TFG l - Guilherme Boscarrini de Freitas

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Parque Bixiga

Espaço público como lugar


“Quem nunca viu o samba amanhecer Vai no Bexiga pra ver Vai no Bexiga pra ver O samba não levanta mais poeira Asfalto hoje cobriu o nosso chão Lembrança eu tenho da Saracura Saudade tenho do nosso cordão Bexiga hoje é só arranha-céu E não se vê mais a luz da Lua Mas o Vai-Vai está firme no pedaço É tradição e o samba continua.”¹

1. Geraldo Filme. Tradição. São Paulo: Gravadora Eldorado, 1980.

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Parque Bixiga Guilherme Boscarrini de Freitas Orientador: João Ricardo Mori Universidade São Judas Tadeu

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A JoĂŁo Ricardo Mori e pelo seus ensinamentos nĂŁo somente como aluno, mas como pessoa. Meus pais Silmara e JoĂŁo pelo apoio durante todo o periodo de estudos. Minha companheira Luiza Miyahara por toda ajuda e por estar ao meu lado desde o inicio desta estapa da minha vida. E por fim a todos meus companheiros, amigos e colegas dos quais sempre me ajudaram e que sempre aprendi muito.

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Projeto Parque do Bixiga Desenvolvido por Guilherme Boscarrini de Freitas sob a orientação de João Ricardo Mori. 1.

Contexto histórico

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2.

Leitura do local

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3.

Percurso

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4.

Estudos de caso

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5. Desenvolvimento

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6. Considerações

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7. Referencias

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Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de revelar a atmosfera de um determinado espaço e reafirma-lo como lugar através do projeto do espaço público, ressaltando a importância dos espaços livres na cidade de São Paulo e a construção da identidade local.

Abstract: This project aims to reveal the atmosphere of a given space and reaffirm it as a place through the design of public space, emphasizing the importance of free spaces in the city of São Paulo and the construction of local identity.

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A natureza deste trabalho se dá a partir da necessidade do autor enquanto ser, entender o que ele habita, e a partir deste questionamento que se dão os estudos da fenomenologia como metodologia de trabalho, entendendo profundamente o lugar, e revelando ou aflorando o “genius locci” através da cognição de todos elementos físicos e não-físicos do espaço, conformando ao final dessas reflexões e estudos diretrizes e apontamentos para planos volumétricos, diagramas e croquis, que posteriormente serão bases para elaboração do projeto da Parque do Bixiga, tendo como justificativa para a implementação os Artigos 1º e 2º do projeto de lei 805/2017 da câmara municipal de São Paulo: Art. 1º - Fica o Poder Executivo autorizado a criar o Parque Municipal Bixiga. Art. 2º - O parque mencionado no art. 1º desta lei será implementado em área de jurisdição da Prefeitura Regional da Sé, localizada entre as ruas Jaceguai, Abolição, Japurá e Santo Amaro. A necessidade de implementação deste equipamento público se faz presente, para a preservação da memória do bairro do Bixiga e na desconstrução do modelo de cidade ao qual a composição dos espaços é submetida. 13


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Contexto histรณrico

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A ocupação do bairro da-se inicio com os imigrantes italianos e a constituição do bairro se da de forma rapida.

1878

1914 1880

Através do plano de arruamento feito pela Companhia Cantareira da-se inicio a urbanização da chacara do bixiga.

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A partir da queda da bolsa de nova york os usos do bairro começam a mudar de acordo com a mudança da economia.

1950 1929

O bairro se constroi com as carcteristicas culturais dos imigrantes e dos negros, conglomerando-se e construindo assim, os comercios locais, padarias , mercearias e Igreja Nossa Senhora De Acheropita.

Pela formação do bairro de forma autoconstrutiva os preços dos imoveis se tornam mais baixos, fazendo com que, companhias de teatro se instalem nesse local: Teatro Brasileiro de Comedia, Teatro Ruth Cardoso e o Teatro Oficina.


Tombamento pelo CONPRESP de 1.100 edificações de carater historico do bairro do bixiga.

Incendio do edificio do Teatro Oficina.

1988 2002

1966

Projeto de reforma do Teatro oficina de autoria dos arquiteto Lina Bo Bardi e Edon Elito, com a finalização do mesmo em 1989.

2020 No dia 12/02/2020 é aprovado projeto de lei 805/2017 que viabiliza a construção do parque bixiga. Porém no dia 18/03/2020 o veto foi feito pelo Vice prefeito em exercicio Eduardo Tuma.

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O Bairro do Bixiga situado na região central de são Paulo tem suas origens através do plano de arruamento feito pela Companhia Cantareira a ordem do dono da Chácara Bixiga (imagem 1) Thomas Luiz Alvares em 1878. Antes disto toda a conformação urbana era regida através do Centro histórico de são Paulo entre as regiões da Praça da bandeira e a Praça da memória(Imagem 2), é necessário entender que o bairro do Bixiga foi formado a partir da expansão do centro e sendo um local médio entre as paradas SãoPaulo e Santo Amaro, segundo Nadia Marzola: “Devido ao trânsito de tropa s e carros de boi que atravessavam a cidade, em 1791. a governador Lorena teve de estabelece pontes onde e as tropas e carros de boi devenham estacionar. Esses carros de boi e as tropas conduziam mantimentos para a cidade. procedentes de Atibaia, de Parnaíba, de Mogi das Cruzes. Aqueles que vinham dos distritos de Atibaia e de Parnaíba, como entravam na cidade a oeste, deveriam estacionar na chácara do Bixiga. entre o Anhangabaú e rancho saracura.” (MARZOLA, 1979, pg. 40)

Chacaras, sitíos e fazendas á volta de São Paulo, desde o século XVlll. Mapa organizado pelo Eng. Gastão Cesar Bierrembach de Lima, para exposição do IV Centenário de São Paulo. Fonte: Arquivo Aguirra. Museu Paulista/ USP.

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Mapa São Paulo Railways Fonte:mikes.railhistory.railfan.net/r059.html

A partir do loteamento da chácara do bixiga (Figura 3) já se formam as principais ruas do bairro, a rua Santo amaro, a rua mais longa situada a direita e que corta todas as ruas já se torna o principal eixo conector desde o loteamento inicial, traçando dessa forma a principal ligação entre a periferia recentemente formada e o centro da cidade. Com a formação do lote já estabilizada se da inicio a ocupação do local através da imigração italiana. O baixo preço dos lotes por conta deste mesmo local ser uma região afastada da zona central, chama a atenção dos imigrantes recém chegados a são Paulo no momento em que a cidade troca sua economia basicamente sustentada pelo café, pela industrialição,

Formação do bairro do Bexiga em São Paulo, Loteadores, Propietários, Construtores, Edilícias e Usuários (1881-1913). Dissertação (mestrado em arquitetura e urbanismo) Universidade de São Paulo. Sheila Schneck

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Desta forma com a formação da chácara do bixiga em um bairro de periferia, em sua maioria ocupado por imigrantes e negros, com sua construção baseada na autoconstrução dos imigrantes, o bairro ganha características de uma cidade italiana, com transformação de usos necessários para subsistência de seus habitantes, de acordo com Nadia Marzola: “Já em 1902, o aglomerado de casas e barracos, construído por negros libertos e italianos. tinha o essencial para um núcleo de povoamento: uma padaria. uma mercearia (a “Basilicatta”) e uma santa padroeira (Nossa Sra. de Achiropita), trazida pelos calabreses de Rossano que chegaram a São Paulo ainda no século XIX, substituindo os escravos alforriados.” (MARZOLA, 1979, pg. 66)

De acordo também Com Nadia Marzola, a conformação urbana e social do “Bairro Novo” criou uma espécie de gueto, sendo um espaço territorial com características de “gueto”, como podemos ver nos trechos abaixo: “Na boca do bairro. ficava a famoso largo do Piques, onde atualmente se situa a Praça da Bandeira. Amontoado de casario pobre, formando perigoso “gueto”. A Rua Formosa, uma de suas vias de acesso, também não era nada bem afamada. Baixio coberto de pardieiros e sempre inundável. Quando chovia toda a baixada do Piques transformava-se em lagoa e posterior lamaçal. E, quando não, a polícia ali dava algumas batidas. Mas tudo de dia as claras. De noite, nenhum homem da lei ali se atrevia a pôr o nariz. Podia ficar sem ele ou sem a cabeça toda... O bairro dividia-se entre duas forças marginais: os Saracuras, a Grande e a Pequena. Eram terríveis. As brigas entre essas duas facções encheram de sangue os registros policiais da época. (MARZOLA, 1979, pg. 66)

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A partir da década de 1950 a cidade de são paulo, diante da industrialização se torna uma cidade cosmopolita e a verticalização toma conta dos grandes casarios do centro. Enquanto no bixiga a resistência a especulação imobiliária ainda é presente, por ser um local marginalizado e com lotes pequenos. Apesar de não verticalizado por ser um bairro onde a baixa renda é predominante, o surgimento de cortiços, onde moram mais de uma família, torna o bairro não verticalizado mais denso da cidade de são Paulo, junto a mooca e o Canindé, isso se dá a partir do crescimento da indústria na cidade. As vilas que são extremamente presentes no bairro do bixiga são diferentes dos cortiços por se isolarem e possuírem as condições para as famílias que ali estão. A formação cultural do bairro também tem como principal influencia o preço dos lotes ainda serem baixos no século XX, pelos mesmos fatores já citados anteriormente. Com o preço dos lotes baixos as principais companhias teatrais vieram ao bairro para a fixação dos seus locais de teatro. O TBC (teatro brasileiro da comédia), A casa da dona yáyá e o teatro oficina foram os pioneiros na habitação do bixiga como seu palco. A relevância cultural do bairro também não se dá somente pelas companhias teatrais mas também pelas escolas de samba, sendo a pioneira a Vai-Vai.

Figura 4: Vila Joaquim Antunes. Fonte: Historia dos bairros de são paulo, Bela Vista, Vol.15, Nadia Marzola, 1979. Autor: Desconhecido.

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O que ocorre, somente ocorre, por conta do lugar em que se está, e somente há de acontecer por que existe condição. 22


Leitura do local

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Através da formação da região central de São Paulo podemos perceber como o bairro do bixiga formou-se e se estabeleceu na região onde está. A região de estudo, possui por sua formação morfólogica uma area relativamente

Legendas: Traçado curvas de nivel 0 50

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500

1000m

Lote de estudo


acidentada do ponto de vista topografico, uma vez que o bairro bela vista se encontra entre o espigĂŁo da Av. Paulista e as varzeas do Rio tiĂŞte. Com esta leitura podemos identificar a como os corregos e as sub-bacias se comportam.

Legendas: 805 - 800 795 - 790 785 - 780 775 - 770 765 - 760 755 - 750 0 50

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745 - 740

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Com o diagrama abaixo podemos entender como é o território em que o lote de estudo se encontra. Em uma breve analise se observa que o lote se está presente no ponto mediado entre a Av. Paulista e descida em direção a Av. Prestes Maia.

Praça Don orione +795,00

Lote de estudo +755,00

Subida em direção a Av. Paulista

0 50

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1000m


Isso indica a disposição do local como ponto em que se da o sentido do caimento em direção ao Rio tiete, sendo este momento mediano o local de estudo. Isto indica como os cursos d’agua se correlacionam com o local.

Praça da bandeira +735,00 Descida em direção a Av. Prestes Maia

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an ga ba u nh Co rre go A

o rreg

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rac

Sa

Co

rre

go

Itor

รณrรณ

Corrego do Bixiga

Co

Legendas: Traรงado corregos existentes 0 50

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Lote de estudo


Dentre a área do estudo a localidade do objeto de estudo se dá em uma das principais ramificações do córrego do Anhangabaú: o córrego Bixiga. A conformação urbana faz com que este córrego esteja dentre os córregos da vila Itororó e o córrego saracura, estes que a partir do plano de avenidas de 1922 do Prestes Maia com as canalizações dos principais rios de São Paulo para implantação de avenidas, estas sendo, como principais eixos viários para a mobilidade rápida de São Paulo. A partir deste momento todos os córregos da cidade são Paulo sofreram por modificação, alguns foram retificados, outros cobertos, os cursos d’agua em questão (Saracura, Bixiga e Vila Itororó) foram tamponados, e são hoje correntes que fazem todo encaminhamento de captação de aguas fluviais e esgoto para o córrego Anhangabaú, posteriormente para o rio Tamanduateí e pôr fim ao tiete. A relevância que observo em relação ao local de estudo, e de que em um determinado trecho do córrego do Bixiga cruza o terreno de estudo, e isso o torna uma das principais condicionantes para um projeto neste local, uma que vez que esse córrego é responsável pela captação de esgoto e aguas fluviais, mas que a partir de uma requalificação deste local a condição de “esgoto” possa ser estruturada de outro modo para a valorização do espaço público.

Imagem do local de estudo - Sabesp fazendo manuntenção no corrego do bixiga Fonte: Autor.

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Legendas: ZEU - Zona eixo de estruturação e transformação urbana ZEIS 3- Zona especial de interesse social 3 ZEIS 5- Zona especial de interesse social 5 ZOE -Zona de ocupação especial ZC -Zona de centralidade ZM -Zona Mista 0 50

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1000m

Areas verdes


A partir do zoneamento feito pelo plano diretor da zona metropolitana de são Paulo em 2016, podemos ver através do mapa ao lado que o território da área de recorte é delimitado, em sua maioria, como ZC (Zona de centralidade), desta forma a intenção através legislação do uso do solo é promover os usos não residenciais mas sim utilização da área como um subcentro, onde os serviços e comércios possam ser melhores explorados. Há também uma grande parcela do solo voltada para utilização como ZEU (Zona de estruturação urbana), que são os territórios voltados os principais eixos conectores de transporte público da região da região, as Avenidas 9 de Julho e 23 de maio. O lote de estudo se encontra no zoneamento como ZOE (Zona de ocupação especial), o que determina que sua área deve, por ser uma característica única, ser definida através da compressão única do local, com uma legislação única definida através de um PIU (Plano de Intervenção Urbana). E necessário entender que a área de estudo está compreendida na OUC (Operação urbana consorciada) Centro que promove a melhorias e qualificação das zonas centrais, através de uma série de diretrizes e apontamentos para as transformações relativas ao uso e ocupação do solo, patrimônio, mobilidade dentre outras. Para as áreas verdes a operação urbana centro indica a ampliação e articulação dos espaços de uso público, através da abertura de praças e de passagens aos pedestres no interior das quadras, bem como a gestão destes espaços públicos.

Mapa Operação urbana consorciada - centro Fonte: Autor.

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Legendas: Residencial vertical médio/alto padrão Residencial horizontal médio/alto padrão Residencial e comércio/serviços Comércio e serviços Equipamentos públicos Sem predominacia 0 50

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Lotes vagos


A partir também do PDE (Plano diretor estratégico) se determina as principais diferenças do uso e ocupação do solo, onde a partir da leitura do mapa ao lado podemos entender como é constituída a área de estudo, que apesar de ser uma área próxima a região central, o local detém o uso principalmente residencial. O bairro do Bixiga é um bairro movimentado pela sua tradição da cultura italiana através dos bares, cantinas e restaurantes, o que explica dois grandes setores de comércio e serviços em meio a uma ocupação estritamente residencial, a Av. Treze de maio comporta essa demarcação setorizada dos usos de serviços. O entendimento da ocupação deste local nos proporciona, as facetas de como o lote de estudo pode se fazer presente nas relações entre coletivo e espaço, e de como esse espaço tem de se fazer presente, para que este se torne um lugar.

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Legendas: Linhas de onibus exitentes Linhas de onibus exitentes Paradas das linhas de onibus Lote de estudo

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1. Metro Republica 2. Metro Anhangabau 3. Metro SĂŠ 5. Metro Liberdade 5. Metro SĂŁo Joaquim


O local onde se encontra o terreno de estudo é extremamente dotado de transporte público, por estar situado na região central da cidade. Possui em seu entorno as estações de metrô Sé, Liberdade e São Joaquim ambas sendo parte da linha 1-Azul e as estações Republica e Anhangabaú fazendo parte da linha 3- Vermelha. Bem como a linha de ônibus 7550-10 que tem como partida a estação Santa Cecilia e como destino a estação Santo Amaro e vice versa; e também a linha 475m10, partindo do terminal Amaral Gurgel com destino a praça Frei Miguel Lanzani e vice versa, ambas linhas de ônibus oferecem pontos de paradas próximos ao local de intervenção, sendo que a linha 7550-10 oferece a ligação, mesmo que tarifada, do metro Santa Cecilia até o local, incentivando e facilitando desta forma o deslocamento para o pedestre. Além do metro e das rotas de ônibus mais próximas do local a área também possui o corredor 9 de Julho que parte de santo amaro e termina seu percurso na praça da bandeira, o acesso também é efetivo aos veículos, tanto pela ligação Leste-Oeste (radial leste) tanto como pela ligação Norte-Sul (Av. 23 de Maio) essas que são as diametrais da região metropolitana de são Paulo e são responsáveis pelas principais conexões do eixo viário.

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Legendas: Lote tombados resolução 22/2002 - Conpresp 0 50

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Lote de estudo


O desenvolvimento do bairro do Bixiga, sendo ele, um dos primeiros bairros para a formação da cidade, bem como, a consideração de seu traçado urbano e também seu parcelamento do solo de características inalteradas desde a transformação da chácara do Bixiga em bairro do Bixiga, tornou o bairro distrito da bela vista, um bem histórico para cidade de São Paulo. Com isso o CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), tornando as pré-existências históricas em tombamento. Formado pela resolução 22/2002, o tombamento prevê uma série de itens em relação aos elementos constituidores de espaços de uso público, uma serie de edifícios de relevância histórica, as áreas da vila Itororó, e do parque da grota. Também prevê para os edifícios, três categorias de tombamentos, sendo elas, previstas no Artigo 7º da resolução 22/2002: “Nível de Preservação 1 (NP1): Preservação integral do bem tombado. Quando se tratar de imóvel, todas as características arquitetônicas da edificação, externas e internas, deverão ser preservadas. Nível de Preservação 2 (NP2): Preservação parcial do bem tombado. Quando se tratar de imóvel todas as características arquitetônicas externas da edificação deverão ser preservadas, existindo a possibilidade de preservação de algumas partes internas, a serem definidas nesta resolução. Nível de Preservação 3 (NP3): Preservação parcial do bem tombado. Quando se tratar de imóvel deverão ser mantidas as características externas, a ambiência e a coerência com o imóvel vizinho classificado como NP1 e NP2, bem como deverá estar prevista a possibilidade de recuperação das características arquitetônicas originais.”

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Legendas: Edificaçþes existentes 0 50

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A necessidade de um equipamento urbano de uso público também se faz presente, também, pelas altas densidades tanto do distrito da republica (24,74 Hab./Km²) quanto da bela vista (26,71 Hab./Km²) segundo as informações da Prefeitura de São Paulo¹. Podemos observar essa relação dos dados informados com o mapa ao lado, que explica visualmente o quanto esse território e ocupado e o quão as necessidades de espaços urbanos são justificadas. A relação entre densidade e espaço ocupado não necessariamente se faz presente pela verticalização do bairro em si, o que quer dizer que não é preciso que uma determinada área seja verticalizada para ser adensada, mas sim que haja muitas pessoas ocupando um pequeno território. Este é o cenário do Bixiga, em que, segundo o censo demográfico de 2010, realizado pelo IBGE a densidade demográfica do bairro é de 26,71Hab/Km², e isto se dá através de uma conformação urbana horizontal, com habitações, em sua maioria, em lotes extensos com frentes pequenas e com mais de uma família por habitação. Com a transformação de um espaço vazio em equipamento público, o principal enfoque é a cidade.

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Legendas: Equipamentos culturais existentes Lote de estudo 0 50

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CMB / Teatro Oficina


A transformação do bairro, tornou-o um dos principais polos de arte e cultura no centro de São Paulo. Somente no recorte utilizado para o entendimento do local, são 65 espaços destinados a cultura e arte de forma geral, esses lugares se dão teatros, casas de espetáculo, centro culturais, cinemas e etc. Com isso se determina que o espaço urbano é dotado de equipamentos culturais, o que justifica a implementação de outro tipo de equipamento que não seja voltado a arte e cultura, mas sim voltado a memória. Na rua treze de maio o centro da memória do Bixiga é o instituto que reúne o acervo museológico, documental, infográfico e audiovisual da história do bairro do Bixiga, hoje o edifício sede se encontra tombado pelo CONPRESP sob a resolução 22/2002 e sintetiza a característica marcante do bairro. A junção dos equipamentos urbanos e sensíveis ao local transformam o espaço em lugar.

Fotografia sede Centro da mémoria do bixiga. Fonte: Autor.

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Legendas: 1. Praça Don Orione 2. Praça Paulo Kobayashi 3. Parque Augusta 4. Praça Don José Gaspar 0 50

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5. Praça da Sé


O recorte da região a ser estudada possui cinco espaços, de caráter público, situados a distância média de um quilometro, conforme mapa 1, ao lado. Com este mapa podemos perceber visualmente a falta de um respiro urbano em relação a localidade estudada. As principais áreas que cumprem a função de espaço público para o local são as Praças Don Orione, esta que contempla a tradicional a feira do Bixiga aos domingos, mas mais que isso a praça possui um caráter local, onde conta com caminhos dentre a vegetação, um pequeno playground e em certos momentos a unidade móvel da guarda civil metropolitana. A praça Don Orione é o único resquício de espaço público do parque do Bixiga, porém há, mesmo com a praça, uma carência do entendimento do espaço público como uma reflexão da identidade do bairro, segundo Juhanni Pallasma, a fundamentação da arquitetura fenomenológica, onde a mesma supera o objeto e é transcrita através de verbos e não de substantivos, onde a essência do local é transmitida através de um olhar. A abrangência desses locais haverão de ser abordados pelo contexto local, é necessário a compressão das relações das diferentes escalas de importância desses espaços públicos para o local de estudo. A praça da sé por exemplo cumpre a função de praça enquanto um articulador de mobilidade, em relação a área de estudo, desta forma conseguindo abranger uma grande área. Enquanto a praça Don Orione que possui 1/3 da área física da praça da sé, consegue abranger praticamente a mesma área da praça da sé, pela mesma ser ponto de extrema importância para o bairro em si e desta forma possuir elementos nos quais, mesmo que não ideais, suprem de certa forma a demanda de um determinado espaço. A mesmo fato acontece com Praça Paulo Kobayashi, que da mesma forma apresenta um uso do espaço público, como de fato um uso e não somente, a passagem.

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“Arquitetura tem a missão de chamar atenção para a essencia do contexto ambiental por meio da transformação urbana” (Vittorio Greggottii, Nesbitt, Kate. Uma nova agenda para arquitetura. São Paulo, Cosac Naif, 2006) 44


Percuso

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Através leitura do local, podemos compreender os fatores que articulam o espaço e o modo de como ele se relaciona com a cidade. Diante das formas de como a área estabelece suas conexões com o entorno, a partir de uma leitura, mais sensível, pode-se afirmar a importância deste equipamento para o local. O ponto de partida para esta leitura, se dá na reforma em 1964 com o incêndio do teatro oficina, que a partir deste o momento o lote de estudo já se encontrava de maneira intrínseca ligada ao projeto de reforma do teatro. Lina bo bardi e Edson elito pensaram com que a extensão do espaço público se conformasse ao palco do teatro e segue adiante ao parque, paralelo ao lote do teatro, bem como seu “janelão” fosse a abertura para a vista da cidade. Como sabemos a ideia não foi completada. Com essa “micro relação” estabelecida, a “macro relação” pode ser idealizada. A etimologia da palavra Percurso, vem do latim como Percursus, sendo esta significada, pelo “ato de percorrer” da junção de Per “por completo, totalmente” e Cursus “caminhos, trajeto”. Desta forma podemos observar no diagrama 2 ao lado, a região de estudo não se faz o Percurso, pois a falta do parque não condiciona a existência do mesmo. Com mapa ao lado podemos perceber a influência do projeto na cidade, e se consegue estabelecer a conexão dentre os principais espaços públicos da região. Formando desta forma o Percurso, de fato “por completo” e com intuito de organizar os caminhos e de forma com que o trajeto possa ser um elemento conector da cidade. Diagrama de comparação - Percurso Sem escala

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Através da implantação do parque se determina um percurso, solidificando caminhos para as conexões dos principais espaços públicos da região central, percorrendo também diversos equipamentos culturais. O início do trajeto se dá, diante da principal praça do bairro do Bixiga, a praça Don orione, seguindo pela Rua treze de maio, tendo como parada a sede do Centro da memória do Bixiga, este que é uma das premissas deste trabalho. Seguindo pela Av. Conselheiro Carrão passando pelo Teatro opera, até a Rua Humaitá passando pelo baixio do Viaduto Jaceguai, onde há uma série de comércios locais e tradicionais do bairro, chegando ao Parque Bixiga ao lado do teatro Oficina, este percurso leva em torno de 12 minutos a pé. Seguindo pela Av. Santo Amaro, rua de extrema importância para o local, tendo como sua constituição uma serie de comércios e serviços, chegando até a Praça Paulo Kobayashi o percurso leva 8 minutos para o pedestre. Percorrendo por 10 minutos o viaduto dona paulina, chegamos à praça da sé. Posteriormente o traçado induz o pedestre a percorrer a rua Direita em direção a praça do Patriarca e cruzando o viaduto do chá, passando pelo teatro municipal de são Paulo, se chega até a Biblioteca Mario de Andrade, o trajeto leva 17 minutos. Em direção à rua Martins Fontes que em sua sequência se torna a Rua augusta temos como destino o Parque Augusta e fechando o percurso com o trajeto de 11 minutos. O percurso corre alguns dos principais equipamentos culturais juntamente com os equipamentos públicos do centro da cidade de são Paulo. Há um ponto ao longo deste percurso que transborda a sua relação com entorno imediato do local e cumpre com a conexão urbana destes pontos já citados acima. Como proposta para o trabalho final de graduação me baseio na requalificação deste ponto através do projeto de lei 805/2017, que assume que este espaço é um local para implantação do parque do Bixiga, sendo este, uma condição de percurso enquanto respiro urbano.

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“Arquitetura tem a missão de chamar atenção para a essencia do contexto ambiental por meio da transformação urbana” (Vittorio Greggottii, Nesbitt, Kate. Uma nova agenda para arquitetura. São Paulo, Cosac Naif, 2006) 50


Respiros urbanos do verde saiu a cidade, ao cinza ela se conformou. As transformações urbanas pelo qual o bairro do Bixiga passou ao longo do tempo, foram de condicional importância para o entendimento do processo de urbanização e formação do centro da cidade de São Paulo, bem como para o entendimento do momento atual em que o bairro se encontra. As consequências da conformação da cidade criaram o espaço². Este que se faz presente como ligação e não como sujeito, e que pelas leituras do local, pode agir como um equipamento público conector de lugares³, isto é, que o objeto de estudo se faça presente, sendo ele um elemento criado a partir de uma atmosfera local ou genius loci, mas também que o lugar seja uma ponte que segundo Heiddegger: “A ponte é um lugar. Como essa coisa, a ponte estancias um espaço em que admitem terra e céu, os divinos e os mortais. O espaço estanciado pela ponte contém varios lugares, alguns mais próximas e outros mais distantes da ponte.” O lugar que conecta lugares, só é lugar a partir do momento em que este vazio urbano é consolidado diante do entendimento em que seu interesse público seja garantido. E que sua identidade seja preservada, e cabe ao projeto de arquitetura estabelecer estas relações.

2. Defininação de espaço segundo Martin Heiddeger: “[...] Espaço é, essencialemnte, o fruto de uma arrumação, de um espaçamento, oque foi deixando em seu limite. [...]” 3. “[...] Definição de lugar segundo C.N Schulz: “[...]Enquanto espaço indica a organização tridimensional dos elementos que formam um lugar, o “carater” denota a “atmosfera” geral que é a propriedade mais abrangente de um lugar. [...]”

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“Tenho procurado compreender, por exemplo, oque se pode concluir da reflexão sobre a paisagem e a natureza, como soma total de todas as coisas e de suas configurações passadas, nesse sentendo, a natureza não é vista como uma força indiferente ou inescrutavel, ou como um ciclo divino de criação, mas como a reunião de coisas materias, cujas razões e relações cabe a arquitetura revelar” (Vittorio Gregotti,Nesbitt, Kate. Uma nova agenda para arquitetura. São Paulo, Cosac Naif, 2006, pg. 373).

Vittorio Gregottii define o papel da arquitetura enquanto resultante de um processo formado pelos meios do qual, como leitura de um determinado território, leitura esta, que é a principal condicionante para o entendimento pautado nas questões pré-existentes, em que não se baseiam somente em dados físicos sobre o local. Com base nas reflexões de Vittorio Gregotti, é necessário entender o sentido de “genius loci” que segundo C.N Schulz: “[...] o genius loci, isto é, o “espirito do lugar” que os antigos reconheciam como aquele “outro” que os homens precisam aceitar para ser capazes de habitar. O conceito de genius loci refere-se á essencia do lugar.” Sendo assim, a condição de projetar se da, a partir do entedimento do espaço como lugar. O conceitro de “genius loci” se revelará diante do processo de transformação de acordo com o projeto proposto.

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A condição atual do espaço, o caracteriza com grande relevância para a área de estudo, pois uma vez que o mesmo se encontra na envoltória de outros lugares, este atualmente não é entendido conceitualmente enquanto lugar. A partir da leitura do lugar, compreende-se uma série de fatores que condicionam o lugar da maneira na qual ele se encontra, compreendido através das leituras, será ele um lugar pelas diversas atividades enquanto parque, com a retirada dos muros que criam barreiras com a via pública, com as conexões perceptivas e físicas do teatro oficina, diante reabertura do córrego do Bixiga, da existência de um espaço para manifestações públicas e sendo um lugar que promova as relações e encontros humanos. Esse conjunto de ações e atividades promovidos pela arquitetura será entendido enquanto um respiro urbano. O fato da individualidade do lugar urbano somente há, pois existe o fenômeno e na forma de como o fenômeno se fixou ao lugar (Rossi, 1966, pg.151) é desta maneira e com base na fenomenologia enquanto metodologia no que corresponde a compreensão do lugar que temos a ideia no qual o parque Bixiga é a confluência dos elementos do espaço público. De acordo com Vittorio Gregotti (Nesbitt, Kate. Uma nova agenda para arquitetura. São Paulo, Cosac Naif, 2006, pg. 375) somente a partir da modificação se faz arquitetura, e a modificação se faz necessária quando o espaço é um limite, em decorrência da conformação atual do lote, é necessária a mudança de limite em fronteira. As transformações dadas pela arquitetura revelarão o “genius loci”, e partir desta percepção o ser humano tem as reações sensíveis e emocionais com o lugar. Peter Zumthor (2006) utiliza a música para exemplificar a percepção sensorial, quando se compara a mesma com a atmosfera do lugar.

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Sob esta conceituação, em que o lugar nos leva a sentir algo, que não sabemos certamente o que é, trago minha leitura do espirito do lugar. Era sábado, ao sol, em torno do meio dia, parei meu carro em frente ao viaduto, os portões abertos de um espaço me chamavam, parado diante ao portão, as mesas coletivas cheias, cerveja e feijoada eram o centro das conversas e risadas, ouve-se ao fundo a passagem dos poucos ônibus e carros que de passagem cruzavam a Rua Jaceguai. Enquanto começava a observar aquele lugar, pensava a forma em que essas pessoas, que ali num sábado a tarde estavam, no baixio, talvez um dos poucos espaços de reunião, razoavelmente públicos que no bairro se resta. Atravessando a Rua Jaceguai, sinto o sol nas costas, a procura de um abrigo que somente encontro diante da guarita do estacionamento da imensidão ao lado do teatro oficina, em que sol reflete ao chão de terra daquele espaço que hoje é somente um vazio, em que se ergue as belas e majestosas janelas do teatro, mirando a uma única grande árvore no meio deste deserto. Tudo que ali me rodeia, o baixio, os canteiros restantes da conformação das vias públicas, os prédios antigos, a pouca movimentação pública da rua e principalmente a tristeza de ver o teatro fechado, diante da eminente crise que estava por chegar, a segurança ao espaço público ali não se faz presente. Em direção a Av. Nove de Julho pela rua da Abolição sinto a mesma sensação a da rua Jaceguai, me parece que a desertificação do terreno se transcende a rua, enquanto os muros que cercam estão a ali, a rua não está. Somente após adentrar as Ruas Japurá e Bixiga, entendo de fato o que está guardado neste bairro. Os carros na rua sendo lavados pelos seu donos, os sambas que surgem ainda que ecoados de dentro daquelas casas, a mulher que está ali, na janela olhando para a rua que quando por ela passo, a comprimento somente ao balançar da cabeça, os dois senhores embriagados abrindo o portão do vizinho para chama-lo para o bar, o bairro está ali sem que ninguém o veja.

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É aí que sigo em direção a Av. Santo Amaro, umas das mais antigas avenidas de São Paulo, e ali vejo o movimento de uma cidade metropolitana bem ao lado de um bairro que se assemelha aos bairros de pequenas cidades do interior do estado. Comércios abertos, bares com mesas na calçada, a mulher que passeia com seu cachorro, a SABESP com a interrupção do passeio público para a manutenção das galerias, a senhora que se senta sob um fino papelão no beiral de acesso ao seu prédio, farmácias, mercados, bicicletas, aqui estava toda a dinâmica da região central, e ao fim da avenida me deparo com um lugar, ao atravessar o Viaduto Jacareí estou num resto de lote, uma praça bem ao lado do Palácio Anchieta e ali me sento e vejo, a família com o cachorro, o pai com a filha num balanço, os dois senhores sentados ao banco da praça conversando. Com a simplicidade de uma praça, já há o indicativo em que um espaço se torna lugar a partir de uma série de elementos que são aflorados pela praça. Assim o estacionamento de hoje tem a vocação para algo mais, algo que não seja somente espaço.

Croqui “Janelão” Teatro Ofcina

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Estudos de caso

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9/11 Memorial

Fonte: http://www.pwpla.com/projects/reflecting-absence-national-september-11th-memorial - Acessado em 26/04/2020

Arquiteto: Peter Walker & Partners Local: Lower Manhattan, Nova Iorque, Estados Unidos Inauguração: 11 de setembro de 2011 Area Construida: 6 Hectares

O projeto do memorial 9/11, tem seu início a partir do atentando de 11 de setembro de 2001, em que as duas torres, Norte e sul foram destruídas diante do ataque dos aviões as torres. Os edifícios eram marcos na cidade de Nova Iorque, tanto como arquitetura por serem os dois edifícios mais altos da cidade e também como símbolos do caráter do país. Após a destruição das torres foi criado um vazio urbano, onde a memória do que ali estava deveria ser mantida em homenagem as pessoas que se foram em decorrência do atentado. O projeto é fruto de um concurso onde o arquiteto Israelo-estadounidense, Michael Arad foi o ganhador para o projeto do Memorial. Este que são os grandes vazios/fontes, situados nas mesmas posições dos antigos edifícios, e que levam os nomes dos mortos no painel metálico nas bordas do vazio/ fonte. A intenção deste memorial é justamente apresentar o vazio deixado por estas torres em meio a cidade, a transformação do local se dá através do parque que é um equipamento público dedicado a memória de um local. 60


Fonte: http://www.pwpla.com/national-911-memorial/landscape-design#!/the-flat-plane - Acessado em 26/04/2020

O programa do parque é composto pelo parque, pela área dos memoriais e pelo museu, este que é projeto do arquiteto Davis Brody Bond. A citação destes arquitetos é importante para entender que um parque não se faz somente com a implantação de área verde, mas é necessário que equipamentos públicos façam parte do programa, para a composição do espaço público ativo. Assim o parque tanto como o museu são complementos importantes para a configuração deste conjunto. O parque cumpre a ligação destes elementos como conjunto, onde o paisagismo e o projeto da praça estimulam a ação dos equipamentos com o espaço público e com a cidade, a forma com que o paisagismo foi implantado denota os eixos de circulação, sempre com a intenção de se chegar ao vazio, que se tornou um lugar a partir das características do local enquanto memorial. O espaço se torna lugar diante das percepções da memória. Fonte: http://www.pwpla.com/national-911-memorial/landscape-design - Editado pelo autor - Acessado em 26/04/2020

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Fonte: http://www.pwpla.com/national-911-memorial/landscape-design - Editado pelo autor - Acessado em 26/04/2020

Os eixos são definidos para o posicionamento dos carvalhos negros do projeto de paisagismo e conformam pelas palavras do arquiteto a “floresta” em meio ao espaço urbano, promovendo desta forma os caminhos que determinam as direções a serem seguidas pelo usuário do lugar. Esta composição de arvores de médio/grande porte integrado ao eixo faz com que nas diversas estações do ano o lugar mude de atmosfera em decorrência da mudança natural da vegetação. 62


Fonte: http://www.pwpla.com/national-911-memorial/landscape-design - Acessado em 26/04/2020

O parque tem a função de ser o memorial, aliado aos outros equipamentos, sendo este o elemento conector dos espaços, sem este parque função dos equipamentos é condicionalmente comprometida, além de ser o conector ele é o lugar que promove uma serie atividades públicas no centro de uma das cidades mais verticalizadas dos Estados Unidos e faz com que a cidade seja parte do parque. A necessidade de sentir, faz com que a memória das centenas de vidas perdidas não seja apagada ao longo dos anos, segundo Milton Santos: “Por isso o momento passado está morto como tempo, não porém como espaço; o momento passado ja não é, e nem voltara a ser, mas sua objetificação não equivale totalmente ao passado, uma vez que esta sempre aqui[...]” (SANTOS, 1979, pg. 14) 63


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Fonte: http://www.pwpla.com/projects/reflecting-absence-national-september-11th-memorial# - Acessado em 26/04/2020


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Parque da juventude

Fonte:https://aflalogasperini.com.br/blog/project/parque-da-juventude/ - Acessado em 28/04/2020

Arquiteto: Aflalo Gasperini & Rosa Kliass Local: Santana - São Paulo - Brasil Inauguração: 2003 Area Construida: 240.000m²

O projeto do parque da juventude é fruto de um concurso público para a concepção arquitetônica, paisagística e de planejamento do local, realizado em 1999, a proposta vencedora foi pela junção dos escritórios Aflalo Gasperini e Rosa Klias, essa que é responsável pela concepção paisagística do lugar. A concepção desde o parque tanto como dos edifícios, é indissociável do fato que ali ocorreu, o atual parque da juventude foi um dos maiores complexos penitenciários urbanos da américa latina e foi palco de uma das piores tragédias do Brasil, o massacre do Carandiru em 1992. A conformação da cidade tanto quanto o evento que ali ocorreu foram os principais motivos para a desativação do presidio. Desta forma conformando um espaço em meio a cidade, deste momento parte a condição de transformação de espaço em lugar.

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O projeto é composto por três diferentes setores, interligados pelo principal eixo de circulação que cruza todo o conjunto e chega da Av. Cruzeiro do sul a Av. Zachi Nachi, ao meio do parque também se cruza o Córrego Carandiru o que se dá com uma barreira física para o local. O primeiro setor abriga os antigos pavilhões 4 e 7 do Carandiru, estes que são utilizados como ETEC, ainda neste setor o parque abriga a biblioteca de São Paulo. Atravessando o córrego do Carandiru na região central do parque surge o parque contemplativo, este que é o projeto com desenho da arquiteta Rosa Klias e que na determinação deste projeto as memórias são ressaltadas a partir da inclusão das ruinas do antigo complexo na concepção do projeto. O terceiro momento se dá enquanto área esportiva, tendo uma serie de quadras poliesportivas de diferentes tamanhos e modalidades, assim como um espaço reservado para a pista de skate. O parque se tornou um lugar a partir das atividades propostas e executadas pelo projeto.

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A importância da memória no projeto é significante para a formação da identidade do lugar, o projeto paisagístico se torna uma confluência de elementos naturais e artificiais para a criação de um lugar único, que reúna diversas percepções em um mesma lugar, nas fotos ao lado e abaixo vemos os elementos existentes que a partir do processo do projeto evocam a https://www.galeriadaarquitetura.com.br/slideshow/newslideshow.aspx?idprojec- condição de memória e fazem t=353&index=10 - Acessado em: 02/05/2020 com que tudo que, neste local, foi vivido não seja esquecido, pois este esquecimento nos leva, enquanto sociedade, a renegar o passado trágico que ali está marcado. A transformação destes espaços em passeios faz com que a percepção não seja tão abrupta e nos faça entender, mesmo que subconscientemente a importância da pré-existência como um catalisador de reflexões sobre o espaço. A primeira imagem se da antiga estrutura das celas dos antigos corredores prisionais e a estruturação de um caminhar dentro desta ruina, nos condiciona a sentir o que ali foi passado, mesmo sem saber o que se passou. A segunda imagem é a antiga muralha de vigia, onde dali os carcereiros vigiavam e era vigiado. As correlações entre parque e memória se dão ao mesmo tempo que outras atividades acontecem depois das massas verdes, nas gigantes clareiras do parque. e condicionam uma https://www.galeriadaarquitetura.com.br/slideshow/newslideshow.aspx?idprojecserie de perspectivas. t=353&index=10 - Acessado em: 02/05/2020 68


https://www.galeriadaarquitetura.com.br/slideshow/newslideshow.aspx?idproject=353&index=10 Acessado em: 02/05/2020

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Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/880975/parque-da-juventude-paisagismo-como-ressignificador-espacial/59d4e610b22e38e53e0006da-parque-da-juventude-paisagismo-como-ressignificador-espacial-foto - Acessado em 28/04/2020


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Flying carpet O projeto do flying carpet surge em decorrência de um concurso, para a requalificação de uma praça existente na Noruega, diante das 31 propostas enviadas a que teve o maior destaque foi, a proposta dos dois escritórios espanhóis MX_ SI e MestresWâge. O partido do projeto tem como objetivo a reciclagem de um sistema urbano através da requalificação de seu espaço público, assim melhor relacionando os espaArquiteto: MX_SI architectural studio e MestresWåge arquitectes Local: Oslo - Noruega ços de forma a integrar uma séAno de projeto: 2016 Area de projeto: 5.200m² rie de atividades humanas com a praça, e a praça com o metro existente, no nível inferior. Existem uma serie de objetivos a serem desenvolvidos neste programa, e um dos objetivos é ressaltar através do projeto arquitetônico as interações que este lugar pode ter através das diferentes condições climáticas em que o espaço se encontra, isto é, a diversidade de momentos em que a arquitetura se faz presente apesar e independentemente do “como”. A simplicidade do projeto reflete o nome do mesmo, o conceito de flying carpet se dá, em como os arquitetos pensaram na relação entre o desenho e a topografia, desta forma suavizando o desnível de 8 metros através da inclusão de patamares inclinados, assim criando uma grande rampa que não só se relaciona entre si, mas com os edifícios a sua volta, gerando além da sua própria setorização, as fachadas ativas dos lotes adjacentes.

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Fonte: http://mendozapartida.com/wp-content/uploads/2017/03/Mendoza-Partida_Architectural-studio_014-Trygve-Lies-Plass-Furuset-Oslo_drawings_001.jpg - Acessodo em 05/05/2020

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A partir do entendimento do espaço os arquitetos promoveram a setorização dando uma nova dinâmica ao local, promovendo assim novos usos para os espaços público. As novas relações ampliaram como o espaço se organizou diante das demandas locais, há então nesta organização, de acordo com os arquitetos novas paisagens de espaço público que delimitam novos usos ao local como se pode ver na imagem abaixo: Paisagem das artes, espaço para o mercado local, áreas de mobiliário, paisagens livres, áreas de eventos, paisagens do parque, área onde se localiza o lago, e o principal programa que norteia o projeto, a saída para o metro, este que faz com que a topografia criada pelo projeto determine uma paisagem.

Fonte: http://mendozapartida.com/project/plaza-furuset-trygve-lies-plass/ - Acessado em 05/05/2020

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Fonte: http://mendozapartida.com/project/plaza-furuset-trygve-lies-plass/ - Acessado em 05/05/2020

A transformação gerada pela modificação da paisagem se torna evidente quando se olha a seção longitudinal do local. A suave interferência dos arquitetos na topografia local faz com que a relação entre o subterrâneo e a praça se faça de maneira simples e tênue, onde a estrutura criada se faça o complemento do piso e da vegetação pensada. A continuidade dos elementos da praça se dá pelos alinhamentos das curvas criadas para alocar as paisagens. A locação e a forma de como a paginação dos pisos são implementados ao chão, faz com que esta continuidade praça se tornem únicas, uma vez que a praça no local onde se encontra com o leito carroçável possui o mesmo tipo de revestimento de todo o lugar, porém com o assentamento retificado, todas peças próximas umas das outras, enquanto aos fundos da praça o assentamento se intercala com grama, tornando desta forma um degrade do concreto para o verde.

75 Fonte: http://mendozapartida.com/project/plaza-furuset-trygve-lies-plass/ - Acessado em 05/05/2020


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Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/790165/mx-si-e-mestreswage-remodelam-uma-praca-publica-em-oslo/5761ba73e58ecead46000012-mx-si-e-mestreswage-remodelam-uma-praca-publica-em-oslo-imagem - Acessado em 04/05/2020


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Desenvolvimento

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O desenvolvimento do projeto parte dos entendimentos vistos ao longo dos estudos, as diretrizes que aqui serão vistas, serão resultadas estabelecidos entre os estudos de caso e as leituras locais. Estas conformações irão basear o desenvolvimento do programa de necessidades que se torna indissociável do pensamento projetual. A forma na qual o programa é pensado, visa atender o público local, mas também a demanda regional central, estabelecendo assim uma conexão com os diversos equipamentos públicos do centro de São Paulo através de um passeio que possa ser feito a pé pelos usuários. Para isso foi divido o programa em 3 setores: Cultural:

Paisagistico: para

Playgrounds e espaços de convivencia

Espaços para ensaios ao ar livre

Inserção de mobiliario urbano especifico para as atividades locais

Espaços eventos

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Serviços: Edificios para uso como cafés

Edificios para uso restaurantes

Pavilhão centro da memoria do bairro do bixiga

Uso da vegetação nativa

Instalação de bicicletarios

Anfiteatro ligado ao Teatro Oficina

Reabertura do corrego do bixiga

Posto para atendimento emergencial

Espaços reservados a feiras e comerciantes locais

Uso da agua como atividade publica

Banheiros para uso publico


Quadro 1 - Programa de necessidades setor cultural.

Quadro 2 - Programa de necessidades setor paisagistico.

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Quadro 3 - Programa de necessidades setor serviços.

O terreno em estudo possui a área utilizável de aproximadamente 11.000 m² e como o mesmo se encontra em uma ZOE, possui aspectos próprios para ocupação local, com a elaboraQuadro 4 - Somatória das areas do setores. ção deste programa se visa a instalação dos elementos de maneira interligada e homogenia sob a intervenção no lote estudado. O coeficiente de aproveitamento é definido a partir de um PIU, em que se é obedecido o parcelamento do solo mediante ao mesmo e é com base nessas predeterminações que já se estabelecem as condições projetuais em que o espaço se revele como parque, sendo assim, as representações de setorizações e pensamentos projetuais serão discutidos em breve.

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Diagrama alturas

Sem escala

84 Viaduto Jaceguai

Imoveis com gabarito alto

Imoveis com gabarito baixo

Diagrama intervenção

Sem escala Area de estudo Area: 11.000m²


Relação teatro oficina com o parque.

Continuação do palco teatro oficina

Preservação das fachadas dos esidificios tombados

Diagrama topografia + visuais

Sem escala

Diagrama preservação

Sem escala

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Diagrama sombras - 8:30am Sem escala

Diagrama sombras - 16:30pm Sem escala

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Especies nativas

Relações visuais teatro oficina

Abertura do corrego do Bixiga

Promover areas verdes qualificadas

Diagrama fluxos

Sem escala

Diagrama verde

Sem escala

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Fluxo primario

Fluxo secundário


Sem escala

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Anfiteatro

Playground

Reabertura do corrego do Bixiga

Areas verdes qualificadas

Feiras locais

Diagrama setorização


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Areas verdes qualificadas

PavilhĂŁo da memoria do bairro

Ensaios


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Considerações

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A qualificação do espaço em questão será possível através do entendimento em que esta localidade representa para a cidade, seus entornos e suas relações. O terreno hoje subutilizado usado para estacionamento de veículos, é um espaço vazio para a cidade e através deste trabalho e de todas as leituras inclusas nele, se abre uma possibilidade de transformação urbana através do projeto arquitetônico e paisagístico, levando em conta as pré-disposições, as relações com os equipamentos existentes e principalmente as características locais. A forma de como o projeto irá se desenvolver está relacionada diretamente com o espaço em que o mesmo é proposto, pois somente através das leituras do lugar entendemos as condicionantes para o projeto, e se há de fato necessidade do projeto. Assim o lugar Parque do Bixiga é uma confluência de fatores que condicionam o espaço de forma a necessidade do parque. A partir da necessidade da mudança local é proposto uma setorização para as áreas em que o projeto se debruça, áreas estas que se apropriam das leituras já feitas sendo, condicionadas para as disposições apresentadas e tentando propor para o lugar a conformação em que as características sejam respeitadas e afloradas nos momentos corretos. Por fim essas indicações serão reajustadas de forma a compor posteriormente o processo projetual.

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Referencias

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