sรฃo paulo
ANO LIV
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Mais energia para Israel
HEBRAICA
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palavra do presidente
O Conselho é a voz do associado Já se disse muitas vezes que a Hebraica parece uma cidade com suas praças, alamedas, teatros, escolas, áreas de lazer, de esportes, templos, etc. De fato. E se alguma semelhança há com uma cidade, ela é maior ainda em razão de o clube ter a sua Câmara Municipal, na forma de um Conselho Deliberativo, eleito – como no caso da Câmara – por seu povo, isto é, os associados. A Hebraica realiza eleições para o Conselho Deliberativo a cada dois anos para escolher metade dos seus membros. Esta fórmula sugere a renovação dos quadros e possibilita a que um número cada vez maior de associados participe, se interesse, se preocupe e se envolva com as coisas e as causas da Hebraica, que é propriedade dos sócios e patrimônio da comunidade. O papel do Conselho é muito importante, com direitos e deveres entre os quais destaco: “acompanhar a atuação da Diretoria, encaminhando-lhe sugestões sobre os trabalhos e fazendo as observações que julgar necessárias, constituindo, para tanto, as comissões que julgar convenientes, com as atribuições que lhe forem dadas pelo seu Regimento Interno”. O Conselho Deliberativo é o fórum democrático ideal para a correta gestão dos negócios e dos rumos da Hebraica. Participar do Conselho é um privilégio, pois representa um grupo de associados que votaram nele e é o representante do sócio para defender as suas reivindicações perante o Executivo. Desde o ano passado, uma vez por mês, realizo um encontro com os associados em um “Café com o Presidente” que, neste ano, pretendo promover com os conselheiros e durante o qual poderemos debater os muitos assuntos de interesse da Hebraica. No final deste exemplar da revista, o associado tem à disposição a relação dos conselheiros e as comissões de que participam. Em dezembro haverá novas eleições e, desde já, convido os associados a se inscrever como candidatos e, desta forma, participar mais ativamente da vida e do futuro do clube pelo qual somos todos responsáveis. Afinal, um irmão é responsável pelo seu irmão. Shalom Chag Purim Sameach
Abramo Douek
O CONSELHO DELIBERATIVO
É O FÓRUM DEMOCRÁTICO IDEAL PARA A CORRETA GESTÃO DOS NEGÓCIOS E DOS RUMOS DA HEBRAICA. PARTICIPAR DO CONSELHO É UM PRIVILÉGIO, POIS REPRESENTA UM GRUPO DE ASSOCIADOS QUE VOTARAM NELE E É O REPRESENTANTE DO SÓCIO PARA DEFENDER AS SUAS REIVINDICAÇÕES PERANTE O EXECUTIVO
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sumário
HEBRAICA
HEBRAICA
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Carta da Redação
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Destaques do Guia A programação de fevereiro e março
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60 anos Serviços que a Hebraica oferece para as crianças do século 21
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cultural + social
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Réveillon E o mundo não acabou... Veja como foi a primeira festa do ano
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Solidariedade Ciclistas cruzam o Deserto do Negev em prol do Hospital Alyn
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Chaverim Saiba como ajudar o grupo mais especial da Hebraica
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Galeria de arte André Nehmad mostra a sua visão de Israel
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Basquete Veja o que muda este ano na modalidade
ENTRADA DO SALÃO MARC CHAGALL EVOCOU OS MAIAS
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Cinema Conheça os projetos deste departamento para 2013
Coluna um / comunidade Os eventos mais significativos na cidade
Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade
juventude
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Colônia Este ano o projeto de férias do Hebraikeinu veio mais cedo
40
Adventure Quatro dias inesquecíveis na viagem ao Embu
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Fotos e fatos As imagens mais marcantes do mês
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esportes
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Xadrez Enxadristas do Brasil e da América Latina se encontram na Hebraica
Natação Acompanhe o desempenho dos nossos atletas em Guaratinguetá
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Tênis Novos técnicos, planos e estratégias para 2013
Fotos e fatos As imagens emocionantes do esporte
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magazine
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Capa | Tamar Novas reservas de gás ampliam horizontes energéticos de Israel
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Personalidade A ascensão de Haim Saban, o amigo de Israel nos EUA
68
Jerusalém oriental O processo de “israelização” de estudantes palestinos
Judeus russos Entenda como eles mudaram a essência de Israel
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Noite dos cristais O primeiro pogrom nazista contra os judeus, 74 anos depois
78
Holocausto A transferência de adolescentes judeus tchecos para a Dinamarca
82
A palavra As prováveis raízes babilônicas do livro de Gênesis
84
Lançamento Shoah é relançado pelo Instituto Moreira Salles
86
10 notícias Os destaques do noticiário de Israel por nosso correspondente
88
Costumes e tradições As várias modalidades de banquete na antiguidade
90
Leituras Os destaques do mês no mercado das ideias
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Música Onze lançamentos imperdíveis, do popular ao erudito
94
Com a língua e com os dentes A bruschetta e arte de reciclar na cozinha
96
Ensaio Compreenda o verdadeiro significado da Primavera Árabe
99
diretoria
100
Lista da diretoria Veja quem é quem no Executivo da Hebraica
112
Lista do Conselho Saiba quem são os seus representantes na Hebraica
114
Conselho A participação dos associados na escolha dos representantes
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HEBRAICA
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carta da redação
A história da Hebraica e o gás de Israel Começou na edição passada e vai até o final deste 2013 – que comemora os sessenta anos da Hebraica – a publicação de reportagens a respeito da vida, da história e da memória do clube, tratando das pessoas que o fizeram e do patrimônio material e imaterial que construiu ao longo destes anos. Metade da vida da repórter Magali Boguchwal e a integralidade do seu tempo de profissional estão ligados à Hebraica e, por isso, ela é, possivelmente, a mais qualificada para revolver a arqueologia da instituição e narrar feitos, gestos pioneiros e marcos deixados na história da comunidade judaica de São Paulo. Nesta edição, revela a atenção do clube com as crianças. A capa desta edição é, mais uma vez, de autoria do artista gráfico Marcelo Cipis, que encontrou uma solução feliz para ilustrar a descoberta de gás em águas territoriais de Israel e o início de exploração do poço Tamar, em abril: além de plantar uma bandeira na plataforma, transformou suas torres em uma menorá que expele um gás luminoso. O texto é de autoria de Ariel Finguerman e há uma bem elaborada análise do significado geopolítico desta nova fonte de energia para Israel. No “Magazine”, o editor adjunto Julio Nobre ensina como fazer uma crítica de cinema honesta e correta ao comentar o lançamento dos cinco dvd’s do documentário Shoah, de Claude Lanzmann pelo Instituto Moreira Salles. Há ainda um texto a respeito da israelização de Jerusalém Oriental, as histórias a respeito da Kristallnacht, o pouco conhecido Kindertransport da antiga Tchecoslováquia para a Suécia, o “quem é quem” do bilionário americano Haim Saban que fez a América apenas com a roupa do corpo, e mais, muito mais. Boa leitura – Chag Purim Sameach Bernardo Lerer – Diretor de Redação
ANO LIV | Nº 612 | FEVEREIRO 2013 | SHVAT / ADAR 5773
DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR) FLÁVIO M. SANTOS
DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES EDITORAÇÃO HÉLEN MESSIAS LOPES
ALEX SANDRO M. LOPES
ILUSTRAÇÃO CAPA MARCELO CIPIS EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9º - CONJ. 95
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- SÃO PAULO - SP
DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE
DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES IMPRESSÃO E ACABAMENTO IBEP GRÁFICA
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JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700 OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE
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PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.
calendário judaico :: festas
A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO
MARÇO 2013 Adar | Nissan 5773
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Purim
Fale com a Hebraica PARA COMENTÁRIOS, SUGESTÕES, CRÍTICAS DA REVISTA LIGUE: 3818-8855 CANALABERTO@HEBRAICA.ORG.BR
“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800
BRASILEIRA
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25/3 – Pessach, primeiro Seder 26/3 – Pessach, segundo Seder
EX-PRESIDENTES
SÃO PAULO RUA HUNGRIA,
LEON FEFFER (Z’l)
- 1953 - 1959 | ISAAC FIS- 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTEN-
CHER (Z’l)
BERG - 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 -
1975 | HENRIQUE BOBROW - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS - 1991 - 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | PRESIDENTE ABRAMO DOUEK
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por Raquel Machado
destaques do guia EM FEVEREIRO, VAMOS COMEMORAR O PURIM COM MUITA ALEGRIA E EMPOLGAÇÃO. ALÉM DISSO, NESTE MÊS VOLTAM AS ATIVIDADES CULTURAIS DO
GRUPO FELIZ IDADE, HEBRAICA MEIODIA, COMEÇA O SEGUNDO MÓDULO DO CURSO DE DANÇAS DE SALÃO, E O ATELIÊ HEBRAICA INICIA SUAS AULAS COM CURSOS PARA TODAS AS IDADES, VISANDO DESENVOLVER A HABILIDADE ARTÍSTICA DE TODOS OS ASSOCIADOS. ENTÃO CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DO MÊS, MARQUE NA AGENDA E DIVIRTA-SE MUITO COM TODA A COMUNIDADE
cultura + social 23/2 as 19h e 24/2 as 10h30 na Sinagoga Purim Leitura da Megilat Ester 23/2 Purim Folia
PURIM É NA HEBRAICA
juventude 2/3 Festa Ozneia Bar Das 18h30as 2h00 na “Casa”
24/2 Mega Purim a partir das 11h no Centro Cívico
21h no Salão Adolpho Bloch
Horários do ônibus • Terça a sexta-feira Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45
• Sábados, domingos e feriados Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45
esportes 3 e 17/2 Hebike
23/2 Hebike Trilhas 2013
as 8h30, saída na Rua Angelina Maffei Vita, 450
Trilha em Guararema
• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30
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hebraica 60 anos | serviços | por Magali Boguchwal SAÍDA PARA O ACAMPAMENTO DE VERÃO DO HEBRAIKEINU, COM NÚMERO RECORDE DE PARTICIPANTES
Para as crianças do século 21 A HEBRAICA BENEFICIOU CADA GERAÇÃO DE CRIANÇAS COM O QUE HAVIA DE MELHOR EM EDUCAÇÃO E ENTRETENIMENTO, E COM CONTEÚDO JUDAICO, COMO ATESTAM AS VÁRIAS HISTÓRIAS LEVANTADAS PELA NOSSA REPORTAGEM
D
o momento em que se despediram dos filhos na saída para a machané Kaitz (“acampamento de verão”, em hebraico) do Centro Juvenil Hebraikeinu, começou a espera pelas fotos postadas na página do clube na eterna preocupação dos pais com o bem-estar deles. A machané Kaitz do Hebraikeinu bateu recorde de participantes: 170 crianças saíram em cinco ônibus para o Sítio Ranieri, em São Lourenço da Serra, depois que os pais assinaram as autorizações de viagem e fizeram as últimas recomendações aos filhos na quadra do Centro Cívico. Outro feito inédito nos 23 anos de história do movimento juvenil da Hebraica são as inscrições de setenta chanichim (“orientandos”, em hebraico) do Hebraikeinu IV (15 a 17 anos) na machané. “Este é o último acampamento desse grupo antes de alguns jovens assumirem a condição de madrichim (‘monitores’ em hebraico). Então eles chamaram os amigos que já foram do Hebraikeinu e que, por um motivo ou outro, haviam deixado de frequentar. Imagine começar o ano de 2013 com tantos chanichim!”, exclamava a coordenadora da machané Gabriela Marko. E por que tanta confian-
ça na volta desses “desertores” ao Hebraikeinu? “Vão gostar tanto da machané que, depois, será impossível largar os amigos”, prevê Gabriela. Etimologia O significado da expressão “machané” é bem mais abrangente e amplo do que “acampamento”, em tradução livre. Trata-se de uma atividade dos movimentos juvenis na Diáspora no início do século passado para preparar os prováveis futuros imigrantes à Palestina sob Mandato Britânico na árdua tarefa de instalar os kibutzim e, depois, nos primeiros anos do Estado de Israel. A palavra machané vem do hebraico “leachnot”, que significa “preparar”, “deixar pronto,” etc. Na Europa de antes da Segunda Guerra as machanot eram comuns, e levava os participantes a se isolar da rotina e das facilidades diárias de modo a acostumá-los à vida rústica dos pioneiros. No Hebraikeinu, a machané combina diversão com criatividade e estímulo à ligação com Israel e à cultura judaica. Uma regra instituída desde a popularização dos celulares é que ninguém leva aparelhos eletrônicos para o acam>>
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hebraica 60 anos | serviços CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NO ESPAÇO BEBÊ
Impressões de quem esteve lá Aos 37 anos, o diretor teatral Marcelo Klabin é um exemplo da geração que atuou e se desenvolveu na Hebraica nos anos 1980. Quando o movimento Hebraica Hatzair (“Hebraica Jovem”) acabou, ele se juntou às propostas inovadoras do Centro Juvenil Hebraikeinu. A partir do segundo ano do movimento, foi assistente de madrich, madrich, assistente de coordenação e, finalmente, coordenador do Hebraikeinu e, ao mesmo tempo, também atuava no Departamento de Teatro, onde atualmente dirige o grupo Questão e integra o elenco do musical Rei Leão, que se apresentará no Teatro Abril. A partir da experiência como sócio, ativista e profissional, Klabin considera tudo o que a Hebraica oferece para o púbico até os 18 anos. “Eu incluo tudo, isto é, a Escola de Esportes, danças, tudo. É cumplicidade, algo que não se aprende, mas se adquire enquanto se divide um espaço, se partilha um brinquedo. É o que a Hebraica dá às novas gerações e dificilmente se adquire em outros locais”, afirma. Casado e pai de Gabriela, de 7 anos, e Léo de 3, ele conta com a Hebraica para complementar a vivência judaica das crianças. “Eles não estudam em escola judaica, mas frequentam o Hebraikeinu e quando voltam no sábado com uma chanukiá feita com os amiguinhos e eu conto uma história de Chanuká, sinto que estão bem e terão justamente essa cumplicidade de que falei há pouco”, observa. Indagado sobre a sensação de ter enviado Gabriela para a primeira machané, ele se declara dividido. “Estou feliz de ela ter ido. Vai adorar. Mas mesmo tendo sido madrich e saber que está bem, não deixo de ter saudades e desejar que o tempo voe e ela volte para perto de mim”, admite.
>> pamento. O contato externo é feito pelos madrichim, que diariamente vão à cidade mais próxima postar fotos e enviar notícias aos pais saudosos. “É uma forma de evitar a dispersão e manter a atenção das crianças nos acontecimentos da machané. No final, entregamos as fotos e músicas num cd ou um pen drive como lembrança”, completa Gabriela. Outras atrações Em janeiro, as alternativas para as crianças foram muito além da machané, pois quatro colônias – Hebraikeinu, Escola de Esportes, Ateliê e Espaço Gourmet de Férias – atenderam às diferentes expectativas dos pais e das crianças. Quem preferiu somente frequentar o clube teve o Espaço Bebê, a Brinquedoteca e os playgrounds (parquinhos) para se divertir nas poucas semanas antes de mais um ano letivo. A colônia de férias é uma das atividades infantis organizadas mais antigas do clube. É anterior, inclusive, à criação da Escola de Esportes que mais tarde assumiu-a. A primeira colônia ocorreu no recinto do clube. A partir dali, a cada seis meses se acrescentava ao menos uma nova modalidade e as famílias aplaudiam. “Era tudo muito diferente”, lembra Paulina Burd, cujos filhos frequentavam a Escola Maternal e nos finais de semana brincavam no clube. “Nos anos 1970, só havia o parquinho e a piscina para adultos e a infantil. Durante a semana, funcionavam a Escola de Esportes e a Escola Maternal. Algumas mães se reuniam e faziam piqueniques numa área gramada do clube. Cada uma trazia um prato e as crianças brincavam o dia inteiro”, suspira. “Era uma época de muito mais presença dos pais e menos babás cuidando dos pequenos”, constata. Enquanto cresciam, os filhos de Paulina utilizaram as quadras e brincaram em uma pista de patinação anterior à cria-
ção do Centro de Juventude. Os interessados podiam se integrar a um grupo de teatro, praticar dança folclórica, assistir a sessões de cinema infantil ou ir à Biblioteca. Ao longo dos anos, o espaço da Hebraica foi sendo ocupado por serviços criados pelas demandas das famílias. Assim foi com o Olami, concebido para dar noções de judaísmo aos alunos de escolas fora da comunidade. Tempo houve em que bastava um berçário para amamentar e fazer a higiene dos bebês. Hoje, o clube oferece dois playgrounds com brinquedos específicos para cada faixa etária. Estímulos e desafios Criado há 23 anos, o Centro Juvenil Hebraikeinu se consagrou como o mais bem-sucedido movimento juvenil do clube. Além das machanot, aos sábados
oferece atividades em tempo integral durante as quais crianças e jovens de 2 a 17 anos se divertem e vivenciam valores humanos e judaicos. A história de milhares de sócios foi enriquecida pela formação dada pela Oficina das Artes – hoje transformada no Ateliê Hebraica –, Escola Maternal e Infantil e Escola de Esportes. Mais recentemente, foram criados o Espaço Bebê, a Brinquedoteca e o After School, nos quais há condições para a prática contemporânea de lidar com o público infantil. O objetivo da Brinquedoteca é abrigar e entreter crianças entre 2 e 8 anos, principalmente quando condições climáticas impedem brincadeiras ao ar livre. Chova ou faça sol, abre diariamente, sábados inclusive, domingos e feriados, oferecendo brinquedos e atividades que complementam a fantasia e a criatividade dos pequenos.
Com pouco mais de três anos, o After School ainda é único no gênero entre os clubes esportivos e recreativos. São duas estruturas básicas: uma, destinada a apoiar crianças de 6 a 14 anos na lição de casa e, outra, restrita aos momentos em que os usuários não estejam ocupados com estudo ou outras atividades no clube. Numa ampla sala, as crianças escolhem jogos tradicionais, de mesa ou jogos eletrônicos em console ou nos computadores. Monitores do After School auxiliam nas tarefas escolares e acompanham os jogos. Dois outros serviços oferecidos pelo After são o curso de inglês em parceria com o Alummni e o de Tradição e Cultura Judaicas, com a professora Sarita Saruê. Hoje os jovens pais se valem do apoio do Espaço Bebê, que oferece sessões de contação de histórias, música e outras formas de estímulo desenvolvidas para
MARCELO KLABIN COM A PEQUENA GABRIELA NA SAÍDA DA MACHANÉ KAITZ
a faixa até 2 anos. As futuras mamães se familiarizam com o espaço durante a gestação, nas aulas de yoga especializada. As normas do Espaço Bebê contrariam, de certa forma, a visão de Paulina Burd, expressa parágrafos acima, a respeito da presença dos adultos junto às crianças. A idealizadora do Espaço Bebê Talita Prynger diz que “se não estiver acompanhada de um cuidador a criança não entra, e nesses três anos nossa equipe percebeu o esforço que mães, pais e até avós fazem para partilhar os momentos passados com os bebês”. À medida em que se desenvolvem, as crianças ganham opções e núcleos com profissionais de alto nível para o aprendizado de balé, teatro, música, artes e esportes. As quadras esportivas e a sala de internet são as áreas mais frequentadas pelas crianças nas horas livres.
Com a entrada em funcionamento da Escola Antonietta e Leon Feffer, dobrou o número de crianças que utilizam os serviços do clube e a Hebraica desenvolve estratégias para acomodar e atender à crescente demanda por estímulos e desafios da geração que já nasceu no século 21. O excesso de tecnologia preocupa Talita Pryngler, do Espaço Bebê. “Jogos eletrônicos, smartfones, tablets priorizam o desenvolvimento visual e auditivo, restringem o contato humano e a descoberta do ambiente da criança. É como se nossas crianças fossem bidimensionais e não tri. No papel de mãe de uma menina de 2 anos, estou cada vez mais convencida da importância do brincar livre, das danças de roda e da brincadeira no parquinho que era tão importante para as crianças em todo o século 20”, conclui. >>
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Ela viu mais de uma geração sair das fraldas NILZETE BORGES TRABALHA NA ESCOLA MATERNAL E INFANTIL HÁ 35 ANOS E É A FUNCIONÁRIA MAIS ANTIGA EM ATIVIDADE NO CLUBE, COM UM REPERTÓRIO DE HISTÓRIAS QUE ABRANGE ATÉ TRÊS GERAÇÕES DA MESMA FAMÍLIA DE ASSOCIADOS
P
ouca gente sabe o seu nome verdadeiro. Logo nos primeiros dias de aula na Escola Maternal ela se torna Nil, a fada madrinha que mantém os pequenos limpinhos e alimentados, condições essenciais para aproveitar cada minuto na sala de aula. “Muitos adultos que me encontram na Hebraica se lembram de mim e se admiram por eu ainda trabalhar na escola. Outros ficam contentes ao saber que eu levarei os filhos deles ao banheiro infantil, da mesma forma que os levei há muitos anos”, conta Nil. Ela tem 52 anos, trabalha há 35 na Escola Maternal que existe há 44 anos e se orgulha de ter começado como servente e aos poucos assumir a função de atendente de classe. “Não trabalhei na sede original, perto de onde hoje fun-
ciona a Brinquedoteca. A escola que conheci era pequena e próxima da portaria da rua Ibiapinópolis, por onde entravam as trinta crianças, e agora são mais de duzentas. Pegado à entrada havia um bar e um grande playground, onde hoje é a Pista de Atletismo. Eu cheguei a trabalhar na perua que levava e trazia os alunos. Na época, a idade mínima era 2 anos e tínhamos três salas, ateliê e espaço para os professores. Olhe como cresceu”, comemora, apontando para o atual local de trabalho. Nilzete tinha 18 anos quando conheceu a primeira coordenadora da Escola, Sima. “Depois vieram Matilde, Ester, e agora a Belinha dá conta do recado. Além delas, sempre havia uma psicóloga na equipe e uma morá (‘professora’, em hebraico) de música. Lembro bem
As mães resolvem Paulina Burd era uma entre as mães dos cerca de trinta alunos da Escola Maternal em meados da década de 1970. “Formávamos um grupinho que ficava no clube enquanto as crianças estavam em classe. Quando a coordenadora, que também era professora, casou e mudou de cidade em pleno ano letivo, decidimos organizar a escola. No início do ano letivo, a diretoria pediu que uma de nós assumisse a coordenação formal da escola e nos dois anos seguintes fui a coordenadora. Deixei a escola porque o Ministério da Educação tornou obrigatório o diploma de pedagogia para o cargo de coordenador de escola. Essa experiência na Escola Maternal me motivou a prestar vestibular e cursar a faculdade de pedagogia.”
das aulas de música com a Regis Karlik”, lembra a atendente. Além dos muitos amigos, Nil conheceu o marido que, à época, também era funcionário do clube. “Hoje ele trabalha em uma construtora, no Butantã. Meu filho tem 19 anos e o que aprendi trabalhando na escola foi útil para ajudálo a crescer. Com um ano e meio ele largou as fraldas porque segui os procedimentos que aplicávamos com os alunos. Hoje ele estuda recursos humanos na faculdade”, conta com orgulho. Às vésperas de mais um ano letivo, está cheia de expectativas e de trabalho. Ela e as outras atendentes de classe e serventes organizam o espaço aproveitando o recesso da equipe pedagógica. “É preciso deixar tudo pronto para a chegada das crianças. Limpamos os sinais deixados pela turma do ano passado e as salas ficam como novas para receber os pequenos do Maternal I”, explica Nil. “Detesto ver a escola vazia, mesmo quando pintam e fazem melhorias para receber as crianças. Aprendo rápido o nome e o jeito dos novos alunos. Hoje as crianças chegam à escola mais independentes e se interessam menos por bonecas ou carrinhos, mas o parquinho sempre foi o local predileto na escola. Até os que lá não estudam querem brincar”, afirma Nilzete. “É comum recebermos gêmeos e logo diferencio uma criança da outra. Já tivemos até trigêmeos na escola – Gabriela, Lorena e Alberto, agora já bem grandinhos”, informa. Tanto quanto o sorriso e o brilho dos olhos, Nil traduz em palavras o apego ao trabalho. “Sinto-me realizada. Adoro o que faço. Uma das nossas ex-alunas será professora este ano... Imagine a emoção. Atualmente, a escola aceita crianças a partir de um ano e pouco e logo aprendem a falar. Nunca deixo de me emocionar quando ouço elas dizerem ‘Nil, quero a mamãe, você chama ela prá mim?’ Depois o tempo passa e as vejo crescidas dizendo para os filhos, maridos ou namoradas que fui sua primeira babá! É muito bom isso”, conclui.
NILZETE COM A ALUNOS DO MATERNAL NOS ANOS 1980
Uma escola que evoluiu A Hebraica inaugurou a Escola Maternal em março de 1969 para atender a crianças de 2 a 4,5 anos. A iniciativa foi da ativista Ida Portnoi (z’l), incentivada por José Knoplich, cuja mulher, Gilda, foi nomeada diretora voluntária. Com esse novo departamento, a Hebraica abraçava uma causa que nunca deixou de ser polêmica: a da defesa da escola judaica. Era defendida por Ida Portnoi e José Knoplich, que viria a presidir a Federação Israelita do Estado de São Paulo, anos mais tarde. Na ocasião, o rabino Menachem Diesendruck, convidado para a cerimônia da colocação da mezuzá, afirmou: “O trabalho de vocês só terá valor se encherem o espaço entre essas quatro paredes de judaísmo, e não existe forma mais correta de fazê-lo, do que por meio de uma escola para crianças”. Corria a gestão do presidente Jacob Kaufman (z’l) e a escola iniciou as atividades logo no dia seguinte em um recinto erguido especialmente para receber os primeiros quinze alunos inscritos. O conselho do rabino foi seguido, pois à medida que crescia e estruturava classes de jardim da infância e minimaternal, a filosofia da escola foi sempre a de orientar as famílias a continuar a formação dos filhos no âmbito de um sistema educacional comunitário depois do que ficou conhecido como pré-escola.
PROFESSORA E ALUNOS DA ESCOLA MATERNAL NOS ANOS 90 Os milhares de crianças que frequentaram a Escola nos últimos 43 anos tiveram contato diário com o calendário judaico e os significados e valores de cada festa. Mesmo com a incorporação de novas metodologias ao currículo, a área de hebraico sempre teve a mesma importância que as outras disciplinas. E o sonho de Ida Portnoi se realizou com a implantação da Escola Antonietta e Leon Feffer que oferece uma opção lógica para a formação dos pequenos que concluem o Infantil III na Escola Maternal e Infantil da Hebraica.
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3.
1. BUFFET
SELF-SERVICE FOI ASSITULMANN; 2. SÔROCHWERGER, PRESIDENTE ABRAMO DOUEK, BERTA DOUEK E A BANQUETEIRA LIA TULMANN; 3. DIRETORIA REUNIDA FAZ UM BRINDE A 2013; 4. PISCINA DE NADO POR LIA NIA
O PERFORMER HÉLDER MOREIRA ARRANCOU SUSPIROS FEMININOS
BOLINHAS MONTADA NA ÁREA DE
Como o mundo não acabou...
RECREAÇÃO INFANTIL;
A
pecial para assistir a um vídeo e tirar uma soneca antes de voltar para casa. O Buffet Lia Tulmann Gastronomia montou um cardápio especial para a festa das crianças que teve brigadeiro de colher como sobremesa. Para os adultos, o serviço deixou a cargo de cada um a ordem dos pratos: um exército de garçons serviu primeiro o chamado banquete de entrada, que ficou à disposição dos convidados até o final da noite. Em seguida, o banquete de jantar, de modo a que era possível repetir um ou outro, à vontade, mesmo depois da sobremesa. Quando o cantor Hélder Moreira saiu do camarim, trazendo músicos e dançarinas, o público feminino se agitou. Voz, gestual e figurino trouxeram o ro-
mantismo dos anos 60 e o carisma de Elvis Presley ao palco do Salão Marc Chagall. Estimulado pela resposta do público, Hélder/Elvis circulou entre a plateia e antes do número final distribuiu écharpes vermelhas que ala feminina disputou como se fossem do próprio Elvis. O brinde de ano novo foi um momento cheio de emoção e alegria, com um desejo mútuo de saúde e fartura em 2013. Embalados pela banda Sunday, os adultos permaneciam longos períodos na pista, de forma que ficava difícil ver os desenhos no chão. A noite transcorreu animada até o cafezinho final. Ao deixar o salão, cada família levou de lembrança uma foto tirada no primeiro dia do novo ano. (M. B.)
PISTA
JETADAS NO PISO, MAS NEM DAVA PARA VÊ-LAS DE TÃO LOTADA...
MÚSICA, COMIDA E ANIMAÇÃO FORAM OS INGREDIENTES PRINCIPAIS DO RÉVEILLON NA HEBRAICA. DO BEBÊ AO CASAL MAIS IDOSO, TODOS ENCONTRARAM MEIOS E MODOS DE FESTEJAR A PRESERVAÇÃO DO MUNDO mbientado no que se presume ser o estilo arquitetônico maia, o Salão Marc Chagall recebeu 540 pessoas no bem-humorado Réveillon “E o Mundo Não Acabou”. Para a despedida de 2012 e a recepção a 2013, paredes, palco e convidados exibiam predominantemente as cores branco e dourado em contraste com a pista interativa, inovação tecnológica nunca prevista pelos maias. “As crianças estão fascinadas pelas imagens projetadas no chão e quase não querem brincar na área infantil”, observou uma jovem mãe. A área em questão, destinada às crianças, no mezzanino, oferecia atividades de todos os gêneros – jogos eletrônicos e de mesa, móveis, bonecas e um cantinho es-
5. A
DE DANÇAS TEVE IMAGENS PRO-
4.
5.
22 HEBRAICA
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HEBRAICA
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cultural + social > solidariedade
OS “CICLISTAS DO AMOR” CRUZARAM O DESERTO DO NEGEV EM PROL DAS CRIANÇAS ATENDIDAS PELO
HOSPITAL ALYN
Brasil pedala no Wheels of Love OITO BRASILEIROS PERCORRERAM DURANTE CINCO DIAS O DESERTO DO NEGEV, NO CIRCUITO WHEELS OF LOVE (“RODAS DO AMOR”), EM PROL DE CRIANÇAS JUDIAS E ÁRABES EM ISRAEL ATENDIDAS PELO HOSPITAL ALYN
N
o final de 2012, o circuito Wheels of Love comemorou seu bar-mitzvá (décimo terceiro ano) num percurso a partir de Arad, no sul de Israel, com cinco diferentes rotas: off road, off road enduro, on road, desafio na estrada e touring (combinado de meio dia de equitação e meio dia de bicicleta).
É a segunda vez que Gilberto Lavitez e Luiz Grossman participam. A eles se juntaram Bernardo Segal, os três do HeBike da Hebraica, Hélio Malagoli, Regina Ueti, Núria Casadevall e o técnico Joselito Oliveira, do grupo Metz, motivados pelos companheiros de pedalada do clube nos fins de semana. Em Israel,
Alexandre Benedek juntou-se ao grupo, que teve a presença logística do voluntário David Meron, incentivador da participação brasileira no circuito quando atuou como cônsul dos Estados Unidos em São Paulo. A emoção tomou conta de novatos e experientes desde o primeiro momento. Os ciclistas do Metz chegaram a Israel uma semana antes, contrataram um guia e conheceram o país como turistas. “Era um sonho, desde a adolescência, conhecer Israel”, contou Malagoli, entusiasmado com o que viu. A eles juntouse a turma do HeBike para a semana de convivência com os mais de oitocentos ciclistas de diferentes regiões, religiosos com suas barbas esvoaçando, moças pedalando de saias compridas ao lado de
jovens e adultos usando roupas esportivas coloridas, alguns com bandeiras dos seus países. Segal, entusiasmado com a primeira participação, conta detalhes da viagem. “Li a reportagem sobre a corrida na revista Hebraica. Contatei o Gilberto e o Luiz Grossman e como ainda não pedalava tive a orientação de qual bicicleta comprar, equipamento e vestuário apropriados, treino a fazer e a viagem em si. Fiquei apavorado antes de ir, nunca tinha feito algo semelhante na vida. Mesmo viajando várias vezes a Israel nos últimos três anos, essa semana foi incrível, conheci o país e os israelenses de forma diferente, gente envolvida com uma causa.” “O trajeto foi mais difícil este ano, era
o que chamamos de ‘percurso técnico’, porém a adrenalina estava em alta”, conta Lavitez, o Giba. “As rajadas de vento no primeiro dia eram contínuas e pedalávamos como bêbados, em zigue-zague e, no segundo dia, tivemos a chuva com direito a um arco-íris ligando o céu e a areia, seguida de mais dois dias de garoa, o que é algo raro no deserto.” O acampamento preparado para a parada dos ciclistas teve risco de inundação e, em duas horas, o pessoal de apoio da prova mudou a rota para um moshav, recebendo os ciclistas em tendas improvisadas, colchonetes, banho quente e a refeição pronta. Este foi um dos imprevistos. Outro aconteceu em Beer Sheva. À noite, os foguetes vindos de Gaza atravessaram o céu e os ciclistas se assustaram. A festa de confraternização acabou mais cedo, orientações foram dadas pelo microfone para que os ciclistas se dirigissem para as escadarias localizadas no centro do prédio de alojamento, que servem como bunkers. Segal ficou impressionado com a calma dos israelenses: “Confio nas IDF”, disse um deles. E Segal ficou fã das Forças de Defesa de Israel. Preocupadas durante a noite, Regina e Núria pegaram as bikes e continuaram o percurso na manhã seguinte. Mesmo com a emoção da chegada no passeio anterior, Luiz e Giba ficaram tocados mais uma vez. “Após cinco dias no deserto, subir o trecho Tel Aviv-Jerusalém já é um prêmio. A paisagem verde, as pedras, tudo é lindíssimo. E ver quase oitocentos ciclistas pedalando pelas ruas de paralelepípedo da Cidade Velha de Jerusalém e o povo aplaudindo, é uma emoção muito forte, que fica completa com a chegada à festa de encerramento, as crianças e as famílias aguardando para a entrega das medalhas no Hospital Alyn”, relembra Giba. Para o grupo, pedalar e se divertir, mesmo com todos os percalços, ter de se superar durante cinco dias e contribuir para o trabalho do Hospital Alyn foi uma lição inesquecível. Esse pessoal já está em ritmo de preparação para o XIV Wheels of Love, que percorrerá o norte do país. Envolvidos
pelo alegre espírito brasileiro, o próximo passo é motivar outros ciclistas a irem a Israel e participarem dessa rota que une a aventura e o amor ao próximo. Em prol do Hospital Alyn O Hospital Alyn, em Jerusalém, é um centro de reabilitação multidisciplinar para crianças e adolescentes que sofrem de doenças congênitas ou adquiridas, incluindo traumatismo craniano, ferimentos em estradas, em ataques terroristas e a recuperação pós-cirúrgica de tumores benignos ou malignos. É uma instituição sem fins lucrativos, os leitos são ocupados por pacientes vindos de Israel e das regiões próximas, sem distinção de cor ou credo. Os patrocínios e as colaborações ao Wheels of Love são importantes para o atendimento hospitalar, considerado de ponta no país. Wheels of Love nasceu em 1999, com nove ciclistas israelenses que partiram de Jerusalém para Eilat, inspirados pelas crianças do Alyn. No fim do passeio, eles receberam inúmeros e-mails, telefonemas e cartas de crianças atendidas e familiares, que repassaram para amigos e colegas de trabalho pedindo apoio a esse novo projeto de doações para o hospital. O resultado foi fantástico e, treze anos depois, Wheels of Love recebeu doações de quase mil pessoas entre ciclistas e voluntários de todo o mundo, que se preparam a cada ano para participar desse encontro. Amizades internacionais são criadas e a troca de e-mails se estende de um encontro até o seguinte. Muitos participantes promovem campanhas em seus círculos de amizade, permitindo a contribuição de quem não viaja com pequenas somas que perfazem o total levado pelo ciclista para o Alyn. Em 2011, eram quatro os ciclistas do Brasil; em 2012, foram oito, que pretendem dobrar esse número para o próximo passeio. Quem quiser colaborar, ainda estão à venda algumas das cem camisetas do grupo brasileiro doadas pelas empresas Cepav, YCM e Syl; para os que quiserem fazer parte desse grupo, basta entrar em contato com Giba, pelo e-mail dziba@terra.com.br. (T. P. T.)
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HEBRAICA
cultural + social > grupo chaverim
Adote um chanich O GRUPO CHAVERIM FAZ SUA PRIMEIRA CAMPANHA DA SOLIDARIEDADE, COM DIFERENTES POSSIBILIDADES
DE COLABORAÇÃO PARA DAR CONTINUIDADE AO ATENDIMENTO A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
D
estinado a promover a inclusão dos seus integrantes, o foco inicial do Chaverim foi o atendimento à pessoa com deficiência entre os 20 e 30 anos em encontros aos domingos, na Hebraica, que apoia o grupo desde os primeiros passos. Eram cinco participantes. Fatores como acolhimento, trabalho da cidadania, das habilidades, da sociabilidade levaram à criação de oficinas distribuídas ao longo da semana, possibilitando a autonomia e a melhoria na qualidade de vida dos agora mais de sessenta frequentadores do Chaverim. São pessoas com deficiência intelectual e/ou disfunções cognitivas, sensoriais, motoras ou de personalidade. O correr dos anos e a transformação do perfil dos seus participantes – hoje eles têm entre 30 e 50 anos – revelou a necessidade de ampliar o atendimento às famílias, preparandoas para um futuro incerto, em função da realidade de cada atendido. A maioria é bolsista. São pais já idosos, muitas vezes sem outros filhos ou familiares próximos para lhes dar apoio em casos extremos. Como atender a essas situações? Em razão disso, o Chaverim lançou a Campanha da Solidariedade, da qual se pode participar de várias formas: “Adote um Chanich” financia as atividades de um ou mais componentes; “Torne-se Sócio” prevê contribuição de uma quantia fixa mensal; “Parcerias”, ações conjuntas; e “Seja um Voluntário (a)” é a integração ao Grupo. Valendo-se da Lei Rouanet os empresários podem se envolver no projeto “Rota da Amizade”, que compreende a edição de um livro com fotos de nomes consagrados na área, reproduzidas em uma exposição, e um workshop com especialistas em inclusão. Este projeto será executado ainda neste primeiro semestre. Para colaborar, e-mail chaver@hebraica.org.br., ou 3818-8876. Seu contato será muito importante e fará a diferença para pessoas que têm o prazer de viver, apesar das limitações.
O ARTISTA PLÁSTICO ANTÔNIO PETICOV PARTICIPOU DE OFICINA COM OS CHANICHIM
Prêmio Destaque No final de 2012, o Chaverim recebeu o troféu “Destaque” na premiação de Ações Inclusivas para as Pessoas com Deficiência da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Este prêmio, em seu terceiro ano, é o reconhecimento público e a possibilidade de multiplicação da prática de ações inclusivas executadas por órgãos governamentais ou privados sem fins lucrativos. Ser destacado entre os 140 projetos apresentados foi um reconhecimento ao trabalho desenvolvido nesses dezoito anos por uma equipe de profissionais e voluntários, com o objetivo de promover a inclusão dos chanichim e suas famílias na comunidade judaica e na sociedade paulista.
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cultural + social > galeria
Dezoito anos de história O Chaverim completa dezoito anos em Purim de 2013, e seu objetivo é promover a inclusão social das pessoas com deficiência intelectual por meio de atividades sociais, culturais, artísticas e de lazer. Dos encontros iniciais apenas no domingo, atualmente o grupo conta com uma grade de atividades de dez oficinas, durante toda a semana: informática, corpo e movimento, inglês, cultura judaica, dança israelense, ritmo e música (com o grupo Jovens sem Fronteiras) e duas de artes, uma delas em parceria com o Instituto Olga Kós e o foco é o desenvolvimento pessoal, a integração e inclusão na sociedade. Teatro, cinema, shows, lugares antes negligenciados são frequentados com prazer. Mais ativos e com melhor qualidade de vida, a consequência lógica foi a inclusão no mercado de trabalho. Agora 22 chanichim trabalham em empresas como Drogasil, Locaweb, Fundação Padre Anchieta e outras, alguns empregados há mais de cinco anos. (T. P. T.)
O FOTÓGRAFO ANDRÉ NEHMAD LEVOU PARA A HEBRAICA OS REGISTROS DE UMA VIAGEM A ISRAEL
Um olhar amoroso sobre Israel DA VENDA DE BRINQUEDOS PARA A MÁQUINA FOTOGRÁFICA FOI UM CLIQUE. HOJE, ANDRÉ NEHMAD OLHA O MUNDO PELA LENTE DA OBJETIVA. O RESULTADO FICA NA GALERIA DE ARTE ATÉ 13 DE FEVEREIRO
A
paixonado por Israel, ele respondeu “sim” a um parente que lhe sugeriu fotografar o país sob seu ponto de vista. Durante semanas percorreu o Estado em todos os sentidos e fotografou lugares, gente, animais e tudo o mais que encontrou. Parte desse gigantesco trabalho está em exposição na Galeria de Arte até o dia 13. Durante o vernissage muitos visitantes e associados comentaram como lugares tão familiares aos turistas foram percebidos pelo fotógrafo por um ângulo tão inusitado. Nehmad gostou dessa mistura de pessoas comentando o trabalho, “pois é importante que não judeus vejam Israel”. “Show de Luzes na Cidadela de David”, “Rio Jordão”, “Pôr-do-Sol em Mas-
sada”, “Cúpula do Santo Sepulcro”, “Barco de Jesus”, mostradas nessa exposição, fazem parte das quase 1.500 fotos da viagem. André Nehmad estudou no Foto Cineclube Bandeirantes, onde completou o curso avançado com workshops de nu artístico e arquitetura, aperfeiçoou-se no Instituto Internacional de Fotografia em iluminação, fotojornalismo e lightroom (para fotógrafos de moda e de retratos, de eventos e festas). Nehmad especializou-se e, hoje, atende a datas especiais e eventos. A frase da jovem Nicole Sitton, no livro de presença, mostra que, de fato, o fotógrafo captou a essência do que viu na Terra Santa: “Me deu vontade de ir para Israel”. (T. P. T.)
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cultural + social > cinema
CENA DO FILME VIÚVAS, RECENTEMENTE EXIBIDO NA HEBRAICA
Projetos e projeções na Hebraica M
endel Szlejf também responde pela Cultura Judaica. “Venho de uma casa religiosa, estudei em colégios religiosos e em yeshivá, daí dirigir o departamento. Quanto ao cinema, sempre foi minha paixão; na gestão passada Bruno Szlak me convidou para cuidar desse setor e o presidente Abramo Douek me chamou no início do mandato para continuar”, disse Szlejf. As sessões de cinema têm públicos diferentes. “Nos fins de semana, o público aprecia filmes de estilos variados, seja para diversão ou como informação; as quartas-feiras são dedicadas a filmes de temática mais séria”, diz Lucilla Glogowsky, profissional do departamento que faz o relacionamento com as principais distribuidoras para a compra dos filmes. “Exibimos 99% da grade da Paris Filmes, empresa que alcançou o primeiro lugar em índice de participação no mercado no Brasil em 2012”, explica Lucilla.
FÃ E CONHECEDOR DE CINEMA, O VICE-PRESIDENTE ADMINISTRATIVO MENDEL SZLEJF SENTE-SE HONRADO EM CUIDAR DO SETOR NO CLUBE, COM PRÉ-ESTREIAS ÀS QUARTAS-FEIRAS E SESSÕES AOS FINS DE SEMANA Distribuidoras como Imovision, Pandora, Califórnia, Europa, Columbia, Sony, Walt Disney, Paramount/Universal têm contato permanente para colocar filmes nas telas do clube. “Alguns temas desagradam aos associados, como sexo, drogas, violência, o que muitas vezes limita a escolha”, diz Lucilla. Szlejf tem planos para 2013: “O primeiro, em fase final, é usar o Teatro Anne Frank quando o Teatro Arthur Rubinstein estiver ocupado. Falta apenas acertar alguns detalhes técnicos. Assim, não haverá interrupção na programação. O investimento em equipamentos, iniciado na gestão anterior, será completado e se avalia a tecnologia digital. O Festival de Cinema Judaico continua, extrapolou, não pertence mais apenas à Hebraica, é de São Paulo e esse sucesso
sugere criar festivais menores, apenas no clube, como uma semana de Woody Allen, por exemplo. São planos e estamos avaliando”. A diretoria pretende trazer de volta a sessão domingueira infantil, inicialmente mensal, com projeções no Auditório da Sede Social. Se é regra da diretoria o interesse em trazer o melhor para o associado, existe um outro lado que exige preocupação constante: como fazer alguns associados entenderem que o cinema no clube é igual a qualquer outra sala de projeção da cidade e o comportamento deve ser o mesmo de lá de fora? A queixa é em relação às pessoas que entram pela ala central após o início da sessão, falam alto e esquecem o celular ligado porém não fazem o mesmo quando vão a um cinema de shopping, por exemplo. (T. P. T.)
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coluna comunidade
El Al está no Brasil
Atualmente, a El Al opera em todo território nacional como uma companhia aérea off line, isto é, por meio de acordos com empresas como TAM, Lufthansa, TAP, South Africa, American Airlines e Iberia, que partem do Brasil e juntas transportam os passageiros até Tel Aviv. É possível viajar a Israel parando na Europa e/ou Estados Unidos, com uma atraente tarifa triangular. A Travel Air Brasil foi designada representante da El Al no Brasil e Priscila Golczewski continua diretora geral da companhia para o Brasil, atendendo pelo e-mail priscilag@elal.com.br.
Turismo no Facebook Para quem planeja visitar Israel ou saber as novidades do setor de turismo do país tem a opção de mais uma página no Facebook: https://www.facedbook.com/VisitarIsrael, com informações do Ministério de Turismo de Israel.
Unibes inicia o ano O primeiro grande evento beneficente de 2013 será dia 3 de março, domingo, às 16h30, no Teatro Alfa, apresentação da superprodução O Mágico de Oz, em beneficio da Unibes. Classificação livre. Ingressos, 3123-733 ou magico@unibes.org.br.
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por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br
COLUNA 1
Monumento em restauração
O
monumento em memória às vítimas do nazismo, erguido em 1974 no Cemitério Israelita do Butantã, está sendo restaurado e a Chevra Kadisha, que administra os cemitérios judaicos de São Paulo, pretende concluir a obra no próximo mês. O projeto é do arquiteto Dan Antônio e relembra os seis milhões de judeus assassinados na Segunda Guerra. Da concepção participaram imigrantes que tiveram familiares mortos na Europa e os enterraram simbolicamente colocando uma urna com cinzas trazidas dos campos de concentração. É no monumento que se realiza a cerimônia do Dia do Holocausto e do Heroísmo e onde termina a Marcha da Vida Regional.
LOCAL GUARDA CINZAS DOS MORTOS NA SHOÁ
Unibes encerra o ano
A
CÉLIA KOCHEN PARNES, PRESIDENTE DA UNIBES, ADRIANA PARNES E CLÁUDIA ROSENTHAL, SÓCIA-DIRETORA DA CASA EURICO
parceria Eurico Max (submarca da Casa Eurico) e a Unibes já é tradição com a campanha de doação “Faça do Seu Passado um Grande Presente”. Mais de mil pares de sapatos foram doados na loja de calçados e depois entregues aos usuários cadastrados na instituição, além da venda dos pares excedentes nos bazares da Unibes.
Alunos da Rede Municipal premiados O tema do XXII Concurso de Redações para a Rede Municipal de Ensino de São Paulo foi “Meu Encontro com um Sobrevivente”, e encerrou o programa de ensino sobre o Holocausto 2012. É uma promoção do Arqshoah-Leer da USP e B’nai B’rith, e apoio da Secretaria Municipal da Educação de São Paulo, Sherit Hapleitá e Câmara Municipal de São Paulo. Foram premiados Carmen Alves e Vitória da Fonseca (primeiro e terceiro lugares) da Emef 25 de Janeiro e Kethlen Almeida, da Emef Prof. Roberto Patrício, segunda colocada. As redações foram julgadas pela comissão formada por Abraham Goldstein, presidente da B’nai B’rith, Maria Luíza Tucci Carneiro, coordenadora do Arqshoah/Leer da USP, Rachel Mizrahi, coordenadora do grupo de história oral, e os pesquisadores da entidade Leslie Marko, Sarita Mucinic Saruê, Lucius de Mello e Rebeca Finguermann, da Comissão do Instituto Shoah de Direitos Humanos.
Dentro de algum tempo, o associado da Hebraica poderá consultar, pelo celular ou internet, a temperatura das piscinas do Parque Aquático. Graças ao trabalho desenvolvido pela vice-presidência de Patrimônio (Moisés Gordon na gestão anterior e Nelson Glezer na atual), que investiu na automatização da leitura e apresentação das temperaturas das piscinas do clube. Hoje, é possível aferir na entrada do Parque Aquático. A Dakol, de Marcelo Finguerman, é a empresa responsável pela implantação e fornecimento desse serviço. Usando depoimentos do texto original e os outros de brasileiros, colhidos no site www.aminhaprimeiravez.com.br, Isser Korik adaptou a peça A Minha Primeira Vez para a produtora Conteúdo Teatral, responsável pela montagem no Teatro Folha. Para iniciar o ano, Jacob Klintowitz preparou a exposição das obras de “Isabelle Tuchband e Narrativa Primordial” no Espaço Citi.
Hospital Dr. Moysés Deutsch em destaque O jornalista André Tal passa a maior parte do tempo no exterior fazendo reportagens para a Rede Record. Após cobrir a Copa, Liliana, Mendy e Michelle foram ao seu encontro no Japão, mesmo debaixo da neve. Mauro e Marcos Zaborowsky, diretores da Marcyn, inauguraram a primeira loja da empresa que há trinta anos produz moda íntima. É na rua Augusta com a alameda Lorena, e projeto arquitetônico da Marton & Marton. Em novo endereço, na avenida Angélica, a psicóloga clínica Lízia Coifman foca o atendimento em casais e gastroplastizados (pacientes que passaram pela cirurgia de redução do estômago) por meio de psicoterapia breve e na mediação de conflitos. Vovôs Geni e Moshé Sonnenfeld são só emoção com o desempenho de Melanie, que teve 96,4 pontos (a maior nota tirada por uma estudante brasileira) numa prova em ivrit (hebraico), vinda de Israel.
∂ O Avesso do Poema – Cecilia Meireles e a Metamorfose é o título do livro escrito por Miriam Silvia Schuartz, Lançamento da Scortecci Editora na Livraria da Vila/Fradique. A cerimônia interreligiosa de formatura da 75ª. turma da Escola Paulista de Medicina da Unifesp teve a participação de lideranças de vários credos, entre elas o padre José Bizon e o rabino Uri Lam que sugeriu e os formandos leram a “Oração do Médico”, atribuída a Maimônides. Eliane Brum, Caco Barcellos, Mauri Konig, Clóvis Rossi, Gilberto Dimenstein, Dorrit Harazim, José Fucs, Cláudia Safatle e Élio Gaspari estão entre os profissionais da mídia premiados pelo portal Jornalirismo. Hélio Gurovitz (Exame) é citado como “um dos mais premiados jornalistas brasileiros de todos os tempos”.
O CEO da Lim’s Alexandre Czitrom trouxe para o Brasil as Jelly Belly, balas coloridas que fazem sucesso nos EUA. Nos vários sabores, os pacotinhos zipelock são os preferidos das mulheres (e das crianças também). Roberto Farkas Bitelman começa o ano com mais um novo membro em seu selo Sul Hotels: o Cristalino Lodge, o requintado hotel da Amazônia brasileira. Entre as delegações de 26 países presentes à conferência anual da Associação de Museus Judaicos da Europa, Roberta Sundfeld e Bya Blay representaram o Museu Judaico de São Paulo. O evento foi realizado no Museu Judaico de Viena e no Palácio Epstein, com o tema “Troca e Complexidade. Como os Museus Judaicos se Reinventam”. A família e os amigos mais chegados comemoraram, num café-da-manhã com Betty e Magali, os 80 anos da matriarca Sônia Boguchwal.
O Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch – M’Boi Mirim recebeu o selo da Organização Nacional de Acreditação (ONA), conquistando a “Acreditação Nível 2”. Inaugurado em abril de 2008, o hospital foi construído pela prefeitura de São Paulo para atender pelo SUS os bairros Jardim Ângela e Jardim São Luiz, na Zona Sul, ou seja, seiscentos mil habitantes. Na cerimônia estavam presentes o diretor do Instituto Israelita de Responsabilidade Social Alberto Kanamura, a presidente do Voluntariado do Hospital Albert Einstein Telma Sobolh, os vice-presidentes do hospital Sidney Klajner e Eduardo Zlotnik e Fernando Proença de Gouvêa, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim, organização responsável pela gestão do Hospital Dr. Moysés Deutsch em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein.
Visita à Secretaria da Segurança O secretário da Segurança Pública Fernando Grella Vieira recebeu dirigentes da Federação Israelita (Fisesp) em seu gabinete. Participaram da visita Ricardo Berkiensztat, vice-presidente executivo, os diretores Octávio Aronis, Rony Vainzof e Fernando Rosenthal, da Comissão Jurídica, Denis Goldshmidt e Fernando Fainzilber, da Área de Segurança. O tema do encontro foi fortalecer o diálogo da Secretaria com a Fisesp na segurança em razão das ameaças e provocações que circulam em redes sociais, de parte de grupos neonazistas e de skinheads.
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SECRETARIO FERNANDO GRELLA E A COMITIVA DA FEDERACAO
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cultural + social > comunidade+coluna 1
COLUNA 1
Einstein é premiado duas vezes O Hospital Israelita Albert Einstein recebeu mais dois prêmios em 2012: o Prêmio Referência da Saúde pelas boas práticas na gestão administrativo-financeira e o Época Negócios 100 – As empresas de maior prestígio no Brasil, na categoria saúde. Esta foi a primeira vez que se incluiu um hospital para eleger as marcas mais prestigiadas.
Desafios econômicos em 2013 Globes Israel Business Conference é o mais importante evento de economia em Israel, simultaneamente com a Conferência Internacional das Câmaras Binacionais, reunindo empresários israelenses e do exterior, altos executivos, diplomatas, acadêmicos e jovens empreendedores. Na abertura, o presidente Shimon Peres participou de um talk show com o jornalista Richard Quest, da CNN norte-americana, acerca de “Os Desafios Econômicos em 2013, Identificando Resoluções para um Futuro Melhor”. Entre os presidentes de câmaras binacionais estava Jayme Blay, da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, que relatou o trabalho da entidade nos últimos anos.
Testemunhos de vida
É obra do chocolatier Daniel Goldberg o chocotone desenvolvido para a Galeria Chocolate. Ele é recheado com ganache de cerveja irlandesa e chocolate belga amargo. Quem provou disse que “o gosto é apurado”. E só podia mesmo ser.
Ex-aluno do Weizmann na Academia Em parceria com a Even, Cris Berger lançou novo livro: 101 Lugares para se Conhecer. Foi na Livraria da Vila/ Lorena, com a renda repassada para a ONG Centro de Assistência e Promoção Social Nosso Lar.
Nelson Leirner: A Arte do Avesso – 1999+1 – 1999+13 é novo livro na praça, a respeito dos vários aspectos da carreira do artista com textos de Agnaldo Farias, Lilia Moritz Schwarcz e Piero Lerner. Realização do Andrea Jakobsson Estúdio.
Sílvio Back é o primeiro profissional de cinema a se tornar membro do Pen Clube do Brasil, entidade que congrega escritores e é filiada ao Pen International, com sede em Londres. Back é autor de 38 filmes entre curtas, médias e longasmetragens e escreveu 21 livros de poesia, roteiros e ensaios.
O livro No Limiar do Silêncio e da Letra: Traços de Autoria em Clarice Lispector, obra de Maria Lúcia Homem, tem prefácio de Yudith Rosenbaum, orelha de Vladimir Safatle e quarta capa de Joel Birman. O lançamento, no Bar Balcão, marcou os 92 anos do nascimento e os 35 anos da morte da escritora.
Pioneiras fazem bazar Como é tradição, a Na’amat Pioneiras São Paulo realizou bazar beneficente no Salão São Luiz, do qual participaram todos os grupos coordenados por Edite Zajac, e apoio de Rosa Helena Roizen, Regina Fleider e Lila Levy. Para Edite, à frente do bazar há dezoito anos, “esta atividade é uma grande festa de confraternização”.
Fábio Rabin, Luiz França e Murilo Gun formam o elenco do stand up Comédia ao Vivo – Humor 5 Estrelas. Espetáculo aplaudido no Teatro Renaissance. Um bate-papo acerca de “Inspiração e Fé” aconteceu na casa de Sílvia e Sérgio Rosenthal. Iniciativa do rabino Dovi Goldberg, da Sinagoga do Morumbi, com a presença da jornalista Joyce Pascowitch. A Cinemateca Brasileira promoveu mostra em homenagem ao escritor Stefan Zweig com curadoria do jornalista Alberto Dines, autor do livro Morte no Paraiso – a Tragédia de Stefan Zweig.
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Uma instituição com 75 anos tem histórias para contar. O Lar das Crianças da CIP reuniu testemunhos de quem passou por lá. Histórias de Vidas é uma publicação simples, mas rica em conteúdo, mostrando a formação moral, ética e profissional de jovens que viveram no Lar.
Alberto Kleinas tratou do tema “A Morte de Vladimir Herzog e a Luta contra a Ditadura: a Desconstrução do Suicídio” em dissertação de mestrado no Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos, orientado por Roberto Grun.
∂ UM PASSO CERTO PARA O FUTURO
25 de abril a 9 de maio –
O rabino Adin Steinsaltz – Adin Even Israel – é professor, filósofo, mentor espiritual e dedicou cerca de trinta anos da vida a tornar mais acessível a todos os judeus a leitura e o estudo do Talmud. Cerca de dois milhões de exemplares desta edição do Talmud já foram vendidos e existe um projeto da edição em português. O rabino esteve em São Paulo o mês passado para celebrar um casamento, fazer palestras aqui e no Rio de Janeiro e insistiu em encontrar o que ele chama de “o mais próximo ramo de sua família fora de Israel”, no caso os descendentes de duas primas da sua mãe, que imigraram para o Brasil na década de 1930, entre os quais o jornalista Bernardo Lerer, diretor de redação da revista Hebraica.
Leifert abre o Conecta
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onecta é uma iniciativa da Agência Judaica de Intercâmbio Cultural em parceria com a Comunidade Beth-El, Programa Masa Israel Journey e Organização Sionista Mundial, para promover encontros entre jovens universitários e personalidades. O primeiro convidado, Tiago Leifert, conversou com cerca de 150 jovens. Falou da formação universitária nos EUA, a carreira jornalística, a entrada na Globo, planos para o futuro e debateu com o público. O encontro é parte do processo de renovação da Sinagoga Beth-El, há seis meses em novo endereço, à rua Caçapava.
Seriado retrata sociedade israelense A série de televisão Avodá Aravit (“Trabalho Árabe”, em hebraico), primeira a apresentar personagens palestinos falando árabe no horário nobre, ganhou os troféus melhor comédia, melhor ator e melhor atriz em comédia, direção e roteiro da Academia Israelense de Cinema e Televisão (http://www.linktv.org/ arablabor). É um olhar bem-humorado a respeito da sociedade árabe-israelense e o fosso cultural ali presente.
A NOVA GERAÇÃO ADERIU AO TRABALHO
AGENDA 6 a 10 de março –
Encontro de família com rabino Steinsaltz
O pesquisador, oncologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Roger Chammas é o novo membro da Academia Brasileira de Ciências. Em 1983, quando coordenava o Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Chammas integrou a primeira turma de bolsistas brasileiros do International Summer Science Institute, que leva jovens de diferentes países para estagiar no Instituto Weizmann de Ciências em Rehovot, Israel. “Foi uma oportunidade única. Tenho vívidas lembranças do programa, que deu contornos mais reais ao meu interesse em bioquímica e biologia celular. As escolhas subsequentes tiveram clara influência da experiência no Weizmann, que me mostrou que era possível atingir aquilo que eu idealizava a respeito da atividade de pesquisador/ cientista. Hoje sou pesquisador; e continuo trabalhando para ser cientista”, relatou Chamas a respeito da viagem a Israel há quase três décadas.
Seminário reúne israelenses e brasileiros Águas de Lindoia, Hotel Majestic com a B’nai B’rith. Pensão completa, passeios a Serra Negra e Monte Sião. Informações, com Henrique, Roberta ou Cris, fone 3082-5844 Visite Israel com a Wizo. Pensão completa e guia em português desde a saída. Informações, 5087-3455, com Carla ou Viviana
De 18 a 20 de março, no Rio de Janeiro, serão tratadas importantes questões de segurança nacional e internacional, por especialistas no assunto. Trata-se do seminário “Brasil Presente e Futuro” realizado pelo Centro Moshé Dayan de Estudos do Oriente Médio e África da Universidade de Tel Aviv, International Security & Defense Systems (Isds), Instituto de Cooperação
Internacional Israelense de Exportação, Câmara de Comércio Israel-Brasil e Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg). Entre os palestrantes estão Ephraim Sneh, general-brigadeiro das Forças de Defesa de Israel (IDF), o exmembro das Forças Especiais da IDF Shemi Alaloof, e o fundador e presidente da Isds Leo Gleser. Informações e inscrições, (21) 3439-6481, e-mail isds@isds.co.il ou no site www.isds.co.il.
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8. 1. Em Miami, Liane, Hélio e Michel Zaidler fazem figuração nos estúdios da Universal; 2. Carolina Dias, Cleo Ickowicz, Su1. Gabriel Zitune ganhou autógrafo de Miriam Sílvia Schuartz; 2 e 3.
san Klagesbrun e Fernando Chimanovitch formam o time
Na Casa Petra, Lethícia Bronstein e Jacque Dallal; Paola Piccioto, Mari-
do ministério de Turismo de Israel no Brasil; 3. Diretoras,
na Klink, Mário Sérgio Garcia, Flávia Piccioto, Constance Zahn e Luciano
profissionais e voluntárias comemoraram o Prêmio Ações
Martins conferiram o lançamento do Book Festas Noivas; 4 e 8. Brasilei-
Inclusivas/Destaque conquistado pelo Grupo Chaverim; 4
ros no Wheels of Love, Gilberto Lavitez teve companhia no deserto; 5. Ali-
e 6. Perla’s Tour em Pindamonhangaba: Rebeca e Horácio
ne Blanco, Mauro Zaborowsky, Carlos Padula, Marcos e Lia Zaborowsky, o
Lewinski, Estella Novik Leifert, Ester Rittner, Perla Mosseri;
staff da Marcyn na nova loja de lingerie; 6. A aniversariante Sônia Bogu-
Janine Wakrat, Jacqueline Peppi e Clara Zveibil; 5. Em Isra-
chwal com as filhas Betty e Magali; 7. Daniel Feffer e rabino Iehuda Gitel-
el, Jayme Blay e o CEO do Instituto de Exportação Ofer Sacks
man receberam Tiago Leifert no Templo Beth-El
trocam ideias sobre câmaras de comércio binacionais
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cultural + social > fotos e fatos 1.
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1 e 2.. Desbravadores brasileiros pilotando bikes
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atravessaram o Deserto do Negev em prol do Hospital Alyn, de Jerusalém; 3, 4 e 5. Feliz Idade da Hebraica conheceu o Chile, a neve e muito mais; 6. Liliana, Michelle e Mendy Tal foram ao encontro de André no Japão; 7. Chani e rabino Dovi Goldberg, Sílvia e Sérgio Rosenthal e a convidada e palestrante jornalista Joyce Pascowitch
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juventude > colônia de férias
CRIANÇAS DA COLÔNIA DE FÉRIAS DO HEBRAIKEINU NO CENTRO DA JUVENTUDE E NO KABALAT SHABAT DE ENCERRAMENTO
Cinco dias que valeram por dez PARA AS 116 CRIANÇAS DE 2 A 8 ANOS INSCRITAS NA COLÔNIA DE FÉRIAS DO HEBRAIKEINU QUASE NÃO HOUVE TEMPO PARA SENTIR O CANSAÇO. NO ROTEIRO, PASSEIOS, ACANTONAMENTO E MUITA DIVERSÃO
C
inco dias inesquecíveis. Este foi o objetivo proposto pelos monitores e coordenadores do Hebraikeinu para a colônia de férias que pela primeira vez na história do Centro Juvenil, teve apenas uma semana de duração. As 116 crianças com idades entre 2 e 8 anos foram recepcionadas na segundafeira pelos monitores e em pouco tempo estabeleceram amizades que a convivência ajudou a fortalecer. Para a alegria das trinta crianças de 3 anos, o maior grupo etário, uma contadora de histórias foi a atração especial do dia. A tarde da terçafeira foi ocupada com um piquenique na
Praça Victor Civita, em Pinheiros. Na quarta-feira, os jogos de caça ao tesouro e gincanas dominaram o clube. Quadras, piscinas, gramados e até a Biblioteca serviram como base para as atividades. Para a faixa a partir dos 6 anos, um acantonamento na Sala Plenária ampliou a diversão. Na quinta-feira, todos chegaram cedo e embarcaram nos ônibus para o Parque da Xuxa, mais uma atração especial da colônia. Como despedida, na sexta-feira, as crianças ensaiaram números para o show especial marcado para o Kabalat Shabat final. (M. B.)
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juventude > adventure
PAIS E FILHOS BRINCAM NA PISCINA DO RANCHO SILVESTRE
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Family foi um dos mais bem sucedidos projetos do Hebraica Adventure em 2012. Ao organizar finais de semana em hotéis como o Bourbon (Atibaia) e o Royal Plaza (Campinas), o Adventure conseguiu fidelizar famílias que, ao anúncio de uma viagem, garantem participar. Foi assim no caso da viagem “Luzes de Chanuká”, a primeira realizada no resort Rancho Silvestre, no Embu. “Em razão da época do ano, final de dezembro, aumentamos a permanência para quatro dias, e isso possibilitou formar parcerias com fabricantes de roupas infantis e brinquedos. Depois do Kabalat Shabat de boasvindas foi tudo diferente das outras viagens”, comparou o guia Marcel Blankfeld. “Trouxemos o palhaço Frangolim, que fez
Viagem reuniu 65 famílias
A PROPOSTA DA ÚLTIMA VIAGEM DO ADVENTURE FAMILY EM 2012 FOI APROVEITAR A INFRAESTRUTURA E AS ATIVIDADES OFERECIDAS PELO RANCHO
SILVESTRE, NO EMBU, DURANTE QUATRO DIAS uma apresentação especial para as crianças”, destaca. No Rancho, os monitores do Hebraikeinu e do After School trabalharam juntos com o grupo da Upi-Aia eventos, empresa que fornece recreacionistas para o hotel. “Nas viagens anteriores, de dois dias, dirigimos a programação para o
público infantil, mas nesta atendemos também aos adultos que se divertiram com um bingo e uma sessão de videokê. Tivemos até aula de mergulho com equipamento e adesão de muitas pessoas. Além dessas atividades, adultos e crianças adoraram as instalações de boliche, sempre lotadas.” (M. B.)
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1. Jovens sem Fronteiras doaram trinta camisetas para a ONG A Gente Ajuda; 2. Integrantes do Hebraikeinu 3 preparados para o embarque para a machané Kaitz; 3. Em Quito, Gaby Milevsky, Samuel Feldberg, Sarita Saruê e Márcia Aizen; 4. Gaby Milevsky, Ana Iosif, Sarita Saruê, Márcia Aizen, Bruno Kibrit e Pedro Muszkat representaram os projetos da Hebraica no seminário realizado no Equador ; 5. Simone e Yael Borger na viagem “Luzes de Chanuká”, promovida pelo Hebraica Adventure; 6. Dançarinos do grupo Carmel em um momento de descanso no Disney Park Performances em Miami, EUA
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esportes > xadrez VÁRIOS JOGOS MOVIMENTARAM O PRIMEIRO ANDAR DA
SEDE SOCIAL EM JANEIRO
Dez dias diante do tabuleiro
EM ÉPOCA DE RECESSO EM OUTRAS MODALIDADES, O DEPARTAMENTO DE XADREZ DA HEBRAICA PROMOVE TORNEIOS PARA MOVIMENTAÇÃO DE RATING E OBTENÇÃO DE NORMAS, COM PARTICIPAÇÃO DE ENXADRISTAS DE VÁRIOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS
N
as primeiras duas semanas de janeiro, a Hebraica recebeu alguns dos melhores enxadristas brasileiros e estrangeiros em um ITT (International Title Tournament) e três IRT’s (International Rating Tournament) simultâneos. “São eventos do calendário da Confederação Brasileira de Xadrez (CBX) e da Federação Paulista de Xadrez (FPX) e possibilitam aos jogadores melhorar sua pontuação em confrontos com oponentes de mesmo nível e, em caso de vitória, obter uma norma que leve, talvez, a um título”, comenta um dos organizadores dos torneios André Salama. De cada certame participaram dez participantes, que obedeciam a uma cuidadosa tabela de jogos, cujos resultados eram atualizados diariamente. “Cada IRT tem uma tabela separada com um máximo de dez participantes que jogam no Auditório do primeiro andar da Sede Social. Os tabuleiros do ITT ou Magistral ocupam a Sala de Xadrez. Acho que o trabalho duro fica comigo e meu pai, Henrique Salama, pois registramos e atualizamos os resultados diariamente”, informou André. Henrique é diretor da modalidade no clube e foi árbitro nos torneios. Os quarenta enxadristas movimentaram ainda mais o primeiro andar. Alguns participantes mais novos estavam com os pais que já se conheciam de outros torneios e enquanto
os filhos se ocupavam com o tabuleiro liam ou punham a agenda em dia. Com a cabeça raspada, um garoto do IRT a quem os outros delegaram a tarefa de responder à repórter da revista Hebraica disse: “Este é um dos melhores torneios porque, na maioria das vezes, os participantes disputam somente uma partida por dia. Nos outros torneios não há esse respeito pelos jogadores, que chegam à segunda partida já exaustos”, opinou o porta-voz do grupo José Lucas Abdalla, 17 anos. Calouro do curso de direito da PUC, ele é veterano dos IRT’s no clube. “Este é meu quarto ou quinto torneio e o que mais me atrai é que jogo contra meus amigos”, completa o jovem. Do VIII Magistral participou a enxadrista número um do ranking nacional, Vanessa Juliano Ebert, 22 anos e mestre Fide, o primeiro degrau na escala de excelência do xadrez. O seguinte é mestre internacional e o topo da carreira chega quando o enxadrista se torna grande mestre. Para cada etapa, o jogador precisa atingir pontuação (rating) e vencer torneios específicos que valem normas. São necessárias três normas para cada título. “Nunca disputei um torneio neste clube. É lindo”, elogiou Vanessa. Ela descobriu o xadrez aos 7 anos e se dedica a ele profissionalmente. Já disputou torneios na Turquia, Espanha e Grécia. “Também
joguei em muitos lugares da América Latina, mas aqui na Hebraica não estou me saindo muito bem. Disputei três partidas e não venci nenhuma até agora. Quem sabe hoje melhoro minha situação no ITT”, torcia. “O estado emocional influi muito no desempenho do jogador”, explicou o mestre internacional Marcelo Villalba, paraguaio de 18 anos, um dos representantes estrangeiros no ITT. “Jogo desde os 12 anos e me agradou o equilíbrio entre os participantes. Até agora empatei uma e per-
di duas partidas”, comentou o jovem que diminuiu a dedicação ao xadrez para se preparar mais para a faculdade de direito. O mestre internacional argentino Jacques Blit, de 22 anos, é fluente em português. “Namoro uma brasileira e tenho dividido meu tempo entre São Paulo e Buenos Aires”, explica ele, que disputou o IRT na Hebraica, em 2011. No momento, o xadrez toma grande parte do seu tempo e graças a ele o rapaz conheceu vários paises da América Latina. “Estive na Colômbia, Peru, Bolí-
via, Paraguai, Chile e participei da Macabíada, em Israel, em 2005. Joguei a final contra o brasileiro André Diamant e venci. Poucas semanas depois, ficamos frente à frente na final do sul-americano e ele me deu o troco”, lembra. “Mantivemos a amizade depois que ele foi para os Estados Unidos estudar”, completa. Minutos antes de iniciar a quarta partida no ITT, ele estava incerto a respeito da sua situação na tabela. “Empatei os três primeiros jogos, mas em xadrez não tem previsão. Qualquer um de nós
pode ganhar, então vale a pena aguardar”, concluiu. Ao vencer o XIV IRT, Renato Quintiliano tornou-se mestre Fide. Bernardo Sztokbant ficou em quarto lugar neste torneio e chegou a 2.100 pontos de rating. O campeão do XV IRT foi Otto Garkauskas e do XVI, Liria Garcia. O mestre internacional Jacques Blit venceu o VII Magistral (ITT). Davy D’Israel, coordenador do xadrez na Hebraica, obteve quatro pontos e retornou à marca de 2.200 pontos de rating. (M. B.)
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esportes > natação juvenil
ATLETAS DA HEBRAICA TIVERAM BOM DESEMPENHO EM GUARATINGUETÁ
Bons resultados em Guaratinguetá Q
uase não deu tempo de incluir os bons resultados da equipe juvenil de natação na relação de premiados na Festa do Atleta, em dezembro último, porque as provas do Campeonato Paulista de Verão ocorreram poucos dias antes do evento, mas os atletas deixaram o técnico Murilo Santos orgulhoso. “Além do troféu de terceiro lugar do juvenil 2, as meninas do 2 ficaram em oitavo e os garotos do 1 em décimo primeiro lugar”, informou Murilo, também coordenador da modalidade, no relatório ao Departamento Geral de Esportes quando a equipe retornou do torneio de Guaratinguetá. Individualmente, a Hebraica se destacou pelo desempenho de Hélio Meglatto, segundo na prova dos duzentos metros peito, terceiro nos quatrocentos metros medley, oitavo nos duzentos metros medley e sétimo lugar nos cem metros peito. Mariana Zylbersztajn terminou em terceiro nos oitocentos metros livres e em quarto nos qua-
NADADORES DAS EQUIPES DO JUVENIL 2 FICARAM EM TERCEIRO POR EQUIPE NO CAMPEONATO PAULISTA DE VERÃO EM GUARATINGUETÁ. NESTE ÚLTIMO TORNEIO DE 2012, A HEBRAICA FICOU EM NONO LUGAR NA CONTAGEM GERAL trocentos metros livres, oitavo nos duzentos metros livre e sétimo lugar nos quatrocentos metros medley. Caíque M. Passoni foi sétimo nas provas de quatrocentos metros medley e cem metros costas e oitavo lugar na prova dos duzentos metros costas. Ricardo Menasce foi oitavo nos duzentos metros borboleta e sexto lugar na prova dos quatrocentos metros medley. Leonardo Laplana foi oitavo colocado nos duzentos metros peito. “Nos revezamentos, Hélio, Leonardo, Ricardo e Gabriel Schirru chegaram em quinto lugar nos quatro por cinquenta metros livres e quatro por cinquenta metros medley”, completou Murilo. No segundo semestre de 2012, Murilo participou de uma seleção para um dos cursos abertos pelo Comitê Olím-
pico Brasileiro (COB) para formar multiplicadores de conhecimento na modalidade. “Foram seiscentos profissionais inscritos de todo o país e passei no módulo dedicado a formar futuros técnicos e atletas com potencial olímpico visando a Olimpíada de 2016. As aulas serão a cada bimestre, no Rio de Janeiro”, comenta o técnico. Para participar do curso, Murilo tem o apoio do Departamento Geral de Esportes. “Ser selecionado entre tantos participantes foi mais uma boa notícia. Outra – e esta é mérito de toda a equipe técnica – foi chegar a 205 atletas em todas as categorias em 2012. Dos meninos que terminam a Escola de Esportes aos masters. É um bom número”, comemora o técnico. (M. B.)
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esportes > tênis
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Organização em quadra O OBJETIVO DA NOVA EQUIPE TÉCNICA É POSSIBILITAR AOS SÓCIOS TER AULAS DE TÊNIS, COMPETIR OU PRATICAR A MODALIDADE POR LAZER. VAI COLABORAR TAMBÉM NA ELABORAÇÃO DA AGENDA DOS TORNEIOS INTERNOS
RICARDO NITTA E ALEXANDRE SIMONI TRAZEM NOVIDADES PARA O DEPARTAMENTO DE TÊNIS
o último trimestre de 2012 os tenistas Alexandre Simoni e Ricardo Nitta aceitaram integrar a equipe técnica do Departamento de Tênis. Durante algumas semanas, avaliaram a infraestrutura e as expectativas dos cerca de mil usuários das quadras do clube. “Detectamos a necessidade de agrupar os competidores por nível e idade, especialmente os garotos e jovens que pediam mais estímulo na área competitiva”, explicou Nitta, que durante dois anos foi técnico do Esporte Clube Pinheiros e de outras academias de alto nível. O trabalho feito por ele e Alexandre despertou o interesse de alguns jovens pelos treinos ainda em janeiro. “Já trabalhamos numa agenda competitiva. Vitor Derdik, por exemplo, participará das três primeiras etapas do Torneio Nacional que vai até fevereiro. Também haverá um certame mensal promovido pela Federação. São muitos tenistas com potencial para alcançar bons resultados, mas antes eu e Simoni precisamos estabelecer uma relação de confiança e colaboração com eles”, acrescenta Nitta, assistente de Simoni. Tenista profissional que chegou à 96ª. posição do ranking mundial, Alexandre Simoni levou algumas semanas para elaborar uma tabela de horários que possibilitasse o aperfeiçoamento dos tenistas competitivos e aqueles que usam as quadras para se divertir com os amigos. “Meu trabalho será voltado para os jovens interessados em se dedicar ao tênis, seja para uma carreira, ou para estudar no exterior com uma bolsa de estudos na modalidade. Joguei e competi muitos anos e agora quero transmitir o que aprendi e ajudar novos talentos”, informa Simoni. No cenário doméstico, Simoni e Nitta se propõem a colaborar com os diretores Rose Moscovici e Ariel Sadka na agenda de torneios internos. “A formação de novos tenistas também será uma prioridade. As crianças foram divididas de acordo com os tipos de bolas utilizadas para treinamento. As verdes, por exemplo, têm pressão menor, são mais fáceis de arremessar com a raquete e usadas nos primeiros estágios de aprendizados até por adultos”, detalha o coordenador. (M. B.)
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esportes > basquete
O GERENTE EDUARDO ZANOLLI FALOU SOBRE AS MUDANÇAS NO BASQUETE
Equipe técnica reformula a modalidade PAIS DE SÓCIOS LIGADOS AO BASQUETE ATENDERAM A UM CONVITE DURANTE AS FÉRIAS PARA CONHECER AS PROPOSTAS DE TRABALHO E A EQUIPE TÉCNICA RENOVADA NO FINAL DO ANO PASSADO
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Departamento Geral de Esportes convidou pais e atletas ligados ao basquete para uma reunião na Sala Plenária em janeiro para apresentar os profissionais contratados e engajar as famílias no projeto batizado de Basquete Campeão. “Foi bom ver a Plenária lotada com 140 pessoas entre pais e atletas. Todos se entusiasmaram com o novo coordenador Tácito Pinto Filho e os técnicos Ricardo Costa Pacheco Couto e Adriano Serafim Geraldes”, informou Waltinho de Souza, diretor das categorias sub-17 e sub-19. Waltinho aposta que a partir da satisfação dos atletas com o novo modelo de gestão, o basquete vai crescer no clube. “Se os garotos gostarem, trarão amigos para experimentar e se divertir nas nossas quadras”, argumentou. Segundo ele,
o fato de o basquete americano com sua divisão universitária ter muito cartaz no país também serve como estímulo para escolher a modalidade no Brasil. Além disso, a Hebraica já formou muitos atletas profissionais. Temos, por exemplo, os dois irmãos Fischer, hoje profissionais em Bauru”, afirma. A curto prazo, haverá um intenso trabalho de preparação para as categorias de 15, 16 a 18, Open e 35 a 45 anos participarem da Macabíada Mundial em junho, em Israel. Para Tácito e Adriano, é uma volta no tempo pois os dois já foram jogadores e técnicos na Hebraica. “Comecei jogando no juvenil e meu primeiro trabalho profissional foi treinar o infantil B. Agora é muito bom voltar e colaborar com o novo projeto”, declarou Tácito. (M. B.)
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1. Nadadores do Juvenil 2 ficaram em terceiro lugar no Campeonato Paulista de Verão em Guaratinguetá; 2, 3 e 6. Craques do Pé de Coelho festejaram o título da Liga Interna de Futebol Society depois de uma final eletrizante; 4. Equipe masculina venceu o Paulista Junior de Handeball; 5. Atleta da equipe competitiva da Hebraica, Vítor Leite venceu em 2012 um torneio em Brasília e a primeira etapa do Future realizado em Lins
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magazine > capa | por Ariel Finguerman
Tamar, a redenção energética de Israel ISRAEL SE PREPARA PARA UMA REVOLUÇÃO: EM ABRIL SERÁ INAUGURADA A PLATAFORMA DE GÁS MARÍTIMA TAMAR, A MAIOR FONTE DE ENERGIA DO PAÍS PARA AS PRÓXIMAS DÉCADAS. ALÉM DE ABRIR CAMINHO PARA A AUTOSSUFICIÊNCIA ENERGÉTICA, A DESCOBERTA LANÇA ISRAEL EM NOVOS DESAFIOS NUMA REGIÃO CARACTERIZADA PELA ALTA VOLTAGEM DOS CONFLITOS GEOPOLÍTICOS
S
erá um marco na história: o gás natural da reserva Tamar, descoberto há quatro anos nas profundezas das águas territoriais do Mediterrâneo oriental, começará a chegar a Israel e isto significa que o Estado judeu ganha uma boa dose de independência de energia, economiza bilhões de dólares e derruba o preço da energia elétrica para o consumidor. A reserva de gás natural Tamar é considerada a maior descoberta na história da economia do Estado de Israel. Quando se confirmou o tamanho da reserva, em 2009, foi considerada a maior daquele ano em todo o mundo. Somada às outras reservas encontradas em águas territoriais, cobrirão a necessidade de gás do país por pelo menos 25 anos. A plataforma, montada a noventa quilômetros da costa de Haifa, ficou pronta em dezembro. A construção e instalação foram consideradas um recorde para este tipo de projeto pois, segundo os técnicos, uma plataforma como esta, e em alto mar, leva ao menos dez anos para ficar pronta. Três mil técnicos e engenheiros trabalharam no projeto nos últimos quatro anos. A plataforma foi construída no Texas e transportada em partes por vinte embarcações pelo Atlântico e o Mediterrâneo. Uma boa etapa dos trabalhos foi realizada em novembro, diante da costa de
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UMA PLATAFORMA SEMELHANTE A ESSA VAI EXPLORAR O GÁS E A GRANDE DIFERENÇA SERÁ UMA ENORME
BANDEIRA DE ISRAEL
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magazine > capa
EUFORIA NA DESCOBERTA DA RESERVA DE HELETZ, EM 1960, E QUE PRODUZ ATÉ HOJE
Os números de Tamar 150 km de gasoduto submarino ligando a plataforma ao solo israelense, a maior do gênero no mundo 3.000 técnicos trabalharam no projeto A bandeira de Israel confeccionada para a plataforma pesa 640 kg, a maior da História 20 navios trouxeram do Texas as partes da plataforma Tamar A plataforma pesa 34.000 toneladas
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magazine > capa | análise Ashkelon e Gaza, enquanto acontecia o conflito com o Hamas e por isso teve a vigilância de fragatas da marinha israelense. A montagem final da plataforma em alto mar foi uma elogiada operação de engenharia. Para erguer as pesadíssimas peças da plataforma, foi utilizado o maior guindaste aquático do mundo, um equipamento que não se move nem mesmo quando enfrenta ondas de dezoito metros de altura. A plataforma Tamar é sustentada por colunas de 1.700 metros, que tocam o solo do mar. A colocação desses sustentáculos foi um espetáculo à parte. Com dezoito mil toneladas e ocas, foram conduzidas por uma balsa gigante e ao atingir o ponto exato deslizaram para o mar e aos poucos se encheram de água, afundando até chegar ao solo marinho. Depois foi a vez de colocar a plataforma, de onze mil toneladas. O enorme guindaste levantou toda a estrutura até ser encaixada, numa operação de muitas horas. A plataforma mede 292 metros de altura, cinquenta metros mais do que o maior edifício de Israel. Quando estiver carregada de gás, toda a estrutura pesará 34 mil toneladas. A partir do solo marinho, as tubulações penetram quase cinco quilômetros nas rochas, até alcançar o reservatório de gás. A plataforma Tamar, assim chamada em homenagem à filha do geólogo responsável pela descoberta, será operada por vinte técnicos, a maioria israelense. A plataforma tem quatro andares com apartamentos para técnicos, academia de ginástica completa e cozinha. Orgulho nacional, Tamar exibirá a maior bandeira de Israel já confeccionada na história do país, com 640 quilos. Somente na superfície da plataforma são 26 quilômetros de tubulações dos mais diversos calibres. A plataforma Tamar sugará gás de cinco poços instalados num raio de 250 quilômetros quadrados. O gás coletado será concentrado num só ponto e levado por um gasoduto submarino de 150 quilômetros, o maior do mundo do gênero, para uma usina em Ashkelon. De acordo com o projeto original, a usina deveria ser na praia Dor, ao norte de Tel Aviv, mas os ambientalistas opuseram-se alegando a existência de um santuário ecológico na região. Em dezembro, quando a plataforma foi inaugurada e apresentada à imprensa, quem cortou a fita foi o grande visionário do projeto o empresário Itzhak Teshuva, presidente da empresa Delek, e maior investidor israelense, parceiro dos norte-americanos da Noble Energy, no Texas. Durante a cerimônia, Teshuva falou com emoção a respeito do impacto da plataforma Tamar na história econômica de Israel. “Chega de energia poluidora e de preços altos. Aqui teremos uma fonte ecológica, limpa e barata, que trará economia para a indústria e a todo cidadão do Estado de Israel, em grande quantidade.” Ao seu lado o ministro das Energias, Uzi Landau, também falou do projeto em termos superlativos. “Estamos na plataforma que será o motor do maior crescimento da economia israelense em toda sua história”, disse o ministro.
O preço que se pagará pela autossuficiência Simon Henderson *
DESDE A SUA CRIAÇÃO, ISRAEL TEM SIDO MUITO DEPENDENTE DO ABASTECIMENTO ESTRANGEIRO PARA PRODUZIR ENERGIA. OUTRA RESERVA JÁ DESCOBERTA, LEVIATÃ, PODE TRANSFORMAR O PAÍS EM UM SIGNIFICATIVO EXPORTADOR DE ENERGIA DEPOIS QUE ENTRAR EM PRODUÇÃO, EM 2017
A
pesar de ostentar a imagem de país sem nenhuma reserva de petróleo, na pequena reserva Heletz, perto de Kiriat Gat, desde 1960, Israel produz algumas centenas de barris/dia, enviados para refinarias em Ashdod e Haifa. Mas a necessidade é muito maior, de cerca de 250 mil barris por dia, e por isso a maior parte tem de ser importada. Atualmente, o Azerbaijão e outras regiões da ex-URSS são
TAMAR, OS OUTROS POÇOS DE GÁS NO MAR TERRITORIAL DE ISRAEL
os maiores fornecedores de petróleo para Israel. O produto é transportado em navios tanque desde a Turquia, para onde é escoado por um extenso oleoduto. Agora existe a possibilidade de até mesmo a reserva Leviatã, a maior já detectada no território israelense, produzir petróleo. O gás natural foi descoberto nas águas territoriais israelenses em 1999. A primeira reserva explorada, a Mari-B, envia gás a refinarias no solo israelense desde 2004, mas está praticamente esgotada. Enquanto isso outras foram sendo descobertas, especialmente Tamar em 2009, estimada em três trilhões de metros cúbicos, e Leviatã no ano seguinte, projetada em cinco trilhões de metros cúbicos. Israel consome atualmente cerca de dois bilhões de metros cúbicos de gás/ ano. Até recentemente, boa parte vinha do Egito, por um gasoduto que desemboca em Ashkelon. Mas desde a queda de Hosni Mubarak, em março de 2011, a tubulação sofreu várias sabotagens ao longo do deserto do Sinai e finalmente, em abril do ano passado, os egípcios >>
E A INFLUÊNCIA NA GEOPOLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO
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magazine > capa | análise >> cancelaram o contrato alegando preços excessivamente baixos. Desde então, o governo israelense compra o produto no mercado internacional. Navios tanque chegam à costa israelense e descarregam o gás importado numa plataforma em alto mar, em frente à cidade de Hadera (uma hora ao norte de Tel Aviv), onde funciona uma das grandes usinas do país. Mas em breve, com a chegada do gás de Tamar, este fluxo vai parar. O gás também deverá mudar drasticamente o perfil de consumo de eletricidade em Israel. Até agora, a principal fonte de energia elétrica do país era o carvão importado, combustível caro e altamente poluente. Segundo o governo, em 2030 o gás natural das reservas marinhas do país será responsável por 80% da energia consumida. Os sonhos não param aí e Israel já planeja usar o excesso de gás natural muito além da geração de eletricidade. Há planos de o produto servir de matéria-prima para expandir a indústria química local e como combustível alternativo de automóveis. O país já tem projetos ambiciosos para carros elétricos, movidos por esta nova fonte de energia. Além de reduzir a dependência da gasolina, poderia transformar o país em líder em combustível alternativo. Mas antes de sonhar alto, o governo israelense precisa investir bastante em infraestrutura. Hoje, nenhuma residência está ligada à rede de distribuição de gás. Como o produto vinha do Egito, as principais usinas foram construídas em Ashkelon e Ashdod, no sul, de onde é distribuído. Mas será preciso aumentar bem mais esta rede. Um gasoduto será construído para escoar gás em direção ao Negev e outro para Haifa. No entanto, como as reservas de Tamar e Leviatã são mais próximas da costa de Haifa, os planos preveem a construção de mais duas usinas no norte. O país domina a tecnologia de processamento de gás e tem profissionais habilitados. Nova geopolítica De todo modo, a descoberta de gás na-
se tornar alvos. A produção do gás natural em si estará relativamente em segurança, pois as reservas estão localizadas em águas muito profundas. Além de posicionar barcos de patrulha, Israel poderá considerar a instalação de mísseis antiaéreos na plataforma Tamar. Mas isto não será simples, pois armas sofisticadas não combinam com as normas de segurança padrão em plataformas deste tipo em razão do perigo de incêndios em um ambiente altamente inflamável. A segurança ficará ainda mais sensível quando a plataforma Leviatã estiver pronta. Será muito maior e mais cara, e a mercê de um ataque do Líbano ou Síria. Além disso, a reserva é próxima da fronteira marítima de Israel com Chipre e como a Turquia não reconhece o domínio cipriota na região, os navios de combate turcos costumam circular pelo local fazendo exercícios de tiro. As instalações de processamento de gás na costa israelense também são vulneráveis. Em Ashkelon e Ashdod, ficarão ao alcance dos mísseis do Hamas, e o raio de ação das armas do Hizbolá alcança o porto de Haifa. E Eilat, candidata a servir de sede para as instalações de exportação para os mercados asiáticos, está na mira de mísseis da Jordânia e do Egito. Os sistemas israelenses antimísseis dão um certo grau de proteção contra essas ameaças, mas podem ser superados em um conflito de maior escala e mais duradouro. Do ponto de vista de Israel, a dissuasão contra ataques deste tipo é mantida pela habilidade e prontidão em usar força maciça contra essas ameaças.
O GÁS PODE EVITAR RISCOS DE ATAQUES TERRORISTAS COMO ESTE AO OLEODUTO QUE PERCORRE O
SINAI ATÉ ISRAEL
tural já repercute na diplomacia de Israel com os vizinhos. Em relação ao Líbano, em razão do permanente estado de guerra, os dois países nunca ratificaram um acordo de fronteiras marítimas, como o que existe entre Israel e Chipre e entre Líbano e Chipre. O governo de Beirute se recusa a ratificar a marcação de fronteira em alto mar proposta pela ONU, alegando que isto seria parte de negociações de paz. Além disso, para os libaneses a fronteira marítima deveria ser diferente, entrando nas águas israelenses atuais. Em relação aos palestinos, Israel considera “urgente” construir um gasoduto para fornecer o produto à Cisjordânia. Mas desde o cancelamento egípcio do contrato de fornecimento de gás a Israel, a noção de ligações comerciais como base para uma reconciliação diplomática foi posta em dúvida. Para os palestinos, celebrar um contrato desse tipo seria necessário a garantia dos norte-americanos. Os israelenses também querem a mesma garantia, mas para receber pelo produto. Em 2000, foi descoberto gás natural na costa da Faixa de Gaza, que continua inexplorado porque Israel bloqueou o desenvolvimento das prospecções alegando que o gás teria de
ser direcionado para o seu território. Desde que o Hamas tomou o poder no território em 2006, o tema não avançou. A Jordânia tem uma grande dependência externa de fontes de energia e também sofre com as frequentes interrupções no fornecimento do gás egípcio. O mais lógico seria garantir o suprimento por Israel, mas um acordo deste tipo seria difícil para a população local assimilar e, por isso, o governo de Amã pensa em comprar o produto do longínquo Qatar. Alvo de ataques Considerando que todo o território israelense pode sofrer um ataque militar ou terrorista, instalações em alto mar são particularmente vulneráveis. Os barcos e helicópteros que trabalham nas operações da plataforma também podem
Parceiro texano Para conseguir chegar às profundezas do mar e extrair o gás natural, Israel contratou experiência estrangeira e o principal parceiro é a empresa Nobel Energy, do Texas, que opera há quinze anos no Mediterrâneo: eles descobriram a reserva Afrodite, nas águas territoriais do Chipre. Os texanos detêm 70% desta reserva, localizada bem perto da Tamar israelense. Como pagamento, os texanos detêm 36% da reserva Tamar e 40% da reserva Leviatã, e além disso 47% do terminal de Ashdod. Do lado israelense, o principal investidor é o conglomerado privado Delek. A política do governo é permitir que empresas privadas liderem os investimentos, mas sempre de acordo com as necessidades estratégicas do país. O êxito da parceria entre israelenses e a Noble Energy é ao mesmo tempo uma grande vantagem e revelador da falta de sucesso até agora em atrair empresas internacionais de maior porte para explorar a costa israelense. É um problema político porque a maioria das companhias de gás e petróleo opera em outras partes do Oriente Médio, e enquanto a questão palestina continua insolúvel essas empresas não querem investir em Israel e colocar em risco suas operações. * Diretor do programa de política energética do Instituto para Política do Oriente Médio de Washington
Há planos de o produto servir de matériaprima para expandir a indústria química local e como combustível alternativo de automóveis. O país já tem projetos ambiciosos para carros elétricos, movidos por esta nova fonte de energia. Além de reduzir a dependência da gasolina, poderia transformar o país em líder em combustível alternativo
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magazine > personalidade | por Ariel Finguerman
SABAN (TERCEIRO DA ESQUERDA PARA A DIREITA) EM EVENTO DO FRIENDS OF ISRAEL DEFENSE FORCES, ENTIDADE QUE PRESIDE NOS ESTADOS UNIDOS
Haim Saban é rico, poderoso e influente COMO UM IMIGRANTE JUDEU EGÍPCIO EMPOBRECIDO SE TORNOU O 128º HOMEM MAIS RICO DOS EUA E O MAIOR LOBISTA PRÓ-ISRAEL NO SALÃO OVAL DE OBAMA? JUNTO COM A MULHER, JÁ DOOU US$ 225 MILHÕES EM CARIDADE, SEGUNDO A REVISTA FORBES
N
os anos 1950, uma grande leva de judeus egípcios chegou a Israel, expulsos do seu país quase sem dinheiro. Entre eles, a família Saban – pais, dois fi lhos e a avó – que se instalou em um apartamento de um quarto em Tel Aviv. Haim Saban, um dos fi lhos, até hoje lembra a expressão de angústia do pai sem meios de sustentar a família, nem evitar que compartilhassem o banheiro “com uma prostituta e o cafetão”, como relembra hoje. Saban, que se tornaria o 128º homem mais rico dos EUA, segundo a revista Forbes, completou apenas o ginasial e na
Israel dos anos 1970 decidiu ganhar a vida como músico. Ao mesmo tempo, aventurou-se como empresário de bandas de rock desconhecidas e agente de artistas para se apresentar no país. Quando a Guerra de 1973 começou cancelou shows e isso quase o arruinou. Decidiu continuar a carreira de músico e empresário, mas na França e EUA. Emplacou alguns sucessos, e perdeu o dinheiro. A sorte mudaria, de fato, em 1985, quando estava na cama de um hotel barato em Tóquio assistiu na TV a um programa juvenil meio kitsch, com muita briga e bastante colorido. “Não entendia muita coisa do que via
na TV japonesa, mas de repente tive um estalo e disse para mim mesmo ‘Que fascinante, mágico!’. Me pareceu algo incrível”, diria mais tarde numa entrevista ao The New York Times. Saban procurou os produtores do programa e comprou os direitos para fora da Ásia. Seguiram-se oito anos batendo de porta em porta dos estúdios de TV dos EUA, até convencer a Fox a transmitir a série, que ganhou o nome Power Rangers, tornando-se hit mundial. Menos de uma década mais tarde, já associado ao rei da mídia Rupert Murdoch, Saban vendeu o programa para a Disney por US$ 5,3 bilhões. Depois disso, Saban não parou mais de subir bem alto no mundo da mídia, com a típica chutzpá israelense. Em 2003, liderou um consórcio que comprou a ProSiebenSat, a maior rede de TV da Alemanha. Quatro anos mais tarde, “pulou fora” e vendeu as ações ganhando três vezes o que pagara por elas. Em 2012, comprou 7,5% da maior empresa de comunicação da Indonésia, o maior país muçulmano do mundo. Se a história de Saban acabasse aqui, já seria digna de nota. Mas, como disse ao The New York Times, resumindo sua filosofia de vida: “Sou um cara com um objetivo em mente, e este objetivo é Israel”. No auge da carreira empresarial, agora vivendo em uma mansão em Beverly Hills, na Califórnia, Saban colocou na cabeça se tornar o maior defensor individual de Israel nos EUA. Nem que para isto tivesse de se tornar o maior contribuinte do Partido Democrata em todo o país. E assim foi feito. Tudo começou com um encontro com Bill Clinton nos anos 1990, para tratar do apoio ao Estado de Israel. Ali começou uma grande amizade com o casal Clinton, que frequentemente se hospeda na residência dos Saban, em Los Angeles. Com milhões de dólares Haim apoiou apaixonadamente a campanha de Hillary para disputar a presidência pelo partido Democrata, quando foi derrotada por Barack Obama. Mas isto em nada arranhou a influência na Casa Branca. Há um ano, recebeu um telefonema de Barack Obama para uma conversa íntima no Salão Oval. Os dois ficaram ali, sozinhos, e frente à frente, por exatos 55 minutos, algo incomum. “Ele é simpático, inteligente e faz coisas maravilhosas por Israel. Mas não é do tipo que virá dormir na minha casa em Los Angeles. Ele gosta de dar abraços calorosos apenas na esposa Michelle e nas filhas”, disse Saban ao jornal Yedioth Achronot. Saban é casado com uma psicóloga infantil, Cheryl, com quem teve dois filhos e vive com dois enteados. Quando quer descansar, leva a família para a praia particular em Malibu. Junto com a mulher, já doou US$ 225 milhões em caridade, segundo a revista Forbes. Trabalha no andar de cobertura de uma torre empresarial no bairro Century City, um dos mais chiques de Los Angeles. Na América, o filho de imigrantes pobres se sente em casa. “Sou israelense e sou americano, e não tenho nenhum problema com isto. Me emociono muito quando o avião se aproxima de Tel Aviv e vejo a costa israelense. Por outro lado, me ca-
sei na América, meus filhos e netos são daqui e em casa falamos inglês. Numa escala de 1 a 10 de sorte na vida, estou no nível 11, e isto em razão das minhas duas identidades. Portanto, por que escolher uma delas?” Concorrer nas eleições americanas? Nem pensar. Porque jogando por fora Saban consegue influenciar as grandes decisões. Exemplo disso aconteceu logo após a eleição de Obama, quando o presidente foi ao Cairo e proferiu um famoso discurso aos muçulmanos. No caminho, Obama recebeu uma carta assinada por vários senadores para se lembrar dos interesses de Israel. Esta carta caiu nas mãos de Saban, que logo notou a ausência, entre as assinaturas, daquela do líder democrata no Senado Harry Reid. Por coincidência, naquele dia Reid estava na casa de Saban, que perguntou a razão de não ter assinado. O senador explicou que, na condição de líder, não assina cartas com outros políticos. “Então mande uma carta pessoal ao Obama”, sugeriu o empresário. No dia seguinte, Saban recebeu um comunicado do escritório de Reid que a carta fora despachada para o Cairo. Assim que soube da reeleição de Obama, em novembro, Saban escreveu uma carta a David Axelrod, consultor político judeu americano, considerado um dos mais próximos assessores do presidente. Um texto simples: “Mazal tov ve-siman tov”. O empresário explica: “É importante lembrá-lo, e também a todos os meus amigos judeus americanos, a sua parte judaica”. Uma vez por ano, em um show de grande força política, Haim organiza o Fórum Saban, encontro de alta cúpula entre políticos de Israel e dos EUA, com a ideia de fortalecer os laços entre os dois países. Este ano, em novembro, participaram Ehud Barak, Hillary Clinton, Avigdor Lieberman e Ehud Olmert, além do primeiro-ministro palestino, Salam Fayad. Os jornalistas puderam entrar por alguns minutos e tirar fotos. Depois, as portas foram fechadas ao público e Saban comandou o show.
Uma vez por ano, em um show de grande força política, Haim organiza o Fórum Saban, encontro de alta cúpula entre políticos de Israel e dos EUA, com a ideia de fortalecer os laços entre os dois países
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magazine > jerusalém oriental | por Nir Hasson colaboração com o município. O prefeito foi ao evento e, no caminho, a comitiva foi recebida com paus e pedras, mas o mukhtar (chefe da comunidade) local, Darwish Darwish, e outros, cercaram os carros e protegeram o prefeito Nir Barkat e os funcionários. A história da agência de correio em Isauía é reveladora das tendências contrastantes em Jerusalém Oriental, pois junto com a radicalização nacionalista, e amplo apoio ao Hamas e violentos confrontos relatados, ocorrem mudanças entre os palestinos locais. A este processo se dá o nome de “israelização”, normalização ou simples adaptação. As autoridades israelenses, com a prefeitura de Jerusalém na vanguarda, encorajam e em alguns casos fomentam esse processo, por meio de uma surpreendente flexibilidade burocrática. Há muitos exemplos, como o aumento do número de pedidos de carteiras de identidade israelenses; mais estudantes palestinos do ensino médio fazem exames de conclusão (em hebraico, b’chinot bagrut, ou seja, exames de maturidade, necessários para a inscrição nas universidades israelenses); redução da taxa de natalidade; mais pedidos de licenças de construção; aumento do número de jovens de Jerusalém Oriental se oferecendo como voluntários; maior nível de satisfação de acordo com pesquisas junto a moradores; melhorias nos serviços de saúde e uma pesquisa segundo a qual em um acordo de paz cada vez mais palestinos de Jerusalém Oriental preferem permanecer sob o domínio israelense.
MESMO SOB A NEVE, O TREM LEVE DE JERUSALÉM DEMOCRATIZOU O TRANSPORTE E APROXIMOU OS EXTREMOS DA CIDADE E SEUS MORADORES
Cada vez mais israelense NOS ÚLTIMOS ANOS, AUMENTOU O NÚMERO DE RESIDENTES PALESTINOS DA CAPITAL QUE FAZEM O VESTIBULAR DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, PARA ESTUDAR EM INSTITUIÇÕES ACADÊMICAS ISRAELENSES. O ESTUDO DO HEBRAICO É A CHAVE QUE ABRE MUITAS PORTAS. SERÁ QUE JERUSALÉM ORIENTAL ESTÁ EM PROCESSO DE “ISRAELIZAÇÃO”?
H
á um ano, a prefeitura de Jerusalém e o serviço postal de Israel criaram uma agência no vilarejo de Isauía, no sopé do Monte Scopus, nos limites municipais da cidade. Além da abertura da agência – parte do plano para melhorar os serviços postais em Jerusalém Oriental – as ruas da vila ganharam nomes e as casas, números. Isso é resultado de uma decisão do Supremo Tribunal de Jus-
tiça atendendo a pedido dos moradores e da Associação pelos Direitos Civis em Israel. Mas não havia onde instalar a agência pois a maioria dos edifícios de Isauía não tem documentação. A prefeitura de Jerusalém pensou em instalar em um prédio onde funciona a administração da comunidade, mas sobre ele pesava uma ordem de demolição. A agência foi, afinal, instalada entre os pilares do centro esportivo do bairro. Mas na véspera da inauguração solene o local foi incendiado e pichado com slogans contra a normalização e a
Mudanças pós-1967 Mas as estatísticas contam apenas uma pequena parte da história, pois há outros dados como maior número de palestinos no centro de Jerusalém Ocidental, em shoppings, no trem leve que cruza a cidade, e na área comercial de Mamila próximo da porta Yafo da Cidade Velha. Essas pessoas não varrem ruas nem lavam louça nos restaurantes, mas são consumidores e vendedores. E há também uma cooperação mais intensa entre os comerciantes da Cidade Velha e a prefeitura. Todos concordam que ocorre uma mudança notável, e inédita, desde que Israel conquistou a cidade na guerra de 1967. As pessoas se dividem a respeito do que teria provocado essa mudança: para alguns, teria vindo de baixo, impulsionada pelos sentimentos palestinos de desespero e da dúvida a respeito de um estado independente viável. Outros sugerem que se trata de um novo tratamento que as autoridades israelenses dispensam à parte oriental da cidade. Mas todos mencionam o muro de separação, que isola Jerusalém das cidades e aldeias da Cisjordânia, a leste, e que leva os palestinos de Al Quds (“o santuário sagrado”, como Jerusalém é conhecida em árabe) a olhar para o oeste, na direção dos judeus. O grande projeto do trem leve, que corta a cidade e facilita o acesso desde os bairros do leste ao centro da cidade, também contribui. A maioria dessas mudanças acontece sob o olhar e avaliação da opinião pública em Israel, mas as consequências podem ser dramáticas, particularmente em relação à possibili-
dade da divisão de Jerusalém e do país. Embora seja possível que Jerusalém já tenha escolhido a solução binacional. O ponto mais importante disso é a educação, pois um número cada vez maior de jovens palestinos quer estudar em instituições acadêmicas israelenses, e uma prova disso é o aumento acentuado de residentes de Jerusalém Oriental que fazem o vestibular do ministério da Educação. O ministério não tem dados exatos de quantos palestinos de Jerusalém Oriental prestaram vestibular, mas o fato é que o crescimento tem sido significativo. O gabarito para os vestibulandos palestinos é aquele adaptado para os estudantes árabes de Israel e os alunos estudam em uma das muitas escolas abertas nos últimos anos na parte oriental, entre elas uma que só prepara os alunos, como se fosse, no Brasil, o cursinho. No leste de Jerusalém, atualmente funcionam ao menos dez escolas particulares cujos alunos disputam vagas nas universidades israelenses. Embora israelenses e palestinos concordem que, além de razões triviais como o exíguo mercado de trabalho ou os postos de controle entre as universidades palestinas, o resultado deste processo pode ser uma profunda mudança na identidade da sociedade palestina de Jerusalém Oriental e que podem ter importantes implicações políticas. “Explico esse fenômeno em uma palavra: ‘sobrevivência’”, diz a pesquisadora do setor árabe do Instituto Jerusalém para Pesquisas de Israel Asmahan Mitzri-Harzallah, resumindo os problemas nos territórios e as poucas ofertas de trabalho em Jerusalém. Fenômeno político O Instituto Anta Ma’ana no bairro de Sheich Jara’ch, onde estudam entre sessenta e setenta alunos, vai receber outros mais, segundo o diretor Abed Abu Ramila. Para ele, os estudantes que prestam o vestibular em Israel pensam que é mais fácil que o Taog’iha (“vestibular”, em árabe) da Autoridade Palestina: “A prova israelense é mais flexí>>
Há outros dados como maior número de palestinos no centro de Jerusalém Ocidental, em shoppings, no trem leve que cruza a cidade, e na área comercial de Mamila próximo da Cidade Velha. Essas pessoas não varrem ruas nem lavam louça nos restaurantes, mas são consumidores e vendedores
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magazine > jerusalém oriental
>> ESTUDANTES ÁRABES DE UNIVERSIDADES ISRAELENSES ANDAM AO LADO DOS MUROS DA
CIDADE VELHA
vel, tem foco e se o aluno não passa, faz de novo o que, pelo Taog’iha, não é possível”. Para compreender o tamanho e a importância do fenômeno, é preciso retornar aos anos após a conquista de Jerusalém Oriental. Em setembro de 1967, Israel pretendia abrir o ano letivo em Jerusalém Oriental adotando seu currículo, mas os diretores e professores das escolas e os pais se recusaram e fizeram uma greve que durou dois anos, até Israel desistir e concordar em adotar o currículo praticado na Jordânia. Instaurada a Autoridade Palestina na década de 1990, o currículo jordaniano foi substituído pelo da Autoridade Palestina e pelos exames Taog’iha, fato importante na preservação da identidade palestina entre a população árabe.
A resistência ao currículo israelense se mantém, e além de redes privadas de ensino originárias da Galileia, das quais a mais proeminente é o Instituto Sachnin, que abriram filiais em Jerusalém Oriental, nenhum aluno de outras escolas secundárias prestou vestibular em Israel, embora preparem os alunos para estudar nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França. Quem resiste aos exames israelenses é o ministério da Educação palestino, preocupado com a hipótese de israelização e cogita de uma reforma do Taog’iha para interromper esse processo. De todo modo, há mais de dois anos funciona em Beit Chanina a escola privada Renesas Technology, cursinho cujo currículo tem por objetivo o vestibular em Israel. “A população precisa conhecer bem a língua e as ferramentas para lidar com uma realidade. Existem outras escolas seguindo nosso exemplo”, conta o diretor Aladdin Jaber. A escola é apoiada pelo grupo de empreendedores sociais PresenTense Israel, cuja diretora Nurit Tzur afirma não ter dúvida de que “é do interesse da sociedade israelense que haja uma mudança nesta área”. O fenômeno da “israelização” da educação de Jerusalém se reflete também no aumento do número de alunos de Jerusalém Oriental que estudam na Universidade Hebraica e em faculdades de Israel na cidade, e fora dela. De 2000 até meados do ano passado, os estudantes palestinos na Faculdade de Ciências Naturais e na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Hebraica de Jerusa-
lém passaram de 1% para 10% em relação ao total de alunos e há cinco anos criaram um grupo estudantil independente, o Watan, e não se misturam aos cidadãos árabes israelenses. Uma das razões para isso é porque Israel não reconhece o vestibular palestino como instrumento de admissão nas suas instituições acadêmicas. Mesmo aqueles que concluíram os estudos com distinção nas universidades da Cisjordânia lutam para Israel reconhecer os certificados. Desde 2011, dezenas de médicos formados na Universidade Al Quds reivindicam o reconhecimento dos seus diplomas e da sua condição de médicos pelo ministério da Saúde. As reformas educacionais intituladas “Coragem para Mudar” (oz vetmurá, em hebraico) e “Novo Horizonte” (ofek hadashá, em hebraico) também exigem das centenas de “professoras do jardim da infância” e “professores” uma “adaptação” em um seminário israelense. “As pessoas se perguntam: por que estudar sete anos se é possível entrar direto em uma faculdade em Israel?”, diz o diretor do Centro Comunitário de Beit Chanina Chusam Watad. “Prestei o Taog’iha com nota 96, mas isso não interessa à universidade”, disse Hanadi Qawasmi, 25, de Beit Chanina, ex-aluna de comunicação e administração de empresas na Universidade Hebraica. “Eu não queria fazer um ano e preparatório (mechiná, em hebraico), mas consegui entrar a partir do resultado do exame para avaliar minhas aptidões.” A diretora da Escola para Estudantes Estrangeiros da Universidade Hebraica de Jerusalém Mimi Eisenstadt conta que é cada vez maior o número de alunos com certificados Taog’iha que estudam no preparatório universitário. “Ele vêm porque buscam um nível acadêmico mais alto e também em razão da mensagem de tolerância que emana da Universidade”, disse Eisenstadt. Barreiras físicas O muro de separação exerce um papel importante, pois bloqueou os acessos e a comunicação entre as instituições acadêmicas e as cidades onde os estudantes moram e isso os obriga a esperas tediosas e diárias. A barreira também separou a parte central da Universidade Al Quds, a principal da
Vestibular à israelense Ao terminar o ensino médio, os jovens israelenses se apresentam para os exames gerais do ministério da Educação, que são para todos os alunos, segundo o grau de dificuldade que interessa a cada um. É possível fazer um exame de matemática de graus 3, 4 ou 5, este o mais difícil. Para os cursos de engenharia, arquitetura, ciências em geral e medicina, o aluno tem de passar o exame de grau 5, e assim sucessivamente. Esses exames de conclusão do ensino médio são chamados, em hebraico, de b’chinot habagrut. Dependendo da profissão, cada exame tem um determinado grau de acordo com a sua importância na vida escolar: matemática, inglês, gramática e literatura, história, Tanach (Bíblia), cidadania e árabe. Os alunos regulares são inscritos pelas próprias escolas onde estudam, embora alunos fora do sistema possam também ser examinados.
O PREFEITO NIR BARKAT MANTÉM BOAS RELAÇÕES COM OS PROTEGEM QUANDO VAI A JERUSALÉM ORIENTAL
ÁRABES , QUE O
academia palestina, em Jerusalém, do resto da cidade. “Eu tinha duas opções”, explica Qawasmi, “estudar nos Estados Unidos ou na Universidade Hebraica”, mas desclassificou a universidade palestina ao concluir o ensino médio, “uma decisão sem motivação política, mas de conveniência embora isso, por alguma razão, possa afetar a identidade palestina e levar à ‘israelização’ de Jerusalém Oriental”. No entanto, Qawasmi sugere que a identidade palestina se mantém e até está mais profunda e todos os anos participa da Nakba (“desastre” ou “catástrofe”, em árabe, em referência à criação de Israel em 1948) e de eventos palestinos nacionalistas. De todo modo, esse fenômeno fez aumentar a presença de árabes em espaços públicos – shoppings e no centro da cidade. Até o veículo sobre trilhos, que atravessa a cidade e liga a parte ocidental e oriental de Jerusalém, é importante. Maya Choshen, do Instituto de Jerusalém, há anos responsável pelas estatísticas anuais da cidade, admite que a “arabização” e “israelização” da cidade é cada vez mais rápida. Exemplos: a fertilidade da mulher palestina diminuiu de 4,2 filhos de décadas atrás para 3,9 filhos atualmente e aumentou o nível de educação das mulheres e a participação delas na força de trabalho. Há um aumento no interesse pelo estudo do hebraico nas instituições de ensino superior em Israel. As chances de melhoria de vida em Israel são muito maiores se conseguem passar no vestibular de Israel e se dominam o hebraico. No entanto, segundo Hoshen, “é possível uma interpretação diferente do que a simples ‘israelização’. Há uma mudança na percepção dos jovens, que preferem um cotidiano mais pragmático à luta nacional”. A explicação do pesquisador da sociedade palestina em Jerusalém Hillel Cohen é a possibilidade do surgimento de uma espécie de terceira via de identidade palestina, distinta daquela da Cisjordânia e a dos árabes de Israel. Tradução de Yosi Turel
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magazine > judeus russos | por Masha Zur Glozman
VLADIMIR PUTIN E SHIMON PERES DURANTE UM EVENTO EM NATANIA O ANO PASSADO
O milhão
que mudou Israel UM NOVO LIVRO EXAMINA A POLÍTICA, A CULTURA E O IMPACTO MÁXIMO DA ONDA DE UM MILHÃO DE IMIGRANTES QUE CHEGOU A ISRAEL DEPOIS DO COLAPSO DA UNIÃO SOVIÉTICA, A PARTIR DE 1989
A
última semana de 2012 foi muito confusa em Haifa: o rabinato informou aos donos de restaurantes e hotéis da cidade que se comemorassem o Ano Novo pelo calendário gregoriano, perderiam a certificação de kashrut. Houve protestos, é claro, aos
quais se juntaram diversas organizações e entidades de classe, contra esta ameaça principalmente em uma cidade de população mista como Haifa. Esse protesto, aliás, só ocorreu em razão da grande imigração russa da década de 1990, tema do livro The Million that Changed the Middle East (“O Milhão que Mudou o Oriente Médio”) de Lily Galili e Roman Bronfman. “Na União Soviética, um abeto (árvore da família do pinheiro) era o símbolo do início do novi god – o Ano Novo, um feriado familiar, privado, não imposto pelo governo, nem determinado pelo partido – era um toque colorido em uma vida cinzenta. Até chegar a Israel, a grande maioria dos imigrantes
perdera qualquer contato com os feriados judaicos, e desejava reconstruir algo da tradição que trouxera. No Estado comunista, esses judeus não conheciam Natal, e São Silvestre – o papa que deu nome à véspera do Ano Novo – lhes era totalmente estranho. A árvore de Natal decorada simbolizava ao mesmo tempo alegria e beleza, dois quesitos de que muito careciam.” “A reação dos vizinhos israelenses já residentes foi tanto de furor como de terror, diante da quantidade de ‘gentios’ que enchiam o país de símbolos cristãos. Os imigrantes ficaram assustados. Afinal, só em Israel aprenderam o sentido cristão do feriado, e no começo com tristeza abriram mão disso. Aqui e ali, as árvores se escondiam nos cantos dos apartamentos, envergonhadas e, principalmente, sem compreender um encontro complexo de culturas.” “Mas, então, as massas chegaram, e os novos imigrantes sentiram que o seu número lhes permitiria ignorar a reação israelense. Lentamente, mas de modo inexorável, os abetos passaram do domínio privado ao público, e até começaram a dar prazer aos vizinhos israelenses mais antigos. Atualmente, essas árvores fazem parte da paisagem de fim de dezembro, e também há clubes e pubs que promovem festas na véspera do Ano Novo só para foliões israelenses, que jogam isopor para dar a impressão de neve.” Esse é um exemplo aparentemente menor e que aponta para uma mudança nas ruas de Israel. The Million that Changed the Middle East trata da imensa influência que a onda de imigração da extinta União Soviética teve sobre a sociedade israelense, principalmente – mas não exclusivamente – do ponto de vista sociopolítico. Os autores – Lily Galili, que cobriu a grande imigração como correspondente do Haaretz durante cerca de vinte anos, e Roman Bronfman, que já foi o mais importante integrante da ala esquerda da Knesset da assim chamada comunidade russa – construíram a história dessa imigração em torno do eixo dos acontecimentos políticos. Usaram dados estatísticos e pesquisas publicadas ao longo dos anos em trabalhos acadêmicos, artigos e depoimentos pessoais. Garantias de empréstimo Para os autores, a história começa no final da década de 1980, quando o primeiro-ministro Itzhak Shamir percebeu que Mikhail Gorbachev estava disposto a liberar os judeus que quisessem deixar a União Soviética, porque em contrapartida ele queria garantias de empréstimos americanos para as reformas de longo prazo que planejara. Bronfman e Galili descrevem os meios clandestinos – e nem tanto – de que o Estado de Israel se valeu para realizar essa imigração, além de outros interesses como o de melhorar os “dados demográficos”, eufemismo que significa aumentar a população judaica de Israel. Shimon Peres, por exemplo, achava que o aumento da população de judeus do país daria mais autoconfiança para Israel iniciar as negociações de paz com os palestinos.
Por sua vez, os palestinos ficaram aterrorizados com a perspectiva da imigração em massa: “O presidente da OLP Yasser Arafat, e os líderes dos Estados árabes – Hosni Mubarak, Hafez Assad e o rei Hussein – convocaram uma reunião especial de cúpula para discutir meios e modos de persuadir a liderança da União Soviética para evitar que os judeus “fossem para Israel”. Segundo os autores, o temor desse afluxo de novos imigrantes teria aumentado a disposição da liderança palestina de lutar por acordos de paz. Galili e Bronfman também descrevem as esperanças e temores que afetaram a sociedade israelense quanto à imigração em massa: “A classe média ashkenazi e sua elite aguardavam, impacientes, os reforços humanos na forma de imigrantes brancos e educados, que poderiam salvar o país do que lhes parecia ser um processo de orientalização. Grupos de mizrahim (judeus orientais) manifestaram angústia e ansiedade com a possibilidade de perda de poder demográfico – e da força política que tinham adquirido graças a ele –, depois de décadas em desvantagem e distantes das fortalezas do poder. Por sua vez, os árabes israelenses temiam que sua terra fosse desapropriada para fins de assentamento dos imigrantes judeus e apreensivos quanto à possibilidade de perderem empregos em favor de absorver os russos”. O artigo intitulado “Hurry, hurry brothers” (“Depressa, depressa irmãos”), do jornalista Amnon Dankner, publicado no jornal Maariv em 1989, tratava do “aroma vulgar no ar” e esperava a chegada do “meio milhão ou mais de judeus que gostam de estudar e ler, ir ao teatro e a concertos”. Outros escritores “louvaram o caráter do gênio judaico inerente a esta imigração”, salientam Galili e Bronfman. Do ponto de vista político, a esquerda estava convencida de que o perfil educacional secular dos imigrantes iria atraí-los para o campo da paz, enquanto a direita acreditava – com base nas tendências políticas dos imigrantes soviéticos da década de 1970 – que rece>>
The Million that Changed the Middle East trata da imensa influência que a onda de imigração da extinta União Soviética teve sobre a sociedade israelense, principalmente – mas não exclusivamente – do ponto de vista sociopolítico
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magazine > judeus russos grar valia apenas para Israel. Dan Meridor, então ministro da Justiça do governo de Shamir, chamou o fenômeno de “sionismo cruel”, mas o entendia legítimo, “juntamente com um leve traço de dúvidas morais”. Aliás, os autores citam o jornalista americano Gal Beckerman, da The Forward: “Muitos judeus soviéticos encararam isso como uma traição dos Estados Unidos”, escreve Beckerman no livro When They Come for Us, We’ll Be Gone (“Quando Vierem a Nós, Teremos Partido”), de 2010. “Enquanto a Guerra Fria durou, a situação (dos judeus soviéticos) serviu de boa munição ideológica, mas agora que não eram mais necessários a América não iria fazer os sacrifícios necessários para aceitá-los.”
>> bia “reforços humanos naturais”. Os autores também analisam o papel de Israel na política de imigração americana. Depois de anos de campanha dos judeus norte-americanos, os Estados Unidos abriram as portas para receber os judeus da União Soviética. No entanto, o Estado de Israel via esses imigrantes judeus como “desistentes”: “Não menos importante do que a abertura das portas de saída da União Soviética foi o fechamento das portas de entrada dos Estados Unidos ao enxame de imigrantes judeus da União Soviética. Em 1989, quando começou a ser permitida a saída em grande número, em Viena, ponto obrigatório de passagem dos russos, 83% preferiam ir para os Estados Unidos, um enorme contraste em relação ao sonho sionista-demográfico de Israel”. “O papel que Israel desempenhou ao fechar as portas dos Estados Unidos tornou-se tão importante que, duas décadas depois, muitos ainda reivindicam participação nele, embora a maioria concorde que primeiro-ministro Itzhak Shamir teve um papel central nisso.” “Alguns veem esta manobra como um ato de coerção, manchado pela violação da liberdade de escolha dos imigrantes. Outros relevam completamente o aspecto moral dessa ação (de fechar as portas dos EUA). De todo modo, as duas correntes consideram o ato claramente sionista, embora agressivo.” O fato é que Shamir pressionou o Departamento de Estado norte-americano para acabar com “a cláusula que concedia status de refugiado nos Estados Unidos aos imigrantes judeus da União Soviética”. Ele chamou essa política de imigração de “insulto a Israel”. E assim, desde outubro de 1989, todo visto de saída soviético recebido por um judeu que procurava imi-
A LÍNGUA RUSSA DIVIDE COM O HEBRAICO, O INGLÊS E O ÁRABE AS INFORMAÇÕES OFICIAIS
Promessas enganadoras A burocracia da absorção em Israel mostrou-se repleta de falhas: judeus que tinham sucesso na Rússia, apesar de serem judeus, não foram capazes de encontrar, na pátria prometida, o emprego compatível com a sua educação e habilidade. Foram sustentados por promessas enganadoras (a cidade de Ariel, na Cisjordânia, por exemplo, foi anunciada como uma cidade universitária no centro), e logo havia sinais de um déficit habitacional real, que também repercutiu em outros setores da sociedade. Vários ramos do governo operavam de forma descoordenada. As autoridades mudaram rapidamente o seu lema: passaram das referências positivas quanto ao “o gênio judeu” para reforçar estereótipos acerca das prostitutas, máfia e diplomas falsos russos. “Exagerar a qualidade dos imigrantes era uma ação de marketing para preparar o público para as dificuldades inerentes à absorção em massa. O objetivo de destruir a imagem positiva dos imigrantes – de alto a baixo – tinha o sentido de se desculpar com os nativos (para os problemas com esses imigrantes).” O livro descreve a assimilação da comunidade russa, seu separatismo e influência. Os autores dizem que Itzhak Rabin deveu a virada eleitoral que o levou ao poder, em 1992, a esse segmen-
to da população. Naquela ocasião, o Partido Trabalhista conquistou quatro cadeiras na Knesset como expressão da sede de vingança dos imigrantes russos em relação ao partido Likud, que falhara na absorção da imigração em massa. O livro também trata longamente do desenvolvimento dos meios de comunicação em língua russa em Israel – Canal 9, Rádio Reka e o surgimento de dezenas de jornais de todos os tipos: “No auge, o número de publicações em russo – jornais diários, semanários, revistas e brindes contendo material de publicidade – passava de uma centena. Sob os auspícios da falta de interesse da sociedade israelense e sob a capa do fato de ser estrangeiro e não entender a língua, os meios de comunicação em língua russa poderiam fazer o que quisessem – como operar em um mundo com outras normas e ética estranhas à vida israelense. Esta tarefa atraiu escritores cultos, muito talentosos e maestria surpreendente nos segredos do idioma russo que desenvolveram mesmo vivendo em um estado totalitário”. Um dos objetivos de The Million that Changed the Middle East é demolir alguns mitos persistentes e os estereótipos agregados a este grande grupo de novos imigrantes. O texto faz isso de maneira profissional e equilibrada, criticando tanto a sociedade israelense quanto a população russa. Exemplo interessante diz respeito à crença difundida pela população israelense, inclusive muitos da própria comunidade de língua russa, que seus integrantes tendem para a direita política: “Em meados da década de 1990, o Instituto Adam para a Democracia e Paz em Memória de Emil Greenzweig conduziu uma experiência interessante: grupos de imigrantes da Comunidade de Estados Independentes foram apresentados às plataformas políticas de todos os partidos em Israel traduzidas para o russo, depois de o nome do partido ter sido excluído. A maioria dos imigrantes escolheu o Meretz. A revelação da identidade do partido surpreendeu. Afinal, no verdadeiro teste das eleições, apenas 4% deles apoiaram o partido ao qual estavam naturalmente inclinados no teste às cegas. A imagem era mais poderosa do que a realidade, e ressaltou ainda mais a perda de oportunidade e o fracasso da esquerda”. Prisioneiros de Sião No entanto, o livro não trata de temas importantes como a resistência sofrida e heroica dos Prisioneiros de Sião e dos refuseniks na União Soviética, e de seus parentes e simpatizantes em Israel e nos Estados Unidos. Essa campanha teve grande impacto na abertura dos portões soviéticos e posterior imigração para Israel. Também não há qualquer referência a respeito da relação ambivalente entre a imigração da União Soviética nos anos 1970 e nos anos 1990, que os autores admitem, mas não se aprofundam na sua análise. Para Lily Galili e Roman Bronfman, os jornais “eram um importante ponto de ligação entre os imigrantes mais antigos, dos anos 1970, que tinham encontrado uma nova fonte de emprego, e os novos imigrantes, que precisavam da imprensa também para serviços básicos, como instruções acer-
ca da gestão de uma conta bancária, algo estranho para alguém originário de um país onde não havia talões de cheques. Acerca da associação dos imigrantes dos anos 1970 e 1980 com os novos, o falecido sociólogo Baruch Kimmerling disse que ‘as duas ondas finalmente se complementavam, com os membros da elite da primeira onda, entre eles os Prisioneiros de Sião, os refuseniks e os intelectuais de várias áreas que até recentemente defendiam o sonho de absorção, sendo os lançadores da base institucional para o crescimento do enclave sociocultural e étnico’. Mais tarde, esta associação também se traduziria para a arena política e nos partidos fundados pelas duas ondas de imigração, que ficaram em mútua dependência”. A ausência de uma descrição da conexão entre essas duas ondas da União Soviética também se reflete no tratamento dado ao Fórum Sionista – mencionado várias vezes como “a mais poderosa organização de imigrantes”, instituição cujos presidentes e executivos, como Sharansky e Bronfman, passou a exercer grande influência política O livro não fornece informações básicas a respeito do crescimento desta organização quase clandestina de alguns poucos indivíduos apaixonados e engajados. De todo modo, The Million that Changed the Middle East é uma pesquisa histórica profunda e complexa, sucinta e de fácil leitura. A obra traz uma perspectiva ampla dos processos que ocorreram e ainda ocorrem em uma sociedade israelense sempre em mudança. O livro é revelador do profundo compromisso dos autores com a compreensão da comunidade de língua russa em Israel em particular e da sociedade israelense em geral: “Israel é muito melhor em operações do que na gestão de longo prazo necessária para montar uma política de absorção”, constatam os autores em um dos primeiros capítulos do livro. Neste início do ano civil de 2013, parece possível estender essa afirmação para a conduta diplomática, política e social de Israel em geral e em todos os segmentos da população.
O fato é que Shamir pressionou o Departamento de Estado norteamericano para acabar com “a cláusula que concedia status de refugiado nos Estados Unidos aos imigrantes judeus da União Soviética”. E assim, desde outubro de 1989, todo visto de saída soviético recebido por um judeu que procurava imigrar valia apenas para Israel
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magazine > noite dos cristais | por Benjamin Ivry
Narrativas de novembro de 1938 O PERÍODO DE 9 A 10 DE NOVEMBRO DE 1938 VIVE TRAGICAMENTE NA MEMÓRIA HISTÓRICA PELOS ATAQUES COORDENADOS CONTRA OS JUDEUS, NA ALEMANHA E NA ÁUSTRIA, POR FORÇAS PARAMILITARES E RESIDENTES LOCAIS
S
egundo o livro A Noite dos Cristais: Relatos de Testemunhas Oculares da Kristallnacht, para resumir os eventos nos quais cerca de quatrocentos judeus foram assassinados, “ou levados ao suicídio”, e trinta mil enviados para os campos de concentração de Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen, usando uma metáfora que evoca como janelas foram quebradas, é no melhor dos casos “ironicamente eufemística”. As narrativas a respeito da “Noite dos Cristais” foram originalmente compiladas pelo sociólogo norte-americano e heroico antinazista Edward Hartshorne, assassinado na Alemanha do pós-guerra ao descobrir, horrorizado, que a contra-inteligência do exército americano facilitava a saída de criminosos de guerra nazistas da Áustria, ocupada pelos soviéticos, e da Europa Oriental para a América do Sul, para servir como futuros aliados na Guerra Fria. Quase uma década antes, nos anos 1930, Hartshorne e sociólogos da Universidade Harvard organizaram um concurso de redação destinado àqueles que experimentaram a perseguição nazista. O concurso atraiu centenas de pessoas e entre os inscritos havia alguns entusiasmados nazistas que não tinham entendido bem qual o objetivo do concurso. Foram enviados mais de 250 manuscritos, a maioria de autoria de judeus. Desses, Hartshorne editou os textos que tratavam dos eventos da Kristallnacht para formar aquilo a que deu o nome de A Loucura Nazista: Novembro de 1938, livro que nunca seria publicado. Em 1941, Hartshorne enviou os originais para avaliação de uma editora e, ao mesmo tempo, foi convidado para trabalhar no serviço secreto americano, e o livro nunca viu a luz do dia. Em 2008, a socióloga Uta Gerhardt e o historiador político Thomas Karlauf descobriram o texto datilografado original de Hartshorne em um arquivo na Califórnia e que o consideram “um documento da maior importância para a história moderna”.
O conjunto da obra contém relatos escritos um ano ou pouco mais depois dos eventos de novembro de 1938. Inicialmente a propaganda nazista convenceu uns poucos, como Rudolf Bing, advogado nascido em Nuremberg – e que não deve ser confundido com o empresário de ópera do mesmo nome – que mandou seu texto da Palestina. A suposta desculpa para o pogrom nazista foi que em 7 de novembro o diplomata alemão Ernst vom Rath foi morto em Paris, pelo refugiado Herschel Grynszpan, nascido na Alemanha. No entanto, Bing anota que “não foi um acontecimento que tivesse realmente molestado o povo alemão”. E acrescenta: “Os judeus de Nuremberg, mesmo sendo uma comunidade reduzida e apesar dos duros golpes, não ficaram inativos nem submissos, mas assumiram o controle do seu destino, ajudaram àqueles que precisavam, tentaram manter a escola e o culto em atividade, e em particular, com o apoio geral, tornaram possível a imigração de jovens”. A esperança para a próxima geração era uma evidente força motivadora para Sofoni Herz, professora em um orfanato judeu em Dinslaken, na Alemanha Ocidental. Após a morte de vom Rath, reuniu as quase trinta crianças sob sua guarda e lhes disse: “As pessoas estão dizendo que nós, judeus, somos os responsáveis por isso... Suspeito que desde a Idade Média os judeus na Alemanha não tiveram de trilhar um caminho tão difícil quanto o que agora temos de tomar”.
POPULARES OBSERVAM O INCÊNDIO DE UMA DAS MUITAS SINAGOGAS DE BERLIM ATACADAS EM NOVEMBRO DE 1938
Alguns testemunhos sugerem a profunda depressão dos depoentes, como Hertha Nathorff, até setembro de 1938 médica chefe do Hospital de Charlottenburg, em Berlim. Ao saber das dificuldades de obter um visto de saída, Nathorff escreveu: “Nunca fiz uma prostituta esperar tanto tempo na porta de minha clínica como tenho de esperar agora, em pé, junto com outras mulheres torturadas pela preocupação... Ninguém teve pena de mim e ninguém ajudou a mim, que passei toda a vida tentando ajudar aos outros”. Outras pessoas transformaram a amargura em apetite de vingança. Moritz Berger “sonhou ser piloto de bombardeiro e reduzir [sua cidade natal] a ruínas”. No entanto, algumas revelam uma notável recusa à tristeza como Martin Freudenheim, advogado nascido em Berlim e que imigrou para a Palestina em 1939. Freudenheim conta que enquanto ele e a família viviam sob perseguição dos nazistas, também “lutava contra sentimentos de ódio de mim mesmo. Como uma prece, eu me repetia muitas e muitas vezes: ódio, não; o ódio ataca o interior das pessoas. Não tenha pensamentos de vingança: paciência, paciência, paciência...” E a atriz Margarethe Neff, nascida em Viena, antes de ser interrogada por policiais nazistas foi treinada por um amigo, funcionário de um escritório governamental. Ele a orientou
com o conselho: “Nunca diga: ‘Não sei’ ou ‘Não me lembro’. Isso causa uma má impressão”. Tomadas em conjunto, as vozes dos sobreviventes trazem o foco de volta para o essencial: a vida humana, sua preservação e perda. Desastres dispensam nomes metafóricos. O 9/11 precisa ser chamado de qualquer coisa, que 9/11? September 1, 1939 [dia da invasão nazista na Polônia e início da Segunda Guerra Mundial] é o título de um poema de W. H. Auden, escritor muito melhor do que o inventor da expressão “Kristallnacht”. Escrito para marcar o início da Segunda Guerra Mundial, o poema de Auden encontra dignidade na citação seca como a poeira do dia, mês e ano. Quem se lembra dos sofrimentos dos judeus em novembro de 1938 pode simplesmente se referir a 9 a 10 de novembro, 1938. Tradução de Yosi Turel
Desastres dispensam nomes metafóricos. O 9/11 precisa ser chamado de qualquer coisa, que 9/11? September 1, 1939 é o título de um poema de W. H. Auden, escritor muito melhor do que o inventor da expressão Kristallnacht
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magazine > holocausto | por Sara Wildman
O Kindertransport menos conhecido A HISTÓRIA DE 150 JOVENS JUDEUS TCHECOS FICOU IGNORADA POR MAIS DE 75 ANOS ATÉ QUE A JORNALISTA JUDITA MATYÁSOVÁ ORGANIZOU UMA REUNIÃO COM OS SOBREVIVENTES E ESCREVEU UM LIVRO QUE DÁ VOZ AOS ADOLESCENTES TRANSFERIDOS PARA A DINAMARCA LOGO NO INÍCIO DA SEGUNDA GUERRA
NA LIVERPOOL STREET, DE LONDRES, ESTÁTUA EM HOMENAGEM ÀS DEZ MIL CRIANÇAS ACOLHIDAS PELA GRÃ-BRETANHA
C
ento e cinquenta: um número enorme e, ao mesmo tempo, muito pequeno. Cento e cinquenta adolescentes judeus tchecos deixaram tudo e todos para trás. Cento e cinquenta jovens tchecos, selecionados pela Aliá para a Juventude da Agência Judaica e a fi lial dinamarquesa da Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade, em outubro de 1939, foram levados para a Dinamarca, e entregues a lares adotivos na zona rural para trabalhar em fazendas, onde foram bem recebidos e amados, mas com um compreensível e desesperado temor por aqueles deixados para trás. Durante algum tempo, receberam cartas por intermédio da Cruz Vermelha, que de repente foram reduzidos a curtos telegramas, garantias tênues de que em casa estava tudo bem. Não sabiam exatamente o que isso queria dizer e nem tinham muito tempo para pensar, pois logo estariam outra vez em movimento. Com os nazistas chegando à Dinamarca alguns judeus dinamarqueses foram levados por pescadores para a segurança da Suécia. Outros viajaram semanas por seis países de ônibus, barco e trem para viverem em kibutzim na Palestina. Somente quando começaram a chegar as informações a respeito dos campos de concentração e do genocídio entenderam o significado de pertencer àquele grupo de 150 jovens, a maioria dos quais nunca mais veria a família, e que transformou a aliá da juventude em irmãos, irmãs, primos e tias. A história clássica – e mais conhecida – de Kindertransport trata das cerca de dez mil crianças acolhidas pelos britânicos e trazidas da Tchecoslováquia, Áustria, Alemanha e Polônia, poucos dias antes de as portas da Europa se fecharem. A história desses 150 tchecos ficou ignorada por mais de 75 anos até que no final do ano passado a jornalista Judita Matyášová organizou uma reunião com os sobreviventes aquele grupo de 150 e escreveu um livro que lhes dá voz. Uma dessas jovens é Judith Shaked, nascida Stiasny, que durante os primeiros quinze anos tinha uma vida comum: morava com os pais Irma e Jakub Stiasny, e o irmão Ota em Rajhrad, vilarejo perto da cidade industrial tcheca de Brno. Os Stiasnys eram os únicos judeus de Rajhrad, e não muito religiosos, e por isso tinham limitada vida comunitária. A família observava sábados e feriados e as crianças estudavam com um rabino em outra cidade para aprender as tradições. Shaked sabia – é claro, todos sabiam – o que acontecia na Alemanha e na Áustria, ao lado, mas não se imaginava que a democrática Tchecoslováquia logo viria a sucumbir. No outono de 1938, a saúde do pai começou a se deteriorar e Shaked foi viver com uma tia e um tio, em Praga. Lá, ela foi introduzida ao sionismo. Na primavera de 1939 foi fundada em Praga uma escola da Aliá para a Juventude para substituir as escolas regulares, cuja frequência já era negada aos judeus. Os alunos integravam movimentos juvenis sionistas, muitos eram amigos da Juventude Macabi e estudavam principalmente judaísmo. No outono, ou-
tubro de 1939, Shaked foi para a Dinamarca com outros 25 adolescentes. Era o segundo grupo das aliot. “Se foi difícil dizer adeus aos nossos pais, foi muito mais difícil para eles decidir nos mandar embora”, revela Ann Steiner, nascida Federer, um ano mais nova do que Shaked, e residente no Canadá: “Meu pai disse que era como se estivéssemos em uma casa em chamas e a única maneira de se salvar era sair.” Na Dinamarca, Shaked foi viver na casa de Christian Olsen, pai de oito filhos, todos mais velhos do que ela. “As condições eram difíceis em uma casa de dois quartos humildes, sem eletricidade e água corrente, mas meus pais adotivos me receberam calorosamente e cuidaram de mim, tanto quanto podiam. Serei eternamente grata a eles”, conta Shaked no documentário. Ela ajudava na casa e trabalhava no campo, tarefas que a aborreciam, mas com as quais se adaptou. Tinha saudades da família e diminuía a tristeza nos encontros semanais no centro de Naestved, a cidade mais próxima, a quinze quilômetros, para onde ia de bicicleta. Lá recebiam orientações de enviados da então Palestina e que os preparavam para a nova vida. Nessas reuniões, estudavam hebraico, história judaica, debatiam os acontecimentos, realizavam atividades culturais. Os moços queriam se alistar nos exércitos aliados e algumas moças foram trabalhar como babás. A partir de 1940 eles tinham condições de viajar. Dov Strauss foi um deles. De trem, foi até a Finlândia, depois Leningrado, Odessa, atravessou o Mar Negro, em seguida, novamente de trem, foi de Istambul para a Síria e o Líbano até chegar a Rosh Hanikrá, norte de Israel e, depois, ao kibutz Geva. Shaked estava no grupo seguinte e desembarcou em Haifa em março de 1941, uma viagem de três semanas de ônibus, barcos luxuosos e trens de terceira classe. Foi para Ben Shemen, aldeia de educação para a juventude. A vida era boa, mas angustiante com as notícias da Europa e, no final da guerra, soube que os >>
“Se foi difícil dizer adeus aos nossos pais, foi muito mais difícil para eles decidir nos mandar embora. Meu pai disse que era como se estivéssemos em uma casa em chamas e a única maneira de se salvar era sair.” (Ann Steiner, atualmente no Canadá)
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magazine > holocausto >> pais e o irmão teriam sido deportados primeiro para Theresienstadt, em 1942, e para Auschwitz em outubro de 1944, e lá assassinados. Da família poucos sobreviveram. Ela casou-se com um membro do grupo. Mas os seus suplícios não tinham terminado, e dias depois de ser informada do assassinato dos pais, um telegrama a notificou da morte do marido, com quem recentemente se casara, na Guerra da Independência. Steiner soube no final da guerra que ninguém sobrevivera. Ela perdeu contato com os pais em 1942, quando foram levados a Theresienstadt. Depois, o silêncio. Em outubro de 1943, Steiner foi para a Suécia onde ficou até a libertação da Europa. Quando tudo terminou, fez o caminho de retorno e parou primeiro na Dinamarca. Encontrou a família adotiva feliz porque ela voltara e lhe pediram para ficar, mas compreenderam o desejo de ela tentar encontrar a família biológica, em Praga. O namorado dela foi voluntário nas tropas britânicas e também retornava à então Tchecoslováquia. Casaram-se em 1945 e uma tia, única sobrevivente da família, testemunhou o enlace. Em 1949, saíram da Tchecoslováquia para Israel, e para o Canadá em 1952. Ela somente retomou o contato com os poucos sobreviventes do Kindertransport para a Dinamarca graças ao documentário de Matyášová, e todos reconhecem as perdas e ganhos. Como em todos os relatos do Holocausto, não há histórias felizes de sobrevivência, pois até na sobrevivência havia dor. Penosas como são as histórias, o transporte dessas 150 crianças criou 150 mundos e dezenas e dezenas de nascidos nas gerações seguintes, todos descendentes das tarefas cumpridas pela juventude sionista. * Sarah Wildman é professora visitante no Projeto Internacional de Informação na Universidade Johns Hopkins
Luta contra o tempo
DAN YAALON PARTIU DA TCHECOSLOVÁQUIA EM 1939 E FOI PARA A DINAMARCA, ONDE FICOU ATÉ 1941, QUANDO PARTIU PARA A PALESTINA. ELE VIVE COM A FAMÍLIA EM ISRAEL Em 2009, um grupo de crianças de uma escola na cidade tcheca de Velky Beranov pesquisava para o projeto “Vizinhos que Desapareceram”, concebido para fazer as crianças entenderem como e por que tantas pessoas sumiram das cidades, vilarejos, no seu país e no mundo. Assim descobriram a estranha e triste história de Helena Böhmová que, em 1942, posou para uma foto em um estúdio. Böhmová nunca voltou para pegar a foto, que o fotógrafo guardou – ignorando o destino da moça. As crianças contaram a história para o jornal nacional tcheco Lidové Noviny, que publicou a foto de Böhmová e a informação de que todos os parentes dela haviam sido deportados. Quase todos: uma prima sobrevivera. “Helena Böhmová era minha prima”, revelou Susana Federer a Judita Matyásová, a autora da história. Em sua carta, Federer explicou ter sido escolhida entre três irmãs, para o transporte de crianças para a Dinamarca. Foi uma espécie de “Escolha de Sofia” (alusão ao filme) para a mãe. Posteriormente, perdeu o contato com os amigos do transporte. Matyásová ficou obcecada com a história esquecida dessas crianças e procurou reconstruir o Kindertransport tcheco antes que as memórias se perdessem. Ao longo de 2012 viajou várias vezes de Praga para Israel, passando pela Dinamarca e Suécia, entrevistando os refugiados e aqueles que os abrigaram. Além do documentário, quer escrever um livro rapidamente, pois são pessoas com idades entre 85 e 90 anos. “Cento e cinquenta pessoas passaram três anos juntas”, explicou Matyásová. Em 1943 fugiram para a Suécia, e por mais de setenta anos não se viram mais. Ela conseguiu localizar cerca de trinta deles que se reuniram em outubro, vindos da África do Sul, do Canadá e de Praga. Desde janeiro de 2011 o grupo chamado “Tchecos no Exterior” procura esses sobreviventes em todo o mundo. O tempo se esgota para salvar esta história única. Tradução de Yosi Turel
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magazine > a palavra | por Philologos
Tehom
SERÁ QUE O GÊNESIS TEM ORIGEM BABILÔNICA? FOI SÓ NO FINAL DO SÉCULO 19, QUANDO ESTUDIOSOS
COMEÇARAM A DECIFRAR INSCRIÇÕES CUNEIFORMES DA MESOPOTÂMIA, QUE SE OBSERVOU UMA SEMELHANÇA INTERESSANTE ENTRE A PALAVRA TEHOM E TIAMAT, DIVINDADE FEMININA BABILÔNICA
“N
o princípio, Deus criou o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo. E o espírito de Deus pairava sobre a face das águas.” Como acontece muitas vezes ao ler esse trecho, o que ocorre em todo Simchá Torá – quando começa o novo ciclo da leitura da Torá –, elas nunca perdem a majestade ou o mistério, tanto nas traduções como no original em hebraico. No entanto, o que a tradução não deixa transparecer, é algo que – com a ajuda de linguistas e historiadores do antigo Oriente Próximo – pode explicar em parte o mistério. Por trás do relato do Gênesis de um Deus solitário criando o universo reside, ao que parece, um antigo mito pré-hebraico segundo o qual o mundo foi criado por muitos deuses que se digladiaram durante o processo de criação. Essa dica é encontrada apenas em hebraico, na palavra tehom, traduzida na versão da Bíblia do rei James (como ocorre na maioria das outras Bíblias em inglês) como “o abismo”. Na medida em que tehom é uma palavra que aparece muitas vezes na Bíblia – a julgar pelo contexto – no sentido de profundezas das águas, esta tradução não deve ser desafiada. (Em hebraico moderno, mey tehom, “a água de tehom”, refere-se a toda água subterrânea.) Foi só no final do século 19, quando arqueólogos e estudiosos começaram a descobrir e a decifrar antigas inscrições cuneiformes da Mesopotâmia – e, com isso, a mitologia dos babilônios que as escreveram e há muito desaparecidos –, que se observou uma semelhança interessante entre a palavra tehom e a divindade feminina babilônica Tiamat, que aparece com destaque nas lendas da criação da Babilônia. Tiamat, a deusa da água salgada, juntamente com Apsu, o deus da água doce, são as duas divindades originais na cosmogonia babilônica da qual tudo veio a existir. O “Poema da Criação” babilônio, cuja composição provavelmente data do século 12 antes da Era Comum – embora os mitos que reconta sejam muito mais antigos – afirma: “Quando não havia céu, nem
terra, nem a altura, nem a profundidade, nem nome, quando Apsu estava sozinho, a água doce, o primeiro a gerar, e Tiamat, a água amarga... quando não havia deuses, quando o doce e o amargo se misturavam – nenhum junco fora trançado, nenhuma correnteza turvava a água – os deuses não tinham nome, natureza ou futuro –, então das águas de Apsu e Tiamat os deuses foram criados, no lodo das águas precipitados”. Apsu impregna Tiamat com os deuses do panteão babilônio, e esses deuses logo começam a brigar no útero. “A discórdia surgiu entre os deuses, apesar de serem irmãos, guerreando e brigando no ventre de Tiamat... Apsu disse: ‘Suas maneiras revoltam-me... Minha vontade é destruí-los, todos de sua espécie’.” Quando Tiamat ouviu isto, ficou sentida, se contorcia sozinha de desolação, e disse: “Por que devemos destruir os filhos que geramos?” Apsu prevalece, e Tiamat concorda em destruir os filhos, os deuses, que agora tinham nascido. No entanto, os deuses ficaram sabendo do plano, mataram Apsu antes que ele pudesse matá-los e conspiraram para assassinar Tiamat. Defendendose, ela toma a forma de um dragão do mar e cria onze monstros marítimos para protegê-la. O mais bravo dos deuses, Marduk, entra em conflito com ela e conjura um vento poderoso para ajudá-lo. Ele “bateu [Tiamat] na face, de modo que quando a boca se abriu para engolilo [Marduk], o vento rugiu na barriga dela, que inchou. Ela ficou embasbacada. E então Marduk atirou a flecha que lhe atingiu a barriga, perfurou-lhe o intestino e cortou-lhe o ventre... Tiamat estava morta, derrotada”. Pode-se perguntar o que esse combate horrível entre deuses tem a ver com a história da sublime criação do Gênesis? Não muito, talvez – a não ser que a palavra hebraica ru’ach, geralmente traduzida no Gênesis como “espírito”, tem o significado original de “vento”. Foi o espírito de Deus que misteriosamente se moveu sobre a face das águas, originalmente o vento de Marduk, que uivou na face de Tiamat? Seria o Gênesis a descrição do universo em seu início, antes da criação da luz, uma interpretação radicalmente reinventada, retrabalhada e desmistificada da lenda babilônica, uma versão em que a matéria primordial não é mais representada por deuses, e a grandeza monoteísta substitui a selvageria politeísta? É realmente muito possível, especialmente porque há fortes indícios de que a história de Tiamat, ou algo próximo a ela, era conhecida dos israelitas nos tempos bíblicos. Considere, por exemplo, o versículo do capítulo 74 dos Salmos em que o salmista diz a Deus: “Vós dividistes o mar pela vossa força, fizestes quebrar a cabeça dos monstros do mar [taninim] nas águas”. Embora em nenhum lugar da Bíblia haja qualquer relato de tal episódio, é claro que uma tradição a respeito de Deus ter vencido as forças das profundezas no momento da criação também existiu em círculos hebraicos. Entre o tehom do Gênesis e a Tiamat dos babilônios vieram longos séculos de desenvolvimento religioso intelectual, mas uma conexão entre os dois é altamente provável.
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magazine > lançamento | por Julio Nobre
HENRIK GAWBOWSKI, CONDUTOR DOS TRENS DA MORTE EM TREBLINKA E ENTREVISTADO POR LANZMANN EM SHOAH
A absoluta singularidade de
“Shoah”
O INSTITUTO MOREIRA SALLES (IMS) LANÇOU RECENTEMENTE O DOCUMENTÁRIO SHOAH (1985), DE CLAUDE LANZMANN, UM DOS
TRABALHOS MAIS EMBLEMÁTICOS E DEFINITIVOS A RESPEITO DA MÁQUINA DE MORTE NA ALEMANHA NAZISTA. SHOAH INAUGURA UM SELO CRIADO PELO IMS COM A PROPOSTA DE LANÇAR OBRAS RARAS
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m sua autobiografi a A Lebre da Patagônia (Companhia das Letras, 2011), Claude Lanzmann conta que no lançamento de Shoah, na China, uma estudante perguntou: “Que conselho o senhor me daria se eu quisesse fazer um documentário acerca do massacre cometido aqui pelos japoneses?” Lanzmann respondeu: “Vá ao Japão!” Esta passagem é reveladora da natureza de Shoah, documentário que muitos consideram um dos mais importantes a respeito dos eventos catastróficos que se abateram sobre as comunidades judaicas da Europa durante a Segunda Guerra. Ele foi à Polônia, onde se localizava a maior parte dos campos da morte e onde os comboios a caminho de Treblinka, Sobibor, Belzec ou Auschwitz desfilavam sob o olhar indiferente, às ve-
zes satisfeitos, dos camponeses. A caixa contém cinco dvd’s divididos em “Primeira Época”, “Segunda Época” e “O Relatório Karski”. Acompanha o encarte “A Transformação Estética da Imagem do Inimaginável”, assinado por Gertrude Koch, professora de estudos de cinema na Universidade Livre de Berlim. O encarte também traz “Um Depoimento”, de Jan Karski, autor de História de um Estado Clandestino, onde relata a visita que fez ao Gueto de Varsóvia como emissário do governo polonês durante o exílio. Karski foi entrevistado por Lanzmann em Israel durante mais de oito horas, em 1978, e no texto do encarte dá a sua opinião sobre Shoah. O Relatório Karski tem cinquenta minutos e foi produzido para a TV. A “Primeira Época” tem dois dvd’s e começa com a história de Simon Srebnik, um dos dois únicos sobreviventes do campo de concentração de Chelmno. Lanzmann vai a Israel, onde Srebinik passara a viver depois da guerra, para levá-lo a um passeio pelos arredores do antigo campo da morte. Em Shoah, não há imagens de arquivo e o espectador deve estar preparado para as sequências longas e lentas que mostram uma paisagem polonesa triste e devastada por décadas de comunismo ou os monumentos de pedra erguidos nos locais onde os judeus foram assassinados. As imagens vêm acompanhadas pelo áudio com os depoimentos de camponeses, sobreviventes, homens da SS subrepticiamente entrevistados. Uma sequência assustadora mostra os subterrâneos de Auschwitz, onde funcionavam as câmaras de gás, representados numa maquete com cortes longitudinais. O espectador defronta-se com uma massa de pessoas sendo gasificadas que lembra muito os alto-relevos da antiguidade greco-romana, com cenas de batalhas épicas. E o que se vê ali é exatamente isso: tentando respirar, as vítimas lutam desesperadamente pela vida. Lanzmann não poupa ninguém, nem mesmo os espectadores. As técnicas de extermínio, os comboios, as condições degradantes do transporte, as triagens e
humilhações a que os judeus eram submetidos, os termos utilizados pela burocracia nazista e os detalhes repugnantes são expostos com uma linguagem crua, sem nenhum artifício. Em outra longa sequência, a câmera passeia lentamente pelos complexos industriais do Vale de Ruhr, na Alemanha contemporânea, enquanto ao fundo ouve-se na engenhosa terminologia adotada pelos nazistas um relatório minucioso sobre o que deve ser feito para aumentar a eficiência dos caminhões Saurer, usados para exterminar em movimento os judeus com os gases expelidos pelo escapamento. Uma análise histórica Raoul Hilberg, autor do clássico A Destruição dos Judeus Europeus, explica em seu depoimento que a Alemanha nazista nada mais fez do que reeditar velhas medidas antissemitas para implementar o seu projeto de poder. Lembra que nos primeiros séculos do cristianismo os judeus eram excluídos por se recusarem à conversão; mais tarde, sob os governos seculares da Idade Média sofreram expulsões sistemáticas de acordo com o capricho do soberano de plantão; sob o nazismo, foram aos poucos sendo excluídos da sociedade, despojados da sua humanidade e, finalmente, exterminados. Neste ponto, segundo Hilberg, os nazis inovaram com a “Solução Final” porque os convertidos à força poderiam praticar a antiga fé em segredo, os expulsos um dia poderiam voltar, mas os mortos... Um pouco mais adiante, Hilberg analisa um documento da burocracia nazista com a planilha dos horários de saída e chegada dos trens da morte que “abasteciam” Treblinka. A análise de Hilberg contrapõe-se ao depoimento de um funcionário das ferrovias do Reich que, em Cracóvia, a sessenta quilômetros de Auschwitz, alega desconhecer a natureza do vaivém dos trens na Polônia ocupada. O historiador mostra também que o confisco de bens e dinheiro das próprias vítimas cobria os curtos de transporte. No caso dos 1.700 judeus de Corfu, por exemplo, como o trajeto cruzava as fronteiras sérvia e croata antes de chegar à rede ferroviária do Reich, os nazistas tiveram de
se contentar com as dracmas dos judeus gregos. Apenas 122 retornaram do complexo Auschwitz-Birkenau. Apesar de focado irredutivelmente no genocídio cometido contra os judeus pelos nazistas, Shoah deve ser visto por todos, judeus ou não, por várias razões. Em primeiro lugar, poucas pessoas puderam ouvir dos próprios sobreviventes o relato das suas desventuras durante a Segunda Guerra Mundial e, com o passar do tempo, essas oportunidades tornamse cada vez mais raras. Em segundo lugar, Shoah tem valor educacional e, nas mãos de professores antenados, constitui fonte de discussões e análise. Shoah também deve ser visto em memória dos milhões de homens, mulheres e crianças indefesas que foram covardemente assassinados por um regime totalitário. Se não em memória dos mortos, então em nome das dezenas de minorias de “seres humanos indesejáveis” atualmente espalhadas pelo mundo. E como alguém teve a coragem de realizar este documentário, só no resta ter a coragem de assisti-lo e de nos confrontar com o lado mais sombrio da nossa condição humana. Shoah, direção de Claude Lanzmann, Instituto Moreira Salles. Primera Época, 263 min. Segunda Época, 280 min. O Relatório Karski, 49 min. R$ 209,00
Quem é Claude Lanzmann? Claude Lanzmann nasceu em Paris, em 1925, em uma família judia não religiosa. Militou nas fileiras da Resistência Francesa em Clermont-Ferrand, no Liceu Blaise-Pascal, em 1943. Trabalhou durante muitos anos na revista Temps Modernes, ao lado do filósofo Jean-Paul Sartre. Além de Shoah, obra que consumiu onze anos de trabalho, dirigiu os documentários Por que Israel (1973), Tsahal (1997), Sobibor, 14 de outubro de 1943, 16 Horas (2001) e O Relatório Karski (2010), que consta da caixa lançada pelo Instituto Moreira Salles. Depois do exaustivo trabalho de coleta de informações, filmagens e montagem, Lanzmann não sabia que título dar ao documentário. Ele achava o termo “Holocausto” inaceitável. Pensou em “A Coisa”, como uma maneira de “nomear o inominável”, como conta na autobiografia A Lebre da Patagônia: “Quando Georges Cravenne, encarregado de organizar a exibição de estreia do filme, quis imprimir os convites e me perguntou qual era o título, respondi: ‘Shoah’. ‘O que isso quer dizer?’ ‘Não sei, quer dizer shoah’ ‘Mas vamos ter de traduzir, ninguém vai entender.’‘É exatamente isso que eu quero, que ninguém entenda.’”
Raoul Hilberg, autor do clássico A Destruição dos Judeus Europeus, explica em seu depoimento que a Alemanha nazista nada mais fez do que reeditar velhas medidas antissemitas para implementar o seu projeto de poder
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por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com
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Israel cinéfilo
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A juventude israelense pode pensar naquilo, mas aparentemente faz relativamente pouco. Pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que entre 35 países do mundo ocidental com jovens de 15 anos, os de Israel estão em 32º lugar quando perguntados se já fizeram sexo. Dos 874 israelenses judeus pesquisados, 18,5% já tiveram relações sexuais. O maior índice foi na Groenlândia, onde 59,8% afirmaram que fizeram sexo, depois a Dinamarca (37,7%), Romênia (32,9%) e Áustria (31,6%).
Novo relatório do Tzahal aponta que 26% dos jovens judeus israelenses não servem o exército. As razões: desde estudar em yeshivá (14%) até passado criminoso (3%). A tendência é aumentar em razão da baixa natalidade entre seculares e a aliá insípida dos últimos anos. Tem gente preocupada com esses dados, temendo furos na defesa. Outros comemoram, achando que ajudará o país a decidir que, enfim, está na hora de um amplo acordo de paz.
Sexo precoce
Alistamento em baixa
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Livre pensar Recentemente recebi carta do governo mandando apanhar as máscaras antigás para a família, para nos proteger caso Israel seja atacado com armas químicas. Racionalmente, considero essas máscaras de pouca valia. Se, de fato, o país for atacado com mísseis não convencionais, o solo ficaria contaminado durante anos, a água seria impossível de beber e o ar ficaria poluído. Apesar disso, o país gasta milhões de shekalim nesses equipamentos sofisticados. Outros países também poderiam ser atacados, como Coreia do Sul, Estados Unidos ou Japão, mas não ouvi falar de distribuição em massa como acontece aqui. Monteiro Lobato já se perguntava: paranoia ou mistificação? Na dúvida, fui buscar as máscaras.
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Relativamente bem
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Criança desesperança
A economia israelense cresceu 3,3% no ano passado, mas isto desagradou aos analistas. É um resultado decepcionante para alguns, especialmente se comparado com o ano anterior (4,6%) e com 2010 (5%). Mas o resultado até que não foi ruim comparado ao crescimento do PIB dos países do Oecd, que reúne as trinta economias mais desenvolvidas do mundo que apontou um crescimento médio em 2012 de 1,4%. O PIB dos EUA cresceu 2,2% e o da Alemanha, 0,9%. No Brasil, foi abaixo de 1%. Também o índice de desemprego no Estado judeu está ok, principalmente quando comparado com as nações mais desenvolvidas: 6,7% da população trabalhadora israelense estão desempregados contra 10,6 % na Itália e 9,9% na França.
Novo relatório do governo aponta que no país do high-tech, 905 mil crianças vivem na pobreza, ou seja, 35% do total de pequeninos israelenses. No Estado judeu, pobre é quem recebe menos que a média salarial do país. Isto é, o casal com dois filhos e ganho inferior a 6,3 mil shekalim (R$ 3,2 mil) é considerado pobre. A situação é bem pior quando se consideram judeus e muçulmanos: 66% das crianças árabes estão na pobreza, contra 24% das judias. Em Jerusalém, onde muçulmanos e ortodoxos constituem a maioria da população, 62% das famílias são pobres, enquanto em Tel Aviv apenas 12%. E mais: a pobreza aumenta no país. Há trinta anos, apenas 8% das crianças israelenses viviam em famílias pobres.
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Cidade moderninha Foi dada a largada para transformar Tel Aviv na primeira cidade de Israel com internet grátis e wifi em locais públicos. A Motorola ganhou a licitação e já começou a instalar os equipamentos necessários em oitenta pontos da cidade, incluindo a praia, setor histórico de Yaffo, principais avenidas, parques e no calçadão em frente ao mar. Vai custar U$ 1,5 milhão, bancado pela prefeitura, que alegou ser um “serviço básico no século 21”. Tanto os moradores da cidade quanto turistas poderão aproveitar a novidade, sem pagar nada. Mas um aviso: sites pornográficos, de jogos de azar e aqueles considerados violentos serão censurados.
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10 notícias de Israel
Continua bombando a ótima fase do cinema israelense. O documentário The Gatekeepers (Os Vigilantes do Portão, inédito no Brasil), de Dror Moré, foi selecionado para concorrer este mês ao Oscar de melhor documentário. É um filmaço e conta a história do Shin Bet, o FBI de Israel, por meio de entrevistas com seis ex-diretores da organização secreta. Para surpresa geral, entre os cinco documentários selecionados pela Academia de Hollywood, também está Five Broken Cameras, produção israelense-palestina que acompanha os protestos contra o Muro da Separação.
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Altos e baixos do canguru A lista anual dos bilionários da revista Forbes trouxe uma surpresa a respeito dos judeus australianos. No país dos cangurus, cinco das dez maiores fortunas pertencem a judeus, cujo patrimônio soma US$ 25 bilhões. Olhando mais de perto, a surpresa aumenta ainda mais. Entre eles está Frank Lowy, sobrevivente do Holocausto, que chegou à Austrália via Israel sem um vintém no bolso e hoje é dono da gigante de shopping centers Westfield Group. Um olhar mais aguçado revela outra surpresa: dos 110.000 indivíduos do ishuv australiano, 20% vivem na pobreza, principalmente os ortodoxos.
DNA da malandragem Em 2012 um assaltante invadiu a casa de um moshav na região central de Israel, fez o rapa e ainda abriu a geladeira e bebeu um energético tipo Red Bull para relaxar. Quatro meses mais tarde agiu outra vez, em um moshav no norte do país, onde entrou pela janela da cozinha, roubou um celular e antes de fugir, fumou um cigarro e jogou a bituca. Azar dele: a polícia enviou a latinha do energético e a bituca para um laboratório, que identificou o DNA e mandou prender o gaiato, Yunes Gamail, 28 anos, palestino que vive ilegalmente em Israel.
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Baixo astral O ano começou com uma chocante revelação: a maior causa de morte entre os soldados do Tzahal é o suicídio. Assunto tabu no exército israelense, o suicídio é tema raramente tratado em público, mas agora divulgado por pressão de uma ONG local, o Movimento para a Liberdade de Informação. Em 2011, segundo o próprio exército, 21 soldados se mataram, quinze morreram em acidentes de trânsito e doze foram vítimas de doenças. Esses números são muito semelhantes aos de dois anos anteriores. Num comunicado oficial, o Tzahal nega relação direta dessas mortes com a dureza da vida militar, alegando que apenas dois casos nos últimos cinco anos poderiam ser ligados a depressões na caserna.
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magazine > costumes e tradições | por Joel Faintuch*
HERING EM VÁRIAS MODALIDADES, MAS SEMPRE COM CEBOLA E PÃO PRETO, JÁ É UM APETITOSO BANQUETE
O banquete judaico A TORÁ ENFATIZA – E UMA CANÇÃO POPULAR REFORÇA – QUE A TERRA DE ISRAEL É “ERETZ ZAVAT CHALAV UDEVASH” (“TERRA DO LEITE E DO MEL”, EM HEBRAICO). NÃO SE TRATA DE UMA AFIRMAÇÃO TRIVIAL
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o semiárido do Oriente Médio, sobretudo há três mil anos, quando a agricultura era primitiva e as técnicas de irrigação precárias, alimento era questão de vida ou morte. Um país que se dava ao luxo de oferecer mais que o frugal, mas que na época eram alimentos preciosos e requintados, tinha características excepcionais. Até que ponto a fartura abrangia rebanhos de vacas leiteiras e apiários? A Torá menciona que os patriarcas Abraão, Isaac e Jacob possuíam grandes rebanhos em que predominavam ovinos e caprinos, não bovinos, mais exigentes em clima e alimentação. Dificilmente estava incluído gado de grande produtividade leiteira. Ainda assim, as pequenas quantidades de leite disponíveis já representavam uma dádiva.
Até hoje os judeus observantes reservam laticínios para a festa de Shavuot, pois segundo a tradição, foi desta forma que os nossos antepassados se alimentaram no deserto nos dias que antecederam a outorga da Torá no Monte Sinai. O leite e derivados são de preparação e consumo simples, comparados à carne que exige abate kasher, mais salgamento e dessalgamento para eliminar o sangue, além de longos intervalos entre as refeições, informações estas transmitidas ao povo judeu após o recebimento das Tábuas da Lei e demais mandamentos, e pouco convenientes para as agruras da vida nômade. Alguns rabinos garantem que na ocasião havia queijo, algo improvável mas não impossível, pois já era um alimento tradicional há dois mil anos, no Império Romano, durante o qual, aliás, surgiu a expressão caseum, origem de “queijo”, queso, cheese, kaese e outras palavras
em várias línguas para denominar o queijo. O mesmo se pode dizer em relação ao mel? A Torá, e mais especificamente o Talmud, há dois mil anos, fazem referência às abelhas como algo raro e, portanto, indica não ter havido propriamente abundância de mel na Terra Prometida. Na Gemará tratado Beitsá, capítulo quinto, informa-se somente que os chachamim (“sábios”) permitiram mover a cobertura da colmeia no Shabat, para as abelhas poderem sair e colher alimento e não morrerem de fome. Muitos defendem que o mel da frase da Torá diz respeito à calda de tâmaras, bebida muito mais disponível no Oriente Médio, ou eventualmente à própria tâmara que, seca ao sol, fica muito doce. É uma hipótese compatível com a realidade das muitas tamareiras na região. Leite, mel e os derivados são atraentes. Mas e o banquete, com seu caráter pantagruélico, faz parte da tradição israelita? Em absoluto. Nada na Torá, Talmud e demais Escrituras sugere que no judaísmo existisse o hábito de exagerar nos acepipes. A Mishná (Avot, capítulo sexto), reitera: “Pat bamelach tochel, umaim bamessurá tishté”. Deve-se dar preferência ao simples pão com um pouco de sal e acompanhar com água. Carne, peixe, vinho e outras delicadezas não são proibidos, mas são mais apropriados para o Shabat e dias festivos, nos casamentos e outras comemorações. A exceção está no primeiro capítulo do Livro de Ester, onde se lê que o rei Ahashverosh (Assueros), da Pérsia (atual Irã) realiza um banquete espetacular em homenagem à primeira esposa Vashti. Lê-se que havia ampla variedade de pratos, e servidos com fartura e generosidade, “keyad hamelech”, isto é, com o padrão do rei. A propósito, em ídiche não existe uma palavra que expresse precisamente banquete, utilizando-se, para isso, “seudá keyad hamelech” (sendo seudá “refeição”) para designar refeições memoráveis. Outro suntuoso banquete, desta vez no palácio babilônico (atual Iraque), é relatado no capítulo quinto do Livro de Daniel. O rei Belshazar, sucessor do cruel Nabucodonosor (Nevuchadnetsar, em hebraico) que destruíra o Primeiro Templo de Jerusalém e exilado os Filhos de Israel na Babilônia, entretinha mil convidados com utensílios de ouro e outras preciosidades. Subitamente uma mão começou a escrever na parede: “Mené, mené, tekal ufarsin”, cujo significado literal é “contado, contado, pesado e dividido”. Segundo o profeta Daniel, isto significava que, cuidadosamente contados e pesados, os dias do soberano estavam chegando ao fim. Em seguida, o poderoso império seria fragmentado e dividido, o que possibilitou o retorno dos nossos antepassados a Israel e a construção do Segundo Templo. Lembro que estas palavras em aramaico há anos estavam inscritas no portão metálico da Sinagoga Beth El na rua Martinho Prado, no centro velho de São Paulo, e que será o futuro Museu Judaico da cidade. A tradição ocidental de banquetes, aqueles realizados pela nobreza, milionários e, quando podem e a ocasião justifica,
por simples mortais, ainda que tenha múltiplas raízes, é greco-romana. Há 2.500 anos os gregos a denominavam de “simpósio”, e consistia mais de bebedeiras que comilança. Já os romanos se empanturravam tanto que, segundo alguns, era comum terminarem no vomitorium, um grande recipiente ou local designado para esta pouco elegante finalidade. Festanças no Império Romano eram motivo de orgulho nacional, ou ao menos da parte opulenta da nação que podia se permitir tal extravagância, e estão descritas em detalhes em obras como Satyricon, de Petronius. Os milionários chegavam a ocultar peças de ouro, pérolas e joias nos alimentos para os convidados as encontrarem e levarem como brinde. Ou talvez quebrarem um dente e se engasgarem com algum anel ou broche mais indigesto, pormenor que escapa aos registros. Nada parecido, portanto, com o honesto, porém recatado, gefilte fish com chrein e hering com cebolas, servidos quando um benemérito patrocinava o kidush (lanche) da sinagoga, ou ainda nas festas privadas do shtetl (“vilarejo”, em ídiche). A título de sobremesa uma fatia de kugel, o tradicional pudim de pão ou eventualmente de macarrão, era o suprassumo do requinte. Na Europa Oriental, há cem anos, açúcar era um item dispendioso e compotas de frutas, quando disponíveis, eram servidas em porções limitadas. A variedade bem doce (chamava-se aingemachts), equivalente aos doces concentrados brasileiros de elevada carga calórica, era alimento especialíssimo reservado para visitas ilustres ou datas de grande relevância. Uma dona-de-casa preparou um pote da iguaria para uma dessas ocasiões, guardou em cima do armário, e para que não atacassem a comida antes da hora avisou as crianças que era um veneno perigoso. Ao retornar à noite encontrou o caçula deitado de costas no chão, muito quieto. Assustada e imaginando alguma doença, ela perguntou o que aconteceu. – Mame, ich hob mich ongessamt – (“Mamãe, eu me envenenei”, em ídiche).
Na Europa Oriental, há cem anos, açúcar era um item dispendioso e compotas de frutas, quando disponíveis, eram servidas em porções limitadas e reservadas às visitas ilustres
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por Bernardo Lerer Os Cadernos Anatômicos de Leonardo da Vinci
A Notícia como Fábula
Editora Unicamp | 510 pp. | R$ 280,00
Renato Modernell | Summus Editorial | 168 pp. | R$ 34,90
É um livro enorme e logo nas primeiras páginas os autores agradecem à rainha Elizabeth, da Inglaterra, a permissão para reproduzir os desenhos existentes no Castelo de Windsor, feitos por da Vinci entre 1498 e 1513, a partir da leitura dos tratados médicos de Galeno de Pérgamo, de Mondino dei Liuzzi e de Avicena e mediante a dissecção dos corpos de um jovem e de um velho para compor um tratado de anatomia. Além dos desenhos, há o conteúdo teórico e prático das anotações que serviriam de base da construção pioneira do seu tratado de anatomia. A cada gravura corresponde uma longa explicação. Uma obra-prima.
“Realidade e Ficção se Confundem na Mídia” é o subtítulo deste livro escrito a partir da tese de mestrado do autor, jornalista, que sempre se perguntou se um texto tem condições de traduzir a realidade e partiu do pressuposto de que aquilo que consideramos “fato” e “imaginação” tem limites mais tênues e permeáveis do que comumente se supõe. O autor vem sendo muito citado nesses tempos em que se confundem as tarefas do jornalista, narrador de um fato, com as de ficcionista, um flâneur do que poderia ter acontecido.
Guerreiras da Paz Leymah Gbowee | Companhia das Letras | 288 pp. | R$ 39,50
Leymah ganhou o Nobel da Paz em 2011 e neste livro conta como conseguiu superar a violência e a destruição causadas pela guerra na Libéria (1989-2003) e seus milhares de mortos, provocados por forças do governo e rebeldes que arrasaram aldeias, estupraram mulheres e decapitaram crianças. Ela reuniu mulheres por todo o país exigindo paz e todas de branco ocuparam um campo de futebol em Monróvia e conscientizaram os maridos por meio de uma greve de sexo.
Você Conhece Aquela?
Tom Jobim
Dagoberto José Fonseca | Selo Negro | 144 pp. | R$ 38,40
Wagner Homem e Luiz Roberto Oliveira | LeYa | 319 pp. | R$ 44,90
Com o subtítulo “A Piada, o Riso e o Racismo à Brasileira”, o autor, um antropólogo e professor da PUC, mostra como as piadas ainda funcionam como instrumento de preconceito, discriminação e marginalização. Ele relaciona anedotas contadas no Brasil e as interpreta à luz das relações raciais entre negros e brancos e descobre nas piadas novas e antigas manifestações sociais que ganham vida no universo da produção cultural e a história local em um intercâmbio entre língua, poder, a força da palavra e das suas representações.
Wagner é o responsável pelo site de Chico Buarque e escreveu livros a respeito das canções de Chico e de Toquinho. Este, claro, trata das principais músicas de Tom Jobim, as histórias, lendas e casos em torno delas como, por exemplo, as divergências que envolvem as músicas escritas por Tom e Vinicius para o filme Orfeu do Carnaval, de Marcel Camus, e com quem os compositores não concordaram, a ponto de Vinicius ter se retirado da noite de estreia, apesar da presença do então presidente Juscelino Kubitschek.
Herança de Sangue Ivan Sant’Anna | Companhia das Letras | 200 pp. | R$ 34,50
Cinquenta Tons do Sr. Darcy
Até meados do século passado, Catalão, no interior de Goiás, fundada por bandeirantes e hoje uma próspera e pacífica cidade, era uma espécie de faroeste brasileiro, onde um senador da República foi assassinado na rua em pleno dia; um conflito, com mortos e feridos, de operários da ferrovia por causa de uma prostituta e o linchamento patrocinado pelos chefes políticos locais servem para o autor escrever um relato de luta, crime, ódio, paixão e crueldade.
Emma Thomas | Bertrand Brasil | 380 pp. | R$ 27,00
Vampeta – Memórias do Velho Vamp
O Retrato na Pintura Italiana do Renascimento
Celso Unzelte | Editora LeYa | 236 pp. | R$ 39,90
Jacob Burckhardt | Editora Unicamp | 212 pp. | R$ 46,00
Este velho ídolo do Corinthians acabou se tornando um dos maiores pândegos da história do futebol brasileiro e deixou imagens memoráveis como aquela rolando na rampa do Palácio do Planalto, em 2002, depois de recebido, com outros jogadores, por Fernando Henrique Cardoso. É uma coleção de casos e histórias de jogadores contadas com ironia, sarcasmo por este filho de Nazaré das Farinhas (Bahia) que doou o primeiro dinheiro que lhe sobrou para reformar o cinema da cidade.
O suíço Burckhardt (1818-1897), que estudou para ser pastor protestante, é um dos mais proeminentes historiadores da arte e da cultura e figura que influenciou a historiografia desses dois campos e considerado um dos pais da história da cultura. A Cultura do Renascimento na Itália, que antecede este O Retrato, revela a importância de, além de apresentar uma síntese histórica do período, conceder à infinidade de realizações dos homens na Itália da época um sentido e um caráter de unidade.
Onde Está Tudo Aquilo Agora?
O Silêncio contra Muamar Kadafi
Fernando Gabeira | Companhia das Letras | 200 pp. | R$ 29,50
Andrei Netto | Companhia das Letras | 368 pp. | R$ 49,50
Autor de O que É Isso, Companheiro?, Gabeira aqui passa em revista as cerca de cinco décadas de atividade política. Ele é o militante descrente que encontra na ecologia uma nova forma de ativismo, foi deputado federal por quatro mandatos, candidato a vice-presidente pelo PT e depois um dos seus mais acerbos críticos, candidato a prefeito e a governador do Rio, faz reflexões a respeito do fisiologismo e da política partidária e sobra até para o mensalão.
O autor é correspondente do Estadão na Europa e foi designado para cobrir a revolução líbia e a derrocada do regime de Kadafi, em 2011, mas foi preso no começo de março junto com um colega iraquiano do The Guardian. Ambos foram soltos em 10 de março, e Andrei entregue ao embaixador brasileiro em Trípoli. Ambos estavam clandestinamente no país desde fevereiro. Depois de solto e levado para Paris, Andrei voltou à Líbia e cobriu a revolta até o final.
O livro é uma paródia hilária em torno de um recente best-seller erótico (Cinquenta Tons de Cinza) e de um clássico da literatura (Orgulho e Preconceito, de Jane Austen) em que são personagens Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy, seus protagonistas, que põem de lado a moral e o recato para assumir os desejos mais ocultos de forma mais pervertida do que Christian Grey e Anastasia Steele, de Cinquenta Tons de Cinza.
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músicas magazine
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por Bernardo Lerer
Karel Ancerl
The Hobbit
Supraphon | R$ 64,90
Watertower Music | R$ 119,90
Karel Ancerl (1908-1973) foi um dos mais importantes regentes tchecos e suas interpretações à frente da Filarmônica Tcheca lhe valeram vários prêmios internacionais. Karel era judeu e durante a ocupação nazista da Tchecoslováquia foi enviado com a família para o campo de trânsito de Theresienstadt, onde organizou com os internos uma orquestra de cordas e coordenou a vida cultural daquele campo de concentração. Neste cd, rege peças de Ravel, Lalo e Hartmann.
É a trilha sonora do filme que já faturou milhões de dólares, já pagou sua fantástica produção e o trabalho do compositor, arranjador e maestro Howard Shore, nascido em 1946, em Toronto. As músicas são muito bonitas e se encaixam perfeitamente no filme, o que explica o fato de ele ter musicado cerca de oitenta produções, ganhado três Oscar’s, Globos de Ouro e vários Grammy’s e ser o preferido de diretores como David Cronenberg, por exemplo.
Noel Rosa – 100 Anos de Celebração Som Livre | R$ 27,90
O fantástico compositor de Vila Isabel viveu 26 anos (1910-1937), tempo suficiente para compor mais de 250 músicas e integrar com Braguinha e Almirante o Bando dos Tangarás. Morreu de uma tuberculose diagnosticada anos antes e nem isso o fez abandonar o cigarro, adereço de quase todas as fotos dele. Este cd com dezoito faixas foi lançado há mais de dois anos para celebrar os cem anos do nascimento do poeta.
100 Best Puccini
Herivelto Martins – 100 Anos
EMI Club | R$ 42,90
EMI | R$ 37,90
Os produtores juntaram em cem faixas o que consideram o melhor da produção de Giacomo Puccini (18581924), um dos filhos mais ilustres de Lucca, na Itália, onde em uma praça há uma estátua dele em bronze, sentado de pernas cruzadas. Ele é considerado o mais importante compositor italiano de óperas depois de Giuseppe Verdi e um dos expoentes do verismo, corrente literária que fez sucesso na Itália no século 19.
Este álbum com dois cd’s reúne o que de melhor produziu o compositor (1912-1992) que também foi cantor, integrando o Trio de Ouro, famoso no final dos anos 1930. A mulher dele era Dalva de Oliveira, para quem compôs seus grandes sucessos como Caminhemos, e pai de Pery Ribeiro. Traz gravações originais ou registros com grandes intérpretes como Alcione e a Velha Guarda da Mangueira.
Handel, Vivaldi, Carl Philipp Emanuel Bach
Cuba – La Antología
Naxos | R$ 27,90
Music Brokers | R$ 44,90
Produtor de discos é uma profissão à parte e o profissional geralmente ganha bem porque sabe do que o consumidor gosta e este cd é um bom exemplo, com peças de Handel e três concertos grossos (grandes), o mais longo deles com dezesseis minutos, além do famoso Il Gardelino, concerto de Vivaldi para flauta e um concerto para flauta de Carl Philipp, o mais talentoso dos filhos de Johan Sebastian Bach.
Três cd’s com os mais importantes compositores e intérpretes cubanos como Compay Segundo, Omara Portuondo, Ibrahim Ferrer, a orquestra de Perez Prado, Chucho Valdez, Eliadez Ochoa, e outros. A coleção começa com o invariável Chan Chan, peça que também abre os espetáculos do Buena Vista Social Club, no coração de Habana Vieja, e onde se sucedem vários grupos musicais dispostos a eternizar o son, assim mesmo, com “N”.
Beethoven
Christmas in the Heart
Deutsche Grammophon | R$ 34,90
CBS | R$ 69,90
Este cd da Deutsche Grammophon faz parte da coleção “The Originals”, depois remasterizada com execuções da Filarmônica de Berlim, que nem a guerra conseguiu destruir. Aqui, Ferenc Fricsay (1914-1963), húngaro, filho de mãe judia, que escapou de ser preso pela Gestapo porque foi alertado por um jornalista amigo, conduz a Sinfonia # 9 e a Abertura Egmont, com as vozes de, entre outros, Dietrich Fischer-Dieskau e Maureen Forrester.
Nas lojas da Livraria Cultura este cd tinha sumido. “Sobrou um. Vendeu tudo”, diz Camila, uma das vendedoras. Os consumidores se encantam com a voz aparentando um certo cansaço, como denunciando ser de uma pessoa já entrada nos 60 anos e quando perguntam quem é, pedem um exemplar. É Bob Dylan cantando músicas de Natal, grande sucesso em todo o mundo e que virou presente favorito aqui também. Vale a pena ouvir.
Mozart
Lee Morgan Live at the Lighthouse
Filarmônica de Israel | Deutsche Grammophon | R$ 34,90
Blue Note | R$ 149,90
Conduzida por Zubin Mehta, os consagrados violinistas Pinchas Zukerman e Itzhak Perlman executam a Sinfonia Concertante e o Concertone para Dois Violinos, cuja interpretação, segundo os críticos, “foi uma perfeita interação entre os dois músicos”. As peças têm um significado especial, pois foram compostas na fase da vida do gênio de Salzburg que marca a transição do menino prodígio para a maturidade da produção musical.
Lee Morgan (1938-1972) gravou este álbum durante um espetáculo em 1970 em um clube da Califórnia, e foi remasterizado para três cd’s. Morgan era um dos mais promissores trumpetistas de jazz e compositor de longas peças, quase todas com mais de quinze minutos de duração. Gravou dezenas de discos, de 1956 até a véspera da morte, em fevereiro de 1972, assassinado a tiros pela mulher, em um clube de jazz do East Village.
“Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena”
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magazine > com a língua e com os dentes | por Breno Raigorodsky ESTA É UMA BRUSCHETTA CLÁSSICA. NO CASO, SUBSTITUA O PÃO POR MATZÁ E O RESULTADO É ÓTIMO
A bruschetta e a matzá TODO COZINHEIRO QUE SE PREZA CONHECE TÉCNICAS PARA REAPROVEITAR O QUE SOBROU DAS REFEIÇÕES ANTERIORES, COMO A
CLÁSSICA BRUSCHETTA DOS ITALIANOS OU O KUGEL DOS ASHKENAZIM
C
om um dente de alho espetado no garfo e uma fatia de pão amanhecido reaquecido no forno, os italianos fazem maravilhas: o pão com simples especiarias, queijos para derreter, carnes, tomate ou até simplesmente um singelo ramo de alecrim coberto de sal e azeite. A bruschetta italiana é talvez a mais famosa das recuperações de um pão amanhecido, mas está longe de ser a única, pois todas as culturas que têm pão e sabem bem transformar as sobras em algo tão gostoso que até parece terem sido deixados de propósito para amanhecer e receber o esperado tratamento. Faço a minha bruschetta com matzá: é simples, vai apenas manteiga e sal e sofistico com za’atar, alecrim, tomatinhos e azeitona preta entremeados com queijo gruyère. É o máximo. Nesta onda de reaproveitamento, muitos pratos incorporados ou criados pelos judeus da Europa Oriental costumavam ser o must nos lares dos seus herdeiros, como é o caso de um kugel salgado que encontrei no livro da extinta Editora Shalom, feito com receitas para o Pessach recolhidas por Patrícia Finzi e testadas na cozinha experimental da revista Claudia por Edith Eisler. O kugel, aliás, é uma torta tradicional feita quase sempre com batatas. Aqui a matzá ocupa perfeitamente seu lugar.
Kugel salgado INGREDIENTES Meio quilo de músculo em pedaços Três colheres de sopa de óleo Duas cebolas Um dente de alho amassado Uma cenoura ralada Quatro matzot Caldo de carne quente Um quilo de espinafre (ou acelga) Molho de tomate Sal e pimenta a gosto PREPARO Doure a carne no óleo juntamente com a cebola picada, o alho amassado e a cenoura ralada. Cubra com água e deixe cozinhar durante uma hora. Coloque as matzot no caldo quente e cubra com um pano. Cozinhe o espinafre e escorra. Numa forma refratária, coloque camadas alternadas de matzá, carne, espinafre. Na última camada despeje molho de tomate por cima. Tempere com sal e pimenta a gosto. Leve ao forno moderado por trinta minutos.
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magazine > ensaio | por Tullo Vigevani *
A Primavera Árabe e a democracia É POSSÍVEL IDENTIFICAR A PRIMAVERA ÁRABE COM DEMOCRACIA? SIM E NÃO, AO MESMO TEMPO. COMO SEMPRE NESSES CASOS, A RESPOSTA DEPENDE DO PONTO DE VISTA, DA POSIÇÃO EM QUE NOS SITUAMOS
A
Primavera Árabe foi um movimento popular de grande envergadura, bastante pacífico, ao menos na Tunísia e no Egito, onde há décadas predominavam governos autocráticos. Houve uma verdadeira insurreição popular, até certo ponto espontânea. Setores importantes, com impulso democrático e progressista, participaram ativamente. O professor Gilbert Achcar, da School of Oriental and African Studies, da Universidade de Londres, revela a importância dos jovens e de organizações sindicais, por exemplo, a União Geral Tunisina do Trabalho (Ugtt) e a Federação Independente de Sindicatos, organizada no Egito quando o regime de Mubarak entrou em colapso. O movimento estudantil na Tunísia sempre foi importante. A Universidade do Cairo tem sido um centro de elaboração de ideias e de cultura. Personalidades como El Baradei e Moussa, no Egito, que não haviam rompido abertamente com os regimes, mas há tempo faziam restrições a eles, também se mobilizaram, liderando as camadas ilustradas, da classe média ou das elites. Dizer que, neste início de 2013, na Tunísia e no Egito não há democracia, ainda que inicial e não consolidada, não corresponde à realidade dos fatos. Os parlamentos tunisiano e egípcio são compostos por diferentes partidos. No Egito, o plebiscito realizado em dezembro de 2012 ratificou a Constituição com 64% a favor e 36% contra. Quais as razões, então, das críticas a esses regimes? Parte delas tem origem no fato de que prevalecem os partidos religiosos muçulmanos. Isso pesa fortemente no desenho das instituições. Os partidos religiosos obtêm maioria nos parlamentos, elegem presidentes da República, como é o caso de Morsi, do Partido Liberdade e Justiça, expressão da Irmandade Muçulmana, no Egito. Portanto, o problema a ser compreendido não é se há ou não há democracia, mas quais as razões porque nesses países árabes partidos religiosos conquistam a maioria dos votos. O raciocínio pode ser estendido a outros países com predominância muçulmana ou não, onde partidos religiosos têm a maioria dos votos. Claro que isso coloca a questão da estabilidade democrática, ou seja, como o Estado verá
os direitos “dos outros”. Mas não é disso que se trata agora. O crescente impulso religioso não é particularidade de Egito ou Tunísia e se verifica há muitos anos em lugares tão diferentes como Irã e Turquia, e em outros. Nos países árabes, parte das forças que tiveram grande peso na Primavera, em geral democráticas, modernizadoras e populares, não o teve nos processos eleitorais. Nesse grupo, está incluída parte da burguesia ilustrada, intelectuais, trabalhadores e estudantes organizados. Isso não é um fato isolado. Na vida democrática e nos debates a respeito da teoria democrática, isso é tema de importantes reflexões. Ainda de acordo com Achcar, as forças citadas acima, que tiveram papel importante na derrocada dos governos autocráticos, não o tiveram nos processos eleitorais. Nem os jovens, nem os sindicatos alcançaram a expressão política que tiveram os movimentos enraizados nas sociedades, na semi-ilegalidade durante décadas, que tinham penetração em camadas da população e que rapidamente se organizaram em força eleitoral. Esses movimentos também tiveram significativos recursos econômicos, em parte porque constituídos de pessoas e grupos ricos e pelos financiamentos estrangeiros, sobretudo de alguns países do Golfo. Neste ponto, caberia outra pergunta: estaríamos diante de uma situação intermediária antecedendo a novas ondas políticas que se materializariam quando a organização político-partidária se adensasse? Não é possível responder. Em muitos casos, não ocorrem novas ondas políticas: ou não têm força para novos avanços ou são contidas nesse objetivo. Não é por acaso que os movimentos religiosos ganham força. No Egito, a Irmandade Muçulmana foi fundada por Hassan Al-Banna em 1928. Teve forte papel na luta contra o rei Farouk. Já no final dos anos 1940 e nos anos 1950 era muito popular, contando com centenas de milhares de filiados. Apoiava-se no que considerava as virtudes do Alcorão. Atualmente integram as fileiras da Irmandade pessoas pobres, camponeses, outros grupos po-
ESTE MAPA MOSTRA A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO MUÇULMANA NO MUNDO: EM VERDE ESCURO, OS XIITAS; VERDE CLARO,OS SUNITAS
pulares e médios, mas também gente rica. Para alguns, desviouse do seu caminho histórico, aproximando-se das posições de Sayed Qutb, considerado o pai do fundamentalismo radical, portanto de posições fortemente críticas do modo de vida ocidental, mas sem propor um sistema socioeconômico alternativo. Ao mesmo tempo, segundo Ammar Ali Hassan, respeitado pesquisador e intelectual egípcio, no final do período Mubarak o pragmatismo transformou o fato de pertencer à organização em via de escalada social. Segundo o Centro de Estudos Econômicos e Estratégicos do Nilo, parte da elite da Irmandade tem conseguido acumular grandes riquezas, já entrelaçadas com o sistema internacional, como é natural em um mundo globalizado. Nesse contexto, é normal a significativa capacidade de o movimento ajudar os mais pobres, aliviando tensões sociais e econômicas e, sobretudo, aumentando o consenso social em torno dele. Multiplicaram-se as ações assistenciais com repercussões nos processos eleitorais. Essa ação acabou cruzando com outras políticas assistenciais, particularmente aquelas das sociedades salafistas, como a Associação Islâmica de Trabalhadores de Kuttabs e a Sunna. Os cientistas políticos egípcios mostram a importância dessas atividades para sustentar camadas despossuídas. Dito isto, cabem algumas considerações em perspectiva, a saber: as formas de atuação do movimento religioso são muito diferentes das adotadas pelo regime autocrático; a busca de apoio social é um eixo fundamental e, como a teoria política também ensina, desde o livro de Robert Michels, de 1911, o exercício do poder leva ao pragmatismo. O Egito é um grande país, em parte moderno, do mesmo modo que a Tunísia também é uma sociedade com o senso da modernidade. O padrão de política da Irmandade Muçulmana a aproxima de outros movimentos com características semelhantes como, por
exemplo, o Hamas. Ao mesmo tempo, os laços de sua elite rica sugerem a tendência a uma inserção pragmática no mundo contemporâneo. Suas boas relações com os Estados Unidos e com o Fundo Monetário Internacional seriam a melhor prova. Tudo indica, mas ainda não é uma certeza, que as relações com Israel serão mais duras, aumentando o grau de defesa dos interesses árabes, inclusive palestinos, mas dentro do realismo pragmático próprio do grupo. Utilizando uma linguagem brasileira, o Partido Liberdade e Justiça, parece tornar-se um Partido Ônibus. Provavelmente aumentarão as tensões internas. As externas já são visíveis e se apresentam na forma de uma oposição política ativa. Como dissemos, há setores não incluídos, que se sentem excluídos, isto é, jovens, trabalhadores organizados, parte dos intelectuais, uma parte das mulheres que reivindicam direitos e grupos religiosos minoritários. Em alguns casos esta oposição que reivindica o fortalecimento dos direitos democráticos pode ser mais militante na defesa do que considera as causas políticas árabes. * Tullo Vigevani é professor de ciência política e relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tudo indica, mas ainda não é uma certeza, que as relações com Israel serão mais duras, aumentando o grau de defesa dos interesses árabes, inclusive palestinos, mas dentro do realismo pragmático próprio do grupo. Utilizando uma linguagem brasileira, o Partido Liberdade e Justiça, parece tornar-se um Partido Ônibus
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NOME NESSIM HAMAOUI NESSIM MIZRAHI NICOLE SZTOKFISZ NILSON ABRAO SZYLIT PAULO BRONSTEIN PAULO DANILA PAULO R. FELDMAN PAULO ROBERTO EGEDY PEDRO MAHLER PERLA JOSETTE MOSSERI RAMY MOSCOVIC RAQUEL MIZRAHI RAUL CZARNY REBECA LISBONA RENATO FEDER RENATO KASINSKY RICARDO BERKIENSZTAT ROBERTO GARBATI BECKER RONEY ROTENBERG RONY SZTOCKFISZ ROSA BRONER WORCMAN ROSALYN MOSCOVICI ROSITA KLAR BLAU RUBENS BISKER RUBENS KRAUSZ RUBENS ERNANI GIERSZTAJN RUGGERO DAVID PICCIOTTO SAAD ROMANO SALO FLOH SALOMON WAHBA SAMI SZTOCKFISZ SANDRO ASSAYAG SARITA KREIMER SAUL ANUSIEWICZ SERGIO CIMERMAN SERGIO GARBATI GROSS SERGIO KORN SERGIO PRIPAS SERGIO ROSENBERG SIDNEY SCHAPIRO SILVIA L. S. TABACOW HIDAL SILVIA WAISSMAN ZLOTNIK SILVIO BRAND SILVIO CHAN SIMAO A. LOTTENBERG SIMAO PRISZKULNIK SIMCHA BINEM BERENHOLC VANESSA KOGAN ROSENBAUM VICTOR LINDENBOJM WALTER MEYER FELDMAN YUDAH BENADIBA YVES MIFFANO ZEEV TUCHMAJER
comissões e conselho fiscal
Obras Obras
Obras
Secretário
Conselho Fiscal Obras
Conselho Fiscal Coord. Conselho Fiscal Relator
Jurídica
Jurídica Conselho Fiscal Secretária Obras
114 HEBRAICA
| FEV | 2013
conselho deliberativo
Colaboração efetiva No ano em que completa sessenta anos, a Hebraica se compara cada vez mais a uma cidade de porte médio, especialmente na diversidade e urgência das demandas de sócios nas áreas esportiva, cultural e social. Quando fundaram o clube, os primeiros diretores criaram a figura estatutária do Conselho Deliberativo como um instrumento que representa o sócio perante a Diretoria. Esse papel ganha um significado crescente perante o quadro associativo, que se mobiliza para eleger e apoiar os seus representantes, esses mesmos que comparecem às reuniões e manifestam os interesses de grupos ou faixas etárias específicos. Em meio a um processo de renovação no qual jovens ativistas têm a chance de aprender a partir da experiência de conselheiros mais antigos, o Conselho Deliberativo está em posição de colaborar com a Diretoria em inúmeros projetos e empreitadas, seja por meio do trabalho minucioso do Conselho Fiscal, seja através das comissões permanentes de Administração e Finanças, Jurídica e de Obras. Nos últimos anos, esses quatro grupos têm atraído sócios que unem o conhecimento profissional em áreas específicas ao interesse genuíno no desenvolvimento do clube, o que resulta na implantação de rotinas e ações derivadas, na maioria das vezes, da análise dos documentos e das sugestões feitas durante as reuniões das comissões. É assim na Comissão de Obras, constituída por um grupo de profissionais que já atuou em gestões anteriores junto à Diretoria e conhece a fundo as etapas entre a ideia apresentada em uma planta e a obra concluída. A cada gestão, os ativistas da Comissão de Administração desenvolvem novos mecanismos para acompanhar e conferir os documentos enviados pela Diretoria. A Comissão Jurídica oferece novos ângulos para a análise de questões disciplinares, quando os sócios envolvidos não chegaram a um entendimento em primeira instância. Os conselheiros que participam dessas comissões adquirem um conhecimento profundo dos processos administrativos do clube e, graças a isso, se tornam mais que elos entre os sócios e a Diretoria e se transformam em fontes de esclarecimento quando questionados em relação às ações do clube. É cada vez mais evidente a utilidade do Conselho no aperfeiçoamento da relação entre os sócios e a Diretoria, pois durante as reuniões se manifestam as mais diferentes opiniões sobre um ou outro projeto. Na opinião do presidente da Mesa do Conselho, Peter G. Weiss, existe um potencial inexplorado nas comissões permanentes: “Através delas, a parceria entre Diretoria e Conselho será reforçada, o que aumentará ainda mais o caráter democrático da administração do clube”, conclui.
Reuniões Ordinárias do Conselho em 2013 LOCAL: TEATRO ANNE FRANK HORÁRIO: 19H30MIN 04/03/2013 22/04/2013 12/08/2013 – ASSEMBLÉIA GERAL 25/11/2013 09/12/2013
Mesa do Conselho Peter T. G. Weiss Presidente Horácio Lewinski Vice-presidente Cláudio Sternfeld Vice-presidente Luiz Flávio Lobel Secretário Fernando Rosenthal Segundo secretário Sílvia Hidal Assessora da Presidência Célia Burd Assessora da Presidência Ari Friedenbach Assessor da Presidência