo.
169
MANUAL DA FAUNA URBANA
A ME A ÇA S À VI D A
P
or mais que o estado de São Paulo possua os biomas
Só a cidade de São Paulo, a maior do país, produz 56 mil
com maiores diversidades de seres vivos no mundo,
toneladas de lixo diariamente.
a fauna e a flora não estão livres dos possíveis riscos
Estima-se que o Brasil produza, a cada 24 horas, 240
a sua existência – muito desses riscos causado pela ação
mil toneladas de lixo. O dado mais alarmante é que em
humana. Mas se engane que somente as grandes queimadas,
20 anos, entre 1982 e 2012, dobrou a quantidade de lixo
o desmatamento ilegal e o tráfico de animais são somente
gerado por pessoa.
responsáveis pela vulnerabilidade do ecossistema: Atitudes
E não é apenas isso. O lixo que é descartado incorretamente
cotidianas dentro das cidades e nas estradas podem impactar
no interior paulista pode parar no organismo de algum
negativamente o equilíbrio natural.
ser vivo, seja o animal se prendendo em algum lacre de garrafa PET ou confundindo sacola com alimento, seja o plástico estar em nível de partícula o suficiente para estar
LIXO
na corrente sanguínea. O microplástico que vai parar no
Em geral, todo o lixo produzido por um cidadão comum
oceano tem origem no descarte inadequado de embalagens;
acaba indo parar nos lixões, o que contribui para o aumento
escape de embalagens de aterros por meio do vento e da
da poluição e leva à ocorrência de alagamentos e diversos
chuva; lavagem de roupas de fibras de plástico como o
outros problemas que afetam milhares de vida e espalham
poliester; escape de matéria primária de plástico como
doenças. Além disso, o descarte inadequado é responsável
o nurdles; entre outras. Ao chegar à natureza, produtos
pela morte de milhões de animais, entre peixes e pássaros.
como garrafas, embalagens e brinquedos que não foram
Em 2012, apenas no Brasil foram produzidas 64
descartados corretamente, passam por um processo de
milhões de toneladas de resíduos, dos quais 24 milhões
quebra mecânica realizada pela chuva, pelos ventos e
de toneladas foram descartadas de forma inadequada.
pelas ondas do mar, que fazem com que os produtos se
No mesmo ano, a estimativa era de que cada brasileiro
fragmentem em pequenas partículas plásticas.
gerasse, em média, 383 kg de lixo ao longo dos 365 dias.
Em Sorocaba/SP, foi encontrada uma garça com um lacre de garrafa PET em seu bico. Fotografia: Fábio Rogério
170
ameaças à vida
Pomba atropelada. Fotografia: Uol Notícias
ATROPELAMENTOS Algo que acontece sem a devida intensão, mas que é prejudicial para a fauna local, são os atropelamentos de animais em ruas e estradas. Em uma entrevista para a revista National Geographic Brasil, a vencedora do prêmio “Future for Nature Awards 2019”, um dos mais importantes do mundo para iniciativas voltadas à proteção de animais silvestres, Fernanda Abra, diz que o abatimento dos animais nas estradas é a principal perda crônica de fauna no Brasil, junto com a caça ilegal e o tráfico de animais, já que a supressão de indivíduos é muito maior do que a reprodução lenta das espécies, tendendo ao risco de extinção. Sobre este fato, existe um dado alarmante: 15 animais são atropelados por segundo no Brasil, ou 1,3 milhão por dia. A imensa maioria, cerca de 430 milhões, são pequenos vertebrados, como sapos, cobras e aves. Amassados pelas rodas, acabam confundidos com o asfalto para quem passa em alta velocidade. Urubus e carcarás, quando não são também atingidos por algum carro ou caminhão, fazem o Tamanduá-mirim atropelado Fonte: Internet
171
MANUAL DA FAUNA URBANA serviço de levá-los embora da pista. Outras 43 milhões de vítimas são animais de médio porte, como gambás, lebres e macacos. A menor parte, correspondente a dois milhões de mortes, é composta por animais de grande porte, como capivaras, tamanduás, veados e onças. Muitos deles são ameaçados de extinção. Rodovias e ferrovias permitem o deslocamento de pessoas, o escoamento de produção industrial e agrícola, a comunicação entre as diferentes regiões do país. Contudo, a estrada mal planejada é também um problema ambiental. O som dos carros atrapalha o acasalamento dos sapos, animais que coaxam para encontrar o parceiro. A luminosidade das rodovias que cortam áreas de mata fechada impede a passagem de aves acostumadas ao ambiente mais escuro. “Dependendo da região, um animal pode precisar de 50, 100 km² para viver, se alimentar e se reproduzir”, diz o biólogo Alex Bager, do CBEE. Ao se depararem com uma estrada, muitos animais se assustam e ficam com medo de passar. Segundo Alex Bager (biólogo do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas.), as rodovias causam impacto numa distância de ao menos 500 metros a partir de sua borda. Para algumas
Gato se alimentando de uma lebre. Fotografia: New York Times
espécies mais sensíveis à poluição sonora, hídrica (sujeira da estrada que escorre com a chuva) e do ar (fumaça dos escapamentos), o impacto pode alcançar até 5 km. “Esses animais ficam presos em área que pode não ser suficiente para sobreviverem”, afirma o especialista. ANIMAIS DOMÉSTICOS Nossos cães e gatos, seres que consideramos entes familiares, são, acima de tudo, animais movidos por instinto. E este último apontamento aparentemente é ignorado por muitas pessoas, criando um hábito de dar liberdade além do perímetro residencial. Pois saiba que tal atitude é um erro e é totalmente prejudicial ao meio-ambiente inserido. Estudos ao redor do mundo mostram que populações de aves e repteis estão sendo impactadas pela presença dos gatos domésticos. Por conta disso, o felino está entre as cem espécies invasoras que causam maior estrago no mundo. Suas garras contribuíram, mesmo que indiretamente, para a extinção de 33 mamíferos, aves e répteis em ilhas oceânicas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. Em áreas continentais, porém, seu impacto sempre foi negligenciado. Um estudo, publicado esta semana pela revista “Nature Communications”, dedicou-se a este Gato se alimentando de um pássaro. Fotografia: Internet
172
ameaças à vida
Cães abandonados são um problema de saúde e de meio-ambiente. Fotografia: Sintra Notícias
levantamento. E mostra que os gatos matam anualmente
com o Mauro Galetti, professor do Departamento de Ecologia
entre 1,4 bilhão e 3,7 bilhões de pássaros e entre 6,9
da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro.
bilhões e 20,7 bilhões de mamíferos apenas nos Estados
Segundo cientistas, a maioria dos cães domésticos que
Unidos. Segundo a estimativa, cada gato americano mata
caçam em florestas tem donos. Mas estes os criam soltos.
1.443 bichos por ano — ou 3,95 por dia.
Passam dias a perambular fora de casa e ninguém se importa
Neste caminho, o cão doméstico também oferece risco
se comem, se estão doentes ou por onde andam. Quase
à vida selvagem. Na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro,
nunca são castrados e se reproduzem livremente. Alguns
onde os maiores predadores não existem, as matilhas – nem
são animais abandonados pelos mais variados motivos,
todas formadas por animais abandonados, tomaram o espaço
verdadeiros cães sem dono. Alguns voltam a um estado
vago. Diferente dos felinos que caçam sozinhos e animais
que a ciência chama de feral. Isolados dos humanos, se
menores, os cachorros invadem áreas de preservação e
reproduzem na floresta e adotam um comportamento totalmente
atacam animais grandes, como veados e antas. A bióloga
selvagem. A maioria, porém, é o que os pesquisadores
Isadora Lessa da Universidade de Brasília (UnB) diz que
chamam de semisselvagem. Eles não temem o homem e,
os grupos de cães podem chegar a 20 indivíduos, onde ela
por isso mesmo, são os mais agressivos. Podem ir para a
diz: “As pessoas temem a onça. Deveriam temer os cães”.
casa de um dono buscar abrigo e usar a floresta como área
Aqui no estado paulista, os cães também causaram danos
de caça. Cães são ótimos caçadores. É só lembrar que o
profundos à fauna local. A Mata de Santa Genebra, em
lobo e ele são a mesma espécie: Canis lupus e Canis lupus
Campinas (99 km de São Paulo) tiveram os veados extintos
familiaris , respectivamente. Além disso, como o homem,
por ação das matilhas que se tornaram selvagens, de acordo
se adaptam a qualquer ambiente e são resistentes.
173
REFERÊNCIAS Aves&Árvores: http://www.avesarvores.com.br/2015/12/ diferenca-entre-passaro-e-ave.html Brasil
Escola:
impacto-mortal-repteis-felino-australia-populacao-animais-
https://brasilescola.uol.com.br/biologia/
diferenca-entre-ave-passaro.htm Ecycle:
https://www.ecycle.com.br/component/content/
article/9-no-mundo/1157-estimativa-revela-que-quantidadede-lixo-produzida-no-mundo-sera-quase-70-maior-em-2030.html Escola Kids Uol: https://escolakids.uol.com.br/ciencias/porque-nem-todas-as-aves-sao-passaros.htm
diz-que-homem-cacou-ate-extinguir-a-fauna-da-australia,852504 G1 – Portal de Notícias: http://g1.globo.com/natureza/ noticia/2015/08/cerca-de-90-das-aves-marinhas-tem-plasticohttps://g1.globo.com/
natureza/desafio-natureza/noticia/2019/04/26/proliferacao-deespecie-invasora-de-mexilhao-afeta-hidreletricas.ghtml Ministério do Meio Ambiente: https://www.mma.gov.br/ biomas/mata-atlântica_emdesenvolvimento.html - https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado National
Geographic
Brasil:
passaros
-
https://www.nationalgeographicbrasil.
com/animais/2019/09/atropelamentos-antecipam-extincaode-especies-da-fauna-brasileira?fbclid=IwAR3mG7apizJe8DQft SelEcun2SdkDAroNBPUBEgzqsVinNgLl1bG7GXJn0g O Globo: https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/gatosmatam-ate-37-bilhoes-de-passaros-por-ano-nos-eua-7435210 - https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/ caes-abandonados-viram-predadores-na-floresta-da-tijuca-19583787
Estadão: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,estudo-
no-organismo-diz-estudo.html -
nationalgeographicbrasil.com/animais/2018/08/gatos-
O Jornal Cruzeiro: https://www.jornalcruzeiro.com.br/ sorocaba/grupo-pede-ajuda-para-resgatar-garca-com-o-bicopreso-por-plastico/ Pensamento Verde: https://www.pensamentoverde.com. br/meio-ambiente/descubra-quantidade-de-lixo-produzido-poruma-pessoa-diariamente-no-brasil/ Prefeitura de Bauru: http://www2.bauru.sp.gov.br/arquivos/ arquivos_site/sec_meioambiente/plano_de_manejo_agua_parada/ Encarte%201%20-%20Informações%20Gerais%20e%20Diagnóstico. pdf
https://www.
ESTE LIVRO FOI FEITO GRAÇAS AO
WikiAves é um site brasileiro de observadores de aves e que tem como objetivo apoiar, divulgar e promover a atividade de observação de aves, através de registros fotográficos e sonoros, identificação de espécies e comunicação entre observadores. No site são cadastrados fotos e sons de espécies de aves que ocorrem no Brasil. Em 19 de outubro de 2019, havia um total de 2.743.665 fotos e 169.053 registros sonoros de 1.888 espécies diferentes, cadastradas por 32.517 usuários.
ACESSE O SITE, CONFIRA AS ESPÉCIES DA SUA CIDADE E SEJA UM CONTRIBUIDOR WWW.WIKIAVES.COM.BR
https://www.wikiaves.com.br/wiki/andorinha-domestica-grande https://www.wikiaves.com.br/wiki/andorinha-pequena-de-casa
https://www.wikiaves.com.br/wiki/pardal
https://www.wikiaves.com.br/wiki/anu-branco
https://www.wikiaves.com.br/wiki/periquito-de-encontro-amarelo
https://www.wikiaves.com.br/wiki/anu-preto
https://www.wikiaves.com.br/wiki/pica-pau-de-banda-branca
https://www.wikiaves.com.br/wiki/beija-flor-tesoura
https://www.wikiaves.com.br/wiki/pica-pau-do-campo
https://www.wikiaves.com.br/wiki/bem-te-vi
http://www.wikiaves.com.br/wiki/pomba-asa-branca
https://www.wikiaves.com.br/wiki/bigua
https://www.wikiaves.com.br/wiki/pombo-domestico
https://www.wikiaves.com.br/wiki/canario-da-terra
https://www.wikiaves.com.br/wiki/fogo-apagou
https://www.wikiaves.com.br/wiki/carcara
https://www.wikiaves.com.br/wiki/avoante?redirect=1
https://www.wikiaves.com.br/wiki/choca-barrada
https://www.wikiaves.com.br/wiki/quero-quero
https://www.wikiaves.com.br/wiki/chupim
https://www.wikiaves.com.br/wiki/sabia-do-campo
https://www.wikiaves.com.br/wiki/coleirinho
https://www.wikiaves.com.br/wiki/sabia-laranjeira
https://www.wikiaves.com.br/wiki/coruja-buraqueira
https://www.wikiaves.com.br/wiki/sabia-poca
https://www.wikiaves.com.br/wiki/garca-branca-grande
https://www.wikiaves.com.br/wiki/sanhacu-cinzento
https://www.wikiaves.com.br/wiki/garca-branca-pequena
https://www.wikiaves.com.br/wiki/seriema
https://www.wikiaves.com.br/wiki/gaviao-caboclo
www.wikiaves.com.br/wiki/suiriri
https://www.wikiaves.com.br/wiki/gaviao-carijo
https://www.wikiaves.com.br/wiki/tesourinha
https://www.wikiaves.com.br/wiki/grauna
https://www.wikiaves.com.br/wiki/tico-tico
https://www.wikiaves.com.br/wiki/joao-de-barro
https://www.wikiaves.com.br/wiki/tiziu
https://www.wikiaves.com.br/wiki/periquitao-maracana
https://www.wikiaves.com.br/wiki/trinca-ferro
https://www.wikiaves.com.br/wiki/neinei
https://www.wikiaves.com.br/wiki/tucanucu
https://www.wikiaves.com.br/wiki/noivinha-branca
https://www.wikiaves.com.br/wiki/urubu-de-cabeca-preta