Pacaembu de Portões Abertos - Guilherme Pucci

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- é quando o time joga sem cobrar, te convidando gentilmente a visitá-lo enquanto, usufruindo da sua força, puxa o fôlego de sua existência -


UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE GUILHERME MARTINEZ SERRANO PUCCI

PACAEMBU DE PORTÕES ABERTOS

SÃO PAULO 2014



Trabalho Final de Graduação apresentado por Guilherme Martinez Serrano Pucci como exigência do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie sob a orientação do professor Prof. Ms. Daniel Corsi da Silva.

SÃO PAULO 2014



PACAEMBU DE PORTÕES ABERTOS GUILHERME MARTINEZ SERRANO PUCCI Aprovada em ____/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Ms. Daniel Corsi da Silva (orientador)

__________________________________________________ Prof.ª. Dr.ª Lizete Maria Rubano

__________________________________________________ Arq. Marta Moreira

CONCEITO FINAL: _________________


índice de imagens

introdução P18. e P20

Guilherme Pucci

apito inicial P.24

Acima: www.prefeitura.sp.gov.br

Abaixo: Gabriela Batista

P26.

Acima: Mauro Munhoz, Museu do futebol

Abaixo: Acervo Cia City

P28.29

Sara Brasil 1930

P30.

Acima: Mauro Munhoz, Museu do futebol

Abaixo:almanack.paulistano.nom.br P32.

Acervo Cia City

P34.35

Acervo Cia City

P36. Geoportal.com P38.

Mauro Munhoz, Museu do futebol

P41.

Thomaz Farkas


P42.

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P44.

Thomaz Farkas

P46.47

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P.48

Thomaz Farkas

P50.

Thomaz Farkas

P52. http://noticias.band.uol.com.br/cidades/galeria P54.

Mauro Munhoz, Museu do futebol

P55.

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P56.

Mauro Munhoz, Museu do futebol

P58.

Acima: http://static.panoramio.com/photos/large/3403057.jpg

Abaixo:http://www.exposuregallery.info/wp-content/gallery/ berlin/leslie-hossack_east-gate-1936-berlin-olympic-stadium.jpg P60.

Mauro Munhoz, Museu do futebol


P62.

Acima: Mauro Munhoz, Museu do futebol

Abaixo: C. Schneider, Estádio do Pacaembu e suas instalações

P65.

Thomaz Farkas

P66.

Esqueda: C. Schneider, Estádio do Pacaembu e suas instalações

Direita: Mauro Munhoz, Museu do futebol

P68. ebanataw.com.br P70.

Guilherme Pucci

P72.

Guilherme Pucci

cartão a marelo P78.

Guilherme Pucci

P80. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/07/A_ full_Kop_End_in_1983_-_geograph.org.uk_-_2999368.jpg/1024px-A_full_ Kop_End_in_1983_-_geograph.org.uk_-_2999368.jpg P82. Acima:http://beauty-places.com/wp-content/uploads/2013/03/Anfield_Stadium_wallpaper.jpg


P82. Centro:http://manchester-manandvan.co.uk/wp-content/uploads/2013/02/old-trafford-3d-wallpaper.jpg

Abaixo: http://www.info-stades.fr/forum/ressources/image

P84.

https://fbcdn-sphotos-b-a.akamaihd.net/hphotos-ak-snc6

P86.

Guilherme Pucci

P88.

Esquerda: http://houston.astros.mlb.com/hou/images/astros50/

timeline/1965_tl.jpg

Direita:

http://revueprojections.files.wordpress.com/2011/12/ar-

chitecture-1.jpg

P90. http://2.bp.blogspot.com/_m0VMopGnxUw/TIGOqiXIfuI/ AAAAAAAADb8/5TcLf7Zlt4Y/s1600/reebok.jpg P92. http://www.birdair.com/sites/default/files/styles/header_ home/public/home-slider/durban-photo.JPG P94. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Beijing_national_stadium.jpg


P96. Acima: http://esportes.estadao.com.br/blogs/bate-pronto/ wp-content/uploads/sites/127/2014/05/Cerimonia-inauguracao-arena-Corinthians-10052014-Nelson-antoine-fotoarena.jpg Abaixo: http://www.lancenet.com.br/fotos/Palmeiras-Sport-Allianz-Parque-FerreiraLANCEPress_LANIMA20141120_0010_1.jpg P98. Acima:http://i.ytimg.com/vi/MpDeAbb3gv8/maxresdefault. jpg Abaixo:http://2.bp.blogspot.com/-NSWqa2sEvLk/T2kdUFOzZmI/AAAAAAAAAZ8/UMsbmCaDvFA/s1600/juve_milan_CI_09.jpg P100. http://blog.heritagesportsart.com/2010/08/new-england-patriots-home-stadiums.html P102. Acima:http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/ noticia/2014/05/em-ruinas-estadio-que-recebeu-o-brasil-na-copa-de-94-sera-leiloado.html Abaixo:http://architizer.com/blog/repurpose-abadoned-stadiums P104.

Acima: flicker.com

Abaixo:http://static3.businessinsider.com/image/53e3b795eab8ea6572dd5fcc-1200/2004-athens-olympics-venues-35.jpg


P . 106. http://architizer.com/blog/repurpose-abadoned-stadiums P108.

Acima: http://architizer.com/blog/repurpose-abadoned-stadiums

Abaixo: http://www.dezeen.com/2011/05/27/las-arenas-by-rogers-

-stirk-harbour-partners/ P109. http://architizer.com/blog/repurpose-abadoned-stadiums P110. Acima:http://memorialdafiel.blogspot.com.br/2009/04/o-pacaembu-de-rosenberg.html Abaixo:http://www.portal2014.org.br/galeria-de-fotos/188/PROJETO+DE+REFORMA+DO+PACAEMBU+PARA+A+ABERTURA+DA+COPA. html P112. http://www.portal2014.org.br/galeria-de-fotos/188/PROJETO+DE+REFORMA+DO+PACAEMBU+PARA+A+ABERTURA+DA+COPA.html na marca da cal P148.149

Guilherme Pucci

P154.155

Guilherme Pucci


P160.161

Guilherme Pucci

P164.165

Guilherme Pucci

P168.169

Guilherme Pucci

P172.173

Guilherme Pucci

P174.175

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P176.177

Guilherme Pucci

P178.179

Guilherme Pucci

P180.181

Guilherme Pucci

P182.183

Guilherme Pucci

prorrogação P.184 CONDEPHAAT P.185 CONDEPHAAT P.185

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís


P186.

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P187.

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P188.

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P189.

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P190.

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P191.

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

P192.193

Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

final de partida P198.199

Guilherme Pucci





Lua e torre de iluminação se preparando para o jogo.

A história de uma população é contada através de seus monumentos. Essa foi a forma usada pra compreender as civilizações antigas e é também a forma usada para entendermos melhor nos mesmos. A preservação de bens que tenham valor dentro de uma cultura deve ser prioridade de todos e, por isso, surge o interesse e a importância de se definir o futuro do Pacaembu.

introdução

O trabalho a seguir procura analisar e compreender qual o papel desse

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pedaço de história na nossa cidade e na nossa formação, mergulhando em como se deu sua criação e desenvolvimento perante a cidade e quais foram os reflexos de cada etapa do estádio na vida cotidiana. Um olhar crítico sobre o problema também foi realizado, nele procuramos entender quais fatores foram determinantes para a situação se desenvolver dessa forma.



Entendemos que, geralmente, o desfecho para os estádios de futebol não é o melhor e procuramos as melhores formas de preserva-lo e ocupalo fazendo com que cada linha que fosse desenhada conversasse e colaborasse com as já existentes. Em momento algum tivemos a intenção de competir com a arquitetura existente e, baseado em um aparato teórico, compreendemos qual o papel da arquitetura numa intervenção desse porte, sistematicamente retornando a aspectos importantes da história e do problema. Ao final de tamanho exercício foi impossível não se envolver emocionalmente com o Paulo Machado de Carvalho. Das visitas surpresas, que muitas vezes incluíam mudanças de rotas somente para realizalas, até as conversas, praticamente diárias, com uma enorme gama de pessoas que expressavam os mais diversos desejos; mas inevitavelmente concordavam quando, emocionados, lembravam das memórias boas e ruins que passaram sobre aquele cimento, roendo unhas e entoando Pacaembu após o primeiro majestoso de 2014

nomes conhecidos Assim, encerro essa introdução, pedindo que deixem apaixonar-se por essa obra única.

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APITO INICIAL - é quando o juiz olha atentamente os dois lados do campo, leva a mão ao relógio, o apito a boca e o faz sonar, unhas na arquibancada começam a pagar o pecado que o coração inconsequente cometeu. –




O estádio do Pacaembu já foi palco de diversos eventos de larga escala. No âmbito esportivo abrigou jogos da Copa do Mundo de 1950, a abertura e o encerramento do Pan-Americano de 1963, a final do mais importante torneio de futebol das Américas, a Copa Libertadores, nos anos de 2002, 2011 e de 2012, além de eventos inusitados como uma prova de SuperCross em 1989. Em relação a eventos culturais recebeu grandes artistas internacionais como Paul McCartney, Pavaroti, Deep Purple, Rolling Stones, AC/DC entre outros. Abrigou também cantores de expressão nacional como Roberto Carlos e o Encontro com os Jovens que contou com a presença do Papa Bento XVI em 2007.

Acima: competição de Supercross, 1989 Abaixo: Final Copa Libertadores da América, 2012

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Por isso podemos credenciar o Pacaembu como um ícone paulistano presente na memória da população de diversas maneiras e de extrema representação para seus habitantes independente de idade, gênero ou clube de preferência - tal reconhecimento é comprovado, por exemplo, quando, junto ao Auditório do Ibirapuera, ao Theatro Municipal, ao Vale do Anhangabaú e ao Mercado Municipal, ele foi escolhido para representar a identidade paulistana no Bilhete Único Municipal. Para entendermos como o Pacaembu atingiu esse patamar lançamos um olhar atento a sua história, enfatizando sua vocação, os fatores essenciais na sua formação e transformação e como ele sempre esteve alinhado com politicas públicas e a população em si.



Acima: carros acompanham obras no Pacaembu.

I bairro

Abaixo: Vista áerea do loteamento quase encerrado.

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O bairro foi criado pela City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Ltd., ou apenas Cia City. A empresa surgiu em 1911 no Reino Unido e, com capital francês e inglês, adquiriu mais de 15.000.000m² no perímetro urbano de São Paulo. Implementou o conceito de “cidade-jardim” na municipalidade que, segundo a própria empresa, procura criar um ambiente em que o campo e a cidade se integrem, formando um todo harmônico. O primeiro projeto aprovado e construído foi o do Jardim América em 1915, depois sucederam outros tantos como o Alto da Lapa, o Bella Aliança e os Campos Elísios. No caso do Pacaembu a Cia City foi responsável por todo o processo, desde o projeto de loteamento até as vendas do mesmo. Imagina-se que o nome é oriundo do tupi-guarani e significa “terras alagadas”¹, ele leva o mesmo nome do córrego que hoje passa canalizado por debaixo da avenida principal. Quando foi primeiramente arrendado a única construção que o bairro possuía era o antigo Asilo dos Expostos, hoje propriedade da Fundação Faculdade de Medicina, vizinha oeste do estádio.


Sara Brasil 1930




O asilo foi criado dentro da antiga Chácara Wanderley em 1895 pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo para cuidar de crianças. Na década de 30, ainda antes da comercialização dos lotes, mudou seu nome para Asilo Sampaio Viana e posteriormente para Unidade de triagem Sampaio Viana pertencente ao sistema da FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor). No local eram atendidas apenas crianças órfãs de até 6 anos e 11 meses. A unidade foi desativada e vendida em 1998 para a Fundação da Faculdade de Medicina com a intenção de criar novos laboratórios, plano que nunca foi executado. Atualmente é tombada pelo CONDEPHAAT. As terras do Pacaembu exigiram um olhar especial dos urbanistas, primeiramente porque o bairro já contava com uma boa infraestrutura a sua volta; Perdizes, Pompéia e Higienópolis, no seu entorno, já estavam bem consolidados. Por outro lado a região permanecera vazia por problemas de constantes inundações e de um terreno extremamente íngreme e de difícil ocupação.

Acima: movimentações de terra Abaixo: Asylo dos expostos ao fundo préloteamento

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As primeiras linhas do loteamento foram traçadas, mas esbarraram na rígida legislação que permitia apenas percursos ortogonais e lotes retangulares que, nesse caso especifico, criariam longas ladeiras com pouco valor comercial ou o desejado conforto. A solução encontrada foi trazer um consultor urbanista da Inglaterra, Barry Parker. Ele logo pontuou as dificuldades criadas pela topografia e entrou numa empreitada para modificar a legislação.



Em 1923 com a aprovação da nova lei de arruamentos (MUNHOZ, p. 45), enfim foi possível fazer o loteamento e a venda do bairro. O diferencial passava pelas ruas que gentilmente se acomodavam nas curvas de nível e um caráter local que deixou um limitado número de grandes vias que cruzam o vale. Apenas a Avenida Pacaembu e a Avenida Arnolfo Azevedo fazem o papel de escoar um grande fluxo e abrigam comércio. Dessa forma as vendas começaram e o bairro, que contava com uma área de 998.130m² e um total de 1474 lotes, foi fundado em 1925 sendo intitulado pela própria Cia City em um de seus diversos cartazes de propaganda como “a nova maravilha urbana”. Cartazes de divulgação Cia.City

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O estádio do Pacaembu já foi palco de diversos eventos de larga escala. No âmbito esportivo abrigou jogos da Copa do Mundo de 1950, a abertura e o encerramento do Pan-Americano de 1963, a final do mais importante torneio de futebol das Américas, a Copa Libertadores, nos anos de 2002, 2011 e de 2012, além de eventos inusitados como uma prova de SuperCross em 1989.

Em relação a eventos culturais recebeu grandes artistas internacionais como Paul McCartney, Luciano Pavaroti, Deep Purple, Rolling Stones, AC/DC, Eric Clapton entre outros. Abrigou também cantores de expressão nacional como Roberto Carlos e o Encontro Com Os Jovens que contou com a presença do Papa Bento XVI em maio de 2007.

Por isso podemos credenciar o Pacaembu como um ícone paulistano presente na memória da população de diversas maneiras e de extrema representação para seus habitantes independente de idade, gênero ou clube de preferência - tal reconhecimento é comprovado, por exemplo, quando, junto ao Auditório do Ibirapuera, ao Theatro Municipal, ao Vale do Anhangabaú e ao Mercado Municipal, ele foi escolhido para representar a identidade paulistana no Bilhete Único Municipal.

Para entendermos como o Pacaembu atingiu esse patamar lançamos um olhar atento a sua história, enfatizando sua vocação, os fatores essenciais na sua formação e transformação e como ele sempre esteve alinhado com politicas públicas e a população em si.

Acima: competição de Supercross, 1989

legenda foto

a

Loteamento Pacaembu



II estádio Foto aérea 1958

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A ideia de construir um Estádio Municipal surge ainda na década de 20, época em que, segundo Ferreira, o futebol superou o estágio de “febre passageira” que outros esportes como patinação, ciclismo e críquete tiveram e, principalmente alavancado pela imprensa escrita e pela empolgação do rádio, acabou por contagiar as multidões transformando-se no esporte mais praticado da cidade. Ferreira credencia ainda parte do sucesso a facilidade da prática; para 22 jogadores muitas vezes era necessário apenas uma bola e um campo vazio. Outros esportes, como os citados a pouco, exigiam diversos equipamentos e eram praticados em sua grande maioria apenas pelas famílias mais abastadas. Nessa época o amadorismo ainda predominava, mas isso viria a mudar na década seguinte com a mudança no cenário politico. Em 1930 Getúlio Vargas deu um golpe de estado no que hoje conhecemos como República Velha e, a partir de um governo ditatorial, começou a implementar uma série de mudanças no país. Com um amplo discurso de desenvolvimento nacional o regime varguista ganhou apoio por valorizar o trabalhador aprovando uma série de melhorias na indústria como a instituição de um salário mínimo, um limite de jornada de trabalho e uma lei trabalhista.



O governo, porém, precisava controlar a população e possíveis revoltas que desde 1932 começaram a eclodir; para isso procurou criar o conceito de nação, de massa e de unidade dentro de um povo que nitidamente estava fragmentado. Ferreira afirma que neste momento Getúlio acabou encontrando no futebol uma poderosa ferramentas de controle. Amado por todas as classes sociais, apesar das inúmeras divergências criadas pelo mesmo, relatos mostram que mesmo os maiores estádios do Brasil já não comportavam a enorme demanda que se criará.

Direita: construção da fachada Abaixo: mulas auxiliam trabalhadores na construção

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“O domingo que passou serviu para nos provar que o maior estádio da cidade, o Parque Antártica, não é mais capaz de suportar a grande leva de torcedores. O embate entre Palestra e Corinthians levou mais de 35 mil expectadores ao estádio. Quando as autoridades vão olhar mais diretamente para isso? O futebol é o mais popular esporte da cidade, e ainda não temos um estádio compatível com essa popularidade.” (FERREIRA, 2008, p.41 apud “Superlotação”, in: A Gazeta, 15/05/1929, p. 9)

Multidão acompanha partida




São Paulo na época era a capital nacional do futebol, e o bairro do Pacaembu, ainda em fase de urbanização, se mostrou como palco perfeito para implementação do ambicioso projeto. O terreno de 75.000m² no fundo do vale era bem incorporado a malha urbana, possuía uma invejável infraestrutura, inclinações surpreendentemente perfeitas para arquibancadas e afastamento e dimensões adequados para um campo.

Estudo preliminar realizado pelo escritório Ramos de Azevedo.

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Logo, em um acordo realizado com a Cia City, o terreno foi doado sem custos para a prefeitura municipal; em contrapartida a companhia viria a lucrar não somente com a valorização dos lotes, mas também com uma série de terrenos que a prefeitura teve que arrendar além de benfeitorias necessárias para a adequação do mesmo. Fora isso nunca existiu pretensão da companhia em vender aquela área do bairro que, por possuir dificílima implantação, foi destina como área comum desde seu projeto inicial.



Mulher alça vôo da partir da plataforma de saltos ornamentais

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O escritório de Ramos de Azevedo foi escolhido para tomar parte do projeto. Num primeiro momento uma série de estudos foram realizados contemplando apenas o estádio. Porém quando Prestes Maia assume a prefeitura de São Paulo em 1938 ele manda as obras pararem para fazer uma reavaliação. Com a ideia de potencializar a ação do estádio e reafirmar o conceito de unidade e educação, tanto física como mental, presente no regime o prefeito decide fazer uma série de modificações. A mais importante delas é o acréscimo de um complexo esportivo dotado de piscina, ginásio com quadra poliesportiva, duas quadras de tênis e a construção de uma concha acústica para dissipar outras formas de cultura e cultos ao corpo. O novo projeto também acabou passando por algumas modificações, mas seu escopo é basicamente o mesmo daquele que foi construído.



Estudo de fachada 46 |

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O estádio que na época podia abrigar mais de 70.000 pessoas tinha sob a arquibancada norte uma grande infraestrutura para diversos tipos de eventos, em seus 4 pavimentos estavam distribuídos, vestiários, banheiros públicos e um bar; administração, e um restaurante com suas áreas técnicas; alojamento para atletas e sala de ginástica; e por fim dois grandes salões para eventos, atualmente toda essa estrutura foi revertida para o Museu do Futebol. A arquibancada leste, assentada diretamente no terreno, possuí a cabine de transmissões de rádio enquanto a oeste, também apoiada na terra, abriga além das cabines de transmissões de TV a tribuna de honra. É no lado oeste também que existe uma grande cobertura que protege a área das cadeiras azuis e uma passarela que atravessa a antiga Rua Itaí, atual Rua Desembargador Paulo Passaláqua, com um salão de recepções que foi palco de festividades. (SCHNEIDER)

Espectadores acompanham jogo sob a marquise

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Todo o conjunto é protegido por uma curta marquise que assegura que os banheiros e bares do pavimento superior estão ao abrigo da chuva. Os primeiros estão localizados sempre nas arestas do desenho enquanto o segundo acontece em diversos momentos do perímetro do estádio. A iluminação do estádio é feita por seis torres de 30m, sendo três em cada lateral, o campo e todo o conjunto esportivo ainda está orientado no sentido norte-sul respeitando a recomendação para a prática esportiva com a menor interferência do sol.



A concha acústica que ficava na parte sul do estádio era destinada a diversos usos, entre eles estão espetáculos de música e dança que por diversas vezes aconteceram antes dos jogos. Ela também se prestava a diversos espetáculos cívicos e sua pequena esplanada sempre foi utilizada como uma espécie de arquibancada para os jogos. Segundo Ferreira esses espetáculos de diversas formas de arte tinham como objetivo educar os espectadores culturalmente. Essa educação era entoada também por uma réplica da estátua de David de Michelangelo em sua lateral esquerda. Ela foi posteriormente removida e realocada em frente ao estádio na Praça Charles Miller, atualmente a estátua se encontra em frente ao Centro Educativo, Recreativo e Esportivo do Trabalhador (CERET) no Tatuapé. Criança passeia em frente a concha acústica

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De acordo com Munhoz e Wenzel a fachada do Pacaembu é um dos pontos mais aclamados do projeto. Possuí linhas ortogonais puras, aliada a alguns elementos da arquitetura clássica como o número par de colunas e uma proporção e rigor muito grande, a ausência de rebuscamento e quaisquer tipos de ornamento conferem, portanto, uma série de características típicas da arquitetura fascista conhecida também como Art Déco. Segundo De Oliveira, mesmo existindo grande divergência perante a classificação de suas verdadeiras características, devido a uma falta de acordo entre historiadores e uma ausência bibliográfica, ainda assim podemos identificar alguns itens comuns nas definições como: Fachada do conjunto após reforma do museu do futebol e inserção de nova passarela

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composições axiais, tripartição vertical dos edifícios, predominância de cheios sobre vazios, articulação e escalonamento de planos e volumes, contenção decorativa, integração arquitetura externa e interna, valorização dos acessos e portarias e uso de tecnologias construtivas modernas



Acima: perspectiva realizada pelo escritório Na outra página: salão de recepões 54

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Interessante notar como nos desenhos originais do estádio existe grande coerência estética entre fachada e decoração dos ambientes internos o que evidencia o sexto item. Ao mesmo as seis enormes colunas que formam o portão monumental se entendem por entre os pavimentos do museu deixando claro o quão importante é o acesso principal para o conjunto.

Construçao da fachada em concreto armado vista por angulos diferentes

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Outro aspecto muito palpável é em relação a técnica construtiva do estádio como um todo, mas principalmente da arquibancada norte. Foi feito uso de concreto armado em quase toda a construção, ele refletia o desejo dos idealizadores de criar uma estrutura moderna e de acordo com as mais recentes tecnologias disponíveis no mercado. As partes que eram de alvenaria, segundo Munhoz e Wenzel, foram cuidadosamente revestidas para dar a impressão que também eram de concreto deixando o conjunto com um resultado estético homogêneo, de aparência “lisa” e de traços fortes condizentes com as características acima citadas.



Essas características podem ser encontrados em obras mundo afora, o Palácio do Trocadero em Paris realizado para a Expo 1937, a casa dos soviéticos em São Petesburgo e o Olympiastadium em Berlim, construído para as Olimpíadas de 1936, são três referências da mesma época que também apresentam enorme respeito à simetria, sobriedade e uma monumentalidade evidente. Importante salientar que essa arquitetura estava ligada diretamente a fins políticos e tinha como propósito fazer o expectador se sentir menor, diante de algo imenso que representava o Estado.

Acima: Palácio do Trocadero, Paris Abaixo: Olympiastadium, Berlim

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A implantação do estádio é elogiada por todos os autores que estudaram o assunto. De forma inteligente e perspicaz ela aproveita a inclinação do vale para pousar as arquibancadas leste e oeste diretamente sob o terreno, ao mesmo tempo ela se torna parte da paisagem e a mimetiza sem oprimi-la ou descaracteriza-la como descrito por Munhoz e Wenzel. O rigor que rege a fachada também é perceptível na implantação, nela Ramos de Azevedo e sua equipe fizeram coincidir o ponto geratriz da arquibancada norte com a marca de pênalti do gol, criando um ponto focal de grande valor.



A Praça Charles Miller também possuí papel fundamental na composição do estádio. A capacidade de escoar um grande público em alguns minutos nos dias de eventos e o uso como estacionamento nos dias sem eventos fazem com que ela cumpra exatamente a finalidade com que fora criada. Além disso, podemos pontuar a importância dela em relação ao conjunto pois cria, junto à Avenida Pacaembu, um eixo monumental que tem como ápice a visualização do estádio imponente, forte, mas, sobretudo, integrado no fundo do vale. Dessa forma, de acordo com Munhoz e Wenzel, é possível entender o estádio dentro da escala do bairro através dos elementos que minimizam seu impacto e conseguem, enfim, dar a escala que lhe é justa. Fora isto a Praça Charles Miller também é responsável por proporcionar uma escala temporal ao estádio, fazendo com que mesmo aqueles que passam de carro tenham tempo hábil para aprecia-lo como um monumento encrustado na cidade.

Inauguração do complexo esportivo

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Sua inauguração ocorre em 27 de abril de 1940 com um grande evento cívico e um desfile de comissões de atletas que contou inclusive com delegações internacionais, esse evento foi agraciado com a ilustre presença do então presidente Getúlio Vargas que fez um discurso fervoroso anunciando em seguida uma semana especial esportiva dentro do complexo, novamente podemos notar através de cartazes e do caráter do evento como o estádio foi produto de propaganda para o regime varguista.



Durante essa semana foi proibida a realização de qualquer evento esportivo oficial no perimetro da cidade; a primeira partida no estádio foi uma rodada dupla em que Palestra Itália venceu o Coritiba por 6 a 2 seguido de Corinthians 4, Atlético de Minas Gerais 2. Porém a partida mais aclamada pelo público e pela imprensa da época foi a estreia de Leônidas da Silva, o diamante negro, pelo São Paulo Futebol Clube. O público foi recorde, 72.018 pagantes, e, mesmo com o jogo marcado para a tarde, as 10h00 já haviam longas filas, o placar final foi de 3 a 3 diante do plantel corinthiano.

Acima: Cartazes anunciam inauguração do estádio Abaixo: Ingresso para o evento

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“Impressionante, inesquecível, jamais presenciado no futebol brasileiro. Pode parecer exagero, mas quem esteve naquele dia, no estádio do Pacaembu, jamais se esqueceu daqueles momentos... Pela primeira vez, o Pacaembu não se prestou apenas para o futebol e sim também para piqueniques, sim, porque milhares de afeiçoados desde as dez horas da manhã, quando foram abertos os portões, começaram a abarrotar o estádio, e lá para o meio-dia não eram poucos os que almoçavam, tendo como mesa os degraus do colosso de cimento” (Ferreira, 2008, p. 94 apud “Estréia de Leônidas”, in: A Gazeta, 25/04/1942, p.9)

Amontoado de pessoas de desdobra para acompanhar partida




O estádio foi o principal palco do futebol paulista e importante palco do futebol nacional até 1960 quando foi parcialmente inaugurado o Estádio do Morumbi – foi por completo em 1970. Neste período começou a perder prestígio e espaço dentro do cenário local. Com a finalidade de atender as novas demandas de público impulsionadas pelo sucesso da seleção tricampeã mundial, e com o propósito de atualizar o Pacaembu coube ao prefeito Paulo Maluf a decisão de demolir a concha acústica e seu respectivo salão de festas para a criação da arquibancada sul, popularmente conhecida como “Tobogã”.

Esquerda: Entulho da concha acústica e buraco que revela o ginásio Direita: Construção do Tobogã

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A obra resultou em um acréscimo de 15mil assentos, porém, o objeto, claramente desalinhado com o conjunto em proporção e estilo, culminou na segregação do clube descaracterizando por completo o conjunto. Hoje em dia poucas pessoas sabem da existência do mesmo. Aqueles que tiveram a oportunidade de conhecer a concha acústica falam dela com enorme nostalgia - sua reconstrução foi discutida em 2007 pela Câmara Municipal de São Paulo, o projeto não vingou. Junto ao Tobogã foram criadas uma série de novas infraestruturas para os atletas, dessa forma vestiários e acesso ao campo foram transferidos da parte norte para a sul.



Em 1991, contemplado pela resolução SC 08/91, o bairro do Pacaembu, seu traçado, sua vegetação, o padrão de ocupação dos lotes e o belvedere público foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado De São Paulo (CONDEPHAAT), enrijecendo e podando possíveis adensamentos ou descaracterizações futuras. Sete anos depois, em detrimento da resolução SC 05/98, o Estádio Paulo Machado de Carvalho, rebatizado em 1961 em homenagem ao chefe da delegação brasileira em duas copas, segue os passos do bairro e é tombado pela mesma instituição de forma conjunta a todo o complexo esportivo, a praça Charles Miller e ao muro do Cemitério do Araçá. Agora qualquer modificação de fachada ou construções que interferissem em seu gabarito estavam oficialmente proibidas, o processo de tombamento também dificultou os planos de privatização que por diversas vezes circundaram o estádio. Esquerda: Vista aérea da praça Charles Miller desmanchada Direita: Construção do Piscinão subterrâneo

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Uma importante obra influenciou o entorno estádio, sua intenção era evitar alagamentos na região. Em 1994 a prefeitura criou um piscinão coberto, o único na cidade, sob a Praça Charles Miller; sua capacidade é para 74 mil m³ e sua função é a de escoar as águas de forma mais cadenciada para o Rio Tietê.



Houve uma grande reforma do estádio em 2008, as obras possuíam caráter de manutenção e contemplaram uma impermeabilização das arquibancadas, o restauro das fachadas e a aplicação de um novo gramado, que segundo a empresa de manutenção diminuiu o nível do campo em 50 cm. Porém, junto a todo esse processo também foi remodelado o interior da arquibancada norte com o propósito de destina-la ao Museu do Futebol.

Esquerda: Vista da sala de troféus. Centro: Vista a partir da passarela para praça Charles Miller Direita: Vista para o hall de entrada do museu

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Todo o processo de criação das novas dependências foi acompanhado de perto pelos órgãos responsáveis pelo tombamento que, em conjunto ao escritório de Mauro Munhoz, fizeram uma sutil intervenção que destaca e reafirma a arquitetura existente trazendo os visitantes para as “entranhas” do edifício. Em seu livro o arquiteto fala como foi importante e delicado o processo de construção do museu, especialmente na questão estrutural. Um dos nortes do projeto do foi a conexão e ativação da Praça Charles Miller que passa a maioria do seu tempo vazia, evidenciando que o impacto desejado ia muito além do patrimônio histórico mas passava também pela cidade e por uma nova demanda cultural crescente nos últimos anos.



III inserção Esquerda: Mapa de distância temporal via transporte público com intervalo de 5’ Direita: Mapa de distância temporal via transporte privado com intervalo de 5’

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Um dos pontos mais fortes do Pacaembu é, sem duvida, sua localização na cidade. Conectado a norte com a Marginal Tietê, a sudeste com a Av. Paulista e a noroeste com a Av. Sumaré ele se torna um ponto de grande interesse dentro da cidade. Tal fato se tornará mais palpável no futuro com a ligação do estádio e da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) com a linha 6 laranja do metro. Uma única estação possuirá 3 pontos de desembarque, um na extremidade direita da Praça Charles Miller, outro em frente a FAAP e um último na Rua Itápolis ao lado do Pacaembu. Quando esta obra estiver pronta os fluxos presentes no Pacaembu vão se intensificar ainda mais, sua posição como elemento primário na cidade vai se consolidar e ele ganhará ainda mais importância dentro da malha urbana. O tempo de conexão com os principais ponto de interesse da cidade deve diminuir para no máximo 50min via transporte público e 30 com transporte privado. A posição central dele em relação à cidade com certeza ajuda, porem sua história e todo seu potencial são os verdadeiros fatores que vão consolidar um fluxo positivo na região.


“(...) o processo dinâmico da cidade tende mais à evolução do que à conservação e que na evolução os monumentos s e conservam e representam fatos propulsores do próprio desenvolvimento. E este é um fato verificável, queiramos ou não” (ROSSI, Aldo, 1966)


Analisando sua inserção urbana percebemos que o Pacaembu faz duas importantes ligações: a primeira de Higienópolis, Paulista e região com toda a zona oeste residencial e a segunda uma comunicação entre o baixo Pacaembu e a Av Doutor Arnaldo. Dessa forma percebemos que os fluxos naturais e existentes deveriam ser priorizados, portanto já que a cidade é mais intensa do lado leste, onde existem mais fluxos de pessoas, comércio e atividades urbanas se comparadas com a “área-residência” a oeste do estádio, era por ai que deveríamos abrir as portas para fortalecer essas conexões. Porém o papel do Pacaembu transcende a mera função de passagem; tomando o conceito de Aldo Rossi, podemos dizer que é o estádio quem constroí a cidade. Não apenas por possuir essa capacidade de gerar e conduzir fluxos, mas principalmente por desenvolver a cidade a sua volta acelerando o processo de urbanização, somando , portanto, novas funções. Assim o Pacaembu tornou-se indispensável para a cidade a partir do momento em que foi eleito e reconhecido como monumento pela população que reconhece nele uma ação precisa e uma singularidade positiva perante toda a cidade produzindo, sobretudo, uma permanência e um envolvimento com a esta, caracterizando-o como fato urbano.

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CARTÃO AMARELO

1.

- é a advertência necessária à aquele que não soube respeitar o adversário, deve-se continuar no jogo agora sob uma nova ótica -




Depois de ser palco de inúmeros jogos e momentos memoráveis o Pacaembu hoje enfrenta um grande problema, seu esvaziamento. Segundo estatísticas coletadas dos últimos 5 anos percebemos que o estádio teve um pico de uso muito intenso, sendo utilizado principalmente por Palmeiras e Corinthians, porém, com seus novos estádios inaugurados já neste ano o uso do estádio despencou em 33% com uma tendência preocupante de baixas ainda maiores para os próximos anos. Portanto corre grande risco de se tornar um espaço ainda mais ocioso dentro da capital, causando não somente prejuízos a prefeitura, mas, também, enfraquecendo a memória de um dos grandes ícones da cidade.

Acima: Tabela de jogos por anos dos últimos 5 anos Abaixo: Gráfico com previsão de ocupação dos próximos anos

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Existem diversos motivos que podem ser apontados como contribuintes para essa situação, porém sua desatualização em relação às modernas arenas é sem dúvidas o fator principal. Surgiram novas demandas que o Pacaembu, em parte por ter uma estrutura extremamente rígida, não conseguiu suprir em parte pelas dificuldades impostas pelo CONDEPHAAT. Dessa maneira procuramos compreender quais outros fatores encaminharam o estádio para esse caminho, bem como quais possíveis soluções já foram apresentadas e podem de alguma maneira ajudar o Pacaembu a se reerguer dentro da cidade.



I desatualização

Estádio Anfield Road lotado no ínicio do século XX

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Rod Sheard; arquiteto australo-britânico nascido em Brisbane e cofundador do Populous, um dos mais reconhecidos escritórios de estruturas esportivas do mundo, que tem em seu portfólio obras como: London 2012 Olympic Stadium, Wembley Stadium, Emirates Stadium, Yankee Stadium, Soccer City e ANZ Stadium; fez um longo estudo da história dos estádios e identificou na era moderna 5 gerações de estádios. A análise feita não leva em conta formato ou época em que cada estádio foi construído, ele afirma que apesar de existirem tendências muito claras em determinas épocas a classificação de uma obra é dada em relação as suas características de conforto, relação com o espetáculo, com o entorno e com a cultura em que foi introduzido. Dessa maneira mesmo que um estádio seja construído hoje isso não lhe garante características da 5ª geração, muito pelo contrário, existem diversas estruturas que remontam os principais aspectos de gerações anteriores ainda na atualidade.



Segundo relatado por Sheard a primeira geração de estádios nasce na Europa industrial e o seu principal objetivo era abrigar o maior público possível. Sua grande maioria era inglesa e os estádios possuíam pouco valor arquitetônico, muitas vezes eram anexas às indústrias em que os jogadores trabalhavam. A parte coberta, quando existia, era privilégio dos diretores e personalidades envolvidas com o clube, os poucos que tinham essa chance observavam a grande massa amontoada em pé e sem qualquer tipo de conforto. Essas estruturas eram denominadas “bowls” e, apesar dessa tipologia datar do final do século XIX, começo do XX, foi amplamente reproduzida até o final dos anos 50.

Acima: Estádio Anfield Road, Liverpool Centro: Estádio Old Trafford, Manchester Abaixo: Stamford Londres

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Estádio Bridge,

O crescimento desordenado e não homogêneo podia até despertar certo charme, mas as obras eram verdadeiros “puxadinhos” que buscavam sempre aumentar a capacidade dos estádios para atender as crescentes demandas de público. O desenho do estádio, portanto, na maioria dos casos era simples; as arquibancadas seguiam as linhas do campo formando um retângulo, não possuíam arestas e eram construídas em madeira muitas vezes deixando espaço apenas para os pés. Stamford Bridge do Chelsea em Londres, o Anfield Road pertencente ao Liverpool e o Old Trafford do Manchester United são exemplos de estádios dessa geração; nenhum deles segue com suas estruturas originais, porém uma rápida olhada em seus formatos quadrados e implantação vizinha a áreas industriais evidenciam o seu passado.



O desenvolvimento da televisão e o início das transmissões ao vivo fizeram com que os espectadores refletissem se o desconforto e o tempo perdido realmente justificavam a ida ao estádio. Esse processo de concorrência diminuiu a atratividade do espetáculo in loco forçando os clubes a mudarem de atitude causando, consequentemente, a 2ª geração. A falta de receptividade, as péssimas condições de visibilidade e o desconforto deram lugar a setores cobertos com chapas metálicas, fileiras com cadeiras e um maior conforto e infraestrutura. Apesar dos estádios ingleses terem se adaptado a essas novas exigências foram os italianos que mais produziram nesse período, isso porque na Itália os estádios surgiram de forma concomitante as tecnologias.

Estádio Artemio Franchi, Florença

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Pier Luigi Nervi, arquiteto do Stadio Comunale di Firenze, foi um dos primeiros a usar concreto armado nessas estruturas, sua plasticidade permitia moldar novas formas e começaram a surgir coberturas e formatos mais elaborados. Arquitetonicamente os estádios de 2ª geração trazem uma considerável evolução, pois, pela primeira vez, se importam com o púbico criando uma nova tendência tipológica e programática. Nesse período surge também a iluminação noturna, flexibilizando os horários dos jogos que cada vez mais se tornavam um lazer acessível a todos.



Estádios como o Olímpico de Roma, o Camp Nou em Barcelona e o Olympiastadium em Berlim são os primeiros exemplos dessa geração que tem exemplares construídos desde os anos 30 até o início dos anos 90. Sua característica mais marcante é o formato elíptico com cantos arredondados. No final da década de 80 o problema da segurança começou a piorar nos estádios, a ação dos Hooligans havia se intensificado e os estádios sucateados não cumpriam as normas de segurança. Foram registrados alguns acidentes como queda de alambrados e principio de incêndios nas antigas arquibancadas de madeira, porém foi o caso do Sheffield Hillsborough Stadium, onde 96 torcedores morreram pisoteados e outros 700 saíram feridos, que fez a associação inglesa repensar as normas, seguida posteriormente pelas outras.

Olipympia Stadium, Berlim

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Assim nasceu o Taylor Report que obrigou todos os estádios ingleses a se remodelarem atendendo uma série de normas. Nessa mesma época o mundo vivia uma série de mudanças, a globalização ganhava força junto ao capitalismo que há pouco saíra vitorioso da guerra fria, o consumo e o conceito de disneylândia cruzavam fronteiras. Dessa forma os clubes criaram um novo jeito de assistir futebol, construindo um ambiente que contemplava a família por completo.



Os estádios acabaram ganhando características típicas do pósmoderno descrito por Venturi, assumindo os mais diversos papéis e se tornando verdadeiras fantasy cities onde absolutamente tudo é comercializado e objeto de consumo. Isso fica ainda mais evidente com o novo tipo de implantação dos estádios, afastados da cidade, mas ligados por largas autopistas. Eles se tornam shoppings e, ao mesmo tempo, fazem o papel de clube, parque-temático, restaurante, hotel e etc, afinal os seus usuários não se preocupam em dirigir horas desde que haja um acesso fácil e um estacionamento seguro.

Esquerda: Astrodome, Houston, EUA Direita: Venturi

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Diagrama

Obviamente o modo de exploração é bem peculiar, a 3ª geração oferece aos fãs, museus que remontam a história do clube, restaurantes temáticos, lojas com infindáveis produtos carimbados com seu logo e para finalizar uma espetacular visita guiada pelos vestiários, campo e tribunas de honra. O lazer é oferecido 7 dias por semana, 24 horas por dia, 24/7. Com isso fica evidente a mudança de público que agora é majoritariamente de famílias dispostas a gastar com essa forma de lazer. Sua influência na cidade também aumenta e ele se torna um verdadeiro polarizador de massas, o entorno se valoriza e reanima de acordo com a palpitação do objeto que o circunda.



O imediato sucesso dessa nova fórmula e a rápida velocidade com que o mundo se desenvolve acabou por despertar o interesse de grandes empresas e corporações que também queriam explorar o potencial dessas estruturas. Os estádios de 4ª geração começam a se tornar verdadeiros complexos multiusos no início do 3º milênio. O campo de futebol se tornar mero detalhe, as arenas, como são chamadas, se tornam capazes de rapidamente converter-se em palco dos mais diversos espetáculos como jogos de baseball, volley, basquete bem como eventos de lutas ou então em pistas de corrida.

Reebok Stadium, Bolton

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Os estádios de 4ª geração são verdadeiras ferramentas a serviço do consumo, as empresas se apropriam da divulgação mundial que eles atingem e investem de diversas formas no clube como por exemplo no naming rights onde uma empresa aluga o nome do estádio. Agora essas duas frentes caminham juntas, uma a serviço da outra. O Reebok Stadium do Bolton, construído em 1997 pelo escritório de Sheard é descrito pelo mesmo como um dos grandes exemplos dessa nova tipologia. Arquitetonicamente as novidades estão sempre relacionadas a cobertura, leves, dobráveis, retráteis e das mais diversas formas e geralmente elas compreendem a identidade do projeto.



Koolhas por outro lado credencia a essas coberturas justamente a falta de identidade que elas proporcionam e, apesar de não ser tão palpável quanto em um aeroporto, elas e todo esse novo jeito de fazer estádios são, no fundo, uma grande generalização das construções e da cidade. Desta maneira as coberturas tem a única função de juntar todas as partes desse extenso programa onde quase tudo acontece em uma única massa e pouco significam para o entorno ou para a cidade. A última das 5 gerações de estádios descritas por Sheard é quando ele se torna um verdadeiro ícone urbano. Sua intenção é proporcionar um espetáculo único, repleto de emoções e experiências para aqueles que se dispõem a ir ao estádio, oferecendo sempre conforto, segurança, comodidade e um grande espetáculo que é transmitido ao vivo para milhões de pessoas do mundo todo. Moses Mabhida Stadium, Durbam

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Sua importância é tão grande dentro da cidade que se tornaram os grandes símbolos para aqueles que tem a pretensão de sediar uma Olimpíadas ou uma Copa do Mundo. Sua inserção no tecido urbano procura ocupar espaços degradados com a finalidade de reverter o altíssimo investimento em verdadeiras operações urbanas, demonstrando uma preocupação social.



Sua pretensão arquitetônica atinge o nível máximo, essas arenas multifuncionais representam suas cidades e países mundo afora e precisam refletir a cultura local com a intenção de valorizar e divulgar a mesma. As técnicas construtivas são sempre as de última geração e muitas vezes, inclusive, são desenvolvidas com exclusividade para elas. A sua representatividade é tamanha que, na maioria dos casos, são convidados arquitetos de renome internacional para desenvolvê-los.

Bird’s Nest, Pequim

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Talvez o grande exemplo dessa tipologia seja o Bird’s Nest desenvolvido por Herzog e De Meuron para as Olímpiadas de 2008 em Pequim, China. Sua imagem correu o planeta inteiro com a clara intenção de servir como um cartão de visitas chinês. O sucesso das olimpíadas pode ser considerado um reflexo da construção que se tornou ponto turístico na cidade.



II casa própria

O sonho da casa própria é algo extremamente enraizado na população brasileira. Buscando uma definição sociológica podemos dizer que este desejo está diretamente ligado a ideia de lar e de conforto, passa por uma questão de que é neste ambiente que podemos criar nossas melhores lembranças. Portanto atingir esse sonho é, também, estar tranquilo e em paz, além da possibilidade de canalizar as forças para a realização de outros sonhos.

Acima: Inauguração da arena Corinthians Abaixo: Inauguração Allianz Parque

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Esse sentimento da maioria da população transbordou para o futebol, onde os clubes buscam incansavelmente obter suas próprias arenas com o ideal de que nelas eles vão ser mais felizes e vitoriosos. Porém a atual corrida também pode ser explicada devido as proporções que o futebol tomou nas últimas décadas. Como já foi descrito por Sheard a exploração da marca de um clube é algo extremamente rentável e todo esse potencial precisa de um espaço físico para se concretizar. A BDO, empresa de consultoria e auditoria, realiza sistematicamente pesquisas de valor de mercado dos clubes brasileiros que, em suma, explica qual o potencial de venda de um clube perante o mercado. Corinthians, Flamengo, São Paulo e Palmeiras são os 4 primeiros colocados, todos com valor de mercado superior a R$500 Milhões. Surge, então, a necessidade de possuir um espaço único e dedicado exclusivamente a seus consumidores para reverter essa receita, um espeço do clube.



Foi essa visão de mercado que fez o Corinthians abandonar o Pacaembu para lançar a Arena Corinthians e o Palmeiras a remodelar o Parque Antarctica rebatizado ,segundo os naming rights, de Allianz Arena. O São Paulo possui diversos projetos para o Morumbi e atualmente procura uma construtora parceira para realizar as obras.

Acima: Projeto de remodelação do Morumbi Abaixo: Inauguração Juventus Arena, Turim

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Interessante notar que esse é um fenômeno mundial com suas particularidades em cada cultura. Na Itália, por exemplo, todos os times sempre tiveram o hábito de jogar no Stadio Comunal de sua respectiva cidade. O anúncio realizado em 2008 de que a Juventus faria um estádio próprio em Turim foi recebido com espanto na época, o primeiro estádio privado de um time da Serie A foi um sucesso tão grande que recentemente a Roma anunciou a construção de sua casa própria. Lazio, Fiorentina e diversos outros times também começaram a se programar para explorarem suas marcas da melhor forma. A consequência disso pode ser grave, criando uma série de outros “Pacaembus” espalhados por toda a Itália. Portanto um problema que hoje é paulistano tem a grande tendência de se tornar mundial - em Turim a consequência foi menos grave pois a equipe do Torino continua utilizando o estádio municipal.



Já nos Estados Unidos, o conceito de casa própria é entendido de outra forma. Os times, ou franquias como são mais conhecidos, não possuem uma identificação muito forte com o território e a questão financeira muitas vezes é prioritária. A maioria dos estádios pertence ao poder público que os cedem completamente para as franquias, se abstendo de qualquer tipo de decisão. A contrapartida vem pelo fato das franquias utilizarem a frente do seu, o nome cidade em que está localizado, movimentando a economia local e proporcionando lazer para a população. Dessa forma é comum que se construam estádios para atrair franquias oferecendo uma melhor infraestrutura e vantagens fiscais ou de outro tipo.

esquerda para direita, de cima para baixo:

Nickerson Field, Fenway Park, Alumni Stadium, Harvard Stadium, Foxboro Stadium e Gillette Stadium

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Sheard, que também se debruçou sobre os estádios americanos, chegou à conclusão de que um estádio americano tem em média sete anos de vida útil, passado esse período ele já está defasado tecnologicamente e corre o risco de ser trocado. Existem exemplos assustadores como o do New England Patriots que durante seus 55 anos de história já tiveram seis diferentes casas, sem contar que dos 32 times que disputam a série principal apenas sete tem estádios com mais de 20 anos.



O destino da maioria desses estádios é cruel, na maioria das vezes eles são demolidos ou simplesmente abandonados como é o caso do estádio de Detroit, usado para a Copa do Mundo de 1994 e do Astrodome em Houston, que chegou a ser considerado o melhor estádio dos Estados Unidos e um ícone da arquitetura moderna norte-americana.

Acima: Deteriorização do estádio de Detroit Abaixo: Astrodome abandonado, Houston

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O grave problema do abandono, porém, não é exclusividade americana, as instalações construídas para as Olímpiadas de Inverno de 1984 em Saravejo, atual capital da Bósnia Herzegovina, bem como aquelas realizadas para as Olimpíadas de Verão de 2004 em Atenas estão, hoje, completamente sucateadas e entregues ao destino, provando que muitas vezes é difícil das uma nova destinação a um estádio.



III possibilidades Acima: Ginásio principal das Olímpiadas de Inverno de 1984 Abaixo: Estrutura de Athenas 2004 abandonada

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As poucas soluções já propostas nos permitem imaginar qual pode ser o futuro do Pacaembu. Como é percebido no estádio de Detroit, quando um estádio é abandonado a tendência é que ele rapidamente se torne obsoleto e de difícil recuperação, nesse aspecto existe uma teoria denominada broken window theory exposta pelos cientistas sociais James Wilson e George Kelling, ambos americanos, que defende a tese de que o descaso para com algo gera um efeito dominó de atitudes piores. No caso deles eles citam uma janela quebrada que, após uma série de outras janelas quebradas, culminaria na invasão daquela propriedade. Do contrário, caso fosse feito o reparo dessa janela, a possibilidade de janelas voltarem a ser quebradas e a invasão da propriedade diminuiriam consideravelmente. Concluíram, portanto, que coibir os pequenos delitos e atos de vandalismo era uma atitude plausível para a diminuição de crimes de maior magnitude. Passando esse conceito para a arquitetura e especificamente para o nosso caso, devemos entender que o menor abandono apenas potencializa e multiplica as chances da não recuperação do bem, como pode ser observado nos casos acima. Dessa forma é imprescindível que exista uma discussão em relação ao futuro do Pacaembu, que se tome uma decisão e que ela seja posta em prática, caso contrário estaríamos permitindo que a primeira janela fosse mantida quebrada acarretando em prejuízos irreparáveis a memória da nossa cidade e população.



Porém, existem exemplos de requalificações de estádio no mundo. Las Arenas em Barcelona, projeto do escritório Rogers Stirk Harbour + Partners, foi construído onde antes existia uma arena de touros, a decadente popularidade dessa prática na Catalunha nos anos 70 esvaziou a arena. A prefeitura, reconhecendo o valor histórico do projeto, decidiu tombar as fachadas e implementar um novo uso em seu espaço. A solução encontrada foi a criação de um shopping center que acontece dentro das antigas instalações, uma nova estrutura em aço suspende a antiga fachada e a sustenta criando um novo embasamento, na cobertura foi criado um grande terraço que permite uma vista interessante da cidade. O ousado projeto se desfaz de toda a preexistência não protegida e cria em seu solo um novo uso que pouco faz lembrar das antigas competições entre touro e toureiro.

Acima: Fachada do Bush Stadium reformulada Abaixo: Exemplo de apartamento oferecido

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Um caso americano diz respeito a um antigo campo de baseball que viu sua franquia mudar de cidade. Sem solução o Bush Stadium virou um estacionamento de carros usados e posteriormente um novo projeto buscou a preservação das antigas estruturas convertendo seu uso para lofts residenciais. Aprovado apenas 6 anos depois do seu abandono as arquibancadas deram lugar a mais de 100 pequenos apartamentos de 1 ou 2 dormitórios, a estr utura em Art Déco foi preservada ao máximo, porém a descaracterização do objeto é evidente, nesse caso também restaram apenas as fachadas do edifício.



Na outra pรกgina a esquerda: Detalhe da Fachada preservada a direita: Vista superior do conjunto

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Abaixo: Vista interna do Shopping Las Arenas Ao lado: Vista da fachada



Essas experiências, apesar de extravagantes, são valiosas por ao menos fazerem uma tentativa. A qualidade do espaço desenvolvido e do respeito pela preexistência é questionável, porém essas são obras que preservam a paisagem urbana e as mantem introduzidas na malha e na dinâmica social da cidade, destino muito mais digno do que o abandono. Fora isso é importante salientar que mudanças radicais de uso exigem manobras muitas vezes dificílimas e preservar apenas as fachadas é algo que, segundo a lógica do mercado, é muito mais fácil. No caso do Pacaembu a discussão das possibilidades existe, em sua grande maioria as sugestões passam pela remodelação e readequação do estádio para sua finalidade original, ser um estádio de futebol. Algumas propostas já foram divulgadas pela imprensa, numa delas publicadas pela Revista Placar uma grande reforma implementaria estacionamento sob a Praça Charles Miller e rebaixaria o campo, essa reforma, porém, estava condicionada a privatização do estádio por 30 anos. Acima: Reportagem da Revista Placar Abaixo: Ilustração do Pacaembu segundo proposta

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Outra proposta feita pelo escritório GCP arquitetos, e destinada à promoção do estádio como possível sede para a Copa do Mundo de 2014, seguia as mesmas diretrizes, porém criava dois lances de arquibancadas e um túnel que passava por baixo das atuais ruas perimetrais, diminuindo consideravelmente o fluxo de carros no nível superior das arquibancadas.



Ambas as propostas parecem fazer do Pacaembu um objeto muito grande para seu terreno, com espaços menos generosos e uma segregação completa em relação ao clube eles não procuram remontar história ou vocação evidentes no projeto de Ramos de Azevedo.

Acima: Planta do conjunto Abaixo: Ilustração do Pacaembu na reabertura

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No dia 18 de novembro deste ano, em entrevista a rede de televisão ESPN, o prefeito da cidade Fernando Haddad afirmou que pretende fazer uma chamada pública para escutar a posição da população em relação a um de seus bens mais queridos. A discussão do futuro sem dúvidas é positiva, porém a insistência em readaptar o Pacaembu para fazer frente as novas arenas é uma prática pouco inteligente e que não faz jus a toda história do monumento.


IV pacaembu

Desde sua criação podemos entender o Pacaembu como um estádio de segunda geração, a existência de tribunas de honra, espaços específicos para jornalistas, uma estética muito própria e um o uso de uma tecnologia inovativa conferem a ele essa classificação. O problema do Pacaembu surge a partir de uma de suas maiores virtudes, a implantação impecável criou também limites extremamente bem definidos que impedem a expansão para o exterior. A construção do tobogã que nos obrigou a revogar da beleza e qualidade apresentada pela concha acústica é a prova maior desse fato. Portanto devemos compreender que esta dificuldade imposta pela limitação de espaço pode, no fundo, não possuir uma solução suficientemente boa.


Entendendo que trata-se de um objeto público e dedicado as massas, o aluguel do mesmo para algum clube, apesar de ser destinado à mesma finalidade que hoje possuí, caracteriza na sua real natureza um ato contrário a sua vocação inicial de propagar cultura e lazer para todos os habitantes da capital. Portanto a associação de um monumento de tamanha importância com um grupo específico pode ser considerado um erro. Isso, junto a inflexibilidade dos clubes perante a essa condição, torna totalmente compreensível a atitude dos mesmos de procurar um local em que possam gerar uma identidade total perante seu público, e é essa incompatibilidade que nos indica que, já que a população não precisa de mais um estádio, talvez outros usos possam ocorrer lá. Devemos entender, portanto, que Pacaembu foi criado com um propósito. Ele, felizmente, o cumpriu com muita dignidade e eficiência nos últimos 74 anos, porém, agora, com sua missão já cumprida, é necessário reinventa-lo apropriando-se de sua estrutura de forma positiva e preservando-o e reinserindo-o para que ele não deixe de exercer influência perante a cidade.

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FORMAÇÃO TÁTICA

- é o que define sua posição em campo, para que lado correr, que atalhos pegar. o grito do técnico, insistente, vai lhe seguir madrugada adentro mas, convenhamos, ele sabe o que está fazendo-


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I diretrizes

Decidir sobre a dimensão da intervenção era um importante começo. Por um lado, uma posição mais cautelosa e com menos interferência prezaria por um respeito maior por toda a história e por um cuidado em relação ao patrimônio público; por outro, um caminho mais enérgico e ousado, era condizente com as reais necessidades e possibilidades que somente um projeto dessa magnitude poderia proporcionar. Dessa forma a atitude deveria ser impactante, estimulante e chocante, algo que fugisse das respostas obvias e procurasse realmente interrogar a vocação da construção. Levando em conta também que a história pode ser contada e repassada, apesar de ser importante manter pedaços vivos dela, é importante valorizar o futuro para que ela continue a ser escrita.


“A experiência arquitetônica deveria criar uma estranheza – digamos, de forma artística – ou, pelo contrário, deveria nos acolher?” (tradução livre do autor) “Is the experience of architecture something that is meant to desfamiliarize – let’s say, a form of “art” – or, on the contrary, is it something that protects?” (TSCHUMI; Bernard, 1999, p. 246)

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Portanto a intervenção não se limita somente a principal estrutura que descaracterizou o estádio, o Tobogã, mas também atua em suas arquibancadas, seu vazio central e sua dinâmica urbana. Tomando uma série de atitudes que reintroduzam o Pacaembu na cidade antes que ele caía em desuso. Uma decisão foi tomada nesse sentido: uma vez que está sendo feita uma releitura das possibilidades, da vocação do terreno e da infraestrutura, deve-se fazê-la por completo, questionando seu uso, sua função na cidade e suas vocações, respeitando, sempre, as antigas estruturas e a história, porém acima de tudo atualizando-a em sua totalidade incluindo as partes consideradas mais intocáveis. Atuar em todas as estruturas era justificável porque precisava-se criar uma conexão entre preexistência e intervenção, único modo de amenizar a hierarquia e valorizar o conjunto como um todo tornando-o mais coerente e contundente. Logo a ideia foi tornar as antigas estruturas e as novas uma coisa só, juntas; um diálogo e não uma sucessão de anexos.


Analisando a história do Pacaembu desde a sua idealização, é possível reconhecer nas suas diversas etapas algo em comum, a missão de servir a população. Quando foi criado em 1940 surgiu como elemento de apoio ao Estado Novo e resposta a grande demanda de equipamentos esportivos. Nos anos 70 a demolição da concha acústica retratou o abandono de uma época e o surgimento de novas necessidades. A criação do piscinão em 1994 nos faz relembrar das verdadeiras características naturais do terreno e do importante papel que o córrego desenvolve no escoamento das águas da região. Em 2008 a criação do Museu do Futebol apontou para uma forte demanda cultural alterando consideravelmente o seu uso. Surgiu-se a ideia de doar, de fato e pela primeira vez, o terreno a população. Porque apesar de ser um estádio municipal e, portanto, de caráter público, ele tem sido historicamente palco de eventos privados, salve exceções, que cobram ingresso muitas vezes a preços inacessíveis. Junto a esse conceito também nasce o desejo de que o estádio funcione em regime 24/,ou seja, o maior tempo possível, deixando de ser uma estrutura de uso semanal para se tornar um elemento do cotidiano paulistano, reforçando seu papel dentro da cidade. Essas ideias estão alinhadas com as atuais propostas do Pacaembu pois apontam para o mesmo sentido das últimas mudanças programáticas realizadas no estádio que são: 120

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O museu, que apesar de não funcionar às segundas-feiras, atraí quinzenalmente 24.000 pessoas, público superior a média de 17.618 espectadores do Palmeiras na série A de 2014, único clube que usou o Pacaembu em todas as partidas como mandante durante o ano. E a parte esportiva das quadras e piscina que, por sua vez, segundo o decreto municipal número 48.392 de 29 de maio de 2007, opera desde o mesmo ano o projeto Clube Escola ligando equipamentos esportivos públicos da cidade com escolas de mesmo públicas. Portanto decidiu-se que a diretriz desse novo programa deveria estar alinhada com esse vetor social e público, rompendo os muros do Pacaembu de forma literal e figurativa e transformando ele num polo de atividades esportivas e culturais.


A mudança do uso mantendo as antigas estruturas foi feita com a ideia de “crossprogramming” descrita Tschumi, ela acontece quando uma atividade ocorre dentro de um ambiente que não foi projetado para essa finalidade. Isso só é possível porque existe uma condição impõem que a necessidade é mais forte que o uso pré-determinado dos espaços. Portanto a atividade empregada no local é na realidade quem define o que o espaço é de fato, e não o arquiteto. Esse fenômeno é positivo pois cria equipamentos na cidade que não podem ser desvendados pelo exterior. Essa característica, que também ocorre dentro do Museu, é ainda mais excitante porque se nega a oferecer o óbvio e exige do visitante uma imersão por completo na obra, fortalecendo a ideia de chocar as pessoas com a finalidade de despertar dentro delas novas sensações estimulantes.

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“Arquitetura sempre tratou dos eventos que se apropriam do espaço tanto quanto do espaço em si.” (tradução livre do autor) “Architecture has always been as much about the event that takes place in a space as about the space itself.” (TSCHUMI; Bernard, 1999, p. 253)


Existe outro confronto: a sobreposição do programa cultural com o esportivo. Ela é proposital e muito benéfica para o projeto porque permite que programas de natureza diversa convivam, coexistam e, juntos, criem novos jeitos de entender e usar o espaço. Funcionam convergindo públicos que possuem suas semelhanças e diferenças e que agora compartilham o mesmo espaço criando dinâmicas únicas e peculiares que contemplam o imprevisível e o impensável. Essa interpolação de programas também é positiva porque permite que o Pacaembu realmente assuma a característica de um uso contínuo. Portanto, mesmo que os esportistas não apareçam a noite o programa cultural tratará de mantê-lo em uso e vice-versa. Assim, essa diretriz pode ser entendida como a principal do projeto pois é aquela que o define e permite um jeito único de se relacionar com a cidade, cedendo um espaço produtivo o tempo todo, algo extremamente raro em São Paulo que tem a tendência de polarizar seus usos.

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“Se arquitetura é tanto conceito e experiência, espaço e uso, estrutura e superfícies – não hierarquicamente – então a arquitetura deveria parar de separar essas categorias e, ao invés disso, criar combinações de programas e espaços totalmente novos.” (tradução livre do autor) “If architecture is both concept and experience, space and use, structure and superficial image – no hierarchically – then architecture should cease to separate these categories and instead merge them into unprecedented combinations of programs and spaces” (TSCHUMI; Bernard, 1999, p.254)


Portanto, com a intenção de diversificar seu uso, cedendo o espaço a população com equipamentos culturais de forma ampla e aberta e interagir com o programa esportivo já existente, o programa desenvolvido foi: Uma biblioteca com uma sessão especialmente dedicada a esportes, expandindo, portanto o já existente Centro de Referências do Futebol Brasileiro (CRFB) que conta com um acervo 1.700 volumes e está situado dentro do Museu do Futebol. Um auditório de 1035 lugares que remeterá a antiga concha acústica demolida na década de 70, resgatando os laços e a memória criada com esse elemento e trazendo de volta para dentro do estádio espetáculos culturais que outrora eram tão comuns. Escolas de Música e Dança, que pretendem, assim como o projeto Clube Escola, se associar as escolas públicas tornando o Pacaembu um verdadeiro ponto de encontro depois das aulas. Eles também vão ser os principais usuários do auditório.

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Espaço de exposições para acolher pequenos eventos que inclusive possam vir a ser realizados pela biblioteca, escolas de dança e música ou outros, proporcionando independência de qualquer programa especifico. Bicicletário e ciclovia conectados com o atual plano de ciclovias da cidade de São Paulo. Este prevê faixas na Rua Itápolis que realizaram a conexão direta com a Avenida Paulista, tornando o bairro ciclável e conectado com o resto da malha urbana. Quatro salas de cinema, cada uma com capacidade para 90 pessoas, que vão fazer uso das arquibancadas em seu estado original. Cinco restaurantes e um café com a intenção de atender a nova demanda que surgirá no dia-a-dia e em dias de eventos nas escolas, cinemas e espaço de exposições. Expansão de 2.500m² de área visitável do Museu do Futebol, atendendo parcialmente a futura demanda de 10.000m² citada por Mauro Munhoz na página 169 do livro Arquitetura e Requalificação do Museu do Futebol.


Uma última diretriz foi traçada baseada no conceito de eventos. Ainda segundo Tschumi eles nascem e se relacionam diretamente com a questão do programa e da definição de usos dos espaços. Os eventos acontecem a partir de uma lógica sem controle, a lógica do espaço, do inevitável, do improviso. É a partir disso que se criam as eventualidades excluindo a necessidade de uma regra ou definição previa feita por um arquiteto. Portanto os eventos têm como característica principal sua imprevisibilidade e naturalidade que humaniza o projeto, criando, segundo livre associação de Tschumi uma série de inventos, dessa forma procuramos criar espaços de eventos e de inventos, definindo uma série de espaços livres que dão uma margem ainda maior para esse tipo de apropriação.

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“A fascinação pelo dramático [...] existe para forçar-lós a reagir. Arquitetura deixa de ser o plano de fundo das ações e elas mesmas se tornam as ações.” (tradução livre do autor) “The fascination with the dramatic [...] is there to force a response. Architecture ceases to be a backdrop for actions, becoming the action itself” (TSCHUMI; Bernard, 1999, p.148-149)


II apreensividade 130

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Com mais de 70.000 m² já construídos e um programa tão extenso e diversificado surgiu um problema que Koolhaas julga ser muito comum à contemporaneidade, o problema da escala do edifício. A partir de certo ponto a obra torna-se tão grande que deixa de caber dentro de si e não segue mais a lógica natural de conexões, o que naturalmente acaba bagunçando as partes dentro do todo diz Koolhas. No caso do estádio a sobreposição da intervenção somada a uma grande estrutura existente acabou tornando esse sentimento bem palpável. Koolhaas então elenca alguns desses aspectos que justificam o aumento de escala. O primeiro deles diz respeito a massa do edifício, ela se torna tão grande que nenhum grande ato pode controlar todas as partes por inteiro, é necessário dar autonomia para elas porque somente dessa forma elas conseguirão fazer parte de um todo.


O problema ganha outra dimensão no Pacaembu pois a préexistência é um ponto de partida rígido que cria uma linea rossa muito difícil de se definir. Ao mesmo tempo, exige que toda obra, incluindo estruturas antigas, sejam compreendidas como partes do mesmo todo. A hipótese encontrada foi determinar os pontos que geraram as curvas do Pacaembu e defini-los também como pontos fortes da intervenção, desenvolvendo uma malha estruturada e posicionando todo o programa de acordo com essa minuciosa regra. Isso surge como um símbolo de união entre as partes que procura ao máximo estreitar esses laços, outra atitude tomada foi a de mesclar o mesmo programa dentro e fora da preexistência, caso que acontece nos cinemas, no ginásio e no museu especialmente


“Essa massa já não pode ser controlada por um único gesto arquitetônico, nem mesmo por uma combinação de gestos arquitetônicos” (KOOLHAAS; Rem, 2010, p. 16)

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Num segundo momento Koolhaas critica a fragmentação criada pelo elevador que separa os pavimentos em lajes desconexas e sem uma transição adequada. Procuramos minimizar esse efeito com a linearidade das transições, dessa forma a maior parte das conexões ocorre por rampas e por meio das antigas arquibancadas, além do funicular criado na extremidade da arquibancada. Dessa forma a noção de percurso foi criada pois em todos os momentos a conexão visual com os outros elementos está presente. “O elevador – com o seu potencial para estabelecer ligações mecânicas em vez de arquitetônicas – [...] anulam e esvaziam o repertório clássico da arquitetura. Questões de composição, escala, proporção e pormenor são agora irrelevantes. Na Grandeza, a “arte” da arquitetura é inútil” (KOOLHAAS; Rem, 2010 p.17)


Outro aspecto levantado sobre a questão se refere a não passividade dos edifícios desse porte em relação a cidade, são marcos urbanos que alteram e corrompem a dinâmica local, independente de sua qualidade. Novamente o fato da Grandeza ocorrer em uma pré-existência se tornou algo positivo; o estádio esta lá há mais de 70 anos, foi idealizado e construído junto ao bairro com um planejamento especifico para o mesmo. Ele faz parte da paisagem e da dinâmica local desde o principio. A grande mudança que deve ocorrer, e vemos isso de forma benéfica, é nos fluxos do bairro, que vão se intensificar e despertar novas possibilidades para a região, fora isso, provavelmente será possível notar um vínculo ainda maior com a edificação já que a apropriação da mesma ocorre corriqueiramente se misturando a rotina da população e promovendo a diversidade. Esse tipo de edificação, porém, também cria um tipo de isolamento diferente. Sua autossuficiência faz com que ele deixe de precisar de certas atividades básicas uma vez que ele mesmo as provem, ou seja, é possível passar dias nele sem fazer a mesma coisa e sem se envolver com a cidade

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“A grandeza já não precisa da cidade: ela compete com a cidade; ela representa a cidade; ela antecipa-se à cidade; ou melhor ainda, ela é a cidade” (KOOLHAAS; Rem, 2010, p.26)


Existem algumas particularidades positivas que essa escala de edifício proporciona; a principal delas citada por Koolhaas é a troca de valores inerente ao fato delas existirem dentro de um mesmo conjunto, argumento similar ao de Tschumi sobre troca entre programas. Assim a tendência delas é de se desprender das defesas naturais que existem quando relaciona-se diretamente com a cidade e, portanto, se abrir dentro do conjunto, fortalecendo ainda mais essas trocas. Esse relacionamento entre as atividades é interessante pelas dinâmicas geradas, segundo o autor apesar da aparente necessidade de que essas partes tenham uma relação muito forte, a própria escala do edifício mantem elas separadas organizando o espaço. Ele também cita a impossibilidade de se definir usos e atividades para todo o conjunto, existe um momento em que isso simplesmente não se faz presente. Assim, a necessidade da existência de algo deixa de existir para dar lugar ao nada, ao espaço onde os eventos nascem e se desenvolvem, onde as atividades são tão importantes quanto qualquer atitude arquitetônica, exatamente como era desejado nas grandes praças onde o invento, exemplificado por Tschumi, nasce, é observado e se reproduz. A ação tem como parte fundamental a criação desse espaço onde “nada” acontece e amarra todos os pontos. 136

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III intenções

Trabalhar a questão da memória do lugar sempre foi uma das grandes intenções do projeto. Em uma das reflexões chegamos ao conceito de que deveríamos definir a nostalgia do estádio. O conceito de nostalgia que criamos é comparado ao da memória, porém a nostalgia é algo mais profundo cuja saudade jamais será completamente saciada, ela perdura e cria a sensação de que aquele objeto jamais vai adquirir novamente as qualidades anteriores. O conceito de nostalgia pôde ser notado no documentário O Gigante Sem Dono, de Berci, onde muitos funcionários e ex-frequentadores cultivam esse sentimento em relação à antiga concha acústica e ao futuro do estádio. Para evitar ou amenizar esse aspecto é necessário que exista uma continuidade tanto da memória como da atividade. O abandono do Pacaembu e o ociosidade do mesmo criariam uma lacuna dentro da memória do lugar que fortaleceria e muito a nostalgia do lugar. Portanto nossa intenção nesse caso é que a nostalgia não tenha tempo de se firmar. O ideal seria que a pratica de visitar o Pacaembu regularmente se mantivesse viva nas famílias paulistanas, se possível até intensificar essa frequencia, criando uma transição suave entre seus usos e transmitindo a memória entre gerações. Dessa forma a memória do estádio permaneceria viva mesmo nas futuras gerações.


Dentre as intenções criou-se a ideia da singularidade do elemento. Desejávamos que a experiência de adentrar esse novo projeto fosse única, e que isso estivesse totalmente ligado ao patrimônio histórico e a memória do lugar. Numa dúvida entre qual elemento era essencial para despertar essa sensação de singularidade dentro do estádio chegamos a conclusão que a resposta não estava num programa que fosse perfeito para as nossas circunstâncias mas sim na circunstância em si. Ou seja, não existe um programa que estava destinado a ser ideal para o local, a singularidade do projeto não está no “museu dentro do Pacaembu”, ela está no “cinema dentro do Pacaembu”. Dessa forma procuramos peculiaridades dentro dos detalhes para criar a sensação desejada; no caso do museu a resposta surge do uso do lado “avesso” das arquibancadas e da possibilidade de atravessalas, despertando emoções únicas. A singularidade, portanto, nasce da matéria e do modo como ela influência o uso e não do uso em si. O protagonismo do indivíduo dentro do projeto nasce de uma longa análise que mostrou a existência de um vetor predominante no terreno. Esse vetor nasce antes da chegada de Cabral ao Brasil e é caracterizado em um primeiro momento pelo curso do córrego que escoava as águas da região partindo do sul rumo norte até desembocar no Rio Tietê. Essas águas alimentavam o córrego Pacaembu e, até o final dos anos 20, eram o grande protagonista do terreno. 138

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Com a implantação do estádio o protagonismo mudou de mãos, porém o vetor se manteve intacto. Independente do público que fosse ao estádio todos estavam lá pelo mesmo motivo, ver a bola balançar as redes; times e torcidas se alternavam, porém a posição das balizas e, principalmente, o protagonismo da bola foi sempre o mesmo durante os 74 anos de história; e ela sempre correu no eixo norte-sul tal qual o córrego. Assim criou-se a certeza que o vetor predominante seria mantido, era uma forma de representar a vocação do lugar ao mesmo tempo em que invocava a memória e evidenciava sua nova proposta, tínhamos que entender quem era o novo protagonista. As diretrizes traçadas anteriormente deram de forma sucinta e precisa a resposta: o novo protagonista eram as pessoas e sua capacidade de criar novos e imprevisíveis eventos. A ideia de conexão visual é talvez a mais presente no projeto e surge junto da complexidade dele. Com alguns programas já existentes e uma série de novos para implementar se fez necessária uma conexão entre todos esses elementos. A geografia do local e o formato já consolidado do estádio nos permitiram tomar uma atitude singular onde todos os programas tiveram a oportunidade de criar uma conexão visual com os outros.


Assim independente de onde você estiver na grandeza desse equipamento uma vez lá dentro é muito fácil compreender qual a sua posição em relação ao todo. Isso facilita os deslocamentos mas também desenvolve uma ligação direta com o conceito de trocas entre os programas. A intenção de tornar a conexão visual um catalizador do elemento principal, as pessoas, foi elevada a outro nível quando foi adotado também o conceito de desvendar os programas. O espectador, apesar de ter uma compreensão de sua posição, não sabe o que as fachadas protegem, existe, portanto, uma sedução do individuo usando uma série de máscaras que asseguram certa privacidade que só é possível ser rompida com a aproximação dele junto a atividade. Dessa forma, quando ele decide enfim desvendar o que aquela máscara protege ele o faz através de uma nova escala de conexões visuais.

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“A arquitetura [...] constantemente faz papel de sedutora. [...] Como máscaras, elas se colocam através do real e do espectador. Então, algumas vezes, você deseja desesperadamente ver a realidade oculta pela máscara. Logo, entretanto, você percebe que é impossível ter uma única interpretação. (tradução livre do autor) “Architecture [...] constantly plays the seducer. [...] Like masks, they place a veil between what is assumed to be reality and its participants. So sometimes you desperately wish to read the reality behind the architectural mask. Soon, however, you realize that no single understanding is possible.” (TSCHUMI; Bernard, 1999, p.90)


A última intenção era a de conexão a partir do Pacaembu. Uma ligação em nível das Ruas Itápolis e Rua Desembargador Paulo Passaláqua evitaria que as pessoas fizessem um longo e desgastante percurso, economizaria tempo e diminuiria a sensação de cicatriz que o vale cria entre os dois lados. No outro sentido uma conexão entre as Avenidas do Pacaembu e Doutor Arnaldo era extremamente desejável, ele se concretizaria não por passarelas ou elevadores mas sim pelo fato do Pacaembu se consolidar como um objeto urbano bem conectado e de uso corriqueiro. Acreditamos que isso geraria um enorme fluxo de pessoas que vem por cima pela Rua Capivari bem como um enorme fluxo no outro sentido pela Praça Charles Miller. Assim o Pacaembu seria o ponto de destino e encontro desses personagens, amarrando definitivamente um ao outro.

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NA MARCA DA CAL

- é o momento em que um pênalti vai ser batido; todos ficam atentos aguardando o cobrador, chance de alterar o placar, fazer a diferença, silêncio repleto de expectativa ecoa pronto para explodir em emoção –


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I projeto

As diretrizes e intenções apontavam para um Pacaembu mais permeável, dessa maneira surgiram 4 camadas diferentes das quais 3 delas se conectam diretamente com a cidade, são elas: Plano Charles Miller cota +754.00 (camada 1) Plano Capivari cota +758.00 (camada 2) Plano das Arquibancadas cota +766.00 (camada 3) Plano Itápolis cota +774.00 (camada 4)


Adentrando Existem diversas formas de adentrar o estádio. Na primeira camada, ligada diretamente a Praça Charles Miller, a entrada pelo portão principal se mantem inalterada com o acesso ao Museu do Futebol pelo lado esquerdo. Entretanto agora essa entrada guia o visitante diretamente ao eixo principal criado a partir da ideia do protagonismo do indivíduo. Foi criado também outro acesso que contempla as bicicletas e permite que os ciclistas percorram todo o Pacaembu sem a necessidade de descer de seu veículo. Essa passagem surge de forma subterrânea e se inicia na praça, passa ao lado das fundações dos pilares que sustentam a arquibancada norte e se encontram com o túnel do antigo vestiário. Ao fazê-lo eles se unem brevemente e depois se dividem novamente entre uma rampa, que é exclusiva para as bicicletas, e o acesso do vestiário ao campo. Essa intervenção procura mexer com o visitante que atravessa pelas estruturas originais que craques como Pelé e Zico passaram, reproduzindo a emoção que eles tinham quando subiam ao gramado. Para manter a experiência o mais fiel possível foi preservado o gramado original da saída do vestiário que coincide com um dos grandes furos da 2ª camada. Essa entrada contempla diversas das nossas ideias, a principal delas é a da singularidade, porém também se relaciona com a preservação da memória e a descoberta.

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O acesso pela Rua Capivari é o mais próximo da Avenida Doutor Arnaldo, ele atualmente funciona como entrada para o clube e, se manterá inalterado bem como o acesso da Rua Desembargador Paulo Passaláqua as arquibancadas do lado oeste (camada 4). Do outro lado do Plano Itápolis o nome do projeto, Pacaembu de Portões Abertos, ganha formato e vida; consequência da criação do metro ao lado do estádio e da existência de um fluxo muito maior nesse sentido. Dessa forma foi decidida a demolição dos muros que segregam e impedem a vista do vale. Agora, aqueles que vêm de carro da Avenida Doutor Arnaldo ao passarem rente ao estádio tem uma vista completa da dinâmica do que esta ocorrendo dentro. Aqueles que desembarcarem na Estação FAAP-Pacaembu vão ter o privilégio de uma rua elevada ao nível da calçada que, com os muros derrubados, se conecta diretamente com a praça-mirante. Nesta nova entrada, que vai concentrar todo o fluxo que vier da Avenida Paulista e região, foram privilegiadas as conexões visuais e a ideia de um espaço em que os eventos possam assumir forma através da singularidade.


Plano Charles Miller A segunda camada é a que antes abrigava o campo de futebol, agora ela é responsável pela maioria das atividades. Logo ao entrar pelo portão você acessa o eixo principal, o desenho dele foi definido a partir da malha traçada que tem como origem o ponto geratriz da arquibancada leste e oeste combinados, o resultado foi uma série triangular que regra os espaços e a estrutura da maioria dos ambientes desse plano e do projeto. O eixo divide a camada em leste e oeste e é a partir dele que as bolas programáticas se rasgam e se desvendam, permitindo o acesso das pessoas as atividades. Logo ele atrai um fluxo grande e deve permanecer cheio, cumprindo assim sua função de criar o protagonismo do individuo no mesmo vetor histórico. Para que isso se torne viável ele tem em sua menor dimensão 10m de largura. Ao final, onde antes ficava o tobogã existe uma rampa que se eleva até o Plano Capivari, abaixo dessa rampa reside alinhado com o eixo, o auditório em referência à antiga concha acústica.

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A capacidade do auditório é pouco superior a 1000 pessoas, sua principal função além de servir como casa de espetáculos é servir como estrutura de apoio para as escolas de música e dança. A entrada para o auditório acontece no exato momento em que a rampa de acesso ao Plano Capivari e a Passarela Garrincha se descolam o suficiente para que as pessoas passem confortavelmente. Com isso o foyer, que segue a malha, acaba cruzando por dentro da estrutura do próprio auditório que, por meio de uma janela, desvenda-se para o público que em breve o lotará. Essa solução deveria vir combinada de uma estrutura que permitisse que as pessoas circulassem por dentro dela, por isso o uso de grandes peças de viga vierendeel que “revidam” a atitude do foyer e também o penetram. O acesso para os palestrantes, atores e artistas acontece pela mesma estrada da escola de dança, proporcionando a privacidade e infraestrutura necessária.


A parte a oeste do eixo é caracterizada, num primeiro momento, pela chegada da entrada para bicicletas e pessoas, um bicicletário, vestiários públicos e um grande furo junto a uma rampa circular com diâmetro de 21m, num segundo momento temos a bola da biblioteca. Essas bolas programáticas são estruturas que começam com 40m de diâmetro e atingem no seu topo 46m. Elas são estruturas similares ao Madison Square Garden de Nova Iorque e possuem um anel metálico no centro que é atirantado pela estrutura radial que transfere a carga. Esses elementos rompem a laje do Plano Capivari se tornando verdadeiras referências de onde os programas acontecem. Avançar sobre o eixo principal serve para ligar esse elementos, quando elas se acabam se interseccionam, como já fora citado, a bola se despe de seus fechamentos e faz confundir o que é passagem do que é um grande hall de entrada deixando apenas sua estrutura tubular aparente até o chão. Já do lado leste encontra-se a nova administração do Museu do Futebol, a escola de dança, a escola de música e um espaço de convivência. A escola de música possuí sob a bola três salas de estudo coletivo para coros, a recepção, e um pequeno auditório para apresentações esporádicas e não oficiais, pode também ser usado como ponto de encontro dos alunos da instituição.

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A escola de dança, por sua vez, encontra-se mais a sul perto do auditório. Abaixo da estrutura da bola ela possuí, além da recepção e uma série de sofás, cinco salas de estudo com tamanhos diferentes para os mais diversos grupos e formações. O acesso a elas é feito perimetralmente por meio de portas pivotantes que ficam no vão da estrutura, o mesmo ocorre na escola de música. O diferencial dessa escola está na adaptabilidade de duas de suas salas principais para formar a “sala-palco” que se assimila as dimensões do palco do auditório, facilitando ensaios; além disso dispõem de uma academia de ginástica particular e duas pequenas salas de vídeo. O espaço de convivência, entre as escolas e de frente para a biblioteca, possui somente um grande furo na laje, ele é composto por um café, uma livraria, lojas de artigos de dança e de música e um grande espaço de exposições independente dos outros programas. Esse espaço, tal qual o auditório, pode ser usado pelas escolas e pelas bibliotecas mas também pode ser destinado a exposições externas ou eventos. Toda a iluminação desse plano, que é coberto pelo superior, é feita através de iluminação zenital, quando os grandes furos ficam muito distantes é feito uso de claraboias que seguem a malha desenvolvida.


Plano Capivari Esse plano funciona como grande elemento articulador do projeto. A partir dele é possível estabelecer conexões visuais e físicas com todos os outros planos. Toda a parte do clube, que inclui uma piscina olímpica com plataforma de saltos, um ginásio poliesportivo e duas quadras de tênis, uma coberta e outra descoberta, está localizada nele e essas são as únicas estruturas programáticas que ele abriga. O plano se ocupa de resgatar a memória do campo, criando um longo gramado que transfere as antigas linhas oficiais para cima e simulando que ele sempre estivera ali. Esse gramado segue o tradicional corte duplo de grama de estádios de futebol que gera a sensação de duas cores diferentes, porém, no novo Pacaembu as listras vão seguir o desenho da malha que sustenta a laje e, que não por acaso, é o mesmo que segura as lajes do Plano das Arquibancadas e do Plano Itápolis, dessa forma tudo, incluindo arquibancadas, acabam apontando para o eixo central. Nessa camada é que nasce o espaço da casualidade e do ócio. Sem atividades definidas aparentemente uma das únicas coisas que se pode fazer é transformar-se em um voyeur e interpretar o que as outras pessoas fazem, porém ele vai muito além disso procurando instigar e proporcionar para as pessoas um ambiente amplo que permite tudo. É o espaço do evento público, democrático e destinado as pessoas. 156

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Quando perfurado pelos grandes furos ou pelas bolas programáticas ele busca interação, no primeiro caso criando uma conexão visual e no segundo adentrando para desvendar o que está presente naquele maciço que surgiu do “subsolo”. A intenção era que pessoas fossem além, que não só observassem, mas participassem e interagissem com as atividades. A forma encontrada de fazer isso sem prejudicar o andamento das aulas ou as pessoas foi fazer com que elas dividissem o mesmo ambiente mas não o mesmo nível. Isso ligado a necessidade de criar uma passarela que unisse o lado leste e oeste desse plano e criou-se uma série de descobertas para os pedestres. O percurso gerado ficou da seguinte forma: As pessoas observam o maciço e não sabem o que acontece dentro deles, se aproximam e através das chapas perfuradas começam a desconfiar do que ocorre lá, perfuram a bola programática pelo nível 4.00 e descobrem qual é a sua finalidade; ao estar de cima observam as pessoas, estudando, dançando, tocando, conversando, etc. Percorrem a passarela rumo ao outro lado enquanto ainda observam outras atividades até chegar ao eixo principal, nesse momento o teto se abre novamente e eles adquirem uma perspectiva única das dinâmicas e do conjunto. Continuam andando quando perfuram outro maciço que no seu interior revela outras atividades, podem, enfim, escolher se repetem esse processo rumo a próxima bola ou se saem dessa experiência ao completar a travessia de um lado para o outro.


Essa estrutura também segue rigorosamente a malha criada para os outros programas, a ela foi dada o nome de Passarela Garrincha, isso porque ao ziguezaguear perante o eixo principal passando de pé em pé, programa em programa, ela demonstra certa ginga. O desejo que não existisse guarda-corpo foi resolvido com a criação de um banco de 1m de largura cuja metade de fora dele é uma floreira; ele fica descolado outro meio metro do chão e se repete não somente nos furos desse plano mas também nas extremidades das camadas 3 e 4. Esse plano ainda abriga toda a parte de ciclovia que vai se conectar com o início da Avenida Paulista e uma estrutura de 10 arcos de mesma altura e posicionamento da antiga concha acústica, fazendo referência a sua existência e recuperando o arremate original do eixo principal.

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Plano das Arquibancadas Dividido em três partes ele é sustentado por um sistema de vigas que segue a malha proposta. Elas tem o cuidado de apoiar-se em apenas um ponto da arquibancada cuja finalidade é interferir o mínimo possível na estrutura existente, dessa forma nasce um corredor perimetral, ele é a própria laje e conecta os dois lados do vale ao mesmo tempo que permite o contato visual com a grande praça central. A arquibancada oeste é ocupada por uma série de restaurantes que não encostam na estrutura existente. Eles possuem uma cobertura de vidro que vai mais a frente que a cobertura existente da arquibancada azul e serve para colocar mesas. A localização dele é propicia porque esse não é um plano de fluxos muito grandes, dessa forma aqueles que querem comer podem fazê-lo de forma mais tranquila, fora isso os restaurantes deixam as arquibancadas livres para que as pessoas possam se apropriar delas, inclusive enquanto comem. É muito comum em muitas partes da Europa e dos Estados Unidos encontrar pessoas comendo em escadarias de edifícios ou igrejas. Essa prática também já foi realizada no Pacaembu, como citado no primeiro capítulo, na ocasião da estreia de Leônidas da Silva pelo São Paulo as pessoas esperaram por mais de 6h dentro do estádio e resolveram almoçar dentro do mesmo trazendo de casa as suas marmitas. Dessa forma ficou garantido, também, que as arquibancadas sejam utilizadas dentro do conjunto, valorizando e ocupando ele por completo.


Do outro lado, na arquibancada leste, foi aproveitado o pé direito duplo e das fileiras de arquibancada existentes para criar quatro salas de cinema, elas que sustentam o piso da praça-mirante. O diferencial das salas está no modo em que as pessoas assistem ao filme. Ao desenvolver a questão da singularidade e procurar uma mínima interferência chegou-se a conclusão de que sofás e pufes se encaixam melhor na proposta do projeto criando não somente um jeito novo de fazer a sala mas de assistir cinema como um todo. A bilheteria e a bombonniere ficam no meio de duas salas, o foyer é também o espaço entre elas. A expansão do museu, que fica abrigada na arquibancada norte, ocupa parte do espaço da própria laje e todo o terceiro plano do museu - onde antes funcionava o setor administrativo - deslocado para o Plano Charles Miller ao lado da entrada.

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A proposta de que todos os programas fizessem parte desse novo conjunto fez parte do museu se abrir para dentro do estádio, estabelecendo novamente a ideia de desvendar o que ocorre daquele momento em diante. Para isso tivemos que alterar parcialmente o percurso do museu, mas, sem interferir em seus acessos já que é uma atividade cultural consolidada. A solução encontrada foi a criação de um percurso duplo no terceiro plano, primeiro se visita as salas por dentro das arquibancadas e depois por fora, na nova laje. Isso fortalece o conjunto e permite que mesmo de dentro da exposição você consiga fazer contato visual com as outras partes, dessa forma a única necessidade criada foram dois buracos, semelhantes aqueles que antigamente eram usados como acesso pelas laterais do portão principal, para as pessoas fazerem a transição entre essas salas no início e fim respectivamente.


Plano Itápolis O último plano do projeto é na verdade um plano de fluxos. É por ele que se cria de fato a conexão entre Rua Itápolis e Desembargador Paulo Passaláqua. Aumentou-se o espaço do patamar final na arquibancada norte para que diversas pessoas pudessem fazê-lo ao mesmo tempo, consequentemente criou-se uma cobertura para a expansão do museu, essa cobertura, entretanto, não se mantém igual nas arquibancadas leste e oeste como o fazem no plano inferior. Quando ela encontra a arquibancada oeste ela se retrai e deixa de existir, garantindo a preservação e a coerência da cobertura existente sem deixar de conectar os dois lados. Já na arquibancada leste ela faz o movimento contrário, se expande criando uma grande praça-mirante que se estende pela rua até chegar ao metro do outro lado da rua dando a sensação de que ela invade o projeto e se estica o máximo possível para ver o que acontece lá dentro. Esse efeito ainda é intensificado pela ausência de muros nessa parte, porém para não deixar de existir uma transição nós mantivemos os pequenos pilares que sustentam a cobertura e, seguindo a lógica da malha, deixou-se alguns pedaços de muro para criar o efeito de lodja. Dessa forma mesmo que tudo esteja ligado existe uma sutil diferença que desperta no visitante essa sensação.

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Outra finalidade da praça-mirante é, como já diz seu nome, tornar-se um local de observação e de encontro; dela é possível praticamente pairar sobre a praça central. Aqui novamente surge a singularidade e as conexões visuais criadas para integra-la ao conjunto. Essas praças, porém, são muito diferentes entre si: uma delas parte do princípio de um gramado, enquanto a outra é seca, uma delas está protegida, a outra se abre e chega a encostar na cidade, uma delas compreende o mundo de baixo para cima, a outra de cima para baixo. Essas diferenças garantem uma diversidade de impressões e possibilidades para elas, dessa forma diferentes pessoas vão criar diferentes eventos, e se elas trocarem de posição provavelmente vão fazer algo diferente do que fizeram e diferente do que o outro fez, multiplicando assim as possibilidades.


Conexões As conexões acontecem naturalmente no projeto, a ideia reproduzida é a de que nunca se está mudando de nível e sim percorrendo o projeto. Nesse contexto nasceram as rampas que ligam as camadas 1 e 2, já a conexão dos outros planos sempre pode acontecer pelas arquibancadas que estão conectadas em diversos pontos com todos os planos. Caso a pessoa não consiga ou não deseje movimentar-se dessa forma criou-se 4 pontos de conexão nos vértices das arquibancadas laterais. Para esconder esses elementos verticais dentro de um projeto essencialmente obliquo desenvolvemos duas soluções. No vértice que faz contado com a arquibancada norte foi desenvolvida a mesma solução adotada na criação do museu do futebol, os pares de elevadores ocupam um espaço ocioso que não é preenchido por terra, mas que conecta todos os planos(Foto). Cria-los demanda pequenos rasgos na arquibancada uma vez que eles acontecem na parte interna dela. No outro vértice a solução também toma partido de uma estrutura existente. Há um grande arremate inclinado entre as arquibancadas e os taludes da parte esportiva. Essa estrutura abriga banheiros, removendo eles e fazendo uma reforma transformando-os em uma espécie de funicular, dessa maneira as pessoas entrariam na estrutura e os elevadores discretamente correriam por dentro dele. 170

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CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.

prorrogação

Resolução SC 05/98, de 21 de janeiro de 1998, publicado no DOE 02/04/98, p. 60 O Secretário da Cultura, nos termos do artigo 1o do Decreto-Lei 149, de 15.08.69 e do Decreto no 13.426, de 16.03.79, cujos artigos 134 a 149 permanecem em vigor por força dos artigos 187 e 193 do Decreto no 20.955 de 1o de junho de 1983, Considerando a importância do Conjunto Esportivo do Pacaembu para a história do esporte paulista, cujas origens remontam a iniciativa de educação pelo esporte de jovens paulistanos, a realização de campeonatos e competições esportivas de caráter nacional e a solenidades cívicas; Considerando a qualidade de sua arquitetura e de sua implantação que soube inserir projeto de grandes dimensões na paisagem, respeitando-a e ao mesmo tempo valorizando urbanisticamente o bairro do Pacaembu, RESOLVE: Artigo 1o – Fica tombado o Estádio Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu) como Estádio de Futebol e o complexo esportivo a ele anexo, composto pelo Ginásio de Esportes, Quadra de Tênis, Piscina Olímpica e demais instalações localizadas no perímetro delimitado pelas seguintes ruas: Desembargador Paulo Passalacqua e Itápolis a partir da confluência com a Av. Pacaembu;segue pela Desembargador Passalacqua até encontrar-se com a Rua Capivari na confluência com a Rua Itajobi defronte a Praça Fagundes Varela; segue então pela Rua Capivari até encontrar-se com a Rua Itápolis até esta atingir o ponto de origem. Artigo 2o – Estão incluídos no tombamento a ponte da Avenida General Olímpio da Silveira sobre a Av. Pacaembu e o Muro do Cemitério do Araçá, na lateral da avenida Major Natanael. Esses elementos são referenciais urbanos diretamente relacionados com o Estádio, estabelecendo contrapontos arquitetônicos para este e eixo de visualização para seu contexto urbanístico, cujo traçado não deve ser alterado. Do mesmo modo, a Praça Charles Miller, antecâmara que revela a monumentalidade do estádio é entendida como parte integrante do conjunto tombado. Artigo 3o – Este tombamento não gera área envoltória de 300 metros, pois o bem insere-se no bairro tombado do Pacaembu e, portanto, incorpora suas diretrizes de conservação. Artigo 4o – Fica o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado – CONDEPHAAT autorizando a inscrever no Livro de Tombo os referidos bens para os devidos e legais efeitos. Artigo 5o – Esta Resolução entrará em vigor na data da sua publicação. (P. CONDEPHAAT No 26.288/8)




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