Hebraica set 16 pp

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ANO LVII

| N º 655 | SETEMBRO 2016 | AV /E LUL 5776

5777 – Shaná Tová Umetuká



HEBRAICA

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palavra do presidente

Fechando mais um ano judaico Estamos chegando no mês de Elul, e nos preparamos para o ano novo, época em que se escreve o nosso destino para o próximo ano. Este é o momento de pensar nos atos e comportamentos do ano que passou – tão rápido, aliás – e o que desejamos para o próximo. Estamos familiarizados com as visões, sabores e sons de Rosh Hashaná, como a doce sensação do mel na boca, o rítmico ondular da congregação em prece e o clamor do shofar. Mas já paramos para pensar nas mensagens que as ações do dia transmitem? Embora todo mandamento seja essencialmente suprarracional, nossos sábios encontraram significado e sinais por trás das obrigações que cumprimos. E um desses, sem dúvida, é o shofar. Eis, a seguir, as onze razões para tocar o shofar em Rosh Hashaná. Rosh Hashaná é o aniversário da Criação, e assim como trombetas são tocadas numa coroação, o shofar anuncia a continuidade judaica. Em Rosh Hashaná, o primeiro dos Dez Dias de Arrependimento, despertamos de nosso sono espiritual. O shofar é como um alarme que nos chama para examinar nossas ações e corrigir nossas maneiras. O shofar foi tocado no Monte Sinai quando a Torá foi outorgada. Em Rosh Hashaná, tocamos o shofar para nos lembrar de nosso compromisso inicial e sinceridade. O shofar nos lembra a voz dos profetas, que com o toque do shofar nos chamaram para corrigir nossos caminhos, seguir os mandamentos do povo judaico e agir corretamente com o próximo. O toque do shofar recorda os gritos e lágrimas derramados pela destruição do Templo Sagrado em Jerusalém, inspirando-nos a manter acesa a chama do nosso povo. O shofar, feito de chifre de carneiro, nos lembra de Isaac e do carneiro oferecido por D’us como sacrifício em seu lugar. Ao tocar o shofar, lembramos da fé dos Profetas e da nossa própria capacidade para o autossacrifício. O shofar nos enche de reverência e humildade. Ele preenche todo o espaço e o tempo. O shofar será tocado no Dia do Julgamento. Portanto, tocamos o shofar em Rosh Hashaná para nos lembrar de examinar nossos atos e como melhorá-los. O toque do shofar vai assinalar o retorno do povo judeu. O shofar em Rosh Hashaná nos faz lembrar nossos antepassados. O som do shofar nos traz compreensão universal e o reconhecimento da unidade dos povos. Rosh Hashaná nos lembra do grito primordial, um chamado silencioso da alma expressando o desejo de nos tornar um ser humano melhor. Tenho certeza de que todos fazem as reflexões de que buscamos a melhoria contínua dos nossos atos e do nosso ser. E esse é o melhor momento para aplicar isso no nosso dia-a-dia. Shalom Shaná Tová, Chatimá Tová Avi Gelberg

EM ROSH HASHANÁ, O PRIMEIRO DOS

DEZ DIAS DE ARREPENDIMENTO, DESPERTAMOS DE NOSSO SONO ESPIRITUAL. O SHOFAR É COMO UM ALARME QUE NOS CHAMA PARA EXAMINAR NOSSAS AÇÕES E CORRIGIR NOSSAS MANEIRAS


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sumário

HEBRAICA

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carta da redação

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7 dias na hebraica Acompanhe a programação de setembro

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capa / rosh hashaná Elul é o mês para fazermos um balanço espiritual e nos prepararmos para o novo ano

21 cultural + social 22

festival de cinema judaico Tudo sobre a vigésima e histórica edição do FCJ

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gol da igualdade Crianças judias e árabes mostram em São Paulo que a paz é possível

26

chaverim Na “Rodada de Conversa”, a veterana terapeuta Maggi Windholz

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diplomacia Conheça o novo cônsul de Israel em São Paulo

30

curtas Os melhores momentos da vida social e cultural da Hebraica

32

comunidade Os eventos comunitários mais significativos da cidade

38

fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

45 juventude 46

hebraikeinu O encontro dos sócios da Hebraica com os atletas da ONG Gol da Igualdade

12

A HEBRAICA JÁ SE PREPARA PARA O PERÍODO DAS GRANDES FESTAS

48

merkaz Acompanhe a agenda do núcleo de empreendedorismo da Hebraica

50

mês da criança Um mês inteiro dedicado exclusivamente aos pequenos associados

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curtas Na pauta, música, dança e o aniversário do After School

54

fotos e fatos Os momentos mais marcantes do último mês


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46

O HEBRAIKEINU SE ENCONTROU COM OS ATLETAS JUDEUS E ÁRABES DA ONG GOL DA IGUALDADE

57 esportes 58

olimpíada A Hebraica teve participação marcante na Rio 2016

64

fotos e fatos Os momentos mais marcantes do último mês

67 magazine 68

diáspora Museu Beit Hatfutsot de Israel ganha novo conceito e layout

72

12 notícias As notícias mais quentes do universo israelense

76

olimpíada O homem que sobreviveu a Bergen-Belsen e ao atentado em Munique

80

rosh hashaná O significado da “cabeça do ano” na tradição judaica

86

história A fascinante sociedade dos músicos judeus na Rússia no começo do século 20

94

espionagem A história do homem que serviu a Hitler e ao Mossad

102

a palavra Como são nomeados os livros da Bíblia hebraica?

112

ensaio A história do fracassado projeto de Birobidjan

116

curta cultura Dicas para o leitor ficar ainda mais antenado

137

lista Saiba quem é quem no Executivo da Hebraica

58

104

viagem Um mergulho na misteriosa civilização inca

108

leituras A quantas anda o mercado das ideias?

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música Cinco dicas imperdíveis para relaxar e curtir em casa

O MEDALHA DE PRATA FELIPE WU COM O FUNCIONÁRIO DO TIRO ESPORTIVO WALDYR


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carta da redação

Uma edição para se guardar Finalmente, depois de muitos meses, uma revista com 140 páginas, espaço quase suficiente para se poder publicar as coisas da Hebraica e o vasto e, parece, interminável universo judaico e de que é prova o “Magazine” desta edição. Magali Boguchwal e Tania Plapler Tarandach, cada uma no seu quadrado, como se diz, contam a respeito do envolvimento da Hebraica nos eventos dos Jogos Olímpicos Rio 2016; as realizações das vice-presidências no sentido de atrair cada vez mais aqueles associados situados no intervalo da adolescência e do primeiro filho; os preparativos para as Grandes Festas de Rosh Hashaná 5777; o rescaldo do Festival de Cinema Judaico e muito mais. No “Magazine”, nosso correspondente em Israel Ariel Finguerman, sempre atento ao que há de novo por lá, relata a visita e a entrevista com a curadora do Museu da Diáspora de Israel (Beit Hatfutsot) e, com as (Notícias de Israel), dá um panorama do país. Leiam também a primeira parte de uma série a respeito da Sociedade de Música Judaica de São Petersburgo; a incrível história de um herói nazista que executou missões para o Mossad; a história do fracassado projeto do assentamento judaico de Birobidjan no extremo leste da Sibéria, quase fronteira com a China; como se denominam os livros da Bíblia hebraica; a informação de que em nenhum livro sagrado judaico há qualquer referência a Rosh Hashaná, a viagem do publisher Flavio Bitelman ao Peru e muito mais.

ANO LVII | Nº 655 | SETEMBRO 2016 | AV/ELUL

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DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE

SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE

CORRESPONDENTES ARIEL FINGUERMAN, ISRAEL FOTOGRAFIA FLÁVIO M. SANTOS GUSTAVO WALDMAN

GERCHMANN (COLABORAÇÃO) CAPA DIVULGAÇÃO

DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES

ALEX SANDRO M. LOPES

EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9º - CONJ. 95

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR CEP: 05435-040

- SÃO PAULO - SP

DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO

Boa leitura, shalom e Shaná Tová 5777 Bernardo Lerer Diretor de Redação

ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE

DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES

IMPRESSÃO E ACABAMENTO GRASS INDÚSTRIA GRÁFICA PUBLICIDADE TEL./FAX: 3814.4629

3815.9159

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700

calendário judaico ::

OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE

SETEMBRO 2016 Av/Elul 5776

OUTUBRO 2016 Tishrei 5777

dom seg ter qua qui sex sáb

dom seg ter qua qui sex sáb

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Véspera de Rosh Hashaná 1O Dia de Rosh Hashaná | 2o Dia de Rosh Hashaná | Véspera de Iom Kipur Iom Kipur | Véspera de Sucot | Sucot Shemini Atzeret | Simchat Torá

INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-

PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.

A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO

“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800

BRASILEIRA

SÃO PAULO RUA HUNGRIA,

EX-PRESIDENTES LEON FEFFER (Z’l) - 1953 - 1959 | ISAAC FISCHER

(Z’l) - 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTENBERG 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 1975 | HENRIQUE BOBROW (Z’l) - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS 1991 - 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 - 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | ABRAMO DOUEK 2012-2014 | PRESIDENTE AVI GELBERG

VEJA NA PÁGINA 138 O CALENDÁRIO ANUAL

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4• SET DOMINGO

ÀS 18h NO TEATRO

ARTHUR

RUBINSTEIN INGRESSOS NA CENTRAL DE ATENDIMENTO: 3818-8888


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GRANDES FESTAS

5777 CHAZAN ESTEBAN ABOLSKY NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN

CHAZAN GERSON HERSZKOWICZ NO SALÃO NOBRE MARC CHAGALL

CHAZAN DAVID KULLOCK NA SINAGOGA

JÁ ESTÃO A VENDA OS CONVITES

Ligue e confirme seu

lugar na central de atendimento: 3818-8888

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capa | grandes festas | por Magali Boguchwal

Tempos de reflexão e introspecção DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, OS JUDEUS TERÃO TODO O MÊS DE SETEMBRO (ELUL) PARA FAZER UMA CONTABILIDADE EMOCIONAL E RECEBER 5777 SEM DÚVIDAS. OS DEZ DIAS ENTRE ROSH HASHANÁ E IOM KIPUR SÃO O ÚLTIMO RECURSO

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os domingos, em setembro, às 16 horas, os alunos do curso de shofar estarão na Praça Carmel para dar aos sócios a oportunidade de cumprirem a principal mitzvá de Rosh Hashaná, que é justamente o toque do instrumento. “Pela tradição, os toques são diários no mês hebraico de Elul, mas como não te-

mos condições de fazê-lo na Sinagoga, ao menos dividiremos a mitzvá com os sócios que estiverem nas cercanias da Praça Carmel naquele horário”, anuncia Maurício Mindricz, diretor da sinagoga e professor de shofar da diminuta turma de alunos deste ano. Entre eles estão André Diamant, Noely e Bernardo Sto-

RAFAEL (E) DEMONSTRA UM TALENTO NATURAL PARA TOCAR SHOFAR

ckbant e a estrela da classe, Rafael Garson, de 7 anos. Rafael estreou nas Grandes Festas em 2015 e surpreendeu a todos com a naturalidade que demonstrou no manuseio do instrumento. “Vê-lo com o shofar nos fez descobrir o talento musical do Rafael. Agora ele estuda piano e vai se desenvolvendo bem”, comentou o pai do garoto, presente à primeira aula. “Para extrair o som do shofar é preciso treino até encontrar a embocadura correta. Mesmo assim, recomendo que cada aluno aprenda no seu instrumento, pois nenhum shofar é igual ao outro”, explicou Mindricz. A intenção do curso é preparar tocadores para os serviços de Rosh Hashaná e Iom Kipur. Para incentivar a turma deste ano, Mindricz reuniu informações e curiosidades sobre o shofar em uma apostila e, ao distribuí-la, se mostrava visivelmente ansioso para iniciar as aulas. “Pessoalmente, gosto muito de manusear o shofar e fico emocionado quando o faço soar diante da comunidade e percebo que o som está atingindo muitos corações. É um ofício de fé. >>


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VOZES INFANTIS EMBELEZAM O ENCERRAMENTO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS DAS GRANDES FESTAS

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capa | grandes festas CHAZAN GERSON HERSZKOWICZ É O MAIS ANTIGO EM ATIVIDADE NA HEBRAICA

>> Por isso gosto transmitir o que sei sobre o shofar para outras pessoas”, explica Mindricz. A proximidade das Grandes Festas altera a rotina do clube. A oportunidade de ouvir o toque do shofar aos domingos é uma novidade, mas os preparativos para a montagem e organização dos serviços religiosos começaram há mais de meio século e se intensifica com a contratação do chazan Esteban Abolsky, formado pelo “Bet-Asaf” do Seminario Rabínico Latinoamericano, onde foi aluno de Oscar Fleischer, que oficiou o serviço religioso no teatro em 2014. “Abolsky será mais uma voz a se somar aos excelentes cantores litúrgicos que já atuaram no Teatro Arthur Rubinstein”, enfatiza Gerson Herszkowicz, diretor de Cultura Judaica e também chazan no serviço religioso do Salão Marc Chagall. Qualidade foi sempre um quesito obrigatório, desde a época em que os antigos diretores, Henrique Hecht (z’l) e Salomão Trz-

mielina organizaram o primeiro Rosh Hashaná na Hebraica. É uma longa história”, completa. Há 62 anos, a Hebraica contratou dos Estados Unidos o chazan Sidor Belarsky (z’l) para oficiar o primeiro

NO SALÃO MARC CHAGALL, O MOMENTO DE MAIS MOVIMENTADO É O DO KOL NIDREI, NO INÍCIO DO IOM KIPUR

serviço religioso das Grandes Festas. No ano seguinte, o teatro que hoje se chama Arthur Rubinstein foi decorado como uma sinagoga, Belarsky veio novamente e foi acompanhado por um coral regido pelo maestro Bernardo Fe-


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derovsky (z’l). E a tradição tomou forma. Depois de alguns anos, outro chazan, Moshé Stern, ocupou o púlpito na sinagoga do Teatro Arthur Rubinstein pelos 25 anos seguintes, parte desse tempo apoiado pelo coral regido pelo maestro León Halegua. Na sequência, vieram os chazanim Cláudio Goldman, Dudu Fischer, Oscar Fleischer e, em 2015, o húngaro Gabor Szylagyi e agora o argentino Esteban Abolsky, que atua na Sinagoga Libertad, em Buenos Aires. “A chegada de um novo chazan demanda algum esforço de comunicação para adaptarmos o estilo dele ao serviço ao qual os sócios estão acostumados. É um aprendizado mútuo que se reflete na harmonia das vozes e na emoção transmitida para a comunidade que acompanha o serviço conosco”, informa Halegua. Além do teatro, a sinagoga montada no Salão Marc Chagall também merece o adjetivo de tradicional. O chazan Gerson Herszkowicz já ultrapassou os quarenta anos na condução dos serviços religiosos, sempre acompanhado pelo Coral Zemer regido por Sima Halpern, nada menos do que a filha de >>

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Parceria entre gerações

Diretoras da Hebraica convocaram amigas e familiares para auxiliar a Unibes na captação, montagem e distribuição de cestas com alimentos típicos de Rosh Hashaná para as famílias assistidas pela entidade. A convocação para a primeira reunião do projeto “Rosh Hashaná para Todos” despertou o interesse de um grupo animado de mulheres que já atuam em instituições da comunidade. “A proposta é montarmos trezentas cestas até meados de setembro, para que as famílias possam utilizar os produtos num jantar festivo, partilhando da alegria de receber um novo ano judaico”, afirmou Mariza de Aizenstein, uma das idealizadoras da ação. As propostas da campanha “Rosh Hashaná para Todos” propiciou a integração entre muitas ativistas com os filhos e sobrinhos universitários

ou em início de carreira profissional. “A presença deles acrescentou ideias e estratégias para nossa ação social” declarou Mariza. “Afinal nosso lema é mesmo le dor va dor, (‘de geração em geração’).” A campanha “Rosh Hashaná para Todos” começou com um esforço para angariar recursos em dinheiro ou produtos centralizados na Unibes. Na primeira reunião, foi criada uma lista de voluntários para participar da seleção dos produtos e montagem das cestas previstas para meados de setembro. “Um ponto muito importante é a logística de distribuição. Para essa parte, podemos inscrever voluntários até o final do mês, já que a cidade é grande e às vezes entregar cestas na vizinhança de casa é uma mitzvá muito importante. Toda ajuda é bem-vinda”, acrescentou Marisa.


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capa | grandes festas ESTEBAN ABOLSKY VEM DA ARGENTINA PARA DIRIGIR OS SERVIÇOS RELIGIOSOS NO TEATRO

ARTHUR RUBINSTEIN

Grandes Festas

5777 >> Bernardo Federovsky. “O coral e assim como o público que prestigia a sinagoga do Salão Marc Chagall reúnem pelo menos duas gerações. É frequente alguém me apresentar a nora e, no ano seguinte, um neto. Às vezes, durante uma reza, fixo o olhar em alguém e fico em dúvida se é o pai, que conheço desde pequeno, ou o filho, que também cresceu. Afinal, também sou avô”, comenta Herszkowicz. A maestrina Sima Halpern também define a sua atuação durante as Grandes Festas como um ofício de fé. “A fé é o início e o fim. No meio é amor à tradição, à música, confiar nos parceiros de jornada.” Da casa do filho, no exterior, ela manifestou segurança quanto ao serviço religioso deste ano. “Estou tão tranquila, que vim visitar meu filho e família. Com quatro semanas de ensaio, vai dar tudo certo. Com certeza nosso público é fiel, porque gosta. Nosso serviço faz vibrar a alma de milhares de pessoas. Isso nos eleva a todos”, escreveu a maestrina, por mensagem eletrônica.

O serviço religioso mais recente, o da Sinagoga também já tem história. Dirigido pelo chazan David Kullock, ele acompanha o crescimento no número de famílias que frequentam semanalmente o Kabalat Shabat, ou que o fizeram durante anos, caso da família Nahaïssi, cujo patriarca Giuseppe Nahaïssi (z’l) foi diretor da sinagoga e depois vice-presidente Social e Cultural. Foi nesse cargo que ele e o então diretor José Luiz Goldfarb formaram a primeira turma do curso de shofar. No ano passado, o toque do instrumento de um dos alunos do primeiro curso, Simon Szacher, soou juntamente com o do pequeno Rafael, encantando as famílias presentes ao serviço do Salão Nobre Marc Chagall. “Uma novidade nos serviços de Iom Kipur será a participação do coral infantil da Unibes. Será emocionante ouvi-los no Kol Nidrei, no Teatro e na Nehilá, pouco antes do toque final do shofar no Salão Marc Chagall”, conclui Herszkowicz. Mais Rosh Hashaná à página 80

2/10 – Domingo 18h – Véspera de Rosh Hashaná (acendimento das velas às 17h46)1 3/10 – Segunda-feira 9h – 1º dia de Rosh Hashaná – Shacharit 17h – Tashlich (na fonte, junto ao Salão Marc Chagall) 18h – Minchá e Arvit (Sinagoga) 4/10 – Terça-feira 9h – 2º dia de Rosh Hashaná shacharit 11/10 – Terça-feira 18h – Kol Nidrei – Véspera de Iom Kipur (acendimento das velas e início do jejum às 17h50) 12/10 – Quarta-feira 9h –Iom Kipur – Shacharit 11h – Yizcor Iom Kipur 17h – Nehilá Iom Kipur 18h42 – Shofar Iom Kipur (término do jejum 18h44)



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informe publicitário da UK Association of Illustrators. (http:// pixelshow.com.br/portfolio/palestra-com-rod-hunt-reino-unido/)

CENTRO CÍVICO DURANTE A EDIÇÃO 2015 DO PIXEL SHOW

Pixel Show chega à 12a edição O PIXEL SHOW 2016 SERÁ REALIZADO NOS DIAS 22 E 23 DE OUTUBRO, NA HEBRAICA, E TERÁ PALESTRAS, WORKSHOPS, FEIRA DE CRIATIVIDADE COM A PRESENÇA DE PROFISSIONAIS DE DIVERSOS PAÍSES

A

lém da feira gratuita de criatividade, live-paintings, exposições, workshops e palestras, o evento também conta com sharp talks – palestras gratuitas sobre temas ligados ao mundo criativo em um pequeno auditório. Organizado pela Zupi, o Pixel Show acontece desde 2005 e promove novas tendências na economia criativa, além de discutir os novos rumos pelos quais caminham os profissionais e estudantes das áreas desse mercado. A edição deste ano já conta com inúmeros palestrantes renomados: David Polonsky – Um dos principais artistas visuais israelenses, Polonsky já animou quadrinhos, livros, clipes e filmes, inclusive o filme Waltz with Bashir, que ficou entre os cinco indicados ao Oscar de Melhor Estrangeiro em 2009. Graduado na Bezalel Academy of Art and Design em Jerusalém, desde 1999 ensina animação

e ilustração lá e na Shenkar School of Design. (http://pixelshow.com.br/portfolio/palestra-com-david-polonsky-israel/) Rod Hunt – É um artista e ilustrador de Londres que criou reputação com ilustrações retrô e de paisagens com vários personagens espalhados (estilo “Onde está o Wally?”). Seus clientes incluem a BBC Worldwide, Barclays, British Airways, Chevrolet, IKEA, Kellogg’s, Time Inc, Tesco, Sony Pictures, Sony Music, Toyota, Vodafone, WWE e muito mais. Já venceu prêmios da Association of World Illustration, American Illustration, Society of Illustrators of Los Angeles, Communication Arts Illustration Annual, entre outros. Atualmente, é presidente da PR and Media Relations for ICON – The Illustration Conference, trabalhando na preparação do ICON9 em Austin, Texas e também é ex-presidente

Chu Doma – Membro fundador do coletivo de arte DOMA e um dos pioneiros na arte de rua em Buenos Aires, Chu é um artista multidisciplinar. Suas obras variam entre o design gráfico, animação, direção de arte, instalações e graffiti, ao qual tem se dedicado bastante nos últimos anos e criado murais por todo o mundo. Destaca-se por seu estilo com formas curvas e geométricas caracterizadas por cores vibrantes. Em Miami, como diretor de arte e design gráfico, desenvolveu a linguagem visual do canal de televisão “Locomotion Chanel”, transmitido em toda a América Latina e Península Ibérica. Entre os projetos do StudioCHU, se destacam o Globolab e Altas Gafas. O artista atua também como diretor de diversas animações internacionais. (http://pixelshow.com.br/portfolio/ palestra-com-chu-doma-argentina/) Daniel Bruson – Diretor de animação, artista gráfico e designer independente, trabalha em projetos de cinema, videoclipes, séries, publicidade, teatro, artes plásticas e música, em parcerias ou de maneira autoral. Seu trabalho vem sendo reconhecido em diversos festivais pelo mundo. Faz de tudo um pouco, desenho, pintura, animação, colagem, etc. Misturas técnicas, dirige, produz, ouve, contribui e busca sempre inovar. Entre seus trabalhos, se destaca Pete`s Story, curta vencedor do D&AD Awards 2015 e Vimeo Staff Pick que abriu o Pixel Show 2015. Vive e trabalha em Sorocaba. (http://pixelshow.com.br/portfolio/ daniel-bruson-dogday-tv/) Além deles, o grupo brasileiro Barbatuques, que integrou o elenco que participou da cerimônia de encerramento da Rio 2016, também têm lugar garantido no programa do Pixel Show. Os sócios da Hebraica podem se inscrever para participar dos eventos com o código Hebraica20, o que lhes dará 20% de desconto nas oficinas e atividades pagas.




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cul tu ral +social


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cultural + social > festival de cinema judaico

MACUYAS HOMENAGEARAM A COMUNIDADE JUDAICA COM CANÇÕES EM HEBRAICO

Fãs da tela grande COM PROGRAMAÇÃO ENXUTA, O XX FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO (FCJ) MONOPOLIZOU A AGENDA DO PÚBLICO FIEL E CONQUISTOU NOVOS FÃS NA COMUNIDADE JAPONESA, QUE PRESTIGIARAM A CERIMÔNIA DE ABERTURA COM O FILME PERSONA NON GRATA E TAMBÉM PRODUÇÕES DE OUTROS PAÍSES

SUPERINTENDENTE GABY MILEVSKY, CÔNSUL DE ISRAEL. DORI GOREN, AVI GELBERG E O CÔNSUL DO JAPÃO, TAKAHIRO NAKAMAE

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ntre os 33 filmes do catálogo do XX Festival de Cinema Judaico, dois foram mencionados pelo público como excelentes: Persona Non Grata, produção japonesa dirigida por Cellin Glook, que abriu a mostra, e Boneca de Noiva, que fazia parte do “Panorama Israel”, dirigido por Nitzan Giladi. A exibição de Persona Non Grata, em sessão aberta ao público, e não exclusiva para convidados, realçou a importância do evento na programação do clube. Os ingressos foram disputados e todos os lugares estavam ocupados quando a vice-presidente Social e Cultural, Mônica Tabacnik Hutzler declarou aberta a vigésima edição do FCJ. Antes de as luzes se apagarem, o Festival homenageou a figura do cônsul Chiune Sugihara, cuja vida é retratada no filme, com a apresentação do coral Makuya, que há mais de três décadas estuda e interpreta canções em hebraico. No palco, crianças, adultos e idosos cantaram exibindo bandeirolas de Isra-

el e foram muito aplaudidos. Ao falar em nome do coral, um dos integrantes afirmou ter aprendido hebraico diretamente da Bíblia e se encantou quando viajou a Israel, há alguns anos. Emocionado, ele anunciou que o grupo cantaria Jerusalém de Ouro e já na segunda estrofe toda a plateia fazia coro. Do seu lugar quase no fundo do teatro, o cônsul geral assistiu ao documentário a respeito da luta do diplomata japonês Sugihara para salvar os judeus de uma pequena comunidade judaica na Europa. “Tenho orgulho da atitude tomada por Sugihara durante a Segunda Guerra e depois do recente contato com a comunidade em razão de a equipe japonesa de natação ter treinado no clube e depois dessa noite, sinto que compreendo totalmente suas razões”, declarou o diplomata, antes de se despedir do presidente Avi Gelberg. Com a repercussão da abertura, as outras exibições do filme durante o festival ti-


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veram bastante procura, assim como outros títulos. “Adorei Persona Non Grata e também assisti a Como Ganhar Inimigos, do argentino Daniel Lichtmann. Gostei mesmo do primeiro”, afirmou Rosa Finger, a caminho do Teatro Arthur Rubinstein para ver A Orquestra da Meia-Noite. Já para as amigas Elizabeth Mitutani e Renata Haromitzu, o melhor filme da mostra foi Boneca de Noiva. Renata se interessou pelo festival a partir do convite recebido para a abertura, mas Elisabeth frequenta o FCJ há três anos. “Gosto muito da seleção de filmes. Por meio deles, conheci culturas que em geral não vejo no circuito comercial. Eu desconhecia muito do que apareceu em Persona Non Grata a respeito da cultura japonesa. Com certeza, eu e Renata estaremos na plateia no próximo festival”, prometeu. O documentário Humus, exibido no Teatro Anne Frank, atraiu bom público, mas decepcionou alguns dos expectadores. Já Em Busca da Cozinha Israelense recebeu muitos elogios. “Uma aula de geografia de Israel que nos deixou com fome”, afirmou Mariana Gottfried, que assistiu a algumas sessões no final de semana. “Gostaria de exibir o documentário Jerusalém Ocidental/Jerusalém Oriental para os alunos da Escola Alef, onde trabalho”, afirmou, referindo-se ao filme que encerrou a mostra. (M. B.)

TEATRO LOTADO PARA A EXIBIÇÃO DO FILME PERSONA NON GRATA

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Imagens e objetos contam a história

Uma das atrações do XX Festival de Cinema Judaico foi a exposição com fotos, anúncios e objetos que marcaram os vinte anos do Festival de Cinema Judaico. Do aparelho de projeção 35mm, recentemente substituído por um equipamento digital, aos troféus idealizados pelo artista plástico Sílvio Fisberg (Pivo) todos despertaram a curiosidade e a memória das pessoas, especialmente daquelas que acompanham a mostra desde a primeira edição.


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cultural + social > gol da igualdade

A paz através do futebol EM ISRAEL, A BOLA É INSTRUMENTO PARA CRIANÇAS JUDIAS E ÁRABES CONVIVEREM COM AS DIFERENÇAS. A CONVITE DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF), UM GRUPO FORMADO POR CRIANÇAS COM IDADES ENTRE 10 E 14 ANOS ESTEVE EM SÃO PAULO E MOSTROU QUE A PAZ ENTRE OS DOIS POVOS É POSSÍVEL

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ma matéria na TV Globo, em maio deste ano, revelou a existência, em Israel, da ONG Gol da Igualdade, que promove a paz através do futebol. A bola nos pés faz com que mais de 2.300 crianças árabes e judias, alunas de 150 escolas em cidades como Jerusalém, Tel Aviv, Sharon, Carmel, Galileia, pratiquem o respeito, a convivência, o entendimento do outro e, em uma perspectiva maior, a paz. Dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entre eles o secretário geral Walter Feldman, perceberam a relevância desse trabalho e convidaram componentes da ONG israelense a trazerem 22 crianças, entre 10 e 14 anos, para o Brasil na época da Olimpíada, escolhidas não só pelo desempenho em campo como pelo bom resultado escolar. “O futebol agrega, socializa, a bola tem poder. È o futebol a serviço da paz”, sintetizou Feldman. Com o apoio da ONG Caminho de Abraão, Sociedade Esportiva Palmei-

ras mais as entidades e clubes das comunidades árabe e judaica de São Paulo sentiram o poder do futebol nessa transformação social dos esportistas mirins. Surgiu assim a idéia do jogo amistoso, no estádio Allianz Parque, como preliminar do encontro Palmeiras e Vitória pela 19ª. rodada do Campeonato Brasileiro. Um jogo de quinze minutos entre as duas equipes – árabe e judia. Em seguida, elas se juntaram para enfrentar um time formado por crianças dos clubes Hebraica (veja matéria à página 46), Círculo Macabi, Atlético Monte Líbano, Sírio e Pinheiros, numa nova partida. No meio do jogo, uma surpresa: os craques Juninho Paulista e Paulo Sérgio entraram em campo, um de cada lado. Bandeirolas traziam as inscrições Gol da Igualdade e Gol da Paz, título dado aos jogos no campo palmeirense, com direito a hashtag #RodadaDaPaz. A repercussão foi instantânea: enquanto os garotos corriam atrás da bola, as mí-

dias sociais bombavam perto de um e meio milhão de visitas em pouco mais de uma hora. Se a emoção já era grande, outras surpresas ainda estavam por acontecer. Ao lado de Pepe, Luisinho Paulista, Mauro Silva e Mauro Sérgio, todos os jogadores mirins, quase sem entender a presença de tantos craques ao seu redor, receberam medalhas da Federação Paulista de Futebol e, da arquibancada, assistiram ao jogo do Palmeiras e Vitória. Torceram muito pelo craque palmeirense Zé Roberto, que tirou a camisa e presenteou a ONG israelense no final da partida. “Esse é um evento que entrou para a história de vida dessas crianças e de todos nós, povos de diferentes religiões, cores e credos, como uma grande lição de que é possível superar as barreiras da intolerância e construir um caminho de paz”, disse o jogador emocionado. Os dez dias seguintes foram intensos. Dirigentes da ONG, os garotos e seus professores conheceram os museus do Futebol e Catavento, o Macabi, Hebraica (ver matéria à pg 46), Pinheiros, Sírio, Monte Líbano e Itaquerão. Passaram três dias no Rio de Janeiro, visitaram os estúdios da Globo no Projac, o Museu da CBF, assistiram aos jogos de tênis de mesa no Rio Centro e a luta da israelense Yarden Gerbi na Olimpíada. Em Santos, visitaram o Museu Pelé. Na véspera do retorno a Israel, durante um encontro no Teatro Anne Frank, na Hebraica, todos mostraram o quanto estavam felizes. O público conheceu detalhes sobre a ONG israelense, os preparativos para a viagem, as dificuldades da autorização junto aos pais, pois a maioria das crianças nunca havia saído de Israel. A jornalista Mona Dorf, que acompanhou a programação, fez a ponte entre o público, os dirigentes, professores e as crianças. Incansáveis em repetir que “ninguém pensava nesse sonho” até dois meses atrás, eles demonstraram seu entusiasmo com o calor e a alegria dos bra-


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CRAQUES DA VELHA GUARDA SE ENTUSIASMARAM COM OS JOGADORES MIRINS VINDOS DE ISRAEL

sileiros, mais a repercussão na mídia brasileira e israelense, não imaginada por eles. “Esse projeto é protagonista da mudança. Educa crianças, que amanhã poderão ser líderes de Israel, dos palestinos ou das comunidades árabes, a entenderem que é muito melhor viver em paz. Admiro a atividade da ONG e cumprimento a nossa comunidade, que abraçou a iniciativa da CBF e não poupou esforços para fazer uma viagem memorável”, disse Cláudio Bobrow, um dos entusiastas dessa maratona. Yossi Teferi, caçula entre os meninos, tímido a princípio, disse que “acredito na paz e espero que ela comece com a gente e se espalhe para os outros”. Abraçada a um aluno na mesma

cadeira, a professora de uma escola árabe Amal Ayub, sorridente, disse “educamos para se amarem”. A israelense Gol da Igualdade A ONG foi criada em 2009 com a adesão inicial de sete escolas por Liran Gerassi, israelense fanático por futebol, cuja ideia era unir crianças árabes e judias com a bola no pé e a paixão pelo esporte no coração. A ele se juntou o paulista Gabriel Holzhacker, que fez aliá em 1999. Advogado, ele deixou a profissão para ser o vice-diretor da ONG e vê no futebol uma influência positiva. Hoje, são 150 escolas parceiras por todo o Estado de Israel, reunindo diferentes grupos étnicos e religiosos. A rotina semanal inclui aulas, treinos, atividades educativas e de refor-

ço escolar. Avaliações no início, meio e fim do ano mostram a melhoria na autoestima e no comportamento social das crianças. Cada escola forma times que se reúnem duas vezes por semana. Além do talento no pé, o interesse em sala de aula é fundamental para participar dos treinos e dos torneios comemorativos. Ao irem para o ensino médio, os alunos se integram como instrutores nos times de crianças menores em suas próprias comunidades, difundindo os valores de respeito e convivência, educando para a paz e a redução dos índices de preconceito e violência entre os mais jovens. “Encontros no nível dos governos não são suficientes, é preciso conectar os povos, começando pelas crianças”, afirma Holzhacker. (T. P. T.)


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cultural + social > chaverim

Rodada de Conversa com Maggi Windholz MARGARIDA (MAGGI) HOFMANN WINDHOLZ, 90 ANOS, MORA EM ISRAEL E VIRÁ AO BRASIL EM SETEMBRO, PARA SER HOMENAGEADA PELA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA MÉDICA E CLÍNICA, NA ABERTURA DO XXV ENCONTRO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA E MEDICINA COMPORTAMENTAL, EM FOZ DO IGUAÇU. MAGGI RECEBERÁ O TÍTULO DE “PSICÓLOGA DE DESTAQUE NO BRASIL”

MAGGI WINDHOLZ DEDICOU DÉCADAS AO ESTUDO DE PESSOAS DEFICIENTES

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presidente do Chaverim, Ester G. Tarandach, conheceu Maggi nos anos 1970 quando era estagiária na Comissão Técnica do Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar (CIAM) e se entusiasmou pelo processo educativo no dia-a-dia com pessoas deficientes, proposto por Maggi. “Nessa Rodada de Conversa, dia 13, às 14h, na Plenária, vamos repassar o desenvolvimento da sociabilização, da vida independente, da autonomia para ter cidadania. Tudo começou naquela época, e como o Chaverim é parte desse sucesso, vamos resgatar a história de Maggi na comunidade judaica e olhar para sua metodologia, trazendo-a para a atualidade”, explica Ester.

O evento será na Plenária e o Chaverim convida profissionais, pais, amigos e pessoas envolvidas com o universo da deficiência para participar dessa tarde. Alunos da Escola Alef de Paraisopolis estarão presentes e junto com os integrantes do grupo Chaverim poderão fazer perguntas a Maggi, como em um encontro, há dois meses, sobre a Shoá. Dessa vez, se tratará do tema do aprendizado na vida prática, baseado no livro de Maggi, Passo a Passo, seu Caminho, um guia para o ensino de habilidades básicas, escrito em 1988 e até hoje indispensável nas questões de pessoas com deficiência. Uma segunda edição, revisada, será lançada e autografada nessa tarde no clube.

Uma vida de trabalho comunitário Maggi, com a irmã gêmea e os pais, judeus alemães fugidos da Gestapo, chegaram ao Brasil em fins de 1936, antes da Segunda Guerra, e foram co-fundadores da CIP. “Foi uma época em que fazer um trabalho comunitário era muito importante”, relembra a psicóloga. Pioneira no estudo sobre o autismo e a educação para pessoas com necessidades especiais na USP, PUC e Federal de São Carlos, Maggi trabalhou com Betti K. Schenfeld na Organização Feminina Israelita de São Paulo (Ofidas), incorporada anos depois à Unibes. Em 1959, a Federação Israelita do Estado de São Paulo convidou Maggi, a psicóloga Rachel Vieira da Cunha e a assistente social Terezinha Zabirowski, para fazerem uma pesquisa a respeito de crianças com problemas de retardo e de comportamento nas escolas judaicas, no Lar das Crianças da CIP e na creche da Ofidas. Nesse ano, nasceu o Instituto Harry Fromer, depois Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar (CIAM). Maggi atuava no Instituto e com Betti Schoenfeld e o psiquiatra-chefe da instituição, Stanislau Krynski, contribuíram para a fundação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo, a APAE, em abril de 1961. Ao voltar dos Estados Unidos, na década de 1970, Maggi foi convidada pela psicopedagoga Celma Maria Viera Cenamo para criar a Carminha Associação para Reabilitação do Excepcional, conhecida como Escola da Carminha, onde desenvolveu e aplicou os princípios da análise comportamental, trabalho que a levou a escrever o livro, em 1988, pela Edicon, editora fundada por Antônio Jayro da Fonseca Motta Fagundes, conhecido como Professor Jairo, doutor em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo, aluno da psicóloga e que coordena o programa oficial da visita a São Paulo, onde ela terá encontros na PUC, UFSCar e exposições acerca da sua rica vida acadêmica e institucional. “Para mim, o ensino deve ser funcional, natural e divertido”, diz Maggi. (T. P. T.)



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cultural + social > diplomacia

GOREN FOI SEGUNDO SECRETÁRIO DA EMBAIXADA E, AGORA, É O CONSUL DE ISRAEL EM SÃO PAULO

Ex-mochileiro, agora cônsul de Israel AO CONTRÁRIO DOS JOVENS QUE SAEM PELO MUNDO APÓS CONCLUÍREM A TZAVÁ, DORI GOREN SÓ VIAJOU DEPOIS DE TERMINAR O CURSO DE HISTÓRIA E FILOSOFIA NA UNIVERSIDADE HEBRAICA DE JERUSALÉM, EM 1980

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ntes da faculdade, ele havia feito o Seminário para Guias, na Sociedade para a Proteção da Natureza, e acompanhou turistas pelo Deserto do Sinai. Aí, Dori Goren começou a perambular: cinco meses na América Central e nove meses em Nova York, onde foi camelô, vendeu artesanato e vivia feliz. A família, numerosa, fez aliá ainda antes da Primeira Guerra Mundial. Instalada em Tel Aviv, ali construiu vários prédios. O pai, de origem polonesa, é economista e ele nasceu em Jerusalém, em julho de 1955. Goren é o novo cônsul de Israel para

São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e o português dele relembra os anos no Brasil. “Desembarquei no Rio de Janeiro no primeiro dia de Carnaval e não entendi nada.” Rumou para o litoral nordestino. No segundo Carnaval, em Olinda, já tinha amigos. Desceu o Rio Amazonas e, no barco usava uma mesinha onde fazia e vendia bijuterias de alpaca. “Fabricava e ganhava mais do que precisava gastar. Cheguei a ganhar trezentos dólares em três dias, estava rico”, relembra o cônsul. Voltou para o sul, teve banca na Praça da República em São Paulo, foi para

Belo Horizonte e viveu em uma “república” de jovens politizados num prédio histórico. Desse período, Goren lembra que “mais importante é conhecer o povo de um lugar, fazer amizades. Meu contato com os brasileiros foi uma experiência humana, cultural, interessante”. Porém, seu caminho não era esse. Ao voltar para Israel, como é regra, a mãe o pressionou para que ele usasse o diploma e lhe indicou uma chamada num concurso para a diplomacia. Uma competição entre dois a três mil candidatos e só vinte a trinta entram na academia do ministério das Relações Exteriores. “O Processo de Redemocratização no Brasil 1973-1985” foi o tema da tese de mestrado para o programa especial da Fundação Rothschild em ciências políticas e história política da América Latina. Em 1987, começou a carreira do diplomata. “Meu sonho, entrei na academia para voltar ao Brasil.” Seu desejo foi atendido com a nomeação para segundo secretário da embaixada de Israel em Brasília, onde ficou por dez meses. Entre os cargos exercidos em embaixadas israelenses no exterior, Goren foi primeiro-secretário em La Paz, Bolívia; conselheiro de informação em Paris, França; ministro conselheiro em Buenos Aires, Argentina. De 2005 a 2006, coordenou os seminários diplomáticos para jovens líderes judeus no ministério das Relações Exteriores em Israel. De 2009 a 2014, foi embaixador no Uruguai. Feliz por estar de volta, o cônsul faz planos para a vida particular, com Cecília, a segunda esposa, psicóloga, fã de tango, e a área profissional: “Uma de minhas metas é aproximar Israel do Brasil através do público não judeu”. Goren fala espanhol, inglês, francês, português, além do hebraico. Suas áreas de maior interesse são a história dos descobrimentos, a literatura, música, cultura popular, pensamento judaico e narrativa criativa. Escreve contos. Fala de misticismo e candomblé. Pesquisa o tema cristãos-novos. Aprecia Milton Nascimento, Dorival Caimmy e Chico Buarque. “Amo o Brasil”, enfatiza Goren. (T. P. T.)



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cultural + social > curtas

Palestra de introdução à Kabbalah O Kabbalah Centre oferecerá uma palestra introdutória gratuita, dia 14, às 20 horas, para o Seminário Kabbalah & Dinheiro, na Plenária, sob o tema “Prosperidade Verdadeira”. David Zakin ensina Kabbalah há quinze anos e seu foco é dar poderes a profissionais e empreendedores no mundo todo para trazer mais consciência ao dia-a-dia de cada um.

Clube 1000 está de volta Papo-cabeça é com o Headtalks

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om o tema “Ciência & Levitação”, mais uma vez Andréa Bisker achou o tom para atrair as pessoas para o Headtalks, e levou-as a repensarem seu modo de vida. A endocrinologista Alessandra Rascovski e o israelense Avi Hay falaram de corpo, mente e espiritualidade. Ela mostrou como a medicina integrativa, chamada na década de 1970 de medicina holística, tem comprovação científica. Hay coloca a mudança de paradigmas, o despertar de uma realidade voltada para o bem como fatores para a tomada de consciência, o crescimento das pessoas. Meditação, relaxamento, controle emocional e espiritual, resiliência foram destacados como condutores de uma idade biológica em benefício da idade cronológica. “Após um tema tão instigante, o maior desafio será o próximo encontro, estou curiosa para saber qual será”, dizia uma senhora ao sair.

Imprensa judaica na Galeria de Arte

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Museu Judaico de São Paulo (MJSP) uniu-se à Hebraica para desejar “Shaná Tová Ontem, Hoje, Sempre” a toda a comunidade, título da próxima exposição na Galeria de Arte, em homenagem à imprensa judaica por meio de uma mostra de jornais e revistas desde 1916. Além da parte jornalística, a exposição exibirá uma coleção de cartões postais com o tema do ano novo judaico. São “joias” do acervo do MJSP e do Arquivo Histórico e de colecionadores particulares, como Renata Simon, que mostram costumes de diferentes épocas e traduzem os bons votos de famílias, empresas, enfim, um retrato da comunidade em mais de dez décadas. A mostra será aberta dia 17 de setembro, entre 12 e 15 horas, e poderá ser vista até 18 de outubro.

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eviver tempos passados faz bem. O primeiro revival do Clube 1000 foi um sucesso. Para atender aos pedidos da volta desta “atração” foi programada uma segunda noitada, dia 24, às 21h30, no Espaço Adolpho Bloch. O Dj Schipper promete uma sequência pop e rock das décadas de 1980 e 90. Haverá open bar e petiscos da época para recriar o ambiente informal, com gosto dos antigos encontros no clube.

Programe-se para atividades variadas A Feliz Idade sempre pede mais novidades como será a programação de setembro. Dia 8, às 14h30, na Plenária, vale assistir Perfume de Mulher; no dia 10, às 14h, o veterinário Raphael Hamaoui contará, na Plenária, as vantagens de ter um animal de estimação. Dia 12, acontecerá o XI Seminário da Terceira Idade. Todos irão ao Ten Yad, no Bom Retiro, aproveitar cada item do programa. De 13 a 17, será a viagem a Foz do Iguaçu. Para quem ficar por aqui, a tarde do dia 15 tem uma atração doce: receitas saborosas com a Sococo. Maria Antonia A. Martins contará seus segredos no Espaço Gourmet, as 14h30. Dia 17, às 14 horas, na Plenária, será a vez de assistir Villa Lobos – Uma Vida de Paixão. Aí vem a programação especial, preparação para Rosh Hashaná. Dia 22, às 14h30, Mariana Gottfried fará um bate-papo sobre a festa; e dia 24, às 14 horas, na Plenária, o encontro é com o culinarista Breno Lerner e suas mil e uma histórias de comidas. Dia 29, na Plenária, será a vez de ouvir Sarah Steinmetz, na palestra “Para Depois de Iom Kipur”.


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Dia 29 tem Torneio de Tranca

Reserve a data: 22 de setembro

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a noite desse dia, no Teatro Arthur Rubinstein, será homenageado o grande homem que foi Elias “Elie” Wiesel (z’l) (1928-2016), autor de 57 livros, uma obra dedicada a resgatar a memória do adolescente nos campos de Auschwitz e Buchenwald, poemas e temas teológicos. Prêmio Nobel da Paz em 1986, dedicou sua vida pós Holocausto ao ativismo político e a não deixar cair no esquecimento a verdade sobre a Shoá. Seus ditos e sua tarefa o acompanharam até o final da vida e ele será lembrado sempre como um defensor da verdade e da liberdade.

A transformação por meio da arte

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asham é o nome para “palestra”, em sânscrito. Mas vai mais além, é a troca entre o mestre e discípulo. Esta é a proposta do grupo Peacok Now, que une arte e terapia para inspirar e incentivar a criatividade e o autoconhecimento. Para chegar a esse ponto, Thaís Ienaga, formada em administração de empresas e teatro, começou a pesquisar essa integração e chegou à professora Leslie Temple-Thurston, que nos últimos vinte anos, inspira e guia pessoas para o despertar espiritual em meio às turbulências do século 21. Leslie estará na Hebraica, dia 24, às 16 horas, iniciando com uma sessão de dasham. Em seguida, haverá a leitura da peça Diário de uma Mulher Iluminada, que traz à cena a superação vivida por Leslie, hoje morando nos Estados Unidos. Sua vida dedicada à cura e expansão da consciência será narrada por Thaís Ienaga, a partir do texto do dramaturgo e jornalista Miguel Filliage, com direção do ator e produtor Francisco Gomes. Nascida na África do Sul, graduada em belas artes pela Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, e uma alma iluminada como dizem os que com ela convivem, Leslie é a fundadora da ONG CoreLight, uma escola de transformação para levar as pessoas ao despertar. Através da arte, ela deixa fluir sua inclinação mística, despertada ainda na infância. (T. P. T.)

Quem for ao III Torneio de Tranca vai se divertir e poderá sair premiado. Os serviços de Hamsa Spa, G.A.M.A. Italy Professional, Hotel Frontenac de Campos do Jordão, Spa Sorocaba e Studio Cabeleireiros serão sorteados entre os participantes. É a oportunidade de rever amigos, chamar para duplas, formar uma mesa. O importante é participar dia 29, às 19h, de mais um torneio do Recreativo, muito aguardado por frequentadores, amigos e sócios de outros clubes. Informações, 3818-8888. Vendas www.ingressorapido. com.br ou na Central de Atendimento.

Começam as pré-estreias As noites das quartas-feiras voltam a ser das estreias no cinema, agora com a moderna máquina recém-adquirida, o que significa qualidade e conforto. Para começar, dia 7, é Loucas de Alegria, filme de 2016, coprodução italiana e francesa, com direção de Paolo Virzi. Dia 14, será a vez de Trumbo: Lista Negra, filme norte-americano de 2015, com direção de Jan Roach. Durante o Festival de Cinema Judaico, muitos ouviram falar do excelente O Décimo Homem (El Rey del Once), filme argentino de 2016, dirigido por Daniel Burman. Conta a história de Ariel, economista que volta de Nova York para a Argentina e se surpreende com as diferenças e as antigas tradições de seus parentes. O filme será reexibido dia 10, sábado, às 20h30, e 11, domingo, às 16 horas e 19 horas.


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por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br

coluna comunidade

História da Chevra digitalizada

O livro de Roney Cytrynowicz e Mônica Musatti Cytrynowicz, de 2008, que conta a história dos quatro cemitérios -- Butantã, Cubatão, Embu e Vila Mariana – mantidos pela Associação Cemitério Israelita de São Paulo, vai ser digitalizado e o conteúdo integral estará disponível no portal da Chevra Kadisha (chevrakadisha.org.br). E, claro, com informações sobre sepultamentos e cerimônias, e as tradições referentes ao luto no rito judaico.

Isenção de impostos A Receita Federal e a Confederação Nacional da Indústria assinaram o Carnê ATA, passaporte para mercadorias importadas ou exportadas, espécie de termo de compromisso firmado na Convenção de Istambul. A adesão do Brasil permite que empresas nacionais e israelenses transportem equipamentos profissionais ou artigos para apresentação ou uso em feiras, exposições, congressos, eventos e outros sem impostos. Isso vale para materiais trazidos na bagagem ou como carga, sem acompanhante.

Finalmente, reconhecimento aos atletas mortos

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uarenta e quatro anos depois, nestes Jogos Olímpicos Rio-2016, o Comitê Olímpico Internacional (COI) homenageou oficialmente os onze atletas israelenses assassinados durante a Olimpíada de Munique, em 1972, por oito palestinos da organização “Setembro Negro”. A cerimônia foi no jardim da prefeitura do Rio de Janeiro, com a presença dos ministros das Relações Exteriores José Serra, dos Esportes Leonardo Picciani, da ministra da Cultura e Esporte de Israel Miri Regev; do prefeito do Rio Eduardo Paes, dos presidentes do COI Thomas Bach, dos comitês do Brasil e de Israel, Carlos Arthur Nuzman e Yigal Carmi e autoridades consulares, esportivas e civis, brasileiras e israelenses. A Hebraica foi representada por Avi Gelberg e Gaby Milevsky, cujos nomes foram mencionados nos agradecimentos do Comitê Olímpico de Israel e o presidente (foto) foi escolhido para acender uma das onze velas. O COI vinha se recusando a essa homenagem oficial na abertura das Olimpíadas e, até o fechamento desta edição, havia a promessa de Thomas Bach de pedir um minuto de silêncio na solenidade de encerramento “para permitir que todos no estádio e aqueles que assistem em casa lembrem-se dos entes queridos falecidos”.

O responsável pela segurança do Brasil orientou, há dois meses, que não se fizesse o ato. O COI procurou o ministério das Relações Exteriores, porém a embaixada de Israel em Brasília atuou junto ao ministério da Justiça e a cerimônia aconteceu como planejada. Ao discursar, Serra falou da missão do COI em 1972 e ressaltou que “esse reconhecimento dentro da própria Olimpíada é um dever nosso. Essas pessoas foram assassinadas pelo fanatismo, pelo terrorismo, e temos de nos perfilar homenageando-as pois assim se alcança o ponto mais essencial das Olimpíadas: a integração de todos os povos pacificamente com algo que sinaliza um futuro melhor para toda humanidade”. A presença das viúvas de dois dos esportistas mortos comoveu a plateia. A viúva do técnico de esgrima Ankie Spitzer disse: “Se você esquece a história, você não tem futuro. Se você esquece a história, você poderá fazer a mesma coisa de novo. É importante porque sentimos que esses atletas pertencem a uma família olímpica internacional e ela não os reconhecia. Ninguém fazia questão de lembrá-los, ninguém queria falar sobre isso. Após 44 anos nós pensamos que eles são membros de uma família olímpica e devem ser lembrados”.


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COLUNA 1

∂ André (Deco) Farkas, formado pela FAAP, expressa o inconsciente da cidade em qualquer suporte que apareça. Dessa vez, o artista plástico foi convidado para criar e pintar quatro infláveis gigantes, vistos pelo mundo na transmissão da cerimônia de abertura da Olimpíada Rio 2016. O Museu Judaico de São Paulo (ex-Templo Beth-El) foi um dos cases abordados durante o workshop “Arquitetura e Técnicas Museográficas”, na FAAP. Simoni Waldman Saidon e Mauro Martins, da Botti Rubin Arquitetos, falaram a respeito de “Edifícios Adaptados para Museus”.

Na Sinagoga da Hebraica, Michelle Libanor e Patrick Kriszhaber foram recebidos para o ofrif (chamada à Torá) do noivo com prédica do moré Nelson Rozenchan. O Museu da Imagem e do Som (MIS) reúne material para a exposição do “Homem do Baú”, isto é, o comunicador Silvio (Abravanel) Santos. Com previsão de filas na porta no final do ano. Vibrante e preciso, o regente norte-americano Michael Repper, de pais imigrantes europeus, foi aplaudido pela regência da Osesp, na Sala São Paulo. A atriz Miriam Mehler (Fora do Mundo) e o diretor Felipe Hirsh (A Tragédia Latino-Americana) estão entre os indicados ao 29º. Prêmio Shell de Teatro de São Paulo. Agora é possível saborear o verdadeiro pretzel assado na loja do Rei do Pretzel, no Aeroporto de Congonhas. A massa é produzida na Suíça, congelada e exportada em embalagens climatizadas para ser assada na hora.

Ana Goldberger, Bia Black, Dinorah Rosencrantz e Karine Kischinhevsky têm obras expostas, entre 43 artistas brasileiros, na Brazilian Art In Miami, nos Estados Unidos. Maurício Schuartz é o curador de “Comer e Viajar” na Unibes Cultural e entre os seus convidados chamou Hans Oey, chef do Dewi Sri Hotel, em Bali. Oey é chinês, morou nos EUA e é expert na culinária asiática. Paixoei ou Diários da Floresta é a montagem atual do grupo teatral Lux in Tenebris. Baseada na obra homônima da antropóloga Betty Mindlin e sua vivência com os suruí-paiter, índios habitantes de Rondônia. As experiências na área de áudio e visual corporativo de Renato Sacerdote e Ary Diesendruck estão juntas num projeto mais pessoal. Assim nasceu Quem Somos (www.quemsomos. net.br), para documentar histórias familiares, registros para as próximas gerações.

Guto Lacaz, Jac Leiner e Cildo Meireles estão entre os artistas contemporâneos presentes na exposição “Situações: a Instalação no Acervo da Pinacoteca de São Paulo”, na Estação Pinacoteca. Na Semana da Liderança Jovem da Cidade de São Paulo, o secretário de Estado de Desenvolvimento Social Floriano Pesaro homenageou um grupo de jovens, entre eles Priscila Celino, repórter do programa de TV “Shalom Brasil”. João Kon, Arquiteto é o título do livro lançado no Museu da Casa Brasileira. Com textos de Fernando Serapião, Jacopo Crivelli Visconti e Luís Espallargas Gimenez e material do acervo fotográfico do Museu Judaico de São Paulo/Arquivo Histórico, mais a edição de Romano Guerra. Thally Wainberg foi convidada a trabalhar nos escritórios da El Al e já está de mala e cuia instalada em Israel.

CIP volta à Alemanha Neste ano, quando completa oitenta anos, a Congregação Israelita Paulista (CIP) fez uma viagem de retorno às raízes. O grupo de jovens sócios, liderados pelo rabino Michel Schlesinger e o presidente Sérgio Kulikovsky, visitou os locais que influenciaram a tradição religiosa da sinagoga desde a fundação, em 1936, com a vinda do rabino Fritz Pinkuss (z’l). O Consulado Geral da Alemanha em São Paulo deu apoio ao roteiro que incluiu sinagogas, cemitérios, museus e centros acadêmicos, encontros com rabinos alemães da corrente ortodoxa e o representante do ministério das Relações Exteriores, em Berlim e Hamburgo. “Foi uma viagem de volta às raízes, para entrar em contato, na Alemanha, com nossa própria identidade de maneira mais profunda”, relatou Schlesinger, ele mesmo neto de imigrantes.

Mensagens de feliz ano novo O Residencial Israelita Albert Einstein lançou os cartões para as festas de Rosh Hashaná confeccionados pelos idosos da instituição. As imagens fortalecem os costumes judaicos e trazem composições de flores coloridas, refletindo os bons votos para o novo ano judaico.

Entre 117 candidatos por vaga, Rachel Carvalho Carmona foi a primeira colocada em medicina na Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. A caloura estudou no Bialik e segue a tradição médica dos pais.


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cultural + social > comunidade+coluna 1

COLUNA 1

Homenagem a Faerman Marcos Faerman (z’l), o Marcão, vários anos editor desta Revista, agora tem um portal on line com o seu nome. Com o apoio do programa Rumos, do Itaú Cultural, e parte da Semana de Jornalismo da Faculdade Casper Líbero, onde Faerman lecionou. No lançamento, no Teatro Gazeta, Audálio Dantas e Caco Barcellos participaram de debate para “mostrar as várias possibilidades de leituras e interpretações do jornalismo atual à luz do jornalismo produzido por Faerman”.

Unibes Cultural e Museu Judaico A Unibes Cultural apresenta “Last Folio – Preservando Memórias”, trazida pela Bertelsmann, mostra que já passou pela Alemanha, EUA, Reino Unido, Rússia, Eslováquia e Itália, além das sedes da Comissão Europeia, em Bruxelas, e da ONU, em Nova York, causando grande emoção. São 57 trabalhos do fotógrafo Yuri Dojc e da cineasta Katya Krausova. Em uma atividade conjunta, o Museu Judaico convidou membros de seu Conselho Jovem para a pré-abertura exclusiva, guiada pela curadora da mostra Katya Krausova e a diretora do Educativo da Unibes Cultural, Flávia Aydas.

“Educação no Brasil: o que Podemos Aprender com o Mundo?” foi o tema da palestra de Cláudia Costin na Fundação FHC. Com a experiência de cinco anos à frente da Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro e diretora Global de Educação do Banco Mundial.

A Livraria Cultura/ Shopping RioMar, no Recife, convidou Nanete Konig para palestra e sessão de autógrafos do livro Sobrevivi ao Holocausto. A palestra “Tabagismo Nunca Mais!” marcou o dia de combate ao fumo no Einstein. Com direito a conhecer o

programa presencial de cessação do tabaco desenvolvido pelo hospital israelita, além da ferramenta on line telecessação. No estande da Paulus, durante a 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no final de agosto, Mônica Guttmann

autografou O Presente, ilustrado por Simone Matias. Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Sarita Saruê deu o curso de extensão cultural com o tema “O Holocausto, Janusz Korczak e a Criança: do Orfanato ao Campo de Extermínio de Treblinka”.

Atrações no Kleztival 2016

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sétima edição do Kleztival-Festival da Música Judaica, de 29 de outubro a 6 de novembro, será em vários locais da cidade e no clube. Entre as atrações internacionais estão as cantoras Shura Lipovsky (Holanda) e Zhenya Lopatnik (Ucrânia) e o Duo ZuAretz, de Israel. Além dos locais tradicionais, a diretora Nicole Borger (foto) firmou parceria com o Museu da Imagem e do Som (MIS), para exibir filmes sobre música judaica, como Stan Getz: a Musical Odyssey, documentário da viagem do saxofonista a Israel, o contato com músicos

locais e a adaptação do som jazzístico à música judaico-mediterrânea. (Leia matéria sobre a música klezmer na Europa Oriental no “Magazine” desta edição.)

Serra recebe diplomatas israelenses

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ministro das Relações Exteriores José Serra recebeu o embaixador Modi Ephraim, subdiretor da América Latina e Caribe, os ministros da embaixada de Israel, Lior Ben Dor, que está de partida, e Itay Tagner, novo titular. Eles debateram paz e segurança no Oriente Médio, estreitamento da cooperação entre os dois países em diferentes áreas. Ephraim também se encontrou com o secretário-geral embaixador Marcos Galvão, o subsecretário da África e Oriente Médio, embaixador Fernando José Abreu e o chefe do cerimonial, ministro João Mendes.


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Empresas israelenses na Olimpíada

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oram três anos de contatos reservados para 35 empresas israelenses de segurança e alta tecnologia treinarem dez mil soldados e policiais brasileiros para a abertura dos Jogos Olímpicos Rio-2016. Assistida pelo Ministério da Defesa de Israel, a ISDS liderou o projeto com soluções de segurança, Além da ISDS, outras empresas participaram. A Kela Screens, de geração de alertas de inteligência em tempo real; Argus Corporation, na construção do retrato de comportamento das pessoas, de que país são e o que fazem; SayVU, aplicativo que envia sinal de socorro a um call center de emergência, a partir de qualquer telefone, mesmo bloqueado; Kaylor para lidar com grande número de pessoas em curto espaço de tempo na entrada de estádios; BriefCam na vigilância ao nível da rua: a inspeção detalhada da cidade feita pelo satélite EROS-B; a tecnologia da LiveU na transmissão ao vivo para mais de oitenta emissoras internacionais; o gerenciamento e controle do trânsito e emergências com a tecnologia LiveU e o aplicativo de transporte público Moovit, informando em tempo real os percursos de ônibus, metrô, VLT, trem, balsas e teleféricos em 35 idiomas.

Na’amat na Hípica Paulista

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Na’amat Pioneiras programou um grande evento para este dia 18, a partir das 16 horas, na Hípica Paulista. É o projeto cultural “Arte & Artistas” que apresentará reproduções de obras de artistas famosos como Tarsila do Amaral, o arquiteto Benjamim Rothstein e o tapeceiro Henrique Schucman, representante do Brasil na 9th International Triennale of Tapestry em Lodz, Polônia, e palestra de Tarsilinha do Amaral, sobrinha neta da famosa artista da Semana de Arte Moderna de 1922. Gratuito e aberto, durante o evento as pessoas poderão passear pelos jardins do clube, participar de atividades para adultos e crianças, passeios de pôneis, apresentações de volteio e equoterapia, venda de livros infantis e outras surpresas. A venda das reproduções será destinada aos projetos sociais da Na’amat Pioneiras.

KKL planta em mutirão

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KKL Brasil participou do mutirão de plantio de árvores no Parque Cândido Portinari, na zona oeste da cidade. Foram plantadas mais de quinhentas mudas, de espécies nativas. O diretor da entidade Marcelo Schapô, considerou “a experiência gratificante e emocionante, uma festa de civilidade, todos contribuindo para a construção de uma cidade melhor”.

Monólogo israelense em cena

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m Nome da Dor e da Esperança é o título do livro escrito aos 19 anos pela israelense Noa Ben-Artzi Pelossof. Inspirados no livro, a atriz Clarissa Kahane e o diretor Daniel Hertz criaram o monólogo Meu Saba (“Meu Avô”)e tiveram a consultoria dramatúrgica de Evelyn Disitzer. O espetáculo foi aplaudido durante o Festival de Teatro de Curitiba e sucesso de público e crítica no Rio de Janeiro. Está em cartaz até 11 deste mês no Teatro Morumbi Shopping.

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Nova rota para Israel A El Al anuncia mais uma opção para chegar a Israel, agora na rota São Paulo-Barcelona pela Latam, e de Barcelona a Israel, via El Al. Com este voo, passam a ser nove as rotas combináveis entre si via Europa, com direito a parada no ponto de conexão, na ida e na volta, sem custo adicional. Informações pelo e-mail vendas@elal.com.br.

Quatá faz produtos com selo halal A indústria de laticínios Quatá renovou com a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) a certificação halal para produzir e comercializar seus produtos no mercado interno e externo. O selo halal é o equivalente para os árabes do selo kasher, para os judeus. Esta é a primeira instituição certificadora halal no Brasil, em operação desde 1979.

Best-seller traduzido para o hebraico Muitas obras de autores brasileiros são traduzidas para o hebraico, e vários títulos israelenses podem ser lidos em português. Dessa vez, foi Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, lançada no Centro Cultural Brasileiro, em Tel Aviv. É uma edição da Sifriat Poalim, com o apoio do Ministério da Cultura de Israel.

“Terra Prometida” na TV Cultura A série documental “Terra Prometida” reconstituiu em animação e com imagens de arquivo a participação brasileira na Segunda Guerra. Seis episódios mostraram a vida judaica nos guetos e campos de concentração e a atuação de Justos Entre as Nações, como Aracy Guimarães Rosa. As razões políticas que levaram o Brasil a entrar na guerra e o papel dos pracinhas da FEB, numa produção da Conspiração e Synapse.


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cultural + social > comunidade

Centro Educacional mostra o Holocausto

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mostra itinerante “Jamais Esquecidos: Holocausto” ficou exposta no Centro Educacional da Fundação Salvador Arena, em São Bernardo do Campo. Criada para ensinar a história do Holocausto a adolescentes, recebeu alunos da Fundação e de escolas públicas da região e promoveu discussões a respeito de preconceito e diversidade para cerca de oitocentos jovens da região do Grande ABC. Os sobreviventes André Reisler, da Bélgica, Nanete Konig, da Holanda, e Rita Braun, da Polônia, deram testemunhos. No total, mais de nove mil pessoas da região visitaram a exposição, que mostrou o extermínio de ciganos, homossexuais, opositores políticos e religiosos, além dos seis milhões de judeus.

Conscre homenageia Célia Parnes

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Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras (Conscre), presidido por Sérgio Serber, promove, anualmente, uma grande festa de congraçamento na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, quando cada comunidade escolhe seu homenageado. Este ano, Célia Parnes, presidente da União Brasileiro-Israelita do Bem Estar Social (Unibes), recebeu essa homenagem pelo seu envolvimento com as causas sociais na comunidade judaica. Dedicada, desde aos 14 anos, ao trabalho voluntário na Unibes, Célia esteve envolvida com diferentes atividades e projetos até que, em 2000, passou a fazer parte da vida interna da instituição. Foi diretora de sustentabilidade, vice-presidente e, hoje, está no seu segundo mandato como presidente. A Unibes atende perto de quatorze mil pessoas com seus serviços de creche, centro de capacitação para jovens e adolescentes, centro de convivên-

Mediação de conflitos Voluntárias treinadas atuam no Departamento de Mediação da Na’amat Pioneiras São Paulo, coordenadas por Dora Petresky e Joyce Markovits. O Departamento oferece atendimento em mediação de conflitos, metodologia que ganha espaço na resolução de problemas de forma construtiva e criativa, a partir do diálogo e da reflexão entre as partes. Informações, 3667-5247 ou pelo e-mail mediacaonaamat@gmail.com.

Enfermeiras se revezam no atendimento No mês sagrado muçulmano do Ramadã, a chefe da enfermaria da unidade de hemato-oncologia do Hospital Hadassa de Ein Kerem, Suart Levy, pediu que enfermeiras judias cobrissem os turnos das enfermeiras muçulmanas, para estas fazerem o desjejum diário em casa, seguindo a tradição. É assim também nas outras festas das várias religiões das enfermeiras que servem no hospital israelense.

AGENDA

cia de idosos e o Bazar, que supre as lojas com a venda das doações recebidas, importantes para dar esse atendimento à população paulistana em situação de vulnerabilidade social, sejam crianças, adultos ou idosos. Há um ano, nasceu a Unibes Cultural para oferecer uma programação variada e inteiramente gratuita, voltada à inclusão cultural, com seus 1.300 eventos nesse período. Célia é a voluntária que vê em todo esse trabalho um sentido maior. Ela sabe do papel fundamental da Unibes na vida das pessoas e tem na sua formação a característica de fazer de sua atividade um bem maior. “Tenho orgulho em ser parte dessa história.”

11/9 – Peça Selfie, com Mateus Solano e Mighel Thiré, no Teatro Renaissance, às 18h30. Realização Wizo 11/9 – Palestra de Jonathan Cohen, diretor do Melton Centre for Jewish Education, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Realização da Conib. Inscrições pelo e-mail conecteinu@conib.org.br 21/9 – “Tarde das Mulheres” com alestra do rabino Shabsi Alpern, com o tema “Você Pode Ser Feliz! Saiba Como” e toque do shofar. No Beit Chabad Central, rua Melo Alves, 580 4 a 6/11 – Olami Summit 2016 em São Paulo, evento mundial judaico de networking e empreendedorismo, mais esporte, shows e gastronomia internacional. Parceria com o Makom. Informações, summit@olami.org 13 a 17/11 – Seminário Internacional Aviv Wizo Mundial especial para chaverot até 45 anos. Em Tel Aviv, Israel. Inscrições, wizo@wizo.org 14 a 21/11 – Missão Premier para Israel do Honest Reporting. Informações, hrmisssion@honestreporting.com



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1. Michelle Libanor e Patrick Kriszhaber reuniram amigos na sinagoga do clube antes do casamento; 2, 3 e 4. CIP na Alemanha: painel na Universidade de Hamburgo marca a perseguição aos justos na cidade; guia mostra o castelo de Sans Souci, em Potsdam; rabino Fritz Pinkuss lembrado no centro de estudos da Universidade, que pesquisa a imigração dos judeus alemães a São Paulo; 5. A plateia da Feliz Idade ouviu a psicóloga e psicoterapeuta Ana Fraiman e o neurocirurgião João Pinheiro Franco; 6 e 7. Rafael Mantovani e Nelson Milner no encontro da Cambici com o empreendedor Marcelo Sales; 8. No Residencial Israelita Albert Einstein, Telma Sobolh, presidente do Voluntariado; 9 e 10. Olimpíada 2016: comunidade homenageia Leonardo Picciani, ministro dos Esportes; judocas israelenses Yarden Gerbi e Or Sasson acendem vela em lembrança aos onze atletas assassinados em Munique

Fotos: Flávio Mello / Gustavo W. Gerchmann

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20º. Festival de Cinema Judaico. 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Chazan e cineasta David Kullock e o diretor de Teatro da Associação Cultural Paideia, Amauri Falseti; Mauro Zaitz e Jairo Haber; a simpatia do cônsul do Japão Takahiro Nakamae; musicóloga Anna Maria Kieffer, roteirista Sylvia Lohn e os cineastas Rodolfo Nanni e Guilherme de Almeida Prado; Nabuco Barcellos, Cláudia Costin, Jack e Denise Terpins; Mona Dorf, Mônica Hutzler e Cláudio Bobrow; 7. Na Sala São Paulo, Abrão Bober e Cleo Ickowicz aplaudiram o maestro Michael Repper; 8. Teatro Arthur Rubinstein recebeu a Orquestra Sinfônica Infantojuvenil do Projeto Guri, no Show do Meio-Dia



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Gol da Paz no Allianz Parque. 1, 2, 3, 4,

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5 e 6. O sorriso da vitória, Avi Gelberg e jogadores; Cláudio Bobrow e Jaime Franco; Avi Gelberg, Bruno Laskowsky, Fernando Lottenberg; Fábio Topczewski e Gaby Milevsky na entrega de medalhas aos garotos; craques de ontem, dirigentes da CBF e dos clubes posam com os futebolistas mirins de Jerusalém e de São Paulo; harmonia em campo tem como paisagem a palavra Paz; 7 e 8. Museu Judaico de São Paulo na Unibes Cultural para ver a exposição “Last Folio – Preservando Memórias”; estavam lá Karen Zolko e Dodi Chansky

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1. Nasceu Roberta Castro Plapler, a primeira princesa de Gabriela e Fernando; 2, 3, 4 e 5. Headtlaks. Israelense Avi Hay; ouvintes atentos acompanharam os palestrantes; Andrea

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Bisker pesquisa e traz temas de interesse; Alessandra Rascovski; 6. Arte de Deco Farkas nos balões gigantes da abertura da Olimpíada no Maracanã; 7.Quem mora em Higienópolis curtiu a noite de vinhos no Páteo Higienópolis; 8 e 9. Paola de Picciotto e Flávia de Picciotto Terpins com o anfitrião na nova Casa Charlô; Yolanda e Dudu Douek mais Rosinha Goldfarb; 10. As Leis do Universo foram analisadas por Marcelo Steinberg nas aulas de Cabala

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juventude > hebraikeinu

Idioma universal NO PRIMEIRO SÁBADO DE ATIVIDADES DE AGOSTO,

CHANICHIM DOS HEBRAIKEINU 3 E 4 RECEBERAM OS

ATLETAS DO PROJETO GOL DA IGUALDADE PARA UMA TARDE

DE DIVERSÃO PARA BRASILEIROS, JUDEUS E ÁRABES

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gosto é sempre especial no calendário do Hebraikeinu. Em algum momento, chanichim e madrichim comemoram o aniversário do movimento e, em outro, todos participam da campanha da rede McDonald’s em benefício das crianças com câncer. Este ano, os chanichim foram surpreendidos com um presente logo no primeiro sábado de atividades depois das férias: a visita dos atletas do Gol da Igualdade, ONG israelense que faz do futebol instrumento de integração e desenvolvimento para crianças israelenses e árabes de áreas carentes. Em iniciativa inédita da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), 25 garotos entre 10 e 14 anos passaram quinze dias no Brasil e cumpriram um rotei-

EM MEIO A UMA AGENDA REPLETA DE COMPROMISSOS, OS ATLETAS DO GOL DA IGUALDADE RELAXARAM EM MEIO AOS CHANICHIM DO HEBRAIKEINU


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ro de passeios e atividades no Rio de Janeiro e São Paulo, acompanhados por técnicos, diretores da ONG e professoras. Em São Paulo, conheceram o Museu do Futebol, disputaram o jogo preliminar no gramado do Alianz Park (veja matéria à página 24) e sábado estiveram na Hebraica, em um dos poucos momentos em que a missão de bem representar a ONG foi menor do que a chance de brincar. No começo, e até os visitantes entenderem as regras do jogo e se habituarem às dimensões das quadras externas da Hebraica, a comunicação dependia mais dos tradutores de hebraico e árabe. No entanto, logo os olhares, gestos e a paixão em comum pela bola aproximaram anfitriões e visitantes. Para estes, mais

uma surpresa, o gosto doce da água de coco. E receberam camisetas e brindes com o símbolo do Hebraikeinu. A jornalista Tamara Leftel acompanhou o projeto desde os primeiros contatos entre a CBF e a ONG Gol da Igualdade e veio do Rio de Janeiro, onde mora, para São Paulo encontrar os garotos de Jerusalém. “É um projeto fantástico para os meninos e para nós, adultos, que os seguimos. Esses quinze dias serão uma lição de convivência”, afirmou. Ela produziu um dos muitos vídeos a respeito do projeto Gol da Igualdade. O diretor-superintendente da Hebraica, Gaby Milevsky, permaneceu na quadra observando a atividade do Hebraikeinu. “Repito muitas e muitas vezes, que é preciso educar para a paz.

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Quem semeia o amor colhe a paz, e aqueles que cultivam o ódio produzem a guerra. É uma lição objetiva, mas é difícil criar atividades e instâncias para exercitar a educação para a paz. Este é um dos momentos em que os madrichim do Hebraikeinu estão colocando em prática a formação que receberam. O que vemos aqui, nessa quadra, é literalmente um abraço. Crianças brasileiras que acolhem meninos árabes e judeus de Jerusalém. Não foi fácil concretizar esse projeto, que resultou do esforço de inúmeras entidades e pessoas, mas ao ver o clima de amizade nessa quadra faz tudo valer a pena”, afirmou, antes de posar para mais uma foto histórica com chanichim e atletas do Gol da Igualdade. (M. B.)

EM POUCOS MINUTOS, ISRAELENSES, ÁRABES E BRASILEIROS DISPENSARAM OS INTÉRPRETES E ENCONTRARAM UMA LINGUAGEM COMUM


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juventude > merkaz

PLATÉIA CHEIA PARA A ESTREIA DA FUCKUP NIGHT

As duas faces do empreendedorismo NO ESPAÇO DE POUCAS SEMANAS, O MERKAZ PROMOVEU

UMA NOITE PARA RELATOS ACERCA DE EMPREITADAS QUE NÃO DERAM CERTO E OUTRA PARA MOSTRAR O EXEMPLO DE TRÊS PROFISSIONAIS BEM-SUCEDIDOS EM CARREIRAS INUSITADAS

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niversitários, jovens profissionais e empreendedores iniciantes adotaram o costume de consultar a página do Projeto Merkaz quase diariamente à procura de novidades na agenda de cursos e eventos ou de novos textos a respeito de empreendedorismo. Desde o lançamento, no primeiro semestre, da parceria inédita entre Hebraica, CIP e Fundo Comunitário, o Merkaz realizou cursos de Excel (planilhas) e de apresentação apoiada em slides. “Quando lançamos um convite para a inscrição de projetos para a Pitch Night, em 23 de agosto, a resposta foi muito positiva”, afirmou o gestor do Merkaz, Pedro Muszkat. “Os projetos aprovados receberão apoio e acompanhamento dos mentores do Merkaz”, completa. No final de julho, o Merkaz promoveu a Fuckup Night, dedicada ao relato de

histórias de empreendedores que, em algum momento da carreira, lidaram com o fracasso ou com crises que os obrigaram a mudar radicalmente a dinâmica da empresa. Para organizar Impact Rub Anwi Institute, empresa que se dedica à divulgação do coworking e outras ferramentas de apoio ao empreendedorismo. Durante a Fuckup Night, um a um os convidados mostraram que nem sempre o empreendedor controla todos os aspectos do negócio. “Em 2008, estava com tudo pronto para lançar uma linha inovadora de produtos para revestimentos de pisos com design importado. Então, meu sócio e investidor, um italiano, perdeu quase toda a fortuna na Bolsa de Valores e entrou em depressão. Isso bastou para o empreendimento murchar”, lembrou Igor Schultz. Cada palestrante deu um toque pessoal à narrativa, mas todos utilizaram

imagens e gráficos, e de um slide final com indicações e conselhos para evitar os problemas enfrentados por cada um. O dono da Livo Eyeweare, Arthur Blaj, que inovou o mercado de venda de óculos, narrou um quase fracasso. “No início da Livo, eu e meus sócios apostamos na plataforma digital, na qualidade dos nossos produtos artesanais e no site inovador que permitia ao cliente experimentar os modelos de óculos virtualmente. Conseguimos sucesso na mídia, mas as vendas estagnaram. Por pouco, não nos tornamos mais uma história de fracasso. Graças à decisão de um dos sócios em alugar um imóvel o negócio realmente deu certo. Hoje temos várias lojas e também o site”, contou Blaj. No início de agosto, o Merkaz reuniu, num mesmo evento realizado no Teatro Anne Frank, o editor chefe de efeitos O2 Filmes Sandro di Segni, o publicitário Paulo Loeb e Wellington Nogueira, idealizador da ONG Doutores da Alegria, para conversar com o público a respeito do tema “Profissões do Futuro”. Di Segni narrou sua trajetória em busca de conhecimento e da prática para se unir à nascente indústria da computação gráfica. Integrou as equipes de grandes produtores como George Lucas e hoje atua na O2 filmes. Paulo Loeb trabalha com publicidade e enfatizou a transformação das funções na sua agência. “Cada vez mais, caminhamos para a publicidade personalizada, ou seja, cada consumidor recebe em seu smartphone ou computador anúncios de acordo com os seus interesses. Todos os dias surgem novas ocupações nessa área, mas é preciso estar atento, porque elas desaparecem na mesma velocidade. Na minha agência, há poucos anos, algumas tarefas exigiam centenas de funcionários e hoje dois ou três dão conta da mesma quantidade de trabalho”, informou o publicitário. Wellington encantou a plateia com fatos da sua carreira e histórias do início dos Doutores da Alegria e, em seguida, os três conversaram com o público. Vídeos com o conteúdo das palestras estão disponíveis na página do Merkaz e na rede social Facebook. (M. B.)



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juventude > mês da criança

AOS DOMINGOS, EM OUTUBRO, BRINQUEDOS INFLÁVEIS MONTADOS NA PRAÇA CARMEL

Hora de pensar nos pequenos DOS BRINQUEDOS INFLÁVEIS, AOS ESPETÁCULOS DE MUSICAIS E DE TEATRO, ALÉM DE UM DESFILE DE MODAS INFANTIL, A PROGRAMAÇÃO DO MÊS DE OUTUBRO SERÁ DEDICADA AO SÓCIO COM ALMA DE CRIANÇA

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iovana Harari, de 6 anos, já foi capa da revista Hebraica, em 2011, quando frequentava o Espaço Bebê. Hoje, ela se zanga com a mãe se o programa no final de semana não incluir a Hebraica. É para Giovana – e todos os pequenos sócios que engatinham, dão os primeiros passos e aprendem a brincar no clube – que a vice-presidência de Juventude organizou uma agenda especial para o mês de outubro. “Determinamos a instalação de brinquedos infláveis aos domingos, o que já garante muita diversão e aventura”, afirma Eliza Griner, vice-presidente de Juventude. No dia 1º de outubro, o show dos professores do Centro de Música será dedicado ao público infantil. O mesmo fará a morá Lucila, no dia

16, quando lançará, no clube, um novo cd com repertório próprio. Maestrina dos trovadores mirins, ela tem um grande fã clube entre as crianças que frequentaram a Escola Maternal e Infantil, onde ainda leciona. O item principal da programação dos dias 8 e 9 está a cargo do Hebraica Adventure, que promoverá um Campeonato de Games do Fifa, um jogo bastante popular entre meninos e meninas acima de 8 anos. “Até meados deste mês, anunciaremos um espetáculo de teatro infantil e outras atrações”, diz Elisa, mas o melhor fica para o final do mês. “No dia 30, mamães e papais verão os filhos na passarela como estrelas do Desfile Fashion Kids & Teen”, promete a vice-presidente. (M. B.)



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juventude > curtas

Aniversário Às vésperas do ano novo judaico, o After School comemora oito anos. Idealizado como um espaço destinado a aperfeiçoar o aproveitamento das tardes pelas crianças e suas atividades no clube, o After equilibra os interesses de crianças e adolescentes e as demandas dos pais, oferecendo uma sala de estudos equipada com micros para pesquisa e monitoria para esclarecer dúvidas pontuais, e uma área de entretenimento com jogos eletrônicos e de tabuleiro. Crianças de 6 a 14 anos também podem cursar inglês com professores e método do Alummni e conhecer suas raízes nas aulas de tradição judaica. Recentemente, o After School se tornou parceiro da Madcode, uma escola de programação de computadores. Tudo em sintonia com a prática de esportes ou atividades artísticas disponíveis no clube.

Dança No início de agosto, os professores do Anacã Estúdio de Dança ofereceram aula aberta de dança urbana, modalidade que despertou o interesse de sócias em várias faixas etárias. Para tornar possível a parceria entre o Estúdio e o Centro de Danças, foi colocada à disposição dos sócios uma grade com horários e cursos para formar turmas.

Centro de Música Todo primeiro sábado do mês, professores e alunos do Centro de Música Naomi Shemer apresentam um show na Praça Carmel para divulgar a qualidade dos cursos e os instrumentos ensinados. Em agosto, o grupo musical Rodaroá encantou o público infantil ao apresentar canções antigas e algumas mais novas como exemplo da metodologia do curso de musicalização infantil, cujas aulas começariam na semana seguinte. (M. B.)


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Poker O Hebraica Adventure e a Casssinera, empresa especializada em realizar jogos de cartas, montaram duas mesas profissionais de poker no auditório para um curso rápido, ministrado por jogadores profissionais.

AGENDA Brincar

Para divulgar o brincar livre, a Brinquedoteca promove dia 17 nas quadras externas um evento que vai oferecer brincadeiras tradicionais que no passado eram feitas nas ruas. O objetivo das rodas de histórias e a exibição do filme Território do Brincar é iniciar uma reflexão a respeito da importância pedagógica e psicológica do brincar livre. Haverá trocas e trocas e doação de livros e brinquedos durante todo o dia.

Teatro

Dia 18, às 16 horas, a vice-presidência de Juventude realiza a única apresentação do espetáculo Espartanos, no Teatro Anne Frank com a companhia 108. O texto de Pedro Garrafa trata da violência física e digital entre adolescentes. Ingressos na Central de Atendimento ou pelo telefone 3818-8888.

Intertnuot

Dias 10 e 11, adolescentes e jovens que frequentam os movimentos juvenis da comunidade judaica participarão do Torneio Intertnuot, com competições esportivas em grupo e individuais, e gincanas culturais. O Centro Juvenil Hebraikeinu foi campeão em 2015, quando o movimento completou o 25º aniversário. Este ano, a expectativa é trazer novamente o troféu para o clube.

Ilusionismo

O ilusionista Richard Bromberg é o astro do show “Mentalmente”, no Teatro Anne Frank, em benefício da turma 21 do curso de líderes Meidá. “Vou mostrar ao público como a mente pode ser controlada”, afirma Bromberg, cujas habilidades incluem o teatro, dublagem e palestras motivacionais. “Só não consigo desvendar a mente da minha mulher”, brinca. Ingressos para o show na Central de Atendimento. Reservas pelo telefone 3818-8888.


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juventude > fotos e fatos 1.

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1 e 2. Aula aberta comandada pelo Estúdio Anacã agitou a manhã de domingo na Praça Carmel. Ainda há horários disponíveis para a formação de turmas junto ao Centro de Danças; 3. Para festejar o Dia dos Pais, o Espaço Bebê reuniu pais e filhos pequenos no mezzanino para uma oficina de criatividade; 4. A recepção aos garotos da ONG Gol da Igualdade foi um dos pontos altos da programação de agosto do Hebraikeinu 4; 5. Em parceria com a Casinera, o Hebraica Adventure promoveu um curso de poker que agradou tanto aos novatos quanto aos veteranos no jogo, à procura de novas estratégias

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Fotos: Flávio Mello / Gustavo W. Gerchmann

1 e 2. Empresários que narraram suas desventuras na Fuckup Night, um evento do Merkaz, deixaram claro que o erro faz parte do aprendizado no mundo dos negócios; 3. A primeira turma do curso de apresentação elogiou o formato das aulas; 4 e 5. O encontro “Profissões do Futuro” valeu por três palestras excelentes

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es por tes


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esportes > olimpíada

OS ATLETAS DO GOL DA IGUALDADE TRATARAM YARDEN GERBI COMO UMA CELEBRIDADE

Imagens e histórias para guardar na memória DURANTE DOIS MESES, O CLUBE ESTEVE

DIRETAMENTE LIGADO AOS ACONTECIMENTOS E RESULTADOS OBTIDOS PELOS

ATLETAS NA RIO 2016, COMO A DESPEDIDA DA

JUDOCA ISRAELENSE YARDEN

GERBI, BRONZE NA RIO 2016

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m um final de tarde de meados de agosto, a mesa da Sala do Conselho foi palco de inédita reunião, porque em torno de dela estavam 22 meninos e uma jovem à cabeceira. Todos de Israel, confessaram a mesma paixão pelo esporte. A judoca medalha de bronze Yarden Gerbi, programou uma visita relâmpago à Hebraica. “Ela me ligou na véspera e avisou que viria hoje cumprir a promessa feita há algumas semanas quando, antes de embarcar para o Rio e iniciar as competições, ela disse que, se ganhasse uma medalha, voltaria para partilhar a alegria co-

nosco. Só por isso, para nós, ela é ouro”, afirmou o presidente da Hebraica Avi Gelberg, que durante a Olimpíada usou mais de uma vez a ponte aérea para acompanhar os jogos no Rio de Janeiro. Gerbi surpreendeu o presidente e não esperava encontrar conterrâneos no retorno ao clube. É que os garotos do projeto Gol da Igualdade tinham agendado um talk show na Hebraica e o destino armou a coincidência de horários e o encontro histórico. “O roteiro da viagem dos garotos incluiu dois dias no Rio de Janeiro e uma das competições que eles viram foi a de judô, justamente a luta que deu a Gerbi


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CRIANÇAS E ADULTOS ACOMPANHARAM AS COMPETIÇÕES NA PRAÇA CARMEL

zer em seguida. Passei os últimos quatro anos totalmente concentrada na preparação para a Olimpíada. Agora vou aproveitar cada instante de felicidade e pensar no futuro mais tarde”, declarou antes de posar para mais fotos. Yarden foi homenageada pela comunidade judaica paulista e pelos judocas do clube em uma cerimônia que incluiu a entrega de um troféu com o símbolo da Hebraica e a apresentação do grupo Shalom com a música tocada no estádio quando Gerbi terminou a última luta. Dos atletas israelenses que disputaram a Olimpíada, as equipes de natação e atletismo, assim como os judocas fizeram sua adaptação nas instalações do clube. Outro judoca, Or Sasson conquistou o segundo bronze e sua vitória muito mais divulgada na mídia justamente porque o seu oponente, o egípcio Islam El Shehaby, recusou-se a cumprimentá-lo no final da luta.

DELEGAÇÃO JAPONESA RECEBEU UMA CAMISETA ONDE SE LIA A PALAVRA BOA SORTE EM HEBRAICO, PORTUGUÊS E INGLÊS

a medalha de bronze. Eles vibraram na arquibancada. Estar tão perto dela agora que é um sonho realizado”, comentou a jornalista Mona Dorf integrante da comitiva responsável pelo projeto. Gerbi conversou com os garotos e destacou o fato de ter iniciado a carreira esportiva na infância. “Eu era e ainda sou apaixonada pelo que faço, assim como vocês gostam de futebol. O mais importante é insistir e se dedicar muito em tudo o que fazemos e aproveitar as chances que a vida nos dá, como a de vocês estarem aqui, hoje”, aconselhou. Ela posou para selfies com os garotos,

conversou com alguns jovens do movimento juvenil Netzah e deu entrevista coletiva. “Fiz questão de retornar a São Paulo e agradecer, pois a Hebraica significa muito na minha carreira. Em 2013, no mundial de judô, no Centro Cívico, treinei e fui campeã. Este ano, completei meu treinamento no dojo (nome dos centros de treinamento e formação de judô) da Hebraica e conquistei a medalha de bronze. Aqui sinto-me como se estivesse na minha casa”, afirmou em hebraico e inglês, com direito a tradução para o português. Os planos para o futuro também entraram na conversa. “Não sei o que vou fa-

Atletas orientais A equipe olímpica de japonesa de natação passou duas semanas em São Paulo, como parte do programa de adaptação ao clima brasileiro, o que explica o fato de o clube ter sido decorado com bandeiras brasileiras, do Japão e Israel. Japoneses e israelenses se revezaram na piscina olímpica e aos poucos, os sócios se acostumaram a ouvir as instruções dos técnicos e ver como os atletas se apressavam em segui-las. Os nadadores japoneses abriram os portões para o público durante algumas horas durante um treino dominical. Nos outros dias, chegavam com pontualidade nipônica, se preparavam e iniciavam o vaivém na água, ignorando qualquer estímulo exterior. Às vésperas do início das competições da modalidade, no Rio, técnicos, assistentes e atletas foram homenageados com uma festa de despedida com a presença do cônsul do Japão, Takahiro Nakamae, coquetel com petiscos brasileiros e japone>>


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esportes > olimpíada

Justa homenagem

Foi na Hebraica a primeira das homenagens aos atletas israelenses assassinados na Olimpíada de Munique, em 1972. O evento foi uma iniciativa da comunidade judaica paulista, liderada pela Confederação Israelita Brasileira (Conib), Federação Israelita de São Paulo e Movimento Macabeu. Centenas de pessoas, mais a delegação olímpica do Japão, se reuniram em torno do monumento inaugurado há vinte anos em frente à piscina como lembrança do ataque ocorrido em Munique. Um dos momentos mais emocionantes foi a exibição de um documentário que descreve a luta de duas viúvas dos atletas por mais esclarecimentos e justo destaque à memória desses atletas. Dias depois, no Rio de Janeiro, foi inaugurado um museu itinerante oficial, que deve fazer parte de cada vila olímpica nos eventos futuros e também uma homenagem do Comitê Olímpico Internacional da qual participaram dirigentes da comunidade judaica de São Paulo e também do clube.


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Lições olímpicas

>> ses e a entrega de camisetas com votos de boa sorte para toda a delegação. “Foi uma grata surpresa a recepção e o acolhimento que recebemos na Hebraica. Só nos resta agradecer e convidá-los para nos visitar em 2020, quando sediarmos a próxima Olimpíada”, declarou o cônsul. O Japão terminou a Rio 2016 em sexto lugar com 41 medalhas, das quais sete (duas de ouro, duas de prata e três de bronze) na modalidade natação. “Foi uma honra ter acompanhado os treinos dos japoneses e assistir alguns deles nas provas”, comentou a técnica do masters de natação da Hebraica, Adriana Silva. Ela e dezenas de sócios fãs de esportes viajaram mais de uma vez para o Rio durante a quinzena da Olimpíada para assistir às provas ou jogos. O técnico Murilo Santos integrou o grupo de profissionais que atuaram nas piscinas em todos os eventos aquáticos. Marcelo Carvalho, hoje na equipe de professores da Escola de Esportes e árbitro da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, também trabalhou na Rio 2016. Destaque para Edison Minakawa (ver entrevista ná pág. 62), visto em cadeia mundial arbitrando as lutas de judô. O vice-presidente de Esportes Fábio Topczewski reage orgulhoso quando se fala dos profissionais ligados ao seu departamento que atuaram na Olimpíada. “É mais uma amostra do envolvimento que essas pessoas têm com o esporte de maneira geral e claramente demonstra que sua ligação com o esporte vai muito além da atividade profissional deles aqui no clube. Isso é louvável e também representa uma reciclagem que vai se refletir na orientação do que oferecem aos atletas mirins. Quanto mais envolvimento com o mundo além da Hebraica, absorvendo o que há de melhor e aplicando aquilo que for possível no clube, me>> lhor”, afirmou. (M. B.)

Felipe Wu foi o primeiro atleta brasileiro a conquistar medalha na Rio 2016. Foi prata no tiro esportivo com pistola a dez metros, prova em que é especialista. Em outubro de 2015, Wu aceitou o convite da vice-presidência de Esportes do clube para completar o seu treinamento no estande de tiro, sob o Centro Cívico. Muito antes do início dos treinamentos da seleção brasileira de basquete, a presença de Wu colocou o nome da Hebraica nos principais meios de comunicação. “O papel da Hebraica foi fundamental. Poder treinar desde o ano passado num estande profissional me fez conquistar resultados muito melhores, e agora é concentrar os esforços no Mundial em 2018, na Coreia”, comentou Wu, ao mostrar a medalha para o presidente da Hebraica, Avi Gelberg, e o vice-presidente de Esportes, Fábio Topczewski. Ainda diante do atleta, Fábio falou do futuro. “Felipe continuará treinando aqui na Hebraica e creio que, cada vez mais, isso contribuirá para formar nossos atletas mirins, seus pais invistam mais tempo e esforço e entendam que é um resultado viável. Felipe não é um super-herói, mas um ser humano que resolveu se concentrar nessa atividade e treinou, preparou-se com muita determinação, vencendo a preguiça do dia-a-dia. Superou a si mesmo e chegou ao pódio. No esporte ou em outra atividade, o esforço compensa”, concluiu. E posou para as fotos com Felipe e a medalha.


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esportes > olimpíada lhoso. Não dá para mensurar. É fantástico. Como brasileiro, me senti o anfitrião dos outros árbitros. O evento teste foi em março e até convidei os árbitros para uma churrascaria. Depois, quando os encontrei em outros torneios, perguntavam se, na Olimpíada, eu os levaria de novo. Descreviam os movimentos dos garçons cortando a carne, etc. Eu prometi que o faria e fiz.

Pertinho do pódio ENTRE AS HISTÓRIAS A RESPEITO DAS CONQUISTAS DE MEDALHAS OLÍMPICAS, VALE DESTACAR AS EXPERIÊNCIAS QUE PROFISSIONAIS E FUNCIONÁRIOS DO CLUBE VIVERAM AO PARTICIPAR DA RIO 2016 O sensei Edison Minakawa (foto) viaja com frequência para atuar como árbitro internacional e sua primeira olimpíada nesta função foi a de Londres, em 2012. Na Rio 2016, ele participou do evento teste, recebeu os judocas israelenses que treinaram na Hebraica e foi reconhecido por muitos sócios, quando sintonizavam um canal de tv durante uma luta.

Hebraica – Qual a diferença entre arbitrar na Olimpíada de Londres e na Rio 2016? Edison Minakawa – A Olimpíada de Londres foi ótima, mas a do Rio, que aconteceu no pais onde moramos, na nossa casa, com a energia do nosso povo, foi indescritível. É como ir a uma festa no salão lá do bairro e fazer a festa no salão do seu edifício. É maravi-

E em relação às lutas, como foi? Minakawa – Arbitrei muitas lutas e felizmente deu tudo certo. No torneio houve apenas dois problemas de indisciplina. Um, causado por um judoca da equipe do Líbano, por sinal brasileiro naturalizado libanês, que discordou de uma advertência anotada pelo árbitro e confirmada pelo vídeo; e a outra foi aquele momento em que o judoca israelense foi cumprimentar o oponente egípcio, que o ignorou. A delegação egípcia tomou a atitude correta para o caso. Os outros árbitros receberam o gesto dele com indignação porque o espírito olímpico da união dos povos não dá espaço para um atleta negar ou recusar um cumprimento, independente de quem ganhou. Naquele momento, um atleta foi um pouco mais feliz e isso não justifica tornar-se um inimigo do outro. E conhecendo os atletas de Israel... Minakawa – A Yarden e o Or são pessoas muito especiais. Quando o atleta vence uma final, ele faz a volta olímpica diante de fotógrafos, jornalistas e é muito intenso quando você o chama e ele para e fixa um olhar fraterno. São segundos emocionantes. Como o senhor definiria o judô diante das outras modalidades? Minakawa – O judô teve destaque na Olimpíada, não só pelo evento em si, mas pelo respeito que a modalidade inspira. As pessoas diziam, por exemplo, que, no judô, não poderia acontecer o que ocorreu com o egípcio. Elas esperam mais respeito entre os lutadores pela tradição que a modalidade tem.


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PARAOLÍMPICOS ATRAÍRAM A ATENÇÃO DAS CRIANÇAS

Tenistas paraolímpicos Na esteira do envolvimento do clube com a Rio 2016, a seleção brasileira de tênis paraolímpico treinou nas quadras rápidas (6 e 7) da Hebraica, atraindo a atenção e o interesse dos sócios pelo esporte. Segundo o técnico Leonardo Flávio de Oliveira, as diferenças em relação ao tênis tradicional são mínimas. “Além da cadeira de rodas, a bola pode quicar duas vezes. E nada mais”, explica. “O tênis paraolímpico é jogado em três categorias, o quad, o masculino e o feminino. Temos chance de medalha em todas elas”, acrescenta Leonardo Flávio de Oliveira. Os tenistas têm experiência internacional e já disputaram as Paraolimpíadas de Londres, em 2012, e mais recentemente um torneio em Toronto. “Estamos ansiosos por jogar essa Paraolimpíada em casa, pois será a primeira vez que teremos a torcida a nosso favor”, adianta o técnico. Ele se declarou encantado com o clube “do qual já tinha ouvido falar, mas não imaginava que vocês tivessem uma infraestrutura tão boa, nem esperava que fossem tão receptivos conosco”.

Três experiências aquáticas Adriano Silva, Marcelo Carvalho e Murilo Santos acompanharam a Rio 2016 diretamente das piscinas utilizadas para as competições de natação e polo aquático. “Esses quinze dias serviram como um curso intensivo. Muito melhor do que se tivesse pago uma pós-graduação”, declarou Adriano, que coordena o polo aquático no clube. Convocado como voluntário, ele foi assistente de serviços da seleção espanhola. “Minha tarefa era fazer a ponte entre a organização e os atletas e técnicos. Providenciava transporte, arranjava treino suplementar quando necessário e nos jo-

gos oficiais ficava ao lado da equipe técnica para arranjar tudo o que fosse necessário, como um remédio, por exemplo. Além disso, acompanhei o treino de várias equipes e ouvi algumas preleções. Aprendi muito e agora volto ao trabalho diário revigorado.” Já Marcelo Carvalho foi um dos árbitros de polo aquático. “Eu era um dos cinco profissionais que arbitrou uma final olímpica, e isso é o ápice da vida profissional. Muito intenso, cansativo, mas bárbaro. Eram três jogos por dia, pois eu era um dos poucos em condições de atuar em todas as funções de arbitragem. No jogo Brasil e Croá-

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cia, eu estava ali. E depois em Croácia e Sérvia. É um papel muito sério porque qualquer erro meu ou de um colega pode mudar o curso do jogo. São times de altíssimo nível. Era muita responsabilidade”, comentou. Para o coordenador e técnico da Hebraica, Murilo Santos, a convocação do Comitê Olímpico para trabalhar no setor de natação, não surpreendeu. “Eu me considero parte do legado que a Rio 2016 deixará para o Brasil. Nos últimos quatro anos participei de curso na Academia Brasileira de Treinadores e também no CAGE, um centro de gestão esportiva. Durante a Olimpíada, minha tarefa e dos meus colegas era cuidar da triagem das pessoas que entravam no local, isto é, nadadores, técnicos, árbitros e jornalistas com credenciais para estarem ali. Antes das provas, cuidava de todos os elementos necessários para as provas, desde as raias e cones plásticos até a organização das call rooms, salas onde os nadadores permaneciam até serem chamados para entrar”, descreve. “Todo o processo, dos cursos às competições na Rio 2016, me deu mais motivação para atuar, agora, na Hebraica”, avalia. (M.B.) Mais Olimpíada à página 76


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esportes > fotos e fatos 2.

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Fotos: Flávio Mello / Gustavo W. Gerchmann

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1, 2 e 5. Gilad Lustig emocionou-se em três momentos: no Kabalat Shabat realizado às vésperas da Olimpíada ao homenagear com presidente da Hebraica, Avi Gelberg, os atletas assassinados durante a Olimpíada em Munique, em 1972; durante o agradecimento à Hebraica pelo acolhimento aos atletas israelenses e ao erguer a taça de espumante em um brinde a todos que disputariam a Rio 2016; 3. Felipe Wu almoçou com a diretoria do clube em comemoração à medalha de prata conquistada na Rio 2016; 4. Documentário com as viúvas dos atletas mortos em Munique em 1972 sensibilizaram até aqueles que nasceram muito depois do atentado


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Fotos: Flávio Mello / Gustavo W. Gerchmann

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1, 2 e 5. Gilad Lustig emocionou-se em três momentos: no Kabalat Shabat realizado às vésperas da Olimpíada ao homenagear com presidente da Hebraica, Avi Gelberg, os atletas assassinados durante a Olimpíada em Munique, em 1972; durante o agradecimento à Hebraica pelo acolhimento aos atletas israelenses e ao erguer a taça de espumante em um brinde a todos que disputariam a Rio 2016; 3. Felipe Wu almoçou com a diretoria do clube em comemoração à medalha de prata conquistada na Rio 2016; 4. Documentário com as viúvas dos atletas mortos em Munique em 1972 sensibilizaram até aqueles que nasceram muito depois do atentado



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magazine > diáspora | por Ariel Finguerman, em Tel Aviv

MAQUETE DA GRANDE SINAGOGA DE FLORENÇA

O museu do povo judeu UM DOS MAIS QUERIDOS MUSEUS JUDEUS DO MUNDO, O BEIT HATFUTSOT, ESTÁ DE CARA NOVA E

JÁ ESTÁ EM CARTAZ UMA EXPOSIÇÃO

SOBRE BOB DYLAN, UM DOS MAIORES ÍDOLOS POP DO SÉCULO 20

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rimeiro foi o Yad Vashem, depois o Museu Israel de Jerusalém, em seguida o Tel Aviv Museum e agora foi a vez do Beit Hatfutsot (Museu da Diáspora) de Tel Aviv, uma das instituições judaicas mais queridas do mundo, passar por uma grande reforma que vai atualizá-lo com novas mídias e renovar uma exibição datada dos anos 1970 que ficara para trás. Algumas exposições deste museu já haviam se tornado um clássico de qualquer visita a Israel: as fotos, em slides, de rostos de judeus de todo mundo logo na entrada, esculturas brancas em gesso explicando o bar-mitzvá e as caricaturas mostrando gerações de famílias judias. “Isto tudo vai desaparecer”, diz a curadora-chefe do Beit Hatfutsot, Orit Shaham Gover, em entrevista exclusiva à revista Hebraica (leia box à pg. ao lado). A reforma de cem milhões de dólares será em etapas. Por enquanto, foram abertas quatro novas exposições, uma delas dedicada aos 75 anos do cantor e compositor judeu americano Bob Dylan e outra a respeito dos judeus da Etiópia, com o de-


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EINSTEIN NA GALERIA DOS HERÓIS DO POVO JUDEU

CHANUKIÁ DA GRANDE SINAGOGA DE VARSÓVIA

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talhe de que foi elaborada por uma cineasta etíope. A exposição antiga continuará aberta, mas nos próximos anos será aos poucos encerrada, com previsão de concluir a reforma apenas em 2019. A mudança no Beit Hatfutsot não será apenas cosmética, mas também, digamos, ideológica. A ideia agora é dar menos ênfase às perseguições e desgraças que atingiram os judeus nos últimos dois mil anos, e mostrar mais a pujança e a criatividade do povo. Até o nome vai mudar, ganhando o subtítulo “Museu do Povo Judeu”. No entanto, nem toda a exposição antiga vai para a lata de lixo. As famosas e maravilhosas maquetes de sinagogas de várias épocas espalhadas pelo mundo continuarão expostas em um espaço novo e mais arejado. Os 21 modelos de sinagogas agora fazem parte de uma exposição maior acerca da prece judaica. A verba necessária para a reforma ainda está sendo arrecadada, principalmente entre o governo israelense e doadores russos e norte-americanos e quando toda a reforma terminar, o museu espera dobrar o número de visitantes para até 400.000/ano.

ENTREVISTA

Museu do tempo dos slides Tudo envelhece, até mesmo museus. Assim, a curadora-chefe do Beit Hatfutsot, Orit Shaham Gover (foto ao lado), justificou a renovação completa do museu de Tel Aviv, na entrevista a seguir. Hebraica – Na última década, os grandes museus israelenses passaram por reformas milionárias, como o Yad Vashem e o Israel Museum de Jerusalém. O Beit Hatfutsot ficou para trás? Orit Shaham Gover – Não foi por esta razão que o museu decidiu se reformar. Simplesmente havia envelhecido. Quando inaugurado, em 1978, slides eram uma coisa muito moderna, e se fez um amplo uso disto. Hoje o slide é, em si mesmo, uma peça de museu. Tudo envelhece, incluindo museus. A cada poucas décadas, é preciso renovar. Além das mudanças físicas, o museu também está mudando de nome. Foi adicionado “Museu do Povo Judeu”. Por quê? Gover – Nos anos 1970, quando o museu foi inaugurado, aqui, em Israel, havia uma ideia bem definida do judeu da Diáspora: o judeu que ainda não tinha feito aliá. E isto in>>

As famosas e maravilhosas maquetes de sinagogas de várias épocas espalhadas pelo mundo continuarão expostas em um espaço novo e mais arejado


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magazine > diáspora >>

fluenciou como eram vistos os últimos dois mil anos de nossa história, basicamente, como um tempo de matanças e perseguições no exílio. Estas ideias envelheceram. A nova exposição não vai mais diferenciar judeu israelense do judeu da Diáspora, somos um só povo, pluralista. Todo judeu que visitar este museu se sentirá parte desta história. Ou seja, retratar menos perseguições e mais conquistas... Gover – Mostraremos o passado judaico com suas prosperidades, as conquistas mais variadas, mas sem esconder as perseguições. Queremos mostrar nosso passado e dizer “aleluia”, e não “oi vei”. Quanto ao cristianismo, minha impressão é de que a antiga exposição o apresentava como um inimigo. Isto vai mudar? Gover – Não vamos ignorar que houve uma competição entre as duas religiões ao longo da história, e que o resultado não foi feliz para os judeus. Mas também queremos

Shabtai Zisl Zimmerman, aliás, Bob Dylan Os 75 anos do cantor e compositor judeu americano Bob Dylan (foto ao lado) foram o pretexto para uma linda exposição no novo Bet Hatfutsot. A exibição, lógico, enfatiza o nome original hebraico do cantor: Shabtai Zisl Zimmerman. E, talvez por isso, a exposição faça referência à condição de profeta que Dylan recebeu nos anos 1960 (seu quase xará, Shabetai Zvi, foi um falso messias na história judaica). “Milhões de fãs do rock ficaram convencidos de que Dylan foi um profeta da era moderna”, diz um dos painéis. Enquanto menino em Minnesota, Shabtai Zisl fez bar-mitzvá e frequentou a colônia de férias da comunidade judaica local, aí já conhecido como Bob Zimmerman. Mas em algum momento da juventude ele despirocou e se tornou um dos líderes da revolução jovem dos anos 1960. “A evolução de Shabtai Zisl para Bob Dylan mudou a segunda metade do século 20”, diz a exposição. Um dos painéis do Beit Hatfutsot enfatiza a ligação dele com Israel, que visitou várias vezes. Em 1971, foi a uma yeshivá de Jerusalém e ao kibutz Neve Eitan, no Vale de Bet Shean. Quando voltou a Nova York escreveu para o kibutz, dizendo que gostaria de ser voluntário por um ano. O kibutz nunca respondeu ao pedido. A exposição também mostra que quando Dylan parecia ter equilibrado a vida espiritual, na década de 1970 anunciou que se convertera ao cristianismo para, na década seguinte, voltar ao judaísmo por meio do Beit Chabad do Brooklyn. Como diz um dos painéis, a preocupação mesmo sempre foi “santificar a liberdade pessoal”.

mostrar que sempre existiu diálogo. O novo museu vai deixar claro que os judeus foram influenciados pelo cristianismo, e vice-versa. Haverá toda uma exposição a respeito da influência da Bíblia hebraica na cultura mundial, nas ideias, nos nomes, em grandes líderes. Alguns painéis do museu são um clássico, como as fotos de rostos de judeus do mundo todo logo na entrada, as esculturas brancas em gesso sobre bar-mitzvá, as caricaturas mostrando gerações de famílias judias. Isto tudo vai desaparecer? Gover – A maior parte vai desaparecer, incluindo todas estas que você mencionou.



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por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com

12 notícias de Israel

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Lei Haneen Zoabi Raras vezes uma lei aprovada pela Knesset provocou tanto rebuliço no plenário. Chamada de Lei da Remoção, permitirá que um deputado da casa tenha o mandato cassado se 90 dos 120 deputados votarem a favor do afastamento. Na mira desta lei estão principalmente deputados árabes que radicalizam – contra Israel – em épocas de guerra ou de ondas de atentados. Deveria ser chamada Lei Haneen Zoabi, a deputada muçulmana de Nazaré, alvo reiterado de tentativa de cassação por sua retórica incendiária. Poucos países democráticos têm um parlamentar contrário à própria existência do Estado. Agora, talvez, Israel não seja mais um destes.

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Apoio de um durão Mas quem deu as caras por aqui foi o veterano ator judeu americano James Caan. Acompanhado do filho, colocou tfilin no Kotel, deu tiros num centro de treinamento do Tzahal e jantou com o casal Bibi e Sara Netaniahu. “Estou à espera que me alistem para servi-los, estou pronto para lutar por este país”, declarou. Caan, que atuou em clássicos como O Poderoso Chefão, ficou cinco dias no país a convite da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Ministério do Turismo. Junto com o filho, James Caan Jr., também foi visto em alguns dos melhores restaurantes de Tel Aviv.

Só para muito ricos Deram a largada para uma revolução no mercado imobiliário de Tel Aviv com o início da demolição do aeroporto Sde Dov, no norte da cidade, que faz especialmente voos para Eilat. Até o final do ano, toda a área de aviação civil no local vai acabar e, daqui a dois anos, também a militar. Com isto, a cidade vai ganhar uma enorme área para empreendimentos imobiliários, num total previsto de dezesseis mil apartamentos, que deverá gerar cerca de U$ 1,3 bilhão em vendas. É uma área nobre, de frente para o mar, para quem quer aproveitar o agito de Tel Aviv e não morar num apartamento decrépito do centro. Mas a ótima notícia é somente para os ricos, pois corretor vai perder tempo com clientes dispostos a pagar pelo menos um milhão de dólares por unidade.

Coisa de louco Existe, mas é muito difícil de entender. O sujeito estaciona o carro, sai teclando o celular, chega no escritório e, de repente, lembra que deixou o bebê no banco de trás, com as janelas e portas trancadas, em pleno verão israelense. Somente nos últimos dois meses aconteceram cinco casos do tipo no país. No mais recente, o pai saiu para fazer compras em Beitar-Ilit e somente uma hora e meia depois lembrou que esquecera a filhota de 16 meses no carro. Correu para lá, levou a criança para um hospital, mas o bebê morreu. Nos últimos oito anos foram registrados quatrocentos casos no país com 22 mortes.


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Jerusalém alegre Desta vez, a Parada Gay de Jerusalém transcorreu em tranquilidade – ao contrário do ano passado, quando um judeu ortodoxo desequilibrado esfaqueou alguns participantes, matando uma garota de 16 anos. A polêmica este ano ficou com o prefeito da cidade, Nir Barekat, que se recusou a dar as caras durante a manifestação. “Os participantes precisam saber que a parada fere outras pessoas. Tolerância não é apenas permitir a expressão, é também saber que em Jerusalém há uma grande população religiosa e que sente muita dificuldade em aceitar o evento”, justificou.

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Louca violência Junte a violência contra a mulher na Índia com a ousadia maluca do jovem israelense de se meter nos buracos mais distantes do planeta, o que sai é uma tragédia anunciada. Mochileira israelense, 25 ano, foi vítima de um estupro em grupo na distante e pequena cidade de Manali, no norte do país. Era madrugada, a garota queria sair da cidade indiana e entrou de carona num carro com pelo menos seis homens. O pedido dela foi de uma curta carona de seu albergue até a estação de õnibus, mas desviaram o caminho para um lugar escuro e ali ocorreu o crime descito pela polícia local como “especialmente cruel”. Os criminosos foram presos.

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Mãe tem só duas

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Muro contra Gaza

O que registrar no RG israelense, nos campos “pai” e “mãe”, quando o filho nasce para um casal de lésbicas? Se ainda havia dúvidas, agora o Tribunal de Justiça da Família ordenou ao Ministério do Interior que se produza um novo padrão de RG com os campos “mãe” e “mãe”. A decisão é do tribunal de Petach Tikva, a pedido da advogada de três casais de lésbicas. Até agora, para tentar evitar o problema e num caso deste tipo, o RG da criança não trazia os nomes das mães. Já no RG das mães, o nome da companheira aparecia no título “marido”.

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Ruth, a heroína Uma moradora de Jerusalém, Tamar Weiss, não se conformava toda vez que passava pela rua Ruth, em sua cidade, e lia na placa a descrição da personagem bíblica em letras pequenas como “esposa de Boaz e bisavó do Rei David”. A moradora escreveu para a prefeitura, reclamando que Ruth teve vida própria e deveria ser lembrada mais pelos próprios feitos, e menos pelos homens relacionados a ela. A prefeitura concordou e mudou a inscrição na placa para “heroína bíblica e bisavó do Rei David”. Em Jerusalém apenas 72 ruas têm nomes de mulheres, enquanto 1035 tem nomes masculinos.

Como noticiado nesta coluna, Israel se prepara para acabar definitivamente com a ameaça de túneis escavados pelo Hamas a partir de Gaza. A solução será construir um muro dezenas de metros solo adentro de modo a impedir qualquer escavação subterrânea linear. O governo publicou o edital de concorrência, cujos detalhes são mantidos em segredo, e o deu a vinte empresas israelenses. Parte da tecnologia terá de ser estrangeira, mas, por razões políticas, o país enfrenta dificuldades em convencer grandes empresas internacionais a participar do projeto. De todo modo, coisas assim nunca pararam o Ministério da Defesa, que anunciou o início da obra ainda este mês.


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O desafio muçulmano

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Férias tecnológicas

Um grupo de dezenove jovens vietnamitas desembarcou no aeroporto Ben-Gurion, mas desta vez não foi para farrear em Israel durante as férias de verão. Ao contrário, participarão de um projeto de ponta, chamado Greenstart, em Tel Aviv, que trará ao Estado judeu jovens do mundo todo, destacados em ciências exatas, para desenvolver habilidades em criar start-ups tecnológicas em seus países. A garotada israelense, que servirá de madrichim (orientadores) dos vietnamitas, é a mais preparada possível: participaram na final da competição da NASA para start-ups e foram escolhidos para a próxima competição de robótica mundial em Beijing.

Como lidar com a minoria muçulmana de Israel, que representa 20% da população, não se identifica com o país e está ficando cada vez mais para trás? Este é um grande desafio para o Estado judeu. E segundo o mais novo relatório do governo, a situação somente piorou nos últimos anos. Quase metade dos muçulmanos do país (47,4%) vive abaixo do nível de pobreza, o triplo se comparado com os judeus. Apenas 50,5% dos homens muçulmanos conseguem trabalho, comparado com 78% entre os judeus. Quando se leva em conta as dez principais estatais israelenses, em muitas a presença muçulmana é zero. É uma situação extremamente complexa. É uma população identificada com os palestinos que, se tivesse força suficiente, transformaria decididamente o caráter do Estado judeu. Por isso, conscientemente ou não, não são promovidos no país. Também, por saberem intimamente que são contrários a Israel como o país do povo judeu, não reclamam muito da situação, e simplesmente continuam vivendo na mesma nação de que são contrários. No dia-a-dia não se manifestam muito a respeito de política mas seus pontos de vista ficam claros quando verbalizados pelos deputados muçulmanos da Knesset, radicais quase todos. E Israel não pode permitir a existência de um bolsão de pobreza deste tamanho em seu interior. É um desafio que, a meu ver, somente será resolvido como parte de um acordo de paz global entre judeus e muçulmanos na Terra Santa, em que cada uma das partes, finalmente, terá claro o que é seu e o que é do outro.

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Drama dos Dreyfus Este é um drama familiar épico, que levou mais de 120 anos para ser, digamos, resolvido. Em 1894, o capitão do exército francês Alfred Dreyfus foi injustamente acusado de traição, humilhado e preso, num caso que abalou a política da Europa e provocou uma onda de antissemitismo que levou à imediata criação do sionismo. Agora, seu descendente de quinta geração, o oficial do exército israelense Uriel Dreyfus, acaba de ser promovido a juiz militar do Tzahal e, nessa condição, irá lidar com casos similares ao de que foi alvo o antepassado. “O fato de Alfred ter sido condenado por um tribunal militar com provas falsas, e agora eu fazer parte de uma corte similar, realmente fecha um ciclo. Por isso, minha missão será insistir nos direitos de um acusado”, disse o novo juiz ao Yedioth Achronot. Os dois Dreyfus, o francês e o israelense, nasceram na mesma cidade, Mulhouse, na França. Uriel, formado em direito no país natal, tinha pela frente uma carreira promissora, mas resolveu largar tudo para morar no Estado judeu. Ele chegou ao país em 1992, o primeiro na história dos Dreyfus a fazer aliá. “Quis viver na Terra de Israel, onde somos nós que determinamos nossa própria vida como povo”, explica.



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magazine > olimpíada | por Bernardo Lerer

Sobreviveu a Bergen-Belsen e Munique SHAUL LADANY, QUE VIVEU NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE

BERGEN-BELSEN QUANDO

CRIANÇA, COMOVEU-SE COM A HOMENAGEM OFICIAL NOS JOGOS

OLÍMPICOS DO RIO

AOS COMPANHEIROS

ASSASSINADOS EM MUNIQUE EIS SHAUL, DONO DE ALGUNS RECORDES AINDA NÃO QUEBRADOS, EM UMA DAS MARCHAS ATLÉTICAS PARA AS QUAIS É CONVIDADO

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haul Ladany, atleta israelense da marcha atlética e detentor de um recorde mundial, estava em Munique e conseguiu fugir dos dormitórios, onde os terroristas palestinos mantinham os reféns. “Lembro de tudo o que aconteceu em Munique. Dispenso as homenagens especiais para me lembrar”, disse Ladany enquanto assistia à cerimônia realizada o Palácio da Cidade, do Rio de Janeiro. “Qualquer pessoa com cabeça sobre os ombros, e, especialmente, os israelenses que estiveram lá, queriam muito esta comemoração”, disse. A cerimônia, dois dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, culmina uma luta de 44 anos das famílias das vítimas para obter o reconhecimento oficial dos seus parentes. “Acho que uma grande razão para isso é que o presidente do movimento Olímpico é alemão, e ele sabe de sua obrigação”, afirmou Ladany a respeito de Thomas Bach, e espera que isso se repita em todos os Jogos Olímpicos. De todo modo, Ladany é um reincidente nessas questões de sobrevivência pois está vivo para contar que tinha 8 anos quando foi enviado para o campo de concentração de Bergen-Belsen durante a Segunda Guerra. E agora, aos 80, ele está firme, forte e compete em eventos de natação e marcha atlética de longa distância. No Campeonato Mundial de Marcha Atlética de cem quilômetros, em Munique, em 1972, meses antes da fatídica Olimpíada, conquistou a medalha de ouro com 9 horas e 31 minutos, isto é, uma média de pouco mais de dez quilômetros por hora. Este mês vai participar pelo 55º ano da prova de natação de

quatro mil metros no Mar da Galileia que, acredita-se, tenha sido coberto por apenas três pessoas. E em novembro, Ladany pretende competir em uma maratona de marcha atlética de 32 quilômetros no Vale de Jezreel. “Serei o competidor mais velho lá, é claro”, disse Ladany, que se firmou engenheiro mecânico no Technion, pós-graduou-se na Columbia University e é professor emérito de engenharia industrial na vizinha Universidade Ben-Gurion do Negev. Há dois meses, participou de duas corridas de quatro dias de marcha, num total de 135 quilômetros, em Nijmegen, na Holanda. Foi a 23ª vez nesta prova que Ladany chama de “o maior carnaval de caminhada do mundo”. E em 2012, interrompeu uma turnê de palestras no Canadá para voltar a Israel a tempo de nadar na Galileia. Nadou e voou de volta para retomar suas conversas. “Só alguém maluco por esportes faria isso”, disse Ladany, em sua sala-de-estar junto a com a mulher, Shoshana, 82 anos, em um bairro residencial de Beersheba. O treinamento para os nados no mar da Galileia parte da avaliação que faz


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NO ALTO DO PÓDIO AO VENCER OS DEZ MIL METROS DE MARCHA ATLÉTICA NA MACABÍADA DE 1969

da participação no ano anterior. “Eis o que penso acerca de competição de longa distância: todos – corredores, ciclistas, praticantes da marcha – não gostam de fazer o esforço. Eles gostam do final. Essa é a felicidade: a de que você foi capaz de fazê-lo,” afirma. Ladany pratica a marcha atlética há mais de meio século, desde de um evento recreativo de quatro dias como estudante da Universidade Hebraica de Jerusalém e percebeu que deixava para trás muitos corredores. Os pés de Ladany lhe deram o ainda intocado recorde mundial na caminhada corrida de cinquenta milhas/80,46 quilômetros (7h23’50”), em Nova Jersey, há quatro décadas, e cinco medalhas de ouro em Jogos Macabeus em quatro distâncias: três, dez, vinte e cinquenta quilômetros. Além dos Jogos Olímpicos de 1972, Ladany foi atleta olímpico, em 1968, na Cidade do México, aos 32 anos. Ele explica que, na marcha atlética, uma perna deve estar sempre em contato com o solo, o pé deve se apoiar no calcanhar enquanto a perna permanece reta, e essa perna tem de ficar reta até mudar para a posição vertical. “A maioria das pessoas que marcham estão realmente correndo”, disse Ladany. A história de uma testemunha Durante os Jogos de Munique, ele estava hospedado junto com a maioria da delegação israelense na Vila Olímpica, em Connollystrasse, 31. Corrigindo o registro histórico segundo o qual ele teria saltado para a segurança de uma varanda do segundo

andar, Ladany diz que quando o grupo terrorista palestino Setembro Negro atacou ele estava no primeiro andar, andou no terraço e afastou-se para uma posição mais segura. Dois outros israelenses fugiram ziguezagueando para não ser baleados. Ele tem uma teoria de por que os terroristas invadiram os apartamentos 1 e 3 e ignoraram o seu, apartamento 2, um duplex: entre os cinco companheiros de suíte havia dois atiradores competitivos, Henry Hershkowitz e Zelig Stroch. Todos sobreviveram. Três décadas antes da Olimpíada de Munique, a segunda de que participou, Ladany e os pais fugiram de Belgrado, na Iugoslávia, onde nasceu, para a Hungria após a invasão nazista, em 1941. Em seguida deportados para Bergen-Belsen, libertados em uma troca de prisioneiros, em dezembro de 1944 e enviados à Suíça antes de retornarem a Belgrado. Em 1948, a família imigrou para Israel, junto com a prima de Ladany, Martha Flattow, cujos pais morreram e foi criada como sua irmã e vive em Rishon Letzion. A filha de Ladany e três netos residem em Reut, perto Modiin. “Talvez os acontecimentos da minha vida tenham formado meu caráter. Não sei”, disse Ladany. Parte das paredes da casa dele é ocupada por estantes cheias de troféus, medalhas e objetos de sua mania de colecionador. Ele mantém duzentas coleções diferentes, desde “esotéricos e sem valor” (guardanapos de restaurante e cartões de visita) até os significativos (cartazes de modo geral, de Macabíadas, caixas de coleta do Fundo Nacional Judaico históricas, e uma das mais importantes do mundo de itens relacionados ao fundador do sionismo moderno, Theodor Herzl: mil peças, incluindo quatrocentos cartões postais. Na garagem, Ladany se afunda no assento de seu carro e corre para a Eucalyptus Street. Sua perna pode não estar mais em contato com o solo, mas ele pisa fundo no pedal do acelerado. Veja cobertura completa sobre a participação da Hebraica na Rio 2016, à pg. 58

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Ladany tem uma teoria de por que os terroristas invadiram os apartamentos 1e3e ignoraram o seu, apartamento 2, um duplex: entre os cinco companheiros de suíte havia dois atiradores competitivos, Henry Hershkowitz e Zelig Stroch. Todos sobreviveram




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magazine > rosh hashaná | por Nathan Laufer *

Lembrança das trombetas do passado O ROSH HASHANÁ DESCRITO NA TORÁ PARECE MUITO DIFERENTE DO ROSH HASHANÁ QUE CONHECEMOS HOJE. O QUE ACONTECEU E O QUE, EXATAMENTE, CELEBRAMOS? NA VERDADE, A TRADIÇÃO JUDAICA PREVÊ QUATRO “CABEÇAS DE ANO”: NISSAN, ELUL, TISHREI E SHVAT, AS QUAIS SERVEM A VÁRIAS ATRIBUIÇÕES TÉCNICAS RELACIONADAS A DOCUMENTOS LEGAIS, O DÍZIMO E RITUAIS AGRÍCOLAS

E

u era jovem quando comecei a estudar o judaísmo a sério e senti que parece haver uma desconexão completa entre o feriado descrito na Torá e como hoje é conhecido pela maioria dos judeus, pois me ensinaram que Rosh Hashaná era o Ano Novo judaico, o aniversário da criação do mundo e o dia do julgamento. No entanto, a própria Torá não menciona nenhuma dessas três razões para celebrar o feriado, e nem sequer o chama de Rosh Hashaná. E mais: Rosh Hashaná parece não comemorar nenhum momento importante na história nacional do povo judeu. A Torá descreve Rosh Hashaná em duas passagens separadas – em Levítico 23 e em Números 29. Usando uma palavra, teruá, que denota o sopro de uma buzina ou trombeta, a primeira passagem caracteriza o dia como “uma lembrança de teruá”, e a segunda como “um dia de teruá”. Ambos passam a mandar o sopro ritual de um shofar e especificar as várias oferendas de sacrifício feitas no feriado, mas sem qualquer referência à criação, julgamento ou novo ano. Na verdade, segundo estas passagens, o próprio feriado não cai no primeiro dia do primeiro mês, comum nos anos novos, mas no primeiro dia do sétimo mês. Um mês bem diferente – Nissan, mês da Páscoa – é designado pela Torá como “a cabeça [rosh] dos meses, o primeiro dos meses para vós dos meses do ano” (Êxodo 12: 1). Passando da Torá à liturgia tradicional da sinagoga, notam-se alguns poucos sinais do feriado moderno. As partes mais antigas do serviço de oração, comuns tanto para

os ashkenazim como para os sefardim, desviam pouco da concepção bíblica. Aqui, o termo primário para Rosh Hashaná é “Dia da Lembrança” (iom ha-zikaron), aparentemente uma variação sobre a passagem em Levítico 23, onde encontramos também os termos bíblicos relacionados a “um dia de toque de trombeta” e “um dia de lembrança do toque da trombeta.” Embora as orações do dia concentrem-se nos temas de Deus governar o universo, julgando o mundo e lembrando-se de Suas criaturas e de Suas alianças com elas, está pouco claro como estes temas surgem a partir da descrição bíblica do feriado. Quanto às referências à criação, elas são poucas e opacas. E, quanto aos termos “Rosh Hashaná” e “Dia do Juízo” (iom ha-din), eles só aparecem em poemas litúrgicos compostos muito tempo depois. E o que diz o Talmud? Lá encontraremos um Rosh Hashaná que se assemelha ao feriado que conhecemos hoje. O termo aparece pela primeira vez em um tratado de mesmo nome da Mishná, o estrato anterior do Talmud, compilado cerca do ano 200 da Era Comum começa assim: Há quatro anos novos [literalmente “cabeças do ano”]: o primeiro de Nissan é o ano novo para o cálculo de reis e festivais [judeus]; o primeiro de Elul é o ano novo para o dízimo dos animais...; o pri-


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O QUE MAIS IDENTIFICA ROSH HASHANÁ É O SHOFAR PORQUE LEMBRA AS TROMBETAS BÍBLICAS

meiro de Tishrei [data de Rosh Hashaná] é o novo ano para o ano, o [início do] anos sabáticos e de jubileu, para o plantio, e para [o dízimo] dos vegetais; e o primeiro de Shvat é o ano novo para as árvores. Críptica até mesmo para os padrões da Mishná, esta passagem, pelo menos, deixa claro que o que chamamos de Rosh Hashaná é uma dessas quatro datas no decorrer de um ano, as quais servem a várias atribuições técnicas relacionadas a documentos legais, o dízimo e rituais agrícolas. O parágrafo seguinte, no entanto, sugere algo especial a respeito do primeiro dia de Tishrei, o dia que hoje chamamos de Rosh Hashaná. Segundo a Mishná, neste dia Deus julga o mundo e “todas as pessoas passam diante de Deus em fila única”, e no restante do tratado somente este dia do juízo é mencionado simplesmente como Rosh Hashaná. Eis, portanto, a fonte do nosso próprio uso de “Rosh Hashaná” para se referir exclusivamente ao dia do juízo que cai no primeiro dia de Tishrei. E o que dizer acerca da ideia de que o mundo foi criado em Rosh Hashaná? Para isso temos de consultar a Gemará, o estrato tardio do Talmud compilado no século 6. Ali consta um debate de quando Deus criou o mundo, em que o rabino Yehoshua atribui essa honra ao mês de Nissan e o rabino Eliezer, a Tishrei. Curiosamente, no entanto, o Talmud parece se decidir em favor do primeiro. Desta forma e a partir desses textos, sugestivos, mas inconclusivos, posso reformular as principais questões:

Primeiro: os feriados ordenados na Torá comemoram eventos específicos, cuja ordem segue o calendário e espelha o seu lugar na narrativa histórica. Nesse sentido, Pessach marca o Êxodo; Shavuot, a revelação no Sinai cinquenta dias depois; Iom Kipur, o perdão de Deus dado ao povo judeu após o incidente do bezerro de ouro; e Sucot, a viagem pelo deserto. Onde, então, Rosh Hashaná se enquadra? A criação, se é isso que este dia santo comemora, representa um momento universal em separado e antes da experiência nacional judaica. No mínimo, não deveria ser colocado no início do ciclo histórico, antes de Pessach? Segundo: se Rosh Hashaná comemora a criação, ou se supõe ser um dia de julgamento, por que a Torá não diz isso? Além disso, já existe um dia para lembrar a criação, o Shabat semanal. A bênção de sexta-feira sobre o vinho refere-se explicitamente ao Shabat como “uma lembrança do ato de criação”, enquanto a bênção correspondente a Rosh Hashaná não faz referência a isso. Que necessidade há para esses dois dias? >>

Como Rosh Hashaná é “uma lembrança de toque de trombeta”, e a revelação no Sinai é a única referência anterior para um toque de qualquer tipo de trombeta, logicamente este é o acontecimento histórico que Rosh Hashaná deve comemorar


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magazine > rosh hashaná

>> Terceiro: os nomes dos outros quatro principais feriados são de origem bíblica. Por que os rabinos talmúdicos chamam este feriado “Rosh Hashaná”, quando a Torá e a liturgia não o fazem?

TAMBÉM NESTE

Para começar a esclarecer a confusão, voltemos à Torá, em que se lê:

ROSH HASHANÁ

LIVRO DA TORÁ DE UMA SINAGOGA DE

BOLONHA, NENHUMA REFERÊNCIA A

O primeiro dia do sétimo mês será um dia de descanso, uma lembrança de toque de trombeta, um dia sagrado. Não farás nenhum trabalho servil, e farás uma oferenda de fogo a Deus. (Levítico 23: 24-25) O primeiro dia do sétimo mês será um dia sagrado, nenhum trabalho servil será feito; deve ser para vós um dia de tocar a trombeta. (Números 29: 1) Uma coisa já é evidente: a chave para desvendar o mistério de Rosh Hashaná está no toque do shofar. Esse é, sem dúvida, o ritual central do dia, e a linha comum que liga o feriado bíblico aos dias de hoje. Então, qual é o seu significado? E o que se entende por “lembrança”? Quem está sendo lembrado, e o que

está sendo lembrado? A palavra shofar aparece em dois outros pontos da Torá. O primeiro e mais revelador dos dois aparece em Êxodo 19 e 20, em que a Torá cita três vezes o som de um shofar conectado à revelação e à apresentação dos Dez Mandamentos no Sinai: E na manhã do terceiro dia, houve trovões [kolot] e relâmpagos e uma nuvem pesada sobre a montanha, e o som [kol] do shofar foi muito forte, e todas as pessoas no acampamento tremiam. E Moisés levou o povo para fora do seu acampamento ao encontro de Deus... E o som [kol] do shofar se tornou muito forte, Moisés falaria, e Deus responderia com o som [be-kol]. (Êxodo 19: 16-19) E todo o povo testemunhou o trovão [ha-kolot], as chamas e o som [kol] do


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shofar, e a montanha soltando fumaça, e o povo tremeu quando viu isso e manteve distância. (Êxodo 20:15) O papel do shofar Como Rosh Hashaná é “uma lembrança de toque de trombeta”, e a revelação no Sinai é a única referência anterior para um toque de qualquer tipo de trombeta, logicamente este é o acontecimento histórico que Rosh Hashaná deve comemorar. O shofar, na verdade, simboliza mais do que apenas a revelação. Como acabamos de ver, o Êxodo usa a versátil palavra hebraica kol não só para o som do shofar mas também para os trovões e para a voz de Deus. No sentido de voz, a mesma palavra aparece imediatamente antes das passagens citadas acima: Se ouvirdes minha voz [be-koli] e guardardes a minha aliança, então sereis meu tesouro entre todas as nações. (Êxodo 19: 5; ver também Deuteronômio 04:12) Aqui, a palavra kol refere-se metaforicamente às exigências que Deus faz aos judeus. O som do shofar em Rosh Hashaná é, portanto, a reconstituição da revelação e também da aliança entre Deus e Israel no Sinai. Não admira que o povo judeu “tremeu” diante do espetáculo e de suas implicações para com o seu destino, ou que o Rosh Hashaná, segundo a tradição de um dia de medo e trepidação, inaugura o período de dez dias conhecido como iamim nora’im, “dias temíveis”. Até hoje, todo esse simbolismo está dramaticamente evidente nas sinagogas. A bênção recitada antes do toque do shofar não termina com “Quem nos mandou tocar o shofar” (litko’a be-shofar), ou “para ouvir o shofar” (lishmo’a shofar), mas sim “ouvir o som do shofar” (lishmo’a kol shofar). O fraseado reflete diretamente a Bíblia, de onde a palavra kol precede cada menção da palavra shofar. Essa mesma frase “o som do shofar” ocorre três vezes na história da revelação; o povo, por sua vez, ouviu três “sons” diferentes (kolot): o shofar, o trovão e a voz de Deus. Isso explica a exigência talmúdica de soar um mínimo de três teruot (sopros em staccato) durante o serviço de Rosh Hashaná, com cada teruá acompanhado por um longo e ininterrupto sopro, antes e depois, fazendo três conjuntos de três sopros ao todo. Como, além disso, o shofar é tocado durante três diferentes partes do serviço de orações, e em uma delas é soprado três vezes, temos uma ordem cumulativa de sopros, como a Mishná sucintamente coloca, com “três vezes três grupos de três”, as três vezes múltiplas novamente ecoando o que foi dado e ouvido no Sinai. Finalmente, dois indivíduos participam do ritual da sinagoga: aquele que chama as notas a serem tocadas e aquele que toca o shofar, porque os dois papéis correspondem às respectivas tarefas de Moisés e Deus na revelação: “Moisés falava e Deus respondia com uma voz [kol]” (Êxodo 19:19). Esse é o fim do papel do shofar. A ligação de Rosh Hashaná com a revelação no Sinai também é inconfundível no culto de

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oração do dia. O mussaf, (literalmente, “acréscimo”) a oração suplementar que constitui a peça central do serviço religioso, contém três seções distintas, representando o triplo significado do feriado: malchuiot (“realeza”), zichronot (memórias da aliança, literalmente “lembranças”) e shofarot (revelação divina, literalmente “shofares”). Cada seção é estruturada em torno de dez versículos bíblicos. A seção de realeza, proclamando o reino de Deus, recorda as palavras proferidas por Deus no Monte Sinai pouco antes da entrega dos Dez Mandamentos: Se ouvirdes a minha voz [be-koli] e mantiverdes o meu pacto, então sereis para mim um reino de sacerdotes. (Êxodo 19: 5-6) Se o povo judeu é um reino, então Deus é seu rei soberano, Sua coroação anunciada nos sopros do shofar. O exegeta francês Rashi, do século 11, ao citar um comentário anterior, torna isso explícito na leitura do primeiro dos Dez Mandamentos (“Eu te tirei da terra do Egito”), que analisa assim: “Eu te tirei da terra do Egito, e eu ganhei meu direito de ser o teu rei e teu governante”. A segunda seção do mussaf, dedicada a lembrar as alianças divinas, culmina com a aliança no Sinai: Cumpra para nós, Deus, o que prometêsseis Torá por meio de Moisés, Vosso servo, direto da boca de Vossa glória, como diz: “E eu lembrarei a eles a aliança com a primeira geração a quem tirei do Egito diante dos olhos das nações, para ser o Seu Deus, eu, o Senhor”. A terceira seção, shofarot, igualmente começa com uma descrição da revelação no Monte Sinai: Vós vos revelastes nas nuvens de glória para falar com o seu povo santo. Dos céus Vós fizestes ouvir Vossa voz [kolecha]... e eles ouviram Vossa voz majestosa [kolecha], e Vossas palavras sagradas em faíscas de fogo. Entre trovões >>

Também Shavuot comemora a entrega da Torá e Rosh Hashaná a aceitação da Torá, agora como prelúdio para a recepção física das tábuas no Iom Kipur, o que também ajudaria a explicar porque Rosh Hashaná é comemorado dez dias antes do Iom Kipur


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magazine > rosh hashaná >> [kolot] e relâmpagos Vós vos revelastes a eles, e com o som [kol] do shofar Vós aparecestes a eles. Neste parágrafo, as variantes da palavra kol aparecem dez vezes. Como os dez versos em cada uma das três seções da oração mussaf, as dez palavras sugerem que os Dez Mandamentos foram proferidos pela voz divina no Sinai. Além dessas e outras características da liturgia, dois costumes adquirem valor adicional quando se entende Rosh Hashaná como a reconstituição da experiência do povo judeu no Sinai. De acordo com uma tradição rabínica os judeus foram submetidos à imersão ritual antes da revelação, o que explicaria por que alguns judeus visitam uma mikvá (“banho ritual”), na véspera do Rosh Hashaná. E depois há o costume bem conhecido de mergulhar o pão no mel. A revelação no Sinai aconteceu no deserto apenas 21 dias após o maná começar a cair. A Torá descreve este pão celestial como degustação como “hóstias mergulhadas no mel” (Êxodo 16:31). Neste contexto também é relevante, no livro bíblico de Neemias, o relato dramático de uma cerimônia em que os judeus que retornaram do exílio babilônico, no século 5 antes da Era Comum renovaram sua aliança com Deus. Homens, mulheres e crianças se reuniram como um só e responderam “amém” com temor e tremor enquanto o profeta Ezra, de pé sobre uma plataforma elevada (leia-se: uma montanha artificial), revelou a Torá que eles haviam esquecido. Note-se que esta “segunda revelação” aconteceu “no primeiro dia do sétimo mês”, isto é, em Rosh Hashaná. A ameaça do cristianismo Ligar Rosh Hashaná à revelação resolve duas das três perguntas. 1-) Rosh Hashaná se assemelha aos outros feriados em que se comemora um aspecto da narrativa no livro do Êxodo, e ocorre na sequência cronológica adequada, isto é, após o feriado de Pessach comemorar o Êxodo, mas antes do feriado de Iom Kipur que celebra o perdão de Deus ao povo judeu por ter adorado o bezerro de ouro. 2-) o feriado é chamado de “uma lembrança de toque de trombeta” – e não lembrança da criação, pois serve de lembrete do toque do shofar no Monte Sinai. 3-) por que esse dia recebeu outro nome? E por que a literatura rabínica não faz qualquer menção ao sentido original do feriado? E ainda outra: se tradicionalmente o feriado que comemora a revelação no Sinai é Shavuot por que há dois feriados para o mesmo evento? Uma resposta ao último enigma seria perguntar e por que não ter dois feriados para comemorar o mesmo evento? Afinal, cada feriado bíblico é tratado pela liturgia como “uma lembrança do Êxodo do Egito”. Portanto, não há nada incomum que Shavuot e Rosh Hashaná comemorem a revelação no Sinai. Mas assim é fácil.

Uma resposta mais completa e mais satisfatória é que os dois feriados representam dois eventos diferentes, ou dois aspectos diferentes do mesmo evento: Shavuot diz respeito à revelação divina, e Rosh Hashaná, à aceitação do pacto do povo. E, mais uma vez, a liturgia vem em nosso auxílio. Ela caracteriza Shavuot como “o dia da entrega da nossa Torá”, isto é, atribui aos judeus um papel passivo, enquanto Rosh Hashaná lhes dá papel ativo, coroando liturgicamente Deus como seu rei, segundo os termos da aliança. Além disso, os judeus receberam os Dez Mandamentos duas vezes. Primeiro, Deus proclamou-os no dia de Shavuot. Em seguida, quarenta dias mais tarde, quando Moisés desceu do Sinai levando as duas tábuas, encontrou os judeus adorando o bezerro de ouro e quebrou-as. Oitenta dias depois, em Iom Kipur, ele trouxe um segundo conjunto de tábuas, que transmitiu ao povo. Desse modo também Shavuot comemora a entrega da Torá e Rosh Hashaná a aceitação da Torá, agora como prelúdio para a recepção física das tábuas no Iom Kipur, o que também ajudaria a explicar porque Rosh Hashaná é comemorado dez dias antes do Iom Kipur. Assim como esses dez dias foram um período de contrição e arrependimento pelo pecado do bezerro de ouro, da mesma forma o período de Rosh Hashaná a Iom Kipur é hoje um período de arrependimento. É possível avançar um passo adiante com essa linha de pensamento, integrando o feriado de Sucot, comemorado cinco dias após o Iom Kipur. A sucá representa a casa de Deus, o tabernáculo, construído pelo povo judeu para ser a casa de Sua presença imediatamente após Moisés descer da montanha com o segundo conjunto de tábuas. Para usar uma metáfora clássica: se as tábuas são um contrato de casamento entre Deus e o povo judeu, a sucá é a hupá em que o noivo simbolicamente traz sua noiva à sua casa. Finalmente, isso leva ao motivo pelo qual os rabinos do Talmud suprimiram a ligação de Rosh Hashaná com a revelação em favor de Shavuot e forjaram


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uma ligação diferente entre Rosh Hashaná e a criação. Para isso há duas teses, ambas especulativas. A-) Os rabinos queriam salvar o feriado de Shavuot do esquecimento. A destruição do Templo e o exílio tinham desmoralizado tanto os judeus que a celebração de um festival alegre de agradecimento associado à colheita do trigo e a chegada dos primeiros frutos evocaria apenas uma dor psicológica mais profunda. A partir daí, os rabinos se comprometeram a enfatizar a associação de Shavuot com a revelação no Sinai: um evento que acontecera fora da terra, em uma região selvagem e não muito diferente da qual o povo judeu se encontrava novamente. A aliança, fruto dessa revelação, era algo a que os judeus agora precisariam abraçar se sobrevivessem como um povo distinto na Diáspora. Em seguida, tendo reformulado Shavuot – tarefa facilitada pelo fato de que, embora a cronologia da Torá deixe claro que a revelação aconteceu próximo ou no festival da colheita, não conecta explicitamente os dois a lugar nenhum –, os rabinos procuraram novo significado para o primeiro dia de Tishrei, baseando-se em antiga tradição que liga o dia com a criação do mundo. Ou seja, a necessidade de reformular Shavuot provocou a reformulação de Rosh Hashaná. B- ) Devido à grave ameaça representada pelo início do cristianismo para o judaísmo rabínico, os rabinos esvaziaram Shavuot da associação com o pão e a maná que já tinha começado a cair pouco antes de os judeus chegarem ao Monte Sinai. Em vez disso, passaram a se referir ao pão e à maná como metáforas para a Torá. E fizeram isso para se contrapor à interpretação cristã da maná como símbolo do fundador de sua religião e o ritual da Eucaristia e para reinterpretar Shavuot, que originalmente comemorava o alimento físico dado por Deus ao Seu povo por meio da maná, no lugar da festa do alimento espiritual de Deus de Seu povo pela concessão e o estudo da Torá. Isso contrariava a posição de Paulo de Tarso a respeito da alegada ênfase do judaísmo só nas “obras”, enquanto o cristianismo enfatiza a “fé”. Também para neutralizar o cristianismo, os rabinos ligaram Rosh Hashaná à criação e ao julgamento de Deus a toda a humanidade. Ao não mencionar a conexão do feriado com a história nacional do povo judeu e sua aliança única com Deus, os rabinos associaram o feriado com uma narrativa mais universal da Torá. Assim, trocaram o nome do feriado para “Rosh Hashaná”, sugerindo que o dia comemora o aniversário do mundo. Independentemente de qual (se alguma) dessas teorias é correta, a reinterpretação rabínica se firmou ao longo do tempo, e os judeus se esqueceram das associações bíblicas originais das duas festas. Obedecer e ouvir Mas eis-nos aqui, milhares de anos mais tarde. Os judeus retornaram à sua terra, e a luta com o cristianismo em grande parte diminuiu. É momento, portanto, de redescobrir o sentido original de Rosh Hashaná, menos para suplantar suas reinterpre-

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tações rabínicas, e mais para aprofundar o seu significado, sua ressonância e sua pertinência peculiar à prática religiosa da maioria dos judeus atualmente. A presença quase maciça dos judeus do mundo nas sinagogas em Rosh Hashaná reflete uma espécie de memória inconsciente coletiva do objetivo central do feriado: a reencenação simbólica da revelação no Sinai. Como os judeus bíblicos no Monte Sinai que, sem saber muito bem no que estavam se metendo, estavam juntos como, nas palavras de Rashi, “uma nação com um só coração” e responderam à voz de Deus com a declaração “vamos obedecer e ouvir”, os judeus contemporâneos vão às sinagogas em massa em Rosh Hashaná para ouvir o shofar, sem entender completamente por que estão lá. Esta memória inconsciente – de se colocar como uma nação única, unida, perante Deus no Sinai – é o motivo pelo qual estão lá. O termo iom ha-zikaron, o dia de lembrança, é geralmente entendido como referência a Deus se lembrando de nós. Mas Deus não tem problemas de memória; são os seres humanos que são inclinados a esquecer, e a quem, portanto, a Torá adverte a sempre lembrar o dia da revelação: Só tomes cuidado, e tenhas muito cuidado para guardar a memória do dia em que estiveste diante de Deus em Horebe, todos os dias da tua vida, e ensina sobre isso a teus filhos e os filhos de teus filhos. Não te esqueças das coisas que os teus olhos viram e não removas a memória do seu coração... quando Deus falou contigo do fogo e ouviste o som de palavras, mas não viste nenhuma imagem, apenas um som (Deuteronômio 4: 9-10,12). * Nathan Laufer, rabino, é diretor de programas de Israel para o Fundo Tikvá, presidente emérito da Fundação Wexner Heritage. Ele é o autor de Leading the Passover Journey (Liderando a Jornada de Pessach, 2005) e The Genesis of Leadership (A Gênese da Liderança, 2006)

A presença quase maciça dos judeus do mundo nas sinagogas em Rosh Hashaná reflete uma espécie de memória inconsciente coletiva do objetivo central do feriado: a reencenação simbólica da revelação no Sinai


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magazine > história | por Walter Zev Feldman

A sociedade dos músicos judeus DURANTE ONZE ANOS, DE 1908 A 1919, EXISTIU NA RÚSSIA A SOCIEDADE

PARA A MÚSICA POPULAR JUDAICA, OU, EM RUSSO, OBSCHCHESTVO EVREISKOI

NARODNOI MUSYKI, QUE INFLUENCIOU JOVENS COMPOSITORES RUSSOS JUDEUS A CRIAR UM ESTILO MODERNO DE MÚSICA JUDAICA DE CONCERTO

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sse movimento teve origem no fi nal dos anos 1890 e começo de 1900 como parte do interesse cada vez maior dos círculos intelectuais judaicos pelo nacionalismo e a cultura popular. Por esta razão, o músico e crítico musical e Yoel Engel e os historiadores e folcloristas Peisech Marek e Shaul Ginsburg dedicaram-se a estudar a música popular judaica nos assentamentos judaicos nos territórios do oeste do Império Russo por meio de pesquisas de campo, leituras públicas e publicações. Estes esforços, somados aos empurrões encorajadores de Nicolai Rimsky-Korsakov, inspiraram jovens compositores do Conservatório de São Petersburgo a organizar, em 1908, a Sociedade para a Música Popular Judaica. Estes assentamentos judaicos se estendiam, no norte, do sul

PINTURA DE KOLODORFER RETRATANDO A KAPELIA ZIDOWSKA, FINAL DO SÉCULO 19. O MENINO TOCA CÍMBALO

do Báltico, até o norte do mar Negro, no sul, hoje Lituânia, Belarus, Polônia, Moldávia, Letônia e Ucrânia, limitando-se a oeste com a então Prússia e o Império Austro-Húngaro. Em um determinado momento, a partir da segunda metade do século 19, os judeus foram expulsos de grandes cidades como Kiev, Sebastopol e Yalta, por exemplo, e se refugiaram em pequenas aldeias que deram origem aos shtetls. Dirigida por Lazare Saminsky, Efraim Shkliar, Solomon Rosowsky, Aleksander Krein, Michail Gnesin e Joseph Achron, a Sociedade logo começou a trabalhar em pesquisa, composição, interpretação e edição de músicas. Enquanto isso, acadêmicos faziam pesquisas de campo em etnografia, transcrevendo canções em ídiche, melodias klezmer e hassídicas e outras formas de música tradicional judaica que, em conjunto, serviram de base para compor músicas de concerto, inicialmente na forma de arranjos curtos para voz, piano e cordas, ou coro. E evoluíam em originalidade, complexidade formal e harmônica de que faziam parte peças para orquestras de câmara e arranjos orquestrais que, do ponto de vista de estilo, representavam uma mistura do romantismo russo com as novas manifestações estéticas modernistas que surgiam na Europa. A sociedade mantinha uma programação estável de concertos, dividida entre pequenas palestras e recitais regulares a respeito de vários aspectos da música judaica, para os membros de São Petersburgo e grandes concertos públicos periódicos, geralmente no Conservatório de São Petersburgo. Em 1910, ela começou a editar partituras musicais, com uma série de quinze composições; depois, a sociedade e as organizações que a sucederam publicaram centenas de peças diferentes de música. O impacto da sociedade foi além de São Petersburgo e havia pedidos de adesão a ela, solicitação de partituras, de colaboração e participação, de lugares tão distantes como Zurique, Edimburgo, Baltimore e Tel Aviv. Foram abertas sucursais em cidades do Império Russo,


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BANDA KLEZMER DO ROHATYN, NA GALÍCIA, IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO, 1912

como Moscou (1913), Kiev (1913) e Odessa (1916) e cada uma distribuía publicações da sociedade e patrocinava palestras e concertos. Apesar de declarada orientação nacionalista judaica, a sociedade não tinha qualquer afiliação política e colaborava com grupos judeus sionistas, partidos operários e liberais. De 1912 a 1914, os membros da sociedade organizaram e fizeram parte da Expedição Histórico-Etnográfica Judaica do dramaturgo e pesquisador S. An-ski no território autônomo judeu da Rússia, da qual resultou um tesouro inestimável de transcrições musicais e das primeiras gravações de campo. Outros projetos incluíam aulas de música e coros de comunidades de São Petersburgo e de Moscou e da Lider-zamelbuch far der Yidisher shul um familie (Sbornikpesendliaevreiskoishk olyisem’i , em russo [“Antologia de canções para escola e família judaica”]; primeira edição, 1912), uma ampla e diversificada coletânea de música que incluía obras de compositores não judeus, como Beethoven e Mozart. O início da Primeira Guerra interrompeu, mas não encerrou, a maior parte do trabalho da sociedade. O ramo principal, em Petrogrado (São Petersburgo), no entanto, começou a encontrar dificuldades técnicas para editar música e manter contato com outras instituições. Ao mesmo tempo, e durante os anos de guerra, o escritório de Moscou, liderado por Engel, cresceu em abrangência e importância. Mas as relações entre Petrogrado e Moscou se deterioraram em razão de problemas de comunicação e cada vez maior sentimento de independência do ramo moscovita. Além disso, o caos e a destruição na esteira da revolução bolchevique de 1917-1918 causaram danos à autoridade e sua estrutura organizacional.

Foi neste contexto que, em 1918, o grupo de Moscou reorganizou-se como o Obshchestvo Evreiskoi Muzyki (Sociedade para a Música Judaica), começando a editar música em seu próprio nome. Foram realizados concertos e reuniões em Moscou e Petrogrado até, pelo menos 1919, último ano em que qualquer um dos dois grupos pôde funcionar plenamente. O impacto da Revolução A Revolução Russa dividiu a sociedade musical em três direções geográficas. Em Petrogrado, as atividades continuaram em 1918 e 1919 com apoio do novo Estado bolchevique por meio do Comissariado do Povo para o Esclarecimento. Em parceria com a Kultur-lige, baseada em Kiev, houve tentativas mal sucedidas para relançar a atividade editorial. Mas, no início dos anos 1920, o foco político e cultural da vida judaica se deslocara para Moscou. Lá, uma nova versão da Sociedade de Música Judaica foi organizada formalmente em 1923. Em condições políticas, sociais e culturais drasticamente diferentes, mas com o reconhecimento e o apoio do governo, >>

Os klezmorim profissionais se constituíram numa casta que falavam um jargão profissional ídiche próprio e às vezes se casavam com as filhas de famílias dos “bobos de casamento” (badchonim, em ídiche)


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magazine > história >> a sociedade apresentou concertos, saiu a campo e publicou partituras até 1929. Assim, a maior parte do legado composicional da organização se manteve com compositores como Krein, Gnesin, Aleksandr Veprik e Moyshe (Mikhail) Milner produzindo música judia de concerto, incluindo ópera, balé, sinfonias e teatro ídiche. Houve esforços para continuar a publicação e as ações da sociedade na Europa Central ao mesmo empo em que parte desse trabalho deslocou-se para a Palestina judaica para onde ambos, Yoel Engel e Salomon Rosowsky, imigraram nos anos 1920. Ali, o modelo cultural da sociedade da música nacional judaica influenciou muitos compositores e músicos sionistas. Este foi o segundo polo geográfico. Nova York tornou-se o terceiro, que atraiu muitos outros ex-integrantes, como Lazare Saminsky, Leo Zeitlin e Joseph Achron. Tentativas esporádicas para reiniciar uma versão da sociedade, resultou na fundação da Associação de Música Palestino-Americana (Machon EretsYisra’eli le-Mada’e ha-Musica), em 1932. Em 1939, foi criado o Fórum de Música Judaica, que deu continuidade ao legado acadêmico e artístico do grupo que, nos anos 1960, se transformou na Sociedade Americana para Música Judaica. Do ponto de vista intelectual e artístico, a sociedade foi um modelo influente para os acadêmicos de música judaica e compositores de música de concerto judaica ao longo do século 20. O fim da União Soviética e a abertura de seus arquivos levaram a um notável renascimento do interesse na história e música da sociedade, como se nota pelos concertos, conferências, publicações e gravações na Rússia, Europa, Israel e Estados Unidos. Música tradicional e instrumental Lá pelo final do século 16 até o início do século 17, na Boêmia, e depois na Comunidade de Nações Polonesa-Lituana, músicos judeus começaram a formar suas próprias guildas, o que possibili-

CENA DE O ÚLTIMO KLEZMER, FILME QUE CONTA A HISTÓRIA DE

LEOPOLD KOZLOWSKI, COM O VIOLINO

tou elevar o status social deles, e a abandonar o termo antigo leyts (“zombeteiro”, “palhaço”), aplicado na Europa Central a cantores, instrumentistas, palhaços e bailarinos, pela nova e mais respeitável palavra klezmer (de klei zemer, instrumentos musicais, em hebraico; plural, klezmorim), que designa exclusivamente instrumentista. Somente no século 18, com o afluxo de músicos judeus da Boêmia e da Polônia a palavra klezmer chegou à Alemanha, e era um termo mais favorável ao músico judeu, comparado ao depreciativo muzikant. Esta distinção persistiu até o final do século 19, quando muitos judeus puderam ter acesso aos conservatórios na Rússia e no império austro-húngaro. Em regiões onde havia poucos ciganos (romani), principalmente na Polônia e Lituânia, os klezmorim eram a maioria dos músicos profissionais. Viviam em cidades situadas nas grandes propriedades de nobreza polonesa e também em Vilna e Lvov. No século 18, os klezmorim também se destacavam na capital da Moldávia Otomana, Iasi (Jassy). Os klezmorim profissionais se constituíram numa casta que falavam um jargão profissional ídiche próprio e às vezes se casavam com as filhas de famílias dos “bobos de casamento” (badchonim, em ídiche). Algumas linhagens klezmorim sobreviveram por um século ou mais, como as dos Lemisches, de Iasiand, e a dos Beltsi, na Moldávia, cuja existência foi documentada em meados do século 18, e se espalharam para Istambul, Beirute, e Atenas – e para a Filadélfia, nos Estados Unidos. Os grupos de música klezmer (di klezmer, kapelye, ou chevrisa/chevrusa) eram exclusivamente masculinos. Tradicionalmente, o líder era o primeiro violino que geralmente passava a posição para o filho ou genro. Os klezmorim não acompanhavam nenhuma música vocal judaica, exceto em casamentos em que a instrumentação se adaptava às rimas do badchn.


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DI SHPILMAN KAPELIE, OSTROWIEC, POLÔNIA, 1905

Enquanto o líder era geralmente um músico em tempo integral, muitas vezes os membros da banda tinham outras profissões. Quando a situação econômica era boa alguns eram chapeleiros, por exemplo; e em tempos difíceis, os klezmorim viravam barbeiros, atividade que alegavam ser exclusividade deles. Na Polônia, a constituição e o território ocupado por cada conjunto klezmer eram regulados por acordo mútuo. No final do século 18, quando a maior parte da Polônia ficou sob domínio russo o gradual declínio da autonomia comunitária judaica possibilitou a que originalmente não klezmorim entrassem em conjuntos, que então passaram a se chamar kompaniya. No entanto, para as festas de casamentos judeus os descendentes de famílias klezmorim ainda controlavam a seleção de músicos. Há referências a klezmorim bem antes do século 19 nos registros comunitários e guildas tanto judaicas como cristãs. Há registro de representações não judias literárias e em imagens de klezmorim no século 18, muitas vezes mais completas do que as judias. A descrição de Jankiel Cymbalist no épico de Adam Mickiewicz Pan Tadeusz (1834) é exemplo característico e também dignos de nota são os Contos Galicianos, de Leopold von Sacher-Masoch, e o estudo pioneiro etno-musicológico Evreiskieorkestry (Orquestras Judias; 1904) de Ivan

Lipaev. Documentos visuais importantes incluem as pinturas de Jean-Pierre Norblin de la Gourdine (1745-1830) e Wincenty Smokowski (1797-1876). Até meados e o final do século 19, as referências aos klezmorim aparecem ocasionalmente em memórias ídiches. Após a expulsão dos turcos otomanos, em 1699, alguns klezmorim emigraram do sul da Polônia para a Hungria e colaboraram com músicos ciganos, provocando uma profunda interação entre música popular judaica e a húngara. A emancipação dos judeus em terras dos Habsburgos, em 1867, no entanto, levou ao rápido declínio da profissão klezmer na Hungria e na Boêmia-Morávia. Os ciganos então assumiram a posição social anterior dos klezmorim. Conjuntos mistos de judeus e ciganos eram comuns na Moldávia Otomana e na Bessarábia Russa. Na Moldávia, no entanto – ao contrário da situação na Hungria e Boêmia –, o elemento musical judaico manteve-se vigoroso, muitas vezes atraindo músicos não judeus que tocavam e compunham em um estilo “judeu”. A aceitação dos judeus em conservatórios russos e austríacos lá pelo último terço do século 19 afetou a performance no estilo klezmer e as oportunidades profissionais abertas para os klezmorim em cidades e vilas maiores. Após a Primeira Guerra, os klezmorim estavam cada vez mais integrados às várias formas da vida musical europeia, mesmo quando tinham um papel na música comunitária judaica. Em algumas regiões, filhas de famílias klezmorim podiam se tornar músicos profissionais, formando froyenkapelyes – conjuntos de mulheres – embora não estivessem autorizados a tocar em casamentos judeus. O Holocausto pôs um ponto final à música klezmer na Polônia, enquanto o gênero e a profissão desapareciam na União Soviética. História social e música dos klezmorim Como em muitas regiões a maioria dos músicos era klezmer, sua atividade musical avançava para além da sociedade judaica. Na Polônia, havia uma rígida hierarquia que regia a >>

A aceitação dos judeus em conservatórios russos e austríacos lá pelo último terço do século 19 afetou a performance no estilo klezmer e as oportunidades profissionais abertas para os klezmorim em cidades e vilas maiores


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>> vida dos conjuntos klezmer de modo a que, enquanto os magnatas poloneses traziam seus músicos do exterior, a pequena nobreza dependia dos klezmorim locais. Os klezmorim de condição inferior tocavam em casamentos de não judeus ou em tavernas. No interior da sociedade judaica, o casamento era o principal mercado de trabalho para as bandas klezmer. Casamentos judeus poderiam durar por mais de um dia, e passavam de música meditativa, antes da cerimônia, para várias formas de dança e concertos destinados aos convidados mais ricos. Os melhores klezmorim tocavam apenas nesses shows de improviso. O próprio repertório do casamento era influenciado pela classe social, de modo que os klezmorim reservavam as melhores peças, e originais, para as noivas de famílias ricas. Além de casamentos, os klezmorim tocavam em feriados, como Chanuká, Purim e, às vezes, em Sucot, Páscoa, e Rosh Hodesh (o início do novo mês) e no final do sábado, na sinagoga ou nas casas dos ricos. Além disso, as cidades maiores (por exemplo, Vilna ou Berdichev) contavam com sinagogas com guilda klezmer, onde a música era tocada nesses feriados. Vários tribunais hassídicos também incentivavam o desenvolvimento da música klezmer, seja por meio do emprego dos klezmorim locais ou pela manutenção de sua própria kapelye, como o rebbe Lubavitch fez na primeira metade do século 19. Embora os klezmorim de Praga, por exemplo, tocassem vários instrumentos e os da Polônia acrescentassem harpa, cítara e alaúde, em meados do século 17 o conjunto klezmer fixou-se como um grupo de quatro a cinco instrumentos liderados pelo primeiro violino e incluindo um pequeno saltério (em ídiche, tsimbl, um saltério martelado), uma viola (sekund), contrabaixo ou violoncelo e, às vezes, uma flauta de madeira.

GRUPO STAHLHAMMER, DA SUÉCIA, 1908

No século 18, a formação desse grupo chegou à Alemanha e à Holanda, e parece também ter influenciado a músicos não judeus, tornando-se base para a maioria dos conjuntos de cordas camponesas da Polônia, Ucrânia e Belarus, no século 19. No início dos anos 1800, na Polônia Prussiana e na Moldávia a clarineta passou a fazer parte em uma banda klezmer; nos territórios orientais, também um tamborim era, às vezes, incorporado ao conjunto. Até o final do século 19, com menos controle sobre as comunidades judaicas em territórios russos, fez surgir a kompaniya, de dez a quinze músicos, com metais e cordas, que dominariam as cidades e vilas da Ucrânia, Moldávia Russa e Lituânia. Depois de 1900, essa formação também chegou à América. Provavelmente até o final do século, a maioria dos klezmorim das cidadezinhas permaneceu analfabeta, mas pelo menos nos grandes centros urbanos a notação musical parece ter sido aceita pelos líderes dos conjuntos no início do século 19. Como músicos profissionais, os klezmorim precisavam do repertório mais amplo possível, incluindo música clássica leve, e música camponesa folclórica. Quando o etno-musicólogo Moisei Beregovskii documentou o repertório klezmer da Ucrânia em 1930 e 1940, ele se referia somente aos gêneros musicais com lugar reconhecido no casamento tradicional judaico e compostos por klezmorim, estabelecendo, assim, as bases para o gênero da música klezmer. Embora os músicos profissionais judeus (de ambos os sexos) fossem bem conhecidos em outros lugares, repertório instrumental, estilo e gêneros judeus foram documentados apenas na Europa Oriental, com variações na América e Israel. Hoje sobrevive apenas um pequeno fragmento do repertório klezmer, pois a guilda de compositores klezmer profissionais não publicou sua música, passando-a simplesmente para os sucessores na kapelye. Na Europa, a gravação comercial começou antes da Primeira Guerra, na Polônia. As primei-


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ras gravações na Galícia documentam uma variedade de gêneros de solo artísticos, logo substituídas pelas gravações populares Belf da Podólia, em um nível artístico inferior. A documentação incidental legou alguns dados a respeito de uma vasta área do sul da Galícia até a Ucrânia e a Moldávia, mas muito menos acerca de Belarus, Lituânia, ou a Polônia propriamente dita. A partir dessa região sul, o gênero e a forma de melodias (juntamente com muitas músicas específicas) são conhecidos a partir do último terço ou de meados do século 19. Algumas peças inspiradas na música do Oriente Próximo foram compostas com o tom do violino turco de duas cordas. Os melhores klezmorim criaram suas próprias versões de peças litúrgicas ou paralitúrgicas e composições individuais originais. Um dos principais gêneros da cerimônia de casamento era um improvisado kale-baveynen (“fazendo a noiva chorar”, em ídiche) ou kale-bazetsn, em que o violinista e o cimbalista tocavam em um modo diferente do canto do badchn. A mistura de elementos ocidentais, ashkenazim, do Oriente Próximo e dos Bálcãs pode muito bem ter existido desde os primórdios do gênero em 1600; havia alguns dos mesmos elementos musicais na música festiva não judia do século 17 em Lvov. Notam-se fortes elementos musicais turcos em partes do manuscrito de Aaron Beer de Berlim (1792). Durante e depois da era de domínio greco-otomano na Moldávia (1711-1828), havia uma ligação recíproca profunda da música instrumental moldava e da grega, resultando na criação de um repertório judaico-moldávio misto, a adoção da dança judaica sher pelos moldávios, e a modificação da música da dança grega urbana hassapiko junto com versos judeus e romenos. Klezmer na Europa e na América O primeiro músico klezmer a alcançar fama na Europa foi o cimbalista bielorrusso Yechiel Michl Guzikow (1806-

1837). Entre os compositores klezmorim do século 19 se destacaram os violinistas Avraham Kholodenko, de Berdichev (1828-1902), conhecido como “Pedotser”; Shepsl, de Kobryn; Marder ha-Gadol, de Vinitsa; Melech Klezmer e Chayim Fiedler, de Orhei; Shmuel Weintraub, de Brody; Khone Wolfstahl, de Tarnopol (1853-1924); e Selig Itsik Lemisch, de Beltsi (1819-1891). Músicos de destaque do passado mais distante incluem Chayim Cimbalist, músico da corte do general Wallerstein durante a Guerra dos Trinta Anos; Solomon Tambalarul, músico da corte do voivode otomano grego (Phanariot), da Moldávia, em meados do século 18; Itsik Tambalgiu, do início do século 19, de Iasi; o cimbalista Yosef Lipianski, de Vitebsk; os violinistas Yosef Drucker (conhecido como “Stempenyu”), de Berdichev (1822-1879) e Yosef Solinski e o cimbalista Yosef Moscovici de Galati e Washington, DC. Durante as primeiras décadas do século 20, vários músicos judeus – a maioria alunos de Nikolai Rimsky-Korsakov ou de Anatoli Liadov no Conservatório de São Petersburgo – compuseram peças baseadas em parte no repertório klezmer. As principais figuras deste movimento foram Yoel Engel, Joseph Achron, Aleksandr Krein, Michail Gnesin e Jacob Weinberg. O clarinetista Simeon Bellison, parceiro de Engel desde o início, continuou a executar esse repertório com sua Zimro Ensemble (1918-1920) e com a Filarmônica de Nova York, depois de 1920. Apenas alguns dos klezmorim que se fixaram na Europa imigraram para a América – incluindo o violinista Selig Lemisch, que veio para a Filadélfia em 1882. Os famosos clarinetistas Shloymke Beckerman (1883-1974), Naftule Brandwein (18841963) e Dave Tarras (1897-1989), todos nascidos na Europa, fizeram carreira na América. Mesmo na primeira geração, no entanto, a música klezmer na América foi difundida principalmente por músicos judeus com formação musical militar ou pelos filhos mais jovens de famílias klezmorim. Em uma geração, o violino, a flauta e o tsimbl tinham perdido seu lugar em conjuntos klezmorim para a clarineta e instrumentos do naipe dos metais. Praticamente todo o repertório artístico e de exibição de música klezmer foi abandonado, e só a música de dança permaneceu. O “renascimento klezmer”, ocorrido em meados dos anos 1970 e 1980, valeu-se da continuidade musical proporcionada por esses músicos europeus de alto nível como Tarras, mais os klezmorim americanos Max Epstein, Sid Beckerman (filho de Shloymke) e Ray Musiker (todos clarinetistas). Na Europa após a Segunda Guerra, elementos da música klezmer se mantiveram apenas naquelas regiões da URSS que tinham estado sob ocupação romena, e onde uma parte substancial da população judaica de língua ídiche sobreviveu à guerra. A música klezmer ressurgiu na antiga União Soviética, na Polônia e em outros lugares depois de 1989, a partir do impulso de artistas americanos mais jovens.

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Na Polônia, havia uma rígida hierarquia que regia a vida dos conjuntos klezmer de modo a que, enquanto os magnatas poloneses traziam seus músicos do exterior, a pequena nobreza dependia dos klezmorim locais. Os klezmorim de condição inferior tocavam em casamentos de não judeus ou em tavernas




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magazine > espionagem | por Dan Raviv e Yossi Melman*

Um ex-nazista a serviço do Mossad OTTO SKORZENY, UM DOS AGENTES MAIS VALIOSOS DO MOSSAD, FOI TENENTE-CORONEL DA WAFFEN-SS DA ALEMANHA NAZISTA E UM DOS FAVORITOS DE ADOLF HITLER, NUMA CURIOSA REVIRAVOLTA DA HISTÓRIA

E

m 11 de setembro de 1962, um cientista alemão desapareceu. Heinz Krug foi ao escritório, e não voltou. A polícia de Munique sabia que Krug viajava sempre para o Cairo, assim como muitos especialistas nazistas em foguetes contratados pelo Egito para desenvolver armas avançadas. O HaBoker, um jornal israelense já extinto, noticiou na época: para não fazer negócios com Israel os egípcios sequestraram Krug. Essa informação, meio sem sentido, foi, na verdade, a tentativa de Israel disfarçar o que de fato aconteceu com o cientista de 49 anos. No entanto, a partir de entrevistas com ex-oficiais do Mossad e israelenses com acesso a segredos arquivados na agência há mais de cinquenta anos, agora já se sabe: o assassinato de Krug era parte de uma trama da espionagem israelense para intimidar cientistas alemães a serviço do Egito. E, mais surpreendente, o autor dos disparos fatais foi Otto Skorzeny, um dos mais valiosos agentes do Mossad, ex-tenente-coronel da Waffen-SS da Alemanha nazista e um dos favoritos de Adolf Hitler que o condecorou pessoalmente com a Cruz de Ferro, na categoria Cavaleiro, a mais alta honraria do Exército, porque comandou a operação que resgatou o ditador italiano Benito Mussolini, preso pelos aliados. Mas isso foi durante a Segunda Guerra; em 1962, o patrão de Skorzeny era outro e esse é um dos mais importantes episódios dos arquivos do Mossad. A chave para entender a história está nos esforços da agência de inteligência de Israel para intimidar os cientistas alemães e pararem de trabalhar no programa de foguetes do Egito, uma das prioridades do governo do coronel Nasser. Meses antes de morrer, Krug e outros alemães empregados no projeto egípcio receberam mensagens ameaçadoras. Quando na Alemanha os telefones em casa tocavam no meio da noite e uma voz lhes sugeria abandonar o programa egípcio. E, no Egito, cartas-bomba endereçadas a eles causavam vítimas. Mas um dos principais alvos do Mossad era Krug. De Peenemünde para o Cairo Quase vinte anos antes, na Segunda Guerra, Krug integrava o grupo de cientistas alemães liderados por Werner von Braun e tra-

balhando em Peenemünde, uma ilha no Báltico, no nordeste da Alemanha, transformada em centro de pesquisas da Wehrmacht, todos orgulhosos com o êxito dos foguetes V-1 e V-2 despejados sobre a Grã-Bretanha. O objetivo, agora, era construir mísseis com maior alcance, precisão e poder destrutivo. Dez anos depois da guerra, por volta de 1955, von Braun convidou Krug e a outros ex-colegas para se juntar a ele nos Estados Unidos, que convenientemente esqueceram seus crimes de guerra, onde desenvolvia um programa de mísseis, e se tornou um dos pais do programa espacial da Nasa. Krug preferiu uma alternativa mais interessante: ir para o Egito com outros cientistas do grupo de Peenemünde liderado pelo professor alemão Wolfgang Pilz, e criar um programa de mísseis estratégicos secretos para esse país. Mas, do ponto de vista israelense, Krug calculou mal e devia saber que o país onde tantos sobreviventes do Holocausto encontraram refúgio, isto é, Israel, viria a ser o alvo dos seus novos patrões. Um verdadeiro nazista, portanto, veria isso como nova oportunidade de continuar a missão de exterminar o povo judeu. As mensagens e telefonemas ameaçadores perturbavam Krug, que sabia a origem delas. Afinal, havia o precedente de 1960 quando agentes israelenses raptaram Adolf Eichmann, na Argentina, o julgaram em Jerusalém, o condenaram e o enforcaram em maio de 1962. Sentindo que o laço do Mossad também pode-


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HITLER CUMPRIMENTA SKORZENY PELO ÊXITO DA OPERAÇÃO DE RESGATE DE MUSSOLINI

ria apertar-lhe o pescoço, recorreu aos bons ofícios de um herói nazista que, no auge de Hitler, era considerado o melhor dos melhores. No dia em que desapareceu, Krug saiu do escritório para encontrar Skorzeny, o homem a quem tinha como salvador. Skorzeny, então com 54 anos, era uma lenda, um militar ousado e inovador, famoso pela cicatriz que percorria o lado esquerdo do rosto, provocada por um golpe de sabre em uma competição de esgrima na juventude. Ele rapidamente atingiu o posto de tenente-coronel na Waffen-SS. Já conhecido como comandante, Hitler viu em Skorzeny um homem além das expectativas e que só para quando conclui uma missão. O coronel inspirava outros soldados e oficiais e ganhou tal respeito dos inimigos a ponto de a inteligência militar aliada descrever Skorzeny como “o homem mais perigoso da Europa”. Krug queria que Skorzeny, então na Espanha, montasse um programa para dar segurança aos cientistas. O primeiro – e único – encontro foi na floresta perto de Munique. Skorzeny foi acompanhado de três pessoas que apresentou como guarda-costas viajando em um carro logo atrás do Mercedes branco dirigido por Krug, em cujo banco de passageiro estava Skorzeny. Ao chegar no local, o famoso herói de guerra nazista, transformado pelo Mossad em agente secreto de Israel, assassinou Krug e os três guarda-costas, isto é, três agentes do Mossad, cobriram seu corpo com ácido. Esperaram o cadáver se dissolver e o que sobrou enterraram em um buraco bem fundo, cavado dias antes. Para terminar, cobriram tudo com cal para cães farejadores e animais selvagens não sentirem o cheiro de restos humanos. O trio que coordenou esta execução foi liderado pelo futuro primeiro-ministro de Israel, Itzhak Shamir, então chefe da unidade de operações especiais do Mossad, mais Zvi “Peter” Malkin, celebrizado por atacar e dominar Eichmann, na Argentina, que mais tarde virou pintor, em Nova York. O terceiro era um alto funcionário da agência secreta na Alemanha, Yosef “Joe” Raanan, que supervisionou a operação. Em comum os três tinham familiares assassinados pelos nazistas.

Mas por que o Mossad trabalhou com Skorzeny? Para chegar o mais próximo possível de nazistas que ajudavam o Egito a traçar um suposto novo Holocausto, o Mossad estava disposto a se aliar a parceiros desagradáveis e improváveis. O gosto pelo desafio Skorzeny nasceu em Viena, em junho de 1908, em uma família de classe média orgulhosa do filho alistado no exército do Império Austro-Húngaro. Desde cedo mostrou que era destemido, corajoso, talentoso, e capaz de toda sorte de histórias complicadas para enganar as pessoas. Se estes eram requisitos essenciais para um oficial de comando em guerra, eram qualidades ainda mais valiosas para o Mossad. Em 1931, com 23 anos, juntou-se à seção austríaca do partido nazista, serviu na milícia armada AS e idolatrava Hitler. Eleito chanceler da Alemanha em 1933, o Führer anexou a Áustria em 1938, invadiu a Polônia em 1939 e, com a eclosão da Segunda Guerra, Skorzeny largou sua empresa de construção e se ofereceu como voluntário da divisão Panzer Leibstandarte SS, que cuidava da segurança pessoal de Hitler. Em um livro de memórias, Skorzeny, descreveu o serviço na SS como atividades quase sem violência na Polônia, Holanda e França ocupadas. Não é bem verdade, pois participou de batalhas na Rússia e na Polônia e, para os israelenses, muito provavelmente se envolvera no extermínio dos judeus. Afinal, a Wa>>

No dia em que desapareceu, Heinz Krug saiu do escritório para encontrar Otto Skorzeny, o homem a quem tinha como salvador. Skorzeny, então com 54 anos, era uma lenda, um militar ousado e inovador, famoso pela cicatriz que percorria o lado esquerdo do rosto, provocada por um golpe de sabre


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magazine > espionagem

>> ffen-SS não era um exército regular, mas braço militar do Partido Nazista e do plano genocida. A missão mais famosa e ousada de Skorzeny foi em setembro de 1943 quando liderou comandos transportados em planadores para atingir um resort no topo de uma montanha italiana e resgatar o amigo e aliado Benito Mussolini, o ditador fascista recentemente deposto. Promovido a tenente-coronel, Skorzeny assumiu o controle operacional das forças especiais da SS de Hitler que o recompensou com horas de conversa pessoais e a cobiçada condecoração. Um ano depois, quando o almirante Miklos Horthy, ditador da Hungria e aliado nazista, estava ponto de celebrar um acordo de paz com a Rússia à medida que a sorte das potências do Eixo ia pelo ralo, Skorzeny foi a Budapeste, sequestrou o filho de Horthy que, para não patrocinar a morte do filho, entregou o governo ao regime fascista do Partido da Cruz Flechada, que matou ou deportou dezenas de milhares de judeus húngaros que até então sobreviviam à guerra. Ainda em 1944, Skorzeny escolheu soldados que falavam inglês para o ousado plano de atacar os aliados depois que desembarcaram na Normandia, em junho, usando tanques e uniformes americanos, de modo a confundir a retaguarda das tropas aliadas. Skorzeny pagou por esta ousadia com a prisão da qual só foi libertado em 1947. As manchetes dos jornais o apontavam como o homem mais perigoso da Europa. Orgulhoso de si próprio, publicou vários livros de memórias, o mais famoso deles, de 1957, Skorzeny’s Special Missions: The Autobiography of Hitler’s Commando Ace (“Missões Especiais de Skorzeny: A Autobiografia do Ás dos Comandos de Hitler”), pela Greenhill Books, no qual exagera alguns episódios, minimiza a relação com a liderança nazista e trata Hitler como “um estrategista militar carinhoso e atencioso”. Skorzeny fugiu de Dachau, onde estava preso, levado por ex-soldados da SS com uniformes da polícia militar americana que alegavam precisar transferi-lo para outro local. Diz-se que a fuga de Skorzeny teve a colaboração da OSS (Agência de Serviços Estratégicos, da sigla em inglês), antecessora da CIA, e para a qual cumpriu tarefas depois da guerra. Ele foi autorizado a se fixar na

ACIMA, SKORZENY CONHECE O NOVO PATRÃO DE CUJA SEGURANÇA VAI CUIDAR;

Á DIREITA, COM A MULHER, ILSE VON

KINCKENSTEIN, NA CASA DE QUEM SE ESCONDEU NO FIM

Espanha, paraíso para veteranos de guerra nazistas protegidos pelo ditador fascista, generalíssimo Francisco Franco. Nos anos seguintes, deu consultoria para o presidente Juan Perón, da Argentina, e para o governo egípcio, período em que Skorzeny fez amizade com os oficiais responsáveis pela execução do programa de mísseis no qual trabalhavam os especialistas alemães.

DA GUERRA

DEPOIS DA GUERRA, UM PRÓSPERO HOMEM DE NEGÓCIOS NA

ESPANHA

Cooptar, não matar Enquanto isso, em Israel, o pessoal de planejamento do Mossad pensava em onde e como encontrar e matar Skorzeny. No entanto, o plano do chefe da agência, Isser Harel, era mais ousado e, em vez de matá-lo, atraí-lo. O Mossad sabia que para atingir os cientistas alemães precisavam de alguém de dentro do grupo alvo, isto é, de um nazista. E se nunca encontrariam um nazista em quem confiar, talvez existisse um nazista com quem pudessem contar: determinado, com um histórico de êxito na execução de planos inovadores e hábil em manter segredos. A decisão, aparentemente bizarra, de recrutar Skorzeny, veio acompanhada de dor pessoal, porque Raanan, que recebeu a tarefa, também nasceu em Viena e por pouco escapou de morrer em algum campo de concentração. Originalmente seu nome era Kurt Weisman. Após a anexação da Áustria, em 1938, tinha 16 anos quando foi enviado para a Palestina sob mandato britânico. A mãe e o irmão mais


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novo ficaram na Europa, e morreram. Como muitos judeus na Palestina, Kurt Weisman juntou-se aos britânicos para atacar a Alemanha e serviu na RAF. Depois da criação de Israel, em 1948, ele assumiu um nome hebraico e, como Yosef “Joe” Raanan, foi um dos primeiros pilotos da pequena força aérea da nova nação, logo se tornou comandante de uma base aérea e, mais tarde, chefe de inteligência da força aérea. O currículo de Raanan, que incluía trabalhos de guerra psicológica que fez para a RAF, chamou a atenção de Harel, que em 1957 o recrutou para o Mossad. Anos mais tarde, Raanan foi enviado para a Alemanha dirigir as operações da agência com foco nos cientistas alemães no Egito. Assim, Raanan teve de planejar e comandar uma operação para fazer contato com Skorzeny. Primeiro, Raanan hesitou, mas ordens são ordens. Montou uma equipe e foi para a Espanha para uma atividade conhecida por “inteligência pré-ação”, isto é conhecer todos os movimentos do alvo, no caso Skorzeny, em casa, local de trabalho e rotinas diárias. À equipe juntou-se uma alemã de pouco mais de 20 anos que não era agente do Mossad, mas treinada em tempo integral para ser uma “ajudante”. Em hebraico, saayanit (saayan de homem), como se fosse um extra de um filme capaz de representar qualquer papel, por exemplo namorada de um agente disfarçado do Mossad. Relatórios do Mossad a chamaram de Anke, bonita, esperta e sedutora, perfeito para o trabalho em que é necessário um casal. Assim, numa noite, no começo de 1962, o rico, bonito e marcado de cicatrizes, Skorzeny, estava em um luxuoso bar em Madri com sua mulher bem mais jovem, Ilse von Finckenstein, sobrinha de Hjalmar Schacht, o virtuoso ministro das Finanças de Hitler. Depois de alguns goles e bem relaxados, o barman lhes apresentou um casal que falava alemão. A mulher era bonita e o acompanhante um homem elegante de cerca de 40 anos. Se apresentaram como turistas alemães que há pouco sobreviveram a um assalto. Falavam alemão perfeito e o sotaque do homem tinha ligeiro acento austríaco, como o de Skorzeny. O agente do Mossad, um segredo até hoje, e a “ajudante” Anke deram nomes falsos. Às bebidas. seguiu-se um flerte descarado de parte da mulher de Skorzeny, que convidou o jovem casal, sem documentos e sem dinheiro para passar a noite em sua luxuosa casa. Havia uma sensação de intimidade sexual entre os dois casais. Já em casa, quando o relacionamento atingiu o ponto da troca de casais, Skorzeny – o encantador anfitrião – apontou uma arma para o jovem casal: “Sei quem você é, e sei porque está aqui. Você é do Mossad, e veio me matar”. Por um átimo, o silêncio assaltou o jovem casal até o homem responder: “Você está meio certo. Somos do Mossad, mas se quiséssemos matá-lo, você teria sido morto há semanas”. Skorzeny: “Ou talvez eu o tivesse matado”. Anke: “Se nos matar, virão outros que não vão se preocupar em beber com você, porque nem mesmo vai ver os rostos deles antes de estourarem teus miolos. Nossa oferta é apenas para você nos ajudar”.

Depois de longo minuto que pareceu horas, e ainda com a arma, Skorzeny perguntou: “Que tipo de ajuda? Do que você precisa?” O agente do Mossad disse que Israel precisava de informações e pagaria bem. Skorzeny pensou alguns momentos e, depois, surpresa: “Dinheiro não me interessa. Eu tenho o suficiente. Eu só preciso que Wiesenthal tire o meu nome de sua lista”. O famoso caçador de nazistas Simon Wiesenthal relacionara Skorzeny como criminoso de guerra, e ele insistia não ter cometido nenhum crime. O israelense, claro, não acreditava na inocência de nenhum nazista do alto escalão, mas recrutar um agente para uma missão de espionagem sugeria mentiras e enganos. “Isso será feito. Vamos cuidar disso”, respondeu o agente. Skorzeny finalmente baixou a arma, os dois homens se apertaram as mãos e o agente do Mossad mal conseguia disfarçar o constrangimento. “Eu sabia que essa história de você ter sido roubado era falsa”, disse Skorzeny, com o sorriso arrogante de um colega de profissão. O próximo passo da operação era levá-lo a Israel, e Raanan, o mentor do agente, colocou Skorzeny secretamente em um voo para Tel Aviv, e apresentado a Harel. O nazista foi interrogado e recebeu instruções mais específicas. Skorzeny também visitou o Yad Vashem cujo museu, em memória aos seis milhões de mortos, percorreu em silêncio respeitoso, menos quando um sobrevivente apontou para ele o dedo acusador, chamou-o pelo nome e a denominação “criminoso de guerra”. Mas Raanan, um espião tão hábil que até parecia um ator, sorriu para o judeu e sussurrou: “Não, você está enganado. É meu parente e sobrevivente do Holocausto”. Naturalmente, muitos da inteligência israelense se perguntaram se o famoso soldado alemão fora, de fato, tão facilmente recrutado. Ele se preocupava tanto com a imagem a ponto de pedir que seu nome fosse removido da lista de criminosos de guerra? É que, para Skorzeny e outros criminosos de guerra, constar da lista significava a possibilidade de ser assassi>>

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A missão mais famosa e ousada de Skorzeny foi em setembro de 1943 quando liderou comandos transportados em planadores para atingir um resort no topo de uma montanha italiana e resgatar o amigo e aliado Benito Mussolini, o ditador fascista recentemente deposto


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magazine > espionagem >>

nado. E ao cooperar com o Mossad adquiria um seguro de vida. O novo agente parecia provar ser alguém de total confiança. A pedido dos israelenses, voou para o Egito, montou uma lista dos cientistas alemães, respectivos endereços e mais os nomes de empresas de fachada na Europa que forneciam peças vitais para os projetos militares egípcios. Entre essas empresas, a Intra, em Munique, de Heinz Krug. Raanan continuou sendo o gerente do projeto da operação contra os cientistas alemães e confiou a dois dos melhores agentes, Rafi Eitan e Avraham Ahituv, a tarefa de ficar em contato com Skorzeny. Eitan era um dos personagens mais surpreendentes da inteligência israelense e ganhou o apelido de “Sr. Sequestro” pelo desempenho na captura de Eichmann e de outros homens procurados pelas agências de segurança de Israel. Eitan também ajudou Israel a adquirir material para o programa nuclear secreto. Mas caiu em desgraça, quando seu agente Jonathan Pollard, um judeu americano que trabalhava em instalações militares americanas foi preso por espionagem a favor de Israel, em 1985. Pollard foi libertado em novembro de 2015. E, Eitan, aos 79 anos, em 2006, depois de décadas na obscuridade, foi eleito para a Knesset como líder do partido dos aposentados. Eitan confirma: “Sim, conheci e dirigi Skorzeny”. Como outros veteranos do Mossad, não deu mais detalhes. Seu parceiro, Ahituv, nasceu na Alemanha em 1930, também participou de muitas ações em vários países; de 1974 a 1980 chefiou o serviço de segurança interna, o Shin Bet. Continuou na lista de Wiesenthal Os agentes do Mossad tentaram convencer Wiesenthal a remover Skorzeny da lista de criminosos de guerra procurados, mas o caçador de nazistas recusou. De todo modo, o Mossad forjou uma carta endereçada a Skorzeny, segundo a qual Wiesenthal declarava ter retirado seu nome. Skorzeny continuou surpreendendo os israelenses com sua cooperação e, durante uma viagem ao Egito, despachou uma encomenda contendo uma bomba de fabricação israelense para a Fábrica 333 de foguetes militares, onde trabalhavam os cientistas alemães. Cinco egípcios morreram. O artefato era parte de uma campanha de intimidação que deu bons resultados, pois a maioria dos alemães começou a deixar o Egito e seus planos bélicos. Israel parou com a violência e as ameaças e mudou de tática pressionando as famílias dos cientistas. Numa dessas ocasiões, um agente do Mossad e um cientista austríaco foram presos na Suíça e levados a julgamento. Sorte deles – e da operação – que o juiz tinha o mesmo temor que Israel quanto aos foguetes egípcios. Os dois homens só foram condenados por ameaças e libertados. No entanto, o primeiro-ministro David Ben-Gurion ficou agastado com a história e a publicidade em torno dela que prejudicavam a imagem de Israel e os arranjos para a Alemanha Ocidental vender armas para Israel. Harel apostou suas fichas, apresentou uma carta de demissão e, surpresa geral, Ben-Gurion aceitou. E nomeou o comandante da inteligência militar general Meir Amit, novo diretor do Mossad, que desviou o foco da agência dos nazistas embora tenha tentado usar os serviços de Skorzeny pelo menos mais uma vez. O novo chefe do Mossad queria explorar a possibilidade de negociações secretas de paz, e pediu ao nazista, ainda na folha de pagamento de Israel, interme-

diar uma reunião com um alto funcionário egípcio. Não deu em nada. Skorzeny nunca explicou porque ajudou o povo judeu e, em sua autobiografia, não se lê as palavras “Israel” e “judeu”. No entanto, procurou, obteve o seguro de vida e o Mossad não o matou. Ele era um aventureiro, e sempre se sentia atraído a executar um trabalho secreto com espiões fascinantes, ainda que judeus. Assassinar por uma causa – qualquer que fosse – e sentir medo pareciam rejuvenescer Skorzeny. Talvez a expiação por seus atos durante a Segunda Guerra tenha pesado nas atitudes posteriores, apesar das dúvidas dos analistas do Mossad. Possivelmente tenha sido motivado por uma combinação destes fatores, e talvez mesmo de outros. Quaisquer que tenham sido, Otto Skorzeny não os revelou. Morreu de câncer, aos 67 anos, em Madri, em julho de 1975. Teve dois funerais, um em uma capela em Madri; outro, no enterro das cinzas no jazigo da família Skorzeny, em Viena. Os dois serviços foram acompanhados por dezenas de veteranos militares alemães e respectivas esposas. Todos fizeram a saudação nazista e cantaram canções favoritas de Hitler. Quatorze das medalhas de Skorzeny, muitas ornadas com suásticas pretas, foram exibidas com destaque nos funerais. No meio da multidão, em Madri, um homem desconhecido ainda se esforçava, tanto quanto podia, em esconder o rosto. Era Joe Raanan, então um bem-sucedido homem de negócios em Israel. Não foi enviado pelo Mossad. Assistiu ao funeral de Skorzeny por conta própria. Foi uma espécie de tributo pessoal de um guerreiro nascido na Áustria para outro, e de um velho chefe de controle de espionagem ao melhor, mas o mais repugnante agente, que já dirigira. * Dan Raviv, correspondente da CBS News com base em Washington, e o jornalista israelense Yossi Melman escreveram cinco livros sobre as agências de espionagem e de segurança de Israel





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magazine > a palavra | por Philologos

Os nomes dos livros da Bíblia hebraica NÃO HÁ MUITA CONSISTÊNCIA NA NOMENCLATURA DA TRADIÇÃO DOS LIVROS BÍBLICOS. ALGUNS SÃO NOMEADOS POR SUA PRIMEIRA PALAVRA, OUTROS POR SUA PRIMEIRA PALAVRA SIGNIFICATIVA. E O RESTO?

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m leitor escreve pedindo para “corrigir o erro... muito comum, infelizmente, em nosso meio” no qual o nome hebraico de quatro dos Cinco Livros de Moisés, lido em trechos semanais (ou parashot) em sinagogas em toda parte, é Bamidbar. Em vez disso, diz o leitor, deve ser B’midbar, segundo a regra de que os livros bíblicos são nomeados em hebraico de acordo com “a primeira palavra significativa de cada livro – ou seja, B’reyshit para o Gênesis, Sh’mot, para o Êxodo; Vayikra, para o Levítico; Mishley, para Provérbios, e assim por diante”. O primeiro versículo do livro de Números, o quarto do Pentateuco, é “E o Senhor falou a Moisés no deserto do Sinai”, e “no deserto do Sinai”, em hebraico, é b’midbar Sinai, com consoante proclítica bet, “em” ou “no”, seguido por um shvá ou uma vogal uh curta. Isso ocorre porque b’midbar, “no deserto”, é caso possessivo: no deserto do Sinai. Se fosse para dizer “no deserto” de modo não possessivo, dir-se-ia bamidbar, com patach ou vogal “ah” após o bet. Este é, de fato, o modo pelo qual os judeus se referem a Números, e a razão é óbvia, pois como em hebraico o livro é chamado de “No Deserto”, em vez de “No Deserto do Sinai”, a língua hebraica falada instintivamente muda o shvá após o bet para patach. Mas este instinto não precisa ser considerado irresistível. A oitava leitura da Torá em Levítico, por exemplo, é comumente chamado B’har, “No monte”, porque começa “E Deus falou a Moisés no monte Sinai [b’har Sinai]”. Aqui, também, dizer: “no monte” sem o “de” do nome do lugar mudaria o shvá para patach (expressões silábicas hebraicas) de modo que b’har se tornaria bahar, como bamidbar. Assim, esta porção da Torá é corretamente chamada de B’har. Por que não deveríamos, então, dizer B’midbar? Talvez devêssemos. De todo modo, não é uma questão definida. Considere o nome hebraico do quinto e último livro do Pentateuco, o Deuteronômio. Este é D’varim, “Palavras” ou “Elocuções” por causa do versículo de abertura do livro: “Estas são as palavras que Moisés falou a todo o Israel, do outro lado do Jordão”. Embora, em hebraico: “Estas são as palavras” seja Eyleh had’varim, com o ha proclítico, o “o”, ligado a d’varim assim como b’ ou ba está ligado a midbar, nem por isso devemos chamar o Deuteronômio de had’varim. A tradição op-

tou por D’varim, e seu peso é tal que podemos tolerar exceções às regras. Além disso, não há muita consistência na nomenclatura da tradição dos livros bíblicos, ou partes deles no Pentateuco. Considere, por exemplo, o fato de que esses nomes são derivados de um livro ou de “primeira palavra significativa”, sendo este o motivo pelo qual o Livro dos Números não é chamado em hebraico de Vay’daber: “E [o Senhor] falou”, pois frases bíblicas comuns como “e ele falou” e “e ele disse” não são indicadores significativos do conteúdo que se segue. De todo modo, o terceiro livro do Pentateuco, o Levítico, é conhecido como Vaikrá, “e ele chamou”, com base na frase de abertura “E o Senhor chamou Moisés”. Da mesma forma, a sétima leitura semanal do Levítico começa assim: “E Deus disse a Moisés: diga aos sacerdotes, os filhos de Aarão...” Pelo critério geralmente válido de significância, esta leitura da Torá deveria ter sido chamada Hakohanim, “Os Sacerdotes”, quando na verdade é conhecida como Emor, “Diga”. Com efeito, em seguida ao Pentateuco, muitos livros da Bíblia não são chamados por nenhuma de suas primeiras palavras. A palavra para “rei”, melech, aparece pela primeira vez no segundo capítulo do Livro dos Reis; e seu plural de m’lachim, “reis”, surge no terceiro capítulo. Da mesma forma, shofet e shoftim, “juiz” e “juízes”, não estão na abertura do Livro dos Juízes. O nome de Ester, também, só é mencionado pela primeira vez no capítulo 2 do livro com o seu nome, que, invocando a regra das primeiras palavras, deveria ter se chamado Assuero. E enquanto o nome hebraico do Livro de Salmos é T’hilim, que é a forma plural de t’hilá, “louvor” ou “canto de louvor” (do verbo l’halel, louvar), esta forma nunca aparece nos Salmos; mesmo t’hilá só é encontrado no Salmo 22 e se repete sem parar depois. Em Salmos, um salmo é um mizmor (do verbo l’zamer, cantar), usado dezenas de vezes, começando no capítulo 3, para introduzir o texto que se segue, em frases como mizmor l’David, “Um salmo de Davi”, mizmorl’Asaf, “Um salmo de Asaf”, e assim por diante. Por que T’hilim não foi chamado de Mizmorim? Também não está exatamente claro quando os diferentes livros da Bíblia e porções do Pentateuco receberam seus nomes hebraicos. Presumivelmente, isso ocorreu no início da Era Comum, se não muito antes disso, mas, em alguns casos, um nome final não foi adotado até mais tarde. No tratado talmúdico de Bava Batra, por exemplo, discute-se a autoria de vários livros da Bíblia em que o livro conhecido por nós em hebraico como Eychá ou “Como”, depois de suas palavras iniciais “Como é que a cidade se situa solitária”, é chamado Kinot, Lamentações, assim como é na Septuaginta grega, a Vulgata Latina, e a Bíblia inglesa do Rei James. Na mesma discussão talmúdica, a sétima leitura da Torá em Bamidbar, que conta a história do rei moabita Balak e o vidente Balaam, é chamada Balaam, e não, como é hoje, Balak. Podemos continuar dizendo Bamidbar com bons motivos. Certamente, um “erro” que se foi bom o bastante para as gerações de judeus antes de nós deve ser bom o suficiente para nós.



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magazine > viagem | Texto e fotos e Flávio Bitelman

Um tesouro aqui ao lado,

no Peru

A TRILHA DE SALKANTAY NOS LEVA DE CUZCO ATÉ MACHU

PICCHU CRUZANDO POR LUGARES MÁGICOS E A HOSPEDAGEM É NOS DELICIOSOS CHALÉS DA

MOUNTAIN LODGES DO PERU


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NOSSOS VIZINHOS, OS PERUANOS, AINDA GUARDAM OS SEGREDOS DE UMA DAS MAIS FASCINANTES

CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS. OS INCAS FORAM EXÍMIOS ARQUITETOS, HABILIDOSOS AGRÔNOMOS E REVELARAM-SE OBSERVADORES AGUDOS DOS FENÔMENOS DA NATUREZA

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s pessoas precisam conhecer uma experiência importante aqui perto, no Peru, que promove o turismo ao mesmo tempo em que revela rituais e o modo de vida inca, preserva o patrimônio material arqueológico da Cordilheira dos Andes, entre Cuzco e Machu Picchu, e em Salkantay, um dos picos mais altos do Peru, e imaterial, pois os habitantes da região ainda falam o quíchua, língua nativa, a terra é cultivada de modo orgânico, os tecidos confeccionados à mão e os corantes extraídos da coleta de sementes e plantas. Feitas as contas, os povos da região se transformaram nos guardiões da riqueza cultural inca e da sua natureza, valiosos tesouros para a história da humanidade e para a conservação do ambiente. A experiência mencionada no início do parágrafo acima é uma espécie de parceria entre as comunidades locais e a empresa Mountain Lodges of Peru que, como o nome diz, trata-se de chalés nas montanhas do Peru. A Mountain Lodges escolheu se estabelecer nas regiões menos exploradas pelos colonizadores espanhóis nos períodos da conquista, nos séculos 16 e 17 e, por isso, escaparam à devastação executada pelas tropas espanholas. Ao fazer dos pequenos proprietários seus sócios na empreitada de atrair turistas para se hospedar nos chalés, em áreas adquiridas a alguns destes proprietários, fazer caminhadas pelas montanhas e manter contato com a cultura local, o esforço conjunto dá um passo importante na preservação e sustentabilidade de todo este tesouro. Desde que começou a funcionar, há alguns anos, essa experiência se mostrou rica pois quem visita a região encanta-se ao descobrir outro modo de vida; e quem já mora lá entende cada vez mais o significado de manter as tradições que atravessam séculos e percebe o quanto os rituais, costumes e artesanato são valorizados por quem vem de fora. Resultado: respeito mútuo. >> www.sulhotels.com.br


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magazine > viagem



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leituras magazine

por Bernardo Lerer

Céu Subterrâneo Paulo Rosenbaum | Perspectiva | 249 pp. | R$ 49,00

Adam Mondale, psicólogo, professor de psicologia da USP, é o alter ego do autor que vai para Israel como se quisesse perscrutar o passado e para isso, depois de passar pelas vicissitudes próprias de quem chega ao país pela primeira vez, decide juntar o alto e o baixo e verticalizar o abaixo da superfície visível do chão. E para tanto se vale de uma gruta toda especial para as religiões: Maarat Hamachpelá, em Hebron, que o patriarca Abraão teria comprado a Efrom, o hitita, para enterrar Sara e, depois, Isaac, Rebeca, Jacob e Lia. No período bizantino construiu-se uma igreja e na conquista árabe, uma mesquita. É muito interessante e lê-se de uma sentada só.

A Coroa, a Cruz e a Espada Eduardo Bueno | Estação Brasil | 284 pp. | R$ 25,00

Quarto volume da Coleção Brasilis e com o subtítulo “Lei, Ordem e Corrupção no Brasil”, faz parte do esforço do autor em transformar a história do Brasil em algo leve, divertida e crítica de ser contada. De fato, por exemplo, ele conta que Salvador, construída em regime de empreitada, isto é, por empreiteiras, para ser a primeira capital do Brasil, ficou marcada por licitações fraudulentas e obras superfaturadas, e quando pronta, havia desordem e ilegalidade. Como se vê é história que vem de longe, e fincou raízes.

História da Alfabetização no Brasil Mariza Vieira da Silva | Editora Unicamp | 431 pp. | R$ 70,00

Se se colocar de lado considerações acadêmicas difíceis para um leigo entender, o leitor terá diante de si a história de por que a educação andou devagar e, às vezes, para trás, desde os primórdios da história do Brasil. O livro mostra o profundo desprezo que os responsáveis pela educação no país dedicaram à própria língua que sempre se manteve uma e única conferindo unidade nacional a esse gigantesco território.

Alegoria em Jogo Joaquim C. M. Gama | Editora Perspectiva |155 pp. | R$ 51,00

Desde as suas origens a relação do teatro com a educação é parte intrínseca dessa arte desde as origens, mas seu emprego de forma mais estruturada e objetivamente encaminhada para fins pedagógicos surge de modo mais nítido somente na época moderna. O autor indica que as ramificações se prendem não só à palavra escrita da dramaturgia como à palavra falada do espetáculo com objetivos declarados de militância social, política e ética, principalmente no teatro de Bertold Brecht.

Poder e Manipulação Jacob Petry | Faro Editorial | 172 pp. | R$ 39,90

Este filósofo gaúcho sugere que se pode tentar entender o mundo em vinte lições extraídas de O Príncipe, de Maquiavel. O autor apresenta vinte temas principais do livro e tenta analisá-los com o leitor principalmente porque sempre esteve envolvido em polêmicas a tal ponto que, na língua portuguesa, tornou-se ao mesmo tempo adjetivo e advérbio. Assim, o autor acha que o leitor pode se precaver contra aqueles que, exatamente, se valem de atitudes maquiavélicas – olha aí a palavra, outra vez.


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Por que o Café Esfria tão Rápido? Oscar E. Fernandez | Blucher | 200 pp. | R$ 29,00

O livro tem o subtítulo de “E Outras Aplicações do Cálculo no seu Dia” e revela como a matemática participa e influencia o dia-a-dia, durante 24 horas, das pessoas sem que estas se apercebam disso. O autor, um professor de matemática, mostra como essa ciência e, nela, o cálculo, pode ser usado para explorar praticamente qualquer aspecto da vida, como a quantidade de horas para dormir e o caminho mais rápido para chegar ao trabalho. É muito curioso e interessante.

Com Tinta Vermelha Mireille Abramovici | Editora Perspectiva | 205 pp. | R$ 39,90

A autora é uma das mais conceituadas montadoras do cinema francês, várias vezes premiada e que se aventurou na direção do filme Dor de Tine que, em romeno, significa “saudade de Ti”. Ti era o pai de Mireille, que viveu em Paris de 1930 a 1944 até que foi transportado para Auschwitz e, mesmo assim, manteve intensa correspondência com a mulher. A partir dessas cartas e inspirada nelas, Mireille primeiro fez o filme e, depois, retrabalhou o roteiro transformando-o em um livro, isto é, a palavra escrita com a tinta vermelha da dor.

A História não Contada dos Estados Unidos Oliver Stone e Peter Kuznick | Faro Editorial | 356 pp. | R$ 49,90

O subtítulo “Finalmente um Livro com Coragem para Desafiar a Versão Oficial da História Norte-Americana” é um comentário do apresentador de um programa da HBO. O livro recebeu elogios à esquerda e à direita e trata-se de uma história instigante, reveladora e intelectualmente provocativa dos últimos anos, ao mesmo tempo em que remove camadas de mitos enganosos. A obra cobre mais de cem anos de história mundial nos quais os EUA estiveram envolvidos.

Os Melhores Textos de Richard Feynman Blucher | 230 pp. | R$ 35,00

Feynman (1918-1988) foi prodígio desde a infância, embora até os 3 anos não conseguisse emitir uma palavra. Mas foi laureado com o prêmio Einstein e Nobel de Física pelos trabalhos em eletrodinâmica quântica e superfluídos. Nascido judeu, se considerava ateu e agnóstico. Deu aulas, fez conferências, tocava bongô, dizem até que arrombou cofres, era adorado pelos alunos, um dos quais reuniu o que pôde para produzir a síntese do pensamento dele. Feynman esteve no Brasil durante alguns meses, em 1948, tempo suficiente para se apaixonar por Clotilde a quem levou para os Estados Unidos.

De que São Feitas as Coisas Mark Miodownik | Blucher | 307 pp. | R$ 35,00

Este livro recebeu vários prêmios por sua contribuição à popularização da ciência porque, além de contar de que são feitas as coisas, explica as maravilhas ocultas e as propriedades surpreendentes dos materiais que achamos chatos, banais e desinteressantes, respondendo a perguntas como, por exemplo, de que é feito o concreto, por que o grafite e o diamante são tão diferentes embora feitos do mesmo carbono, por que o chocolate fica com manchas brancas na superfície depois de aquecido e resfriado?

Marie Kondo – Isso me Traz Alegria Sextante | 270 pp. | R$ 34,90

Autora de A Mágica da Arrumação, que ensina as pessoas a arrumarem suas coisas, pode se considerar mesmo uma pessoa feliz: seu segundo livro vendeu mais de cinco milhões de exemplares e foi o primeiro na lista do The New York Times, só porque conseguiu passar seu método sensível de organização. Agora, apresenta um guia ilustrado que ensina o passo-a-passo de como arrumar do modo mais eficiente possível cada cômodo da casa, cada tipo de roupa, documento ou utensílio, armários, alimentos, maquiagens, cd’s, fotos e até a envolver as crianças no processo.


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músicas magazine

por Bernardo Lerer

Stella di Napoli Joyce DiDonato | Erato | R$ 29,90

Ela nasceu Joyce Flaherty, mas preferiu mudar o sobrenome para melhor vingar no disputado cenário operístico com sua voz de mezzo soprano coloratura que se nota perfeitamente nas dez faixas em que interpreta alguns compositores pouco conhecidos como Giovani Pacini e Michele Carafa, ambos italianos do século 19, além de Vincenzo Bellini, Savério Mercadante, Gaetano Donizetti e Gioachino Rossini, entre outros.

Mozart “Ascanio in Alba” e “Zaide” | Brilliant | R$ 133,00

As produtoras de cd’s costumam escolher um compositor e lançam toda a produção dele e, dependendo de quem seja, pode virar um grande pacote com muitos álbuns e dezenas de cd’s. Isto, claro, custa caro, encalha e as lojas preferem desfazer o pacote e vender os álbuns avulsos, como este, de duas óperas: Ascanio in Alba (KV 111), em italiano, e Zaide (KV 344), e cantada em alemão.

Sing me Home Silk Road Ensemble | Yo-Yo Ma | Brilliant | R$ 133,00

O Silk Road Ensemble integra o coletivo musical constituído de artistas da Eurásia que utilizam instrumentos típicos, como o morin khuur, da Mongólia, violino que tem o formato de uma cabeça de cavalo e duas cordas: uma com 130 fios de cauda de um garanhão e outra de 105 fios, de cauda de égua. O cellista Yo-Yo Ma contribuiu para lhes dar mais notoriedade.

Vivaldi – Pietá Philippe Jaroussky | Warner Classics | R$ 50,90

Pela nomenclatura atual, Philippe é contra tenor, mas antigamente ele seria chamado de castrato, aqueles jovens cantores promissores a quem se castravam para afinar a voz. Aqui ele interpreta “peças sagradas” escritas por Antonio Vivaldi (1678-1741) para alto, isto é, castrato, e que Jaroussky interpreta maravilhosamente bem. São trinta faixas em sete composições, ou fragmentos delas, que vale a pena ouvir, e ouvir, pela imensa beleza.

The Many Faces of Elvis Music Brokers | R$ 59,90

Mais Elvis que parece inesgotável para os produtores das gravadoras que inventam títulos para os álbuns e subtítulos para se tornarem temas das músicas. É o caso deste, com três cd’s, cada um com quatorze faixas e músicas que constam do cd acima, mas interpretadas assim, traduzido livremente do inglês: um pequeno círculo de amigos Os Originais (rock n’roll) e Músicas Originais e Versões (Las Vegas).

Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena



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magazine > ensaio | por Walter Laqueur

ESTAÇÃO DE TREM DE BIROBIDJAN COM INSCRIÇÃO EM CIRÍLICO E ÍDICHE

Ano que vem em Birobidjan ATUALMENTE, ESTIMA-SE QUE APENAS ENTRE TRÊS MIL E CINCO MIL JUDEUS VIVAM EM BIROBIDJAN, EXTREMO ORIENTE, O FRACASSADO PROJETO BOLCHEVIQUE PARA RESOLVER A “QUESTÃO JUDAICA” NA DÉCADA DE 1930

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m 1928, o Partido Comunista da União Soviética decidiu criar uma “região autônoma judia” ao longo das margens do rio Amur, no extremo oriente do território soviético, perto da fronteira com a China. O objetivo por trás disso era resolver a versão soviética da “questão judaica” ou, pelo menos, contribuir para uma solução desse tipo, ao dar aos judeus o mesmo tratamento das outras minorias étnicas ou nacionais na Rússia que receberam regiões autônomas próprias na colcha de retalhos das “repúblicas” soviéticas. Assim, milhares de colonos chegaram das províncias mais pobres da URSS e a eles se juntaram centenas de idealistas estrangeiros, incluindo dos Estados Unidos. A maioria deles falava ídiche e, na verdade, o ídiche – e o russo – era a língua que regia todos os assuntos locais. A base econômica imaginada era em parte industrial, como a fabricação de

equipamentos agropecuários. No entanto, poucos anos depois, em meados dos anos 1930, as perspectivas imaginadas para Birobidjan não eram mais as mesmas, e uma nuvem negra se abateu sobre essa experiência bolchevique de realocação por atacado. Houve melhoras temporárias, logo após a Segunda Guerra, com o influxo de novos colonos, mas no início dos anos 1950, nova crise. Atualmente, estima-se que apenas entre três mil e cinco mil judeus vivem na região, de uma população total de, talvez, cem mil pessoas. A capital regional, também Birobidjan, é uma cidade de tamanho médio cercada por terras de propriedade de chineses. A solitária sinagoga, mantida pelo Chabad, é dirigida por um jovem rabino que não fala ídiche, só hebraico. Nos últimos anos, jornalistas estrangeiros visitaram a região. Segundo um repórter do The New York Times, Birobidjan, apesar de mal conservada e suja, ainda mantém um certo atrativo. A região também ressurge, de tempos em tempos, no noticiário porque lá ocorre a maioria dos crimes relacionados com a droga na Rússia, o que não surpreende porque fica na principal via de contrabando de drogas do Extremo Oriente para a Europa, atividade na qual, felizmente, os judeus não parecem estar envolvidos. Em recente conferência internacional de negócios em São Petersburgo, o governador de Birobidjan, Alexander Livental, informou que havia empresários interessados em investir na região, mas 80% da terra cultivável já tinha sido comprada pelos chineses, e o resto estava imprestável. Estes fatos e outros são contados no recém-lançado livro Where the Jews Aren’t (Onde os Judeus Não Estão), de Masha Gessen, que nasceu em Moscou, e imigrou para os Estados Unidos ainda adolescente com a família, em 1981. A contracapa do livro promete ser “o primeiro relato completo da ascensão e queda de Birobidjan”. Mas não é bem assim, e Birobidjan está apenas de passagem pois ela está muito mais preocupada com os fatos mais importantes da


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assassina campanha antijudaica de Stalin no final dos anos 1940, início dos anos 1950. E faz da vida e destino do proeminente escritor soviético-ídiche David Bergelson, que, em 1930, visitara e escreveu a respeito de Birobidjan, o fio condutor do seu relato. Ele e outros conhecidos escritores judeus soviéticos, como os poetas Peretz Markish e Itzik Feffer, foi assassinado por ordem de Stalin, em agosto de 1952. Masha Gessen foi a Birobidjan em 2009 pesquisar os arquivos estatais da região à procura de material original a respeito do que realmente lhe interessava: a campanha antijudaica na Rússia lá pelo fim da vida de Stalin, em que David Bergelson figurou como um dos principais réus e vítimas. A campanha foi bem descrita e analisada antes, incluindo por Joshua Rubenstein e Vladimir P. Naumov em Stalin’s Secret Pogrom/O Pogrom Secreto de Stalin, de (2001), mas Gessen apresenta algum material novo ou pouco conhecido e trata a história em estilo vívido e pungente. Entre as novas informações coletadas destaca-se a campanha na qual os principais membros do Comitê Judaico Antifascista (JAC, na sigla em inglês) importante grupo criado em 1942 para conquistar o apoio do Ocidente para o regime soviético após a invasão nazista, em junho 1941. O grupo, que tinha Bergelson, Markish e Feffer entre os membros, teve êxito nos Estados Unidos, onde levantou altas somas para o esforço de guerra soviético. Depois da guerra, no entanto, o JAC ficou sob suspeita pelas iniciativas em favor dos sobreviventes judeus soviéticos e os constantes pedidos de fundos humanitários aos EUA, agora inimigo oficial do regime. Assim, em setembro de 1948, o JAC foi acusado de ter estimulado a arrebatadora (e supostamente desleal) recepção judaica a Golda Meir, ao desembarcar em Moscou como a primeira embaixadora do novo Estado de Israel. Na verdade, diz-se que essa demonstração de sentimento “nacionalista” foi a faísca que incendiou a campanha antijudaica. Mas a cronologia não se encaixa. A campanha começou em janeiro de 1948, meses antes da criação de Israel, com o assassinato, nas cercanias de Minsk, na atual Belarus, de Shloyme Mikhoels, famoso ator e diretor de teatro e um dos membros fundadores do JAC. Embora a morte de Mikhoels tenha sido certamente ordenada por Stalin, a maneira como foi “liquidado” foi estranha até mesmo para os padrões soviéticos, pois o procedimento normal era prender e torturar a vítima, levá-la a julgamento, acusá-la de todos os tipos de crimes bizarros e, se possível, extrair uma “confissão” na (vã) esperança de ser poupada. Mikhoels não foi preso nem acusado de qualquer crime, mas baleado à moda dos gângsteres e seu corpo abandonado em uma estrada para sugerir ter sido morto em acidente de trânsito. E o enterro, em Moscou, foi como qualquer outro. Mikhoels também não foi acusado de ser um agente de Israel, com quem, então, a União Soviética mantinha relações diplomáticas. Nem Israel nem o sionismo apareciam, explicitamente, entre as acusações contra outros acusados de destaque, detidos em 1949, torturados e, finalmente, levados a

julgamento em maio de 1952, onde a maioria “confessou” os crimes de espionagem, traição e “nacionalismo burguês”. Dos quinze acusados ligados ao JAC, um foi enviado para o exílio e um morreu durante o julgamento. Os restantes treze, David Bergelson inclusive, foram executados em 12 de agosto, data lembrada como “A Noite dos Poetas Assassinados”. Em 1928, quando se decidiu criar Birobidjan para ajudar a resolver a questão judaica, viviam na União Soviética cerca de cinco milhões de judeus. Acredita-se que hoje sejam quinhentos mil aproximadamente. Essas estimativas têm por base, em grande parte, a nacionalidade indicada nas carteiras de identidade soviéticas ou russas e em declarações feitas pelos indivíduos em um censo. De todo modo, definições e estimativas variam. Mas se variam as estimativas, persistem os problemas de nacionalidade. Em 1928, ninguém poderia prever que, um dia, perto de dois milhões de muçulmanos, mais outras pessoas do Cáucaso – principalmente trabalhadores migrantes, muitos também muçulmanos – estariam vivendo na capital russa. Um problema que, certamente, não será resolvido por meio da criação de uma região autônoma. Birobidjan em Breslau Walter Laqueur conta que seu primeiro contato com Birobidjan remonta há muito tempo, quase na infância, em 1937, em Wroclaw, na Polônia ocidental, e que anexada pela Alemanha nazista, passou a se chamar Breslau. A geração mais jovem de judeus, sem pertencer a qualquer partido, foi politizada muito cedo, até porque estava claro que o futuro não estava no país onde nasceu. Mas para onde ir? Foi quando Laqueur e seus companheiros ouviram falar do plano de Stalin para resolver a “questão judaica” por meio do reassentamento dos judeus soviéticos em Birobidjan. Na época, mencionou-se um livro escrito por Otto Heller, um comunista austríaco, publicado pouco antes da ocupação nazista. Mas >>

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Birobidjan, apesar de mal conservada e suja, ainda mantém um certo atrativo. A região também ressurge, de tempos em tempos, no noticiário porque lá ocorre a maioria dos crimes relacionados com a droga na Rússia, o que não surpreende porque fica na principal via de contrabando de drogas do Extremo Oriente para a Europa


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magazine > ensaio >> conseguir uma cópia da obra, mesmo por meios clandestinos, era impossível. A censura nazista tirou de circulação todas as obras de autores judeus ou suspeitos por outros motivos. Uma ideia iluminou o grupo. O título do livro de Heller era Der Untergang des Judentums. A palavra alemã Untergang tem muito mais significados do que de declínio e é também sinônimo de queda ou o colapso. Por isso, um livro com um título tão atraente como “A Queda do Judaísmo” poderia, talvez, ter escapado à censura nazista. Apesar do ceticismo dos amigos, Laqueur teve sorte e pegou o livro na biblioteca municipal, onde se deu grande parte da sua iniciação política. Ao pesquisar a história judaica, Heller se convenceu de que os judeus tinham sido sempre comerciantes, mesmo quando nômades. Mas, naquela época, na União Soviética, graças ao socialismo, o comércio tornara-se redundante e, com ele, o próprio judaísmo. Liberados das amarras de sua odiosa religião, os judeus como um povo iriam perceber sua verdadeira vocação na região autônoma judaica criada para eles em Birobidjan. A última frase do livro citava a linha final do Seder da Páscoa: l’shaná habá biyrushalayim, “ano que vem em Jerusalém”. E Heller corrigiu para l’shaná habá biyrushalayim, “ano que em Birobidjan”. Era um slogan fantástico – e, de fato, o livro de Heller, mais do que qualquer outro, serviu para tornar Birobidjan popular fora da Rússia. Mas, no final dos anos 1930, a realidade mudara e o sonho de Heller fracassara. Uma das razões pode ter a relação com a língua, pelo menos indiretamente. A ênfase sobre os judeus como um povo ou etnia obviamente levou à escolha do ídiche como a língua unificadora dos judeus de Birobidjan, no entanto uma língua ostensivamente distante tanto da religião judaica, de um lado, como do sionismo político, do outro. Para ambos a chave linguística da identidade judaica era o hebraico. A escolha do ídiche – ou realmente da ideologia substituta do “idichismo” como liga – o esperado denominador comum, que iria justificar o experimento de Birobidjan como engenharia social foi encapsulada na imagem do venerado autor cujo nome se encontrava em todos os lugares, desde a rua principal da capital, Sholem Aleichem Gass, à filial local da Universidade de Amur, a inúmeras outras instituições, organizações e outras localidades da região. Todavia, o idichismo era um conceito muito vago para servir a esse objetivo e, além disso, quase ridiculamente falsas para o homenageado, pois o próprio Sholem Aleichem estava profunda e emocionalmente ligado à tradição religiosa judaica. E, além de tudo, era sionista. Quanto aos judeus não soviéticos que poderiam ser atraídos à nova terra prometida, além de voluntários dos Estados Unidos e de outros lugares, cerca de cem médicos judeus alemães cujos serviços eram necessários, receberam vistos de entrada para a então fechada União Soviética, e alguns comunistas alemães procuraram refúgio em Moscou. Mas, para o grupo do

então jovem Walter Laqueur em um momento em que deixar a Alemanha se tornava uma questão de vida ou morte, Birobidjan não oferecia nenhuma solução para o dilema deles. Tempos depois ele ficou sabendo que Heller era colaborador dos mesmos jornais de Berlim que Arthur Koestler, um colega comunista judeu, seu adversário ideológico e que logo se tornaria opositor feroz do comunismo. Uma longa visita ao Extremo Oriente soviético, em meados dos anos 1930, fez de Heller um grande conhecedor da região, a respeito da qual escreveu vários livros, além de Untergang des Judentums e Sibéria: uma Nova América. Em 1936, teve a sorte de ser enviado de Moscou para a Europa Ocidental para trabalhar em publicações da Internacional Comunista, e escapou dos expurgos estalinistas da época. Na Segunda Guerra Mundial, o partido confiou a Heller uma missão secreta perigosa: se passar por intérprete para o exército alemão de ocupação na França, mas foi descoberto, preso pela Gestapo e enviado para Auschwitz. Ele teve sorte outra vez, ou pelo menos foi esta a narrativa comunista do pós-guerra. Segundo esse relato, o “chefe” (Ältester), um prisioneiro nomeado pela SS para gerenciar a organização do campo, passou a ser um comunista (não judeu) que poderia ajudar a proteger outros membros do partido. Assim blindado, Heller sobreviveu e se juntou a um grupo de presos que, por meio de um transmissor clandestino de ondas curtas, conseguiu passar para o mundo exterior a informação do assassinato em massa que ocorria no campo, o que teria resultado na decisão de Heinrich Himmler de suspender o uso do gás. Claro, sabemos, nada disso aconteceu. Com o avanço do Exército Vermelho, o campo de Auschwitz foi evacuado e Heller e alguns outros presos sobreviventes foram transferidos para Mauthausen, na Áustria. Ali, onde não havia nenhum chefe comunista para proteger os companheiros, ele morreu, provavelmente de fome, dois meses antes do fim da guerra.

A ênfase sobre os judeus como um povo ou etnia obviamente levou à escolha do ídiche como a língua unificadora dos judeus de Birobidjan, no entanto uma língua ostensivamente distante tanto da religião judaica, de um lado, como do sionismo político, do outro



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magazine > curta cultura | por Bernardo Lerer

Quanto judeu ele era? Uma nova biografia de Benjamim Disraeli, o proeminente estadista e romancista da era vitoriana, com o título Disraeli: The Novel Politician (“Disraeli: O Político Moderno”) escrita por David Cesarani (1956-2015) pouco antes de morrer, desafia o senso comum de que ele teria desempenhado um papel quase heroico na história judaica. Ao contrário, Cesarani traça um quadro de Disraeli que beira a um político oportunista, infundido por um desprezo pelo judaísmo tradicional e cujos textos traçaram os rascunhos da teoria da conspiração judaica do mundo e deram contribuição fundamental para a moderna literatura antissemita. Aliás, é sabido que Disraeli fora batizado pelo pai na Igreja Anglicana quando tinha 12 anos. No entanto, ele nunca negou sua ancestralidade judaica e, ao contrário, manipulou habilmente o mito de uma origem aristocrática judaica que podia explorar pragmaticamente de acordo com as conveniências, ou simplesmente ignorá-la, se necessário. Cesarani tinha 58 anos quando morreu de câncer e foi considerado o mais importante historiador britânico dos eventos da vida judaica de sua geração. Até mais recentemente Disraeli foi incensado como um político extraordinário que foi membro da Casa dos Comuns em 1837 e de 1850 a 1868 serviu como chanceler, depois líder da Casa dos Comuns e finalmente primeiro-ministro. Retornou em 1874 com destacada atuação internacional que o tornou muito popular pela notável expansão do império britânico por todo o mundo. A ele se credita também a reunificação do Partido Conservador que fez da agremiação uma expressiva força política. Ele foi a força motriz por trás da legislação que deu melhores condições sociais às populações mais vulneráveis da Grã-Bretanha incluindo novas leis para saúde pública, a proibição a exploração de trabalhadores e a universalização da educação pública. A unanimidade acadêmica, com exceção de alguns antissemitas, o tinha na conta de um estadista formidável, embora exótico, mas isso mudou e um de seus biógrafos, Robert Blake, concorda em que a carreira dele foi, de fato, excepcional, “mas não precisa exagerar”.

Stalin mandou matar Wallenberg Alguns diplomatas – brasileiro, português e japonês – atuaram decisivamente em favor dos judeus durante a Segunda Guerra concedendo-lhes vistos ou passaportes para imigrarem. Todos, menos um, sobreviveram à guerra: o sueco Raoul Wallenberg que salvou milhares de judeus húngaros na operação comandada por Adolf Eichmann para exterminar a comunidade judaica da Hungria, despachando centenas de milhares de judeus para Auschwitz em poucos meses de 1944, quando a Alemanha já estava perdendo a guerra. Wallenberg desapareceu misteriosamente em janeiro de 1945 durante o cerco de Budapeste pelo Exército Vermelho. Ele fora convocado ao quartel-general da Smersh em Debrecen, a organização guarda-chuva sob a qual se abrigavam três agências de contraespionagem soviéticas, para ser interrogado, acusado de espionagem para os Estados Unidos. Raoul simplesmente sumiu, e a partir daí surgiram especulações de que teria sido eliminado por agentes soviéticos, sem que se soubesse por que e a mando de quem. Agora, com a descoberta do diário de Ivan A. Serov, o primeiro chefe da KGB, publicado em junho último, veio a informação de que a ordem para eliminá-lo veio diretamente de Stalin, em 1947. Wallenberg era um jovem arquiteto quando se ofereceu como voluntário, em 1944, para ajudar no resgate de milhares de judeus na Hungria ameaçados de engrossar as estatísticas do Holocausto. Em 1957, a então União Soviética informou que ele morrera de ataque cardíaco em janeiro de 1947, em Lubyanka, a tristemente famosa prisão da KGB. Serov soube da ordem de Stalin para matar Raoul por Viktor Abakumov, também executado, em 1954. O diário de Serov foi encontrado há quatro anos na garagem de sua casa de campo (dacha) a noroeste de Moscou por um de seus netos que herdou a propriedade e submeteu o documento a especialistas que confirmaram a autenticidade. Raoul recebeu toda sorte de homenagens, foi incluído como Justo entre as Nações pelo Yad Vashem e em 1981 recebeu postumamente o título de cidadão honorário de vários países e dos Estados Unidos por proposta do congressista norte-americano Tom Lantos, judeu, húngaro e um dos que Wallenberg salvou.


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Refugiadas à mesa

Os diários de Himmler

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur) está ocorrendo um “êxodo mundial sem paralelo nos tempos modernos”, centenas de milhares de pessoas deslocadas dos lares em razão de guerras, perseguições políticas, religiosas e raciais como não se via desde 1950, ainda em consequência da Segunda Guerra. E a Síria, com um conflito interno que não dá mostras de acabar, é a maior fornecedora de gente e, de acordo com a ONU, cerca de seis milhões de sírios deixaram o país em cinco anos, de 2011 até agora. Para a jornalista e documentarista Luize Valente, isso mostra que a história pode se repetir e, para pior, com uma tragédia renovada, “numa tênue linha que separa o passado recente no qual os judeus foram obrigados a se movimentar e lutar por sua sobrevivência e os refugiados de atualmente, que fazem o mesmo”. Levando isso em conta, Luize construiu as personalidades de três mulheres fortes – duas sírias, uma imigrante e uma refugiada – e uma sobrevivente de Auschwitz, que saem em busca do futuro, levam como bagagem suas raízes indestrutíveis e protagonizam O Mundo Indecifrável, uma peça de teatro, que entra em cartaz no segundo semestre, dirigida pelo premiado Gilberto Gawronski e estrelada por Suely Franco, Zulma Mercante e Carolina Floare, atriz portuguesa que vem se destacando no Brasil. Com O Mundo Indecifrável essa premiada documentarista, autora de A Estrela Oculta do Sertão e Israel, Rotas e Raízes, quer “atingir a sociedade como um todo, porque o cerne da peça é a humanidade e sua perversa tendência à desumanidade – a condição humana em seus limites – e, desta forma, contribuir para uma verdadeira reflexão histórica, social e filosófica”. Há poucos meses lançou o livro Uma Praça em Antuérpia e no segundo semestre estará à venda o romance histórico Sonata em Auschwitz.

O diário de mais de mil páginas do líder nazista Heinrich Himmler, compreendendo os anos de 1938, da Kristalllnacht, e 1943 e 1944, os mais críticos da guerra e do assassinato industrial de judeus, foi descoberto num arquivo militar russo, onde estavam escondidos há mais de setenta anos, desde quando foram confiscados pelo Exército Vermelho, no final da guerra. O Instituto Histórico Alemão de Moscou considerou os diários um “documento de raro valor histórico”, escrito pelos assistentes de Himmler, uma das figuras mais importantes do nazismo, chefe da Gestapo e ministro do Interior. Foi capturado pelos britânicos, mas se suicidou para não ser julgado. Apesar do alegado “valor histórico”, a papelada, em bom estado de conservação, não revela nada de excepcional além do que já se sabe do regime hitlerista e serve para mostrar a agenda, os compromissos, o comportamento e o dia-a-dia desse muito ocupado funcionário qualificado. Conta como se vestia para os encontros e reuniões, as viagens e o que comia durante o período em que planejou e executou o extermínio em massa dos judeus da Europa. Assim, relata visita ao campo de Buchenwald, na Alemanha, em cujo salão dos oficiais comeu um sanduíche. Em outra ocasião, assistiu por um visor à agonia e morte na câmara de gás do campo de Sobibor, na Polônia, de quatrocentas mulheres e crianças e depois saboreou lauto banquete com membros da SS. O diário revela que Himmler era devotado à mulher, filha e à secretária, sua amante, amigos e subordinados, e conta que depois de um passeio com a família e sessão de massagem com o fisioterapeuta pessoal, decidiu ele mesmo matar dez pessoas e foi visitar um campo despedindo-se da família: “Estou a caminho de Auschwitz, beijos, seu Heini”. Ele foi constatar se, de fato, compraram “aqueles cães capazes de transformar suas vítimas em frangalhos”.




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138 HEBRAICA

| SET | 2016

conselho deliberativo

A virada do calendário judaico Eis que nos aproximamos de mais um período de reflexão com a chegada de um novo ano do calendário judaico. O que estamos encerrando foi marcado por muito trabalho, especialmente para o Conselho Deliberativo, que se debruçou sobre a necessária reforma estatutária, além de acompanhar as tratativas para a fusão entre a Escola Alef e o Colégio I. L. Peretz que implicará transformações na estrutura e na rotina da Hebraica. A tradição judaica nos premia com dez dias, o período entre Rosh Hashaná e Iom Kipur, que recebe o nome hebraico de Iamim Noraim, os Dias Temíveis. Para nós, conselheiros da Hebraica, servirá para pesarmos a grande responsabilidade que assumimos, já que uma parte dos caminhos trilhados pela Hebraica carece da nossa aprovação. Um exemplo é o orçamento para 2017 que será votado na assembleia ordinária de novembro. Trata-se de um trabalho minucioso e equilibrado, que a Diretoria deverá apresentar para discussão na Comissão de Administração e Finanças e que só então irá a plenário. Destaco a importância da manutenção, no clube, dos três serviços religiosos independentes que aproximam as famílias das tradições judaicas. A proximidade das Grandes Festas é também uma época propícia para traçarmos planos para o futuro e com eles beneficiarmos não só os sócios que hoje frequentam o clube, mas as próximas gerações. Eis porque logo no início deste 5777 que se aproxima teremos a ampliação da Escola Maternal e Infantil e em breve, uma nova localização para o Espaço Bebê. Estes dois, somados à Brinquedoteca, são a base para o estabelecimento de novos sócios, que serão alunos do Alef, ou atletas da Escola de Esportes, dançarinos ou atores. O certo é que eles e os pais estarão criando memórias positivas de um convívio alegre e descontraído, as mesmas memórias que pais e avós partilham com os netos. Enfim, que possamos todos aproveitar, em 5777, de uma Hebraica vibrante, repleta de programas e atividades e os sócios, que um dia serão conselheiros, acompanhem a elaboração dos novos estatutos que respondam às necessidades destes, dos filhos e netos. Que estas e outras bênçãos recaiam sobre todos neste próximo ano que se inicia. Shaná Tova Umetuká para todos Mauro Zaitz – Presidente do Conselho Deliberativo

Reuniões Ordinárias do Conselho em 2016 21 DE NOVEMBRO APROVAÇÃO PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA 2017 12 DE DEZEMBRO APRECIAÇÃO RELATÓRIO ANUAL DA DIRETORIA

Mesa do Conselho PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE 1O SECRETÁRIO 20 SECRETÁRIO ASSESSORES

MAURO ZAITZ FÁBIO AJBESZYC SÍLVIA L. S. TABACOW HIDAL AIRTON SISTER VANESSA KOGAN ROSENBAUM ABRAMINO A. SCHINAZI CÉLIA BURD EUGEN ATIAS JAIRO HABER JAVIER SMEJOFF SAPIRO JEFFREY A. VINEYARD

CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL 2016 OUTUBRO ** 2 ** 3 ** 4 ** 11 ** 12 16 * 17 * 18 23

DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA DOMINGO

* 24 * 25

2ª FEIRA 3ª FEIRA

NOVEMBRO 5

SÁBADO

DEZEMBRO 24 31

SÁBADO SÁBADO

VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT VÉSPERA DE HOSHANÁ RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET- IZKOR SIMCHAT TORÁ DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN AO ANOITECER, 1ª VELA DE CHANUKÁ AO ANOITECER, 8ª VELA DE CHANUKÁ

2017 JANEIRO 27

FEVEREIRO 11

MARÇO 9 12 13

ABRIL 10 * 11 * 12 * 17 * 18 24

6ª FEIRA

DIA INTERNACIONAL EM MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO (ONU)

SÁBADO

TU B’SHVAT

5ª FEIRA JEJUM DE ESTER DOMINGO PURIM 2ª FEIRA SHUSHAN PURIM 2ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA 2ª FEIRA 3ª FEIRA 2ª FEIRA

EREV PESSACH- 1º SEDER PESSACH- 2º SEDER PESSACH-2º DIA PESSACH- 7º DIA PESSACH- 8º DIA IZKOR IOM HASHOÁ- DIA DO HOLOCAUSTO

1

2ª FEIRA

2

3ª FEIRA

14 24 30 *31

DOMINGO 4ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA

IOM HAZIKARON - DIA DE LEMBRANÇA DOS CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL IOM HAATZMAUT - DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 69 ANOS LAG BAÔMER IOM IERUSHALAIM VÉSPERA DE SHAVUOT 1º DIA DE SHAVUOT

MAIO

JUNHO *1

5ª FEIRA

2º DIA DE SHAVUOT - IZKOR

3ª FEIRA 2ª FEIRA

JEJUM DE 17 DE TAMUZ INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV

1

3ª FEIRA

7

2ª FEIRA

FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER TU BE AV

JULHO 11 31

AO ANOITECER

AGOSTO

* NÃO HÁ AULA NAS ESCOLAS JUDAICAS ** O CLUBE INTERROMPE SUAS ATIVIDADES,

FUNCIONAM APENAS OS SERVIÇOS RELIGIOSOS


24/SET 21 30

COM DJ SCHIPPER

SALÃO ADOLPHO BLOCH

1º LOTE: R$ 90,00 2º LOTE: R$ 100,00 3º LOTE: R$ 110,00 CONVIDADOS: R$ 150,00

OPEN BAR E PETISCOS INCLUSOS

| INGRESSOS A VENDA NA CENTRAL

SÁBADO, às

H

RUA HUNGRIA, 1000

FAIXA ETÁRIA:

35 A 50 ANOS

DE ATENDIMENTO::

3818-8888



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