Shemot
Shemot 1:1- 6:1 Nesta porção da Torá, o novo faraó não se lembra de Joseph. Temendo o seu fortalecimento na população, Faraó faz dos israelitas seus escravos. Em seguida, o Faraó, lança um édito exigindo que todos os meninos israelitas sejam mortos ao nascer. A mãe de Moisés coloca seu filho em uma cesta no rio e ele é salvo pela filha do Faraó e vai morar no palácio. Um dia já adulto, Moisés mata um egípcio que estava batendo num escravo israelita. Moisés foge para Midiã. Deus aparece diante de Moisés em uma sarça ardente e diz-lhe para libertar os israelitas da escravidão. Moisés retorna para o Egito, onde ele e seu irmão Aaron demandam ao Faraó que liberte os escravos israelitas. Faraó se recusa e Deus promete puni-lo.
Palavras de Andre Chouraqui O aumento da população hebreia, que era um valor para a população hebreia no Egito, apresenta-se como uma ameaça para o Faraó. Um bem vindo de Deus pode causar a perda dos egípcios. O Faraó analisa a situação com uma fria objetividade; o mal que ele anuncia está presente em todas as épocas. Os hebreus, com sua força, tornam a seus olhos perigosos adversários que comprometem a vida da nação. É preciso então acabar com eles o mais rápido possível. Em toda parte, o racismo diz sempre a mesma coisa de suas vítimas. Sabedoria aos olhos dos homens é loucura aos olhos de Deus. A perda de liberdade e a escravização definida pelo Faraó tornarse-á a causa de sua derrota. Aquilo que é um benefício aos olhos dos hebreus ou dos egípcios acaba provocando um mal e Deus ermance como o mestre soberano da historia.“
CJנEWם Ano XV nº 634 5 de Janeiro de 2012 23 de Tevet de 5773 Shabat Shemot Shabat Mevarchim Shevat começa no próximo sabadi
A verdadeira liderança Segundo o Midrash, antes de chegar a Midiã, Moises apoiou Kinkos, o Rei de Kush na reconquista do poder na sua terra. Inicialemente como chefe do exército e depois da morte do rei, ocupando seu posto. Como não compartilhou da religião local nem quis se casar com uma mulher daquele povo, a rainha sugeriu que o poder passasse para o filho de Kinkos, agora já mais maduro, e que o rei provisório fosse deposto. Todos concordaram, inclusive o próprio rei a ser deposto, que isso seria o melhor a ser feito, deixando a liderança do povo a um membro dele, e não a um estrangeiro. Moisés, abdicou do trono e deixou o país com muita honra e dignidade, carregado de presentes e homenagens, dirigindo-se para outra terra. Já em Midian, ao perder um carneiro de seu rebanho, Moisés deparou-se com uma visão surpreendente: um arbusto que queimava, mas não se consumia. Curioso, ele se aproximou, verificando que aquilo, na realidade, era de uma aparição de D’us para ele. D’us o instruiu, para a sua surpresa, a realizar uma missão grandiosa: voltar ao Egito, de onde viera, e libertar de lá todo o seu povo, conduzindo-o da escravidão para a liberdade em uma terra nova, boa e espaçosa. D’us fez a ele sinais milagrosos, assegurando que o acompanharia e protegeria nessa missão, que ele teria sucesso e que o povo acreditaria nele. “Como poderei eu fazer isso, ó D’us?!”, perguntou Moises, alegando sua fragilidade, sua pequenez, sua pouca eloquência, enfim, sua falta de mérito e capacidade para realizar tal tarefa, ao que D’us o tranquilizou. Entretanto, lembrando-se de sua pouca mas traumática experiência enquanto vivia com seu povo no Egito, o pastor levantou um outro argumento: que o povo era difícil de ser governado e que não acreditaria nele, ainda que D’us já tivesse assegurado que acreditaria. Com esse argumento, D’us se enfureceu, inclusive castigando momentaneamente o pastor com lepra, revelando a ele que, quanto a si mesmo, poderia ter dúvidas, mas que duvidar do povo era inaceitável, era como duvidar do próprio D’us. O pastor, então, levantou-se e foi para o Egito. Com a ajuda de D’us, com grandes sinais e milagres, conseguiu libertar seu povo da escravidão. Ele sentiu-se como um do povo, como o porta-voz de D’us para os homens, mas também como a voz do povo que chegava a D’us, não só como um libertador, mas como alguém que também estava sendo libertado.
Em ambas as situações, Moshe exerceu seu talento nato, a liderança. Mas existe uma diferença fundamental entre a forma como liderou os kushim os iehudim. Em Kush, ele foi sem dúvida um bom líder – correto, honesto, trabalhou pelo povo, fez o país prosperar, etc. – mas foi um líder, como define o rabino Jonathan Sacks em seu texto sobre liderança judaica, que é como alguém que sai de uma caverna escura, conhece a claridade, e governa seu povo, que ainda vive nas sombras, de fora, como um iluminado que retorna. A grande virada no caráter da liderança de Moshe, que fez de sua liderança frente ao povo de Israel tão excepcional, ocorreu justamente no episódio da sarça ardente, quando D’us, através da punição momentânea da lepra (a lepra, na Torá, é praticamente um sinônimo do castigo divino pela maledicência), indicou o grande erro que era duvidar e falar mal do povo. Ele mostrou a Moshe que de si mesmo até poderia duvidar, mas que não acreditar no povo era como não acreditar no próprio D’us. Não podia liderar os israelitas como alguém de fora, mas, ao contrário, deveria ser e se sentir como alguém de dentro. Em Kush, Moshe era um líder fantasticamente sábio e eficiente, porém, ao governar de fora, tinha uma falha irreparável: não via, de fato, qual era a realidade do povo, quais eram suas preocupações e verdadeiras necessidades. Podia dar ordens e ser obedecido e respeitado, mas dificilmente seria compreendido e aceito pelos kushim como um deles, como alguém de dentro e que passava pelos mesmos desafios. O povo de Israel, que D’us deu a Moshe Rabenu para liderar, não é um povo que, como os kushim, mas um povo que acredita em seu líder por se ver nele refletido e por vê-lo como sua parte. Os verdadeiros bons líderes, que devem seguir esse exemplo, não são aqueles que orientem seus liderados com arrogância, menosprezo e superioridade, mas sim os que se inserem em sua realidade e acreditam neles e em seus potenciais.
Shabat na sinagoga de A Hebraica Prédica: Boris Karlik Chazan: David Kullock Musicista: Marcello Frenkiel Baalei Koré: Rony e Daniel Grabarz Texto: Mauricio Mindrisz e David Rosenberg Krausz Ilustrações: Rubem Castro