Especial Porto Alegre, 242 anos

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Terça-feira 25 de março de 2014

Jornal do Comércio - Porto Alegre

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Economia

Patrícia Comunello

Pode faltar imóveis residenciais e comerciais novos para dar conta da demanda de negócios em Porto Alegre. O quadro esboça o que se transformou o segmento, como atividade produtiva, nos anos recentes. A atividade na Capital respondeu em 2013 por 30% do PIB da construção civil no Estado, mesmo crescendo 2,5%, abaixo da média geral que foi de 5,8%. Entre as capitais brasileiras, Porto Alegre tem a menor oferta de unidades prontas, segundo o Sinduscon-RS. Em janeiro, o estoque registrava 5,1 mil unidades (sendo 22% comerciais), o que pode se esgotar até outubro, considerando a velocidade de vendas de 6%. “Isso afasta qualquer temor de bolha imobiliária. O estoque é baixo para uma cidade do porte da Capital”, observa o presidente do Sinduscon-RS, Ricardo Antunes Sessegolo. A expectativa é que em 2014 algumas medidas comecem a liberar o fluxo entre lançamentos e construção. Mudanças no cadastro e acompanhamento da tramitação de projetos devem se consolidar este ano, assinala. “O tempo entre a entrada do projeto e o lançamento ainda é de um ano e meio, mas esperamos que caia para seis meses.”

JOÃO MATTOS/JC

Geração de valor da economia da Capital equivale a 17,26% do PIB estadual; serviços e varejo representam 85,3%

A economia de Porto Alegre ruma para maior sofisticação. Mesmo com menor fatia do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, a Capital se aprimora em serviços como tecnologias de informação e comunicação (TICs), saúde, serviços bancários e educação. Nestes ramos, 30% a 50% da atividade gerada no Rio Grande do Sul saem de empresas situadas na Capital. Nesses negócios, renda média mais elevada de consumidores e geração de postos de trabalho com maior exigên-

Pisa vai estabeler uma nova fase na relação da cidade com o cidadão e com o Guaíba. Na imagem, torre do projeto na avenida Diário de Notícias

em inovação e a chamada economia criativa, a prefeitura lançou projetos para desenvolver territórios voltados a estes setores na cidade e também para apoiar iniciativas como polos tecnológicos situados nas universidades (Ufrgs e Pucrs). Colombo ressalta que os ramos emergentes e com potencial de reforçar a renda per capita local (que hoje já é 45% superior à média do Estado) pressionarão por melhores condições para se viver na Capital. “Para atrair profissionais, precisa casar a demanda das empresas e o bem estar que a cidade oferece”, traduz o economista. Neste elenco, podem estar desde projetos, como o da revitalização do Cais Mauá, esperado há mais de 30 anos e que teve início neste ano pelas mãos do consórcio Cais Mauá Brasil, com investimento que pode ultrapassar R$ 700 milhões em cinco anos, e melhorias em serviços, como transportes públicos e infraestrutura. O sociólogo do ObservaPOA, organismo que se dedica a avaliar ferramentas de democracia participativa e que concentra informações da cidade, Rodrigo Rodrigues Rangel avalia que a revitalização do cais, efetivação de projetos na orla e a conclusão do Programa Integrado Socioambiental (Pisa) vai instaurar uma nova fase na história da relação entre a cidade, seus moradores e o lago Guaiba. “Somente com o Pisa, sairemos de 23% de tratamento de esgoto para 80%. A cidade vai ter um ganho expressivo, pois será possível aproveitar mais os trunfos do Guaíba”, aposta o sociólogo. Na qualificação da cidade, Rangel cita que 2014 é o primeiro ano em que as obras do Orçamento Participativo (OP) estão na lei geral de gastos do município.

Com as menores taxas históricas de desemprego em Porto Alegre em 2013 - 3,5% pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e 5,4% pela apuração do Dieese e um grupo de instituições - o mercado de trabalho local sugere medidas locais para evitar limitações no suprimento de mão de obra. A estatística Ana Paula Sperotto, do Dieese, cita que a taxa é reflexo hoje da menor pressão de novos candidatos a trabalho. Alguns achados do ano passado impõem ações de quem deve acionar programas públicos de qualificação e melhoria na educação básica, adverte a estatística. “O PIB do Estado cresceu 5,8%, e

o nível de ocupação apenas 0,1% em Porto Alegre, e tivemos maior taxa de desocupação entre quem tem menos escolaridade”, assinala Ana Paula. Para aproximar o público alvo da formação, o Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRS) abriu há três anos no bairro Restinga e tornou realidade o sonho de jovens como Marcos Felipe de Freitas, 16 anos, e Wagner Machado da Silveira Junior, 15 anos, de cursarem informática enquanto concluem o Ensino Médio. Antes disso, Freitas e Junior só conseguiriam fazer uma formação técnica após os 18 anos. “Ter no currículo o curso vai fazer diferença”, apos-

tam os jovens. O bairro, com 150 mil habitantes, fica muito distante dos locais onde se situam escolas técnicas ou universidades. O professor da dupla Marcos Wilson Gomes, nativo do bairro, lembra que o campus abriu nova oportunidade à região. “Éramos o elo perdido”, ilustra Gomes, que cita a construção do hospital da Restinga como outro marco. O diretor da unidade do IFRS, Gleison do Nascimento, destaca que os cursos oferecidos seguem demandas da comunidade. O mercado também mostrou uma guinada na formalização, com avanço de 3,6% na geração de vagas com carteira assinada.

FREDY VIEIRA/JC

Mercado de trabalho no embalo do pleno emprego e da qualificação

Professor Gomes e os alunos Wagner e Marcos em cursos na Restinga

BarraShopping é o primeiro empreendimento do gênero no Sul de Porto Alegre, que tem a maior área bruta locável em relação à população

A capital dos shopping centers Porto Alegre tem um título que dificilmente algum outro município brasileiro vai roubar nos próximos anos. É a cidade com maior área bruta locável (ABL) em relação à população de 1,4 milhão de pessoas. Os 16 shopping centers (quarta capital em número de empreendimentos) em operação, segundo a associação brasileira do setor (Abrasce), traduzem uma taxa de 0,3 metro quadrado de ABL por habitante. A soberania deve ser assegurada com a projeção de pelo menos mais nove centros comerciais nestes moldes projetados para os próximos três anos, além de expansões dos existentes. Esse aquecimento que une aporte de recurso de investidores atrás de remuneração e mais opções aos consumidores reforça ainda mais o que é o motor da economia local – o comércio, com mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB). Especialistas do setor indicam que a atração para estes investimentos reflete a pulverização de classes de renda – da mais baixa à mais alta, com predomínio de classe média e concentração de serviços (públicos a financeiros), o que faz de Porto Alegre um polo imbatível sobre as demais regiões.

Os projetos devem se situar em áreas com necessidade de adensamento urbano ou nem tanto. Os desenvolvedores dos novos projetos não podem errar sobre a zona de influência dos negócios e diferenciação. “Tem público para todos os segmentos, mas será decisivo oferecer acessibilidade, segurança e foco em varejo e lazer para toda a família”, ressalta Eduardo Oltramari, que tem no currículo a implantação de 30 empreendimentos pelo País e que dirige o Shopping Total, em Porto Alegre. Para Oltramari, é difícil dizer se tem ou não espaço para tantos pontos na cidade. Até porque há a atração de consumidores não só da Capital, mas do entorno, gerando uma população de mais de 3,5 milhões de pessoas. “O setor está muito ativo mesmo e virou atrativo a investidores”, assinala o superintendente do Total. A aposta ainda é que não se tenha apenas grandes áreas de construção fechadas, modelo que predomina e se consolidou até hoje, mas também perfis no conceito de shopping de vizinhança e open malls (com maior interação com o ambiente do entorno). O volume de ABL a ser implantado somente com os novos

projetos exigirá cerca de 1,8 mil lojistas. “Onde estão estes potenciais ocupantes?”, é a pergunta que se faz o vice-presidente do Sindilojas, Paulo Cruse, para quem não há mais espaço para tantos empreendimentos tradicionais de shopping center. Cruse acredita que os próximos anos vão demarcar novas fronteiras de tipos de varejo. O dirigente avalia que os shopping também serão cada vez territórios de atuação de grandes redes nacionais e grifes estrangeiras, que aportam no Estado atraídas por condições como quatro estações de clima bem definidas e uma população que prima por qualidade. “Porto Alegre reúne tudo isso e o que há de melhor”, assinala Cruse. Mas para o vice-presidente do Sindilojas, há um movimento sem volta de revalorização de lojas de rua, no qual o Centro retomou seu lugar. Cruse cita a revitalização no Centro Histórico, que para ele deve ganhar mais fôlego com o avanço do projeto do Cais Mauá. Além disso, o dirigente aponta que os bairros ganharão mais e mais instalações comerciais e com serviços, de aceso fácil aos moradores. “Estamos nos dirigindo para uma época de

vizinhança”, acredita o dirigente lojista, citando nichos emergentes nos bairros Bom Fim, Auxiliadora e Tristeza. A arquiteta Vera Zaffari, que se especializou em projetos para varejo, reforça que os empreendimentos terão de aliar as virtudes de shopping com as do varejo de rua. “O mundo está indo para o meio termo, para zonas de varejo mais estruturadas, interagindo com o verde e resolvendo problemas de fluxo, segurança e mobilidade”, adverte a arquiteta. Foi pensando em se posicionar em bairro que a nutricionista Débora Sibemberg Turik, abriu há três anos a Briut, especializada em produtos para quem tem restrição alimentar. A Briut ocupa um dos pontos do Minishopping Bom Fim, localizado no trecho da rua Irmão José Otão, entre as ruas João Telles e Santo Antônio. “É um bairro acolhedor, tratamos os clientes pelo nome, o que faz as pessoas se sentirem em casa. Temos ainda uma feirinha de hortigranjeiros em frente à loja todos os sábados”, cita Débora, sobre o ambiente do entorno. De olho na expansão do mercado de alimentos especiais, a nutricionista abriu o segundo ponto há três meses no Centro Histórico.

MARCELO G. RIBEIRO/JC

patriciacomunello@jornaldocomecio.com.br

cho. Colombo aponta que o comércio responde por 19% da atividade gaúcha no setor. “A queda da participação de capitais no PIB não é mais novidade, o que cresce é o peso de setores com mais tecnologia e qualidade de mão de obra”, diferencia o economista da FEE, que identifica a ascesão de segmentos pelo peso na geração da economia estadual. “Quase metade do VAB da saúde e de serviços financeiros estão aqui e 40% das TICs”, dimensiona o economista da FEE, que atua na área de estudos do PIB municipal. Para potencializar negócios

cia de qualificação acrescentam desafios à economia local, assinala o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Jefferson Colombo. Especialistas apontam ainda que as condições de vida e forma de ocupação da cidade também exigirão mudanças e medidas da área pública. O último dado sobre a geração de valor da economia, de 2011, apontava que a atividade total porto-alegrense (comércio e serviços 85,3% e indústria 14,6%) respondia por 17,26% do PIB estadual – ou R$ 45,5 bilhões. Em 2000, a Capital respondia por 20,2% do PIB gaú-

JOÃO MATTOS/JC

Economia no ritmo dos serviços

Construção representa 30% do PIB do setor

Sessegolo afasta risco de bolha Amanhã: Porto Alegre, cidade digital


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