Dispositivo para Performances Artísticas: Estrutura Desmontável em Papelão

Page 1

Dispositivo para performances artĂ­sticas: estrutura desmontĂĄvel em papelĂŁo



Dispositivo para performances artísticas: estrutura desmontável em papelão Guilherme Prado Zorzella Orientadora: Prof. Vera Maria Pallamin


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo trabalho final de graduação FEV 2015 4


em mem贸ria de meu querido pai e amigo, S茅rgio


6


Agradecimentos Primeiramente à Vera Maria Pallamin, pela disposição em ser minha orientadora, e por me acompanhar de maneira atenta ao longo de todo o processo. Também por ter, gentilmente, sedido o espaço do Atelier Fraccaroli para o desenvolvimento desse trabalho. Ao Reginaldo Ronconi, por acreditar nas potencialidades desse trabalho, e pelos generosos atendimentos, que se transformaram em agradáveis conversas. À Anália Amorim, pelo entusiasmo, doçura, e pelas significativas conversas sobre o universo das estruturas. Aos colegas de profissão e aos professores da FAUUSP, que engrandeceram esse trabalho através de ilustrativas conversas: ao André Leiner, ao Chico Homem de Melo, ao Giorgio Giorgi Junior, ao Henrique Lindenberg, ao Luis Antônio Jorge, à Marta Bogéa, ao Renato Hirsh, ao Vitor Borysow. À Didiana Prata, por compreender minhas ausências, e por sempre estar disposta a contribuir de forma positiva. À todos os colegas da Prata Design pelo interesse por esse trabalho e pela preocupação com meu bem-estar. Aos seguranças sempre simpáticos do Atelier Fraccaroli, e aos funcionários da FAU especialmente à Lili, pela atenção nesse final tão turbulento, e aos técnicos do LAME por fornecerem todo auxílio necessário ao longo desse trabalho. À Camila D’Ottaviano e ao Vicente Gil por desatarem os nós da buracracia universitária, contribuindo de forma decisiva para conclusão desse trabalho. Finalmente, aos meus pais, Sérgio e Eliana, pelo amor infinito, por sempre acreditarem em mim, e por me proporcionarem uma vida feliz. Aos avós, tios e primos pelo carinho e apoio, não só ao longo desse ano, mas em toda minha vida. Aos meus queridos amigos da FAU, por compartilharem comigo os melhores momentos desses anos de graduação, e por representarem tudo que vai além da sala de aula. São eles: Alexandre, Aran, Bia, Douglas, Fabio, Gustavo, Heitor, Leandro, Luenne, Luis, Murilo, Renan e Tamires. Aos amigos que tornaram a finalização desse trabalho possível, e que perderam horas de sono ao meu lado. São eles: Alexandre, Fernando, Luiz Felipe, e meu primo Luigi. Ao Caio pelo belo poema. Ao Bira pela carona. À Dani, por ser a melhor companheira, por ter estado presente em todas as angústias e todas as vitórias, por me motivar a sempre ser o meu melhor.


8


Sumário

9

Prefácio

13

O Uso do Termo “Dispositivo”

15

Introdução

Motivação 21

As Novas Dinâmicas de Ocupação dos Espaços Públicos de São Paulo

27

Pequenas Coberturas no Espaço Público

Projeto 33

Justificativa Geral do Projeto

39

Sistemas Estruturais Desmontáveis

63

Sistema Construtivo em Papelão Ondulado

73

Sistemas Estruturais de Superfície-Ativa: Geometria das Dobras

91

Raciocínio Espacial e Construtivo do Dispositivo

REALIDADE 135

Execução do Protótipo na Escala 1:1

169

Considerações Finais

173

Bibliografia


10


prefácio

|*

O presente Trabalho Final de Graduação tem início com uma breve esplanação sobre as principais diretrizes que determinaram a escolha do tema desse projeto de pesquisa. Essas surgiram na tentariva de responder a questionamentos e vivências pessoais, enquanto cidadão e habitante de uma cidade tão complexa como São Paulo, e a questões técnicas, enquanto profissional de arquitetura, que lança um olhar crítico e propositivo sobre essa realidade social e urbana. Atrelado a isso está a importância desse trabalho enquanto etapa final da graduação de um curso superior em uma universidade pública, responsável por formar profissionais sensíveis as questões públicas, capazes de realizar leituras críticas em suas áreas de atuação, e de propor intervenções pertinentes e responsáveis sobre essas. Ainda no ambito acadêmico, mais especificamente em relação ao curso de arquitetura e urbanismo da FAUUSP, o TFG se apresenta como a oportunidade de articular os conhecimentos específicos de cada um dos três departamentos da faculdade: projeto, história e tecnologia. Apesar de não ser uma condição essencial para o desenvolvimento dos trabalhos finais, fazer essa correlação, que está presente na prática profissional, se mostra um desafio complexo e interessante, tendo em vista a forte segmentação dos departamentos dentro da estrutura curricular do curso. Sendo assim, a primeira diretriz para escolha do tema desse TFG previa a eleição um grupo interconectado de problemáticas sociais e arquitetônicas presentes no meio urbano, em especial, nos espaços públicos da cidade de São Paulo. A identificação desse cenário especifíco, que viria a ser um recorte dentro do amplo e complexo universo de precariedades que compõem esses espaços, ocorreu a partir da observação e da vivência pessoal, com destaque para situações que fossem presentes no meu cotidiano. 11


O processo foi ancorado e complementado, em paralelo, pelo repertório de conhecimento e pelo olhar crítico adquirido ao longo da graduação, nas disciplinas do curso e através de leituras complementares. Esse quadro serviria de motivação para pesquisa teórica e seus desdobramentos. A segunda diretriz definia que esse TFG seria focado no desenvolvimento de um produto final prático, representado por um projeto de arquitetura, ou pelo menos de um projeto de espaço edificado. Esse deveria dialogar e servir como resposta propositiva às problemáticas urbanas relativas ao tema de pesquisa. Desde o início optou-se por desenvolver um projeto de espaço de pequena escala, que permitisse, ao longo do processo, o maior domínio e aprofundamento sobre as variáveis da prática projetual, buscando assim atingir um maior nível de detalhamento, e tornar a proposta viável de ser executada. De forma complementar a anterior, a terceira diretriz previa a montagem de um protótipo desse dispositivo, ou pelo menos de parte dele, em verdade grandeza, empregando os materiais e componentes definidos no projeto. Essa etapa de conclusão do trabalho foi entendida como sendo fundamental para confirmação de erros e acertos do projeto, além de proporcionar um tipo de aprendizado que só o processo de materialização e execução física permitem. O protótipo na escala 1:1 ainda permitiria a experimentação sensorial do espaço construído, qualidade exclusiva do universo material, em detrimento ao da representação. Por fim, a quarta diretriz seria a vontade de conferir a esse trabalho um certo grau de novidade e de experimentação, através de soluções estruturais alternativas, que remetessem a um cenário mais contemporâneo em termos de uso dos materiais, de linguagem, e de temporalidade do espaço edificado. Essa busca também se extendeu para questões urbanas, na tentiva de compreender parte das novas dinâmicas de ocupação com espaços públicos, a partir de um recorte específico de temática e de lugar. Essa inquietação surgiu de um interesse pessoal de pesquisa, visto que esses temas não são tão presentes no conteúdo das disciplinas do curso, em especial, nas relacionadas ao estudo da arquitetura. Também houve a tentativa de usufurir do grau de liberdade projetual que um trabalho exclusivamente acadêmico possibilita. Vale ressaltar, que apesar do nível de experimentação presente nas soluções de projeto, a orientação metodológica para o desenvolvimento do 12


mesmo esteve diretamente ligada aos preceitos transmitidos e valorizados pelo ensino da FAUUSP, que fundamentam o processo de pesquisa e de desenho através de leituras históricas, sociológicas, e também, de tecnologia. Sendo assim, o presente trabalho não gerou nenhum processo de ruptura, apresentando apenas a tentativa de agregar outros olhares e modos de enfrentamento das soluções de projeto, valorizando assim, o TFG como um importante exercício de reflexão acadêmica, projetual e, naturalmente, de grande aprendizado. Por fim vale complementar que o presente relatório foi estruturado em três grandes partes: contexto, projeto, execução, complementadas pelos textos do prefácio, introdução, e considerações finais. A primeira parte buscou apresentar o contexto social e urbanístico, apresentando um os personagens e como acontecem, se dão as novas dinâmicas de apropriação desses espaços, em espacial, pela população que habita as periferias da cidade. A segunda parte apresenta todos os aspectos referentes ao projeto arquitetônico do dispositivo: suas principais diretrizes conceituais, característas técnicas e funcionais, e o processo de concepção e evolutiva A terceira parte relata a produção do protótipo na escala 1:1, os desafios, o processo de montagem e sua importância para resolução de diversas questões projetuais. Por fim, a quarta parte, traz as considerações finais sobre o processo de pesquisa, e possíveis futuros desdobramentos de projeto de pesquisa, assim como, a bibliogria e o índice de imagens.

13


14


introdução

|0

O presente Trabalho Final de Graduação se constitue no projeto arquitetônico de um dispositivo de pequena escala, que através do emprego de um partido estrutural desmontável, serve de abrigo para as pequenas atividades culturais que ocorrem nos espaços públicos e áreas livres da cidade de São Paulo. Ao analisarmos criticamente a configuração dos espaços, seja a partir de leituras especializadas sobre o tema, seja a partir de nossa vivência pessoal, observamos um elevado grau de precariedade em termos urbanísticos e infra-estruturais. Esse quadro está presente na maioria dos distritos do munícipio, e de maneira acentuada nas periferias, onde está localizada a população mais pobre e os bairros menos consolidados. Devido a complexidade que envolve o universo de precariedades urbanas e sociais existentes nesses espacos, o presente trabalhou buscou definir um recorte específico, que possibilitasse uma maior aproximação do assunto em foco e uma pesquisa de melhor nível qualitativo. Sendo assim, esse TFG buscou, no plano téorico, compreender e destacar as práticas de ocupação que atualmente ocorrem em alguns dos espaços públicos da cidade, tendo como foco as manifestações culturais e artísticas de organização independente. Como ponto de partida, observamos que o conjunto de equipamentos públicos culturais distribuídos pelo território da cidade, especialmente junto aos espaços públicos, é deficiente em termos quantitativos, qualitativos e em diversidade, configurando assim, um cenário de precariedade e segregação. Apesar disso, o universo das manisfestações culturais, em especial as de caráter informal e popular, ultrapassa a obrigatoriedade de um edifício para acontecer, se apropriando de um repertório mais diverso de espaços, como pequenas coberturas ou mesmo ao ar livre, para a realização de suas atividades. É notória a presença de diversos coletivos e grupos de 15


artistas que propõem intervenções, performances e festas nos espaços públicos da cidade, tanto em bairros centrais, como periféricos. Como resposta a essa conjuntura, o projeto de dispositvo proposto busca funcionar como uma cobertura temporária, intervindo, ainda que de forma tímida e experimental, na configuração espacial desses locais (especialmente, os mais precários e periféricos), e atuar como suporte, físico e de valorização, para um conjunto atividades ligadas a produção cultural independente na cidade. A maior singularidade da proposta apresentada está no uso de chapas de papelão ondulado como sistema construtivo da cobertura do dispositivo. O emprego desse material acabou por condicionar, ao longo do processo, as soluções de projeto adotadas, e simultaneamente, se revelou uma escolha compatível com os pressupostos conceituais e técnicos determinados ao se configurar como um sistema desmontável, de fácil transporte e, principalmente, de baixo custo.

16


O USO do TERMO “DISPOSITIVO”

|&

O termo dispositivo, presente no título desse trabalho e ao longo dos textos desse relatório, foi o escolhido para identificar, classificar e traduzir conceitualmente o objeto projetado nesse Trabalho Final de Gradução. A escolha de um termo tão particular se fez necessário, tendo em vista as particularidades e o caráter subjetivo do objeto em questão, que dificultaram sua classificação/rotulagem. Seria esse apenas um produto arquitetionico? Um edifício? Em parte, sim, ao conformar um espaço edificado, por fazer uso de um sistema estrutural, por permitir usos semelhantes aos existentes em edificíos com característcas mais tradicionais. Por outro lado, o presente dispositivo se aproxima do universo do desenho industrial, do design do objeto devido a escala, ao nível de detalhamento dos componentes, do raciocío de montagem/desmontagem e até por sua simplicidade em termos de infra-estrutura. Resolver essa discussão conceitual se mostrou uma tarefa complexa para um Trabalho Final de Graduação, ao demandar um amplo aprofundamento téorico. Admitiu-se que o foco do trabalho se direcionaria para outras problemáticas de caráter mais prático. Sendo assim, a escolha de um termo mais genérico se mostrou a solução mais segura e acertada em termos semânticos e de significância. Nesse sentido é valido apresentar de maneira resumida os signficados em retorno do termo “dispositivo”, a partir da leitura crítica feita por Giorgio Agambem no texto “O que é um dispositivo?”. O autor busca analisar a palavra enquanto termo técnico decisivo na estratégia do pensamento de Michel Foucault, que passa a usá-la com frequencia, sobretudo a partir da metade dos anos setenta. Agambem resume o significado do termo em três pontos principais: 17


1_ É um conjunto heterogeneo, que inclui virtualmente qualquer coisa, linguístico e não- linguístico no mesmo título: discursos, instituiçõoes, edifícios, leis, medidas de segurança, proposições filosóficas etc. O dispositivo em si mesmo é a rede que se estabelece entre esses elementos; 2_ O dispositivo tem sempre uma função estratégica concreta e se inscreve sempre em uma relação de poder; 3_ É algo de geral porque inclui em si a episteme, que para Foucault é aqui-

lo que em uma certa sociedade permite distinguir o que é aceito como um enunciado científico daquilo que não é científico.

Ainda segundo Agambem, o termo “dispositivo” em seu uso no foucaultiano, parece se referir a disposição de uma série de práticas e de mecanismos (ao mesmo tempo linguísticos e não- linguísticos, jurídicos, técnicos e militares) com o objetivo de fazer frente a uma urgência e de obter um efeito. Nos dias atuais a palavra “dispositivo” vem sendo popularizada, caracterizar instrumentos, objetos, gadgets, bugigangas e tecnologias de todo tipo, como por exemplo, os chamados “dispositivos móveis”: smartphones, notebooks etc. Observa-se então que parte dos significados contidos na palavra “dispositivo” estão presentes, mesmo que de modo subjetivo, no ato do projeto, seja de Arquitetura ou de Design. Primeramente, quando esse se caracteriza como resposta técnica e lúdica a uma problemática, ou urgência, como citado no texto de Agambem; em segundo, quando se materializa em um objetivo ou edifício, passando então a estabelecer uma relação de dominação e poder frente ao entorno e suas instâncias. Analisando apenas os espaços edificados, concluímos que todos esses, mesmo quando apresentam configurações de “permeabilidade” em termos de acesso, passagem ou no âmbito visual, determinam instâncias de privilégio e segregação. Primeiro, por serem uma intervencão física que altera a realidade de uma paisagem pré-existente, transformando assim, mesmo que por curtos períodos, as relações socipolíticas e economicas de um determinado lugar ou região do território; em segundo, por delimitarem fronteiras espaciais na paisagem, como por exemplo, entre interior e exterior, coberto e descoberto, superior e inferior, provocando assim diferentes estados de ocupação no âmbito da população presente no território no qual o edifício está inserido, ou seja, alguns estão dentro, outros estão 18


for a, uns podem usufruir dos benefícios sociais e técnicos desse enquanto outros estão, e vice-e-versa, caso os edificio traga malefícios. Naturalmente, a explanação sobre as relações de poder que um espaço edificado estabalece é muito complexa, e variável de acordo com a carga simbólica, histórica e política intrínseca a cada grupo social. Sendo assim, não é objetivo desse texto se prolongar sobre esse tema, apenas é válido ressaltar que essa discussão está presente, de forma subjetiva, ao longo do texto desse relatório, quando apresentamos as instâncias do projeto de dispositivo proposto. Por fim, concluísse que o uso do termo “dispostivo” nesse trabalho, entanto rótulo do objeto projetual proposto, é possível, e está justificado, ainda que de uma forma simplificada, nos parágrafos acima.

19


20


21

Motivação


22


|1

AS Novas dinâmicas de ocupação dos espaços públicos de São Paulo

A

cidade de São Paulo é o principal centro industrial e financeiro do país, além ser um importante pólo de atividades terciárias; sua população com cerca de 11 milhões de habitantes é composta por uma ampla variedade de etnias e nacionalidades que aqui se estabeleceram ao longo de sua história. Esse amplo quadro social, organizado a partir das variadas origens e hábitos da população, quando associado a diferentes concentrações de renda, provocadas pelo sistema capitalista, acaba configurando um ambiente cultural vibrante, rico de influências, formas de expressão e padrões estéticos que se agrupam ou se repelem ao longo do tempo.

Na página anterior: performance do cantor Criolo no festival “Existe Amor em SP”, realizado na Praça Roosevelt, em 2012. O evento foi organizado por grupos independentes de produção cultural. Fotografia por Clemente Gauer

O cenário urbano contemporâneo tem demostrado a acentuação de práticas cada vez mais individualistas dentro dos espaços da cidade. Essa tendência vem se agravando ao longo do século XX e XXI, e parte do princípio de negação dos espaços públicos urbanos, enquanto locais de sociabilidade e interação entre os diferentes setores que compõem a sociedade. Segundo Bauman (2001, p.111), esses espaços proporcionam encontros casuais entre estranhos, que, ainda segundo o autor, não apresentam passado ou futuro, sendo assim, um momento onde não há espaço para o erro. Esses encontros inesperados são o principal motivo do esvaziamento dos espaços públicos, ou seja, por causa a dificuldade de convivência do ser humano com o outro, o diferente, o forasteiro (nas mais diversas escalas). A esse conceito, se somam muitos outros desdobramentos sociológicos e urbanísticos que acabam por gerar intensos processos de segregação social. Para Zukin, em Bauman (2001, p.110), o perigo mais tangível para o que chama de “cultura pública”, está na “política do medo coletivo”. O espectro arrepiante e apavorante das “ruas inseguras” mantém as pessoas longe dos espaços públicos, e as afasta da busca pelas habilidades necessárias para compartilhar a vida pública. 23


› Imagens acima, da esquerda para direita: Estrutura montada pelo coletivo Fora do Eixo, na Praça Roosevelt, São paulo Festa organizada pelo coletivo Voodoohop em cima do Minhocão, São Paulo

Em termos urbanos, as seguintes práticas fazem parte desse individualismo contemporâneo: o uso predominante do transporte individual (automóvel); a proliferação dos grandes empreendimentos imobilários de acesso privado, o famoso “condomínio fechado”; e a criminalização em termos sociais, não jurídicos, das livres manifestações políticas, culturais e de ocupação dos espaços públicos urbanos. Observa-se, no entanto, pelos espaços públicos da cidade de São Paulo, uma pequena parcela da população que se movimenta contra essas posturas de foco no universo privado, ou que não tem acesso aos benefícios proporcionados por esse. Dentro da esfera das práticas culturais urbanas, essa população tem estado em bastante contato com os espaços públicos da cidade, mesmo diante de suas precariedades infraestruturais. De um modo geral, a ocupação desses espaços, para fins culturais e performáticos, é realizada por dois perfis populacionais convergentes: o primeiro, é realizado por aqueles que procuram ocupar o espaço público como uma forma de manifestação política e de liberdade de expressão, ou mesmo, para divulgação de ideais e valores ideólogicos particulares. O outro perfil, é o da população segregada, em termos espaciais e de consumo, dos espaços bem infraestruturados de lazer e cultura, de caráter público ou privado, da cidade . Esse perfil concentra parte da população de

24


baixa renda do município, e/ou as que moram nos bairros mais periféricos. Nessa situação, os espaços públicos desses bairros e, principalmente, as área livres e espaços resíduais, se confirmam como principal local de lazer, e de desenvolvimento de atividades culturais. São nesses espaços mais afastados do centro, e menos institucionalizados, que o caráter público ganha mais força, reforçado pela noção de comunidade, e onde surgem as formas de ocupação mais improvisadas. Ao mesmo tempo, são esses os locais onde uma infra-estrutura, ainda que mínima, é bem-vinda e capaz de revolucionar certas práticas de ocupação. É possível imaginar shows de hip-hop, bailes funk e festas populares ocorrendo em espaços improvisados, como em uma pequena praça, ou no próprio campinho de futebol do bairro. Os espaços públicos do centro da cidade, apesar de mais institucionalizados, também são alvo de constantes intervenções artísticas e performáticas, por serem vazios durante a noite, e aos finais de semana, e por concentrarem uma população mais favorável a esse tipo de atividade. Nessas áreas se concentram atividades artísticas mais “alternativas”, como shows de música erudita, MPB ou de bandas de rock, pequenas peças teatrais etc. Espaços públicos mais institucionalizados e adensados, como as calçadas da Avenida Paulista ou da Avenida Faria Lima, se mostram mais resistentes as performances mais complexas, ou à montagem de uma estrutu25


› Imagens acima, da esquerda para direita: Coletivo Voodoohop se apresentando em uma festa no Minhocão, São Paulo Arte circense na Praça da Sé, São Paulo Show de Rap na favela do Moinho, São Paulo Cinema ao ar livre no Complexo Cantinho do Céu, no Grajaú, São Paulo

› Campo de futebol em favela de São Paulo, a importância do futebol como lazer para essa população, respeito pelo espaço livre do campo

26

ra coberta, como a proposta nesse TFG. A manutenção o espaço apenas como passagem é garantida pelo policiamento ostensisos dessas regiões e pelo perfil mais conservador de parte das pessoas que circulam por suas calçadas. Apesar disso, diversos artistas sozinhos, ou em pequenos grupos, costumam se apresentar na frente dos edifícios corporativos, talvez pela maior visibilidade, e chance de obter uma quantia em dinheiro. Nota-se a predominância de uma população jovem entre os agentes articuladores dessas atividades, como também, entre os próprios artistas, na sua maioria baixa e média renda. Normalmente, esses estão segregados do circuito formal de divulgação de cultura, presentes nos equipamentos culturais públicos e privados (centros culturais, casas de show, teatros de grande porte), ou seja, cujo foco da produção é de caráter independente e se dá de forma independente.


São diversos os coletivos de artistas propondo intervenções e festas no meio urbano, pequenos grupos musicais e bandas, grupos de dança e teatro, ou mesmo performances individuais, que optam por se apresentar ao ar livre, em espaços variados (inusitados ou não), mas geralmente, de forma precária e até insegura. Quanto menor a capacidade de organização desses produtores culturais, mais precária se dá a realidade das performances, em termos de infraestrutura. A maioria das atividades culturais apresentadas nos paragráfos anteriores são muito efêmeras, pois tem caráter performático, se montando, se realizando e se desmontando de forma rápida. As estratégias de ocupação tem que ser compatíveis com as condições de informalidade e precariedade presentes nos espaços públicos da cidade. Os objetivo dessas são: garantir a melhor qualidade de performática, transmitir de melhor forma a mensagem e o conteúdo simbólico da apresentação, acumular o maior número de espectadores possível, e desmontar tudo antes que alguém fique encomodado ou comece a chover. A curta temporalidade e aficiência da ação são características inerentes e estratégicas ao modo de ocupação proposto. A nível de exemplo prático, foram selecionados alguns personagens que articulam ações concretas, e frequentes nos espaços públicos da cidade. Esses no entanto, não representam as práticas de bairro, ou seja, da população que faz um uso mais cotidiano e improvisados dos espaços públicos disponíveis. As práticas representadas pelos exemplos a seguir, ainda que informais, são planejadas previamente, o que reduz o caráter de improviso da ocupação.

27


28


|2

Pequenas coberturas no espaço público

A

s pequenas estruturas apresentadas a seguir, são historicamente responsáveis por abrigar pequenas performances artísticas, especialmente, as musicais, nos espaços públicos urbanos. Normalmente, são performances de caráter popular e livre.

Na página anterior: coreto do Parque da Luz, São Paulo

Na cidade de São Paulo, essas estruturas também se fazem presentes em alguns espaços públicos da cidade, no caso, praças e parques. Essas são capazes de abrigar de forma adequada, diversos formatos de performances artísticas, se de pequeno porte. Formas mais contemporâneas de ocupação desses espaços tem que existir, retomando o potencial de valorização dos espaços públicos, inerentes a sua usabilidade. O cenário atual é, mais uma vez, desfavorável a essas práticas, tendo em vista, primeiramente, a pequena quantidade dessas estruturas nos espaços públicos do município, e em segundo, o péssimo estado de conservação em que se encontram. Vale ressaltar, que essas pequenas estruturas foram importantes referências para o projeto de dispositivo a ser apresentado nesse TFG, especialmente, nos quisitos de escala e modos de apropriação do espaço edificado.

29


O Coreto

Coreto da Praça Antônio Prado (à esquerda), e coreto da Praça da República (à direita), ambos em São Paulo

Os coretos estão presentes em vários países da Europa e nas Américas, instalados em diversos espaços públicos, principalmente em praças ajardinadas. Eles surgem na Inglaterra, em meados do século XVIII, como elemento decorativo dos jardins do período Romântico, sua arquitetura tem inspiração oriental. Em inglês são chamados de bandstand, ou seja, band no sentido de banda ou orquestra, e stand no sentido de tribuna, palco; e em francês de Kiosque à Musique de mesma tradução, confirmando a associação direta do equipamento com manifestações musicais, provavelmente, de caráter popular. Com o passar do tempo, também assumiu uma conotação política, ao ser suporte para comíssios e discursos políticos. Apesar de fixa, sua estrutura é leve, normalmente de madeira ou metálica; sua cobertura protege os usuários da chuva, e se torna um ponto de referência dentro as áreas livres; seu piso elevado reforça essa característica, além de aumentar a visibilidade dos que estão em seu interior. É um espaço de livre acesso, que se mantém próximo ao público e permite 360o de permeabilidade visual. Sua estrutura ainda pode servir de suporte para elementos cenográficos.

30


A Concha Acustica A concha acústica é um outro equipamento comum nos espaços públicos urbanos, principalmente, nas praças centrais de pequenas cidades. É um equipamento cultural por essência, já que é projetado para receber apresentações musicais e teatrais. Sua estrutura normalmente é fixa e feita de materiais com boa reflexão acústica, como o concreto, a alvenaria e o aço; sua forma côncava é capaz de amplificar e direcionar os sons produzidos em seu interior para o público externo. Normalmente, é um equipamento de livre acesso e público, sua configuração espacial mantém o artista próximo ao público, mas seu campo de visilibilidade é menor. Sua estrutura ainda pode servir de suporte para elementos cenográficos, desde que os mesmos não interfiram nas propriedades acústicas do equipamento. › Concha acústica do Parque Villa-Lobos, São Paulo

31


32


33

o

projeto


34


justificativa geral do projeto

|3

O

projeto de dispositivo proposto por esse Trabalho Final de Graduação tem como objetivo principal configurar um espaço coberto, que a partir da aplicação de saberes construtivos e arquitetônicos, se estrutura e, principalmente, responde de maneira eficiente as demandas técnicas de um contexto social e urbano específico. Ao se montar como um “abrigo”, por mais simples que sejam suas soluções construtivas, esse espaço passa a ter a capacidade de receber atividades da produção intelectual humana, respondendo a priori, a um uso definido pelo projetista, enquanto intenção política, técnica e lúdica. Como o presente trabalho está limitado ao gesto propositivo e de pesquisa, inerentes ao universo acadêmico, a afirmação anterior se mantém válida, precisando então, que o projeto de arquitetura, em um momento futuro, se materialize como objeto construído, para assim ganhar novas apropriações e significancias. As soluções projetuais do dispositivo serão apresentadas ao longo do relátorio, de acordo com organização do texto. De início, é valido reconhecer que a proposta em questão se apresenta como uma alternativa singela perante a densidade e complexidade dos problemas expostos, cuja solução vai muito além de um projeto arquitetônico, posto como um possibilidade de ação dentro uma problemática social, política, econômica e de gestão específica, o que de ser solução ou resposta técnica absoluta. Assim, esse projeto é entendido como articulador do espaço físico, que busca refletir sobre as potencialidades do espaço performático, no plano das artes e da sociedade, se relacionando diretamente com os espaços públicos urbanos, e principalmente, com o público enquanto usuário e espectador.

35


Primeiras diretrizes de projeto - pressupostos

C

omo apresentado na primeira parte desse relatório, é visível que grande parte dos espaços públicos da cidade de São Paulo apresentam uma série de precariedades urbanísticas e infra-estruturais, que agravam seu processo de esvaziamento e abandono, seja pela população do município, seja pela gestão pública, que historicamente resistente em qualificá-los. Mesmo diante desse cenário, uma parcela da população busca intervir nesses espaços, como: praças, parques, calçadas, e espaços residuais que estão distribuídos pela malha urbana, os tranformando em “palcos” temporários para realização de eventos e performances culturais organizadas de maneira autônoma e independente. Como visto, essas apresentações se caracterizam pela informalidade, e também apresentam variadas carências infra-estruturais. Os tipos de atividades são diversos: shows de música ao vivo, peças de teatro de rua e infantil, apresentações circenses, até atividades mais lúdicas, como saraus e pequenas exposições de arte. Nesse sentido, o dispositivo desenvolvido nesse trabalho busca responder a esse cenário de precariedades, enquanto objeto técnico de qualificação, seja do espaço ao seu redor, seja da própria atividade que ocorre em seu interior, através de seus aspectos construtivos e espaciais: dimensões, materiais e componentes, sistema construtivo, forma, linguagem, programa, modo de montagem e desmontagem. Um dos principais objetivos desse dispositivo foi o de ser popular e de fácil apreensão, de modo a ser tornar acessível, principalmente, para uma população de menor renda, que habita os bairros menos infra-estruturados e de maior informalidade nos modos apropriação dos espaços urbanos, e que tem uma rica produção cultural, que se mantém margilizada do circuito formal de cultura. Entende-se que a valorização dessas práticas de ocupação dos espaços públicos e áreas livres da cidade é benéfica, primeiramente, enquanto produção de cultura, catalizada pela própria vivência urbana e coletiva, como também, enquanto melhora nos modos de civilidade e convivência, graças a capacidade desses espaços em promover, de maneira informal, encontros e diferentes formas de interação entre as diferentes camadas da sociedade paulistana. Claramente heterogênia, essa sociedade está afirmando passando por um processo de segregação e interiorização já histórico, e comuns aos estilo de vida contemporâneo mundial, condicionado pelo neoliberalismo e na focado na individualização e privatização dos espaços.

36


A seguir serão aprensentadas as principais pressupostos técnicos e conceituais que orientaram o projeto do dispositivo, balizados nas demandas e modos de operação das práticas performáticas já citadas. A primeira condição a ser enfrentada é a do isolamento do artista frente ao espaço envoltório. Em alguns casos, a escala do local, como uma praça ou parque, pode ser desproporcional a área ocupada pelo grupo de artistas durante o momento performático ou evento em curso, o que enfraquece seu impacto, pois gera uma sensação de pequinez e um afastamento do público, dos principais acessos, e até mesmo inibe o acúmulo de pessoas. Em outros casos é a saturação de elementos sensoriais, principalmente os visuais e sonoros, presentes nesses espaços que acabam competindo com os elementos da performance, como por exemplo, uma calçada ou espaço residual visinho de uma avenida movimentada. A solução adotada através dessa leitura foi a criação de uma cobertura, que passa a funcionar como marco cênico, elemento de orientação e atração visual no espaço aberto, além de naturalmente, demarcar a área específica da performance. A segunda condição está centrada nas dinâmicas entre artista e público no momento do espetáculo: visibilidade, a curta e média distância, e hierarquia. Em relação a primeira, é comum observarmos a ocorrência de performances no mesmo plano em que está o público espectador, o que acaba por prejudicar a visibilidadade dessas conforme o acúmulo de espectadores próximos à ação. A falta de hierarquização entre o espaço reservado aos artistas, e o espaço reservado ao público, também é uma caracteística comum nas performances de rua, causando uma mistura que pode atrapalhar a plenitude da ação. Nesse sentido, o elemento palco surge como solução projetual importante, cuja função histórica é a demarcação espacial, e também, a de “pedestal”, elevando do nível do chão a performance, e consequentemente, aumentando sua importância, e facilitando a apreensão visual por parte do público. Ainda sobre a configuração do palco, vale ressaltar, que ao tratarmos de artistas independentes e produtos culturais ligados a um universo alternativo, ter proximidade e interação direta com o público são fatores importantes para o sucesso do conteúdo que está sendo apresentado. Nesse sentido, um palco com um desnível pequeno, que não se conforme como barreira física de segregação entre o artista e o público, é uma solução interessante para criação de um espaço mais democrático, de livre apropriação, e de maior integração entre os personagens presentes no momento da performance. 37


A terceira questão é a de proteção contra as intempéries. A maioria das performances observadas acontecem ao ar livre, e normalmente, apresentam elementos auxiliares como: equipamentos de som e iluminação, instrumentos musicais, certas vestimentas e cenários, ou seja, objetos sensíveis luz direta do sol e ao calor, a chuva e a ventos fortes. Está somada a isso, a própria questão do desgaste físico dos artistas, causado por essas condições climáticas intensas. Sendo assim, a existência de uma cobertura e de um palco é reforçada, já que se conformam como estruturas de proteção e abrigo. Ao observarmos essas condições, percebemos que pequenos espaços cobertos e elevados, como os coretos, parecem responder de forma satisfatória enquanto solução projetual. No entanto, a quantidade desses, nos espaços públicos abertos da cidade é muito pequena, não atendendo assim, a todas demandas presentes nos diversas áreas do território. Por apresentarem estruturas e conexões fixas ao terreno, não são delocáveis para outros sítios, ou seja, incapazes de atingir os focos de maior demanda na cidade. Também é válido retomar, que as próprias dinâmicas de ocupação, preparo e execução desses pequenos eventos culturais de rua exigem um modelo de dispositivo que dialogue de maneira eficiente com a curta temporalidade que atinge as instâncias citadas. A maioria desses eventos apresenta um tempo de duração que varia entre algumas horas e alguns dias, e apresentam um tempo de montagem e desmontagem de toda infra-estrutura necessária, proporcional, a esse período. Acompanhando essa perspectiva, buscou-se projetar um dispositivo que também respondesse, de uma maneira compatível, a essas situações e demandas tão efêmeras. Nesse sentido, definiu-se o que esse dispostivo deveria apresentar uma estrutura composta por módulos desmontáveis que pudessem ser transportados para regiões de difícil acesso, comuns nos barros periféricos, ou que pudessem ser produzidos no próprio local de instalação. Esse sistema também deveria apresentar um processo rápido e intutivo de montagem e desmontagem, cuja modulação permitisse variações em sua configuração espacial, de forma a servir para os diversos tipo de atividades performáticas citadas. A opção por projetar um dispositivo de pequena escala, se mostrou lógica, vindo de encontro a todas as condições citadas anteriormente. Primeiro, porque as performances e eventos observados são pequenos, não necessariamente pelo número de espectadores, mas sim, pela dinâmica que os 38


próprios artistas desenvolvem, sendo assim, um dispositivo grande e complexo seria desnecessário frente as reais demandas espaciais de uso. Segundo, pois facilita e torna mais ágil uma série de questões técnicas, como: a produção dos módulos estruturais, o transporte dos mesmos, a montagem e desmontagem do sistema etc, além de reduzir a quantidade de peças e componentes necessários e, principalmente, o custo final da unidade. A questão do custo do dispositivo, enquanto produto, se mostrou um fator limitador para soluções projetuais baseadas em alta tecnologia. Ao analisarmos o perfil financeiro dos possíveis usuários, percebemos que esses coletivos e grupos artíticos são compostos em geral, por jovens de média e baixa renda, principalmente, quando se propõem uma estrutura a ser utilizada nos bairros perifericos da cidade. Sendo assim, soluções estruturais de menor custo e maior simplicidade foram as mais buscadas para desenvolver o projeto.

39


40


|4

SIstemas estruturais desmontáveis

A

pós o estabelecimento dos pressupostos de projeto, teve início uma pesquisa por referências e soluções técnicas em projetos de arquitetura que respondessem de maneira eficiente as demandas observadas. Esse levantamento teve como foco construções temporárias que fizessem uso de sistemas estruturais de caráter desmontável, que presassem pela simplicidade e racionalidade projetual, fácil transporte e armazenamento, e pelo baixo custo. O universo de soluções encontradas foi imenso, sendo assim, para preparação desse relatório, se fez necessario uma redução no número exemplos analisados. Optou-se por apresentar apenas os sistemas mais significativos em termos históricos e de versatilidade de uso; junto de cada um desses é apresentado um projeto de pequena escala (mais compatível com a escala do projeto proposto), a fim de exemplicar a solução construtiva aplicada.

Na página anterior: domo geodésico construído por Buckminster Fulller, em 1954, sendo transportado por um helicóptero

No decorrer desse levantamento buscou-se desenvolver um olhar crítico e atento aos detalhes construtivos, à materialidade, aos tipos de conexões e peças de travamento, às possiveis soluções formais e ao processos de montagem e desmontagem. Vale ressaltar que a maioria dos sistemas estruturais estudados estão presentes em projetos de pequena e grande escala, o que revelou o elevado grau de flexibilidade no uso de uma lógica construtiva. Todas as soluções estudadas, e desenvolvidas após a revolução industrial, fazem uso de componentes e elementos estruturais produzidos na indústria. O desenvolvimento de peças pré-fabricadas sob medida para uma aplicação específica não foi unânime, alguns sistemas fazem uso de peças modulares e componentes padronizados à venda no mercado.

41


Sistemas estruturais desmontáveis: conceituação

S

egundo Robert Kronenberg (1995, p.7) o universo das construções temporárias pode ser subdividido em três categorias principais:

•• Construções portáteis: transportadas inteiras e intactas, o modo de transporte está incorporado a sua estrutura; •• Construções relocáveis: são transportadas em algumas partes, mas podem ser rapidamente montadas para serem usadas. A vantagem deste tipo em relação ao anterior é que não tem a restrição de tamanho imposta pelo transporte; •• Construções desmontáveis: transportadas em um grande número de partes e, por isso, muito mais flexíveis com relação ao tamanho do que as outras duas e podendo ser transportadas em espaços pequenos. O presente TFG abordou somente as construções presentes na terceira categoria, tendo em vista sua maior facilidade de transporte e por permitir uma maior liberdade de arranjos formais e espaciais, que podem surgir em decorrência da variedade dos módulos e peças que compõem o sistema. Os sistemas estruturais desmontáveis sempre estiverem presentes na história do homem, em pequenas feiras comerciais, circos urbanos e em moradias nômades; o setor militar também faz uso desses sistemas há muito tempo, em especial, na sua logística de deslocamento e ascentamento; os projetos fazem uso de materiais convencionais, como madeira e aço, até novas tecnologias, como membranas sintéticas, estruturas com ligas metálicas ultra-leves e conexões inteligentes. Segundo SCÓZ (2009, p.10), o mundo contemporâneo vem apresentando novos desafios aos projetistas, construtores e arquitetos; um panorama cada vez mais complexo vem se estabelecendo devida a presença de grandes concentrações urbanas em várias áreas do planeta, superpovoadas, caóticas e violentas; a mudança dos paradigmas temporais impostos pela evolução tecnológica dos meios de comunicação e de transporte; o advento da informática e da internet; e a eminente crise energética e ambiental. A arquitetura, a engenharia e o design podem vir a buscar respostas nos sistemas construtivos desmontáveis com o objetivo de proporcionar, em curtos períodos de tempo, áreas abrigadas e equipamentos às mais varia42


das situações e localidades, alcançando o grau de flexibilização exigido pela atual dinâmica da vida humana, que tenta balancear um consumo frenético de produtos, com uma consciência socioambiental coletiva. Ainda segundo Scóz (2009, p.12), a capacidade de um edifício em se montar e desmontar implica novas posturas do profissional arquiteto, que deixa como legado às novas gerações, não mais uma forma resolvida, mas um manifesto aberto a diferentes apropriações. Segundo Tolosa (2007, p.29), os sistemas construtivos desmontáveis são aplicados em construções de natureza efêmera, que são móveis no espaço, no tempo, ou em ambos. Esses são compostos por diversos componentes que quando unidos formam sua estrutura. A importância de uma pequena peça é a mesma que de todo conjunto. O projeto de cada componente é fundamental para o bom funcionamento do sistema, em especial quando esse está inserido em uma produção seriada e industrial, se demanda uma rápida montagem e um bom desempenho estrutural. Atualmente, o uso desses sistemas é cada vez maior, se afirmando como solução estrutural em diversas áreas da arquitetura. Os projetos abrangem tanto estruturas simples, de aplicação seriada e rápida, para fins comerciais; como também, sistemas mais sofisticados, para usos prolongados e de caráter experimental. Sua presença é fundamental na logística em grandes eventos temporários (esportivos, feiras e exposições, shows, etc), comuns nos grandes centros urbanos. Muitos projetos de equipamentos para uso emergencial também apresentam soluções inovadoras baseadas nesses sistemas. Após grandes catastrofes naturais, o número de vítimas e desabrigados pode ser alarmante, e o tempo de reconstrução da infraesturas abaladas pode ser longo, o rápido atendimento a população (abrigos, sanitários, postos médicos) só é possível a partir da montagem de equipamentos leves, eficientes e de baixo custo.

43


evolução histórica, tecnológica, e principais referências projetuais Conjunto de tendas nômades beduínas no deserto

O

s sistemas construtivos desmontáveis tem sua origem nos abrigos primitivos dos povos nômades, sua lógica construtiva se manteve desde então, enquanto as soluções foram evoluindo e se diversificando, mediadas pelos avanços tecnológicos, principalmente, após o surgimento da indústria e da produção em série, e mais recentemente com o advento da informática e do universo digital. Tendas nômades Ao analisarmos os primórdios dos sistemas construtivos desmontáveis, temos como principal referência os abrigos temporários construídos pelos povos nômades ao redor do mundo. Esses grupos sociais são conhecidos historicamente por habitarem regiões com recursos naturais escassos, o que os obrigava a se deslocar sazonalmente em busca de melhores condições de sobrevivência. Sendo assim, observa-se que os modelos construtivos tradicionais não seriam eficientes em garantir esse modelo de ocupação temporária de territórios. Ainda hoje, grande parte dessa população conserva sua estrutura social e seus hábitos culturais, entre eles, o de construir estruturas leves, de fácil mon-

44


tagem e instalação no terreno, a partir de materiais de baixíssimo custo, diretamente relacionados aos recursos da região.

Exemplo de yurt em processo de montagem

Segundo Bógea (2009, p. 27), diferentemente de uma arquitetura baseada num racíocinio de sistemas – em que um grupo variado de componentes é projetado tendo em vista uma diversidade programada de soluções – essa arquitetura vernacular, na maioria das vezes, aprimora-se num desenho recorrente que passará séculos amparando, na manutenção de sua forma, um determinado grupo cultural. Trata-se de uma arquitetura temporária no espaço mas rigorosamente permanente, ou estável, no tempo, uma vez que a configuração de espaço tende a ser recorrente, inclusive entre várias gerações. É, portanto, um sistema que se constitui a partir de repetição e não de variedade, um sistema constituido para construir sempre a mesma arquitetura. Segundo Tolosa (2007, p. 20), a principal característca estrutural desses abrigos temporários é a membrana tracionada. Essas tendas beduínas apresentam variações formais e diferentes nomes como: Jaima, Tsera, Skené; mas o modelo de habitação mais conhecido na região é a Tenda Negra; sua estrutura é formada por doze ou treze mastros de madeira, cobertos por um tecido altamente resistente, feito de pelos de cabra, que é tracionado por cordas fixadas na areia do deserto. O sistema, apesar de leve, tem boa resistência aos ventos, e mantém o interior fresco durante os dias quentes. 45


Outro modelo de habitação nômade, presente há séculos em diversas culturas da Ásia, é o Yurt. Segundo Barbosa (2012, p. 50), o Yurt é uma construção tradicional que não utiliza cordas, nem estacas para manter‐se erguido. Apesar de sua construção ser um tanto quanto complexa, pois necessita em torno de 60 mastros de madeira entrelaçados, a montagem e desmontagem é pré‐requisito básico deste projeto. O revestimento com feltros, tecidos de lã e materiais vegetais isola o interior, adaptado para resistir às baixas temperaturas. Desdobramentos dessas tendas vernaculares foram utilizados em investidas militares, de conquista e expansão territorial na Idade Antiga. Registros confirmam a presença dessas estruturas na Europa, ao longo do Império Romano, do período medieval, passando por um avanço tecnológico e formal no período da Renascença. Acompanhando o impulso de urbanização da época, as tendas passaram a estar presentes nas grandes feiras comerciais, servindo como postos de comércio, descanço e lazer. Com a advento e consolidação da indústria, após a Revolução Industrial, o universo dos sistemas construtivos desmontáveis sofreu um grande avanço tecnológico, passando a se tornar mais presente no cotidiano das pessoas e no repertório projetual dos arquitetos e designers. O progressivo desenvolvimento de novas tecnologias, de maquinários específicos, e da produção seriada tornaram possível a criação, e reprodução, de novos e eficientes componentes estruturais, em especial, os tecidos sintéticos, os plásticos e as estruturas metálicas. Segunda Barbosa (2012, p. 57), o avanço da indústria textil durente o século XIX, possibilitou a evolução tecnológica das membranas presentes nas tendas dos nômades e das ferias comerciais, as tornando mais leves e resistentes. Nesse período surge o Circo, principal exemplo de aplicação dessas “tendas” modernas, no entando a produção para o uso familiar também já começava a existir. As expedições e viagens ainda hoje fazem parte de uma natureza de ocupação do território na qual a arquitetura é uma tenda, ou melhor, uma “barraca”. Embora com materiais diferentes – alumínio no lugar das varas em madeira; lonas plásticas no lugar das peles – e com formas e dobraduras sofisticadas, embaladas em mochilas ergonômicas, as tendas atuais ainda trazem a principal vocação de uma “arquitetura” para viagem: leve e portátil. 46


O Pavilhão De acordo com com Tonetti (2013, p.26), pavilhão é um termo derivado do francês pavillion que por sua vez reporta-se ao latim papilionem e significa borboleta, ou no latim tardio, “tenda que se estica como borboleta ao pousar”. Logo, etimologicamnete, o o pavilhão, enquanto espaço edificado, está estritamente relacionado à configurações transientes, inconstantes, e efêmeras. Segundo SCÓZ (2009, p, 58), os pavilhões se consolidaram ao longo dos séculos XIX e XX como objetos de experimentação técnica, arquitetônica e de novas tecnologias construtivas, principalmente, através da aplicação de sistemas estruturais desmontáveis, coerentes com o caráter temporário desses edifícios.

Ainda, de acordo com Tonetti (2013, p. 28), ao analisarmos a história da arquitetura Moderna, percebemos a forte presença dos pavilhões nas Bienais de Arte e nas Feiras Mundiais, que surgem no século XIX e se expandem no século XX. Nesses grandes eventos temporários, os pavilhões concentravam o papel de representar identidades nacionais ao materializar e divulgar tanto aspectos culturais como de desenvolvimento técnológico particulares de cada nação, mas também, à linguagem própria de cada arquiteto. A participação do Brasil nesses eventos mundiais deixou como legado para história da arquitetura moderna brasileira, projetos icônicos, como o Pavilhão Brasileiro na Expo’70, em Osaka, projetado por Paulo Mendes da Rocha, e o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque de 1939, projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer.

Abaixo, na primeira imagem está o pavilhão Brasileiro da Expo’70 de Osaka, e na segunda, o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque, de 1939

Nesse sentido, o Palácio de Cristal, projetado por Joseph Paxton para primeira Exposição Universal, aberta em Londres em 1851, garantiu a condição inédita da construção de um edifício em grande escala que se projeta a partir de uma rápida montagem em partes componíveis para ser desmontadas e remontadas em outro sítio. A partir desse pavilhão, se inauguram novas relações de temporalidade e permanência entre o edifício e o território, que vem a ser discutidas e modificadas até os dias atuais. Segundo Bógea (2009, p. 39), possibilidade de montagem e desmontagem, ou seja, de deslocamento do edifício e, portanto, de um território necessariamente abstraído, é um aspecto revolucionário do projeto de Paxton. 47


Essa solução, evidentemente só se fez possível graças à Revolução Industrial e à pré-fabricação completa, à rapidez da montagem e desmontagem, e à recuperação integral dos componentes do edifício. A edifício apresentava um comprimento total de mais de 550m e 21,5m de largura, deixando assim evidente, que pré-fabricação tendo em vista o deslocamento é possível também em grandes escalas. Uma vez constituídos por componentes, a viagem estará assegurada na dimensão desses componentes mais do que na dimensão final da montagem. Esta arquitetura marca uma nova forma e metodologia de uso dos componentes cuja evidência pode ser aferida nos catálogos em que era apresentada: “construções desmontáveis”, como num jogo de armar. Nas últimas décadas, o conceito de pavilhão como edifício expositivo, como “vitrine” de objetos e ideologias, migrou das identidades nacionais para as corporativas. Consequência da afirmação do capitalismo neoliberal, como plataforma economica dominante, e do fortalecimento do poder econômico e político as empresas e multinacionais frente ao poder do Estado, e da expansão das extratégias de makteing para captação e fidelização de consumidores. O alto valor de experimentação técnica e formal ainda faz parte dos projetos arquitetônicos dos pavilhões, que fazem uso de alta tecnologia, sistemas construtivos inovadores e materiais ecológicos, para promoção de produtos de mercado, serviços, e identidades privadas. › Vista do Palácio de Cristal, de 1851, após sua reconstrução em 1854

48


Segundo Bógea (2007, 41), um exemplo de aplicação desses novos usos, como também de qualidade projetual, é o Pavilhão Itinerante da IBM, projetado por Renzo Piano (1937 - ) em parceria com Ove Arup and Partners. Concebido para visitar vinte cidades européias entre 1982 e 1986, o pavilhão fazia uso de um sistema construtivo desmontável composto por elementos modulares pré-fabricados: arcos articulados de madeira foram conectados a pirâmides de policarbonato transparente que se repetiam 34 vezes para formar uma nave de planta livre, com 47 metros de comprimento por quase 7 metros de altura. Toda a infra-estrutura necessária para conectar os computadors da IBM foi instalada em baixo do piso, não compremetendo a continuidade e transparência visual da cobertura.

À esquerda, sessão modular do Pavilhão da IBM, de 1982, à direta, está o pavilhão completamente montado

Ainda segundo Bógea (2009, p. 70) esse pavilhão é compreendido como um espaço de trânsito, sem fundação, sem possuir raízes onde se fixa. Elevado do solo, auto-suficiente em suas instalações e desenhado como corpo autônomo, assegura na sua concepção a evidência da rápida passagem entre cidades. Embora essa obra tenha sido feita em madeira e policarbonato, o conceito que a orienta é o mesmo Palácio de Cristal, ao prever uma montagem e desmontagem rápida, uma configuração espacial única e modular, e um número fechado de componentes; soma-se a isso a premissa claramente itinerante do pavilhão desde sua concepção projetual, agregando assim um fator além da condição de montagem/desmontagem. 49


As Geodésias Segundo BARBOSA, (2012, 61), as cúpulas geodésicas em especial as metálicas, propostas Richard Buckminster Fuller (1895 -1983) nos anos 50 e 60, são a concretização de sua busca pela máxima de eficiência tecnológica, com a melhor relação custo benefício: são construções leves, portáteis, e de montagem intuitiva. Esse sistema estrutural é um dos mais estáveis e resistentes, devido a sua malha regular a partir de triângulos, que garantem os travamentos, relação entre perímetro e área dos espaços internos é muito boa, permitindo a criação de amplos espaços a partir de elementos construtivos delgados e conexões intuitivas. A simplicidade formal e de montagem dessa solução, são pontos positivos, como também, a possibilidade de uso de peças disponíveis no mercado, como barras e tubos metálicos, para composição da estrutura, barateando custo. Uma desvantagem é a falta de flexibilidade quanto a configuração do espaço interno resultante da montagem da estrutura, o que prejudica a acomodação de diferentes usos e escalas performáticas, já que o mesmo não é expansível ou retrátil. Vale ressaltar, que o desenho de uma malha estrutural triangular aplicada a uma curva foi uma forte influência no dispositivo proposto, devido a rididez e bom desempenho estrutural dessa solução. Segundo Kronenburg (1995, p. 46), entre 1954 e 1984, Buckminster Fuller desenvolveu uma série de construções leves e portáteis baseadas no princípio do domo; a versatilidade dessa solução estrutural seria aplicada em projetos de escalas diversas, tanto em projetos especiais para o governo Americano, como em casas de baixo custo para as comunidades hippies dos Estados Unidos.

› Estruturas geodésicas projetadas por Buckminster Fuller, destaque para a leveza e estabilidade estrutural perceptíveis na segunda imagem

50


› Estrutura geodésica projetada por Buckminster Fuller sendo transportada por um helicóptero

Estruturas Tensionadas Segundo Tolosa (2009, p. 45), as estruturas tensionadas são membranas sob o constante estado de tracionamento, em oposição aos elementos verticais rígidos que sofrem forças de compressão, garantindo assim, o equilíbrio geral do sistema. O tecido é o elemento principal, e mais característico, desse modelo estrutural, que é extremamente leve e altamente compacto; essas propriedades, aliadas a resistência dos materias empregados, faz com que o sistema seja capaz de vencer vãos extensos, podendo ser aplicado em edificaçõesde grande porte, como aeroportos e estádios de futebol. Hoje, esse tecido, normalmente de poliéster ou fibra de vidro, recebe um tratamento especial que contribue para maior resistência, durabilidade, e estanqueidade do material. No campo do projeto arquitetônico e das estruturas mais complexas, o arquiteto Frei Otto (1925–), é o grande estudioso e pioneiro das soluções em membranas tracionadas. Seus primeiros trabalhos com esse sistema estrutural, nos anos cinquenta e sessenta, foram baseados puramente na atividade de fabricantes de tendas e velas; são projetos delicados, com formas suspensas por cabos de tensão. Devido à complexidade dos cálculos estruturais, todo processo de design desenvolvido pelo arquiteto foi baseado em modelos físicos de estudo. 51


As vantagens dessa solução quando aplicada em projetos de pequena escala são: a leveza de seus componentes, em especial da membrana, e o alto grau de compactação, não só do tecido, mas de outros componentes, como cordas e cabos de aço. As desvantagens são: maior complexidade de montagem, o custo da membrana, caso receba algum tratamento mais sofisticado em termos de resitstência, e a necessidade de fixação da estrutura no solo, através de cabos e estacas, o que é um fator limitante em terrenos impermeáveis. O uso de cabos, enquanto elementos de resistência aos esforços de tração, foi uma diretriz adotada na estrutura do dispositivo proposto. Esses foram responsáveis por resisitir aos esforços longitudinais e transversais que agem sobre a cobertura do mesmo. Pavilhão da Dança, 1957

O seguinte pavilhão projeto por Frei Otto, em Colônia na Alemenha, é uma das primeiras estruturas tensionadas desenvolvidas pelo arquiteto, sob encomenda para Exposição Federal de Jardins. Ainda em uso, sua estrutura é montada somente no verão, sobre uma plataforma fixa. O projeto faz uso de uma membrana de PVC, formando uam área coberta de 28 m2, quanto vista de cima sua forma lembra uma estrela de seis pontasou uma flor seis pilares ao redor recebem os cabos de aço de diferentes níveis, tracionando a membrana.

› Pavilhão da Dança, projetado por Frei Otto, destaque para leveza e geometria da estrutura

52


Segundo Tolosa (2009, p.53), as estruturas pneumáticas baseiam-se no arquétipo das bolhas. Após a Primeira Guerra Mundial, essas estruturas passaram a ser utilizadas como cobertura em acampamentos militares. Nos anos quarenta, com o advento dos tecidos sintéticos, de nylon e PVC, a escala e a diversidade dos projetos aumentou graças a grande resistência desses. Aqui o principal elemento estrutural é o ar, que é armazendo em variados colchões de tecido interligados ou em umas membrana única, que definindo a totalidade do espaço. Nesse sistema estrutural, o tracionamento da membrana é equilibrado pelo aumento de pressão interna através do ar comprimido, garantindo a estabilidade e o formato da edificação, além da capacidade de cobrir grandes vãos.

Estruturas pneumáticas

Pavilhão de verão projetado por Rem Koolhaas para Serpentine Gallery, em 2006. Destaque para estrutura inflável do mesmo.

Sua principal desvantagem é a necessidade de um compressor de ar em constante funcionamento, garantindo a pressurização do ar para a sustentação da estrutura. Esse equipamento além de caro, demanda um fonte de energia elétria próxima ao sítio de instalação da estrutura, o que é bastante limitador quando avaliamos a diversidade dos espaços públicos da cidade.

53


Pavilhão da desmontável da Serpentine Gallery, 2006

Segundo Tonetti (2013, p. 156), o projeto de Rem Koolhaas (1944 - ) e Cecil Balmond, para o pavilhão da Serpentine Gallery em 2006, articulava dois elementos em uma composição que ocupava o terreno de forma concisa, e com geometria simples. O primeiro era uma estrutura circular, de 18m de diâmetro, feita com painéis de policarbonato e esquadrias de alumínio; o segundo era uma grande cobertura em poliéster de algodão revestido, que foi especialmente confeccionada para o projeto,e inflada com uma mistura de gás hélio e ar pressurizado. O inflável atingia cinco metros de altura e se sobrepunha à calota que lhe servia como suporte sendo capaz de se soltar até dez metros acima do solo e com isso controlar a ventilação e iluminação do salão em acordo com o clima ameno do verão e outono inglês. A base do inflável era coroada por uma estrutura quadrada que se encaixava perfeitamente na estrutura de policarbonato do salão e garantia o pé-direito interno sem qualquer variação resultante de uma deformação do balão.

Estruturas plissadas em fibra de vidro: De acordo Buchanan (2002, p. 7) o arquiteto italiano Renzo Piano é conhecido pelo interesse em soluções arquitetônicas leves, em novos materiais, e por conferir formas não euclidianas aos seus edifícios. No começo de sua carreira, ao longo dos anos 60, os processos industriais de modelagem e aplicação de polimeros, plásticos e de fibra de vidro em componentes construtivos e, principalmente, em objetos e mobiliário eram o que havia de mais contemporâneo no universo do design. Nesse contexto, o arquiteto faz uso de soluções experimentais ao desenvolver estruturas modulares, feitas com fibra de vidro e acrílico. O uso da fibra de vidro, além de garantir um grande liberdade formal, ainda se apresenta como um material muito leve e resistente. No entanto, o custo de aplicação desse sistema é caro e sofisticado, tendo em vista o grau de sofisticação tecnológica e especializada envolvida em sua produção. O destaque desse sistema está no modo em como se estruturam os módulos em fibra de vidro, ou acrílico, a partir de dobras, como se originadas de uma superfície planta.

54


Fábrica de extração de enxofre, 1966

O projeto desenvolvido por Renzo Piano para essa fábrica em Pomezia, Itália, se consistitiu em uma cobertura longitudinal cilíndrica composta por painéis losangulares em fibra de vidro. A fibra de vidro foi uma boa opção de material, pois além de muito leve, não se degrada quando em contato com a fumaça expelida pelo processo de extração do enxofre. Vale ressaltar, que a estrutura era toda desmontável, já que os painéis modulares podiam ser facilmente desparafusados e remontados ao longo da estrutura. Essa estratégia foi fundamental para acompanhar o percurso de extração do enxofre, sem a necessidade de uma estrutura muito grande, economizando assim, na quantidade de material e nos custos. Graças as características translúcidas da fibra de vidro, o interior da fábrica era iluminado com luz natural, tornando o ambiente de trabalho menos desgastante e evitando gastos desnecessários de energia.

› Destaque para o desenho dos módulos em fibra de vidro, e o modo de conexão entre eles

55


Estruturas transportáveis em argamassa armada Segundo Bogéa (2009, p. 206), João Filgueiras Lima, o Lelé (1931-2014), foi capaz de propor usos revolucionários para a argamassa armada, seu material construtivo favorito. Através da pré-fabricação, o arquiteto projeta um sistema construtivo em argamassa armada, constituído por peças leves, moldadas em canteiro, flexíveis, fáceis de transportar e instalar utilizando mãode-obra sem especialização. Trata-se de uma produção que reconfigura um raciocínio serializado, industrial, adequando-o às condições locais. A argamassa armada, matriz composta de cimento, areia e telas metálicas, foi aplicada em peças estruturais cujas espessuras não eram superiores a 4cm. Em vez de grandes máquinas, indústria sofisticada, construção mecanizada, afastada do contato humano, onde guindastes elevam pesadas peças a imensas alturas e esteiras velozes transportam materiais, Lelé viabilizou uma pré-fabricação leve manuseada no canteiro. Escola Transitória: modelo rural, 1982

As escolas executadas na fábrica de Abadiânia (1982/1984), em Goiás, tinham como premissa apresentarem uma estrutura flexível e desmontável, que incluisse processos de ampliação e redução como decorrências esperadas no projeto. A constituição de um sistema com pré-fabricação “leve” foi o mote fundamental para a eficiência dessa proposta. Executado em 45 dias (incluindo fabricação e montagem) e utilizando em maior escala mão-de-obra não qualificada, facilitando a participação comunitária, o protótipo de Abadiânia vale-se de uma pré-fabricação versátil com componentes simples para enfrentar a especificidade local. Disponível para qualquer terreno e uso (além das escolas, creches e equipamentos comunitários também são sugeridos no uso do sistema), o projeto foi orientado a partir das aberturas em “sheds” para o sul, e conta com terrenos planos (naturais naquele planalto) sem outra restrição quanto ao sitio. O módulo construtivo adotado de 57,25 x 57,25cm (submúltiplo do módulo inicial de 114,5 x 114,5cm) pressupôs o melhor aproveitamento de material, além de peso adequado ao manuseio.O protótipo executado em AbadiâniaGO, apresentava uma área aberta de 285m2.

56


› Perspectiva do protótipo de escola construído a partir de peças em argamassa armada, projeta por Lelé, e executada em 1982

Estruturas Retráteis Esse sistema estrutural se vale de articulações que realizam mecanicamente a ampliação ou redução da estrutura, é autoportante, e seu travamento é realizado por elementos inseridos na própria estrutura. Sua simplicidade e bom potencial de compactação fazem desse sistema uma ótima opção para equipamentos de pequena escala e baixo custo, manipuláveis por até uma pessoa. Sua aplicação mais comum é em produtos para acampamento. A indústria que fabrica esses módulos articulados tem uma linha variada de produtos, em várias escalas, e à venda no mercado por preços acessíveis. Nesses casos, esse sistema é combinado com o de membranas tracionadas, que servem como vedação da cobertura, e são fixadas ao solo por cabos de aço. Quando combinadas lado a lado, essas “barracas” podem cobrir grandes áreas, as tornando ideais para realização de grande eventos. Apesar disso, o sistema não permite reorganizações, ou seja, não se transforma para novos usos e necessidades suas dimensões são definidas, nesse sentido, o sistema trabalha como módulo a ser combinado. 57


Sistemas modulares metálicos de aluguel

Exemplos de tendas retráteis disponíveis para venda no mercado

Os dois sistemas estruturais desmontáveis a seguir, merecem destaque por seu exaustivo uso em eventos, de diversas escalas e temas. O primeiro é mais voltado para montagem de palcos e coberturas, enquanto o segundo é voltado para montagem de estandes promocionais, andaimes e plataformas. Segundo Bógea (2009, p. 46), esses sistemas, pensados para locação, acabam sendo exemplos de constituição de construções flexíveis a partir de uma série de componentes que relacionados entre si permitem variadas construções. O desenho das peças pressupõe não apenas re-aproveitamento mas também uma flexibilidade que permite, ao se configurar o conjunto, desenhar uma significativa variedade de tipologias. a. Steel Frame Esse sistema estrutural é muito utilizado na montagem de pequenos e grandes estruturas, em particular palcos e estantes para eventos. É um sistema extremente racional, composto por peças modulares de aço, que equivalem tanto a pilares, como a vigas, que formam pórticos e arcos. Os travamentos são obtidos por encaixes ortogonais ou em ângulos pré-definidos. Devido a sua lógica construtiva bastante simples, e a fácil produção das peças pela indústria, o sistema vem sendo empregado em diversos tipos de eventos, a um custo acessível. Empresas fornecem o aluguel de “kits” com um número de peças equivalentes as dimensões da estrutura a ser instalada. A montagem é feita por uma mão-de-obra especializada, e demanda uso de máquinas.

58


É um sistema muito genérico, que produz espaços com pouca qualidade arquitetônica, além de apresentar peças muito pesadas, que demandam a presença de uma mão-de-obra especializada para sua correta instalação. › Palco para shows montado a partir desses módulos estruturais metálicos

b. Sistemas OCTANORM Segundo Tolosa (2007, p. 58), o sistema construtivo conhecido por OCTANORM, foi apresentado pela primeira vez em 1968, pelo designer alemão Has Staeger. Projetado para ser a solução definitiva em projetos temporários, o sistema opera através de encaixes de peças modulares, seu funcionamento estrutural corresponde a pequenos pórticos autoportantes. O principal elemento do sistema é um montante octogonal metálico, que corresponde aos pilares; a ele são conectadas travessas metálicas que permitem a passagem de fiação elétrica ou hidro-sanitária, e funcioanam como vigas; por fim, os painéis de vedação, normalmente de compensado de madeira, vidro ou plástico, são encaixados nas travessas. Quando montado, o sistema cria uma malha regular, que é expansível mediante o acréscimo de novas peças. Em uso a quarena décadas, esse sistema extremamente leve e racional serve de modo eficiente a arquitetura de caráter promocional, mas carece em termos formais e em qualidade arquitetônica. 59


Sistema estrutural em papel: tubos de papelão

À direita, detalhe das peças construtivas que compõem o sistema; à esquerda modelo de estrutura de estande montado através do uso desse sistema

O uso de papel como matéria-prima de um sistema construtivo, passa a ser validado quando o arquiteto japonês Shigeru Ban ( 1957 – ) começa a utilizá-lo em seus projetos de arquitetura emergencial. Segundo Barbosa (2012, p. ) a primeira aparição dos tubos de papelão na carreira do arquiteto foi em 1986, no projeto cenográfico da exposição sobre o arquiteto Alvar Aalto (1898 – 1976) no MoMA de Nova Iorque. A partir de então, o espírito inventivo do arquiteto o leva a experimentações em diversas escalas e situações. Segundo o arquiteto, o uso de tubos de papelão como sistema construtivo se deve as boas propriedades estruturais dos mesmos, sua leveza e facilidade no manuseio; Ban ainda valoriza o baíxissimo custo dos tubos, que são de papel reciclado e podem ser adquiridos no mercado com facilidade. Segundo BARBOSA (2012, p. 107), Shigeru, enquanto consultor da United Nations High Commissioner for Refugees, percebe a grande potencialidade dos tubos de papelão para construção de abrigos emergenciais, por ser uma solução barata e fácil de ser transportada, além das características descritas no parágrafo anterior. Desde então, o arquiteto tem desenvolvido diversos modelos de abrigos para as vítimas de desastres naturais ao redor do mundo, utilizando tubos de papel. Esses tubos recebem uma série de tratamentos de impermeabilização e proteção contra fogo antes de serem instalados na estrutura, essa prática acaba por aumentar muito a durabilidade do papelão, vialibilizando seu uso em edificações de maior escala e com maior duração. Apesar da grande resistência e simplicidade dos tubos, o sistema proposto não se resolve só com o papelão. Observa-se que as conexões e travamen-

60


tos propostos por Ban nos projetos deixam o sistema mais complexo de ser executado; são componentes metálicos, peças em madeira cortada e cabos de aço tracionados. Nesse sentido se comprova a necessidade de um sistema misto para melhor eficiência dessa solução coonstrutiva. Paper Log House

Segundo Jodidio (2010, p. 215), após o terremoto de Kobe, em 1995 no Japão, o arquiteto propõem um abrigo emergencial utilizando tubosde papelão. O projeto possuí uma base quadrada de 16m2, e os tubos presentes nas fachadas apresentavam 2 metros de altura e 10 cm de diâmetro. A cobertura era revestida com uma lona de tecido sintético, e o apoio no terreno era feito através de caixas plásticas usadas na distribuição de cerveja e sacos com terra. Eram necessários menos de dois mil doláres e seis horas montagem para conclusão de cada abrigo.

› Sequência de abrigos emergenciais construídos a partir do uso de tubos de papelão, caixas plásticas e uma lona impermeável

61


Abrigos emergenciais em papelão para UNHCR

Segundo Jodidio (2010, p. 178), o projeto desse abrigo emergencial de 3,5m de largura, 4 m de comprimento e 1,7 m de altura fez uso dos tubos de papelão como solução estrutural, recobertos por uma membrana plástica impermeável. Na tentativa de garantir uma condição mais digna aos refugiados da Ruanda, em 1999, as 50 unidades construídas contaram com a participação da população local no processo de montagem. Seu desenho extremamente simples e intuitivo, e conexões eficientes, garantiram um rápido atendimento aos desabrigados.

› Abrigo emergencial construído a partir do uso de tubos de papelão, conexões plásticas e uma lona impermeável

Sistema estrutural em papel: placas de papelão ondulado Outra forma possível de uso do papelão é em seu formato de placa. Seu uso como sistema estrutural é pouco explorado, e não foram encontradas referencias de aplicação em projetos de grande escala ou amplamente conhecidos. Como será tratado nos próximos capítulos, esse material ganha resistência ao ser dobrando, podendo criar um sistema a partir de um lógica de dobras coerentes com os esforços e tensões estruturais inerentes a forma projetada. O exemplo abaixo foi encontrado na internet, e ainda parece pouco conhecido pela comunidade de arquitetos e leigos, o que não invalida suas qualidades projetuais e seu sucesso enquanto experimento. 62


Plate House

A Plate House é o projeto de abrigo emergencial que faz uso de placas dobradas de papel, e foi desenvolvido na Univerisidade de Oxford. O formato cilíndrico do abrigo apresenta 4 m de largura, por 2 m de altura. São três camadas de placas de papel cartão com 3 mm de espessura, responsáveis pela resistência estrutural do equipamento, a camada do meio apresenta modulos vincados, responsáveis pela curvatura do arco, esses são travados por duas camadas de placas rígidas. A estrutura é muito leve e compacta, e não utiliza outros materias, apenas 120 placas de papel. Os módulos podem ser rapidamente repostos, se necessário, e podem ser reciclados após o descarte. Ao término da montagem a estrutura é coberta por uma lona plástica impermeável, que lhe confere uma maior resistência as intempéries.

› Processo de montagem, e versão completa da Plate House, destaque para o “kit”com as peças, e a possibilidade de montagem por apenas uma pessoa

63


64


|5

SISTEMA CONSTRUTIVO EM PAPELÃO ONDULADO

A

pós concluído o levantamento e as análises sobre o conjunto de sistemas estruturais expostos no capítulo anterior, optou-se por fazer uso do papelão como principal solução construtiva a ser aplicada no dispositivo proposto. Observou-se uma série de valores positivos em relação ao material, especialmente, por suas características experimentais enquanto sistema construtivo. Enfrentar esse universo projetual pouco explorado mostrou-se como um interessante desafio a ser enfrentado em um Trabalho Final de Gradução. Por ser esse um trabalho de pesquisa academica e de investigação prática, deslocado da prática profissional cotidiana, abriuse a possibilidade de seguir uma direção mais propositiva, sem o compromisso de que os resultados finais fossem totalmente certos e executáveis, ou seja, que se mantessem no nível de protótipo. Mesmo assim, a busca por resolver o maior número de variáveis e problemas inerentes a essa experimentação arquitetônica foi uma tônica nesse trabalho, na tentativa de aproximar ao máximo o projeto de sua viabilidade prática.

Na página anterior: detalhe do módulo em papelão ondulado proposto para uso no dispositivo projetado

É válido ressaltar que a negação dos outros sistemas estruturais apresentados não significou que esses fossem totalmente incorentes com os objetivos e demandas expostas no início do relátorio. Todas as direções apresentaram vantagens e desvantagens frente aos problemas a serem enfrentados. O uso do papelão, no entanto, foi visto como um dos mais coerentes e compatíveis, enquanto resposta técnica às dinâmicas socias e urbanísticas observadas; além de mais instigante a nível dos resultados a serem obtidos. Segundo TOLOSA (2009, p.115), desenvolver um projeto completo para um sistema construtivo desmontável e industrializado, demanda grandes investimentos, e uma longa etapa de desenvolvimento, produção e comercialização, o que reduz o incentivo da indústria pela busca de novas soluções. Concluísse assim, que projetar um sistema complexo e sofisticado 65


em termos de desenho das peças, dos encaixes e conexões, dos métodos de produção, ou no uso de materiais high-tech, seria incoerente quando avaliamos os usos esperados e o perfil dos prováveis usuários do dispositivo. Soma-se a isso a noção de que quanto mais sofisticado o projeto, mais caro e mais distante da viabilidade ele estará. Sendo assim, o uso de um material mais barato e menos sofisticado como o papelão pareceu um escolha acertada para os fins desejados. Apesar disso, o aproveitamento de componentes industrializados já disponíveis no mercado foi uma das diretrizes adotodas para vialibilização do projeto, em termos de custo e facilidade de execução. Considera-se que a produção seriada de componentes construtivos, através de processos industriais, é vantajosa quando temos por objetivo a ampla reprodução e o baixo custo do dispositivo desenvolvido, aumentando as chances de ser acessado pelo maior público possível e, consequentemente, ser instalado de forma temporária nos mais diversos nos espaços públicos da cidade de São Paulo. Vale ressaltar, que conjuntamente com a escolha do papelão como sistema estrutural principal do dispositivo, ocorreu a negação do sistema de tubos proposto por Ban. Primeiramente, porque a pequena escala do dispositivo proposto parecia permitir a aplicação de um sistema estrutural mais leve e delgado, em termos técnicos e visuais; em segundo, percebeu-se que uma maior compactação dos componentes seria bem-vinda quando o dispositivo estivesse desmontado, o que não seria possível no sistema de tubos, já que esses apresentam um diametro inalterável; o empilhamente resultaria em um volume incomodo para o transporte. Por último, a presença de conexões e encaixes complexos nos projetos de Ban pareceu um ponto negativo em relação a simplicidade desejada para os componentes do dispositivo; na maioria dos projetos em que Ban faz uso de tubos de papelão, os encaixas são produzidos sob medida, ainda que executáveis em um maquinário relativamente simples, já tornaria as condições de produção mais difíceis. Sendo assim, a melhor opção encontrada foi susbstituir os tubos de papelão por chapas de papelão ondulado. Um fator limitante para escolha do papelão ondulado, enquanto sistema construtivo, foi seu baixo desempenho acústico, o que seria um fator relevante ao considerarmos o usos previstos para o espaço proposto. Concluíu-se, no entanto, que a eficiencia acústica e o controle de ruídos estão relacionados a quantidade de massa e à densidade do mateiral aplicado, 66


sendo assim, a maioria dos sistemas estruturais analisados estaria comprometida por essa premissa, já que fazem uso de materiais leves ou de baixa densidade como revestimento. Esse fator é agravado quando consideramos que o dispositivo proposto seria instalado ao ar livre, o que o que provocaria uma grande dissipação do som produzido no interior do espaço edificado. Sendo assim, optou-se por relevar essa questão e manter o papelão como principal material do projeto. Essa perda técnica tentou ser compensada pela sensação de acolhimento que a estrutura promove ao envolver espacialmente o interior do dispositivo. Antes de discorrer sobre as propriedades estruturais das chapas de papelão, serão expostas algumas características técnicas mais gerais e inerentes a esse tipo de material, que juntamente como as soluções estruturais, justificaram a escolha do mesmo.

› Detalhes das conexões projetadas por Ban para seus edifícios em papelão. Notase que o desenho das peças é sofisticado, envolvendo uma maior complexidade nos modos de produção Destaque para o volume que os tubos ocupam quando agrupados, o que difilculta o transporte dos mesmos

67


Características do papelão ondulado: técnicas e conceituais

S

egundo a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), o papelão ondulado é um produto industrializado, feito com pastas celulósicas oriundas tanto de fibras virgens como de fibras recicladas, sua principal matéria-prima. As principais fibras usadas no hemisfério sul para a produção desses papéis são obtidas a partir das madeiras de Pinus. Diferentemente de outros tipos de papel, mais sofisticados, e com métodos produtivos semelhantes, o papelão apresenta um baixo custo, devido à sua materialidade mais rústica, e à falta de tratamentos especiais, como de branqueamento das fibras. Sua estrutura é composta, externamente, por duas folhas de papel lisas, denominadas forros, capas ou liners. Por dentro, entre as capas, há um miolo ondulado que pode ser constituído de uma ou mais camadas de papéis em onda colados aos forros externos ou mesmo a forros interiores (no caso de papelão multicamadas). Essas camadas proporcionam maiores espessuras ao material e, consequentemente, uma maior ridigez e maior resistência aos impactos, que são amortecidos pelo miolo ondulado. Quando a capa é fabricada com grande proporção de fibras virgens, essa capa denomina-se kraftliner. Se for fabricada principalmente com fibras recicladas, chama-se testliner. Apesar do grande uso de aparas de papel como fonte de fibra para a produção de ondulados, fazem-se necessários aportes de fibras virgens, mais resistentes, para agregar qualidade ao produto. De acordo com a terminologia da NBR 5985 utilizada pela Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), os papéis ondulados são classificados como: •• Face simples: estrutura formada por um elemento ondulado (miolo) colado a um elemento plano (capa). Tipo de onda E cuja espessura varia entre 1 a 1,5 mm; •• Parede simples: estrutura formada por um elemento ondulado (miolo) colado, em ambos os lados, a elementos planos (capas). Nesse caso existem duas variações mais utilizadas no mercado: tipo de onda B, que varia entre 2,0 a 3,0 mm de espessura, e tipo de onda C, que varia de 3,0 a 4,0 mm de espessura;

68


•• Parede dupla: estrutura formada por três elementos planos (capas) colados a dois elementos ondulados (miolos) intercaladamente. Tipo de onda BC, espessura varia entre 5,0 a 6,0 mm; •• Parede tripla ou quádrupla: estrutura formada por quatro ou mais elementos planos (capas) colados em três ou mais elementos ondulados (miolos) intercaladamente e de maneira progressiva. Uso mais direcionado para projetos especiais sob medida. Amplamente comercializado no país, o papelão ondulado está disponível no formato de rolo, para menores espessuras (1 a 2 mm), e no formato de placas rígidas, destinadas às maiores espessuras (mínimo de 3mm). As placas são vendidas em dimensões modulares e padronizadas, assim como suas espessuras, a partir dos catálogos dos fabricantes. A compra desse material pode ser feita em lojas especializadas, ou direto com alguns fabricantes, em pequenas e grandes quantidades. Devido a sua boa resistência mecânica, alta versatilidade no manuseio e fácil reciclagem, o papelão ondulado é um dos materiais mais utilizados no universo das embalagens, em todo o mundo. Sua eficiência estrutural garante às caixas a resistência necessária para proteção interna, manuseio, estocagem e todos os tipos de situações que um produto embalado enfrenta desde sua origem até chegar ao consumidor final. Normalmente, o papelão micro-ondulado tem aplicação nos segmentos de alimentos, fruticultura, perfumarias e cosméticos, produtos farmacêuticos, higiene e limpeza, eletroeletrônicos, informática, brinquedos, entre outros. › Destaque para as variações de espessura das placas de papelão

69


Na outra ponta, estão as embalagens formadas com ondas altas no miolo, com cerca de quatro a seis milímetros de altura. Essas são mais usadas em embalagens extra-grandes, capazes de transportar volumes em pesados. Apesar de temas como sustentabilidade na arquitetura e métodos construtivos ecológicos não terem sido uma das diretrizes iniciais desse TFG, a escolha do papelão ondulado como principal material do dispositivo proposto, acabou abrir uma discussão nesse sentido. Primeiramente, é valido ressaltar que sustentabilidade em um projeto de arquitetura ou de design vai muito além das questões materiais e de reciclagem, mas envolve todo um ciclo produtivo sustentável, que tem início nos métodos de extração e produção dos materiais e componentes construtivos, no uso racional dos mesmos, na contenção de disperdícios na momento da construção e do descarte, nas formas de apropriação e manutenção do produto finalizado, nas relações sociais e trabalhistas presentes ao longo de todo processo etc. Posto isso, entendeu-se como vantajoso o potencial de reciclagem do papelão ondulado. No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) referentes ao ano de 2009, a taxa de recuperação de ondulados e kraft foi de 71,1%, a maior entre todos os tipos de papel (os papéis ondulados responderam por 63,1% do total de aparas consumidas no país). Nos Estados Unidos, a taxa é de 76%, sendo que a média européia supera os 78,5%. › Modelo de embalagem em papelão ondulado

70


Nesse sentido, as altas taxas de reciclagem do papelão ondulado parecem contribuir de forma coerente para a proposta efêmera do dispositivo projetado; quando observamos outros sistemas construtivos desmontáveis percebemos que a maioria dos materiais utilizados nos projetos, especialmente os metais e tecidos sintéticos, apresentam longa durabilidade e tempo de decomposição, o que parece incoerente quando comparado ao curto tempo de uso do edifício ou espaço espaço edifícado construído. Naturalmente, questões estruturais e construtivas exigem essa materialidade menos efêmera, mas fica posto que o papelão ondulado, por ser facilmente reciclado, acaba gerando menos resíduos sólidos no momento do descarte que outros materiais construtivos. Após as informações apresentadas, conclui-se que um sistema construtivo baseado no uso de chapas de papelão ondulado é, primeiramente, barato: graças a sua materialidade pouco tecnológica, seu potencial de reciclagem, e por ser produzido industrialmente, o que contribui para fácil aquisição e reposição da peças quando danificadas. Segundo, é um sistema muito compacto, quando consideramos a pequena espessura das chapas e sua grande capacidade de empilhamento. Terceiro, o sistema se aproxima muito do universo produtivo de embalagens, o que permite que o material passe por uma série de processos industriais de acabamento, que elevaria a qualidade das peças, e aceleraria sua reprodução. O sistema produtivo de embalagens em papelão ondulado conta com máquinas de corte, dobra, colagem, e até processos industriais de impermeabilização e impressão digital. Além disso, outras propriedades construtivas foram apreendidas a partir do manuseio direto com o material. Em primeiro lugar, sua leveza, uma chapa, por exemplo, de 1,50 x 1,00 m pesa por volta de 2 kg, o que é essencial para o transporte das peças com mínimo de esforço. Em segundo lugar, a facilidade de manuseio e intervenção, seja na realizando de dobras manualmente, ou cortes com o auxílio de ferramentas básicas, como um estilete ou uma furadeira manual. Em termos de costumização, o papelão pode servir de suporte para diversas técnicas manuais de impressão, que agregam um forte valor cenográfico para as performances e atividades culturais, quanto de identificação com o público artista e/ou espectador. Algumas delas são: pintura com tintas acrílicas, tintas em spray, ou serigrafia. Tudo isso tem por objetivo tornar possível a produção das peças do dispositivo pelos próprios usuários e grupos de pessoas interessadas, de forma manual, caso exista uma falta de recursos financeiros para produção em máquinas. Essa opção pelo trabalho coletivom de caráter, independente 71


visa distanciar o dispositivo da noção de produto pronto, de mercadoria que se compra ou aluga de um fornecedor que detém, enquanto monopólio, as soluções projetuais e os meus de produção do mesmo, sendo assim, capaz de controlar o preço do objeto. Ao se adquirir os componentes separadamente, é possível reduzir os custos do dispositivo, já que o número de fornecedores desses é bem-maior; os meios de produção ainda se mantém no poder dos fabricantes, porém a relação fabricante-produto-consumidor fica mais indireta. Isso acaba por permitir a maior reprodução do projeto, e espalhar sua presença nos mais diversos pontos da cidade, e com os mais diversos usuários. Naturalmente, esse processo mais artesanal demanda mais tempo de trabalho, exigie uma preparação prévia das peças antes da chegada ao local de montagem da estrutura. › Impressora digital para suportes rígidos, pode ser utilizada na impressão de placas de papelão, como também, em madeira, plásticos e metais

› Máquina de corte para suportes rígidos. Essa CNC não só efetua cortes, como também, vincos

72


Um dos pontos mais controvesos da escolha do papelão ondulado como material construtivo é sua fragilidade em relação a certos níveis de esforços estruturais, principalmente às perfurações, como também a efeitos de desgaste provocados pelas intempéries, como chuva e vento (já que o dispositivo é projetado para existir ao ar livre). Essa condições problemáticas, no entando, foram relativizadas, tendo em vista, as tantas outras características positivas e interessantes que foram apresentadas nos parágrafos anteriores. Nessa sentido, o baixo custo, o potencial reciclável, a facilidade de manuseio e aquisição do mateiral, foram pontos muito favoráveis e coerentes com o caráter temporário da estrutura. Naturalmente, houve uma tentativa de minimizar essas deficiências através de reforços estruturais que prezaram pela melhora no desempenho do sistema. Esses foram obtidos atráves da geometria da estrutura, do desenvolvimento de peças auxiliares de travamento, e no uso conjunto de outros materiais (que preservassem o caráter efêmero do dispositivo). O uso do papelão ondulado em um sistema construtivo, vai além das questões técnicas apresentadas, pois carrega uma forte carga poética e conceitual. Ao apresentar uma materialidade frágil, quando comparada as de outros materias, o papelão acaba por radicalizar o caráter efêmero já previsto no dispositivo, enquanto estrutura desmontável. Nessa situação, a temporalidade entre a presença da estrutura montada no espaço, se aproxima do próprio tempo de vida útil do material, quando prevemos seu rápido desgate pelo uso e pelo clima. Conceitualmente, é apresentada uma estrutura construída que busca ao máximo acompanhar as rápidas dinâmicas de ocupação dos espaços públicos (por atividades culturais e performáticas), através de sua própria e acentuada efemeridade. Essa prática do descarte, no entanto, aparenta não ser tão danosa, ao considerarmos o baixo custo do material e sua fácil reciclagem, minimizando os “prejuízos” financeiros do usuário, e a quantidade de resíduos sólidos no ao meio ambiente.

73


74


|6

Sistemas estruturais de superfícieativa: geometria das dobras

U

ma chapa de papelão ondulado, assim como, uma folha fina de papel funciona estruturalmente como uma lâmina, ou seja, um volume que apresenta dimensões de largura e comprimento muitas vezes maiores que a dimensão da altura. Essa configuração espacial, cujo exemplo mais comum são as lajes de um edifício convencional, apresenta uma geometria pouco resistente aos esforços verticais, porém, uma boa flexíbilidade.

Na página anterior: modelo tridimensional em papel, embrião do tipo de dobra que foi utilizado no projeto do dispositivo

› O processo mais natural para aumentar a rigidez de uma lâmina é a execução de dobras em sua superfície, já que essas aumentam a altura estrutural do elemento. Segundo Engel (2001, p.212), os elementos de laminares, na construção, sob certas condições, podem desempenhar funções portadoras de carga: superfícies estruturais, que sem recursos adicionais, podem elevar-se livremente no espaço enquanto transmitem cargas.

Abaixo, exemplos de dobras em papel que originam volumes tridimensionais estruturados

75


Ainda segundo Engel (2001, p. 212), cada dobra feita altera o eixo do plano da superfície, e cria uma aresta, responsável reorientar a direção as forças transmitidas por esforços internos e externos a estrutura. O potencial da superfície estrutural para fazer as forças mudarem de direção, isto é, para transmitir cargas, depende da posição da superfície com relação à direção da força atuante. Esses sistemas estruturais de superfície-ativa, também conhecidos, como estruturas plissadas, são aplicáveis a diversos materiais construtivos, como o concreto armado, estrapolando assim, o universo do papel dobrado, enquanto materialidade, porém não enquanto raciocínio estrutural.

› Abaixo estão dois projetos de arquitetura que fazem uso desse sistema de dobras como solução estrutural: à esquerda, Capela da Forca Aérea Americana, de 1964, EUA, à direita, ginásio do complexo esportivo de WindischMülimatt, Aargau, Suíça, 2005

76

O mecanismo portante de uma superfície estrutural é mais eficaz quando a superfície é paralela à direção da força atuante (para as forças gravitacionais verticais) ; e é menos eficaz quando a superfície está em ângulo reto com a direção da força atuante (para forças gravitacionais horizontais). Na superfície estrutural plana, segundo a direção da força atuante, dois diferentes mecanismos de resistência ou suas combinações são acionados: mecanimo de laje, se a força atuante for dirigida em ângulo reto com a superfície; mecanismo de placa, se a força atuante for dirigida paralela à superfície. Enquanto nas superfícies estruturais horizontais a capacidade portante sob carga vertical diminui com o aumento da superfície (mecanismo de laje), nas superfícies estruturais verticais a capacidade portante aumenta com a expansão da superfície (mecanismo de placa).


De acordo com Engel (2001, p.212), é por meio da inclinação da superfície na direção da força atuante, através da dobra, que se torna possível conciliar a oposição entre uma eficiência horizontal, na cobertura do espaço, e eficiência vertical, na resistência às forças gravitacionais. A continuidade estrutural dos elementos em dois eixos, isto é, superfície resistente à compressão, tração e cisalhamento, é o primeiro requisito e a primeira característica das estruturas de superfície-ativa. › Desenhos didáticos para compressão do comportamento estrutural dos sistema de superfície-ativa. Distribuição por esforços pela superfície é redirecionado de acordo com a dobra feita Ao final são apresentados croquis esquemáticos de coberturas moldadas a partir da aplicação desse sistema

77


O projeto da forma correta é, juntamente com a continuidade superficial, o segundo pré-requisito e a segunda característica dos sistemas estruturais de superfície-ativa. Nesses é fundamental uma forma adequada que reoriente as forças atuantes, distribuindo-as em pequenos esforços unitários sobre a superfície, aumentando assim sua resistência e sua estabilidade. Os sistemas estruturais de superfície-ativa são, simultaneamente, o invólucro do espaço interno e a casca externa da construção. Por causa da identidade entre a estrutura e a materialidade da edificação, as estruturas de superfície-ativa não permitem tolerância nem distinção entre estrutura e construção. E visto que a forma estrutural não é arbitrária, o espaço resultante é diretamente relacionado a essa. A forma e espaço resultantes são então determinados pelo conjunto de dobras estruturais, que pode ser simples ou complexo, gerando malhas modulares e formas tridimensionais diversificadas. As dobras mais comuns são as horizontais, verticais e diagonais em relação ao plano do papel, porém as combinações possíveis são muitas, e se organizam a partir de técnicas de espelhamento, rotação, translação, repetição, expansão e compressão e variações angulares.

A dobra de superfícies no universo do ensino da arquitetura: modelagem em papel

O

universo das dobras em superfícies planas vai além de aplicações técnicas de construtivas, se fazendo presente em esferas mais lúdicas e intuitivas de produção. Naturalmente, os saberes estruturais estão sempre contidos nessas práticas, porém de uma maneira subliminar e inconsciente. A geometria de um objeto concebido a partir das dobras em uma lâmina, se afirma como um processo lógico a apartir de tentativas e experimentações, estando plena na medida que o objeto se apresenta mais estável e mais resistente. Nesse sentido, é válido ressaltar a importância do Origami como uma das mais antigas e lúdicas expressões do ato de dobrar, enquanto método de estruturação de lâminas de papel e de concepção figurativa. Essa a arte tradicional e secular do Japão busca criar representações de determinados seres ou objetos a partir das dobras de um única folha, sem cortá-la ou colá-la. O origami usa apenas um pequeno número de dobras diferentes, que podem ser combinadas de diversas maneiras, para formar uma infini-

78


dade de desenhos complexos. No Japão, o origami é entendido como uma atividade didática, importante para o desenvolvimento intelectual, além de uma atividade de lazer, praticada por crianças adultos. Essa dimensão como instrumento de ensino fez com que a prática se mantivesse no cotidiano dos japoneses e em constante evolução ao longo do tempo. Ao longo das pesquisas por referencias realizadas para esse TFG, foram registrados alguns momentos em que o estudo das dobras em superfícies serviu como atividade pedagógica no ensino da arquitetura. A didática observada tinha por objetivo estimular a compreensão e o aprimoramento de questões formais, volumétricas e o raciocínio construtivo por parte do alunos; para isso foram desenvolvidos modelos tridimensionais de caráter experimental a partir de folhas de papel, chapas de papelão, e outros materiais baratos e de fácil manuseio. Modelos experimentais - Josef Albers - Bauhaus, Alemanha ›

Segundo Droste (1992, p. 140), a disciplina ministrada por Josef Albers para os alunos do primeiro ano da Bauhaus, entre 1927-1928, tinha por objetivo iniciar os alunos aos preceitos da arquitetura, como forma, modulação e estrutura, através de uma abordagem experimental e intuitiva. A cada aula os alunos modelavam livrimente um material básico diferente (lâminas de alumínio, acetato, papel etc) a partir de técnicas manuais de dobra, vinco e corte.

Imagens das aulas ministradas por Josef Albers, na Bauhaus, em uma disciplina do primeiro ano, voltada para experimentação geométrica enquanto definidora da forma, alida à estrutura

79


Coberturas em poliuretano - Arthur Quarmby - Bradford Regional College, Reino Unido Arthur Quarmby, arquiteto entusista do uso de materiais plásticos em edifícios, apresenta em seu livro Materiales plásticos y arquitectura experimental, publicado em 1974, um sistema de abóbodas dobráveis a partir de placas feitas em poliuretano. O arquiteto executa diversos protótipos em papelão dessas estruturas, com a ajuda de um grupo de alunos da universidade inglesa de Bradford, a fim de testar sua viabilidade técnica. Essas estruturas chamam atenção pela simplicidade das dobras, e pela flexibilidade nas configurações espaciais possíveis. Quando comprimidas no sentido longitudinal, as estruturas se dobram, passando a assumir uma configuração circular bastante compacta. › Protótipos desenvolvidos por Quarmby e seus alunos, com foco no uso de placas de dobradas enquanto estrutura. Interessante observar as variações espaciais possíveis a partir desse padrão de dobras

80


Cardboard Banquet Pavilion – Universidade de Cambridge, Reino Unido O Cardboard Banquet Pavilion é uma experiência mais contemporânea, desenvolvida em 2009, por alunos do curso de arquitetura da Universidade de Cambridge. Essa estrutura temporária foi construída a partir de módulos conectados feitos com placas de papelão ondulado. O pavilhão foi produzido em três dias e a montagem durou certa de seis horas. A escala do projeto chama atenção, ao oferecer abrigo para cerca de 50 pessoas, assim como, as conexões entre os módulos, feitas a partir da passagem de cordas de nylon. › Detalhe das dobras e seções desenvolvidas para estruturação, e definição espacial da cobertura. Interessante observar as grandes dimensões atingidas pelo pavilhão, a partir do prolongamento longitudinal da sequência de módulos

81


Invólucro para garrafa e habitáculo- Disciplina Design do Objeto - FAU USP Dois projetos escalas diferentes a partir de dobras primeiro em papel duplex e o segundo em papelão ondulado porém com princípios didáticos semelhantes, escala, conexões, resistência poré sempra baseados em uma lógica estrutural de dobras A disciplina Design do Objeto, do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU USP, foi a principal, e mais próxima, referência sobre o universo das dobras como sistema estrutural. Seu objetivo pedagógico é estimular os alunos a perceberem e construírem formas tridimensionais a partir de dobras e cortes em superfícies, como também, a partir da operação com elementos lineares rígidos e flexíveis. Entre os exercícios de projeto propostos ao longo da disciplina, dois merecem destaque por abordar o tema das superfícies dobradas; o primeiro trata-se da concepção de um envólucro para um garrafa de vidro com tamanho variável, a partir de dobras em uma folha de papel duplex. O segundo propõem o desenvolvimento de um habitáculo, para uma ou duas pessoas, a partir de dobras em chapas de papelão ondulado de 3mm de espessura.

› Protótipos desenvolvidos durante a disciplina, aplicação das dobras em suas diferentes escala de solução projetual.

82

Apesar da semelhança metodológica entre dos dois exercícios, questões de escala e de resistência dos materiais revelam as particularidades de cada projeto; vale ressaltar que enquanto o envólucro tem que resistir ao peso interno da garrafa (vazia), no habitáculo apenas o peso próprio da estrutura deve ser neutralizado.


Modelagem tridimensional em papel dobrado como ferramenta de projeto

O

projeto do dispositivo proposto nesse Trabalho Final de Graduação começou a ser dsenvolvido após a definição de seu sistema construtivo, e da pesquisa teórica, que definiu as diretrizes conceituais e técnicas relacionadas ao próprio projeto. Entende-se que uma lâmina fina de papel apresenta um comportamente estrutural semelhante ao do papelão ondulado, quando comparadas de forma proporcional em escala, e que ambas se enrigessem a partir de dobras em suas superfícies. Como indicado anteriormente, o dispositivo deveria ser composto por duas estruturas que definiriam os espaços internos do mesmo: uma cobertura e um palco. Tendo em vista as referências estudadas, percebeu-se que a solução para o projeto da cobertura poderia ser dada a partir das chapas dobradas de papelão ondulado, que funcionariam como módulos independentes e desmontáveis. Partindo dessa diretriz, teve início uma nova etapa de trabalho, na qual as atividades de projeto, em busca das soluções formais e estruturais, estavam diretamente conectadas a produção de modelos tridimensionais em escala reduzida. É válido ressaltar, a singularidade desse processo que se origina no nível escultórico em detrimento do desenho bidimensional. Compreender os resultados formais e configurações espaciais possíveis pareceu uma tarefa muito difícil de ser realizada no plano bidimensional, dada a complexidade dos diferentes ângulos e direções que planos do papel assumiam ao serem dobrados. Esse processo apesar de trabalhoso, acelerou o desenvolvimento do projeto, já que indicava, de modo direto, possibilidades espaciais e construtivas. Assim, foram desenvolvidos uma série de modelos em escala, feitos em papel Kraft, dada sua maior gramatura, ou seja, maior resistencia, e capacidade de representar de modo mais fiel o comportamento estrutural do papelão ondulado de 6mm de espessura. Outros materiais, como grampos e fios de nylon também foram utilizados para reforçar estruturalmente os modelos. É notória a evolução dos modelos ao longo do processo, se aproximando cada vez mais da eficiencia estrutural desejado. Esses estudos de modelagem foram considerados essesnciais para a conclusão do projeto. 83


Os primeiros modelos apresentavam estudos de dobras básicas, que foram se tornando mais complexas ao longo do percurso de projetual. Buscou-se entender os esforços que agiriam sob essa cobertura na escala 1:1, a fim de melhor projetar os eixos de rigidez estrutural definidos pelas dobras ao longo da superfície do papelão. Dobras transversais, longitudinais, e angulações diversas foram sendo testadas e combinadas em busca do melhor resultado geométrico. Confirmou-se, através do manuseio do material, que as linhas de dobras aumentavam da resistência estrutural da superfície. › Esquema de dobras iniciais que quando conjugadas definem o padrão reticulado escolhido como solução de projeto

› Variação de arco a partir de módulo simplicado, que deriva do padrão de dobras em ”x”

A busca por uma forma tridimensional que lembra-se uma cobertura, e mais do que isso, que funcionasse estruturalmente como uma, foi uma das diretrizes naturais do processo. Entendeu-se que o conjunto de dobras a serem feitas nas placas de papelão, não poderia ser muito complexo, já que essas poderiam ser feitas pelos próprios usuários do dispositivo. Nesse sentido, a quantidade de dobras (para cada módulo) foi reduzida ao máximo, e a lógica de execução dessas procurou aproveitar pontos de fácil localização, como os vértices e pontos médios das placas, tornando o processo mais simples e intuitivo. 84


Sengundo Jackson (2012, p. 138), a combinação de dobras específicas é capaz que fazer com que a superfície do papel ganhe o espaço ao sofrer esforços de tração e compressão; essa volumetria resultante da progressão das dobras a partir de certas angulações acabam por criar abóbodas cilíndricas, capazes vencer um determinado vão, e de resistir a ação de esforços externos apesar da espessura muito fina. Esse resultado é possível pois a altura estrutural do volume não está na espessura da superfície dobrada, mas sim na distância entre as arestas mais internas e mais externas resultantes das dobras na superfície. Observou-se que as arcadas em papel resultantes de dobras em “X”, ou seja, que combinavam dobras verticais e diagonais, formando assim vários “X” em suas intersecções, eram as mais resistentes, e as que venciam os maiores vãos. Essas qualidades de devem a dois fatores principais: presença de dobras em dois eixos do espaço e à malha estrutural triangular formada pelas dobras na superfície. Enquanto a maioria dos arcos feitos de papel apresentam dobras estruturais em apenas uma direção, como um cilindro, a parabola cilíndrica, derivada das dobras em “X”, apresenta linhas estruturais nos dois sentidos, como em uma esfera, distribuindo melhor os esforços pela estrutura. A presença de triângulos conectados pela dobras ao longo da superfície também ajuda a conferir maior ridigez a estrutura, criando travamentos nas direções dos esforços. › Esse modelos fazem uso do tipo de dobra escolhido para se estruturarem. Foram utilizados papéis coloridos para simular uma experiencia gráfica nas superfícies do papelão.

85


Após a definição das dobras principais da estrutura, se fez necessário adequar o que seriam apenas dobras em uma folha de papel, a uma estrutura modular, passível de ser montada e desmontada, que respondesse bem à questões estruturais, e também, fosse capaz de vencer um vão mínimo que permitisse a realização de atividades no seu interior. Esse amadurecimento do projeto provocou mudanças e adaptações no conjunto de dobras e nos módulos individuais. › Sequência de imagens que representam os estudos em busca das dimensões ideais para o módulo final da cobertura As primeiras duas imagens mostram como os módulos se desprenderam da superfície única, passando a funcionar de maneira individual As conexões são feitas através da diagonal, a partir da sobreposição de parte do módulo sobre o outro

› Variações no desenho do módulo, na busca por vencer um vão maior que o obtido no primeiro modelo tridimensional (página ao lado)

86


Nesse processo foram testadas outras variações de módulos, sempre dentro do mesmo princípio de dobra, já que o vão a ser vencido não estava sendo alçando pelos primeiros modelos. Ao final, percebeu-se que o esticamento das linhas diagonais e a aproximação das linhas verticais modificava a inclinação do módulo quando dobrado, fazendo assim com que o arco resultante fosse mais aberto, e por consequência, vencesse um vão maior. Sendo assim, o modelo de dobras original foi mantido, porém em uma nova relação de proporcionalidade, a relação de largura x comprimento do módulo, que antes era 1:2 passa a ser 1:3. Foi notado também que o aumento da altura estrutural do módulo, a partir da aproximação de seus pontos médios transversais, além de reforçá-lo individualmente, o que era positivo, acabava por reduzir a abertura do arco total. Nesse sentido, mudanças nas dimensões dos módulos também se fizeram necessárias, porém se mantendo a proporção de 1:3 para a largura pelo comprimento. As imagens a seguir retratam a evolução dos modelos tridimensionais a partir dos ajustes no desenho do módulo estruturador e na quantidade desses em cada arco. Os modelos foram desenvolvidos na escala 1:8 a fim de facilitar o manuseio. › Modelo na escala 1:8. Primeiro modelo desenvolvido com os módulos já desconectados da superfície de dobra. O vão vencido por esse modelo está muito abaixo do esperado. Como visto, as dimensões do módulo seriam reformuladas progressivamente ao longo do projeto

87


› Modelo na escala 1:8. Esse modelo intermediário já apresentava a redução de 24 para 20 módulos, mas seu tamanho ainda representava 1,2 m de comprimento. Observa-se que o reforço estrutural pelo fios de nylon já indicam a compreensão dos esforços sobre a estrutura. Nota-se também os fios longitudinais inferiores, que representam a ação do palco, enquanto elemento de travamento

88


› Modelo na escala 1:8. Último modelo desenvolvido antes da execução do protótipo em 1:1. Composto por vinte módulos, essa cobetura vence 3,6 x 2,5m em escala. Algumas das estratégias de reforço estrutural já estão definidas, entre elas, a viga de borda (ainda esquemática), e os fios de nylon representando os cabos de aço. As dimensões dos módulos utilizados já é o final

89


Dos modelos físicos ao ato de projetar no universo digital: experiência com um software de modelagem tridimensional

D

e forma complementar à produção de modelos físicos tridimensionais, foi feito uso de um software de modelagem digital para desenvolvimento do projeto do dispositivo. Entendido como uma ferramenta de desenho e análise volumétrica, o software Rhinoceros se mostrou fundamental ao longo do processo. Desenvolvido e comercializado pela Robert McNeel & Associates, o “Rhino” é um software de modelagem tridimensional baseado na tecnologia NURBS (Non Uniform Rational Basis Spline). Esse modelo matemático é usado regularmente em programas gráficos para gerar, com bastante precisão, curvas e superficies, o que permite a correta representação de formas geométricas em arquivos compactos; elas podem ser eficientemente moldadas por programas de computador e ainda permitem uma fácil interação com o usuário. Superficies NURBS são funções de dois parametros mapeados para uma superficie tridimensional, que é determinada por pontos de controle. De uma forma geral, é possível afirmar que editar curvas e superfícies NURBS é um processo altamente intuitivo, já que os pontos de controle são sempre conectados directamente à curva/superficie. Nos últimos anos, o uso desses softwares vem ganhando espaço no cotidiano projetual do profissional arquiteto, como também, entre designers, engenheiros, em outras profissões. Em muitos casos, o modelo digital acaba surgindo apenas ao final do processo de concepção, como forma de representação visual simulada da realidade. Essa prática estética tem por objetivo tornar o projeto mais atraente e fácil de compreender, o que se mostra uma estratégia de forte apelo comercial para captação de clientes leigos ou investidores do mercado imobiliário. Nesse TFG, o uso do software se deu em paralelo ao desenvolvimento das soluções projetuais, servindo tanto como instrumento para o desenho de precisão, como também, para livre experimentação de formas. Detalhes construtivos que não seriam visualizados nos modelos físicos em escala, e que se tornariam muito dispendiosos em termos financeiros e de prazo, se executados em um modelo de escala 1:1, foram definidos por meio software de mo-

90


delagem. Mais uma vez, o uso do software se fez necessário dada a complexa volumetria do dispositivo proposto e de seus componentes construtivos. *Renderização é o processo pelo qual pode-se obter o produto final de um processamento digital qualquer, sendo aplicado essencialmente em programas de modelagem 2D e 3D. Sua aplicação mais comum é para obtenção de uma imagem estática e foto-realísticas, a apartir do uso de um plug-in específico. Para “renderizar” uma cena é necessário, entre outras coisas, definir um tipo de textura para os objetos existentes, sua cor, transparência e reflexão, localizar um ou mais pontos de iluminação e um ponto de vista sob o qual os objetos serão visualizados. Ao renderizar, o software calcula a perspectiva do plano, as sombras e a luz dos objetos simulados.

Ao final do projeto, o software também foi utilizado para gerar as imagens de realidade simulada do dispositivo, através do processo de renderização*, e as bases dos desenhos técnicos, que foram aprimorados e detalhados no software AutoCAD.

Imagens extraídas do próprio Rhino mostram como foi desenhado o modelo digital, e como se organiza a plataforma do software. Apesar da precisão matématica para o posicionamento dos pontos na malha construtiva, o software apresenta uma usabilidade intuitiva e similar aos tipos de representação do desenho de arquitetura

91


92


|7

Raciocínio espacial e construtivo do dispositivo

O

dispositivo proposto se organiza a partir de duas estruturas interconectadas e responsáveis por configurar o espaço de uso interno. A primeira, é um piso elevado, que apresenta a função de “palco”, ou seja, de suporte físico e espacial para realização das atividades culturais e de entretenimento. A segunda e mais complexa, é a cobertura, que apresenta as funções de abrigo, já que garante certa proteção às pessoas e aos objetivos presentes em seu interior, e de marco cênico, ao demarcar visualmente sua posição dentro dos espaços públicos. A primeira apresenta pallets de madeira como principal componente estruturador de um grid regular de quadrados, enquanto a segunda, apresenta módulos losangulares feitos a partir de placas dobradas de papelão ondulado, que estruturam uma sequência de arcos paralelos, compondo uma abóboda cilíndrica e reticulada. Essas duas partes, apesar de apresentaram funções diferentes, trabalham em conjunto, sendo o palco o principal elemento de travamento da estrutura da cobertura.

Na página anterior: foto do protótipo 1:1 do projeto desenvolvido em papelão ondulado

O dispositivo foi todo projetado de forma modular, e os seus componentes são passíveis de serem montados e desmontados de forma fácil e manual, contando apenas com o auxílio de ferramentas básicas. A reutilização da estrutura, após sua desmontagem, está prevista, e é possível, se as peças não estiverem muito danificadas ou desgastadas; nesse sentido, o baixo custo dos componentes, em especial, das chapas de papelão, torna viável e fácil a substituição das peças danificadas por novas. Sendo assim, o dispositivo proposto apresenta um sistema desmontável, e ao mesmo tempo, de rápido descarte quando necessário. Ainda sobre os componentes, é válido ressaltar, que todos foram selecionados por seu baixo custo, simplicidade de manuseio, e por serem comercializados em diversas lojas de varejo da cidade. O caráter efêmero e descartável da maioria desses também foi uma das diretrizes de projeto, mais uma vez 93


justificada pelo baixo custo dos mesmos, por sofrerem processos básicos de reciclagem após o descarte, e por se monstrarem compatíveis com as dinâmicas de uso e ocupação propostas pelas atividades culturais observadas. O dispositivo se organiza a partir de seções conectáveis e autoportantes, compostas por módulos do palco e da cobertura. Cada sessão, definida como módulo estrutural mínimo, apresenta 3,60 x 1,20m. O sentido longitudinal da seção representa a “boca de cena”, ou seja, o vão máximo de abertura para o espaço do palco; a dimensão fixa de 3,60m foi definida como ideal, já que acomoda bem a execução de uma série de pequenas atividades performáticas, ao mesmo tempo que respeita as limitações estruturais da abóboda em papelão ondulado, e a modulação do palco. No sentido transversal, a dimensão mínima é de 1,20m, que corresponde a dimensão lateral de um pallet de madeira, ou seja, de um módulo do palco; é previsto que a estrutura possa se expandir nessa direção através de conexões tanto na estrutura do palco, quanto na cobertura. A partir disso entende-se que o dispositivo proposto pode sofrer reconfigurações espaciais, mediante o acréscimo ou retirada das seções modulares de sua estrutura. Essa flexibilidade na organização física do dispositivo foi uma importante diretriz de projeto, tida como essencial para receber de forma adequada os diversos tipos de atividades culturais e performances artísticas, evitando gastos e o desperdício de material. Por exemplo, um pequeno grupo de teatro pode precisar de um palco menor que uma banda com muitos músicos e etc. Nesse sentido, o espaço do palco apresenta a universalidade da planta livre, tida como condição espacial necessária para liberdade nos modos de ocupação, e de reorganização a partir de elementos cenográficos. Segundo Bógea (2009, p. 12), a virada do século XX para o XXI traz uma natureza de experiência que reconhece tanto a abstração quanto a singularidade. Traz, sobretudo, uma agilidade de transformações no tempo que exigem uma materialidade móvel, flexível, e que incorpore reorganizações. Do lugar utópico deslocado da sua temporalidade, característico da modernidade, passando pelo retorno a um tempo histórico circunscrito e reconhecível, parece que novamente se chega a um novo topos construído. Não se trata apenas de um deslocar espacial, do movimento entre sítios, conquistado com a arquitetura industrializada do século XX, mas também de uma mobilidade em termos amplos, compreendida como capacidade de apresentar variáveis e reorganizações. 94


DESENHOS

95


96

0.14

1.50

2.42

2.88

1. 50

1 | VISTA FRONTAL do dispositivo – escala 1:10

3.64


2.88

2.74

2 | VISTA lateral do dispositivo – escala 1:10

0.14

97

1.25


3 | planta do dispositivo – escala 1:10

0.33 0.19

0.21

0.40

1.21

0.40

0.21

0.14

1.21

1.21 3.64 98

Detalhe de conexĂŁo entre os pallets escala1:2,5

1.21


4 | detalhe da base da cobertura – escala 1:5

detalhe da base da cobertura 2 – escala 1:2,5

99



Seção estrutural do dispositivo - desmontada e compactada


Seção estrutural do dispositivo - desmontada

102


Seção estrutural do dispositivo - montada

103


Seção estrutural do dispositivo - visualização explodida

104


A COBERTURA

C

omo explicado anteriormente, a cobertura do dispositivo é composta por módulos estruturais feitos a partir de chapas de papelão ondulado dobradas, que se conectam através da sobreposição diagonal de seus quadrantes. O papelão ondulado utilizado nesses módulos principais é o de parede dupla, ou onda BC, e apresenta em média 0,6 cm de espessura. A opção por essa espessura mais grossa foi uma questão de segurança estrutural, a fim de garantir uma maior resistência aos esforços. Apesar de apresentar uma camada dupla de papelão ondulado (devido a sobreposição das chapas), de aproximadamente 1,2 cm, a cobertura ainda apresenta uma espessura muito fina em relação a suas outras dimensões espaciais, o que é surpreendente e visualmente elegante. Nesse sentido está confirmada a importância das dobras enquanto técnica de enrijecimento estrutural de superfícies, já que, ao medirmos a distância máxima entre os pontos deslocados pelas dobras, passamos a ter uma altura estrutural de 30 cm. Módulo principal

A sessão padronizada de 3,60 x 1,20m do dispositivo apresenta um arco formado por 25 módulos básicos de 150 x 50 cm, e 40 cm de abertura (quando montados). Cada módulo apresenta 5 dobras estruturais, estando a principal centralizada longitudinalmente, enquanto as outras estão nas diagonais, ligando os pontos médios do retângulo. Vale ressaltar, que as ondas internas do papelão estão correndo no sentido longitudinal do módulo, já que é esse o sentido que sofre os maiores os esforços quando o arco está montado. Essa técnica de direcionamento das ondas é muito aplicada no universo das embalagens, e na produção de caixas de papelão ondulado. Cada módulo ainda apresenta dezesseis furos de 8 mm de diâmetro, dispostos em quatro fileiras com quatro furos cada; são através desses que os módulos se conectam, e por onde outros elementos responsáveis pelo reforço da estrutura são conectados. Cada módulo, quando conectado a um outro, acaba sobrepondo um ¼ de sua superfície sobre o outro; um módulo conectado nas quatros laterais acaba por ficar totalmente sobreposto ou sobposto, essa técnica de travamento da cobertura gera uma camada dupla, que reforça estruturalmente a superfície, além de evitar qualquer deslocamento indesejado dos módulos para as laterais. 105


Desenho do módulo principal - escala 1:10 - unidade em centímetros

Linha de corte Linha de dobra

Sistema de sobreposição dos módulos principais 106


Esse desenho de módulo apresenta recortes circulares em suas bordas, a fim de facilitar as dobras diagonais e acomodar melhor a sobreposição dos módulos. Percebeu-se, durante o manuseio do material, que os pontos de encontro das dobras, sem esses furos, ficavam sobrecarregados e atrapalhavam a execução das dobras, assim como, a flexibilidade das abas externas.

Quando montada, a cobertura vence um vão de aproximadamente 3,60 m de largura por 2,5m de altura, com profundidae variável. Essas dimensões espaciais são significativas e reforçam o seu valor de marco cênico quando inserida nos espaços públicos e áreas livres da cidade. Como já visto, o papelão pode ser impresso ou pintado, ou seja, pode receber intervenções gráficas que dialoguem com o conteúdo da atividade em execução no dispositivo; essa possibilidade de customização, através de técnicas artenasais ou não, reforça a identificação do artista com o dispositivo proposto, e do público expectador com a performance. Além de ser um incentivo a livre intervenção, ainda que apenas estética, essa propriedade do papelão acaba por singularizar e agregar valor a cada atividade realizada.

Detalhe do módulo principal em papelão ondulado

107


Módulo da viga de borda O módulo secundário da cobertura, também feito de papelão ondulado, apresenta um desenho que combina parte do módulo principal com uma peça de reforço estrutural, as vigas de borda. Segundo Engel (2001, p. 214), a preservação da forma estrutural através do enrijecimento da borda e do perfil da superfície é uma condição fundamental para o funcionamento do mecanismo portante. A dificuldade então é projetar os elementos enrijecedores de modo a evitar qualquer variação abrupta tanto da rigidez quanto da tendência à deflexão, pois isso tensíonaria criticamente a zona de junção. Como já visto, a superfície da cobertura é muito fina, e o seu prolongamento no sentido transversal pode enfraquecê-la. Nesse sentido, as vigas de borda estariam presentes nas extremidades da cobertura, ajudando a fortaceler a estrutura como um todo, através do arremate ao final da superfície. A presença das vigas de borda também auxilia no travamento dos esforços laterais da estrutura, dificultando seu deslocamento horizontal a partir do giro da linha de base (em contato com o palco). As vigas de borda se apresentam como tubos triangulares, formados a partir da dobra das abas do módulo secundário. Independente do número de seções estruturais que estiverem montadas, serão sempre necessários dez desses módulos secundários para o correto travamento da cobertura. Com dimensões de 150 x 100 cm, esse módulo, apresenta uma faixa dedicada a metade do módulo principal, e mais quatro abas, geradas a partir de três dobras longitudinais. Um recorte especial da chapa de papelão permite a montagem correta dos tubos triangulares e seu adequado aclopamento junto ao restante cobertura. Cada módulo possui um total de vinte e oito furos. Mais um vez as ondas internas do papelão estão correndo no sentido longitudinal do módulo, acompanhando as abas da viga de borda. › Aplicação genérica de vigas de borda como método para estruturação de superfícies

108


Desenho do mĂłdulo da vida de borda - escala 1:10 - unidade em centĂ­metros

Linha de corte Linha de dobra

› Detalhe da viga de borda aplicada no modelo 1:1 final

109


› Detalhe interno da viga de borda em modelo digital

Ihoses de de níquel Os ilhóses de níquel tem por objetivo proteger os furos dos módulos de papelão ondulado do desgate provocado pelo atrito com outros componentes da estruturais, como os cabos de aço e as abraçadeiras de nylon. Esses componentes auxiliares exercem tensões sobre os módulos de papelão ondulado, podendo provocar rasgos, e por consequência a inutilização do módulo danificado. Foram escolhidos ilhóses de níquel com 8 mm de diametro, esse metal é mais barato que o aço, e não compromete o dsempenho da peça. Com relação ao diâmetro, foi pensando em um tamanho que permitisse a ƒácil acomodação, e passagem, de duas abraçadeiras e um cabo de aço de 3 mm. Ainda é válido ressaltar que o valor unitário do ilhós é extremamente baixo, permitindo assim, sua aplicação em grandes quantidades. Por questões de quantidade, o uso dos ilhoses pode ser facultativo, já que para proteger os furos de todas as peças de um sessão estrutural (3,60x1,20m) são necessários 900 ilhoses, aproximadamente. É certo que a falta dos ilhoses enfraquece e acelera o desgaste dos furos, porém, abandonar o uso desses é uma opção possível, caso haja a necessidade de produzir as peças do dispositivo mais rapidamente. Conforme forem ocorrendo danos nas peças de papelão, vão sendo feitas substituíções as substituições. 110


› Detalhe dos ilhoses já aplicados nas peças de papelão ondulado

Abraçadeiras de nylon As abraçadeiras de nylon são o principal componente de conexão entre as peças feitas de papelão ondulado, e de uso essencial para a fácil montagem e desmontagem da estrutura da cobertura. O plástico de que são feitas, é um material muito resistente aos esforços de tração e compressão, sendo ao mesmo tempo, muito leve e flexível. As abraçadeiras, por permitirem um ajuste váriavel em seu comprimento, quando pressas circularmente, acabam por ajudar no processo de montagem da estrutura, já que se adaptam as pequenas imprecisões inerentes a uma possível produção manual das peças. O sistema de travamento existente na própria abraçadeira é muito eficiente, e não requer peças adicionais. Foram utilizadas, no projeto do dispositivo, abraçadeiras com dois comprimentos diferentes: de 30 cm e de 40 cm, de acordo com a distância entre os furos das peças que se pretendia conectar. A largura de 0,45 cm e a espessura de 0,1 cm são iguais nos dois tipos escolhidos. Ao total são utilizadas para um sessão estrutural: cem abraçadeiras de 40 cm, e duzentas e quinze abraçadeiras de 30 cm. Durante o processo de desmontagem bastante cortar as abraçadeiras, com uma tessoura ou estilete, para soltar as peças. › Detalhe dos travamentos presentes na própria abraçadeira de nylon

111


Componentes de travamento e reforço estrutural da cobertura Realizar o projeto de uma cobertura toda em papelão ondulado, capaz de vencer um vão considerável, se revelou uma tarefa desafiadora, devido a fragilidade material, e à falta de informação sobre o desempenho desse, enquanto sistema construtivo. Somado a isso, estava posta a dificuldade dos cálculos matemáticos necessários para o correto dimensionanto da estrutura. Partindo dessas premissas, optou-se por resolver as questões estruturais a partir de um raciocínio mais intuitivo e empírico. As experimentações realizadas em modelos de diferentes escalas, revelaram que o conjunto de dobras desenvolvido para nos módulos da cobertura, não seria suficientemente estável para resistir aos vários esforços aplicados na estrutura durante o uso, ou seja, em um espaço urbano a céu aberto, cheio de pessoas e de atividades acontecendo. Assim, a busca por um maior aprofundamento das questões estruturais do dispositivo se fez necessária, a fim de garantir um bom desempenho enquanto estrutura, e uma melhor qualidade enquanto projeto arquitetônico. Foi observado o comportamento da estrutura quando solicitada por esforços internos e externos a ela, a partir de simulações intuitivas e em escala. Na prática, o primeiro esforço a atuar sobre a estrutura é o peso próprio; esse, no entanto, parece ser resolvido simplismente pela própria geometria da estrutura, graças a sua leveza extrema. Sendo assim, os agentes externos seriam os mais agressivos à estabilidade da cobertura, são eles: as intempéries, como o vento e a chuva forte, e os agentes humanos, ao interagirem com a estrutura. Ao observarmos as imagens a seguir podemos compreender melhor o comportamento estrutural da cobertura quando solicitada por esforços verticais e laterais, e seus pontos de fragilidade. As deformações observadas são comuns no universo dos arcos e estruturas arcadas, e foram observadas a partir de um modelo de estudo simplificado. Como resposta a esses resultados, foram projetadas algumas peças de reforço, e o uso de componentes auxiliares para o travamento. Essa prática se deu de forma preventiva, já que a real necessidade dessas só seria comprovada mediante testes cuidadosos em laboratório. A primeira peça do conjunto é a vida de borda, que já for a apresentada nos parágrafos anterioes, as outras serão apresentadas a seguir.

112


› Aplicação de força vertical Arco deformado, deslocamento da base para a lateral devido a falta de travamentos

› Arco estável, existência de travamentos nos ponto de base

› Aplicação de força vertical Arco deformado, o deslocamento lateral não ocorre graças a presença dos travamentos na base Surgem novos pontos críticos: o ponto médio no alto, e os pontos médios diagonais

113


› Aplicação de força horizontal Arco deformado, deslocamento lateral da parte superior do arco

› Aplicação de força vertical, de baixo para cima Arco deformado, deslocamento vertical da parte superior do arco

› Aplicação de força horizontal no sentido transversal Arco deformado, deslocamento horizontal da parte superior do arco Movimento de rotação transversal da estrutura

114


Componentes de travamento longitudinal e transversal – cabos de aço A escolha de cabos de aço como elementos de travamento, para os dois sentidos da estrutura, se deu devido a grande resistência desse componente aos esforços de tração. O diametro de 1/8’’ (3,2mm) se mostrou o mais adequado para o uso na estrutura, apesar de existirem cabos mais finos, essa espessura é bastante comum nas lojas, e muito leve e maveável. Apesar de ser um componente menos efêmero que o papelão, seu custo ainda é baixo, podendo ser utilizado várias vezes antes do descarte, e da reciclagem, que é bastante comum. O uso de componentes metálicos complementares aos cabos de aço se fizerem necessários para o funcionamento que o próprio sistema de travamentos proposto. Essas peças foram: anilhas, presilhas (clips) e esticadores. Todas apresentam um baixo custo e pequenas dimensões. › Detalhes do sistema de cabeamento: cabo de aço, presilhas e esticadores

› Detalhe do sistema de cabeamento, travamento longitudinal: cabo de aço, anilha e abraçadeira de nylon

115


Assim, foram instalados cabos de aço no sentido transversal da cobertura, através dos furos já existentes nos módulos estruturais. Essa intervenção foi necessária para conter a tendência à deformação transversal dos módulos, que sob a ação de esforços verticais e laterais, se abrem, enfraquecendo a estrutura como um todo. Por consequência disso, a abertura padrão de 40 cm, que define a modulação transversal da seção e a própria angulação dos arcos, na longitudinal, fica prejudicada. Os cabos, ao costurarem os módulos, criam uma espécie de cinturão que impede esse movimento de abertura. No sentido longitudinal da seção, os cabos passam por cima da cobertura, dando a volta no perímetro dos arcos, e se fixam nas laterais da estrutura do palco, com a ajuda de peças metálicas auxiliares: os esticadores, as presilhas, e os pitões. Nessa direção, os cabos são responsáveis, primeiramente, por conter os movimentos horizontais da estrutura, quando essa sofre esforços lateriais, provocados pelo vento, por empurrões etc. Em segundo, são responsáveis por evitar que a estrutura ”saia voando” ao sofrer esforços externos que venham de baixo para cima, principalmente, ao ventar. › Sistema de cabeamento proposto, travamentos na longitudinal e na transversal do dispositivo

116


Módulo de travamento transversal - timpano Esse conjunto com dois modelos de peças em papelão ondulado (timpanos) servem para o travamento transversal da cobertura. De forma semelhante aos cabos de aço, essas tem por objetivo impedir que a abertura padrão dos módulos principais seja alterada, o que compromete a rigidez da cobertura. Nesse caso, as peças propostas são capazes de evitar movimentos de abertura e fechamento, ou seja, resistem tanto à esforços de tração, quanto de compressão, ao contrário dos cabos de aço, que só resistem aos esforços de tração. As peças foram projetadas para serem inseridas nos vãos das aberturas dos módulos principais, por isso a seção triangular, e as abas, que são responsáveis pela fixação das peças na estrutura da cobertura. A resistência das peças está na dobra central, que está alinhada horizontalmente, ou seja, no sentido dos esforços transversais da seção. Cada seção estrutural apresenta 15 timpanos inteiros (8 externos e 7 internos), e 10 timpanos pela metade. Esses últimos são responsáveis pelo travamento da cobertura na peça de transição que se conecta palco. A fixação desses elementos se dá em pontos específicos da estrutura, que correspondem as sessões estruturalmente mais frágeis da estrutura, ou seja, onde se concentram os maiores esforços solicitantes. No sentido longidudinal esses pontos são: os dois pontos de conexão com palco, os dois pontos diagonais medianos, e o ponto médio do topo do arco. › Peças de travamento transversal – modelo externo (acima) e modelo interno (abaixo)

117


Desenho dos módulos de travamento (timpanos) - 1:10 - unidade em centímetros

Timpano externo

› Timpanos externos instalados no prótotipo 1:1

118

Timpano interno

Linha de corte Linha de dobra


O PALCO

A

estrutura do palco teve que ser projetada com componentes menos efêmeros que os da cobertura, devido à questões de resistência aos esforcos, e ao próprio desgate provocado pelo uso. O palco receberá cargas bem mais pesas que a cobertura, sendo assim necessário, o emprego de materiais mais robustos e convencionais. Pessoas e objetos ocuparão essa estrutura, provocando cargas pontuais e concentradas perpendiculares á superfície; essas são as mais danosas às chapas de papelão. Vale ressaltar, que ao longo da trajetória do projeto, foram testadas soluções para o palco que faziam uso de tubos triângulares de papelão, feitos a partir das placas dobradas. No entando, essas propostas não tiveram sucesso, por serem muito frágeis para o uso previsto. Optou-se então pelo uso de estruturas em madeira. Esse material apesar de menos efêmero, ainda apresenta uma origem orgânica, de fácil decomposição. Hoje em dia, existem madeiras provenientes do reflorestamento, como de eucalipto, que além de muito resistente, é muito barato. A estrutura do palco se organiza a partir de módulos quadrados, compostos em faixas que acompanham a modulação da seção da estrutural do arco, ou seja, de 3,60 x 1,20m. Formada por três módulos de 1,20 x 1,20m, essas faixas são autoportantes, independentes, e elevadas do terreno por pequenos pés metálicos. Vale ressaltar, que o módulo central da seção está apoiado nos módulos das extremidades, evitando assim a presença desnecessária de apoios extras sob esse. Esse partido foi adotado devido a unidade longitudinal da seção, que obrigatoriamente apresenta três módulos paralelos, o que não prejudicaria assim, uma possível independência estrutural do módulo do centro. Essas faixas de palco, ainda, são passíveis de se expandir em profundidade, de forma independente da estrutura da cobertura, o que não é recíproco. Sua planta é livre, garantindo diversos modos de ocupação e configurações espaciais internas; a instalação de recursos cenográficos independentes, como também, de equipamentos técnicos auxiliares (som, luz, fiação) é facilitada pelo plano vazio do palco. Sua altura baixa, com cerca de 15 cm, se mostra compatível com as diretrizes conceituais apresentadas no início desse relatório. Primeiramente, é 119


funcional ao elevar do nível do solo os objetos dispostos sobre ele, como um pedestal que prioriza determinado conteúdo frente as informações ao redor, que nesse trabalho, se personificam na performance/evento artístico inserido no espaço público. Essa elevação também garante uma melhor visualização do conteúdo em exposição, por parte do público expectador. Em segundo lugar, a pequena altura do palco, permite fisicamente um fácil acesso ao plano superior, já que o esforço necessário para tal ação é muito pequeno. Conceitualmente, essa característica espacial é um gesto poético (e de projeto), que busca estimular novas formas de integração entre os artistas e o público espectador, e principalmente, formas de apropriação mais democráticas desse espaço edificado. Pallet de madeira A estrutura do palco é basicamente formada por pallets de madeira. A escolha desses se deu, primeiramente, por serem baratos e feitos com madeira de reflorestamento; em segundo, por serem comercializados já com sua estrutura pronta e montada, o que facilita muito a produção, e montagem, do dispositivo; em terceiro, por aguentarem cargas muito pesadas sobre sua estrutura. › Detalhes do pallet de eucalipto, antes e após a instalação dos outros componentes da estrutura

120

Os pallets utilizados no dispositivo são feitos de eucalipto, apresentam aproximadamente 120 cm de largura, 120 cm de comprimento, e 13 cm de altura, e são capazes de suportar até 1.500 quilos.


Piso

O piso proposto para o palco é montado a partir de compensados de madeira laminada, no formto de placas de 120 cm de comprimento, 120 cm de largura, e 1 cm de espessura, acompanhando por tanto a modulação dos pallets. Essas placas de compensado também são feitas de madeira de reflorestamento, de pinus ou virola. Esses tipos de madeira são frágeis para composição de estruturas, porém, como na aplicação proposta, elas apenas servem como piso, não ocorrem complicações. No cotidiano, essas placas estão presentes na fabrição de móveis, e na produção de tapumes de obra; nesse segundo caso, é possível adquirir a placa de madeira já com as superfícies resinadas, ou seja, impermeabilizadas pela aplicação de resina.

A produção de um piso para o palco se fez necessária, pois a estrutura superior do pallet apresenta faixas vazadas entre as ripas de madeira. Isso atrapalharia muito as atividades sobre o palco, podendo até mesmo provocar acidentes, e danos aos objetos e equipamentos dispostos sobre os pallets.

Detalhe da placa de laminado com o acabamento de resina rosa Detalhe do piso sobre os pallets, após a finalização do palco no protótipo 1:1

121


De um modo geral, o custo das placas é pequeno, e o material leve. O maior problema seria a adequação da placa ao formato previsto em projeto, normalmente essas são comercializadas no formato de 2,20 x 1,60 m, o que exige um maquinário mais pesado para o corte. Dependendo do local de compra dessas placas, já é oferecido o serviço de corte no próprio estabelecimento. A fixação das placas do piso no pallet é realizada através de parafusos para madeira, com dimensões de 50mm de comprimento por 4mm de diâmetro. Ao total são trinta e nove parafusos por seção: quinze para os pallets laterais e nove para o pallet central. É usado um número equivalente de arruelas de 3/16” (5mm), para dar o acabamento.

› Detalhe dos parafusos e arruelas utilizados no projeto do dispositivo, então aplicados para efetuar o travamento do piso nos pallets

122

Por não ter um função estrutural relevante, é possível alterar as dimensões das placas do piso livremente, a fim de criar canaletas na superfície do palco. Essas canaletas rebaixadas podem ser úteis para passagem de fiação, ou outras infra-estruturas auxiliares que sejam necessárias para realização de uma performance qualquer. Nesse sentido, é possível aproveitar o vão criado abaixo do nível do piso, devido a pequena elevação do palco, para o acoplamento desses equipamentos técnicos e/ou cenográficos auxiliares às perfomances e atividades. Fazer aberturas nas placas do piso podem garantir o acesso a esse espaço inferior. No entando, não é recomendável fazer alterações na estrutura dos pallets, visto que esses são responsáveis pela estruturação de todo o palco.


Placas de travamento e conexões A unidade estrutual da sessão do palco, composta por três módulos, só foi possível através de conexões rígidas, que garantissem o travamento entre os pallets. Esse princípio também foi aplicado para as conexões entre as seções estruturais, permitindo assim, a expansão da superfície do palco no sentido transversal. Nesse sentido, foram propostas placas de madeira de 26 cm x 9 cm x 2 cm, feitas de eucalipto, que deveriam ser instaladas nos centros das junções entre as vigas dos pallets. Esse procedimento deveria ser realizado na frente e no verso de cada viga, de modo a fazer um “sanduíche” com as peças de madeira. Por fim, cada par de placas é travado pela passagem, na transversal, de quatro barras metálicas roscadas de 1/2” (12mm), presas por oito porcas de 1/2” (12mm). Esse sistema de conexão, também funciona como sistema de travamento estrutural, já que impede o movimento de “rotação” das extremidades dos pallets, provocado pelos esforços verticais sobre a estrutura do palco.

Cada seção estrutural apresenta: 12 dessas placas de madeira, 24 barras roscadas de 1/2”, e 48 porcas sextavadas de 1/2”.

Esse modelo de travamento acabou por transformar o comportamento estrutural das vigas longitudinais dos pallets, que passaram a responder aos esforços solicitantes como se fossem uma viga únida de 3,60m, e não mais como vigas segmentadas de 1,20m. Essa nova condição estrutural, tornou possível a retirada dos apoios inferiores do pallet central, que passou então, a transmitir os esforços sofridos para os dois pallets das extremidades, através do sistema de conexão/ travamento proposto.

Detalhe do sistema de conexão entre os pallets no protótipo 1:1 Componentes do sistema antes do preparo da peça

123


Barras laterais de madeira O uso de barras de madeira, complementares à estrutura do pallet, tem dois objetivos: reforço estrutural e suporte para fixação de peças. O primeiro, é uma medida de segurança estrutural. Observou-se que as vigas principais dos pallets de madeira só corriam no sentido longitudinal da seção, o que resulta em uma fragilidade na outra direção. Assim, a instalação de barras extras no sentido transversal surgiu como uma possível solução, criando um “anel”de vigas no perímetro da seção estrutural. As barras propostas apresentam 54 cm de comprimento, 4 cm de largura, e 9cm de altura, e são encaixas, e parafusadas, nas laterais externas dos dois pallets das pontas, aproveitando os vãos que já existem. As barras são de eucalipto, mais resistentes que as de pinus, mas de preço semelhante. › Detalhe do pitão antes de ser aplicado na estrutura do palco Processo de aplicação do pitão na lateral do pallet e nas barras laterais, previamente instaladas

124

Essas barras também serviram de suporte para fixação dos pitões, e para receber as peças de conexão entre os pallets no sentido transversal. Os pitões são parafusos cuja cabeça apresenta um anel circular de diâmetro variável. Nesse projeto, os pitões recebem os cabos de aço que correm sobre a cobertura, garantindo assim, a série de travamentos já vistos. Na outra direção, as barras funcionam em conjunto com as plaquinhas de madeira e barras roscadas, no sistema de conexão/travamento dos pallets.


Pés articulados Como já citado, a estrutura do dispositivo está elevada em relação ao solo. Essa condição é necessária quando não conhecemos as características topográficas do terreno em que a estrutura será instalada. Esse grau de flexibilidade e abstração entre estrutura e o terreno foi uma das diretrizes de projeto a serem solucinadas. Ao final, optou-se pelo uso de pequenas sapatas de borracha, iguais as utilizadas em máquinas pesadas da indústria, e em certo móveis. Essas peças, capazes de suportar entre 100 e 500 kg cada (dependendo do modelo), garantem o nivelamento da estrutura a partir de um parafuso, e algumas roscas. O modelo escolhido apresenta uma base de 8 cm de diâmetro, e tem uma capacidade de carga de 400 kg. Cada seção estrutural apresenta 8 peças. O custo de cada peça não é tão baixo, mas a quantidade necessária é pequena. › Exemplos de sapatas articuladas para o nivelamento do dispositivo no terreno Detalhe desse “pés” aplicados na estrutura do palco

125


Sapata de papelão ondulado – peça de transição Essa peça em papelão ondulado tem por objeto conectar a estrutura da cobertura com a do palco, e também transmitir os esforços da primeira para segunda. O uso do papelão ondulado se mostrou uma boa opção nesse caso; primeiro, pela capacidade de ser modelado a partir das dobras, segundo, para preservar a linguagem formal de toda a cobertura. Foi proposta uma sequência de seis dobras paralelas em uma placa de 120 cm x 58 cm, de modo a configurar um tubo triangular. Entendeu-se que os esforços da cobeertura eram transmitidos, não só por suas linhas de dobra, mas por toda a superfície do papelão, sendo assim, o desenho da “sapata” deveria oferecer o máximo de contato com as arestas de base da cobertura, e com os pontos de chegada das linhas de dobra. A criação de um plano inclinado que acompanhasse as nuâncias formais do desenho da cobertura pareceu uma boa solução projetual. A configuração de um triângulo interno menor que tubo triangular, teve por objetivo estruturar melhor a peça como um todo, ao reduzir pela metade o vão transversal localizado abaixo do plano inclinado em papelão.

› Na próxima página: desenho e dimensões do módulo da sapata em papelão Vista da sapata em papelão instalada na estrutura do palco, já com os timpanos fixados - modelo digital Detalhe da sapata já instalada no protótipo em 1:1

126

A conexão dessa peça com os módulos da cobertura é feita através do timpanos, travados pelas abraçadeiras, e desses com a cobertura. Mais uma vez, a forma tringular do timpano trava os pontos de contato entre a cobertura e a sapata, garantindo o bom desempenho estrutural do sistema. A conexão da sapata com o palco é feita através de parafusos, com arruelas, para evitar o desgate do papelão. Por último, é válido relembrar, que o palco tem por objetivo travar o movimento de abertura dos arcos em papelão, ao funcionar como um cabo (que resiste aos esforços de tração) mantendo fixas as linhas base da cobertura. Esses travamentos poderiam ser realizados por cabos que ligassem a cobertura diretamento ao solo. No entanto, essa configuração inviabilizaria a implantação do dispositivo em solos impermeáveis. O uso do palco como solução de travamento garante a independência estrutural do sistema frente a condições externas deficientes, ampliando assim, o potencial de atuação do dispositivo.


Desenho da sapata em papelĂŁo - 1:10 - unidade em centĂ­metros

121

Linha de corte Linha de dobra

127


SequĂŞncia esquemĂĄtica de montagem do dispositivo

1

2

5

6

128


3

7

4

8

129


tabela de componentes e custos A tabela a seguir busca apresentar os valores aproximados de cada componente do dispositivo, a partir dos reais valores gastos para execução do protótipo de escala 1:1, e também a quantidade de cada um, a partir do número de seções montadas. No entanto. vale ressaltar que esses valores podem sofrer alterações de acordo com o fornecedor, e até em relação ao local da cidade onde se está comprando o material. Ao final, é apresentado um valor estipulado do dispositivo, de acordo com o número de seções estruturais que se deseja montar.

Valor Unitário

UMA SEÇÃO

VALORES

DUAS SEÇÕES

VALORES

TRÊS SEÇÕES

VALORES

Chapas de papelão 1,20x1,00m - Onda BC

R$5,00

6

R$30,00

12

R$60,00

18

R$90,00

Chapas de papelão 1,50x 1,00m - Onda BC

R$6,00

23

R$138,00

38

R$228,00

53

R$318,00

Abraçadeiras de Nylon de 390 x 4,6 mm

R$0,35

100

R$35,00

200

R$70,00

300

R$115,00

Abraçadeiras de Nylon de 300 x 4,6 mm

R$0,22

215

R$47,00

430

R$42,00

285

R$63,00

Ilhóses de 8mm de níquel

R$0,05

896

R$45,00

1624

R$81,00

2352

R$117,50

Cabo de aço de 1/8’’ (3,2mm)

R$3,00

80

R$240,00

160

R$480,00

240

R$720,00

Anilha p/ cabo de aço 1/8’

R$3,75

20

R$75,00

40

R$150,00

60

R$225,00

Clips p/cabo de aço 3/16’ (5mm)

R$3,75

12

R$45,00

24

R$90,00

36

R$135,00

Esticador para cabo de aço 5/16’ (8mm)

R$22,00

3

R$66,00

6

R$ 132,00

9

R$ 198,00

Componentes COBERTURA

Valor parcial

R$695,00

130

R$1.333,00

R$1.981,50


Valor Unitário

UMA SEÇÃO

VALORES

DUAS SEÇÕES

VALORES

TRÊS SEÇÕES

VALORES

Pallets de madeira (eucalipto)

R$45,00

3

R$135,00

6

R$270,00

9

R$405,00

Chapa de compensado laminado de pinus (1,20x1,20m)

R$32,00

3

R$96,00

6

R$192,00

9

R$288,00

Barra de eucalipto (4x9x54 cm)

R$14,00

4

R$56,00

8

R$112,00

12

R$168,00

Placas de 16x9x2 cm

R$2,50

12

R$30,00

24

R$60,00

36

R$90,00

Pitão 85x5 mm

R$6,50

6

R$39,00

12

R$78,00

18

R$117,00

Porca sextavada de 5/32’’ (4mm)

R$25,00

4

R$1,00

8

R$2,00

12

R$3,00

Parafuso 50x4 mm

R$0,45

39

R$17,50

78

R$35,00

117

R$52,50

Arruela lisa de 3/16”

R$0,30

39

R$11,50

78

117

R$ 35,00

Barra roscada 1/2”(1cm) x 10cm

R$2,00

24

R$32,00

48

R$96,00

72

R$144,00

Porca sextavada de 1/2”

R$0,75

48

R$24,00

96

R$72,00

144

R$108,00

Pés niveladores com base de borracha de 80mm

R$15,00

8

R$120,00

16

R$240,00

24

R$360,00

Componentes PALCO

VALOR PARCIAL

VALOR TOTAL DO DISPOSITIVO

R$505,00

UMA SEÇÃO

R$1.200,00

R$23,50

R$1.178,50

DUAS SEÇÕES

R$2.511,50

R$1.770,50

TRÊS SEÇÕES

R$3.752,00

131


FLEXIBILIDADE ESPACIAL DO DISPOSITIVO: CONFIGURAÇÕES POSSÍVEIS

C

omo visto, os sistemas estruturais do dispositivo foram projetados para permitir algumas configurções espaciais a partir da expansão linear de sua sessão estrutural básica de 3,60 x 1,20m. É válido ressaltar, que essas dimensões são muito limitadas para realização de performances artísticas com uma boa fruição espacial. Nesse sentido, considera-se o uso de duas sessões estruturais como módulo performático mínimo, totalizando uma área de 3,60 x 2,40m, igual a, aproximadamente, 9 m2 de palco. A liberdade de configuções possíveis extrapola nesse módulo mínimo, seja a partir da expansão linear, como já citado, seja a partir do uso do dispositivo como módulos de um sistema maior, que são repetidos, rotacionados e distribuídos pelo espaços públicos. Isso significa a montagem de vários dispositivos que são organizados de modo a configurar um espaço maior, como os estandes de uma feira expositiva, ou como os palcos em um festival de música.

O TRANSPORTE

O

dispositivo foi projetado para ser transportado com suas partes desmontadas. Nesse sentido, a grande capacidade de compactação das chapas de papelão é uma vantagem. Todos os módulos em papelão são planificáveis quando desmontados, e podem ser empilhados sem problemas. Os pallets e placas de madeira, apesar de volumosos, também podem ser empilhados. Os componentes menores são leves e ocupam pouco espaço.

› Duas seções estruturais do dispositivo desmontadas e compactadas para facilitar o transporte, e o acesso do mesmo nos diversos espaços da cidade

132


133


Apesar de ter definido todos os componentes, esse TFG não projetou o dispositivo enquanto um “kit” pronto, não oferecendo assim uma proposta de empacotamento ou racionalização do espaço a ser ocupado. Na imagem abaixo estão compactados duas seções estruturais do dispositivo, esse conjunto foi considerado o módulo performático mínimo. Percemos que elas ocupam pouco espaço, apresentando as seguintes medidas máximas: 1,50m de comprimeto, 1,20m de lagura, e 1,35 de altura. Observa- se que a maioria das caçambas de veículos de passeio apresentam dimensões maiores que essas, pelo menos em relação a largura e ao comprimento. Seria necessário apenas um sistema de travamento em relação à altura. A possibilidade de transportar o dispositivo em um veículo comum, facilita muito a chegada do dispositivo a mais pontos estratégicos da cidade.

134


135

realidade


136


EXECUÇÃO DO PROTÓTIPO NA ESCALA 1:1

|8

Como já apresentado, a trajetória de concepção do projeto de dispositivo proposto nesse TFG esteve diretamente relacionada à produção de modelos físicos, que serviram para o gradual aprimoramento das soluções de projetuais. A partir de um determinado momento desse percurso, quando já se acumulavam decisões e também, muitas dúvidas, percebeu-se que o trabalho de modelagem em escala reduzida já não mais serviria para o aprimorando, e domínio, dos detalhes técnicos e espaciais inerentes ao dispositivo em questão. Assim, optou-se pela montagem de um primeiro modelo na escala 1:1, constituído por apenas um arco, a partir de duas fileiras de módulos superiores e uma fileira de módulos inferiores. O tamanho do módulo na ocasião era de 120 x 40 cm, e foram preparadas com vite e quatro peças. Esse primeiro modelo não previa o enrijecimento dos mesmos através do controle de sua abertura transversal. O resultado foi um arco que vencia um vão muito grande, quase 4 m, mas que ao mesmo tempo, se revelava extremente frágil. Os próximos dois modelos desenvolvidos apresentaram um enrijecimento estrutural significativo, graças ao travamento da abertura transversal das peças em 30 cm. Essa solução acabou por reduzir de maneira considerável o vão vencido pela cobertura, passando para um pouco menos de 3m. Esse fato confirmou a noção de que a abertura dos módulos influenciava diretamente no vão a ser vencido pela cobertura. O acréscimo de mais módulos porém, não aumentava o vão, mas acentuava a tendência do arco de se fechar em formato de círculo. A retirada dos módulos se apresentou como solução obrigatória para o melhor assentamento do arco com o plano do chão. O terceiro modelo fazia uso de apenas vinte módulos, e apesar de mais estruturado, ainda apresentava muita fragilidade, já que sua base permanecia sem conexão com o piso e sem travamentos que impedissem sua movimentação lateral. 137


Toda produção dos módulos ocorreu de forma manual, a partir de chapas de papelão ondulado de onda BC (6mm), com dimensões de 120 x 100 cm. Esse trabalho direito no material comprovou que seria possível executar a estrutura manualmente, tendo como maior deficiência o tempo para sua prepação, e uma certa impressão nos encaixes. O processo de montagem se mostrou simples, graças a disposição racional dos furos, e principalmente, a facilidade na realização das conexões, através do uso das abraçadeiras de nylon. › Ao lado, conjunto de chapas de papelão originais de 1,2x1,2m, referentes aos primeiros arcos construído; Abaixo, módulos da cobertura prontos após o corte manual

› Próximas páginas: grupos 1, 2, 3 de imagens representam a evolução projetual do modelos ao longo do desenvolvimento do trabalho Grupo 1, fez uso de 24 módulos e nenhum travamento transversal para estruturação dos módulos Grupo 2, ainda mantém os 24 módulos, mas define uma abertura transversal para os mesmos, o que reforça o conjunto, mas diminui o vão vencido pelo arco Grupo 3, redução do número de módulos para 20, o que estrutura melhor o conjunto, nesse, o travamento transversal dos módulos é feito nos dois lados da superfície da cobertura, o que reforça ainda mais a estrutura 138


1

139


2

140


3

141


A etapa de execução desses modelos na escala 1:1, se confirmou como um passo fundamental para o avanço e conclusão do projeto. Através deles, foi possível obter a confirmação de certos conceitos estruturais, a reinteração de algums falhas e imprecisões, e expor muitas debilidades que ainda não haviam sido cogitadas. O maior de todos os resultados obtidos nessa etapa do processo de modelagem, foi a forte indicação de que o uso do papelão ondulado como sistema construtivo capaz de vencer pequenos vão era possível. Até aquele momento, o ceticismo quando a viabilidade da idéia era muito presente, mesmo que balizada no plano ideológico e o teórico.

EM BUSCA DOS COMPONENTES PARA O MODELO FINAL

U

ma das principais diretrizes de projeto para o dispositivo em questão, foi que mesmo deveria se estruturar, e se tornar viável, a partir de componentes construtivos, não só baixo de custo, mas de fácil aquisição em estabelecimentos comerciais ou diretamente dos fabricantes. A decisão de realizar um protótipo final na escala 1:1, que contivesse todos os detalhes construtivos presentes, tornou a tarefa de seleção dos componentes ainda mais complexa. É interessante observar que o uso de um material tão popular, frágil e distante do universo da construção civil , como é o papelão ondulado, possibilitou o uso de certos componentes inesperados e novas formas de apropriação com um construtivo. A exemplo disso tempos as abraçadeiras de nylon, cujo o uso mais comum é como lacre, não como elemento de travamento de uma estrutura. A localização e aquisição dos componentes para realização do protótipo final impos algumas práticas que não são comuns no universo acadêmico, mas fazem parte do cotidiano profissional do arquiteto: pesquisa de valores, visita à fornecedores e a estabelecimentos comercias de venda, fazer ligações com o objetivo de tirar dúvidas, montar orçamento, entre outras. Essas atividades, que surgiram de forma inesperada no decorrer do processo, foram boas para confirmar os pressuposto conceituais, e simular as dificuldades que os possíveis usuários sofreriam para tentar executar de forma independente o processo de compra dos componentes. Ao final dessa etapa, foram identificadas duas condições fundamentais para o sucesso da entreitada: a primeira, é morar em São Paulo, e estar próximo a dezenas de lojas e fabricantes, que vendem ou fabricam exatamente

142


o que se precisa, ou seja, habitar em um pólo financeiro e comercial facilitou muito o processo; a segunda, foi realização constante de pesquisas na internet. Hoje em dia, quase todos os comerciantes e fabricantes, de porte médio e grande, tem um site que contém um catálogo de vendas disponível para consulta, onde é possível averiguar as características do produto desejado, seu preço, e até mesmo realizar sua compra. Essas possibilidades foram usadas e ajudaram muito a agilizar essa etapa do processo.

PROCESSO DE MONTAGEM DE UMA SESSão ESTRUTURAL DISPOSITIVO

E

ssa parte do relatório tem por objetivo apresentar de forma sequencial as etapas de produção, e de montagem, do protótipo final de uma sessão do disposito. Vale ressaltar, que o processo de produção das peças ocorreu de uma maneira híbrida, envolvendo processos insdustriais e manuais. Sendo assim, não pode ser considerado como processo padrão, de produção manual, ou de produção artesanal. Esse é válido, mais como um caminho possível a ser percorrido, dentre outros. No caso do processo de montagem, é possível considerá-lo como padrão, já que sua etapas só são realizáveis de forma manual (ao considerarmos a perspectiva tecnológica de hoje). › Processo tem início pela chapa de papelão inteira, que no projeto ficou definida em 1,50x1,00m para os módulos da cobertura, e de 1,20x1,00 para os módulos auxiliares

143


ETAPAS DE PROdução das peças da cobertura 1. Recorte das peças

› As duas primeiras imagens representam os processos manuais de corte do papelão, através do estilete como ferramenta de corte

› A última representa um processo industrial de produção dos módulos, a partir de uma máquina de corte a laser

144


2. Dobra das peças

› Os processos de dobra são facilmente realizados de forma manual, devido a boa flexibilidade do material

145


3. Aplicação dos ilhoses e, para a viga de borba, também as abraçadeiras

› Fixação dos ilhoses no papelão através do uso de cola branca de PVC

› A viga de borda, em especial, precisa ser estruturada antes de sua instalação na estrutura da cobertura. Esse procedimento tem por objetivo facilitar o processo de montagem da estrutura

146


4. Peças prontas, aplicação de fita desiva para não forçar as dobras

› O processo prévio de vinco, para marcação de onde serão feitas as dobras, acaba rasgando um pouco a superfície do papelão. Para evitar que esses rasgos aumentem, é aplicada uma fita adesiva, que preserva a continuidade da camada de a papel

147


ETAPAS DE PROdução das peças do palco Fixação das peças de reforço e componentes nos pallets

› A montagem do palco, basicamente, se consiste na fixação dos componentes menores na estrutura do pallet de madeira. E depois na conexão entre os mesmos

› Detalhe da fixação das barras laterais, dos parafusos, e do pitão na estrutura do pallet

148


› Pallet individual pronto, após a fixação do piso e dos pés niveladores. Esses foram representados de maneira esquemática no protótipo final, por pequenas placas de madeira laminada

› Detalhe da peça de conexão entre os pallets. Furos executados com o auxílio de uma furadeira manual e uma broca de madeira

149


ETAPAS DE montagem da estrutura da cobertura

› A montagem da cobertura tem início pela fixação da sapata de papalão ondulado, que é primeiramente, parafusada na estrutura do palco, e depois dobrada para adquirir sua função estrutural. Seu travamento com a cobertura é realizado através da aplicação das abraçadeiras de nylon

150


› Tem início a sobreposição dos módulos que compõem o meio do arco da cobertura. Uso das abraçadeiras de nylon para fixação entre os módulos

› São instalados os módulos com a viga de borda, que já auxiliam na rigidez da estrutura ao longo da montagem

› Os avanços na montagem são feitos através de seções, determinadas pelos módulos da viga de borda. Vale ressaltar aqui, os módulos combinados com sapata, ao fundo da imagem

151


› Instalação dos módulos se conclui com o fechamento do arco. A estrutura passar a funcionar sem o auxílio dos escoramentos. O uso de uma escada foi necessário para instalação dos módulos superiores, e também, das peças auxiliares

› Após a conclusão do arco, são instalados os sistemas de reforço estrutural: o timpanos (peças em papelão), e os cabos de aço

› Montagem concluída

152


O DISPOSITIVO PRONTO - Protótipo 1:1

A

seguir serão apresentadas algumas imagens do protótipo totalmente montado. Essas tem por objetivo mostrar os detalhes executados, as imperfeições em decorrência dos processos manuais de preparação das peças, e principalmente, explorar a relação espacial entre a escala do dispositivo e a escala do ser humano.

153


154


155


156


157


158


159


160


161


162


163


164


165


166


CONSIDERAÇÕES APÓS A MONTAGEM

A

o término da montagem do protótipo final da sessão do dispositivo, algumas conclusões se fizeram possíveis. Primeiramente, avalia-se que a transposição do desenho bidimensional, e principalmente, do modelo digital tridimensional para o universo físico se deu de uma maneira bastante precisa, graças, naturalmente, ao nível de detalhamento projetual que os softwares permitem, e a simplicidade das peças desenvolvidas. A escala dessas, o posicionamento dos furos, os encontros entre as partes funcionaram de forma correta, e a estrutura pode ser completamente montada. Apesar do sucesso de execução, diversas falhas ainda persistiram em aparecer, seja por falhas de projeto, seja por consequência da montagem manual. A falta de uma mão-de-obra especializada fez uma certa falta, ao mesmo tempo, que ficou comprovado ser possível montar a estrutura sem ferramentas complexas ou máquinas para elevação das partes. Como registrado nas imagens anteriores, a estrutura foi montada já na vertical, erguendo um lado de cada vez, e ancorada por objetos até o fechamento do arco. Para fixação das últimas peças, foi necessário o uso de uma escada, já que que os pontos de conexão entre as partes já estavam muito altos para serem alcançados do nível do solo. Com certeza, essa orientação para montagem foi uma escolha errada, devido a ansiedade. O ideal seria ter feito a montagem do arco na horizontal, deitado no chão, e após a sua conclusão, tê-lo erguido através de cabos ou cordas; a estrutura é leve o suficiente, e pareceu rígida o suficiente, para esse tipo de operação de alto risco. A montagem na vertical exigiu certas contorções por parte dos montadores, e um constante sobe e desce da escada. As maiores dificuldades observadas no momento da montagem ocorreram por consequência de falhas nos detalhes de projeto, como por exemplo, a dimensão dos furos nos módulos estruturais da cobertura. Esses se mostraram muito pequenos para passagem confortável das abraçadeiras mais o cabo de aço, o que causou uma maior demora do tempo de montagem. Esse tempo acabou estrapolando, e muito, as espectativas previstas. Foram necessárias cerca de 6 horas para montagem completa sessão, em duas pessoas, o que é muito, quando pensamos que o tempo de duração das performances previstas será, em sua maioria, mais curto do que isso. É recomendado que a montagem do dispositivo seja feita por mais de uma pessoa. Fazê-la de maneira individual é possível, mas muito desgastante, 167


devido a quantidade de peças e componentes a serem conectados, e à grande dimensão dos arcos. Quanto maior o número de pessoas envolvidas no processo de produção das peças e na montagem da estrutura, mais rápidas e fáceis serão essas tarefas. Apesar de essa ser uma condição natural do trabalho coletivo, ele é aqui exaltado. Muito provavelmente essa seria a realidade do ciclo de produção e montagem do dispositivo, já que o perfil esperado dos usuários tem origem em ações coletivas, como: coletivos de artistas, grupos de teatro ou bandas de música popular. Vale ressaltar, que as etapas de montagem se baseiam em processos repetitivos, que uma vez aprendidos, não oferecem mais novas dificuldades de execução. Por fim, pode-se observar, já durante o processo de montagem, uma significativa melhora na rigidez da estrutura, quando comparada com os primeiros modelos erguidos. Aparentemente, as estruturas da cobertura e do palco, parecem resistir bem aos esforços verticais e horizontais, e principalmente, ao peso próprio, como fora previsto em projeto. Infelizmente, as forças aplicadas sobre as superfícies do dispostivo, durante o manuseio, não foram tão significativas. O real comportamento estrutural do dispositivo não pode ser avalido com precisão, já que esse se manteve dentro de um espaço fechado, muito distante da realidade e da atmosfera para a qual fora pensado em habitar. A falta de testes técnicos e práticos foi uma das falhas marcantes desse TFG, além do isolamento do protótipo fnal, frente as condições de exposição ao ar livre. Resta, como conclusão do trabalho, afirmar que tudo se encaixou como previsto, porém, a resistencia estrutural só pode ser aferida pelo sensorial.

MODOs DE VEICULAção e APROPRIAção do dispositivo proposto

E

nquanto intenção política é esperado que o dispositivo apresentado se configure como instrumento de valorização da cultura independente, dos artistas de rua, e das pequenas organizações populares de caráter cultural. De certa forma, o projeto desenvolvido nesse TFG busca contribuir, enquanto proposta interventiva e de espaço, para uma maior autonômia dos grupos sociais citados acima frente as precariedades e o suscateamento dos espaços públicos da cidade, dos equipamentos culturais, e dos espaços de convivência comunitária dos quais emanam as manifestações culturais e performáticas mais verdadeiras.

168


É esperado assim, que a construção desses dispositivos ocorra por meio de processos independentes e livres, através do domínio de todo processo construtivo por parte dos coletivos de artistas e grupos comunitários. Compra do material, produção prévia das peças, montagem no local do evento, e desmontagem após o mesmo. A veiculação dessas informações técnicas de projeto pode ocorrer por meios físicos, como em um manual, ou através de meios digitais, como em site ou em vídeo didático com as informações necessárias. Sabe-se, no entanto, que questões financeiras serão sempre um empecilho para concretização de projetos dentro do universo da arquitetura e do design, por mais que o projeto tende incorporá-las e minimizar esses efeitos. Sendo assim, o alcance do dispositivo proposto tem sua atuação limitada para uma população que vive na pobreza extrema. É necessária alguma forma de subsídio que vialibilize o projeto mediante essa situação de precariedade. Outros formas de financiamento e distribuição do dispositivo poderiam se dar através de meios mais institucionais, através de parcerias com centros comunitários de bairro, ONG’s com foco em atividades culturas, ou mesmo por parcerias com o poder público. Certamente, a veiculação desse projeto através de ações organizadas por orgãos públicos, como a secretaria municipal de cultura, traria maiores retornos sociais e uma melhor distribuição desses dispositivos pelo território da cidade. O projeto poderia ser formalizado em um “kit”, acompanhado de um manual de montagem, que seria distribuído e financiado pela Prefeitura para comunidades e grupos de artista através de um programa de ação social e de fomento à cultura. Vale ressaltar, que esse segundo momento só seria possível após o aprimoramento das soluções estruturais e de projeto apresentadas nesse TFG. Aspectos relacionados a produção, e montagem do dispositivo, ainda precisam ser melhorados, principalmente, com a finalidade de agiliar essas etapas. Não podemos esquecer das questões estruturais, que também precisariam passar por testes de usabilidade mais rigorosos, certificações técnicas, testes de desempenho estrutural etc, a fim de garantir uma maior segurança e eficienia no momento do uso.

169


170


considerações finais

|9

O presente Trabalho Final de Graduação, chega a sua conclusão através da confecção desse relatório. Após dois semestres letivos, dedicados as etapas de definição, maturação, produção e conclusão. Nesse considerações finais fica válido ressaltar, o viés experimental que o trabalho adquiriu após dado momento, em busca de outras possibilidades estruturais e entendimentos sobre o que é arquitetura. Ainda não se sabe se o projeto desenvolvido é arquitetura, ou é quase isso. O certo é que os caminhos que envolvem um projeto de arquitetura, também estiverem presentes nesse trabalho. Ficou posto que a experimentação, sem as mínimas resoluções estruturais, ou seja, distante da viabilidade, não seria o percurso a ser feito. Procurou-se ao máximo desenvolver essas questões técnicas, e aprofundar questões conceituais, a fim de compor uma justificativa de projeto coerente e inteligível. O diálogo entre o universo acadêmico e o prático foi constante nesse trabalho, referências foram buscadas nesses dois universos, a vinvência pela cidade se fez nos textos e nos espaços físicos, a maioria da soluções projetuais desenhadas foram testadas em modelo tridimencionais, e postas totalmente em prática no protótipo final. Nesse sentido, a busca pela informação se deu de váriadas formas possíveis, em especial, através de conversas, visitas de campo, e mesmo na internet. Vale ressaltar, que a confeccção do protótipo na escala 1:1, exigiu um nível de mobilização intelectual e prática que se tornou um dos principais aprendizados desse trabalho, primeiro porque a sofisticação do detalhamento exigiu a aquisição dos componentes certos, previstos em projeto, garantindo dessa forma o bom desempenho estrutural e de montagem. Segundo, pelo momento de tradução a ser feito entre a linguagem do desenho, e a execução prática das soluções. Isso demandou resolver certos problemas na hora, e saber lidar com o improviso quando necessário. 171


Infelizmente, dada a fragilidade do material empregado, principalmente, ao ser usado como sistema construtivo da cobertura, faz com que muitas dúvidas ainda permaneçam no ar. Em especial, com relação ao seu desempenho estrutural, e a sua capacidade de resistência aos esforços externos que só seriam corretamente determinados com testes de resistência cuidadosamente conduzidos em laborátorio. Os resultados obtidos com esses testes com certeza provocariam novas modificações, e aperfeiçoamentos no projeto aqui apresentado, envolvendo nossos reforços, o resenho de peças ou mesmo a substituíção por outros materias, desde que preservando a proposta conceitual e de funcionamento dos dispositivo. Após esse momento, viria o momento do uso prático, da instalação do dispositivo nos espaços a que foi conceitualmente destinado. Isso viria a confirmar a efetiva resistência da estrutura, como também, o sentido mais lúdico de sua apropriação espacial. O quão próximo esse estaria do uso esperado em sua concepção, apresentado ao longo desse relatório? Será que os possíveis usuários desse dispositivo realmente teriam o interesse de produzi-lo, se apropriariam do projeto, ou só fariam uso desse quando fornecido e montado por terceiros? Será que a reprodução aconteceria, expandindo seus significados, e até mesmo, novas formas de apropriação que só a coletividade e a pluralidade de pensamentos pode criar no espaço construído? O quanto o projeto também poderia se transformar nesse caso, talvez buscando processos ou redesenhos que facilitassem sua montagem e desmontagem, ou que permitissem uma maior flexibilidade de configurações espaciais. No momento pós TFG, existe um interesse pessoal na evolução do projeto, ou até em sua aplicação em outros desdobramentos, e releturas. Independente dessa especulação, o que fica é o aprendizado e o amadurecimento de questões que acompanham o período da graduação, e a aquisição de novos conhecimentos e saberes ao longo desse trabalho. É certo que foi determinante para amadurecimento profissional, pessoal, político e técnico, e de preparação para uma nova fase da vida.

172


173


174


bibliografia

| 10

LIVROS BARBOSA, Lara Leite. Design sem Fronteiras: A Relação entre o Nomadismo e a Sustentabilidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Fapesp, 2012. BOGÉA, Marta. Cidade errante: arquitetura em movimento. São Paulo: Editora Senac, São Paulo, 2009. BORREGO, John. Space grid structures: skeletal frameworks and stressed-skin systems. Cambridge : M.I.T. Press, 1968. BUCHANAN, Peter. Renzo piano building workshop complete works. London: New York, 2002: Phaidon Press. DROSTE, Magdalena. Bauhaus: 1919 – 1933. Colonio: Taschen, 1992. ENGEL, Heino. Sistemas de estructuras.Barcelona: Editorial G. Gili, 2001. FRÚGOLI JR. São Paulo: espaços públicos e interação social. São Paulo: Marco Zero, 1995: SESC. JACKSON, Paul. Folding Techniques for Designers: from sheet to form. London: Laurence King Publising Ltd, 2012. JODIDIO, Philip. Shigeru Bancomplete works, 1985-2010. Köln: Taschen, 2010.

175


JOHNSON, Pauline. Creating with paper: basic forms and variations. Seattle : University of Washington Press, 1958. KRONENBURG, Robert. Houses in motion : the genesis, history, and development of the portable building. London: Academy Editions, 1995 New York, NY. MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno : arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001, 2011. PALLAMIN, Vera Maria. Cidade e cultura : esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação Liberdade, 2011. QUARMBY, Arthur. Materiales plasticos y arquitectura experimental. Barcelona: Gili, 1976. QUEIROZ, Suely R.R. de. Política e poder público na cidade de São Paulo - 1889-1954 in História da Cidade de São Paulo. A cidade na primeira metade do século XX. São Paulo, Paz e Terra, 2004. SCÓZ, Eduardo. Arquitetura efêmera: o repertório do arquiteto revelado em obras temporárias. Dissertação – FAUUSP, São Paulo, 2009. TOLOSA, Caio Antônio Grandi de. Sistemas construtivos transportáveis S.C.T.. Dissertação – FAUUSP, São Paulo, 2007. TONETTI, Ana Carolina. Interseções entre arte e arquitetura. O caso dos pavilhões. São Paulo, 2013. Dissertação – FAUUSP, São Paulo, 2013.

SITES www.archdaily.com.br/br/01-157760/urbanizacao-do-complexo-cantinho-do-ceu-boldarini-arquitetura-e-urbanismo/ 529f1499e8e44e0120000149 www.archdaily.com.br/br/615845/classicos-da-arquitetura-pavilhao-de-nova-york-1939-lucio-costa-e-oscar-niemeyer/52ff812ae8e44e15890001b9 176


www.archdaily.com.br/br/624060/classicos-da-arquitetura-pavilhaodo-brasil-em-osaka-paulo-mendes-da-rocha-e-equipe/53c75d60c07a80c64a000127 www.aslan.com.br/scripts/produto/armarinho_aviamento. www.aslan.com.br/scripts/produto/armarinho_aviamento.asp?LINHAS%20INDUSTRIAIS=Linha%20Dourado%20Premium%20 www.cabosdeacocablemax.com.br/cabo-de-aco.html 0,60mm&idProduto=8309&stCodCatProduto=09&stCodSubCatProduto=03 asp?idProduto=2685&stCodCatProduto=05&stCodSubCatProduto=07 www.capele.com.br www.compositesandarchitecture.com/?p=100 www.criativaembalagens.com.br www.design.designmuseum.org/design/r-buckminster-fuller www.essentracomponents.com.br/pes-niveladores-articulados www.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/11/1551151-baladas-de-sp-tomamviadutos-pracas-e-ocupacoes-urbanistas-festejam.shtml?cmpid=%22facefolha www.guiadasemana.com.br/turismo/noticia/conheca-os-coletivos-que-atuam-em-sao-paulo www.heloisabuarquedehollanda.com.br/coletivos/ www.iconeye.com/404/item/4142-cambridge-university’s-“cardboard -banquet” www.leroymerlin.com.br/abracadeira-flexivel-de-nylon-para-cabos-eletricos-390x4,80mm-bemfixa_86455852 www.leroymerlin.com.br/sarrafo-eucalipto-aplainada-10x2x220cm-massol_87167381?origin=6bed88bebc140f4754131e8c 177


www.leroymerlin.com.br/sarrafo-eucalipto-aplainada-10x2x300cm-massol_87931550?origin=6bed88bebc140f4754131e8c www.leroymerlin.com.br/tabua-de-pinus-autoclavado-aparelhado-14x2,2x300cm-tw-brazil_88000262?origin=66ed86a1a6b31afc5caf655e www.pleatfarm.com/2009/11/09/cardboard-banquet-cambridge-university/ www.reidopallet.com.br/produtos/pallets/madeira/pallet-madeira-rp01/ www.serpentinegalleries.org/about/press/2014/02/exhibitions/serpentine-gallery-pavilion-2006-designed-rem-koolhaas-and-cecil www.structurae.net/photos/52746-dance-pavilion-at-the-federal-garden -exhibition www.vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/e3d9eabb389e_ lele_abadiania.jpg

178


179


180


Sonpalco O asfalto cinza permanece calado. Ao fundo, auto(i)móveis trafegam. Apenas os calçados mimetizam seu rufar constante de necessidades burocráticas. Silêncio. Mas, aos poucos, preenche o ar um tom de novidade. Sobe o sussurro como trama sua teia a aranha. As cores se ramificam e abrem asas. A monotonia se dissolve. (olhos curiosos se levantam) Algo se desdobra do piso, qual nascente de água, flor que desata. O papel, em sua estrutura delicada que desafia a calamidade pública. Aglomera-se o público. O esqueleto sobrevive Rápido como o salto de um felino. Acordes soam. Notas convergem. Colorem. Tropicalismos cosmopolitas. A urbe renovada numa cadência bonita de se querer com os olhos. Agora, a música. O círculo côncavo. Exposto. Corajoso. Indispensável. Ei-lo: o palco. por Caio Mello

181


Os textos desse relat贸rio foram compostos na fonte Minion Pro, e os t铆tulos na Frutiger Std

182




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.