CJ News 23 - 23/03/2013

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Tsav

Vayikrá 6:1 – 8:36

Nesta porção da Torá, Deus continua a descrever as diferentes leis de sacrifícios. Uma distinção é feita entre as ofertas pelo pecado, holocaustos, e ofertas de homenagem, com cada um seguindo seu próprio processo. Deus, então, ordena aos sacerdotes para fazer outras ofertas, ordenando-os em suas respectivas posições no sacerdócio.

Shabat Hagadol Três dias antes da saída do povo judeu do Egito, Deus ordenou que cada judeu amarrasse um cordeiro ao pé de sua cama a fim de imolá-lo e para que ele fosse consumido antes da libertação. Esta ação foi um ato de fé do povo, pois, como o cordeiro era uma divindade egípcia seria previsível que os egípcios reagissem de forma violenta a essa forma de desobediência civil perpetrada por um povo escravo, que pela primeira vez se insurgia formalmente ao sistema de opressão que estava submetido. Milagrosamente essa reação não ocorreu e sim um protesto dos primogênitos contra o faraó que se sentiam sob risco de morte, pelo anuncio da décima praga feito por Moises ao faraó. Por isso o Shabat que antecede Pessach é chamado de Shabat Hagadol, o Shabat do grande milagre.

Shabat na sinagoga de A Hebraica Prédica: Mauricio Mindrisz Chazan: David Kullock Musicista: Marcello Frenkiel Baalei Koré: Rony e Daniel Grabarz

CJ‫נ‬EW‫ם‬ Ano XV nº 646 23 de Março de 2013 12 de Nissan de 5773 Shabat Tsav Shabat Hagadol


A liberdade é simplesmente o oposto da escravidão A festa de Pessach que se aproxima é chamada também de zman chertutenu [“época de nossa liberdade”]. Isso, obviamente, se deve ao fato de que foi na época de Pessach que nossos antepassados saíram da escravidão no Egito. Mas nós podemos nos perguntar se realmente apenas sair da escravidão significa ser livre... e a resposta que a própria história nos dá é que não. A saída do Egito foi apenas uma parte do processo de libertação, que só se completou 49 dias depois, quando recebemos a Torá no Monte Sinai (e mesmo aí a liberdade ainda não era total, pois ainda não tínhamos conquistado a terra que D’us nos prometera, Eretz Israel, à qual estão vinculados o próprio povo e também boa parte dos mandamentos da Torá). A pergunta é: por que a liberdade de Pessach não é completa? E, se ela não é completa, quais são os elementos que ele tem e quais são os elementos que faltam? Basicamente, podemos dizer que em Pessach nosso povo nasceu como tal, ao se liberar das mãos dos egípcios, um povo maior e mais forte do que o nosso e que nos oprimia materialmente. Ao nos libertarmos disso, entretanto, poderíamos ter mantido a mentalidade de escravos, acreditando, por exemplo que, uma vez que já não tínhamos mais um dono que mandava em nós, estávamos livres para fazer tudo aquilo que desejássemos, o que nos tornaria escravos de nós mesmos, de nossos desejos e paixões. As duas primeiras coisas que faremos no seder de Pessach na semana que vem, assim como o assunto principal da parashá desta semana, as leis dos sacrifícios, vêm justamente nos lembrar que a intenção de Pessach não é nada disso. Primeiramente, com o kidush, diferenciamos o dia sagrado [iom tov] frente ao profano [chol] e, logo após isso, com a lavagem ritual das mãos, separamos o puro do impuro. Da mesma maneira, esses conceitos de santidade, pureza e

impureza são uma constante em todas as leis referentes aos sacrifícios que aparecem na parashá de Tzav. Tudo isso vem nos mostrar que a primeira coisa que, em Pessach, logo depois de sair da escravidão, a primeira coisa que devemos fazer como homens livres é algo nada lógico: devemos ter regras e leis claras, devemos ter limites, precisamos ter a noção de que existe certo e errado, do que é sagrado e do que é profano, do que é puro e do que é impuro. O que pareceria mais óbvio a ser feito por um escrevo recém-liberto, isto é, a abolição total das regras e a relativização total de qualquer limite é, segundo a Hagadá, a primeira coisa da qual devemos nos livrar se quisermos ser verdadeiramente livres. A verdadeira liberdade não é a substituição da tirania do Faraó pela tirania do coração e da vontade de cada um, mas sim a sujeição dos comportamentos individuais e coletivos única e exclusivamente à autoridade divina. E é por conta disso que a entrega da Torá completou o processo da nossa libertação; e a sua aplicação em nossas vidas – o cumprimento das mitzvót – é, ao contrário do que pode parecer, nosso grande instrumento de liberdade. É através da aceitação e do cumprimento da vontade divina, expressa na Torá, que, cada vez mais, seremos capazes de nos livrar das opressões humanas (dos outros e própria de cada um). É somente dessa maneira que o mundo pode realmente mudar e que é possível que ele se conduza por objetivos mais elevados e significativos, dignos de verdadeiros homens livres. Que esse Pessach nos dê coragem para buscarmos e alcançarmos nossa verdadeira liberdade! Shabat Shalom e chag sameach

David Rosenberg Krausz

Cultura Judaica News Texto: Mauricio Mindrisz e David Rosenberg Krausz Ilustrações: Rubem Castro Cultura Judaica News (CJ‫נ‬EW‫ (ם‬é de responsabilidade do Depto. de Cultura Judaica de A Hebraica


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