MANGÁ: Artifícios de linguagem para atrair o público leitor

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MANGÁ: Artifícios de linguagem para atrair o público leitor

Por

Guilherme Schneider Moreira Dias DRE: 101143535

Trabalho final apresentado ao Setor de Letras Japonesa do Departamento de Letras Orientais e Eslavas

Faculdade de Letras - UFRJ Rio de Janeiro 2° semestre/2006


漫画: 大衆読者をひきっける話法の技巧 Guilherme Schneider

論文要旨 キーワード:漫画、ビジュアル・ランゲージ、日本語、翻訳 日本製のコミックは「漫画」と呼ばれている。漫画は世界中の国で読まれて おり、多くの人々から人気を集めている。ブラジルにも輸入され、「Dragon Ball」の初版は、100,000 冊を超えたという。そして、ますます翻訳本が増刊 されている。 私はどうして、漫画がこのように爆発的な人気を得るのだろうかという疑問 をいつも持っていた。文学本を読むより、リラックスすることは確かだ。しか し最近は特に、単なる楽しみのために読むだけではなく、日本語学習にも広く 応用されているということもわかった。「漫画の爆発的な人気」に関しての先 行研究は見当たらない。そこで、この理由を卒業論文のテーマで研究してみよ うと思いたった。この論文ではラング・リソースとビジュアル・ランゲージの 観点で調べた。このラング・リソースの目的は漫画の読者をもっとアトラクテ ィブにさせるという意義がある。 2005年、リオデジャネイロ連邦大学公開講座で、“Mangá - Um estudo da argumentatividade nos quadrinhos japoneses”という授業を担当した。その際、出 席した学生達にいろいろなアンケートに答えてもらった。漫画が「日本語学習 の動機だった」、「日本語学習のひとつの手段である」という返答も多かった。 また、「漫画の中でどんなことに惹かれるか」という質問の中では学生達の意 見は方法論が多かった。日本語の「擬音語や擬態語」なども漫画のイメージと ともに自然に習得できる。また、絵を見ることで日本の家庭様式を知ったり、 文化や習慣などの習得もできる。2006年10月には在リオデジャネイロ広 報文化センターで第3回日本語教育セミナーが実施されたが、その際、「漫画 における談話分析」というテーマで講演させてもらう機会を得た。参加者から、 大きな反響をいただいた。漫画に関しては、まだまだ多くの研究課題があるの で、今後も続けて研究をしていこうと考えている。


SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES...........................................................................................04 PREFÁCIO.......................................................................................................................05 INTRODUÇÃO................................................................................................................07 1.1 BREVE HISTÓRICO DOS MANGÁS...................................................................08 CAPÍTULO 1 – COMO OS LEITORES LÊEM MANGÁ.........................................11 1.1 NO BRASIL...............................................................................................................11 1.2 PROBLEMÁTICA DA TRADUÇÃO....................................................................14 1.2.1 Traduções comparadas.............................................................................15 1.2.2 Conclusão dos exemplos de tradução......................................................20 1.3 PESQUISA COM ESTUDANTES BRASILEIROS LEITORES DE MANGÁ..21 1.3.1 Conclusão da enquete....................................................................................23 1.4 NO JAPÃO.................................................................................................................24 1.5 DESAFIOS PARA O SÉCULO XXI.......................................................................25 CAPÍTULO 2 – RECURSOS PARTICULARES AO MANGÁ..................................28 2.1 RECURSOS VISUAIS DO MANGÁ........................................................................29 2.1.1 “Olhos grandes”.............................................................................................29 2.1.2 Dinamismo visual e quadrinização...............................................................30 2.1.3 Linhas de ênfase.............................................................................................33 2.1.4 Super Deformed.............................................................................................34 2.1.5 Lembranças....................................................................................................34 2.1.6 O etéreo no shojo mangá...............................................................................35 2.2RECURSOS TEXTUAIS DO MANGÁ.....................................................................36 2.2.1 Questão dos pronomes pessoais de primeira pessoa...................................37 2.2.2 Onomatopéias.................................................................................................39 2.2.3 Quadrinhos sem diálogos..............................................................................40 2.2.4 Exercício proposto sobre onomatopéias......................................................41 CONCLUSÃO...................................................................................................................42 GLOSSÁRIO.....................................................................................................................43 LISTA DE CONVENÇÕES.............................................................................................44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................45 ANEXOS............................................................................................................................47


Lista de ilustrações Imagens auxiliares: Figura 1: Quadro evolutivo de Kanji..........................................08 Figura 2: Ordem de leitura japonesa...........................................14 Figura 3: Onomatopéias espelhadas............................................15 Figura 4: Disney..........................................................................30 Figura 5: Osamu Tezuka.............................................................30 Figura 6: “Storyboard”................................................................31 Figura 7: “Uma imagem, duas páginas”.....................................32 Figura 8: Lição de mangá...........................................................32 Figura 9: Linhas de fundo...........................................................33 Figura 10: “SD”...........................................................................34 Figura 11: Lembrança.................................................................34 Figura 12: Estilo shojo mangá....................................................35 Figura 13: Tabela de tipos de “eu”.............................................38 Figura 14: Gitaigo.......................................................................39 Figura 15: Giongo.......................................................................40 Figura 16: Mangá sem falas........................................................40 Figura 17: Cebolinha...................................................................41

Gráficos: Gráfico 1......................................................................................13 Gráfico 2......................................................................................21 Gráfico 3......................................................................................22 Gráfico 4......................................................................................22 Gráfico 5......................................................................................23 Gráfico 6......................................................................................26

Exemplos de tradução:

1° exemplo...................................................................................16 2° exemplo...................................................................................17 Exemplo de “furigana”................................................................18 3° exemplo...................................................................................19


Prefácio Os quadrinhos japoneses, conhecidos como mangás, constituem um sucesso de vendas no mundo todo. O Brasil atualmente é um dos países que mais importam esse tipo de publicação, e já é considerado por aqui como um fenômeno de vendas. O grande questionamento a ser feito é descobrir a fórmula de sucesso dos mangás. O porquê do sucesso no Japão, e agora, em outros países do mundo (especialmente no Brasil). O objetivo deste trabalho é realizar um estudo, inédito no Brasil, quanto aos artifícios de linguagem que são utilizados nos mangás, com objetivo de conquistar o público leitor. E também analisar as tendências presentes e futuras das produções nesse estilo. O foco do estudo recai sobre os recursos visuais e lingüísticos dos mangás, em que buscamos verificar a carga argumentativa transmitida do autor para o leitor. Assim como a possível perda de sua carga semântica, e eventuais modificações na representação da intenção do autor (por intermédio de uma tradução inadequada) sugerindo ao aluno estudante de língua japonesa um especial senso crítico em relação às traduções. A metodologia utilizada foi a pesquisa na bibliografia especializada em assuntos de mangá, com a qual foi desenvolvida uma análise crítica dos principais tópicos. Especialmente nos livros teóricos “Mangá – O Poder dos Quadrinhos Japoneses” (LUYTEN, Sonia Bibe. 1991), “Mangaka” (TORIYAMA, 1984), “O Grande Livro dos Mangás” (MOLINÉ, Alfons. 2004) e “Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos” (GRAVETT, Paul. 2004). Durante o curso de extensão “Mangá - Um estudo da argumentatividade nos quadrinhos japoneses”, por mim ministrado na Faculdade de Letras da UFRJ em 2005 sob orientação da professora Eli Yamada, foi levantado um conjunto de observações tomando por base pesquisas de opinião com os alunos (público brasileiro de mangá). O resultado destas pesquisas é revelado neste trabalho. Conforme a bibliografia estudada a hipótese adotada sustenta que a estrutura argumentativa dos enredos de mangá, assim como suas respectivas representações


gráficas, são minuciosamente construídas, constituindo assim, as bases do êxito desse tipo de publicação. Em suma, as discussões travadas no presente trabalho, nos indicam a necessidade de estudos aprofundados e constantes na área das publicações em mangá, principalmente em seus reflexos no Brasil.


INTRODUÇÃO

Atualmente, no Brasil, nas principais bancas de jornal, ou livrarias, é difícil não se deparar com as histórias em quadrinhos de origem japonesa. Os mangás, como são chamados esse tipo de publicação, estão ocupando um espaço de maior destaque nesses tipos de estabelecimentos. E hoje, a tendência é aumentar cada vez mais, devido ao sucesso de vendas. O presente estudo registra características particulares a esse tipo de quadrinhos. Com a finalidade assim de elucidar o leitor nos caminhos indicados pelos autores de mangá (que podem compreender roteiristas, desenhistas, editores e produtores) na busca da conquista de público, tão necessária para a sobrevivência do próprio enredo por mais edições. Uma vez que, pela enorme concorrência, o mercado editorial japonês tem a possibilidade de ser implacável no julgamento aos mangás ditos impopulares. Os autores utilizam recursos estilísticos, visuais e textuais, com a intenção de prender a atenção do leitor em sua trama. Os recursos utilizados enfatizam o dinamismo para as seqüências quadrinizadas, pois em boa parte dos casos, a leitura de uma mangá é feita fora de casa (em um meio de transporte, ou em um manga kissa1 por exemplo). O foco do trabalho está no exame da utilização dos recursos visuais e lingüísticos dos mangás, e na recepção por parte do público (que pode ser prejudicada, como no caso de uma tradução inadequada). Diferenciando o efeito causado nos leitores japoneses em relação aos leitores de outros países. O objetivo do estudo foi preencher uma lacuna em relação à linguagem única dos mangás. Tão comentados, porém pouco estudados. E foi testado inicialmente a partir de pesquisas desenvolvidas em sala de aula, no curso de extensão “Mangá - Um estudo da argumentatividade nos quadrinhos japoneses”, ministrado entre os meses de setembro e 1

Manga kissa são estabelecimentos comerciais semelhantes aos cyber-cafés brasileiros. Onde se paga um valor proporcionalmente baixo por hora de locação, e que se tem inúmeros títulos de mangás a disposição para locação e leitura no local. GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos. p. 18.

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outubro de 2005 na Faculdade de Letras da UFRJ. Complementadas com a participação no seminário "Análise discursiva do mangá", no 3° Seminário de 2006 da Associação dos professores de Língua Japonesa do Estado do Rio de Janeiro, como parte do "Mês do Japão" realizado pelo Centro Cultural e Informativo do Consulado Geral do Japão no Rio de Janeiro, com o tema "A língua Japonesa e suas diversidades" no dia 20 de outubro de 2006. Sendo assim o trabalho foi estruturado da seguinte forma: Há uma introdução breve à história do mangá, já que é o foco principal do trabalho. Porém, através dos processos históricos que formataram os mangás e como eles são hoje, ressaltaremos as principais heranças do campo lingüístico-visual na comunicação. No capítulo 1 Como os Leitores Lêem os Mangás, trataremos das diferentes possibilidades de leitura oferecidas pelos textos de mangá. Assim como as diferentes recepções de cargas semânticas, tanto para leitores do Brasil, quanto para leitores do Japão. Será abordada a problemática na tradução de mangás, alterando por vezes idéias originais dos autores. Abordaremos também exercícios aplicados com alunos, assim como os resultados de uma pesquisa de opinião feita com os mesmos. No capítulo 2 Recursos Particulares ao Mangá, faremos um estudo dos principais artifícios visuais e textuais, de modo separado, com exemplos dos tópicos mais relevantes e utilizados pelos autores.

1.1

Breve Histórico dos Mangás

Os quadrinhos japoneses possuem características peculiares em sua realização e deste modo, diferenciam-se das demais produções. Porém, para atingir o atual modelo de produção de quadrinhos, várias etapas foram transcorridas ao longo da história das artes visuais japonesas. Vamos nos deter a seis momentos até a chegada do mangá moderno. Inicialmente

vale

ressaltar

a

importância da mescla entre o visual e o lingüístico, que o idioma japonês utiliza através dos ideogramas, de origem

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chinesa. No exemplo ao lado, duas seqüências com evoluções dos ideogramas. O primeiro de leitura kawa (rio) e o segundo de leitura ame (chuva). A escrita do ideograma surgiu a partir de desenhos, que foram evoluindo ao longo dos anos como visto no exemplo. Assim, notamos que apesar de diversos kanji homófonos, o significado atribuído a esses símbolos é inerente e incomparável. Com isso a herança visual na escrita japonesa é muito grande, e consecutivamente isso é refletido para outros campos artísticos (como por exemplo, o shodo, a arte da caligrafia de ideogramas japoneses). Permitindo ao Japão uma escrita diferenciada da relação entre signo lingüístico e imagético. Conforme define Osamu Tezuka (1928-1989) ao dizer que:

As histórias em quadrinho são como um tipo de hieróglifos e que na verdade, o ato de desenhar não é só um processo de fazer figuras, mas uma maneira de escrever uma história com um tipo singular de símbolo. E, como vivemos numa sociedade extremamente visual, a ilustração é o esperanto da aldeia global.2

É válido lembrar que a China, país que criou os kanji, possui língua escrita formada apenas por ideogramas e não desfruta de uma produção expressiva de quadrinhos. As particularidades da percepção artístico-visual japonesa não ficam restritas apenas ao uso dos ideogramas. No que é considerado a origem histórica dos quadrinhos japoneses, aparece o chojugiga, onde a narrativa era desenvolvida em um grande rolo (e-makimono) pintado pelo monge Kakuyu Toba no século XII, e considerado tesouro nacional3. Com animais antropomorfizados (característica utilizada até os dias de hoje) em sátira à nobreza da época. Nesse e-makimono surge, diversas vezes, textos explicativos após longas cenas de pintura. Essa prevalência da imagem, assegurando sozinha a narração, é hoje uma das características mais importantes dos mangás. Os mangás só foram denominados dessa forma a partir de 1814, graças à produção artística de Katsuhika Hokusai, um dos mais renomados artistas de ukiyo-e de todos os tempos. O Hokusai Manga (como era conhecida sua produção de 15 volumes) trouxe a primeira sucessão de desenhos. Com Hokusai optando em definir o termo, ao unir os ideogramas de man (漫, “involuntário”) e ga (画, “desenho”, “imagem”), resultando o

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LUYTEN, Sonia. Mangá, O Poder dos Quadrinhos Japoneses, p.41. Idem, Ibidem, p.110

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significado de “imagens involuntárias4”. Porém, para Paul Gravett, a definição do termo de Hokusai é “rascunhos divertidos5”. No entanto, a associação semântica que Hokusai desejava transmitir é aproximada da definição de cartoon, pois seria relacionado à caricatura ou humor. Com a reforma da era Meiji (1868-1912) inicia-se uma progressiva abertura do Japão ao ocidente, como não ocorrera até então. Muitos estrangeiros chegam ao país, trazendo idéias e conceitos novos. Dois deles merecem especial destaque por introduzirem novidades narrativas na área das charges em quadrinhos: o inglês Charles Wirgman, e o francês George Bigot6 , influenciando com conceitos estrangeiros uma nova geração de desenhistas. No entanto, apenas em 1901 surge o primeiro seriado japonês com personagens regulares e quadrinhos seriados, de autoria de Rakuten Kitazawa (conhecido como primeiro verdadeiro autor japonês de mangás). Kitazawa esforçou-se pela adoção do termo mangá para significar histórias em quadrinho de origem japonesa7. O sexto momento principal da história do mangá, é o marco inicial do mangá moderno e tudo aquilo que lhe compete excelência narrativa e visual. A contribuição foi de Osamu Tezuka logo em sua primeira criação de mangá publicada (Shin Takarajima, 1947). Tezuka definiu os clichês de “olhos grandes”, criou mangás com impressionante diversidade temática, com quadrinização cinematográfica e obras direcionadas tanto ao público feminino quanto ao masculino, entre outras inovações. Tal importância na produção condecorou Tezuka ainda em vida com o título de manga no kamisama (ou “Deus dos Mangás”), sendo considerado o autor de mangá mais importante de todos os tempos. Nesses seis principais momentos da história do mangá (ideogramas vindos da China; O primeiro e-makimono no século XII; Hokusai mangá; primeiras influências ocidentais; primeira história em quadrinhos seriada de Kitazawa; e a criação do mangá moderno por Osamu Tezuka), há diferentes níveis de colaboração para o que o mangá representa nos dias atuais, e as novidades apresentadas por diferentes artistas, de diferentes épocas, definindo as bases do mangá.

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MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.18. GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos, p.22. 6 MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.19. 7 LUYTEN, Sonia. Mangá, O Poder dos Quadrinhos Japoneses, p.123. 5

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1 COMO OS LEITORES LÊEM OS MANGÁS

1.1 No Brasil

A chegada dos mangás no Brasil ocorreu juntamente com a chegada dos próprios japoneses ao país8. Com o desembarque do navio Kasato Maru no porto de Santos em 18 de junho de 1908, chegam ao Brasil os primeiros imigrantes japoneses, e com eles, a base da cultura japonesa no país. O grande contingente de japoneses no país, permitiu ao Brasil um contato com os mangás que antecede o público norte-americano e europeu, especialmente nas primeiras décadas do século XX9. No entanto, em um primeiro momento, o conhecimento dos mangás ficou restrito a colônia japonesa, especialmente a que está radicada na cidade de São Paulo, tida como a maior colônia fora do Japão10. Segundo Francisco Noriyuki Sato, co-fundador da Abrademi (Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustradores), a constante leitura de mangá desde a infância auxiliou na atualização vocabular, considerando o mangá como instrumento relevante nesta atualização 11 . Tal contato permitiu inclusive a manutenção de inúmeros novos vocábulos japoneses, sobretudo os coloquiais. Especialmente dos gairaigo 12 , que a partir do pós-guerra aumentaram consideravelmente no Japão, e sua aplicação nos mangás auxiliando aos falantes de japonês da colônia a esta atualização. Se entre a grande colônia japonesa no Brasil a popularidade dos mangás era evidente, para os não-descendentes de japoneses esse contato era significativamente menor. A princípio o público tem contato com as produções de animação japonesa, como foi o caso de Kimba, O Leão Branco (Jungle Taitei) exibido pela primeira vez no

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LUYTEN, Sonia. Mangá, O Poder dos Quadrinhos Japoneses, p.190. MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.5. 10 LUYTEN, Sonia. Mangá, O Poder dos Quadrinhos Japoneses, p.190. 11 Idem, ibidem, p.194. 12 Palavras japonesas de origem estrangeiras, grafadas no alfabeto fonético japonês katakana. 9

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Brasil em 1970 pela TV Tupi13. As produções japonesas para a televisão chegam ao país antes dos mangás, em um fenômeno inverso ao japonês. O contato com o mangá em português, para o grande público brasileiro, ocorreu no final dos anos 80. Em 1988 é publicado pela Editora Cedibra o mangá Lobo Solitário (Kozure Ookami) com roteiro de Kazuo Koike e arte de Goseki Kojima. E do referente ano até meados de 1993 são publicadas no Brasil séries como Akira (Editora Globo, 1990), Crying Freeman (Editora Sampa, 1991), Mai – A Garota Sensitiva (Editora Abril, 1992) e A Lenda de Kamui (Editora Abril, 1993). Além da republicação de Lobo Solitário pela Editora Sampa em 1990 (sendo interrompida em 1993 deixando a série incompleta). Mas o grande marco no Brasil da animação japonesa, e consecutivamente dos mangás, ocorreu no dia 1° de Setembro de 1994 com a exibição do primeiro capítulo do anime Cavaleiros de Zodíaco (Saint Seiya)

pela emissora de televisão Manchete.

Tornando-se o programa líder de audiência do canal por mais de um ano14. Devido aos grandes índices de audiência assegurados por Cavaleiros do Zodíaco, um número expressivo de periódicos tratando de temas “animação japonesa” começam a surgir e popularizarem-se. E através destas revistas (como a Herói, Heróis do Futuro e Animax) o grande público não-descendente de japoneses entra em contato com as primeiras matérias teóricas realizadas sobre mangá. As matérias sobre mangás nas revistas especializadas levaram ao público informações sobre títulos não publicados até então, permitindo assim, uma grande busca por conta própria dos fãs do gênero, nas lojas e importadoras de quadrinhos. É no bairro da Liberdade, em São Paulo, onde se localiza a maior parte das importadoras e lojas. Algumas ganharam grande destaque a partir de 1994 e um conseqüente aumento nas vendagens, tais como a Fonomag, Livraria Sol e a Haikai, que encomendavam mangás e revistas japonesas inclusive para as duas lojas cariocas do gênero: a Rio Shobo e a Livraria Donguri. Porém o pouco material encontrado era apenas o original, em língua japonesa, ou versões traduzidas para outros idiomas como o inglês, e mesmo com a barreira idiomática, o número de importações cresceu, assim como a procura por cursos de língua japonesa no Brasil aumentou de maneira considerável.

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SARAIVA, Danilo. Ohayo, [página da internet, http://www2.uol.com.br/ohayo/], consulta em dezembro de 2006 14 Jornal O Globo, Revista da TV (14 de Maio de 1995), p.17.

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Em setembro de 1997 o empresário Tatsuko Nagata funda a primeira loja especializada somente em mangás e animes fora do bairro da Liberdade15, a Animangá, com o intuito de atender o crescente número de não-descendente de japoneses que procuravam por mangás. A livraria também funcionava como editora, e publicou o mangá Ranma ½ em 1998. Alcançando relativo sucesso por ser o primeiro mangá publicado no Brasil depois do êxito de Cavaleiros do Zodíaco em 1994. Tal iniciativa, partindo de uma pequena editora, refletiu no interesse de outras editoras a publicarem mangás em português. No final de 2001, a Editora Conrad lança nas bancas o mangá de Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball. O primeiro sendo responsável direto pelo grande sucesso dos animes nos últimos anos, e o segundo sendo o mangá de maior vendagem na história 16. E a partir desses lançamentos o número de publicações de mangás no Brasil não parou de crescer, atingindo a marca de cem títulos diferentes no ano de 2006 (marca expressiva tratando-se de publicações em quadrinhos no Brasil).

Gráfico 1: destacando o crescente surgimento de títulos de mangás por ano no Brasil17.

Uma característica marcante destes lançamentos foi que, ao contrário dos títulos de mangá publicados anteriormente no Brasil, as edições de mangás apresentariam a formatação original japonesa, com leitura da direita para a esquerda. O que não impediu o êxito de vendas frente ao público18. 15

Animangá, [página da internet, http://www.animanga.com.br/], consulta em dezembro de 2006 “Dragon Ball vendeu mais de 160 milhões de edições em tankobon” LUGARINHO, Leonardo, Kotatsu On-line [página da internet, http://www.kotatsu.com.br/] consultado em novembro de 2006. 17 Idem, ibidem. 18 A primeira edição do mangá Dragon Ball atingiu a expressiva marca de mais de 100 mil exemplares vendidos, valendo inclusive o prêmio Top Bronze, da distribuidora Dinap. NARANJO, Marcelo. Universo HQ, [página da internet, http://www.universohq.com/], consulta em novembro de 2006. 16

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Esse processo de formatação ao estilo japonês (vide o aviso na imagem ao lado, impresso no final da primeira edição do mangá Dragon Ball, direcionando a leitura correta do mangá) ocorreu graças à exigência contratual de autores como Akira Toriyama (autor de Dragon Ball19), e logo se tornou comum nas principais cidades do país encontrar nas bancas de jornal e revistas uma considerável seção de mangás, alocada com a capa conforme a leitura japonesa.

1.2 Problemática da Tradução

Como sabido, a cada ano é crescente o número de publicações traduzidas para o português ao alcance do consumidor brasileiro. Em um fenômeno nunca visto anteriormente de publicações japonesas traduzidas para o português ao acesso do grande público brasileiro. Portanto é necessário ao profissional da área de ensino de língua japonesa atentar para esse fenômeno, com visão crítica do atual panorama, especialmente aqueles que utilizam o mangá para fins de diversão ou estudo. A grande questão então é como o leitor brasileiro de mangá, estudante de japonês ou não, recebe essas informações, e se as intenções comunicativas dos autores são respeitadas. No presente trabalho, são apresentados exemplos referentes aos aplicados em sala de aula no curso de extensão “Mangá - Um estudo da argumentatividade nos quadrinhos japoneses”, ministrado na Faculdade de Letras da UFRJ. As primeiras levas de mangá traduzido no Brasil eram realizadas com a leitura ocidental, da esquerda para a direita. Deste modo é comum observar em alguns mangás publicados antes de 2001, o efeito de “páginas espelhadas”, páginas inteiras invertidas a 19

Segundo dados publicados na revista brasileira “BRAVO!”, nº86(novembro/04), Editora Abril.

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partir da matriz original, o que demonstra a falta de preocupação editorial com o produto final e indicando também ausência de compromisso com a fidelidade ao referido original. O exemplo ao lado pertence ao mangá Dragon Ball – A Lenda de Shenron, publicado em 1996 pela Editora Abril. Sua narrativa é feita no formato de foto-novela e esse tipo de publicação necessita de maneira peculiar ao uso adequado das onomatopéias, já que é feito a partir da quadrinização de um filme em animação,

que

naturalmente,

utiliza

artifícios sonoros. Nota-se a inversão das onomatopéias presentes nos quadrinhos, o que gera uma perda considerável na questão estética, especialmente para o falante de língua japonesa, mas também para o não-falante (já que as exclamações presentes nas onomatopéias estão posicionadas ao lado esquerdo das mesmas, causando estranhamento ao leitor).

1.2.1 Traduções Comparadas

Os próximos exemplos referem-se ao mangá de Cavaleiros do Zodíaco (Saint Seiya) de Masami Kurumada, e o método de estudo aplicado foi a comparação de três diferentes edições do referido mangá: a primeira edição publicada no Brasil em 2001; a segunda edição publicada no Brasil (revisada) de 2004; e a edição original japonesa de 1986. As edições brasileiras apresentaram tradutores diferentes em cada edição. Na primeira, o tradutor é Luy Coutinho, enquanto na segunda edição a tradutora é Drik

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Sada. E nos exemplos estudados o que é observado, é a diferença nos critérios de avaliação. 1° Exemplo

Edição original japonesa (1986)

1ª Edição brasileira (2001)

2ª Edição brasileira (2004)

Editora Shueisha

Editora Conrad

Editora Conrad

Nos três quadrinhos selecionados observamos os seguintes textos: 1) “ そ う ア テ ナ は 戦 争の 女 神 だ っ た の だ !! ”/“Sou Atena wa sensou no megami dattanoda!!” 2) “Ela era Atena, a deusa da guerra!!” 3) “Ela era Atena, a deusa da guerra e da sabedoria!!” Em relação às edições traduzidas, nota-se na segunda o acréscimo dos vocábulos “e da sabedoria”, servindo de complemento para o texto publicado na primeira edição. Provavelmente devido à pesquisa da figura mitológica grega da Deusa Atena. Conforme a mitologia grega, Atena, era a deusa da sabedoria, protetora das artes e trabalhos manuais urbanos, do ofício, da inteligência e da guerra justa20. Porém o autor do texto original utiliza o vocabulo “sensou” ( 戦争 ), significando assim “guerra”21. A opção de complemento frasal na segunda edição é contrária aos fundamentos de teoria discursiva, especialmente por afetar a intenção do autor, e agregar nova carga semântica ao texto. 20

RIBEIRO JR., W.A. Atena. Portal Graecia Antiqua, São Carlos, [página da internet, http://greciantiga.org/], consulta em novembro de 2006. 21 HINATA, Noemia. Dicionário Japonês-Português Romanizado, p.386.

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De acordo com o método GSDT (“Grosz and Sidner Discourse Theory”), a teoria de discurso de Grosz e Sidner (1986)22, entende-se por intenção do autor: Todo discurso é essencialmente produzido com a finalidade de satisfazer uma ou mais intenções. São intenções que individualizam e tornam coerente o discurso. Quando um escritor escreve seu texto, ele produz e estrutura o conteúdo em função de suas intenções. Nestes termos, há dois tipos de intenções: a intenção primária do discurso e as intenções dos segmentos do discurso, as quais devem contribuir para a satisfação da intenção primária.

Desta forma conclui-se que o propósito do autor foi desprestigiado na segunda edição do mangá em português, no caso a edição revisada. A tentativa de adaptação ao contexto histórico com o acréscimo vocabular é discutível, pois transmite ao leitor brasileiro uma informação semânticamente incoerente ao discurso original. Conclui-se também que a manutenção do termo “guerra”, na tradução da primeira edição do referido mangá, apresenta maior fidelidade em relação ao texto original.

2° Exemplo

Edição original japonesa (1986)

1ª Edição brasileira (2001)

2ª Edição brasileira (2004)

Editora Shueisha

Editora Conrad

Editora Conrad

Nos três quadrinhos selecionados observamos os seguintes textos:

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PRADO, Thiago Alexandre Salgueiro e NUNES, Márcia das Graças Volpe. Núcleo Interinstitucional de Lingüística Computacional da USP, [página da internet, http://www.nilc.icmc.usp.br/], consulta em novembro de 2006.

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1) “宇宙は百五十億年前にひとつの塊から爆発 (ビッグバン) によって誕生 したのさ!!” / ”Uchuu wa hyaku go jyuu oku nen mae ni hitotsu no katamari kara bakuhatsu (biggu ban) ni yotte tanjou shitanosa!!” 2) “O universo nasceu em um Big Bang há cinco milhões de anos” 3) “O universo nasceu em uma grande explosão há 15 bilhões de anos”

O exemplo estudado apresenta uma série de equívocos nas traduções apresentadas. Há controvérsia entre as diferentes traduções em dois pontos principais: a questão do vocábulo “big bang” ou “grande explosão”; e na questão da quantidade de anos (“cinco milhões” ou “15 bilhões”). Na questão do uso de “big bang” ou “grande explosão” é fundamental atentar para o furigana23 presente nos kanji de bakuhatsu em que a leitura apresentada é de biggu ban (“big bang”). Este tipo de recurso lingüístico é possível na língua japonesa, gerando assim uma “leitura poética”. O leitor de língua japonesa perceberia, ao ler os kanji, a carga semântica transmitida pelos ideogramas e paralelamente receberia uma outra opção de leitura, com um significado complementar, fazendo prevalecer maior ênfase à “leitura poética” em furigana. A tradução da primeira edição do mangá opta pelo uso de “Big Bang”, feita a partir da leitura do furigana e sendo assim, a partir deste ponto, demonstra maior coerência com a original intenção argumentativa do autor do que a edição revisada. Na segunda edição, a opção é pela tradução como “grande explosão”, conforme a escrita em kanji “bakuhatsu”24. A outra questão refere-se à exatidão dos dados numéricos apresentados. No texto em japonês o valor numérico apresentado é hyaku go jyuu oku nen (百五十億年), o que corresponde a 15.000.000.000, ou quinze bilhões, valor esse utilizado na tradução da segunda edição. A primeira tradução apresenta um erro grosseiro no valor numérico, constando como “cinco milhões de anos”. O que pode ser considerado como erro pertencente à

23

Leitura auxiliar que pode acompanhar os kanji com finalidade de informar a leitura fonética. Bakuhatsu: explosão, erupção. HINATA, Noemia. Dicionário Japonês-Português Romanizado, p.22. 24

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falta de pesquisa, uma vez que o fenômeno do Big Bang não teria ocorrido na casa numérica dos milhões25. É possível notar também a perda vocabular ocorrida na tradução. O vocábulo japonês katamari26 (com o kanji 塊) é omitido no sentido amplo da comunicação, assim como nas entrelinhas, ocorrendo então perda semântica. Conclui-se que, tanto a primeira tradução, quanto a segunda, apresentam momentos de maior coerência com o texto original do autor. Não havendo assim uma tradução plenamente mais fidedigna do que a outra.

3° Exemplo

Edição original japonesa (1986) – Editora Shueisha

1) “セ...セイヤ

その

姿は...”/ “Se... Seiya sono sugata wa...” 1ª edição brasileira (2001) – Editora Conrad

2) “Seiya,

esse

uniforme...” 2ª edição brasileira (2004) – Editora Conrad

3) “Seiya,

essa

armadura...”

Na terceira série de exemplos estudados, nota-se desigualdade nos critérios adotados para a escolha vocabular.

25

A teoria do Big Bang enfrenta controvérsias entre os cientistas. Mas o maior consenso é que teria ocorrido entre 10 e 20 mil milhões de anos, convencionando-se assim a adoção do valor médio de 15 mil milhões (ou seja, 15 bilhões de anos). BERTULANI, Carlos. “O Big Bang e a Evolução do Universo”, Instituto de Física da UFRJ, [página da internet, http://www.if.ufrj.br/], consulta em novembro de 2006. 26

Katamari: massa, bloco. HINATA, Noemia. Dicionário Japonês-Português Romanizado, p.194.

19


No quadrinho pertencente à primeira edição brasileira do mangá, a escolha é pelo vocábulo “uniforme”. Escolha esta diferente da edição revisada, em que se lê o vocábulo “armadura”. Todavia, no quadrinho original em japonês, o autor faz uso do vocábulo sugata (姿), que pode ser traduzido como “figura, imagem, silhueta, forma, aparência” (HINATA, Noemia, 2000). Nenhuma das opções dicionarizadas sugeridas coincidiram com as opções eleitas pelos tradutores, “uniforme” ou “armadura”. Uma possibilidade seria a escolha da tradução baseada no contexto, porém, seria mais apropriado o uso de alguma das formas dicionarizadas, numa vez que na seqüência dos quadrinhos ocorre uma unanimidade nas três edições com o texto “Armadura de Pégaso!” (ペガサスのクロスさ! ”pegasasu no kurosu sa!”). Logo não se adaptaria ao contexto o vocábulo “armadura” da segunda edição, já que seu efeito no texto seria de redundância conforme a continuação textual.

1.2.2 Conclusão dos exemplos de tradução

Os mangás traduzidos para o português trazem ainda alguns problemas relativos à tradução. Somente na comparação entre a primeira, e a segunda edição do mangá de Cavaleiros do Zodíaco (Saint Seiya), contabiliza-se uma série de vinte e uma diferenças textuais. É interessante ressaltar que a segunda edição, mesmo revisada, apresenta um nível de incoerência com o texto original tão grande quanto o da primeira edição. Nos mangás publicados atualmente existe uma tendência considerável à adaptação de termos. Uma vez adaptados à realidade comunicacional do leitor brasileiro, o mesmo estaria recebendo um maior fluxo de informações ao interlocutor. Como é o caso do uso de gírias, por exemplo, em uma tentativa de manter o dinamismo que o autor determina ao compor um texto. Como a escolha de palavras de quem constrói um discurso não é meramente arbitrária, cabe ao leitor do mangá (e de um modo geral a qualquer texto com origem em um original em idioma estrangeiro) o senso crítico. E especialmente para o estudante de japonês vale atentar para os fenômenos não só de linguagem do mangá, como os de tradução para o português.

20


1.3 Pesquisa com estudantes brasileiros leitores de mangá

Durante o curso de extensão “Mangá - Um estudo da argumentatividade nos quadrinhos japoneses”, em 2005 na Faculdade de Letras da UFRJ, foi realizada uma pesquisa com os estudantes, através de uma enquete27, com dez questões referentes à leitura de mangá, assim como suas respectivas preferências quanto ao assunto. O objetivo do estudo é levantar dados entre efetivos estudantes de língua japonesa, com interesse em mangá. A turma era composta por 86,6% de alunos da graduação em Letras no corrente ano (segundo semestre de 2005). Quinze alunos responderam a esta enquete e seguem aqui os resultados mais relevantes e seus respectivos comentários.

 “Seu interesse pelo estudo da língua japonesa foi incentivado pelo mangá?” Com as respostas obtidas nessa questão observa-se que os mangás são incentivadores de considerável parcela universitários

destes

estudantes de

japonês

entrevistados, atingindo 40,1% dos alunos. Entretanto, a maioria respondeu que não foi o principal incentivo (44,6%), enquanto os outros28 13,3% responderam outra opção.

27

Acompanha em anexo. A porcentagem referente aos “outros” é dos não estudantes da graduação de língua japonesa na UFRJ, que no entanto, participaram do curso de extensão. 28

21


 “O mangá seria uma ferramenta para o estudo da língua japonesa?” Esse foi o único exemplo que recebeu dos alunos entrevistados pela enquete o estatuto de unanimidade. O uso da leitura do mangá como instrumento de apoio ao estudo de língua japonesa, atingiu 100% da opinião dos alunos. Porém, na justificativa, coube a grande

parte

das

respostas

à

observação de que o estudo de língua japonesa através do mangá deve ser somente complementar. Não substituindo o material didático convencional.

 “O que atrai na leitura (ou visualização) de um mangá?” Nesta questão da enquete há um grande equilíbrio nas respostas. Para

33,3%

das

opiniões,

a

característica dos mangás que mais atrai o leitor é o desenho. Empatado

com

a

mesma

porcentagem

(33,3%),

estão os

entrevistados

que

não

desvincularam a parte gráfica da parte textual. Assim, optaram em responder que o que mais chama a atenção em um mangá é o desenho e o enredo junto. Para 20,1% o principal é o enredo do mangá e sua diversidade temática. 13,3% não responderam a essa questão. Conclui-se que para os leitores de mangá entrevistados, a parte gráfica (os desenhos), é o que mais chama a atenção em um primeiro momento, atraindo assim à leitura.

22


 “Você prefere anime ou mangá?” Como no Brasil, ao contrário do Japão, o primeiro sucesso de público foi com os animes (e os mangás sendo um fenômeno relativamente

novo

por

aqui),

está

pergunta pareceu razoável para saber a preferência atual do público. As respostas foram esclarecedoras para a tendência atual do público que cresceu vendo animes na televisão, e que a partir de certa idade começa a buscar outras formas de entretenimento. Os mangás recebem de 46,6% dos entrevistados a preferência. Com 20,1% aparece a opinião de quem prefere os animes. Também com 20,1% dos entrevistados não possuem preferência entre animes e mangás. Alegando que uma comparação entre animes e mangás é complicada, pois se tratam de veículos de comunicação e entretenimento com características distintas. 13,3% dos entrevistados não responderam a essa questão.

1.3.1 Conclusão da enquete Conclui-se então que o público leitor de mangás, dentre os alunos brasileiros entrevistados, é heterogêneo, pois com exceção da questão do uso dos mangás no auxílio do ensino de japonês (com unanimidade na opinião), nenhuma outra questão conseguiu mais da metade dos leitores entrevistados. Notou-se também que os leitores (em especial os estudantes de língua japonesa), preferem mangás aos animes. Assim como também, são atraídos inicialmente com mais êxito pela parte visual, do que pelos roteiros nos mangás. A presente pesquisa tenta preencher uma lacuna no registro de opiniões dos alunos de língua japonesa, e leitores de mangá. Indicando assim panoramas para futuras pesquisas no assunto. Especialmente em referências às indagações ao interesse primordial no aprendizado de língua japonesa, devido ou não, aos mangás e animes.

23


1.4 No Japão

No Brasil os mangás constituem um novo fenômeno de leitura, principalmente entre o público jovem. Contudo, no Japão a leitura dos mangás está enraizada na cultura do povo japonês ao longo de décadas. As revistas são segmentadas conforme sexo e idade dos leitores, existindo ainda, quadrinhos destinados para crianças, rapazes, moças ou adultos, direcionando o discurso a ser utilizado para cada perfil. As publicações semanais, possuem uma média de 400 páginas de papel reciclado monocromático. O que se iniciou pela escassez de papel no período pós-guerra transformou-se em padrão visual, em preto-e-branco. A manutenção do formato em papel reciclado permite o baixo preço de um mangá (uma edição da Shonen Jump custando o equivalente a R$ 4) 29, por exemplo sendo bem mais barato que um ingresso de cinema no Japão. Logo, para o povo japonês o mercado de mangá proporciona entretenimento rápido e barato, de fundo escapista, sendo um veículo ideal para passar o tempo na estressante rotina de longas viagens de trem ou metrô por exemplo. O estilo das narrativas de mangá, por ser seqüenciado em capítulos semanais, garante a atenção do leitor, e gera efeito de expectativa constante. São comuns enredos com duração de anos. Sendo assim, o leitor acompanha e cresce junto com o personagem, como no caso do mangá Captain Tsubasa (de Yoichi Takahashi). O mangá narra a história do personagem Oozora Tsubasa, um garoto que sonha em ser campeão mundial de futebol. O mangá começou a ser publicado em 1981, época em que não havia ainda uma liga de futebol profissional, e sequer era um esporte popular. O autor ajudou a popularizar o esporte, incentivando inúmeros garotos que cresceram (e crescem, pois o mangá foi publicado esse ano inclusive, com o personagem Oozora já adulto e casado) a praticarem o futebol, tornando-se inclusive jogadores profissionais por isso.30 Essa transcendentalidade dos limites entre a realidade e o ficcional no imaginário do leitor japonês de mangá é especialmente curiosa. Como por exemplo, o mangá Ashita no Joe (de Tetsuya Chiba), que narra a historia de Joe Yabuki, um órfão marginalizado e briguento, que luta para sair de uma vida de pequenos delitos e torna-se aspirante ao 29 30

Shonen Jump custando ¥220, equivalente a R$ 4,02 na cotação de dezembro de 2006. GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos, p.58.

24


titulo mundial de boxe. Em determinado ponto da trama Joe, já boxeador, encontra e enfrenta o personagem Rikiishi (um ex-companheiro dos tempos de orfanato, também lutador). Joe perde a luta e o título, mas com um golpe involuntário acaba matando Rikiishi. O que gerou uma comoção de proporções nunca vista em relação a um personagem ficcional, sendo inclusive realizado um funeral na sede da editora com a presença de mais de 700 pessoas. Transcendendo os limites entre o “herói de papel” e do sentimento de que este realmente “existe”. A dor pela perda de um personagem fictício mostra como os leitores japoneses podem se envolver profundamente com uma trama de mangá31. A maneira com que os japoneses lêem o mangá é diferenciada justamente por ser patrimônio nacional do Japão. Sobre isto, Paul Gravett (2006) cita:

Desde abril de 2000, o novo currículo nacional de arte para o primeiro grau insiste para que os mangás trazidos à sala de aula. Em seu texto explicativo, o Ministério da Educação e Cultura afirma que “o mangá pode ser considerado uma das formas de expressão tradicional do Japão”32

De manifestação artística popular, atinge status de “expressão tradicional do Japão” com o reconhecimento do governo japonês. Coerente com o conceito de nona arte atribuído aos quadrinhos. Não obstante, uma definição mais unânime ainda é a de que o mangá atualmente é veículo de comunicação de massas, pertencente a um mercado de caráter voltado especialmente ao capital. A questão do mangá como expressão artística ou como produto mercadológico fica a critério do público, que tem assim a possibilidade de distinguir uma obra de excelência artística (como as do mundialmente premiado Hayao Miyasaki, autor de Tonari no Totoro, por exemplo) de uma obra de caráter primordialmente comercial (como o caso de Pokémon, por exemplo).

1.5 Desafios para o século XXI

31 32

Idem, Ibidem, p.56. GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos, p.22

25


Nos anos 60 a economia japonesa crescia a passos largos, permitindo aos japoneses grandes vendas de aparelhos de televisão. No entanto o surgimento dessa nova mídia não prejudicou a leitura dos mangás, pelo contrário até, pois os animes transmitidos quase que invariavelmente eram derivados do mangá. Porém na última década as vendas de mangás diminuíram consideravelmente. Fenômeno que é atribuído à concorrência com outros tipos de mídia, como os videogames e a internet. Em especial os com tecnologia para uso portátil, que disputariam o espaço dos mangás mesmo em vias públicas. A tendência ao uso destes novos tipos de entretenimento exige dos mangás alguma renovação na linguagem, a fim de não perder mais leitores. Uma dessas tentativas de adaptação é a disponibilização pelas editoras (especialmente as três grandes detentoras de 70% do mercado editorial de mangás: Kodansha, Shueisha e Shogakukan 33 ) de mangás on-line, em que o leitor, ao pagar uma taxa, teria acesso à leitura do mangá pela internet. Pelo aumento nas exportações, alguns desenhistas de mangá buscam adaptar-se a realidades estrangeiras a fim de obterem maior êxito, como na aparência física dos personagens. Inclusive com a revista semanal Shonen Jump, a de maior sucesso no Japão devido aos títulos publicados, sendo lançada em edições especiais nos Estados Unidos e alguns países europeus. O

futuro

das

publicações

japonesas não parece tão nebuloso como registram as quedas de vendas, pois detêm quase 40% de todo volume de publicações no Japão (volume

de

publicações

incomparável com qualquer outro país)34. Outro fator de otimismo na indústria dos mangás é o crescente numero

de

publicações

33 34

licenciamentos no

exterior.

para E

a

MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.33. Idem, Ibidem, p.17

26


tendência é de crescimento constante em países como o Brasil, em que a demanda de público é significativa (vide gráfico da página 13).

27


2 RECURSOS PARTICULARES AO MANGÁ

Ser desenhista de mangás no Japão pode ser sinônimo de sucesso. Os principais artistas de mangá gozam de fama e fortuna.35 No entanto para atingir êxito profissional é necessário empenho e dedicação constantes. E às vezes mais do que isso, pois há mais de 3.000 autores japoneses de mangá, dessa forma, a porcentagem de artistas que chegam ao estrelato da profissão não alcança nem 10%.36 A disputa no mercado editorial produtor dos mangás no Japão é bastante acirrada. Um desenhista, que tenha alguma história publicada em uma revista semanal, precisa desenvolver uma média superior a quatro páginas por dia (em geral as publicações semanais contam com uma média de vinte páginas por história). Uma carga muito grande, exigindo dinamismo de produção, criatividade e organizando-se em estúdios, com assistentes, quando a demanda de trabalho é de grande fluxo. Os leitores japoneses recebem em cada edição semanal um anexo, com pesquisa de opinião, para saber os principais títulos de preferência. As histórias mais votadas ganham maior destaque e visibilidade na revista (como, por exemplo, nas matérias de capa, e ao direito às raras páginas coloridas). Já as menos citadas são substituídas por outras novas (e de outros autores). Inclusive os autores já consagrados correm esse risco.37 Com essa grande pressão, em que o emprego de um desenhista de mangás está constantemente em questionamento (e risco de perda), a necessidade por atrair a atenção do público consumidor-leitor é evidente. E para atingir tal objetivo os autores utilizam uma série de artifícios buscando a recepção de maior interesse do público. Uma edição semanal de mangá tem uma média de quatrocentas páginas e conta com cerca de vinte diferentes títulos de autores (muitas vezes já consagrados pelo grande

35

LUYTEN, Sonia. Mangá, O Poder dos Quadrinhos Japoneses, p.53. MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.35. 37 GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos, p.19. 36

28


público). Levando em conta isto, o autor de mangá precisa garantir nas vintes páginas a que tem direito essa atenção especial do público, na tentativa de conquistá-lo. Como os mangás são veículos de comunicação em massa, os principais recursos para garantir essa atenção estão no dinamismo. Recurso exigido pela comunicação usual da linguagem do mangá. Especialmente por intermédio de recursos visuais e lingüísticos (e tanto os recursos visuais, quanto os textuais, constituem linguagem).

2.1 Recursos visuais do mangá

Com a pesquisa realizada entre os estudantes de língua japonesa da UFRJ, foi possível constatar que os recursos visuais são o que mais atraem os leitores. Os mangás apresentam características únicas em relações aos outros estilos de histórias em quadrinhos. Porém, de maneira geral, para a maior parte do público ocidental o “estilo mangá” leva a uma primeira lembrança de estereótipos visuais (como os “olhos grandes”, linhas de fundo, entre outros)38. 2.1.1 “Olhos grandes” Certamente o mais popular entre os estereótipos do mangá são os “olhos grandes” de seus personagens. A utilização desse recurso gráfico vai além da questão estética, e permite que os personagens transmitam maior sinceridade emocional. São os chamados “olhos expressivos”, muitas vezes apresentados desproporcionalmente grandes (especialmente para o padrão étnico japonês). O precursor desse estilo foi Osamu Tezuka, criador do mangá moderno. Definindo o estilo logo em seus primeiros trabalhos de mangá. Que ao atingir o completo sucesso ganha toda uma legião de desenhistas adeptos a esse estilo. Porém Tezuka teve duas fontes de inspiração para a criação de seu estilo próprio de “olhos expressivos”. A primeira são os personagens de Walt Disney39, nos quais sentia confessa admiração, e a segunda é o teatro Takarazuka.

38

39

MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.29. Idem. Ibidem, p.22.

29


Na imagem ao lado, da primeira animação dos estúdios Disney (Plane Crazy, de 1928)40. Os personagens Mickey e Minnie, caricaturados, possuem olhos grandes. E Tezuka tem nas produções de Walt Disney sua primeira fonte de inspiração. Se a primeira fonte de inspiração de Tezuka para o uso dos “olhos grandes” veio do ocidente (por intermédio das animações de Walt Disney), a segunda inspiração veio da própria cidade onde morava. Foi nos olhos das atrizes dos espetáculos teatrais de elenco exclusivamente femininos de Takarazuka41 que Tezuka completou sua inspiração.

Ficava fascinado com os olhos muito bem maquiados das atrizes, bastante aumentados que com a luz dos refletores, dava, a impressão de conter uma estrela brilhante no interior.42

Inclusive em casos de “auto-caricatura” (vide imagem ao lado) Osamu Tezuka utilizava os “olhos grandes”. O que começou como marca identificadora do estilo de Tezuka se transformou na característica visual mais reconhecida dos mangás no mundo inteiro.

2.1.2 Dinamismo visual e quadrinização

40

Disney On-line, [página da internet, http://disney.go.com/], consulta em novembro de 2006.

41

Companhia teatral da cidade de Takarazuka. Composto apenas por mulheres, representando também os papéis masculinos (a exemplo do teatro japonês Nô, que é composto apenas por atores inclusive nos papéis femininos). A temática da maioria dos espetáculos tem caráter fantasioso. 42 LUYTEN, Sonia. Mangá, O Poder dos Quadrinhos Japoneses, p.144.

30


A maneira na qual são dispostos os quadrinhos em um mangá é extremamente relevante, pois conferem o dinamismo comunicacional essencial ao mangás. Novamente o definidor do estilo moderno de quadrinização foi Osamu Tezuka, e foi criado por acaso 43 . Em seu primeiro mangá (Shin Takarajima, 1947) em formato akabon, Tezuka, publica a quadrinização de um “storyboard” que inicialmente faria parte de um projeto de animação. Porém a animação não foi realizada, ao contrário do “storyboard” em questão. Este foi publicado em formato de mangá, e alcançou impressionante êxito de vendas para a época. Foram mais de 500 mil exemplares vendidos em pleno período pós-guerra, em que o Japão atravessava dificuldades econômicas. Como o grande sucesso de Shin Takarajima,

os

desenhistas

da

época,

inspiram-se imediatamente nos conceitos e tendências,

vindos

da

linguagem

cinematográfica. E a partir da frustração de não transformar, em um primeiro momento, em animação o “storyboard” como desejava, Tezuka define a base da quadrinização japonesa e seu ritmo Ritmo cinematográfico que pode ser observado na imagem ao lado, pertencente à da seqüência inicial de Shin Takarajima. Porém, passada a novidade no dinamismo visual, de caráter cinematográfico, introduzido por Tezuka, os autores buscaram novos artifícios visuais para se sobressaírem. A tendência atual apresenta grande diversidade na área da quadrinização. Inicialmente deve-se também à leitura japonesa, da direita para a esquerda. Conferindo aos mangás uma disposição peculiar aos quadrinhos do ponto de vista ocidental. Na quadrinização dos mangás, o recurso cinematográfico inserido por Tezuka tem objetivo de enfatizar uma cena importante, como em um filme. Mudanças de “ângulo de

SATO, Cristiane. “Osamu Tezuka e a Expansão do Animê”, [página da internet, http://www.culturajaponesa.com.br/], consulta em novembro de 2006. 43

31


câmera” mais rápidas, de quadro a quadro44, quadrinhos como em câmera-lenta, ou em close-up.

Não é incomum encontrar também uma ou duas páginas inteiras com uma mesma imagem (vide figura ao lado) com a intenção de ênfase. As

inovações

de

layout

da

quadrinização japonesa incluem também: quadrinhos

verticais,

quadrinhos

sobrepostos (rompendo com o esquema das linhas que os separa), quadrinhos com espaços em brancos entre um e outro (comuns nos shojo mangá), entre outros recursos.45 O modelo atual proposto rompe com as principais convenções da quadrinização ocidental.

E

compõem

“discurso

visual,

de

um caráter

enfático” Segundo Akira Toriyama (um dos autores de mangá de maior êxito mundial) cada página deve seguir um plano bem definido 46 , com

objetivo

de

melhor

visualização, levando em conta o quanto cada página é agradável de ler para o leitor. Na figura ao lado o lado o próprio autor, caricaturado, explica e sugere aos outros desenhistas como distribuir os quadrinhos em uma página de mangá.

GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos, p.32. MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.31. 46 TORIYAMA, Akira. Mangaka, p.53 44 45

32


2.1.3 Linhas de ênfase

Outro recurso visual do mangá são as linhas de ênfase. São linhas paralelas normalmente utilizadas ao fundo (por isso são conhecidas também como linhas de fundo) de um objeto em destaque no quadrinho, com a finalidade de transmitir idéia de movimento. Essas linhas de ênfase também são utilizadas em produções de animação japonesa. E além do efeito característico de movimento, servem também para economia de detalhes a fim de dinamizar a produção e economizar recursos financeiros. Comumente seu uso é associado a qualquer produção de quadrinhos japoneses (inclusive sendo utilizado satirizando os mangás, em produções internacionais como “As Meninas Super-Poderosas”47). Segundo o roteirista de mangás Kazuo Koize, em entrevista ao consagrado desenhista norte-americano Frank Miller:

O olho se move nos comics japoneses. Essa é a diferença fundamental entre esses e os americanos. (...) Nos comics japoneses, a tendência é que um quadrinho interfira no quadrinho seguinte, formando uma seqüência. Quando o Super-Homem voa no céu, se ele é desenhado em somente um quadrinho resulta em uma imagem estática. Nas HQs48 japonesas, um personagem voará ao longo de três quadrinhos enquanto são enfocados sua cabeça, seu corpo e seus pés.49

No exemplo ao lado (retirado da primeira edição brasileira do mangá Dragon Ball Z, de Akira Toriyama) notam-se três tipos diferentes de ênfase proporcionada pelo uso de cada conjunto de linhas paralelas. No quadrinho maior, a trajetória do movimento do corpo do personagem é marcada pelas linhas. O quadrinho embaixo, à esquerda, apresenta linhas de fundo, com a função de distorcer o cenário,

47

Título original “The Powerpuff Girls”. Produção norte-americana em desenho animado, de Craig McCracken. Os personagens desta série foram inspirados e caricaturados a partir dos clichês de mangás e animes (como os olhos grandes e as linhas de fundo). Em 2006 ganha uma versão japonesa publicada na revista Ribon, da Editora Shueisha. 48 Histórias em quadrinhos 49 MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.31.

33


valorizando carga dramática e expressiva ao personagem em primeiro plano. Já no quadrinho embaixo, à direita, notam-se as linhas convergindo para os olhos do personagem. Ressaltando assim a sua expressão e sentimentos, mesmo sem o uso de palavras.

2.1.4 Super Deformed Os SD (abreviação para o termo em inglês “Super Deformed”, ou “Super Deformado”) são um tipo de piada visual que muitos autores de mangá utilizam quando têm a intenção de enfatizar e destacar uma situação. Seu uso é mais recorrente em mangás de caráter humorístico. Os personagens que aparecem representados em SD em um mangá, têm suas proporções físicas reduzidas e estilizadas. Representando uma mudança no comportamento, e na atitude, perante alguma situação do enredo .

2.1.5 Lembranças

A criatividade dos autores de mangá permite compor

efeitos

visuais

simples,

mas

com

profundo efeito psicológico. Na figura ao lado, do mangá Captain Tsubasa, é criado um efeito que indica a lembrança do personagem em foco. O efeito é composto pela pintura das bordas do mangá em cor escura para os momentos em que a ação está transcorrendo em tempo passado. Enquanto os quadrinhos com borda em cor clara a ação ocorre em tempo presente à narrativa.

34


2.1.6 O etéreo no shojo mangá

Os mangás direcionados ao público feminino (shojo mangá) possuem uma série de características visuais particulares. Têm, de um modo geral traço delicado e suave, tornando a visualização mais agradável ao público alvo (em especial as adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos de idade). Para criar a atmosfera de romance e sonhos juvenis nesse tipo de publicação, os autores, fazem uso de elementos etéreos. Segundo Sonia Bibe Luyten50, esses desenhos de estrelinhas, corações, flores, folhas e pétalas caídas, esparsos pelo cenário, sugerem uma linguagem musical imaginária. O exemplo ao lado é do mangá Glass no Kamen (garasu no kamen). Ao lado da personagem em foco, durante uma divagação, são representadas flores. Esse recurso indica que a ação está se passando no pensamento da personagem, e reflete seu estado de espírito. Auxiliando assim o leitor em uma interpretação iconográfica. Vale ressaltar que as flores em questão no exemplo destacado não fazem parte do contexto de ação real indicada no texto, servindo como base na informação do sentimental. Deve-se levar em conta que o autor de mangá tem a opção de informar o sentimento de um personagem por meio de palavras ou de desenhos. Ao optar pelo auxilio imagético o leitor recebe uma carga semântica diferenciada. O que é bem particular da cultura e língua japonesas, uma vez que o campo visual é considerável de grande importância, como por exemplo no uso dos kanji. É possível traçar um paralelo entre o uso de ideogramas (em relação à leitura de uma palavra em japonês) e o de imagens etéreas de um mangá. Ambas permitem no momento do contato visual uma associação direta de significado, pertencente ao campo ideológico (e que independem do significado textual atribuído a elas).

50

LUYTEN, Sonia. Mangá, O Poder dos Quadrinhos Japoneses, p.58.

35


2.2 Recursos textuais do mangá

Conforme os princípios da retórica, para um texto ser atraente é necessário criar uma relação de confiança do leitor no que é transmitido pelo escritor. Através desta confiança despertada a partir do que é dito no discurso, o narrador busca convencer ou persuadir. Essa relação entre quem narra, e quem recebe a informação narrativa, é pautada sob os três elementos essenciais da retórica que são Ethos, Pathos e Logos. De modo geral, ao locutor (no caso o escritor de textos em mangá) designam-se ações de Ethos, com a capacidade de obter a confiança do interlocutor. Por sua vez o leitor tem a função de interlocutor, e agrega as características das ações de Pathos. Com a capacidade de confiança e de adesão ao locutor. Podendo por exemplo gerar efeito de empatia ou antipatia. Entre ambos está Logos, relacionado ao discurso com função argumentativa e persuasiva, em que a “verdade” ou a “idéia”, que o orador tem a intenção de transmitir. Assim como a possibilidade do leitor acreditar nela ou não. Estas possibilidades nas relações entre quem escreve um texto e quem os lê são fundamentais na leitura dos mangás, pois como visto antes, o autor precisa criar toda uma série de artifícios para conquistar e manter seu público fiel. Para gerar interesse nos enredos o autor utiliza recursos persuasivos, especialmente na publicidade gerada por um mangá, como nas mensagens das capas. Recursos assim convidam o leitor a prestigiar determinada história dentre tantas em um mangá semanal. Com isso, o autor garante a possibilidade de uma pré-disposição do leitor naquilo que ele narrará. A escolha dos vocábulos não é arbitrária para um escritor, e por isso são utilizados atrativos textuais que permitam a idéia de verossimilhança. E como a indústria dos mangás no Japão é segmentada conforme gênero e faixa etária do público leitor, existe uma necessidade especial na adequação vocabular. Entende-se por adequação vocabular a relação entre situação e o vocábulo selecionado (pode tratar-se por adequação vocabular os seguintes casos: adequação ao referente, ao ponto de vista, aos interlocutores, à situação de comunicação, ao código e ao contexto)51.

51

PAULIUKONIS, Aparecida Lino. Teoria sobre o significado nos campos da Semântica e da Pragmática.

36


Além disso, no decorrer dos enredos dos mangás, as relações entre os personagens ocorrem da mesma forma. É especialmente importante aos estudantes de língua japonesa atentar às nuances textuais dos mangás e como são construídas as relações inter-personagens. Já que no idioma japonês essas idéias passadas pelo uso da linguagem adequada, conforme a escolha do autor, definem o perfil do personagem com mais propriedade (e menos generalizações) do que os quadrinhos ocidentais por exemplo. É possível observar através da linguagem algumas características como: o grau de escolaridade, a região onde nasceu ou vive, a época onde se passa a narrativa, o respeito a superiores, agressividade, entre outros. Embora isto seja característica de outros idiomas também, em maior ou menor grau. Porém no japonês é mais acentuado já que no idioma, por exemplo em comparação com o português, essa diferença lingüística é notada na questão das diferenças entre a linguagem de personagens de idades e sexos diferentes.

2.2.1 Questão dos pronomes pessoais de primeira pessoa

Os idiomas estão em constante evolução. E são os usuários da língua que determinam em que direções vão as mudanças idiomáticas Um bom exemplo dessas evoluções pode ser percebido com os pronomes pessoais. Em língua portuguesa, ao longo da história, os pronomes pessoais sofreram diversas alterações. Como, por exemplo, no atual desuso do pronome pessoal de tratamento “vós”, tanto em língua falada quanto em língua escrita. Em língua japonesa ocorreu um fenômeno parecido. Como é o caso do vocábulo sessha (拙者), que era por exemplo utilizado por um samurai referindo-se a si próprio. Por não existirem mais samurais na atualidade não é usual na língua falada, mas podendo ocorrer como recurso estilístico na língua escrita de hoje em dia. No mangá Rurouni Kenshin (1994-2000), de Nobuhiro Watsuki, o personagem principal não é um samurai e sim um andarilho errante, mas que se refere a si mesmo por sessha, por tratar-se de uma história de época (no caso a ação é transcorrida durante a era Meiji).

37


A lista ao lado relaciona 93 modos diferentes

de

dizer

“eu”

em

língua

japonesa 52 . Porém a grande maioria caiu em desuso. Especialmente na língua falada. Cada um dos equivalentes a pronomes pessoais de primeiro grau, listados ao lado, possuem carga semântica diferente dos demais. Podendo definir assim expressão de hierarquia, gênero, idade e até profissão do falante.

Uma

escolha

não

arbitrária,

principalmente ao considerar as escolha do autor para definir o perfil de determinado personagem. No mangá Saint Seiya, de Masami Kurumada, há diferença no uso do “eu” dos personagens Seiya e Shun. Ambos são rapazes com a mesma idade (13 anos de idade)53, e têm a mesma função no enredo. Porém o personagem Seiya refere-se sempre a si mesmo com o pronome ore (俺), enquanto o personagem Shun refere-se a si como boku (僕). O uso do pronome ore tem uma carga semântica bastante informal e masculinizada, podendo inclusive transmitir idéia de presunção ou rudeza. Por sua vez, a opção do autor para o uso de boku, apenas no personagem Shun, é causada pela ausência de carga semântica agressiva no pronome (tal qual o comportamento do personagem). Além da possibilidade de interpretação como referência a um rapaz novo, por tratar-se de um personagem de comportamento mais infantil e dependente. Na tradução para outro idioma essas nuances textuais, próprias do idioma japonês, são perdidas, pois a carga semântica do referido original é intraduzível para o contexto de pronome pessoal de língua portuguesa. Prejudicando involuntariamente (por falta de recurso equivalente da língua portuguesa por exemplo) a intenção do autor na construção do discurso.

52 53

WATANABE Masahiro e NAGASHIMA Kei, Japonês Rápido. p.147 KURUMADA, Masami. Saint Seiya Encyclopedia. P. 40 e 50.

38


2.2.2 Onomatopéias

Nos quadrinhos, de maneira geral, as onomatopéias são representações dos sons nos quadrinhos54. Porém, especialmente no caso dos mangás, elas possuem importante papel na composição em estilo cinematográfico da narrativa. E comumente fundem-se aos quadrinhos, integrando a composição visual geral. O uso das onomatopéias em mangás vai além dos atributos gráficos determinados por seu uso. É um recurso de linguagem também, pois além da idéia de sonoridade, transmite idéias propriamente dita. Servindo, assim, de ferramenta extra para a compreensão da situação proposta pelo enredo. A língua japonesa possui uma rica variedade de onomatopéias, que são constantemente utilizadas pelos japoneses, de qualquer faixa etária, tanto na língua falada quanto na escrita. Elas dividem-se em dois grupos distintos: os giongo e os gitaigo. Os giongo são as representações sonoras, propriamente ditas na escrita, com conceito de onomatopéia próxima ao utilizado em língua portuguesa. Já os gitaigo são uma classe de palavras particulares do idioma japonês. Têm a função de representar estado físico ou psicológico. E sua grafia é uma tentativa de representar esse estado inspirado na de "sonoridade" contida na expressão onomatopéica. No exemplo selecionado, do mangá Ranma ½, o personagem é representado arfando, sinal de alguma emoção extrema. Ao seu lado aparece a onomatopéia doki doki ( ド キ ド キ ), que representa os som produzido pelo coração pulsando com força (aspecto

de

nervosismo,

impaciência,

ansiedade).

Caracterizando-se assim como um gitaigo.

O exemplo selecionado, do mesmo mangá, apresenta três casos de giongo para a chuva. De um quadrinho para o outro a intensidade da chuva vai aumentando. Tal característica é demonstrada não só pelo uso de onomatopéias diferentes, como também pela forma (estética) em que as onomatopéias são apresentadas. 54

CAMPOS, Maria F. H. HQ: Uma manifestação de arte. Em: “História em Quadrinhos –Leitura Crítica”

39


Gorororo

( ゴ ロ ロ ロ )

representa o som estendido de uma trovoada predecessora da chuva. Enquanto potsu potsu (ポツポツ) indica o início da chuva, com gotas ainda esparsas. Com a onomatopéia zaa ( ザ ー ) sonorizando a chuva forte. Com isso o autor transmite um conceito a mais no resultado comunicacional do texto.

2.2.3 Quadrinhos sem diálogos

O não diálogo em alguns quadrinhos possui efeito estilístico. Mas também a sua não realização em algumas seqüências de mangá pode ser analisada como índice comunicacional, pois são intencionais. A ausência proposital de texto em algumas cenas de mangá é compensada por recursos visuais, ou pela presença de onomatopéias (como por exemplo a onomatopéia de estado físico shiin, designando o silêncio55). Existem casos atuais de mangás inteiros sem o uso de nenhum texto. No mangá Gon (exemplo ao lado), de Masashi Tanaka, não existem onomatopéias, narrador e nem balões de texto (inclusive os indicando pensamento ou lembrança). Dessa forma o efeito na quadrinização lembra ao de um storyboard. A razão para o não-diálogo, segundo Tanaka, é que seria estranho animais falarem (sugerindo assim uma nova visão do assunto, já que a tradição das produções de mangás apresenta animais antropomorfizados que falam e pensam). Vale ressaltar que na maioria dos mangás o primeiro

55

MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás, p.32.

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quadrinho de cada capítulo recebe a função de situar a cena, dando assim a dimensão de onde ocorre a ação. Com esse contato visual em considerável parte dos casos estudados não há necessidade de falas

2.2.4 Exercício proposto sobre onomatopéias Durante o curso de extensão “Mangá - Um estudo da argumentatividade nos quadrinhos japoneses”, foi realizada uma pesquisa a respeito do uso de onomatopéias. Os estudantes receberam uma fotocópia de uma história em quadrinhos do Cebolinha56, que por opção do autor não apresentava nenhuma onomatopéia. Caso achassem necessário fazê-lo os alunos poderiam desenhar suas onomatopéias livremente nos quadrinhos, inclusive na escolha de idioma utilizado. O objetivo do exercício proposto era avaliar a questão da presença/ausência das onomatopéias no ponto de vista de leitores brasileiros de mangás. E o resultado apresentado demonstrou que 91,4% dos quadrinhos avaliados pelos alunos receberam onomatopéias. Conclui-se que o uso das mesmas é tido como necessário na maioria dos casos para os alunos leitores de mangás entrevistados. Porém não existe um padrão de uso das onomatopéias. Indo muito conforme o lado intuitivo e estilístico de cada aluno, conforme o histórico de leituras individual. O maior índice de coincidência nas ocorrências de onomatopéias entre os alunos foi de 60%. No primeiro, quinto e sexto quadrinhos, optaram

pela

representando

onomatopéia o

som

da

“Tap

tap”,

caminhada

do

personagem.

56

Personagem da Turma da Mônica, de Mauricio de Souza. História em quadrinhos brasileira de maior vendagem e reconhecimento perante o público.

41


Conclusão

Os quadrinhos japoneses, atualmente, são um grande sucesso de vendas em vários países, em especial no Brasil, onde há constante crescimento nas vendas e na publicação de novos títulos. O estilo mangá, em geral, se difere de outras publicações em quadrinhos. É fenômeno de produção cultural em larga escala, setorizado e estruturado conforme o perfil consumidor. Conforme as referencias apresentadas no presente trabalho, não há outro estilo de quadrinhos com tal eficácia como comunicação de massas, tendo em vista o expressivo volume de vendas e exportações dos mangás. Conforme analisado neste trabalho, os artifícios de linguagem utilizados nos mangás tentam atrair ao leitor de modo diferenciado em relação aos quadrinhos ocidentais. Pois na realidade editorial japonesa, este efeito é essencial para o autor se sobressair perante a grande concorrência de uma revista semanal, e ter êxito nas pesquisas de opinião. O leitor uma vez interessado em uma história de mangá provavelmente irá acompanhá-la durante anos seguidos. Na realidade editorial brasileira os mangás ganham espaço em edições mensais com versões traduzidas. Nas quais a intenção discursiva do autor por vezes pode perder-se, já que o idioma possui inúmeras nuances. Com isso conclui-se como recomendável o estudo comparativo do leitor, especialmente dos estudantes de língua japonesa. Mantendo uma visão critica perante a constante profusão de recursos visuais e lingüísticos existentes nos mangás.

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Glossário

Akabon: Literalmente “Livros vermelhos”. Foi a vertente de produção de mangás que mais se destacou no pós-guerra japonês na cidade de Osaka. Vendida a custo muito baixo nas ruas por ambulantes. Anime: Desenho animado japonês Emakimono: Antiga forma desenhada de narrativa japonesa apresentada em rolos em que a história aparecia gradualmente. Furigana: Leitura auxiliar dos kanji. Normalmente apresentada sobre os kanji, descrevendo a leitura fonética dos mesmos. Gairaigo: Palavras japonesas de origem estrangeiras grafadas no alfabeto fonético japonês katakana. Giongo: Representações sonoras na escrita japonesa, com conceito semelhante ao de onomatopéia utilizado em língua portuguesa. Gitaigo: Classe de palavras do idioma japonês que tem a função de representar na escrita um estado físico ou psicológico. HQS: Histórias em quadrinhos (conceito de histórias em quadrinhos ocidentais). Kanji: Alfabeto japonês composto por ideogramas Katakana: Alfabeto silábico japonês utilizado principalmente na representação de estrangeirismos. Mangá: Histórias em quadrinhos japonesas. Mangaka: Autor de mangá. Desenhista. Samurai: Guerreiro feudal japonês. Shodo: Técnica de caligrafia japonesa. Storyboard: Projeto de produção cinematográfica composto de seqüência desenhadas. Ukiyo-e: Estilo de pintura clássica japonesa do período Edo (1603-1867), que utilizava auxilio de blocos de madeira para a impressão.

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Lista de Convenções

Conforme as publicações especializadas sobre o assunto, foi convencionado o uso do vocábulo "mangá" sempre que o referido for quadrinho de origem japonesa. E em sua apresentação foi convencionada a declinação de plural nesse caso se necessário. Logo no presente trabalho é representado em plural apenas os vocábulos japoneses "mangá" e "anime" (em "mangás" e "animes"), e nos demais não são representados com a desinência "s" (como por exemplo em "os kanji"). Em itálico são representados os nomes de séries de mangás ou animes, inclusive nas versões traduzidas. Assim como as palavras japonesas romanizadas no texto de modo geral, exceto “mangá” e “anime”. A transcrição romanizada dos vocábulos japoneses com prolongamento fonético são representada com "ou" e "ei". Por exemplo em "sensou" (ao invés de "sensoo" como no “Dicionário Japonês-Português Romanizado” de Noemia Hinata). Os vocábulos japoneses grafados no alfabeto katakana tiveram suas nas suas transcrições convencionadas em acordo com os vocábulos de origem estrangeiras. Como por exemplo em "shonen janpu" transcrito para "shonen jump". Os nomes de japoneses são apresentados conforme a disposição ocidental (nome seguido de sobrenome). Como por exemplo em Akira Toriyama (e não Toriyama Akira). Nas transcrições de falas em balões, nos exemplos de tradução, são realizadas predominantemente em letras minúsculas. Uma vez que nas versões em português dos mangás referentes são apresentadas em caixa-alta.

44


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reinventou os Quadrinhos. São Paulo: Conrad Editora, 2006 KURUMADA, Masami. Saint Seiya Encyclopedia. São Paulo: Conrad Editora, 2004 LUYTEN, Sonia B. Mangá, O Poder dos Quadrinhos Japoneses. São Paulo: Estação Liberdade, 1991 LUYTEN, Sonia B. História em Quadrinhos – Leitura Crítica. São Paulo: Edições Paulinas, 1984 MOLINÉ, Alfons. O Grande Livro dos Mangás. São Paulo: Editora JBC, 2004 NAGAHO, Sumio. Nihongo chokusetsu kyoujyuhou. Tóquio: Sotakusha, 1987 SANTARÉM, Marcelo. Mangá – Uma Trajetória. Monografia. Rio de Janeiro, 1993 TORIYAMA, Akira, e SAKUMA, Akira. Mangaka. Tóquio: Shueisha, 1984 PAULIUKONIS, Aparecida Lino. Teoria sobre o significado nos campos da Semântica e da Pragmática. Apostila. Rio de Janeiro, 2005 WATANABE, Masahiro, e NAGASHIMA, Kei. Japonês Rápido. Tóquio: Yohan Publications, 1993

Principais artigos em sites da internet consultados: BERTULANI, Carlos. “O Big Bang e a Evolução do Universo”, Instituto de Física da UFRJ, [página da internet, http://www.if.ufrj.br/], consulta em novembro de 2006 LUGARINHO, Leonardo, Kotatsu On-line [página da internet, http://www.kotatsu.com.br/] consultado em novembro de 2006 PRADO, Thiago Alexandre Salgueiro e NUNES, Márcia das Graças Volpe. Núcleo Interinstitucional de Lingüística Computacional da USP, [página da internet, http://www.nilc.icmc.usp.br/], consulta em novembro de 2006 RIBEIRO JR., W.A. Atena. Portal Graecia Antiqua, São Carlos, [página da internet, http://greciantiga.org/], consulta em novembro de 2006 SARAIVA, Danilo. Ohayo, [página da internet, http://www2.uol.com.br/ohayo/], consulta em dezembro de 2006 SATO, Cristiane. “Osamu Tezuka e a Expansão do Animê”, [página da internet, http://www.culturajaponesa.com.br/], consulta em novembro de 2006

45


Consultas complementares (sem autor definido): http://www.abrademi.com/, consulta em novembro de 2006 http://www.universohq.com/, consulta em novembro de 2006 http://disney.go.com/, consulta em novembro de 2006 http://www.tezuka.co.jp/, consulta em novembro de 2006 http://www.sonoo.com.br/Escritajaponesa.html/, consulta em novembro de 2006

Principais jornais e revistas consultados: Jornal O Globo, Revista da TV (14 de Maio de 1995), p.17 Revista “BRAVO!”, nº86 (novembro de 2004), Editora Abril Revista Mangajin, nº2( 1995) e nº5 (1996)

46


Anexos

Dados relativos a vendas de peri贸dicos japoneses.

47


Exemplos relativos aos pronomes pessoais japoneses boku e ore. Página 35.

A fala selecionada acima é do personagem Shun (a esquerda, seguindo a ordem de leitura japonesa), e faz uso do pronome pessoal japonês boku, transmitindo carga semântica com grau de infantilidade e sem caráter rude.

No exemplo acima a fala do personagem Seiya é marcada pelo uso do pronome pessoal japonês ore, que ao passar para o português é suprimida através do uso do “vou”, perdendo sua carga semântica original.

48


Listagem dos “tipos de eu” ditos em japonês e o estereótipo de alguns usuários. Segundo o livro Japonês Rápido (de Masahiro Watanabe e Kei Nagashima).

49


Ampliação do exemplo de “lembranças” utilizando as bordas em escuro do mangá. Página 33.

50


Questionário:

1. Como você conheceu o mangá? Como foi o seu primeiro contato?

2. Seu interesse pelo estudo da língua japonesa foi incentivado pelo mangá?

3. O mangá seria uma ferramenta para o estudo da língua japonesa? Justifique.

4. Você prefere mangá ou anime? Escolha uma opção e justifique sua resposta.

5. Você lia/lê outros tipos de quadrinhos sem ser o japonês? Na sua opinião, qual a diferença entre o mangá e o quadrinho ocidental?

6. Em que ocasiões você lê mangá? (quando e onde por exemplo)

7. Diga o tipo de personagens que você gosta e o que admira nelas (moda ocidental ou oriental, personalidade, etc.).

8. Dentro dos diversos tipos de mangás existentes quais os de sua preferência? (shojo, shonen, político, histórico, erótico, etc.). Escolha dois no máximo e justifique sua opção.

9. O que atrai na leitura (ou visualização) de um mangá? (história, visual, traço bem definido, autor famoso, etc.).

10. O que acha dos títulos de mangás recentemente lançados no Brasil? A escolha dos títulos é do seu agrado?

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