Hebraica fev 15

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ANO LVI

| N ยบ 636 | FEVEREIRO 2015 | SHVAT 5775

Jornalista, judeu, herรณi da liberdade

sรฃo paulo



HEBRAICA

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palavra do presidente

Fortes e unidos Desde a sua fundação, há mais de sessenta anos, a Hebraica foi, além de um clube de lazer, cultura, esporte e entretenimento, a forma definitiva de um centro comunitário para onde sempre convergiram os interesses, as preocupações, os anseios e as angústias da comunidade de São Paulo. Há exemplos como a memorável Marcha dos dez mil, em 2002, que terminou na Hebraica em cujo centro cívico realizou-se o ato final de apoio ao Estado de Israel, na época de mais um conflito com os palestinos e, como recentemente, sob intenso bombardeio midiático. Foi um momento belo e inesquecível de união e congraçamento que marcou profundamente a história dos judeus de São Paulo, e do Brasil e com repercussão internacional. De alguns anos para cá, o alvo dos ataques são judeus da Europa e os agentes são pessoas das mais diversas origens e das mais variadas tendências políticas que vão desde a direita xenófoba até a esquerda antissionista. É a velha lenda de que os judeus são os culpados não importa do quê e, por esta razão, precisam ser demonizados. Com diferença de poucas horas para o atentado contra o jornal satírico Charlie Hebdo, um braço do radicalismo vomitou balas de AK-47 em quatro judeus que faziam compras em um mercado kasher para as cerimônias do shabat. Este evento de racismo, intolerância e discriminação, típicos do antissemitismo, certamente poderia perder a merecida importância se os judeus de todo o mundo, e principalmente o Estado de Israel, não lhe tivessem dado a verdadeira dimensão, por exemplo, enterrando os quatro em Israel. Foi, novamente, um inestimável momento de união e demonstração de que devemos estar juntos, fortes, unidos, inamovíveis e determinados em defesa de nossa história, memória e tradições. Em resumo, a segurança e a força dos judeus são tanto maiores quanto mais unidos estiverem e mais fortes se sentirem e de preferência em um ambiente que lhes pode garantir isso. E um centro comunitário, isto é, a Hebraica, é este local.

Shalom

Avi Gelberg

ASEGURANÇA E A

FORÇA DOS JUDEUS SÃO TANTO MAIORES QUANTO MAIS UNIDOS ESTIVEREM E MAIS FORTES SE SENTIREM E DE PREFERÊNCIA EM UM AMBIENTE QUE LHES PODE GARANTIR ISSO


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sumário

HEBRAICA

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Carta da Redação

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Destaques do guia A programação de fevereiro e março

13

cultural + social

14

sinagoga Há treze anos, a Hebraica inaugurava um local exclusivo para o culto religioso

16

mercado gourmet Crianças e adolescentes tiveram programação especial de férias em janeiro

18

comunidade Os eventos mais significativos da cidade

40 AS FOTOS DE VASSILI NOS EVENTOS QUE COBRIU TÊM SENTIDO DO TESTEMUNHO

27

juventude

28

carmel Entrevistamos o coreógrafo convidado Ran Hirsch, de Tel Aviv da Maratona Cultural Acesc

30

fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidadeda Maratona Cultural Acesc

31

esportes

32

pratique verão Um jeito saúdavel de começar as atividades do ano

14

22

fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

O ENTÃO PRESIDENTE HÉLIO BOBROW, AO LADO DO MINISTRO DO TRABALHO JACQUES WAGNER E DO PROFESSOR JOSÉ GOLDEMBERG, NA INAUGURAÇÃO DA SINAGOGA


HEBRAICA

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tênis As ideias da nova diretoria para atrair mais praticantes

36

hebike Ciclistas da Hebraica aderem ao esforço em prol do Hospital Alyn

37

fotos e fatos Os destaques do mês dos espotistas da Hebraica e da comunidade

32

39

magazine

40

Capa literatura Obra-prima do russo Vassili Grossman ganha tradução para o português

50

eleições Entrevistamos o jornalista luso-israelense Henrique Cymerman

54

notícias de Israel Os casos mais quentes do universo israelense

58

terrorismo Os atentados contra a comunidade judaica francesa e o Charlie Hebdo

60

a palavra Investigamos os significados de “Shoá” em vários idiomas

62

antissemitismo Conheça a história judaica de Tessalônica, uma das mais vibrantes da Europa

66

viagem O fascínio e a sedução das paisagens da Turquia

70

memória Uma entrevista exclusiva com o recém-falecido filho de I. B. Singer

73

cinema A atriz judia que arrebatou dois Oscar consecutivos na década de 1930

74

leituras A quantas anda o mercado de ideias?

76

música Lançamentos do pop e do erudito para curtir em casa

78

ensaio Como vão os negócios entre Brasil e Israel?

5

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80

curta cultura Dicas para o leitor ficar ainda mais antenado

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diretoria

82

segurança Nova diretoria adota medidas para garantir tranquilidade

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conselho Novos planos e estratégias para 2015


6

HEBRAICA

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carta da redação

Por que os judeus? Se a revista Hebraica fosse semanal, o noticiário a respeito do atentado contra o Charlie Hebdo dia 7 de janeiro, e o ataque ao mercado kasher de Porte de Vincennes que matou quatro judeus, seria publicado dias depois. Mas a revista é mensal e o tempo, até para eventos importantes como estes, é implacável. Por isso, se não é tema para a capa desta edição, é objeto de um texto cujo objetivo é mostrar que para os europeus em geral e para os franceses, em particular, os assassinatos no mercado kasher não teve tanta importância assim. E fica a pergunta: se não tivessem atentado contra o Charlie Hebdo teria havido marchas e manifestações em nome dos quatro judeus mortos? Haveria gente com cartazes com frases como “Je suis juif aussi”? Não, claro que não. A capa trata de Vassili Grossman, um dos maiores jornalistas de todos os tempos, correspondente do Estrela Vermelha, o jornal do exército da antiga União Soviética, nas mais importantes batalhas da Segunda Guerra. O gancho para as dez páginas a respeito dele é o lançamento no Brasil, traduzido diretamente do russo, de Vida e Destino, um libelo contra o antissemitismo e que tinha em Joseph Stalin uma figura fulgurante. Mas o “Magazine” nos reserva uma instigante análise a respeito das eleições em Israel em março e o seu significado para o futuro do país, de autoria de Ariel Finguerman, autor de uma entrevista com Israel Zamir, filho de I. Bashevis Singer, e que o pai demorou a reconhecer. Leiam também uma reportagem acerca de Tessalônica, ou Salônica, como alguns preferem, cidade grega cuja população num determinado momento era quase toda de judeus mas foi dizimada pelos nazistas com a ajuda dos fascistas locais.

ANO LVI | Nº 636 | FEVEREIRO 2015 | SHVAT 5775

DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE

SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR)

CLAUDIA MIFANO (COLABORAÇÃO) FLÁVIO M. SANTOS

DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES

ALEX SANDRO M. LOPES

EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9º - CONJ. 95

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR CEP: 05435-040

- SÃO PAULO - SP

DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE

DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES

IMPRESSÃO E ACABAMENTO ESKENAZI INDÚSTRIA GRÁFICA PUBLICIDADE TEL./FAX: 3814.4629

Boa leitura Bernardo Lerer - Diretor de Redação

3815.9159

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700

OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE

INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-

PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA

calendário judaico :: FEVEREIRO 2015 Shvat 5775

DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.

A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO

“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800

BRASILEIRA

MARÇO 2015 Adar 5775

dom seg ter qua qui sex sáb

dom seg ter qua qui sex sáb

1 8 15 22

1 8 15 22 29

2 3 9 10 16 17 23 24

4 11 18 25

5 6 7 12 13 14 19 20 21 26 27 28

2 9 16 23 30

3 10 17 24 31

SÃO PAULO RUA HUNGRIA,

EX-PRESIDENTES LEON FEFFER (Z’l) - 1953 - 1959 | ISAAC FISCHER

4 11 18 25

Tu B’Shvat

5 6 7 12 13 14 19 20 21 26 27 28 Purim

(Z’l) - 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTENBERG 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 1975 | HENRIQUE BOBROW (Z’l) - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS 1991 - 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 - 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | ABRAMO DOUEK 2012-2014 | PRESIDENTE AVI GELBERG

VEJA NA PÁGINA 98 O CALENDÁRIO ANUAL 5775

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3814.4629 / 3815.9159 DUVALE@TERRA.COM.BR



g 8

HEBRAICA

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por Giovahnna Ziegler

destaques do guia TU BISHVAT PLANTE UMA ÁRVORE. CULTIVE UMA VIDA. TU BISHVAT, TAMBÉM CHAMADO DE “ROSH HASHANÁ LA’ILANOT”, PODE

TU B’SHVAT, O ANO NOVO DAS ÁRVORES

SER TRADUZIDO LITERALMENTE COMO

“O ANO NOVO DAS ÁRVORES”. EM ISRAEL, É TRADIÇÃO QUE AS PESSOAS, SOZINHAS OU EM GRUPOS, PLANTEM UMA ÁRVORE PARA INCENTIVAR SEU

CULTIVO, RELEMBRAR A IMPORTÂNCIA DE SUA PRESERVAÇÃO E PROMOVER A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA.

A HEBRAICA VEM SEGUINDO ESSE EXEMPLO E NÃO PODERIA DEIXAR PASSAR EM BRANCO UM DIA TÃO

IMPORTANTE. DIA 1º DE FEVEREIRO,

DOMINGO, O CLUBE IRÁ CELEBRAR DA

7 Dias ESPAÇO GOURMET

Saída Gastronômica 28/2, sáb, saída da Hebraica às 8h30 Inf.: 3818-8773

GALERIA DE ARTES

DEPOIS SEGUINDO PARA O GRAMADO

Exposição “Vivências”, de Laura Astschul De 21/2 a 24/3 Inf.: 3818-8888/8889

TODOS TERÃO A OPORTUNIDADE DE SE

JUVENTUDE

MESMA MANEIRA, COMEÇANDO O DIA NA SINAGOGA, ÀS 10H30, E LOGO

PARA O PLANTIO DE UMA ÁRVORE, ONDE APROXIMAR MAIS DESTA DATA E HISTÓRIA.

NO DIA 7 DE FEVEREIRO, NOVAMENTE JUNTO AO KKL E NA’AAMAT PIONEIRAS E ÁRVORES VIVAS, A COMEMORAÇÃO CONTINUA, OFERECENDO ATIVIDADES RELACIONADAS AO MEIO AMBIENTE. 1/2, DOM, 10H30 SINAGOGA INF.: 3818-8888

Horários do ônibus

Oficina Montagem – Novas Turmas de Teatro Durante o mês de fevereiro Inf.: 3818-8841

• Terça a sexta-feira Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45

• Sábados, domingos e feriados Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45

• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30





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cul tu ral + social


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cultural + social > sinagoga

Tripla comemoração em 2015 A SINAGOGA COMEMORA TREZE ANOS DE INSTALAÇÃO NO ATUAL ESPAÇO EM UM DOS PONTOS MAIS NOBRES DO PRIMEIRO ANDAR DA SEDE SOCIAL. COM CAPACIDADE AMPLIADA, ALÉM DE UM VISUAL MAIS MODERNO, A SINAGOGA GANHOU NOVOS FREQUENTADORES QUE, UNIDOS AOS ANTIGOS, FORMAM UMA COMUNIDADE, QUASE UMA FAMÍLIA

EM 2002, COM ALEGRIA, A COMUNIDADE ACOMPANHOU A CERIMÔNIA DE TRANSFERÊNCIA DOS LIVROS DA TORÁ PARA A NOVA SINAGOGA

A

eferméride foi anunciada nas redes sociais pelo ativista José Luiz Goldfarb. “A mudança foi essencial para ampliar o papel da tradição e da cultura judaicas no cotidiano do clube e certamente o aniversário justificará um evento especial ao longo deste ano”, escreveu aos que responderam à sua publicação na internet. No entanto, a história da Sinagoga é mais antiga e merecerá futuras menções, entre elas ao ex-vice-presidente Giuseppe Nahaissi (z´l), que se dedicou a transformar um local pouco utilizado em uma sinagoga com serviços no Sha-

bat e em outras datas festivas do calendário judaico. Além de José Luiz Goldfarb, também Maurício Mindrich juntou-se ao sonho visionário de Nahaissi e escolheu a Hebraica quando a sinagoga de Santo André, onde mora até hoje, foi incorporada ao movimento Beit Chabad. “Na época, a Sinagoga do clube me pareceu a melhor opção e é nela que me encontrei. Fui um dos alunos do curso para formação de ba´al Korê (‘leitores da Torá’), organizado pelo Departamento de Cultura Judaica em 1999. Na época, faltavam pessoas para essa

função e também de tocadores de shofar e contrataram o professor Simão Amar (z’l). Antes do curso, houve duas tentativas para criar um terceiro serviço religioso para as Grandes Festas, dirigido aos jovens, no antigo Salão BenGurion, mas isso só se concretizou com êxito depois da reforma do local e sua transformação na Sinagoga que temos hoje”, relata Mindrich. Wolfgang Fleischmann, frequentador assíduo, lembra bem da inauguração da nova Sinagoga. “Foi uma cerimônia bonita, que na época teve a presença de Moise Safra (z’l) e do en-


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EM TREZE ANOS, OS SERVIÇOS RELIGIOSOS DAS GRANDES FESTAS CONQUISTARAM UM NÚMERO CRESCENTE DE FAMÍLIAS QUE FREQUENTAM SEMANALMENTE A SINAGOGA OU SOMENTE NESSA ÉPOCA DO ANO

tão futuro ministro do trabalho Jacques Wagner, entre outros”, lembra. Para o chazan David Kullock, na função há 23 anos, a mudança da Sinagoga marcou o início de um período de crescimento, tanto em relação ao espaço físico como espiritual das famílias que se juntavam ao núcleo original. “Para mim, significou também o aperfeiçoamento na minha forma de cantar. No meu caso, a Sinagoga é uma extensão da casa, pois minha esposa Sylvia comenta muitas vezes as parashot, e minha filha, Margot, que fez o bat-mitzvá aqui, hoje

canta no encerramento dos serviços de Shabat”, descreve o chazan. E é Sylvia quem acrescenta: “Nosso casamento foi realizado na Sinagoga há sete anos e muitos dos convidados eram as famílias que vemos semanalmente aqui”. Os serviços religiosos de Shabat deram origem a outros elementos que hoje integram o caráter judaico da Hebraica. Em Tu B’shvat, o ano novo das árvores, que será no início deste mês (fevereiro) é comemorado pelos sócios e pelos ativistas do KKl (Keren Kayemet LeIsrael) e a entidade beneficente

feminina Na´amat Pioneiras. “Ao longo do ano, uma centena de garotos faz bar-mitzvá e um número grande de pais realiza a cerimônia de dar o nome hebraico às filhas. Além disso, o Shabatinho atrai crianças que, por sua vez, atraem os pais aos serviços de Shabat. “E temos também o Cultura Judaica News, um informativo que também completa treze anos e traz comentários sobre a Parashá da semana, além de anunciar os eventos seguintes da Sinagoga. Só agora me dei conta de que produzo o boletim há tanto tempo”, conclui Mindrich. (M. B.)

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cultural + social > espaço gourmet

CRIANÇAS SE DIVERTEM DURANTE AS FÉRIAS NO ESPAÇO GOURMET

A arte de comer

A PRIMEIRA “SAÍDA GASTRONÔMICA”, DIA 28 DE FEVEREIRO, A PARTIR DAS NOVE HORAS DA MANHÃ, É A NOVIDADE DO GOURMET PARA 2015, APÓS O ÊXITO DO PROGRAMA “FÉRIAS NA COZINHA”, COM CRIANÇAS DE 7 A 11 ANOS E ADOLESCENTES ATÉ 16 ANOS

A

“Saída Gastronômica” começa com o mesmo objetivo da sempre procurada “Saída Cultural”: levar os associados que gostam de arte e gastronomia a locais destacados da cidade. Em 2014, as exposições foram visitadas sem filas, com horários marcados, precedidas por cafés-da-manhã ou encerradas com almoços no Espaço Gourmet. Em 2015, esses passeios continuam, mas agora a obra de arte é a comida. A primeira “Saída Gastronômica” será dia 28, às nove horas, do clube para o bairro da Liberdade, mais precisamente, aos redutos tailandeses, e o cicerone é Maurício Santi, chef que sabe tudo a respeito do assunto. Orientada por Maurício, a turma vai conhecer e escolher os ingredientes e, na volta ao Gourmet, preparar as receitas do almoço tailandês.

As inscrições estão abertas e são limitadas, não deixe para a última hora. Os interessados devem ligar para o Espaço Gourmet (3818-8773) ou para Central de Atendimento (3818-8888). Cozinheiros mirins e jovens Durante as férias, duas turmas ocuparam o Espaço Gourmet: a de crianças de 7 a 11 anos, com aulas da chef Lúcia Sequerra, e a dos adolescentes até 16 anos, levados ao fogão pela chef confeiteira Júlia Figueiredo, experientes em tratar com turmas dessa faixa etária. Nas aulas lúdicas de Lúcia o grupo fez sanduiches, bolos e bolinhos com ingredientes que não comeriam em casa: sanduiche de pastrame com pepino, e almôndega de carne com cenoura ralada e molho de tomate, por exemplo. Come-

ram, divertiram-se, beberam água, sucos e chá com pêssego em pedacinhos em vez de refrigerantes. Algumas crianças seguem o cardápio kasher em casa, outras têm intolerância láctea, daí o bolo sem leite (parve) e com pouca gordura. “Quero a receita para fazer em casa”, diz Teo Richter, 11 anos, veterano nesses cursos de férias. Entre as meninas, Lior Barnea, 11 anos, quer desenhar roupas quando crescer e, por enquanto, gosta de fazer bolo de chocolate e shakshuka, o típico prato israelense à base de ovos e vegetais. Da mesma idade, Iris Levaton prepara cookies, saladas, strogonoff. “Gosto muito de cozinhar, me divirto”, conta entusiasmada com os bolinhos feitos no dia. Fernanda Pabst, 7 anos, quer cozinhar quando ficar mais velha e por enquanto, faz brigadeiro em casa, ouvindo a mãe dizer para tomar cuidado. “Gostei do biscoito sem assar”, e vai fazer em casa. “Gostei do bolo ‘nega maluca’”, diz Carolina Bekhor, 10 anos, acostumada a preparar bolo de frango e cupcake. As aulas para os adolescentes começaram no final de janeiro e a programação de Júlia Figueiredo incluía salada, massa e sobremesa por aula. (T. P. T.)



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por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br

comunidade

Comunidade se solidariza com a França

A ditadura brasileira analisada em Israel

Os presidentes Fernando Lottenberg e Mário Fleck, respectivamente da Conib e da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), enviaram mensagens de apoio ao presidente do Consistório Judaico da França, Roger Cukierman. Lottenberg, Fleck, o diretor de Relações Institucionais da Conib, Sérgio Napchan, o vice-presidente executivo da Fisesp, Ricardo Berkiensztat, e o representante do American Jewish Committee, Murial Asseraf, visitaram o Consulado da França em São Paulo em solidariedade às famílias dos jornalistas do Charlie Hebdo, dos policiais mortos e dos civis assassinados no mercado kasher. E o diretor jurídico da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro Ricardo Brajterman estava em Paris e participou da marcha na Place de La Republique.

rasil: 50 Anos Depois do Golpe Militar: a Busca de Democracia e Justiça Continua” foi o tema do simpósio internacional realizado na Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ), organizado pelo Programa de Estudos Brasileiros do Departamento de Línguas Românicas e Estudos Latino-Americanos da UHJ. É o último dos eventos nacionais e internacionais lembrando os cinquenta anos do golpe civil-militar no Brasil e foi assistido por estudantes, professores e o embaixador do Brasil, Henrique Silveira Sardinha Pinto. O evento foi organizado pelo professor James N. Green, da UHJ e da Brown Univesity, e Michel Gherman, recémdoutorado pela Universidade Federal do

Residencial tem novo site Atualmente, 153 idosos vivem no Residencial Israelita Albert Einstein, na Vila Mariana, com atendimento médico e psicológico 24 horas por dia. Visite o novo site e conheça o que essa instituição faz http://apps.einstein.br/lardos-idosos/index.html.

“B

Rio de Janeiro. Também participaram o diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog e representante da família, Nemércio Nogueira, o professor Dov Shinar, sobrinho do jornalista Samuel Wainer, o procurador federal do Estado de São Paulo, Marlon Weichert, a professora Ruth Teitel, da Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, o professor do Departamento de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e professor visitante da UHJ, Luís Edmundo de Souza Moraes. No final, Michel Gherman expos “os desafios da participação comunitária judaica na sociedade brasileira, que caminha para modelos multiculturais de tolerância racial e religiosa”.

Ecos do simpósio na UHJ

O

simpósio é uma iniciativa da UHJ para criar um programa de estudos brasileiros com o apoio da Embaixada do Brasil, da Conib e dos Amigos da UHJ no Brasil. Regularmente, a universidade já oferece ensino do português, realiza mostras de cinema brasileiro e recebe professores brasileiros e dos Estados Unidos para lecionar história e cultura brasileiras.

No seminário foi distribuído o dossiê da contribuição judaica para redemocratizar o Brasil, editado em 2014 pela Conib. Decidiu-se publicar o livro 30 Anos de Democracia no Brasil: Visões desde Jerusalém com trabalhos produzidos em três simpósios internacionais na Universidade. O tema do próximo simpósio será “Diversidade Cultural no Brasil e em Israel: Convergências, Divergências e Desafios”.


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Conib e Fisesp em Brasília

Documentário da história curitibana

ernando Lottenberg e Ricardo Berkiensztat participaram da posse do ministro das Cidades Gilberto Kassab, que esteve na posse da nova diretoria da Conib, em novembro de 2014. Os dirigentes se encontraram com o embaixador de Israel, Reda Mansour, e o presidente da Associação Cultural Israelita de Brasília, Hermano Wrobel. Foi entregue a Beto Vasconcelos, chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff, o convite para a presidente participar do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, no Rio de Janeiro. O chefe de gabinete do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Tovar da Silva Nunes, garantiu que a rusga di-

A história da comunidade judaica de Curitiba está retratada no documentário Aqui Estamos cujo projeto começou há dezesste anos, quando Cíntia Chamecki foi a Nova York aprofundar o que sabia de dança e lá ficou embora não quisesse imigrar. Casou-se com o também curitibano Alan Brik, teve dois filhos e, a partir daí percebeu a analogia do caminho feito pelos antepassados, da Europa para o Brasil. Assim realizou o documentário Aqui Estamos, cujo título é Danken Got, (“Graças a Deus”, em ídiche). O filme reconstitui a formação e o desenvolvimento da comunidade judaica de Curitiba pelo depoimento de quinze integrantes, desde o pai de Cíntia, Zalmon Chamecki, até o ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner. Com produção de Andrea Lerner, que também mora em Nova York, o filme foi escolhido pelo público como melhor documentário no Festival de Cinema Judaico de Punta del Este (Uruguai) e vai ser distribuído nos EUA pela Menemsha Films. Ainda não se sabe quando será lançado no Brasil.

F

plomática entre Brasil e Israel, em 2014, é “uma página virada” no relacionamento entre os dois países. Os dois também se encontraram com o ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo.

Pluralidade de opiniões

Plataforma Democrática (www.plataformademocratica.org) é uma iniciativa do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e da Fundação Instituto Fernando Henrique Cardoso para fortalecer as instituições democráticas e a cultura na América Latina por meio do debate em torno das mudanças na sociedade e na política. Os diretores Bernardo Sorj e Sérgio Fausto incluíram no portal o “Informe Cuba”, com entrevistas pela continuidade e ampliação das mudanças naquele país.

Voluntárias da CIP sobem a serra

Curso de liderança

P

romovido pelo Marom Olami, o “Jewish Leadership Course – Iozma” é dirigido aos jovens da América do Sul, com conteúdo judaico. Da etapa final do curso, participou o diretor executivo do Keren Kaiemet LeIsrael (KKL-Brasil), Marcelo Schapo. “O objetivo do curso é formar a nova geração de líderes para as comunidades latino-americanas. O trabalho do KKL na construção de um mundo melhor é reconhecido mundialmente, para além da ecologia e sustentabilidade. Investimos também em educação, voltados para a capacidade da transformação”, disse Schapo.

O 18º. aniversário do projeto Vida-Chai, desenvolvido pelo Departamento de Ação Social da CIP, teve a participação de 166 idosos de cinco entidades de Campos do Jordão: Casa da Divina Providência, Lar do Outono, Instituição Nossa Senhora das Mercês, Sanatório Santa Cruz e Recanto de Repouso Sakura Home. Teve a presença da presidente do Fundo de Solidariedade e primeira-dama da cidade, Juliana Cintra, e da secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Miriam Morgado. “Os idosos esperam por esse dia na sede da CIP em Campos, pois sabem que passarão um dia fora da rotina das entidades onde residem”, afirmou a coordenadora de projetos da CIP para a terceira idade, Débora Sor.


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cultural + social > comunidade Tecnologia israelense nos Jogos Olímpicos A empresa israelense ISDS (sigla em inglês para Segurança Internacional e Sistemas de Defesa) foi contratada pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos da Rio-2016 para o esquema de segurança do evento. Leo Gleser, da ISDS, informou que a empresa fornecerá o equipamento para examinar malas e bolsas. Ela tem a experiência dos jogos de Barcelona (1992), Atenas (2004) e Londres (2012).

Luxo faz benemerência Tatiana Dayan, Mônica Dayan, Adely Hamoui e Roberta Klein dirigem o reciclaluxo.com.br, site com itens de luxo seminovos e cuja renda reverte para projetos sociais. As roupas e acessórios de grifes nacionais e internacionais, são doadas e anunciadas no site (www.reciclaluxo.com.br). Um coquetel na Marché Art de Vie reuniu doadores com representantes do Ten Yad, Grupo Chaverim, Amem, Acredite e Voluntárias do Hospital Israelita Albert Einstein, que receberam o fruto das vendas.

Connections 2015 vem aí Josh Nelson e Neshama Carlebach, filha do rabino Carlebach (z’l), participarão da Connections 2015. Eles são os autores da trilha sonora da celebração mundial da World Union for Progressive Judaism (Wupj), de 13 a 16 de maio no Rio de Janeiro. O duo atuará como scholars in residence para os músicos durante o encontro e conduzirá o workshop “Música para a Alma” e a nona edição do seminário “Lashir Benefesh” dedicado a chazanim (cantores litúrgicos) e músicos latino-americanos. A conferência internacional Connections 2015 reunirá as congregações, comunidades e organizações progressistas do mundo e os jovens (20 a 35 anos) são convidados para participar ativamente do encontro. O tema desta 37ª. Convenção Internacional da WUPJ será “Simcha, Alma e Solidariedade”. Informações, wupjconnections.org/ ou email 2015@wupj.org.il.

Goldfajn falou para empresários de Israel

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Câmara de Comércio e Indústria Israel-Brasil (Cambici), em parceria com o Instituto Israelense de Exportações e Cooperação Internacional e a Administração de Comércio Exterior do Ministério Israelense da Economia, reuniu 120 empresários israelenses para ouvirem o economista-chefe do Banco Itaú-Unibanco Ilan Goldfajn falar sobre “Brasil pós-Eleições”. O recém-nomeado presidente da Câmara Israelense, Roy Rosenblatt-Nir, fez

a apresentação da entidade. Goldfajn fez uma análise da economia brasileira, discorreu sobre as razões do resultado das recentes eleições, a situação do Brasil frente às economias mundiais, as influências mútuas destas economias e a perspectiva para os próximos anos. Silvia Brand, diretora executiva da Câmara foi a moderadora do encontro, que contou com a presença do atual consul Econômico de Israel no Brasil, Boaz Albaranes.

Expert em ciência do cérebro

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iretor da Faculdade de Ciências Naturais, o professor Ph.D. de Neurobiologia da Universidade de Haifa Kobi Rosenblum estará em São Paulo no início de março. Para uma agenda de palestras, incluindo o Centro do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein e encontros com a Imprensa.

O herói muçulmano Lassan Bathily, muçulmano, 24 anos, do Mali, funcionário do mercado kasher de Porte de Vincennes, salvou a vida de quinze fregueses que faziam compras para o Shabat quando Amedy Coulibaly invadiu o local. Bathily abriu a porta do porão, desligou o congelador, apagou a luz e escondeu o grupo no refúgio improvisado. Os reféns depois agradeceram o novo herói Bathily.


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AGENDA Fevereiro – Cabala em Israel. Roteiro preparado pelo rabino Shmuel Lemle e Mandala Tours. Apostila com informações de cada local visitado. Informações, renata@mandalatours.com.br 23 a 25 /2 – Visita a Inhotim, a Cidade das Artes. Com o Grupo Tzeirot, da Wizo. Transporte aéreo, hospedagem e pensão completa. Informações com Helena no telefone 3257-0100

Posse de Floriano Pesaro

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auditório da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social lotou na posse de Floriano Pesaro no cargo de secretário de Estado. Ele foi eleito deputado federal. Já foi membro do Conselho Nacional de Assistência Social, criador do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e secretário do Programa Nacional Bolsa Escola. Na gestão do prefeito José Serra dirigiu a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, criou os programas “São Paulo Protege”, com a campanha “Dê Mais que Esmola. Dê Futuro”, e o premiado “Ação Família – Viver em Comunidade”.

9 /3 – Dia Internacional da Mulher. Wizo São Paulo homenageia a socióloga, educadora e empresária Maria Alice (Neca) Setubal. Às 12h30, almoço no Espaço Adolpho Bloch; às 14h, homenagem e programa especial com apresentação da Orquestra Pão de Açúcar, no Teatro Arthur Rubinstein. Informações, fone 3257-0100 7 /3 – Sessão especial do musical Mudança de Hábito, no Teatro Renaux, para sócios da Hebraica. Preço especial. Reserve seu convite na Central de Atendimento 13 a 26/4 – Marcha da Vida Fundo Comunitário de São Paulo. Para pessoas acima de 30 anos. Programa exclusivo na Polônia e Iom Haatzmaut em Israel. Alimentação kasher. Informações, karina@fundocomunitario.org.br 26/4 a 11/5 – Viagem com as Pioneiras para um roteiro judaico na Espanha e Marrocos. Informações, fone 3873-5367

Cooperação Santo André – Israel

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anto André ganhou “um monumento de muita luz”. Esta foi a chamada para um evento realizado pela Prefeitura e a Associação Religiosa Israelita (Arisa), no Teatro Municipal da cidade. Uma exposição de fotos históricas, apresentações de dança e coral fizeram parte da programação, que teve seu ponto alto na entrega do monumento – uma grande chanuquiá. Com a presença do cônsul de Israel Yoel Barnea e do prefeito Carlos Grana. Após o coquetel, as autoridades assinaram um protocolo de intenção e cooperação entre Santo André e Israel, em diferentes áreas, principalmente a tecnologia.

Israel Beshirá 5. Descubra Israel através de suas melodias. Uma experiência diferente. Viagem: Iom Haatzmaut 2015. Informações, www.israelbeshira.com.br 2 a 9/6 – Herança Judaica. Percurso de Budapeste a Praga em oito dias em luxuoso navio da Ama Waterways. Paradas em Bratislava, Viena, Durstein, Melk, Linz, Passau, Regensburg e Nurenberg. Extensão opcional de três dias em Praga. Informações, Bobertur, fone 11 991-332-505


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1. 2 e 3. Crianças do Hospital Alyn entregam as medalhas; mais de setecentos ciclistas do mundo todo; ciclistas brasileiros cumpriram a missão; 4. Curiosidade infantil na mostra de Sílvia Mharques na Galeria de Arte; 5. Turmas do Israel Beshirá, com Ana Iosif à frente, relembraram as canções e os lugares visitados em suas viagens; 6 e 7. Em Israel, Sami Sztokfisz encontrou com o ex-presidente Shimon Peres e Ronen Plot, da Knesset. Trabalhos conjuntos Israel e Macabi Brasil na pauta

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1. Bodas de Ouro em família: Rachel e Kolman Gotlib com Leia Schifnaguel, Hélio e Liane Zaidler, Laís Gotlib de Franco; 2. Jovens voluntárias fazem Recicla Luxo acontecer: Adely Hamoui, Roberta Klein, Tatiana e Mônica Dayan; 3 e 4. Sócios mudaram de ano sob o arco-íris das Cataratas de Iguaçu e brindaram em grande estilo; 5. Aplausos de Martha Wasserman ao musical O Homem de La Mancha, no Teatro Sesi

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1. Em Miami, o concurso de Miss Universo reuniu Doron Matalon, de Israel, e Saly Greige, do Líbano; 2 e 7. Cônsul Yoel Barnea e prefeito Carlos Grana presentes na entrega da chanukiá, símbolo da amizade israelense a Santo André; apresentação do Coral Kadosh no evento; 3, 4 e 5. Na posse do novo secretário do Desenvolvimento Social Floriano Pesaro com rabino David Weitman; Mendy Tal e rabino Shie Pasternak; Myrian Roth, Guita Zarenczanski e Jaques Rechter; 6. Ilan Goldfajn falou para empresários da Câmara de Comércio Israel-Brasil em Tel Aviv

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juventude > festival carmel

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A dança uniu três nações O DESTAQUE DO 34º FESTIVAL CARMEL – MÚSICA, EM DEZEMBRO, FOI A PARTICIPAÇÃO DE

LEHAKOT REPRESENTANDO AS CIDADES ISRAELENSES DE TEL AVIV E HERTZLIA, ALÉM DO GRUPO ATZMAIT, DO URUGUAI

omo nas edições anteriores do Festival Carmel, esta 34ª exigiu dos participantes alguma fluência em espanhol e hebraico para facilitar o contato com os grupos de Israel e Uruguai, que dividiram o palco com lehakot de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre e Belo Horizonte. “Todos os grupos fora de São Paulo tiveram a ajuda de voluntários para recepcioná-los e orientá-los a respeito de onde seriam as atividades, mas a própria dinâmica do festival contribui para a integração total dos participantes; e a dança, afinal, é uma linguagem que une a todos. É bonito ver um dançarino ensinar os passos a outro e em pouco tempo se cria uma amizade entre pessoas que nunca se viram antes”, comentou a coordenadora e diretora artística do festival

NA CHEGADA A SÃO PAULO, OS GRUPOS DE DANÇA DE TEL AVIV E DE HERTZLIA FORAM RECEPCIONADOS PELO DIRETOR SUPERINTENDENTE GABY MILEVSKY


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Nathalia Leiderman Benadiba. Depois das apresentações em São Paulo, os israelenses viajaram para Paraty para conhecer o que se comenta muito em Israel, como passeios de escuna e voos com asa delta. Espécie de prêmio a todos os jovens para ampliar os horizontes por meio do conhecimento de outros países e culturas. O psicólogo Sílvio Acherboim, que ministrou oficina para todos os coreógrafos do festival, elogiou a facilidade como os profissionais responsáveis pelos grupos conseguiram elaborar pinturas em tela e sintetizar as ideias em uma única imagem. “Fiquei lisonjeado com o convite para esse workshop com os coreógrafos e direcionei a atividade para conscientizar esses profissionais da importância deles na formação das próximas

gerações da comunidade judaica. Estou admirado com os resultados obtidos por eles em apenas algumas horas. Executivos de grandes empresas levam mais tempo para captar os conceitos que eles assimilaram tão bem “, admitiu Acherboim no final do workshop. Ran Hirsh, o coreógrafo das lehakot Aviv Mecholot, de Tel Aviv, e Shivat Hakochavim, de Hertzlia, município que pertence à area metropolitana de Tel Aviv, se desdobrou para conseguir fazer os 47 jovens dos dois grupos participarem das atividades do festival, sem, no entanto, prejudicar os ensaios para as várias apresentações agendadas ao longo do evento. Enquanto os colegas coreógrafos se entretinham com o desafio proposto por Silvio Acherboim, ele concedeu a seguinte entrevista para a revista Hebraica.

A inesquecível primeira vez Alex Bursztein e Meital Norman vieram ao Festival Carmel com uma difícil missão: controlar a ansiedade dos vinte universitários do grupo de danças Atzmait, da Nueva Congregación Israelita del Uruguay, que estreavam no festival e se apresentariam nos shows de abertura da sexta-feira e no encerramento no domingo à noite. “Nosso grupo é novo, tem apenas quatro anos e o Carmel será o maior evento da nossa história”, afirmava Alex, também debutando no festival. Já a jovem Meital levava alguma vantagem sobre o colega, já que aquele era o seu segundo festival. “Tive uma participação individual em 2013 e vejo que o Carmel fica ainda melhor quando se tem um grupo para dividir as emoções de cada show ou harkadá”, conclui a coreógrafa.

ALEX E MEITAL PARTICIPARAM DO WORKSHOP PARA COREÓGRAFOS

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E N T R E V I S TA Hebraica – O que achou dos grupos que viu na abertura do Festival Carmel? Ran Hirsh – Foi uma noite muito bonita e emocionante. Fiquei surpreendido com o alto nível e a animação dos grupos. Como chegamos apenas ontem ao Brasil, nosso primeiro contato com os outros participantes do Festival ocorreu diretamente no palco, no momento de ensaiar, e apesar de todos ainda cansados da viagem, correu tudo bem. As duas lehakot partilham as equipes técnicas, incluindo coreógrafo e professores. Como trabalha com os dois grupos? Hirsh – Os grupos ensaiam duas vezes por semana e cada centro, o de Tel Aviv e o de Hertzlia, mantém grupos de danças em todas as faixas etárias que ensaiam por duas hora em cada sessão. Mensalmente, há uma apresentação, seja para a municipalidade ou participando de algum evento. Nossa filosofia de trabalho nas duas cidades é fazer os dançarinos transmitirem, por meio do seu trabalho, alegria ao público e para isso exigimos muita dedicação e energia em cada ensaio. Quantos dançarinos vocês trouxeram para o Festival Carmel? Hirsh – Viajaram para o Brasil 47 dançarinos das duas cidades, o que representa apenas uma parte de cada lehaká, pois nem todos os jovens puderam cancelar seus compromissos para fazer essa excursão. Preparamos coreografias em que cada grupo dançou sozinho e algumas reunindo os dois grupos. E o que os dançarinos esperam dessa viagem ao Brasil? Hirsh – Em Israel, ouvimos e lemos muito a respeito da hospitalidade e do calor humano do povo brasileiro. Nossos dançarinos foram envolvidos nessa atmosfera alegre e conheceram a diversidade de culturas que influencia o folclore judaico no Brasil e também o que resulta nas músicas e danças brasileiras que admiramos em Israel. (M. B.)


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1. Em dias de muito calor, todos na colônia de Férias do Hebraikeinu se alegravam na hora de vestir o maiô e cair na piscina; 2. Em companhia dos pais, o Kabalat Shabat dava um toque especial ao final de cada semana na colônia de férias do Hebraikeinu; 4 e 5. Convivência em grupo é marca registrada da colônia de férias do Hebraikeinu; 3 e 7. Para os pequenos até 3 anos, nada melhor do que passar algumas horas no Ateliê Hebraica decorando as paredes e as próprias roupas; 6. Passeio ao Petzoo foi realizado em parceria pelas colônias de férias do Hebraikeinu e da Escola de Esportes

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esportes > pratique verão

AS AULAS DE HIDROGINÁSTICA RENOVARAM O PIQUE DE ALUNAS ANTIGAS E ATRAIU NOVOS ADEPTOS PARA A MODALIDADE


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Comece o ano em boa forma AS AULAS GRATUITAS DE HIDROGINÁSTICA E GINÁSTICA E QUE FAZEM PARTE DA CAMPANHA “PRATIQUE VERÃO” ENTRARAM NA ROTINA DOS BANHISTAS EM JANEIRO, UMA TENDÊNCIA QUE DEVE SE REPETIR EM FEVEREIRO

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ratique Verão”. Assim o Departamento Geral de Esportes denominou a nova campanha de incentivo à prática de exercícios físicos dirigidos às famílias que frequentam o clube durante os meses de férias. “A estreia da equipe de professores de hidroginástica coincidiu com a iniciativa da diretoria em franquear a atividade aos sócios em janeiro para incentivá-los a experimentar as aulas. A resposta do público foi tão boa, que a gratuidade foi estendida para fevereiro. Temos cerca de seiscentas assinaturas de presença”, anunciou Adriana Silva, coordenadora dos cursos esportivos, entre os quais estão incluídos a hidro e a ginástica. Para driblar o forte calor, cerca de cin-

quenta alunos se espalhavam pela piscina semi-olímpica nos vários horários durante a semana, e nos finais de semana esse número chegava a noventa. “Ouvi muitos dizerem que não usavam a piscina há tempos e só agora retomavam o contato com a água. Também vi tenistas e atletas de outras modalidades experimentando os movimentos indicados pelo professor”, contou Adriana. Segundo ela, o movimento no parque aquático, antes ou depois das aulas, aumentou por causa da hidroginástica. “Até a terceira semana de janeiro, as mulheres eram maioria na hidroginástica, mas pelo número de homens em alguns horários, acredito que em fevereiro haverá um equilíbrio entre os sexos”, concluiu.

Na esteira do sucesso As aulas de ginástica registraram um aumento de frequência de público graças à campanha “Pratique Verão”. Em alguns casos, a gratuidade incentivou alguns sócios que vinham adiando o projeto de juntar-se às sócias que se exercitavam no espaço junto à Pista de Atletismo. Houve também quem chegou antes da hidroginástica e fez exercícios extras sob orientação da professora Tays Ravanelli. “É bom contar com novos alunos, pois rapidamente se estabelece um intercâmbio saudável com os antigos incentivando os novatos e estes desafiando os veteranos. Tudo em um ambiente de camaradagem e muita energia”, afirmou a professora.

Pratique verão Aulas de hidroginástica Terças e quintas 8h, 10h, 12h, 15h e 18h Quartas e sextas 7h, 9h, 11h e 15h Sábados e domingos 10h30 e 12h Mais informações no Departamento Geral de Esportes, fone 3818-8911/8912


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esportes > tênis

Sacadas para atrair mais atletas SEGUNDO O NOVO DIRETOR FAUSTO BRÍGIDO, O DEPARTAMENTO DE TÊNIS TEM CONDIÇÕES DE ATENDER A UM NÚMERO MAIOR DE ATLETAS NOS SETORES COMPETITIVO, DE LAZER E TAMBÉM NA FORMAÇÃO DA FUTURA GERAÇÃO DE ATLETAS

A COPA SHALOM SERÁ UM DOS GRANDES EVENTOS DO CALENDÁRIO TENÍSTICO DO CLUBE

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escolha de Fausto Brígido para dirigir o Departamento de Tênis deixou satisfeitos os fãs da modalidade. “Participei ativamente da dinâmica e dos acontecimentos diários durante a gestão anterior, então estou a par de todas as questões relativas às reivindicações dos tenistas”, afirmou o novo diretor. Segundo ele, só agora, depois de quase três anos, o Departamento de Tênis se adaptou à perda das duas quadras cobertas no Poliesportivo, onde foi instalada a Escola Alef. “A estrutura rígida erguida sobre as quadras nove e dez ainda requer ajustes para ficar perfeita e essas pequenas obras foram prometidas para breve.


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Isso deve facilitar muito a prática do tênis mesmo em dias de chuva”, comentou. Ele também aposta na instalação do sistema de proteção do saibro em mais quadras, pois os testes nas quadras 1 e 2 mostraram a eficiência do equipamento. “Depois da chuva, precisávamos esperar vários dias até diminuir a umidade do saibro. Agora, ao menor sinal de chuva, os funcionários desenrolam a cobertura, de modo a que a quadra não encharque e pouco tempo depois da chuva retomamos as partidas”, explica o tenista. Fausto quer ver o Departamento de Tênis retomar, ou ultrapassar, o número de tenistas registrado em um passado recen-

te. “A orientação da nova diretoria é priorizar o atendimento aos jovens e às crianças. Vamos trabalhar no aperfeiçoamento do nível das aulas coordenadas pelo professor Simoni”, informou o diretor. Ele pretende manter a agenda de eventos e torneios promovidos pelo tênis para todas as faixas etárias. “Lidar com o público que frequenta nossas quadras exige satisfazer diferentes objetivos. Para os sócios que praticam a modalidade como lazer, basta haver quadras livres em número suficiente. E os atletas que competem e defendem o nome do clube demandam também uma equipe técnica de qualidade para que se aprimorem e melhorem o

Intercâmbio internacional Tenistas, jogadores de basquete, de futsal e de futebol de campo participaram no final de 2014 dos XX Jogos Macabeus Veteranos, em Pinamar, na Argentina. “É um torneio promovido pela Facma (Federação Argentina de Centros Comunitários Macabeus) na qual delegações de outros países latino-americanos são convidados. Este ano, além dos argentinos também participaram brasileiros e uruguaios. Esta foi a sétima edição seguida em que os tenistas brasileiros participam desse evento sempre sob a coordenação do Macabi Brasil (CBM)”, descreveu Fausto Brígido, que integrou a equipe Brasil I (a medalha de ouro foi conquistada pela Brasil II). “O nível foi altíssimo e durante os quatro dias na Argentina, os 1.500 atletas inscritos dos três países disputaram tênis, basquete, que deu ao Brasil a segunda medalha de ouro no evento, golfe, futebol de campo e futsal”.

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jogo. Além disso, todos gostam de participar de eventos como a Copa Shalom ou se interessam pelo ranking interno, novidade introduzida na gestão passada. No primeiro semestre, a partidas da Copa Shalom não serão mais eliminatórias, e os participantes poderão ter mais de uma chance na disputa do torneio. Também pretendemos dotar as quadras de pequenos confortos como bebedouros, uma sugestão dos tenistas. Enfim, pretendemos potencializar o uso dos nossos espaços e a atuação da equipe profissional para ampliar ainda mais o público que frequenta e se diverte nas nossas quadras”, conclui Fausto. (M. B.)


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esportes > hebike

CENÁRIOS COMO ESSE ALIVIARAM O ESFORÇO DOS CICLISTAS ATRAVÉS DO DESERTO

Rodas do Amor cruzam o deserto

SETE CICLISTAS DE SÃO PAULO E UM MORADOR EM ISRAEL FORMARAM A EQUIPE BRASILEIRA NA 15ª. WHEELS OF LOVE (RODAS DO AMOR) PARA AJUDAR O HOSPITAL ALYN, DE JERUSALÉM, QUE ATENDE CRIANÇAS JUDIAS E ÁRABES

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linha do horizonte no deserto acompanhou o olhar dos mais de setecentos ciclistas de vários países no roteiro da Wheels of Love (Rodas do Amor), passeio anual realizado em Israel em benefício do Hospital Alyn, de Jerusalém. Participaram os ciclistas da Hebraica Bernardo Segal, Luiz Grossman, Jacques Ollech (Shully), Rubens Krausz e Robert Landecker, e o amigo Rodrigo Arena e Alexandre R. Benedek, que vive entre Israel-Brasil. O grupo pedalou cinco dias pelo deserto e já se prepara para o próximo evento em setembro. Esta foi a primeira viagem de Rodrigo Arena a Israel: “Não falo inglês e muito menos hebraico e minha percepção foi alimentada pela extraordinária realidade de pessoas e paisagens, diferente do que se vê nos telejornais quase todos os dias. A organização foi impecável, havia de tudo necessário nos pontos de apoio, perfeita sinalização das trilhas e era muito diverti-

do avistar os voluntários idosos com seus pompons no meio do deserto”. Bernardo Segal viajou três vezes para participar do passeio mas é como se esta fosse a primeira vez: “É algo único, pois junta esporte, aventura, turismo, amizade, organização, confraternização, beneficência. São lembranças para toda a vida”. Alexandre Benedek, outro veterano da “Wheels of Love”, descreve os dias na bike: “É sempre uma experiência incrível, pedalando em um cenário cinematográfico, pessoas unidas no objetivo comum de ajudar as crianças do Alyn. Dormimos uma noite acampados no deserto com toda infraestrutura necessária”. Luiz Grossman também já pedalou muito por Israel: “Esse foi um ano difícil por causa da guerra em Gaza, notícias ruins e a repercussão pela atitude dos governantes. Mas estar lá e mostrar que o nosso clube continua apoiando Is-

rael foi relevante. Voltei com a sensação de missão cumprida”. Jacques Ollech, o Shully, integrou-se ao grupo este ano e voltou decidido a incentivar os amigos: “Todos que pedalam devem ir e experimentar”. Para ele, não foi uma simples experiência turística: “O que se vê pedalando nunca se vê num passeio de carro”. Além dos novos amigos de vários países, Robert Landecker destacou que a visita ao Hospital causa impacto: “Devemos agradecer o esforço do Alyn para ajudar as crianças, por isso, o objetivo de arrecadar fundos deveria fazer mais sócios da Hebraica se engajarem e apoiarem os nossos ciclistas. Pode-se contribuir com qualquer quantia. Vamos mostrar o que podemos fazer”. As cenas de gentileza, obstinação, amor ao próximo e muitos sorrisos partilhados durante o trajeto pela equipe Alyn e a chegada ao Hospital são descritas em detalhes e “as narrativas não conseguem traduzir o esforço de pedalar, recompensado pela emoção de receber nossa medalha das mãos das crianças que lutam para conseguir superar limitações, com um sorriso de agradecimento”. Pensando já na rota deste ano pelo norte do país, eles fazem um convite para que mais pessoas se juntem ao grupo “para irem, experimentarem e partilharem dessa experiência única e inesquecível” . (T.P.T.)


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esportes > fotos e fatos 1.

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1. Atrações do Wet’n Wild refrescaram a turma com mais de 6 anos da colônia de férias da Escola de Esportes; 2. A judoca israelense Gili Cohen autografou camisetas e fotos durante o encontro da equipe olímpica com os atletas mirins do clube e do Lar das Crianças da CIP; 3. Para os menores de 6 anos, a visita ao Petzoo equiparou-se a uma aventura na selva ou na fazenda; 4. Com temperaturas altas, as horas passadas na piscina foram divertidas até para as crianças menores; 5. Projetos de artes no Ateliê Hebraica completaram as tardes passadas em companhia dos professores da colônia de férias da Escola de Esportes; 6. Cerca de oitenta enxadristas disputaram o ITR (International Tournament Rating) promovido pelo Departamento de Xadrez em janeiro

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TransplanTe de Medula Óssea Juliana Folloni Fernandes, hematologista pediátrica do Hospital Israelita albert einstein

mazenada nos bancos de sangue de cordão umbilical, ou até um doador familiar parcialmente compatível. Portanto, hoje em dia, virtualmente todo paciente que precisa de transplante consegue encontrar um doador. Para um doador de células-tronco, existem duas maneiras principais de doar: o método mais clássico é a coleta diretamente da medula óssea, dos ossos da região do quadril, que é feita sob anestesia geral; outra maneira é a doação de células-tronco periféricas, que é feita usando um medicamento que estimula as células da medula a irem para o sangue periférico, e a coleta é feita por duas veias em uma máquina semelhante à coleta de plaquetas. Os tipos de quimio e radioterapia utilizados para o transplante podem ter grande variação, dependendo da idade, condições clínicas do paciente e também da doença a ser tratada.

O transplante de medula óssea (TMO) ou como é atualmente chamado, transplante de células-tronco hematopoéticas, é uma alternativa de tratamento para uma grande variedade de doenças, principalmente doenças do sistema hematopoético (que é o sistema responsável pela produção do sangue). De uma maneira simples, podemos dizer que o TMO é indicado quando é necessário substituir um sistema hematopoético doente, por um novo sistema saudável. A medula óssea é um tecido que se localiza dentro dos ossos, principalmente dos ossos longos do nosso sistema esquelético. Assim, para que o transplante tenha sucesso, como não é possível retirar toda a medula óssea do paciente, usualmente é realizada quimioterapia e/ou radioterapia para que a nova medula tenha capacidade de se instalar. Existem dois tipos básicos de TMO: o transplante autólogo, quando as células utilizadas são do próprio paciente (usado para possibilitar a administração de quimioterapia em altas doses, ultrapassando a barreira da toxicidade hematológica); e o transplante alogênico, quando as células utilizadas são de outro doador. Entre os tipos de doadores utilizados, o doador “ideal” é um irmão totalmente compatível. Dentro das famílias com mais de um filho, a chance de encontrarmos um doador totalmente compatível entre os irmãos é de aproximadamente 25%. Na ausência de um doador irmão compatível, existem várias alternativas que podem ser utilizadas: um doador voluntário que esteja cadastrado no registro de doadores, uma unidade de sangue de cordão umbilical ar-

Responsável Técnico: Dr. Miguel Cendoroglo Neto - CRM: 48949

As principais indicações de transplante de células-tronco hematopoéticas são: doenças malignas do sistema hematopoético (leucemias, linfomas, mieloma, mielodisplasia), doenças adquiridas da medula óssea (aplasia de medula), doenças hereditárias do sistema hematopoético (anemia falciforme, talassemia, síndromes de falência medular), doenças hereditárias do sistema imunológico (imunodeficiências primárias). Os primeiros relatos de TMO com sucesso foram publicados em 1968, neles duas crianças portadoras de imunodeficiências primárias tiveram seus sistemas imunológicos deficitários restaurados por células da medula óssea de irmãos cuja compatibilidade sanguínea era de 100% (Gatti 1968, Bach 1968). Após estes primeiros relatos, o número de transplantes realizados cresceu exponencialmente, com aproximadamente de 30.000 a 50.000 transplantes realizados por ano em todo o mundo. Nestes últimos 45 anos, vários fatores influenciaram para a melhora substancial da sobrevida após o transplante, entre eles podemos destacar: a melhora dos testes de compatibilidade; a melhora na prevenção e no tratamento de infecções, assim como o melhor controle das complicações relacionadas ao transplante. Todo este progresso transformou o transplante de medula óssea de uma terapia experimental em uma terapia de escolha para a cura de várias doenças.

Saiba mais em www.einstein.br

/hospitalalberteinstein

@hosp_einstein

/HospitalEinstein

/hosp_einstein


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capa | literatura | por Bernardo Lerer

A obra magistral de Grossman VASSILI EM MEADOS DOS ANOS 1950, QUANDO O REGIME AINDA O TOLERAVA E ELE ESCREVIA VIDA E

DESTINO


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HERDEIRO DA TRADIÇÃO LITERÁRIA DE TOLSTOI, DOSTOIEVSKI, TCHEKHOV E TURGUENIEV, OS GRANDES PROSADORES RUSSOS DO SÉCULO 19, O ESCRITOR E JORNALISTA JUDEU VASSILI GROSSMAN ACABA DE GANHAR UMA EDIÇÃO EM PORTUGUÊS DO MONUMENTAL ROMANCE VIDA E DESTINO, PELA ALFAGUARA, CONSIDERADO POR ALGUNS O GUERRA E PAZ DO SÉCULO 20. GROSSMAN FOI CORRESPONDENTE DE GUERRA PARA O ESTRELA VERMELHA, O PRINCIPAL JORNAL DO EXÉRCITO SOVIÉTICO, E FOI TESTEMUNHA OCULAR DA BATALHA DE STALINGRADO, VERDADEIRO DIVISOR DE ÁGUAS NO CONFLITO MUNDIAL E INÍCIO DA DERROCADA NAZISTA

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izem que algumas pessoas nascem com uma boa estrela... No entanto, a estrela com a qual Grossman nasceu era funesta”, segundo um amigo de Vassili Grossman, o famoso escritor Ilya Ehrenburg. Quando morreu, de câncer de estômago, em 1964, um mês antes de Nikita Krushchev cair em desgraça, perder o cargo de secretário do Partido e ser substituído por Leonid Brezhnev, Grossman estava sendo duplamente devastado: pela doença e pelos esforços do regime soviético para apagá-lo da história. Com o degelo político iniciado por Krushchev a partir de 1954, ele ainda tinha esperanças de continuar escrevendo e publicando, mas em 1961 a KGB confiscou o manuscrito de Vida e Destino, seu romance mais importante e no qual denunciava igualmente o stalinismo e o nazismo. “Eles me estrangularam no beco”, disse Grossman a Boris Yampolsky (19121972). O “eles” eram o regime, os cúmplices ativos e a maioria silenciosa dos que poderia considerar como irmãos literários. Grossman fora uma das principais vozes da resistência antinazista, verdadeira lenda como jornalista que passou mil dias, ou metade da duração da Segunda Guerra, na frente de batalha. No entanto, os últimos anos de vida foram difíceis. Os amigos mais próximos sempre adoraram Grossman, e Semyon Lipkin, por exemplo, um dos que ajudaram a contrabandear o manuscrito de Vida e Destino para o Ocidente dez anos depois de ele morrer, chamava-o de “santo”. Grossman também se valeu da mulher que se dedicou a ele até o fim, Yekaterina Zabolotskaya, viúva do grande poeta Nikolay Zabolotsky, embora haja dúvidas se ela, de fato, alguma vez o tivesse mesmo compreendido. Vassili sugere isso em Vida e Destino por meio do seu alter-ego ficcional Viktor Pavlovich Strum, ao se referir à esposa russa que o ama, mas não consegue compreender as suas ansiedades judaicas. Vida e Destino foi lançado há dois meses pela Alfaguara, um selo da Editora Objetiva, traduzido direto do russo por Irineu Franco Perpétuo (915 pp., R$ 89,90) e é uma obra magistral a respeito da Segunda Guerra. Vassili testemunhou as batalhas de Moscou, Stalingrado, Kursk – onde ocorreu aquele que ainda é o maior confronto de tanques da história –, a invasão de Berlim e a libertação do campo de concentração de Treblinka. Seus textos eram publicados no órgão oficial do exército soviético, Estrela Vermelha, e as reportagens ansiosamente aguardadas pelos soldados e oficiais que, a partir >>

Grossman fora uma das principais vozes da resistência antinazista, verdadeira lenda como jornalista que passou mil dias, ou metade da duração da Segunda Guerra, na frente de batalha


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capa | literatura >> das notícias, comemoravam as derrotas que punham no passivo da Grande Guerra Patriótica e as vitórias que celebravam a devoção a Josef Stalin como o cerco aos alemães na batalha de Stalingrado em que capturaram um marechal, 22 generais e cem mil soldados. Morreram dois milhões de pessoas. Romance “antissoviético” Grossman conta o dia-a-dia de um povo que sofria os males do stalinismo em tempos de guerra e paz por meio dos personagens centrais dentre os 140 do livro: o intelectual judeu e eminente físico muito bem colocado na hierarquia acadêmica (ele mesmo), o militar profissional, o burocrata sem escrúpulos e a mulherada deles todos. Alguns destes personagens dispensam nomes fictícios. Eichmann, o condestável dos campos de concentração, é Adolf Eichmann mesmo, e outros foram “personagens esquecidos de tempos inesquecíveis”. Vassili relatava fatos e situações onde quer que estivessem, revelando de forma seca as misérias humanas para as quais insinuava a definição de que “quanto mais otimistas, mais mesquinhas e egoístas as pessoas tendem a ser”. Vida e Destino não

À ESQUERDA, VASSILI ZAITSEV, UM DOS MAIS FAMOSOS FRANCO-ATIRADORES, PERSONAGEM DE UM DOS LIVROS DE GROSSMAN

agradava ao regime porque Vassili colocava no mesmo nível os totalitarismos nazista e comunista, que se equivaliam no desprezo pela liberdade. Em resumo, é antissoviético. Ele retrata como os dois regimes afetavam o dia-a-dia das pessoas que, de uma forma ou de outra, estavam ligadas umas às outras por genealogia ou circunstância. O livro mostra os laboratórios e institutos de pesquisa onde Viktor trabalha e que, pelos bons resultados alcançados no desenvolvimento de armas de destruição em massa, um dia recebe um telefonema de Stalin, o próprio, parabenizando-o como uma espécie de prêmio de consolação pelo fato de, na véspera, ter sido denunciado publicamente de alguma coisa qualquer por antigos colegas de trabalho; sua conversa com um


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prisioneiro de guerra alemão; um campo de trabalhos forçados para dissidentes russos; o quartel de um batalhão; em um carro a caminho da câmara de gás e na prisão onde criminosos políticos são interrogados. Tudo isso e mais o caótico e sangrento front russo em que se confundem homens e armas, a linha mortal de fome e cerco e a crueldade da tentativa e erro das estratégias militares que cobram seu preço em vidas. E a sempre recorrente condição de proeminente figura da comunidade científica que se fragiliza e deteriora à medida que a temperatura do antissemitismo sobe, ao mesmo tempo em que expõe suas convicções pouco animadoras a respeito do futuro da pesquisa na União Soviética. Falta agora traduzir para o português uma coletânea da produção em prosa mais curta dele, recentemente lançada nos Estados Unidos com o título The Road e que revela um pouco mais a respeito do Grossman de antes da guerra.

REUNIÃO DE GENERAIS SOVIÉTICOS EM UMA TRINCHEIRA PRÓXIMA DE

STALINGRADO

Influências de Tchekhov Nascido Iosif Grossman em Berditchev, norte da Ucrânia, na província de Jitomir, uma época conhecida como a “Jerusalém de Volínia”, começou a escrever em 1929, ano 2 do primeiro Plano Quinquenal soviético, já com o nome russo “Vassili”. Nesses primeiros textos, como a história “Na cidade de Berditchev”, Grossman procura uma voz própria. Isaac Bábel e Andrei Platonov eram alguns dos primeiros modelos soviéticos, mas a história “Uma Mulher Nova e uma Velha”, revela que Anton Tchekhov também iluminava os textos de Grossman. Ele nunca se filiou ao Partido Comunista, mas lutou bastante para mostrar que os judeus não deviam nada à revolução. A guerra contra o nazismo foi um grande trauma pessoal: a mãe estava entre os vinte mil judeus assassinados em Berditchev, em setembro de 1941. Mas também foi o seu período de glória literária, cívica e militar. Relatando das trincheiras, Grossman sobreviveu ileso à guerra, e daí o apelido de “Grossman, o sortudo”. O romance O Povo Imortal

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lê-se de uma sentada só e foi escrito nos primeiros meses da guerra. Trechos dele publicados no Estrela Vermelha, o principal jornal do exército soviético, eram devorados por milhões. Na época, publicou-se apenas uma fração do material que Grossman reuniu em entrevistas e que, se vivo fosse, seria um blog. O núcleo da coletânea é “A Guerra, a Shoá”. A ficção e a reportagem de Grossman em tempo de guerra indicam que ele se impôs a obrigação de resistir àquilo que, em 1943, se transformou em tácita determinação soviética: não discutir especificamente a vitimização judaica e nivelar por baixo o valor militar judeu. No entanto, Grossman foi o primeiro escritor de ficção a apresentar ao leitor soviético em geral um relato da Shoá, cadáver a cadáver. Característico disso é o conto “O Velho Professor”, de 1943. Os destinos do velho professor Rosenthal e do médico Weintraub se encontram quando está para ocorrer o assassinato da comunidade judaica da cidade. Grossman pagou o preço pela publicação de um texto a respeito da Shoá ao insinuar a colaboração da população local com os nazistas. Ele fez o melhor que podia para sugerir esse colaboracionismo, atribuindo nomes ucranianos aos traidores. Mas a história mostra que apesar dos casos de colaboracionismo, o povo soviético estava unido e, de modo geral, as populações manifestavam alguma empatia pelas vítimas judias, mas depois de mortas. Pois a verdade a respeito da Shoá nos territórios ocupados era bem mais complicada do que se pode imaginar. Ensaio sobre os campos No verão de 1944, Grossman acompanhava as tropas soviéticas que iniciaram a libertação dos campos de concentração na Polônia incluídos na Operação Reinhard, isto é, o extermínio das minorias étnicas de judeus, ciganos e nômades. O en>>


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capa | literatura >> saio “O Inferno de Treblinka”, por exemplo, constava da edição da revista moscovita Bandeira, de dezembro daquele ano. Em 1945, o ensaio foi reimpresso na forma de panfleto e distribuído durante as sessões do Tribunal de Nuremberg. Do final de 1943 até 1945, Grossman trabalhou com Ilya Ehrenburg em O Livro Negro, um projeto do Comitê Antifascista Judaico. Ele escreveu o prefácio, o capítulo “O Assassinato de Judeus em Berditchev” e “Treblinka”, preparou “A História do Gueto de Minsk” e outros trechos. A sorte dele começou a mudar a partir da campanha anticosmopolita, seja lá o que isso pudesse significar, desencadeada por ordem de Stalin e com a interdição de O Livro Negro determinado pelas autoridades soviéticas. Mas ele continuou a escrever e se escapou à prisão e ao fuzilamento reservado aos líderes do Comitê Antifascista Judaico, a imprensa soviética encarregou-se de difamá-lo. A morte de Stalin, em março 1953, deu uma trégua temporária. O crítico literário russo Shimon Markish disse uma vez que ninguém escreveu a respeito da Shoá e o antissemitismo stalinista “de forma tão aguda e emotiva” como Grossman. No ensaio “A Madona Sistina”, de 1953, Grossman imagina a Madona de Rafael vivendo os crimes do nazismo e do stalinismo. Para ele, a Madonna e o filho são os judeus assassinados em Treblinka, os ucranianos mortos na Grande Fome e os russos desaparecidos no Gulag. Mas também neste caso, Grossman não colocava em dúvida seu apego ao marxismo-leninismo. O trabalho apresenta uma análise de classe e inclui frases como “eu acredito que esta Madona é uma expressão puramente ateísta da vida e da humanidade, sem a participação divina” e “a beleza da Madona está intimamente ligada à vida terrena. É democrata, humana e de beleza humana”. Contra o pano de fundo de Vida e Destino, que Grossman ainda imaginava conseguir publicar na Rússia, a terceira parte da coletânea de contos representa a intrigante fase final da carreira dele. São seis textos de ficção con-

VASSILI, AO CENTRO, DE ÓCULOS, ENTREVISTA CIVIS ALEMÃES DEPOIS DA LIBERTAÇÃO DE

TREBLINKA

cluídos entre 1960 e 1962. As duas histórias de animais, “O Cachorro” e “A Estrada”, formam um conjunto indissociável pelos temas e a simetria nos finais: os protagonistas masculinos têm os olhos amorosos respectivamente de um cão e de um alce. A arte do que é familiar em Tolstoi traz estranhas sombras para estas histórias tardias. Alegoria “A Estrada” é o conto de uma mula do exército italiano na Rússia: “Por meio do hálito quente e dos olhos cansados, Giu, a mula, e a égua de Vologda falaram claramente uma à outra a respeito da vida e do destino, e havia algo encantador e maravilhoso a respeito destes seres afetuosos, lado a lado na planície do período de guerra, sob o céu cinza de inverno”. A referência ao romance Vida e Destino indica que a estranha mula que lavrava a estepe com cascos cansados é uma alegoria a respeito do próprio Grossman, um tenente-coronel de óculos com excesso de peso andando com uma bengala em meio à carnificina da história. “Em Kislovodsk” destaca-se pela ficção tardia de Grossman. Entre as muitas fontes de Grossman para esta história estava o material elaborado por Viktor Shklovsky para O Livro Negro. Esta história situa-se em 1942, em um resort no sopé do Cáucaso do Norte, pode ser lida como um comentário acerca de “O Velho Professor” e poderia ter o título de “O Velho Doutor”. Weintraub, o doutor, dá veneno para si e família, pouco antes do extermínio de todos os judeus da pequena cidade. No início, este médico russo colabora com os ocupantes e é colocado no comando de um hospital para soldados feridos do Exército Vermelho. Mas a cumplicidade com o assassinato dos seus pacientes leva o médico e a esposa ao limite: “Eles se comportaram de modo muito vulgar... comeram caviar prensado e beberam vinho; ele brindou com ela e bei-


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jou-lhe os dedos como se fossem jovens amantes em um restaurante... Então, com voz áspera, ela disse ‘E agora me envenene, como a um cachorro louco – e a você também!’ Uma certa insipidez banal e grosseira pontuam o final desta história, e sugere que Grossman pode estar nos avisando que a memória da guerra e da Shoá vem sendo banalisado por meio da ficção. Nesta coletânea é possível identificar temas frequentes em todos os contos de Grossman, e principalmente nos últimos: um é a questão do fracasso e o de ser um neudachnik (“fracassado”), como Grossman chamava a si mesmo em Deus Esteja Convosco!, obra nãoficcional tardia no original, em russo. Mais importante é o tema da maternidade em sua vida e arte. Grossman elevou o ato de tratar uma mãe ao nível de música sacra. As cartas que ele escreveu no nono e no vigésimo aniversários da morte da mãe compartilham uma conexão íntima com a experiência ficcional de Viktor Strum em Vida e Destino, cuja mãe é assassinada pelos nazistas. Ao contrário de Tolstoi, Grossman não evocava a riqueza, a frivolidade dos salões, a plenitude da vida e Natashas radiantes como em Guerra e Paz, pois, afinal, escrevia a respeito de um dos períodos mais negros da história da Europa. Talvez por falta de desejo e prazer, Grossman preocupou-se mais em capturar o macabro da história. As maiores obras e páginas de Grossman são aquelas que apresentam um poder arrasador de testemunhar os pilares que sustentam a força da acusação moral. “O Inferno de Treblinka” é uma fantástica reportagem e, possivelmente, seu melhor trabalho. Muitos trechos de Vida e Destino estão bastante além dos elogios da crítica, e os capítulos descrevendo a morte de Sofia Levinton e do jovem David na câmara de gás são considerados entre as melhores páginas da literatura do Holocausto e que John e Carol Garrard, biógrafos de Grossman, deram a isso o nome de “a arte vinda da agonia”.

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Um herói do jornalismo VASSILI GROSSMAN ERA, ANTES DE TUDO, UM HOMEM FORTE, E DE SORTE, COMO SE LÊ DE ILYA EHRENBURG LÁ NO ALTO, NO PRIMEIRO PARÁGRAFO DESTE DOSSIÊ. DE REPRESENTANTE DO REALISMO SOCIALISTA DEFENDIDO PELO REGIME A PERSONA NON GRATA, GROSSMAN LUTOU ATÉ A MORTE PARA LIBERAR O ROMANCE VIDA E DESTINO DAS GARRAS CENSURA SOVIÉTICA

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rimeiro, porque sobreviveu à guerra, embora tenha testemunhado o cerco a Stalingrado pelos nazistas e a carnificina de ambos os lados, esteve na frente de batalha durante cerca de mil dias da guerra e acompanhou as tropas soviéticas nas principais batalhas da guerra. Segundo, porque não escreveu em ídiche e, por esta razão, escapou a uma das duas acusações que se contrapunham nas respectivas definições e, nem por isso, impediam de levar os judeus aos pelotões de fuzilamento: o nacionalismo e o cosmopolitismo, seja lá o que um e outro podiam significar. No entanto, se escapou à morte porque não escrevia em ídiche, um dos indícios de cosmopolitismo, caiu em desgraça e foi abandonado para morrer de câncer porque era judeu. Este Vida e Destino só existiu para a posteridade porque uma cópia microfilmada escapou aos policiais que foram à casa dele para confiscar tudo, até mesmo as fitas da máquina de escrever e o papel carbono, além de terem escavado a horta de um primo em busca de alguma cópia. Era fevereiro de 1961, mas Vassili não se entregaria sem luta. Foi à União dos Escritores da URSS onde lhe informaram que apesar de não conter nada difamatório só poderia ser publicado dentro de 250 anos. Confiando no degelo, escreveu ao secretário geral do Partido, Nikita Kruschev: “Eu lhe peço que devolva a liberdade ao meu livro. Não há sentido, não há verdade na minha situação atual, de liberdade física, se o livro ao qual dediquei minha vida está na prisão, pois não o reneguei e não o renegarei. Passaram-se doze anos desde que comecei a trabalhar neste livro. Assim como antes continuo acreditando que escrevi a verdade, que escrevi com amor e compaixão pelas pessoas, com confiança nelas. Peço >>


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capa | literatura AINDA DE UNIFORME, POUCO DEPOIS DA GUERRA, EXPERIMENTANDO A GLÓRIA DA FAMA

>> liberdade para o meu livro”. O microfilme ressurgiu vinte anos depois na França, onde foi editado pela primeira vez. Vassili foi um repórter que os jornalistas deveriam elevar à categoria de herói da profissão pela maneira como contou os fatos de que foi testemunha, o destemor como deles participou e pela coragem, comum em Vida e Destino, tratou da brutalidade da coletivização forçada, principalmente na Ucrânia, o banho de sangue da repressão política de 1937, o antissemitismo na URSS e o início do programa nuclear soviético. Antes deste, ele escreveu Por uma Causa Justa que já apresentava os personagens de Vida e Destino e, em 1952, foi amplamente debatido com os editores da revista literária Novyi Mir, que o publicara, para ser indicado ao Prêmio Stalin. No entanto, esta liberalidade durou pouco e, em fevereiro de 1953, Por uma Causa Justa virou alvo preferido da imprensa soviética. Coincidentemente, um mês antes, em janeiro, o Pravda acusara proeminentes médicos judeus de conspirar para envenenar Stalin, indício de uma campanha antijudaica. Era uma acusação cômoda, pois Stalin, à época com 73 anos, estava muito doente. Ele e outros jornalistas e escritores judeus foram convocados a assinar uma carta de repúdio contra os “médicos assassinos”, atitude que o fez se remoer em remorsos e registrou em Vida e Destino. No último capítulo do seu livro Terras de Sangue, o historiador e professor da Universidade Yale Timothy Snyder trata do antissemitismo stalinista e dedica um parágrafo a essa questão, a seguir: “Em fevereiro de 1953, os líderes soviéticos reescreveram várias vezes um texto de autodenúncia coletiva dos judeus com frases típicas da propaganda nazista. O documento seria publicado no Pravda e assinado por importantes judeus soviéticos entre eles Vassili Grossman, intimidado a assiná-lo. Depois

Preocupação com os judeus O décimo-terceiro e último andar um edifício da rua Bahia tem dois apartamentos: a porta de um tem mezuzá e objetos em forma de hamsa de todas as cores e apresentações; a porta de outro tem só o necessário. Neste, vive o professor aposentado de língua e literatura russas Boris Schnaiderman (foto ao lado), tema do documentário O Pracinha de Odessa a respeito dos meses em que lutou na Itália, a partir de 18 de julho de 1944, quando as tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcaram em Nápoles, integrando o Segundo Grupo de Artilharia. Ele foi designado para tentar desalojar soldados nazistas teimosa e fortemente entrincheirados nos cumes dos montes Casino e Castelo. Boris nasceu em Odessa (Ucrânia), famosa cidade portuária do Mar Negro e imigrou para o Brasil com os pais quando tinha 8 anos. Só voltou, para “ver como as coisas ficaram” em 1989, assim que o regime soviético terminou. Na sala do apartamento somente a grande janela que dá para a praça Buenos Aires não é coberta de prateleiras e, nelas, livros, centenas deles, muitos deles em russo, e Boris sabe exatamente o lugar de cada um. Um desses livros é o segundo volume de nove da Enciclopédia Literária Russa Sucinta, exemplar editado em 1964. A Enciclopédia foi sendo lançada aos poucos, a partir de 1962 e até o último, em 1978, de acordo, portanto, com os ventos e os humores da política soviética. O verbete da página 398 é dedicado a Vassili Grossman e o texto, em russo, é uma tediosa cronologia de eventos aos quais, de uma forma ou de outra, Vassili esteve ligado. O verbete não registra que Vassili era judeu. Mas conta que nasceu em 1905, morreu em 1964, estudou química e matemática, foi trabalhar na bacia do Don e os primeiros textos se referem à vida dos mineiros que publicava na revista Literatura da Bacia do Don. Com a ajuda de uma potente lupa, Boris lê e segue tra-


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de ataques maliciosos da imprensa, concluíram que seu romance sobre a guerra, na época recentemente lançado seu Por uma Causa Justa era menos patriótico do que devia, embora seja um romance abrangente a respeito da Batalha de Stalingrado e basicamente dentro consenso stalinista. Agora, a perspectiva de Grossman mudara e na sua continuação, a obra-prima Vida e Destino, Vassil iapresenta um interrogador nazista que pondera sobre o futuro: ‘Hoje vocês estão assustados pelo nosso ódio contra os judeus. Amanhã, vocês mesmos poderão se servir dessa experiência’. No último esboço conhecido deste documento, de 20 de fevereiro de 1953, os signatários deviam afirmar que havia entre os judeus ‘dois campos’, o progressista e o reacionário. Israel estava no campo reacionário pois seus líderes eram ‘judeus milionários associados aos monopolistas americanos’; e os judeus soviéticos também tinham de reconhecer que ‘as nações da União Soviética e, acima de tudo, a grande nação russa’ tinham salvado a humanidade e os judeus”.

duzindo do cirílico que Vassili escreveu um conto a respeito de Berditchev, cuja qualidade chamou a atenção de Maxim Gorki que o apoiou e estimulou a escrever mais uma novela no “ano 17” (da Revolução), segundo o verbete, isto é, 1934. O texto prossegue exaltando as qualidades de Grossman apresentando-o, em resumo, como a forma acabada de uma expressão do realismo socialista”. “E foi isso mesmo”, afirma Boris Schnaiderman, que cita Vassili em dois trechos do livro Os Escombros e o Mito, cujo subtítulo “A cultura e o fim da União Soviética” ajuda a entender do que trata. “Ele foi um dos principais autores do “realismo socialista” e está em toda a formação dele, que desde o início teve grande aceitação. Uma prova disso foi o livro O Povo Imortal, de 1942, escrito em meio às batalhas como correspondente de guerra, em 1942. O livro Um Escritor na Guerra, que a editora Objetiva publicou há alguns anos, é uma obra notável principalmente pela forma de apresentar tudo a que testemunha acompanhando as tropas do Exército Vermelho. É um livro impressionante, como todos os outros, pelo jeito de escrever, pela maneira de expor os fatos que vê e, no caso específico, pela exaltação do povo russo. No entanto, convém destacar que desde os primeiros textos ele deixa bem claro sua estreita preocupação com o problema judaico e com os judeus, e, aos olhos do regime, razões suficientes para sua desgraça depois da guerra”. De todo modo, Vassili sobreviveu à prisão, condenação e fuzilamento de escritores judeus “principalmente porque escreviam em ídiche, e ele, em russo. Grossman sofreu muito por causa disso e tinha a consciência pesada, agravado pelo fato de ter sido usado como instrumento para acusar de alta traição os médicos judeus incriminados num suposto complô para matar Stalin que, aliás, já estava à morte”.

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Vassili foi membro destacado do Comitê Antifascista Judaico, cujo presidente era Solomon Mikhoels, também diretor do Teatro Ídiche de Moscou. Em janeiro de 1948, Solomon foi a Minsk avaliar uma peça indicada ao Prêmio Stalin e, ao chegar, foi convidado para uma reunião na casa de campo do chefe de polícia da Bielorússia, Lavrenti Tsanava, que mandou matá-lo e a uma testemunha na hora errada e no local errado. O corpo de Solomon foi esmagado por um caminhão e desovado numa rua tranquila da capital bielorussa. Apenas alguns anos antes milhares de judeus foram mortos na mesma cidade, mas pelos alemães. Ironicamente, durante a >>

De acordo com Boris, era “grande e especial a admiração de Vassili por Liev Tolstoi – e talvez por isso –, acredita que Vida e Destino pode ser entendido como paráfrase a Guerra e Paz. Ao se referir a Grossman, esse ex-professor também de teoria literária não vê diferença entre jornalista e escritor, pois “uma grande reportagem, é, também, uma obra literária. Ele tinha a veia de escritor e com as reportagens que escrevia para o órgão oficial do exército, o Estrela Vermelha, influía no moral das tropas para derrotar os inimigos naquilo que chamavam de a Grande Guerra Patriótica, e no moral da população. A leitura atenta de tudo o que escreveu vai revelar um homem que ao relatar com franqueza a situação dos judeus e do judaísmo na Rússia, conseguia desafiar o estado soviético”. Aos 98 anos, Boris Schnaiderman continua trabalhando e recentemente entregou a Jacó Guinsburg, da Editora Perspectiva, os originais de Caderno Italiano, um livro autobiográfico cujo fio condutor é o período em que lutou na Itália, durante a Segunda Guerra. Ele já havia escrito a respeito quando lançou Guerra em Surdina, em 1964, “mas este era um livro de ficção”, diz. (Bernardo Lerer)


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capa | literatura

LEON TOLSTOI COM MAKSIM GORKI E ILYA EHRENBURG (NA PG. AO LADO), TODOS LIGADOS A

VASSILI

>> guerra, esse mesmo Solomon foi orientado por Stalin a sair pelo mundo divulgando os problemas dos judeus na União Soviética para sensibilizar os bolsos de quem pudesse ajudar o esforço de guerra soviético. Quando os canhões silenciaram, Mikhoels impôs-se a tarefa de impedir que o extermínio em massa dos judeus fosse tragado pelo esquecimento histórico e que o sofrimento particular dos judeus fosse apresentado ao mundo menor que aquele dos povos soviéticos. Assim, em setembro de 1945 levou a uma conferência em Kiev um vaso de cristal com as cinzas dos assassinados na ravina de Babi Yar e nos anos seguintes dedicou-se a falar abertamente das macabras valas comuns. Em 1947 pediu ao chefe de propaganda de Stalin, Andrei

Jdanov, autorização para publicar um “Livro Negro” a respeito dos judeus soviéticos, uma coletânea de documentos e depoimentos organizados por Grossman, Ehrenburg e outros, mas foi negada porque aquele momento da cultura soviética não podia concordar com uma história judaica da guerra. Exemplo disso está nos territórios anexados pela União Soviética, na faixa ocidental, onde morreram cerca de 1.600.000 judeus e os monumentos homenageando Lenin foram erguidos sobre pedestais construídos com pedras tumulares de judeus. E a sinagoga de Kovel, onde judeus deixaram suas últimas mensagens antes de serem levados para os campos de concentração, foi transformada em depósito de grãos. Mesmo depois da guerra a morte rondava a vida dos judeus na União Soviética e para Stalin era até um problema familiar: o filho dele, Iacov, que morreu num campo de detenção alemão, era casado com uma judia; o primeiro namorado da filha, Svetlana Allilueva, era um ator judeu, despachado para um Gulag acusado de espionagem a favor dos britânicos; o primeiro marido dela também era judeu “avaro e covarde”, segundo o pai, que obrigou-a a se divorciar dele para casar com o filho de Jdanov. Um colaborador próximo de Stalin, Lazar Kaganovich, era judeu, mas não durou muito. Polina Jemchujina, mulher do comissário para o exterior Viacheslav Molotov, incentivou Golda Meir, no final de 1948, em ídiche, a continuar frequentando a sinagoga. O Estado de Israel já existia formal e oficialmente e Ekaterina Gordman, mulher de outro membro do Politburo, Kliment Voroshilov, disse “agora nós também temos a nossa própria pátria”. O último capítulo do livro Terras de Sangue, do historiador e professor da Universidade Yale Timothy Snyder, trata do antissemitismo stalinista e conta que, no final de 1948, princípio de 1949, a opinião pública foi induzida a se voltar para o antissemitismo por meio de novas diretrizes bem claras em


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um artigo do Pravda a respeito de “críticos de teatro antipatrióticos que apoiavam o cosmopolitismo sem pátria”, senha para uma campanha contra os judeus em todas as áreas profissionais, começando pelo próprio Pravda que deu o exemplo e promoveu o expurgo dos jornalistas judeus; o Exército Vermelho exonerou oficiais judeus; militantes judeus foram excluídos de posições de liderança do partido comunista. Ao mesmo tempo, foram revelados os nomes verdadeiros de dezenas de escritores e poetas que escreviam sob pseudônimo literário russo e detidos os escritores judeus que escreviam em ídiche, tinham interesse na cultura ídiche e escreveram a respeito do assassinato dos judeus pelos alemães foram primeiro detidos e, depois, muitos deles, fuzilados. Grossman: “Por toda a União Soviética tinha-se a impressão de que somente os judeus roubavam e praticavam a corrupção, somente os judeus eram criminalmente indiferentes ao sofrimento dos doentes e somente os judeus publicavam livros depravados e mal escritos”.

Vida e Destino

J. Guinsburg

Muitas são as obras escritas na literatura moderna sobre a guerra e a experiência humana que a envolve. Poucas, no entanto, se propõem ou conseguem ultrapassar aspectos relativos, restritos ou específicos dessa vivência e das projeções imaginativas que elas suscitam à veia criadora dos ficcionistas, seja no plano histórico, social e político, ou no âmbito vivencial e psicológico de suas personagens trançadas na atmosfera necessariamente rarefeita da escritura transcriativa e de seus simbolismos. Da expressão coletiva e individual que as duas grandes conflagrações do século 20 tiveram na produção ficcional, a primeira encontrou o seu marco principalmente em Nada de Novo na Frente Ocidental, de Erich Maria Remarque, e a segunda, apenas parcialmente, pois seu recorte temático é o da luta norte-americana no Pacífico, em Os Nus e os Mortos, de Norman Mailer. Todavia, nenhuma delas possui a amplitude e a abrangência de Vida e Destino, de Vassili Grossman, que, no entanto, tem o seu par e talvez modelo em Guerra e Paz, do autor, também russo, Leon Tolstoi. Mas, sem entrar nos possíveis paralelismos, que começam pela personificação em dois grupos de famílias, os Volkonsky-Rostov, de Tolstoi, e os Chapochnikov-Strum, de Grossman, o fio narrativo desenvolve em subtexto uma crítica psicológica social e política, não menos aguçada em ambos, embora a filosofia de vida e os valores que os presidem difiram, como não poderia deixar de ser, em se tratando de dois universos humanos, ainda que ambos russos, em estágios de sociedade e natureza de conflitos inteiramente diversos. Grossman põe em cena o mundo soviético no período de Stalin e no seu confronto com a Alemanha de Hitler. O romancista oferece na carne e no sangue de suas personagens o centro vital da resistência contra o nazismo, que é a luta do povo nas ruínas de Stalingrado. Ele vence. Mas, novamente nos quadros desse triunfo, suas ações não se esvaem na vacuidade do heroico – tecidos por um realismo “carnal”, sem concessões, estão além do verossímil como encarnação do real. Essa narrativa tem sua contrapartida na exposição de outras realidades que afloram de seu subsolo soviético, não menos terríveis por sua natureza opressiva e esmagadora, ditadas por uma visão ideológica que deturpa o sonho do humanismo igualitário e socialista para transformá-lo em uma máquina totalitária de domínio do homem pelo homem. O autoritarismo, a alienação burocrática, o antissemitismo discriminatório, a tirania escravizadora e a liberdade de opinião sufocada agridem, corroem e destroem a sociedade e os valores da pátria do povo vencedor. Esse é o destino da vida, ou melhor, é a luta da vida contra o destino que se lhe pretende dar. Daí por que Vida e Destino, de Vassili Grossman, na tradução cuidadosa e competente de Irineu Franco Perpétuo, merece a leitura e a reflexão de todo aquele que queira, de algum modo, penetrar pelos caminhos do homem na história de suas buscas de si e de seu sentido.


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magazine > eleições | por Ariel Finguerman, em Tel Aviv

Israel decide o seu futuro O MAIS DESTACADO JORNALISTA POLÍTICO EM LÍNGUA PORTUGUESA EM ISRAEL E CORRESPONDENTE DA GLOBO NEWS, HENRIQUE CYMERMAN (FOTO NA PÁG. AO LADO), FALA PARA A REVISTA HEBRAICA A RESPEITO DAS ELEIÇÕES NO PRÓXIMO MÊS

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enrique Cymerman tinha tudo para ser um jornalista obscuro e deixado de lado no meio político de Israel. Afi nal, para trabalhar usa uma língua, a portuguesa, pouco prestigiada no país. E quando as principais fontes de informação, como primeirosministros, presidentes e outros líderes, decidem dar uma entrevista, normalmente preferem jornais norte-americanos e europeus. Apesar disto, no entanto, Cymerman conseguiu

UMA ELEIÇÃO QUE É MARCA DO EXERCÍCIO PLENO DA DEMOCRACIA

uma projeção notável no meio político da região. Aos 55 anos, o currículo de Cymerman coleciona entrevistas históricas, entre elas a última concedida pelo premiê Itzhak Rabin. No ano passado, foi enviado pelo jornal Yedioth Achronot, o mais importante do país, para uma longa entrevista com o papa Francisco, que teve grande repercussão. Além disso, coleciona encontros com Yasser Arafat, o rei jordaniano Hussein e o presidente palestino Mahmoud Abbas, entre outros. Agora, Cymerman está concentrado nas eleições israelenses, no próximo mês. Ele acompanha as eleições de Israel desde os 16 anos de idade, quando fez aliá a partir do Porto, em Portugal, que acolheu a sua família polonesa na época da Segunda Guerra. Cymerman é formado em sociologia e ciências políticas, e pai de três filhos.


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E N T R E V I S TA Hebraica – Como você explica que após somente dois anos de governo, Israel terá novas eleições? Henrique Cymerman – Desde o início, os fundadores deste país quiseram que todos os grupos da sociedade estivessem representados na Knesset. Foi algo positivo, mas o preço foi um trabalho tremendo para formar um governo e, depois, administrar o país. Vamos precisar de uma reforma política profunda para acabar com esta instabilidade. Há propostas para isto, como por exemplo, em caso de o primeiro-ministro ser acusado de algo, a acusação deve ser congelada até acabar o mandato, e não tenha que se defender enquanto trabalha para a nação. Outra ideia é limitar que um político seja primeiro-ministro mais que duas vezes. Hoje Netaniahu é quase um monarca. Como dizia Bernard Shaw, políticos e fraldas precisam ser sempre trocadas, e pelas mesmas razões. A novidade no cenário político israelense é a união de forças da esquerda, lideradas por Itzhak Herzog e Tzipi Livni. A esquerda poderá vencer estas eleições? Cymerman – Há esta possibilidade. Parecia impossível no início, mas agora pode acontecer, especialmente se houver o apoio implícito de outra força da esquerda, Yair Lapid. Mas continua sendo algo complicado. Infelizmente, a direita usa o medo para assustar a população e intimidá-la, e com isto ganha mais e mais apoio. Mas ainda acho que nestas eleições pode acontecer uma revolução em relação a um acordo com os palestinos. De que maneira? Cymerman – A maioria dos grandes partidos, incluindo o do próprio Bibi Netaniahu, entende que Israel e palestinos não conseguirão chegar à paz sozinhos. A única maneira de este processo avançar é um acordo regional. O mundo árabe pragmático, incluindo Egito, Arábia Saudita, Jordânia e países do Golfo, tem interesse em resolver o problema pa-

lestino para focar na ameaça maior do jihadismo radical, que ameaça todo o mundo. Isto une Israel a estes países árabes. Também é comum a preocupação com um Irã nuclear. Com base nos meus contatos no mundo árabe, posso afirmar que já há conversações acontecendo neste momento entre Israel e estes países para chegar a um tipo de solução entre nós e os palestinos, o conflito mais antigo do mundo. A violência da segunda intifada (2000-2004) fez a população israelense tender para a direita. Isso deverá continuar também nestas eleições? Cymerman – Acho que isto vai depender bastante dos palestinos e do mundo árabe. Os duzentos homens-bomba daquela época radicalizaram a opinião pública israelense, tornandoa mais dura. É o voto do medo. Esta tendência somente poderá parar com a educação para a paz, nos dois lados. A paz não acontecerá de um momento para o outro, será um processo longo. A criança palestina precisa ver Israel no mapa de seu livro escolar, e o israelense precisa saber que existe algo chamado Linha Verde. É um processo demorado, mas é necessário começar. À medida que o tempo passa tudo fica mais complicado e, não fazendo nada, estaremos condenando as próximas gerações a viver em conflito. Bibi já é o segundo político com mais tempo como primeiro>>

“Uma das propostas é limitar que um político seja primeiroministro mais que duas vezes. Hoje Netaniahu é quase um monarca. Como dizia Bernard Shaw, políticos e fraldas precisam ser sempre trocadas, e pelas mesmas razões.” (Henrique Cymerman)


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magazine > eleições ministro, só perdendo para Ben-Gurion. Como avalia a atuação dele? Cymerman – Há meses conversei quarenta minutos, com ele em off, antes de gravarmos uma entrevista. Ele pediu minha opinião sobre sua atuação. Eu disse que ele fez duas coisas importantes: salvou Israel da crise financeira mundial e conseguiu tornar o Irã problema mundial e não só israelense. É para aplaudir. Mas aí perguntei como gostaria de ser lembrado daqui a cinquenta anos. Pois se ele não tratar a questão dos palestinos, permitindo que vivam ao lado de Israel, será esquecido da história, se tornará uma nota de rodapé. Ele me olhou e disse: não podemos ter os palestinos e nós vivendo num só Estado, mas precisamos de dois para dançar tango. Nisso concordo com ele. Não vejo Bibi como um fanático inteligente. Ele usa uma retórica forte para ganhar eleições, mas tem consciência do problema demográfico daqui. Ele ainda pode se encaminhar para um acordo com os palestinos? Cymerman – Acho que ele não tem força pessoal, nem peso político, para trazer uma solução. Apesar de ser um político pragmático, ele foi educado em uma família para quem o Estado de Israel deveria ser do Mar Mediterrâneo até o rio Jordão. No passado, cheguei a pensar que Bibi seria o homem ideal para assinar a paz, pois ele tem origem na direita e teria todo o apoio da esquerda e do centro. Mas ele não é suficientemente ousado e corajoso. Não fez isto em três mandatos, é difícil esperar que o faria num quarto. Qual a possibilidade de o resultado destas eleições levar a algum tipo de acordo com os palestinos já em 2015? Cymerman – Este ano não será possível um acordo. Os palestinos também precisam mudar o chip, pois a culpa pela situação atual não é só de Israel. Eles precisam entender que terão de pagar um preço, que não receberão 100% do que querem. Tenho contatos com um príncipe da Arábia Saudita e com um alto político do Egito cujos nomes não posso citar e viajo com frequência para o Golfo Pérsico. Também conversei a respeito disso pessoalmente com o papa. Todos entendem que os palestinos terão que pagar um preço. Para isso, o mundo árabe terá de amparar os palestinos, levá-los pela mão e dizer que devem ser pragmáticos e deixar de perder oportunidades como aconteceu com Barak e Olmert, quando abandonaram a corrida faltando apenas cem metros para o final. Os palestinos terão de fazer um esforço real e parar de passar a bola da vez para o campo rival. O que falta para isto acontecer? Cymerman – Precisamos de líderes corajosos. Os políticos que assinarem um acordo de paz – e isto será o último ato das suas carreiras políticas – será um compromisso doloroso e pelo qual ganharão poucos elogios dos seus povos. Mas as próximas gerações irão agradecê-los. Os radicais em

Israel ainda são uma pequena minoria. Podem fazer muito barulho e causar danos em lugares sensíveis como o Monte do Templo, mas são poucos. Já do lado palestino, 40% apoiam o Hamas e mesmo na OLP há gente contrária a um acordo. Do lado deles há mais gente contra um acordo do que do nosso, e um bloco muito maior, representado pelo Hamas. Enquanto o Hamas não mudar, continuará havendo entre eles uma minoria importante contra um acordo. Mas acho que se houvesse hoje um plebiscito a respeito de um acordo, a maioria dos dois lados diria “sim”. Numa situação de paz, todos ganhariam. Israel faria acordos com 57 novos países muçulmanos, imagine o que isto significaria para a nossa economia. Seria uma nova União Europeia do ponto de vista de mercado para a tecnologia do país, algo brutal. Neste começo de ano, você está otimista com Israel para 2015? Cymerman – Israel é um autêntico milagre. Cheguei aqui garoto, em 1975, e o que aconteceu de lá para cá foi um milagre. Às vezes perdemos a perspectiva disto, somos eclipsados pela grandiosidade dos nossos problemas, mas o que este país alcançou foi enorme. Desde sua criação cresceu cem vezes, absorveu 1,5 milhão de imigrantes da ex-URSS. Lembro que nos anos 90 víamos estes russos chegando e pensávamos onde iriam morar. Atualmente são um dos motores da nossa economia. Noto como os árabes com quem falo têm inveja da nossa imprensa livre, do fato de mantermos preso um ex-presidente julgado como criminoso, da nossa indústria high-tech. Mas precisamos também tomar decisões fortes. Há em toda esta região 6,1 milhões de judeus e 5,6 milhões de muçulmanos. Daqui a três anos, eles serão a maioria. Hoje talvez sejamos o único país do mundo com fronteiras não reconhecidas, e 20% da população é considerada pobre. Oxalá em 2015 se comece a resolver estes problemas, o quanto antes, melhor.

“Enquanto o Hamas não mudar, continuará havendo entre eles uma minoria importante contra um acordo. Mas acho que se houvesse hoje um plebiscito a respeito de um acordo, a maioria dos dois lados diria ‘sim’.” (Henrique Cymerman)



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por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com

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12 notícias de Israel

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Gaiola das loucas Da crônica policial israelense: tudo começou com uma batida policial rotineira nas ruas, que flagrou um cartola do futebol mantendo relações sexuais com um menor de idade no carro. A partir daí descobriu-se que o tal futebolista tinha uma lista de jovens entre 14 e 16 anos, frequentadores do seu clube, as quais aliciava frequentemente, e que também mantinha relações com um oficial de alta patente da Inteligência do Tzahal. Puxa daqui, puxa dali, descobriram que outros dez menores frequentavam o tal oficial. Enquanto isto, o Tzahal se pergunta, perplexo, como ele conseguiu chegar tão alto na hierarquia da Inteligência sem nada ser notado.

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007 de saias Ela tem menos de 30 anos, já é considerada uma heroína da história israelense, mas sua identidade jamais será conhecida. Ela foi um dos homenageados em discreta cerimônia, em Jerusalém, com a cúpula do Mossad, os ex-chefes vivos da organização, o presidente e o primeiroministro do país. A respeito da jovem, que recebeu diploma de excelência do Mossad, somente foi divulgado que há vários anos vive infiltrada num país inimigo. O serviço secreto aproveitou a ocasião para informar que 40% do staff é de mulheres.

Alívio negro Paz não existe em Gaza, mas pelo menos uma garrafa de Coca-Cola vai ser possível encontrar por ali. Com a bênção do governo israelense, o refrigerante mais famoso do mundo começou a instalação de uma fábrica própria na faixa palestina. Além de alívio para o intenso calor no verão, a bebida também produzirá mil vagas de trabalho para os palestinos. A construção das instalações levará três anos, ao custo de vinte milhões de dólares.

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“Nosso homem no Brasil” Foi assim que o Yedioth Achronot, o jornal de maior circulação em Israel, saudou a indicação de Jaques Wagner para ministro da Defesa do governo Dilma. O exgovernador da Bahia e fundador do PT é descrito no jornal como “ex-membro do movimento juvenil Habonim Dror, orgulhoso de seu judaísmo, apoiador de Israel e do sionismo”. A matéria também informa que alguns dos seus parentes moram no Estado judeu e lembra que Wagner acompanhou Lula na histórica visita a Jerusalém, em 2010. O texto o compara ao antecessor Celso Amorim, considerado “muito hostil a Israel e uma das principais forças que pressionaram para melhorar as relações do Brasil com o Irã”.

Louca violência A família Mitiko, que fez aliá da Etiópia há dez anos, não chamava a atenção no prédio onde moravam em Rishon LeTzion. O casal e cinco filhos eram vistos como gente honesta e tranquila. Tudo desabou quando às 5h45 da manhã ouviram-se gritos desesperados. O pai, 49 anos, agarrou a esposa e esfaqueou-a seguidamente na frente da filha de 16 anos. Depois, o pai correu até um parque próximo e enforcou-se. O filho mais velho, que serve o Tzahal na brigada de elite Givati e fora ferido em Gaza, no ano passado, foi chamado para o enterro dos pais. Em um ano, onze mulheres foram mortas pelos maridos no país.


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Academia da dívida Não só a USP vive crise financeira e queima boa parte dos seus recursos em salários, não em pesquisa. A Universidade Hebraica de Jerusalém, considerada a principal de Israel, anunciou que gasta um quarto das receitas pagando pensão a ex-professores. Em razão disso, encerrou as contas do ano passado com um déficit de cinco milhões de dólares. A universidade já estuda vender algumas propriedades para pagar a dívida, incluindo o terreno de algum dos seus seis campi, imóveis espalhados por Israel e até plantações de laranjas na região central israelense. O Estado paga metade das despesas da instituição, aliás uma das maiores empregadoras de mão-de-obra de Jerusalém.

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Kabalat Shabat genial

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Tragédia animal

Num inédito encontro, cinco prêmios Nobel israelenses se reuniram em uma cerimônia sentimental para celebrar a entrada do Shabat, no Tzavtá, um teatro boêmio de Tel Aviv. Lá estavam Dan Shechtman (Química), Robert Aumann (Economia), Ada Yonath (Química), Avram Hershko (Química) e Aaron Ciechanover (Química). Nos discursos, a preocupação generalizada de que o atual sistema educacional israelense, e seus problemas, como o excesso de alunos por classe, no futuro não conseguirá gerar novos premiados.

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Santo turismo Para surpresa geral, segundo o ministério do Turismo, o conflito de Gaza no ano passado praticamente não alterou o fluxo de visitantes a Israel. Comparado a 2013, a queda foi de apenas 1% no número de turistas em 2014. E no caso dos norte-americanos, os campeões de visitas na Terra Santa, houve um acréscimo de 1%, totalizando 630 mil. Em seguida, ficaram os russos, seguidos dos franceses, alemães e ingleses. Já o aeroporto Ben-Gurion bateu o recorde de passageiros com 14,2 milhões de embarques e desembarques. Duas explicação para o fenômeno: a memória curta da humanidade e conflitos em outras partes do mundo que atraíram a atenção da mídia para longe daqui.

Chana, uma tigresa de Sumatra exibida no Zoológico Bíblico de Jerusalém, era uma das grandes esperanças de reprodução da espécie. Existem apenas outros quatrocentos tigres como este na vida selvagem. Nos últimos anos, a bichana deu à luz três filhotes, mas todos morreram porque a mamãe não lhes dava a devida atenção. Em novembro, Chana gerou outros três filhotes, e alegrou os veterinários israelenses. Um deles nasceu fraco demais, mas os outros dois até que estavam bem. Mas uma visita rotineira à jaula revelou que os bichanos desapareceram. No aparelho disgestivo da mamãe.


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Máscaras, só de Carnaval Ano novo, boas novas: o ministério da Defesa decidiu terminar de vez a fabricação e distribuição de máscaras antigás no país. A medida colocou ponto final num dos cenários mais deprimentes da vida cotidiana de Israel: ir à agência do correio apanhar o “kit sobrevivência” com máscara do tipo Primeira Guerra e injeções em caso de contaminação. Pessoalmente nunca acreditei que isso serviria para alguma coisa no caso de um bombardeio real, pois, afinal, numa situação extrema como essa campos agrícolas seriam contaminados, a água ficaria inutilizável e muita gente seria pega de surpresa sem a máscara. Mas vivemos aqui com vizinhos cujos líderes estão bem próximos da insanidade, como se vê na Síria. Deve ter passado pela cabeça do Assad jogar veneno químico aqui, mesmo que matasse também os árabes locais e sabendo que a resposta israelense seria desequilibrada e radical. Com a decisão de suspender a distribuição de máscaras, Israel vai economizar 255 milhões de dólares por ano. Somente um pequeno número de unidades ficará de prontidão, se os soldados na fronteira do Golan forem alvejados, mas isso também é improvável. No pico do programa, 60% da população receberam as máscaras. O restante, como eu, nem se deu ao trabalho de ir ao correio enfrentar a fila da distribuição. De todo modo, guardamos o vale-máscaras na gaveta, sempre à mão. O ministério da Defesa entende que os sírios desmantelaram o arsenal químico e o perigo evaporou. Que bom. Mas isto não quer dizer que, no futuro, o programa não seja reeditado. Esta é a essência da vida judaica no Oriente Médio. O negócio é comemorar ano a ano. Neste Carnaval 2015 haverá máscaras, mas só as de folia.

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Uma tragédia judaica

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Humus com palitinho

O mês passado celebrou os oitenta anos da morte do químico Fritz Haber. Talvez nenhum outro personagem tenha ilustrado tanto a glória e a tragédia da experiência judaica de assimilação no mundo ocidental moderno. Haber cresceu em uma família judia aculturada na Alemanha em 1868 e, adulto, converteu-se ao protestantismo – assim como as duas mulheres com quem se casou. Um gênio, participou dos experimentos que levaram à síntese da amônia que resultou na fabricação em massa dos fertilizantes que revolucionaram a agricultura do nosso tempo. Isto garantiu-lhe o Nobel de Química em 1918. Mas o patriota Haber também inventou para o exército alemão as armas químicas que dizimaram centenas de milhares de soldados na Primeira Guerra. Segundo seus biógrafos, a primeira mulher suicidou-se chocada com o morticínio na batalha de Ypres, durante o conflito, causado pelas armas químicas. Para não ser processado pelos vitoriosos, Haber refugiou-se na Suíça, sempre ela, mas escapou ao processo e voltou ao comando do Instituto de Química Kaiser Wilhelm, em Berlim. Ali, dirigiu o desenvolvimento do veneno Zyklon-B, um violento inseticida que mais tarde seria usado pelos nazistas nas câmaras de gás. No entanto, Haber não viveu para ver esta tragédia suprema. Em 1933, após demitir todos os funcionários judeus deixou o cargo no instituto, e enquanto preparava a mudança para a Palestina, onde trabalharia no Instituto Weizmann, morreu num hotel da Suíça. O que somos hoje, esse nosso entusiasmo controlado pela agora tolerante sociedade ocidental e nosso comprometimento pela segurança de Israel resulta desta experiência do pré-guerra, simbolizada de forma radical por Fritz Haber.

O Japão, país de 126 milhões de habitantes, abriu o primeiro restaurante kasher, em Tóquio. Com o nome Ha-Makom shel Chana (“O Lugar da Ana”, em hebraico), a iniciativa, como só poderia ser, é do Beit Chabad local. O lugar vai atender as poucas centenas de judeus que vivem na capital e os milhares de turistas observantes que aparecem por lá. No cardápio, o tom é a comida oriental israelense, como humus, falafel, beringela e shakshuka (ovos com molho de tomate). O mesmo Chabad também já abriu por lá uma mikve.



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magazine > terrorismo | por Bernardo Lerer

Ecos do “Charlie Hebdo” QUANDO ESTA EDIÇÃO DA REVISTA HEBRAICA COMEÇAR A SER DISTRIBUÍDA ENTRE OS ASSOCIADOS, A MORTE DE DEZESSETE PESSOAS – ENTRE ELAS CINCO JUDEUS – EM PARIS, NA PRIMEIRA SEMANA DE JANEIRO, PELAS BALAS DAS AK-47 NAS MÃOS DE TERRORISTAS, CERTAMENTE JÁ TERÁ PASSADO PARA A HISTÓRIA COMO MAIS UM EVENTO CAPAZ DE ABASTECER OS PARTIDOS DE EXTREMA-DIREITA DA EUROPA QUE SE DEDICAM À XENOFOBIA, À ISLAMOFOBIA E AO ANTISSEMITISMO, NÃO NECESSARIAMENTE NESSA ORDEM, E DE ACORDO COM AS CIRCUNSTÂNCIAS

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França, no entanto, é um caso especial. O país tem um histórico de antissemitismo que nos dias atuais é fermentado pela mistura explosiva que junta esquerda radical, direita radical, radicais islâmicos e uma classe política que os comentaristas chamam de disfuncional, seja lá o que isso significa. De todo modo, os vários aspectos que envolveram este evento brutal, e que a divulgação das imagens chocantes potencializou ao máximo, servem de ponto de partida para um debate longe de se esgotar. É uma pena. É também lamentável o fato de que somente se debata os conceitos do Corão, liberdade de expressão, islamismo, terrorismo, discriminação dos estrangeiros na França, segurança interna, etc. Mas e os judeus? Onde entram os judeus nisso tudo? São judeus, ora. Por isso foram mortos. O que um terrorista tinha para fazer num tradicional mercado kasher em um sábado? Matar judeus, ora. E os judeus têm um histórico de combate à discriminação e à intolerância porque de ambas foram sempre vítimas eleitas e alvos preferidos. Os judeus têm estado sob ataque na Europa há mais de uma década e, no entanto, não houve passeatas e nem manifestações de solidariedade às crianças assassinadas em Toulouse, ao jovem Ilan Halimi torturado durante vinte dias e encontrado morto algemado às margens de uma ferrovia, aos quatro visitantes do Museu Judaico de Bruxelas, etc. As autoridades europeias não levaram esses eventos a sério como se não lhes dissesse respeito. pois, afinal, consideram o sangue judeu barato. Tão barato que o Comitê Olímpico Internacional se recusou a observar um minuto de silêncio na abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, em homenagem aos atletas israelenses assassinados em Munique, quarenta anos antes. A alegação era de que poderia macular a alegria da inauguração dos jogos. Os europeus parecem ignorar que tanto quanto aos judeus, estes ataques também os atingem. Isso começa com os judeus, mas nunca termina com eles, como a história já demonstrou várias vezes.

Quem os matou foi um terrorista com histórico de bandidagem e cooptado pelos radicais na prisão. O primeiro-ministro Biniamin Netaniahu viajou a Paris para a manifestação, apesar dos pedidos da diplomacia francesa para que não viesse. Mas foi, e ficou a poucos metros do presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas e depois participou de uma cerimônia na grande sinagoga de Paris com a presença do presidente François Hollande, um dos que lhe sugeriram “fique em Israel”. Aliás, a viagem dele só aconteceu depois de tensas trocas de telefonemas entre o Palácio do Eliseu e o gabinete do primeiro-ministro israelense e os respectivos assessores de segurança interna, Jacques Audibert, e Yossi Cohen, do Shin Bet. Bibi até considerou a possibilidade de não ir, mas mudou de ideia ao saber que os ministros do Exterior Avigdor Liberman e da Economia, Naftali Bennet, seus desafetos políticos, viajariam para a passeata e para a cerimônia na sinagoga de Paris. Foi, tornou-se uma das principais atrações e coroou as ações conseguindo que os quatro fossem enterrados em Jerusalém em meio a discussões a respeito de em qual dos poucos e lotados cemitérios da cidade seriam sepultados e quem pagaria os custos. Apesar desses pequenos detalhes, se é verdade que o primeiro-ministro voltou a Israel com o ar grave que o momento exigia, também é certo que ganhou pontos para as eleições em março, que definirão o futuro próximo de Israel e, portanto, coisas como vizinhos árabes, palestinos, paz, Hamas, Estado Islâmico, Al Qaeda, Irã, etc. Ao mesmo tempo, o noticiário revelava que, em 2014, aumentou substancialmente a imigração de franceses para Israel e, como tudo que diz respeito aos judeus, alimentou uma nova controvérsia e um rico debate: isso enriquece o sionismo ou é, simplesmente, capitular diante do terrorismo? Encorajar a imigração em massa de franceses pode ajudar os fanáticos a concluir o trabalho iniciado pelos nazistas e o regime de Vichy de declarar


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OS CORPOS DOS QUATRO

JUDEUS, NOSSOS IRMÃOS, E A EMOÇÃO CONTIDA DE

BINIAMIN NETANIAHU

a França Judenrein, isto é, livre (limpa) de judeus? Atender aos apelos por aliá parece estar em linha com dois de alguns princípios do sionismo: a negação da Diáspora e a existência de Israel como lar dos judeus perseguidos e em perigo. Nem o mais otimista líder terrorista poderia contar com isso, pois se o exemplo da França servir por que os jihadistas não o aplicariam em outros países da Europa? No entanto, submeterse a isso significa virar as costas para a França, um dos pioneiros fundadores da civilização ocidental à qual Israel pertence. A liberdade de expressão, tão cara às democracias e que se fortaleceu com o ataque à redação do Charlie Hebdo, foi pouco discutida em Israel. É claro, os jornais israelenses estimularam os chargistas a prestar as devidas homenagens aos colegas parisienses. O ilustrador israelense Ido Amin, cujo herói é o chargista judeu meio tunisiano e meio polonês Georges David Wolinski, um dos mortos no Hebdo, escreve que se Wolinski quisesse editar um jornal como o Charlie Hebdô em Israel teria problemas, pois a legislação israelense proíbe publicações que ofendam “sensibilidades religiosas” e pune quem desenhar Moisés, Jesus ou Maomé de modo a ferir os sentimentos dos observantes de cada religião. Essa legislação é um legado dos tempos do Mandato Britânico, que, em 1936, a importou de outra colônia, a Índia, para prevenir distúrbios raciais e religiosos. Ido Amin a descobriu quando apresentou a Wolinski o projeto de uma história em quadrinhos para publicar no Charlie. Wolinski sugeriu algo que tivesse o Oriente Médio como tema e Ido teve uma ideia: terroristas palestinos atacam um kibutz, fazem

dezenas de reféns, entre eles as mulheres do kibutz, os voluntários de vários países e clérigos radicais de várias religiões. Ao final, todos confraternizam em uma fantástica orgia. Wolinski gostou, Ido voltou para Israel e intrigado porque ninguém quis ver os rascunhos, soube da existência das leis. Ele tinha alguma experiência nisso: um importante jornal israelense publicou uma charge dele contra a prática da kapará em Iom Kipur. Como tudo em Israel, isso também provocou intenso debate que foi parar na tribuna da Knesset. Ele perdeu o emprego acusado, por exemplo, de copiar práticas do jornal nazista Der Stürmer. Combater o terror sem ferir os princípios fundamentais da liberdade em todos os sentidos é uma tarefa a cumprir e um desafio que os judeus devem enfrentar com inteligência e ousadia e se convencer, primeiro, que o Corão não é um manual de terrorismo e, segundo, estimular a grande maioria dos muçulmanos a rejeitar a prática do terror como forma de exercer a paixão teocrática”.

Atender aos apelos por aliá parece estar em linha com dois de alguns princípios do sionismo: a negação da Diáspora e a existência de Israel como lar dos judeus perseguidos e em perigo. Nem o mais otimista líder terrorista poderia contar com isso, pois se o exemplo da França servir por que os jihadistas não o aplicariam em outros países da Europa?


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magazine > a palavra | por Michael Handelzalts*

A semântica do desastre A PALAVRA QUE USAMOS PARA DESCREVER UM DETERMINADO FENÔMENO MUITAS VEZES ESTABELECE O SIGNIFICADO, A IMPORTÂNCIA QUE TEM PARA NÓS E OS TIPOS DE SENTIMENTOS QUE PROVOCA, COMO SHOÁ

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essa linha é interessante examinar como as palavras – shoá (em hebraico) e holocausto – passaram a se referir, em quase todo o mundo ocidental, às atrocidades cometidas pelos nazistas e sua laia contra aqueles a quem o destino e a fé fi zeram deles judeus que viviam na Europa, entre 1939 e 1945. As duas palavras, vistas como equivalentes embora não sejam, estavam em uso, em hebraico e em qualquer outra língua, antes de o fenômeno histórico que comumente descrevem tenha ocorrido. E ambas têm origem na Bíblia. São hoje, na consciência coletiva, termos que o primeiro-ministro britânico Winston Churchill chamou, em uma transmissão de rádio em 24 de agosto de 1941, de “um crime sem nome”. Churchill não se referia especificamente ao extermínio dos judeus: “À medida que os exércitos [de Hitler] avançam, bairros inteiros estão sendo exterminados. Dezenas de milhares – literalmente dezenas de milhares – de execuções a sangue frio são perpetradas pela força policial das tropas alemãs contra os patriotas russos... nunca houve uma carnificina tão metódica, tão impiedosa e em tal escala, ou se aproximando de tal escala... Estamos na presença de um crime inominável”. A palavra shoá consta das profecias de desgraça de Isaías e de Ezequiel na Bíblia hebraica, embora seu significado exato nessas menções seja pouco claro. Com base na raiz e no contexto, o termo aparentemente denotava uma catástrofe de uma magnitude que desafiava a crença, o que implica ruído ensurdecedor, desolação e destruição que ocorrem sem aviso prévio. Em Israel a palavra assumiu uma conotação exclusivamente judaica, o que leva muitos a fazer objeções, às vezes veementes, a expressões relativas à shoá

– ou holocausto – dos armênios. Churchill parecia não ter nenhum problema em usar o termo para, em seu livro The Aftermath, de 1929, descrever o massacre perpetrado pelos turcos em 1915, que matou de mais de um milhão de armênios. “Quanto às atrocidades turcas... armênios indefesos, homens, mulheres e crianças, bairros inteiros destruídos em um holocausto administrativo – estes estavam além do socorro humano.” A palavra “holocausto” em si deriva da versão latina de um versículo bíblico em particular, em Levítico (6:2), referindo-se a um tipo específico de sacrifício: “Esta é a lei do holocausto: o holocausto arderá sobre o altar a noite toda até pela manhã, e o fogo será tomado do mesmo altar” – ou seja, o sacrifício é queimado em sua totalidade até que nada permaneça. A palavra hebraica usada aqui é olá, que significa simplesmente “oferenda”, e que se supõe seja queimada sobre o altar, durante uma noite inteira e aparentemente editada por (São) Jerônimo na tradução em latim do versículo acima: “Haec est lex cremabitur holocausti em altari tota nocte”. Talvez o fato de a palavra cremabitur, raiz de “crematório”, estar acoplada a “holocausto” tenha levado a associá-la a este último termo com os horrores sofridos pelos judeus na Segunda Guerra, principalmente após o testemunho dos


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sobreviventes e dos libertadores dos campos de extermínio ter se tornado público, em 1945. A palavra “holocausto” é usada na Bíblia inglesa apenas uma vez – e apenas em uma versão, na tradução de a Bíblia Católica Douay-Rheims (1582-1610), no Livro de Jeremias 19:5. Assim, enquanto a natureza agourenta, mas não específica, de shoá parece, aos olhos de judeus e israelenses, e de muitas pessoas no mundo, poder descrever a catástrofe que se abateu sobre os judeus europeus entre 1939 e 1945, o uso da palavra originada do latim “holocausto” explica exatamente o que acontecia nos campos de extermínio: judeus e outras pessoas estavam sendo mortas e seus corpos incinerados – cremados. A origem da palavra “holocausto” introduz um elemento teológico no discurso: a vítima se torna uma “oferenda” – e, de fato, a palavra hebraica korban tem esses dois sentidos. Presumivelmente, portanto, uma divindade está presente ou ausente. A língua tanto reflete como influencia a consciência humana, e em grande medida, a palavra que usamos para descrever um dado fenômeno determina o seu significado e importância para nós, e o tipo de sentimentos que desperta em nós. Por isso, é interessante saber como os alemães, autores dos horrores, e os poloneses – que também sofreram muito com isso, e em cujo solo isso ocorreu – , se referem ao conceito de holocausto em suas línguas. A palavra polonesa também tem origem na Bíblia (versão polonesa). O contexto é a história de Noé, o dilúvio e a arca. De fato, o dilúvio também tenta um extermínio total da humanidade, apesar de não destacar os judeus, já que nessa fase da narrativa bíblica eles ainda não existiam. Profundamente desapontado com a forma como as suas criaturas se comportam, Deus decide: “Eu riscarei o homem que criei da face da terra, desde o homem até o animal, dos répteis até as aves do céu, pois me arrependo de os ter feito.”(6:7). Os tradutores da Bíblia do rei James usaram “apagar” (a frase usada na tradução Jewish Publication Society de 1917) como “destruir”, mas essa é uma interpretação: na versão original em hebraico da Bíblia, Deus fala em “eliminar” o homem e a besta da face da terra. A palavra polonesa escolhida pelos tradutores da Bíblia é wygladze, literalmente, “Eu vou aplainar [a terra]”. Daí a palavra polonesa para o extermínio, shoá, holocaust: zaglada. As expressões usadas atualmente pelos alemães para descrever os acontecimentos da Segunda Guerra, segundo me disseram, são na maioria das vezes o hebraico shoá e o inglês holocaust. Mas de volta ao “tempo real”, a época nazista, os líderes alemães usaram as duas palavras como sinônimas. Uma delas foi mencionada em um discurso de Heinrich Himmler que deveria ter sido mantido em segredo, diante de oficiais da SS em Posen, em 4 de outubro de 1943. Ele usou o termo Ausrottung: literalmente, “desenraizamento”, “extirpar”, “tirar algo fora do solo com suas raízes”. Os que negam o Holocausto afirmam que, ao falar Ausrot-

tung, Himmler queria dizer apenas a evacuação dos judeus – o primeiro passo do que veio a ser conhecido como a Solução Final – mas, no mesmo discurso ele acrescentou: “Nós temos o direito moral, temos o dever para com o nosso povo de fazê-lo, de matar estas pessoas que queriam nos matar”. O dicionário da língua alemã dos Irmãos Grimm, compilado muito tempo antes do Holocausto, cita o uso do infinitivo do verbo desta palavra, ausrotten, no sentido de “arrancar, destruir”, em vários trechos na tradução de Martinho Lutero da Bíblia, entre outros, no famoso versículo do Eclesiastes (3: 2): “Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou”. Aliás, a frase “não arrancar aquilo o que está plantado”, da canção de Naomi Shemer, às vezes é usada por colonos judeus nos territórios ocupados, ao se dirigir aos israelenses que querem que eles sejam evacuados, e a quem os colonos chamam de “nazistas”, mas isso é outra história. O próprio Adolf Hitler jurou, em discurso de 30 de janeiro de 1939, que a guerra traria o “Vernichtung der jüdischen Rasse in Europa”. Vernichtung, que não aparece na Bíblia alemã, às vezes é traduzido como aniquilação. O prefixo “ver” denota que uma ação é tomada; nicht (como nihil, ou nil) indica que esta é uma ação que envolve transformar algo – neste caso específico, a raça judaica – em nada. Os que negam o Holocausto afirmam que Hitler não quis dizer o que literalmente disse, mas metaforicamente. Ora, ora, negar que Hitler tenha negado aos judeus o direito de existir é uma dupla negação, o que significa que ele realmente confirmou esse direito, mas isso não serve de consolo. No entanto, mesmo metaforicamente, suas metáforas ganharam vida, ou melhor, morte, própria, e da forma mais terrível. *Michael Handelzalts publica a coluna Pen Ultimate, no Haaretz e é editor do Paper Book

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O dicionário da língua alemã dos Irmãos Grimm, compilado muito tempo antes do Holocausto, cita o uso do infinitivo do verbo desta palavra, ausrotten, no sentido de “arrancar, destruir”


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magazine > antissemitismo | por Giorgos Christides

O passado judeu de Tessalônica MAIS DE 95% DOS JUDEUS DE TESSALÔNICA FORAM ASSASSINADOS NO HOLOCAUSTO. HOJE, O PREFEITO DA CIDADE GREGA SE ESFORÇA PARA RESTAURAR A HISTÓRIA JUDAICA QUE TAMBÉM HAVIA SIDO ERRADICADA

O

s pais de Erika Perahia Zemour se apaixonaram em um campo de concentração nazista, em 1944. Um ano depois, eles voltaram para a cidade natal pai, Tessalônica – dois dos cerca de mil judeus gregos que sobreviveram a Auschwitz e conseguiram voltar para casa. Mas foi uma amarga volta ao lar. “Por que vocês retornaram?”, perguntaram os antigos amigos e vizinhos dos pais, lembra Erika Zemour, de 63 anos: “As casas deles foram saqueadas, todos os seus bens desapareceram e só decidiram ficar porque encontraram outros parentes sobreviventes.” Erika Zemour é a diretora do Museu Judaico da segunda maior cidade da Grécia, e ao contrário dos pais dela, 96% da outrora vibrante comunidade judaica de Tessalônica de 55.000 a 60.000 pessoas de antes da guerra morreram no Holocausto. Agora são menos de mil judeus e três sinagogas. Muitos deles acreditam que ao extermínio físico dos judeus de Tessalônica nos campos seguiu-se um tipo diferente de aniquilação na forma de uma imposição gradual do esquecimento quase total da história, influência e realizações dos judeus. “É sintomático que segundo os guias de viagem da cidade publicados até 2005, a história de Tessalônica começa com Filipe II da Macedônia e Alexandre, o Grande, avança pela época bizantina, pula quatrocentos anos como se isso não fosse nada, e de repente chega à Tessalônica libertada”, diz Zemour. Depois de muitos séculos sob o Império Otomano, em 1913 a cidade foi anexada à Grécia, mas apenas alguns tessalonicenses modernos sabem que quando o exército grego entrou vi-

torioso na cidade, em 1912, ela era essencialmente judia. “Os judeus não eram uma comunidade; eles criaram uma cidade. Os barqueiros eram judeus; os ladrões, judeus; os comerciantes ricos eram judeus; as prostitutas, judias. O ladino era falado em todos os lugares”, descreve Iosif Vaena – farmacêutico em Tessalônica, cuja família se fixou na Grécia, depois de expulsa da Espanha, na onda da Inquisição. Vaena tem 35 anos e pesquisa o que considera os aspectos muitas vezes misteriosos dos judeus de Tessalônica, como, por exemplo, o fato de que, na década de 1910, sugeriu-se que Tessalônica se tornasse uma cidade judia autônoma. Inicialmente, as grandes potências da época até se entusiasmaram com a ideia, mas concordaram com sua anexação pela Grécia. No início do século 20, os oitenta mil judeus de Tessalônica eram a metade da população da cidade de 157 mil habitantes. Eles frequentavam quarenta sinagogas e mais cinquenta locais de oração, eram ativos em toda a vida econômica e social e possuíam mais de metade dos imóveis. Nessa época David Ben-Gurion e Itzhak Ben-Zvi visitaram Tessalônica: Ben-Gurion em 1911 para estudar o funcionamento de uma sociedade judaica que pudesse servir de modelo para um futuro estado de Israel. A influência dos judeus era tal que, antes de o descanso dominical ser imposto por lei pelo governo grego, em 1923, todas as lojas – judias e não judias – fechavam aos sábados e nos feriados judaicos. Acredita-se que os primeiros judeus chegaram à região em 513 antes da Era Comum, portanto quase duzentos anos antes da fundação de Tessalônica, em 315 da Era Comum, pelo rei Cassandro da Macedônia, que deu à cidade o nome da mulher Thessalonike, meia irmã de Alexandre, o Grande. O apóstolo Paulo faria suas pregações na sinagoga dos primeiros judeus helenizados, chamado romaniotas. A presença da comunidade judaica se manteve ininterrupta durante as eras romana e bizantina, mas em 1492 da Era Co-


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MONUMENTO ÀS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO NA PRAÇA EM FRENTE AO PORTO DE TESSALÔNICA

mum ocorreu uma virada dramática com a chegada de cerca de vinte mil judeus sefaraditas expulsos por obra da Inquisição na Espanha. Eles se refugiaram na otomana Thessaloniki (ou Salônica). Seguiram-se quatro séculos de prosperidade e Tessalônica passou a ser chamada de “Mãe de Israel” e “Jerusalém dos Bálcãs”. O começo do fim Depois de anexada à Grécia, vários eventos contribuíram para o desaparecimento dos judeus de Tessalônica. O grande incêndio de 1917 destruiu o centro da cidade, onde vivia a maioria dos judeus, obrigando muitos deles a deixar o país. Logo em seguida, em 1923, chegaram cerca de cem mil refugiados gregos da Ásia Menor, e pela primeira vez em gerações os judeus se tornaram minoria. Ao longo do final dos anos 1920 e com a ascensão da direita nos anos 1930, os judeus perderam direitos: foram proibidos de votar nas eleições nacionais; só podiam ter dois parlamentares, eleitos em escrutínios distintos; em 1931 houve um pogrom e a fuga para a França e a Palestina. O nazismo e a Shoá deram o golpe final. Depois da guerra, o passado judaico da cidade permaneceu escondido. Hoje, apenas alguns lugares em Tessalônica lembram a atual população de judeus desse passado glorioso. Um deles é um modesto monumento em homenagem às vítimas do Holocausto. A escultura ocupa um local discreto ao lado de um estacionamento gigantesco na Praça da Liberdade, onde, em 15 de março de 1943, os nazistas reuniram o primeiro gru-

po de judeus antes de deportá-los para os campos de extermínio. A famosa fotografia desse ajuntamento e que imortalizou aquela atrocidade é exibida com destaque no Memorial do Holocausto, em Berlim, ao lado do Bundestag, e provavelmente mais japoneses viram a fotografia em Berlim, do que tessalonicenses em sua própria cidade. Outro local é a Praça dos Mártires Judeus, em um terreno doado pela comunidade judaica de Tessalônica e onde funcionam os escritórios que administram as sinagogas e escolas, assistência social, assistência médica. Mas a placa que identifica a praça é vandalizada com tanta frequência que a comunidade mantém um estoque para reposição. Em novembro último foi inaugurado um monumento em homenagem aos Mártires e Heróis Judeus Gregos Tessalonicenses, na Universidade Aristóteles de Tessalônica. É a maior instituição de ensino superior da Grécia e dos Bálcãs e foi construída nas terras onde durante cinco séculos existiu um cemitério judeu, o maior da Europa, até ser destruído pelos gregos em 1942. >>

Acreditase que os primeiros judeus chegaram à região em 513 antes da Era Comum, portanto quase duzentos anos antes da fundação de Tessalônica, em 315 antes da Era Comum, pelo rei Cassandro da Macedônia, que deu à cidade o nome da mulher Thessalonike, meia irmã de Alexandre, o Grande


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magazine > antissemitismo

>> “Um dos nossos” O silêncio a respeito dos judeus foi rompido, quando a imprensa grega informou triunfantemente o nome do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2014, Patrick Modiano. “O Nobel de Literatura vai para ‘um dos nossos’”, declarou a edição on line da revista semanal mais vendida da Grécia, Proto Thema, referindo-se às raízes do romancista francês em Tessalônica. O pai de Modiano, Allen, descende de uma família de judeus sefaraditas italianos que viveu muitos anos em Tessalônica. Um dos marcos da cidade, o magnífico bazar Stoa Modiano, tem o nome da família. Duas das mansões dos Modiano sobreviveram à guerra e nelas funcionam museus militares e etnográficos. Em 2007, a taberna dentro do Stoa Modiano reuniu 140 membros da família representando diversos ramos do grupo em toda a Europa. Mas, para muitos, as realizações de Modiano e de outros filhos de comunidade judaica da cidade – entre eles a família Dassault, do grupo industrial e de mídia francês; o ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy; e a família Carasso, que fundou a gigante de alimentos Danone – não devem ser motivo de comemoração,

O PREFEITO YIANNIS BOUTARIS CARREGA NA IDADE LEMBRANÇA DA PRESENÇA NAZISTA

mas uma oportunidade para a cidade se debruçar na história conturbada da sua população judaica e no persistente antissemitismo da sociedade grega em geral. De acordo com pesquisa divulgada em maio de 2014 pela Liga Antidifamação: 69% da população grega têm posições antissemitas e, assim, a Grécia é o país mais antissemita na Europa. Talvez por isso o Museu Judaico de Tessalônica seja um raro exemplo de instituição cultural na Grécia que tem segurança em estilo embaixada, com guarita policial do lado de fora, porque é considerado alvo potencial de manifestantes anti-israelenses e antijudeus. O prefeito de Tessalônica, Yiannis Boutaris, eleito pela primeira vez em 2010 e reeleito em 2014, foi a primeira grande figura na cidade a tomar medidas tanto concretas quanto simbólicas para restaurar a herança judaica de Tessalônica. Para ele, a destruição do patrimônio judaico foi um insulto à comunidade judaica e à cidade. “Do ponto de vista político e ideológico, propagou-se que a história de Tessalônica é somente grega antiga e bizantina. Infelizmente, essa visão unidimensional resultou na perda da sua identidade”, diz ele. Boutaris defende devolver a cidadania grega aos judeus sobreviventes do Holocausto que fugiram da Grécia nos anos 1950. Ele também incluiu Tessalônica na Rede de Cidades de Martírio Nacional, e, em 2013, organizou um evento de lembrança do Holocausto na cidade, o primeiro do gênero. O prefeito também planeja renovar a Praça da Liberdade e mover o monumento do Holocausto para um lugar mais central e de destaque. No discurso de inauguração do monumento em homenagem aos judeus da cidade assassinados, Boutaris disse que “enfim, Tessalônica pode dizer abertamente suas vergonha: pelos tessalonicenses que colaboraram com os conquistadores; pelos [gregos] vizinhos [dos judeus] que confiscaram propriedades e traíram aqueles que tentaram escapar e, acima de tudo, pelas autoridades da cidade de então, que concordaram, sem hesitar, em permitir que os trabalhadores municipais destruíssem quinhentos anos de memória e transformassem o maior cemitério judaico da Europa em um Calvário”. Claro, estas iniciativas trouxeram benefícios: os pernoites de visitantes israelenses aumentaram 358% em 2013 (em relação a 2011), enquanto os judeus franceses visitam a cidade regularmente e o seder de Tessalônica atrai turistas em Pessach. No entanto, o gesto mais marcante do prefeito foi em agosto passado, quando usou a estrela de David na cerimônia de posse. “Enviamos uma mensagem poderosa pela perda de cinquenta mil dos nossos concidadãos no Holocausto, e pela aniquilação de milhões de judeus nos campos nazistas”, explicou Boutaris. Zemour deve muito a Boutaris. “Ele me fez sentir que eu tinha um lugar na cidade de novo; Eu tenho amor sem fim para ele.” E como parte dessa nova onda de consciência histórica, as escolas públicas aumentaram as visitas ao Museu Judaico apesar da resistência de alguns pais e diretores.



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magazine > viagem | Texto e fotos de Flávio Bitelman

Pequena amostra da esquina do mundo HÁ SÉCULOS, A TURQUIA INCENDEIA A IMAGINAÇÃO DO

OCIDENTE, COM SUAS RUÍNAS GREGAS, ROMANAS E BIZANTINAS

E POR TER SIDO A BASE DA ÚLTIMA EXPANSÃO ISLÂMICA NO ORIENTE MÉDIO E NORTE DA ÁFRICA. COM O FIM DO IMPÉRIO OTOMANO, FOI CRIADO O ÚNICO ESTADO LAICO DE MAIORIA MUÇULMANA NA REGIÃO

D

esde os meus tempos de escola, no Brasil e no exterior, a menção à Turquia sempre exerceu um inegável fascínio: o que é este país que, hoje faz fronteira com outros oito países, e ao longo da história foi mudando de vizinhança ao sabor de guerras, acordos, tratados e ingerências religiosas? Mas ele se manteve praticamente imutável e quase inamovível nos seus atuais quase oitocentos mil quilômetros quadrados de área (isto é, Minas Gerais e Paraná somados) e com um papel fundamental na história pela extraordinária posição geopolítica que ocupa como ponto de encontro de dois continentes e de duas civilizações. Mas tanto quanto importância histórica, a Turquia é muito bonita e uma festa para ver e sentir os aromas e os sabores que uma viagem de doze dias pode proporcionar.


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SANTA SOFIA INTERIOR DA HAGIA SOFIA (“SANTA SABEDORIA”, EM GREGO), CONSTRUÍDA A PARTIR DO ANO 537 DA ERA COMUM

PARA SER SEDE DO

PATRIARCADO DE CONSTANTINOPLA,

ATÉ 1453, COM A

QUEDA DA CAPITAL BIZANTINA, SE TRANSFORMOU EM MESQUITA, ATÉ 1931. FOI

PROJETADA EM CINCO ANOS POR

ISIDORO DE MILETO E ANTEMIUM DE TRALES, DOIS DOS MAIS FAMOSOS ARQUITETOS DA ANTIGUIDADE, E É O MAIS IMPORTANTE E FAMOSO PARADIGMA DA ARQUITETURA BIZANTINA. É CERTAMENTE O MONUMENTO MAIS VISITADO DA

TURQUIA COM QUASE 3,5 MILHÕES DE PESSOAS POR ANO. ATUALMENTE NÃO É IGREJA CATÓLICA NEM MESQUITA, MAS UM

IMPONENTE MUSEU, ONDE SE PODE PASSAR MAIS DE UM DIA VISITANDO


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magazine > viagem O GRANDE BAZAR A CADA VEZ MAIOR IMPORTÂNCIA POLÍTICA DA TURQUIA COM O IMPÉRIO OTOMANO, A PARTIR DE 1453, TRANSFORMOU ISTAMBUL NUM CENTRO COMERCIAL E MERCANTIL ESTRATÉGICO, UNINDO OCIDENTE E ORIENTE, FEZ DO GRANDE BAZAR, INAUGURADO EM 1461, EXPRESSÃO DESTE PODER E DO SEU SIGNIFICADO. É CONSIDERADO O MAIOR BAZAR COBERTO DO MUNDO E UM DOS MAIS ANTIGOS. ENTRE ESTE E O BAZAR EGÍPCIO, ABERTO EM 1660, UM DOS GRANDES CENTROS DO COMÉRCIO DE ESPECIARIAS, LOCALIZA-SE O MAHMUTPASHA BAZAR, QUE É AO AR LIVRE. EM 1987 FOI ABERTO O PRIMEIRO DE UM DOS MUITOS SHOPPING CENTERS DA CIDADE, UM MAIOR E MAIS FANTÁSTICO QUE O SEU PREDECESSOR, MAS OS TURISTAS PREFEREM MESMO OS BAZARES

OS MINARETES DE LONGE DESPONTAM OS MINARETES

CIRCUNDANDO O IMPONENTE EDIFÍCIO DE SANTA

SOFIA. ESTE MONUMENTO RECEBEU ELEMENTOS RELIGIOSOS DE ACORDO COM OS DETENTORES

DO PODER NA TURQUIA, PAÍS QUE OCUPA UMA POSIÇÃO PRIVILEGIADA COMO PONTO DE LIGAÇÃO DO ORIENTE COM O OCIDENTE RECEBENDO INFLUÊNCIAS DOS DOIS POLOS CIVILIZATÓRIOS POR MEIO DO ESTREITO DE BÓSFORO QUE UNE – E

SEPARA – ÁSIA DA EUROPA. SANTA SOFIA VIVEU

UM BREVE PERÍODO DE SESSENTA ANOS, DE 1201 A 1261, SOB A IGREJA CATÓLICA, MAS A MAIOR

PARTE DA REPRESENTAÇÃO É ISLÂMICA, COMO SE

CONSTATA PELA FANTÁSTICA CÚPULA QUE, ALIÁS,

DESMORONOU COM O TERREMOTO DE 558 E FOI

RECONSTRUÍDA POR ISIDORO, O JOVEM, SOBRINHO

DE ISIDORO DE MILETO

O ENGRAXATE DO KEMPINSKI O HOTEL KEMPINSKI, DE ISTAMBUL, ESTÁ INSTALADO EM UM ANTIGO PALÁCIO OTOMANO, CONSTRUÍDO ENTRE 1863 E 1867, ÀS MARGENS DO ESTREITO DE BÓSFORO E PERTENCE A UMA FAMOSA REDE DE HOTÉIS QUE PREFERENCIALMENTE OCUPA ANTIGOS SÍTIOS HISTÓRICOS. A SUÍTE IMPERIAL DESTE HOTEL CUSTA MAIS DE QUINZE MIL DÓLARES A DIÁRIA E É UMA DAS QUINZE MAIS CARAS DE TODO O MUNDO. TUDO NO KEMPINSKI, RESTAURADO PARA SER HOTEL EM 1987, É SUNTUOSO, FANTÁSTICO E QUANTOS MAIS ADJETIVOS COUBER. MAS O QUE CHAMA MUITO A ATENÇÃO É O EQUIPAMENTO DO ENGRAXATE, CUJA “CAIXA” É UMA PEQUENA OBRA DE ARTE QUE TODOS QUEREM FOTOGRAFAR. ELAS SÃO FEITAS SOB ENCOMENDA POR ARTESÃOS E DE ACORDO COM AS ESPECIFICAÇÕES DE CADA PROFISSIONAL DO LUSTRO


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CAPADÓCIA A GEOPOLÍTICA EXPLICA A IMPORTÂNCIA DA TURQUIA E O INTERESSE QUE INSPIRA: ELA SE LIMITA COM OITO PAÍSES – BULGÁRIA, GRÉCIA, GEÓRGIA, ARMÊNIA, IRÃ, IRAQUE, SÍRIA E NAKHCHEVAN, QUE PERTENCE AO AZERBAIJÃO. NO CENTRONORTE FICA A PROVÍNCIA DE ANATÓLIA, BANHADA A OESTE PELO MEDITERRÂNEO E AO NORTE PELO MAR NEGRO E, NO LESTE, A PROVÍNCIA DA CAPADÓCIA. CERCA DE DOZE MILHÕES DE PESSOAS VISITARAM O PAÍS EM 2013 E, DE OLHO NELAS, O GOVERNO CRIOU TODAS AS FACILIDADES PARA A INICIATIVA PRIVADA BEM RECEBER OS TURISTAS, COMO ESTE FANTÁSTICO HOTEL UM DOS MUITOS NA REGIÃO CONTRASTANDO COM A RUDEZA DA MARAVILHOSA PAISAGEM DA CAPADÓCIA

CAPADÓCIA VISTA DO BALÃO A CAPADÓCIA, A QUINHENTOS QUILÔMETROS DE ISTAMBUL, É POSSIVELMENTE UM DOS LOCAIS VISITADOS DO PAÍS COM EXTRAORDINÁRIAS FORMAÇÕES ROCHOSAS QUE FAZEM O TURISTA IMAGINAR: “NÃO É POSSÍVEL... ALGUÉM DEVE TER COLOCADO ESSAS PEDRAS EM CIMA DE CADA UM DOS PILARES NATURAIS OU EM FORMA DE MINARETES”. TRATA-SE, NO ENTANTO, DA LENTA E PROGRESSIVA EROSÃO DE ROCHAS

VULCÂNICAS QUE DATAM DE NOVE MILHÕES DE ANOS E QUE LHES DÁ UMA FORMA IMPRESSIONANTE. NOS ÚLTIMOS VINTE

ANOS INTENSIFICOU-SE O USO DE BALÕES QUE PARTEM DE

PEQUENAS CIDADES E VILAS DA REGIÃO E POSSIBILITAM UMA VISÃO FANTÁSTICA DESTAS PEDRAS DE FORMAS ELEGANTES

CASAS NAS MONTANHAS UMA DESSAS CIDADES É GOREME, QUE FOI OCUPADA INICIALMENTE DURANTE O PERÍODO ROMANO. EM GOREME EXISTEM DESDE SIMPLES CASAS A FANTÁSTICAS MANSÕES TODAS ESCAVADAS NA PEDRA, FORMANDO UM CONJUNTO TOMBADO COMO RELÍQUIA HISTÓRICA. PODEM SER VISITADAS CERCA DE TRINTA IGREJAS E CAPELAS CONSTRUÍDAS ENTRE OS SÉCULOS 9 E 11 NO INTERIOR DAS

MONTANHAS, ALGUMAS COM MARAVILHOSOS AFRESCOS, VERDADEIRAS RELÍQUIAS DO IMPÉRIO ROMANO


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magazine > memória | por Ariel Finguerman, em Tel Aviv

Israel Zamir fala do pai Bashevis Singer PARA MARCAR O FALECIMENTO RECENTE DO ESCRITOR ISRAELENSE ISRAEL ZAMIR (1929-2014), O FILHO ÚNICO DE ISAAC BASHEVIS SINGER, REPUBLICAMOS A ENTREVISTA QUE CONCEDEU AO CORRESPONDENTE ARIEL FINGUERMAN PARA A REVISTA HEBRAICA

A

autobiografia do Prêmio Nobel de Literatura, Isaac Bashevis Singer (1904-1991), Amor e Exílio termina contando quando, em 1935, ao mesmo tempo em que desembarcava em Nova York, Singer também voltava as costas para este único filho, fruto de um relacionamento amoroso passageiro. É a partir deste ponto que o jornalista Israel Zamir – o filho rejeitado de Singer – desenvolveu o livro Journey to my Father (“Viagem ao meu Pai”), traduzido para seis línguas e no qual, além da bela narrativa a respeito do filho à procura do pai, o livro também revela um perfil pouco conhecido do festejado escritor de língua ídiche. Mulherengo, embora radicalmente contrário ao instituto da família e ao casamento e com a vida devotada apenas aos livros, Bashevis casou-se em 1940 com a judia alemã Alma Wasserman (1907-1996) refugiada do nazismo, Singer paradoxalmente tornou-se o mais importante cronista da vida dos judeus no século 20. As histórias povoadas de rabinos, ateus, nobres poloneses, pecadores que fazem teshuvá e místicos incapazes de resistir às tentações conquistaram o coração de um público saudoso ou curioso pela sociedade judaica europeia que a Shoá devastou. “Ele era um homem rude, mas um bom escritor. Nos livros dele as pessoas, religiosas ou não, vivem o sexo e o misticismo. Todos pensam o mesmo”, disse Zamir à revista Hebraica. No livro, Zamir conta como foi levado à URSS pela mãe, Runia Pontsch, uma militante comunista perseguida pela polícia na Polônia, pouco depois de Singer imigrar para os Estados Unidos. Os dois escaparam por pouco dos expurgos stalinistas e em 1938 chegaram à Palestina, onde se instalaram no kibutz Beit Alfa. Até o fim da vida, Runia não perdoou Singer por ter

abandonado a família e tentou convencer o filho a cobrar isto do pai. “Mas resolvi não ouvir as reclamações de minha mãe e aceitar Singer como ele era, sem tentar modificá-lo. Era o único jeito de estabelecer qualquer conexão com ele”, diz Zamir. Ao completar 25 anos, Zamir resolveu visitar o pai em Nova York, mas o escritor o recebeu friamente. Vivendo num kibutz que tinha apenas um rádio para todos os membros, Zamir chegou aos EUA sem dinheiro no bolso. No livro, ele conta que ouviu o pai comentar com Alma que ganhara mil dólares pela venda de uma história, mas ofereceu apenas um dólar ao filho para gastar na cidade. “As únicas pessoas que ele parecia realmente amar eram os heróis das suas histórias”, escreveu Zamir. Pai e filho voltaram a se encontrar nas décadas seguintes e o relacionamento melhorou. Singer pediu para o filho traduzir os seus livros para o hebraico, o que aproximou os dois ainda mais ao longo de copiosas conversas as respeito de literatura, judaísmo e a vida. No entanto, Bashevis continuou até o fim refratário à ideia de família e chegou a recusar um convite do filho para conhecer os netos, durante uma visita a Israel. “Com o passar dos anos acabamos nos tornando bons amigos e não tive amarguras em relação a ele. Mas nunca tive a sensação de ter um pai”, afirma Zamir.


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Apesar da aversão radical pela família, por ironia do destino uma das fantasias do escritor ídiche foi realizada por um dos três netos. Zamir conta que certa vez convidou alguns jornalistas israelenses para conversar com Singer no apartamento dele em Nova York. Perguntado acerca de algum dos seus sonhos irrealizados, bem-humorado o escritor disse que gostaria de viajar ao Japão e ser massageado por duas gueichas. “Meu filho Noam realizou isto, casou com uma japonesa, teve um filho e hoje mora em Tóquio”, conta Zamir, rindo. Talvez o comportamento nada ortodoxo de Singer em assuntos de família e o erotismo dos seus livros explique por que nenhuma rua de Israel homenageia este escritor Prêmio Nobel. Também não existem escolas judaicas com o seu nome – ao contrário de outros escritores de língua ídiche como Sholem Aleichem e I. L. Peretz. Singer também se envolveu em polêmicas com o establishment político do Estado judeu. Ele se aborrecia com o ambiente contrário à língua ídiche em Israel antes mesmo da fundação do país, nos anos 1920. O ídiche era identificado com a vida sem

PRIMEIRO, ISAAC NÃO QUERIA RECONHECER O FILHO ISRAEL; DEPOIS, TORNARAM-SE BONS AMIGOS

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pátria dos judeus até a Segunda Guerra e foi rechaçado pela elite cultural de Israel. O primeiro-ministro David Ben-Gurion defendia o hebraico como a língua capaz de unificar os imigrantes que chegavam ao novo país e proibiu conferências acadêmicas em ídiche. A insatisfação de Singer com esta política virou desafio aberto durante um encontro em 1979 com o então premiê israelense Menachem Begin, em Nova York. Zamir conta que Singer conversava animadamente em ídiche com o também polonês Begin, até o momento em que alguns jornalistas se aproximaram. Diante das câmeras, o político mudou repentinamente de discurso e partiu para o ataque, zombando da antiga língua judaico-européia. Em res>>


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magazine > memória

>> posta, Singer declarou que não visitaria Israel enquanto Begin estivesse no poder. “Mas meu pai tinha amor por Israel e costumava visitar o país duas vezes por ano”, diz Zamir.

UMA DAS MUITAS REPRESENTAÇÕES DA CONSAGRADA PEÇA YENTL

De artigo a livros No entanto, em Nova York e Miami, as ruas onde Singer viveu foram rebatizadas com o seu nome. Este contraste de reconhecimento público entre Israel e Estados Unidos não surpreende o filho Zamir. Ele defende a polêmica ideia de que foi o interesse de não judeus pela obra de Singer que impediu o escritor de morrer no anonimato, como aconteceu com tantos outros autores em ídiche de sua geração. “Os norte-americanos cristãos viam os judeus, ouviam suas músicas no Shabat, mas não sabiam nada a respeito deles. Quando leram Singer, começaram a entender a cultura e as tradições dos vizinhos”, aponta Zamir. Até 1953, os contos e romances de Singer eram publicados apenas em jornais judaicos da Polônia e Nova York, para um número de leitores cada vez mais reduzido. Naquele ano, o escritor Saul Bellow convenceu a revista americana Partisan Review a publicar um conto de Singer e, a partir daí, o escritor ídiche tornou-se colaborador frequente da Esquire, The New Yorker e Playboy. O conto “Yentl” primeiro foi peça teatral de sucesso na Broadway e depois, filme, tal como o romance Inimigos: Uma História de Amor. “Não fosse o interesse de não judeus, a obra de meu pai não teria sobrevivido. Os judeus achavam tudo aquilo pornografia, reclamavam do excesso de sexo e misticismo”, diz Zamir. Sempre depois dos muitos encontros com o pai, Zamir anotava à noite os detalhes das conversas, que se transformaram em matéria-prima do livro Journey to my Father. As observações sobre Singer vão desde a avareza com dinhei-

ro até os casos amorosos, que aconteciam com a discreta tolerância da esposa Alma. “Um grande homem também tem grandes fraquezas”, dizia a estoica mulher, que abandonara um marido rico e dois filhos para viver com o escritor ídiche. Aliás, numa situação inusitada, digna das histórias de Singer, ele está enterrado num cemitério judaico de New Jersey ao lado da mulher e quase vizinho do ex-marido de Alma. No livro também sobra bom humor, como durante a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel na Suécia, em 1978, quando os amigos, vendo o desajeitado Singer de smoking, compararam-no ao Carlitos de Charlie Chaplin. Em outro episódio, durante a Guerra do Iom Kipur, Singer ficou dias trancado em um hotel de Tel Aviv esperando o filho voltar do front. Quando enfim se reencontraram, Singer obrigou Zamir a colocar o fuzil embaixo da cama. “Armas não combinam com um escritor ídiche”, explicou Singer. O processo de criação de Singer também é detalhado no livro: ele detestava dar finais felizes às histórias (“na vida real as coisas não acontecem como gostaríamos”) e procurava ser disciplinado com horários rígidos (“escritor é como cavalo, tem de ser sempre chicoteado”). Ao filho, Singer confessou que boa parte do folclore dos camponeses poloneses que figura em seus livros, e incluídos no currículo dos estudantes de universidades de Varsóvia, foi fruto da imaginação. Após a morte de Singer, a viúva recusou uma oferta da Universidade Hebraica de Jerusalém e preferiu vender o arquivo do escritor a uma instituição acadêmica do Texas. Em razão disso, diz Zamir, praticamente acabou a possibilidade de se publicar cerca de vinte histórias inéditas, escritas em ídiche e ainda não traduzidas. Os originais dormem no interior dos Estados Unidos à espera de algum especialista nesta língua semi-extinta. “O ídiche está morrendo. Mas meu pai dizia que se o hebraico ressuscitou após dois mil anos, também o ídiche voltará a viver um dia”, afirma Zamir.


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magazine > cinema | por Julio Nobre

A irreverente e deliciosa Luise Rainer NO FINAL DE 2014, MUITOS FICARAM SURPRESOS COM A MORTE DE UMA ATRIZ ALEMÃ, AOS 104 ANOS, VENCEDORA DE DOIS OSCAR NA DÉCADA DE 1930. AFINAL, QUEM ERA ESTA DIVA JÁ ESQUECIDA? UMA JOVEM ATRIZ JUDIA ALEMÃ QUE ARREBATOU OS OSCAR EM DOIS ANOS CONSECUTIVOS – ZIGFELD – O CRIADOR DE ESTRELAS (1936) E A BOA TERRA (1937)

L

uise Rainer era a prova viva de que o segredo para uma vida longeva não é a tranquilidade. Afinal de contas, não é todo mundo que tem o topete de largar um contrato com Hollywood no auge da carreira, com duas estatuetas do Oscar embaixo do braço. Irreverente, Luise costumava dizer que usava uma delas para encostar a porta. Talvez a palavra-chave para este comportamento seja hutzpá, expressão judaica intraduzível que pode significar “atrevimento”, “irreverência” ou a boa e velha “cara-de-pau”, dependendo das circunstâncias. Luise Rainer nasceu em 1910, em Düsseldorf, no seio de uma próspera família judia. Veementemente decidida a épater le bourgeois, como toda garota rebelde que se preza, aos 16 anos já podia ser vista numa peça de teatro do expressionista Frank Wedekind. O título – O Despertar da Primavera – prenunciava um tórrido conteúdo erótico e deixou a família chocada. Luise interpretava Wendla Bergmann, uma garota que engravida e morre depois de um aborto prematuro. Quando os nazistas atearam fogo ao Reichstag em 1933 e tomaram o poder, Luise já fazia parte da companhia do dramaturgo judeu austríaco Max Reinhardt. Em 1935, ofereceram-lhe um contrato em Hoolywood. Contratada por Louis B. Mayer, da MGM, foi apresentada como uma atriz vienense, a “Nova Garbo”. Ao contrário de muitas personalidades ligadas ao cinema da época, temerosas de ofender distribuidores nos países fascistas, Luise apoiou com todo o vigor as vítimas do totalitarismo e se juntou à Liga Antinazista de Hollywood em 1937. O primeiro Oscar veio em 1936, com o filme Zigfeld - O Criador de Estrelas, ao lado de William Powel e Fanny Brice, uma biografia do célebre empresário da Broadway. O segundo Oscar foi considerada uma proeza porque veio logo no ano seguinte com A Boa Terra, adaptação da obra de Pearl Buck, no qual interpreta uma camponesa chinesa, ex-escrava que luta ao lado marido, interpretado por Paul Muni.

WILLIAM POWELL E LUISE RAINER NO FILME SOBRE O EMPRESÁRIO ZIGFELD

Depois desse êxito assombroso e fulgurante, Luise realizou uns poucos filme irrelevantes até 1938, quando resolveu trocar Hollywood por Londres. Dizem que ela enfrentou o todo-poderoso e tirânico Louis B. Mayer, então sexagenário, com toda a hutzpá: “Quando eu tiver uns 40 anos e for uma atriz consagrada, você estará morto e eu viverei”, avisou e cumpriu.

Cinema na Hebraica O Departamento de Cinema anuncia as tradicionais sessões gratuitas às quartas, sábados e domingos para o mês de fevereiro. Dias 7 e 8 – (sábado, 20h30, e domingo, 16h e 19h) – Homens, Mulheres e Filhos no Teatro Arthur Rubinstein Dias 14 e 15 – (sábado, 20h30, e domingo, 16h e 19h) – Uma Longa Viagem Dias 21 e 22 – (sábado, 20h30, e domingo, 16h e 19h) – Sétimo Dia 25 (quarta-feira, 20h30) – Esse Viver Ninguém me Tira, com a presença do ator e diretor Caco Ciocler Dia 28/2 e 1/3 – (sábado, 20h30 e domingo, 16h e 19h) – O Crítico


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leituras magazine

por Bernardo Lerer

Inimigo Judeu Jeffrey Herf | Edipro | 387 pp. | R$ 57,90

Como todos sabem que nazismo e Holocausto, em que um não pode viver sem o outro, são assuntos inesgotáveis, este professor de história da Universidade de Maryland tenta examinar em profundidade a paranoia antissemita no modo como os nazistas narravam a guerra mundial, de modo que a história de uma Alemanha inocente ameaçada de “extermínio” pelo judaísmo internacional também servia de anúncio público e justificativa para a Solução Final, pois Hitler e os seus asseclas sempre acreditaram que o antissemitismo era A sustentação explanatória para a história mundial.

Autobiografia: O Mundo de Ontem Stefan Zweig | Zahar | 309 pp. | R$ 59,90

Nunca se escreveu tanto de Zweig como nos últimos anos, mas o melhor mesmo é deixar que ele mesmo fale por si só, assim: “Fui contemporâneo das duas guerras. Conheci a liberdade individual em seu grau e forma mais elevados e, depois, em seu nível mais baixo em muitos séculos. Fui festejado e desprezado, livre e subjugado, rico e pobre. Minha vida foi invadida por todos os pálidos cavalos do Apocalipse, revolução e fome, inflação e terror, epidemias e emigração. Vi as grandes ideologias de massa crescendo e se disseminando...” Precisa mais? Leia-o.

Os Inovadores Walter Isaacson | Companhia das Letras | 575 pp. | R$ 57,00

Com o subtítulo de “Uma Biografia da Revolução Digital”, é uma fantástica pesquisa para saber quem, afinal, inventou o computador, quem teve a ideia de criar a internet e outras descobertas de um mundo que, até há poucas décadas, era domínio somente de cientistas, militares e alguns empreendedores. Ele conta que na década de 1830, Ada Lovelace e Charles Babbage descrevem em um ensaio o funcionamento de uma máquina de processar e resolver problemas. Imperdível.

Continente Turbulento e Poderoso Qual o futuro da Europa? Anthony Giddens | Editora Unesp | 278 pp. | R$ 58,00

Este famoso e importante acadêmico inglês faz uma análise bastante profunda da atual situação do continente, os problemas da União Europeia, os problemas com o euro e a zona do euro, o alto índice de desemprego e a persistência dos antagonismos responsáveis pelas guerras do passado alegando que os demônios não se foram e estão apenas dormindo, como provam as guerras da Bósnia e de Kosovo, por exemplo, e a existência de conflitos e divisões no continente. Ler este livro ajuda a entender um pouco melhor o noticiário a respeito.

Zerozerozero Roberto Saviano | Companhia das Letras | 407 pp. | R$ 54,00

Desde que escreveu Gomorra, e que trata da Camorra, a máfia italiana, um best-seller que virou filme de sucesso, Saviano mora em lugar incerto e não sabido, protegido 24 horas. Nestes anos montou uma rede de informantes e informações que lhe possibilitaram escrever esta grande reportagem a respeito do plantio, do comércio e do tráfico de drogas, principalmente cocaína. Dai o nome do livro, porque “zerozerozero” é a mais pura e cara farinha de trigo e gíria europeia para denominar a cocaína de melhor qualidade.


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Middlesex Jeffrey Eugenides | Companhia das Letras | 575pp. | R$ 59,90

Os críticos dizem que se trata, antes de tudo, de um romance corajoso, cada dia mais atual porque mostra a beleza presente nas mutações, nas aberrações e ambiguidades e capaz de transpor, por meio da ficção, barreiras milenares como o incesto e a diferença entre gêneros. É a isso mesmo que se refere o narrador Cal, nascido Caliope Stephanides e criado como a menina Callie conta como, ao longo da história recente do mundo, relembra sua trajetória marcada pela ambiguidade.

Leis da Sorte Amy Chazkel | Editora Unicamp | 355 pp. | R$ 86,00

Como se o tema fosse interditado aos brasileiros, precisou uma acadêmica norte-americana que, entre outras atividades, é do corpo editorial da Law and History Review, além de professora de história de universidades americanas, escrever a respeito do jogo do bicho e da construção da vida pública urbana. Com esse texto, aliás, ela ganhou o prêmio de melhor livro instituído pela Law and Society Associaton. Ela defende a ideia de que o jogo do bicho foi um percurso da economia informal que se desenvolveu no Brasil no século 20.

Fordlândia Greg Grandin | Rocco | 397 pp. | R$ 56,00

Sorte do New York Times que tem entre os seus colaboradores este professor de história autor de outros três livros e que, neste, conta a ascensão e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva (amazônica). Mas ele faz mais, porque desvenda o homem Ford, seu antissemitismo, como o governo norte-americano se prestava a aventuras de seus capitalistas de coração e como alguns brasileiros participavam destas negociatas alienando território nacional, no caso extensas terras às margens do Tapajós, no Estado do Pará, cujo governador à época, na década de 1920, assinava desapropriações.

Brado Retumbante Paulo Markun | Benvirá | 900 pp. (os dois) | R$ 37,90 cada

Em mais de quarenta anos de profissão, Markun comandou programas de tv, foi repórter, presidiu a Fundação Padre Anchieta e escreveu treze livros, o último dos quais é este, em dois volumes, Na Lei ou na Marra – 1964-1968 e Farol Alto Sobre as Diretas 1969-1984. Os dois livros têm a virtude de resumir o período de vinte anos, desde o golpe civil-militar de 1964 até a redemocratização, em 1984, de uma forma simples que o interessado poderá ler de uma sentada só. Como se assistisse a um documentário, exatamente como quer o autor, que dirigiu vários deles.

Padre Cícero Lira Neto | Companhia das Letras | 557 pp. | R$ 47,60

Quem leu os três volumes da biografia de Getúlio Vargas, também vai gostar deste, a respeito do Padim Ciço dos romeiros e fiéis, no qual trata de Poder, Fé e Guerra no Sertão, do santo ou do impostor, do charlatão ou do visionário que foi expulso da Igreja Católica que depois foi redimido pelo Vaticano. Lira Neto levou dez anos de pesquisas, consultou documentos inéditos e mostrou como atuava este clérigo que abençoou um exército de jagunços, apoiou o cangaceiro Lampião para combater a Coluna Prestes e se envolveu na política do nordeste.

Luís Carlos Prestes Um Revolucionário entre Dois Mundos Daniel Aarão Reis | Companhia das Letras | 536 pp. | R$ 52,90

O autor reuniu o que os historiadores consideram a mais ampla documentação a respeito da trajetória política e pessoal de Prestes, parte dela inédita, e produziu um retrato completo e equilibrado deste homem-mito, suas contradições e sua vida de lutas da qual faz parte a epopeia da Coluna Prestes (1925-1927) que entraria para a história mundial como a mais extensa marcha militar já realizada. Durante décadas foi o dirigente máximo do PCB, refugiou-se na extinta URSS durante a ditadura e voltou com a anistia.


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músicas magazine

por Bernardo Lerer

Ernesto Nazareth - II Sonhos e Sons | R$ 19,90

Este é o segundo volume dedicado a Ernesto Nazareth (1863-1934) e o quarto da coleção “Mestres Brasileiros”, interpretado pela pianista Maria Teresa Madeira. Muito influenciado por Chopin, Nazareth escreveu a primeira composição aos 14 anos com o título Você Bem Sabe e na mesma época, embora menor, começou a atuar profissionalmente em bares e cafés. Mas só aos 30 anos, teve uma obra editada, Brejeiro. Neste cd, obras-primas como Apanhei-te cavaquinho e Odeon.

Jazz Guitar Intense Media | R$ 128,90 Este é o primeiro volume do que a gravadora apresenta como a coleção definitiva de dezoito álbuns em dez cd’s e 165 músicas executadas por monstros do jazz como o francês Django Reinhardt, considerado um dos pioneiros do instrumento no gênero, até os mais modernos como Wes Montgomery, Tal Farlow e Jim Hall. Outro guitarrista é Luiz Bonfá e sua “elegância brasileira”. Imperdível.

Soundtracks Spirit | R$ 99,90 Que tal ouvir oitenta trilhas sonoras reunidas em um pacote de quatro cd’s de vinte faixas cada um, muitas delas peças importantes do repertório erudito e popular e para as quais talvez não tenha percebido no momento da exibição? Como a maioria já caiu naquilo que o jargão chama de “domínio popular”, é uma fantástica coleção, muitas delas escritas especialmente para o cinema como Rio Bravo, para o filme do mesmo nome.

Nino Rota Deutsche Grammophon | R$ 108,90 Dois italianos estão entre os maiores compositores de trilhas sonoras: Ennio Morricone e Nino Rota (19111979), e ambos escreveram peças de concerto memoráveis para os mais diversos instrumentos. Aqui, o acordeonista Richard Galliano, interpreta músicas de O Poderoso Chefão, Oito e Meio, e outros. Galliano venceu dois concursos internacionais do instrumento.

Alexander Nevsky RCA Victor | R$ 61,90 Mais uma trilha sonora, desta vez de autoria de Sergei Prokofiev (1891-1953), para este filme dirigido por Sergei Eisenstein e Dmitri Vasilyev, de 1938, e o mais popular dos três filmes sonoros dirigidos pelo grande mestre. A fita conta a tentativa de invasão por um dos exércitos do Sacro Império Romano no século 13 e derrotados pelo príncipe Alexandre (1220-1263).


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Tchaikovsky New Zealand Symphony Orchestra | Naxos | R$ 65,90

Trata-se de arranjos para suítes orquestrais de O Rei de Espadas e Voyevoda, feitas pelo compositor e regente Peter Breiner que vem sendo aclamado pela Europa por suas adaptações, como no caso de primeira ópera de Tchaikovsky, na qual enfatiza os solos de cordas. Para O Rei de Espadas, escrita em 1890, Breiner explora o caráter romântico e o drama dos vários trechos da composição.

Pinchas Zukerman Sony Classics /

Este cd foi gravado em 1998, o violinista é regido pelos maestros Zubin Mehta e Charles Mackerras e interpreta magistralmente os concertos para violino de Max Bruch e Vieuxtemps e a Sinfonia Espanhola de Lalo, mas, infelizmente, não se vê em nenhum canto do cd a informação a respeito de qual orquestra o acompanha. Talvez a Filarmônica de Israel? De todo modo, o cd é muito bom.

Laureate Series – Guitar Naxos | R$ 76,90

Este cd foi gravado na igreja São João Crisóstomo, de Ontário (Canadá), famosa pela acústica perfeita e o executante é o guitarrista croata Srdjan Bulat, vencedor do Concurso Tárrega, realizado regularmente na Espanha, pelas interpretações das obras de Francisco Tárrega. Neste cd há também peças de Joaquín Rodrigo (1901-1999), de Isaac Albéniz (1860-1909), Benjamim Britten (1913-1976).

Kisses in the Bottom Paul McCartney | Universal | R$ 27,90

McCartney explica que as quatorze músicas deste álbum eram aquelas dos tempos dos pais dele e dos amigos nas festas de Natal e fim de ano. Ele conta que este era um velho projeto, espécie de homenagem ao pai, que as cantava “do jeito que sabia acompanhado pelo piano lá de casa”. Para isso, Paulo juntou-se àqueles amigos que tinham a mesma ideia e produziram o cd, ao qual se juntou a cantora Diana Krall.

The McCartney of Sony Music | R$ 27,90

Este Beatle é tão insaciável quanto genial como compositor e intérprete. Neste álbum de dois cd’s e 34 faixas, alguns dos maiores cantores da música pop cantam as músicas escritas pelo quase septuagenário Paul, entre eles Bob Dylan, Willie Nelson, Barry Gibb, The Cure, Allen Toussaint, Alice Cooper, B.B. King, The Airborne Toxic Event e outros.

Rubber Soul The Beatles | EMI | R$ 24,90

Mais Beatles, agora todos neste sexto álbum da carreira, lançado em dezembro de 1965 como uma espécie de presente de Natal, quatro meses depois de Help, período em que fizeram a histórica turnê pelos Estados Unidos e Canadá, quando quebraram o recorde de público no Shea Stadium de Nova York, com 55.600 pessoas. Depois deste show descansaram seis semanas e decidiram lançar um álbum, este Rubber Soul.

“Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena”


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magazine > ensaio | por Gabriel Herscovici & Ivan Luvisotto *

UM NAVIO DA EMPRESA ISRAELENSE ZIM À ESPERA DO ATRACAMENTO NO PORTO DE SANTOS

A diplomacia dos negócios entre Brasil e Israel O ANO DE 2015 NASCEU COM NOTÍCIAS DE QUE 2014 SE ENCERROU COM O PIOR DÉFICIT PARA O BRASIL NA BALANÇA COMERCIAL DOS ÚLTIMOS QUINZE ANOS. NO COMÉRCIO BILATERAL COM ISRAEL A TENDÊNCIA É DE CRESCIMENTO

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uem monitora ou participa das relações comerciais entre Brasil e Israel, tem razão para comemorar. Dados obtidos desde 2007 mostram que tanto os exportadores israelenses como brasileiros vêm aumentando as trocas entre os dois países. A título ilustrativo, em 2007 Israel exportava US$ 677 milhões para o Brasil, valor que quase duplicou em 2013, para US$ 1,113 bilhão. Do mesmo modo, o Brasil também aumentou as exportações para Israel, ainda que em escala menor: em 2007, exportou US$ 356 milhões, enquanto em 2013 a cifra foi de US$ 455 milhões (um incremento de quase 30%). Ou seja, excetuado


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o período turbulento de 2008, a tendência é de sólido crescimento no comércio bilateral entre Brasil e Israel. Vários fatores explicam essa saudável tendência. Sem dúvida, para esses resultados contribui o fato de as economias brasileiras e israelenses serem, em boa medida, complementares. De um lado, Israel precisa de muitas das matérias-primas que o Brasil produz e, de outro, pode oferecer ao Brasil bens de tecnologia de ponta, por exemplo. Contudo, é válido chamar atenção para outro aspecto que ajuda a explicar essa movimentação comercial, especialmente nos anos mais recentes. Trata-se dos acordos internacionais celebrados entre Brasil e Israel. O mais importante é, sem dúvida, o Acordo de Livre Comércio celebrado entre o Mercosul e Israel em dezembro de 2007, e que entrou em vigor no Brasil em abril de 2010. Este acordo é único na diplomacia brasileira, pois apesar de acordos similares terem sido celebrados com alguns poucos outros países como Egito e Índia, na prática somente o de Israel está valendo. O Acordo de Livre Comércio é um importante aliado para qualquer empresário que atue no comércio entre os países do Mercosul e Israel. Ele opera reduzindo as Tarifas Externas Comuns (TEC) no âmbito do Mercosul e as tarifas aduaneiras em Israel para produtos exportados e importados. Isto é, reduz substancialmente o tributo incidente sobre bens comercializados entre as duas economias, incentivando a exportação e importação entre elas. O Acordo de Livre Comércio classifica os produtos a serem importados ou exportados em cinco categorias. De um lado, temos a generosa categoria “A” que abrange a grande maioria dos produtos e eliminou as tarifas já em 2010. Do outro lado, nos produtos classificados a tarifa é reduzida cada vez mais, até zerar em 2017. Por fim, alguns produtos classificados como “E” também são beneficiados, mas segundo regras específicas. Portanto, como o acordo entrou em vigor em 2010, a grande maioria dos milhares de produtos (“A” e “B”) já estão isentos das tarifas e os que não estão (categorias “C” em diante) em abril desse ano já contarão com desconto de, no mínimo, 50% na tarifa. Assim, tanto o agricultor como o industrial têm motivos para pensar em Israel se pretender expandir os negócios além das nossas fronteiras. Outro tratado relevante é a convenção entre Brasil e Israel para evitar a bitributação. Celebrado em dezembro de 2002, no fim do governo FHC, esta convenção entrou em vigor em novembro de 2005. Por este documento, um cidadão com rendimentos e ganhos nas duas jurisdições paga os impostos apenas uma vez ou, pelo menos, se tiver de pagar em Israel e no Brasil, que o faça dentro de um limite razoável (por exemplo, limitação a 15%). Antes dessa convenção, o cidadão corria o sério risco de Israel e Brasil reclamarem pagamento de impostos quando, em razão de residência ou local dos fatos, existia algum vínculo com uma dessas jurisdições. São, em resumo, dois tratados importantes que, sabiamente usados, tornam o exercício do comércio Brasil-Israel

bastante vantajoso. É certo que esses tratados continuarão a produzir efeitos ao longo desse ano. E que, também, o novo Ministro das Relações Exteriores, Mauro Luiz Lecker Vieira, solidifique e aprofunde as relações diplomáticas entre Brasil e Israel. E, para o futuro, também podemos almejar a celebração de um novo tipo de acordo bilateral entre Brasil e Israel que fomente mais ainda o comércio entre as nações. Exemplo hipotético nesse quesito seria a celebração de um tratado bilateral de investimentos (BIT). Esse tipo de tratado visa a proteger investidores estrangeiros de uma jurisdição que buscam investir em outra. Eles asseguram que o investidor brasileiro interessado em investir em Israel não precisa se preocupar com ações do governo israelense (por exemplo, confiscos, desapropriações ou tratamento desigual) e vice-versa, podendo, para isso, socorrer-se de tribunais arbitrais neutros para proteger os seus investimentos. Até recentemente o Brasil era avesso à celebração de tratados desta espécie citando, em sua defesa, que essas ferramentas eram desnecessárias em razão da situação confortável do Brasil como um atraente polo de investimentos estrangeiros. Agora, no entanto, diante da crescente escassez de recursos externos, é de se imaginar que o Brasil reconsidere sua posição e retome os diálogos neste âmbito. Vale lembrar que Israel e Argentina mantêm um tratado assim em vigor desde 1997. Em síntese, a diplomacia Brasil-Israel já rendeu valiosos frutos nesses últimos anos e há espaço para mais otimismo. Espera-se que 2015 traga o incremento do comércio Brasil-Israel, e mais exemplos de tratados e acordos que incentivem a relação dos dois países. * Gabriel Herscovici e Ivan Luvisotto são sócios da Suchodolski Advogados Associados nas áreas de direito empresarial e internacional e trabalham junto à Câmara Brasil Israel de Comércio e Indústria (Cambici)

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O tratado bilateral de investimentos (BIT) visa a proteger investidores estrangeiros de uma jurisdição que buscam investir em outra. Eles asseguram que o investidor brasileiro interessado em investir em Israel não precisa se preocupar com ações do governo israelense e vice-versa


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magazine > curta cultura | por Bernardo Lerer

Boris e a arte da tradução

O judeu não judeu

Acredita-se que até abril já esteja pronta a autobiografia dos oito meses que Boris Schnaiderman passou na Itália como pracinha da FEB, integrando um grupo de artilharia que se ocupou de bombardear o Monte Castelo. No entanto, amigos de dentro e fora do mundo acadêmico e os milhares de leitores que conquistou com as primorosas traduções de Gorki, Maiakovski, Tchekhov, Dostoievski, Puchkin, Babel, Pasternak, Marina Tzvetaieva, Tolstoi, Cassirer e outros, gostariam de uma autobiografia completa, aquela que remete aos anos 1910 e Uman, perto de Kiev, na Ucrânia, época e local onde nasceu. De todo modo, assistam ao dvd O que Traduz Boris, hoje com 98 anos, e “sobrevivente de um câncer no aparelho digestivo” como diz este ex-professor de língua e literatura russas e de teoria literária. Ele, ainda garoto, assistiu às filmagens de O Encouraçado Potemkin e a famosa cena das escadarias em Odessa e nos primeiros anos de Brasil ganhou um trocado traduzindo os diálogos de Ivan, o Terrível diretamente do russo, enquanto o filme rodava.

Esse título é de um livro de Isaac Deutscher que só se aplica ao judeu Shlomo Sand talvez para se fazer notar mais. Ele diz que não é judeu. Por aí se vê que este professor da Universidade de Tel Aviv, autor de A Invenção da Terra de Israel e de A Invenção do Povo Judeu é polêmico e iconoclasta. Agora lançou o livro Como Deixei de Ser Judeu, no qual ele nega a existência de uma cultura secular judaica e nenhuma realização dos judeus secularistas pode ser considerada como sendo judia, mas, sim, universal ou pertencente às nações onde ocorreram. O fato de as pessoas serem judias é apenas um acidente. Desta forma, ele se aproxima do clássico pensamento haredi: o judaísmo e a condição de ser judeu só se manifestam na prática religiosa prescrita pelos rabinos, e tudo o mais é goishe. Ler atentamente os seus livros e assistir às palestras pode revelar um homem cheio de contradições: ele não quer Israel ocupando os territórios palestinos, mas não aceita a narrativa palestina; ele se opõe ao alegado direito de retorno dos palestinos, porque isso é “negar a existência do Estado de Israel”, o que deixou atônitos os assistentes palestinos que não esperavam isso dele, pois o feroz crítico do nacionalismo judeu se recusa a abraçar o nacionalismo palestino. Mas eles não deveriam se espantar, pois, em 2012, ele disse que o povo palestino é uma invenção, porque “os palestinos eram árabes que viviam na região há centenas de anos e a colonização sionista forjou o povo palestino”. E por aí vai.

Cinquenta anos em Selma Entrou em cartaz, no final de janeiro, o filme Selma que recria a famosa “Marcha de Selma”, cidade do Alabama e um dos estados mais racistas do sul dos Estados Unidos, e onde dezenas de milhares de pessoas caminharam liderados pelo reverendo Martin Luther King e uma figura de barba branca e aparência frágil: o rabino Abraham Joshua Heschel. Em 7 de março comemoram-se os cinquenta anos deste evento, que entrou para a história da luta dos direitos civis naquele país e marcou a definitiva participação dos judeus nessa batalha, pois também foram vítimas de racismo, discriminação e intolerância nos EUA. No entanto, de acordo com este filme, o rabino não existiu. Ele foi simplesmente apagado da história da mesma forma que os editores de um jornal ortodoxo de Israel apagaram das fotografias Ângela Merkel e outras mulheres que participaram da marcha de Paris, em janeiro. Luther King dizia que o Êxodo (do Egito) e os profetas de Israel estavam no centro do movimento que conquistou a consciência do país. Para o rabino Heschel, “a tradição profética do judaísmo se manifestou vivamente e ouvi D’us me dizer que este seria o maior dia da minha vida. Para muitos de nós, a Marcha foi um ato de protesto e de oração. Pés não são lábios e caminhar não é se ajoelhar. E nosso pés pareciam cantar ainda que sem letras, nossa marcha foi um culto e senti como se meus pés rezassem”.

A história não perdoa Há alguns meses foi lançado no Brasil um pequeno livro com o título Paisagens da Metrópole da Morte, do historiador israelense Otto Dov Kulka, e saudado como uma obraprima a respeito dos campos de concentração de Auschwitz e Treblinka quase tão importante como as obras do italiano Primo Levi. Mas não é bem assim, segundo a professora de história moderna da Europa da Universidade de Warwick, Anna Hájková, nascida na atual República Tcheca. Otto Dov Kulka tinha 11 anos quando foi deportado para Auschwitz e um dos poucos do grupo de crianças que sobreviveram. Segundo Hájková, como outras histórias de sobreviventes, o livro dele tem pouca narrativa, muita colagem de impressões pessoais, sonhos e ar contemplativo a respeito do mundo de Auschwitz, que serve para mascarar uma omissão fundamental: a história de uma família complicada, que inclui adultério, um amargo divórcio e um processo de paternidade. A conclusão de Anna: o livro de Kulka trata de uma família que nunca existiu.


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diretoria > segurança

ATENÇÃO ESPECIAL AO ACESSO EXTERNO DO RESTAURANTE KASHER, QUE AGORA DISPÕE DE DETECTOR DE METAIS

Tranquilidade sem vacilação UMA DAS PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS TOMADAS PELA NOVA DIRETORIA FOI IMPLANTAR MEDIDAS ADICIONAIS DE SEGURANÇA PARA GARANTIR AOS SÓCIOS A SENSAÇÃO DE TOTAL PROTEÇÃO, ASSIM QUE ULTRAPASSAM AS PORTARIAS

O

s atentados ao jornal Charlie Hebdo e ao mercado de produtos kasher em Paris mobilizaram as instituições em relação à segurança e proteção de toda a estrutura que garante a vida cultural, religiosa e de lazer nos locais onde há comunidades judaicas instaladas. Além das medidas que já fazem parte do protocolo de segurança na Hebraica, novas ações foram criadas e já estão em funcionamento ainda em janeiro, a começar pelo reforço na identificação nas portarias e no estacionamento. “Está bem claro na cancela de entrada, por meio de avisos, a necessidade da identificação. Ao fornecer os dados pe-

didos pelo funcionário, o sócio colabora com nosso trabalho de fazê-lo sentirse tranquilo e seguro na área do clube”, informa o diretor-superintendente Gaby Milevsky. “Também reforçamos os procedimentos nesse sentido em relação às portarias”, acrescenta. Também desde janeiro, foi aumentado e ampliado o trabalho de patrulha realizado pela empresa de segurança. “Em todo momento há um carro, moto ou mesmo uma unidade da polícia circulando pelos arredores. Além disso, os acessos externos dos restaurantes Kasher e Casual Mil serão equipados com detectores de metais”, detalhou Gaby. (M.B.)


HEBRAICA

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vitrine > informe publicitário ANDRÉA PARREIRA

- ARQUITETA

Projetos exclusivos com visão holística Andréa Parreira atua no mercado há 25 anos. Oferece projeto e execução de arquitetura residencial, comercial e corporativa, condomínios verticais e horizontais, edifícios, centros culturais, esportivos, galpões comerciais e industriais, além de decoração de interiores e design

de móveis. Seu grande diferencial está justamente na sua visão holística. O resultado disso são projetos únicos e exclusivos. Av. Carlos Queiroz Telles, 81, Lago 91, Panamby Fones 3637-2627 / 99262-3362 | Site www.andreaparreira.com.br

DR. JOSÉ LUIZ FARINA

O novo presidente do Colégio Dante Alighieri Eleito como vice-presidente para o triênio março/2014 a março/2017, o dr. José Luiz Farina assumiu definitivamente a presidência do Colégio Dante Alighieri em dezembro de 2014. Nascido em 1949, Dr. Farina cursou a educação básica no próprio Dante. É formado em

direito pela São Francisco (USP), com MBA em comércio internacional. Fez cursos de extensão no exterior e no Brasil. Desenvolveu carreira como executivo na área de comércio exterior, sendo, hoje, vice-presidente do grupo mexicano Mayoreo Internacional Automotriz S.A.

CLÍNICA LUDUS

Corpo multidisciplinar e salas disponíveis A Clínica Ludus é um projeto cuidadosamente concebido para oferecer ao profissional autônomo, e aos seus clientes, uma estrutura especial para o atendimento de crianças, adolescentes, adultos, grupos e famílias nas áreas de psicologia, neuropsicologia, psiquiatria, psico-

ENGLISH TEACHER

pedagogia, psicomotricidade, fonoaudiologia e nutrição. A ClÍnica Ludus também oferece opções de locação de salas. ClÍnica Ludus | Fone 2548-4058 E-mail contato@clinicaludus.com.br Site www.clinicaludus.com.br

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Bilinguismo = inglês com significado Estudar inglês pode ser uma atividade inspiradora se o foco das aulas estiver direcionado ao aprendizado de novos conteúdos. Explorar assuntos atuais e de interesse global em áreas como ciências e geografia ajuda a desenvolver as competências da língua com fluência e

precisão. Professor com ampla experiência em colégios bilíngues. Acompanhamento escolar para alunos do E.F.II. Exames de Cambridge. Michael Reuben | Aulas particulares para crianças e adultos - Higienópolis, Jardins e Perdizes Fone 99935-4469

VIA CASTELLI

Tradição em ambiente familiar Fundado em 1977 no bairro de Higienópolis, o restaurante Via Castelli é uma ótima opção para quem procura fugir do caos da cidade e se reunir com amigos e família. O cardápio é variado incluindo carnes, massas, aves, peixes e frutos do mar. O ambiente é rústico

e descontraído, com um antigo relógio de sol na fachada e um enorme pé de jaca no centro do salão principal com mais de 90 anos. Na entrada, um aconchegante piano bar figura ao lado da adega climatizada. Rua Martinico Prado, 341 | Fone 3662-2999


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indicador proямБssional ADVOCACIA

ADVOCACIA

ANGIOLOGIA

APARELHOS AUDITIVOS

ANGIOLOGIA

ARQUITETURA


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indicador profissional ARQUITETURA

CARDIOLOGIA

CIRURGIA PLÁSTICA

CIRURGIA PLÁSTICA

CIRURGIA PLÁSTICA


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indicador profissional CLÍNICA HIPERBÁRICA

CLÍNICA

CLÍNICA MÉDICA/GERIATRIA

COACHING

CLÍNICA

COLOPROCTOLOGIA

CURA RECONECTIVA

DERMATOLOGIA

CUIDADORES

EVENTOS


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indicador profissional FISIOTERAPIA

GINECOLOGIA

MANIPULAÇÃO

MÉDICA ESPECIALISTA EM RINS

HARMONIZAÇÃO INTERIOR

FONOAUDIOLOGIA

MANIPULAÇÃO

MEDICINA DO ESPORTE

GERIATRIA

NA

PARA ANUNCIAR REVISTA HEBRAICA

LIGUE:

3815-9159 3814-4629


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indicador profissional ESCOLA DE MÚSICA

NEUROLOGIA

NEUROLOGIA

NEUROCIRURGIA

NEUROPSICOLOGIA


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indicador profissional NUTRICIONISTA

ODONTOLOGIA

NUTRÓLOGO

ODONTOLOGIA

OFTALMOLOGIA


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indicador profissional ORTOPEDIA

PERSONAL/ REABILITAÇÃO

OTORRINOLARINGOLOGIA

PNEUMOLOGIA

PAISAGISMO

PSICOLOGIA

PERSONAL TRAINER

PSICOLOGIA


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indicador profissional PSICOLOGIA

PSICO ONCOLOGIA

PSICOTERAPIA

PSICANÁLISE

PSIQUIATRIA


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indicador profissional PSIQUIATRIA

REPRODUÇÃO

TERAPIA ORTOMOLECULAR

compras e serviços

TERAPIAS CORPORAIS

TRATAMENTO


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compras e serviรงos


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compras e serviรงos


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compras e serviรงos


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roteiro gastron么mico


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roteiro gastron么mico


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conselho deliberativo

CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL 2015

Renovação e aprendizado O Executivo recém-eleito iniciou o ano mostrando energia e disposição em estabelecer um ritmo de trabalho visando aprofundar o conhecimento dos programas e departamentos do clube. A mesma atitude positiva que marcou o trabalho desses ativistas no Conselho Deliberativo e nas comissões permanentes, onde iniciaram, a atuação voluntária no clube. A Mesa do Conselho se orgulha em ver uma nova geração de diretores encontrar o seu caminho fortalecidos por anos de vivências e debates nos quais foram protagonistas nas reuniões do Conselho e das comissões. Este é o caminho natural de um ativista do clube. Sócio engajado em atividades esportivas ou culturais, ele se interessa pelo trabalho do Conselho e a candidatura já representa um aprendizado democrático no qual estabelece uma parceria com os sócios que o prestigiam com o voto. Eleito, ele descobre o papel fundamental do Conselho e se engaja na cadeia de gerações formada por ex-presidentes e ex-diretores cuja bagagem serve como parâmetro para a proposição de novos projetos. O amadurecimento do conselheiro em geral o leva a encontrar novos desafios nas comissões permanentes (Obras, Jurídica e Administração e Finanças) e especiais (Cultura Judaica e Juventude). Ali conquistam o respeito e a admiração dos colegas de Conselho e eventualmente são convidados a atuar na Diretoria. Dia 8 de novembro, o Conselho Deliberativo realiza eleições para renovar cem cadeiras, o que abre um horizonte de possibilidades para jovens sócios interessados em contribuir efetivamente para o crescimento da Hebraica. A Mesa do Conselho informará sobre o prazo para candidaturas e espera ver um grande número de jovens na lista. Com certeza, há muito o que aprender como conselheiro da Hebraica. Mauro Zaitz Presidente da Mesa do Conselho

FEVEREIRO 4

4ª FEIRA

TU B’SHVAT

4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA

JEJUM DE ESTER PURIM SHUSHAN PURIM

3 4 5 10 11 16 23

6ª FEIRA SÁBADO DOMINGO 6ª FEIRA SÁBADO 5ª FEIRA 5ª FEIRA

24

6ª FEIRA

EREV PESSACH- 1º SEDER PESSACH- 2º SEDER PESSACH-2º DIA PESSACH- 7º DIA PESSACH- 8º DIA IOM HASHOÁ- DIA DO HOLOCAUSTO IOM HAZIKARON- DIA DE LEMBRANÇA DO CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL IOM HAATZMAUT- DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 67 ANOS

MARÇO 4 5 6

ABRIL * * * *

MAIO 7 17 23 *24 *25

JULHO 5 25

DOMINGO JEJUM DE 17 DE TAMUZ SÁBADO INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER

DOMINGO FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO

31

6ª FEIRA

SETEMBRO ** 13 ** 14 ** 15 ** 22 ** 23 27 * 28 * 29

OUTUBRO 4

9 de fevereiro 13 de abril 10 de agosto 8 de novembro (eleições) 23 de novembro 7 de dezembro

LAG BAÔMER IOM IERUSHALAIM VÉSPERA DE SHAVUOT 1º DIA DE SHAVUOT 2º DIA DE SHAVUOT - IZKOR

26

*5 *6

Reuniões Ordinárias do Conselho em 2015

5ª FEIRA DOMINGO SÁBADO DOMINGO 2ª FEIRA

DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA

VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT

DOMINGO VÉSPERA DE HOSHANA RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET - IZKOR SIMCHAT TORÁ

2ª FEIRA 3ª FEIRA

NOVEMBRO 5

ANOITECER

TU BE AV

5ª FEIRA

DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN

DEZEMBRO 6 13

DOMINGO AO ANOITECER, 1ª VELA DE CHANUKÁ DOMINGO AO ANOITECER, 8ª VELA DE CHANUKÁ

2016

JANEIRO 25 27

2ª FEIRA 4ª FEIRA

TU B’SHVAT DIA INTERNACIONAL EM MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO (ONU)

* NÃO HÁ AULA NAS ESCOLAS JUDAICAS ** O CLUBE INTERROMPE SUAS ATIVIDADES, FUNCIONAM APENAS OS SERVIÇOS RELIGIOSOS




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