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Vayigash Bereshit 44:18 – 47:27 Nesta parashá, José prende Benjamin e diz a seus irmãos para voltar a seu pai. Judá pede a José para prendê-lo em seu lugar. Não suportando mais sua trama, José revela sua identidade. Os irmãos retornam para Canaã e contam a Jacó, dizendo-lhe que José está vivo. José fala ao Faraó e pergunta se sua família poderia viver em Goshen por causa da fome em Canaã. Todo o Egito vem a José para pedir ajuda por causa da fome. Palavras de André Chouraqui Ao se identificar aos irmãos, Iosseph, diz: “Eu, Iosseph”. Duas palavras bastam para deixar seus irmãos atônitos. Iosseph sabe que seu pai está vivo. Sua pergunta “Meu pai ainda vive?” não espera nem obtém resposta. Ela exprime seu espanto e sua gratidão em saber que Iacov ainda vive. O silêncio dos irmãos traduz bem o assombro que provoca neles a revelação da verdadeira identidade de Iossseph. Em sua fala aos irmãos, Iosseph explica o ensinamento essencial da narrativa: tudo serve a Deus para conduzir os destinos do universo, inclusive o crime ou a loucura dos homens. O ato criminoso dos irmãos foi utilizado no sentido de uma realização dos projetos divinos: a venda de Iosseph será detinada a preparar a idade de Iacov para a terra de Goshen, e depois o cativeiro dos hebreus, que por sua vez cumprirá a palavra de Deus dirigida a Abraham. E, no cadinho de ferro do exilio, nascerá finalmente o povo de Israel. Iosseph nem precisa mais perdoar seus irmãos já que tudo foi disposto por Deus. O homem age livremente, ao que parece, mas em qualquer coisa que faça, ele serve necessariamente de instrumento da providência divina: aqui, Iosseph figura o salvador predestinado e, de acordo com a tipologia judia ou cristã, o anunciador do Messias.

CJ‫נ‬EW‫ם‬ Ano XV nº 632 22 de Dezembro de 2012 9 de Tevet de 5773 Shabat Vayigash


A Teshuva de Yehudá: Esistem pessoas boas e pessoas ruins ou apenas ações boas e ações ruins? Todo mundo costuma considerar certas pessoas como “pessoas boas”; consideramos que tudo que essas pessoas fazem é, a princípio, bom, enquanto os erros que cometem são vistos como pequenas “escorregadas”. Ao mesmo tempo, também costumamos ver certas pessoas como “pessoas ruins”, cujas atitudes julgamos, já de início, como indignas. É como se existissem pessoas com uma essência boa e outras com uma essência ruim. A parashá desta semana, Vaigash, começa com o encontro entre duas pessoas que, com muita naturalidade, encaixaríamos, respectivamente, nessas duas categorias: os irmãos Yossef e Yehuda. Yossef, como sabemos, era um grande homem: mesmo tendo sido vendido como escravo pelos próprios irmãos e tendo sido preso injustamente no Egito, ele foi capaz de manter a integridade do seu caráter e sua fé em D’us e, ao final de tudo isso, mantendo-se sempre inalteravelmente íntegro, ele triunfou, tornando-se um dos homens mais poderosos da terra, vice-rei do Egito e, mais tarde, o sustentador de toda a sua família. Ele é a pessoa que, naturalmente, chamaríamos de “um bom homem”. Yehuda, de outro lado, é visto como uma pessoa ruim – foi ele que teve a ideia de vender Yossef como escravo ao invés de matá-lo, como queriam seus irmãos, apenas pelo interesse próprio de não sujar suas mãos com sangue. Além disso, ele enganou sua nora Tamar, negando a ela seu direito legítimo de desposar seu filho. Vemos, entretanto, que hoje em dia descendemos de Yehuda, e não de Yossef; e, mais do que isso, que foi de Yehuda que saíram os grandes reis do nosso povo, David e Shlomo, bem como é dessa mesma linhagem que virá o Mashiach. A pergunta é: por que? Por que quem teve esses méritos foi Yehuda, alguém aparentemente tão ruim, e não o grande Yossef, com toda a sua integridade? Uma possível resposta se encontra justamente no começo da parashá Vaigash, que narra o reencontro de Yossef com seus irmãos, após mais de 20 anos separados. Inicialmente, quando se encontraram, apenas Yossef os reconheceu, sem revelar a eles sua verdadeira identidade. Ele falou com eles duramente, exigindo que trouxessem a ele o irmão menor, Biniamin, para que pudessem comprar a comida de que necessitavam. Após uma pequena encenação, em que Yossef

fingiu que ia aprisionar o caçula Biniamin, Yehuda decidiu intervir, oferecendo-se para ser preso no lugar de Biniamin. O mesmo Yehuda que, anos antes, perversamente sugerira aprisionar Yossef, o mesmo Yehuda que enganara sua nora Tamar, agora mudara de atitude, buscando defender com a própria liberdade a liberdade de seu irmão. A partir desse momento, em que Yossef percebeu a mudança no caráter de Yehuda, é que ele revelou sua verdadeira identidade, reconciliando-se com seus irmãos. A grandeza de Yehuda, diferente da de Yossef, foi a de saber mudar. Enquanto Yossef soube se manter sempre e inalteravelmente íntegro, Yehuda soube reconhecer, se arrepender e modificar seus erros do passado; ele foi o primeiro ba’al teshuvá, a primeira pessoa a passar por esse processo tão importante de mudança interna chamado teshuvá. Essa história nos mostra como às vezes nos enganamos em nossos julgamentos; revela como, de fato, não existem pessoas “boas” ou “ruins” por essência. O que molda o caráter das pessoas são, fundamentalmente, suas ações, que podem mudar ao longo da vida e, assim, alterar o caráter de quem as pratica. Possivelmente, o mérito de Yehuda de ter descendentes tão grandiosos se deve à sua habilidade de fazer teshuvá, algo que o povo de Israel sempre necessitou fazer e continuará necessitando. Precisamos ter a capacidade de mudar nossas próprias atitudes e de aceitar a mudança na dos outros, entendendo que não são as pessoas que são boas ou ruins, mas suas ações, como está escrito no Pirkei Avot, “Não desprese a ninguém nem desdenhe de nada, pois não há homem que não tenha sua hora e não há coisa que não tenha o seu lugar.” Shabat shalom!

David Rosenberg Krausz

Shabat na sinagoga de A Hebraica Prédica: Sylvia Lohn e Margot L. Kullock Chazan: David Kullock Musicista: Marcello Frenkiel Baalei Koré: Rony e Daniel Grabarz Texto: Mauricio Mindrisz e David Rosenberg Krausz Ilustrações: Rubem Castro e Alicia G. Stiubiener


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