Revista Expo Ideia - A Feira do Futuro

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SUMÁRIO 3

Editorial

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Alguns números da Expoidea

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Pré-evento: Conversa do Futuro

Tecnologia 10

Reportagem: Expoidea destaca o campo da tecnologia da informação

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Perfil: Sílvio Meira

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Artigo: As redes sociais e a academia – Paulo Cunha

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Entrevista: Yves Nogueira

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Tecnologia & Cultura: A produtora cultural colaborativa – Pedro Jatobá e Luana Vilutis

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Depoimentos

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Ação Expoidea

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Perfil dos expositores

Cultura 30

Reportagem: Cultura, um dos eixos da Expoidea

34

Perfil: Rogério Robalinho

36

Artigo: O humor ganha o Recife Antigo – Joselito Nunes

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Entrevista: Luciana Azevedo

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Perfil: Anderson Gomes

40

Cultura & Sustentabilidade: O conflito entre o velho e o novo – Luciano Siqueira

56

Artigo: Por uma cultura sustentável – Thomas Enlazador

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Entrevista: Vanice Selva

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Sustentabilidade & Tecnologia: Sustent OPORTUNIDADE – Sérgio Xavier

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Música livre não é caridade — Fernando Aniteli

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Depoimentos

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Ação Expoidea

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Depoimentos

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Shows e manifestações culturais

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Ação Expoidea

66

Reciclagem de lixo

Sustentabilidade

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Infográfico

Reportagem: Em busca de soluções sustentáveis

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Expediente

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EDITORIAL

A

Expoidea - A feira do futuro foi um evento inovador, baseado em três eixos fundamentais: a tecnologia, a cultura e a sustentabilidade. Durante nove dias (19 a 27 de novembro), exposições, cursos, apresentações culturais, palestras e mesas redondas com o objetivo primordial de discutir formas de melhorar o mundo através da colaboração e do compartilhamento de ideias se espalharam pelo Bairro do Recife, em diversos espaços culturais. Mais de 45 mil pessoas circularam na Feira, gerando mais de 1200 empregos. No século 21, a tecnologia, a cultura e a sustentabilidade despontam como pilares fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento. Esses três polos estão completamente vinculados, numa grande rede de articulações. Pernambuco foi escolhido para receber a primeira edição da Expoidea porque possui um cenário representativo nessas três áreas. O polo tecnológico pernambucano é referência nacional tanto no que diz respeito à pesquisa quanto na formação de recursos humanos. Como principal destino de investimento do Nordeste, o estado é hoje, também, o melhor lugar para se discutir sustentabilidade. Com uma tradição de gestão pública e forte participação da sociedade civil nas questões ambientais, Pernambuco apresenta boas iniciativas público-privadas nessa área. Por fim, já é de conhecimento geral a diversidade da cultura pernambucana, e a riqueza cultural de uma região está na base da capacidade inovadora do seu povo.

A Feira gerou um fluxo constante de conhecimentos e uma troca de informações em torno da nova realidade pernambucana, com seus recentes investimentos estruturadores, e da brasileira. O evento apresentou grandes projetos institucionais do estado, integrando centros de pesquisa e empresas particulares, com apresentações direcionadas para as oportunidades do mercado de trabalho, convergindo diretamente para a sociedade civil. A Expoidea foi integração social, acesso à cultura, democratização do conhecimento e geração de negócios. Neste livro, há um registro de tudo que aconteceu no Bairro do Recife, durante os nove dias de eventos. Dividido em três eixos, assim como a Feira, a obra não é apenas um documento daquilo que aconteceu, ela se propõe a dar continuidade aos debates iniciados em novembro. Página a página, o leitor vai se confrontar com as principais ideias discutidas incessantemente na Expoidea em reportagens, perfis, entrevistas e artigos. Nomes de atestada importância em suas áreas, tais como Silvio Meira, Paulo Cunha, Yves Ribeiro (tecnologia), Luciana Azevedo, Joselito Nunes, Luciano Siqueira (cultura), Sérgio Xavier, Vanice Selva e Anderson Gomes (sustentabilidade) assinam artigos ou compõem entrevistas e perfis. Ao longo da obra, destacam-se os números da feira, suas principais ações em cada área e um infográfico. Esta publicação vem repercutir e incentivar o debate iniciado na Expoidea, e mostrar que ele está longe de terminar.

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Durante nove dias, circularam por todos os ambientes da Expoidea 48 mil pessoas. 140 escolas públicas estaduais e municipais da região metropolitana do Recife participaram das mais de 154 atividades relacionadas à difusão do conhecimento e tráfego de informações em palestras, cursos e oficinas, realizados em parceria com 24 instituicões. uso e aprendizagem de ferramentas livres.

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Cerca de 2500 profissionais se envolveram direta e indiretamente na Expoidea. Para desenvolver as atividades durante a Feira, atuaram 196 palestrantes, oficineiros, ministrantes e facilitadores. O sistema cadastrou 6.029 pessoas, que participaram das atividades presenciais (palestras, minicursos, debates, workshop, oficinas e Produtora Cultural Colaborativa). EXPOIDEIA 5


Durante a Expoidea, foi utilizada uma moeda social, a Idea. 20 empreendimentos se envolveram na ação e 1.588 moedas sociais circularam no evento. O Mercado de Trocas Solidárias apresentou um modelo com várias inovações que permitiram que fosse possível pagar R$1,15 por cada moeda social emitida e apresentada ao ecobanco. EXPOIDEIA 6


Conversando sobre o futuro — Pré-evento Para iniciar os debates e preparar o terreno para os nove dias da Expoidea, os organizadores promoveram, um dia antes de sua abertura, 18 de novembro, a Conversa do Futuro. Com o tema Como a tecnologia, a cultura e a sustentabilidade influenciarão o desenvolvimento do país nos próximos anos, a prévia, que aconteceu no auditório do Santander Cultural, reuniu grandes atores do cenário local e regional e teve a

participação de cerca de 100 convidados, entre eles parceiros e idealizadores. No encontro, estiveram presentes: o professor Luciano Coutinho, presidente do BNDES, Luciana Azevedo, à época presidente da Fundarpe, Liliana Magalhães, diretora superintendente do Santander Cultural, Sérgio Xavier, atual secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Luciana Santos, ex-secretária de Ciência Tecnologia e Meio EXPOIDEIA 7

Ambiente de Pernambuco e Deputada Federal eleita em 2010, e Daniel da Hora, professor da UFPE, que coordenou a conversa. As falas dos participantes mostraram os desafios que devem ser enfrentados para unir os três eixos (sustentabilidade, cultura e tecnologia) e destacaram o momento especial que Pernambuco vive hoje. O público interagiu e o debate serviu como prelúdio para o que seriam os próximos dias da Feira.


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t


tecn EXPOIDEIA 9


reportagem tecnologia

Por um Pernambuco de mais ideias

A Expoidea destaca a tríplice articulação do polo tecnológico do estado e apresenta ao público tudo que a ciência e a tecnologia podem oferecer à sociedade por TÁRCIO FONSECA

O

Recife é hoje um dos maiores, senão o maior, polos de tecnologia do Brasil. Seja através da academia, com o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn), os departamentos de Física, Matemática e demais ciências e a Universidade de Pernambuco (UPE), com a Escola Politécnica de Pernambuco (Poli), seja através da área empresarial, com o Porto Digital funcionando como um ecossistema criado especialmente para abrigar empresas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) dentro da delimitação física do Bairro do Recife, aproveitando a sinergia gerada por essa proximidade. E ainda dos apoios governamentais e municipais, que enxergaram nos setores ricos em inovação um dos grandes caminhos para a evolução do estado. Essas três vertentes, juntas, criam o conceito da tríplice hélice, no qual o trabalho somado de cada uma move a engrenagem em prol de todos. A universidade cria o conhecimento através das pesquisas científicas. O empresariado usa o conhecimento gerado na universidade para criar produtos e serviços. E o governo facilita o caminho da inovação com incentivos fiscais e financiamentos de pesquisas. Dentro desse contexto e percebendo que esse momento especial do estado merecia destaque e um espaço para a troca de experiências, surgiu a Expoidea – A feira do futuro, erguida sobre os pilares da tecnologia, cultura e sustentabilidade. No pilar da tecnologia, estiveram presentes na Expoidea, mostrando seus projetos: empresas, órgãos e instituições como a Prefeitura da Cidade do Recife, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco (Sectma), UFPE, UFRPE, o Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP) e sua incubadora (Incubatep), a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), o Porto Digital, a desenvolvedora de games Jynx, entre outras. “A Expoidea foi uma iniciativa pioneira no Brasil e em Pernambuco, que teve como objetivo mostrar, informar e formar o público sobre o que a ciência e a tecnologia podem trazer de bom para a sociedade. Uma oportunidade de mostrar que a ciência e a tecnologia são meios, e não fins”, comenta Anderson Gomes, atual secretário de Educação e ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco. EXPOIDEIA 10

Um novo olhar para a ciência, tecnologia e inovação A mudança de visão do estado com relação à ciência e tecnologia pôde ser percebida logo no início da Expoidea. Já no primeiro dia da Feira, foi realizado, com o apoio da Prefeitura da Cidade do Recife e Sectma, o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Ciência, Tecnologia e Inovação. Na reunião, diversos responsáveis pelos órgãos de ciência e tecnologia puderam trocar experiências e discutir os projetos que vêm realizando nos seus respectivos municípios. No Recife, um dos principais projetos para os próximos meses é o do Parque do Jiquiá. No local, situado a cerca de cinco quilômetros do Marco Zero, será montado um espaço científico e tecnológico com planetário, museu de ciências, centro vocacional tecnológico, memorial em homenagem aos cientistas pernambucanos que foram destaque nacional e internacionalmente e um museu do Zeppelin. Historicamente, o Parque do Jiquiá foi um dos pontos para pousos de dirigíveis no Brasil, e o único no mundo em que a torre de atracamento ainda se encontra de pé. No projeto do novo parque, a torre será totalmente restaurada.


A pesquisa apontou que Pernambuco passa, hoje, por um momento de crescimento econômico com a chegada de novos investimentos, como o Porto de Suape, o Estaleiro Atlântico Sul, a Refinaria Abreu e Lima, o polo farmacoquímico em Goiana e a Copa do Mundo de 2014. O estudo selecionou três cadeias produtivas da indústria que devem receber maiores incentivos. São elas: a indústria de equipamentos elétricos, eletrônicos e aparelhos médicohospitares; a indústria farmacoquímica, farmacêutica e de radiofármacos; e a indústria criativa, na qual entram as áreas do desenvolvimento de software, de games e a de audiovisual. Apontando uma visão que vai ao encontro do estudo, a Expoidea foi uma vitrine dessas cadeias.

Inovação para um mundo melhor

Ainda durante os dias da Expoidea, a Prefeitura do Recife divulgou o resultado da pesquisa Dinâmica da economia e da inovação e perspectivas de desenvolvimento econômico do município do Recife e suas principais cadeias produtivas. O estudo, realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e coordenado pelo economista Sérgio Buarque, concluiu que o Recife deve potencializar sua vocação como cidade provedora de serviços com alto grau de inovação e produtora de conhecimento científico.

O RECIFE HOJE É UM

DOS MAIORES, SENÃO O MAIOR,

POLOS DE TECNOLOGIA DO PAÍS EXPOIDEIA 11

A inovação está intimamente ligada ao momento que vive Pernambuco. Com grandes projetos em andamento, como o Porto de Suape e a Copa do Mundo de 2014, ideias novas, que tragam soluções criativas e sustentáveis, e que utilizem o escopo tecnológico como base, são de extrema importância. Pensando nisso, foram realizadas na Expoidea palestras como a de Geraldo de Magela, gestor da Incubatep, que trouxe o tema “Empreendedorismo e inovação”, e a de Rafael Lira, diretor executivo da Ser Digital, “Tendências e Oportunidades para Empresas Nascentes”. Outras palestras que mereceram destaque foram a de Francisco Jaime Bezerra, da Hemobrás, que discutiu as “Aplicações da biotecnologia para a indústria de hemoderivados” e a de Lucio Alberto Pereira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que teve como tema a “Água no semiárido: tecnologias de captação de água de chuva”. No campo da tecnologia na educação, Giordano Cabral, da empresa


de games musicais D’Accord, ministrou a “Games Musicais e Educação”, e o Governo de Pernambuco apresentou o case de sucesso das Olimpíadas de Jogos Digitais e Educação (OjE), uma competição entre alunos das escolas públicas utilizando videos games de cunho sociopedagógico. Esse último projeto deu tão certo no estado, que o Governo do Rio de Janeiro importou a ideia para as escolas municipais de lá, e outros estados já demonstraram interesse em levar o OjE aos seus estudantes. “A Companhia de Eventos, através da Expoidea, teve a oportunidade de juntar

várias cabeças pensantes num mesmo lugar e mostrar à sociedade o que estamos realizando aqui no estado em tecnologia e inovação. Os projetos apresentados devem sair do papel e gerar negócios que tenham como objetivo a solução dos problemas atuais da sociedade”, afirmou o secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Recife, José Bertotti. Ele ainda complementa a ideia: “Não existe a cultura dentro do meio acadêmico para o estudo de soluções que sirvam para sanar problemas concretos da sociedade. A Expoidea funcionou também no sentido de

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quebrar esse paradigma. Ela buscou aproximar essas ideias surgidas na academia para que elas entrem numa cadeia de produção e possam beneficiar a população”.

BlogCamp — o ponto de encontro dos blogueiros Dentro dos três pilares principais da Expoidea, a presença da cultura digital não poderia ficar de fora das temáticas de discussão. Nesse sentido, os dois últimos dias da Feira foram destinados ao primeiro BlogCamp pernambucano, um encontro de blogueiros de âmbito nacional para discutir


assuntos pertinentes à blogosfera e à comunicação na internet. A organização fez uma programação que contou com a presença de nomes consagrados na rede, como Alexandre Inagaki, do blog Pensar Enlouquece (www. pensarenlouquece.com), que trouxe uma introdução às redes sociais e blogosfera. Também estiveram presentes: o jovem empreendedor, fundador do sistema de publicidade em mídias sociais boo-box (boobox.com), Marco Gomes, e a sócia da Kingo Labs, empresa onde nasceu o encurtador de URLs Migre.me, Maria Carolina Cintra.

O NOVO EMPREENDEDOR DEVE BUSCAR EM EDITAIS

DE

FOMENTO E INVESTIMENTO OS SUBSÍDIOS PARA INICIAR AS ATIVIDADES Aos 24 anos de idade, Marco Gomes encabeça um serviço que atende a 16 mil sites no Brasil, gerando 600 milhões de anúncios por mês nas redes sociais e blogs, e atingindo 31 milhões de internautas, número que representa metade do total de usuários ativos da internet brasileira. A boo-box foi escolhida em novembro passado pela produtora de chips Intel, para receber um aporte de capital da ordem de “alguns milhões de dólares”, segundo o próprio Marco, que não pode revelar a quantia exata desse investimento. O BlogCamp ainda desenvolveu conversas em torno da relação entre jornalismo, portais e blogs na internet, a transformação de polêmicas em oportunidades na rede, a cybercultura, o pioneirismo e como gerar repercussão online, e o surgimento de “memes” (fenômenos) na web, com a presença do blogueiro Lucas Celebridade (lucasfamapop.blogspot.com) e de Alessandra Siedschlag do blog Te Dou um Dado? (tedouumdado.com.br). EXPOIDEIA 13

Da ideia para o empreendimento Numa feira de ideias e negócios, um ponto importante para se discutir é como transformar as ideias em negócios, de fato. Como tirar os projetos do papel e colocá-los em prática. A presença da incubadora do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), na Expoidea, mostra um dos caminhos para se conseguir isso. No campo da TI no Brasil, vincular uma nova empresa ou empreendimento a uma incubadora pode garantir os primeiros passos e também uma estabilidade inicial na hora de ela partir sozinha para o mercado, recebendo incentivos e consultorias de forma mais facilitada. Além da Incubatep, também existem em Pernambuco a CAIS do Porto e a incubadora do Porto Digital, iniciada em agosto de 2009, com o objetivo de abraçar 14 novos empreendimentos que tenham como objetivo resolver problemas reais já existentes no estado. O NECTAR (Núcleo de Empreendimentos em Ciência, Tecnologia e Artes) é outro espaço para abrigar empresas que necessitem elaborar um plano de negócios e amadurecer o produto ou serviço que se destinaram a oferecer. É interessante ao novo empreendedor buscar em editais de fomento e investimento, com base em tecnologia e inovação, os subsídios para fazer com que a nova empresa, que muitas vezes não conta com dinheiro em caixa, possa iniciar as atividades sem que os sócios se afundem em dívidas. Algumas linhas de crédito interessantes para o setor incluem a FACEPE (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco), a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), o Prime (Programa da Primeira Empresa Inovadora), além dos fundos de investimento de capital-semente, como o Criatec.


perfil|silvio meira

O cientista-chefe que preza pela inovação O paraibano de Taperoá, um dos homens mais influentes do país, teve papel central na criação do Porto Digital e do C.E.S.A.R por KÉSIA SOUZA e MARTA TELLES EXPOIDEIA 14


E

le foi eleito o homem do ano na área de Economia, no Prêmio Faz Diferença do jornal O Globo, em 2010. Foi considerado uma das 100 pessoas mais influentes no Brasil pela revista Época. Não por acaso, Silvio Meira é um dos maiores inovadores em atuação no Brasil. Respeitado em vários setores, o paraibano de Taperoá costuma dizer que Pernambuco é o seu ponto de chegada e não de partida. Ele é um dos criadores do Porto Digital e um dos idealizadores do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), que, juntos, impedem a fuga das grandes mentes na área da tecnologia do país e fazem o estado ser chamado de o Vale do Silício brasileiro. Além disso, Meira é o responsável por instituir o programa de doutoramento em Ciência da Computação na Universidade Federal de Pernambuco, onde é professor há 33 anos. Silvio Meira se formou em Engenharia Eletrônica, no Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), em 1977. De lá, decidiu que voltaria para o Nordeste. Entrou no mestrado em Informática na UFPE. O título veio em 1981. Dois meses depois da conclusão do mestrado, ele já estava de partida para a Inglaterra, onde cursou um PhD em Computing, na University of Kent at Canterbury, sob a orientação do professor David Turner. Quando chegou ao Recife, em 1985, ocupou o cargo de professor do Centro de Informática da UFPE (CIn), no qual foi professor da cadeira de Engenharia de Software. Cerca de 10 anos depois, junto com um grupo de professores, fundou o C.E.S.A.R. Atualmente, no Porto Digital, Silvio Meira é o presidente do Conselho Administrativo. Já no C.E.S.A.R, é o cientista-chefe. “Sou o provocador- chefe do C.E.S.A.R. Eu nem trabalho na entidade e, sim, na universidade. Sou associado de uma empresa sem fins lucrativos, que não distribui lucros para os sócios. Sou uma espécie de consultor e provocador-chefe, que atende pelo nome de cientista-chefe. É o cara que faz perguntas, ao invés de encontrar respostas”, conta.

O C.E.S.A.R, atualmente, conta com uma equipe de 450 pessoas, que atuam diretamente em Pernambuco. Mas o Centro tem seus acionistas, que, se somados, totalizam cerca de 800 pessoas. Nem todas as empresas da entidade estão localizadas no estado. Há negócios em São Paulo, Curitiba e Sorocaba – além de um núcleo de pessoas que trabalham em projetos do governo federal, em Brasília. . É no dia a dia que Silvio ressalta a importância de ser inovador. “É preciso trabalhar de uma maneira ousada e polêmica”, atesta. Isso se exemplifica no que é pregado no C.E.S.A.R, com relação aos horários. Ao contrário da maioria das empresas tradicionais e órgãos governamentais,

“O C.E.S.A.R

ACABA DE SER ELEITO O

INSTITUTO DE TECNOLOGIA MAIS INOVADOR DO

BRASIL”

ele acredita que um dos maiores empecilhos para o desenvolvimento de um trabalho criativo é a rigidez no horário. “Quem tem horários rígidos, dificilmente vai fazer qualquer coisa inovadora. O cumprimento da tabela de horários não cria situações de inovação, o que não vai levar à descoberta ou a novas problematizações. O que faz as pessoas inovarem é a descoberta de problemas que precisam de respostas. ” Segundo ele, Pernambuco está bem-colocado na área de software. “O Porto Digital hoje é considerado o principal parque tecnológico urbano brasileiro e o C.E.S.A.R acabou de ser eleito o instituto mais inovador do Brasil,

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quer dizer, melhor que isso não fica. E acabou de acontecer”, comemora. E é exatamente por estar tão bem nessa área, que Pernambuco tem dificuldade de adquirir capital humano para exercer esse papel de forma mais intensa. “O capital humano na área de software no Brasil é algo que tem uma demanda menor do que a oferta”, informa. Dados do governo federal indicam que existem, hoje, cerca de 100 mil empregos que poderiam estar sendo ocupados, preenchidos imediatamente, se houvesse pessoas habilitadas para tais funções. “Esse não é um problema que afeta apenas Pernambuco, é um problema nacional. No Porto Digital, temos 5 mil pessoas trabalhando. Mas, por exemplo, hoje, você encontra 500 vagas em aberto, não preenchidas, por absoluta falta de profissionais”, afirma. Na universidade, ele também exerce um papel inovador. Principalmente, ao criar o programa de doutoramento em Ciência da Computação da UFPE. “O doutoramento surgiu de uma necessidade estrutural, no meio da década de 1990. Durante muito tempo, foi único programa da região Nordeste. As pessoas que não podiam estudar em outros estados, ou até mesmo países, acabaram tendo opção para se especializar. Foi algo natural, que surgiu com a capacidade que tínhamos no Centro de Informática, na época, com capacidade de propor e de executar”, explica. A estada dele na universidade está com os dias contados. É que, este ano, o professor Silvio Meira pretende se aposentar – mas não deixará de trabalhar. “Uma coisa é emprego, outra é trabalho”, diferencia. Já no C.E.S.A.R, ele tem projetos e, como não poderia deixar de ser, são ousados. Depois da aposentadoria, pretende criar uma rede de investimentos com empresas que tenham a sua base em tecnologia. Além disso, em meados de 2011, o Centro vai lançar um fundo de capital, com recursos já orçados em R$ 20 milhões.


artigo

As novas ferramentas de relacionamento

Academia deixa o preconceito de lado e abre as portas para as redes sociais por PAULO CUNHA

A

s redes sociais estão cada vez mais amarradas à rotina da sociedade. Em casa, no trabalho e, inclusive, nas ruas, pessoas aderiram a novos comportamentos e trocam informações sobre os mais variados temas através de seus perfis no Orkut, Facebook e Twitter, por exemplo. Embora seja por entretenimento a maior busca dos usuários, a academia está, aos poucos, conquistando o seu espaço. A resistência ao uso de tecnologia no meio educacional vem sendo desmitificada e a universidade já abraça essas ferramentas como suporte no incentivo da educação a distância. Isso representa um avanço no sistema educacional, sabendo que as novas gerações estarão mais cedo incluídas na Era da internet e da tecnologia. As crianças de hoje já nascem contextualizadas com a rede, familiarizadas com downloads, celulares, aparelhos de MP3, entre outros recursos tecnológicos que parecem tão complicados para os “ultrapassados”. E essa fama não deve se estender ao ensino. Houve uma reviravolta contra o preconceito de muitos com as redes sociais. Até no trabalho, o que era motivo de dispersão, hoje é um instrumento de comunicação interna e externa. O que era um lugar apenas para reunir amigos, agora traz oportunidades de emprego e de expandir a sua rede de relacionamentos e negócios. Portanto, a academia, que se viu na contramão do processo, mobilizou-se com debates em fóruns, EXPOIDEIA 16


divulgação

blogs, congressos sobre o uso das tecnologias da informação e as novas visões dentro da própria universidade e do meio acadêmico. No Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco, os alunos e professores sentiram a necessidade de lidar com essa variedade dos recursos propostos pela web. O estudante, usuário assíduo da internet em sua vida pessoal e profissional, sente tal necessidade de usar esse meio em sua vida acadêmica. Além de facilidade e velocidade, há ainda uma interação maior entre ambas as partes, promovendo o compartilhamento da informação e do conhecimento e fomentando o desenvolvimento de inovações. Em 2010, foi criada a rede social Follow Science, por um aluno da pós-graduação do CIn, com objetivo de estimular a troca de conhecimento acadêmico. Foi lançada a Rede Social Educacional (REDU), espécie de “Facebook” voltado para o ensino a distância, destaque também como empreendimento em incubadoras. Outro exemplo é a Proativa Team, equipe vencedora da Imagine Cup 2009 e finalista da mesma competição em 2010, que desenvolveu o ProLearning, um software que usa plataformas públicas como o Orkut, Facebook, Twitter e a Second Life, com objetivo de reduzir a evasão de alunos dos programas de educação a distância. Com o ProLarning, é possível até simular um ambiente de sala de aula em que, com o devido programa instalado, o aluno pode mexer o seu avatar – representante virtual –, fazendo movimentações com o seu corpo, como levantar a mão e fazer perguntas, por exemplo. Contudo, o CIn não é fonte apenas de redes sociais voltadas para a academia. Seus alunos geram vários projetos nessa área. O Locus, por exemplo, desenvolvida por componentes do CITi, nossa empresa júnior, é uma rede de relacionamento em tempo real entre o público e empresas locais. A ideia é que as empresas vençam a barreira de entrar nas redes sociais, saibam se portar nelas, traçar estratégias adequadas ao seu público alvo, monitorar suas ações e, inclusive, prestar consultoria especializada. Elas são agrupadas em categorias (Bares e Restaurantes, Colégios e Cursos, Varejo, Shoppings, Cinemas, entre outros). EXPOIDEIA 17

AS REDES SOCIAIS

PODEM DISSEMINAR

CONHECIMENTO

ACADÊMICO Esse é um processo que deve ser encarado como uma via de mão dupla: as rede sociais como transporte e disseminação de conhecimento para a academia, para novas redes, seja para qualquer forma de informação e atuação, sempre servindo à sociedade. Ainda assim, essas novas tecnologias não são a solução para todos os problemas educacionais. Na verdade, elas vão basicamente favorecer o ensino, ampliar o que é aprendido em sala de aula e ajudar na divulgação dos trabalhos acadêmicos. A palavra-chave é colaboração. “Uma mão lava a outra”. Dessa forma, professores e alunos assumem o papel efetivo de colaboradores para a troca de conhecimento. O CIn sabe da importância de as universidades estarem participando desse universo como uma forma de se manter atualizadas, desenvolvendo e usando as redes sociais como um novo padrão de comportamento. Cabe a nós, professores, estimular e explorar essas potencialidades com criatividade, procurando entender como a nossa sociedade e a academia podem utilizar bem essas ferramentas na construção do conhecimento científico e por uma sociedade mais justa. *PAULO CUNHA é engenheiro, doutor em Ciência da Computação e diretor do Centro de Informática (CIn) da UFPE.


entrevista|yves nogueira divulgação

“A TI é uma das alavancas do Estado” O presidente da Assespro (Associação das Empresas de Tecnologia), Yves Nogueira, fala dos avanços, dos gargalos e das perspectivas para o futuro na área por DIOGO GUEDES

H

á alguns anos, Pernambuco tem recebido destaque como polo de desenvolvimento tecnológico. Apesar de contar com outras áreas de atuação, como o setor de microeletrônicos do Parqtel, é inegável que o principal motor disso é o setor de Tecnologia da Informação (TI). Com uma origem que remonta ao fim do Banorte e a empresas como a Procenger e a Elógica, a área representa atualmente 3,63% do PIB do estado, e, apenas dentro do território físico do Porto Digital, tem cerca de 130 instituições. O presidente da Assespro (Associação das Empresas de Tecnologia), Yves Nogueira, está inserido nesse universo. Com mestrado na área, Yves é um dos raros nomes que misturam atuação acadêmica, empresarial , e política, por meio da Associação. Nesta entrevista, ele fala do cenário de TI em Pernambuco. EXPOIDEIA 18


Como o Estado se situa dentro do cenário nacional e mundial de TI? Tecnologia da Informação ou Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), sem dúvida, é uma das alavancas do setor de serviços de Pernambuco. A gente tem no APL (Arranjo Produtivo Local) do Porto Digital uma diversidade muito grande de empresas e diria que, em alguns setores, Pernambuco se destaca nacionalmente: no setor de produção de games, por exemplo. Mas há uma matriz de competência muito diversificada de atividades. O setor de TI é formado, na sua grande maioria, por pequenas empresas, cerca de 80% a 90% são pequenos negócios, com alguns médios e poucos grandes. Na nossa matriz, por exemplo, contamos com empresas de games, algumas com soluções para a área médico-hospitalar, outras que fazem software de gestão empresarial, com empresas de software específico para nichos, a exemplo daquelas que trabalham com recuperação e extração de informação para o mercado jurídico, com empresas que trabalham focadas na web... Temos também algumas com modelo de fábrica de software sob demanda. Pernambuco, o Recife e o Porto Digital são, hoje, referências nacionais. E o papel do Porto Digital, na área de TI, foi essencial para o crescimento dela ou foi uma consequência do seu desenvolvimento? Eu acho que ele foi muito importante, mas falar que foi fundamental é muito forte. Só vale a pena estar no Porto Digital se você estiver na sua área física, no Bairro do Recife, pois a proximidade com outras empresas e a troca de informações acontecem ali. É inevitável marcar um almoço com alguém no Paço Alfândega e encontrar meia dúzia de empresários, amigos de outras empresas. Isso acaba gerando uma sinergia muito boa entre as pessoas e as empresas, além, é óbvio, do benefício do ISS de 2%.

O que impede o setor de alçar voos maiores atualmente? Isso tem a ver com o fato de ser formado por pequenas empresas? É exatamente esse perfil das empresas que gera um dos gargalos com que a gente vem sofrendo há muito anos, e eu não acho que é fácil de se resolver. O problema é a ausência de capital financeiro. As empresas, em sua maioria, não dispõem de liquidez financeira e acabam recorrendo às soluções tradicionais: os empréstimos em bancos. Existem os editais de inovação, que vêm mudando um pouco essa realidade. Hoje, as empresas conseguem submeter projetos à aprovação dos editais da Facepe e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), com recursos não reembolsáveis, da ordem de R$ 400 mil, no caso da Facepe, e de R$ 1 ou 2 milhões, no caso da Finep. Isso alavanca o desenvolvimento, principalmente na área de pesquisa e desenvolvimento. Outro gargalo é a questão de formação de mão de obra. Apesar de 17 faculdades com cursos, há escassez de profissionais de qualidade. Há um descasamento entre o que a universidade está transferindo de conhecimentos para os alunos e a demanda das empresas. A capacitação é de extrema excelência na área técnica, existem grandes programadores, grandes engenheiros de software, mas, no conhecimento de negócios, existe uma deficiência muito grande. Como a Assespro tem incentivado o setor? A Assespro é uma associação empresarial, e o nosso foco é política empresarial e o mercado. Ela tem hoje pouco mais de 60 associados, e essas empresas representam entre 70% e 80% do PIB de TI do estado. Uma das ações recentes foi o apoio ao projeto do então vereador Waldemar Borges, para conseguir o ISS de 2%. Esse é um benefício bem palpável que os empresários conseguem sentir quando se instalam no Porto Digital. Outra iniciativa recente foi o apoio à Expoidea, a partir de EXPOIDEIA 19

nossa parceria com o Sebrae e com outras instituições, para melhorar a integração do setor de TI com as demais áreas da Economia. Tivemos, então, esse apoio à Expoidea, um evento que está começando, e que é uma ideia muito interessante – a de juntar inovação, cultura e sustentabilidade. Como a tecnologia pode se relacionar com a cultura e com a sustentabilidade? Temos iniciativas muito interessantes, principalmente na área de cultura, como no movimento ligado à indústria criativa. Quando se fala de games, está se falando da veia de indústria criativa; e quando se fala de pessoas que fazem produção de vídeo, existe um software que contribui no processo de renderizar imagens ou criar um efeito multimídia. Essa interação entre tecnologia e cultura é muito forte. Na questão da sustentabilidade, estamos engatinhando ainda. Mas já existem iniciativas interessantes. Os grandes fabricantes de computadores – e os que não o fizerem, estarão fora do mercado – vêm se preocupando em ter em seus produtos um baixo consumo de energia. Dell, IBM, HP, e as locais, como a Elcoma, preocupam-se com seu equipamento, que a fonte consuma menos energia, o que é uma contribuição para o planeta. Os softwares de antispam também são interessantes. Um empresário me mostrou uma conta complexa, mostrando que, se o volume de spam gerado hoje em dia for reduzido, gerará uma queda no consumo de energia. E existem softwares desenvolvidos para a área em si. Eu lembro que existia uma demanda do Estaleiro Atlântico Sul para o pessoal de gerência ambiental, de softwares para controle ambiental, de resíduos. Entendo, sem sombra de dúvida, que um evento como a Expoidea ajuda a ampliar esse debate e a troca de informações entre os setores, para podermos caminhar de forma mais rápida na integração entre eles.


Tecnologia & Cultura

A Produtora Cultural Colaborativa Durante a Expoidea, a PCC mostrou que é possível utilizar tecnologia social para a sustentabilidade da cultura | por PEDRO JATOBÁ e LUANA VILUTIS

N

este artigo, apresentaremos uma tecnologia social conhecida como Produtora Cultural Colaborativa (PCC), que propõe uma forma de organização de espaços multimídia ligados a centros culturais para atender demandas de artistas locais, mantendo a proposta de formação continuada em Cultura Digital e o uso de Software Livre. A Produtora Colaborativa foi inspirada a partir de pesquisas e intervenções práticas no início dos anos 2000 envolvendo tecnologias em rede (como o portal de cultura pernambucana Som do Mangue), experiências de trabalho coletivo e difusão de trabalhos autorais independentes (como a revista independente O Dilúvio). Os conceitos propostos e vivenciados no Laboratório de Conhecimentos Livres do Fórum Social Mundial de 2005 também contribuíram para o desenvolvimento dessa tecnologia social. Ao fomentar o mídia livrismo, trabalhar com redes sociais, utilizar Software Livre e licenças livres, os fundamentos da produção cultural colaborativa começaram a nascer. O poder público também teve uma participação significativa nesse processo, especificamente o Ministério da Cultura, na gestão do artista Gilberto Gil, com a criação do programa Cultura Viva. Essa iniciativa reconheceu organizações da cultura popular brasileira como Pontos de Cultura e investiu recursos para a compra de equipamentos, incentivando a formação de seus integrantes no uso de tecnologias livres e na cultura digital. A Economia Solidária orientou o desenvolvimento dessa tecnologia social por meio da utilização de planilhas abertas de preços e da circulação dos produtos e serviços com moedas sociais que organizam o funcionamento das trocas enquanto premissas dinamizadoras da Produtora Colaborativa.

karina freitas

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A cultura autogestonária da organização do trabalho dos empreendimentos econômicos e solidários reforçou a proposta da Produtora como uma iniciativa econômica, de geração de trabalho e renda para artistas e produtores. Destacou, fundamentalmente, a proposição de um projeto de desenvolvimento e sustentabilidade da produção de cultura local. Essa tecnologia social foi experimentada pela primeira vez em 2009 no Fórum Social Mundial de Belém-PA, na Aldeia da Paz (www. iteia.org.br/aldeiadapaz), construída no Acampamento Intercontinental da Juventude. Nesse mesmo ano, a Produtora Colaborativa foi construída no IX Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros envolvendo a equipe da Ação Cultura Digital/ MinC, Pontos de Cultura e artistas locais presentes ao evento (www.iteia.org.br/ encontrodeculturas). Em 2010, a Produtora Cultural Colaborativa foi realizada na Aldeia da Paz, em Novo Hamburgo-RS. Essa edição contou pela primeira vez com um palco livre e também com transmissão ao vivo de áudio e vídeo pela internet (www.iteia.org. br/aldeiadapaz2010). As JAMs e as trocas solidárias também foram experimentadas nessa edição, sendo gravadas e publicadas pelo Pontão de Cultura Digital KuaiTema (www.iteia.org.br/kuaitema) do Paraná. Na Expoidea, em novembro de 2010, aconteceu a quarta e mais completa edição da Produtora Cultural Colaborativa, realizada durante nove dias na Torre Malakoff, no coração do Recife Antigo. Nessa edição, foi possivel ampliar as ações de difusão e comercialização alternativas através da Festa Música Ambulante. Na Produtora Colaborativa da Expoidea, os valores da Economia Solidária se fizeram mais presentes, adotando a moeda social Idea como balizadora das trocas sociais realizadas entre os artistas locais.

A Produtora Cultural Colaborativa, na Expoidea, proporcionou o encontro entre o Palco Livre, a JAM na Torre, a Rádio Expoidea, a Música Ambulante, a produção multimídia de Cds, DVDs, videoclipes, a realização de oficinas e a cobertura colaborativa da Expoidea. No total, a Produtora Colaborativa reuniu 81 inscrições de artistas, 41 de colaboradores, 35 horas de material gravado em áudio e vídeo, 64 apresentações artísticas no Palco Livre, com público médio aproximado de 200 espectadores por noite.

Características e funcionamento Podemos enxergar a Produtora Cultural Colaborativa como uma frondosa árvore. Através dessa metáfora, entendemos melhor seus componentes e os frutos que a mesma propicia. As raízes da árvore reúnem os princípios que orientam seu desenvolvimento e crescimento saudáveis, gerando um tronco estruturado por três principais ramos interconectados: Palco Livre, Núcleo Audiovisual e Cobertura Compartilhada. As raízes sustentam seu tronco, nutrindo seus galhos, folhas e frutos. As oficinas estão presentes em todas as áreas da Produtora, são consideradas frutos por serem iniciativas geradas a partir do processo de produção e da interação entre os diversos elementos que compõem a árvore O Palco Livre é a parte da Produtora Colaborativa que abriga as ações de interação direta do artista com o público. Com inscrição gratuita, esse ramo garante espaço para apresentações artísticas em diversas linguagens e também abriga debates e outras atividades de interação direta entre público e artistas. O Núcleo Audiovisual acolhe as ações de gravação, edição multimídia, sendo responsável pela confecção dos principais produtos da Produtora como CDs, videoclipes, cartazes e folhetos. O segmento audiovisual é composto por quatro principais áreas: áudio, video, artes gráficas e fotografia. Os serviços multimídia são uma combinação de ações de diferentes áreas combinadas com outros ramos da Produtora. A cobertura compartilhada compreende as ações de Jornalismo, incluindo a internet e também outras mídias como rádio e impressos. Esse ramo estimula a difusão das produções audiovisuais, apresentações artísticas, eventos e atividades da cidade e fomenta o uso e interação nas redes sociais, garantindo visibilidade e mídia para pessoas que não usufruem desses espaços em canais tradicionais de comunicação. Apesar dos ramos terem temáticas específicas, muitos dos serviços envolvem uma convergência de atividades das três áreas. Um exemplo disso é a produção de um videoclipe. O serviço inicia motivado pelo interesse do artista em apresentar-se no Palco Livre e obter um produto de seu trabalho artístico. A partir da produção do show, o Núcleo Audiovisual faz as gravações ao vivo em vídeo e o áudio é capturado da

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mesa de som; realiza gravações de imagens externas, que são selecionadas e editadas em sincronia com o áudio. Nesse processo de criação e difusão de videoclipes, a equipe de artes gráficas confecciona a arte da capa do DVD e a equipe da comunicação realiza a cobertura compartilhada dessa produção, entrevistando os artistas e divulgando o produto pela internet e demais mídias parceiras da Produtora, como as Rádios Comunitárias e Educativas. Um ponto importante desse processo colaborativo é que todas as atividades de produção oferecidas pela Produtora ocorrem em caráter de oficinas e vivências práticas. Cada Núcleo abre inscrições para pessoas interessadas em acompanhar as atividades de produção realizadas e aprender a respeito de seu funcionamento e da operação dos Softwares Livres indicados para sua realização. Dessa forma, o profissional responsável por cada área organiza um turno da Produtora para orientações técnicas e um turno para vivências práticas, desempenhando o seu trabalho de forma colaborativa com o grupo de aprendizes, que apoiará a realização das ações inerentes ao processo de produção. Além disso, artistas interessados em participar podem oferecer oficinas e trocar suas apresentações artísticas por produtos e serviços que diversificam e dinamizam o cardápio da Produtora. A equipe do acolhimento e sistematização é responsável por organizar essas inscrições, mobilizar pessoas interessadas e fomentar a realização das trocas. A Produtora Cultural Colaborativa funciona, assim, como uma escola de produção cultural, envolvendo artistas, jovens e pessoas interessadas em aprender e trocar tecnologias de produção cultural ligadas ao Software Livre, à radiodifusão, à fotografia, às artes gráficas e ao jornalismo web.

A PCColaborativa na Expoidea 2010 As inscrições na Produtora Cultural Colaborativa foram gratuitas e ocorreram via internet ou no seu acolhimento na Torre Malakoff. As pessoas interessadas em aprender tecnologias livres ou usufruir dos serviços do cardápio da Produtora se inscreveram indicando suas preferências; no mesmo cadastro, os artistas ofereceram outros produtos ou serviços para trocar na Produtora e isso gerou um banco de serviços da Produtora, que reúne uma série de oficinas oferecidas pelos artistas. Os serviços básicos como entrevista na rádio, criação de perfis na internet e apresentação artística foram oferecidos gratuitamente, garantindo o acesso à cultura dos artistas independentes e pessoas interessadas. Os valores dos demais serviços foram calculados de acordo com o número de áreas envolvidas da Produtora Colaborativa; um produto/serviço que mobilizou apenas um núcleo de produção custou 5 Ideas, enquanto um videoclipe, por exemplo, custou 15 Ideas por envolver três áreas: vídeo, áudio e artes gráficas. O Palco Livre reuniu 22h de shows e apresentações artísticas diversas, como dança, mamulengo e uma ampla expressão da diversidade musical brasileira. O Palco Livre foi responsável por integrar as ações da Produtora e fazer convergir os esforços de sua equipe. Reunindo diversas áreas como rádio, artes gráficas, áudio, vídeo, fotografia e comunicação, a equipe de 16 pessoas contou também com a parceria de outros coletivos como o No PE do Ouvido, Coco de Umbigada, Encontro Livre, Pontão CDTL, Pontão iTEIA e o Coletivo Lumo ligado ao Circuito Fora do Eixo. Dos 82 artistas inscritos, 16 foram selecionados para apresentações no Palco Livre. Além deles, com apoio da Fundarpe, o palco recebeu 10 Pontos de Cultura, dentre os quais os Pankararu do agreste meridional, o EXPOIDEIA 22

Afoxé Alafin Oyó de Olinda e o grupo de dança Pé no chão, do Bairro de Santo Amaro, no Recife. Complementando as apresentações do Palco Livre, tivemos cinco grupos selecionados pela UFPE em parceria com a Expoidea e também seis grupos vinculados ao Projeto Observa e Toca da Torre Malakoff. Dentre eles, a Orquestra Contemporânea de Olinda e Naná Vasconcelos com sua banda. A produção colaborativa na área de áudio ocorreu na gravação das apresentações artísticas; elas foram transmitidas ao vivo na Rádio Expoidea, uma iniciativa integrada ao coletivo No PE do Ouvido da OSCIP Diálogos. A transmissão web foi realizada pelo Estúdio Livre <www. estudiolivre.org>. Além da transmissão ao vivo e gravação de todas as apresentações artísticas do Palco Livre, a equipe de áudio editou 14 gravações de show ao vivo e as deixou disponíveis para baixar no Canal Expoidea do Portal iTEIA em licenças livres <www.iteia.org.br/expoidea>.


Dessas gravações, oito derivaram em um produto final em CD, com sua arte desenvolvida em ferramentas livres. Os CDs da Produtora foram embalados em envelopes de papel reciclado vendidos na Festa Música Ambulante e na banquinha da Produtora. A Rádio Expoidea alcançou as circunferências do Recife Antigo na frequência 90.9 e contou com cerca de 500 ouvintes diários. A equipe da Rádio foi composta por quatro pessoas que fizeram entrevistas com os artistas, programação musical variada, vinheta e transmissão de atividades da Expoidea. A Festa Ambulante foi uma iniciativa que teve como objetivo circular e vender os CDs produzidos colaborativamente na Produtora com uma estratégia aliada à integração de carrinhos ambulantes no circuito legal de vendas de CDs. A intenção de ressignificar o papel dos vendedores ambulantes foi consagrada com a integração desses agentes na cadeia de difusão da música, como protagonistas da cultura brasileira, vinculados

ao circuito de produção dos Pontos de Cultura, da mídia livre e de bandas independentes. A música da cultura popular pernambucana foi a mais procurada nos carrinhos da Festa Ambulante e na banquinha da Produtora. Teve destaque o CD do Coco de Umbigada do Guadalupe em Olinda, gravado ao vivo na Torre Malakoff durante as ações do Palco Livre. Todos os CDs foram vendidos no valor de R$ 5,00 cada; destes, R$ 2,00 foram para os artistas, R$ 1,00 foi para o vendedor do carrinho, R$ 1,00 para a Rádio e R$ 1,00 para o caixa coletivo da Produtora, como exercício prático de sua viabilidade econômica. A JAM na Torre foi uma iniciativa para fomentar a criação artística por meio da interação e troca. Com uma programação aberta e livre, cada banda interessada e inscrita na Produtora teve a oportunidade de apresentar uma ou duas músicas de seu repertório. A JAM na Torre aconteceu nos dias 22 e 24/11 entre as 19h e 21h, teve dois animadores e reuniu 30 apresentações. Não foi possível atender a todas as inscrições na JAM devido à grande procura e ao interesse dos artistas, principalmente no segundo dia, o que gerou a expectativa, a demanda e a consulta sobre a data da próxima JAM na Torre.

Tecnologia social para produção cultural sustentável A Produtora Cultural Colaborativa revelou ser uma iniciativa que amplia a conexão temática das três áreas da Expoidea: tecnologia, cultura e sustentabilidade. Compreendida como uma tecnologia social, a Produtora Colaborativa potencializa e diversifica a produção da cena cultural independente da cidade com o uso de ferramentas livres. Com a participação direta de artistas, produtores, colaboradores, equipe de produção e diversos outros agentes e coletivos de cultura e comunicação da cidade, interessados em participar, a Produtora consagra um espaço de trabalho colaborativo. EXPOIDEIA 23

A dimensão da sustentabilidade está presente na Produtora Colaborativa em suas diversas faces; a sustentabilidade econômica revelou-se viável no exercício da troca de produtos e serviços entre artistas e destes com a produtora, além da produção e comercialização de produtos como CDs. A sustentabilidade ambiental foi vivenciada junto à equipe do GIRO (Gestão Integrada de Resíduos Orgânicos) impulsionada pelo Centro Ecopedagógico Bicho do Mato (www. iteia.org.br/bichodomato), com a separação de resíduos, restrição ao uso de plásticos e orientações para a redução do consumo. A dimensão da sustentabilidade política também é experimentada na Produtora por meio do trabalho colaborativo que envolve coletivos e agentes diversos do meio artístico e de produção cultural, dispostos a colaborar, formar redes, criar e atuar em conjunto. Além disso, a Produtora Colaborativa estimula o caráter público de espaços de produção artística e de cultura digital na cidade. Ao ampliar o acesso à cultura e à comunicação, a Expoidea proporcionou à cidade do Recife um espaço aberto, livre e gratuito de vivência artística, interação estética, produção cultural, uso e aprendizagem de ferramentas livres. *PEDRO JATOBÁ é bacharel em Ciência da Computação e diretor do Instituto Intercidadania onde atua como um dos coordenadores da Rede iTEIA. Recebeu o Prêmio Tuxáua/Minc pelo fomento das Produtoras Colaborativas nos Pontos de Cultura. Atuou na Expoidea como coordenador geral da PCC. *LUANA VILUTIS é educadora, socióloga e pesquisadora; doutoranda em Cultura e Sociedade pela UFBA, trabalha em projetos na área de cultura, educação e Economia Solidária. Integrou a equipe da Produtora Colaborativa na coordenação de sistematização.


{ } “A sustentabilidade, a cultura e a tecnologia são três dimensões estruturantes da sociedade. Eu acho que essa ideia, que se traduziu na Expoidea, vai contribuir muito para que a gente possa debater os desafios de Pernambuco e do Brasil”

LUCIANA SANTOS - Deputada Federal/PE

“A ideia desse movimento que criamos é trazer a discussão e uma nova agenda para nossa região e para o Brasil. A gente entende que esses temas - a sustentabilidade, a cultura e a tecnologia - são os três pilares de uma país que quer se colocar como protagonista no século 21”

DANIEL DA HORA - Embaixador da Expoideia

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PRINCIPAIS AÇÕES DE TECNOLOGIA 1

Encontro do Fórum Nacional dos Secretários Municipais de C&T

2 Palestras e oficinas de Robótica

3 Encontro Nacional de Blogueiros – BlogCamp PE

4

Atividades de entretenimento e difusão de conhecimentos no Espaço Ciência

5 Exposições e palestras da Agência Espacial Brasileira

6 Realização da Semana da Guitarra, em parceria com a AESO

7

1° Encontro Pernambucano de Wordpress e minicursos e oficinas de Softwares Livres

8 Exposição de games interativos nos armazéns

9 Minicursos e oficinas participativas na Produtora Cultural Colaborativa: fotografia, audiovisual, design gráfico e edição de áudio e imagens

10

Encontro de empresários e rodadas de negócios de Tecnologia da Informação e Comunicação - TIC, em parceria com a AMCHAM EXPOIDEIA 25


Perfil dos Expositores

A Expoidea reuniu 72 instituições nos Armazéns 12 e 13 — elas participaram da Feira expondo seus produtos e serviços. Vinculadas ao eixo cultural, foram 20 instituições, 10 empreendimentos privados e 10 institucionais. No campo da tecnologia, foram 30 empreendimentos, sendo a metade deles particulares. Já no eixo da sustentabilidade foram 22 expositores – 80% deles foram formados por instituições e ONGs.

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50 8

80 90

50

80 60

% dos empreendimentos sustentáveis eram integrados à tecnologia.

% dos expositores do evento foram formados por grupos institucionais.

% estão ligados à produção científica de conhecimento, academia e instituições de pesquisa de reconhecimento nacional.

% dos empreendimentos do eixo tecnologia

interligavam-se com sustentabilidade direta ou indiretamente, desde a apresentação de produtos e serviços que focalizavam menor dano a ações na programação do evento, difundindo e democratizando a cultura da sustentabilidade.

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% dos grandes grupos institucionais

tinham como foco a educação social.

% dos empreendimentos sustentáveis eram integrados à tecnologia.

% deles estavam voltados para tecnologias sociais.


uso e aprendizagem de ferramentas livres.

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c


cultu EXPOIDEIA 29


reportagem cultura

Cultura em Convergência

Entre shows, palestras e debates, passando por recitais poéticos, a programação cultural da Expoidea aponta para a cultura da colaboração

por THIAGO LINS

L

ove economy. O termo é novo no Brasil, onde o conceito de economia solidária ainda está começando a se ramificar. Citado na palestra de Lala Deheinzelin, mentora e coordenadora do Crie Futuros (movimento de ações sustentáveis), na tarde do debate Cidades criativas – onde estamos e para onde vamos, a Economia do amor indica uma solução prática para o inflado cotidiano urbano. É simples: pequenos favores e atitudes podem fazer a diferença. Segundo Deheinzelin, “a reputação vai virar moeda”. Quer dizer, a economia contemporânea, que passa por um processo de reinvenção, está abrindo espaço para processos cooperativos, como pegar carona e tirar um carro da rua. É uma troca diária, baseada na confiança, daí o raciocínio mencionado pela especialista, para quem “a interdependência é o primeiro conceito a moldar o futuro das cidades criativas”. Outros conceitos ainda podem ser razoavelmente aplicados à vida prática e, inclusive, à cultura. Como a valorização do imaterial em detrimento do material. Explica-se: de acordo com a tese de Deheinzelin, as petroleiras e montadoras foram as grandes concentradoras de capital no século 20, ao passo que a ascensão vertiginosa dos gigantes da informática mostra que o poder, no futuro, não vai estar num carro, muito menos num combustível em vias de ser superado. O poder estará na web – um nicho muito menos excludente. Nesse contexto, não é exagero dizer que passamos por uma “reforma agrária” digital, até porque já existem números provando isso. A crise da indústria fonográfica virou lugar-comum. Mas, na surdina, coletivos culturais crescem exponencialmente. Como o Fora do Eixo, que, em apenas cinco anos, pulou de 5 para 60 coletivos, de 4 para 37 festivais e de um orçamento em projetos de 500 mil reais para mais de 20 milhões de reais, adotando o mesmo modus operandi – economia solidária – que algumas bandas participantes da Expoidea, como o Teatro Mágico (o grupo circense prega o download gratuito). São ações colaborativas, exercidas numa cadeia de interdependência, termo que se adequa tanto à sociedade civil quanto ao estado, cujos representantes falam abertamente em estreitamento do vínculo entre os órgãos públicos e o povo. Esse, aliás, foi um dos temas debatidos em outro encontro das Cidades criativas. EXPOIDEIA 30

A representante do Sesi, Claudia Ramalho, dissertou sobre as políticas públicas para a cultura, além dos compromissos da iniciativa privada. Sublinhando o momento desenvolvimentista que o estado de Pernambuco vive, Ramalho, com a autoridade de quem coordena um órgão de ações capilares (o Sesi atua em 2.500 municípios Brasil afora), defendeu a necessidade de se pensar “num modelo de estratégia que não seja engessado, valorizando a essência da cultura”. Ela ainda criticou a visão de quem acha que os investimentos em cultura devem ser feitos por mera questão de benefício fiscal. Os investimentos no ramo devem ser feitos em prol “de um desenvolvimento comum”, reforçando que o desenvolvimento e a formação de pessoal constituem a base dessa ação. Também participante do encontro, Ana Carla Fonseca, consultora de economia criativa, afirmou que hoje as empresas ganham dinheiro com cultura “não explorando, mas, sim, divulgando a cultura”. Fonseca citou a parceria entre o Banco Santander e a ONG Afro Reggae. O banco concedeu recursos para que saísse do papel


o Centro Cultural Afro Reggae, no Vigário Geral, área carente da Zona Norte do Rio de Janeiro. Ainda na Zona Norte carioca (precisamente no Complexo do Alemão), o Santander inaugurou uma agência, o primeiro banco de que se tem notícia num conjunto de favelas. Em suma, a instituição financeira reforçou sua marca, mas levou serviços e autoestima a uma área que não estava acostumada ao trato de consumidores em potencial, num exemplo sintomático de ação colaborativa, de interdependência. Cláudia Ramalho,

NA SURDINA, OS

COLETIVOS CULTURAIS

CRESCEM

EXPONENCIALMENTE EXPOIDEIA 31

por sua vez, ressaltou que esse deve ser um processo de construção permanente, por haver uma parcela razoável do empresariado que ainda pode despertar para as potencialidades desse tipo de parceria. “Fazemos um papel político-pedagógico, de convencimento (empresarial)”, definiu. As palestras, cursos e debates não deixaram de abordar outros temas pertinentes à era digital, como robótica (com o cientista da computação Henrique Foresti), games musicais (com Giordano Cabral, cuja empresa, a D´Accord, desenvolveu o jogo


iPhone Drums Challenge, que chegou a figurar entre os cinco mais baixados na loja da Apple) e criação de páginas.

Recitais e shows Aliando tendências e tradições, a extensa programação da Expoidea trouxe o humor para a Feira, através de um concurso de contação de “causos”, piadas e improvisos – um stand-up comedy genuíno, de raiz. Em disputa, estava o troféu Ariano Suassuna, abocanhado pelo poeta Renivaldo Pinheiro (assina O Crente), com a poesia Tem ciência nesse cigarro. Com a sabedoria acumulada em mais de 30 anos de estrada, O Crente ressaltou

que, apesar das conotações que podem ser implicadas a partir do título, Tem ciência... (que está disponível em formato de vídeo no Youtube, contabilizando 3600 acessos) não é uma apologia à maconha. “É um causo de um vaqueiro velho e aposentado, um matuto que, pela primeira vez, vai dar um tapa. Assim eu narro o efeito da coisa no juízo do indivíduo, na sua forma de pensar e ver as coisas, as ações e reações da lombra”, esclareceu, sem deixar de lado a fluência e os maneirismos de cantador premiado. Além do texto certeiro, Pinheiro somou pontos com a interpretação cativante dos personagens. Pelo ambiente customizado na Rua da Moeda, no Recife Antigo (centro da capital),

EXPOIDEIA 32

com clima de quermesse e comidas típicas (como tapioca, espetinho, carne de bode, cachaça e cerveja), além de stands com cordéis, CDs e DVDs, shows (das bandas Fim de Feira e Vates e Violas), passaram poetas como João Badalo, Nildinho e Chico Pedrosa. Curador do evento, o poeta Joselito Nunes diz que a interação com esses artistas é recorrente nos tradicionais mercados da Madalena (zona oeste do Recife) e Boa Vista (centro). Nunes ressaltou o interesse em trazer poetas do interior do Nordeste, de regiões como o sertão do Pajeú (que compreende 20 municípios em Pernambuco) e do Cariri (microrregião cearense que tem 11 municípios). O curador também destacou


o caráter democrático do evento: há desde criadores de cabras, que se apresentaram em público pela primeira vez no palco do Humor na Feira, até cantadores mais letrados, como advogados e médicos. “São doutores, mas admiram e praticam a arte da poesia”, resumiu Nunes. A poucos metros dali, o Marco Zero fervia com shows noite afora. Abrindo espaço tanto para pratas da casa (como os olindenses Eddie e Orquestra Contemporânea de Olinda – OCO) quanto para sulistas (Teatro Mágico) e até estrangeiros (a argentina Sol Pereyra), passando por nomes ainda promissores, como Ska Maria Pastora – a grade da Expoidea tinha concertos para todos os gostos. Aliás,

A GRADE DO EXPOIDEA TINHA CONCERTOS PARA TODOS OS

GOSTOS

E FEZ O

MARCO ZERO FERVER

quem não estivesse satisfeito ainda podia chegar mais cedo para o Observa e Toca na Torre de Malakoff, também no Recife Antigo. Às palestras do Observa e Toca, em que foram escalados nomes como Gutie, produtor do tradicional Festival Rec-Beat e José Oliveira (produtor da Orquestra Contemporânea de Olinda), seguiam-se shows de ninguém menos do que Naná Vasconcelos e da própria Orquestra Contemporânea, que manteve o fôlego mesmo tendo tocado no Marco Zero. É a OCO, também, que divide com a Eddie os shows que foram recebidos com mais calor na Expoidea. A Orquestra vem de uma vitoriosa turnê pelos Estados Unidos e de uma indicação ao Grammy, duas merecidas façanhas. Climática, a performance da OCO no palco tem ares de baile latino, no qual os mestres de cerimônia são os vocalistas Tiné e Salú. Volta e meia, o percussionista Gilsinho rouba a cena, mas faz parte do show deles: o próprio Gilsinho já afirmou que todo mundo na OCO é protagonista. EXPOIDEIA 33

Já a Eddie, o conjunto sinônimo do “Original Olinda Style”, continua surfando na onda de Carnaval no inferno, o CD mais recente – e redondo – da banda. O show do último disco já era conhecido no eixo Recife-Olinda, mas a oportunidade de execução em praça pública – e cheia – mostrou o alcance da banda: quem não dançava antes, dançou agora. Fechando, a apresentação do Teatro Mágico adentrou a madrugada, que não parecia ser de segunda-feira. Espécie de big band circense (soma 16 membros), o Teatro Mágico ocupou muitos espaços na última noite do evento; até uma torre de iluminação do Marco Zero serviu de instrumento de trapézio. O visual cênico do grupo era reforçado por um background consistente, conduzido fortemente pelo percussionista Willians Marques (que também faz as vezes de malabarista) com uma da cozinha (são eles: o baterista Miguel Assis e o baixista Fernando Rosa). O comunicativo Fernando Anitelli chegou a ensaiar discursos entre uma execução e outra, sem se alongar para não esquecer o seu papel mais importante, cantar e tocar. Ao longo de mais de uma hora e meia de concerto, o homem de frente do TM conseguiu prender as atenções do público, que respondia com calor até às músicas mais calmas (caso de Sonho de uma flauta). Ainda teve bis, e o show foi encerrado com o hit O anjo mais velho, com a banda acompanhada massivamente pelo público. Os aplausos só aumentaram, quando Anitelli se manifestou abertamente a favor da democracia digital, ao mesmo tempo em que criticava o jabá (o suborno das rádios). “O acesso à tecnologia e à cultura tem que ser livre”, pregou. Quase sem querer, Anitelli, com uma palavra de ordem direta e sintética, acabou fazendo suas as ideias discutidas ao longo daquela semana marcante.


perfil|rogério robalinho

Empreendendo cultura

Há mais de 20 anos, ele está no comando da Cia de Eventos, empresa responsável por grandes empreendimentos culturais por MARTA TELLES EXPOIDEIA 34


E

le encontrou na leitura uma companhia para todas as horas. Logo na infância, trocou a bola pelas letras. E até hoje ele lê praticamente tudo que lhe cai nas mãos. Já crescido, uma inquietação acompanhava o administrador, que percebeu haver um espaço para a criação de ações que discutissem novas ideias e conceitos, principalmente no campo da cultura. Decidiu investir na realização de eventos que preenchessem essas lacunas. Essa é parte da história de Rogério Robalinho, o empreendedor que está por trás da Expoidea e de outros eventos de grande relevância no estado. Uma pessoa otimista, que não teme o futuro, e vê na cultura o caminho para uma verdadeira revolução. Para ele, o futuro pode ser de grandes transformações sociais. Mas só acredita nessa possibilidade por uma via: a da cultura. “Eu costumo dizer que é através da cultura que faremos a revolução, pois um povo culto (e não aculturado) é um povo que tem ciência de seu pertencimento, de sua formação étnica, de sua bagagem de valores e referências comportamentais, de identificação com os seus semelhantes”, disse. Ele vê, no Brasil, sobretudo no Nordeste, características muito próprias e afirmativas em diversos aspectos e manifestações da sua arte, o que torna o povo muito peculiar e interessante. “Graças à nossa formação e a determinantes históricos, temos, em Pernambuco, um painel de circunstâncias e comportamentos de alta densidade, que nos diferencia como povo, e precisamos ter a autoestima fortalecida com essa percepção”, apontou. Com esses ideais, Rogério Robalinho trilhou seu caminho como empreendedor. Tudo começou com uma inquietação muito grande, quando percebeu lacunas em que poderia deixar sua contribuição. E foi planejando e estudando essas possibilidades que decidiu empreender. É diretor da Cia de Eventos, uma produtora que há 20 anos promove eventos culturais de grande porte no estado, como o

Festival de Inverno de Garanhuns, os Festivais da Seresta e da Jovem Guarda, Exposição de Animais, Carnaval do Recife e São João no Cais da Alfândega, e o São João Show, na Praça do Arsenal e no Pátio de São Pedro. Além dos empreendimentos citados, um dos eventos culturais mais importantes, em que Robalinho está à frente, é a Bienal do Livro de Pernambuco. Ele trabalhou, por seis edições, com parceiros igualmente comprometidos com o ambiente do conhecimento. Partiu do princípio de que, além do negócio da feira de livros, era importante defender o compromisso social com a cidadania, incentivando a leitura e estimulando a reflexão e o debate.

“DESEJAMOS QUE A

EXPOIDEA

CONTINUE SENDO

UMA AGENDA POSITIVA E AJUDE NO AVANÇO DO ESTADO”

Já na Expoidea, cuja primeira versão acabou de acontecer, o foco é o futuro. A proposta é buscar soluções inovadoras em áreas estratégicas, com tecnologia, sustentabilidade e cultura. Robalinho avaliou que o evento teve uma receptividade maior do que a esperada e já está trocando ideias com pessoas, de vários estados, para disseminar o conceito. “A Expoidea rendeu bons frutos, ótimas relações e obteve uma bela performance. Sem dúvida, a nossa proposta é que ela continue sendo uma agenda positiva para o nosso estado do que vem sendo construído nas áreas de inovação tecnológica, cultura e sustentabilidade”, defendeu. EXPOIDEIA 35

O administrador acredita que o mercado da cultura é bastante promissor. E opina que, para conseguir êxito na área, é preciso gostar do que faz e saber planejar a médio e longo prazo. E, como todo empreendedor, já está com novos projetos para pôr em prática no segundo semestre de 2011. Alguns deles já são desdobramentos da Expoidea.

Biografia Rogério Robalinho nasceu em 1958 e estudou no Instituto Capibaribe e no Colégio de Aplicação da UFPE. “Devo a essas duas tradicionais escolas a minha formação humanista”, defendeu Robalinho que, depois, chegou a cursar Economia, mas graduou-se em Administração de Empresas na FESP, hoje UPE. Sua formação cultural começou logo na infância, assim como seu gosto pela literatura. Na época, a asma o fez apreciar cedo o mundo dos livros. Hoje, tem como escritores preferidos o peruano Mario Vargas Llosa, o colombiano Gabriel García Márquez e o baiano Jorge Amado. “O fato de ter tido uma infância bem-adoentada fez com que os livros se tornassem meus verdadeiros amigos de todas as horas”, disse. Esses “amigos” passam, agora, por um momento peculiar com o surgimento dos e-readers, mas Rogério Robalinho não vê a tecnologia como inimiga. Para ele, o livro é o principal veículo de difusão de ideias ao longo de toda a história da humanidade, até os dias de hoje, e isso não vai mudar. Diz que a chegada da era dos arquivos digitais e da internet possibilitou mais acessos a conteúdo e informação, com preços mais baratos e com portabilidade cada vez maior. “Cria-se uma tendência irrecusável, e cada vez mais forte, quando vemos o livro como o entendemos hoje – de papel –, caminhando de forma acelerada para a sua reinterpretação de suporte, o que certamente terminará sendo benéfico para a sustentabilidade do planeta. Não creio que devamos ter medo do futuro”, afirmou.


artigo

No dia em que o mar virou sertão

Humor na Feira abriu espaço para artistas do interior contarem seus curiosos “causos” por JOSELITO NUNES

A

Expoidea foi, sem dúvida, uma janela aberta para o novo, para o futuro. Na sua essência, foi uma feira na qual as bancas se estendiam ao longo de todo o Marco Zero, passando pela Rua da Moeda, Praça do Arsenal e se estendendo até a Torre Malakoff – lugares onde a cidade abre os braços para receber as gentes do Velho Mundo. O Marco Zero conta histórias do Recife com sabor e eternidade. Não foi por acaso a sua escolha para abrigar a Expoidea, pois, para quem não sabe, é ali naquelas ruas que a cidade do Recife revive os seus belos e lendários carnavais com ampla participação popular, numa das festas mais emocionantes do país. Como sertanejo, apesar dos mais de 40 anos vividos por aqui, ainda hoje – e sempre – me emociono diante do mar da lendária praça. Penso que detenho ainda a mesma sensação de espanto e encantamento do meu jovem avô, que vinha, naqueles idos de mil oitocentos e tantos, trazendo no lombo de burros as novidades do Sertão e levando as daqui para a gente de lá. Pois bem, foi nessa atmosfera de beleza e magia que aceitamos o desafio de coordenar

um dos tentáculos da Expoidea, que foi o Humor na Feira. Juntamos artistas, profissionais e amadores, que vivem por aqui, com outros ainda em estado bruto, moradores das caatingas do Cariri paraibano e do Pajeú. Gente de patente elevada, como o veterinário e criador de cabras, lá para as bandas de São José do Egito, Antônio José de Lima, genro do lendário cantador Lourival Batista Patriota (indicação do mestre Ariano); o professor de inglês Adelmo Vasconcelos, o gerente de banco Rômulo Nunes, o menestrel do Araripe, Renivaldo Pinheiro, o poeta e escritor Marcos Passos, o poeta Felipe Júnior, o veterano poeta Chico Pedrosa, gente da tribo paraibana do mestre Zé da Luz, os menestréis das Bandas Vates e Viola e Fim de Feira, sem falar de dois matutinhos vindos das caatingas do Cariri paraibano: João Batista Monteiro (João Badalo) e Josenildo Ferreira (Nildinho), que deixaram o seu gado e as suas cabras aos cuidados de amigos, lá nos Cariris Velhos, e subiram pela primeira vez num palco para contar as suas engraçadas histórias. Chico Pedrosa falou de um sujeito que se engraçou da palavra “inadimplente” e passou EXPOIDEIA 36


ARTISTAS DEIXARAM SEU GADO E SUAS

CABRAS NO SERTÃO

E SUBIRAM NO PALCO PELA PRIMEIRA VEZ

a usá-la nas feiras livres, em que vendia pomada para reumatismo e curava mordida de cascavel. João Badalo contou a versão (bíblica e cabocla) da ressurreição de Lázaro, que, por ter sido ressuscitado por Jesus, confiou na impunidade e foi se envolver com cachaça e mulher casada. Resultado: acabou morrendo definitivamente de pauladas, dadas por um marido ciumento. Nildinho nos trouxe a incrível história de um matuto lá do Pajeú, que, em plena Segunda Guerra Mundial, se deparou com um submarino alemão no meio da rua, em Pesqueira. Quem foi que disse que isso não é ciência? A bem da verdade, todos fizeram bonito. Isso aconteceu sob a batuta mágica do maestro Robalinho e da sua competente equipe, que inclui a ternura de duas fadinhas que por lá aportaram, atendendo pela graça de Camila e Mariana, gente jovem com ideias para mudar o mundo – para melhor. Todos esses resultados foram apenas um dos processos da Expoidea, que discutiu ciência, cultura e sustentabilidade, num autêntico ambiente de feira aberta para o público. O povo aplaudiu e o Marco Zero agradeceu, com o aceno para novas edições do evento. Então, para o nosso desencanto, o que era doce acabou e tudo tomou o seu lugar, com as suaves ondas do Atlântico acariciando as seculares pedras do majestoso espaço do Recife Antigo. Quem lá esteve, saiu com belas histórias para contar. *JOSELITO NUNES é escritor e poeta. EXPOIDEIA 37


entrevista|luciana azevedo

“A cultura formata modelos de sociedade”

Deixando a Fundarpe para integrar a Secretaria de Articulação Social e Regional de Pernambuco, a ex-vereadora fala sobre o papel da cultura na construção de uma sociedade mais justa por RAQUEL MONTEATH

“E

u sou um bicho político”, afirma Luciana Azevedo, atual secretária executiva de Articulação Social e Regional de Pernambuco. Desempenhando ao longo de quatro anos a presidência da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Luciana e sua equipe foram responsáveis pela gestão que descentralizou as políticas e ações culturais pelas 12 regiões do estado, antes focadas apenas na capital. Nesta conversa, a vereadora, diretora escolar e gestora pública fala sobre o legado construído junto à equipe da Fundarpe e sobre os novos caminhos que serão trilhados no seu atual cargo. EXPOIDEIA 38


A Expoidea tem como premissa sugerir que Pernambuco passa por uma nova etapa, unindo o forte investimento econômico do governo ao caráter empreendedor de vários setores da sociedade, atingindo, principalmente, os jovens. Como a área da cultura se insere nesse contexto? Eu digo que a Expoidea veio para abocanhar o futuro de um novo Pernambuco. Acabamos de passar por uma crise planetária (que, costumo dizer, não é apenas econômica, e, sim, de valores culturais), o que foi, de certa forma, muito bom para repensar os modelos de sociedade que se quer consolidar. Porque a cultura formata modelos de sociedade e, atualmente, estamos vivenciando a crise de uma sociedade consumista, individualista, sem função social, vazia de conteúdos. Lembro que o governador Eduardo Campos dizia que trazer o crescimento para Pernambuco não é o difícil, o desafio da nossa geração está em implementar um modelo de desenvolvimento sustentável para todos. E como a Feira pode passar a atuar, de forma permanente, no desenvolvimento do Estado? A sociedade precisa perceber que não se chega com qualidade de vida a nenhum país, se ele vive da infelicidade e da exploração dos demais, pois esse é um modelo falido. A Feira chega, nesse momento, para dizer que “sim, temos que pensar nas dimensões cidadã, simbólica, econômica e ambiental da sociedade”, porque isso irá garantir o modelo de desenvolvimento sustentável de que tanto precisamos. O mais interessante é que ela vem de um agente que não é publico, mas que começa a sacudir essa reflexão em todos os setores da sociedade: tem um papel de instigar, de impulsionar a criatividade, para que cada pessoa que entrasse naquela Feira, não saísse a mesma. Digo que essa é a principal característica do nosso estado: Pernambuco é vanguardista, tem uma identidade libertária

muito forte, é irreverente e ousado, e acredito que a Expoidea vem para impulsionar essa principal identidade cultural. Esse é exatamente seu papel. Um dos caminhos fundamentados durante sua gestão na Fundarpe foi a forte descentralização dos Pontos de Cultura pelo estado. Como foi feita a eleição desses locais? Pegamos a divisão regional de Pernambuco, que é a mesma utilizada pela Secretaria de Planejamento (só que com um foco no desenvolvimento econômico), e colocamos a cultura nessa mesma dimensão estratégica de desenvolvimento. Então, trabalhamos nas 12 regiões, focando as identidades das quatro macrorregiões do estado: Metropolitana, Mata, Agreste e Sertão, empoderando a população em relação à sua produção cultural e ao reconhecimento do seu potencial universal. Porque, em cultura, temos a dimensão simbólica, e não apenas a material. Estamos num mundo globalizado, pasteurizado, e tínhamos a consciência de que, nesses moldes, só alcança destaque ou qualidade de vida quem tiver suas identidades bem-firmadas. Então, em cada região, constituímos os Fóruns Setoriais e Regionais de Cultura, nos quais discutimos o que seria elevar a ação cultural numa dimensão estratégica, como é no desenvolvimento econômico, na saúde, na educação, enfim, não tínhamos essa dimensão estratégica na área cultural. Era uma distribuição de projetos para os amigos do “rei de então”. Como foi pensada a iniciativa do portal PE Nação Cultural? É impossível não estar conectado, nos dias de hoje, com a produção nacional e internacional na esfera cultural, seja ela de qualquer área. O portal veio para consolidar as ações públicas de fomento à cultura realizadas pela Fundarpe, o que foi, em suma, um importante marco para selar o trabalho da instituição junto à produção EXPOIDEIA 39

cultural dessas 12 regiões. Capacitamos o tecido social na realização de conteúdos como vídeos, fotos, textos, para que cada grupo pudesse ter a sua página virtual, um espaço ligado ao mundo para mostrar seus trabalhos. Que pontos você considera, hoje, fundamentais para a gestão no campo cultural se realizar plenamente? Arte, Cultura, Estado, Nação. Foi nessa diversificação estratégica que a cultura se desenvolveu nos primeiros anos da gestão Eduardo Campos, por seu olhar privilegiado que, continuamente, propulsiona mudanças em favor da população. O governador sempre destacou que o desenvolvimento verdadeiramente sustentável tinha que ter a maioria da população como foco e empoderar a cultura da minoria – do Cais ao Sertão –, como fizemos, iluminados pelo mestre Ariano Suassuna. Foi despertado o espírito libertário de Pernambuco, a sua irreverência democrática, a sua produção única, vinda da luta, da sua forma de contemplar a vida, do seu ser coletivo, movido a desafios frente às mudanças do seu tempo. Lula nos ensinou a fazer da maioria da população a grande fonte de inspiração de um modelo de nação, e a cultura é como um estandarte desse sonho/realidade. Qual será o papel fundamental da Secretaria de Articulação Social e Regional? Projetamos trabalhar com a sustentabilidade democrática, ou seja, estamos focados em um planejamento que seja capaz de articular as ações do governo com um recorte na região. Para isso, foi necessário fazer um planejamento das metas estratégicas e um monitoramento desses resultados. O modelo de gestão participativo e integrado das políticas públicas sempre foi minha forma de trabalhar com qualquer temática, e foi exatamente isso que fizemos com a cultura – e que esperamos fazer nesta nova pasta.


Cultura & sustentabilidade

O conflito entre o velho e o novo

A Expoidea discutiu os impactos da inovação tecnológica sobre a sustentabilidade e a cultura | por Luciano Siqueira

E

xpoidea: Recife, novembro de 2010. Porto do Recife, Marco Zero. A origem da cidade, a história, o tempo presente. O futuro em pauta. A sustentabilidade como fio condutor e liame entre o passado, o presente e o porvir, sob o impulso da inovação. Instigando, pondo em xeque, o conflito entre o velho e o novo. Conflito ou diálogo? A dúvida pouco importa – ou importa muito: pois assim se faz a recriação da vida, reinventando-a. Daí as duas coisas: o conflito e o diálogo. A Expoidea veio para provocar a boa dúvida, a oportuna polêmica, a descoberta. Veio e venceu. Voltará em breve. Múltipla, plural – como a nossa cultura, que se renova, sem perder contudo suas raízes. A releitura permanente de uma identidade construída há quase cinco séculos feita a muitas mãos, ontem e hoje. Por exemplo: os impactos da inovação tecnológica sobre a sustentabilidade em matéria de cultura, em duas vertentes: a econômica, no sentido de entender a cultura a um só tempo como expressão da alma de nossa gente e como vetor do desenvolvimento econômico (e da inclusão social); a “estritamente cultural”, no sentido do recriar e do reinventar preservando entretanto nossa identidade. Quais as benesses (e os riscos) da inovação tecnológica, produto direto da evolução do conhecimento e da criatividade humana, sobre a cadeia produtiva da cultura? Em que medida o impacto da inovação tecnológica sobre a ampliação do consumo do produto cultural, em escala global, pode ameaçar a identidade cultural de um povo? Em toda atividade econômica pesam vantagens competitivas como variáveis definidoras do grau em que o capital possa ser acumu-

lado. Hoje, mesmo que muita gente ainda torça o nariz, a vertente econômica da cultura se afirma em todas as dimensões. No mundo globalizado dos nossos dias – na esteira dos meios cada vez mais sofisticados da comunicação via satélite, da fibra ótica, da internet e da chamada revolução digital –, a difusão e o consumo do que se produz na aldeia se ampliam em escala planetária, resultando numa eficiente esfera de acúmulo e reprodução do capital, cujos principais beneficiários já não são os produtores originais e, sim, os que detêm o controle dos “meios de produção”. Por outro lado, nas mais diversas partes do mundo ensaiam-se movimentos de resistência que não negam o incremento da inovação tecnológica nem as imensuráveis possibilidades de difusão e consumo do produto cultural local, mas buscam mecanismos apropriados a preservar em mãos nativas pelo menos parte considerável da renda resultante. Que assim seja, sem medo do que está acontecendo e do que ainda vem por aí: da relação entre o artesão e o designer, entre as formas que preservamos desde antanho à cultura digital. Peças do Alto do Moura ou de Tracunhaém negociadas pela web; o som das bandas de pífano baixado pelo adolescente australiano em busca de algo novo; a nanotecnologia propiciando novas leituras visuais da realidade numa espécie de fusão da diversidade da cultura com uma identidade de linguagem tecnológica. Sem medo de competir, portanto, dispondo de nossas “armas” e aprimorando-as.

EXPOIDEIA 40


karina freitas

EXPOIDEIA 41


DIALOGAMOS SEM PERDER NOSSA

IDENTIDADE

Pasteurização da cultura A outra questão – a das possíveis ameaças à nossa identidade cultural – emerge igualmente relevante. As forças do mercado global pressionam no sentido de uma indesejável homogeneização dos produtos culturais. Anos atrás, em plena eclosão do debate sobre o mundo globalizado como hoje se apresenta e a possibilidade de formação de redes temáticas entre cidades, houve quem defendesse a tese de que uma vez integradas (incorporadas), através de redes de cooperação ocupadas em enfrentar problemas vários – econômicos, urbanísticos, ambientais e quejandos –, as cidades deveriam buscar uma integração cultural, esta entendida, pasmem!, como uma espécie de pasteurização da cultura. A globalização da economia e das comunicações levaria a que culturas, línguas e religiões passassem a ser compartilhadas por todos os povos e que a diplomacia

internacional não estaria mais circunscrita às relações entre os governos centrais, ampliando-se no conjunto dos poderes locais. Nos fóruns internacionais de cidades, problemas do desenvolvimento local e regional seriam compartilhados de tal modo, que as diferenças de abordagem ideológica que persistem sobre eles gradativamente se tornariam meramente formais (sic). Assim, uma grande rede unitária de cidades, em formação, configuraria uma espécie de “nova ONU”, voltada para o desenvolvimento de ações de cooperação descentralizada em redes internacionais orientadas para o fortalecimento institucional das administrações locais; apoiada em “uma diplomacia própria, de baixo para cima”, sustentada por acordos internacionais firmados entre os representantes locais de administrações descentralizadas – como defendia em texto EXPOIDEIA 42

muito difundido em fóruns brasileiros da então prefeita da cidade italiana de Turim, Mercedes Bresso, presidente da FMCU (Federação Mundial das Cidades Unidas). “Teses” como essa certamente não vingarão entre nós. A cidade do Recife nasceu porto e isso a fez cosmopolita congênita. Porto para exportar o pau-brasil e outros produtos nativos e importar manufaturados de Portugal e de outras partes da Europa. Desde logo, trocou mercadorias e ideias. Dialogou com outras gentes e a mescla plasmada por suas três raízes maternas – a portuguesa, a indígena e a africana – se fez contaminar pelo modo de pensar, sentir, armar, sofrer e lutar de outros povos. O produto é original – é nosso, identificável, particular e universalmente reconhecível. Não é, pois, sem razão que a cidade tenha sido palco de revoltas libertárias que marcaram a história da nacionalidade. Basta ver no programa da Confederação do Equador as pegadas do ideário da Revolução Francesa. Esse jeito aberto a outras gentes e a outras culturas, dialogando sempre, porém sem perder a própria identidade, permite receber o rock (que nos chega como evolução do jazz e do country) e devolvê-lo ao mundo misturado com o toque o maracatu. Alceu Valença e Chico Science (e muitos outros) deram a senha dessa forma de dialogarmos com o mundo e sermos nós mesmos. *LUCIANO SIQUEIRA é deputado estadual


Música,livre não é caridade por Fernando Aniteli

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uando fomos convidados para participar da Expoidea, ficamos muito impressionados com a proposta. Dentre tantos festivais, encontros e eventos dos quais participamos, lá estava um que se destacava por discutir coisas fundamentais e emergenciais de uma maneira clara e colaborativa. Produtos e produtores de muitas regiões do país se consolidando como uma rede possível e capaz. Palestras, exposições, apresentações. O mundo estava pluralizado por uns dias nos arredores do Marco Zero. Nesse contexto, o debate que fizemos sobre acessibilidade, distribuição, democracia na comunicação, música e software livre dialoga com as bases do evento e com as novas demandas criativas para gerar e gerir suas realizações. Falemos um pouco sobre música. Há muito tempo a música é tratada apenas como “entretenimento” e elevada à potência de bem maior de consumo dentro da área cultural. Um grande equívoco, pois ela não é só entretenimento, é algo sagrado, algo que está além, mas que não deve ser visto como algo hierarquicamente maior dentro das artes. A postura intuitiva de compartilhar e bradar aos ventos tudo o que nos move sempre foi presente no ser humano. Tempos atrás, trocávamos fitas k-7, com a inscrição “lentas”, com pessoas do colégio, fazíamos nossas próprias seleções em CDs para presentear entes queridos, e, de uma hora para outra, nossa prática

habitual (compartilhar conteúdos e informações) passou a ser crime?! Alguns fatores, como a inexistência da mídia física para transportar os conteúdos, o fato de a tecnologia romper distâncias e se tornar cada vez mais acessível e a possibilidade do conhecimento entrar na sua casa de maneira livre, assustaram muita gente (gravadoras, empresas de comunicação, editoras...). E a primeira reação, qual foi? Vamos proibir, vamos criar uma lei contra essa barbárie! É crime contra a propriedade intelectual, os direitos autorais! Na verdade, não é bem assim. Fã não é pirata. Muito pelo contrário, o mais apaixonado vai chegar em casa e colocar o CD na internet para que todos tenham acesso ao material da banda de que ele gosta. Nossa contemporaneidade se apresenta assim, com o espírito colaborativo. Aliás, essa é a natureza da internet, não? Quem alimenta o Facebook, o Google, o Youtube? O compositor (ainda mais os independentes, fora da máfia de jabás e conchavos engessados dentro das mídias de massa) nunca foi lesado por ter sua música rodando na internet. A música se propagando e escoando de maneira livre é a vontade essencial de qualquer um. Mas, e o mercado? E as vendas de CD? Sempre foi irrisória a quantia recebida pela vendagem de CDs. A grande parte vai para os intermediários, que, claro, merecem sua fatia pela participação na cadeia produtiva EXPOIDEIA 43

da coisa, mas não a ponto de proibir o acesso livre a esse material, à cultura, ao conhecimento. Ainda mais quando é produzido com dinheiro público (caso de muitos projetos que ganham editais através de leis e não deixam o resultado desse material acessível para a população). Dessa forma, somos taxados duas vezes. Uma porque o dinheiro público é investido direto para a empresa e o artista e outra quando ele ainda é cobrado para ver/ouvir esse trabalho. Estamos falando da sustentabilidade na música. Depender do aval de um intermediário para dizer se o compositor pode (ou não) apresentar o trabalho e se você pode (ou não) ouvir determinada música não faz sentido. Todo compositor quer a sua música nos ouvidos do público e não na gaveta de algum escritório. Tirar os “atravessadores” culturais da relação arte/público tem sido uma maneira criativa, contemporânea e potencializadora de cuidar, valorizar e resgatar a música no nosso país! Muitas outras ideias são possíveis e ainda estão pipocando na cabeça de muita gente. É para isso que nos cabe questionar, provocar os debates com argumentos e ressignificar certos padrões! Com carinho, coragem e liberdade! Música livre não é caridade. *FERNANDO ANITELI é vocalista e líder do Teatro Mágico.


“A Expoidea faz jus ao nome, unindo a questão da sustentabilidade, da tecnologia e da cultura. Uma junção absolutamente necessária, mas raramente feita. Se não houver espaços, como esse, que agrupem atividade econômica, produção de conhecimento e atividades artísticas, as coisas não avançam como deveriam. É um privilégio estar aqui” LALA DEHEINZELIN - Especialista Mundial em Economia Criativa “Encontrar pensadores que discutem o que está acontecendo no mundo de avanços, de ideias... Isso é muito importante para gerar pensamento, estimular as pessoas a reflitir, para que possam construir ideias, futuros, para erguer o país que a gente quer” MARCOS ANDRÉ - Coordenador de economia da cultura - Sec. de Cultura do RJ EXPOIDEIA 44


PRINCIPAIS AÇÕES DE CULTURA 1 Humor na Feira 2 Produtora Cultural

7 Rádio Expoidea - 90.9 FM 8 Performances artísticas

Colaborativa trocando serviços por produtos e trabalhando com Software Livre e Creative Comons

de escolas públicas e particulares no polo infantil

3 Barco-escola 4 Atividades de cineclubismo

5

Shows de artistas nacionais e internacionais no Marco Zero

9 Workshop Internacional de Economia da Cultura e Cidades Criativas

10 Realização de jam sessions na programação da Produtora Cultural Colaborativa (Torre Malakoff)

6

Apresentações culturais e exposições de Pontos de Cultura na Torre Malakoff e Armazéns EXPOIDEIA 45


Manifestações culturais e shows

Dentro do eixo cultural, a Expoidea promoveu diversas ações, num total de 140 shows e apresentações. No Marco Zero, foram 16 atrações nacionais e internacionais; Na Torre Malakoff, 64 apresentações culturais de Pontos de Cultura, jam sessions e shows. O projeto Humor na Feira reuniu 30 apresentações de contos e causos e uma apresentação do grupo Fim de Feira; por fim, o palco infantil trouxe 30 apresentações artísticas de escolas públicas e privadas. EXPOIDEIA 46


A Produtora Cultural Colaborativa (PCC) da Expoidea funcionou como um espaço multimídia ligado a centros culturais para atender demandas de artistas, sempre utilizando Software Livre. A produção da PCC gerou algumas ações, tais como o PALCO LIVRE, AS JAM SESSIONS A RÁDIO EXPOIDEA A MÚSICA AMBULANTE A PRODUÇÃO MULTIMÍDIA DE CDs, DVDs, VIDEOCLIPES A REALIZAÇÃO DE OFICINAS E A COBERTURA COLABORATIVA DA FEIRA

No total, a Produtora Cultural Colaborativa da Expoidea reuniu

81

inscrições de artistas, 41 deles eram colaboradores

35 8

horas de material gravado em áudio e vídeo

CDs produzidos e de livre acesso pelo portal ITEIA/Expoidea (www. iteia.org.br/expoidea)

64

apresentações artísticas no Palco Livre, com público médio aproximado de 200 espectadores por noite.

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s


sust EXPOIDEIA 49


reportagem sustentabilidade

O espaço condutor de soluções

Durante a Expoidea, alguns ideais do desenvolvimento sustentável foram concretizados e as iniciativas deixaram um modelo a ser seguido pela sociedade por JÚLIA KACOWICZ

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m ambiente em que as compras são feitas sem dinheiro, a reciclagem é desenvolvida por cooperativas de catadores e o material orgânico vira compostagem. Esse cenário tomou conta do Bairro do Recife durante a Expoidea. A Feira disseminou esses conceitos e lançou o desafio de colocar o estado no centro da inovação das discussões tecnológicas, culturais e sustentáveis. Por nove dias, alguns ideais do desenvolvimento sustentável foram concretizados e, além de encantar o público visitante, as iniciativas deixaram um modelo a ser seguido e perseguido pela sociedade. O fio condutor do evento foi a junção de setores, tecnicamente antagônicos, como ONGs ambientalistas, empreendimentos da economia solidária, empresários e representantes de multinacionais, pesquisadores e grupos culturais. Isso com representantes locais e convidados de fora do estado. A partir dessa interação, a temática tecnologia, cultura e sustentabilidade pôde se encontrar e ser profundamente analisada. Esses temas não foram escolhidos aleatoriamente. Segundo os organizadores, esses são os pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade justa, solidária e ambientalmente conectada. Para o ambientalista e coordenador de sustentabilidade da Expoidea, Thomas Enlazador, o encontro dessas três áreas foi uma das principais inovações trazidas pelo evento. “Reunir esses três temas foi inovador e pioneiro, assim como várias outras características, como ter mais de 160 atividades de formação gratuitas e integradas em uma feira. Esta, por si só, já é uma inovação”, disse o também representante do Ecocentro Bicho do Mato. Segundo Enlazador, a Expoidea foi o evento que destinou à temática da sustentabilidade a maior ênfase entre as iniciativas já realizadas em Pernambuco, o que possibilitou observar como, no passado, as políticas davam prioridade a práticas de desenvolvimento insustentáveis. Com a participação de cerca de 40 entidades de economia solidária e ambientalistas, além da realização de mais de 50 iniciativas na área, a intenção dos organizadores foi permitir que o evento funcionasse como uma vitrine. A ideia foi criar um ponto de partida para as reflexões e fazer desse debate algo contínuo e permanente. “A Expoidea culminou em uma feira, mas pretende ser um portal colaborativo durante o ano, uma rede. É nisso que vamos trabalhar”, destacou Enlazador. É também nesse ponto, entre outros aspectos, que tecnologia, EXPOIDEIA 50

A EXPOIDEA FOI O EVENTO

QUE MAIS INVESTIU EM

SUSTENTABILIDADE

NO ESTADO

sustentabilidade e cultura se encontram e se fortalecem. Ou seja, a tecnologia e a cultura podem ser as ferramentas essenciais para espalhar os conceitos de sustentabilidade e colocá-los em ação. Durante os dias de debates, palestras, minicursos e oficinas, algumas atividades paralelas também despertaram a curiosidade do público visitante, como o mercado de trocas e o banco solidário. Nesse ambiente, uma moeda social – a Idea – foi criada para permitir a troca entre produtos e bens de acordo com outros valores. Cada um levava


um produto ou serviço e trocava pelo que achasse ser necessário, sem precisar de dinheiro de “verdade” ou a moeda Real (R$). Momentos semelhantes em Pernambuco são realizados no Ecocentro Bicho do Mato, mas, na Feira, essa experiência pôde se espalhar e ser observada com curiosidade por públicos diferentes. E não apenas pelas pessoas “amigas ou simpatizantes do meio ambiente”.

Um sistema integral de coleta seletiva do lixo e reciclagem também foi implantado como uma exigência inicial dos organizadores e pôde ser observado. Foi realizado com a participação dos visitantes. Todo o resíduo gerado na Feira foi separado por uma cooperativa de catadores, que encaminhou o material seco (reciclável) para o reaproveitamento, e o orgânico (sobras EXPOIDEIA 51

de comida) para a compostagem. “Essa é uma preocupação rara em eventos de grande porte, e é importante, pois envolve os frequentadores e os faz refletir”, destacou Enlazador. Sobre a discussão, a Expoidea também favoreceu o aprofundamento das reflexões sobre geração de lixo em debates como o de Consumo e Sustentabilidade. Na ocasião, um time de professores e


pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), formado por Rosalva Vasconcelos, Ademir Dantas e Gilberto Rodrigues, além de Thomas Enlazador, discutiu a necessidade da adoção de padrões de consumo mais sustentáveis. O mesmo assunto foi abordado e ampliado em alguns dos minicursos oferecidos, como o “Descobrindo caminhos para a vida sustentável”, ministrado pelos

representantes do Instituto Arca (RS), e o “Educar para a sustentabilidade”, coordenado pela entidade Encantador de Sonhos, Educação e Meio Ambiente (SP). Essas ações, aliadas à presença de um público diverso, fez com que a Expoidea desempenhasse o papel de ser um espaço de economia viva e solidária, mostrando a possibilidade de um sistema de políticas e práticas alternativo ao atual. EXPOIDEIA 52

Conexões Na proposta de interação das três áreas de atenção focadas durante o evento, o coordenador de sustentabilidade destacou a conexão entre cultura e a sustentabilidade. Essa junção, segundo Enlazador, fomentou o conceito da “cultura da sustentabilidade”, marcando o território e dando um maior significado às práticas culturais. Como o próprio mencionou, durante a realização


A FEIRA TEVE

A PARTICIPAÇÃO DE CERCA DE 40 AMBIENTALISTAS

E ENTIDADES DE

ECONOMIA SOLIDÁRIA

da Feira, foi como se as iniciativas culturais encantassem culturalmente as práticas sustentáveis. O resultado foi tão positivo, acrescentou o ambientalista, que o evento contribuiu com a quebra de paradigmas e o surgimento de oportunidades, além do fortalecimento de algumas instituições, o que favorece a continuidade e o planejamento de eventos futuros.

Em relação à interação entre tecnologia e sustentabilidade, o coordenador acredita que as tecnologias sociais e de baixo custo deverão receber mais destaque na próxima edição da Expoidea. “A tecnologia ainda é compreendida como alta tecnologia, vamos trabalhar para incluir as técnicas sociais também”, ressaltou, ainda fazendo um chamado às empresas e instituições parceiras que desenvolvem tecnologia de ponta em Pernambuco. Ao longo da primeira edição, o tema norteou algumas apresentações, como a palestra do convidado Marcos Colacino, presidente do Inovamente: Empreendorismo Jovem, Alavancamento de Marcas (SP), que abordou justamente a temática “Inovação, Tecnologias Sociais e Desenvolvimento”. Outro exemplo da inclusão da temática de tecnologias sociais pôde ser acompanhado na apresentação do permacultor Neimar Marcos sobre “Permacultura: A cultura sustentável da permanência”. Na palestra, o especialista disseminou o sistema da permacultura, que segue conceitos de construção e agricultura sustentáveis. Já EXPOIDEIA 53

os exemplos de alta tecnologia e a posição de destaque de Pernambuco também nesse aspecto puderam ser conferidos em apresentações sobre energia limpa, como a de José Antônio Leão, representante da empresa instalada em Suape (PE), Impsa Wind Power, que abordou a energia eólica. Ou ainda nas palestras sobre as aplicações da biotecnologia na indústria de hemoderivados, tema abordado pelo gerente de pesquisa da Hemobrás, Jaime Mendonça Júnior. Passada a experiência inovadora, os organizadores pretendem aprimorar alguns detalhes com a intenção de ampliar o efeito na sociedade. Entre as possibilidades vislumbradas pelo coordenador de sustentabilidade estão: a revisão do formato de uma programação com duração de 12 horas e a inclusão de formas mais dinâmicas de integração entre os participantes e público visitante. Outra necessidade, observada por Enlazador, é o aprimoramento do setor de alimentação oferecido como apoio à Feira, especialmente com a inclusão de alternativas sustentáveis. “A ideia é permitir uma integração mais completa entre a programação e as atividades oferecidas, obter um maior engajamento”, destacou. Uma afirmação é certa, defende Enlazador, a versão 2.0 da Expoidea será lapidada e se tornará ainda mais eficiente na integração das áreas e da sociedade – uma meta também destacada pelo produtor e empreendedor do evento, Rogério Robalinho, que justifica a Feira como um espaço para aproximar a sociedade do conhecimento, destrinchando as interfaces dessas três atuais vertentes – tecnologia, cultura e sustentabilidade. E mais importante, operando na busca de soluções para questões ambientais, sociais e econômicas. Outra certeza, pelo exemplo da estreia, é que assunto para ser discutido e público interessado não irão faltar.


perfil|anderson GOMES

Entre cálculos e fórmulas, o futuro O atual secretário de Educação do Estado tem uma importante trajetória na área ambiental por JÚLIA KACOWICZ EXPOIDEIA 54


Q

uando cursava o ensino médio da então Escola Técnica Federal de Pernambuco (depois Cefet e hoje IFPE), Anderson Stevens Leonidas Gomes, 54 anos, nem sonhava em ser, um dia, secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente ou secretário de Educação do estado de Pernambuco (cargo que assumiu recentemente). Uma trajetória que teve início nas aulas de Física. Entre cálculos e fórmulas, Gomes se encantou com as diversas possibilidades de aplicação da matéria. Depois de experiências como professor, pesquisador e gestor, o físico passou a reconhecer cada partícula desse processo como uma maneira de buscar o avanço da política científica do estado e do país. E, assim, o desenvolvimento das sociedades. Como professor, ele privilegia a interação com os alunos e oportunidade de motivá-los a aprender e pesquisar. Segundo ele, a UFPE está desempenhando um papel importante na formação de profissionais, tais como o antigo ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, que também foi professor da universidade e diretor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da instituição. “Esse potencial decorre da excelente base dos estudantes formados. Os primeiros professores do departamento tiveram conhecimentos de qualidade, e mantiveram esse padrão”, esclareceu. Em 1994, as atividades de Anderson Gomes se ampliaram e sua habilidade como gestor começou a se destacar. Inicialmente, ele foi convidado para atuar na equipe de transição do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) e, um ano depois, foi mantido na equipe que dirigiu a instituição até 1998. Ele lembra que aquela foi sua primeira atuação como gestor público na área de Ciência e Tecnologia, o que veio a ser apenas o ponto de partida. No ano seguinte, o físico participou da gestão da pró-reitoria de graduação da UFPE, depois se tornou membro de um dos comitês assessores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(Cnpq/MCT). Atualmente, é coordenador da área de Física e Astronomia da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC). “Fui percebendo outras maneiras de contribuir com o desenvolvimento científico e descobrindo como essas atividades são importantes para o avanço do estado e do país”, ressaltou Gomes. Com esse espírito, em agosto de 2009, ele aceitou o convite para ser secretário-executivo de Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectma). Em menos de um ano, com a saída da então secretária Luciana Santos para concorrer à Câmara Federal, ele foi convidado

“O MEIO AMBIENTE DEVE SER

RESPEITADO E OS AVANÇOS

DA

CIÊNCIA

CONTRIBUEM PARA ISSO”

para substituí-la e tornou-se o secretário. “Depois de minha participação no Itep, vi como é importante essa contribuição”, disse. A oportunidade foi recebida, como o professor gosta de ressaltar, como mais uma possibilidade de dar continuidade às iniciativas que buscam fazer da Ciência e Tecnologia duas ferramentas para alcançar o desenvolvimento sustentável na essência da palavra. “O meio ambiente precisa ser devidamente respeitado e os próprios avanços científicos contribuem para isso”, destacou, acrescentando que o entendimento do processo do impacto ambiental causado de forma natural ou provocado pelo ser humano só existe diante do conhecimento cienEXPOIDEIA 55

tífico acumulado. “É esse conhecimento que tem se transformado em tecnologia e explorado para a melhoria do meio ambiente”, disse, exemplificando a relação entre as três áreas. No trabalho desenvolvido na Sectma, Gomes cita o projeto de controle à erosão costeira como exemplo de junção das áreas de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Segundo ele, os pesquisadores estão utilizando dados científicos obtidos desde 2006, sobre o litoral de Paulista e Jaboatão, para desenvolver um modelo computacional que indicará alternativas para obras de engenharia que mitiguem o processo de erosão em toda a costa, em vez de realizar ações pontuais. “A diferença do que está sendo feito agora e o que já foi feito com ações paliativas, e necessárias, é o uso da Ciência e Tecnologia para minimizar o impacto ambiental”, destacou. Nesse caso, as ferramentas oferecidas pela Ciência e Tecnologia estão sendo direcionadas para reduzir um impacto negativo provocado por um fenômeno natural (a erosão costeira), que também teve a interferência do homem. A expectativa do secretário é de que, ainda no primeiro semestre de 2011, o projeto seja concluído e haja possibilidade de licitar as obras de engenharia para controlar o problema de maneira efetiva e preventiva. Na secretaria, a lista de planejamento ainda é longa. Gomes afirmou que um plano de ação com sugestões para os próximos anos foi entregue ao governador Eduardo Campos. Entre as iniciativas, além de projetos já presentes no governo, está o lançamento de um edital para a criação de uma rede de inovação em Pernambuco: a implantação de um programa estadual de banda larga, de um parque de biotecnologia e a institucionalização de um amplo programa de inclusão digital. E elas são apenas algumas das estratégias que o físico defende para unir as áreas irmãs – Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – e buscar o desenvolvimento científico do estado. No começo deste ano, o governador convidou Gomes para liderar a pasta de Educação. Um novo desafio para o professor.


artigo

A cultura sustentável na Expoidea A Feira abraçou vários níveis de organização, desde a governança local até o conceito de planetariedade por THOMAS ENLAZADOR

O

conceito de sustentabilidade, ou melhor, a cultura da sustentabilidade, ao contrário do desenvolvimento sustentável, não desconhece as raízes da violência, injustiça social e fome; reconhece também as disparidades econômicas entre ricos e pobres, os perversos efeitos da poluição do meio ambiente, a exploração dos recursos naturais em detrimento das comunidades locais e a dilapidação da biodiversidade (ENLAZADOR, 2008). Considerando a prática da sustentabilidade, Sachs (1993) insere cinco princípios que poderiam fundamentá-la: o social, cujo pressuposto é equidade da renda econômica (diminuição da desigualdade social); o ecológico, para a manutenção dos recursos naturais; o econômico, que seria possível através da alocação do gerenciamento mais eficiente dos recursos e de um fluxo constante de investimentos; o cultural, que implica na continuidade das culturas em cada sociedade, agregando-as às descobertas científico-tecnológicas; e a espacial, melhorando a distribuição dos assentamentos humanos. Optamos em adotar, na práxis contínua da Expoidea, uma interconexão conceitual em sentido amplo, cultural e político. Indutora para um consumo sustentável, considerando-o uma alternativa eficaz de transição para uma sociedade de baixo carbono, pró-ativa e tangível, para transformar a relação entre produtores e consumidores; impulsionando a coerência para criarmos uma visão crítica do ato de produzir e consumir, subsidiando a construção de políticas públicas ambientais efetivas para Pernambuco e para o Brasil, buscando respostas em referências teóricas que apontam alternativas à globalização hegemônica ou à globalitarização (SANTOS, 2000). Uma tendência global na área ambiental é a análise da nossa “pegada ecológica”. Na primeira edição da Expoidea, a impressão dessa pegada foi pautada, discutida e questionada. São cálculos que passam pelos quilômetros que percorremos em automóveis e aviões, o uso racional de eletrodomésticos, a compra ou não de alimentos orgânicos, no consumo de menos embalagem e sacolas plásticas etc. A partir de um cálculo sistêmico, chegamos a um número X de emissão de gases do efeito estufa e a um total de árvores que devemos plantar para “sequestrar” o carEXPOIDEIA 56


bono emitido. Esse “eco X” do quanto estamos colaborando ou não para a sustentabilidade planetária e como podemos reverter e aprimorar nossa práxis diária enriquecerá nosso horizonte sustentável. As questões ambientais não são mais vistas como exageros de ONGs, ecologistas apaixonados, hippies visionários e alternativos. Todos estão convocados para agir e fazer a sua parte nessa jornada evolutiva pela cura do planeta. Essa convocação foi atendida na

Expoidea e o mote da sustentabilidade, pela primeira vez, foi amplamente difundido e colocado no mesmo patamar de outras frentes em Pernambuco. Um avanço histórico! Em uma Feira do Futuro, faz-se necessário demonstrar e democratizar as tecnologias socioambientais já presentes. Criar vitrines, articular rodadas de negócios sustentáveis e trazer à tona que ser sustentável é viável econômico e ético, ecologicamente. A Expoidea encampou a sustentabilidade como eixo transversal, perpassando pelos eixos abordados durante o evento. Sustentabilidade se tornou uma terminologia amplamente difundida, que necessita ser aplicada e entendida como um conceito sistêmico. Está intrinsecamente relacionada com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana, rumo a uma sociedade ecológica. Dentro dessa perspectiva de configurar a civilização e as atividade humanas rumo a uma cultura sustentável, a Expoidea oportuniza uma gama de atores sociais, empresas, instituições públicas e não governamentais, academia, redes e empreendimentos solidários, fomentando espaços de convergência em que a sociedade, os seus membros e suas economias possam preencher suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente, e, ao mesmo tempo, preservar a biodiversidade, recursos hídricos, solos, ar e os ecossistemas naturais, planejando e agindo para atingir uma proficiência na manutenção indefinida desses recursos e ideais. Um exemplo dessa práxis foi o GIRO – Gestão Integrada de Resíduos Orgânicos durante a Expoidea. Pela primeira vez, um grande evento em Pernambuco realizou uma convergência entre catadores, ONGs e prefeitura no intuito de encaminhar para a reciclagem os resíduos sólidos e compostar os orgânicos. A sustentabilidade apresentada na Expoidea abraçou vários níveis de EXPOIDEIA 57

AS QUESTÕES

AMBIENTAIS NÃO SÃO MAIS VISTAS COMO

EXAGERO

DE HIPPIES, ONGs E ECOLOGISTAS organização, desde a governança local até o conceito de planetariedade. Para um empreendimento social, cultural, educacional, empresarial ou tecnológico ser sustentável, busca-se albergar quatro requisitos básicos: ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e solidário, e culturalmente aceito. A Expoidea apresentou ações concretas no eixo sustentabilidade e pretende ser um espaço contínuo de convergência nacional de atores que trabalham com a temática, oferecendo palestras, cursos, oficinas e ações demonstrativas de tecnologias socioambientais que inspirem e possam ser amplamente democratizadas, para uma aplicação prática em espaços nos quais a vivência de uma cultura sustentável – rumo a uma sociedade ecológica – não é apenas uma onda verde, mas, sim, um conceito permanente e irrefutável. * THOMAS ENLAZADOR é mestre em Gestão e Políticas Ambientais pelo Prodema – UFPE e curador da Expoidea.


entrevista|Vanice selva

A sociedade envolvida no turismo sustentável

Professora e pesquisadora da UFPE afirmou durante a Expoidea que é preciso incluir a gestão ambiental nos investimentos da área turística por JÚLIA KACOWICZ

G

eógrafa, com especialidade em Gestão Ambiental, Ecoturismo e Tecnologias Sociais, a coordenadora do mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da UFPE, Vanice Selva, alertou os participantes da Expoidea: “É preciso incluir a gestão ambiental nos investimentos em turismo”. Segundo ela, essa atividade vem claramente se expandindo no estado e no país, sem a devida atenção ao uso desses ambientes naturais. Otimista e confiante, a pesquisadora destacou que a sustentabilidade não é uma utopia, mas, para conciliar as atividades de lazer com o meio ambiente, ressalta a presença fundamental de um planejamento integrado entre secretarias e atividades econômicas e sociais. Mais importante: ela defende a inclusão da sociedade como participante ativa do monitoramento e preservação dos ecossistemas naturais. EXPOIDEIA 58


É admissível unir turismo e sustentabilidade? A expansão da função turística nas áreas litorâneas brasileiras vem se dando de forma acelerada e sem a devida atenção ao uso adequado das paisagens e dos elementos do espaço. As estruturas de gestão dos municípios não têm acompanhado a expansão do turismo no sentido de orientar o ordenamento, o planejamento e a gestão do turismo local. É preciso investimento. Mas o investimento para o turismo tem sido crescente no estado, não? Há uma canalização de investimentos para o turismo e o aumento de fluxo por parte de alguns programas. Mas não são suficientes para elevar os indicadores sociais – que são críticos em muitos municípios litorâneos – e possibilitar que as comunidades receptoras, que são as afetadas pelas mudanças locais, possam firmar acordos para as mudanças impostas. Apesar disso, é possível, sim, conciliar o turismo com sustentabilidade, desde que seja feito um planejamento integrado, articulando secretarias e atividades econômicas e sociais e implantando um monitoramento de indicadores ecológicos, econômicos, sociais e institucionais. Qual a maior ameaça a esses ambientes e quais seriam as áreas prioritárias de ação? Nos ambientes aquáticos, de um lado temos o pisoteio em áreas de corais, e, de outro, a superexploração das áreas com um número exagerado de embarcações, comprometendo a dinâmica dos animais, além dos conflitos com a pesca. Essas práticas podem ser desenvolvidas, mas precisam de planejamento, de gestão. Fala-se que os oceanos estão em risco, pondo em risco também a vida na Terra. É preciso monitorar e combater essas ameaças. Além da extinção das espécies, que outros impactos a sociedade deverá sofrer com a continuidade de práticas insustentáveis?

As práticas insustentáveis são de várias dimensões. No campo da agricultura, da produção industrial, da educação e no campo institucional, com a incapacidade dos poderes públicos gerirem os seus espaços. Esses aspectos resultam na insegurança alimentar, com o uso de agrotóxicos e transgênicos, na poluição atmosférica e da água pelas indústrias, na qualidade da saúde ambiental e humana, na degradação humana, com a droga, a exclusão social. Tudo está relacionado. De que maneira é possível implantar uma prática sustentável nas atividades de lazer? Essencialmente com a possibilidade de um planejamento e gestão integrada envolvendo de forma participativa as populações dos municípios costeiros. Se não há participação das pessoas, e se essas não se veem como partes integrantes, as políticas públicas não se efetivam. Elas precisam ser inseridas para compreender e atuar como parceiras ativas. Como sensibilizar a sociedade para o tema, estimulando uma cobrança e participação? Através de um processo educativo formal ou informal e uma mobilização permanente, para que as pessoas e atores sociais se sintam protagonistas. A sociedade não é diferente da população diretamente envolvida. Os impactos serão sentidos por todos, já são, e a responsabilidade é de todos. É preciso ter esse conhecimento para se mobilizar, participar efetivamente. Durante a Expoidea, vários especialistas discutiram o tema da gestão ambiental do turismo. Qual a concordância que surgiu? A gestão ambiental do turismo foi discutida e conceituada e chegou-se à conclusão de que ela se viabiliza através da gestão ambiental municipal. Para isso, é necessário que as cidades tenham as condições mínimas para a gestão ambiental acontecer. Significa a EXPOIDEIA 59

necessidade de existência de um órgão, um conselho de meio ambiente e um fundo, além de pessoas qualificadas para trabalhar com essa problemática e que sejam capazes de aplicar os principais instrumentos de gestão ambiental, que passam pela fiscalização, monitoramento, licenciamento e educação ambiental. Você acredita que iremos encontrar esse caminho da sustentabilidade? Quais são os indícios? Creio que boa parte de pessoas que enxerga a necessidade da conservação e da preservação de ambientes já vem buscando caminhos na direção da sustentabilidade. Já existem boas práticas na agricultura, na própria indústria e em algumas instituições públicas, que têm resultados na direção da conservação ambiental. Mas o grande mérito tem sido de organizações não governamentais, difundindo tecnologias sociais, alternativas de forma isolada ou em parcerias com órgãos governamentais. Que bons exemplos já temos por aqui ou fora do Brasil? Temos muitos bons exemplos na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão pernambucano, voltados para tecnologias alternativas para a agricultura, o que permite que pequenos produtores rurais obtenham em pequenas áreas uma diversificação da produção e a garantia mínima de segurança alimentar e de troca de sua produção. Exemplos semelhantes são encontrados em todas as regiões brasileiras. No turismo, também é possível observar inúmeras comunidades costeiras fazendo o seu turismo em harmonia com o ambiente e com benefícios sociais e econômicos – e não encorajando a prática de um turismo de alto impacto e excludente, que prevalece nas áreas costeiras do Brasil. Ou seja, um turismo fundamentado nos princípios do ecoturismo, benefícios sociais e econômicos e conservação ambiental.


sustentabilidade e tecnologia

SustentOPORTUNIDADE Reinventar a civilização em bases sustentáveis é o desafio do Século 21. Criar uma nova economia, revertendo democraticamente megaprocessos de degradação da vida no planeta Terra, requer ecoideias, novas atitudes e tecnologias inovadoras. As soluções para evitar o colapso ambiental exigem esforços, mas também geram infinitas oportunidades por SÉRGIO XAVIER

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ara superar a velha economia, baseada no uso descontrolado de recursos naturais, na demanda crescente de energia e na explosiva geração de lixos e poluições, é fundamental investir em inovação tecnológica, educação e políticas públicas participativas. Ultrapassando os limites suportáveis dos recursos naturais e criando situações de riscos, o crescimento econômico por si só já não representa melhoria do bem estar social. A base natural que sustenta a vida está em situação crítica. Em Pernambuco, restam 52% da Caatinga, menos de 50% dos Mangues, cerca de 2% de Mata Atlântica e 0% de rios limpos. Não adianta elevar renda e consumo se continuarmos perdendo progressivamente qualidade e expectativa de vida. O velho modelo de crescimento a qualquer custo, com foco apenas em indicadores econômicos, com pensamento “ou”, excludente (ou pessoas, ou ambiente, ou futuro, ou ética), precisa ser substituído por um novo, que valorize a vida em todas as suas formas e que seja inclusivo, considerando simultaneamente: pessoas + ambiente (biodiversidade) + economia + ética, reduzindo desigualdades e respeitando futuras gerações (priorizando o pensamento “e”). Criar um modelo de desenvolvimento sustentável exige mudanças culturais, acesso a conhecimentos, financiamento à inovação e, sobretudo, compromisso com equidade social nas relações de consumo. Por outro lado, o caminho para a sustentabilidade abre infinitas

oportunidades, em múltiplas áreas. Cada problema provoca reflexões e multiplica possibilidades criativas na busca de soluções em cadeias produtivas. O ecodesenvolvimento requer uma base tecnológica caracterizada por baixa emissão de carbono (para evitar aquecimento global), racionalização energética, reciclagem de resíduos e uso de matérias-primas obtidas em processos naturalmente equilibrados. Planejamento, educação, capacitação profissional, comunicação e pesquisa continuada são os pontos de partida. Para viabilizar transformações consistentes, as estruturas e os processos educacionais e profissionalizantes devem se orientar por conceitos arrojados e visão antecipatória do futuro. Em vez de estar a reboque do mercado e do modelo econômico convencional, a ciência, a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a educação devem estar adiante, influenciando e construindo futuros desejáveis: socialmente justos, economicamente viáveis e ecologicamente equilibrados. Prospectar e interligar conhecimentos, criar ambientes de intercâmbio criativo e consolidar redes colaborativas são ações fundamentais para a construção de novas formas de viver, conviver e buscar a felicidade para gerações atuais e vindouras. A Expoidea agregou essas múltiplas dimensões e mostrou que Pernambuco pode se transformar no estado da inovação colaborativa e sustentável, focando nas oportunidades da emergente economia ecológica.

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O Estado precisa se antecipar e aproveitar as oportunidades dos novos mercados verdes, em ascensão no planeta. Energias renováveis (cadeia da geração solar, eólica e da biomassa), carros elétricos, indústria criativa, turismo ecológico, produtos virtuais, redes digitais, eletrônica orgânica (novos circuitos de carbono), cadeia produtiva ciclística (bicicletas e ciclovias), redes colaborativas de gestão de conhecimento, mercado da racionalização do uso da água, reciclagem integrada, tecnologias de baixa emissão de carbono, biotecnologia, agricultura orgânica, planejamento urbano verde e arquitetura sustentável são alguns exemplos das promissoras opções de investimento que Pernambuco tem potencialidade para liderar. Pernambuco tem um enorme potencial para se transformar em um polo internacional de inovações sustentáveis. Reúne centros de pesquisa de referência em diversos setores, tem uma economia

crescente, vocações diversificadas, uma localização geográfica privilegiada e possui recursos naturais que ainda podem ser recuperados, preservados e explorados de forma sustentável. Além disso, tem a cultura e o turismo como forças econômicas que dependem de ambiente preservado para evoluir. Reduzir a desigualdade e proteger os recursos naturais é a chave para viabilizar um desenvolvimento equilibrado. O aumento de renda de populações pobres possibilita ampliar o consumo e manter o dinamismo da economia. A redução de desperdícios, a reciclagem, o uso de tecnologias de baixa demanda energética e de baixo impacto ambiental, combinados com a gestão permanente dos recursos renováveis, possibilitarão o prolongamento da vida humana na Terra e o melhoramento coletivo da sua qualidade. Tudo isso ocorrendo conjuntamente promove um novo ciclo econômico, EXPOIDEIA 61

gerando novos perfis de emprego e renda, realimentando processos seguros e evolutivos de desenvolvimento. O principal eixo da nova economia sustentável deve ser o investimento em atividades geradoras de empregos verdes, em larga escala, envolvendo profissionais de ponta e também parcelas pouco qualificadas da população. Transformar desperdício em renda, a partir de inovação nos processos, é o caminho para multiplicar empregos, sem grandes investimentos. Isso é possível, por exemplo, fazendo um “Upsizing” das grandes cadeias produtivas (ampliando postos de trabalho, reformulando a matriz energética, recuperando recursos degradados e reduzindo a poluição – simultaneamente – num processo econômico “ganha-ganha”). Expoidea – A feira do futuro, despontou em boa hora, mostrando que os novos horizontes sustentáveis estão se abrindo a partir de mentes instigadas e organizações cocriativas, atuando em rede. *SÉRGIO XAVIER é jornalista, ecologista e empreendedor da área de comunicação digital, atuando no polo de inovação tecnológica do Recife. É um dos fundadores do Partido Verde no Brasil. Já ocupou cargos executivos nacionais no Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Cultura e Sebrae. Também atuou em organizações não governamentais. Seu último cargo público foi o de Secretário Nacional de Fomento e Incentivo do Ministério da Cultura, na gestão do ministro Gilberto Gil (2003 a 2006), no primeiro governo Lula. Foi um dos coordenadores da campanha à presidente da senadora Marina Silva (PV-AC) e ficou em 3º lugar entre os sete candidatos que disputaram as eleições para governador do estado. Em 2011, foi convidado pelo governador Eduardo Campos (PSB) para dirigir a nova Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade.


entrevista|José Antônio Bertotti Jr divulgação

“O Recife se caracteriza pela produção de conhecimento” Secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do Recife fala sobre os avanços vividos pela cidade nos últimos anos José Antônio Bertotti Júnior é graduado em Química Industrial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, com pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas pela Faculdade de Boa Viagem. Atualmente, é secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do Recife e presidente do Conselho de Apoio ao Porto Digital. Nesta entrevista, ele fala sobre o desenvolvimento econômico da cidade e a importância da realização da Expoidea. Como a inovação tecnológica e a transformação sociocultural podem impulsionar o desenvolvimento econômico do Recife? Para responder a essa pergunta, é preciso levar em consideração as características econômicas e sociais do Recife e o contexto em que a cidade está inserida. Pernambuco passa, hoje, por momento de dinamização em sua economia e a chegada de investimentos é uma realidade que tem impactos visíveis sobre a capital do estado. Por isso, é cada vez mais importante estimular a inovação tecnológica e a formação acadêmica e profissional do cidadão recifense, potencializando a sua vocação de cidade provedora de serviços modernos, com elevado grau de inovação e pro-

dução de conhecimento científico. Essa tem sido a prioridade da gestão da Prefeitura do Recife para estimular o adensamento das cadeias produtivas, a criação de ambientes favoráveis à qualificação das empresas, à inovação como diferencial competitivo e à promoção da inclusão social. Apesar de não termos área livre para destinar a instalação de grandes fábricas, temos outra moeda para ofertar, o conhecimento e o capital humano. O Recife já é considerado um dos mais importantes polos de tecnologias de informação do Brasil. O Porto Digital agrega cerca de 100 empresas, é reconhecido pela A. T. Kearny como o maior parque tecnológico do Brasil em faturamento e número de empresas, gerando cerca de 4 mil empregos e participando com 3,5% do PIB do estado. O Recife também já possui o mais importante polo médico do Norte/Nordeste e o segundo mais importante do Brasil. Além do Parqtel, parque tecnológico consolidado na área de eletroeletrônica. Na sua visão, como o diagnóstico da pesquisa “Dinâmica da economia e da inovação e perspectivas de desenvolvimento econômico do município do Recife e suas principais cadeias produtivas” pode ser aplicado em prol da construção de um desenvolvimento sustentável?

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O estudo foi realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, através de parceria entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Prefeitura do Recife. O principal objetivo era fazer um diagnóstico das principais cadeias produtivas na cidade, suas potencialidades e os gargalos enfrentados por elas para seu desenvolvimento. Pernambuco passa por esse momento muito dinâmico em sua economia, entrando num importante ciclo de crescimento nesta próxima década com a chegada desses novos investimentos. A pesquisa das cadeias produtivas foi um desses investimentos. Por um lado, levantar novas oportunidades de negócios e atrair novos investimentos, e, por outro, apontar caminhos para incrementar a economia, tendo essa visão de que o Recife tem a vocação de inovação tecnológica e produção de conhecimento. A pesquisa já apresenta importantes indicativos para que possamos incrementar a economia recifense. Um exemplo disso é quando ela demonstra que a dinâmica da economia de Pernambuco tem duas características: a alta concentração no sul da RMR e a elevada densidade de conhecimento e inovação tecnológica. A pesquisa já realizou o diagnóstico das 10 principais cadeias produtivas com potencial de inovação, que estão sendo implantadas, consolidadas ou adensadas no território do Recife e, no caso das três primeiras cadeias que foram aprofundadas, algumas demandas concretas já foram identificadas para sua consolidação. Qual a importância das discussões trazidas pela Expoidea na construção de uma sociedade mais consciente para as oportunidades do futuro? A Expoidea foi, desde o início, muito bem recebida, porque, de fato, seus idealizadores identificaram uma oportunidade de apresentar nacionalmente, e até internacionalmente, essa característica do Recife de cidade inovadora,

produtora de conhecimento. Também trouxe à tona o debate profícuo e atual que o governo federal tem enfrentado, quando procura melhorar a pauta de exportações brasileira. Hoje, o Brasil é exportador de produtos, na sua maioria, de baixo valor agregado e, à medida que se possa estimular a inovação – que possibilitará a elevação do valor agregado do que é produzido e exportado pelo Brasil – dar-se-á uma grande contribuição para o desenvolvimento econômico do país. O Recife, então, que é uma cidade que se caracteriza pela produção de conhecimento e inovação, tem todas as condições de contribuir com esse debate e, efetivamente, com soluções tecnológicas que agreguem valor aos produtos que produzimos. Um evento, como a Expoidea, que reúne a academia, empresários, setor público e é aberto à população, traz a público o enorme potencial científico e tecnológico das nossas universidades, nos centros de pesquisa e demonstram, na prática, como as soluções encontradas pelos pesquisadores podem ser utilizadas no dia a dia das pessoas. A Expoidea tem a possibilidade de mostrar que não há defasagem tecnológica entre o Brasil e outros países. O gargalo, entretanto, é que essa produção tecnológica ainda não está disponível para resolver os problemas reais da população. Talvez esse seja o maior problema que o Brasil tenha que enfrentar hoje. Na sua percepção, quais são os fatores de sucesso e os grandes obstáculos para a afirmação do crescimento socioeconômico do Recife? Bom, podemos afirmar que as vantagens competitivas do Recife para o seu crescimento socioeconômico são: em primeiro lugar, a sua posição de centro urbano regional e polo regional de atividades modernas. Gente de Pernambuco e de vários outros estados do Nordeste vem ao Recife sempre que precisa fazer uma compra mais qualificada de produEXPOIDEIA 63

to ou necessita da prestação de algum serviço mais específico; a outra vantagem é uma rede de infraestrutura e logística destacada no Nordeste. E, por último, a concentração de conhecimento através das universidades e instituições de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. São várias plantas industriais que estão chegando ao estado e gerando novos empregos e novos conhecimentos, e a grande massa de trabalhadores que hoje está sendo contratada para a instalação dos novos empreendimentos é de cidadãos recifenses, que vão gastar os seus salários no Recife. Essa é outra vantagem comparativa. Para se ter uma ideia, no ano de 2010, foram criados 103 mil novos empregos em Pernambuco e, desses, 41 mil no Recife, segundo dados do Caged. Alguns obstáculos, entretanto, podem comprometer a internalização dos benefícios desse boom econômico. O primeiro é a defasagem educacional da população do Recife em relação a outros estados do Brasil, o que num segundo momento, quando as empresas já estiverem instaladas e necessitarem de mão de obra mais qualificada para contratação pode comprometer o nosso desempenho e permitir uma afluência muito maior de profissionais de fora. O segundo, e que exige de todos mais atenção, é a questão dos empresários que vão precisar mudar a postura com relação à produção e à prestação de serviços. Pernambuco passou por um longo período de estagnação econômica, principalmente, na área da indústria, além disso, o estado não tem tradição e nem conhecimento acumulado nas áreas de atuação das novas empresas que estão aportando por aqui, como é o caso da indústria naval, de petróleo e gás, farmoquímica. Sabemos que é uma mudança total na matriz produtiva e isso pode levar tempo até que os empresários pernambucanos se preparem para colher os louros de todo esse impulso que vai acontecer na nossa economia.


“A economia do futuro é a economia do conhecimento, da inovação e da sustentabilidade. Tudo isso é uma mudança cultural. Requer uma compreensão nova do que significa desenvolvimento” LUCIANO COUTINHO - Presidente do BNDES “ A sustentabilidade é fundamental para que a civilização humana possa não só viver uma vida melhor hoje, mas garantir uma vida possível no futuro. Precisamos de ideias novas, de novas tecnologias, mudar comportamentos, e aí entra a dimensão cultural. Portanto, a Expoidea é fundamental para que essas discussões possam contribuir com um novo modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade” SÉRGIO XAVIER - Secretário de Meio Ambiente/PE EXPOIDEIA 64


PRINCIPAIS AÇÕES DE SUSTENTABILIDADE 1 Gestão Socioambiental

4 Coleta de pilhas e

7 Distribuição gratuita do

Integral (Giro Expoidea)

baterias para reciclagem e de óleo de cozinha para transformação em sabão

Almanaque de Práticas Sustentáveis

Atlântica e do Fórum Estadual de Economia Solidária

8 Festival de Tecnologias

10 Palestras e Oficinas

2 Parceria com cooperativa de catadores para reciclagem de resíduos sólidos

3

Compostagem dos resíduos orgânicos da praça de alimentação

5 Mercado de Trocas

Sociais da Economia Solidária (mais de 30 empreen dimentos de PE)

e Banco Solidário, em parceria com a ITCPFGV, com circulação de moeda social (Idea)

9 Encontro Estadual de

6 Metarreciclagem

Gestores de Unidades de Conservação da Mata

EXPOIDEIA 65

ambientais realizadas pelo PRODEMAUFPE, Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento


Reciclagem de

Resíduos Sólidos EXPOIDEIA 66

A Expoidea mostrou que é possível conter o problema da enorme quantidade de lixo gerada por grandes eventos. O ambientalista e professor da UFPE e curador da Feira, Thomas Enlazador, idealizou o grupo de Gestão Integrada de Resíduos Orgânicos (GIRO), que teve como meta fazer a coleta dos resíduos de toda a Expoidea em três Pontos de Entregas Voluntárias (Prevs), denominados Orgânicos, Recicláveis e Rejeitos.


Decoração com Sustentabilidade A ambientação da Expoidea 2010 foi uma criação da artista plástica Thiana Santos, em parceria com a arquiteta Mariama Freitas Góes. O projeto contou com um pórtico de entrada, decoração dos lustres, das escadas e corrimão do mezanino. Mais de 20 mil garrafas foram reutilizadas para essa confecção e todas foram compradas a

diversas associações de catadores, através da ONG Retome Sua Vida, com sede no Recife. “Consciente que a garrafa plástica é um componente do lixo contemporâneo, que leva mais de 100 anos para se decompor, iniciei, desde 2006, um trabalho de pesquisa para desenvolver técnicas e ferramentas adequadas para lidar com

EXPOIDEIA 67

esse tipo de material. Não utilizo cola, tinta, ou qualquer produto químico que possa prejudicar o descarte para reciclagem, portanto, o refugo da produção e as peças que retornam para o ateliê podem ainda ser doados à associação de catadores para que sejam vendidos a empresas recicladoras”, explica Thiana Santos.


ESPAÇOS EXPOIDEA 1

ATIVIDADES EM DESTAQUE MARCO ZERO 16 atrações nacionais e internacionais se apresentaram no palco do Marco Zero.

6 PARQUE DAS ESCULTURAS

MARCO ZERO

7

PORTO DIGITAL

2 TORRE MALAKOFF

8

ATELIÊ CANAL DAS ARTES

3 ARMAZÉM 12

9

CENTRO CULTURAL DOS CORREIOS

4 ARMAZÉM 13

10 SANTANDER CULTURAL

5 RUA DA MOEDA

11

TORRE MALAKOFF

MINISTÉRIO DA CULTURA

64 shows no Palco Livre da Produtora Cultural Colaborativa. I Encontro Pernambucano de Wordpress.

ARMAZÉNS 12 E 13 80% do lixo reutilizável da Expoidea foi reciclado. Encontro Nacional de Blogueiros – BlogCamp /PE. Apresentações artísticas de pontos de cultura e exposição de artesanato sustentável.

RUA DA MOEDA

2

Humor na Feira — 30 artistas populares apresentaram seus contos e causos.

11

PARQUE DAS ESCULTURAS Show inédito e inovador do Fim de Feira.

PORTO DIGITAL Comitê de TIC da AMCHAM com Alexandre J. Beltrão Moura, Presidente do Conselho de Administração da Light Infocon Tecnologia S/A – Gestão do Conhecimento: Tendências. FIEPE AMBIENTAL – Drª. Simone Rosa – Gestão de Recursos Hídricos.

ATELIÊ CANAL DAS ARTES Atividades de cineclubismo – Federação Pernambucana de Cineclubismo.

CENTRO CULTURAL DOS CORREIOS Workshop Semana da Guitarra, em parceria com a AESO. “Inovação e Modelos de Negócios” – Silvio Meira, Adriana Salles, Pierre Lucena e Daniel da Hora. “Vegetarianismo e Meio Ambiente” Gabi Veiga – Teatro Mágico (SP).

SANTANDER CULTURAL Workshop Internacional de Economia

da Cultura & Cidades Criativas. “Desenvolvimento em PE: Desafios e Oportunidades” – Tânia Bacelar. “Energia Eólica no Mundo” – José Antônio S. Leão (IMPSA).

MINISTÉRIO DA CULTURA “Fotografia Experimental” – Mano de Luca. “Aprenda a não desperdiçar o que você ainda pode aproveitar” – Rosalva Vasconcelos.

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CULTURA

TECNOLOGIA

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Expediente Organizadores Produção Expoidea Coordenação Geral Rogério Robalinho Coordenação Executiva Leonardo Santos Coordenador Eixo Sustentabilidade Thomas Enlazador Coordenador Eixo Tecnologia Cristiano Simião Coordenador Eixo Cultura Guilherme Robalinho Gerência Administrativo/ Financeiro Adelma Félix Consultoria Estratégica João Rego Claudio Marinho Luciano Siqueira José Bertotti Fernando Duarte Lúcia Melo Antônio Carlos Pavão Embaixador Expoidea Daniel da Hora

Patrocínio Produtores Guilherme Carvalheira, Moacir Torres, André Gusmão , Lúcia Ramos “Amore”, Daniela Câmara, Cristina Bulhões, Fernando José de Oliveira , Deusdedet Alexandre, Claudenilton Ferreira, Yaponira Maria Soares, Ramon Guimarães, Ivânia Maria Silva e Vera Freire Equipe de Assessoria de Redes Sociais e Comunicação Le Fill, Danilo Carias, André Raboni, Humberto Reis e Clareana Arôxa Assessoria de Imprensa Fabiana Galvão, Executiva Press Agência de Publicidade AMPLA Marta Lima Consultor de Marketing Leo Parnes

BNDES Ministério de Ciência e Tecnologia CGEE Governo do Estado de Pernambuco Secretaria de Ciência , Tecnologia e Meio Ambiente Oi/Velox Porto Digital Prefeitura da Cidade do Recife Santander Cultural SEBRAE

Apoiadores e Parceiros EMBRAPA ITEP ASSESPRO SISTEMA FIEPE (FIEPE, CIEPE, IEL, SENAI, SESI) Agência Espacial Brasileira AMCHAM Recife Centro Cultural dos Correios Gruppo Mossi & Ghisolf Universidade Federal de Pernambuco Universidade de Pernambuco Espaço Ciência Porto do Recife S.A Pitú Torre Malakoff

Produção Geral Marli Moreira e Cláudia Andrade EXPOIDEIA 70

Robô Livre (Plataforma de Robótica Livre) Rede Globo Nordeste Fundação Roberto Marinho Nova Brasil FM Sistema Jornal do Commercio de Comunicação Revista Raça Bla TV Ecocentro Bicho do Mato ABINEE – Associação da Indústria Elétrica e Eletrônica CEPROJE

Publicação Coordenação editorial Wellington de Melo Produção, edição, revisão e diagramação Verve Comunicação Fotografia Ana Fonseca


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