Haja Saúde - Outubro 2018

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Escola de Medicina Universidade do Minho

Revista Semestral Gratuita N.˚5 · Outubro 2018

Diretor João Lima

Haja Saúde


FICH A TÉCNICA

Proprietário e Editor Alumni Medicina

Diretor João Lima

Morada Escola de Medicina Universidade do Minho Campus de Gualtar, 4710–057 Braga, PT

Editor-Chefe Jorge Machado

N.º de Registo na ERC 126906 Depósito Legal 431999/17 Periodicidade Semestral NIPC 506192202

Co-Editores Diogo Cruz, Joana Novais dos Santos, Rosélia Lima Sede de Redação Escola de Medicina Universidade do Minho Campus de Gualtar, 4710–057 Braga, PT Estatuto editorial disponível no endereço www.hajasaude.org

Redatores Alberta Batista, Diogo Cruz, Joana Novais dos Santos, João Lima, Jorge Machado, José Manuel Mendes, Matilde Gomes, Núria Mascarenhas, Pedro Morgado, Pedro Peixoto, Rita Araújo, Rosélia Lima, Sara Leão, Tiago Ramalho Fotografias João Dias, João Rodrigues, WAPA, NEMUM

Design Editorial OOF Design Ilustrações Marina Mota Impressão Gráfica Nascente Travessa Comendador Alberto Sousa, Lote 15 4805-668 Sande, Guimarães Tiragem 500 exemplares

www.hajasaude.org


Í N DIC E

NOTÍCI AS

PE S S OA S

O PI N I ÃO

TEMAS

Prémio Corino de Andrade atribuído à Escola de Medicina — 13

Luís Miguel Ferreira de Sousa

O Medo na Forma de um Cão Jorge Machado

In and out. — 17

João Cerqueira, Diretor do Mestrado Integrado em Medicina João Cerqueira refere que a ideia de fazer uma reforma curricular não parte do princípio que estamos a fazer coisas mal e precisamos de mudar, parte do princípio de que o ambiente em que os nossos graduados daqui a uns anos vão trabalhar vai ser diferente daquele para o qual estamos agora a prepará-los.

A Reforma Curricular como veículo de mudança na crise académica Rosélia Lima conclui que bons alunos de Medicina, na sua definição clássica, não correspondem necessariamente a bons médicos. — 66 Porquê estudar Medicina em Erasmus? Pedro Peixoto — 68

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As oportunidades que tens fora de “casa” — 21 Nunca será uma Missão Cumprida Alberta Sobral Baptista relata a sua experiência durante os 35 dias de missão com a equipa do projeto Porta Nova. — 25

E N T R E V I S TA

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A tecnologia no consultório, no bloco e em debate na Escola de Medicina — 32

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O Testemunho de uma aluna de Cabo Verde em Portugal

Pontes Intelectuais Matilde Gomes — 70

Investigação animal em debate na Escola de Medicina — 37

E N T R E V I S TA

E N T R E V I S TA

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Anedotas Sara Leão HUMOR

Médicos em Situação de Risco — 29

Testemunho de Internacionalização

Doce Oásis em Deserto Salgado Diogo Cruz introduz Conan Osiris como um produto bruto. M Ú SI CA

Desafios da Mobilidade Internacional Pedro Morgado afirma que num mundo em que as fronteiras se querem cada vez mais ténues, a mobilidade internacional assume-se como um desafio que não devemos nem podemos desperdiçar. — 69

E N T R E V I S TA

CINEMA

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E DI TOR I A L

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O ICVS – Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde é uma subunidade orgânica da Escola de Medicina da Universidade do Minho, tendo como objetivos melhorar a saúde humana através da investigação biomédica e da inovação médica. Uma vez que o conhecimento científico e a tecnologia médica são um objetivo global, este desígnio do ICVS só pode ser atingido indo ao encontro dos mais elevados standards internacionais. De facto, o “campeonato” em que o ICVS participa, no desenvolvimento de I&D (Investigação e Desenvolvimento) para a criação de medidas profiláticas, métodos de diagnóstico e terapias avançadas – com áreas de interesse para os investigadores do ICVS que envolvem a vacinação, os procedimentos terapêuticos minimamente invasivos e uma diversidade de tratamentos personalizados ­– joga-se numa “arena” internacional, onde, por contraponto à inevitável competição, se coloca também como estratégia de desenvolvimento a Cooperação. Assim, acreditamos que só com um esforço concertado e inclusivo será possível atingir metas verdadeiramente transformadoras da sociedade, como é o caso da medicina personalizada. Para atingir estes objetivos, o ICVS tem vindo a estabelecer várias parcerias estratégicas internacionais, que, ultrapassando o seu âmbito específico, incluem também

a Escola de Medicina, em sentido lato (e.g. as parcerias com as escolas médicas de Thomas Jefferson e Columbia, no âmbito do Programa MD/PhD), e o Centro Clínico Académico 2CA-Braga (e.g. ensaios clínicos, tendo como parceiros os maiores players internacionais da indústria farmacêutica, como, por exemplo, a Biogen, Janssen, Novartis, Pfizer ou Roche). Para além disso, o ICVS e os seus investigadores têm vindo a reforçar as suas relações colaborativas de longo prazo com grupos de investigação das principais universidades/institutos de I&D, sobretudo na Europa e América do Norte, bem como com instituições de saúde de todo o mundo, incluindo a África e América Latina; a maioria dessas colaborações é estabelecida no âmbito de projetos internacionais conjuntos e/ou através do intercâmbio de investigadores de doutoramento e pós-doutoramento.


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EDITOR I A L

Quais têm sido, então, os resultados desta estratégia de internacionalização do ICVS? Atualmente há cerca de 20 projetos em curso com financiamento internacional no ICVS, correspondendo a um montante global de cerca de 2 milhões de euros. Essas redes colaborativas envolvem a participação de instituições de países tão diversos como a África do Sul, Alemanha, Bélgica, Benim, Brasil, Congo, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, França, Gana, Holanda, Hungria, Israel, Itália, Mali, Marrocos, Moçambique, Nigéria, Noruega, Suécia, Reino Unido, Suíça, Tanzânia, Uganda ou Zâmbia. Em termos de outputs, refletindo o elevado nível de internacionalização que o ICVS já atingiu, e apenas em 2017, mais de uma centena dos artigos que foram publicados em revistas científicas internacionais resultaram de parcerias com instituições estrangeiras, tendo, em conformidade, autores de instituições de diferentes países. Por outro lado, a internacionalização no ICVS beneficia fortemente das ações no âmbito da formação avançada: só em 2017 o programa de pós-graduação do ICVS/ EM promoveu 42 cursos internacionais de pós-graduação, que incluíram a participação de 148 estudantes estrangeiros. Além disso, têm sido promovidas as missões internacionais dos nossos investigadores, um outro fator promotor da mobilidade, tendo sido geradas mais de 200 comunicações em congressos e seminários fora de Portugal, apenas em 2017. Finalmente, não podemos esquecer que esta estratégia de internacionalização é também potenciada pela digitalização e redes sociais, promovendo não só interações entre cientistas, mas também entre outros profissionais, estudantes, associações, empresas, etc, em diversos pontos do globo. A título de exemplo, nos últimos 12 meses o site do ICVS e

as suas redes sociais foram visitados por utilizadores de 30 países diferentes, dos cinco continentes. Qual o caminho a prosseguir na estratégia de internacionalização do ICVS? A estratégia de internacionalização do ICVS está em constante construção desde a sua génese. Apesar dos resultados muito positivos já alcançados, é crítico que o ICVS continue a ampliar e a reforçar as suas redes internacionais. De facto, para além da partilha de conhecimentos, expertise, amostras biológicas, coortes, etc. – num campo científico cada vez mais interdisciplinar e integrador de uma diversidade enorme de tecnologias (impossíveis de concentrar num único local!) – coloca-se inevitavelmente a questão do financiamento (é uma inevitabilidade que, para além dos bons cientistas e das boas ideias, seja indispensável o financiamento para as testar e pôr em prática). É, portanto, objetivo central do ICVS aumentar os seus níveis de presença internacional, quer em redes transatlânticas quer em consórcios/projetos da EU, incluindo projetos como os flagship e os do European Research Council – estes serão instrumentos críticos para alargar a nossa rede internacional e, por consequência, a base internacional de financiamento do ICVS: requisito essencial para compensar a imprevisibilidade do sistema público de I&D em Portugal.

Jorge Pedrosa Vice-presidente da Escola de Medicina


Inicia-se mais um ano letivo e, por isso, damos desde logo as boas-vindas aos novos alunos. Nesta edição, abordamos um tema especial e que despertará a curiosidade de todos os leitores, a Internacionalização. Este é um tema muito vasto e por isso, daremos ênfase no contexto do ensino e investigação na área da medicina e das ciências da saúde.

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E DI TOR I A L

EDITOR I A L

João Lima Diretor da revista Haja Saúde

A Escola de Medicina da Universidade Agradecemos que nos tenham acompado Minho tem uma forte política para nhado nesta jornada, com a certeza de a internacionalização que se reflete nos que todos os fins são também um novo seus principais eixos de ação. Relativa- começo e por isso, desejamos boa sorte mente ao ensino, a Escola de Medicina à próxima equipa do Haja Saúde para é muito ativa no recrutamento de estu- que continuem a levar este projeto para dantes internacionais, e no estabeleci- a frente, pois ainda tem muito para dar. mento de graus em associação com universidades estrangeiras, nomeadamente através do programa MD/ PhD. A Escola está também a estabelecer um grupo de trabalho, na tentativa de promover o aumento da mobilidade ao abrigo do programa Erasmus. No que concerne à investigação, a participação dinâmica da Escola de Medicina, em parcerias com centros de investigação estrangeiros traduz-se na sua integração em diversas redes de investigação internacionais, que inclui a publicação de artigos em colaboração. Esta edição representa também a última sob o mandato desta equipa. Esperamos que tenham gostado de todos os textos que vos trouxemos e que tenham considerado os temas diversos e interessantes.

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17 O  A NO  E M  R E V ISTA

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E DAIN O TO R E IMA R L EV ISTA

Cientistas promovem atividades de interação com a sociedade A Escola de Medicina e o ICVS continuaram a trazer a sociedade até aos laboratórios, reforçando a aposta em várias atividades de envolvimento com a comunidade. Os jovens foram um dos principais públicos interessados, com as visitas das escolas da região, as edições do “Estudante de Medicina por um dia”, do “Melhor Aluno na UMinho e do “Verão no Campus”, entre muitas outras atividades que trouxeram cerca de 200 alunos à escola.

Primeiro Congresso Nacional em Comunicação Clínica trouxe especialistas à Escola de Medicina Especialistas nacionais e internacionais reuniram-se em Braga numa iniciativa pioneira em Portugal: um congresso nacional sobre Comunicação Clínica em Cuidados de Saúde. Além de várias comunicações e representantes das várias ordens profissionais ligadas à saúde, o evento contou com a presença de Evelyn van Weel-Baumgarten, presidente da International Association for Communication in Healthcare, que abriu a conferência.

Prémio Santa Casa Neurociências atribuído a equipa do ICVS Uma equipa do ICVS liderada por António Salgado e Nuno Silva venceu o Prémio Santa Casa Neurociências, no valor de 200 mil euros, para tratar as lesões da medula espinal. Foi a segunda vez que António Salgado venceu este prémio, sendo que este trabalho já conseguiu reverter estas lesões em animais, valendo a capa da revista Stem Cells, em junho de 2018.


O A NO EM R EV ISTA

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Patrícia Monteiro escolhida para debater ciência em Bruxelas A investigadora da Escola de Medicina e do ICVS fez parte de um grupo de quatro cientistas escolhidos para debater as prioridades do financiamento científico na próxima década. A organização, ao cargo do SwissCore, procurava jovens cientistas cuja investigação pudesse contribuir para a resolução de desafios globais.

Uma enzima que pode proteger os doentes de Alzheimer Uma investigação conduzida por Francisca Vaz Bravo, e coordenada por Tiago Gil Oliveira, percebeu que a retirada de uma enzima – a phospholipase D – poderá ter um efeito protetor nos doentes de Alzheimer. O efeito descoberto neste trabalho poderá permitir um prolongamento do tempo de vida e a melhoria de alguns dos défices provocados pela doença.

A resposta para retardar a doença de Machado-Joseph está no ICVS A creatina deixou este ano de ser associado apenas ao desporto. As responsáveis são Patrícia Maciel e Sara Silva que descobriram bons resultados no uso deste suplemento alimentar para retardar as consequências da doença de Machado-Joseph (uma doença neurodegenerativa grave).


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E DAIN O TO R E IMA R L EV ISTA

Escola de Medicina recebe prémio Corino de Andrade Já passou pelas mãos de Maria de Belém ou do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, mas em 2018, a Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos entregou o prémio Corino de Andrade à Escola de Medicina da Universidade do Minho. A integração plena entre a investigação, a formação académica e a prática clínica foram um dos pontos de destaque da instituição que atribui o prémio.

António Carvalho recebe bolsa de um milhão de euros A equipa liderada pelo investigador Agostinho Carvalho foi uma das oito vencedoras do concurso da Fundação “la Caixa” em conjunto com a FCT para financiar projetos de investigação em saúde e biomedicina em Portugal. O grupo do ICVS terá assim um milhão de euros para trabalhar sobre as complicações pulmonares resultantes do fungo aspergillus – presente no ar que respiramos.

Lançamento do Acordo de Transparência Em junho, a Escola de Medicina acolheu o lançamento do Acordo de Transparência sobre a Investigação Animal em Portugal, um compromisso de 16 universidades e centros de investigação para promover uma maior abertura à sociedade e entre si. Os signatários concordam deste modo em partilhar de uma forma consistente a informação sobre a utilização de animais na investigação, bem como das suas justificações científicas, éticas e morais, procurando um melhor esclarecimento do público acerca destas questões.


NOTÍCI AS

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NO T ÍC I A S “A internacionalização tem sido uma das grandes apostas da Escola de Medicina da UMinho e os resultados mostram uma clara evolução da capacidade de colocar alunos em períodos de mobilidade internacional, bem como de receber.”

Prémio Corino de Andrade atribuído à Escola de Medicina — 13 In and out. — 17 As oportunidades que tens fora de “casa” — 21 Nunca será uma Missão Cumprida Alberta Sobral Baptista relata a sua experiência durante os 35 dias de missão com a equipa do projeto Porta Nova. — 25 Médicos em Situação de Risco — 29

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A tecnologia no consultório, no bloco e em debate na Escola de Medicina — 32 Investigação animal em debate na Escola de Medicina — 37


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NOTÍCI AS

Prémio Corino de Andrade atribuído à Escola de Medicina A D I S T I N Ç ÃO É DA S E C Ç ÃO N O R T E DA OR DE M D OS M ÉDIC OS PE L A QUA L I DA DE E I NOVAÇ ÃO NO E NSI NO

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NOTÍCI AS

A Escola de Medicina recebeu das mãos da Nortemédico o reconhecimento por um currículo inovador e com “grande envolvimento dos estudantes nos processos de ensino e aprendizagem”. O Prémio Corino de Andrade destaca o trabalho integrado entre ensino, investigação e formação clínica.

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NOTÍCI AS

A Nortemédico – Secção Regional do de exigência e qualidade”, dando partiNorte da Ordem dos Médicos – atribuiu, cular importância a vários dos pilares da este ano, o Prémio Corino de Andrade à formação do currículo e do curso de MeEscola de Medicina da Universidade do dicina. O texto frisa ainda a capacidaMinho como reconhecimento pela qua- de diferenciadora na formação clínica e lidade e inovação no ensino desde a sua académica dos estudantes, que permite criação. A distinção foi entregue no Dia que os “médicos formados na Escola de do Médico, celebrado a 18 de junho, ao Medicina estejam aptos a integrar equipresidente da Escola de Medicina, Prof. pas de saúde”, colocando sempre o doente no centro do processo. Doutor Nuno Sousa. A vontade da Escola de Medicina em No comunicado da organização que atribui este prémio, destaca-se a qualida- construir melhores cuidados de saúde de sustentada e sustentável, coadjuvada também é reconhecida pela Nortemédipela priorização da investigação como co: “toda a formação, investigação e deuma área de extrema importância na Es- senvolvimento tecnológico que se opera cola de Medicina, que conduziu à criação na Escola tem por objetivo a melhoria do Instituto de Investigação em Ciências dos cuidados de saúde”. Também por isso, da Vida e Saúde (ICVS). A aposta na in- a Escola de Medicina continua a procurar vestigação, juntamente com a qualidade responder às necessidades dos médicos do trabalho publicado – em 2017, o ICVS do futuro e está a preparar uma reforma teve 236 artigos científicos em revista da curricular para continuar a inovar no enárea – é um dos fatores distintivos da ins- sino médico português, com uma orientação humanista e focada na comunicatituição minhota. É destacado ainda, na nota de atribui- ção médico-paciente. O Prémio Corino de Andrade foi instição do prémio, “o grande envolvimento dos estudantes nos processos de ensino tuído em 2002 em homenagem ao médie aprendizagem, reconhecido interna- co e cientista Dr. Mário Corino da Costa cionalmente, a estratégia de seleção do Andrade, o primeiro investigador a idencorpo docente e de investigação e uma tificar cientificamente a comummente cultura de avaliação que eleva os padrões chamada Doença dos Pezinhos.

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In and out. A MOBI L I DA DE D O S E S T U DA N T E S J Á N ÃO É U M M I TO

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A Escola de Medicina cimentou a sua estratégia de internacionalização e já está a colher frutos. No último ano, seis alunos de Medicina saíram em projetos de mobilidade – um novo recorde. A aposta na formação e integração fora de portas estende-se aos docentes, investigadores e funcionários da Escola.

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A internacionalização tem sido uma das grandes apostas da Escola de Medicina da UMinho e os resultados mostram uma clara evolução da capacidade de colocar alunos em períodos de mobilidade internacional, bem como de receber. Além dos estudantes, que motivam a maior parte das entradas e saídas, a mobilidade de pessoal não-docente também aumentou no ano letivo 2017/18. O crescimento nos números da internacionalização acompanha a prioridade da Escola de Medicina em garantir uma maior presença nas escolhas dos estudantes estrangeiros, mas também de permitir o conhecimento de novas realidades educativas e práticas clínicas aos alunos minhotos. Durante o último ano letivo, a Escola de Medicina recebeu 19 estudantes e colocou seis noutras universidades. Este último dado é o mais relevante, principalmente pelo grande crescimento em relação ao ano anterior – em 2016/17 a escola tinha apenas um aluno em mobilidade. Se olharmos para os últimos três anos, entre 2014 e 2017, a Escola de Medicina enviou metade dos estudantes para outras universidades que colocou neste último ano, um indicador demonstrativo do aumento registado em apenas num ano letivo. Pedro Morgado, responsável por esta área, destaca que “a grande virtude destas experiências de internacionalização é o enriquecimento do percurso daqueles que participam nestes programas”, não negando que a “atratividade” da instituição também sai reforçada. A mobilidade dos trabalhadores não docentes é outra das apostas deste ano letivo. Pela primeira vez, a Escola de Medicina teve um trabalhador em mo-

bilidade ao abrigo dos programas internacionais, constituindo-se como uma oportunidade para novas experiências de formação. Os quadros da escola receberam também quatro elementos durante o passado ano letivo – dois professores e dois funcionários. Este é outro valor que supera os números dos últimos anos, visto que apenas em 2015/16 a Escola de Medicina tinha recebido um funcionário estrangeiro. Em sentido inverso, dois funcionários visitaram a Escola para conhecer a realidade dos Laboratórios de Aptidões Clínicas e receber formação na gestão administrativa dos mesmos. Também no que respeita aos docentes, a Escola de Medicina teve a oportunidade de receber dois professores que integraram durante uma semana atividades pedagógicas no âmbito do Mestrado Integrado em Medicina e de investigação no âmbito do ICVS. Ainda neste domínio, foram assinados vários protocolos que poderão aumentar as oportunidades de colaboração com universidades estrangeiras no contexto do programa de mobilidade Erasmus. “O objetivo é podermos aumentar o número de estudantes de Medicina, do Mestrado em Ciências da Saúde e dos Doutoramentos que têm pelo menos uma experiência no estrangeiro ao longo dos seus cursos sem comprometer os níveis de exigência e qualidade”, garante o responsável por esta pasta, Pedro Morgado. O também vice-presidente da Escola acrescenta que esta é uma aposta para manter, visto cumprir com o aumento da “notoriedade” e servir como garantia de “experiências diversificadas quer a estudantes, docentes, investigadores ou funcionários”.


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As oportunidades que tens fora de “casa”

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A abertura de portas tem sido um dos grandes fatores distintivos da internacionalização nas universidades portuguesas, sendo a mobilidade, principalmente através do programa Erasmus, um ponto de partida para descobrir novas formas de ensino, garantir formação diferenciada e conhecer outros países. As oportunidades existem e estão disponíveis para estudantes, docentes e pessoal não-docente. Existem várias formas de experimentar outras escolas ou países, e, para não se deixar nenhuma possibilidade de lado, deixamos algumas possibilidades para alunos, docentes e pessoal não-docente.

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docentes e pessoal não-docente

alunos Existem várias oportunidades para os alunos poderem procurar novas experiências através do programa ERASMUS+, o mais conhecido. Mas mesmo aqui é importante notar que este programa pode ser enquadrado dentro dos Estudos ou do Estágio, permitindo também a possibilidade de conhecer novas realidades médicas e profissionais. Além disso existe um financiamento garantido que ajuda a colmatar as despesas de sair do país. Mas, se o ER ASMUS+ se limita à União Europeia, nasceu também o International Credit Mobility que permite aos alunos – e não só – viajar para outros 27 países fora da EU, através deste projeto e durante cinco meses. Estas não são as únicas possibilidades já que existem Protocolos de Cooperação com universidades externas às abrangidas por estes programas. A Universidade do Minho tem vários protocolos assinados, sendo que nestes países terceiros não é possível viajar sem obtenção de visto de estudo e também não existem bolsas de apoio financeiro. Existem ainda programas para a Jordânia, Líbano, Palestina, Síria e Tunísia, no âmbito do programa JAMIES, que oferece a oportunidade de trabalhar nestes países em regime de voluntariado em missão de treino e ensino.

Os professores e staff também não ficam de fora da equação. O programa ERASMUS+ abre candidaturas também a docentes, devendo estas mobilidades ser desenvolvidas em países parceiros, durante pele menos dois dias e oito horas de ensino. A vantagem deste programa de mobilidade é que tem vários períodos de candidatura e permite desenvolver novos contactos, novas bases de ensino e apresentar o trabalho da Escola de Medicina noutra instituição. No caso dos não-docentes, o processo é similar. Podem embarcar no programa entre dois a cinco dias, com o objetivo de angariar conhecimento, novos procedimentos e métodos de trabalho, podendo ainda ter contacto com culturas diferentes. Além deste programa, somam-se o já mencionado International Credit Mobility, no caso de pretenderem fazer mobilidade num dos 27 países parceiro fora da União Europeia, bem como o programa JAMIES, para a Jordânia, Líbano, Palestina, Síria e Tunísia.


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Nunca será uma Missão Cumprida P ORTA NOVA

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“Por isto e muito mais, quando ao final do

dia nos apetecia tecer comparações e julgar o trabalho deste técnicos era necessário parar para perceber que a realidade que conhecíamos ficou para trás no momento que o avião descolou do aeroporto do Porto, logo para além de inútil o nosso julgamento era fútil.”

—Alberta Sobral Baptista

De Braga a Luanda, de Luanda ao Dundo, mos o Dundo pelos meros 87 km que o passando pelo coração, às vezes, apático, separam de Lóvua, uma cidade vizinha, de Angola, que precisa de mais do que onde pretendíamos apoiar uma comuum sorriso para voltar a sentir de novo. nidade estrangeira que não estava lá por Foram 35 dias de missão, 5 semanas du- vontade se não por necessidade, um povo ras, de sorrisos e lágrimas, conversas e que se viu obrigado a deixar tudo para discussões, acordos e desacordos, vitó- trás, para proteger aquilo que, segundo rias, derrotas e sobretudo muitas bata- o artigo 3.º 1 da “Declaração Universal lhas adiadas, que esperamos travar no dos Direitos Humanos” é seu por direipróximo ano, porque se aprendi alguma to, a vida. No fim de contas um grupo de coisa nesta nossa ex-colónia, foi que An- pessoas esquecido, num país que não lhe gola precisa de tempo. Tempo para curar pertence, vítima de um conflito ignoraferidas, infligidas pelo nosso domínio do internacionalmente. Viemos prestar que os tornou dependentes, mas tam- auxílio, aos refugiados da República Debém pelo que veio depois, pelos quase mocrática do Congo (RDC). Apesar de nós, ocidentais, sermos 30 anos de guerra civil que só terminou em 2002 e deixou marcas e sobretudo sensíveis à guerra do Iémen e até à da mágoa. Tempo para perceber que a vida Síria, os nossos olhos permanecem fetem valor e que as batalhas que travamos chados no que diz respeito à situação da RDC. A falta de cobertura mediática e hoje definem o nosso amanhã. A localização da nossa missão não foi o desinteresse geopolítico do segundo casual, apesar da ajuda humanitária ser maior país de África repercutem-se na fundamental por todo este país, escolhe- pouca ajuda internacional que chega aos

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assentamentos de refugiados e na perpetuação das condições desumanas que podemos testemunhar. Até para nascer é preciso sorte! Digo isto porque a única diferença entre estas famílias, que sobrevivem em tendas de tecido colocadas em lotes de 25m 2 , onde não há luz e a segurança é ainda mais escassa do que a comida, e nós, é a instabilidade do país onde, por acaso, nasceram. No campo de refugiados do Lóvua distribuímos roupas e sementes e ouvimos os anseios dos refugiados, para perceber no que podemos ajudar e como podermos traçar um plano que, no próximo ano, se o assentamento ainda estiver ativo, nos permita ser mais úteis. Até lá, esperemos que as eleições de dia 23 de Dezembro contribuam para terminar com a crueldade vivida na RCD e não passem de mais uma falsa esperança infligida neste povo, débil, sofrido e que a meu ver só merece paz e o conforto do seu lar. Contudo se a situação dos refugiados é catastrófica, o estado dos serviço de saúde em Angola é de igual modo preocupante. Todos os dias, quando chegávamos ao hospital, passávamos por um labirinto humano, contornando as dezenas de familiares dos doentes que, sem dinheiro ou casa perto e com necessidade preparar as refeições e guardar os medicamentos, optavam por ficar no exterior do hospital, onde viviam por tanto tempo quanto demorasse a chegada da nota de alta ou de óbito. Depois da reunião diária onde se tentava registar todos os movimentos verificados no hospital, distribuíamo-nos pela Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) e pela Consulta Externa. Na UCI a única água que tínhamos era a que pingava do ar condicionado, as seringas eram poucas, as agulhas menos ainda, por vezes aparecia álcool, mas o melhor era não contar com ele. Os enfermeiros sujeitavam-se a trabalhar largas horas, sem alimentação e as mínimas condições de proteção pessoal, não tinham termómetros nem luvas e não foram poucos os dias em que

apenas um ficava responsável por toda a unidade. Por isto e muito mais, quando ao final do dia nos apetecia tecer comparações e julgar o trabalho deste técnicos era necessário parar para perceber que a realidade que conhecíamos ficou para trás no momento que o avião descolou do aeroporto do Porto, logo para além de inútil o nosso julgamento era fútil. No final da missão ficou a sensação de realização, mas a certeza que este trabalho não terá fim e que esta nunca será uma missão cumprida. Por tudo o que leram até agora, peço-vos, não fechem os olhos, não olhem só por vós, dêem uma mão a quem precisa. Para nós esta realidade tem um fim, porque independentemente de tudo voltamos para casa, mas aquela é a casa deles. Não tem de ser em África, não tem de mudar a vossa vida, só têm de acreditar no que vos trouxe cá, ao curso de medicina, que cada vida vale igual e que pode estar nas nossas mãos contribuir para minimizar nem que seja por alguns segundos o sofrimento de alguém. Por fim, queria só deixar um enorme obrigada aos 11 elementos da equipa do Porta Nova, em especial aqueles que me acompanharam e apoiaram nesta aventura, sem vocês, não era Haja Saúde possível, por isso, obrigada Duarte, obrigada Anocas, obrigada Gil, são pessoas como vocês que me fazem acreditar num mundo melhor, onde podemos, mais do que ter fé, ter esperança, porque para mim, vocês são a base que distingue estes dois conceitos.


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Médicos em Situação de Risco

T EX TO JOA NA NOVA IS DOS SA NTOS

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O crescente desfasamento entre o número de médicos que procuram a formação especializada e a capacidade formativa dos hospitais e dos centros de saúde é, atualmente, uma das grandes preocupações de toda a comunidade médica e, em particular, dos alunos das escolas de Medicina. Na prática, esta discordância entre o número de vagas disponíveis para a formação especializada e o número de alunos que concorrem traduziu-se, nos últimos três anos, num grande aumento do número de médicos indiferenciados. Sem especialidade e desprotegidos pela ausência de soluções, estes médicos podem optar por repetir a Prova Nacional de Acesso à Formação Médica Especializada (PNA), emigrar, ou então trabalhar como médico indiferenciado, sem contrato nem horários fixos e sem direito à progressão na carreira médica. Atualmente, os médicos indiferenciados perfazem já um terço dos clínicos contratados para prestação de serviços.

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Em 2015, registou-se, pela primeira vez nos últimos vinte anos, um número de vagas para a formação especializada inferior ao número de candidatos e, desde aí, esta discrepância tem vindo a acentuar-se. Nesse ano já se registavam mais de setecentos médicos sem especialidade e, em 2018, contam-se já mais de dois mil. A Associação de Médicos pela Formação Especializada (AMPFE), que defende o acesso à formação especializada a todos os médicos, estima que, em 2021, este número possa ultrapassar os quatro mil. Sendo cada vez mais difícil aceder às vagas para a formação especializada e sendo cada vez maior a probabilidade de os médicos se tornarem indiferenciados, a competitividade entre os alunos tornou-se cada vez mais feroz, verificando-se, inclusive, um aumento do burnout entre os alunos de Medicina. Atualmente, a comunidade médica assiste quer à formação de um número exagerado de médicos, muito acima das necessidades do país, quer a uma degradação da qualidade da formação médica. Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, aponta o défice de especialistas no Serviço Nacional de Saúde como a principal causa para a diminuição da capacidade de formar médicos com qualidade e salienta, ainda, a importância de reforçar o capital humano. Já os estudantes de Medicina, representados por Edgar Simões, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), defendem uma redução do número de vagas nos cursos de Medicina, garantindo a qualidade da formação médica.

Aumentar o número de vagas para a formação especializada não é, de todo, uma alternativa, uma vez que a capacidade formativa, com qualidade, já está no limite. Contudo, uma outra solução parece surgir. Todos os anos há vagas que não são preenchidas e outras que são deixadas por aqueles que desistem da formação. Neste ano, e com carácter de exceção, essas vagam abrem-se para os mais de cem médicos que ficaram sem vaga no ano de 2015. Miguel Guimarães acredita que este concurso poderia deixar de ser excecional. Com vista a aproveitar ao máximo todas as vagas disponíveis, o bastonário da Ordem dos Médicos propõe a existência de uma segunda fase do concurso à formação especializada. Aliando-se a diminuição do numerus clausus dos cursos de Medicina ao reforço do número de especialistas nos hospitais e nos centros de saúde, bem como à abertura de uma segunda fase do concurso à formação especializada, talvez toda a situação se inverta. Talvez este seja o primeiro passo para uma melhoria da qualidade da formação médica e para a diminuição do número de médicos indiferenciados evitando o boom de emigração previsto por João de Deus, presidente da Associação Europeia dos Médicos Hospitalares. Depois de tantos anos de luta, e de o Exame Nacional de Admissão à Especialidade ter sido alterado, será que podemos ter esperança de que todas (ou, pelo menos, algumas) daquelas medidas sejam tomadas? Ou estarão os médicos numa situação de risco sem perspetivas de melhoria?


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A tecnologia no consultório, no bloco e em debate na Escola de Medicina O US O DA T E C NOL O GI A N A M E DIC I N A É O GR A N DE T E M A DA C ON F E R Ê NC I A D O E BM A

T EX TO TI AGO R A M A LHO


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A tecnologia está em todo o lado – e a de geração automatizada de itens. No medicina não é exceção. Aliás, a evolu- âmbito educacional, Marco António Carção da medicina também é feita “à custa” valho-Filho, da Universidade de Gronindas mudanças e melhorias tecnológicas gen (Holanda), desenvolveu um inovador que permitem criar novas soluções. Não programa com recurso a ferramentas de é surpreendente, portanto, que a próxima e-learning e redes sociais no contexto da conferência do European Board of Medi- educação para a medicina de emergência. A discussão dos prós e contras da teccal Assessors (EBMA) queira trazer o assunto para cima da mesa. Assim, entre 22 nologia no panorama médico está reservae 24 de julho, a Escola de Medicina acolhe da para o final do encontro EBMA com a uma conferência que pretende debater o partilha das vantagens e dificuldades que propósito da tecnologia no contexto mé- os médicos têm encontrado ao longo dos dico – entre outras questões relevantes anos na adaptação ou utilização de novas para a assistência médica, como a perfor- ferramentas, dispositivos e softwares. mance ou o profissionalismo. A conferência EBMA, este ano realizada em Braga, começa antes do discurso de abertura. Os cursos pré-conferência estão disponíveis e oferecem experiência prática em campos emergentes com um enfoque claro na automatização e computorização de tarefas tradicionais. Além das novidades, a conferência contará com a presença dois keynote speakers internacionais. André de Champlain vem do Canadá, sendo especialista em psicométrica e no uso

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NOTÍCI AS

A conferência organizada pelo EBMA tem data e local marcado: Braga, 22 a 24 de novembro de 2018. Focada no debate em torno do uso da tecnologia na medicina e nos prós e contras que existirão no futuro.

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Investigação animal em debate na Escola de Medicina A É T IC A NO US O D O S A N I M A I S E A A P O S TA N A T R A NS PA R Ê NC I A F OR A M O S GR A N DE S M A RC O S D O C ONGR E S S O

T EX TO TI AGO R A M A LHO


NOTÍCI AS

Durante o congresso organizado pela Sociedade Portuguesa de Ciências em Animais de Laboratório, a ética, a transparência e os animais (claro) estiveram no centro das atenções. A Escola de Medicina acolheu o evento no qual foi lançado o Acordo de Transparência, um compromisso importante na abertura de um tema pouco discutido.

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NOTÍCI AS

Qual o papel dos animais na investiga- por via de 16 instituições, estando o Acorção científica? A resposta parece estar na do aberto a novos parceiros. Kirk Leech ponta da língua – principalmente quan- aponta o caminho deste compromisso do se fala em saúde e biomedicina. Mas com uma maior compreensão da populeva a outras perguntas como “devemos lação que está fora do universo da ciênusar animais para a experimentação cien- cia: “Este Acordo de Transparência é um tífica?” ou “que contornos éticos estão avanço significativo para o sector biomépor detrás desta utilização?”. Na verda- dico em Portugal. Isto estabelecerá altos de, não houve respostas certas para dar padrões de abertura e levará a um maior no congresso organizado pela Sociedade entendimento no público em geral sobre Portuguesa de Ciências em Animais de os benefícios da investigação com aniLaboratório (SPACAL). O foco do deba- mais, incluindo a contribuição que esta te estava na qualidade e transparência, tem para os estudos em cancro e doenças como indicava o próprio tema, e a apre- do cérebro.” Os signatários concordam deste modo sentação do Acordo de Transparência na Escola de Medicina, a 21 de junho, foi um em partilhar de uma forma consistente a primeiro passo para a abertura da investi- informação sobre a utilização de animais na investigação, bem como das suas justigação animal à sociedade. O lançamento público deste compro- ficações científicas, éticas e morais, promisso assinado por 16 universidades e curando um melhor esclarecimento do centros de investigação pretende melho- público acerca destas questões. O congresso, que se estendeu até 23 rar a comunicação com o público, num tópico muito pouco abordado como é a de junho, ainda contou com a presença utilização de animais para fins científi- de nomes reconhecidos internacionalcos. A transparência é o grande mote para mente como Joseph Garner, da Univereste acordo apresentado por Nuno Sousa, sidade de Stanford, Alberto Gobbi, do presidente da Escola de Medicina, Ricar- Instituto Europeu de Oncologia, e Kirsdo Afonso, presidente do SPCAL, e Kirk ty Reid, da Federação Europeia das InLeech, da European Animal Research As- dústrias Farmacêuticas. Além das questões de transparência na sociation (EARA) – a principal promotora investigação, discutiram-se a qualidade e deste projeto. A EARA tem procurado incentivar as bem-estar animal, a legislação aplicável associações científicas a promover acor- e a própria perspetiva biológica da utilidos de transparência, sendo que Portugal zação de animais para a experimentação, foi um dos primeiros países a receber este sempre com o intuito de promover maior e assinar este compromisso – neste caso qualidade e controlo nesta utilização.

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PE S S OA S “A Escola de Medicina da Universidade do Minho é, hoje, uma referência no ensino médico em Portugal. Não foi por acaso que, há poucos meses atrás, o mesmo foi reconhecido pela Ordem dos Médicos através da atribuição do Prémio Corino de Andrade.”

Luís Miguel Ferreira de Sousa E N T R E V I S TA

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João Cerqueira, Diretor do Mestrado Integrado em Medicina João Cerqueira refere que a ideia de fazer uma reforma curricular não parte do princípio que estamos a fazer coisas mal e precisamos de mudar, parte do princípio de que o ambiente em que os nossos graduados daqui a uns anos vão trabalhar vai ser diferente daquele para o qual estamos agora a prepará-los. E N T R E V I S TA

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— Luís Sousa

Testemunho de Internacionalização E N T R E V I S TA

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O Testemunho de uma aluna de Cabo Verde em Portugal E N T R E V I S TA

Luís Miguel Ferreira de Sousa — página seguinte

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Luís Miguel Ferreira de Sousa E N T R E V I S TA AO A N T IG O A LU NO

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“Se fosse hoje, a Universidade do Minho voltava a ser a minha primeira opção, por razões de proximidade, logicamente, mas, sobretudo, pela forma como é ministrado o ensino. Valorizo muito o modus operandi da nossa escola, nos primeiros anos do curso, muito centrado na autoaprendizagem, no estudo dos sistemas orgânicos de forma integrada e na interligação constante entre a clínica e as ciências biomédicas que vão fazendo parte da nossa formação.”

—Luís Sousa

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HAJA SAÚDE Tens um percurso um pouco atípico, em que, pouco tempo após te teres tornado especialista em medicina geral e familiar, chegaste a coordenador de uma USF. Como se dá este "salto" profissional? O que foi preciso para lá chegar? LUÍS SOUSA Confesso que nunca fez parte dos meus projetos de vida assumir, um dia, a coordenação de uma USF, muito menos numa fase tão precoce do meu percurso profissional. A responsabilidade de coordenar a USF Maria da Fonte surgiu de forma natural e, ao mesmo tempo, também, inesperada. Natural, porque nunca me assumi como candidato ao exercício destas funções, e inesperada, porque, achava, muito sinceramente, serem funções que recairiam sobre outros colegas mais velhos e com mais anos de serviço na USF. Não encaro isto como um “salto” na carreira. Apenas como um acréscimo de responsabilidades. Muito do tempo que destinava ao estudo e aos doentes, passou também a ser dividido com as preocupações da gestão desta USF. Isso implica, acima de tudo, muita organização que considero essencial de forma a atenuar o desgaste que estes cargos, inevitavelmente, provocam. Felizmente, tenho a sorte de coordenar uma equipa de profissionais de excelência e, tão ou mais importante do que isso, geradores de bom ambiente e com espírito de equipa. Estamos todos focados em resolver problemas e não em provocá-los. Assumi a coordenação da USF numa fase difícil para a unidade, onde tivemos de trabalhar vários meses sem dois médicos. Foram meses que implicaram uma maior necessidade de organização e grande sacrifício de forma a proporcionar a melhor resposta possível aos nossos utentes. É, de facto, nos momentos de crise que se sente a força de uma equipa e, isso foi notório, até pela forma como, mesmo nessa altura mais crítica, conseguimos melhorar os nossos indicadores de saúde.

Como descreves a experiência de tirar o curso de medicina na Universidade do Minho? Se fosse hoje, a Universidade do Minho voltava a ser a minha primeira opção, por razões de proximidade, logicamente, mas, sobretudo, pela forma como é ministrado o ensino. Valorizo muito omodus operandi da nossa escola, nos primeiros anos do curso, muito centrado na autoaprendizagem, no estudo dos sistemas orgânicos de forma integrada e na interligação constante entre a clínica e as ciências biomédicas que vão fazendo parte da nossa formação. É um curso com um ensino muito focado na prática e tenho a noção de que, hoje, esta característica ainda é mais notória, muito por força de novas metodologias que foram sendo introduzidas e aprimoradas ao longo dos anos. Foram, talvez, os seis anos da minha vida mais trabalhosos e onde, mais intensamente, me dediquei à Medicina. Mas tirar este curso não pode nem tem que ser fácil. Olho para trás e orgulho-me em ter sido aluno nesta casa. De que forma é que a Escola de Medicina te preparou para o desafio constante de ser médico de família e, simultaneamente, coordenador de uma equipa? Estudei para ser médico. O percurso começou em 2004 quando ingressei na Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho. Depois veio o internato médico onde, durante quatro anos, me preparei para o desafio de ser médico de família. Nesta fase, foi crucial o apoio que tive da minha orientadora, Dra. Tahydi Valle, para além de todos os profissionais, médicos, enfermeiros e secretários clínicos da USF +Caranda onde fiz a minha formação e que considero, por isso, como a minha “casa-mãe”. Assim, quando assumi a responsabilidade de ser o médico de família daqueles que, hoje, ainda são meus utentes, na USF Maria da Fonte, senti-me preparado. De facto, estudei e preparei-me para ser médico. Pelo contrário, não me preparei para ser coordenador de uma USF.


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Nome completo Luís Miguel Ferreira de Sousa Idade 31 anos Curso de Medicina 2004–2010

Formação académica e profissional 2011 Internato do Ano Comum Unidade Local de Saúde do Alto Minho 2012–2016 Internato de Formação Específica em Medicina Geral e Familiar USF + Carandá (ACES Cávado I) 2016 Médico Especialista em Medicina Geral e Familiar 2016 até ao presente Médico Assistente de Medicina Geral e Familiar USF Maria da Fonte (ACES Cávado II Gerês/Cabreira) 2018 até ao presente Coordenador da USF Maria da Fonte 2013–2015 Pós-Graduação em Medicina do Trabalho Faculdade de Medicina da Universidade do Porto 2015–2017 Plano Transitório de Formação em Medicina do Trabalho 2015 até ao presente Plano Transitório de Formação em Medicina do Trabalho 2018 Médico Especialista em Medicina do Trabalho


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Não fiz nenhum curso de preparação Que conselhos deixarias para alguém nem nunca tive uma orientação nesse que quisesse ingressar no curso de sentido. Porque ambiciono ser bom no medicina da Universidade do Minho? que faço, quero ser melhor coordenador Em primeiro lugar, dava-lhe os paratodos os dias e, por isso, procuro seguir béns pela escolha. A Escola de Medicina da o exemplo daqueles que tenho, para mim, Universidade do Minho é, hoje, uma refecomo referências na Medicina Geral e rência no ensino médico em Portugal. Não Familiar e na gestão de USF, contan- foi por acaso que, há poucos meses atrás, do, também, com a ajuda daqueles que o mesmo foi reconhecido pela Ordem dos me rodeiam, no trabalho e em casa. Não Médicos através da atribuição do Prémio passo sem ouvir os conselhos da minha Corino de Andrade. esposa, também médica formada nesta Estudar Medicina na Universidade casa, e que muito me ajuda a ser melhor do Minho implica muita dedicação, recoordenador. E, na USF, procuro sempre siliência e humildade. Deixa de ser posouvir a equipa, “sentir-lhe o pulso”, em sível sabermos de trás para frente o que reunião ou falando pessoalmente com está escrito nos livros, como acontecia no cada um. Não me importo de voltar atrás, secundário, e as fronteiras do conhecise tiver de ser, para fazer melhor. E assim, mento ganham outras dimensões. Acima vou trabalhando diariamente, ciente de de tudo, é importante organização, soque tudo tento fazer para dar o meu con- bretudo do tempo e das horas de estudo. tributo e ajudar ao desenvolvimento da É bom, também, deixarmos tempo para USF Maria da Fonte. Em última instância, outras atividades além do estudo, para a os nossos horizontes visam proporcionar família e amigos e para a vivência do esganhos em saúde à população que, orgu- pírito académico que só se sente verdalhosamente, servimos. deiramente na fase da vida de estudante.

Luís Miguel Ferreira de Sousa


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João Cerqueira, Diretor do Mestrado Integrado em Medicina R E F OR M A C U R R IC U L A R QU E R PR E PA R A R A LU NO S PA R A A M E DIC I N A D O F U T U RO

T EX TO R ITA A R AÚJO


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O processo de reforma curricular do curso de mestrado integrado em Medicina teve início em maio de 2017 e “partiu de uma necessidade identificada pelo corpo de docentes e alunos da Escola, refletindo um pouco sobre o que vai ser a medicina de 2050”. Resulta, por isso, de uma “motivação intrínseca” e traduz-se numa oportunidade única de mudar a maneira como se ensina Medicina. João Cerqueira assume a importância de “antecipar os acontecimentos e preparar os nossos médicos” de forma pioneira, consciente do grande “peso da responsabilidade por sermos os primeiros a fazer isto”.

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é que se esperava dos nossos graduados daqui a 10-15 anos. Quais as expectativas de fazer uma reforma curricular? JOÃO CERQUEIRA A ideia de fazer de quem vai trabalhar com eles sobre a uma reforma curricular não parte do sua formação e as suas competências no princípio que estamos a fazer coisas mal final do curso. Definimos um conjunto e precisamos de mudar, parte do princí- de ideias que deveriam estar presentes pio de que o ambiente em que os nossos no currículo para acomodar essas exgraduados daqui a uns anos vão trabalhar pectativas e necessidades. Esta fase foi vai ser diferente daquele para o qual esta- completada em setembro de 2017. Depois entrámos na segunda fase. mos agora a prepará-los. Portanto, numa perspetiva de antecipação das coisas que Tendo em conta estas ideias para o curso vão acontecer na prática dos cuidados de e estas necessidades, o que estamos a fasaúde e da medicina, decidimos pensar o zer é tentar, por um lado, elencar modos que é que essas mudanças implicam em de as conseguir (que diferentes maneiras termos de perfil do graduado e, depois, é que temos de conseguir responder a espensar de que maneira é que temos de tas expectativas?) e de que maneira é que adaptar o que estamos a fazer do ponto isso implica adaptações do ponto de vista de vista do currículo para que o gradua- físico. A segunda fase está em curso até do tenha um perfil adequado à medicina final de maio [de 2018]. Nessa altura vai do futuro. Os objetivos são, precisamente, começar a terceira fase. Com base nestas adaptar o perfil dos nossos graduados às ideias vamos começar de facto a montar o currículo. Vamos para um nível de detaexigências da medicina do futuro. lhe cada vez maior e vamos começar a diEm que etapa estamos e o que é que zer como é a organização macro de cada ano curricular. Em termos de calendário, foi feito até agora? Isto já começou há quase um ano, em a ideia é que esta fase três, que vai comemaio de 2017. De maneira muito genéri- çar algures em junho ou julho, esteja comca, o processo tem três fases. Na fase um, pletada na fase mais macro até dezembro, que já está terminada, ouvimos uma sé- de forma a que se possa submeter as prorie de pessoas, entidades, e organizações postas de alteração de currículo às autoimplicadas em tudo o que seja a prática ridades competentes. E depois começar da medicina (doentes, hospitais, asso- a trabalhar no detalhe, para que as aulas ciações, etc.). E tentámos perceber o que possam começar em setembro de 2020. HAJA SAÚDE Como surgiu a ideia

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Qual o propósito dos vários grupos de a avaliar. E já pensámos exatamente nisso, no que seria o resultado desejável de trabalho que foram criados? Em termos de grupos de trabalho (GT), e como podemos aferir se lá estamos ou a estratégia para a fase dois foi criar um não. E o resultado desejável é, de facto, conjunto de GT com diferentes atores que os nossos graduados saiam daqui a (pessoal docente e não docente, alunos corresponder ao perfil que foi identifie, em muitos casos, membros externos). cado como sendo aquele que vai ser neCada GT tem uma missão específica na cessário para exercer medicina em 2030 sua área e as áreas são muito variadas, ou 2050. E esse perfil inclui que eles sedesde realidades mais metodológicas jam dotados de um excelente raciocínio (maneira de avaliação, metodologias de clínico, que sejam altamente motivados ensino) até aos conteúdos (profissionalis- e empenhados na aprendizagem médica mo, humanidades, etc.). Todos estes gru- contínua, que tenham um grande perfil pos, nesta primeira fase, vão pensar sobre humanista e uma base científica sólida. Finalmente, há uma última [caractea inovação e que caminhos é que existem para pormos isto em prática. Vão, sobre- rística] que também é importante, que é que os nossos graduados sejam tecnolotudo, apontar linhas de atuação. Os objetivos da reforma curricular es- gicamente conhecedores, que estejam à tão pensados, o que os grupos vão tentar vontade com a tecnologia e que a saibam fazer é identificar que metodologias de usar com os doentes. A estas cinco caracaprendizagem são necessárias para atin- terísticas de perfil associam-se também gir as expectativas e dar sugestões de outras características que nós queremos quais poderão ser mais adequadas à nossa que o próprio processo final de chegar a esta decisão tenha. Ou seja, que o currírealidade, por exemplo. culo todo seja altamente flexível, que proQual seria para vocês o resultado porcione um elevado grau de motivação desejável desta reforma curricular? aos alunos, e que permita também que Ao mesmo tempo que estamos a pla- alunos com diferentes perfis tenham pernear a reforma, estamos a planear modos cursos diferentes. Se há um aluno que tem

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um perfil mais científico, nós queremos que o currículo lhe dê oportunidade de se dedicar mais à investigação cientifica de forma estruturada, não necessariamente só extracurricular, do que aos colegas. A medicina de 2050 vai ser assim tão diferente da medicina que se pratica atualmente? Provavelmente, sim. Eu acho que a medicina do futuro vai ser diferente porque claramente esta medicina não está a funcionar. O que é que imaginamos que vai ser a maneira como se vai praticar boa medicina? Vai ser com um reforço muito claro na capacidade de comunicação e no humanismo. O que nós não precisamos é de ter médicos-robots nem médicos atrás do computador. Nós precisamos de ter médicos que falam cara-a-cara com as pessoas. Essa componente de formação tem de ser crítica e tem de ser especificamente desenvolvida durante a formação do médico. Porque médicos que não tenham isto vão cair na tentação de um perfil cada vez mais tecnológico. E, de facto, se isso agora é verdade, daqui a 30 anos o que vai diferenciar os bons dos maus profissionais é a capacidade de comunicar. Porque a maior parte dos factos vai

estar disponível nos Google e nas wikipédias que houver na altura, a maior parte das decisões vai estar a ser feita por inteligência artificial. As conversas com os médicos vão ser mais difíceis, e os nossos médicos têm de estar prontos para isso. Por isso é que as capacidades humanas são muito importantes, porque é preciso perceber o que está por detrás destes pedidos de ajuda, destas conversas. É preciso também conhecer muita tecnologia, os doentes vão saber muito mais do que nós. A inteligência artificial vai facilitar de facto os diagnósticos, mas provavelmente vai continuar a ser preciso transformar aquilo de que o doente se queixa em informação que é útil para a máquina. Por outro lado, a maneira como se transmite o diagnóstico ao doente, como se motiva o doente a colaborar com a terapêutica, como se motiva o doente para o plano terapêutico… tudo isso continua a precisar de médicos. Temos de trabalhar os nossos médicos para as questões da medicina comportamental, tudo o que tenha que ver com mudanças de estilos de vida, que são coisas que têm um real impacto nos doentes e que nós agora estamos simplesmente a ignorar na formação dos médicos. Isto tudo implica mudanças.


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“O que é que imaginamos que vai ser a maneira como se vai praticar boa medicina? Vai ser com um reforço muito claro na capacidade de comunicação e no humanismo.”

—João Cerqueira

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A tecnologia vai mudar a forma de saúde está organizada de forma errada. Porque está organizada em função praticar medicina? Temos de preparar os médicos para a de resultados que são números, o que tecnologia, eles têm de estar à vontade. funciona muito bem quando estamos a Uma das coisas que vamos fazer é pôr um falar de produzir meias. Mas claramenecógrafo nas mãos de cada aluno, porque te não funciona bem quando estamos a de facto se o estetoscópio foi uma revela- falar de doentes nem de doenças. E o ção quando apareceu, hoje em dia há mui- que é preciso verdadeiramente é transto pouca informação útil que se consegue formar aquilo que são os indicadores de resultados em saúde de uma cultura retirar de um estetoscópio. O ecógrafo não substitui o estetoscó- de produção de números para uma culpio, mas a verdade é que hoje em dia aus- tura de ganhos em saúde. A medicina cultar o coração é praticamente desneces- de 2050 não vai ser uma medicina reasário. Porque se tivermos uma ecografia tiva, vai ser uma medicina preventiva e cardíaca obtemos tanta e mais informação preditiva. Temos também de incorpodo que ouvindo o som. Já há muitos cená- rar isso nos nossos profissionais. Uma rios, nomeadamente na medicina de ur- das bandeiras da nossa reforma currigência, de trauma, de catástrofe, em que cular é a educação médica baseada em a ecografia à cabeceira do doente feita por resultados de saúde (“health outcomenão imagiologistas é fundamental. E este -oriented medical education”), que é fenómeno de ter imagiologia à cabeceira uma educação médica na qual os aludo doente feita por não imagiologistas vai nos são treinados a avaliar resultados e ganhos em saúde. espalhar-se às outras áreas todas. Há uma outra coisa que na medicina do futuro é muito importante. Hoje em dia, a maior parte dos serviços de

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João Cerqueira, diretor do mestrado integrado em Medicina


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“No fim, fica a nostalgia e a saudade” T E S T E M U N HO S DE I N T E R N AC ION A L I Z AÇ ÃO

T EX TO NÚR I A M ASCA R ENH AS


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HAJA SAÚDE Sabemos que realizasO que levar nas malas? te um intercâmbio clínico pela FedePara o estágio hospitalar devem conração Internacional de Estudantes firmar com a instituição de acolhimento de Medicina (IFMSA), em 2016, e um o tipo de farda usada, bata branca ou estágio ERASMUS+ este ano. Como uniforme. Não se devem esquecer do se prepara para o processo de candi- cartão de identificação e, consoante a datura aos intercâmbios? especialidade, estetoscópio. Mas, não só do hospital vive o interACÁCIA SILVA O processo de candidatura para os estágios IFMSA decorre câmbio, por isso, não se esqueçam da por volta de outubro/novembro e baseia- máquina fotográfica, de sapatilhas para -se num sistema de pontos. Assim, quem todas as aventuras e da comida e bebida tiver mais pontos escolhe primeiro e tem, tradicionais portuguesas para partilhar então, maior probabilidade de escolher o a nossa cultura com todos! Se possível, que deseja. Estes pontos podem ser obti- deixar ainda um espacinho para poder dos de várias formas, sendo que receber trazer todas as recordações! os alunos incoming e ser contact person Qual a principal dificuldade que garante mais pontos. Outras formas de sentiste? os receber são através da participação A primeira dificuldade é o processo em atividades do NEMUM, organizar atividades, assistir a palestras ou, ainda, de candidatura: como disse, no caso dos intercâmbios da IFMSA é necessáir a congressos. Quanto ao ERASMUS+, não há um rio colecionar pontos e para ERASMUS prazo definido de candidatura, mas to- contactar as instituições o que requer dos os documentos têm de estar devida- algum trabalho de pesquisa e buromente preparados e assinados por todas cracia até ajustar todos os pormenores as instituições até dois meses prévios à com as mesmas. Depois é necessário partida. Além disso, a procura pelo lo- planear a viagem, marcar os voos e, no cal do estágio e contacto com o mesmo caso de ERASMUS, arranjar alojamento. é da responsabilidade do aluno. Assim, No entanto, tudo isto se torna mais fácil aconselho a iniciar o processo de can- quando o fazemos por algo tão especial didatura com vários meses de antece- quanto um intercâmbio além-fronteiras. dência e a contactar várias instituições Uma vez no país de acolhimento, as pesimultaneamente, uma vez que, nem quenas dificuldades que aparecem são todas respondem atempadamente ou facilmente superadas, quer recebendo a ajuda dos outros alunos de intercâmbio, afirmativamente. quer contactando os responsáveis no Quais as dicas que podes dar em hospital ou universidade. Mais do que dificuldades há desafios e aventuras que termos da escolha do país? Para ajudar no processo de seleção de se tornam parte das nossas histórias de país podem encontrar, no site da IFM- intercâmbio. SA, o feedback dos alunos que já fizeram Quais as principais diferenças culintercâmbio no que diz respeito ao esturais e em ambiente hospitalar tágio hospitalar, ao programa social, à que notaste no teu intercâmbio habitação ou até mesmo aos custos. Este mais recente? registo de experiências passadas é muito O intercâmbio que realizei foi em útil no processo de escolha, mas no fim a decisão depende dos objetivos pessoais Riga, na Letónia, e estive em ERASMUS para o intercâmbio, dos próprios sonhos na Croácia. Ambos os países são indepenquanto a países a visitar e, não menos dentes desde 1991 por isso ainda carregam consigo a cultura dos países ocupantes. importante, do dinheiro disponível.

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No caso da Letónia, metade da população é russa e pude notar que são mais fechados, os idosos são algo aversos a estrangeiros e, em geral, não têm bom nível de inglês. Os croatas, com passado eslávico, são muito acolhedores, gostam de conhecer novas pessoas, de conhecer a nossa cultura e fazem o necessário para nos ajudar em todas as dificuldades. As gerações mais novas são de igual forma atenciosas e abertas a novas culturas; hoje em dia, prevalece a cultura ocidental nos jovens o que diminui as diferenças e torna a comunicação mais fácil. Quanto à experiência hospitalar também existiram várias diferenças que vão ao encontro das singularidades culturais já apresentadas: na Letónia, o meu tutor não falava muito bem inglês o que dificultou o proveito do estágio, no entanto, estava disponível para responder às minhas dúvidas e explicar os procedimentos que realizava. Na Croácia, posso dizer que tive o melhor estágio do curso de Medicina e no qual senti que aprendi mais: todos os dias preocupavam-se em mostrar-me procedimentos diferentes, em explicar-me e ensinar-me algo novo e deram-me várias oportunidades de realizar gestos clínicos que nunca tinha tentado a não ser em modelos. Deixo a ressalva que estive na Letónia quando terminei o terceiro ano e na Croácia após o quinto, por isso, também a minha atitude e conhecimentos demonstrados foram diferentes e permitiram tirar mais proveito do estágio. Qual o segredo para um intercâmbio de sonho? Apesar de muito diferentes, fiz dois intercâmbios de sonho! Todos os dias me preencheram e acrescentaram algo, mas, mais do que isso, conheci pessoas e culturas que me marcaram, fizeram refletir e certamente alteraram algo em mim. E esta coleção de momentos e pessoas é o bem mais valioso que trazemos no fim. Não existe um segredo para um intercâmbio de sonho. O melhor conselho que

posso dar é adotar uma atitude positiva e aberta a novas pessoas, vontade e energia para conhecer o país de acolhimento e a sua cultura, aproveitar cada momento, evento e as amizades que certamente vão fazer. Mas as vantagens de fazer intercâmbio não ficam por aqui, terás, ainda, a oportunidade de melhorar o nível de inglês – competência essencial atualmente – de aprender sobre outros sistemas de saúde e perceber melhor as vantagens e desvantagens do nosso e, não esquecer, terás amigos um pouco por todo o mundo para visitar futuramente. Como manter contacto com as pessoas que conheceste? No fim do intercâmbio fica a nostalgia e a saudade, sentimento partilhado por todo o grupo de alunos e aí começa a troca de recordações e também da rotina de cada um no seu país. Hoje em dia, as redes sociais permitem o constante contacto entre pessoas e o prolongamento das amizades lá feitas. Em ambos os intercâmbios a plataforma mais usada foi o Whatsapp e mesmo após o seu término continuou a partilha de momentos especiais. No entanto, nada melhor que visitar os colegas na sua casa! Desde o primeiro intercâmbio já recebi cá alguns colegas e visitei outros tendo sido, sem dúvida, a melhor forma de manter o contacto e, claro, visitar o país dos amigos. Vale a pena fazer mais do que um intercâmbio? Penso que cada intercâmbio é uma experiência diferente, seja pelo país escolhido, pelo grupo de alunos distinto ou, até mesmo, por diferenças a nível pessoal ou académico. Assim, todas as oportunidades constituirão possibilidades de enriquecimento pessoal e profissional. A meu ver, as aprendizagens retiradas de cada intercâmbio são ímpares e heterogéneas, somando-se a cada nova experiência. Vale a pena fazer quantos intercâmbios puderem e, caso tenha a possibilidade, sem dúvida que farei mais.


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“O mais importante é estarem sempre ocupados com algo” O T E S T E M U N HO DE U M A A LU N A DE C A B O V E R DE E M P ORT UG A L

T EX TO JOÃO LIM A


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HAJA SAÚDE Como te preparaste Tive de aprender a fazer compras sopara vir estudar num país relativa- zinha, selecionando os produtos mais mente longe de onde vivias? baratos sem comprometer a qualidade e NÚRIA MASCARENHAS Nada me pagar as contas da casa (renda, luz, água, podia preparar para este curso. Indepen- gás, internet/telemóvel/televisão, etc.), dentemente do país onde estudei ou das sendo responsável para evitar cortes basdisciplinas que tive no liceu (risos). Mas, tante dispendiosos. Evitar as cadeias de fast-food. Em apesar de ter nascido em Portugal e de viajar regularmente para cá, nunca tinha Cabo Verde, por exemplo, não há McDovindo a Braga e nunca tinha vivido longe nald’s. Antes só comia burgers ao viajar, nas férias, mas quando vim para cá viver, dos meus pais. Primeiro, informei-me em Cabo Verde admito que tive dificuldades em limitar sobre toda a papelada e burocracias que o meu consumo de pizzas, burgers, chotinham de ser preenchidas. A seguir, tive colates, gomas ou pipocas. de procurar casa. Uma que fosse acessível O que mais te ajudou em termos em termos de preço, perto da faculdade e de adaptação? que, de preferência, já lá morassem pesForam, sem dúvida, as pessoas que soas que me pudessem orientar. Entrei em contacto com alunas cabo- conheci em diversos ambientes. Vivi -verdianas que residiam em Braga para com cabo-verdianas, uma delas também me orientarem e tive a felicidade de ir vi- aluna da nossa escola. Ela foi impecável ver com elas e isso ajudou imenso. Com a comigo, orientando-me, dando-me diajuda dos meus pais, consegui decorar o cas de como estudar, pressionando-me meu quarto para que me sentisse em casa, para que não me desleixasse e fazendomesmo não os tendo por perto. E procu- -me companhia sempre. Tive a ousadia rei informar-me sobre o que era a praxe e de me juntar à praxe, o que me ocupou as tardes livres que teria passado em casa se devia fazer parte desta atividade. As restantes coisas que fiz são comuns sozinha e possibilitou-me a oportunidaaos restantes alunos: pesquisar sobre o de de conhecer colegas e amigos que estavam a passar pelo mesmo que eu... curso, os materiais a comprar, etc.

Que conselhos darias aos alunos Que diferenças encontraste? que estão longe de casa? Por ter crescido a maior parte da miAcho que o mais importante é esnha vida, até então, em Cabo Verde houve algumas diferenças que senti ao vir tarem sempre ocupados com algo. O para Braga. O clima bastante rigoroso, curso por si já fará grande parte desnomeadamente os Invernos severos. Tive se trabalho, mas há que arranjar atide comprar bastante roupa quente, vis- vidades extracurriculares, das quais to que em Cabo Verde as temperaturas recomendo um desporto, por ser das rondam os 25ºC o ano todo. Aprender atividades mais completas. Recomendo a vestir-me de forma a evitar ficar com ainda que conheçam pessoas diferentes os pés congelados. A moeda também. O em ambientes diferentes. Pode ser no euro vale muito mais que o escudo cabo- HajaSaúde, no NEMUM, na Tuna, no -verdiano e os serviços são bastante mais Porta Nova, na praxe. Há muito que facaros aqui. Tive de aprender a gerir as zer e tão pouco tempo. Acreditem que minhas economias. Nunca tive mesada ao seis anos passam mais depressa do que crescer e, em pouco tempo, tive de apren- se julga. Aconselho também que liguem der que o dinheiro deve ser poupado, gas- aos pais pelo menos uma vez por dia, to em coisas prioritárias e, só se sobrar é principalmente à noite, quando já não têm muito com que se ocupar. que deve ser gasto em outras coisas.

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É uma forma bastante simples de matarem as saudades e de contar os pequenos detalhes do quotidiano que, na verdade, são tão importantes quanto os grandes acontecimentos. Quais as dificuldades que ainda hoje sentes? Não ter os pais e a irmã por perto é sempre uma lacuna em todos os aspetos da minha vida. Não poder ir a casa todos os fins-de-semana e saber que se acontecer qualquer coisa eles estão a poucos quilómetros de distância para me ajudar, só poder falar com eles por videochamada em horários bastante restritos e ser obrigada a cozinhar, limpar a casa, lavar as roupas. Achas que a tua formação escolar anterior influenciou a tua preparação e adaptação ao curso de Medicina? No meu caso em específico acho que não influenciou. Isto porque, no meu ano de candidatura, havia quatro vagas disponíveis para o curso de Medicina em Portugal. Devido ao nível de exigência instituído, eu já estava habituada a estudar muitas horas por dia e a investigar o que não sabia em plataformas online e manuais escolares portugueses. Quando iniciei o curso de Medicina só tive de continuar o que já fazia, mas com muito mais matéria. Contudo, notei que havia alguns conteúdos que não me foram lecionados no ensino secundário, como por exemplo, o ciclo de Krebs e alguns conteúdos iniciais da unidade curricular Moléculas e Células. É importante notar que há sempre uma cota individual no método de estudo, na personalidade de cada um e então é muito difícil tirar ilações sobre o quão preparados ou não estão os alunos estrangeiros quando vêm para cá. Sentiste algum tipo de descriminação? Infelizmente, consigo lembrar-me de algumas situações que não me deixaram nada confortável e outras em que a questão racial foi levantada.

Em geral, não costumo sentir preconceito ou racismo por parte dos meus colegas. No entanto, lembro-me de que, no início do curso, nos trabalhos de grupo a minha opinião não era tida em conta por mais que argumentasse e indicasse evidência que suportasse a minha opinião. Claro que isto pode ter acontecido por diversos outros motivos que não o facto de ter vindo de outro continente. Porém, esta situação parece ser bastante comum e já me foi confidenciada por outros amigos que passaram pelo mesmo durante o seu ano de “caloiro”. Houve também uma ocasião em que um colega do meu ano disse: “Não sei como esta preta consegue tirar tão boas notas!”. Assumo que o comentário pode não ter necessariamente a ver com o meu tom de pele mas, ainda assim, foi bastante desagradável de se ouvir. Na altura, fiquei bastante chocada, mas resolvi usar essa frase como um reforço positivo e motivar-me para continuar a tirar boas notas. Estas situações acontecem, infelizmente. O importante é, caso estas expressões incomodem, falar sobre isso e tentar resolver os conflitos com um bom diálogo. Vale a pena vir estudar para longe? Sem dúvida. É uma experiência inigualável. Permite adquirir maturidade muito depressa; desenvolver soft skills que nos ajudam a enfrentar e resolver problemas do dia-a-dia. A partir de então, já somos adultos num ambiente totalmente novo, muitas vezes a aprender uma língua nova, com pessoas novas. Foi das coisas mais importantes que fiz na minha vida. Resta-me só agradecer a Braga por me ter acolhido de braços abertos!


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OPI N I ÃO “A globalização do último século tem permitido a circulação de indivíduos, bens e culturas, permitido igualmente o fluxo de ideias entre as diferentes sociedades mundiais.” — Matilde Gomes

Pontes Intelectuais — 68

A Reforma Curricular como veículo de mudança na crise académica Rosélia Lima conclui que bons alunos de Medicina, na sua definição clássica, não correspondem necessariamente a bons médicos. — 66 Porquê estudar Medicina em Erasmus? Pedro Peixoto — 68 Desafios da Mobilidade Internacional Pedro Morgado afirma que num mundo em que as fronteiras se querem cada vez mais ténues, a mobilidade internacional assume-se como um desafio que não devemos nem podemos desperdiçar. — 69 Pontes Intelectuais Matilde Gomes — 70


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A Reforma Curricular como Veículo de Mudança na Crise Académica Rosélia Lima


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Vivemos num panorama educativo revolucionário, em que finalmente se começa a apagar a associação entre o que é um bom aluno e as suas classificações académicas como único preditor de sucesso e competência ao longo da carreira profissional. Recentemente, chegou-se à conclusão que bons alunos de Medicina, na sua definição clássica, não correspondem necessariamente a bons médicos, o que engloba a competência técnica, o conhecimento teórico, aptidão para empatia e comunicação com os seus doentes e consciência da responsabilidade social que é exercida pela nossa profissão. Grande parte desta ilação vem do facto de, em simultâneo, se ter percebido que os métodos de avaliação não incidem rigorosamente sobre todos os aspetos mencionados e, portanto, começaram os esforços para, em primeiro lugar, se definirem as características essenciais dos médicos que se querem formar, os conteúdos que devem dominar, que ferramentas oferecer e em que medida. E, de seguida, como avaliar se os estudantes de Medicina estão capazes de atingir os objetivos que lhes competem, tanto profissional como pessoalmente. Em suma, a formação dos estudantes de Medicina precisa de ser remodelada e adaptada ao que é o paradigma do Sistema Nacional de Saúde atual e as escolas médicas são as principais responsáveis por instituir o que é considerado o melhor currículo nas suas prioridades enquanto entidades académicas. A Escola de Medicina da Universidade do Minho (EM) tem sido pioneira em Portugal por se debruçar sobre esta problemática e juntar esforços para lutar contra um ensino clássico, desatualizado e inadequado para o papel que a Medicina exerce atualmente na sociedade. Primeiro foi necessário reconhecer que o currículo existente, juntamente com a metodologia de ensino e avaliação não refletia o que era preconizado à luz da literatura mais recente. Após ser reconhecido o problema inicial, os instantes seguintes foram dedicados à ponderação e tomada de uma decisão: a Reforma Curricular Minho 2020. Com isto a EM vem reiterar o seu objetivo em formar médicos excelentes e fortalecer o seu compromisso para com os seus estudantes e parceiros, assim como criar um investimento nos cuidados de saúde do futuro próximo, oferecendo aos doentes os melhores cuidados prestados possíveis através de médicos bem instruídos que sabem e gostam do que fazem.

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A Reforma Curricular da EM veio unir, em pequena escala, a voz dos seus próprios alunos, docentes e colaboradores, e a um nível mais abrangente, reunir esforços e aprender com outras instituições internacionais (Thomas Jefferson University e Penn State University) com quem partilham a posição de que é necessário alterar o sistema do ensino da Medicina para melhorar (atrevo-me a ir mais longe e escrever otimizar) os médicos das gerações seguintes, e com isto, aperfeiçoar a realidade médica em Portugal, centrando-a no doente. O contributo desta parceria é vasto e indubitavelmente valioso para o resultado final do novo currículo e do mesmo modo o retorno mais esperado a curto-prazo, a satisfação e competência dos alunos por ele abrangidos. O facto de se ter estabelecido um diálogo entre dois países distintos, abordando a fotografia atual do que são os cuidados de saúde em cada um dos locais e refletindo sobre o papel de cada um no que diz respeito à contribuição para se chegar até aqui e o poder de intervenção para alterar os pontos mais fracos de cada sistema, permite-nos detetar fontes de inspiração e modelos de ação com base no que está bem (ou melhor) feito em cada uma das partes. Com isto quero dizer que é deveras positivo partilhar experiências a nível internacional porque nos obriga a sair da nossa “bolha de conforto” e abrir os olhos para outras realidades e desafios. Ter a possibilidade de conhecer o quotidiano de um estudante de Medicina de outro país e de que modo aquele médico é moldado pelo seu curso é um excelente exercício para sabermos como melhorar o panorama cá. Da mesma forma, ter acesso aos projetos de intervenção que têm sido implementados dão-nos pistas acerca de como poderemos enriquecer o novo currículo. Não seríamos capazes de desenvolver o ensino médico em Portugal sem procurar perspetivas diferentes e estudar o que tem sido feito noutros países para mitigar esta crise académica, visto que a evidência que tem sido partilhada com o mundo é diversa e adaptável ao paradigma de cada país. A Reforma Curricular tem-se desenrolado no prisma da busca do melhor conhecimento para a melhor prestação de cuidados de saúde, responsabilizando e capacitando os médicos do futuro.


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Porquê estudar Medicina em Erasmus? Pedro Peixoto

Em primeiro lugar, quero começar este texto por salientar que, de modo algum, estou a dizer que temos de fazer o curso fora do país. Tal não poderia estar mais longe do que pretendo aqui. Quero antes salientar as vantagens que, a meu ver, advêm de estarmos um período fora do país. Tenho que destacar o enorme crescimento pessoal decorrente de estarmos inseridos numa sociedade completamente diferente. Digo inseridos porque, ao contrário do que acontece quando fazemos turismo, vemos o país de acolhimento não como uma montra ou um museu, mas antes como parte do nosso quotidiano: acabamos por, de uma forma mais ou menos intensa, ter de passar pelos mesmos problemas que um local. Porventura, teremos de os tentar resolver de uma forma que seja socialmente aceite na sociedade em que estivermos inseridos. Acrescenta-se a vivência de um sistema de saúde diferente e de uma tipologia de curso diferente da que estamos habituados. A isso acrescem as expectativas de quem nos recebe: em algumas áreas do saber estamos acima do que um estudante local; numas seremos equiparáveis, noutras nem tanto... Tudo isso acaba por nos obrigar a desenvolver capacidades que, de uma outra forma, nem julgaríamos importantes. Ao “vermos doentes”, toda a experiência é diferente. Dado que, na maioria dos casos, estaremos privados da possibilidade de fazer perguntas, pelas vicissitudes da língua, o exame físico torna-se absolutamente fulcral. Parece que o corpo humano adquire uma dimensão e complexidade que julgávamos impossível. Conhecemos imensas pessoas novas – no caso de participarmos nas atividades proporcionadas pelo programa – e que, curiosamente, estarão com a mesma abertura para fazer amizades novas que nós isso é muito difícil de acontecer sem ser por esta via. Além do mais, a complexidade das emoções e sentimentos que conseguimos transmitir, dependendo do nosso conhecimento da língua, será certamente afetada. O engraçado e divertido é que com quem nos vamos dar, o mesmo se estará a passar! No final, temos uma experiência que nos vai marcar para a vida! Sinceramente acredito que nos torna profissionais mais competentes e pessoas muito mais completas. Acho improvável que alguém se arrependa de tal experiência. Um pouco como o lema da nossa escola vai dizendo... A nossa experiência académica é muito mais do que o curso!


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Desafios da Mobilidade Internacional Pedro Morgado

No último ano, a Escola de Medicina conheceu um crescimento muito significativo na mobilidade internacional. Estes números inéditos representam um conjunto muito vasto de oportunidades que alunos, professores, investigadores e funcionários tiveram o privilégio de experienciar. Do contacto com projetos de ensino-aprendizagem diferentes ao conhecimento de realidades clínicas diversas, do desenvolvimento de tarefas de investigação à convivência com iniciativas de voluntariado, a mobilidade internacional proporciona aos membros da nossa comunidade um conjunto ímpar de experiências e oportunidades que vale a pena aproveitar. Durante o ano 2017/18, seis estudantes do Mestrado Integrado em Medicina (MIMED) tiveram uma experiência de mobilidade Erasmus, tornando definitivamente claro que é possível tomar o pulso à vida noutras paragens, acrescentando valor à formação académica e pessoal sem comprometer o percurso académico no MIMED. Em sentido contrário, recebemos treze estudantes no curso de Medicina e com eles todos os benefícios da diversidade cultural e formativa. Este foi o ano de acolhermos o Projeto Porta Nova, uma iniciativa totalmente desenvolvida por estudantes do MIMED e que contou, desde o primeiro momento, com o apoio da Escola de Medicina. Trata-se de um projeto de voluntariado no continente africano que garante oportunidades de formação e desenvolvimento pessoal a estudantes de Medicina da Universidade do Minho. As oportunidades também se estendem aos estudantes de pós-graduação. Os estudantes de Mestrado e Doutoramento da Universidade do Minho têm ao seu dispor uma série de programas que garantem oportunidades de mobilidade internacional durante os seus programas formativos. Também nestes níveis de ensino conhecemos incrementos significativos no número de pedidos de mobilidade in e out ao longo do último ano letivo. Mas a mobilidade não se limita aos estudantes. Docentes, investigadores e funcionários têm agora a oportunidade de efetuar estadias mais curtas em instituições de ensino e investigação que garantam o contacto com experiências pedagógicas, de investigação e de gestão que possam vir a constituir-se como mais-valias para o projeto científico, pedagógico e humano da Escola de Medicina. Num mundo em que as fronteiras se querem cada vez mais ténues, a mobilidade internacional assume-se como um desafio que não devemos nem podemos desperdiçar. Agarrem a vossa oportunidade.


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A globalização do último século tem permitido a racional e ao Homem como agente de conhecimencirculação de indivíduos, bens e culturas, permi- to foi, sem dúvida, preponderante neste processo. tido igualmente o fluxo de ideias entre as diferen- Contudo, com o arraso ecológico atual e com o tes sociedades mundiais. Mas nem sempre houve estilo de vida altamente stressante a que as socieesta atitude comunicativa: as grandes civilizações dades atuais estão sujeitas, talvez seja tempo de da Antiguidade, com a evidente limitação da sepa- deixar de lado o orgulho e o egocentrismo tipicaração física, estabeleceram pouco contacto entre mente ocidental e espreitar o que os orientais têm si, o que permitiu que se desenvolvessem intelec- para nos ensinar. O pensamento oriental não protualmente de formas bastante diferentes ao longo cura justificações, nem tão pouco enaltecer a intelido tempo. Assim, os territórios ocidentais progre- gência racional, embora a utilize, com um diferendiram filosoficamente colocando o Homem – ser te foco. Procura sim a plena competência moral, a pensante e racional – no centro do universo, en- autodescoberta, a transcendência, e acima de tudo, quanto os territórios orientais (nomeadamente as o equilíbrio. E isto pressupõe uma enorme humilcivilizações indiana e chinesa) se desenvolveram dade, um desprendimento da individualidade para intelectualmente de uma forma mais ligada à natu- a participação em algo maior, a unidade presente reza, perspetivando o Homem como uma parte in- no coletivo. Esta abordagem alivia cada humano separável do todo cósmico. É lógico que esta dife- da enorme e competitiva responsabilidade de se rença abismal na centralidade que o Homem ocupa, sobrepor intelectualmente, e entrega-lhe a paz do ou não, no Universo, não só provém de crenças dis- apogeu coletivo. Encerra, portanto, uma “sabedotintas das diferentes civilizações, como condiciona ria” alheia ao conhecimento tecnológico, contudo crenças e comportamentos distintos nas socieda- puramente factual, assente num esforço “não-interdes atuais. Aliás, poder-se-á dizer que a tendência pretativo” e “não-julgador”, que nos causa muita futura, mantendo-se a crescente globalização, será estranheza e incompreensão enquanto ocidentais. Para terminar, lembro um assunto explorado até de cruzamento de filosofias ocidentais e orientais para a criação de humanos “do mundo”, plenamen- à exaustão sob vários pontos de vista em julho deste ano: o caso dos rapazes retidos na gruta de Tham te conscientes e cultos. Considerando as diferentes civilizações antigas, Luang, na Tailândia. É inimaginável o sufoco da imjulgo que o propósito das reflexões era semelhante: previsibilidade da sobrevivência naquela situação. a atividade intelectual propunha-se a resolver pro- Como foi divulgado, o jovem treinador, ex-monge bublemas o que, de resto, sempre havia sido feito, até dista, praticou com os restantes jovens a meditação. pelo homem nómada. Os “problemas” é que mu- E nós, ocidentais, o que faríamos perante a sensação daram com a fixação do homem num território: a de impotência? Sentar-nos-íamos com tranquilidade satisfação das necessidades básicas de sobrevivên- assumindo o que viesse como uma dádiva? Seríamos cia abria espaço a novas ambições e a novas curio- capazes dessa despretensão? Ou enlouqueceríamos sidades. Era necessário compreender. E foi isso que perante a sensação de que éramos os maiores infortunados, centralizando o acontecimento em nós próorientais e ocidentais se esforçaram por fazer. Sobre o tema dos pontos de contacto e, sobre- prios? Com que humildade encararíamos o medo? tudo, dos pontos de divergência das filosofias oci- Julgo que estas perguntas, com respostas múltiplas, dental e oriental, abundam opiniões onde quer que nos devem fazer refletir também a nós, médicos em sejam procuradas. É habitual encontrar-se que as potência, sobre o poder da mente – e de diferentes filosofias orientais estão impregnadas de misticis- crenças – no comportamento das diferentes pessoas mo, pelas suas ligações religiosas (particularmente com quem contactamos. com os Vedas hindus), e que a filosofia ocidental é de uma certa superioridade intelectual, pela capacidade analítica e racional. É fácil perceber que esta posição é concebida de ânimo leve por ocidentais formatados sem capacidade crítica. O ocidente foi e é, de facto, frutífero em ideias que impulsionaram o mundo para o desenvolvimento tecnológico e científico; a importância dada à inteligência


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TEM AS “O que mais me marcou foi, sem dúvida, o modo como Anderson usa uma história tão enternecedora para nos mostrar o poder do medo instaurado pelos governantes que leva as pessoas a ficarem cegas para a realidade e para aquela que é a atitude correta a tomar.” — Jorge Machado

O Medo na Forma de um Cão — página seguinte

O Medo na Forma de um Cão Jorge Machado CINEMA

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Doce Oásis em Deserto Salgado Diogo Cruz introduz Conan Osiris como um produto bruto. M Ú SI CA

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Anedotas Sara Leão HUMOR

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CINEMA

O Medo na Forma de um Cão Jorge Machado No Dia Mundial do Cão, decidi celebrar a data com o mais recente filme do brilhante realizador e escritor Wes Anderson, “A Ilha dos Cães” (2018), e não podia ter feito melhor escolha. É um filme genial, vanguardista e enternecedor que não só nos relembra do amor do melhor amigo do Homem por nós, como nos mostra o poder do medo na sociedade atual. A história ocorre no Japão, mais concretamente na cidade de Megasaki, vinte anos no futuro, onde uma epidemia contagiou todos os cães da cidade o que levou à decisão de os exilar numa ilha perto da cidade normalmente utilizada para descartar o lixo. Com este cenário, um jovem rapaz de nome Atari (Koyu Rankin) parte para a Ilha do Lixo para resgatar o seu cão, Spots. O filme de animação é o nono de Wes Anderson, o realizador americano mais conhecido pela sua excentricidade e estilo muito próprio nas suas criações como “O Grande Hotel Budapeste” (2015) e “Moonrise Kingdom” (2012), e o segundo filme em que utiliza a técnica de stop-motion – a primeira vez que usou foi em “O Fantástico Senhor Fox” (2009). A técnica, que se baseia na animação de diversas fotografias sequenciais de um modelo real, parece ter sido dominada pelo cineasta que consegue fazer-nos apaixonar por estes cães de plasticina feitos à mão. Para dar vida às mais de mil personagens criadas na oficina de Andy Gent (chefe do Departamento de Marionetes), Anderson conta com atores bem conhecidos para dar voz às personagens deste filme, como Bryan Cranston (que dá voz a Chief, a personagem principal do

filme, um cão de rua que conhece pela primeira vez o lado humano das pessoas), Bill Murray (Boss, a ex-mascote de um clube de basebol), Edward Norton (Rex, um cão de casa que se tornou o diplomata de uma matilha de cães), Jeff Goldblum (Duke, um cão obcecado por fofocas), Bill Balaban, Tilda Swinton, Scarlett Johansson, Greta Gerwig, Murray Abraham, Harvey Keitel, Frances McDormand e até mesmo Yoko Ono! O filme é um dos melhores filmes de animação do ano, até à data. A produção é magnífica para quem gosta de uma palete de cores diferente – bem ao estilo de Anderson – mas fenomenal, com os seus planos simétricos e cenas meticulosamente pensadas, onde cada pormenor é essencial para oferecer ao espetador uma sensação de maravilha e esplendor. A banda sonora, com influências na música tradicional japonesa, acompanha o espetador ao longo de todo o filme causando uma sensação de suspense e ternura, em simultâneo. No entanto, o melhor do filme está nos temas que decide abordar. Apesar de inicialmente nos ser revelado como uma história sobre a lealdade e amizade entre os cães e os humanos e como devemos honrar esta amizade com amor e carinho pelo nosso melhor amigo, existem mais camadas que vão sendo exploradas ao longo do filme. O que mais me marcou foi, sem dúvida, o modo como Anderson usa uma história tão enternecedora para nos mostrar o poder do medo instaurado pelos governantes que leva as pessoas a ficarem cegas para a realidade e para aquela que é a atitude correta a tomar. Os cães, aqueles que antes foram os companheiros e melhores amigos do Homem, sempre prontos a ajudar quando mais precisávamos, na sua hora mais desesperada

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foram abandonados pelo medo instaurado pelo prefeito da cidade. Esta trama pode bem ser comparada à situação atual na sociedade em que alguns governantes instauram o medo na população para ignorar o sofrimento e a necessidade daqueles que precisam da nossa ajuda, como é o caso dos refugiados. No entanto, o filme também tem sido alvo de duras críticas. Apesar de Anderson afirmar que o filme serve também como uma homenagem ao trabalho do ex-diretor de cinema japonês Akira Kurosawa e a toda a cultura japonesa, alguns asiáticos não acharam assim tanta piada. O filme é criticado pela sua falta de sensibilidade e respeito à cultura nipónica, sendo referido como um novo exemplo de racismo num filme de Holllywood e de Wes Anderson, em particular. Apesar de, em alguns pontos da história, Anderson sobrevalorizar o papel do americano na trama do filme, afinal de contas a única estudante capaz de ver por detrás do plano do prefeito é americana, e de não traduzir tudo que os japoneses dizem enquanto que os cães falam em inglês, não considero o filme racista. Pelo contrário, esta é uma boa forma de dar a conhecer à cultura ocidental aquela que é a cultura japonesa e o seu povo. Seria complicado para Anderson fazer um filme todo falado em japonês, como parece que muitos dos espetadores quereriam, quando a maioria do público alvo e dos atores são, efetivamente, americanos e o facto de a história se passar no Japão não significa que apenas o povo japonês seria capaz de tratar desta forma os cães. Não pensem que por ser um filme de animação é direcionado apenas para crianças porque duvido que estas irão conseguir acompanhar a trama quando até eu tive algumas dificuldades, apesar de se divertirem com os patudos.


TEMAS

MÚSICA

Doce Oásis em Deserto Salgado Diogo Cruz Da junção de sonoridades intercontinentais, Conan Osiris apresenta-nos um produto bruto, fazendo-nos quase acreditar que o fado e a música oriental sempre andaram de olho um no outro. Conan aparece-nos excentricamente do nada a brotar grossos galhos pelo meio das barreiras paradigmáticas da música portuguesa. E fá-lo com a naturalidade de quem canta mais uma pimbalhada de fazer bater o pézinho. O à vontade com que Tiago Miranda implanta o seu género no nosso córtex auditivo despovoado de sonoridade semelhante, faz nos acreditar que estamos perante um espetáculo já de extensas raízes. Mas não. Tiago simplesmente escolheu a pente fino as sonoridades que viriam a constituir Conan e dotou-o de uma lírica que, tanto retrata a íntima relação da saudade com

a morte, como disserta sobre os salgadinhos que podem constituir uma merenda portuguesa numa ida à praia. O álbum que o projetou foi lançado em 2017 e dá pelo nome “adoro bolos”. O disco não é sobre pastelaria mas pode muito bem sê-lo se assim o desejarmos. Os temas cómicos de tão vulgares entoados com a seriedade quase bíblica do intérprete, aliada ao precioso timbre que, não consta de todo nas frequências emitidas pela rádio, faz nos sentir mais perdidos que um cego num tiroteio nas primeiras audições das 11 faixas. O que acontece é que a tragédia e a comédia brincam inocentemente ao longo dos versos de Conan que, vociferados pelo mesmo, se refratam num espectro de infindos sentidos. Cada passagem por “adoro bolos” desenterra possíveis significados às palavras de Tiago e é todo este misticismo que o torna tão rico. Este LP serviu de degrau a Conan, que nele apoiado sobe aos palcos onde se vê entregue à om-

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nipotência de Osiris. A personagem torna-se plena e cospe carisma diante de uma plateia. Como se não bastasse, partilha o palco com João – o seu dançarino. João faz lembrar as serpentes que dançam ao som da melodia dos seus encantadores. A carência ofídica de membros deixa-as, no entanto, milhas atrás do bailarino, que não deixa nada por dar nem por ilustrar nas suas performances. Uma personagem de tal forma arrojada e vanguardista que não escapou a ser comparado a Variações. Depressa deixamos para trás a estranheza das colagens sinfónicas de Conan e abraçamos a sua genialidade, a mesma que o fará ascender colossalmente na música nacional se a continuar a emprega la da forma que tem feito.


TEMAS

HUMOR

Anedotas Sara Leão Eua George Bush, Barack Obama e Donald Trump vão a uma entrevista com Deus. Deus pergunta a Bush: “Em que é que você acredita?” Bush responde: “Eu acredito numa economia livre, numa América mais forte, na união…” Deus fica impressionado com a resposta de Bush e diz-lhe: “Óptimo, venha sentar-se na cadeira à minha direita.” Deus volta-se para Obama e pergunta-lhe: “E, você, Obama, em que é que acredita?" Obama responde: “Eu acredito na democracia, ajudando os pobres, trabalhando na paz mundial, etc...” Deus fica mesmo impressionado com Obama e diz-lhe: “Muito bem! Venha sentar-se na cadeira à minha esquerda.” Finalmente, Deus pergunta a Trump: “E, você, Trump, em que é que acredita?” Trump respondeu: “Eu acredito que você está sentado na minha cadeira.” China Tudo é fabricado na China… exceto bebés do sexo feminino. Polónia Um polaco vai ao oftalmologista. O médico mostra-lhe: ZWINOSTHAWC E depois pergunta: “O senhor consegue ler isto?” E responde o polaco: “Ler?! Eu conheço o gajo!” México Sabem porque é que o México não ganha medalhas nos jogos Olímpicos? Porque os seus melhores atletas estão nos EUA.

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