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O novo desafio da indústria intensiva

ENERGIA O novo desafio da indústria intensiva

João Trigueiros Ferreira+

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Há setores industriais indispensáveis para a economia que devido ao seu capital intensivo e peso na sociedade são caracterizadas como “demasiado grandes para cair”, à semelhança de algumas instituições financeiras aquando das recentes crises financeiras. Este paradigma é especialmente relevante em Portugal dada a limitada presença destas indústrias no nosso país, mas que simultaneamente empregam muitos dos nossos compatriotas com contribuição líquida. Trata-se da indústria química, de refinação, da produção de aço e ainda de setores tão históricos como a cerâmica, o vidro ou os curtumes. Estas indústrias têm em comum o uso intensivo de energia nos seus processos produtivos, tipicamente baseado no consumo de hidrocarbonetos. É neste cenário que o Hidrogénio Verde se apresenta como uma solução de futuro, seja de transição ou com um carácter mais perene, no advento da descarbonização, uma vez que a eletrificação dos seus processos é de momento uma solução com fraco custo-benefício. Este cenário ganha ainda mais momento com o conflito no Leste da Europa e toda a destabilização consequente, que tem impulsionado os já elevados custos do Gás Natural e da Eletricidade, em particular no MIBGAS e no MIBEL. Assim, torna-se inevitável por força de regulamentos, estratégias nacionais e/ou comunitárias, e indubitavelmente por questões económicas, que estas indústrias enfrentem o desafio da descarbonização mais cedo do que esperariam. Mas há boas notícias, muitos destes players estão já envolvidos em projetos de descarbonização que assentam no Hidrogénio Verde. Portugal tem assistido recentemente ao surgimento de vários projetos de investimento neste domínio, nos quais estão envolvidos consórcios compostos pelo(s) produtor(es) de H2 Verde, a REN - Redes Energéticas Nacionais que opera a

Rede Nacional de Transporte (RNT) e a Rede Nacional de Transporte de Gás Natural (RNTGN), bem como clusters de indústrias de energia intensiva, como por exemplo cimenteiras ou vidreiras. Há, no entanto, ameaças que não são despicientes e que devem ser sobrelevadas o quanto antes, com o rigor e segurança subjacentes, mas sem dúvida com determinação. A tecnologia do Hidrogénio não é nova, mas a sua integração com os sistemas atuais deve ser feita de forma sustentada e segura. É também um desafio para estas indústrias, incorporar algo novo nos seus sistemas, que têm provas dadas no que respeita à segurança e resiliência. Multiplicam-se os estudos e projetos piloto que permitirão, brevemente, massificar a utilização do Hidrogénio Verde como uma solução viável, quer ao nível técnico quer ao nível económico. Daí que a utilização deste produto, resultante da eletrólise da água a partir de produção de energia renovável, como por exemplo a fotovoltaica, a eólica ou ainda a combinação das duas, requeira elevados padrões de rigor em termos de conceção, construção, entrada em serviço e manutenção. Neste domínio, é relevante a indústria dos hidrocarbonetos, na qual a segurança tem um papel fundamental, apesar de estar perante um phase out. A experiência deste setor é um ativo muito relevante no assegurar de que o desenvolvimento do Hidrogénio Verde é introduzido nos processos existentes de forma harmoniosa, preservando a segurança de pessoas e bens. Ainda há desafios técnicos a superar em toda a cadeia de valor para que esta “nova” tecnologia atinja todo o potencial que encerra na descarbonização global, em particular na indústria intensiva. Veja-se o caso da indústria petrolífera do Kazaquistão, totalmente reduzida a escombros após o desastroso projeto Kashagan, devido a uma série de erros, incluindo não ter sido acautelado o efeito do sulfureto de hidrogénio nas tubagens e equipamento auxiliar, com consequências catastróficas. Saibamos aprender com o passado e com o agora, sem preconceitos, para pavimentar o futuro. Que sem dúvida passa pelo H2 Verde! l

“Saibamos aprender com o passado e com o agora, sem preconceitos

Diretor de Desenvolvimento

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