Dia da
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Retomada enfrenta o desafio da crise política
Quinta-feira, 25 de maio de 2017 Caderno especial do Jornal do Comércio Porto Alegre JOHN DEERE/DIVULGAÇÃO/JC
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EDITORIAL
Crise política gera cenário de incertezas para a economia "O risco de impeachment se tornou real e imediato. Tal situação política, é evidente, ameaça o País de paralisia em todos os setores"
Pedro Maciel, editor-chefe A mais grave crise política do País dos últimos tempos, que atingiu o auge na semana passada quando chegou ao Palácio do Planalto e envolveu diretamente o presidente da República, Michel Temer, a partir da delação premiada do empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, é, concretamente, a maior ameaça à retomada da economia brasileira. Exatamente em um momento em que a maioria dos índices representativos da situação econômica brasileira, entre eles a queda da inflação e a desaceleração do ciclo de fechamento de vagas de trabalho, sinalizavam a saída da pior recessão da história do País, as gravações apresentadas por Joesley Batista desestabilizam o governo – com a abertura de inquérito contra Temer no Supremo Tribunal Federal (STF), o risco de impeachment se tornou real e imediato. Tal situação política, é evidente, ameaça o País de paralisia em todos os setores. É bem verdade que a pesquisa semanal Focus, feita com os economistas do mercado financeiro e apresentada nesta segunda-feira ainda não mostra todo o potencial de prejuízo que a economia pode sofrer. A média do IPCA, a inflação oficial, para este ano teve uma leve redução, de 3,93% para 3,92% e, para o ano que vem a mediana caiu de 4,36% para 4,34%. As previsões do relatório Focus para o Produto Interno Bruto (PIB)
também foram mantidas. A mediana do PIB para este ano continua em alta de 0,50% e para 2018 a perspectiva é de crescimento de 2,50%. Para a produção industrial, as projeções indicam um cenário de recuperação neste e no próximo ano. São dados, contudo, que ainda não refletem o cenário pós-crise política – até porque, embora a situação crítica do presidente Temer, ainda é prematuro predizer o que realmente pode acontecer, tal é o leque de possibilidades e incertezas abertas ao futuro político do País. Mas, sem dúvida, a delação dos executivos da JBS é um fato que não deixará de ser considerado nas futuras projeções dos especialistas em economia e mercado. O próprio presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, foi obrigado a admitir que as incertezas aumentaram significativamente com a crise política. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na mesma direção admitiu que as reformas devem atrasar EVARISTO SA/AFP/JC
Gravação de empresário com o presidente Michel Temer desestabilizou o governo
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algumas semanas. E para tentar conter o nervosismo do mercado, Meirelles e vários secretários do ministério participaram de teleconferências com analistas e investidores. Foi em uma delas, com empresários e investidores estrangeiros, que o ministro reconheceu o atraso da agenda das reformas. A Câmara dos Deputados e o Senado também tentam participar do esforço para mostrar um mínimo de normalidades nas atividades. Nesta segunda-feira, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), se apressou a anunciar que colocará a reforma da Previdência em votação entre os dias 5 e 12 de junho. O relator da reforma trabalhista no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e o presidente interino do PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Tasso Jereissati (CE), também encaminharam a leitura do relatório na CAE e tentam levar o projeto ao plenário. Segundo eles, as reformas não são de interesse do governo, mas do País. No caso do Rio Grande do Sul, onde a produção agroindustrial ainda é o motor do desenvolvimento estadual, os sucessivos recordes da safra têm evitado um quadro mais dramático para o setor privado da economia. O Índice de Desempenho Industrial (IDI) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), divulgado neste mês, mostra uma perspectiva de recuperação, segundo o presidente da entidade, Heitor Müller. “A indústria gaúcha, depois de três anos de queda, passa por um período de estabilidade, ainda que marcado pela volatilidade”, avaliou. Contribuiu para esse diagnóstico o crescimento do faturamento e da massa salarial. Claro que o futuro da indústria gaúcha, como notou Müller, está ligado à demanda doméstica, “o que depende de um ambiente mais propício aos investimentos, incluindo a aprovação das reformas, como a da Previdência e a trabalhista, e o ajuste fiscal”. Mas antes de mais nada, o País precisa retomar a normalidade na política. Sem ela, a economia também viverá dias de incerteza, talvez mais graves e de maior extensão do que a turbulência provocada pela gravação feita pelo empresário Joesley Batista durante a reunião com o presidente Temer.
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ÍNDICE conjuntura
PÁGS.
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Entrevista / Governador José Ivo Sartori..............7 a 9
indústria Automotivo................................................................10 Entrevista / Heitor Müller (Fiergs)............................. 11 Máquinas agrícolas...................................................12 Metalmecânico.........................................................13 Siderurgia.................................................................14 Móveis......................................................................15 Coureiro-calçadista...................................................16 Borracha........................................................... 18 e 19 Celulose....................................................................20 Petroquímica............................................................21
agronegócio Cenário / Agronegócio..............................................22 Entrevista / Carlos Sperotto (Farsul)........................23 Soja ..........................................................................24 Milho.........................................................................25 Bovinos, aves e suínos..............................................26 Leite..........................................................................26 Fumo........................................................................26 Trigo.........................................................................28 Olivas........................................................................28 Arroz.........................................................................29
comércio Cenário / Comércio e serviços..................................30 Comércio..................................................................32 Supermercados........................................................33 Crédito.......................................................................34 Entrevista / Luiz Carlos Bohn (Fecomércio)..............34 Entrevista / Simone Leite (Federasul).......................35 Serviços....................................................................36
infraestrutura Cenário / Infraestrutura............................................37 Transportes..............................................................38 Energia.....................................................................39 Entrevista / Ricardo Sessegolo (Sinduscon).............. 39 Construção civil e materiais de construção...............40
tecnologia Cenário / Tecnologia.................................................42 Entrevista / Paulo de Tarso Luna (Ceitec).................42 Telecomunicações....................................................43 E-commerce..............................................................43
Editor-Chefe: Pedro Maciel (maciel@jornaldocomercio.com.br) Secretário de Redação: Guilherme Kolling (guilhermekolling@jornaldocomercio.com.br) Editor de Economia: Luiz Guimarães (guimaraes@ jornaldocomercio.com.br) Editora de Cadernos Especiais: Ana Fritsch (anafritsch@jornaldocomercio.com.br) Produção: Fernanda Crancio (especiais@jornaldocomercio.com.br) Reportagem: Angela Caporal, Lissandra Mendonça e Luís Bissigo Projeto gráfico e diagramação: Luis Gustavo Van Ondheusden (diagramacao@jornaldocomercio.com.br) Revisão: André Fuzer, Rafaela Milara e Thiago Nestor
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CONJUNTURA
Previsão é de crescimento pequeno em 2017 Depois de dois anos de incerteza e desempenhos negativos, a economia do Brasil e do Rio Grande do Sul começa a dar sinais de recuperação em 2017, mas a tão esperada retomada do crescimento ainda enfrenta obstáculos. A indústria nacional e regional voltou a apresentar alguns índices positivos nos primeiros meses deste ano, e o comércio espera um novo ânimo no mercado consumidor com a liberação das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Mas fatores como a instabilidade política gerada após a divulgação dos áudios da delação premiada do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, somada à queda no nível de empregos e à dificuldade dos empresários em fazer novos investimentos seguem influenciando a conjuntura durante o ano. As perdas do setor industrial não se limitam ao período de crise econômica verificado desde 2014. Conforme a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), a produção física da indústria gaúcha encerrou o ano de 2016 em nível 4,6% inferior ao de janeiro de 2002. “Não há crescimento sustentado do setor desde
2008, ou seja, estamos prestes a completar uma década de estagnação”, aponta análise da Unidade de Estudos Econômicos da entidade. Essa estagnação pode ser verificada em diferentes aspectos da atividade industrial. A produção física, por exemplo, caiu 4,3% em 2014, 11,5% em 2015 e 3,9% em 2016 no Estado, segundo a Fiergs. Outros dados da federação apontam queda nas horas trabalhadas (-5,3%), na utilização da capacidade instalada (-0,5%) e no faturamento real (-10,3%) ao longo do ano passado. Quanto ao número de empregos, apenas quatro setores da indústria gaúcha apresentaram crescimento em 2016: couro e calçados, papel e celulose, produtos têxteis, e produtos químicos, segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE). Mas, em nenhuma dessas áreas, os números foram suficientes para recuperar as vagas perdidas em 2015. “No setor de couro e calçados, por exemplo, houve um crescimento de 1.071 empregos, a exportação foi um fator positivo para isso. Mas tinham sido perdidas 7.656 vagas em 2015”, ressalta Silvia Horst Campos, do Núcleo de Análise Setorial da FEE. No Brasil, a redução no emprego formal foi de 1,32 milhão de vagas,
EDUARDO ROCHA/DIVULGAÇÃO/JC
Depois de dois anos de números negativos, indústria voltou a apresentar reação nos primeiros meses segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre os setores que apresentaram retração na produção física no Estado em 2016 estão áreas como produtos químicos (-0,24%), máquinas e equipamentos (-1,74%), produtos de metal (-4,95%), artefatos de couro e calçados (-0,26%), veículos, reboques e carrocerias (-9,97%),
derivados do petróleo (-10,11%), móveis (-11,06%), borracha e plástico (-7,05%), e fumo (-30,99%) - este último, influenciado pelos resultados ruins da safra. Os destaques positivos foram a fabricação de celulose, papel e produtos de papel (com crescimento de 33,81%), metalurgia (3,51%) e produtos alimentícios (1,29%). Dentro do contexto nacional,
o Rio Grande do Sul apresentou o quarto melhor desempenho em termos de variação do volume de produção industrial no ano passado. Apesar da queda de 3,9%, o Estado ficou atrás apenas de Mato Grosso, Espírito Santo e Santa Catarina. São Paulo, o principal parque industrial do País, apresentou queda de 11% em 2015 e de 5,5% em 2016.
Ainda que de forma discreta, ano começa com sinais positivos para a recuperação da economia Desde o início de 2017, alguns indícios apontam, ainda que discretamente, para a recuperação da economia brasileira e gaúcha. A Fiergs informa que o Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul registrou alta de 3,0% em fevereiro, na comparação com janeiro - com crescimento em indicadores como faturamento real, emprego e utilização da capacidade instalada. Também segundo a entidade, a Sondagem Industrial de março apontou uma melhora na atividade e o maior crescimento da produção do Estado nos últimos quatro anos - o indicador ficou em 57 pontos, em uma escala de zero a 100, na qual valores abaixo de 50 indicam queda. Em nível nacional, o Índice de Confiança do Empresário
Industrial alcançou 54,0 pontos em março - o maior nível desde janeiro de 2014 e 16,6 pontos acima do registrado no mesmo mês de 2016, segundo a Confederação Nacional da Indústria. A expectativa, segundo a Fiergs, é de estabilização do nível de atividade, redução da inflação e queda nos juros. Na política, a entidade considera que a aprovação da terceirização e da PEC do Teto “foram importantes para, por um lado, dar previsibilidade aos gastos públicos e, por outro, trazer segurança jurídica para o empresário”, segundo a Unidade de Estudos Econômicos. No campo, a previsão de uma safra recorde - que pode chegar a 227,9 milhões de toneladas neste ano - motiva os
investimentos e reflete diretamente no setor de máquinas agrícolas, que deve crescer 15% neste ano. No primeiro trimestre, conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias tiveram expansão de 41,1% em relação ao mesmo período de 2016. Outra área que mostra otimismo é a indústria automobilística: também de acordo com a Anfavea, a produção do setor aumentou 24% no primeiro trimestre na comparação com igual período do ano passado. As áreas de comércio e de serviços, embora ainda sofram o impacto de fatores como o desemprego e a queda de renda, também apostam em um ano melhor. A liberação de parcelas do FGTS, por exemplo, poderá injetar
cerca de R$ 1,5 bilhão no varejo gaúcho, pela projeção da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS). A expectativa é de que os resultados positivos devem aparecer no segundo semestre para o setor. Mas a conjuntura ainda sugere cautela. Para a pesquisadora Cecília Hoff, do Núcleo de Análise Setorial da FEE, ainda não há uma perspectiva de crescimento mais forte. “Os investimentos vão demorar, porque ainda há capacidade ociosa (nas indústrias). Para impactar os empregos vai demorar. O ano pode ser positivo, mas o que isso irá significar? Se for pouco, não recupera nada, e não se vê condições para recuperação rápida”, ressalta a economista.
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Aos poucos, economia inicia a recuperação Os últimos três anos foram marcados por recessão, fechamento de postos de trabalho e uma crise política e econômica. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) indica que a economia voltou a crescer nos três primeiros meses do ano. O indicador que antecipa a trajetória do Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta de 1,12% no acumulado do primeiro trimestre de 2017 na comparação com o quarto trimestre de 2016. A tão esperada retomada do crescimento ainda é distante para muitos setores, como metalmecânico e siderurgia, que vêm de sucessivos resultados negativos e clamam por medidas urgentes do governo federal para tornar o produto nacional mais competitivo no mercado externo. Outros segmentos entraram 2017 um pouco mais confiantes, como a indústria automotiva e a coureiro-calçadista, que esperam um segundo semestre mais movimentado para os negócios. Quem está mais animado com a previsão de uma safra recorde de grãos são os empresários de máquinas agrícolas. Em 2016, a agropecuária teve seu desempenho prejudicado pela queda nas safras de arroz, milho e fumo e apresentou queda de 4,5%. No
entanto, para este ano os indicadores apontam para um desempenho positivo da agricultura. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a safra 2016/2017 de grãos deve chegar a 227,9 milhões de toneladas, com um aumento de 22,1% ou 41,3 milhões de toneladas frente às 186,6 milhões de toneladas da safra passada. “Por outro lado, existe a preocupação com os embargos ao setor de fabricação de carnes. Isso irá refletir no segundo trimestre de 2017 e sua dimensão ainda deverá ser avaliada”, observa o diretor-técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Martinho Lazzari. A Sondagem Industrial de março, divulgada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), mostra que houve uma melhora na atividade e o maior crescimento da produção gaúcha nos últimos quatro anos, com o indicador ficando nos 57 pontos. Os indicadores variam de zero a 100 pontos. Valores menores que 50 indicam queda da produção e do emprego, expectativas negativas e estoques abaixo do esperado. O emprego industrial mostrou perdas menos intensas nos meses recentes, ficando em 49,5
Setores como o coureiro-calçadista tiveram reação no início de 2017 e esperam melhorar no segundo semestre pontos, o que significa um quadro de funcionários muito próximo da estabilidade em relação a fevereiro (49,7). Para o presidente da Fiergs, Heitor José Müller, a elevada carga tributária e a demanda interna insuficiente foram os maiores entraves enfrentados pela indústria gaúcha nos três primeiros meses do ano. “Esses dois fatores impediram um desempenho melhor para o setor no período”, diz. Segundo dados da FEE, a economia gaúcha encerrou 2016 com o terceiro ano consecutivo de crescimento negativo acumulando uma taxa de -6,7%. O resultado é semelhante ao -6,6% observado nos anos 1990 e 1991. A última vez que a economia do Rio Grande do Sul apresentou queda em três anos consecutivos foi em 1980, 1981 e 1982.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul fechou 2016 em -3,1%. O resultado, embora negativo, foi melhor que o do País que apresentou taxa de -3,6%. “Na atual recessão, a indústria teve seu pior momento no segundo semestre de 2015. Agora vemos o setor de máquinas e equipamentos dar início a uma recuperação. Já as atividades que dependem da renda interna, o alto desemprego e os rendimentos reais ainda baixos dificultam a retomada”, explica o coordenador do Núcleo de Contas Regionais da FEE, Roberto Rocha. No setor de serviços, a queda de 2,1% acumulada em 2016 foi menos intensa que a observada na economia nacional, de -2,7%. A única atividade que apresentou desempenho positivo no ano foi a imobiliária, com crescimento de 1,1% no Estado e de
Exportações gaúchas tiveram alta no primeiro trimestre No primeiro trimestre desse ano, as exportações gaúchas totalizaram US$ 3,318 bilhões, uma elevação de US$ 509,2 milhões em relação ao mesmo período de 2016 (18,1%). Segundo análise da Fundação de Economia e Estatística (FEE), esse crescimento foi possível graças ao aumento da quantidade embarcada ao exterior (13,3%) e ao preço médio dos produtos exportados (4,3%). Esse resultado fez com que o Rio Grande do Sul contribuísse com 6,6% das vendas externas brasileiras, aparecendo como o 6º maior Estado exportador, atrás de São Paulo (22,1%), Minas Gerais (13,3%), Rio de Janeiro (12,1%), Paraná (7,9%) e Pará (6,9%). As receitas no trimestre voltaram a crescer após quatro anos,
e os preços, após dois anos. Ainda conforme o estudo da FEE, o produto que registrou o maior crescimento em suas receitas foi a soja em grãos (+US$ 286,0 milhões; +235,6% em valor e +194,7% em volume). Foi embarcado 1,031 milhão de toneladas no trimestre. “A grande quantidade do grão vendida é resultado das vendas de janeiro e março, que registraram recordes históricos, resultado tanto dos grãos não vendidos da safra, porque os produtores seguraram parte do estoque à espera de preços mais competitivos, quanto pela esperada supersafra, que já vem trazendo dificuldades de armazenagem para os produtores do Estado”, explica Tomás Amaral Torezani, pesquisador em
Economia do Centro de Indicadores Econômicos e Sociais da FEE. Os embarques de automóveis de passageiros (+US$ 77,9 milhões; +147,8% em valor e +165,2% em volume) também registraram recorde histórico para um primeiro trimestre, com quantidades e receitas superiores aos primeiros trimestres dos últimos três anos. Foram vendidas 15,9 mil unidades de automóveis, enquanto foram embarcadas 12,9 mil unidades no somatório do mesmo período dos últimos três anos. Em relação ao mesmo período de 2016, o crescimento de 9,977 mil unidades vendidas se deu, sobretudo, pelas vendas para a Argentina (aumento de 4,813 mil unidades) e o Chile (elevação de 3,478 mil unidades).
0,2% no Brasil. Entre as atividades dos serviços, a maior queda foi observada no comércio e reparação de veículos (-5,3%), menos intensa que a observada na economia nacional (-6,3%). O último estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a indústria nacional cresceu em nove dos 14 locais pesquisados em fevereiro, entre eles o Rio Grande do Sul. Os maiores avanços foram na Bahia (2,8%), que eliminou parte da perda de 4,2% de janeiro, e em Santa Catarina (2,8%), quarto mês consecutivo de crescimento, acumulando expansão de 7,4%. Rio Grande do Sul (2,2%), Rio de Janeiro (2,2%), Goiás (2,1%), Minas Gerais (2,0%), Paraná (1,9%), Região Nordeste (1,1%) e São Paulo (0,2%) completaram a lista de locais com aumento na produção.
Empresários demonstram mais otimismo Após três meses consecutivos de crescimento, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu 0,9 ponto em abril frente a março e atingiu 53,1 pontos neste mês, conforme a Confederação Nacional da Indústria. Apesar da queda, o indicador permanece acima da linha dos 50 pontos, o que sinaliza empresários otimistas. Os indicadores variam de zero a 100 pontos. O Icei está 16,3 pontos acima do registrado em abril de 2016, mas abaixo da média histórica, que é de 54 pontos. De acordo com o levantamento, o recuo do indicador frente a março ocorreu, principalmente, por uma acomodação das expectativas em relação à própria empresa e à economia, cujo índice caiu 1,4 ponto, de 58 para 56,6 pontos. O levantamento foi feito entre os dias 3 e 17 de abril com 2.952 empresas. Dessas, 1.172 são de pequeno porte, 1.106 são médias e 674 grandes.
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NÚMEROS DA INDÚSTRIA GAÚCHA O mês de março de 2017 indicou uma melhora na atividade industrial no Rio Grande o Sul, com o maior crescimento da produção gaúcha nos últimos quatro anos. Entretanto ainda há perda de postos de trabalho, embora seja com menor intensidade do que nos meses anteriores. A tendência é que os números ruins de 2015 e 2016 não se repitam neste ano. Os números do primeiro trimestre ainda são tímidos, mas demonstram que o pior já passou. Resta saber quando se consolidarão no terreno positivo. Dados da indústria no Rio Grande do Sul Produto Interno Bruto (PIB) industrial* Participação no PIB industrial nacional Número de trabalhadores formais Participação da indústria no PIB do Estado Exportação do setor (em 2016) Salário médio
Valor R$ 65,9 bilhões 5,8% 825.798 18,5% US$ 12,4 bilhões R$ 2.162,64
Ano de referência 2016 2016 2015 2016 2016 2015
Fonte FEE FEE/IBGE Rais/MTb FEE Mdic/Secex Rais/MTb
* Estimativa com base no volume. Último dado disponível: R$ 72,5 bilhões (2014)
Taxa de crescimento da produção física da indústria em 2016 Seções e atividades industriais (CNAE 2.0) Indústria geral Indústrias de transformação Fabricação de produtos alimentícios Fabricação de bebidas Fabricação de produtos do fumo Fabricação de produtos têxteis Confecção de artigos do vestuário e acessórios Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados Fabricação de produtos de madeira Fabricação de celulose, papel e produtos de papel Impressão e reprodução de gravações Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis Fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal Fabricação de outros produtos químicos Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos Fabricação de produtos de borracha e de material plástico Fabricação de produtos de minerais não metálicos Metalurgia Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos Fabricação de máquinas e equipamentos Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores Fabricação de móveis Fabricação de produtos diversos Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos
BR -6,52 -6,11 0,93 -2,83 -21,75 -4,77 -5,81
RS -3,91 -3,91 1,29 -11,74 -30,99 n.d. n.d.
-1,27
-0,26
1,59 2,51 -11,16
n.d. 33,81 n.d.
-8,57
-10,11
-1,40
n.d.
-0,96 -7,65 -5,96 -10,89 -6,58 -10,29 -14,73 -8,21 -11,62 -11,42 -21,76 -10,97 -8,62 -6,80
-0,24 n.d. -7,05 -10,01 3,51 -4,95 n.d. n.d. -1,74 -9,97 n.d. -11,06 n.d. n.d.
Taxa de crescimento do volume de produção da indústria de transformação de estados selecionados (2015-2016) Indústrias de transformação 2015-2016 Mato Grosso Espírito Santo Santa Catarina Rio Grande do Sul Bahia Minas Gerais Paraná Goiás Ceará São Paulo Pará Rio de Janeiro Pernambuco Amazonas
-1,15 -1,59 -3,36 -3,91 -4,17 -4,30 -4,40 -4,84 -4,87 -5,52 -5,55 -6,43 -9,43 -11,28
Fonte dos dados brutos: PIM/IBGE. Elaboração: FEE (Núcleo de Contas Regionais)
Fonte dos dados brutos: PIM/IBGE. Elaboração: FEE (Núcleo de Contas Regionais)
Saldo de geração de emprego do mercado de trabalho entre as atividades da indústria gaúcha (2015-2016) Setor Fabricação de produtos alimentícios Fabricação de bebidas Fabricação de produtos do fumo Fabricação de produtos têxteis Confecção de artigos do vestuário e acessórios Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados Fabricação de produtos de madeira Fabricação de celulose, papel e produtos de papel Impressão e reprodução de gravações Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis Fabricação de produtos químicos Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos Fabricação de produtos de borracha e de material plástico Fabricação de produtos de minerais não-metálicos Metalurgia Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos Fabricação de máquinas e equipamentos Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores Fabricação de móveis Fabricação de produtos diversos Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos
2015 1.041 -3 -170 -932 -2.091 -7.656 -1.132 -430 -628 -95 -498 -48 -3.335 -1.221 -2.214 -5.536 -1.092 -1.606 -9.529 -8.610 -192 -3.245 -867 -849
2016 -74 -224 -170 146 -168 1.071 -391 51 -309 -134 16 -189 -434 -1.036 -869 -3.168 -906 -1.200 -4.429 -4.291 -4.483 -2.691 -309 -644
Saldo 967 -227 -340 -786 -2.259 -6.585 -1.523 -379 -937 -229 -482 -237 -3.769 -2.257 -3.083 -8.704 -1.998 -2.806 -13.958 -12.901 -4.675 -5.936 -1.176 -1.493
Fonte dos dados brutos: Caged/MTE. Elaboração: FEE (Núcleo de Contas Regionais)
COMPOSIÇÃO SETORIAL ** Indústria de Transformação Alimentos Máquinas e Equipamentos Veículos Automotores Químicos Couro e Calçados Produtos de Metal Refino de Petróleo Borracha e Plástico Tabaco Móveis Bebidas Minerais não metálicos Metalurgia
Ano de referência: 2014 (Fonte: PIA/IBGE) 100,0% 17,1% 11,0% 10,0% 8,9% 6,7% 6,7% 6,1% 4,3% 4,2% 4,0% 2,8% 2,7% 2,2%
Produtos Diversos Celulose e Papel Outros Equipamentos de Transporte Material Elétrico Manut. e Rep. de Máquinas e Equipamentos Vestuário e Acessórios Equipamentos de Informática e Eletrônicos Produtos de Madeira Têxteis Impressão e Reprodução de Gravações Farmoquímicos e Farmacêuticos
1,7% 1,7% 1,6% 1,6% 1,3% 1,2% 1,2% 1,1% 0,8% 0,7% 0,3%
** Cálculo baseado no Valor da Transformação Industrial (VTI)
Taxa de crescimento da produção física da indústria em 2017 (janeiro e fevereiro) Seções e atividades industriais (CNAE 2.0) BR RS Indústria geral 0,33 -1,79 Indústrias de transformação -0,94 -1,79 Fabricação de produtos alimentícios -2,24 -5,09 Fabricação de bebidas -0,28 7,83 Fabricação de produtos do fumo 6,07 -1,18 Fabricação de produtos têxteis 5,74 n.d. Confecção de artigos do vestuário e acessórios 8,45 n.d. Preparação de couros e fabricação de artefatos de 0,30 -3,03 couro, artigos para viagem e calçados Fabricação de produtos de madeira 0,68 n.d. Fabricação de celulose, papel e produtos de papel 1,88 -6,56 Impressão e reprodução de gravações -13,26 n.d. Fabricação de coque, de produtos derivados do -11,00 -21,15 petróleo e de biocombustíveis Fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza, -3,38 n.d. cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal Fabricação de outros produtos químicos -0,58 -3,09 Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos -5,23 n.d. Fabricação de produtos de borracha e de material plástico 1,66 -0,52 Fabricação de produtos de minerais não-metálicos -3,32 -11,16 Metalurgia 1,18 10,97 Fabricação de produtos de metal, exceto -5,33 -2,39 máquinas e equipamentos Fabricação de equipamentos de informática, 18,58 n.d. produtos eletrônicos e ópticos Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos -6,08 n.d. Fabricação de máquinas e equipamentos 3,25 -6,68 Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias 11,97 16,93 Fabricação de outros equipamentos de transporte, -10,28 n.d. exceto veículos automotores Fabricação de móveis -5,97 5,12 Fabricação de produtos diversos 0,98 n.d. Manutenção, reparação e instalação 4,89 n.d. de máquinas e equipamentos Fonte dos dados brutos: PIM/IBGE. Elaboração: FEE (Núcleo de Contas Regionais)
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Indústria
ENTREVISTA ESPECIAL
'É preciso vender as estatais' Guilherme Kolling, Luiz Guimarães e Lívia Araújo O governo do Estado pode ter um alívio de três anos sem pagar a dívida com a União, economia de mais de R$ 3 bilhões ao ano. Trata-se do Regime de Recuperação Fiscal, socorro aos estados aprovado no Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Michel Temer (PMDB) em maio. O próximo passo é definir as contrapartidas do Piratini para garantir o auxílio, processo que pode ser retardado pela instabilidade política após a delação do dono da JBS, Joesley Batista, que atingiu o Planalto. O governador José Ivo Sartori (PMDB) reforça que será preciso aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retira a necessidade de realização de plebiscito para a privatização ou federalização das companhias Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Riograndense de Mineração (CRM) e de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás). Essas estatais devem ser vendidas e entrar na equação a ser definida com a União. “Ninguém vai negociar nada se não tiver a contrapartida”, resume o governador. Nesta entrevista, Sartori reforça a necessidade de vender as três
estatais e adianta que o projeto não será fatiado. “Foi muito bem estudado. É necessário (vender CEEE, CRM e Sulgás). É a mesma coisa com o Regime de Recuperação Fiscal: não é o ideal, mas é necessário que se faça.” Jornal do Comércio – O Estado tem prazo limite para definir as contrapartidas que dará à União? José Ivo Sartori – Primeiro, tem que aprovar um projeto na Assembleia Legislativa e, segundo, tem que sentar com o governo federal para ver como fica. Gostaríamos que fosse possibilitado federalizar ou vender (as estatais CEEE, CRM e Sulgás). Nunca falamos unicamente em privatização, só quem tem conteúdo adverso politicamente coloca a privatização como primazia. JC – Mas quando se federaliza, a União acaba vendendo. Sartori – Isso é outra coisa... Vamos colocar claro: a projeção que tínhamos em 1 de janeiro de 2015 era que o déficit do Rio Grande do Sul ao final de 2018 seria de R$ 25,2 bilhões. Com tudo que fizemos – ajustes em diárias, horas extras, passagens, contingenciamento de cargos de confiança (CCs), do orçamento, cortar onde precisava,
sem deixar de lado questões essenciais na área social... Claro, ajudou a renegociação da dívida (com a União). Essas mudanças permitem dizer que, independentemente do Regime de Recuperação Fiscal, chegaremos a um déficit de R$ 8 bilhões no final de 2018. Se vier isso (o acerto do Regime com o governo federal) e tiver uma boa contrapartida, poderemos chegar a um nível quase de equilíbrio. Para nós, ajuste fiscal e equilíbrio financeiro do Estado são uma pauta positiva. JC - O senhor quer dizer que pode terminar o mandato sem aumentar a dívida do Estado? Sartori - Exato. JC - Embora o Estado tenha feito o “dever de casa” antes da proposta federal, o presidente parece dar mais atenção ao Rio. Sartori - Vamos fazer justiça. Tivemos a atenção devida. E queríamos provar que o Rio Grande do Sul tinha feito muito do dever de casa, porque, se não plantarmos essa semente agora, não vai ser em outra oportunidade. Houve sensibilidade do governo federal. E não pensem que é só Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. JC - São os estados em calamidade financeira. Sartori - Com certeza, tem mais de 10 estados nessa situação. JC - Mas para alguns, com dívida pequena, pode não valer a pena as contrapartidas. Sartori - Ninguém vai negociar nada se não tiver a contrapartida. JC – A proposta de retirada da exigência de plebiscito para venda das estatais pode ser desmembrada? Exemplo: retirar só a Sulgás? Sartori - Não é a intenção. Estamos colocando (as três estatais), porque foi muito bem estudado, fizemos uma vistoria séria. É necessário (vender essas estatais). É a mesma coisa com o Regime de
FREDY VIEIRA/JC
José Ivo Sartori reitera a necessidade de negociar CEEE, CRM e Sulgás Recuperação Fiscal: não é o ideal, mas é necessário que se faça. E o Estado terá 36 meses de um grande alívio. E não é para o meu governo, é para o futuro. Mesmo assim, representa apenas um quinto da folha de pagamento. JC – A arrecadação deu um salto neste ano. Será possível pagar os salários dos servidores em dia ou só se isso for casado com o Regime de Recuperação Fiscal? Sartori - O aumento na arrecadação também é porque a economia deixou de cair. No Rio Grande do Sul, a safra agrícola nos ajudou. Agora, quanto mais demorar (a aprovação do Regime de Recuperação Fiscal), mais difícil fica para nós. Têm outras questões que não entram mais (IPVA, repasses da exportação, verbas da repatriação de divisas, carência da renegociação da dívida). Isso vai gerar dificuldades dentro de dois meses.
“Se vier o Regime de Recuperação Fiscal, poderemos chegar a um nível quase de equilíbrio (das contas em 2018)”
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ENTREVISTA ESPECIAL FREDY VIEIRA/JC
Governador quer manter atividade no polo naval Neste trecho da entrevista, o governador José Ivo Sartori fala de dificuldades de setores industriais importantes no Estado, como o polo metalmecânico da Serra e o polo naval de Rio Grande - defende a continuidade da atividade econômica com, pelo menos, a conclusão dos trabalhos em andamento nos estaleiros. Também fala das negociações para mudar, pontualmente, a lei que impede a compra de terras por estrangeiros, o que permitiria a instalação de nova fábrica da Celulose Riograndense na Metade Sul. E fala que a redução de incentivos fiscais será negociada setor a setor. JC – O senhor acredita que a Advocacia-Geral da União (AGU) dará uma solução neste ano para a questão da proibição à posse de terras por estrangeiros? Sartori - Já tratei essa questão no mínimo três vezes, porque interessa muito ao Rio Grande do Sul, especialmente na área de desenvolvimento, emprego, trabalho e renda para regiões menos desenvolvidas. Não defendo o que o parecer da AGU diz, que está inviabilizada a compra de terras por quem tem algum capital internacional. E não defendo um projeto que libere isso. JC - Não quer liberação geral... Sartori – Não quero que a compra de terras sirva para especulação imobiliária. Desejo é que, diante de um projeto que ajude a industrialização, por exemplo, da celulose ou da biomassa, aproveitamento de restos de floresta, possa justamente ser uma coisa concreta: tem liberação, questão do meio ambiente, não está prejudicando nada da vida da fronteira... JC - Mas acha que se resolve neste ano a liberação? Sartori - Olha, pela nova advogada-geral da União (Grace Mendonça) fui bem tratado, e surgiu uma perspectiva de bom entendimento. Vamos continuar trabalhando, porque são US$ 2,5 bilhões de investimento só em uma indústria da Celulose Riograndense. JC – Está mantido o projeto da nova planta de celulose no Estado? Sartori - Ainda tem interesse, tanto é verdade que o pessoal da própria Celulose tem feito também
uma caminhada no sentido de viabilizar que isso aconteça. Não é nada, não é nada, mas são US$ 10 bilhões com os outros empreendimentos (da área de celulose, florestas plantadas e biomassa). JC – A nova fábrica da CMPC seria na Metade Sul do Estado? Sartori - Sim, porque muitas florestas já estão lá. Queria colocar também que na parceria público-privada da recuperação do porto de Pelotas não entrou nenhum recurso do Estado, e hoje está se transportando toras da Região Sul pelo porto de Pelotas. Essas barcas estão trazendo toras para cá (Guaíba), e daqui o produto (celulose) sai de barca para Rio Grande, não volta na estrada. Outra coisa importante foi o incentivo, com a lei aprovada na Assembleia, às florestas plantadas, que poderão ser feitas na Região Sul. Ajuda a aquecer a economia e a melhorar o ambiente. JC – Ao mesmo tempo, a Metade Sul teve um baque no polo naval de Rio Grande, com essa política de desinvestimento da Petrobras...
“A Celulose Riograndense ainda tem interesse em uma nova planta na Metade Sul do Estado” Sartori - Às vezes, penso que o que começa mal não termina bem. JC – O senhor acha que vai acabar o polo naval? Sartori – Não digo acabar... Recebi o comitê regional, fui parceiro, fui ao presidente Temer, a ministros, estivemos juntos apoiando, porque é importante. Existem duas coisas simbólicas para o Rio Grande do Sul: o polo metalmecânico da Serra e Rio Grande. O porto tem que ser estratégico para todos nós, e vai avançar. JC – O senhor quer dizer que teve mobilização, mas que ainda não há uma perspectiva de novos investimentos no polo naval? Sartori – Queremos continuar trabalhando para que pelo menos
Sartori falou de medidas para os principais setores da indústria gaúcha à equipe do Jornal do Comércio uma boa parte tenha concentrado os seus recursos lá para manter a atividade (econômica). JC – O senhor falou que o que começa mal termina mal... Sartori – É só olhar o que aconteceu em Charqueadas, olhar o que aconteceu em Rio Grande com algumas empresas. Tudo faz parte de um movimento equivocado, ou às vezes até exagerado. Tem que haver caminhada, com responsabilidade, para que não aconteçam esses distúrbios. Depois, quem paga o preço é a população. JC – O governo federal teria apostado em excesso no pré-sal... Sartori – Exato. Na minha opinião, sim. Aí tivemos outras demissões... é melhor nem comentar... JC – Lava Jato... Sartori – É... JC - Foi muito arrojo nos investimentos? Sartori – Acredito que até negócios mal feitos. Mas, por enquanto, vamos trabalhar. O governo todo está trabalhando e ajudando a comunidade, recebi a todos aqui no Palácio, fui com eles ao ministro. Vamos continuar, precisamos manter a atividade econômica no polo naval, ao menos naquilo que está em andamento, que possa ser concluído. JC – E para o polo metalmecânico na Serra, alguma medida? Sartori – A Serra teve uma dificuldade muito grande (com a crise). E lá está concentrado o segundo polo metalmecânico da América Latina. Às vezes, fico preocupado por ter muita gente que acha que não se precisa fazer investimentos. JC - Incentivos fiscais? Sartori - Ou (dar) incentivos fiscais, que acha exagerado. Isso é feito transparentemente, dentro da realidade, com seriedade, responsabilidade... Tanto é verdade que
a gente negociou setor por setor, tanto na uva e vinho como no setor coureiro-calçadista, agora estamos negociando com a parte têxtil, a questão do arroz, soja, todas as atividades. Temos que negociar separadamente dentro daquilo que é possível fazer. E estamos buscando também uma boa carteira de investimentos, mais de R$ 15 bilhões. JC – O que destacaria? Sartori – No Polo Petroquímico (de Triunfo), conseguimos fazer o acordo com a Innova (para a duplicação da produção de estireno), e hoje está produzindo bem. Teve a manutenção de todas as outras atividades que sobreviveram. Tem ainda fertilizantes (fábrica da Yara em Rio Grande), no porto de Rio Grande mesmo, o Fomentar (Fundo de Fomento Automotivo), da GM, (General Motors, em Gravataí). E a negociação feita com a Ford também foi importante, tinham questões judiciais, e recolhemos dinheiro (indenização de R$ 216 milhões da multinacional para o Estado por não ter instalado uma fábrica). Tanto é verdade que a Ford, em 2015, eu acho, instalou em Gravataí um centro de distribuição de peças. Venceu aquela dificuldade política, aquela "crisezinha" que existia (desistência de instalar uma montadora no governo Olívio Dutra, PT, 1999-2002), é bom recuperar, estamos em outra etapa, vamos criar outro ambiente que seja mais favorável. Tanto que fui à Alemanha, à França buscando investimentos, e agora estamos indo ao Japão. JC – Buscar investimentos? Sartori – Também. Mas lá sou convidado, eles também têm interesses. Com a Alemanha, teremos boas novidades. Quando a Fraport começar a operação do Aeroporto Salgado Filho, em junho ou julho, com certeza vai trazer junto muitos
outros investimentos alemães. Espero que possa avançar o Medical Valley, já que o Rio Grande do Sul tem uma cadeia extraordinária de formação médica e da área de saúde, na tecnologia de saúde. JC – O senhor falou em incentivos fiscais. O Regime de Recuperação Fiscal proposto pela União prevê a retirada de parte dos benefícios. Sartori – O que estava proposto era a redução de 20% de incentivo fiscal (no texto enviado ao Congresso). Na negociação com o governo federal, conseguimos que a redução do incentivo fiscal ficasse em 10%, mas sempre depois negociar setor a setor. E temos um
“Temos que negociar separadamente (incentivos fiscais) dentro daquilo que é possível (o Estado) fazer” projeto na Assembleia, desde 2015, de redução de 30% dos créditos presumidos. JC – Esse projeto previa redução de 30% dos incentivos de 2016 até 2018. Estamos em meados de 2017. Vai continuar igual o projeto, ou muda a data? Sartori – Vai continuar do mesmo jeito. JC – O projeto que está na Assembleia é 30% de crédito presumido, não é o bolo todo de incentivos fiscais. Sartori – Não é do bolo todo. Independentemente disso, temos negociado setor a setor. Inclusive houve reduções ao longo dos últimos dois anos e cinco meses.
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Sartori quer finalizar a obra da RS-118 até o próximo ano “Podem dizer que, para nós, a prioridade número um é a RS-118.” O governador José Ivo Sartori é enfático ao projetar as obras de duplicação da rodovia na Região Metropolitana. O Estado está fazendo o trabalho de recuperação e quer terminar a duplicação até 2018 com recursos próprios. Paralelamente, trabalha para conceder pelo menos três ou quatro rodovias estaduais nesta gestão, parte do programa de concessão de estradas gaúchas por 30 anos, matéria já aprovada na Assembleia Legislativa. Nesta parte final da entrevista, Sartori também fala de medidas na área da segurança pública. JC – O governo fará obras na rodovia RS-118 por conta própria? Sartori – Vamos fazer por nossa conta. Fizemos boa parte da recuperação, o ambiente já é um pouco diferente, mas faltavam projetos para acessos, viadutos, elevadas, tivemos que concluir tudo isso. Mas os investimentos vêm sendo feitos desde o ano passado. Na última licitação, não houve ninguém que desejasse fazer. Deu deserta. Estamos fazendo um esforço para que a RS-118 seja concluída em 2018. JC – A duplicação? Sartori – Tudo, toda a obra. Podem dizer que, para nós, a prioridade número um é a 118. JC – E a questão das desapropriações na margem da rodovia? Sartori – Ainda têm muitas coisas a serem feitas. É um custo elevado com a transferência (das pessoas que vivem ali), mas vai se fazendo e, pelo menos, não aumentou muito. Hoje, a 118 já está em condições melhores de trafegabilidade. Existem coisas que precisaram ser refeitas. São três lotes (de obras), alguns estão mais adiantados, outros menos, mas agora têm projetos andando, e vamos tocar. JC – O governo do Estado aprovou a concessão de estradas por 30 anos. Haverá alguma rodovia concedida no seu governo? Sartori – Eu espero. Mas, primeiro, quero que a coisa seja bem-feita. Têm questões burocráticas, de projeto... Já negociamos com o governo federal tudo aquilo que pudesse ser encaixado entre as rodovias federais, que tivessem o mínimo de parametrização concomitante com as concessões do Rio Grande do Sul. Vamos dar o exemplo da BR-116 e da RS-122. Existe paralelismo. Por que não fazer de
forma conjugada? Nos interessa muito tudo aquilo que vem de Santa Catarina para o Rio Grande do Sul, que é federal, que pudesse estar ligado com as rodovias estaduais, para que isso significasse corredores em direção ao porto do Rio Grande. E estamos sendo ajudados pelo governo de São Paulo, que é quem mais avançou nas concessões. Temos consultoria para ver a modelagem como um todo. Existe uma legislação a ser cumprida. Tudo o que é apressado dá um pouco errado. Queremos que seja bem feito. JC – O governo é quem decide quais estradas serão concedidas? Sartori – Não passa mais pela Assembleia, já foi aprovada a mudança. Temos que cumprir o marco regulatório e vamos apresentar o conjunto do que vai ser concedido. JC – E o senhor tem ideia de
“Seria importante para o Estado chegar a três ou quatro (rodovias concedidas) até 2018” FREDY VIEIRA/JC
quantos quilômetros seriam concedidos? Sartori – Vai depender de muita coisa: legislação, projetos, o que envolve parte que vai ser duplicada, outra parte não vai ser duplicada. JC – O senhor deu como exemplos a BR-116 e a RS-122. Há outras estradas atrativas? Sartori – Se conseguirmos chegar a três ou quatro (rodovias concedidas) até 2018, seria extremamente importante para o Estado. Se falou muito na RS-324, de Passo Fundo a Nova Prata. JC – Muitos projetos do governo vão ficar para o último ano de mandato, 2018. A marca da sua gestão será o ajuste fiscal, ou tem outra medida a destacar? Sartori – Não abandonamos a política social, e tem dado resultados. As escolas têm outro ambiente, investimos na recuperação em torno de R$ 100 milhões. Outra questão é a segurança, trabalhar criança, adolescente, jovem. Tínhamos a pretensão, no primeiro ano, de chegar a 100 escolas com a Comissão Interna de Prevenção aos Acidentes e à Violência Escolar (Cipave). Estamos perto hoje de 2,2 mil já com as Cipaves organizadas, com a comunidade escolar, o que ajudou a criar um ambiente de maior serenidade na vida escolar. Temos muito caminho pela frente... JC – Talvez, o tema mais controverso do seu governo seja a segurança pública. Hoje, as pessoas têm medo de sair na rua... Sartori – A maioria dos índices melhorou nos últimos dois anos. Colocamos mais efetivo, estamos fazendo concurso para a Susepe, IGP. Na Brigada Militar, já colocamos um bom número, e agora deverão entrar, em junho, julho, mais 1.500 concursados, que estão em trabalho de preparação bastante adiantado. Então, em questão de um mês e pouco, teremos mais efetivo, o que permitirá retirar da Grande Porto Alegre aqueles (PMs) que vieram do Interior, diminuir a hora extra. Sempre vai precisar fazer novos concursos. Tanto que, desde o início do governo, abrimos exceção (para contratar servidores) nas áreas da segurança e educação. Sempre disse que, quando sobrasse recurso, iríamos investir na segurança. Estamos fazendo isso, e as pessoas já estão percebendo. E, ao final de 2018, vamos ter 5 a 6 mil novas vagas em presídios.
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Dia da
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AUTOMOTIVO JONATHAN HECKLER/JC
Montadoras estão no caminho da estabilidade A indústria automobilística parece ter encontrado o caminho para a estabilidade. Pelo menos é o que indica o balanço do primeiro trimestre do ano divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Pelo segundo mês consecutivo, a produção da indústria automobilística registrou crescimento. As 234,7 mil unidades fabricadas em março representam crescimento de 18,1% ao se comparar com as 198,8 mil do mesmo período de 2016. O acumulado da produção no primeiro trimestre atingiu 609,8 mil autoveículos, aumento de 24% frente as 491,7 mil do ano passado. “O mês de março foi bom, mas mesmo com um resultado superior em relação a 2016, continuamos com uma capacidade ociosa elevada, o que é especialmente complexo para as empresas. Precisamos aguardar o desempenho dos próximos meses para ter um cenário
GM comemora sucesso do Onix A GM, através de sua marca Chevrolet, conquistou a liderança do mercado brasileiro em 2016 e lidera o ranking da América do Sul há 16 anos consecutivos. O vice-presidente da GM Mercosul, Marcos Munhoz, comemora ainda o sucesso do Onix. O modelo foi o carro mais vendido no Mercosul nos últimos dois anos e segue líder em 2017. Apesar da crise, a empresa mantém os planos de investimentos para o Brasil. “Estamos investindo R$ 13 bilhões entre 2014 e 2019/2020”, afirma o executivo. A unidade de Gravataí é a maior fábrica de veículos do Hemisfério Sul e uma das mais eficientes e produtivas da GM no mundo, segundo Munhoz. “Recentemente, renovamos os modelos Onix e Prisma e lançamos o Onix Activ, todos produzidos na linha de Gravataí”, conta. O vice-presidente disse que, no ano passado, a empresa lançou 12 modelos novos e renovados. “Neste ano, já lançamos o novo Tracker e acabamos de confirmar o lançamento do Chevrolet Equinox (SUV médio) para o segundo semestre. Isso vai complementar a nossa família de SUVs e Crossovers no País, que conta com Onix e Spin Activ, Tracker e Trailblazer”, completa.
mais claro, mas estamos no caminho da estabilidade. O destaque positivo está nas exportações, pois registramos melhor resultado histórico no primeiro trimestre”, afirma o presidente da Anfavea, Antonio Megale. As exportações apresentaram uma expansão de 64,6% se comparadas com março de 2016. No acumulado de 2017, foram exportadas 172,7 mil unidades, 69,7% superior as 101,8 mil do primeiro trimestre do ano passado. A Anfavea prevê crescimento nas vendas internas de 4% e retomada mais robusta no segundo semestre. “Esperamos que ocorra maior crescimento, o que deve compensar a estabilidade do primeiro semestre”, diz Megale. O número de trabalhadores diminuiu 6% nos últimos 12 meses, atingindo em março 121,1 mil empregados. A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
(Fenabrave) também aposta em uma possível recuperação no segundo semestre, dependendo dos rumos da política e economia do País. Os últimos dados da entidade revelam que, para o setor da distribuição de veículos, o mês de março apresentou crescimento de 37,91% em relação a fevereiro. Foram emplacadas 282.631 unidades em março, contra 204.933 no mês anterior. Já na comparação entre março de 2017 e o mesmo período de 2016 (293.900 unidades), houve queda de 3,83% nos emplacamentos. O presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, avaliou 2016 como “o pior da história da distribuição de veículos no Brasil nos últimos 11 anos”. Segundo ele, este foi um dos setores da economia que mais sofreu com a crise, com o mercado retroagindo a volumes equivalentes aos anos de 2005 e 2006.
Produção cresceu em março, chegando a 18,1% em relação a 2016
Agrale busca novos mercados internacionais A Agrale, líder do Grupo Stedile, que engloba também as empresas Agritech Lavrale S.A., Fundituba e Fazenda Três Rios, está focada na ampliação da sua presença no mercado internacional. A expectativa para este ano é exportar de 25% a 30% da produção de ônibus, tratores e caminhões. Hoje, a Argentina é o país com maior presença de produtos da marca de Caxias do Sul. Segundo o diretor comercial, Edson Ares Sixto Martins, a empresa vende para o país vizinho há mais de 40 anos. JULIO SOARES/OBJETIVA/DIVULGAÇÃO/JC
Executivo espera mais rentabilidade
“Em 2005, constituímos a Agrale Argentina, estabelecendo lá nossa própria rede de distribuidores. Três anos mais tarde, instalamos em Mercedes, província de Buenos Aires, nossa fábrica própria. Atualmente, somos líderes na produção e venda de ônibus urbanos com motor traseiro e de micro-ônibus na Argentina”, diz ele. A empresa gaúcha também tem negócios com a Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e outros países da América Latina, África e Oriente Médio. Quanto ao mercado interno, Martins diz
que a recessão é grave e que a montadora trabalha para alcançar, pelo menos, os mesmos resultados de 2016. O segmento de chassis para ônibus e caminhões registrou quedas significativas nos últimos anos. Segundo ele, no final do ano passado, o mercado de ônibus era um terço do que foi há três anos. “De todos os segmentos em que a Agrale atua, o de máquinas agrícolas é o que está em uma trajetória de melhora. O primeiro trimestre deste ano já registrou crescimento em relação ao mesmo período do ano anterior”, analisa.
Randon aposta na gestão para ser mais competitiva Maior fabricante de reboques e semirreboques da América Latina, a Randon S.A., de Caxias do Sul, fez da crise uma oportunidade para reestruturar a empresa, enxugar custos fixos e se tornar cada vez mais competitiva. “Se observarmos a crise de 2008/2009 na Europa, vemos que os sobreviventes voltaram mais fortes. Nesses últimos três anos, olhamos para dentro da empresa e fizemos o trabalho de casa, pois até 2014 estávamos focados no crescimento rápido do mercado e nas necessidades dos clientes”, afirma o vice-presidente de Administração e Finanças da Randon S.A., Daniel Randon. Para ele, o maior desafio na recessão é buscar a sustentabilidade da empresa. “Seguramos os investimentos, mas não deixamos de fazer aportes necessários em segurança, saúde e meio ambiente. Também investimos em tecnologia e desenvolvimento de produtos e matérias-primas para nos tornarmos ainda mais
competitivos”, explica. A redução do mercado interno fez com que o grupo tivesse que reduzir postos de trabalho. O executivo lembra que no setor de implementos, por exemplo, a empresa tem capacidade de produção de 2 mil reboques/mês, mas em 2016 a média ficou em menos da metade. Em todo grupo Randon, de 2014 ao início de 2017, o número de colaboradores caiu de 12 mil para 7,4 mil. Randon diz que a empresa está trabalhando com uma nova realidade, com mercado menor e que espera uma reação a partir do segundo semestre do ano. “Acreditamos que 2017 seja um ano desafiador. Estamos com perspectiva de PIB zero ou pequeno crescimento. O importante é que paramos de cair, as frotas precisam ser renovadas, o agronegócio está em um bom momento e temos perspectivas de juros menores, com chances de fechar 2017 com mais rentabilidade”, completa.
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ENTREVISTA DUDU LEAL/DIVULGAÇÃO/JC
Para presidente da Fiergs, 'o ano de 2017 será de estabilização' O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, diz que aos poucos o empresariado está recuperando a confiança, essencial para vencer a recessão. Ele acredita que 2017 será o ano da estabilização e de começar a recuperar as perdas. Para isso, defende mudanças nas leis trabalhistas e tributária e investimento em infraestrutura. Jornal do Comércio - Qual sua avaliação do atual momento da economia brasileira? Heitor José Müller - Completamos três anos de recessão e tudo isso foi construído em um passado recente. Ainda estamos sofrendo consequências de intervenções na economia que não foram bem-sucedidas. Vivemos a maior e mais demorada crise econômica. No entanto, percebemos hoje uma perspectiva um pouco melhor. O índice de confiança do setor industrial estacionou, e a confiança é o item número um para sairmos da recessão e do pessimismo.
JC - O último Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei-RS) mostrou empresários mais otimistas. Este pode ser o ano da retomada do crescimento? Müller - O índice de confiança parou de piorar. Não estamos mais diminuindo a produção, estamos estabilizados e podemos até crescer, mesmo que pouco. O caminho para recuperarmos o que perdemos é longo. Alguns setores, como o metalmecânico, remontam resultados de 2010, mas agora estão estabilizando. Devemos crescer de 0,5% a 1% em 2017, ano da estabilização. Crescimento só a partir de 2018 em diante, de forma muito pequena. JC - O que impede um crescimento maior? Müller - Temos mais 14 milhões de desempregados que estão consumindo menos. Não adianta produzir e lançar no mercado se a dona de casa não consome. Também temos dificuldade para exportar, porque a relação dólar versus real é ruim. A indústria brasileira
tem uma tributação embutida dentro dos seus custos, exportamos também impostos, ao contrário de outros países. Nossa exportação de produtos manufaturados, por exemplo, definhou há muitos anos. Importamos mais manufaturados que exportamos, uma inversão do mercado que perdemos mundo afora. JC – O que a indústria nacional precisa para exportar mais? Müller - Além do câmbio variável e impostos, temos uma série de entraves e atrasos em relação a outros países, como as leis trabalhistas. Nossa indústria tem um custo escondido na relação trabalhista que nunca se sabe quanto realmente se está pagando. Também enfrentamos sérios problemas de infraestrutura nas estradas, portos e aeroportos. JC - Qual a expectativa para as exportações gaúchas neste ano? Müller - Em fevereiro exportamos mais manufaturados do que o período de 2016. Temos esperança de que possa continuar, mas para isso o dólar tem que melhorar.
Müller projeta crescimento só em 2018
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JOHN DEERE/DIVULGAÇÃO/JC
MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Fartura no campo se reflete nas fábricas A previsão de uma safra recorde de grãos - que pode chegar a 219 milhões de toneladas neste ano, 33 milhões a mais do que em 2016 - motiva os investimentos no campo e reflete diretamente no setor de máquinas agrícolas. Na contramão do resultado de outros setores da indústria de transformação, o setor deve crescer 15% este ano. O balanço do primeiro trimestre do ano divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias registraram expansão de 41,1% quando comparadas às 9,8 mil unidades deste ano com as 6,9 mil de 2016. O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos, diz que 2015 já foi um ano de recuperação e que em 2016 o faturamento dos cerca de 360 associados da entidade registrou aumento de 12%. “O primeiro semestre do ano passado foi muito ruim em função da instabilidade política, mas na segunda metade do ano tivemos uma
boa retomada e fechamos com saldo positivo”, diz ele. As exportações também começaram bem em 2017, com crescimento de 40,7% entre janeiro e fevereiro. As máquinas fabricadas no Brasil são exportadas principalmente para os países da América Latina e da África. “No Brasil temos todos aos players mundiais e a melhor tecnologia do mundo. As máquinas brasileiras não devem nada às fabricadas lá fora. Nosso setor é forte em função do tamanho da agricultura brasileira”, afirma Bastos. Para o presidente da entidade, João Carlos Marchesan, o crescimento do setor é resultado da pujança do agronegócio brasileiro e de sua capacidade de exportação de soja, milho e de toda a cadeia de proteína animal. Conforme ele, os produtores estão cientes da importância da troca do maquinário para modelos mais modernos e eficientes – o que, em um efeito cascata, resulta em uma boa colheita, aumento da demanda e mais recursos para investir em novos equipamentos. O presidente do Sindicato das Indústrias e Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul
(Simers), Claudio Bier, atribui o resultado positivo à supersafra e à capitalização do setor, que está animado. No entanto, o dirigente está preocupado com a intenção do governo de atrelar os financiamentos ao Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic). “Nosso agricultor já sofreu muito com taxa de juros variável. Ele é muito arredio a esse sistema de financiamento. Então, estamos pedindo ao governo que reveja essa posição porque vai ser muito ruim para todo o setor. Não podemos ser penalizados por sermos competentes. Hoje temos áreas onde produzimos soja mais que os Estados Unidos”, afirma. Bier diz ainda que o sindicato está retomando o programa Mais Alimentos que é uma linha de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) que financia investimentos para a modernização da propriedade rural familiar. A linha permite ao agricultor familiar investir em modernização e aquisição de máquinas e de novos equipamentos, correção e recuperação de solos, resfriadores de leite, melhoria genética, irrigação, implantação de pomares e estufas e armazenagem.
Setor estima crescer 15% ao longo de 2017
Com cinco plantas industriais no País, John Deere considera o Brasil um mercado estratégico Líder mundial na produção de equipamentos agrícolas e florestais e uma das maiores fornecedoras de produtos e serviços para construção e equipamentos para gramados, a John Deere tem cinco fábricas do Brasil, sendo duas no Rio Grande do Sul: de colheitadeiras e plantadeiras, em Horizontina, e de tratores, em Montenegro. Nos últimos quatro anos, os investimentos em novas fábricas, ampliação da capacidade produtiva e fortalecimento da área de logística giraram em torno dos US$ 310 milhões. Apesar do momento conturbado por
qual passa o País, a empresa garante que seguirá investindo no mercado interno. “O Brasil é muito importante para a empresa. Seguiremos investindo na modernização das fábricas”, afirma o diretor de Assuntos Corporativos da John Deere para América Latina, Alfredo Miguel. Em março, a John Deere abriu em Campinas (SP) um Centro de Agricultura de Precisão e Inovação. O diretor diz que a crise impactou nos negócios em 2016, mas que em dezembro já foi possível perceber uma melhora. O ano de 2017 seguiu a mesma tendência. As vendas de fevereiro, se comparadas com o
mesmo mês do ano anterior, tiveram aumento de 25,2%. “Os nossos clientes são incentivados, ou não, a partir da situação econômica do País. O produtor não quer ter surpresas durante o Plano Safra”, comenta Miguel, ressaltando a importância de o governo federal anunciar um plano claro, com valor real de recursos e as taxas de juros que serão aplicadas. “Esperamos um Plano Safra 2017/2018 muito melhor, pois o produtor está bem preparado”, garante. A John Deere exporta para aproximadamente 50 países, incluindo 22 nações da Comunidade Europeia. Américas do Sul e
Central, além da África, estão entre as regiões mais significativas para os negócios da John Deere Brasil. A Argentina é o maior mercado em colheitadeiras, respondendo por cerca de 40% das exportações e deve ter um bom resultado em 2017, segundo o diretor da empresa. Em tratores, o maior mercado é o Paraguai, que representa 40% das exportações. No segmento de plantadeiras, apenas 10,2% são exportados, sendo Paraguai, Uruguai, Venezuela, Bolívia e África os principais destinos. No segmento de tratores, um total de 7% da produção é exportado.
Yara ampliará a produção com um investimento bilionário no Complexo de Rio Grande Com investimento de R$ 1,3 bilhão até 2020, o Complexo de Rio Grande da Yara Brasil aumentará a produção anual de fertilizantes de 750 mil para 1,3 milhão de toneladas e a capacidade de distribuição de 1,7 milhão para 2,6 milhões de toneladas. A proposta é transformar o espaço no maior e mais
moderno parque de produção e mistura da América Latina. O projeto é dividido em três fases e, ao fim da primeira, em junho de 2018, o polo irá contar com novas linhas de mistura e granulação, linhas de ensaque 100% automatizadas, além de um acréscimo de armazéns de fertilizantes e matérias-primas de
e uma área logística para carregamentos e distribuição. A segunda etapa de obras será finalizada em 2019, com a construção de mais um armazém, linhas misturadoras e de ensaque, além da unidade de acidulação. Já a terceira e última fase, com finalização em 2020, contemplará a automatização
da unidade 3. O complexo também terá novos equipamentos utilitários para o processo industrial, uma área remodelada de descanso para os caminhoneiros, uma caldeira para produção de vapor e uma planta de tratamento de águas residuais. Segundo o vice-presidente de Produção da Yara Brasil, Leonardo
Silva, a empresa já havia realizado aportes no complexo, que incluíram a instalação de um novo sistema de esteiras, aumentando as interligações do armazém com o píer. Também comprou maquinário, reformou o píer, modernizou a galeria e fez melhorias ambientais, em um total de R$ 225 milhões investidos.
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METALMECÂNICO SIMECS/DIVULGAÇÃO/JC
Depois dos péssimos resultados em 2016, expectativa é de uma estagnação da queda neste ano
À espera da retomada A estagnação econômica e o recuo nas vendas de veículos pesados no ano passado repercutiram de forma negativa nas empresas dos segmentos automotivo, eletroeletrônico e, consequentemente, metalmecânico da Serra. O maior polo do setor no Estado conta com 3.500 empresas em 17 municípios da região e passa por um momento de desafio. A queda no faturamento foi de 21% em relação a 2015, segundo os dados do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs). O presidente da entidade, Reomar Slaviero, informa que 2016 foi o pior dos últimos anos e que ainda é cedo para saber como 2017 vai se comportar, embora os primeiros resultados indiquem uma estagnação da queda. “Este ano
começou devagar e precisamos que seja melhor, pois nossa situação é muito preocupante. Vivemos os piores momentos da nossa história”, afirma Slaviero. Segundo o dirigente, a retração nas receitas se deu nos três setores básicos da economia industrial local: automotivo, eletroeletrônico e metalmecânico. No automotivo, segmento de maior impacto econômico na cidade e região, a queda no faturamento das empresas chegou a 21,5%. No mercado eletroeletrônico o recuo foi ainda mais crítico, quase 32% de diminuição nas receitas, praticamente um terço a menos do que em 2015. As exportações, mesmo embaladas por um câmbio mais favorável, apresentaram desempenho negativo de 6,49%. “O ano passado foi o pior para nós, com um faturamento de
R$ 11,2 bilhões. Tendo como base a média das receitas anuais no período 2010-2013, de R$ 24 bilhões, observamos uma queda para R$ 20 bilhões em 2014 (-16,6%), R$ 14,2 bilhões em 2015 (-40,8%) e R$ 11,2 bilhões em 2016 (-53,3%). Ou seja, o faturamento da indústria, em 2016, foi 53% menor do que a média observada em anos de produção normal”, afirma. A queda nas vendas da indústria refletiu diretamente no fechamento de postos de trabalho. Em 2016, o saldo negativo de empregos (contratações menos demissões) foi de 3.707 postos fechados. A indústria encerrou o ano com 10% a menos de trabalhadores do que em dezembro de 2015. No acumulado dos últimos três anos foram mais de 18,1 mil vagas a menos.
Setor busca ajuda do governo federal Em todo País, a indústria de máquinas e equipamentos encerrou fevereiro de 2017 com 292,6 mil pessoas ocupadas, mesmo número de janeiro, o que poderia sinalizar a estabilidade do emprego no setor. Na comparação interanual houve redução de 18,3 mil postos de trabalho, queda de 5,9%. Desde 2013, quando teve início a quebra de faturamento da indústria de máquinas, já foram eliminados mais de 87 mil postos de trabalho, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “O setor puxa toda a economia da Serra Gaúcha e se não forem tomadas medidas imediatas vamos perder mais postos, pois temos empresas com grandes
dificuldades, prestes a fechar”, diz o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Reomar Slaviero. Em meio à crise, o setor reivindica a liberação de linhas de créditos acessíveis. A preocupação é a mesma do Sindicato das Indústrias de Metalmecânica e Eletroeletrônicos de Canoas e Nova Santa Rira (Simecan). O presidente Roberto Machemer diz que em 2015 muitas vagas de emprego foram fechadas e que a situação permanece inalterada. “As retomadas foram muito tímidas, ninguém quer empregar por falta de perspectiva”, diz. As exportações que poderiam trazer alento, também estão em ritmo lento.
Sul Corte cresceu no primeiro trimestre Líder na fabricação e comercialização de serras circulares, serras de fita e máquinas de corte industrial no Brasil, a Sul Corte, de Caxias do Sul, garante estar preparada para os desafios e já comemora a retomada do crescimento. Segundo Eduardo Esteves, do marketing da empresa, nos três primeiros meses de 2017, houve 28% de crescimento em relação ao mesmo período do ano passado. O destaque foram os 42% de crescimento da unidade de Joinville (SC). “A meta é realizar 40% de crescimento neste ano”, afirma Esteves. O mercado externo representa cerca de 30% do volume de vendas na matriz com produtos distribuídos em mais de 30 países, nos cinco continentes.
“Participações nas mais importantes feiras do setor e prospecção de novos clientes no Brasil e do mundo nos permitem esperar boas perspectivas de crescimento para 2017, em especial na Europa e regiões Sudeste, Norte e Nordeste do País”, diz ele. A empresa aposta na adoção de tecnologias digitais relacionadas ao seu processo produtivo para tornar sua gestão ainda mais inteligente e interligada, rumo à era da indústria 4.0. Por investir em tecnologia e automação, mesmo com a crise, a empresa reduziu pouco seu quadro de colaboradores. Hoje, conta com mais de 120 funcionários, distribuídos em três unidades (Caxias do Sul, Joinville e Valinhos-SP).
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SIDERURGIA
ARQUIVO GERDAU/DIVULGAÇÃO/JC
Exportação é caminho para o crescimento Os últimos dois anos foram os piores da história para a indústria brasileira do aço. As quedas foram tão acentuadas que superaram a crise mundial de 2008. E a tão esperada retomada não deve acontecer em 2017, segundo o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. “Em curto prazo não enxergamos uma retomada consistente da indústria da transformação, pois as medidas que o governo está tomando precisam de tempo para maturar. A queda de juros, por exemplo, deve levar de seis a sete meses para chegar a um patamar razoável”, diz. Com o mercado interno enfraquecido, o caminho para o crescimento a curto prazo é a exportação. No entanto, para isso acontecer, a entidade defende maior isonomia competitiva, proporcionada pela compensação dos tributos não recuperáveis das exportações e redução dos custos de financiamento que elevam o custo Brasil. “A solução parcial no curto prazo é a elevação da alíquota do Reintegra para 5%, conforme previsto na Constituição, e melhorias na formatação na linha de financiamento Exim (financiamento à produção e exportação de bens e serviços
brasileiros) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). Além disso, é preciso que seja estimulada a política de conteúdo local”, afirma Lopes, que entende ser urgente a compensação da não competitividade do aço brasileiro frente a outros países. Conforme o último balanço divulgado pela entidade, o consumo aparente de aço no primeiro trimestre deste ano apresentou alta de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a março desse ano, a produção cresceu 10,9%, canalizado basicamente para as exportações, que tiveram um crescimento de 17,4%. O resultado positivo das exportações deve-se à entrada em operação de uma nova usina, a Companhia Siderúrgica do Pecém. Apesar dos bons resultados, o Instituto Aço Brasil prevê que a produção brasileira de aço bruto encerre o ano com um crescimento de 3,8% em relação a 2016, totalizando 32,5 milhões de toneladas. Já para as vendas internas de produtos siderúrgicos, está previsto alta de 1,3%, chegando a 16,7 milhões de toneladas, patamar similar ao de 2006. O consumo aparente de aço no País deve ser de 18,7 GILMAR LUÍS/ARQUIVO/JC
André Gerdau Johannpeter destaca redução da dívida líquida em 26%
O SETOR EM NÚMEROS NO PAÍS
29 usinas
48,9 milhões de
33,3 milhões de
toneladas/ano de aço bruto de capacidade instalada
toneladas de produção de aço bruto
111.509 colaboradores
11º exportador mundial de aço (exportações diretas)
Exporta para mais de
100 países
FONTE: INSTITUTO AÇO BRASIL
Queda da indústria brasileira do aço nos últimos anos foi tão acentuada que supera a crise mundial de 2008 milhões de toneladas, o que representa acréscimo de 2,9% em comparação com o ano passado. Caso esse resultado seja confirmado, serão mantidos os padrões de uma década atrás. Segundo Lopes, o mercado internacional do aço enfrenta ainda excesso de capacidade de produção, fazendo com que as práticas predatórias e a concorrência desleal prosperem. “No mundo temos um excedente de capacidade próximo a 800 milhões toneladas. O setor passou a trabalhar com grau de ociosidade muito elevado dos seus equipamentos. A siderurgia deve trabalhar sempre acima de 80% de utilização de capacidade instalada e hoje se trabalha com 60% e em alguns casos até 50%”, afirma o
presidente-executivo do insituto. Ainda conforme o dirigente, em 2016 vários equipamentos siderúrgicos foram fechados no País. Os dados da entidade indicam que no final do ano passado cerca de 80 equipamentos estavam paralisados. Também foram contabilizadas mais de 45 mil demissões em todo Brasil de 2014 a 2016, sendo mais de 11 mil somente no segundo semestre de 2016. Os investimentos adiados chegaram a aproximadamente US$ 3,2 milhões. “Existe luz no final desse longo túnel, mas isso passa por decisões que devem ser tomadas em caráter emergencial. Não existe retomada da economia brasileira sem que a indústria de transformação esteja inserida neste contexto”, completa Lopes.
HANG GEORG/DIVULGAÇÃO/JC
Lopes não vê retomada em 2017
Gerdau enfrenta período de desafios com ajustes e gestão Para a Gerdau, as perspectivas para 2017 são de um mercado ainda desafiador, mas com uma recuperação gradual da demanda por aço. Diante desse cenário, a empresa tem realizado ajustes e esforços de gestão que tornaram suas estruturas mais ágeis e simples. A empresa também pretende seguir cuidando com disciplina dos indicadores financeiros e dedicando esforços para modernização cultural, assim como para as iniciativas de inovação digital que estão trazendo importantes ganhos de produtividade e redução de custos para as operações. O foco dos investimentos em 2016, e que se manterá em 2017, foi em ativo imobilizado. Os destaques foram os investimentos em aços planos, com a entrada em operação do laminador de chapas grossas na Usina Ouro Branco, em Minas Gerais, e
a finalização da construção da aciaria na Argentina, que entrou em operação em março. Para este ano, os investimentos devem ser direcionados para melhorias de produtividade e manutenção das plantas. A Gerdau encerrou o ano de 2016 com receita líquida consolidada de R$ 37,7 bilhões, uma redução de 14% em relação a 2015. A causa principal foi o menor volume de vendas de aço em todas as operações e da alienação das unidades aços especiais da Espanha. As vendas físicas e a produção somaram 16 milhões de toneladas, apresentando, respectivamente, decréscimo de 8% e 7% em relação ao ano anterior. "Apesar dos desafios do setor do aço globalmente e da recessão econômica no Brasil, atingimos resultados positivos no exercício e, ao mesmo tempo, cumprimos as prioridades estabelecidas para 2016,
graças ao forte esforço de gestão de nossas equipes em todas as operações”, avalia o diretor-presidente (CEO) da Gerdau, André B. Gerdau Johannpeter. Segundo ele, em 2016, a empresa alcançou R$ 2,3 bilhões de geração de caixa livre, reduziu os investimentos em 43% em relação ao ano anterior e diminuiu em 13% as despesas gerais e administrativas. “Com isso, conseguimos reduzir a dívida líquida em 26% e melhorar nossos indicadores de alavancagem. Somam-se a isso os desinvestimentos de R$ 1,3 bilhão realizados em 2016, fruto de nossa estratégia de focar em ativos com maior rentabilidade”, afirma. Além disso, as exportações apresentaram aumento de 9%, atingindo 2,4 milhões de toneladas, devido ao esforço comercial junto ao mercado internacional.
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ANDRÉ MAJOLA/DIVULGAÇÃO/JC
MÓVEIS
Maior polo do País sente os efeitos da recessão Maior polo produtor de móveis do País, o Rio Grande do Sul conta com cerca de 2,7 mil empresas que respondem por 19% do total de móveis fabricados no mercado brasileiro. Em 2016, as indústrias de móveis e colchões gaúchas faturaram R$ 10 bilhões e exportaram cerca de US$ 178,8 milhões, 32% da produção. Os principais mercados de destino foram Reino Unido, Uruguai, Peru, Estados Unidos, Chile e Argentina. O setor também é responsável pela geração de mais de 38 mil empregos. Mesmo com todo esse potencial, as empresas moveleiras sentiram os efeitos da recessão. Segundo a diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel) e da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do
Sul (Movergs), Cândida Cervieri, são praticamente três anos de baixas vendas e falta de uma política industrial e econômica. “A indústria foi impactada negativamente, afetando a competitividade e o nível de investimento. E, assim como todos os setores, tivemos que reduzir mão de obra”, diz. A queda da inflação e a redução da taxa de juros trazem um pouco de alento aos empresários, que projetam para este ano uma melhora gradual da economia, principalmente a partir do segundo semestre. “O posicionamento da indústria tem sido de cautela. Porém, os indicadores nos permitem projetar a retomada do crescimento”, analisa Cândida. A dirigente lembra que entre 2016/2015 foi registrado um decréscimo da produção, em torno de -7,7%. Já para o período
2017/2016, a previsão é de 2,2% de crescimento. “Se observarmos a exportação devemos crescer aproximadamente 5% no Brasil e 4,1% no Estado”, diz ela, ressaltando que o consumo aparente foi de -8,4%, no Brasil (2015/2016) e para 2017/2016 estima-se 1,6% (427,748 milhões de peças). O produto brasileiro é muito bem aceito no mercado internacional pela sua qualidade e design. No ano passado, as exportações somaram US$ 493 milhões. A meta para este ano é chegar a US$ 526 milhões. De acordo com a Abimóvel, no primeiro semestre de 2016 as vendas do setor gaúcho para outros países cresceram quase 10%. “As empresas do setor em geral optaram por fazer uso dessa estratégia, já que o mercado estava favorecido. Agora o momento é de muita
Crise afetou a competitividade e os investimentos da indústria cautela. Os contratos firmados estão sendo respeitados, mas as empresas estão mais contidas”, afirma Volnei Benini, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs). O último balanço da entidade mostra que, de janeiro a março, as exportações do setor somaram US$ 141 milhões, uma alta de 7,9%, se comparada ao mesmo período de 2016. Estados Unidos (25,9%),
Reino Unido (11,81%), Argentina (10,3%%), Uruguai (6,8%) e Peru (6,6%) foram os principais mercados. Segundo no ranking nacional de exportação, o Estado também teve resultados positivos, somando US$ 39,6 milhões, 1,6% a mais do que no ano passado. “Isso mostra a força do setor gaúcho, que, mesmo com adversidades, continua lutando para retomar o crescimento", completa Benini.
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COUREIRO-CALÇADISTA
Reconhecimento mundial O calçado nacional tem qualidade, tecnologia, design e flexibilidade para atender aos mais diversos públicos mundiais. Hoje, o produto Made in Brazil está presente em mais de 150 países e em nada deve aos importados. No entanto o alto custo de produção - com carga tributária entre as mais elevadas do mundo e infraestrutura cara e ineficiente - encarece o produto final. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), cerca de 15% da produção nacional é enviada para fora do País. Conforme o mais recente dado divulgado pela entidade, no primeiro trimestre do ano, a exportação – em volume – caiu 1,6% na relação com igual período de 2016. E os preços dos produtos brasileiros para o exterior aumentaram 16%. “Nossos calçados, em virtude da subvalorização do dólar, ficaram mais caros, pois nossos custos são em reais, hoje mais forte”, comenta o presidente executivo da entidade, Heitor Klein. Nos três primeiros meses do ano, o Estado seguiu como o maior exportador de calçados, 6,87 milhões de pares, que geraram US$ 113,66 milhões, altas de 6,4% em pares e 18% em dólares na relação com o mesmo período de 2016. Com isso, o Rio Grande
do Sul respondeu por quase 44% dos valores gerados pelos embarques de calçados no Brasil. O segundo exportador do País foi o Ceará. Já o setor de couros aposta no reconhecimento mundial do produto brasileiro para ter bons resultados com as exportações em 2017. Com cerca de 70% da produção voltada ao mercado externo – em torno de 28 milhões de peles anualmente –, a estimativa do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) é de crescer até 5% no envio de produtos para fora do País. Para o mercado interno, a entidade prevê estabilidade. Os mercados-alvo para o couro brasileiro em 2016 e 2017 são China, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Vietnã, Índia, Tailândia, Espanha e Polônia. “Nosso couro é reconhecido por ser um produto sustentável, com design e qualidade. O Brasil é pioneiro em todo o mundo ao instituir a Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB). Trata-se de um programa inédito por reconhecer empresas alinhadas ao tripé da sustentabilidade (economia, meio ambiente e sociedade), com avaliação de 173 critérios e com auditorias realizadas por organismos certificadores do Inmetro”, explica José Fernando Bello, presidente executivo do CICB.
Retomada a passos lentos VALTER PAESE/DIVULGAÇÃO/JC
ABICALÇADOS/DIVULGAÇÃO/JC
Klein estima melhora no segundo semestre do ano
O
mercado doméstico do setor coureiro-calçadista aponta, gradualmente, para uma retomada na demanda, mas que só deve ser sentida com mais força a partir do segundo semestre. “Isso se não tivermos nenhuma surpresa política no caminho que, como de praxe, sempre tem influências na economia”, observa o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Como o setor comercializa 85% da sua produção no mercado doméstico, a perspectiva é de encerrar o ano com um leve incremento na produção. Conforme dados da entidade calçadista, o setor vem registrando quedas nas vendas desde 2013, com uma acentuação a partir do segundo semestre de 2014. Klein acredita que o ano passado tenha
Paese diz que exportações ajudaram em 2016
sido o ápice desse movimento, quando foi registrado um revés de 15% nas vendas e uma queda na produção em torno de 2%. O quadro fez com que o setor também rompesse a barreira histórica dos 300 mil empregos diretos, encerrando 2016 com 284 mil postos gerados. Com a aprovação da regulamentação da terceirização, o dirigente da Abicalçados espera que haja uma maior produtividade para o segmento e mais segurança para as relações de trabalho. “Diferentemente do discurso de alguns, o projeto não tira os direitos consagrados na CLT. Pelo contrário, ele protege o trabalhador de forma dupla, já que regulamenta que caso a empresa terceirizada não cumpra com os encargos, o contratante da mesma deverá fazê-lo”, afirma Klein. No mercado há mais de 20
anos, a marca Anzetutto, de Novo Hamburgo, produz em média 16 mil pares de calçados por mês e emprega 130 pessoas. O diretor comercial da empresa, Valter Paese, diz que a exportação ajudou os resultados de 2016, já que as vendas internas diminuíram devido à retração do mercado e inadimplência. Do total de pares produzidos no ano passado (198.900), 17,50% foram embarcados para fora do País. Os principais compradores do produto gaúcho são Europa, América do Sul, Austrália, Emirados Árabes e África do Sul. A expectativa para este ano é de uma pequena melhora em comparação com 2016. “Pensamos que 2017 não é o ano da retomada total, mas sim de uma pequena melhora em relação a 2016. Acreditamos muito no nosso produto para um crescimento no mercado interno em torno de 10%”, afirma Paese.
Usaflex fortalece a marca com a abertura de franquias Mesmo com as dificuldades do mercado interno, a Usaflex, de Igrejinha, fechou 2016 com saldo positivo e as vendas mantidas próximas ao ano de 2015, afirma o COO da marca, Marcelo Cavalheiro. Os resultados mostram que houve 4.112.110 pares faturados e 4.066.929 produzidos. Deste número, mais de 157 mil foram exportados para mais de 20 países. Os principais compradores do produto brasileiro são Kuwait, Bolívia, Argentina, Uruguai, Arábia Saudita e Costa Rica. “O que fortaleceu a marca e as vendas em 2016 foram as aberturas de novas lojas franqueadas. Finalizamos 2016 com 26 lojas em operação”, diz o empresário. Segundo Cavalheiro, com a entrada dos novos gestores na empresa, a marca planeja um
crescimento acelerado para o futuro. O plano estratégico está baseado na ampliação do perfil das consumidoras e maior ênfase na relação moda/ conforto. Essa meta tem como base investimentos em marketing e tecnologia e o fortalecimento do canal de franquias. “Para este ano já enxergamos otimismo no mercado de forma geral”, observa. No final do ano passado, a empresa vendeu 69% do controle de sua operação para a WSC Participações S.A., empresa controlada pelo fundo de Private Equity Axxon Group, em parceria com o coinvestidor Sergio Bocayuva. A Usaflex tem 2,8 mil colaboradores, sete unidades (a oitava está em implantação), todas no Rio Grande do Sul, e capacidade produtiva de 25 mil pares/dia.
Jornal do ComĂŠrcio
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MULTIFOTO/DIVULGAÇÃO/JC
BORRACHA
Terceiro ciclo de queda A indústria de borracha – que se relaciona com diferentes segmentos da economia nacional, desde insumos para a produção agrícola até o fornecimento de componentes para a indústria petrolífera em águas profundas – enfrenta o terceiro ciclo de queda em um espaço de oito anos. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha no Estado do Rio Grande do Sul (Sinborsul), Gilberto Brocco, a crise atual é a mais intensa para o setor agregado do que para a indústria de pneumáticos. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Artefatos de Borracha (Abiarb) mostram que o setor de artefatos registrou em 2016 queda de 5,83% no valor bruto de produção em relação a 2015. Para este ano, a expectativa da entidade nacional é de que o valor bruto da produção cresça 2,75% em relação a 2016. “O primeiro ciclo teve como principal fator a crise econômica internacional de 2008 e resultou na maior retração da história. Em 2012, o setor passou por mais um forte ajuste que levou a produção a cair
10%. É muita volatilidade, que acaba prejudicando o planejamento empresarial”, diz ele. O cenário econômico de 2016 também não foi positivo. Conforme o balanço anual do sindicato, o pior resultado está na fabricação de peças técnicas, um reflexo do comportamento do mercado automobilístico. Segundo Brocco, a cadeia industrial da borracha continua padecendo com a crise prolongada. Ele afirma que todos os indicadores relativos ao desempenho do segmento do Rio Grande do Sul tiveram resultados negativos nesse início de ano. “Encerramos o primeiro trimestre com a utilização da capacidade instalada nas empresas em torno de 55%, ainda abaixo do verificado para o mesmo mês em 2016”, comenta. A queda de demanda das indústrias automotiva (principal cliente do setor) e da construção civil afeta diretamente o segmento da borracha. As exportações – que poderiam ser um alento neste momento de retração do mercado nacional – também estão em baixa. O Estado tem como seus principais parceiros internacionais os
Presidente do Sinborsul, Brocco prevê que recuperação do segmento deve ser tímida Estados Unidos e a Argentina, seguidos por Chile, México e Colômbia. Para virar esse jogo, o dirigente torce pela implantação de uma política fiscal com foco na redução das desigualdades de competitividade com outros estados, além da abertura de crédito e redução de juros. “Enfrentamos uma enorme carga tributária,
O GERAÇÃOE e a PUCRS realizaram uma pesquisa inédita no mercado gaúcho para conhecer o perfil dos empreendedores, o que eles pensam, quais são suas vocações e os motivos que os levaram ao empreendedorismo. Além de trazer aspectos importantes sobre quem desenvolve seu próprio negócio, a pesquisa também abordou as pessoas que empreendem dentro das empresas e organizações já consolidadas, os intraempreendedores. Conheça os principais resultados a partir do dia 25 de maio, baixe a pesquisa completa e veja mais curiosidades em www.geracaoe.com/pesquisaempreendedores. Apoio:
Realização:
taxa de juros elevadíssima e leis trabalhistas ultrapassadas. Outro ponto negativo é a falta de incentivo para que os empresários possam renegociar suas dívidas, já que as empresas estão sofrendo com a restrição ao crédito”, afirma. Em um cenário realista, a expectativa é de uma recuperação tímida em 2017.
Quinta-feira 25 de maio de 2017 Caderno especial do Jornal do Comércio Porto Alegre
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Indústria
Os entraves para o crescimento Para o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Artefatos de Borracha (Abiarb), Reynaldo Lopes Megna, o excesso de burocracia e a carga tributária elevada continuam sendo os principais entraves para indústria. “Estes fatores encabeçam o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no País”, diz ele, que acrescenta ainda a falta de investimentos em infraestrutura, o desaparecimento do crédito e a falta de uma política externa consolidada como outros empecilhos para o desenvolvimento. Megna explica que o setor da borracha ainda enfrenta o alto custo dos insumos de
produção, que foi agravado pela elevação de 12% para 25% a alíquota de importação da borracha nitrílica, segundo principal insumo do setor, utilizado na formulação de compostos de borracha para fabricação de artefatos vulcanizados. “Não bastasse tal medida, o governo decidiu elevar também a alíquota de importação da borracha natural de 4% para 14% em outubro de 2016, sendo este o principal insumo utilizado pela indústria de artefatos de borracha”, afirma. O dirigente diz que para um setor com margens de lucro apertadas, assolado por uma forte concorrência internacional, esses custos oneram ainda mais as finanças das empresas, provocando o
aprofundamento da crise. O comércio exterior também tem se mostrado estruturalmente deficitário. De acordo com a Abiarb, nos últimos três anos houve redução do déficit na balança comercial promovida pela queda da atividade econômica interna, com a retração do Produto Interno Bruto (PIB) do setor industrial e da demanda por importações. “Entre 2014 e 2016, vivenciamos a desvalorização do real encarecendo as importações”, observa Megna. O dirigente afirma que as exportações estão em tendência de queda desde 2012, influenciadas pela redução do ritmo de expansão do comércio mundial e pelo aumento da competitividade internacional. Os principais destinos das exportações brasileiras de artefatos de borracha são Argentina e Chile – sendo que cada país correspondeu em 2016 por aproximadamente 11,9% das exportações do setor –, Estados Unidos (10,4%), Colômbia (9,0%) e Paraguai, Peru e Venezuela, 7,5% cada.
SINBORSUL/DIVULGAÇÃO/JC
BORRACHA
Há 23 anos no mercado, Mercobor começará a exportar
De olho no Mercosul Há 23 anos no mercado e com quase 100 funcionários, a Mercobor, de São Leopoldo, se prepara para vender para fora do País. O diretor Gilberto Brocco conta que a equipe está fazendo cursos com o Senai para entrar neste mercado, principalmente no do Mercosul. “Já tivemos várias consultas para empresas do Paraguai, Argentina e Uruguai”, diz ele. A empresa tem no setor agrícola 50% do seu mercado. Graças a isso, não sentiu tanto os efeitos da crise econômica.
O diretor diz que os demais setores – autopeças, elétrico, construção civil, eletrônicos, mineração, petróleo e gás – caíram em torno de 20% e a empresa está com uma defasagem geral de 10%. “No momento, o mais importante, e que está em alta, é o setor agrícola, para o qual vendemos para as montadoras de tratores e colheitadeiras de grãos e cana de açúcar”, afirma. Para este ano, a expectativa é recuperar parte do que foi perdido em 2016.
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CELULOSE CMPC/DIVULGAÇÃO/JC
Setor registrou recordes seguidos de crescimento no Brasil, sendo 8,1% ao longo de 2016; volume maior veio com investimento em novas fábricas, como a da CMPC no Rio Grande do Sul CAROL CARQUEIJO/DIVULGAÇÃO/JC
Produção cresce 56% em 10 anos Enquanto o Brasil passou nestes últimos anos por uma forte crise econômica, com aumento de desemprego e queda do poder de compra no mercado interno, o setor de celulose registrou recordes seguidos de crescimento. Em 10 anos, a produção cresceu 56%, sendo 8,1% em 2016. “Investimentos em tecnologia e parques fabris são chaves do sucesso da produção brasileira de celulose”, afirma Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) e a atual presidente do International Council of Forest
and Paper Associations (Icfpa), conselho que reúne as associações mundiais do setor florestal. Com a instalação de novas fábricas no País, a indústria de árvores plantadas brasileira vive a expectativa de saltar do quarto para o segundo lugar em produção mundial de celulose já nos primeiros meses deste ano, ultrapassando o Canadá e a China. Entre julho de 2016 e meados de 2020, o Brasil passará a produzir mais 7,2 milhões de toneladas de celulose, com projeção de investimento em torno de R$ 28 bilhões. Segundo
Celulose Riograndense conquista novos mercados internacionais A CMPC Celulose Riograndense, de Guaíba, é uma empresa exportadora, com 90% da sua produção destinada ao comércio exterior. Em 2016, foram enviadas para fora do País 1.420.000 toneladas de celulose. Segundo o presidente da empresa, Walter Lídio Nunes, a demanda por celulose tem aumentado por duas razões: crescimento do PIB mundial – e sua correlação com o consumo – e o fechamento ou transformação de plantas de celulose no Hemisfério Norte devido à competitividade do Hemisfério Sul. “Assim, a produção guaibense entra no mercado mundial em uma janela da oferta e procura adequada.” Em 2015, além de manter posição junto a clientes internacionais, a empresa atuou no desenvolvimento de novos negócios. Nunes diz que isso resultou na conquista de mercado em vários países, como Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos, Índia e Indonésia, que foram somados aos já existentes nos continentes europeu, asiático
e americano. “O principal destino do nosso produto, em 2016, foi a China, que tem sido o maior importador de celulose de eucalipto brasileiro, seguido por Alemanha e Itália. Após um intenso trabalho, também conquistamos importante posição no mercado americano”, comemora. Com o contínuo crescimento da economia chinesa, aliado ao início de operações de várias fábricas consumidoras de celulose, a expectativa para 2017 é muito positiva. Os investimentos também foram fortes nos últimos dois anos, R$ 200 milhões na modernização da Linha 1 e em outras melhorias e cerca de R$ 20 milhões na revitalização e operacionalização do porto de Pelotas, o que permitiu o início do transporte de madeira da Região Sul para Guaíba e de celulose para exportação até o porto de Rio Grande. Para este ano, a Celulose otimiza as linhas de produção em Guaíba, que conta com 4.142 empregados permanentes e 21 mil indiretos.
a dirigente, esta conquista aumentará, ainda mais, a visibilidade do setor brasileiro no mercado internacional, agregando valor e reputação, além de potencializar o comércio e os investimentos. No último ano, as indústrias brasileiras produziram mais de 18,7 milhões de toneladas, um aumento de 8,1% sobre o volume registrado em 2015 (17,3 milhões de toneladas) e de 14% em relação aos números de 2014 (16,4 milhões de toneladas). O levantamento realizado pela IBÁ revela que as exportações tiveram grande relevância no resultado
expressivo deste segmento, atingindo patamares inéditos. Em 2016, o volume de celulose destinada a outros países superou 12,9 milhões de toneladas, um crescimento de 11,9% em relação a 2015 (11,5 milhões de toneladas) e 21,5% na comparação com 2014 (10,6 milhões de toneladas). De 2007 até 2016, o volume exportado praticamente dobrou. Em 2016, chegou a 68,7% da produção, principalmente para o mercado chinês. “A celulose brasileira é reconhecida internacionalmente, muito bem aceita devido à qualidade e sustentabilidade”, diz Elizabeth. CMPC/DIVULGAÇÃO/JC
Guaíba entrou no mercado mundial, diz Nunes
Elizabeth destaca qualidade
Consumo em alta O consumo por produtos florestais vem aumentando consideravelmente. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) prevê que, até 2050, a demanda por madeira triplique, sendo o Brasil um dos poucos países com capacidade para atender estes mercados que surgem. Neste panorama, segundo a presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), Elizabeth de Carvalhaes, duas novas áreas aparecem com potencial de gerar grandes oportunidades de geração de riqueza para o País: a precificação do carbono e a emissão de títulos verdes. “Esses temas precisam ir para o centro da mesa de discussões já em 2017, para que o Brasil, que tem um enorme potencial para se tornar um dos líderes destes novos mercados e, assim, captar bons investimentos no médio prazo, não perca mais está chance”, ressalta ela. Elizabeth destaca que o atual movimento em prol do clima deve aumentar a demanda por produtos sustentáveis, renováveis e recicláveis, como as florestas plantadas. Desta forma, o aumento da produção ocorrerá em conjunto com a preocupação ambiental, sendo o setor essencial para equilibrar o atendimento às demandas da população com capacidade dos recursos do planeta. “A expansão das florestas plantadas e restauração de áreas degradadas têm potencial de contribuir indiretamente com a redução do desmatamento ilegal, ao mesmo tempo em que aumenta estoques de carbono”, completa.
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Indústria
BRASKEM/DIVULGAÇÃO/JC
PETROQUÍMICA
Setor estima crescimento em 2017, embora pequeno A projeção do balanço econômico da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) é que o faturamento do setor em 2017 chegue a R$ 55,8 bilhões, ou seja, um aumento de 1% em relação a 2016, quando o valor foi de 55,3 bilhões. Este montante significou queda de 11,1% na comparação com 2015. Apesar do índice pequeno, a expectativa de retomada do crescimento já é encarada como positiva pelo presidente da entidade, José Ricardo Roriz Coelho. “Os dados indicam que o pior já passou”, diz ele. A projeção para 2017 é de que a produção física de produtos plásticos também apresente resultado positivo, com aumento de 1,24%
ante 2016 (6,32 milhões de toneladas). Os setores demandantes do plástico também vêm apresentando expectativas mais positivas. No entanto, os postos de trabalho deverão sofrer retração de 1,8% em relação ao ano anterior. A Abiplast prevê em 2017 o fechamento de 6 mil postos em todo País. No Rio Grande do Sul, a situação parece estar melhor. Somente em dezembro houve mais demissões que contratações em 2016, corte de 381 vagas. Em janeiro e fevereiro de 2017, a indústria do plástico gaúcha já gerou 682 vagas, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do RS (Sinplast-RS) Edilson Deitos.
“Não ficamos totalmente imunes a esse cenário, mas conseguimos nos descolar dos números negativos a nível nacional. Nossa queda de volume transformado foi muito próxima de zero e cinco empresas assinaram protocolo junto ao Fundo Operação Empresa (Fundopem), com investimentos previstos de R$ 35 milhões”, afirma o dirigente. Apesar da instabilidade política, Deitos garante que os empresários gaúchos estão mais confiantes. “Avançamos em discussões antigas, como em relação à lei trabalhista, e especificamente no caso da indústria, a questão da Norma Regulamentadora NR-12, com novas regras para fiscalização de máquinas
Abiplast prevê R$ 55,8 bilhões de faturamento, 1% a mais do que 2016 e equipamentos, demanda antiga e parcialmente atendida no início deste ano”, completa. Apesar do crescimento da demanda, alguns sinais trazem preocupação ao setor. Conforme a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o índice de vendas internas apresentou recuo pelo segundo mês consecutivo. O
resultado mostra desaceleração no ritmo de melhora de mercado, que vinha sendo percebido de 2016 até janeiro último. As importações no primeiro bimestre, em comparação ao mesmo período anterior, cresceram 67,4% em volume, sobretudo pelo aumento das compras de intermediários para fertilizantes, que cresceram 118%.
Gestão e foco para superar dificuldades
Braskem projeta investimento bilionário neste ano
As dificuldades de 2016 exigiram um esforço extra para a equipe da Herc, de Porto Alegre, que se focou na eficiência operacional, gestão de custos e ações direcionadas de mercado. Os diretores da empresa Roni Braun e Rubimar Gehlen da Silva ainda preveem um período de dificuldades a curto e médio prazos, mas, no futuro, é possível enxergar um cenário um
A Braskem planeja investir cerca de R$ 1,8 bilhão em 2017, dos quais a maior parcela é destinada ao Brasil, para manutenção, produtividade, eficiência operacional e programa de investimento para o uso de etano como matéria-prima no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. Segundo Edison Terra, vice-presidente da unidade de Poliolefinas, Renováveis e Europa, a
pouco melhor, mesmo que com muita cautela. “Os períodos de crise nos ensinam como lidar com diferentes tipos de situações e os investimentos passam a ser pontuais, pois devem trazer retornos de efeito imediato. Um exemplo são os processos de automação industrial, que a empresa investe fortemente, e ações comerciais”, afirma Braun.
empresa também segue investindo na eficiência operacional de suas unidades, com o foco direcionado na produtividade e competitividade de seu parque industrial, buscando o aumento das taxas de utilização como forma de se preparar para a retomada da economia. “Os desafios do cenário macroeconômico de 2016 permanecem. No entanto, esperamos um
ano de recuperação, mas com previsão de crescimento ainda modestos e com um déficit importante em relação ao mercado de 2013, patamar anterior à queda de três anos consecutivos”, diz o executivo. Em 2016, a Braskem alcançou índices elevados de produção e vendas que resultaram em recorde do indicador Ebitda, crescimento de 23% em relação ao ano anterior.
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CENÁRIO/AGRONEGÓCIO ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Grande volume de produção das lavouras gaúchas repercutirá positivamente em outros setores econômicos do Rio Grande do Sul
Supersafra impulsiona a economia Em meio à incerteza do cenário da indústria, um impulso econômico importante deverá partir do setor rural. Tanto no Brasil como no Rio Grande do Sul, a perspectiva de uma colheita generosa traz um clima de otimismo moderado para o agronegócio. Nas previsões divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em abril, a safra nacional de grãos poderá alcançar 227,9 milhões de toneladas, 41 milhões a mais do que em 2016 - e, desse total, em torno de 33 milhões de toneladas deverão sair das lavouras gaúchas. Esse grande volume de produção irá repercutir em outros setores da economia, como as indústrias de alimentos e máquinas agrícolas - mas traz preocupações justamente aos agricultores, que lamentam os baixos preços dos produtos no mercado interno e externo. Nas estimativas da Federação
da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), a partir de dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE), os preparativos para a safra atual injetaram R$ 24 bilhões no mercado - número que engloba os gastos dos produtores com máquinas, sementes e fertilizantes, por exemplo. A previsão é de que, depois de colhida, a safra venha a gerar cerca de R$ 39 bilhões. O número é significativo, mesmo em um contexto de preços baixos. “O produtor não ganhou, mas o conjunto da economia vai ganhar”, explica o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, que acrescenta: “A produtividade cresceu, mas o custo dela cresceu também, e o preço agora é menor. Ou seja: será uma supersafra com rentabilidade menor”. Essa perspectiva é compartilhada pelo coordenador do Núcleo de Estudos do Agronegócio da FEE,
Rodrigo Feix. “A safra representa mais matéria-prima para a agroindústria e mais intensidade no setor. A principal indústria gaúcha é a de alimentos, em parte depende dessa matéria-prima local”, diz o economista, lembrando que este será um momento de recuperação, depois de a safra de 2015 representar uma queda na colheita dos principais grãos, devido aos problemas climáticos. “A soja se salvou em 2016 e agora se expandiu", completa. A soja, de fato, se mantém como grande protagonista da agricultura gaúcha, inclusive com crescimento na área plantada - os 5,5 milhões de hectares cultivados para a safra atual já representaram 4% mais do que o ano anterior, enquanto culturas como milho e trigo perderam, respectivamente, 13,4% e 12,3%. Mas um problema comum afeta a todos esses grãos, do ponto de
vista dos produtores: a dificuldade de comercialização, especialmente pelos preços reduzidos. “Os custos estavam altos, em dólares, e o preço agora está baixo. O faturamento geral poderá até cair, ou ficar igual ao de 2016”, projeta o titular da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação, Ernani Polo. Outro aspecto da supersafra gaúcha é a geração de empregos. Em 2016, quando mais de 77 mil postos de trabalho foram perdidos, o setor foi o único a ter crescimento, mesmo tímido: 739 vagas. “Na nossa região, houve queda do desemprego. Mas ainda é uma crise, e será um ano difícil, com perspectivas de recuperação”, diz Nei Mânica, presidente da Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial, de Não-Me-Toque. Em fevereiro, houve novamente saldo positivo de empregos formais, superando em 2% o mês anterior.
NÚMEROS DO SETOR ÁREA PLANTADA DE GRÃOS NO ESTADO, EM HECTARES Produto Amendoim Arroz Aveia Centeio Cevada Feijão Girassol Milho Soja Sorgo Trigo Triticale Total
Safra 2015 2.939 1.127.916 179.615 1.885 35.463 67.248 2.792 854.793 5.263.899 5.867 882.566 3.805 8.428.788
Safra 2016 2.740 1.088.566 222.809 1.658 44.004 61.340 5.270 740.510 5.474.084 5.089 774.126 3.216 8.423.412
PRODUÇÃO DE GRÃOS NO ESTADO EM 2015 E 2016, EM TONELADAS Variação (%) -6,8 -3,5 24,0 -12,0 24,1 -8,8 88,8 -13,4 4,0 13,3 -12,3 -15,5 -0,1 FONTE: IBGE(LSPA)/FARSUL
Produto Amendoim Arroz Aveia Centeio Cevada Feijão Girassol Milho Soja Sorgo Trigo Triticale Total
Safra 2015 5.063 8.679.489 310.696 2.370 45.195 95.349 4.305 5.563.555 15.700.264 16.247 1.391.829 6.532 31.820.894
Safra 2016 4.753 7.493.431 562.892 3.044 132.772 87.731 7.779 4.729.948 16.189.834 17.718 2.236.291 7.931 31.474.124
Variação (%) -6,1 -13,7 81,2 28,4 193,8 -8,0 80,7 -15,0 3,1 9,1 60,7 21,4 -1,1 FONTE: IBGE (LSPA)/FARSUL
Produtores pedem novas estratégias Uma queixa comum a muitos agricultores, pecuaristas e representantes de entidades do setor agropecuário é a ausência de uma estratégia governamental mais precisa quanto ao abastecimento e à economia do meio rural, principalmente em relação a culturas como milho e trigo. O primeiro está desvalorizado, depois de um 2016 em que a quebra na safra trouxe aumento significativo nos preços e temor pelo desabastecimento, especialmente entre os produtores de suínos e aves. O segundo vem tendo área de plantio reduzida, enquanto o consumo interno torna necessário importar o grão para atender à demanda. “Praticamente metade (do trigo consumido no País) é importado. É um erro da política agrícola do governo. Isso deixa a economia fragilizada. Falta uma política de abastecimento”, observa o assessor de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Márcio Langer. A garantia de preços mínimos para os produtos e a necessidade de programas de incentivo para investimentos na armazenagem dos grãos são outras questões levantadas. “O ideal seria ter espaço para 150% do volume de produção. Hoje, temos para 90% dos grãos secos”, compara o coordenador das comissões de grãos da Farsul, Jorge Rodrigues. Outra medida na pauta do setor é a possibilidade de reduzir impostos para determinados produtos, como o arroz. “O governo José Ivo Sartori desonerou um pouco o ICMS do arroz beneficiado, buscando competitividade. Mas para o arroz casca, que vendemos para outros estados, segue em 12%, e aí o produto do Paraguai entra com 4%”, observa o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), Henrique Osorio Dornelles.
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TIAGO FRANCISCO/FARSUL/DIVULGAÇÃO/JC
ENTREVISTA
'Ainda não podemos falar em otimismo', diz Sperotto O presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, analisa as perspectivas do agronegócio gaúcho para este ano. Jornal do Comércio - Que impacto a supersafra poderá ter na economia do Estado? Carlos Sperotto - Vivemos em um Estado onde a agricultura e os demais setores são muito interligados. Uma safra agrícola requer mais insumos, o que gera demanda para indústrias e serviços. Produzir mais significa mais fertilizantes, máquinas, peças, químicos, combustíveis etc. Ter uma produção grande gera atividade para as indústrias cerealistas, cooperativas e tradings. Uma safra grande faz com que o Estado ande em ritmo melhor. Uma supersafra é mais importante para a economia
do Estado do que para o produtor. Para o produtor, o que interessa é a rentabilidade, que por sua vez não depende necessariamente do tamanho da safra. JC - Eventos como a Expodireto e a Expoagro apresentaram grande volume de negócios neste ano. Isso indica otimismo no setor? Sperotto - Esses eventos são termômetros positivos, mas ainda não podemos falar em otimismo. Os valores encaminhados de negócios são melhores do que os dos últimos dois anos, mas muito abaixo do patamar pré-crise. Podemos dizer que saímos de uma situação de pessimismo ou incerteza, mas não dá para falar em otimismo ainda. Os preços baixos de comercialização somados aos altos custos para escoar a safra, por falta de infraestrutura, não
permitem um otimismo convincente. JC - Para onde os produtores poderão direcionar investimentos em 2017? Sperotto - Creio que os principais investimentos serão de reposição, e não de expansão, ou seja, os investimentos deverão se concentrar na manutenção do nível de capital investido, mas não na sua ampliação. Ampliar o capital significa maior produção; mas, sem ter como escoar, não faz sentido aumentar aos atuais níveis de preço. JC - Como o setor público poderia ajudar o agronegócio na busca de novos mercados - dentro e fora do Brasil? Sperotto - O governo não investe em infraestrutura e não permite que o setor privado invista. A consequência é esta que estamos vendo. A grande contribuição do
Presidente da Farsul cita preço baixo na venda da safra e alta nos custos governo seria proporcionar uma infraestrutura adequada aos volumes que produzimos, tendo um modelo logístico apoiado em hidrovias e com um papel importante das ferrovias. As hidrovias não são entregues aos usuários, e as ferrovias estão abandonadas, sem que o governo e a agência regulatória do setor tomem providências adequadas. Nossos governos devem se ajustar ao papel moderno do Estado, qual seja: regular. Regular exatamente o que concedeu. JC - A soja se apresenta como
grande protagonista do agronegócio. Na sua opinião, esse é um mercado que ainda poderá crescer e atrair cada vez mais produtores, ou está se aproximando de uma fase de estabilidade? Sperotto - O consumo de soja deve crescer 26% nos próximos 10 anos na Ásia. A China vem aumentando o consumo em 6% ao ano, logo não acreditamos em estabilidade ao longo desse ciclo. Nossa produção cresce verticalmente, com aumento de produtividade, e não necessariamente de área.
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SOJA FERNANDO KLUWE DIAS/SECRETARIA DA AGRICULTURA/DIVULGAÇÃO/JC
Principal produto da lavoura gaúcha, 99,7% do volume embarcado no Estado teve a China como destino; projeção de área plantada para este ano é de 5,7 milhões de hectares
Exportações do grão batem novo recorde Parte significativa das boas notícias envolvendo o agronegócio gaúcho em 2017 passa pela safra de soja. Principal produto das lavouras do Estado, tanto em área plantada como em volume de colheita, o grão também foi o item com o maior crescimento em exportações no primeiro trimestre deste ano. Nesse período, 1,031 milhão de toneladas foram embarcadas, gerando US$ 407,4 milhões – um recorde histórico, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE) divulgados em abril. E essa é apenas uma parcela da vultosa produção esperada para este ano, que deve ultrapassar, com boa margem, as 16 milhões de toneladas colhidas no ano passado.
“A safra 2016/2017 superou todas as expectativas. Acreditamos que irá passar das 17 milhões de toneladas. Contribuíram para isso as excelentes condições climáticas ao longo de todo o ciclo da cultura”, explica o presidente da Associação dos Produtores de Soja no Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), LuisFernando Marasca Fucks. A maior parte dessa produção deverá ser vendida no mercado externo – em especial, para a China, destino de 99,7% da soja embarcada em Rio Grande no primeiro trimestre. A alta nas exportações no início de 2017 foi de 235,6% em valor e de 194,7% em volume, e o total embarcado é maior do que a soma dos primeiros trimestres dos últimos
quatro anos, de acordo com a FEE. O sucesso da cultura de soja é reflexo de um crescimento constante do setor nos últimos 10 anos. Desde 2008, quando a área plantada foi de 3,8 milhões de hectares, o espaço ocupado pelo grão no Estado aumenta ano a ano – a projeção para este ano é de 5,7 milhões. Investimentos em tecnologia e em pesquisa genética têm impulsionado a produtividade, que atinge médias próximas de 50 sacas (60 kg) por hectare. “Em algumas lavouras, estamos produzindo 90 sacas por hectare, até. Num futuro próximo, teremos médias assim. Hoje, a média está por volta das 50 sacas, e neste ano deve ficar acima de 50, o que
já é um bom número”, comemora Jorge Rodrigues, coordenador das comissões de grãos da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). Os números podem, inclusive, melhorar num futuro próximo, segundo a Aprosoja. “Muitas áreas deixaram de expressar o seu potencial máximo por problemas de fertilidade do solo”, observa Fucks, acrescentando: “Se a informação técnica for disseminada adequadamente, em um plantio futuro, mesmo sem as condições climáticas excepcionais verificadas neste ano, poderemos ter um novo recorde de produção”. O predomínio da soja deve se manter por enquanto. “O padrão
da produção não muda de um ano para outro”, explica o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado, Paulo Pires. “Existe a crítica ao investimento em uma monocultura, e temos a preocupação em tentar evitar que seja assim; mas (a soja) é tendência, e as pessoas buscam o melhor para si. A liquidez (do grão) favorece o produtor, que colhe e vende com facilidade”, analisa o agrônomo. Um fator decisivo para manter esse ciclo é a demanda mundial, que não deverá arrefecer tão cedo. “Estudos apontam que o consumo de soja vai crescer 26% na Ásia nos próximos 10 anos”, observa o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz.
Preços baixos trazem preocupação para os agricultores do Rio Grande do Sul Em contraste com a generosidade da safra deste ano, um aspecto decisivo da cadeia produtiva preocupa os agricultores: o baixo valor da soja no mercado. “Os preços atuais não permitem superar a receita bruta da safra passada. O câmbio aviltado e uma queda no preço internacional têm reduzido muito a expectativa de lucros com a supersafra”, diz o presidente da Aprosoja-RS, Luis Fernando Fucks. “Em junho do ano passado, o preço era de R$ 83,00 por saca. Agora, está perto de R$ 55,00”, compara o produtor Luiz Carlos Schuster, de Não-Me-Toque. Neste ano, com a colheita já concluída, ele comemora uma produção média de 80,4 sacas por hectare. Mas alerta: “Tudo o que se ganha em produtividade não se reflete em dinheiro. O ideal seria aguardar (para vender a safra), mas quase 100% (dos produtores)
têm de pagar os financiamentos e o maquinário, por exemplo. Quando vencerem os custeios, em junho, temos que pagar o banco”. Schuster acredita que muitos colegas terão de rolar dívidas, em função desse contexto. Mesmo assim, garante que é melhor viver essa “crise do silo cheio” do que colher pouco. “Conversando com outros produtores, concluímos que, se a safra não tivesse sido tão boa, iria dar quebradeira. O preço não estaria melhor. A Argentina também está com safra boa, e eles são os últimos a colher. O mercado internacional está sempre abastecido”, relata. Aos 54 anos, o produtor cultiva em torno de 50 hectares de grãos e costuma acompanhar as sugestões dos agrônomos da Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial, à qual é associado. “O resultado é bom”, diz Schuster.
“Mas a decisão de seguir as orientações é do produtor. Nem todos vão chegar na média de 80 (sacas por hectare), uns vão ficar em 45, fazendo como o pai deles fazia. Esses vão ficar pelo caminho.” O cuidado com a gestão da propriedade e a atenção aos investimentos em adubos e defensivos, por exemplo, é importante. “Quem não tem os custos na mão, em pouco tempo, está fora da atividade”, diz Schuster. Neste inverno, por exemplo, o agricultor já decidiu apostar na lavoura de cevada, de forma a driblar os constantes prejuízos com os preços baixos do trigo. Para ficar em dia com os gastos cotidianos, a solução vem sendo manter, paralelamente à agricultura, a pecuária de leite. “É o que sustenta minha manutenção familiar. Tenho dois filhos na faculdade, e com o gado consigo (pagar as despesas). Se eu fosse só lidar
FERNANDO KLUWE DIAS/SECRETÁRIA DA AGRICULTURA/DIVULGAÇÃO/JC
Schuster (e), de Não-Me-Toque, destaca a importância da gestão rural com grãos, estaria sempre no vermelho”, explica. Uma dificuldade a mais, segundo o agricultor, é garantir a continuidade das gerações no campo. Schuster lamenta, por exemplo, o fechamento de escolas da zona
rural na região, contribuindo para que os mais jovens tenham contato precoce com a vida na cidade: “A piazada quer celular, e aí não tem sinal de celular ou de internet (no campo). A juventude conhece a cidade e não quer voltar.”
Quinta-feira 25 de maio de 2017 Caderno especial do Jornal do Comércio Porto Alegre
Dia da
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Indústria
MILHO
ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Fartura pode não compensar produção Poucas vezes a expressão "efeito sanfona" – no sentido de alternância entre períodos de fartura e escassez – foi tão certeira para descrever a evolução recente da produção de milho no Brasil. Depois de um 2016 em que a safra nacional perdeu em torno de 18 milhões de toneladas, os produtores vivem um ano de recuperação, com a perspectiva de voltar aos patamares de 2015 – quando o País colheu 85 milhões de toneladas do grão. Entre os gaúchos, a expectativa de uma boa safra se confirma, mas com uma preocupação extra: a queda dos preços, em alguns casos reduzidos a praticamente metade do verificado no ano passado. A oscilação dos valores é um efeito direto da quebra da safra nas lavouras do Centro-Oeste no inverno de 2016. A escassez do produto forçou a necessidade de importações
para atender à demanda de rações para os produtores de aves, suínos e bovinos – e, naturalmente, elevou os preços do grão disponível no País. Agora, a situação se inverteu. “Em 2016, o Rio Grande do Sul importou 1,6 milhão de toneladas de milho. Este ano, ainda importou durante a colheita, os criadores tiveram de se garantir”, destaca o presidente da Associação dos Produtores de Milho do Estado (Apromilho), Cláudio de Jesus. Com a projeção de que as lavouras gaúchas resultem em cerca de 5,5 milhões de toneladas este ano, a tendência é de que os preços não aumentem muito. Se no segundo semestre de 2016 os produtores chegaram a vender sacas de 60 kg a R$ 45,00, agora, a média está próxima de R$ 22,00. “Se o preço continuar nesse patamar até agosto, a
área plantada para a próxima safra poderá reduzir”, alerta Jesus. Desde 2008, esse número vem diminuindo ano a ano. “Há 10 anos, a área ficava entre 1,5 milhão e 2 milhões de hectares, mas se produzia menos que hoje”, compara o dirigente. Esse crescimento na produtividade é um dos fatores que o presidente nacional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, aponta como decisivos para que o País mantenha o desempenho no cenário internacional. “O mundo precisa de milho, o mercado está firme, e o único que pode atender à demanda permanentemente é o Brasil. Podemos produzir com custo menor, com tecnologia para buscar mais produtividade, e a qualidade do produto brasileiro se destaca”, garante Paolinelli.
Apesar da boa safra, queda dos preços preocupa agricultores
Setor busca estabilidade Uma decisão já está tomada na propriedade do agricultor Ricardo Meneghetti, em Chiapetta: a próxima safra vai ter menos terreno para o milho. Na lavoura que acabou de ser colhida, foram cerca de 150 hectares de milho irrigado, com produtividade de 240 a 250 sacas por hectare. Números positivos que, no entanto, não se refletiram na comercialização. “Já se vendeu a R$ 45,00 ou até mesmo R$ 52,00 a saca. Hoje, está entre
Apoio
R$ 20,00 e R$ 22,00. Do que estávamos prevendo para o milho em 2017, vamos reduzir 30% da área, justamente por esse preço não pagar a conta”, justifica. O produtor identifica ainda necessidade de comunicação mais estreita com criadores de aves e suínos. “É uma cadeia produtiva em que os elos não estão entrelaçados. Não conseguimos estabilidade, há dificuldade de sentar com a cadeia como um todo.”
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Indústria
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BOVINOS, AVES E SUÍNOS
LEITE
Indústrias tentam superar Carne Fraca
Criadores preveem um ano de austeridade
Além da queda no consumo interno decorrente da crise, o setor de proteína animal tem um desafio extra em 2017. Desde março, quando a Polícia Federal anunciou a Operação Carne Fraca e indicou irregularidades em 21 frigoríficos do País, a indústria de produtos bovinos, avícolas e suínos busca defender seus produtos junto a clientes assustados com a notícia. Representantes das empresas acreditam que o impacto da operação já diminuiu, mas os reflexos do episódio ainda serão avaliados ao longo do ano. O início do ano foi animador. Dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE) apontam que aves e suínos se destacaram nas exportações gaúchas no acumulado do primeiro trimestre. Nesse período, a carne de frango teve seu maior embarque desde 2008, com volume 7,3% maior que o do mesmo período de 2016, enquanto a carne suína cresceu 1,3%, alcançando o melhor desempenho desde 2009. Mas o volume exportado em março já mostrou quedas de 5,5% (frango), 18,4% (carne suína) e 9,9% (carne bovina). A Assessoria Econômica da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) calcula em US$ 30 milhões o valor perdido pelo
EMATER RS/ASCAR/DIVULGAÇÃO/JC
Setor perdeu em torno de US$ 30 milhões com a investigação da PF setor no Estado, com anúncio da operação. Um efeito foi o aumento nas despesas de logística. “A China chegou a suspender a internalização do produto que estava chegando, o que aumentou o custo de estadia dos navios, por exemplo”, explica o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado, Rogério Kerber. “Os principais mercados deram voto de confiança, mas chegaram a pôr o pé no freio”, resume o presidente executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, que chegou a ir conversar com clientes nos
JUNIO NUNES/DIVULGAÇÃO/JC
Estados Unidos e no México. Para ele, é difícil arriscar previsões sobre o desempenho final do ano: “2016 foi difícil, com altos custos nos insumos, mas tivemos um crescimento suave. Estávamos melhorando em exportações e volume de produção, agora estamos nos recuperando”. A recuperação será suficiente para manter a projeção de 10% de crescimento nas exportações nacionais de carne bovina, na opinião otimista do presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Lauxen.
Resultado de uma cadeia produtiva sujeita a variáveis internas e externas, a produção de leite não vive o otimismo presente em outros setores do agronegócio. Por um lado, os criadores de gado têm encontrado insumos a preços bem menores que os do ano passado. Mas os altos índices de desemprego e a queda no poder aquisitivo da população urbana influem na queda do consumo dos laticínios - tendência que dificilmente será revertida em 2017. “Em 2015 e 2016, as indústrias compraram menos leite do que em 2014, o que indica redução no consumo”, observa o zootecnista Jaime Ries, assistente técnico estadual do setor do leite da Emater-RS. “Enquanto não houver melhoria nas condições de renda das famílias, o setor não voltará a crescer”, prevê. Um indicativo das dificuldades enfrentadas pelo setor costuma ser o índice de importações de leite em pó, que chegou a bater recordes históricos em 2016. No início deste ano, o ritmo se manteve. “Em janeiro e fevereiro, importaram-se 35 milhões de quilos. Em 2016, no mesmo período, tinham sido 15,79 milhões”, explica o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do
FUMO
Fumicultores retomam nível de produção
Apesar da recuperação da safra, Iro Schünke vê dificuldade de competitividade e cita o câmbio como um dos fatores
Rio Grande do Sul (Sindilat), Alexandre Guerra. Entidades do setor argumentam que o poder público deveria interferir nesse processo. “O governo poderia monitorar importações e estabelecer cotas”, propõe o presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios, Ernesto Krug, lembrando que já existem cotas para produtos argentinos, mas não para a importação de países como o Uruguai - que vendeu ao Brasil 6,8 mil toneladas apenas em janeiro deste ano. Nesse cenário, a expectativa é de que os obstáculos dos últimos dois anos levem a uma queda no número de produtores de leite no Estado. Uma ampla pesquisa realizada pela Emater e pelo Instituto Gaúcho do Leite (IGL), em 2015, apontou que o Estado tinha cerca de 84 mil produtores na indústria leiteira. Os dados serão atualizados neste ano, e a previsão é de que esse número tenha uma redução de 15%. “Os pequenos produtores, acabaram ficando para trás", explica Ries. Na contramão, um sinal de otimismo veio de indústrias como Lactalis e Santa Clara, que anunciaram investimentos de mais de R$ 200 milhões em ampliação da capacidade de produção.
Maior produtor de tabaco entre os estados brasileiros, o Rio Grande do Sul vive um ano de recuperação da safra de fumo, bastante prejudicada pelo clima na temporada passada. A previsão de colheita para este ano no Sul é de quase 700 mil toneladas, e os produtores gaúchos deverão responder por praticamente metade desse total. A exemplo do que vem ocorrendo com o milho, a fartura é acompanhada por preços mais baixos para os fumicultores, enquanto as indústrias do setor veem na taxa do dólar um obstáculo para as exportações. As perdas da lavoura 2015/2016 tiveram impacto no setor, fazendo com que a produção física das indústrias caísse em 31% no ano passado, na comparação com o ano anterior, conforme dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE). “O granizo é um grande inimigo. Em 2016, atingiu 38,6 mil produtores. Este ano, foram 18,7 mil”, compara o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner. Ele ressalta que o Estado, com 75,2 mil famílias produtoras, deverá responder por 46%
da produção nacional este ano, à frente de Santa Catarina (31%), Paraná (21%) e outros estados como Bahia e Alagoas (2%). Recuperada a safra, os negócios ficaram aquecidos. Mas, do ponto de vista dos agricultores, a oferta não se traduz em rentabilidade mais alta - a média de preços do quilo, que foi de R$ 10,07 em 2016, anda em torno de R$ 9,03. “Estamos nos recuperando em termos de quantidade, mas em termos financeiros deveremos ter o mesmo resultado do ano passado”, prevê Mauro Flores, presidente da comissão de Tabaco da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). Em meio às negociações pós-colheita, que têm seu auge nos meses de abril e maio, as indústrias do setor também miram no mercado externo, no qual o Brasil é o líder em exportações. “Em 2016, a exportação do Estado representou 68% do Brasil. Este ano, teremos mais dificuldades. O câmbio é um dos principais fatores, ficamos menos competitivos”, observa o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke.
Rentabilidade deve cair em 2017 Renda acima da média nacional e satisfação com a atividade agrícola são algumas das características mais positivas dos produtores de tabaco da Região Sul. Pelo menos, é o que indica pesquisa realizada em 2016 pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Administração da Ufrgs, por encomenda do SindiTabaco. O estudo aponta que 80,4% dos fumicultores pertencem às classes A e B e que a renda per capita do setor é de R$ 1.926,73 - enquanto a renda geral do Brasil é de R$ 1.113,00. A amostragem aponta ainda que 85% dos agricultores pretendem continuar plantando fumo. Dentro de uma lavoura de 11,5 hectares, Giovane Weber, de Santa Cruz do Sul, já vem apostando na diversificação, cultivando também verduras. Mas garante que a principal safra seguirá sendo o tabaco. “O fumo dá um retorno enorme, comparado com outras culturas. O problema, este ano, é a desvalorização. Está difícil de vender”, lamenta.
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Indústria
TRIGO
Apesar da safra de qualidade, Estado tem reduzido a área plantada, hoje em torno de 716 mil hectares
Cultura volta a dar prejuízo fica dificultada pela grande oferta mundial. “O Estado consome cerca de 1,1 milhão de toneladas, então teremos que vender o excedente. Mas o Paraná (um dos principais produtores do País, ao lado do Rio Grande do Sul) colheu mais cedo e abasteceu o mercado”, explica Claudio Dóro, assistente técnico regional de produção vegetal da Emater-RS. Em nível nacional, a produção – que ficou em torno de 6 milhões de toneladas em 2016 – atende a cerca de metade do consumo total do País, o que acaba forçando a necessidade de importações. Um contexto que contribui para o achatamento dos preços e, no caso gaúcho, redução da área plantada, o que vem ocorrendo desde 2014. A projeção para este ano fica em torno de 716 mil hectares, 7,4%
a menos do que no ano passado, segundo a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). Outra variável na cadeia do trigo é a qualidade do grão, que vai determinar como o produto será aproveitado – para a produção de farinhas ou de rações, por exemplo. Nesse sentido, a safra atual é bastante positiva para a indústria. “Esta última safra tem excelente qualidade e quantidade, uma das melhores da história, o que nos possibilita uma oferta de matéria-prima competitiva para estarmos, além de moendo para o consumo do Estado, competindo na região Sudeste, para a qual somos tradicionais exportadores", relata o presidente do Sindicato da Indústria de Trigo no Estado (Sinditrigo), Andreas Elter.
Mesmo com o preço mínimo, vendas ficaram mais difíceis Na propriedade do agricultor Antolí Fauth Mello, em Coxilha, a colheita de trigo terminou em 25 de novembro de 2016. Até o início deste trimestre, no entanto, o produtor ainda não havia vendido nenhuma das 15,5 mil sacas. “Está difícil de vender. O governo bota preço mínimo, mas o trigo de fora vem antes, e os moinhos começam a se abastecer. E eu não vendo por menos que o preço mínimo”,
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OLIVAS FERNANDO KLUWE DIAS/DIVULGAÇÃO/JC
Em poucas culturas, a dinâmica entre qualidade, oferta e procura pode ter tantas variações como no trigo. O ano é de abundância, tanto no mercado internacional como na safra gaúcha – que colheu, no final do ano passado, mais de 2,4 milhões de toneladas, recuperando as perdas sofridas em 2015. Mas isso não vem representando rendimentos maiores para os produtores. Com os preços baixos no mercado interno e com as importações realizadas no ano passado, muitos silos ainda estão forrados com o trigo da última safra, e os produtores hesitam em apostar no produto neste inverno. A situação do Estado nesse cenário é curiosa: sobram grãos em relação ao que vem sendo processado nas indústrias, mas a disputa no mercado externo
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conta Mello, garantindo que ainda irá plantar o grão neste inverno, apesar das perdas. “Tem os que resistem, mas a munição está acabando”, alerta. Nos cálculos da Emater-RS, o preço médio praticado em abril – por volta de R$ 28,00 – está bem abaixo do preço mínimo estabelecido, que é de R$ 38,65. Em diferentes regiões do Estado, aveia e cevada têm sido outras opções para a safra
Cultivo de oliveiras cresce no Estado Neste final de semestre, chega ao mercado uma nova safra do azeite de oliva produzido no Rio Grande do Sul. A previsão é de que, neste ano, o setor gere 45 mil litros do produto, superando bem os 32 mil litros de 2016. O número reflete o crescimento das plantações de oliveiras, hoje presentes em cerca de 60 municípios gaúchos, com área total próxima dos 2,1 mil hectares. “Há 12 anos, só tínhamos cerca de 30 hectares. Nos últimos anos, crescem uns 400 a 500 hectares por ano”, informa o coordenador da Câmara Setorial das Oliveiras da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação, Paulo Lipp João. Esse novo ciclo do cultivo de oliveiras, surgido a partir da iniciativa de um grupo de produtores rurais da região de Caçapava do Sul, em meados da década passada, hoje mobiliza em torno de 160 olivicultores. São pelo menos 14 marcas de azeite de oliva já lançadas, com fábricas em cidades como Cachoeira do Sul, Candiota, Santana do Livramento, Formigueiro, Dom Pedrito, Pinheiro Machado e Canguçu, além da própria Caçapava. Algumas dessas, como Batalha, Olivas do Sul e Verde Louro, vêm abrindo espaço no comércio de Porto Alegre e de outros estados. Há muito potencial para o setor, uma vez que a produção gaúcha ainda representa uma fração pequena do consumo de azeite de oliva no Estado – cerca de 2,5 milhões de litros por ano. O volume atual chegará a cerca de 2% desse total. “A safra gaúcha é vendida
em poucos meses”, explica João. Ainda assim, o Rio Grande do Sul pode ser considerado o principal polo do setor no País. Há também oliveiras na região da Serra da Mantiqueira – em áreas dos estados de Minas Gerais e São Paulo – e no Oeste catarinense. “Aqui, deveremos expandir mais, pela disponibilidade de terras com boa topografia”, prevê o agrônomo. A favor do azeite brasileiro está a oferta de um produto recém-saído da fábrica. “Quanto mais fresco, maior a qualidade do azeite”, garante João, lembrando que o produto gaúcho tem apresentado boa qualidade em concursos internacionais. “Para os próximos cinco anos, (o setor) poderá chegar a 100 mil litros, ou mesmo mais”, estima o agrônomo. Um sinal é a chegada ao mercado de novas marcas. Um exemplo é a Olivae, da empresa homônima, sediada em Piratini. A plantação foi iniciada em 2012 e, neste ano, foi colhida a primeira safra, que resultou em um volume aproximado de 200 litros de azeite, engarrafados no início deste mês. “Levamos as azeitonas para um produtor vizinho para fazer a extração. Nossa fábrica própria vai começar a funcionar no ano que vem. Pretendemos chegar a 35 mil litros por ano, daqui a oito ou 10 anos”, diz o agrônomo Alcyr Cardoso, um dos sócios da empresa e também um dos produtores mobilizados para a criação de uma associação nacional, a ser fundada ainda neste semestre. OLIVAE/DIVULGAÇÃO/JC
de inverno, mas ainda com impacto pequeno. Políticas de incentivo relacionadas com a redução da carga tributária, por exemplo, poderiam motivar os agricultores. “O governo está tentando resolver. O ICMS do Rio Grande do Sul é 12%, mas o do Paraná e de São Paulo é 2%. Assim como vamos mandar trigo para o Nordeste? Fica tudo ensacado aqui”, desabafa Mello.
Estado pode ser considerado o principal polo do setor no País
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AGROEFFECTIVE/DIVULGAÇÃO/JC
ARROZ
Produtores recuperam a safra, mas não os custos Um dos grãos mais consumidos no País, o arroz será abundante no mercado este ano. A exemplo do que também ocorre em outras culturas, como milho e trigo, esta será uma safra de recuperação para os arrozeiros – que poderão chegar a um total de 8,2 mil a 8,4 mil toneladas colhidas, depois dos 7,5 milhões de 2016. Ainda assim, os plantadores de arroz lamentam a queda abrupta dos preços, e contemplam a possibilidade de um ano de perdas financeiras. “Vínhamos de uma safra baixa, e eram baixos os estoques. O preço tinha ficado em R$ 50,00 por saca de 50 kg. Com isso, veio a expectativa de uma boa comercialização, o que não está acontecendo. Agora, está entre R$ 38,00 e R$ 40,00, o que não paga o custo de produção”, descreve o
presidente da Comissão do Arroz da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Francisco Schardong. Existe a expectativa de uma reação dos preços no segundo semestre, quando a colheita já estiver concluída no Estado – que responde por cerca de 70% da produção nacional. Mas nem todos os arrozeiros poderão esperar. “O produtor, para ter êxito, tem de estar capitalizado, para escolher quando vai comercializar. A tendência é os produtores de alta escala resistirem melhor”, analisa o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Osorio Dornelles. O contexto poderá agravar o quadro de endividamento dos agricultores. Pelos cálculos da Federarroz, apenas 30% dos 18 mil gaúchos
têm acesso ao crédito rural oficial. “São os que estão bem capitalizados. O banco dá crédito a quem cumpre suas obrigações”, explica Dornelles. Outros 40% a 50% dos produtores representam uma “classe média”, que não chega a comprometer toda a colheita imediatamente com a indústria. Os 20% a 30% restantes estão “muito comprometidos, na mão das indústrias, pagando juros de mercado”, complementa o dirigente. A alternativa de buscar o mercado externo esbarra na cotação do dólar e também na concorrência com países vizinhos. “As importações do Mercosul, que são inevitáveis, também concorrem e disputam mercado com o arroz gaúcho, em nível interno e externo. O Paraguai cresceu muito nos últimos anos”, diz Schardong.
Tendência é de que agricultores de alta escala resistam melhor, diz Dornelles
Rotação com a soja ganha terreno Em um cenário austero, uma das principais soluções encontradas pelos arrozeiros para contornar as dificuldades é adotar a rotação com a soja. São cada vez mais comuns os agricultores que alternam as duas culturas, como o arrozeiro Fernando Rechsteiner, de Pelotas. A solução vem sendo positiva para as duas culturas. “É um casamento muito bom agronomicamente, pela melhoria do solo. E
economicamente também, porque geralmente conseguimos vender (soja) no primeiro semestre. Aí, melhora a eficiência comercial da propriedade, porque podemos vender o arroz no segundo semestre por melhor preço”, diz. Há dois anos, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) criou o Programa Soja 6000, para estimular a rotação de cultura, que parece ser um caminho sem volta.
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CENÁRIO/COMÉRCIO E SERVIÇOS LEBES/DIVULGAÇÃO/JC
Shopping centers projetam recuperação gradual Um dos principais termômetros do ânimo dos consumidores é o fluxo de pessoas circulando nos shopping centers. De acordo com levantamento realizado pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), em parceria com a FX Retail Analytics, empresa especializada em monitoramento e fluxo para o varejo, em março, na Região Sul houve uma alta de 0,87% no movimento, embora a análise nacional indique um recuo de 0,47% em comparação com março de 2016. Foi o primeiro viés de baixa no ano, após dois meses em alta pela primeira vez desde o início da medição do Índice de Visitas a Shopping Centers (IVSC), em junho de 2015. Na comparação com fevereiro, o fluxo de pessoas que visitaram os centros de compras no País cresceu 9,06% em março. A alta é atribuída ao resgate das contas inativas de FGTS durante o período, o que melhorou o poder de compra. Com base em dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final do mês de março, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta crescimento de 1,2% nas vendas para 2017. A estimativa é baseada em fatores como a queda ainda mais intensa da inflação e das taxas de juros.
Ânimos do consumidor deverão ficar mais claros no segundo semestre, dizem lideranças do setor
Diversos fatores, como o desemprego e a queda de renda, têm impactado o setor de comércio e de serviços nos últimos meses, provocando consequências negativas. No entanto também há medidas gerando resultados positivos, como a liberação de contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). É nesse cenário de altos e baixos que os empresários tentam manter a calma para tocar seus negócios e planejar novos investimentos. As lideranças do setor já vislumbram alguns sinais de recuperação, mas alertam que não é possível descolar o ambiente político do econômico e acreditam que a partir do segundo semestre é que os ânimos do mercado consumidor ficarão mais claros. O presidente da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, considera que poderá haver uma melhora neste ano, mas ainda insuficiente para chegar a uma situação que poderia chamar de “boa” em 2017. “O mercado de trabalho e a renda são os principais determinantes das vendas do comércio, e esses fatores ainda vão patinar neste ano, com a taxa de desemprego se mantendo alta”, observa. Ele acredita que o alívio pode vir pela melhora da confiança e pela redução de juros, que tira pressão da situação de endividamento em que se encontram as famílias. “Além disso, também vivenciamos uma desinflação, o que ajuda tanto indiretamente por um orçamento menos apertado para as famílias,
quanto diretamente, via menor impacto nos custos das empresas”, acrescenta. “Há um novo ânimo”, constata o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS), Vitor Augusto Koch. Ele afirma que a liberação das parcelas do FGTS está “dando um fôlego” aos consumidores para colocar algumas contas em dia. A projeção é de que cerca de R$ 1,5 bilhão poderá ser injetado no varejo do Rio Grande do Sul via recursos oriundos do saque das contas inativas do FGTS. “Se isso se concretizar, vai trazer uma perspectiva mais animadora para os lojistas do Estado. Para tanto será importante que eles saibam conquistar e fidelizar os consumidores”, enfatiza Koch. “Primeiro as pessoas tratam de quitar as contas públicas como água e luz, depois vêm as dívidas, para limpar o nome JOÃO ALVES/DIVULGAÇÃO/JC
Debus estima cenário melhor
e voltar ao mercado”, analisa. O dirigente aponta a taxa de juros como obstáculo que também precisa ser vencido e espera que a Selic chegue aos 9% em 2017. A expectativa da FCDL é de um crescimento nominal de 5% em 2017, e parte da retomada é atribuída aos meses de baixas temperaturas que esquentam as vendas do vestuário. “São produtos de maior valor agregado e o faturamento melhora”, frisa. O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Alcides Debus, se diz um otimista por natureza e avalia que algumas medidas adotadas pelo governo já sinalizam um cenário melhor para o varejo. “A liberação do fundo de garantia está injetando um volume enorme de recursos, e isso é muito bom”. Pelos dados da Caixa Econômica Federal, os saques de contas inativas devem superar os R$ 40 bilhões. Outra medida que entende ser positiva é o estabelecimento de regras para uso do rotativo do cartão de crédito. “São medidas para proteger o consumidor”, avalia Debus, que aposta em um segundo semestre melhor para o varejo. “Com mais confiança, as pessoas vão consumir e poderão assumir prestações.” Para a presidente da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul), Simone Leite, a falta de crédito é um dos principais problemas para o micro e pequeno empresário. “Médias e grandes empresas têm acesso a crédito mais facilitado, mas a micro e pequenas não têm garantias para dar nem acesso ao crédito.”
FREDY VIEIRA/JC
Fase de altos e baixos predomina
Se as projeções forem confirmadas, representariam uma recuperação em comparação a 2016, quando o setor encerrou com uma queda de 6,2% ante 2015. Para especialistas, a melhora na economia, somada ao saque das contas inativas do FGTS, ajuda a reduzir o endividamento das famílias. Com saldo positivo no orçamento doméstico, há espaço para novas compras, representando, assim, uma recuperação gradual do varejo nacional. Também o Índice de Confiança de Serviços (ICS), da Fundação Getulio Vargas, apresentou uma elevação de 4,4 pontos em março, ficando em 85,3 pontos, o maior nível desde dezembro de 2014. Além disso, a alta da confiança em março foi a mais expressiva desde abril de 2009, quando subiu 4,8 pontos. Na comparação com março do ano passado, houve alta de 14,4 pontos. A alta da confiança foi significativa e abrangeu 11 das 13 principais atividades pesquisadas. A principal contribuição para a variação do índice no mês veio do indicador de percepção com a Situação Atual dos Negócios, que registrou aumento de 1,6 ponto, alcançando 75 pontos. Entre os indicadores do Índice de Expectativas (IE), o destaque positivo foi o de Demanda Prevista, que aumentou 11,8 pontos, ficando em 98,2 pontos.
Saque do FGTS e redução do endividamento favorecerão compras
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MARCELO MATUSIAK/DIVULGAÇÃO/JC
COMÉRCIO
Setor espera dias melhores As pesquisas sobre o comportamento da economia projetam um cenário que o comércio varejista percebe com antecedência na rotina dos seus estabelecimentos. Ultimamente, a sensação dominante é de que “parou de piorar”, e o termômetro representado pelo nível de empregos aponta nessa direção. Estudo realizado pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS) indica que, em março, pelo terceiro mês consecutivo, o Estado apresentou crescimento de empregos formais. Foram 5.236 novos postos de trabalho, uma alta de 9% diante do mesmo período de 2016. Foi o melhor desempenho no País e, com isso, o Estado já acumula no trimestre um saldo positivo de quase 24 mil empregos, superando em 32,2% os três primeiros meses do ano passado. O presidente da FCDL-RS, Vitor Augusto Koch, considera que o resultado, além de ser expressivo, “mostra a recuperação da atividade econômica do Rio Grande do Sul, sendo um passo importante para superar a recessão que predominou no território gaúcho nos últimos dois anos e meio”. Ele acredita que a geração de mais empregos e renda, em breve, terá reflexos importantes também na retomada da empregabilidade no varejo. Em março, ainda houve uma redução
de 2.101 postos de trabalho no varejo, explicada pela dispensa de colaboradores temporários que estavam, em sua maioria, no Litoral gaúcho. As dispensas foram registradas em cidades como Capão da Canoa, Tramandaí, Torres, Cidreira e Xangri-Lá. No entanto, em centros maiores de consumo, houve boa reação nas contratações, com destaque para municípios como Santa Maria, Caxias do Sul e Pelotas. Koch afirma ainda que a redução das temperaturas, a partir de agora, é outro fator que irá impulsionar o setor. “Aumentam as vendas de têxteis, que têm valor agregado mais alto.” Há muita negociação entre a indústria e o comércio para a colocação dos artigos da nova estação, e os descontos que forem conseguidos serão repassados para o consumidor final. Começa também a temporada em que as pessoas ficam mais em casa, o que estimula arrumações, movimentando o segmento de móveis e decoração. O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Alcides Debus, igualmente acredita que o segundo semestre será melhor, com o aumento do nível de confiança, que irá refletir nas vendas. O presidente da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, LEBES/DIVULGAÇÃO/JC
Drebes mantém planejamento de chegar a 154 lojas até final do ano
Lideranças e empresários demonstram otimismo e estimam aumento do nível de confiança e das vendas considera que, se ainda não há otimismo, “o pessimismo se reduz a cada pesquisa”. Ele pondera que as avaliações relativas às condições atuais, apesar de apresentarem um incremento nos últimos meses, ainda são negativas. “No que diz respeito às expectativas para o futuro, por sua vez, os empresários do comércio já estão bastante otimistas”, complementa. Em uma demonstração de que acredita na recuperação da economia, a Lojas Renner anunciou que irá investir em 2017 pelo menos R$ 500 milhões na abertura de 68 novas lojas, entre elas três unidades no Uruguai. Atualmente, a rede conta com 450 pontos, entre unidades da bandeira Renner,
Camicado e Youcom. Com a meta de expansão, a rede alcançará 518 pontos neste ano, chegando a 825 unidades em 2021. O objetivo da empresa é ser a maior e melhor fashion retailer (varejista de moda) das Américas. Hoje, o grupo já é o maior do segmento no Brasil e faturou R$ 8,6 bilhões em 2016. No final do ano passado, haviam sido emitidos 27,4 milhões de Cartões Renner, e o ticket médio atingiu R$ 204,28. Em março, a empresa inaugurou a nova sede administrativa, na Zona Leste de Porto Alegre. O novo prédio tem 32,7 mil metros quadrados e está adequado à certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), que valida edificações sustentáveis.
JOÃO ALVES/DIVULGAÇÃO/JC
Koch aposta na próxima estação
É preciso ser mais criativo e agressivo nas vendas Fundada em São Jerônimo, em 1956, a Lojas Lebes já ultrapassou a fronteira do Rio Grande do Sul, com a abertura no ano passado da loja em Criciúma, a primeira em Santa Catarina. Com ajustes de processos e mais produtividade, o presidente da empresa, Otelmo Drebes, filho dos fundadores, mantém o planejamento de chegar, até o final do ano, a 154 lojas. Ele revela que, para julho, está prevista a inauguração da nova filial, bem no coração do Centro de Porto Alegre, no edifício Guaspari, que está em fase de reformas, num investimento estimado entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões. Os sete andares estão sendo preparados para receber os diversos departamentos da Lebes, de vestuário a móveis, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, além
de um restaurante no quarto andar e um café no sétimo andar. A previsão é de que cerca de 70 funcionários sejam contratados para a operação direta da nova loja. Drebes afirma que, nesses novos tempos, o comércio precisa ser ainda mais criativo e agressivo nas vendas, definindo ofertas e estabelecendo com critério planos de pagamento sem juros, que sejam acessíveis e, ao mesmo tempo, não comprometam o negócio. “Existe uma série de indicadores macroeconômicos que revelam melhoras, e o cenário mostra que caminhamos para a retomada”, afirma. Segundo ele, no comércio, o mais significativo é a retomada do nível de emprego, para que as pessoas recuperem a renda e possam realizar suas compras com tranquilidade. “O
comércio é o primeiro que sente a crise e o último que se recupera”, constata Drebes. Ele acrescenta, ainda, que, mesmo quando melhoram os índices de emprego, o impacto no comércio demora 30 dias para ser sentido. Em relação ao resgate das contas inativas do FGTS, ele avalia que foi usado para consumo imediato e ajudou a movimentar um pouco os negócios. Pelos dados da Caixa Econômica Federal, no Rio Grande do Sul, até abril, mais de 652,5 mil trabalhadores já haviam sacado os recursos disponíveis nas duas primeiras fases. O valor injetado na economia chegou a R$ 942,2 milhões e equivale a 87,6% do total inicialmente previsto para as duas fases, que era de R$ 1,075 bilhão.
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SUPERMERCADOS
Readequação para superar dificuldades Uma das atividades das mais sensíveis aos altos e baixos da economia, o setor de supermercados percebe no check out o quanto o consumidor está mais atento aos gastos e comedido nas compras. Mesmo assim, conseguiu no ano passado um aumento real de 3,4% nas vendas no Estado, segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). O presidente da entidade, Antônio Cesa Longo, acredita que em 2017 será possível atingir um crescimento entre 1% a 2%, o que já é considerado “muito positivo”. Neste ano, o setor pretende investir em torno de R$ 79 milhões em novas lojas e R$ 73,9 milhões em reformas, a fim de melhorar serviços e otimizar pontos de venda. O setor tem um peso de 6,9% no PIB gaúcho e ocupa a terceira posição no ranking nacional, com faturamento de R$ 338,7 bilhões. No Brasil, as vendas em valores
reais caíram 1,4% de janeiro a março de 2017, na comparação com o mesmo período de 2016, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Em março, as vendas - deflacionadas - apresentaram alta de 4,49% na comparação com fevereiro, mas uma queda de 3,87% em relação ao mesmo mês do ano passado. Para o presidente da entidade, João Sanzovo Neto, o resultado refletiu o fator sazonal relacionado à Páscoa. A Abras também mantém previsão de 1,3% de crescimento para o ano. O presidente da Agas afirma que o crescimento real obtido no ano passado e as projeções positivas para 2017 se devem à readequação do setor, “que se preparou para este momento”, entendendo os novos hábitos de consumo e as mudanças no comportamento dos clientes, que, por exemplo, reduziram o tempo em frente à gôndola (hoje, 15 segundos em média) e,
ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Presidente da Agas, Longo estima crescimento entre 1% e 2% para 2017 em 70% dos casos, decidem as compras na hora. Com isso, a visualização dos produtos tem de ser cada vez mais valorizada e facilitada. Ciente dessa tendência, o mix de produtos disponíveis nos
estabelecimentos passa por um processo de enxugamento desde 2015 e a marca própria já não tem a mesma importância na contabilidade geral das empresas. O tíquete médio passou de R$ 44,02 em 2015 para R$ 47,80 em 2016, mas
a elevação acompanha a inflação do período. Receoso com o avanço da taxa de juros, o consumidor reduziu a compra parcelada, preferindo pagar à vista em dinheiro ou cartão de débito. A segurança é uma das principais preocupações dos empresários e, para fazer frente aos riscos de roubos e assaltos, mais de R$ 130 milhões foram investidos para reforçar a segurança dos estabelecimentos. Longo destaca que as dificuldades tornaram o setor mais eficiente e ágil e informa que de cada quatro empresas, uma investe em ampliação ou melhorias no ponto de venda. Há, porém, os que preferem enxugar operações, como o Walmart, que fechou mais de 10 lojas no Estado. As empresas de porte médio, ao contrário, estão em fase de expansão, apostando na identificação com as comunidades.
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CRÉDITO
Taxas elevadas e desemprego inibem demanda Receoso com as altas taxas de juros e ainda com medo do desemprego, o brasileiro está adiando a tomada de novos empréstimos. Pesquisa da Boa Vista SCPC, empresa de informações de crédito, mostra que a procura por crédito ao consumidor caiu 4% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2016. Os dados nacionais revelam que, na avaliação dos valores acumulados em 12 meses - abril de 2016 até março de 2017-, a queda chegou a 9,3%. Na comparação de março com fevereiro, no entanto, houve alta de 2,2%, mas considerando ajuste sazonal como feriados, por exemplo. A avaliação em 12 meses mostrou que, nas instituições financeiras, houve queda de 13,7% na busca por crédito, enquanto para o segmento não financeiro a diminuição foi de 6,7%. A expectativa é de que, com a redução dos juros e da inflação, a volta da procura por crédito ocorra a partir do segundo semestre, embora a cautela ainda seja predominante. Pela avaliação do diretor de crédito do Banrisul, Oberdan
Almeida, já é possível constatar “um pequeno movimento positivo” e a curva “começa a ser ascendente”. O cenário mais positivo é atribuído a um aumento de confiança por parte dos empresários e, no caso do Estado, a excelente safra também funciona como impulsionadora de negócios, embora a oferta em abundância tenha efeito negativo nos preços do produto. Almeida considera que os saques das contas inativas do FGTS foram utilizados para quitação de dívidas mais altas e, com isso, o consumidor pode retomar a capacidade de fazer novas aquisições. O diretor considera que “o pior já passou” e que a economia aos poucos recupera seu ritmo. “O PIB decresceu, e agora há uma recuperação gradativa”, acrescenta. Conforme o balanço do Banrisul, em dezembro de 2016, o total de recursos captados e administrados registrou saldo de R$ 56,4 bilhões. Os depósitos totais alcançaram R$ 42,5 bilhões no período, com incremento de 9,9% ou R$ 3,8 bilhões em 12 meses. O saldo das operações de crédito do Banrisul
totalizou R$ 30,3 bilhões em dezembro do ano passado, com queda de 5,2% nos 12 meses. O diretor executivo da Central Sicredi Sul, Gerson Seefeld, pondera que cada dia é uma expectativa nova, uma leitura nova dos cenários, e salienta que, “sem as reformas, o cenário econômico fica prejudicado”. Ele lembra que o agronegócio vive momentos de muito trabalho por conta da boa safra, mas ainda enfrentando os gargalos de transporte e logística. As operações totais de crédito da carteira do Sicredi no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina registraram 11,33% de crescimento, somando mais de R$ 16,13 bilhões, no acumulado fevereiro 2016/fevereiro 2017. Com 1.706.580 associados, a instituição registra uma inadimplência média de apenas 1,80% entre pessoas físicas e empresas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A expectativa para 2017 é de expansão de 7,10% nas operações. “O segundo semestre deve trazer sinais de melhora, mas não podemos esquecer dos desafios e olhar o cenário com realismo”, afirma o diretor.
ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Para Seefeld, setor terá sinais de melhora no segundo semestre
ENTREVISTA
Na crise, 'fazer melhor e com criatividade para inovar' é o caminho JULIANA MOSCOFIAN/DIVULGAÇÃO/JC
Bohn diz que desafios estruturais acabam tirando foco das vendas
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, os empresários do comércio estão bastante otimistas no que diz respeito às expectativas para o futuro. Jornal do Comércio – O senhor acredita em melhora no segundo semestre? Quais fatores podem contribuir para reverter a situação atual? Luiz Carlos Bohn - Pode haver melhora, sim, mas ainda não chegaremos em uma situação que poderemos chamar de “boa” em 2017. O mercado de trabalho e a renda são os principais determinantes das vendas do comércio, e esses fatores ainda vão patinar neste ano, com a taxa de desemprego se mantendo alta. O alívio pode vir pela melhora da confiança e redução de juros, que tira pressão da situação de endividamento em que se encontram as famílias. Além disso, também vivenciamos uma desinflação, o que ajuda tanto indiretamente por um orçamento menos apertado para as famílias, quanto diretamente, via
menor impacto nos custos das empresas. JC - Como encantar e atrair o consumidor em tempos de dinheiro escasso e concorrência do e-commerce? Bohn - Na crise, as vendas agregadas estão em queda e, para vender mais, é preciso ganhar da concorrência. Para isso, é preciso fazer melhor o que já se fazia e utilizar a criatividade para inovar. Hoje em dia, não falta informação para auxiliar as empresas nesse sentido. Com a popularização da internet e dos smartphones, os canais para atingir clientes passaram a ser inúmeros, ultrapassando o tradicional contato físico na loja. As empresas precisam entender e se aproveitar disso. Presença em redes sociais, personalização, atendimento de qualidade são formas de gerar experiências positivas para os consumidores e que, não necessariamente, envolvem aumento de custos. JC - Quanto tempo levará para a retomada do Índice de Confiança do Comércio? Bohn - Já há uma retomada e, se ainda não há otimismo, o
pessimismo se reduz a cada pesquisa. As avaliações das condições atuais, apesar de apresentarem incremento nos últimos meses, ainda são negativas. Tendem a acompanhar o comportamento das vendas. Enquanto não houver retomada mais consistente da economia, é difícil chegarmos a um nível de otimismo. Quanto às expectativas para o futuro, os empresários do comércio já estão bastante otimistas. JC - Qual é o principal desafio para o empresário do comércio? Bohn - No curto prazo, é vencer a crise. Ficamos muito tempo com vendas em queda, em magnitudes nunca vistas. Ao mesmo tempo, os juros ficaram altos por muito tempo, tornando o financiamento de prejuízos muito caro. Muitas empresas tiveram que fechar, ficaram descapitalizadas e endividadas. O que torna esse cenário ainda pior são os desafios estruturais, a elevada e complexa carga tributária, e ineficiências e inseguranças da legislação trabalhista. Esses elementos fazem o empresário perder mais tempo se ajustando às regras do que pensando em como pode vender mais e inovar.
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ENTREVISTA
ITAMAR AGUIAR/AGÊNCIA FREELANCER/JC
Falta de crédito aflige micro e pequenas empresas A presidente da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul), Simone Leite, considera que, além do capital de giro, a burocracia ainda é um dos principais desafios que as micro e pequenas empresas têm de enfrentar. Jornal do Comércio – As pequenas empresas já estão retomando o nível de atividades? Já há sinais de melhora? Simone Leite – Sim. Mas há uma diferença nessa retomada, que nós observamos e que uma pesquisa interna na Federasul mostrou que ocorre em dois momentos distintos. Um se refere às micro e pequenas empresas do Interior, e outra realidade é a de micro e pequenas empresas da Região Metropolitana. As micro e pequenas
no Interior ficaram abaladas em função da crise, mas já conseguem retomar suas atividades, principalmente em função da safra. Houve um incremento nos postos de trabalho, muitos voltados para o agronegócio, e isso tudo traz renda para a sociedade e para a comunidade, que se reverte no uso de produtos e serviços e no próprio consumo nas cidades do Interior. Já na Região Metropolitana, o que nós percebemos foi que, além da crise, tem a questão da segurança pública, que continua abalando. Não só postos de trabalho foram fechados, mas empresas foram fechadas. O principal ponto é que falta crédito para as micro e pequenas empresas. Percebemos que uma média e uma grande empresa têm acesso a crédito mais facilitado, mas as micro
e pequenas não têm garantias para dar e não têm acesso ao crédito. Não foram só os postos de trabalho, mas as empresas que fecharam, e estes próprios empresários estão endividados. Eles estão com problemas, também precisam de renda para suas famílias, estão se colocando no mercado de trabalho. E eles nem figuram nas estatísticas como desempregados, porque não estavam empregados com carteira assinada. JC – Como as entidades empresariais podem apoiar para reverter essa situação? Simone – O nosso papel é dar apoio total às reformas que são importantes. A trabalhista, por si só, não vai reaquecer a economia nem ampliar as vagas de trabalho, mas vai contribuir para que se possa
Burocracia e carga tributária são grandes desafios, destaca Simone viver num cenário mais estável no País, e isso tudo contribui para a retomada da economia. . Temos uma expectativa boa para 2017, mas de forma muito cautelosa, apoiados nessas medidas. A economia tem vários vieses, e um deles é a confiança, que está muito balizada pelo próprio governo. A crise começou em função de uma crise política. E é preciso trazer essa estabilidade através das reformas. Por exemplo, o ajuste fiscal é fundamental para
que respingue a curto e médio prazo. A nível estadual, apoiamos as reformas apresentadas pelo governo Sartori. JC - Qual o principal desafio para esses empreendedores? Simone - Aa burocracia para abrir e manter uma empresa. A carga tributária é outro grande desafio, e o próprio capital de giro. São pontos que não dependem só do empreendedor, mas o negócio depende disso.
COM ELES AO NOSSO LADO, O VAREJO SE FORTALECE CADA DIA MAIS. 25 DE MAIO DIA DA INDÚSTRIA E ANIVERSÁRIO DO JORNAL DO COMÉRCIO.
Uma homenagem do Sindilojas Porto Alegre ao setor que caminha lado a lado com o varejo e ao jornal que representa o fortalecimento do comércio.
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SERVIÇOS
Sem medo da crise
Demanda começa a melhorar Depois de amargar no ano passado uma queda acumulada no País de 5% em relação a 2015 - a maior da série histórica, iniciada em 2012 -, o setor de serviços começa aos poucos a retomar o fôlego. Alguns indicadores já mostram essa tendência. Em março, por exemplo, o volume de negócios do setor teve uma pequena melhora, de acordo com o Índice de Gerente de Compras divulgado pela Markit, e subiu para 47,7 pontos depois de ficar em 46,4 pontos em fevereiro, demonstrando que a demanda por serviços brasileiros melhorou no mês, com preços mais competitivos. Foi a segunda expansão consecutiva no volume de novos negócios, mas, em março, o ritmo de alta foi mais intenso. Também o Índice de Confiança de Serviços (ICS) da Fundação Getúlio Vargas apresentou uma elevação de 4,4 pontos em março, ficando em 85,3 pontos, o maior nível desde dezembro de 2014. Além disso, a alta da confiança foi a mais expressiva desde abril de 2009, quando subiu 4,8 pontos. Na comparação com março do ano passado, houve alta de 14,4 pontos. A alta da confiança foi significativa e abrangeu 11 das 13 principais atividades pesquisadas. A principal contribuição para a variação do índice no mês veio do indicador de percepção com a Situação Atual dos Negócios, que registrou aumento de 1,6 ponto, alcançando 75 pontos. Entre os indicadores que formam o Índice de Expectativas (IE), o destaque positivo foi o de Demanda Prevista, que aumentou 11,8 pontos, para 98,2 pontos. O turismo é um dos principais impulsionadores do setor de serviços e o movimento tende a crescer com o lançamento pelo governo do programa Brasil + Turismo que, entre outras metas, pretende passar dos 6,5 milhões de turistas estrangeiros no País em 2016 para 12 milhões em 2022. A estimativa é de que a receita com os visitantes salte dos US$ 6 bilhões anuais para US$ 19 bilhões. Outro impacto esperado é a inserção de 40 milhões de brasileiros no mercado consumidor de viagens. Atualmente, cerca de 60 milhões, menos da metade da população, viaja todos os anos. A criação de quase 6 milhões de empregos é outra das consequências esperadas como resultado do Brasil + Turismo. Atualmente, no País, o turismo emprega direta e indiretamente 7 milhões de pessoas. A Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo (Pacet) encomendada pelo Ministério do Turismo à Fundação Getúlio Vargas, com as 80 maiores empresas do setor, aponta um crescimento médio de 6,2% no faturamento, com destaque para as locadoras de automóveis, que devem faturar 23,8% a mais que em 2016. Divulgado em meados de abril, o levantamento mostra que quase 90% dos entrevistados informaram que farão aportes para investimento em seus negócios. Nos segmentos de transporte aéreo, locadoras de automóveis e operadoras de turismo, o otimismo está em alta e 100% dos entrevistados afirmaram
MARCO QUINTANA /JC
As investidas da Rede Laghetto Hotéis demonstram que a administradora hoteleira se preparou para enfrentar as oscilações da economia brasileira. “Sabemos que o País atravessa momentos difíceis, mas acreditamos em uma retomada em 2018 e que, já nesse segundo semestre de 2017, haverá uma estabilização”, afirma o gerente de marketing da rede, Luís Dyundi. Com origem em Gramado, a Laghetto conta atualmente com 11 hotéis, sendo sete na própria cidade de Gramado, um no município de Bento Gonçalves, dois em Porto Alegre e um no Rio de Janeiro, inaugurado no início de março. Com 311 apartamentos, o novo hotel na Barra da Tijuca é a primeira operação da rede fora do Rio Grande do Sul e passa a se chamar Laghetto Stilo Barra Rio. A bandeira contempla hotéis de alto padrão, com design moderno e serviços personalizados. Dyundi revela que a rede planeja crescer 70% em número de apartamentos em 2017, com a inauguração de dois novos hotéis, em Canela e Gramado, chegando a um total de 1.767 apartamentos. Distribuídos em cinco bandeiras – Vivace, Allegro, Viverone, Vertice e Stilo, os hotéis atendem diferentes perfis de clientes. Para os próximos anos, estão em construção empreendimentos em outras quatro cidades do País, incluindo Florianópolis (SC) e Caldas Novas (GO), chegando a 20 hotéis em 2021. Com a expansão, o número de colaboradores em 2017 passará de 550 para aproximadamente 800. LUIS DYUNDI/DIVULGAÇÃO/JC
Para Chmelnitsky, setor deve investir em produtividade e mão de obra que realizarão investimentos. A expectativa também é elevada nas áreas de meios de hospedagem (94%), promotora de feiras (82%) e agência de viagens (82%). Para 81% do mercado pesquisado, a expectativa é de crescimento baseada na perspectiva de retomada do crescimento econômico e aumento no número de brasileiros viajando pelo País. Conforme o estudo, 14% dos entrevistados acreditam na estabilidade e apenas 5% na redução do mercado. Localmente, porém, ainda há preocupação com os impactos gerados pela retração de renda e o volume de negócios ainda não é o esperado pelo ramo hoteleiro e de alimentação. O presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky, considera que o cenário é muito ruim. “Não tem turismo de negócios porque não há novos negócios
e a gastronomia também sente os reflexos do parcelamento de salários e da preocupação com a segurança”, acrescenta. Ele considera que o desafio é alcançar produtividade para superar essa fase e a elevação de custos em geral. Uma das maneiras de melhorar a produtividade é qualificando ainda mais a mão de obra. A capacitação é o foco do Senac-RS que contabiliza cerca de 200 mil pessoas capacitadas anualmente. Enfermagem, administração e informática são os cursos mais procurados de nível técnico, enquanto tecnólogo em análise de desenvolvimento de sistemas e tecnólogo em processos gerenciais ganham a preferência entre os cursos de nível superior. Há também bastante procura por cursos livres de inglês, boas práticas para serviço de alimentação, design de sobrancelhas e informática fundamental.
Rede planeja crescer 70% em apartamentos e chegar a 800 colaboradores em 2017, revela Dyundi
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CENÁRIO/INFRAESTRUTURA
Investimentos ficam aquém das necessidades Os investimentos em obras de infraestrutura ainda estão longe de atender às necessidades do País. Conforme dados da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), em 2016 foram investidos R$ 55 bilhões a menos que em 2014 e, para este ano, a confirmação da expectativa de uma retomada consistente do cronograma das grandes obras públicas de infraestrutura depende dos resultados do pacote de R$ 45 bilhões do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que inclui projetos nas áreas de energia, transportes e saneamento, anunciado em março pelo governo federal. A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) informa que o valor autorizado para o investimento em infraestrutura de transporte é de R$ 13,70 bilhões, mas representa um corte de 44,2% do orçamento previsto. Para o primeiro semestre, está previsto o anúncio de R$ 1 bilhão por parte do governo de Michel Temer para obras de saneamento básico, drenagem e pavimentação. Essa área enfrenta atrasos históricos e, segundo levantamento do Instituto Trata Brasil, para universalizar o acesso aos serviços de saneamento básico no País, seriam necessários investimentos de R$ 317 bilhões até 2035. Até 2015 (último dado disponível), 83,3% da população tinha acesso à água, e 50,3% contava com a coleta de esgoto. No Rio Grande do Sul, a safra recorde de soja expôs novamente o problema de escoamento pelas deficiências de armazenagem e dificuldades de transporte pela BR-116, por onde passa cerca de 70% da produção gaúcha, e cujas obras de duplicação estão
JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
Negócio entre a Eletrosul e a Shanghai Eletric deve garantir, ao Estado, reforço de 2,1 mil quilômetros em linhas de transmissão MARCELO G. RIBEIRO/JC
Nunes destaca que duplicação da BR-116, entre Guaíba e Pelotas, é a principal obra do Estado
praticamente paradas. Em abril, o governo federal liberou R$ 39 milhões para a duplicação do trecho entre Guaíba e Pelotas. “Essa duplicação é a principal obra do Estado, juntamente com a travessia Pelotas-Santa Maria”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem do Estado (Sicepot-RS), Ricardo Lins Portella Nunes. A boa notícia do trimestre foi o leilão de quatro aeroportos em março, permitindo que grupos estrangeiros com experiência na administração de outros terminais, em diversos países, operem esses serviços no Brasil. Os investimentos previstos para os quatro aeroportos - Porto Alegre, Fortaleza, Salvador e Florianópolis - são de R$ 6,61 bilhões. As empresas terão que investir na ampliação dos terminais de passageiros (exceto Florianópolis, que terá um novo terminal), dos pátios das
aeronaves e das pistas de pouso e decolagem. Também estão previstos aumentos do número de pontes de embarque e dos estacionamentos de veículos. A empresa alemã Fraport, que será a administradora dos aeroportos de Porto Alegre e Fortaleza, atualmente opera seis aeroportos na Europa, entre eles o de Frankfurt, na Alemanha, considerado um dos mais modernos do mundo, além dos terminais de Hannover, também na Alemanha, outros dois na Bulgária, um na Rússia e outro na Eslovênia. O aeroporto de Porto Alegre foi arrematado por R$ 290,5 milhões, com ágio de 852,12%. Em relação a outros setores, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Ricardo Antunes Sessegolo, constata que o ritmo ainda é muito lento. “Existem pouquíssimas obras industriais, e as públicas também estão paradas”,
observa. “A máquina precisa voltar a funcionar”, enfatiza. Uma das expectativas dos empresários é a evolução das negociações entre a Eletrosul e o grupo chinês Shanghai Electric para os projetos de transmissão de energia. Os empreendimentos envolvem cerca 2,1 mil quilômetros de linhas de transmissão e oito subestações de contrato obtido em licitação de 2014, com investimentos estimados em R$ 3 bilhões. Na contratação de mão de obra houve uma pequena elevação no início do ano, e dados do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que os canteiros de obras de infraestrutura e montagem industrial contabilizavam no Estado, em fevereiro, um total de 30.734 trabalhadores com carteira assinada. Esse número representa uma evolução de 1,1% em comparação ao mês anterior, mas ainda reflete uma queda de 6% no acumulado de 12 meses.
Desembolsos do Bndes somam R$ 15,1 bilhões no primeiro trimestre deste ano O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) divulgou que as estatísticas operacionais do primeiro trimestre de 2017 reforçam a expectativa de melhora da atividade econômica, com recuperação gradual da demanda por recursos da instituição ao longo do ano. Para o banco, um sinal importante é o desempenho da linha Bndes Finame, que financia a aquisição de máquinas e equipamentos. As aprovações dessa linha subiram 32% nos três primeiros meses do ano, na comparação com o primeiro
trimestre de 2016. Foram R$ 4,6 bilhões aprovados entre janeiro e março deste ano, contra R$ 3,4 bilhões no primeiro trimestre do ano passado. As consultas para financiamentos na área de infraestrutura também cresceram 25% no primeiro trimestre de 2017, com projetos somando R$ 9,3 bilhões. Outro destaque positivo no trimestre foi a alta de 46% dos desembolsos para inovação, que somaram R$ 590 milhões. A maior parcela dos desembolsos do Bndes foi para a infraestrutura, que respondeu por 33,5%
do total, com pouco mais de R$ 5 bilhões no trimestre. Apesar de essa cifra significar queda de 13% em relação ao primeiro trimestre de 2016, três segmentos de infraestrutura destacaram-se positivamente. Transporte ferroviário e energia elétrica tiveram, respectivamente, alta de 106% e 9%. Já o setor de telecomunicações somou desembolsos de R$ 693 milhões nos três primeiros meses do ano, alta de 929% ante igual período do ano passado, com uma concentração de investimentos em modernização de redes.
Os números globais de desembolsos do Bndes, no entanto, ainda refletem o quadro econômico de baixa demanda por financiamentos dos últimos dois anos. Nesse cenário, o total de desembolsos nos três primeiros meses deste ano somou R$ 15,1 bilhões, com queda de 17% em relação ao mesmo período do ano anterior. Apenas no mês de março, o Bndes desembolsou R$ 5,1 bilhões, com queda de 18% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram desembolsados R$ 6,2 bilhões.
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TRANSPORTES
Contingenciamento preocupa setor Com problemas recorrentes pela escassez de recursos e de planejamento, a infraestrutura de transportes continua como um dos entraves para o desenvolvimento e para a captação de novos investimentos. A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) alerta que o contingenciamento de R$ 42,1 bilhões no Orçamento Fiscal e da Seguridade Social (OGU) para cumprir a meta fiscal estabelecida para 2017 atinge diretamente o setor de transportes, que, além da redução no valor dos investimentos previstos, deverá lidar com o impacto negativo dos custos extras decorrentes da decisão de reonerar a folha de pagamento das empresas que prestam esse serviço. No boletim Economia em Foco, divulgado em abril, a CNT informa que os investimentos conjuntos em infraestrutura ferroviária,
aquaviária e aérea alcançaram R$ 2,93 bilhões em 2016, enquanto a redução das despesas federais, que em 2017 beneficiaria diretamente a infraestrutura de transporte brasileira, está estimada em R$ 6,05 bilhões, dos quais R$ 3,73 bilhões referem-se a projetos inscritos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e R$ 2,32 bilhões correspondem às despesas do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. A entidade pondera que os recursos contingenciados poderiam ser suficientes para promover intervenções simples de manutenção em pelo menos 36,4% da malha rodoviária federal. Para 2017, o valor autorizado para o investimento em infraestrutura de transporte é de R$ 13,70 bilhões, um corte de 44,2% do orçamento previsto. No âmbito estadual, o presidente do Sindicato da Indústria de
Conclusão de obras de infraestrutura fundamentais, como a duplicação da BR-116, ainda são aguardadas Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem em Geral (Sicepot-RS), Ricardo Portella Nunes, considera que a malha rodoviária ainda é comparável a de um país subdesenvolvido e lamenta que obras importantes como a duplicação da BR-116 não
sejam concluídas. “Quando a obra começou, havia recursos garantidos, agora está praticamente parada.” Ele aponta essa duplicação e a travessia entre Pelotas e Santa Maria como as principais obras no Estado. “A infraestrutura é o legado que vamos deixar, por isso
o governo vai ter que fazer investimentos e ser mais eficiente nos gastos.” Portella Nunes estima que, em 2017, sejam aplicados em torno de R$ 900 milhões entre recursos estaduais e federais, não atendendo nem 50% das necessidades do Estado.
Malha estadual contará com maior volume de recursos desde 2010 SICEPOT/DIVULGAÇÃO/JC
No Crema Serra, as obras envolvem extensão total de quase 200 km, com investimento de R$ 153,3 milhões
O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) informa que o volume total orçado para a malha estadual em 2017 é de R$ 516,7 milhões. Segundo a autarquia, é o maior valor de recursos desde 2010, quando os investimentos aplicados pelo Daer passaram de R$ 1 bilhão. Do total orçado, estão previstos R$ 300 milhões para os programas de restauração e R$ 60,7 milhões para conservação das rodovias administradas pelo Daer. A duplicação da ERS-118, na Região Metropolitana de Porto Alegre, continua sendo prioridade do atual governo e do Daer. Em obras e pontes, está prevista aplicação de R$ 10 milhões na rodovia, e os
Concessões à iniciativa privada podem amenizar problemas logísticos Em meio às dificuldades, o leilão dos aeroportos surgiu como uma boa notícia, pela possibilidade de melhoria de processos e serviços. Em Porto Alegre, o Aeroporto Internacional Salgado Filho foi arrematado por R$ 290,5 milhões pela empresa alemã Fraport, que também venceu o leilão de Fortaleza e opera seis aeroportos na Europa, entre eles o de Frankfurt, um dos mais modernos do mundo. No modal rodoviário, a expectativa é o leilão marcado para novembro,
abrangendo a concessão de trechos de quatro rodovias federais no Estado - da BR-101 entre Torres e Osório, da BR-290 entre Osório e Porto Alegre, da BR-448 de Porto Alegre a Canoas, e da BR-386 de Canoas até Carazinho. Estão previstas construções de 27 passarelas, 22 km de vias marginais e 60 melhorias em acessos. O movimento no porto do Rio Grande também esteve em evidência. Entre janeiro e março, o volume de mais de 7,9 milhões de
toneladas movimentadas bateu recorde e representou o melhor primeiro trimestre em mais de 100 anos do porto. Para os próximos meses, a estimativa permanece alta, em função do escoamento da safra gaúcha. No entanto ainda persiste o problema de calado do canal, que afeta navios graneleiros. A realização da dragagem de manutenção do canal de acesso, obra do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, já está contratada e prevista para o segundo semestre.
O melhor aproveitamento dos recursos naturais e a intermodalidade são defendidos pelo presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, como alternativas "para o Estado, sair do marasmo”. Ele considera que o Rio Grande do Sul poderia ter a melhor logística de transportes do País e frisa que, enquanto um caminhão transporta um contêiner, um barco pode levar 200 ou mais, o que contribuiria para desafogar as rodovias.
lotes contratados estão sendo retomados e/ou relicitados. Pela previsão do orçamento do Daer, os três programas que mais concentram investimentos são o Programa Restauro (R$ 108,6 milhões), o Contrato de Restauração e Manutenção de Rodovias (Crema) Passo Fundo (R$ 103,8 milhões) e Acessos Municipais (R$ 94,9 milhões). A autarquia está dando continuidade aos Cremas Serra e Erechim, à duplicação da ERS-509 (Santa Maria), aos convênios com municípios, ligações regionais, obras em pontes e viadutos, e emergenciais e conserva de rodovias. O Crema Santa Maria também está com previsão de início em 2017. ABTP/DIVULGAÇÃO/JC
Estado poderia ter a melhor logística do País, diz Manteli
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Indústria
ENERGIA
Escoamento ainda é o principal desafio O Rio Grande do Sul ainda enfrenta algumas carências na área energética. O coordenador do Grupo Temático de Energia do Conselho de Infraestrutura (Coinfra) da Fiergs, Edílson Deitos, ressalta que o setor energético no Estado está com um sério comprometimento. Ele lembra que o motivo pelo qual 127 Projetos Eólicos em um total de 3.087 MW – aproximadamente R$ 18 bilhões – foram vetados para o segundo Leilão de Energia de Reserva (LER), que ocorreria em dezembro de 2016, ainda está presente. “O motivo principal seria a impossibilidade de escoamento da energia, que seria produzida pelos projetos, pela falta de linhas de Transmissão de Energia e Subestações. Essas deveriam estar sendo implantadas no Estado pela Eletrosul, que ainda está tentando vender tal concessão, pois não tem capacidade de honrar os compromissos assumidos no leilão de transmissão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”, afirma. Para superar esse obstáculo, a Eletrosul está
em negociações com a chinesa Shanghai Electric para a venda de um lote de concessões para a construção de linhas de transmissão de energia no Sul. A Shanghai apresentou uma proposta pelos ativos em uma chamada pública aberta pela empresa. Em abril, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) aprovou a concessão de financiamento de R$ 679 milhões à empresa Atlantic Energias Renováveis S.A. para implantação do Complexo Eólico Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul. O empreendimento, orçado em R$ 1,2 bilhão, é formado por 12 parques geradores e sistema de transmissão associado, com potência instalada de 207 megawatts (MW), suficiente para atender a cerca de 400 mil residências ou 1,2 milhões de habitantes. Rodrigo Rosa de Souza, um dos sócios do escritório Souza Berger Advogados e membro do Comitê Estratégico de Energia da Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham POA), destaca a importância dos projetos de energia renovável,
JOÃO ALVES/DIVULGAÇÃO/JC
Deitos cita meta de fornecer energia a preços compatíveis
lembrando que são contratos de venda de energia por 20 anos, o que fomenta a indústria de forma direta e indireta, além de aproximar a geração de energia dos consumidores. “Novos empreendimentos, porém, dependem do sistema de transmissão do Estado”, pondera. Deitos, por sua vez, considera que, pelas condições favoráveis no Estado, o setor de geração com fonte eólica deverá predominar. “Em 2017, no segmento de geração descentralizada de energia, a tendência de crescimento do número de projetos deve continuar, pois muitos consumidores estão buscando uma forma de se garantir de futuros aumentos de energia. Neste segmento, a predominância deverá ser de energia solar fotovoltaica”, acrescenta. Ele ressalta que disponibilidade de energia elétrica com qualidade, confiabilidade e preços compatíveis com a realidade do País foi sempre e continuará sendo uma meta para o setor industrial. Pela importância deste insumo para garantir o desenvolvimento, competitividade, geração de empregos e arrecadação de impostos.
ENTREVISTA
Construção civil estima lenta retomada O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Ricardo Antunes Sessegolo, acredita que o mercado deve crescer em 2017 um pouco mais do que o ano passado. Jornal do Comércio – O setor da construção civil já vislumbra dias melhores com a retomada dos negócios? Ricardo Sessegolo - Começou março com bastante movimento. O mercado está movimentado, os clientes estão entrando fortemente nos sites, estão indo aos plantões de venda. Isso demonstra interesse de compra e, lentamente, nós devemos registrar uma retomada. Mas muito lentamente, nada de entusiasmo. O mercado deve crescer em 2017 um pouco mais do que em 2016. Já começou a virar a curva. Nós aqui também temos o problema da liberação dos projetos, que ainda está lenta, mas acreditamos que irá melhorar. Em outras capitais a demora é de 60 dias para liberação de projetos e acreditamos que vamos chegar lá, já está melhorando. Atualmente, são
124 mil empregados com carteira assinada aqui no Estado, mas em 2014 eram 154 mil. Leva mais uns três anos para recompor o nível de emprego, se o ritmo de crescimento for retomado. JC – E como está o ritmo de lançamento dos empreendimentos? Sessegolo - Pelo nosso levantamento, as empresas estão com vários empreendimentos por lançar em 2017. Haverá excelentes lançamentos neste ano. Mas, as empresas só vão efetivando esses lançamentos conforme o mercado está demandando. Em relação aos imóveis comerciais, porém, o mercado de Porto Alegre está saturado para esse segmento, pela crise. No caso de pavilhões industriais também estão em stand by. Há também pouquíssimas obras industriais e as públicas, igualmente, estão paradas. A velocidade das vendas surpreendeu. Para se ter uma ideia, no mês de fevereiro, que é de férias, foram comercializados 271 unidades em Porto Alegre, acima das 260 unidades vendidas em fevereiro do ano passado. Porto Alegre consome 300 apartamentos por mês. Tem uma
classe média forte e as pessoas a cada oito anos, em média, trocam de residência. Essa movimentação é que o mercado imobiliário atende e está pronto para atender. A média do estoque de imóveis novos em Porto Alegre gira em torno de 6 mil. JC – Os financiamentos imobiliários são concedidos no ritmo desejado? Sessegolo – A concessão de financiamentos está extremamente restritiva. O grande funding para a construção civil é a poupança, que perdeu recursos significativos. A concessão de crédito está muito seletiva. A barra de análise do comprador subiu e, às vezes, a venda é efetivada, mas o cliente não passa no crivo do banco e precisa buscar alternativas como trocar de banco, financiar direto. Hoje, para financiar uma obra, os bancos privados estão exigindo 30% de obra executada e 40% de venda. Mas nem sempre nos primeiros 10 meses da obra se consegue vender 40%. Antes, o cliente queria ver o imóvel pronto. Depois, veio a venda na planta. A velocidade de venda mudou, os bancos têm de acompanhar a realidade.
SINDUSCON RS/DIVULGAÇÃO/JC
Sessegolo destaca mudança na velocidade das vendas
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Indústria
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MARCO QUINTANA/JC
CONSTRUÇÃO CIVIL E MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Sinais de recuperação são percebidos “Estamos ouvindo lá longe os clarins de uma marcha vitoriosa.” A afirmação é do presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-RS), Moacyr Schukster, ao se manifestar sobre as perspectivas do setor imobiliário para 2017, e o seu otimismo é baseado em alguns sinais, como a reversão do desemprego – cuja curva ascendente começa a ceder – e a “pujança do Interior”, alimentada principalmente pela boa safra. Schukster considera que o mercado está reagindo e cita alguns exemplos. Um deles é o fato de que, embora tenha havido redução no número do registro de escrituras em Porto Alegre, passando de 40.406 para 33.897 nos últimos cinco anos, houve evolução no valor médio dos imóveis, pois a arrecadação de Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), no mesmo período, teve acréscimo de 33,85%. A locação de imóveis residenciais também está em boa situação. “Em 100 meses, o preço das locações aumentou 89,4%, mostrando que essa é uma boa aplicação”. O presidente do Secovi-RS acredita que “a fisionomia do mercado estará diferente, porque irá aumentar a confiança do empresário”, mas ressalva que a recuperação do
nível do emprego é fundamental para que a economia também retome o fôlego. A melhora da percepção sobre a situação atual impulsionou a confiança da construção do Brasil, em abril, para o nível mais alto em dois anos, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança da Construção (ICST) subiu 1,4 ponto em abril e foi a 76,5 pontos. O Índice da Situação Atual (ISA-CST) teve alta de 2,9 pontos, alcançando 65,7 pontos, o maior patamar desde dezembro de 2015. Em um segundo relatório, a FGV informou que o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC-M) recuou 0,08% em abril, sobre 0,36% em março. O índice relativo a Materiais, Equipamentos e Serviços teve variação negativa de 0,18%. No mês anterior, a taxa havia sido de 0,26%. O índice referente à Mão de Obra não apresentou variação. No mês anterior, a taxa de variação foi de 0,45%, e seis capitais apresentaram desaceleração em suas taxas de variação, entre as quais Porto Alegre. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Ricardo Antunes Sessegolo, considera que ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Batista destaca retomada das vendas da Nex, que tem 3.577 unidades em construção
Lideranças do setor atentam para movimentação na busca por imóveis o governo federal e a equipe econômica “estão fazendo o possível e o impossível para recolocar o País de volta no rumo do crescimento”. “Há muita seriedade, muito planejamento, o que não se via. O governo ter aprovado o limite dos gastos foi um avanço, agora vem as reformas, a terceirização foi uma vitória”, complementa. A construção civil é o primeiro setor a sentir os efeitos da crise e um dos últimos a se recuperar. Nesse sentido, Sessegolo diz que o mercado já está movimentado, com clientes entrando nos sites para analisar imóveis disponíveis e indo aos plantões de venda para verificar condições de negociação.
JONATHAN HECKLER/JC
Schukster aponta reação do mercado
Clima favorável para negociações Uma das maiores incorporadoras do Estado e com empreendimentos para diferentes perfis de clientes, a Nex Group começa a perceber um cenário mais positivo. “Alguns indicadores estão começando a ficar mais favoráveis, como a redução na taxa de juros, que impacta na redução das taxas de financiamento. Percebe-se também um clima mais favorável de negociação, assim como um pouco mais de otimismo por parte dos empresários e adquirentes”, afirma o diretor comercial Vinicius Batista. A projeção da empresa é para a entrega de 2.122 unidades ao longo de 2017, distribuídas em cinco empreendimentos. Em abril, a Nex promoveu um grande evento imobiliário, a Semana do
Compromisso Nex, e em apenas três semanas, comercializou mais de 150 unidades. Um mês antes, a empresa havia lançado o Mirantes do Parque, em Canoas, cujas vendas já superam as 350 unidades. “Neste cenário, parece sim estar havendo uma retomada das vendas”, constata Batista. Segundo ele, atualmente a empresa está com 3.577 unidades em construção, que serão entregues entre 2017 e 2019. Os imóveis que mais estão vendendo são os da faixa entre R$ 150 mil e R$ 200 mil, e os que têm valor de R$ 300 mil a R$ 500 mil. “Os imóveis de alto e altíssimo padrão, a partir de R$ 1 milhão, estão vendendo, mas num ritmo muito mais lento”, complementa o diretor.
Demanda reprimida pode gerar recuperação gradual das comercializações “Está começando a melhorar.” A declaração com entusiasmo contido, do presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção de Porto Alegre (Acomac), Tarcisio Pires Morais, demonstra a expectativa do setor para um ano ainda turbulento. Ele acredita que poderá haver um crescimento de vendas entre 2% e 4%, e baseia sua estimativa no fato de existir uma demanda reprimida que, aos poucos, começa a aparecer. Os obstáculos para um
crescimento mais robusto, no entanto, ainda são o parcelamento do salário do funcionalismo estadual e o desemprego no varejo e na indústria. O presidente da Acomac diz que o nível das vendas no ano passado foi praticamente o mesmo de 2014, mas que os negócios de lojas localizadas na zona Norte e periferia de Porto Alegre registraram desempenho ainda mais baixo, com quedas de 20% a 30%, o que acabou provocando também
demissões. O comércio de areia, brita, ferro e cimento foi o que mais sentiu o impacto da crise. A Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat) considera que o primeiro semestre ainda terá redução de vendas comparado a 2016, mas gradualmente com quedas menos intensas. O presidente da entidade, Walter Cover, afirma que a venda de materiais de acabamento - tintas, cerâmicas, vidros, metais e louças sanitárias, fechaduras - tem caído
menos, e alguns deles tiveram até ligeiro aquecimento. “Isso porque são mais utilizados nas reformas, que acontecem em maior intensidade que a construção de novas edificações. A crise, em particular o alto desemprego e os juros, tem afetado mais as construtoras, pela postergação da compra de decisões de maior vulto. Os materiais de base, como cimento, aço, tubos e conexões, também são afetados pela redução drástica das obras de infraestrutura."
Jornal do ComĂŠrcio
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CENÁRIO/TECNOLOGIA
Estado lidera investimentos em TI e é polo de pesquisa e desenvolvimento de produtos na área
Inovação gaúcha é destaque nacional quantitativos. “Temos carência de programadores no Estado. Temos tradição de profissionais criativos, como ilustradores e roteiristas para games. Mas falta (quem faça) o código, que é o programador”, explica o diretor-presidente da regional gaúcha da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro), Alex Hermann. Na estimativa da entidade, há cerca de 400 vagas para programadores no Estado, com exigências cada vez mais específicas, segundo Hermann. “O programador que fica sentado e não estuda as novas ferramentas vai ficar sem emprego no futuro.” Um futuro próximo, no qual a tecnologia será a grande protagonista. A chamada Internet das Coisas, ao lado do conceito de cidades inteligentes, sugere um universo de interatividade total. Identificação automática de pessoas e veículos, provadores que sugerem combinações de roupas em lojas, sinaleiras que automaticamente liberam o tráfego para ambulâncias em emergências e monitoramento digital da armazenagem de vacinas são algumas dessas possibilidades, que poderão
Caderno especial do Jornal do Comércio Porto Alegre
ENTREVISTA CEITEC/DIVULGAÇÃO/JC
Líder em investimentos em Tecnologia de Informação (TI) na América Latina e um dos maiores mercados do setor em nível mundial, o Brasil tem no Rio Grande do Sul um de seus principais polos de pesquisa e desenvolvimento. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a indústria gaúcha apresenta, nacionalmente, o maior percentual de empresas que implementaram inovações a partir de projetos de pesquisa feitos em parceria com empresas e universidades. “O Rio Grande do Sul tem um tecido industrial interessante, um quadro de universidades muito boas e um setor público importante”, analisa o geógrafo Iván Tartaruga, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE), lembrando que a interação entre empresas, academia e governo é decisiva para a inovação, especialmente nos países mais desenvolvidos. “A crítica é não haver aqui (no Brasil) uma sinergia entre esses atores, que acabam não formando um sistema.” O setor ainda pode se expandir em termos qualitativos e
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tornar-se realidade nos próximos anos. “Uma coisa fundamental na Internet das Coisas é você poder identificá-las. Outra é que algumas dessas coisas sejam inteligentes e possam se comunicar. O nosso chip pode ser a base para que tenhamos esse tipo de aplicação. Cada vez que utilizo isso em um determinado segmento, tenho vários softwares que vou precisar desenvolver”, explica Paulo de Tarso Luna, presidente da Ceitec – empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic), sediada em Porto Alegre e responsável por 45 milhões de chips presentes no mercado. O caminho parece irreversível, também do ponto de vista empresarial. As mais de 250 startups em atividade no Estado – segundo número da Associação Gaúcha de Startups – serão importantes para apontar novos rumos, processos e produtos. “As empresas mais agressivas comercialmente vão crescer mais. A startup é agressiva, disruptiva, oferece algo que ninguém mais tem. O momento é de especialização”, analisa Hermann.
Chips abrem portas para tecnologias futuristas Identificação de pessoas e veículos, conexão inteligente entre sistemas de produção, transporte e serviços e autenticação de documentos são algumas das aplicações para os produtos da Ceitec – empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic), com planta em Porto Alegre. Em 2016, a companhia atingiu a marca de 45 milhões de chips vendidos no mercado privado, com R$ 4,486 milhões de faturamento. Demandas públicas, como fornecer chips para os passaportes brasileiros e para o Documento de Identificação Nacional (cuja criação foi aprovada pelo Senado em abril), também estão na mira da empresa. O presidente da instituição, Paulo de Tarso Luna, fala dos desafios da Ceitec. Jornal do Comércio - Como foi o desempenho da empresa em 2016? Paulo de Tarso Luna - O último ano tem sido um marco na história da empresa, porque foi um período em que finalizamos produtos importantes: o chip do passaporte, uma solução de identificação pessoal da Ceitec, e a nova versão do chip logístico. Hoje, no Brasil, você já tem chip no passaporte, em algumas carteiras profissionais e na carteira de identidade militar. Mas em nenhum desses três casos o chip é nacional. Então, agora que conseguimos a certificação internacional, estamos trabalhando para o chip do passaporte passar a usar o nosso chip. Em termos de faturamento, a Ceitec se manteve nos patamares do ano anterior, o que é um faturamento baixo ainda. O produto de identificação é talvez o que tem maior capacidade de alavancar o
faturamento no curto prazo. A expectativa para este ano é um faturamento entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. A partir de 2018, esperamos começar a ultrapassar a barreira dos R$ 50 milhões. JC - Como evoluiu o volume de produção? Luna - Produzimos algo em torno de 17 milhões de chips por ano. De alguns produtos, temos a capacidade de vender até o dobro disso. O que temos feito é tentar ampliar também essa capacidade, mas na medida em que temos novos potenciais de negócio. Uma parte muito complexa é a de testes. No caso do passaporte, você tem que garantir que o produto vá durar pelo menos 10 anos. Esse é um gargalo, então, quando aumenta muito o volume (de produção), é uma das áreas em que se tem de investir. JC - Qual a perspectiva de crescimento do setor? Luna - A área de tecnologia está sempre se expandindo. A diferença é que, no início da década, crescia na faixa dos dois dígitos, chegava a 10%, 12%. A previsão para este ano é em torno de 2,5% a 3%. Mas é uma área na qual, em geral, não há desemprego, porque, na prática, se eu quero economizar, tenho que investir em tecnologia. Então, se eu estiver me expandindo, vou precisar de mais tecnologia, e, se estiver me retraindo, vou precisar dela para tornar mais eficientes os meus recursos. Aquilo que antigamente era supérfluo, hoje é obrigatório. É preciso ter o antivírus, o sistema operacional, a licença do banco de dados. Também estamos no limiar de uma nova forma de lidar com a administração do dia a dia, que é a Internet das Coisas e as cidades inteligentes. CEITEC/DIVULGAÇÃO/JC
Ceitec tem nova fase, com foco em demandas públicas, diz Luna
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Indústria
TELECOMUNICAÇÕES
E-COMMERCE
Operadoras ampliam redes e projetam 5G
Comércio eletrônico prevê crescimento
CLARO/DIVULGAÇÃO/JC
Repetto destaca ampliação da cobertura da Claro
R
eflexo da instabilidade econômica do país, o setor de telecomunicações perdeu clientes de telefonia em 2016. Conforme as estatísticas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o número de acessos a telefone fixo e móvel, assim como de TV por assinatura, decresceu entre 2% e 6% entre os primeiros meses de 2016 e de 2017. A internet fixa trafegou na contramão: nesse mesmo período, a quantidade de clientes de banda larga aumentou, chegando a 27,17 milhões de usuários em março deste ano, 5,28% a mais do que no mesmo mês do ano passado. A redução nas assinaturas não deverá tirar o Brasil de sua posição destacada no cenário mundial das comunicações. Em número de linhas de celular, por exemplo, o país só perde para China, Índia, Estados Unidos e Indonésia - segundo dados da consultoria Teleco relativos a 2015. Mas o contexto faz com que as empresas de telefonia repensem estratégias e produtos. A TIM, por exemplo, passou a oferecer novos planos que privilegiam ligações para outras operadoras, além de investir na ampliação da rede. “Este ano, queremos chegar a 200 cidades do Rio Grande do Sul com 4G”, diz o diretor comercial da TIM Sul, Carlos Eduardo Spezin Lopes. Um levantamento divulgado em janeiro pela empresa OpenSignal, especializada em análises da
NET/DIVULGAÇÃO/JC
NET busca melhores soluções e preços, diz Dall'Agno
qualidade das operadoras móveis em todo o mundo, aponta que a média de velocidade do 4G no Brasil está acima do índice global. Mas o mesmo estudo também situa o País entre os de mais baixa disponibilidade de 4G no mundo. Assim, a ampliação da rede é prioridade das operadoras. A Claro, por exemplo, acrescentou cobertura a 20 cidades gaúchas no início deste ano, depois de amplia o 4G no Litoral. “Mantemos um forte plano de investimentos ao longo do ano”, informa o diretor regional da Claro no Rio Grande do Sul, Marcelo Repetto. A Vivo projeta alcançar 2 mil cidades brasileiras com a tecnologia 4G até o final de 2017: “O Sul do País receberá a maior expansão 4G da Vivo neste ano”, diz o diretor regional Sul da empresa, José Carlos Rocha Júnior. Também está no horizonte das telefônicas a tecnologia 5G, que irá multiplicar a velocidade da internet via celular e impulsionar o desenvolvimento da Internet das Coisas. O serviço não deverá estar disponível no Brasil antes de 2020, mas as empresas Ericsson e Claro começaram os testes no País ainda em 2016. Em abril, a Claro implantou em Brasília a rede 4,5G, e deve oferecer aparelhos compatíveis no segundo semestre - com a perspectiva de, no mínimo, triplicar a velocidade dos downloads. A TIM inaugurou este ano um laboratório para viabilizar testes de alta tecnologia. “Isso (a
Internet das Coisas) vai ser realidade em pouco tempo, basta ver a revolução dos celulares nos últimos anos”, prevê Lopes. Nas áreas de TV e de banda larga fixa, a aposta da NET, por exemplo, é manter a ênfase na oferta de serviços combinados de televisão, internet e telefonia móvel e fixa. “Nosso objetivo é continuar a garantir as melhores soluções em telecomunicações realmente convergentes e com preços competitivos”, informa o diretor regional Sul da NET, Eduardo Dall’Agno.
Mesmo em um cenário econômico ainda incerto, o desempenho do comércio eletrônico brasileiro no início de 2017 confirma as expectativas otimistas projetadas pelo setor ao final de 2016. Se no ano passado o faturamento do e-commerce subiu 7,4% no País, índice inferior ao dos anos anteriores, a previsão de aumento de 12% para este ano deve se cumprir. “O primeiro trimestre mostrou crescimento na casa dos 12%, impulsionado por campanhas de volta às aulas e promoções de queima de estoques em janeiro”, informa o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm RS), Mauricio Cardoso. A presença de cada vez mais empresas no comércio virtual - com sites próprios ou em marketplaces, que vendem produtos de terceiros - é um dos fatores mais importantes para impulsionar a área. “A crise tem impactado no varejo físico (com custos altos de aluguel, por exemplo). A internet é uma saída com custos mais baixos e retorno financeiro”, explica o especialista em e-commerce Bruno de Oliveira, criador do portal Ecommerce na Prática. “A maioria dos estabelecimentos é só virtual. Muitos empreendedores não cogitam ter loja física. Outra tendência é os lojistas físicos migrarem para o virtual. Isso acontece cada vez mais”, acrescenta Oliveira.
Moda e acessórios, eletrodomésticos, livros, cosméticos, celulares e itens de casa e decoração estão entre os produtos mais procurados pelos clientes virtuais, cada vez mais numerosos no Brasil. De acordo com a edição mais recente do relatório Webshoppers, no qual a empresa Ebit reúne dados de todo o País, quase 48 milhões de pessoas - atraídas pelos preços normalmente mais baixos praticados no mercado virtual - compraram via internet pelo menos uma vez em 2016, uma alta de 22% na comparação com 2015. Smartphones e tablets têm papel decisivo nesse crescimento: 21,5% das transações foram feitas via dispositivos móveis no ano anterior, esse índice foi de 12%. E os celulares têm muito terreno para conquistar no comércio virtual. “Em países como Estados Unidos e China, (a participação do m-commerce) fica em torno de 50%”, diz Oliveira. Para ele, o grande desafio para as vendas via smartphone é tornar a operação cada vez mais simples para o cliente: “Ainda dá trabalho preencher dados na tela do telefone. Há alguns sistemas em que já não é preciso digitar o número do cartão de crédito, por exemplo. Se a loja criar aplicativos nos quais os dados fiquem armazenados e sejam acessíveis, facilita. Quanto mais fácil for a operação, mais você vende.” STOCKPHOTO/DIVULGAÇÃO/JC
NÚMEROS DAS EMPRESAS Clientes: 62,8 milhões (Brasil) e 1,4 milhão (Rio Grande do Sul) Participação no mercado nacional: 25,58% (telefonia móvel) Investimentos: cerca de R$ 12 bilhões no Brasil (previsão para o triênio 2017/2019) Clientes: 97,1 milhões (Brasil) e 6,5 milhões (Rio Grande do Sul) Participação no mercado nacional: 30,47% (telefonia móvel) e 27,9% (telefonia fixa) Investimentos: cerca de R$ 24 bilhões no Brasil (previsão para o triênio 2017-2019) Clientes: cerca de 60 milhões (Brasil) e mais de 4 milhões (Rio Grande do Sul) Participação no mercado nacional: 24,8% (telefonia móvel) Investimentos: mais de R$ 50 bilhões no Brasil (últimos cinco anos, valor referente a Claro, NET e Embratel) Clientes: 7,354 milhões (Brasil) Participação no mercado nacional: 52,6% (TV por assinatura), 32% (internet banda larga fixa) e 26,5% (telefonia fixa) Investimentos: ver acima (Claro)
Compras virtuais devem crescer 12% ao longo do ano
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Jornal do Comércio
O TRABALHO SUSTENTÁVEL É A ENGRENAGEM QUE MOVE O NOSSO DIA A DIA
25 DE MAIO - DIA DA INDÚSTRIA