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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Comunicação Social – Jornalismo Trabalho de Conclusão de Curso: Educação e Hábitos Alimentares da Geração Z: Como estar dentro da cozinha auxilia o desenvolvimento da criança
Guta Valente Orientação Editorial: Orientação Gráfica: Capa: Diagramação: Revisão de Texto: Fotos e Ilustrações:
Anna Flavia Feldmann e Salomon Cytrynowicz Valdir Mengardo e Francisco Camelo Lene Fernandes Lene Fernandes Wladyr Nader Arquivo Pessoal, Andrea B. Valente, Catarina Campos, Inah B. de Campos, João Paulo B. de Campos, Luísa G. Martinelli, Maria Fernanda B. Cavaignac, Pedro G. Martinelli, Vitor Campos Banca Avaliadora: Prof.ª Flaminia Manzano Moreira Lodovici (PUC-SP e Doutorada em Linguística) e Kika Melhem (Psicanalista) Palavras-Chave: Alimentação infantil, culinária, gastronomia, cozinha, infância.
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais (Lei 9.610/98) Valente, Guta Educação e Hábitos Alimentares da Geração Z:, Como estar Dentro da Cozinha Auxilia o Desenvolvimento da Criança/ Guta Valente, – São Paulo : 2015
São Paulo - SP NOVEMBRO - 2015
Sumário Dedicatória......................................................................... Introdução.......................................................................... 1. O Cenário da Alimentação Infantil no Brasil ........ 1.1 Crianças na cozinha, já! ............................................ 1.2 Contexto Social da Alimentação............................... 2. A Presença da Família................................................. 2.1 Atitudes e estratégias da família ...............................
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3.1 Educação Alimentar e a Culinária na Sala de Aula
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4.Considerações Finais ...................................................
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Agradecimentos ...............................................................
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3. O Papel da Escola ........................................................
Bibliografia .......................................................................
Dedicatória: Aos meus pais, que fizeram o possível e o impossível pela minha formação pessoal e profissional. Sem eles, não conseguiria ter chegado até aqui.
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Introdução:
Ao longo do curso de jornalismo nunca imaginei
que meu trabalho de conclusão viesse a ser sobre alimentação e criança. Embora houvesse me interessado pelas duas coisas, acreditava que terminaria a faculdade fazendo alguma análise sobre uma cobertura famosa, por exemplo, sobre política, economia ou qualquer um desses temas mais tradicionais que nos cercaram ao longo dos quatro anos. Confesso que não sei ao certo quando bati o martelo sobre o tema, nem quando surgiu a ideia de falar sobre algo que me cercou a vida inteira, mesmo com todos os meus amigos e familiares dizendo que o tema tinha tudo a ver comigo eu não dava bola para os comentários, por viver acreditando ser um hobby ler ou falar sobre algo de que gosto tanto. Acredito que o meu interesse pela gastronomia
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tenha surgido quando era pequena. Desde cedo meus pais me ensinaram os valores da comida e o prazer de saborear uma refeição em família. Além disso, costumavam me incluir no modo de preparação das nossas refeições. Claro que a minha curiosidade facilitou todo o processo desde cedo no meu envolvimento com a culinária, mas creio que se não fosse pelo estímulo e pelo modo como minha mãe, principalmente, me ensinou a me alimentar bem, conhecendo de perto os alimentos, não teria me tornado a pessoa que sou hoje. Além disso, a escola em que estudei teve certa parcela de contribuição em todo meu aprendizado: tornei-me ainda mais entusiasta da gastronomia ao lado dos meus coleguinhas de classe, graças a projetos que a escola criava com o intuito de passar informações sobre alimentação saudável e criando uma forma mais divertida no aprendizado diário. À medida que fui crescendo, o interesse foi só aumentado e
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um dos meus passatempos favoritos era estar na cozinha. A faculdade chegou e os questionamentos se tornaram ainda maiores, um assunto que era tratado como prazer virou uma inquietação enorme. Afinal, passei a enxergar a alimentação das crianças que ficavam a minha volta de forma diferente, mais crítica. Também percebi que o interesse das crianças pela cozinha é infinitamente menor do que quando eu tinha a mesma idade, mesmo com o grande aumento de programas de televisão, vídeos e sites infanto-juvenis ligados à culinária. Da necessidade de criar um projeto para uma das disciplinas do terceiro ano, surgiu um blog, o Cozinhando Amor, que me fez mergulhar no assunto e entender que o gostinho de estar na cozinha, ao lado de crianças, era muito mais do que amor, era uma necessidade que eu tinha de expor para o mundo a minha opinião e minhas ideias sobre a relação que esses dois universos tinham para mim. Talvez não o mundo, mas de início para os professores da PUC-SP, para os meus colegas de classe e para minha família, que muitas vezes duvidavam da seriedade da minha abordagem. O blog ganhou continuidade neste livro-reportagem, que tem o objetivo de aprofundar a questão: de que forma a culinária e a gastronomia pode se relacionar com o desenvolvimento e aprendizado das crianças? Neste livro, não tenho a pretensão de me tornar uma especialista no assunto. Pelo contrário, tive receio de 13
escrever com tamanha propriedade, algo que para mim era muito novo pelo qual estava me apaixonando a cada dia, a cada entrevista, a cada leitura, a cada pesquisa. Mas encarei tudo como um grande desafio, o primeiro de toda a minha vida, de revelar através da escrita, como dois universos, o da gastronomia e da culinária pode se relacionar com o da infância, possibilitando não só um estilo de vida mais saudável para as próximas gerações, como também mostrar um ponto de vista que acredito ser mais consciente sobre a alimentação, compreendendo que a alimentação não é só algo vital para o ser humano no dia a dia, como também uma experiência enriquecedora em diversos sentidos. Não sou nutricionista, médica, cientista, professora ou mãe – sou apenas uma jornalista curiosa para entender como a culinária e o ato de comer influenciam a vida das crianças hoje em dia, no mundo em que a pressa é diária e a importância de uma alimentação saudável, de uma refeição em torno da mesa, o cuidado ao apresentar os alimentos e a relação da criança com os mesmos tem sido cada vez mais banalizado na rotina das famílias brasileiras, que, com uma agenda atribulada, se esquecem de que o tradicional almoço em família pode ter um peso enorme na criação das próximas gerações. Espero que a minha curiosidade, o que eu descobri e tentei repassar ao longo deste trabalho de conclusão de curso possa despertar ainda mais a curiosidade dos leitores 14
desse livro, enxergando o cenário atual da alimentação das crianças, se lembrando do quanto o papel da família é primordial no desenvolvimento e crescimento da criança e que entenda que a escola é uma das grandes aliadas de qualquer pai e mãe, que busquem educar seus filhos da melhor maneira possível. Além disso, enxerguem nas idas ao supermercado, nas refeições em família aos domingos, no preparo do lanche da tarde, ao se arriscarem na culinária e até na moda da gastronomia gourmet uma oportunidade de se reaproximar daqueles que amam e contribuam para um desenvolvimento mais saudável das crianças e que encontrem no prazer de estar na cozinha uma forma de se relacionar, trocar experiências, histórias, aprendizados, carinhos, pois com amor e dedicação, não há prato sem sabor.
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CAPÍTULO
01
O Cenário da Alimentação Infantil no Brasil
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Está na moda, está na mídia, não se fala em outra
coisa a não ser em alimentação saudável, orgânica, sem glúten e sem lactose. Mas você já parou para pensar no por que tudo isso aparecer justo agora? Bom, não é de hoje que o mundo inteiro sabe da importância de uma alimentação cheia de regras, com as devidas quantidades e proporções de nutrientes no café da manhã, almoço e jantar. Mas quem é usuário da internet acompanha as maiores redes sociais e assiste à televisão, não ignora que o debate em torno de uma alimentação saudável se tornou um grande fenômeno nos últimos anos. Como jornalista, usuária assídua das redes sociais e antenada 24 horas na televisão, percebo que o constante debate em torno do que se tem sido servido em nosso prato. A análise daquilo em que acredito ser um grande fenômeno talvez fique para outro livro, outro projeto, mas não pode passar despercebido. Afinal, por que só agora a alimentação saudável se tornou algo tão preocupante nas famílias brasileiras e, além disso, como essa alimentação tem influenciado no desenvolvimento de nossas crianças? Há 40 anos, o Brasil se preocupava com erradicar a desnutrição. Hoje a obesidade é um dos maiores desafios que o país enfrenta no setor, passando da obesidade infantil à obesidade adulta. Tal fato pode ser explicado principalmente pelas mudanças socioeconômicas que o brasileiro vem sofrendo. A busca por maior praticidade e rapidez no cotidiano fez com que os hábitos alimentares 18
da população se alterassem. Alimentos tradicionais, como arroz, feijão e hortaliças, deixaram por anos de fazer parte da rotina do brasileiro, cedendo lugar a alimentos e bebidas industrializados, muito mais calóricos e menos nutritivos, além dos fast-foods encontrados em qualquer lugar nos centros urbanos do país. A inserção da famosa junk food em nossa rotina alimentar, que chegou a meados dos anos 70 no Brasil, se instaurou de vez em nossa sociedade e, hoje é uma grande vilã da alimentação, principalmente das crianças, que tem o acesso cada vez mais fácil a esse tipo de alimento e são cada vez mais estimuladas a consumir os chamados alimentos “plastificados”. A praticidade desse tipo de comida, incluindo os processados e industrializados surgidos nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial com a intenção de facilitar a alimentação em situações extremas e trazer uma nova tecnologia, fez com que as famílias virassem reféns de seu consumo impróprio, criando um ambiente alimentar nada saudável. A Pesquisa de Orçamentos Familiares, publicada em 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou o aumento percentual de pessoas com excesso de peso e obesas pelo país inteiro. Atualmente o Brasil possui mais de 65 milhões de pessoas em excesso de peso, 40% da população, enquanto 10 milhões são considerados obesos. Tais números levam a concluir que o país sofre uma epidemia, principalmente em relação 19
à obesidade infantil, tanto que o IBGE registrou que 33,5% das crianças sofrem de sobrepeso ou obesidade, ou seja, um terço das crianças entre 5 e 9 anos está acima do peso. E 3 em cada 10 crianças em idade escolar são obesas, conforme indicam dados do Ministério da Saúde. A quantidade de crianças com problemas com a balança vem aumentando – e isso não é muito difícil de perceber. Ela mostra que, entre 5 e 9 anos, 16,6% das meninas e 11,8% dos meninos estão obesos. Em 1989, a estatística era de 4,1% para os meninos e 2,4% para as meninas dessa faixa etária. Um novo estudo agora reforçou o impacto da obesidade no futuro da criança: cientistas da Universidade de Oxford, Inglaterra, constataram que crianças obesas e com sobrepeso têm um risco de 30% a 40% maior de sofrerem infarto, na vida adulta, do que aquelas que têm peso normal. A realidade não apenas do Brasil, como do planeta, faz com que pessoas como o chef britânico Jamie Oliver levantassem a bandeira em prol da educação e informação sobre alimentação saudável das crianças. Durante a conferência de Tecnologia, Entretenimento, Design, o TED, em 2012, Oliver, que está há dez anos lutando pela causa, mostrou que os Estados Unidos é um dos países com a pior alimentação da América e os adultos das últimas quatro gerações contribuíram ao longo dos anos para que a geração de crianças de hoje em dia sejam as primeiras a ter uma expectativa de vida dez anos menor 20
do que as anteriores, um reflexo da má alimentação. O mesmo acontece no Brasil, já que o POF 2009, realizado pelo IBGE, conclui que, “em cerca de dez anos, o excesso de peso poderia alcançar dois terços da população adulta do Brasil, magnitude idêntica à encontrada na população dos Estados Unidos”.
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O IBGE sugere que o aumento de peso se deve às “mudanças nos padrões de alimentação e de atividade física da população. A análise de suas pesquisas de orçamento familiar realizadas até 2002-2003 revela tendência crescente de substituição de alimentos básico e tradicional na dieta brasileira (como arroz, feijão e hortaliças) por bebidas e alimentos industrializados (como refrigerantes, biscoitos, carnes processadas e comida pronta), implicando aumento na densidade energética das refeições e padrões de alimentação capazes de comprometer a autorregulação do balanço energético dos indivíduos e aumentar o risco de obesidade na população (LEVY-COSTA et al., 2005).” Em 2013, o IBGE realizou a Pesquisa Nacional de Saúde, que revelou que o excesso de peso atingia 56,9%, ou 82 milhões de pessoas no país. Além disso, o levantamento mostra que os hábitos alimentares dos filhos refletem os dos pais. Até os dois anos, 60,8% das crianças comiam biscoitos e bolachas ou bolo e 32,3% tomavam refrigerantes ou suco artificial, alimentos com alta concentração de açúcar, segundo o levantamento. Das crianças entre 9 e 12 meses, 50,6% receberam aleitamento materno de modo complementar a outros alimentos. Conforme o documentário “Muito Além do Peso”, de 2012, a obesidade é a maior epidemia infantil da história e mostra que as consequências de uma sociedade formada por crianças gordas vão além da aparência física. O médico endocrinologista Amélio F. de Godoy Matos 23
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conta em entrevista nele, que a obesidade é uma doença que desencadeia uma série de outras, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares (maior causa de mortalidade do mundo atual vêm da obesidade ou do excesso de peso), depressão, estresse e alguns tipos de câncer. As grandes pandemias modernas têm como base o excesso de peso. Entretanto a má alimentação não é a única causadora da obesidade e/ou excesso de peso infantil. Na sociedade tecnológica em que vivemos, é cada vez mais comum vermos que a prática de exercícios físicos e brincadeiras ativas entre as crianças têm sido trocadas pela televisão, videogames, celular e tablets, entre outros. Além disso, a mídia tem uma parcela de culpa, já que dá abertura à publicidade infantil de redes de lanchonetes e empresas alimentícias multimilionárias, que vendem seus produtos associados ao bem-estar, usando como, por exemplo, personagens de desenhos infantis para promover o consumo desses alimentos industrializados e ultra processados. Em consequência disso, a televisão, maior veículo de comunicação e onde a publicidade infantil usa como ferramenta para veicular sua propaganda, se tornou uma espécie de babá eletrônica pelos pais para auxiliá-los no controle do dia a dia da vida de seus filhos.
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Crianças na cozinha, já!
O cenário preocupante já reflete na mudança de
comportamento das famílias brasileiras, que aos poucos vem tentando alterar seus hábitos alimentares, o que resulta em um debate constante sobre a alimentação saudável. Assim como na mídia, em que todos os veículos de comunicação passaram a se preocupar mais em transmitir informações e programas relacionados a esse tipo de alimentação, como também a publicidade infantil virou alvo de questionamento entre telespectadores e especialistas na área. O problema disso tudo é que agora, com um mercado estabilizado e o costume de se alimentar desses alimentos nada saudáveis foram enraizados, as crianças estão relutantes quanto à mudança que precisam encarar. Assim, o mercado de consultoria de alimentação infantil, escolas de culinária, nutricionistas e o auxílio de
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psicólogos vêm crescendo cada vez mais, já que mesmo as famílias sendo consciente daquilo que precisam mudar, ainda sentem grande dificuldade em abandonar a comida congelada e rápida, para voltar a entrar na cozinha, preparar as refeições com calma e fazer do almoço, uma experiência agradável, saborosa e consequentemente mais saudável, assim como acontecia nas gerações passadas. A paulista Tatiana Tomita Torrieri Gomes, de 35 anos, nutricionista e mãe da Barbara Tomita, de apenas 2 anos, viu sua vida mudar com a crescente procura dos brasileiros por instrução na alimentação de suas crianças, ao dar início neste ano o projeto nas redes sociais, como Instagram e Youtube, o “Mãe Nutricionista”, em que com a ajuda de sua filha, através de vídeos interativos, passa seus conhecimentos para outras pessoas que se veem em uma grande enrascada quando o assunto é a educação alimentar de seus filhos. Para ela, a cultura alimentar dos brasileiros é muito parecida com a dos Estados Unidos, e o reflexo dessa globalização e a cultura entre os povos trouxe ainda mais problemas para a nossa alimentação: “A cultura de um povo pode ser influenciada pela cultura de outros povos e este fato tornou-se mais comum com a globalização. O Brasil já sofre uma enorme influência da cultura norte-americana, principalmente nos aspectos alimentares. Podemos 27
dizer que os brasileiros cada vez mais estão adquirindo o modo americano de se alimentar. O padrão alimentar brasileiro já teve uma grande diminuição de consumo dos produtos tradicionais da dieta, como por exemplo, o feijão e a farinha de mandioca, e a favor de produtos industrializados, fast foods, o que passou de modismo à uma opção permanente. Os maiores desafios hoje: a falta de tempo (ou a pressa) e a modernização. O tempo é um dos grandes inimigos do ato alimentar. Os alimentos são comprados quase prontos para o consumo, pré-cozidos, pré-preparados, pré-temperados, congelados. Assim como a relação de afeto que antes permeava as refeições em família ou com amigos, hoje cede lugar a uma alimentação onde o aparelho de TV, aparelhos celulares, tablets, computadores são a principal companhia. Essa modernização é um grande apelo a comer demais.”
Não é preciso sair de casa para perceber a realidade do cenário brasileiro, principalmente entre a classe média e alta da sociedade, que na televisão encontra com facilidade e em grande quantidade, programas que tentam auxiliar de alguma forma os pais na melhor maneira de alimentar suas crianças, como “Socorro! Meu Filho Come Mal”, do GNT, em que a nutricionista carioca Gabriela Kapim ensina em cinco passos como fazer uma criança 28
comer de forma adequada. Para isso, surge a necessidade de algo que as crianças do século XXI estão pouco acostumadas a fazer: entrar na cozinha e se aventurar a preparar suas próprias refeições, claro, que sempre acompanhadas de algum responsável ou dos pais. É dentro da cozinha, na culinária, que a criança desenvolve suas preferências alimentares, daí a importância dela ter sempre o contato com os alimentos e estar sempre em torno desse ambiente, algo que já não é tão comum nos dias de hoje. No artigo escrito pela professora de Nutrição da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFRGS), Maurem Ramos, sobre o desenvolvimento do comportamento alimentar infantil, sugere que o hábito alimentar dos pré escolares, é estritamente caracterizado por suas preferências alimentares, já que nesta idade elas acabam consumindo em sua maioria das vezes, apenas o que gostam. Além disso, essa preferência alimentar surge a partir de uma tendência a consumir determinado tipo de alimento, que é originada na socialização alimentar da criança, que depende dos padrões de cultura alimentar e do grupo social a qual a criança pertence, assim, a família é a responsável pela transmissão dessa cultura alimentar, o que irei tratar em outro capítulo. Maurem então resume os aspectos culturais na expressão “culinária”, “que se refere a pratos específicos e como são preparados, envolvendo ingredientes, sabores 29
característicos e modo de preparo. A culinária é responsável pelas combinações dos alimentos, ou pelo processamento dos mesmos, tanto em nível doméstico quanto industrial, adaptando-os para manter suas vantagens nutricionais e para atender às necessidades biológicas e metabólicas do indivíduo”. Ela ainda explica que a escolha dos alimentos usados na culinária, varia dependendo da classe social e são ditados por regras com especificidades culturais e econômicas, que podem ser vistas de formas diferentes, como “razões psicológicas para aceitação e rejeição dos alimentos, classificados pelas sugestões sensórias (gosto bom, ruim, sem gosto), consequências de comer determinado alimento (benéfico, perigoso), fatores ideacionais (pela utilidade do alimento, apropriado ou inapropriado, aparência, higiene), que influenciam na escolha dos alimentos.” Mas que as escolhas alimentares de qualquer ser humano são estabelecidas em sua maioria das vezes por uma força cultural, e que a criança por sua vez, não come apenas pela “a sugestão da fome, mas também pela sugestão do ambiente e do contexto social como, por exemplo, brincando com amigos na pracinha ou em festas de aniversários”, o que coloca mais uma vez a família em primeiro plano, já que é uma das maiores responsáveis pela transmissão cultural alimentar e a educação alimentar de uma criança em desenvolvimento.
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Contexto Social da Alimentação
Especialistas em alimentação infantil são unânimes
quando explicam que o contexto social da alimentação é o que mais influi na educação alimentar das crianças. A experiência alimentar, a influência dos padrões de alimentação, o desenvolvimento socioemocional da criança e a qualidade da relação pais-filhos, estão totalmente ligadas ao contexto social em que a criança vive como sugere Maurem Ramos em seu artigo. Para falar do contexto social em que a criança está inserida, podemos debater sobre dois universos que irei tratar mais à frente: primeiramente, a família, que como foi dito anteriormente é responsável pela transmissão cultural alimentar da criança em desenvolvimento, assim como os padrões alimentares que a criança venha a ter, e na escola, universo que está inserido em segundo plano, mas não deixa de ser menos importante, principalmente nos
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dias atuais, onde os pais depositam todas suas expectativas para a criação de seus filhos, já que com a rotina corrida acabam deixando as crianças em tempo integral, onde muitas vezes a criança faz todas suas refeições diárias, com o auxílio de professores, nutricionistas e ao lado dos colegas de classe. Dois universos tão interligados e com papeis tão parecidos em relação à educação alimentar que muitas vezes acaba ficando confuso para os pais os separarem, por inúmeros motivos que serão apresentados mais à frente. Antes da introdução alimentar e do ambiente escolar ser inserido na vida dos pequenos, precisamos lembrar de uma fase muito importante que acontece na vida da mãe e filho, muito relacionada com o desenvolvimento socioemocional da criança e da qualidade da relação entre pais e filhos: o aleitamento materno. É durante a amamentação que ocorre o primeiro contato da criança com o mundo. Um vínculo criado entre mãe e filho, que em sua maioria das vezes ocorre de forma natural, já que instintivamente a criança já nasce procurando o alimento. É o primeiro laço afetivo criado entre os dois, a mãe que tem a tarefa de fornecer o leite, primeiro alimento do bebê, capaz de suprir todas as suas necessidades, não só o protegendo de doenças, mas também estimulando seu desenvolvimento, sua fala e lhe colocando em contato pela primeira vez com sabor, textura, etc. 32
“Durante a amamentação, o reflexo da expressão orofacial é interpretado pelos pais como resposta ao prazer ou desgosto aos sabores, o que permite uma forma de comunicação durante o período de lactação.” explica Maurem Ramos. É durante esse período que ocorre aprendizado recíproco entre mãe-filho, além do surgimento laço afetivo e o desenvolvimento do bebê em diversas formas, que é tão importante quanto à necessidade de suprir a fome do bebê, como sugere a nutricionista Tatiana Tomita: “A experiência de se alimentar oferece não apenas um ato de nutrição ou de “matar a fome”, mas também a oportunidade de aprendizagem. Afeta não só o crescimento físico e a saúde do bebê, mas também seu desenvolvimento psicossocial e emocional. A amamentação é o evento primário no aspecto de alimentação na vida da criança, que além de nutrir e alimentar tem-se ali uma intensa relação afetiva mãe e filho. É um primeiro momento de aprendizagem emocional: o olhar, o contato, o carinho, o sorriso, o acalento”. Após o desmame, a introdução alimentar é o segundo passo na vida da criança, que passa a conhecer outros alimentos que são oferecidos a ela. Tão importante quanto na fase de aleitamento, a família, primeiramente, 33
é quem ditará as regras e as preferências alimentares da criança, à medida que cresce e vai se desenvolvendo. É a partir daí, que surge a importância da aproximação da criança com os alimentos, se familiarizando a cada refeição com aquilo que lhe é oferecido. Se a criança estiver inserida em um contexto social de alimentação em que ela possa se aproximar da culinária e da gastronomia, é possível que a criança não se relacione apenas na forma de entender como se deve dar o consumo dos alimentos saudáveis para ter uma vida equilibrada, passando bem longe das estatísticas preocupantes do nosso país. É aprender desde pequeno como se alimentar de forma correta, se envolvendo com os alimentos, conhecendo sua textura, cor, sabor, estimulando sua função motora, sua capacidade de relacionar com a comida e as pessoas que estão ao seu redor. Assim, como diversos momentos existentes entre a família e a escola, a criança deve ter o contato com o alimento desde suas escolhas, sua preparação, o momento que é servido e finalmente ao comer, despertando o interesse da criança pelo que ela consome e pela gastronomia, ferramenta aliada à educação alimentar que deve ser recebida tanto em casa como na escola, sendo ela o fundamento de tudo aquilo que engloba alimentação, desde o prazer pela comida passando pelo modo como o alimento é preparado de forma a extrair todos os seus benefícios até sua apresentação; ampliando o conhecimento e a aceitação dos alimentos, criando 34
assim, uma refeição mais atrativa e incentivando a criança a aprender sobre aquilo que ela ingere, podendo levála a desenvolver diversas habilidades através de oficinas culinárias ou até mesmo ao auxiliar a preparação em casa, momentos que aproximam a criança da família e podem vir a ajudar a superar certas dificuldades de aprendizados que possam surgir durante seu crescimento.
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CAPÍTULO
02 A Presença da Família
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“A família é o ponto inicial no sucesso da alimentação da criança, já que é ela a responsável por introduzir e apresentar os alimentos adequados e, consequentemente, formar as preferências e os hábitos alimentares desta criança.” É o que explica a nutricionista Tatiana Tomita ao falar da importância da família e o que ela representa na educação alimentar da criança. Responsável pela transmissão cultural alimentar da criança em desenvolvimento, assim como os padrões alimentares que a criança venha a ter, a família é quem dá início a introdução alimentar da criança, ou seja, é a maior responsável por aquilo que a criança vai passar a experimentar e comer no dia a dia. São infinitos os métodos, tanto na ciência tradicional, como alternativa em relação a como essa introdução alimentar é feita. Inerente a isso, está o fato de que a criança terá sempre como ponto de referência seus pais e irmãos para sua alimentação. São eles que não só ditarão as regras do que entrará no cardápio da criança a cada dia, como também serão o espelho da criança na alimentação, além de determinar as preferências alimentares, daí a importância da aproximação da criança com os alimentos, se familiarizando a cada refeição com aquilo que lhe é oferecido. Apesar de na teoria parecer tudo muito simples, 38
na prática a história é outra! Quem nunca ouviu algum caso ou presenciou alguma situação em que a criança se recusava a comer determinado a alimento, ou simplesmente não fazia ideia da existência de tal fruta? Muitas vezes essas preferências alimentares da criança, assim como o repertório de sua alimentação no dia a dia e suas escolhas, são determinadas com base na alimentação que os pais possuem. Assim, muitas vezes o que acaba acontecendo é de haver um número limitado de alimentos, já que inconscientemente os pais se esquecem, ou não oferecem a grande variedade existente na refeição de seu filho, como por exemplo, casos de mães que não comiam qualquer tipo de fruta, então acreditavam não haver a necessidade de comprar frutas para que seus filhos as experimentassem. Sem se dar conta, a família pode inibir a criança de explorar o universo gastronômico quando ela passa a entrar em contato com a comida, por isso a tendência a consumir determinado tipo de alimento, originada na socialização alimentar da criança, depende dos padrões de cultura alimentar da família e do grupo social a qual ela pertence como explica a nutricionista Maurem Ramos. A cultura alimentar da família é que vai interferir no desenvolvimento da alimentação da criança, portanto, se o repertório da mãe ou pai for pequeno, consequentemente, a de seus filhos também poderá ser, caso não haja uma atenção desses responsáveis por desenvolver de uma boa 39
forma a alimentação de seus pequenos. “Com a introdução alimentar temos a expansão do componente social da alimentação. A interação social por meio de comunicação verbal e não verbal. A participação da criança nas refeições familiares, o fato dela imitar as escolhas de alimentos, o comportamento das pessoas da família (ou cuidadores) e o temperamento da criança também influenciam na relação alimentar”, como explica Tatiana Tomita. É importante lembrar que, antes da tarefa de repassar uma alimentação saudável e influenciar a criança com bons hábitos alimentares, a família é o grupo social mais importante nas refeições. O ato de comer é um processo vital na saúde de uma pessoa e, antes mesmo de se pensar em fazer uma alimentação saudável é preciso entender que a cultura alimentar pro trás de uma criança desenvolvida, com autonomia para escolher seus próprios alimentos, vem da família, como já havia sido dito: o mais importante grupo social nas refeições. Mas antes de se pensar em uma alimentação saudável, regrada e que seja funcional para o organismo de qualquer ser humano, seja ele uma criança ou adulto, é preciso refletir sobre o peso que o grupo social no qual se está inserido tem a importância na hora de determinar 40
como ele irá se desenvolver - não só quanto ao que se diz respeito à alimentação - mas também como ser humano ao longo dos anos. Esse grupo social pode variar de cultura para cultura. No caso do Brasil, um país que, culturalmente falando, ainda possui o hábito de comer reunido, pode-se dizer que as refeições em família ainda estão presentes na vida dos brasileiros, o que é positivo para o país, já que suas crianças ainda estão tendo como base, sua família, para se espelhar e desenvolver seus hábitos alimentares. Como vivemos em um mundo globalizado, é possível perceber que em cada país as refeições se dão de maneira distintas. Embora, também possua muitas semelhanças como que o caso do Brasil e de países do continente europeu, que por sua essência, possuem o hábito de fazerem suas refeições reunidas, em família, prezando por esse momento quase sagrado na rotina da familiar. Diferentemente dos Estados Unidos, onde é mais comum ver pessoas fazendo sua rotina alimentar sem qualquer companhia ou, quando estão em família, não se importarem em comer em horários diferentes, sendo mais raro e em apenas ocasiões mais especiais que uma refeição em família aconteça, o que resulta no maior consumo de alimentos congelados, fast foods, lanches e etc., já que a rotina do norte-americano também é muito mais intensa do que no restante da América. E apesar da família ter toda essa importância, 41
sendo um dos principais fatores no desenvolvimento da alimentação da criança, por determinar as preferências alimentares e em ser o exemplo, é preciso refletir um pouco mais a fundo sobre essa questão. O ato de comer junto, em família, em torno da mesa, é muito antigo e, por mais banal que possa parecer, ele possui um grande peso na vida de uma pessoa. Tais circunstâncias são importantíssimas quando se pensa no desenvolvimento de uma criança de forma geral, afinal a transmissão cultural alimentar da criança, se dá pela família e, isso pode variar de acordo com o ambiente e cultura que a mesma está inserida. Mas mais do que isso, o ato de comer junto, em família e em torno da mesa, é muito antigo e envolve inúmeras questões. O que quero dizer é que: a família pode ser quem dará o exemplo para a criança que está se desenvolvendo adquira hábitos e costumes de comer alimentos saudáveis para seu organismo e crescimento, mas a socialização alimentar é também importante, pois ela desenvolve diversas questões humanas. O ato de comer não é um processo apenas que envolve a necessidade física do ser humano de matar sua fome e de fornecimento de energia para o organismo. A refeição é também um ato relacional, seja ela feita em família, com amigos, colegas de trabalho ou parceiros amorosos. A comida possui um ato de sociabilização e relacional muito grande. O comer não é simplesmente 42
sentar e matar sua fome. O modo como se relaciona com a comida, de que forma essa refeição é feita, como ela é feita, é também um autoconhecimento e está em jogo a cada vez que é feita uma refeição. Se pararmos para pensar, não é difícil perceber como a refeição é também um ato de sociabilização. Afinal, a comida está presente em diversos momentos de nossa vida, como: em reunião de trabalho, em um happy hour, uma festa, um encontro com amigos ou parentes e até mesmo em um primeiro encontro amoroso. A comida está presente em qualquer reunião que aconteça na vida de uma pessoa, seja da natureza que for. São raros os momentos em que a comida não está envolvida quando acontece algum tipo de encontro, nem que seja apenas um cafezinho acompanhado de uma bolachinha, no bar, no restaurante, em casa ou em uma reunião. Indiretamente ou diretamente, ela está inserida em todos os tipos de encontros existentes entre as pessoas, a relação formada entre elas e o elo que é formado se dá muitas vezes pela comida, como uma “ferramenta” utilizada para a aproximação entre determinado grupo. E as refeições estão envolvidas principalmente nas reuniões familiares, o que varia de acordo com o país e sua cultura, mas como dito anteriormente, no caso do Brasil a presença da comida é ainda muito forte e um dos pilares que sustenta e usado como desculpa para determinado encontro, daí a importância da família ser fator principal 43
no desenvolvimento alimentar da criança, também. Os momentos em família em torno da mesa não só propiciam o ato de matar a fome de seus pequenos, mas de uma experiência em família, de se criar uma relação entre mãe ou pai e filho, uma vez que não é só quando se reúne a família inteira, como tios, avós, primos e se estende para um grande evento, mas no dia a dia, quando pais e filhos se encontram para almoçar ou jantar, no final do dia e contar suas novidades, resolver problemas, passar um tempo juntos. É preciso lembrar ainda que, por mais que o país tenha enraizado em sua cultura os “tradicionais almoços” entre os parentes e amigos, e que cada pequena família em sua casa ainda se reúna pelo menos em uma refeição do dia, muita coisa vem mudando para os brasileiros nos últimos anos. A rotina intensa de pais e mães que tentam conciliar suas carreiras com a vida dos filhos, que desde cedo já são inseridos em uma série de atividades que ocupam a maior parte do tempo de suas vidas, traz esse afastamento da família, de se reunirem todos os dias em torno da mesa, já que muitas vezes acabam preferindo a comida rápida e pronta para o consumo diário, a fim de agilizar o tempo e realizando outras tarefas. Por isso, esse momento deve ser encarado com ainda mais seriedade por pais e mães que pretendem passar bons hábitos alimentares aos seus filhos, já que sem o apoio dos mesmos as crianças poderão enfrentar dificuldades em sua educação alimentar. 44
Além disso, a importância de se aproximar da cozinha não se dá apenas pensando na alimentação saudável que a criança irá desenvolver, mas também todas as questões que se pode trabalhar ao longo de seu crescimento, como questões motoras, lúdicas, aprendendo a se relacionar na mesa, questões realmente humanas, já que o universo gastronômico tem o poder de influencias e estimular as pessoas a interagirem entre si. Então desde cedo, ainda quando é feita a introdução alimentar, é necessário que a família não só enxergue na refeição, o ato de comer e estar matando a fome de seu pequeno, mas fazer dela uma experiência, afinal, é a partir deste momento que a criança tem um contato maior com a comida e esse ambiente e, se entender desde cedo da importância dessa familiarização com os alimentos, encarando as refeições com seriedade, poderá ser um adulto saudável, com uma alimentação regrada, mas também terá tido grande influência da culinária e gastronomia para seu desenvolvimento como ser humano.
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Atitudes e estratégias da família
Para que o desenvolvimento da alimentação da
criança e sua educação alimentar ocorram de maneira tranquila, é preciso que a família tenha algumas atitudes logo no início da introdução alimentar. Além de estratégias caso a criança apresente algumas dificuldades para desenvolver bons hábitos alimentares e o receio de ter contato com os alimentos e o ambiente da cozinha e em torno da mesa. A nutricionista Tatiana Tomita explica que para o desenvolvimento de hábitos saudáveis é preciso de uma boa educação alimentar e, desde cedo: “O incentivo começa com uma boa educação alimentar, desde a introdução alimentar, a partir dos seis meses de idade. O segredo é ter dedicação, paciência, persistência e carinho para ter sucesso. É comprovado que a base dos hábitos alimentares é formada nos primeiros anos de vida, e o paladar e
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as preferências alimentares adquiridos neste período tende a se estender por toda a vida. As opções menos saudáveis e /ou influenciadas pela publicidade, por outras crianças, podem até estarem presentes, eventualmente, na alimentação da criança, porém se houver uma boa educação alimentar e a influência positiva dentro de casa, isso não será rotina!”. Além disso, Tatiana acredita na importância da criança ter contato com os alimentos desde cedo, ser estimulada a participar e saber o que está comendo é importante desde a introdução alimentar, quando a criança ainda é um bebê: “Acho fundamental fazer a criança saber o que está comendo. Sempre oriento as mães, babás, avós, familiares a não fazer “mistura” de alimentos. É importante oferecer variedade, porém tudo separado! A criança tem que saber distinguir o que está comendo, cada alimento separado. Saber a textura, formato, cheiro, sabor de cada um, separado. Isso ajuda a identificar quais alimentos são melhores aceitos pelas crianças. Além disso, a conversa é sempre importante! Estimular a criança a participar, incentivá-la, ajuda a criar autonomia. Acredito que essa autonomia e confiança se estendam para outras áreas na vida dessa criança”. A nutricionista ainda lembra que além da introdução alimentar ser o período fundamental para que a criança comece a desenvolver uma alimentação saudável, ela também acredita que a interação social tem a ver com 47
o desenvolvimento da criança como ser humano, além de se relacionar completamente com a relação alimentar dele e seus hábitos: “Incentivar a autonomia de escolha em relação aos alimentos, a ordem, forma, velocidade com que ela quer se alimentar, bem como a hora que quer se alimentar e a quantidade de alimentos, ajudam a criança a desenvolver a autorregulação. Todas essas habilidades adquiridas em torno da alimentação (emocional, psicológica, motora, social) vão sendo desenvolvidas e aplicadas às diversas áreas na vida da criança”. Já no período em que a criança tem o discernimento para aceitar ou recusar os alimentos, muitas vezes algumas barreiras são criadas para que o consumo dos que fazem bem a saúde da criança seja ingerido, uma vez que a oferta das guloseimas, salgadinhos, industrializados, alimentos processados e ultra processados, como tantos outros que não saciam a fome da criança e não são saudáveis, são de acesso cada vez mais fácil aos pequenos. Além é claro, de muitas vezes pela praticidade com que esses alimentos possuem para família no dia a dia corrido de suas vidas, são oferecidos com maior frequência para economizar tempo. Por isso, a importância dos pais e responsáveis terem atitudes centradas na hora de alimentar suas crianças. 48
Entender que se desde cedo a criança tiver contato apenas com alimentos saudáveis, ela tenderá a ter um hábito alimentar excelente ao longo de seu crescimento. Para a chefe de cozinha natural e apresentadora de TV, Bela Gil, a boa educação é o segredo para o sucesso: “É só ensiná-la que cada decisão alimentar que ela tomar terá uma consequência diferente, tentar inserir os alimentos doces depois dos alimentos neutros (pois o açúcar, mesmo o da fruta, é viciante e uma vez que a criança prova aquilo fica mais difícil inserir os alimentos menos doces). E ajudála a diferenciar o hábito do extraordinário. Comer besteira de vez em quando não tem problema, o problema é tornar este consumo frequente. Não incentivo a proibição nem a implicação de nada, apenas a boa educação.” Colocar a criança em contato com os alimentos, dentro da cozinha, para haver uma aproximação com o que se está comendo e criar uma relação com os mesmos e durante as refeições é fundamental, desenvolvendo não só hábitos saudáveis, mas também descobrindo cheiros, sabores, texturas, desenvolvendo questões motoras, aprendendo a mastigar, respirar e funções que auxiliam no crescimento da criança e seu aprendizado. Para a nutricionista Andrea Mariana Teixeira, "a criança está em processo de formação, orgânica, psicológica, social, além dos hábitos alimentares. Sabe-se que esses hábitos desenvolvidos durante a infância tendem a solidificar-se na vida adulta. Uma vez que hábitos incorretos estão relacionados a 49
problemas diversos de saúde e a prevenção deve iniciar desde a infância, por meio da educação alimentar." Portanto, a dica das nutricionistas também é fazer da refeição em família um momento único e sem distrações logo, a TV, celular e todos os aparelhos eletrônicos e situações que podem tirar a atenção da criança e da família do envolvimento com sua refeição deve ser proibido durante o momento. Para Andrea a participação da criança na cozinha e nas atividades relacionadas a suas refeições são fundamentais para desenvolver bons hábitos alimentares, costumes e para que a criança tenha um desenvolvimento adequado ao longo de seu crescimento: “Qualquer ser humano possui mais interesse e desenvolve maior valor ao que ele próprio desenvolveu. Assim, participar ativamente da alimentação, como na criação de hortas, na montagem e decoração de pratos, na escolha dos alimentos em feiras e supermercados, tudo dentro da capacidade da criança, pode aumentar seu interesse em provar diferentes alimentos. Além disso, dessa forma a criança aprende a origem dos alimentos e passa a encarar com naturalidade o consumo de produtos naturais. É essencial que os pais também possuem hábitos alimentares saudáveis, pois a criança os tem como exemplo, e tendem a imitálos a fim de alcançar a mesma saúde e estado físico 50
mental/psicológico.” O incentivo, encorajamento e o exemplo da inserção da criança em um contexto em alimentação saudável, são fundamentais, mas é preciso prestar atenção principalmente na relação da criança com o alimento, que só se envolverá com aquilo que está comendo e terá interesse, se despertarem sua curiosidade. A nutricionista Tatiana Tomita, ficou conhecida pelo seu trabalho nas redes sociais por exibir vídeos de sua filha, Bárbara, de 2 anos, que fala rapidamente, sem timidez, sobre os alimentos que consome e os tipos de nutrientes que está ingerindo, virando uma febre na internet, por ser capaz de falar com tanta facilidade e ter um repertório tão grande ainda muito pequena. Como mãe e nutricionista, é possível perceber que de fato Tatiana ao mostrar, explicar e conversar com Babi, ela obteve resultados, despertando sua curiosidade, a fazendo se envolver no universo gastronômico, participando ativamente dessa relação com a comida e sua refeição, pois lhe entregar no prato o que é saudável e só explicar não basta, é preciso que a criança participe na compra, nas escolhas, no preparo dos alimentos, criando uma relação favorável da criança com a comida. Além disso, foi através desse contato e da relação próxima com a culinária, que Babi mostrouse uma menina completamente extrovertida, esperta, curiosa, desenvolveu suas habilidades em comunicação, 51
tudo isso usando como ferramenta o contato com o universo da gastronomia. Os passeios em supermercados, feiras livres e a participação ativa na cozinha são estratégias que a família pode inserir em sua rotina para que a criança desperte interesse em sua alimentação. Dessa forma, o estímulo para consumir alimentos saudáveis acontecerá naturalmente, assim como seu desenvolvimento de questões relacionais entre a família e seu crescimento como ser humano. Lembrar-se do contexto social da alimentação e entender que a relação com a família se dá muitas vezes pela comida é um dos motivos para dar a possibilidade da criança se aproximar com o universo gastronômico. O que muitas vezes não ocorre nas famílias por medo, por falta de informação ou excesso de cuidado, é muitas vezes acabar limitando a liberdade que a criança possui de se envolver com os alimentos, como por exemplo, mães que não dão autonomia para os filhos pegarem desde cedo nos talheres, dificultando a criança a ter contato direto com sua própria comida, desenvolver questões motoras, ou então aquelas que não deixam chegar perto do fogão, pelo perigo à vida da criança. Há também casos de crianças que demoram a começar a ingerir os alimentos em pedaços grandes e estão sempre comendo pedaços bem pequenos, amassados, quase líquidos, desenvolvendo a hipotonia dos músculos da língua, lábios e bochecha, isto é, a flacidez desses músculos por falta de exercício na 52
região, o que pode comprometer não só sua alimentação, como a dificuldade do desenvolvimento de sua mastigação, do maxilar e consequentemente de sua fala. A consultora em alimentação infantil para famílias, escolas e empresas, Mayra Abbondanza mostra a importância de no seu trabalho fazer seus clientes entenderem como é essencial que a criança esteja dentro da cozinha: “A criança se torna protagonista do processo, entende como o alimento vai parar no prato, valoriza o preparo, se torna mais participativa e aberta, além de se ambientar com o que será servido antes do momento de pressão em que se espera que ela coma”. Há também famílias que optam por esconder os alimentos, criando com eles desenhos e figuras, já que muitas vezes as crianças se recusam a comer algum tipo de alimento, normalmente legumes e verduras, assim precisando disfarçar para que não se perceba o que está ingerindo. Algo que de início pode ser divertido, mas que a longo prazo pode ter grande impacto na educação alimentar da criança e na sua relação com os alimentos. A nutricionista Andrea Mariana Teixeira explicou os perigos de esconder os alimentos para que a criança passe a comê-los, sem na verdade saber o que realmente está ingerindo. Para ela, esconder os alimentos que a criança 53
deve consumir em receitas e criando uma maneira lúdica de apresentar a comida, como os pratos divertidos, podem trazer consequências para o desenvolvimento da criança: “Atualmente é considerada uma conduta inadequada. Todos nós temos preferências e aversões alimentares, e isso deve ser respeitado. A alimentação também é uma educação, e nesse caso faz parte do autoconhecimento. A criança deve ser estimulada, de diferentes formas, a provar todos os alimentos e preparados de formas variadas por mais de uma vez para que consiga, no final de anos, distinguir quais alimentos ela gosta ou não. Para isso, é desejável que a criança saiba o nome do alimento, saiba identificar sua cor, sua textura, seu sabor, todas as suas características”. Para quem se recusa a comer determinado tipo de alimento, a mãe Daniela de Campos Ribeiro conta que optou por oferecer os alimentos de forma diferente para cada um de seus filhos. Para Júlia, sua filha mais velha, 11 anos, que não tem nenhum problema para ingerir frutas e outros alimentos, não aceita os alimentos misturados sem saber o que está realmente comendo, enquanto Leonardo, de 7 anos, só recebe as frutas em forma de suco, mesmo sabendo qual fruta se tornou suco. Daniela não é adepta de esconder os alimentos, entretanto acredita que apresentar os mesmos alimentos de diversas formas em receitas variadas ajuda na aceitação de seus filhos, que já sabe que todos os dias eles irão comer pelo menos uma 54
verdura durante a refeição. Enquanto Patrícia Bortolazzo acredita que forçar sua filha Ana Beatriz, de 6 anos, não é a melhor forma de fazer com que ela consuma os alimentos necessários para seu crescimento, como muitas mães fazem utilizando de estratégias de pressão para que seus filhos façam as refeições. Patrícia desde cedo colocava alimentos em pequenos potes e deixava para que ela escolhesse o que queria consumir, estimulando assim a textura e o sabor dos alimentos. Além disso, acredita que conversar com sua filha e falar a verdade sobre o que ela venha a ingerir, são atitudes fundamentais para criar uma relação com a criança, lhe apresentando o que o mundo tem a lhe oferecer, criando momentos onde possa existir uma conciliação entre tudo o que Bia deve e quer consumir. A nutricionista e especialista em psicologia social, Maurem Ramos explica o efeito negativo que utilizar a estratégia de pressão para conseguir que a criança coma determinado alimento tem durante a educação alimentar e o desenvolvimento da criança: “O uso de estratégias de reforço, com alimentos usados instrumentalmente, produz um efeito imediato, mas de curto prazo. Porém, a longo prazo, promove uma ação negativa na preferência do alimento consumido. Nessas contingências, o uso de alimentos como recompensa para aumentar o consumo de alimentos pouco palatáveis confunde as funções do alimento, fazendo com que as estratégias utilizadas se 55
oponham ao estabelecimento de padrões alimentares nutritivos para a criança. Essas estratégias acabam, na verdade, produzindo efeitos adversos nas preferências para alguns alimentos”. Patrícia e Daniela estão indo pelo caminho certo e ambas afirmam que estimulam o contato de seus filhos com a culinária, sempre que possível levando a criança para a cozinha sob supervisão, uma vez que acreditam que a criança passa a se envolver mais e desenvolva habilidades, aumentando a autoestima e aprimorando a relação com o mundo, além de ser uma maneira divertida e prazerosa de se aproximar dos filhos e criar um momento agradável para a família. Daniela, que revelou adorar cozinhar acredita que a vivência na cozinha, é como uma alquimia, assim como a mágica, existe uma transformação.
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CAPÍTULO
03 O Papel da Escola
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O contexto social que a criança está inserida
vai muito além da família. Apesar de ser o primeiro pilar que sustenta a educação alimentar da criança, pais e responsáveis precisam do apoio e ajuda de outras instituições para que o crescimento pleno de seu pequeno ocorra, pois mesmo sendo a mais importante e responsável pela educação alimentar e o acompanhamento de seus filhos, sem o auxílio do segundo ambiente mais frequentado pela criança, a escola, o sucesso está longe de ser garantido. Antes de falarmos sobre a maneira que a escola pode difundir os conhecimentos sobre a alimentação saudável, o incentivo do contato com os alimentos, a inserção da criança na culinária, além de usar o universo da gastronomia como ferramenta no auxílio do aprendizado de outros conteúdos em sala de aula, é preciso entender qual o papel exato que a escola possui na vida da criança. A chamada geração Z, definição sociológica para definir as gerações de pessoas nascidas entre o final dos anos 90 até 2014, vive em um ambiente escolar muito diferente de seus antepassados, pois acabam passando muito mais tempo em sala de aula e em contato com professores e amigos do que em casa. Afinal, no mundo em que vivemos hoje, sabemos o quanto a rotina das famílias é corrida e muitas vezes os pais acabam deixando seus filhos na escola a maior parte do tempo do dia da criança, transferindo a responsabilidade da educação 58
para a escola, que na verdade deveria estar recebendo e sendo instruída em casa, já que com a falta de tempo os responsáveis acabam não encontrando o momento para se conectar com suas crias. A família ao depositar todas suas expectativas para a criação de seus filhos na escola, principalmente em escolas de classe média alta do Brasil, que possuem recursos e disponibilizam de uma grade horária intensa de atividades para deixar em tempo integral as crianças, faz com que a criança perca um pouco do contato do ambiente da alimentação de casa, sendo transferida para escola, onde muitas vezes acaba por fazer todas suas refeições diárias (café da manhã, almoço, lanche e jantar) ao lado dos amiguinhos de classe e com o auxílio de professores e nutricionistas. Com essa transferência de papeis que as famílias muitas vezes depositam nas escolas que colocam seus filhos (muitas vezes já escolhidas por terem programações já destinadas a esses tipos de famílias), os universos (família e escola) passam a ficar ainda mais interligados e com papeis muito semelhantes e até mesmo chegando a ser difíceis para algumas pessoas de se distinguir a quem cabe a responsabilidade, confundindo os pais a separarem suas obrigações das que a escola possui, pelas razões aqui já apresentadas: a falta de tempo dos pais, a quantidade de atividades extracurriculares que a escola oferece, o tempo integral e a disponibilidade que a escola tem de acolher 59
as crianças que passam a maior parte do tempo longe de casa, pois pais trabalham o dia inteiro, pais que acreditam que só na escola seu filho irá aprender a comer na mesa, mexer com os talheres, saber se portar na mesa, apresentar a criança determinado alimento, etc. Embora existam milhares de casos como estes, é preciso pontuar que ainda existem infinitas outras famílias que conseguem distinguir bem o papel que possui na educação de seu filho, incluindo a alimentar, e no papel que a escola possui não terceirizando a educação alimentar que seu filho deve receber primeiramente em casa, e depois na escola, trabalhando de forma conjunta. Como explica a nutricionista Tatiana Tomita, ao falar sobre o papel da escola em relação a educação alimentar de seus alunos e todo o aprendizado a cerca da alimentação: “Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a escola tem papel fundamental como um espaço propício para formação de hábitos alimentares saudáveis e instituiu diretrizes para promover a alimentação saudável nas escolas de educação infantil, fundamental e de nível médio da rede pública e privada, visando a educação nutricional adequada às diferentes faixas etárias, culturas e disponibilidades de alimentos; a promoção da alimentação saudável deve envolver todo o corpo docente e demais funcionários da escola e se estender às famílias das crianças.” Em uma fase em que a criança está tão aberta para 60
receber informações de todos os lugares, se familiarizando com novos hábitos e sempre assimilando novas informações, principalmente na escola, a importância que a instituição de ensino tem de instruir e ensinar a criança sobre o universo gastronômico e a educação alimentar, é essencial para que o desenvolvimento da criança aconteça, uma vez que é nesse ambiente que as crianças estão em um processo de educação e são influenciadas em todos os âmbitos, como suas escolhas, comportamentos, atitudes. Em relação a educação alimentar da criança e tudo aquilo que engloba sua alimentação e o contato com o universo gastronômico, é na escola que a criança poderá desenvolver diversos de seus hábitos e preferências alimentares adquiridos em casa, assim como compartilhar a aprender também sobre os alimentos, tirar suas dúvidas e ver outras crianças iguais a ela se relacionando e entendendo o funcionamento de toda essa etapa em sua vida, por mais que muitas vezes ela não tenha a consciência do quão isso será importante para ela ainda. Em contato com diversos colégios particulares da cidade de São Paulo, - que não querem ter seus nomes citados nesse projeto – foi possível perceber o tamanho da importância que a escola tem em repassar informações sobre educação alimentar e a tarefa que auxiliá-los nesse aprendizado, ainda mais em tempos que a terceirização da educação, além da alimentar, tem sido repassada para funcionários das instituições de ensino. 61
É na escola que a criança fará algumas de suas refeições, como por exemplo, o almoço e lanche da tarde, portanto, a criança inevitavelmente terá contato com a comida em todos os seus dias da rotina escolar. Na escola que a criança se relacionará com outras crianças e aprende a se socializar, aprendendo a dividir a comida, por exemplo. Na escola que ela estará em contato com professores e profissionais da área da nutrição que poderão instruí-las da forma correta a se comer. É também na escola que a criança poderá conhecer os hábitos de outras crianças da mesma idade que a dela e poder ter uma relação mais direta e de igual para igual. Além disso, é na escola que muitas vezes a criança passará a ter contato pela primeira vez como ambiente da culinária, possuindo uma aproximação mais direta com o alimento e trabalhando diversas disciplinas usando a culinária como ferramenta. E também levar os conhecimentos aprendidos em sala de aula e no ambiente de estudo para a casa, trocando informações, conhecimento, compartilhando ideias e troca de experiência entre pai e filho, que se dá através da comida também. São diversas as possibilidades que a criança poderá se envolver com os alimentos e ter uma educação alimentar com o apoio da escola. Mas, é importante lembrar que a escola tem um papel secundário, de apoiar e ser aliado dos pais nesse momento tão importante da criança, que possui como base a família e o apoio das escolas 62
em uma atuação mais conceitual de tudo que deve ser desenvolvido ao longo do crescimento da criança, assim com uma atuação integrada com estratégias e projetos de ensino, poderá levar a criança a construir conhecimentos importantes para a sua alimentação saudável, que como já exposto, vai além da necessidade de garantir os nutrientes importantes para organismo, mas é também trabalhando valores sociais, culturais, afetivos e sensoriais e trocando experiências com a família e amigos.
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Educação Alimentar e a Culinária na Sala de Aula:
Embora tenha sido colocado os papeis que a escola
pode desempenhar como aliada no desenvolvimento da educação alimentar e dos bons hábitos alimentares das crianças é preciso perceber que, na prática a história pode se dar de outra forma e ainda há diversas questões a serem melhoradas para que as instituições de ensino trabalhem a educação alimentar das crianças. É muito recente o trabalho que as escolas tem desempenhado em relação a educação alimentar, já que muitas delas antes não interferiam na alimentação de seus alunos, oferecendo em suas lanchonetes alimentos congelados, processados, fritos e até mesmo refrigerantes, inimigo número um de qualquer boa alimentação, até 2014, quando foi proibido a venda da famosa junk food. Das cinco escolas que pude conhecer ao longo de
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trabalho de conclusão de curso, nenhuma delas possui em sua grade curricular a educação alimentar como disciplina, assim como a matemática ou português, o que me fez questionar muito sobre até que ponto a escola está empenhada em se posicionar sobre o tipo de alimentação que seus alunos recebem, além de terem demorado muito para trocar os produtos oferecidos em suas lanchonetes por alimentos mais saudáveis para crianças, já que nem refrigerante, frituras e doces são indicados no consumo diário. Ainda é preocupante o modo como as escolas abordam essa questão em sala de aula, já que 100% das escolas pesquisadas apenas trabalham a educação alimentar e o envolvimento com a culinária de forma paralela, com projetos pontuais ao longo do ano. A nutricionista Tatiana Tomita, acredita que as escolas brasileiras ainda possuem um longo e árduo caminho pela frente para que de fato, a escola trabalhe a questão da educação alimentar: “O que falta são as escolas realmente incorporarem a educação nutricional no currículo escolar a fim de promover a saúde e os bons hábitos alimentares com controle na quantidade e qualidade dos alimentos oferecidos; fazer hortas escolares; ter o controle de vendas de produtos nas cantinas (ricos em gorduras, açúcar e sal); aulas de culinária com nutricionista ou pessoa treinada para fazer com que as crianças 65
participem do preparo de receitas mais saudáveis, nutritivas e gostosas, incentivando, desta forma, por estímulo positivo, o consumo de alimentos que não fazem parte da dieta delas ou que possam ter alguma “rejeição”, apresentando de uma forma diferente, participativa, além do estímulo dos colegas ao degustar o que prepararam. Essa educação nutricional deve envolver o corpo docente e demais funcionários, alunos, e também as famílias dos alunos. Não adianta apenas incluir a culinária no currículo escolar e não utilizá-la como uma ferramenta positiva para promover a educação nutricional e alimentar dos alunos. Alguns estímulos como a implantação de hortas escolares, implantação de boas práticas de manipulação de alimentos, restrição ao comércio de alimentos e preparações ricos em gorduras saturadas, gorduras trans, açúcares, sal e incentivando o consumo de frutas, verduras e legumes. As escolas têm muito a melhorar, partindo do princípio que elas devem reforçar a abordagem da alimentação saudável no currículo escolar, definindo estratégias para favorecer escolhas mais saudáveis, envolvendo não só os alunos, mas as famílias; buscar aperfeiçoamento técnico para capacitar os profissionais a produzirem e oferecerem preparações mais nutritivas, feitas dentro de padrões de boas práticas de manipulação de alimentação”.
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A palavra “incorporar” usada por Tatiana Tomita é exatamente o termo que deve ser usado para explicar o que de fato falta as escolas fazerem para que as crianças brasileiras tenham uma boa instrução quanto ao modo que deve ser feita a sua alimentação e como se deve incentivar através da culinária o desenvolvimento e trabalhar questões relacionais do modo de vida da criança. Para a consultora em alimentação infantil, Mayra Abbondanza é necessário um novo tipo de abordagem nas escolas: “Falta uma abordagem inovadora, não convencional, que propicie uma vivência de fato. Em minha opinião, todo o sistema de ensino é obsoleto. As pessoas são ensinadas a concordar e convergir, ao invés de questionar e criar”. Mas é preciso reconhecer que embora a educação alimentar não tenha se tornado ainda uma disciplina obrigatória nas escolas brasileiras, muito já se faz para reforçar a importância da introdução alimentar dos bebês, do desenvolvimento da educação alimentar da criança ao longo de seu crescimento e de se trabalhar a culinária em diversos âmbitos na vida das crianças. Algumas estratégias usadas nas escolas que frequentei ao longo da pesquisa para este projeto de conclusão de curso, são fundamentais para o conhecimento da criança desde cedo. Como por exemplo, ter um espaço 67
para a horta ou então até mesmo uma mini fazenda, faz com que a criança, vinda do meio urbano, conheça desde cedo todo o processo que envolve até que o alimento que ela consome chegue a sua casa. Além de possibilitar que, a criança participe ativamente da produção desses alimentos, de ter o contato, trazendo o conhecimento da origem dos alimentos e para onde vão, como por exemplo, os supermercados, onde muitos colégios já optam por fazer visitas, trabalhando não só a questão do conhecimento do alimento, mas ensinando a criança a trabalhar com dinheiro, quantidade, convivência em espaço público. Ou então trabalhar com os alimentos e a gastronomia em diversas culturas, não só a do Brasil, mas trazer para dentro da sala de aula os hábitos alimentares de outros povos, conhecendo, experimentando novos alimentos. Muito comum na maioria das escolas, as “aulas de culinária” como são chamadas também são um dos grandes recursos usados pelas escolas para aproximar a criança do universo gastronômico. Apesar de não ser considerada uma disciplina, mas sim uma atividade extracurricular, trabalhada esporadicamente ao longo do ano letivo da criança, essas aulas também são de grande importância para o desenvolvimento da criança. São nessas aulas que as crianças podem entrar em contato com os alimentos, fazer o manuseio, experimentar sabores, texturas, cheiros novos, além de compartilharem ao lado dos amigos de sala de aula suas experiências. Mas é interessante perceber 68
que muitas vezes as escolas não têm no objetivo principal dessas aulas de trabalhar as questões da criança na cozinha, o modo como ela se relaciona com o alimento, com a companhia na mesa, com sua desenvoltura, com a familiarização da criança no universo gastronômico. Muitas vezes, as aulas de culinária são realizadas como uma ferramenta de auxílio em disciplinas obrigatórias da instituição. Afinal, nas aulas de culinária, a criança pode desenvolver ainda mais suas habilidades com a matemática ao trabalhar quantidades, estimular sua escrita quando é necessário anotar alguma receita, ou então a física com a transformação dos estados dos alimentos, a química com as misturas de ingredientes, a linguagem oral, a higiene, entre outros. Utilizá-la como uma ferramenta não faz mal nenhum, mas é necessário refletir se a culinária é realmente só isso ou pode ser usada para atrair o interesse das crianças, instigando a experimentação de novos alimentos, promover a cooperação e integração e socialização entre os alunos, a ensinar a tornar a criança independente, já que poderá ter o domínio de todos os utensílios da cozinha fazendo seu próprio alimento, a oportunidade ampliação de reportório e desenvolver assim todas as questões humanas que englobam a experiência de se estar dentro da cozinha. Portanto, é preciso que as famílias enxerguem na escola, um apoio, uma aliada para desenvolver a educação 69
alimentar de seus filhos, pois trabalhando em conjunto, ambas possibilitaram o surgimento de uma geração muito mais consciente sobre aquilo que ela consome. Mas também, é necessário que as famílias se empenhem em cobrar a escola atitudes que transformem a educação da criança e que se insira no dia a dia delas cada vez mais a questões dos alimentos, da importância de se criar hábitos saudáveis, de estimular as relações interpessoais através da gastronomia. E que as famílias também fiquem atentas para não deixar a responsabilidade de criação de seus filhos apenas sobre a escola e se omita de suas obrigações, afinal, a família é primordial e a base para a criança se espelhar, já que elas são o reflexo do comportamento e das atitudes que elas observam no espaço que convivem.
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Consideraçþes finais
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Parece moda, mas não é! Quem pensa que estar
na cozinha não é para qualquer um, está muito enganado. Ao entrar no universo das crianças e se deparar com índices enormes de obesidade na população brasileira, é assustador pensar que a Geração Z pode transformar o Brasil em um país como os Estados Unidos, onde os dados alarmantes já nem são tão assustadores quanto olhar pelas ruas a situação em que o país se encontra. Por isso, o assunto não tem sido outro: alimentação saudável, orgânica, sem glúten, sem lactose, zero gordura trans...são infinitos os termos que nossos ouvidos estão cada vez mais habituados a escutar toda vez em que se fala de comida. Ah, sem contar na moda da gastronomia gourmet, onde o simples passa bem longe dos restaurantes requintados. Falar de comida hoje em dia não é só moda, mas é o reflexo do que a nossa sociedade já está percebendo aos passos de tartaruga: se a coisa não mudar, o resultado não será bom. E para isso, estar dentro da cozinha e ter um contato direto com a alimentação é fundamental, e para qualquer pessoa: dos mais jovens aos mais idosos. E em quem devemos pensar primeiro? Nas nossas crianças, é claro! Afinal, são elas que continuarão a habitar o país por muitos anos mais e se não forem ensinadas a tempo da situação mudar, teremos um país tomado pela obesidade e suas doenças para lá de assustadoras. Em tempos de internet e de uma rotina completamente enlouquecedora para as famílias brasileiras 72
que vivem praticamente apenas para o trabalho e para pagar as contas, a situação se agrava ainda mais, já que o hábito de fazer uma refeição tranquilamente, ao lado da família, foi deixada para segundo plano, dando espaço a uma refeição mais acelerada, sem tomar tempo dos outros afazeres diários e, com isso uma alimentação recheada de alimentos processados, congelados, gordurosos e com pouquíssimos nutrientes. Pensando nesse cenário e acreditando que ao entrar na cozinha e se aventurar no universo da culinária e da gastronomia a criança será estimulada a consumir alimentos adequados para uma dieta balanceada, além de ajudá-la no processo de educação alimentar e auxiliando em seu aprendizado diário, como uma ferramenta para desenvolver habilidade em matemática, português, inglês, espanhol, ciências, etc. E por fim, auxiliar no desenvolvimento de questões motoras, de trabalho em cooperação, de interação com o meio ambiente e socialização com outras pessoas, este projeto foi desenvolvido a fim de estudar como, a família e a escola podem trabalhar todas estas questões, inserindo sempre a culinária na vida das crianças. Como vimos, a família é a maior responsável por desenvolver a educação alimentar da criança e, aproximá-la do universo da gastronomia. Afinal, é a mãe quem intermediará o primeiro contato de seu bebê com o alimento, através da amamentação e em seguida irá 73
introduzir os primeiros alimentos da criança e a guiará durante todo o seu crescimento, auxiliando, incentivando e a direcionando para uma alimentação saudável. É nesse contexto familiar que a criança estiver inserida que sua educação alimentar será determinada, formado não só pelas preferências alimentares da família, como também pela transmissão cultural do contexto social na qual ela está inserida. Na teoria, pode parecer complexo como se dá esse funcionamento, mas com certeza é muito mais simples do que na prática, já que muitas vezes a família terá algumas dificuldades e barreiras para serem ultrapassadas durante a educação alimentar de suas crias. Mas após toda a explicação que esse livro nos trás sobre a importância da família, como ela influencia na alimentação da criança e como ela tem o papel fundamental ao longo do desenvolvimento, crescimento e aprendizado das crianças, o que deve ficar registrado é o fato de que a família deve ser a base que sustenta toda a formação da criança. Sem a presença e o apoio da dela, a crianças estarão sem direção, sem exemplos, sem um suporte durante toda a sua trajetória. Com tantas influências do meio externo e as tentações diárias vistas na televisão, na internet, no celular, em festas de aniversário e até mesmo na escola, se a família não estiver presente, atenta e interessada em estimular uma alimentação saudável, os riscos da criança se tornar obesa são ainda maiores. 74
Mas tão importante quanto a alimentação saudável, a família tem o papel de companheira e de ser um grupo social, que na sua essência cultural possui o hábito de realizar as refeições reunidas, de aproximar a criança do universo gastronômico. E por isso, é tão importante que entenda seu papel e estimule o interesse da criança por essa experiência. Afinal, deixar a criança fazer parte do que acontece dentro da cozinha, da escolha e compra dos alimentos, não só ajudará em sua educação alimentar, como também irá estimular seu desenvolvimento como ser humano, trazendo confiança, autonomia, independência, a ensinando a se relacionar com as demais pessoas, etc. Já a escola, tem o papel de ser aliada a família e em segunda estância também tem o poder de influenciar a educação alimentar da criança. Ao tratar sobre o papel da escola e de que maneiras ela pode estimular o desenvolvimento da criança e sua aproximação com os alimentos, quis deixar claro que diferente do que muitos pais nos dias de hoje podem pensar, a escola não é a terceirização da educação alimentar infantil. Ela deve ser uma aliada a família para trabalhar esta questão e com todas suas ferramentas de aprendizado e com a possibilidade de ter especialistas na área, de trabalhar em sala de aula, no intervalo, é ela quem ajudará e estimulará a criança. Dessa maneira, percebemos também que apesar de ser o local propício para a criança desenvolver este 75
aprendizado em relação a sua alimentação, é a que mais falta estrutura para dar esse apoio família, como a criação da disciplina de “educação alimentar”, que nenhuma das escolas pesquisadas neste projeto possui. Ainda é preciso que o setor se debruce de fato nesse tema, priorizando a formação dos hábitos alimentares das crianças, e não só usar a culinária como uma ferramenta ou um modo de recreação. Com alguns projetos podemos perceber que as escolas já estão antenadas para a importância dessa instrução, mas ainda tem um longo caminho pela frente para institucionalizar de fato a responsabilidade que lhe cabe em relação ao estímulo da criança nesse meio. Além, de passar a enxergar as aulinhas de culinária um momento tão importante e enriquecedor na vida da criança que deve vivenciar o momento de estar na cozinha. “Quando a pessoa está feliz com o corpo e bem de saúde, melhora a autoestima e favorece um melhor relacionamento interpessoal. E é comprovado cientificamente que uma alimentação saudável, equilibrada nutricionalmente, promove um melhor desenvolvimento neuropsicomotor e social, além de melhor funcionamento do organismo e prevenção de doenças.” – é o que conta Tatiana Tomita, principal nutricionista que acompanhou este projeto e em suas falas, me guiou para o andamento da pesquisa. A alimentação saudável pode ser promover o 76
desenvolvimento de todas essas questões e para que ela aconteça a criança estar próxima ao ambiente da culinária é fundamental. Como admiradora da tarefa de educar crianças, acredito que as escolas ainda podem melhorar e muito à medida que enxerguem a importância da educação nutricional. Como uma grande sonhadora em ser mãe, encaro a situação atual do país, um alerta para quando tiver meus filhos, não deixar que a falta de tempo ou qualquer outro motivo, deixe que eu não estimule desde cedo os bons hábitos alimentares e repasse a eles, a importância e a delícia de estar na cozinha. E como uma jornalista, vejo que a mídia ainda pode contribuir muito para o repasse de informações. Através de dados, pesquisas, reportagens, programas, campanhas e divulgações, conscientizar o país sobre a urgência de se pensar em educar nossas crianças para ter uma alimentação saudável. E que a moda, nas telinhas e na internet, contribua para que de alguma forma as crianças assistindo outras crianças em realitys, em programas de culinária, se inspirem para vivenciar o mesmo prazer, mas com a ressalva de que o fantástico mundo da televisão, não é a realidade e tampouco é o que de fato irá ocorrer em casa, mas que com uma análise crítica da família e da escola sobre como tem sido exibido, possam criar um ambiente mais harmonioso, prazeroso em torno da cozinha, uma experiência para vida e uma forma de educar, sendo saudável sempre! 77
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Agradecimentos
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Não poderia deixar este livro acabar sem antes
citar aqueles que o fizeram tornar realidade. Não só ele, mas como o curso de jornalismo inteiro, possibilitando que assim, pudesse me tornar uma jornalista como minha mãe sonhou. Primeiramente, agradeço os meus pais, que antes mesmo de entrar na PUC-SP, fizeram e fazem o possível e o impossível para terem suas três filhas formadas. Que abrem mão do sorriso deles, para ver os nossos. E me deram toda a educação repassada nesse projeto. Aos meus avós, que com toda a certeza não esqueceram nenhum dia do meu nome em suas orações. As minhas tias, Ana e Fernanda, que apesar de longe, nunca deixaram de me incentivar. A Amanda, que compartilhou das mesmas angústias que as minhas, mas que com sua risada soube transformar esses quatro anos, os mais engraçados da minha vida e ser amiga em todas as horas. A Clara, que apesar de me fazer pensar que sou eu que cuido dela, é ela quem cuida de mim. A Ana Flávia, que nunca me deixou perder a fé. A Heloisa, que com sua energia positiva sempre me transmitiu paz e sempre soube me ouvir. A Malu, que fez parte dos três anos e não poderia ficar de fora. A Bárbara, que chegou por último, mas já ocupa um lugar especial no coração. A todas as meninas do colégio, que souberam entender o meu sumiço e sempre me apoiaram em cada decisão da minha vida. Ao João Paulo, que há 9 anos cresce comigo e encara cada fase da minha vida ao meu lado, meu parceiro e cúmplice, que sabe me confortar sem precisar dizer
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qualquer palavra, me apoia em qualquer decisão, me entende e me aguenta. E não menos importante, agradeço aos meus orientadores: Samuca, que desde o início do curso me fez enxergar a vida de outro ângulo e a Anna Flavia Feldmann, que assumiu o que já era para ser dela desde o início, e não só foi professora, como amiga, por acreditar em todas as minhas ideias. A todos os professores que estiveram comigo ao longo dos 4 anos de curso, que me fizeram crescer, amadurecer e me tornaram uma jornalista. Aos meus entrevistados e todos aqueles que colaboraram de alguma forma para que este projeto fosse realizado. E também aqueles que sempre com palavras de incentivo, me deram força para não desistir. E finalmente, agradeço a Deus por me dar saúde, proteção e paz, me cercando de pessoas extraordinárias. Sou eternamente grata a todos vocês.
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Bibliografia
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