ANO LIV
| N º 614 | ABRIL 2013 | N ISSAN /Y AR 5773
A nação construída
HEBRAICA
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palavra do presidente
A Hebraica leva você a uma visita cultural
A visita do rabino Sacks e a missão da Hebraica
INSTITUTO TOMIE OHTAKE exposição:
Estranhamente Familiar
+ café Espaço Gourmet Café da manhã no Espaço Gourmet e saída da Hebraica. Realização: Social Cultural / Espaço Gourmet
Informações: 3818 8888/89 saidasculturais@hebraica.org.br
Estranhamente Familiar/Unheimlich inaugura o Arte Atual. Com curadoria de Paulo Miyada, coordenador do NPC, reúne obras de quatro jovens artistas: Alice Miceli, Mariana Manhães, Rodrigo Matheus e Thiago Honório.
Data: 20/04 - sábado Horário: café da manhã às 9h saída às 10h15 Valores: R$ 45,00 (sócios) R$ 90,00 (não sócios)
A visita do rabino-chefe da United Hebrew Congregations of the Commonwealth sir Jonathan Sacks mostrou, mais uma vez, a importância e o significado da Hebraica como o centro comunitário dos judeus de São Paulo e, possivelmente, do Brasil. Ele se confessou extasiado com o que viu no clube e afirmou que se morasse no Brasil – e não fosse judeu, se converteria de modo a poder se associar à Hebraica. Tive a oportunidade de assistir a algumas das palestras que proferiu e destaco uma das frases dele que me encantou e me tocou profundamente: “Se você quer defender o seu povo, dê lhe um exército, mas se você quiser salvar uma civilização, dê-lhe cultura e educação”. A Hebraica, ao completar sessenta anos de sua fundação, e com a instalação de uma escola nas suas dependências, mais do que nunca privilegia a meta de educar e de preservar os valores do judaísmo. Isso explica por que a organização da viagem do rabino Sacks ao Brasil considerou que o clube seria – como, de fato, foi – o lugar ideal para falar a respeito do que mais gosta: a educação judaica, e para o seu público ideal, os educadores. O rabino considera os educadores verdadeiros heróis e citou Moisés como um dos professores mais competentes, pois ensinou aos israelitas a perpetuar os lugares por onde passariam, depois do êxodo do Egito, construindo escolas, isto é, erguendo monumentos ao conhecimento e ao saber que se transmite de geração a geração, e não monumentos de pedra e areia. Sacks repetiu mais de uma vez que as lideranças e os professores devem ajudar as crianças e alunos a descobrir quem são, e isso significa saber de onde vêm, quem são os seus antepassados e do que é formada a corrente que os une, e a missão deles no futuro. E ao se despedir da Hebraica disse que estava feliz com o que viu porque trilhamos o caminho certo. Um caminho que faz as nossas crianças e adolescentes se encharcar de fé e de esperança no futuro e reforçar o sentido de comunidade que é o meio natural da vida dos judeus, pois comunidade significa solidariedade e história. E aqui somos solidários e fazemos história.
Shalom
Abramo Douek
SACKS REPETIU
MAIS DE UMA VEZ QUE AS LIDERANÇAS E OS PROFESSORES DEVEM AJUDAR AS CRIANÇAS E ALUNOS A DESCOBRIR QUEM SÃO, E ISSO SIGNIFICA SABER DE ONDE VÊM, QUEM SÃO OS SEUS ANTEPASSADOS E DO QUE É FORMADA A CORRENTE QUE OS UNE, E A MISSÃO DELES NO FUTURO
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sumário
HEBRAICA
HEBRAICA
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Carta da Redação
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Destaques do Guia A programação de abril e maio
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Hebraica 60 anos Associados relatam as suas mais antigas lembranças
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cultural + social
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Visita Veja como foi a passagem de Jonathan Sacks pela Hebraica
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Meio-Dia A diversidade musical sempre presente aos domingos
A PISCINA E OS VERÕES DO SÉCULO PASSADO ESTÃO SEMPRE PRESENTES NA MEMÓRIA DOS ASSOCIADOS
19
Chaverim O lançamento do filme Colegas no Teatro Arthur Rubinstein
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Gourmet Encontros gastronômicos são cada vez mais concorridos
22 16 COMITIVA FORMADA POR DIRIGENTES COMUNITÁRIOS, RABINOS E DIRETORES DA HEBRAICA ACOMPANHARAM SIR JONATHAN SACKS NO PERCURSO ATÉ O TEATRO ANNE FRANK
Galeria de arte O diplomata Raoul Wallenberg ganhou exposição especial
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Coluna um / comunidade Os eventos mais significativos na cidade
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Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade
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juventude
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Sem fronteiras Parceria com o Adventure resultou em festa de Purim
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PARCERIA ENTRE O GRUPO JOVENS SEM FRONTEIRAS E HEBRAICA ADVENTURE RESULTOU EM FESTA DE PURIM NA CASA DA RUA IBIAPINÓPOLIS
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magazine
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Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica
Capa | Israel 65 anos Um longo e completo dossiê para ler e guardar
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82
esportes
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Curso Chegou a hora de largar a vida sedentária. Veja como...
48
Judô Tapumes israelenses verão o talento de Camila Minakawa
50
Curtas As imagens do esporte este mês
Holocausto Veja como apreciar a literatura sobre o tema
88
Igreja católica Os diálogos de um rabino com o então cardeal Bergoglio
94
Irã Como 32 israelenses foram salvos da guarda revolucionária
98
Ciência O legado político de Einstein, cem anos depois
100
Espionagem O curioso caso do prisioneiro X e outras histórias
104
Cinema Centro da Cultura Judaica e o ciclo do “irrepresentável”
106
Costumes e tradições O eterno mito do Golem, também em versão hightech
108
A palavra Um questionamento sobre o uso do termo “ultraortodoxo”
110
10 notícias As notícias mais quentes da sociedade israelense
112
Leituras Os destaques do mês no mercado das ideias
114
Música Onze lançamentos imperdíveis, do popular ao erudito
116
Com a língua e com os dentes Uma reflexão sobre a solidão, a velhice e o abandono
118
Ensaio A mulher na poesia judaica da Espanha medieval
123
diretoria
124
Café-da-manhã Encontro com o presidente é estendido a conselheiros
125
Lista da Diretoria Saiba quem são os seus representantes no Executivo
138
Conselho O conselheiro Floriano Pesaro na Câmara Municipal
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HEBRAICA
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carta da redação
ANO LIV | Nº 614 | ABRIL 2013 | NISSAN/ YAR 5773
DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN
A terra virou nação
DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL
Às vezes Pessach coincide com as celebrações de Iom Haatzmaut e Iom Hazikaron, tudo em abril. Este ano, veio alguns dias antes, no final de março, e as comemorações do Dia da Independência de Israel e do Dia de Lembrança (dos mortos em todas as guerras e do Holocausto) ficaram mesmo para abril, porque há uma relação muito próxima entre estes dois eventos. Por isso, esta edição tem um material tão vasto quanto possível a respeito da criação do Estado de Israel e da tragédia do Holocausto, cuja garimpagem é atualmente facilitada pela busca frenética – e aparentemente sem fim – por material de qualidade, desde um texto de Joseph Kessel, também autor de A Bela da Tarde, contando como ganhou o visto de entrada número um para o novo Estado, e aquele de um dos maiores jornalistas investigativos da imprensa norte-americana Isidore Fainstein Stone acompanhando um grupo de judeus “deslocados” em busca da Terra Prometida. Aliás, no momento de pensar em uma chamada de capa a primeira ideia que surgiu foi a de usar a expressão “Terra Prometida”. Mas, não: havia, sim, uma terra que fora prometida, à espera dos seus ocupantes para aí, então, virar elemento formador da nação. Portanto, a nação construída, sobre a Terra Prometida. ERRATA:
A
EDIÇÃO DE JANEIRO DA REVISTA
HEBRAICA
TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR) FLÁVIO M. SANTOS
DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES
ALEX SANDRO M. LOPES
ARTE CAPA HÉLEN MESSIAS LOPES EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9º - CONJ. 95
E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR CEP: 05435-040
- SÃO PAULO - SP
DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE
DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES IMPRESSÃO E ACABAMENTO IBEP GRÁFICA
AV. ALEXANDRE MACKENZIE, 619 JAGUARÉ – SP
PUBLICIDADE TEL./FAX: 3814.4629 E-MAIL
IDENTIFICOU, ERRADAMENTE, COMO SENDO DE
FUTEBOL, AS JOGADORAS DE HANDEBOL QUE CONQUISTARAM A MEDALHA DE BRONZE (TERCEIRO LUGAR) EM UM TORNEIO DA
REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH
ACESC, REALIZADO NO FINAL DE 2012. FICA AQUI REGISTRADA A CORREÇÃO.
3815.9159 DUVALE@TERRA.COM.BR
JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700
OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE
INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-
PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA
calendário judaico :: festas ABRIL 2013 Nissan | Yar 5773
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3 10 17 24
A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO
“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800
BRASILEIRA
MAIO 2013 Yar | Sivan 5773
dom seg ter qua qui sex sáb 1 2 8 9 15 16 22 23 29 30
DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.
4 5 6 11 12 13 18 19 20 25 26 27
dom seg ter qua qui sex sáb 5 12 19 26
6 7 13 14 20 21 27 28
2. Pessach, oitavo dia – Yizkor; 8. Iom Hashoá 15. Iom Hazikaron; 16. Iom Haatzmaut 28. Lag Baômer
Fale com a Hebraica PARA COMENTÁRIOS, SUGESTÕES, CRÍTICAS DA REVISTA LIGUE: 3818-8855 CANALABERTO@HEBRAICA.ORG.BR
EX-PRESIDENTES
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3 4 10 11 17 18 24 25 31
14 – Véspera de Shavuot
SÃO PAULO RUA HUNGRIA,
LEON FEFFER (Z’l)
- 1953 - 1959 | ISAAC FIS- 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTEN-
CHER (Z’l)
BERG - 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 -
1975 | HENRIQUE BOBROW - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS - 1991 - 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | PRESIDENTE ABRAMO DOUEK
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HEBRAICA
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por Raquel Machado
destaques do guia EM ABRIL VAMOS CELEBRAR A INDEPENDÊNCIA DE ISRAEL, E A ESCOLA MATERNAL E INFANTIL PREPAROU UMA FESTA LINDA PARA A DATA. TAMBÉM IREMOS RECEBER A MOSTRA “NÃO LINEAR”, DE MOZART FERNANDES E VISITAR O INSTITUTO TOMIE OHTAKE EM MAIS UMA EDIÇÃO DO SAÍDAS CULTURAIS. E O MÊS AINDA RESERVA CLÍNICA INTERNACIONAL DE POLO AQUÁTICO COM MARCELO ADAS, E MAIS UMA VIAGEM DO ADVENTURE FAMILY BOURBON.
cultura + social 20/4 Saída Cultural - Visita guiada ao Instituto Tomie Ohtake
VENHA CELEBRAR A INDEPENDÊNCIA DE ISRAEL NA HEBRAICA.
juventude
Horários do ônibus
De 12 a 14/4 Viagem Adventure Family Bourbon Spa Resort Atibaia
• Terça a sexta-feira
13 e 14/4 Adventure - Curso de Mergulho e Check-out em Paraty
Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45
o dia inteiro, na piscina coberta
• Sábados, domingos e feriados
Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30
Saída, 10h15, na Rua Angelina Maffei Vita
21/4 Contação de Histórias - “A estrela cor de rosa” de Nadia Heifetz Para crianças entre 3 e 8 anos
Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30
as 11h, no Auditório
esportes
Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45
6 a 13/4 Clínica Internacional de Polo Aquático Um sonho olímpico, por Marcelo Adas
20/4 Aula Aberta de Ginástica e Hidroginástica – Ginástica na pista, 10h30
no Complexo Aquático, Plenária e Auditório
às 11h30 – Hidroginástica na piscina semi-olímpica, 11h40 às 12h40
• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30
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hebraica 60 anos PARA CHEGAR À HEBRAICA NOS PRIMEIROS ANOS, A MAIORIA DAS PESSOAS UTILIZAVA TRANSPORTE PÚBLICO.
O JUDÔ FOI UMA DAS PRIMEIRAS MODALIDADES ESPORTIVAS A SEREM OFERECIDAS PELO CLUBE
NAS DÉCADAS DE 60 E 70, A PISCINA FECHAVA NO MEIO DO DIA E AS CRIANÇAS PRECISAVAM ESPERAVAM FAZER A DIGESTÃO PARA VOLTAREM À ÁGUA, DEPOIS DO ALMOÇO
Lembranças do século passado A MEMÓRIA DE ALGUNS SÓCIOS QUE ACOMPANHARAM A HISTÓRIA DO CLUBE GUARDA HISTÓRIAS E IMAGENS DE LOCAIS QUE NÃO EXISTEM MAIS, COMO MOSTRA A REPORTAGEM DE MAGALI BOGUCHWAL
C
lara Gil vem ao clube todos os domingos. Aos 87 anos, ela se move vagarosamente com a bengala. Curiosamente, se lhe perguntam a respeito das suas lembranças da Hebraica a primeira é justamente a dificuldade de locomoção. Não dela, mas de transporte. “Há cinquenta anos, sair do Bom Retiro para cá, na margem do rio Pinheiros, era uma viagem especialmente para quem não tinha carro. Meu filho Marcos praticava judô e eu o acompanhava nos treinos”, recorda Clara. A família de Manhucia Liberman, 86
anos, comprou um dos primeiros setecentos títulos do clube. “Quando eu e meu marido nos transformamos em sócios individuais, meu filho Arthur fez questão de manter nosso número original e hoje os filhos dele praticam esportes e frequentam muito a Hebraica”, conta. Nos primeiros anos como sócia Manhucia Liberman vinha de ônibus e programava as atividades da família com muito cuidado. “Não havia o que chamam hoje de praça de alimentação com muitas opções, então organizávamos piqueniques no caramanchão e ou-
tras áreas livres”, lembra. Em meio à rotina profissional como professora de matemática, ela lembra que evitava agendar compromissos às quartas. “Engana-se quem pensa que as pré-estreias apresentadas no meio da semana são invenções recentes, pois há quarenta anos, portanto ainda no século passado, o clube oferecia cinema nas noites de quarta e eu e meu marido não perdíamos uma, mesmo antes de nos tornarmos vizinhos do clube”, diz Manhucia. No caminho para o clube, ela sonhava com o futuro. “Eu olhava para o edifício Túnis, aqui pertinho, e me perguntava se um dia moraria lá. Quando nos mudamos, há trinta anos, tinha uma vista privilegiada das piscinas. Hoje, o que os moradores veem da janela são as copas das árvores plantadas há muito tempo”, observa nostálgica com a passagem do tempo. Perla Sredni, 81 anos, frequentou durante muitos anos o Círculo Macabi. “Meu filho se casou, aproveitou uma campanha
e comprou um título para pais de sócios. Para mim, a mudança foi drástica, pois passamos a frequentar as atividades culturais que não existiam no Macabi”, compara. Ela continuou a frequentar a Hebraica, mesmo depois de o filho imigrar para os Estados Unidos com a família. “Ele faz questão de manter o título de sócio, mesmo vivendo há anos no exterior, e quando está em São Paulo visita o clube”, revela a mãe saudosa. Geni Mirenstein, 80 anos, lembrase de quando a Hebraica estava na primeira fase de construções. “Ainda vejo os meus filhos brincando nas poças que se formavam em volta do ginásio em obras”, recorda. Muito antes de sonhar em atuar na Diretoria, Mendel Szlejf aproveitou o clube como criança e adolescente. “Ainda tenho minha primeira carteira de sócio, aquela amarela com bordas azuis. Eu me lembro que nos primeiros anos depois da inauguração do Ginásio dos Macabeus e da piscina que fica em frente a ele a regra era que o local fechasse entre
12 e 14 horas. As crianças comiam algo e então ficavam ansiosas pela reabertura da piscina”, conta ele que hoje ocupa a vice-presidência Administrativa. “Pratiquei muito futebol no clube. Jogava quase todas as noites e durante o dia nos finais de semana, se fosse possível. Estas são minhas primeiras lembranças”, acrescenta. Já o conselheiro e ex-vice-presidente Jayme Melsohn tem dificuldade em selecionar entre as muitas lembranças
que tem do clube. “Eu e minha esposa nos associamos há 53 anos, pouco depois de casarmos. Na época, morávamos na rua Lisboa e com o nascimento das crianças passamos a usar muito a piscina e outras dependências nos finais de semana”, comenta ele. As primeiras lembranças do empresário de mídia Joel Rechtman, 54 anos, se referem a uma foto. “Nela meu pai me carrega nos braços, ainda bebê, junto a um caramanchão onde se faziam piqueniques”, observa. Curiosamente o primeiro sócio a ser entrevistado para esta reportagem é o que tem a história mais recente entre os mencionados acima. Enrique Rubin, 70 anos, tornou-se sócio há 35 anos em busca de lazer para a família. “Logo comecei a jogar tênis e hoje as quadras são meus locais favoritos. Neste esporte conheci os meus melhores amigos, que por sorte encontro diariamente aqui no clube”, finaliza. Jayme Kuperman se orgulha de ser o aluno mais idoso do Brasil. Aos 98 anos, frequenta o curso dedicado à terceira idade na Pontifícia Universidade Católica (PUC). “Quando um professor falta, sou convidado a ministrar a aula”, conta com entusiasmo. Sócio desde a década de 1970, ele acompanhou o surgimento do clube através da proximidade com os fundadores. “Eu me associei por causa da Universidade Popular de Ídiche e Cultura Judaica. As aulas eram aos domingos. Além disso, eu usava a piscina e frequentava os serviços religiosos de Rosh Hashaná.”
O logo sessentão O logo comemorativo do 60º aniversário da Hebraica estampa, a partir deste mês, o material de divulgação, uniformes esportivos e brindes distribuídos em atividades. Trata-se da quinta logomarca adotada em sessenta anos de história. O memorial instalado do saguão da Sede Social apresenta a evolução gráfica dos logos. No jubileu do clube, o logo trazia as cores dourada e azul. Neste aniversário, os destaques ficam para a cor azul e a fusão do número 60 e da menorá que simboliza o clube.
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cul tu ral +social
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HEBRAICA
cultural + social > visita
Um encontro de canções e esperança EM VISITA, O GRÃO-RABINO DA INGLATERRA SIR JONATHAN SACKS CONHECEU AS INSTALAÇÕES DA ESCOLA ALEF E OS PRINCIPAIS ESPAÇOS DA HEBRAICA ATÉ CHEGAR AO TEATRO ANNE FRANK, ONDE FALOU A UMA PLATEIA DE EDUCADORES
U
ma comitiva formada por diretores do clube e das principais entidades judaicas de São Paulo se reuniu na portaria da rua Angelina Maffei Vita para esperar o grão-rabino da Inglaterra, Lorde Jonathan Sacks, que veio ao Brasil a convite da Família Safra e do Instituto Morashá de Cultura. No caminho para o Teatro Anne Frank, onde faria uma palestra, ele conheceu a Escola Alef, o Espaço Bebê, as piscinas, a Sinagoga e a sala da Presidência. “Estou impressionado. Nunca vi uma instituição como a que vocês têm aqui”, elogiava em meio às explicações do presidente Abramo Douek. Todos os lugares do Teatro Anne Frank estavam ocupados e entre os espectadores havia rabinos de diferentes correntes religiosas e sinagogas da cidade. O diretor de Cultura Judaica Gerson Her-
szkowicz abriu a solenidade cantando uma canção em ídiche (Oifn Veg Shteit a Boim) e outra brasileira (Gente Humilde, de autoria de Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque de Holanda). “Cada uma representa respectivamente a alma dos povos judeu e brasileiro”, afirmou o chazan Herszkowicz. Em seguida, o presidente Abramo Douek saudou o público e o rabino, destacando o empenho dele em favor da educação judaica e os livros que escreveu lançados pela Editora Sêfer como parte do projeto “Et Likró” À entrada do teatro, os convidados receberam uma sacola com dois livros de autoria do rabino Sacks: Tempo Futuro e A Dignidade da Diferença. O rabino subiu ao palco e declarou que faria algo inusitado em sua carreira. “Nunca proferi uma palestra sem usar
ALEXANDRE OSTROWIECKI (NANI), RABINO SACKS E O PRESIDENTE ABRAMO DOUEK NA ENTRADA DA ESCOLA ALEF
paletó. Mas já vi que aqui no Brasil vocês são mais informais”, brincou. Tomando a libertação dos judeus do Egito e a atuação de Moisés como pontos centrais de sua mensagem, ele enumerou algumas características que, em sua opinião, justificam a preservação da cultura judaica comparada a de outros povos que durante séculos dominaram as regiões onde viviam. “Penso que, se um dia voltássemos ao passado e nos deparássemos com o faraó Ramsés II, provavelmente diríamos a ele que de toda sua herança e riqueza, tudo o que resta são monumentos mas que os judeus, descendentes dos escravos que ergueram as pirâmides, vivem e preservam a mesma cultura até hoje. Isso se deve em parte porque os judeus tendem mais a construir escolas do que outro tipo de edificações”, afirmou. Importante defensor das escolas judaicas, Lorde Jonathan Sacks afirmou que na Inglaterra o número de crianças matriculadas aumentou e as escolas têm apoio governamental. “Há vinte anos, apenas 25% das crianças judias estudavam em escolas da comunidade. Hoje esse índice chega a 70%”, comparou. Considerando-se ele mesmo um professor, Sacks enfatizou três pontos que considera indispensáveis para a preservação do judaísmo no futuro, incluindo a cultura e os seus valores: “É preciso estimular os alunos a descobrir sua identidade, a aprenderem a fazer o bem e a não apenas receber conhecimentos, mas também contribuir com seu conhecimento para o bem comum”, advertiu. (M. B.)
RABINO JONATHAN SACKS FALOU PARA UMA PLATEIA DE EDUCADORES
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HEBRAICA
cultural + social > espaço gourmet
“Colegas” é exibido onde tudo começou ARIEL GOLDENBERG, RITA POKK E BRENO VIOLA GANHARAM FAMA ASSIM, DE REPENTE, PERSONAGENS DE SI PRÓPRIOS EM UM FILME EXIBIDO DURANTE AVANT-PREMIÈRE CONCORRIDA NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN
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olegas, ganhador de prêmios em vários festivais, entre eles o Kikito de melhor filme no Festival de Gramado de 2012, seria apenas mais um filme consagrado pela crítica não fosse pelo fato de os três protagonistas serem portadores da síndrome de Down. O filme tem direção e roteiro de Marcelo Galvão e entrou em cartaz no circuito paulistano dias após a sessão exclusiva
MARIANA GILBERTONI LEVOU DELÍCIAS DA FRANÇA PARA AS PANELAS DO ESPAÇO GOURMET
A
cada programação mensal, maior é o número de jovens, senhoras e casais que frequentam o Espaço Gourmet, alguns já com cadeira cativa, outros que se juntam a cada encontro de acordo com a preferência gastronômica. Seja a vegetariana, quando Regina Czeresnia, do Vege Tao, deu um show com seus pratos rápidos e muito saborosos, usando ingredientes variados e fáceis de encontrar em feiras e supermercados; a cozinha francesa mostrada por Wagner Resende (Chef Rouge) e a jovem Mariana Gilbertoni com a sua cozinha autoral. Formada pelo Senac São Pedro, Mariana viveu na França, fez vários estágios até chegar ao cobiçado Instituto Paul Bocuse, o palácio dos chefs internacionais. Cuidou das panelas francesas do Plaza Athenée e do Jardin des Sens, passou pelo grupo do renomado Daniel Boulud, de Nova York, até sentir saudades e voltar para São Paulo. Preparou a abertura do Éclat e chefiou a cozinha do Oficina Três. Com esse currículo, a aula dela no
no Teatro Arthur Rubinstein promovida pela Locaweb, uma das empresas patrocinadoras da fita, em comemoração aos dezoito anos do grupo Chaverim, com a presença do elenco e do deficiente visual e produtor executivo Marçal Souza, que falou do seu envolvimento com os jovens na elaboração dessa divertida comédia, que aborda as coisas simples da vida pelo olhar dos três jovens.
Programas cada vez mais saborosos ELOGIADO POR CHEFES DE COZINHA, O ESPAÇO GOURMET TORNOU-SE PONTO DE ENCONTRO NO CLUBE COM UMA
PROGRAMAÇÃO VARIADA QUE PROCURA AGRADAR A TODOS OS PALADARES, DO MAIS SIMPLES AO MAIS REFINADO Gourmet era esperada e teve casa cheia. Após ensinar como fazer e servir o prato inicial – robalo em crosta de castanha de caju, brandade (espécie de purê) de pupunha e mix de folhas –, a chef ouviu os elogios, que se seguiram com o filé de mignon ao azeite de carvão acompanhado de nhoque de batata-doce e arrematado com o creme catalão, na sobremesa. “O jantar foi especial!” era a frase mais ouvida entre os atentos alunos e provadores. No encerramento desta edição, ha-
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cultural + social > chaverim
viam passado pelo Gourmet os chefs Luís Espadana e Carlos Siefert. Na ponte área entre São Paulo e Lisboa, comandando o Tasca da Esquina, Espadana trouxe as especialidades portuguesas, das quais é um expert, e Siefert, nome consagrado entre os seus pares, mostrou como lidar com os diferentes cortes de frango e com eles fazer receitas para todos os paladares. Agora, é só procurar a agenda de abril e participar das noites gastronômicas no clube. (T. P. T.)
CENA DO FILME COLEGAS, QUE ESTREOU NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN
Os ensaios e filmagem duraram sete anos o que não desanimou nem atores e nem a equipe. O ator Lima Duarte narra o filme que conta o percurso dos três aventureiros do interior de São Paulo a Buenos Aires. “Foi uma pauleira. Acordava de madrugada com frio e chuva”, conta Ariel, animado e alegre, na vida real marido de Rita, que é fã de filmes de terror e gostou muito da experiência, “mas não foi fácil”, explicou. O filme teve uma produção diferente, mas realizada com empenho para agradar ao público, como na noite na Hebraica. A plateia vibrou e, no final, os comentários variavam entre “uma história simples, emocionante, muito sensível”; a confissão de uma jovem senhora “chorei de rir e de emoção também”; “surpreendente, linda ideia”, dizia um senhor. Isaac Fuchs, pai de um integrante do Chaverim, observou: “O lado humano é maravilhoso, mesmo com algumas situações menos sensíveis, a iniciativa é bárbara e merece nossos elogios”. (T. P. T.)
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cultural + social > hebraica meio-dia
LEITURA DE TEXTOS E CANTOS NO REPERTÓRIO VARIADO DE CARLOS NAVAS
Domingos ecléticos e atraentes T
rês artistas que surgiram no cenário artístico na década de 1980 e estilos diferentes de interpretação da música brasileira. Algumas músicas conhecidas e outras novas para quem ouvia e acompanhava com palmas, revivendo momentos passados. Vânia Bastos iniciou a carreira ao lado de Arrigo Barnabé, que a chamou de “voz vestida de luz”, e integrou a famosa banda Sabor Veneno. Danilo Bastos frequentou rodas de choro com o cavaquinho e venceu, em 2004, o VII Prêmio Visa, edição instrumental, entre 514 concorrentes. Participa, desde 2007, de eventos musicais nos Estados Unidos. Carlos Navas começou como divulgador, passou a agente e produtor de ar-
O HEBRAICA MEIO-DIA RECEBEU VÂNIA BASTOS, DANILO BRITO E CARLOS NAVAS, MOSTRA DA
DIVERSIDADE MUSICAL DOS ESPETÁCULOS GRATUITOS PROMOVIDOS PELA VICE-PRESIDÊNCIA SOCIAL E CULTURAL tistas. Em 1992, fez o acompanhamento vocal para a apresentação de Alzira Espíndola, que estava afônica. Assim nasceu o cantor. O repertório de Navas inclui o show poético-musical “Tributo a Vinicius de Moraes”, do qual ele interpretou alguns números no Teatro Arthur Rubinstein. Um misto de leitura de textos e cantos fez aflorar o romantismo e o ritmo cadenciado motivou duas espectadoras deixarem as poltronas e mostrarem qualidade de sambistas acompanhando Navas.
Essa interação é sempre muito bem recebida e torna os espetáculos do Hebraica Meio-Dia uma troca entre o artista e os espectadores, aproximando palco e plateia num diálogo amistoso. Nos domingos seguintes, apresentaram-se os grupos Rosa Vocal e Fino Som, este com um show de músicas do choro ao baião. A realização da Hebraica tem o apoio dos bancos Itaú e Daycoval, o Ministério da Cultura-Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal da Lei Rouanet. (T. P. T.)
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cultural + social > galeria de arte
Os feitos do justo Wallenberg A EMBAIXADA DA HUNGRIA ESCOLHEU A HEBRAICA PARA HOMENAGEAR O DIPLOMATA SUECO RAOUL WALLENBERG, UM DOS JUSTOS ENTRE AS NAÇÕES. ELE EMITIU PASSAPORTES ESPECIAIS E SALVOU MILHARES DE JUDEUS DA DEPORTAÇÃO IMINENTE
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ma exposição itinerante preparada pelo governo húngaro marca o centenário do nascimento do arquiteto e empresário Raoul Wallenberg, embaixador sueco na Hungria durante a Segunda Guerra. Exibida na embaixada da Hungria em Brasília, passou pelo Rio de Janeiro, Nova Friburgo e chegou a São Paulo, onde ficou exposta na Galeria de Arte, a pedido das autoridades húngaras. Os painéis com fotos da época contêm textos alusivos à vida de Wallenberg e o que se passava na Hungria: os judeus antes da ocupação nazista, o destino deles até a primavera de 1945, Wallenberg o diplomata, o salvador de almas, em mãos dos soviéticos como réu. Da noite de abertura participaram o embaixador húngaro Csaba Szijjarto e a mulher Edit, a cônsul da Hungria em São Paulo Eszter Dobos e o marido Gabor Gyuricza. Na sua saudação, o presi-
dente Abramo Douek destacou o fato de a Hebraica “lembrar este homem que fez muito pelos judeus, um dos Justos entre as Nações, citado no Yad Vashem, o Museu do Holocausto, em Jerusalém”. O embaixador Szijjarto explicou que a Hebraica está “na cidade onde vive a décima primeira maior comunidade judaica no mundo”. Citou também o embaixador Souza Dantas e lembrou os auxiliares de Wallenberg, “pois, sozinho, não poderia ter feito tudo o que fez, aproveitando a sua imunidade diplomática. Será lembrado e será um herói”. O embaixador contou que em janeiro último, o governo húngaro fundou um comitê para lembrar a Shoá e determinou o dia 16 de abril como o dedicado às vítimas húngaras desse episódio triste da história, e destacou que “inauguro esta exposição em um país onde todos vivem em paz”. (T. P. T)
GABOR GYURICZA E ESZTER DOBOS, ABRAMO E BERTA DOUEK, EDIT E CSABA SZIJJARTO
Quem foi Raoul Wallenberg Ele nasceu em Lidingo, próximo a Estocolmo, em 4 de agosto de 1912, e morreu na Rússia, em 17 de julho de 1947, dois anos e meio após ser detido pelo exército vermelho no cerco a Budapeste, suspeito de espionagem. Somente depois se soube que esteve detido na prisão de Lubianka, em Moscou, mas a prisão e a morte dele são um mistério. Estudou arquitetura na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, onde aprendeu inglês, alemão e francês. Em 1935 e 1936, trabalhou na filial do Banco Holandês em Haifa, na então Palestina Britânica. De volta à Suécia, o tio e padrinho Jacob Wallenberg o ajudou a trabalhar em uma
empresa de importação, de propriedade do judeu húngaro Kalman Lauer. Em 1938 a Hungria promulgou leis raciais restritivas aos judeus. Para contornar a situação, Lauer nomeou Wallenberg sócio e representante. Este aprendeu húngaro, viajou pelo país, conheceu a burocracia alemã e negociou com empresas nazistas. Ao mesmo tempo, testemunhou perseguições aos judeus, o que o chocou. Em julho de 1944 foi nomeado primeiro-secretário da legação sueca em Budapeste. Diplomata, valeu-se da imunidade para emitir schutzpass (passaportes especiais) para os judeus, quali-
ficados como cidadãos suecos aguardando repatriamento. Ainda que ilegais, esse papéis impressionavam aos oficiais nazistas que permitiam a saída dos portadores. Wallenberg criou instituições fictícias, como a Biblioteca da Suécia, Instituto de Pesquisas Suecas, e as instalou em casas alugadas para receber os refugiados judeus e que não podiam ser invadidas em razão do status diplomático. Dois dias antes da chegada do exército vermelho a Budapeste, o estadista conseguiu cancelar uma leva de judeus prontos a serem deportados para os campos de extermínio na Alemanha, graças a um bilhete assinado pelo seu “amigo fascista” Pal Sza-
lay. Em 17 de janeiro de 1945, Wallenberg e seu motorista particular foram presos e acusados de “espiões da OSS”, a agência de inteligência britânica. Incomunicável, passou pelas prisões de Lefortovo e Lubianka, onde morreu. Estima-se que as ações de Wallenberg salvaram cem mil judeus. A missão da Fundação Internacional Raoul Wallenberg, organização sem fins lucrativos com escritórios em Nova York, Jerusalém, Buenos Aires, Berlim e Rio de Janeiro, é desenvolver projetos educativos e de divulgação em favor da solidariedade e a coragem cívica, “pilares éticos que orientaram os feitos dos Salvadores da Shoá”.
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COLUNA 1 Em “Busca-me”, titulo da mostra de fotografias em cartaz na Galeria Berenice Arvani, Boris Kossoy organiza as lembranças com imagens que levam a um mundo onírico.
coluna comunidade
Pessach sem judeus
Pela primeira vez, desde 1492, a pequena cidade de Ribadavia, no norte da Espanha, celebrou a festa de Pessach. O seder tradicional, divulgado pela imprensa local, foi no centro histórico, por iniciativa da prefeitura e do Centro de Estudos Medievais, que registra a história dos judeus da Espanha antes da expulsão. O objetivo dos realizadores foi dar “um novo sopro de vida ao antigo bairro judeu”, onde vivia uma importante comunidade judaica, antes da Inquisição, forçada a fugir ou se converter ao cristianismo. Assim como Ribadavia, muitas cidades da Espanha e de Portugal desenvolveram, após a década de 1990, projetos lembrando a presença judaica naquelas regiões para aumentar o fluxo turístico.
Destaques para a mulher No Dia Internacional da Mulher, a Wizo homenageou Rosa Garfinkel, do Grupo Ramat Gan, e Lea Della Casa Mingione, uma das fundadoras do Graacc – Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer. Na’amat Pioneiras escolheu a embaixatriz Batia Eldad para destacar o trabalho da mulher. Batia veio de Brasília e participou das duas tardes, destacando o papel relevante da mulher na história judaica.
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por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br
EX-MINISTRO JOSÉ GOLDEMBERG RECEBEU O PRÊMIO DAS MÃOS DO XEQUE MOHAMMED BIN ZAYED
Goldemberg recebe prêmio internacional
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ex-ministro da Educação e ex-secretário do Meio Ambiente da Presidência da República José Goldemberg acrescentou mais um prêmio internacional à sua galeria. Desta vez, o físico recebeu o Prêmio Zayed de Energia do Futuro na categoria Life Achievement, concedido a quem se destaca na área da energia renovável. O prêmio foi entregue pelo xeque Mohammed Bin Zayed Al Nahyan,
príncipe herdeiro de Abu Dhabi, em cerimônia nos Emirados Árabes Unidos, e o nome do premiado foi manchete nos principais jornais do país. “Fiquei admirado, porque não é só o reconhecimento do trabalho científico que tenho feito, mas, também, o de que a bioenergia é um ingrediente importante para um futuro sustentável”, afirmou Goldemberg em entrevista à Agência Fapesp.
Família Hecht doa Torá
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Sinagoga Beth Chabad em Santos recebeu a valiosa doação de um Sefer Torá. Dedicado pela família Hecht como agradecimento ao restabelecimento da saúde de Jacob e em memória da sua mãe Esther Rzezinska Hecht RABINO MICHEL TABACINIK, LEIA, JACOB, EDUARDO E RENATA HECHT E KLEBER NAVES (z’l). Após a finalização da escrita na casa de Leia e Jacob, a Torá foi levada para Santos, onde amigos paulistanos, frequentadores da sinagoga santista e muitos jovens acompanharam os doadores na cerimônia realizada pelo rabino Michel Tabachnik.
Meu Pé de Laranja Lima abriu a décima sexta edição do Festival Internacional de Cinema de Punta Del Este. O filme dirigido por Marcos Bernstein entra em cartaz no final de abril nas telas nacionais. “Objetos” é o nome da coleção do designer Antônio Bernardo. Em escalas diferentes, suas joias têm o corpo como interlocutor. BEI Editora lançou Isay Weinfeld – Projetos Comerciais em texto bilíngue assinado pelo jornalista e arquiteto norte-americano Raul A. Barrenece, colaborador do The New York Times. São dezessete projetos acompanhados de fotos e desenhos, mostrando a arquitetura contemporânea de Weinfeld.
Macabíada em Israel Maitê Proença e Clarice Niskier dirigem À Beira do Abismo me Cresceram Asas, no Teatro Leblon, com figurinos de Beth Filipeck. Em comemoração aos trinta anos da sua primeira exposição individual, Sérgio Sister mostra trinta obras na Pinacoteca do Estado. Desenhos, pinturas e objetos criados de 1989 até 2012 marcam a evolução da sua carreira até o dia 26 de maio. A flauta doce de Claudia Freixedas, o alaúde de Carin Zwilling e a voz de Sonia Goussinsky formam o Trio Sospirare. Que se apresentou no Centro Brasileiro Britânico. Entre amigos e com uma festa animada, Gilda Gronowicz comemorou seus primeiros 60 anos. Marcela e Gabriel estão de alianças na mão direita. Pérola e Hélio Plapler, Clara Leonor e Maurício Jarovsky somaram a alegria das duas famílias.
∂ A assinatura de Suzy Gheler em parceria com Gustavo Rosa só poderia se transformar em “Arte com Arte”, a mostra cenográfica que ocupou quase mil metros quadrados do Espaço Cultural Shopping JK Iguatemi e patrocínio da Jaguar. As obras podem ser vistas no endereço www.suzygheler. com.br/gallery.
Calouros: Benjamim Saidon entrou na gastronomia da Anhembi Morumbi; Gabriela Freller vai cursar ciências sociais na USP; Fabiana Freier e Napchan Freier conseguiram seu lugar na FAU/ USP e Yael Shavitt, na FEA/USP.
O presidente da União Mundial Macabi, Guiora Esrubilsky, deu entrevista à Agência Judaica de Notícias a respeito dos preparativos para a próxima Macabíada, de 18 a 30 de julho. “Esperamos cerca de nove mil esportistas de 14 a 90 anos, de 42 modalidades (nove a mais que no último encontro), de 71 países. Decidimos declarar este encontro esportivo como a ‘Olímpiada’ judaica, pois é um dos três maiores eventos mundiais (em Londres, na última Olimpíada Mundial, eram onze mil esportistas)”. O dirigente ressaltou o apoio das municipalidades israelenses e das comunidades judaicas em todo o mundo.
Enciclopédia de guetos online ∂ Em Jerusalém, Boris Sapocznik fez aliá à Torá, no Kotel, ao lado do rabino David Weitman, papai Alberto, mamãe Anali e a irmã Júlia.
Já no primeiro capítulo de “Flor do Caribe”, na tela da Globo, o judeu Samuel interpretado por Juca de Oliveira mostrou o quanto a Segunda Guerra Mundial pode afetar uma pessoa. O personagem dele foi piloto na época do conflito.
Até o fechamento desta Coluna, o Einstein alcançara a marca de mais de cem mil seguidores no Facebook. O canal leva informação de saúde, bem-estar e qualidade de vida, além da interação com a marca do hospital israelita.
Carina Korman e Joia Bérgamo integraram o felizardo grupo de arquitetos premiados no Programa de Relacionamento do D&D Shopping. Visitaram o Deserto do Atacama, no Chile.
Ilan Brenman ocupou o Espaço de Leitura, no Parque da Água Branca, durante encontro com o também contador de histórias Giba Pedroza. O bate-papo foi sobre “Meu Amigo Livro”.
No site do Yad Vashem, Museu do Holocausto de Israel, é possível acessar dados de mais de 1.100 guetos criados na Europa, onde judeus sobreviveram em condições sub-humanas durante a Shoá. A edição inglesa, escrita por Gai Miron e Shlomit Shulhani, foi publicada em 2009 e, mais tarde, traduzida para o hebraico e o diretor do Yad Vashem Avner Shalev colocou-a on line para todos a acessarem.
Encontro com o rabino Sacks Lord Jonathan Sacks, rabino-chefe da Grã-Bretanha e da Commonwealth, encontrou quase mil jovens e convidados do Instituto Morashá de Cultura e Banco Safra. Na sinagoga Beit Yaacov, o rabino Sacks falou sobre “O Judaísmo no Mundo: Responsabilidade e Ética” para um público atento. Assim como nos outros encontros, os ouvintes deixaram o local entusiasmados com a forma como o tema foi tratado e a percepção clara que Sacks tem da realidade atual no mundo moderno.
Acesse à Wizo no Facebook Além de seu site renovado e para agilizar a comunicação, a Wizo São Paulo também está no www.facebook.com/ wizosp.
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COLUNA 1
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TOMAS TEICHMAN, ROBERTO FALDINI E JAYME BLAY
Palestra de ex-consultor do Banco Mundial
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ex-consultor do Banco Mundial e atual sócio-diretor da MCM Consultores Associados Cláudio Adilson Gonçalez foi o convidado da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, no auditório do Banco Daycoval, para falar a respeito do “Enigma do Baixo Crescimento
com Elevado Nível de Emprego”. Com a experiência de ter atuado também como subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da assessoria econômica do Ministério da Fazenda, Gonçalez traçou um panorama da economia nacional e foi aplaudido pelos empresários.
Beshirá 4 em ritmo de preparação
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sta é a única excursão na qual os viajantes se preparam com antecedência, viajam como um grupo de novos amigos e conhecem Israel por suas melodias. Ideal para quem tem 50 anos ou mais e ainda não conhece o país ou lá esteve há anos. Quem prepara a turma é Ana Iosif. A próxima começa a se reunir este mês para viajar dia 17 de setembro. Inscrições, www.israelbeshira.com.br e informações, Sharontur, 3223-8388, com Marcos ou Renato.
Agenda bilateral Brasil-Israel
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subsecretário geral do Departamento da América Latina e Caribe de Israel embaixador Itzhak Shoam reuniu-se com o embaixador Paulo Cordeiro e diplomatas brasileiros no Itamaraty para discutir temas da agenda bilateral e estreitar as relações entre os dois países. Shoam estava acompanhado de uma co-
mitiva israelense e do embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad. Na ocasião foi assinado um acordo de cooperação entre o Instituto Rio Branco e a Escola Diplomática de Israel que possibilitará aos ministérios das Relações Exteriores dos dois países a realização de treinamentos e desenvolvimento pessoal de diplomatas.
Lembrete aos fãs do “Mosaico na TV”
O programa está no Guiness como o mais antigo da TV brasileira e pode ser visto nos seguintes dias e horários: quarta-feira, às 21h nos canais 9 Net; 72/99/186 TVA (digital) e às sextas-feiras, as 16h30, no canal 9 Net.
Três novos sócios fazem parte da Integration Consultoria Empresarial: Leonardo Zylberman, na área de Finanças e Gestão; Luís Carlos Vidal, líder em supply chain; e Francisco Pereira Leite na implementação de projetos. A empresa passa a ter dez sócios e 250 profissionais de diferentes especializações, com sede em São Paulo e filiais no Rio de Janeiro, Cidade do México, Buenos Aires, Santiago do Chile e Londres. Colaboradores de Lina Bo Bardi na construção do Sesc Pompeia, os arquitetos André Vainer e Marcelo Ferraz conceberam e fizeram a curadoria da mostra “Sesc Pompeia: 30 Anos”, realizada no hall do teatro. Mais um hotel, agora o tradicional Toriba, em Campos do Jordão, faz parte do selo SUL Hotéis, de Roberto Bitelman.
Mochila nas costas, Alex Fisberg passou mais de quatro meses por seis países no leste da África e o resultado virou um novo livro do jornalista: Mochila Social – Um Olhar sobre Desenvolvimento Social e Pobreza no Leste da África. A produção independente, que teve a colaboração da plataforma de crowdfunding (cotas de doadores), permitiu a criação de um audiolivro adaptado para pessoas com necessidades especiais e a doação de mil exemplares impressos para escolas e bibliotecas da rede pública. A Coleção Clínica Psicanalítica recebeu um novo título com a publicação de Saúde do Trabalhador: Possibilidades e Desafios da Psicoterapia Ambulatorial. Carla Júlia Segre Faiman é a autora do livro lançado na Casa do Psicólogo. Este vídeo confirma a preferência que os jovens israelenses têm pela capoeira: http://www.youtube. com/watch?v=9q4HK 1ktqww&feature=yo utu.be. Confira e com o refrão cantado em português.
∂ Correspondente de O Estado de S. Paulo, Globo New’s e rádio Eldorado em Buenos Aires, Ariel Palácios lançou Argentinos na Livraria Cultura/ Conjunto Nacional, com um capítulo dedicado à comunidade judaica. Denise e Jack Terpins, Ricardo Berkiensztat, os jovens de Novas Gerações do Congresso Judaico LatinoAmericano, Celso Zilbovicius, Daniel Shiran e o vereador Floriano Pesaro participaram da sessão de autógrafos.
Com a prática em diferentes áreas da odontologia, os especialistas Eduardo Grossmann, Helson José de Paiva e Ângela Maria Fernandes Vieira de Paiva são os autores de Dores Bucofaciais: Conceitos e Terapêutica Didática Necessária para um Tratamento mais Completo. Editado pela Artes Médicas. Escritor, publicitário e cineasta, Márcio Pitliuk, o Pit, falou para a Feliz Idade na Hebraica a respeito do seu livro mais recente O Homem que Venceu Hitler, em segunda edição com o selo da Editora Gutenberg.
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Sala homenageia a comunidade
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Insper continua seu projeto de expansão física e programática inaugurando mais uma sala no campus da Vila Olímpia. Com oitenta lugares e arquitetura similar àquela da Universidade de Harvard, a construção foi possível com a doação de um membro da comunidade judaica sob a condição de que a sala levasse o nome do ex-embaixador brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas (1876-1954), um dos “Justos Entre as Nações” em Yad Vashem, por conceder vistos para o Brasil a judeus e minorias perseguidas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Parceria Einstein e Sbhci O Hospital Israelita Albert Einstein (Hiae) assinou convênio com a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (Sbhci) para coordenar o cadastro nacional de implantes via cateterismo. Esse registro nacional existe há cinco anos e é preenchido eletronicamente por cada hospital. Com essa ação inovadora entre sociedades médicas e instituições de saúde, o Einstein vai colaborar na coordenação, acompanhamento dos pacientes e análises estatísticas. Para o diretor de pesquisa do Hiae Luiz Vicente Rizzo, “a confiabilidade da informação e o que fazer com ela favorecerá a indicação do procedimento por parte dos médicos”.
JORGE MAUTNER, YAEL STEINER, JOSÉ MIGUEL WISNIK E CARLOS RENNÓ
Jorge Mautner em pessoa
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o mesmo tempo em que o documentário Jorge Mautner – o Filho do Holocausto, dirigido por Pedro Bial e Heitor d’Alincourt chegava às telas dos cinemas paulistanos, o Centro da Cultura Judaica (CCJ) promoveu um encontro com o compositor, cantor, violinista e escritor Jorge Mautner. O longa foi feito a partir do livro homônimo e autobiográfico, lançado em 2006. No palco do CCJ, Mautner teve como entrevistadores Carlos Rennó e José Miguel Wisnik. Ele falou de passagens da sua vida, filho de um judeu austrí-
aco e uma católica iugoslava, fugidos da ocupação nazista no início da década de 1940. “Quase todos os parentes por parte de meu pai foram executados nos campos de concentração pelos criminosos de uniforme nazista. Quase toda a família da minha mãe também foi executada. Eu fui educado nessas memórias. E essas memórias são a alma e a carne viva da minha vida. Tudo que escrevi, compus, falei e senti gira, e girará, em torno disso”, disse o artista que lançou quatorze discos entre 1966 e 2007.
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Krausz recebeu o Prêmio Benvirá
Tradutor e colaborador do Sabático do jornal O Estado de S. Paulo, professor de literatura judaica e hebraica na USP, Luís Krausz venceu o II Prêmio Benvirá de Literatura com o livro Deserto, relato que inclui a viagem do autor, aos 16 anos, para Israel e Inglaterra, onde teve contato com parentes dos avós. O ponto de partida foi a viagem real e o livro segue em torno das memórias que o autor constrói como uma narrativa parcialmente ficcional. Segunda obra de ficção do autor, Deserto dialoga com a primeira, Desterro, de 2011. O tema dos refugiados judeus da Europa Central está ligado à vida acadêmica de Krausz. O prêmio é o reconhecimento da obra e estímulo à continuidade do seu trabalho. Deserto estará nas livrarias em maio.
Concurso divulga Anne Frank
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Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), mais o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (Ahjb), criaram o Concurso Nacional de Redações da Rede de Escolas Anne Frank no Brasil. Segundo os organizadores, a ideia é “relacionar conhecimentos históricos da vivência de Anne Frank para construir uma argumentação consistente sobre a relevância de
uma atitude ativa na defesa da democracia, dos direitos humanos e da diversidade sociocultural”. O concurso está aberto somente a alunos da quinto à nona séries do ensino fundamental das escolas públicas Anne Frank de Belo Horizonte, Palmas, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Em 20 de maio, será revelado o nome do aluno vencedor, que visitará a Casa Anne Frank em Amsterdã.
Leilão de coleção de arte judaica No final deste mês, a Sotheby’s colocará em leilão a maior coleção privada de arte judaica e israelense, formada por Judy e Michael Steinhardt com mais de quatrocentos objetos desde a antiguidade até os dias atuais, incluindo peças de judeus do período do Brasil colonial.
Tarde mágica com a Unibes
A sensibilidade, beleza e atuação impecável dos atores de O Mágico de Oz trouxeram o encantamento do reino de Oz à plateia no Teatro Alfa. Avós, pais e pequenos espectadores vibraram e a Unibes conseguiu o objetivo de agradecer a quem prestigia as suas ações sociais. Fazer o bem e se encantar foi o resultado da tarde beneficente.
Papéis na Coleção Nemirovsky Das 270 obras do acervo da Fundação Nemirovsky, a curadora Regina Teixeira de Barros selecionou cinquenta trabalhos em papel: desenhos, pinturas e gravuras de Cândido Portinari, Fernand Léger, Hélio Oiticica, Pablo Picasso, Tarsilla do Amaral, entre outros para uma exposição até 26 de maio, na Estação Pinacoteca, rua General Osório, no antigo Dops.
Curso de verão em castelhano Viver no coração de Jerusalém, estudar Talmud, filosofia, Halachá e ser voluntário, fazer o ulpan de hebraico e conhecer gente de todo o mundo. Tudo isso está à disposição de quem participar do 1º. Curso de Verão em Castelhano, em meio período ou integral. Informações, http://www.conservativeyeshiva.org/spanish.
AGENDA 9 de abril, 20h30 – Orquestra Jovem de Violões do Lar das Crianças da CIP e a cantora Negra Li. Espetáculo “Viagem Musical Através dos Sons Brasileiros”, no Teatro Cultura Artística Itaim. Informações, 2808-6225, com Renata ou lardascriancas@cip.org.br 12 de abril, 18h45 – Kabalat Shabat em homenagem a Iom Haatzmaut. Realização dos jovens da Avanhandava, Chazit Hanoar e colônia de férias. Sinagoga Etz Chayim, da CIP 5 a 12 de maio; 9 a 12 de maio – Duas opções de saída para a viagem a Punta Del Este com a loja David Ben-Gurion da B’nai B’rith. Conrad Punta Del Este Resort & Casino com acesso diário ao spa. Informações, Henrique, Roberta ou Cris, fone 3082-5844 Até 23 de junho, das 12h às 19h – Exposição Carlo Levi – pintor, escritor e antifascista italiano. No Centro da Cultura Judaica. Entrada gratuita. Informações, http://www.culturajudaica.org.br/1759/carlo-levi-%E2%80%93pintor-escritor-antifascista-italiano
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Della Casa Mingione (Graac) e benemérita Rosa Garfinkel com Mar-
2, 3 e 5. A presidente de Na’amat Pioneiras Clarice Schucman Jo-
garida Grin; grupo Chana Szenesh comandou o Dia Internacional da
zsef na Mansão França com Dora Bobrow; Miriam Doris Lilien-
Mulher da Wizo; 3 e 5. Em Israel, Júlia, Alberto e Anali; rabino David
feld e Virgínia Griffel; Odete Abutara (Hospital do Coração), Sara
Weitman no Kotel com o bar-mitzvá Boris Sapocznik; 6. Denise e Jack
Wulkan e Rebeca Karniol; 4, 6 e 9. Rabino Michel Schlesinger; ve-
Terpins receberam o autógrafo no novo livro Argentinos, de Ariel Pala-
reador Floriano Pesaro e Stella Segal em momento pais e filhos
cios, na Livraria Cultura
no intervalo de O Mágico de Oz; 7, 8 e 10. Gabriel Zetune e Anita Schuartz; Michel Freller e Célia Kochen Parnes; Mona Dorf e Mônica Waldvogel, juntos em prol da Unibes
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1, 2 e 4. Dora Brenner, Stela Blay e Frida Malamud; homenageadas Lea
1. Família unida aplaudiu a chef Regina Czeresnia no Gourmet;
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1. No Banco Daycoval, Jayme Blay apresentou o palestrante Cláudio Adilson Gonçalez; 2, 8 e 9. Guita Zarenchansky e a cônsul Eszter Dobos; embaixador Csaba Szijjarto e Gaby Milevsky; a cônsul húngara em diálogo com Avi Meizler; 3. Jorge Mautner falou sobre a sua vida no Centro da Cultura Judaica; 4. Sucesso de Regina Czeresnia e o chef de sua casa, o Vege Tao, no Espaço Gourmet; 5. Em pleno dia de compras no D&D Shopping: Carina Korman; 6 e 7. Ester Dimenstein e Helena Chachamovits em mostra criativa no JKShopping
7. Ecos de uma festa de Purim no Espaço Adolpho Bloch 1. Carla e Jairo Pekelman; 2. A dupla vencedora da noite de jogadores de polo; 3. Gisele Waldstein, Mercedes Lajner, Ricardo Michael Captzans, Beatriz Petraru; 4. A blonde mascarada Eva Zimerman; 5. Vicepresidente Social Sidney Shapiro no preparo da maquiagem; 6. Clarice e Carlos Rosebaum aderiram à folia; 7. Produção especial no visual artístico de Norma Grinberg; 8. O Zorro dançou a noite toda com a sorridente espanholita
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1. A bacalhoada de Luís Espadana na noitada do Gourmet; 2. Alexandre Gronowicz falou sobre as uniões na Feliz Idade; 3 e 5. Após a última letra escrita, a Torá foi levada pelos jovens para a Sinagoga Beit Chabad de Santos; 4. As cordas soaram alto no Teatro Arthur Rubinstein; 6. Na Câmara Municipal, vereador Ari Friedenbach homenageou Célia Kochen Parnes, presidente da Unibes; 7 e 8. Suzi Gheler e Gustavo Rosa mostraram seus trabalhos para Lu Alckmin; 9. Grupo de Novas Gerações do CJL juntou-se ao jornalista Ariel Palacios, em noite de autógrafos
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juventude > jovens sem fronteiras
Ações que atraem gente do bem A FESTA OZNEIA BAR PROMOVIDA PELOS JOVENS SEM FRONTEIRAS E PELO HEBRAICA ADVENTURE REUNIU MAIS DE QUATROCENTOS PARTICIPANTES NA CASA, COM MÚSICA E BOA COMPANHIA
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altou espaço para tantos interessados em participar do Ozneia Bar, evento promovido em parceria pelo Hebraica Adventure e o Jovens Sem Fronteiras (JSF) como parte das comemorações de Purim. A referência a Purim foi o doce típico, oznei haman. A originalidade do título da festa se refletiu na ambientação da Casa. Dezenas de mesas convidavam os jovens a permanecer saboreando confortavelmente os petiscos servidos. Quem circulava admirava os cartazes e se informava a respeito das ações sociais realizadas pelo JSF. “Nosso trabalho com universitários e jovens profissionais é cada vez mais conhecido e alguns voluntários chegam até nós por meio de indicações de conhecidos que apenas ouviram falar bem das ações sociais que realizamos junto às entidades assistenciais”, conta Daniel (Jaca) Goldstein, engajado em uma ação no CCA Santa Rosa organizando atividades esportivas para sessenta crianças. “Em geral, o voluntário dedica uma hora se-
manal à ação. Eu, por exemplo, trabalho com vinte crianças a cada semana, isto é, vou ao CCA três vezes por mês”, comenta o jovem. Hoje são quinze as entidades beneficiadas com o trabalho dos cerca de setenta jovens engajados no JSF. “Trabalhamos com os mais diversos públicos. Há jovens que ensinam música para as crianças da Casa Hope, outros ministram oficinas de reciclagem e agora iniciamos um trabalho com adultos ligados à Apae”, afirma Jaca. Entre as entidades beneficiadas, a Unibes tem atualmente o dobro das ações do JSF do ano passado. “Os adolescentes que participavam da oficina de dança em 2012 quiseram continuar o trabalho e abrimos uma turma para os que pediram para aprender a dançar este ano. Serão sessenta garotos em duas turmas de trinta”, comemora Daniel. Cerca de vinte ativistas constituem um núcleo do JSF cuja atividade avança além de uma ação específica. “Nossa página no
Férias sem desperdício O grupo Chaverim é uma dentre as muitas entidades beneficiadas com ações do Jovens Sem Fronteiras. A proximidade entre a sede das duas organizações facilita a execução de novas ideias, como a oficina de reciclagem realizada na segunda quinzena de janeiro. Em quatro encontros, os chanichim (orientandos) aprenderam a fabricar papel reciclado que, depois, foi empregado na confecção de porta-retratos e descobriram como aproveitar garrafas pet para nelas plantar sementes de girassol. A PISTA DE DANÇAS FICOU LOTADA DURANTE O OZNEIA BAR
Facebook é bem movimentada e nas reuniões semanais ficamos a par de tudo o que acontece nas entidades parceiras”, informa o coordenador do SJF Bruno Kibrit. Ações sob princípios Aos poucos, o JSF incorpora um novo lema: “Quem está Incomodado, que mude o Mundo”. “Cada vez mais pessoas partilham dos nossos princípios, fundados na proteção ao ambiente, ética no cotidiano e respeito ao semelhante. As festas e eventos organizados em parceria com o Adventure atraem um público bem característico e, nelas, é quase impossível ouvir música, pois preferimos dar um objetivo cultural aos shows e tudo o que acontece neles. A grande procura pelos convites para o Ozneia Bar mostrou que há muita gente conosco”, observa o coordenador. “Agora preparamos um manual de conduta dos Jovens sem Fronteiras de modo a normatizar propostas, procedimentos e resultados das nossas ações”, informa outro integrante do núcleo central Eric Carlier. Ele conta que os participantes do evento Ozneia Bar foram convidados a colaborar com doações para a entidade “A Gente Ajuda”, que trabalha com moradores de rua. “Arrecadamos R$ 500,00, fora o valor investido nos convites. Valorizamos cada centavo desta ajuda. Também tivemos muitos inscritos para o palco aberto. Quem quis apresentou um número para o público”, completou Eric. (M. B.)
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1. Parte da diversão do Ozneia Bar foi ver muitos convidados soltando a voz no palco aberto; 2. Quem frequenta os encontros da Juventude aprecia
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música de qualidade; 3. Cerveja e petiscos diversos dominaram o cardápio do Ozneia Bar; 4. Gabriel Jarovsky e Marcela Plapler curtiram cada minuto da festa; 5. Quarenta jovens participaram do programa Taglit Hebraica e passaram dez dias em Israel
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1. A atração principal do Mega Purim 2013 foi o grupo humorístico Parlapatões, que apresentou novo espetáculo baseado no mundo do circo; 2. Sorteios de brindes oferecidos pela Ri Happy agitaram o público; 3. A apresentação dos professores do Centro de Música encerrou o evento de Purim; 4. Integrantes do Departamento de Teatro se encarregaram de apresentar uma versão da história de Esther
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parceiros hebraica > mais novidades com nossos parceiros
Acompanhe as últimas notícias da comunidade com os nossos parceiros
www.glorinhacohen.com.br
Siga o site da Glorinha É jornalista profissional e por mais de 25 anos trabalhou na imprensa judaica assinando páginas sociais para a Revista da Hebraica e para os jornais Resenha e Semana Judaica, tendo sido editora do Suplemento Social Espe-
cial da Tribuna Judaica, que circulou até agosto de 2003. Atualmente assina uma página na revista Shalom e coordena seu site pessoal, que tras dicas e notícias sobre a comunidade.
APRESENTADO POR MARKUS ELMAN Confira a programação: www.lehaim.etc.br
A COMUNIDADE EM SP O programa LeHaim é um registro dos eventos sociais e comemorativos da movimentada comunidade judaica de São Paulo. Com uma linguagem moderna, ganhou outras características, divul-
O programa oferece um show de variedades com musicais, reportagens, entrevistas, documentários e comentários em vídeo conferência diretamente de Israel, relacionados com a comunidade judaica e com o povo judeu.
gando os atos e eventos de caráter social e benemérito promovidos pelas entidades que reúnem os membros da sociedade judaica e criando projetos para resgatar a memória da comunidade.
Mosaico na TV conta com uma audiência de aproximadamente 250.000 telespectadores sendo que cerca de 2/3 dessa audiência não pertencem à comunidade judaica.
www.shalombrasil.com.br
O programa tem como proposta cultivar e divulgar as tradições judaicas, não só para os judeus , mas também para o telespectador em geral, que tem interesse em conhecer outras culturas.
Revista Shalom
Shalom Brasil é produzido pela Tama Vídeo , uma produtora e prestadora de serviços de São Paulo, tendo como diretor, o jornalista Marcel Hollender, que atua no mercado há mais de vinte anos.
www.revistashalom.com.br
A Revista da Comunidade Em janeiro de 1998 nascia a Revista Shalom, com o objetivo de valorizar o judaísmo através dos judeus e das instituições judaicas, tendo o Estado de Israel como seu centro.
Nas nossas páginas você encontra notícias, atualidades, e muito mais. Não fique sem a sua! Para assinar ligue (11) 3259-6211 revistashalom@terra.com.br
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esportes > cursos O DEPARTAMENTO GERAL DE ESPORTES OFERECE DIVERSAS MODALIDADES DE GINÁSTICA
Atividade física para todos HÁ SEMPRE LUGAR PARA MAIS UM NOS CURSOS DE NATAÇÃO, GINÁSTICA LOCALIZADA, ALONGAMENTO, HIDROGINÁSTICA E YOGA PARA ADULTOS OFERECIDOS PELO DEPARTAMENTO GERAL DE ESPORTES
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combate ao sedentarismo está em primeiro ou segundo lugar entre as metas dos sócios a cada início de ano. Passada a euforia do Carnaval, os professores de hidroginástica, natação, yoga e ginástica se animam com a possibilidade de aumentar o número de alunos. “Há vários horários à disposição para quem quiser conhecer os benefícios da hidroginástica. Não há problemas na adaptação de um novo aluno em qualquer época do ano”, afirma a professora Thaís Ravanelli, que passa as manhãs junto à piscina, atenta ao progresso dos alunos. “A hidro não tem contraindicação e cada aluno realiza exercícios de acordo com as necessidades específicas, que pode partir de um médico ou dele mesmo. É comum uma gestante assistindo às aulas, assim como alguém em fase de recuperação em tratamento de coluna, por exemplo. Durante a aula oriento cada um dos participantes a respeito dos
movimentos a fazer sob a água”, explica a professora. Embora pareça uma atividade fácil, Thaís quer muito mais do que um simples erguer das pernas. “Agitem as pernas, estiquem o movimento”, incentiva. Muitas das suas alunas participam também das aulas de alongamento, ginástica localizada e outras modalidades oferecidas pela área de cursos do Departamento Geral de Esportes. Em dias de sol, o treinamento é na Pista de Atletismo. Quando chove, os alunos utilizam as quadras do Centro Cívico ou do Poliesportivo. Fazem parte da área de cursos a ginástica para executivos, frequentada em sua maioria por sócios, e as aulas de yoga psicossomática, ministradas há décadas pela professora Rachel Flint. Natação É possível aprender a nadar em qualquer idade. O professor Mário Roque Marino Jr. aponta muitos alunos que su-
peraram fobias infantis e hoje disputam as raias da piscina com atletas do competitivo. “Antes de iniciar as aulas, converso com o candidato a aluno e explico a metodologia de ensino. Primeiro, ele aprende a respirar e, aos poucos, se acostuma a ficar na água. Só depois dessa primeira fase, começamos com os movimentos. É um esporte muito saudável”, comenta o professor. Enquanto Thaís orienta as alunas na piscina semiolímpica, ele ensina os alunos em outras do parque aquático. Ambos têm vários horários para atender as mamães que esperam os filhos saírem da escola e os universitários com pouco tempo para se dedicar ao esporte. “O Departamento Geral de Esportes reserva algumas raias só para as aulas de natação dos adultos, o que facilita a solução de qualquer obstáculo para os sócios experimentarem o prazer de nadar”, explica. (M. B.)
Corrida sem consequências Muitos sócios chegaram cedo na manhã de sábado reservada ao workshop de corrida Hebraica Run & Fun. O evento foi conduzido pelo diretor técnico da empresa Renato Dutra e pelos profissionais ligados aos grupos de corredores da equipe da Run & Fun. Primeiro, os participantes ouviram dicas de como praticar corrida sem prejudicar a saúde. Em seguida, na Pista de Atletismo, Renato indicou exercícios para alongar os músculos e outros que podem ser feitos nos dias em que não há treinamento. Em seguida, mostrou as diferenças, vantagens e desvantagens dos treinos na esteira, na rua e como conciliar os treinos com outras atividades durante a semana.
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esportes > judô
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Camila veste o quimono de Israel A IMPRENSA ISRAELENSE DEU DESTAQUE À ALIÁ DA JUDOCA CAMILA MINAKAWA. ELA INICIA O CICLO OLÍMPICO COM CHANCES DE DISPUTAR MEDALHA EM 2016, NO RIO DE JANEIRO, REPRESENTANDO ISRAEL
COMO PARTE DA SELEÇÃO ISRAELENSE, CAMILA TERÁ CHANCES DE LUTAR NOS PRÓXIMOS JOGOS OLÍMPICOS EM 2016
dison Minakawa estava emocionado quando anunciou durante reunião de coordenação do Departamento Geral de Esportes que a primogênita Camila embarcaria dias depois para Israel. “Recebemos um convite da Federação Israelense de Judô e a Camila disputará como atleta da equipe israelense, em igualdade de condições com outras judocas, uma vaga na equipe olímpica na categoria 57 kg”, afirmou o orgulhoso pai. Camila embarcou numa terça-feira do início de março. A imprensa israelense e a Agência Judaica divulgaram amplamente a decisão da atleta de fazer aliá. O boletim The Jewish Press.com destacou o fato de Camila ter pertencido, na infância, ao movimento juvenil Habonim Dror e a medalha de ouro conquistada na XVIII Macabíada, em 2009. Segundo o noticioso, “o treinador da equipe feminina israelense judoca Shani Hershko convidou-a quando a conheceu em um campo de treinamento internacional, há alguns meses”. “Camila elogiou o alto nível de treinamento, o comprometimento e o profissionalismo dos atletas da equipe israelense”, afirmou Hershko. “Em decisão com a mãe, ela disse que o seu lugar é aqui, em Israel, e revelou o desejo de representar o Estado de Israel na próxima olimpíada. Estou certo de que uma atleta vencedora de uma medalha de bronze no campeonato mundial sub-21 contribuirá muito com a nossa talentosa equipe de judô”, declarou Hershko à imprensa israelense. O site especializado em esportes One – o primeiro a publicar a notícia – salienta a origem judaica materna da judoca e o fato de o pai ser árbitro internacional da modalidade. Na reunião de coordenadores da Hebraica, Edison mencionou uma possível participação da filha na XIX Macabíada Mundial, em julho próximo e “espero que além do esporte, Camila estude e seja bem-sucedida em sua nova casa”. Como está prevista a participação de judocas brasileiros na XIX Macabíada, ele encontrará a filha ainda este ano, provavelmente em Jerusalém. (M. B.)
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esportes > curtas
Convites para seleções Três atletas do polo aquático – Pedro Vergara, Leon Psanquevich e Felipe Alterthum – foram selecionados para a seleção brasileira junior que disputou o Campeonato Sul-Americano em Santiago do Chile, há um mês. O atleta de handebol Cauê Herrera de Oliveira foi um dos 21 atletas convocados pelo técnico Jordi Ribera para uma fase da seleção brasileira júnior, em Blumenau, Santa Catarina. Desse grupo, dezesseis disputaram o Campeonato Pan-Americano, na Argentina. Essa é a primeira convocação do atleta que, aos 19 anos, já tem no currículo três vice-campeonatos paulistas pela Hebraica. (M. B.)
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Futsal campeão
A Hebraica venceu a Copa Acesc de Futsal 2013, realizada na sede do Clube Helvetia, reunindo também as equipes sub-9 do Alphaville Tênis Clube e do Spac. As vitórias contra o Helvetia (8 x 0) e o Alphaville (5 x 2) abriram a galeria de títulos esportivos em 2013. A Hebraica inscreveu onze sócios e alunos da Escola de Esportes, nascidos em 2004, e quatro atletas estreantes, nascidos em 2005.
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Clínica de vôlei
Atletas das categorias iniciante (10 a 12 anos) e júnior (13 a 15 anos) participaram de uma clínica de duas etapas nas quais treinaram e atuaram em quadra junto com os integrantes da seleção paulista juvenil. No treino, os sócios participaram formando duplas com os da seleção no aquecimento de rede, e na parte coletiva. Fernando Matone Ejchel, da Hebraica, surpreendeu-se com o nível técnico e desempenho dos atletas mais velhos. Para o coordenador de vôlei, este tipo de atividade desperta o interesse pela modalidade e a vontade de, um dia, chegar à seleção paulista ou até a brasileira. “Esse foi o caso de muitos atletas, como o Marcelo Elgarten (Marcelinho), ex-levantador da seleção e vencedor de um título em 2008.”
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Título individual
Deborah Kabani foi a primeira entre os associados a conquistar um título individual em 2013. Ela venceu a primeira etapa do Campeonato Brasileiro de Maratonas Aquáticas, no Rio de Janeiro. A prova foi no início de março e Deborah conquistou o primeiro lugar na categoria 45 anos completando em 1h19 o percurso Challenge, que incluiu as praias do Leblon, Ipanema e Arpoador. Com o resultado, também ganhou o primeiro lugar entre os nadadores da Associação Brasileira Master de Natação. No placar geral, ela ficou em décimo primeiro lugar entre as atletas inscritas. Com os pontos acumulados na primeira etapa, agora concorre ao título de “Rainha do Mar” nas próximas etapas do campeonato, em maio e dezembro.
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espaço saúde
Doença de Parkinson: seguindo em frente
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uando alguém com mais de 40 anos começa a apresentar um tremor, quase sempre vem à tona uma questão: “Será que é doença de Parkinson?”. A resposta é clara: “ Nem sempre...”. A doença de Parkinson é provavelmente uma das mais comuns doenças neurodegenerativas do adulto, além disto, seu risco de aparecimento cresce muito a partir das quinta e sexta décadas de vida. Em uma minoria dos casos há uma história familiar da doença, em especial quando o quadro parkinsoniano inicia-se antes dos 40 anos de idade e várias pessoas da família são acometidas. Os mecanismos causadores da doença ainda não são totalmente claros, porém sabe-se que a morte das células dopaminérgicas (produtoras do neurotransmissor dopamina) da chamada “substância negra cerebral” desempenham um importante papel. Acredita-se atualmente que a perda dopaminérgica seja decorrente da junção de inúmeros fatores endógenos, ambientais e genéticos, que atuando conjuntamente, poderiam levar ao surgimento da doença. Os principais sintomas da doença são o tremor (que surge mais frequentemente no repouso), rigidez muscular, a bradicinesia (lentidão dos movimentos) e perda do equilíbrio postural. Porém não são necessários todos os sintomas para se fazer o diagnóstico da doença. O sintoma principal para o diagnóstico é a chamada bradicinesia, ou lentidão dos movimentos. O tremor, tão temido pelos pacientes, curiosamente nem sempre está presente, mesmo em fases avançadas da doença. É importante lembrar que outras formas de tremores, que podem se confundir com a doença de Parkinson, podem também aparecer em pacientes em idade adulta, como por exemplo, uma intensificação do tremor fisiológico e tremores secundários ao uso de medicações
(são comuns com uso de algumas medicações para tratamento de labirintopatias, hipertensão arterial, epilepsia e crises asmáticas). Nos últimos anos houve uma grande evolução no tratamento da doença de Parkinson, sendo que atualmente é possível se ter uma vida bastante produtiva e independente mesmo sendo portador da doença. Além da levodopa, que é a principal medicação desde a década de 1960, temos novas medicações à disposição, entre elas os agonistas dopaminérgicos, inibidores das enzimas COMT e MAO, entre outras novas. Novas terapias celulares e envolvendo células-tronco estão em pesquisa, mas ainda não há uma recomendação segura para o uso destas técnicas no tratamento desta doença. O uso de técnicas cirúrgicas, principalmente a “estimulação cerebral profunda” pode ser uma boa opção em pacientes selecionados, principalmente naqueles com efeitos colaterais medicamentosos decorrentes do longo tempo de tratamento. Não há até o presente momento um tratamento preventivo ou curativo para a doença, mas um tratamento medicamentoso bem elaborado, associado a uma abordagem multidisciplinar com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional pode tornar o vida destes pacientes bem mais confortável. Estudos recentes demonstraram que a atividade física regular pode de alguma forma retardar ou amenizar a progressão dos sintomas parkinsonianos e atualmente é recomendado que a atividade física faça parte do tratamento dos pacientes parkinsonianos. Um dos mais antigos pacientes parkinsonianos que tenho atendido nos últimos anos, a despeito de severas dificuldades motoras, após mais de vinte anos de doença, sempre me diz ao final de cada consulta: “Doutor, o mais importante é seguir em frente”. Concordo com este sábio.
PROF. DR. ORLANDO G P BARSOTTINI, DO HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN
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magazine > capa | israel, 65 anos | por Ariel Finguerman ESTE MAPA DO MUSEU DA DÍÁSPORA (BEIT HATFUTZOT), EM TEL AVIV, MOSTRA AS GRANDES CORRENTES MIGRATÓRIAS PARA ISRAEL
Bar-mitzvá
de Israel NOSSO CORRESPONDENTE FEZ UM BALANÇO DOS TREZE ANOS EM QUE VIVEU EM ISRAEL E REGISTRA AS CONTRADIÇÕES E OS TEMORES DE UMA DAS SOCIEDADES MAIS COMPLEXAS E DINÂMICAS DO MUNDO
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os treze Iom Haatzmaut que passei aqui em Israel, uma das minhas grandes alegrias foi perceber o desenvolvimento do hebraico, a língua dos nossos antepassados, na minha mente. Conseguir ler o Tanach no original, assistir a uma peça de teatro do Habimá – grandes prazeres. E também ler os jornais israelenses. Mas um dos primeiros artigos que consegui ler por inteiro me causou um grande desconforto. Era uma entrevista do jornal Haaretz com o então primeiro-ministro Ehud Barak, um cara a quem admiro, pianista nas horas vagas, inteligente, e que poderia ter sido muita coisa na vida, mas dedicou os melhores anos da vida à segurança do país. Nessa entrevista perguntaram se “o sionismo é, ainda, uma experiência”. Isto é, se o Estado de Israel um dia poderá deixar de existir. Nos primeiros meses de vida aqui, foi uma surpresa para mim constatar que os israelenses estão conscientes de uma certa fragilidade do país. E a resposta de Barak, o militar mais condecorado da história israelense, surpreendeu ainda mais: “O sionismo é um experimento histórico muito importante, que considero ter chances. Mas não sei dizer como tudo isto vai se desenvolver, porque esta região é diferente de qualquer outra do planeta. Não podemos dizer a respeito daqui o que se diz, por exemplo, da Sibéria: esteve ali, está hoje e estará no futuro. Não é possível dizer que Israel sempre existiu, é estável e existirá para sempre”. Na condição de líder da nação, Barak foi sincero. Em 65 >>
EM 1938, SOLDADOS INGLESES CONTROLAM A SAÍDA DE JUDEUS DE DETERMINADOS BAIRROS DE JERUSALÉM, ONDE RESIDIAM HÁ DÉCADAS
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O PROFESSOR YEHUDA BAUER PERGUNTA SE ISRAEL TEM CHANCES DE SOBREVIVER
>> anos de história do Estado de Israel ocorreram verdadeiras maravilhas, grandes conquistas que assombraram o mundo, e tantas que a lista seria muito longa para enumerá-las. Mas nada garante que o país existirá a longo prazo, que os netos dos nossos netos terão a oportunidade, se quiserem, de viver em um país de maioria judaica. Os desafios são muitos, externos e internos: a bomba nuclear do Irã, uma possível terceira intifada, armas químicas nas mãos do Hizbolá, entre outros. No plano interno, existe o conflito cada vez mais intenso entre ortodoxos e laicos, a questão demográfica da minoria árabe, as rusgas entre as diferentes etnias judaicas no país. Talvez outros países também tenham desafios como estes. Talvez o temor israelense seja produto da experiência milenar judaica de grandes destruições, que continuam assombrando o “novo homem” sabra. Talvez, mas esta é a cabeça que temos e esta é a conclusão. Há algumas semanas, o Haaretz publicou entrevista com Yehuda Bauer, 87 anos, um dos mais importantes historiadores do Holocausto e professor emérito da Universidade Hebraica de Jerusalém. A certa altura, a jornalista fez a grande pergunta: “Israel tem chance de sobreviver?”. De novo, a surpresa, treze anos mais tarde, ao perceber que existe uma dúvida no ar a respeito do futuro da nação. Bauer: “Existe o perigo de que a história de Massada se repita. Uma situação em que Israel fique isolado do mundo poderia levar a uma reação de nacionalismo extremo e a postura de ‘que eu morra com os filisteus’. Nossa situação atual lembra o que aconteceu na época roma-
na, na revolta militar e no confronto com os ‘Estados Unidos’ daqueles tempos. Talvez não possamos falar em um choque militar com os EUA, mas em um isolamento total, sanções e fome, que poderia levar a reações extremas em razão do pessimismo e desespero”. Pessimismo, paranoia ou realismo? Somente a História dirá. Nossa tendência é considerar que vivemos numa época de progresso, “início do século 21”, em que grandes churbanot (“destruições”) não podem mais acontecer. Mas assim pensavam também as gerações passadas, pegas de surpresa. Além disso, devemos nos lembrar de que o povo judeu é também otimista por definição (quantos cristãos já me confessaram a admiração com a alegria dos casamentos judaicos). E Iom Haatzmaut, ao menos aqui, em Israel, é uma festa de alegria pelas coisas muito boas que também aconteceram na história judaica, e não foram poucas. Basta continuar lendo o que disse Ehud Barak na mesma entrevista ao Haaretz: “Vejo aqui forças positivas enormes e um dos mais ricos reservatórios genéticos, originários de pessoas que vieram das mais diferentes culturas e países. Esta combinação cria um acontecimento fascinante, um tipo de redemoinho intenso de tendências. Mesmo quando a situação é difícil, existe um sentimento positivo fora do comum, porque somos pequenos e estamos alertas o suficiente, com fervor interno, provocando o tempo todo um processo de renovação e criatividade”. O professor Bauer, que escapou por pouco dos nazistas na antiga Tchecoslováquia, onde nasceu, e que ao chegar ao novo país foi alistado no Palmach para lutar na Guerra da Independência, também confia em que tudo pode dar certo. “O Estado de Israel é forte e tem bons fundamentos e boas bases. Há gente boa neste país. Se de um lado falo que Israel enfrenta um grande perigo, por outro existe a chance de uma mudança de direção. E esta é uma possibilidade pela qual vale a pena viver”. Iom Haatzmaut Sameach
O visto número um Joseph Kessel
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL FRANCE-SOIR, ESTE TEXTO FAZ PARTE DE UMA SÉRIE DE REPORTAGENS DO JORNALISTA FRANCÊS JOSEPH KESSEL, O PRIMEIRO A POUSAR EM SOLO ISRAELENSE UM DIA DEPOIS DA DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DO ESTADO JUDEU, EM 14 DE MAIO DE 1948
“A Os desafios são muitos: a bomba nuclear do Irã, uma possível terceira intifada, armas químicas nas mãos do Hizbolá, entre outros. No plano interno, existe o conflito cada vez mais intenso entre ortodoxos e laicos, a questão demográfica da minoria árabe, as rusgas entre as diferentes etnias judaicas
lô, alô, Haifa Tower? Alô, alô, Haifa Tower?” Os seis passageiros do Petrel, pequeno avião que haviam alugado em Paris para tentar chegar à Palestina – onde os aparelhos de linhas aéreas não podiam mais aterrissar em razão da guerra que ameaçava o país –, ouviam ansiosamente o piloto chamar em pleno voo a torre de controle de Haifa. No horizonte, no meio da bruma de calor, advinhavamse as neves do monte Hermon e a linha costeira. Como sempre, diante de um objetivo ardentemente desejado e difícil de atingir, a impaciência transformava-se em febre. Depois de pedidos, fracassos, manobras e riscos, depois de haverem pousado em Bríndisi, Atenas e Chipre, os seis passageiros percebiam a última chance de chegar a tempo, desenhada em pedra e areia. – Alô, alô! Haifa Tower? Agora, estávamos sobrevoando exatamente o litoral. Um enxame de lembranças emergia da minha memória. Elas tinham mais de vinte anos... A Palestina dos pioneiros... Os kibutzim miseráveis... A extrema pobreza... Eu não havia mais voltado a esses lugares. Mas eu conhecia a sua surpreendente história muito bem. As aglomerações urbanas haviam se transformado em cidades; as colônias pantanosas em aldeias prósperas e arborizadas. E a guerra de 1940. E a Brigada Judaica. E o entusiasmo a caminho da independência. – Alô, alô! Haifa Tower... Os ingleses ainda estavam lá. Mas era o último dos seus redutos, o centro de evacuação. Porque a Grã-Bretanha com a sua frota, sua aviação, seus exércitos e seu império abandonava a Palestina, vencida por um punhado de homens. Eles se insurgiram contra ela, porque enquanto mandatária ela traíra o seu dever, estrangulado a imaginação judaica, apreendido os heroicos navios dos refugiados, depois deportados para os
campos em Chipre. Guerrilha, terrorismo, repressão, execuções, torturas... E a Inglaterra obrigada a ceder, a renunciar ao seu mandato, entregá-lo às Nações Unidas. E lá, enfim, apesar de adversários ferozes, um voto memorável fizera nascer o Estado de Israel. – Alô! Alô! Haifa Tower... Era assim que nascia a quimera, o delírio. Assim os sonhadores, os místicos, os loucos tinham razão. Nessa manhã de 15 de maio de 1948, quando sobrevoávamos a costa da Palestina, o povo da Bíblia reviveria na sua terra retomada. Mas por quantos dias? No mesmo instante em que os ingleses passavam os poderes para o governo de Israel, seis nações árabes se lançavam com superioridade esmagadora em homens e armas contra o recém-nascido Estado judeu, minúsculo, retalhado em fragmentos isolados, vítima, aparentemente, de incontestável fragilidade. Era por esta razão que os passageiros do Petrel estavam tão apressados, tão ansiosos em chegar. – Alô! Alô! Haifa Tower... Alô! Alô! Hai... O piloto apertou com força contra as orelhas o capacete e depois voltou para mim o perfil de ave de grande envergadura. – Tenho ordem para pousar em Haifa, disse. Olhei meus companheiros de viagem e nos sentimos todos ligados pela mesma inquietude. Era em Tel Aviv que queríamos aterrissar, Tel Aviv pertencia completamente aos judeus. Em Haifa, zona de embarque para as tropas britânicas, o que fariam conosco, a quem fora negado o visto britânico? – Insista em Tel Aviv, pedi ao piloto. Ele balançou a cabeça e disse: – É a formalidade! Tem de ser Haifa e não outro lugar. Um homem moreno, um feixe de nervos, sentado atrás de mim, quase gemeu: – Ter esperado isso por dois mil anos e talvez por nada... Quando o avião acabou de manobrar na pista cimentada, três rapazes de camisa e bermudas caquis, uniforme de to>>
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>> dos os países quentes, vieram em nossa direção... – De onde vocês vêm?, perguntou brevemente o chefe do grupo. Falava inglês, mas com sotaque. Então o moreno, aquele que era um feixe de nervos, pôs-se a dar explicações, muito rapidamente, numa língua de sílabas singulares e o rosto do outro se iluminou. E respondeu na mesma língua. Nosso companheiro de viagem, passando do hebraico para o francês, gritou então: – São judeus! Esta manhã os ingleses lhes entregaram o controle civil do aeródromo. Nosso avião é o primeiro a tocar o solo da Palestina livre, do Estado de Israel e somos os primeiros a desembarcar. Os primeiros! Essas palavras que pronunciava com um frêmito religioso pareciam todas inscritas ao nosso redor, sobre os rostos, nos olhos, na atitude das pessoas. O primeiro controle, a primeira polícia, a primeira alfândega do Estado de Israel. De uniforme ou em trajes civis, todos esses homens levavam consigo a alegria, a gravidade, a expressão maravilhada dos grandes começos. Esta emoção passou para mim quando um rapaz, muito jovem, ruivo e rude, registrou no meu passaporte, em letras hebraicas e com um sorriso tímido e terno, o visto de entrada do
A ARQUITETURA BAUHAUS LEVADA PELOS IMIGRANTES JUDEUS ALEMÃES DEIXOU MARCAS EM TEL AVIV AQUI NA PRAÇA DIZENGOFF
Estado milenar que acabava de ressuscitar e disse: – O senhor tem sorte. É o visto número um do nosso país. Foram chamados carros de Haifa para nos levar a Tel Aviv. Havia pouca animação. A ligação regular com o mundo exterior ainda não estava restabelecida. Nosso aviãozinho ia decolar. Devia pegar em duas viagens os passageiros judeus detidos em Chipre que conhecêramos durante a escala na ilha. Eles vinham da África do Sul. O piloto do grande avião de linha que os transportara não queria arriscar um voo à Palestina. Um bimotor leve da Haviland pousou: era pintado de ocre e enfeitado de caracteres árabes; pertencia a uma linha da Transjordânia e servia na evacuação de funcionários britânicos. Estes, num canto, à sombra, pareciam isolados, perdidos. Emigrantes. No entanto, todo o aparato da força
britânica ainda estava lá. Soldados muito jovens, de tez lisa, montavam guarda. Um sargento, que parecia saído de uma narrativa de Kipling, alto, ereto, taciturno e de inacreditáveis bigodes, passou lentamente. Há semanas ele esperava que o evacuassem e aos seus dois cães. Nem avião nem navio aceitavam os animais. Ele esperava. Visão estranha, a deste terreno calmo e quase vazio, com seus antigos senhores que olhavam tranquilamente o poder passar para outras mãos. Viagem estranha pelos bairros árabes de Haifa, desertos, laranjais tremulantes e silenciosos, enquanto em todas as fronteiras do Estado nascido ontem, pairava o perigo, juntavam-se hordas e regimentos. Nosso carro parou. Desfilava um comboio de caminhões carregados de homens de capacete e armados. Sólidos, ardentes, metralhadora em punho, cantavam em hebraico. Alguns desses homens eram tão loiros e tinham feições tão plácidas que pareciam eslavos; outros, tão morenos e de traços tão agudos, que poderiam ser confundidos com árabes. E havia verdadeiras máscaras de mongóis. E figuras da mais extrema fineza. Mas a mesma paixão, a mesma fé os movia. E enquanto desfilavam, caminhão após caminhão, com os capacetes e as armas, eu me perguntava por qual mistério ou milagre eles estavam ali. Em vão eu tentava imaginar, inventar os caminhos que, de geração para geração, depois de dois mil anos, e depois da dispersão ordenada por Tito, os haviam conduzido por lugares lendários. Através de quais migrações, quais expulsões, quais proscrições, quais inquisições, quais massacres, quais autos-de-fé e quais pogroms. Através de séculos e séculos de medo, guetos, desprezo e tortura. Um dia, no começo da era cristã, a vontade de Roma lançou esse povo aos quatro ventos. Suas raízes pareciam ter sido arrancadas desta terra para sempre. Quase vinte séculos se passaram. E os ventos de todos os países, de todos os horizontes, tinham trazido para cá as sementes desse povo indestrutível e criaram raízes com uma rapidez e força prodigiosas. E a árvore havia brotado e o povo estava de novo em casa, na terra, no Estado de Israel. Não importa o país, confissão ou opinião que se defenda, não se pode deixar de tomar pelo espanto e pela admiração diante desta aventura sem igual na história da perseverança e bravura humanas. Era compreensível que aqueles que a realizaram e a viveram estivessem, em um dia como aquele, tomados pelo mais alto orgulho e pelo mais grave fervor. Os caminhões desapareceram na poeira com seus jovens, a maioria nascidos na Palestina e entre os quais muitos condenados à morte para defender uma pátria que tinha, ao mesmo tempo, apenas um dia e milhares de anos de existência. Entre essas duas pátrias, havia apenas um lugar lá no alto, dentro da Jerusalém inexpugnável: o muro que sobrevivera ao templo destruído, e que via, depois de vinte séculos, ressurgir os batalhões de Israel. >> Tradução de Julio Nobre
Joseph Kessel, testemunha da história Joseph-Élie Kessel nasceu em 31 de janeiro de 1898 em Villa Clara, Argentina. A família do pai era ortodoxa e originária de Kaunas, na Lituânia. Samuel Kessel imigrara para a França, onde estudaria medicina sob os auspícios da fundação do barão Maurice de Hirsch. Raïssa, a mãe de Joseph, era a segunda filha de um rico comerciante de Orenburgo, sul da Rússia. Conheceu o marido Samuel quando estudava medicina em Mont-pelier. O jovem casal embarcou em 1896 para a Argentina porque, para Samuel, esta era a maneira de retribuir a ajuda do barão. Em 1899, Raïssa e Samuel voltaram para a Rússia acompanhados do pequeno Joseph. Em 1908, trocaram Orenburgo por Nice, devido à saúde de Samuel, debilitada pela tuberculose. A trajetória de Kessel acompanha os principais eventos do século 20. Judeu eslavo nascido na virada do século, testemunhou os pogroms, as grandes migrações, a Revolução Russa, a Primeira Guerra Mundial, as convulsões sociais alemãs no entreguerras, o extermínio dos judeus sob o regime nazista e a criação do Estado de Israel. Em 1926, embarcou pela primeira vez numa viagem à então Palestina. No mesmo ano, publicou suas impressões a respeito da empreitada dos pioneiros em Terre d’Amour. Boa parte das experiências de Kessel está registrada nas reportagens escritas para jornais como L’Oeuvre, La Revue de France, Le Figaro, Le Matin, Revue de Deux Mondes, France-Soir, entre outros. Causou escândalo em 1928 com a publicação de Belle de Jour, romance que, quarenta anos mais tarde, daria origem ao célebre filme A Bela da Tarde de Luís Buñuel e lançaria a atriz Catherine Deneuve ao estrelato. Joseph Kessel é tio de Maurice Druon, filho do seu irmão Lazare, também conhecido como Lola e que se suicidou aos 21 anos em 1920. Depois da morte de Lazare, a viúva casou-se com René Druon, que adotou o pequeno Maurice e deu-lhe o sobrenome. Ele é autor da famosa coleção Os Reis Malditos, série de sete romances a respeito da monarquia francesa. Joseph Kessel morreu em 23 de julho de 1979.
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magazine > capa | israel, 65 anos ISIDORE FAINSTEIN STONE CUJA IRONIA AJUDOU A ABREVIAR
O olhar da esquerda na criação do Estado de Israel Por Michael C. Kotzin *
EM 1946, O CÉLEBRE JORNALISTA DE ESQUERDA I. F. STONE TORNOU-SE O PRIMEIRO REPÓRTER AMERICANO A VIAJAR COM “PESSOAS DESLOCADAS” (PD’S), OS JUDEUS EUROPEUS QUE TENTAVAM ENTRAR NA PALESTINA SOB O MANDATO BRITÂNICO. COMO AS AUTORIDADES BRITÂNICAS CONSIDERAVAM ESSA UMA IMIGRAÇÃO ILEGAL, A VIAGEM FOI PERIGOSA PARA ESSES SOBREVIVENTES DO HOLOCAUSTO
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ublicado inicialmente como uma série de artigos jornalísticos e depois em forma de livro sob o título Underground to Palestine (“Clandestino para a Palestina”, Pantheon Books, 1978, 260 páginas), a narrativa de Stone a respeito das experiências que viveu é comovente e dramática ao descrever o doloroso destino das pessoas às quais se juntou, e da capacidade de resistência delas. Lançado originalmente em 1978, o livro merece ser relido pelo vigoroso relato de uma testemunha ocular do período anterior à criação do Estado de Israel e que demole as premissas básicas endossadas por pessoas que hoje se alinham às inclinações políticas de esquerda de Stone, mas rejeitam a legitimidade de Israel como o Estado judeu. Stone começa assim: “Esta é uma história de aventura pessoal. Fui o primeiro jornalista a percorrer o movimento de resistência judaica na Europa e chegar à Palestina em um barco considerado ilegal. Mas isso é mais do que uma narrativa jornalística. Sou americano e – sendo o mundo do jeito que é –, sou também e inevitavelmente judeu. Nasci nos Estados Unidos. Meus pais, na Rússia. Se não tivessem imigrado na virada do século para a América, eu poderia ter ido para as câmaras de gás na Europa Oriental. Eu poderia ter sido um PD (“pessoa deslocada”), maltrapilho e sem-teto como aqueles com quem viajei. Eu não me juntei a eles como um turista em busca do pitoresco, nem mesmo como jornalista apenas à procura de uma boa história, mas como um parente, cumprindo uma obrigação moral para com os meus irmãos. Como jornalista eu queria, à minha própria maneira, fornecer um retrato das suas provações e aspirações, na esperança de que as pessoas boas, judias e não judias, pu-
dessem se mobilizar para ajudá-los.” Ao refletir sobre as condições que as pessoas deslocadas enfrentavam, Stone concluiu rapidamente que não havia nenhuma maneira de que a Europa, de onde tentavam fugir, fosse um lugar onde pudessem reconstruir a vida com êxito pois as famílias foram dizimadas, as casas destruídas e o ódio antissemita que levara ao Holocausto continuava generalizado. Ao lembrar a primeira visita à Palestina, um ano antes, Stone escreveu: “Como a maioria dos judeus americanos, eu não era nem sionista nem antissionista”. Mas “me apaixonei pelo lugar, com sua vitalidade e seu espírito pioneiro. Compreendo as motivações por trás do Retorno”. E ao viajar com as pessoas deslocadas deixou claro que, para ele, como para aqueles com quem estava, a lógica sionista tornou-se um imperativo: “O ‘atrativo’ da Palestina que ouvi expresso muitas vezes, não só pelos jovens chalutzim [pioneiros] no trem, mas também por pessoas mais velhas, era: ‘Não sou sionista, sou judeu. Basta isso. Temos vagado o suficiente. Temos trabalhado e lutado por muito tempo em terras de outros povos. Devemos construir uma terra nossa. Mir mussen bauen a yiddish land [Devemos construir uma terra judaica]’.” Stone descreve os jovens holandeses cujos pais foram mortos pelos nazistas: “Eles não estavam fugindo da Holanda – eles iam para a Palestina. Eles falavam da terra natal com um afeto triste, mas eles eram chalutzim, pioneiros sionistas empenhados em construir uma pátria judaica”. Assim como os sobreviventes com quem viajava, Stone se referiu repetida-
A GUERRA DO VIETNÃ E A DESTRUIR UNANIMIDADES NOS EUA
mente ao destino almejado como Eretz, ou “a terra” – abreviação de Terra de Israel. Aquelas pessoas deslocadas tentavam viajar, como deixa claro, não na condição de colonizadores europeus, mas de judeus orgulhosos ansiosos para reconstruir a vida na terra dos antepassados. O objetivo delas era se reunir aos pioneiros sionistas que vieram nas décadas anteriores para, juntos, determinarem o futuro coletivo de um povo ju-
deu livre. Stone compartilhou o orgulho dedicando o livro a “esses heróis anônimos, os schlichim da Haganá” [emissários da milícia do pré-Estado judeu que se transformaria na Força de Defesa de Israel –, e organizadores do resgate relatado por Stone]. “Devo dizer que nunca conheci um grupo mais nobre de seres humanos do que estes schlichim que encontrei no exterior”, escreveu Stone. Testemunha da história Stone se envolveu nas experiências angustiantes das pessoas deslocadas ao cruzar o Mediterrâneo enfrentando funcionários britânicos durões e um navio que parecia se desmanchar a cada onda. Em um determinado ponto da viagem, acreditando equivocadamente que já se aproximavam do objetivo, todos receberam o “certificado de imigração ilegal”, declarando terem sido “considerados qualificados pelos representantes da comunidade judaica da Palestina para o repatriamento a Eretz Israel”. Os certificados citavam “quatro autoridades responsáveis pela ação da comunidade judaica”– com base não somente na ligação do povo judeu histórico com a terra como vinculada a antigos textos religiosos e a documentos modernos e decisões legais: “O primeiro foi Ezequiel: ‘E habitarão nas terras que dei a meu servo Jacó, na qual habitaram vossos pais; e habitarão nela, eles e seus filhos, e os filhos de seus filhos, para sempre’. O segundo, Isaías: ‘Com grande compaixão te recolherei’. O terceiro, a Declaração Balfour, de novembro de 1917, e o quarto, e último, o Mandato da Palestina [Liga das Nações].” Embora durante a viagem da Europa se tenha ligado a outros passageiros, depois de o navio atracar em Haifa, Stone vestiu o uniforme de correspondente militar americano e separou-se dos novos residentes em quarentena do que viria a ser a população do Estado de Israel. No epílogo, fala mais do assunto de modo a apoiar os desejos das “pessoas deslocadas” “Para a maioria delas, a Palestina não é apenas a possibilidade de uma vida nova >>
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>> e nem um refúgio, mas, sim, o país para o qual cada um deles quer ir... Isso é tão difícil de entender? Eles têm sido chutados como judeus e agora querem viver como judeus. Muitas vezes ouvi dizer: ‘Queremos construir um país judeu. (...) Estamos cansados de colocar o nosso suor e sangue em lugares onde não somos bem-vindos. (...) Temos vagado o suficiente’. Esses judeus querem o direito de viver como um povo, para construir como um povo, para dar sua contribuição para o mundo como um povo. Estas aspirações nacionais são menos dignas de respeito do que as de qualquer outro povo oprimido?” E apresenta a fórmula para conciliar a presença de judeus e árabes na terra: “Eu mesmo gostaria de ver um Estado binacional árabe-judeu criado na Palestina e Transjordânia, o todo como parte de uma Federação Semita do Oriente Médio”. Era uma posição que naquela época alguns sionistas também defendiam embora a partir de premissas que, já então, se provaram fora da realidade, como concluiu o Comitê Especial das Nações Unidas a respeito da Palestina depois de viagem à região, no verão de 1947. E ainda mais fora da realidade com os acontecimentos à medida que os movimentos nacionalistas judeus e palestinos tomaram rumos divergentes. A maioria dos que hoje desafiam o Plano de Partilha da ONU, de novembro de 1947 – que sugeria a criação de um Estado judeu e um árabe na Palestina e buscava a “solução de um Estado único” –, poderia ser acusada de defender a destruição do Estado de Israel, isto é, uma posição em desacordo com o espírito do comentário de Stone. Política de compensação Não é pouca ironia o fato de aqueles que se opõem ideologicamente à existência de Israel falsamente acusarem o país de ser um enclave colonial no Oriente Médio, e o sionismo uma empresa colonial europeia. Para as “pessoas deslocadas” e que mais tarde se tornariam cidadãos de Israel, o relato de Stone revela que isso estava muito longe da realidade. Em vez de agentes de uma potência imperial europeia, os refugiados se consideravam exilados de retorno à terra natal do seu povo. Os verdadeiros colonizadores da época eram, de fato, os es-
COM A MULHER ESTHER À MESA ONDE ELE REDIGIA TEXTOS DEVASTADORES
forçados funcionários do império britânico em manter os judeus fora do território – independentemente do desespero das circunstâncias – e que os consideravam e tratavam como imigrantes ilegais. Além do ataque movido por razões ideológicas, os atuais opositores à existência de Israel e cuja criação consideram o pecado original, também apóiam a posição de que se os judeus podem ter sofrido nas mãos dos europeus, é injusto que, em compensação, a população árabe da Palestina aceitasse os sobreviventes deslocados e os primeiros refugiados judeus da opressão cristã europeia. Esta tese é em parte refutada por Stone para quem muitas das “pessoas deslocadas” eram movidas mais pelo objetivo de se mudar para uma pátria judaica do que pelo impulso de sair da Europa. Além disso, na terra havia judeus antes mesmo de os pioneiros sionistas começarem a chegar da Europa no final do século 19, e as mudanças populacionais de 1948 incluíram a saída de refugiados palestinos e o desembarque de centenas de milhares de judeus refugiados de terras árabes onde viveram, durante séculos e tinham forte sentimento de ligação com a terra de Israel. Anos depois de terminar o livro, a condição de Stone como um jornalista do maior valor e símbolo da esquerda só aumentou e isso ficou evidente durante a guerra do Vietnã, quando, em reportagens bem fundamentadas e comentários contundentes que publicava na I. F. Stone Weekly, enfrentou o sistema e defendeu a saída dos Estados Unidos do país asiático com imperativo ético, moral e estratégico. A edição do I. F. Stone Weekly imediatamente após a Guerra dos Seis Dias, de junho de 1967, revela que Stone era solidário com a situação dos refugiados palestinos; temia que Israel pudesse desperdiçar a oportunidade da vitória para se retirar dos territórios conquistados em troca de uma paz rápida com os vizinhos árabes que melhoraria a sorte dos refugiados e criticava certas medidas adotadas, ou não, pelo governo israelense.
No entanto, apesar de tudo e principalmente dos temores revelados, Stone tinha uma visão clara pela qual reconhecia que Israel era o que ele repetida e simplesmente entendia como “o Estado Judeu”. Embora não defendesse mais um Estado binacional, Stone, que descreveu o conflito como “uma briga trágica de irmãos”, agora acreditava que para resolvê-lo “de uma forma ou de outra... era preciso desenvolver uma coexistência federada entre Israel, os árabes palestinos e os jordanianos”. A edição do Weekly de 19 de junho de 1967, apenas nove dias depois do fim da guerra, registrava que “um retorno à ideia principal [do plano de partilha da ONU, de 1947] pode oferecer uma saída para os dois lados”, e observou que “o plano original previa um Estado árabe e um Estado judeu na Palestina a oeste do Jordão”. É possível imaginar como, se Stone ainda fosse vivo e estivesse escrevendo, seria crítico a Israel por aquilo que provavelmente descreveria como “expandir-se de modo inadequado”, e certamente seria duro quanto à “continuada ocupação da Cisjordânia”. Mas se opor a certas políticas implementadas a partir de 1967, e até mesmo crítico a respeito de algumas anteriores à guerra é muito diferente de tentar anular os eventos de 1948 que fizeram Israel existir como o moderno Estado-nação do povo judeu. Atualmente, a esquerda inclui indivíduos e grupos envolvidos na tarefa de tornar ilegítimo e, portanto, em negar a Israel o direito de existir. Esses indivíduos se orientam em parte por uma ideologia anticolonialista erradamente empregada, pela
crença seletivamente adotada no pósnacionalismo, pela aceitação de uma aplicação maximalista da narrativa palestina e – não se pode deixar suspeitar de alguns deles – por uma preocupante animosidade, embora geralmente não reconhecida, de Israel e seus defensores. A leitura, ainda que tardia, de Underground to Palestine de I. F. Stone é uma correção útil e alternativa a essas perspectivas, com base em um relato revelador da situação no período que antecedeu à independência. Simpático ao sofrimento e às aspirações legítimas de ambos os lados, Stone apontou o caminho para um tratamento da questão que, em vez de reforçar as queixas e o ódio contra Israel que têm ajudado a manter o conflito Israel-Palestina vivo por todas essas décadas, poderia, ao contrário, desempenhar um papel na resolução do conflito. * Michael C. Kotzin é conselheiro sênior do presidente da Federação Israelita da Metrópole de Chicago e exmembro do corpo docente da Universidade de Tel Aviv
A edição do I. F. Stone Weekly imediatamente após a Guerra dos Seis Dias, de junho de 1967, revela que Stone era solidário com a situação dos refugiados palestinos STONE EMBARCOU NESTE NAVIO, O CHEQUER, ACOMPANHANDO IMIGRANTES QUE FUGIAM DA EUROPA E TENTAVAM CHEGAR A ISRAEL
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Uma apologia a Ben-Gurion Eliot Jager
O SEGUNDO PRIMEIRO-MINISTRO DE ISRAEL MOSHÉ SHARETT O CONSIDERAVA REVOLTANTE; ITZHAK RABIN, NÃO CONFIÁVEL; YIGAL YADIN, INSOLENTE E PARA GOLDA MEIR, UM INCÔMODO INDESEJADO. UM LIVRO RECÉM-LANÇADO SOBRE O CONTROVERTIDO BEN-GURION LEMBRA OS QUARENTA ANOS DA SUA MORTE
N
a cerimônia de lembrança de quarenta anos da morte de David Ben-Gurion (1886-1973), em Sde Boker, o primeiro-ministro israelense Biniamin Netaniahu enfatizou – oito vezes – a capacidade de Ben-Gurion tomar decisões difíceis. Simples: Bibi tinha o Irã em mente, aliás, mesmo tema que faz parte do livro Ben-Gurion: A Political Life (“Ben-Gurion: uma Vida Política”), uma “conversa” entre o autor, o jornalista David Landau, e o presidente israelense, Shimon Peres. Landau chama a obra de “fusão de memória e história e múltiplas narrativas concorrentes”. A verdade está neste rótulo, pois o pequeno volume não é uma história confi ável. O primeiro encontro relevante entre Ben-Gurion e Peres ocorreu no Congresso Sionista de 1946. Chaim Weizmann, que viria a ser o primeiro presidente do novo Estado, hesitava em exigir o cumprimento imediato da Declaração Balfour (de 1917, favorável à criação de um lar nacional judaico em terras da Palestina, então sob Mandato Britânico). Ben-Gurion saiu da sala para uma caminhada, e Peres aproveitou a oportunidade, tomou-se de chutzpá (atrevimento) e juntou-se ao velho líder que mal o conhecia. Peres fez uma aposta inteligente porque Ben-Gurion estava montando uma poderosa máquina políticomilitar: a central sindical (Histadrut), a Agência Judaica como embrião de governo e a Haganá, como força militar. Peres virou personagem indispensável a Ben-Gurion. Eram, de fato, almas gêmeas: leitores vorazes, estudiosos de ciência, ambiciosos, determinados e friamente pragmáticos. Ambos eram extremamente autoindulgentes, e combateram impiedosamente os adversários do próprio campo político, embora Ben-Gurion fosse, sem dúvida, o mais vingativo. O objetivo de ambos era o que chamavam de a Grande Ideia, na verdade, uma forma simpática de se referir à Grande Isra-
el, influente no Oriente Médio. Ben-Gurion imaginava um Estado renascendo de acordo com vagos princípios bíblicos, e Peres, ainda mais ambicioso, queria um inteiramente “novo Oriente Médio”. Com o tempo, os dois mudaram de posição: Ben-Gurion levou o seu partido Mapai, de linha socialista, mais para o centro; Peres, derrotado na liderança do Partido Trabalhista, alinhou-se a Ariel Sharon para formar o Kadima. Havia diferenças entre eles. Onde BenGurion era temido, Peres era desprezado. O segundo primeiro-ministro de Israel Moshé Sharett, o considerava revoltante; Itzhak Rabin, não confiável; Yigal Yadin, insolente e para Golda Meir, um incômodo indesejado. Claro, nada disso consta do livro. Os autores – nem sempre está claro onde a voz de Peres se cala e ouve-se a de Landau – movem-se rapidamente dos primeiros dias de trabalho de BenGurion nos campos da Palestina até se transformar em polemista sionista, socialista e político. Mesmo quando conquistava poder, Ben-Gurion viajava muito. Na Rússia, apaixonou-se pelas ideias de Vladimir Lênin (embora detestasse Stalin). A “determinação” de Lênin, disse Ben-Gurion a Peres, compensava os dons intelectuais superiores de Leon Trotsky. Sem dúvida, muitas vezes Ben-Gurion foi sábio e decisivo. Assim, aceitou o cheio de falhas Plano de Partilha das Nações Unidas, de 1947; ignorou uma resolução da Assembleia Geral, de 1949, que determinava a internacionalização da região metropolitana de Jerusalém e contra a oposição, por princípio, de Menachem Begin, ele tomou a decisão impopular, mas prudente, de aceitar reparações da Alemanha Ocidental. Ben-Gurion defendia ataques militares preventivos. Ordenou a captura de Eichmann e ignorou as críticas da ONU. Talvez a sua contribuição mais duradoura foi conceder a Peres autorização para construir a estrutura nuclear de Israel em Dimona, embora, no livro, Peres insinue ter deixado Ben-Gurion sempre mal informado a respeito da questão.
PERES (Á ESQUERDA) PASSOU A FAZER PARTE DO CÍRCULO ÍNTIMO DE BEN-GURION, E AQUI É VISTO EM UM PASSEIO MATINAL NO KIBUTZ SDÉ BOKER
Polêmico e controverso Ben-Gurion concentrava poder na razão direta das acusações de tendências antidemocráticas que atribuía aos adversários. Ele disse que Ze’ev Jabotinsky era um de fascista com ambições ditatoriais, embora o próprio partido de Ben-Gurion, segundo o teórico do trabalhismo Berl Katznelson, tivesse tendências fascistas. Aqueles que estavam fora do seu âmbito socialista, como Menachem Begin e o Irgun, foram esmagados violentamente e o afundamento do navio do Irgun, Altalena, carregado de armas, foi típico da capacidade de Ben-Gurion de juntar as ambições e necessidades políticas com o interesse nacional. Quando as Forças de Defesa de Israel suplantaram a Haganá, Ben-Gurion deu todas as decisões de comando aos seus partidários. Entre Weizmann e Jabotinsky é difícil saber quem Ben-Gurion odiava mais. Ele usou Weizmann contra Jabotinsky, mas desprezava a hesitação de Weizmann e, finalmente abandonou o velho estadista. Diferenças de princípios separavam
Ben-Gurion de Jabotinsky: Ben-Gurion era a favor da luta de classes e de uma economia agrária; Jabotinsky era um liberal clássico interessado em promover uma classe média urbana; Ben-Gurion também desdenhava do objetivo de Jabotinsky pela integridade territorial de Eretz Israel, e foi mais radical a ponto proibir que os restos mortais do adversário fossem trasladados para Israel. Jabotinsky morreu de um ataque cardíaco aos 59 anos, em 1940, em Nova York, foi enterrado em um cemitério judaico daquela cidade e somente em 1964 os restos mortais transferidos para Jerusalém. Ainda assim, segundo Shimon Peres, Ben-Gurion “amava” Weizmann, tinha “amizade genuína” por Jabotinsky e não >>
Diferenças de princípios separavam Ben-Gurion de Jabotinsky: Ben-Gurion era a favor da luta de classes e de uma economia agrária; Jabotinsky era um liberal clássico interessado em promover uma classe média urbana
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Os judeus e o desafio da soberania Michael B. Oren *
“QUEM É O HERÓI?”, PERGUNTA A MISHNÁ. O HERÓI É “O HOMEM QUE VENCE AS PRÓPRIAS PAIXÕES”. AO PERDER A SOBERANIA NA ANTIGUIDADE, OS JUDEUS FUGIRAM DOS CAMPOS DA POLÍTICA E DE BATALHA PARA AS COMUNIDADES, AS SINAGOGAS E PARA SI MESMOS
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COM O ENTÃO PRIMEIRO-MINISTRO MOSHÉ SHARRET QUE CONSIDERAVA PERES, “REVOLTANTE”
>> odiava Begin “pessoalmente”. No entanto, é estranho que BenGurion não conseguisse pronunciar o nome de Begin durante todos os anos em que foram deputados na Knesset. As páginas mais inquietantes do livro envolvem os paroxismos de partidarismo de Peres e Landau, seu autor, em relação à época do Holocausto, pois comparam o desdém de Jabotinsky, em 1933, em relação ao livro Mein Kampf de Hitler, com o alerta supostamente profético de Ben-Gurion, em 1934, acerca da enorme ameaça aos judeus da Europa. Mas isso é menos do que meia verdade porque exatamente em 1933, ao falar no XVIII Congresso Sionista, Jabotinsky disse que era “dever colocar o problema judeu na Alemanha diante de todo o mundo”, e “destruir, destruir, destruir” os “assassinos”. Enquanto isso, “a camarilha de Ben-Gurion”, de acordo com Israel Medade, estudioso de Jabotinsky, sabotava todas as tentativas dos homens de Jabotinsky de forçar a Organização Sionista Mundial a tomar uma “atitude vigorosa a respeito da situação alemã”. Como crédito a seu favor, Landau desafia Peres perguntando se Ben-Gurion, então líder da comunidade judaica na então Palestina durante a guerra, fez o suficiente em favor dos judeus europeus. Peres é rápido: “não sabíamos. Não havia nada que pudesse ser feito”. Quanto às pessoas leais a Jabotinsky que atuavam nos Estados Unidos durante a guerra e tentavam de tudo pelos judeus europeus, Peres é frio: “E o que conseguiram? Nada”. No capítulo do livro que trata do período da clandestinidade anterior ao Estado judeu, Peres e Landau abraçam a narra-
tiva essencialmente árabe-palestina que culpa o Irgun de Begin por “ultrajes”, como “o assassinato deliberado de civis” em Deir Yassin [9 de abril d 1948], e “ajudar a desencadear a crise dos refugiados palestinos”. É um alívio, que no final de Ben-Gurion: A Political Life, Peres e Landau tratem de outros assuntos, entre eles a proposta intrigante de Ben-Gurion supostamente interessado em reformar o sistema eleitoral de Israel, trocando as listas eleitorais características do parlamentarismo, para o de representação proporcional. Ambos concluem o livro reconhecendo que, em nenhuma circunstância, Ben-Gurion concordaria com um recuo israelense para as linhas de armistício de 1949. O velho estadista favoreceu o assentamento nas regiões metropolitanas de Jerusalém e de Hebron. Talvez ambos defendam que Ben-Gurion não tinha interesse em governar árabes palestinos. Aliás, Netaniahu também não. De todo modo, a rejeição árabe que tornou a paz inacessível e impossível no tempo de Ben-Gurion ainda atrai a atual liderança palestina.
Entre Weizmann e Jabotinsky é difícil saber quem Ben-Gurion odiava mais. Ele usou Weizmann contra Jabotinsky, mas desprezava a hesitação de Weizmann e, finalmente abandonou o velho estadista
o longo dos anos, à medida que o exército de Israel foi se tornando a principal força mundial de combate ao terrorismo, militares americanos viajaram a Israel para aprender com a nossa experiência e aplicá-la à própria guerra americana contra o terror. Recebi em minha casa, em Jerusalém, muitos desses oficiais, de Oklahoma, Arkansas, e de outros lugares exóticos. São pessoas sem qualquer experiência de Oriente Médio e é interessante ouvir as impressões da região e as análises a respeito dos conflitos no Oriente Médio e a natureza das sociedades desse pedaço de mundo. Invariavelmente comentam uma característica: a recusa de muitos líderes árabes – sejam palestinos, iraquianos, sauditas ou sírios – de assumir responsabilidade por suas próprias falhas e fraquezas. Sempre que algo vai mal nas sociedades árabes, a culpa nunca é delas, mas sim um erro dos Estados Unidos ou do Ocidente, ou, o mais comum, de Israel e dos judeus. Para eles, é essa recusa em aceitar a responsabilidade é o maior obstáculo para os esforços norte-americanos em promover a democracia no Oriente Médio, porque a essência da democracia, da soberania e da liberdade é a vontade de assumir a responsabilidade pelas próprias ações e decisões. Concordo e pergunto se os israelenses, em particular, e os judeus, de um modo geral, não enfrentam dificuldades semelhantes ao carregar o peso de um Estado. Inevitavelmente, sou flagrado pensando na véspera da independência de Israel, em 14 de maio de 1948, quando um homem teve de lidar com a questão de se os judeus, depois de gerações de impotência, poderiam aprender a agir como soberanos no próprio Estado e se conseguiriam corresponder às expectativas dos desafios da independência. Esse homem era David Ben-Gurion, o líder do movimento sionista e que em breve se tornaria primeiro-ministro. Naquele dia, véspera da independência, da sala de casa, Ben-
Gurion viu os judeus da Palestina dançando na rua. Eles dançavam porque estavam a ponto de realizar uma das conquistas mais marcantes e inspiradoras da história humana: um povo que fora exilado da pátria dois mil anos antes, vítima de incontáveis pogroms, expulsões e perseguições, mas que se recusou a abandonar a sua identidade, ao contrário tinha fortalecido substancialmente a identidade; um povo que apenas poucos anos antes tinha sido vítima da maior, e única, ação de assassinato em massa da humanidade, que dizimou um terço dos judeus do mundo, enfim um povo que voltava para casa na forma de cidadãos soberanos no próprio estado independente. Eles dançavam, enchendo as ruas; Ben-Gurion, não. Em vez disso, sentouse sozinho e escreveu no diário a respeito dos seus medos, das dúvidas acerca da capacidade de os judeus resistirem ao ataque combinado de exércitos árabes, e acerca da disposição do mundo em aceitar um Estado permanente. Ele se perguntou se era possível a visão sionista de um Estado normal, um Estado como todos os outros, se conciliar com a de um Estado judeu que aspirava a ser uma luz para as nações. Ainda mais desconcertante que isso, questionou se um povo tão acostumado a ser vítima de um outro poder soberano poderia, de repente, virar a situação e conseguir assumir a própria responsabilidade. Nascido David Green, Ben-Gurion, como muitos líderes sionistas da sua geração – Levi Eshkol, Golda Meir, Moshé Dayan –, hebraizou o nome, para estabelecer uma ligação direta entre o dinâmico presente sionista e o passado heroico de Israel, pulando os milênios da impotência judaica. No entanto, ele tinha consciência de que tal salto era impossível. Os judeus, Ben-Gurion sabia, tinham problemas com o poder. Esses problemas aparecem na Bíblia – com as sérias reservas a respeito da realeza arguidas pelos Profetas, e com os relacionamentos instáveis e muitas vezes violentos entre monarcas e sacerdotes durante o período do primeiro e segun>>
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>> do Templos. No entanto, os problemas se multiplicaram exponencialmente com a destruição do Segundo Templo e a aniquilação da comunidade judaica no território do Israel bíblico. Despojados da soberania, os judeus desenvolveram um culto à impotência que muitos consideravam uma forma de castigo divino pelos pecados que cometeram e que, com o passar dos anos, transformou-se em uma real repugnância pelo poder. Se a Bíblia era clara acerca de quem considerava herói – Josué, o conquistador das cidades cananeias; Gedeão, que derrotou os midianitas; Sansão, que empunhou uma queixada de burro como um machado –, o Talmude, escrito principalmente por judeus sem poder político soberano, era muito menos categórica. “Quem é o herói?”, pergunta a Mishná. Não é o rei David, que dança ao acompanhar a arca para Jerusalém libertada; não é Judas, o Macabeu e os hasmoneus que derrotaram os gregos e consagraram novamente o Templo. Não, o herói é “o homem que vence as próprias paixões”. Ao perder a soberania, os judeus fugiram dos campos da política e de batalha para as comunidades, as sinagogas e para si mesmos. É verdade que esse recuo teve suas recompensas ao possibilitar que os judeus alcançassem um elevado senso de espiritualidade e de moralidade, mas pagou o preço da crescente alienação de assuntos temporais e da responsabilidade por si mesmos, como indivíduos e também como nação. De fato, os judeus poderiam dar abrigo aos correligionários banidos, ou pagar o resgate deles – kol Israel arevim zé lazé – “todos os judeus são responsáveis uns pelos outros”, diz o famoso ensinamento rabínico. Mas quantas vezes os judeus construíram uma cidade e
NA DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA E PODER, EM 1949 O EXÉRCITO INCORPOROU BEDUÍNOS
escolheram pessoas para governá-la? Quantas vezes poderiam ou tomariam a decisão soberana mais elementar de se defender? Em grande parte do pensamento rabínico, o poder político é profano, mundano e perigoso. Que Deus abençoe e mantenha o czar longe de nós, diz Tevye, personagem do musical Um Violinista no Telhado. Na sua forma mais extrema, a repulsa judaica pelo poder torna-se proibição total do poder, e qualquer tentativa de exercício da soberania passa a ser encarada como um desafio à onipotência de Deus, em outras palavras, uma blasfêmia. Blasfêmia, profanação, hilul, em hebraico, são precisamente as palavras aplicadas por frações do mundo haredi ultraortodoxo ao sionismo que, para eles, é uma tentativa abominável de arrogar a competência exclusiva de Deus: acabar com o exílio dos judeus e reinvestir o povo judeu de poder. Até mesmo a figura mais influente do sionismo religioso, o rabino Abraham Isaac Kook, questionava se os judeus poderiam ou deveriam agir como lobos, pois os Estados, segundo Kook, tinham a natureza do lobo.
ÀS SUAS FILEIRAS
Ortodoxia x assimilação Na modernidade, no entanto, o sempre inventivo povo judeu deu outra resposta à questão do poder: não se voltar para dentro, mas – assim que a Emancipação e a queda dos muros do gueto permitiram – adotar a assimilação. Desta forma, a partir do século 19, os judeus poderiam se tornar poderosos, um Benjamin Disraeli ou Ferdinand Lasalle, mas como ingleses e alemães, e não como os judeus, apesar do seu judaísmo e, normalmente, à custa dele. Tem sido frequente observar que, talvez, a única coisa em comum entre judeus ultraortodoxos e os assimilados no início do século 20 fosse a firme oposição ao sionismo: os ultraortodoxos alegavam que o sionismo aspirava a brincar de Deus e redimir a nação judaica; os judeus altamente assimilados diziam que o sionismo negava por completo que os judeus eram uma nação. O fato é que os judeus ultraortodoxos e os assimila-
dos se reuniriam tragicamente nos trens para Auschwitz, destino final de dois mil anos de impotência judaica. E, paradoxalmente, os nazistas os enviaram para lá alegando que os judeus exerciam muito poder. Apesar de os judeus americanos, mais tarde, explicarem o Holocausto como o produto da falta de tolerância e de valores universais, a interpretação sionista do Holocausto era outra: seis milhões de judeus morreram porque não havia um exército, um Estado, enfim, poder. Mas para os seiscentos mil judeus que estavam em Israel em 1948, diante de seis exércitos árabes prontos para invadir o Estado nascente, era discutível a questão de se o poder judaico era necessário. Sem poder, os cidadãos do novo Estado morreriam, espiritual e também fisicamente. No entanto, Ben-Gurion, percebeu que saber disso e fazer algo a respeito não eram necessariamente sinônimos. Ele entendeu que a transformação de um povo que recuava diante do poder para um povo capaz de abraçá-lo seria o único grande desafio para Israel enfrentar. “Temos de adotar uma nova abordagem, novos hábitos mentais”, disse pouco antes da fundação do Estado. “Devemos aprender a pensar como um Estado.” Ele até criou uma palavra hebraica para esse desafio, mamlachtiyut, neologismo que escapa aos equivalentes em qualquer língua, mas que pode ser traduzido como “agir de forma soberana”. Por mamlachtiyut, Ben-Gurion queria dizer a capacidade de os judeus lidarem com o poder – militar, bem como democrático e político – de modo efetivo, justo e responsável. Ben-Gurion sabia que os judeus de Israel poderiam ter êxito em repelir os exércitos árabes, na absorção cada vez maior de novos imigrantes, e na criação de instituições governamentais e culturais de categoria mundial. Mas sem a mamlachtiyut, sem a capacidade de lidar com o poder e assumir a responsabilidade por suas ramificações, não sobreviveriam. Desafio sionista De fato, o Estado recém-nascido repeliu os invasores e proclamou a independência. No entanto, nem todas as ameaças à existência de Israel emanavam dos árabes. No verão de 1948, no auge da luta, Ben-Gurion enfrentou o desafio dos sionistas revisionistas liderados por Menachem Begin que se recusaram a seguir as ordens das autoridades provisórias. Ben-Gurion disse a Begin que um Estado soberano tem um governo e um exército, e quando Begin tentou trazer a Israel o Altalena, um navio carregado de armas para a própria milícia, Ben-Gurion mandou afundar o navio. Mais tarde, Ben-Gurion também enfrentou um desafio à sua autoridade concedida democraticamente a ele, originário da esquerda, mais precisamente, da força militar com base no kibutz, conhecida como Palmach, cuja debandada ele determinou. Israel havia proclamado a independência, mas tinha pela frente alguns dos maiores desafios à soberania. Em 1956, BenGurion demonstrou o significado de mamlachtiyut ao declarar guerra ao presidente Gamal Abdel Nasser e o exército egípcio
armado pelos soviéticos. A decisão foi duramente condenada pela maior parte do mundo, incluindo os Estados Unidos, mas a posição de Ben-Gurion foi a de que nenhum Estado, e certamente não o Estado judeu, seria obrigado a ficar de braços cruzados enquanto um exército que jurou-lhe destruição se concentrava em suas fronteiras. Ben-Gurion também exerceu a mamlachtiyut ao construir o que se tornou a maior manifestação física do poder judaico na história: o complexo nuclear de Dimona. Pouco mais de uma década depois de os judeus serem conduzidos aos milhões como gado para os campos de extermínio nazista, um Estado judeu independente possuía o poder desfrutado por poucas nações. No entanto, apesar de todas as demonstrações do sucesso de mamlachtiyut, Israel às vezes revelava uma assustadora incapacidade de entender os rudimentos da soberania. Em maio de 1967, por exemplo, enquanto as tropas de Nasser se reuniam novamente na fronteira de Israel, a liderança israelense dividia-se entre os generais dispostos a ir à guerra imediatamente, e os ministros, que insistiam em primeiro provar – especialmente para os Estados Unidos – que Israel fez todo o possível para evitar o derramamento de sangue. Os ministros ganharam e, em junho de 1967, Israel derrotou três grandes exércitos árabes, quase quadruplicando a sua área territorial. Mas a vitória na Guerra dos Seis Dias provocou um tipo diferente de complexo de poder em Israel: a excessiva dependência de tanques, aviões e paraquedistas, uma certa fetichização das Forças de Defesa de Israel (FDI), e a apoteose dos generais. Este edifício desabaria, de repente, às 14 horas de 6 de outubro de 1973, quando os exércitos do Egito e da Síria atacaram Israel simultaneamente de surpresa e matando 2.600 soldados. Embora as Forças de Defesa de Israel tenham conseguido virar o jogo e obter uma vitória esmagadora que viria pacificar as duas fronteiras mais críticas de Israel, o choque do ataque inicial conti>>
Na sua forma mais extrema, a repulsa judaica pelo poder tornase proibição total do poder, e qualquer tentativa de exercício da soberania passa a ser encarada como um desafio à onipotência de Deus, em outras palavras, uma blasfêmia
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magazine > capa | israel, 65 anos obriga Israel a lutar em áreas densamente povoadas, impondo barreiras e toques de recolher. Ao atrair a ira internacional para as políticas israelenses, o terrorismo faz emergir a profunda ambivalência judaica em relação ao poder. Embora tenha fracassado no objetivo de destruir a economia de Israel e desfazer a sociedade civil, o terror conseguiu exacerbar a confusão judaica a respeito da soberania, da mamlachtiyut. Parte da população de Israel, por exemplo, reagiu à construção não autorizada de assentamentos – e subvertendo o processo democrático – enquanto outra parte tentou negociar, às escondidas do governo israelense, um tratado de paz financiado pelos europeus com autoridades palestinas. Alguns israelenses queriam expulsar todos os palestinos, portanto, uma demonstração extrema de abuso de poder, enquanto outros defendiam a criação de um Estado binacional, isto é, a abdicação do poder. Ambos são exemplos clássicos do que Ben-Gurion chamaria de colapso da mamlachtiyut.
>> nuaria sendo um pesadelo nacional. Desde então, todo ano – e sem exceção – na época de Iom Kipur, grande parte do país se envolve em um paroxismo de dor e em um debate a respeito da própria noção de poder. A partir de 1973, sempre que os israelenses recorrem às forças armadas – a ação em Entebe, em 1976, e o ataque ao reator nuclear de Osirak, no Iraque, em 1981, são exceções notáveis – o país é objeto de profunda controvérsia no mundo e mais intensamente em Israel. Blocos opostos O trauma da Guerra do Iom Kipur daria origem a dois movimentos novos e mutuamente incompatíveis. O primeiro, o Shalom Achshav (“Paz Agora”, em hebraico), uma organização de esquerda, recuou da confiança excessiva no poder e buscou uma solução mediada em que a soberania israelense se dissolveria em um novo Oriente Médio sem fronteiras, no fundo a velha visão assimilacionista revisitada. O segundo, o Gush Emunim (“Bloco dos Fiéis”, em hebraico), defendida por parte da direita e por muitos colonos religiosos da Judeia, Samaria e Gaza, que reverenciam o poder como a panaceia para os problemas de segurança de Israel. Estes os polos entre os quais Israel balança nos últimos trinta anos, e a causa da divisão não é raça ou economia, mas poder. Convém lembrar que esta luta não ocorre no vácuo. Israel está
A IMAGEM DE PREOCUPAÇÃO DA ENTÃO PRIMEIRO-MINISTRO
GOLDA MEIR E DO MINISTRO DA DEFESA
MOSHÉ DAYAN NA GUERRA DE IOM KIPUR, EM 1973
situado no meio do mundo árabe e no coração islâmico histórico, uma região que também tem um problema com o poder, mas diametralmente oposto ao de Israel. Ao contrário do judaísmo normativo, um produto da impotência, o Islã se desenvolveu durante um período em que os muçulmanos governavam a maior parte do mundo civilizado. Para o Islã o poder é essencial. Não existe manual medieval a respeito de como administrar um Estado judeu, mas existem milhares de tais textos acerca de como governar um Estado islâmico. O Islã, portanto, não tem dúvidas em relação ao poder. Este é o instrumento por meio do qual Deus cumpre a sua vontade para o mundo, e, assim, compete a todo muçulmano, enquanto indivíduo, obter o poder. Desta forma, os muçulmanos árabes têm um problema com um Estado judeu poderoso, e nos últimos anos descobriram a solução ideal. O terrorismo exige pouco do ponto de vista de recursos e de sofisticação técnica, enquanto
De malas prontas Pois foi em primeiro lugar a mamlachtiyut o que, de fato, me atraiu a Israel. Eu cresci a única criança judia do quarteirão e as surras quase diárias da gangue do bairro me ensinaram muito a respeito do poder e os perigos da falta dele. Mas o que realmente me convenceu foi uma moeda. Eu era um numismata fanático, colecionava moedas de todo o mundo e estava especialmente interessado em moedas judias do período do Segundo Templo. Um dia – eu devia ter uns 9 anos –, um primo distante de Israel deu de presente a réplica exata de uma moeda do Segundo Templo, mas não era antiga. Brilhava, estava limpa e letras grafadas nela eram idênticas às que então eu estava apreendendo na escola hebraica. Apesar de não ser um menino de 9 anos de idade particularmente precoce, sabia que as moedas modernas eram de países existentes, o hebraico é dos judeus e logo concluí o silogismo: havia um Estado judeu. Foi esse momento de epifania que me seduziu. Veio a Guerra dos Seis Dias – o único evento na história em que os judeus foram poderosos e apreciados por isso. Fiquei fascinado pela noção de os judeus assumirem a responsabilidade por si mesmos como judeus – pelos impostos, esgotos e a iluminação pública. Meu sionismo seguia menos a moda de Herzl e mais a do poeta Delmore Schwartz da geração beat. Herzl disse: “Se você quiser, não é um sonho”; Schwartz afirmou (como no título de seu conto de 1937): “Nos sonhos começam as responsabilidades”. Eu queria a responsabilidade. Mudei-me para Israel, tornei-me cidadão israelense e me alistei no exército. Coloquei pela primeira vez as botas vermelhas de paraquedista e fui subjugado pela compreensão de que eu integrava a primeira força judaica de combate em dois mil anos, um judeu de Nova Jersey com sorte suficiente para viver em uma época em que poderia servir a um Estado judeu soberano. Privilégio e responsabilidade, cujo peso senti lutan-
do no Líbano e nos territórios. Mais tarde, quando já havia descalçado as botas e, civil novamente, também ficou claro que estava trabalhando para o governo no momento em que seu primeiro-ministro foi assassinado, portanto, um abuso desprezível de poder e falha flagrante de mamlachtiyut. Atualmente, como israelense, devo enfrentar questões que derivam de ter poder. Tive de decidir, por exemplo, se apoiava a construção de um muro que pode proporcionar maior segurança contra ataques terroristas, mas que também evoca os muros do próprio gueto que o sionismo aspirava a derrubar. Na década de 2010 quando dois dos meus filhos serviam nas Forças de Defesa – e um deles foi ferido em ação contra o Hamas, em Hebron –, tinha de decidir a favor da retirada das forças israelenses das cidades palestinas e, talvez, dar um salto inicial para a paz. Ou se, ao fazê-lo, eu não estaria encorajando o terror, porque colocava em risco meu terceiro filho, que todos os dias pegava o ônibus para a escola, em Jerusalém. Em agosto de 2005, quando eu e um grupo de oficiais israelenses invadimos uma sinagoga em um assentamento na Faixa de Gaza e enfrentamos uma centena de homens, mulheres e crianças deitadas no chão, gemendo e apelando a Deus, tive de decidir se expulsar essas pessoas da sinagoga e de suas casas fortaleceria o Estado de Israel ou destruiria o povo israelense. Era inevitável que a decisão e a responsabilidade eram minhas. Certa vez um jornalista americano me pediu uma declaração em resposta à acusação de um líder de colonos segundo a qual o problema das Forças de Defesa de Israel é que se trata de um exército ocidental, não de um exército bíblico e capaz de se vingar na base do olho por olho. Um exército muito judaico Respondi que o problema das FDI, é que ela não é suficientemente ocidental, e os palestinos devem agradecer diariamente a Alá por lidar somente com barreiras e toques de recolher, e não, por exemplo, com os exércitos americanos ou france>>
Apesar de os judeus americanos, mais tarde, explicarem o Holocausto como o produto da falta de tolerância e de valores universais, a interpretação sionista do Holocausto era outra: seis milhões de judeus morreram porque não havia um exército, um Estado, enfim, poder
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magazine > capa | israel, 65 anos >> ses, que já teriam há muito tempo pulverizado as cidades deles. Eu disse que o problema da FDI é que ela é muito judaica. E isso é verdade, pois em 1982, na primeira guerra do Líbano, os milicianos cristãos libaneses enviados pelo ministro da Defesa Ariel Sharon aos campos de refugiados de Sabra e Shatila, nos arredores de Beirute, mataram oitocentos palestinos, centenas de milhares de israelenses foram às ruas protestar contra a ação de Sharon. No entanto, em 2002, quando o presidente Bush enviou as forças da Aliança do Norte às aldeias do Talibã no Afeganistão, matando muitos milhares, quase ninguém nos Estados Unidos protestou. Outro evento: as forças americanas supunham que Saddam Hussein estava escondido em um bairro de Bagdá e aviões norte-americanos reduziram o bairro a pó; mas quando a FDI foi informada de que toda a liderança do Hamas estava em um único prédio em Gaza, escolheu uma bomba muito pequena suficiente para eliminar apenas os chefes, preocupada com os civis próximos. Os soldados israelenses vão às casas de suspeitos de terrorismo, arriscando a própria vida e, muitas vezes as sacrificam, de modo a reduzir o número de vítimas civis, ao contrário de algum outro exército que poderia simplesmente atacar pelo ar ou realizar uma barragem de artilharia. Israel dedica um único dia em reconhecimento ao seu exército – não denominando-o Dia das Forças Armadas ou Dia da Bandeira, ou um Dia dos Veteranos – mas Iom Hazikaron, o Dia da Lembrança, comemorado não com desfiles militares e idosos uniformizados e cobertos de medalhas, mas com músicas e poemas a respeito dos horrores da guerra e a santidade de paz. É um país em meio a uma guerra cruel por décadas – em que o número de baixas de Israel per capita é igual ao que os Estados Unidos tiveram no Vietnã –, mas falta lhe dar um nome. Os desafios existenciais de Israel são os mesmos confrontados por Ben-Gurion em 1948. Os terroristas ainda gostariam de se explodir em locais públicos em Israel, e vastas forças, muitas delas armadas com mísseis de longo alcance e armas não convencionais, se ajuntam ao redor do território. O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad sempre se lembra de propor que Israel seja “varrido do mapa”, e muitos do 1,3 bilhão de muçulmanos não chorariam pelo desaparecimento do Estado judeu, nem seriam seletivos quanto à forma como essa eliminação seria executada. Justiça e moralidade Entretanto, muitos europeus ocidentais são indiferentes e até mesmo hostis ao destino de Israel. E mesmo na América – principalmente nas universidades – Israel é cada vez mais vilipendiado, deslegitimado, chamado na melhor das hipóteses de um anacronismo, e na pior, de um regime fascista. No entanto – e apesar das imensas forças alinhadas contra ele – Israel ergueu-se para enfrentar o teste do poder e, muito além disso, apresentou ao mundo um modelo de equilíbrio que concilia as exigências de justiça e moralidade e os requi-
sitos de poder. A FDI é geralmente vista como um dos exércitos mais fortes e sofisticados do mundo e, todavia, não usa uma fração sequer de sua força potencial contra as pessoas que, se tivessem este poder, não hesitariam um momento em usá-lo para destruir Israel. Israel não expulsa um povo que ameaça sua existência, embora os últimos séculos estejam repletos de expulsões assim, especialmente no Ocidente. Mas oferece uma oportunidade para viver com ele, lado a lado, e dispondo de grande parte da própria pátria histórica e espiritual. Os soldados de Israel vão para a batalha armados com equipamento bélico e cartões que cabem no bolso contendo o código de ética da FDI [ver entrevista com o filósofo Asa Kasher na pág ao lado. ], segundo o qual é dever solene fazer todo o possível para evitar causar vítimas civis, e usar suas armas exclusivamente com o propósito de defesa própria e nacional. Os israelenses combatem perguntando a si mesmos a cada passo se estão fazendo a coisa certa, a coisa moral, a coisa judaica. O judaísmo clássico pode não nos fornecer um modelo detalhado de como um Estado judeu deve ser, mas Israel tem dado ao mundo um modelo de como um Estado ameaçado pelo terror, mísseis e ódio de milhões de pessoas podem agir com justiça. O modelo é, sabidamente, incompleto, ainda uma tarefa em andamento. Israel vai continuar debatendo quais os atos permitidos, ou não, ao Estado judeu para assegurar sua sobrevivência, e discutir os requisitos da mamlachtiyut. A responsabilidade é provar para si e para o mundo que a expressão “Estado judeu” não é, de fato, uma contradição em termos. Israel tem consciência dos seus grandes êxitos e da pesada responsabilidade de conciliar nossa herança com nossa soberania, nossa força com a nossa compaixão e nossa vontade de sobreviver com nosso desejo de inspirar os outros. *Michael B. Oren foi embaixador de Israel nos Estados Unidos e professor da Universidade Hebraica, em Jerusalém, e da Universidade de Tel Aviv
ter dado um passo mais à frente. Pensei que seria bom ir mais fundo e estabelecer normas práticas.
A santidade da vida na ética militar Ariel Finguerman, em Ramat Gan
EM ENTREVISTA À REVISTA HEBRAICA, O PROFESSOR EMÉRITO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE DE TEL AVIV, ASA KASHER, FALA A RESPEITO DO CÓDIGO DE ÉTICA QUE ELABOROU PARA O TZAHAL
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Os muçulmanos árabes têm um problema com um Estado judeu poderoso, e nos últimos anos descobriram a solução ideal. O terrorismo exige pouco do ponto de vista de recursos e de sofisticação técnica, enquanto obriga Israel a lutar em áreas densamente povoadas
maioria dos filósofos da atualidade prefere tratar de assuntos abstratos, longe da realidade do dia-a-dia. Também escrevem numa linguagem técnica, que pouca gente fora dos círculos fechados dos departamentos de filosofia consegue entender. Mas o professor emérito de filosofia da Universidade de Tel Aviv Asa Kasher, um dos mais importantes intelectuais de Israel, optou por outro caminho. Ele escreveu o código de ética do Tzahal, manual de comportamento para o soldado israelense, no qual trata de situações difíceis, como a atitude a tomar quando se enfrenta um inimigo escondido entre civis ou de que forma lidar com um militar que se recusa a obedecer a ordens por motivos ideológicos. O código está no site do Tzahal (www.idf.il), em hebraico e inglês. Kasher, filósofo respeitado na Europa e EUA, também coordenou a redação dos códigos de ética da Knesset e do Banco Central de Israel. Aos 73 anos, convencido de que cumpre uma tarefa existencial como sionista, no mesmo dia da entrevista para a revista Hebraica, ainda foi a uma base militar, para falar de ética a oficiais do alto escalão.
E NTR E V I STA Hebraica – A maioria dos professores de filosofia lida com assuntos abstratos e bem distantes do cotidiano. Já o senhor escolheu um caminho diferente, ao elaborar um código de ética para os soldados do Tzahal. Asa Kasher – Na Grécia antiga, a filosofia era ligada à vida pública, a questões práticas. Sócrates, por exemplo, discursava nas praças tentando convencer as pessoas. Foi só mais tarde que a filosofia se transformou em algo abstrato, que trata de assuntos elevados, distantes daqui de baixo. Mas as coisas estão mudando. Bertrand Russell participava de passeatas pacifistas e foi preso. Atualmente áreas inteiras de filosofia prática tratam de coisas significativas, como ética médica. Eu considero
Sócrates também foi soldado e lutou por Atenas. Não há contradição entre filosofar e ir para a guerra? Kasher – Não vejo contradição. Se olharmos para a Segunda Guerra Mundial, muitos filósofos na faixa dos 30 e 40 anos de idade serviram no exército. Filosofar não é sinônimo de se comprometer com o pacifismo ou de não tomar atitudes. Como o código de ética que o senhor elaborou é transmitido aos soldados do Tzahal? Kasher – As normas gerais estão publicadas no site do Tzahal, mas se ensina aos soldados muito mais detalhes durante o serviço militar. Nos quartéis são proferidas palestras, seminários e exercícios. A cada estágio, o soldado estuda as questões éticas de forma mais aprofundada. Qual é a diferença entre um soldado que aprende ética militar escrita por um filósofo e outro que se aconselha com um rabino? Kasher – Se você é religioso e serve no Tzahal, e quer uma orientação, o rabino certamente o ajudará. Mas ele estará apenas reforçando os mesmos valores deste soldado. E isto não é válido para todos os militares. Um código de ética, no entanto, precisa ser observado por todos, religiosos ou não, judeus ou não. Não é algo ligado a ideologias. Por isso o código de ética do Tzahal vale para soldados canadenses ou australianos. Todo exército tem um código de ética? Kasher – Nem todos. Os dos EUA, Canadá, França, Noruega têm. Conheço o material deles, mas elaboramos o nosso. Um código de ética reflete a identidade de uma sociedade. Há elementos similares – mas nem tudo – nos exércitos dos países democráticos. Somos os únicos, por exemplo, que tratamos da santidade da vida humana e pureza de armas, >>
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magazine > capa | israel, 65 anos para minimizar os efeitos colaterais, isto é, diminuir o máximo possível o número de civis atingidos quando se quer chegar aos terroristas. Qual a orientação ética para um piloto de caça israelense que tem o inimigo na mira, mas cercado de civis? Kasher – Este é um problema que se debate há anos no mundo, desde a Primeira Guerra Mundial, não é algo particular do exército israelense. Há princípios gerais aceitos internacionalmente. É preciso avaliar se um ataque deste tipo é realmente necessário, e se o ganho justifica o efeito colateral. No Tzahal, a par disso tudo devemos reduzir ao máximo possível o dano colateral e tentar não matar ninguém além do alvo ou então o menor número possível de pessoas. Quem deve decidir isto é o oficial durante a operação, geralmente um coronel ou tenente. O código do Tzahal afirma que “o soldado é obrigado a lutar”. Qual a base filosófica disso? Kasher – Da mesma maneira que é obrigação do médico se esforçar para curar. A essência do soldado é lutar; é obrigação dele. Quando convocado, tem de lutar. Se não precisar lutar, melhor. A paz é sempre melhor. Mas se as circunstâncias exigirem, ele luta.
>> o que significa restringir o uso da força. São duas noções que vieram do judaísmo. Posso dizer que filósofos ligados a outros exércitos nos admiram por isto.
O FILÓSOFO ASA KASHER, EM SEU CÓDIGO DE CONDUTA MILITAR, É IMPLACÁVEL
Até que ponto é vantagem seguir um código de ética quando se combate no Oriente Médio, contra eventuais inimigos que não seguem normas similares? Kasher – Nós nos mantemos fiéis aos nossos valores. Não adotaremos os valores do inimigo, nós lutamos contra ele. Além disso, quando lutamos contra o inimigo, temos de levar em conta os valores deles, que lutarão baseados neles. Por exemplo, temos de levar em consideração se estão dispostos a se posicionar entre seus civis e dispararem contra nós. Mas não vamos mudar nossos valores, lutaremos como democratas. Quais as considerações éticas que o soldado deve levar em conta quando está lutando em meio a civis? Kasher – Pense num policial. Ele atua com base em valores éticos, e o normal é proteger pessoas, não matar. Mas em cer-
COM OS OBJETORES DE CONSCIÊNCIA
tas situações extremas, por exemplo, se há reféns ameaçados de morte e não há como defendê-los, este policial vai atirar no criminoso para matar. Quando faz isto, continua com os mesmos valores éticos. A situação tornou-se violenta, mas os valores permanecem os mesmos. O que você faz depende das circunstâncias, mas os valores permanecem. Como funcionou em Gaza Como os valores éticos do Tzahal se materializaram no conflito com o Hamas, em novembro? Kasher – [Os militantes do Hamas] se posicionaram entre os civis, então o Tzahal seguiu a ética, alertando os inocentes a se afastar daquelas áreas por meio de panfletos lançados de aviões e de telefonemas. O código de ética diz
Neste sentido, como o senhor vê os objetores de consciência, os soldados do Tzahal que se recusam a lutar em determinada situação por motivos ideológicos? Kasher – É injustificável um soldado se recusar a lutar. Estamos numa democracia e quando o governo eleito pela maioria toma uma decisão, as ideias individuais de cada soldado não interessam mais. Por mim, eu mandaria um soldado com ideias esquerdistas guardar uma colônia judaica na Cisjordânia de modo a deixar claro que sua opinião não interessa quando há cidadãos do país que precisam ser protegidos. Da mesma maneira, enviaria um soldado de direita para evacuar uma dessas colônias. A ideia pessoal de cada um não interessa. Se um soldado se recusar a cumprir ordens por motivos políticos, é justificado levá-lo à corte marcial. Amor, não O código de ética do Tzahal também afirma que o soldado deve “amar o país”. Qual a justificativa filosófica para isto? Kasher – Isto não foi minha ideia. Fui contra esta frase. Não tem sentido. É uma frase morta. Ética é comportamento; amor é emoção, algo que não dá para controlar. O senhor é membro de várias organizações filosóficas internacionais. Como os seus colegas estrangeiros veem o seu trabalho no exército? Kasher – Filósofos sempre debatem entre si, mais do que outras pessoas. Alguns concordam com minhas ideias, outros não. Alguns apreciam o meu trabalho, outros não. Não há
nada de extraordinário nisto. O código do Tzahal diz que um soldado deve recusar ordens ilegais vindas do seu comandante. Como determinar isto numa situação de guerra? Kasher – Uma ordem só pode ser desobedecida se for ilegal ao extremo. Pense nesta contradição: queremos que o soldado obedeça às ordens, mas que também atue dentro da lei. Então diferenciamos ilegal de manifestamente ilegal. Por exemplo, se a ordem é dirigir um carro em alta velocidade, deve ser cumprida. Mas se matar alguém que não representa perigo deve ser desobedecida. Aos 73 anos, o senhor continua se apresentando como voluntário para o Tzahal. De onde vem a motivação? Kasher – Sou sionista, defendo a criação de um Estado judeu, então sempre pensei que deveria ajudar a desenvolvê-lo e que posso contribuir por meio do meu trabalho filosófico, no estabelecimento das instituições do país. Também tenho um interesse mais pessoal, pois um filho meu morreu em um acidente no Sinai, enquanto servia no exército. Ele era capitão e muita gente apostava que atingiria o generalato. Então quando contribuo para o exército, faço-o também em nome dele, como se eu o estivesse substituindo. Com o seu entusiasmo pelo exército, o senhor não teme a militarização da sociedade israelense? Kasher – Não. O grupo mais responsável de pessoas que conheço em Israel é constituído de oficiais de alto escalão do Tzahal. Eles já viram e sabem o que é uma guerra. É horrível e onde amigos podem morrer, não gostam dela, mas sabem que, às vezes, é preciso lutar. Sabem muito bem o que justifica enviar pessoas para uma batalha, e o que não justifica. Não somos uma sociedade militarista, apesar da presença do exército na sociedade. Militarização seria pensar que somente o exército resolve tudo. Mas não é o que ocorre em Israel. Aqui o exército entra em último caso, só quando necessário. >>
“Não adotaremos os valores do inimigo, nós lutamos contra ele. Além disso, quando lutamos contra o inimigo, temos de levar em conta os valores deles, que lutarão baseados neles.” (Asa Kasher, professor emérito de filosofia da Universidade de Tel Aviv)
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Um retrato das recentes eleições AS CONCLUSÕES A RESPEITO DA DIMINUIÇÃO DAS DIFERENÇAS
SOCIOECONÔMICAS PODEM SUGERIR QUE A CATEGORIZAÇÃO COMUM DIREITA-ESQUERDA E RELIGIOSO-SECULAR NÃO É MUITO RELEVANTE QUANDO SE TRATA DE POLÍTICA ECONÔMICA E SOCIAL
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assadas as eleições realizadas em Israel, a maioria do público judeu (57%) está satisfeita com os resultados, 6,2% estão “muito satisfeitos” e os mais satisfeitos são aqueles eleitores dos novos partidos Yesh Atid (74%) e Habayit Hayehudi (72%), isto é, aqueles que obtiveram até mais votos que as previsões dos especialistas. Seguem-se Hatnuá e o Likud Beiteinu (61% cada), Meretz (48%), Trabalhista (46%), Judaísmo da Torá Unida (44%), Shas (36%) e Kadima (0%). Mas a maioria dos eleitores árabes entrevistados (54%) não ficou satisfeita com os resultados eleitorais. Esses resultados foram coletados pelo Israel Democracy Institute que também realiza pesquisas mensais a respeito das negociações entre o governo de Israel e a Autoridade Palestina a que dá o nome de Índice da Paz [ver box na pg. ao lado]. Exatos 83% dos eleitores judeus e 75% dos árabes estão em paz com os próprios votos, isto é, têm certeza de que seria o mesmo se houvesse outra eleição. A convicção dos eleitores era tal que a esmagadora maioria (84%) estava convencida de que o seu voto não seria desperdiçado, mas se mantém uma porcentagem nada desprezível de eleitores residuais que poderia ter levado o partido da sua preferência a passar o limiar eleitoral se tivesse realmente votado nele. A maioria do povo judeu diz que decidir em qual partido votar influenciada mais pela ideologia dele (54%) do que por quem o lidera (24%) e isso ficou evidente entre os eleitores do Meretz (de esquerda) pois 90,5% o escolheram por razões ideológicas e os eleitores do Likud Beiteinu registraram menor percentual (29,5%). Assim também votaram os árabes: 53% disseram que tinham votado mais em ideias e 17%, nos líderes. Além disso, as questões internas, de sociedade e economia (51%), prevaleceram sobre relações exteriores e defesa (22,8%). Também os árabes pensaram assim e 46% votaram considerando as questões domésticas e 29% as relações exteriores e
defesa. Os eleitores do Likud Beiteinu (54%) e os do Hatnuá (43%) dão maior importância a questões externas e de defesa, e os do Yesh Atid (80%) e dos trabalhistas (65 %) atribuem maior peso aos assuntos domésticos. Mal nos quesitos Sessenta e cinco por cento dos entrevistados judeus consideraram a atual gestão de Netaniahu “muito fraca” ou “moderadamente fraca”. Mesma resposta dada aos esforços do governo de dividir equitativamente o ônus do serviço militar entre haredim e população secular (64%). A manutenção da estabilidade econômica foi considerada fraca por 37% dos entrevistados, média por 26% e boa por 35% e melhor ainda a segurança de Israel cujo desempenho foi fraco para 20%, médio para 34% e bom para 42%, mas as avaliações foram mais negativas quando à paz com os palestinos (54% fraca, 23% média e 19% boa). Para os entrevistados árabes, no entanto, foi o contrário e houve falhas em quatro áreas: 51% dos entrevistados acreditam que o governo fracassou na promoção da paz; para 58% perdeu na estabilidade econômica, 62% na diminuição das diferenças socioeconômicas e 57% na questão do serviço militar dos ortodoxos. E no item segurança, 38% dos árabes deram nota negativa ao governo. Os eleitores dos partidos de direita e religiosos tendem a ver positivamente a atuação do governo em segurança de Israel, mas os eleitores do centro, mais o Partido Trabalhista, o consideram médio. O Meretz é o único partido sionista cuja maioria de eleitores (55%) considera o desempenho do governo negativo também nesta questão e quando se trata de estabilidade econômica as diferenças são muito grandes dependendo do partido o que não expressa uma correlação sistemática entre direita, centro e esquerda ou entre secular, religioso e haredi. Isto e mais as conclusões a respeito da diminuição das diferenças socioeconômicas podem sugerir que a categorização comum direita-esquerda e
religioso-secular não é muito relevante quando se trata de política econômica e social. Uma clara maioria de 67% de todos os entrevistados judeus e de 79% dos entrevistados árabes acha necessário incluir a renovação das conversas com os palestinos nas diretrizes básicas do governo. A segmentação por votação do público judeu revela que eleitores do Meretz (76%) e do Trabalhista (54%) dão maior importância a fazer parte das diretrizes renovar as conversações. E 41% dos judeus consideram necessário discutir a divisão do peso do serviço militar para os haredim e os cidadãos árabes. É interessante notar que para 44% dos judeus é mais importante os haredim se juntarem à força de trabalho, e apenas 31% disseram que era mais importante os haredim servirem o exército. Entre os árabes, 40% disse não ser essencial incluir a partilha equitativa do ônus do serviço militar nas metas básicas do governo em relação ao serviço militar tanto dos haredim como dos árabes.
Quem quer a paz Todos os meses, o Índice da Paz – projeto ligado à Universidade de Tel Aviv e ao Israel Democracy Institute – realiza um monitoramento das atitudes do público israelense em relação às negociações de paz entre Israel e a Autoridade Palestina. Este Índice de Negociações é composto de duas questões, uma com foco no apoio público para as negociações de paz e outra a respeito do grau em que o público acredita que essas conversas levem realmente à paz. As respostas agregadas a essas duas perguntas são calculadas, combinadas e padronizadas em uma escala de 0-100, em que 0 zero representa total falta de apoio para as negociações e falta de crença no potencial de produzir resultados e 100 representa apoio total ao processo e crença no potencial. A cada mês, o Índice de Negociações apresenta duas conclusões distintas, uma para a população geral de Israel e outro para os judeus israelenses. O resultado foi 51,1 para a população geral e 48,3 para os judeus israelenses, e a margem de erro é de 4,5%, para mais ou para menos. Foram entrevistadas 606 pessoas por telefone entre 3 e 4 de fevereiro de 2013 pelo Instituto Dahaf.
Uma clara maioria de 67% de todos os entrevistados judeus e de 79% dos entrevistados árabes acha necessário incluir a renovação das conversas com os palestinos nas diretrizes básicas do governo NO PAÍS DE AVANÇOS TECNOLÓGICOS FUNCIONÁRIO AJEITA AS URNAS PARA O VOTO AINDA EM CÉDULAS
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magazine > shoá | por Diane Cole *
O que deve ser dito A UM GUIA RECÉM-LANÇADO POR DOIS PROFESSORES TRAZ UMA LISTA DE CEM OBRAS LITERÁRIAS CONSIDERADAS FUNDAMENTAIS PARA A COMPREENSÃO DO HOLOCAUSTO E TORNÁ-LA ACESSÍVEL PARA AS FUTURAS GERAÇÕES
leitura de temas a respeito do Holocausto e do Holocausto em si tem o objetivo de lembrar para advertir e não esquecer aqueles terríveis eventos, mas a grande quantidade de títulos a respeito pode intimidar os leitores. O ideal seria um guia tão acessível quanto abrangente, e acadêmico. Os problemas podem ter acabado com o recente lançamen-
ESTE MAPA É ANTERIOR À PESQUISA RECENTEMENTE CONCLUÍDA E QUE REGISTROU A EXISTÊNCIA DE 42.500 CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO, DE EXTERMÍNIO, GUETOS E LOCAIS DE TRABALHO ESCRAVO
to de Holocaust Literature: a History and Guide (A Literatura do Holocausto: uma História e Guia), do professor de literatura ídiche do Seminário Teológico Judaico de Nova York e da Universidade Hebraica de Jerusalém David G. Roskies, e da vice-reitora da Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York Naomi Diamant. Eles enfatizaram a importância de os livros serem lidos na ordem cronológica em que foram escritos e publicados de modo que também corrige a ideia de que, até a década de 1960, quando Eichmann foi preso na Argentina e levado a julgamento em Jerusalém, o Holocausto pouco significava para os judeus de um modo geral. No entanto, Roskies e Diamant revelam que O Diário de Anne Frank apareceu pela primeira vez em holandês, em 1947, mesmo ano em que É Isso um Homem?, de Primo Levi, foi publicado em italiano, em Turim. Um ano antes, em 1946, na Polônia, começaram a ser publicados relatos pessoais e os diários das privações nos guetos, a expectativa das deportações e da morte, deixados por homens e mulheres que morreram no Holocausto. Não judeus não europeus também expuseram ao público o horror como o romance histórico a respeito do Levante do Gueto de Varsóvia, The Wall (“O Muro”) do escritor norte-americano John Hersey que tornou-se um best-seller. O livro de Roskies e Diamant remonta aos primórdios da literatura do Holocausto, no meio da própria guerra. Na Europa de 1939 a 1945 “a geografia era o destino”, porque a vida e a morte dos judeus eram esmagadoramente determinadas pelo local onde estes se encontravam. Os autores chamam de “Zona Livre” aquelas áreas nas quais os judeus estavam fora do alcance da perseguição nazista, e de “Zona Judia” os países em que os judeus eram arrebanhados e havia guetos e campos de extermínio. Relacionado à região de onde os escritos em tempo de guerra tinham origem está a demarcação ainda mais assustadora do tempo: antes de 1942, quando ainda havia ao menos algum vislumbre possível de esperança de alívio, de resgate ou de fuga; e depois, quando aqueles que foram capturados e presos perceberam que estavam condenados. “Um judeu que ainda estava vivo na Zona Judia era um erro estatístico do outono de 1943”, escrevem os autores. E ainda assim muitos desses poucos sobreviventes encontraram meios e modos de furtar papel e material de escrita para registrar o que testemunharam, e em seguida esconderam os manuscritos na esperança de que mais tarde fossem encontrados. Barbárie e memória A leitura com o foco no tempo também dá uma visão a respeito de por que, após a guerra, certos relatos logo apareceram na imprensa, enquanto outros permaneceram arquivados ou, se publicados, ficaram fora de catálogo durante décadas. As razões: os gritos claros ouvidos nos diários e nas crônicas dos condenados podiam ser brutais e raivosos contra o silêncio escandaloso – especialmente, talvez, em relação ao que
percebiam como o silêncio judaico; assim como a raiva e a culpa contra si próprios por não terem agido –, além de um sentimento de repugnância moral em relação às traições cometidas por judeus contra judeus, apenas para sobreviver mais um dia. Em alguns casos, essas histórias eram tão cruéis e perturbadoras que os judeus sobreviventes discutiam acaloradamente se tais relatos deviam ser apresentados a um público que não compreenderia – ou não poderia compreender – a barbárie dos campos de concentração. Até certo ponto, como afirmam os autores, “a memória do Holocausto teve de obedecer aos hábitos do coração judeu”. A questão de como moldar a memória e o significado do Holocausto tornouse um tema dominante no que Roskies e Diamant chamam de o período de “Memória Comunal”, de 1945-1960. Essa foi uma época durante a qual as controvérsias surgiam à medida que diferentes grupos tentavam apresentar, por meio de relatos de sobreviventes e antologias, um aspecto em especial, seja de heroísmo ou de martírio, ou conectar uma agenda específica – religiosa ou política – ao Holocausto. Outras questões foram levantadas no que os autores chamam de a era da “Memória Provisória”, de 1960-1985: o sentido de trauma interno do sobrevivente nunca termina, mesmo depois de ele aparentemente ter criado uma nova e exitosa vida no pós-guerra? Como julgar o comportamento dos sobreviventes de campos de concentração e dos guetos – passivo ou heroico – quando um caminho provavelmente levaria à sua morte, ou à de outra pessoa, ou de ambos? Atualmente, David Roskies e Naomi Diamant acreditam que vivemos uma era constrangida de “Memória Autorizada”. Mas, apesar disso, “cada geração tem de se escandalizar de novo com o Holocausto”. O que significa que a história deve continuar a ser ensinada, e os livros que narram essa história, lidos. Na segunda metade do seu livro sugerem um guia de cem livros a respeito do >>
Atualmente, Roskies e Diamant acreditam que vivemos uma era constrangida de “Memória Autorizada”. Mas, apesar disso, “cada geração tem de se escandalizar de novo com o Holocausto”. O que significa que a história deve continuar a ser ensinada, e os livros que narram essa história, lidos
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magazine > shoá >> Holocausto disponíveis em inglês – número arbitrário e aleatório – muitos deles já traduzidos para o português como Noite, de Elie Wiesel; O Último dos Justos, de André Schwarz-Bart; Maus, de Art Spiegelman e outros menos conhecidos que indicam como Blood from the Sky (“Sangue do Céu”), de Piotr Rawicz, romance descrito como o cruzamento “de James Joyce com Dostoievski”; Our Holocaust (“Nosso Holocausto”), do romancista israelense Amir Gutfreund, que chamam de Bildungsroman (“romance de formação”) comunitário – o primeiro na literatura do Holocausto, e Rue Ordener, Rue Labat, relato autobiográfico da filósofa francesa Sarah Kofman a respeito do conflito de lealdades de uma criança que foi escondida durante a guerra. Eles também produziram um companion curriculum on line, com trechos da obra. O historiador do Holocausto Samuel Kassow do Trinity College e autor do mundialmente famoso Quem Escreverá nossa História, a respeito dos arquivos do Gueto de Varsóvia, em português pela Companhia das Letras, que tratou a abordagem dos autores como “pioneira”; e a crítica literária Ruth Franklin, autora de A Thousand Darknesses: Lies and Truth in Holocaust Fiction (“Mil Tre-
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Usos e abusos do Holocausto Peter Berger MULHERES COMBATENTES DO
LEVANTE DO GUETO DE VARSÓVIA, EM PESSACH DE 1943, SÃO PRESAS PELOS NAZISTAS
vas: Mentiras e Verdade na Ficção Holocausto”), para quem o trabalho foi “magistral”. Elogios, aliás, justificados porque o livro dá uma visão clara acerca de como ler a literatura do Holocausto em tempo e ao longo do tempo, pois nos lembra de que preservar a memória é pouco e, devemos também tornar o Holocausto disponível para ser redescoberto por gerações futuras. * Diane Cole escreve para o Wall Street Journal e outras publicações, e é membro do corpo docente do Centro Skirball para a Aprendizagem Judaica de Adultos em Nova York
A máquina de moer carne Em vários dos muitos mapas que ilustram a gigantesca edição de O Holocausto, de Martin Gilbert, centenas de pontos localizam os campos de trabalhos forçados e de concentração que os nazistas espalharam no espaço entre a França e a ex-União Soviética. De fato, os alemães instalaram campos em todas as localidades onde promoviam devastação e sabiam poder contar com grupos de extermínio, geralmente criminoso e, de preferência os mais antissemitas, para guardá-los. Agora, essa fantástica rede de assassinato patrocinado pelo Estado alemão entre 1933 e 1945, foi pesquisada e sistematizada em uma Enciclopédia dos Campos e Guetos patrocinada pelo Museu do Holocausto de Washington que catalogou e deu nomes a cerca de 42.500 campos de trabalhos forçados, de concentração, fábricas com trabalhadores escravos, guetos, quinhentos bordéis, centros para a prática da eutanásia, áreas e casas judias – uma espécie de pequenos campos de trânsito de judeus antes de serem enviados para o leste e executados. Os campos mais conhecidos eram os de Drancy, em um velódromo, na França, e o de Theresienstadt, na antiga Tchecoslováquia, a cerca de sessenta quilômetros de Praga. Pesquisadores do Museu estimam que entre dez milhões e quinze milhões de pessoas, todos civis, teriam sido mortos nestes locais, como judeus, homossexuais, deficientes físicos, ciganos, opositores políticos, simples criminosos. Nenhum deles armado.
TANTO À DIREITA QUANTO À ESQUERDA, SÃO MUITOS OS QUE SE APROPRIAM DO HOLOCAUSTO PARA DEFENDER POSIÇÕES POLÍTICAS E O PRÓPRIO TERMO “HOLOCAUSTO” TEM SIDO QUESTIONADO
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8 de fevereiro de 2013, The Christian Century publicou um artigo de Lauren Markoe intitulado “Did gun control prevent Jews from stopping the Holocaust? (“O controle de armas impediu que os judeus detivessem o Holocausto?”). O artigo relata o que deve ser um dos mais bizarros abusos do Holocausto. À medida que a discussão a respeito do controle de armas passou a ocupar lugar de destaque nos debates políticos norteamericanos, na esteira do massacre na escola de Newtown, no qual morreram crianças judias, alguns adversários do controle de armas defenderam a tese segundo a qual, se durante a Segunda Guerra os judeus tivessem armas, o Holocausto não teria acontecido, ou pelo menos o número de vítimas teria sido muito menor. O texto faz uma analogia entre a legislação nazista que proibia aos judeus possuírem armamentos e o atual movimento para fortalecer o controle de armas nos Estados Unidos. E no FoxNews.com Andrew Napolitano escreveu: “Se os judeus do Gueto de Varsóvia tivessem o mesmo poder de fogo e munição dos nazistas, alguns da Polônia poderiam ter ficado livres e mais pessoas teriam sobrevivido ao Holocausto”. É uma visão obviamente absurda. A noção de que os judeus da Europa dos anos 1940 poderiam ter armas suficientes para parar, ou até mesmo, dificultar significativamente a poderosa máquina de morte nazista é uma ignorante fantasia. Poucos judeus conseguiram adquirir armas, a heroica insurreição no Gueto de Varsóvia matou uns poucos alemães e foi rapidamente aniquilada e quase todos os sobreviventes do gueto foram massacrados lá mesmo ou deportados para os campos de ex-
termínio. É pura ficção científica Napolitano imaginar que a resistência judaica poderia ter permitido a liberdade “a alguns da Polônia”. No entanto, – e felizmente – este mau uso retórico do Holocausto não se generalizou. Por trás da indignação causada pela analogia do Terceiro Reich com a administração Obama há razões mais profundas do que a preocupação com a exatidão histórica embora a analogia seja profundamente ofensiva. O colunista da revista eletrônica Tablet, Michael Moynihan, resumiu este insulto de modo muito claro: “A América não é a Alemanha nazista, e sugerir o contrário desvaloriza e deprecia a experiência das vítimas do Holocausto”. É possível acrescentar que aquela afirmação também denuncia uma visão surrealista distorcida dos Estados Unidos e terrivelmente insensível. Infelizmente, abusos semelhantes quanto ao Holocausto ocorreram antes, tanto à direita quanto à esquerda. A retórica do movimento pró-vida tem continuamente comparado o aborto com o Holocausto desde uma decisão da Suprema Corte que permitiu a interrupção da gravidez. Um guia evangélico para eleitores lançado pela internet antes da eleição presidencial de 2012, comparou as mortes por abortos na América às do Holocausto nazista em duas tabelas nas quais se lê que ocorreu uma “taxa de assassinato” anual de 1,3 milhão abortos e um milhão de vítimas do nazismo, o que dá seis milhões durante a Segunda Guerra Mundial. Em outra tabela, ao lado de “bebês indesejados” figuram “os judeus indesejados”, e os dois conjuntos de vítimas são catalogados como “não totalmente humanos” e “eliminados como lixo”. Esta analogia, no entanto, não é feita pela maioria antiaborto. A retórica ofensiva existe em ambos os lados da política, e alguns progressistas associam os conservadores ao Holocausto em particular e ao nazismo em geral. Houve democratas que compararam opositores do casamento homossexual a negadores do Holocausto. Mesmo sem fazer qualquer referência ao Ho>>
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>> locausto como tal, as leis que definem o casamento como a união entre homem e mulher estariam na mesma categoria da legislação em estados do sul dos EUA que proibia o casamento inter-racial e das leis nazistas que interditavam o casamento entre judeus e “arianos”. A terminologia em tudo isso é um tanto infeliz. A palavra “holocausto” deriva do grego holokauston, que significa “sacrifício totalmente imolado”. A Septuaginta, a tradução grega da Bíblia Hebraica, usa a expressão em Gênesis, 22, onde se lê que, para testar a fé de Abraão, Deus determinou que matasse o filho Isaac como um “holocausto” (como se sabe “parou” a mão de Abraão antes que este pudesse realizar o sacrifício). Algumas pessoas dizem que o uso do termo para o horror nazista é inadequado, pois Abraão estava disposto a sacrificar Isaac como um ato de fé em Deus, o que certamente não descreve a motivação dos nazistas. De todo modo, a palavra, em português, inglês e outras línguas, mesmo o alemão, tornouse padrão para se referir ao evento durante a Segunda Guerra Mundial, o que ocorre com outros idiomas. Há controvérsias a respeito de como isso aconteceu. Talvez a culpa seja de filmes americanos da década de 1970. Em alguns países da Europa e também de Israel têm preferido o termo Shoá, que é a palavra hebraica para “catástrofe”. Ironicamen-
ACIMA QUADRO DESENHADO A LÁPIS EM UM CAMPO, EM
1945, MOSTRA JUDEUS E CATÓLICOS REZANDO E UMA PESSOA VIGIA DA JANELA; ACIMA À DIREITA EM VOLARY, TCHECOSLOVÁQUIA, ALEMÃES SUDETOS TENTAM ESCONDER O HORROR DIANTE DOS CORPOS DE JUDIAS MORTAS PELA SS
te, a palavra árabe, Naqba, “catástrofe”, é usada pelos palestinos para tratar da criação do Estado de Israel, em 1948. Como a maioria dos palestinos entende hebraico, é improvável o emprego ingênuo da palavra árabe sem que signifique uma alusão relacionada à Shoá. Nesse caso, seria outro uso indevido do Holocausto: embora os palestinos se queixem do Estado judeu, comparar – e equiparar – o que os israelenses fizeram com eles com o que os nazistas fizeram com os judeus é, novamente, muito desproporcional. Seja como for, o termo “Holocausto” está agora consagrado, e isso não deve mudar. E o genocídio? Além dos claros abusos da expressão, outra questão muito debatida é se o Holocausto dos judeus europeus durante a Segunda Guerra Mundial foi um evento absolutamente único. Ou pode ser adequadamente utilizado como referência a
outros casos de massacres em massa? Outro termo muito utilizado complica ainda mais a questão: “genocídio”. A palavra, desta vez, deriva do latim, que significa literalmente “o assassinato de um povo”. Essa palavra era ocasionalmente usada antes da Segunda Guerra Mundial, para se referir especificamente aos massacres de armênios durante a Primeira Guerra Mundial. Tornou-se termo oficial de direito internacional em 1948, durante a Convenção das Nações Unidas contra o Crime de Genocídio, realizada depois dos julgamentos de Nurenberg e à sombra do Holocausto. À luz desta Convenção, os tribunais da ONU julgaram as atrocidades cometidas no Camboja e em Ruanda, e nas guerras após a dissolução da antiga Iugoslávia. Há controvérsias acerca dessas questões judiciais e provavelmente o debate mais intenso trata do destino dos armênios nas mãos do governo turco. O estado armênio e organizações daquele país fizeram campanha para designar como genocídio os massacres que começaram em 1915, na Anatólia, o reconhecimento formal e um pedido de desculpas do governo turco, ferozmente recusado. Poucos historiadores (exceto alguns nacionalistas turcos) discordam dos fatos básicos: a brutal política de perseguição assassina de armênios pelo menos naquela parte do Império Otomano e que ma-
tou centenas de milhares de pessoas. A controvérsia é se esses eventos se enquadram na definição de genocídio da Converção, isto é, a destruição deliberada de todo um povo, e que torna ainda mais exclusiva a questão da Shoá. O Holocausto terá sido único? A resposta se localiza em um irrefutável “sim” ou “não”. Não: o assassinato de seis milhões de judeus pelos nazistas se enquadra claramente na definição de genocídio pela Convenção de 1948, e de fato, foi a principal razão por esse crime ter sido definido no direito internacional, pois os nazistas planejaram deliberadamente a destruição física de todo um povo; e nas regiões da Europa que controlavam quase conseguiram seu objetivo. Mas, em todos os outros casos mencionados aqui também se pode defender a utilização da palavra genocídio. No Camboja, o Khmer Vermelho realizou o que poderia ser chamado de política de autogenocídio: os governantes mataram uma parte substancial do próprio povo. Em Ruanda, os hutus tentaram – e quase conseguiram – matar todos os tutsis. E as campanhas de “limpeza étnica” dos sérvios na Bósnia e em Kosovo tinham o mesmo objetivo em territórios mais circunscritos. Desta forma é razoável se referir ao Holocausto como um caso especialmente hediondo de genocídio. No entanto, é preciso também dizer “sim”, o Holocausto é único devido ao seu âmbito geográfico, à eficiência sistemática da sua execução e à sua extraordinária crueldade e, também importante, por ter sido cometido por uma nação durante muito tempo considerada modelo de civilização europeia. É possível honrar e recordar as vítimas do Holocausto sem restringi-las a um conceito jurídico abstrato. Elie Wiesel insiste que precisamente pelo caráter único dessa atrocidade é que devemos ficar alerta para todas as outras atrocidades de que os seres humanos são capazes. * Peter Berger (1929) é um sociólogo americano nascido na Áustria e autor de vários livros a respeito da sociologia da religião
Algumas pessoas dizem que o uso do termo para o horror nazista é inadequado, pois Abraão estava disposto a sacrificar Isaac como um ato de fé em Deus, o que certamente não descreve a motivação dos nazistas
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magazine > igreja católica | por Alan Brill e Ronnie Perelis *
As conversas do papa com o rabino DEUS, FUNDAMENTALISMO, PECADO, HOMOSSEXUALIDADE, CAPITALISMO, DINHEIRO, POBRES... TUDO ISSO EM UMA CONVERSA DESCONTRAÍDA COM UM RABINO E QUE DEPOIS VIROU LIVRO, O ÚNICO COM O NOME DO ENTÃO CARDEAL BERGOGLIO
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oucas horas depois da eleição do papa Francisco como o novo pontífice da Igreja Católica, jornais citaram os chefes das principais agências judaicas dizendo que o cardeal Jorge Mario Bergoglio estava comprometido em construir pontes com a comunidade judaica. Líderes judeus disseram que esperam ter um relacionamento frutífero com ele. Como bispo e cardeal, o papa participou de muitos encontros inter-religiosos. Foi elogiado pela comunidade judaica pela resposta de solidariedade às vítimas do atentado em Buenos Aires, em 1994, que destruiu os sete andares da Associação Mútua Judaica Argentina (Amia) e da Delegação da Associação Judaica Argentina. Como cardeal, pregou duas vezes em uma sinagoga nas comemorações do Holocausto, e visitou Israel. No entanto, não se tem dado atenção ao fato de que o único livro escrito pelo papa, e publicado, é um diálogo em espanhol entre o então cardeal Bergoglio e um rabino. Sobre El Cielo y la Tierra (“Sobre o Céu e a Terra”) é a transcrição de uma conversa entre o então cardeal Jorge Mario Bergoglio e o reitor do Seminário Rabínico Latino-Americano rabino Abraham Skorka. É um livro arrebatador que passa pelas discussões sobre Deus, fundamentalismo, pecado, homossexualidade, capitalismo, dinheiro, pobres e muitos outros temas. O futuro pontífice trata do papel da Igreja Católica no Holocausto, da chamada “guerra suja” na Argentina e do conflito no Oriente Médio de forma esclarecedora e, portanto, bem distante do modo como são cuidadosamente elaboradas as mensagens que costumam ser divulgadas pelo Vaticano. Em razão das reflexões importantes que o novo papa expõe, o livro Sobre el Cielo y la Tierra disparou para o primeiro lugar
em vendas nos livros a respeito de religião na Amazon.com. O aspecto mais intrigante para os judeus pode ser o fato de que as primeiras palavras que o mundo pode ler do novo líder da Igreja Católica, de 1,2 bilhão de membros, tenha origem em uma conversa construtiva com um rabino, na qual ambos incentivam a amizade inter-religiosa. O papa também revela conhecer o judaísmo e autores judeus, especialmente as obras de Abraham Joshua Heschel. O cardeal vai aos detalhes para discutir o Holocausto e o impacto na Igreja Católica e diz que a grande questão a respeito do Holocausto não é “onde estava Deus?”, mas “onde estava o Homem? As grandes potências simplesmente lavaram as mãos – elas sabiam muito mais do que diziam saber”, diz o cardeal. Universalizando o período trágico, o cardeal declara que “a Shoá é um genocídio, como os outros genocídios do século 20”, mas, ao mesmo tempo, reconhece que “há algo de especial em uma interpretação idólatra contra o povo judeu”. Para ele o nazismo tem um lugar especial nos anais do totalitarismo em razão da ênfase na pureza racial e a colocação de raça em um plano mais ele-
O ENTÃO CARDEAL BERGOGIO PARTICIPA DE MAIS UMA FESTA DE CHANUKÁ NA SINAGOGA DE BUENOS AIRES
vado do que o da divindade. “Os ideais de uma raça pura são os ídolos em que os nazistas se moldaram... Todo judeu que foi assassinado é um golpe contra o Deus vivo, em nome dos ídolos. O diabo estava presente nos ídolos, o que aplacou a consciência humana.” Quando Skorka pergunta ao cardeal sobre a igreja durante os anos do Holocausto, Bergoglio elogia as ações de Pio XI, que escreveu uma encíclica na véspera da guerra contra o racismo e o antissemitismo. Mas é mais reservado em relação a Pio XII, o papa da era nazista que alguns criticaram por não ter tomado uma posição suficientemente forte contra o Holocausto. No entanto, o cardeal lembra aos leitores que o papa Pio XII foi elogiado por Golda Meir e observa os sentimentos ambivalentes que, até hoje, muitos judeus e católicos têm uns dos outros. “A Igreja não disse tudo o que poderia ter dito”, reconhece o cardeal. Mas depois volta atrás, oferecendo uma defesa do pontífice: “Outros dizem: ‘Eles [a Igreja Católica] não podiam ter dito mais do que disseram’”. O cardeal concorda plenamente com a necessidade de abrir os arquivos da Igreja dos anos de guerra e, de forma inequívoca, salienta a importância de esclarecer os fatos históricos. Se o papa Francisco seguir o declarado desejo do cardeal José Mário Bergoglio, pode ajudar as organizações judaicas a pres-
sionar pela rápida abertura dos arquivos do Vaticano, e que até agora tem encontrado muita resistência. “A abertura dos arquivos da Shoá parece razoável”, diz o futuro papa. “Que sejam abertos e que tudo seja esclarecido. Que se veja se eles [a Igreja] poderiam ter feito algo [para ajudar], e até que ponto poderiam ter ajudado. Se cometeram um erro em qualquer aspecto dessa questão, teríamos de dizer: ‘Nós erramos’. Não temos de ter medo disso – o objetivo tem de ser a verdade.” O cardeal também discute o papel do antissemitismo na Argentina, onde nasceu. Ele admite que teve menos contato com os judeus do que outros, mas insiste em que o fanatismo e o antissemitismo têm diminuído muito nos últimos anos. “Não tive a mesma experiência que João Paulo II de ter metade dos meus amigos judeus, mas tenho amigos judeus”, diz ele. “Sim, houve alguns católicos an>>
Bergoglio elogia as ações de Pio XI, que escreveu uma encíclica na véspera da guerra contra o racismo e o antissemitismo
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magazine > igreja católica fraqueza física resultava de uma vida de fornicação. O Talmud ainda afirmou: “À medida que os estudiosos da Torá envelhecem, a sabedoria aumenta com eles”. No entanto, a mesma passagem também cita numerosos exemplos do preço físico e emocional que a velhice pode cobrar de estudiosos idosos.
O momento de se aposentar Shlomo M. Brody *
O TALMUD DIZ: “À MEDIDA QUE OS ESTUDIOSOS DA TORÁ ENVELHECEM, A SABEDORIA AUMENTA COM ELES”. MESMO ASSIM, A TORÁ IMPÕE UMA IDADE LIMITE PARA A LIDERANÇA ESPIRITUAL >> tissemitas e hoje também há alguns. Mas não com a virulência dos anos 1930, quando havia certo antissemitismo eclesiástico. Hoje, a política da Igreja argentina é clara: de diálogo inter-religioso”, afirma. O futuro pontífice não é tão direto quando se trata do conflito no Oriente Médio. No capítulo dedicado ao tema, Bergoglio é prolixo e procura desviar as questões políticas para temas universais. “Às vezes as relações humanas podem ser resolvidas se houver pessoas que possam encontrar caminhos”, diz ele, antes de guinar para uma confusa retórica religiosa. “O conflito é essencial para a Bíblia”, voltando para Adão e Eva, e então Caim. A respeito das relações inter-religiosas, é claro e firme ao dizer que não apenas permite, mas também busca a participação de não católicos em eventos religiosos. Ele exorta a participação ativa de pessoas de outras religiões que frequentam eventos formais, como a posse de um bispo, de modo a que elas não fiquem apenas “como bonecos numa vitrine”. Como cardeal, o papa Francisco fez sermões na sinagoga duas vezes e convidou o rabino para falar aos estudantes em um seminário católico. Ele também estendeu a mão aos cristãos evangélicos e até mesmo aos mapuche, tribo indígena da América do Sul cuja religião está vinculada aos espíritos. O cardeal é menos claro acerca do papel da Igreja Católica durante a ditadura militar argentina dos anos 1970. No livro, a “guerra suja” é eufemisticamente chamada de “problemas”. A sinagoga de Skorka, quando era dirigida pelo rabino Marshall T. Meyer, fez críticas contundentes ao governo militar.
HÁ DOIS ANOS, O ENTÃO CARDEAL
BERGOGLIO REUNIU-SE COM O PRESIDENTE DO
CONGRESSO LATINO-AMERICANO JACK TERPINS NA CÚRIA DE BUENOS AIRES
“O que a Igreja fez naqueles anos?”, pergunta o rabino. “A Igreja fez o que faz uma organização que têm santos e pecadores. Havia alguns homens que combinaram essas duas características”, responde o cardeal. “Para mim, é um dos momentos mais tristes que pesam sobre a nossa nação.” O cardeal comparou a Igreja argentina à Igreja chilena, que teve um posicionamento muito mais enérgico contra a ditadura de Augusto Pinochet. “A maneira como você queria que a Igreja argentina agisse é a maneira que a Igreja chilena agiu”, o cardeal diz ao rabino. “No Chile, a igreja defendeu um caminho firme, que levou a ações e pronunciamentos.” * Ronnie Perelis é professor assistente de estudos sefaraditas da cadeira Chief Rabbi Abraham and Jelena Alcalay, da Yeshiva University. Alan Brill é o professor da Cadeira Cooperman/Ross Endowed, da Seton Hall University
A
surpresa do anúncio da aposentadoria do papa Bento 16, aos 85 anos, levantou questões mais amplas a respeito de outros líderes idosos seculares e espirituais. Nos Estados Unidos, o senador de Nova Jersey Frank Lautenberg, de 89 anos, desistiu da carreira política, e Shimon Peres, que vai comemorar 90 anos em agosto, continua cada vez mais ativo na presidência de Israel, e não vai se candidatar a primeiro-ministro. E quando Bento XVI admite não ter mais a “força do corpo e da mente” para o papado, isso nos leva a pensar a respeito de outros líderes judeus, especialmente da comunidade ultraortodoxa, que sempre valorizou a sabedoria que vem com a idade. Afi nal, os principais líderes espirituais quase sempre passaram dos 70 anos. Philip Roth retirou-se do mundo literário. Mas o grande escritor hebraico S. Y. Agnon nunca considerou a opção da aposentadoria. Apesar de reverenciado em todo o mundo haredi, o legado de rav Elyashiv para sua comunidade e a sociedade israelense em geral não é positivo. Os sábios debateram o impacto potencial do envelhecimento para os estudiosos (Shabat 152a). Na Bíblia, Barzilai, o gileadita, recusou a oferta do rei Davi para se a mudar para Jerusalém, como pensionista privilegiado, justificando sua decisão em razão da idade avançada: “Tenho 80 anos hoje. Posso distinguir entre o bem e o mal?” (II Samuel, 19:36). Os sábios talmúdicos, sempre muito criativos, interpretaram o lamento de Barzilai como uma referência à sua capacidade de racionalizar pois não conseguia mais distinguir adequadamente entre o sensato e o tolo. Mas um sábio acusou Barzilai de distorcer a realidade e não reconhecer que a sua
Aposentadoria é coisa antiga O temor de acabar a força física de líderes espirituais levanta questões a respeito de qual a idade adequada para a aposentadoria compulsória. A Torá manda os levitas que servem no Templo se aposentar aos 50 anos (Números, 8:25). No entanto, os sábios limitaram a aplicação desta regra para a era das andanças no deserto, período em que os levitas precisavam de forças para transportar o Tabernáculo (Hulin 24a-b). Uma vez que o Tabernáculo encontrou um lar permanente, um levita poderia permanecer em serviço até suas habilidades vocais não lhe permitirem cantar harmoniosamente durante o serviço; mesmo assim, ele poderia continuar a servir na guarda ou como conselheiro. Todavia, os cohanim (sacerdotes do Templo) não tinham limite de idade, mas segundo os sábios, eram obrigados a se demitir se tivessem envelhecido fisicamente, o que podia ser revelado por um tremor ou pela incapacidade de se apoiar em uma perna para amarrar os sapatos. Segundo o Talmud, o rabino Hanina conseguiu fazer isso, mesmo aos 80 anos, de acordo com ele graças às sopas e óleos que a mãe havia lhe dado na juventude. Assim, um requisito básico para líderes espirituais idosos é que tenham força física para desempenhar funções fundamentais; do contrário, devem aceitar tarefas mais leves. No entanto, continua difícil quantificar os critérios físicos adequados, especialmente em relação a figuras espirituais, cujo principal papel seria o ensino informal e a orientação moral. Um segundo texto trata de saber se a velhice prejudica o julgamento de juristas. Os sábios decidiram que, idealmen>>
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magazine > igreja católica
O RABINO YOSEF SHALOM ELYASHIV NÃO SE APOSENTOU: MORREU EM 2012, AOS 102 ANOS
>> te, alguém só deve se tornar juiz se envelhecer o suficiente (Sanhedrin, 17a). No entanto, também declara que alguém que se tornou “idoso” (de acordo com Maimônides, “muito idoso”) pode não ouvir os casos sobre crimes capitais (Sanhedrin, 36b). Seguindo uma tendência geral para evitar o uso excessivo da pena de morte, os sábios exigiam que um juiz tivesse sensibilidade para olhar o réu com misericórdia. Os comentaristas medievais sugerem que os sábios temiam que um juiz idoso pudesse ter perdido o toque misericordioso, “paternal”, porque havia esquecido a dificuldade de criar filhos (Rashi/Meiri) ou, alternativamente, que a idade avançada pudesse torná-lo impaciente e mesquinho (Ramah). Com base nesta passagem, o rabino-chefe de Israel Itzhak Nissim (morto em 1981) sugeriu ao rabinato israelense adotar a aposentadoria compulsória aos 70 anos para os funcionários públicos de Israel, desde que o Estado e a sociedade lhes concedessem pensões adequadas e posições honoríficas. A sugestão foi ridicularizada sob a alegação de que a aposentadoria compulsória era legalmente irrelevante por se aplicar apenas aos tribunais que decidiam assuntos capitais, e porque os judeus historicamente permitiram aos seus líderes espirituais servirem até quando bem entendessem. Essa disputa ainda continua causando polêmica em Israel por que o governo tenta fazer cumprir os regulamentos segundo os quais os rabinos responsáveis por serviços civis municipais devem se aposentar aos 67 anos, mesmo que muitos deles tenham vitalidade suficiente para continuar trabalhando. Uma das principais preocupações com a aposentadoria compulsória é que ela viola um princípio haláchico segundo o
qual, na ausência de comportamento pecaminoso, uma figura espiritual só pode ser promovida, nunca rebaixada (ma’alin bakodesh v’ein moridin). A razão deste princípio era proteger um líder dedicado da indignidade de alguma importante desgraça social. Para alguns, no entanto, essa preocupação é irrelevante quando os termos do contrato de emprego estavam claramente definidos e, nele, a indicação que os funcionários devem se aposentar em algum momento. O rabino Nissim sustentava que esse princípio não deveria ser levado em conta se a condição física não lhe permitiria cumprir as responsabilidades de trabalho. O fato é que este princípio realça a dificuldade emocional que significa deixar o cargo em idade mais avançada. Uma vez o rabino Yehoshua disse: “Toda a minha vida fugi do poder, mas agora que obtive um cargo, derramarei este caldeirão em qualquer pessoa que tentar me tirar dele”. (Yerushalmi Pesachim, 6:1) O rabino Yossi, no entanto, não podia aceitar a ideia de que esta declaração tivesse sido feita em proveito próprio: “Deus não permita que ele desejasse [poder]. Em vez disso, ele afirmou que quem o substituir deve ser igualmente capaz de santificar o nome de Deus”. Talvez o rabino Yehoshua tenha sido um tanto ambíguo e fez as duas declarações. De todo modo, essas passagens talmúdicas destacam o dilema atual, quando somos abençoados, como nunca antes, com tantos líderes idosos. Queremos que eles sirvam com vigor e saúde, mas também que encontrem formas alternativas de contribuir quando a sua energia diminuir e chegar a hora de passar o bastão de uma maneira que dignifique a si mesmos, seus sucessores e a comunidade. * O rabino Shlomo M. Brody ensina na Yeshivat Hakotel, escreve uma coluna para o jornal The Jerusalem Post, e dirige os Seminários Tikvah Israel para estudantes que concluíram o-ensino médio. www.facebook.com / RabbiShlomoBrody
Seguindo uma tendência geral para evitar o uso excessivo da pena de morte, os sábios exigiam que um juiz tivesse sensibilidade para olhar o réu com misericórdia
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magazine > irã | por Gilad Halpern
VISTA DO SHUK DE TEERÃ, ONDE UM MAÇO DE NOTAS QUASE DENUNCIOU SEGEV; SALVOU-SE PORQUE SE DISSE AGENTE PALESTINO
Como salvar israelenses durante a revolta no Irã SEGUNDO O ÚLTIMO ADIDO MILITAR DE ISRAEL EM TEERÃ, ARGO É BRINCADEIRA DE CRIANÇA. ENQUANTO A REVOLUÇÃO ACONTECIA, O BRIGADEIRO-GENERAL (REFORMADO) ITZHAK SEGEV GARANTIA A SEGURANÇA DE 32 OUTROS ISRAELENSES
O
suspense do fi lme Argo, vencedor do Oscar de melhor fi lme de 2013, sensibilizou o brigadeiro-general (reformado) Itzhak Segev que o assistiu em um cinema lotado em Tel Aviv. Ele também sentiu a crescente tensão dos seis diplomatas americanos presos durante meses em uma Teerã hostil, enquanto a CIA avaliava planos, cada um mais mirabolante que o outro, para levá-los de volta aos EUA. E suspirou aliviado com o êxito da operação em que os americanos saíram do Irã com passaportes canadenses falsos, fi ngindo integrar uma equipe de fi lmagem em trabalho de campo para uma exótica ficção científica, aparentemente sem se abalar com a revolução islâmica que dominava o país. Mas enquanto os outros espectadores certamente estavam felizes por nunca precisarem enfrentar uma aflição semelhante, para Segev, o último adido militar de Israel em Teerã, isso lembrou uma experiência própria muito mais angustiante. “Por que eles estavam tão nervosos? Portar passaportes canadenses era um grande privilégio naquela época, algo muito seguro”, diz o
homem que, com 32 outros israelenses, esteve à mercê do regime islâmico radical do aiatolá Khomeini pouco depois da queda do xá, no início de 1979. “Quem dera tivéssemos essa sorte!” Hoje é difícil imaginar que o Irã, um dos piores inimigos de Israel, já foi um aliado regional confiável, que manteve relações diplomáticas e comerciais cordiais – civis e militares –, de US$ 250 milhões anuais. Quando os protestos em massa contra o xá Mohammad Reza Pahlevi – um governante brutal e autocrático, mas secular e pró-Ocidente – se espalharam pelo país, cerca de 1.500 israelenses viviam no Irã. Em novembro de 1978, quando estava cada vez mais claro que os dias do regime do xá estavam contados – bem como os do próprio monarca esbanjador de 59 anos de idade, devastado pelo câncer –, restavam no país apenas seis diplomatas israelenses e alguns empresários. A situação deteriorou-se rapidamente, em janeiro de 1979 o xá foi obrigado a se exilar, enquanto murchavam as esperanças de um golpe militar iraniano. Em 1º de fevereiro, Khomeini retornou a Teerã, onde foi recebido pelas massas em êxtase. No meio delas Segev e seu colega, o operador do Mossad Eliezer (Geize) Tzafrir. “Geize e eu estávamos ali, na praça principal de Teerã”, conta Segev. “Parecíamos iranianos, e não chamávamos a atenção; usávamos jaquetas revolucionárias (curtas e amassadas) e falávamos persa. De repente, um homem aproximou-se, nos deu uma bandeira com o retrato de Khomeini, pediu para agitá-la, e nós agitamos.” A chegada de Khomeini pressagiava a queda do governo interino, liderado por Shapour Bakhtiar, leal ao xá, bem como a rápida desunião dos militares, armados com equipamento de última geração fornecido pelos Estados Unidos a quem os generais iranianos imploravam por apoio logístico para um golpe de Estado. Mas uma resposta irresponsável do presidente Jimmy Carter provou que o jogo terminara: estava aberto o caminho para os islamitas tomarem o poder e, portanto, para a execução sumária de centenas de
funcionários civis do governo e militares. Os israelenses, chefiados pelo embaixador Joseph Hermelin, perceberam que o melhor seria tomar o primeiro voo para fora do Irã e o empurrão nesse sentido veio no final de semana. Uma multidão enfurecida invadiu a Embaixada de Israel já vazia, depois que as tropas responsáveis pela segurança debandaram. O edifício foi transformado na embaixada oficial palestina. Em um ato que alguns consideravam uma espécie de justiça poética, Yasser Arafat, que tinha ótimas relações com a resistência islâmica iraniana, foi convidado a viajar para Teerã e lhe deram o escritório de Hermelin. Sem deixar pedra sobre pedra Hermelin confiou a Segev a missão de encontrar uma rota de fuga para os 33 israelenses até então espalhados por três esconderijos na cidade. Em meio a telefonemas frenéticos para o quartel das Forças de Defesa Israel (Tzahal) e o Ministério das Relações Exteriores israelense, Segev vasculhava a caderneta de endereços na esperança de se valer dos contatos que tinha com centenas de pessoas até então influentes do país. “Liguei para o comandante da Força Aérea iraniana (Amir Hossain) Rabii, grande amigo meu, e lhe disse: ‘Você tem duas mil aeronaves; dê-me uma’. Mas ele respondeu que os aiatolás agora controlavam todas as bases aéreas. ‘Se souber de um jeito de sair daqui, me conte e eu te acompanho’. Desliguei e chamei o general Manuchehr Khosrodad, o comandante da Brigada de Paraquedistas, que esteve em Israel várias vezes a meu convite mas me disse que lhe havia sido despojado do comando da Divisão Aerotransportada”, relata Segev. “Poucos dias depois, Khosrodad telefonou: ‘Consegui um helicóptero e pretendo fugir para a Arábia Saudita. Tenho um lugar extra, você é meu convidado. Recusei porque não poderia deixar os outros para trás. Mas enquanto falava com ele assistia pela TV uma notícia de que o mesmo general Khosrodad, prestes a deixar o país, seria levado ao Conselho Revolucionário. Naquela noite, assisti ao vivo pela TV a execução dele.” Enquanto isso se organizava a operação de resgate. O estado-maior do Tzahal decidiu enviar um avião de transporte e mandou Segev, que se especializara em operações de reconhecimento, encontrar uma área apropriada para pouso próximo de Teerã. Logo em seguida uma mensagem do então ministro da Defesa, Ezer Weizman informava que os Estados Unidos concordaram em incluir os israelenses retidos entre os cidadãos norte-americanos que seriam evacuados por dois jumbos da TWA no final de semana seguinte. Esse foi o início de uma das mais longas semanas da vida de Segev. Anos mais tarde, o drama despertou a imaginação do dramaturgo e cineasta de Hollywood David Mamet, que vinha tentando transformar o caso em um filme. Segev e a mulher foram convidados à casa de Mamet em Hollywood várias vezes, mas o projeto ainda não se materializou. Enquanto esperava em Teerã, Segev foi uma das poucas pessoas autorizadas a sair do esconderijo e o único contato dos isra-
O GENERAL REFORMADO ITZHAK SEGEV ESCREVEU UMA TESE ACADÊMICA A RESPEITO DA QUEDA DO XÁ E DOS ERROS NORTE-AMERICANOS NO IRÃ
elenses com o mundo exterior. O objetivo dele era vagar pela cidade para sentir o ânimo da revolução e comprar jornais do movimento revolucionário que ainda os tem, em casa em Ramat Gan. Os jornais mostram fotos dos corpos mutilados de funcionários do xá, a maioria antigos anfitriões e ex-amigos dos israelenses. No entanto, em um breve momento de descuido, Segev quase estragou o seu disfarce. “Ficamos sem legumes, e fui ao Grande Bazar tentar comprar um pouco”, diz. Foi muito arriscado pois o mercado era um reduto do movimento revolucionário, com homens armados nos corredores movimentados. “Pedi caixas e mais caixas de tomates, pepinos, e assim por diante, e então cometi um pequeno erro. Tinha os bolsos cheios de dinheiro local que tinha sido muito desvalorizado e quando o proprietário da tenda me disse quanto eu devia simplesmente lhe dei o dinheiro.” Isso denunciou Segev, pois todo iraniano sempre pechincha, não importa o produto. Mas Segev só queria dar o fora de lá. “O vendedor me perguntou de onde eu era. Respondi que vinha de um país secreto que eu iria revelaria em outro momento, na presença do comandante”, diz Segev. Cada canto do bazar era comandado por um miliciano diferente. “De repente, o comandante dele surgiu da porta atrás do vendedor e me perguntou qual a minha origem. Eles de nada suspeitavam, só estavam realmente interessados. Apelei para o instinto de sobrevivência e disse que era um delegado da OLP em Teerã. O miliciano retrucou: ‘Sério? Acabei de voltar de um campo de treinamento da OLP na Síria’. Se ele vinha da Síria contei que estivera em um acampamento no Líbano a respeito do qual acabara de ler um relatório que me fora enviado pelo Mossad.” Entusiasmado, o comandante disse ao proprietário da tenda que, como um herói da revolução, a partir do dia seguinte Segev tinha direito de receber gratuitamente as verduras e os legumes que quisesse. “Apesar da boa vontade nunca mais voltei ao bazar”, disse Segev. >>
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magazine > irã >> “Dê o fora deste país” Então o dia da evacuação, 17 de fevereiro, chegou. Segev estava muito apreensivo por que teria de passar pelo aeroporto usando os passaportes israelenses, mas esperava que as poucas dezenas de israelenses pudessem se misturar às centenas de norte-americanos que também esperavam para sair. No entanto, as esperanças de que os israelenses não chamassem a atenção se esvaíram quando chegaram ao ponto de encontro, no Hotel Hilton, tomado por tropas revolucionárias. Dois israelenses foram detidos suspeitos de serem agentes da temida polícia secreta do xá, a Savak, e que tentavam escapar da justiça revolucionária. “Eles checaram todos que pareciam ser iranianos” diz Haim Hareli, o segundo em comando, na época, aliás, um dos detidos. “Provavelmente me ouviram falar persa fluentemente com o motorista e pensaram que eu era iraniano.” E não estavam totalmente errados. “Expliquei que eu nascera no Irã, fiz a aliá para Israel e agora estava de volta como funcionário do governo”, conta Hareli. “Repeti isso umas dez vezes, mas eles não entendiam como eu podia ser iraniano, quando, na verdade, não era. Eram pessoas muito simples, provavelmente ex-presos políticos. Mas também vingativos e estavam fortemente armados.” Segev mudou de tática e se decidiu pela franqueza. “Fui ao comandante e disse: ‘Meu nome é sartip [general] Segev, e gostaria de entregar as minhas credenciais ao novo governo’. Ele olhou para mim como se eu fosse louco. ‘Ouça’, disse, ‘ pessoalmente não tenho nenhum problema com Israel, mas preciso relatar ao Conselho Revolucionário que você está aqui’.” Duas horas de muita tensão depois, entrou ninguém menos que o aiatolá Beheshti, o segundo em comando de Khomeini, acompanhado por dez capangas que seguravam a bainha de sua veste. “Fui até ele e disse, em persa: ‘Vossa Alteza, estou honrado que o senhor tenha vindo até aqui para receber as minhas credenciais’”, conta Segev. Beheshti não achou graça. “Ele olhou para mim e disse: ‘Sartip Segev, dê o fora deste país de uma vez! ’ Eu disse que tudo bem, mas que não ia embora sem os meus homens. Ele ordenou que fossem liberados, e eu exigi que ele desse a ordem por escrito. Ele o fez, e esta provavelmente foi a última vez que uma autoridade iraniana fez a promessa formal de não ferir os israelenses.” Êxito notável, fracasso terrível A atitude cavalheiresca do aiatolá não serviu para amenizar a crítica mordaz de Segev a respeito do regime islâmico. “Por mais que o regime do xá fosse brutal, essas pessoas são muitas vezes piores”, diz ele. “Matar é uma alegria para elas.” De acordo com Segev, “a razão de nos deixarem sair tão facilmente não foi porque eles queriam ser bonzinhos com a gente, mas algo muito mais simples: a revolução ocorrera há poucos dias e eles ainda precisavam consolidar seu domínio. Não queriam mexer com Israel antes que estivessem seguros da nova posição.”
Anos após a fuga, com as memórias em primeira mão da revolta ainda frescas, Segev concluiu uma tese de doutorado na Universidade de Columbia, na qual analisou os fatores que levaram à derrubada do xá. Um de seus orientadores foi Zbigniew Brzezinski, conselheiro de segurança nacional de presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e Segev diz que a Casa Branca gerenciou muito mal a crise iraniana. Para Segev, os norte-americanos não compreenderam o tamanho da hostilidade do novo regime contra eles. “Depois de a nossa embaixada ter sido tomada, o adido militar americano me convidou para ficar em sua casa”, lembra-se Segev. “Eu disse a ele: ‘Você vai ser o próximo’, mas ele não quis nem pensar nisso’.” E nove meses depois, em novembro de 1979, aconteceu. Uma multidão enfurecida tomou a embaixada norte-americana em Teerã e manteve 52 funcionários como reféns por 444 dias. Outros seis escaparam, e Argo é a história deles. “Durante todo esse tempo, não ocorreu aos americanos a iminência do perigo”, diz ele. “Você precisa de mais provas além do fato de os americanos só começarem a destruir arquivos ultrassecretos quando os manifestantes pularam as cercas da Embaixada?” O professor da Universidade de Haifa Uri Bar-Joseph fez um estudo comparando os pontos de vista israelense e norte-americano a respeito da revolução, concorda. “Memorandos de Israel revelam que os israelenses previram e se prepararam durante anos para a possibilidade da queda do xá”, diz ele. “Mas o serviço de inteligência norte-americano falhou terrivelmente.” A história em que Argo se baseia oferece pouco consolo – um sucesso operacional de pequena escala em uma sequência de fracassos. No processo, os eventos foram transformados em um conto de sacrifício e de heroísmo – o que Hollywood faz de melhor. “Por isso dou os parabéns aos produtores de Argo”, diz Segev. “Eles pegaram uma pequena história e a transformaram em um grande filme.”
“A razão de nos deixarem sair tão facilmente não foi porque eles queriam ser bonzinhos, mas algo muito mais simples: a revolução ocorrera há poucos dias e eles não queriam mexer com Israel antes que estivessem seguros da nova posição” (Itzhak Segev, general reformado)
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magazine > ciência | por Ze’ev Rosenkranz *
SELO LANÇADO PELA ALEMANHA EM 2005 COMEMORATIVO DOS 100 ANOS DA TEORIA DA RELATIVIDADE POR EINSTEIN AINDA JOVEM
O legado esquecido de
Einstein
PARA ALBERT EINSTEIN, OS CIENTISTAS TINHAM A RESPONSABILIDADE DE EDUCAR OS SEUS CONCIDADÃOS A RESPEITO DOS PERIGOS DA TECNOLOGIA MODERNA. POR ESTA RAZÃO, LIDEROU UMA CAMPANHA INCANSÁVEL EM FAVOR DO DESARMAMENTO NUCLEAR
D
esde abril de 2005, quando se comemorou o centenário do que foi convencionado chamar de annus mirabilis, o ano milagroso em que Albert Einstein revolucionou os conceitos de tempo, espaço, energia e matéria, realizam-se conferências, exposições e publicações a respeito do tema, mas pouca atenção tem sido dada às opiniões políticas e sociais, os 150 textos não científicos, ou as atividades dele. Nesta era não-ideológica as pessoas simplesmente esquecem de lembrar que, apesar dos avanços surpreendentes no reino da física, Einstein tinha sempre tempo para se envolver intensamente e com franqueza e honestidade política e pessoal em causas públicas, desafiando o consenso político da época. O início da sua atividade política coincidiu com os primeiros tiros da Primeira Guerra Mundial: em outubro de 1914, foi um dos quatro únicos acadêmicos alemães a assinar um manifesto contra a guerra, em resposta a um manifesto contrário apoiado por 93 intelectuais e artistas alemães. No rastro do final desta Primeira Guerra, Einstein era um dos que lideravam o movimento internacional pela paz até se desentender com os pacifistas mais radicais que se opunham ao uso da
força para combater o nazismo. Em famosa carta, de agosto 1939, a Franklin D. Roosevelt, sugeriu ao presidente americano avaliar a possibilidade de desenvolver armas nucleares contra a Alemanha nazista. Depois da Segunda Guerra e do bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, Einstein lamentou profundamente o que percebeu como seu papel crucial no início da era atômica. No entanto, ao contrário do mito popular, o próprio Einstein não era “o pai da bomba atômica”: não foi convidado a participar do Projeto Manhattan porque qualquer iniciativa nesse sentido seria vetada em razão das suas tendências esquerdistas. Apesar disso, após 1945, foi popularmente percebido como um Prometeu moderno que havia concedido o dom duvidoso do fogo nuclear à humanidade. Em 1950, ele descreveu a situação do cientista moderno: “Assim, o homem de ciência, como podemos observar com nossos próprios olhos, sofre um destino verdadeiramente trágico. Na sincera tentativa de alcançar clareza e independência interior, conseguiu, por seus puros esforços super-humanos, criar as ferramentas que não só irão escravizá-lo, mas também destruí-lo por dentro”. Para Einstein, os cientistas tinham a especial responsabilidade de educar os seus concidadãos a respeito dos perigos da tec-
nologia moderna. Por esta razão, presidiu o Comitê de Emergência de Cientistas Atômicos e liderou uma campanha incansável em favor do desarmamento nuclear e de um governo mundial. No entanto, apesar da condição duradoura de celebridade de Einstein, e 108 anos depois da descoberta da Teoria Geral da Relatividade, poucos sabem da sua profunda convicção segundo a qual cientistas e estudiosos em geral têm a obrigação ética de cumprir o compromisso em relação à sociedade e para o bem geral. Desde sua morte, em abril de 1955, a imagem popular de Einstein, transfigurado em avô bonzinho, foi despolitizada pela banalização do seu papel público, no qual parece ter sido transformado em algo tão inofensivo para a política e a sociedade como Mickey Mouse. Quais as origens do profundo compromisso de Einstein para com as responsabilidades políticas e sociais de acadêmicos e intelectuais, e da convicção humanista pela qual os seres humanos são a medida de todas as coisas? Em muitas ocasiões, Einstein atribuiu à origem judaica a sua visão ética de mundo. Em 1934, escreveu: “A busca pelo conhecimento por si só, o amor quase fanático pela justiça e o desejo de independência pessoal – estas são as características da tradição judaica, que me fazem agradecer à minha estrela da sorte por pertencer a ela”. Einstein estava convencido que era o componente judaico na sua identidade multinacional e multicultural como judeu, sábio, berlinense, suíço e, eventualmente, americano que o levou à cosmovisão fundamentalmente humanista. Como humanista racional, Einstein definiu os judeus como um povo unido por um destino, história e cultura comuns e sempre repetia que não valorizava religiões institucionalizadas ou acreditava em um Deus pessoal. Para Einstein, a crença apaixonada na responsabilidade social dos cientistas e acadêmicos não era um simples ideal abstrato. Foi também um princípio que colocava em prática. Ao longo da vida, Einstein foi muitas vezes confrontado com a questão de como melhor proteger as liberdades científicas e acadêmicas. Diante das restrições antissemitas contra judeus eruditos e estudantes da Europa Oriental na Alemanha, ele lhes ofereceu cursos gratuitos a respeito da relatividade e defendeu a criação de várias instituições para acomodar as necessidades acadêmicas deles, incluindo, principalmente, a Universidade Hebraica de Jerusalém. A radicalização da política e dos acadêmicos alemães na década de 1920 fez de Einstein e de sua “física judaica” alvo político preferido da direita radical. A ascensão do nazismo na década de 1930 obrigou Einstein a emigrar da Alemanha para os Estados Unidos e se valeu da grande influência que tinha para facilitar a imigração de centenas de acadêmicos judeus da Europa Central. Na era McCarthy nos Estados Unidos, Einstein aconselhou aqueles intimados a depor perante o Comitê de Atividades Antiamericanas no Congresso a exercer a desobediência civil. Durante esse período alertou vigorosamente para o perigo que se colocava à liberdade de pensamento dos intelectuais e ar-
tistas americanos e disse a famosa frase que “nas circunstâncias atuais, preferia ser um encanador ou mascate” a ser um cientista nos Estados Unidos, pois a liberdade seria maior. Qual conselho Einstein daria aos cientistas e acadêmicos de hoje a respeito dos dilemas éticos enfrentados à luz das atuais questões controversas da ciência e da medicina, como o envolvimento no desenvolvimento de tecnologia militar, a influência do patrocínio corporativo em estudos científicos, a pesquisa de células tronco, etc.? No auge do macarthismo, um ano antes de morrer, em março de 1954, escreveu: “Entendo por liberdade acadêmica o direito de procurar a verdade e publicar e ensinar o que se considera verdadeiro. Este direito implica também um dever: não se deve esconder nenhuma parte do que se tem reconhecido como verdade. É evidente que qualquer restrição à liberdade acadêmica age de tal forma a impedir a disseminação do conhecimento entre as pessoas e, assim, impede o julgamento e a ação racionais”. Einstein sustentava que os cientistas nunca são apenas especialistas trabalhando em algum vácuo político ou social. Eles são obrigados a antecipar as conseqüências do seu trabalho – e se os frutos deste trabalho são incompatíveis com os valores éticos, devem se recusar a participar, mesmo correndo o risco de perder o emprego. Os muitos cientistas contemporâneos e outros acadêmicos – confortavelmente empregados em universidades e empresas – estão preparados para assumir o desafio de Einstein e se igualar na coragem de falar contra o militarismo, as violações dos direitos civis, a injustiça social e as desigualdades econômicas? * Ze’ev Rosenkranz é editor do projeto Einstein Papers no Instituto de Tecnologia da Califórnia, ex-curador Bern Dibner dos Arquivos Albert Einstein da Universidade Hebraica de Jerusalém e autor de The Einstein Scrapbook (“O Álbum de Recortes Einstein”, Johns Hopkins University Press, 2002)
Como humanista racional, Einstein definiu os judeus como um povo unido por um destino, história e cultura comuns e sempre repetia que não valorizava religiões institucionalizadas ou acreditava em um Deus pessoal
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magazine > espionagem | por Ariel Finguerman agentes israelenses considerados traidores e que tiveram de ser tirados de circulação:
se na Califórnia, onde morreu em 1993. O obituário saiu no The New York Times.
Ze’ev Avni Nascido na Letônia em 1921, com o nome Wolf Goldstein, tornou-se fervoroso comunista. Na juventude, foi recrutado pelo serviço secreto soviético e fez aliá em 1948 já no contexto de uma missão de espionagem. Foi trabalhar no kibutz Hazorea, no Vale de Jezrael, do qual desligou-se porque era comunista demais. Entrou no Ministério das Relações Exteriores e, em 1952, foi enviado à Bélgica como diplomata israelense. Lá também cumpria tarefas para o Mossad, e ao mesmo tempo reforçou contato com agentes soviéticos no exterior, entregando informações sensíveis à KGB, incluindo códigos secretos e detalhes a respeito de agentes alemães trabalhando para Israel no Egito. Avni continuou trabalhando para os soviéticos, agora como adido econômico de Israel na Iugoslávia. De volta a Israel, bateu à porta do Mossad e pediu emprego em tempo integral, mas isso levantou suspeitas e foi preso. Resistiu ao interrogatório, mas ao saber do teor do famoso discurso de Kruschev, de 1956, denunciando os crimes da era Stálin, confessou a traição a Israel. Condenado a quatorze anos de prisão, arrependeu-se e a pena foi reduzida a sete anos. Foi libertado em 1963. Para enganar o serviço secreto soviético o governo israelense em nenhum momento, durante 37 anos, admitiu que tivesse sido preso. Só em 1993, quando a censura liberou a informação, Avni escreveu uma autobiografia.
Mordechai Kedar Judeu polonês, fez aliá antes da Segunda Guerra Mundial com os avós e foi viver em Hadera, como motorista de táxi. Nessa condição, foi acusado de participação no assassinato de um cliente e enquanto era investigado foi alistado na Unidade 131 do Mossad, aquela responsável pela infiltração de agentes em países hostis. Nos primeiros anos de funcionamento do serviço secreto israelense era comum alistar elementos com passado nebuloso para desempenhar missões perigosas de modo a “limpar” as fichas criminais. Quando se preparava para uma missão no Egito, Kedar foi enviado primeiro para a Argentina, em 1957. Mas ali, pouco depois, o agente que servia de contato com ele foi morto a facadas e sem alguns milhares de dólares destinados a subornar oficiais egípcios. Kedar fugiu para a Europa e passados alguns meses entrou em contato com os seus superiores em Israel, que o atraíram de volta ao país. Assim que desembarcou no aeroporto foi preso. Durante seis meses ninguém soube do encarceramento na penitenciária de Ramle, a mesma do agente judeuaustraliano Ben Zygier. Ali Kedar era identificado apenas como “Prisioneiro X”, o mesmo codinome do australiano. Ao receber a visita de um conhecido, informou-o da sua detenção e das circunstâncias que levaram a ela. A história chegou ao conhecimento dos meios de comunicação e foi um escândalo nacional. Foi julgado em sigilo, condenado a dezessete anos e cumpriu quase metade em isolamento. Até ser posto em liberdade, em 1974, a censura proibiu a divulgação de qualquer informação a respeito dele. Exilou-se na Califórnia, onde morreu.
TÚMULO DE BEN ZYGIER NO CEMITÉRIO ISRAELITA DE MELBOURNE COM O AMOR DE TODA A FAMÍLIA
O Prisioneiro X, e outros casos
O PRISIONEIRO X NÃO É O PRIMEIRO EPISÓDIO EM QUE UM AGENTE SECRETO ISRAELENSE SAI DA LINHA E TEM DE SER SILENCIADO. FIZEMOS UM BREVE LEVANTAMENTO DE ALGUNS CASOS SEMELHANTES NA RECENTE HISTÓRIA DE ISRAEL
O
s israelenses ainda estão chocados com a história do Prisioneiro X, o agente judeu australiano do Mossad Ben Zygier, que suicidou-se numa prisão de segurança máxima. A tragédia aconteceu há três anos e provavelmente teria permanecido desconhecida do público não fossem as reportagens publicadas no exterior. Mas esta não foi a primeira vez na história do país que agentes secretos saíram da linha, estabeleceram ligações proibidas com forças consideradas inimigas e tive-
ram de ser silenciados. O que se sabe do caso Zygier (até o fechamento desta edição), por meio da imprensa internacional e de informações liberadas pela censura, é que nasceu e foi educado em uma família sionista de Melbourne (Austrália|). Fez aliá sozinho, prestou serviço militar no Tzahal, casouse com uma sabra e teve dois filhos. Até que, em certo momento, foi recrutado pelo Mossad. Zygier teria viajado pelo Oriente Médio e estaria envolvido nos planos de sabotagem contra o projeto atômico do Irã. Mas tomou alguma atitude, até agora ainda não esclarecida, que foi considerada de traição. Foi então preso na mesma cela solitária destinada ao assassino de Itzhak Rabin. Lá enforcou-se no banheiro, aparentemente remoído de arrependimento. Eis abaixo outros casos célebres de
Avri Elad Nascido em Viena em 1926, fez aliá pouco antes da Segunda Guerra Mundial e alistou-se no Palmach, a unidade de elite dos primeiros anos do Tzahal. Lutou na Brigada Harel, comandada pelo jovem Itzhak Rabin. Depois participou das companhias de paraquedistas. Quando terminou a Guerra da Independência, foi trabalhar em uma fábrica de automóveis, e logo alistou-se no serviço secreto. Como primeira missão, foi enviado à Alemanha e ganhou identidade falsa de cristão e ex-membro das forças armadas de Hitler. Nessa condição, foi para o Egito em 1953, com a tarefa de organizar uma rede de espiões judeus locais, que praticariam atentados contra alvos ocidentais, com o objetivo de colocar a culpa em nacionalistas egípcios e assim comprometer o relacionamento do país com os Estados Unidos e Grã-Bretanha. No entanto, a rede foi descoberta e capturada pelos egípcios. Dois integrantes foram condenados à morte e um terceiro se suicidou. Os demais ficaram presos e anos mais tarde foram trocados por prisioneiros egípcios. O caso causou escândalo internacional e levou à renúncia do ministro da Defesa de Israel. Quando Elad retornou a Israel, depois de uma temporada na Europa, foi acusado de entregar os companheiros. Condenado a dez anos de prisão, cumpriu a pena em isolamento. Exilou-
Avraham Markus Klingberg Considerado o pivô do maior caso de espionagem interna contra Israel, Klingberg nasceu em uma família hassídica polonesa em 1918. Durante a Segunda >>
Em 1986, Mordechai Vanunu fotografou clandestinamente o interior da usina nuclear de Dimona, foi demitido por sua atividade política e viajou pelo Oriente, onde se converteu ao cristianismo. É com base nas informações dele que a comunidade internacional calcula que Israel possua mais de cem bombas nucleares
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magazine > espionagem
>> Guerra Mundial fugiu para a União Soviética, alistou-se no exército vermelho e estudou medicina, e foi um brilhante epidemiologista. Tudo enquanto a família era assassinada pelos nazistas em Treblinka. Em 1948 imigrou para Israel e lá continuou a sua destacada carreira médica. Chegou ao cargo de coronel no Tzahal, onde fundou o laboratório central de medicina militar. Em seguida, assumiu o sensível posto de vice-diretor científico no Instituto de Pesquisa Biológica, um centro secreto de desenvolvimento de armamento, em Nes Ziona, ao mesmo tempo em que lecionava na Universidade de Tel Aviv. Espionava para os soviéticos desde os anos 1950. O Mossad vinha suspeitando das suas atitudes mas não conseguiu reunir provas. Em 1983, o Shin Bet o deteve e o interrogou em um apartamento até ele confessar que espionava para os soviéticos “por motivos ideológicos”. Condenado a vinte anos de prisão com nome e profissão falsos, cumpriu metade da sentença em solitária. Após seguidos infartos, foi transferido para prisão domiciliar, monitorado por câmeras e com o telefone grampeado. Os guardas que o vigiavam eram pagos pelo próprio Klingberg. Libertado em 2003 foi para Paris, onde vive hoje com a filha. Mordechai Vanunu Nascido no Marrocos, um dos onze filhos de um rabino, Vanunu cresceu em Beer Sheva, foi sargento na Guerra do Iom Kipur, estudou física na Universidade de Tel Aviv e largou o curso na metade. A partir de 1977 foi trabalhar na usina nuclear de Dimona e estudar filosofia na Universidade Ben-Gurion, onde se engajou em grupos de extrema esquerda. Em 1986, fotografou clandestinamente o interior da usina nu-
A IMAGEM DE BEN ZYGIER NO ZOO DE ISRAEL ESCONDE TUDO O QUE FAZIA, TÍPICO DO MOSSAD
clear, foi demitido por sua atividade política e viajou pelo Oriente, onde se converteu ao cristianismo. Vendeu as fotos e informações para o jornal inglês The Sunday Times, com direito a primeira página e causando furor internacional. É com base nas informações dele que a comunidade internacional calcula que Israel possua mais de cem bombas nucleares. Israel decidiu capturar Vanunu, mas sem manchar as boas relações com o então governo de Margaret Thatcher. O exespião foi atraído a Roma por uma bela agente do Mossad e lá preso, sedado e levado para um navio israelense que o aguardava fundeado fora das águas territoriais italianas. Julgado em segredo em Jerusalém, o caso Vanunu chegou ao domínio público por meio de uma mensagem escrita na palma da mão e fotografada por jornalistas. Condenado a dezoito anos de prisão, cumpriu a maior parte em solitária e mesmo encarcerado requereu à Suprema Corte abdicar da cidadania israelense, o que lhe foi negado. Foi libertado em 2004, pediu para sair do país, o que também lhe foi negado, e até hoje não pode usar telefone, internet ou ter contato com estrangeiros.
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magazine > cinema | por Julio Nobre
Um ciclo sobre o “irrepresentável” O CENTRO DA CULTURA JUDAICA (CCJ) ABRIU O CICLO “O CINEMA E O IRREPRESENTÁVEL”, QUE TERÁ ENCONTROS MENSAIS, ENTRADA FRANCA E COMEÇOU COM O POLÊMICO FILME KAPO (1960), DO DIRETOR ITALIANO GILLO PONTECORVO, SEGUIDO DE DEBATE
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curadora do ciclo “O Cinema e o Irrepresentável” Ilana Feldman deu as boas-vindas ao público que foi assistir a Kapo, de Gillo Pontecorvo, com uma didática digressão a respeito da polêmica que cercou o fi lme na época do lançamento em 1960. O filme de Pontecorvo, de fortes tintas neorrealistas, narra a história de Edith (Susan Strasberg), adolescente judia francesa deportada com os pais para Auschwitz. Por um desses golpes do destino, Edith é salva por um dos médicos do campo, que troca a identidade da garota. Em vez de a Estrela de David, que significa a morte certa, ela passa a ostentar o triângulo das criminosas comuns e, sob o nome de Nicole, é enviada para um campo de trabalhos forçados na Polônia. Premida pela fome, Edith passa a se prostituir com os guardas do campo e logo é promovida à função de kapo. A curadora Ilana Feldman lembrou que o tema do ciclo – a irrepresentabilidade – começou a ser cogitado desde dezembro de 2012, quando o CCJ abriu as portas para o lançamento da caixa de dvd’s com Shoah, de Claude Lanzmann, numa iniciativa do Instituto Moreira Salles. No catálogo que acompanha os dvd’s, a citação irredutível de Lanzmann: “Há de fato uma obscenidade absoluta no intento de compreender. Não compreender foi minha regra inamovível ao longo de todos os anos da realização de Shoah: agarreime a essa recusa como sendo a única atitude possível, ao mesmo tempo ética e prática”. É a propósito desta questão ética que a curadora da mostra citou a polêmica suscitada na época por um artigo de Jacques Rivette, no Cahiers du Cinéma, reduto dos críticos e jovens diretores que lideravam a nouvelle vague. Acerca de uma das passagens de Kapo, a personagem interpretada por Emmanuelle Riva – indicada ao Oscar de melhor atriz este ano por Amour –, tomada pelo desespero, se suicida lançando-se contra uma cerca eletrificada, Rivette dirigiu uma forte crítica a Pontecorvo: “Vejam, no entanto, em Kapo, o plano em que Riva se suicida jogando-se contra a cerca eletrificada; o homem que decide, neste momento, fazer um travelling
Programação de “O Cinema e o Irrepresentável” 18/4 – A Questão Humana (2007), de Nicolas Klotz, comentários de Noemi Jaffe 9/5 – Hiroshima, meu Amor (1959), de Alain Resnais, comentários de Cristian Borges 20/6 – Viagens, (1999) de Emmanuel Finkiel, comentários de Paloma Vidal 11/7 – Um Homem Sério (2009), de Joel e Ethan Coen, comentários de Christian Dunker SUSAN STRASBERG E LAURENT TERZIEFF EM KAPO, DE GILLO PONTECORVO
antes de enquadrar o cadáver de baixo para cima, tomando o cuidado de inscrever exatamente a mão levantada no ângulo de enquadramento final, este homem só tem direito ao meu mais profundo desprezo”. E acrescenta: “Fazer um filme é mostrar certas coisas; é, ao mesmo tempo, e pela mesma operação, mostrá-las através de um certo viés, sendo esses dois atos rigorosamente indissociáveis”. O mesmo Cahiers du Cinema, em edição de novembro de 2000, traz uma entrevista com Alain Resnais, diretor de Noite e Neblina (1955), considerado um dos documentários mais emblemáticos a respeito do Holocausto. Ele declara sobre o texto de Rivette: “Não li o artigo na época, e sim, depois. Vejo muito bem o movimento de câmera de Kapo sobre a mão de Emmanuelle Riva. Não se pode encenar imagens como essa. Não se pode, tampouco, fazer com elas reconstituição pela ficção. Acho constrangedores filmes romanescos sobre os campos de concentração. Há uma exceção, Ghetto Terezin, de Alfred Radok (1950). Mas não consegui me decidir sobre ir ver A Vida É Bela, de Roberto Benigni (1997)”. Idiossincrasias de cineastas à parte, a engenhosa introdução apresentada por Ilana Feldman serve aos propósitos educacionais do Centro da Cultura Judaica de formar espectadores com um olhar crítico num momento em que, como foi muito bem lembrado pela curadora, somos bombardeados diariamente por milhares de imagens e mensagens contraditórias nos meios de comunicação de massa, em que a violência é banalizada e fetichizada e, não raro, morre-se “ao vivo e em cores”. Até julho deste ano, serão mais quatro encontros sempre às 19h30, e no segundo semestre está programada a exibição do documentário Noite e Neblina, citado acima. O Centro da Cultura Judaica fica na rua Oscar Freire, 2.500, junto à Estação Sumaré do Metrô, fone 3065-4355.
Até julho deste ano, serão mais quatro encontros sempre às 19h30, e no segundo semestre está programada a exibição do documentário Noite e Neblina (1955), de Alain Resnais
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magazine > costumes e tradições | por Joel Faintuch
O GOLEM COM A INSCRIÇÃO EMET, VERDADE, EM HEBRAICO, CÓPIA DA FIGURA ORIGINAL
O Golem, agora em videogame GOLEM EM ÍDICHE SIGNIFICA “BOBO”, ALGUÉM SEM DISCERNIMENTO, E A EXPRESSÃO É RAZOAVELMENTE COMUM EM LINGUAGEM COLOQUIAL. A LENDA DIFUNDIDA A PARTIR DO SÉCULO 16 E AGORA CONVERTEU-SE EM OBJETO DE CONSUMO
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os textos sagrados o termo “Golem” é muito mais raro. A Gemará no tratado Sanhedrin (“Sinédrio”, ou assembleia de sábios e juízes) comenta que Adão foi um golem. Ora, será que o primeiro homem foi rebaixado tanto assim apenas porque cedeu à sugestão de Eva e comeu do fruto proibido? O contexto não é este. Utiliza-se a denominação porque ele foi antes modelado de barro, era um boneco inerte e não pensante. Somente após receber o sopro divino deixou de ser golem e tornou-se humano. Neste sentido, há episódios isolados de criação de outros golems. A mesma Gemará relata que Rava, um grande rabi da Babilônia, também foi capaz de fabricar um golem. O seu, no entanto, era imperfeito e não falava, e por isso foi eliminado. O golem mais famoso de todos os tempos está ligado ao rabino Yehu-
da Loew ben Betsalel (1520-1609), líder da comunidade judaica de Praga. Mais conhecido como “Maharal”, isto é, moreinu harav Loew, ou “nosso mestre o rabino Loew”, deixou textos religiosos estudados até os nossos dias, e objeto de uma tese de mestrado em nossa comunidade. Trata-se de um dos maiores gênios judaicos do império dos Habsburgos. Esta monarquia, derivada do Sacro Império Romano medieval, teve como desdobramento mais conhecido o Império Austro-Húngaro dos séculos 18 e 19. Ele viveu dias dificílimos, pois o rei da fase tardia da sua vida, Rudolf II (15761612), que coincidentemente transferiu a capital imperial de Viena para Praga, realizava perseguições, deportações e assassinatos contra a comunidade israelita. Impotente diante de tantas atrocidades, atribui-se a ele a criação do leimener golem, o boneco de lama, moldado com a terra das margens do Voltava, o romântico rio que atravessa o centro histórico da cidade, e bastante próximo do ancestral bairro judaico de Josefov, que inunda com frequência nas cheias de primavera. Segundo a narrativa, ele e os demais líderes comunitários desceram até o rio numa manhã bem cedo e recolheram grande quantidade de argila, que foi subsequentemente formatada pelo rabino em pessoa. Há várias versões a respeito de como o monstro ganhou vida. Segundo alguns, o Maharal conhecia o Inefável Nome (Hashem Hameforash, em hebraico”), enunciado no Grande Templo de Jerusalém nas ocasiões de bênção cerimonial (birkat cohanim, em hebraico) pelo sumo sacerdote (cohen hagadol, em hebraico), o qual se perdeu com a destruição do Templo e o exílio. Este nome teria sido inscrito no interior da massa argilosa. Outra explicação é que bastou ele inscrever na fronte do homem de barro a palavra hebraica “Emet” (“verdade”, em hebraico) para que ele se animasse. Qual a sua missão? Conta-se que o Maharal o utilizava como robô, aliás, uma palavra de origem tcheca, para atacar e amedrontar os inimigos na escuridão da noite, frustrando planos de de-
sencadear pogroms e massacres. Sendo de barro era não apenas incansável, como imortal, e naturalmente, só obedecia às determinações do mestre. Dissipando-se no negrume das ruas tampouco deixava pistas acerca de quem seria o mandante, evitando assim que o Maharal fosse preso e executado. Não chegaram até nós detalhes desta atuação, exceto que ela foi bem-sucedida. Cumpridas as tarefas e afastado o risco de deportações e chacinas, o Maharal o descartou. Há quem especule, como o escritor H. Leivick citado adiante, que o fim do Golem foi apressado porque depois de algum tempo ele se tornou rebelde e violento. Sótão de meter medo Novamente há controvérsias a respeito de como isso aconteceu. Segundo uma tradição, o Maharal apagou apenas a primeira letra da palavra “Emet” afixada no monstro, restando portando o vocábulo “Met”, que significa “morto”. Os restos de barro foram então abandonados no sótão da sinagoga Altneuschul, a “velha nova sinagoga”. Este servia de Genizá, ou depósito de material religioso danificado e sem condições de uso como pergaminhos sagrados, uma megilá ou uma mezuzá, livros de oração como sidur e machzor, etc. Esta sinagoga está aberta à visitação turística, menos o sótão, e é possível participar das rezas de Shabat. Apesar do nome desconcertante, trata-se da mais antiga casa de orações judaica em funcionamento na Europa, com mais de setecentos anos, e interior em estilo gótico medieval. Quanto ao Golem, concluída sua epopeia histórica, ele seria logo esquecido e varrido da memória, correto? Não exatamente. Os tchecos e outros não judeus tinham motivos de sobra para ignorar e desconhecer tudo que se relacionasse ao Golem. Afinal este era um lembrete incômodo do mais retrógrado antissemitismo, pelo menos na época do tirânico imperador Rudolf II. Mais ainda, o uso de recursos místicos para derrotar os inimigos do judaísmo sempre soou bizarro e inverossímil para numerosos setores da própria comunidade, sendo minimizado por alguns como apenas mais uma lenda do shtetl. Ainda assim os registros do Golem se revelaram notavelmente longevos, chegando até os nossos dias fortes e renovados, e incorporados pela cultura universal. A propósito, uma hipótese sugere que o grande milagre tenha sido a confecção do Golem em si, não necessariamente algo que ele teria perpetrado. Convém lembrar que no século 16 os cristãos também acreditavam em forças sobrenaturais e as temiam profundamente. Ao mesmo tempo o Maharal era um expoente do talmudismo cuja fama se estendia muito além do gueto de Josefov, de modo que não lhe faltavam credibilidade e prestígio. Também é possível que ao se propagar a notícia de que os judeus possuíam um monstro com poderes mágicos, somente já dissuadiria os inimigos a tentar qualquer ataque ou conspiração. Afinal, a propaganda e a manobra psicológica certa no momento exato vencem conflitos e batalhas, como bem sabe qual-
quer estrategista militar desde a lendária Guerra de Troia, há 3.200 anos, supostamente vencida por um enganoso cavalo de madeira. De todo modo, o escritor austríaco cristão Gustav Meyrink (1868-1932), que viveu em Praga, publicou em 1914 um romance intitulado Der Golem, que alcançou sucesso e inspirou filmes do cinema mudo e também sonoro, distribuídos por diversos países. Um deles foi assinado por Julien Duvivier, considerado um dos melhores diretores cinematográficos franceses da primeira metade do século 20. Entre os judeus, o Prêmio Nobel de Literatura Isaac Bashevis Singer (19021991), o escritor de língua ídiche H. Leivick (Leivick Halpern, 1888-1962), e o também Prêmio Nobel e batalhador pelas vítimas do Holocausto Elie Wiesel (1928) escreveram a respeito. Os autores não judeus envolvidos recentemente com o tema incluem os americanos Pete Hamill (1998) e Ted Chiang (2000) e o inglês Jonathan Stroud (2004). Até no universo dos videogames há um Pokemon intitulado Golem, e outras marcas de jogos eletrônicos também se valem periodicamente deste filão. Os tchecos por sua vez, ainda na época comunista e mais ainda no pós-comunismo, não hesitam em recorrer ao mesmo estereótipo seja no comércio, nas artes ou nos esportes. O compositor Karel Svoboda (1938-2007) escreveu um musical a partir do tema, e em certos locais de Praga são vendidos bonequinhos golem para os turistas. Se pudéssemos escutar o Maharal neste momento, ele certamente estaria triste e magoado ao saber que o seu monstro, concebido com erudição e santidade num contexto grave e desesperador para os judeus do império dos Habsburgos, foi rebaixado a pouco mais que um brinquedo e produto de consumo. Porém inteligente e visionário que era, não deixaria de sorrir para o fato de que ao menos o episódio não foi esquecido e que, quase meio milênio depois, o seu túmulo e a sua sinagoga continuam sendo reverentemente visitados por judeus e não judeus de todo o mundo.
Conta-se que o Maharal utilizava o Golem como robô, aliás, uma palavra de origem tcheca, para atacar e amedrontar os inimigos na escuridão da noite, frustrando planos de desencadear pogroms e massacres
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magazine > a palavra | por Philologos
Qual o tamanho da ortodoxia deles? ALGUNS OS CHAMAM DE “ULTRA”, OUTROS, DE “FERVOROSAMENTE ORTODOXOS”, E ALGUNS LHES APLICAM ADJETIVOS E ADVÉRBIOS DE CONOTAÇÃO POLÍTICA OU IDEOLÓGICA. O FATO É QUE O ZELO POLITICAMENTE CORRETO NÃO TEM LIMITES
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unca antes se usou tanto a expressão haredi, para designar os judeus muito ortodoxos. Ela está no noticiário de Israel e de países onde existem grandes ou importantes comunidades judaicas, como é o caso do Brasil, por exemplo, especialmente São Paulo. Como designar esses judeus: ultraortodoxos, fervorosamente ortodoxos, ortodoxos radicais? Quem acompanha o mundo judaico pela internet deve conhecer o jornalista Seth Lipsky, fundador do Forward em inglês, seu primeiro editor em 1990 e por mais de uma década. É uma pessoa influente no lado politicamente conservador dos Estados Unidos e recentemente, ao escrever a respeito das altas taxas de aborto em Nova York, referiu-se a um encontro do qual participaram o arcebispo de Nova York e o rabino David Zwiebel – líder da maior organização de judeus fervorosamente religiosos, o Israel Agudat da América. As expressões “judeus fervorosamente religiosos” e “judeus fervorosamente ortodoxos” têm sido empregadas como alternativas a “ultraortodoxos” e “haredi”. O fato de Lipsky – que não é um judeu ortodoxo – usá-las, sugere que se tornaram as preferidas para designar os muito ortodoxos. Como nos Estados Unidos, mais que nos outros países, os judeus de todas as tendências têm o hábito de se manifestar e expor seus pontos de vista pelos meios de comunicação, há alguns anos um haredi de nome Abbott Katz escreveu um texto sob o título “Stop Calling Me an Ultra-Orthodox Jew” (“Pare de me chamar de judeu ultraortodoxo”). Nele, alega que “ultra”, com o seu “tom latinizante”, é um termo “impregnado da ideia de grupos que levam a fé a extremos misteriosos”.
O que torna o termo “ultra” tão pernicioso, segundo Katz, é o “seu próprio status como prefixo, um adendo jogado de qualquer jeito ao se referir a uma forma de judaísmo mais primevo, de origem mais verdadeira. Os judeus ortodoxos parecem ser vistos como a base espiritual, enquanto os ‘ultras’ são rotulados como uma espécie de insurgência fanática”. E conclui com um pedido: “Será que os manuais de estilo dos escritores não poderiam sugerir outra coisa?” Ainda nos anos 1990, a importante Jewish Telegraphic Agency (JTA) colocou a expressão “fervorosamente ortodoxos” no lugar de “ultraortodoxos” e ela está por toda parte. A recente manchete de um boletim das Federações Judaicas da América do Norte é “Chabad’s Model of Outreach Gains Favor Among Fervently Orthodox” (“Modelo de atuação do Chabad ganha o apoio dos fervorosamente ortodoxos”) e o Jewish World News informa que na “liberal Nova York, os judeus fervorosamente ortodoxos podem em breve obter um distrito eleitoral para chamar de seu” e esta expressão está sendo cada vez mais usada por escritores não haredim. Mas me deixem fora dessa. A expressão “fervorosamente ortodoxos” parece muito pior do que “ultraortodoxos”, que pode soar pejorativo para alguns, mas é de se duvidar que tenha sido criado com essa intenção. É verdade que em palavras como “ultra-ambicioso” ou “ultraconfiante”, o “ultra” tem o sentido negativo de “excessivamente”, mas este não é o caso com todas as palavras precedidas de “ultra”. Não é em “ultramoderno” ou “ultralight” em que o prefixo sugere a medida da melhoria em algo menos que perfeito. No discurso judaico americano, em geral o termo “ultraortodoxo” tem sido usado de forma neu-
tra, sem qualquer conotação de crítica ou elogio. No entanto, “fervorosamente ortodoxo” não é um termo neutro. Dá a entender que há judeus que são “apenas” ortodoxos, e há outros que o são “fervorosamente”. E quem poderia questionar que é melhor ser “fervoroso” do que “apenas”? Quando se leva em consideração as formas típicas em que a palavra “fervorosa” é utilizada – “Ela é uma fervorosa corredora de maratona”, “Ele é um fervoroso conhecedor de arte”, etc. – a conotação é quase sempre positiva. Não só a palavra não carrega nenhum indício de excesso, como também significa uma entusiástica dedicação a uma causa ou atividade nobre. Não gostaria de me ver obrigado a me referir a judeus ultraortodoxos como “fervorosos” mais do que gostaria de falar a respeito deles como “estridentes” ou “compulsivos”; tais julgamentos não devem entrar no termo cotidiano para defini-los. E se eu fosse um “mero” judeu ortodoxo, certamente poderia me ressentir da implicação de que não sou tão fervoroso em relação à minha religião quanto um judeu ultraortodoxo. Afinal, o que distingue a ultraortodoxia da “mera” ortodoxia não é necessariamente o seu fervor, que varia de um indivíduo para outro, mas o estilo de vida, a escala de valores e o rigor com que pratica mandamentos rituais. Vivemos em uma época em que se desaprova chamar grupos por nomes que desagradam a esses mesmos grupos, e isso não é em si mesmo um mau costume. Isso não significa, porém, que temos de chamá-los pelos nomes lisonjeiros que eles usam entre si. Se “ultraortodoxo” vier a ser um termo rejeitado, não vamos aprovar plenamente a expressão “fervorosamente ortodoxos”. Isso nos limita ao hebraico “haredi”, uma palavra que os judeus não conseguem chegar a um acordo sobre como pronunciá-la. Mas pelo menos ninguém se chateia com ela.
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por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com
10 notícias de Israel
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Abraço sul-coreano
Desta vez o elogio à inventividade do israelense veio da Samsung, um dos maiores conglomerados de tecnologia do mundo. O diretor de estratégia da multinacional, Young Sohn, no posto há seis meses, anunciou a construção da principal sede de desenvolvimento de produtos no Vale do Silício, na Califórnia, e duas filiais: na Coreia do Sul, sede da Samsung, e em Ramat Gan. Sohn visitou Israel no começo do ano, e elogiou a produtividade dos duzentos empregados do escritório da empresa próximo a Tel Aviv.
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Desafio judeu Ser judeu observante em Israel tem um lado desafiador. O fim de semana começa quando se inicia o Shabat, e termina quando já está na hora de voltar ao trabalho e à escola. Resultado: o religioso não pode andar de carro, ir à praia, nem ao shopping-center no descanso semanal. Agora o partido que representa na Knesset o setor mais moderno dos religiosos, o Habayit Hayehudi, acha isso desleal com os religiosos e vai propor uma nova lei fazendo do domingo também parte do fim de semana, para possibilitar um merecido passeio de carro com a família. Mas um simples motivo condena a proposta à derrota: a economia nacional iria à falência.
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Repercutiu em Israel a atitude do rabino belga brasileiro David Weitman, que se recusou a apertar a mão da presidente Dilma Rousseff, durante encontro em janeiro para marcar o Dia Internacional do Holocausto. Uma foto, seguida de texto, na qual o rabino está com a mão erguida enquanto a mão de Dilma aparece estendida no ar ocupou um quarto de página do Yedioth Achronot, no caderno de política do jornal. O texto chamou o episódio de “incidente diplomático embaraçador” e afirma que a primeira reação da presidente foi de “espanto” e “perplexidade”, e que teria se sentido “magoada”. O texto continua, afirmando que o rabino foi rápido em explicar para a líder brasileira que “nunca quis ofendêla”, mas a Halachá (lei religiosa judaica) proíbe a um homem de segurar a mão de uma mulher. O Yedioth afirma que a presidente, que “mantém relações calorosas com a comunidade judaica”, foi compreensiva e o incidente terminou em sorrisos.
Triste alarme Uma pesquisa da Universidade Ben-Gurion aponta uma relação direta entre interrupções de gravidez e alarmes antimísseis disparados de Gaza. Os especialistas examinaram dados de quatro anos do Hospital Barzilai, no sul do país, e que atende os feridos em ataques da faixa palestina e compararam com casos atendidos em um outro hospital, na vizinha Kiriat Gat, cidade fora do alcance dos foguetes do Hamas. Conclusão: houve 6,9% interrupções de gravidez em cidades como Sderot, e 4,7%. em Kiriat Gat A possibilidade de uma grávida perder o bebê na zona de conflito é 59% maior do que em áreas protegidas. Naqueles quatro anos mulheres foram surpreendidas por 970 sirenes antimísseis.
Coroa para Jerusalém O albergue Abraham Hostel, aberto há apenas dois anos no centro de Jerusalém, já fez história ao receber em fevereiro o título de “um dos dez melhores do mundo”, em premiação realizada na Irlanda, promovida pelo site Hostelworld.com, considerado o melhor do mundo para busca de albergues, a partir dos comentários dos usuários no endereço eletrônico. A pousada de Jerusalém já se tornou ponto de encontro de jovens de todas as idades que preferem viagens descoladas pela Terra Santa. Seu idealizador, o hoteleiro Maoz Inon, é o mesmo que lançou recentemente a Trilha de Jesus pela Galileia.
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Aperto diplomático
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Pisada na bola
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A General Motors, uma das maiores fabricantes de carros do mundo, acaba de lançar um novo modelo de veículo esporte, mas dirigido também ao público família. Até aí, nada demais. O problema é o nome da linha do automóvel: SS. A empresa norte-americana usa a sigla, que significa “super sport”, mas nunca antes batizou um carro com o infame duplo S, que há setenta anos designava a mais selvagem organização homicida já surgida na história, responsável por milhões de mortos na era nazista. Israel já avisou a multinacional que o novo veículo, desenhado na Austrália, não entrará no país.
Santo tratamento Jihad tem 3 anos e é filho de um eletricista muçulmano de Jerusalém Oriental. Nasceu com uma doença genética rara que o impedirá de crescer mais de 1,20m, terá problemas no coração, olhos e ossos e tendência a morrer depois dos 10 anos de idade. Em Israel, ninguém padece deste mal. O orçamento deste ano destinado a remédios da rede pública do Ministério da Saúde é de trezentos milhões de shekels, contra um total de dois bilhões de shekels em pedidos de cobertura. Mesmo assim, por “razões humanitárias”, decidiu-se bancar os 1,2 milhão de shekels do tratamento do menino, que poderá viver com menos sofrimento até os 30 anos.
De volta à Alemanha O empresário israelense David Fattal é agora dono de um dos maiores negócios do ramo da hotelaria na Europa nos últimos tempos. Abocanhou vinte hotéis espalhados pela Alemanha, que pertenciam às redes Holiday Inn e Best Western, e se tornou o segundo maior do ramo naquele país. Todos os hotéis passarão a ser chamados Leonardo, marca registrada de Fattal que começou em Israel e se espalhou pela Europa. Para fechar este mais recente negócio, o empresário nascido em Haifa levantou trezentos milhões de euros, especialmente junto a um grupo de investidores judeus europeus. Agora tem dezesseis mil quartos à espera de hóspedes, a maioria em solo europeu, e mais de dois mil empregados.
Boas notícias... ... vindas da economia de Israel: é o único país do mundo ocidental que viu a sua nota de classificação de crédito aumentar nos últimos cinco anos, para A+. Os EUA foram rebaixados (para AA+), assim como Inglaterra (AAA) e Japão (A). Contribuiu para o sucesso do Estado judeu a correta administração da dívida pública, fechando o ano passado como o único país do Ocidente que a diminuiu. Enquanto os cofres israelenses devem 73,5% do PIB, a França deve 95%, a Alemanha 82% e a Itália, 123%.
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Am Israel Chai O gênio tecnológico israelense foi mais uma vez premiado, desta vez na maior feira mundial da indústria de telefonia celular, a MWC, em Barcelona. O aplicativo Waze venceu a principal competição, a “escolha dos juízes para o melhor aplicativo”. A engenhoca, já funcionando em quarenta milhões de celulares ao redor do mundo, é um tipo de GPS, mas fortemente baseado em informações recolhidas dos próprios usuários, que passam dados de trechos a serem evitados, tráfego pesado ou obras nas pistas. O Waze acaba sugerindo o melhor caminho ao motorista e, em breve, incluirá até o melhor horário para sair de casa. A empresa, com sedes em Raanana e na Califórnia, tem apenas cinco anos de existência e emprega cem pessoas.
L 112 HEBRAICA
| ABR | 2013
leituras magazine
HEBRAICA
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| ABR | 2013
por Bernardo Lerer
Bruno Schulz – Ficção Completa Cosac Naify | 406 pp. | R$ 89,00
Bruno era um respeitado crítico literário, artista plástico, desenhista e professor judeu que se descobriu tardiamente como um dos maiores prosadores poloneses, e viveu apenas 50 anos (1892-1942) sempre na mesma cidade de Drohobycz, onde um oficial nazista o executou em praça pública. Este livro contém seis contos: entre eles, “Lojas de Canela” e “Sanatório sob o Signo da Clepsidra”. O escritor israelense David Grossman diz que ao ler Schulz “queremos mais. De repente sabemos que é possível querer mais, que a vida é maior que aquilo que se ofusca junto conosco e que se extingue sem cessar”.
Entendendo Psicologia Nigel C. Benson | LeYa Livros | 176 pp. | R$ 34,90
É o sexto volume da coleção “Entendendo” e, mais do que tratar de Freud, Pavlov, Skinner, Piaget, e outros, que aos poucos comprovaram suas teorias a respeito da mente e comportamento humanos, procura explicar o que é a psicologia, como e quando surgiu, quais as ligações que tem com a psiquiatria e a psicoterapia e até que ponto é uma disciplina científica, entre outros temas. E o autor apresenta todo o contexto no qual se insere a psicologia para poder entendê-la e as suas vertentes.
A Arte de Roubar Pedro Felipe Manlau | Editora Unesp | 228 pp. | R$ 34,00
O subtítulo “Explicada (a arte) em benefício dos que não são ladrões” ou “Manual para não ser roubado” tem uma razão: é que existem os ladrões normais e os excepcionais. O livro serve para os “normais” ou os homens de bem se prevenirem da ação malévola do outro o grupo, a dos excepcionais, lembrando a todo momento que “somos todos ladrões e que a ocasião faz o ladrão”. O autor descreve toda sorte de roubos, golpes e golpistas, numa infindável galeria que ainda hoje assombra os ladrões “normais”. É um livro bem atual.
O Leão da Toscana
A História Sensacionalista do Brasil
Aili e Andres McConnon | Zahar | 326 pp. | R$ 49,90
Vários autores | Editora Record | 118 pp. | R$ 24,90
O “leão” do título é o ciclista italiano Gino Bartalli, um dos maiores atletas do século 20, bicampeão do Tour de France (sem anabolizantes), herói da Segunda Guerra que se recusou a servir de garoto-propaganda de Mussolini, ajudou a reunificar o país depois da guerra e, principalmente, salvou a vida de centenas de judeus transportando identidades falsas no quadro da bicicleta. Elie Wiesel, escritor e Prêmio Nobel da Paz, pergunta na última capa do livro: “Era tão difícil se tornar um herói, então? Era o necessário para permanecer humano”.
Depois de fazer sucesso na TV e na internet, cobrindo todos os momentos importantes da história brasileira, o “Sensacionalista” vira livro, mostrando um lado da história que ninguém viu. Tem política em, por exemplo: “O PMDB exige mais capitanias hereditárias em troca de apoio ao governo-geral”; cultura: “O governo proíbe o uso das palavras sol, sul, sal, mar e coisa, nas canções de bossa-nova”, “Revelado: Monteiro Lobato é pai de Emilinha”, “Caboclos lançam redes sociais em que até seis podem se deitar ao mesmo tempo”, e por aí vai.
O Terceiro Reich em Guerra
Para Ganhar a Guerra – As 25 Melhores Táticas de Todos os Tempos
Richard J. Evans | Planeta | 1038 pp. | R$ 110,40
Zahar | 304 pp. | R$ 44,90
Este é o terceiro volume da série que começa com A Chegada do Terceiro Reich e o segundo é O Terceiro Reich no Poder e, como a maioria dos livros a respeito do assunto, é um tijolo de mais de mil páginas feito mesmo para esgotar um assunto aparentemente inesgotável. Por isso, um dos especialistas chamado a comentar o livro diz que é indicado aos não familiarizados com o período e um desafio provocativo àqueles que acham que não resta mais nada a ser dito a respeito da muito estudada catástrofe do Terceiro Reich.
Os três autores queriam isso mesmo que está proposto no subtítulo, isto é, quando a luta começa o líder deve buscar a melhor estratégia para conquistar a vitória e isso vale para o confronto geopolítico, o mundo dos negócios, dos esportes e até mesmo a vida pessoal. Mas nesta obra falam de guerra mesmo como a de Saladino, em 1187; a vitória do general Lee na guerra civil americana; a derrota imposta pelo general Jukov aos alemães, e outras.
Mayombe / A Geração da Utopia Pepetela | LeYa Livros | R$ 49,90 cada
Estes são dois dos mais importantes livros do escritor angolano Pepetela e retratam dois momentos distintos da história de Angola, desde a guerra de libertação, em 1975, até a construção de um novo país marcado pelas guerras e por séculos de colonialismo, contra o qual lutou ao lado das tropas do Mpla (Movimento Popular de Libertação de Angola). Em Mayombe, conta as ações do grupo guerrilheiro e também as suas contradições e os conflitos entre as pessoas. A Geração da Utopia trata de Angola pós-independência.
Os Infratores Matt Bondurant | Editora Record | 318 pp. | R$ 44,90
Este livro é baseado numa história real, a dos três irmãos Bondurant, que vivem no condado de Franklin, estado da Virginia, na década de 1920, conhecida pelo uísque falsificado de boa qualidade, o contrabando e os assassinatos. Os irmãos são independentes e, para sobreviver, mais violentos que os outros. A semelhança do nome do autor e dos irmãos não é mera coincidência, pois o romance é baseado na vida do avô e dos tiosavós de Matt Bondurant. É uma lição de narrativa.
Uma História Social do Conhecimento – II
Crônicas da Surdez
Peter Burke | Zahar | 413 pp. | R$ 56,00
Paula Pfeifer | Plexus Editora | 150 pp. | R$ 39,90
O autor fez uma fantástica pesquisa para descobrir os caminhos que os homens trilharam até chegar ao atual estágio de conhecimento coletivo e, assim, conclui este segundo volume que vai da publicação a Enciclopédia na França do século 18 até a Wikipedia deste século 21. Os especialistas dizem que se trata de instigante ensaio a respeito do caráter da nossa era da informação e uma nova cartografia dos seus muitos territórios. O primeiro volume vai de Gutenberg a Diderot. Burke é também o autor de Uma História Social da Mídia, de Gutenberg à Internet.
Paula é uma deficiente auditiva que escuta somente por meio de aparelhos, mas se comunica oralmente da mesma forma como milhares de brasileiros. Ela sentiu que podia ajudar as pessoas que se estão descobrindo surdas a levar uma vida feliz, independente e produtiva. Em 2010, criou o blog Crônicas da Surdez por meio do qual descobriu a existência de tantas pessoas “surdas e presas numa bolha de solidão e falta de conhecimento” de modo a afastá-las de estereótipos como “todo surdo é mudo”, “todo surdo se comunica pela linguagem dos sinais”, “todo surdo precisa de classes especiais”, etc.
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| ABR | 2013
M HEBRAICA
músicas magazine
HEBRAICA
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| ABR | 2013
por Bernardo Lerer
Silver Jews Drag City | R$ 74,90
Ops, você vê este cd na prateleira e logo o apanha pensando: “É um conjunto de rock formado por judeus”. Ledo engano. Onde quer que se procure, não há nenhuma referência a judaísmo, além do fato de o grupo, de indie rock, enquanto existiu ter sido liderado por David Berman que estudou música desde criança, juntou os amigos de infância na primeira formação e conquistou platéias que gostam deste gênero musical.
Lincoln Sony Music | R$ 25,90
Claro, é a trilha sonora original do filme dirigido por Steven Spielberg, muito bem composta por John Williams, dono de vários Oscar’s, mas que, desta vez, não concorreu. Nem por isso, no entanto, é uma trilha menor. É mais uma com a categoria de Williams que vai se inscrever na história do cinema como um dos maiores compositores de todos os tempos pela genialidade em saber fundir som, ritmo, harmonia e composição.
Vivaldi Naxos | R$ 59,90
O padre Antonio Vivaldi foi um dos mais prolíficos compositores, entre outras razões porque se aventurava a juntar, de um lado, instrumentos aparentemente incompatíveis como, por exemplo, trumpete com cordas e, de outro, tentava arrancar todo o potencial da soma de dois bandolins com conjunto de cordas. Aqui temos uma amostra disso e em outras faixas um concerto para oboé, para cello e vários para cordas com dois violinos solo.
Machine Gun – Commodores
Stabat Mater
Motown | R$ 29,90
Antonio Vivaldi | Harmonia Mundi | R$ 69,90
Este cd faz parte do “The Ultimate Collections”, algo como “as coleções definitivas”, discos gravados nas décadas de 1960 e 1970 e remasterizados de acordo com as mais modernas técnicas e de que fazem parte Diana Ross, The Temptations, Stevie Wonder, Lionel Richie e outros, muito tocados naqueles tempos. O grupo pertencia ao selo Motown e se tornou conhecido porque fazia os números de abertura dos shows do Jackson Five.
Escrever música em torno da letra da reza de Stabat Mater era quase uma obrigação dos compositores europeus entre os séculos 16 e 19 e o italiano Antonio Vivaldi não fugiu à regra, e o seu é formado por um concerto, uma cantata, a sonata a quatro e a introdução ao Miserere. Ouvi-lo e, mais do que isso, prestar bastante atenção revela a intensidade da piedosa composição do músico de Veneza.
Loreena McKennitt
Assanhadomadeiradevento
SWR1 | R$ 74,90
CPC-UMES | R$ 27,90
É possível que os brasileiros ainda não conheçam esta cantora com timbre de soprano, que também é compositora, harpista, pianista e acordeonista que se especializou em folk music celta e do leste europeu e já vendeu mais de quatorze milhões de cópias. Seu primeiro álbum é de 1985, compôs trilhas musicais e só parou por um breve período depois que o noivo e os irmãos morreram em um acidente em Georgian Bay, Canadá.
É assim mesmo, tudo junto, o título de mais um lançamento deste conjunto brasileiro de sopros de instrumentos de madeira, do mesmo naipe, isto é, a família das clarinetas no caso, quatro e um clarone, ou seja, uma clarineta baixo, como se fosse um cello em relação ao violino. O conjunto toca Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Jobim, Pixinguinha, Baden Powell, João de Barro, uma homenagem a Dominguinhos, e outros.
In Boston
Dvorák
Chris Botti | CBS Music | R$ 109,90
Virgin Classics | R$ 69,90
Um dvd acompanha este cd, gravado no Symphony Hall de Boston, em 2008, com treze faixas, algumas delas com músicas conhecidas como When I Fall in Love, Cinema Paradiso, Ave Maria e outras. Botti é um trumpetista americano vencedor de vários Grammy’s por sua categoria em fundir jazz e música pop. Várias vezes ficou em primeiro lugar no Billboard, categoria jazz.
Antonin Dvorák é um herói, mesmo sem nunca ter lutado, mas venerado na República Tcheca por seu nacionalismo, da mesma forma que Bedrich Smetana, que escreveu Ma Vlast (“Minha Pátria”), uma característica dos compositores da Europa Central e da Escandinávia no século 19. E viajavam bastante. Por exemplo, Dvorák escreveu esta American Suíte nos Estados Unidos.
Keep Calm and Latin Exotica
Saxophone Concertos
Music Brokers | R$ 42,90
Centaur | R$ 74,90
Como bem diz o título do cd, este é para ficar calmo, tranquilo e ouvir uma seleção de 28 faixas de músicas da América Latina, Brasil inclusive, nos mais variados gêneros porque representativos de seus respectivos países. Assim, podemos ouvir bombas, guarachas, sons bachatas, sambas, vários calipsos, música de funeral, charangas, o que não significa que seja um cd de música folclórica, ao contrário.
Este cd com Greg Banaszak ao saxofone e a Polish National Orchestra of Stupsk reúne algumas das principais peças eruditas do vasto repertório para o saxofone e as muitas transcrições possíveis como é o caso, por exemplo, do Vocalise, de Sergei Rachmaninoff. Mas as demais peças são exclusivamente para saxofone, entre elas a Fantasia, de Villa-Lobos, e os concertos de Alexander Glazunov, Jacques Ibert e Pierre-Max Dubois.
“Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena”
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HEBRAICA
| ABR | 2013
magazine > com a língua e com os dentes | por Breno Raigorodsky
O velho diante do prato de comida NOSSO COLUNISTA FEZ ALGUMAS REFLEXÕES EM CRÔNICA SOBRE O TEMA DA SOLIDÃO, DA VELHICE, DO ABANDONO E, TAMBÉM, DA DESSACRALIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA DO ATO DE COMER
E
le tem forças suficientes para andar por entre as bandejas dispostas em linha, numa ordem que contém saladas, verduras, grãos, molhos, carnes ensopadas. Tomate, ervilha, alface, almeirão, cebola roxa, maionese de batata, salpicão de galinha, purê de batata, mandioca frita, arroz à grega, feijão, lentilhas, trigo, costela ensopada, pescada amarela recheada com farofa, contra a parmegiana. O velho entra na fila como todo mundo e – tirando o peso do prato – como sempre, pegou 320 gramas de comida. Frágil vai ao seu lugar, reservado pela bengala sobre a cadeira a dizer: “Esta está ocupada”. Ele acaba de sair de uma casa para idosos. Ser tratado como criança, um sujeito como ele, de plena posse das faculdades físicas e mentais, foi a gota d’água: – Como vai o bracinho, senhor Fernandinho; e a cabecinha está doendo hoje? Melhor viver só do que tão desrespeitado, onde a comida não tem gosto de nada, servida em um espaço onde a energia reinante tem sempre mais de 80 anos, onde morre um vizinho por mês (na época de frio, morre-se mais)... Come sozinho, lembra-se de como eram importantes os encontros à mesa com a família, uma importância nem sempre palpável para os outros. Ele que cresceu em internato, ele que bem sabia e invejava a relação que outras crianças tinham com a família. As grandes festas judaicas vinham à mente com grande regularidade impressionante. Não aquelas de criança, porque a família era pequena demais – isolada demais naqueles cafundós do interior de Minas Gerais – mas já com os filhos, mulher, sobrinhos, sogra, cunhados e cunhadas. Bons tempos, antes que a sua geração fosse ficando para a história. Primeiro a mulher, depois os cunhados queridos,
ambos. Depois os conhecidos do grupo de jogos. Deixa o pensamento voar, pousa na fome mundial que não passou, apesar da fartura universal que não para de se estender, com os evidentes desperdícios. Não inveja a mesa ao lado onde quatro homens de gravata enchem os pratos, cada um com mais de seiscentos gramas. Empanturram-se de carne que metem, goela abaixo, entre goles de cerveja, gargalhadas e descaso. Sente pena da dessacralização da comida, ele que mantém os ensinamentos que sempre o acompanharam, que o obrigam a comer devagar, mastigar o quanto possa. Vista assim, a comida parece desprovida de qualquer significado além do nutricional, parece não conter valor antropológico, religioso, social e, com isso, aquela dimensão histórica, atávica. Dessacralização, a palavra que se repete. “Comida é sagrada”, diz para si próprio, deve ser tratada com o respeito de quem precisa dela como combustível da vida. É sagração, sempre lhe vem à mente os encontros com os filhos, a alegria de poder partilhar à mesa não apenas as boas notícias, mas também as dificuldades que vivem, os percalços profissionais, os destemperos afetivos. Sempre à mesa, pois é à mesa que se comemora.
As grandes festas judaicas vinham à mente com grande regularidade impressionante. Não aquelas de criança, porque a família era pequena demais – isolada demais naqueles cafundós do interior de Minas Gerais – mas já com os filhos, mulher, sobrinhos, sogra, cunhados e cunhadas
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| ABR | 2013
HEBRAICA
| ABR | 2013
magazine > ensaio | por Saul Kirschbaum *
A mulher na Espanha judaica medieval
¿Recordará su amado? ¿Recordará su amado a la cierva graciosa el día de la partida, con su hijo único en brazos? Puso él en su mano izquierda el anillo de su diestra, en su brazo puso ella su ajorca; al tomar ella su velo como recuerdo, cogió él el suyo para no olvidarla. No se quedaría él en Sefarad aunque recibiera medio reino de su señor.
PUBLICAMOS ABAIXO UMA AMOSTRA DA PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO AMBIENTE ESPECIAL VIVIDO PELOS JUDEUS NA IDADE MÉDIA IBÉRICA, E QUE ATINGIU UM DOS SEUS PONTOS CULMINANTES NA POESIA
Q
ue posição ocupava a mulher judia na Espanha medieval? Se os judeus viviam em uma sociedade patriarcal e em meio a populações hegemônicas (muçulmana e cristã) também patriarcais, é compreensível que a mulher tivesse um lugar secundário nos campos econômico, social, cultural, político, pois a lei talmúdica exclui as mulheres de serem juízas e testemunhas e, portanto, impede as mulheres de participar dos assuntos públicos. No entanto, essa exclusão deve ser relativizada e documentos encontrados na Genizá do Cairo revelam que as mulheres podiam recorrer à justiça se espancadas – embora, às vezes, os maridos buscassem proteção judicial contra mulheres dominadoras –, geriam os negócios deles quando viajavam e frequentemente elas mesmas exerciam atividades de agenciamento e intermediação comercial. Houve uma mulher, conhecida como “a corretora”, que administrava um empreendimento comercial, foi expulsa de uma sinagoga mas figura em uma lista pública de subscrição, e morreu rica. Elas também desempenhavam papel de relevo no sistema educacional, e era comum lecionarem a Bíblia, mas raramente dirigiam escolas. O nível de educação delas era alto, mesmo nas camadas mais pobres. É exemplar o caso de uma mulher, casada, paupérrima, que pediu ao irmão que ensinava Bíblia a crianças pequenas permissão para também dar aulas e ganhar algo para se manter e aos filhos. Seis anos depois o irmão viajou, ela assumiu o lugar dele e tornou-se a principal instrutora da escola. Mas se, mesmo casadas, podiam trabalhar pelo sustento, surpreende que fugissem à repressão patriarcal e se manifestassem em público, numa atividade tão vigiada quanto escrever poesia laica. Por um lado, em razão da destruição do Templo, condenava mesmo aos homens atividades de regozijo, como festas, vinho, exibição de riqueza, etc.,
e por outro, escrever poesia, tal como o judaísmo andaluz o entendia, requeria amplo conhecimento das escrituras e familiaridade com a literatura rabínica. Os homens dedicavam parte da vida ao estudo desses textos e intensa participação nos cultos e o estudo continuado. E as mulheres, mesmo as instruídas para as quais, como aos homens, o árabe era a língua materna, não tinham acesso às escrituras de modo a que pudessem compor versos em hebraico. De todo modo, o que se vai ler, a seguir, é uma amostra da participação das mulheres no ambiente especial vivido pelos judeus na Idade Média ibérica, e que atingiu um dos seus pontos culminantes na poesia. A mulher de Dunash ben Labrat Dunash ben Labrat é considerado o principal responsável pela revolução cultural do judaísmo ibérico em meados do século 10, que levaria ao “século de ouro” judaico, entre 1020 e 1140. Dunash chegou em Córdoba vindo de Bagdá em torno do ano 950 e introduziu na Andaluzia a composição de poesia laica, nos moldes, formas e métricas praticados pelos árabes, pois, até então, a poesia hebraica consistia de piutim, poemas litúrgicos para uso nas sinagogas. Tecnicamente Dunash adaptou para a
NA ESPANHA A MULHER JUDIA CONQUISTOU ESPAÇO E, EM CERTA MEDIDA, SERVIU DE EXEMPLO PARA AS OUTRAS MULHERES
poesia hebraica a métrica quantitativa, característica da poesia árabe, que consiste na clara distinção entre sílabas breves e longas, em contraposição à poesia litúrgica, que usava métrica silábica e era recitada por meio de cantilações, ou teamim (leitura das Escrituras em um meio termo entre o canto e a recitação). A análise da obra sugere que Dunash parece ter sido meio desajeitado no tratamento das novas formas, mais inovador do que mestre e o crédito pelo avanço qualitativo da lírica pertence de direito à mulher dele, cujo nome, aliás, é desconhecido. Em 1984, dela descobriu-se uma única obra entre os papéis da Genizá do Cairo, um poema curto dirigido ao marido e trata-se do primeiro poema pessoal inteiramente escrito no novo estilo andaluz. O título do poema explica ter sido composto por ocasião da viagem forçada do marido de Sefarad (Espanha, em hebraico), e a última linha do poema sugere que Dunash teria caído em desgraça junto a Hasdai ibn Shaprut, o líder da judiaria espanhola e patrono do renascimento hebraico local, e, por isso, emigrou de lá contra a vontade. Eis um trecho:
Qasmuna bint Isma’il al-Yehudi A existência da poetisa Qasmuna é atestada por fontes árabes, segundo as quais seu pai, Isma’il ibn Bagdala al-Yahudi, era judeu, quem a instruiu na composição de poemas e a deu em casamento logo após ler um dos poemas dela no qual revela ansiar por um amante, comparando-se a um jardim maduro para ter os frutos colhidos. Alguns pesquisadores vinculam Qasmuna a Samuel ibn Nagrella, um dos mais famosos e influentes judeus da Espanha muçulmana, que viveu entre 993 e 1055. Conhecido entre os judeus como Samuel ha-Naguid, chefiou a comunidade judaica, foi considerado um dos maiores poetas hebraicos do medievo espanhol junto com Shlomó ibn Gabirol, Moshé ibn Ezra e Iehuda Halevi, além de vizir (primeiro-ministro) dos Zirids em Granada que lhe possibilitou alcançar glórias militares como general a serviço do rei de Granada, e cujas façanhas bélicas cantou em uma longa série de qasidat. Debateu-se a possível identidade entre Isma’il ibn Bagdala e Samuel ibn Nagrella, sob a alegação de que Isma’il é a forma árabe de Samuel, e Bagdala uma corruptela de Nagdala, variante de Nagrella. Qasmuna e a mulher de Dunash são >>
Dunash parece ter sido meio desajeitado no tratamento das novas formas, mais inovador do que mestre e o crédito pelo avanço qualitativo da lírica pertence de direito à mulher dele, cujo nome, aliás, é desconhecido
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magazine > ensaio >>
ELAS
MOSTRAVAM SUA GRAÇA DANÇANDO E CANTANDO AS POESIAS
QUE ELAS MESMAS COMPUNHAM
as únicas judias de quem se sabe escreveram poemas. O curioso é que talvez para escapar à vigilância patriarcal das autoridades judaicas, Qasmuna compôs em árabe, não em hebraico. Dela são conhecidos dois poemas. Trecho de um deles: Qasmuna se miró en un espejo y, al verse hermosa y aún sin casar, dijo: Veo un jardín que se encuentra en la sazón, pero no veo al jardinero que recoja sus frutos; se pierde la juventud inutilmente y queda solo lo que no quiero nombrar. A harja ou hatimá A muwashshah é um dos gêneros poéticos árabes adotados pelos judeus, com o nome de shir ezor, um “cinto ornado com pedras”, que eram as “voltas” de rimas e que tinha por característica fechar com a harja, ou hatimá na poesia hebraica, que significa saída. Enquanto o corpo do poema era escrito em hebraico (ou árabe, se esse fosse o idioma do poeta) erudito, a harja era composta em uma mistura de árabe e romance, em jargão vernacular e neste final se permitiam licenças às vezes bastante fortes, no sentido erótico. Eram poemas destinados a declamação e acompanhamento musical, por uma cantora ou coro feminino. Admite-se que nas harjas foram capturadas e preservadas manifestações eróticas femininas, portanto, uma transgressão da convenção poética. Desta forma, se abre uma janela para o domínio oculto das mulheres, para aquele reino em que falavam, cantavam e amavam; as frígidas e silenciosas amadas dos amantes masculinos são substituídas por jovens mulheres que expressam emoções originárias de amores não realizados, e, mais raramente, alegria e êxtase de amores consumados, tornando manifesto um ponto de vista radicalmente diferente daquele do amante, ou seja, em todo o
poema a voz poética é a do homem, em contraste com a harja, na qual o ponto de vista, o “eu” poético, passa a ser o da mulher. É possível que a feminilidade das cantoras das harjas seja um mero jogo literário, espécie de convenção artística, mas é possível que o ponto de partida das harjas era a poesia oral popular feminina e anônima que se perdeu, hipótese corroborada por expressões recorrentes nas penúltimas partes dos poemas muwashshah at, com a clara intenção de introduzir a harja, como “uma canção de donzela” ou “uma canção de gazela”. O fato de não terem sido escritas em hebraico apontaria para uma estratégia semelhante à utilizada por Qasmuna, isto é, uma forma de escapar à vigilância: como não eram explicitamente marcadas como judaicas, a ordem poética patriarcal podia simplesmente ignorá-las, em vez de suprimi-las, como suprimiu, de fato, quase todas as outras vozes autênticas de mulheres judias medievais. Para ilustrar, eis a última estrofe do poema “A gazelinha não-me-toques”, de Iehuda Halevi, traduzida por Moacir Amâncio e, segundo a convenção do gênero, os dois últimos versos constituem a hatimá ou harja: Um dia, eu pastorava as mãos em seu jardim, brincava-lhe os seios, e ela: “Tira de mim as mãos, são toscas...”, tão delgada! Foi meu fim: “Ai, querido meu, não me toques ou me avexo, o corpinho é cortês, se tocas, me remexo.” Se, como se afirma, uma sociedade e suas diferentes classes por assim dizer “falam” por meio da literatura que produzem, a presença, ainda que mínima, de literatura judaica feminina pode indicar que, apesar de toda a repressão, as mulheres encontraram formas de se expressar. A produção poética feminina pode ter sido muito maior do que a que nos chegou pela Genizá do Cairo, apenas não tiveram a fortuna dos exemplos citados.
Qasmuna e a mulher de Dunash são as únicas judias de quem se sabe escreveram poemas. O curioso é que talvez para escapar à vigilância patriarcal das autoridades judaicas, Qasmuna compôs em árabe, não em hebraico
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diretoria > café da manhã
Mais um encontro matinal DEPOIS DO SUCESSO DO “CAFÉ-DA-MANHÃ COM O PRESIDENTE”, DURANTE O QUAL SÓCIOS PROPÕEM SUGESTÕES E EXPÕEM DÚVIDAS, O PRESIDENTE ABRAMO DOUEK INSTITUIU ENCONTRO SEMELHANTE COM OS CONSELHEIROS
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a página oficial da Hebraica na internet (www.hebraica.org.br) destaca-se o convite geral para o “Café-da-Manhã com o Presidente” e com o superintendente do clube Gaby
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diretoria
Milevsky. Instituído em 2013 com o objetivo de aproximar os sócios da Diretoria, o primeiro café-da-manhã de 2013 foi no mês passado e com a participação de jovens, mães e representantes de di-
CONSELHEIROS OFERECERAM MUITAS SUGESTÕES AO PRESIDENTE ABRAMO DOUEK E AO DIRETOR SUPERINTENDENTE GABY MILEVSKY
ferentes setores do clube. O êxito da iniciativa, inédita na história do clube, incentivou o presidente Abramo Douek a convidar conselheiros para um encontro com a mesma finalidade: abrir um canal direto para apresentar sugestões, fazer comentários e reivindicações. O primeiro deles teve a participação do presidente da mesa diretora do Conselho Deliberativo, Peter T. G. Weiss e onze ativistas, a maioria com larga experiência comunitária. Entre os temas colocados em pauta pelos conselheiros, a aprovação à iniciativa do presidente Abramo Douek foi unânime. “É uma atitude extremamente democrática e servirá para tornar as reuniões ordinárias do Conselho mais produtivas”, elogiou Boris Ber. Entre os temas debatidos, o destaque ficou para as novas comissões permanentes que serão criadas no Conselho e a necessidade da alteração do Estatuto. (M. B.)
Diretoria Executiva – Gestão 2012-2014 PRESIDENTE
ABRAMO DOUEK
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GABY MILEVSKY
ASSESSOR FINANCEIRO ASSISTENTE FINANCEIRO ASSESSOR Ͳ OUVIDORIA ASSESSOR Ͳ ESCOLA ASSESSORA Ͳ FEMININO ASSESSOR Ͳ REVISTA ASSESSOR Ͳ REDES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO DIGITAL ASSESSOR Ͳ SEGURANÇA ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS ACESC ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS RELIGIOSOS DIRETOR DE CAPTAÇÃO DIRETOR DE MARKETING CERIMONIAL E RELAÇÕES PÚBLICAS RELAÇÕES PÚBLICAS
MAURO ZAITZ MOISES SCHNAIDER JULIO K. MANDEL BRUNO LICHT HELENA ZUKERMAN FLÁVIO BITELMAN JOSÉ LUIZ GOLDFARB CLAUDIO FRISHER (Shachor) MOYSES GROSS RABINO SAMI PINTO JOSEPH RAYMOND DIWAN CLAUDIO GEKKER EUGENIA ZARENCZANSKI (Guita) ALAN BALABAN DEBORAH MENIUK GLORINHA COHEN LUCIA F. AKERMAN SERGIO ROSENBERG
VICEͲPRESIDENTE ADMINISTRATIVO
MENDEL L. SZLEJF
COMPRAS RECURSOS HUMANOS CONCESSÕES TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DEPARTAMENTO MÉDICO CULTURA JUDAICA ASSESSORES DA SINAGOGA
HENRI ZYLBERSTAJN CARLOS EDUARDO ALTONA LIONEL SLOSBERGAS SERGIO LOZINSKY RICARDO GOLDSTEIN GERSON HERSZKOWICZ JAQUES MENDEL RECHTER MAURÍCIO MARCOS MINDRISZ
VICEͲPRESIDENTE DE ESPORTES
AVI GELBERG
ASSESSORES
CHARLES VASSERMANN DAVID PROCACCIA MARCELO SANOVICZ SANDRO ASSAYAG YVES MIFANO
GERAL DE ESPORTES GESTÃO ESPORTIVA ESCOLA DE ESPORTES MARKETING/ESPORTIVO
JOSÉ RICARDO M. GIANCONI ROBERTO SOMEKH VICTOR LINDENBOJM MARCELO DOUEK FLÁVIA CIOBOTARIU HERMAN FABIAN MOSCOVICI RAFAEL BLUVOL
HANDEBOL ADJUNTOS
JOSÉ EDUARDO GOBBI NICOLAS TOPOROVSKY DRYZUN DANIEL NEWMAN JULIANA GOMES SOMEKH
PARQUE AQUÁTICO POLO AQUÁTICO NATAÇÃO ÁGUAS ABERTAS
MARCELO ISAAC GUETTA FABIO KEBOUDI BETY CUBRIC LINDENBOJM ENRIQUE MAURICIO BERENSTEIN RUBENS KRAUSZ
TRIATHLON CORRIDA
JULLIAN TOLEDO SALGUEIRO ARI HIMMELSTEIN
CICLISMO
BENO MAURO SHETHMAN
GINÁSTICA ARTÍSTICA
HELENA ZUKERMAN
RAQUETES (SQUASH/RAQUETEBOL) BADMINTON
JEFFREY A.VINEYARD SHIRLY GABAY
TIRO AO ALVO
FERNANDO FAINZILBER
GAMÃO
VITOR LEVY CASIUCH
SINUCA
ISAAC KOHAN FABIO KARAVER
XADREZ
HENRIQUE ERIC SALAMA
SAUNA
HUGO CUPERSCHMIDT
VICEͲPRESIDENTE DE PATRIMÔNIO E OBRAS
NELSON GLEZER
MANUTENÇÃO MANUTENÇÃO E OBRAS PAISAGISMO E PATRIMÔNIO PROJETOS
ABRAHAM GOLDBERG GILBERTO LERNER MAIER GILBERT RENATA LIKIER S. LOBEL
VICEͲPRESIDENTE SOCIAL E CULTURAL
SIDNEY SCHAPIRO
CULTURAL SOCIAL FELIZ IDADE RECREATIVO GALERIA DE ARTES SHOW MEIO DIA
SERGIO AJZENBERG SONIA MITELMAN ROCHWERGER ANITA G. NISENBAUM ELIANE SIMHON (Lily) MEIRI LEVIN AVA NICOLE D. BORGER EDGAR DAVID BORGER
MARKETING/INFORMÁTICA ESPORTIVO
AMIT EISLER
VICEͲPRESIDENTE DE JUVENTUDE
MOISES SINGAL GORDON
RELAÇÃO ESPORTIVAS COM ESCOLAS
ABRAMINO SCHINAZI
ESCOLAS
GERAL DE TÊNIS SOCIAL TÊNIS
ARIEL LEONARDO SADKA ROSALYN MOSCOVICI (Rose)
SARITA KREIMER GRAZIELA ZLOTNIK CHEHAIBAR ILANA W. GILBERT
TÊNIS DE MESA
GERSON CANER
FITͲCENTER
MANOEL K.PSANQUEVICH MARCELO KLEPACZ
CENTRO DE PREPARAÇÃO FISICA
ANDRÉ GREGÓRIO ZUKERMAN
JUDÔ JIU JITSU
ARTHUR ZEGER FÁBIO FAERMAN
FUTEBOL (CAMPO/SALÃO/SOCIETY)
CARLO A. STIFELMAN FABIO STEINECKE
GERAL DE BASQUETE BASQUETE OPEN
AVNER I. MAZUZ DAVID FELDON WALTER ANTONIO N. DE SOUZA
BASQUETE CATEGORIA DE BASE BASQUETE CATEGORIA MASTER ATÉ 60 ANOS BASQUETE HHH MASTER
MARCELO SCHAPOCHNIK GABRIEL ASSLAN KALILI LUIZ ROZENBLUM
VOLEIBOL
SILVIO LEVI
SECRETÁRIO GERAL
ABRAHAM AVI MEIZLER
SECRETÁRIO DIRETORES SECRETÁRIOS
JAIRO HABER ANITA RAPOPORT GEORGES GANCZ
JURÍDICO
ANDRÉ MUSZKAT
SINDICÂNCIA E DISCIPLINA
ALEXANDRE FUCS BENNY SPIEWAK CARLOS SHEHTMAN GIL MEIZLER LIGIA SHEHTMAN TOBIAS ERLICH
TESOUREIRO GERAL
LUIZ DAVID GABOR
TESOUREIRO DIRETORES
ALBERTO SAPOCZNIK SABETAI DEMAJOROVIC MARCOS RABINOVICH
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HEBRAICA
| ABR | 2013
vitrine > informe publicitário VIA CASTELLI
Exposição e prato homenageiam Renée Lefèvre De 19 de março a 19 de abril, o restaurante apresenta a exposição de uma das mais destacadas paisagistas brasileiras: Renée Lefèvre (1905-1996). Por quase sete décadas, ela viveu na casa que abriga, desde 1977, o Via Castelli. A casa lança também o prato “Filé a Renée Le-
fèvre”, filet mignon flambado com temperos especiais, acompanhado de risoto de aspargos verdes, inclui couvert e buffet de saladas (R$ 56,00). Rua Martinico Prado, 341, Higienópolis Fone 3662-2999 | www.viacastelli.com.br
EMPÓRIO DA PAPINHA
Comidinha saudável para toda a família Inaugurado em outubro de 2012, o Empório da Papinha Perdizes vem com a proposta de oferecer produtos alimentícios saudáveis, utilizando matéria-prima de origem orgânica que não agride o ambiente, sem adição de conservantes ou produtos químicos, para ga-
rantir a saúde de todas as pessoas, de bebês a adultos. O cardápio é variado e é oferecida entrega em domicílio. Rua Ministro Godoy, 436 Fone 3672-3060 e 3862-9824 www.emporiodapapinha.com.br
SALÃO NILTA
Tradição em perucas para a comunidade O Salão Nilta trouxe para o Brasil uma coleção completa de perucas para a comunidade judaica. São peças confeccionadas com fios naturais, de procedência europeia e sob supervisão de rabinos de Nova York e Israel. As perucas agradam não só pela beleza e natu-
ralidade, mas também pela grande variedade de cores, cortes e modelos. E tudo com garantia e certificado de procedência. O Salão Nilta oferece ambientes reservados para a maior privacidade das suas clientes. R. Augusta, 2.337 | Fones 3085-9907 / 3086-3108
SERVIÇO
Casa e empresa muito bem organizadas Existe uma grande diferença entre arrumar e organizar. Organizar é colocar ordem, criar dentro dos espaços disponíveis um código inteligente de localização e adequação das coisas, com capricho e bom senso. Arrumar é ir tirando as coisas da frente, encaixando-as
onde couberem, sem uma regra, de forma que sempre você estará procurando algo em algum lugar. Ninguém consegue viver assim por muito tempo! Fones 3467-5355/ 99865-6689 Site www.arrumotudoemcasa.com.br
HABONIM DROR
Acompanhe as palestras de 2013 Com o objetivo de agregar a comunidade como um polo cultural e social do judaísmo, o movimento juvenil Habonim Dror vem promovendo desde 2012 uma série de palestras. Para 2013, estão programadas palestras com Gilberto Dimenstein, Luiz Felipe Pondé, Jai-
me Spitzkovsky, Márcio Ballas, entre outros. Também foi criado o Amigos do Habonim Dror, para arrecadar fundos e dar continuidade a esse movimento. Quem quiser contribuir deve entrar em contato com Shirley – shirley@mrman.com.br
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HEBRAICA
indicador profissional ACUPUNTURA
| ABR | 2013
indicador profissional ADVOCACIA
CIRURGIA PLÁSTICA
ANGIOLOGIA
CLÍNICA HIPERBÁRICA
DERMATOLOGIA
GENÉTICA
ADVOCACIA
GINECOLOGIA
FONOAUDIOLOGIA
ARTETERAPIA
DERMATOLOGIA
FISIOTERAPIA
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| ABR | 2013
HEBRAICA
indicador profissional GINECOLOGIA/ OBSTETRÍCIA
NEUROPSICOLOGIA
OFTALMOLOGIA
MANIPULAÇÃO
OTORRINOLARINGOLOGIA
ODONTOLOGIA
ODONTOLOGIA
MEDICINA PREVENTIVA
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indicador profissional
ODONTOLOGIA
PEDIATRIA
PSICOLOGIA
PSICOLOGIA
PSIQUIATRIA
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HEBRAICA
indicador profissional QUIROPRAXIA
REPRODUÇÃO
compras e serviços
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compras e serviços
TRAUMATOLOGIA ESPORTIVA
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| ABR | 2013
compras e serviรงos
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HEBRAICA
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compras e serviรงos
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roteiro gastron么mico
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HEBRAICA
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roteiro gastron么mico
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conselho deliberativo
O discurso de Pesaro na Câmara Floriano Pesaro, conselheiro e vereador reeleito em 2012, enviou o seguinte depoimento, ressaltando as amplas possibilidades de atuação pessoal e profissional na Câmara Municipal e no Conselho Deliberativo. “O ser humano destaca-se de outras espécies por suas estruturas sociais, têm por função a luta pelos interesses de grupos que congregam os mesmos anseios. “Desde muito jovem, escolhi como caminho profissional a sociologia para entender o convívio humano e poder, então, agir no aperfeiçoamento da sociedade, seja como um todo, seja em pequenos microcosmos onde convivemos cotidianamente. “Neste sentido, a Hebraica foi e continua a ser um destes reinos em que, desde muito jovem, ainda nos anos 80, aprendi a conviver com uma gama impressionante e variada de pessoas, que partilham amizade, noções de comunidade e elevados valores espirituais judaicos. “Partindo da experiência de ação social como ex-secretário municipal e da determinação de defender nosso povo e nossa Terra Sagrada, tornei-me vereador em 2009 e fui reeleito em 2012 com a confiança da comunidade judaica. Tive sucesso em transmitir os anseios da comunidade para o universo municipal, transformando em leis certas aspirações que permitem que o judaísmo floresça em São Paulo. Uma emenda proposta por meu gabinete, que contou com aprovação imediata, possibilitou a construção da Escola Alef nas dependências do clube. Certamente, como conselheiro da Hebraica, terei mais ocasiões de intervir para o bem-estar dos associados, seja no âmbito meramente local ou transpor as demandas para além destes limites.Contem sempre comigo”. Nova comissão O presidente da mesa Peter T. G. Weiss instalou a Comissão de Judaísmo, que tem como integrantes Henrique Fisberg (coordenador), Rosita Klar Blau, Anita G. Nisenbaum, Lúcia Akerman, José Luiz Goldfarb, Sami Sztokfisz e Gerson Herszkowicz, diretor de Sinagoga. O primeiro secretário da Mesa Luiz Flávio Lobel acompanhou a primeira reunião do novo grupo de trabalho.
Reuniões Ordinárias do Conselho em 2013 LOCAL: TEATRO ANNE FRANK HORÁRIO: 19H30 22/4/2013 12/8/2013 10/11/2013 – ASSEMBLÉIA GERAL 25/11/2013 9/12/2013 ERRATA NA EDIÇÃO DE FEVEREIRO, A DATA DA ASSEMBLÉIA GERAL (ELEIÇÃO) FOI GRAFADA COM ERRO. A INFORMAÇÃO ACIMA É A CORRETA
Mesa do Conselho Peter T. G. Weiss Presidente Horácio Lewinski Vice-presidente Claudio Sternfeld Vice-presidente Luiz Flávio Lobel Secretário Fernando Rosenthal Segundo secretário Sílvia Hidal Assessora da Presidência Célia Burd Assessora da Presidência Ari Friedenbach Assessor da Presidência