Revista de poesia
Ovo da Ema
Novembro de 2018
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Ovo da Ema Revista de poesia nยบ3 Novembro de 2018
Ovo da Ema é uma publicação da Escola de Poesia. Coordenação editorial Organização Revisão Assistente
Eliane Marques Eliane Marques e Lúcia Bins Ely Lúcia Helena Pozzobon Ryana Vieira Gonçalves
Imagens Projeto gráfico, diagramação e capa
Rafaella Marchioretto Luís Gustavo S. Van Ondheusden
c Après Coup Porto Alegre Psicanálise e Poesia Direção: Marcela Villavella Rua São Manoel 275 – Bairro Rio Branco Porto Alegre – Rio Grande do Sul - Brasil (51) 3024-2829 escoladepoesia@gmail.com facebook.com/escoladepoesia
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca Pública do Estado do RS, Brasil) _____________________________________________________________________ O96 - Ovo da Ema; revista de poesia. / organizada por Eliane Marques e Lúcia Bins Ely. – Porto Alegre : Escola de Poesia, n. 3.; nov. 2018. 132 p. 1. Literatura brasileira - poesia. 2. Poesia brasileira - psicanálise. I. Marques, Eliane. II. Ely, Lúcia Bins. III.Título. CDU 821.134.3(81)-1
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Sumário Editorial 7 Gemas do Ovo 8 Pulsa 12 O avanço das trincheiras II 13 Uma corrente 14 E ganharás o pão com o suor do teu trabalho 15 Poema-cabeça 16 Desde a primeira 20 Recorte 21 Ecos 22 Um azul por cima do muro 24 Enlaces 25 Com golpe de cana-de-açúcar 28 Final do jogo 29 Romeu & Julieta 32 Morro Mouro 33 Passamento 34 Na beira da estrada 38 Freeway 39 O tempo do olhar 40 Não existe a montanha 42 A medusa 43 Baghdad 46 A ponte 47 Baleia 48 A garota da cerimônia do café 49 A máquina que move o mundo 50 Não é pó de pigmento Uma corrente de braços e espadas Céu azul Poema em dó Ponte de merda
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Tempo greve 62 Constelações 63 Redó 64 Para 65 Talvez sem nome 66
Tempo-absoluto 70 Tempo-segredo 71 Tempo-suspenso 72 Tempo-perfeito 73 Tempo-espera 75 Encontro a la Borges O útero deles Paralisia líquida Gestos defuntos
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Los atletas de Atenas 90 Espejos de siempre 91 Fábricas de amor 92 Fotografías 93 Convidados da Ema As negras já estão De pedra partida Flor pisada
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Winter in America 104 Banzo nº 2 105 DIÁSPera 106 Axioma 108 Levedo leviano 109 Benquerença 112 Algumas perguntas sobre este lugar 113 Cantares 114 Post quase breu 115 Você... eu... nós... 117 Ô zuado 120 Cês falam de Halloween 122 Amor platônico? 123 Louvados sejam nossos ancestrais 124 Colaboradores desta edição 128
Editorial Se um rio áspera revoada desde o primeiro feito fossa – a invasora dentada tudo estará nem fosse o pó de pigmento sua cura só que não seguiria desproporcional ao movimento retilíneo uniformemente compassado apesar do alvoroço no banquete já que terror mesmo é ser preto até mesmo as estradas que têm muitas curvas o novel que faz da serpente que se enerva contra a cauda, sua cabeça e o ruído da ponte de merda – o leito que se dane, estou com meu berimbau do Benim no lombo da baleia mais forte que ele ela sabe sulcar o cheiro das flores de cerejeira ela sabe do trinque – sem que ninguém o veja – dos relógios de porcelana chinesa pois não apenas de estremecimentos o volver da herstória em verdade, uma corrente de braços e espadas e os olhos brancos de nero e passadas rápidas, rápidas e gélidas como a lua ainda nem se sabe com que ponte se o atravessa longe da tormenta é greve o tempo de quem ali ficou envolta pelo vento - sem sapatos e as duas mãos na boceta dos antigos donos das antigas horas aí se justifica o impulso de subir à soleira e de berrar que era tudo mentira que ele o primogênito cuja água vencia o decreto de feriado nos dias de folga não choremos: isso é coisa de gente com aquela cicatriz na testa, a mesma cicatriz do pecado que dizem os padres e os crimes do sinhô juiz no entanto no lombo da baleia Há uma porta que os delata especialmente se entrarem correndo como se saltassem fora do ventre com seus gestos defuntos eles temem com seus gestos defuntos o ventre fora delas eles medem as palavras que ainda não inventaram e as repetem a si: ... faça o teste do pescoço do alto ao chão Peçamos a cabeça deles numa bandeja de prata que embace as paisagens todas que têm roubado para si. E porque minha rua não tem asfalto, falei desse rio que carregamos debaixo das unhas feito as velhas cantigas do Bailundo. Boa leitura! Eliane Marques Coordenação editorial
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Gemas do Ovo
Caren Lorea Pelotas, RS
Tudo isso que guerrilha na boca de Gertrudes ĂŠ uma atitude colossal na terra dos bossauros
PULSA O silêncio une os cristais no olhar do marinheiro. É um rio a sua esperança de volta. E um silêncio que lhe devolve o mar.
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O AVANÇO DAS TRINCHEIRAS II Quando as outras eram levadas Me fazia muita falta o meu Queria que os seus pés estivessem desalgemados da vida que foi fazer Eu tinha até em pedaços aquela igreja abandonada Por que “mi madre” lentamente avançava de suas trincheiras a mim Ela foi um castelo de dominós que construí E também derrubei com as próprias mãos O abandono de alguma igreja
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UMA CORRENTE Uma corrente de abraços e espadas Espadas e lágrimas de folhas No canteiro As folhas da saudade caídas da escada A candidata de braços e lágrimas Tudo isso que guerrilha na boca de Gertrudes Atitudes colossais na terra dos bossauros
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E GANHARÁS O PÃO COM O SUOR DO TEU TRABALHO Adão sacudiu a poeira do chão onde plantava cana-de-açúcar. Era sua própria oportunidade de fazer diferente outra atitude uma atitude diferente da anterior. Adão era um homem de ação e de propriedades. Para que sua condição o levasse a sua nova plantação de lírios, girafas, elefantes e cogumelos funghi, saiu pelos rios secos a encontrar o propósito de seu propósito e quebrar as pernas de algumas palafitas.
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POEMA CABEÇA A glória enfeita a saliva das dores no retrato cerebral pulsante.
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Cinara Ferreira Porto Alegre, RS
Da fรกbrica de escudos se ouvem as ostras desde a primeira concha da orelha
DESDE A PRIMEIRA com a concha na concha da orelha escuto a fábrica de surdos escudos como se ouvisse desde a primeira as ostras do mundo urdindo defesas o invasor – exato vira presa e, em película espessa envolto, devolve a pérola rígida da fábrica de escudos ouvem-se as ostras desde a primeira concha da orelha
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RECORTE ninguém me vê passar na avenida sinuosa e lisa o que além do poema? o que o poema além? tenho um carro novo e pago aluguel por chaves e grades que não são garantia o dinheiro recorta o dia e a noite é dobrada ao meio por sonho difuso por via obtusa obturo a cratera da vontade tardia o dente segura a presa do dia sobrevivo à cifra tomada à vista tomada a prazo a perder de vista à primeira vista só o amor
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ECOS liberdade é pouco o que eu quero não tem nome quando nasci, um anjo qualquer sussurrou ‘vai carregar bandeira mesmo que não queira’ o que eu quero é gritar o instante, única realidade poeta ou poetisa, tanto faz abaixo o arredio das palavras só quero a palavra que corte derrube e aborte todo o fruto indesejado o desejo que não seja o meu desejo é outro um todo lustroso de carícias voragem que me habita no útero, cabe um punho de mão fechada, engulo
a palavra abismo e me projeto na lida diária e dividida entre poemas e louça por lavar a aula do dia, a prova atrasada quebro copos e continuo viva o filho já não me solicita na dor, as asas chegam antes bem antes do que o pássaro se eu fosse eu - ah, se eu fosse tenho fases como a lua as mulheres e as crianças as primeiras que desistem de afundar navios peixes tristes no aquário mesmo sem saber do mar quando morder a palavra por favor, não me apressem a gaveta da alegria está prenhe de estrelas
UM AZUL POR CIMA DO MURO não é pó de pigmento o que procuro eu me movo e não saio de mim tiro a máscara, me visto de sim tracejo o mapa despida no escuro não é pó de pigmento o que procuro traço a traço, me afasto do fim revivo o luto de morte carmim desenho o azul por cima do muro não é pó de pigmento o que procuro eu me movo e não saio do sim rasgo o mapa vertido no escuro traço a traço, me acerco de mim misturo o roxo e pinto o muro não é pó de pigmento o que enfim
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ENLACES pela vidraça corpos sem laços se precipitam no lastro da solidão em vão além da vidraça dedos divididos se entrelaçam corpos enlaçados almas, não aquém da vidraça enlaço e desenlaço os dias no enlace de tua mão
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Cíntia Lang Porto Alegre, RS
O alvoroço dos banquetes regados a aguardente une três continentes: mãos, lavoura e mercado
COM GOLPE DE CANA-DE-AÇÚCAR Quilômetros de folhas Sob o sol nordestino Musicadas por pássaros E por bocas desterradas À sombra do casarão Quilômetros de mesas e toalhas bordadas Recolhem o canto da criada Nascida naquele chão O barulho da moenda E o cheiro podre do bagaço Garantem a riqueza À custa de grilhões O alvoroço dos banquetes Regados a aguardente Une três continentes Mãos, lavoura e mercado
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FINAL DO JOGO Bola é brincadeira, infância, cor, correria. Até que ela entre no cano e obstrua o escoamento da água da chuva.
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ROMEU & JULIETA Ela não quer mais vê-lo Já disse isso mais de mil vezes Mas ele brota na rua de cima, na porta da escola, na praça Diz que vai bater nos caras que estiverem com ela. Mas ela é resistência Um dia de cada vez: Hoje conseguiu sair de casa Conseguiu pegar o ônibus Conseguiu chegar à escola Porém, não sabe se volta Já tem idade para os bancos do ensino superior Desistiu tantas vezes, está ainda no fundamental Carrega o filho dele no bucho Quer o moço mais do que tudo Mas ele já tem dona: mulher de influência, de decisão Mandou o capanga assustá-la Fotos de armas no celular Recados certeiros: ele usa coleira Tem regras naquele chão Romeu e Julieta dessa situação Tiveram a audácia de atravessar a ponte Ficasse cada um no seu quadrado Vida seguiria Só que não 32
MORRO MOURO O morro apareceu na TV Não é boa a previsão Vão subir levando providência Tá autorizado, tem que levar decência Olha o caveirão, sai da frente, mermão Vai ter bala, muita bala Mas não sei de que sabor Responde apenas “sim senhor” Morre morro Não more no morro Ficha esse povão Fiquem fora de Ipanema Deixa o cidadão de bem passar Cuidado com a comissão de frente Quem mandou vampirão voar? Vai vai Desce até o chão No teu baile quente Que prende tanta gente Que não é do morro não Esquece a fome, o pé na porta A frase rude dos homens da lei Teus direitos não existem Manda quem tem o fuzil Vai pra puta que pariu 33
PASSAMENTO A estrada toca o infinito no breu de medo e solidão o passado agarra o passo feito arbusto escandente e tropeça na própria sombra que vai na frente Sola e chão sem pressa Só sabe agora o que sabia desde antes e o que prefere nunca saber
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Felipe Haffner Porto Alegre, RS
Nรฃo existem montanhas imรณveis de pura pedra
NA BEIRA DA ESTRADA Cadeiras e mesas vazias desproporcionais ao movimento retilíneo uniformemente compassado das pessoas entrando e saindo pela catraca com leds azuis piscantes uma enorme seta verde e uma única palavra Henry ouve-se o som das tevês muitas como as mesas as cadeiras demasiadas desnecessárias a vida desperdiçada
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FREEWAY as estradas vazias têm seus métodos até mesmo as que têm muitas curvas almejam a simplicidade da reta meu olho tem estradas desse tipo que se estendem nas dez direções sem partir ou chegar a lugar algum
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O TEMPO DO OLHAR registro o que vejo vejo sem olhos de ver nĂŁo vejo coisas se repetindo se repetindo por tanto ver a mesma coisa da coisa mesmo abstraio novidades as pessoas apressadas desprezam o que vejo ĂŠ uma questĂŁo de tempo para a novidade se apresentar sobre o olho costumeiro se olhares bem por um tempo suficiente
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verás que nada permanece igual tudo é sucessível a montanha mais íngreme a chapa de aço inoxidável a tigela de arroz o sorriso e o choro o imobilizado se mobiliza a névoa cobrindo o campo tudo tem o seu tempo de mudar e muda e demora mais que um piscar às vezes muitas vidas e mortes e não vemos e por não ver temos essas hipóteses de solidez das coisas prontas e verdadeiras e esse é o nosso ver com os olhos do dever
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NÃO EXISTE A MONTANHA a montanha não se move
deixa a chuva chegar
ou a névoa que seja
por isso existem montanhas recobertas por florestas e outras de aspecto seco e ríspido mas a vida nelas é intensa não deixe os olhos enganar nem as cores ou o canto de pássaros o vento existe em todo lugar
o vento chega antes da chuva
o vento é a vida em movimento
por isso o vento tem som às vezes visível aos olhos também a chuva é vento molhado o vento que sacode e nutre as árvores da floresta é o mesmo vento que movimenta as áreas do deserto tudo é movimento
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não existem montanhas imóveis de pura pedra
nem montanha alguma
A MEDUSA
Naquele tempo remexia minhas tranças
era a tristeza duelando comigo...
A boneca que tinha meus olhos, joguei pela janela. Meus vizinhos se enforcaram no jardim ou foi a boneca de pano em prantos
Não riam demais de mim
Não riam
Não riam
Malditos pedregulhos e os pedaços de merluza esparramados nos lençóis Chorei nos silêncios salgados
a nudez no espelho
e dos meus cabelos
nasceram as serpentes marinhas
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Herwin Pozzobon Silva Porto Alegre, RS
Tudo era estilhaรงo e eu jรก nรฃo surfava, era arrastado
BAGHDAD e eu surfava nas ondas das bombas que explodiam terra negra e avermelhada lanรงada em movimento pedaรงos cacos cavacos tudo era estilhaรงo e eu jรก nรฃo surfava ... era arrastado
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A PONTE Lutar pela ponte,
tomar a ponte,
atravessá-la !
mas aí chegamos...
Ou a destruímos...
que ninguém a atravesse !
ponte destruída,
ponto. Pedras...
minha ponte é de pedras,
ruída sobre o rio,
esforço que não sacia,
não chega.
Ruiu tão logo a terminei. Queria mesmo atravessá-la ? Enquanto não havia, promessas, justificativas...
um dia !
Esta ponte ruiu...
caminho interrompido,
ponte de pedras,
ruiu, a ponte de merda !
E tu, o que achas ?
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BALEIA Gosto de coisas colossais. Noite negra no mar
ondas gigantes
ventos cortantes
tenebrosos pra qualquer um...
Chuva forte,
montanhas d'água
e uns raios lá no céu !
Qualquer um queria estar em seu sofá ! Estou no mar
na minha baleia
Mais forte que a tempestade
desliza como quem passeia
não tá nem aí, minha baleia...
Passeia na tempestade do mar.
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A GAROTA DA CERIMÔNIA DO CAFÉ Ela sabe extrair os aromas delicados, enaltecidos por flores de Lótus que os enfeitam em xícara de porcelana branca. Ela o faz como quem prepara enaltecimento espiritual. E de seus gestos evolam blends que nunca vi. Penso em comer as Lótus. Gentil, ela me dá um tapinha na mão. “Lótus, não se comem... são para voar...” Suas vestes coloridas contrastam com a decoração do café: nas paredes, hieróglifos em ouro aplicados sobre madeiras nobres. Tomo meu café e saio pela rua assoviando a música que fiz pra ela... pés no chão, mãos no bolso: vou pra vida lá fora. Pés em Hermes, Afrodite no coração... Roubo uma maçã do feirante enquanto ele olha pro lado. Há tanto sol...
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A MÁQUINA QUE MOVE O MUNDO Há uma grande, imensa máquina – gigantesca – onde tudo é processado: vidas, pessoas, tudo passa por ali. Não sou capaz de descrever sua complexidade: dutos de metal, esteiras, mecanismos de vapor, engrenagens, torres, cabos, correias... correntes de tração! É a máquina que move o mundo, nossas vidas, nos processa... Não é equipamento moderno... nossos guardiães são atrasados: coisas enguiçam e precisam ser reparadas, pessoas são processadas incorretamente... apenas refugos de processos mal calibrados. Os mecanismos falham. Muitos são perdidos para sempre. Tantos... Eu também sou processado: sigo em esteiras que não escolhi, empurrado em dutos que me comprimem, submetem, condicionam. Apertado, sigo longe da amplitude pra que fui talhado. Todos passamos por ali: ora sou soldado, ora funcionário, ora desempregado, meretriz, pedreiro, professora, ora infeliz. Ora sou suicida, ora escravo, ora pobre e doente, ora sou viciado. Ora sou dono, proprietário, juiz e otário... e magoo e destruo e oprimo com meu martelo e cajado. Pensamos que nos alimenta, mas nos suga: em série, sem escolha ou determinação! Vampira, sangue, suco, corpo, casca. Basta! Volta e meia o processo falha. Feio. E vamos todos pelo ralo, por dutos absurdos. Dá muita merda nesta coisa, pois - vale lembrar - nossos guardiães são atrasados! Eles, os que comandam esta coisa, fabricam perdas irreparáveis. A máquina é regida por seres inferiores aos processados!
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Lia Ribeiro TrĂŞs de Maio, RS
Doura a dose dos desejos e dos deboches
NÃO É PÓ DE PIGMENTO Não é pó de pigmento o alvorecer da aurora Nem tanto, nem pouco o avançar das horas No rito, no espanto se refaz memórias Não é só de estremecimento o volver da história. Não é pó de pigmento, nem razão, nem pranto No desenrolar do esquecimento se traduz o encanto Não é momento, nem ação, nem acalanto O virar do entendimento para o canto. Não é pó de pigmento, nem deveras fosse Raiz de sentimento, talo doce. Não é pó de pigmento, nem madrugada Aurora ainda longe, do olhar acordada.
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UMA CORRENTE DE BRAÇOS E ESPADAS Uma corrente de braços e espadas E os olhos brancos de medo Cabelos ao vento E as passadas rápidas, rápidas. Uma corrente de braços e espadas E as mãos molhadas de lágrimas Os dedos trêmulos, pequenos Sem nenhum apego. De braços e espadas, uma corrente E os nós, argolas, algemas tão longe. A pele fria, nua Como a própria lua. Uma corrente de braços e espadas E o sorriso sem desespero As mãos suaves na fronte Os sonhos, novo começo.
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CÉU AZUL A tristeza não cabe num céu azul O espaço se abre num respiro impossível Livre em mim.
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POEMA EM DĂ“ Dona Dora Doura a dose Dos desejos Dos deboches Do olhar dormido Dos demoves Dos devires Dos devores
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PONTE DE MERDA Rima com ponte de merda o monte de pedra. Mas que ponte é essa? De que qualidade? Será uma bosta? Com que ponte de merda se atravessa o rio, o precipício, a estrada? Se a ponte é de merda ou de bosta Não tem ligação Não tem cola. Mas que merda é essa que não se eleva, não se transforma em matéria sólida? Já a merda, merda É resto dos animais, dos humanos boçais Excremento importante, Funcionamento dos canais. Mas tem merda de gente E merda de fome. Tem merda que até não tem nome, Mas fede. Ah, a merda dos artistas é das boas, alvissareira. Merda por merda A ponte de merda é a pior das merdas. Não liga, não atravessa, Não corresponde à bosta da merda. Mas que merda! 58
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LĂşcia Bins Ely Porto Alegre, RS
Vou como quem ĂŠ tempo greve e mais nenhuma
TEMPO GREVE Para Anamaria Os dias a tormenta um mapa de sapatos e pedras me desfazem do que pude de mim vou como quem ĂŠ tempo greve e mais nenhuma
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CONSTELAÇÕES a nenhuma o silêncio das escravidões cuidado com a mão na estrela do sexto andar ela está nada distante do que vi do que veio do que árvores vendo
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REDร me vem ao redor o dรณ de quem sumiu e de quem ali ficou
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PARA Quando envolta pelo vento as pedras firmes nos agarravam com o corpo todo, pés barriga e o cu porém as mãos que nos
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TALVEZ SEM NOME (fiquei na parada, mais de uma semana, não era mais ônibus que passava, era outra coisa, não quis entrar não) um clima assim gente assim – morrendo de intolerância, de de desenfreio gente du caralho ao avesso gente desempalavrada desassociada desassossegada dá dó de chorá de chorá pedra sobre pedra dá tristeza de ficá feito estátua pro resto da vida mas tem um fogo na alma que me incendeia me faz pra-lá-viar e escrevo isso pra ti!
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Lúcia Helena Pozzobon Porto Alegre, RS
E agora não mais um ato em queda livre, mas o existir quebrado em mil pedaços. 69
TEMPO-ABSOLUTO Analisar o movimento dos ponteiros para entender essa coisa toda que não entendo do tempo e da vida E quanto mais antigo mais bonito E com esse olho apreendo dele o que é belo essa coisa que passou que passará e que nos deixa velhos Contornar com a ponta do dedo cada um deles comprá-los em cada esquina observar o seu mecanismo Saber que outros viram e outros verão a vida no mesmo vai e vem Antigos donos das antigas horas velhos agora, se vivos estão nem sonham que penso neles como algum dia alguém verá a mim ao contornar com a ponta do dedo O relógio.
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TEMPO-SEGREDO Colecionei rel처gios franceses Acordina De mesa Dos anos de guerra na Europa Queria saber o segredo Todo O tic- tac O que n찾o pude o que pude Queria acariciar meus ouvidos Meus rel처gios Aqui, antes do tempo de minhas hist처rias Ali, antes de mim Bim Bam
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TEMPO-SUSPENSO O tempo está suspenso os relógios parados, todos aqui dentro de repente o impulso de subir à soleira da janela mas o corpo se recompõe como o fará mil vezes E agora não mais um ato em queda livre mas o existir quebrado em mil pedaços Uma estátua pequena que alguém com amor tenta colar Mas não dá
nunca é a mesma coisa
fica estranho, uma coisa oca, remendada suspensa no ar
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TEMPO-PERFEITO Inverno é frio mesmo sei pelo cinza dos dias e pelas folhas dos plátanos que caem ao vento e enfeitam as calçadas. Luzes começam a piscar, uma a uma avisando que a noite vem fria. Logo, o cinza aparece mais pesado salpicado por esses pequenos vagalumes. As pessoas, agora seguras em suas casas, sinto certo alívio. Meu coração está quente o rosto rosado A água nos olhos que a chuva disfarça. Os coqueiros de caule fino se envergam não quebram E tudo está perfeito como tem que ser. O inverno chegou abrupto, porém, é outono
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TEMPO-ESPERA Contou que era tudo mentira Ele era o primogênito Não queria tomar café em Paris Nem ser fotografado sorrindo na Torre Eiffel Estava mais para as personagens de Beckett Em Esperando Godot Que tinham que driblar o tempo Brincando com seus chapéus À espera do que não vem, mas é sabido. Pensou que pudesse suportar Essa grande tempestade Essa farsa que é a vida E que se tenta transformar Numa bela brincadeira De risos e de silêncios histéricos Pois mesmo que se negue Desde o principio É ela que está inscrita Em tudo o que há. A morte que se espera Mas disse que não sabia.
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Paula Giacomelli de Oliveira Cruz Alta, RS
Cedi Ă s pressĂľes das vogues da vida, da sociedade capitalista e alisei. 77
ENCONTRO A LA BORGES Paula 06: oie! Paula 35: oi. Paula 06: ué!? Cadê os nossos cachinhos? Paula 35: eu tirei. Não tá mais na moda. Paula 06: moda! Como assim? Todo mundo ama nossos cachinhos! Paula 35: não é bem assim, depois que a gente cresce as pessoas não gostam tanto. Enfim, cedi às pressões das vogues da vida, da sociedade capitalista e alisei. Paula 06: com ferro de passar roupa!? Paula 35: não, com escova progressiva. E viva o formol! Ah, um dia tu vai saber o que é. Hey, não me olha assim sua pirralha. Não vem me julgar, sua colecionadora de Barbies. Paula 06: o pai deve ter ficado triste sem os cachinhos. Bom, mas parece que as botas de paquita continuam na moda! Hahahaha. E a nossa filha? Ela tem cachinhos? Paula 35: nós não temos filha. Paula 06: não? É filho então? Paula 35: não temos filha, nem filho, nem marido, nem nada dessas coisas. Paula 06: ah! Já sei! A gente é presidente!! Daí não temos tempo para filho e marido. Paula 35: hahahaha. Não, a gente não é presidenta da república. Não é fácil ser mulher, muito menos presidenta. A última que tentou, a Rainha Vermelha quase lhe cortou a cabeça. Paula 06: e o nosso sonho de decretar feriado nacional nos dias de inverno com chuva? Paula 35: não deu. A gente continua tendo que levantar cedo nos dias chuvosos de inverno. Sinto muito. Ai, não faz essa carinha! Lembra que o pai dizia que ia cortar nosso beiço e fazer um bife? Isso ainda continua valendo! (Paula 06 continua chorando copiosamente com seu enorme beicinho) Paula 35: pensando bem, chora, pode chorar bastante! Por um bom tempo tu não vai conseguir chorar. Vão te chamar de manteiga derretida, vão te mandar engolir o choro e tu nunca mais vai deixar cair uma lágrima na frente dos outros. Chorar é coisa de 78
gente fraca. E tu não vai querer ser gente fraca. Só que isso vai custar a tua meiguice. Tu vai ficar arredia como a Mônica. Vai se defender de tudo, até do que não é ataque. E, um dia, em um amigo secreto no colégio, a pessoa que te pegou vai te descrever como brava. Brava. Brava. Tu vai ter um choque quando todo mundo disser "é a Paula"!! Tu não vai se reconhecer naquela descrição. Depois, vai. Então, tu vai buscar o equilíbrio entre o que tu é agora, doce, hipersensível, e a Paula 16. Paula 06: daí eu me torno tu? Tu é equilibrada? Paula 35: eu continuo buscando o equilíbrio....Mas estou bem melhor que a Paula 16.... Ela até mordia. Paula 06: credo!! Paula 35: mas eu choro. Bastante até. Não como tu, que é muito chorona! Tá, não precisa chorar, tu não é chorona. Deu, deu, deu. (Paula 06, que começou a chorar quando foi chamada de chorona, para de chorar) Paula 06: o quanto de mim tem em ti? Paula 35: ai, não sei. Tu sempre perguntando tudo! Acho que isso é algo. Continuo perguntando muito. Mas as perguntas são mais para mim mesma. Paula 06: a cicatriz da testa! Tu tem ela ainda! Paula 35: sim, quase apagada, mas tá aqui. Paula 06: foi tão ruim aquele dia. Costuraram a nossa testa. (Paula 06 começa a chorar de novo, mas logo para e diz, sorrindo:) Paula 06: mas pelo menos ganhamos uma Barbie do tio Ciro! Como tá o tio aí, no futuro? Paula 35: olha só, vamos fazer um trato: tu não pode me perguntar sobre outras pessoas. Só sobre nós. Paula 06: por quê? Paula 35: porque certas coisas tu vai descobrir no tempo certo, ok? Paula 06: tá bem. Mas e nós, então? Paula 35: que é que tem? Paula 06: a gente não tem filha, nem marido... Nem é presidenta da república. Aliás, o que a gente é? 79
Paula 35: auditora pública externa do Tribunal de Contas Paula 06: ahããã??!?! Paula 35: assim, quando tu for a Paula 24 eu te explico, tá? Paula 06: tá. Mas a gente é feliz? Paula 35: nem sempre. Mas somos na maioria dos dias. (Paula 06 sorriu e pegou na minha mão) Paula 35: ah! Tem outra coisa tua que eu voltei a fazer, além de chorar! Paula 06: o quê? Paula 35: a falar boceta. Paula 06: mas quando tu parou? Aliás, por que eu vou parar? Adoro cantar a música da vaquinha que tinha 5 boceta. O pai que me ensinou. Paula 35: eu sei. Mas tu vai parar de cantar. Não vai ser por causa da pimenta na língua, nem das ameaças de chineladas. Quando tu crescer mais, vão te ensinar que mocinhas não falam palavrão. Paula 06: e boceta é palavrão? Paula 35: não, não é. Mas só a Paula 34 que vai descobrir isso. Paula 06: daí agora tu canta a música da vaquinha? Paula 35: não, não canto, piolhinho! Mas falo boceta quando eu quero. Paula 06: hummmm. Piolhinho. Nossos olhos continuam grandes. Não gosto deles agora. Paula 35: mas vai gostar quando tu for eu.
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O ÚTERO DELES A menina-moça teme ficar prenha A moça-velha teme morrer seca Temem pelo útero Útero delas Útero tomado Útero temido O padre diz ser pecado O seu juiz diz que é crime Temem a cela Temem fogo Temem elas E o ventre cresce E elas temem Temem ele fora Fora delas Os homens de toga Dizem que o pivete não presta Deixam jogar ele em cova aberta Elas choram pelo menino Nascido vivo Nascido morto Natimorto vivo Como elas temiam Se era para matar Por que não antes? Por que não elas? Afinal, o menino era delas.
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PARALISIA LÍQUIDA Nada conseguia com seus pés em parálise Enquanto seu rosto vazava água feito uma torneira quebrada Oh mulher desprezível Oh mulher desprezível O ranho escorrendo do nariz Não o amarelo, pegajoso, do tipo sinusite O claro, transparente, do tipo desespero O trajeto dele, livre, sem um lenço com o sinal de PARE Tornava o pensamento uma sentença Oh mulher desprezível Oh mulher desprezível Lembrei do ranho da Viola Davis em Fences Achei tão corajoso gravar com o nariz escorrendo Enquanto dizia verdades e dores para o marido infiel Era o ranho da dignidade Uma rainha ranhenta Mas isso aqui é uma rata ranhenta Rata não
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Ratas fogem para o escuro, escondendo sua sordidez Enquanto eu nem me mexia Eu era uma lesma inerte desidratando sem sal Não queria pedir ajuda Não queria que soubessem que eu era uma rata Uma lesma, uma ranhenta Mas não havia saída Oh mulher desprezível Vai, chama, grita! Mas nem o nome saía, só uma letra trêmula e engasgada AAAAA Por sorte, a vogal ecoou E ele veio E me resgatou De um ser que eu sequer conheço Mas que vive à espreita E quando penso mal de mim mesma Ele aparece
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GESTOS DEFUNTOS Todo sábado a mesma liturgia E a mesma esperança de expiação Da leitura do Eclesiástico Ou da Carta de São Paulo aos Romanos Pouco compreendo - A salvação estará na incompreensão de seus escritos e de seus desígnios? O sermão do padre eu entendo “Vinde a mim os que estão cansados” Rita descansou e me deixou cansado Perdido Aqui recebo promessa de vida eterna e de alegrias no Reino dos Céus O Pão e Vinho Hora da comunhão Mas só recebo uma lâmina insossa Nada de vinho Que gruda no céu da boca Assim como a voz de Rita Que ecoa pela casa e gruda Gruda nos meus olhos
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Que a graça de Deus Esteja sempre convosco Pai, Filho e Espírito Santo Amém E eu que já não sou pai Nem filho Vou-me embora A espera do próximo sábado
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Marcela Villavella Buenos Aires, Argentina
El tiempo nos saca fotografĂas mientras escribimos poemas y sumamos retratos cada tanto. La eternidad tambiĂŠn confĂa. 89
LOS ATLETAS DE ATENAS La llave, la puerta que delata. Ellos que entran corriendo, de jardín a jardín, atravesando el interior, el calor, la chimenea que humea, la mesa, la comida, las alfombras, el perfume de adentro. Y ellos que entran corriendo como si salieran y corren como niños y niñas, y son niñas y niños pero corren como atletas en las olimpíadas de Atenas. No conocen Atenas, creen que es el nombre de una gata que corre con ellos entre las plantas del jardín. Van por la casa de jardín a jardín haciendo que el tiempo corra entre los cortes de flequillo, entre alguna cicatriz que siempre dejan los días, entre los pinceles y las témperas, entre los patos y el maíz que vuela por los aires. Son atletas de nuestra vida, son más fuertes que nosotros, nos recordarán como los más fuertes de la casa donde corren de jardín a jardín.
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ESPEJOS DE SIEMPRE Ojos. Ensayo de sonrisa. Pelusa en la pestaña. El lápiz negro y el algodón sucio. Y la boca que se tuerce y vuelve a su lugar. Ensaya la sonrisa. Se horroriza. Se mira desde un vidrio que refleja. Se ve. Se ve mejor desde lejos. La extranjera. La otra y la que no está. La que estuvo en el cuadro. La de la ventana haciendo luces. La que no se conoce. La que quiere estar ahí, delineando el día. La que ensaya sonrisa. Y no. Y no, que no se ve. Y se desconoce. Y se busca. Y ensaya el asombro, y se asombra. Y en la sombra se ve. Y se ve en lo oscuro. Y no se encuentra.
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FÁBRICAS DE AMOR Ella fabrica historias: calcula gestos, movimientos, mide las palabras que aún no se inventaron, pero se repite a sí misma que no, que mejor no, que mejor otro día, otro espacio, otro coraje. La fábrica no para, trum trum trum sus máquinas incesantes se escuchan desde antes, desde lejos, desde más allá. Trum trum Los fantasmas jornaleros, no conocen el satén, ni el peine, ni la cama recién hecha, ni el miedo al desnudo. Pero no, mejor no. Van y vienen los hilos la trama que fabrica amores no cesa, y va y viene, y otra puntada. Trum pero no. Ella dice que si, que no. Y prende el botón de los recuerdos y trum trum trum y Fábrica se parece a fiebre y fiebre a fondo y fondo a hondo y ella trum trum trum que no para. 92
FOTOGRAFÍAS Estamos las tres: vos, ella y yo. Estamos en fila. Ella nos mira a todos, esparciendo semillas maternales mientras sonríe y confía en la eternidad. Te miro a vos, linda, corazón de melón para siempre. Pasaron tantas primaveras desde esa fotografía en que nos mirábamos eternas de fulgores familiares. Ella no está más. En la fotografía les sonríe a todos y sigue esparciendo semillas maternales en su ausencia. Ahora están Ámbar y Juanita, chiquitas y sonrientes, Nuevas Ellas para nuevas fotografías. Tesoritos musicales de todos los días. Soy yo ahora, quien esparce semillas maternales Y confío en la eternidad. El tiempo nos saca fotografías Mientras escribimos poemas y sumamos retratos cada tanto, la eternidad también confía.
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Convidados da Ema
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Ana dos Santos Porto Alegre, RS
A flor, agora, fere, ĂŠ carnĂvora e tem veneno 97
AS NEGRAS JÁ ESTÃO As negras já estão na terceirização são as primeiras a serem dispensadas dentro da seleção Na entrevista de emprego para boa aparência não se encaixam, não! As negras já estão na terceirização “Veja bem,.. olhe.., então... a empresa está passando por uma reformulação e nessa nova fase lugar para você não tem não!” As negras são as primeiras a assinar a demissão Faça o teste do pescoço do alto até o chão
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As negras já estão na terceirização Da senzala veio a empregada e o segurança veio do porão em posição subalterna os negros sempre estão... O povo negro alcançou seus estudos já terminou Muitos também já estão na desejada graduação Mas, a linha de chegada mudou e agora, faltou a pós-graduação... Empregos informais, temporários e sem futuro No fim do túnel escuro não está a luz, mas a escravidão remunerada e chamada de terceirização!
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De pedra partida construí meu coração De pedra lascada lapidei minhas mãos De pedra polida agucei a visão e hoje olho nos teus olhos cristal translúcido
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Flor pisada despetalada ressecada Seiva de sangue Perfume acre A flor, agora, fere é carnívora e tem veneno Vai florescer nos esgotos nos pântanos Vai turvar nossa visão...
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Duan Kissonde Porto Alegre, RS
Poeta de periferia, meu verso não é periférico, porque meu centro é a África 103
WINTER IN AMERICA Primeiro eu lutei contra os dragĂľes e dinossauros [dos meus sonhos infantis] Mais tarde, ainda menino Encontrei o meu destino de homem negro Um corpo negro no mundo Hoje eu enfrento a neve todos os dias lutando contra a natureza, alva e covarde Destes frios olhares que me enxergam mosca, gado ou barata.
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BANZO N° 2 O negro cantou para o mundo No canto rouco da corda unívoca do seu berimbau do Benim, acompanhado do coral de uma spiritual church do sul da América do Norte O canto forte de uma chama que arde Banzo, ipsis litteris, também foi tradução para liberdade Nove voltas não foram suficientes Esta poeira que eu carrego debaixo das unhas São velhas cantigas do Bailundo Na noite escura da mata Meu coração aqui jazz, sufocado Silencio meus medos e me misturo no blues das águas barrentas do Congo.
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DIÁSPera I Áspera é a espera Desse sonho que ainda aspiro África me sinto Diáspora estou II Disperso me despeço do colonizador – Bye, bye! Manipulo o meu ódio transformo em remédio Gotas homeopáticas de vingança O caminho da cura pode ser a doença A guerra se faz nas entranhas dos morros na entrada dos becos As batalhas se travam num silêncio obscuro
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Balas perdidas achadas em corpos negros Projéteis de medo Cheiro de medo \CUIDADO\cães farejam medo\ – Irmão, não tenha medo! Pois os porcos são sempre covardes e agora as tardes são vazias e cinzentas Por isso eu ainda gosto de pensar que a poesia faz diferença nesse front Enquanto o sol esquenta o barro e a chuva lava o sangue Tudo é tempo sem demora, e a vida vai com o vento Escorrendo entre os dedos, mil vezes ao dia [Poema incompleto. Para sempre incompleto/ Ensaio Infinito].
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AXIOMA eu. eu mesmo sou um estrondo sou um estorvo poético sou a própria lírica do estorvo poeta de periferia, meu verso não é periférico porque meu centro é África.
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LEVEDO LEVIANO Estou contra esta ladainha lírica, de lógica liricizante Sei que Jamais serei licenciado por esta literatura lacaia [Ocidental] Por isso sou contra esta hipocrisia hipocondríaca de Heráclito Abaixo as exigências do metro Abaixo as exigências da rima romanos ou gregos sonetos, odes ou redondilhas Deixo destas dúvidas, sem dívidas Oferto Para os meu deuses, uma hecatombe de versos Orgia, regada a goles de cerveja Hoje, pelas armas de Hôji, eu peço a cabeça deles em uma bandeja.
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Jacson Cesar de Jesus Neri Vitória da Conquista, Bahia
Depois indago a antiguidade portentosa das árvores, ainda sobre ti, como ato derradeiro do desesperado, mas a tediosa eterna indiferença delas aos assuntos humanos só me convida ao estúpido ponto final. 111
BENQUERENÇA Para Paula Babilônia Há muito tempo te vejo. Da direção do teu olhar, fundo sem fundo, Faço uma pergunta: “Aonde vais, sem pressa e tão longe?” E minha pergunta logo rodopia, Numa distração ingênua, circular, Feito a serpente que se enerva contra a própria cauda, Zombando das falas resolutamente diurnas! Há muito tempo te conheço. Ora, não sabes, diz-me, só há luz noturna sobre o que vemos. E o teu olhar seguia mais longe, Obrigando-me a de novo perguntar: “aonde vais?” Donde concluo, com o desenho da serpente enervada, Há muito tempo te albergo em mim, E creio que será assim, sem pressa e mais longe, e mais...
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ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE ESTE LUGAR O que é possível dizer sobre ela sem desabar num precipício de nadas? O que é possível calar diante dela? Ela é o que tomo por desejo e corpo? Ou a fração de tempo absconso que, por detrás de uma duração qualquer, eu chamo de realidade tangível? Saber não sei, se soubesse já não saberia, Pois, com Agamben, aprendemos que: “o homem é o senhor da privação porque mais que qualquer outro ser vivo ele está, no seu ser, destinado à potência. Mas isso significa que ele está, também, destinado e abandonado a ela, no sentido de que todo o seu poder de agir é constitutivamente um poder de não-agir, e todo o seu conhecer, um poder de não-conhecer.”
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CANTARES Embaça as paisagens todas que tem diante de si Porque as cria nas ondulações feito mel, Faz manar dos materiais os mais conspurcados aquele tempo, descerrado, feito Narciso. Se-gue as-sim sen-do, Corpo vivo de ninfa que, à beira rio, um dia reverberou no coração do deus-bosque. Tranca a mil chaves a porta do feio E deleta a carnadura opaca, faminta, da forma. Vai, subjuga a vida ao som de tua beleza Porque o faz nas ondulações feito mel.
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POST QUASE BREU Para Samuel Sousa Silva, que sabe a lâmina desse corte Tecer em linhas palavras que roçam focinho Nas coisas entregues à polpa dos olhos E nas que aos olhos combatem Cavalos-marinhos De ventres vazios, Sensação de que toda dimensão é aérea Sumiço de tudo que se conhece na forma Cafarnaum de todos contra todos Quando se desprendem de mim tuas imagens Junto com a pele de ouro e os vícios da embarcação. Renuncio, Então, Ao enleio de teu abraço E medido pela ausência Numa sucessão de ato e desato Vou sustentando o meu arco rumo à escrivaninha, Tentar criar novos espelhos refratários.
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VOCÊ... EU... NÓS... Sem direito a vácuo que leve o tartamudear de meu grito ao dizer teu nome pela rua já quase nua de humanas fissuras; e na mata, dar com a solidão do cedro, por ser ali estrangeiro, como o é no mundo o homem, eu pergunto aos bêbados, à caricatura mordaz daquilo que fomos sob uma luz sonolenta, atada ao teto sobre a nossa cama: quando retornarás? E o bilhete que te escrevi, a escrivaninha sobre a qual o deixei, teu cheiro recitando os cantos da casa que, no centro, te ergues, teus dedos de sol, tua maneira de debuxar um sonho onde havia meu corpo, teu fôlego suspenso por um morrer quase, essas coisas ainda nos obrigam face a face, quando já são bordas. Pergunto baixinho aos minúsculos seres voadores, não se ainda reconheces, mas se ainda te lembras da casa da rua Araçá, do jeito com que predávamos o hiato e existíamos num uivo. Depois indago a antiguidade portentosa das árvores, ainda sobre ti, como ato derradeiro do desesperado, mas a tediosa eterna indiferença delas aos assuntos humanos só me convida ao estúpido ponto final. Sem direito a voz, eu berro à embarcação que se vai indo sem bússola nem astrolábio, ao rancor contido dos marujos em mundo mar: onde está você?
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Marlon Pires Porto Alegre, RS
As bruxas de HB20 vomitam na tua cara que Brasil é ruim. Bom é Londres! 119
Ô ZUADO Onti nem fui no trampo Choveu pra caralho pae Deu rum nas telha e pá Mas agora tá de boas Minha rua não tem asfalto parça Tô com barro até As canela Onde tem asfalto É onde passa o bus Ficô tudo alagado Tipo rio mesmo Nem passou bus nada Viamão é tenso Pq nem chove As vezes e Falta os bus Tenso. Nisso de ficar em casa A vó contou umas história
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Eram 6 irmãos Alcides Alcibides João Leontino Terezinha Derli Vivo hoje Só ela Mais o tio Leontino E o tio Derli. Todos filhos Da Dona Cedália A vó fala que Era companheira afu Da mãe Ajudava muito e tal. A vó diz que Queria ter passado Mais tempo com ela Casou com o vô 17 anos tinha Veio correndo pra Porto Alegre Dona Cedália Segurou as pontas sozinha lá A vó se arrepende. Bah maior teto.
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CÊS FALAM DE HALLOWEEN Terror mesmo é ser preto e trabalhar no Moinhos de vento parça O racismo deforma os rosto aqui As bruxas de HB20 vomitam na tua cara que Brasil é ruim. Bom é Londres! Que é mais barato comprar em euros e o caralho. Os vampiro cabeça branca meio morto meio vivo ficam lá sugando a alma de vendedor. Tratando mal quem tem a pele escura. Não é todos assim não. Esses dias, um tio empresário dono de sei lá quantas loja, trocamos uma ideia. Leu uns verso meu e disse ' muito bom tem futuro. Investe'. Mudou meu dia. Mas que essa porra de Moinhos de vento é um terror racista tipo Corra! Isso é.
Bah real
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AMOR PLATÔNICO? É uma parada tipo quando tu fica só admirando, curtindo afu a mina mas não fala nada pra ela as vezes tu não fala pra ninguém, tá ligado? Tu fica só imaginando as parada e a mina lá nem sabe que tu curte ela e tal. Bah maior teto Aham Eu tenho essa mania Fico só observando Bah daí quandovê aparece a mina tipo MANUDUCÉUQUECOISAMAISLINDA!!! Daí fico todo todo mas a tímidez pega pae Fico sereninho imaginando várias parada bagulho fudido parça A mina nemsabe que eu existo e eu ali todo poeta força de verso e pah Bah esse teto é muito loko
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LOUVADOS SEJAM NOSSOS ANCESTRAIS! EU VI O FILME DO PANTERA NEGRA MEU CORAÇÃO TÁ CHEIO DE EMOÇÃO ROLOU UMAS LÁGRIMAS NÃO VOU MENTIR ESSA PARADA DE QUADRINHOS E SUPER HERÓIS NUNCA ACHEI GRAÇA MAS O PANTERA NEGRA MUDOU ISSO PARÇA E OUTRA PARADA QUE ME BATEU FOI O NEGÓCIO DA ANCESTRALIDADE TEM UMA FRASE: "NOSSOS PASSOS VÊM DE MUITO LONGE" (acho que é essa a frase) PENSO NO PESSOAL DA ANTIGA TIPO MINHA VÓ DONA TEREZINHA E TAL BAH FODA VOU PARAR POR AQUI SE NÃO COMEÇO A CHORAR DE NOVO A REAL É QUE... WAKANDA FOREVER! CARALIOMANO QUE FILME! 124
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Colaboradores desta edição
ANA DOS SANTOS Sou poetisa, professora de Literatura, com Especialização em História e Cultura Afro-Brasileira e mestranda em Estudos Literários Aplicados pela UFRGS. Também atuo como contadora de histórias e tenho poemas publicados em diversas antologias. Recebi duas vezes a Menção Honrosa do Prêmio Lila Ripoll e faço parte do Catálogo Intelectuais Negras Visíveis (UFRJ/Editora Malê). CAREN NUNES LOREA Resido em Porto Alegre, desde 1988. Sou diplomada em Marketing e Pós-graduada em Liderança, Coaching e Gestão de Pessoas, pela Faculdade SENAC Porto Alegre; e, como aluna da Escola de Poesia, participei da revista Ovo da Ema n° 2 (novembro de 2016). CINARA FERREIRA Sou graduada em Letras pela UFRGS, com Mestrado e Doutorado na área de Literatura, PUCRS e UFRGS. Atuo como docente no Curso de Letras da UFRGS, com projetos sobre Literatura de autoria feminina e Literatura e música. Entre minhas publicações, destaco a organização de Lara de Lemos: poesia completa (Movimento, EDPUCRS, LiquidBook e Vidráguas, 2017). Ganhei menção honrosa pelo poema Perguntas do Tempo, no Concurso de Poesia Lila Ripoll, 2014 e 1º lugar com o conto Amor, no Concurso Literário Mario Quintana, 2017. CÍNTIA LANG Gosto muito de ler e de escrever e estou sempre sublinhando frases ou versos que me chamam atenção. A sonoridade das palavras me encanta. Gosto de contar histórias e de ajudar crianças e adolescentes a descobrirem os encantos e a força da nossa Língua. Dou muita importância à fala das pessoas, ouço palavras soltas e frases muito expressivas, pura poesia! Me formei em Letras, em Psicopedagogia e em Psicanálise, e assim firmei um laço forte com o que mais amo e posso seguir me formando, me transformando. DUAN KISSONDE “Sú secreto está en sú nombre". Nome subversivo e infindável como a forma da formiga. Nasci em 1993, em Porto Alegre, cidade que, em minhas próprias palavras, me deu tudo, mas, às vezes, parece que não deu nada. Maloqueiro mallarmaico & malabarista malcônico, também sou neto primogênito da dona Rosa, poetisa primeira e roseira que roseou. Morador da vila Quinta do Portal na zona leste da capital gaúcha, sou graduando do curso de história na UFRGS, já que neste mundo cão poesia não conta como profissão. 128
FELIPE HAFFNER Nem lembro de quando comecei a rabiscar nos cadernos, já deveria ter uma pilha imensa, uma muralha da China, se não os queimasse de tempos, em tempos. Respirar e escrever, tão involuntários que me aproximo de um para abastecer o outro. Não escrevo mais para as minhas noites de Bebelplatz, agora solto barquinhos na beira do Guaíba sem pretensões de me insurgir contra as naus imperiais. Me encosto nesse pedacinho do céu de final de tarde, com pandorgas em papel de linho e bambu. E entre água e céu, avisto o Sexta-feira. Participei da antologia De lírios diversos (1992), advinda da oficina promovida pelo Município de Porto Alegre. HERWIN POZZOBON SILVA Yo no compuse Chan Chan; la soñé. Sueño con la música. (Compay Segundo) Durante muito tempo escrevi em silêncio. Oriundo de uma carreira executiva em Tecnologia da Informação, que ainda sigo, não me dava o direito de resolver o conflito imaginário entre o pragmático e o poético. Até que um dos poemas deste trabalho brotou e resolveu a questão. Aqui estou. Com algum apoio de Jung, experimento com recursos mitológicos e oníricos para expressar percepções, sentimentos e pensamentos sobre a condição humana e a minha própria. JACSON CÉSAR DE JESUS NERI Sou o terceiro filho de uma família de seis, cuja maioria é de mulheres. Cresci num lar onde o gosto pela literatura era minguado, mas não inexistente. Ainda me são vivas as lembranças de minha mãe esboçando versos em seu bloco de anotações. Mais tarde, ela me confessaria que a poesia foi a atividade que mais lhe deu prazer e da qual mais tinha saudades. Trabalhei como auxiliar de mecânico, como operador de máquinas, fui vendedor de aparelhos eletrônicos e depois tentei ser vendedor externo de doces. Essas experiências me fizeram descobrir que o melhor de ser vendedor era não sê-lo. A poesia entrou nos meus gostos lá pelos 14 anos: encontrei, jogada ao chão, uma página de uma coletânea na qual constava um trecho de O Guardador de Rebanhos. Fiquei perplexo ao lê-lo e atônito ao lê-lo pela segunda vez. Fui lendo por horas, dias. O verso seria algo definitivo em mim. Formei-me em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. No período de graduação, produzi alguns saraus de poesia e música, mas foi no espaço extra-acadêmico que a vivência com a poesia fez mais sentido pra mim, pois ela já me havia tomado bem antes. A partir de 1999, comecei a minha experiência como professor de História e de Filosofia na educação básica. 129
LIA RIBEIRO Com 7 anos, aprendi a ler e descobri o universo literário. Aos 19, após a morte da minha mãe, me mudei para Porto Alegre – RS, idade em que comecei a escrever poemas. Aos 37, me formei em Letras, na Unisinos, e o meu TCC analisou A Epifania nos Contos de Clarice Lispector. Em 2015, em homenagem aos meus colegas, publiquei o poema Nós, no livro Democracia Participativa e Representativa: novos olhares, que reúne artigos do curso de PósGraduação. Escrevo poemas como uma observadora do que me passa e do que me move. Escrevo por dizer e por criar uma linguagem própria. Atualmente, além de escrever, trabalho na FAMURS e assessoro os municípios nas questões relacionadas à Política Pública de Assistência Social. lia.lisett@gmail.com LÚCIA BINS ELY Nasci para escrever, me nomearam Lúcia, com “L” de ler! Desde menina, lia por todos os lados: o “l” do rasgo do lençol, o “c” na lua crescente. Quando menina, me encantava acompanhar nos livros as histórias e fábulas tocadas nos discos. E, já adolescente, me tocou muito o poeta Álvares de Azevedo, que tão livremente falava da morte e de suas angústias. E mais tarde Baudelaire, as flores do mal. E também Alejandra Pizarnik. Sobrevivi ao meu próprio suicídio, por escrever. De todos os meus afazeres, escrever é o que mais me aproxima de minha morte. Talvez a psicanálise também. Assim me conheço poeta e me reconheço psicanalista. Publiquei o Livro das Madalenas (Coleção Adire/Escola de Poesia, 2018), Sombra e Luz (2008) e, com outros autores, Arado de Palavras (2008), na Revista de Poesia Água Viva (2002 a 2005), na Coletânea de Poesia Gaúcha Contemporânea (2013) e na Revista Ovo da Ema (números 0, 1 e 2). Também traduzi Freud e Lacan – Falados – 1 (2007). LÚCIA HELENA POZZOBON Então, comecei a escrever... Estou escrevendo Poemas. O que para mim é estranho, pois sempre fui uma estudiosa de contos. Mas, agora, estou a escrever Poemas. Isso nem sempre foi assim, pois houve um tempo em que todas as palavras sumiram para mim e eu mal conseguia falar, quanto mais escrever. O mundo das letras, desde muito cedo, esteve ao meu alcance, fui criada no meio de livros, ouvia histórias que eram transformadas em peças de teatro, em letras de música e recontadas mil vezes, por minha mãe, pois meu pai gostava era de conversar. Formei-me em Letras, Português/Francês, PUCRS, e fiz Especialização em Literatura Brasileira. Sou revisora e professora da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, pela qual tive alguns trabalhos publicados,
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em conjunto com outros professores. Também foram publicados, no livro Tecendo Ideias na Cidade que Aprende, textos produzidos por meus alunos da Educação de Jovens e Adultos, com o tema Lembranças da Infância. Em 2003 e 2004 participei da organização de duas edições do Palavra de Trabalhador. Desde 2015, faço parte do Seminário de Especialização em Psicanálise da Après Coup Sociedade Psicanalítica, e a partir daí muitas palavras começaram a ecoar em coro, provocando transbordamentos. Chego então à Escola de Poesia. MARLON PIRES RAMOS Às vezes Marlinho. Poeta, Malungo. Da Maria Iracema, filho. Da Marlete Oliveira, namorado; mas acima de tudo, neto da Dona Terezinha. MARCELA VILLAVELLA Sou poeta, escritora, psicanalista, diretora e didata de Après Coup Sociedad Psicoanalítica e Après Coup Porto Alegre Psicanálise e Poesia. Publiquei, entre outros, Los Pacientes de Ana e Deseos Reprimidos - Los Pacientes de Ana II (Editorial Sudamericana – RHM), Bella de Siesta, Asi es la Rosa, Te Busca y te Nombra (Editorial Grupo Cero) e SUR (Coleção Adire/Escola de Poesia); bem como diversos livros no campo da psicanálise, entre eles O Trágico em Psicanálise (Psicolibro) e, em colaboração, Medicina Psicosomática, La Transferencia (Editora Grupo Cero), Niños Prematuros – Clínica de lo perentorio (Editora Lugar), Freud Saberes y Opiniones (Librería Paidos). PAULA ROBERTA GIACOMELLI DE OLIVEIRA Nasci em Cruz Alta, cidade de Érico Veríssimo. Funcionária Pública (para ser estável, considerando possuir certa inquietude na alma), feminista (por convicção), filha, irmã, tia, namorada e amiga (por amor). Ingressei na Escola de Poesia em 04/10/2016, buscando ser pelo meio que sempre usei para me encontrar: a escrita. RAFAELLA MARCHIORETTO Sou gaúcha, natural de Porto Alegre. Atualmente, estudo Ciências Biológicas e sempre fui apaixonada pelo desenho, acho que as duas áreas andam juntas. Ainda estou buscando entender todas as possibilidades do diálogo entre ciência e arte. Trabalho com ilustração científica botânica e com desenho livre. A pintura e o desenho funcionam, para mim, como terapias e também como formas de entender o mundo.
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ISSN 2358-8292