Fanzine Fazendo Arte

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2 CONHECENDO O FANZINE A ideia principal do Fanzine Fazendo Arte é de apresentar a história de artistas locais e, ao mesmo tempo, incentivar para que cada vez mais pessoas conheçam os seus trabalhos. O presente material foi produzido pelo estudante de Jornalismo, Gustavo Tamagno Martins, para a disciplina de Planejamento Gráfico 2020/02 do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG). A orientação é da professora Dra. Camila Cornutti Barbosa.

SOBRE A CAPA Como o trabalho em toda a sua extensão tem o objetivo de incentivar o trabalho dos artistas da região e até mesmo fazer com que os leitores fiquem por dentro de suas atuações e até mesmo histórias, a capa também é de autoria de um dos artistas apresentados nesta edição. A capa foi contratada por Gustavo para o ilustrador Luan Zuchi, conforme briefing repassado. A intenção é justamente que abrangesse todas as artes que serão apresentadas nas próximas páginas.

Que você se delicie com essa mistura de arte, histórias inspiradoras e muitos personagens da vida real que lutam por seus sonhos.


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“A arte existe porque a vida não basta”

“A arte existe para que a realidade não nos destrua”

(Ferreira Gullar)

(Friedrich Nietzsche)

“Arte não é pureza; é purificação, não é liberdade; é libertação.” (Clarice Lispector)

“Se você me perguntar o que eu vim fazer neste mundo, eu, um artista, te responderei: estou aqui para viver em voz alta” (Émile Zola)

“A arte diz o indizível; exprime o inexprimível; traduz o intraduzível.” (Leonardo Da Vinci)

“A arte é uma flor nascida no caminho da nossa vida e que se desenvolve para suavizá-la.” (Arthur Schopenhauer)


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Descobrindo o talento aos 50 Foto: Monique Venzon/Divulgação

Depois de 50 anos de vida, trabalhando em muitos setores, desde a área administrativa e financeira de empresas e até sendo sócio-proprietário da construtora da família, Mauro Bettiol descobriu o seu oxigênio: a arte. Como uma pessoa tímida e de expressão verbal não muito forte, o caxiense sempre almejou encontrar alguma forma de se comunicar com o mundo. Foi a partir do momento que chegou para o pai e comunicou que estava caindo fora da parceria na empresa familiar que a sua vida mudou e partiu para o que ele realmente planejava fazer. — Ele quase ficou louco. As pessoas mais antigas não entendem muito desse lance. Aos pouqui-

nhos fui acalmando ele, e trabalhei mais uns dois anos, terminando as obras com os clientes. No início, a família e os amigos pensaram que eu estava ficando louco. Larguei o emprego, chutei o balde para me dedicar à cultura. Fui ironizado, fiquei quietinho — confidencia. No passado, quando menino sempre se dedicou ao esporte e atletismo, e via essa a forma de falar com o mundo: através do seu corpo. Jogou futebol até os 45 anos, quando precisou parar por causa de um problema crônico. Como ele não recebeu o apoio, acabou fazendo o contrário e incentivando o sobrinho para a atuação esportiva. Um dos seus desejos sempre foi escrever um livro. Mauro pensava que a sua comunicação com o mun-


5 do seria por meio da escrita. Por isso, começou a introduzir na sua rotina o hábito de leitura, com livros de fotografia, natureza e autoajuda, seus maiores interesses. No entanto, foi mesmo com trocas de e-mails que ele descobriu que o seu talento era outro. Ele pegou como costume enviar e-mail com uma reflexão escrita por ele para os seus amigos com mais afinidade, mas viu que pouquíssimos retornavam. — Pensei: vou tirar alguma fotografia, colocar a reflexão junto e mandar os trinta e-mails. Agora voltava a metade, 16, 17. Minha caixa de entrada tava cheia. Tirei umas fotografias mais legais ainda. Os retornos eram incríveis, uns 20 voltavam. Tem alguma coisa errada por aí, acho que eles não estão olhando o que eu escrevo, ele estão olhando a fotografia. Estão achando interessante. Agora entendi. A minha habilidade não é a escrita, é o olhar e a fotografia. Pensei que é por aí mesmo — relata. Desde jovem, a maior dúvida de Mauro envolvia saber qual era o seu talento. Fotos: Mauro J. Bettiol

— Todo mundo tem um talento que tem facilidade. E eu não sei qual o meu talento. Sempre fui um cara esforçado, mas qual será o meu talento? Acho que agora descobri o meu talento. O meu talento mesmo é a fotografia, porque às vezes eu enxergo coisas que ninguém consegue ver. Vem ao natural. Descobri o meu talento aos 50 anos, Deus me deu a resposta — comemora. Como cada um tem a sua missão aqui na Terra, Mauro conseguiu achar a sua. Na visão dele, a sua tarefa é promover a vida humana e passar a paz de espírito, afinal a arte é sinônimo de vida. E o melhor de tudo. Bettiol encontrou outro grande significado: o exemplo que dá para seus dois filhos. — Eles estão assimilando isso e estou mostrando que não interessa dinheiro. É sobre a parte humana, ser querido para as pessoas, não fazer nada de errado — acrescenta. No momento, Mauro se dedica exclusivamente ao seu hobbie


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cultural. Ele alega que fez uma inversão. Em vez de iniciar com esse processo de arte, que é muito difícil principalmente pelo lado financeiro, o fotógrafo se organizou e agora pode fazer a sua arte com o seu próprio suor. — Sou o meu próprio patrocinador. Livros e exposições tudo no meu braço. Nunca ganhei dinheiro de nada e nem precisei puxar o saco de ninguém. Estou investindo em mim mesmo. Todos nós podemos ser quem nós quisermos — manifesta o artista que aproveitou a pandemia para criar, e já está com cerca de quatro projetos de livros na “gaveta do computador”. Entre os seus principais trabalhos na região, estão a exposição “Os Segredos da Janela”, que foi sucesso na Galeria de Arte Gerd Bornheim, na Casa da Cultura, no início de 2020. A abertura quase alcançou o número de 200 pessoas, fora todas as visitas durante o período. No seu portfólio também estão exposições que falam sobre os quatro elementos da natureza e da metamorfose, além do livro “Cáp-

sula do Tempo - o julgamento do oceano”. Fora isso, teve suas fotos adicionadas na capa e interior do livro “Uma História de Amor” da escritora Lourdes Curra, bem como na capa do álbum musical do Ricardo Bigga. Bettiol conta ainda com diversos prêmios na Secretaria do Meio Ambiente de Caxias e do Sesc Porto Alegre. Seus maiores inspiradores são os seus pais. O pai é uma pessoa mais dinâmica e ativa e mesmo com apenas o quarto ano do primário, lhe ensinou as principais referências humanas: ser honesto, trabalhar bastante e gerenciar as economias. Já a mãe sempre foi uma dona de casa, que usou de muito amor e carinho para cuidar da família. NA CONTRACAPA: um dos tipos de fotografias capturados pelo caxiense chama-se pareidolia. Conheça mais sobre esse fenômeno lá atrás. PARA MAURO BETTIOL :: Um fotógrafo: Sebastião Salgado :: Um livro: “Quem pensa, enriquece”, de Napoleon Hill :: Uma fotografia: é autoral, mas não tem mais ela. Se trata da chave que encontrou o seu projeto. Uma raiz de árvore na beira do mar virou uma arte abstrata sob os seus cliques.


Vendo o mundo de outros ângulos

Fotos: Arquivo pessoal

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Emely Polli (esq.) é escritora e tem uma dupla com a irmã gêmea Aos 22 anos, Emely Polli respira arte. A caxiense é musicista, educadora musical e escritora. Desde pequena era encantada pelas letras e pelas artes, inventando histórias, se aventurando na natureza, conversando com os bichinhos e sentindo tudo que a vida tem para oferecer. O gosto pela arte veio de casa. Os pais sempre cantavam músicas e contavam histórias para as filhas gêmeas, Emely e Nicole, e assim foram incentivando para que am-

bas crescessem no mundo artístico. Para aumentar ainda mais esse fascínio pela cultura, quando pequenas participaram de variados grupos sociais artísticos. Atualmente, Emely Polli é vocalista e instrumentista no duo Delunar, juntamente com a irmã, além de ser educadora musical em uma escola e ser autora dos livros “Uma luz entre as trevas”, “O poder do amor”, “De volta ao paraíso” e “A fábrica”. Emely afirma que ela se inspira na própria vivência e nas formas que enxerga de sentir e existir. — Nunca tive grandes utopias, mas, sempre senti vontade de ver o mundo de outros ângulos — conta. Para ela, Emely Polli é a menina que ri e sonha, que percorre as linhas do coração como um trem às vezes gente grande, às vezes criança e que acredita nas expressões artísticas como o pulmão do universo.


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“Ei, fazer isso pode ser uma profissão!” Fotos: arquivo pessoal

Com 7 anos de idade, Luan Zuchi tinha um amigo de escola que mandava super bem com desenhos para a pouca idade que tinha. Ele se juntou ao colega e juntos começaram a estudar desenho, um dando dica para o outro. Em seguida, aos 8 anos, Luan descobriu as histórias em quadrinhos, em visita ao seu padrinho em Santa Catarina. O dindo do garoto possuia uma vasta coleção de quadrinhos do personagem Tex. Fascinado pelos desenhos realistas e pelas histórias do velho oeste, ficou clara a área para a qual dedicaria seu empenho: fazer quadrinhos como aqueles e quem sabe até entrar para a equipe da Sergio Bonelli Editore, editora italiana que publica o personagem. — Ainda não cheguei lá (na editora italiana), mas já venho produzindo quadrinhos há alguns anos e o mais recente deles, “De Passagem”, é um bom e velho faroeste. Com toda cer-

teza aquele primeiro contato com os quadrinhos e o despertar para a realidade de que “ei, fazer isso pode ser uma profissão!”, foi absurdamente impactante na minha vida — descreve o ilustrador, designer e quadrinista. Desde 2014, Luan vem produzindo quadrinhos independentes, além de outros trabalhos com ilustração. As suas ilustrações paralelas são as mais variadas, desde desenhos para uma fintech, startup do setor financeiro, até artes comissionadas, que são encomendas. Por um ano e meio, de 2018 a 2020, o artista atuou como ilustrador do jornal Pioneiro, do Grupo RBS. Atualmente, no auge dos seus 25 anos, Zuchi está lançando o quadrinho “De Passagem”, escrito pelo roteirista Luciano Ribeiro, no qual ele fez as


9 ilustrações e toda a produção gráfica. A HQ está saindo pelo seu selo independente, o Kong Comics, que já tem novos títulos sendo produzidos com previsão de lançamento no decorrer de 2021. Como o ser humano é movido por histórias, sejam elas vivências ou mesmo ficções, são os aprendizados oriundos dessas histórias que, segundo Luan, de alguma forma dão sentido ao cotidiano. Por isso, ele está sempre atento em busca de uma boa história que pipoca aqui e acolá. O artista tem uma lista ampla de inspirações, mas cita muitos dos quadrinistas italianos, com destaque para Fabio Civitelli e Zerocalcare.

A atual cena de quadrinhos nacionais, os filmes clássicos de terror, os livros com narrativas de suspense e as histórias policiais, com toques de pop art, são outras influências do ilustrador. Natural de Coronel Freitas (SC), Luan Zuchi já morou também em Tabaí e Flores da Cunha, ambos no Rio Grande do Sul. Há um ano, reside em Caxias do Sul. Ele se apresenta como uma pessoa que tenta levar uma vida saudável e equilibrada, sem deixar para trás os sonhos sinceros de infância. Um deles, inclusive, era fazer quadrinhos e viver disso. Algo que vem sendo realizado por Luan Zuchi.

PARA LUAN ZUCHI :: Um artista: Alphonse Mucha :: Uma pintura: As Estações (do Mucha) :: Uma cor: Atualmente, amarelo


De Caxias para o mundo!

A magia aconteceu em 1994. A apresentação de teatro para a escola em uma mostra estudantil no Teatro Municipal trouxe o encantamento da arte para a atriz e gestora cultural Aline Fernanda Zilli, de 35 anos. A experiência marcante de subir ao palco pela primeira vez, na Casa da Cultura, fez com que ela abandonasse os dois sonhos de criança: ser professora ou floricultora. Até hoje ela lembra do ponto de início na sua trajetória artística, das pessoas na plateia, do cheiro do espaço fechado e da sensação das luzes estarem pegando no rosto e ofuscando a plateia. Atualmente, Aline se divide em duas atuações, ambas ligadas e envolvendo a arte. Ela é atriz e trabalha na gestão e produção cultural. Sua busca é por formas de levar a arte do Grupo Ueba Produtos Notáveis, criado por ela e pelo ator, diretor, dramaturgo e escri-

Foto: Bruno Kriger/Divulgação

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tor Jonas Piccoli há 16 anos, para diversos espaços, possibilitando também a sua atuação como atriz. Hoje, os dois são noivos e preferem o termo “parceiros de vida e negócios” para designar a relação, que ganhou ainda mais fortalecimento com a criação do Ueba. O casal também é responsável pela administração da sede do Grupo, o Moinho da Cascata. Na estrada desde 2004, o Grupo Ueba, formado pelos dois, já perdeu a conta da quilometragem feita entre festivais, encontros de artes cênicas e sua busca pela melhor história, técnica e plateias inesquecíveis. Do sul do Brasil para os palcos internacionais. Seja nos palcos ou nas ruas. Do infantil ao drama, do comercial ao cômico, sempre com a sua originalidade de contar histórias. Aline também é presidente do Conselho Municipal de Política


11 Cultural, que busca a implementação de políticas públicas para a cultura em Caxias do Sul. Um dos seus projetos mais recentes foi a criação de um canal no YouTube dedicado ao público infantil e infantojuvenil, o Sótão da Flor. Nele, que conta com a direção e roteiro de Jonas, a atriz encena histórias, recebe convidados e inspira a criançada. Fotos: Jonas Piccoli/Divulgação

Além dos vídeos, recentemente Jonas lançou pela Editora Ueba um livro infantojuvenil que tem um caráter lúdico para tratar do enfrentamento da saudade. Com ilustrações do talentosíssimo Fredy Varela, o livro conta a história de uma criança inventiva em suas brincadeiras e que enfrenta em sua tenra idade uma situação difícil na família. Ela então faz amizade com um vizinho, e ensina ao seu novo amigo sua forma de brincar e ver o mundo, dando asas à imaginação, em um avião super potente, que usa sonhos e brincadeiras como combustível. Outro trabalho bem recente também é o espetáculo Vivita – A Noiva do Sol, uma homenagem para a jovem Vivita Cartier, artista e poeta gaúcha. A obra sensível

e encantadora, traz à tona a juventude roubada pelo mal do século e o amor proibido vivido por Vivita. Com direção e dramaturgia de Jonas e encenação principal de Aline, o espetáculo foi inspirado na biografia feita por Marcos Fernando Kirst. — É difícil definir as inspirações da gente (risos) — assim Aline define ao ser questionada sobre o que lhe inspira. A atriz e gestora cultural afirma que tem o costume de observar as pessoas que são engajadas em suas comunidades e batalham pelo coletivo, tanto na cena teatral em si como no protagonismo de ações sociais e culturais. Aline tem também admiração por muitas lideranças comunitárias, legitimadas pela prática. Ela acompanha ainda professores e educadores sociais, por ultrapassarem a barreira de suas profissões e fazerem a diferença. Dois nomes que são referências para Aline são Paulo Freire e Augusto Boal, porque os dois “trabalharam para a inclusão, um pela educação e outro pelas


12 artes”, declara. Aline se define como uma pessoa com pensamento positivo e que acredita que é possível um mundo melhor, e que ele vem da arte. A artista se mostra apaixonada pelas causas coletivas e por um olhar mais humano para o mundo, além de deter muita curiosidade e coragem. — Gosto de estar na natureza, de sentir que posso fazer a diferença no mundo, nem que seja apenas para os mais próximos, mas que assim uma coisa pode levar a outra. Acredito que tenho uma escuta sensível em prol da ação, especialmente em busca de justiça social — completa.

ALGUNS DOS ESPETÁCULOS

- As aventuras do Fusca à vela - Vivita - A Noiva do Sol - O incrível caso do sumiço das letras - Fábulas do Sul - O Circo ZeZ - Radicci e Genoveva - O Templário ALGUMAS DAS PUBLICAÇÕES

- Fábulas do Sul - As Aventuras do Fusca à Vela - O incrível Caso do Sumiço das - Letras - Zão e Zoraida em Mapa para Brincar Foto: Fabiano Knopp/Divulgação

PARA ALINE ZILLI :: Um filme: animação O Rei Leão – assistiu algumas centenas de vezes na infância, e só depois soube que era inspirado em obra do Shakespeare. :: Um artista: desde pequena ama Van Gogh e sua história de vida. E também admira muito Frida Kahlo em biografia. :: Um espetáculo: optou por três, todos do nordeste. Aldeotas – Do Gero Camilo / A Mar Aberto – coletivo de Atores a Deriva (dos primeiros espetáculos que viu na vida adulta e que lhe tiraram a respiração) / O Auto do Reino do Sol do Grupo – Grupo A Barca dos Corações Partidos


Foto: Luciana Ruzzarin/Divulgação

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O filho do pedreiro que ouve Mozart A arte cruzou o caminho de Henrique Bettiato Zattera, de 26 anos, ainda quando criança. O caxiense lembra que a família sempre valorizou muito a cena artística, quer seja consumindo obras cinematográficas e teatro, quer seja músicas. O cantor, publicitário e professor de Inglês conta que o pai achou uma explicação da sua escolha pela música. — Meu pai sempre disse que eu segui a área da música, pois sou filho do pedreiro que ouve Mozart — confidencia Zattera, que enaltece que a arte é o que dá sentido a tudo o que ele é e faz. O jovem encara a arte como um amigo que está ao seu lado em todos os momentos, e assim ajuda a dar um significado a tudo que ele sente. Quando pequeno, Henrique sonhava em ser ator ou cientista,

duas áreas bem opostas. Foi com o lançamento do primeiro álbum autoral, em 2019, que o cantor tornou a música o seu principal foco de atuação. Zattera explica que, por não se tratar de uma área simples de trabalhar, também se divide nas funções de publicitário e professor de inglês. Zattera procura sempre inspirações e influências para tudo que faz, mas ao se tratar de suas principais referências não deixa de citar os pais, Sergio Zattera e Alzira Bettiato Zattera. Para ele, os seus progenitores são grandes inspirações principalmente pela determinação e respeito com que levam a vida. Ao ser questionado sobre quem é Henrique Zattera na visão dele mesmo, o cantor responde que se declara uma pessoa que se re-


14 descobre diariamente e tem como objetivo principal ser um agente de mudança para um mundo mais humano.

Foto: Rafael Willms/Divulgação

PARA HENRIQUE ZATTERA :: Um artista: Sam Smith :: Uma música: Somebody to Love (Queen) :: Uma frase: “Sonhar com o impossível é o primeiro passo para torná-lo possível”, do Confúcio.

O guerreiro da periferia Fotos: Arquivo pessoal

“Um cara que superou muitas coisas na vida e supera ainda todo dia. É um guerreiro urbano, que é uma criança que se orgulha do adulto que se tornou, por conta de acreditar em um sonho que para muitos era impossível, e que hoje em dia

faz a diferença na vida de muita gente”. É assim que Andrigo Martins, de 32 anos, se autodenomina. Contrariando as estatísticas, o caxiense é arte educador e grafiteiro e acredita que a sua relação com a arte funciona como uma forma de sobrevivência e resistência. Sempre se destacou na escola por sua habilidade artística. As outras matérias não ganhavam muito a atenção dele, mas na educação artística sempre foi alertado pelos professores que tinha futuro nisso. Segundo Andrigo, graças a Deus, ele conseguiu enxergar isso muito cedo e insistiu muito, sendo que hoje em dia, é um adulto com realização pessoal, profissional e de vida, já que esse é o seu lifestyle. — Tento passar isso para a molecada, que a gente sofre muito, é


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muito difícil, ainda mais para morador de periferia, com a melanina um pouco mais escura e todos os preconceitos que existem, mas que a gente fez um caminho que a gente pode facilitar o corre dentro da profissão artista — revela Andrigo. A sua influência também surgiu dentro de casa. A mãe fazia biscuit para vender e seus irmãos também gostavam de desenhar. Como nunca foi ligado a futebol nem a videogame, o tempo de brincadeira era trocado pelo processo de criar. Andrigo tem dificuldade em separar o que é o Andrigo e o que são as vivências artísticas. Já está tudo em uma mistura homogênea. Afinal, a arte é a sua vida. Ele afirma que todas as suas aproximações pessoais e relações, bem como as melhores experiências vivenciadas, se devem ao contato com a arte. Com esse envolvimento com a cultura de rua, o artista é muito grato pelo feedback que tem da comunidade, porque, tenta sempre retornar o que vivenciou e aprendeu. Suas inspirações são as mais

diversas, mas cita profissionais que admira como Os Gêmeos, Banksy e Belin, como tantos outros grafiteiros, chargistas e escultores. Também definido como um semeador de ideias, ele não quer parar nunca de fazer as coisas que acredita e tentar deixar o máximo de pessoas felizes ao seu redor, principalmente aquelas mais vulneráveis. — Por experiência própria, sou um grande apostador da felicidade, um grande sonhador. Acho que é por isso que eu desenho, porque tento montar um mundo perfeito dentro das possibilidades que a gente tem. Me considero um guerreiro que vai batalhando dia após dia e que sempre vai estar estendendo a mão para quem precisar — conclui.

PARA ANDRIGO MARTINS :: Artista: Os Gêmeos, dois artistas irmãos que são precursores da arte no movimento hip hop. Otávio Pandolfo e Gustavo Pandolfo :: Pintura: várias :: Frase: “lutar sempre, perder talvez e desistir jamais”.


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Segue o baile Com apenas 19 anos, o caxiense Arthur Calgaro já tem no currículo a abertura dos shows dos cantores Michel Teló e Loubet, o último sendo o dono do hit Made In Roça. Isso porque o jovem é o gaiteiro de Chandy e Adrianno, dupla sertaneja da cidade, mas a sua atuação não para por aí. Além de acordeonista, Calgaro é professor de chula e de gaita e está iniciando um projeto com um amigo que leva o nome de Pepe e Arthur. E o destaque não fica só na gaita. O jovem dança chula, coreografia típica do Sul do Brasil, que já lhe rendeu diversos prêmios, entre eles, como campeão do Rodeio Internacional de Vacaria de 2016 e vice-campeão do mesmo evento em 2018. Arthur também representou nacionalmente o Rio Grande do Sul vencendo a categoria juvenil do Fegachula em 2016. Foto: Arquivo pessoal

Foto: Daniel Andrade/Divulgação

E o amor pela música não surgiu do nada. Vem de família, e de grande talento, por sinal. O avô materno toca gaita, uma prima canta, outro primo toca violão. E por aí vai. O incentivo vem dos próprios pais, Heitor Carlos e Mary. Mesmo ainda pequeno, Arthur já acompanhava os dois nas danças do CTG, além de tocar a sua gaitinha ao lado do pai, que também toca o instrumento. — Com a música e a dança foi que eu consegui tudo que tenho hoje. O meu único trabalho, até hoje, foi como músico e professor. Além de representar tudo que ganhamos, representa por ser algo muito bonito. A música, a dança e a arte em si, é uma das áreas que se expressa mais


17 Fotos: Daniel Andrade/Divulgação

sentimentos e emoção nas pessoas — assim responde Arthur ao ser questionado da importância da arte em sua vida. Suas principais inspirações são exatamente a sua família, seu professor de música Magnos Gasparini e dois gaiteiros famosos, Gustavo Mayer e Jeff Villalva. Do sertanejo antigo, Calgaro aprecia toda essa gama de artistas, valendo a menção de Milionário e José Rico e Leandro e Leonardo. O seu sonho é de fazer sucesso na música, mas ele já tem outros rumos, caso a área não lhe oferecer um sustento único. — Na música, querendo ou não, tu só consegue viver disso se tu faz sucesso, senão tu ganha um dinheirinho ali, e não é um salário que tu

vai crescer muito. Por isso, faço faculdade de Direito, que abre muitas outras portas, seja em concursos públicos, advocacia ou na área policial — projeta. Uma das perguntas mais complicadas para o jovem responder foi a de quem é Arthur Calgaro sob a visão dele próprio. Ele se designa como uma pessoa muita focada no que faz, que quando quer alguma coisa, vai atrás, insiste e estuda para aquilo. Uma das comprovações disso é o seu esforço para vencer o concurso de chula do Rodeio de Vacaria em 2016. — Eu queria muito ganhar, tinha dias que eu ensaiava de 8 a 6 horas por dia. Ensaiava de manhã, de meio-dia, de tarde, de noite, de madrugada. Teu corpo tem que estar preparado todas as horas do dia. Sou bem esforçado — completa.

PARA ARTHUR CALGARO

:: Cantor: Bruno e Marrone :: Música: Gritos de Liberdade


Pareidolia! Esse é um dos tipos de fotografias capturados pelo caxiense Mauro Bettiol (apresentado no início do fanzine). Mas o que é afinal? Pareidolia é um fenômeno psicológico que faz com que as pessoas reconheçam padrões nas coisas, ou seja, vejam coisas abstratas em uma real. Sabe aquele costume que a gente tem de procurar a figura de animais nos contornos das nuvens? Então, é isso!

O desafio é tentar descobrir o que o artista enxergou em cada fotografia abaixo. Divirta-se!

Fotos: cavalo de Troia, coração, mico-leão-dourado e joaninha

Fazendo Arte


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