HEBRAICA
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palavra do presidente
De volta à nossa casa, A Hebraica Estamos no segundo mês de 2017 e a euforia das festas de final do ano já se dissipou. Voltamos à realidade, tentando colocar em prática e dar sentido às promessas para este ano: emagrecer, cuidar da saúde, melhorar o relacionamento com a família, com os amigos e muito mais. Os amigos e amigas que leem estas linhas já se deram conta de que a Hebraica é a continuidade das nossas casas e pertence a cada um de nós? Nas minhas promessas de ano novo me comprometi em fazer de tudo, junto com a equipe maravilhosa que temos, para esse ano trazer ao clube o máximo de pessoas de modo a que possam aproveitar o que temos de melhor: fantástico parque aquático, quadras para todos os gostos e esportes, academia, teatros, biblioteca, espaços para as diversas faixas etárias – desde bebês até a melhor idade – com muitas atividades, palestras, cinema, encontros. Tudo isso e muito mais é nosso, de cada um de nós. Vamos aproveitar, cuidar da saúde física e mental na Hebraica. Estreitar amizades e laços familiares, resgatar nossa história e cuidar do futuro dos nossos filhos e nossos netos. Tudo no ambiente desta casa comum de todos nós: a Hebraica. Durante esse ano de 2017 vamos inaugurar novos espaços para ela ficar ainda mais bonita. E, Importante ressaltar, tudo será feito com dinheiro que conseguimos de doações de pessoas nobres e altruístas que entendem a importância da renovação e perpetuação do clube. Isto é: todas estas melhorias que as famílias poderão usufruir não custarão nada para o sócio. Espero contar com todos para, juntos, vivermos um ano em que, de fato, as promessas possam se materializar. Vamos conviver mais e zelar pela nossa casa. Valorizar o que temos, buscar melhorar cada vez mais e procurar ser positivos sempre. Olhar para a metade cheia do copo, fazer críticas construtivas e não nos autodestruir. Crescer e evoluir juntos. Evidentemente tenho de mencionar os últimos acontecimentos em Jerusalém, aquele atentado que matou quatro jovens e manifestar nossa solidariedade com as famílias deles. Nosso elo com os nossos irmãos em Israel é incondicional. O mundo se manifestou a respeito: a bandeira de Israel foi projetada no Portão de Brandenburgo e na Torre Eifel, com tudo o que isso simboliza. Já sentimos que o mundo está um pouco mais sensível a esse tipo de barbárie após sofrer casos semelhantes. Será que está se iniciando uma nova era em que começam a enxergar o Estado de Israel de uma forma mais positiva, como a única democracia no Oriente Médio? Enfim, novos tempos, novos governos, novas esperanças. Compartilhar juntos tudo isso será, com certeza, muito mais agradável. Shalom Avi Gelberg
JÁ SENTIMOS QUE O MUNDO ESTÁ UM POUCO MAIS SENSÍVEL A ESSE TIPO DE BARBÁRIE APÓS SOFRER CASOS SEMELHANTES. SERÁ QUE ESTÁ SE INICIANDO UMA NOVA ERA EM QUE COMEÇAM A ENXERGAR O
ESTADO DE ISRAEL DE UMA FORMA MAIS POSITIVA, COMO A ÚNICA DEMOCRACIA NO ORIENTE MÉDIO?
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sumário
HEBRAICA
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merkaz O aperfeiçoamento em “Optimize Me” e o ineditismo do coworking na Hebraica
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fotos e fatos Os momentos mais marcantes do último mês
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xadrez Três dias emocionantes do Rating Tournament na Sala Plenária e no Auditório
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férias A ginástica não perde o ritmo mesmo nas férias
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fotos e fatos Os momentos mais marcantes do mês
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carta da redação
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7 dias na hebraica Acompanhe toda a programação de fevereiro
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capa / música A produção de Shrek, o Musical, e como a Hebraica tornou-se um celeiro de músicos
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praça cultural A exemplo das cidades europeias, a Hebraica produzirá grandes eventos ao ar livre
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curtas Na pauta, Feliz Idade, cinema, Cabalá, Gilbert, Clube da Leitura, Tu B’Shvat e Espaço Gourmet
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comunidade Os eventos comunitários mais significativos da cidade
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fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade
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negócios Daqui a dois anos, depois do tradicional processo de envelhecimento em tonéis de carvalho, Israel conhecerá o seu whisky kasher
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12 notícias As notícias mais quentes do universo israelense
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história Entenda qual é a verdadeira data do nascimento de Jesus
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boxe A importância do boxe na ascensão social dos judeus americanos
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holocausto Como foi resgatado o catálogo de uma das mais importantes gravadoras de Berlim
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a palavra Divirta-se com a gematria dos nomes de Hilary e Trump
leituras A quantas anda o mercado de ideias?
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entrevista O que pensa Sidney Klajner, novo presidente do Hospital Albert Einstein
televisão O lançamento do documentário “Cartas da Bessarábia”
ensaio O espectro político israelense na “nova era” Trump
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curta cultura Dicas para o leitor ficar ainda mais antenado
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lista Quem é quem no Executivo da Hebraica
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carta da redação
ANO LVII | Nº 660 | FEVEREIRO 2017 | SHVAT
Música e whisky. Divirta-se
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DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER
Pela experiência e o pioneirismo em muitas ações se pode dizer que a Hebraica toca de ouvido. Mas é isso mesmo: a Hebraica é um dos poucos clubes de todo o Brasil onde a música é coisa tão séria que tem uma escola chamada de Centro de Música homenageando a grande compositora e cantora Naomi Shemer, autora de Ierushalaim shel Zahav, quase o segundo hino nacional de Israel. Pois a música é o objeto de capa desta edição, mostrando os feitos do clube neste quesito e as encenações que vai realizar, narradas pela repórter Magali Boguchwal. No “Magazine”, Ariel Finguerman nos conta a respeito da primeira fábrica de whisky do país com qualidade de fazer inveja aos melhores escoceses, e também uma reportagem acerca dos pugilistas judeus na história do boxe norte-americano, uma história cerca dos registros da produtora musical e gravadora musical alemã Semer que começou a funcionar em 1932, a Kristallnacht destruiu em novembro de 1938 e um grupo de pesquisadores pacientemente a redescobriu, uma entrevista com Sidney Klajner o novo presidente do Hospital Albert Einstein, e um saboroso “Ensaio”, “A Palavra”, etc.
EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE
CORRESPONDENTES ARIEL FINGUERMAN, ISRAEL FOTOGRAFIA FLÁVIO M. SANTOS GUSTAVO WALDMAN
GERCHMANN (COLABORAÇÃO) CAPA DIVULGAÇÃO
DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES
ALEX SANDRO M. LOPES
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DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE
Boa leitura Bernardo Lerer – Diretor de Redação
DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES
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calendário judaico ::
OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-
PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA
FEVEREIRO 2017 Shvat 5777
MARÇO 2017 Adar 5777
dom seg ter qua qui sex sáb
dom seg ter qua qui sex sáb
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DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.
A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO
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Tu B’ Shvat
Purim
“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800
BRASILEIRA
SÃO PAULO RUA HUNGRIA,
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capa | música | por Magali Boguchwal PREPARAÇÃO MUSICAL DO ELENCO DE SHREK, O MUSICAL NO TEATRO ANNE FRANK, USADO APENAS PARA OS ENSAIOS DO ESPETÁCULO;
Do primeiro dó ao dom COM ESTREIA PREVISTA PARA MARÇO, OS ENSAIOS DA MONTAGEM SHREK, O MUSICAL SEGUIRÃO EM RITMO CRESCENTE, EXIGINDO DEDICAÇÃO E JOGO DE CINTURA DOS ATORES PROFISSIONAIS E
AMADORES QUE COMPÕEM O ELENCO DESSA PRIMEIRA PARCERIA ENTRE A TEENBROADWAY E O DEPARTAMENTO DE TEATRO
M
CLÁUDIA HEMSI LEVENTHAL SE APRESENTOU NO SHOW DE ENCERRAMENTO DO ANO DE 2016 E AGORA FAZ PARTE DO ELENCO DE
SHREK, O MUSICAL; BANDA ATMO SE APRESENTARÁ DIA 4, NO PRIMEIRO SHOW DE RUA, EM 2017
uitas crianças sabem de cor as letras das canções da animação Shrek e agora, graças à parceria com Teenbroadway, escola especializada na formação de dançarinos e cantores para musicais produzidos no país, adultos e jovens atores envolvidos com a montagem do musical Shrek aprenderam a letra e também as coreografias para estrelarem um antigo projeto da Hebraica: apresentar no palco do Teatro Arthur Rubinstein um musical de nível profissional. A estreia de Shrek, o Musical será dia 12 de março e estão programadas mais dez sessões, quantidade que ultrapassa até o de montagens produzidas pela escola, como atesta um dos alunos, Lucas Yovani Pacci. “Os espetáculos de final de curso dos quais participei, Hairspray e Grease, tiveram uma ou duas apresentações. Com o Shrek, ficaremos em cartaz, o que nos dará muito mais experiência de palco.” Para Lucas e outros colegas da Teenbroadway, a parceria com a Hebraica despertou alguma curiosidade. “Não sabíamos como seria esse esquema de trabalhar com os sócios do clube e a surpresa foi positiva. O clima aqui na Hebraica é diferente porque como o elenco foi montado a partir de uma audição, estão todos mais comprometidos. Na Teenbroadway quem se inscreve participa das montagens e existe um alto índice de evasão. O relacionamento entre os dois grupos é sensacional. O tratamento é igual, todos no clube nos receberam bem, inclusive os funcionários, são muito camaradas, quando preciso de ajuda para chegar em um local, pois ainda me perco andando em um clube tão grande”, afirma. Marcelo Klabin, o diretor de Shrek, o Musical é um elo entre os parceiros Teenbroadway e Hebraica. Ele integra o corpo de
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capa | música ALUNOS DA ESCOLA MATERNAL
Música e tradição
SERÃO OS PRIMEIROS A OUVIR O NOVO
CD A SER LANÇADO EM BREVE
>> professores da escola e tem um longo passado no teatro amador da Hebraica. “Atuei na minha primeira peça aos 7 anos, no Teatro Arthur Rubinstein, continuei como ator e depois diretor. Fico orgulhoso quando ouço elogios aos atores do clube, especialmente porque muitos que dirigi na Hebraica procuraram meios para se aperfeiçoar em áreas como canto ou dança”, afirma. Segundo Klabin, Shrek, o Musical tem tudo para dar certo. “Essa parceria foi abraçada por todos, a vice-presidente Elisa Nigri, o diretor-superintendente Gaby Milevsky, que, aliás, está dando uma baita força, Henrique Schafer, coordenador do Departamento de Teatro e Marisa Tempesta, da Teenbroadway, super-satisfeita com a evolução do trabalho até agora”, elogia. “Em uma reunião recente, consegui incluir o grupo de danças Carmel em um ato do musical”, anuncia. Nos papéis de Shrek e Fiona estão Edu Herrera, da TeenBroadway, e Dália Halegua, integrante dos grupos Questão e Hakotzrim da Hebraica. Edu aproveitou uma chance profissional. “Atuei em quatro musicais no ano passado e decidi na última hora participar da audição, fiquei feliz em passar e agora com esse papel. É uma grande responsabilidade que me deixa muito feliz”, comentou durante um ensaio. Dália realiza mais de um sonho. “Atuo no teatro da Hebraica desde pequena e sempre quis trabalhar em um musical, principalmente aqui na Hebraica. As montagens do grupo Questão sempre tiveram músicas, uma característica do trabalho de Heitor Goldflus, mas com Shrek veio a chance de fazer um verdadeiro musical e ainda em parceria com o TeenBroadway, uma escola que estava entre as minhas opções, me animou muito e estou adorando o desafio”, con-
“A música está presente em grande parte dos momentos passados na Hebraica. Do fundo musical para relaxar no spa, às canções que dão o ritmo às aulas de ballet, dança folclórica e na formação para o bat-mitzvá. Tive muitas alunas que, pouco antes de iniciarem sua preparação para a maioridade religiosa, começaram aulas de canto comigo. Imagino que elas quisessem se apresentar ainda melhor na cerimônia”, observa a professora Sheila Vera. E é na Sinagoga que se revelam muitas das vozes e sons que eventualmente farão parte da atividade profissional de muitos sócios. Kiki Wertheimer, chazan, líder da banda GPS, integrou durante anos o coral Zemer nas cerimônias das Grandes Festas no Salão Marc Chagall. Hoje, Margot Kullock, de 17 anos, entoa as preces finais nos serviços religiosos de Shabat na Sinagoga. Ela estuda canto lírico, canta no coro da Osesp e se encaminha para uma carreira na música. E não se pode ignorar a importância do Coral que, há vinte anos, ensaia semanalmente na Hebraica sob a regência do maestro Leon Halegua. E exatamente pai e filha estarão até março no mesmo horário, em diferentes lugares da Hebraica, exercendo seu dom em uma atividade que envolve uma paixão: a música.
ta a jovem que cursa a faculdade de Propaganda e Marketing. Filha do maestro Leon Halegua, ela tem prática de palco no coral e nos shows musicais produzidos pelo pai, mas investe em aulas de canto para se aprimorar. “As aulas de canto para musicais são bem específicas e estão me ajudando muito”, garante. Loucos por música A paixão por musicais é o denominador comum que levou os sócios a se inscreverem na audição de Shrek e, uma vez aprovados, mergulharem na maratona de aulas e ensaios. Cláudia Hemsi Leventhal descobriu a música e a dança no clube. Aluna de canto no Centro de Música Naomi Shemer, ela hoje aprende violão e responde como diretora voluntária da escola. “As aulas de canto no Centro de Música e de piano abriram muitas oportunidades na minha vida. Além disso, ter feito dança folclórica e, assim, vencer a dificuldade de decorar coreografias me ajudaram a chegar ao elenco do Shrek”, comenta ela. Para ela, a música é elemento essencial no clube. “Em um clube judaico que congrega o chamado ‘Povo do Livro’, a música é uma parte da educação. Muitos cantores e compositores talentosos são judeus e a existência de uma escola de música na Hebraica é importantíssima. O esporte é importante, mas não se deve deixar de lado a formação musical. Não é só aprender um instrumento, pois
as aulas fornecem lições de vida, ensinam disciplina, coordenação motora, assimilar erros e treinar bastante para não mais repeti-los e trabalhar em equipe. Saber o momento de ficar em silêncio e o momento certo de tocar é essencial no dia-a-dia”, descreve ela, cujos filhos também são alunos do Centro. “Primeiro, foi preciso despertar a curiosidade deles em relação aos instrumentos, mas hoje adoram. Minha filha de 9 anos teve aulas de violão, de bateria e este ano vai conhecer o piano. Meu filho cismou que vai formar uma banda e aprende guitarra, agora sua companheira inseparável”, acrescenta. Naomi Shemer O Centro de Música fica aninhado junto às quadras de futebol society e tem cerca de duzentos alunos, em todas as faixas etárias. As apresentações de final de ano são muito aguardadas, assim como os shows de rua, apresentações mensais com os professores do Centro. A deste mês será dia 4, com a Banda Atmo e os vocais da professora Sheila Vera. Durante o ano, ela ensina musicalização para crianças de 6 e 7 anos e canto para alunos de todas as faixas etárias. “Os reality shows e concursos para revelar talentos despertaram o interesse das pessoas pelo canto, assim como os muitos espetáculos musicais em cartaz na cidade. Mas a grande vantagem do canto é que a voz é um ins-
trumento que te permite se exercitar ou se divertir em qualquer lugar. Está sempre com você”, destaca. O músico Guappo Sauerbeck também leciona um instrumento portátil. Gaitista de carreira, ele acrescenta charme e ritmo às apresentações do Show de Rua, especialmente em números de rock. “Já na primeira aula, o aluno manipula a gaita, soprando, e aos poucos consegue extrair dela notas limpas. O apego ao instrumento aumenta quando o aluno conhece o trabalho de outros músicos e começa a improvisar, um diferencial das minhas aulas”, explica. Sheila, Guappo e todos os professores do Centro seguem as orientações de Gustavo Kurlat, ele mesmo profissional premiado internacionalmente. Como um dos idealizadores do Centro, ele sabe exatamente o que cada etapa do aprendizado deve oferecer. “A musicalização, por exemplo, se destina a crianças entre 4 e 7 anos e a intenção é aproximar os alunos da música como uma linguagem, um canal de expressão. Eles brincam com elementos da música e aos 7 anos estão prontos para escolher um instrumento, o que não significa que o primeiro será definitivo”, comenta. Segundo ele, a preferência por um determinado instrumento é cíclica. Guitarra e piano são sempre requisitados, mas notamos um aumento da procura por aulas de violino, por exemplo. “Nosso objetivo >>
MONITOR CARREGA O VIOLÃO NA BAGAGEM PARA O ACAMPAMENTO, POIS A MÚSICA ATUA COMO UM ENERGÉTICO NATURAL
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capa | música é formar pessoas que gostem de música, de tocar e também de apreciar outros se expressarem por meio dela”, resume. Desde o berço Na Escola Maternal e Infantil, a música é fundamental na adaptação dos novos alunos do Maternal I, a partir de um 1 ano e 2 meses. “Ela ajuda na adaptação, porque é um elo com o ambiente que têm em família. Muitas canções que ouvem em classe, também estão presentes em casa e despertam a memória afetiva. Isso os faz sentir acalentados, amparados e aos poucos vão se sentindo mais à vontade”, explica a professora Lucila Novaes, a quem as crianças chamam carinhosamente de morá (professora) Lucila. “Ao ouvirem minha voz, elas se aproximam, olham. Em seguida, ficam curiosas com os instrumentos espalhados e aos poucos os laços se formam entre nós”, descreve. No trabalho com toda a equipe de pro-
fessoras da escola, Lucila amplia o repertório musical dos pequenos com canções referentes às festas judaicas e nacionais e também as que acompanham tarefas diárias. “Temos uma canção para saudar os amiguinhos, para a hora do lanche e cada projeto ganha músicas específicas”, acrescenta. A Escola Maternal e Infantil é um dos polos de trabalho da morá Lucila que também rege o coral dos Trovadores Mirins e interpreta suas canções e de outros compositores. “Estou ansiosa para lançar meu novo CD, que chama Para a Criançada, na Hebraica. Ainda não temos a data certa, mas faço questão que meus aluninhos da Hebraica sejam os primeiros a ouvir, ao vivo, as canções do disco”, anuncia. A medida em que acompanha o desenvolvimento dos alunos, Lucila indica aos pais quais delas se beneficiariam de um maior contato com a música. “Termos o Centro de Música no
clube é uma grande vantagem, assim como o trabalho feito nessa área pelo Espaço Bebê”, reforça. Trilha diária Durante o fechamento desta edição, na saída para a machané kaitz (“acampamento de verão”) do Centro Juvenil Hebraikeinu, o madrich Renato Hojda levava na bagagem um violão. “A música é o nosso energético. Da chegada ao Rancho Ranieri ao desembarque do ônibus, no retorno a São Paulo, há sempre música no ar. Quando preparamos a programação, um grupo se dedica a montar um CD com canções da moda e algumas músicas que os chanichim (alunos) adoram e é ele que serve como trilha sonora. Temos vídeos no Youtube com canções que ficaram famosas durante as machanot”, comentou, minutos antes de subir no ônibus.
Mais música Dia 18 de março, o cantor Gilbert fará um show especial, a convite da vice-presidência Cultural e Social, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. “A canção francesa é romântica por natureza e nesse show que intitulamos ‘Femmes’ cantarei os hits que fizeram sucesso como temas de novela, composições minhas e de granORQUESTRA DE MÉDICOS DO HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN SE APRESENTOU NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN, des compositores DENTRO DA PROGRAMAÇÃO DO SHOW DO MEIO-DIA que me consagraram como o embaixador da cultura fran- concebe e monta a programação do pp e petiscos e depois migrou para o cesa no Brasil”, anuncia o cantor. Show do Meio-Dia. Também promove Bar da Piscina, nas manhãs ensolaraA vice-presidência Social e Cul- o Boteco, ideia que surgiu a partir de das nos finais de semana, como uma tural tem grande presença musical sessões de música na Praça Carmel forma de completar com boa música na programação do clube. É ela que ao cair da tarde, regadas a bom cho- o lazer dos sócios.
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cultural + social > novidade
CINEMA OPEN AIR, EXPOSIÇÃO, MÚSICA E LAZER ACONTECEM NOS SÁBADOS À TARDE NA PRAÇA JERUSALÉM
Tardes de sábado na Praça Jerusalém A PRAÇA JERUSALÉM RECEBEU, EM JANEIRO, OS PRIMEIROS
EVENTOS DE UMA PROGRAMAÇÃO INÉDITA DO DEPARTAMENTO
SOCIAL E CULTURAL. DIFERENTE DE TUDO QUE ACONTECE NO CLUBE, NOS
SÁBADOS À TARDE O ESPAÇO
SE TRANSFORMA NA PRAÇA CULTURAL COM MÚSICA AO VIVO, CINEMA AO AR LIVRE SARAUS, EXPOSIÇÕES E OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS
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omo acontece em cidades europeias, onde as pessoas fazem do espaço ao ar livre um lugar a mais para o lazer, a Praça Cultural quer oferecer esse ambiente no clube, saindo do tradicional para algo novo, prazeroso, aberto ao encontro de pessoas, bons papos e de um programa diferente a cada semana, acompanhado de petiscos, espumante e atendimento diferenciado. Os dois primeiros encontros de janeiro na Praça Cultural ofereceram música ao vivo com o Quarteto de Metais SP e o Quinteto 5íncope de músicos brasileiros, norte-americanos e venezuelanos, com influências de Gershwin a Moacir Santos. A programação de fevereiro segui-
rá essa linha e terá variedade de ritmos. Para tanto foram fechadas parcerias com a Osesp e diferentes quartetos e quintetos com a boa música da orquestra de São Paulo. O primeiro filme ao ar livre será Doutor Estranho, fita de ação, aventura e fantasia, uma produção da Disney, estrelada por Benedict Cumberbatch no papel de um bem-sucedido neurocirurgião cuja vida muda repentinamente em um acidente de carro e fica com as mãos debilitadas. Dia 4, às 15 horas, no gramado da Praça. Para saber mais das atrações acesse on line o 7 Dias na Hebraica ou a Central de Atendimento (3818-8888). Se o tempo não colaborar, o evento muda para a Praça Carmel. (T. P. T.)
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cultural + social > curtas
Aprenda a cozinhar com um chef
Primeira agenda da Feliz Idade
O
chef Joël Ruiz tem o dom para cozinhar e, também, para ensinar. Quem assistiu às aulas no Espaço Gourmet comprovou, por isso ele foi convidado para dar o curso “Culinária Básica”. Serão quatro aulas (dias 1º, 8, 15 e 22), sempre às 19h30, cada uma com salada, dois pratos e sobremesa, para que os candidatos a chefs tenham noções de como planejar e realizar um cardápio completo.
O
Mais um horário para conhecer a Cabalá
O
sócio pede e a Diretoria procura atender. Assim, a demanda por mais um horário das palestras de Cabalá levou a abertura de uma nova turma de nível I, que terá palestra de introdução gratuita dia 7, terça-feira, em dois horários: às 20h30 e no novo, às 10h30. As reservas podem ser feitas na Central de Atendimento, fone 3818-8888. Para o primeiro semestre está programado conhecer a “Criação do Universo, O que Viemos Fazer Aqui? O Propósito da Vida & as Leis do Universo”. Em oito aulas práticas e dinâmicas, com início no dia 7.
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Cinema da Hebraica sai na frente
A
ntes mesmo de ocupar as salas da cidade, a diretora de Cinema Sylvia Lohn selecionou filmes que terão suas pré-estreias exclusivas na tela do Teatro Arthur Rubinstein. Sempre às quartas-feiras, às 20h30, com a programação: dia 8, será O Grande Dia, de Pascal Plisson; dia 15, Casanova Variations, de Michael Sturminger; e dia 22, Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira. A programação de fim de semana continua, sábados, às 20h30. No dia 4, o cinema será open air, na Praça Jerusalém, com Doutor Estranho, produção da Dis-
ney estrelado por Benedict Cumberbatch [veja matéria na página 16]. Voltando ao Teatro Arthur Rubinstein, dia 11 será A Espera, com Juliette Binoche, recém-estreado no circuito paulistano; e para quem curte o Carnaval na poltrona, nos dias 25 e 26, a pedida é 45 Anos, filme de Andrew Haigh, na interpretação de Charlotte Rampling. Vários são os planos para 2017, entre eles o cinema prevê a abertura de novos horários para a juventude e a terceira idade, além do público infantil, que continua com horário exclusivo.
Homenagem à mulher
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arço será o mês da mulher no clube. Várias serão as atrações, entre elas um encontro especial com Gilbert, no espetáculo “La Femme”. Será dia 18, às 21 horas, no Teatro Arthur Rubinstein. Convites na Central de Atendimento.
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mês de fevereiro serve de “estopim” para as atividades do ano, por isso a Feliz Idade inicia 2017 com uma agenda para todos os gostos. Dia 9, o encontro será no Espaço Gourmet, às 14h30. Ana Recchia vai ensinar receitas de verão; dia 11, às 14h, na Plenária, Seder de Tu B’shvat com Maurício Mindrisz; dia 16, às 14h30, Morris Litvak, fundador da Maturijobs, vai contar como sua empresa busca oportunidades de trabalho para pessoas com mais de 50 anos; um passeio interessante está marcado para dia 23, com saída da rua Angelina Maffei Vita, às 14 horas, para conhecer o Jardim Bíblico do Templo de Salomão; e dia 25, às 14h30, haverá um bingo para fechar o mês com alegria.
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Vamos plantar em Tu B’Shvat
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tradição judaica está no calendário do clube. E a festa de Tu B’Shvat alia essa tradição aos mais modernos conceitos de zelar pelo ambiente e pela sustentabilidade. Como acontece anualmente, o Keren Kayemet LeIsrael (KKL), entidade voltada à preservação da natureza, e Na’amat-Pioneiras se aliam à Hebraica para comemorar a festa de Tu B’Shvat de acordo com as regras antigas, hoje primordiais para a sobrevivência humana. Na manhã do dia 12, acontecerá a cerimônia religiosa, na Sinagoga, e em seguida os sócios terão a oportunidade de pôr a mão na terra e plantar uma muda, aumentando a área verde do clube.
Para quem gosta de ler
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ia 18, sábado, às 16 horas, no Auditório, o Clube da Leitura vai comentar O Impostor, livro de Javier Cercas. Como acontece sempre, Vivian Schlesinger fará a mediação. (T. P. T.)
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coluna comunidade
Brasil abre mercado com Israel
O governo de Israel negociou com o ministério da Agricultura do Brasil e aceitou a proposta de certificação veterinária brasileira para a abertura do mercado israelense ao sêmen bovino congelado exportado pelo Brasil. O Brasil tem grande potencial de crescimento por três fatores: avanços em programas sanitários principalmente nas áreas consideradas livres de febre aftosa pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE); centrais de coleta e processamento de sêmen bovino com alto nível técnico e de biosseguridade; e bovinos de origem zebuína e taurina melhoradores de rebanhos para produção de carne e leite.
HEBRAICA
Aznavour em noite de solidariedade
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ia 16 de março, Charles Aznavour dá um espetáculo especial no Espaço das Américas. cuja renda será destinada à revitalização das florestas de Israel. Armênio nascido em maio de 1924, Aznavour é um dos mais populares e longevos cantores da França. Último dos “Grandes” e eleito “O Artista do Século” pelo Time e CNN, foi descoberto por Edith Piaf. Com esta turnê. despede-se dos palcos. Portanto, é a oportunidade de ouvir e ver o maior chansonnier nesse evento do KKL. Informações, contato@kkl.org.br.
El Al inaugura simuladores de vôo
A
El Al inaugurou o primeiro simulador Boeing 737 em Israel, anunciou o CEO e presidente David Maimon. Até então, a companhia aérea israelense, fundada em 1948, utilizava simuladores no exterior. para treinar seu pessoal. Prática de novos pilotos, avanço profissional de pilotos experientes, de instrutores e todos os treinos periódicos necessários para manter e melhorar os níveis de desempenho da companhia permitirão poupar recursos e tempo do pessoal.
De Israel para a TV brasileira
F
auda (em árabe, “caos”) é uma série israelense que logo estará no serviço de streaming pela Netflix, que adquiriu os direitos de distribuição internacional. Premiada no Emmy Israelense 2015, a série trata de um grupo de agentes israelenses na captura de um terrorista do Hamas.
Recorde de inscrições ao Brain Bee O III Curso de Neurociências para alunos do ensino médio, no Auditório Moise Safra, recebeu 136 alunos e 53 professores vindos de escolas da Grande São Paulo e do interior, tanto públicas como particulares. Oferecido gratuitamente pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, o curso conhecido como “Brain Bee” oferece conteúdo em neurociência básica, neurofisiologia, neuroanatomia, neuroimagem e neurociências clínicas.
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por Tania Plapler Tarandach
Os poloneses em São Paulo
B
enjamin Seroussi, Jakub Szcesny, Mariana Lorenzi, Renato Cymbalista e Roney Cytrynowicz organizaram a publicação Refúgio Polonês, editada pela Casa do Povo e Editora Narrativa Um. O livro integra um projeto maior e mesmo nome da Casa do Povo, Stowarzyszenie Artanima-
cje e Adam Mickiewicz Institute com a marca Culture.pl. Refúgio Polonês opera como um (des) guia da participação da comunidade polonesa na formação de São Paulo, a história polonesa dos judeus, a presença polonesa em São Paulo e a sobreposição de territórios numa cidade fértil.
COLUNA 1 As psicanalistas Miriam Tawil e Elisabeth Wajnryt trataram de “Consciência Alimentar”, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc/São Paulo. Amos Genish vai fazer ponte aérea entre Londres e Paris. Ele foi contratado pela Vivendi para cuidar da estratégia de convergência entre conteúdo, plataformas e distribuição de mídia.
∂ O cineasta André Sturm é o secretário Municipal da Cultura na gestão do prefeito João Doria. Enquanto diretor-executivo do Museu da Imagem e do Som, transformou-o no museu mais visitado do Estado, expondo em torno de figuras como Tim Burton, David Bowie e Stanley Kubrick, entre outras.
∂ “Novos Mares” é o mais novo espetáculo de Fortuna e o terceiro DVD com treze músicas, das quais cinco de autoria da cantora, que as interpreta em hebraico, árabe e francês, faz o percurso dos judeus orientais de Alepo (Síria) e do Oriente Médio, passa pela Península Ibérica e chega ao Brasil. Em Campos do Jordão, uma dica é conhecer o Museu Felícia Leirner, onde se localiza o Auditório Cláudio Santoro. E pode contribuir para o projeto “A Cada Livro Perdido, um Leitor Encontrado”, doando livros. O Teatro Santander lotou e o Coral Somos Iguais fez sucesso, regido pelo maestro João Carlos Martins. Amir Slama criou o figurino das 25 crianças e jovens refugiados da Síria, Congo e Angola, que compõem o grupo de cantores.
Faz o maior sucesso o “Coroa Metade”, site de relacionamento para público acima de 40 anos. Airton Gontow, seu criador, tem quase 190 mil cadastrados nos últimos quatro anos, com 41 casamentos registrados e muitos outros de que não se têm notícia.
Já virou programa de início de ano, Simone e Luís Steinecke voltaram de sua costumeira viagem a Israel.
Depois de fotografar a Cidade Maravilhosa, Marcel Rivkind, da Breton, foi finalista na categoria “Lojistas”, do concurso cultural que selecionou as melhores fotos de autoria de arquitetos, decoradores e lojistas do Shopping D&D.
Após vários anos pioneiro no Centro confiando em que seria revitalizado, Eduardo El Kobbi levou sua equipe para nova casa. A Fess’Kobbi está instalada, modernamente, na rua do Rocio, no Itaim.
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Gaby Niskier foi um dos designers na décima sétima edição de Joia Brasil, criada por Anna Clara Tenenbaum.
Tufi Duek e Fundação Amor Horizontal alegraram as crianças da Gotas de Flor com Amor. Quem passou pela loja da marca escolheu uma das 120 crianças da instituição para presentear em uma festa especial.
Além de biografias e assessoria de imprensa, Sílvia Perlov também se dedica a produzir conteúdo para redes sociais.
A nova marca OG+A reúne quadros com a assinatura de Og para os apreciadores de arte e luminárias produzidas por artesãos em situação de vulnerabilidade social trazidas por Ana Maria Wilheim.
Os judeus que se fixaram no Brasil após a Inquisição foi o tema da historiadora Raquel Mizrahi em palestra na Sinagoga Mishcan Menachem.
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Prevenção on line ao estresse Uma plataforma inovadora, criada pela empresa israelense Lifegraph, possibilita detectar possíveis crises nervosas e ataques de estresse. O aplicativo é instalado no celular e, por meio de algoritmos, detecta alterações corporais, na voz, horas dormidas, horas viajadas e outros itens. As informações ficam num banco de dados do aplicativo que envia sinais de alerta ao paciente.
Wizo tem nova diretoria Após dois mandatos dirigindo a Wizo São Paulo, Iza Mansur passou a presidência para Nava Politti. A posse da nova diretoria ocorreu na sede da entidade, prestigiada por Ricardo Berkiensztat, da Fisesp, e Leonor Szymonowicz, de Na’amat Pioneiras, Marcelo Schapo, do KKL, e muitas chaverot. Iza e Nava se iniciaram na Wizo na gestão de Mercedes Politi e formaram o Grupo Tzeirot, com Helena Nasser. Com 22 anos na Organização, Nava se torna presidente “para promover atividades atraentes e reforçar o sentimento de orgulho das voluntárias e sócias em integrar a Wizo”. >>
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cultural + social > fotos e fatos 1.
Fotos: Flávio Mello / Guga Gerchman
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Fotos: Flávio Mello
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Réveillon na Hebraica. 1. Ambiente decorado ao
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redor da piscina; 2 e 10. Três casais começaram 2017 ganhando estadas do Hotel Guararema: 3, 4 e 5. Le dor va dor, reunião de gerações; 6 e 8. Cada um queria clicar o melhor self; 7. Queima de fogos anunciando um novo ano; 9 e 11. Pista de dança e bufê disponíveis
9. 1, 2, 3 e 4. Sol, piscina, petiscos e gelados, boa música. Em São Paulo, na Hebraica, famílias reunidas, programa completo no Boteco de Verão; 5 e 6. Nessim Hamaoui expôs a
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noite adentro até a
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madrugada
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coleção de calendários da revista Shalom; em 2017, o tema mostra o renascimento judaico em Portugal; 7. Café com Biscoito e Janaina Santana atrairam a Feliz Idade ao Teatro Anne Frank
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balanรงo
BALANCETE DO Mร S DE DEZEMBRO 2016 EXECUTADO ORร AMENTO 2.016 2.016
ASSOCIAร ร O BRASILEIRA A HEBRAICA DE Sร O PAULO DEMONSTRATIVO DO RESULTADO 2016
VALORES PRELIMINARES SUJEITOS A AJUSTES, REVISร O DA AUDITORIA EXTERNA, APROVAร ร O DO CONSELHO FISCAL E DO CONSELHO DELIBERATIVO
A- RECEITAS MENSALIDADES MENSALIDADES RECUP.SOCIO +MULTA+JUROS (-)DESCONTO S/RECEBIMENTOS ANUIDADES SEMESTRALIDADE 1ยบ SEMESTRALIDADE 2ยบ DEPARTAMENTAIS RECEITAS DEPARTAMENTAIS RECEITAS - eventos DIVERSAS PATRIMONIAIS LOCAร ร ES GARAGEM FINANCEIRAS PATROCINIOS/DOACร ES ESCOLA A. FEFFER RECUPERAร ร O DESPESAS TOTAL DAS RECEITAS B- DESPESAS PESSOAL SALร RIOS/ORDENADOS AUTONOMOS/ENCARGOS ESTAGIARIOS ENCARGOS SOCIAIS BENEFICIOS PROV. FERIAS/ENCARGOS PROV. P/13ยบ SALARIO/ENCARGOS SERVIร OS DE TERCEIROS SERVIร OS PJ - DIVERSOS SERVIร OS PJ - CONTRATADOS DESPESAS - eventos UTILIDADES E IMPOSTOS TARIFAS PUBLICAS IMPOSTOS MATERIAIS FINANCEIRA E DIVERSAS DESPESAS FINANCEIRAS CUSTOS DEMISSIONAIS CONTINGร NCIAS TRABALHISTAS CONTRIBUIร ร O INSTITUCIONAL TOTAL DAS DESPESAS RESULTADO OPERACIONAL (A-B) C- APLICAร ร ES PATRIMONIAIS OBRAS/BENFEITOR./INSTALAร ร ES MOVEIS E UTENSILIOS TOTAL DAS APLICAร ร ES RESULTADO APร S APLICAร ร O (A-B-C)
ATIVO
43.711.223 40.655.659 1.325.882 -755.710 1.622.201 443.524 419.667 19.605.977 17.097.612 2.508.365 5.278.062 810.780 1.663.272 1.186.648 456.652 427.123 714.520 19.066 68.595.265
44.392.328 41.234.984 572.259 1.651.010 479.472 454.602 20.169.778 17.427.147 2.742.631 5.136.081 483.677 1.809.037 1.214.208 420.000 500.000 709.160 0 69.698.186
CIRCULANTE
35.469.480 18.172.190 1.882.677 128.213 6.484.712 3.379.002 3.110.245 2.312.441 19.220.772 4.955.421 11.564.494 2.700.857 6.633.022 6.516.115 116.906 3.451.369 1.661.749 152.674 873.602 538.872 96.600 66.436.395 2.158.870
35.287.162 17.371.035 2.181.836 157.957 6.253.572 4.094.080 3.039.931 2.188.750 20.794.880 4.653.112 13.283.171 2.858.597 7.206.808 7.029.900 176.908 2.937.173 1.072.162 147.496 405.000 420.000 99.667 67.298.186 2.400.000
Nร O CIRCULANTE
1.583.079 756.280 2.339.359
2.200.000 200.000 2.400.000
-180.488
0
&$,;$ ( %$1&26
PASSIVO
6.136.850,03 CIRCULANTE
9.482.590,54
)251(&('25(6
$3/,&$dยญ2 ),1$1&(,5$
&2175,% ,0326726 $ 5(&2/+(5
$3/,&$dยญ2 ),1$1&(,5$ EHQIHLWRULD
2%5,*$d2(6 (035(*$7,&,$6
&+(48(6 $ '(326,7$5 &217$6 $ 5(&(%(5 7(6285$5,$ 7,78/26 $ 5(&(%(5
(1&$5*26 62&,$,6 3529 3 )(5,$6 ( (1&$5*26 &217$6 $ 3$*$5
'(9('25(6 ',9(5626
0(16$/,' 5(&(%,'$6 $ $35235,$5
$',$17$0(172 '( )e5,$6
6(0(675$/,' 5(&(%,'$6 $ $35235,$5
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7,78/26 $ 5(&(%(5 '(326,726 -8',&,$,6
$18,'$'(6 5(&(%,'$6 $ $35235,$5 5(&(,7$6 '3726 $ $35235,$5
1.900.170,04
PERMANENTE
99.775.207,28 PATRIMร NIO LIQUIDO
98.329.636,81
,0ร 9(,6
3$75,0ร 1,2 62&,$/
,167$/$dยฎ(6 0$48,1$6 (48,3726
5(68/7 (&21ร 0,&2 '2 (;(5&
029(,6 ( 87(16,/ร 26 9(,&8/26
TOTAL DO ATIVO ================
107.812.227,35 TOTAL DO PASSIVO ============== =================== 6mR 3DXOR GH MDQHLUR GH 7(6285$5,$ &217$%,/,'$'(
107.812.227,35 ==============
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juventude > merkaz
MUITAS INSCRIÇÕES NO PRIMEIRO CURSO DO MERKAZ EM 2017
Conceito ampliado e melhorado O WORKSHOP “OPTIMIZE ME” ATRAIU GRANDE NÚMERO DE
EMPREENDEDORES, QUE PARTICIPARAM DAS DINÂMICAS PROPOSTAS POR ESPECIALISTAS EM GESTÃO. EM MARÇO, ALÉM DOS CURSOS, O
MERKAZ OFERECERÁ UM ESPAÇO PARA COWORKING (ESCRITÓRIO COMPARTILHADO) NA HEBRAICA
D
esde 2016, a agenda de cursos do Merkaz vem ganhando força entre as opções oferecidas para empreendedores na comunidade. Logo no início deste ano, o Merkaz propôs um curso sobre a aplicação profissional da plataforma Linkedin e o workshop “Optimize Me”, com ferramentas para incrementar a gestão pessoal e comercial de empreendimentos já estabilizados ou projetos de
start-ups. Ainda em janeiro, outra atividade inusitada, a oficina “Storytelling – Uma História de Sucesso”. “É estimulante ver que os novos empreendedores estão atentos à necessidade de se aperfeiçoarem em todos os aspectos, não só em suas atitudes empreendedoras”, afirma Pedro Muszkat, gestor do Merkaz. Ele acompanha a preparação do espaço em frente às quadras de tênis, onde
será instalada a infraestrutura para o coworking (escritório compartilhado) previsto para ser inaugurado em março. “Até aqui, oferecemos essa opção através do nosso parceiro, a Plug. Agora teremos um espaço na Hebraica, com capacidade para trinta usuários, que serão os membros ou empreendedores ligados ao Merkaz. Graças a essa iniciativa tríplice da Congregação Israelita Paulista, Fundo Comunitário e Hebraica, seremos o primeiro clube a contar com um espaço de coworking em suas dependências”, comenta Muszkat. O Espaço de Coworking ficará no local que era o andar superior do spa. Remodelado, ele terá salas de reuniões, estações de trabalho, esquema de networking. “Em breve, iniciaremos as inscrições para a seleção de projetos que terão como base o espaço de coworking e divulgaremos como funcionará o espaço, que, sem dúvida, dará origem a muitas outras boas ideias”, espera Pedro. (M. B.)
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juventude > fotos e fatos 1.
1. Os únicos momen-
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tos estressantes da machané são arrumar e transportar as malas até o local de encontro para o embarque; 2. Pique total nos ônibus de ida para o Rancho Ranieri; 3 e 4. Cento e 115 chanichim dos 7 aos 17 anos na primeira machané de 2017; 5. Almofadas com o logo do Hebraikeinu foram vendidas para ajudar na arrecadação de fundos para a viagem do Curso de Líderes Meidá, em junho
4.
5.
Fotos: Guga Gerchman
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esportes > xadrez
FORAM TRÊS DIAS EXAUSTIVOS COM OS ENXADRISTAS EMPENHADOS EM VENCER CADA UMA DAS SEIS RODADAS DO TORNEIO
Esporte para a mente COM 82 PARTICIPANTES, O INTERNACIONAL RATING TOURNAMENT (IRT) DE XADREZ OCUPOU A SALA PLENÁRIA E O AUDITÓRIO EM TRÊS DIAS NOS QUAIS VITÓRIAS E DERROTAS DEPENDIAM MUITO DE SILÊNCIO TOTAL NO AMBIENTE
A
procura por inscrições para o XXIV IRT promovido pelo Departamento de Xadrez surpreendeu os organizadores. “Até há alguns dias, imaginávamos um torneio pequeno e então o número de participantes começou a subir e tivemos de reorganizar a logística para atender a todos”, comentou o árbitro principal, André Salama. “Nosso recorde de participantes ainda é 89, que disputaram o IRT de 2015”. completa. O IRT é uma realização da Hebraica em parceria com a Federação Internacional de Xadrez (Fide), Confederação Brasileira de Xadrez e Federação Pau-
lista de Xadrez, e as mais de duzentas partidas disputadas em seis rodadas de sexta a domingo estão à disposição, na internet. A disputa de torneios oficiais como o IRT dá aos enxadristas a chance de somar pontos e, talvez, alcançar o rating necessário para um título. No IRT deste ano, o rating médio foi 1.736 e as duas únicas enxadristas com título eram Daphne T. Jardin (1983), candidata a mestre fide (WFM) e Karen Hoshino, mestre fide e rating 1919. Filha de um dos cônsules do Japão, Karen representou aquele país no IRT e integrou a equipe olím-
pica japonesa de xadrez no Rio de Janeiro, o ano passado. Segundo o diretor de Xadrez da Hebraica, Henrique Salama, a pontuação do enxadrista está ligada ao desempenho dele no torneio e não ao título eventualmente conquistado. “Assim como alguns participantes ganham pontos, outros perderão pontos, então o fato de um jogador ser titulado não faz diferença no momento da partida”, completa Salama pai. O torneio movimentou o primeiro andar da Sede em razão do grande número de participantes que permaneceram várias horas no clube, nos três dias de duração do IRT, e também pelos pais de alguns jogadores que, em função da pouca idade, derrotaram adultos três vezes mais velhos, mas precisaram de carona para chegar ao local do torneio. (M. B.)
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esportes > férias
“S
Prática diária O VERÃO ENSOLARADO
ESTIMULOU A FREQUÊNCIA ÀS
PISCINAS, AOS RESTAURANTES E OUTROS LOCAIS DO CLUBE NAS
FÉRIAS, MAS ATIVIDADES COMO
A HIDRO, A GINÁSTICA E AS
CAMINHADAS NA
PISTA DE ATLETISMO
MANTIVERAM O RITMO DE SEMPRE
e há uma coisa que não se pode interromper é a ginástica. Se pararmos, perdemos o hábito. As aulas de ginástica não param e desde o início do ano estamos firmes nas aulas de alongamento e local”, afirma Denise Abuab, aluna de ginástica da professora Thaís. As quatro alunas de alongamento garantem que as aulas de ginástica são benéficas e necessárias à saúde. “Eu frequento essas aulas no centro da Pista de Atletismo há oito anos, quando a professora Thaís assumiu a vaga deixada pela professora Cris”, afirma Margot Horovitz. O convívio quase diário forjou relações de amizade e a turma encerra a aula com um cafezinho, comunica-se por telefone e troca dicas pela internet. “Se alguém sabe de uma programação interessante na Hebraica ou fora dela, divide a informação com as outras”, declara Denise. Enquanto as amigas iniciavam a aula, a jovem Nina Biggio percorria a Pista de Atletismo, alternando o ritmo das pas-
sadas. “Moro em Nova York e aproveito que minha mãe começou a se exercitar com um personal para também fazer uma caminhada no clube. É uma delícia passar uns dias no Brasil, rever os amigos. Quando pequena, gostava de correr na Pista e agora corro a sério. Uma sensação muito boa”, afirma a estudante de psicologia, retomando rapidamente a caminhada. Marta é outra fiel usuária da Pista. “Venho caminhar na Pista de Atletismo da Hebraica. nos finais de semana e às quartas-feiras. Às vezes dispenso a academia porque aqui, na pista, em meio à vegetação, quase não me canso. Eu e meu marido conversamos durante o exercício. Entre nós e também com outras pessoas. Recomendo a todos que estiverem à procura de uma forma de se colocar em forma”, avisa. As aulas de ginástica são diárias, das 7h30 às 12 horas, em diferentes modalidades. Inscrições no Fit Center e mais informações 3818-8903. (M. B.)
ALUNAS DA PROFESSORA THAÍS SE MANTIVERAM FIÉIS ÀS AULAS NO INÍCIO DE 2017, ENQUANTO OUTROS SÓCIOS APROVEITAVAM O PERÍODO DE FÉRIAS
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esportes > fotos e fatos Fotos: Flávio Mello / Guga Gerchman
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1. Noite do Atleta homenageou representantes de todas as modalidades, no final de 2016; 2. Davi D’Israel, da equipe de xadrez da Hebraica, ficou em segundo lugar no XXIV IRT; 3. Daphne Tolano Jardin foi a campeã feminina no IRT promovido em janeiro na Hebraica; 4. Lúcia Pekelman Rusu e Suzana Mentone brilharam no III Campeonato Latino-Americano realizado em dezembro, no Chile; 5. Nadadores do Master retomaram os treinos no início de janeiro
ma ga zine
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magazine > negócios | por Ariel Finguerman, em Tel Aviv
Á ESQUERDA, EQUIPAMENTO MADE IN ISRAEL NA DESTILARIA DE TEL AVIV; ACIMA À DIREITA EQUIPAMENTO PARA PURIFICAÇÃO DA ÁGUA NA DESTILARIA E TONÉIS DE CARVALHO PARA ENVELHECIMENTO KASHER DO PRIMEIRO WHISKY ISRAELENSE
O primeiro whisky de Israel é kasher EM TEL AVIV, VISITAMOS A PRIMEIRA
DESTILARIA DE WHISKY DA HISTÓRIA
DE ISRAEL. AO CONTRÁRIO DO QUE SE
IMAGINAVA, O CLIMA DE ISRAEL PODE ATÉ
AJUDAR NO DESENVOLVIMENTO DA BEBIDA PRODUZIDA TRADICIONALMENTE NA
ESCÓCIA OU CANADÁ
N
as últimas décadas, o Estado judeu vem surpreendendo o mundo com inovações, inclusive na área etílica. Primeiro, nos anos 1990, apareceram os vinhos de butique israelenses, hoje reconhecidos no mundo inteiro. Depois, nos anos 2000, vieram as cervejarias artesanais, que já somam duas dezenas por todo o país. Agora, para completar este ciclo alcoólico, vem aí a primeira destilaria de whisky da história sionista, batizado de Milk & Honey. A destilaria fica na região sul de Tel Aviv, num galpão onde antes funcionava uma padaria, agora transformada num edifício industrial clean e de inspiração high-tech. Bem ao gosto de seus fundadores, cinco bem-sucedidos israelenses da área tecnológica, que já dedicavam o tempo livre para produzir cerveja artesanal ou bebericar nas noitadas da cidade. Juntos, investiram quase três milhões de dólares para transformar o hobby
num negócio real – apesar que os cinco continuam trabalhando em seus business anteriores. Logo na largada, já tiveram de enfrentar um dilema inebriante. Os melhores whiskys do mundo são produzidos em países gelados, como Escócia e Canadá. Como tentar fazer algo parecido em pleno Oriente Médio e numa cidade onde a umidade do ar chega a 90% no verão? O jeito foi contratar um dos maiores especialistas do mundo no assunto, o escocês James Swan, que traz em seu curriculum passagens pelas maiores destilarias do mundo. “Descobrimos que o clima israelense pode até jogar a nosso favor”, diz Gal Levin, a responsável por Desenvolvimento de Negócios da destilaria, em entrevista à revista Hebraica. Para surpresa dos israelenses, o escocês Swan estimou que as altas temperaturas do verão de Tel Aviv podem levar a encurtar o tempo necessário ao envelhecimento do whisky nos tonéis, de seis anos na Escócia para três anos no Estado judeu. Swan também deixou outra dica. “Iremos explorar as diferenças climáticas dentro do próprio Israel”, diz Levin. Calcula-se que existam cinco diferentes regiões geotérmicas no pequeno Israel, das Colinas do Golã ao deserto do Mar Morto. E a destilaria planeja testar os efeitos desta diversidade no resultado que irá ao copo redondo servido com gelo. Após o consultor escocês garantir que seria possível produzir um verdadeiro whisky em pleno Oriente Médio, os empresários israelenses deram o sinal verde. Não
se desanimaram nem com uma irritante burocracia das autoridades, que exigiram muitas explicações sobre o novo produto. “Simplesmente, o governo desconhecia totalmente o whisky”, diz Levin. Esclarecida a empreitada etílica, buscou-se ao redor do mundo o equipamento necessário para produzir o destilado. O maquinário acabou sendo importado da Alemanha e Romênia, mas não tudo. O processo de fabricação do whisky também exige caldeiras para misturar a água com cevada, e neste quesito Israel tem uma longa tradição, os famosos dudim. Pela primeira vez na história do país, uma caldeira gigante foi adaptada para a fabricação de whisky, tudo Made in Israel. Mas à esta altura, a chutzpá israelense enfrentou um problema quase insolúvel: a qualidade da água para a fabricação de whisky. “Na Escócia, as destilarias são construídas ao lado de rios cristalinos, e eles têm orgulho disto. Aqui em Tel Aviv, temos apenas o Yarkon, que é semipoluído. A água distribuída na cidade é trata>>
A destilaria instalou um laboratório para purificação de água em suas próprias dependências, onde a água passa por um processo chamado de osmose inversa, para neutralizar os minerais
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magazine > negócios
>> GAL LEVIN EXPLICA QUE AS DIFERENÇAS CLIMÁTICAS DE
ISRAEL AJUDAM NO ENVELHECIMENTO DO WHISKY
da e boa para beber, mas não o suficiente para se chegar a um bom whisky”, explica Levin. O jeito foi ser criativo, como sempre neste país. A destilaria instalou um laboratório para purificação de água em suas próprias dependências, onde a água passa por um processo chamado de osmose inversa, para neutralizar os minerais. E o resultado? “Estamos satisfeitos”, diz Levin, encerrando a conversa. Cevada, outro ingrediente fundamental do whisky, não pareceria ser um problema para a destilaria israelense. Afinal de contas, a Bíblia já descreve este cereal como uma das famosas sete espécies da Terra Prometida. O problema é que a cevada israelense é produzida para ser transformada em pão, e ninguém até hoje havia pensado em destiná-la ao malte. “Resolvemos isto importando cevada da Inglaterra,
de uma empresa que abastece algumas das destilarias mais famosas do mundo”, explica Levin. A fase final da produção, o envelhecimento do whisky, é feita numa sala especial de tonéis de carvalho, onde o teor de álcool no ar é tão alto que foi necessário instalar um rigoroso controle anti-incêndio. Fora isto, a sala não tem nenhum controle especial para a temperatura. “Esperamos que o clima de Tel Aviv faça a sua parte”, espera Levin. É somente aqui, no estágio final, que entra a questão da kashrut. Whisky, teoricamente, não tem nenhum requisito especial para receber o selo de aprovação dos rabinos. Ou melhor, quase nenhum: os tonéis de carvalho, onde a bebida fica descansando, normalmente são de segunda mão e foram usados em vinícolas. Se vinho não-kasher foi colocado nestes tonéis, o produto destilado ficará impuro. “Por isso, somos rigorosos nisto e somente compramos tonéis de vinícolas kasher”, diz Levin. E o whisky israelense mesmo, que tal? No moderno centro de visitas da destilaria, uma turista da Califórnia e um casal de aposentados experimentam o young single malt da casa, resultado de um ano e meio de envelhecimento em tonel. Também provam o gin israelense, chamado de “Levantino”, pelas especiarias orientais que leva, como o za’atar. O sentimento é de aprovação, mas o whisky definitivo da destilaria somente será conhecido em 2019, quando sair do completo processo de envelhecimento nos tonéis kasher. E que o mundo se prepare, como diz o site da Milk & Honey. “Aguarde para nos encontrar na América do Norte, Europa e em outros mercados onde exista uma demanda por drinques de qualidade top e, além do mais, kasher”, diz o texto, com uma certa chutzpá.
FALTA
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HEBRAICA
por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com
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País ligadão
Quarenta por cento dos israelenses que conheceram um parceiro amoroso no ano passado, fizeram isto por intermédio da internet. Este é um dos surpreendentes resultados de pesquisa da Bezeq, a gigante de comunicações do país. Outras revelações: um terço dos israelenses assistem a seus filmes e seriados em sites piratas (streaming), 87% dos adultos utilizam o Facebook, enquanto 90% dos jovens usam Whatsapp. E qual é hoje o mais popular castigo dos pais para disciplinar os filhos? Em primeiro lugar, com 47% da preferência, proibir a utilização de smartphones e computadores.
Se alguém buscava algo positivo na prestação do serviço militar, não precisa procurar mais. O Instituto Taub de Pesquisa de Israel apontou uma ligação direta entre a boa forma física resultado de um longo serviço, como no Tzahal, e longevidade. Israel é o segundo no mundo onde se vive mais tempo, 81 anos (ao lado de Cingapura, Islândia e Suíça), só perdendo para San Marino. A média nos países ricos é 78 anos e, no Terceiro Mundo, 69 anos. Os pesquisadores apontam que a única explicação para o surpreendente fato é o serviço militar. Prova? Na Suíça e Cingapura o serviço militar também é rigidamente obedecido.
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Irmãos de sangue
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Se liga, mano
Depois de décadas de controvérsias, o ministério da Saúde israelense decidiu permitir a cidadãos nascidos na Etiópia doarem sangue. O problema existiu desde que a ONU apontou o país africano como um dos maiores detentores de doentes com o vírus da aids, seguindo-se a rejeição no mundo ocidental por doadores vindos de lá. Agora, seguindo tendência mundial, Israel eliminou a barreira, desde que o doador não tenha visitado a Etiópia nos últimos doze meses. Também homossexuais foram liberados para doar sangue, mas não podem ter tenham mantido relações sexuais no último ano.
Dois caças norte-americanos, do modelo F-35 considerado o mais letal armamento nos ares do mundo na atualidade, aterrissaram na base Nevatim, no deserto do Negev, já com a estrela de Davi da força aérea israelense pintada na fuselagem. Nos próximos anos, Israel formará dois esquadrões, num total de cinquenta jatos F-35, apelidados por aqui de nadir (“poderoso”, em hebraico). Na recepção, além de Bibi Netaniahu, estava o secretário de Defesa dos EUA. Estes super-aviões são quase indetectáveis por radares e colocam no raio de ação países inimigos antes inalcançáveis pelos F-16. “Nosso objetivo não é Gaza”, disse uma fonte militar, dando a entender a quem se destina.
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12 notícias de Israel
Vantagens da caserna
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Êta nóis
Celebridade discreta
Vocês pensam que somente os paulistanos sofrem com o trânsito? Nova pesquisa do governo israelense aponta que a massiva utilização de carro nas maiores cidades do país chegou a tal ponto, que um terço dos veículos circulando nas ruas é para achar vaga em estacionamento. Tel Aviv lidera com as três piores regiões para encontrar onde deixar o veículo, seguido de Holon e Jerusalém. Em média, cada lugar para estacionar é disputado por dois carros. Nas horas de pico, o israelense leva em média vinte minutos para achar uma vaga. E a tendência é piorar: nos últimos quatro anos, aumentou em 43% o tempo perdido nesta busca insana.
Por onde anda Gilad Shalit, o soldado sequestrado pelo Hamas em 2006 que permaneceu cinco anos preso numa solitária em Gaza? Hoje com 30 anos de idade, formou-se recentemente em Economia pela faculdade IDC, de Hertzlia. Em seguida, foi contratado pelo Bank Discount e agora se prepara para começar a trabalhar na área de investimentos, onde entre suas atribuições estará aconselhar os clientes na aplicação das economias. O então quase garoto Shalit deixou o cativeiro visivelmente abalado, apesar do sorriso no rosto, e desde então toda a nação acompanha seu desenvolvimento.
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Tudo em família Esta faria o bisavô ficar contente: dois descendentes do rabino Ovadia Yosef, uma das mais importantes autoridades judaicas do mundo sefaradita, morto há quatro anos, anunciaram o noivado. Nada demais, não fosse o fato de que casarão entre si. Avraham Yosef, 20 anos, neto do rabino, pediu a mão de Adi Shimoni, 19 anos, bisneta do mesmo Yosef. O fenômeno de primos de gerações diferentes, mas de idade semelhante, é comum entre os ortodoxos com muitos filhos, em cuja mesma família pode haver diferenças de idade de vinte anos entre irmãos. Casamentos entre primos são comuns entre hassidim, e apenas tolerados entre ortodoxos sefaradim.
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Meninas calientes “Estas garotas soldados de Israel podem te matar à primeira vista.” Foi assim que o New York Post, o jornal norte-americano, definiu a página no Instagram, onde soldadas do Tzahal publicaram mais de duas mil fotos em poses provocantes e eróticas. A página, chamada hotisraeliarmygirls, já tem 35 mil seguidores e é bastante “democrática”, com meninas representando o exército, marinha e aeronáutica. Depois da publicação da notícia no diário novaiorquino, os jornais britânicos Sun e Daily Mail não ficaram para trás, e noticiaram o portal de fotos como “baterias patrióticas”, em alusão ao sistema de defesa antimísseis instalada na fronteira com Gaza.
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Poupança infantil Como muitos governos, Israel também se preocupa com a falta de poupança nas famílias. Por isso, o Bituach Leumi, o INSS local, este ano lançou um novo programa. Cada criança israelense passou a receber a partir do mês passado cinquenta shekalim (quantia semelhante em reais) a cada mês, numa conta em seu nome. O governo está estimulando os pais a reforçarem esta poupança, contribuindo com outros cinquenta shekalim. A ideia é um recém-nascido em janeiro ter em sua conta, quando acabar o serviço militar e se preparar para entrar na faculdade, pelo menos R$ 27 mil. Boa ideia, não?
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Steve “Moses” Job O mês passado marcou os dez anos do lançamento do iphone da Apple, um evento que mudou a comunicação mundial. Jovens de 18 anos acham que sempre houve a possibilidade de falarmos ao telefone praticamente de graça de qualquer parte do mundo, ao mesmo tempo em que conferimos e-mails, escutamos música, vemos vídeos – tudo a partir de uma mesma engenhoca, o smartphone. Foi um baita avanço para a humanidade e, de maneira excepcional, poder conhecer Steve Jobs, a pessoa responsável por isto. É uma exceção, pois a maravilhosa tecnologia que nos rodeia na medicina, na computação, na engenharia, raramente traz a identidade do seu criador. A maior parte das invenções são feitas de forma anônima, por grupos de pessoas, que não fazemos ideia quem sejam. Como empresário e visionário, Jobs não foi maior que Bill Gates da Microsoft, por exemplo. Mas, então, de onde vem esta obsessão pela sua vida, presente em biografias, livros e vários filmes? Creio que a trajetória de Jobs bate fundo no nosso inconsciente, especialmente por seu paralelo com a vida de Moisés. Numa das maiores histórias da humanidade, o grandioso Êxodo, Moisés se voltou contra o Faraó, libertou o povo, conduziu-o pelo deserto, mas, quando ia completar a grande missão, entrar na Terra Prometida, morreu a algumas centenas de metros dali, sem conseguir atravessar o Jordão. É uma história épica, mas com final humano. Esta é a vida de Jobs, que preparou o futuro, mas morreu jovem, sem ter entrado em sua Terra Prometida.
Casa Minha Vida
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Os altíssimos preços de apartamentos e casas em Israel já é um dos principais problemas econômicos do país. A boa notícia é que boa parte da população está se protegendo deste flagelo. Segundo o mais novo relatório do governo, 68% da população já conseguiram adquirir casa própria. É um índice alto, quando comparado, por exemplo, com a Alemanha onde apenas 53% são proprietários de uma residência. Também em Israel, 7% da população tem mais de dois apartamentos ou casas próprias. Já 27% da população não têm outra alternativa senão pagar aluguel.
Esta tragédia comoveu Israel. Agora que estamos na época de frio por aqui, é muito comum as pessoas saírem em passeios pelo deserto. Assim foi com a família Nir, que fazia com amigos uma trilha por um rio seco chamado Nahal Tzeelim, perto de Massada. Num certo momento do passeio, Ilai Nir, 10 anos, escorregou nas pedras lisas e perdeu o equilíbrio. Pelo mais puro instinto paterno, Omri, 50 anos, um dos maiores especialistas em política libanesa no país, agarrou o filho. Os dois rolaram abraçados por quinze metros, o pai tentando desesperadamente protegêlo das afiadas pedras. Por fim, caíram num precipício de sessenta metros. O pai Omri chegou ao chão já morto, com fraturas generalizadas. O menino foi resgatado por helicóptero e levado ao hospital Soroka, de Beer Sheva, com ferimentos graves no crânio e pelo corpo. Por dois dias, os médicos tentaram reanimá-lo. A família, temendo pelo pior, retardou o enterro do pai. Enfim, a dura notícia foi comunicada e pai e filho foram sepultados juntos, no moshav Kfar Vitkin, numa cerimônia que paralisou o país. “Temos certeza de que o abraço de Omri deu mais dois dias de vida a Ilai”, declarou um membro da família.
Abraço de pai
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magazine > história | por Elon Gilad
Erra quem pensa que Jesus nasceu no ano Zero COMO OS ANOS DA ERA COMUM (EC) SÃO ROTULADOS COMO AD, O QUE SIGNIFICA ANNO DOMINI OU “NO ANO DO SENHOR” EM LATIM, PODESE SUPOR QUE JESUS NASCEU NO ANO ZERO. ACREDITA-SE QUE TENHA NASCIDO OITO DIAS
ANTES DO ANO NOVO, EM 25 DE DEZEMBRO DO ANO 1 ANTES DA ERA COMUM (AEC)
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DIONÍSIO, O EXÍGUO, QUE PENSOU ESTAR ESCREVENDO
525 ANOS DEPOIS DO NASCIMENTO DE JESUS
as isso é muito improvável. Para começo de conversa, não existe ano zero. O dia seguinte a 31 de dezembro, 1 antes da Era Comum, é 1º de janeiro, ano 1 da Era Comum. E não tem como este sistema de contagem possa ser lá muito confiável. Ele foi concebido por Dionísio, o Exíguo, monge de um território onde hoje é a Bulgária, no ano 525 da Era Comum (segundo ele mesmo). Evidentemente, Dionísio pensou estar escrevendo 525 anos depois do nascimento de Jesus, mas em nenhum lugar explicou como chegou a essa conclusão. Como não há razão alguma para supor que ele tivesse qualquer informação que não possuímos hoje, eis os fatos. O único registro da vida e do ministério de Jesus são os quatro Evangelhos canônicos: Mateus, Marcos,
Lucas e João. Ao examinar o Jesus histórico, os historiadores modernos tomam estas narrativas com algum ceticismo, pois os autores destas obras estavam mais interessados na teologia do que na história; os evangelhos foram escritos um tanto depois dos fatos e são contraditórios entre si e também em relação a outros documentos históricos em assuntos grandes e pequenos. Ainda assim, são os únicos documentos à nossa disposição e de Dionísio. Lucas diz, um pouco indiretamente, que Jesus nasceu durante o reinado do rei Herodes ou pouco depois (1:5). Mateus foi mais direto: “Jesus nasceu em Belém da Judeia nos dias do rei Herodes” (2:1). Como Herodes morreu em 4 ante da Era Comum, pode-se supor que Jesus nasceu naquele ano, ou antes. Mas os historiadores modernos não parecem convencidos de que isso seja necessariamente correto. Mateus estabeleceu o nascimento de Jesus durante o reinado de Herodes de modo a permitir seu relato do Massacre dos Inocentes, um infanticídio supostamente ordenado por Herodes (2:14), mas sem qualquer corroboração histórica, nem menção nos outros evangelhos. Por isso, segundo Mateus, a família de Jesus fugiu para o Egito. Portanto, Jesus pode ou não ter nascido durante o reinado de Herodes, o Grande (37 AEC a 4 AEC). Que outras provas há disso? Lucas: “Jesus, quando começou seu ministério, tinha uns trinta anos de idade” (3:23) e isso se passou “no décimo quinto ano do reinado de Tibério César”(3:1). Como Tibério subiu ao trono em 14 da Era Comum, é simples calcular quando Jesus nasceu: subtraia 15 de 30 = 15; agora subtraia isto de 14, ano da coroação de Tibério, e = 1 antes da Era Comum. Provavelmente isso levou Dionísio a determinar sua contagem dos anos. Mas Lucas, que nunca conheceu Jesus e, de qualquer maneira, provavelmente não sabia quando Jesus nasceu, não diz taxativamente que Jesus tinha 30 anos quando começou seu ministério, mas “uns” 30 anos, isto é, se podem somar ou subtrair alguns anos. Em Lucas (2:1-2), Jesus nasceu em Belém, e não na casa da família em Nazaré, por causa do Censo de Quirino (governador da Síria), que exigiu que José voltasse ao seu lar ancestral. De acordo com o historiador judeu Flavius Josefo, este censo ocorreu em 6 da Era Comum. Então, Jesus nasceu naquele ano, ou no ano seguinte. A maioria dos historiadores acha que Lucas interpretou os fatos equivocadamente. Belém no inverno Os quatro evangelhos canônicos concordam em que Jesus foi crucificado durante o governo de Pôncio Pilatos (26 EC a 36 EC) e como os quatro evangelhos estão de acordo quanto a isso, e como Pilatos é uma figura histórica cuja existência é corroborada por evidências externas, isso pode ser tomado como um fato histórico. O problema é que não se tem informação da idade de Jesus quando mor-
reu. O mais próximo é a declaração de Lucas de que tinha cerca de 30 anos quando começou a pregar. Se subtrairmos 30 dos anos do governo de Pilatos, teremos um intervalo de 7 AEC a 6 EC, provavelmente a estimativa mais próxima que podemos alcançar. Então não sabemos exatamente em que ano Jesus nasceu, mas pelo menos sabemos que nasceu em 25 de dezembro, certo? Errado. Os evangelhos não fornecem uma data nem mesmo da época do nascimento de Jesus. A única sugestão é uma passagem em Lucas segundo a qual no tempo do nascimento “na mesma região havia pastores no campo, vigiando o seu rebanho durante a noite” (2: 8). Por isso, de acordo com alguns estudiosos, Jesus não poderia ter nascido no inverno, pois na região de Belém as ovelhas eram mantidas em lugares fechados durante as frias noites de inverno, argumento aliás contestado por outros acadêmicos. O primeiro indício de que Jesus nasceu, de fato, em 25 de dezembro é o calendário de 354 EC, ou seja, mais de trezentos anos após o seu nascimento. Se os primeiros cristãos sabiam a data do nascimento de Jesus, é um pouco estranho que não exista registro disso antes da data mencionada. Parece bastante conveniente que o aniversário de Jesus seja em 25 de dezembro, dia de celebração do festival do deus Sol Invictus no Império Romano. É mais provável que esse festival tenha sido transformado de festa pagã que comemora o renascimento do sol em um festival para celebrar o nascimento de Jesus. Isso está em completo acordo com as práticas da igreja primitiva, que frequentemente cooptava e reinterpretava práticas pagãs em vez de combatê-las. Então, se não sabemos quando Jesus nasceu, nem dia nem ano, podemos afirmar que provavelmente tenha sido durante a primeira década da EC ou AEC.
Então não sabemos exatamente em que ano Jesus nasceu, mas pelo menos sabemos que nasceu em 25 de dezembro, certo? Errado. Os evangelhos não fornecem uma data nem mesmo da época do nascimento de Jesus
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magazine > boxe | por Joseph Epstein
Os judeus e as lutas no ringue OS QUE TÊM MENOS DE 50 ANOS NÃO SABEM O QUANTO O BOXE FOI ESSENCIAL PARA A CULTURA POPULAR OLIMPÍADAS, WORLD SERIES, O TORNEIO DE WIMBLEDON, O ROSE BOWL – ATRAÍA TANTO A ATENÇÃO DOS NORTEAMERICANOS INTERESSADOS EM ESPORTES QUANTO UM CAMPEONATO DE PESOS-PESADOS
NORTE-AMERICANA NAS PRIMEIRAS CINCO DÉCADAS DO SÉCULO PASSADO. NENHUM EVENTO –
P
COMO DIZ A FOTO, NAT FLEISCHER PASSOU CINQUENTA ANOS AO LADO DO RINGUE.
A REVISTA AJUDAVA O BOXE
ara se ter uma ideia, em uma noite de sexta-feira 26 de outubro de 1951, um cinema, em Chicago, interrompeu a projeção do fi lme para anunciar que Rocky Marciano derrotara Joe Louis no oitavo round de uma luta de dez, no Madison Square Garden. As lutas por prêmios, amadoras e profissionais, eram realizadas em pequenos clubes e grandes estádios, transmitidas pelo rádio, e no começo da década de 1940, pela televisão, geralmente mais de uma vez por semana. A tira de quadrinhos Joe Palooka, a respeito de um campeão peso-pesado, era uma das favoritas dos meninos. Quem tinha 12 anos conhecia os campeões e contendores principais em cada divisão do peso, desde o peso-mosca (até 52,16 quilos) ao peso-pesado (sem limite). Quando Joe Louis derrotou Max Schmeling, da Alemanha, em um nocaute de primeiro round em 1938, os americanos sentiram como uma vitória sobre os nazistas e Louis virou herói nacional. Os Estados Unidos levariam três anos e meio para entrar em
guerra, o boxe era popular, internacional e uma forma de patriotismo por outros meios. Nos primeiros anos da década de 1950 os pugilistas judeus não estavam mais na ativa e a glória que conquistaram nesse esporte já era coisa do passado. Mas até mesmo essa glória passada perdurou. Há histórias. Na Sheridan Road, em Chicago, residiam Ida e Irv Kaplan. Ida era irmã de Barney Ross, que fora campeão peso-leve, peso-médio leve e peso-médio. Havia também Irv Schoenwald, um bem-sucedido promotor de lutas. E, na década de 1940 e no início dos anos 1950, um ex-peso-pesado, o ligeiramente bêbado “Kingfish” Levinsky (cujo nome vinha do negócio de peixe da família na região do mercado de pulgas da cidade) vendia gravatas berrantes que carregava em uma mala para homens de negócios judeus. A corrupção do crime organizado sempre pairava às margens do boxe, e muitas vezes bem perto do seu centro. Por exemplo: bem-sucedido vendendo de toldos de alumínio, um judeu decidiu se aventurar por um dos seus sonhos: investir em pugilistas. Seu lutador mais famoso foi um certo peso-pesado chamado Ernie Terrell, campeão da AMB de 1965 a 1967, até ser espancado, de modo humilhante, por Muhammad Ali. A partir daí o agente se aliou ao crime organizado de Chicago, pois, afinal, ele vendera toldos para a figura assustadora de Tony “Big Tuna” Accardo, chefe do Sindicato (do crime) de Chicago, cujos capangas queriam controlar seus lutadores. Tony foi perseguido pelo assassino profissional Felix “Milwaukee Phil” Alderisio, teve de se esconder, foi resgatado pelo FBI e testemunhou sobre os interesses da Máfia no boxe. Estas e outra são muitas das histórias do livro Stars in the Ring: Jewish Champions in the Golden Age of Boxing (“Estrelas do Ringue: Campeões Judeus na Era de Ouro do Boxe”), de Mike Silver, um excelente relato dos “Campeões Judeus na Idade de Ouro do Boxe”, contendo as biografias e fotos dos melhores 166 pugilistas judeus e sujas orelhas de couve-flor, marcas de narizes quebrados ou achatados, rinoplastias e as trajetórias das carreiras. Além das biografias, o livro traz ensaios a respeito das consequências do boxe para os lutadores; o preparo de futuros lutadores antes jornaleiros e que defendiam seus territórios na rua; a era das Luvas de Ouro; o boxe no gueto de Xangai, em campos de concentração e em Israel. O autor conta a história do boxe desde a era das mãos nuas, quando o boxeador sefaradita Daniel Mendoza “alcançou algo como status de superstar”, para o reinado das regras do marquês de Queensbury. Ele também traça o declínio do esporte, tanto do ponto de vista popular como na qualidade dos lutadores e lamenta, que o boxe é o único esporte em que os atletas não têm melhorado. De todo modo, os judeus sempre foram intermediários importantes no boxe, eram “promotores, gerentes, treina-
dores, cornermen, donos de ginásio, fabricantes de equipamentos e editores de revistas especializadas”, como Nat Fleischer, por exemplo, editor da revista The Ring e, por décadas, comissário não reconhecido de boxe. Fleischer criou um sistema de classificação para os boxeadores, defendeu exames médicos rigorosos, regras e lutou contra as incursões do crime organizado no esporte. “Infelizmente, após a morte de Fleischer, em 1972, The Ring começou a degringolar junto com o esporte”, diz Silver, e o historiador do boxe Harry Shaffer acreditava que “foi Nat Fleischer quem manteve [boxe] unido”. O começo de tudo Nas primeiras décadas do século 20, os boxeadores judeus eram, se não preponderantes, certamente comuns. “As primeiras quatro décadas do século passado foram a Idade de Ouro para o esporte do boxe do ponto de vista de status, quantidade e qualidade de talentos, cobertura da mídia e comparecimento público”, Silver escreve: “Não foi menos como os Anos Dourados dos pugilistas judeus”. Ele descobriu que, naquele tempo, havia mais de três mil boxeadores profissionais judeus ativos, “ou entre 7 a 10% do total de profissionais”. Mais: “Entre 1901 e 1939, houve 29 judeus campeões mundiais de boxe – 16% dos campeões”. Em doze disputas diferentes pelos títulos, ambos os boxeadores eram judeus. Na década de 1920, quatorze dos 66 campeões mundiais eram judeus, atrás apenas dos italianos, com dezenove campeões mundiais, mas à frente dos irlandeses, que tinham onze. Em 1928, os pugilistas judeus constituíam o maior grupo étnico entre os candidatos ao título nas dez divisões de peso. Nenhum outro grupo étnico ou religioso poderia ter sido objeto de uma obra como esse Stars in the Ring. Pois ninguém se entusiasma tanto quanto os judeus americanos com a performance atlética de pessoas da mesma religião. Ninguém pergunta, por >>
Além das biografias, o livro traz ensaios a respeito das consequências do boxe para os lutadores; o preparo de futuros lutadores antes jornaleiros e que defendiam seus territórios na rua; a era das Luvas de Ouro; o boxe no gueto de Xangai, em campos de concentração e em Israel
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magazine > boxe
>> exemplo, se o quarterback de futebol americano Peyton Manning é luterano, se o jogador de golfe Tiger Woods é católico, se o rebatedor de beisebol Buster Posey é presbiteriano? Para um atleta de alto nível ser judeu, porém, é uma questão de muito orgulho entre judeus. No século passado, principalmente, discutia-se muito se os grandes atletas eram judeus, afinal os judeus, o “Povo do Livro”, preferem não ser considerados como totalmente voltados aos livros? Um bem-sucedido atleta judeu demonstrando força e coragem física, complementa bem o sentido de integridade dos judeus como seres humanos. No entanto, não havia muitos atletas judeus de fato grandes e importantes. No caso dos Estados Unidos, Mike Silver coloca no hall da fama cinco nomes inquestionáveis: o campeão de boxe peso-leve, Benny Leonard; o quarterback dos Chicago Bears, Sid Luckman; o outfielder (jogador posicionado na parte do campo mais afastada do rebatedor) dos Detroit Tigers e primeiro baseman, Hank Greenberg; o arremessador dos Los Angeles Dodgers, Sandy Koufax e o nadador olímpico de muitas medalhas de ouro, Mark Spitz. Perto desse grupo de elite, mas nem tanto, Barney Ross; o elegante atacante da equipe de basquete profissional do Syracuse Nats, Dolph Schayes e o terceiro baseman de Cleveland Indians, Al Rosen. Em uma única e pequena sala de algum hotel caberia um Jewish Athletic Hall of Fame (Hall da Fama dos Atletas Judeus). Mas a sala também exigiria um amplo anexo para acomodar esquisitices atléticas judias: por exemplo, o receptor de beisebol Moe Berg, espião durante a Segunda Guerra, fluente em vários idiomas, graduado na Princeton Uni-
BARNEY ROSS PODE TER SIDO, SOB TODOS OS ASPECTOS, O MAIS NOTÁVEL PUGILISTA JUDEU AMERICANO
versity e na Columbia School of Law; ou Leach Cross (nascido Louis Wallach), o “Dentista Lutador”, que em uma noite amoleceu dois dentes de adversários e no dia seguinte os reparou; e muitos outros. No entanto, apesar da admiração masculina dos judeus pelos próprios atletas, Silver observa que durante anos o importante diário em língua ídiche Jewish Daily Forward nada relatava a respeito dos muitos boxeadores judeus bem-sucedidos. Mas, em 1923, não teve jeito e cedeu pois o campeonato dos pesos-leves foi decidido entre os judeus, Lew Tendler e Benny Leonard, conhecido como o “Mago do Gueto”. Até então, o jornal ignorara o esporte na crença de que os judeus deveriam se interessar por algo mais elevado, e o boxe era, digamos, coisa de goim (“gentios”).
Povo do Livro As várias divisões entre o cerebral e o físico, entre o sensível e o durão, entre o socialista e o empreendedor, entre judeus neuróticos e comuns têm sido, há muito tempo, interminável fonte de espanto, para não dizer de imensa diversão, para os Judenkenner (literalmente, “conhecedores do que são os judeus”), e reforça uma das melhores definições de judeus, a saber que são como todos os outros, apenas mais. Ainda assim, a ênfase na inteligência em oposição aos atributos físicos dos judeus é um estereótipo que perdura na consciência pública e, de fato, judaica. (E, de acordo com esse estereótipo, como já se disse, a verdadeira religião do judeu moderno é a dos diplomas.) Isso ignora o precedente macabeu do guerreiro judeu e da comprovada dureza e eficiência das Forças de Defesa de Israel, talvez a única instituição em grande escala deixada no mundo que pode reivindicar o cerebral e o físico. Os estereótipos também têm um quociente de verdade. No caso dos judeus, muitos pais judeus imigrantes teriam ficado desapontados ao descobrir que os filhos eram boxeadores profissionais. Alguns dos pugilistas presentes no livro, Frankie Callahan (nascido Samuel Holtzman), Eddie O’Keefe (nascido Morris Edward Paley) e Harry Stone (nascido Henry Siegstein) – trocaram os nomes não para deixarem o caráter judeu, mas para esconder suas carreiras no boxe dos pais do Velho Mundo. Ninguém, no entanto, poderia acusar um peso-pesado chamado Abie Israel de fazer o mesmo. Há muitos outros casos de mudança de nome, assim o peso-leve Herman Gold tornou-se “Oakland” Jimmy Duffy, o peso-médio júnior Morris Scheer transformou-se o segundo Callahan lutador, com o primeiro chamado Mushy (devido ao seu nome ídiche Moishe). O campeão peso-médio Jackie Fields chamava-se originalmente Jacob Finkelstein. Talvez a mudança mais bem elaborada de nome é do campeão peso-leve júnior em 1923, John Dodick que começou a carreira lutando sob o nome de “Kid” Murphy, e então virou novamente judeu, como Jack Bernstein, pois os pugilistas judeus se tornaram moda. Um produto acidental dos dias de glória do boxe foi a batalha da etnia, chauvinismo X chauvinismo. Judeu contra irlandês, ou irlandês contra italiano, davam um sabor a mais à luta. Deve ter sido assim quando Max “Slapsie Maxie” Rosenbloom lutou contra o muito goi Joe “Hambone” Kelly. E os judeus, principalmente os de Nova York, entre os maiores fãs do esporte, sabiam que os boxeadores às vezes lutaram para eles, enfatizando a sua condição judaica. Era comum a estrela de David em seus calções de boxe, como aquela usada pelo peso-pesado e apenas um quarto judeu Max Baer. O peso-leve inglês Harry Mizler usava calções com uma estrela de David do lado esquerdo e a Union Jack (bandeira da Inglaterra) à direita. O livro de Mike Silver menciona dois lutadores judeus que entraram no ringue usando talitim, um dos quais acrescentou um te-
filin corretamente enrolado no braço e testa. Supõe-se que os tenha removido assim que tocou o sino anunciando o primeiro round. Ao longo dos anos de intensa imigração judaica para a América e durante a Depressão, o boxe foi uma forma sedutora de os filhos das classes mais baixas ganharem a vida. Nas primeiras décadas do século 20, não havia eventos atléticos mais frequentados do que as lutas com prêmio em dinheiro, nem maior recompensa financeira entre atletas do que aquelas ganhas por pugilistas. Nem todos os garotos judeus que pisavam o ringue recebiam muito dinheiro no final da carreira. Mas se um deles lutasse regularmente – e a popularidade do esporte era tal que muitos lutadores tinham até duas ou três lutas por mês – estaria disponível uma renda respeitável. Vinte mil dólares por uma noite de trabalho não era incomum. Algumas biografias são mais longas. Claro, quanto maior o lutador, mais longa a biografia, por isso, longos textos tratando de Benny Leonard, “Slapsie Maxie” Rosenbloom (Slapsie porque esse pugilista dava tapas em vez de socar os oponentes, para não ferir as mãos e ficar sem condições de trabalhar) e Barney Ross. Muitas são pungentes nos detalhes no relato dos fins dos dias destes homens, depois do boxe. Carreiras pós-ringue variavam de motoristas de táxi a guarda-costas, de dirigir ginásios e spas a treinar atores sobre boxe e aparecer em filmes, de vendedores a proprietários de pequenas empresas, e em um caso notável – o do peso-mosca escocês Vic Herman – pintar retratos. De modo geral, a maioria dos lutadores judeus conseguiu manter uma vida estável e produtiva após o fim das carreiras de boxe. Tristes são os relatos de demência pugilística e outros distúrbios neurológicos, as mortes precoces e os mais pungentes de todos são os poucos exemplos de boxeadores judeus europeus cujas vidas terminaram em Auschwitz. >>
Os judeus sempre foram intermediários importantes no boxe, eram “promotores, gerentes, treinadores, cornermen, donos de ginásio, fabricantes de equipamentos e editores de revistas especializadas”, como Nat Fleischer, por exemplo, editor da revista The Ring e, por décadas, comissário não reconhecido de boxe
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magazine > boxe BENNY LEONARD TAMBÉM ERA CONHECIDO COMO O
“MAGO DO GUETO”
>> Judeus mesmo? Muitos judeus eram boxeadores, mas seriam, de fato, judeus? Notável exceção entre os boxeadores foi Barney Ross, cujo pai, Isidore Rasofsky, como quase todos, era imigrante judeu, e devoto, “um erudito talmúdico”. Nenhuma vida parece ter sido tão dividida entre glória e tristeza como a de Barney Ross. O pai foi assassinado por um ladrão na sua pequena mercearia, a mãe teve um colapso nervoso, e os filhos foram dispersos entre parentes e orfanatos. Três vezes campeão, fuzileiro naval condecorado e alguém que sabia ganhar muito dinheiro, Ross também sofria de quase todos os vícios: nicotina, bebida, jogo de cavalos, drogas pesadas, como heroína, por exemplo, que lhe custava quinhentos dólares diários, vício que adquirira depois que se tornou viciado em morfina ministrada a ele pelos ferimentos durante combates em Guadalcanal. Não se sabe se Ross voltou-se para a religião paterna por causa dos problemas ou por piedade pela família. De todo modo, levou o judaísmo tão a sério que até começou a usar o tzitzit (pequeno talit) sob os ternos. Barney Ross foi também um sionista e um dos primeiros partidários de Israel, trabalhando com a Liga Americana para uma Palestina Livre, ajudando a contrabandear armas para os judeus e levantando centenas de milhares de dólares para o novo estado. Barney Ross morreu, aos 57 anos, de câncer de pulmão. A grande maioria dos boxeadores judeus lutou nas divisões de peso mais leve: galo, mosca, leve, meio-pesado júnior e meio-pesado e de uma lista de “Os 25 melhores pugilistas judeus de todos os tempos”, apenas quatro eram da categoria meio-pesados ou mais. Naturalmente podia ter um soco forte mesmo pesando 50,8 quilos, e alguns dos
pugilistas judeus listados tiveram índices elevados de nocautes nas carreiras, mas as divisões mais leves exigiam velocidade e destreza geral. Cérebro mais que músculo parece ter sido a tendência dos pugilistas judeus. O maior de todos os boxeadores judeus foi Benny Leonard, 1m40 de altura pesava entre 59 e 69 quilos. Um brilhante boxeador com “o coração de um guerreiro”, cujo soco direito “era devastador” e que deixou o esporte após 219 lutas. Ele arbitrava um combate em 1947, e morreu fulminado por um ataque cardíaco com a idade de 51 anos. O último capítulo de Stars in the Ring é um relato doloroso de como o boxe se tornou “um esporte marginalizado e degradado” e as razões são várias: começam no topo, ou melhor, pelo fato de que não existe topo. O boxe é um esporte sem um responsável claro, o que permitiu o florescimento de várias organizações e federações rivais, cada uma criando seus próprios títulos e novas divisões de peso. Resultado: ninguém sabe quem é o campeão de qualquer peso em particular, e sobram títulos por aí. O boxe entrou em decadência durante e pouco depois da Segunda Guerra, quando muitos lutadores jovens e alguns já vencedores partiram para a guerra, embora a televisão parecia ter ressuscitado o esporte na década de 1950. Mas a televisão, porém, teve suas próprias complicações e apesar de trazer audiência de milhões de pessoas para o boxe, também ajudou a matar os clubes de boxe e as pequenas arenas. Afinal, por que pagar para assistir uma luta ao vivo, quando se pode vê-la de graça na televisão? O efeito foi privar os lutadores novatos de trabalho e, mais importante, da experiência necessária para adquirir habilidade no negócio. O começo do fim A queixa principal é que os lutadores surgidos depois dos primeiros anos da década de 1950 simplesmente estavam longe da qualidade, em todos os sentidos, daqueles que os antecederam. Floyd Mayweather Jr., por exemplo, geralmente considerado o melhor boxeador puro contemporâneo, é descrito como alguém que usa a rapidez para superar lutadores com habilidades de terceira categoria, mas lhe faltava a verdadeira inteligência estratégica e a chamada “astúcia no ringue”. A razão está na falta de bons técnicos e treinadores e de experiência dos lutadores que, na era da televisão, não lutaram o suficiente para aprender as múltiplas sutilezas do negócio de lutar boxe. “Comparar o que era o boxe e no que se tornou agora, é como o jogo de damas comparado ao xadrez”, diz o neurocientista Ted Lidsky, um antigo pugilista amador. À medida que a habilidade entre os pugilistas diminuía, o próprio esporte encontrou novos concorrentes em termos de audiência, como o basquete profissional e o futebol americano profissional. Não ajudou a interferência do crime organizado, de modo a que somente lutadores ligados a ele tivessem as melhores lutas na televisão. Ainda pior foi o papel dos pro-
motores Bob Arum e Don King, que, ao organizar lutas desiguais e agendar lutas supervalorizadas pelo título via televisão, contribuíram bastante para fazer do boxe o esporte maltrapilho que parece ser hoje. O próprio progresso trabalha contra o futuro do boxe. Com a duradoura prosperidade norte-americana, iniciada depois da Segunda Guerra, os antigos grupos étnicos – judeus, italianos, irlandeses – deixaram de precisar desse esporte para melhorar a condição de vida e a prosperidade e a promessa da América não precisa assumir mais a feição de um nariz quebrado ou orelha de couve-flor. A grande maioria dos boxeadores da atualidade é composta de afro-americanos e hispânicos. Com o alarme atual e bastante legítimo a respeito de ferimentos na cabeça provocados pelo futebol americano, o futuro do implacável e devastador esporte do boxe, em que atacar a cabeça do adversário é geralmente a prioridade, está mais ameaçado. O último grande campeão de boxe judeu chamava-se Mike Rossman, um peso-pesado ligeiro e o primeiro lutador judeu-americano a ganhar um título em quarenta anos – ganhou em 1978 e perdeu sete meses depois. Poucos ouviram falar nele e em dois boxeadores russos da atual safra, Yuri Foreman e Dmitriy Salita, ambos judeus ortodoxos. Por isso, a maioria dos jovens de hoje provavelmente desconhece que os judeus sempre desempenharam um papel importante em um esporte imensamente popular que é importante o suficiente para dar aos grupos étnicos seus primeiros heróis americanos. O livro de Silver é importante para documentar as realizações dos boxeadores judeus e, assim, as gerações futuras possam reconhecer e apreciar como um povo sem tradição atlética, e com tantas portas fechadas, usou a inteligência e a unidade para abrir outra porta à oportunidade e dominar, tanto na condição de atletas como de empresários, o que foi durante décadas o esporte mais popular na América.
À medida que a habilidade entre os pugilistas diminuía, o próprio esporte encontrou novos concorrentes em termos de audiência, como o basquete profissional e o futebol americano profissional
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magazine > holocausto | por Jordan Kutzik
O SEMER ENSEMBLE É FORMADO POR PROFESSORES DE VÁRIOS PAÍSES DA EUROPA E A MÚSICA KLEZMER NAS VEIAS
A música recuperada da Kristallnacht HIRSCH LEWIN PASSOU SEIS MESES SENDO TORTURADO NO CAMPO DE
CONCENTRAÇÃO DE SACHSENHAUSEN, E LOGO DEPOIS FOI DEPORTADO DA
ALEMANHA. ERA 1940. SETENTA E SEIS ANOS DEPOIS, MÚSICOS DE BERLIM
LANÇARAM UM ÁLBUM DA MÚSICA
QUE ELE PRODUZIRA
M
esmo quando fundou sua gravadora Semer (de zemer, “canção”, em hebraico), em 1932, como uma seção de sua livraria especializada em judaísmo Hebräische Buchhandlung, Hirsch Lewin ( foto página ao lado) já havia percebido que a música judaica na Alemanha estava seriamente ameaçada pelas sombras do nazismo. No entanto, nos cinco anos e meio seguintes, a Semer lançaria centenas de gravações em uma variedade de estilos e gêneros: canções folclóricas ídiches e russas, música de sinagoga, hits de jazz popular e cabaré alemão, shows de comédia em ídiche e até árias italianas. Ironicamente, o racismo nazista pode, em parte, levar o crédito pela diversidade dos estilos musicais da gravadora: origi-
nalmente, Lewin planejou gravar música judaica, imaginando se concentrar em gêneros tipicamente judeus, como música de sinagoga e canções folclóricas ídiches. Como o regime nazista proibia aos músicos judeus de tocar ou gravar para alemães arianos, estes artistas de todas as variedades musicais imagináveis foram forçados a gravar para a Semer e outras gravadoras judaicas. Os músicos não só eram segregados pelas leis raciais nazistas, mas qualquer coisa executada por um judeu, fosse uma oração de Shabat em hebraico, um concerto de violino clássico ou um número musical em língua alemã, era considerada gravação judaica. Nesse ambiente, o selo de Lewin gravou tanto cantores de música claramente judaica, como o talentoso cantor Israel Bakon e artistas de gêneros muito mais distantes, como o cantor de cabaré Willy Rosen, que em tempos melhores fora um dos artistas mais populares da Alemanha. Os temores de Lewin a respeito do futuro da música judaica na Alemanha foram confirmados na Kristallnacht, ao ver os nazistas queimarem mais de 4.500 de suas gravações em uma pira erguida na frente da loja, e cujas chamas se confundiam com as das sinagogas nas proximidades do bairro de Scheunenviertel, em grande parte habitado por imigrantes judeus. O dia 9 de novembro de 1938 marcou não apenas o fim da Semer Records de Lewin, mas também os momentos finais da única e cosmopolita Berlim judaica, famosa por resumir a cultura das tradições da Europa Oriental e Ocidental. Como muitos dos judeus poloneses de Scheunenviertel, Lewin foi levado preso para um campo de concentração em seguida à Kristallnacht, e depois deportado. Ficou pouco tempo na Tchecoslováquia, conseguiu obter uma vaga em um navio com destino à Palestina do então Mandato Britânico. Mas o navio afundou pouco depois de zarpar, ao largo da costa da Itália e Lewin, mais centenas de refugiados judeus, foi preso pela guarda costeira italiana. Mas da Itália, Lewin finalmente chegou à Palestina, onde se reuniu à mulher Rodla e os filhos Wolf (hoje Zeev) e Rifka, em julho de 1944. Com Zeev, ele recriou a Semer Records em Israel e administrou o negócio até morrer, em 1958. De volta das cinzas Embora a gravadora Semer tenha ressuscitado no Estado judeu, estava longe da continuação completa de sua era berlinense porque todas as gravações originais foram destruídas pelos alemães e a maior parte do catálogo da empresa era impossível de se obter. Além disso, os artistas do selo tiveram o mesmo destino que sua música: o cantor de sinagoga Israel Bakon foi assassinado no campo de Belzec, em 1943, com mulher e filho; Willy Rosen em Auschwitz, em 1944. Durante quase cinquenta anos, pareceu que as vozes dos cantores judeus assassinados desapareceram para sempre engolidas pelas chamas das piras nazistas na frente da loja de Hirsch Lewin. No entanto, as gravações tinham sido muito mais amplamente distribuídas do que se imaginava e quase
todas sobreviveram em lugares distantes e muitas vezes inesperados. De 1992 a 2001, o musicólogo alemão Rainer E. Lotz vasculhou o planeta para reconstituir o catálogo da Semer. Depois de anos em arquivos e em lojas de discos, a Bear Family Records lançou uma grande coleção de 267 gravações que a Semer e gravadoras judaicas semelhantes lançaram na Alemanha antes da Segunda Guerra. Seleções das gravações foram incluídas em uma exposição a respeito de migrantes judeus da Europa Oriental em Berlim no Museu Judaico da cidade, em 2012. O cantor em ídiche Fabian Schnedler, que trabalha para o Departamento de Educação do museu, decidiu organizar um concerto com canções lançadas pela Semer na década de 1930. Mas encontrar músicos capazes de executar este repertório, especializado em uma ampla variedade de estilos musicais, não foi uma tarefa fácil. Para enfrentar o desafio, o Museu Judaico encomendou ao compositor e acordeonista norte-americano Alan Bern, a formação de um conjunto. Mas quem escolher para formar o conjunto, se perguntou Bern. Ele procurou um pessoal com quem trabalhou há mais de trinta anos, como Lorin Sklamberg, o vocalista do Klezmatics, e outros músicos “de confiança na capacidade de cantar em diferentes estilos, cuidadosas com a tradição e em condições de se afastar um pouco dela e ser original.” Bern vive em Berlim desde 1987 e isso influenciou na escolha dos músicos que, com exceção de Sklamberg, já moravam em Berlim. Até há dez anos teria sido impossível reunir estas pessoas que têm a vantagem de se interessar pela história da música judaica, formando uma espécie de revival de um padrão cultural que não existia em Berlim desde os anos 1930. Assim como os músicos que originalmente gravaram para a Semer na década de 1930, muitos membros do Semer Ensemble foram atraídos a Berlim pelo seu caráter cosmopolita. Além de Bern, o trompetista Paul Brody e o músico >>
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magazine > holocausto ALAN BERN, O ACORDEONISTA QUE VEIO DE INDIANA, NOS EUA, PARA BERLIM
>> punk klezmer Daniel Kahn também são originários dos Estados Unidos. O violinista Mark Kovnatskiy é da Rússia e Sasha Lurje, uma cantora ídiche versátil que vai da música folclórica ao rock psicodélico, é originária da Letônia. E mais o cantor em ídiche Fabian Schnedler, que originalmente concebeu o conjunto, e o baixista Martin Lillich, conhecido por tocar uma grande variedade de gêneros musicais, incluindo jazz, música clássica, africana, ibérica e grega. “Antes dos nazistas, provavelmente Berlim era a cidade mais progressista e culturalmente diversa, em termos de política, gênero, imigrantes, etc.”, disse Bern “e a Berlim de hoje revive essa tradição, de ser transcultural em Berlim.” Resgate de valores Todos os integrantes do Semer Ensemble já foram professores no Yiddish Summer Weimar, um festival de cinco semanas de artes klezmer e judaicas que Bern fundou em 1999. Foi durante o Yiddish Summer Weimar, em 2012, que o grupo executou pela primeira vez parte do repertório original da gravadora de antes do nazismo. Desde então, o Semer Ensemble aprendeu mais de trinta canções do catálogo do selo e as apresentou em shows em Varsóvia, Copenhague, Lviv e muitas outras cidades europeias. O grupo apresentou-se no Klezkanada, um festival klezmer nas Montanhas Laurencianas, e no Festival Ashkenaz, em Toronto. Parte do repertório do Semer Ensemble pode ser ouvida no álbum do grupo Rescued Treasure, recentemente lançado pela gravadora alemã Piranha, gravado ao vivo em apresentações no Teatro Maxim Gorki, de Berlim. Como as músicas que Max Lewin gravou na década de 1930, as doze faixas incluídas no álbum representam uma grande variedade de gêneros e estilos. A canção Im Gasthof zur Goldenen Schnecke (“Na Pousada
do Caracol Dourado”) de Willy Rosen, e que a gravou originalmente em um porão da sinagoga em 1935 porque, como judeu, não podia usar um estúdio de gravação. A nova versão, como a tomada original de Rosen para a Lukraphon Records, outra gravadora judia de Berlim da era nazista, não revela sinais da situação em que foi gravada, muito menos do trágico destino do cantor. Outra canção originalmente gravada por uma estrela pop alemã é a magistral interpretação de Sasha Lurje Die Welt Ist Klein Geworden (“O Mundo Tornou-se Pequeno”), de Dora Gerson. A ex-estrela de cinema e cantora de cabaré gravou originalmente a música durante a mesma sessão de sinagoga no porão em que Willy Rosen cantou Im Gasthof zur Goldenen Schnecke. O número de cabaré, com letra do libreto de Fred Endrikat, era mais adequado às circunstâncias trágicas sob as quais foi gravado do que o número de Rosen. Die Welt Ist Klein Geworden explora o paradoxo de que as pessoas na década de 1930 poderiam voar ao redor do mundo e se comunicar instantaneamente entre os continentes, ao mesmo tempo em que a humanidade estava rapidamente se tornando mais violenta e menos compreensiva. Gerson foi assassinada em Auschwitz em 1943 com o marido e dois filhos. “É uma maneira mais contemporânea de expressar desespero”, disse Bern. “Algumas das gravações estão longe do original, algumas estão muito próximas. É um equilíbrio. Se todas soassem iguais, não valeria a pena fazer novas versões. Se todas soassem diferentes, então não valeria a pena registrá-las novamente. É um diálogo entre o passado e o futuro, com diferentes abordagens falando entre si.”
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magazine > a palavra | por Philologos
HILLARY E TRUMP OU, SEGUNDO A GEMATRIA, “MULHER AMALEQUITA” E “MESSIAS, FILHO DE DAVID”. ACREDITE QUEM QUISER...
A gematria de Hillary e Trump A PRÁTICA DA GEMATRIA FOI ORIGINALMENTE
EMPRESTADA DOS GREGOS ANTIGOS QUE TAMBÉM USARAM A NUMEROLOGIA OCULTA DE SEU
ALFABETO. ALIÁS, A PALAVRA HEBRAICA GEMATRIA
FOI TIRADA DO TERMO GREGO PARA “MEDIÇÃO DA
TERRA”, ISTO É, GEOMETRIA
D
escobriu-se que, durante a campanha eleitoral americana, o ano passado, algumas pessoas se aventuraram em saber qual a gematria de Donald Trump e Hillary Clinton e descobriram que a de Trump é “o Messias, fi lho de Davi”: = משיח בן דוד424 = טראמפ דונלדe a de Hillary, הילריe = קלינטון255, uma malekiyah, uma mulher amalequita. Na Bíblia, os amalequitas, são arqui-inimigos dos israelitas, e na tradição judaica se tornaram símbolo do mal antissemita. Diante disso, em quem os judeus dos Estados Unidos deveriam ter votado. Embora isso tenha sido escrito de brincadeira, nunca se pode ter certeza. A gematria é o costume de calcular e comparar os valores aritméticos das palavras hebraicas para alcançar verdades supostamente ocultas nelas, se presta ao absurdo da mesma forma que todas as outras formas de numerologia. Baseia-se no fato de que as letras hebraicas de alef a yod tradicionalmente representam os números de um a dez; aquelas
de kaf a kuf vão de vinte a cem; e resh, shin e taf representam duzentos, trezentos, e quatrocentos. Desta forma, ao se colocar letras no início de sequências para representar milhares, é possível escrever qualquer número desejado. Por exemplo: se 776 é taf-shin-ayin-vav. Com o heh, a quinta letra do alfabeto, na frente, torna-se 5716, aliás a maneira completa de escrever o ano passado do calendário judaico. Embora impraticável para operações matemáticas, este método é bom para escrever números simples. A prática da gematria foi originalmente emprestada dos gregos antigos que, desde o tempo de Pitágoras, também usaram a numerologia oculta de seu alfabeto. Aliás, a palavra hebraica gematria foi tirada do termo grego para “medição da terra”, isto é, geometria, porque os gregos usavam as letras para marcar seções geométricas e as proporções aritméticas entre elas. Há muitos casos dela no Talmud. Exemplo típico, encontrado no tratado de N’darim, começa com uma discussão de um versículo em Gênesis 14 em que Abraão, com o sobrinho Ló capturado na batalha, é descrito como tendo “treinado seus criados nascidos em sua própria casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu [captores de Ló]”. Isso intrigou os rabinos, pois, além do leal empregado Eliézer, a Bíblia anteriormente não mencionara que Abraão tivesse servos, muito menos tantos assim. Tentando resolver essa questão, o N’darim especula que o número 318, sendo a soma das letras alef (1), lamed (30), yod (10), ayin (70), zayin (7) e resh (200) com as quais se escreve o nome de Eliézer, é uma referência codificada apenas para ele. Segue uma segunda gematria pela qual Abraão, que segundo a Bíblia morreu com cento e setenta e cinco anos, começou a adorar a Deus desde quando era uma criança de 3 anos. A prova? Em Gênesis 26, o Senhor diz a Isaac: “Farei que a tua descendência se multiplique como as estrelas do céu... Porque [ekev] Abraão obedeceu a minha voz e manteve o meu encargo”. Uma vez que o valor numérico das letras ayin (70), kuf (100) e bet (2) que se soletra ekev é 172, a conclusão é que toda a vida Abraão serviu a Deus menos nos três primeiros anos. Essas gematrias eram, claro, arbitrárias (afinal, por que escolher ekev em vez de alguma outra palavra no versículo?) e não se pode dizer que foram levadas muito a sério pelos rabinos do Talmud, que as propuseram como exercício lúdico. Reconhecendo isso, o exegeta bíblico do século 12 e arquirracionalista Abraham ibn Ezra, comentando a respeito de Gênesis 14, afirmou que “a soma das letras de Eliézer é apenas uma homilia, porque a Escritura não recorre à gematria. Quem quiser, pode [ao usá-la] obter qualquer nome para significar qualquer coisa. Os nomes são apenas nomes”. No entanto, na Idade Média esta era uma visão incomum. Mesmo Maimônides, contemporâneo de Ezra, e não menos racionalista em sua abordagem das Escrituras, discordou dela. Em sua Epístola ao Iêmen, longa carta aberta que procurava acalmar a febre messiânica que então grassava entre os judeus
perseguidos daquele país, escreveu: “Há versos na Torá que contêm alusões enigmáticas, além de seu significado simples. Por exemplo, o termo r’du [‘descer’] nas palavras de Jacó a seus filhos “Desce para lá [‘para o Egito’]” tem o valor numérico de 210 e contém uma dica do número [dos anos] da estada de Israel no Egito.” De fato, com o passar do tempo, particularmente com o advento da Cabala, o uso da gematria cresceu cada vez mais, tanto como forma de suscitar mistérios cabalísticos e forma de prever o futuro numa era incendiada por expectativas messiânicas. Na última parte do século 16, por exemplo, espalhou-se a noção em círculos cabalísticos que o ano da redenção estava próximo, com base na declaração enigmática em Gênesis 49:10, “O cajado não se apartará de Judá... até que Shiloh venha”. Na medida em que a shin (300), lamed (30) e heh (5) de Shiloh somam 335, a vinda do messias foi profetizada para o ano hebreu de 5335, o ano cristão 1575. Como isso não se materializou, um novo cálculo construído sobre a gematria de mashia, “messias”, empurrou a data para depois de 1598. O que se leu no primeiro parágrafo vai nesta tradição. Mas, como Abraham Ibn Ezra observou sabiamente, a gematria pode fazer uma palavra ou nome resultar em quase qualquer significado. Além de “Messias, filho de David”, o valor de 424 de Donald Trump também nos dá me’umad ra (40 + 70 + 40 + 4 + 200 + 70), “um mau candidato”), eshed-lets (300+4+30+90), “palhaço demônio”. E Hillary Clinton? Bem, t’hi malká (400 + 5 + 10 + 40 + 30 + 20 + 5), “Ela será rainha”, acrescenta ao combinado 510 de seu primeiro e último nome. Se não for levada a sério, a gematria pode ser uma forma ligeiramente divertida de exercício numérico. Uma sugestão: na próxima vez que você não conseguir adormecer à noite experimente a gematria em vez de contar carneiros. A garantia é de que vai funcionar rapidamente.
O exegeta bíblico do século 12 e arquirracionalista Abraham ibn Ezra, comentando a respeito de Gênesis 14, afirmou que “a soma das letras de Eliézer é apenas uma homilia, porque a Escritura não recorre à gematria. Quem quiser, pode [ao usá-la] obter qualquer nome para significar qualquer coisa”
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por Bernardo Lerer
Boca de Cena J. Guinsburg | Editora da USP | 548 pp. | R$ 54,00
O notável Jacó Guinsburg e sua mulher Gita conseguiram juntar num só volume tudo, ou quase, a respeito do teatro. Ao tratar da relação texto-cena os autores acabam contando e, de certa forma, avaliando, as realizações de dramaturgos, encenadores e realizações cênicas, isto é, apresentações abertas ao público de modo a apresentar caminhos interpretativos para melhor compreender essa manifestação artística já milenar. Por isso, chama a atenção para a crítica teatral e os mestres nessa arte, aqui no Brasil. Notem o papel e a presença do judeu, nas suas mais diversas formas, no teatro brasileiro.
Histórias da Gente Brasileira – Volume II – Império Mary del Priore | LeYa | 514 pp. | R$ 32,94
Depois do primeiro volume dedicado ao Brasil Colônia, desta vez a historiadora mostra o dia-a-dia dos brasileiros e da sociedade em formação. Relata mudanças nas relações familiares, entre senhores e escravos e patrões e empregados. O amor começa a florescer nos casamentos ao contrário dos interesses econômicos. Mostra como viviam as pessoas, como falavam e o que pensavam. Talvez sua leitura ajude a entender muito do que aconteceu séculos depois.
A Tortura como Arma de Guerra Leneide Duarte-Plon | Civilização Brasileira | 293 pp. | R$ 31,10
A autora exilou-se na França durante a ditadura civil-militar não voltou mais para o Brasil, tornou-se estudiosa de conflitos e repressões e isso lhe possibilitou escrever a respeito desse tema do qual os franceses se tornaram verdadeiros mestres e a guerra da Argélia o laboratório das tenebrosas experiências em sevícias e torturas cujos métodos se espalharam pelo mundo, o Brasil principalmente.
O Tribunal da Quinta-Feira
Os Investigadores
Michel Laub | Companhia das Letras | 183 pp. | R$ 34,90
Daniel J. Boorstin | Civilização Brasileira | 416 pp. | R$ 62,90
Michel nasceu em Porto Alegre, vive em São Paulo e já cansou de acumular prêmios e mais prêmios literários. Neste, um publicitário conta os segredos por e-mail ao melhor amigo em textos que tratam de sexo, amor, casamento e traição, temas que dizem respeito à sua própria vida pessoal. A ex-mulher descobre, manda para meia dúzia de destinatários e tem início um escândalo. O fio condutor da trama que une o destino dos personagens diante de um tribunal inusitado são os reflexos tardios e incômodos da epidemia da aids.
Este é o título do último volume de uma trilogia – os dois anteriores foram Os Descobridores e Os Criadores – e que mostra a busca do homem para compreender o mundo e é um importante e sintético guia a respeito das grandes figuras da história que investigaram o sentido e o objetivo da nossa existência. O leitor tem acesso a um conhecimento enciclopédico acerca das principais ideias filosóficas que formaram o que conhecemos como civilização ocidental.
Meshugá
Gestapo
Jacques Fux | José Olympio | 196 pp. | R$ 32,90
Frank McDonough | LeYa | 286 pp. | R$ 27,80
Este mineiro venceu o Prêmio São Paulo de Literatura de 2013 com o livro Antiterapias, mas é com este que recebe elogios da crítica e do público. O romance reinventa a vida e a obra de personalidades, como a Sarah Kofman e o cineasta Woody Allen, com o objetivo de desvelar os mistérios da insanidade, do auto-ódio, do olhar perverso do outro e do erotismo. O narrador mistura dados históricos, literários e ficcionais, entra na mente dos protagonistas, e eis um ensaio sobre a loucura.
Com o subtítulo “Mito e Realidade na Polícia Secreta de Hitler”, o autor conta a história da Geheime Staatspolizei (Gestapo) e analisa a polícia secreta nazista entre 1933 e 1945 somente em território alemão e assim revela o impacto da instituição sobre os cidadãos alemães sob o domínio de Hitler, conta métodos e antecedentes dos funcionários e trata das principais vítimas do terror nazista: judeus, dissidentes religiosos, comunistas e marginais sociais. Um livro necessário.
Palavra de Médico – Ciência, Saúde e Estilo de Vida
O Grande Culpado Viktor Suvorov | Manole Editora | 399 pp. | R$ 72,00
Se já era conhecido pelos livros e por seu trabalho junto aos detentos das Casa de Detenção, até os anos 1990, depois que passou a fazer parte dos quadros fixos do “Fantástico”, virou personalidade nacional e seus conselhos médicos seguidos como guia espiritual. Aqui, numa espécie de consultório informal, responde a perguntas a respeito de como vencer a obesidade, se tomar vitaminas faz bem à saúde, se comer carne vermelha faz mal, etc.
Este é o pseudônimo de Vladimir Rezun, nascido na União Soviética, de cujo exército foi oficial e serviu na inteligência militar. Um dia, em Genebra, desertou para Londres onde se estabeleceu como analista de inteligência. Com base em documentos oficiais, sustenta que Stalin invadiria a Alemanha em agosto de 1941 quando já teria montado o maior e melhor exército do mundo. Hitler agiu em setembro de 1939 e dois anos depois invadiu a União Soviética.
Jango e Eu
Volto ao Anoitecer
João Vicente Goulart | Civilização Brasileira | 347 pp. | R$ 59,90
Aharon Appelfeld | FTD Educação | 128 pp. | R$ 42,00
João Vicente nasceu em 1956 quando o pai, Jango, já era um político importante que cinco anos depois assumiria a presidência da República com a renúncia de Jânio e quando tinha 8 anos, seria derrubado por um golpe civil–militar do qual derivou uma ditadura de 21 anos. Já adolescente, o autor se transformaria em espectador privilegiado, quase personagem, da vida da família no exílio, durante doze anos, de 1964 a 1976. Vale a pena ler.
Autor de mais de vinte livros a respeito da vida dos judeus na Europa antes e durante o Holocausto, tinha 9 anos quando os nazistas mataram a mãe e o mandaram com o pai para um campo de concentração. Fugiu, reencontrou o pai anos depois e imigrou para Israel. É o primeiro livro infantil traduzido para o português e trata de dois meninos que sobrevivem à Segunda Guerra juntos numa floresta. Lá aprendem a sobreviver e conhecem todo tipo de gente. Quase a vida do autor que também vagou três anos por florestas ao fugir do campo.
Dráuzio Varella | Companhia das Letras | 194 pp. | R$ 39,90
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magazine > entrevista | por Bernardo Lerer
Sidney Klajner, o novo presidente do Einstein QUALQUER PESQUISA ENTRE A POPULAÇÃO PAULISTANA INDICARIA QUE
OS ENTREVISTADOS LIGAM HEBRAICA A JUDEUS E JUDAÍSMO. E ISSO VALE
TAMBÉM PARA O HOSPITAL ALBERT EINSTEIN. NÃO APENAS PORQUE LÁ ESTÁ UM VISTOSO “ISRAELITA”, MAS PORQUE O EINSTEIN É UM HOSPITAL QUE OS
JUDEUS CONSTRUÍRAM PARA USUFRUTO DA SOCIEDADE COMO UM TODO
P
or isso, o novo presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, Sidney Klajner, cirurgião, pode dizer que “o hospital é um ativo da comunidade judaica do Brasil”. Dez anos antes de Sidney nascer, em 1967, o hospital que começou a ser construído nos anos 1950, já funcionava. Ele entrou a primeira vez no pioneiro dos atuais quatro edifícios em 1992, aos 25 anos, dois depois de se formar na USP. Atualmente, na tarefa de gerir um complexo de milhares de funcionários e orçamento fantástico, mas sem perder a medicina de vista, marca as cirurgias para as seis e meia da manhã, pelo menos duas vezes por semana. Sai da sala cirúrgica, toma banho, atravessa corredores e vai para a sua, por enquanto pequena sala que divide com a secretária Maria Cristina que herdou do antecessor, Cláudio Lottenberg. Cláudio foi presidente do hospital durante quinze anos, de dezembro de 2001 até dezembro passado, quando uma espécie de colégio de líderes do hospital elegeu Sidney por aclamação para um mandato de seis anos. Nesse período, ele dará início às obras de construção da Escola de Medicina ligada ao hospital tal como, aliás, já previam seus pioneiros fundadores, e inaugurá-la em 2019. De mãos dadas Se o hospital já era admirado pela excelência dos serviços prestados, tornou-se ainda mais conhecido como entidade fi-
lantrópica, associando-se como agente imbuído de espírito público em eventos nos quais podia aplicar seus conhecimentos e experiência. Foi assim, por exemplo, no surto de meningite na década de 1970, no terremoto do Haiti, em janeiro de 2010, e na capacitação para se envolver em ações humanitárias na África. Da mesma forma, médicos e enfermeiros do hospital podiam ser vistos no atendimento a vítimas de enchentes de proporções bíblicas pelo Brasil. Além de administrar o hospital, provê-lo do melhor em tecnologia e de forma pioneira, cercar-se dos mais habilitados profissionais e estabelecer protocolos médicos que se tornaram regra, os antecessores de Sidney também atuaram politicamente. Isso explica porque, convidados, altos dignitários da Nação, sempre aceitavam participar de solenidades. “A presidência de uma Sociedade como a nossa é também um cargo político. Para a boa, correta e honesta administração, a atividade política também se faz necessária”, afirma Sidney Klajner [leia entrevista completa a seguir]. Sidney fez do primário ao colegial no Colégio Bialik, era assíduo frequentador da Hebraica e dançava em um dos grupos do Carmel onde conheceu a mulher, Meiry, com quem tem dois filhos. Uma das imagens do vídeo de apresen-
tação para a liderança do hospital mostra Klajner dançando com a mulher em um festival na Hebraica. Nos dezoito anos que separam o dia de 1998 em que Sidney entrou no hospital para se candidatar a uma vaga de médico, até a data de sua eleição, Sidney foi se preparando, sem o saber, e sendo preparado, sem que ninguém imaginasse, para algum dia, talvez, ser o novo presidente do hospital, substituindo Cláudio Lottenberg, que soube juntar experiência e presença em atividades comunitárias, entre outras, como diretor de Juventude da Hebraica, com atuação e sabedoria política. Exemplo disso é a deferência como o então presidente Lula o tratava e, ao mesmo tempo, era convidado – e aceitou, ainda que por breve período – ser secretário da Saúde de José Serra prefeito. Este desempenho teve dois beneficiários diretos: a comunidade judaica e o hospital como sua expressão. Afinal, o hospital é uma das formas como os judeus do Brasil manifestam seus princípios de solidariedade, fraternidade, justiça social e responsabilidade coletiva. Sidney frequentou cursos e participou de vários grupos de trabalho que diziam respeito à administração de um hos-
O NOVO PRESIDENTE, COM CLÁUDIO LOTTENBERG, NA ASSEMBLÉIA DE LIDERANÇAS DO HOSPITAL, EM DEZEMBRO PASSADO
pital do porte de um Albert Einstein e com os projetos e objetivos de se tornar o mais avançado em qualidade a ponto de ser o primeiro hospital brasileiro, em 1999, a ser acreditado pela rigorosa Joint Committee. Desde então, as paredes das salas próximas da presidência passaram a ser cobertas por diplomas e certificações. Em 2005/2006, Cláudio sugeriu que ele se envolvesse mais diretamente com a administração do hospital e passou a fazer parte da diretoria vogal, quadrinho do organograma logo abaixo da vice-presidência. Cinco anos depois, foi convidado para assumir a vice-presidência de Qualidade, Assistência e Prática Médica que, no jargão de um hospital, corresponde a gerenciá-lo. Era o sinal de que poderia vir a ser o novo presidente da instituição. >>
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Continuar a ação social e política Hebraica – Qual deverá ser a tua marca, o que vai caracterizar tua gestão e por o que ela vai se notabilizar? Sidney Klajner – O cenário da saúde em todo o mundo apresenta desafios que colocam em risco a sustentabilidade de qualquer sistema de saúde, exigindo porcentagens e comprometimento cada vez maiores do PIB. No Brasil, a situação é ainda mais grave em razão da crise macroeconômica e política, de questões relacionadas ao envelhecimento da população, manejo de doenças crônicas, aquisição de novas tecnologias e gestão de todo o sistema. Se não conseguirmos compreender as mudanças que deverão ocorrer, podemos colocar em risco a sustentabilidade e existência de nosso próprio sistema. Como vice-presidente de Qualidade e Assistência e Prática Médica, já há alguns anos venho trabalhando na organização deste sistema e na preparação destas mudanças que serão inevitáveis, como a obrigatoriedade de sermos mais eficientes, evitar desperdícios, tratamentos desnecessários e complicações previsíveis. O paciente deverá também cuidar da prevenção das doenças e da manutenção de sua saúde por meio de conhecimento acerca de suas condições e o poder para a tomada de decisão. Para tanto, é também nossa obrigação prover as informações necessárias, educá-lo do ponto de vista médico, com a utilização de tecnologia, mobilidade, plataformas, etc. De que forma pretende implantar teu projeto? Klajner – Para poder “entregar” de maneira apropriada o modelo assistencial que se fará necessário, teremos de ter um corpo clínico formado por médicos engajados, que atuem em equipe, com práticas homogêneas e padronizadas, já estabelecidas pela literatura científica e comunidade médica como as melhores para cada paciente naquela condição. Isto existe e chamamos de “medicina baseada em evidência”. Com este objetivo, já há algum tempo venho cuidando da organização do corpo clínico, com base em grupos multidisciplinares, para devolver ao médico a liderança de sua prática, não mais cabendo apenas à liderança do hospital. Trata-se da formação dos Grupos Médicos Assistenciais (GMA’s) que unem os médicos em torno de doenças, condições de saúde, faixas etárias, etc., e não mais exclusivamente em torno de especialidades médicas. Nestes grupos são decididas as práticas, os modelos de atuação, as escolhas de tecnologias e de dispositivos médicos, equipamentos e materiais cirúrgicos, propostas de pesquisa e ensino, simpósios e congressos, atribuindo a liderança da prática aos próprios médicos.
Um trabalho em equipe? Klajner – Espero marcar minha gestão positivamente por meio de uma assistência médica melhor, mais sustentável, sem desperdícios, extremamente eficaz e, claro, com a maximização possível dos resultados. Para isso, será obrigatório o trabalho médico em equipes, de acordo com protocolos, continuidade do tratamento do diagnóstico até a reabilitação, com um corpo clínico engajado e exclusivo do nosso sistema. É por este caminho que imagino o Einstein assumindo um papel de liderança de modo a influenciar o sistema de saúde como um todo.
como aquela que ajudou o país na briga contra a epidemia da meningite nos anos 1970, teve também protagonismo do Einstein. Independente de governos, apoiada em um princípio apartidário, o Einstein mantém hoje relações com os governos municipal, estadual e federal na forma de parcerias que beneficiam a mais de 1.200.000 pessoas do Sistema Único de Saúde (SUS). É claro que estas parcerias acabam sendo desdobramentos de uma relação política, absolutamente necessária para implementar aquilo que está em nossa missão como princípio: a filantropia e justiça social, em prol de toda a sociedade.
A faculdade de medicina já é uma realidade? Klajner – Sim. Nossa Faculdade de Medicina funciona a pleno vapor com cinquenta alunos por semestre. Desde o primeiro vestibular, bateu recordes na relação candidato/vaga com onze mil inscritos para cinquenta vagas, isto é, 215 candidatos/vaga. No segundo semestre, a procura foi de oito mil candidatos. A faculdade funciona no edifício da Faculdade de Enfermagem, na avenida Francisco Morato, em parte reformado para este objetivo. Vai continuar assim até ser concluída a construção do novo Centro de Ensino e Pesquisa, com previsão de início das obras ainda este ano. Trata-se de um projeto suficientemente arrojado para se transformar em marco arquitetônico da cidade com área construída de quase trinta mil metros quadrados e projeto de autoria de arquiteto de renome internacional, devendo ficar pronta no final de 2019.
Então, presidir o Einstein é também uma ação política... Klajner – A presidência de uma Sociedade como a nossa é também um cargo político. Para a boa, correta e honesta administração, a atividade política também se faz necessária. São sinérgicas, elas se completam e não são excludentes.
A escola fecha um ciclo, o ciclo do ensino, do chinuch? Klajner – A faculdade preenche o que nos faltava em termos de formação médica. Nosso Instituto de Ensino e Pesquisa nasceu do embrião do Centro de Estudos, cuja função inicial era disseminar conhecimento médico entre os profissionais da assistência. O impulso mais vigoroso veio em 1989 com a cria-
ção da Faculdade de Enfermagem e Escola Técnica, daí surgindo iniciativas para formar capital humano que, em 2004, resultaram nos programas de Residência Médica e de Pós-Graduação. Esses programas cresceram nos anos seguintes e ocorreu a integração de todas as iniciativas com a criação do Centro de Educação em Saúde Abram Szajman (Cesas). A partir de uma sólida base de ensino no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (Iiep), tínhamos todas as etapas da formação de enfermagem; e para a medicina nos faltava apenas a graduação, que surgiu com a criação da faculdade, agora já no segundo ano. Hoje temos o ensino formal, cursos técnicos, de graduação e de pós-graduação, cursos de atualização, eventos científicos e treinamentos institucionais. Imaginando ainda oportunidades de ampliar a capacidade da formação de profissionais de outras áreas ligadas à saúde, ainda temos para onde evoluir no âmbito do futuro Centro de Ensino e Pesquisa a ser construído. Há, portanto, muito caminho ainda pela frente. Todos conhecem e acompanham o grande protagonismo do hospital de acordo com os princípios de solidariedade, justiça social, fraternidade e de intolerância com a intolerância. Isso vai continuar? Klajner – Desde a sua fundação, o Einstein tem como missão a excelência e qualidade na assistência, geração do conhecimento, filantropia e justiça social. Isto vem sendo perseguido continuamente e os resultados vem sendo alcançados ao longo destes mais de sessenta anos de existência. Antes mesmo de o hospital abrir as portas, crianças carentes já eram atendidas em nossa Pediatria Assistencial. Em seguida, o Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis. Campanhas
O senhor assume o hospital em meio à tormenta de uma crise nacional porque envolve política, economia, etc... Como fazer o hospital navegar por este mar revolto? Klajner – A crise se iniciou em 2015 e graças a uma governança sofisticada, amadurecida ao longo dos anos, a liderança de Cláudio Lottenberg como presidente e a dedicação de companheiros de diretoria, entre os quais me orgulho de ter participado, fizemos o planejamento adequado do ponto de vista de orçamento, previsões, investimentos, foco em eficiência, atração de pacientes, transparência com operadoras de saúde, negociação com fornecedores entre outras ações de modo a lidar com a situação e colher bons resultados. O caminho que a instituição segue é aquele que planejamos nos últimos anos, levando em consideração as premissas de criatividade para inovar, mas de olho na realidade com investimentos em eficiência, resultados, treinamento de pessoas, mas sempre agarrados aos nosso valores.
Estas parcerias acabam sendo desdobramentos de uma relação política, absolutamente necessária para implementar aquilo que está em nossa missão como princípio: a filantropia e justiça social, em prol de toda a sociedade (Sidney Klajner, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein)
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magazine > televisão | por Magali Boguchwal
Lembranças compartilhadas A JORNALISTA CARIOCA LEILA STERENBERG PASSOU UM FINAL
DE SEMANA DE NOVEMBRO EM SÃO PAULO ACOMPANHANDO A
EXIBIÇÃO DO DOCUMENTÁRIO “CARTAS DA BESSARÁBIA”, NA SALA PLENÁRIA DA HEBRAICA E NO AUDITÓRIO DA UNIBES CULTURAL. PARA O PÚBLICO, FOI A OPORTUNIDADE DE ASSISTIR, EM PRIMEIRA MÃO, À ESTREIA NACIONAL DO FILME NO CANAL PHILOS
O
s contatos e arranjos para os dois encontros foram realizados por intermédio do consulado da República Moldova e Leila ficou hospedada na residência do cônsul honorário da República Moldova, Flávio Mendes Bitelman. O público se interessou pelo documentário e até minutos antes da sessão, o público disputou cada assento da Sala Plenária. Em entrevista à revista Hebraica, Leila afirmou que as pesquisas e andanças pela Romênia renderam material para mais de um documentário. “O teatro judeu de Bucareste, capital da Romênia, por exemplo, foi um dos locais cujas imagens e entrevistas não incluímos no documentário”. Leila: “Para quem tem ascendência judaica ou é judeu, é um local marcante. É mantido pela Prefeitura e ali são encenadas peças em ídiche, de autores cujos textos são raramente divulgados ainda que a maior parte dos atores não fale ídiche. Eles encenam peças também em língua romena. As peças em ídiche não são encenadas em palco, exceto Israel e Nova York. Recomendo a quem viajar para a Romênia incluir esse teatro no roteiro, especialmente porque é gerenciado, com muito amor, por Maya Morgenstern, uma atriz judia que já atuou em filmes de Hollywood e por Marcel, um rapaz que não é judeu, mas se apaixonou pela cultura judaica e por aquele teatro. Eles cuidam do local com dedicação e fazem um belo trabalho.”. Assim como os descendentes de outras famílias que deixaram a Europa antes ou depois da guerra, Leila manteve contatos iniciais com o consulado romeno. “E foi curioso porque pouco antes decidi reivindicar a cidadania romena, à qual minha família tem direito. Quando meus avós vieram para o Brasil nos anos 1930, a Bessarábia fazia parte da Romênia. E ao acessar estes muitos documentos guardados por meu pai, na forma de cartas, postais, certidões dos meus avós, descobri um material muito bonito e fiquei impressionada como ficaram conservados todos esses anos. A partir desse contato com o passado, juntei os dois sonhos antigos de viajar para a região da Romênia, que era um assunto pessoal, em vez de fazer
uma grande reportagem decidi contar uma grande história”, disse Leila. A conversa com Leila rendeu mais uma dica para enriquecer o roteiro de quem planeja viajar para Bucareste, conhecer a “sinagoga ou, melhor, o templo coral de Bucareste, todo reformado, lindíssimo, merece uma visita. No nordeste do país, na cidade de Piatraniantz, tem uma sinagoga de madeira, do século 18, também reformada e muito bem cuidada por um poeta judeu, Emil. Este encontro rendeu uma entrevista muito interessante”. Segundo Leila, o documentário estreitou sua relação com a comunidade judaica. “Claro, temos de olhar para a frente, mas é bom olhar para trás. O Holocausto é um trauma e para aqueles que deixaram a Europa depois ou imediatamente antes desse evento, como foi o caso da minha família. Falar a respeito desses locais tornou-se quase um tabu, então imagine viajar para lá. Minha avó e meus tios nunca voltaram. Era complicado porque, na época, era um país comunista. Obter o visto era difícil, a comunidade judaica de lá acabou, os amigos foram embora, o que iam fazer lá?” Leila partilhou com o público na Sala Plenária o aprendizado adquirido durante a realização do documentário. “Descobri que há algo na Romênia que faz parte da família. É a paisagem, o cheiro, a comida. Descobri que na Romênia se come beterraba com raiz forte. Encontrei esse prato em um café, sem qualquer ligação aparente com a cultura judaica. Inclusive o prato se escrevia com uma grafia muito parecida com o nosso chrein. Numa viagem como essa, passamos a valorizar, também, o esforço que nossos avós fizeram para sair dali. Se em 2016 ainda foi trabalhoso chegar lá com as facilidades das conexões de avião, quilômetros em estradas, imagino fugir daquelas cidadezinhas com filhos adolescentes, como foi o caso da minha avó. A gana por sobreviver aumenta e os fez largar tudo, chegar ao Brasil e se adaptar a um lugar tão diferente em clima, mas que de certa forma, tem algo parecido”, concluiu a jornalista.
LEILA STERENBERG MERGULHOU NAS RAÍZES FAMILIARES PARA DIRIGIR
“CARTAS DA BESSARÁBIA”
O percurso até as “Cartas” Produzir e filmar “Cartas da Bessarábia” representou um degrau a mais na carreira da jornalista Leila Sterenberg e, ao mesmo tempo, a realização de um desejo antigo. “Queria conhecer a terra dos meus avós, por parte de pai, que vieram da Bessarábia. Com eles, cresci ouvindo essa palavra ‘Bessarábia’ e surgiu a curiosidade a respeito de onde e o que seria essa tal Bessarábia. A partir do momento em que me tornei jornalista e com a ajuda da internet, informei-me acerca de onde ficava a cidade dos meus avós, e a comunidade judaica. Esse projeto somou-se a outro objetivo, o de enveredar para uma criação mais autoral.” Leila começou na mídia impressa e migrou para a televisão meio por acaso. “Foi em Nova York, quando trabalhava para a Bloomberg. Na volta ao Brasil, fui a apresentadora e editora-chefe do jornal local em Brasília. Ou seja, comecei numa função que outros profissionais assumem mais tarde, mas a experiência com a mídia impressa me deu essa capacidade de descobrir uma boa história, um personagem interessante e contar para os outros algo que ninguém descobriu ainda.” Já no Rio, como repórter da Globonews, fez trabalhos de rotina e reportagens especiais. “São aquelas matérias mais produzidas, que te permitem se aprofundar um pouco mais. Também propus algumas, como a série de reportagens na Alemanha no
período anterior à Copa do Mundo de 2006. Fiz programas de 23 minutos cada, da história, comportamento, economia, vida cultural e tradições locais”, recorda. O caminho para o documentário incluiu ainda três projetos especiais. “Em 2006, propus uma série a respeito de arquitetura. Meus pais são arquitetos e o ano seguinte seria o do centenário do Niemeyer. Toparam. Foram cinco programas nos quais abordamos o trabalho dele e o que aconteceu na arquitetura nos últimos cem anos. Em 2009, quis entrevistar sobreviventes, refugiados e testemunhas da Segunda Guerra inspirada pelas histórias contadas por meu tio, irmão mais velho do meu pai. Colhi depoimentos em São Paulo e no Rio e montei diferentes perfis, que compuseram o um panorama setenta anos depois do início da guerra. Em 2014, fui para a Namíbia contar a história do primeiro genocídio do século 20 e fizemos um programa de 46 minutos, o mais longo até aquela época. Algumas pessoas disseram que o programa era um documentário, mas para mim era mais uma grande reportagem e a Globonews tem aberto espaço para trabalhos assim. E quando tive a oportunidade de produzir ‘Cartas’ como parte da parceria entre os canais Philos e Globonews, consegui, enfim, realizar meu primeiro documentário”, descreveu.
O teatro judeu de Bucareste, capital da Romênia, por exemplo, foi um dos locais cujas imagens e entrevistas não incluímos no documentário (Leila Sterenberg, diretora do documentário “Cartas da Bessarábia”)
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magazine > ensaio | por Andrew Tobin
O que Netaniahu e rivais esperam de uma “nova era” UM LEVANTAMENTO MOSTRA COMO OS VÁRIOS SETORES DO ESPECTRO POLÍTICO DE ISRAEL GOSTARIAM DE VER ABORDADA A QUESTÃO PALESTINA. DO LIKUD AO MERETZ, É GRANDE A EXPECTATIVA SOBRE A “NOVA ERA” SOB O GOVERNO TRUMP
Q
uando este artigo chegar às mãos dos associados, Donald Trump já terá tomado posse, como manda a Constituição americana, dia 20 passado, e o primeiro-ministro Biniamin Netaniahu poderá esperar uma “nova era” prometida por Trump quando em campanha. O primeiro-ministro disse isso na cerimônia de acendimento da primeira vela de Chanuká quando se ocupou da resolução do Conselho de Segurança da ONU, contra os assentamentos israelenses, aprovada por quatorze a zero com a abstenção dos Estados Unidos e por orientação do então presidente Barack Obama. Na ocasião, um indignado e esperançoso Netaniahu disse que “a resolução é parte do canto de cisne do Velho Mundo, tendencioso contra Israel, mas estamos entrando em uma nova era e, como Trump me afirmou, isso vai acontecer muito mais cedo do que se pensa”. Trump tem dado publicamente a Netaniahu todas as razões para otimismo, pelo menos em seus termos, pois, logo depois da sessão na ONU, afirmou: “Quanto à ONU, as coisas serão diferentes depois de 20 de janeiro”. É possível, mas a realidade de sentar na cadeira de presidente de qualquer país faz os mandatários mudarem de opinião rapidamente. De todo modo – e a seu modo – Trump encorajou a construção de mais assentamentos, prometeu transferir a embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém, cidade que Israel e os palestinos reivindicam como capital, e nomeou um ardente defensor da colonização para embaixador em Israel. Em outubro, antes da eleição presidencial, David Friedman, disse em um comício em Jerusalém, que “o governo Trump jamais pressionará Israel a uma solução de dois Estados ou qualquer outra solução que seja contrária aos desejos do povo israelense”.
Se, de fato, Netaniahu e Friedman estiverem certos a mão de Israel ficará mais livre e pesada para tratar de paz com os palestinos. O atual governo israelense revela até que ponto, em pouco mais de vinte anos, o espectro político pendeu para a direita, quando o então Partido Trabalhista liderou o país nas negociações de paz de Oslo com os palestinos, em 1993. Enquanto uma encolhida esquerda quer se esforçar mais para chegar a um acordo de paz negociado de dois estados, as duas abordagens principais a respeito do problema se originam do que poderia ser chamado de centro-direita que é manter uma versão do status quo, e o centro, que propõe a separação unilateral dos palestinos. Enquanto isso, o poder e a voz da direita apoiam a anexação de grandes partes da Cisjordânia. O que se vai ler a seguir é uma tentativa de traçar um mapa político israelense a respeito do “problema palestino”. O centro-direita A visão do centro-direita, enraizada na ala moderada do partido governista Likud, de Netaniahu, é que o Estado deve orientar o crescimento dos assentamentos e manter o Exército na Cisjordânia de olho no futuro. Segundo o ex-ministro da Defesa Moshé Yaalon, em ensaio na revista Foreign Affairs on-line em dezembro. “A relutância dos palestinos em reconhecer o direito de Israel de existir como o Estado-nação do povo judeu” é o principal obstáculo à paz, não os assentamentos. Para Yaalon, a atraente retira-
OS DOIS TÊM EM COMUM A ANTIPATIA POR OBAMA, MAS O EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA É OUTRA COISA
da unilateral, não é uma solução, porque os palestinos dependem da economia e da infraestrutura israelense, e Israel precisa manter o acesso militar à Cisjordânia. Portanto, a “separação” provocaria “crise econômica e política na Cisjordânia e ameaçaria a segurança de Israel e da Jordânia”. Yaalon sugeriu que Israel trabalhasse com outros países para promover o crescimento econômico palestino, o desenvolvimento da infraestrutura e a boa governança, enquanto mantém a cooperação de segurança com a Autoridade Palestina. Estes esforços “poderiam lançar as bases para uma verdadeira paz enraizada no reconhecimento mútuo e na cooperação responsável”. E exortou o governo a deixar claro que não constrói além dos assentamentos já existentes e se opõe à “anexação em larga escala da Cisjordânia e Gaza”. Avigdor Liberman é o ministro da Defesa, mas quem exerce a pasta é Netaniahu, e tratou do desenvolvimento da infraestrutura, da economia palestina e até de limitar a construção de colônias. Liberman, que lidera o partido dos falcões Yisrael Beiteinu (“Israel Nossa Casa”), disse que Israel deveria fazer um acordo com Trump para construir nos principais blocos de assentamentos, mesmo que isso significasse congelar a construção fora deles. Mas foi criticado pela direita e mudou de opinião. O centro-esquerda Nos últimos anos, a ideia de retirada unilateral defendida por Yaalon foi retomada por políticos israelenses do centro principalmente nos partidos Trabalhista e Yesh Atid (“Existe um Futuro”), ambos da oposição. Há um ano, o Trabalhista foi unânime na decisão de mudar sua estratégia de se separar dos palestinos. Antes, em janeiro, o líder do Partido Trabalhista e da oposição, Isaac Herzog, apresentou o plano discursando no International Security Studies, em Tel Aviv, e que uma solução
de dois estados era impossível nas atuais condições. “Quero me separar do maior número de palestinos possível, o mais rápido possível. Eles lá e nós aqui; ergueremos um grande muro entre nós.” O líder do Partido Yesh Atid, Yair Lapid, quer ser primeiro-ministro e é o mais direto concorrente de Netaniahu, pediu a retirada unilateral israelense de áreas da Cisjordânia. Em entrevista coletiva também em janeiro de 2015, disse que “os detalhes podem ser complexos, mas a ideia básica é simples – Israel não quer absorver 3,5 milhões de palestinos [na Cisjordânia]. É hora de separar e garantir nosso futuro como um Estado judaico e democrático”. O ex-chefe de inteligência militar do Exército e ministro da Defesa em um suposto governo da União Sionista, dominada pelo Partido Trabalhista, em segundo lugar nas eleições de 2015, Amos Yadlin, junto com a Autoridade Palestina também defendeu a retirada do muro de segurança da Cisjordânia após nova tentativa de negociação de paz. Yadlin recomendou que Israel mantivesse os assentamentos e o controle militar do Vale do Jordão, e prefere a retirada ao status quo. Segundo a avaliação estratégica de 2014 do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, chefiado por Yadlin, a me>>
Trump encorajou a construção de mais assentamentos, prometeu transferir a embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém, cidade que Israel e os palestinos reivindicam como capital, e nomeou um ardente defensor da colonização para embaixador em Israel
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magazine > ensaio >> dida “reverterá a atual tendência que dificulta cada vez mais a separação” e impedir os palestinos de desligitimizar Israel o que poderia culminar na pressão “por um Estado único de maioria árabe entre o rio e o mar”. A direita Cada vez mais políticos da direita israelense – membros do Likud e do partido pró-assentamento Lar Judeu, que integram a coalizão governamental – querem anexar grandes áreas da Cisjordânia. Eles foram encorajados pela eleição de Trump e a resolução da ONU os enfureceu. No dia seguinte à vitória de Trump, o ministro da Educação, Naftali Bennett, declarou que “a era de um Estado palestino terminou” e, a respeito da Resolução, disse que Israel deve usá-la para avançar a proposta de anexar os cerca de 60% da Cisjordânia deixando-os sob total controle israelense, a começar pelo grande assentamento de Maale Adumim. “É hora de decidir entre duas alternativas: entregar nossa terra ou a soberania. Tentamos entregar nossa terra, não deu certo; é hora da soberania.” Outros ministros do governo, incluindo membros do partido do primeiro-ministro, também apoiaram a anexação, depois de aprovada a Resolução da ONU. O ministro da Segurança Pública do Likud, Gilad Erdan: “Devemos nos esforçar para cortar todo o financiamento para as Nações Unidas. Devemos anunciar a anexação imediata dos blocos de assentamentos... Devemos renovar a construção em toda a terra”. Em artigo de 2014, no Wall Street Journal, Bennett detalhou seu plano que previa conceder cidadania israelense completa aos palestinos que vivem na terra a ser anexada, e permitiria aos palestinos do resto da Cisjordânia um autogoverno a que dá nome de “autonomia com esteróides”. Ele também pediu o desmantelamento de todos os bloqueios e postos de controle do muro de segurança de modo a “permitir aos palestinos total liberdade de movimento”, e medidas para incrementar a economia da Cisjordânia. “A anexação da área C [na Cisjordânia sob o controle total de Israel, onde estão os assentamentos] limitaria o conflito, reduzindo o tamanho do território em disputa, e tornaria mais fácil chegar um dia a um acordo de paz de longo prazo. A anexação também daria a Israel segurança de interesses vitais: Jerusalém e a região de Gush Dan ao longo da costa central de Israel, proteger as comunidades israelenses na área C; e aplicar a soberania israelense nos locais do patrimônio nacional, como a Caverna dos Patriarcas em Hebron – local onde Abraão, Isaac e Jacó estão enterrados”, disse Bennett. Os críticos acusam a solução de Bennett de outra versão da solução de Estado único, em que Israel governa uma população inquieta e sem Estado. A esquerda O único partido judaico à esquerda que levanta a bandeira das negociações com os palestinos é o Meretz, que tem a menor bancada no Knesset. A presidente da Meretz, Zehava Galon,
foi uma das poucas vozes israelenses a apoiar a Resolução da ONU. Em um discurso de 2013 na conferência anual do pacífico lobby norte-americano pró-Israel J Street, disse que a separação dos palestinos era pouco e pediu que Israel negociasse a solução de dois Estados com os palestinos com base nas reivindicações deles à Cisjordânia e à Jerusalém Oriental, e reinstalar os colonos “nas fronteiras internacionalmente reconhecidas do Estado de Israel”. Tzipi Livni [chefe do Kadima, outro partido na União Sionista] e Shelly Yachimovich [membro trabalhista do Knesset] articulam o apoio à separação dos palestinos porque se preocupam com o futuro, com a segurança e com os interesses de Israel. “Eu também. Mas quero lembrar que, apesar da garantia do futuro de Israel, de que nossa segurança não seja ameaçada e que nossos interesses estejam protegidos para sempre, isso seria pouco enquanto ainda formos uma nação ocupante”, afirmou Zehava Galon. A direita e o centro insistem que a solução de dois Estados não tem futuro enquanto os palestinos se recusarem a reconhecer Israel como um Estado judeu ou renunciar ao “direito de retorno” para os palestinos que foram deslocados de suas casas durante as guerras árabes com Israel. A Lista Conjunta Árabe, agora o terceiro maior grupo político do Knesset, quer que Israel retire o Exército e colonos de toda a Cisjordânia e Jerusalém Oriental para dar espaço para um Estado palestino lá. Exige também a libertação de todos os “prisioneiros políticos” e o “direito ao retorno”. Os partidos árabe-israelenses nunca se juntaram à coalizão governista, embora durante as negociações de Oslo tenham apoiado o então primeiro-ministro Itzhak Rabin da oposição. O chefe da Lista Conjunta, Aymen Odeh, disse à JTA em setembro: “Ainda não estamos prontos para fazer parte da coalizão. Mas se depender de nós se a direita voltar ao governo ou não, não podemos ficar à margem. Essa resposta basta?”.
Enquanto uma encolhida esquerda quer se esforçar mais para chegar a um acordo de paz negociado de dois estados, as duas abordagens principais a respeito do problema se originam do que poderia ser chamado de centro-direita que é manter uma versão do status quo, e o centro, que propõe a separação unilateral dos palestinos
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magazine > curta cultura | por Bernardo Lerer
David, ator global
Judeus do Novo Mundo – II
Um dos mais prolíficos atores indianos e astro de pelo menos 110 filmes produzidos pela chamada Bollywood em uma carreira de mais de quatro décadas, iniciada em 1936, era o judeu David Abraham Cheulkar (foto abaixo), que todos conheciam simplesmente por David ou pelo afetuoso “Tio David”. Ele estudou nas melhores escolas de Mumbai, então Bombaim, onde nasceu, e na prestigiosa faculdade de direito local porque os pais o queriam advogado, mas sabia que seu futuro estava longe dos tribunais e procurou emprego como ator. Afinal, desde tenra infância atuava nas encenações escolares e sentia que a facilidade que tinha para aprender línguas o ajudaria. Mas levou pelo menos seis anos de infrutífera busca por uma ponta no teatro ou no cinema, até que, por intermédio de um amigo, foi apresentado ao diretor e produtor Mohan Bahvani, que antes tinha sido o chefe de produção da divisão cinematográfica do governo indiano. Ele ganhou o papel de um velho professor no filme Zambo, de 1936. David tinha, na época, 28 anos. O personagem e a atuação não chamaram a atenção e, por isso, aceitava qualquer trabalho nos estúdios. Os conflitos internos na Índia e a luta pela independência, alcançada em 1947, interromperam a produção cinematográfica e ele voltou a atuar somente em 1954 no filme Boot Polish, no qual faz o papel de um fabricante clandestino de bebidas preso, condenado e ao ser libertado adota dois irmãos. Por esse papel ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante. Depois atuou em Pardesi, produção indiana-russa de 1957 ambientada nos anos 1400. Fez mais dois filmes, um drama e uma comédia. Morreu em janeiro de 1982, no Canadá, para onde se mudou, em 1972.
Carvajal era um judeu que se apresentava como católico numa época em que a Inquisição perseguia ferozmente heréticos, judeus e falsos conversos, ameaçando-os com deportação, prisão, tortura e execuções públicas. Era um comerciante preso cerca de 1590 por proselitismo judaico e, na prisão, começou a escrever suas “Memórias”, numa espécie de caderneta medindo aproximadamente 5 por 6 centímetros para escondê-lo mais facilmente tanto que foi encontrado no bolso de suas roupas, na forma de memórias messiânicas. Ele se atribuiu o nome de José Lumbroso, isto é, “José, o Iluminado”, conta que ficou sabendo pelo pai que era judeu, autocircuncidou-se com uma tesoura, secretamente abraçou a fé e estimulou os irmãos mais novos a fazê-lo. O manuscrito começa assim: “Salvo de terríveis perigos pelo Senhyor, eu, José Lumbroso da nação Hebraica e dos peregrinos das Índias Ocidentais e em reconhecimento às graças recebidas das mãos do Altíssimo, comunico a todos que acreditam no Santo dos Santos e que esperam por grandes misericórdias”. Carvajal foi libertado por um tempo de modo a ser seguido
Judeus do Novo Mundo – I Foi descoberta aquela que pode ser a mais antiga narrativa pessoal escrita por um judeu recém-chegado ao Novo Mundo: um pequeno e quase em farrapos manuscrito de 180 páginas, presumivelmente de 1590, grafado em letras quase microscópicas por um certo Luís de Carvajal, o Jovem, que descreve a própria vida e sofrimento. Luís era um judeu em segredo, perseguido pela Inquisição que o condenou a morrer queimado na estaca, na então Nova Espanha, o México atual. O documento estava guardado no Arquivo Nacional do México de onde misteriosamente desapareceu em 1932 e, da mesma forma, reapareceu oitenta anos depois num leilão em Londres e arrematado por modestos 1.500 dólares, possivelmente porque não se tinha noção do seu valor. Em 2015, no entanto, o objeto foi novamente colocado em leilão, desta vez numa casa de Nova York, a Swann Galleries (foto página seguinte), por um lance inicial cinquenta vezes o pago meses antes. O olhar acurado de Leonard Milberg (foto acima), famoso colecionador de judaica da cidade, viu na sua aquisição a possibilidade de devolvê-lo ao dono original, o Arquivo Nacional do México. Arrematou-o por cerca de quinhentos mil dólares e uma cláusula do contrato pela qual ele ficaria exposto numa mostra especial da Sociedade Histórica de Nova York a respeito dos primeiros judeus nas Américas do Sul e do Norte, até o próximo dia 12 de março.
Animais da Bíblia Uma das grandes fontes de renda do turismo em Israel é a de observadores dos milhões de pássaros das mais diversas espécies que atravessam o território, migrando da África para a Europa e depois fazendo o caminho de volta. Isso, agora. Mas, nos tempos bíblicos valia também para os mamíferos pela circunstância de Israel ser uma espécie de ponte ligando África, Ásia e Europa. O que explica o fato de em suas terras terem sido mencionadas as presenças de animais do norte da
pelos esbirros da Inquisição e saber com quem se relacionava. A autobiografia contém várias orações, os Dez Mandamentos e os treze princípios de Maimônides. Em 1596 foi novamente detido, obviamente declarado culpado de prática do judaísmo e condenado à morte na estaca, queimado. Tinha 30 anos.
África como hipopótamos e crocodilos e do sul da Europa, como lobos e gamos. A Bíblia registra a presença de animais originários do extremo oeste da Ásia, como a chita (um leopardo da Índia). E, como já citado acima, sendo o extremo leste da Europa ponto de passagem de variedades de pássaros que sobrevoavam Israel. O rabino Natan Slifkin (foto ao lado), diretor do Museu Bíblico de História Natural, localizado em Beit Shemesh (é, tem isso também) e que se especializou nessas questões diz que pessoas que não vivem no Oriente Próximo e Médio não estão familiarizadas com os animais da Bíblia. Assim, por exemplo, o tzvi que se lê em Provérbios 6:5, é uma gazela, animal que não existe na Europa. Mas equivale ao gamo. O shual espécie da qual se diz Samsão teria capturado trezentos e de cujas caudas fez uma corda a que ateou fogo (Juízes 15:4), foi identificado na Europa como sendo a raposa. Aliás, Voltaire, de quem se diz ter sido um vigoroso antissemita, ironiza esse versículo da Bíblia, dizendo que é impossível reunir trezentos indivíduos (animais) da mesma espécie. Sabe-se lá.
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HEBRAICA
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ANGIOLOGIA
ADVOCACIA
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ADVOCACIA
Gestão 2015/2017
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73
| FEV | 2017
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74 HEBRAICA
| FEV | 2017
HEBRAICA
indicador profissional CASA DE REPOUSO
CIRURGIA PLÁSTICA
CLÍNICA
CONTABILIDADE
FISIOTERAPIA
GINECOLOGIA
DERMATOLOGIA
MANIPULAÇÃO
CLÍNICA/ DOENÇAS HEPÁTICAS
CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO
CIRURGIA GERAL
75
| FEV | 2017
indicador profissional
CIRURGIA TORÁCICA
DERMATOLOGIA
ENGENHARIA
GERIATRIA
NEUROLOGIA
77
76 HEBRAICA
| FEV | 2017
indicador profissional
indicador profissional NEUROLOGIA
ODONTOLOGIA
PSICANALISTA
PSICOLOGIA
PSICOTERAPIA
UROLOGIA
PSIQUIATRIA
PSICOLOGIA
ODONTOLOGIA
TERAPIA
A D VO C AC I A
Família Cível Trabalhista Consumidor
Dra. Dayane Messias Lopes Dr. Eduardo Durante Rua
Tels: (11) 99944-7331 98018-0377 98507-6427 email: dayanelopes.adv@gmail.com | edurua@uol.com.br
ORTOPEDIA
OTORRINOLARINGOLOGISTA
compras e serviços
78 HEBRAICA
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compras e serviรงos
HEBRAICA
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compras e serviรงos
80 HEBRAICA
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roteiro gastronômico
HEBRAICA
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roteiro gastronômico
82 HEBRAICA
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conselho deliberativo
CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL
Os resultados da união Os dois últimos dois anos têm sido um período em que a crescente integração entre a Diretoria Executiva e o Conselho Deliberativo deram à Hebraica uma sólida estabilidade política e administrativa. Desde o início da atual gestão, a Diretoria Executiva ouve e analisa as colaborações dadas pelas comissões permanentes, a saber, Jurídica, de Obras e de Administração e Finanças. Foram dois anos repletos de desafios, que inspiraram a criação de comissões especiais de Esportes, Educação e Juventude, nas quais são debatidos itens da rotina da Hbraica que há muito exigiam uma análise profunda, sempre em total conjunção entre diretores e os conselheiros que se propuseram a atuar nesses grupos. A troca constante de informações entre a Diretoria Executiva e o Conselho tornaram mais fácil e fluída a fusão entre as escolas Alef e I. L. Peretz que resultou num aumento do número de crianças estudando e utilizando os serviços do clube como o After School e a Escola de Esportes. Das pranchetas das comissões permanentes e especiais saíram algumas propostas para adequar a ampliação da escola e, ao mesmo tempo, garantir ao sócio melhores dependências e benefícios em sua utilização diária da Hebraica. Outro aspecto que evolui muito bem em função do trabalho coeso entre o Conselho Deliberativo e a Diretoria Executiva é a Reforma Estatutária, iniciativa cada vez mais necessária em face de mudanças que ocorrem na cidade, na comunidade judaica e nas leis do país. A Comissão Especial de Reforma Estatutária recolheu e tem analisado centenas de sugestões encaminhadas por sócios e conselheiros e uma proposta para os novos Estatutos Sociais será apresentada em junho. A partir daí, o Conselho fará reuniões extraordinárias para estudar todos os artigos detalhadamente e, uma vez aprovados, serão levados à Assembléia em novembro, na mesma data em que ocorrerá a eleição para novos conselheiros. A entrada em vigor dos novos Estatutos Sociais acontecerá em janeiro de 2018. Até lá, é essencial o comparecimento e participação efetiva dos conselheiros em todas as reuniões do Conselho agendadas. O quadro associativo e a Diretoria Executiva contam com o acompanhamento cuidadoso dos conselheiros para continuar o trabalho que até hoje tem sido muito bem-sucedido.
Reuniões Ordinárias do Conselho em 2017 13 DE FEVEREIRO 03 DE ABRIL 14 DE AGOSTO 27 DE NOVEMBRO 11 DE DEZEMBRO
2017 FEVEREIRO 11
MARÇO 9 12 13
ABRIL 10 * 11 * 12 * 17 * 18 24
SÁBADO
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5ª FEIRA JEJUM DE ESTER DOMINGO PURIM 2ª FEIRA SHUSHAN PURIM 2ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA 2ª FEIRA 3ª FEIRA 2ª FEIRA
EREV PESSACH- 1º SEDER PESSACH- 2º SEDER PESSACH-2º DIA PESSACH- 7º DIA PESSACH- 8º DIA IZKOR IOM HASHOÁ- DIA DO HOLOCAUSTO
1
2ª FEIRA
2
3ª FEIRA
14 24 30 *31
DOMINGO 4ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA
IOM HAZIKARON - DIA DE LEMBRANÇA DOS CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL IOM HAATZMAUT - DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 69 ANOS LAG BAÔMER IOM IERUSHALAIM VÉSPERA DE SHAVUOT 1º DIA DE SHAVUOT
MAIO
JUNHO *1
JULHO 11 31
5ª FEIRA
2º DIA DE SHAVUOT - IZKOR
3ª FEIRA 2ª FEIRA
JEJUM DE 17 DE TAMUZ INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV
3ª FEIRA
AO ANOITECER
AGOSTO
2ª FEIRA
FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER TU BE AV
4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 6ª FEIRA SÁBADO
VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR
4 *5 *6 11
4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 4ª FEIRA
Mesa do Conselho
* 12 * 13
5ª FEIRA 6ª FEIRA
VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT VÉSPERA DE HOSHANÁ RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET- IZKOR SIMCHAT TORÁ
PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE 1O SECRETÁRIO 20 SECRETÁRIO ASSESSORES
NOVEMBRO
MAURO ZAITZ FÁBIO AJBESZYC SÍLVIA L. S. TABACOW HIDAL AIRTON SISTER VANESSA KOGAN ROSENBAUM ABRAMINO A. SCHINAZI CÉLIA BURD EUGEN ATIAS JAIRO HABER JAVIER SMEJOFF SAPIRO JEFFREY A. VINEYARD
1
7
SETEMBRO ** ** ** ** **
20 21 22 29 30
OUTUBRO
5
DOMINGO DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN
DEZEMBRO 12 19
3ª FEIRA 3ª FEIRA
AO ANOITECER, 1ª VELA DE CHANUKÁ AO ANOITECER, 8ª VELA DE CHANUKÁ
2018 JANEIRO 31
4ª FEIRA
TU B’SHVAT
* NÃO HÁ AULA NAS ESCOLAS JUDAICAS
** O CLUBE INTERROMPE SUAS ATIVIDADES, FUNCIONAM APENAS OS SERVIÇOS RELIGIOSOS