Bem vindos à 'Era do Espírito' que traz conhecimento sobre temas na fronteira entre Ciência e Espiritismo.
Livro III - O Que Acontece Quando Morremos (Dr. Sam Parnia)
"Of course it is happening inside your head, Harry, but why on earth should that mean that it is not real?" J. K. Rowling, em "Harry Potter and the Deathly Hallows" O Dr. Sam Parnia é conhecido pesquisador da área médica, especialista em cardiologia, com uma grande virtude: tem interesse declarado pelas ocorrências de 'experiências de quase morte' (EQM ou NDE - ver vocabulário abaixo para os termos comumente usados em inglês). Em seu livro 'O que acontece quando morremos - Um estudo sobre a vida após a morte', ele nos fornece um relato interessante de suas primeiras pesquisas no fascinante mundo das experiências de quem esteve a um passo de se encontrar com a 'morte', mas voltou para nos contar como é. Embora o subtítulo sugestivo da edição em português 'um estudo sobre a vida após a morte', o livro é, em essência, uma introdução ao tema discorrendo de forma paralela como um relato em primeira pessoa do interesse do autor pelo assunto. A 'vida após a morte' aqui é uma referência ao curto estado em que passam determinados pacientes em coma profundo que descreveram posteriormente NDEs. Do ponto de vista espírita, uma EQM é um evento de desdobramento espontâneo causado pela parada cardíaca que revela de forma independente a natureza dual do ser humano. Divisão de capítulos O livro está dividido nos seguintes capítulos: 1 - Experiências de quase morte: da antiguidade aos dias atuais; 2 - Organizando o estudo de Southampton; 3 - Como é
morrer?; 4 - Paradoxo científico; 5 - Compreendendo a mente, o cérebro e a consciência; 6 - Os ingredientes da vida; 7 - Isso é real; 8 - A Horizon; 9 Implicações para o futuro. Faremos alguns comentários breves sobre alguns capítulos, enfatizando o que acreditamos ser mais relevante no que é apresentado pelo Dr. Parnia. O Capítulo 1 é, na verdade, uma introdução ao assunto, revelando que, desde cedo (adolescência), o autor teve grande interesse pelas questões relacionadas a "tanatologia". Há poucos relatos de NDE em 'casos da antiguidade' conforme relatado no Capítulo, exceto por uma citação de Platão (*). Os exemplos históricos de eventos de NDE fornecidos são muito mais recentes. Mas o Capítulo 1 não deixa de ser interessante, pois o autor faz um resumo das teorias existentes para explicar as NDEs. Antes disso, convém apresentamos grosso modo uma visão cética sobre o assunto: Todas as sensações de espiritualidade que sentimos ocorrem na mente. Os cientistas já provaram esse fato, e afirmam que isso tudo não passa de reações químicas, falta de oxigênio ou qualquer outro distúrbio mental que provoca alucinações, sensações de expansão da consciência, e outras variedades dos chamados " fenômenos espirituais; sendo assim, a viagem para fora do corpo poderia ser explicada como um fenômeno mental....também! (ver Blog 'Crônicas do Frank') Para essa crítica, 'todas as sensações de espiritualidade que sentimos ocorrem na mente'. As sensações "reais", ocorrem onde? Para muitos que não conseguem se aprofundar na questão, elas ocorrem no mundo externo... Para sabermos se os cientistas "estão realmente provando isso" convém consultarmos Parnia. Ele relaciona nos seguintes grupos as explicações chamadas 'ortodoxas' para o fenômeno: Teoria das alucinações; Teoria do cérebro moribundo (depleção de oxigênio); Teoria do dióxido de carbono; Teoria das drogas (e seus efeitos); Teoria dos receptores químicos do cérebro; Teoria das NDEs como epilepsia do lobo temporal; Teorias psicológicas; Se existisse qualquer consenso aceito para o fenômeno, então não haveriam tantas explicações propostas. O conjunto de 'explicações não ortodoxas' (na verdade só existe uma) é chamada por Parnia de 'teorias transcendentais'. Trata-se daquela que postula a continuidade da vida após a morte e que explica as NDEs como relatos de experiências reais passadas pelo indivíduo (NDEr). Das explicações acima, a mais aceita nos meios acadêmicos (e que constantemente se vê colocada como uma 'explicação' para os fenômenos pela grande mídia) é a 'teoria do cérebro moribundo' que supostamente explica a NDE como efeito de falta de oxigênio. Entretanto, Parnia vai a fundo na questão e pondera: Do ponto de vista médico, a falta de oxigênio é um problema corriqueiro num hospital. Muitos médicos operando em emergência deparam com o problema frequentemente, particularmente com pacientes cujos pulmões ou corações não estão funcionando muito bem, por exemplo, em casos de asma ou falência cardíaca. Cuidei de mais de 100 pacientes com falta de oxigênio. Quando os níveis caem, os pacientes ficam confusos e bastante agitados. Esse 'estado agudo de confusão', como é conhecido na medicina, é muito diferente da experiência de quase morte. (Parnia, 2008, p. 44)
Parnia argumenta que as 'teorias químicas do cérebro' (todas baseadas em alguma modificação severa nos níveis de substâncias presentes no tecido cerebral, seja oxigênio, drogas, receptores químicos etc) não são boas explicações porque elas não preveêm as condições em que os NDE ocorrem. Em outras palavras, eventos de NDE não são observados costumeiramente quando essas condições estão presentes. Experiências de quase morte são eventos singulares, únicos, imprevisíveis, mas com estatística de ocorrência alarmante para serem desprezados. De nossa parte nos perguntamos: será que isso demonstra que os NDE não são produzidos apenas a partir de condições endógenas (e. g. parada cardíaca etc) mas também exigem fatores externos (independentes do indivíduo) para acontecer? Isso certamente explicaria a aleatoriedade dos eventos. Quanto as 'teorias psicológicas', elas se aglomeram em torno da tese de que as experiências seriam supostamente produzidas pela mente como resposta a uma situação potencialmente traumática. Para lidar com a situação, o cérebro supostamente inventa toda cadeia de eventos relatados pelos paciente que passa por uma NDE. Parnia chama a atenção que muitas teorias simplesmente partem do pressuposto de que os relatos são invenções e alucinações, descartando anomalias observadas durante as ocorrências. O Capítulo 2 (Organizando o estudo de Southampton) é uma descrição algo irônica das dificuldades de se estudar esse tipo de fenômeno na prática. Nesse capítulo, Parnia descreve com humor sua tentativa frustada de iniciar um estudo das EQM por meio de cartazes fixados em salas de UTI no hospital de Southampton. A ideia é que, se as visões de NDErs forem reais (no sentido de se referirem a eventos externos), eles seriam capazes de ver e descrever posteriormente o que está escrito nesses cartazes, fixados de forma que os dizeres estavam voltados para o teto. A narrativa de Parnia mostra que um estudo considerado minimamente 'científico' exige tratar fatores que vão muito além daqueles que se tem quando se manipula coisas simples de laboratório. Esse é mais um exemplo que mostra que a chamada 'metodologia científica', se exportada sem modificações e cuidados a partir de fenômenos simples, nunca irá funcionar de forma satisfatória. A cada fenômeno, um método. Relatos infantis de EQMs No Capítulo 4 (paradoxo científico), Parnia descreve vários relatos de crianças (com idade que pode chegar a 6 meses de vida) que passaram por experiências de quase morte. Esses são, para mim, os relatos mais impressionantes. Em muitos desenhos feitos posteriormente, é possível ver que a criança reproduz a situação de se ver a si própria fora do corpo, em outro corpo e de se encontrar com outros seres ou pessoas, gente 'morta' como elas mesmo relatam posteriormente.
Desenho infantil como um relato de uma EQM. É possível ver como a criança se vê, estendida sobre a mesa e flutuando acima dela. Fonte: HubPages.
No que consiste esse 'paradoxo científico' ? O Dr. Richard Mansfield, colega de Parnia, nos conta um caso de um paciente que sofreu parada cardíaca por mais de 20 minutos e permaneceu por 15 minutos totalmente sem assistência de ressuscitação. Segundo Mansfield: Quando o vi, ele me contou que tinha visto tudo de cima e descreveu em detalhes absolutamente tudo o que aconteceu. Disse tudo o que eu tinha dito e feito, como checar seu pulso, decidir parar com a ressuscitação, sair do quarto, voltar depois, olhar para ele, checar novamente seu pulso e não recomeçar o processo de ressuscitação. Ele contou todos os detalhes de forma correta e precisa, o que era impossível, uma vez que não apenas ele estava sob parada cardíaca, e não possuía pulso durante a parada, mas sequer estava sendo ressuscitado por cerca de 15 minutos depois. O que ele me contou realmente me arrepiou, e até hoje eu nunca havia contado a ninguém porque sabia que não conseguiria explicar... (Parnia, 2008, p. 103) De outra forma, se a consciência é produto da atividade cerebral, como pode alguém ficar privado de oxigênio por quase meia hora e se lembrar de detalhes durante o ocorrido? Se a consciência é simples produto de atividade de circuitos neuronais, como alguém pode ter consciência perfeita de acontecimento quando seus circuitos neuronais sequer tem energia para cumprir os processos primitivos de controle metabólico? O paradoxo está na consciência anômala adquirida pelo paciente quando da parada cardíaca, consciência que se manifesta inclusive como total ciência, visão e audição dos eventos ao redor, produzindo informação verificável. Portanto, na medida que se consideram muitos detalhes nos eventos de EQM (ou seja, que se estude a fundo esses fenômenos), descobre-se que elas não são meras alucinações ou invenções do cérebro. O Capítulo 5 (Compreendendo a mente, o cérebro e a consciência) é uma introdução ao conhecimento presente sobre as teorias de funcionamento do cérebro e da mente. O estilo de Parnia é bastante livre e ele consegue passar de uma descrição autobiográfica para técnica em poucas linhas. Nesse capítulo, o autor discorre sobre limitações das teorias convencionais do cérebro e adentra no campo da filosofia e de física quântica, esta última entendida como explicação não convencional. O Capítulo 6 (Os ingredientes da Vida) é uma extensão do capítulo anterior e o autor descreve alguns fundamentos de física quântica que ele entende serem importantes para tentar responder às questões fundamentais. Na verdade, esse capítulo descreve que o que entendemos como 'matéria' não é algo tão material
ou 'duro' como se pode pensar e que é possível, portanto, que no nível mais elementar, a mente seja formada por outro tipo de coisa. A realidade No Capítulo 7 (Isso é real?), Parnia se propõe a discutir métodos ou meios pelos quais seria possível separar uma experiência real de algo imaginário. A maior novidade na discussão são as propostas de metodologias baseadas em imagens de tomografia que permitem observar em tempo real as áreas que são ativadas no cérebro quando um indivíduo está realizando uma atividade ou simplesmente pensando em algo. Como vimos, a maior parte das teorias ortodoxas para as NDEs parte da hipótese de que as experiências não são reais, mas alucinações. Segundo Parnia: Isso é uma maneira bem simplista de se olhar um assunto complexo que precisa de mais esclarecimentos e explicações. O que muitos que apoiam este argumento não mencionam é que exatamente as áreas do cérebro envolvidas com alucinações estão igualmente envolvidas com muitas das experiências 'reais' e 'normais' e emoções como o amor, ódio etc. Por conseguinte, simplesmente identificar essas áreas do cérebro como aquelas envolvidas em EQM não pode nos dizer se são experiências reais ou alucinações. (Parnia, 2008, p. 166) De outra forma: exames de tomografia do cérebro não permitem que se diferencie experiências 'privadas' das experiências 'públicas'. Os circuitos neuronais envolvido na atividade de se contemplar uma lâmpada acesa são os mesmos de simplesmente imaginar ver uma cena com essa lâmpada acesa. Não parecem existir bases em mapeamento neuronal suficientemente seguras para se caracterizar determinadas experiências como alucinações ou experiências reais. Isso complica bastante métodos laboratoriais de pesquisa no assunto, já que não é possível diferenciar um caso de outro e todo o assunto, por essa via, parece muito complexo. Mais uma vez estamos diante de um objeto de estudo que escapa aos métodos presentes de pesquisa considerados científicos.
A Horizon (Capítulo 8) é uma fundação criada por Parnia que tem como objetivo apoiar estudos na área de EQM. De certa forma, essa foi a solução encontrada pelo autor para dar vazão à pesquisa na área, ainda incipiente ou pouco tolerada pelo meio acadêmico convencional. Há vários projetos em andamento e é bom sempre verificarmos esse link para sabermos das novidades na fascinante área da pesquisa das experiências de quase morte. Finalmente, no último capítulo (9 -Implicações para o futuro), Parnia faz um resumo do que apresentou anteriormente, traça planos para o futuro e discute as consequências para a humanidade de uma aceitação global do pós-vida a partir de evidências fornecidas pelas EQMs. Não seria apenas uma nova ciência, mas uma revolução como nunca antes vista: Isto levaria a um estudo objetivo do que comumente é considerado assunto religioso e filosófico e, portanto, terminando muitos desacordos e levando, por conseguinte, a uma sociedade muito mais tolerante. Da mesma forma que a
ciência revolucionou nossa compreensão do mundo externo, ela também poderia revolucionar nosso entendimento do mundo subjetivo dentro de nós. De certa forma, isso já está acontecendo. Em síntese, o livro de Parnia é bastante elucidativo, trazendo discussões e contra argumentos ao ponto de vista cético padrão de considerar as EQM como meras alucinações. Certamente, as experiências de quase morte são uma via alternativa através da qual podemos acessar parte da realidade maior em que estamos envolvidos. Para a imensa maioria dos que passaram por essa experiência, hoje não há mais dúvidas: elas existem e são reais. (*) A citação está no livro 'A República', Livro X, última parte onde Platão narra a fábula de Er. Parnia não fornece a referência completa. Ver o blog Rotas Filosóficas. Dados sobre o livro
O que acontece quando morremos - Um estudo sobre a Vida após a Morte. Autor: Sam Parnia (2008). Ed. nacional com tradução de Emanuel Mendes Rodrigues. ISBN: 978-85-7635-360-7 Número de páginas: 246. Editora Larrouse, São Paulo, SP.
Vocabulário NDE (inglês) - 'Near Death Experiences' ou experiências de quase morte (EQM em português) são relatos de vítimas de coma ou 'instâncias de quase morte' (em geral sobreviventes de paradas cardíacas) que mantem entre si determinadas características comuns. Dentre as mais marcantes está a de separação do corpo, sensação de grande paz, presença de pessoas já falecidas, visualização de uma luz ou tunel de onde retornam para continuar a presente existência. A experiência é descrita como não traumática e de grande impacto na vida do paciente. NDEr (inglês): É o indivíduo que passa por uma EQM. Alguns artigos de (ver www.horizonresearch.org)
Parnia
e
colaboradores
Parnia S, Fenwick P, Near Death Experiences in Cardiac Arrest: Visions of a dying brain or visions of a new science of consiousness. Resuscitation 2002 Jan 52, 5-11; Parnia S, Fenwick P: Do reports of consciousness during cardiac arrest hold the key to discovering the nature of consciousness? Medical Hypothesis 2007; Parnia S, Waller D, Yeates R, Fenwick P, A qualitative and quantitative study of the incidence, features and aetiology of near death experiences in cardiac arrest survivors. Resuscitation, Feb 2001 48, 149-156. Outros links
Outra página de referência (em inglês) é a da Near Death Experience Research Foundation.
Uma abordagem estatística para a determinação do tempo de vida entre encarnações sucessivas.
Durante o 7 ENLIHPE (20/8/2011), tivemos a oportunidade de apresentar o trabalho: "Uma abordagem estatística para a determinação do tempo de vida entre encarnações sucessivas." Como se sabe, o Espiritismo introduzido por A. Kardec foi o primeiro movimento espiritualista no ocidente a compreender a importância da reencarnação. Este é o único mecanismo que pode explicar tanto anomalias observadas na personalidade humana com também fornecer uma visão do mundo mais de acordo com os princípios de justiça natural e equidade. Portanto, é importante compreender as consequências da reencarnação não somente para cada um de nós como indivíduos, mas também como um fenômeno social e, principalmente, demográfico.
Assumindo a reencarnação como uma das leis da Natureza que é válida para todos os seres humanos, ela certamente tem consequências coletivas que apenas começamos a vislumbrar. O objetivo do trabalho foi construir um modelo numérico para calcular o intervalo de tempo entre reencarnações sucessivas de uma individualidade humana O trabalho baseou-se nos seguintes princípios: 1. Existe uma base de tempo única que pode ser usada para determinar o intervalo de tempo entre duas existências (o que chamamos de 'tempo de erraticidade'); 2. Existe conservação da 'individualidade', isto é, a personalidade humana sobrevive à morte física e conserva sua consciência (que é, de fato, a fonte dessa personalidade). A consciência é conservada em uma unidade não material (ou incorpórea) chamada 'Espírito' (note a letra maiúscula 'E'); 3. O Espírito não pode ser 'destruído' (não existe uma 'segunda morte'); 4. Para cada Espírito está associado um único corpo durante uma encarnação; 5. A reencarnação implica na existência de competição entre populações desencarnadas distintas no mundo espiritual (que distinguimos entre uma vizinhança no 'plano físico' e de 'outros planos' ou zonas espirituais distantes da Terra); 6. No plano físico (mundo terreno), cada indivíduo nasce de outros dois. Entretanto, no que concerne à origem dos Espíritos, não se conhece o mecanismo de seu nascimento. De fato, a origem dos Espíritos é um mistério. Para todos os efeitos, podemos assumir que existe um reservatório infinito de individualidades desencarnadas no mundo espiritual (desde que o Universo é infinito); 7. A existência humana no plano físico é limitada à vida do corpo físico. Não existe um limite para a existência do Espírito (conforme o princípio #3); Os princípios estabelecidos acima são baseados em questões dadas pelos próprios Espíritos conforme o 'Livro dos Espíritos' (LE). Por exemplo: o princípio #1 está baseado na questão LE#224; o princípio #2 em LE-Q#92 e 150; o princípio #3 em LE-Q#83; o princípio #4 em LE-Q#137; princípio #5 em LE-Q#172 e 173; o princípio #6 em LE-Q#81 e, finalmente, o princípio #7 em LE-Q#68. No trabalho, fizemos várias predições concernentes à maneira como as populações em ambos os planos físico e espiritual interagem, utilizando um conjunto de assunções adicionais sobre o estado atual da população total. Nós finalmente fizemos alguns cálculos numéricos mostrando que o 'tempo de erraticidade' está oculto na taxa de natalidade da população do plano físico. O gráfico abaixo mostra a evolução temporal da expectativa de vida no plano físico (esquerda) e o tempo de erraticiadde (direita) em anos para a população brasileira segundo nosso modelo. Ambos intervalos são dados como função do tempo desde 1970 a 2000.
Como tais predições poderiam ser validadas? Se for possível rastrear uma vida anterior para um grupo de indivíduos (uma população, digamos de 100 pessoas), encontrando-se a data de falecimento anterior - o que, de certa forma, pode ser feito conforme demonstrou I. Stevenson (1966) - o tempo de erraticidade poderia ser estatisticamente calculado uma vez que a data de nascimento da vida presente é conhecida. Isso abriria a possibilidade de se testar nossas assunções, o que caracterizaria uma extensão das teorias de dinâmica populacional (só que agora englobando componentes desencarnadas). Tais resultados mostram a fertilidade heurística dos princípios espíritas, que não somente admitem a sobrevivência da personalidade à morte física, mas também que ela evolui ao longo de muitas vidas no plano físico. Referências Kardec A. (1857). 'O Livro dos Espíritos'. Há muitas edições (inclusive eletrônicas) desta obra; Stevenson I. (1966) Twenty Cases Suggestive of Reincarnation. (1966). (Second revised and enlarged edition 1974), University of Virginia Press, ISBN 0813908728.
Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dos ensinos dos Espíritos. I/2
A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e tudo querem explicar a seu modo, dará nascimento a opiniões dissidentes. Mas, todos os que tiverem em vista o grande princípio de Jesus se confundirão num só sentimento: o do amor do bem e se unirão por um laço fraterno, que prenderá o mundo inteiro. Estes deixarão de lado as miseráveis questões de palavras, para só se ocuparem com o que é essencial. E a doutrina será sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos os que receberem comunicações de Espíritos superiores."O Livro dos Espíritos. [1], Prolegômenos. Versão modificada de um original publicado no Boletim do GEAE, Ano 08 - Número 367 1999.
1 - Introdução Todos aqueles que já tiveram a oportunidade de entrar em contato com conceitos espíritas dificilmente deixaram de se perguntar quanto à natureza e a validade de muitas das informações trazidas pelos mensageiros espirituais. Nesse sentido, é relevante se perguntar quanto aos critérios de aceitação dos ensinos espíritas, sobre como deve ser nossa postura diante da propagação, divulgação e grau de validade desses ensinos. Será que um determinado conceito deve ser aceito absolutamente, sem exame algum, com exclusão daqueles que por ventura possam discordar dele? Será que, por outro lado, devemos sempre manter uma postura reticenciosa, como que eternamente aguardando uma última palavra ou, o que seria ainda mais restrito, considerar tais ensinos como meras figuras passadas pelos Espíritos na impossibilidade de nós, os encarnados, estarmos longe de mais do que seria a verdade? Como se dá o consenso com relação a um determinado ensino? Tais questionamentos podem parecer supérfluos a uma mente excessivamente prática, mas estão provavelmente na raiz de grandes males que afetaram a humanidade. Sem dúvida, diversos estudos foram feitos desde os primórdios do desenvolvimento da doutrina com Allan Kardec em torno da validade e aceitação das teses do Espiritismo. No momento histórico da codificação, diante da exuberância dos fenômenos espíritas (a aparecerem espontaneamente em muitas instâncias simultaneamente), Allan Kardec chegou a formulação do critério da concordância universal dos ensinos dos Espíritos. Em termos resumidos tratava-se da aceitação de uma determinada tese (em sua maioria relacionada aos princípios básicos) quando apoiada maciçamente pelos Espíritos através de diferentes médiuns nos mais variados lugares. Voltaremos a esse ponto na Parte 3 deste artigo. Essa idéia lembra vagamente os critérios de aceitação de conceitos e teorias dentro das universidades e institutos de pesquisa científica. Não seria o caso de uma certa idéia
ser aceita quando apoiada igualmente por uma variedade de departamentos científicos após, muitas vezes, difíceis e laboriosas experimentações? O mesmo se daria com os princípios espíritas, já que as fontes destes são os Espíritos por meio dos médiuns. A comparação não pode ser estendida indiscriminadamente pois não segue daí que toda ideia espírita deva sempre ser sancionada pelo critério da concordância universal da mesma forma que a aceitação de uma certos pontos de uma teoria científica não precisa ser sancionada por um grande número de laboratórios. Isto, porém, é apenas um ponto de semelhança entre o Espiritismo e as doutrinas da ciência comum. A aceitação dos princípios espíritas está baseado também no selo de racionalidade e coerência que ele empresta à sua visão do universo, algo muito em comum com as teorias das diversas ciências que estudam a matéria e suas manifestações. Pretendemos aqui enfatizar que tais desenvolvimentos colocam o Espiritismo em uma posição ímpar no cenário das religiões atuais. Para esse fim, é muito interessante recorrermos à história com o intuito de conhecer melhor como eram aceitos e avaliadas as verdades pelos povos antigos. Analisando especificamente a história das religiões (para o mais perto possível do que seria o objeto de estudo do Espiritismo), constatamos o quão difícil e as vezes sanguinolenta pode ser a disputa pela aceitação das idéias religiosas. No caso específico da religião católica - com a qual nos encontramos mais próximos culturalmente - é nítida essa dificuldade. Observando a história da Igreja, vemos como foi constante o interesse do Plano Maior na libertação e engrandecimento da Igreja que, amiúde, se via a braços com discussões muitas vezes estéreis e sem interesse para as sociedades onde floresceram as organizações católicas. A grande conseqüência prática desses debates culminava, muitas vezes, com a morte deliberada de tantos outros que chegaram perto demais da "heresia". Ficou famosa, por exemplo, a chamada controvérsia ariana no começo do Cristianismo. Do historiador católico Eamon Duffy [2] colhemos o seguinte relato: "A consternação de Constantino em face das divisões dos cristãos norte-africanos haveria de redobrar quando, tendo deposto Licínio, o imperador pagão rival no Oriente, ele se mudou para sua nova capital cristã a 'Nova Roma', Constantinopla. Pois as divisões da África nada eram em comparação com a profunda fissura na imaginação cristã que se abrira, no Leste, por iniciativa de Ário, um presbítero de Alexandria famoso por sua austeridade pessoal e pela popularidade entre as freiras da cidade. Ário fora afastado pelo bispo local por pregar que o 'Logos', a Palavra de Deus que em Jesus se fizera carne, não era o próprio Deus, mas uma criatura infinitamente superior aos anjos, embora como eles criada do nada antes do começo do mundo. Ele via em tal ensinamento um meio de conciliar a doutrina cristã da Encarnação com a fé igualmente fundamental na unidade divina. Na verdade, essa idéia privava o cristianismo de sua afirmação central segundo a qual a vida e morte de Jesus tinham o poder de redimir, pois eram ações do próprio Deus. Contudo, as verdadeiras implicações do arianismo não foram compreendidas de pronto, e Ário conseguiu amplo apoio. Mestre de propaganda, angariou a simpatia popular compondo canções teológicas para serem cantadas por marinheiros e estivadores nas docas de Alexandria. Escapando aos salões eruditos, o debate teológico irrompeu nas tavernas e nos bares do Mediterrâneo oriental.''
Cabeça representando o Imperador Constantino.
Como foi resolveu o problema de Ário? Na verdade não houve uma solução definitiva. Na época a solução se materializou no concílio de Nicéia (em 325), convocado pelo imperador. Ainda segundo Duffy: "Nicéia foi o começo, não o fim da controvérsia ariana. A derrota dos adeptos de Ário havia sido imposta por um imperador decidido a resolver rapidamente as coisas. Eles foram silenciados, não persuadidos, e, terminado o concílio, reagruparam-se para contra atacar." É fato conhecido de todos que Constantino considerava a emergente fé cristã uma poderosa força de aglutinação do império romano que estava prestes a desmoronar. Por isso ele via com angústia o debate teológico infindável e, por razões práticas, resolveu impor uma solução. A tradição católica (isto é, a convergência da opinião do clero e do laicato crente em torno da interpretação de certos pontos evangélicos a se materializarem como dogmas) foi, portanto, uma lenta e encarniçada construção que se desenvolve até hoje, onde muitas vezes o interesse político e econômico ditou uma clara delimitação entre o que seria a verdade e a heresia. Não foram poucos os movimentos de renovação católicos e de "reforma" (mesmo antes dos protestantes no Século XVI) e, na Idade Média, foram considerados grandes os papas que se dedicaram vivamente a eles [2]. Os que se admiram de semelhantes movimentos na atualidade apenas desconhecem a milenar história da Igreja. Como eram, entretanto, tomadas as decisões em matéria de fé? Onde deveria estar a verdade quando dois partidos rivais se insuflavam defendendo cada um sua própria opinião? Esta era decidida oficialmente e com esperanças para sempre seja a portas fechadas, seja pela aclamação popular, pelo voto dos bispos (concilium) ou pela vontade do papa. Na prática a Igreja se viu obrigada a revisar constantemente seus pontos de vista sobre conceitos marginais ou centrais à fé católica. É importante ter em mente que a construção de toda Doutrina Católica (e o aparecimento dos movimentos de reforma) se guiou em muito pela necessária manutenção da "pureza doutrinária" da crença em Cristo. Não foi senão em função da sustentação de tal pureza que se ergueram os tribunais eclesiásticos [2] (Inquisição) por Gregório IX em 1231. Nesse sentido, a Igreja de Roma adquiriu sua fama ao longo do tempo por ter se propagandeado livre da heresia (principalmente diante do cisma com a Igreja grega) e guardiã "da fé dos Apóstolos". 2 - Exemplo da Astronomia. Compreende-se que na nossa vida comum estamos diante de situações que exigem uma posição prática diante dos fatos. Quando alguém diz: "fulano é casado mas tem uma amante mais velha", em geral, a primeira atitude não é a de formulação de teorias que justifiquem ou não a aceitação dessa "verdade". Porque a verificação dela é coisa tão ordinária quanto o próprio fato, sua aceitação é muito simples. Não
se dá o mesmo, porém, com certas noções e concepções do mundo que nos cerca. Muito menos com aquelas que dizem respeito à Doutrina Espírita. Mais uma vez recorremos a exemplos simples da ciência. A afirmação "a Terra gira com movimento circular em torno do Sol" parece, se aplicarmos o critério de aceitação vulgar, uma afirmação livre de ambiguidades.
Sistema Ptolomaico, com a Terra no centro do Universo. (~200)
Nossas mentes formam instantaneamente uma ideia perfeitamente clara de seu significado. Por mais incrível que pareça, no entanto, sua validade não pode ser inferida da mesma forma como no exemplo de frase anterior. Ela não era nem um pouco válida aos povos antigos, porque não era bem isso que eles constatavam quando viam o Sol se levantar e se por todos os dias, em aparente movimento circular ao redor da Terra. Ela foi a própria expressão da verdade para Nicolau Copérnico (1540) na sua nova formulação do sistema do Mundo. Para ele, a Terra sim girava circularmente em torno do Sol.
Sistema Copernicano (1540) com o Sol no centro do sistema solar.
Ela deixou de ter validade para astrônomos posteriores, em particular Johannes Kepler (1630) que descobriu que o movimento, de fato, não era circular mas sim elíptico "com o Sol ocupando um dos focos da elipse".
Imagem do Universo revelada por J. Kepler (1630). Os planetas descrevem elipses com o sol ocupando um dos focos.
Essa última conclusão de Kepler deixou de ser válida com Isaac Newton (1670) e sua teoria da gravitação universal. Para Newton (assim como para toda mecânica clássica que ele fundou), o movimento só seria elíptico se no Universo somente o Sol e a Terra existissem. Desde que há outros corpos (não podemos nos esquecer da Lua) o movimento passa a ser "perturbado". Muito aproximadamente a Terra giraria descrevendo uma "roseta" ao redor do Sol por causa do "movimento de precessão dos ápsides" da órbita descrita por ela. Em termos exatos se, porém, no Universo, existisse mais um corpo além da Terra e do Sol, o movimento daquela jamais seria descrito de uma maneira simples.
Perturbação exercida por um terceiro corpo deforma a trajetória elíptica (1670).
Mais uma vez, porém, essa afirmação deixou de ser válida para Albert Einstein (1905), que descobriu efeitos "relativísticos" não desprezíveis.
Precessão da órbita elíptica de acordo com a Relatitividade Geral (1905).
Para Einstein, ainda que não existisse nenhum outro corpo no Universo mas somente a Terra e o Sol, ainda assim o movimento seria o de uma roseta com uma precessão dos apsides extremamente lenta para a Terra. A existência de outros corpos não alteraria muito a descrição de Newton, embora o movimento se tornasse ainda mais complexo. Tal exemplo nos mostra o quão difícil é a descrição da "verdade" relacionada ao objeto de pesquisa da ciência ordinária, a matéria. A lição que se tira não é a de que certa concepção anterior tenha deixado de ser válida (decretada como "herética" na visão por dogmas) . Ao contrário, as construções científicas presentes fundamentam-se explicitamente naquelas do passado. Para nós a memória dos antigos astrônomos deve ser tão venerável quanto a dos mais recentes. Mesmo hoje em dia, se quisermos construir um relógio do Sol por exemplo, podemos perfeitamente usar os conceitos antigos que consideravam o Sol como girando em torno do Terra. Existe erro nisso? Diante de nossa presumível ignorância com relação às questões ainda abertas nas ciências, estamos certamente tão perto da verdade quanto eles. A verificação desse fato não pode ser motivo porém para escândalos, nem para um descrédito para com as ciências. O que se faz necessário é, pois, uma nova concepção de aceitação da verdade, bem como critérios de compreensão das explicações científicas. A chave que permite essa nova compreensão pode ser conseguida estudando-se um pouco a história das ciências assim como os mecanismos pelos quais as concepções científicas surgiram e têm operado [3]. As teorias científicas representam as construções de raciocínio onde essas concepções científicas se estabelecem. Não é senão pelo fato de tais conceitos estarem harmonicamente integrados às teorias que sua aceitação torna-se válida. Além disso, as teorias devem fornecer uma visão consistente do universo onde tal fenômeno ocorre. Isso implica não só em explicar aquele fenômeno particular, mas também possíveis efeitos a ele correlacionados. Uma excelente teoria deve além disso fornecer as bases para a previsão de fenômenos desconhecidos. Portanto, não é a autoridade de um ou de outro cientista que fundamenta a ortodoxia nas ciências
(com sentido muito diferente daquele usado pelas religiões clássicas). Nunca a verdade científica haverá de ser decidida em reuniões a portas fechadas, pela deliberação de conselhos ou organizações ou baseando-se no palpite dos cientistas mais notáveis. É verdade que a opinião de um grande cientista a favor de uma certa teoria particular pode pesar muito na orientação das pesquisas futuras, mas tal opinião nunca constituirá a teoria.
Vídeo I - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos de Materializações descritos por Tom Harrison (Inglaterra)
A médium de efeitos físicos Minnie Harrison.
Apresentamos aqui uma sequência de vídeos do arquivo original: Visitors from the 'Other Side' (Visitantes da 'outra margem') com legendas em português inseridas por nós. Esses vídeos trazem entrevistas e palestras de Tom Harrison (1918-2010, veterano da 2a Guerra Mundial) que testemunhou fenômenos de efeitos físicos produzidos por sua mãe, Minnie Harrison, de 1946 a 1954 na cidade de Middlesbrough, Inglaterra. Os videos são rico em informações sobre o fenômeno de ectoplasmia, quase todos semelhantes aos casos nacionais conhecidos (Ana Prado, Francisco Lins Peixoto, Antônio Feitosa e Otília Diogo). A mediunidade de Minnie Harisson foi, entretanto, desconhecida no Brasil e mesmo no exterior, posto que sua ocorrência foi pouco divulgada em sua época.
Atenção: Apresentaremos as traduções legendadas dos filmes não necessariamente em sequência de posts. Os videos serão postados conforme nossa disponibilidade de tempo para legendá-los. Aguardem!
Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dos ensinos dos Espíritos. (II/2)
Segunda parte. Para acessar a primeira parte clique aqui. 3 - Analisando o critério da concordância universal. Se na descrição de um simples fenômeno material somos obrigados a fazer grandes concessões de tolerância para com aqueles que sustentam opiniões diferentes, imaginemos por um momento a situação com os fenômenos e princípios espíritas. Isso é particularmente forte se considerarmos que o objeto de estudo do Espiritismo não está sujeito à apreensão direta pelos sentidos humanos ordinários nem por quaisquer "aparelhos de medida". Isso não significa, porém, que esses fenômenos estão condenados eternamente a serem inexplicáveis, muito menos que seremos sempre impotentes em explicá-los. O que se passa com o Espiritismo (que resulta em sua independência das ciências comuns) é que ele trata de fenômenos pelos quais as ciências não se interessam. As ciências estudam a matéria e o Espiritismo o espírito. Para assegurar o progresso principalmente moral do ser humano, aguardou-se o lento mas inexorável avanço da intelectualidade humana e o conhecimento espírita foi e tem sido revelado, em função direta dessas mesmas necessidades morais. Diante das dificuldades humanas de se conhecer a verdade (como exemplificadas anteriormente), não é difícil concluirmos que existem claramente limites à revelação espírita. A fonte primordial da informação espírita são os Espíritos. Mas como se deu a aceitação dessas informações por eles propostas? Vamos aqui analisar brevemente
o famoso critério da concordância universal (CCU) que muitas pessoas acreditam é a base para a aceitação dos princípios espíritas. Argumentaremos depois que não é o CCU que valida esses princípios. A referência principal sobre esse assunto é a Introdução ao O Evangelho segundo o Espiritismo [4], Parte II, "Autoridade da Doutrina Espírita". Todas as citações de Kardec feitas a seguir foram extraídas dessa referência. Kardec aponta duas grandes razões para a existência de um critério de aceitação das informações espíritas: (a) "Garantia para a unidade futura do Espiritismo", com anulação das teorias contraditórias (Parágrafo 14). (b) "Garantia contra as alterações que poderia sujeitar o Espiritismo às seitas que se propusessem apoderar-se dele em proveito próprio ou acomodá-lo à vontade." (Parágrafo 16). Tal critério protege assim os fundamentos do Espiritismo contra enxertias, sejam da parte dos próprios Espíritos (menos esclarecidos) ou dos encarnados. Prevê-se que tais enxertias ocorressem por falha na compreensão e, principalmente, aplicação lógica dos princípios espíritas, fato que a história acabou por demonstrar. A primeira coisa que notamos é que o CCU foi uma descoberta inteligente de Kardec diante do dificílimo problema da autenticidade das mensagens dos Espíritos. Assim sendo, ele não é resultado do ensino dos Espíritos e, portanto, não pode ser tomado como um princípio da doutrina. Analisando a referência citada acima, podemos dizer que o critério tem 3 principais fundamentos. O Espiritismo não é uma construção humana, ou seja, não é resultado de uma simples teorização em torno de observações e análise de fatos; Os Espíritos têm ampla liberdade de comunicação, o que anula a possibilidade de privilégios na concessão da informação espírita (o que, do contrário, tiraria o caráter "natural" da revelação espírita); Os Espíritos têm diversos graus de evolução. Se a fonte de informação espírita são os Espíritos, a validade das mesmas depende do grau de lucidez que eles possuem em relação aquilo que pretendem informar. Disso vem que nem todos os Espíritos estão igualmente aptos a servir de fonte de informação e daí imediatamente, a necessidade de uma seleção das mesmas. Por razões didáticas, podemos dizer que os três fundamentos acima possibilitam enunciar o que chamariamos de "CCU fraco": Uma garantia existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que exista entre as revelações que eles façam espontaneamente. Existem entretanto condições operacionais (em relação ao caráter das mensagens) para que o CCU seja válido. Essas, por sua vez, se dividem em dois tipos: condições gerais e condições específicas. São condições gerais: 1. "Tudo o que seja fora do âmbito exclusivamente moral" (Final do Parágrafo 6); 2. Comunicações que tratem dos fundamentos doutrinários: "Vê-se bem que não se trata aqui das comunicações referentes a interesses secundários" (Parágrafo 9). Ao mesmo tempo, são condições específicas (ver Parágrafo 8): Que um só médium receba comunicações de diversos Espíritos; Que vários médiums diferentes (em um certo grupo ou em vários lugares) recebam comunicações de diversos Espíritos. Ocorre aqui porém que se tanto na situação (I) como em (II) houver a incidência de obsessão (incluenciação negativa por parte da fonte original da informação), a
aceitação do CCU fraco não é possível. Disso resulta o que chamaríamos de CCU forte: "Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares". (Parágrafo 9). Ao CCU fraco é assim acrescentada a exigência de repetibilidade geográfica e mediúnica de uma certa informação. Poderíamos ainda adicionar uma necessidade de confirmação temporal da informação, isto é, de que uma dada tese referente a um princípio se confirme ao longo do tempo. Isso ocorreu diversas vezes durante a codificação. Do ponto de vista histórico, Kardec parece também ter sido o único a aplicar o CCU forte: "Na posição em que nos encontramos, a receber comunicações de perto de mil centros espíritas sérios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra, achamo-nos em condição de observar sobre que princípio se estabelece a concordância".(Parágrafo 13). A razão de ser do CCU fraco é que ele parece ser válido desde que os médiuns não estejam sob efeito de Espíritos mistificadores (obsessão etc). A exigência do CCU forte foi cumprida plenamente no momento da codificação por conta da enorme abundância de fenômenos espontâneos ocorridos na época. As condições gerais enunciadas por Kardec (condições 1 e 2) são de crucial importância para se entender a aplicação do CCU. De fato, não tem muito sentido exigir um critério de concordância (seja por vários médiuns ou através várias instâncias temporais) com as comunicações pessoais de Espíritos familiares por exemplo. Seria mesmo ridículo exigir que os Espíritos se comunicassem por médiuns diferentes após fornecerem muitas vezes provas indubitáveis de que são eles mesmos que se apresentam a determinado médium. As especificidade da mensagem dita assim o grau de recorrência ao CCU. O grau de obviedade com que constatamos a concordância dos Espíritos esclarecidos em relação às questões morais é o que fundamenta a condição geral (A). Suprimir tal condição é equivalente a dizer que o CCU (na forma forte) sempre foi operacional com relação às questões morais. Parece assim ser importante compreender exatamente o que se entende por pontos fundamentais e pontos secundários, coisa que fazemos brevemente a seguir. 4 - O que são pontos fundamentais e o que são pontos secundários. Exemplos. Por Doutrina Espírita entendemos o conjunto de princípios fundamentais que sistematizam o Espiritismo, as regras de aplicação desses princípios às diversas situações e fenômenos em que ele representa uma alternativa lógica e racional de explicação. Também a essa doutrina estão associados os diversos conjuntos de preceitos e regras éticas que caracterizam a conduta espírita na mais pura acepção da palavra. Por promoverem o progresso da alma humana, tais regras fortalecem as relações deste com a Divindade, de onde deriva imediatamente o aspecto religioso do Espiritismo. De modo resumido os princípios fundamentais do Espiritismo são: 1. Existência de Deus. Deus aqui entendido como um ser existente de toda eternidade, sem princípio nem fim, todo poderoso e bom. Sem tentar descrever o impossível, tais atributos são, digamos, os mínimos necessários para a noção da Divindade. 2. Existência do Espírito. O Espírito aqui é o princípio inteligente independente da matéria, a constituir um outro princípio. Por ser
independente da matéria, o Espírito não sucumbe nem desaparece frente às transformações desta, de onde se tem a noção da imortalidade do ser. 3. Evolução do Espírito. A medida que o tempo transcorre, o estado que caracteriza o Espírito se transforma. Esse estado dá, por exemplo, as características do Espírito. Da faculdade que o Espírito tem de interagir com a matéria, ele passa por transformações que modificam sua personalidade e características. Essa evolução leva ao aprimoramento moral do ser e de sua inteligência. No homem, o período de tempo necessário para o aprimoramento é muito maior que o tempo de vida médio de sua vida material. Daí segue, como corolário desse princípio, a idéia de reencarnação. 4. Comunicabilidade dos Espíritos. É possível ao Espírito, desprovido da parte material, entrar em comunicação com o mundo material por meio de pessoas dotadas de uma faculdade especial chamada mediunidade. 5. Pluralidade dos mundos habitados. No Universo são inúmeros os mundos onde a vida é abundante, e os Espíritos, segundo semelhantes princípios, evoluem e têm sua existência mais ou menos material de acordo com o progresso atingido.
Os princípios fundamentais estão todos eles contidos nas obras básicas editadas por Kardec. Essas obras também trazem idéias secundárias que auxiliam a explicação espírita do mundo segundo os princípios fundamentais. Além disso, a vasta literatura espírita contemporânea também contém inúmeras obras que desenvolvem substancialmente a aplicação dos princípios fundamentais e, porque não dizer, propõem princípios secundários novos. Esse fato é permitido pelo caráter progressista da doutrina, e os que teimam em não aceitá-lo estão, de fato, atrasando a marcha desse progresso. Vejamos um exemplo concreto que nos auxilie nesse ponto. Suponhamos que um certo Espírito proponha uma modificação na lei III de evolução afirmando que a marcha de desenvolvimento do Espírito não é incessante mas que, em determinado ponto de sua vida maior, seja permitido por lei ao Espírito estacionar. Não é difícil ver que semelhante idéia depõe contra vários outros princípios e leva imediatamente a uma contradição com a noção de livrearbítrio pois, se ao Espírito é possível estacionar, ele não tem, por lei, nenhuma responsabilidade sobre seus atos durante o período de falta de progresso. Essa idéia deve ser rejeitada por estar em contradição com uma série de noções que protegem os fundamentos da doutrina. Tomemos agora um exemplo de uma controvérsia no movimento espírita que ilustra bem as dificuldades de compreensão dos princípios espíritas e do ensino dos Espíritos. Trata-se da famosa proposição do elevado Espírito Emmanuel sobre as "almas gêmeas" no seu livro O Consolador [5]. Antes de tudo, conviria considerar
uma afirmação desse Espírito contida logo na introdução ("Definição") de seus livro: "Alem do mais, ainda nos encontramos num plano evolutivo, sem que possamos trazer ao vosso círculo de aprendizado as últimas equações, nesse ou naquele setor de investigação e de análise. É por essa razão que somente poderemos cooperar convosco sem a presunção da palavra derradeira". Na questão 298 de "O Livro dos Espíritos" [1], Kardec questiona os Espíritos sobre a idéia das almas gêmeas, entendidas como dois seres unidos desde sua origem e predestinados a se encontrarem fatalmente algum dia. Tratava-se, sem sombra de dúvida, de um ponto secundário, já que os princípios fundamentais nada dizem sobre a criação dos Espíritos (ver questão 78 de "O Livro dos Espíritos"). Além disso, a idéia da almas gêmeas não contradiz nenhum outro ponto fundamental. Em "O Consolador", Emmanuel por diversas questões (desde 323-328, "Terceira Parte", "Amor") reafirma a idéia das almas gêmeas, entendidas como seres que se buscam na Eternidade e cuja existência propicia o progresso aos Espíritos, já que estes, quando separados e caídos no crime anseiam por se encontrar, constituindo isso um incentivo ao seu progresso. Emmanuel, de fato, reconhece sua ignorância não só em relação à criação dos Espíritos como também sobre como se estabelece o vínculo afetivo entre eles: "Para todos nós, o primeiro instante da criação do ser está mergulhado num suave mistério, assim como também a atração profunda e inexplicável que arrasta uma alma para outra, no intuito dos trabalhos, das experiências e das provas, no caminho infinito do Tempo." Entretanto, inquirido a examinar melhor seus pontos de vista, Emmanuel humildemente pede seja mantido o texto original, chamando a atenção para a complexidade do assunto. Esse Espírito sinalizou que ainda estamos longe de ter a pretensão à verdade de um tem tão complexo. Por outro lado, se os Espíritos que auxiliaram Kardec, em diversos pontos de "O Livro dos Espíritos", afirmaram que a criação dos Espíritos está mergulhada em um profundo mistério, como poderiam ter dado uma resposta definitiva à questão das almas gêmeas? Parece-nos que, nesse caso, bem como em muitos outros, eles haveriam de estar igualmente longe de dar uma "resposta derradeira". De qualquer forma, o CCU na forma forte não pode ser invocado nesse caso por não se tratar de um ponto fundamental. Podemos tomar a proposição de Emmanuel como uma opinião pessoal sua, aliás em conformidade com o que vimos que esse Espírito diz na introdução de "O Consolador". Entretanto, certos setores do movimento espírita extremamente ligados à letra e desatentos às sutilezas das idéias de verdade e ensino dos Espíritos (a se aplicarem igualmente para as explicações das coisas materiais), tomaram esse caso como mais um exemplo a depor contra a "pureza doutrinária" do Espiritismo que se imagina poder ser imposta a todo custo. 5 - Conclusões Não foi senão por uma longa e difícil marcha que a Humanidade, pela colaboração de inúmeros luminares da cultura, inteligência e moralidade, conseguiu compreender que a noção de verdade só pode ser formulada dentro de bases estritamente relativas. Acompanhando o progresso das religiões e das ciências (mais notadamente dessas últimas) chegou-se a conclusão que as concepções a respeito das coisas e dos fenômenos do Mundo tem uma grande dependência com as épocas, recursos de pesquisa e tendências culturais dos indivíduos. No estágio em que nos encontramos, jamais poderemos aspirar à verdade absoluta.
O CCU pode ser invocado como um princípio metodológico que foi aplicado no início da codificação para estabelecer os fundamentos. Entretanto, não é ele quem valida esses princípios, como muitos poderiam pensar. Seria o mesmo que acreditar que os princípios que organizam as ciências materiais só valem porque os cientistas neles acreditam, os que são apenas a origem desse conhecimento. As doutrinas declaradas de muitas disciplinas científicas tem como fundamento o próprio princípio, muitas vezes inverificável, que deve ser assumido como válido a fim de que suas conclusões sejam determinadas. O mesmo pode ser dito sobre a validade dos princípios espíritas: no fato de gerarem explicações plausíveis e verificáveis da Natureza que nos cerca. É a capacidade que os fundamentos espíritas tem em explicar determinadas anomalias que observamos com aspectos da personalidade humana e com determinados fenômenos que representam a maior fonte de validação de sua "comprovação". Assim, dentro do escopo sobre o que trata a Doutrina Espírita, tais conclusões são igualmente válidas. Elas servem ainda mais para reforçar definitivamente nossa extrema pequenez diante do universo em que vivemos, a idéia de que nossas pretensões são ínfimas. Aliás essa já é a opinião emitida por Espíritos elevados quando inquiridos sobre nosso tamanho nesse universo. Imediatamente transparece a importante conclusão da inutilidade de quaisquer querelas que venham se formar ao redor das concepções espíritas, sejam elas fundamentais ou secundárias. Se nos é possível fechar a correspondência com o passado, digamos que a única "heresia" que se pode suspeitar hoje em dia é a da sustentação de tais querelas contra nossos companheiros muitas vezes dentro do próprio movimento espírita. Ela é antiética e depõe contra todos os princípios evangélicos que o Espiritismo sustenta abertamente. Por outro lado, o sentimento de impotência diante da verdade com relação a muitas questões profundas, não invalida em nenhum ponto os efeitos inquestionavelmente benéficos em nossas vidas que a aceitação e prática dos princípios espíritas revelados na medida que podemos compreender - podem gerar. De fato, estaremos talvez muito distantes de compreender por bases racionalmente sólidas princípios como o do amor, caridade e misericórdia. A própria evolução onde estagiamos hoje dá-nos muito mais capacidade para sentir esses conceitos. Há uma base sim muito sólida onde se estabelecem os princípios e desenvolvimentos espíritas. Para conquistá-la, o espírita deve abraçar com zelo o estudo da doutrina e desvencilhar-se um pouco de velhas concepções. Isso significa avaliar coerentemente o conteúdo dos novos ensinos, compará-los aos antigos, notar as sutilezas por detrás das novas noções aparentemente tão simples. E nunca esquecer também que o mundo onde vivemos é de fato muito maior que nossas vãs concepções podem imaginar. 6 - Referências [1] Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos", 71 edição, Federação Espírita Brasileira (1991). [2] Eamon Duffy, "Santos e Pecadores, a História dos Papas", Cosac & Naif Edições Ltda, São Paulo (1998). [3] Silvio Seno Chibeni, "A Excelência Metodológica do Espiritismo II", Reformador, Dezembro de 1988, pp. 373-378 (FEB). [4] Allan Kardec, "O Evangelho segundo o Espiritismo", 104 edição, Federação Espírita Brasileira (1944)
[5] Emmanuel, "O Consolador", 4 edição, Federação Espírita Brasileira.
Vídeo III - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos de Materializações descritos por Tom Harrison (Inglaterra)
Escrita direta obtida pela mediunidade de Minnie Harrison.
Os versos abaixo são de autoria de Jack Bessant, irmão de Minnie Harrison e foram obtidos através dessa médium em 1954. (ver original em Inglês abaixo) Não chorem por mim, meus amados, pois estou ao vosso lado. Não fui arrebatado a reinos desconhecidos ou levado por ignotas marés. Não vos deixei sem cuidados - nunca pensem que vos faria isso; Secai vossas lágrimas, levantai e sorride, ainda estou convosco. Meu olhos que se fecharam agora estão abertos, minha visão clara e brilhante; Onde dantes podia ver por janelas esfumaçadas, agora vejo a perene luz. O véu simplesmente se levantou e os meus amados que se foram Agora esperam por mim como nos velhos tempos de então. O amor deles ainda me cerca. Seus Espíritos não se perderam; E, agora, sei como sou conhecido - NÓS VIVEMOS! Não há morte! Então, confortai vossos corações, livrai-vos da dúvida e do pavor; Vivemos e caminhamos ao vosso lado - os vossos amados estão aqui. Não vos aflijais por mim, meus queridos, livrem-se dessas lágrimas; Caminharei convosco pelas escuras noites terrenas até o amanhecer de um novo dia. Levantai vossos corações em agradecimento para vos unir a nós e cantar: Ó, túmulo, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?
Fenômenos de escrita direta e aparições de luzes Terceira parte do vídeo Visitantes da 'outra margem' com entrevista de Tom Harrision.
Conteúdo (5' 18'') 00:00 Continuação da palestra de Tom Harrison sobre voz direta obtida por meio de uma corneta; 01:33 Continuação da entrevista para Pat Hamblig; 02:22 Nova palestra onde Harrison descreve os primeiros fenômenos luminosos e de escrita direta obtidos no grupo; Outros Vídeos 1a parte de Visitantes da 'outra margem'; 2a parte de Visitantes da 'outra margem; A compilação de todos os videos podem ser visto aqui:http://www.youtube.com/user/xavnet2
Referência Visits By Our Friends From the "Other Side". Tom Harrison. Saturday Night Press Publications; Revised edition edition (February 23, 2011) Original em Inglês Mourn not for me my loved ones, For I am by your side, I have not sped to realms unknown or crossed the rolling tide. I do not leave you comfortless—think not I ever will; So dry those tears, look up and smile, for I am with you still. My eyes once closed are opened, my vision clear and bright; Where once I looked through darkened glass, I see perpetual light. The veil has just been lifted and my loved ones gone before Are waiting now to welcome me, as in the days of yore. Their love is still enfolding me, Their spirits have not fed; And now I know as I am known—WE LIVE! There are no dead! So let your hearts be comforted, cast out all doubt and fear; We live and walk beside you—your loved ones still are near. Grieve not for me my dear ones, just dry those tears away; I'll walk with you through Earth's dark night until the break of day.
So lift your hearts in thankful praise and join with us to sing— Oh, Grave where is thy victory? Oh, Death where is thy sting?
Pragmática e intenção nas cartas psicografadas de Chico Xavier.
Psicografia em Italiano, F. C. Xavier.
Este post contém um artigo submetido à revista 'Reformador' da Federação Espírita Brasileira em 7/fev/2011 que teve publicação recusada em 8/set/2011. De forma bastante simplificada, um processo de comunicação é um conjunto de etapas que leva uma mensagem de um emissor a um receptor. Esse é a imagem popular de um processo ou mecanismo de comunicação, e podemos denominá-la de modelos de ‘transferência de informação’. Entretanto, ela é severamente limitada, embora pareça dar conta do processo de comunicação na maioria dos casos, principalmente com sistemas eletrônicos ou meios outros meios de comunicação (exemplos vão desde sinais de fumaça, telégrafos até o telefone). Em tempos recentes, boa parte da pesquisa sobre o processo de comunicação é desenvolvida através de várias teorias linguísticas, embora outras áreas de pesquisa (como a semiótica) tenham como objeto de estudo a comunicação não baseada na linguagem dos seres humanos, inclusive desenvolvendo modelos para comunicação entre seres vivos (plantas, animais etc). Modernas teorias linguísticas buscam explicar aspectos do processo de comunicação que não podem ser explicados pelos modelos simples de transferência de informação. Um processo eficiente de comunicação não é aquele em que partes ou pedaços de informação são transferidos para o recipiente e este, por sua vez, vai montando um quadro ou interpretação que é proporcional à quantidade de mensagem transmitida. Há vários níveis ‘hierárquicos’ de informação dentro de uma mensagem e, para se ter uma ideia limitada desses níveis, é suficiente considerar a linguagem escrita.
Um texto escrito de próprio punho por alguém (emissor) a um seu conhecido (receptor) é um exemplo rico para os vários níveis de sinais linguísticos que se interrelacionam dinamicamente formando uma mensagem que só pode ser convenientemente compreendida pelo receptor. O primeiro nível existente é o da morfologia, afinal, se a mensagem é enviada pelo emissor, ela contém sinais grafados que o identificam univocamente. Uma vez ‘transcrita’ a mensagem em um meio que é independente da morfologia, aparecem então outors tipos de sinais que revelam outros níveis hierárquicos: a sintaxe (ou, que diz respeito ao cumprimento de regras próprias do idioma em que a mensagem é grafada) e a semântica (ou, que diz respeito ao significado das palavras e frases contidas no texto). Se a relação entre o emissor e o receptor sempre se deu, por exemplo, utilizando a língua portuguesa, então é natural que a sintaxe obedecida será a do português. No que diz respeito à semântica, o significado das palavras e grupos de palavras formando frases inteiras pode ser feito tanto se respeitando a regra (o chamado léxico) comum ou não. É muito comum que, entre grupos privados, regras semânticas particulares sejam utilizadas. Nesse caso, qualquer análise externa que pretenda inferir um significado ao texto escrito sem o conhecimento de um léxico particular é severamente limitada. Se esse léxico não está disponível em parte alguma, não é possível codificar corretamente o significado do texto, por mais que nos esforcemos. Um exemplo comum de problemas desse tipo é a tentativa de grupos dogmáticos cristãos em interpretar literalmente passagens ou textos inteiros do Velho e do Novo Testamento. Há, entretanto, um último nível na hierarquia de sinais de comunicação que está muitas vezes oculto na mensagem: o da pragmática. Além do sentido aparente dado pela semântica, a mensagem do emissor é gerada de forma tal que apenas o receptor está completamente capacitado para compreendê-la. Por exemplo, se meu amigo, morando na Austrália, escreve a mim (receptor) uma carta contando das inúmeras belezas naturais daquele continente, seu objetivo pode ser apenas remover meus receios presentes de o visitar. Afinal, apenas ele sabe que eu não tenho o menor interesse em visitá-lo. Qualquer outra pessoa, ao ler a mesma carta, vai pensar que meu amigo apenas está empolgado com as belezas naturais daquele país. Embora morfologia, sintaxe e semântica sejam visíveis para todos (ou seja, são níveis de conhecimento linguístico disponíveis publicamente), o nível pragmático não é. Em todo o processo de comunicação, competência pragmática deve existir por parte do emissor para que o processo seja realmente eficiente. Isso é possível porque uma comunicação verdadeira só ocorre entre emissor e receptor porque eles compartilham crenças anteriormente adquiridas conjuntamente. Em paralelo com a questão da pragmática nas mensagens, há ainda questões ligadas à finalidade ou objetivo do texto que denominamos de ‘intenção’. Afinal pode ser que, dentre os inúmeros objetivos do emissor com o texto, o menor deles é o de comunicar alguma coisa. Mensagens podem ter como objetivo provocar determinadas impressões no receptor. Um exemplo interessante é o do indivíduo que chega a um posto de gasolina com seu carro e um pneu furado. Ele então fala para o primeiro funcionário do posto: ‘o pneu furou’ e aponta para o problema. Essa mensagem não tem como objetivo dizer que o pneu foi avariado, mas fazer com que o receptor faça alguma coisa diante da necessidade de se trocar o pneu. Fala-se assim no problema da ‘subdeterminação da intenção comunicativa’, na presença de expressões ‘semanticamente mal definidas’ e nos ‘atos não comunicativos’ (Bach, 1979), todos eles representando aspectos privados do processo.
É um exercício interessante analisar e encontrar cada um dos níveis de hirarquia de sinais de comunicação nas cartas psicografadas por Chico Xavier. Cada um deles, morfologia, sintaxe, semântica, pragmática e intenção aparecem vividamente em diversas cartas, embora não extensivamente em todas ao mesmo tempo. Isso revela aspectos ocultos do processo de comunicação mediúnico que está de pleno acordo com a expectativa deinterferência, e que ainda não são bem compreendidos. Ao contrário do que se pode pensar, a presença de interferência por parte do médium nas psicografias é uma evidência forte de processo de comunicação, uma vez que todo sistema de comunicação não está imune a interferências. Existe interferência em cada um dos aspectos do processo, embora, para alguns deles, ela é menos extensiva. Quanto maior o nível considerado, menor a interferência por parte do médium. Reciprocamente, quanto maior esse nível tanto mais privada é a manifestação do nível (ver Figura abaixo).
A pragmática e a intenção nas cartas estão diretamente ligadas a forte impressão causada aos parentes dos comunicantes que foram chamados a ‘decodificar’ o conteúdo, justamente pela presença de elementos que não estão publicamente disponíveis. É necessário reconhecer que, para que a estratégia do emissor tenha qualquer sucesso, um conjunto de crenças deve ser compartilhado entre o emissor e o receptor e que essas crenças não estão disponíveis antes (ou depois) do ato mediúnico. Se comunicar-se não é apenas ‘transportar’ informação, as cartas psicografadas por Chico Xavier (nosso exemplo mais notório) só podem ser explicadas se o médium teve ajuda explícita do emissor para escrever cada uma delas. O emissor (Espírito) é o agente que detém completamente a competência pragmática e a intenção, enquanto que o médium é o intermediário, interferindo ainda como fonte de ruído irredutível no processo que se manifesta nos níveis inferiores. Embora os aspectos mais superiores da pragmática e da intenção sejam os menos imunes à ação de ruído (interferência) pela mente do médium, são igualmente notáveis as comunicações ‘xenográficas’, ou escritas em uma sintaxe (e semântica) diferente da conhecida pelo médium, que demonstram que o Espírito tem o controle sobre níveis inferiores, além dos superiores. Esse é o melhor modelo para se explicar os fenômenos e os dados oriundos das cartas psicografadas. De acordo com esse modelo simplificado de comunicação, é compreensível também que o caráter ‘automático’ ou ‘mecânico’ da comunicação é tanto maior quanto mais completo deva ser o processo de comunicação nos vários níveis em que ele se manifesta. Nosso esforço aqui é parte de uma iniciativa que resultou em um pequeno texto sobre a aplicação das modernas teorias da linguagem e comunicação aos dados que se obtém das cartas psicografadas por Chico Xavier e que foi publicada na revista ‘Paranthropology’ (Xavier, 2010). Essa análise pode também ser aplicada a produções psicográficas de outros médiuns. Mais importante do que isso, ela revela que os aspectos justamente ‘não públicos’ são os mais importantes na caracterização e identificação do emissor. Não é possível explicar o conteúdo pragmático invocando-se aquisição de conhecimento por parte do médium ou
mesmo simples emulação. Os detalhes pragmáticos e intencionais dependem de uma quantidade grande de conhecimento que é compartilhado historicamente entre o emissor (Espírito) e seus familiares (receptores) e que não estão disponíveis publicamente e que não se podem armazenar. Mesmo alguns aspectos públicos (como a semântica) dependem de conteúdo privado, principalmente quando o emissor intencionalmente faz uso de palavras com significado diferente do usual. Esperamos que novas pesquisas sejam dirigidas ao estudo dos vários níveis que caracterizam uma comunicação mediúnica efetiva além de outros aspectos. Parte disso já tem acontecido, como um estudo recente sobre o papel das citações (Rocha, 2010) nos textos psicografados. Tais estudos descobriram textos desconhecidos de Humberto de Campos citados por ele em Espírito. Esse estudo não é apenas importante para caracterizar os vários níveis encontrados nas mensagens e, assim, responder às dúvidas do ceticismo, mas também para formar uma imagem mais precisa do processo psicográfico em si. Em particular eles podem revelar detalhes sobre como se dá a interação entre a mente do médium e a do emissor a fim de que o processo de comunicação seja o mais transparente possível. Referências Arantes H. M. C & Xavier F. C. O conteúdo das cartas foi publicado em várias obras publicados pela Editora do Instituto de Difusão de Araras e GEEM (ver, por exemplo, Ramacciotti C. & Xavier F. C. (1975), Jovens no Além). Bach K. & Harnish R. M. (1979), Linguistic communication and speech acts, Cambridge Mass: MIT Press. Grumbach C., Gentile L. A. & Pelele P. P. (2010), As cartas psicografadas de Chico Xavier, Crisis Produtivas and Ciclorama Filmes. Rocha, A. C. (2010). Uma estratégia para a construção autoral na psicografia: as citações. A Temática Espírita na Pesquisa Contemporânea, textos selecionados. Editado por CCDPE-ECM. Xavier A. (2010). ‘Pragmatic and intention in automatic writtings: the Chico Xavier case’, Paranthropology, vol II, Numero 1, p 47-51. Disponível publicamente em http://paranthropology.weebly.com/ Ver também: Cartas psicografadas neste blog em 3 partes.
Memória Genética e Reencarnação
Cada da revista 'Espiritismo & Ciência' (número 90), com texto de nossa autoria . Editado pela Mythos.
Seções do artigo 1 - Introdução; 2 - Memória Genética e Eugenia; 3 - Consequências da tese da memória genética para a visão espiritualista do ser humano; 4 - Qual é a situação atual? 5 - Considerações finais. Agradecimentos Referências Descrição A matéria de capa da revista Espiritismo & Ciência 90 fala sobre memória genética e reencarnação. Esse conceito de memória genética refere-se à suposta capacidade de herdarmos não apenas memórias dos antepassados, mas também suas personalidades. Ele tem sido utilizado para tentar refutar o conceito de reencarnação, mas sem sucesso. A matéria é assinada pelo físico Ademir Xavier. Os passarinhos do bem de Marcio Baraldi, os Vapt&Vupt continuam firmes com suas mensagens de paz e reflexão. A edição também traz comentários e sinopses de livros espíritas, para você escolher sua leitura preferida. José Sola continua com a série de textos a respeito dos livros de Chico Xavier, agora com a obra Há 2000 Anos, uma das mais populares escritas pelo Espírito Emmanuel. Na seção "Desmistificando o Dogma da Reencarnação", o doutor Wladimyr Sanchez responde perguntas dos leitores, aqui com uma longa explanação sobre o conceito de reencarnação que surge no livro Missionários da Luz, de André Luiz. Paulo Neto traz um interessante texto explicando qual a primeira obra espírita que deve ser lida, baseando em informações fornecidas pelo próprio Alan Kardec. Carlos e Carmen Imbassahy abordam as pesquisas científicas que permitem dizer-se que o universo não é criação do Deus religioso que conhecemos. No texto de Rogério Coelho, você poderá ler a respeito da relação entre ciência e religião, a partir do ponto de vista de Allan Kardec e de Joanna de Ângelis. Clique aqui para saber como adquirir a revista.
Editora Mythos
Vídeo II - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos de Materializações descritos por Tom Harrison (Inglaterra)
Sra. Agnes Abbott.
Fenômenos de Aporte Segunda parte do vídeo Visitantes da 'outra margem' com entrevista de Tom Harrision.
Conteúdo 00:00 Segunda parte da entrevista; 01:38 Trecho de uma palestra com T. Harrison onde ele explica os primeiros fenômenos de aporte; 05:20 Continuação da entrevista onde T. Harrison mostra objetos que foram obtidos durante várias sessões de aporte; Outros Vídeos
Primeira parte de Visitantes da 'outra margem';
A compilação de todos os videos podem ser visto aqui:http://www.youtube.com/user/xavnet2
SAGB: Associação Espiritualista da Grã-Bretanha.
O colégio Arthur Findlay.
Kardec sobre o Ceticismo.
"Se eu estiver errado, basta apenas um crítico." - Albert Einstein (Seu comentário à primeira edição do livro 'Hundert Autoren gegen Einstein', ou 100 autores contra Einstein, em 1931) Reunimos aqui algumas citações de Allan Kardec sobre o ceticismo. Outras referências dele sobre o assunto podem ser encontradas nas diversas obras que formam a codificação. Como pioneiro no desbravamento dos princípios
espiritualistas e sua verificação por meio de fenômenos considerados insólitos, Kardec enfrentou problemas que legiões de cientistas (metapsiquistas e, modernamente, parapsicólogos) iriam enfrentar quando a questão era defender e explicar de forma satisfatória a fenomenologia psíquica. E a luta que ele teve que enfrentar foi dupla: primeiro contra aqueles que negavam a realidade dos fenômenos, depois contra os que, os aceitando, propunham explicações ilógicas, em franca contradição com a multiplicidade de ocorrências e detalhes observados. É importante que se diga que Kardec nunca teve a pretensão, como muitas críticas procuraram mostrar ao longo dos anos, em ser árbitro da verdade: Confessamos, sem constrangimento, nossa insuficiência quanto aos pontos para os quais não temos resposta. Assim, longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos (desde que não sejam ociosas e nem nos façam perder tempo com futilidades), pois constituem um meio de nos esclarecermos. (RS, 1858, p. 294). Há limitações ao conhecimento espírita, isso é um fato que, ao invés de diminuir a importância da doutrina como se pode pensar inicialmente, a engrandece. De fato, o valor de uma teoria está na capacidade que ela tem em fornecer explicações elegantes para uma grande quantidade de fatos. Ora, uma vez que diga alguma coisa sobre o mundo, é igualmente certo que a teoria tem limites. Não é objetivo de uma ciência explicar todo e qualquer aspecto do mundo. Muitos críticos acreditam que o Espiritismo, enquanto uma visão do mundo, deveria fornecer respostas para tudo o que se observa nele. Isso não é verdade. A ciência da matéria também tem suas dificuldades para explicar determinados aspectos da Natureza. Isso é normal e esperado no processo de produzir conhecimento científico que diga alguma coisa sobre o mundo. Por outro lado, muitos críticos controem (e ainda o fazem) labirintos de hipóteses e explicações sem se preocupar em unificar conceitos e buscar uma causa ou origem comum para o que se observa. Para cada fenômeno, uma explicação diferente. Dito isso, é importante prestar atenção ao tipo de crítica : É logica elementar que, para discutir uma coisa é preciso conhecê-la, visto que a opinião de um crítico só tem valor quando ele fala com perfeito conhecimento de causa. Só então a sua opinião, ainda que errônea, pode ser levada em consideração. Mas, que importância tem ela acerca de um assunto que ele ignora? O verdadeiro crítico deve dar provas, não somente de erudição, mas também de profundo saber com respeito ao objeto em exame, de julgamento são e de imparcialidade a toda prova, sem o que o primeiro menestrel que surgisse poderia arrogar-se ao direito de julgar Rossini e um iniciante em artes o de censurar Rafael. (RS, 1860, p. 269) As condições que Kardec aponta para caracterizar um crítico sério estão descritas acima e é instrutivo enumerá-las abaixo: 1. Um crítico sério deve ter erudição. Por 'erudição' entende-se uma bagagem mínima de conhecimento a respeito do que se pretende criticar. É fácil ver porque essa condição é necessária; 2. 'Profundo saber com respeito ao objeto em exame'. Esse 'profundo saber' distingue-se da mera 'erudição', pois essa última pode ser caracterizada apenas como quantidade de informação. Há uma diferença entre o saber verdadeiro e a mera informação. Estar informado a respeito de algo é muito diferente de saber porque esse algo existe, como ele ocorre, quais são as condições para que ele ocorra e assim por diante; 3. 'Julgamento são e imparcialidade a toda prova'. Colocamos essas duas condições justas, pois a 'imparcialidade' é consequência do 'julgamento são'. O 'julgamento são' implica em saber manejar a lógica dentro de leis que são universalmente aceitas, embora essa capacidade possa ser apenas
tacitamente apreendida (é fato que há pessoas que tem dificuldade em apreender a lógica em determinados assuntos, assim como há pessoas que tem dificuldade para matemática, outras para as artes e assim por diante). Se um indivíduo tem dificuldades com raciocínio lógico, ele dificilmente será um bom crítico pois sua opinião, frequentemente, será parcial e tendenciosa. Ao se observar a presença de tendenciosismo e a parcialidade, toda a crítica está comprometida, pois coexistem 'interesses escusos' ou implícitos que o crítico, se for honesto, deverá declarar. Tais características que fazem parte de um 'crítico de primeira linha', manifestamse na maneira como a crítica é desenvolvida. É comum observar-se ataques dirigidos a determinados pontos da doutrina por pessoas reconhecidamente iniciantes no assunto. Mas isso não ocorre apenas com o Espiritismo. Em toda e qualquer área do conhecimento onde se tem uma teoria ou escola que diga algo positivo a respeito do mundo que nos cerca, é possível apreciar esse fenômeno social, o de detratores despreparados e desesperados em refutar e combater (2). O antigo provérbio português, "só se atiram pedras em árvores que dão frutos," sempre deve ser lembrado. Qual é a causa desse fenômeno? Acreditamos que seja uma tentativa de reafirmação pessoal que pode se manifestar em massa, no coletivo, mas isso nos leva a um assunto que foge ao escopo desse post. Desta forma, a polêmica é consequência do tipo de discussão, que é gerada dependendo da qualidade da crítica. E, sobre isso, explica Kardec: "Mas há polêmica e polêmica. Existe aquela ante a qual jamais recuaremos: é a discussão séria dos princípios que professamos. Todavia, mesmo nesse caso, faz-se preciso uma distinção: se se trata apenas de ataques gerais dirigidos contra a doutrina, sem outro fim que o de criticar, e feitas por pessoas arraigadas em rejeitar tudo quanto não compreendem, nada disso merecerá a nossa atenção; o terreno que o Espiritismo ganha a cada dia é resposta suficientemente peremptória e prova de que seus sarcasmos não tem produzido efeito." (RS, 1858, p. 293) Da mesma forma como se pode descrever detalhes sobre o tipo de crítica, existem diferentes tipos de discussões ou 'polêmicas' como Kardec descreve acima. Em particular, deve-se manter distância de polêmica feita por indivíduos 'arraigados em rejeitar tudo quanto não compreendem'. É fácil entender a razão disso diante das características já enumeradas acima. O que fazer então? Kardec recomenda: "Deixando aos nossos contraditores o triste privilégio das injúrias e das alusões ofensivas, não os seguiremos no terreno de uma controvérsia sem objetivo; dizemos sem objetivo, porque ela não os conduziria à convicção, sendo perda de tempo discutir com pessoas que desconhecem as primícias do que falam. Só nos cabe dizer-lhes: estudai primeiro, e veremos em seguida. Temos outras coisas a fazer do que falar àqueles que não querem ouvir. Por outro lado, que importa, afinal a opinião contrária de tal ou qual pessoa? Será essa opinião de tão grande importância que possa entravar a marcha natural das coisas? As maiores descobertas encontraram os mais rudes adversários, o que não as fez perecer. Deixamos, pois, a incredulidade murmurar em torno de nós, e nada os desviará da rota que nos é traçada pela gravidade mesma do assunto em pauta." (RS, 1860, p. 1) No comentário acima, Kardec de forma lógica recomenda o silêncio contra determinados tipos de crítica. Fazem parte delas, as que surgem naturalmente de vários tipos de ceticismo, tanto aqueles que se põem contra os fenômenos como os que se colocam contra a teoria. Tal como no exemplo citado sobre a Teoria da Relatividade (1), Kardec chama a atenção ao fato de muitos princípios inovadores não terem sido afirmados senão depois de muitas discussões. Entretanto, muitos críticos podem seguir um caminho ainda mais extravagante. Sobre isso também escreveu Kardec:
Cremos que, em certos casos, o silêncio é a melhor resposta. Há, por outro lado, um gênero de polêmica que nos impomos a norma de abster-nos: é a que pode degenerar em personalismos. Ela não só nos repugna, como nos tomaria um tempo que podemos empregar mais utilmente, além do que seria bem pouco interessante para os nossos leitores, que assinam o jornal para se instruírem e não para ouvir diatribes(2) mais ou menos espirituosas. Ora, uma vez embrenhados nesse caminho, dele seria difícil sair; eis porque preferimos ai não entrar, e julgamos que assim o Espiritismo só terá a ganhar em dignidade. (RS, 1858,p. 293) Uma 'polêmica personalista' é um debate cujo objetivo implícito é a disputa pessoal buscada por alguns dos polemistas. Aqui estão em jogo forças que distanciam muito o debate de qualquer tipo de discussão equilibrada e imparcial. De fato, não pode haver imparcialidade onde se busque determinados tipos de ganhos (que podemos considerar 'morais', em contraposição a ganhos materiais ou pecuniários). O gosto de se sentir apreciado e vencido em um debate é recompensa considerada de alto preço, que sempre ocorreu em vários setores da sociedade. Infelizmente também reconhecemos que muitos espíritas e mesmo alguns setores do movimento espírita endossam esse tipo de discussão contra a qual Kardec colocou-se já em 1858. E isso por uma boa razão: por se tratar simplesmente de perda de tempo. Tal como qualquer outro recurso, o tempo também é um bem que devemos considerar diante de determinados tipos de ganho, lembrando ainda que o tempo é recurso irreversível: uma vez perdido, é impossível recuperá-lo. Kardec reconhece ser muito difícil sair desse tipo de caminho porque ninguém quer se sentir vencido, ainda que a discussão tenha objetivo intangíveis e de pouquíssima importância. O
julgamento
da
História
Que é feito hoje da memória dos que criticaram Kardec na sua época? Tentamos nos lembrar de alguns nomes do passado. Para ajudar o leitor, listamos alguns desses nomes nas notas de Apêndice deste post (3). Com essa nota, também rendemos nossa justa homenagem a eles. O
Ceticismo
como
um
vício
filosófico.
Finalmente, relembramos o que disse Kardec sobre o ceticismo exacerbado. Para ele ficou claro que ele se caracterizava mais como um vício filosófico, algo que nasce não só da falta de conhecimento, mas da falta de madureza intelectual: Há céticos que negam até à evidência, nem milagres poderiam convencê-los. Há mesmo aqueles que ficariam bem desgostosos se fossem forçados a crer, porquanto seu amor-próprio sofreria com a confissão de que estavam enganados. Que responder a pessoas que por toda parte só vêem ilusão e charlatanismo? Nada; deve-se deixá-los tranquilas, a repetirem, enquanto quiserem, que nada viram e até mesmo que nada lhes pode ser mostrado. Ao lado desses céticos endurecidos, há os que querem ver a sua maneira; os que, firmados numa opinião, a esta tudo querem ajustar, não compreendendo existirem fenômenos que não podem sujeitar-se a sua vontade. Eles não sabem ou não querem adaptar-se às condições necessárias. (RS, 1858, p. 153) Entre os críticos, há os que poderíamos chamar de 'analfabetos filosóficos' que parecem se enquadrar na classe de contraditores de que fala Kardec. Procuram eles ajustar tudo o que vêem a sua maneira muito particular de ver o mundo, não compreendem - ou não querem compreender - que existe uma realidade maior que não se deixa perceber da mesma forma que a 'realidade menor' de suas vidas particulares, que existem milhares de nuances e detalhes nos fenômenos da
Natureza a requerer esforço e dedicação (as vezes de vidas inteiras) para que sejam compreendidos. Jamais negaremos a tais o direito de não acreditar, afinal é assim que vivem os homens, cada um segundo sua visão de mundo, mas seria justo que pudessem destruir fenômenos ou apagar a realidade tão só com efeitos de retórica? De qualquer forma, o efeito de suas palavras, ao contrário do que se pode imaginar, é fazer propaganda justamente dos princípios ou ideias que pretendem combater. Referências H. Israel, ed (1931). Hundert Autoren gegen Einstein. Leipzig: Voigtländer. Z. Wantuil e F. Thiesen (1987), Allan Kardec - Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação. Vol. II. Ed. FEB. Notas de Apêndice (1) Um exemplo clássico tirado da Física moderna é o da teoria da relatividade de Einstein. Para isso ver 'Críticas à teoria da Relatividade'. Poucos sabem que, ao longo de sua carreira como cientista, Einstein enfrentou uma crítica furiosa contra suas conclusões e teorias. Por que? Uma resposta razoável é porque a Relatividade possui respostas definitivas para os fenômenos que ela se propõe a explicar. Mas, igualmente possível é imaginar que muita gente invejou a notoriedade que Einstein adquiriu com o lançamento de sua teoria. Assim, não é difícil perceber porque muitos lançam críticas a médiuns modernos, que alcançaram notoriedade em vida. Há aqui muito mais que mera descrença. (2) Diatribes: s.f. Crítica severa e mordaz; escrito ou discurso agressivo e injurioso. (3) A lista abaixo traz alguns nomes de críticos e céticos do Espiritismo da época de Kardec (ano da crítica entre parênteses). Talvez o leitor possa se lembrar de alguns deles. A referência principal de onde tiramos tais nomes é Z. Wantuil e F. Thiesen (1987). Pe. François Dr. Jobert de Sr. Oscar Dr. Louis Sr. George Sr. Émile Dr. Armand Pe. Lapeyre Pe. P. Sr. Robin Pe. A. Mons. Pantaleón Monserra Sr. Rewile Sr. Jules Pe. Poussin (1868);
Chesnel Lamballe Comettant Figuier Gandy Deschanel Trousseau Nampon Barricand Y Claretie
Navarro
(1859); (1859); (1859); (1860); (1860); (1860); (1862); (1862); (1863); (1863); (1864); (1864); (1865); (1866);
Entrevista III - Alexandre F. da Fonseca e a temática espírita na atualidade (parte 2/2).
Continuamos aqui a 2a parte da entrevista de Alexandre Fonseca. Para acessar a primeira parte. EE - 6 Onde você acha que essa nova ciência deveria se desenvolver ? (academia versus ambiente do movimento espírita) Essa é uma boa pergunta. Eu penso que estando os Espíritos por toda a parte, dependendo do tipo de projeto de pesquisa, qualquer lugar pode se tornar um laboratório legítimo de pesquisa espírita. Ao meu ver, é a seriedade e os objetivos de um trabalho de pesquisa que vai determinar se o projeto vai ou não contar com a assistência de bons Espíritos. Em termos das “frentes de trabalho”, o local de pesquisa mais comum na primeira “frente” é a academia, sem contudo excluir o que chamamos de “atividade de campo”, onde o cientista vai ao local onde pode encontrar de modo mais abundante o objeto de seu estudo. O biólogo costuma ir às florestas investigar determinadas espécies em seu próprio habitat, enquanto que o astrônomo não tem como reproduzir em laboratório a grandeza do cosmos. Pensando em termos da segunda “frente de trabalho”, o laboratório de pesquisa mais comum pode ser tanto o centro espírita quanto um gabinete de leitura e estudos. Porém, essa questão merece mais atenção pois o centro espírita, em minha opinião, não deve formalmente se transformar em “centro de pesquisas”, sob pena de prejudicar as outras atividades para as quais ele se dedica. Apenas ressalto que nada impede que pessoas que lidam com a mediunidade, por exemplo, possam fazer registros e anotações que permitam colher aprendizados posteriores, a exemplo do que fez Hermínio C. de Miranda na obra “Diálogo com as Sombras”. Nada impede que um grupo de trabalho de passes, realize um acompanhamento da evolução da saúde de alguns assistidos. E se algum grupo dispuser de um médium de efeitos físicos que procure investigar os fenômenos e suas condições e não apenas assisti-los pela satisfação da curiosidade. Outra ressalva importante é que ninguém, no centro espírita, deve ser constrangido(a) a realizar algum trabalho de pesquisa, nem mudar sua postura em sua atividade rotineira, em nome de um ideal no aspecto científico do Espiritismo. Por exemplo, não é porque se pode fazer anotações sobre a mediunidade em um grupo de desobsessão que os doutrinadores ou dialogadores faltarão com a atenção, respeito e caridade em suas conversas com os Espíritos.
EE 7 - Como você acha que deveriam ser divulgados os trabalhos dessa nova ciência? É necessário haver um espaço apropriado, seguro e de baixo custo para divulgar com a devida rapidez e facilidade os resultados das pesquisas espíritas. O melhor que conhecemos dentro da Ciência é o esquema de publicação de artigos inéditos de pesquisa através do método de análise por pares, o chamado “peer review” (comentamos sobre ele na questão 5). Esse esquema permite a publicação rápida dos trabalhos de pesquisa que, por conseguinte, permite a divulgação do quê vém sendo pesquisado e como vém sendo pesquisado aos outros pesquisadores. Graças a esse esquema, a Ciência constrói seu conhecimento na base da contribuição de muitos cientistas. O movimento espírita atual valoriza muito a obra publicada na forma de livro. O lado positivo é que o livro é uma forma de registro permanente de um conhecimento adquirido. O lado negativo é que interesses diversos aliados à falta de espírito crítico de editores e leitores tornam o livro uma fonte de informações muitas vezes insegura. No processo de divulgação dos trabalhos de pesquisa não se pode perder tempo ou recursos. Na preparação de um livro, leva-se um tempo maior para juntar e compor o seu conteúdo. Depois de pronto, os custos de produção e distribuição de um livro são elevados. Além disso, nem sempre a maioria dos leitores interessados tem recursos financeiros para aquisição de muitos livros. Assim, a opção de uma revista de artigos de pesquisa preenche os requisitos de rapidez e baixo custo de divulgação. Em tempos de acesso mais fácil à internet, é possível editar e criar uma revista científica em que os artigos possam ser divulgados a custo zero para o leitor, o que levaria a um ganho enorme em termos de visibilidade do trabalho de pesquisa. Visibilidade é algo tão importante na pesquisa científica que algumas editoras acadêmicas tem criado revistas de “open access”, em que o leitor não paga para ler os artigos. Esse tipo de metodologia de edição e escolha de artigos funciona da seguinte maneira: especialistas em uma determinada área do conhecimento relacionada ao tema de um artigo recém submetido para publicação, são escolhidos pelos editores da revista para analisarem se os conceitos, métodos e rigores de análise do problema em questão, foram empregados pelo(s) autor(ers) do artigo. Isso é feito de modo anônimo, pelo menos, para os autores. Por ser uma atividade humana, é natural que haja defeitos nessa forma de avaliação dos artigos, mas até onde conhecemos, essa é a melhor forma de garantir que um artigo de pesquisa é legítimo, cujos resultados foram obtidos de modo criterioso e sensato, podendo assim ser lido com a confiança de que os critérios de bom-senso na pesquisa foram seguidos. Obviamente que a publicação de um artigo ainda não significa demonstração científica de algo novo, mas é o primeiro passo para que a comunidade de cientistas e estudiosos da área tomem conhecimento formal da pesquisa. EE 8 - O que você acha da crescente onda de valorização de fundamentos da física quântica por parte do movimento espírita? Um exagero que denota a falta de noção de como a Ciência de fato se desenvolve. Na ânsia de ver o Espiritismo mais divulgado e aceito pela sociedade, alguns companheiros acreditam que a relação entre as teorias e descobertas modernas da ciência, como a Física Quântica, e o Espiritismo mostrariam que o Espiritismo tem
valor científico. Infelizmente, isso é um engano que demonstra a falta de conhecimento do significado do aspecto científico do Espiritismo. O movimento espírita tem um potencial enorme de trabalho em pesquisa genuinamente espírita, com um poder de demonstração de seriedade no aspecto científico muito maior quando comparado ao ganho aparente que se imagina obter das afirmações da relação entre a física quântica e os conceitos espíritas. Isso, sem falar dos textos pseudo-científicos envolvendo física quântica que são divulgados no meio espírita como a favor do Espiritismo, mas que contém afirmações completamente contrárias a ele. EE 9 - Como você vê uma possível interação entre o Espiritismo e uma disciplina exata como a Física, por exemplo? Imagino que é possível trabalhar na “interface” em que determinados fenômenos sejam da alçada tanto da Física quanto do Espiritismo. Os fenômenos de efeitos físicos são exemplos disso por se tratarem de efeitos materiais de causas espirituais. Porém, diversos companheiros do movimento espírita, talvez por algum entusiasmo, talvez por ignorância (sem intenção pejorativa), tem tentado associar de modo precipitado alguns conceitos da Física com os do Espiritismo de uma forma que eu chamaria de inversa. Por exemplo, com relação aos fluidos espirituais há obras inteiras que tentam adaptar teorias e modelos modernos originalmente desenvolvidos para descrever as propriedades da estrutura atômica da matéria, aos conceitos de fluido. Muitos se esquecem de que a história da ciência mostra que primeiro os cientistas desenvolveram as teorias para o comportamento da matéria em escala macroscópica e só depois, por meio do aprimoramento e refinamento dos experimentos, é que com base nos resultados experimentais, os cientistas propuseram novas teorias para a estrutura atômica da matéria. Assim, em minha opinião, antes de ficar imaginando que os fluidos ou o Espírito tenham ou sejam uma função de onda como descrita pela teoria quântica, busquemos investigar e esgotar o nosso conhecimento sobre as propriedades e condições físicas dos fluidos e fenômenos espíritas na escala normal de tamanho, que é macroscópica, e só depois quando tivermos sólidas informações sobre essas propriedades, começarmos a imaginar, por exemplo, como poderia ser a estrutura em escala atômica daquilo que chamamos de fluidos espirituais. Para isso, poderemos contar com a possibilidade de usar diversos equipamentos modernos e sensíveis que a nossa tecnologia já disponibiliza obviamente na medida em que existam recursos financeiros para aquisição ou aluguel desses equipamentos. Apesar das dificuldades naturais, há companheiros espíritas que tem imaginado novos experimentos capazes de investigar as condições em que os fenômenos de efeito físico ocorrem. Vide, por exemplo, o artigo de Ademir Xavier em (livro do 6º encontro da LIHPE). EE 10 - Como você vê as contribuições presentes de movimentos de grupos de pesquisadores espíritas para o desenvolvimento da temática espírita? (que sugestões você daria para tais grupos). Primeiramente, dos poucos grupos de pesquisadores espíritas que conheço, é preciso que eles recebam nossos sinceros parabéns e incentivo pelo esforço que tem realizado no propósito de desenvolver pesquisa espírita. Temos relatos de estudos que demonstram o número razoável de teses e monografias acadêmicas envolvendo temática espírita ou de interesse espírita. Nas duas “frentes de trabalho” há grupos como a Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas (LIHPE) que promovem
encontros anuais onde pesquisadores apresentam em formato próximo ao acadêmico, seus trabalhos de pesquisa espírita, e grupos acadêmicos de pesquisa espírita e espiritualista como o Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (NUPES). Essas contribuições estão motivando o engajamento de jovens em novos projetos de pesquisa o que sem dúvida é positivo para o processo nas duas “frentes de trabalho” mencionadas anteriormente. Entretanto, noto que o movimento espírita em si parece ter pouco interesse ou mesmo nem tem conhecimento da existência desses grupos e trabalhos de pesquisa que vém sendo realizados até então. Eu acredito que isso se deve, em parte, ao fato da divulgação desses trabalhos de pesquisa ainda não ser perfeita, com baixa visibilidade que, como comentamos anteriormente, é algo importantíssimo ao desenvolvimento da pesquisa em qualquer área. Na minha opinião, a criação de uma revista espírita dedicada a artigos de pesquisa espírita, que tivesse o método de análise por pares (o “peer review”) e divulgasse seus artigos de modo gratuito (pela internet, por exemplo), permitiria um maior o acesso de um número maior de leitores a trabalhos de pesquisa espírita legítimos. EE 11 - Alguma mensagem final para nosso blog?
O blog A Era do Espírito tem se dedicado ao esclarecimento de conceitos importantes sobre Ciência, Ciência Espírita, e os limites de validade de ambas. Em particular, esses conceitos tem nos servido de base para compreendermos os limites de validade da crítica feita ao Espiritismo. Estamos vivendo em uma época em que há facilidade de acesso à informação combinada com a falta de formação científica e filosófica de grande parte dos espíritas. E, diante da afirmativa de Kardec de que a verdadeira fé só o é aquela que é capaz de encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade, ao apresentar estudos sobre assuntos pouco discutidos em outros blogs, páginas ou periódicos espíritas, este blog tem preenchido uma importante e difícil lacuna de informar (e por que não dizer, formar) os leitores em assuntos necessários para o fortalecimento da fé espírita.
Entrevista III - Alexandre F. da Fonseca e a temática espírita na atualidade (parte 1/2).
Apresentamos aqui a primeira parte de uma entrevista com Alexandre Fontes da Fonseca, conhecido articulista de 'O Reformador' e pesquisador espírita. Alexandre é nosso conhecido e nos cedeu esta entrevista onde discorre sobre diversos temas de interesse atual para o movimento espírita e para a pesquisa da temática espírita. Alexandre é físico e trabalha na Universidade Federal de Volta Redonda. Para saber mais sobre o Alexandre, você pode visitar sua página do Grupo de Modelagem Física de Nanoestruturas. As respostas do Alexandre estão em azulabaixo. EE 1. Como você conheceu o Espiritismo? Meu pai frequentava um centro espírita na minha cidade natal, e ele me levava com ele. Só na adolescência, porém, que tive oportunidade de participar de grupo de jovens do setor de Evangelização do centro, e comecei a ler as das obras básicas e algumas das obras psicografadas pelo Chico Xavier. EE 2. Você acha que o Espiritismo tem algo a contribuir para nosso conhecimento científico atual? Sem dúvida! Sendo uma doutrina que revela as leis naturais que envolvem a existência e sobrevivência da alma, e a possibilidade de comunicação entre a alma dos ditos “mortos” com a dos ditos “vivos”, ela naturalmente abre um campo novo de pesquisa que é de interesse tanto científico quanto filosófico e religioso. Em particular, o Espiritismo oferece uma base teórica com a qual é possível investigar e compreender os fenômenos que, mesmo hoje, ainda são considerados sobrenaturais. EE 3. Quais são os seus principais interesses na 'interface' Espiritismo - Ciência? Eu particularmente tenho dois interesses distintos entre si que eu chamaria de “frentes de trabalho”, ambas envolvendo aspectos diferentes da ideia que temos de Ciência e sua relação com o Espiritismo. Uma dessas “frentes” é o que acredito ser um dos maiores desafios da pesquisa espírita que é investigar os fenômenos espíritas dentro dos paradigmas e métodos das diversas áreas do conhecimento humano como a Física, a Química, a Biologia, a Medicina, etc. Digo grande desafio, pois o fenômeno da vida, do ponto de vista material, ainda é pouco compreendido pelas ciências materiais, o que dificulta qualquer tentativa de se investigar, pelo lado da matéria, teorias ou modelos para este fenômeno que incorporem o elemento espiritual como força atuante no fenômeno da vida. É difícil meditar sobre onde e como o princípio inteligente atua
nos seres vivos se mal conhecemos como eles são e como se comportam em termos do conhecimento das ciências materiais. Isso, porém, não impede que se pesquise as características e condições materiais em que alguns fenômenos espíritas ocorrem; ou efeitos indiretos da espiritualidade como, por exemplo, a ação da prece ou dos passes na saúde humana, etc. A segunda “frente de trabalho”, na minha opinião, é a que mais importância teria no cenário do movimento espírita e que traria consequências positivas na forma como a sociedade encara o Espiritismo. Essa “frente” consiste em desenvolver o “aspecto científico” do Espiritismo. Apesar de parecer redundante, podemos dizer que a atividade de pesquisa realizada constantemente por uma comunidade ou grupo de pessoas é que torna, perante a sociedade, uma área do conhecimento ativa no seu aspecto científico. Por exemplo, a comunidade de pesquisadores em Física mantém ativa a pesquisa científica nessa área. E isso não ocorre por causa da simples existência de físicos, mas porque uma boa parcela deles faz pesquisa profissionalmente. Assim, na minha opinião, as pessoas do movimento espírita que tem afinidade ao estudo e pesquisa, mesmo não possuindo experiência profissional em pesquisa científica ou acadêmica, podem ser orientadas a realizar um bom trabalho de pesquisa espírita, contribuindo de forma segura e racional para o progresso do aspecto científico do Espiritismo ou daquilo que chamamos de “Ciência Espírita”. Enquanto que a primeira “frente de trabalho” é, em geral, muito difícil, e só pode ser realizada por pesquisadores profissionais das diversas áreas do conhecimento humano, a segunda “frente de trabalho” está mais próxima do movimento espírita pois requer apenas um bom conhecimento das obras básicas da Doutrina Espírita, o gosto pelo estudo, observação e meditação, e um pouco de orientação sobre O QUE e COMO é um trabalho de pesquisa. Na minha opinião, uma das consequências a médio ou longo prazos da segunda “frente de trabalho” é mostrar à sociedade que o Espiritismo possui um subgrupo de pessoas que trabalham de modo sério no seu aspecto científico o que, portanto, implica na existência de uma ciência espírita. Outro benefício direto é combater as novidades que se apresentam de modo místico e incoerentes com os princípios próprios do Espiritismo, o que perderiam o espaço e o valor para aquilo que se obtém através do estudo e pesquisa sérios. EE 4. O que significa para você 'ciência espírita'? O conceito de ciência é amplo e filosoficamente envolve vários fatores. Entretanto, se eu puder apresentar uma definição em poucas palavras, eu diria que ‘ciência espírita’ consiste de conhecimentos que são obtidos através de atividades de pesquisa baseadas em conceitos, métodos e rigores de análise definidos e descritos pelo paradigma espírita. EE 5. Como você vê o desenvolvimento dessa nova ciência? Apesar de conhecer vários companheiros no movimento espírita se esforçando tanto na primeira quanto na segunda “frente de trabalho” mencionadas na questão 3, minha impressão é que esse desenvolvimento ainda é pequeno. Isso ocorre não somente pelas pessoas que fazem parte do movimento espírita não serem cientistas ou pesquisadores profissionais, mas principalmente pela falta de interesse pelo estudo sério e metódico. Felizmente, a nossa juventude espírita vive uma época de
maior acesso ao livro e à informação o que é um ponto positivo. O obstáculo aparente é a falta de noção do que é um trabalho de pesquisa já que, infelizmente, não se aprende a realizar pesquisa científica nas escolas e nem mesmo nos cursos de nível superior. Profissionalmente, isso se aprende nos cursos de Pós-Graduação do tipo strictu-senso, que são os cursos de Mestrado e Doutorado, mas dentro do movimento espírita, não há necessidade de se ter títulos de pós-graduação para realizar pesquisa de qualidade. As qualidades necessárias fundamentais são o conhecimento sólido do Espiritismo e o interesse e gosto pelo estudo.
H. G. Andrade. (1913-2003)
Podemos citar alguns exemplos de pessoas que trabalharam na segunda “frente de trabalho” acima mencionada. O primeiro exemplo que desejo citar são as pesquisas sobre reencarnação e outros assuntos relacionados à área psíquica realizadas pelo sr. Hernani G. Andrade. Cito, também, a obra “Diálogo com as Sombras” de Hermínio C. Miranda que contém o relato das observações e conclusões que foram frutos de uma atividade legítima de pesquisa espírita no campo da desobssessão. De correspondências que troco com alguns companheiros espíritas, tenho a impressão de que já existem vários grupos no movimento espírita que realizam trabalhos de pesquisa em assuntos espíritas ou de interesse espírita, mas que, por falta de uma melhor divulgação, não alcançam um número maior de pessoas. Baseado nas condições que, via de regra, sempre estão presentes junto aos grupos ou comunidades de pesquisadores das diversas disciplinas científicas ou acadêmicas, eu acredito que existem fatores que, se pudessem ocorrer no movimento espírita, ajudariam a “alavancar” o desenvolvimento da ciência espírita. Enumeramos alguns desses fatores a seguir: Primeiro, como já comentado, precisamos de recursos humanos, isto é, pessoas dispostas ao árduo e paciente trabalho de estudo e pesquisa. Segundo, precisamos de recursos financeiros para a pesquisa em si, para fomentar encontros de pesquisadores, aquisição de materiais, equipamentos, investigações de campo, etc. Terceiro, precisamos desenvolver uma mentalidade de pesquisa, análoga à que existe nos meios acadêmicos porém, sem o prejuízo que existe nos mesmos por causa do egoísmo e do orgulho. Essa mentalidade de pesquisa envolve o desenvolvimento de um senso-crítico que assegure a validade da análise das novidades que surgem na atividade de pesquisa. Isso envolve tanto a capacidade de auto-crítica quanto a de análise crítica da produção intelectual de outrem. Enquanto no meio acadêmico isso muitas vezes ocorre de modo agressivo, no movimento espírita o dever moral impõe o respeito ao próximo mesmo diante de
uma crítica. Em outras palavras, se faz necessário por em prática a recomendação de Jesus: “Seja seu dizer sim, sim, não, não” (Mateus 5:37). Quarto, precisamos de mecanismos de divulgação dos resultados de pesquisa mais rápidos, eficientes e baratos, e que sejam similares ao que toda área de pesquisa do conhecimento humano tem: revistas científicas ou acadêmicas dedicadas exclusivamente a artigos de pesquisa, que utilizam o sistema de “peer review” para a análise dos artigos. Esse método, mesmo sendo imperfeito, contribui para maximizar as garantias de que os conteúdos publicados tiveram critério na sua execução e bom-senso nas conclusões. As novidades publicadas por meio desse método são mais confiáveis e menos suscetíveis a erros do que aquelas oriundas de publicações individuais, onde nem sempre o conteúdo passou pela devida análise crítica. No próximo post, Alexandre discorre sobre o que seria necessário para aprimorar o desenvolvimento da Ciência Espírita.
Livro IV - O Cérebro e a Mente (uma conexão espiritual) pelo Dr. Nubor Facure
Há um grande fosso entre as considerações acadêmicas sobre as bases da consciência e os postulados espiritualistas. Esses últimos colocam como origem e destino das manifestações da consciência o Espírito ou princípio inteligente, independente da matéria. Já as academias - nas chamadas 'neurociências' -
procuram explicar as manifestações de inteligência e consciência como subprodutos da atividade neuroquímica do cérebro. Esse assunto certamente ainda precisa ser muito desenvolvido, e o que as crenças acadêmicas sugerem são explicações para o funcionamento de muitas funções cognitivas elementares, que se construiu a partir de uma visão fundamentalmente descritiva dessas funções, bem como sua localização no cérebro (ou seja, há um mapa que liga essas funções com partes específicas da massa encefálica). Não obstante a existência desse mapa, inexiste uma 'teoria da consciência' como muitos poderiam pensar que explique de forma satisfatória as manifestações superiores da consciência (além disso, é preciso ainda compreender o mistério que existe na chamada 'plasticidade neural'). O neurologista Dr. Nubor Facure é autor do livro 'O Cérebro e a Mente - uma conexão espiritual' onde procura abordar o tema do ponto de vista espírita (e não apenas espiritualista). O livro é formado por vários capítulos (que não são numerados) conforme a sequência abaixo: A Evolução do Cérebro O Mapa do Desenvolvimento. Os Sistemas. O Mapa do Desenvolvimento. As Funções. Reconhecendo a Mente. O Inconsciente Neurológico. O Cérebro e a Mediunidade. A Neurologia do Bem-Estar. Revelações da Alma. Psicognosia. O Reconhecimento da Alma. O Homem Mediúnico. Uma perspectiva para o Ser Humano no futuro. Ciência e Espiritualidade. Doença Espiritual. Eventos Históricos na Pesquisa do Cérebro e da Mente. De início já comentamos que uma das grandes deficiências do livro é inexistência de gravuras ou imagens que acompanhe as descrições feitas pelo autor (principalmente nos capítulos iniciais). O livro não contém, de fato, nenhuma ilustração exceto pela bela imagem da Nebulosa de Órion em sua capa. Uma vez que a neurologia definiu e especificou a existência de um mapa entre funções cognitivas elementares e partes do cérebro, seria muito mais didático se a descrição do autor fosse acompanhada de figuras. Isso considerando a grande variedade de áreas e funções existentes. A figura abaixo é uma imagem extraída de um modelo aberto em Sketchup (cortesia de Fussolia) para o cérebro humano que pode ser útil para os leitores acompanharem a interessante e bem feita descrição de Facure das funções cerebrais.
Modelo 3d do cérebro segundo Fussolia (via sketchup), com algumas das áreas discutidas por Facure em seu livro.
Em 'A Evolução do Cérebro' o autor se baseia nos relatos arqueológicos sobre a evolução do volume da massa do cortex, desde os símios até o chamado Homo Sapiens. Nessa descrição, o autor não se aventura a fazer qualquer 'conexão' com o princípio inteligente ou Alma que irá aparecer apenas no capítulo 'Reconhecendo a Mente'. O estilo do autor é bastante livre, ele consegue descrever de forma simples muitos dos conceitos. Há certa semelhança na maneira de apresentar cada conceito entre o que escreve o autor e André Luiz em vários dos livros sob psicografia de Francisco Cândido Xavier. Isso se caracteriza pelo uso do presente do indicativo para se referir a acontecimentos passados e fatos históricos na forma de curtos parágrafos. Duas passagens doe 'O Cérebro e a Mente' me chamaram a atenção. Na página 41, ao descrever o gigantesco número de conexões neurais existentes no cérebro e a quantidade de informação genética supostamente necessária para descrever detalhadamente tais descrições, Facure reconhece uma impossibilidade: Ainda não se tem uma interpretação adequada para explicar quais os mecanismos que direcionam essas ligações. Não sabemos, por exemplo, como os neurônios do olho se estendem pelas vias corretas até a parte de trás do cérebro, onde suas terminações têm que se distribuir por camadas de alta complexidade e com a exigência de impecável de que cada fibra deve ocupar com precisão o seu devido lugar. Acredita-se que a célula alvo contenha as substâncias químicas que exercem o papel de atrair a 'fibra certa' com a qual se deve ligar. Convém registrar que, enquanto temos milhões de gens, as ligações entre os neurônios são de tal forma numerosas que, para desligá-las, uma a uma, a cada segundo, seriam necessários 32 milhões de anos para completar a tarefa. Portanto, temos muito pouco material genético para, por si só, direcionar todas essas informações.
Em outras palavras, a quantidade de informação contida no código genético é muito menor do que a necessária para descrever (ou mapear) as conexões neurais. De onde vem essa informação adicional? O problema aqui é que, embora se possa ter ideia dessas diferenças de informação, ninguém consegue quantificá-las corretamente. Mas, a necessidade de perfeição no concerto dessas ligações indica que alguma força adicional está em operação. Como a neurologia é conhecimento essencialmente descritivo, inexiste qualquer evidência sobre como essa força poderia operar, é como se apenas dispuséssemos da descrição de prédios e ruas do centro de uma metrópole sem poder saber absolutamente nada sobre as forças subjacentes que os utilizam durante a maior parte do tempo. Outra parte interessante está na pagina 47. O autor considera que as estruturas encefálicas necessárias para a inteligência do homem moderno já estavam prontas a 100 mil anos atrás. Ainda assim, ele considera: Podemos questionar, então, porque só tão recentemente fomos capazes de construir cidades, as pirâmides, a esfinge e redigir livros sagrados, considerando que a disponibilidade do cérebro já podia nos permitir desempenhar essas funções muito tempo antes. Pressuponho que a magnitude e a rapidez desse avanço, que ocorreu nesses últimos 250 séculos, deve ter sido precipitado ela vinda de criaturas, mais desenvolvidas, que vieram habitar entre nós, exercendo um papel de enxertia para a espécie humana. Uma observação pode ser válida aqui: é possível que a história que conhecemos seja apenas um esboço precário da verdadeira história pregressa dos últimos 100 mil anos. É possível que nossa história verdadeira tenha começado muito tempo antes dos 6 mil anos a. C. De qualquer forma, é interessante considerar que a arqueologia e antropologias modernas especifiquem um 'surto' evolutivo para a cultura humana apenas nos últimos 25 mil anos, enquanto que o cérebro moderno já estava disponível 100 mil anos antes. Isso pode corroborar a noção de nossa cultura tenha sido auxiliada pela vinda em massa de Espíritos mais evoluídos. Essa 'vinda' em nada teve de extraordinária: ela se deu pelas vias normais do nascimento comum e nada teve a ver com uma 'invasão' extraterrestre. Assim, nenhuma evidência física dela será encontrada, apenas um surto de desenvolvimento, que é assinalado pelos estudos arqueológicos sem nenhuma explicação aparente. Em 'Reconhecendo a Mente', é feita a primeira abordagem da necessidade de se incluir a Alma ou Espírito no quadro puramente descritivo das ciências neurológicas. Isso é feito pelo autor evocando-se tratados antigos de diversas culturas que reconheciam a existência de uma individualidade que é preservada além da morte. É importante considerarmos aqui que a postulação da existência da Alma não parte de uma necessidade meramente neurológica. De fato, podemos ter dificuldades em explicar a falta de informação no código genético para explicar as ligações neurais, mas o Espírito (sua existência e sobrevivência) vem como base independente dessas considerações. De uma maneira diferente dos capítulos iniciais, Facure descreve conceitos como Tempo, Matéria e Energia adentrando em conceitos primitivos de Relatividade e Física Quântica para justificar aparentemente a incompletude das descrições neurológicas da mente. O Cérebro e a Mediunidade
O que também chama a atenção em 'O Cérebro e a Mente' é a tentativa de desenvolvimento da noção de Kardec de que a mediunidade tem a ver com a organização física do médium que, para Facure, sugere uma ligação estreita com a estrutura cerebral (o que daria origem a uma 'neurologia da mediunidade'). Nesse sentido, todos os tipos de mediunidade (mesmo aqueles que se poderiam considerar os mais 'físicos') passam pelo filtro do cérebro para que possam se manifestar. Isso contrasta fortemente com a opinião algo generalizada de que mediunidade deva ser algo 'místico'. E, também, sugere não se poder falar em mediunidade absolutamente mecânica, quando o médium apenas transmite o que recebe sem nenhum tipo de interferência. Esboços em direção ao desenvolvimento dessa ideia podem ser encontrado na pag. 84 ('Psicografia e Pintura Mediúnica'): Com o desenvolvimento mediúnico, a psicografia e a pintura mediúnica manifestam-se claramente como expressões de automatismos cerebrais, nos quais o Espírito comunicante se utiliza dos núcleos da base e das áreas motoras complementares para executar a tarefa. Por isso, ambos, a psicografia e a pictografia, são executados com extrema rapidez; a caligrafia com frequência é ampliada e não há necessidade de acompanhamento da visão por parte do médium, porque ele já está treinado para execução do texto ou da pintura. E não apenas isso. O conhecimento da maneira como o cérebro opera a codificação dos sinais visuais para fornecer ao Espírito a visão integral de um objeto (1) parece ser essencial para compreender as diferenças que existem entre descrições de diversos médiuns videntes. Mais recentemente, em seu blog, Facure discute uma possível explicação para esse fenômeno (2). Ele fala, por exemplo, que um paciente epilético pode descrever uma maçã sem cor. Isso acontece porque diferentes parcelas de informação de uma imagem vão para áreas diferentes do cérebro. Portanto, como a mediunidade está essencialmente ligada a estrutura física do cérebro, então diferentes médiuns poderão descrever diferentes aspectos de uma cena exterior, uma vez que essa faculdade dificilmente estará uniformemente desenvolvida entre eles (trata-se de uma nova faculdade em desenvolvimento na espécieHomo Sapiens). A Psicometria (capacidade de certos médiuns de conhecer a história pregressa de objetos físicos simplesmente ao tocá-los) é uma extensão das funções do tato ordinário que são processadas no lobo parietal. Dessa forma, prevêse que as variedades (e intensidades) mediúnicas seriam tão grandes quanto as variedades de funções cognitivas disponibilizadas pelas diversas estruturas do cérebro. A nós parece que o Dr. Nubor Facure é um pioneiro na extensão desses conceitos oriundos de modernas descobertas da neurologia para indicar uma caminho a ser seguido na pesquisa da mediunidade no futuro. O leitor poderá encontrar ainda vários neologismos usados pelo autor no livro (tal como a palavra psicognosia com significado específico dado por ele), além do conceito do inconsciente neurológico. Na parte final do livro há um instrutivo quadro cronológico sobre as descobertas da neurologia, onde não deixam de figurar as contribuições de Kardec e de outros investigadores para a compreensão integral
do ser humano. Não é possível estabelecer uma ciência da Mente onde o Espírito seja dela derivado a partir de observações da neurologia, assim sendo: Estando presos à realidade física que nos limita, não poderemos explicar a fisiologia dessas aptidões. Todas elas estão ligadas a uma capacidade da Alma que utiliza também o cérebro, mas transcende a sua fisiologia. (pag. 97) Pelo menos, isso ainda não ocorreu. Mas, certamente, o livro do Dr. Nubor Facure nos ajuda a aprender um pouco mais sobre o assunto. Dados da obra
Título: O Cérebro e a Mente, uma conexão espiritual. Autor: Dr. Nubor O. Facure Na nossa edição, não pudemos encontrar o ISBN dessa obra. Número de páginas: 174. Editora: FE Editora Jornalística Ltda.
Referências 1. Com relação à maneira como o cérebro interpreta inicialmente a informação visual, uma descrição para os leigos pode ser encontrada no Capítulo 4 do livro 'Fantasmas no Cérebro' de V. S. Ramachandran (Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004). Segundo este autor, existem cerca de 30 áreas no cérebro associadas ao processamento separado da informação visual. 2. Ver 'Mediunidade a visão das cores' postado em 26/11/11 no blog do Dr. Nubor Facure. Há outros posts sobre o assunto mediunidade também.
Ciência e Fé
“A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se.” (Allan Kardec) Há opinião generalizada de que não é possível haver acordo entre a Ciência e a Fé. Para muitos, Ciência e Religião jamais poderão ser integradas, posto que se colocam hoje em dia em posições diametralmente opostas no que diz respeito à maneira como o Mundo deve ser visto e interpretado. Como a Ciência - entendida como conhecimento e não meramente como opinião acadêmica - foi capaz de prodigalizar avanços nunca imaginados e de produzir conhecimento útil a respeito desse Mundo, enquanto que a Religião estabelecida é herdeira de um passada pouco memorável, prevalece o ponto de vista de que a Ciência deve substituir a Fé em todos os setores da vida humana. Semelhante estado de coisas é apenas produto de um ponto de vista muito particular sobre o que Ciência e Fé realmente são. Quase sempre a última é descrita como filha da ignorância e herdeira da presunção humana que assume uma imagem do Universo sem a necessidade de provas. Os exageros pintados em cores escuras que cercam a noção de Fé, se contrapõem aos exageros semelhantes mas em tons coloridos que se formam em torno da Ciência. Esta é vista como produto da exação e da lógica, da aplicação rigorosa de um método isento de erros e acima de todos os interesses humanos. A favor desse quadro apresentaram-se versões de fatos históricos, que se cristalizaram como verdades absolutas seguindo a opinião de maior gosto e interesse de nossa época. Entretanto, esse estado de tensão desaparece ao se encontrar uma nova noção de Fé que se completa a partir de uma nova visão da Ciência, nascida da compreensão integral de como esta opera e se estabelece realmente. Tal mudança de ponto de vista com relação às noções de Ciência e Fé são parte dos fundamentos que deverão estabelecer uma nova sociedade, mais equânime e menos dogmática em seus pontos de vista. Pois, apenas a uma causa deve-se imputar o aparente conflito que existe entre Ciência e Fé: ao dogmatismo que ainda existe na sociedade humana. É a opinião
dogmática que devemos combater como sendo o pior dos vícios quando a questão é fazer verdadeiramente Ciência e Religião caminharem lado a lado. Elimine o dogmatismo e veremos aparecer uma nova Ciência e uma nova Religião prontas as se darem as mãos em direção à Verdade. Elimine o dogmatismo e teremos uma síntese perfeita do que pode a alma humana alcançar em termos do que é belo e verdadeiro em sua plenitude: a respeito de nossas origens como espécie, de nossa posição no Mundo, sobre nossas aptidões em realizar o ideal de beleza no campo das artes, com relação a nossa 'religação' com a fonte primordial da Vida, que constitui Religião no sentido mais exato do termo. Repetimos que o dogmatismo é o responsável por todos os desvirtuamentos da Religião: ele pode ser encontrado em todas as decisões a respeito de assuntos que não eram de sua alçada, mas que se ligaram a ela por puro interesse. E, quando se trata de defender seus maiores interesses (ainda que tais interesses sejam inúteis e imaginários) é preciso ser dogmático. É o dogmatismo o responsável por negar à Ciência sua capacidade de estudar e compreender assuntos transcendentes porque tais assuntos fogem aos interesses imediatos de se fazer Ciência. Logo é preciso alimentar o dogmatismo. Em essência, nunca houve conflito genuíno entre o conhecimento puro a respeito do mundo e a necessidade humana em se conectar à fonte geradora desse mesmo mundo. Ambas são forças que nascem da ânsia de transcender a nossa vida cotidiana, em procurar e se ligar a nossa verdadeira origem. Mas, por causa dos interesses que se multiplicaram no meio do caminho que se traçou para essa busca, Ciência e Fé tornaram-se, de acordo com esse ponto de vista popular, pontos de vista antagônicos para se interpretar o Mundo. Uma novo continente haverá de surgir desse oceano profundo, de águas escuras e enodoadas por sangrentas e cruéis batalhas de outrora. Que morram os interesses mesquinhos e veremos nascer uma nova Terra como uma nova síntese de estado de coisas, de noções mais perfeitas e conhecimentos ainda mais exatos. Neste novo mundo, desaparecerão as concepções de 'Religião' e 'Ciência', confundidas em uma mesma busca, em um mesmo método de procura da Verdade que é, por si mesma, a fonte de tudo que existe.
Conceitos básicos de Física Quântica I
As moléculas têm uma forma determinada?" Sem dúvida, as moléculas têm uma forma, que não é perceptível para vós." ('O Livro dos Espíritos', questão # 34, 1857) Apresentação elementar de conceitos básicos em física quântica para que o leitor possa melhor julgar e se posicionar diante dos que pretendem misturar espiritualismo com essa especialidade da física. 1. Introdução A física exerceu enorme influência sobre o desenvolvimento das ciências modernas nos últimos tempos. Sabemos hoje o quanto e ciência e a tecnologia têm contribuído para o aprofundamento do abismo entre as sociedades ricas e pobres, numa situação nunca antes vista na história. Nosso objetivo com a série de posts que se inicia hoje é apresentar brevemente alguns conceitos de física quântica, a fim de elucidar aparentes diferenças entre a visão do mundo fornecido por essa disciplina e a maneira usual de ver o mundo. Isso é importante, uma vez que descobrimos que o nosso jeito particular e puramente sensorial de apreender a realidade não corresponde ao único existente. Existem 'outras realidades', o que pode ajudar a nos distanciar do ceticismo em relação a novos fenômenos da Natureza. Sabemos também que a física quântica tem sido evocada por grupos de espiritualistas numa tentativa de justificar ideias e noções transcendentes do ser humano ou do próprio Universo (ver "Física Quântica e os espiritualistas do século 21 - uma análise preliminar"). Antes de analisarmos e criticarmos essa postura, é importante apresentar os novos conceitos da física quântica, mesmo que em nível elementar, a fim de que o leitor também possa julgar melhor a polêmica e a dificuldade apresentada por esse tipo de debate. Nosso objetivo não é, portanto, a crítica. Grande parte dos avanços da física neste século foram possíveis graças ao desenvolvimento do programa de pesquisa da chamada "mecânica quântica" também conhecida como física quântica. Seu desenvolvimento se deve basicamente à convergência de três especialidades da física: o eletromagnetismo, a óptica e o surgimento da física nuclear, bem como um conjunto de novos fenômenos que não poderiam ser explicados de forma satisfatória pela física anterior, chamada de 'física clássica'. Em sua essência a mecânica quântica visa o estudo de sistemas quânticos. Sistemas quânticos são sistemas físicos (isto é, podem ser sistemas elétricos, ópticos, nucleares, eletrônicos, térmicos, mecânicos etc) cuja quantidade
de movimento ou energia associada é tão pequena que uma descrição clássica não é possível. 2. Descrição clássica O que é porém uma descrição clássica? É a descrição de sistemas físicos desenvolvida pelos cientistas antes da descoberta de fenômenos quânticos e que atingiu seu pleno desenvolvimento com as contribuições deIsaac Newton (1643-1727) no século 18 (mas não exclusivamente por ele). Newton tornou-se um dos pais fundadores da física clássica. Nossa crença do mundo é clássica. Daí o nome 'física clássica' ou 'mecânica clássica'. Quando dirigimos automóveis acreditamos que as posições e velocidades dos automóveis que passam a nossa frente realmente refletem oestado desses sistemas de forma simultânea. Sabemos que um erro de cálculo de nossas mentes pode ser fatal pois, em se tratando dos sistemas “automóveis”, não é possível que dois deles ocupem a mesma posição no espaço no mesmo instante de tempo. Quando ligamos aparelhos elétricos sabemos (na verdade, nós acreditamos nisso) que a corrente elétrica da tomada de força flui continuamente, o que possibilitamos o correto uso de equipamentos. Quando observamos objetos a nossa frente, acreditamos que eles estão na posição que nós observamos, no momento em que são observados, parados ou em movimento, e não que se encontrem em outro lugar (mesmo que esse outro lugar seja alguns poucos milésimos da distância da posição onde nós acreditamos que esses objetos estejam).
Nota de 1 libra trazendo a imagem de Newton. O desenvolvimento da física clássica foi um dos triunfos da civilização moderna.
A física clássica é a física dos objetos e coisas muito próximos de nossos sentidos. Para ela o tempo flui continuamente, sem consideração a nada mais; o medidas no espaço são definidos a partir de sua referência a um determinado ponto arbitrário nesse mesmo espaço, que não se altera pela presença de objetos nele. Espaço e tempo são conceitos primitivos e independentes um do outro. Objetos existem no espaço com posições muito bem definidas. Movimentam-se nele com velocidades que se pode determinar com precisão. O estado desses objetos clássicos é determinado por arranjos experimentais sem que o observador interfira de forma mais fundamental no processo de medida. Ou, se isso não for absolutamente possível, há sempre uma maneira de se fazer um experimento de forma que o processo de medida interfira o mínimo possível com o estado anterior desse objeto
(antes da medida). Ainda assim, é possível separar o efeito do observador, de forma a se prever e reduzir sua influência sobre o objeto medido. Essas características da física clássica acima deixam de ser válidas no universo quântico, que é o domínio de existência de fenômenos quânticos. Isso ocorre freqüentemente, porém, dentro de uma escala de dimensão peculiar. A Natureza freqüentemente prega peças nos seres humanos, principalmente quando nos baseamos em nossas experiências ordinárias ou tomamos como certo o mundo que nos cerca (nossa experiência ordinária sensorial dele). Nesta nossa discussão, apresentaremos brevemente alguns dos fenômenos quânticos que se tornaram notórios no desenvolvimento da física quântica, a dificuldade de compreensão desses fenômenos pelo “bom senso” que nos guia diariamente, e um panorama geral da situação atual acadêmica da interpretação física desses mesmos fenômenos. Por causa da dificuldade intrínseca do assunto, não poderemos senão apresentar uma descrição necessariamente qualitativa e elementar, deixando aspectos quantitativos e mais complexos de lado para inúmeras referências que existem. Se o domínio dos fenômenos quânticos é muito diferente do nosso, por que conhecer física quântica é importante? Uma resposta a essa questão não pode ser dada fora das aplicações dessa nova física. Isso porque todo conhecimento científico que é útil tem uma aplicação definida de onde aproveitamentos práticos podem ser feitos. Todos os equipamentos eletrônicos que usamos modernamente têm como elementos básicos componentes que funcionam utilizando fenômenos ou propriedades de sistemas quânticos. Também nos processos de comunicação a distância (telecomunicações) alguns princípios quânticos importantes tais como a noção de comprimento de onda, freqüência etc são utilizados. Dificilmente porém teremos que nos preocupar com a física quântica em se tratando dos fenômenos que impressionam diretamente nossos sentidos, pois a maior parte dos fenômenos quânticos não podem ser apreendidos dessa maneira. 3. Alguns fenômenos quânticos Experimento das duas fendas. Um fenômeno quântico antigo que é de fácil montagem experimental é o fenômeno de interferência de ondas (também chamado de experimento das duas fendas). Esse fenômeno era bem conhecido muito antes do nascimento da física quântica, pertencendo à óptica, pois se acreditava então (até o fim do século 19) que a luz fosse formada por vibrações (ondas) propagando-se em um meio especial chamado éter. Uma imagem ilustrativa do experimento é mostrada na Fig. 1. Uma anteparo com uma fenda (S1) é iluminado uniformemente desde a esquerda. A luz, propagando-se inicialmente seguindo frentes de onda plana (regiões de mesma intensidade de luz), ao passar pela fenda, propaga-se com frentes de onda esférica ou circular como mostrado. Se essa onda passar agora por duas fendas (S2), por causa da interferência entre as oscilações provenientes de cada fenda, um anteparo distante registrará a interferência na forma de regiões claras e escuras como mostrado.
Fig. 1 Experimento das duas fendas.
Observamos que, invocando a natureza ondulatória do fenômeno, esse experimento pode ser feito tanto com luz como com som. No caso de som, o que se registra na região de interferência é a alternação entre zonas de ruído e zonas de silêncio. Uma extrapolação do experimento de duas fendas que foi confirmada na prática experimental e que constitui uma assinaturas da natureza quântica da matéria é a seguinte: se, ao invés de luz, lançarmosmatéria na forma de partículas desde a esquerda, esperamos intuitivamente que as partículas atravessem as fendas discretamente, não se observando figura alguma de interferência no anteparo final. Isso acontece porque nossa concepção aprendida de matéria é de algo bem definido no espaço. Partículas são tratadas como 'bolinhas' que se movimentam no espaço colidindo-se umas com as outras, sem chance de interferirem.
Fig. 2 Experimento de duas fendas com 'ondas de matéria'.
Entretanto isso não acontece! Lançando muitas partículas no experimento de duas fendas, encontramos no anteparo final partículas que se distribuem no espaço segundo uma padrão de interferência característico (Fig. 2). Poderíamos achar que o padrão de interferência final fosse resultado da colisão (interação) entre as muitas partículas que lançamos e que atravessam as fendas ao mesmo tempo. Isso porém
não é verdade, pois o padrão de interferência aparece ainda que lançemos uma partícula por vez. A única explicação possível é mudar nosso conceito usual de partícula ou matéria e associarmos um comportamento ondulatório a ela. Dizemos que uma determinada partícula (pode ser um elétron, um átomo, coleções de átomos etc) está associado uma onda que tem um certo comprimento de onda ou freqüência característica e que se propaga no espaço prescrevendo nele a intensidade de probabilidade de se encontrar a partícula em um dado ponto. De maneira esquemática: Uma Partícula está associada a onde
é uma representação simbólica para a onda da partícula (letra grega psi, na representação acima pronuncia-se 'psi de x', uma função matemática especial). Ela está associada à probabilidade, por exemplo, de se achar a partícula em uma certa posição do espaço dado por x. A primeira diferença da nossa descrição usual (clássica) do mundo aparece. De fato, a matéria descrita do ponto de vista quântico não pode ter sua posição fornecida com infinita precisão; existe uma incerteza dada pela onda de probabilidade. Na experiência das duas fendas, essa onda de probabilidade se manifesta na forma de interferência. Cada orifício na fenda 2 produz ondas de probabilidade que se interferem para formar a figura no anteparo. Perceba que isso é verdade mesmo que tivéssemos uma única partícula. Mas como pode uma partícula interferir com ela mesma? Há algo que se espalha no espaço, ligado a uma partícula que, ao passar pelas duas fendas, é modificado no espaço, resultando na figura de interferência que se observa no anteparo. Notamos, porém, que no caso de uma única partícula, esta é capturada em algum ponto no anteparo apenas nas zonas previstas pela distribuição de probabilidade modificada (Ver fig. 3 para uma simulação de uma partícula que se encontra confinada inicialmente em uma região circular do espaço em vermelho). É preciso utilizar muitas partículas para se formar uma figura de interferência 'por acumulação' como aquela obtida por meio da luz.
Fig. 3 Fenômeno de espalhamento de uma onda quântica definida em uma região circular do espaço sobre um anteparo com dois orifícios. Se fosse uma 'partícula clássica', ela teria ricocheteado na parede e nada seria visto do outro lado ou ela teria atravessado um dos orifícios (caso fosse menor que eles). No caso de uma partícula quântica, há interferência de sua onda de probabilidade, e a partícula pode ser encontrada do outro lado. (De acordo com Fernandez Palop, 2009)
Essa 'onda de probabilidade' orienta a posição da partícula. Mas não só isso, ela orienta também a velocidade dessa partícula. Como tudo é feito de partículas átomos e seus agregados - então a matéria que conhecemos tão bem no chamado 'nível macroscópico' como sendo algo tangível e de posição definida, não o é no nível microscópico. Como então acontece de não percebermos essa variação apreciável na probabilidade de posição tão comum no nível quântico? A resposta é que, no nível macroscópico, quando se agregam muitos milhares de bilhões de partículas em agregados, a discretização possível de interferência observada tornase microscópica, tão pequena que é imperceptível: surge então uma descrição absolutamente contínua da realidade, desaparecem as incertezas e o 'universo clássico' se estabelece. Isso é algo semelhante à ilusão provocada pela contemplação de uma imagem num computador: essa imagem é feita, de fato, por milhões de "pixels", mas cria uma ilusão de continuidade se vista a certa distância. No próximo post: efeito fotoelétrico; tunelamento quântico (efeito túnel). Sobre
alguns
termos
Estado - diz respeito a determinadas características de um sistema físico. Ao se descrever o estado de um sistema físico, se está também definindo o próprio sistema. Esse conceito será foco de um futuro post. Sistema físico - é a região do espaço definida por determinados objetos físicos submetidos a condições específicas. Um sistema físico tem determinadas características que o descrevem, uma delas é o seu estado. Referências "A versatile applet to explore the wave behaviour of particles, " J I Fernández Palop, 2009 Eur. J. Phys. 30 771. doi: 10.1088/0143-0807/30/4/010 Física Quântica e os espiritualistas no século 21 (análise preliminar).
Convite antecipado para participação do 8o ENLIHPE (2012)
Desde 2003, o Encontro Nacional ENLIHPE tem sido o espaço de encontro da LIHPE - Liga de Pesquisadores do Espiritismo. A Liga é um grupo virtual de pessoas interessadas no estudo do
Espiritismo nos moldes acadêmicos. Isto quer dizer que se estuda a temática espírita de acordo com regras acadêmicas. Os membros não necessitam ser espíritas para participar, basta que respeitem os códigos de conduta do grupo e obviamente tenham interesse no Espiritismo. A LIHPE foi criada para incentivar o registro e discussão da história do Espiritismo, e aos poucos, foi agregando interessados que trabalhavam na fronteira entre o Espiritismo e as chamadas áreas do conhecimento: filosofia, física, psicologia, ciências sociais, antropologia e muitas outras. Desde seu fundador, Eduardo Carvalho Monteiro, percebeu-se que apenas o intercâmbio à distância é insuficiente para estabelecer grupos de trabalho e aproximar os membros. Foi então criado o ENLIHPE, que é o encontro nacional, este de caráter presencial. São Paulo abriu as portas para o ENLIHPE, especialmente o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - CCDPE, que é uma casa fundada com o esforço de muitas pessoas e o acervo bibliográfico e documental do Eduardo, doado após a morte.
CCDPE-ECM: instituição que abriga o Encontro Nacional da Liga realizado tradicionalmente em agosto.
Há quatro anos as paredes do Centro de Cultura têm recebido membros da LIHPE e outros interessados dos quatro cantos do país. Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Piauí, Ceará, Bahia e Goiás são alguns dos estados que já enviaram representantes ou expositores, ou mesmo participantes para o evento. Houve a presença de um antropólogo italiano na participação do evento e o intercâmbio posterior possibilitou a publicação de um trabalho monográfico na área da antropologia em seu país. Se você tem algum trabalho na fronteira entre o Espiritismo e as ciências reconhecidas pelo CNPq e até outras não reconhecidas (como é o caso da parapsicologia), comece a preparar seu artigo para submissão. O ENLIHPE ocorre tradicionalmente em Agosto (este ano ocorrerá em 18-19 de Agosto) de forma que ainda tem muito tempo para participar. Evite, porém, deixar para a última hora. Mais informações sairão no site da LIHPE: www.lihpe.net
Crenças Céticas XIX - O que o ceticismo dogmático produz de útil ?
Um tema que passa muitas vezes despercebido nas discussões céticas versa sobre as consequências de longo prazo da postura cética em relação aos fenômenos psíquicos e, porque não, com outras ocorrências anômalas que sabemos existir no mundo. De forma mais geral, quais são as consequências práticas do ceticismo, se principalmente dogmático, para o avanço do conhecimento humano? Será que ele é capaz de produzir algo útil, além de mais adeptos a sua escola? Se tivéssemos que investir tempo e recursos para a pesquisa de novos fenômenos, de novas realidades além do que conhecemos de forma ordinária, no que investiríamos: numa postura que aceita a realidade deles ou que os nega de forma peremptória? Qual dessas posturas será capaz de fazer nosso conhecimento avançar com relação a esses fenômenos? Podemos também encarar essa última questão como a proposta para uma competição: daqui para frente veremos quem consegue, seguindo cada qual sua maneira de encarar as coisas, realmente produzir algo útil. Porque conhecimento só tem valor se for útil Não há nenhuma dúvida de que a ciência moderna só conseguiu chegar no ponto de desenvolvimento presente porque ela se constituiu em um método capaz de gerar conhecimento útil. Hoje, o desenvolvimento científico só acontece a partir de uma decisão de investimento. Depois de uma descoberta científica, qualquer que seja ela, a pergunta crucial é: ok, o que podemos fazer de bom com isso? Qualquer fundo privado, por exemplo, somente irá investir em ideias que se possam mensurar em termos de retorno financeiro, desde que produzam algo que tem valor para alguém, algo que pode ser "comercializado". Isso se torna ainda mais forte em períodos de crise econômica e aversão ao risco. Alguns analistas erroneamente consideram que a tecnologia moderna é fruto de uma ciência cética e materialista. Isso está longe de ser verdade. O desenvolvimento tecnológico é fruto da ciência aplica e de decisões de investimento calcadas em análises de mercado onde o objetivo é certamente o lucro financeiro. Empresas organizam suas atividades de "P&D" (pesquisa e desenvolvimento) de forma a maximizar o retorno de capital em projetos de pesquisa que tragam claramente vantagens de crescimento para a empresa. Portanto, aquilo que se oferta em tecnologia depende da existência de claras oportunidades de mercado. A existência
de mercados para determinados produtos tecnológicos, impulsiona o desenvolvimento da ciência aplicada em um ciclo virtuoso, mas que eventualmente tem o seu fim com a descoberta ou desenvolvimento de novas tecnologias. Desta forma, grande parte do avanço tecnológico moderno está sendo feito a partir de pesquisas aplicadas dentro de corporações privadas, onde o conhecimento gerado dificilmente se torna público. Assim, há uma grande quantidade de conhecimento genuíno e útil fora do ambiente acadêmico, o que torna difícil defender o ponto de vista limitado de que avanços tecnológicos foram frutos de pesquisas acadêmicas tão somente. Esta última é, majoritariamente, apoiada por recursos estatais, onde as decisões de investimento são tomadas a partir de outros critérios (por exemplo, acadêmicos) que não o da utilidade pública ou do mercado.
Por que essa discussão é importante? Em um sentido mais amplo, nossa postura sobre o mundo também pode ser vista como uma decisão de investimento. Essa é, por si só, uma maneira pragmática de se decidir no que acreditar. Trata-se de se escolher aquela postura que fará o conhecimento não somente crescer, mas produzir algo prático à sociedade. Por 'conhecimento útil' entendemos assim o conhecimento que seja capaz de: Gerar mais conhecimento que, por sua vez, também deve ser útil a alguém; Gerar métodos ou procedimentos capazes de melhorar a vida das pessoas. Historicamente, céticos (um exemplo é Carl Sagan) tem se colocado contra o estudo da fenomenologia psíquica por entenderem que ele deriva de uma maneira arcaica de ver o mundo. Muitos céticos extremados acreditam-se investidos da função de críticos contrários a essa visão arcaica e irracional que estaria ameaçando nossa sociedade. Criaram um duelo fictício entre uma sociedade tecnologicamente avançada e outra que se torna marginalizada por conta na crença na existência de fatos e coisas que eles consideram sem fundamento. A utilidade, assim, desse ceticismo, seria livrar a sociedade moderna do 'perigo de se retornar à idade das trevas', que se constitui, claramente, numa crença sem fundamento e até mesmo ingênua. Outros céticos temem, na verdade, que recursos financeiros sejam desviados de seus temas preferidos de pesquisa e conhecimento. Uma busca minuciosa por uma aplicação prática desse tipo de ceticismo dificilmente resultará em algo além da proposição 'livrar as pessoas da ignorância, evitar com que a sociedade caia de novo nas trevas, evitar que sejamos enganados' e coisas desse tipo. O medo maior de todo cético extremado é 'ser enganado', esquecendo-se que ele se engana a si mesmo.
O ceticismo exagerado é, pois, uma postura infértil, incapaz de gerar conhecimento útil e que só serve para cumprir determinados propósitos fechados em si mesmo. Do que a história do ceticismo está cheia. A. R. Wallace (1) descreve num relato breve o maior papel desempenhado pelo ceticismo na história do desenvolvimento tecnológico e científico moderno. É possível assim traçar, na história da Ciência, o verdadeiro papel desempenhado por essa maneira peculiar de ver o mundo. "Não é necessário mais do que referir-se aos nomes universalmente conhecidos de Copérnico, Galileu e Harvey. As grandes descobertas que fizeram, como sabemos, foram violentamente combatidas por todos os seus contemporâneos do meio científico, para quem elas pareceram absurdas e inacreditáveis; mas nós temos exemplos igualmente contundentes muito mais próximos aos nossos dias. Quando Benjamin Franklin trouxe o assunto dos condutores de raios ante a Sociedade Real, ele foi ridicularizado como se fosse um sonhador, e seu artigo não foi aceito para a revista Philosophical Transactions. Quando Young propôs suas provas maravilhosas da teoria ondulatória da luz, ele foi igualmente vaiado como absurdo pelos populares escritores científicos de sua época[1]. A revista Edimburg Review exortou o público a colocar Thomas Gray “em saia justa” por sustentar a praticabilidade das estradas de ferro. Sir Humphrey Davy riu da ideia de Londres ser sempre iluminada com gás. Quando Stephenson propôs empregar locomotivas nas estradas de ferro de Liverpool e Manchester, os homens instruídos colocaram em evidência a impossibilidade de se locomover a doze milhas por hora. Outra grande autoridade científica declarou ser igualmente impossível navios a vapor oceânicos cruzarem o Atlântico. A Academia Francesa de Ciências ridicularizou o grande astrônomo Arago quando ele desejou discutir sobre o assunto do telégrafo elétrico. Médicos ridicularizaram o estetoscópio quando ele foi descoberto. Operações sem dor durante o transe mesmérico foram consideradas impossíveis, e depois imposturas. Mas um dos mais formidáveis, por se tratar de um dos mais recentes casos de oposição, ou pelo menos descrença em fatos que se opunham à crença corrente de sua época, entre homens que estão geralmente encarregados de ir mais distante na outra direção, é o da doutrina da “Antiguidade do Homem”. Boué, um experiente geólogo francês, em 1823 descobriu um esqueleto humano a oitenta pés de profundidade no loess ou lodo endurecido do rio Reno. Foi enviado para o grande anatomista Cuvier, que desacreditou completamente do fato. Ele considerou este fóssil como sem valor, como se fosse inútil, e o perdeu. Sir C. Lyell, a partir de uma pesquisa pessoal no local, agora acredita que as afirmações do observador original eram bastante precisas. Nos idos de 1715, armas de pedra foram encontradas com o esqueleto de um elefante em uma escavação em Inn Lane, na região de Gray, na presença do Sr. Conyers, que as colocou no Museu Britânico, onde elas permaneceram completamente sem notícia até muito recentemente. Em 1800, o Sr. Frere encontrou armas de pedra juntamente com os restos de animais extintos em Hoxne, Suffolk. De 1841 a 1846, o célebre geólogo francês Boucher de Perthes descobriu grandes quantidades de armas de pedra nos aluviões de cascalho do norte da França; mas por muitos anos ele não conseguiu convencer nenhum de seus colegas, homens de ciência, que se tratava de trabalhos de arte, nem mereceu a mais leve atenção. Por fim, contudo, em 1853 ele começou a fazer adeptos. Em 1859-60 alguns de nossos mais eminentes geólogos visitaram o local, e confirmaram totalmente a veracidade de suas observações e deduções.
Outro ponto neste assunto foi tratado de forma ainda pior, se for possível. Em 1825, o Sr. Mc Enery, de Torquay, descobriu pedras trabalhadas junto aos restos de animais extintos na célebre caverna King's Hole; mas o relato de suas descobertas foi simplesmente ironizado. Em 1840, um de nossos primeiros geólogos, o falecido Sr. Godwin Austen, trouxe este assunto à Sociedade Geológica, e o Sr. Vivian, de Torquay, enviou um artigo confirmando completamente as descobertas do Sr. McEnery; mas ele foi considerado muito improvável para ser publicado. Quatorze anos depois, a Sociedade de História Natural de Torquay fez observações posteriores, confirmando inteiramente as anteriores, e enviou um relato delas para a Sociedade Geológica de Londres; mas o artigo também foi rejeitado, considerado muito improvável para publicação. Agora, contudo, a caverna foi sistematicamente explorada sob a superintendência de um comitê da Associação Britânica, e todos os relatórios anteriores enviados durante quarenta anos foram confirmados, e foi mostrado serem ainda menos maravilhosos que a realidade. Deve ser dito que “este era um cuidado próprio da ciência”. Talvez fosse; mas todos esses eventos provam este importante fato: que neste, assim como em todos os outros casos, os humildes e frequentemente desconhecidos observadores estavam certos; os homens de ciência que rejeitaram suas observações estavam errados. Agora, são os observadores modernos de alguns fenômenos, usualmente denominados sobrenaturais e inacreditáveis, menos dignos de atenção que os outros já citados?" Os que tem interesse em procurar a verdade, devem se perguntar sempre sobre o melhor caminho a seguir quando se trata de gerar conhecimento genuíno a respeito de fenômenos e ocorrências naturais. Devem também se questionar sobre a utilidade do que acreditam. A insistência em permanecer na defesa de ideias e posturas inférteis pode representar uma perda de tempo inestimável. Referência (1) A. R. Wallace. O 'Diálogo com os Céticos' (2011). Editora 3 de Outubro. Nota de A. R. Wallace [1] As citações que se seguem são exemplos escolhidos dentre os artigos do Edimburg Review em 1803 e 1804: “Outra leitura Bakeriana, contendo mais fantasias, mais asneiras, mais hipóteses sem fundamento, mais ficções gratuitas, todas sobre o mesmo campo, e do fértil, mas infrutuoso cérebro do mesmo eterno Dr. Young.” E novamente: “Ele não ensina verdades, não reconcilia nenhuma contradição, não organiza nenhum fato anômalo, não sugere novos experimentos e não conduz a novas investigações”. Alguém pode supor que se trate de um cientista moderno desdenhando do espiritualismo!
Livro V - "Sinfonias Inacabadas" por Rosemary Brown.
Médiuns músicos – Os que executam, compõem ou escrevem músicas sob influência dos Espíritos. Há médiuns musicais mecânicos, semimecânicos, intuitivos e inspirados, como se dá com as comunicações literárias. (Ver o tópico sobre Médiuns de Efeitos Musicais). A. Kardec (1) Os escarnecedores devem apresentar alguma explicação para essa música, visto não poderem rejeitá-la como não existente. Ela deve ser investigada imparcialmente, é claro. Na verdade, eu mesma continuo a buscar as condições necessárias a uma eficiente comunicação com o mundo dos Espíritos. (Rosemary Brown, "Sinfonias Inacabadas", p.26) Imagine conversar com Espíritos desde a tenra infância e crescer relacionando-se com eles durante toda adolescência. Imagine receber deles centenas de comunicações e ditados e desenvolver uma mediunidade produtiva, rica em manifestações intelectuais por mais de 70 anos. Se alguém pensou que este é mais um post sobre Chico Xavier, enganou-se. Rosemary Brown (1916-2001) foi uma simples dona de casa inglesa que desde sua primeira infância conversou e recebeu recados de gente falecida. Sua história de vida está bem contada no livro 'Sinfonias Inacabadas - os grandes mestres compõem do Além' que é uma espécie de autobiografia. Muita coisa já foi publicada sobre ela na década de 70, quando ela teve um curto mas impactante aparecimento na mídia inglesa e americana para depois voltar a sua vida pacata, longe dos holofotes e da fama. Sua história é fascinante e tem paralelos impressionantes com a vida de Chico Xavier, com a diferença que, ao invés de livros, ela recebeu músicas.
Franz Lizst (1811-1886). Foram cerca de 500 partituras, obtidas por meio de 'psicografia musical', por alguém que teve aulas esporádicas de piano quando permitidas por sua vida cheia de dificuldades. Essas composições revelaram 12 diferentes estilos, todos confirmados pela crítica. As dificuldades da Sra. Brown tiveram sua razão de ser, pois fizeram crescer nela a força que precisaria para mostrar (ou executar) seus ditados mediúnicos ao mundo, vencendo sua personalidade tímida. A mediunidade musical é raríssima, mas foi detectada por Kardec conforme consta no Capítulo 16 de 'O Livro dos médiuns'. A variedade musical de Rosemary Brown foi desenvolvida ao longo do tempo. Como tinha grande lucidez ao conversar com os Espíritos, eles podiam indicar a ela nota a nota a composição final, além de marcar o compasso. Seu principal mentor foi Franz Lizst (1811-1886) que se revelou quando ela tinha apenas 7 anos de idade. A edição brasileira do livro traz um prefácio de Elsie Dubugras que a compara ao grande médium mineiro. O livro é dividido nos seguintes capítulos: Capítulo 1 - O início Capítulo 2 - Por que eu? Capítulo 3 - O plano dos compositores. Capítulo 4 - Lizst. Capítulo 5 - A Vida após a morte. Capítulo 6 - Chopin. Capítulo 7 - Os compositores. Capítulo 8 - Curas. Capítulo 9 - A comprovação. Para quem gosta de música clássica, o livro chega a ser divertido. Embora o ceticismo em sua época tenha se interessado pelo fenômeno, ele não conseguiu encontrar uma explicação plausível para a variedade de estilos demonstrados pela médium. Explicar o fenômeno da Sra. Brown não é tarefa fácil fora da tese espírita, pois a composição de músicas clássicas é uma atividade enormemente complexa, que envolve um conjunto de faculdades intelectuais raramente encontradas. Além disso, compor músicas não é uma atividade muito feminina (basta tentar se recordar do número de mulheres na história que se dedicaram à composição). Do ponto de vista da fenomenologia, certamente a psicografia musical é algo mais notável que psicografia comum (literária). O Capítulo 1 é cheio de histórias das fases iniciais de sua vida e da sua dificuldade em se acostumar com sua faculdade extraordinária. As dificuldades porque teve que passar, moldaram uma personalidade bastante flexível e, portanto, sensível para a tarefa que haveria de se revelar mais tarde. Um resumo dos ensinamentos que teve
com o grupo de compositores pode ser lido no Capítulo 5. Os capítulos 4, 6 e 7 é repleto de informações e detalhes pessoais dos próprios compositores. Sobre Lizst: Sempre que ele me dá algum conselho, fá-lo de um modo muito delicado. Nunca é autocrático. (p.99, Capítulo 4) Sobre Chopin (1810-1849): Chopin tem aparência de muito moço, o mais moço de todos. Uns trinta anos, diria eu. Tem cabelos espessos e ondulados, é um belo sorriso claro que lhe dá um ar bem juvenil. O rosto é bem talhado, ligeiramente oval, fazendo-o parecer um rapazola (p. 150, Capítulo 6) Sobre Rachmaninov (1873-1943): O rosto de Rachmaninov é um tanto comprido e magro, e ele parece muito mais rídigo do que realmente é. Porém, é muito compassivo, creio que por ele próprio ter sofrido bastante. Disse-me que houve um período em sua vida em que se sentiu totalmente desprezado como pessoa e como músico. (p. 170, Capítulo 6). Sobre Debussy (1862-1918): Geralmente pintam-no com uma barba, mas agora apresenta-se de cara raspada, pelo um tanto pálida, bastante cabelo, bem escuro, partindo de imponente testa. Os olhos são muito escuros e a voz grave. Às vezes, com o esforço em tentar comunicar-se, soa um tanto áspera. É de temperamento bem sério. Quase nunca ri, raramente sorri. (p. 175, Capítulo 6) Sobre Schubert (1797-1828): Uma das coisas que mais gosto nele é a sua expressão. Seus olhos são muito brandos, e parecem irradiar cordialidade. É extremamente modesto e retraído, quieto e ao mesmo tempo alegre, de certo modo, apesar de seu senso de humor ser bastante antiquado. (p. 160, Capítulo 6). Finalmente, no capítulo 'A Comprovação', Rosemary Brown descreve o impacto da música dos compositores em diversas pessoas, os testes de lucidez mental a que ela teve que se submeter para 'comprovar' que ela não era demente e os testes feitos por parapsicólogos da época (dentre os quais Wilhelm Tenhaeff (1894-1981)) para mostrar que sua faculdade não se devia a 'criptomnésia' (uma suposta 'memória oculta'). Essas e outras explicações esdrúxulas continuam a ser aplicadas por quem se impressiona com o fenômeno mas não aceita a tese da comunicação. Rosemary Brown também descreve questionamentos de músicos ao seu trabalho, com perguntas endereçadas diretamente aos compositores falecidos. Muitos ficaram convencidos de sua correspondência com esses compositores e passaram a admirar a música de Rosemary Brown. Qual era o verdadeiro objetivo dos compositores Será que os compositores decidiram criar um novo movimento musical por seu intermédio? Do mesmo modo como não se pode dizer que o caráter da revelação espírita não tem como objetivo fazer ciência, filosofia ou religião, o movimento de compositores que se comunicou por intermédio de Rosemary Brown não tinha como objetivo simplesmente fazer música. Seu objetivo foi declarado em uma mensagem ditada palavra a palavra a Rosemary Brown por Sir. Donald Tovey (1875-1940): Ao comunicar-se através da música e da conversação, um grupo organizado de compositores, que partiu deste mundo, está tentando estabelecer um preceito para a Humanidade, ou seja, que a morte física é uma transição de um estado de consciência a outro no qual conserva a sua individualidade. A compreensão deste fato encaminhará o homem a uma visão interior de sua própria natureza e das suas potencialidades supraterrestres. O conhecimento de que a encarnação no seu
mundo nada mais é do que um estágio da vida eterna do homem, promoverá atitudes de maior amplitude do que as adotadas no presente e ensejarão uma visão mais equilibrada acerca de todas as coisas.(p. 23, Capítulo 1) Reencarnação O Espiritualismo inglês historicamente cresceu dissociado da noção de reencarnação. Entretanto, as personalidades musicais que se manifestaram por Rosemary Brown sancionaram esse conceito. Ao questionar seu mentor a razão porque ela teria sido escolhida para a tarefa de transmitir música, recebeu de Lizst a seguinte explicação: "Antes de você nascer, quando acedeu em ser a nossa medianeira, você teve que concordar em passar por uma série de sofrimentos de modo a tornar-se mais sensitiva." (p. 67, Capítulo 2) Portanto, inexiste descontinuidade no nascimento. Mais ainda, há condições restritas para que alguém possa desenvolver essa faculdade no grau de desenvolvimento a que a Sra. Brown conseguiu chegar: Sofrimento, como aquele porque você passou, ajuda a atuação do tipo de faculdade de que você é dotada. As pessoas que levam uma vida fácil e tranqüila não são suficientemente sensitivas para conseguirem comunicação conosco facilmente". (p. 67, Capítulo 2; grifos nossos) Explica-se assim porque médiuns extraordinários são tão raros. Agora, porque esses compositores escolheriam uma dona de casa para transmitir suas músicas e, assim, passar a mensagem do pós vida? Não seria melhor que procurassem alguém de talento, que tivesse uma educação musical completa, que soubesse melhor transmitir sua intenção? A tais questões os Espíritos também cuidaram de dar respostas: O seu conhecimento é suficente para o que temos em mente. Se tivesse tido uma educação musical completa, isto não nos auxiliaria absolutamente em nada. Em primeiro lugar, porque um curso completo de música teria tornado muito mais difícil a você provar que não seria capaz de escrever a nossa música sozinha. Segundo, porque um acervo de conhecimentos musicais teria feito com que você adquirisse muitas ideias e teorias próprias, as quais iriam ser um entrave para nós. (p. 66, Capítulo 2) Em outras palavras, excesso de conhecimento atrapalha a transmissão, cria muito ruído. No caso da Sra. Brown, a música era transmitida por ditado - ou seja - ela não tinha conhecimento do sentido musical da peça transmitida ao longo do processo, apenas no final, quando ela era executada. Também ressaltamos que composição clássica não é reconhecidamente uma atividade feminina. Ao escolher a Sra. Rosemary Brown, os compositores elevaram ao máximo o impacto que seria provocado por suas composições para a mente desconhecedora do fenômeno. A
opinião
dos
compositores
sobre
a
'música
moderna'.
Finalmente não poderíamos deixar de citar a opinião externada por Lizst a Rosemary Brown sobre música moderna. O caso aconteceu quando a Sra. Brown ouvia rádio (na década de 60, é provável que se tratasse de alguma música dos Beatles ou Jazz, mas isso não é dito pela Sra. Brown). Ela perguntou a ele o que achava desse tipo de música e a resposta foi: É uma série de sons vagamente interessantes, porém bastante grotescos. Creio que o resultado poderia ser considerado engenhoso, do ponto de vista intelectual, mas, em minha opinião, não é música. Não se pode manufaturar música. Ela deve provir de alguma fonte de inspiração. Há compositores que conseguem compor
diretamente do seu intelecto, mas o resultado não será satisfatório, a menos que haja, mesclada à música, alguma espécie de sutil inspiração. (p. 121, Cap. 4) Desde então, a situação só piorou. Deixamos, entretanto, aos leitores apreciar e julgar a sabedoria dessa opinião, no que se refere à música de nossos dias. Em resumo, o livro de Rosemary Brown é muito bom, repleto de informações interessantes sobre sua mediunidade, em particular sobre esse tipo raríssimo de faculdade mediúnica ligada à música. No próximo post, traremos mais informações sobre Rosemary Brown e a música dos compositores por ela transmitida. Dados bibliográficos
Título em Português: 'Sinfonias Inacabadas: os grandes mestres compõem do Além'. Autor: Rosemay Brown. Título em Inglês: 'Unfinished Symphonies: voices from the Beyond'. 1971. Edição especial para Livraria Espírita 'Boa Nova'. São Paulo, Brasil. Traduzido por Agnor de Mello Pegado. Gráfica e Editora Edigraf S. A.
Entrevista IV - Dra. Ana Carolina Xavier fala sobre o câncer infantil e as consequências da visão espiritualista no trato com a doença.
Apresentamos aqui uma entrevista com a Dra. Ana Carolina Xavier que é professora assistente em hematologia pediátrica e oncologia no Medical University of South Carolina em Charlestown, Carolina do Sul, Estados Unidos, que nos conta um pouco de sua visão e experiência no tratamento de uma doença como o câncer, principalmente quando ela afeta crianças. Ana Xavier tem Bacharelado e Residência médica pela Universidade de São Paulo, além de Doutorado em medicina pela mesma instituição. Talvez os leitores já possam imaginar porque escolhemos esse tema dentro do contexto das consequências práticas da visão espiritualista do mundo. Torna-se bastante evidente que é fácil defender uma visão cética em relação à realidade espiritual quando não se passa por um problema que lida diretamente com a ameaça à vida ou, melhor ainda, com a necessidade da existência da continuidade dela. Devemos analisar, pois os efeitos da visão oposta, a que sabe que aqueles seres que ontem estavam conosco, na esperança de vencerem uma batalha gigantesca contra uma enfermidade que não lhes ouviu os apelos infantis, hoje não mais estão mas que, não obstante isso, continuam vivos. Ao invés de discutir fundamentos sobre esse ou aquele aspecto do mundo conforme a concepção de mundo adotada, podemos nos perguntar sobre quais seriam as consequências práticas de cada uma delas, sabendo que 'árvores boas produzem bons frutos, enquanto que árvores más produzem péssimos frutos'. Neste caso, preferimos analisar as consequências da visão espiritualista da vida. Perguntas EE - 1) Ana, conte-nos um pouco de seu dia a dia e do seu trabalho. Meu dia a dia no trabalho é bastante interessante. Eu divido minhas atividades entre a clínica e enfermaria, onde passo visita a cerca de 15 a 20 pacientes e supervisiono médicos residentes e estudantes de medicina. A rotina diária da enfermaria pode ser bastante intensa e temos uma estrutura organizada que permite que as coisas funcionem um pouco mais eficientemente. Nosso time é composto não apenas do médico, mas também das enfermeiras, um farmacologista, uma assistente social e uma nutricionista. Cada caso é discutido detalhadamente e
cada um contribui com sua experiência e opinião, objetivando o melhor para cada um dos nossos pacientes. Costumamos ver pacientes com variadas patologias hematológicas ou oncológicas, mas a maioria deles são pacientes com alguma forma de câncer ou pacientes que vão receber transplante de medula óssea. De maneira semelhante ao Brasil, temos também um grande numero de pacientes com doença falciforme. Na clínica, além dos pacientes recebendo algum tipo de terapia oncológica, tenho 2 sextas-feiras do mês dedicadas apenas a pacientes que completaram quimioterapia há pelo menos 5 anos e estão “oficialmente” curados. Esse é um grupo muito especial de crianças, porque eles são sobreviventes de uma doença que pode ser fatal e de um tratamento bastante intenso, que, muito frequentemente, causa sérios problemas mentais ou físicos que podem se estender pelo resto da vida. Eu posso ter dias muito bons ou extremamente ruins, quando nada parece dar certo para os pacientes. De qualquer maneira, eu me sinto bastante privilegiada de fazer parte da vida dessas crianças e poder atender a tais grupo de pacientes. EE - 2) Sabemos que o trabalho do médico, principalmente quando ele escolhe como serviço o atendimento a doentes infantis de câncer, é pontuado de muitas vitórias, mas um número igualmente grande de aparentes derrotas. Como você encara isso? Esse é uma questão fundamental. Na verdade, todo estudante de medicina ou residente que está seriamente interessado no campo da pediatria oncológica deve avaliar sua própria capacidade de lidar com constantes derrotas no dia-a-dia para tomar a decisão final na escolha da carreira. Você está certo quando diz que temos muitas vitórias: hoje é possível se curar quase 80% das crianças que são diagnosticadas com câncer. O grande problema é que o caminho até a cura é bastante tortuoso e longo, e representa um grande sofrimento não só para a criança, mas como para toda a família e pode durar anos a fio. A derrota maior é obviamente quando perdemos um paciente. Como profissional médico, compreendo bem o problema fisiológico, e me é bastante fácil saber quando as coisas não vão tão bem assim como gostaríamos. O problema é que todo esse processo pode ser emocionalmente desgastante. Quando perdemos um paciente, todos os que estiveram envolvidos no cuidado daquele paciente sofrem muito. A fé individual ajuda bastante. No meu caso, penso que a vida continua e que o sofrimento atual é, como disse uma vez Chico Xavier, um meio para expurgar as culpas que trazemos em nós mesmos, e eles saem dessa vida em uma condição superior àquela em que entraram. Isso me conforta e ajuda, mas mesmo assim, muitas vezes choro bastante… EE - 3) Como você lida com o processo de separação dos familiares das crianças quando a 'sorte' se coloca contra as expectativas? Geralmente tento estar por perto. Isso pode ser difícil também, porque não quero interferir naquele momento tão único da família e sua criança. É um balanço delicado, e temos que ser bastante cuidadosos. Na grande maioria das vezes, conheço bem a família e sei de suas crenças e o que pode ou não ser apropriado para uma determinada família. Procuro falar pouco e ficar ao lado deles, porque sei que o momento é de dor intensa. Também tento ir a todos os funerais, mas confesso que algumas vezes não consigo, porque dói bastante.
É impossível ser absolutamente impassível diante de tamanho sofrimento. O que funciona como uma “vantagem” aqui é o fato de que esses pacientes, na maioria das vezes, passam por um longo período de sofrimento ate o evento final, caso esse seja o destino. Isso é certamente desgastante, mas ao mesmo tempo dá tempo para as pessoas aceitarem o fato de maneira mais pacífica, sem muito do desespero que acentua demasiadamente o sofrimento do paciente. Além do mais, muitas das crianças já sabem que o finzinho delas esta próximo, e muitas vezes, elas avisam. EE - 4) Você acha que a visão espiritualista do ser humano, aquela que postula a continuidade da vida, pode ajudar no processo de separação? Sim, certamente. É muito mais fácil acreditar que nos uniremos novamente após a “longa viagem”, como se diz no Brasil. Tambem acredito que os pais, mesmo sem acreditar que a vida continua, anseiam desesperadamente por isso. A Doutrina Espirita tal como conhecemos no Brasil, não é bem divulgada nos EUA, de maneira que o conceito de vida após a morte é um tanto diferente por aqui. Muitas pessoas já me perguntaram o porquê de tamanho sofrimento. Geralmente respondo que, por ser Deus justo, Sua causa deve ser igualmente justa. EE - 5) Em que grupos de familiares (personalidade ou visão de vida) a dor da separação se mostra menos pungente? Em qual grupo ela é maior? Acredito que a intensidade da dor de se perder um filho é a mesma para os pais independente do credo ou religião O que é diferente é a maneira com que as pessoas lidam com a situação. Muito raramente a postura é de completo desespero ou revolta diante dos fatos. A aceitação sem muita revolta é uma característica comum a várias familias que passam pelo problema. Isso acontece porque o curso da doença é bastante prolongado, o que confere tempo para que as pessoas aceitem de maneira um pouco mais pacífica. Muito recentemente tivemos um caso de um adolescente com câncer terminal que faleceu cercado por seus familiares mais próximos e que estavam ao seu lado rezando para que o momento de transição fosse o mais calmo e pacífico possível. Quando ele finalmente expirou, os pais estavam certamente tristes, mas aliviados e agradecidos a Deus pela passagem aparentemente tranquila de seu filho. Diante do fato consumado, muitas vezes os pais querem ver os seus filhos libertos de todo aquele sofrimento. EE - 6) Você pode nos descrever o comportamento característico de seus pequenos pacientes quando eles sabem do destino que os aguarda, ou seja, no momento em que a separação se mostra inexorável? Tem algum caso especial que gostaria de nos relatar? Crianças de uma maneira geral são bastante resilientes (1). Elas aceitam as dificuldades de modo mais fácil que adultos. Crianças com doenças crônicas são ainda mais especiais. Acho que intimamente sofrem muito, pois sabem que não podem fazer a maioria das coisas que as outras crianças da mesma idade fazem – como ir a escolar, ou praticar esportes, ou brincar com os amiguinhos. Mas eles entendem, independentemente da idade, que a situação delas é especial naquele momento.
Crianças com câncer são geralmente altruístas, muito preocupadas com o bem de outras crianças e de sua própria família, e os mais velhos tendem a “fazer de conta” que estão muito bem para acalmar os pais. Quando a doença se torna incurável, muitas das crianças comunicam à familia que vão morrer, ou que tiveram um sonho em que estavam no céu ou que um anjo veio visitá-las no quarto. Esses fatos são para mim bastante interessantes. EE - 7) Você acha que a sua visão espiritualista ajuda você no dia a dia e no trato com seus pacientes? No que ela mais te ajuda? Sim, sem dúvida. Eu estou completamente consciente de minhas próprias limitações em meu trato diário. Entendo bem que o que define o destino de cada um é algo muito superior a mim mesma. Mesmo ao dar o melhor de mim e oferecer o que há de melhor em termos de tratamento e apoio médico, lido constantemente com derrotas, sem me revoltar ou me sentir ofendida. Além do mais, acreditar que a vida continua e que o sofrimento existe para nos fazer melhor é sempre reconfortante.
EE - 8) Quais os maiores obstáculos, na sua visão, contra a efetiva aceitação da realidade espiritual do ser humano? Acredito que o maior obstáculo contra a efetiva aceitação da realidade espiritual do ser humano seja nós mesmos. Nós ainda temos dificuldades enormes em aceitar algo que nao pode ser sentido através de nossos 5 sentidos elementares. Ainda precisamos sentir em nossa pele o abraço daquele filho ausente, ouvir a voz da filha distante para acreditar que aqueles que se foram estão realmente vivos. EE - 9) Você tem algumas palavras finais para famílias que estejam hoje com pacientes infantis de câncer? O que eu gostaria de dizer é que me sinto profundamente honrada de poder ajudar no tratamento dessas crianças e suas famílias. Obviamente, não gostaria que ninguém tivesse que passar por isso. A grande maioria dos pais me pergunta o porquê de sua criança ter desenvolvido câncer. Sentem-se culpados e procuram entender no que falharam. Porém, a causa fundamental do câncer é ainda um mistério médico a ser desvendado com a ajuda e permissão de Deus. A aceitação pacífica dos fatos ajuda a compreender melhor o que é preciso ser feito e a providenciar o melhor cuidado para a criança. Além do mais, é muito importante que se comunique com a criança o que esta acontecendo com ele ou ela. Percebo
que os pais que tentam esconder o diagnóstico do filho tendem a ter maiores dificuldades no dia a dia. Também acredito que esses momentos terríveis de dificuldades que temos que passar são grandes oportunidades de melhorar a nós mesmos, nossa família, nossas relações e provar o nosso amor aos que estão ao nosso lado. Tenho certeza que no final, de uma maneira ou de outra, todos sairão vencedores. Notas (1) Resiliência (ref. resiliente): diz respeito à capacidade que se tem de lidar com uma situação angustiante, superar obstáculos e vencer dificuldades. No caso aqui, uma doença.
Física Quântica e os espiritualistas no século 21 (análise preliminar)
Representação gráfica da molécula de DNA.
Do ponto de vista filosófico, espiritualista é todo aquele que acredita haver algo
além da matéria, que justifique os fenômenos da consciência, do ser e da personalidade humana (e, porque não, dos animais). Deixa de ser espiritualista aquele que acredite que a matéria seja a base para compreendermos os fenômenos psíquicos e psicológicos. Essa é uma maneira muito didática de apresentar conceitos que sempre geram muita confusão e é de autoria de Allan Kardec (*). Mas, no que consiste esse materialismo? Já que a física moderna demonstrou que existem modalidades de matéria muito distantes dos nossos sentidos, deixa de ser viável acreditar que fenômenos com o da consciência sejam explicáveis por meio de interação simples entre átomos entendidos como blocos rígidos de matéria. Além desses 'blocos constitutivos', existem outras entidades na forma de campos ou forças que atuam à distância, além de outros conceitos fundamentais que são
necessários para explicar como a matéria pode se organizar para constituir algo vivo primeiro e, então, como esse ser vivo pode manifestar consciência. O materialismo moderno, portanto, deve fazer uso dessas ideias e conceitos abstratos para explicar como a vida e a consciência podem existir em nosso mundo. Mas então, a raiz da palavra 'materialismo' na forma de 'matéria' ou aquela coisa inflexível e positiva deixa de ter seu significado original. Visto meramente do ponto de vista das definições que se faz para coisas e conceitos, pode-se defender a ideia hoje em dia que há menos distância entre as as noções espiritualistas do ser do que antes, durante o século 19, por exemplo. No auge do positivismo lógico, a matéria que impressionava os sentidos era tudo o que poderia existir. Hoje há meios de se compreender que o espírito (Nota 1) seria também uma força, um outro elemento, inacessível aos sentidos ordinários como ingrediente fundamental para a formação da consciência. Entretanto, há uma clara dificuldade quando se trata de validar essa noção do ponto de vista considerado 'científico'. A visão de Mundo pelos cientistas modernos (início do século 21) Em paralelo com tal constatação, existe uma queixa por parte do mundo acadêmico com relação a qualquer tentativa de explicação do mundo a nossa volta por meio de conceitos que não nascem diretamente do processo considerado adequado de se fazer ciência. É que o pensamento científico de nossa época se desenvolveu a partir da ideia de que noções como a existência de deuses ou forças invisíveis conscientes que atuariam diretamente no mundo são desnecessárias. No passado, a religião organizada ditava as normas sobre o que seria considerado razoável e não havia problema em se acreditar que o mundo era de fato regido diretamente pelas mãos de Deus. Desde que a física clássica conseguiu explicar muitos dos fenômenos mecânicos e elétricos do Universo com base na existência de leis cegas e sempre operantes (não são leis arbitrárias como arbitrário pareciam ser os caprichos de Deus), todas as outras ciências (principalmente a Biologia e a Medicina) também buscaram desenvolver suas teorias dentro da noção de que leis cegas são suficientes para explicar os fenômenos naturais. Essa visão do mundo, conjugada à maneira positiva de se encarar as entidades (coisas que existem no mundo, de fato) que trabalham como 'atores' nas teorias científicas, levou a uma situação onde aparentemente não mais seria possível acreditar na possibilidade de forças inteligentes (além daquelas que tem como causa a existência dos seres humanos) atuarem diretamente no Universo. Há uma imensa categoria de fenômenos naturais (que são objeto de estudo das ciências físicas) que são claramente produto de forças ou leis cegas. Entretanto, a comunidade acadêmica acabou se especializando neles e são hoje incapazes de aceitar que há uma limitação de escopo na ciências que trabalham. Por se referirem a fenômenos simples, colecionáveis, reprodutiveis etc, as teorias deles derivados são necessariamente limitadas a esses objetos que criam uma visão de mundo igualmente limitada. Acrescenta-se a isso o espírito corporativista das associações científicas, e teremos um ambiente notoriamente cético em sua maneira de considerar determinados fenômenos e avesso a qualquer tentativa de mudança ou novidade, que é mal vista como um enxerto desnecessário e suspeito. Surge a psicologia quântica
No que a física quântica mudou esse quadro? Uma resposta a essa questão pareceria envolver necessariamente grande conhecimento dessa nova física. Mas, no que nos interessa aqui, não deixa de ser interessante observar o fenômeno recente de como essa nova física tem sido invocada para justificar a crença de determinados grupos espiritualistas, psicólogos e até de grupos de acadêmicos marginalizados (Zohar, 1999). O exemplo que encabeça a lista é a do físico e escritor Amit Goswami que, numa série de livros, palestras e congressos, fez-se conhecido como um 'ativista quântico' e propõe uma 'interpretação' radicalmente quântica do ser humano. Além disso, vários parapsicólogos (Kugel, 2000) aderiram à ideia de que é preciso utilizar a física quântica para explicar os fenômenos psíquicos. Essa física também surge como uma novidade capaz de motivar uma nova psicologia (Zohar, 1990). O fenômeno é curioso porque a física quântica, não obstante ter introduzido uma modificação bastante radical na maneira de se encarar as entidades que fazem parte das teorias da física anterior, apenas é aplicável ao mundo infinitamente pequeno. Trata-se da microfísica ou física das partículas e agregados atômicos, somente atuante em escalas muito pequenas. Como então que essa nova física veio parar em compêndios de psicologia e artigos de parapsicologia? Nossa introdução anterior procurou fornecer um quadro muito resumido da atual maneira de se encarar o mundo por parte dos cientistas. Uma vez que a física quântica é um mistério - sua interpretação ainda é motivo de calorosos debates entre os especialistas - parece ser conveniente para tais grupos invocar a física quântica na psicologia, parapsicologia e até ecologia que também lidam com mistérios. Como a física quântica é um mistério e a consciência é um mistério, então o cérebro é quântico... Dessa forma, a física quântica surge como uma validação científica de mistérios para uma ciência que aprendeu a encarar os fenômenos naturais como se eles não o fossem. Dai também é compreensível a irritação de muitos acadêmicos com a 'onda quântica' na psicologia e outras disciplinas. Desvantagens da abordagem quântica em assuntos espiritualistas Alguns de nossos leitores poderiam nos questionar porque alguém que se afirma espiritualista poderia ser contra essa abordagem 'quântica'. Minha argumentação, em ordem de importância é conforme segue: 1. Embora concorde que a física quântica alterou nossa visão do mundo (microscópico), não é possível querer extrapolar essa nova física para a psicologia porque os objetos de estudo dessa disciplina podem não ser quânticos (Jahn, 2011, ver Nota (2)). Esta-se abusando demais de analogias e interpretações para forçar uma nova maneira de ver o mundo derivada de coisas que não são os objetos da vida cotidiana. Isso tem consequências ainda maiores quando buscamos descrever os fenômenos oriundos da atuação do espírito sobre a matéria. Para mim, o princípio inteligente (que é a fonte de toda informação dos seres) não é quântico, os que assim pensam ainda precisam demonstrar que é possível levar adiante essa ideia não apenas como uma simples extrapolação; 2. Ao se buscar descrever o comportamento da mente, do espírito ou da consciência com base em analogias da física quântica, será que poderemos também exportar diretamente os métodos de pesquisa da microfísica para esses objetos de estudo? A tarefa de criar uma nova ciência não está apenas em encontrar uma nova explicação para certos fatos, mas criar um método
de pesquisa que seja consistente, dê resultados práticos e possibilite relacionamento harmônico entre diversas disciplinas correlacionadas. Em suma: é preciso demonstrar a fertilidade heurística das analogias quânticas nos estudos da consciência e psicologia; 3. A psicologia e até as doutrinas espiritualistas de forma geral não precisam de interpretações quânticas para descrever o principal objeto de seus estudos. É possível conceber aplicações e métodos de grande valor prático para essas disciplinas sem que seja necessário se recorrer à analogia com a física quântica. Alíás, podemos argumentar que recorrer à analogias da nova física pode prejudicar o desenvolvimento de novas ideias e novos métodos de investigação nesses campos de conhecimento; O conhecimento completo dos fundamentos da física quântica, ao ponto que seria possível fazer propostas de aplicações inovadoras na pesquisa corrente da física é uma atividade que leva anos de estudo e exige conhecimento nada elementar de álgebra, geometria e cálculo. Será que as propostas de se interpretar o fenômeno da consciência desde o ponto de vista da física quântica chegarão ao ponto de incorporar também a necessidade de se conhecer e aplicar esses métodos de pesquisa? De outra forma, como a ciência do 'psi quântico' irá se desenvolver? Essas são questões que devem ser respondidas de forma satisfatória, antes que se propague uma ideia que pode estar condenada desde seu princípio. Além das justificativa pouco convincentes do ativista quântico Goswami (Fonseca, 2010), sabemos que é um fenômeno mais de aceitação, da necessidade de se ter o endosso da ciência - que se crê popularmente ser a guardiã da verdade sobre o mundo - do que qualquer outra coisa. Ao aplicar conceitos da microfísica na psicologia humana, estamos diante de um quadro nunca visto antes de desespero intelectual, um quadro sem nenhum respaldo de evidência possível, permitido por uma brecha de interpretação surgida dentro da própria física. E que brecha é essa? As forças admitidas cegas que guiam os fenômenos naturais, continuam cegas nos fenômenos quânticos. Mas, mesmo assim, por sugerir fortemente que podemos estar enganados com relação à maneira como vemos o mundo, a física quântica fornece um contexto de conhecimento que se coloca fortemente em desacordo com uma visão mecânica e puramente sensorial do mundo. Nossa visão do mundo macroscópica (não quântica) pode ser apenas um epifenômeno sensorial, não estamos vendo a realidade que é manifestamente oculta. É principalmente isso que os 'ativistas quânticos' querem chamar atenção. Mas duvido que isso seja um caminho prático para se gerar conhecimento útil no que concerne à realidade do Espírito. Referências (*) Ver a Introdução de "O Livro dos Espíritos", Parte I. Fonseca, A. F. (2010), Uma análise espírita da obra "A Física da alma" de Amit Goswani, O Espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais, Textos selecionados Ed. por CCDPE-ECM, São Paulo. Goswami, A. (1993) The self-awere universe. New York, Puttnam’s Sons; Goswami, A. (1998). O universo autoconsciente. Rio de Janeiro, Rosa dos Tempos; Jahn R. G., Dunne B. J. (2011), Journal of Scientific Exploration, Vol. 25, No. 2, pp. 339–341.
Kugel,W. (2000) Quantum correlation as a potencial detector for Psiphenomena. Proceeding of 43rd Annual Convention of Parapsychological Association, Frieburg, Alemanha; Zohar, D (1999), O Ser quântico, Editora Best Seller. Notas
(1) espírito; de acordo com 'O Livro dos Espíritos' (Questão #23) o espírito é o princípio inteligente, necessário para 'espiritualizar' a matéria. (2) Os pesquisadores pioneiros em interpretações quânticas para a consciência Robert Jahn e Brenda Dunne alertaram recentemente (Jahn, 2011): Muitas pessoas involvidas em áreas de fronteira de estudo científico mostram uma tendência de invocar a nomenclatura da mecânica quântica para aumentar sua credibilidade acadêmica tanto com o público leigo como acadêmico. Embora essa estratégia seja efetiva no esclarecimento de conceitos sutis e podem ser caminhos úteis para se enfatizar a necessidade de perspectivas alternativas à realidade, se levado ao excesso pode se tornar contraprodutivo e deve ser cuidadosamente evitado. Primeiro de tudo, existe uma tendência compreensível, se não totalmente legítima, das comunidades das 'ciências exatas' em evitarem a aplicação do que entendem ser suas conceituações e classificações quânticas a outras áreas menos precisas e rigorosas do conhecimento, especialmente quando tais apropriações são escandalosamente vazias, se não totalmente incorretas. Em nossa luta continua para o desenvolvimento de um referencial conceitual capaz de acomodar a dimensão subjetiva da realidade, tais tentativas ingênuas parecem ser mais ofensivas do que persuasivas. Mas, além disso, elas tentam obscurecer o fato importante de que a mecânica quântica, como qualquer estrutura teórica, é, em si mesma, uma técnica metafórica para se formalizar e comunicar representações objetivas de observações e interpretações de dados subjetivos. (...)
Crenças Céticas XVII - Teoria das evidências fotográficas e de outros tipos.
Não há dúvida que vivemos numa época de grandes inovações tecnológicas. A começar pelo uso de recursos de imagem e som e de manipulações de elementos desse tipo, o que é hoje parte da grande indústria cinematográfica. Mas, poderiam imagens serem usadas como evidência da realidade de fenômenos insólitos? Nossa principal tese neste texto é demonstrar que a alegação cética que rejeita a proposição de fotos ou imagens para demonstrar a existência de fenômenos paranormais (transporte de objetos, telecinese, materializações etc) também pode ser usada com objetivo oposto: a de negar a validade da argumentação cética que consideram tais fenômenos como fraude. Nesse assunto, a solução não é tão simples como proponentes ou críticos frequentemente imaginam. A base ou fundamento de nossa tese é uma concepção apropriada de imagens, filmes e sons no contexto em que são muitas vezes apresentados. Veja que não estamos a propor que não existem fraudes. Mas, diante da complexidade que a Natureza exibe, com uma diversidade de fenômenos e interações, será que o 'método cético' é realmente eficiente? Será que ele realmente leva a conhecer a verdade? Será que devemos apenas acreditar naquilo que nossos sentidos aprovam? Reiteramos que não é razoável insistir em teorias de fraude com certas evidências para desqualificar fenômenos considerados insólitos, que requerem condições especiais de ocorrência. Justamente por ser muito fácil 'fraudar' uma evidência, esse tipo de prova não pode ser usada para se negar um determinado fenômeno, embora seja possível usá-las para se afirmar dentro de determinadas circunstâncias. Do ponto de vista lógico, assim, muitos céticos não percebem que as condições que pregam para 'validar' o que considerariam contra-evidências, extrapola certos aspectos lógicos não explícitos em cada caso, tornando-se uma tentativa condenada desde o princípio. Prova fotográfica Para começar, analisemos o que é uma 'prova' fotográfica. Uma vez que recursos técnicos podem ser usados para múltiplas imagens, as mesmas considerações que fazemos aqui para fotos também valem para filmes. A fig.1 abaixo mostra uma imagem razoavelmente compreensível de um evento singular.
Trata-se da imagem de um avião 'tentando' decolar mas demonstrando certa dificuldade, talvez na iminência de um desastre total. Se nos perguntarmos sobre a 'validade' dessa imagem, uma pesquisa feita com a maioria das pessoas não demonstraria nenhuma dificuldade em aceitar que se trata, realmente, de um avião tentando decolar com dificuldade, com parte de sua asa quebrada etc. Em suma, um flagrante de um acidente.
Fig. 1 Um avião na iminência de um desastre?
Entretanto, essa imagem é uma fotomontagem (isto é, uma fraude). Ela é o produto de alterações feitas por um programa de computador que é capaz de manusear parcelas da imagem e integrá-las de forma a constituir um todo final convincente. Uma imagem está assim longe de ser uma evidência autosuficiente. Há algo mais, externo à foto que deve existir para que seja considerada verdadeira. O que é isso? Uma pista para conhecer esse algo mais é se questionar sobre onde esse algo fica. A resposta simples é que ele fica na cabeça de quem vê a imagem. Por causa disso, uma imagem ou reprodução fotográfica de um objeto externo não existe por si mesma: I) Uma imagem ou filme é, em essência, uma representação de um objeto que só existe na mente de quem o contempla. É importante que esse 'algo' realmente 'exista', onde por 'existir' entendemos a noção interna de quem observa, que obrigatoriamente teve uma experiência sensorial com o objeto representado. Podemos clamar sobre a existência de outros tipos de entidades não sensoriais, que existem sem nenhuma relação com nossos sentidos. Mas, então, o que seria uma imagem ou foto de uma entidade desse tipo? Quanto mais próximo a representação dessa 'coisa' estiver da experiência sensorial, tanto mais realística será a impressão causada, tanto maior será a 'força' expressiva da representação, tanto maior será a crença na validade da representação. Alguns fatos validam essa noção: Uma vez que as crianças - principalmente com menos de 5 anos de idade ainda não tem experiência sensorial plenamente formada, elas tendem a ver o mundo de forma diferente dos adultos. A 'representação da realidade' para as crianças não precisa ter os mesmos detalhes de um adulto. Desenhos simples ou bonecos já são suficientes para se manipular conceitos e idéias na mente infantil;
A busca pelo realismo incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias, como a do cinema ou televisão 3D; Ilusões de óptica: a existência de imagens dúbias e mutantes sugere que o que se vê está mais dentro da mente do que fora;
Exemplo de Ilusões de óptica: o que se vê depende do que estamos acostumados a ver. Esta imagem não é um 'gif' animado.
Onde está a verdade então sobre a foto que analisamos? Sendo a representação de um objeto externo, não temos dificuldades em identificar do que se trata. Ainda que não tenhamos contemplados fisicamente decolagem de aviões, já os temos visto muitas vezes em outras ocasiões, seja na tv ou e filmes de cinema ou internet que também são representações assertivamente válidas no contexto em que são apresentadas. Surge assim o segundo elemento importante em nossa análise: II) O contexto de uma imagem ou filme é o segundo elemento que determina a escolha que o observador faz internamente sobre a validade da representação (imagem ou vídeo). Em outras palavras, não é razoável que duvidemos de toda e qualquer foto ou filme de desastre de avião só porque mostramos um exemplo forjado. Nosso princípio I não é suficiente para garantir a validade da representação apresentada como imagem. Desastres de avião são eventos raros e mais rara ainda é a chance de se registrar um evento desse tipo. O fato de ser fácil forjar imagens de desastres de avião utilizando tecnologia de ponta não significa que tais desastres não ocorram ou que seja impossível registrá-los. Esse é um exemplo clássico que demonstrar a dificuldade de se utilizar evidências de foto ou filme em determinados casos. Imagine que, se para 'demonstrar' que desastres de aviões existem, tivéssemos que reproduzir essa ocorrência em seus mínimos detalhes para convencer os céticos desses desastres. Aplicação para fenômenos insólitos
Fig. 2 'Raio verde'. Fenômeno raro que pode ocorrer durante o ocaso ou nascer do sol.
No que segue, por 'fenômenos supostamente insólitos' não nos referimos apenas aos fatos registrados na fenomenologia psíquica. Um fenômeno supostamente insólito parece ter as seguintes características: 1. Uma ocorrência imprevisível (condições de ocorrência desconhecidas); 2. Uma ocorrência rara (a frequência com que ela ocorre é muito pequena); 3. De difícil registro fotográfico ou filmagem (no sentido de não serem frequentes as oportunidades de registrá-lo, ou porque ele ocorre sob condições em que não é possível usar com facilidade métodos de registro fotográfico ordinário); 4. Diz respeito a um objeto ou coisa para o qual não existe uma 'representação local e privada' para a maioria dos observadores; 5. Não existe um contexto estabelecido que apoie a aceitação de sua ocorrência.
Fig. 3 Raríssimas núvens do tipo 'mamatus' .
O objetivo de toda evidência parece ser a característica 5, ou seja, reunir 'provas' que ajudem a criar o contexto de aceitação. Uma 'prova fotográfica' é, assim, uma peça ou material que pretende formar uma opinião, um contexto, a respeito de um determinado fato. A tarefa é simples com eventos ordinários. Por exemplo, no caso do uso de uma filmagem como testemunho de um crime: aqui é fácil ver que não obstante se cumpram quase todos os quesitos, um crime de difícil solução não tem a característica 4, ele não se refere a objetos ou coisas para as quais a imensa
maioria não dispõe de uma 'representação local e privada'. Um crime é uma ocorrência suficientemente ordinária para que essa característica não se aplique. O que distingue um fenômeno supostamente insólito de outras ocorrências raras mas ordinárias é sua causa considerada insólita. A característica 4 implica que não existe um objeto conhecido que possa ser usado como referência. Por causa disso, para os céticos sobre determinados fenômenos, o mais próximo que se chega para cumprir a exigência 4 é imaginar que uma fraude está envolvida. Uma fraude é uma ocorrência ordinária, facilmente concebível que torna nulo o requisito 4 e que, portanto, desqualificá-lo o fenômeno no discurso do cético dogmático. Entretanto, há uma imensa classe de fenômenos naturais que se enquadram nesse tipo de fenômeno. Com são eles justificados? A partir de teorias ou modelos científicos que permitem prever sua ocorrência. A Fig. 2, por exemplo, traz um registro fotográfico do 'raio verde' ou 'flash verde' provocado pela refração excessiva, assim como absorção de comprimentos de onda longos de raios solares durante o nascer ou ocaso do sol. Trata-se de um fenômeno raro que dura somente alguns instantes. Para alguém que desconheça totalmente o fenômeno, esta imagem pode ser resultado de alguma edição digital, já que é fácil preencher digitalmente com cores variadas determinadas porções de uma imagem. Já a Fig. 3 trás uma foto das núvens tipo 'mamatus'. Para quem nunca contemplou o fenômeno, pode se tratar de uma montagem fotográfica feita com superposição de um fundo de algum líquido ou fumaça sobre uma imagem ordinária de uma paisagem. Mas, a existência dessas nuvens é validada pela fluidodinâmica aplicada a condições meteorológicas especiais (anda que o mecanismo exato de sua formação seja presentemente desconhecido). Nesses casos extraídos das ciências naturais, as imagens apenas fornecem registros de ocorrência de fenômenos que são concebíveis. Portanto, as imagens não constituem 'prova' no sentido de validarem o contexto. Em outras palavras, a ordem com que se apresentam as circunstâncias está invertida: com tais fenômenos, o contexto (a teoria) vem primeiro, as evidências são colhidas depois. Conclusões O que podemos dizer então da negativa sistemática das evidências tão comumente encontrada no ceticismo dogmático? Na análise de toda crítica cética principalmente se ela se faz em tom agressivo ou debochado - o mais importante é considerar os aspectos não aparentes da crítica, quais suas reais intenções e objetivos. Esse é o contexto ou 'pano de fundo' que irá determinar como uma evidência proposta será considerada. Não importa o quão 'séria' e 'científica' ela pretenda se apresentar, na imensa maioria das vezes isso se dará de forma negativa por razão muito simples. Por definição, para o ceticismo dogmático qualquer 'prova' será sempre suspeita até que se cumpram determinados requisitos, todos eles frequentemente considerados 'imprescindíveis', mas que fazem parte de uma estratégia maior de desqualificação de fenômenos. Quase sempre o cumprimento de determinadas exigências será virtualmente impossível, o que, para os céticos dogmáticos, facilita a tarefa de desqualificação dos fenômenos. É importante considerar a intenção: para esse tipo de ceticismo, por definição, determinados fenômenos não existem. É preciso entender que o cético dogmático é alguém que acredita que a Natureza não tem segredos para ele. Considera que não há mais nada 'debaixo do sol', o que serve
para justificar sua crença. Logo todas as evidências que se apresentem são forjadas. Partindo-se desse princípio, explicações são formuladas para ou invalidar a ocorrência ou a evidência fornecida, o que é muito mais fácil. Em síntese: se uma imagem é o que está na cabeça de cada um, qualquer 'evidência' fotográfica que se apresente será sempre uma fraude na cabeça do cético, por princípio, porque ele entende que nada pode existir que ele já não conheça. Os fenômenos psíquicos, por outro lado, não pertencem à classe das ocorrências ordinárias. Portanto, tais como fenômenos físicos de natureza material (raros e contextualizados por uma teoria), eles não podem ser facilmente negados pela invalidação de evidências fotográficas que se apresentem. O que torna os fenômenos psíquicos tão especiais são as condições de ocorrência que são, na sua imensa maioria, desconhecidas e totalmente não aparentes. A possibilidade de existência de fraude está sempre garantida para todos os fenômenos, inclusive os de natureza material. Como haveremos então de nos posicionar quanto à realidade dos fatos? Se isso não é uma questão de resposta simples, mesmo com os fenômenos naturais que são objeto de pesquisa científica de causas materiais reconhecidas, podemos fazer ideia do grau de dificuldade que encontramos com os fenômenos supostamente 'insólitos' ou 'sobrenaturais'. Eles exigem a aceitação tácita de teorias bem fundamentadas, sem as quais é impossível avançar na compreensão desses fatos.
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Mensagem de Hermínio C. Miranda aos Pesquisadores que participaram do 7o ENLIHPE
Aos Estudantes e Participantes do 7.o encontro do LIHPE. Meus jovens amigos e amigas de ontem, de hoje, de amanhã e de sempre:
Gostaria de estar pessoalmente aqui, para viver este momento com vocês. De certo modo, contudo, é bom que eu não esteja. Sou um sujeito emotivo e até a minha cardiopatia é tida pelos médicos como de natureza emocional. Como iria eu administrar minhas emoções, ao partilhá-las com vocês? Alegra-me sobremodo ver vocês trabalhando na realização do impossível. Digo isto ao me lembrar de Sir Winston Churchill, que costumava dizer mais ou menos assim: “Difícil é aquilo que a gente pode fazer imediatamente. O impossível é que demora um pouco mais.” As leis divinas me concederam generosamente, tempo para realizar algumas impossibilidades pessoais, superando pretensos obstáculos e supostos limites, que misteriosamente desmaterializavam-se e me deixavam passar. Foi assim que me tornei até um escritor. Imaginem só: eu, escritor! Somente agora estou percebendo que os “impossíveis” começaram a acontecer, depois que tomei conhecimento da abençoada Doutrina dos Espíritos, nos idos de 1957. De algum tempo para cá passei a perceber algo singular. Ou seja: como é que a gente assiste em certo nível de indiferença ao doloroso espetáculo do estrangulamento do processo evolutivo da humanidade pelos implacáveis punhos do materialismo dominante? É claro que, no decorrer de tal ditadura ideológica, avançamos consideravelmente nas badaladas e sofisticadas conquistas tecnológicas. Mas, não é a esse aspecto que me refiro. Desejamos mais do que isso, muito mais. E para toda a comunidade humana onde quer que ela esteja pelas dobras infinitas do espaço imenso. Será que não podemos mudar – pacificamente e sem dores, pelo amor de Deus! --os modelos políticos, sociais, econômicos, religiosos e culturais? Claro que sim. Não apenas podemos, mas devemos mudá-los.Temos de mudá-los. Vocês já estão trabalhando no projeto de reformatação do mundo em que vivemos e no qual, viveremos ainda, não sei quantas vidas. Estão levando para o autorizado foro de debates do meio acadêmico, a desprezada realidade de que não somos meros corpos físicos perecíveis, mas espíritos imortais, pré-existentes, sobreviventes e reencarnantes. Convém lembrar, ainda, que, ao separar didaticamente o território das coisas materiais, do espaço reservado às imateriais, Mestre Aristóteles certamente não pretendeu demonizar a Metafísica. Quis apenas chamar a atenção para o fato de que esses vetores de conhecimento exigem abordagem e tratamento diferenciados e despreconceituosos de gente que se disponha honestamente a aprender com os fatos. Decorridos mais de dois milênios, ainda ouvimos dizer que os componentes metafísicos da vida são, crendices e fantasias pré-científicas, indignas da atenção de intelectuais que se prezam. O que desejamos é presença de gente qualificada que nos ouça e ajude a retirar o estigma que pesa sobre realidade espiritual. O resto virá por acréscimo. Parodiando o ex-Presidente Kennedy, não aspiremos ao que mundo pode fazer por nós, mas ao que podemos fazer pelo mundo.
Que Deus nos abençoe. E nos inspire sonhos como este, dado que, se não sonharmos, como é que nossos sonhos vão se realizar? Eis o singelo recado do velho escriba. Hermínio C. Miranda
Sobre o 7o ENLIHPE (Agosto de 2011)
Tive a oportunidade de participar do último 'Encontro Nacional da Liga dos Historiadores e Pesquisadores de Espiritismo' e me vi cercado por uma atmosfera de seriedade e profundo interesse em estudar e fazer avançar a temática de estudos espíritas. Muitos poderiam se perguntar o que representaria essa iniciativa, já que 'Espiritismo' é francamente visto apenas como mais uma religião. Para o movimento espírita, os livros de Kardec e algumas obras consideradas fundamentais representam tudo o que o adepto deve procurar conhecer a respeito de sua doutrina. Para os críticos e céticos, é mais uma mania religiosa que provavelmente terminará algum dia. O sucesso de encontros como o do ENLIHPE demonstram que qualquer que seja a impressão, venha ela de onde for, ela não corresponde à realidade. O Espiritismo, muito mais que um movimento religioso, fundamenta-se como uma maneira de raciocínio filosófico que tem amplas consequências para diversas áreas do conhecimento. É um empreendimento intelectual complexo, de muitas sutilezas, capaz de fornecer respostas que, muitas vezes, nem seus adeptos mais esclarecidos e, muito menos, seus críticos podem imaginar. Em primeiro lugar porque ele nasce a partir de eventos singulares na Natureza, muitas vezes considerados 'insólitos', mas que perdem seu caráter de anormalidade, uma vez que os postulados espíritas sejam compreendidos de forma correta, sem serem exagerados ou desprezados. Depois, porque os princípios espíritas, uma vez admitidos, têm alcance e validade que apenas começamos a vislumbrar. Isso ocorre com toda nova ciência ou novo conhecimento, pois é muito difícil aos pioneiros prever as consequências de um conhecimento genuíno a longo prazo. No meu entender, embora se possa professar o ponto de vista de que o lugar onde se deve fazer avançar o conhecimento espírita seja o centro espírita e não a Universidade, ou, segundo outros, que a Universidade representa esse ambiente, associações como o ENLIHPE surgem como entrepostos avançados onde é possível discutir a temática espírita com liberdade, sem a pretensão de se desviar a arena verdadeira onde esse conhecimento se desenvolve. Na verdade, onde deve o conhecimento nascer? Parece-nos que ele pode nascer em qualquer lugar e a partir
de qualquer indivíduo que tenha diante de si a chave para resolver um determinado problema. Para isso é preciso ter competência e conhecimento, além de recursos adequados para se fazer avançar o conhecimento. O ENLHIPE é uma iniciativa desse tipo que, infelizmente, ainda não parece ter recebido a devida atenção do movimento espírita. Sua maior vantagem é agregar pessoas com interesses comuns, em que pese a ampla gama de disciplinas que contribuem na realização dos estudos. Entretanto, mesmo essa característica é um ponto favorável, já que ela permite o intercâmbio de ideias entre pesquisadores de várias áreas de conhecimento. Alguns exemplos Na edição deste ano (2011), muito me impressionou saber que psicólogos e psiquiatras debruçam-se sobre o problema dos gêmeos siameses ou pessoas que nascem irremediavelmente conectadas de forma vital e que permanecem assim por toda uma existência. Reza o conhecimento contemporâneo sobre o desenvolvimento da personalidade humana, que ela é formada pela contribuição de fatores genéticos e de influências do ambiente. Entretanto, como explicar que gêmeos siameses idênticos, tendo permanecidos conectados fisicamente por toda uma existência apresentem diferenças marcantes em suas personalidades? O psicólogo clínico Júlio Peres expôs esse problema durante o evento. Tal evidência demonstra a preexistência da personalidade humana, não depois da chamada 'morte' mas antes do que chamamos 'vida' ou nascimento.
H. C. Miranda deixou uma comunicação especial para o 7o ENLIHPE em 2011.
A comunicação de projeto de Nadia Luz: "Simetrias Históricas: o conceito teórico e a prática na metodologia de Hermínio Miranda", também me impressionou bastante. Trata-se possivelmente de uma contribuição importante aos desenvolvimentos e estudos em historiografia utilizando um conceito que pode ser validado no futuro, à medida que identificações de personalidades em múltiplas existências tornarem-se mais frequentes. O trabalho de Nadia Luz, baseado em uma contribuição de Hermínio Miranda, parece revelar mais um tipo de simetria, daqueles que são tão frequentes na Natureza que, realmente, gosta bastante de simetrias. Elas nos permitem descrever o que está 'do outro lado', no caso, revelar o passado oculto de uma personalidade, baseado nos registros dos acontecimentos mais recentes de sua vida. A tese das simetrias que se apresenta como uma conjectura tem assim a vantagem de ser testável. Em uma era de incertezas e contestações, de quebras de paradigmas e recrudescimento de dúvidas, iniciativas como o ENLHIPE são muito bem vindas.
Lançamento de Livro no 7o ENLIHPE
O Espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais. Textos selecionados. Sumário 1. Introdução 2. Uma análise espírita da obra "A Física da Alma" de Amit Goswami 3. Conjectura e proposta esperimental para detecção de movimentos de fluidos nas cercanias de médiuns de efeitos físicos; 4. As narrativas de vida nas rodas de conversas com mulheres na educação de aldultos: um lugar privilegiado de produção de saber na perspectiva espírita; 5. Espiritismo e engajamento político; 6. Diálogos e ritmos: em busca de uma ideia de sujeito (na perspectiva espírita) no trabalho com juventudes; 7. Investigando relações entre voluntariado e contexto sociocultural numa instituição espírita: Contribuições da Fenomenologia; 8. O Espiritismo em teses e dissertações: um mapeamento da produção acadêmica brasileira; 9. O Espiritismo na Mídia: uma análise de conteúdo na maior revista semanal do Brasil de 1968 a 2010; 10. Memória de uma jornada. Detalhes Autores: Ademir Xavier, Aldenora Guedes, Alexandre Fontes da Fonseca, Ângela Linhares, Benedito Dagno Moreira, Francisco Antonio Barbosa Vidal, Gardner Arrais, Josael Jario Santos Lima, Kátia Penteado, Marco Antonio F. Milani Filho,
Miguel Mahfound, Sinuê Neckell Miguel, Tiago Paz e Albuquerque, Yuri Elias Gaspar. Organizadores: Jeferson Betarello e Jáder dos Reis Sampaio. Editora: UNIFRAN / CCDPE-ECM Ano de Edição: 2011 Para adquirir a obra, consulte o site do CCDPE.
Obras históricas raras sobre materializações e fenômenos de efeitos físicos.
Em longa e silenciosa espera, de noite triste e sombria, Minha alma clama em agonia ao Deus de Amor e Luz. Que em minha hora de densa treva, seus Santos Emissários, Trazendo luz e esperança, dêem a minh'alma o poder De se elevar acima da sordidez terrena, Tão cheia de disputas e preocupações, A fim de que eu busque os raios da Eterna Existência. Lá, onde o amor se encanta de felicidade, onde tudo é justo e brilhante, Onde flores se enchem de doce perfume, numa existência sem noites, Minha alma se levanta indômita, minha noite de angústias se esvai. Oh, Deus de amor, Tu me conduz por celestes praias. Meu coração chora de contentamento a Ti por todo seu Amor. Em tuas mãos eu me coloco, meu Senhor, pois Tu atendeste a minha prece. Recitado pelo Espírito de Tia Agg (foto), materializada em 21 de Julho de 1950, em resposta ao Sr. Brittain Jones - conforme explicado no livro 'Visitas de nossos amigos do outro lado', por T. Harrison (Para o poema original em inglê, ver nota 1, tradução de A. Xavier).
A recente onda de ceticismo, que se contrapõe a outra onda crescente de interesse por questões transcendentes, tratou de descrever como fraude o chamado 'caso' das Materializações de Uberaba. Com o tempo, mentiras inventadas faz bastante tempo (mais de 50 anos) para desqualificar o fenômeno se tornam facilmente 'verdades inquestionáveis' para muitos crentes céticos, que aumentam assim a estatística dos mal informados. Como diria o filósofo George Berkeley, 'a verdade é o clamor de muitos, mas jogo para bem poucos'. As materializações de Otília Diogo não foram as únicas que ocorreram. Existiram muitas outras, fora do Brasil inclusive, envolvendo centenas ou talvez milhares de testemunhas. Obviamente, a maior parte da crítica e dos céticos ignoram tais casos. Muitas narrativas céticas do 'caso' Otília Diogo são feitas como se ele fosse um evento único e, por essa razão, profundamente suspeito. Concordamos que não é facil acreditar nesses fenômenos. Eles são raríssimos e implicam em uma revisão radical em nossa maneira de ver o mundo, coisa que pouca gente está disposta a fazer. Entretanto, foge também à lógica e à razão - que tantos céticos e críticos afirmam seguir - classificar todas as pessoas que participaram desse fenômenos como ignorantes, iludidos, embusteiros ou farsantes. Para ajudar na pesquisa e elucidação dos fenômenos de efeitos físicos, aqui apresentamos uma coletânea de obras espiritualistas - quase todas não traduzidas para o Português e, por isso, desconhecidas no Brasil - que relatam fenômenos de materializações, muitos deles com personalidades bem famosas. Essas obras são importantes não só para a pesquisa histórica, mas para a caracterização correta dos fenômenos (por exemplo, para se conhecer as condições de sua ocorrência, o que é crítico para se garantir sua reprodução futura). O que traduzimos abaixo foi tirado direto do site survivalebooks que tem se comprometido com a digitalização e disponibilização de tais obras. Esperamos que essas obras possam incentivar o estudo e a reflexão no assunto. Vislumbres do próximo estado - Vice almirante W. Usborne Moore Uma investigação sobre fenômenos de efeitos físicos incluindo voz direta com as médiuns Cecil Husk, Etta Wriedt, médium de materialização Ben Jonson e as irmãs Bangs.
Não há morte – Florence Marryat. Florence Marryat (1838-1899) foi uma atriz famosa em sua época que produziu mais de 90 peças. Editou a publicação mensal da ‘Sociedade Londrina’ e foi correspondente de vários jornais e revistas, além de atriz, cantora de opera e instrutora de jornalismo. Em ‘Não há a Morte’, ela fornece um relatório completo de 15 anos de experiência com médiuns de materializações em ambos os lados do Atlântico, incluindo uma narrativa de sua experiência em ver sua filha Florence materializada logo após seu falecimento prematuro. Materializações – Harry Boddington Descreve pesquisas e experiências do autor com fenômenos de materialização. Gente do outro mundo – Henry S. Olcott Henry S. Olcott, cofundador da Sociedade Teosófica, foi um advogado meticuloso e cientista agrário que aceitou o desafio de dois Jornais de Nova York para investigar as materializações de Espíritos produzidas pelos irmãos Eddy de Chittenden, Vermont/USA, em 1874. Ao longo de 16 semanas de investigação, Olcott testemunhou a materialização de mais de 400 Espíritos. Seus relatórios, como os de Sir. Willian Crookes, tiveram um grande impacto por todos os Estados Unidos e Europa. As observações e testes cuidadosos de Olcott foram consideradas as mais meticulosas e completas já realizadas desses fenômenos. Brochura de Camp Silver Belle – Lena Barnes Jefts Um pequeno livrinho sobre mediunidade de efeitos físicos escrito por Lena Barnes Jefts, que integrou o grupo de Camp Silver Belle com o médium Ethel-Post Parrish. Esse grupo reuniu-se na cidade de Ephrata, Pensilvânia/USA, entre 1932 e 1961. A autora testemunhou formas materializadas de famosos pesquisadores como Charles Richet e Willian James. A prova palpável da imortalidade – E. Sargent Um relatório sobrre fenômenos de materialização com explanações sobre a relação desses com fatos de natureza teológica, moral e religiosa. Rasgando o véu, Além do Véu, O Alvorecer de uma nova Existência e A Estrela Guia – Willian Aber Uma série de livros escritos entre 1890 e 1903 em Spring Hill, Kansas/USA, contendo ditados diretos de formas espirituais completamente materializadas sob a
mediunidade de Willian W. Aber. Dentre os mentores do time que se manifestaram em Spring Hill estavam o Prof. Willian Denton (que havia sido um espiritualista em vida), Dr. Reed, o pioneiro em física de fenômenos elétricos Michael Faraday, e um dos pais dos direitos humanos nos Estados Unidos, Thomas Paine. Aparições materializadas – E. A. Brackett "A medida que examinava as paredes e tudo relacionado à cabine (onde ocorriam os fenômenos), não hesitava mais em afirmar que as formas que apareciam ou dela surgiam eram de seres materializados. Estive na cabine várias vezes durante as sessões com duas formas ao mesmo tempo. Uma vez, quando me sentei entre as duas, pude sentir sua realidade ao colocar meus braços ao redor delas, tanto quanto fiz isso ao caminhar com elas fora da sala. Enquanto segurava uma delas, aquela envolta pelo meu braço esquerdo e cujo braço direito estava ao redor de meu pescoço, desapareceu sem qualquer movimento aparente. Em um instante, ela lá estava e, depois, não mais. Ainda mantendo outra forma com meu braço direito, com minha mão esquerda puxei a cortina para o lado, de forma a poder ver tudo atrás dela. Não mais pude ver o mais leve traço do ser que tinha tão firmemente segurado momentos antes e com quem tinha conversado." Essa são palavras de E. A. Brackett e suas experiências em sessões com a médium Sra. Fairchild.
Visitas de nossos amigos do outro lado – Tom Harrison Formas completamente materializadas e outros tipos de fenômenos físicos são descritos por Tom Harrison, filho da médium de efeitos físicos Minnie Harrison. Há um vídeo no youtube que contem o relato em vida do Sr. Harrison sobre esses fenômenos que ele testemunhou com sua mãe na década de 1950. Um exemplo de poema ditado por um dos Espíritos materializados pelo grupo que participou T. Harrison pode ser visto no início deste post. Trata-se de uma comunicação ditada pelo Espírito materializado de sua tia 'Agg' (a foto traz uma imagem quando encarnada). Futuramente, traremos mais informações sobre esse caso no blog. Provas sólidas da sobrevivência - Einer Nielsen (Islândia) "Uma entidade feminina saiu da cabine e foi direto até ele dizendo 'Eu sou sua primeira esposa, Bertha, que você abandonou. Você nos deixou sozinhos, eu e minha filha. Depois de grande sofrimento, faleci. Meu corpo está enterrado no cemitério de H., e nossa filha vive em estado de grande miséria em L. Tente encontrá-la e ajudá-la; dessa forma, você compensará o mal que nos causou.' Então ela se foi, desmaterializando-se no chão da sala." "Uma entidade alta saiu da cabine e disse que seu nome era John King. Parou na frente da primeira fileira formada pelos participantes da sessão, a mesma fileira onde eu estava, em posição mais distante. Sua cabeça estava descoberta, e à luz de uma lâmpada vermelha, podiamos ver sua face avermelhada e seu cabelo encaracolado escuro. Depois de se dirigir a alguns participantes da reunião, disse: 'Olhe para meu corpo, eu irei desmaterializar a parte inferior em baixo.' Tão logo disse isso, a parte inferior de seu corpo desapareceu, e a outra lá estava, suspensa no ar. Não sabia no que acreditar, pois eu era meio cético, mas então a entidade flutuou no ar na minha frente e disse distintamente: 'Está me vendo'?"
O Alvorecer da mente despertada - John S. King
Retrato de Hipátia de Alexandria materializada, feito pelo Dr. King em uma sessão com as irmãs Bangs em Chicago. (~1910) "Questões e respostas dirigidas ao Espírito protetor do Dr. King, Hipátia de Alexandria (370-415A.C.), filósofa e matemática neo-platônica, considerada uma das mulheres mais inteligentes de sua época, brutalmente assassinada por uma seita de monges cristão fanáticos seguidores de Cirilo, por ensinar na época uma ciência que era considerada conhecimento pagão. Esse Espírito protetor, que se dizia filha de Teon, apareceu materializada, saindo da cabine para a apreciação de todos os presentes. Palavras dificilmente podem ser encontradas para descrever a figura belíssima dessa materialização. Alta e de porte majestático, carregava jóias cintilando a cada movimento, Hipácia estava gloriosa." Fantasmas em forma sólida - Gambier Bolton "Hipótese de trabalho: que sob condições determinadas e razoáveis de temperatura, luz, etc, entidades, existindo em uma esfera fora da nossa, podem se manifestar em corpos materiais temporários, oriundos de fonte desconhecida, até o presente momento, através da atuação de certas pessoas de ambos os sexos, chamados sensitivos, que se pode demonstrar a qualquer pessoa, que terá então as condições de comprovar tais afirmações. Quando tais fatos foram a mim apresentados, percebi que estava diante de um problema que exigiria a mais profunda investigação; e, então, decidi largar trabalhos de todos os tipos e dedicar anos, se necessário, ao exame crítico dessas afirmações... O resultado foi que aquilo que era aparentemente impossível foi demonstrado como possível, e eu aceito os fatos completamente, admitindo que nossa hipótese de trabalho foi demonstrada fora de qualquer dúvida, e que tais formas materializadas podem se manifestar a qualquer um, que terá, então, as condições necessárias para comprovar tais afirmações." Byron, Estação a Estação - Coleen Owen Britt "Numerosas formas materializadas apareceram e conversaram naquela noite, mas quando nosso filho Byron veio até nós, proferindo seu nome, nos beijando e dizendo que estava feliz, sentimos o primeiro alívio desde que ele havia nos deixado. Minha vida desde então tinha sido gasta em lágrimas e numa existência
mórbida. Agora, podia até mesmo cantar, o que me era impossível desde que ele cantou sua última canção conosco." O autor descreve fenômenos de materialização obtidos com a médium Lula Taber, de St. Louis, Missouri/USA. Onze dias em Moravia - Thomas R. Hazard Relata experiências do autor com a médium de efeitos físicos Sra. Mary Andrews, na cidade de Moravia/USA. Nessa obra há interessantes descrições dos processo de geração de ectoplasma e de materialização em si. Há outros livros em 'survivalebooks', alguns já conhecidos e com traduções para o português (como 'No País das Sombras' por Madame D´Esperance). Há outros com relatos e gravações de voz direta. Em oportunidade futura discutiremos essas obras, que fornecem material rico de comparação com outras obras conhecidas em países latinos. É interessante observar que muitas idéia semelhantes foram desenvolvidas, assim como conclusões parecidas em culturas diferentes, mostrando que existem condições únicas - mas bem determinadas - para a ocorrência de todos esses fenômenos. Notas (1) Original em Inglês: In the long and silent watches of the dark and dreary night, My soul cries out in anguish to the God of Love and Light. Send down Thy Holy Angels in this my darkest hour, That they may give me Light and Hope and give my Soul the power To rise above the sordidness of earthly cares and strife, That I may look to brighter things in that Eternal Life — Where Love is crowned with happiness, where all is fair and bright, Where flowers bloom with sweet perfume and where there is no night. My Soul arises unafraid, my night of sorrow o'er, Oh God of Love, Thou leadest me towards that Heavenly shore. My heart cries out with thanks to Thee for all Thy loving care Into Thy hands Oh Lord I come— Thou answerest now MY PRAYER.
Livro II - Estudando o Invisível (por Juliana M. Hidalgo Ferreira)
William Crookes (1832-1919)
Imagine pretender descrever a história do desenvolvimento científico da física, química ou biologia partindo do princípio de que os fenômenos estudados por essas ciências podem ter sido fraudados ao longo do tempo. Imagine descrever, por exemplo, a descoberta do elétron por J. J. Thomson partindo do princípio que os resultados experimentais que ele apresentou ao público possam ter sido forjados por algum assistente de laboratório, de forma consciente ou inconsciente. Alguém responderia: "mas os experimentos dele poderiam ter sido repetidos..." Nesse caso, imagine ser possível defender a idéia de que todas as tentativas posteriores de confirmação desses fenômenos não passaram de uma gigantesca fraude. De certa forma, tal é o objetivo de Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira em seu livro 'Estudando o Invisível', resultado de seu trabalho de mestrado em História da Ciência em 2001 que teve como objetivo estudar, do ponto de vista historiográfico, a obra do químico inglês William Crookes (1832-1919) e seu envolvimento com fenômenos espíritas no final do século XIX. Trata-se de uma obra de fôlego (quase 600 páginas de um trabalho minucioso e farto de referências históricas) - o que conta como um ponto positivo da obra. Entretanto, o livro é quase que exclusivamente referenciado a trabalhos de pesquisadores anglo-saxões, na sua maioria ingleses e americanos. Antes de discutirmos os fundamentos do trabalho, destacamos uma curiosidade revelada no estudo: muitas das correspondências trocadas entre Crookes e seus pares concernentes aos estudos que faziam sobre o 'Espiritualistmo' desapareceram misteriosamente. Não só isso, trechos de cartas onde esse grande cientista citou e discutiu problemas relacionados ao seus estudos sobre a fenomenologia mediúnica foram literalmente cortados com tesoura tempos após a morte dele: Vale notar, entretanto, que a seção de manuscritos do Science Museum de Londres, onde se encontra esse último material mencionado, não dispõe de todas as cartas trocadas entre Crookes e o seu assistente na época. Essas caras são numeradas e muitos itens estão faltando. Além disso, trechos de algumas cartas parecem ter sido cortados a tesoura Assim, tem-se a sensação de que certas informações contidas nesses documentos foram, propositalmente, excluídas dos arquivos do cientista.
Nessas cartas poderiam estar informações relevantes para entendermos o que estaria acontecendo nas pesquisas de Crookes nesse período. (p. 45) Embora distantes da época quando a inquisição foi instaurada, uma nova inquisição - movida pelos mesmos fundamentos e interesses filosóficos - deu-se pressa em eliminar tudo o que teria sobrado ainda não publicado das observações de Crookes sobre os fenômenos transcendentes. No Capítulo 1, 'Introdução' (p. 34), enunciam-se os objetos da pesquisa e destacamos a frase: Do ponto de vista puramente historiográfico, não há interesse em tentar discutir, a partir de estudos anacrônicos, se os fenômenos espiritualistas existem ou não. É perfeitamente compreensível que a Histórica, como ciência, não tenha como objeto de estudo o fato ou fenômeno em si e nem mesmo as teorias que se criaram para explicar tais fatos (o que seria objetivo da Epistemologia da Ciência). O objetivo da História é estudar o fenômeno humano, a narrativa, e tentar encontrar as motivações subjacentes ou relacionamento entre fatos na tentativa de se inferir relações entre ocorrências aparentemente isoladas e para as quais não se tem evidência histórica suficiente. Por isso, o trabalho da Juliana está supostamente resguardado contra quaisquer críticas tanto de espiritualistas como de céticos. Como consequência disso, essa obra não ajuda o leitor indeciso a resolver a dicotomia conforme o orientador da pesquisa adverte no prólogo: Espero que ninguém distorça o presente trabalho, utilizando-o com base para defender ou negar a existência dos fenômenos mediúnicos. Ele não foi escrito para isso e não se presta para tal uso. (p. 15) Espiritualismo X Teorias de Embuste Dessa forma, o trabalho apresentado em 'Estudando o Invisível' pretende ser uma narrativa 'neutra'. Tanto seu orientador como a autora reafirmam a necessidade dessa postura que pode ter o mesmo objetivo de Crookes ao 'dosar' o conteúdo de seus artigos para que fossem academicamente aceitos. A diferença é que Crookes não tinha quaisquer dúvidas quanto à realidade dos fenômenos, enquanto que na narrativa da autora transparece a todo instante a possibilidade de fraude. É abundante assim o uso do futuro do pretérito (composto) no texto: 'teria feito', 'teria observado'. Esse tempo verbal desaparece na narrativa de fenômenos materiais (chamados de 'normais' ou 'não espiritualistas') no Capítulo 5. Um exemplo característico do tom que permeia todo o livro é o paragrafo que inicia a página 133 em que se explicita a ausência de controle de Crookes na realização de algumas sessões iniciais. A um espiritualista, isso demonstra o conhecimento tácito que Crookes tinha sobre o que era realmente essencial de ser reportado e controlado, enquanto que para a autora isso é indício de fraude. A questão é impossível de ser decidida tal como apresentada, pois o relato de Crookes é sempre feito de forma não definitiva quanto a conclusões. Um exemplo é encontrado na p. 118 na descrição de uma sessão realizado com D. D. Home (1833-1886) na presença de Crookes: Os fatos observados em seguida, segundo o autor, foram ainda mais impressionantes: Home retirou a mão que segurava o acordeão, colocando-a em cima da mão da pessoa próxima a ele, enquanto o instrumento continuava a tocar. Observação desse grau feitas por Crookes não tem nenhum valor frente a outras, tem-se a impressão que todas tem a mesma importância, inclusive as que sugerem fraude. De novo, isso se deve a estratégia de neutralidade adotada. Assim, uma toalha sobre a mesa tem importância magnificada, denunciando o ponto de vista
cético
adotado.
Embora tanto Kardec quanto Crookes tenham magistralmente listado todas as teorias existentes para se dar conta dos fenômenos (desde a do embuste, a demoníaca, a da fraude inconsciente, a da influência das mentes até a teoria espírita, ver nota [1]), na narrativa de 'Estudando o Invisível' transparece a disputa entre a teoria espiritualista versus fraude como necessária na manutenção dessa postura. A verdade é que essa também é a dicotomia presente em muitos estudos acadêmicos contemporâneos que ainda se aventuram a estudar esse tipo de fenômeno, afinal é preciso tratar o problema dos céticos que, embora mantenham posições filosoficamente contrárias e aparentemente inofensivas, tem impacto na decisão de se distribuir recursos financeiros para a pesquisa. Embora possamos tecer críticas quase perfeitas ao grau de 'cientificidade' das teorias de embuste, é inegável que ela ainda é a preferida por aqueles que dizem seguir 'métodos científicos' de pesquisa. Não é possível que não haja diferença entre fazer história da ciência sobre crenças e teorias de cientistas pioneiros que esforçaram-se para desenvolver modelos teóricos que embasam fatos naturais simples e altamente repetitivos, e se fazer o mesmo com determinadas teorias quando sequer os fenômenos a elas associados são acreditados. Como vimos anteriormenteno caso de Galileu, o problema desse sábio florentino não era tanto defender suas teorias contra a ortodoxia Aristotélica, mas fazer com que os outros acreditassem nas suas observações de telescópio, numa época em que esse instrumento poderia ser considerado tanto um instrumento de feitiçaria como uma ilusão de óptica. A história se repete com Crookes e com toda a fenomenologia espírita. Há certamente duas vias para se fazer ciência: uma é postular teorias diante de determinados fatos e tentar 'desenhar' experimentos que ocorram exatamente conforme prevejam tais teorias. Outra, bem diferente, é iniciar-se tão só pela observação dos fatos e tentar convencer o mundo, pelo uso dos fatos, de que há algo mais. A segunda via foi a seguida por Crookes porque era impossível defender facilmente qualquer teoria que não fosse a da fraude. De acordo com Juliana Hidalgo, talvez Crookes sempre tenha mantido internamente sua crença na existência dos Espíritos (não importa se isso ocorreu pouco depois da morte de seu irmão em Cuba ou algo depois). Como cientista, ele nutria profundo amor pela Ciência e esforçou-se de todas as formas para chamar a atenção da elite acadêmica de sua época ao menos para a realidade dos fenômenos sem procurar se envolver muito com os espiritualistas. Nesse relato, percebe-se, assim, a diferença entre suas observações particulares, onde ele valorizava comunicações e informes dados pelos controladores invisíveis de seus experimentos psíquicos (e que formavam um contexto espiritualista inadmissível para seus céticos), e aquilo que ele acabava publicando em seus artigos. Alguns comentários que a autora tece a respeito da argumentação de Crookes podem ser questionados. Por exemplo, no Capítulo 3, p. 110, ao discutir algumas desculpas de Crookes em não continuar as pesquisas psíquicas por causa da dificuldade de acesso a bons médiuns, a autora considera: Entretanto, supondo que o autor atribuísse essa característica à força psíquica, pode-se considerar estranho que ele afirmasse que o fato de esses fenômenos só ocorrerem na presença de poucas pessoas seria um empecilho à realização das pesquisas. Como um cientista acostumado a lidar com fenômenos muitas vezes não detectáveis pelos simples sentidos humanos, ele poderia cogitar na construção de
aparelhos cada vez mais sensíveis, para que a força psíquica pudesse ser detectada na presença de pessoas não consideradas médiuns. Assim, alegar que as investigações eram difíceis por falta de acesso aos médiuns não parece ser um bom argumento.(p. 110) Esse comentário é questionável porque todo o problema de Crookes não estava em saber se pessoas comuns poderiam revelar a força psíquica (uma conjectura) em menor intensidade ou não (o que seria uma forma alternativa de chamar a atenção para a realidade dos fenômenos), mas no caráter incontrolável dos experimentos. De fato, Crookes (tanto quando muitos espiritualistas) considerariam o problema resolvido se se dispusesse de meios para se conhecer completamente todas as condições necessárias e suficientes para a ocorrência do fenômeno. O problema é recorrente hoje em dia pois, por mais sensíveis sejam os instrumentos utilizados (balanças, câmeras, detectores e sensores), a incontrolabilidade permanece. As investigações sempre foram difíceis sim por conta de dificuldades no acesso a fontes fenomenológicas de qualidade, e Crookes estava longe em sua época de contar com dispositivos sensíveis para validar sua conjectura. A autora foi levada a tal conclusão por desconsiderar a realidade dos fenômenos. Para pessoas acostumadas com a literatura espiritualista, em nenhum momento de 'Estudando o Invisível' (nem mesmo na capítulo que descreve as famosas materializações de Kate King via Florence Cook) aparece qualquer referência a famosa substância denominada 'ectoplasma' (neologismo criado por Charles Richet (1850-1935) que também não é citado na obra) responsável por muitos fenômenos. Será que Crookes não teria notado essa substância? Como muito da comunicação não publicada de Crookes foi sumariamente eliminada, talvez nunca venhamos a saber. A inexistência de quaisquer citações ao ectoplasma - tão abundantemente registrado por vários pesquisadores no passado - é um ponto negativo na narrativa da obra, já o Capítulo 7 discute investigações de fenômenos espíritas posteriores a Crookes. Que a conclusão da autora se dá desde o ponto de vista das teorias da fraude (que se justifica pela necessidade de neutralidade e narrativa desde o ponto de vista da época) está claro na conclusão. Por exemplo, no último parágrafo da página 530 está afirmado: Os relatos das sessões mostraram que as condições de visualização dos fenômenos não eram tão boas quanto o cientista apregoava em suas publicações....Além disso, os médiuns e outros observadores pareciam não ser revistados e, muitas vezes, foram realizadas sessões nas quais, provavelmente, o cientista não podia controlar quem entrava ou saía da sala. Podemos considerar equivocada a conclusão expressa em seguida, na p. 539 no penúltimo parágrafo: De qualquer forma, observa-se que o cientista parecia ter suas iniciativas e procedimentos limitados durante as sessões, o que pode explicar a pouca variabilidade dos experimentos e as discrepâncias entre o seu método de agir no caso das investigações 'normais' e nas invesigrações espiritualistas. O mais correto seria reconhecer que possivelmente a natureza do fenômeno e de suas causas não possibilitasse a adoção de métodos semelhantes aos adotados nas pesquisas chamadas 'normais'. De fato, o trecho acima deixa transparecer que Crookes foi 'ludibriado' pelos participantes das sessões e que, por isso, não poderia aplicar seu método universal de pesquisa, no que ele realmente estava equivocado. A autora não questiona em nenhum momento a validade da universalidade de tal método, limitando-se a enfatizar que Crookes nele acreditava.
Considero igualmente confusa a discussão apresentada no Capítulo 9 onde a autora descreve os critérios de demarcação entre 'ciência e não ciência'. Ao mesmo tempo que discute propostas relevantes de autores como Thomas Kuhn e Imre Lakatos, a autora reforça o ponto de vista de céticos como Nathan Aaseng e Terence Hines que podem ser colocadas em conflito com as teorias epistemológicas de Kuhn e Lakatos. Os critérios apresentados por Aaseng para o que seria ciência (ver p. 513) podem ser descritos como consequências de uma visão positivista lógica da ciência com forte lastro no indutivismo. Portanto, as conclusões da aplicação desse tipo de visão ao trabalho de Crookes (o que é feito na parte final do Cap. 9) obviamente irão refletir o ponto de vista lógico positivista. A obra 'Estudando o Invisível' demonstra de forma categórica que, por mais famoso seja um pesquisador ou cientista que aceite a tese espiritualista, sua fama jamais poderá convencer os céticos. De nada serve a opinião de um cientista muito versado em determinada disciplina acadêmica, contrariando o próprio projeto de Crookes, que esperava pudesse modificar a opinião da academia de sua época sobre o assunto. O mesmo fenômeno ocorre modernamente com cientistas famosos (inclusive nobelistas) que defendem a parapsicologia ou o uso da mecânica quântica no estudo de fenômenos chamados paranormais. A opinião e a crença cética sobre determinados assuntos estão estabelecidos sobre fundamentos muito mais profundos, inabaláveis pela disposição da fama em aceitar uma opinião contrária. Recomendo fortemente a leitura desse livro que certamente é um importante trabalho de resgate da memória universal relativa a esse capítulo tão importante da história da ciência, ainda que os céticos disso discordem. Informação sobre o livro
Estudando Autor: Coleção Educ/FAPESP ISBN: 566
Notas
Juliana
o Mesquita
Hidalgo
Invisível. Ferreira. Hipóteses. (2004) 85-283-0306-3. páginas.
[1] As teorias descritas por Crookes encontram-se descritas na p. 209, Cap. 4 'As investigações de Crookes sobre os fenômenos espirualistas II de 'Estudando o Invisível'. Para referência de A. Kardec ver o Cap. 4 de 'O Livro dos Médins', 'Dos Sistemas'.
Usos e maus usos da palavra 'energia' entre espiritualistas
"É uma perda de energia enervar-se com alguém que se comporte mal, assim como com um carro que não ande." Bertrand Russel. Se a física é a ciência que trata da estrutura íntima da matéria, a energia (do grego antigo ἐνέργεια: energeia ou "atividade", "operação") é a quantidade física de menor semelhança com qualquer coisa sólida ou material que se possa imaginar. Por isso mesmo, ela tem sido utilizada - de forma inapropriada - por grandes grupos de espiritualistas (de várias vertentes, cultos, crenças e nacionalidades) em suas narrativas de fenômenos ou eventos de natureza 'espiritual', ou mesmo fatos corriqueiros sem qualquer significado transcendente. Fala-se em 'energias espirituais', 'energias curativas' ou 'curas energéticas'. Existe ainda as 'energias positivas e negativas' e por ai vai. Nosso objetivo aqui não é criticar o uso desta palavra nesses contextos, mas esclarecer o significado de 'energia' que é utilizado em muitas disciplinas acadêmicas como a física, química e biologia. De fato, não somente entre espiritualistas (veja a frase de B. Russel acima), a palavra 'energia' recebe acepções muito diferentes para muitos grupos, sendo talvez o exemplo mais contundente de polissemia que se pode dar. Nosso objetivo aqui é resgatar o sentido original dessa palavra. O que é energia? Todos temos algum contato com algum tipo de processo ou sistema que faz uso de energia. Na vida moderna, televisores, computadores, telefones celulares, carros etc são exemplos de equipamentos que, para funcionarem, precisam de energia. Sabemos que, se não forem supridos com ela, seu funcionamento é paralisado. Também nossos corpos precisam de energia. A privação do alimento leva à inanição e mesmo à morte. Mas, todos sabemos que, para funcionar, tais equipamentos e mesmo nossos corpos não são 'alimentados' com nada 'sutil', 'invisível' ou imponderável. Sabemos que, para funcionar, um carro precisa de combustível que se apresenta na forma líquida, na maior parte das
condições climáticas que habitamos. Para continuarmos vivendo ingerimos alimentos, na forma sólida ou líquida, nada aparentemente sutil - pelo menos no que diz respeito ao quanto tais coisas podem sensibilizar nossos sentidos. Energia em física, química e biologia, é um termo essencialmente técnico que se refere a algo imponderável (não podemos 'captar' ou perceber a energia com nossos 5 sentidos), mas que pode ser medido. Trata-se de uma medida de capacidade ou propensidade de um sistema ou processo em realizar trabalho. Energia e trabalho são termos irmãos. O termo 'trabalho' ordinariamente é utilizada com significado totalmente diferente. Falamos em 'hoje não vou trabalhar' para se referir à atividade ou meio de produção a que me dedico diariamente. Entretanto 'trabalho' no sentido dado pela física é uma medida de variação de energia de um sistema. Energia pode-se apresentar nas formas mais variadas: fala-se em energia nuclear (quando trabalho é extraído do interior do núcleo atômico), energia química (quando trabalho é extraído da eletrosfera dos átomos), energia luminosa (quando luz pode ser usada para produzir trabalho), energia elétrica (quando cargas em movimento realizam trabalho), energia hidroelétrica (quando trabalho pode ser extraído da vazão e queda de grandes volumes de água através de geradores elétricos), energia potencial (quando a capacidade de um sistema em produzir trabalho está armazenada de forma potencial, isto é, não 'cinética'), energia térmica (quando trabalho pode ser extraído do movimento de moléculas) etc. Mais importante do que compreender que existem diversos tipos de energia é saber que a ela está associada um valor que as fazem todas equivalerem entre si quantitativamente.
Exemplos de transformações energéticas entre sistemas físicos.
Por causa disso, fala-se em transformar 'energia elétrica' em 'energia cinética' (em motores elétricos) ou vice-versa (em geradores elétricos), em transformar energia química em eletricidade (em baterias elétricas) ou vice-versa (quando se 'carregam' as baterias) e assim por diante. Até hoje ainda não se conseguiu encontrar nenhum sistema para o qual a lei de 'conservação de energia' não possa ser aplicada. Uma vez gerada, energia não pode ser destruída, embora uma fração da energia presente em um sistema físico (qualquer que seja ele) se perde de forma irreversível, fazendo com que não possamos extraír toda a energia potencial associada a esse sistema. Isso dá origem ao termo 'eficiência' (uma porcentagem) que mede o trabalho
máximo que se pode produzir por um sistema que é sempre menor do que o disponíbilizado por sua fonte energética. Por exemplo, baterias solares tem eficiência de 14%, o que significa que apenas 14% da energia solar é convertida em eletricidade nessas baterias. De qualquer forma, energia não se refere a 'algo' que exista concretamente, que se possa ver ou tocar (o que é diferente do 'Espírito' que é algo que existe embora de forma 'incorpórea'). Quando sentimos o calor na proximidades de uma chapa quente, não estamos 'sentindo energia térmica'. Há uma certa quantidade de energia armazenada na chapa (a uma temperatura acima da ambiente) que é transferida para as moléculas em torno da chapa. Essas moléculas (de ar) adquirem velocidades superiores às velocidades médias das moléculas que estão à temperatura ambiente. Nossa pele tem 'células' capazes de sentir a colisão dessas moléculas mais rápidas, o que que se manifesta em nós como uma sensação do calor. Do ponto de vista semântico, assim, a palavra energia não se refere, na física, biologia ou química a nada que se possa ver ou tocar. Desta forma, luz não é 'energia' tecnicamente falando, pois a luz é considerada um tipo de radiação ou movimento de ondas de natureza definida pela teoria física. Entretanto, talvez por não se referir a algo ponderável, o termo adquiriu outra conotação quando caiu no gosto popular. Assim, é comum ouvir-se que 'luz é um tipo de energia'. Energia tornou-se um dos termos mais polissêmicos na atualidade por representar uma 'novidade' que confere atualização ou modernidade para o linguagem de muitos movimentos espiritualistas, mas que não tem nenhuma relação com sua acepção original. Colocado dessa maneira, seu uso não representa endosso das várias disciplinas acadêmicas para as novas formas de 'energia' que se está a propor. Referências Para saber mais sobre polissemias veja A. P. Chagas,'Polissemias no Espiritismo'. Revista Internacional de Espiritismo, setembro de 1996, pp. 247-49.
Crenças Céticas XVI - O ceticismo dogmático como charlatanismo intelectual.
"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade e a outra é recusar-se a acreditar naquilo é." Søren Kierkegaard Queremos até admitir, nestes últimos, uma opinião conscienciosa, visto que por si mesmos não puderam constatar os fatos; mas se, em tal caso, é permitida a dúvida, uma hostilidade sistemática e apaixonada é sempre inconveniente. (...). Explicai-os como quiserdes, mas não os contesteis a priori, se não quiserdes que ponham em dúvida o vosso julgamento. A. Kardec, Revie Spirite, Arigo 'Sr. Home', Fevereiro de 1858. Dicionários definem fraude como o 'ato de enganar, esconder, distorcer informações, não cumprir com a verdade'. O ato em si de fraudar pode ser consciente, quando quem frauda tem interesses no ato, ou pode ser inconsciente. Nesse último caso, o agente da fraude não tem interesse explícito em enganar. Seu interesse é outro e ele nem tem consciência do engano. As 'teorias da fraude' (ou do 'charlatanismo') formam o grupo das explicações mais preferidas do ceticismo dogmático quando se trata de relativizar, reduzir ou negar fenômenos psíquicos. Através dela, médiuns respeitados são considerados farsantes, fraudadores conscientes ou não da fé pública, mesmo que não se identifiquem nenhum interesse escuso tais como vantagens pecuniárias ou outros. Mas, não somente as fontes dos fenômenos são inescrupulosamente envolvidos, testemunhas, mães, parentes e amigos são todos envolvidos, seja como membros de uma quadrilha de embusteiros ou como vítimas de um gigantesco engodo propositado. Fraudes também podem ser divididas em 2 tipos: as fraudes materiais e as intelectuais. As primeiras obviamente são preferidas dos céticos. Basta uma foto, um som, uma evidência sensorial que não esteja de acordo com as noções do senso comum que facilmente se pode acusar o material como uma tentativa burlesca e grave de se enganar. Quanto às fraudes intelectuais - as que são geradas através de argumentação ou material de natureza intelectual, essas são muito mais difíceis de serem identificadas. Se inexistem dúvidas quanto a existência das fraudes de primeira classe (materiais), com as de segunda classes existe uma clara dificuldade em sua identificação, mas é inegável que ela tem poder muito maior (e mais duradouro) de convencimento do que as primeiras. Nosso objetivo aqui é demonstrar que o grosso da argumentação pseudocética pode ser descrito verdadeiramente como uma mistificação de natureza intelectual e inconsciente. Isso porque, no rastro das explicações forçadas dos céticos 'linha
dura' está a constatação de que eles mesmos, os que pretendem 'denunciar' a fraude ou o embuste, acabam se tornando os verdadeiros charlatães. Obviamente aqui não se trata de fraude vulgar: nenhum crítico, sério ou não, se interpelado, revelará ter outros interesses a não ser a sua 'verdade'. Mas, para todos os efeitos práticos, acabam 'enganando, escondendo, distorcendo informações e faltando com a verdade' Se não vejamos: 1 - Para que se possa ajustar uma explicação aos fatos, é necessário escrutiná-los detalhadamente e encontrar nos menores deles razões que aumentem a importância da explicação postulada, a da fraude. Assim, os menores erros feitos por médiuns são magnificados de tal forma a se tornarem 'evidências' conclusivas. Isso faz parte da tática da fraude pois é preciso que se acumulem evidências que, na cabeça dos pseudocéticos, formam um quadro favorável à tese que defendem. Como não podem distorcer muitos fundamentos, acabam se agarrando aos detalhes que são, por isso, magnificados para que adquiram importância. Detalhes como, 'por que o médium saiu 15 minutos mais cedo ou mais tarde', 'por que ele estava usando essa roupa e não outra' são considerados muito relevantes. 2 - Justamente porque os detalhes insignificantes são considerados muito importantes, o contexto ou muitas outras circunstâncias relevantes de fato são desprezados. Isso caracteriza o status 'intelectual' da fraude. O foco da crítica no detalhe faz com que se relativizem as circunstâncias, a idoneidade e outros detalhes menos aparentes. Pouco importa se testemunhas sérias podem ser encontradas. Se não foram enganadas fizeram parte da fraude. Como para o pseudocético é muito mais fácil apelar para os sentidos, condições não aparentes e circunstanciais devem ser obrigatoriamente desprezadas. 3 - Foco em ressaltar o caráter ordinário e facilmente forjável de evidências materiais apresentadas. A tática é criar hipóteses das mais variadas e mutáveis para explicar qualquer material apresentado como evidência. Assim, hipóteses mirabolantes, teatralizações inusitadas ou confusões consistentes e incidentais de testemunhas são sempre levadas em conta. Isso ocorre porque a crítica pseudocética focaliza-se no que é considerado evidência palpável. Todo o esforço é então gasto na sua invalidação pois, se isso for feito em paralelo com o passo (1) quando detalhes menos importantes são magnificados - cria-se uma imagem do 'caso' obviamente identificável como embuste. 4 - Existam pessoas que enganam, que exploram a credulidade e a fé alheia. Esse fato óbvio é a explicação principal e invariável da crítica pseudocética que se faz apresentar sempre como uma extrapolação justa. Juntando-se os passos 1-2-3 descritos acima, torna-se uma tarefa 'fácil' chegar a mesma conclusão sempre. Analisemos todas as críticas que céticos endurecidos lançaram contra médiuns e os fenômenos espíritas e veremos sempre o processo descrito acima. Tal processo caracteriza charlatanismo intelectual em sua essência, pois é forjado como argumentação tendenciosa e, muitas vezes, 'inconsciente'. Quanto mais endurecido for o pseudoceticismo tanto mais ele se aproxima de um fraude ou mistificação intelectual porque as conclusões a que chega não são verdadeiras. Assim como se pode hoje facilmente, usando recursos tecnológicos, criar imagens fantásticas que explorem o que pessoas acreditem, o 'charlatanismo cético' pode modificar, retocar, forjar argumentos para se criar uma imagem aparentemente convincente embora falsa de determinado fato, principalmente
quando esse fato ainda é considerado uma anomalia ou aberração para o senso comum. Pouquíssimos céticos de carteirinha se dão conta disso, quando então descem em um processo de alienação pessoal flagrante. Analisemos detalhadamente cada caso particular e veremos que o motor principal da alienação será sempre o orgulho ferido, a necessidade de ser reconhecido e acreditado por suas audiências, a inveja pela admiração causada nos outros por esse ou aquele fenômeno transcendente que eles, os céticos, não conseguem reproduzir e que, por isso, passam a combater com todas as suas forças.
Outras identificações do charlatanismo cético: Diferenças entre quem busca verdadeiramente a verdade e o pseudocético. Estas diferenças também reforçam nossa tese do pseudoceticismo como mistificação intelectual: Quem busca a verdade procura as questões relevantes a serem feitas. O pseudocético fornece de imediato aquelas que ele considera como as únicas possíveis; Quem busca a verdade motiva-se por amor desinteressado à verdade. O pseudocético está interessado em que todos pensem que ele está certo, esteja ele ou não; Quem busca a verdade aceita o fato de que aquilo que existe é muito mais do que ele sabe. O pseudocético afirma saber tudo o que se pode saber sobre determinado assunto; Quem busca a verdade reconhece de bom grado casos que ele não pode explicar. O pseudocético ataca qualquer coisa que se lhe oponha o ponto de vista, e se esforça em destruí-la a fim de se mostrar superior. Quem busca a verdade está realmente convencido das limitações da razão humana. O pseudocético faz da sua razão particular um deus que é capaz de perscrutar qualquer coisa; Quem busca a verdade a procura em todas as partes, consciente de que idéias podem surgir em qualquer lugar ou nas pessoas menos prováveis. O pseudocético apenas aceita idéias que venham de pessoas consideradas 'experts' ou
especialistas (segundo seu ponto de vista), além de autoridades convenientemente 'carimbadas'; Quem busca a verdade propõe hipóteses na esperança de que sejam verdadeiras. O pseudocético impõe dogmas como verdadeiros; Quem busca a verdade reconhece que nem sempre os opostos são contraditórios, mas que, as vezes, podem se reforçar. O pseudocético pinta um quadro em preto e branco, certo e errado, sem chance para um ponto de vista contrário; Quem busca a verdade está consciente de que não existem respostas finais para as questões humanas. O pseudocético faz com que cada resposta provisória ou tentativa pareça como a última final; Quem busca a verdade reconhece quando se coloca contrário à opinião da maioria. O pseudocético segue sempre 'as autoridades mais confiáveis' no seu modo sarcástico de lidar com heresias; Quem busca a verdade nunca fala em tom mais 'alto' com sua audiência. O pseudocético fala de modo contrário, de forma a mistificar ou impressionar a todos.
Entrevista II - 2/2 - William Bengston e a pesquisa de curas por imposição das mãos (passes de cura)
2a.
Parte
da
Entrevista
com
o
Dr.
W.
Bengston.
EE 8 - O Sr. acha que o mesmo mecanismo que explique o passe pode estar envolvido em outros tipos de cura a distância (obtido com médiuns de cura como, por exemplo, João de Abadiânia no Brasil)? WB - Não tenho experiência em comparar técnicas diferentes de cura. As que uso no meu trabalho são difíceis de dominar e exigem compromisso da parte da pessoa sendo treinada. Já ouvi falar de outros métodos que são aparentemente mais fáceis de se praticar. É uma interessante questão saber se diferentes métodos resultam em diferentes resultados. EE 9 - Franz A. Mesmer (1734-1815) acreditava que um tipo de fluido era trocado entre o passista e seu paciente através do que ele chamou 'magnetismo animal'. O que o Sr. acha desta teoria? WB - Não há, certamente, troca de um fluido no sentido convencional do termo. E digo mais, não acho que a cura ocorra por qualquer tipo de 'efeito de campo'. Em alguns de meus experimentos, ratos foram curados de câncer, ratos usados como controle foram curados e nada no meio foi afetado. Se as curas resultassem da ação de algum campo, tais resultados não fariam muito sentido.
EE 10 - No Brasil, muitos grupos espíritas usam passes ou a imposição das mãos como prática nascida nos tempos de Mesmer no alvorecer do século XIX. O objetivo é promover o equilíbrio psicológico aos que frequentam reunões espíritas. O Sr. acha que tais práticas - por extensão - podem ter algum efeito no humor dos indivíduos? Se sim, o Sr. acredita que não se pode defender a idéia da sugestão envolvida no efeito? WB - Acredito fortemente que a imposição de mãos não é apenas para se obter cura de doenças. Já vi e ouvi muitos casos onde a prática pode trazer benefícios psicológicos também. Certamente há muita gente que aprendeu minhas técnicas de passes e que reportam terem experimentado benefícios dessa natureza. EE 11 - Não obstante todo o sucesso e experiência no assunto, por que tanta gente (particularmente os acadêmicos) não se convenceram ainda? WB - Gente que ainda não está convencida, não olhou ainda os dados. Nesse ponto, mesmo um cético como eu mesmo, deve concluir que, se formos levar em conta os dados, a questão sobre se ocorre cura ou não não é interessante. A questão realmente importante é sobre o mecanismo, sobre o que aumenta ou diminui a eficácia da cura, sobre se o processo de cura pode ser ensinado, ou seja, questões desse tipo. A questão sobre se você deve acreditar nas curas faz tanto sentido para mim como a questão sobre se você deve ou não acreditar na gravidade. EE 12- Na sua opinião, o que se deve fazer para mudar a tendência cética em relação à cura por meio de passes? WB - Para realmente mudar as coisas, precisamos de aplicações práticas. Se, por exemplo, a capacidade de cura pode ser armazenada e reproduzida sem a presença do passista, então, talvez ela possa ter aplicações maiores. Se a imposição de mãos estimula algo no corpo, tal como o sistema imune e esse estímulo possa ser reproduzido sem o passista, teremos aplicações bem interessantes. Estamos trabalhando nisso agora.
The Energy Cure: Unraveling the Mystery of Hands-on Healing. (Título: Cura energética: desvendando os mistérios da cura pelas mãos) Editora: Sounds True. Para saber mais (artigos científicos em inglês do Dr. Bengston): "Spirituality, Connection, and Healing with Intent: Some Reflections on Cancer
Experiments on Laboratory Mice." Forthcoming in Lisa Miller (ed.), Oxford Handbook of Spirituality and Psychology. Oxford University Press, 2011. Trad. título: Espiritualidade, Conectividade e cura com intenção: algumas reflexões sobre experimentos de curas de câncer em ratos de laboratório. "Breakthrough: Clues to Healing with Intention." Edge Science, no.2, January/March 2010, p.59. www.scientificexploration.org/edgescience/edgescience_02.pdf. Trad. título:Novidade: pistas a respeito de curas com intenção. "The Healing Connection: EEG Harmonics, Entrainment, and Schumann's Resonances."Journal of Scientific Exploration, vol. 24, no. 4,Winter 2010, pp. 655666. (with Luke Hendricks and Jay Gunkelman). Trad. título: Correlação nas curas: Harmônicos de Eletroencefalograma, arrastamentos e ressonâncias de Schumann. "Anomalous DC Magnetic Field Activity during a Bioenergy Healing Experiment." Journal of Scientific Exploration, vol. 24, no. 3, pp. 397-410, 2010. (with Margaret Moga). Trad. título: Atividade de campo magnético DC anômalo em experimento de curas bioenergéticas. "Some Patterns of Acceptance of Anomalies." The Explorer, vol.22, no.3, Spring 2009, p.7-9. Trad. título: Alguns padrões de aceitação de anomalias. "Can Healing Be Taught?" Explore, vol 4(3), pp. 197-200, May/June 2008. (with Don Murphy). Trad. Título: Pode-se ensinar a curar (com as mãos) ?
Entrevista II -1/2 - William Bengston e a pesquisa de curas por imposição das mãos (passes de cura)
Seria possível aprofundar a questão sobre o efeito da 'imposição das mãos' através de métodos experimentais? O prof. Willian Bengston gentilmente respondeu-nos a um conjunto de 12 questões que serão apresentadas em 2 posts a começar deste. O prof. Bengston é veterano pesquisador do efeito da imposição de mãos (hand-on healing) com funções terapêuticas, tendo já publicado inúmeros artigos científicos sobre o assunto. Traduzimos abaixo um extrato de sua página pessoal que utilizamos aqui para apresentá-lo.
Willian F. Bengston (Bill) é professor de sociologia no St. Josephs College em Nova York, EUA. Doutorou-se na Universidade de Fordham, Nova York, em 1980. Suas atividades profissionais 'diurnas' incluem métodos de pesquisa e estatística. Durante muitos anos, Bill realizou pesquisa com as chamadas 'curas anômalas' e provou a eficiência de uma técnica desenvolvida por ele a partir de um teste experimental controlado com 10 animais e que foi conduzido em 5 laboratórios médicos. Sua pesquisa com esse tipo de fenômeno demonstraram com sucesso curas de tumores mamários induzidos por metilcolantreno em ratos por uma técnica de imposição de mãos que ele desenvolveu. Ele também investigou correlações dessas curas com micropulsações geomagnéticas e harmônicos em EEG (eletroencefalogramas). O Dr. Bengston não oferece tratamentos de cura, diagnósticos médicos ou quaisquer tipos de consultas relacionadas à saúde ou tratamentos psiquiátricos. Seu tempo e esforço é dedicado a pesquisa sobre curas com as mãos (passes) e educação. Dr. Bengston tem publicações no Journal of Scientific Exploration, o Journal of Alternative and Complementary Medicine e a revista Explore. Além disso, deu várias palestras por todos os EUA e Europa. Bill é membro da Society of Scientific Explorarion (SSE) desde 1999 e, presentemente (2011), é seu presidente. Junto com Sylvia Fraser escreveu sobre suas experiências de cura na obra The Energy Cure: Unraveling the Mystery of Hands-on Healing, publicado pela editora Sounds True. Para mais informações (em inglês), consulte sua página: www.bengstonresearch.com/ OBSERVAÇÃO: Como a 'imposição de mãos' é conhecida pelos espíritas como 'passe' (embora a aplicação para realização de curas seja minoritária), utilizamos os dois termos na tradução de forma equivalente por falta de outra palavra. Assim, onde estiver 'passe', lê-se 'passe de cura'. Termos como 'healer' e 'healee' também foram adaptados para facilitar a compreensão. Entrevista EE 1 - Como o Sr. se interessou pelo assunto de cura através das mãos? WB - Fui atraído ao assunto de cura pelas mãos ao ler sobre uma incrível pesquisa feita por Bernard Grad na Universidade McGill entre 1950 e 1960. Trabalhando com o médium de curas Oskar Estebany, Grad demonstrou a aceleração significativa de crescimento de plantas e cicatrização de feridas em ratos. Tais experimentos me fascinaram, já que deslocavam tais curas do âmbito das piadas de consultório para ambientes mais controlados. Essa pesquisa foi claramente minha inspiração para continuar a pesquisa laboratorial do assunto. EE 2 - Como o Sr. chegou a conclusão de que esse efeito nada tinha a ver com a fé ou postura religiosa da parte do candidato a passista? WB - Meus experimentos foram feitos com voluntários que não acreditavam no efeito (incluindo eu mesmo) e que não tinham nenhum conhecimento prévio sobre essas curas ou de que se tratasse de um efeito real. Tais voluntários atuaram sobre indivíduos que também não tinham qualquer crença. Esses indivíduos eram, inclusive, ratos que tinham sido deliberadamente infectados com câncer. Desta forma, as curas foram demonstradas em situações onde nem o passista nem seus alvos tinham qualquer crença.
EE 3 - Mas o Sr. não acha que a fé pode melhorar o desejo ou a intenção e, assim, aumentar o poder de cura por algum tipo de 'efeito de segunda ordem' ? Já presenciei centenas de casos clínicos de curas por imposição de mãos feitos tanto por gente experiente ou não, sobre pacientes crentes e não crentes. Especulo que, 'se tudo o mais se mantiver igual', tais crenças tem, na verdade, um efeito retardador na eficácia da cura. Acho que a crença induz um tipo de tendência de 'se forçar' , que é uma tentativa de se reforçar a crença existente. Tal esforço traz em cena a mente consciente e o ego que, suspeito eu, não conseguem aumentar o poder de cura. Suspeito que o processo de cura por passes seja semelhante ao processo de cura em circunstâncias mais comuns, e, em tais casos, concentração ou qualquer coisa parecida não é necessária ou mesmo desejável. EE 4 - O Sr. acha que qualquer pessoa pode aprender a curar através de passes? WB - Essa é uma questão interessante. Escrevi um artigo sobre ela em conjunto com um amigo biólogo, Don Murphy, que saiu no jornal Explore em 2008. Nesse trabalho, salientamos que ninguém tem dados históricos sobre a eficácia de se ensinar os passes. Isto é, embora seja verdade que virtualmente todos os passistas aprenderam sozinhos, não há evidências de que o ensino de uma maneira particular de se realizar o passe melhore o processo de cura. Muita gente ficou enfurecida comigo por causa desse trabalho, que achei bem interessante. Para mim fica claro que existe um monte de crenças (desnecessárias) em torno do processo. EE 5 - De acordo com sua experiência, qual o mecanismo mais provável envolvido na cura pelas mãos? WB - Não faço ideia desse mecanismo, essa é a questão crucial! Acho que não se trata de um tipo de 'energia', mas sim troca de informação no processo de cura. Da mesma forma que temos uma quantidade enorme de troca de informação no processos normais biologicos (p. ex., na digestão, supressão de doenças etc), acho que o paciente depleta-se dessa informação de alguma forma durante a doença. No caso do câncer, por exemplo, o sistema imunológico em mamíferos funciona de forma contínua, mas, algumas vezes, o câncer predomina. Acho que o processo de cura por passes pode fornecer essa informação ao corpo que, então, atinge a cura por si próprio. EE 6 - É possível conseguir o efeito de cura sem impor as mãos? WB - A cura não parece ser afetada pela distância. Nos experimentos em micropulsações geomagnéticas (com Margaret Moga), obtivemos o mesmo efeito tanto a duas polegadas como a 2 mil milhas de distância. Da mesma forma, animais podem ser curados a grandes distâncias. É um fato interessante também que o poder de cura possa ser armazenado em alguns materiais. Por exemplo, Bernard Grad descobriu que Estebany segurava algodão que, depois, poderia ser usado para obter curas. Trabalho presentemente em alguns experimentos relacionados a isso.
J. Benveniste (1935-2004)
EE 7 - Na resposta da questão anterior, o Sr. disse que o 'poder de cura' pode ser armazenado em materiais. Ele poderia ser armazenado na água? Pergunto isso por que, nos experimentos de Jacques Benveniste, que tiveram como objetivo demonstrar a eficácia de soluções homeopáticas, descobriu-se que os resultados só poderiam ser replicados na presença de certas pessoas. Talvez esse tipo de 'efeito do experimentador' e a cura por meio das mãos tenham alguma causa em comum que, ultimamente, pode ser relacionada à eficácia dos preparados homeopáticos. Tenho bastante certeza que se pode armazenar essa capacidade na água, embora isso represente um problema metodológico difícil. Em um dos meus experimentos, ratos eram tratados apenas com água desse tipo e foram curados. O problema metodológico é, dada a existência de ressonância conectiva, não sabemos se isso ocorreu por causa da água ou porque os ratos pertenciam ao grupo de geral conectado. Em suma, suponho que a água em si funciona. Trabalhei com Jacques Benveniste em seu laboratório em Paris. Foi bem interessante. Ele ficou bem chateado quando viu que os efeitos que ele tinha descoberto somente ocorriam quando certas pessoas estavam no laboratório. Disse a ele que isso era uma descoberta incrível com implicações igualmente incríveis, mas ele não se mostrou animado com isso. Acho que ele pensou que o efeito que tinha descoberto era realmente independente do observador. Continua no próximo post
Fim da Religião ou do irracionalismo religioso?
Se a religião, apropriada em começo aos conhecimentos limitados do homem, tivesse acompanhado sempre o movimento progressivo do espírito humano, não haveria incrédulos, porque está na própria natureza do homem a necessidade de crer, e ele crerá desde que se lhe dê o pábulo espiritual de harmonia com as suas necessidades intelectuais. A. Kardec (4) ('O Céu e o Inferno', Parte I, Capítulo, 1: 'O Porvir e o Nada', parágrafo 13).
Recentemente uma reportagem publicada na 'Folha de S. Paulo' (Maio de 2011) (1) trouxe afirmação de líderes da Igreja Católica de que a ascensão social reduzirá a quantidade de pessoas nas fileiras do protestantismo ou outras denominações religiosas que surgiram como religiões reformadas. Deixando a polêmica de lado, o mais correto seria dizer que a ascensão social, que resulta em maior acesso ao conhecimento científico, não só reduz o número de adeptos das igrejas reformadas, mas de todas as religiões que fundamentam sua teologia ou crença em tradições difíceis de serem defendidas, diante da nova imagem do mundo revelada pelo conhecimento científico. Tal observação tem consequências particulares. Para o Ocidente (onde se encontram a maior quantidade de pessoas consideradas cristãs lê-se - que fundamentam sua crença em interpretações tradicionais da Bíblia) haveria um aumento no número de não cristãos. Essa previsão, em verdade, foi plenamente confirmada por pesquisas de opinião.
Fig. 1. Gráfico do percentual de pessoas na população que se dizem cristãs (azul), agnósticas (verde) e não cristãs (laranja) em uma pesquisa britânica. Há uma clara tendência para o 'desaparecimento' das religiões cristãs.
Avaliações recentes feitas Pesquisas de atitudes sociais britânicas (2) demonstraram que, na Inglaterra, o número dos que se dizem 'cristãos' está se reduzindo a uma taxa bastante grande, que se pode considerar 'alarmante' para os líderes das religiões tradicionais (Fig. 1). A época que vivemos é, assim, uma época muito especial, pois parece representar o fim de uma era. Não acreditamos que seja o fim das religiões, mas certamente o fim do dogmatismo religioso, da intransigência e do irracionalismo implicado por determinadas crenças. Para que tenha alguma utilidade, as religiões tradicionais deverão aprender a conviver juntas, de certa forma relativizando as implicações de seus dogmas que, de outra forma, já demonstraram levar a sua recíproca destruição.
Fig. 2 Mapa da Europa na pesquisa da Eurobarômetro (2005), Ref. 3, do percentual de pessoas que responderam 'sim' à questão: 'você acredita em Deus?'
A pesquisa britânica demonstra uma tendência em países mais 'desenvolvidos' ou em lugares onde as pessoas tem acesso à edução de qualidade - principalmente científica para o desaparecimento das religões cristãs. Se nada for feito (e não parece que o será), a curva cinza da Fig. 1 encontrará a origem em duas vezes o intervalo amostrado da pesquisa, que é de 26 anos. Ou seja, em meio século, grupos cristãos serão minoria semelhante aos 'não-cristãos' em países mais desenvolvidos.
Isso claramente ocorre por conta do efeito 'anti-religão' provocado pelo ensino (Fig. 2). Ao se educar as crianças a compreender que a imagem moderno do Universo não corresponde àquela ensinada pelas antigas crenças, que deixam de justificar outras como o juízo final, céu, inferno, julgamentos terminais ou na existência de Deus feito à imagem e semelhança dos homens, as religiões tradicionais estão em franco processo de desaparecimento. Basta que analisemos também, o que recente pesquisa demonstrou na Suécia, reconhecidamente o país o terceiro mais ateu país da Europa. Segundo a Wikipedia: Demographics of Atheism: 'Vários estudos mostraram que a Suécia é um dos países mais ateus do mundo. 23% dos cidadãos Suecos responderam que 'acreditam em um Deus', enquanto que 53% responderam que 'acreditam que existe algum tipo de espírito ou força vital'. Os outros 23% restantes não acreditam nem em Deus ou na existência de um tipo de espírito ou força superior. Portanto, a conclusão da autoridade católica que afirmou ser a ascensão social motor para a redução de protestantes, também vale para outros tipos de crenças, inclusive a católica. E, não é o enriquecimento que causa o esmorecimento da fé nas antigas crenças, mas o acesso à educação (de qualidade). Não obstante o enfraquecimento da crença na existência de Deus (conforme a imagem ensinada pelas religiões tradicionais), a maior parte da população ainda crê na existência de algo superior. A pesquisa 'Eurobarômetro' (3) de 2005 resultou no gráfico da Fig. 3.
Fig. 3 Percentual da população que responderam 'sim' à questão: 'você acredita na existência de um Espírito ou força superior?' Fonte: Pesquisa Eurobarômetro 2005, Ref. 3.
A Fig. 3 traz o percentual dos que responderam positivamente à questão sobre a crença em um Espírito ou força superior. Curiosamente, os países onde mais se acredita em Deus (Fig. 2), tem o menor percentual de crença no Espírito ou 'força superior'. Tais resultados demonstram positivamente a influência de fatores culturais (através da educação) sobre a crença e demonstram que, por trás dessa 'geografia do ateísmo' o que se vê é o desaparecimento de antigos modelos de crença religiosa. Conforme o parágrafo de Kardec na introdução deste artigo, a educação científica não conseguirá fazer a religião - entendida como movimento que nasce a partir da necessidade de se crer inata no ser humano - como pretenderiam alguns céticos mais endurecidos. O que se está a observar é uma ampla validação do que foi previsto por Kardec em várias de suas obras (4): A crença na eternidade das penas perde terreno dia a dia, de modo que, sem ser profeta, pode prever-se-lhe o fim próximo. ('O Céu e o Inferno', Cap. 6, parágrafo 1); É isso que se dá hoje com a Humanidade, saindo da infância e abandonando, por assim dizer, os cueiros. O homem não é mais passivo instrumento vergado à força material, nem o ente crédulo de outrora que tudo aceitava de olhos fechados. ('O Céu e o Inferno, Cap.6, parágrafo 22); Por muito tempo essa fórmulas lhes satisfizeram a razão; porém, mais tarde, porque se fizesse a luz em seu espírito, sentindo o vácuo dessas fórmulas, uma vez que a religião não o preenchia, abandonaram-na e tornaram-se filósofos.('O Céu e o Inferno, Cap.1, parágrafo 12) Nenhuma crença religiosa, por lhes ser contrária, pode infirmar os fatos que a Ciência comprova de modo peremptório. Não pode a religião deixar de ganhar em autoridade acompanhando o progresso dos conhecimentos científicos, como não
pode deixar de perder, se se conservar retardatária, ou a protestar contra esses mesmos conhecimentos em nome de seus dogmas, visto que nenhum dogma poderá prevalecer contra as leis da Natureza, ou anulá-las. Um dogma que se funde na negação de uma Lei da Natureza não pode exprimir a verdade.('Obras Póstumas', Manifestação dos Espíritos, parágrafo 7). Longe de estarmos vivendo o 'final dos tempos', amanhece um novo dia para a Humanidade.
Referências (1) http://www1.folha.uol.com.br/poder/915670-ascensao-social-reduzevangelicos-diz-lider-da-cnbb.shtml (2) http://en.wikipedia.org/wiki/Demographics_of_atheism (3) http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_225_report_en.pdf (4) A. Kardec: 'O Céu e o Inferno', 23a. Ed. FEB, 'Obras Póstumas', 15a Ed. FEB. Postado por Ademir Xavier às 16:43 1 comentários Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no Orkut Marcadores: ateísmo, dogmatismo, religião DOMINGO, 8 DE MAIO DE 2011
Crenças Céticas XV - Máquinas que pensam ?
Certa vez, observava com atenção a reação de uma platéia de crianças (com idade entre 4 a 6 anos) em numa apresentação de fantoches em um lugar público. Admirei-me ao ver como uma reforçava a reação da outra ao seu lado, ao ver o comportamento dos bonecos no teatrinho. Dava para se ver, no brilho dos olhos, que realmente acreditavam que aqueles bonequinhos estavam ali, vindos de algum lugar encantado, para contar histórias divertidas. Eles tinham reações engraçadas, alegria, tristeza, raiva, contentamento. Elas se identificavam com eles, percebendo
o quanto a maneira de ser dos bonecos não diferenciava muito da mãe ou do pai ao seu lado.
Nossa sociedade aprendeu cada vez mais a depender de dispositivos tecnológicos por uma variedade de razões, tanto comerciais como pragmáticas. Desde da prensa de Gütemberg até os modernos sistemas de inteligência artificial (IA), sistemas automáticos auxiliam a realização de uma variedade grande de tarefas. Mais recentemente, porém, sistemas eletrônicos incorporaram funções interativas com os humanos, além da descomunal expansão de capacidade de informação por que passaram, o que fez reacender o debate sobre o quão inteligente tais sistemas poderiam ser (ver filme abaixo que mostra um robô tocando violino). O nome 'inteligência artificial' tornou-se assim um símbolo para possibilidades ainda mais futurísticas como a de sistemas artificiais exibirem consciência do mesmo grau de tipo dos humanos. Mecanismo robótico da TOYOTA tocando violino (2007). A legenda diz que o sistema é parte de um esforço demonstrativo de como tais sistemas poderiam ser usados em casas, hospitais e lugares públicos. Embora a similaridade espantosa observada com humanos, trata-se de um sistema que apenas executa instruções pré-programadas, não diferindo, assim, de um marionetes sem cordas.
Recentemente um dos pais fundadores da idéia de inteligência artificial, Marvin Minsky, foi entrevistado e o resultado pode ser visto no artigo com título sugestivo: 'As máquinas já PENSAM' (1). O assunto é complexo o suficiente para exaltar ânimos entre os proponentes da chamada 'strong AI' (IA forte), ou hipótese que afirmar ser possível a sistemas artificiais pensarem e terem uma mente (com uma consciência junto), e os que não pensam assim, advogando uma forma branda de 'computacionalismo' ou 'weak AI' (IA fraca) que afirmar ser possível programar sistemas que apenas parecem executar atividades inteligentes. Embora seja possível achar que os proponentes da IA forte teriam algum interesse não apenas 'científico' na continuação das pesquisas nessa direção, pesquisas em IA se sustentarão comercialmente por muito tempo ainda, diante da capacidade de se utilizar tais sistemas para resolver problemas práticos. Logo, o assunto 'IA' tem um grande futuro comercial ainda que não se acredite em IA forte. Obviamente o debate entre as duas formas de se abordar IA tem implicações com as concepções atuais sobre o que é a consciência e o que é o ser humano. Para nós, as esperanças da IA forte são uma aplicação prática da maneira materialista de se ver o mundo e os seres humanos. Como tal crença demonstra desprezo pelas noções espiritualistas, trata-se assim de mais uma crença cética. Cabe a nós, assim, estudar e compreender quais são os fundamentos que suportam a IA forte. Comentamos abaixo a entrevista citada acima feita por um repórter da revista EXAME. As questões feitas pelo repórter são excelentes e estão grafadas em itálico.
1) Algum dia computadores serão capazes de pensar? Eles já pensam de um certo modo, mas não de outros. Um dia, quando entendermos como funcionam outros tipos de pensamento no homem, então poderemos construí-los nas máquinas. Todas as esperanças de IA forte repousam no futuro. É como se acreditássemos que o futuro fosse uma espécie de 'caixa mágica' de onde se pode tirar qualquer coisa. Como não sabemos como uma coisa funciona hoje, então, quando soubermos amanhã isso será possível. Esse tipo de argumentação é muito fraca pois estabelece o desconhecido como fundamento para o que não se sabe. 2) Muita gente diz que os computadores não fazem mais que seguir instruções mais rápido que qualquer ser humano. O que pode compensar essa má reputação da inteligência artificial? Errado. Computadores podem seguir outros tipos de processos. Quando programadores não sabem resolver um problema, eles podem programar o computador para realizar uma "pesquisa evolutiva". Ele tenta muitas possibilidades para ver qual funciona melhor. Isto é, claramente, o que fazem as pessoas: resolvem problemas por "tentativa e erro". O repórter da Exame aqui se esqueceu de dar alguns nomes para 'muita gente' em sua questão. Na verdade, os maiores especialistas em assuntos de consciência e cognição pertence a esse grupo. A resposta de Minsky não poderia ter sido mais evasiva. Obviamente que para se fazer uma máquina realizar 'pesquisa evolutiva', ela tem que ser programada, e isso é feito a partir de instruções simples que computadores sabem realizar rapidamente. Aqui começa a transparecer um argumento que é frequentemente usado por proponentes de IA forte: o de que basta um sistema executar algo que se pareça com o que um humano faça para que ele seja classificado como consciente. Além disso, pessoas não se escoram em 'tentativa e erro' para resolver problemas. Essa é uma noção muito limitada do aprendizado humano. 3) Mas algum dia as máquinas desenvolverão algo comparável à consciência? Acho que, se consciência quer dizer a capacidade de um cérebro pensar sobre suas próprias atividades, sim. Muitos programas de computador já fazem algo parecido, portanto já são conscientes em um certo grau. O conceito de consciência - embora tenha sido usado marginalmente no desenvolvimento tecnológico de sistemas de IA (2) - é relevante para se dar uma resposta convincente à questão colocada. A resposta dada, como se baseia em ideia errônea do que é algo consciente, naturalmente levou à conclusão (igualmente errada) de que computadores já pensam. Mas serviu para dar um título sensasionalista à entrevista. 4) Qual será o impacto disso nos negócios? Em primeiro lugar, teremos maior produtividade em todos os setores. No entanto, quando computadores começarem a pensar tão bem quanto pessoas - e melhor que as pessoas -, as coisas mudarão de formas que não podemos imaginar.
O aumento de produtividade através do uso de sistemas automáticos já é realidade, independente de terem consciência ou não. Como as esperanças são colocadas sobre algo que não se sabe, tudo é realmente possível. 5) O senhor diz que não há muita diferença entre o pensamento comum e o pensamento criativo. As empresas estão erradas ao procurar executivos criativos? Não há muita diferença entre as pessoas mais criativas e as mais comuns, exceto por aquelas serem capazes de descobrir novos modos de pensar. Claro que pequenas diferenças ao pensar podem fazer muita diferença em quantos problemas a pessoa pode resolver. Um engenheiro muito bom vale por uma centena de engenheiros medíocres, por isso às vezes ele ganha o dobro. A única diferença entre os que são criativos e os que não são, é que os primeiros criam mais coisas novas. Além da obviedade na primeira frase, é necessário explicar porque o ser humano exibe capacidades tão diferentes e discordantes entre indivíduos. Embora sejamos todos geneticamente idênticos, as diferença de comportamento e de capacidade criativa são muito grandes. "Mas isso pode muito bem ser apenas uma maneira equivocada de se ver as coisas", diria um defensor de IA forte. Para Minsky, 'pequenas diferenças no pensar' criam grandes diferenças na hora de se resolver problemas. Por causa disso, um 'bom engenheiro que vale por 100 engenheiros medíocres' ganha apenas o dobro e não 100 vezes o salário de um engenheiro medíocre... 6) Os defensores da inteligência artificial não cometem um erro ao descartar o livre arbítrio como ilusão? Quando você diz "usei meu livre arbítrio para tomar uma decisão", isso só quer dizer "não sei o bastante sobre minha mente para entender como tomei esta decisão". Essa foi a melhor questão da entrevista. Com a resposta podemos ler o que se passou na mente de Minsky: 'E por acaso você sabe o que é livre-arbítrio?' Mesmo assim, temos que reconhecer, Minsky deu uma resposta educada, embora 'tangencial' à questão proposta. 7) Quais as implicações éticas de produzir cérebros em linha de montagem? O senhor não teme algo como o Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley? Diria que podemos antecipar o oposto. As primeiras máquinas industriais eram usadas para repetir processos idênticos em linha de montagem. Mas um robô moderno programado pode fazer coisas diferentes a cada trabalho. Poderíamos ter robôs que projetam terno e sapatos perfeitos para cada indivíduo. Quando pudermos fabricar máquinas que pensam, poderemos fazer cada uma delas de modo diferente. Não seria muito difícil fazê-las muito mais diferentes umas das outras do que as pessoas são. Mais uma vez o entrevistado dá uma resposta pouco satisfatória. A questão proposta era sobre as implicações éticas e bem ponderáveis - no sentido de se criar 'Franksteins', que se voltem contra seus criadores, uma possilidade perfeitamente cabível diante das apostas de IA forte. As respostas comuns são do tipo: 'toda
tecnologia pode ser usada para o bem ou para o mal'. Assim, se novos Fransksteins conscientes aparecerem, isso já era previsto. Por isso, Minsky preferiu focar o lado bom. Mas, como tudo é possível, Minsky poderia ter respondido muito bem: 'podemos programá-los para serem sempre escravos e bonzinhos para com seus criadores' . Ah, mas ele não poderia mesmo dizer isso, pois, de acordo com a crença de IA forte sobre a possibilidade de consciências artificiais, elas seriam em todos os aspectos iguais as nossas e, portanto, não poderiam ser programadas para obedecer determinadas instruções. Crendo-se ou não na existência de livre arbítrio, ter consciência implica em certas liberdades que sistemas autônomos artificiais devem ter para serem considerados verdadeiramente conscientes. Em algum momento da história do desenvolvimento da IA, a noção de livre arbítrio terá que surgir... Conclusão Vou terminar como comecei: para a maioria dos crentes em IA forte - apoiados por concepções materialistas do ser humano - a consciência artificial é possível. Analisando a maioria dos argumentos, temos a impressão que eles são como as crianças que se impressionam e fantasiam com o comportamento aparentemente humano de bonecos ou fantoches em um teatrinho. Crêem eles que a consciência pode ser definida pelos seus efeitos, por se recusarem a analisar, ou sequer acreditar, em suas causas. Na verdade, para o paradigma materialista, o cérebro, como fonte de consciência, não exige que se busque nada além: está tudo lá, grafado entre códigos neurais que aguardam um pouco mais para serem desvendados. Referências (1) http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0662/noticias/as-maquinasja-pensam-m0046093 (2) Ver artigo: Drew McDermott (2007), Artificial Intelligence and Consciousness, The Cambridge Handbook of Consciousness. Cambridge University Press.
Livro I - Introdução à Ciência Espírita de Aécio P. Chagas
No centenário de nascimento de Allan Kardec (2004), muitas obras foram publicadas em sua homenagem. Dentre elas, destaca-se a 'Introdução à Ciência Espírita' de Aécio Pereira Chagas. Com um estilo simples, o autor consegue abordar uma ampla gama de tópicos que fazem parte dos fundamentos da Doutrina Espírita, suas consequências morais e filosóficas. Um livro com 156 página - pouco se considerarmos a vastidão da temática espírita - é bem uma introdução ao assunto. Para se ter uma idéia dos temas abordados por esta obra, basta que consideremos seu índice: 1 Introdução, 2 - Concepção espírita do ser humano, 3 - Fluidos - I (há dois capítulos separados para o tema 'fluidos'), 4 - Perispírito, 5 - Animismo, 6 Mediunidade, 7 - Fluidos II, 8 - Efeitos Físicos, 9 - Fluidoterapia, 10 - Evolução e Tempo (que discorre sobre o importante princípio da reencarnação), 11 Conclusão. Há ainda 2 apêndices: um sobre o conceito de religião e outro que trata de um resumo histórico do Espiritismo. Antes do 1o Capítulo, no 'Prólogo', o autor, que é pesquisador acadêmico conceituado, discorre sobre a noção de 'ciência espírita'. Essa noção certamente tem consequências para a noção de universidade e centro de pesquisa acadêmico. De forma bem direta, o autor considera: As universidades são importantes instituições de ensino e pesquisa, cujas atuais caracteristicas têm cerca de duzentos anos. Formaram-se após a Revolução Francesa (ou Burguesa) sobre as ruínas das universidades medievais. Estas eram centradas na teologia e as novas universidades centram-se nas ciências da matéria: física, química, biologia. Sua ideologia, ou seja, o conjunto de idéias que definem sua estrutura, objetivos, funcionamento etc, é praticamente positivista. Ela é, em sua essência, materialista. Creio que, dentro desta concepção de universidade, nela não cabe o espiritismo. Essas considerações certamente tem consequências sobre a opinião particular dos que pensam ser possível acomodar a pesquisa espírita dentro dos modelos atuais de centro de pesquisa e universidades. Sendo pois a pesquisa acadêmica essencialmente centrada na busca e explicação de fenômenos materiais, é bastante lógico compreender porque existe grande resistência em meios acadêmicos a estudo de outras natureza. Um fato de uma determinada universidade estar vinculada a uma religião (como ocorre com as universidades católicas, por exemplo) em nada modifica esse quadro: Existem universidades vinculadas a algumas religiões: universidades católicas, protestantes, judaicas, entre outras. Pergunto ao leitor, como são elas? No que diferem das universidades não confessionais?
Finalmente, ancorado nessa lógica o autor afirma: A ciência espírita foi feita e está sendo feita nos centros espíritas. O autor explica: Acho que a pesquisa espírita não foi feita e não está sendo feita nos centros de metapsíquica ou de parapsicologia, que não satisfazem os requisitos da atividade científica, pois elas não contêm uma teoria. Muitos dos notáveis pesquisadores do passado, que trabalharam no estudo da fenomenologia mediúnica, não fizeram ciência espírita, ou melhor, não fizeram ciência nenhuma, pois não possuiam uma teoria. É interessante que alguns até se tornaram espíritas no fim de seus trabalhos. Do ponto de vista das modernas teorias do conhecimento, a existência de uma teoria - que desenvolve e orienta a pesquisa - é um quesito fundamental para que haja verdadeira ciência. Em um ambiente cercado de ceticismo com relação ao objeto de estudo (que é o Espírito) como haverá de se desenvolver nosso conhecimento sobre o assunto? Este é um ponto fundamental que não pode ser desconsiderado. Ao longo do livro, o autor discorre sobre vários conceitos espíritas - essencialmente fundamentados em 'O Livro dos Espíritos' e 'O Livro dos Médiuns' de A. Kardec por meio de muitas figuras (ou 'esquemas') que, embora não sofisticadas, conseguem explicar os conceitos e que dificilmente encontramos em outros obras. Além disso, o livro apresenta diversos 'exercícios' que orientam o leitor no estudo de obras complementares. Por exemplo, ao final do capítulo 6 (sobre mediunidade), existem diversas questões. Destacamos uma delas: 6.3 - Um médium sonambúlico 'que vê' é vidente ou clarividente? Tal proposta faz de 'Introdução à Ciência Espírita' um livro diferente de muitos outros, um livro que tem uma proposta pedagógica. Interessante e elucidativa é a proposta do autor de explicar os fenômenos físicos através de um capítulo dedicado. Por serem ocorrências que se distanciam dos fatos ordinários, são os mais considerados pela adeptos da teoria do 'embuste'. Em particular, o autor esclarece os fatos da década de 60 em Uberaba, MG, em torno da mediunidade de efeitos físicos de Otília Diogo. Ele faz isso não como alguém que 'ouviu falar do assunto', mas como quem teve contato direto com testemunhas dos fatos: Em uma dessas reuniões, esteve presente também uma equipe de repórteres da revista O Cruzeiro, na época, era o semanário de maior circulação no país. A primeira reportagem publicada pela revista foi fiel aos fatos observados. A segunda, uma semana depois, procurou apresentar tudo como se fosse uma fraude. Mesmo assim, em determinados assuntos, sentimos que o autor foi algo resumido demais. Um exemplo, é o tema 'prece' do capítulo 9 'Fluidoterapia'. O assunto, na nossa opinião, é de certa importância e muito se beneficiaria de maior aprofundamento com o estilo didático do autor. No último capítulo (11 - Conclusão), o autor trata da noção de prova científica de outras questões ligadas ao assunto e sua relação com os fatos espíritas. Basta considerarmos as perguntas feitas pelo autor no capítulo citado: 'Átomos e moléculas existem? Você já os viu ou os tocou? Como provar que eles existem? para que tenhamos uma idéia de que a noção de prova na ciência e, principalmente, na ciência espírita, não tem o mesmo status que a idéia de 'evidências' das ciências forenses ou criminais. O assunto requer muito estudo e uma visão dilatada que inclua a ideia de que muitas coisas no mundo existem apesar de não sensibilizam diretamente nossos sentidos ordinários.
'Introdução à Ciência Espírita' traduz em seu título, de uma maneira fiel, o que o autor desejou transmitir com ele: uma introdução didática a um tema que tem um grande futuro. Detalhes bibliográficos: Introdução à Ciência Espírita Aécio P. Chagas 156 páginas Biblioteca de Ciência e Espiritismo Editora Lachâtre (http://www.editora3deoutubro.com.br) 1a Edição (2004)
Crenças Céticas XIV - "Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias."
"Pessoalmente, ficaria muito satisfeito se houvesse vida após a morte, especialmente se ela me permitisse continuar a aprender sobre este e outros mundos, se ela me desse a chance de descobrir como a história aconteceu". C. Sagan Inexiste frase mais inconseqüente e de menor aplicação à história da ciência do que esta que serve de título deste post, proferida pelo astrônomo Carl Sagan (19341996), membro fundador de uma importante seita de céticos. Por isso mesmo, ela veio a se constituir em um dos pilares da crença cética. (1) C. Sagan foi bem meu herói de juventude: quem não se lembra da série 'Cosmos' no começo da década de 1980, com suas primeiras simulações computacionais, mostrando um viajante em suas viagens pelo Universo, de uma maneira acessível ao grande público? A série era primorosa e, mesmo hoje em dia, a maneira com que ele explica cada tópico em Astronomia deixa saudades. Mais tarde, descobri que
Sagan errava em alguns pontos com relação à história da ciência, o que é de pouca importância comparada a sua postura de defensor infatigável da ciência (lê-se academia) utilizando, entretanto, argumentação algo equivocada, que o levaria a tirar conclusões em contradição com sua visão materialista de ver o mundo. Sagan pretendia fazer algo muito importante: livrar a sociedade das trevas da ignorância medieval, do irracionalismo cristão que condenou tantos mártires considerados hereges à fogueira. Nisso ele estava muito certo. Por isso, Sagan chega à conclusões belíssimas com relação a nossa verdadeira posição no Cosmos: no auge da gerra fria fez uso de uma foto tirada por uma das Voyager mostrando tudo aquilo que somos. Nada mais que um grão de areia perdido na imensidão do Cosmos.
'Pale Blue dot': foto da Terra de um ponto muito distante no espaço. Para C. Sagan, o uso dessas imagens poderia demonstrar ao público a verdadeira dimensão das disputas e pontos de vista humanos.
Sobre tal foto escreveu ('Pálido Ponto Azul'): Olhem de novo para aquele ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, todos os que conhecemos de quem ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, “superastros”, “líderes supremos”, todos os santos e pecadores da história de nossa espécie, ali - num grão de poeira suspenso num raio de sol. A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração deste ponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes mal distinguíveis de algum outro canto em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes. Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no universo, tudo é posto em dúvida por este ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos. Carl Sagan - (de “Um pálido ponto azul”, 1994) Entretanto, Sagan frequentemente afirmava que a sociedade, que passou a depender da Ciência e da tecnologia, sem saber o que era, de fato, Ciência, deveria arraigar-se ao cientificismo que, segundo ele, era a única coisa que poderia salvar a Terra e a sociedade, tanto de uma hecatombe nuclear como num retorno à Idade Média e de suas fogueiras. Desta forma, Sagan fazia da ciência um plataforma de pregação de suas crenças céticas e se voltava contra qualquer coisa que não se
adequasse à visão corrente resultante de interpretações das teorias científicas, algo que é estranho à atividade científica em si. Não é papel da Ciência fazer pregações sobre como a sociedade deva se comportar. A Ciência deve ser sempre neutra em sua visão do mundo porque, da humildade resultante de quão pouco sabemos, apesar de termos progredido tanto em conhecimento, vem a conclusão que inexiste limites para o que podemos aprender com o Cosmos. Encontra-se assim uma contradição no pensamento de Sagan: enquanto afirmava categoricamente que o Universo era infinito em muitas possibilidades, ele negava veementemente a possibilidade de muitos outros fatos que ele considerava crenças pseudocientíficas. Para Sagan, o Cosmos era tudo o que existe e era ilimitado, mas não tanto assim a ponto de validar determinadas crenças que entravam em conflito com as suas próprias. Isso fica bem claro na sua visão sobre a Astrologia: dizia que 'os jornais do mundo trazem todas as semanas horóscopos, mas dificilmente notícias sobre o Universo' (isso era uma verdade na década de 1980, mas hoje, com a internet, jornais dedicam muitas reportagens à pesquisa científica). Pretendia que as pessoas comuns, que não escolhem carreiras científicas em suas vidas, tivessem pela Ciência o mesmo interesse que tem por Astrologia. Acontece que essa é uma expectativa ingênua: a Ciência nada tem a dizer sobre o sentimento ou temores das pessoas, enquanto que as colunas astrológicas aparentemente tem (mesmo que sejam na forma de frases auto evidentes). A Ciência jamais será tão popular quanto novelas ou histórias românticas, porque o ser humano tem sentimentos, expectativas, temores e esperanças para as quais a Ciência principalmente aquela de C. Sagan - jamais conseguirá dar respostas atraentes. Em algum ponto de sua pregação cética nasceu o slogan sobre as 'afirmações extraordinárias e das evidências extraordinárias' (Ver nota (1)). Embora pareça uma frase lógica, tão lógica quanto: 'pessoas felizes tem vidas felizes' ou 'planetas rochosos tem densidades elevadas' (para usar um exemplo mais ao gosto de C. Sagan), trata-se de uma falácia lógica (non sequitur) que não tem base alguma na história da ciência. Basta que analisemos alguns exemplos para vermos sua falsidade, o que nos esclarece um pouco também sobre como se dá o processo das descobertas científicas. Primeiro há o problema com a definição de 'evidência extraordinária'. O que é uma 'evidência extraordinária'? Uma pessoa comum, tropeçando com uma pedra no chão, dificilmente reconhecerá nela qualquer sinal de um fóssil antigo, fato que um bom paleontólogo será capaz de fazer. Ou seja, uma 'evidência extraordinária' só é realmente em relação a um 'referencial de conhecimento'. Não há evidências extraordinárias de qualquer tipo para quem não acredita em nada ou não sabe nada. No âmbito da Ciência, uma evidência desse tipo só é verdadeiramente 'extraordinária' desde um ponto de vista muito especial e privilegiado, o ponto de vista de uma teoria particular. Na ausência desta, inexiste evidência alguma - ainda que a Natureza nos bombardeie diariamente com vários fenômenos.
Um exemplo interessante (embora distante de nossa realidade diária) foi a 'descoberta' das partículas elementares chamadas neutrinos. Elas foram 'postuladas', ou seja, imaginadas como existentes para explicar certas anomalias em processos de desintegração radioativa, em particular o decaimento beta. Entretanto, nenhuma 'evidência extraordinária' foi encontrada na condições exigidas por muitos crentes céticos, pois os neutrinos não interagem com absolutamente nada, assim não podem ser detectados diretamente. A menos que tenhamos muitos bilhões de dólares para construir um detector de neutrinos (que consegue isso por métodos indiretos e de forma estatística), jamais teremos qualquer evidência de sua existência.
Pelo menos em física de altas energias, 'evidências extraordinárias exigem orçamentos extraordinários'. A foto mostra um detector de neutrinos (interior do LSND ou detector de neutrinos por cintilação líquida em Los Alamos, USA).
O mais certo é dizer que, no estágio atual de desenvolvimento das Ciências da matéria,'evidências extraordinárias exigem orçamentos extraordinários', tal é a quantidade de dinheiro necessária para que determinadas 'afirmações extraordinárias' tenham qualquer chance de serem consideradas. Céticos dogmáticos não se dão conta disso e pretendem generalizar a regra para todos os fenômenos da Natureza. E, mais importante ainda, não podemos deixar de reconhecer o papel fundamental das teorias que devem ser aceitas e trabalhadas. Sem elas é impossível desenhar ou projetar qualquer equipamento para tornar visíveis determinadas evidências. Assim, a Ciência verdadeira está longe de ser uma atividade imparcial, pelo menos no que diz respeito à crença que se deve depositar na validade de certas conjecturas a respeito do Cosmos. Portanto, a frase de Sagan é retórica elegante mas sem fundamento. As contradições com diversas descobertas científicas são tão grandes que deixamos ao leitor a tarefa de encontrar outros exemplos na história da ciência. Mesmo com essas constatações, não podemos deixar de admirar o brilhantismo e o
esclarecimento que Carl Sagan prestou em seu papel de divulgador e como astrônomo. A maioria dos que pretendem seguir seus passos hoje, o fazem exagerando ainda mais no ceticismo e são quase todos desprovidos de sua elegante retórica. Sem a reverência que Sagan tinha pelo imensidade do Cosmos, pretendem ditar normas sobre o que é 'científico' ou não na visão deles, e seu argumento é usado para refutar o que céticos chamam de 'claims' de muitos fenômenos, que devem ser 'provados rigorosamente', o que inclui: exigências de farta repetibilidade (como se na Natureza não houvessem fenômenos estocásticos e raros), 'objetividade' e outros quesitos. Notas (1) Segundo o site 'The Anomalist', a frase teria sido criada por Marcelo Truzzi (1935-2003). Junto com P. Kurtz, Truzzi fundou o "Committee for the Scientific Investigation of Claims of the Paranormal" (CSICOP), tendo se arrependido disso posteriormente: "I might note here that it was Marcello, not Carl Sagan, who coined the oftenmisattributed maxim "Extraordinary claims demand extraordinary evidence." In recent years Marcello had come to conclude that the phrase was a non sequitur, meaningless and question-begging, and he intended to write a debunking of his own words. Sad to say, he never got around to it."
Crenças Céticas XIII: 'O Porvir e o Nada'.
Wellington Menezes de Oliveira, o assassino do Realengo, explica porque cometeria o seu crime. Todos somos livres na escolha das nossas crenças; podemos crer em alguma coisa ou em nada crer, mas aqueles que procuram fazer prevalecer no espírito das massas, da juventude principalmente, a negação do futuro, apoiando-se na autoridade do seu saber e no ascendente da sua posição, semeiam na sociedade germens de perturbação e dissolução, incorrendo em grande responsabilidade. (A. Kardec em 'O Céu e o Inferno')
Nossa época apresenta-se como o apogeu da cultura científica e da pobreza filosófica, fruto de doutrinas negativas e niilistas adotadas de forma conveniente após a separação entre o Estado e a Religião estabelecida, que se provou ser remédio mais fulminante do que a própria doença. Por isso, alguns indivíduos, portadores de deficiências ainda mais profundas na compreensão que deve existir entre seres que se reconhecem iguais, tornam-se casos alarmantes a demonstrar conduta de visível decadência em todos os sentidos. Por que isso aconteçe? Um pouco de reflexão, desde que pautada na visão espírita mais dilatada da razão e da existência dos seres, nos mostra facilmente o motivo. Em primeiro lugar, é importante enunciar verdades à guiza de princípios: nossa sociedade vive fase de pesadas angústias sociais, fruto do desabamento de suas estruturas éticas e morais. Isso acontece porque, em uma sociedade onde não existe esperança no porvir, na vida futura, não poderá haver nenhuma tipo esperança. De uma lado temos a Religião estabelecida que se tornou motivo de riso e deboche, uma vez que as práticas não correspondem aos princípios pregados. De outro, a intelectualidade que se incumbe hoje de decisões dos Governos e organizações civis, perdida em interpretações apressadas da Ciência, se satisfaz com crenças céticas e pessimistas diante das quais a ética torna-se apenas uma questão de opinião pessoal. Diante desse quadro, para determinadas mentes enfermiças que, ao nascerem, se reconhecem diante de um mundo cuja razão é desconhecida, o convívio harmonioso se torna uma necessidade. Se o mundo não tem sentido, então ao menos viveremos com algum sentido sendo aceitos e compreendidos por nossos semelhantes. Mas o que fazem nossos semelhantes? Vivem conforme a imensa maioria, perdidos nesta mesma sociedade cujas crenças exclusivistas determinam gozar ao máximo a existência presente que, afinal, tem como fim último o vazio eterno. Nada nos espanta ver então o surgimento de grupos que sistematicamente desprezam, caluniam e atacam outros considerados diferentes ou inferiores. E nada, governo, sociedade ou pessoa alguma poderá detê-los, afinal, como não existe vida futura, inexiste justiça. É em vão que se invoca a justiça dos Governos, muito tempo depois que a oportunidade de uma educação baseada na verdadeira esperança foi perdida. Em vão tentarão reformular leis, convencer ou mudar uma sociedade que não vê sentido em nada além. Qual será a diferença entre matar uma mosca e matar seu semelhante? Tal é a questão que se coloca para quem aprendeu a relativizar seus sentimentos em um mundo sem direção. Mais de um século nos separam hoje desde que Allan Kardec escreveu as palavras abaixo (Em 'O Céu e o Inferno') que se aplicam perfeitamente aos dias que vivemos: Suponhamos que, por uma circunstância qualquer, todo um povo adquire a certeza de que em oito dias, num mês, ou num ano será aniquilado; que nem um só indivíduo lhe sobreviverá, como de sua existência não sobreviverá nem um só traço: Que fará esse povo condenado, aguardando o extermínio?
Trabalhará pela causa do seu progresso, da sua instrução? Entregar-se-á ao trabalho para viver? Respeitará os direitos, os bens, a vida do seu semelhante? Submeter-se-á a qualquer lei ou autoridade por mais legitima que seja, mesmo a paterna? Haverá para ele, nessa emergência, qualquer dever? Certo que não. Pois bem! O que se não dá coletivamente, a doutrina do niilismo realiza todos os dias isoladamente, individualmente. E se as conseqüências não são desastrosas tanto quanto poderiam ser, é, em primeiro lugar, porque na maioria dos incrédulos há mais jactância que verdadeira incredulidade, mais dúvida que convicção – possuindo eles mais medo do nada do que pretendem aparentar – o qualificativo de espíritos fortes lisonjeia-lhes a vaidade e o amor-próprio; em segundo lugar, porque os incrédulos absolutos se contam por ínfima minoria, e sentem a seu pesar os ascendentes da opinião contrária, mantidos por uma força material. Torne-se, não obstante, absoluta a incredulidade da maioria, e a sociedade entrará em dissolução. Eis ao que tende a propagação da doutrina niilista.(Grifos nossos) Kardec explica aqui porque nem todos se dissolvem na falta de ética resultante da crença niilista: não é porque esta explicação seja inapropriada, mas porque a dúvida e a falta de convicção norteia a imensa maioria que, por medo, faz de forma automática o que se aprendeu por imitação a fazer. Seguem hebetados a costumes e modismos, sem nenhum compromisso com o futuro. Kardec previu, entretanto, que haveria um aumento do relaxamento moral, na medida que o niilismo ganhasse força na sociedade. É por isso que hoje vemos, todos os dias, notícias de crimes escabrosos que ocorrem aqui e ali, quando então o medo e a dúvida são substituídos pela violência que sacrifica sem piedade suas vítimas. Também Leon Denis em 'O problema do Ser, do Destino e da Dor' adverte: Em toda parte a crise existe, inquietante. Sob a superfície brilhante de uma civilização apurada esconde-se um mal-estar profundo. A irritação cresce nas classes sociais. O conflito dos interesses e a luta pela vida tornam-se, dia a dia, mais ásperos. O sentimento do dever se tem enfraquecido na consciência popular, a tal ponto que muitos homens já não sabem onde está o dever. A lei do número, isto é, da força cega, domina mais do que nunca. Pérfidos retóricos dedicam-se a desencadear as paixões, os maus instintos da multidão, a propagar teorias nocivas, às vezes criminosas. Depois, quando a maré sobe e sopra o vento de tempestade, eles afastam de si toda a responsabilidade. (...) A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral. Toda a sociedade permanecerá débil, impotente e dividida durante todo o tempo em que a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja e o ódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio de leis. As leis e as instituições nada são sem os costumes, sem as crenças elevadas. Quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e fortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que outro povo de moralidade inferior. Em vão alguns pigmeus morais afirmarão que o niilismo de nossa sociedade nada tem a ver com os problemas de polícia. Outros tratarão de culpar o Estado pela falta de segurança e pelo mal estar geral devido a crise econômica. Ainda outros, religiosos dogmáticos apresentarão as portas do inferno eterno aqueles que não se enquadram em suas doutrinas repletas de idéias preconcebidas e interpretações errôneas.
O problema que temos que enfrentar é muito mais profundo e exige tratamento das causas e não ação de paliativos. A certeza na Imortalidade e a noção de uma Justiça Natural preexistente a tudo deverá ser a base para uma nova educação, baseada na aceitação, compreensão e múta estima - calcada em exemplos e não em mera retórica - que deverá ser ministrada a nossos filhos e descendentes a fim de que possamos viver realmente em paz.
Entrevista I-2/2 - Yvonne Limoges da Sociedade Espírita da Flórida (EU)
NUNCA ESTÁS SOZINHO Quando tu sofres... nunca estás a sós... ...Aqueles, no mundo espiritual, teus verdadeiros amigos e parentes desta e de outras vidas Que te amam, estão contigo, cientes de tuas dificuldades, Eles choram quanto tu choras, sofrem quando tu sofres. Mas eles te ajudam tanto quanto podem. ...Sustenta-te com prece, sincera e fervorosa, ao teu Espírito protetor e ao Todo Poderoso. Tuas preces derramarão sobre ti, das Alturas, as energias espirituais que tanto precisas. Elas agirão sobre ti como o bálsamo benéfico Que te improvisará a calma interior a tua alma combalida... Elas te sustentarão em tempos de crise e necessidade, afastando-te do desespero... Os teus espíritos protetores tem grande compaixão por ti... Eles te assistem com o que precisas para eliminar as angústias do coração oprimido e te fornecem a boa inspiração, desde que saibas ouvir tua voz interior ou intuição. Eles sim sabem... que se tu também souberes te sustentar por tais horas de escuridão, tanto melhor será para teu Espírito no progresso de tua presente existência. Assim, sejas forte, ores, e tenhas fé! Tradução nossa de uma comunicação recebida por Y. Limoges (boletim de Fevereiro de 2011 da Sociedade Espírita da Flórida). Parte final da entrevista feita com Yvonne Limoges da Spiritist Society of Florida.
EE 6 - Como os lídereas da NSAC pensam sobre isso? (referência à questão anterior). YL - Nos EUA, Espiritualismo e Espiritismo são sistemas de crenças distintos com práticas diferentes. Espiritualistas estão majoritariamente preocupados em espalhar sua religião e não creio que se sintam ameaçados pelos espíritas. Não obstante, o conceito de reencarnação tornou-se tão difundido aqui que eventualmente eles irão aceitá-lo. Muitos espiritualistas já acreditam nisso e, como disse, estão se mexendo para mudar a situação do ponto de vista dos princípios. À medida que os mais velhos se vão, a balança irá pesar cada vez mais favoravelmente. Seus médiuns hoje estão recebendo comunicações que envolvem descrições de vidas passadas, o que está criando um conflito, pois eles são ensinados apenas a transmitir a mensagem sem interferência. Se a reencarnação não é um principio, como os médiuns devem agir? Tal é o dilema que eles tem que enfrentar. EE 7 - Você acredita que Espiritualistas nos Estados Unidos estão mais conscientes do Espiritismo ou eles ainda veem o movimento espírita como essencialmente integrado a grupos Latino Americanos? Como você vê o aumento crescente do interesse de espiritualistas americanos por reencarnação? YL - Alguns dos líderes das maiores organizações espiritualistas nos Estados Unidos, a Associação das Igrejas Nacionais Espiritualistas (NSAC) tem consciência dos princípios básicos do Espiritismo. Nos últimos anos, eles publicaram vários artigos de nossos boletins espíritas, incluindo sobre reencarnação na publicação oficial 'The Summit' que é enviada a todas as igrejas e membros. Entretanto, apenas citam o autor e fornecem detalhes tais como se foi uma comunicação, não divulgam que esses artigos são de nossos boletins ou de nosso centro. Penso que tenho um bom relacionamento com esses líderes e seus editores, acho que o fato de ser Americana ajudou bastante nisso. Como espírita, fico contente que possa influenciá-los no que diz respeito aos princípios básicos e filosóficos de nossa doutrina. Isso é a coisa mais importante do meu ponto de vista. Já me encontrei pessoalmente com o presidente dessa associação e tenho mantido correspondência com o vice-presidente nos últimos 10 anos. Infelizmente, a mim parece que eles consideram todos os espíritas como estrangeiros e brasileiros. Seus membros não fazem ideia de que existem milhares de espíritas em outros lugares do mundo e em muitos países que falam espanhol. Também reporto que tem havido contato entre espiritualistas e espíritas por meio de Divaldo Pereira Franco em seminários que ocorreram em Lily Dale. Acredito que alguns espiritualistas visitaram centros espíritas.
Considerando tudo isso, ainda afirmo que a maioria dos membros atuais dessas igrejas espiritualistas não sabem que o Espiritismo existe. Também, tenha em mente que as práticas espiritualistas são muito diferentes (das espíritas). Eles mantem organização clerical, testam e certificam seus médiuns (de cura inclusive), dão comunicações espirituais de parentes falecidos publicamente no púlpito de suas igrejas durante os serviços e cantam hinos. Recentemente, perceberam que existe necessidade de se enfatizar mais a filosofia, já que tantas pessoas se mostram crentes da existência dos Espíritos e da vida após a morte. Durante muitos anos, artigos sobre reencarnação eram absolutamente proibidos. Agora isso mudou, e cada vez mais membros acreditam em reencarnação. Eles ainda não a aceitaram como um princípio, mas alguns deles estão realmente lutando para que isso ocorra oficialmente. Tiveram sua conferência anual mais recente no ano passado na Flórida, ocasião em que participei. Encontrei-me com o comitê 'pro-reencarnacionista' para explicar sobre o 'Espiritismo' do que nada sabiam, além de nossos princípios. Além disso, há um debate bastante forte ao redor do mundo na internet sobre reencarnação e sua conceituação entre espiritualistas de língua inglesa e outros que acreditam principalmente no que os espíritas postulam concernente aos fenômenos espíritas e à mediunidade. Uma coisa que se há que ter em mente é que o que uma pessoa média nos EUA entende por 'reencarnação' se mostra muito diferente do que Espiritismo diz. Há opiniões variadas sobre como e porque a reencarnação ocorre, se ela somente se aplica a certas pessoas ou a todos. Eles não tem o conhecimento profundo que o Espiritismo nos dá com relação aos objetivos, detalhes ou o processo completo da reencarnação. Falando nisso, há nos EUA e outros países pessoas que se auto denominam 'espiritualistas' mas que não tem igrejas e se reúnem em grupos ou centros como os espíritas. Nem tampouco são eles muito religiosos. Em uma conferência espiritualista que participei e dei palestra, encontrei muitos espiritualistas nessa posição que acreditam e praticam coisas variadas. Muitos deles são bastante seculares. O ensino da filosofia não é para eles uma prioridade. A maioria dos espiritualistas focam no fornecimento de provas da vida após a morte. Fazem isso por intermédio de mensagens recebidas por médiuns que contem evidência verídica de parentes que partiram para o mundo espiritual. Vi e testemunhei tais casos pessoalmente, através de vários médiuns e sensitivos. Também tem a prática de cura por meio de passes. Não há ênfase em transes mediúnicos. Se isso vem a ocorrer, o fazem de forma privada. No que diz respeito a obsessão, há muitos hoje em dia praticando o que chamamos de 'spirit release' de forma semelhante a praticada pelos espíritas. Alguns indivíduos e grupos (aqui e na Inglaterra) se especializaram no assunto e estão integrados a profissões médicas ou psicológicas.
Além disso, a maioria do povo dos EUA não sabe nada de Espiritismo e, quando isso ocorre, o sabem mais através de brasileiros que eles conheçam pessoalmente. Alguns podem participar de conferências ou simpósios locais, mas tais eventos são esporádicos e mais freqüentados por espíritas. Um fato que tem chamado a atenção para o Brasil e para o Espiritismo foi se considerar espírita por aqui o médium João de Deus (João de Abadiânia). Houve muitas notícias sobre ele durante vários anos aqui, tendo ele sido tema no programa da Oprah que é bastante influente por aqui. Emma Bragdon, PhD, publicou bastante coisa sobre sua obra e o que ela chama de centros espíritas de cura. Isso inspirou a muitos a viajarem ao Brasil para assistir suas curas. Lá podem talvez conhecer mais sobre o Espiritismo e freqüentar outros centros. EE 8 - O que se pode fazer para mudar essa situação? YL - Primeiro é preciso saber que o Espiritualismo e suas igrejas oficiais não constituem religião majoritária aqui nos EUA. Há poucos centros espíritas também. Mesmo assim, acho que o contato com os espíritas ajuda bastante, mas , no que diz respeito a certas práticas espiritualistas como a de se ter organização clerical - isso vai demorar bastante para mudar. Os espíritas estão se tornando mais organizados nos EUA, são eles na sua maioria formado por centros ou grupos de brasileiros com alguns centros e grupos hispânicos. Há também alguns conselhos espíritas estaduais afiliados ao Conselho Espírita dos Estados Unidos (USSC) que, por sua vez, é afiliado ao Conselho Espírita Internacional (CEI). Publicam uma revista espírita nos EUA. Muitos profissionais americanos bem conhecidos (que escrevem livros ou se envolvem em pesquisas sobre o pós-vida, mediunidade e reencarnação) participaram de conferências e simpósios mantidos por tais organizações. Conferencias médicoespíritas anuais tem ocorrido anualmente também. Se isso continuar a crescer, então mais pessoas irão se aproximar do Espiritismo. Também gostaria de registrar que aqui nos EU são inúmeras as igrejas 'metafísicas' e grupos espiritualistas do gênero que acreditam em combinações de crenças relacionadas a capacidades psíquicas, mediunidade, espíritos e além-túmulo. Muitos tem médiuns legítimos e conduzem sessões. Muitas dessas pessoas acreditam em misturas de crenças espirituais e de vários outras religiões - incluindo crenças orientais e de índios americanos.
EE 9 - Você acha que eles terão 'vergonha' no futuro em não ter reconhecido esse importante princípio, o da reencarnação, desde o início? YL - Não acho que pensarão desse jeito. Tudo ocorrerá como se eles finalmente aceitassem por si tal conceito. Os espiritualistas nada sabem sobre o Espiritismo e sua história. Deixo claro que muitos querem provas substanciais e não apenas comunicações ou evidências de regressão a vidas passadas. Apenas o trabalho do Dr. Ian Stenson parece impressioná-los por enquanto, e muitos permanecem ainda céticos, mesmo com relação a tais trabalhos. E, ainda que aceitem completamente a reencarnação, nada irão compreender de como ela funciona. Haverão inúmeros debates sobre isso, penso eu, nos anos que virão. EE 10 - No futuro, você disse que gostaria de traduzir livros espíritas para o inglês. Que tipos de livros? YL - Gostaria de traduzir livros que estão em espanhol. Frequentemente traduzo artigos espíritas breves tanto em espanhol como em português para o nosso boletim. EE 11 - Você gostaria de dar uma mensagem especial aos espíritas do Brasil? YL - Primeiro, espero que minhas respostas possam esclarecer vocês sobre a situação em meu país. Anteriormente, nos EUA, haviam centros espíritas hispânicos que apareceram aqui com a imigração nos anos de 1930 e 1940 em cidades grandes como Miami, Chicago e Nova Iorque. Tanto quanto sei, meu pai foi o único que, ao se mudar, acabou fundando um novo centro espírita. À medida que as gerações se sucederam, somente poucos desses centros originais sobreviveram até hoje de uma forma ou de outra. Minha esperança é que brasileiros que tenham aberto centros espíritas nos EUA nos últimos anos (a mim parece que a maioria é de gente jovem comparada a mim, já na idade de 55) inspirem e passem a seus filhos a importância de assumirem posições de liderança na responsabilidade de dirigirem tais centros. Quando seus filhos se tornarem mais 'americanizados' e se casarem com pessoas daqui, proveniente de outras culturas ou de uma variedade de etnias e bases religiosas distintas, isso será um problema. Por si só isso será um desafio; além disso, muitos irão se mudar para lugares distantes do centro espírita de origem. Será que eles irão abrir seus próprios centros, caso não encontrem um no novo local? Somente o futuro irá dizer o que vai acontecer. Temos nos esforçado para que isso aconteça aqui em nosso centro, preparando alguns para tarefas de liderança.
Gostaria de dizer que é maravilhoso saber que tantos brasileiros conheçam a língua inglesa e outros idiomas, e que muitos, vivendo em vários cantos do mundo, tenham sentido a necessidade de divulgar os princípios da Doutrina Espírita aos nativos dos países para onde se mudaram. Conheço bem o livro 'Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho'. Para finalizar, gostaria de dizer obrigado! Continuem com o seu trabalho espiritual maravilhoso, e que Deus os abençoe a todos! Agradeço muito a oportunidade de partilhar com vocês essas informações e o meu ponto de vista. FIM
Entrevista I-1/2 - Yvonne Limoges da Sociedade Espírita da Flórida (EU)
"Uma pessoa pode compreender os princípios do Espiritismo ou mesmo acreditar neles completamente. Entretanto, buscar ser fiel a tais princípios e os colocar em prática é coisa para uma pequena minoria. É necessário ter um certo nível moral para pertencer a essa minoria." (Y. Limoges) Neste post, apresentamos uma entrevista que fizemos em Fevereiro de 2011 com Yvonne Limoges diretora da Sociedade Espírita da Flórida desde 1982. A Yvonne é uma companheira de ideal espírita que já conhecemos faz certo tempo (desde 1997 com o GEAE) e que realiza um trabalho de impacto junto à comunidade espírita nos Estados Unidos. Ela edita um boletim em inglês e é bastante conhecida nos meios espiritualistas americanos. De seu boletim mensagens foram publicadas em vários outros órgãos tais como: a revista da Federação Espiritualista Nacional, a Associação Nacional de Igrejas Espiritualistas, e a Aliança Nacional Espiritualista. Também participa da Academia de Espiritualidade e Estudos Paranormais onde escreve 'book reviews'. Seu boletim é bastante conhecido entre espíritas por todos os EUA que enviam a ela notícia sobre atividades de seus centros por lá. Recentemente (2009) ela conseguiu publicar um artigo sobre reencarnação na principal revista da NSAC (Aliança Nacional de Igrejas Espiritualistas), contrariando a tradição do movimento espiritualista que ainda não aceita esse importante postulado da Vida Maior.
Dentre as várias realizações em prol do movimento espírita realizadas pelo grupo da Yvonne está a tradução para o inglês do livro histórico 'Memórias do Padre Germano' de Miguel Vives em 2006. Esta obra foi traduzida por Edgar Crespo. Ela é membra de várias academias como o Instituto Windbridge (que estuda mediunidade), a Federação Espiritualista Nacional (com participação majoritária de espiritualistas da Grã-Bretanha, Europa, Austrália, Islândia, Suécia e Nova Zelândia, além de espíritas das Filipinas). Yvonne expôs suas idéias em um encontro dessa federação em Rochester, NY. Nesta oportunidade, aproveitamos também para questioná-la sobre uma visita recente que fez à Espanha (para um congresso espírita em Terremolinos pela CEPA), quando teve a chance de entrar em contato com o movimento espírita daquele país onde ela também tem raízes familiares. Uma outra entevista com a Yvonne pode ser lida (em inglês) no site da ASPSI. A entrevista que segue será apresentada em 2 partes. EE 1 - Que lembranças você tem sobre práticas espíritas na sua família? YL - Desde pequena, lembro-me de ir ao centro espírita de meu pai em Nova Iorque várias vezes. Fazíamos isso quando íamos para a cidade de Nova Iorque nas férias de verão porque, então, já morávamos na Flórida. Embora tenha nascido na cidade de Nova Iorque, mudei-me para St. Petersburg quando tinha 6 anos de idade. Não havia centros espíritas lá. A maioria dos centros é em Miami que fica 6 horas de distância. Meu pai e seus parentes iam a este centro (estabelecido em 1933 e que durou até 1980) em Nova Iorque. Minha avó era médium. Meu pai participou de aulas sobre mediunidade quando mais velho e ainda vivia em Nova Iorque. Então ele já era casado e isso foi 5 anos antes de eu nascer. Na Flórida, meu pai nos ensinou muito sobre o amor a Deus, sobre os Espíritos, sobre ser uma boa pessoa e, à medida que crescíamos e compreendíamos mais, sobre a Doutrina Espírita. Pertenço a uma família na 4ª geração de americanos com origem na Espanha, Itália e França e já 5ª geração espírita do lado paterno. Minha mãe veio das Ilhas Canárias para os Estados Unidos via Cuba. Do lado paterno vieram de Porto Rico onde os homens eram proprietários de terra e trabalhavam junto a prefeituras e as mulheres professoras. Meus pais falavam inglês em casa quando éramos criança e, as vezes, espanhol com seus parentes. Meu irmão e irmã só conhecem inglês. Entretanto, tive aulas de espanhol por 5 anos e também francês por 1 ano na escola. Os livros de Kardec que meu pai usava eram todos em espanhol na época, exceto pelo ‘Livro dos Espíritos’ de Anna Blackwell. Li e estudei todos eles (em espanhol e inglês). Eu e meu pai eram os que mais conversavam sobre a doutrina em casa. Ele desencarnou em maio de 2008. Na Flórida, porquanto não existisse nenhum centro espírita perto, mantínhamos reuniões domésticas regulares quando meu pai recebia comunicações em transe mediúnico. Ele via Espíritos e tinha visões. Dava passes sob assistência de uma entidade chamada ‘Lula’, que também já se manifestara no centro que minha família participava quando eu era criança. Meu pai mantinha contato com a diretoria do centro de Nova Iorque.
Com o tempo, frequentei vários centros em Miami, na Flórida, com meus pais, mesmo de sessões mediúnicas. Entretanto, íamos lá mais para comprar livros espíritas que eram bastante raros onde morávamos. Mantínhamos uma pequena biblioteca desses livros. Naturalmente, com os anos, participei de vários centros espíritas (além de grupos espiritualistas, de parapsicologia e estudos paranormais), conferências e congressos onde tive a oportunidade de proferir palestras. EE 2 - Como foi o seu primeiro contato com as realidades imortais (como médium)? YL - Lembro-me que sempre senti a presença de Espíritos desde a idade de 4 anos (mas não tinha noção do que se tratava então). Eu os sentia e ouvia barulhos, tal como passos e vozes de Espíritos. Era bem intuitiva e sabia das coisas antes que elas ocorressem. Tinha sonhos ‘proféticos’ e experiências fora do corpo. Mais tarde, comecei a receber o que chamei de ‘composições inspiradas’, logo no início da minha adolescência, o que continuou mais tarde até comunicações espíritas completas. As palavras eram ditadas a mim à medida que escrevia. Depois houve uma mudança na maneira que recebia os escritos. Recebia um impulso, começava a escrever e as palavras estavam lá. Nunca sei o que estou escrevendo quando psicografo, o que vem a ocorrer apenas após finalizar a mensagem. No começo da fase de maior produção mediúnica, meu pai me disse que eu tinha um Espírito protetor chamado ‘El Anciano’. Seus escritos eram de conteúdo mais moral e espiritual. Ele se parecia com um ‘ancião’, com uma barba. Soube que também tinha um grupo de outros Espíritos que me ajudavam nas composições. Quando El Anciano se comunica, é sempre sobre questões de natureza séria. Sei que ele assiste ao meu trabalho e sou muito grata a ele. Procuro me esforçar para merecer sua assistência contínua. Além disso, escrevi dois livrinhos em tempos distintos pelo que chamo de ‘escrita semi-automática’. Para tanto, disseram-me que deveria usar uma caneta (sempre digito minhas mensagens) e, durante esses dois episódios, meu braço direito foi puxado e senti como se ele tivesse sido colocado no fogo, mas sem queimar. Senti fluidos fortes de magnetização. Escrevi então muito rapidamente, sem saber o que estava escrevendo e terminei os dois livros em uma única sessão. São eles: ‘A jornada espiritual da alma’ e ‘Princípios Espíritas para Crianças’ e podem ser acessados no site de nossa sociedade. Finalmente, minha faculdade se desenvolveu até o transe mediúnico completo e trabalho como médium na prática espírita já há 35 anos. Administro aulas de iniciação mediúnica no nosso centro. EE 3 – Quais foram suas impressões sobre o movimento espírita na Espanha? YL - Embora tenha participado de apenas uma conferência na Espanha, recebo freqüentemente muita literatura de vários grupos e centros daquele país (assim como do Brasil) já há muitos anos. Acredito que o Espiritismo na Espanha esteja se desenvolvendo e crescendo bastante.
Há duas orientações de pensamento (como sempre encontro em muitos países onde existem muitos espíritas, incluindo nos Estados Unidos). Alguns grupos são mais religiosos ou orientados de forma cristã, enfatizando aspectos evangélicos da Doutrina Espírita. Outros grupos (embora aceitando absolutamente a existência de Deus) enfatizam aspectos mais ‘científicos’ do Espiritismo e, suas práticas são na direção de educar os outros moralmente e nos princípios da doutrina de um ponto de vista mais universal. Fico bastante desapontada em ver que não existe incentivos à tradução livros espíritas em espanhol para o inglês. Para a Espanha e muitos países Latinoamericanos isso não parece ser prioritário, mas muitos espíritas nesses países não conhecem o inglês, pelo que não poderiam ajudar mesmo. Espíritas de Porto Rico provavelmente poderiam ajudar, pois são bilíngues, mas não manifestaram interesse ainda. Felizmente, os brasileiros tem se esforçado ativamente na tradução de livros espíritas para o inglês.
Capa do Livro 'Memórias do Padre Germano' de A. D. Soler recentemente traduzido para o inglês por Edgar Crespo. Fico contente ao menos em saber que conseguimos disponibilizar, para pessoas que conhecem o inglês, traduções feitas por meu pai de dois clássicos da literatura espanhola: ‘Memórias de Padre Germano’ (Memoirs of Father German) de Amália Domingo Soler e ‘Guia Prático para o Espírita’ (A Practical Guide for the Spiritist: handbook on personal conduct) de Miguel Vives. EE 4 - Como você encara a recente onda de interesse crescente por ideias e princípios espiritualistas em filmes tal como ‘Hereafter’ de C. Eastwood e outras séries televisivas? YL - Desde pequena (meados da década de 1950), lembro-me de shows televisivos sobre ‘fantasmas’ como eram chamados na época. Uma dessas séries chamava-se ‘Topper’ e era sobre um milionário que podia ‘ver e se comunicar’ com um casal rico que havia morrido em um acidente de carro. Esse programa foi muito popular.
Outras shows e filmes vieram com as mesmas ideias. Religiões orientais tornaramse então populares na década de 1960 e 1970. Mais tarde, livros sobre experiências fora do corpo e ‘canalizações’ – como eram chamadas - tornaram-se populares. A partir de 1980 e em diante aconteceu o que considero a grande virada com o filme ‘Ghost’ (que ilustrava basicamente a interação entre o mundo espiritual com o mundo material na função básica da mediunidade). Foram os meios de comunicação, por meio da televisão, livros, e mesmo vídeo games, que tem influenciado o público Norte Americano na direção do conhecimento básico dos fenômenos espíritas, aproximando-os, a cada ano que passa, dos princípios da Doutrina Espírita. Tais meios tem divulgado ideias como: a existência da alma no mundo espiritual, a realidade e a diferença entre mediunidade e habilidades ‘psíquicas’, a idéia de que a maneira como vivemos nossa vida material determinará nossa condição no futuro, a realidade da influência dos Espíritos em nós no mundo material, a idéia da obsessão espiritual e como se deve tratar o problema e, agora ainda mais, a crença na reencarnação.
Uma pesquisa em 2009 conduzida pelo Centro de Pesquisas Pew determinou que 24% do público geral e 22% dos cristãos acreditam em reencarnação nos Estados Unidos. Tal pesquisa foi bastante divulgada pela mídia nacional, o que acho muito relevante pois mostra a muitos reencarnacionistas que eles não estão sozinhos. Deixe-me ser clara aqui, estou falando mais sobre aceitação do público em geral de princípios naturais e autênticos da Doutrina Espírita no que diz respeito ao básico dos fenômenos. Aspectos filosóficos ou mais específicos da Doutrina Espírita (como o de que devemos ser uma boa pessoa ou sofrer alguma consequência adversa seja aqui ou no mundo espiritual) são aceitos conforme são compreendidos pelo público. EE 5 – Na sua opinião, quais são os maiores obstáculos para as crenças espíritas nos Estados Unidos? YL - Para a maioria dos americanos, é fácil dizer que são membros de alguma religião tradicional e, se questionados, podem ao mesmo tempo dizer que acreditam em algo que o Espiritismo ensine, mas somente o básico. Um parcela grande da população está envelhecendo, os chamados ‘Baby boomers’. Desesperadamente eles estão agora a procura de maneiras de prolongarem suas vidas, de 'rejuvenescerem' e querem também saber o que vai ser deles depois da morte do corpo. Estão em busca de um objetivo ou sentido à vida. Os tempos estão difíceis hoje nos Estados Unidos, com muito desemprego e gastos excessivos. Tais dificuldades obrigam as pessoas a buscar algo que as console. Sentem uma necessidade, o que chamaria de necessidade de alimento para a alma.
Tal situação torna mais fácil falar a tais pessoas sobre o Espiritismo. Não obstante isso, é necessário ter maturidade espiritual para aceitar a contraparte moral e filosófica da Doutrina Espírita. Pode ser muito difícil compreender e aceitar essa parte. Aprendi nos últimos 35 anos que a maioria mais nova, que frequenta centros espíritas e aprende quão importante é a responsabilidade pessoal, acaba se assustando com esses aspectos. Eles ou não podem ou não querem aceitar essa parte, por não desejarem mudar seu comportamento pessoal. Uma pessoa pode compreender os princípios do Espiritismo ou mesmo acreditar neles completamente. Entretanto, buscar ser fiel a tais princípios e os colocar em prática é coisa para uma pequena minoria. É necessário ter um certo nível moral para pertencer a essa minoria. No próximo e último post da entrevista: Yvonne Limoges fala sobre o Movimento Espiritualista Americano, a crescente aceitação da reencarnação e de como seus líderes estão lidando com isso. Ela também dá uma mensagem especial aos espíritas brasileiros.
Cartas Psicografadas (3/3) - Pragmática e intenção em psicografias de Chico Xavier.
Esta
é
a
3a.
e
última
parte
da
sequência
de
posts
deste
assunto.
Vá para a 1a. Parte. Vá para a 2a. Parte. Esta é a 3.a Parte. Uma vez que se assuma um modelo de comunicação simples, qualquer análise preliminar da mensagem irá falhar em considerar aspectos que poderiam ser tratados por um modelo mais sofisticado (Akmajian, 2010; Bach, 1979).
Informação, vista como um fluxo do emissor ao receptor, pode apenas dar conta de aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos, isto é, sinais que podem ser facilmente ‘copiados e colados’, implicando a possibilidade de que isso tenha ocorrido de fato. Entretanto, mesmo tais aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos tornam-se um desafio diante de mensagens escritas em línguas estrangeiras. Seria assim muito mais fácil explicar a capacidade paranormal acima em um arcabouço teórico que não considerasse problemas de pragmática tais como: a presença de expressões linguisticamente ambíguas, mensagens contendo informação sobre coisas particulares referenciadas (isto é, coisas que somente o recipiente tem conhecimento para ‘completar’ a referência), transmissão de intenção, o assim chamado ‘problema da subdeterminação de intenção comunicativa’ (Bach, 1979), presença de conteúdo através de expressões semanticamente mal definidas (comunicação não literal) e, finalmente, o problema dos ‘atos não comunicativos’ – o objetivo da mensagem não é comunicar, mas produzir um efeito no recipiente. Em face disso, as seguintes observações são pertinentes à carta em análise (ver post anterior) 1. Referência ao nome que Patrick chamava a sua mãe privadamente (seu nome correto era Christiane e não o referenciado); 2. Referência ao nome da cidade de onde Patrick deveria ter retornado. O acidente foi a 500 metro da residência de férias da família em Itaipava/RJ. A mãe confirmou ter afirmado ao médium que o acidente ocorrera no Rio de Janeiro (estado); 3. Referência não literal. O emissor não retornou de nenhuma guerra, mas utilizou essa expressão para se referir a sua situação anterior; 4. Referência à irmã residente à época na França; 5. Referência à namorada; 6. Referência à avó materna residente à época na França; 7. Referência ao avô paterno residente à época na França; 8. O emissor se refere aqui a preocupações de natureza privada de sua mãe de alguém ter sido responsável por sua morte; 9. Referência à bisavó materna (Margeritte Yvetot), falecida em França em 1974; 10. Referência ao apego da mãe do emissor aos objetos pessoais de Patrick; 11. Referência ao pai; 12. O emissor pede a sua mãe que perdoe sua irmã por uma discussão ocorrida ao telefone após a morte de Patrick. O fato era de conhecimento privado; 13. Patrick era muito sensível à natureza e gostava de animais. Tais observações foram feitas pelos pais de Patrick depois de receber a carta e mostram claramente a existência de uma ‘decodificação’, devido à existência de intenções, objetivos, crenças e desejos por parte do emissor. Sabe-se que qualquer modelo satisfatório de comunicação deve levar em conta o contexto e a inferência (Bach, 1979), simplesmente porque é muito difícil caracterizar ou acessar elementos que são reconhecidamente privados no processo de comunicação humana. Primeiro é preciso reconhecer que, para que a estratégia do emissor dê certo, um conjunto de crenças compartilhadas entre ele e seu receptor deve existir (Capone, 2006) e que tal conjunto não está disponível ao médium antes da ocorrência do fenômeno psicográfico. Não se trata, assim, simplesmente de se transmitir e receber símbolos linguísticos o que está envolvido em um processo de psicografia. Dada a quantidade e frequência de ocorrências pragmáticas nas cartas produzidas por C. Xavier, é difícil explicar tal fenômeno usando o ‘senso comum’ ou abordagens ‘naturalistas’. Além disso, a situação torna-se mais complexa diante de mensagens escritas em
outras línguas, uma vez que elementos léxicos, sintáticos e semânticos acrescentam uma quantidade grande de informação linguística. Portanto, é razoável esperar que teorias e análises linguísticas tenham um papel importante na defesa da idéia da imortalidade da alma em muitas composições psicográficas (Beischel, 2009; Rock, 2008b). Por exemplo, um aspecto interessante que se vê nas mensagens de C. Xavier é o aumento da letra, como se mão do médium estivesse sendo assistida na produção das mensagens. Acreditamos que um novo campo de estudos está aberto com a análise das composições 'anômalas' de C. Xavier. Isso também é facilitado uma vez que muitos familiares podem ser contactados para fornecer detalhes adicionais sobre as cartas. A quantidade e qualidade de material produzido por C. Xavier é pouco conhecido fora do Brasil porque está disponível em sua maior parte em Português. Traduções são, portanto, necessárias. Esperamos poder preencher essa lacuna no futuro. Agradecimentos Agradeço a Ana C. Xavier (Medical University of South California/USA) por me ajudar na tradução para o inglês da mensagem de Patrick.
Cartas Psicografadas (2/3) - Pragmática e intenção em psicografias de Chico Xavier.
Segunda parte da tradução do artigo original publicado na revista 'Paranthropology', 2 (1), 2011. p. 35-47. As referências serão apresentadas no parte final depois da última postagem (número 3).
Vá para a 1a. Parte. Esta é a 2.a Parte.
Vá para a 3.a Parte. Neste contexto, a figura mais importante do movimento espiritualista brasiliero é Franciso Cândido Xavier (1910-2002), também conhecido como Chico Xavier. Tendo passado por uma infância não privilegiada, publicou mais de 400 livros entre 1925 e 2001, além de ter produzido milhares de cartas de conteúdo paranormal. Entre seus livros, trabalhos poéticos e literários de autores portugueses e brasileiros do final do século 19 devem ser destacados (Xavier, 1935; Xavier, 1938), implicando em outra dimensão na análise do fenômeno mediúnico, o da estética (Rocha, 2001). Limitações de espaço nos impedem de discutir aqui a questão da poesia nos trabalhos mediúnicos de Chico Xavier. Sua vida foi tema de um filme recente (Filho, 2010; Grumback, 1910), mas, mesmo assim, suas obras são pouco conhecidas fora do Brasil. Aqui apresentamos uma tradução não publicada em inglês (1) de uma mensagem psicografada por C. Xavier atribuída a um recém falecido (Arantes, 2008a). O objetivo dessas cartas era dar consolo espiritual a pais e parentes que o procuravam por informações de seus filhos e parentes falecidos. Algumas considerações sobre o ambiente e o contexto em que as mensagem foram obtidas seguem: 1. De acordo com regras de conduta aceitas no Movimento Espírita de orientação Kardecista, destacamos o caráter voluntário dos trabalhos produzidos, isto é, ausência de quaisquer taxas para a realizações das sessões. Os direitos autorais de todos os livros psicografados foram doados pelo autor a trabalhos de assistência social e outras obras; 2. A mediunidade de C. Xavier foi similar em grau e ostensibilidade ao da Sra. Piper (Piper, 1929; Braude, 2003c). Ele era capaz de produzir manifestações tanto de caráter físico como inteligente, com preferência por psicografias. 3. Sua mediunidade pode ser dividida em várias fases. A que trataremos aqui que se inicia em 1960 foi caracterizada pela visita de familiares buscando informações por parentes recém falecidos. Uma pequena parte dessas cartas foi publicada (Arantes, 1981; 1982a; 1982b;1984a; 1984b; 1986; 1988;1990; 1998;2008a). 4. O ambiente em que se encontrava o médium durante essa fase era composto por pessoas de uma ampla variedade de classes sociais e crenças religiosas, a maioria inconsciente de mecanismos envolvidos na produção dos fenômenos. Devido ao caráter excepcional das manifestações, grande quantidade de pessoas o procuravam em busca de informação gratuitas de seus parentes, e faziam isso com pouco ou nenhum contato anterior com o médium. 5. A maior parte das cartas eram produzidas em Português, que era o idioma nativo do médium. Mas comunicações em outros idiomas foram obtidos (p. ex., italiano, (Perandrea, 1991) e inglês). 6. A assinatura do emissário era reproduzida de alguma forma no final de várias cartas. Tal fato permitiu a realização de estudos comparativos (Perandrea, 1991) usando análise grafoscópica. 7. As cartas não eram obtidas de forma instantânea. Em alguns casos, eram obtidas em uma primeira visita, em outros um intervalo de várias semanas ou meses era necessário. 8. Em muitos casos, mais de uma carta era obtida.
9. Nunca tendo encontrado o médium antes, parentes confirmaram que eles frequentemente eram chamados por seus nomes próprios por ele em uma primeira visita. Nome de parentes falecidos eram também citados, alguns não reconhecidos inicialmente pelos familiares, mas apenas após buscas ou pesquisas subsequentes. É reconhecidamente difícil registrar e confirmar subsequentemente a informação em comunicações de natureza psíquica (Braude, 2003c). Entretanto, as cartas de C. Xavier representam uma ocasião ímpar por se dirigirem a parentes que podem, eles mesmos, fornecer 'elementos de identificação'. Por exemplo, muitas cartas eram assinadas e, no exemplo abaixo, o emissor (falecido aos 20 anos de idade) deixou uma assinatura que, de acordo com sua mãe, era semelhante a de seu filho aos 8 anos de idade. Entretanto, para todos os pais que se entrevistaram, a evidência autoral vem da competência pragmática exposta nas cartas que revelam informação que somente era conhecida por por um conjunto restrito de pessoas. Em muitas ocasiões as cartas revelam um conhecimento tácito de certas situações que era difícil de se obter por meios normais. De particular importância é a citação de nomes de personalidades falecidas cujos nomes exigiram posterior confirmação para sua validação (em muitos caso, nomes estrangeiros). Mais incrível ainda é o fato do emissor revelar conhecimento de sentimentos privados experimentados por pais e parentes anteriormente a emissão da mensagem. A carta abaixo é um exemplo de comunicação psicográfica por C. Xavier obtida em Uberaba/MG, no dia 1 de Janeiro de 1979 assinada por G. Patrick Castelnaud (24/1/1958-11/3/1978) que faleceu de um acidente de carro. Sua mãe recebeu esta carta após uma segunda visita à Uberaba, localizada a 800km do lugar do acidente e residência da família. Mamãe Christine (1), abençoe-me. Tudo bem. Chegada em paz. Sabe o que sucedeu? Reamente não regressei de Itaipava (2). Retornei da guerra. Felizmente. Diga ao meu pai, a nossa Chantal (4) e a nossa Ninon (5) que prossigo. Tudo prossegue. É a vida de que se cogita ainda mesmo quando nossas capas físicas se estendam estraçalhadas nos acientes. Ontem, o campo da resistência e luta. Agora, é a região de pas reconquistada. Avise à vovó ‘chéri gand-mère’ Fernanda (6) e ao vovô Mogliocco (7) que estou bem. De uma paisagem bonita como a nossa, me transferi para outra. Graças a Deus, a gerra para mim terminou. Aqui tudo mamãe Christine, foi reajuste. Não culpem a ninguém(8). Minha outra avó Margueritte (9) está me ensinando a compreender. Aina vacilo nas lições. Mas o importante é que estou na escola. Mãezinha, lance tudo o que é recordações de infância no esquecimento (10). Papi Gerard (11) está certo, somos todos irmãos. Não existem adversários. Existem os filhos de Deus e todos nos pertencemos uns aos outros.
Console a querida Chantal(12). A vida pede compreensão e não entende qualquer animosidade de nossa parte contra ela. Tudo é belo na obra de Deus(13). O dia e a noite, a alegria e o sofrimento, o barco e a estrela, e até o próprio mal existe por bem, ainda interpretado para a essência positiva que nos transforma as dificuldades em bençãos. Mãezinha, esta carta é um alô simplesmente. Vai alô iluminado de beijos; são todos seus. Se possível entregue alguns para Chantal e Ninon , e receba com meu pai Gerard todo o coração de seu filho, sempre seu filho do coração. Gerard Patrick Costelnaud. Na terceira e última parte analisaremos o conteúdo da mensagem e traremos a lista de referências. Notas 1 - Esta é uma tradução para o português do artigo originalmente em inglês. Obviamente, a mensagem reproduzida é a original.
Cartas Psicografadas (1/3) - Pragmática e intenção em psicografias de Chico Xavier.
Primeira parte da tradução do artigo original publicado na revista 'Paranthropology', 2 (1), 2011. p. 35-47. As referências serão apresentadas no parte final depois da última postagem (número 3).
Esta é Vá para Vá para a 3.a Parte.
a a
1.a 2.a
Parte. Parte.
Minha intenção aqui é apresentar a mediunidade de Chico Xavier em psicografias de recém falecidos. Como físico, deveria explicar os mecanismos envolvidos nessa mediunidade, como a mente do médium pode adquirir informação oculta que é tão abundante em psicografias, quais são as condições e exigências envolvidas no fenômeno, como a informação pode ser obtida dessa forma etc. Essa é uma tarefa muito difícil e busquei inicialmente invocar a teoria da comunicação (Griffin, 1987), assumindo que a informação está em algum lugar e que muitos detalhes do processo são bem compreendidos. Minha tentativa inicial mostrou a precariedade dessa abordagem. Além de ser um fenômeno humano, cada caso de mediunidade é único e tem suas próprias peculiaridades, requisitando estudo dedicado. Tal característica não permite enquadrar a mediunidade em categorias bem definidas o que parece ser importante na fase pre-científica de uma disciplina. Espero também que tal narrativa despretenciosa possa motivar outros estudos de caráter antropológico (Koyama, 2006) ao redor da figura de Chico Xavier e sua obra, que é pouco conhecida fora do Brasil. Uma vez que o ponto de vista cético é bem conhecido, não procurarei fazer qualquer tentativa de teorização, pois minha intenção aqui é descrever o fenômeno como ele se manifesta, junto com alguma informação sobre o contexto em que eles foram produzidos. A moderna teoria da informação (Shannon, 1949) tem como objetivo fornecer um modelo para o processo de comunicação entre duas entidades - emissor e receptor no qual influências do ruído e outras interferências na transferência de mensagens são levadas em consideração. Para ser viável, o processo exige uma fonte de informação (emissor ou remetente), uma mensagem (codificada usando um protocolo conhecido tanto pelo emissor como pelo receptor - a linguagem) e um alvo (destinatário, receptor). Além disso, a mensagem é transferida do remetente ao destinatário através de um meio. Tanto a linguística como a semiologia (Cobley, 2001) tem como objetivo o estudo da comunicação, fornecendo teorias mais adequadas para a compreensão de sinais e outros aspectos relacionados ao processo de comunicação, além daqueles que são explorados mecanicamente na abordagem de Shannon e outros (Bosco, 2006; Rigotti, 2006). Dada uma mensagem, podemos nos interessar particularmente pelos elementos chave que resultam na identificação da verdadeira natureza da fonte de informação. Sabe-se (Chaski, 2000; Kopka, 2004) que, dependendo do meio usado para a transmissão, a mensagem pode conter elementos suficientes que permitem a identificação do emissor, um assunto para a recém criada línguistica forense (Chaski, 2000; Olsson, 2008). Tomemos, por exemplo, a tarefa de identificar a autoria de uma carta escrita por um amigo que se mudou recentemente para a Austrália. Nela eu encontro sinais gráficos, morfológicos, sintáticos, semânticos e outras estruturas pragmáticas (Akmajian, 2001) que me permitem identificar facilmente meu amigo como seu autor. No nível mais elevado ou da pragmática (Cutting, 2002), além do significado aparente, a mensagem é composta de tal forma que somente o destinatário tem capacidade de compreender realmente seu conteúdo. Por exemplo, meu amigo, sabendo de meu pouco interesse em visitar a Austrália, descreve em cores vivas as belas paisagens daquele continente, a fim de atualizar minhas impressões e mudar minha opinião sobre ir visitá-lo na Austrália. Se outra pessoa ler suas descrições, ele provavelmente não conhecerá sua verdadeira intenção tão só pela leitura das frases. Embora a morfologia, a sintaxe e a semântica sejam as mesmas para todos, isto é, elas são publicamente disponíveis, a pragmática é um aspecto privado do protocolo
de comunicação. Em todo processo de comunicação desse tipo, competência pragmática (capacidade do autor em passar informação de conteúdo privado ao seu destinatário) é um fator importante para a identificação da fonte da mensagem (Borg, 2006). Embora fenômenos psíquicos apresentem-se como anomalias para o pensamento científico contemporâneo e como fraudes para grupos céticos (aqui fazemos distinção entre ciência e ceticismo), eles sempre se manifestaram prima facie como processos de comunicação (Rock, 2008a; Beischel, 2007). Esse aspecto tem sido repetidamente desconsiderado por pesquisadores dos fenômenos psíquicos (Beischel, 2009) que não aceitam a idéia de que informação de caráter psíquico possa ser gerada fora da mente do médium (Braude, 2003a; Wales, 2009). Parece, então, razoável usar a semiologia e a linguística (Wales, 2009) para reafirmar ou não a autoria de muita informação de natureza psíquica de qualidade em uma tentativa de se atestar a natureza da fonte. Entre a variedade de processos inteligentes de natureza psíquica (em contraposição às manifestações físicas), a psicografia (Oxon, 1848; Braude, 2003b) apresenta-se como uma evolução de formas primitivas e mecânicas de comunicação tais como a tiptologia e o uso de pranchetas (Kardec, 2000b). Composições produzidas por via psicográfica (incluindo poesia) são conhecidas em países de língua inglesa (veja o caso Patience Worth em Braude, 2003b; Casper, 1916), embora em caráter menos extensivo do que sua contraparte sonora, a 'psicofonia' (capacidade de falar mensagens de conteúdo paranormal) que também se produziram por toda a parte. No Brasil, a pratica da psicografia é muito popular no movimento espiritualista local conhecido com Espiritismo e fundado por H. L. D. Rivail, um pedagogo francês também conhecido como Allan Kardec (Kardec, 1985). Kardec escreveu um tratado sobre mediunidade (Kardec, 2000a) nos início da pesquisa psíquica na Europa e lançou os princípios do Spiritisme no 'Livro dos Espíritos' (Kardec, 1996). Em seu aspecto religioso, o Espiritimo de Kardec, além da ênfase na mediunidade que se tornou uma prática espírita, também incorporou a crença na reencarnação como forma de evolução da alma (Chibeni, 1994). Tal ambiente de aceitação franca da realidade da comunicação dos Espíritos e reencarnação constitui-se em um campo fértil para o desenvolvimento da mediunidade ativa, em particular de caráter psicográfico. No próximo post: a mediunidade de psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Crenças Céticas XII - Tomando carona no ceticismo: Críticas ao 'Espiritismo' em Ateus.net
Vamos agora analisar alguns textos utilizando as discussões que apresentamos anteriormente sobre as crenças céticas. Com isso, fornecemos alguns fatos, à guiza de exemplos interessantes, que confirmam nossas exposições sobre o ponto de vista cético. Nosso objetivo aqui não é discutir as crenças do ateísmo, mas fazer alguns comentários em torno de um artigo que pretende levantar críticas contra o Espiritismo, notadamente sobre a relação deste com as disciplinas acadêmicas. O artigo intitulado 'Espiritismo, Ciência e Lógica' é longo, mas uma síntese do pensamento do autor desse texto pode ser compreendida lendo-se a comparação que ele faz através de um quadro entre suas noções de 'Ciência' e de 'Espiritismo'. Esse quadro está mais ou menos no meio do artigo, e passamos a discuti-lo abaixo. Um pouco antes desse quadro pode-se ler: E o Espiritismo nessas mudanças? O fosso entre as metodologias da “ciência espírita” e as demais “ciências” do mundo material foi progressivamente aumentando. Por 'mudanças' aqui, o autor entende as revoluções da Física moderna, que levaram a uma noção diferente do mundo em comparação aos critérios e interpretações da Física chamada 'clássica'. Ele afirma que existe um 'fosso' entre as 'ciências do mundo material' e o 'Espiritismo'. Vejamos os pontos principais de sua argumentação, analisando o quadro comparativo que o autor coloca como argumentos a favor da existência de tal 'fosso': "Ciência" 1) Comum novas gerações de cientistas refutarem trabalhos anteriores. Aversão a critérios de “autoridade”. Aqui a palavra 'refutar' está sendo empregada de forma pouco precisa. Alguém já ouviu falar em 'refutação' dos trabalhos de Newton, Einstein, Maxwell? Será que
'Einstein refutou Newton'? Será que 'Maxwell foi refutado pela teoria dos campos'? Será que a Mecânica Quântica refutou a Mecânica Clássica? Existem casos históricos de teorias - que eram as preferidas dos acadêmicos - terem sido suplantadas por outras. Um exemplo interessante foi a teoria do flogisto (antes dos desenvolvimentos da termodinâmica na Física), ou a teoria dos continentes fixos (na Geologia), suplantada pela tectônica de placas. Na Física, as teorias clássicas podem ser derivadas das teorias não-clássicas (ex., relatividade e mecânica quântica) a partir de determinados limites. A tese de 'refutação' não se defende muito bem. Também, a observação em análise demonstra conhecimento idealizado do mundo acadêmico: com relação à aversão aos 'critérios de autoridade', isso é um mito que corre entre cientistas. Todos sabemos que um artigo científico receberá tratamento muito diferente se for publicado por um estudante (autor desconhecido) ou um prêmio Nobel, ainda que contenha o mesmo conteúdo. A autoridade se constrõe com um conceito: o 'nome' (número de artigos, citações, impacto etc). Ele conta muito e se correlaciona fortemente com com quanto um pesquisador ou grupo de pesquisadores irá receber do governo ou de seus financiadores para a realização de determinada pesquisa. Essa é a razão porque cientistas procuram sempre ter seus currículos atualizados com novas publicações e alunos. 2) Obras de grandes mestres (Principia Mathematica, Origem das Espécies, etc.) ainda lidas como referência, fontes de valor histórico e como uma forma de adentrar no raciocínio do autor. Os estudantes, porém, usam bibliografia recente, expandida e corrigida. É verdade, e, freqüentemente, se acham erros de interpretação imperdoáveis em tais 'bibliografias recentes, expandidas e corrigidas' para tristeza dos estudantes (Campanario, 2006; Hubizs, 2003). Qualquer pesquisador sério sabe que não há nada melhor do que ler o autores originais para se encontrar os princípios que fundamentam as diversas teorias da Ciência. 3) A lógica é usada como ferramenta apenas. O raciocínio precisa estar corroborado em evidências. Somos brindados com essa preciosa observação: "Kardec depositava fichas demais na lógica. Ela é importante sem dúvida e tê-la é um requisito mínimo. Mas quem a estuda não demora a descobrir que ela não tem tanto poder assim como dizem." Ao longo do texto, seu autor confunde a validade de pressupostos de uma argumentação lógica com a própria argumentação lógica. Não só Kardec, mas toda a comunidade de cientistas deposita fichas demais na lógica porque não existe outro método de raciocínio disponível. 4) O bom senso e a experiência usual nem sempre são seguidos (Relatividade e Mecânica Quântica que o digam. Idem para a “ação à distância” de Newton). Opta-se por soluções pragmáticas, ainda que esdrúxulas. O autor diz que a 'Ciência opta por soluções esdrúxulas' e que isso é o resultado da Ciência se afastar do 'bom senso' e da 'experiência'. Para quem compreende bem os
fundamentos da Mecânica Quântica, ou da Relatividade sabe que essas teorias da Física estão estruturadas de forma lógica - sim a mesma lógica que o autor disse que 'não tem tanto poder assim como dizem'. Sob determinadas interpretações particulares, esses ciências podem revelar aspectos do Universo e do mundo que não estão de acordo com a experiência comum do dia-a-dia dos humanos. 5) Há grande discussão em torno da filosofia da ciência quanto à questão da melhor metodologia para o estabelecimento de novos conhecimentos (refutabilidade, crise de paradigmas, etc.). A Epistemologia é uma área acadêmica da filosofia. Entretanto, não existe consenso entre especialistas da área sobre o impacto dos estudos da epistemologia nas ciências. Na verdade, há quem defenda que estudos da Epistemologia não tem serventia na Ciência (Holton, 1984). Embora seja altamente positivo que estudantes das ciências se debrucem também sobre esse ramo da filosofia, sabe-se que a Epistemologia não é matéria obrigatória nos currículos da Física, Biologia, Química etc. Prefere-se não perder tempo com o assunto, embora sua aparente relevância para o desenvolvimento da Ciência. 6) Teorias inverificáveis, mas belas, são postas de lado. Aqui,o que se entende por 'belas teorias'? Pois 'beleza' não é algo intrínseco do objeto admirado, depende também de quem admira. Uma teoria que é bela para um cientista pode não ser para outro. Exemplos dessa situação existem muitos na história da ciência. A teoria do movimento da Terra era insustentável para os defensores da Terra fixa e vice-versa. Que exemplo que se pode dar de uma teoria inverificável? Como podemos saber que uma teoria é inverificável hoje diante dos avanços da tecnologia? Toda teoria é construída sobre algum fundamento empírico, entretanto, muitas teorias poderosas foram propostas bem antes de se registrar qualquer evento ou fenômeno que a suportasse. 7) Apropriações entre ramos da ciência (malthusianismo no darwinismo, biologia na sociologia – darwinismo social, eugenia) hoje são vistas com reservas. Talvez o mais apropriado aqui seria 'integração' e não 'apropriações'. De qualquer forma, a frase parece conferir status de ciência ao darwnismo social e a eugenia. Talvez o objetivo seja dizer que determinadas interpretações ou extrapolações a partir de teorias científicas não mais são aceitas facilmente: o darwinismo social e a eugenia da biologia, o malthusianismo do darwinismo. A sociologia é uma teoria independente da biologia. 8) Ciências que não têm acesso direto ao seu objeto de estudo (astronomia, história, etc.) lançam mão da análise indireta dos efeitos que chegam até nós. (espectro de luz, documentos históricos). Entretanto, porque ateus, céticos e materialistas exigem 'provas objetivas e repetitivas' dos fenômenos espíritas? Por que a ênfase no 'rigor' e na 'objetividade'? A imensa maioria dos fenômenos chamados 'paranormais' não estão acessíveis aos sentidos. Kardec foi a primeira pessoa a reconhecer as manifestações do Espíritos só podem ser acessadas indiretamente.
9) Orações, Meditação e estados alterados de consciência são passíveis de estudo, mas isso não significa que seja verdade aquilo que seus praticantes dizem. Alguns estudos acadêmicos estrangeiros apontam para algo diferente, anômalo ou peculiar nos seres humanso: sua origem e natureza espiritual. Obviamente, todo cientista é livre para pesquisar o que bem entender, as limitações que se impõem vem da falta de recursos financeiros, tempo (que é uma conseqüência da primeira) ou capacidade intelectual. A frase faz transparecer que a Ciência (no sentido de comunidade acadêmica) tem preconceito com relação a certas fonte de conhecimento. Isso porque subsiste a crença de que o conhecimento só pode ser gerado por cientistas. Mesmo assim, essa opinião contrasta com a de pesquisadores sérios em Parapsicologia que, freqüentemente, reportam o que seus 'subjects' sentem (como informação importante), sem falar nos pesquisadores de experiência de quase morte. Infelizmente ainda não se desenvolveram métodos não humanos de se acessar as realidades do pós vida ou mesmo para praticar uma simples telepatia. 10) Não faz afirmações morais. Descobertas podem, inclusive, entrar em choque com a moral vigente. O objetivo das ciências naturais não é mesmo fazer afirmações morais. Mas isso não pode ser contado como uma virtude como a observação parece sugerir. O mais correto é dizer que as ciências naturais são neutras. De outra forma, aplicações tecnológicas (derivadas das descobertas científicas) podem tanto ser usadas para o bem como para o mal (Exemplos: avanços da genética, pesquisas nucleares etc). "Espiritismo" 1) Medo de se distanciar da ortodoxia kardequiana. Culto à autoridade contido no espírito da Verdade ou Kardec. Há exceções, óbvio. O culto à ortodoxia é o que mais se vê no ambiente acadêmico. Mais uma vez, a frase deixa transparecer conhecimento superficial do mundo acadêmico - que é o ambiente onde as ciências acadêmicas são 'produzidas'. Confunde-se repetidamente 'ciência' (teoria, hipótese, conhecimento) com o movimento humano que a produz. Assim confunde-se igualmente 'Espiritismo' com 'Movimento Espírita' tanto quanto 'ciência acadêmica' com 'academia'. O que na frase é chamado de 'culto' é o que ocorre em qualquer ambiente humano, no caso da ciência tem como objetivo proteger sua sociedade contra revisões ou alterações mal intencionadas. Um cientista defende uma boa teoria com o mesmo zelo que um fazendeiro sua propriedade, e não há o que se achar estranho nisso. Pelo contrário, o oposto seria algo bastante inexplicável. 2) Livros de Kardec ainda utilizados sem alterações, mesmo no que há de errado. Notas de rodapé corrigem alguns erros. Imaginemos uma situação hipotética: uma nova edição do 'Principia' de Newton sendo lançada repleta de 'revisões' e 'correções' a partir da relatividade restrita e geral. Imaginemos que os livros editados por Mawxell, Newton, Galileu, Boltzmann e outros grandes físicos fossem relançados com revisões completas - não notas de
rodapé. Imagine lançar o livro fundamental de Charles Darwin em uma edição totalmente revisada conforme as novas descobertas da genética. As obras dos pesquisadores pioneiros (em todas as áreas do conhecimento) representam um manancial de conhecimentos originais, onde se podem encontrar os princípios ou fundamentos das idéias e teorias e, portanto, não são passíveis de revisão. Há muitas coisas que ainda devem ser 'descobertas' nas obras de Kardec. Justamente por não se dar o devido valor a certas passagens, é que não se consegue construir uma teoria correta sobre muitos fenômenos considerados 'anômalos'. 3) A lógica é utilizada como meio de prova ou refutação de hipóteses, não havendo verificação de se a natureza pensa igualmente. Quem 'pensa' em matéria de criação e teste de hipóteses são os seres humanos. A Natureza não pensa, ela simplesmente é. Aqui aparece a mesma crítica à lógica que o autor do texto diz 'que não tem tanto poder como pensam' (ver item 3 em 'Ciência' acima). 4) O senso comum, ao lado da lógica, é superestimado. Em boa parte dos desenvolvimentos da Ciência, o 'senso comum' é utilizado como sinônimo de 'razoabilidade', ou seja, é uma percepção humana que permite distinguir o que é razoável do que não é. O mesmo ocorre com a lógica. (Ver considerações do item 3 em 'Ciência'). 5) O conhecimento espírita ainda é majoritariamente indutivo, baseado em moldes científicos do século XIX (positivismo). Se por 'positivismo' entendermos a necessidade de se fundamentar o conhecimento em fatos ou fenômenos naturais, é compreensível que o Espiritismo tenha caráter 'positivo' neste sentido. Afinal aquilo que Kardec descreve em 'O Livro dos Médiuns' não é invenção dele, mas constitui uma fenomenologia verificável. É necessário que seja assim, pois a base do conhecimento não pode ser a crença ou a invenção. Toda ciência - ainda que nascida como pura teoria - só se estabelece ao se conectar a uma classe de fenômenos observáveis (não necessariamente através sentidos humanos). A ciência moderna continua a ser positiva oupositivista nesse sentido. Entretanto, é falso considerar o desenvolvimento e fundamentação do Espiritismo em uma acepção particular do positivismo: aquela que crê que o mundo deve ser explicado a partir de entidades que sejam acessíveis apenas aos sentidos humanos. Um positivista nessa definição só acredita naquilo que os sentidos lhe apresentam. Kardec aceitou a existência dos Espíritos e de muitas outras coisas a partir de evidências indiretas (afinal Espíritos não podem ser vistos ou 'detectados' por nenhum tipo de equipamento. 6) Persiste a presença de hipóteses “ad hoc” inverificáveis para sustentar pontos nebulosos da doutrina. (ex: vida “invisível” em outros planetas) . Se o plano invisível existe na Terra, porque não poderia existir em outros planetas? Por que esse privilégio? Há aqui uma má interpretação do significado da noção dos
'mundos habitados' . Ela não se refere a planetas, mas a planos de existência. Ao exigir 'hipóteses verificáveis' o autor está sendo incongruente com sua crítica de Kardec - o de acusá-lo de 'positivista'. 6) Apropriações correntes são feitas sem garantia de que são válidas (ação e reação, noções de mecânica quântica, etc.) É verdade. Há muitas pessoas que fazem uso de paradigmas de ciências bem estabelecidas como modelos de entidades de natureza espiritual. Isso não só no Brasil como no exterior onde, dizem, o Espiritismo de Kardec não existe. Há que se explicar porque isso ocorre neste contexto (além da argumentação simples exposta pelo autor), demonstrando que isso não é característica da Doutrina Espírita. Para ver um exemplo recente do uso de noções de Física Quântica, consulte o site da revista Neuroquantology. 7) Pede um lugar “especial” entre as ciências por não ter acesso direto ao seu objeto de estudo (espíritos). Aqui temo outra afirmação TOTALMENTE FALSA. Por isso é importante distinguir entre a noção de disciplina acadêmica (disciplina que tem corpo de pesquisadores, cátedra, laboratórios, verbas, corpo de edição com publicações sujeitas à avaliação por pares etc) com ciência ou conhecimento sobre o qual ela discorre. Toda vez que dizemos 'O Espiritismo é Ciência', não estamos a afirmar que ele é uma disciplina acadêmica nesse sentido especial. Assim, a afirmação não é válida. Ainda assim, é possível ver que os 'objetos da Natureza' descritos e utilizados pela Doutrina Espírita são entidades que tem sua existência no mundo em que vivemos. Se eles não sãoobjeto de estudo das disciplinas acadêmicas, então quem os estudará? 8) Verdades podem ser extraídas de “estados alterados de consciência”, vulga mediunidade. Contudo, nenhuma proposta rigorosa para a separação do joio e do trigo foi apresentada. Será correto igualar 'estados alterados de consciência' com a mediunidade? Se definimos estado de consciência normal como o estado mental durante a vigília, então, quando dormimos ocorre mediunidade? Se o estado de vigília e sono são estados normais de consciência, então alguém bêbado terá mediunidade? As 'propostas rigorosas' passam todas pelo crivo neo-positivista que a crítica tenta jogar sobre a fenomenologia psíquica. Aqui vemos transparecer incoerência: a Ciência aceita 'explicações esdrúxulas' e evidências indiretas fugindo do 'bom senso', mas certas investigações na esfera psíquica ou espiritual deve passar por um 'crivo rigoroso'. 8) Produz cartilhas de certo e errado. Eufemismos são usados para se alegar que “não é bem assim…” Fica difícil avaliar essa afirmação do autor de 'Espiritismo, Ciência e Lógica' se ele não deu nenhuma referência a quais são essas 'cartilhas'.
Existem maneiras mais sofisticadas e razoáveis de se defender o ateísmo. Está claro que o referido artigo não só é tendencioso em relação à Doutrina Espírita, mas constitui uma defesa precária do ateísmo, que merece nosso respeito como crença. Referências J. M. Campanario, (2006), Using textbook errors to teach physics: examples of specific activities. Eur. J. Phys. 27, 975–981 doi:10.1088/0143-0807/27/4/028 G. Holton (1984), Do Scientists need a Philosophy?, Times Literary Supplement 2, 1232. J. L. Hubisz, (2003), Middle school text don’t make the grade. Phys. Today 56, 50– 4
Anomalias nos sinais elétricos do Cérebro com a morte do corpo
"...O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha elétrica." (Resposta a questão 88 de 'O Livro dos Espíritos', A. Kardec) Para monitorar a atividade do cérebro é bastante conhecida e empregada a técnica da eletroencefalografia (EEG). Potenciais elétricos variáveis que surgem no crânio como resultado da intensa atividade neuronal podem ser investigados de uma forma limitada e mostram amplitude decrescente, que se correlaciona com a diminuição da atividade cerebral conforme o metabolismo do cérebro é atuado por diversos fatores tais como: efeitos de drogas, lesões ou 'isquemia' (do grego ισχαιμία, isch- restrição, aima , sangue). Mais recentemente, algoritmos sofisticados de análise 'multivariável' de EEGs tornaram possível desenvolver equipamentos e escalas de consciência ('awareness')
visando determinar, em tempo real, o grau de sedação em que se encontram pacientes em tratamento intensivo (nas famosas e temidas 'UTIs'). Isso é importante para se garantir 'inconsciência' durante intervenções cirúrgicas e em outros processos de tratamento. Duas escalas foram criadas, uma chamada 'índice biespectral' (chamado BIS) que é saída do monitor de índice biespectral e outra dos monitores SEDLine da empresa Masimo. O índice Sedline, por exemplo, considera o grau de sensibilidade à sedação que vai de 0 a 100. Acima de 80, o indivíduo é considerado plenamente consciente. Níveis seguros de sedação ocorrem entre 40 e 60. Abaixo de 40 a sedação é severa. Com a morte chamada 'cerebral', o índice biespectral vai a zero. Em um artigo recente e muito interessante ("Picos de atividade eletroencefalográfica na hora da morte: estudo de casos", Chawla, 2009), foram descobertos padrões anômalos no comportamento elétrico do cérebro no momento da morte do corpo. No artigo que analisamos, o Dr. Chawla e sua equipe (Departamento de Anestesiologia e Medicina de Tratamentos Críticos do Centro Médico da Universidade George Washington, EUA) monitorou um grupo de 7 pacientes em estado terminal em que tratamentos de apoio à vida foram progressivamente retirados. Com isso, eles entram em um novo 'protocolo' visando dar conforto ao processo que segue, que é a parada cardíaca seguida da morte do corpo. Durante esse processo, o comportamento elétrico do cérebro foi analisado usando as escalas que discutimos acima, o que resultou na descoberta de uma anomalia no comportamento da escala. A figura abaixo é um gráfico do índice Sedline para um paciente (chamado #01) durante o processo de parada cardíaca (monitorada conjuntamente com um ECG - eletrocardiograma).
Curva de nível BIS no instante da morte, paciente #01 (segundo Chawla, 2009). A parada cardíaca ocorre pouco depois das 6:35. Antes, a escala demonstra um nível normal de consciência, por volta de 80. Com a parada, oxigênio deixa de ser enviado ao cérebro (assim como a todo o corpo). O nível de 'consciência' representado na escala BIS começa, então, a cair. O nível da escala chega a zero pouco antes das 6:50 (cerca de 15 minutos após a parada), quando então algo acontece: um pico surge que durar vários minutos, o que sugere - por causa da maneira com que a escala é interpretada - que um 'clarão de consciência' final ocorre. Esse pico de 'awareness' foi observado em todos os pacientes e pode durar alguns minutos com uma média entre 30 e 180 segundos. A posição do pico também ocorre entre 15 a 25 minutos após a parada. De acordo com o artigo citado:
Pudemos observar vários desses picos de BIS (mais de 20) em outros pacientes que estavam na fase anterior à morte, e a temporização desses picos foi consistente, embora nem todos os pacientes demonstrassem a atividade. Apenas reportamos aqui pacientes para os quais fomos capazes de registrar o aparecimento do pico no monitor. Em nossa revisão bibliográfica, encontramos um reporte de pico de BIS em um cenário clínico semelhante (Grambrell, 2005). O formato e temporização deste pico reportado é consistente com a dos 7 pacientes examinados neste artigo. Os picos podem ser considerados anomalias, pois não se prevê aumento da consciência tanto tempo decorrido após a parada cardíaca. Os tecidos neurais ingressam em estágio de 'isquemia' e a depleção de oxigênio impede qualquer atividade. De acordo com a explicação mais aceita sobre a base e fundamentação da consciência, não pode haver consciência na massa celular que não dispõe sequer de energia para alimentar a si mesma.
Curva de nível BIS no instante da morte, paciente #02 (segundo Chawla, 2009). Neste caso, o pico final durou mais de 5 minutos. A análise dos gráficos de evolução temporal da escala BIS com a morte do corpo exibe claramente a existência de dois fenômenos concorrentes: uma curva assintótica (entremeada por picos menores), mostrando um regime associado ao novo processo bioquímico em andamento com a isquemia (depleção de energia) e uma explosão de atividade que antecede a 'morte definitiva' (depois desse pico, não há mais nenhuma atividade e o paciente é declarado clinicamente morto). Duas explicações especulativas são fornecidas pelos autores: a primeira associada a algum efeito de 'interferência' gerado no algoritmo (o que é descartado) e a disruptura de potencial elétrico por grandes conjuntos de neurônios, o que causa uma cascata de atividade elétrica. Entretanto, essa atividade está associada a 'ondas de alta frequência' (as chamadas 'ondas gama') que também já se mostrou estarem ligadas a certas práticas meditativas. Os autores associam diretamente os picos anômalos de consciência como uma possível 'explicação' (obviamente empírica, ou seja, um fenômeno é considerado causa de outro) para as ocorrências ou experiências de quase-morte (near-death experiences, NDE): Oferecemos esta como uma explicação potencial para a clareza com que muitos pacientes reportam 'experiências fora do corpo' quando ressuscitados com sucesso de um evento de quase-morte. A parte do fato de que é difícil explicar como é possível que o indivíduo retorne ileso em suas funções cognitiva depois de experimentarem falta severa de oxigênio, essa
explicação desconsidera totalmente outros detalhes das experiências, que é o das lembranças verificáveis de eventos externos ao paciente, que ele adquire por ingressar em uma realidade diferente mas paralela a da vigília - com um cérebro considerado clinicamente morto. Assim, a sugestão da correlação entre o pico na escala de consciência e as experiências de quase-morte é algo precipitada, mas, não obstante, verificável. Para isso, é necessário monitorar a mesma escala com vários pacientes que sofrem NDE, até que se consiga um evento onde esses picos sejam de fato confirmados e correlacionados com os tempos da experiência. Entretanto, a cautela dos autores demonstra uma prudência bastante profissional: A natureza dessas experiências invoca uma explicação espiritual ou divina, um tópico que está além do escopo deste artigo. Não obstante isso, o final da vida é uma área pouco estudada na medicina clínica e merece mais atenção. Se essas observações serão importantes, isso será determinado por investigações futuras. Para o profissional de tratamentos paliativos, esperamos que tais observações sejam úteis. Em nossa prática de cuidados, permanecemos bastante tempo em contato com famílias em luto. Nesse contato, pudemos constatar que a idéia de que 'algo' acontece no momento da morte é bastante reconfortante. Dado que sabemos tão pouco sobre essas observações, somos cuidadosos em não fazer afirmações definitivas. Mas, essa noção de um sinal elétrico que pode ser objetivamente medido próximo ao momento da morte é uma fonte de conforto para muitas famílias com pacientes que não resistiram ao tratamento em UTIs. Para complementar nossa discussão, oferecemos ao leitor um texto para sua reflexão e comparação com os achados do artigo que aqui analisamos. Trata-se da descrição feita por André Luiz no livro "Obreiros da Vida Eterna" da morte de Dimas (Capítulo 13, 'Companheiro Libertado'; Xavier, 1988), sob auxílio do instrutor Jerônimo. Os grifos são nossos. Dimas gemeu em voz alta, semi-inconsciente. Acorreram amigos, assustados. Sacos de água quente foram-lhe apostos nos pés. Mas, antes que os familiares entrassem em cena, Jerônimo, com passes concentrados sobre o tórax, relaxou os elos que mantinham a coesão celular no centro emotivo, operando sobre determinado ponto do coração, que passou a funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova cota de substância desprendia-se do corpo, do epigastro à garganta, mas reparei que todos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondose à libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa aflição ao paciente. O campo físico oferecia-nos resistência, insistindo pela retenção do senhor espiritual. Com a fuga do pulso, foram chamados os parentes e o médico, que acorreram, pressurosos. No regaço maternal, todavia, e sob nossa influenciação direta, Dimas não conseguiu articular palavras ou concatenar raciocínios. Alcançáramos o coma, em boas condições. O Assistente estabeleceu reduzido tempo de descanso, mas volveu a intervir no cérebro. Era a última etapa. Concentrando todo o seu potencial de energia na fossa romboidal, Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias, ebrilhante chama violeta-dourada desligouse da região craniana, absorvendo, instantâneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada. Quis fitar a brilhante luz, mas confesso que era
difícil fixá-la, com rigor. Em breves instantes, porém, notei que as forças em exame eram dotadas de movimento plasticizante. A chama mencionada transformouse em maravilhosa cabeça, em tudo idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o corpo perispiritual de Dimas, membro a membro, traço a traço. E, àmedida que o novo organismo ressurgia ao nosso olhar, a luz violeta-dourada, fulgurante no cérebro, empalidecia gradualmente, até desaparecer, de todo, como se representasse o conjunto dos princípios superiores da personalidade, momentaneamente recolhidos a um único ponto, espraiando-se, em seguida, através de todos os escaninhos do organismo perispirítico, assegurando, desse modo, a coesão dos diferentes átomos, das novas dimensões vibratórias. Referências Gambrell M. Using the BIS monitor in palliative care: A casestudy. J Neurosci Nurs 2005;37:140–143 Lakhmir S. Chawla, Seth Akst, Christopher Junker, Barbara Jacobs, Michael G. Seneff. Surges of Electroencephalogram Activity at the Time of Death: A Case Series. Journal of Palliative Medicine. Dezembro 2009, 12(12): 1095-1100. doi:10.1089/jpm.2009.0159. O artigo pode ser lido em:http://www.liebertonline.com/doi/pdfplus/10.1089/jpm.2009.0159 Xavier F. C. Obreiros da Vida Eterna. 17a edição. 1988. Ed. FEB. ISBN: 8573283157
Crenças Céticas XI - A avestruz cética e o peru indutivista.
Por Ademir Xavier.
Era uma vez uma avestruz cética e um peru indutivista. Viviam uma vida tranqüila, em uma pacata fazenda modelo perdida no sertão do Mato Grosso. A avestruz e o peru gostavam de se envolver em discussões sobre a vida de outros animais na fazenda para aproveitar melhor o tempo.
Formavam uma dupla porque pensavam parecido. A avestruz não acreditava em nada. Dizia todos os dias: Comer sementes e pisar o chão, eis nossa razão! Nada há além disso! O peru acreditava em poucas coisas além do que via freqüentemente, mas não era igual à avestruz em um ponto: ele achava que podia decidir entre o que era verdade e o que não era. Além disso, era muito observador e notava outras coisas ao redor dele. Ele percebeu que o sol se levantava todos os dias pouco depois do galo cantar, e se punha quando as galinhas iam dormir. Achava que isso sempre acontecia, pois ele era indutivista em seu jeito de pensar. Nunca tinha testemunhado um dia em que o sol não houvesse nascido. Comentou isso com a avestruz: Veja como posso prever o que quiser: amanhã bem cedo, o galo vai cantar e, à tarde, as galinhas vão dormir. A avestruz não era muito curiosa, nem com seus próprios pensamentos, nem com o dos outros. Achava uma perda de tempo ficar pensando muito, já que nada mais além de pisar o chão e comer folhas de árvores e arbustos havia para se fazer. Mas estava um tanto entediada de dizer sempre a mesma coisa e resolveu dar atenção ao peru. No dia seguinte, muito antes do sol nascer, queria mostrar que o peru estava errado. Mas, de repente, o galo cantou. Havia acontecido o que o peru dissera! Esperou pacientemente o dia todo e, de repente, as galinhas foram dormir. Mais uma vez o peru estava certo! Intrigada com esses acontecimentos, repetiu tudo de novo no dia seguinte. E, mais uma vez, viu o galo cantar e, depois de esperar um dia inteiro de sol, as galinhas foram dormir. Repetiu isso uma terceira e quarta vez. Ficou com inveja do peru, pois ela queria ter feito aquela descoberta sozinha. Então, decidiu ser mais esperta e fazer suas próprias previsões. De descrente e desanimada, a avestruz virou outra, uma verdadeira avestruz indutivista. Um dia, abordou o peru com uma aposta que usava o método do peru para comprovar suas próprias conclusões sobre a vida: Aposto que você não consegue prever coisas tão bem como eu faço! Sua vida é sempre a mesma, a ciscar o chão ou comer ração. Nada vai te acontecer amanhã ou depois, pois nada aconteceu com você hoje ou ontem. Ficaram então os dois, avestruz e peru por um bom tempo, juntos, comprovando a predição da avestruz, o que também orgulhava o peru, afinal ele descobrira o método indutivista de pensar. Viram que o peru vivia sempre do mesmo modo com todos os animais da fazenda, na chuva, no sol, no calor ou no frio. Nada modificava sua existência ou jeito de
ser, nem o quanto ele comia, nem como ele pisava o chão. Nem mesmo o ritmo das galinhas parecia abalar qualquer coisa na vida do peru. Era tempo de festa na fazenda, muitos enfeites e luzes, e a avestruz e peru ainda disputavam quem havia ganhado a aposta, a avestruz por tê-la proposto, o peru por ter descoberto o método. Resolveram então acabar de uma vez por todas com a disputa e escolher um vencedor. Disse o peru: Se amanhã eu ainda estiver do mesmo jeito, sempre como eu fui, dou-me por vencido e você ganha a aposta: sei que minha vida nunca será diferente! Mas, logo nas primeiras horas do dia seguinte, quando a avestruz foi procurar seu amigo para receber seus cumprimentos pela vitória, cadê o peru? Na noite do mesmo dia, a avestruz tremeu no seu ceticismo: tinha ouvido falar que seu amigo havia sido degolado e servido como prato principal em uma simples festa de Natal. "FIM"
Referências Esta estória é baseada em outra por B. Russell (Problems of Philosopy, Oxford University Press, 1912)
Nova Edição de Paranthropology (Vol. 2, Número 1) - Destaque: ectoplasmias recentes no FEG.
O volume 2 (número 1, Janeiro 2011) da revista 'Paranthropology' já está disponível paradownload. Essa edição foi dedicada a 'Mediunidade e Possessão' e traz o seguinte conteúdo (traduzido do Inglês): 1. A História da Pesquisa da Sobrevivência além Túmulo - Michael Tymn - p.2-6 2. Em direção a uma História Social do Espiritualismo em Bristol Jack Hunter - p. 6-8 3. Candomblé, Umbanda e Kardecismo: Médiums em Recife, Brasil Stanley Krippner - p. 9-13 4. Uma demonstração de Transe mediúnico em Singapura - Fabian Graham - p. 14-15 5. A Importância da Pesquisa da Mediunidade - p. 16-24 6. Imagens da atuação de um Teiman no sul da Índia - David Luke - p. 24-26 7. De posse de meus sentidos? Reflexões em Ciência Social sobre o intercâmbio com o Outro Mundo - Sara Mackian - p. 27-29 8. A Arte do Médium: encontros com o Passado na Fronteira do Desconhecido. - Alysa Braceau - p. 29-31 9. Seleções do Arquivo "Revenant" - Kristen Gallerneaux Brooks - p. 3236 10. Relatórios de uma sessão de Mediunidade de Efeitos Físicos a 8 de Outubro de 2010. - Jon Mees - p.37-38 11. Clarividência, classe e convenção - Sophie Louise Drennan - p. 38-41 12. Experiências no Espiritualismo - Michael Evans - p.41-43 13. A Ciência e a Batalha da Pesquisa Psi - Callum E. Cooper - p. 43-44 14. Mediunidade, Possessão e nossa compreensão da Realidade - Kim McCaul - p. 45-46 15. Pragmática e intenção na Escrita Automática: o caso Chico Xavier Ademir Xavier - p. 47-51
16. Autonomia e morfologia no Ectoplasma do Grupo Experimental 'Felix' - Dr. Jochen Soederling - p. 52-55 17. Eventos - p.56 18. Reviews - p. 57-64 19. A Disparidade de "Padrões de Tratamento" considerando o Exercício de Mediunidade como uma Profissão Permitida na Área de Saúde Comportamental. - August Goforth - p. 65-91. Pragmática e intenção em psicografias: o caso Chico Xavier. Tivemos a satisfação de ter um de nossos artigos publicados nessa revista (ver artigo número 15 acima). A introdução desse trabalho pode ser lida abaixo:
Comentaremos esse artigo posteriormente. Por hora fornecemos abaixo uma tradução dos primeiros dois parágrafos reproduzidos acima:
Pragmática e intenção em composições psicográficas: o caso Chico Xavier Minha intenção aqui é apresentar a mediunidade de Chico Xavier com psicografias de recém falecidos. Como físico, eu deveria explicar os mecanismos envolvidos na mediunidade, como a mente do médium pode entrar em contato com informação oculta que é tão abundante em psicografias, quais são as leis que governam as condições e exigências do fenômeno, como a informação pode ser obtida dessa forma etc. Essa é uma tarefa bem difícil, e eu, inicialmente, pensei em invocar a teoria da comunicação, assumindo que a informação está em algum lugar e que os detalhes do processo são bem conhecidos. Minha intenção inicial, entretanto, mostrou que esse método era bastante insatisfatório. Além de ser um fenômeno humano, cada caso de mediunidade é único e tem suas peculiaridades exigindo estudo meticuloso. Tal característica não permite classificar a mediunidade em tipos bem definidos, o que parece ser importante na fase pre-científica de uma disciplina que busque descrever cientificamente os novos eventos. Mas penso também que tal narrativa despretensiosa possa motivar outros estudos antropológicos a respeito da figura de C. Xavier e seu trabalho que é pouco conhecido fora do Brasil. Já que a posição cética é bem conhecida, não buscarei fazer nenhuma teorização, pois minha intenção é descrever o fenômeno como ele se manifesta, fornecendo ainda alguma informação a respeito do contexto no qual ele ocorre. Destaques que achamos interessante: Experiências de Ectoplasmias no FEG. Parece haver um renascimento de experiências com mediunidade de efeitos físicos na Europa (ver artigo de J. Hunter, número 2 acima), notadamente Inglaterra e Alemanha. A julgar pelas descrições do Dr. Jochen Soederling, conforme descrito em seu artigo "Autonomia e morfologia no Ectoplasma do Grupo Experimental 'Felix'" (número 16 acima) esse renascimento parece reviver a fenomenologia psíquica do século 19. O Dr. Soederling é um médico com doutorado em Medicina molecular e experimental que participa de sessões de ectoplasmias (não se pode dizer que são de 'materializações' pois os relatos descrevem apenas a produção de Ectoplasma) no grupo FEG (Felix Experimental Group) com uma nova 'safra' de médiuns e seus 'controladores'.
Experiência de Ectoplasmia no Grupo Felix (Alemanha) em 2009.
A imagem acima é uma das fotos que mostra um desses médiuns em ação. Essa foto foi tirada em escuridão total, apenas iluminada por uma fraca luz vermelha e, por isso, está sobre-exposta. No site do grupo Felix, existem diversos relatos de aparecimento de emissões e até mãos de ectoplasma. A figura abaixo é um desenho mostrando os movimentos de uma mão ectoplásmica da boca do médium que foi produzida muito recentemente.
Desenho representativo de uma mão feita de Ectoplasma produzida no FEG (em 2010). As descrições dos fenômenos do grupo FEG parecem ter sido tiradas de alguma obra dos tempos iniciais do Espiritismo ou da Metapsíquica do alvorecer do século 20, mas são bem atuais. Nas palavras do Dr. Soederling: Inicialmente, vi o aparecimento de uma substância móvel, que se ligava de alguma forma ao corpo do médium. Em muitas ocasiões, uma corrente branca de ectoplama era lançada da boca do médium, que o tocava para que ele se abaixasse até o chão. O médium expelia, muitas vezes, uma massa grande de ectoplasma de sua boca que podia ser vista sobre seu corpo ou ao redor de seus pés e no chão. Essa fase parecia de emanação. A substância tinha uma morfologia heterogênea, sua consistência parecia ser sempre diferente. (...) Em todas as formações ectoplásmicas, havia sempre algo inconstante e irregular e, frequentemente, a aparência era diferente no centro se comparada às bordas. De outras vezes, pude ver uma massa mais perfurada, membranosa, com espessura que variava localmente e com interstícios vazios. Em uma fase subsequente, a estrutura passava por um processo de transformação ou evolução. Muitas vezes mãos perfeitamente brancas tornaram-se visíveis – normalmente pude testemunhar a evolução e movimentação de uma única mão. Tais mãos tinham tamanhos variados e não se comparavam à mão do médium, algumas vezes eram maiores, em outras, menores. Em muitas ocasiões, as pernas do médium eram totalmente visíveis ao mesmo tempo em que se podia ver o movimento da mão materializada. As mãos podiam ser vistas a partir de suas palmas e davam a impressão de um agente vivo normal que se comprazia em interagir com o grupo. Vi frequentemente
acenos ou dedos se moverem. De outra vez, testemunhei uma faixa densa de substância branca de aproximadamente 4 dedos de largura que foi expelida da boca do médium. A formação moveu-se aproximadamente 1,5 metros para fora da cabine. Em uma das estremidades havia uma mão que podeia ser vista por todos realizando movimentos e gestos. Muitos se perguntarão: como isso é possível? Com relação à validade dos relatos e fotos acima, podemos dizer que são apenas registros de quem participou dessas experiências. O arsenal cético pode se posicionar contra, tornando a repetir o mantra de que essas 'evidência' são forjadas. Fotos são apenas registros (que não podem ser usadas nem para 'provar' nem para 'refutar' os fenômenos) e a crítica depende de se manter a crença de que as testemunhas são mentirosas. O mais importante é perceber que fenômenos de Ectoplasmias são replicáveis e que está havendo um renascimento do interesse pela fenomenologia mediúnica de efeitos físicos. Contrariando a crença de que eles 'não mais são necessários hoje em dia', talvez estejam novamente sendo experimentados na Alemanha do começo do século 21.
Fundamentos III - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.
A tarefa agora é começar a entender como se estabelece a relação entre o Espiritismo e as ciências. Certamente não será objetivo do Espiritismo competir com esses ramos de atividade humana. Por isso, não é tarefa do Espiritismo fornecer explicações alternativas ou desenvolver o núcleo principal das ciências com as quais o Espiritismo faz fronteira. Não se deve esquecer que o Espiritismo como movimento é uma realização humana. O cientista que é espírita – se trabalha profissionalmente com alguma dessas áreas correlatas – tem seus próprios meios e procedimentos, advindos do estudo adquirido de sua atividade. Como faz parte do processo de desenvolvimento da ciência normal, ele pode (e deve) utilizar-se dos meios a sua volta (inclusive sua própria cultura) para fazer desenvolver sua ciência que tem suas regras próprias. Como dissemos, a ciência não faz caso da origem do conhecimento, o importante é que esse se organize como um paradigma bem estruturado, coerente e naturalmente integrado aos fenômenos. Fazemos abaixo alguns breves comentários das regiões de fronteira entre a Doutrina Espíritia e as ciências enfatizando alguns pontos que nos parecem interessantes:
Espiritismo X Astronomia: é bem conhecida as descrições da origem do sistema solar (nebulosa primordial) existente no livro “Gênese” [2] de Allan Kardec. O capítulo VI de “Gênese” também fala de inúmeras galáxias (denominadas “nebulosas” – entendidas como agrupamentos de bilhões de estrelas como a “ViaLáctea”) numa época em que não se havia certeza desse fato. Há relatos de comunicações de Espíritos anunciando a existência de satélites desconhecidos em outros planetas. Além disso, o Espiritismo parece ter se antecipado às discussões que deram origem à exobiologia, proposta para estudar as formas de vida extraterrestres. É interessante observar que, uma vez classificada como um planeta qualquer, a Terra passou a ser vista como um dos muitos planetas a ter vida inteligente no Universo (algo muito difícil de se acreditar no século 19). O Espiritismo prevê abertamente, pelo princípio da “pluralidade dos mundos habitados”, a existência de vida inteligente fora da Terra (ainda a ser verificada pelos métodos normais – contato físico). Antes disso, porém, previu a existência de inúmeros planetas orbitando as estrelas, um fato que se tornou tema de pesquisa contemporâneo, graças ao desenvolvimento de novos métodos de observação muito mais precisos. Muitos planetas foram encontrados a partir de 1990 em torno de estrelas próximas. Espiritismo X Física: aqui deparamo-nos com algumas afirmações feitas em “O Livro dos Espíritos” que parecem ter antevisto a modificação radical por que passaria a física a partir do século 20. Os Espíritos falaram em uma forma que “que não sois capaz de apreciar” [4] a respeito da estrutura dos átomos (uma alusão às “nuvens de probabilidade” dos elétrons?) num contexto bastante diferente para a física da época. Considerações sobre a origem do Universo são feitas no começo de “O Livro dos Espíritos”, levando o Espiritismo para a fronteira com a cosmologia. É preciso, porém, ter cautela em se tratar a questão inversa: a da influência da física no Espiritismo. Muitos falam abertamente nas diversas “energias” que constituem o mundo espiritual, esquecendo-se que “energia” é um conceito muito bem definido em física e que não admite reinterpretações dessa forma [5]. Outros levantam a possibilidade de entender o próprio mundo espiritual como um “contínuo quadridimensional” do mundo físico. Para se utilizar conceitos e sugestões advindos do Espiritismo na física, faz-se necessário grande competência em física uma vez que os núcleos das teorias (tanto do lado espírita como material) possui certa resistência a mudanças, além de estar fundamentado em teorias profundamente matemáticas. Por isso mesmo, tentativas de modificação de conceitos por sugestão de ambos os lados (de um lado para outro) são muito duvidosas no que diz respeito a qualquer avanço significativo no conhecimento. É importante também considerar as questões de diferença de linguagem (significado de termos e conceitos dentro de cada teoria particular) quando essa linguagem tenta conectar um fenômeno supostamente descritível tanto pela física como pelo Espiritismo. Minha impressão particular é de que o grau de especificidade atingido pela física (especialização na forma de pulverização de campos de compentência) torna pouco viável qualquer tentativa “fácil” de interação. Espiritismo X Biologia (medicina): aqui a fronteira torna-se um pouco mais nítida. Em “O Livro dos Espíritos”[6], existem muitas questões a respeito da origem dos seres vivos. É também na “Gênese” que existe um famoso capítulo sobre a gênese orgânica. Naturalmente, esse capítulo faz eco às concepções da época, ainda às voltas com a “teoria da geração espontânea”, então a teoria mais aceita. É no Capítulo XI da II Parte de “O livro dos Espíritos” [3] que vamos encontrar questões cujas perguntas reafirmam a natureza espiritual de todos os seres vivos e sua
submissão à lei de progresso. Naturalmente, os mecanismos da evolução das espécies não estão afirmados nesses livros, mas o princípio de evolução espiritual ajusta-se perfeitamente bem aos princípios da seleção natural, representando um mecanismo de modificação que atua na parte material levando o Espírito a se desenvolver. É importante considerar que as discussões sobre a gênese orgânica são complementares para a compreensão da Doutrina e seu desenvolvimento. Por isso esses pontos, assim como muitos outros, sofrem e sofrerão modificação, sem que haja impacto ao corpo principal de doutrina. Tal não é o caso, porém, com as inúmeras patologias da alma [7] que citamos acima. Nos quadros obsessivos, a ação do Espírito obsessor pode levar ao colapso orgânico do obsidiado. A origem da doença, em sua íntima essência, encontra-se assim descrita através desse quadro de “simbiose espiritual”. É difícil entender como outra teoria – que desconheça a ação dos Espíritos – possa ter um sucesso maior no desenvolvimento de uma terapia apropriada. Aqui vê-se claramente a enorme importância dos princípios espíritas no desenvolvimento de certos ramos da medicina pois não se trata apenas de construção ou progressão da ciênica mas do desenvolviemento de terapias apropriadas a inúmeros transtornos mentais. Espiritismo X História: as contribuições que o Espiritismo pode dar à História são bastante evidentes. Um aspecto bastante inovador surge aqui, que é o de considerar os relatos históricos fornecidos pelos Espíritos, quando por meio de médiums conhecidos. São notórios os casos de médiums que colaboram com investigações policiais na elucidação de crimes. No Brasil a psicografia já ajudou a elucidar vários assassinatos. Com médiums equilibrados, os Espíritos podem fazer revelações úteis ao progresso moral da sociedade e, muitas vezes, essas revelações trazem noticias de relevante valor histórioco (como no caso dos inúmeros romances históricos de Emmanuel por meio de Francisco C. Xavier). Espiritismo X Psicologia: o Espiritismo tem muito a contribuir com as disciplinas que tem como objetivo de estudo o homem em sua essência. Esse é o caso da Psicologia. Podemos falar em uma psicologia espírita que nasce por “inspiração” dos postulados da doutrina (principalmente de suas conseqüências morais) na maneira de viver, de se comportar e de interagir dos seres humanos. O conhecimento da lei de evolução e reencarnação é crucial para se entender as tendências inatas dos seres humanos que determinam o comportamento para além das limitadas considerações genéticas. Esse certamente é um campo com grande futuro, onde apenas vislumbramos um começo. Espiritismo X Sociologia: o comportamento social e evolução das sociedades é função de seu desenvolvimento cultural, de seu passado e da maneira de ser de seus indivíduos. Como no caso da História e da Psicologia, o Espiritismo tem muito a contribuir para o estudo e desenvolvimento da história social do homem uma vez que o compreende como Espírito em perene evolução. Há uma interação natural, desde a mais remota antigüidade entre o mundo material e o plano espiritual. Esse fluxo é responsável pelo aparecimento e desenvolvimento de muitas religiões e culturas consideradas “inspiradas”. Dos princípios e informações fornecidos pelos Espíritos é possível complementar a história sociológica de várias sociedades. Todos esses campos (assim como outros não listados acima tais como as artes) aguardam um futuro quando o espírita cientista seja capaz de utilizar judiciosamente o conhecimento espírita, de acordo com as regras estabelecidas por sua ciência particular. O objetivo não é fazer o Espiritismo brilhar para a sociedade
como um concorrente das ciências, mas como fonte de inspiração e origem para proposição de novos mecanismos de explicação dos fenômenos e ocorrências característicos de cada uma delas. Considerações diferentes dizem respeito à atuação do cientista espírita. Por esse termo referimo-nos àqueles que pretendem desenvolver a ciência espírita a partir de seus princípios ou com a modificação desses, utilizando idéias advindas de outras ciências. É uma conseqüência natural que se pretenda estabelecer um ambiente acadêmico espírita – uma vez verificado o caráter científico do Espiritismo. Mas cautela é necessária para não exagerar demais nas comparações. Se o Espiritismo é de fato uma ciência não segue daí que no nosso momento histórico ele deva se preocupar com o estabelecimento de um ambiente acadêmico como uma cópia dos ambientes acadêmicos de outras ciências. Todos sabemos dos efeitos que a excessiva profissionalização pode trazer em detrimento do fluxo de idéias, gerando estagnação. Imaginamos que no presente momento de desenvolvimento e expansão da Doutrina Espírita não temos um ambiente completamente apropriado a efetiva realização dos objetivos de um ambiente puramente acadêmico. Outras considerações sobre essa questão serão feitas em texto futuro. 3.Alguns comentários finais. Tentamos limitadamente neste texto discutir algumas idéias sobre o conceito moderno (paradigma) de ciência “normal” – bem amadurecida – e o que seria compreensível como uma salutar relação dessa ciência com o Espiritismo. A aplicação padrão dos procedimentos de construção da ciência leva a plena formação e progresso do conhecimento científico. A tentativa forçada de se estabelecer relações – não sugeridas pelo desenvolvimento científico mas imaginadas como situações idealizadas – não só conduz a perda de tempo como ao descrédito. Da parte do Espiritismo, tentativas forçadas de querer transcrevê-lo ou moldá-lo segundo normas ou procedimentos de outras ciências pode conduzir a ilusão de falsificação da doutrina uma vez que o conhecimento científico e sua interpretação é função de um contexto altamente específico e mutante mas desconexo em relação a ela. Por outro lado, querer misturar conceitos de outras ciências com princípios espíritas não é científico pois dentro da noção de paradigma cada um deles deve ser entendido dentro de seu contexto de pesquisa (ambientação acadêmica) não se permitindo enxertias ou fusões ainda que muito bem intencionadas. Aprendamos a ver cada ciência – o Espiritismo entre elas – como linguagens a respeito do mundo. No procedimento de comunicação normal, plena compreensão só é conseguida quando o emissor e o receptor dispõem de bagagem linguística comum. Todo e qualquer procedimento de tradução leva necessariamente a perda de significado pela impossibilidade de se transcrever plenamente determinados conceitos e idéias típicos de um determinado referencial linguístico. O Espiritismo é uma linguagem a respeito do mundo espiritual, criada e desenvolvida para transmitir conceitos sobre esse mundo. As ciências materiais são linguagens distintas que tratam de outro cenário, embora o “palco” apresente áreas comuns ou adjacentes que no momento não dispomos de linguagem apropriada para descrever. Entretanto, a própria evolução das ciências levará a criação de uma linguagem comum em futuro incerto (talvez distante para o nosso calendário). Esperamos que quando esse futuro acontecer, o Espiritismo tenha cumprido em sua totalidade seu
papel fundamental que é o de promover a efetiva reforma moral em todos os Espíritos que dele tiverem se aproximado buscando consolo e refazimento moral. Artigo originalmente publicado no boletim do GEAE, número 472 (2004). Agradecimento Agradeço ao Alexandre F. da Fonseca pela leitura e comentários a esse texto. Referências [2] A. Kardec, “A Gênese”, Uranografia Geral, o espaço e o tempo (Cap. VI). Ed. Federação Espírita Brasileira, 34a edição (1991). [3] A. Kardec, “O Livro dos Espíritos”, Trad. Guillon Ribeiro, Ed. Federação Espírita Brasileira, 71a edição (1991). [4] Referência [3] , questão 34. [5] A. P. Chagas, Polissemias no Espiritismo, Revista Internacional de Espiritismo, pp. 247-49, Setembro de 1996. [6] Referência [3], Cap. III. [7] I. Ferreira, “Novos rumos à medicina”, Vol. I, Tratamento dos processos obsessivos no Sanatório Espírita de Uberaba, Edições Federação Espírita do Estado de São Paulo (1990). Postado por Ademir Xavier às 17:13 0 comentários
Fundamentos II - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.
Como dissemos, o sucesso da ciência contemporânea bem estabelecida advém de sua estrutura intrínseca onde os fenômenos não têm papel central. O papel principal no estabelecimento da ciência é atribuído aos paradigmas ou teorias. Muitas vezes pode acontecer que uma determinada teoria seja melhor que uma
outra, ao mesmo tempo que ninguém acredite nela. Teorias como realizações mentais ou afirmações sobre o mundo são criadas livremente por um grupo restrito de cientistas (às vezes apenas um indivíduo), e portanto, fazem parte de sua bagagem cultural como crenças. É pela adequação dessas teorias aos fenômenos que elas se tornam aceitas a um grupo maior. O problema é que a definição de experimentos ou a previsão de determinadas ocorrências fenomenológicas depende da teoria. Poderíamos dar inúmeros exemplos dessa situação. Em física – que é uma das ciências costumeiramente consideradas com grande prestígio – é bastante nítido a ocorrência de “previsões experimentais” como resultado direto de teorias sofisticadas onde nada remotamente parecido com o fenômeno em questão tenha entrado como ingrediente. Algumas outras vezes, são feitas previsões de objetos ou circunstâncias nunca observados anteriormente. Essa inversão de papéis, no que tange à importância para o desenvolvimento da Ciência entre teoria e experimento, é a principal causa de confusão tanto no que se refere à compreensão correta da Ciência em si como do aspecto científico do Espiritismo. Conseqüentemente devese fazer um esforço para compreender essa inversão a fim de que seja útil na discussão da relação entre o Espiritismo e a Ciência. A Ciência só tem início com a teoria. Essas podem ter qualquer origem – sejam motivadas por algum acontecimento experimental ou por algum sonho de pesquisador (como no famoso caso do sonho de Kekulé ao conceber o formato dos anéis de carbono no benzeno). A origem do conhecimento científico não é importante para a Ciência. Isto que dizer que uma determinada teoria não tem valor maior ou menor conforme sua origem, embora muitos cientistas sejam levados a crer ou não nelas de acordo com a força de autoridade de seus proponentes. A partir da proposição da teoria, segue a tentativa de explicação dos fenômenos com ou sem a ajuda de leis complementares que não fazem parte do núcleo principal da teoria. Como um exemplo rápido podemos considerar o processo de previsão de tempo na meteorologia. As leis que governam os fenômenos meteorológicos são leis físicas, assentadas em princípios térmicos e termodinâmicos. Para prever a situação de tempo com todos os detalhes, pode-se construir modelos numéricos sofisticados onde essas leis estejam embutidas juntamente com “condições de fronteira” específicas tais como a separação entre continentes e mares, o estado inicial de temperatura de uma determinada região, a posição do sol (sua altura em relação ao solo) etc. Essas são as leis complementares. Dissemos que a maior parte das pessoas considera a noção popular a própria essência do “método científico”. Isso é particularmente forte nas denominadas “ciências parapsicológicas”, ou o conjunto de disciplinas que tem como objetivo explicar de maneira supostamente científica os fenômenos mediúnicos no Espiritismo. Essas disciplinas apresentam escassa discussão teórica, dando enorme ênfase a descrição puramente fenomenológica dos fatos psíquicos. Quando são fornecidas explicações, essas procuram ligar-se fortemente aos fenômenos. Dessa forma, é comum a tentativa de explicação simplificada para cada fenômeno. Assim a telepatia é invocada como “hipótese” para explicar as comunicações dos Espíritos, negando-se a existência desses últimos. Ora a “telepatia” é definida simplesmente como a capacidade de transferência de informação entre duas “mentes” (no caso, pessoas). Essa capacidade pode ser constatada de forma experimental. É um fato e não um princípio sobre o qual se possa estabelecer uma explicação. Nas “ciências psi” busca-se dar explicações aos fatos utilizando-se os próprios fatos. Nesse processo explicações são muitas vezes tornadas verossímeis pela sua designação por nomes empolados, difíceis de se pronunciar e com nenhum apelo intuitivo. É muito
conhecida a frase, dada a guiza de explicação, de que os fenômenos psíquicos se fundamentam nas capacidades desconhecidas do cérebro. Diz-se que os seres humanos normais utilizam apenas “10% da capacidade cerebral”. Ora, qual a base para semelhantes afirmações? Como se mede essa capacidade cerebral? Nas “ciências parapsicológias” ocorrem falhas graves de compreensão dos verdadeiros atributos de uma disciplina para ser denominada ciência. Já discutimos muito brevemente que uma verdadeira ciência se constrói utilizando modelos, teorias ou paradigmas. A Fig. 2 ilustra essa “concepção de ciência” mais próxima da realidade. Há num centro irradiador de explicações (a teoria), e integrado naturalmente aos fenômenos naturais a respeito dos quais a teoria ou paradigma versa. Leis complementares reforçam a estrutura do paradigma e integram os princípios, que fazem parte dele, aos fenômenos. Juntamente com essas leis, o paradigma fornece explicações para os fenômenos, inclusive alguns desconhecidos. É possível assim que no corpo teórico que constitui o paradigma, já exista o gérmen para explicação de muitos fenômenos nunca observados. Esse modelo encontra respaldo na história do desenvolvimento de muitas ciências bem sucedidas.
Fig. 2 Também o modelo da Fig. 2 não faz nenhuma referência à necessidade externa de “instrumentos especiais de medida” e nem a métodos supostamente rigorosos de medida experimental, pois a existência desses aparelhos (a explicação de seu funcionamento) só se justifica pelo paradigma que para eles fornece explicação. É o caso, por exemplo, da utilização de equipamentos ópticos para estudar o movimento dos planetas e outros corpos celestes. A explicação do funcionamento dos equipamentos é fornecida pela óptica, uma área da física, não necessariamente ligada à astronomia ou astrofísica. É possível englobar os princípios da óptica e da mecânica dos corpos em um corpo de teoria comum (no caso a “física”), mas prefere-se mantê-los separados por referirem a domínios fenomenológicos diferentes. Ressaltamos porém que o grau de complexidade desses aparelhos não tem correlação alguma com o rigor com que eles realizam suas medidas. Muito ao contrário, nesse modelo, estimula-se a realização de testes experimentais simples, de observação direta, onde haja pouca influência de fatores de erro a comprometer a realização das medidas. No modelo da Fig. 2 a teoria tem papel fundamental e não o fenômeno. Desde de que se creia e desenvolva a teoria, explicações para os fenômenos irão aparecer. Visto de outra forma, os fenômenos são justificados (explicados) pelo modelo a ponto de só poderem ser percebidos por aqueles que disponham de conhecimento do paradigma. Muitas vezes é possível notar que um mesmo paradigma fornece explicações para inúmeros fenômenos – muitos deles tratados inicialmente como sem correlação alguma com a teoria. Há inúmeros exemplos como esses nas chamadas “ciências normais”, as ciências que se
desenvolveram historicamente segundo o modelo “paradigmático” de ciência. Percebe-se que a negação dos fenômenos não traz conseqüência alguma para a ciência vista nesse sentido pois o paradigma tem papel fundamental. Nesse caso, negar um fato soa profundamente suspeito de falha de compreensão da teoria ou paradigma. Não há também nenhuma preocupação com o grau de comprometimento do cientista com sua crença: pelo contrário admite-se abertamente que ciência é uma atividade onde a criatividade e crença particular do cientista tem uma importância muito grande e benéfica para a ciência. Há, porém, limites para a livre criação, o corpo teórico deve ser interrelacionado e coerente, isto é, seus princípios não devem conflitar entre si. Além disso, a excelência de um determinado paradigma é medido em termos de sua capacidade de explicar os fenômenos a ele ligado e também prever outros. Assim, não basta apenas criar muitas explicações, essas originam-se de princípios mais primitivos e harmônicos, mais ou menos imutáveis (Essa imutabilidade não deve ser entendida com a rigidez dos dogmas. Há um conjunto de regras muitas vezes não explícitas que protegem o conjunto de princípios de modificações mal justificadas). Entendemos que a parte científica do Espiritismo deve ser entendida conforme a Fig. 2. Nele os fenômenos são parte secundária e não fundamental da doutrina. A Doutrina Espírita contém o núcleo principal teórico da ciência espírita. Da utilização de leis complementares chega-se a explicação dos fatos. No caso dos fenômenos mediúnicos, a existência do perispírito como agente intermediário entre o Espírito e o corpo material é fundamental para compreender a imensa maioria dos fenômenos mediúnicos também denominados psíquicos. Entretanto, a Doutrina Espírita vista como paradigma com conseqüências mais profundas, abarca um conjunto muito mais extenso de fenômenos: fenômenos sociais (principalmente comportamentais), biológicos, históricos, patológicos etc. Assim, embora não seja seu objetivo principal, o Espiritismo contribui a muitas áreas do conhecimento, em particular àquela que busca compreender a origem, essência e futuro do homem entendido como uma criatura sem limite no tempo. O Espírito é assim o objeto de estudo da ciência espírita e o paradigma espírita é formado por um conjunto harmônico e mais ou menos fixos. Princípios como a existência de Deus, do espírito como elemento fundamental (além da matéria), da evolução do espírito e da comunicabilidade entre os Espíritos e os homens (reinterpretados como Espíritos encarnados) são alguns dos princípios fundamentais. Esses princípios juntamente com outros (tal como a busca da felicidade por parte das criaturas) explicam e prevêem os fenômenos. Consideremos o caso das doenças denominadas “psiquiátricas”. Faz parte desse enorme grupo de patologias mentais, (que afetam o comportamento do indivíduo) um grupo não menos importantes de doenças provocadas por influências espirituais – as obsessões em seus mais diferentes graus. Compreender o surgimento dessas doenças, que fornece idealmente a base para um tratamento eficaz, é tarefa simples para o Espiritismo (desde que corretamente aplicado), mas muito difícil para as correntes que negam a existência do Espírito, e que buscam uma explicação puramente material. Já citamos aqui a telepatia. Dentro do paradigma espírita, a comunicação entre Espíritos é um fato bem estabelecido. Em particular, a comunicação entre Espíritos encarnados é uma forma particular dessa capacidade de comunicação. Temos assim uma explicação muito natural (dizemos “intuitiva”) da telepatia. Essa explicação funda-se num princípio muito mais geral que explica simples e igualmente bem a enorme variedade de comunicações ou fatos psíquicos. 3. Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.
Depois dessa discussão inicial, fica claro que não se pode falar em uma receita infalível, tal como o sonho de um método rigoroso, para se fazer ciência. Ela é o resultado de uma atividade altamente complexa e integrada no tempo através de grupos de indivíduos formando uma cultura. O Espiritismo, diante das considerações feitas, classifica-se plenamente como uma doutrina científica. Não segue daí que deva adotar o modelo popular de ciência por algumas das falhas que discutimos anteriormente. Essa discussão é importante para os que consideram a Doutrina Espírita, desenvolvida nos livros básicos de Allan Kardec, como conhecimento ultrapassado. Não existe nada mais longe da realidade. Como dissemos, o corpo principal da teoria é protegido com certa rigidez. Modificações no paradigma só acontecem – são conclusivamente admitidos como necessários – se houverem razões muito fortes para isso. Tal não é o caso do Espiritismo proposto pelos Espíritos que auxiliaram Kardec. Da mesma forma que negar os fenômenos é sinal de falha na compreensão do paradigma, com muito mais razão, as tentativas de “reforma” do núcleo principal do Espiritismo (invenção de novos princípios em desacordo com aqueles) é sinal forte de falha na compreensão desses princípios. Clamores recentes nesse sentidos são assentados em considerações bastante pueris, e deixam entrever uma dificuldade de compreensão do verdadeiro caráter do Espiritismo entendido como ciência. Artigo originalmente publicado no boletim do GEAE, número 472 (2004).
Fundamentos I - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.
Resumo
Discute-se aqui brevemente a interação entre a Doutrina Espírita e as ciências. Essa relação pode ser entendida de diversos aspectos, uma necessariamente que considera o aspecto científico do Espiritismo. É importante porém frisar que não pode haver compreensão correta dessa interação, se não se tem compreensão correta do sentido em que se fala de aspecto científico do Espiritismo. Essa
discussão apresenta implicações importantes para os espíritas que acreditam na necessidade de atualização da Doutrina Espírita. Observação: Neste artigo, 'Espiritismo' e 'Doutrina Espírita' são usados como sinônimos, entendendo-se por eles o conjunto de princípios definidos em 'O Livro dos Espíritos' por Allan Kardec. 1.Introdução Todo adepto com razoável entendimento dos princípios da Doutrina Espírita sabe que ela é um conjunto de princípios que se apresentam como afirmações sobre o mundo. Não é menos certo que muitos desses princípios, ainda que se apliquem ao objetivo maior do Espiritismo que é o estudo do elemento espiritual, contém afirmações singulares e gerais sobre o mundo material. Isso necessariamente nos leva à fronteira entre o Espiritismo e as ciências bem estabelecidas que também afirmam coisas sobre o mundo. Para que haja evolução na forma de aquisição de conhecimento – um dos objetivos das ciências e também do Espiritismo, no caso, conhecimento sobre o mundo espiritual – faz-se necessário conhecer exatamente como se dá essa relação. A ciência, tal como a conhecemos hoje, é produto da evolução lenta com que nossa sociedade passou nos últimos séculos. Não existe um consenso geral (na forma de uma formula ou padrão estabelecido) sobre qual seria a definição exata de ciência. Podemos, porém, descrevê-la de acordo com alguns de seus atributos bem conhecidos. De todos eles, um que parece conveniente para caracterizar as chamadas ciências bem estabelecidas (física, biologia, química e outros) é a noção de paradigma [1]. Por paradigma entende-se um conjunto de princípios que versam sobre determinado objeto, e que se encontram naturalmente relacionados a um grupo ou conjunto de fenômenos naturais. Fazem parte do corpo que forma o paradigma também leis complementares a completar o conhecimento, permitindo a aplicação das leis do corpo principal aos fenômenos observados. Os paradigmas são os campos de trabalho tradicional na pesquisa normal das grandes áreas do conhecimento científico. Assim, Ciência não é a mera coleção de fatos e hipóteses mas algo muito mais complexo, em constante mutação através das gerações possuindo seus próprios sistemas de proteção a fim de evitar que seu corpo principal de doutrina seja corrompido. Não se pode mudar a orientação de determinado programa de pesquisa de uma noite para outra, ainda que se tivesse uma boa razão para isso. As mudanças nos programas de pesquisa que caracterizam o paradigma – conhecidas como revoluções científicas – necessitam de um tempo de maturação e, muitas vezes, uma mudança no posicionamento dos cientistas, na maneira como eles vêem o mundo. As revoluções científicas são acontecimentos de curta duração seguidos muitas vezes de estágios de desenvolvimento mais ou menos estáveis. Semelhantes considerações, como pode se compreender, não devem ser deixadas de lado na análise do assunto que serve de título a este texto. Da mesma forma, de uma
análise imparcial da própria Doutrina Espírita deve nascer um modelo de idéias que consiga descrever corretamente o que se entenda por “aspecto científico” do Espiritismo. De posse desses dois ingredientes (compreensão correta do aspecto científico do Espiritismo e do significado da Ciência) podemos então considerar seriamente um debate sobre a relação entre esses dois ramos do conhecimento humano. Apresentamos aqui brevemente alguns subsídios para se iniciar esse debate. 2. Noções incorretas de ciência espírita e ciência normal. Discutindo um modelo mais apropriado de ciência. Um número razoável de espíritas e simpatizantes procuram abordar o aspecto científico do Espiritismo de forma a moldá-lo segundo a visão parcial do conhecimento considerado genuinamente científico. Essa visão parcial vê a ciência como uma atividade extremamente rigorosa em seus métodos de análise, e acredita que os sucessos obtidos com o desenvolvimento científico – que permitiram compreender os fenômenos e desenvolver novas aplicações tecnológicas – são produto direto desse rigor metodológico. Nada poderia estar mais longe da realidade. O sucesso da ciência atual, que se materializa na forma de produtos tecnológicos e sofisticados métodos numéricos de reprodução da realidade em seus mínimos detalhes, não decorre apenas de um rigor metodológico qualquer que seja ele, mas principalmente das teorias que nascem em sua forma primitiva na cabeça dos cientistas. Semelhante compreensão parcial da realidade é comum para muitos espíritas que acreditam que os fenômenos espíritas devam satisfazer necessariamente a critérios de adequação empírica conforme os moldes das ciências normais. Para esses, a “ciência espírita” tem a haver unicamente com a parte fenomenológica (na forma da mediunidade em seus múltiplos aspectos) com exclusão de qualquer consideração de princípios. O Espiritismo é visto como um amontoado de fenômenos a partir dos quais se pode inferir um conjunto de afirmações mais gerais e deduzir conseqüências. Seguindo esse caminho, logicamente os inimigos do Espiritismo se comprazem em negar os fenômenos ou inventar explicações alternativas que parecem atingir os supostamente deduzidos princípios espíritas. Coincidentemente, essa visão também é popularmente atribuída à ciência. De uma maneira simplificada podemos esquematizar o entendimento popular de ciência – que dá origem ao chamado “método científico” – de acordo com a Fig. 1.
Fig. 1 Nessa figura, um observador bem intencionado (quer dizer, isento de préjulgamentos ou explicações próprias consideradas tendenciosas) observa os fenômenos da natureza. Essa observação deve ser igualmente isenta e completa suficiente para não permitir perda de informação a respeito dos fenômenos. Deve ser realizada de forma a cobrir o maior número de “condições” possíveis, o que leva à necessidade de se repetir testes experimentais um grande número de vezes. A partir dos fenômenos ele elabora hipóteses consideradas razoáveis que, por um processo mal explicado, degenera (ou se sintetiza) em “leis gerais”. Esse processo de criação de leis gerais é denominado indução. A partir das leis induzidas outros fenômenos semelhantes (ou os mesmos) podem ser explicados por um processo denominado dedução. Um ponto importante a ser considerado diz respeito às conseqüências para o desenvolvimento de uma ciência se o modelo mostrado na Fig. 1 for considerado ideal. Compreensivelmente pode-se com ele destruir qualquer tipo de explicação negando-se simplesmente os fenômenos. Desde que esses não existam, não há sentido em se acreditar nos princípios deles supostamente induzidos. Isso acontece com os que negam inúmeras vezes com os fatos psíquicos, e com ele a idéia de comunicação entre vivos e mortos e a sobrevivência dos seres após a morte. Artigo originalmente publicado no boletim do GEAE, número 472 (2004). Referências
Novo Jornal de Estudos Antropológicos paranthropology.weebly.com ISSN 2044-9216
Entre dois mundos
Várias vezes antropologistas testemunham rituais de Espíritos, e várias vezes exegetas indígenas tentam explicar que os Espíritos estão presentes...Mas, antropologistas resolvem sempre interpretar tudo de forma diferente. Nós, antropologistas, precisamos treinamento para ver o que os Nativos vêem. Edith Turner (1993). "The reality of Spirits: A Tabooed or Permitted Field of Study?" Anthropology of Conssciousness 4(1): 9-12.
No que segue abaixo, o que está em azul são textos de J. Hunter que comento mais abaixo.
Por J. Hunter (Universidade de Bristol, UK) Bem vindos à primeira edição de 'Paranthropoloy: Journal of Anthopological Approaches to the Paranormal". Essa jornal tem como objetivo básico fornecer uma plataforma para a disseminação de novas pesquisas e idéias concernentes à abordagens antropológicas para o estudo de crenças paranormais, associadas à prática ou aos fenômenos. Embora a ênfase do jornal seja uma abordagem antropológica, ele também se ramificará em outras disciplinas psicologia, parapsicologia, sociologia, folclore, história - como um meio de explorar a maneira como tais metodologias teóricas lançam luz sobre o paranormal.
Antropologia e Paranormal: qual é a questão?
Há muitas razões para uma abordagem antropológica como estudo do paranormal. Não só a antropologia fornece uma metodologia promissora para a elucidação e compreensão do paranormal, como também o paranormal se apresenta como um aportunidade para que teorias e técnicas antropológicas sejam testadas e expandidas.
Andrew Lang
A idéia que métodos antropológicos sejam apropriados para o estudo de fenômenos paranormais não é nova. Escrevendo ainda no Século 19, o acadêmico escocês Andrew Lang (1844-1912), apresentou o método antropológico aos membros da Sociedade de Pesquisa Psíquica (SPR). Lang achou incrível que a SPR tenha, por qualquer razão, se recusado a comentar sobre experiências psíquicas na literatura antropológica e, semelhantemente, que a antropologia da época estivesse super interessada no tipo de pesquisa feita pela SPR. Lang (1996) expressou a opinião que ambos os conjuntos de dados (antropológicos e psíquicos) seriam melhor compreendidos se fizessem referência mútua, ao invés de serem tomados como eventos separados e descorrelacionados.
Métodos antropológicos, em particular participação etnográfica, podem resultar em uma compreensão aprimorada dos mecanismos sociais, psicológicos e espirituais que envolvem as manifestações do paranormal, fatores que podem adicionar uma compreensão mais profunda do tipo de fenômenos estudados por parapsicológos. A pesquisa parapsicológica tende a assumir que efeitos paranormais só podem ser replicados no laboratório sem consideração à maneira como tais efeitos tem sido tradicionalmente produzidos. De fato, Frederic Myers, um dos fundadores da SPR, afirmou que um dos objetivos da pesquisa psíquicas seria o estudo de fenômenos psíquicos ostensivos sem uma... ...análise da tradição, ou sem qualquer manipulação metafísica, mas simplesmente experimentação e observação - pela simples aplicação aos fenômenos dentro de nós e ao redor de nós, dos métodos de pesquisa exata, deliberada e desapaixonadamente, que serviram de base para o conhecimento do mundo que podemos ver e tocar." (citado por Gauld, 1983, xi) Tal abordagem altamente racional, positivista e empírica tornou-se a pedra fundamental da parapsicologia moderna e deve, possivelmente, explicar as evidências relativamente inexpressivas que essa disciplina tem conseguido se comparada aos fenômenos extravagantes registrados na literatura etnográfica: é simplesmente um abordagem que desconsidera a tradição mágica. De Martino (1972), por exemplo, lista um número grande de fenômenos paranormais ostensivos (clarividência, precognição, experiências fora do
corpo, psicocinese, fire-walkings etc) testemunhados por etnógrafos em partes diferentes do mundo, e compara o jeito com que etnógrafos registra tais ocorrências (i. e., dentro de um contexto particular histórico, social, cultura, mitológico e cosmológico) com o jeito como parapsicólogos fazem o mesmo. Assim ele escreve sobre a parapsicologia: Ocorre um quase que total redução do estímulo histórico que está em ação nas ocorrências espontâneas de tais fenômenos. Assim, no laboratório, o drama do homem desencarnado (dying man) que reaparece... para um parente ou amigo - é substituido (reduzido) a um experimento de repetição - tenta-se transmitir à mente do sujeito a imagem de uma carta de baralho escolhida aleatoriamente. (1973, p. 46) A proposta do jornal de Parantropologia é inovadora para a nossa época e parte da necessidade de se avaliar a quantidade enorme de evidências etnográficas e históricas para fenômenos psíquicos. De fato, poderíamos dizer que a verdadeira pesquisa psíquica deve se iniciar com a antropologia e não na proposta de laboratórios de parapsicologia. Por que? Porque a Antropologia procura modelos para o fenômeno humano (tanto moderno como primitivo) sem eliminar nada deles que lhes seja característico. Embora esses fenômenos sejam interpretados dentro de concepções restritas que eliminam o transcendente, a proposta da Paranthropology é justamente iniciar ou propor modelos antropológicos onde a existência do transcendente não possa ser descartada. O horror à idéia da sobrevivência e as concepções espiritualistas fez surgir a pesquisa parapapsicológica com proposta supostamente científica e certamente fechada às observações que ocorram fora dos recintos de laboratórios (veja a citação de F. Myers acima). Essa decisão foi tomada sem prestar atenção ao fato de que existem fenômenos naturais que não podem ser reproduzidos em laboratório, ou mesmo que a exigência de repetibilidade em laboratórias torna restritiva as condições de ocorrência, ou seja, resultam em interferências destrutivas no fenômeno. Há uma crença generalizada de que só existe ciência se os fenômenos puderem ser repetidos em laboratório. A constatação de De Martino, embora interpretada como uma observação quanto à eliminação de estímulos históricos, reflete a eliminação de quase todos os estímulos possíveis necessários para as ocorrências psíquicas. A que se reduz então os testes parapsicológicos 'rigorosos'? A medidas de coincidência de leitura de carta por 'sujets' ou outros sinais gerados por computador, ou por fontes radioativas. Com isso, espera-se medir correlações que lançem luz à existência de precognição ou retrocognição, sem se postular nenhum mecanismo para que isso ocorra, a menos da existência de Super Psi, ou a existência de indivíduos dotados de percepção quase que onisciente (tanto no espaço como no tempo). O Super psi nasce como uma explicação naturalmente fora do escopo de qualquer teste, já que ele, por definição, associa à mente determinadas características que tornam muito difícil a 'contra prova' ou o processo do 'falsificacionismo' no sentido proposto pelo Filósofo Karl Popper. Em outras palavras, ao se assumir Super Spsi fica muito difícil a proposição de uma observação onde Super Psi possa ser 'falsificado' ou demonstrado como não
existente. Logo, as teorias de Super Psi são suspeitas do ponto de vista epistemológico. Mas Super psi tornou-se um mecanismo de crença de céticos moderados que, não aceitando a idéia da sobrevivência, não podem deixar de aceitar a existência dos fenômenos. Ai entra a necessidade de estudos Antropológicos que podem: Lançar luz quanto a condições de ocorrência de fenômenos psíquicos; Chamar a atenção para a grande coincidência de narrações - ou seja, explicações que os antigos e outro povos davam ao fenômeno do mediunismo e suas manifestações, atentando para a grande coerência entre tais descrições; Ajudar a classificar fenômenos e lançar luz quanto as verdadeiras fontes ou origens desse fenômenos. Pode-se obsevar, através da antropologia, a supressão ou aumento das ocorrências mediúnicas, conforme se eliminem ou aumente os 'estimulos históricos' ou outras condições a serem determinadas no momento da ocorrência psíquica. Finalmente, Hunter chama a atenção para uma corrente de antropólogos modernos que adota uma postura diferente:
Mais recenemente, entretanto, teóricos tem argumentado em favor de tratar tais crenças tal como os nativos o fazem. Edith Turner (1993, 1998, 2006) tem se colocado favorável a essa perspectiva, especialmente em termos de interpretar a crença na existência e atuação dos Espíritos no campo. Outros antropologistas tem também considerado os Espíritos seriamente, mesmo que não no nível ontológico real: por exemplo, Nils Bubandt (2009) explorou a atuação política de Espíritos que se comunicam com médiums 'possuídos' em Norte Maluku - tratando-os como metodologicamente reais. Aqui vemos a noção antropológica da ação consciente expandida para incluir outras formas de personalidade. Por que isso é importante? Porque não é possível fazer avançar o conhecimento antropológico ao se desconsiderar a opinião dos nativos tais como elas se apresentem. Esperamos, assim, que uma nova era no conhecimento da verdadeira natureza do Homem se inicia a partir da adoção dessa postura mais aberta. Referências
Bubandt, N. (2009). “Interview with an Ancestor: Spirits as Informants and the Politics of Spirit Possession in North Maluku.” Ethnography 10(3): 291-316. De Martino, E. (1972). “Magic: Primitive and Modern”. London: Tom Stacey Ltd. Lang, A. (1896). “Cock Lane and Common Sense.” London: Green & Co. Turner, E. (1993). “The Reality of Spirits: A Tabooed or Permitted Field of Study?” Anthropology of Consciousness 4(1): 9-12.
Turner, E. (1998). “Experiencing Ritual”. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. Turner, E. (2006). “Advances in the Study of Spirit Experience: Drawing Together Many Threads.” Anthropology of Consciousness 17(2): 33-61.
Crenças Céticas X - Positivismo lógico e indutivismo: as duas bases do ceticismo dogmático.
"Acho que o mais importante defeito dele... era que quase tudo nele era falso." (A. J. Ayer, principal defensor do Positivismo lógico na Inglaterra, sobre o Positivismo lógico). Muita gente acha que filosofia é perda de tempo, um conhecimento que serve à 'gente metida' ou intelectuais com pouco senso prático. Na verdade, todas as nossas ações e decisões se baseiam em motivações interiores que, muitas vezes, são derivadas de crenças e suposições que são objeto de estudo da filosofia. Uma vez que tomamos contato com as várias doutrinas filosóficas que existem, podemos compreender melhor porque as pessoas agem de determinada maneira, e até mesmo, prever seu comportamento. Esse é o caso do pseudoceticismo ou ceticismo dogmático que tem sido objeto de nossas análises neste blog. Podemos nos perguntar: quais são os seus fundamentos filosóficos? A resposta não pode ser outra: o positivismo lógico e o indutivismo ingênuo. Os positivistas lógicos descrevem o mundo como derivado dos sentidos. Para eles só há sentido em estudar aquilo que esteja diretamente acessível aos sentidos humanos, fornecendo um visão de mundo essencialmente fundamentada no 'empirismo'. Acreditamos que o positivismo lógico foi uma resposta ao excesso de cuidados com conceitos e idéias que não tem suporte empírico, mais
particularmente contra aqueles objetos da teologia dogmática. Historicamente, sabemos que o Positivismo lógico (nascido no assim denominado 'Círculo de Viena' na década de 1920) foi uma resposta à filosofia de Hegel. Um positivista lógico acredita que evidência observacional é indispensável para uma descrição correta do mundo. Na verdade, ele vai mais além e só acredita naquilo em que se possa fornecer uma evidência empírica. Portanto, a descrição positivista do mundo é uma descrição necessariamente pública que despreza entidades que não sejam publicamente acessíveis. Essa visão positivista tem reflexo imediato nas decisões de investimentos de pesquisa. Uma vez que recursos são escassos, é razoável que o modo 'positivista' de ver o mundo tenha maior influência, já que ele acaba por significar risco menor ao investimento. Parece ser muito menos arriscado investir dinheiro em pesquisas sobre objetos que sejam diretamente acessíveis aos sentidos (que se pode ver, tocar, ouvir ou perceber) do que com aqueles que não são. Hoje em dia, o positivismo lógico originalmente criado no círculo de Viena não é mais defensável. A Física moderna, a genética e outros ramos da Ciência demonstraram que, para que teorias científicas tenham sucesso, é preciso postular a existência de entidades que não são diretamente acessíveis aos sentidos. Se tais entidades existem ou não é outro problema, bem mais complexo, que o leitor pode aprender buscando por textos sobre o 'realismo científico'. Por isso, o positivismo se transformou, e antes o que era tomado como 'necessidade de evidência dos sentidos' é hoje substituído por 'evidências empíricas' dentro do chamado 'método científico'.
No desenvolvimento e justificação desse método, os neopositivista são guiados pelo indutivismo, que se tornou outro fundamento para o ceticismo dogmático. Por 'indutivismo' queremos dizer uma postura filosófica que aceita que o conhecimento pode ser gerado a partir do amontoado de evidências ou observações de fatos singulares. Acredita-se que conhecimento científico genuíno e altamente confiável possa ser criado a partir da observação de um número finito de fatos, desprezandose o papel que teorias tem na orientação e condução de experimentos ou proposição de observação de fatos. Para o indutivista, as teorias são, na verdade, o resultado do processo de fazer ciência e não tem outro papel a desempenhar. Embora tal postura já tenha sido conclusivamente rejeitada, ela tem grande influência na maneira
como o processo de se fazer ciência é defendido popularmente, embora seja duvidoso que tenha qualquer influencia na maneira comoCiência de qualidade é gerada. Analisemos, por exemplo, a frase abaixo, traduzida de seu original em inglês. Essa frase foi tirada da 'rationalwiki' um site semelhante à enciclopédia wiki mas que se auto-entitula 'racional': Em geral, fenômenos paranormais colocam-se fora do que seria normalmente esperado ocorrer no mundo real. Além disso, tais fenômenos não podem ser reproduzidos sob condições controladas e, portanto, não podem ser investigados pelo método científico. Por essa razão, eles são classificados como pseudociência. (em http://rationalwiki.org/wiki/Paranormal) Por que a ênfase na repetibilidade e controle? Porque o indutivista acredita que o processo de indução só funciona sob determinadas condições, a mais importante delas é a necessidade de um grande número de observações. Vejamos um exemplo:
Bares noturnos são lugares ideais para se comprovar a tese de que muitos brasileiros são bêbados. Suponhamos que alguém todas as sextas-feiras, em determinado horário à noite visitasse grande quantidade de bares ou casas noturnas em uma grande metrópole no Brasil e verificasse a presença de pessoas embriagadas. Ele então visitaria outras capitais, sempre à noite, aos sábados e verificaria ainda mais pessoas embriagadas. De acordo com o processo indutivista de fazer ciência, seria autorizado a esse pesquisador enunciar a lei: "Os brasileiros são bêbados em geral". Note que, para que a afirmação tenha valor, não é suficiente observar um grupo pequeno de brasileiros se embriagando, mas muitos, talvez milhares, o que é facilmente atingido ampliando a 'base de dados' ou pesquisa de campo. Além disso, faz parte da crença indutivista pensar que os dados ou os fatos contem em si tudo o que é necessário para se chegar ao enunciado final ou teoria. Assim, de acordo com tal princípio de 'objetivação dos fatos', o pesquisador
não pode fazer qualquer consideração adicional (como, por exemplo, sobre as razões para pessoas beberem em bares à noite) sob pena de ser acusado de parcialidade ou de ser 'tendencioso' em sua pesquisa. Por que essas considerações são importantes? Porque na defesa de explicações para a fenomenologia dos chamados 'eventos paranormais' (quer dizer, fenômenos espíritas), somos constantemente bombardeados com acusações pseudocéticas da necessidade de 'repetibilidade' de experimentos. Isso acontece justamente por influência da crença indutivista que, não tendo papel a desempenhar no desenvolvimento da Ciência (como mostram estudos em História da Ciência) é invocada para invalidar os fatos ou negar o status de ciência a qualquer teoria ou explicação para esses fatos (que transcendam às explicações populares de embuste ou fraude). Os fenômenos espíritas (a maioria girando em torno das faculdades mediúnicas) são eventos que exigem condições especiais para ocorrência. Tais condições singulares são apreendidas quando a teoria desses fenômenos é compreendida. Somente assim é possível 'desenhar' experimentos que possam ser repetidos até um certo ponto. A confirmação de resultados no campo da pesquisa dos fenômenos espíritas é possível, sem a necessidade de um número arbitrário de repetições. Tais confirmações foram feitas no passado e apontam para a excelência das explicações que sustentam a continuidade da existência para além do corpo físico, e postulam a existência de entidades não observáveis de forma muito mais direta que muitas teorias da física ou da biologia o fazem para determinados fenômenos. Quanto mais próximos estivermos da verdade com relação as origens e causas desses fenômenos, tanto mais aptos estaremos para reproduzí-los e aproveitá-los de forma coerente e responsável. Isso explica porque, em um ambiente onde prevaleça o ceticismo, a descrença e o deboche para com tais ocorrências, elas dificilmente poderão ser observadas e, muito menos, explicadas. Para saber mais: Sobre o Positivismo Lógico: http://en.wikipedia.org/wiki/Logical_positivism http://sts.um.edu.my/E-Library/Lecture%20Notes/SFGS6111/LP1.pdf Sobre o Indutivismo ingênuo: http://www.phys.port.ac.uk/what/lecture2.htm Referências
Suppe, Frederick, The Positivist Model of Scientific Theories, in: Scientific Inquiry, Robert Klee editor, New York, USA: Oxford University Press, (1999), pp. 16-24. Chalmers, A. F. O que é Ciência, afinal? ed. Brasiliense, 1a edição (1983). Postado por Ademir Xavier às 16:25 1 comentários
Crenças Céticas IX - Como refutar qualquer coisa que você não goste.
Uma das melhores lições que se pode ter da literatura cética é sobre como tratar a evidência, fatos ou dados que estejam em conflito com suas próprias crenças, de forma tal que apenas tais crenças sejam consideradas válidas. Uma estratégia comum de desmascaramento é apresentar conjecturas 'ad hoc' para descartar qualquer evidência de uma certa afirmação X. Essa estatégia funciona como método retórico para se ganhar uma argumentação (especialmente se os leitores estiverem inclinados a pensar como você), mas está longe de ser um argumento científico, porque, em ciência, hipóteses alternativas devem ser testadas, não meramente assumidas como possíveis. Por exemplo, se cientistas estiverem buscando a causa do mal de Parkinson e a evidência confirmar a hipótese de que níveis de dopamina tem um papel fundamental nessa causa, não cai bem para um 'cético da Dopamina' dizer "Bem, é possível que outras causas desconhecidas existam, você não pode concluir que a dopamina seja importante, porque podem haver outras explicações. Você está apenas manipulando as estatísticas." Com certeza outras explicações são possíveis, mas nosso cético aqui não pode esperar que cientistas levem a sério o que diz, a menos que ele forneça evidências a favor de sua alternativa (antidopamina), isto é, a menos que ele forneça evidência de que 'outras explicações' podem dar conta da doença de Parkinson e tornar a hipótese da dopamina desnecessária ou implausível. Uma opinião gerada no conforto do sofá sobre cenários imaginários ou possibilidades 'ad hoc' não é nem hipótese científica nem mesmo uma alternativa. Somente se deve tomar tais alternativas seriamente se forem testadas ou confirmadas, ou, ao menos, se existir evidências independentes que façam a hipótese alternativa algo plausível ou relevante para aquele caso específico. Por exemplo, para confirmar a 'hipóstese psi' (sobre a existência de capacidades paranormais), você não precisa excluir qualquer outra possibilidade lógica ou cenário imaginário, porque possibilidades lógicas são, por definição, sempre possíveis e a imaginação é livre e ilimitada.
Hipóteses são confirmadas por suas conseqüências e predições. Se a 'hipótese psi' prediz, por exemplo, que certos cães irão manifestar determinados comportamentos (como no caso da pesquisa de R. Sheldrake), então a hipótese fica confirmada se tais cães manifestarem aquele comportamento por ela previsto. (Confirmado não significa que seja verdade absoluta, mas simplesmente que os dados empíricos a confirmam, pedem por mais pesquisa e que ela seja aceita de forma provisória). Será que isso exclui outras alternativas ou possibilidades imaginárias? Não, mas possibilidades alternativas tem que ser confirmadas e testadas (ou mostradas como sendo plausíveis naquele caso específico) para que sejam aceitas como reais e pertinentes, não simplesmente assumidas com verdade porque um crítico de sofá não quer aceitar - por quaisquer razões ideológicas - o que a hipótese diz. Caso contrário, seria possível então rejeitar de forma arbitrária qualquer resultado empírico a favor de qualquer hipótese usando de trucagem retórica com base em qualquer possibilidade ad hoc imaginável. Para deixar esses pontos ainda mais claros, vamos supor que estamos examinando a afirmação "Jader Sampaio é o autor do blog espiritismocomentado.blogspot.com"
Uma foto e evidências facilmente refutáveis: será mesmo que Jader Sampaio é o autor de espiritismocomentado ? Mas suponha que, dado minha filosofia pessoal, ideologia ou visão do mundo, eu queira desacreditar tal afirmação porque, para mim, é simplesmente impossível(i. e., estou certo que Jader Sampaio não existe, ou porque eu acho que ele não sabe usar um PC e, portanto, jamais poderia ter um blog). Evidências são fornecidas a favor da idéia de que Jader Sampaio é na verdade o autor de tal blog: O blog tem uma foto dele e um logo que ele criou; Em uma determinada entrevista, um sujeito chamado 'Jader Sampaio' diz que aquele blog é dele mesmo; O endereço IP (e outras informações técnicas) mostram que o blog pertence a alguém chamado 'Jader Sampaio';
Outros sites tem links para esse blog com a frase 'Blog de Jader Sampaio';
Se eu quiser refutar a tese de que espiritismocomentado é de Jader Sampaio, posso usar o truque da 'possibilidade lógica/explicação ad hoc/cenário imaginário de sofá' e descartar ou rejeitar as evidências acima: Com relação ao nome e ao logo, posso dizer que isso nada prova porque qualquer pessoa pode fazer um blog e colocar como autor 'Jader Sampaio' e ainda fazer um logo parecido; Com relação à entrevista, posso dizer que se trata de uma evidência anedótica e, portanto, inválida. Além disso, é possível que o sujeito em questão esteja simplesmente mentindo que seu nome seja Jader Sampaio. E, ainda que eu aceite que seu nome seja este, isso nada prova que o blog é dele. De qualquer forma, é apenas 'um testemunho' e, portanto, sem muito valor do ponto de vista científico; Com relação ao endereço IP, posso afirmar que isso nada prova, porque é POSSÍVEL FALSIFICAR um endereço IP ou qualquer outra informação técnica como aquelas relativas a PCs ou um servidor específico; Com relação aos links de outros sites para o tal blog e a referência como um 'blog de Jader Sampaio', posso mais uma vez dizer que isso nada prova, porque isso pode ser forjado também. De qualquer forma, é uma evidência anedótica (para um cético empedernido e racional como eu, isso nunca prova nada). Note que os argumentos acima são essencialmente motivados no DESEJO DE SE DESACREDITAR (especialmente, se eu sou alguém que mantém uma ideologia ou filosofia que pregue a inexistência de um tal Jader Sampaio). Mas, também, esses são argumentos baseados em especulações de sofá não provadas relativas a outras 'possibilidades' ou cenários imaginários que eu uso para invalidar qualquer evidência ou fato que me é apresentado.
Note também que todas as possibilidades apresentada por mim são perfeitamente POSSÍVEIS. Mas isso não as faz verdadeiras em nenhum caso específico. Para saber se tais especulações são verdadeiras, evidências que as suportem devem ser apresentadas (por exemplo, que um hacker tenha forjado um endereço IP em um servidor específico para falsificar também um nome como 'Jader Sampaio'). Se eu afirmar que um fator X causa um 'habilidade psi' em laboratório, então estou fazendo uma afirmação empírica positiva e, se eu sou um cientista, tenho que testar minha afirmação a respeito de um tal fator X para saber se isso é certo ou não (se não estiver correta, minha afirmação é cientificamente inútil contra objeções válidas de cientistas que obtenham evidências positivas para a hipótese psi); e não simplesmente assumir isso sem evidência empírica. Obviamente, SE EU QUISER DESACREDITAR psi, então estarei bastante motivado a aceitar qualquer alternativa ad hoc, mesmo que ela não tenha sido testada ou confirmada. Mas, nesse caso, não mais estou a fazer Ciência, estou simplesmente protegendo minhas crenças com especulações ad hoc e post hoc. Basicamente, estou racionalizando minha fé contra a
existência de uma determinada coisa que eu não goste. Isso é, em essência, wishful thinking disfarçado como retórica científica. Finalmente, como um exercício intelectual, imagine que você não acredite em uma determinada afirmação (você é livre para escolher que afirmação será esta). Você descobrirá, então, se usar especulações ad hoc criativas, que você sempre será capaz de se livrar de evidências que sejam contrárias as suas crenças. Quanto mais inteligente e esperto você for, tanto mais criativas e persuasivas serão suas 'especulações ad hoc'. Mas isso não muda o fato de que você está se enganando a si mesmo com um método sofisticado de racionalização de dados, fatos e evidências que desafiem suas crenças. Em outras palavras, você está usando sua própria inteligência e razão para se enganar. Ao invés de usar isso para encontrar a verdade, você está usando sua capacidade para racionalizar ou proteger suas tendências, preconceitos ou preferências pessoais contra qualquer possibilidade de refutação. É um processo sofisticado de auto ilusão (que também impede que você perceba que esta se enganando). Ninguém pode estar 100% livre de ser tendencioso ou de truques mentais para evitar tal dissonância cognitiva. Mas, se você ama realmente a verdade, você certamente fará um esforço para controlar sua mente e manter seus preconceitos sob controle consciente. Você então aprenderá bastante sobre sua própria mente, e também sobre a mente dos outros. Este é um texto traduzido e adaptado do original 'How to debunk any claim that you want to disbelieve', acessível em
Crenças Céticas VIII - Alfred Wegener e a fraude dos continentes flutuantes.
Alfred Wegener.
O "impossível" é geralmente fixado por nossas teorias, não definido pela Natureza. Teorias revolucionarias habitam no inexperado. (...) À medida que a ortodoxia Darwinista varria a Europa, seu mais brilhante oponente, o embriologista já velhinho Karl Ernst von Baer, disse com amarga ironia que toda teoria triunfante passa por três estágios: primeiro ela é descartada como uma inverdade, então é rejeitada como contrária à Religião e, finalmente, é aceita como dogma e todos os cientistas dizem que sempre lhe apreciaram a verdade. Stephen J. Gould ("Ever since Darwin", Penguin books, 1991) Continentes que flutuam como barcos no oceano? Então, o solo que pisamos não se mostra firme, robusto, desde a criação da Terra? Talvez a imensa maioria das pessoas não saiba, mas o chão que nós pisamos todos os dias, dirigimos nossos carros ou praticamos esportes está em movimento. Quando criança, divertia-me ao constatar, olhando os mapas das aulas de geografia, que a costa oriental da América do Sul encaixava-se, quase como se fosse um quebra-cabeça, com a costa ocidental da África. Na minha falta de compreensão, achava que aquilo não seria coincidência, mas ignorava totalmente como aquilo teria acontecido. Essa observação infantil talvez não tenha passado em vão aos primeiros cartógrafos que, da mesma forma que eu, não conseguissem imaginar uma causa para essa grande semelhança.
De qualquer maneira, a idéia de que continentes flutuassem constituiu-se numa heresia científica ou, usando termo mais modernos ao sabor dos céticos, uma pseudociência. Evidências alinhadas por seu grande proponente, Alfred Wegener (1880-1930), foram completamente desprezadas e ridicularizadas como erros, incongruências de alguém que, não sendo geólogo, jamais poderia se aventurar em tal campo. Avaliar e estudar a saga de Wegener na defesa da teoria dos continentes flutuantes oferece ao estudioso uma oportunidade para compreender a maneira como a Ciência é fabricada e as consequências do ceticismo no desenvolvimento das ciências.
Diz-se que o ceticismo é importante nas ciências. Isso não ocorreu na história de nosso herói: Alfred Wegener. Ninguém melhor que o paleontólogo e biólogo evolucionista S. J. Gould (1941-2002) para nos contar essa estória, que fala tanto da certeza e processo de perquirição científicos. O texto abaixo (em azul) é uma tradução nossa de trechos do Cap. 10, Continental Drift, de 'Even Since Darwin' (Penguin books, 1991): Por que tal profunda mudança (no pensamento científico) teria ocorrido em tão curto espaço de tempo como uma década? (Referindo-se à mudança no opinião dos cientistas sobre a teoria de Wegener) Muitos cientistas sustentam - ou ao menos argumentam opinião para o público que sua profissão marcha para a verdade sob a orientação de uma procedimento infalível chamado 'método científico'. Se isso fosse verdade, minha questão teria fácil resposta. Os fatos, tais como se apresentavam 10 anos atrás, falavam contra o deslocamento dos continentes; desde então, aprendemos mais e revisamos nossa opinião de acordo com tal aprendizado. Argumentarei que tal cenário é não pode ser aplicado de forma geral e é profundamente impreciso nesse caso. (...) Considero essa estória como típica do progresso científico. Novos fatos, colecionados de forma antiga sob a orientação de velhas teorias raramente resultam em qualquer revisão substancial do pensamento. Fatos "não falam por si mesmos"; são interpretados à luz da teoria. O pensamento criativo, tanto nas ciências como nas artes, é o motor da mudança de opinião. A Ciência é uma atividade quintessencialmente humana, não é algo mecânico, uma acumulação robótica de informação objetiva, guiada por leis de lógica para uma interpretação inescapável. Duas são as fortes evidências à respeito da deriva dos continentes, que eram 'varridas para baixo do tapete' quando a teoria de Wegener era herética: 1. A glaciação no Paleozóico tardio. Cerca de 240 milhões de anos atrás, geleiras cobriam partes do que é agora a América do Sul, Antártida, Índia, África e Austrália. Se os continentes fossem fixos, tal ocorrência torna difícil explicar certos fatos. (...). Todas essas dificuldades evaporavam se os continentes austrais (incluindo a Índia) estivessem unidos durante o grande período de glaciação, e localizados mais abaixo, cobrindo o pólo sul; as geleiras sul americanas moveramse da África, não de um oceano aberto; a África 'tropical' e a Índia 'Semitropical' estavam próximas do pólo sul; o pólo Norte localizava-se no meio de um grande oceano, de forma que geleiras não poderiam ter se produzido no polo norte; 2. A distribuição de trilobitas cambrianos (artrópodes fósseis que viviam entre 500 a 600 milhões de anos atrás). Os trilobitas cambrianos da Europa e da América do Norte dividiam-se em duas faunas diferentes com uma distribuição bem peculiar nos mapas modernos. Trilobitas da província 'Atlântica' viviam por toda a Europa e em algumas áreas da costa mais oriental da América do Norte - (oriental e não ocidental). Newfoundland e e o sudoeste de Massachusetts, por exemplo. Trilobitas da província 'Pacífica' viviam por toda a América e em alguns locais da costa ocidental da Europa - norte da Escócia e o noroeste da Noruega, por exemplo. É muito difícil dar conta dessa distribuição se os dois continentes estivessem distantes 3000 milhas um do outro.
Mas a deriva dos continentes sugere uma estranha solução. Em épocas Cambrianas, a Europa e a América do Norte estavam separadas: trilobitas atlânticos viviam em águas pela Europa; trilobitas pacíficos em águas na América. Os continentes (agora incluindo sedimentos com trilobitas encrustados) moveram-se um na direção do outro até se juntarem. Mais tarde, se separaram novamente, mas não exatamente ao longo da linha de onde haviam se juntado. Restos espalhados da Europa antiga, contendo trilobitas atlânticos permaneceram na parte mais oriental da América do Norte, enquanto que algumas restos da velha América do Norte ficaram grudados na parte mais ocidental da Europa.
Em apenas alguns segundos, assista milhões de anos de deslocamentos nunca antes imaginados pelas gerações anteriores. Tais exemplos são citados como "provas" da deriva hoje, mas eram sumariamente rejeitados nos anos anteriores, não porque os dados fossem menos completos do que hoje, mas porque ninguém imaginava um mecanismo que fizesse mover os continentes.
(...) Na verdade, a superfície da Terra parece estar dividida em menos de uma dezena de "placas" maiores, limitadas em ambos os lados por zonas de criação e destruição. Os continentes estão congelados entre tais placas movendo-se com elas à medida que o solo oceânico se afasta de zonas de criação. A deriva dos continentes não é mais orgulhosa de si, ela se tornou conseqüência passiva de nossa nova ortodoxia a tectônica de placas.
Entretanto, até ganhar o status de ortodoxia, a teoria de Wegener sofreu o escárnio e a desconsideração. Ela hoje nos apresenta como um exemplo vivo que se contrapõe a qualquer tentativa de estabelecer métodos na pesquisa científica e de a Natureza não demonstra tão facilmente seus mais profundos segredos. Considerado como uma fraude, seu proponente não viu sua aceitação pela comunidade científica, mas morreu acreditando nela e que, em algum dia, eles haveriam de considerá-la seriamente.
Crenças Céticas VII - A vida além da vida e a necessidade de uma nova Ciência.
Vimos anteriormente que, para que haja Ciência, são necessários ao menos três coisas: um objeto de estudo, uma linguagem e um método. O pseudoceticismo, em geral, invoca (chama) a autoridade da Ciência para si para desqualificar determinadas afirmações sobre o mundo, justamente aquelas que não se alinham com as crenças pseudocéticas. Vejamos uma afirmação clássica do pseudoceticismo: A Ciência não comprova a existência de vida depois da morte. A Ciência não comprova a existência de Espíritos. Qual o significado aqui da palavra 'Ciência'? Em quase todas as discussões que vemos sobre o assunto, parece que podemos interpretar 'Ciência' como o corpo de pesquisadores, o conjunto de cientistas, a opinião de técnicos ou especialistas em assuntos científicos. Se este for o caso, já vimos anteriormente que a opinião dos cientistas não pode ser tomada como autoridade, principalmente no que diz respeito a assuntos que fogem a sua especialidade. Se isso não é o caso, vejamos: Qual pode ser o 'objeto de estudo' dessa idéia de comunidade que desaprove a vida além da vida? Será que a Ciência contemporânea, entendida como opinião dos cientistas, tem se debruçado sobre essa questão específica que é negada pelos céticos? A resposta é claramente um não, uma vez que essa comunidade tem coisas muito bem definidas - os estudos de outros objetos - para tratar. Mas poderíamos dizer que não é a comunidade de cientistas a interpretação mais correta para o termo 'Ciência' na afirmação em análise, mas sim interpretarmos 'Ciência' como o corpo de conhecimento, sem apelo algum à autoridade dos cientistas. Nesse caso, somos obrigados a apontar o objeto de estudo, o método e a linguagem que seriam responsáveis por tal negação... Onde, na ciência contemporânea poderemos encontrar isso? Que ramo da Física, Astronomia, Biologia, Química poderia ser invocado para afirmar que, de fato, inexiste vida após à morte? Muitos céticos dizem que é isso que vemos ocorrer todos os dias quando animais são mortos ou pessoas deixam a vida em hospitais. Não há evidências - repetem eles - diante de um corpo inanimado, que nunca mais demonstrará nenhum sinal de vida após os momentos derradeiros, de qualquer coisa além. Fisiologistas e bioquímicos de renome poderiam ser invocados para descrever os processo celulares internos que ocorrem após a morte de tecidos biológicos,
neurofisiologistas poderiam enfileirar imagens de tomografias mostrando o apagar das luzes na massa encefálica e chegaríamos a formar uma imagem completa da morte, no que diz respeito ao modo como ela se apresenta para nosso conhecimento atual, mas sobre o quê? Sobre as conseqüências dela para o corpo. Sim, o corpo, eis aqui o objeto de estudo que procurávamos. Aqui há Ciência positiva, há uma linguagem descritiva e há um método de pesquisa muito bom. Mas será que isso nos autoriza a dar o passo que permite negar a afirmação que aqui analisamos? Será que não estão fazendo como o Cardeal Bellarmino - do caso Galileu - que afirmou não existir evidências diante de uma Terra que parecia bem fixa, imóvel, e do movimento do Sol, todos os dias a se levantar a leste e se por a oeste? Ao se tentar ir além, afirmarão: isso é metafísica...Mesmo sem saber o significado dessa palavra, aprenderam sua conotação negativa. O problema aqui é simples: trata-se de uma deficiência na compreensão da existência de uma multiplicidade de objetos de estudos no mundo em que vivemos. Se não se reconhece a existência de um determinado objeto de estudo, não pode haver Ciência. Mas o que faz com que considerem esse mais além como uma mera especulação metafísica? O fato de eles, os céticos (veja que não estou me referindo aos pseudocéticos, mas aos céticos bem intencionados), não se darem ao trabalho de buscar, pesquisar e procurar. Muitos céticos não sabem que a Natureza oculta muito bem os seus segredos. Mas uma das coisas que a nova visão do mundo revelada pela Ciência é que existem muitos objetos de estudo e que a imensa maioria deles não sensibiliza nossos sentidos. Tomemos o exemplo do vírus (figura abaixo) e façamos o exercício mental de nos colocar em uma época onde microscópios eletrônicos não estavam disponíveis. Hoje, é muito fácil para nós acreditarmos na existência desses seres. Eles foram 'revelados' pela Ciência e são a causa de muitas patologias. Mas ao afirmarmos isso, estamos numa posição privilegiada. Há razões para acreditarmos que, no que diz respeito à afirmações a respeito da continuidade da vida além da vida não estamos com os mesmos privilégios.
Imagem do vírus da gripe espanhola. Se microscópios eletrônicos não estivessem disponíveis, como poderíamos ter 'evidências' sobre a existência desses seres microscópicos? Hoje, estamos numa situação privilegiada em relação a isso (conhecimento científico), mas o mesmo não é verdade com muitas outras proposições a respeito do Universo.
Se não conseguem 'encontrar' o Espírito, sede da consciência, é porque dele formaram uma idéia errada. Usam uma concepção arcaica, antiga, de uma época quando nosso conhecimento do mundo era muito pequeno, tão pequeno que ainda nos julgávamos no centro do Universo. Como se recusam a postular a existência de
um novo objeto de estudo, não podem aceitar os fatos, não podem ir além. Entretanto... ela se move! afirmaria Galileu. Precisamos de uma nova Ciência para nos revelar nosso futuro. Novos Galileus, novos Newtons e novos Laplaces irão sobre esse novo objeto se debruçar para descobrir suas leis, desenvolver uma nova linguagem e novos métodos. Essa é a próxima grande fase da Ciência no futuro. Postado por Ademir Xavier às 22:02 0 comentários
Crenças Céticas VI - Noções populares de Ciência
Uma coisa que aprendi em minha vida é que toda nossa Ciência, se comparada à realidade, é primitiva e infantil. Mas, mesmo assim, é coisa mais preciosa que temos. A. Einstein. O público em geral tem várias opiniões formadas (ou melhor, supostas) sobre o que é Ciência. Isso é importante já que a Ciência substituiu a autoridade religiosa em nosso tempo. Nada há mais bem conceituado hoje em dia do que a autoridade da Ciência. Entretanto, como seria possível descrever corretamente o conhecimento científico? Será que a Ciência se limita apenas ao conhecimento que está disponível na forma de livros científicos ou artigos? Aqui descrevo o meu ponto de vista, sem entrar em detalhes complexos que o leitor pode encontrar ao buscar por suporte em algum livro de Epistemologia da Ciência. Essa área da Filosofia foi justamente criada para tratar desses problemas . No que segue não exporei nada sobre as principais teorias do conhecimento, mas discuto o que aprendi na minha vivência como cientista. Nosso objetivo aqui é discutir posteriormente essas idéias e as novas proposições de pesquisa dos fenômenos psíquicos, bem como o caráter científico das teorias que se aventaram para os explicar.
Elementos da Ciência Para que haja Ciência (note que escrevo essa palavra com letra maiúscula) são necessários, ao meu ver, 3 ingredientes: Objeto de estudo.: É o objeto, coisa fisíca ou não sobre a qual as teorias e explicações científicas irão versar. Por exemplo, há uma ciência que estuda átomos e suas relações ou interações, há outra que estuda os fenômenos climáticos etc. A Ciência, para existir, tem que ter definido um objeto de estudo. A questão do objeto de estudo é especialmente crítica, uma vez que, por não se reconhecer a existência de outros objetos além dos que já são conhecidos em uma determinada época, é impossível estabelecer a Ciência. Linguagem: É a maneira como a Ciência fará suas proposições sobre o objeto de estudo. No caso feliz da Física (ou mesmo da Química), essa linguagem é essencialmente matemática, ou seja, utiliza abstrações lógicas, construções abstratas e teoremas envolvendo essas construções. Há muita gente que acha de forma incorreta que, se o conhecimento científico não puder ser colocado na forma de proposições que se reduzem a números, não há Ciência. Isso é um erro grave, já que as coisas são justamente assim na Física por uma peculiaridade do objeto de estudo. Com outros objetos (por exemplo, seres vivos), o conhecimento científico se estabelece sem recorrer a manipulações numéricas ou teoremas. Aqui é importante entender que o objetivo da Ciência é gerar informação que seja útil para a sociedade, sendo que a 'utilidade' dessa informação não pode ser julgada com base em idéia preconcebidas como imaginar que o que é útil amanhã é o mesmo que é útil hoje. A pesquisa científica inovadora e sem limites deve ser fomentada justamente porque é difícil prever as consequências do conhecimento científico. Método: aqui nos deparamos com algo mais delicado, fonte de inúmeras confusões. O método (assim como a linguagem) não pode ser definido de forma independente do objeto de estudo e da linguagem. Há pessoas (inclusive vários acadêmicos) que acham ser possível estabelecer um método geral para fazer ciência independente do objeto de estudo. Essa crença é resultande de uma visão parcial e incorreta da maneira como a Ciência se operacionaliza ou se desenvolveu ao longo da história. O método ou processo de se fazer Ciência é altamente dependente do objeto de estudo e da linguagem, ou seja, das teorias científicas que são levantadas preliminarmente para se estudar o objeto de estudo. Ou seja, dependendo da explicação ou hipótese levantada para explicar a origem ou fonte de um determinado fenômeno, um método de investigação diferente deverá ser implementado. Há muitas pessoas que acham que o método científico é a fonte do conhecimento genuinamente científico - e, portanto, genuinamente verdadeiro. Acreditam que o conhecimento pode ser adquirido através de um conjunto de passos que se inicia com uma evidência, se amontoam outros próximos e, de evidência em evidência, se chega à verdade. O ceticismo dogmático confere grande importância às evidências justamente porque se apoia nessa noção muito popular de se fazer Ciência. Essa idéia é problemática porque, muitas vezes, considerações sobre os objetos de estudo e linguagem não são levados em consideração. Efeitos com origem em determinadas causas são confundidos com outros efeitos que tem natureza conhecida. Acredita-se que um determinado fenômeno deve ser enquadrado dentro da perspectiva de outros conhecidos, com linguagem própria.
Antigamente (antes do Sec. 20) a comunidade acadêmica achava que meteoritos eram pedras lançadas durante erupções de vulcões distantes. Um exemplo típico dessa visão foi as primeiras considerações sobre quedas de pedras (meteoritos) do céu. A comunidade científica até a época de Arago (17861853), não acreditava que pedras poderiam cair do céu. Portanto, as que eram observadas caindo só poderiam provir de erupções vulcânicas distantes. Achava-se que vulcões tinham força suficiente para erger monolitos inteiros a centenas de quilômetros de distância. Nenhuma evidência nessa caso foi suficiente para convencer o contrário. Por que isso ocorreu? A explicação mais plausível frequentemente chamada pelo ceticismo dogmático de 'navalha de Occam' - não exigia que pedras viessem de fora da Terra, mas era suficiente imaginar que voariam com as explosões, pois muitas pedras foram observadas voando nas proximidades de vulcões em erupção. Ou seja, existiam evidências fortes para a teoria considerada conhecimento científico na época. As evidências mudaram depois que se observou que a maior parte das pedras que cairam tinham um composição característica, diferente daquelas ligadas a erupções vulcânicas. Um estudo muito mais meticuloso foi necessário para comprovar a 'evidência extraordinária' para a queda de pedras do céu. Obviamente que a mera observação dessas ocorrências - testemunhadas por qualquer indivíduo desde o início da civilização - não era considerada evidência extraordinária. Esse exemplo tirado da História mostra que Ciência não começa com acumulo de evidências e fatos, já que as evidências e os fatos devem ser interpretados para serem aceitos. E a interpretação dos fatos não depende deles mesmos, mas do que está dentro da cabeça das pessoas. Logo a Ciência é uma construção humana, cultural e não algo independente de considerações humanas. A Ciência verdadeira ocorre quando há uma interação fértil entre as noções de objeto de estudo, linguagem e método. Entretanto, só isso não é suficiente. Os resultados devem estar disponíveis publicamente. Como sempre ocorre, as vezes as consequências (ou efeitos) são tomados pelas causas, a ponto de ser bastante comum confurndir-se conhecimento científico com conhecimento acadêmico. Não é o conhecimento acadêmico aquele que está publicamente disponível e que foi analisado por um método próprio de análise por consultores independentes etc? A nós aqui não interessa criar uma disputa sobre as vantagens e desvantagens do método de publicações ou 'análise por pares'. Nosso interesse é na idéia ou
concepção de Ciência. Há verdadeira Ciência quando as causas fos fenômenos recebem explicação satisfatória, esteja ela ou não publicamente disponível na forma de publicações acadêmicas. Seja ela aceita ou não. No que segue iremos analisar esse ponto que gera outro tipo de confusão.
Crenças Céticas V - O caso Galileu e a fraude do movimento da Terra.
Terceiro, digo que, se houvesse verdadeira demonstração de que o Sol esteja no centro do mundo e a Terra no 3º céu, e de que o Sol não circunda a terra, mas a Terra circunda o Sol, então seria preciso proceder com muita atenção na explicação das Escrituras que parecem contrárias a dizer, antes, que não as entendemos, do que dizer que é falso aquilo que se demonstra. Mas não crerei que há tal demonstração até que me seja mostrada... ...Mas, no que se refere ao Sol e à Terra, não há nenhum perito na matéria que tenha necessidade de corrigir o erro porque experimenta claramente que a Terra está parada e que o olho não se engana quando julga que o Sol se move, como também não se engana quando julga que a Lua e as estrelas se movem. E baste isto por agora... Cardeal Bellarmino (In: Galileu Galilei. Ciência e Fé. São Paulo: Nova Stella Editorial; Rio de Janeiro: MAST. , 1988)
Em algum lugar da Europa, antes do final do primeiro quartel do Século 17, um cético empedernido escreve uma carta a um amigo distante... "Houvi dizer que em Roma, um certo professor de nome Galileu Galilei afronta a verdade ao pretender mostrar que não é o Sol que gira em torno da Terra, mas o contrário, defendendo a idéia de Copérnico, o idiota que quer reformar toda a astronomia (1). Galileu Galilei utilizou um tubo 'mágico' (só Deus sabe por quais artimanhas do
demônio...) feito por arte trazida de um certo holandês, que é capaz de amplificar, diz ele, imagens de marinheiros em mastros de navios distantes. Comenta-se que as imagens são por demais toscas para não criar a idéia de que o tal tubo introduz ilusões aos órgãos da vista (2), ao ponto de não serem críveis as descrições que esse professor fez de suas observações do céu. Além disso, é fato provado que Galileu fez pequena fortuna com tal tubo (3)vendendo a vários mercadores venezianos e de outras regiões e, agora mesmo, pretende que o exército o compre para suas campanhas militares, uma prova de sua astúcia e falta de decoro. Numa noite, resolveu apontar o tal tubo 'mágico' para a lua e descreve supostas crateras, como se a Lua não fosse uma esfera perfeita, mas quer convencer a todos que ela é como a Terra, cheia de planícies, mares e montanhas (4).
Ao apontar sua mágica para Júpiter, disse e quer que todos acreditem ter visto esse planeta não como uma estrela andarilha, como toda Humanidade sempre o viu (5), mas como uma pequena esfera rodeada de pontos brilhantes que ele afirma tratarem-se de satélites. Esse professor chegou ao ponto de sugerir que o tal astro é um mini sistema solar que tem Júpiter como o maior corpo e que, portanto, o Sol seria por comparação o centro de nosso Universo e não a Terra. Esse professor afirma que isso não prova ser o Sol o centro mas é uma forte evidência (6). Pela feitiçaria de seu tubo mágico afirmou que Venus passa por fases e que seu tamanho varia junto com essas fases, a ponto de acreditar ter provado que Venus gira em torno do Sol. Fez isso mesmo agora, quanto todos os astrônomos da europa (7) sabem que o sistema de Tycho Brahe resolve maravilhosamente o problema, ao propor que os planetas internos - e externos - girem ao redor do Sol que, por sua vez, gira em torno da Terra como todos sabemos ser fato comprovado. Ao observar Saturno, o planeta mais lento do céu, foi enganado por sua própria artimanha, ao constatar que esse planeta tem orelhas, e quer que todos acreditemos nisso!(8)
Para o bem de todos, Galileu já começou a ser punido por sua presunção posto que esse homem, já meio velho, está ficando cego depois de ter apontado seu tubo para o Sol. Mesmo diante da punição, descreve que a superfície do Sol é repleta de manchas escuras que se movem em sua superfície, outra farsa que ele inventou para nos provocar (9). Não existem evidências nem pelas santas escrituras (que lhe é totalmente contrária), nem na comunidade dos sábios que a Terra gire em torno do Sol(10). Essa é questão já resolvida para todos, que diariamente vêem o Sol se levantar a Leste e se por a Oeste e que ficam a imaginar o que seria dos continentes e mares se a Terra (11), nem que fosse por alguns milésimos de palmo, se movesse - haja vista os acontecimentos recentes de Terremotos no oriente e no ocidente. Sendo assim, Galileu Galilei trata-se da maior farsa já perpetrada entre a comunidade dos astrônomos (12) a suportar as idéias perigosas de Copérnico. Ele é uma fraude que merece encarceramento e processo inquisitorial, o qual o tribunal eclesiástico já deu-se pressa em estabelecer." Analisando com cuidado os documentos da época e colocando-se no papel daqueles que participaram da trama que levou ao julgamento de Galileo bem como sua abjuração daquilo que havia professado, vemos que se tratou de mais um caso onde as 'evidências' ou fatos comprovados não foram aceitos, antes renegados e considerados 'inconclusivos' ou 'insuficientes' para mover o dedo das opiniões a favor da mobilidade da Terra... Na verdade, os críticos de Galileu na época estavam em uma posição muito mais confortável do que os pseudocéticos das anomalias, que hoje se aquartelam exigindo evidências. Mas, mesmo assim, o que aconteceu? Eles estavam errados. Se não vejamos: (1) Essa frase é atribuída a Martinho Lutero. O reformista alemão obviamente sabia que a tese do movimento da Terra contrariava a Bíblia. Para o pensamento medieval, tudo estava muito bem do jeito que estava: a Bíblia (Velho Testamento) concordava maravilhosamente bem com o pensamento cristão dominante do homem no centro do Universo, feito 'a imagem e semelhança de Deus' e tendo o céu como enfeite de suas noites. Vem Copérnico e diz o contrário. Então Copérnico só poderia ser um idiota ou estar a serviço de Satanás; (2) Aqui nosso crítico de Galileu tenta desqualificar a evidência. 'Não passa de uma ilusão dos sentidos'. Evidências extraordinárias sempre foram tomadas como alucinações ou fraudes, quando não se ajustam ao pensamento pseudocético. Mas temos que salvar nosso crítico pseudocético aqui, já que, na época de Galileu, a óptica sequer conhecia as leis de refração da luz. Logo, não é tão sem fundamento assim nos imaginarmos na posição do pseudocético de Galileu como acreditando que o telescópio se tratava de um 'tubo mágico'. (3) Aqui nosso personagem desvia o objetivo de sua crítica e sugere uma possível razão financeira por conta dos atos de Galileu. Isso é bastante comum no ceticismo dogmático, encontrar evidências ilícitas subjacentes a determinados fenômenos ou atos de pessoas ligados aos fenômenos. (4) Nosso crítico simplesmente não aceita a evidência do telescópio. A Lua para ele
é uma esfera perfeita, tal como a vista nos apresenta. Dizer que ela tem crateras e montanhas - ou seja, sugerir que é um mundo como a Terra, é querer contrariar a Bíblia também, afinal não foi a lua uma luminária colocada por Deus no céu para enfeitar a noite dos homens ? (5) Nosso crítico recorre aqui à evidência dos sentidos. Júpiter é uma estrela e não um planeta! (6) O argumento de Galileu foi desqualificado totalmente por nosso crítico. De fato, que adianta querer dizer que Júpiter, sendo o astro maior no grupo formado por ele e seus satélites, guarda a mesma posição do Sol em relação à Terra? Argumento muito sofisticado para a mente do cético dogmático. (7) O cético dogmático tenta aqui recorrer à autoridade da Ciência de sua época. Como vimos, a autoridade da Ciência está baseada em outros pressupostos e não o da autoridade. Mas, nessa época tanto quanto hoje, isso raramente é compreendido; (8) O que Galileu viu apontando o telescópio para Saturno? Vejam o desenho abaixo do próprio Galileu:
Um 'planeta com orelhas'... Por causa da baixa resolução óptica de seu telescópio, Galileu não conseguiu divisar os anéis tão conhecidos desse planeta hoje em dia. Ao invés disso, essa 'evidência extraordinária' corrorborava que, o que Galileu reportava, não passava de produto de uma ilusão produzida por seu tubo mágico. As evidências eram assim altamente suspeitas... (9) Galileu desconhecia os danos à visão causado pela exposição da retina ao fulgor solar amplificado por seu telescópio. Na cabeça do pseudocético isso é uma punição por suas provocações. (10) De novo, aqui recorrência à autoridade, tanto da Bíblia com da comunidade científica. (11) Aqui temos o ponto mais difícil de Galileu e uma razão peremptória para duvidarmos ainda mais do ceticismo dogmático! Por mais que se esforçe em fornecer evidências, nada pode remover os críticos de Galileu de que a Terra não se move, afinal é o que todos sentimos e vivemos em todos os dias de nossas vidas... Entretanto, ela se move! (12) Por tudo isso foi condenado Galileu, por se tratar de uma farsa colocada no rio
da História como fronteira entre o conhecimento da Verdade e o ceticismo dogmático em nome da Religião e de Deus. Também essa é a razão porque muitos consideram que a Igreja não errou no processo de Galileu. Ainda hoje podemos duvidar do movimento da Terra se adotarmos a mesma visão do cético dogmático. De fato, quais são as evidências de que a Terra se move? Não adianta dizer que 'a Ciência já aceita isso, ou já resolveu aquilo'. Há que se provar, com o mesmo tipo de exigência cética, a tese do movimento. Tentem fazê-lo por si mesmo, assumindo a mesma força de dúvida e descrença dos mais combativos céticos dos fenômenos espíritas e verão que ainda restam dúvidas quanto ao movimento da Terra...
Crenças Céticas - IV Onde está fundamentada a autoridade da Ciência? Mas, estamos certos dos fatos observados? Homens de Ciência são muito rápidos em pontificar que devemos estar certos dos fatos antes de se embarcar em uma teoria. Felizmente, os que dizem isso não o fazem na prática. Observação e teoria funcionam de forma ótima quando são integradas, uma ajudando a outra na busca da verdade. É uma boa recomendação não confiar demais em uma teoria até que tenha sido confirmada pela observação. Espero não chocar os físicos experimentais ao dizer que também é uma boa regra não confiar demais nos resultados da experiência até que eles tenham sido confirmados pela teoria. Sir Arthur Stanley Eddington (1882-1944) Astrônomo e físico inglês.
Embora seja possível ter uma postura dogmática sem apelar para a Ciência, isso raramente acontece na atualidade, visto que a ciência moderna, dado seu alto grau de especialização e sucesso em desenvolvimentos tecnológicos e nas descobertas da Natureza, é invocada pelo pseudoceticismo para invalidar ou sustentar certas proposições a respeito do mundo. A nós aqui não interessa um estudo profundo do que seja Ciência, o que é feito por um campo da filosofia conhecido como Epistemologia da Ciência. Importa muito mais saber sobre onde repousa a autoridade da ciência, visto que o que é invocado pelo pseudoceticismo é sua autoridade, muito mais do que seu conteúdo de conhecimento.
Isso é importante, visto que o conhecimento pode ser fundamentado de diversas maneiras, ou seja, podemos sustentar determinada posição a respeito do mundo tanto usando um apelo à autoridade (como fizeram os cardeais da Igreja no caso de Galileu Galilei, ao invocarem as Escrituras Sagradas como invalidando a tese do movimento da Terra) ou fundamentar a autoridade no próprio conhecimento. Em suma: * CONHECIMENTO BASEADO EM AUTORIDADE: certas proposições sobre as ocorrências do mundo são de uma determinada maneira porque alguém disse que é assim. Exemplos: recorrer à Bíblia para proibir certas práticas ou posturas, ou dizer, de certa forma, que 'a Ciência não comprova isso ou aquilo' como querendo implicar que 'os cientistas não acreditam nisso'. Nesse último caso, Ciência é confundida com a 'opinião dos cientistas', que, tanto quanto diz a lógica não tem autoridade fora do campo de estudo a que se dedicam; * CONHECIMENTO BASEADO NO PRÓPRIO CONHECIMENTO: aqui a fundamentação é algo mais sutil e pouco conhecida. A autoridade da ciência tem como escopo os objetos de estudo de uma determinada ciência em particular. Dentro desse escopo (e isso é muito importante) a autoridade das doutrinas científicas está baseada nas próprias teorias, ou seja, na capacidade demonstrada dessas teorias em prever acontecimentos e explicar fatos. Exemplo: é certo que a Terra gira em torno do Sol em órbitas elípticas porque o movimento dos astros em seus mínimos detalhes, como vistos desde a Terra pode ser explicado de forma precisa com essa hipótese. Ao se tentar explicar de outra maneira, as explicações falham em determinados aspectos (mas não em todos!). Por lógica, a explicação mais abrangente e capaz de prever ocorrências não observadas (predições da teoria) é a de maior autoridade. Muita gente invoca a autoridade da ciência como que fundamentada na opinião dos cientistas. Um exame detalhado de como a Ciência se estabeleceu ao longo de sua história mostra que tal opinião é equivocada. Acreditamos na Ciência porque ela é capaz de nos trazer uma descrição satisfatória a respeito de certos fenômenos que estuda (e não, como pretendem alguns, 'uma visão do mundo'). Acreditar que a Ciência nos traz uma visão de mundo que se pode generalizar para todos os aspectos, mesmo aqueles que ela não estuda e que, por extrapolação, são explicados dentro de determinadas creças, é uma postura chamada 'cientificismo'. Cientificistas acreditam não só que a Ciência é o caminho a ser usado para estudar qualquer coisa, mas que a Ciência atual já consegue explicar qualquer coisa (teoria de tudo). De fato, podemos dizer que é razoável esperar que a Ciência seja o caminho a ser usado para se estudar os mais variados fenômenos (mesmo aqueles que não fazem parte do grupo de fenômenos estudados pela comunidade científica presentemente, mas novos fenômenos em estudos de fronteira). Entretanto, será que o conhecimento científico atual pode ser usado para explicar tudo? É certo que os desenvolvimentos da Ciência revelaram aspectos da estrutura do mundo que merecem a atenção de todos que pretendem estudar novos fenômenos, inclusive anomalias: * Há uma lógica inerente nas leis da Natureza. O universo conhecido (ou seja, aquele que é objeto de estudo sistemático) pode ser descrito por meio de leis
que determinam como os fenômenos ocorrem sob determinads condições ou contextos; * Acaso e aleatoriedade desempenham um papel importante, embora existam questões profundas relacionados aos fundamentos do acaso - sobre se ele é 'irredutível' ou não - ou seja, sobre se essa aleatoriedade não se deva antes a ignorância de fatores e não a um caráter inerentemente estocástico das leis da Natureza; * 'Não existem milagres'. Por definição, um milagre é uma derrogação das leis da Natureza. Como não podemos dizer que temos o conhecimento completo a respeito dessas leis, a idéia de se utilizar milagres para explicar certos fenômenos não pode ser bem vista. O mais correto é assumir que não conhecemos tudo e uma ocorrência 'milagrosa' é uma ocorrência natural de causa e condições de ocorrência desconhecidas; * O Universo é muito grande. Tanto em termos de suas dimensões físicas e temporais (muito antigo e de futuro desconhecido), como também em sua distribuição hierárquica de dimensões. As variadas escalas de ocorrência dos fenômenos (desde o microcosmo quântico até a escala cosmológica) atestam uma hierarquização extraordinária na maneira como as leis físicas operam. Também a 'grandeza do Universo' implica em nossa incomensurável ignorância a respeito do funcionamento mais íntimo de muitos eventos naturais. A postura correta para se conhecer a verdade é a de humildade diante dos fatos naturais e não de arrogância; * A pesquisa científica é o veículo de busca do conhecimento a respeito das coisas da Natureza. Entretanto, não existe um 'método' ou 'receita' para se fazer ciência. Cada fenômeno, assim como cada objeto de estudo tem seu próprio método ou ferramenta de pesquisa. Querer forçar as coisas, utilizar certos procedimentos e regras para estudar ocorrências desconhecidas é um erro. Mas erro pior é tirar certas conclusões a respeito de certos fenômenos com base numa aplicação incorreta de um método. Por exemplo: certos eventos psíquicos não podem ser reproduzidos em laboratório. Isso é uma característica do fenômeno que exige condições especiais de ocorrência. Muitos céticos dogmáticos concluem pela inexistência dessas ocorrências psíquicas por causa de sua não replicabilidade. A falta de conhecimento a respeito das condições é um entrave ao desenvolvimento da Ciência, tanto no estudo de fenômenos muito conhecidos como com as ocorrências mais raras. De todas essas considerações, a falha em compreender a última colocação acima tem sido um obstáculo ao desenvolvimento da ciência dos fatos espíritas. Grande parte da retórica pseudocética gira em torno da reprodutibilidade dos fenômenos anômalos exigindo condições descabidas para sua ocorrência. Isso decorre de uma postura tendenciosa de se repelir sistematicamente fatos que não se enquadrem em uma visão preconcebida do mundo que os pseudocéticos dificilmente reconhecem. Em resumo: a autoridade da ciência está fundamentada em sua própria capacidade de explicar os fenômenos que estuda e não na opinião dos cientistas. Não há como fundamentar a verdade em 'comitês' ou 'grupos de pesquisa', 'associações' ou 'academias'. Para verificar isso é só observar que existem inúmeros exemplos na História das Ciências de como a opinião apressada ou sem reflexão de cientistas famosos prejudicaram o desenvolvimento da Ciência.A Natureza guarda suas
verdades que somente com muito trabalho, esforço, compreensão e proposição audaciosas de teorias pode ser revelada.
Crenças Céticas III - Ceticismo dogmático
"Até que um dia percebi que seu ceticismo não era uma postura de busca da verdade, mas uma filosofia que se usavam para manipular os dados conforme suas crenças. Essa filosofia era de natureza pseudo intelectual e costumava desacreditar e invalidar quem quer que propusesse uma evidência. Infelizmente esses céticos pensam que podem fazer uso da semântica e regras de sua filosofia para apagar a evidência da realidade! Pensam que podem invalidar eventos objetivos da vida real de natureza paranormal colocando rótulos sobre eles ou citando teoremas e axiomas do tipo 'evidências anedóticas não são válidas', 'apelo à autoridade', 'argumento da falácia ad populum' dentre outros. De fato, tentam usar a semântica para apagar a realidade objetiva. Infelizmente para eles, a natureza não funciona desse jeito." (Wiston Wu, www.australianparanormalsociety.com). Como já são bem conhecidas as táticas que fundamentam o ceticismo dogmático, recomendamos a leitura do post 'Pseudo-skeptical arguments of the Paranormal' disponível em www.australianparanormalsociety.com. Abaixo fazemos uma tradução adaptada para nossa discussão. 1) "Isso não pode ser, portanto, o fato não é verdade!" Ignorar fatos ou evidências que não se enquadram em suas crenças ou concepções pré-estabelecidas do mundo. Isso é feito sem modificação ou atualização das crenças para que se conformem os fatos, o que é mais lógico. Esse processo é conhecido como racionalização por dissonância cognitiva. 2) Tentar forçar falsas explicações para explicar um evento paranormal, independentemente de se encaixarem ou não aos fatos. Em essência, céticos dogmáticos preferem inventar falsas explicações ao invés de aceitar as que se lhe são apresentadas e que sugerem a transcendentalidade das causas associada aos
fenômenos espíritas ou paranormais. Por exemplo, o uso sistemático da hipótese da "leitura fria" (cold reading) para explicar a precisão surpreendente da informação trazida por médiuns quando se sabe que tal explicação não dá conta dos fatos e circunstâncias em que os fenômenos ocorrem. 3) Mudança frequente nas regras que estabelecem os critérios de evidência que o ceticismo dogmático deseja que seja cumprido. Exemplo: um cético dogmático exige experimentos controlados e não o que chamam de 'evidências anedóticas' (esse termo tem caráter claramente pejorativo). Quando isso é feito, ele muda novamente as regras e exige que os experimentos sejam repetidos por outros pesquisadores. Quando isso é feito, o cético dogmático passa a atacar a integridade dos pesquisadores e o seu caráter, atacar os métodos ou exige relatórios dos mais pormenorizados detalhes do experimento. Caso contrário, rapidamente passa a considerar uma evidência de falta de controle como resultando na 'explicação' para o fenômeno. Sempre achará uma desculpa que valida seu ponto de vista preresolvido. Surgiu uma evidência extraordinária ? mude as regras das evidências que elas deixam de ser... 4) Usar 'dois pesos e uma medida' para considerar as evidências. Não aceitam o que chamam de 'evidência anedótica' para fenômenos psíquicos, pois as consideram não confiáveis. Surpreendentemente, porém, aceitam de braços abertos quando tais evidências suportam seus pontos de vista. Também a aceitam se tais evidências circunstanciais depõem contra os fenômenos (um marca inquestionável de postura tendenciosa). Exemplo: 'ninguém nunca reportou nenhum fenômeno paranormal por aqui', ou 'ele/ela disse outra coisa'. Quando um experimento feito em laboratório mostra de forma clara a transcendentalidade da evidência eles não a aceitam. Mas se algum experimento mostra apenas uma probabilidade para essa explicação, então eles tomam o experimento como como claramente contrário à evidência; 5) Atacando a personalidade das testemunhas ou a credibilidade das evidências por elas fornecidas quando não há como aceitar essas evidências. A tática se assemelha a dos políticos que, ao perceberem que não poderão ganhar uma eleição, recorrem a afirmações descabidas contra o adversário. Quando uma evidência tem como origem uma testemunha chave que não podem ser desprezada ou refutada, os céticos dogmáticos encontram uma maneira de desacreditar a mesma seja através da contra caracterização de suas personalidades, ou exagerando/distorçendo eventuais erros triviais que elas tenham cometido. 6) Desconsiderando todas as evidências para os eventos, seja considerando-os anedóticos (um termo claramente pejorativo), não testáveis, irreplicáveis ou sem controle. Céticos que se fecham para qualquer evidência, mesmo depois de perguntarem por ela de forma irônica, tendem a agir desse modo, conforme as posturas descritas acima. Ainda que a evidência seja na forma de experimento bem feito, eles a descartaram considerando irreplicável ou sem controle. As características que definem o ceticismo dogmático ou pseudoceticismo revelam na verdade forças psicológicas que não são distintas do estado de fanatismo em que muitos crentes convictos se apresentam. Por incrível que pareça, é como se as mesmas forças operassem tanto dentro do fanático como do pseudocético. Mas entre o cético dogmático mais tenaz e a postura de prudência que nós devemos ter ao se deparar com anomalias relatadas em primeira mão, existe uma infinidade de estados.
Certamente o ceticismo é necessário - não temos dúvida disso - para a vida diária. De certa forma, o ceticismo é como um remédio que deve ser ingerido na dosa certa pois, se tomado em excesso gera intoxicação. Mas antes de analisar com mais detalhe a questão do ceticismo e sua postura diante dos fatos espíritas, convém estudarmos também um pouco dos fundamentos da ciência, como ela opera e sobre qual autoridade repousam seus fundamentos. Será que a autoridade da ciência repousa na autoridade dos cientistas? Será que cientistas, enquanto homens fora de sua área específica estão autorizados a emitir julgamentos a respeito de fatos que não conhecem? O que diferencia em mais alto grau a ciência da religião? Tais são as questões a que nos dedicaremos na próxima postagem.
Crenças Céticas - II Fundamentos do Ceticismo.
"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade e a outra é recusar-se a acreditar naquilo é." Søren Kierkegaard A. Xavier. O que é ceticismo? Essa é a primeira pergunta a se fazer. Hoje, é comum encontrar argumentos céticos em grupos que discutem ou rebatem a possibilidade de fenômenos anômalos (os eventos psíquicos são apenas um subconjunto desses que engloba também as ocorrências de objetos voadores não identificados ou, simplesmente, OVNIS). Segundo esse grupo de pessoas, a Ciência - entendida em uma concepção particular - não sustenta, aprova ou comprova a existência desses fenômenos. Em outras palavras, os céticos das anomalias chamam para si a autoridade da ciência para fundamentar sua opinião. Mas enquanto esse movimento cético possa parecer hoje em dia algo bem moderno, isso está longe de ser verdade. Desde quando houveram pessoas que acreditaram em alguma coisa (a imensa maioria), houveram ao seu lado os que sempre duvidaram. Como a dúvida é a ausência da crença, para se estabelecer como verdade a respeito de um determinado fato (não importa qual seja ele), é preciso fundamentar a dúvida em princípios e são tais esses princípios que pretendemos dicutir aqui. Na filosofia estabelecida como disciplina de estudo, conta-se que Pirro de Elis (~ 300 a. C) pregava a postura da ataraxia (paz da mente) ou falta de preocupação com relação ao conhecimento das coisas, pois ele duvidava que pudéssemos em realidade conhecer qualquer coisa. Pirro pregava assim a acatalepsia ou impossibilidade de qualquer conhecimento. O ceticismo filosófico origina-se assim da crença dos Skeptikoi ou escola de filósofos que não afirmavam absolutamente nada, mas apenas davam sua opinião. A atuação dos céticos foi importante para o
desenvolvimento da filosofia. No hinduísmo, a escola Karvaka (por volta de 500 a. C) pregava a linha de pensamento materialista ou de oposição à qualquer tipo de crença. Vê-se assim que a argumentação cética que se contrapõe à crença de qualquer tipo ou à possibilidade de conhecimento não é coisa moderna. Nas ciências - entendida como atividade dos cientistas tendo suas próprias regras e proposições de raciocínio - o cetismo é comumente acreditado como tendo um papel importante. É comum - embora errado - dizer que os cientistas são céticos. A postura cética, dependendo do momento e da maneira como é feita, pode tanto ajudar como prejudicar o desenvolvimento científico. Há vários exemplos na História da Ciência sobre isso. Ao se estabelecerem como verdades provisórias, as teorias científicas precisam erger sistemas de proteção que impeçam a modificação não desejada desses princípios. Justamente por não ser necessário 'comprovar' sempre determinadas verdades é que se organizam as ciências na forma de um corpo de princípios ou 'doutrina'. Essa doutrina científica - que é, em essência a teoria, não pode ser modificada ao longo do processo de investigação na medida em que mais fatos a corrorborarem. Existe assim uma orientação (ou heurística) que impede que as ciências sejam modificadas. Muitas vezes, essa heurística orientadora de proteção dos princípios de conhecimento é confundida com o ceticismo. Ela é, na verdade, uma postura de proteção, pois sua tarefa é proteger o conhecimento, sem fechá-lo a novas investigações. Para que seja genuíno em sua aplicação, essa postura tem que se expressar na forma de uma linguagem ou teoria científica. Qualquer coisa fora disso pode ser denominado de ceticismo ordinário e não guarda qualquer relação com a Ciência. Assim, podemos definir o cético de forma geral (de acordo com o Webster's Revised Unabridged Dictionary) como alguém que: "Não está decidido quanto ao que é verdadeiro, alguém que está buscando o que é a verdade, um pesquisador de fatos e raciocínios." Aqui, no ceticismo ordinário, como postura de direito inalienável de cada um diante de fatos do mundo, existem uma infinidade de posicionamentos. Para cada posicionamento, uma virtude ou defeito gerará esse ou aquela consequência para a pessoa. Como o referêncial de verdade é, muitas vezes, a própria individualidade (embora muitos céticos digam que é a Ciência), há que se julgar a postura cética de acordo com as consequências que ela gera. Na considerações sobre o ceticismo, é preciso antes discutir onde estão os alicerces para o estabelecimento de afirmações sobre o mundo. De forma muito simples, ao longo da história das ciências e da filosofia foi possível ver que muitas vezes os fundamentos para o conhecimento estão estabelecidos na autoridade - seja de determinados textos considerados sagrados ou na pessoa de cientistas de renome.Veremos com certo detalhe essa questão da autoridade mais para a frente quando estudarmos os verdadeiros alicerces que fundamentam o conhecimento científico genuíno. Muitas vezes também o ceticismo tem como força motriz a própria individualidade ou personalidade do cético e ai aparecem considerações sobre psicologia, onde paixões mais elementares tais como orgulho ou inveja entram em cena. Há pessoas que duvidam simplesmente pelo prazer de se duvidar, sendo que a busca pela verdade quase que nenhum papel toma parte. Outras se admiram com a atenção dispensada pela maioria a determinadas pessoas envolvidas com fenômenos (como
é o caso dos eventos psíquicos) e passam a atacar de forma sistemática a personalidade do envolvido. Essa admiração gera a raiva que se prende à inveja ou desejo de atrair a mesma atenção para si. Veremos também alguns fundamentos psicológicos para as crenças céticas. Pseudoceticismo ‘A Ciência ainda não comprovou que existe vida após a morte nem que existem Espíritos’. No pseudoceticismo parte-se de premissas que invocam a autoridade da ciência para contradizer ou invalidar explicações para muitos eventos psíquicos (mas não adstritos apenas a esses) tais como: possibilidade da sobrevivência, comunicação com inteligências incorpóreas, experiências ou vivências variadas anômalas como as de quase-morte que afirmam a independência da consciência do funcionamento do cérebro dentre outras. Uma simples análise pelos campos bem definidos do conhecimento científico atual mostra que inexistem disciplinas associadas ou criadas para estudar os fenômenos anômalos. Ou seja, temos aqui o problema do objeto de estudo. Como podem céticos dogmáticos invocar a autoridade da Ciência para invalidar explicações ou mesmo negar certos fatos que essas Ciência não estuda? A única ciência que se pode invocar nesses casos é a que eles criam segundo suas próprias crenças, as crenças céticas. Com relaçao a anomalias, é importante dizer que existem dois tipos: 1. Anomalias que ocorrem dentro de um determinado paradigma científico ou teoria; 2. Anomalias que não se relacionam a qualquer teoria científica, caracterizando eventos de natureza diferente do escopo de aplicação das ciências ordinárias. As anomalias do primeiro tipo são tratadas de forma específica dentro do desenvolvimento de uma determinada ciência bem estabelecida. Isso porque são descritas em termos de uma linguagem específica, a linguagem da teoria. Elas levam a uma situação de crise dentro do paradigma aceito que é resolvido pela proposição audaciosa de novas explicações. Ao se incorporarem na forma de novos paradigmas, tornam-se fatos que suportam novas teorias. As anomalias do segundo tipo, sendo órfas de uma disciplina científica específica são território selvagem, ou seja, terras novas onde provavelmente objetos de estudo peculiares devem ser reconhecidos. Mas reconhecidos por quem? Pelos cientistas das ciências que não estudam esses fenômenos? Então só podem ser validados e estudados por quem se disponha a aceitá-los primeiramente tais quais se apresentem. Invocar a autoridade de Ciências que se estabeleceram para estudar assuntos específicos para invalidar ou contradizer fatos considerados anômalos ou que contradigam à experiência ordinária é o mesmo que pretender usar um médico como revisor de um trabalho de física, ou um físico para aprovar certas considerações de um biólogo. Em tudo há a necessidade de se consultar especialistas, mas, no caso dos fenômenos psíquicos e espíritas eles não podem ser encontrados entre os especialistas das ciências ordinárias como querem muitos
céticos dogmáticos. Isso é um absurdo lógico que passa despercebido em muitas discussões céticas. Mas qual a causa disso? Uma análise simples revela que a causa é a necessidade de trazer para si uma autoridade, para que sua argumetação tenha valor. A Ciência – ou melhor sua autoridade – é invocada para validar as crenças céticas.
Crenças céticas I - Introdução
"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade e a outra é recusar-se a acreditar naquilo é." Søren Kierkegaard Por A. Xavier Introdução A movimentação pública em torno de eventos psíquicos, revelações mediúnicas, proposições sobre vida após a morte e reencarnação com base em noticiário da mídia, faz surgir contingente de céticos que se esforçam para tentar refutar (em inglês, 'to debunk') não só a explicação transcendente para essas ocorrências como as próprias ocorrências. A maioria dos blogs e sites sobre ceticismo, pretende cobrir a falsidade e expor o embuste, apresentando as mais variadas 'explicações' para os fenômenos as quais eles denominam 'explicações naturalistas' ou 'explicações plausíveis' (lê-se, "aquelas em que nós acreditamos"). O nome 'naturalista' evoca um apelo à ciências naturais, como se estas pudessem embasar a crítica à manifestações dos Espíritos ou as inegáveis evidências de reencarnação, além de outros fenômenos insólitos. Ao invés de discutir cada explicação e cada tentativa de refutação, é conveniente expor argumentos verdadeiramente plausíveis que fundamentam a 'crença cética'. Iremos aqui, em uma sequencia de posts, estudar alguns fundamentos filosóficos do ceticismo tanto para aquele que podemos considerar 'ceticismo genuíno' como outro que poderíamos denominar, falso ceticismo ou 'pseudoceticismo'. A maior parte das críticas que recaem sobre as ocorrências psíquicas tem como origem o segundo tipo de ceticismo que é, a bem da verdade, bastante dogmático em sua maneira de ver o mundo.
Através dessa análise poderemos compreender os argumento verdadeiramente céticos ou não e suas reais disposições e, com isso, economizar tempo. Em toda e qualquer argumentação, subsistem fundamentos ou princípios de raciocínio que constitutem um 'método' de apreensão da realidade externa e de análise dessa realidade, dentro dos paradigmas internos ou crenças de cada um. O que é ceticismo? Será que a Ciência invalida os fenômenos psíquicos? Será mesmo que não existem provas para essas ocorrências? Sobre quais bases se pode seguramente estabelecer a verdade sobre muitos eventos considerados anômalos e colocados em dúvida pelo pseudoceticismo? Essas são apenas algumas questões que iremos analisar. O objetivo destes posts é estudar o fenômeno do ceticismo e apresentar argumentos, além do simples 'não acredito' dos céticos dogmáticos, para compreender que há mais coisas em comum entre os pseudocéticos e os crentes mais cegos, do que se pode imaginar...
O grande livro da Natureza
Por A. Xavier O Universo não pode ser lido até que se aprenda a linguagem e se familiarize com os sinais nos quais ele é escrito. Ele é escrito em linguagem matemática e suas letras são triângulos, círculos e outras figuras geométricas sem as quais é humanamente impossível entender uma única palavra. (Galileo Galilei, Opere Il Saggiatore p. 171.) Assim em resumo podemos dizer: O “Livro da Natureza” é o último grande livro que começamos a folhear. Foi escrito desde o início dos tempos por um autor único. Está escrito em linguagem própria, não inventada pelos homens e só admite uma única interpretação. É também um código de leis que se aplica a todos os objetos do mundo, governando soberanamente a relação entre causas e efeitos. Não pode ser copiado, embora possa ser imitado e os homens muitas vezes se maravilham ao descobrir passagens ocultas que manifestam uma estrutura admirável, uma regularidade encantadora se não ao mesmo tempo assustadora. O conteúdo desse livro é infinitamente mais
vasto do que tudo aquilo que aprendemos a ler nele, assim como infinitamente mais amplo do que tudo que sabemos, indicando a existência certa de pormenores, leis e verdades nunca dantes imaginados. Se admitirmos que o mundo não é só constituído por elementos materiais mas também por elementos espirituais, assim como existem leis nesse livro que se aplicam a estes primeiros elementos, devem existir também leis apropriadas a se aplicar aos últimos. Por isso é que dizemos que o conteúdo do livro da Natureza é ignorado em sua grande parte. É importante não confundir as teorias científicas com o próprio conteúdo do livro da Natureza. As teorias científicas são esboços escritos em linguagem humana (quer dizer, apropriada à compreensão pela mente humana) sobre a estrutura desse livro, que tem existência independente. Diz-se, freqüentemente, que os cientistas revisam constantemente suas teorias. Não é porque a natureza tenha mudado mas porque o que se compreendeu a partir de uma primeira leitura de seu livro foi interpretada erroneamente. Mas certamente, nenhuma descrição ou previsão humana se sustenta se estiver em desacordo com o grande livro da Natureza. Conflitos entre a ciência e a religião se originam principalmente pela deficiência que grupos religiosos tem em compreender a existência desse livro. Essa deficiência é fruto da ignorância e ou da presunção humana em sustentar que Deus poderia ser parcial para com determinado grupo. É certo que a comunidade científica reconhece o caráter mutável das teorias da ciência, mas é altamente suspeito a posição de grupos religiosos que pretendem ter a “verdade a todo custo” baseando-se na intepretação literal de textos e sua generalização a qualquer assunto. Assim como a humanidade tem passado por um lento processo de conhecimento científico, todo a cultura religiosa não fugirá de ser comparada a verdade contida no grande livro da Natureza.
Bem vindo à Era do Espírito Sejam todos bem vindos à 'Era do Espírito', weblog que pretende discutir aspectos e temas relacionados à espiritualidade, espiritismo, ceticismo, religião e ciência. Esperamos que este seja um espaço dedicado à discussões bem fundamentadas e profundas sobre assuntos que irão inaugurar uma nova época na história da humanidade.