Revista Hebraica - Abril

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ANO LVI

| N º 638 | ABRIL 2015 | NISSAN 5775

são paulo

Era assim a Polônia dos judeus



HEBRAICA

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palavra do presidente

A palavra é “liberdade” Quem se detiver para examinar as mais celebradas efemérides do calendário mosaico vai perceber uma fantástica coincidência: nelas, a palavra recorrente é “liberdade” e o tema tratado é a luta para conquistá-la. Nessa fieira de festas e comemorações, sempre encerradas com uma reza na sinagoga exatamente para mostrar que as coisas não foram tão simples, nem fáceis, estão, por exemplo, Purim, Pessach e Chanuká, as duas primeiras muito próximas uma da outra e histórias diferentes, mas ambas, assim como Chanuká, movidas pela libertação dos israelitas, pelo desejo de independência e pelo combate sem tréguas ao domínio estrangeiro e à submissão a tiranos e ditadores. De acordo com a tradição, a primeira celebração de Pessach ocorreu há 3.500 anos, quando de acordo com a Torá, Deus enviou as Dez Pragas sobre o povo egípcio. Antes da décima praga, o profeta Moisés foi instruído a pedir a cada família hebreia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzot) das portas com o sangue do animal, para que os seus primogênitos não fossem mortos. Neste mês de abril, comemoram-se também os 67 anos de Iom Haatzmaut (a independência do Estado de Israel) e 72 anos do Levante do Gueto de Varsóvia. A proximidade dessas datas, apenas cinco anos, muito pouco do ponto de vista histórico, revela a relação entre os dois eventos: o primeiro quase consequência do segundo, e os dois ligados pelo anseio de liberdade, de autonomia, independência e soberania. Assim como os israelitas dos tempos bíblicos que cobraram caro as eventuais derrotas e deram a vida pela liberdade que, se não eles, os seus descendentes poderiam desfrutar, nós, os judeus, também lutamos, e vencemos, as batalhas que nos possibilitaram ter um Estado de Israel livre, independente, soberano, abrigo e refúgio dos judeus de todo o mundo, exemplo de democracia, portanto, de liberdade, para o resto do Oriente Médio e que assim se manterá se sempre ficarmos juntos, unidos e solidários.

Shalom e Chag HaPessach Sameach

Avi Gelberg

DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, A PRIMEIRA CELEBRAÇÃO DE

PESSACH OCORREU HÁ 3.500 ANOS, QUANDO DE ACORDO COM A TORÁ, DEUS ENVIOU AS DEZ PRAGAS SOBRE O POVO EGÍPCIO. ANTES DA DÉCIMA PRAGA, O PROFETA MOISÉS FOI INSTRUÍDO A PEDIR A CADA FAMÍLIA HEBREIA SACRIFICASSE UM CORDEIRO E MOLHASSE OS UMBRAIS (MEZUZOT) DAS PORTAS COM O SANGUE DO ANIMAL, PARA QUE OS SEUS PRIMOGÊNITOS NÃO FOSSEM MORTOS


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sumário

HEBRAICA

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Carta da Redação

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Destaques do guia A programação de abril e maio

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cultural + social

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kabalat shabat Uma vez por mês, a Sinagoga realizará uma cerimônia especial

14

meio-dia Acompanhe as primeiras apresentações do ano e as próximas atrações

16

gourmet Uma noite inteira dedicada à arte de fabricar o pão

18

novidade O Departamento Social/Cultural está programando a Semana de Israel

20

boteco s.a O clima animado da Vila Madalena, agora na Praça Carmel

18

22

pizzada Que tal quebrar o jejum de fermento depois de Pessach com uma pizza?

24

comunidade Os eventos mais significativos da cidade

28

fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

33

juventude

34

mega purim Um dia para brincar e se fantasiar no Centro Cívico

36

ateliê hebraica Conheça as vantagens do novo espaço para locação às sextas-feiras

38

comportamento De monitor a calouro, as aventuras dos ativistas do Hebraikeinu


HEBRAICA

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50

10 40

jovens sem fronteiras Atividade voluntária no Jaguaré deu bons frutos

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fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

45

esportes

46 xadrez As realizações de um departamento fundamental da Hebraica

50

natação Hebraica recebeu campeão olímpico Michael Phelps

52

basquete Novas regras para uma antiga paixão da Hebraica

54

fotos e fatos Os destaques das quadras da Hebraica

59

magazine

60

Capa | história A Polônia tem um novo destino turístico: o Museu Polin

68

pessach Os segredos da Hagadá de Kaifeng são revelados

72

fronteira Um tour por um dos pontos críticos do território de Israel

76

eleições Uma avaliação dos resultados das urnas

80

12 notícias Os assuntos mais quentes do universo israelense

84

a palavra O que é mito e o que é verdade na expressão “beijo da morte”?

86

viagem O charme decadente do paraíso comunista no Caribe

90

cinema O que Ida, Oscar de melhor filme estrangeiro, tem a dizer sobre a Polônia?

94

leituras A quantas anda o mercado de ideias?

96

música Lançamentos do pop e do erudito para curtir em casa

98

arquivo histórico Um guia completo do passado da comunidade judaica brasileira

102

dr. Jivago Um exemplo da literatura a serviço da ideologia?

106

ensaio Uma análise de K., o novo romance de Bernardo Kucinski

108

curta cultura Dicas para o leitor ficar ainda mais antenado

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diretoria

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conselho Começaram os preparativos para a nova reforma estatutária


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HEBRAICA

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carta da redação

Notícias da Hebraica e do mundo judaico A Hebraica acertou em idealizar e realizar, uma vez por mês, um Kabalat Shabat especial durante o qual, a par das rezas de Shabat, os participantes se envolvem na discussão de um tema determinado. Neste primeiro, foi a proximidade de Pessach, os assassinatos no Charlie Hebdo e a morte do promotor argentino Alberto Nisman em circunstâncias misteriosas. Nisman preparava uma denúncia contra a presidente Christina Kirchner, segundo ele responsável por prejudicar as investigações. Aliás, o superintendente executivo da Hebraica Gaby Milevsky se ocupa disso num artigo desta edição com o título “Eu sou Nisman”. Para o final de abril, a Hebraica prepara uma série de festividades em comemoração aos 67 anos a independência de Israel. No “Magazine”, nosso correspondente Ariel Finguerman conta o que é viver a poucos metros da Faixa de Gaza e a mercê dos foguetes do Hamas e das incursões dos seus soldados pelos túneis. Ele esteve bem ao lada linha divisória de Israel com Gaza e se deteve principalmente no kibutz Kerem Shalom, espécie de guardião avançado do Estado judeu naquela região. Leiam a reportagem a respeito do recém-inaugurado Museu Polin, em Varsóvia, o Museu da História dos Judeus Poloneses, e um comentário e um livro a respeito da Hagadá de Kaifeng, editada naquela cidade chinesa há centenas de anos. A reportagem é ilustrada com uma significativa foto de judeus chineses celebrando o Pessach numa sinagoga naquela cidade. E mais, muito mais, como o ensaio, assinado pela professora Berta Waldman a respeito do celebrado livro K. , de Bernardo Kucinski, lançado há três meses em Israel, em versão em hebraico. Na ocasião, Berta escreveu um comentário ao livro de quase duas páginas, em hebraico, no jornal Haaretz. E, uma análise política a propósito das eleições em Israel vencidas por Bibi Netaniahu. Shalom, boa leitura e Chag HaPessach Sameach Bernardo Lerer | Diretor de Redação

ANO LVI | Nº 638 | ABRIL 2015 | NISSAN 5775

DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE

SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR)

CLAUDIA MIFANO (COLABORAÇÃO) FLÁVIO M. SANTOS

DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES

ALEX SANDRO M. LOPES

EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9º - CONJ. 95

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR CEP: 05435-040

- SÃO PAULO - SP

DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE

DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES

IMPRESSÃO E ACABAMENTO ESKENAZI INDÚSTRIA GRÁFICA PUBLICIDADE TEL./FAX: 3814.4629

3815.9159

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700

OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-

PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA

calendário judaico :: ABRIL 2015 Nissan 5775 dom seg ter qua qui sex sáb 5 12 19 26

6 7 13 14 20 21 27 28

DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.

A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO

“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800

BRASILEIRA

MAIO 2015 Iar 5775 1 2 3 4 8 9 10 11 15 16 17 18 22 23 24 25 29 30

dom seg ter qua qui sex sáb 3 10 17 24

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4 5 11 12 18 19 25 26

SÃO PAULO RUA HUNGRIA,

EX-PRESIDENTES LEON FEFFER (Z’l) - 1953 - 1959 | ISAAC FISCHER

1 2 6 7 8 9 13 14 15 16 20 21 22 23 27 28 29 30

PRIMEIRO SEDER DE PESSACH

LAG BAÔMER | IOM IERUSHALAIM

SEGUNDO SEDER DE PESSACH| IOM HASHOÁ

VÉSPERA DE SHAVUOT

IOM HAZIKARON| IOM HAATZMAUT

(Z’l) - 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTENBERG 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 1975 | HENRIQUE BOBROW (Z’l) - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS 1991 - 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 - 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | ABRAMO DOUEK 2012-2014 | PRESIDENTE AVI GELBERG

VEJA NA PÁGINA 130 O CALENDÁRIO ANUAL 5775

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por Giovahnna Ziegler

destaques do guia YOM HAATZMAUT CELEBRANDO A INDEPENDÊNCIA DE ISRAEL POR UMA SEMANA

O DIA DA INDEPENDÊNCIA DE ISRAEL, YOM HAATZMAUT, É UM DOS MARCOS DA HISTÓRIA JUDAICA ATUAL, QUE ACONTECEU EM 14 DE MAIO DE 1948 E HOJE O FERIADO OCORRE OFICIALMENTE TODO DIA 5 DE IYAR.

PARA CELEBRAR ESTA DATA, A HEBRAICA DEDICA NÃO APENAS UM DIA, SIM UMA SEMANA INTEIRA A ISRAEL, COM DIVERSAS ATIVIDADES ACONTECENDO PELO CLUBE. CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DEDICADA A ESSA DATA TÃO ESPECIAL, COMEÇANDO DIA 23 E TERMINANDO DIA 28 DE ABRIL

7 Dias

Horários do ônibus

2º SEDER DE PESSACH

Tempo para comemorar e renovar nossas vidas. Data: 4/4, sáb, 19h30 Espaço Adolpho Bloch

BALADA HEBRAICA

• Terça a sexta-feira

Com o DJ Ronaldinho, “Robotron” e VJ durante todo o evento e sorteio de uma câmera GOPRO. 11/4, sáb, 19h às 00h Adolpho Bloch

Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30

AULA ABERTA DE ZUMBA

• Sábados, domingos e feriados

Experimente você também 19/4, dom, das 11h às 13h Centro Cívico | Inf.: 3818-8903

SEMANA DE YOM HAATZMAUT

23 a 30/4 Diversas atividades acontecendo simultaneamente pelo clube, consulte programação completa

Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45

Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45

• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30




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cul tu ral +social


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cultural + social > kabalat shabat

Tripla homenagem ÀS VÉSPERAS DA CHEGADA DE PESSACH, A DIRETORIA EXECUTIVA CONVIDOU A COMUNIDADE JUDAICA PARA UM KABALAT SHABAT ESPECIAL EM HOMENAGEM AO PROCURADOR ARGENTINO ALBERTO NISMAN, ÀS VÍTIMAS DA AMIA E DO JORNAL CHARLIE HEBDO

M

esmo com as chuvas torrenciais e o trânsito da sexta-feira, cerca de uma centena de sócios foi à Sinagoga da Hebraica, para participar de um Kabalat Shabat especial em homenagem às vítimas do atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em 1994, do atentado na França ao jornal Charlie

Hebdo no começo deste ano e ao procurador argentino Alberto Nisman. “Este é só o começo de um projeto que pretende instituir um Kabalat Shabat especial a cada mês, destacando um tema específico”, anunciou o presidente Avi Gelberg. O chazan David Kullock estava ainda mais emocionado naquela noite e em

muitos momentos do serviço religioso a voz da comunidade reforçou os pedidos de paz e louvores a D’us por um sábado dedicado somente ao estudo e à caridade. Coube ao diretor de Cultura Judaica e também chazan Gerson Herszkowicz mencionar o atentado na França, o subsequente ataque ao supermercado kasher e à sinagoga na Dinamarca. “A edição posterior ao assassinato dos cartunistas do Charlie vendeu sete milhões de cópias, o mercado reabriu recentemente com o dobro de faturamento já para o Pessach e os cidadãos de Copenhague cercaram a sinagoga numa corrente humana para proteger a liberdade de culto no país”, destacou Herszkowicz. José Luiz Goldfarb lembrou o atenta-


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Eu sou Nisman “C

A SINAGOGA FICOU LOTADA PARA O KABALAT

SHABAT ESPECIAL

do à Amia e a mudança ocorrida em todas as comunidades na América Latina. “Até 1994, a Hebraica tinha apenas catracas nas portarias e o acesso era fácil e amigável como em outras entidades. A tragédia na Argentina, que deixou quase duzentos mortos, despertou os dirigentes para a necessidade de implantar um sistema de segurança, evitando novos atentados. A morte do procurador Nisman se refere à procura da verdade a respeito desse atentado e, por isso, completa nossas homenagens, hoje”, comentou ele. Depois do serviço, as famílias partilharam um kidush e todos os envolvidos no serviço religioso daquela noite foram cumprimentados pela iniciativa. (M. B.)

ontam que houve um congresso de filósofos e perguntaram para um dos ‘grandes’ o que era pior: a ignorância ou a apatia? O filósofo, talvez o maior de todos os tempos, pensou uma vez, pensou duas vezes e respondeu: “Não sei e nem me interessa...” Nisman sabia e se interessou! Se interessou pelo outro... Pelo semelhante, pelo cidadão comum e pela pátria maltratada por alguns políticos da vez que, abraçados a seus interesses pessoais, aceitam a hipocrisia como modus vivendi. Uma hipocrisia instalada em um Estado de direito, com o direito dos seus cidadãos de conhecer a verdade, para que a sociedade viva livre no merecido marco de justiça e de paz interior. Nasci argentino, nasci judeu, sou residente permanente no Brasil, no meu Brasil brasileiro, vivendo mais anos aqui do que em qualquer outro lugar, terra dourada... Terra de paz porém de um antagonismo social dramático, que entristece a alma e permite que alguns e outros políticos da vez ignorem a sua missão essencial de facilitar a construção de um futuro para todos, e não apenas para si próprios... Tenho filhos brasileiros e estou casado com uma mulher Uruguaia; quando vivi alguns anos em Israel, me tornei cidadão israelense por convicção. Sim, esta é apenas uma parte da minha

história, porque cada homem tem um nome… O que lhe foi dado e o que construiu ao longo dos anos. Cada homem tem um nome e uma história de vida. Nisman tentou contar a sua história e o fez também em nome de tantas vítimas inocentes que conheceram a crueldade do terror e do antissemitismo focado, que novamente se espalha impunemente. Porém, a sua história foi truncada brutalmente. Sou Nisman e grito em silêncio, porque levo a tristeza dentro de mim de uma Argentina tão amada, mas que sangra e não consegue enterrar entre outros os fantasmas da corrupção e da intimidação social. Grito: “Eu sou Nisman”, porque, apesar de distante fisicamente, me junto ao espírito de um povo que marcha em silêncio, por um basta à apatia e à ignorância, pela cicatrização das veias abertas ... Grito em silêncio por minha família argentina, por meus irmãos tão queridos brasileiros que são também a minha família. Pelos povos amantes da paz, por nós mesmos, por nossos filhos e pelos filhos dos nossos filhos, que merecem um futuro onde a verdade não seja um bem escasso e raro, e onde a guerra não nos seja indiferente. (Gabriel Milevsky, diretor superintendente, Hebraica São Paulo)

CRIANÇAS SÃO CHAMADAS PARA JUNTO DO ARON HAKODESH


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cultural + social > hebraica meio-dia

O GRUPO HARMONIA EVENTOS MUSICAIS APRESENTOU STANDARDS QUE AGRADARAM O PÚBLICO FEMININO

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homenagem premiou todas as Rosas, Marias, Madalenas e Ritas, títulos das músicas interpretadas pelo quarteto formado por Betth Ripoli, piano e vocal; Sintia Piccin, sax e flauta; Luciana Romanholi, guitarra e baixo; e a baterista Alcione Ziolkowski, que fazem parte do Harmonia Eventos Musicais, também integrado por cinco homens. Na semana seguinte, apresentaram-se no badalado Bourbon Street Music Clube. A pianista Betth também é palestrante motivacional e apresentadora da TV Online e isso facilita o relacionamento com o público e sugere participação acompanhando as letras das músicas projetadas no telão no fundo do palco. Além dos títulos femininos, executaram Fascinação, She, Stela by Starlight, Autumn Leaves e outras. O público gostou, aplaudiu, pediu bis, a volta do grupo em outra data e isso estimulou ainda mais a diretora do Cultural Vanessa Kogan Rosenbaum a investir no Hebraica Meio-Dia, o horário dominical dedicado à música no clube.

Rosas, rosas, rosas, rosas formosas… “EM NOME DAS ROSAS” FOI O ESPETÁCULO PREPARADO PARA COMEMORAR O DIA INTERNACIONAL DA MULHER NO HEBRAICA MEIO-DIA. VEJA TAMBÉM O QUE ESTÁ PROGRAMADO PARA O MÊS DE ABRIL A programação mensal de março teve as apresentações da cantora Mirianês Zabot, com o show “Gafieiras e Outras Verves”, do Quarteto de Cordas Vocais, com “Pra Cantar a Batucada” e a Banda Sinfônica Jovem do Estado, criada em 1933 e

formada por alunos da Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim, regida por Mônica Giardini. Esta apresentação faz parte de uma série maior, durante o ano, a Santa Marcelina Cultura, nova parceria com a Hebraica. (T.P.T)

Agenda 5/4 – Grupo Azdi– no show “Música Sem Fronteiras” 12/4 – Grupo Dedo de Moça 19/4 – Não haverá apresentação 26/4 – Orquestra de Violões da CIP – na programação da Semana de Israel



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cultural + social > gourmet

Respirar o ar, comer o pão... O PÃO NOSSO DE CADA DIA FOI O TEMA DE UMA CONCORRIDA AULA MINISTRADA PELO CHEF LUIZ AMÉRICO CAMARGO NO ESPAÇO GOURMET. O ESPECIALISTA EM PANIFICAÇÃO ENSINOU TÉCNICAS

PRECIOSAS DESSA ATIVIDADE MILENAR

– Você já fez matzá? – Fiz. Ficou boa. – Você já fez chalá? – Quem experimentou gostou. As respostas são de Luiz Américo Camargo, que, com fermento ou ázimo, começou a fazer pães em casa na década de 1990, 22 anos depois de nascer, seduzido por um dos primeiros alimentos do homem. Nos últimos tempos vem se dedicando ao levain, expressão em francês para fermentação natural, e no final do ano passado lançou o livro Pão Nosso (Selo Pa-


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nelinha / Companhia das Letras / 175 pp. / R$ 49,90) com técnicas, receitas e crônicas a respeito de pães de fermentação natural, receitas artesanais capazes de fazer o interessado assar pães melhores que os da padaria. Foi o que mostrou em um encontro no Espaço Gourmet quase lotado. Luiz Américo é bastante conhecido porque foi um dos criadores do caderno “Paladar” do Estadão, no qual assina uma crítica semanal de restaurantes com o nome de “Eu só queria jantar”.

Ele diz que o “ato contínuo de cultivar o fermento, misturar a massa, esperar, assar, é uma espécie de exercício de introspecção que termina numa cerimônia de celebração coletiva, no compartilhamento de filões e fatias”. E foi o que aconteceu no Gourmet, onde ensinou a misturar a massa, sová-la, e também estimulou os alunos ouvintes a comparar quem fez a melhor, aquela que se deve admirar porque é o pão nosso de cada dia, que foi levado para descansar e ser assado em casa. (T.P.T.)

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AGENDA 14/4 – Reserve a data. Convidado especial, 19h30 17/4 – Culinária para adolescentes, 14h 28/4 – Chef Gabriel Broide na Semana de Israel, 19h30 29/4 – Saladas criativas, 15h

Tailândia na Liberdade O bairro da Liberdade vai além do Japão e da China porque a Tailândia conquistou um pedaço do território, mostrado pelo chef Maurício Santi, um mestre da cozinha e da cultura tailandesas. Santi apresentou esse universo a um grupo de sócios na primeira “Saída Gastronômica” do ano. Na porta de uma das lojas, deu uma aula a respeito dos vegetais, usos e propriedades que detalhou na seção tailandesa da loja. O uso dos ingredientes tem pequenas, mas fundamentais diferenças percebidas pelos apreciadores da culinária asiática. Na loja ao lado, uma jovem tailandesa preparava uma degustação. Os participantes compravam ingredientes in natura e especiarias enquanto Santi indicava que panelas e acessórios devem ser utilizados no preparo das receitas. Foi uma aula completa, teórica e prática, que se materializou no Gourmet, onde Santi preparou o larb gal, com frango, arroz jasmim torrado em pó, pimenta-vermelha seca e servido com legumes, folhas e arroz moti. Para acompanhar, uma xícara de thai tea, chá gelado com leite condensado. Quem experimentou já reservou lugar para a próxima “Saída Gastronômica”.

ALUNOS DO ESPAÇO GOURMET APRENDERAM OS SEGREDOS DA ARTE DE FAZER PÃO

A BOA COZINHA COMEÇA NA HORA DAS COMPRAS


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cultural + social > novidade DURANTE UMA SEMANA, A HEBRAICA SERÁ TOMADA PELAS CORES DE ISRAEL

Uma semana dedicada a Israel A HEBRAICA RECEBE ENTIDADES JUDAICAS PARA A SEMANA DE ISRAEL, NUMA SÉRIE DE COMEMORAÇÕES DE IOM HAATZMAUT. VISTA-SE DE AZUL E BRANCO, PARTICIPE E RESERVE ESPAÇO NA AGENDA DE 23 A 30 DE ABRIL

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urante uma semana, a Hebraica será decorada de azul e branco, as cores da bandeira de Israel, de acordo com o espírito de um movimento judaico aberto para o espaço comunitário. “Unidos, faremos uma grande comemoração. Dai o clube ver como positivo esse somar com as entidades. Iom Haatzmaut é tão grandioso quanto nosso povo e queremos que a festa transmita e transcenda esse compartilhar de judaísmo e Israel”, explica a vice-presidente Social e Cultural Mônica Tabacnik Hutzler. “Este é o espírito da Semana de Israel, quando todo o clube estará respirando Israel”, acrescenta. Para pôr em prática a ideia, diretores e profissionais juntaram esforços e experiências e Consulado de Israel, Conib, Federação Israelita, Fundo Comunitário, Agência Judaica, Lar das Crianças da CIP, B’nai B’rith, Na’amat Pioneiras, Keren Kayemet LeIsrael, Emunah Brasil, Grupo Chaverim, Wizo e Unibes estão entre as entidades participantes em diferentes ações. A programação, ainda em fase de definição final no fechamento desta edição, recebeu adesões entusiásticas dos dirigentes comunitários, que deverão levar para o clube “a prata da casa”, o que cada entidade tem de mais significativo. Num palco ao ar livre, serão realizadas várias atividades, haverá estações pelo clube com música ao vivo em diferentes momentos, no gramado da Praça Jerusalém será armado um telão ao ar livre (removível para a Praça Carmel, se chover) com exibição de filmes de temática israelense, exposições, apresentação de banda, palestra a respeito da água, item da tecnologia Israelense. Estes são alguns dos eventos da Semana de Israel. Os detalhes da programação completa estarão disponíveis no site da Hebraica e nas entidades. Consulte, informe-se e participe desse festival que pretende agradar a todas as idades e gostos. (T.P.T.)

Programe-se na Semana de Israel Programação definida até o fechamento desta edição. Confirme no site antes de sair de casa. 23/4, quinta-feira – Palestra da Feliz Idade com a consulesa Lúcia Barnea 24/4, sexta-feira – Shabat Especial, com Gerson Herszkowicz e convidados, na Sinagoga 25/4, sábado – Shuk (barraquinhas de comidas tí-


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picas), mostra de cinema, harkadá, oficinas. Clube de Leitura sobre o livro Judas, de Amos Oz. 18 h Lançamento do livro Os árduos caminhos da volta, no Teatro Anne Frank. À noite, jantar dançante temático 26/4, domingo – Ato protocolar, às 11 horas no Teatro Arthur Rubinstein, com a

presença do cônsul Yoel Barnea e dirigentes da Conib, Fisesp e Hebraica. Show do Hebraica Meio-Dia com a Orquestra de Violões do Lar das Crianças da CIP. Feira da Comunidade e feira de alimentação. Oficina de culinária alternativa no Espaço Gourmet, painel de debates, filmes, apre-

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sentação de corais, dança para jovens, oficina infantil com madrichim 28/4, terça-feira – Aula especial no Espaço Gourmet, com o chef Diogo Silveira, do Modi, a respeito de culinária judaica 29/4, quarta-feira – Cinema especial com temática judaica/israelense


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cultural + social > boteco s.a.

Nova atração na Praça Carmel TODA ÚLTIMA QUINTA-FEIRA DO MÊS, O SÓCIO TEM UM ENCONTRO MARCADO NA PRAÇA CARMEL. ALI É MONTADO O BOTECO S.A., COMO NOS MELHORES LOCAIS DA CIDADE

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m sua tarde, quase noite, de estreia, o Boteco S.A. reuniu gente de várias idades, felizes, com vontade de jogar conversa fora, encontrar amigos, pedir ao garçon um chopp bem gelado mas sem pressa, lembrando Noel Rosa. O diretor do Espaço Gourmet, Diego Man, e Ana Recchia escolheram o cardápio e, de tempos em tempos, conferiam se a temperatura do chopp estava no ponto certo, se os salgadinhos atendiam ao gosto dos frequentadores.

Nada escapava. Enquanto isso, na Praça Carmel, ambientada de acordo, o bartender preparava os pedidos da caipirinha preferida ou do coquetel colorido, refrescante. Tudo igual a um boteco da Vila Madalena ou do Itaim... A diferença era estar dentro do clube. Sem preocupação, carro na garagem, encontrar amigos. Beto Birger e Vicente Falek, do Centro de Música, deram conta do recado. O som na altura certa, os ritmos variados para todos os gostos.

COM O BOTECO S.A., A PRAÇA CARMEL CONFIRMA A VOCAÇÃO DE PONTO DE ENCONTRO DE TODOS OS ASSOCIADOS

A próxima rodada Na última quinta-feira de abril, dia 30, acontece uma nova happy hour, mais um Boteco S.A., realização do Departamento Social. É só aparecer, sozinho ou acompanhado, escolher a mesa, enturmar-se e passar horas agradáveis ouvindo boa música. A consumação fica por conta de cada um. Uma porção de bolinhos de bacalhau, uma de queijos variados e outros petiscos acompanham a bebida. A cada mês novas atrações, como Marcão, guitarrista da banda Charlie Brown Jr., já na lista dos contatados para uma happy hour bem movimentada. Combine com os amigos ou vá chegando, devagarzinho. Você tem um encontro marcado. O Boteco espera você com um double chopp bem gelado… (T. P. T.) Boteco S.A. Quando? 30 de abril, a partir das 18h30 Onde? Na Praça Carmel



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cultural + social > encontro

QUE TAL UMA PIZZA SUCULENTA COMO ESTA PARA QUANDO PESSACH ACABAR?

Pizzada, quando Pessach acabar... PIZZA BROS ESTARÁ NA PRAÇA CARMEL DIA 11 DE ABRIL. APÓS O FINAL DE PESSACH AS FAMÍLIAS TÊM ENCONTRO MARCADO NA

MEGA PIZZADA PROMOVIDA PELO DEPARTAMENTO SOCIAL/CULTURAL

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omo no encerramento de Pessach as famílias costumam lotar as pizzarias da cidade, a Hebraica vai instalar uma toda especial na Praça Carmel para marcar o fim do período de Pessach e a volta do uso da farinha de trigo na cozinha. Sábado, dia 11, após o final do Shabat, sairá do forno uma “Mega Pizzada”. E para a noite ser ainda melhor, o Departamento Social/Cultural foi buscar a Pizza Bros., tradicional casa da Praça Villaboim, para produzir as saborosas redondas do seu cardápio. A noite promete muitas novidades, entre elas a pizza casher, na lis-

Mega pizzada Quando? 11 de abril, a partir das 18h30 Onde? Na Praça Carmel

ta das mais pedidas. Outra, será uma oficina de pizza para os filhos, com um pizzaiolo dando dicas e os madrichim do Hebraikeinu coordenando os chefs mirins. Para os pais de adolescentes: a Balada Hebraica começará às 19 horas. Aqueles que levarem os filhos poderão unir o útil ao agradável, reunindo a família na pizzada e deixando os jovens na festa, cuja atração é o DJ Ronaldinho Robotron no Espaço Adolpho Bloch. Enquanto eles se divertem, avós e pais passam momentos agradáveis na Praça Carmel. (T. P. T.)

Balada Hebraica Quando? 11 de abril, a partir das 19h Onde? No Espaço Adolpho Bloch



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coluna comunidade

Wikipedia é premiada em Israel

O fundador da Wikipedia, Jikky Wales, foi um dos ganhadores do Prêmio Israel Dan David em 2015, administrado pela Universidade de Tel Aviv, na categoria “Presente: a Revolução na Informação”, porque lançou a maior enciclopédia on line do mundo.

As Meninas do Quarto 28 itinerante O sucesso da exposição “As Meninas do Quarto 28” levou as idealizadoras Karen Zolko, Dodi Chansky e Roberta Sudfeld a possibilitar que outros públicos conhecessem a realidade das crianças judias confinadas em Theresienstadt, durante a Segunda Guerra. Depois do MuBE e da Hebraica, a mostra está no Museu Nacional do Conjunto da República, em Brasília, com o apoio da Secretaria da Cultura do Distrito Federal e Museu Judaico de São Paulo.

por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br

Noite de reconhecimento

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o se despedir da presidência do Keren Hayessod (Fundo Comunitário – FC), Rafi Nasser destacou que “nunca se deixa de ser ativista” e agradeceu ao desempenho do sheliach Shay Maor e a equipe de trabalho que o acompanhou. A frase ecoou como uma certeza da continuidade da sua dedicação, durante o jantar realizado na Mansão França. Com a presença do ex-ministro de Ciência e Tecnologia de Israel, Eliezer “Moody” Sandberg, atual presidente mundial do FC, e da presidente Mundial da Divisão Feminina Internacional Nelly Bobrow, foram homenageados Sasson Picciotto, pelo tempo dedicado à entidade; René Kalmus, Homero Grossman, Evelyn Nitzan e Joyce Teperman pelo empenho constante. Meyer Nigri e família foram citados por serem escolhidos pelo FC para o Prêmio Yakir de Filantropia, conferido por Israel pela participação voluntária nas atividades da entidade. O novo presidente do Fundo Comunitário de São Paulo Cláudio Bobrow (na foto com Simone Schapira Wajman,

Shirley Bidlovski e Frida Dayan), para quem “tudo tem de estar pronto ontem”, disse de seu orgulho em atuar na entidade. “É fazer com que os judeus de Israel e da Diáspora sejam unidos e fortes, o Keren Hayessod conecta as comunidades judaicas a Israel.” Para ele, tzedaká é doar, além da espécie, “algo que vai nos fazer falta; hoje, o tempo faz falta, quero pedir o tempo e a energia de vocês para trabalharem pelas causas judaicas”. Shirley Bidlowsky sucede a Evelise Ochman na presidência da Divisão Feminina, atuante braço do FC. Shirley é ativista de família. O pai, Naum (z’l), foi askan, a mãe, Geni, é de Na’amat Pioneiras, e a irmã, Anna Schvartzman, atua no Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar (Ciam). O presidente Avi Gelberg e o diretor superintendente Gaby Milevsky, representaram a Hebraica no evento, que teve a presença do presidente do Congresso Judaico Latino-Americano Jack Terpins e de Chella Safra, membro do board mundial da entidade.

Einstein no Rio de Janeiro

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presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Cláudio Lottenberg e o governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão inauguraram a primeira unidade do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Hospital Albert Einstein fora de São Paulo. É na rua do Passeio, Centro, e tem dez salas de aula, uma de treinamento em enfermagem e biblioteca, que servirão aos 283 alunos inscritos em onze cursos de pós-graduação. “Essa unidade tem valor extraordinário: é referência em saúde e em ensino, e vai formar médicos e profissionais de saúde no nosso Estado. É disso que o Rio de Janeiro precisa. Agora, torcemos também pela vinda do Hospital Israelita Albert Einstein”, afirmou o governador.


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COLUNA 1 Mania Deweik falou de “Psicossomática – uma Visão Psicanalítica”, na reunião científica mensal da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática - Região São Paulo, convidada pelo presidente Artur Zular. No Centro da Cultura Judaica, Ivo Minkovicius autografou O Silêncio, seu livro mais recente. Sandra e Maurício Tabatschnic reuniram amigos e família na comemoração do brit milá de Lior, seu terceiro meninão. Dennis Szyller é o country manager para o Brasil da Matific, empresa israelense voltada ao desenvolvimento da matemática para crianças da primeira a sexta série. Conheça mais em www. matific.com. Ao vivo, no programa de Ana Maria Braga, entre um e outro gole de café, Luiz Cuschnir falou do seu novo livro Ainda Vale a Pena. Os troféus do Rio Open, maior torneio de tênis da América do Sul, foram de autoria do designer Antônio Bernardo.

Ainda sob o eco do sucesso do Festival de Finos Filmes Curtos, os curadores Felipe Poroger e Quico Meirelles marcaram a segunda edição de 5 a 11 de maio com a certeza de receber mais do que os trezentos filmes de 2014, uma vitrine para os novos cineastas nacionais e internacionais. Leandro Spett vai contar, no Museu da Escultura (MuBE), como desenvolve seu trabalho no curso “Caricaturas Muito Além dos Defeitos”. Mais informações cursos@mubeart.br.

∂ A edição de 2015 marcou os 25 anos da Gift Fair D.A.D. Entre os expositores, Oscar Hirsch convidou Ana Strumpf para assinar o espaço da Ethinix; Marcelo Felmanas arrasou apresentando os produtos da importadora e exportadora 6F Decorações.

∂ “Por Onde Vou” reúne onze fotografias de Duda Groisman, expostas nos tapumes de uma das obras da Think Construtora, na rua Gabriel dos Santos, em Higienópolis. A intervenção urbana de Groisman resgata parte da história da cidade, mostrando o calçamento paulistano, projetado há quase cinquenta anos. Pela primeira vez no MuBE, Lena Bergstein expôs uma série contínua de dezoito telas, livros de artista e Cartas de Odessa, um inédito trabalho multimídia de fotos e textos. A artista chamou o conjunto dessa exposição de “Narrações”, um relato do que sente, percebe e pensa. Seu livro Enlouquecer o Subjétil, criado com o filósofo francês Jacques Derrida, recebeu o Prêmio Jabuti de 1999.

Abraham Shapiro lançou o Portal Profissão Atitude, para desenvolver o senso de melhoria contínua das relações profissionais, do atendimento e da plena capacidade de comunicação de profissionais e empreendedores. Hélio Plapler e Fabiana Carelli foram a Lisboa apresentar a tese “Comunicação Médico/Paciente x Relação Médico/ Paciente: a Narrativa como Ponte na Construção do (Re) conhecimento”. Foi durante congresso realizado na Fundação Calouste Gulbenkian e Universidade Nova de Lisboa.

Purim no Ten Yad No salão da sinagoga lotado, com almoço coordenado pelo voluntariado do Ten Yad, a programação festiva teve a presença do presidente da instituição Moisés Nigri e dos rabinos David Weitman e Berel Wein. Foram distribuídas doações em dinheiro aos assistidos e moedas para cumprirem a mitzvá de Purim, doando-a a outro necessitado.

Mostra de fotos no MIS Brasileiro, radicado na França desde 1985, o fotógrafo Roberto Frankenberg vai expor seus trabalhos no Museu da Imagem e do Som (MIS), a partir de 21 de abril, às 12 horas. “Rastros (1), uma Viagem em Busca de Vestígios da Shoá”, ficará até 14 de junho. Fotos de Frankenberg são publicadas em revistas europeias e norte-americanas.

A história da comunidade ao vivo

∂ Natalie Klein assina a primeira Collection de 2015 na parceria “NK para C&A”. A top britânica Suki Waterhouse, modelo da campanha, veio ao Brasil e desfilou no brunch de lançamento.

Alunos do ensino médio do Colégio Renascença tiveram uma aula prática da história da comunidade judaica de São Paulo. Guiados pelo historiador Roney Citrynowicz, autor do livro Associação Cemitério Israelita de São Paulo – 85 anos, os jovens foram ao Cemitério da Vila Mariana, o primeiro cemitério judaico de São Paulo. A proposta dessa atividade foi da diretoria da Chevra Kadisha.

Palestra após o kidush “O antissemitismo não voltou na Europa, ele nunca foi embora”, foi o título da palestra de Márcio Pitliuk, após o Kabalat Shabat na Sinagoga Mishcan Menachem.


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cultural + social > comunidade+coluna 1 foto: Eliana Assumpção

COLUNA 1

Café com empresários Empresários participaram de um café-da-manhã no Restaurante Kasher da Hebraica com o presidente da Accenture para o Brasil e América Latina, Roger Ingold. No evento promovido pela Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (Cambici), Roger relatou as duas viagens a Israel: com a Cambici e com um grupo do Lide Inovação, que preside. “Israel é o melhor destino para quem busca ideias inovadoras e empreendedoras. Lá as pessoas têm um DNA de resiliência, de perseverança e de luta. Os empresários têm um brilho nos olhos e um senso empreendedor inexistente em nenhum outro lugar. Acho que o Brasil tem muito a aprender com Israel. Precisamos nos espelhar neste grande exemplo e quebrar paradigmas”, disse Ingold.

∂ Em Israel, Marcelo Altman mostra sua habilidade em pâtisserie na cozinha do Hotel Golden Beach, em Givat Haim. A quinta edição da mostra Jovens Designers reuniu expositores de São Paulo, Florianópolis e Milão e foi realizada no Museu da Casa Brasileira, e Miriam Lerner foi do Comitê de Seleção.

“A parceria Pan-Americana Escola de Arte e Design e HP é inédita, permitindo a nossos alunos a oportunidade de vivenciar o nascimento e a execução dos projetos dentro da sala de aula, com o auxílio dos professores”, segundo o diretor da escola Alex Lipszyc na inauguração da mostra The Wall, resultado do estímulo ao conhecimento e à criatividade dos alunos.

André Egg, Arthur Freitas e Rosane Kaminski organizaram o livro Arte e Política no Brasil, um lançamento da Editora Perspectiva. Chorinho novo faz a alegria de Alice (Zemel) e Paulo Farkas Bitelman. Tudo porque Luísa chegou. Ensaios sobre a Obra de Dalton Trevisan é o mais recente trabalho de Berta Waldman. O livro será lançado dia 16, na Livraria da Vila/ Fradique, editado pela Editora Unicamp.

Os vovôs Maysa e Maurício Chachamovits, mais a bisavó Helena, estão de babador recebendo os cumprimentos dos amigos pela chegada do garotão Yair. Socióloga, antropóloga, gestora na criação de projetos e políticas públicas, Ana Maria Wilheim é, agora, diretora executiva do Instituto Samuel Klein. Fez história no Conselho de Administração da Amigos do Guri e na assessoria de Gabinete na Subprefeitura Sé.

PERSONAGEM

Advogado, porém chef de cozinha

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os 5 anos, Gabriel Zitune não alcançava a pia e o fogão e, por isso, o pai fez um banquinho de madeira. Aos 10, ajudava a mãe e as avós. Para a família, cozinheiro não era profissão, e lhe fecharam as portas da cozinha. Mas o amor pela culinária ficou latente. Zitune é advogado de formação e atua na construção tanto de loteamentos populares como de alto padrão. E a cozinha virou hobby, quase profissional, se assim se pode rotular sua atividade hoje. Das mesas para a família e os amigos em Rosh Hashaná até as sinagogas foi um pulo. São famosas as feijoadas kasher que o chef voluntário prepara. “Se tenho agenda, ajudo”, afirma. Começou na Sinagoga Monte Sinai. Aí vieram outros convites; hoje, é uma novidade ter uma seudá (refeição) com o chef Gabriel. A paixão é a Unibes, onde está há 25 anos. É vice-presidente na Área da Criança e do Adolescente, parceria da instituição com a Secretaria do Bem-Estar Social da Prefeitura de São Paulo. É um dos professores no curso profissionalizante para jovens de 15 a 29 anos, outra parceria, com a Universidade São Judas. São 350 jovens de comunidades carentes por semestre, 75% deles saem contratados como auxiliares de gastronomia, requisitados por bufês e restaurantes. “O curso tem imagem e confiabilidade conhecidas no mercado”, explica o professor Zitune. Deu aulas na Escola Wilma Kovesi e na Hebraica. Escreveu dois livros e tem um terceiro no forno. “A culinária sempre foi uma paixão, nunca neguei, ninguém é dono das receitas. Gosto de transmitir os meus conhecimentos, minha experiência. Pretendo continuar minha trajetória social e culinária ate o fim da vida.”


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Encontro Nacional de Escolas Judaicas

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Turismo de Israel sempre em alta foto: Eliana Assumpção

Conib promoveu encontro inédito da educação judaica no Brasil, em que mantenedores, diretores, coordenadores da área judaica, representando dezoito escolas de vários estados, debateram gestão, formação de docentes e rumos da educação judaica durante dois dias no clube, com o apoio do Instituto Samuel Klein, Agência Judaica e Hebraica. O presidente Fernando Lottenberg fez o discurso de abertura e Eduardo Wurzman apresentou os resultados da pesquisa “Tendências, Parâmetros Atuais e Cenários das Escolas”, um retrato da educação formal no Brasil e fonte desse primeiro encontro nacional. Participaram especialistas como o ex-reitor da USP Jacques Marcovitch, o diretor de Orientação Técnica da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo Fernando José de Almeida, a socióloga Ana Maria Wilheim, entre outros. A palestra inicial foi do psicólogo e fundador do Instituto Ethos José Ernesto Bologna, e o educador e psicanalista Sílvio Hotimsky, com mediação de Sérgio Napchan. A palestra final foi do escritor e pensador da identidade judaica Bernardo Sorj.

Homenagem à mulher

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odo ano, o Grupo Chana Szenes homenageia o Dia Internacional da Mulher. Este ano, escolheu Maria Alice Setúbal, a Neca, que preside o Conselho Consultivo da Fundação Tide Setubal e o Conselho de Administração do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. Ao agradecer, Neca lembrou do pai, o ex-prefeito Olavo Setubal, e a mãe, que criou o Serviço Municipal de Voluntariado. “Amar, ajudar e dar tornam a vida uma obra-prima”, escreveu a mãe em um caderno dado a Neca quando casou. Rebeca Rosenberg, presidente do grupo da Wizo, comandou os eventos com almoço do Restaurante Kasher no Espaço Adolpho Bloch, tarde cultural no Teatro Arthur Rubinstein, com apresentação da Orquestra Instituto Grupo Pão de Açúcar, regida pelo maestro Daniel Misiuk e apresentação de Renata Jaffé. Etejane Coin entregou a salva de prata para a homenageada, aplaudida por mais de 250 mulheres e poucos homens. “Fico (falo também em nome do meu irmão) lisonjeada, muito contente por ser uma homenagem a uma mulher. Por ser minha mãe, pela história dela, trabalhadora pela educação. O momento dessa homenagem é muito significativo”, disse Tide Setubal Souza e Silva Nogueira.

A primeira visita oficial ao Brasil do diretor-geral do Ministério do Turismo de Israel, Amir Halevi, (na foto com Suzan Klagesbrun e Cleo Ickowicz), e seu encontro com a mídia especializada foi a oportunidade para esclarecer dúvidas e revelar melhor este setor da economia israelense. São muitas caravanas de turistas evangélicos e cristãos brasileiros. No ano passado, 52 mil turistas brasileiros foram a Israel. Halevi falou do investimento do país no turismo religioso, das praias, óperas em Massada, a migração de pássaros no Vale do Hula, da Maratona de Jerusalém, etc. Mas, segundo Halevi, “a melhor propaganda de Israel é o viajante, que volta e propaga a segurança que sentiu e os lugares por onde andou”.

AGENDA

13 a 26/4 – Marcha da Vida Fundo Comunitário de São Paulo. Para pessoas acima de 30 anos. Programa exclusivo na Polônia e Iom Haatzmaut em Israel. Alimentação kasher. Informações, karina@fundocomunitario.org.br. 19/4 a 4/5 – Israel Beshirá 5. Descubra Israel com emoção e alegria. Para maiores de 50 anos. Informações, Sharontur, fone 3223-8388, e-mail anaiosif@uol.com.br. 26/4 a 11/5 – Viagem com as Pioneiras para um roteiro judaico na Espanha e Marrocos. Informações, fone 3873-5367. 3 a 7/5 ou 7 a 10/5 – Duas opções para a viagem da B’nai B’rith ao Conrad Punta Del Este Resort. Informações, fone 3082-5844 ou e-mail secretariasp@bnai-brith.org.br 13 a 16/5 – No Rio de Janeiro, Encontro Connections 2015, celebração mundial do movimento World Union for Progressive Judaism (Wupj) com a presença de rabinos internacionais, professores renomados e Neshama Carlebach, entre outros. Taxas especiais para jovens. Informações, e-mail contato@wupj-latinoamerica.org 2 a 9/6 – Herança Judaica. Percurso de Budapeste a Praga em oito dias em luxuoso navio da Ama Waterways. Paradas em Bratislava, Viena, Durstein, Melk, Linz, Passau, Regensburg e Nurenberg. Extensão opcional de três dias em Praga. Informações, Bobertur, fone 991-332-505.


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1. Ary Filler e Luís Barrucho, da BBC Brasil, assistiram a video-conferência do jornalista israelense Arad Nir; 2 e 3. Uma das salas de palestras; educadores e cabeça da Conib no Encontro Nacional de Escolas Judaicas; 4,5 e 6. No Instituto Fernando Henrique Cardoso, Floriano Pesaro e Bernardo Sorj; Fernando Lottenberg e Celso Lafer; George Legman e ex-embaixador Rubens Ricupero; 7 e 9. Na Gift Fair, os expositores Moris Moas e Didi Candi; 8. Na Sinagoga da Hebraica, vovôs Mary e Boris Ciocler, mais Pedro, o bar-mitzvá; 10. Café-da-manhã da Cambici: Roger Ingold (Accenture) e Luciana Villela

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1, 2, 3, 4, 5 e 6. Na nova atração Boteco S.A., Marcelo Mandel, Ariel Becker, Cláudio Weinschenker e Diego Man; Doron Sadka, Olívio Guedes e Carol Birenbaum; o som de Beto Birger e Vicente Falek, do Centro de Música da Hebraica; barman e seus coquetéis de todas as cores; Avi Gelberg, Mônica Tabacnik Hutzler, Fernanda e Javier Smejoff; Silvana e Lauren Prout; 7. Oscar Hirsch, da Ethnix, na Gift Fair; 8. Rei Ashchaverosh e rainha Ester reinaram no Purim do Colégio I.L.Peretz


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6. 1. Ramiro Becker, de Pernambuco, e

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Allan Berkiensztat ouviram o jornalista israelense Arad Nir; 2. Em São Francisco, EUA, Roberta Sundfeld representou o Museu Judaico de São Paulo na Conferência de Museus Judaicos Americanos; 3. No Cemitério da Vila Mariana, Roney Cytrynowicz falou para estudantes do Colégio Renascença; 4. Turma animada foi para a avenida Paulista; 5. Renato Orenstejn, da Urban, na Gift Fair; 6. Diversão em Purim, irmãs Grabarz na Sinagoga da Hebraica; 7, 8, 9 e 10. Lançamento na Hebraica: Simone e Lucas Junqueira Sena, Gabriela, Maura e Rubens Pitliuk; Avi Gelberg, Marcos Arbaitman e Floriano Pesaro com Márcio Pitliuk e o fotógrafo Sergio Chvaicer, autores de Macabíada, Os Jogos da Paz; Leoni e Rubens Girsztajn, Tânia e Marcel Hollender, Berta e Abramo Douek; Gelberg entre os autores do livro

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1, 2 e 3. Na concorrida mostra de Laura Alts-

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chul, Olívio Guedes, Mônica Tabacnik Hutzler

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e Avi Gelberg; Marcelo Schapo, Gelberg, Mariza Ajzenstein e Mônica Hutzler; 4 e 10. No Dia Internacional da Mulher, a Wizo convidou Fany, Cláudia e Walter Feldman para a homenagem a Neca Setúbal; Desirée Suslick, Olga Ajzenberg e Lúcia Akerman; 5 e 9. Na Mansão França, em noite do Fundo Comunitário, Avi Gelberg e o ex-ministro de Israel, Eliezer Sandberg; Meyer Nigri, Sandberg e Shay Maor; 6 e 8. Sami Sztokfisz e André Gomes, personagens do livro das Macabíadas; 7. Mauro Bergstein e Carina Mattievich com a artista Lena Bergstein, na expô “Cartas de Odessa”, no MuBE



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juventude > purim

MÚLTIPLAS ATIVIDADES NO

MEGA PURIM PROMOVIDO PELA VICE-PRESIDÊNCIA DE JUVENTUDE

Porções iguais de O modernidade e tradição A VICE-PRESIDÊNCIA DE JUVENTUDE DA HEBRAICA MOBILIZOU CENTENAS DE CRIANÇAS NO MEGA PURIM, EVENTO QUE ENCERROU AS COMEMORAÇÕES DA FESTA NA COMUNIDADE JUDAICA

Mega Purim foi o primeiro grande evento da vice-presidência de Juventude nesta gestão. A vice-presidente Elisa Griner Nigri reuniu as equipes do After School, Hebraikeinu e Centro de Danças, e analisou cada quesito para o evento. “Pensamos em dar um toque de modernidade, sem descuidar da tradição, e por isso convidamos o bloco de Carnaval ‘Mamãe Eu Quero’, que tocou marchinhas e canções típicas de Purim. Os músicos deram o toque contemporâneo tão reivindicado por todos. Também convidamos algumas empresas com serviços


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A tradição se renova a cada ano Ouvir a leitura da Megilat Ester é um dos mandamentos de Purim, a festa mais alegre do calendário judaico. A tradição foi mantida na Sinagoga, tanto no serviço da tarde como na reza matinal seguinte. Adultos se tornam crianças ao ouvir mais uma vez o relato ocorrido na Pérsia, durante o exílio da Babilônia, por volta de 450 antes da Era Comum. A vida dos judeus no exílio, a figura do rei Achashverosh, do judeu Mordechai e da sua sobrinha Ester compõem esse relato bíblico, recontado a cada ano como se fosse o primeiro. A simples menção do nome de Haman, o perverso primeiro-ministro persa, pelo leitor da Megilá foi abafado pelos recorrecos, quando adultos e crianças se uniram numa algazarra quase infantil. Na Sinagoga do clube, foi o acompanhamento do relato, feito por Daniel Grabarz, pela interpretação de Sylvia Lohn, acompanhada de Beto Borger no teclado. Terminada a leitura, a alegria se estendeu durante o kidush mais o farto prato de hoznei haman, delícia típica de Purim.

LEITURA DA MEGILAT ESTER NA VOZ DE SYLVIA LOHN, ACOMPANHADA AO TECLADO POR BETO BORGER

voltados ao público infantil para alavancar o evento”, comentou Elisa. Pouco antes do meio-dia, horário previsto para o início da festa, pais e crianças já esperavam ansiosos, “de olho” nos estandes de empresas como Grow, Estrela e Bandeirantes que trouxeram lançamentos e brinquedos tradicionais de seu portfólio de produtos. Logo nos primeiros minutos, os pequenos correram para ocupar lugares na frente dos espelhos onde as maquiadoras enfeitavam as meninas com elaborados penteados e davam aos garotos um visual divertido, bem de acordo com a

festa de Purim. Pais e mães fotografaram os filhos nos brinquedos infláveis, transformados em super-heróis ou envolvidos na montagem de quebra-cabeças. Segundo a coordenadora do After School, Márcia Sotnik Aisen, que dividiu com Rafael Douek, da equipe da superintendência, a estruturação do Mega Purim, valeram as semanas dedicadas à organização do evento. “Foi emocionante ver a alegria dos pequenos quando ouviam os nomes sorteados para ganhar brinquedos”, afirmou. Nos momentos mais animados da festa as crianças desfilaram atrás do blo-

co “Mamãe Eu Quero” em volta do Centro Cívico e em seguida se reuniram aos adultos nas harkadot lideradas pelos coreógrafos e dançarinos dos grupos Shalom, Hakotzrim e Carmel. Atraídos pelo movimento, os integrantes do bloco de Carnaval experimentaram alguns passos de rikudei am (dança de roda). Duas ou três gerações de uma mesma família dançavam e cantavam juntas e, ao final da tarde, os menores não queriam parar de repetir os versos de ‘Leitzan Catan Nechmad’ (‘Pequeno Palhacinho’) e já perguntavam aos pais “quanto tempo falta para ser Purim de novo” ? (M. B.)


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juventude > atêlie hebraica

O ATELIÊ HEBRAICA PODERÁ SER ALUGADO ÀS SEXTAS-FEIRAS

Oficinas também sob encomenda O ATELIÊ HEBRAICA OFERECE SEU ESPAÇO E EQUIPES PARA LOCAÇÃO ÀS SEXTAS-FEIRAS E ENRIQUECE CONFRATERNIZAÇÕES DE SÓCIOS, UMA OPÇÃO INTERESSANTE PARA QUEM PLANEJA UMA REUNIÃO OU ANIVERSÁRIO E QUER ALGO ORIGINAL E PRÁTICO

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Ateliê Hebraica está oferecendo o seu espaço e equipe de oficinas personalizadas para locação às sextasfeiras. É uma boa opção para quem deseja realçar a importância de uma data ou servir como pretexto para algumas horas de convivência. “É crescente o número de pessoas que apreciam trabalhos manuais e valorizam o tempo empregado na manipulação dos materiais até terminar o objeto. Uma oficina pode ser a solução para comemorar um aniversário ou para melhorar a dinâmica em um grupo de trabalho”, comenta Bety Lindenbojm, coordenadora do Ateliê. “Ás vezes, as pessoas desistem de organizar um evento pela falta de um local e o Ateliê é o espaço ideal para se

trabalhar com arte”, completa. Ao propor o Ateliê como opção de atividades para aniversários, por exemplo, Bety enfatiza o propósito do local. “É comum as mães reunirem as crianças no clube, oferecerem uma refeição e uma atividade para os amigos dos filhos. Minha equipe pode, por exemplo, orientar uma oficina para a construção de um objeto que os convidados levariam como lembrança para casa. Enquanto colam ou pintam, as crianças estreitam a amizade e descobrem novas formas de empregar a sua energia. No caso das reuniões para adultos, o propósito é o mesmo, com a vantagem de ajudar na discussão de temas complexos, enquanto as mãos

estão ocupadas personalizando uma camiseta ou pintando um conjunto de porta-copos, por exemplo”, argumenta a coordenadora. “Já temos alguns eventos agendados e desenvolvemos uma série de atividades para diferentes faixas etárias e estágio de desenvolvimento. É incrível ver como é possível entreter meninos com trabalhos manuais e ver executivos absorvidos na finalização de uma peça que será orgulhosamente exibida na mesa de trabalho”, finaliza Bety. Locação do Ateliê Hebraica Informações, fone 3818-8864/8887 ou e-mail atelie@hebraica.org.br



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juventude > comportamento

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ais de você em você mesmo”, o slogan usado durante anos por um cursinho universitário, ainda reflete as emoções de alguns jovens do Centro Juvenil Hebraikeinu que iniciam a vida de universitários e passam a ter mais responsabilidades no movimento. Daniel Pitman, 17 anos, adorou as primeiras semanas do curso de administração no Insper. “O trote foi dividido em duas etapas: uma consistiu na visita de calouros e veteranos a uma creche durante a qual aplicamos algumas atividades para as crianças, e a segunda envolveu tinta e muita diversão. Como chanich do Hebraikeinu e recém-saído do curso de líderes Meidá, encarei tudo numa boa”, descreveu o jovem. Seu primeiro dia como monitor foi depois de uma semana na faculdade e concluiu que “tudo é novidade no ano em que você completa 18 anos, pois enfrenta mais responsabilidades, como a de trabalhar com crianças, ensinar e também aprender com elas”, filosofa. “Tive muitas surpresas esta semana. Descobri que embora administração não tenha sido minha primeira opção tudo indica que será a certa para mim e estou adorando ser monitor”, comenta o jovem. Júlio Grinberg Zanatta também “balançou” ao decidir qual universidade cursar. “Eu estava entre cinema e direito e parece que acertei em escolher a segunda, pois nas palestras de boas-vindas disseram que este ano as matérias serão antropologia, filosofia, introdução ao direito, disciplinas que parecem muito interessantes”, afirma o jovem aprovado em 27º lugar na PUC depois de um ano de cursinho. “No ano passado, minha vida se resumia aos estudos e à minha atividade de monitor no Hebraikeinu. Agora, já amplio horizontes e comecei a dançar no Hakotzrim, a atuar nos Jovens sem Fronteiras e darei aulas de judaísmo para crianças na Comunidade Shalom”, anunciou. Quanto à faculdade, ele já se prepara porque “a partir de agora tudo vai mudar na minha vida. Até este momento, o que existia para mim era o esquema de colégio e agora pelo que percebi, serei responsável pelo nível do

Cresci, e agora? Serei o quê? AOS 14 ANOS, HORA DE INTEGRAR O HEBRAIKEINU IV, OS

ADOLESCENTES COMEÇAM A PENSAR NO QUE FARÃO QUANDO SE TORNAREM MONITORES. ÀS VEZES, ESSA EVOLUÇÃO SE DÁ SIMULTANEAMENTE À CONQUISTA DE UMA VAGA NA UNIVERSIDADE meu aprendizado, horário e tudo que se refere à vida universitária”, filosofa. As mudanças na vida de Muriel Klar e Marina Wizentier, de 17 anos, serão ainda mais drásticas. As duas se inscreveram para estudar em faculdades nos Estados Unidos. “Eu prestei vestibular, entrei para o curso de publicidade na Espm e espero a resposta da universidade americana. Enquanto não vem, aproveito os primeiros dias de aula e também minha primeira experiência como monitora. Para alguém que cresceu no meio judaico, conhecer culturas e pessoas diferentes é um aprendizado muito importante”, afirma Muriel. Já Marina optou por viajar em razão dos dois anos básicos obrigatórios nos Estados Unidos. “Não sabia mesmo o que escolher e enquanto não veio resposta positiva da faculdade no Colorado fiquei muito ansiosa.” Até embarcar, ela continua como monitora da turma de 4 anos no Hebrai-

AO PRODUZIREM

MATERIAL AUDIOVISUAL PARA O HEBRAIKEINU, ZANATTA E SCHERER FICARAM CRAQUES NO ASSUNTO

keinu. “É incrível o que se pode aprender com essa turminha”, admira-se. Entre os vestibulandos, havia aqueles que não conseguiram o seu objetivo e este ano terão de voltar às apostilas. Por outro lado, Vera Metzner entrou em psicologia na PUC, o irmão Rodrigo em direito na USP, Bárbara Cohen em engenharia biotecnológica e Gabriel Scherer em cinema, na USP, todos da mesma turma do Hebraikeinu. “Meu interesse em cultura, judaica e geral, é antigo, assim como meu gosto por cinema. Mesmo assim, terminei o colegial e dividi meu tempo entre o cursinho e o Hebrakeinu, onde sempre há trabalho na área de audiovisual, especialmente nas machanot com os clips para o cancioneiro ou os seriados com sete capítulos que exibimos para os monitores. Claro que agora terei mais responsabilidades e desafios, mas estou tranquilo”, avalia Gabriel. (M. B.)



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juventude > jovens sem fronteiras

A praça é da comunidade do Mutirão INCENTIVADOS PELOS VOLUNTÁRIOS DO GRUPO JOVENS SEM FRONTEIRAS (JSF), MORADORES DA COMUNIDADE MUTIRÃO, NO BAIRRO DO JAGUARÉ, REFORMARAM A PRAÇA LOCAL

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m agosto do ano passado, os voluntários do Jovens sem Fronteiras iniciaram uma ação social que, na sua origem, não tinha objetivos concretos. “Visitamos a comunidade Mutirão, no bairro do Jaguaré, e conversamos com alguns moradores para saber as reais necessidades e ajudá-los a encontrar formas de satisfazê-las. A primeira etapa do trabalho foi organizar uma exposição de fotos e registros da trajetória da comunidade. No dia do evento, foi incrível a rea-

ção das famílias ao ver a composição de imagens fornecidas por eles”, conta o coordenador do JSF, Bruno Kibrit. As visitas dos Jovens sem Fronteiras ao Mutirão são realizadas uma vez por semana ou a cada quinze dias e, aos poucos, os laços com a comunidade se estreitam. “Quando propusemos a revitalização da praça, as crianças aderiram rapidamente. Elas nos viam pintando ou lixando e se propunham a trabalhar também e aí chegavam os adultos para ajudar.”

SOB ORIENTAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS DO GRUPO JSF, A COMUNIDADE DO MUTIRÃO REFORMOU UMA PRAÇA

Segundo ele, foi assim que os voluntários moradores locais e integrantes do JSF, fizeram o que, em engenharia, se chama retrofit dos brinquedos, apararam a grama e propuseram um modelo de lixeira que os moradores construíram e instalaram. “O lugar ficou bem convidativo”, avaliou o coordenador. “A partir desse momento, sei que estabelecemos um vínculo com a comunidade e agora pensamos em oferecer workshops a respeito de plantio, cuidados com o ambiente, para evitar a dengue, temas que pareceram ser de interesse para essas pessoas que, em troca, nos ensinam tanto”, conclui Kibrit. (M. B.)



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juventude > fotos e fatos 1.

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1. a 4. No Centro Juvenil Hebraikeinu, cada faixa etária conta com uma programação que estimula o convívio social, informação, valores humanos e judaicos e muita diversão. A programação semanal é intercalada com passeios, acantonamentos e outras atividades fora da rotina; 5. Comemoração de Purim no curso de Tradição Judaica do After School


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1. Madrichim do Hebraikeinu divertiram a garotada no Mega Purim; 2. Thiago e Beatriz Mallak desfilaram fantasias criativas no Centro Cívico; 3. Vestidas como dançarinas espanholas, as priminhas desfilaram no Mega Purim, representando mais uma geração da família Mosseri; 4. Centro Juvenil Hebraikeinu e After School lideraram os esforços para a organização do Mega Purim; 5. Bloco “Mamãe Eu Quero” agitou crianças e adultos com marchinhas antigas de Carnaval e canções típicas de Purim; 6. Alunos da Escola Maternal e Infantil comemoraram Purim no Espaço Adolpho Bloch


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parceiros hebraica > mais novidades com nossos parceiros

Acompanhe as últimas notícias da comunidade com os nossos parceiros

www.glorinhacohen.com.br

Siga o site da Glorinha É jornalista profissional e por mais de 25 anos trabalhou na imprensa judaica assinando páginas sociais para a Revista da Hebraica e para os jornais Resenha e Semana Judaica, tendo sido editora do Suplemento Social Espe-

cial da Tribuna Judaica, que circulou até agosto de 2003. Atualmente assina uma página na revista Shalom e coordena seu site pessoal, que tras dicas e notícias sobre a comunidade.

APRESENTADO POR MARKUS ELMAN Confira a programação: www.lehaim.etc.br

A COMUNIDADE EM SP O programa LeHaim é um registro dos eventos sociais e comemorativos da movimentada comunidade judaica de São Paulo. Com uma linguagem moderna, ganhou outras características, divul-

O programa oferece um show de variedades com musicais, reportagens, entrevistas, documentários e comentários em vídeo conferência diretamente de Israel, relacionados com a comunidade judaica e com o povo judeu.

gando os atos e eventos de caráter social e benemérito promovidos pelas entidades que reúnem os membros da sociedade judaica e criando projetos para resgatar a memória da comunidade.

Mosaico na TV conta com uma audiência de aproximadamente 250.000 telespectadores sendo que cerca de 2/3 dessa audiência não pertencem à comunidade judaica.

www.shalombrasil.com.br

O programa tem como proposta cultivar e divulgar as tradições judaicas, não só para os judeus , mas também para o telespectador em geral, que tem interesse em conhecer outras culturas.

Revista Shalom

Shalom Brasil é produzido pela Tama Vídeo , uma produtora e prestadora de serviços de São Paulo, tendo como diretor, o jornalista Marcel Hollender, que atua no mercado há mais de vinte anos.

www.revistashalom.com.br

A Revista da Comunidade Em janeiro de 1998 nascia a Revista Shalom, com o objetivo de valorizar o judaísmo através dos judeus e das instituições judaicas, tendo o Estado de Israel como seu centro.

Nas nossas páginas você encontra notícias, atualidades, e muito mais. Não fique sem a sua! Para assinar ligue (11) 3259-6211 revistashalom@terra.com.br


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esportes > xadrez

O MESTRE INTERNACIONAL HERMAN CLAUDIUS (D) ACOMPANHA HÁ ANOS O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO DO DEPARTAMENTO DE XADREZ DA HEBRAICA

Pelo equilíbrio entre corpo e mente RECÉM-DESCOBERTO NAS ESCOLAS COMO FERRAMENTA PARA MELHORAR O APRENDIZADO, DE HÁ MUITO O XADREZ ENTRETÉM,

EDUCA E DIVULGA O NOME DO CLUBE NA COMUNIDADE ESPORTIVA

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notícia chegou no fechamento desta edição da revista Hebraica: dezesseis crianças que frequentam o serviço de reforço escolar da Unibes (União Brasileira de Bem-Estar Social) virão à Hebraica às quintas-feiras de manhã para aprender xadrez com o mestre Davy D´Israel. Trata-se da manutenção da parceria entre Unibes e Hebraica que há dois anos abriu esta oportunidade de aprendizado para crianças de 7 a 9 anos residentes nas cercanias do Bom Retiro. “Su-

peramos um pequeno obstáculo, que era o transporte semanal das crianças para o clube e receberemos esse grupo a partir deste mês (abril) com muita satisfação”, informa o diretor da modalidade, Henrique Salama. Esta novidade se soma ao bom desempenho das equipes competitivas de xadrez no Interclubes, o torneio anual que define o ranking da Federação Paulista de Xadrez e que se realiza em dois finais de semana, um na Hebraica e outro no Pinheiros, aqui do lado.

“Comemoramos o sexto lugar na categoria especial, a mais difícil, em razão do alto nível do torneio este ano. Entre os mais de duzentos inscritos havia nada menos do que nove grande mestres (GM) e doze MI’s (mestres unternacionais) reforçando as equipes de clubes, prefeituras e escolas”, informa Salama, cujo filho, André, foi árbitro. “Na minha família, o xadrez é levado a sério. Eu jogo há vários anos e recentemente o André tornou-se árbitro internacional, isto é, deu mais um passo na carreira profissional no esporte”, anunciou o pai. A comunidade enxadrística paulista é extremamente diversificada e gregária, o que explica o fato de todos os participantes de torneios como o Interclutes se conhecerem. Segundo o mestre internacional Herman Claudius, um dos expoentes que disputou o Interclubes deste ano, defendendo o Pinheiros, “a Hebraica ocupa lugar de destaque seja porque participa dos torneios semestrais para movimenta-


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ção de ratting (IRT) seja pela qualidade dos enxadristas revelados pelo clube. Atuei vários anos como professor no Departamento de Xadrez e hoje trabalho no vizinho, o Pinheiros, e a Federação Paulista de Xadrez existe muito em função do trabalho feito pelos clubes. Não conseguiria imaginar a Hebraica sem a prática do xadrez, porque esse esporte faz parte da cultura judaica”. Na mesma equipe, o GM argentino Rubens Felgaer veio a São Paulo especialmente para disputar o Interclubes. “Foi minha primeira participação nesse torneio. Joguei na equipe B, que precisou se esforçar para garantir a permanência na categoria especial e confirmada hoje com a vitória, neste último dia do Interclubes. Ficamos em quinto lugar”, explicou. Felgaer descobriu o xadrez em 1990, na Hebraica de Buenos Aires. “Eu era atleta de basquete. Um dia me convidaram para uma partida de xadrez e me apaixonei pelo jogo. Fui durante dez anos enxadrista no clube e hoje trabalho como assessor técnico de outros jogadores ou disputo torneios como este”, explicou. “Pela minha experiência, creio que um clube perderia muito sem o xadrez em função do aspecto intelectual menos presente em outras modalidades esportivas”, afirmou. “Pena que não conheci a Hebraica de São Paulo nesta curta visita à cidade”, lamentou. No entanto, se tivesse atravessado a rua, Rubens teria descoberto que além de equipes competitivas, o Departamento de Xadrez divulga a modalidade internamente por meio de cursos para adultos e crianças. “Algumas escolas incluem esse esporte na grade de aulas e outras o oferecem na forma de atividade extra e muitas famílias ficariam satisfeitas em saber que esse mesmo serviço existe no clube e é extremamente benéfico para não só para o desenvolvimento infantil quanto para prevenir ou retardar o mal de Alzheimer em idosos. O que nos falta, talvez, são mais investimentos para reforçar o trabalho pedagógico do departamento”, anuncia Davy D’Israel. “Eis porque está em estudos uma parceria com a Escola de Esportes e a Feliz Idade, pois os públicos de ambos os setores se beneficiariam muito conhecendo melhor as possibilidades do xadrez”, conclui. >>

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EQUIPES DE CLUBES E ESCOLAS PARTICIPARAM DO INTERCLUBES PROMOVIDO PELA FEDERAÇÃO PAULISTA DE XADREZ

DAVY D’ISRAEL DESTACOU-SE COMO O SEXTO MELHOR TABULEIRO NA CATEGORIA ESPECIAL, DURANTE O INTERCLUBES DE XADREZ

OS ENXADRISTAS RUBÉN FELGAER, RAFAEL LEITÃO E DAVY D´ISRAEL MILITAM PELA EXPANSÃO DO XADREZ NAS ESCOLAS E CLUBES


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esportes > xadrez

ENTREVISTA Muitos enxadristas do clube se recordam do pequeno André Diamant e sua vitoriosa trajetória no esporte. Como atleta da Hebraica, ele conquistou os títulos de mestre fide (MF), mestre internacional e grande mestre, vencendo torneios nacionais e internacionais. Ainda adolescente, jogou contra Henrique Mecking, o Mequinho, diante de um grande público no Teatro Anne Frank e no Espaço Adolpho Bloch. Hoje, aos 25 anos, e vivendo nos Estados Unidos, se é o maior, não é o único enxadrista a praticar e crescer no clube integrando a equipe de xadrez. Eis, a seguir, em entrevista, a importância do xadrez para ele. A Hebraica – Olhando para o passado, você acha que estaria nesta universidade, nos Estados Unidos, sem o xadrez ou o apoio da Hebraica? André Diamant – O xadrez foi fundamental para eu estar onde estou hoje. Foi na Hebraica, onde passava os dias praticando e jogando xadrez. Foi também na Hebraica que conheci meu padrinho, José Luiz Goldfarb, que viu meu talento no xadrez e veio me apoiando desde o início de minha carreira. Com a ajuda dele e da Hebraica, pude treinar e viajar para me tornar um jogador de profissional. A partir desta carreira, surgiu o convite para estudar nos Estados Unidos e fazer parte da equipe que atualmente é campeã nacional há quatro anos seguidos. Com certeza, onde estou hoje teve tudo a ver com a Hebraica. No dia-a-dia, você vê muitos garotos em idade escolar praticando xadrez? Diamant – O cotidiano aqui nos Estados Unidos é muito puxado. Temos treinos semanais, e também temos de dar conta dos estudos, extenuantes. Para estar no time, os alunos precisam manter um GPA, ou uma nota média de 3.0, equivalente a B ou acima. Ou seja, precisamos nos concentrar muito nos estudos para corresponder às expectativas da nossa equipe. Além dos treinos semanais, também participamos de vários projetos para ajudar em escolas da região. Todos

os participantes do time fazem visitas às escolas públicas da região, levando conhecimento no xadrez, respondendo a perguntas e ajudando a criançada a se interessar pela modalidade. Agora, especialmente, o treino está muito puxado. No fim do mês, vamos defender nosso título nacional em Nova York, e para isso treinamos quase todos os dias. No spring break, ou férias de primavera, treinamos mais de quatro horas por dia. Também participamos de muitos torneios, e nas horas livres os outros GM’s e eu também estudamos xadrez. ANDRÉ DIAMANT, EM 2010 Na sua opinião, quando deixou de brincar e tornou-se um enxadrista a sério? Diamant – Para ser sincero, sempre fui muito sério com o xadrez. Nunca o vi muito como uma brincadeira. Eu me destaquei desde cedo, e desde muito cedo me preocupava com os treinos e em proporcionar orgulho a todos que me apoiavam. Você estuda economia? Como é o status de um integrante da equipe de xadrez em relação ao restante da faculdade? Diamant – Sim, no Texas eu era estudante de economia. Quando me transferi para o Missouri, passei a cursar relações internacionais. Formei-me em dezembro de 2014 e estou fazendo mestrado em negócios internacionais (international business). Minha equipe de xadrez é formada majoritariamente por estrangeiros. Minha técnica é húngara, e nosso time é formado de grandes mestres de Israel, Hungria, Colômbia, Rússia, Vietnã, Ucrânia, México, Cuba, Alemanha e Filipinas, ou seja, é uma diversidade muito grande. Apesar das diferenças, nos damos muito bem, e vivemos muito bem com as diversidades culturais. Já com relação à faculdade, todos respeitam muito o xadrez. A Webster apoia muito o xadrez. Ela é o cartão postal de uma universidade global, que tem campi em cinco diferentes continentes. Xadrez, assim como a Webster, é muito global. Mesmo em nossas aulas, temos alunos de todas as partes do mundo, o que faz a experiência de estudar aqui muito rica e única. E a experiência que

tive viajando em razão do xadrez ajuda muito no meu curso também, pois entender as diferenças e saber respeitar outras culturas é uma parte muito importante do curso. Se estivessem no Brasil, você gostaria que o seu filho, Isaquinho, jogasse xadrez na Hebraica? Diamant – Sempre comento que o Isaquinho adoraria a Hebraica. Passei minha infância pelo clube, e foram anos maravilhosos que sempre recordarei com muito carinho. Se estivéssemos no Brasil, com certeza eu adoraria que ele passasse o tempo na Hebraica. Ele já joga e adora desafiar todos os grandes mestres do time. Tenho certeza que ele adoraria o clima de amizade e descontração de jogar xadrez na Hebraica, e depois tomar um bom banho de piscina. Acho muito importante manter o xadrez como modalidade. Minha técnica, Susan Polgar, é uma grande embaixadora do xadrez, e faz de tudo para disseminar a modalidade pelas escolas da região e atingir o máximo de crianças possível. Está comprovado que o xadrez ajuda as crianças na escola, principalmente na área das exatas. Além de tudo, crianças expostas ao xadrez aprendem desde muito cedo a ter mais concentração e paciência. A Hebraica tem vários esportes, o que faz com que o clube seja ótimo. Mas acredito que o xadrez é muito importante para se manter o equiíbrio entre corpo e mente. (M. B.)



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esportes > natação

Uma estrela olímpica na piscina MAIOR MEDALHISTA DE NATAÇÃO NA HISTÓRIA DAS OLIMPÍADAS, MICHAEL PHELPS TREINOU NA PISCINA OLÍMPICA DA HEBRAICA, DIANTE DE UM PÚBLICO FORMADO POR TÉCNICOS, PROFESSORES DA ESCOLA DE ESPORTES E FÃS

O CAMPEÃO MICHAEL PHELPS TESTOU E APROVOU A PISCINA OLÍMPICA DA HEBRAICA

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nadador olímpico Michael Phelps passou menos de 24 horas em São Paulo. Veio dos Estados Unidos e foi diretamente para a Hebraica, onde foi recebido pelo vice-presidente de Esportes, Fábio Topczewski e a equipe de profissionais do Departamento Geral de Esportes. “Ao saber que teria a manhã livre, Michael pediu uma piscina para treinar e logo pensei na Hebraica, pois ali teria ambiente adequado, seria bem recebido e com a segurança que uma personalidade como ele requer quando está no exterior”, comentou Adriano Fers, gerente de marketing internacional da Under Armour, empresa responsável pela vinda do nadador americano no Brasil. Phelps mostrou grande capacidade de concentração ao ignorar os vizinhos de raia e atravessar de lado a lado, ora com braçadas de crawl, ora de costas ou a técnica perfeita no nado borboleta. “Ele foi de um lado a outro com 25 braçadas”, admirou-se Rubens Krausz, atleta que pratica diferentes provas de natação. Ao técnico e coordenador de natação do clube, Murilo Santos, Phelps elogiou a piscina e as outras dependências colocadas à disposição dele. “Sairemos com muita pressa, pois da agenda dele ainda constam o almoço, uma visita ao Núcleo de Alto Rendimento (NAR) e será o convidado de honra na inauguração da primeira loja da marca esportiva Under Armour, patrocinadora de atletas de corrida e em breve de uma equipe paulista de futebol”, informou Adriano. Depois, Phelps embarcou de volta para casa. Coincidência ou não, a mesma piscina olímpica utilizada por Phelps, agradou também a outro atleta olímpico internacional. Em 1973, Mark Spitz lançou em São Paulo a marca esportiva Speedo e inaugurou a recém-construída piscina olímpica do clube. Nos últimos 42 anos, o equipamento recebeu melhorias, de forma a satisfazer aos parâmetros de um atleta do nível de Phelps. Para Topczewski, a recente visita do nadador americano Phelps se soma à satisfação da Hebraica em receber a equipe olímpica israelense de natação. “Ver esses atletas em ação no quintal de casa, por assim dizer, é um privilégio”, concluiu. (M. B.)



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esportes > basquetebol

A ÁRBITRA FÁTIMA APARECIDA SILVA FALOU DAS NOVAS REGRAS DO BASQUETE E APROVEITOU PARA MATAR SAUDADES DA HEBRAICA

O que muda nas quadras? Rebotes ofensivos – Os times que conseguirem pegar rebotes ofensivos não terão mais 24 segundos para elaborarem novas jogadas e, a partir de agora, serão apenas quatorze segundos de posse de bola. Isso vai permitir que o jogo ganhe mais dinamismo, mais arremessos e tenha mais pontos ao final de cada partida. Lembrando que os rebotes defensivos não sofrem com a mudança e continuam com os 24 de posse de bola. Tempos técnicos – Anteriormente, era permitido que cada equipe pedisse até dois tempos no primeiro tempo e três no segundo, contanto que estivesse com a posse de bola. O número de tempos para cada um não mudou, mas agora, nos últimos dois minutos de jogo, os times poderão pedir apenas dois tempos cada um. Se houver prorrogação, um tempo para cada time será adicionado. A nova regra chega para aumentar a velocidade da partida, sendo que com menos pausas no final do jogo, os treinadores terão de aproveitar bem melhor o tempo com o time reunido. Além disso, isso irá reduzir a eter-

nidade que é a duração dos minutos finais de uma partida equilibrada de basquete. Faltas técnicas – Antes, um jogador só era excluído da partida quando cometia duas faltas antidesportivas (ato de fazer a falta querendo prejudicar o adversário, sem a intenção de roubar a bola) na mesma partida. Agora, os atletas mais exaltados também poderão ser expulsos se cometerem duas faltas técnicas (faltas cometidas sem a utilização do corpo como reclamações, gestos, ofensas, etc.) por jogo, assim como acontece na NBA. Além disso, o time que sofreu a técnica terá apenas um lance livre e não dois como antes. A posse de bola pela equipe que foi vítima da falta técnica continua mantida. Falta de ataque no semicírculo – No basquete, o semicírculo serve como uma espécie de proteção para quem estiver no ataque, pois qualquer ação que o atleta de defesa fizer dentro da área demarcada será computada como falta contra ele e a favor de quem estiver atacando. A regra foi criada para proteger o atleta que estiver realizando movimentos em direção à ces-


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Novas regras para chegar à cesta FÁTIMA APARECIDA SILVA, ÁRBITRA INTERNACIONAL DE BASQUETE,

ESTEVE NO CLUBE PARA EXPLICAR AOS ATLETAS OS NOVOS PARÂMETROS PARA O JOGO. VEJA QUE MOVIMENTOS SERÃO PERMITIDOS NA QUADRA A PARTIR DE AGORA

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átima Aparecida Silva coordena da Liga Feminina de Basquete e como árbitra internacional atuou em partidas decisivas durante as Olimpíadas. Para as ex-colegas do infantil da Hebraica, ela mantém a mesma humildade e simpatia que esbanjava no início dos anos 80, como atleta do clube. “Como essa quadra me traz boas recordações!”, exclamou, ao chegar na condição de palestrante ao se-

gundo andar do Ginásio dos Macabeus. Ela foi recepcionada pelos técnicos e apresentada aos atletas de 7a 16 anos uniformizados e ansiosos por entender as novas regras propostas pela Fiba (Federação Internacional de Basquete) e já em prática neste ano. “É bom ver tantos garotos interessados no basquete”, falou à plateia sentada à sua frente. “Mas não basta treinar mui-

ta, pois antigamente, todo contato entre defesa e ataque que ocorresse debaixo do aro, era validada como falta de ataque e o jogador que estava atacando era penalizado mesmo sem ter culpa. Depois da implantação do semicírculo, o atleta de defesa ganhou um espaço pré-determinado para estar durante tentativas de infiltrações. Se o defensor que estiver parado fora do semicírculo receber a carga do jogador que está efetuando o ataque, isso é considerado falta de ataque. Porém, se ele estiver dentro do semicírculo, ele não estará apto a receber falta de ataque. Qualquer movimento que ele realizar será considerado uma falta a favor do atacante, tornando aquela região embaixo da cesta “amaldiçoada” para os defensores. Antes, se o defensor estivesse pisando na linha, era considerado que ele estava fora do semicírculo, o que o favorecia e prejudicava o atacante. Agora com a nova regra da Fiba, o defensor que estiver com o pé na linha do semicírculo passará a ser considerado dentro dela e cometerá falta de defesa. Isso significa que o time que está no ataque ganhou mais uma proteção e que os pivôs terão de se adaptar rapidamente à regra para evitar exclusão do jogo ainda no primeiro tempo.

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to, é preciso saber quais movimentos são permitidos e quais serão punidos pelo árbitro”, completou, exibindo a mais recente publicação da Fiba com as regras a serem aplicadas por todas as confederações, federações locais e clubes. “A geração de vocês consulta o Google para se atualizar sobre o esporte, mas hoje veremos. na prática, as regras que profissionais como eu vão cobrar de vocês nas quadras”, informou. Acostumada a exercer autoridade entre atletas profissionais, ela dividiu os garotos em vários grupos e os ajudou a simular situações de jogo que podem resultar em faltas ou expulsões. “O técnico estabelece a estratégia de jogo, mas o atleta tem de estar atento para não prejudicar o time com movimentos perigosos”, explicou. Terminada a sessão, ela agradeceu o convite feito pelo Departamento de Basquete. “Foi bom rever o lugar e ver o entusiasmo dos garotos que jogam pela Hebraica como eu o fiz há muitos anos”, concluiu. (M. B.)

Autorização para usar vestes religiosas na cabeça – Um dos vetos mais polêmicos da Fiba durante os jogos eram das vestes religiosas nas cabeças dos atletas. Antes, a instituição permitia que os jogadores utilizassem apenas cinco centímetros de pano para cobrir a cabeça (como bandanas e fitas), impossibilitando atletas mulçumanos, judeus, sikhs, entre outros, de usarem suas tradicionais vestimentas durante as partidas. A determinação era considerada discriminatória e, a partir de outubro, ela sofrerá alterações a favor da tolerância religiosa. Com a mudança, será dada permissão do uso de hijabs, turbantes, kipot e outras vestes que representam algum tipo de crença dentro de quadra. Esta regra terá um período de teste de dois anos e, se aprovada, já estará em vigor de forma permanente durante os jogos olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Numeração – Os atletas, a partir de 1º de outubro, poderão usar números que vão de 0 até 99, incluindo o 00. Antes, só eram permitidos números entre 4 e 99. A nova regra é bem similar ao regulamento da NBA. (Fonte Extratime – Uol)


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1. Amistoso de basquete reuniu equipes da Hebraica e do Colégio Mackenzie; 2. Equipe sub-11 de futsal conquistou otítulo da Copa Acesc da modalidade; 3. Aula especial na piscina semi-olímpica ganhou o nome de hidropurim; 4. Times do Pinheiros e Sorocaba se enfrentaram na quadra do Centro Cívico pelo Estadual; 5. Clássico entre Corinthians e Santos reuniu dezenas de torcedores diante do telão na Praça Carmel


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1. 1 e 2. Sensei Edison Minakawa recebeu a faixa do 7º Dan e uma homenagem dos judocas da Hebraica; 3. Vice-presidente Fábio Topczewski posou com o nadador Michael Phelps durante a curta visita do nadador à Hebraica; 4. Tenistas disputaram o Torneio de Purim devidademente fantasiados, conforme a tradição da festa e também do Departamento de Tênis

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magazine > capa | história | por David G. Roskies *

REPRODUÇÃO PERFEITA, ATÉ NOS PARALELEPÍPEDOS, DE UMA RUA DE VARSÓVIA E POR ONDE O VISITANTE PODE CAMINHAR


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Museu Polin é uma luz para as nações OS JUDEUS TÊM MAIS O QUE VER NA POLÔNIA, ALÉM DOS CAMPOS DE EXTERMÍNIO DO COMPLEXO AUSCHWITZBIRKENAU E TREBLINKA: O RECÉM-INAUGURADO MUSEU QUE CONTA A HISTÓRIA DOS JUDEUS POLONESES. O TEXTO A SEGUIR É UMA DESCRIÇÃO CRÍTICA DELE

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maior edifício público erigido na Polônia desde que o país recuperou a liberdade e também o primeiro museu a contar a história da Polônia desde o início, atende pelo nome de Polin. Pó Lin, ou “descanse aqui”, é o que teriam dito os primeiros judeus que chegaram ao país no século 10. Mas o nome oficial do novo edifício de dezesseis mil metros quadrados, em Varsóvia, no local onde antes era o Gueto, é Museu da História dos Judeus Poloneses, aberto no final de outubro passado. A ideia do museu foi da diretora da Associação do Instituto Histórico Judaico da Polônia, Grayna Pawlak. Ela havia acompanhado o projeto e construção do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington, inaugurado em 1993, e percebeu que era desnecessário outro museu memorial na Polônia, pois, afinal, a própria Polônia era um memorial do Holocausto. O país precisava mesmo era de um museu dedicado à vida judaica e, durante 21 anos, os esforços combinados do Ministério da Cultura e do Patrimônio Nacional, da prefeitura de Varsóvia, de fundações privadas, filantropos individuais judeus e cristãos, da República da Alemanha e do Reino da Noruega levantaram 54 milhões de dólares para construir o prédio e outros 43 milhões de dólares para a exposição permanente. Trata-se de algo gigantesco em qualquer lugar, e inédito na nova Polônia. O “Esboço do Programa Histórico e Plano Diretor” elaborado originalmente, com histórias de familiares divididas em períodos históricos e marcadas por cismas ideológicos, estava ultrapassado. Mais importante do que escrúpulos acadêmicos a respeito dessas narrativas foi o fato de que esta forma não teria êxito entre os visitantes do museu – desde poloneses adolescentes até cidadãos ido-

sos, israelenses, judeus de todo o mundo, ocasionais turistas estrangeiros e grupos que todos os anos fazem uma espécie de peregrinação aos campos de extermínio. Nomeada em 2006 para chefiar a equipe acadêmica da Exposição Central do Museu Polin, Barbara Kirshenblatt-Gimblett já carregava no currículo mudanças que realizara na forma como os museus representavam o passado judaico. Assim, onde uma vez o lugar de destaque foram os rolos da Torá, caixas de especiarias, copos para o kidush, candelabros, ponteiros para a leitura da Torá e outros apetrechos sagrados da fé judaica, ela expôs no Museu Judaico de Nova York a Fabric of Jewish Life (“Tecido da Vida Judaica”), cujo foco foram produtos têxteis, a maioria produzidos por mulheres. Na exposição Image Before My Eyes: A Photographic History of Jewish Life in Poland, 1864–1939 (“Imagem Diante dos Meus Olhos: A História Fotográfica da Vida Judaica na Polônia, 18641939”), em que havia apenas fotos de judeus poloneses retratados como “perseguidos, piedosos e pobres”, de autoria do fotógrafo Roman Vishniac, o catálogo que Kirshenblatt-Gimblett produziu destaca a diversidade e a urbanidade dos fotografados. Se, na Feira Mundial de Nova York, em 1939, os judeus montaram o Pavilhão da Palestina para registrar a luta por um lar, a mostra no museu polonês foi idealizada de modo a criar uma exposição narrativa

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>> multimídia demonstrando a centralidade de judeus na história polonesa e transformar essa história, que considera “mal-lembrada”, em algo que se possa tocar, ouvir, esfregar, apagar, tirar, desmontar, percorrer, subir, perder-se, e, acima de tudo, experimentar de mais de uma perspectiva. Consagrados em design de museus, mas novatos em história judaica, as empresas de projetos Event Communications, do Reino Unido, e Nizio Design International, deram trabalho para os acadêmicos, perguntando, por exemplo, “O que é hassidismo”. O professor Samuel Kassow, do Trinity College de Connecticutt, cuja especialidade é o período de entreguerras (a chamada Segunda República Polonesa e autor de Quem Escreverá Nossa História? Companhia das Letras, 2009), viajou 25 vezes a Varsóvia durante o planejamento do museu. Kirshenblatt-Gimblett tornou-se cidadã polonesa, aprendeu a falar polonês, passou a escrever um blog diariamente e sua voz narra o belo e ricamente ilustrado catálogo de 430 páginas da exposição permanente e a introdução chamada Theater of History (“Teatro da História”). Um museu, um cenário O museu é um teatro em oito atos, ou galerias, criado de tal forma que se pode ir da floresta à loja de presentes em noventa minutos. A floresta pintada é o pano de fundo simbólico para a chegada dos primeiros exilados judeus, que deram

OS PRESIDENTES DA POLÔNIA, BRONISLAW KOMOROWSKI, E DE ISRAEL, REUVEN RIVLIN, INAUGURAM O MUSEU

ao país e ao museu seu nome judaico. É teatro, porque em vez de apresentar artefatos originais por trás de divisórias de vidro, o visitante encontra displays interativos, maquetes, dicas visuais e efeitos sonoros a cada passo. Assim, uma exibição de lápides judaicas na verdade é uma imagem da tela de uma dúzia de sepulturas, cada uma preenchendo a tela quando tocada. Ao ser esfregada, aos poucos vai aparecer uma inscrição em hebraico e o toque final no monitor vai, milagre!, produzir uma tradução do epitáfio em polonês ou inglês. A Galeria Três, chamada com alguma ironia de Paradisus Judaeorum, 15691648 (“Paraíso dos Judeus, 1569-1648”), abre com um enorme mapa da recém-criada Comunidade Polaco-Lituana, também conhecida como Comunidade das Duas Nações, ou República de Duas Nações. Duas equipes de historiadores montaram um mapa das 1.200 comunidades judaicas em um império que se estendia do Báltico ao Mar Negro, de modo a que um visitante consiga descobrir seu


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lar ancestral em poucos segundos. Mais adiante, surge o módulo “Na Rua Judaica”, dedicado à política judaica entre as duas guerras mundiais (e onde os visitantes podem participar do jogo “Política Judaico-Polonesa”). Os três principais competidores são o sionista trabalhista Poalei Zion, o ultra-ortodoxo Agudat Israel e o Bund trabalhista judeu. A cada passo, o jogador tem de responder a questões de múltipla escolha – se quer permanecer ou imigrar, escolher a Palestina, Europa Ocidental, ou as Américas, apoiar o bloco polonês de direita ou de esquerda, falar e educar os próprios filhos em polonês, ídiche, ou hebraico e, para espanto geral, por meio de um processo de eliminação gerado pelo computador, a melhor aposta do jogador sugere votar no Agudat Israel. Cada galeria tem as suas próprias características; tudo é diferente de uma sala para outra, das fontes (em alfabeto latino e hebraico) aos assentos (cadeiras, bancos de igreja, banquetas, bancos, poltronas ou barris). O espaço literalmente define o momento histórico, se é o mercado de uma cidade judaica tendo ao lado uma taberna, um lar judeu, e uma igreja católica; uma estação de trem (com assentos de pelúcia), no coração do industrializado Reino da Polônia; ou uma reconstrução em paralelepípedo da rua Zamenhofa do pré-guerra, em Varsóvia, e a grande variedade de movimentos políticos competidores de um lado e três grupos de renomados escritores judeus, do outro. Exatamente, porque cada galeria se vale do que há de mais recente em tecnologia de museu, de modo tão variado e tão cheio de artifícios, que chega a ser um alívio parar na reconstruída sinagoga de Gwodziec, na Galícia, e o seu requintado teto pintado e telhado em estrutura de madeira. Aliás, em 1959, o Instituto de Arquitetura Polonesa da Politécnica de Varsóvia publicou um livro de diagramas, desenhos em escala, esboços e fotografias de campo em preto e branco. Em 2003, o historiador da arquitetura Thomas Hubka publicou o livro Resplendent Synagogue: Architecture and Worship in an Eighteenth-Century Polish Community (“Sinagoga Resplandecente: Arquitetura e Culto em uma Comunidade Polonesa do Século 18”) que inspirou uma equipe internacional de historiadores, arquitetos, artesãos, estudantes e artistas especializados em carpintaria tradicional e pintura policromada. Eles passaram três anos construindo a réplica antes de transportá-la para seu lar permanente, esta Galeria Quatro. “Resplandecente” é a descrição mais apropriada para o interior da sinagoga, coberto do chão ao teto com fragmentos da liturgia hebraica, signos do zodíaco, símbolos messiânicos e uma fabulosa variedade de animais, reais e mitológicos, tudo em cores vibrantes e vivas. Reproduções deste interior são a primeira coisa que se vê ao entrar no terminal no Aeroporto Internacional de Varsóvia e estavam espalhadas por toda Varsóvia na semana da inauguração do museu. Pode-se comparar a reprodução de Gwodziec com o Globe Theatre, restaurado na Londres atual como o local preferido para apresentações de peças de Shakespeare, embora ninguém agora

reze nesta sinagoga. Da Galeria Quatro, The Jewish Town (“A Cidade Judaica”), através de Encounters with Modernity (“Encontros com a Modernidade”) até On the Jewish Street (“Na Rua Judaica”), a exposição central leva o visitante ao penúltimo pavimento, Holocaust (“Holocausto”), onde são exibidos filmes da blitzkrieg alemã, o espaço fica angular e mais apertado: é a representação do Gueto de Varsóvia, como símbolo dos 660 guetos que os nazistas construíram na Polônia. O foco desta galeria é o dia-a-dia do gueto e tem por base o arquivo do gueto heroicamente compilado pelo historiador Emanuel Ringelblum e o grupo Oyneg Shabes, que enterraram materiais em caixas de metal e latas de leite descobertas depois da guerra, uma das quais está exposta no Museu Memorial do Holocausto, em Washington. A galeria simula o marco principal do gueto: a ponte de madeira que ligava os grandes e pequenos guetos e dela vê-se o que os moradores de gueto viam quando olhavam para o lado ariano da cidade. Descendo a escada do gueto, as ruas que levam à Umschlagplatz, o ponto de ajuntamento de onde partiam os comboios para Treblinka. Recuando da exposição do núcleo como um todo se pode dizer que os 1.200 assentamentos judaicos grandes e pequenos antes espalhados pela vasta República das Duas Nações foram reduzidos a um, e, em seguida, a nenhum. Além do Holocausto Há, no entanto, muitas fontes de luz que penetram a destruição, a partir da luz solar que atravessa as janelas de vidro maciças, na entrada do museu, até a torre de luz que flui para baixo em cima da última instalação, compreendendo as fotografias e as vozes gravadas do judaísmo polonês contemporâneo. “A história não começa nem termina com o Holocausto”, adverte Barbara Kirshenblatt-Gimblett na introdução do catálogo. Os judeus da Polônia não vivem “à beira da destruição”, insiste, e a cronologia histórica do museu resiste a tal estudo da finalidade. >>

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>> Em abordagem oposta, o espectador precisa olhar mais além do que Letters from Afar (“Cartas de Longe”), a exposição de videoarte do cineasta judeu húngaro Péter Forgács mais o grupo musical The Klezmatics. A exposição acelera, desacelera, congela, e justapõe filmes caseiros judeus feitos na Polônia nos anos 1920 e 1930. “Já sabemos que a vítima inocente cairá nas mãos do assassino”, lê-se no catálogo da exposição. Invocando Hitchcock, Forgács comparou a Europa antes da guerra aos cadáveres de uma cena de crime. É também uma luz que aparece inesperadamente no final de um curta-metragem de animação que nos leva a um dia na vida da famosa Yeshivá Volozhin. Esta história tem superposição de voz, a partir das memórias de estudantes e visitantes, como Yehuda Leib Don Yichye, que chegou à Yeshivá Etz Chaim em Volozhin em 1888 com 19 anos. Yehuda Leib descreve ter ficado imediatamente impressionado com a visão do edifício branco de um andar e as muitas janelas da yeshivá. O filme, idealizado pelo diretor de criação de mídia do museu, Arkadiusz Dybel, emprega a nova técnica de animação pintada. Ele recrutou atores da Polônia e dos Estados Unidos filmados contra uma tela verde neutra, e depois integrados a cenários e sequências gerados por computador. Embora o edifício da yeshivá Etz Chaim ainda exista em Belarus, não há quase nenhuma documentação visual do que se passou no seu interior ou em muitas outras inspiradas por ela. Fundada em 1803, Volozhin era um tipo radicalmente novo de academia talmúdica, cujo objetivo era menos treinar jovens para o rabinato, mas prepará-los para um modo analítico de pensar, uma revolução na consciência religiosa judaica e muito difícil de ser transmitida na tela em apenas 4’47’’ antes de o visitante passar para a próxima instalação. À medida que o ponteiro do relógio se move rapidamente

ACIMA, À PARTIR DA ESQUERDA, O MUSEU FOI CONSTRUÍDO EM FRENTE DO MONUMENTO AOS

COMBATENTES DO GUETO DE VARSÓVIA, LOCAL DE SUA AGONIA E MORTE; O ARQUITETO FINLANDÊS

RAINER MAHLAMÄKI PROJETOU O EDIFÍCIO COMO UMA EXTENSÃO DO MONUMENTO, EM ARENITO E VIDRO; A MUSEÓLOGA BARBARA

KIRSHENBLATT-GIMBLETT FEZ DO POLIN MAIS IMPORTANTE REFERÊNCIA DE SEU CURRÍCULO

pelo seu ciclo de 24 horas, vemos a vida da yeshivá através dos olhos sonhadores do espectador contemporâneo. As vozes de rapazes que enchem uma sala se elevam em uníssono com a entrada do rosh yeshivá, o diretor da academia, o olhar de reverência à medida que ele expõe algum belo ponto da Halachá. Mas escurece, e as pessoas dentro da yeshivá diminuem, deixando apenas um estudante solitário. Como na figura do famoso poema de Bialik Ha-Matmid, ele se dobra sobre o Talmud. Quando começa a cochilar, derrama água sobre os pés, como teria feito o gaon (sábio) de Vilna, cujo aluno o rabino Hayim fundou a yeshivá. Mas está realmente ficando tarde, e o visitante também deve seguir seu caminho. No quadro final, o clarão que emana da vela do estudante parece ser a única fonte de luz em toda Volozhin. Este quase desenho animado é uma brilhante história metonímica, talvez descrevendo os bochrim yeshivá (“os escolhidos da academia”) descritos pelos escritores do século 19. Talvez aqui também o meio seja a mensagem. Considerando que a yeshivá moderna produziu uma nova elite intelectual e um modelo em certa medida individualista de liderança religiosa, meio século depois da morte de seu lendário fundador, Ba’al Shem Tov, o hassidismo, última grande tendência do misticismo


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Broadway. Não há um final feliz. São mil anos de história dos judeus poloneses, desde o primeiro assentamento judaico ao movimento Solidariedade e ao colapso do comunismo. O último quarto de século foi posta de lado. E aí, novamente, a sequência fica em torno do visitante: o que estiver sendo apresentado no auditório de 480 lugares ou em qualquer uma das duas salas de cinema e multimídia; no Centro de Educação e no Centro de Recursos e numa chamada zona de segurança para o debate judaico-polonês “além do medo e da vergonha”, em que dúvidas e controvérsias são postas à mesa.

judaico, tornou-se um movimento de massa. Em vez de um filme com uma narrativa única, o museu escolhe representar o hassidismo em filmes sequenciais a respeito da rápida expansão do movimento, mapas, melodias hassídicas, uma história em quadrinhos adaptada do clássico hagiográfico Shivhei ha-Besht (In Praise of Ba’al Shem Tov – “Em Louvor a Ba’al Shem Tov”), um jogo interativo com base nas notas de súplicas chamadas kvitlech, e outras coisas divertidas. O tribunal hassídico é representado como barulhento, denso e detalhado, enquanto a yeshivá é lírica, frugal e monástica. Quem prestar atenção vai notar os diferentes ritmos, a coreografia da exposição central, alternando entre o grande cenário e uma perspectiva mais íntima, individualizada. É uma mostra que pode assumir significados diferentes dependendo de quem a vê. É o caso da chamada “Royal Cake Installation” (“Instalação do Bolo Real”), em que, suspensas no ar, mas inclinadas em um ângulo, há três grandes pinturas a óleo dos monarcas absolutistas que dividiram o bolo da Polônia no final do século 18: o rei Frederico II da Prússia em vestes militares reais; José II da Áustria, envolto em meias brancas os pés magros esparramados sobre o trono e a rechonchuda imperatriz russa Catarina II em um volumoso vestido. A “Instalação do Bolo Real” parece celebrar a arrogância dos governantes temporais que iam e vinham. Para o visitante polonês, poderia sugerir algo totalmente diferente: a de que a narrativa judaica da Polônia não é uma história nacional de vitórias e derrotas nas batalhas, mas a narrativa de comerciantes, taberneiros, gestores imobiliários, acadêmicos, estudantes, empresários industriais, jornalistas, rainhas da beleza, revolucionários, e, principalmente, as comunidades da aliança – Cracóvia, Poznan, Vilna, Varsóvia, Wroclaw, Zamo – onde viveram e prosperaram. O Theater of History (“Teatro de História”) não é um musical da

Em terras do Gueto Se o Museu Polin é o presente da Polônia para os judeus, é também o presente dos judeus para a Polônia. Os cínicos dirão que é muito pouco e tarde demais. Verdade, mas irrelevante. No discurso da inauguração o presidente da República da Polônia, Bronisław Komorowski, declarou ser “impossível compreender a história da Polônia sem conhecer a história dos judeus poloneses. É igualmente impossível compreender a história dos judeus sem conhecer a história da Polônia”. Ele observou que “os judeus poloneses desempenharam papel importante na construção do Estado de Israel. E, de fato, quase a metade de todos os deputados na primeira Knesset falava polonês”. Para o presidente Komorowski, o ministro da Cultura e do Patrimônio Nacional e o prefeito de Varsóvia integrar a história dos judeus na memória coletiva e se relacionar com o Estado que eles criaram são as verdadeiras medidas da tolerância, da honra e, acima de tudo, da liberdade. Assim como o movimento Solidariedade reivindicou o passado judaico como parte de sua luta, a abertura do Museu Polin ajuda a marcar enorme conquista da Polônia como uma democracia ocidental estável. Ao abraçar seu passado judaico, a Polônia tornou-se, em parte, fonte de inspiração para os seus vizinhos. Projetado pelo arquiteto finlandês Rainer Mahlamäki, o edifício foi construído em um material curvo e fluido semelhante >>

Para o presidente Komorowski, o ministro da Cultura e do Patrimônio Nacional e o prefeito de Varsóvia integrar a história dos judeus na memória coletiva e se relacionar com o Estado que eles criaram são as verdadeiras medidas da tolerância, da honra e, acima de tudo, da liberdade


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magazine > capa | história >> ao arenito, e envolto em uma fachada brilhante de vidro. O exterior foi sutilmente coberto de barbatanas de vidro em que a palavra Polin está escrita em caracteres hebraicos e latinos. O edifício está situado à respeitosa distância do Monumento aos Combatentes do Gueto de Varsóvia, cuja forma imita delicadamente. Tanto o monumento e o museu estão em solo sagrado, isto é, no coração do antigo gueto e no local de sua agonia de morte. “Plantar um edifício de vidro em um local de genocídio”, lê-se na introdução do catálogo, “é uma declaração forte; é uma expressão de esperança diante da tragédia”. No dia da inauguração houve momentos em que o museu inteiro estava em chamas com a luz. Como a juventude judaica geralmente vem para a Polônia somente em razão da Marcha da Vida e a peregrinação aos principais campos de extermínio, haverá, agora, uma luz no final da viagem, um museu voltado especificamente para os hábitos interativos de seu coração que fala dos judeus que viviam antes, durante e depois da Segunda Guerra. Próximo do local do evento, algumas pessoas pareciam aparentemente indiferentes ao que se realizava a alguns metros. Entre elas, uma mulher passeando com um cachorri-

nho, contou que tinha amigos judeus, porque nasceram judeus, apesar de indistinguíveis dos outros amigos. Os avós dela ainda se lembravam como era a Polônia no tempo em que ainda havia muitos judeus. Atualmente, só há vietnamitas. Ela disse que um museu não poderia trazer os judeus de volta, mas poderia trazer de volta a memória de uma Polônia melhor. * David G. Roskies é mestre em literatura e cultura ídiche no Seminário Teológico Judaico e da Universidade Hebraica de Jerusalém. Seu livro mais recente é Holocaust Literature: A History and Guide (“Literatura do Holocausto: Uma História e Guia”, Brandeis University Press), em co-autoria com Naomi Diamant

Karski, um justo Em julho de 1943, ao final da aventura de escapar do Gueto de Varsóvia , o combatente não judeu Jan Kozielewski, que se tornou conhecido como Jan Karski (1914-2000), conseguiu finalmente ser recebido pelo presidente Franklin Roosevelt no Salão Oval da Casa Branca. Além da sua própria vida, o maior bem que Karski carregava eram documentos e um microfilme mostrando as atrocidades nazistas em Varsóvia e outras cidades da Polônia, como Lublin, de cujo gueto foram tirados 34.000 judeus para serem assassinados no campo de Belzec. Passados os rapapés que o encontro sugeria, Roosevelt queria saber se os haras e os cavalos poloneses, famosos por sua qualidade, foram destruídos e mortos nos combates. Nenhuma pergunta a respeito dos judeus. Na ocasião, Karski também entregou a Roosevelt alguns capítulos de Correio da Polônia, a História de um Segredo de Estado que viria a concluir um ano depois. Karski foi testemunha do que aconteceu nos guetos da Polônia – grandes e pequenos – e tornou-se um dos maiores defensores da integridade territorial da Polônia, fatiada depois da Primeira Guerra e durante e depois da Segunda. Karski chegou a ser preso pela Gestapo e os combatentes poloneses realizaram uma exitosa operação para libertá-lo da Gestapo que, em represália, assassinou entre vinte e trinta poloneses, de acordo com as versões. Em Varsóvia ele entrou clandestinamente duas vezes e, disfarçado de guarda ucraniano, passou alguns dias em um campo de extermínio. A esse respeito costumava dizer: “Brutalidade e desumanidade de proporções completamente fora do reino de qualquer coisa que eu já tivesse experimentado, e isso de fato me fez rever minha concepção do alcance que pôde ocorrer no mundo em que eu habitava”.

Se o Museu Polin é o presente da Polônia para os judeus, é também o presente dos judeus para a Polônia. Os cínicos dirão que é muito pouco e tarde demais. Verdade, mas irrelevante



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magazine > pessach | por David Stern *

CERIMÔNIA DE UM SEDER OFICIADO EM ABRIL DO ANO PASSADO POR TZURI (HENG) SHI QUE FEZ ALIÁ E VOLTOU A KAIFGENG

Por que a Hagadá de Kaifeng é diferente das outras? POUCAS COMUNIDADES JUDAICAS DO PASSADO TÊM ATRAÍDO MAIS ATENÇÃO DO QUE A LENDÁRIA, AGORA DESAPARECIDA, COMUNIDADE DE JUDEUS CHINESES QUE EXISTIU HÁ MAIS DE SEISCENTOS ANOS NA CIDADE DE KAIFENG

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oje, pouco resta dela – poucas famílias se dizem descendentes dos seus últimos judeus; missionários cristãos escreveram relatos a respeito dela entre os séculos 17 e 19; algumas placas de pedra ou colunas com inscrições dos próprios judeus de Kaifeng acerca de sua história e crenças; rolos da Torá, cujas letras hebraicas escritas com um pincel de tinta se assemelham notavelmente a caracteres chineses, e vários outros livros dispersos. E, desses, a Hagadá de Pessach é provavelmente o documento mais fascinante, entre outras razões porque a imagem irresistivelmente intrigante dá uma ideia de uma família de judeus chineses do período medieval ou início do moderno sentar-se para um Seder.


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The Haggadah of the Kaifeng Jews of China (“A Hagadá dos Judeus de Kaifeng da China”, Brill, 216 pp., US$ 312) é a primeira monografia acadêmica dedicada a esta Hagadá, escrita por Fook-Kong Wong, erudito em Antigo Testamento formado em Hong Kong, e Dalia Yasharpour, preceptora em língua persa e literatura em Harvard. Eles fizeram um verdadeiro trabalho de arqueologia com todas as informações possíveis a respeito dos judeus de Kaifeng, nos séculos 17 e 18, período em que os dois manuscritos sobreviventes da Hagadá foram escritos. A maior parte do livro é dedicada a um minucioso estudo do texto da Hagadá hebraica e as respectivas instruções judeo-persas que o acompanha, e o que a linguagem pode iluminar acerca da alfabetização em hebraico dos judeus de Kaifeng. Por meio da Hagadá é possível conhecer os judeus chineses e o livro reproduz na íntegra um dos manuscritos da Hagadá, junto com a transcrição do texto hebraico e a tradução comentada em inglês. Provavelmente a comunidade judaica de Kaifeng se formou em algum momento do início da Idade Média – em torno do ano 1000 – quando comerciantes judeus da Pérsia ou do Iêmen, que operavam na Rota da Seda, chegaram à China. Entre as cidades onde esses comerciantes se fixaram, Kaifeng, então capital da dinastia Song, foi a mais importante, e, para todos os efeitos, a única comunidade judaica na China medieval da qual se sabe alguma coisa. A comunidade judaica floresceu desde o início. Em 1163, os judeus de Kaifeng já haviam construído uma imponente sinagoga, que, ao longo dos cinco séculos seguintes, foi reconstruída várias vezes principalmente porque era sempre destruída pelas enchentes que regularmente inundavam a cidade. Até onde se sabe. os judeus na China nunca foram perseguidos. Muito ao contrário, os chineses parecem ter aceitado os judeus, que, por sua vez, se aculturaram rapidamente. Foi a sinização (“tornar chinês”), mesmo processo pelo qual a maioria das outras minorias étnicas, em meio à vasta população da China, também inevitavelmente passou. Este processo está mais evidente no material a respeito do que havia de judaísmo em Kaifeng, tanto pelo modo como os caracteres hebraicos eram grafados com aparência chinesa como na arquitetura da agora destruída sinagoga. Da mesma forma que a mesquita, ao lado, a sinagoga tinha a aparência quase exata de um santuário confucionista: tábuas na frente e vasos com incenso para cultuar os ancestrais – embora com algumas características bem judaicas, como uma arca para os rolos da Torá, inscrições em pedra com orações como o Shemá e uma monumental “Cadeira de Moisés” na qual sentavam enquanto liam a Torá. Embora os chineses reconhecessem as diferenças religiosas entre eles e os judeus, a quem se referiam como a seita do “arranca-tendão” (em razão da prescrição bíblica em Gênesis 32:32 de não comer o tendão) ou a seita que ensina e respei-

ta as escrituras – os judeus chineses não enfrentaram obstáculos para ascender rapidamente na burocracia civil, e alcançar altas posições e de poder na corte imperial e outros setores do governo. Os judeus chineses pareciam se sentir suficientemente confortáveis na cultura anfitriã a ponto de não ter encontrado nenhum problema para se casar com nativos, embora continuassem a observar o Shabat e os feriados, em alguma medida manter a kashrut e realizar os cultos tradicionais na sinagoga. Inevitavelmente, no entanto, a aculturação exigiu um preço: se devido principalmente ao surpreendente sucesso em se assimilar à cultura chinesa; ou pelo isolamento quase completo em relação aos judeus de outras partes do mundo ou a perda gradual ao longo dos séculos do hebraico e da alfabetização judaica, por volta do século 17 a comunidade judaica começou a declinar vertiginosamente à medida que mais e mais membros eram engolidos pelo enorme corpo da população chinesa. O Ocidente descobriu a existência de judeus chineses em 1605, quando missionários jesuítas liderados pelo italiano Matteo Ricci chegaram à China. Assim que os judeus de Kaifeng souberam que um “sacerdote” ocidental crente em um Deus e instruído na Bíblia chegara a Pequim, logo pensaram que devia ser judeu. Ricci não os desiludiu da equivocada percepção, mas ele e os missionários que o sucederam também tiveram um interesse verdadeiro na comunidade judaica, pois tinham esperança de convertê-la e porque acreditavam na reivindicação dos judeus de Kaifeng “que sua comunidade se originou no primeiro milênio e, portanto, poderia lhes fornecer provas valiosas de um judaísmo ‘original’ e ‘verdadeiro’ e que fosse anterior aos rabinos”. De fato, os missionários estavam mais interessados nos pergaminhos e livros dos judeus de Kaifeng do que na sobrevivência deles, e nada fizeram para ajudá-los ou interromper o processo de declínio da comunidade, embora os jesuítas Jean Domenge e Jean-Paul >>

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Provavelmente a comunidade judaica de Kaifeng se formou em algum momento do início da Idade Média – em torno do ano 1000 – quando comerciantes judeus da Pérsia ou do Iêmen, que operavam na Rota da Seda, chegaram à China


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>> Gozani tenham deixado extensas cartas que constituem as principais fontes para conhecer a comunidade. Quando morreu o último líder e mestre dos judeus de Kaifeng, no início do século 19, eles desapareceram. A sinagoga fora irreparavelmente danificada por outra enchente, e os rolos da Torá e outros livros dispersos entre vários proprietários e instituições, a maioria cristã. Igual, mas diferente Os dois manuscritos da Hagadá que sobreviveram, tema do estudo de Wong e Yasharpour, pertencem hoje à Biblioteca Klau do Hebrew Union College, adquiridos em 1851 da Sociedade para Promoção do Cristianismo entre os Judeus. São livros modestos, um escrito em caligrafia judeo-persa, e o outro em caracteres quadrados hebraicos chineses (como o dos rolos da Torá). Embora as duas hagadot tenham sido escritas por diferentes escribas, com a diferença de um século, ambas preservam essencialmente o mesmo texto que segue o rito judeo-persa. Mas uma se mantém nos estágios iniciais desse rito, antes, portanto, que a Hagadá tivesse sofrido muitas das expansões com que atualmente se está familiarizado. Assim, na Hagadá de Kaifeng não existe Dayyenu, Shefoch Chamatecha (“Derrama o teu furor”, que provavelmente não aparecia na Hagadá ashkenazi até os massacres dos cruzados), ou canções folclóricas, como Chad Gadiá, algo raro até as edições italianas impressas no século 17. No entanto, a ausência mais surpreendente é a da bênção da matzá – que segue o padrão ha-motzi. Os editores sugerem que a bênção fosse tão conhecida que os copistas nem se deram ao trabalho de registrá-la, embora o mais provável é que o copista esqueceu de

INSCRIÇÕES EM PEDRA SUPOSTAMENTE EM HEBRAICO E CHINÊS, DO PERÍODO DA DINASTIA

SONG, FINAL DO SÉCULO 10; À DIREITA, HAGADÁ, PROVAVELMENTE DO SÉCULO 15, COM FILIGRANAS E IMAGENS CHINESAS

escrevê-la ou ela já faltava na tradução do século 17. O pão, fermentado ou não, talvez fosse pouco comum na China. Em geral, no entanto, a Hagadá de Pessach tem um dos textos mais universalmente estáveis e comuns em toda a liturgia judaica – o texto núcleo é basicamente similar, se não idêntico, em quase todos os lugares – e pelas características judeo-persas não há nenhuma dificuldade em ler a Hagadá de Kaifeng. De todo modo, o mais revelador dessa Hagadá são os erros. Muitos, aliás. Há páginas fora de ordem e de sequência, e faltam algumas. Muitos erros ortográficos e vocalizações equivocadas, vários deles resultante da transcrição fonética, isto é, o copista escreveu palavras a partir daquilo que sabia de ouvir a palavra pronunciada, em vez de tê-la visto em sua forma escrita. Este recurso ficou ainda mais complicado, porque – como atestam as inscrições e os relatos dos jesuítas – os judeus de Kaifeng falavam hebraico com pesados toques chineses, de modo a que, por exemplo, a palavra le’olam se tornasse re’oram. Os missionários jesuítas contam que hebraico soava mais como chinês do que com o hebraico que conheciam da educação europeia. A soma desses aspectos – erros, omissões, peculiaridades na ordem e na transcrição, e mais o que foram capa-


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zes de selecionar a partir das anotações marginais nas hagadot, algumas em chinês – indicam que, nos séculos 17 e 18, período de redação dos dois manuscritos, os judeus de Kaifeng ainda podiam entender o hebraico da Hagadá para usar os livros nos Sedarim. Mas, independentemente de quanto eram alfabetizados, o prejuízo já estava feito e pressagiava o breve e completo desaparecimento da comunidade. Há mais do que ironia no fato de o fim da comunidade vir na forma de uma Hagadá, pois de todos os textos clássicos do judaísmo, a Hagadá de Pessach é, por excelência, o livro judaico da redenção. Lembra a história do Êxodo do Egito para reforçar o poder salvador da redenção no presente, e, assim, antecipar a redenção final da era messiânica. O modo pelo qual a Hagadá imagina a redenção varia de comunidades e de pe-

ríodos, mas, invariavelmente, cada comunidade judaica imaginou a sua redenção na Hagadá: acrescentando novas passagens ou inserindo ilustrações e imagens retratando a sua própria experiência da Diáspora. A Hagadá de Kaifeng tem a mesma visão da redenção. O que a distingue, além da influência chinesa da escrita, das páginas com erros e outros defeitos, não é a redenção em si, mas o seu oposto: as páginas desse livro capturam o momento histórico específico em que essa comunidade marchava irremediavelmente para o desaparecimento. Assim, a Hagadá de Kaifeng não é uma Hagadá que aguarda a redenção, mas uma Hagadá do esquecimento. Esta Hagadá dos judeus da China é mais um livro a respeito do tema dos judeus da China, alguns acadêmicos, outros populares, que têm surgido nas últimas décadas, principalmente no mundo de fala inglesa, e especialmente na América. Este fenômeno editorial ocidental é menos comentado do que o interesse na China contemporânea por judeus e judaísmo. Em meio à globalização – que, do ponto de vista prático, significa ocidentalização – pela qual a China passa, o povo judeu, em grande parte graças a Albert Einstein, Sigmund Freud, Karl Marx, e outros, tem sido visto na China como fundamental para compreender a cultura ocidental a um ponto que nenhum judeu fora de Israel poderia imaginar a respeito de si próprio. E enquanto os relatos de Talmud ou livros acerca dos judeus sejam considerados exagerados, os quinze alunos de uma turma de graduação e pós-graduação que estudava o Talmud na Universidade de Nanjing foi a mais talentosa que o professor desta matéria, e que assina esse texto, já teve. Ao mesmo tempo é insaciável o apetite na China contemporânea pelo conhecimento real a respeito do judaísmo e sua cultura e história. Na América de hoje, o fascínio pelos judeus chineses é diferente e, claro, tem a ver com o exotismo exclusivo daquela comunidade. Mas pode ser mais do que isso. O êxito dos judeus de Kaifeng em se assimilar à sociedade chinesa sem resistência e alcançar aceitação cultural, aliada a uma grande riqueza, poder e status é quase sem paralelo na história judaica. A grande exceção, é claro, é a dos judeus americanos, que também prosperaram, foram aceitos e acolhidos com um sucesso que alguns dizem ser incomparável. Nenhuma outra comunidade da Diáspora na história judaica deparou-se com taxas equivalentes de assimilação e mesmo grau de analfabetismo hebraico e judaico. Os judeus americanos não estão em perigo de desaparecer de forma tão abrupta como os judeus de Kaifeng, mas quando nos sentamos para nossos Sedarim e elevamos nossos copos para beber quatro copos, convém lembrar a Hagadá dos judeus de Kaifeng junto com o Êxodo do Egito. * David Stern é professor na cadeira Moritz e Josephine Berg de Literatura Hebraica Clássica na Universidade da Pensilvânia

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As páginas desse livro capturam o momento histórico específico em que essa comunidade marchava irremediavelmente para o desaparecimento. Assim, a Hagadá de Kaifeng não é uma Hagadá que aguarda a redenção, mas uma Hagadá do esquecimento


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magazine > na fronteira | por Ariel Finguerman, na fronteira com Gaza METROS QUADRADOS SENSÍVEIS, POIS À ESQUERDA É O EGITO, À DIREITA, GAZA, E NO CENTRO, DE ONDE

ARIEL FINGUERMAN FEZ A FOTO, É ISRAEL

Onde os inocentes não têm vez O CORRESPONDENTE DA REVISTA HEBRAICA VISITOU A FRONTEIRA DE ISRAEL COM GAZA, UM DOS PONTOS MAIS SENSÍVEIS DA POLÍTICA MUNDIAL

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e escutarem um alarme, todos saiam do ônibus e se deitem no chão. Nunca se sabe o que pode acontecer aqui”, diz a coronel aposentada do serviço de informação do exército israelense Miri Eisin, na fronteira com Gaza. Ela foi a cicerone de um tour exclusivo organizado pelo governo, e que incluiu nossa reportagem, para conhecer de perto um dos pontos nevrálgicos da política mundial. Até os anos 1990, Israel controlava Gaza, não havia nenhum tipo de barreira com o Estado judeu e multidões cruzavam diariamente a fronteira inexistente vindas do território palestino. Mas hoje, depois que os radicais do Hamas tomaram o poder, tudo mudou e o contato entre as duas populações é praticamente zero. “Há toda uma nova geração em Gaza, de 25 anos de idade, que nunca viu a presença israelense”, diz Miri. Primeira parada, kibutz Kerem Shalom, uma das três comunidades israelenses classificadas pelo governo como “bem ao lado de Gaza” (diferentemente de outras da região, classificadas de “perto de Gaza”). Aliás, a última casa deste kibutz fica a exatos cinquenta metros da primeira residência palestina e, entre as duas, um muro de concreto, “para nos proteger de franco-atiradores”, diz Roni Kissin, moradora da comunidade. Roni conta que no ano passado, meses antes de o último conflito com os palestinos explodir, já pressentiu algo diferente. Embaixo da terra, ruídos incessantes, especialmente à noite, mais tarde identificados como movimentos dos militantes dos Hamas nos túneis que estavam escavando. Enquanto isso, a superfície na área do kibutz se enchia de soldados e oficiais alertados pelo serviço de informação militar, num prenúncio de guerra próxima. E quando o conflito estourou, Roni viveu a experiência radical de viver num abrigo subterrâneo, obrigando as crianças a

ficarem caladas para evitar serem detectadas e localizadas por possíveis invasores. Dias depois, quando o túnel do Hamas foi descoberto, os próprios terroristas o explodiram e o kibutz ficou coberto de poeira. Um amigo dela morreu no conflito e várias pessoas passaram a sofrer de trauma. “Vocês não sabem o que é isto”, diz a moradora. Nesse kibutz de fronteira vivem apenas 49 adultos e sessenta crianças, cuja sobrevivência depende da agricultura do


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deserto. Há cinco anos Roni veio morar aqui para fugir ao aluguel caro no centro do país e viver em uma comunidade menor. Apesar do trauma pelo conflito passado, ela não pretende se mudar daqui. E se os túneis do Hamas voltarem a ameaçar a comunidade? “Quem vive em área de tornados, sabe que, no futuro, haverá mais tornados”, diz. Israel fez o deserto florescer em toda esta região ao redor de Gaza. As áreas plantadas são vastas mas o solo é arenoso e amarelado pelo constante banho de sol. Toda a água que irriga esta região vem de esgoto reciclado, identificado pelos canos de plástico de cor vermelha. O Estado judeu ocupa o lugar número um do mundo no uso de água reciclada para agricultura –

84% das plantações utilizam esta origem – , enquanto o segundo país na colocação utiliza apenas 10%. Vento e areia As comunidades agrícolas responsáveis por esta verdadeira maravilha são, na maioria, moshavim, constituídos de gente evacuada do Deserto do Sinai, após a assinatura do acordo de paz com o Egito. Comunidades inteiras acostumadas com a vida no deserto foram deslocadas para >>

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Apesar do trauma pelo conflito passado, Roni Kissim não pretende se mudar daqui. E se os túneis do Hamas voltarem a ameaçar a comunidade? “Quem vive em área de tornados, sabe que, no futuro, haverá mais tornados”, diz


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magazine > na fronteira

A CORONEL APOSENTADA DA INTELIGÊNCIA, MIRI EISIN. AO FUNDO, GAZA

O PONTO DE ÔNIBUS É FORTIFICADO PARA EVITAR OS ATAQUES DE MÍSSEIS

RONI KISSIN, MORADORA DO KIBUTZ KEREM SHALOM

cá. Do lado de lá da fronteira, separados apenas por cinco quilômetros de campos cultivados, estão entre 1,5 e 2 milhões de palestinos de Gaza – ninguém sabe o número ao certo. Até há pouco tempo, nos anos 1980, cerca de meio milhão de palestinos cruzavam todos os dias a fronteira para trabalhar em Israel, número que caiu para zero. O Terminal Erez, única passagem de pessoas entre Israel e Gaza, é um enorme complexo, moderno, parecido com um aeroporto, com doze cabines para examinar documentos. Foi construído antes de o Hamas tomar o poder, quando ainda passavam por aqui cinquenta mil palestinos de Gaza em busca de trabalho em Israel. Hoje, por este impressionante terminal passam diariamente apenas 1.500 palestinos, principalmente comerciantes licenciados e doentes em busca de tratamento em hospitais israelenses. Há onze anos, uma palestina, doente, mãe de dois filhos, insistiu com o soldado que fazia segurança do local que o bip acionado pelo alarme era apenas em razão de um implante de metal em seu corpo. O lamento dela que virou choro compadeceu o militar, que cometeu um erro fatal: ela explodiu-se e matou o soldado, filho único de uma família russa, e mais três pessoas. “Foi uma lição de que aqui é proibido ser naïve (ingênuo). Acabaram os descontos”, diz o diretor do Terminal Erez, Shlomo Tzaban, em sua sala de trabalho com o retrato do soldado russo morto. Tzaban foi o responsável por colocar em prática a decisão governamental de tirar os militares do terminal e transformá-lo em um local exclusivamente civil. A ideia é humanizar o tratamento dos palestinos que passam por aqui. Não se cobra qualquer taxa dos palestinos que utilizam este terminal, refrescado por potentes aparelhos de ar-condicionado e que funciona também em Iom Kipur. “Ninguém precisa se envergonhar do que se passa aqui, e foi tudo construído somente com dinheiro israelense, não norte-americano”, diz Tzaban. Apesar de tudo, o Terminal Erez virou um dos alvos prediletos do Hamas, cer-


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mente vigiados. Carregam a mercadoria e deixam o local. “É um sistema único no mundo”, segundo a nossa cicerone, a coronel Miri Eisin. Oitenta por cento das mercadorias que entram legalmente em Gaza vêm de doações internacionais. Os restantes 20% são produto de negociação direta entre comerciantes palestinos com importadores israelenses, pelo porto de Ashdod.

SHLOMO TZABAN, ADMINISTRADOR DO TERMINAL EREZ: NINGUÉM PRECISA SE ENVERGONHAR

ca de quatro mil mísseis já caíram aqui nos últimos oito anos e a entrada do lado palestino é constantemente depredada. Por isso, este terminal não é para brincadeiras. A estrutura foi projetada para suportar o impacto de mísseis, equipamentos de última geração fazem exames de raio-x de carros mesmo à distância e os seguranças fortemente armados estão treinados para até se houver invasão repentina pelos túneis. “Saímos de Gaza, mas Gaza não saiu de nós”, diz o diretor Tzaban. A rigidez na segurança também existe na outra extremidade da fronteira com Gaza, mais ao sul, onde Israel também se limita com o Egito. Ali, no Terminal Keren Shalom, a única passagem legal de mercadorias para Gaza, chegam todos os dias quinhentos caminhões com os mais diversos mantimentos. No passado, a carga era descarregada por israelenses e passada quase pessoalmente para os palestinos. Mas após uma série de atentados não existe mais contato pessoal. Os caminhões carregados e originários principalmente do vizinho porto de Ashdod passam pela segurança israelense e param em grandes espaços vazios, cada um do tamanho de um campo de futebol, cercados de concreto por todos os lados, onde a carga é deixada e o caminhão vai embora. Em seguida, chegam os caminhoneiros palestinos, observados à distância e intensa-

Uma cidade, um abrigo A poucos quilómetros da fronteira fica Sderot, a cidade israelense mais próxima de Gaza e, por isso, alvo preferido dos mísseis do Hamas, que, apesar de porcarias tecnológicas, conseguem acertar algum tipo de alvo nesta cidade de vinte mil habitantes. Sderot tem um dos níveis socioeconômicos mais baixos de Israel, mas, por conta do seu simbolismo recebeu nos últimos anos investimentos carinhosos. Ali foi construído um terminal do sistema nacional de trens para estimular o desenvolvimento da cidade, instalada uma faculdade e um grande shopping center está em construção. A cada duzentos metros há um abrigo de concreto na cidade, pintado com cores discretas pouco visíveis aos olhares menos acostumados. As escolas são construídas totalmente de concreto bruto, um processo caríssimo, e só assim as crianças não precisam correr para bunkers quando o alarme antimíssil soa e a população tem apenas quinze segundos para se proteger. Circulando por Sderot vê-se que em todos os modestos edifícios da cidade, construídos nos anos 1950 para absorver população judaica refugiada dos países árabes, todos os apartamentos ganharam recentemente um quarto extra de concreto pesado, para servir de abrigo antimíssil. Toda a conta foi paga pelo Estado – a única cidade do país onde isto aconteceu. Em um campo de futebol crianças se divertem. “Vocês não têm ideia do significado disso: enfim, as crianças de Sderot podem se divertir ao ar livre”, diz nossa cicerone.

Os agricultores de Gaza também sobrevivem vendendo flores, morangos e tomates, especialmente aos europeus, que fazem questão de comprar esta produção como forma de ajuda humanitária, não importando a qualidade


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magazine > eleições | por Haviv Rettig Gur *

OUTRA VITÓRIA DE BIBI, CUJA CAMPANHA FOI UMA AULA DE PROPAGANDA POLÍTICA

A retumbante vitória da direita e o futuro da esquerda OS RESULTADOS DAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES EM ISRAEL DERAM MUITAS LIÇÕES, ALGUMAS POUCO AGRADÁVEIS PARA A ESQUERDA QUE

AGORA TENTA SE REAGRUPAR


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esquerda israelense saiu-se melhor do que em quase uma geração, pois se reuniu em torno do Partido Trabalhista, agitou a base, enviou milhares de voluntários para “desentocar os votos”. E perdeu. No processo, políticos, especialistas, pesquisadores de opinião pública e analistas aprenderam algumas lições importantes – não apenas a respeito de humildade, mas também sobre a mudança da face do eleitorado israelense. A direita aprendeu que o Likud é o seu grande indispensável partido, a grande tenda sob a qual pode se agrupar em tempos de perigo. Esse ethos da unidade subjacente entre as facções normalmente briguentas da direita nestas eleições lançou à esquerda o mais forte desafio em quase duas décadas e que tão cedo não será esquecido. Todos nós aprendemos que a direita também sabe como conquistar o eleitor. Ou, pelo menos, que o primeiro-ministro Biniamin Netaniahu sabe. O método foi simples: falar sem parar da participação do inimigo, isto é, a esquerda, os árabes, e, por trás de tudo, o sombrio financiamento estrangeiro. Não foi exatamente um final nobre ou honesto nos últimos dias da campanha do Likud, mas funcionou. Nesta eleição o comparecimento do eleitorado foi gran-

de e os bem-informados pensavam que isto favoreceria a esquerda, pois nas eleições anteriores foram os esquerdistas que não compareceram para votar. Mas, na esteira do aumento impressionante do Likud na contagem final, não previsto por pesquisas ou pesquisadores, existe um fato inescapável: os direitistas saíram para votar, os direitistas que não se preocuparam em votar nas últimas eleições, os direitistas que não gostavam ou não apoiavam Netaniahu – todos se sentiram obrigados a salvar Israel de uma vitória da esquerda. Nas duas últimas horas de votação, houve um salto de dois pontos sobre a participação dos eleitores em 2013, e que depois aumentou para cinco pontos. Essa afluência foi de eleitores de direita que realizam a primeira “surpresa eleitoral” dessa tendência. Na memória recente, em cada dia da eleição surge uma surpresa. Em 2006, o Partido dos Aposentados tinha 7% no dia da eleição, enquanto as pesquisas indicavam apenas 2%. O Yesh Atid atingiu 19% no dia da eleição, depois de as pesquisas mostrarem, talvez, 14%. Mas isso surpreendia apenas o centro e a esquerda. Agora, não mais. O Likud alcançou sua própria surpresa ganhando a corrida de eleitores às urnas. Mas, por que o comparecimento foi tão dramático? Simples: a maioria do eleitorado israelense continua desconfiada da capacidade da esquerda. A raiz deste déficit de confiança está no olhar enviesado a respeito das intenções palestinas, na Casa Branca de Obama e em outros pontos sensíveis da política da esquerda. Em retrospectiva, pode ser uma das ironias amargas desta campanha que o próprio slogan do Partido Trabalhista, “Somos nós ou ele”, pode ter feito mais pela vitória de Netaniahu do que qualquer coisa que Netaniahu pudesse ter feito. Discurso do medo E isso nos leva ao que a esquerda pode aprender com esta eleição. É, no mínimo, equivocado o desespero que se apossou dos eleitores de esquerda e dos >>

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É preciso levar em conta que a esquerda passou quase duas décadas mais preocupada em descartar o eleitorado e pouco merecedor de uma campanha para conquistá-lo porque o considerava essencialmente muito ignorante, preso ao medo ou ao ódio


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magazine > eleições

A ESQUERDA, REPRESENTADA POR

ISAAC HERZOG E TZIPI LIVNI, FOI ATÉ LONGE DEMAIS

>> especialistas. A esquerda se saiu melhor nesta eleição do que não se via há muito tempo. Mas é preciso levar em conta que a esquerda passou quase duas décadas mais preocupada em descartar o eleitorado e pouco merecedor de uma campanha para conquistá-lo porque o considerava essencialmente muito ignorante, preso ao medo ou ao ódio. Pelo menos, ao longo dos anos, tem sido essa a explicação dos meios de comunicação de esquerda, como o Haaretz, para os repetidos triunfos de Biniamin Netaniahu nas urnas. É árduo o caminho para recuperar um eleitorado sempre ridicularizado e desprezado. No entanto, sem o apoio da maioria dos israelenses a esquerda não vai realmente liderar Israel. Parece que Isaac Herzog é o primeiro líder da esquerda a entender isso nos últimos anos. Felizmente para a esquerda, o sol vai nascer todos os dias da semana. E, eventualmente, é provável que mais cedo do que se imagina, dada a história recente de Israel, este novo governo vai cair. Afinal, a política não se encerra em uma única derrota. Desta forma, uma das questões de longo prazo que surgem a partir desta eleição é se a esquerda será capaz de usar essa derrota como um catalisador para uma futura vitória. Mas, se, como sempre, a esquerda voltar à tradicional retórica de descrever o

Israel de Netaniahu como assolado pela fome, pobreza e guerra e em situação de colapso iminente, então estará condenada ao fracasso contínuo. Se é uma conversa dura para ser levada a sério quando se disputa uma eleição, seria verdadeiramente perigoso levá-la a sério depois de perder uma. A esquerda precisa agora construir a partir dos votos que conseguiu, encontrar novos grupos de eleitores, desenvolver um “jogo de base” não apenas nos dois meses que antecedem as eleições, mas nos três anos que as separam. Não é o desespero que vai levá-la do ponto onde está agora para onde precisa chegar para ganhar. Finalmente, os que se profissionalizaram em observar e analisar Israel no mundo, jornalistas, especialistas, funcionários de institutos de pesquisa, devem – mas certamente não vão – aprender uma lição importante desta eleição a res-


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peito dos israelenses. Um tema recorrente verificado nas contas de Twitter de correspondentes estrangeiros – pelo menos da maioria esmagadora cuja opinião não é favorável a Netaniahu – é que Netaniahu ganhou a eleição “vendendo o medo”. De fato, Netaniahu foi explícito ao “vender o medo”, e isso lhe rendeu a liderança no dia da eleição enquanto os críticos internacionais de Netaniahu fundamentalmente entenderam de forma errada o público e o eleitorado dele, e interpretaram muito mal o que era exatamente “vender medo”. Estes críticos insistem em que ele estimulou o medo a respeito do Irã e dos palestinos. Não fez isso porque nem precisava, pois há muito tempo o eleitorado israelense considera os políticos palestinos indignos de confiança e incapazes de fazer a paz. E foi o Irã, e não Netaniahu, quem convenceu a quase totalidade dos israelenses e de todo o espectro político de que o país é um perigo real para Israel. A Netaniahu bastava alertar, às vezes em termos claramente racistas, que os eleitores de esquerda e os árabes iam “comparecer em massa”. Seu método de vender o medo não era acerca da discordância substantiva com a esquerda – o eleitorado já desconfiava do julgamento da esquerda a respeito destas questões –, mas simplesmente para avisar: a esquerda podia vencer. Somente isso já estimulou a votação no Likud, mesmo no frio de fim de noite do dia das eleições. O pressuposto por trás da acusação de “vender o medo” é que Netaniahu é a razão pela qual os israelenses desconfiam das iniciativas de paz ou das negociações com o Irã. É uma opinião conveniente, sugerindo que se alguém pudesse se livrar de Netaniahu, o problema seria resolvido, mas isso é totalmente errado. A Casa Branca ou as rixas políticas da União Europeia com

Só mesmo em Israel O mais novo e importante líder do mundo árabe é um advogado israelense, muçulmano, 40 anos, casado, três filhas, residente em Haifa de nome Ayman Oudeh (foto), presidente do partido “Lista Unida”, o terceiro mais votado nas eleições da terceira semana de março. Eleito presidente do partido árabe socialista Hadash poucos meses antes das eleições, conseguiu juntar palestinos nacionalistas seculares, judeus socialistas, bahatistas e islamitas com uma plataforma comum de direitos civis, democracia, inclusão e universalismo, e que, isoladamente, nas últimas eleições nunca avançaram além de ínfimas porcentagens do eleitorado.

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Netaniahu não são com o próprio Netaniahu, mas com o eleitorado israelense dominante que respondeu com vigor na eleição quando foram finalmente convencidos de que, em breve, seu país poderá ser forçado a novas concessões ou a compromissos perigosos em um Oriente Médio fragilizado. A eleição passou de uma quase derrota da direita, prevista a cada pesquisa de opinião pública por todos os especialistas israelenses, a uma das vitórias mais dramáticas em décadas. Sobram ensinamentos dela: mudando o comparecimento do eleitor significou que a geografia não desempenhou o papel esperado, os colonos se voltaram em massa para o Likud, apesar de eles terem desaparecido como um grupo de pressão nas eleições primárias do partido, e a campanha V15 (o grupo anti-Netaniahu) provavelmente acabou por mobilizar mais direitistas do que esquerdistas. Mas a lição principal é também a mais óbvia. A esquerda se saiu bem na eleição como há muito tempo não se via. O que é, realmente, apenas o primeiro passo no longo caminho para a reabilitação e uma eventual vitória. * Jornalista do Times of Israel

A esquerda precisa agora construir a partir dos votos que conseguiu, encontrar novos grupos de eleitores, desenvolver um “jogo de base” não apenas nos dois meses que antecedem as eleições, mas nos três anos que as separam


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por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com

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12 notícias de Israel

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“Pindura” geral Mais da metade dos israelenses está com a conta negativa no banco, segundo o mais novo relatório do governo a respeito da situação financeira dos habitantes do país. No ano passado, 93% dos israelenses fizeram algum tipo de empréstimo bancário e quase um terço da população (29%) paga hipoteca pela residência ou toma empréstimo para renová-la. A pesquisa também revelou grande diferença entre os cidadãos judeus e muçulmanos de Israel: enquanto 15% das famílias muçulmanas não têm conta bancária, isto acontece em apenas 1% das judias. E mais: 47% dos árabes-israelenses não têm cartão de crédito.

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Pedalada mortal

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Chip da hora A filial israelense da Intel, a gigante que produz os microprocessadores de quase todos os computadores, anunciou aumento da produção de 10%, a U$ 4,25 bilhões. A Intel Israel responde por incríveis 9% de todas as exportações do Estado judeu. A sede da empresa é em Kiriat Gat, região empobrecida do país, na entrada do Negev, e investe impressionantes U$ 5,2 bilhões para aprimorar os laboratórios e instalações, um empreendimento já considerado um dos maiores investimentos estrangeiros na história de Israel.

Loucura familiar

Era só uma questão de tempo: em Israel, a moda de patinetes e bicicletas elétricas pegou forte, e já existem cerca de cem mil em todo o país. A maior parte pilotada por adolescentes que dirigem e conversam no celular ao mesmo tempo. A engenhoca atinge 50 km/h e não é regulamentada, e, por isso, pode ser usada na calçada. No mês passado, o italiano que fez aliá nos anos 1960, Antonio Rahia, 85 anos, ultimamente segurança no Museu de Arte de Tel Aviv, andava pela calçada quando cometeu o erro de entrar na faixa de bicicleta, pintada na calçada. Foi atropelado por uma dessas bicicletas e levado às pressas para o hospital Ichilov, perto do museu. E morreu, vítima dos ferimentos.

Um drama que só poderia mesmo acontecer em Israel: há quinze anos, um casal de religiosos, à época já com oito filhos, decidiu adotar um bebê recém-nascido, abandonado pelos pais ortodoxos, após ter sido diagnosticado com leucemia e síndrome de Down. O tempo passou, o menino cresceu e o casal se divorciou. Agora, a mãe adotiva, que é convertida ao judaísmo, recebeu um comunicado chocante: os pais biológicos do menino adotado não a consideram mais suficientemente religiosa para criá-lo e exigem que mãe e filho sejam separados. O detalhe bizarro é que estes pais não querem receber o menino, mas enviá-lo a um internato. Coisa de louco.

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Purim sexy É um fenômeno já conhecido: como todo ano em Purim, no mês passado as garotas israelenses escolheram se fantasiar com roupas provocantes e sexies. Pais reclamam, mas ninguém lhes dá importância. Agora entrou em campo a Wizo, que em Israel é uma ONG feminista de peso. “Purim se transformou na festa da tentação, e fantasias como ‘enfermeira-prostituta’ e ‘policial-prostituta’ não deveriam ter espaço nas lojas”, disparou a presidente Gila Ashrat, que solicitou às grandes lojas tirar o destaque deste tipo de vestimenta. E, em Tel Aviv, uma escola proibiu a entrada de alunos em fantasias sexies. Os estudantes dessa escola responderam boicotando a festa de Purim.


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É soda A empresa global SodaStream, localizada em Israel e especializada na fabricação de máquinas para o preparo residencial de água com gás, anunciou uma nova linha de sabores que incluirá açaí, romã e chá verde. As vendas da empresa pelo mundo somam quinhentos milhões de dólares. No entanto, a SodaStream acabou mais conhecida pelas polêmicas em que se envolveu. Especialmente quando contratou como garota propaganda a bela atriz Scarlett Johansson, que acabou criticada por se envolver com uma empresa localizada na Cisjordânia, mas disse não ligar para isto. Filha de pai dinamarquês cristão e mãe judia nova-iorquina, Scarlett já foi considerada várias vezes a mulher mais sexy do mundo.

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Palmas no Habima No mês passado fui ao Teatro Habima, onde tenho uma assinatura para as peças. Em cartaz, o clássico de Tennessee Williams, Um Bonde Chamado Desejo. A produção foi muito boa, e conseguiram atualizar este texto dos anos 1940. Antes de apagar as luzes notei na plateia uma excursão escolar, de cerca de cinquenta jovens, barulhentos e com smartphones. As luzes apagaram e não se ouviu mais um pio. No final, palmas também desta molecada. Danem-se os críticos, não pode haver maior marca de aprovação do que os aplausos deste tipo de público. Há anos frequento o Habima e não lembro de nenhuma produção ruim. É, sem dúvida, um dos grandes empreendimentos sionistas em cima deste areal que é a Terra Prometida.

Pérolas da internet Nesta maravilha da nossa época chamada Youtube, há, claro, bastante nonsense, mas também muita coisa boa. A dica do mês são as palestras do rabino acadêmico Henry Abramson a respeito dos mais diferentes tópicos da história e pensamento judaicos: Spinoza, Rashi, antissemitismo medieval, Estado de Israel, Maimônides, Isaac Bashevis Singer, Shulchan Aruch e por aí vai. Abramson é a rara combinação de rabino educado em yeshivá, professor da Touro University e antenado com o que acontece no nosso mundo moderno. As palestras são em inglês, mas fáceis de entender. É só colocar o nome dele na busca.

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Êta nóis Andando pela Universidade de Tel Aviv, notei um cartaz em que um rapaz conversa com uma garota de forma pouco amistosa, o braço impedindo que ela saia e onde se lê: “Ela te disse não? Seja humano e deixe-a em paz”. A ideia é boa porque se trata de impedir ao mínimo o assédio sexual no campus. Mas há um fundo de macaquice, imitação de uma grande campanha que começou há alguns meses em universidades norte-americanas, entre professores e alunas. Muitas campanhas bem intencionadas na periferia mundial (Brasil, Israel, etc) começam apenas depois que a ideia circulou nos EUA: uso de cinto de segurança, proibição de fumo, por aí vai. Outras, de utilidade também óbvia, como proibir o uso indiscriminado de sacos plásticos, ainda aguardam ser deflagradas nos países centrais para que nós, periféricos, possamos imitá-los.


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Pontos nos “is” 1 Uma controvérsia políticocultural-existencial começou aqui em Israel depois de Bibi Netaniahu convidar os judeus franceses e dinamarqueses a imigrarem para o Estado judeu, após os atentados antissemitas nesses países no início do ano. Segundo Netaniahu, somente aqui estes judeus estarão seguros. Ouvimos este argumento há muitos anos e, sinceramente, não concordo. Nos anos 1980, o ministro da Absorção de Imigrantes Nathan Scharansky falava a mesma coisa, e já me parecia um equívoco. É verdade que judeus, especialmente aqueles que usam kipá, podem ser alvos de comentários e até ataques antissemitas, seja na Europa e, talvez, também em São Paulo. O YouTube registra vários experimentos feitos nas últimas semanas, com repórteres que colocaram uma kipá e saíram pelas ruas europeias, onde foram alvos de injúrias. Como estes repórteres não identificaram os bairros por onde circularam os problemas basicamente se concentraram onde vivem muçulmanos, e isso foi muito criticado. De todo modo, isto não quer dizer que a aliá seja a solução definitiva para a insegurança judaica. Israel está cercado de inimigos ferozes e bárbaros, sejam países (Síria e Irã), sejam organizações (Hizbolá, Hamas) e indivíduos (árabes de Jerusalém Leste). Portanto, a probabilidade de ser atacado por aqui por ser judeu é, digamos, pelo menos igual a andar de kipá na França.

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Pontos nos “is” 2 Políticos não são conhecidos pelo livre exercício intelectual. Podem ser inteligentes e espertos, mas pela própria definição do ofício de sempre terem de agradar o senso comum do eleitorado, são menos dados a veleidades intelectuais. Se Netaniahu fosse um livre pensador, admitiria, por exemplo, que, atualmente, Israel não pode garantir ampla segurança aos seus habitantes, especialmente se se tratar de imigrantes originários da Escandinávia, a mais segura e estável região do planeta. Seria mais genuíno se oferecesse como atrativo de aliá outros pontos imbatíveis da existência judaica no Estado judeu: aqui, os judeus que, na França, frequentam instituições judaicas cercadas de muros e guardadas por policiais cristãos, podem viver sua existência judaica mais dignamente, cuidando do próprio umbigo; aqui, o judeu da Dinamarca que, no seu país, vive em uma sociedade quase perfeita, pode colaborar na construção histórica de um Estado para o povo judeu; aqui, ao contrário da Escandinávia, onde as coisas já estão prontas, o país ainda precisa de gente bem preparada e bem formada para participar da renascença do povo judeu em sua terra; aqui, apesar de já haver um sistema educacional e de saúde globalmente invejáveis, ainda há muito a se fazer também nestes quesitos. Se Netaniahu usasse esse discurso, estaria sendo mais sincero. Mas desconfio se conseguiria mais votos ou maior apoio político nesse mundo popularesco.

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É de lascar Da crônica policial local: o que fazem três judeus israelenses, dedicados à produção metalúrgica na região central do país, mas ultimamente em dificuldades financeiras? Fácil, resolvem contrabandear a produção para Gaza, vendendo ao Hamas, que usaria o material para reconstruir seus túneis de ataque e instalar elevadores para transportar futuros soldados sequestrados. A trama macabra foi descoberta pelo Shin Bet, o FBI de Israel, que desconfiou do trio e passou a monitorá-lo. Os elementos, presos em março, colocavam o material proibido no meio da ajuda humanitária que entra no território palestino.



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magazine > a palavra | por Philologos

O beijo da morte: quem matou primeiro? KISS OF DEATH (“BEIJO DA MORTE”) DO IDIOMA INGLÊS VEM DA HISTÓRIA DE JUDAS, DA MÁFIA SICILIANA OU DE AMBOS? UM DOCUMENTÁRIO EXIBIDO NA REDE CBS PROCURA EXPLICAR

O REAL SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO

O

documentário The Kiss of Death and the Google Exec (“Beijo da Morte e o Google Exec”) foi exibido no programa “48 Hours”, uma longeva série da rede CBS, que apresenta semanalmente uma história a respeito de um crime, escândalo ou mistério noticiado pela imprensa. O caso em questão foi o alegado assassinato, em 2013, de um executivo da indústria hi-tech por uma prostituta da Califórnia, presa e aguardando julgamento. Este é mais um filme com o mesmo título: o primeiro foi o suspense a respeito de gângsteres, de 1947, pela Twentieth Century Fox O Beijo da Morte, dirigido por Henry Hathaway e roteiro de Ben Hecht, também autor da peça A Flag is Born (“Nasce uma Bandeira”), de intensa paixão pró-sionista, com o então jovem desconhecido Marlon Brando no elenco, fora apresentada em 1946 na Broadway. É claro que, na linguagem comum, “beijo da morte” não se refere nem a um beijo real nem a uma morte real, mas, ao contrário, tem a ver com a ruína de uma pessoa ou de uma empresa. Supõe-se, no entanto, que seu significado inicial tenha sido, de fato, literal, e se originado na história do Novo Testamento acerca de Judas, que acompanhou os funcionários judeus enviados para prender o seu mestre Jesus no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, após o Seder de Pessach que se tornou conhecido como a “Última Ceia”. Segundo o relato do Evangelho de Marcos: “E ele [Judas] que tinha traído [Jesus] tinha dado [aos funcionários] um sinal, dizendo: ‘Aquele que eu beijar, é ele.” Para dizer a verdade, a narrativa de Marcos não faz muito sentido, pois se, como nos foi dito, Judas chegou ao local antes dos captores de Jesus, tal sinal secreto de nada serviria. Afinal, já se tinha exposto como traidor, e poderia simplesmente ter apontado para Jesus e dizer: “É ele”. No entanto, se Marcos não entendeu o que aconteceu, ou se Judas quis beijar Jesus em uma triste despedida porque, embora pérfido o amava, ou se o beijo foi inventado pela tradição dos primeiros cristãos para fazer Judas parecer ainda mais diabólico, a maioria dos dicionários ingleses contemporâneos, e algumas traduções em

português, concordam em que o tal “beijo da morte” bebeu desta fonte. Mas será isso verdade? Primeiro, embora se possa esperar que uma frase derivada do Novo Testamento tenha raízes antigas ou no início do período medieval, a primeira aparição documentada em inglês de “beijo da morte” foi registrada em 1944, três anos antes do filme da Fox – e em um contexto bem distante do cristianismo, a saber: uma notícia no jornal semanal de música popular Billboard, que, sob o título “Amusement Biz Booming in War Work Center But Bands Losing Out On Dollar Divvy (“O negócio do divertimento cresce no centro de trabalho de guerra, mas as bandas perdem na partilha de dinheiro”), publicou um caso que ocorreu na Filadélfia a respeito do mísero cachê pago aos músicos, apesar da prosperidade do período de guerra. De acordo com o Bilboard, o problema era menos vital para as grandes bandas conhecidas nacionalmente, mas se aqueles em busca de emprego eram da Filadélfia e, portanto, “carregam uma marca local, a questão do pagamento era o beijo da morte”. Segundo, é amplamente aceito que o “beijo da morte” foi trazido para a América pelos imigrantes da Sicília no final do século 19 ou início do 20, e que bacio della morte era expressão da máfia. Em sua Mafia Encyclopedia (“Enciclopédia da Máfia”), Carl Sifakis define o bacio della morte como forma de informar a “um adversário por um beijo nos lábios que seus dias estão contados”, e menciona o célebre beijo supostamente dado em uma penitenciária de Atlanta pelo chefe do crime Vito Genovese no colega mafioso Joe Valachi, que ficou tão assus-


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CENA EM QUE MICHAEL CORLEONE BEIJA O IRMÃO FREDDO E ASSINA SUA SENTENÇA DE MORTE

tado com isso que se tornou testemunha do Estado, como tentativa de se proteger. A Wikipedia concorda, citando o filme de Hollywood de 1972 The Valachi Papers e uma cena de O Poderoso Chefão Parte II em que Michael Corleone (Al Pacino), o filho do lendário capo da máfia interpretado por um Brando mais velho, beija os lábios do irmão Fredo após encomendar seu assassinato. Mesmo assim, a Wikipedia se protege ao acrescentar: “Por mais que se baseie em fatos e por mais que esteja na imaginação dos autores, ele [o beijo da morte] continua a ser um ‘meme’ cultural e aparece na literatura e nos filmes”. Terceiro, as fontes italianas sugerem mesmo que pode haver uma boa razão para se proteger. Por um lado, de acordo com o psiquiatra e criminologista napolitano Corrado De Rosa, na máfia siciliana “beijo na mão é sinal de fidelidade; na bochecha, de solidariedade fraterna e, na boca, de condenação à morte”. Mas De Rosa é especialista na Camorra de Nápoles, e não na máfia, e o site de palavras na internet Cosa Vuol Dire diz que o bacio della morte da máfia siciliana é tradicionalmente dado não à vítima de um assassinato, mas ao assassino de encomenda, “para selar solenemente a sentença e desejar sucesso ao executor”. Embora quem fale italiano geralmente usa a expressão no sentido do beijo de Judas, “isso é um erro”, também observa o Cosa Vuol Dire. O Dizionario Italiano da internet concorda com isso, enquanto ainda outros italianos que escrevem a respeito do assunto, incapazes de citar alguém na máfia de boca fechada, ficam limitados a citar os filmes ameri-

canos como fonte autorizada. Isso sugere algumas conclusões preliminares: 1) “O Beijo da morte”, no sentido de um ato ou ocorrência que condena, é uma expressão recente em inglês e italiano; 2) O bacio della morte da máfia foi um beijo dado a um matador escolhido para a tarefa, e não tinha nada a ver com a história do Novo Testamento acerca de Judas; 3) A expressão foi trazida por imigrantes sicilianos para a América e, lá, confundida com o beijo de Judas; 4) A primeira prova documentada desta confusão, aplicada de forma figurativa para a cena musical da Filadélfia, está na edição de 1944 do Billboard; 5) Reaplicada literalmente para a máfia, a mesma confusão se tornou um “meme cultural”, como diz a Wikipedia, e até mesmo enganou especialistas como Carl Sifakis e Corrado de Rosa; 6) Hoje, o beijo de Judas e o bacio della morte se fundiram inseparavelmente no discurso popular. Nada disso, no entanto, está relacionado à expressão hebraica mitat neshiká, “morte por um beijo”. Mas isso é outra história.

O site de palavras na internet Cosa Vuol Dire diz que o bacio della morte da máfia siciliana é tradicionalmente dado não à vítima de um assassinato, mas ao assassino de encomenda, “para selar solenemente a sentença e desejar sucesso ao executor”.


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magazine > viagem | Texto e fotos de Flávio Bitelman

HOTEL NACIONAL DE HAVANA ESTA CONSTRUÇÃO, DE 1930, PROJETADA POR ARQUITETOS AMERICANOS, ERGUE-SE SOBRE UMA PEQUENA COLINA, DE FRENTE PARA O MAR, NO BAIRRO DE SANTA CLARA, E CUJO ACESSO SE DÁ POR EL MALECÓN. LÁ ESTÃO DOIS CANHÕES DE 1797 USADOS PARA DEFENDER A CIDADE DOS PIRATAS E DE INVASORES E UM MUSEU CUJA TEMÁTICA É A CRISE DOS MÍSSEIS DE 1962. O HOTEL FOI USADO POR FIDEL E CHE GUEVARA COMO QUARTEL-GENERAL DEPOIS DA TOMADA DA CIDADE E PONTO IDEAL PARA MELHOR DEFENDÊ-LA. ATÉ CONSTRUIR SUA MANSÃO DE QUATROCENTOS APOSENTOS E, NA ÉPOCA, AVALIADA EM QUATORZE MILHÕES DE DÓLARES, ERA LÁ QUE LANSKY (NASCIDO SUCHOWLANSKI, EM GRODNO, NO IMPÉRIO RUSSO) DESPACHAVA E OPERAVA


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Hasta la vista, Cuba VERSÃO CARIBENHA DO COMUNISMO SOVIÉTICO E FONTE DE GRANDE TENSÃO NO AUGE DA GUERRA FRIA, CUBA ESTÁ PRESTES A PASSAR POR UMA RADICAL TRANSFORMAÇÃO, O QUE AUMENTA O INTERESSE DOS TURISTAS PELOS ASPECTOS PITORESCOS DA ILHA DOS IRMÃOS CASTRO

D

esde o momento em que se anunciou o restabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, o ano passado, aumentou o número de turistas principalmente para Havana. Muitos deles viajam agora para ver como é, e está, a ilha antes de ela ser invadida não por marines, mas por um fluxo de capitais que deverá alterar a fi sionomia da cidade. Por exemplo, os carrões americanos fabricados até 1959, ano da Revolução, começarão a desaparecer, substituídos por modelos atuais e das mais diferentes procedências, ou arrematados por colecionadores americanos apesar de funcionarem com motores flex chineses ou brasileiros, câmbios coreanos, indianos ou chineses, pneus brasileiros, etc. Da mesma forma, as fantásticas construções que ladeiam as principais avenidas de Havana algumas delas projetadas por renomados arquitetos da primeira metade do século passado como Le Corbusier, Mies van der Rohe, Walter Gropius e Oscar Niemeyer, ou os casarões em estilo clássico e neoclássico que se transformaram em habitações coletivas, com coluna e balcões, tal como imaginado pelo urbanista francês Jean-Claude Nicolas Forestier, chefe do Planejamento Urbano de Paris, que passou cinco anos em Havana na década de 1920. Forestier queria uma cidade que misturasse a construção clássica com paisagem tropical, mas a crise de 1929 atrapalhou tudo. No entanto, acredita-se que o espírito da cidade, de antes e depois da Revolução, vai ser mantido. Uma prova disso é a restauração de alguns quarteirões de Habana Vieja, por acaso exatamente aqueles onde viviam, trabalhavam e levavam sua vida comunitária os imigrantes judeus de vários países do Leste Europeu: nada se alterou, tudo foi mantido e até as placas dos comércios são como foram antigamente. As fotos desta reportagem são de 2006. Tudo continua como estava há nove anos e desde 1959, ano da Revolução e de antes disso, quando uma espécie de vice-rei da cidade era Meyer Lansky, o contador do crime, gênio das finanças e dos negócios, personagem das biografias de gângsteres e mafiosos e rei da jogatina. >>


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magazine > viagem EL MALECÓN É O NOME COMUM DA AVENIDA DE MACEO. ESTE PASSEIO DE OITO QUILÔMETROS EM FORMA DE SUAVE CURVA NA ORLA DA CIDADE COMEÇOU A SER CONSTRUÍDO EM 1901 COM A TRIPLA

TAREFA DE CONTER O AVANÇO DO MAR, SERVIR

DE LOCAL DE CAMINHADA, NAMORAR, PESCAR E É ASSIM ATÉ HOJE. É O DESTINO MAIS POPULAR

DA CIDADE E MILHARES DE PESSOAS NOS FINAIS DE TARDE E NOS FINS DE SEMANA LÁ SE REÚNEM SENTADAS NA AMURADA, OS OLHOS DE FRENTE PARA A BELEZA DA VASTIDÃO DO MAR. DE LÁ,

BASTA ATRAVESSAR A AVENIDA, ANDAR ALGUNS

METROS, E EIS COPÉLIA, AQUELA DOS SORVETES MAIS APRECIADOS DO MUNDO

LOJA DE CHARUTOS CONTAM-SE ÀS DEZENAS AS MARCAS DE CHARUTOS E NEM TODOS SÃO PUROS OU HAVANA. A MAIOR PARTE É PRODUZIDA EM QUASE TODOS OS PAÍSES DA AMÉRICA CENTRAL E NAS ANTILHAS, MAS OS

HAVANAS LEVAM A FAMA. A FOTO ABAIXO OCUPA

UMA DAS PAREDES DA CASA DEL HABANO, A REDE OFICIAL DE LOJAS DE CHARUTOS CUBANOS NA CAPITAL E NAS PRINCIPAIS CIDADES DO MUNDO, AS ÚNICAS

AUTORIZADAS PELA CUBATABACO A COMERCIALIZAR

OS CHARUTOS CUBANOS. EM 2000, A FRANCOESPANHOLA ATTADIS ADQUIRIU 50% DA HABANOS S/A, A DISTRIBUIDORA DE CHARUTOS, E EM 2008 A REVENDEU PARA A IMPERIAL TOBACCO QUE SUGERIU PRODUZIR CHARUTOS MAIS AO GOSTO AMERICANO, DE OLHO NA SUSPENSÃO DO EMBARGO

UNIVERSIDADE DE HAVANA OS CONQUISTADORES ESPANHÓIS FORAM MENOS OBTUSOS QUE OS PORTUGUESES E, EM 1728, PERMITIRAM A CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE NA SUA COLÔNIA ULTRAMARINA DESDE QUE OSTENTASSEM AS EXPRESSÕES

REAL E PONTIFÍCIA. LÁ FICOU SENDO REAL Y PONTIFÍCIA UNIVERSIDAD DE SAN JERONIMO DE HAVANA. REAL E PONTIFÍCIA PORQUE PRECISAVA DE AUTORIZAÇÃO DO REI E DO PAPA, RESPECTIVAMENTE, NO CASO, DO REI FELIPE V E DO PAPA INOCÊNCIO XIII. LÁ FUNCIONAM DEZESSEIS FACULDADES E QUATORZE CENTROS DE PESQUISA. ANTES DA REVOLUÇÃO, FOI O PRINCIPAL CENTRO DE AGITAÇÃO NA CIDADE CONTRA A DITADURA DE FULGENCIO BATISTA, POR MEIO DA FEDERAÇÃO ESTUDANTIL UNIVERSITÁRIA


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LA BODEGUITA DEL MEDIO ESSES BARES FAMOSOS DE HAVANA TÊM TODOS O MESMO JEITÃO: MÓVEIS PESADOS DO PERÍODO ANTERIOR À REVOLUÇÃO, O BALCÃO QUE TERMINA EM UMA PAREDE, POUCAS MESAS E O INEVITÁVEL MOJITO, MISTURA DE RUM BRANCO, AÇÚCAR OU CALDO DE CANA, SUCO DE LIMÃO, ÁGUA COM GÁS E, EM CUBA, UMA VARIEDADE DE MENTA CHAMADA DE YERBA BUENA. A BEBIDA, INVENTADA NO LA BODEGUITA, TEM BAIXO TEOR ALCOÓLICO E, POR ISSO, É QUASE UM REFRESCO. NO CANTO DO BALCÃO, SENTADO EM UMA BANQUETA E ETERNIZADO EM BRONZE ESTÁ UMA DAS FIGURAS MAIS FOTOGRAFADAS: ELE MESMO, ERNEST HEMINGWAY, QUE OCUPAVA AQUELE CANTO E MANDAVA VER TANTOS MOJITOS QUANTOS LHE OFERECIAM OS PRÓXIMOS, E OS NEM TANTO. O LOCAL TAMBÉM FOI FREQUENTADO POR PABLO NERUDA, SALVADOR ALLENDE E OUTROS

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GRANMA O GRANMA É O JORNAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA E ÓRGÃO OFICIAL DO GOVERNO, POR MEIO DO QUAL O ATUAL PRESIDENTE RAÚL CASTRO MANDA OS SEUS RECADOS. O NOME É HOMENAGEM AO BARCO – “GRAN MA” – ORIGINALMENTE PARA DOZE PASSAGEIROS, MAS QUE TRANSPORTOU 89 COMBATENTES, ENTRE ELES FIDEL CASTRO, DESDE O MÉXICO ATÉ CUBA, EM 1956 PARA COMEÇAR A REVOLUÇÃO CONTRA FULGENCIO BATISTA. EXPOSTO NO MUSEU DA REVOLUÇÃO, O BARCO FOI ADQUIRIDO POR UM TRAFICANTE DE ARMAS CUBANO, EM NOME DE FIDEL, A UM ESTALEIRO EM MIAMI POR CERCA DE QUINZE MIL DÓLARES. O JORNAL GRANMA TEM TAMBÉM EDIÇÕES EM INGLÊS E FRANCÊS

CENTRO DE HAVANA O CENTRO HISTÓRICO DA CIDADE, ISTO É, HABANA VIEJA, QUE, POR ACASO ESTÁ SENDO RESTAURADO E ONDE SE LOCALIZAM OS PRINCIPAIS VESTÍGIOS DA PRESENÇA JUDAICA NA CIDADE, FOI TOMBADO PELA UNESCO COMO

PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE. O IDEAL É ANDAR A PÉ, NO MÁXIMO COMO

PASSAGEIRO DE UM TÁXI CUJO “MOTOR” ESTÁ NOS PEDAIS DE UMA BICICLETA.

OU UM MOTOTÁXI EM QUE A CABINE DO PASSAGEIRO TEM A FORMA DE UM

COCO. AS PESSOAS SE ESPALHAM PELAS PORTAS DAS CASAS EM RUAS ESTREITAS E COM A PEQUENA ABERTURA ECONÔMICA QUE ESTIMULA O EMPREENDEDOR, AS

JANELAS E PORTAS DAS CASAS FORAM TRANSFORMADAS EM BALCÃO E VITRINES

CAYO LARGO CUBA E ESPANHA FIRMARAM UM ACORDO DE TURISMO PELO QUAL AS REDES HOTELEIRAS ESPANHOLAS, COMO MELIÁ, POR EXEMPLO, PODERIAM SE ESTABELECER NO LITORAL DA ILHA, DISTANTE DE HAVANA, DANDO A IMPRESSÃO AOS TURISTAS QUE NEM ESTÃO NUMA ILHA ONDE TUDO É RACIONADO E CONTROLADO PELO GOVERNO. ATÉ RECENTEMENTE HAVIA DUAS MOEDAS: O PESO

CUBANO E O CUC, NEGOCIADO EM DÓLAR E DESTINADO SOMENTE

AOS TURISTAS, MAS QUE A VASTA TEIA DE NEGÓCIOS E SERVIÇOS FAZ CHEGAR ÀS MÃOS DO CUBANO COMUM


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magazine > cinema | por Julio Nobre

ANNA/IDA (AGATA TRZEBUCHOWSKA) DEIXA O CONVENTO, ONDE SEMPRE VIVEU, PARA DESCOBRIR OS SEGREDOS DO PASSADO


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A dura escolha de Ida PREMIADO COM O OSCAR DE MELHOR

FILME ESTRANGEIRO EM

2015, IDA REVELA O

ABISMO QUE SEPARA AS

COMUNIDADES JUDAICA

E CATÓLICA NA POLÔNIA AO CONTAR A HISTÓRIA

DA JOVEM NOVIÇA JUDIA QUE DESCONHECE A SUA

VERDADEIRA IDENTIDADE

É

sempre curioso, na época das premiações da Academia de Cinema de Hollywood, observar as escolhas e tendências em termos de dramaturgia ou sucesso de bilheteria ou volume de orçamento das produções. Entra ano sai ano, o tema da Shoá é recorrente. De aventuras descaradamente comerciais, como um dos episódios da franquia X-Men que se inicia num campo de concentração nazista, a filme densos e sérios como este Ida, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro, podemos citar dezenas de outros que se utilizam do genocídio como matéria-prima dramatúrgica. Envolvida naquelas atmosferas dos filmes em preto e branco, a história começa quando a noviça Anna é comunicada que tem uma tia, única parente que lhe resta, que deseja conhecê-la. Sem rodeios, a jovem noviça descobre através da tia a sua verdadeira origem – que é judia, que se chama Ida Lebensztajn e que os pais desapareceram durante a Segunda Guerra. Estamos no começo da década de 1960, em plena Polônia comunista. Fiel à tradição do cinema do leste europeu, o diretor Pawel Pawlikowski não economiza em tons sombrios e no ritmo arrastado das sequências. Neste momento, o filme adquire características de road movie, quando tia e sobrinha partem de carro rumo à Polônia profunda – uma área rural onde os pais de Ida foram morar depois do casamento. Durante o percurso, tia e sobrinha se aproximam e se chocam. Culta, moderna e articulada, Wanda (Agata Kulesza) tem as características que marcaram a sua geração. É vagamente existencialista, deixou o filho pequeno com a irmã para entrar nas fileiras da Resistência contra os nazistas e sobreviveu. Atualmente está inserida como juíza na pesada nomenclatura da Polônia comunista. Anna/Ida (Agata Trzebuchowska), por sua vez, representa o que a Polônia tem de mais atávico e profundo, um catolicismo ferrenho. O espectador é naturalmente confrontado com dois universos absolutamente distintos e paralelos, que jamais se encontram. A uma certa altura da história, a tia pergunta à sobrinha se >>

A experiência de Ida, como nos relatos épicos do mito grego, consiste numa descida lenta e dolorosa ao inferno, rumo ao reino dos mortos, um local perigoso de onde corremos o risco de nunca mais voltar


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magazine > cinema >>

ela pretende permanecer virgem e seguir a carreira religiosa. Diante da resposta afirmativa de Ida, ela questiona: como mensurar a dimensão de um sacrifício quando não sabemos o que realmente estamos perdendo? Quando as duas finalmente chegam ao seu destino, encontram a verdade devastadoramente cruel. O casal Lebensztajn e o filho de Wanda foram assassinados por um camponês católico interessado nas terras. Sob a condição de que não terá as terras tomadas, concorda em revelar em que parte da floresta os corpos estão enterrados. A experiência de Ida, como nos relatos épicos do mito grego, consiste numa descida lenta e dolorosa ao inferno, rumo ao reino dos mortos, um local perigoso de onde corremos o risco de nunca mais voltar. Os laços entre e tia sobrinha se estreitam. Num dos momentos mais tocantes do filme, Ida se despe dos hábitos de monja e veste as roupas de Wanda, experimenta os seus sapatos, ouve os seus discos favoritos – como se incorporasse uma identidade judia. Mas essa atitude meramente epidérmica revela outra

ANNA PREPARA-SE PARA TOMAR OS VOTOS SEM SABER QUE, NA VERDADE, É JUDIA

coisa: as identidades repousam em escolhas muito mais profundas. Irredutível, Ida/Anna opta pelo mundo ascético do convento, certa de que lá fora a sua integridade física e moral corre o sério risco de ser aniquilada sob o peso de uma realidade opressiva. Nesta edição da revista Hebraica, publicamos uma ampla reportagem sobre o Museu Polin, entidade que assumiu a árdua missão de contar toda a história dos judeus na Polônia (ver matéria à pg. 60) E na edição de março, na página 90, o artigo “O Debate do Judaísmo na Polônia. Um Exemplo” traz uma interessante discussão sobre as identidades judias que foram suprimidas ou ocultadas durante o nazismo e sob o regime comunista.



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leituras magazine

por Bernardo Lerer

Roth Libertado Claudia Roth Pierpont | Companhia das Letras 479 pp. | R$ 52,90

O subtítulo é “O Escritor e Seus Livros” e a autora, apesar do sobrenome, não é parente de Philip Roth, mas sabe e conhece mais a respeito do consagrado escritor norte-americano que se parente fosse. Quando anunciou sua aposentadoria em 2010, aos 77 anos, Philip temia o vazio e a depressão, mas, ao contrário, sentia-se livre. E é essa sensação de liberdade, de libertado, que se lê nessa biografia literária na qual a autora persegue o embate entre vida e obra capaz de iluminar o trabalho de Roth sob todos os pontos de vista fundamental para conhecer e compreender a literatura do século 20.

Complô contra a América Philip Roth | Companhia das Letras | 436 pp. | R$ 24,00

E a editora aproveita e relança, em edição de bolso, este romance de 2004, uma história de ficção em que o protagonista é um garoto, Philip, que pode ter sido ele mesmo, de pai corretor, mãe dona-de-casa, um irmão e como todos os outros do bairro, judeu. É 1940, guerra na Europa e judeus a salvo na América, mas Roosevelt perde as eleições para um herói, o aviador Charles A. Lindbergh, racista, germanófilo entusiasta do nazismo e para quem os Estados Unidos deveriam se defender da “diluição nas raças estrangeiras”. Obra-prima.

Memórias de um Oficial de Infantaria Siegfried Sassoon | Mundaréu | 324 pp. | R$ 33,00

O autor (1886-1967) é um dos maiores poetas de guerra e um dos três mais importantes memorialistas ingleses da Primeira Guerra. Alistou-se como voluntário logo após a declaração de guerra à Alemanha, foi ferido duas vezes e ao voltar passou a lutar contra a guerra. Este é o segundo livro de uma trilogia autobiográfica e trata exatamente do período nas trincheiras, a observação dos aspectos humanos do conflito e, ao mesmo tempo, busca as razões por estar ali. Ele escreveu uma carta lida no Parlamento condenando o prolongamento cruel e inútil da guerra, o que lhe custou a corte marcial.

Os Mil Outonos de Jacob de Zoet David Mitchell | Companhia das Letras | 562 pp. | R$ 64,90

A ação se passa no Japão na virada do século 18 para 19, quando o império está fechado aos estrangeiros, menos na ilha artificial de Dejima, na costa de Nagasaki, onde vivem um holandês e sua feitoria. É para lá que vai o escriturário do título do livro para investigar os registros de Dejima em busca de provas de corrupção. Cristão, ele se sente isolado pelos colegas europeus remanescentes e hostilizado pelos nativos japoneses. A história se desenrola entre paixões proibidas, traições, culpa, assassinatos, intriga política e segredos de uma ordem espiritual adepta de horrores indizíveis.

Azazel Youssef Ziedan | Editora Record | 383 pp. | R$ 50,00

Em hebraico existe a palavra “azazel” e até um xingamento, algo como “vá para o diabo”. E diabo, ou demônio, é “azazel”. Mas este é um romance histórico escrito por um acadêmico egípcio e ambientado no século 5 e narra a trajetória de Hipa, um monge copta, que deixou o Alto Egito, rumou para a Alexandria e, mais tarde, para Alepo, na Síria, naquela época, de incertezas e contínuas revoltas religiosas. Em sua longa viagem, Hipa, que se dedicou à religião e à medicina se depara com perigosos obstáculos na forma de “azazel” e suas tentações. É curioso.


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Nicolau e Alexandra Robert K. Massie | Rocco | 607 pp. | R$ 59,50

Como o próprio subtítulo diz, trata-se do “Relato Clássico da Queda da Dinastia Romanov”, uma biografia do último czar, Nicolau II, e da mulher dele, Alexandra, lançando um olhar fascinante sobre os últimos dias da dinastia que do século 17 até a revolução bolchevique de 1917 comandou o Império Russo. Deu no New York Times que o autor traçou um “panorama maravilhoso, pintado com mão segura que traz aqueles anos estranhos e terríveis à vida diante dos nossos olhos”. Vale conferir.

A Geografia do Dinheiro Benjamim J. Cohen | Editora Unesp | 284 pp. | R$ 69,00

O autor, um conceituado professor norte-americano, mostra como está acontecendo a internacionalização das finanças e o fim do mito da soberania monetária do Estado. Ele quer demonstrar que está perto do fim o tempo em que as fronteiras que definem a influência da moeda de uma nação e suas políticas monetárias têm coincidido harmoniosamente com as fronteiras territoriais de um Estado-nação.

Histórias do Atlântico Português John Russel-Wood | Editora Unesp | 404 pp. | R$ 54,00

O autor foi um dos maiores historiadores ingleses, formou-se em universidades inglesas, francesas e espanholas e fez das descobertas marítimas portuguesas e posterior colonização das terras conquistadas temas de cursos, aulas e livros. Em razão disso, o Brasil foi central nos seus textos, como neste livro e para melhor compreender do que tratava mudou-se para a Bahia, onde viveu cinco anos e lá colheu material para escrever um clássico da historiografia luso-brasileira: Fidalgos e Filantropos: a Santa Casa de Misericórdia da Bahia (1550-1755).

A Casa da Vovó Marcelo Godoy | Alameda Editorial | 610 pp. | R$ 69,00

De 2004 a 2014, o repórter Marcelo Godoy, de O Estado de São Paulo, dedicou-se a preparar um grande furo de reportagem: escrever a biografia do DOI-CODI (1969-1991), o mais importante centro de sequestro, tortura e assassinatos da ditadura civil-militar, instalado na rua Tutoia e candidamente chamado de “A Casa da Vovó”. Lá mataram Vlado Herzog. Ele entrevistou dezenas de policiais e torturadores e checou as informações deles, de modo a não deixar dúvidas a respeito do que lhe contaram aqueles que estão passando o resto da vida se escondendo de possíveis vinganças e dos fantasmas dos homens e mulheres que ajudaram a matar.

História dos Jornais no Brasil Matias M. Molina | Companhia das Letras | 560 pp. | R$ 59,90

Este primeiro volume que trata da era colonial à Regência (1500-1840), faz parte de uma trilogia destinada a ser, por enquanto, a obra definitiva a respeito da historiografia dos jornais brasileiros, e embora não tente adivinhar seu futuro, antecipar seu fim ou assegurar vida eterna, quer contar a vida dos jornais no contexto da época em que existiram, e foram dezenas deles. Ele já havia escrito Os Melhores Jornais do Mundo, publicado no Valor Econômico. A leitura desses livros pode explicar um pouco porque as coisas são do jeito que são e a origem de certas dinastias proprietárias de jornais pelo Brasil.

João Santana: um Marqueteiro no Poder Luís Maklouf Carvalho | Editora Record | 252 pp. | R$ 39,50

Esta é a história de um jornalista que se tornou o especialista em marketing político de Lula e Dilma, odiado na mesma proporção em que é admirado e amado. É um livro como reportagem escrita por um ótimo jornalista, e entrevistas exclusivas de Santana a respeito da última e encarniçada campanha eleitoral, em que Dilma derrotou Aécio. É um livro que se lê de uma sentada só, pois por ele desfilam personagens cujas trajetórias a média da população acompanha há tempos.


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músicas magazine

por Bernardo Lerer

Nina Simone Jazz Classics | R$ 47,90

Essa fantástica cantora, compositora, pianista, arranjadora e ativista dos direitos civis esteve em São Paulo na década de 1970 e apresentou-se duas vezes no teatro da PUC. Na primeira noite foram os que a conheciam do jazz; na segunda, os que ouviram falar do grande espetáculo da véspera. Este álbum com três cd’s é antológico e documenta o fundamental da sua produção.

Foo Fighters Sony | R$ 16,90

O grupo nasceu em 1994 como um projeto pessoal do baterista David Grohl e espécie de homenagem a Kurt Cobain e ao Nirvana, conjunto de que ambos faziam parte até a dissolução com a morte de Cobain. Este nome, Foo Fighters, é como eram conhecidos os pilotos da Segunda Guerra. De todo modo, o cd é muito bom, tão tranquilo que nem rock parece e o título explica.

Viva Cuba Music Brokers | R$ 56,90

Mais uma coletânea de cd’s com o que há de melhor da música cubana, isto é, interpretações de Compay Segundo, Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo, Elíades Ochoa, e mais alguns que não fazem parte de várias antologias, como Sonora Matancera, Bola de Nieve, Lecuona Cuban Boys, Los Van Van, Afro-Cuban All Stars e Celia Cruz, entre muitos outros.

Brahms Major Classics | R$ 151,90

São três cd’s com uma amostra bem variada da produção sinfônica de Brahms. Trata-se de interpretações pelas filarmônicas de Berlim e de Viena, pelo menos duas delas um ano depois do fim da Segunda Guerra, e regidas por Wilhelm Furtwängler (1886-1946), que sobreviveu ao nazismo pelo amor à música. Morreu em 1946 depois de reger a sinfonia número 3, com a filarmônica de Berlim.

El Sistema 40 Celebration Deutsche Grammophon | R$ 33,90

A Orquestra Sinfônica Simon Bolívar da Venezuela tocou em uma sala de concertos em Viena e o maestro Simon Rattle, espécie de benemérito dela, foi cercado das crianças da orquestra. Este cd comemora quarenta anos do chamado El Sistema, meio e modo de promover bem-estar social e mudança em setores da população venezuelana. O regente é Gustavo Dudamel.


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Boogie-Woogie Intensemedia | R$ 122,90

Esse ritmo dançante surgiu na década de 1870 nas comunidades afroamericanas, mas se tornou bastante popular nos anos 1920, principalmente quando os filmes se tornaram sonoros e exportados. Essa característica dançante é tão evidente que uma das faixas de um dos dez cd’s da coleção “Pinetops Boogie-Woogie”, logo na segunda faixa do cd 1, é uma espécie de manual de instruções de como dançar.

Mozart Requiem Royal Concertgebow Orchestra | Live | R$ 132,90

Mozart iniciou o Réquiem em 1791, sem concluí-lo porque morreu em dezembro. Franz Xaver Süssmayr escreveu os últimos compassos em 1792. O conde Franz von Walsegg, rico músico amador que encomendava obras a compositores famosos e depois se apropriava delas dizendo que as compusera. Desmascarado pela viúva de Mozart, Constanze, conformou-se em pagar pela peça e usá-la como homenagem póstuma à esposa.

David Garret Zubin Mehta | Decca | R$ 29,90

Mehta rege e a Filarmônica de Israel acompanha o violinista Garret na interpretação dos concertos número 1 de Max Bruch e o opus 77 de Brahms. O violinista é um velho conhecido de Mehta: tinha 12 anos quando foi solista em um concerto com a Filarmônica de Munique regida por Mehta. As duas peças foram escritas para o mesmo violinista, Joseph Joachim, possivelmente o maior do seu tempo.

Preservation Hall Jazz Band Sony | R$ 24,90

Esta banda inspira-se no famoso Preservation Hall, possivelmente um dos lugares mais conhecidos de Nova Orleans, uma casa térrea, aberta em 1961, de poucos lugares, onde os músicos tocam quase ao alcance das mãos dos espectadores que, no entanto, mantêm uma distância respeitosa. Esse cd foi produzido especialmente para o Brasil.

Johnny Cash Music Brokers | R$ 14,90

Este cd reúne os maiores sucessos de todos os tempos deste cantor, compositor, intérprete de blues, gospel, folk e rock (1932-2003) um dos mais influentes do século 20 e que sempre se apresentou de preto, voz de baixo barítono que adentrava o palco se apresentando, “Hey, eu sou Johnny Cash” e depois atacando com Folsom Prison Blues que, aliás, é a primeira faixa do cd.

Love and Longing Magdalena Kozená | Deutsche Grammophon | R$ 105,90

A mezzo-soprano tcheca, nascida em 1973, começou a cantar muito cedo em coros infantis de Brno, na Morávia. Neste cd ela interpreta canções bíblicas escritas por Dvorak para voz e orquestra, três poemas para voz e orquestra de Sheherazade, de Ravel e cinco poemas de Friederich Rückert, musicados por Mahler. A Filarmônica de Berlim é regida pelo marido dela, Simon Rattle.

Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena


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magazine > arquivo | por Tania Plapler Tarandach O ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO REALIZA EXPOSIÇÕES DIDÁTICAS E PERIÓDICAS DE PARTE DO SEU IMENSO ACERVO

A memória dos judeus do Brasil A VIDA DOS JUDEUS DE SÃO PAULO E DE SUAS ENTIDADES COMUNITÁRIAS DESDE FINS DO SÉCULO 19 ESTÁ GUARDADA NUMA CASA SEM NOME, EM UMA PEQUENA RUA DO BAIRRO DE PINHEIROS, E CUIDADA POR UM ABNEGADO GRUPO DE PROFISSIONAIS E VOLUNTÁRIOS PARA QUEM NÃO HÁ HISTÓRIA SEM MEMÓRIA E NÃO SE FAZ MEMÓRIA SEM DOCUMENTAÇÃO APROPRIADA

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Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (Ahjb) foi criado por um grupo de professores e alunos da USP preocupados em preservar as próprias origens na forma da imigração judaica. Era 1976, época em que a ditadura também ameaçava destruir papéis e documentos de estrangeiros cujos antecedentes políticos representassem perigo para o regime. Desde então, tornou-se fonte de informação para interessados nas origens familiares, estudiosos do Brasil todo, professores, estudantes de mestrado e doutorado. Curiosamente, os assuntos como turismo, geografia, relações internacionais estão em alta nas pesquisas. Kashrut, gastronomia e comidas típicas são temas para conclusão de curso de alunos do Senac e FMU. O acervo está estruturado em seis núcleos: documentação e hemeroteca, biblioteca, fototeca, história oral, genealogia e acervos especiais, estes subdivididos em manifestações culturais, música judaica, discoteca, videoteca, filmoteca e biblioteca ídiche, e isso significa quatrocentos mil documentos em forma de texto, 1.200 títulos de periódicos, onze mil livros em diversos idiomas – a única biblioteca específica de autor ou tema judaico no Brasil – e dez mil obras em ídiche, parte delas catalogadas e outra em fase de catalogação, tarefa a que se propôs voluntariamente o rabino Michael Leipziger. Completam o acervo 2.900 discos 78, LP’s, CD’s e fitas magnéticas e quatrocentas entrevistas gravadas. Em gavetas especiais, estão 45.000 fotos preservadas e catalogadas. “O que não vira assunto, não existe”, afirma Seilly Neuman, presidente em exercício do Ahjb, referindo-se à necessidade de se expor e contar o que é, o que tem e o que faz a entidade. Com esse espírito, surgiu o projeto “Muitas Mãos”, aprovado

pela Lei Rouanet. Em fase de captação, prevê a digitalização e indexação de cinco mil documentos, fotografias e periódicos, o desenvolvimento de um sistema de classificação coletiva, folksonomy, e a implantação da ferramenta de financiamento social (crowd sourcing). Será uma nova fonte de financiamento para a atividade de preservação da memória judaica no Brasil. A campanha de novos sócios, em andamento, oferece uma contrapartida atraente: o Arquivo presenteia com o estudo da árvore genealógica da família do doador, preparada por um especialista, o historiador Paulo Valadares. Raridades no Arquivo Andar pelas várias salas do sobrado, do-


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ação de Henrique Brener, é revisitar o passado, reconhecer fatos e perceber as transformações físicas e sociais de uma comunidade. Em todas as seções há preciosidades como pedidos de naturalização de judeus marroquinos da Amazônia no século 19; o acervo pessoal, doado pela família, incluindo as prédicas do rabino-mor e professor Fritz Pinkuss; cem caixas do Instituto Marc Chagall, de Porto Alegre, com documentos da colonização judaica da ICA (Jewish Colonization Association), as colônias do Barão Hirsch; a coleção de documentos das dez famílias que constituíam a Sociedade Israelita de Mogi das Cruzes, e o estatuto de trinta páginas. O acervo dos estudiosos cariocas Frieda (1911-2008) e Egon Wolff (1910-1981) reúne pesquisas realizadas pelo Brasil, de localidades no interior da Amazônia, de cemitérios antigos e informações precisas a respeito de pessoas e locais desconhecidos Brasil afora. Um voluntário dedica-se a documentar o acervo da Federação Israelita de São Paulo, isto é, trezentas caixas contendo atas e a correspondência dos departamentos de 1946 até a década de 1990.

Uma seção é composta por fundos pessoais e institucionais, ou seja, massa documental significativa de pessoa ou instituição. Aí estão relacionados, entre outros, Escola Luis Fleitlich, Policlínica, Associação Israelita de Poloneses (Poilisher Farband), Centro Israelita de Nilópolis (RJ) e a Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro, a Laie-Spar Casse (Caixa de Empréstimos e Poupança), fundada em 1928 e fechada em 1972. Atendia aos imigrantes recém-chegados, principalmente os clientelchikes, vendedores ambulantes, passos iniciais para muitos que desenvolveram o comércio e a indústria no país. Outra seção guarda coleções de arquivo – quantidade de documentos um pouco menor ou agrupamentos de do>>

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A Aonde Vamos? surgiu em 1941, quando o governo cerceava a imprensa, principalmente a de língua estrangeira. S. Karakuschanski e Aron Neumann compraram, então, um folhetim dedicado a notícias turísticas em português de nome Aonde Vamos? e o transformaram em uma revista judaica


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magazine > arquivo

O AHJB ESTÁ ABERTO PARA PESQUISADORES E INTERESSADOS NA HISTÓRIA DOS JUDEUS NO BRASIL

>> cumentos – verdadeiras relíquias de entidades que, em uma época, reuniam núcleos da vida judaica: Mocidade Israelita Brasileira, Grupo Universitário, Federação Sefardi Latino-Americana (Fesela), Centro Israelita Paulista de Assistências Sociais, Partido Poalei Zion, Centro Hebreu Brasileiro de Socorro aos Israelenses Vítimas da Guerra, Sociedade Beneficente Israelita Hachi Ezer (Rio de Janeiro), Casa do Povo, Instituto Yivo de São Paulo e coleções das revistas Shalom, de Patrícia Finzi, e Brasil-Israel, de Berta Kogan (z’l). Poucos se lembram da importante revista semanal Aonde Vamos?, lida por judeus e não judeus pela qualidade dos artigos. Pois o Arquivo tem exemplares de várias edições, como a de junho de 1948 que traz na capa a criação do Estado de Israel. A publicação surgiu em 1941, quando o governo cerceava a imprensa, principalmente a de língua estrangeira. S. Karakuschanski e Aron Neumann compraram, então, um folhetim dedicado a notícias turísticas em português de nome Aonde Vamos? e o transformaram em uma revista judaica. O que faz o Arquivo? Ele não é um arquivo morto, está vivo e realiza cursos, palestras, congressos e exposições temáticas, como a mostra de cartazes do teatro ídiche, na Praça Carmel no ano passado, e a de Anne Frank, na Galeria de Arte da Hebraica e levada a escolas da rede pública. Os anais de seis encontros nacionais em diferentes cidades do país se transformaram em três livros e o boletim semestral número 50 sairá brevemente, além do informativo mensal enviado aos sócios. O tempo é curto para tantas histórias e novidades são constantes, como a parceria com o movimento juvenil Dror, cuja documen-

tação guardada no kibutz Bror Chail, em Israel, será disponibilizada on line pelo Arquivo. Palestras fazem parte da parceria com a sinagoga Bait. Lúcia Chermont, historiadora e profissional do Arquivo, falou recentemente sobre “Judaísmo em Higienópolis”. Quando no mundo se nega a Shoá, um grupo de ativistas do Arquivo prova sua autenticidade através do relato dos sobreviventes. São quatrocentas entrevistas realizadas até agora, gravadas, transcritas e catalogadas por nome, país de origem e data de chegada ao Brasil. Trabalho a que se dedica o Núcleo de História Oral Gaby Becker, nascido na Congregação Israelita Paulista e levado para o Arquivo a partir de um convite de Nachman Falbel. O nome homenageia sua primeira coordenadora, falecida prematuramente. Hoje, reúne quinze voluntárias, com Marília Freidenson à frente e Miriam Chanski na coordenação. O Núcleo publicou dois livros: Passagem para a América: A Imigração Judaica em São Paulo e Carta de Chamada. No Arquivo também se reúne o Núcleo de Tradutores do Ídiche da USP, responsável por preservar textos de autores que se perderiam e não chegariam ao grande público como retrato da vida judaica na Europa, em Israel e no Brasil.

O Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (Ahjb) está aberto a consultas de segunda a sexta-feira, das 9 às 12h30 e das 13h30 às 17 horas, com profissionais que auxiliam nas pesquisas Rua Estela Sezefreda, 76, Pinheiros | Fone 3088-0879 | Atendimento on line – consulente@ahjb.org.br

Quando no mundo se nega a Shoá, um grupo de ativistas do Arquivo prova sua autenticidade através do relato dos sobreviventes. São quatrocentas entrevistas realizadas até agora, gravadas, transcritas e catalogadas por nome, país de origem e data de chegada ao Brasil



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magazine > literatura | por Benjamin Ivry *

A história judaica secreta do Dr. Jivago OS COMPATRIOTAS DO POETA JUDEU RUSSO BORIS PASTERNAK (1890-1960) O CONHECIAM MAIS PELAS COLETÂNEAS DE POESIAS, COMO MINHA IRMÃ, A VIDA, E AS TRADUÇÕES DE SHAKESPEARE, CALDERÓN DE LA BARCA E SCHILLER

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o entanto, desde antes dos anos 1920, Pasternak também trabalhava no esboço de um grande romance ao qual já tinha dado o nome de Dr. Jivago que relata as agruras de um médico e poeta, Iuri Jivago, desde antes da Revolução Russa de 1905 até logo depois do início da Segunda Guerra. Pasternak concluiu Doutor Jivago em 1956, e logo virou best-seller e sensação internacional pela crítica sutil à política soviética. Por isso a CIA se interessou nele. No livro The Zhivago Affair: The Kremlin, the CIA, and the Battle Over a Forbidden Book (“O Caso Jivago: O Kremlin, a CIA e a Batalha sobre um Livro Proibido”, 368 páginas, U$26,95), os autores, o jornalista Peter Finn, que escreve a respeito de segurança nacional para The Washington Post, e Pietra Couvée, professora da Universidade Estatal de São Petersburgo, contam que a CIA publicou uma edição em língua russa do romance de Pasternak e a distribuiu aos visitantes soviéticos no pavilhão do Vaticano durante a Feira Mundial de Bruxelas, em 1958. Embora possa parecer uma escolha estranha do ponto de vista de local para distribuir o trabalho de um autor judeu russo, a ideia dessa ação era uma jogada de propaganda contra a União Soviética que proibiu Doutor Jivago porque expressava desilusão com a Rússia pós-revolucionária. Uma anotação de 1956, nos arquivos da KGB, citada por Finn e Couvée, identificava Pasternak como um “judeu [que] não tem uma carteira do partido [Comunista]”, e cujo trabalho foi tipificado como “alienação da vida soviética”. Alguns leitores ficaram ainda mais preocupados com a “alienação” de Doutor Jivago em relação à vida judaica. Pasternak nasceu em uma família judia russa assimilada e o pai era o conhecido pintor pós-impressionista Leonid Pasternak (nascido Yitzhok-Leib Pasternak, 1862-1945). Os tormentos da história moderna convenceram o Pasternak mais jovem que a assimilação total era a única estratégia de sobrevivência para si e os companheiros judeus. Com um olho no cristianismo ortodoxo em busca de proteção e o outro se protegendo do antissemitismo, lê-se em Doutor Jivago a respeito de judeus assassinados na violência antissemita: “A quem interessa esse martírio voluntário?”, escreveu Pasternak. “Ignorar este exército, que está sempre lutando e sendo massacrado, nin-

guém sabe para quê... Diga-lhes: ‘Já basta. Parem agora. Não se prendam à sua identidade. Não se reúnam em multidão. Dispersem-se. Sejam com todo o resto.” Um judeu polonês originário do então império russo se opôs veementemente a esta proposta de correr e se esconder diante da tragédia histórica. Em 1959, o primeiro-ministro de Israel David Ben-Gurion disse à Agência Telegráfica Judaica (JTA, na sigla em inglês) que Doutor Jivago era “um dos livros mais desprezíveis sobre os judeus já escritos por um homem de origem judaica... [É] uma pena que este livro venha de um homem que teve a coragem de desafiar o próprio governo”. Ben-Gurion estava especialmente irritado com o personagem Misha Gordon, amigo de Jivago no romance, que tinha “se convertido ao cristianismo, ousou perguntar por que os judeus não são assimilados”. Ben-Gurion estava certo. Para os leitores de hoje, um dos elementos mais fracos neste romance datado é o nacionalismo russo fervoroso de Pasternak, que pode ser visto como uma substituição da identidade judaica em qualquer sentido autoral. Em um livro de memórias, o historiador anglo-judeu Isaiah Berlin, em visita à casa de campo de Pasternak, concordava em essência com a análise de Ben-Gurion, embora tenha se expressado em termos menos duros. Para Sir Isaiah, esse impulso de Pasternak de ser visto como um escritor ultra-russo tornou-se “particularmente evidente nos sentimentos negativos em relação às suas origens judaicas. Ele não estava disposto a discutir o assunto – ele não estava envergonhado disso, mas não gostava: ele queria que os judeus se assimilassem, desaparecessem como um povo”. Apesar disso, segundo Berlin, Pasternak admitia ter sido influenciado por autores judeus como Heinrich Heine e pelo eminente filósofo judeu alemão do século 19, Hermann Cohen. Sempre interessado em tentar entender as motivações das pessoas, Berlin perguntou a um dos amigos de Pasternak, a poeta Anna Akhmatova, se outros talentos criativos judeus russos entre pessoas de suas rela-


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SABENDO OU NÃO, PASTERNAK TEVE O SEU DR. JIVAGO, LIVRO E FILME, USADO PELA CIA

ções se distanciaram de forma tão firme das raízes. Akhmatova respondeu que Pasternak era um caso único, citando os exemplos do historiador literário Vik-tor Zhirmunsky; da estudiosa Emma Gerstein; e do poeta Ossip Mandelstam, e nenhum dos quais rejeitou o judaísmo da mesma maneira que Pasternak. Essa postura também ofendeu a alguns não judeus: o romancista filossemita Vladimir Nabokov não era admirador de Doutor Jivago, e disse que a obra era uma “coisa triste, desajeitada, banal e melodramática, com situações corriqueiras, advogados voluptuosos, garotas implausíveis, ladrões românticos e coincidências banais”. A aversão de Nabokov pelo romance de Pasternak pode ter sido acentuada pela sugestão de que os judeus devem desaparecer voluntariamente. Já em 1927, Nabokov criticava Pasternak, o bardo, a quem descreveu como “bastante talentoso”, mas acrescentou: “Seu verso é convexo, com bócio e de olhos arregalados, como se sua musa sofresse” da doença de Graves. Nabokov acrescentou que a poesia de Pasternak era “louca por imagens desajeitadas; rimas sonoras, mas literais; e métrica estrepitosa. Sua sintaxe é realmente depravada... É difícil se entusiasmar por Pasternak: ele tem um conhecimento um tanto pobre do russo, expressa pensamentos de modo desajeitado, e o fato de grande parte dos seus versos ser incompreensível não se explica completamente pela profundidade ou complexidade do próprio pensamento”. Embora duras, as objeções de Nabokov podem não estar longe do alvo, pelo menos quando se trata de Doutor Jivago. Décadas depois de toda a propaganda espalhafatosa se evaporar, a narrativa demasiadamente complicada e personagens chamados de vários nomes diferentes tornam ainda mais difícil seguir o enredo. Hoje, Doutor Jivago vale mais pelo caráter épico, ainda que confuso, do que o estilo literário em si, pelo menos nas traduções existentes. Já em 1958, em meio à polêmica em torno

do livro e as questões políticas, o romancista E. M. Forster disse à BBC que Doutor Jivago foi superestimado: “Falta-lhe a solidez de Guerra e Paz. Não acho que Pasternak esteja, realmente, muito interessado nas pessoas”. E os censores soviéticos, sempre interessados nas pessoas, ficaram ainda mais ultrajados quando Pasternak ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1958, embora o comitê sueco da premiação tenha sido suficientemente covarde para não mencionar o nome do livro Doutor Jivago quando Pasternak foi condecorado em público, temeroso de inflamar as tensões internacionais. Para mitificar o livro ainda mais, a adaptação de David Lean, sucesso de 1965, teve a escalação espetacularmente errada de Omar Sharif no papel-título e a música romântica da qual todos se lembram, do compositor Maurice Jarre, Tema de Lara, que ainda hoje assalta os cinéfilos. Depois de ter sido amplamente promovido pela CIA e ser mencionado por críticos e leitores, décadas depois da sua publicação Doutor Jivago ainda provocou novos mitos. Em uma entrevista, em 1995, com o historiador judeu polonês Adam Michnik citado em The Zhivago Affair, o poeta judeu russo Joseph Brodsky afirmou que Doutor Jivago “causou uma onda de conversões para a ortodoxia russa, especialmente entre a intelectualidade judaica”. Embora tomada pelo valor de face por Finn e Couvée, a alegação de Brodsky pode ter sido expressão de pensamento veleitário. De todo modo, até os últimos anos de vida, nas leituras públicas de poesia muitas vezes Brodsky ostentava uma cruz gigante de ouro em volta do pescoço. Bem documentado – ainda que o autor judeu russo Vassili Grossman seja mal descrito como “o jornalista” –, The Zhivago Affair narra uma história complexa, sutil, de um autor cujas traições múltiplas da vida criaram uma cortina de fumaça que camuflou a possível falta de valor artístico duradouro do seu romance. * Benjamin Ivry é um colaborador frequente da Forward

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Para os leitores de hoje, um dos elementos mais fracos neste romance datado é o nacionalismo russo fervoroso de Pasternak, que pode ser visto como uma substituição da identidade judaica em qualquer sentido autoral




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magazine > ensaio | por Berta Waldman *

“K.”, de Bernardo Kucinski O LIVRO DE BERNARDO KUCINSKI É TESTEMUNHO E DENÚNCIA. SE O DESAPARECIMENTO DE SUA IRMÃ – ANA ROSA KUCINSKI – CONSTITUI A MATÉRIA ORIGINÁRIA DO LIVRO, É A VIVÊNCIA DESSA SUPRESSÃO POR PARTE DO PAI – IDENTIFICADO COMO “K.” – QUE COMPÕE O NÚCLEO DA OBRA. UMA ESCOLHA NARRATIVA DIFÍCIL, CUJA MATÉRIA SE DEFINE PELA EXIBIÇÃO DE UM ABISMO, DE UMA VERTIGINOSA NEGATIVIDADE

ESTE É MEIR KUCINSKI CUJA FILHA ANA ROSA A DITADURA FEZ DESAPARECER

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confl ito ao redor do qual se organiza o romance K. alude a Franz Kafka e ao eixo de suas narrativas, que lançam o leitor para a sem-razão de um mundo fantasmagórico; afi nal, o ponto seco do título tem o poder de antecipar o clima de absurdo que atravessa o relato. Mas ao referir o universo sem sentido característico do autor tcheco, K. aponta para o pai do autor e de Ana Rosa, Meir Kucinski, ele próprio ficcionista e especialista no idioma ídiche, que é quem protagoniza o processo de busca da fi lha e do genro, desaparecidos durante a ditadura civil-militar. O movimento permanente do pai idoso na busca do paradeiro do casal mantém o romance em suspensão, como que paralisado em um ponto que não apresenta uma saída possível. Isso porque embora seja permanentemente referido o casal não aparece em nenhum momento. Como estão mortos desde o início, a narrativa os mantém num ponto cego e semeia um vazio escavado devagar e sempre, gerando uma angústia crescente no leitor, impossibilitado de se sustentar sobre qualquer ilusão relativa à sobrevivência do casal. O caminho vai sendo minado porque não sé impossível enxergar nenhuma perspectiva positiva, alguma luz, num texto paradoxalmente composto e escrito de forma límpida. Desse modo, o ponto de vista que organiza a narrativa equilibra-se numa espécie de ponto de cegueira responsável pelo sentido último do que lemos. Mas simultaneamente com o ponto cego, o livro ilumina diferentes pontos de vista, que perfazem os diversos segmentos da ditadura civil-militar no Brasil, trazidos à tona pelos caminhos da busca do pai. São esses rumos, independentes entre si, que dão substância à matéria a respeito da qual o livro se ocupa e cujo ponto central é o desaparecimento de Ana Rosa e Wilson Silva, em abril de 1974. Além de militante política, Ana Rosa era professora doutora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo e, devido ao seu desaparecimento, foi demitida por “abandono de emprego”. Trata-se de um lamentável episódio da história da USP, pelo qual a instituição pediu desculpas tardias, sem, contudo, identificar os responsáveis pela torpe medida. Depois de cerca de dez dias sem receber um telefonema da filha que costumava chamá-lo semanalmente, o pai estranha a quebra de hábito, telefona para ela, mas não a encontra. Aí começa o processo de busca, justo no capítulo intitulado “Sorvedouro de pessoas”.[1] Ela não está em casa, não atende ao telefone, está ausente do trabalho. K. começa a se preocupar. Em busca de sinais da filha, ele percorre caminhos estranhos e desconhecidos, enquanto vão se iluminando fragmentos da vida dela, que nem sequer imaginava: a militância política clandestina, o casamento, novos ami-


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gos, as fotos com a família do marido, as viagens para o interior, onde se juntava a novos parentes e amigos. A ausência da filha, em vez de afastá-la, aproxima-a do pai, na medida em que ele fica sabendo de coisas das quais nem desconfiava. O paradoxo trágico desse desencontro é que ele é também um encontro, uma revelação, no entanto tardia; já morta, o pai vê a filha de corpo inteiro. A saga do velho pai segue os caminhos do bom senso: dar queixa na Seção de Desaparecidos da Secretaria de Segurança do Estado, consultar advogados, ir à casa do Padre Chico, buscar conhecidos na polícia, no exército, no SNI, no Instituto Médico Legal, seja onde for “dentro daquele sistema que engolia pessoas sem deixar traços”[2] . Obcecado, o pai passa a contar a todos o desaparecimento da filha, ampliando suas consultas e fabulações. Vai inclusive à reunião convocada pelo arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, para contar a sua história e ouvir a de outros desaparecidos políticos, todos querendo enterrar seus mortos. K. tudo ouvia, espantado. Até os nazistas, que reduziam suas vítimas a cinzas, registravam os mortos. Cada um tinha um número, tatuado no braço. A cada morte, davam baixa num livro./.../Não havia a agonia da incerteza. Eram execuções em massa, não era um sumidouro de pessoas.[3] O inferno da busca passa pelo caminho vil e obsceno dos informantes da polícia, espias, um rabino, um dirigente da comunidade judaica no Rio de Janeiro, todos que, supostamente, mantinham contatos com generais. Em certo momento, a realidade se impõe definitiva: o casal era militante da resistência e ambos foram sequestrados, torturados e assassinados. Na última etapa da busca, K. dirige-se a um quartel que conhecia há mais de cinquenta anos. Nunca imaginou que um dia o visitaria, levando cigarros e chocolates para os presos políticos. Esse quartel, antes uma pequena guarnição, era passagem de K. e seu irmão mais velho, quando recém-chegados a São Paulo e mascateavam mercadorias a prestação. Enquanto caminha pela prisão, K. rememora o tempo da sua própria prisão na Polônia, quando o arrastaram acorrentado pelas ruas de Wloclawek, para humilhá-lo publicamente. Lá participara da fundação de um partido sionista de esquerda, motivo de seu confinamento. Numa dobra de memória, o velho vê-se a si mesmo preso na Polônia e sua mãe lhe trazendo as comidas de Pessach. Voltando ao presente, os presos armam um círculo com cadeiras e K. senta-se à frente. Começa a contar a história da filha, mas não tem mais energia; começa a soluçar, tenta distribuir os pacotes, mas cai. Os presos o levam a outra sala e o deitam, e ali seus olhos se cerraram. A busca do velho K. chega ao fim. Mas não o livro, que inclui, a modo de fecho, a “Mensagem ao companheiro Klemente”, sucessor de Carlos Marighella na direção da ALN (Ação Libertadora Nacional), um dos principais grupos de luta armada contra a ditadura militar. Nessa mensagem assinada por Rodriguez, revela-se uma avaliação do movimento que inclui discordância em relação à afirmação de Klemente

ao grupo de Paris segundo a qual a “Organização” não existe mais. Rodriguez afirma que para a repressão a “Organização” sim, existe, pois continua capturando companheiros e, os que caem, somem. Mas, se a luta está perdida, por que se deixarem liquidar pela ditadura? Em síntese, a mensagem contém um elenco de discordâncias e de erros e sugere a necessidade de por fim à luta armada. Se a luta tivesse sido suspensa em tempo, vidas teriam sido poupadas. Além disso, segundo se diz, os companheiros teriam incorporado o método de terror da própria ditadura, executando, por exemplo, aqueles que falaram sob tortura, como se fosse possível julgá-los traidores. O livro fecha com a revelação da armadilha que se montou para não liberar os que se uniram na luta contra a ditadura, conduzindo-os, dessa maneira, para a morte certa. Longe de qualquer tratamento maniqueísta, neste livro a vilania dos regimes de opressão não se contrapõe de modo absoluto aos revoltosos. Entre os dois polos formam-se as “zonas cinzentas” de que falava Primo Levi em Os Afogados e os Sobreviventes[4], aquela região difusa do Lager, em que o prisioneiro se deixava “envolver” pelas negociações com os alemães. Mas se é impossível discernir de modo absoluto as forças opostas, é certo que elas não se equivalem. Ou como disse o próprio Primo Levi, quando trata da analogia paradoxal entre vítima e opressor “os dois estão na mesma armadilha, mas é o opressor, e só ele, quem a preparou e a fez disparar...”[5] Com o livro K., defrontamo-nos com uma experiência na qual a assim chamada realidade é revelada na forma de um abismo, marcador da ausência irremediável do corpo da filha que ali deveria estar, para que o curso da vida tivesse um sentido. Mas, além do testemunho de um período terrível da nossa história, este livro também pode ser considerado a tão almejada lápide de Ana Rosa. * Professora doutora aposentada da área de língua hebraica, literatura e cultura judaicas/ USP

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O livro ilumina diferentes pontos de vista, que perfazem os diversos segmentos da ditadura civil-militar no Brasil, trazidos à tona pelos caminhos da busca do pai. São esses rumos, independentes entre si, que dão substância à matéria a respeito da qual o livro se ocupa e cujo ponto central é o desaparecimento de Ana Rosa e Wilson Silva, em abril de 1974


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magazine > curta cultura | por Bernardo Lerer

O ídiche redivivo Depois de vários meses de trabalho, finalmente ficou pronto o livro Árduos Caminhos de Volta, coletânea de 21 contos escritos em ídiche e em Israel e cujos autores imigraram para a então Palestina, ao conseguirem escapar aos horrores da Shoá. Em comum entre os autores, o fato de todos terem nascido em países do leste europeu e nos primeiros anos do século passado, o que explica a contemporaneidade com as duas guerras mundiais. O livro foi organizado por Genha Migdal e Gabriel Steinberg e traduzido para o português pelo grupo de tradutores do ídiche da USP. Os textos variam do emotivo ao divertido e o conteúdo narra o mundo vibrante de um povo que sobrevive à tragédia e inicia uma nova vida em Israel. Esses escritores vivem a realidade de um país a quem lhes cabe construir e onde a língua hebraica, tornada oficial, simboliza o renascimento nacional. Por isso, enquanto adotavam a língua que os remetia ao passado das glórias do período bíblico e idioma da pátria nova pátria judaica, escolheram o ídiche para narrar o passado recente e dos ancestrais remotos como que antevendo a possibilidade de, algum dia, uma das línguas judaicas mais importantes da secular Diáspora, desaparecer. Tanto quanto literatura no seu estado mais puro, o livro reúne conhecimento e informação, escritos com o rigor da verdade por quem viveu os episódios narrados. Os tradutores do grupo são Ada Dimantas, Cilka Thalenberg, Dina Lida Kinoshita, Edith Gross Hojda, Elisa Caner, Esther V. Terdiman, Genha Migdal, Helena Bursztyn, Israel Granatowicz, Mendel Lustig, Moisés Worcman, Raquel Szafir, Samuel Belc, Sandra Meneguetti e Sarita Rawet.

Testemunha ocular Fiszel Czeresnia nasceu em 1923, em Stopnica, vilarejo no centro sul da Polônia devastada pelos nazistas e que hoje tem menos de dois mil habitantes. Morreu em fevereiro último, aos 92 anos, e viveu para contar aos netos em um livro e a quem interessar possa, que foi testemunha do nascimento de Israel, em maio de 1948, quando saiu às ruas de Tel Aviv como mais um na multidão saudando o novo Estado. Em janeiro daquele ano foi de navio, de Santos, à ainda Palestina, aonde chegou, em março, para um curso de formação de líderes da Diáspora, num período de conflitos contra árabes e ingleses ao mesmo tempo. Voltou ao Brasil pouco depois, pôs em prática o que aprendera em Israel e se tornou um dos mais influentes, dedicados e destacados líderes comunitários, cujos conselhos e assessoria todos os dirigentes queriam, e sem desapontar a nenhum deles. Czeresnia era suficientemente importante para aparecer em quase todas as fotos com personalidades judaicas daqui e de fora. Era um homem de lealdade extrema, o confidente político que muitos gostariam de ter e um abnegado combatente da liberdade e dos direitos humanos. Nos últimos tempos, doente, pouco aparecia, mas enquanto conseguiu andar e se comunicar com as pessoas, chamava os mais próximos para conversar. Valia qualquer assunto, de preferência aqueles que envolviam os judeus. Nos últimos anos, quando me encontrava, era só estímulo: “Vá em frente. Você e teu pessoal estão fazendo da Hebraica uma revista muito importante. Só não vê quem é cego.”


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Dr. Spock era judeu... Nos dias seguintes à morte de Leonard Nimoy, o dr. Spock do seriado “Jornada nas Estrelas”, aos 83 anos, crianças e senhores pais posavam em fotos fazendo a saudação do planeta Vulcan, a mão espalmada para a frente com os dedos anelar e mindinho fazendo uma espécie de “V” com os dedos médio e indicador. Mas não era nada disso: tratava-se da representação da letra hebraica shin, muito comum na cerimônia de bênção dos cohanim, nas festividades de Rosh Hashaná e Iom Kipur. O gesto surgiu a pedido do próprio ator que sugeriu ao diretor da série a necessidade de uma espécie de saudação dizendo que os “humanos se cumprimentam, os militares batem continência e os habitantes de Vulcan fazem o quê?” No entanto, ele próprio duvidou que conseguiria fazer o gesto e, para não passar vergonha, ensaiou bastante. Ele contou em um programa de tevê, meses antes de morrer que, em Boston, os judeus eram minoria na cidade e ele trouxe a “cultura do outro” para o seriado e disse ter encontrado valores judaicos na “Jornadas nas Estrelas” como a importância da educação, a dignidade do indivíduo e a justiça social, junto com o conceito de tikun olam, consertar o mundo. “Esta era a missão da nave (Enterprise), solucionar problemas e tornar as coisas melhores”. Ao seguir a carreira de ator, Nimoy desapontou o pai, um barbeiro, que o queria um virtuose do acordeón para tocar em festas de casamento e bar-mitzvá.

...E Nemtsov também... O líder da oposição russa, Boris Nemtsov, morto a tiros no final de fevereiro numa ponte a poucos metros da Praça Vermelha, era filho de mãe judia. A casa dele era em Bolshaya Ordinka, na mesma rua onde funciona a embaixada de Israel. Quando o Congresso Judaico Russo foi criado em 1996 por banqueiros judeus na esteira da Perestroika, Nemtsov já era considerado uma figura pro-

missora que Boris Yeltsin resolveu acolher e proteger e foi convidado para integrar o Congresso. Mas ele declinou, pois segundo a mãe era muito perigoso a comunidade judaica se organizar. Amigos e parentes recusaram a proposta de ele ser enterrado de acordo com o ritual judaico alegando que ele se convertera à ortodoxia (cristã) russa, mas isso revela o temor dos políticos russos de ascendência judaica, sejam partidários ou opositores de Putin, de expressar abertamente o judaísmo. E, para isso, escondem as origens atrás da fachada de uma conversão religiosa. No entanto, esses eventos ainda estão longe dos tempos da Inquisição, da Alemanha do século 19 ou da atitude do famoso escritor judeu Heinrich Heine, que se converteu ao cristianismo como bilhete de entrada para a cultura europeia. Na Rússia atual, altos funcionários do governo que são judeus praticantes escondem essa condição, e os que não são praticantes são assediados por representantes da igreja para serem convertidos à igreja oficial do Estado. Mesmo quem o fizer não terá a garantia de que o pasto do outro lado da cerca será mais verde, mas certamente sempre serão considerados judeus pelos antissemitas que vicejam por lá.

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di re to ria

diretoria > balanรงo


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diretoria > balanço

A SSOCIAÇÃO B R ASILEIR A “A H EBR AIC A ”

DE

S ÃO P AULO

BAL ANÇO PATRIMONIAL EM 31 DE DEZEMBRO DE 2014

A SSOCIAÇÃO B R ASILEIR A “A H EBR AIC A ”

DE

S ÃO P AULO

DEMONSTR AÇÃO DO RESULTADO ECONÔMICO EXERCÍCIO 2014


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conselho deliberativo

CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL

Atualização necessária

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ABRIL

A Mesa Diretora reuniu dez ativistas para trabalhar na Comissão Estatutária encarregada de revisar os Estatutos Sociais e adequá-los às necessidades atuais da Hebraica. Sob a coordenação do ex-presidente Beirel Zukerman, ela conta com Anita Rappaport, Fábio Ajbeszic, Daniel L. Bialski, Fernando Rosenthal, Hélio Bobrow, Jairo Haber, Jayme Widator, Júlio K. Mandel e Samsão Woiler. “São pessoas que militam há vários anos no clube e têm contato com o dia-a-dia da instituição e também com a rotina do Conselho, então podem fazer a junção das demandas de ambos, o que já representa um ponto de partida. Mas queremos a participação do sócio nessa revisão dos Estatutos, afinal, o documento define os direitos e deveres do quadro associativo e as funções do Conselho e diretoria que, em síntese, também trabalham para o associado”, comenta Beirel Zukerman. Para ele, a tarefa de atualizar os Estatutos é uma consequência natural da passagem do tempo e da mudança no perfil do quadro associativo e do papel do clube na vida dos sócios. “Eis por que, desde a primeira edição dos Estatutos, em 1953, foram feitas revisões que incluíram, por exemplo, a redução no número de conselheiros de trezentos para os atuais duzentos”, exemplifica. A Comissão Estatutária quer receber as contribuições dos sócios para que a revisão resulte em um documento que estimule a renovação de lideranças e a ampla participação dos sócios. “Acredito que muitos artigos foram e ainda são benéficos para o clube, como a restrição à reeleição do presidente do Executivo, com gestões de três anos, mas podem existir alternativas a serem estudadas. É por isso que organizamos um sistema de plantão para atrair e facilitar o contato da Comissão com os sócios interessados em colaborar com nosso trabalho. Para se informar dos horários, basta contatar Déborah na secretaria do clube”, conclui Zukerman.

Mauro Zaitz Presidente da Mesa do Conselho

* * * *

3 4 5 10 11 16 23

6ª FEIRA SÁBADO DOMINGO 6ª FEIRA SÁBADO 5ª FEIRA 5ª FEIRA

24

6ª FEIRA

MAIO 7 17 23 *24 *25

JULHO

13 de abril 10 de agosto 8 de novembro (eleições) 23 de novembro 7 de dezembro

Mesa do Conselho

DOMINGO JEJUM DE 17 DE TAMUZ SÁBADO INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO

26

DOMINGO FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO

31

6ª FEIRA

Mauro Zaitz Célia Burd Fábio Ajbeszyc Alan Bousso Vanessa Kogan Rosenbaum Eugen Atias Jairo Haber Silvia L. S. Tabacow Hidal

ANOITECER

SETEMBRO ** 13 ** 14 ** 15 ** 22 ** 23 27 * 28 * 29

OUTUBRO 4

*5 *6

DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA

5

ANOITECER

TU BE AV

VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT

DOMINGO VÉSPERA DE HOSHANÁ RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET - IZKOR SIMCHAT TORÁ

2ª FEIRA 3ª FEIRA

NOVEMBRO

5ª FEIRA

DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN

DEZEMBRO DOMINGO AO ANOITECER, 1ª VELA DE CHANUKÁ DOMINGO AO ANOITECER, 8ª VELA DE CHANUKÁ

2016

JANEIRO 25 27

Presidente Vice-presidente Vice-presidente 1o secretário 2a secretária Assessores

LAG BAÔMER IOM IERUSHALAIM VÉSPERA DE SHAVUOT 1º DIA DE SHAVUOT 2º DIA DE SHAVUOT - IZKOR

5 25

6 13

Reuniões Ordinárias do Conselho em 2015

5ª FEIRA DOMINGO SÁBADO DOMINGO 2ª FEIRA

EREV PESSACH- 1º SEDER PESSACH- 2º SEDER PESSACH-2º DIA PESSACH- 7º DIA PESSACH- 8º DIA IOM HASHOÁ- DIA DO HOLOCAUSTO IOM HAZIKARON- DIA DE LEMBRANÇA DO CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL IOM HAATZMAUT- DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 67 ANOS

2ª FEIRA 4ª FEIRA

TU B’SHVAT DIA INTERNACIONAL EM MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO (ONU)

MARÇO

23 4ª FEIRA JEJUM DE ESTER 24 5ª FEIRA PURIM 25 6ª FEIRA SHUSHAN PURIM

* NÃO HÁ AULA NAS ESCOLAS JUDAICAS ** O CLUBE INTERROMPE SUAS ATIVIDADES,

FUNCIONAM APENAS OS SERVIÇOS RELIGIOSOS




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