Revista Hebraica - Junho

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ano lv

| n Âş 628 | junho 2014 | sivan 5774

sĂŁo paulo

Macabeus, irmĂŁos e sempre juntos


HEBRAICA

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palavra do presidente

O Brasil de todos nós Nos próximos dias teremos no Brasil o maior evento do futebol mundial, exatamente no país onde este esporte é a maior paixão popular. E, infelizmente, o que temos visto ultimamente é, em vez de festas e alegrias, um certo ceticismo, muita tensão, muitos torcendo contra, ou melhor, torcendo para o Brasil ser rapidamente desclassificado para se vingar dos nossos governantes. No Brasil, desde a redemocratização, a eleição presidencial coincide com Copa do Mundo e a Copa acaba se misturando com a campanha eleitoral. Se nos últimos anos, e em razão disso, o futebol – que não tem nada a ver com palanque eleitoral nem com horário gratuito de campanha – acabou se transformando em instrumento político, embora não vote, imaginem agora que o Brasil é sede da disputa. Hoje, como a Copa é no Brasil, muita gente se vale da visibilidade que o evento proporciona, para realizar manifestações que paralisam as cidades e o país, como se isso fosse capaz de resolver as demandas dos interessados. É claro que temos problemas na educação, saúde, segurança, moradia, transportes públicos, infraestrutura e tantos outros, e todas as manifestações são justas e legítimas desde que ordeiras. Mas também temos de acreditar na capacidade e na criatividade dos brasileiros em superar tudo isso. Mais do que nunca, o Brasil precisa ser amado. Portanto, vamos torcer pela vitória da nossa seleção, sim, vamos nos reunir na Hebraica para assistir e torcer pelos nossos jogadores para trazer um pouco de alegrias e orgulho aos brasileiros, vamos festejar o país que nos acolheu e participar dos eventos no clube a favor do Brasil. Quando o campeonato acabar, aí sim, vamos nos concentrar para escolher e eleger os melhores governantes, aqueles que têm condições de atender às demandas da nossa sociedade com seriedade, competência, honestidade e determinação. Portanto vamos torcer pelo Brasil vencedor, cada vez melhor, pois é aqui que todos vivemos, livres e no pleno exercício dos nossos direitos. P. S: A Hebraica também joga na Copa: haverá um telão na Praça Carmel e vamos realizar uma “Noite do Brasil”. Compareçam e participem. Shalom

Abramo Douek

QUANDO O

CAMPEONATO ACABAR, AÍ SIM, VAMOS NOS CONCENTRAR PARA ESCOLHER E ELEGER OS MELHORES GOVERNANTES, AQUELES QUE TÊM CONDIÇÕES DE ATENDER ÀS DEMANDAS DA NOSSA SOCIEDADE COM SERIEDADE, COMPETÊNCIA, HONESTIDADE E DETERMINAÇÃO


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HEBRAICA

sumário

HEBRAICA

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Carta da Redação

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Destaques do Guia A programação de junho e julho

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Capa / Jogos Escolares Quatro dias em que prevaleceu o espírito macabeu

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cultural + social

26

Iom Haatzmaut O consulado geral celebrou na Hebraica os 66 anos do Estado de Israel

27

Gourmet Os sabores e mistérios da cozinha marroquina

28

Meio-Dia O melhor da MPB vem sempre antes do almoço

30

Coluna um / comunidade Os eventos mais significativos da cidade

36

Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

41

juventude

42

Show Cantora etíope Hagit Yaso no Teatro Arthur Rubinstein

44

Comportamento As aventuras e emoções dos pais de duas atletas

54

Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

57

magazine

58

Tel Aviv Jerusalém Nova estrada aproximará as principais cidades de Israel

45

62

46

66

Centro de Música Escola da Hebraica já exporta talentos

49

esportes

50 Natação Open foi uma prévia das Paraolimpíadas 2016

50

52

Comportamento Meninas de 12 anos falam de projetos para o futuro

Homenagem Soldados israelenses mortos são lembrados

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12 notícias As novidades mais quentes do universo israelense

A palavra Traçamos o mapa do inferno nas origens de Gehena

68

Segunda Guerra Hollywood na luta contra o nazismo

72

Cinema O legado do israelensebrasileiro David Perlov

74

Filosofia Por que o pensador Walter Benjamin está em alta?

84

Música O melhor do pop e do erudito para curtir em casa

78

86

82

88

Lançamento Um novo relato sobre o universo de Auschwitz

Leituras A quantas anda o mercado das ideias?

Ensaio I Lembramos os cem anos do início da Primeira Guerra

Ensaio II As relações de O Processo, de Kafka, e a Primeira Guerra

91

diretoria

92

Lista da Diretoria Vejam quem representa o associado no Executivo

106

Conselho Debates e troca de ideias nas reuniões


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HEBRAICA

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carta da redação

Uma revista para todos O caminho para os Jogos Macabeus Mundiais, que acontecem a cada quatro anos em Israel, é longo e um dos primeiros passos, na América Latina, são os Jogos Macabeus Escolares Pan-Americanos que, este ano, foi realizado na Hebraica com a participação de alunos de escolas judaicas no Brasil e dos países vizinhos. A paciência e o texto direto e objetivo de Magali Boguchwal contam como foi. Ela também relata a utilização da modelar piscina olímpica da Hebraica por nadadores paraolímpicos de vários países que se preparam para os Jogos Paraolímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. E a seção do Espaço Gourmet, que Tania Plapler Tarandach prepara todos os meses, tem agora uma seção de livros a respeito de culinária e gastronomia sob o título “Ler para Comer”. No “Magazine”, Ariel Finguerman descreve o que deverá ser a futura autoestrada ligando Tel Aviv a Jerusalém de modo a que se possa viajar entre as duas cidades em menos de quarenta minutos. Há também um texto a respeito do esquema de espionagem dos nazistas nos Estados Unidos, principalmente em Hollywood, montado e financiado pelos magnatas judeus do cinema. Além disso, dois textos acerca dos cem anos da Primeira Guerra Mundial, o lançamento do livro Paisagens da Metrópole da Morte, de Otto Dov Kulka, o melhor que se produziu sobre o inferno de Auschwitz-Birkenau desde Primo Levi, e a análise da obra de David Perlov, cineasta brasileiro radicado em Israel e morto em 2003, escrita pela sensibilidade do editor assistente Júlio Nobre.

ANO LV | Nº 628 | JUNHO 2014 | SIVAN 5774

DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE

SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR)

CLAUDIA MIFANO (COLABORAÇÃO) FLÁVIO M. SANTOS

DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES

ALEX SANDRO M. LOPES

FOTO CAPA FLÁVIO MELLO EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9º - CONJ. 95

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR CEP: 05435-040

- SÃO PAULO - SP

DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE

DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES

IMPRESSÃO E ACABAMENTO ESKENAZI INDÚSTRIA GRÁFICA

Boa leitura

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Bernardo Lerer

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Diretor de Redação

JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700

OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE

INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-

calendário judaico ::

PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.

A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO

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JULHO 2014 Tamuz 5774

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“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800

BRASILEIRA

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Véspera de Shavuot

SÃO PAULO RUA HUNGRIA,

EX-PRESIDENTES LEON FEFFER (Z’l)

- 1953 - 1959 | ISAAC FISCHER (Z’l) - 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTENBERG 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 - 1975 | HENRIQUE BOBROW (Z’l) - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS - 1991 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 - 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | PRESIDENTE ABRAMO DOUEK

VEJA NA PÁGINA 106 O CALENDÁRIO ANUAL 5774-5775

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por Giovahnna Ziegler

destaques do guia PRA FRENTE BRASIL

VAMOS TORCER E SE EMOCIONAR JUNTOS NA HEBRAICA EM CLIMA DE COPA DO MUNDO A HEBRAICA PREPAROU ALGUNS EVENTOS PARA AMIGOS E FAMILIARESCOMEMOREM JUNTOS OSGRANDES

MOMENTOS DA NOSSA SELEÇÃO. UM TELÃO INSTALADO NA PRAÇA CARMEL IRÁ EXIBIR TODOS OS JOGOS DO BRASIL AO VIVO DURANTE A COPA E TODOS ESTÃO CONVIDADOS PARA ASSISTIR. PELA PRIMEIRA VEZ A HEBRAICA REALIZA UM TORNEIO DE TRANCA PARA SÓCIOS, AMIGOS E PARTICIPANTES DE OUTROS CLUBES DE SÃO PAULO. A NOITE COMEÇA COM UM EXCEPCIONAL JANTAR NO RESTAURANTE KASHER, DAS 19H ÀS 20H30, E TERMINA NO SALÃO RECREATIVO, ONDE O TORNEIO ACONTECE LOGO APÓS O JANTAR. SAMBA, BOSSA NOVA, AXÉ E MPB, COMIDAS TÍPICAS E, É CLARO, MUITA CAIPIRINHA. TUDO ISSO VOCÊ ENCONTRA NAS NOITES TÍPICAS: FESTA BRASILEIRA. O EVENTO QUE ACONTECE DIA 14 DE JUNHO, SÁBADO, ÀS 21H, NO SALÃO ADOLPHO BLOCH. EXPLORE SUA PAIXÃO POR LIVROS COM O CLUBE DE LEITURA, UM ESPAÇO ABERTO PARA DISCUSSÕES E TROCAS DE EXPERIÊNCIAS LITERÁRIAS DE TODOS OS GÊNEROS. DIA

21/6, SÁBADO, O LIVRO EM PALTA SERÁ “A VISITA CRUEL DO TEMPO”, DE JENIFER EGAN, VENCEDORA DO PRÊMIO PULITZER E NATIONAL BOOK CRITICS CIRCLE AWARD. NO ANO EM QUE O BRASIL CONCORRE AO HEXACAMPEONATO, A LIGA INTERNA DE FUTEBOL SOCIETY ESTÁ EM SUA SEXTA EDIÇÃO. AS INSCRIÇÕES JÁ ESTÃO ABERTAS E VÃO ATÉ O DIA 3/7, COM VAGAS LIMITADAS.

7 Dias

Horários do ônibus

SOCIAL CULTURAL Torneio de Tranca Data: 5/6, qui, 19h Local: Restaurante Kasher e Salão Recreativo • Terça a sexta-feira Festa Brasileira Data: 29/6, sab, 21h Local: Adolpho Bloch

Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45

JUVENTUDE MachanéChoref Data: 19 a 26/7 Local: Rancho Ranieri

ESPORTIVO Liga Interna de Futebol Society Início: 17/8 - Jogos aos domingos Inscrições: até 31/7 (e-mail ou pessoalmente no depto. de Esportes). Vagas limitadas

• Sábados, domingos e feriados Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45

• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30



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capa | parceria hebraica - confederação brasileira macabi | por Magali Boguchwal

Todos têm uma escola do coração OS NOVECENTOS JOVENS VIVENCIARAM UMA CERIMÔNIA DE ABERTURA SEMELHANTE À QUE MARCA O INÍCIO DAS MACABÍADAS MUNDIAIS EM ISRAEL

ALUNOS DE SEIS ESCOLAS JUDAICAS DE SÃO PAULO, QUATRO DO RIO DE JANEIRO E AS DO RECIFE, CURITIBA, BELO HORIZONTE, PORTO ALEGRE, MANAUS E BUENOS AIRES PASSARAM QUATRO

DIAS NO CLUBE PRATICANDO ESPORTE E INTEGRAÇÃO

EM MAIS UMA EDIÇÃO DOS JOGOS MACABEUS

ESCOLARES PAN-AMERICANOS

A

na Csasznik, 14 anos, voou de Manaus para São Paulo representando o Amazonas e o Comitê Israelita de Manaus nos Jogos Macabeus Escolares Pan-Americanos “Guiora Esrubilsky” realizados em São Paulo, isto é, na Hebraica. Ela era um dos novecentos atletas de 11 a 17 anos que participaram de extensa programação que, além dos jogos, incluiu a cerimônia oficial de abertura, Kabalat Shabat, uma festa e muita movimentação pelo clube. Guiora Esrubilsky (z’l) foi diretor da Hebraica na década de 1990. Ele era presidente da União Mundial Macabi, presidiu a comissão organizadora dos Jogos Macabeus, em Israel, o ano passado, e morreu em novembro, poucos meses depois dos Jogos Macabeus realizados em julho. A presença dos Csasznik de Manaus em Jogos Escolares não é inédita. “Quando pequena, ouvi a respeito da viagem dos meus irmãos mais velhos a São Paulo. Falavam muito da Macabíada e do quanto se divertiram em São Paulo. Agora estou aqui e conto os momentos para me instalar na Hebraica e conhecer o pessoal”, afirmou a jovem enquanto caminhava em direção à sala da Macabi Brasil para o primeiro contato. Horas depois, na véspera de 1º de maio, chegaram as delegações do Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, e os alunos do Colégio Martin Buber, de Buenos Aires, e Anna deixou de ser a única visitante no “pedaço”.Nos quatro dias seguintes os atletas ocuparam a infraestrutura esportiva do clube, e locais como o Espaço Adolpho Bloch, a Sala de Yoga e um salão da Escola Alef serviram como alojamentos

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HEBRAICA

capa | parceria hebraica - confederação brasileira macabi JOGO DE FUTEBOL SOCIETY COLOCOU UM TIME DE ARGENTINOS CONTRA ALUNOS DO COLÉGIO

YAVNE. AO LADO, ANA, A ATLETA DE MANAUS

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para as escolas de fora do Estado. “A delegação do Recife me adotou. Dormimos na Sala de Yoga”, informou Ana, raquete na mão, antes de entrar na quadra de tênis. Pelo regulamento assinado por todas as escolas, cada aluno participaria de no máximo duas modalidades. Ana competiu também em xadrez. No Dia do Trabalho, os associados dividiram os espaços com garotos e garotas uniformizadas e também com a torcida formada pelos pais da Escola Liessin, do Rio de Janeiro, que se multiplicavam pelos jogos simultâneos e ainda fizeram a alegria dos concessionários da Praça Carmel. Alunos inscritos nas provas de natação foram os primeiros a circular com medalhas. No meio da tarde, bolas e raquetes foram postas de lado para todos se prepararem para a abertura no Centro Cívico. “Nas edições anteriores esta cerimônia ocorria durante o Kabalat Shabat, mas este ano os alunos tiveram uma experiência mais próxima de como é uma Macabíada Mundial com o desfile da cerimônia olímpica, isto é, tocha e tudo que compõe o clima de um grande evento macabeu”, explicou Daniel Bialski, presidente dos Jogos Escolares. Avi Gelberg, presidente da Confederação Brasileira Macabi (Macabi Brasil), Abramo Douek, presidente da Hebraica, Daniel e outros membros do movimento macabeu partilharam a mesa oficial com Michel Esrubilsky, filho do homenageado, e Celso Jatene, secretário Municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo. Diante deles, na quadra, as escolas desfilaram as bandeiras orgulhosamente e formando um panorama da vitalidade e diversidade do ensino judaico na América do Sul. A tocha olímpica foi acesa pela medalhista olímpica Maureen Maggi, acom-

panhada por atletas representando cada Estado participante. “É bonito ver tantos jovens empenhados em uma cerimônia tão cívica, com hasteamento de bandeiras, hinos e tanta animação como esta”, afirmou a atleta, medalha de prata em salto em distância nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Emocionado, Michel Esrubilsky dividiu com atletas, público e ativistas as lembranças do pai. “Com dedicação, ele subiu inúmeros cargos comunitários nos Estados Unidos e no Brasil, mas ele se realizou quando assumiu a presidência do Macabi Mundial”, afirmou ao agradecer a homenagem ao pai. Depois da cerimônia, os alunos retomaram os jogos nas quadras de tênis, futebol, vôlei, basquete e handebol. “As quadras poliesportivas cumpriram seu papel. Sem elas não poderíamos reali>>

Satisfação dupla Abramo Douek recebeu cumprimentos pelo importante papel exercido pela Hebraica nos Jogos Macabeus Escolares. Diante dos novecentos alunos perfilados na quadra do Centro Cívico, durante a cerimônia de abertura, ele foi lembrado de que aquele foi o segundo evento pan-americano do Macabi realizado durante sua gestão como presidente da Hebraica. “É o máximo conseguir fazer uma edição dos Jogos Macabeus Pan-Americanos no início da gestão e agora, neste último

ano, promover, com o Macabi Brasil, uma pan-americana escolar que, para mim, é a mais importante de todas, pois é a partir dessa idade que a gente injeta nas crianças os sentimento do judaísmo, o amor ao esporte, a noção da integração por meio de ambos e lhes dá o prazer da convivência na comunidade. Com certeza deste grupo de crianças formaremos os líderes das próximas gerações”, comentou o presidente dos Bancos Rendimento e Cotação, ambos patrocinadores dos Jogos Macabeus Pan-Americanos Escolares “Guiora Esrubilsky”.

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capa | parceria hebraica - confederação brasileira macabi

Alguns diferenciais >>

zar cerca de duzentas partidas, além dos jogos de xadrez, judô, tênis de mesa e provas de atletismo, ginástica artística e natação”, afirmou Fábio Fischman, da equipe profissional da Macabi Brasil. De quinta a domingo, a movimentação ficou por conta de times, torcidas e árbitros. “Meus melhores momentos nesse evento foi quando o meu filho venceu uma partida de futebol society, correu para me abraçar e minha filha sinalizou um coração com os dedos quando o jogo de que participava foi interrompido”, confessou Daniel Bialski, que no restante do tempo correu para solucionar pequenos problemas de última hora. “Temos de caprichar para fazer um gol com esse evento e não chutar na trave”, filosofou. Na tarde de sexta, os jogos pararam novamente. O refeitório montado no Salão Marc Chagal foi desmontado para o jantar festivo de Shabat, que aumentou a integração das escolas. Do acendimento das velas até as danças, a impressão era de uma só família espalhada pelas diversas mesas. No sábado, as escolas visitantes se espalharam pelas dependências do clube, relaxando em sessões de cinema, jogos eletrônicos instalados na Praça Carmel ou na piscina. A área em frente à banca de jornais ficou bem movimentada. Crianças e adultos exibiam álbuns e trocavam figurinhas, esforçando-se para completar as páginas do “Álbum da Copa do Mundo 2014” antes do jogo inaugural. Durante a negociação, era possível ouvir sotaques de português e até o portunhol, pois o álbum foi distribuído pela Fifa no mundo inteiro. “O conteúdo é o mesmo, só muda o idioma, então é possível trocar figurinhas com os brasileiros”, explicou um fã argentino interessado na imagem do compatriota Messi. À noite uns poucos jogos foram disputados enquanto a maioria dos alunos cir-

ENTREGA DOS CERTIFICADOS DO KEREN KAYEMET LEISRAEL (KKL) DURANTE O KABALAT SHABAT

culava pela Praça Carmel transformada em night club para a Festa do Atleta. “Pena que tenho de sair logo. Amanhã a competição de atletismo é cedo”, lamentava uma adolescente. No domingo, o ritmo da entrega de medalhas no pódio em frente ao playground se acelerou, pois a premiação do atletismo foi logo depois das provas das modalidades coletivas. “Os times de vôlei estão de parabéns pelo respeito às outras escolas, em quadra”, comentava a técnica das equipes de vôlei da Escola Alef, Mônica Becker, enquanto via algumas das suas atletas ganharem as medalhas. “Faltava uma técnica para a mo-

dalidade e eu me candidatei, como voluntária. Sou técnica estreante, mas a emoção que vivi hoje com as meninas quase se compara à minha participação na Macabíada Mundial, em 1986”, contou. “Mais importante do que as medalhas que acumulamos, foi que as garotas se integraram. Esse é o espírito macabeu”, acrescentou. Para o coordenador de esportes do Beit Yaacov, Beni Zimbarg, a primeira participação da escola em eventos macabeus repercutiu no seu trabalho acadêmico. “Muitos dos oitenta alunos que disputaram os Jogos nunca estiveram na Hebraica, e diante do entusiasmo deles

muitos outros pediram para se engajar nos treinos de futebol, handebol. O esforço anterior e durante o evento valeu a pena”, afirmou. As despedidas foram difíceis. A maioria das delegações voltou para casa domingo à tarde. “Foi muito além do que eu esperava. Quase cheguei à semifinal no tênis e perdi nas eliminatórias do xadrez, mas adorei cada minuto passado na Hebraica. Vou lembrar para sempre o momento em que desfilei sozinha carregando a bandeira do Comitê Israelita do Amazonas. No resto do tempo me diverti e fiz amizades. Ter estado aqui foi um grande prêmio”, avaliou Ana Csasznik. >>

ALUNOS DA ARGENTINA REPRESENTARAM A

AMÉRICA LATINA NOS JOGOS MACABEUS ESCOLARES

Os Jogos Macabeus Pan-Americanos Escolares se assemelharam em muitos aspectos aos eventos do movimento macabeu realizados no mundo inteiro. No entanto, algumas parcerias fizeram desta competição um episódio inédito da história do movimento macabeu na América Latina. Pela primeira vez, por exemplo, o Keren Kayemet LeIsrael (KKL) presenteou cada um dos mil envolvidos nos Jogos Macabeus (atletas, voluntários, técnicos e professores) com o certificado do plantio de uma árvore num dos seus bosques em Israel. A entrega simbólica foi feita pelo diretor do KKL Marcelo Schapochnik ao presidente dos Jogos Daniel Bialsky e a Avi Gelberg, presidente da Confederação Brasileira Macabi, durante o Kabalat Shabat. A adesão das escolas Bar Illan, do Rio de Janeiro, Yeshivá Or College, de Cotia, e a Escola Beit Yaacov evidenciou a diversidade das opções acadêmicas oferecidas dentro da comunidade judaica. E a integração entre estas e todas as outras escolas participantes do evento contribuiu para o caráter gregário dos Jogos.A participação de trinta alunos da Escola Martin Buber de Buenos Aires conferiu o toque latino aos Jogos. A comunidade judaica do Recife fez um esforço especial para participar dos jogos Macabeus. O Colégio Israelita de Pernambuco termina no primeiro ciclo do ensino médio, mas Ilana Kreimer reuniu um grupo de ex-alunos para representar a comunidade judaica do Recife. Embora estudem em escolas diferentes agora, apoiaram uns aos outros nas modalidades em que foram inscritos. Mais um exemplo do espírito macabeu.


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capa | parceria hebraica - confederação brasileira macabi >>

Prontos para a copa O

Centro de Danças foi o primeiro a promover um evento com temática voltada para a Copa do Mundo 2014. A Maratona, realizada no início de maio, ganhou o nome de “Imagina na Copa” e reuniu dançarinos vestidos a caráter, além de apresentar pocket shows de cada grupo de danças da Hebraica, entre eles um formado pelos chanichim e monitores do Centro Juvenil Hebraikeinu. A Praça Carmel será equipada com um telão para os torcedores acompanharem, juntos e com todo o conforto, os jogos da Copa. O Departamento Cultural programou para o dia 14 de junho uma “Noite Brasileira” no Espaço Adolpho Bloch, com decoração temática, música ao vivo, sorteios e jantar com grife Maria Fulô. “Estamos orgulhosos em trazer de volta para o grupo de colaboradores, a equipe de um dos bufês de maior categoria na gastronomia típica brasileira”, afirmou Sônia Rochwerger,

diretora responsável pelo evento. “Será uma noite animada, pois estamos em uma época em que tudo está ligado ao êxito do Brasil na Copa, o que inclui a música, a culinária e, certamente, a vontade de curtir uma noite animada com os amigos”, garante a diretora. E já que o esporte será o assunto predileto dos brasileiros durante este mês, o Departamento de Segurança preparou um evento para reativar o estande de tiro, com oficinas e demonstrações durante todo o dia 8 de junho. “Teremos os melhores profissionais, além da colaboração dos integrantes da equipe de tiro do Círculo Militar. A ideia é incentivar os sócios a praticar o tiro como esporte e para isso eles poderão contar com a orientação do nosso departamento”, informou o diretor do setor de tiro, Mauro Rabinovitch.

1º JOGOS MACABEUS ESCOLARES

QUADRO DE MEDALHAS COLÉGIOS

RANK

OURO

PRATA

BRONZE

TOTAL

PERETZ/ SP

36

25

13

74

LIESSIN/ RJ

24

12

3

39

ALEF/ SP

14

7

15

36

MARTÍN BUBER/ ARG

13

11

9

33

ELIEZER/ RJ

12

5

2

19

S. GUELMANN/ CUR

9

5

4

18

THEODOR HERZL/ BH

6

8

6

20

BEIT YAACOV/ SP

4

8

11

23

CIB/ P. Alegre

3

0

2

5

10º

COLÉGIO ISRAELITA/ Recife

2

2

4

8

11º

BARͲILAN/ RJ

1

3

5

9

12º

ORT

1

0

0

1

13º

RENASCENÇA/ SP

0

9

7

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14º

IAVNE/ SP

0

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0

7

COMITÊ AMAZONAS

0

0

0

0

OR ISRAEL COLLEGE

0

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0

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15º 16º NA MARATONA DE DANÇAS, OS GRUPOS VIERAM UNIFORMIZADOS COMO TIMES DE FUTEBOL

PANͲAMERICANOS

Or Israel College

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capa | parceria hebraica - confederação brasileira macabi

A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO DEPARTAMENTO GERAL DE ESPORTES DA HEBRAICA E DOS VOLUNTÁRIOS DA CBM RESULTARAM EM UM EVENTO BEM-SUCEDIDO QUE MESCLOU ATIVIDADES ESPORTIVAS E DE LAZER

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cul tu ral +social


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cultural + social > iom haatzmaut

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cultural + social > espaço gourmet

Ler para comer Interpretações do Gosto Mônica Rangel / Editora Senac / 234 pp./ R$ 98,90

REPRESENTAÇÃO DO CONSULADO DE ISRAEL EM SÃO PAULO RECEBEU CUMPRIMENTOS PELO YOM HAATZMAUT

Os 66 anos de Israel na Hebraica SHALOM FOI A PALAVRA MAIS OUVIDA NO SALÃO MARC CHAGALL NA COMEMORAÇÃO DO DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL, DESDE OS

CUMPRIMENTOS À ENTRADA AOS ANFITRIÕES LÚCIA E YOEL BARNEA, CÔNSUL GERAL; MAAYN E ELIAHU YONA, CÔNSUL ADMINISTRATIVO; KEREN E AMIT MEKEL, VICE-CÔNSUL

CÔNSUL BARNEA PASSOU A ANTÔNIO CAIO A HOMENAGEM DO YAD VASHEM

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vigário regional da prelazia da Opus Dei, monsenhor Vicente Ancona Lopez, resumiu: “Esperamos que nos 67 anos de Israel a paz seja uma realidade. E a visita do papa Francisco vai contribuir para Israel viver em paz, na terra que Deus lhe prometeu. Para a igreja católica, é uma grande aspiração”. Durante a cerimônia foi entregue o título póstumo de “Justo entre as Nações” a Antal Hencsey, húngaro, católico, falecido em 1954 que salvou judeus durante a Segunda Guerra Mundial e concedido pelo Yad Vashem (Museu do Holocausto, de Jerusalém). Quem o recebeu foi o bisneto Antônio Caio afirmando que “é uma enorme honra para minha família esta homenagem ao meu bisavô. Sua história foi sempre um exemplo para nós. A sua relação com o judaísmo o deixou bastante orgulhoso e ele, que não era judeu, hoje tem uma descendência judia”, disse Caio ao relatar que o avô, filho de Antal, “casouse com uma judia, tiveram um filho judeu, que se casou com uma judia, da qual sou filho. Que as ações dos descen-

dentes de meu bisavô sempre honrem seu nome.Am Israel chai” Entre os que circularam pelo salão estavam Rafael Eldad, embaixador do Estado de Israel no Brasil, representantes do corpo consular de vários países, entre eles, MMaikeletsi Dube (MMaiky), cônsul geral da África do Sul, Maurício Blazcek, delegado geral da policia civil do Estado de São Paulo, Ângela Aranha Coelho, neta de Oswaldo Aranha, e filhos Guilherme e André Aranha Coelho e vereador Floriano Pesaro. A Hebraica esteve representada por seu presidente, Abramo Douek, os expresidentes Marcos Arbaitman, Samsão Woiler e Jack Terpins, também presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, e a diretoria executiva. Os rabinos Sami Pinto, Michel Schlesinger e Reuven Segal. Benny Ostronoff, da Chazit, Ariel Kovesi, do Campo de Estudos e Alex Rutman, da Avanhandava. No encerramento, Guy King, cantor e compositor nascido em Israel, um dos maiores nomes mundiais do blues contemporâneo, cantou a Hatikvá.(T. P. T.)

O sabor e os perfumes do Tanger “MUITO DA COMIDA ESTÁ NA ENERGIA DE QUEM FAZ E EU ACREDITO”, DISSE A ISRAELENSE ARIELA DOCTORS (FOTO), DO RESTAURANTE TANGER, NA PRIMEIRA AULA DE COMIDA MARROQUINA NO ESPAÇO GOURMET

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á quatorze anos, Ariela dirige o Tanger, casa conhecida pelas maravilhas da culinária do Marrocos e instalada na efervescência da Vila Madalena. A receita apresentada no Gourmet foi o delicioso “tagine de cordeiro com couscous marroquino”, preparado em grande quantidade e com tempero adocicado. Quem não apreciava o tempero, assistiu à aula, provou e aprovou. A receita foi explicada em detalhes até a montagem, para mostrar como é feito de diferentes maneiras no extremo noroeste da África: açafrão, louro, mel de flor-de-laranjeira, uvas passas perfumaram o ambiente. Pitadas da história familiar acompanhavam pitadas de temperos. “Minha avó servia leite com canela à noite e

quando perguntava as medidas de alguma receita, dizia: ‘Não tem quanto... vai colocando’”. Assim avó, filha e neta se revezavam na cozinha do Tanger. A trajetória da família começou com o bisavô de Ariela: ele deixou mulher e filha em Tanger, veio para o Brasil no início do século 20 abrir a estrada de ferro Madeira-Mamoré, na Amazônia, e casou-se com uma índia. O filho dele, cozinheiro, saiu de Tanger para a França, viveu doze anos, imigrou para o Rio de Janeiro com a mulher e a filha, que se casou com um brasileiro. A família foi para Israel, onde nasceu Ariela, que veio para São Paulo no colo. A chef estudou no Peretz, formou-se em produção de rádio e tv, casou-se com Caio, também gastrônomo. (T. P. T.)

Mônica é a chef Do Gosto com Gosto,em Visconde de Mauá, eleito o melhor restaurante de comida mineira do Brasil e elogiado aqui e lá fora. Quem o conhece diz que vale a pena rodar trezentos quilômetros só para degustar o que de melhor a centenária cozinha mineira produziu. As receitas que executa no restaurante são patrimônio nacional e uma questão cultural e isso explica porque ela lidera o Movimento Brasil à Mesa, corporação de profissionais pela valorização da culinária nacional. E como as receitas são patrimônio nacional, estão à disposição dos interessados.

Os Banquetes do Imperador Francisco Lellis e André Boccato Editora Senac 447 pp./ R$ 198,00

Francisco Boccato era jornalista e André Lellis, professor de cursinho, mas tão apaixonados por gastronomia que até fundaram uma editora. Pesquisaram o suficiente para escrever uma verdadeira história da culinária nacional a partir do que encontraram em pastas do Arquivo e da Biblioteca Nacional. Desta arqueologia surgiram, por exemplo, a “Collecção” de Dona Thereza Christina Maria, a imperatriz,mulher de D. Pedro II, e os menus que ela foi juntando nos banquetes que promovia e naqueles dos quais participou em viagens. O livro termina com muitas receitas e com uma descrição do Baile da Ilha Fiscal.


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cultural + social > hebraica meio-dia

NO PIANO, JONAS DANTAS ACOMPANHOU A SELEÇÃO ESCOLHIDA POR CARLOS NAVAS

A boa MPB antes do almoço CARLOS NAVAS CANTOU NO HEBRAICA MEIO-DIA. SEUS

PRÓXIMOS SHOWS ESTÃO MARCADOS PARA OS DIAS 14 E 21, ESTE COM MÚSICAS PARA CRIANÇAS, NO MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA

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show no Teatro Arthur Rubinstein homenageou as mães com um repertório que reinterpreta clássicos da música popular brasileira. Neste show,Carlos Navas reverenciou ícones nacionais com Nada Além, de Custódio Mesquita e Mário Lago; Gavião Calçudo, de Pixinguinha; Jura, de Sinhô, entre outros, acompanhado pelo pianista Jonas Dantas e produção de Danillo Sangioy. Todos aplaudiram a releitura de Você Vai Ser o Meu Escândalo, de Roberto e Erasmo Carlos, e João e Maria, de Sivuca e Chico Buarque, canção infantil que os adultos adoram. “Gosto muito deste projeto, que não se rende ao banal, e agradeço por fazer parte

dele, estou pela quarta vez neste palco”, disse Navas. A programação de maio continuou com Danilo Brito e Carlos Moura apresentando “Primas e Bordões”, a Muller’s Band e o Klezmer S/A. A diretora do Hebraica Meio-Dia, Nicole Borger, quer diversidade cultural para atender a todos os gostos.(T. P. T.)

AGENDA

1º/6–Não haverá programação 8/6 –Chazan Avi Burstein 15/6–Danças Folclóricas de Portugal 29/6 – Cantora e compositora Anabel Bian


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COLUNA 1 Pela segunda vez, o conjunto da obra de Jacob Klintowitz é destacada no premiação anual da Associação Brasileira de Críticos de Arte (Apca) e por isso recebeu o Prêmio Gonzaga Duarte, pelo trabalho desenvolvido durante o ano de 2013.

coluna comunidade

Na fila dos autógrafos

Os correspondentes da Globo News em Buenos Aires e Nova York, Ariel Palacios e Guga Chacra, lançaram o livro Os Hermanos e Nós, na Livraria da Vila/ Lorena. Na fila de autógrafos, os alunos do ensino médio Ernesto Honigsberg e Vitor Lerner, acompanhados do diretor-geral Carlos Dorlass, e do coordenador da área de língua portuguesa Jorge Makssoudian, todos do Colégio I.L.Peretz. Foram conhecer pessoalmente os jornalistas, com os quais semanas antes debateram a obra, por videoconferência, no colégio.

Desenhos para o calendário do KKL “Deserto também é vida” foi o tema que a diretoria do Keren Kayemet LeIsrael (KKL) escolheu para o tradicional concurso de desenhos destinado a alunos entre 12 e 13 anos das escolas judaicas. O regulamento está na página oficial da entidade no Facebook (facebook.com/ kklbrasil). Um júri ligado a marketing e comunicação escolherá os três melhores trabalhos que serão publicados no luach (calendário) de 5775 do KKL cujos autores receberão tablets e certificados de plantio de árvores no Bosque Brasil, em Israel.

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por Tania Plapler Tarandach

Direto de Tel Aviv, ao vivo

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Universidade de Tel Aviv (TAU) concedeu o título de Doctor Philosophae Honoris Causa a Fernando Henrique Cardoso. Em anos anteriores foram a chanceler alemã Angela Merkel e o Nobel da Paz Elie Wiesel O ex-presidente viajou a convite da Sociedade dos Amigos Brasileiros da TAU, presidida por Mário Arthur Adler, e o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, estava na comitiva. O Portal Terra transmitiu a cerimônia ao vivo. FHC foi o orador principal e lembrou fatos como a morte de Vladi-

mir Herzog e a contribuição de judeus na sociedade brasileira, citando Clarice Lispector, José Mindlin, José Goldemberg, e outros. Também se referiu à importância do comércio bilateral. Enquanto tentava desembaralhar as páginas de seu discurso, ficou à vontade para agradecer a um dos professores da TAU o esforço em falar duas frases em português para saudar o novo doutor. FHC falou da “energia da sociedade israelense” e sugeriu que o Estado se tornasse “protagonista no processo de paz no Oriente Médio”. Terminou parafraseando Hilel: ”Se não vocês quem? Se não agora, quando?”

Israel na Laad

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Ministério de Exportação de Israel participou da Laad Security – Feira de Segurança Pública, de empresas nacionais e internacionais fornecedoras de tecnologias, equipamentos e serviços para forças armadas, forças policiais e especiais, Law Enforcement (aplicação da lei) e Homeland Security (segurança Interna). Ela é realizada anualmente no Riocentro (RJ), e no pavilhão de Israel havia empresas como Defense Update, Rafael, Controp, Fab Defense, Mistral Group, Beit Alfa Technologies e Geospotx.

∂ Em Nova York, o designer paulistano Andree Guittcis assistiu à estreia de An American Tragedy, durante o The Glimmerglass Festival. A segunda edição do Forum Mube/Arte tratou do tema “Preconceito” e teve a mediação do diretor da casa Olívio Guedes. Mais um trabalho da promoter Carolina Birenbaum, dias antes de viajar a Israel. O vereador Floriano Pesaro abriu o Seminário Interativo pela Primeira Infância, na Câmara Municipal.

Elogio a artigo de Roberto Romano Alexandre Herchcovitch interpreta o estilista Fernandinho Schwartzkovitcen em “Surtadas na Yoga”, episódio na tela do canal GNT.

De volta aos palcos nova-iorquinos, Dudu Fisher apresentou-se no Kaufmann Concert Hall com seu especial “In Concert from Israel”, ovacionado pela plateia.

As psicólogas Adri Dayan, Dina Azrak e Elisabeth Wajnrit abordaram o difícil tema “Como Falar para seu Filho Ouvir”, em palestra assistida por jovens casais no Templo Ohel Yaacov.

Federação Israelita de Pernambuco, Na’amat e Livraria Cultura/Paço da Alfândega promoveram a ida de Celso Zilbovicius ao Recife para falar de “Holocausto: a Necessidade de Renovar a Memória”.

Direto de Paris Coq au Vin com Feijoada é o título do livro de Milton Blay, jornalista radicado na França há muitos anos. O primeiro lançamento nacional juntou a Editora Contexto e a Livraria da Travessa, no Rio de Janeiro.

Os amigos estavam todos na festa da Getúlio Vargas (GV) para comemorar a formatura de Marcelo Ajzen.

Aos 78 anos, Henrietta, que todos conhecem como Rita Braun, escreveu o livro Fragmentos de uma Vida, contando o que passou durante a Shoá e dando ao leitor a oportunidade de refletir a respeito dos acontecimentos da época. Esse foi o tema de sua palestra no Bait Centro Judaico.

Ana Rosa Rojtenberg está na tela do “Shalom Brasil”. A apresentadora tem um quadro só dela, AnaRosa@ Atualidades, entrevistando gente interessante, a sua especialidade.

Realizada em 2012 no Sesc/Bom Retiro, a mostra “Marcas

Registradas” ganhou remontagem no Museu da Casa Brasileira (MCB). Curadoria de Salomon Cytrynowicz, revelando a diversidade gráfica e as cores que criaram a identidade visual do mobiliário das barracas de comércio de rua em Salvador (BA). Ao lado das peças de vários usos, as fotos do arquiteto Michel Gorski, e patrocínio da Construtora Atlântica Cibracon. A Marriott International realizou Global Sales Mission, evento anual reunindo seustaff ao redor do mundo. Sharon Dayan, diretora de vendas e marketing para Cancún, esteve no Renaissance São Paulo Hotel. O maestro Cláudio Cohen regeu a Orquestra Sinfônica de Brasília, na Sala São Paulo, com renda revertida para ações da ONG Autismo & Realidade. Com a apresentação do pianista internacional Álvaro Siviero.

Quando você ler esta nota já terão sido decorridos quase tinta dias desde a publicação, na edição de 11 de maio passado, deO Estado de São Paulo, de um artigo do professor Roberto Romano, da Unicamp, com o título ASSASSINOS! Mas vale a pena pesquisar. Para tratar do assassinato por linchamento de Fabiane Maria de Jesus, no bairro de Morrinhos, no Guarujá, o professor,ex-frade dominicano, preso e torturado na ditadura civil-militar, percorre etapas da história em que pontificam preconceitos, calúnias contra minorias, intolerâncias e genocídios programados por dirigentes religiosos ou políticos. Por isso, ele mostra como os judeus foram, ao longo dos séculos, as vítimas preferidas e eleitas nem que, para tanto, os mentores fossem obrigados a deturpar a palavra da Bíblia, interpretando-a como quisessem. Pelas referências bibliográficas o artigo também interessa a quem quiser se aprofundar no tema.

Israel na Copa do Mundo O time de futebol de Israel não entrará em campo no Brasil, mas o país estará representado por sua tecnologia. A empresa israelense Risco Group é a responsável pelo sistema de comando, controle e mais outros itens avançados de segurança no estádio Arena Pantanal, na cidade de Cuiabá (MT), que receberá 44 mil espectadores. A Risco Group tem centro de desenvolvimento em Rishon Letzion e um de produção em Kiryat Gat, e ossistemas, testados e aprovados pela Fifa, controlarão as entradas do estádio, incluindo portas, portões e catracas, e identificarão as pessoas que tentarem entrar com bilhetes falsificados. Outra empresa que vai atuar na Copa do Mundo é a Elbit Systems, que vai fornecer doisdronesHermes 900, para patrulha durante o torneio.


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cultural + social > comunidade+coluna1

A Casa do Povo, criada há sessenta anos por judeus progressistas e berço do Teatro de Arte Israelita Brasileiro (Taib) foi onde a Conib lançou o segundo “Cadernos Conib”. Eles trazem textos da diretora do Instituto Lula, Clara Ant, da ex-senadora Eva Blay e dos jornalistas Henrique Veltman e Carlos Brickman, presentes no lançamento, entre outros. “Não haveria melhor local possível para o lançamento: este foi um verdadeiro espaço de resistência às forças antidemocráticas”, afirmou o presidente do Conselho Deliberativo da Casa Jairo Degenszajn. A publicação será entregue aos alunos do ensino médio das escolas judaicas formais no Brasil, e está disponível para download no sitewww.conib.org.br.

Moisés Miastkwosky sai de cena Dia 6 de maio as cortinas se fecharam para Moisés Miastkwosky, que foi diretor de teatro, membro da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat), do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos (Sated), do Instituto de Artes Cênicas do Estado de São Paulo (Icacesp), da TaskBrasil, com sede em Londres, Inglaterra. Criou o setor de artes cênicas do Conservatório de Tatuí, do qual foi diretor durante muitos anos e idealizou o Festival Estudantil de Teatro. Formado em Artes Cênicas na Bélgica, estagiou no Théâtre Royal de La Monnaie e estudou na Houston Academy of Dramatic Arts no Texas. Encenou mais de oitenta espetáculos como O Levante do Gueto de Varsóvia e o Diário de Anne Frank. Durante dez anos orientou na Hebraica muitos atores que hoje fazem parte da cena brasileira.

COLUNA 1

∂ Após um cruzeiro pela Estônia e Finlândia, Fryda e Sérgio Megrich esticaram a viagem pela Noruega, Suécia e Dinamarca. Em uma nova lua-de-mel, após 25 anos de casados. O israelense Itzik Galili recebeu a encomenda de preparar uma coreografia para o Balé da Cidade de São Paulo e concebeu Balcão do Amor. Peça baseada na música do compositor cubano Perez Prado, influência presente desde quando Galili era criança.

Cool-hunteré o profissional capaz de indicar novos desejos do consumidor, estilo de vida, etc. Este é o título do curso via internet de Sabina Deweik, sócia no Brasil do instituto de pesquisas de tendências de consumo Future Concept Lab, por meio do Comuniquese Educação. Juan Jose Jusid, figura importante na cinematografia argentina, é o diretor de Los Gauchos Judíos. Tal pai, tal filho, Federico Jusid compôs a trilha de Getúlio, cujo set de filmagem foi o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. A galeria Emma Thomas expôs a peça exclusiva, uma pulseira, desenvolvida pela designer de joias Alessandra Schiper com a artista Rosana Ricalde.

Michelle Obama premia o ídiche

Câmara Brasil Israel de Comércio e Indústria comemorou 55 anos de atuação com um almoço no Buffet França. O convidado foi o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini. “A Câmara vem conquistando prestígio e credibilidade promovendo Israel no Brasil, e vice-versa. Somos pioneiros e protagonistas nessa longa relação entre os dois países”, disse o presidente da entidade, Jayme Blay. Tombini destacou que “o Banco Central tem trabalhado para a inflação ficar sob controle e inicie um processo de convergência para a meta. Em momentos de maio-

Em 1980, em Massachusetts (EUA), foi fundado um Centro de Livros em Ídiche, que já arrecadou mais de um milhão de livros e publicou online textos completos de doze mil títulos. Recentemente, a primeira-dama Michelle Obama entregou ao fundador e atual presidente do Centro, Aaron Lansky, a Medalha Nacional da Biblioteca e Museu da Ciência, a mais importante honraria a museus e bibliotecas nos Estados Unidos.

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∂ Jovens e recémformados, Felipe Poroger e Quico Meirelles idealizaram e são os curadores do I Festival de Finos Filmes Curtos. Com exposição e pré-estreia badalada no Shopping Pátio Higienópolis, seguida de exibições também no Museu da Imagem e do Som, Cinusp, Faap, Centro Universitário Maria Antônia e Livraria da Vila. No Festival, entre os curtas internacionais, os israelenses How

I Killed Rabin, de Michael Alalu, eWashed, de Daphna Miro. Em “Caminhos do Cinema”, dedicado aos estudantes da Sétima Arte, Maira e Lina Fridman mostraram a animação Doce Ballet; Marco Lafer & Gustavo Moraes apresentaram o videoclipe O Terno 66 & Inky Baião.

consulesa de Israel Lucia Barnea falou na Hebraica a respeito de Iom Haatzmaut para o grupo Chaverim, acompanhada da assessora do consulado Ilana Kutner. O encontro foi durante a oficina de cultura judaica e a consulesa surpreendeu-se com o interesse e conhecimento dos jovens, que quiseram saber mais detalhes do trabalho da diplomacia israelense e da história de Israel. Fizeram perguntas e no final cantaram Hatikva.

res desafios na economia é preciso uma autoridade monetária, que permita aos empresários desempenhar negócios em estabilidade.”

Estreia no Teatro Anne Frank

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Na’amat Pioneiras São Paulo mais a Confederação Brasileira Macabi e a Hebraica, realizaram a pré-estreia de Eu, Chaplin, no Teatro Anne Frank lotado. A Cia. Imperial do Brasil valeu-se da autobiografia do gênio do cinema Carlitos, usando a técnica do ilusionismo e do teatro negro, unindo emoção e comicidade. “A Na’amat SP comprou o nosso sonho e é disso que a cultura no Brasil precisa”, destacou Tadeu Pinheiro, que interpreta Charles Chaplin. Sérgio Zaborowsky aplaudiu. Ele foi “prestigiar o evento e também a sobrinha Fernanda, que faz parte do elenco. Adorei o texto e o trabalho dos atores, além do final surpreendente”, ressaltou. O patrocínio foi da Caixa Econômica Federal, e a renda revertida ao Departamento da Criança/Ações Comunitárias da Na’amat Pioneiras São Paulo.

Graça Bueno, da galeria Passado Composto, agenda a publicação de Jorge Zalszupin, escrito por Maria Cecília Loschiavo, com lançamento simultâneo em São Paulo e Nova York.

Iom Haatzmaut com o Chaverim

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Atuação no comércio bilateral foto Eliana Assumpção

Conib lança publicação

Encontro com o maestro

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ias antes de estrear a ópera Carmen, de Bizet, no Theatro Municipal, o maestro John Neschling participou de um bate-papo com dirigentes da Congregação Israelita Paulista, entidade para a qual foi destinada a renda do espetáculo. O maestro falou sobre a alegria de contar com a mezzo-soprano israelense Rinat Shaham nessa récita, que faz parte da temporada lírica paulistana.

Mudar para melhor Quem tiver interesse numa mudança de paradigma na vida tem uma alternativa com o novo curso do rabino Avraham Steinmetz. As aulas vão até 24 deste mês, no auditório do Banco Daycoval. Informações 3081-3081, com Sarah.

AGENDA •

8 e 9/6 – Das 10 às 18horas, Tradicional Bazar Beneficente Wizo. No Clube Piratininga, Alameda Barros, 376, Higienópolis 14 a 29/7 – Marcha da Vida Universitários. Jovens de 20 a 30 anos. Polônia, República Tcheca e Israel. Vagas limitadas. Informações, v.uni@fundocomunitario.org.br 24 a 28/8 –Perlas Tour em Campos do Jordão. Hotel Orotour Garden. Informações: fone 982-593-547 e pelo e-mailpmosseri@hotmail.com 7 a 12/9 –Viaje com as Pioneiras. Caldas da Imperatriz (SC). Passagem aérea, seguro viagem, hospedagem com pensão completa, city tour de praias e passeio ao Pouso do Tapeceiro.Informações, fone 3667-524, 2 a 6/11 – Seminário Wizo Aviv Internacional em Israel


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cultural + social > comunidade Maçonaria cria o Dia da Tolerância As lojas maçônicas Rei David, Rei Salomão, Manuel Tarnovschi, Fraternidade Canaã, David Iampolsky, Memória e Tradição, Perfeita União, Zohar, União 112 e Roberto Muszkat realizaram ato solene, no Templo Piratininga do Palácio Maçônico do Grande Oriente de São Paulo, decretando o “Dia Maçônico da Tolerância entre os Povos, Raças e Religiões”. A data coincide com o Iom Hashoá, quando são lembrados os mortos durante a Segunda Guerra Mundial, por serem judeus, ciganos e homossexuais. Por extensão, os maçons incorporaram ao decreto os genocídios de armênios, índios e negros. Durante o ato foi assinada a proposta, de iniciativa do vereador Floriano Pesaro, para incluir a data no calendário da cidade de São Paulo.

A arte e a beneficência “Elis A musical” teve uma das apresentações em benefício dos projetos sociais do Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar (Ciam). No Teatro Alfa lotado havia pessoas assistindo pela primeira vez, e outras pedindo bis, a noite foi comandada pela presidente honorária Anna Schwartzman, Bela e o presidente eleito Milton Clerman.

Marchar para não esquecer

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ntre os quase mil participantes da 11ª. Marcha da Vida Regional, a maioria era de jovens, com camisetas brancas, com faixas e bandeiras de seus movimentos. Eles caminharam dois quilômetros até o Cemitério do Butantã ao lado de dirigentes comunitários, rabinos, sobreviventes da Shoá e pessoas que reconhecem a importância de jamais esquecer este episódio. “Somos todos sobreviventes do Holocausto!” foi o tema do ato solene, realizado junto ao monumento dos judeus mortos nos campos de concentração. “Buscamos reunir toda a comunidade em torno de um ato central e o tema foi trabalhado previamente com as escolas e movimen-

tos juvenis. Hoje, os participantes puderam deixar suas mãos marcadas com tinta em uma faixa com esses mesmos dizeres”, disse o coordenador da área de juventude da Federação Israelita, Henry Gherson, promotora da Marcha com apoio da Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo, Marcha da Vida Brasil e Sherit Hapleitá do Brasil.

Israel divulga roteiros turísticos Mais de mil expositores de todo o mundo participaram do World Travel Market, realizado no Transamérica Expo Center e considerado um dos mais respeitados eventos mundiais de turismo. Vizinho do estande da Jordânia, o do Ministério de Turismo de Israel reuniu operadoras e empresas relacionadas ao turismo, com um número recorde de visitação e interesse em torno dos produtos para os turistas.

Incentivando o empreendedorismo

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31ª edição da Feira da Comunidade repetiu o sucesso das anteriores, reunindo expositores, empreendedores individuais e microempresários, que aguardam as duas oportunidades anuais do Departamento de Geração de Renda de Na’amat Pioneiras, dirigido por Miriam Doris Lilienfeld, para co-

mercializar produtos e serviços. Mais de oitenta expositores tomaram o Salão Marc Chagall, atendendo ao grande público. Durante o evento foi lançada a edição 2014 do “Guia de Produtos e Serviços da Comunidade”, com quase trezentos anunciantes da comunidade.


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1 e 4. No Centro da Cultura Judaica (CCJ), fotógrafo André Nehmad faz

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1. A volta à Casa do Povo para o lançamento dos “Cadernos Co-

pose com a cantora etíope Hagit Yaso; Marcela e Raul Meyer fizeram as

nib”, em segunda edição; 2. “A Alegria de Comunicar”, tema de

honras para os músicos israelenses Yehonatan Gitelman e Alon Gilen-

Ricardo Viveiros para a Feliz Idade; 3. Apresentação da Orques-

ziger; 2, 3 e 5. Valentina, a presidente de Honra do Ciam Anna Schvartz-

tra de Câmara L’Estro Armonico ao meio-dia; 4. Tal pai, tal filho,

man recebeu Dora Rosset e Lilian Nigri; e o presidente Milton Clerman

Sérgio e Felipe Poroger, no MIS; 5. Noite com a chef Dani Pada-

com o casal Thomas Frank Tichauer na noite de Elis A especial; 6. Bat-

lino no Gourmet; 6. “Do Surgimento do Sionismo aos Confli-

sheva Ensemble veio de Israel para “O Boticário na Dança”, em pleno Par-

tos Atuais”, tema de Samuel Feldberg na Casa do Saber; 7. Ber-

que Ibirapuera; 7 e 8. Abramo Douek e Jayme Blay na Mansão França

ta e Abramo Douek e Gaby Milevsky receberam a consulesa da

no aniversário da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria; Carlito e

França em São Paulo, Alexandra Loras; 8. Márcia e David Igue-

Sasson Dayan com o palestrante do evento, presidente do Banco Central

lka aplaudiram Eu, Chaplin, no Teatro Anne Frank; 9. Sima Woi-

Alexandre Tombini e, ao fundo, Paulo Proushan

ler dedicou uma tarde da Galeria para o Grupo Chaverim


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1, 2, 3, 4, 6 e 7. Chazan Márcio Besen, maestrina Sima Halpern, Coral Sharsheret e Regis Karlik; Clarice Josezf, presidente de Na’amat Pioneiras, vice-cônsul Amit Mekel e consulesa Lúcia Barnea; Mãe e filha, Geni Abuleac e Anna Schvartzman; rabino Michel Schlesinger e vice-presidente executivo da Fisesp, Ricardo Berkiensztat; a alegria do staff na comemoração de Iom Haatzmaut no Teatro Arthur Rubinstein; 5. Na sede de Na’amat, duas sobreviventes da Shoá: Klara Kielmanovicz e Nanette Konig; 8. Equipe do Ministério de Turismo de Israel no estande montado para a WTM Latin America, no Transamerica Expo Center


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juventude > show

E N T R E V I STA

Uma sabra especial A JOVEM CANTORA HAGIT YASO APRESENTOU-SE NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN EM UM

SHOW BENEFICENTE QUE AJUDARÁ OS ALUNOS DA DÉCIMA NONA TURMA DO MEIDÁ A VIAJAREM PARA ISRAEL

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ELA COMEÇOU A CANTAR QUANDO PRESTAVA SERVIÇO MILITAR, E NÃO PAROU MAIS

s alunos da décima nona turma do curso de líderes Meidá se dedicaram à divulgação do show da cantora Hagit Yaso, descendente de judeus etíopes, que venceu um programa de TV em Israel semelhante ao The Voice. O espetáculo fez parte da programação do clube para Iom Haatzmaut, que se iniciou com a tradicional cerimônia de Iom Hazikaron, em homenagem aos soldados mortos nas guerras durante os 66 anos de história do Estado de Israel. Todos os ingressos foram vendidos e a cantora surpreendeu desde o primeiro número,quando foi acompanhada somente por teclado e percussão. Conquistou a plateia, que fez um grande coro nos refrãos. No final do show, Hagit foi muito cumprimentada no camarim e prometeu voltar ao Brasil. Ela conversou com a reportagem da revista Hebraica num intervalo do ensaio para o show que faria à noite. (M. B.)

Jovens engajados Há anos, a vice-presidência de Juventude da Hebraica tem sido a anfitriã na cerimônia de Iom Hazikaron realizada tradicionalmente na Praça Jerusalém, sob uma enorme bandeira de Israel. Dela participam os alunos do curso de líderes Meidá, os grupos de teatro, o Centro Juvenil Hebraikeinu, o coral e, no encerramento, quando a solenidade do momento é quebrada pela alegria da comemoração do Iom Haatzmaut, que em Israel é celebrado no dia seguinte a Iom Hazikaron, um grupo de danças folclóricas, em geral o Shalom, encerra a noite com arte e movimento. Este ano, o presidente Abramo Douek leu um emocionado discurso relacionando as duas datas e mostrando sua conexão com o futuro dos jovens que atuam no clube.

HAGIT FOI ACOMPANHADA DE TECLADO E PERCUSSÃO, MAS A VOZ POTENTE PODIA DISPENSÁ-LOS

Tratamento de estrela Hebraica – Quais são as suas primeiras impressões de São Paulo? Hagit Yaso – Há muito quero conhecer o país como turista. Não imaginava que minha primeira visita seria como profissional. Estou muito feliz em estar aqui. O que sabia do Brasil e da comunidade judaica brasileira? Hagit– Não sabia nada sobre os judeus no Brasil Ouvi falar do futebol, das belezas do país, pois muitos amigos já estiveram aqui a passeio. Cheguei hoje e fiz um rápido tour pela cidade antes de vir para o teatro ensaiar. Pelo pouco que vi do clube, estou impressionada. Mais ainda por saber que é parte da vida comunitária dos judeus de São Paulo. Como escolheu o repertório do show? É o mesmo que apresenta em Israel? Hagit– Sim. Quando escolho as músicas, penso no que gosto de ouvir como espectadora. Gosto de canções que conheço e posso partilhar com o público. Então a maioria dos números é ligada à história de Israel e tem também canções

em inglês que apresentei no concurso televisivo que venci, em 2011. Espero que agrade os brasileiros. Como define a sua geração, a primeira depois da imigração dos etíopes em Israel? Hagit– Eu e minhas duas irmãs nascemos em Israel, quando os meus pais eram recém-chegados no país. Foi difícil, pois vínhamos de uma aldeia onde não havia nada e eles tiveram de aprender tudo. Para eles, tudo era novidade, luz elétrica, água encanada, vaso sanitário, telefone, etc. E nós, crianças, de certa forma ensinávamos a eles, pois aprendemos hebraico e então fomos quase professores dessa geração que chegou adulta a Israel. Hoje os jovens da minha idade completaram o ensino médio e têm profissões que aprenderam no exército. Eu, por exemplo, cantei numa banda do exército durante todo o período de serviço militar e o tecladista que me acompanha hoje tocava no mesmo grupo. Como descobriu a música para opção profissional? Hagit – Meu pai gosta muito de música

e transmitiu esse amor às filhas. Estudei música na infância e quando cheguei ao exército, fui designada para uma das muitas bandas formadas para entreter e manter a moral dos soldados. A decisão de participar do programa foi tomada repentinamente. Cheguei quase no final das inscrições e aceitei o desafio. No princípio, minha família não acompanhou a evolução do torneio, mas já quase no final, eu tive o apoio do meu pai, mãe e irmãs, o que foi muito importante. Agora me vejo em meio a uma turnê na América Latina. Quase não acredito que vou cantar na Argentina, Uruguai e outros países! Qual a expectativa para a noite de hoje? Hagit– Estou acostumada a me apresentar em público, mas aqui recebi tratamento vip. Tudo o que pedi está no palco, agora alguém cuida dos meus cabelos. Toda hora me perguntam do que preciso. Um verdadeiro tratamento de estrela. Não vejo a hora de entrar no palco e conhecer a simpatia do público brasileiro que internacionalmente é tão famosa. Será que vão simpatizar comigo?


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juventude > comportamento

Elas têm só 12 anos A TRADIÇÃO JUDAICA ESTABELECE 12 ANOS PARA AS MENINAS E 13 PARA OS MENINOS COMO AS IDADES DA TRANSIÇÃO PARA A FASE ADULTA, E A PREPARAÇÃO PARA A CERIMÔNIA DE BAT E BAR-MITZVÁ

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ouise Gordon tem 12 anos, estuda na Escola Viva e, como outras 21 meninas, e frequenta as aulas de batmitzvá na Hebraica. O curso inclui a participação nas comemorações do calendário judaico como Seder de Pessach, que as professoras realizam antes da festa para dar às garotas algumas das vivências ligadas à maioridade judaica de que tanto se fala durante as aulas. Na agenda, Louise prioriza também as aulas de canto no Centro de Música Naomi Shemer. “Eu estudava violão. Comecei a cantar no meio de uma aula, o professor me elogiou e sugeriu que eu começasse o curso”, conta a garota. Para manter a forma, ela pratica ginástica. “Jogava vôlei, mas parei”, observa. A matéria preferida na escola é o inglês e pretende ser advogada. “Não sou muito fã de moda, prefiro conversar sobre carros, tv e me comunicar pela rede social Instagram.” Outras meninas da sua idade partilham pelo menos o gosto pela tv e a opção pelo Instagram. Gabriela Hibner,

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juventude > homenagem

aluna da Escola Alef, pratica inglês, piano e tênis fora do clube. “Gosto das três atividades, assisto às aulas de bat no colégio e ainda acho tempo para cozinhar”, conta, diante das colegas, ansiosas para terem a rotina descrita nas páginas desta revista. Nicole Kitner dispensa a tv. “Gosto de tênis, como espectadora ou sacando na quadra. Quando sobra um tempo, depois das lições, paro para acompanhar o que acontece no Instagram.” Daniela Goichman tem dificuldade para dizer do que mais gosta: se das aulas de jiujítsu, de tênis, jazz ou vôlei, esporte que pratica na Hebraica. “Pensando bem, minhas amigas no clube fazem muita diferença. Anote que é o vôlei”, decide, ao mesmo tempo em que anuncia a intenção de em breve retomar as aulas de canto. No futuro, psicóloga ou cantora. Melissa Charchat, também aluna do Alef, estuda inglês no Alumni, aproveitando a parceria do After School. “Além das aulas, aproveito a estrutura do After para fazer meus deveres de casa. Quase

AS ALUNAS DE BAT-MITZVÁ DA HEBRAICA TÊM UM HOBBY EM COMUM: A GASTRONOMIA

nunca uso a sala de jogos”, comenta. Na roda formada pelas alunas do Alef, Anna Cyrulin se destaca pelos horários atualmente disponíveis na agenda de atividades. “Eu praticava vôlei, mas no momento não faço nada além da escola. Prefiro ficar em casa brincando com os cinco cachorros e gosto de cozinhar”, conta. Em contraste com a afirmação da colega de classe, Tali Finger enumera as atividades que disputam a atenção dela com a escola: “Jogo handebol, futebol, vôlei e estudo violão. Odeio não fazer nada”. O esporte seria seu caminho profissional, mas ela considera irreal a possibilidade de se tornar atleta. “Quero escrever, estudar direito ou biologia, pois ciências é uma das minhas matérias favoritas na escola.”Das entrevistas feitas, especialmente com as alunas do Alef, ciências é unanimidade, assim como o gosto pela gastronomia como atividade de lazer. Embora se preocupem com a silhueta, as jovens bnot mitzvá cultivam a gastronomia como interesse comum, como foi constatado pela professora do curso de bat-mitzvá da Hebraica, Joyce Szlak. “Fiquei surpresa em ver na turma de 2014 o grande número de meninas que se interessa por culinária. Sem perceber, elas se aproximam do perfil da mulher virtuosa (Eshet Chail) tão decantada na tradição judaica”, constata. (M. B.)

VÁRIOS SETORES DA JUVENTUDE SE UNIRAM PARA HOMENAGEAR OS HERÓIS DE ISRAEL

Em honra da bravura UMA GRANDE BANDEIRA DE ISRAEL FOI INSTALADA NA PRAÇA JERUSALÉM E DESPERTOU A ATENÇÃO DO GRANDE PÚBLICO QUE CIRCULOU

PELO CLUBE DURANTE OS JOGOS MACABEUS ESCOLARES, NA PRIMEIRA SEMANA DE MAIO

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Juventude celebra tradicionalmente o Iom Hazikaron, data em que lembramos os soldados mortos nas guerras enfrentadas por Israel”, explicava um jovem do curso de líderes Meidá. Horas antes do cair da tarde do domingo, o gramado recebeu cadeiras, um púlpito e candelabros de todos os tamanhos. Os primeiros a chegar foram os alunos do Meidá, os integrantes do Hebraikeinu e dos grupos de dança que realizaram as homenagens naquela noite. Abramo Douek (foto ao lado) recepcionou os presentes e fez um breve discurso. Em homenagem aos soldados, os jovens realizaram uma cerimônia com tochas e o diretor superintendente Gaby Milevsky recitou um poema em hebraico, traduzido pela jovem Murial Klar Benhaim. Em seguida, Ilan Feldman discursou em nome da Juventude da Hebraica. Coube ao chazan David Kullock entoar as preces em honra dos mortos, o Kadish. No encerramento do ato de Iom Hazikaron, o público recebeu rosas que foram

depositadas em um memorial dedicado aos soldados. Além das flores, eles também foram homenageados com velas. Em seu discurso, o presidente da Hebraica Abramo Douek disse que “em Israel, em Iom Hazikaron, as sirenes que soam ao meio-dia fazem lembrar o Shofar em Rosh Hashaná e Iom Kipur despertando o coração e a alma das pessoas, entregues à introspecção e à contrição. Elas ficam imóveis, desligam os automóveis, interrompem atividades, não falam com ninguém, não olham para os lados e, durante um minuto, suas mentes percorrem os 66 anos do Estado de Israel e os irmãos tombados. Fora de Israel não se ouvem sirenes. No entanto, o mesmo silêncio que aquele som estridente impõe, aqui entre nós, e no resto do mundo, se manifesta na forma da união, da coesão e da solidariedade com os nossos irmãos e com o Estado de Israel que é a prova definitiva da sobrevivência, do ressurgimento e da força do judaísmo”.


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juventude > centro de música

A caminho de Boston RAFAEL MINERBO, 18 ANOS, VAI ESTUDAR MÚSICA NA UNIVERSIDADE BERKLEE, EM BOSTON. É EX-ALUNO DO CENTRO DE MÚSICA NAOMI SHEMER E CREDITA AOS PROFESSORES A FORÇA PARA ENCARAR O NOVO DESAFIO

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A BASE, ISTO É, AS PRIMEIRAS NOTAS FORAM APRENDIDAS NO CENTRO DE MÚSICA

nome de Rafael Minerbo é mencionado com alguma frequência no Centro de Música embora tenha deixado a escola, onde estudou baixo, há muito tempo. Sempre que se programa algum show, ele é convidado a integrar o elenco acompanhando os alunos no espetáculo anual de encerramento ou em outras ocasiões. “Gosto desse contato com as crianças e de vê-las aprendendo mesmo quando estão no palco, tocando”, afirma o jovem, lembrando que ele já esteve no lugar dos garotos que acompanha. “Como aluno, participei de muitas apresentações do Centro e minha banda disputou duas Festbandas, e não venceu”, destaca. Mais do que as aulas, a banda formada com dois outros alunos do Centro ajudou-o a definir o instrumento da sua trajetória musical. “Um dia, decidi aprender bateria e meus pais me inscreveram no Centro de Música. Lá, conheci o Leon e o Gabriel e formamos uma banda. Mas o Leon já era o baterista e me sugeriu aprender baixo. Topei e deu muito certo. Aliás, foi meu professor, Beto Birger, quem mencionou o nome de Berklee pela primeira vez. A ideia de estudar música ficou na minha cabeça e para realizar esse projeto troquei as aulas no Centro pelo Conservatório Souza Lima”, narra o jovem. Rafael passou no exame para a faculdade e suas composições estão na internet (www.soundcloud/rafaelminerbo). “Gosto de jazz, mas sei que para ser um bom músico é preciso ter mente aberta e conhecer muitos gêneros e instrumentos. Nisso já fiz alguns avanços. Toco violão, guitarra, baixo, piano e ainda me viro na bateria, graças às aulas iniciais do Centro de Música”. (M. B.)


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juventude > fotos e fatos 1.

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1. O Hebraikeinu organizou uma gincana dedicada ao Dia das M茫es; 2 e 5. Escola Maternal e Infantil convidou os pais para lhes apresentar as novas salas de aula; 3. Grande p煤blico prestigiou a cerim么nia de Iom Hazikaron; 4. Ilan Feldman falou em nome da Juventude da Hebraica na cerim么nia de Iom Hazikaron

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esportes > natação

Braçadas mais do que vencedoras A SELEÇÃO BRASILEIRA PARAOLÍMPICA DE NATAÇÃO CONQUISTOU O TÍTULO DE CAMPEÃ GERAL DO OPEN BRASIL CAIXA LOTERIAS DE NATAÇÃO PARAOLÍMPICA NAS PISCINAS DO CLUBE. EVENTO REUNIU QUATROCENTOS ATLETAS DE DEZESSEIS PAÍSES

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ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO APROVARAM AS CONDIÇÕES DE ACESSIBILIDADE DO PARQUE AQUÁTICO DO CLUBE

urante quatro dias, os sócios partilharam as raias das piscinas olímpica e semi-olímpica com atletas de dezesseis países durante os treinos para o Open Brasil Loterias de Natação Paraolímpica, evento que faz parte do circuito preparatório para as Paraolimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. O evento alterou o visual e a geografia do parque aquático com as placas de publicidade e banheiros químicos adaptados que serviam às equipes. Assim que se deram conta da oportunidade dada à Hebraica em receber o torneio, funcionários e sócios se engajaram na tarefa de atender e contribuir para o bem-estar dos ilustres visitantes. Das arquibancadas, no primeiro dia, os sócios e técnicos acompanharam, por exemplo, a vitória de Daniel Dias nos cinquenta metros costas, seguido por um nadador turco e por Francisco Avelino, outro brasileiro. Para o diretor técnico do Comitê Brasileiro Paraolímpico, Edilson Alves da Rocha (Tobiba), a modalidade tem características específicas que tornam muito complexaa organização de um evento como esse. “A natação paraolímpica se divide em classes funcionais que vão de S1 (maior grau de deficiência física) até o S10. De S11 a 13 os atletas possuem deficiências visuais e a S14 é reservada àqueles que apresentam deficiência intelectual e para cada classe há provas separadas por estilo”, explicou. Ainda de acordo com Tobiba, um dos responsáveis pelo evento, a escolha do

parque aquático da Hebraica contribuiu em muito para o êxito do torneio. “É um dos melhores do Brasil no quesito acessibilidade e foi indicado pelos profissionais que trabalham com natação paraolímpica em São Paulo. Quando propusemos a parceria, fomos recebidos de portas abertas. Usando o jargão dos nadadores, a piscina é muito rápida, que levou os nadadores aos recordes brasileiros e pan-americanos quebrados nesse Open. Não podíamos ter escolhido melhor e tenho certeza de que os nadadores do exterior levarão a melhor imagem do Brasil e dos sócios do clube”, destacou. Segundo ele, o Brasil inscreveu 150 atletas entre os quatrocentos nadadores que participaram do Open. “Setenta são da seleção brasileira e os restantes de clubes que mantêm equipes paraolímpicas. Eles enfrentaram equipes que nunca competiram no país, como a Austrália, por exemplo, um dos principais rivais do Brasil para 2016 e que ficou em quinto lugar na Paraolimpíada de Londres, exatamente a posição que pretendemos conquistar na próxima. Antes de virem para o Brasil, os australianos organizaram uma seletiva, e isso revela que também nos veem como um adversário em potencial”, detalhou ele, apontando outros países cuja presença realçou a importância do torneio. “Além da Austrália, vieram alguns atletas dos Estados Unidos, da Rússia – que ficou em segundo lugar na última Paraolimpíada – além da Turquia, que está crescendo no esporte, e da Índia”, avaliou Tobiba. (M. B.)


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esportes > comportamento

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BIRIBA ACOMPANHA A SEGUNDA GERAÇÃO DE ATLETAS MACABEUS

Não basta torcer... É preciso apoiar... ELES OS ACOMPANHAM NAS COMPETIÇÕES, TORCEM, SE EMOCIONAM E PARTICIPAM ATIVAMENTE DA VIDA ESPORTIVA DOS FILHOS. CONVERSAMOS COM OS PAIS DE DUAS JOVENS ATLETAS

arissa Vinocur, 11 anos, é uma das recentes revelações da natação competitiva no clube. Em abril destacou-se no torneio regional da modalidade e em maio seguiu com a seleção paulista petiz 1 para Mococa, onde disputou o tradicional XVII Torneio Kim Mollo de Natação, conhecido pelo alto nível dos atletas inscritos. Ganhou a medalha de ouro no revezamento 4 x 50 feminino e juntamente com as três nadadoras quebrou o recorde da prova. No mesmo torneio, chegou em sexto lugar nos cem metros livres. Por ela e pela irmã, Letícia, 14 anos, da equipe infantil de natação, Luiz, o pai, passa algumas horas durante a semana num plantão voluntário, enquanto elas seguem as instruções dos técnicos na piscina. “São as primeiras atletas da família e desde pequenas gostam do esporte. Cabe a nós apoiá-las, enquanto se divertirem nessa atividade”, comenta o pai. Quando as filhas eram menores, os pais decidiram que ballet e natação seriam atividades importantes na formação delas. “O ballet tinha a ver com o fato de serem meninas e a natação estava ligada à segurança e à saúde. Elas começaram a nadar e dançar no condomínio onde moramos, saíram-se bem na piscina, então entraram para o competitivo da Hebraica e se integraram”, conta Luiz Vinocur. Este ano, os pais de crianças do petiz organizaram-se em um grupo e se comunicam por meio de uma rede social, trocando informações e fotografias. “Temos muito para evoluir, mas é bom porque nos encontramos nos torneios e podemos revezar esses plantões paternos”, diz o pai das nadadoras que, além dos treinos duas vezes por semana, acompanha as meninas nos torneios em outros clubes e, às vezes, fora da cidade. “Letícia é mais velha, mas ficamos preocupados ao ver a Larissa entrar no ônibus para Mococa e viajar sozinha com a seleção formada por meninas que ela mal conhecia e sem a presença do técnico e das amigas do clube. Então eu, minha mulher e meu filho menor seguimos para Mococa para apoiá-la e vimos que

LUIZ VINOCUR FAZ PLANTÃO NO CLUBE DURANTE OS TREINOS DE NATAÇÃO DAS FILHAS

ela se virou bem e só a vimos da arquibancada, quando atravessou feito um foguete na piscina e saiu vitoriosa”, descreve orgulhoso. Segundo ele, Letícia demonstra interesse em estudar fora do país e vê no esporte uma forma de atingir este objetivo. “Larissa ainda é muito nova e está só começando no esporte. Não sei até onde manterão o interesse e o pique nessa rotina. Mas estamos aí para incentivá-las”, garante. Enquanto Luiz inicia a trajetória como pai de atleta, o carioca Luiz Carlos Berenbaum (Biriba) vê nos filhos a repetição da própria história de sucesso esportivo. Ele esteve em São Paulo integrando a torcida do Colégio Liessin, que participou dos XII Jogos Macabeus Escolares Guiora Esrubilsky, no início de maio. (Leia mais sobre os Jogos Escolares na matéria de capa, à página 12) “Sou um judeu meio atípico. Joguei futebol no juvenil no Fluminense, catego-

ria hoje chamada de júnior. Fui profissional no Botafogo, na Portuguesa e no Madureira até parar prematuramente devido a uma contusão.” Os pais de Biriba o apoiaram no sonho esportivo, mas ele enfrentou alguns constrangimentos. “Nos anos 1970, a comunidade não entendia muito minha opção pelo esporte profissional. O mais comum era o garoto judeu fazer esporte até os 13 anos e então interromper e se preparar para o bar-mitzvá, aí ficava difícil voltar a competir. Na minha época, quando comecei a jogar em um clube profissional fora da comunidade todos foram contra. Meu falecido pai chegou a despertar inimizades. Hoje, está tudo mudado. É um prazer ter um filho com habilidade e vê-lo atuar em um time profissional. Meu filho mais velho mora na Carolina do Sul. Ganhou uma bolsa para jogar futebol pela faculdade, então estuda e joga. Como eu, ele participou de algumas Macabíadas”, completa.

O contato dele com o movimento macabeu é antigo. “Como eu jogava bem, fui convocado para jogar os eventos do Movimento Macabi. Foram dezesseis torneios, oito Macabíadas mundiais em Israel e oito pan-americanas. Depois, me afastei por causa da família e do trabalho, mas estou feliz em retomar a trajetória acompanhando minha filha Luiza, de 13 anos, nestes Jogos Macabeus Escolares em São Paulo. Em minha opinião, em eventos locais como esse, que se destinam mais a integrar do que à conquista de medalha, é possível atrair os jovens que não são atletas e reforçar a ligação deles com a comunidade”, acredita Biriba. Embora pais de atletas com muito em comum, os dois “Luízes” não se encontraram durante os Jogos Macabeus como seria de se esperar, pois as filhas têm quase a mesma idade. Enquanto o carioca estava em São Paulo, o pai de Larissa foi a Mococa. Ambos passaram o final de semana nas arquibancadas torcendo. (M. B.)


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esportes > fotos e fatos 2.

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1. 1. O Festsal da Escola de Esporte inspirou-se na

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Copa do Mundo 2014; 2. Crianças e adultos se renderam ao preenchimento do álbum de figurinhas; 3. Atletas do handebol e da ginástica artística participaram de uma sessão intermodalidades; 4. Aula aberta de trampolim acrobático mobilizou a criançada; 5. O atleta André Brasil participou do Open; 6. Larissa Vinocur conquistou a primeira medalha pela seleção paulista no torneio Kim Mollo; 7. Aos 5 anos todos são campeões no Festival de Natação da Escola de Esportes

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ASMA resfriado, por exemplo); poluiçãodo ar e mudanças bruscas de temperatura.

Dr. Ricardo Magaldi, pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein

Os remédios utilizados no tratamento da asma podem ser preventivos ou para alívio imediato dos sintomas. Sempre administrados sob estrita orientação médica, evitam novas crises. Atuam vagarosamente durante semanas ou meses a fim de diminuir ainflamação das vias aéreas. Devem ser administrados diariamente, mesmo que opaciente já esteja bem e sem sintomas. Em vários casos o paciente com asma necessita receber medicamentos preventivos por vários meses ou anos, diariamente. Esse tratamento não pode ser interrompido e não se deve deixar de administrar os remédios por esquecimento.

É importante saber que asma é um dos tipos bronquite: uma doença pulmonar crônica com inflamação das vias aéreas (aqueles que conduzem o ar para os pulmões). Algumas pessoas podem ter asma por vários anos, mas ela ocorre com maior frequência na infância. No Brasil, cerca de 15% das crianças têm sintomas da doença.

Os medicamentos de alívio ajudam a cessar a crise já iniciada e evitam que ela se agrave. Agem rapidamente, promovendo a abertura das vias aéreas. No entanto, os pulmões permanecem muito sensíveis a vários fatores externos, considerados irritantes para as vias respiratórias e que podem desencadear outra crise.

Embora não exista cura definitiva para a asma, há formas de controlá-la e de modificar sua evolução. O ideal é que a família trabalhe em conjunto com o médico para encontrar o melhor tratamento.

Todos esses medicamentos devem ser administrados sob orientação médica, nos primeiros sinais de chiado, tosse, aperto no peito ou dificuldade pra respirar.

A asma pode se manifestar com sintomas intermitentes (crises) ou contínuos. Durante uma crise, as vias aéreas (brônquios) tornam-se inchadas e estreitas, deixando o paciente com sensação de aperto no peito, tosse, chiado ou dificuldade para respirar. As manifestações de asma podem variáveis, como tosse crônica, ou em crises, além de sintomas de tosse e chiado no peito durante a noite ou constante despertar (asma noturna) e tosse ou chiado no peito, quando opaciente corre, dá gargalhadas ou executa outros exercícios (asma induzida pelo esforço físico). Os sintomas podem se manifestar desde o primeiro ano de vida. Existem fatores químicos, físicos e biológicos no ambiente que podem desencadear os sintomas da asma. É muito importante conhecer essas causas e tentar evitá-las ao máximo. Uma crise pode ser desencadeada porfumaça de cigarro; poeira doméstica e ácaros; animais domésticos (cão, gato); pólen de plantas; infecções por vírus (gripe e

Responsável Técnico: Dr. Miguel Cendoroglo Neto - CRM: 48949

Pode ser necessário administrá-los diariamente, por uma ou duas semanas, desde o começo da crise até a melhora completa. Quando os remédios precisam ser tomados com frequência é sinal de que a asma não está bem controlada e de que há necessidade de um tratamento preventivo. A maioria dos medicamentos destinados à prevenção da asma é administrada na forma inalatória, como sprays (as chamadas bombinhas), pós ou soluções – e não prejudicam a saúde como as pessoas pensam. São seguros e eficazes no controle e no alívio das crises e têm a vantagem de apresentar ação praticamente imediata, mesmo quando se utilizam doses pequenas em relação a outras formas, se utilizados de maneira correta e sob orientação médica. O médico deve ser comunicado sobre tudo o que se referir a atendimentos de urgência. Convém, ainda, marcar uma consulta com breve intervalo de tempo após uma crise, para reavaliação.

Saiba mais em www.einstein.br

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magazine > tel aviv-jerusalém | por Ariel Finguerman, em Jerusalém

Em dois anos, uma nova estrada

UMA GRANDE REFORMA NA PRINCIPAL ESTRADA DE ISRAEL REDUZIRÁ A VIAGEM DE TEL AVIV A JERUSALÉM PARA TRINTA MINUTOS. O FINAL DA OBRA, AO CONTRÁRIO DO QUE SE OBSERVA NO BRASIL, TEM PRAZO CERTO E ESTÁ PREVISTO PARA 2017

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SERÃO CONSTRUÍDOS TÚNEIS E RETIFICADOS TRECHOS – TRANSFORMANDO CURVAS EM RETAS –O QUE VAI DIMINUIR O TEMPO DA VIAGEM

uem trafega pela Estrada 1, a principal de Israel, ligando Tel Aviv a Jerusalém, fica emocionado e irritado ao mesmo tempo. Emoção por se dirigir à Cidade Santa, sempre uma experiência bonita e cheia de significados. Mas basta um carro enguiçar no caminho, e, pronto, uma parte importante do fluxo de gente e mercadoria do país começa a parar. Oitenta mil carros trafegam nesta estrada diariamente. A pista dupla sem acostamento não permite que ambulâncias ou carros-guincho cheguem até um eventual acidente. Soma-se a isso a curiosidade folclórica do motorista israelense pelo incidente ocorrido do outro lado da estrada, e eis aí formado um congestionamento generalizado. A Estrada 1 foi reformada pela última vez na década de 1960, quando foram construídas duas faixas para subir a Jerusalém, e duas no sentido contrário, para descer a Tel Aviv. Segundo relatórios de especialistas em tráfego, se nada fosse feito, em quinze anos, em 2030, a estrada entraria em colapso devido ao congestionamento. Por todas estas razões, está a todo vapor uma grande re-

forma na Estrada 1, que somente acabará em 2017. Quando a obra for entregue – e geralmente não há atrasos –, esta rodovia ficará irreconhecível. No trecho em direção a Jerusalem, haverá três pistas de cada lado, com acostamentos largos. Hoje, leva cerca de duas horas para fazer o trajeto Tel Aviv-Jerusalém. Com a nova estrada, o tempo do percurso vai durar trinta ou quarenta minutos. O limite de velocidade provavelmente chegará a 110 quilômetros por hora. O conceito básico da reforma é transformar em retas as atuais curvas da estrada que serpenteia entre as montanhas de Jerusalém. Em muitos trechos a estrada tal como está vai desaparecer porque serão destruídos ou encobertos. Depois da reforma a rodovia não será mais fechada em razão de nevascas de inverno, como no final do ano passado. Assim, quem sair de Jerusalém para Tel Aviv, entrará em duas gigantescas pontes de novecentos metros de comprimento e suspensas a 26 metros de altura. Em seguida, o motorista entrará num túnel que começou a ser escavado recentemente quarenta metros abaixo >>

Depois desta, outras estradas O diretor-administrativo das obras na Estrada 1, David Landesman, sabe comparar bem o que se passa hoje na principal via de Israel com a situação das estradas brasileiras. Ele tem parentes em São Paulo e já viajou da capital paulistana até o Rio de Janeiro pela Rodovia Dutra, a “Estrada 1” do Brasil. Eis a entrevista. Hebraica– Por que as estradas israelenses não têm buracos? David Landesman – O segredo está na construção muito cuidadosa. Temos bons engenheiros e técnicos que constroem estradas com bastante atenção. É preciso também dar um cuidado especial para a drenagem da água, o principal causador de buracos.

Então a diferença com o Brasil está na quantidade de água? Aqui em Israel, com clima bem mais seco, sempre haverá menos buracos nas estradas? Landesman – Discordo. Se a estrada aqui fosse mal feita, bastariam dois ou três dias de chuvas, como temos em Israel, para estragá-las. O segredo está no cuidado em construir sistemas de drenagem. Agora, na reforma da Estrada 1, descobrimos no Vale Motza, onde estamos construindo novas pistas, vários mananciais de água. Então tivemos o cuidado de instalar grandes filtros para deixar esta água escorrer, antes de preencher com cimento.

não tem dinheiro para investir, aí passa para a iniciativa privada, que precisa instalar pedágios.

O que também chama a atenção em Israel é a ausência de pedágios. Como construir e manter estradas sem cobrar do usuário? Landesman – Aqui o governo reserva grandes orçamentos para construir e manter as estradas e custa cerca de US$ 2 bilhões anualmente. Somente se cobra do usuário quando o governo

Quando terminar a reforma da Estrada 1, qual será a próxima prioridade do Departamento de Estradas de Israel? Landesman – Ampliar as estradas que chegam a Tel Aviv, onde hoje acontecem grandes congestionamentos. Há bastante trabalho pela frente.

Israel tem a tecnologia necessária para fazer uma reforma tecnológica deste porte na Estrada 1 ou teve de importar técnicos estrangeiros? Landesman – Nós temos toda a tecnologia necessária, incluindo o projeto e construção de pontes e túneis. O único elemento que trouxemos de fora foi uma ponte auxiliar, que será usada na construção das duas pontes de novecentos metros. Veio da China, com tecnologia norte-americana.

Hoje, leva cerca de duas horas para fazer o trajeto Tel AvivJerusalém. Com a nova estrada, o tempo do percurso vai durar trinta ou quarenta minutos


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magazine > tel aviv-jerusalém >> do subúrbio Mevaseret Zion. O túnel terá oitocentos metros de extensão e praticamente levará o motorista em linha reta até o fim das montanhas de Jerusalém. Haverá um inevitável impacto ecológico nas montanhas de Jerusalém. Quem passar por ali verá muito mais asfalto e montanhas cortadas do que áreas verdes. Na expansão da estrada, foram arrancadas centenas de árvores e, segundo a administração da estrada, replantadas em outros locais. Outra marca da estrada que desaparecerá, pelo menos do lugar atual, são as carrocerias dos comboios blindados que lutaram pelo controle israelense desta rodovia durante a Guerra da Independência. Há décadas estes restos de veículos ficaram à beira da estrada, como um memorial para as centenas de mortos que asseguraram a posse deste vital caminho. Os veículos agora foram retirados do local tradicional, colocados ao lado do acostamento e aguardam novo destino.

Uma estrada e muita história

A ORDEM É NÃO ECONOMIZAR E FAZER UMA ESTRADA DIGNA DO MODERNO

ESTADO DE ISRAEL

TRATORES AMPLIAM A ESTRADA 1 CORTANDO AS MONTANHAS DE JERUSALÉM

A Estrada 1 é um caminho histórico que existe desde a época dos romanos, que ligaram o porto de Jaffa (atual Tel Aviv) até Jerusalém, chegando a Jericó, há 1.700 anos. A estrada continuava até a atual Amã, capital da Jordânia. No século 19, este trajeto levava treze horas para ser percorrido, em animal de carga. Na prática, os viajantes paravam para descansar em hospedarias no meio do caminho concluindo a jornada em dois dias. Pagavam pedágio para o império turco-otomano e, muitas vezes, subornavam os bandidos que ameaçavam atacá-los. Nos anos 1860, o sultão fez a primeira grande reforma da estrada, ao contratar um engenheiro italiano que refez o traçado, projetou duas vias e reduziu o tempo para dez horas. Com a conquista dos britânicos, o caminho entre Tel Aviv e Jerusalém transformou-se em uma estrada digna deste nome, apesar de continuar com apenas uma faixa para subir e outra para descer. Os ingleses ainda instalaram vigilância ao longo da rota que funcionou até os primeiros embates da Guerra da Independência. As batalhas mais importantes desta guerra aconteceram justamente na Estrada 1, no trecho em direção a Jerusalém. A estratégia árabe era posicionar franco-atiradores no topo das montanhas para tentar cortar esta ligação com Tel Aviv. Já as forças israelenses, lideradas pelo Palmach, organizavam comboios blindados que levavam suprimentos para a Jerusalém sitiada. No comando, o jovem oficial Itzhak Rabin. No final da guerra, as forças árabes foram derrotadas e os vilarejos de onde atiravam desapareceram. O único que restou foi Abu Gosh, habitado por muçulmanos não árabes, que não se envolveram na guerra. Hoje este vilarejo é um dos pontos turísticos da Estrada 1, com deliciosos restaurantes de comida oriental.

Nos anos 1860, o sultão fez a primeira grande reforma da estrada, ao contratar um engenheiro italiano que refez o traçado, projetou duas vias e reduziu o tempo de viagem para dez horas


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por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com

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12 notícias de Israel

O que querem as mulheres Um novo projeto de lei que tramita na Knesset vai exigir que 40% das ruas e locais públicos do país sejam identificados com nomes de mulheres. Hoje, em Tel Aviv, apenas 2,5% das ruas trazem nomes femininos. Segundo a deputada Merev Michaeli, que apresentou o projeto, “se um visitante de Marte descesse hoje em Israel, pensaria que somente homens viveram neste lugar”. A proposta também inclui nomear ruas com personalidades árabes, sefaradim e da comunidade gay.

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Velhice melancólica Novo relatório divulgado no Iom Hashoá com o perfil dos sobreviventes do Holocausto vivendo em Israel: existem 193 mil deles, e todo mês morrem mil. Um quarto vive na pobreza e no último ano não compraram comida suficiente por falta de recursos. Quase 20% deles também não usam remédios por falta de dinheiro. A grande maioria (66%) vive com uma renda mensal de U$ 860,00. A pesquisa também perguntou ao público em geral se os sobreviventes recebem o devido apoio do Estado, e 84% responderam “não”.

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É sério! Como é sabido, a revista The Economist inventou o “índice Big Mac”, que compara as economias mundiais de acordo com o preço cobrado pelo famoso sanduíche do McDonald’s. Mas para a concorrente Forbes Magazine o índice não vale para o Oriente Médio, onde o povão não consome frequentemente o fast food americano. Por esta razão, lançou no mercado o “índice falafel”, que compara o preço do sanduíche feito de pita, gergelim e banhado de tahine nos diversos países da região. Enquanto em Tel Aviv e em Omã com U$ 10,00 compram-se dois sanduíches, em Gaza o cliente vai para casa com dezessete. O índice também mostra que no Estado judeu o preço da comida subiu mais que em todas as economias desenvolvidas do mundo desde 2005.

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Louca violência

Tudo numa boa Os israelenses constituem a nação mais liberal do mundo. Pelo menos este foi o resultado da pesquisa em quarenta países, realizada pelo respeitável Pew Research Center, de Washington, que perguntou a opinião da população acerca de aborto, casos extraconjugais, homossexualidade, jogo, consumo de álcool, divórcio e uso de contraceptivo. As respostas em Israel foram mais tolerantes do que países como Alemanha, França e EUA. E no extremo oposto, entre os mais conservadores do mundo, ficaram os palestinos, paquistaneses, filipinos e indonésios.

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Desta vez a polícia atuou rápido, e evitou uma tragédia numa escola da área de Tel Aviv. Tudo começou com uma briga comum entre meninas de 12 anos. Mas a normalidade terminou quando três garotas, e mais uma de 11 anos, resolveram encerrar o caso atacando a coleguinha a facadas: as quatro entraram na sala dos professores, roubaram a faca, foram no banheiro planejar o ataque à menina, mas a conversa foi ouvida por outra colega, que denunciou o plano para a diretoria. A polícia levou a “quadrilha” para interrogatório numa delegacia de Tel Aviv.

É brincadeira Quem deu as caras por aqui foi o telepata Uri Geller, que ficou mundialmente famoso nos anos 1970 entortando colheres e parando relógios nas apresentações pela televisão. Há quatro décadas Geller morava com a família na Inglaterra, mas resolveu voltar à terrinha. Mal aportou, foi convocado pelo governo para estrelar uma campanha de conscientização da população para procurar abrigo em caso de terremotos ou ataques de mísseis. O mago de 67 anos de idade aparece na propaganda convidando os cidadãos a se registrar via internet e ouvir “de forma telepática” o que fazer em caso de desastre.

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Mesmo de graça? Os organizadores do Taglit – o programa de turismo que traz gratuitamente jovens judeus a Israel por dez dias – ficaram espantados com uma recente pesquisa apontando queda de 17% no interesse pelas viagens. A solução foi contratar uma agência de marketing nos EUA, que logo detectou o motivo da resistência de muitos jovens: temor de que o programa seja muito religioso ou que se tornem alvos de propaganda nacionalista. Por isso, a cúpula do Taglit emitiu uma nova diretiva de modo a ampliar o interesse pelo programa oferecendo a jovens mais afastados da tribo, filhos de apenas um dos pais judeu e desconectados da comunidade judaica.

Dor profunda Morreu aos 106 anos de idade Tova Gittel Yadov, considerada a mais idosa mãe enlutada da história do país. Tova perdeu o filho Yosef na Guerra da Independência e era considerada a última mãe nesta situação desde 1948. Yosef lutou contra o exército egípcio no Negev e ele com outros 86 jovens morreram dia 28 de dezembro daquele ano. Foi enterrado pelos próprios egípcios numa vala comum, mas após a guerra o corpo foi identificado e transferido para um cemitério de Tel Aviv. Segundo a família, durante todas essas décadas Tova guardou silêncio absoluto a respeito do filho morto, tamanha era a dor. Ela deixou outros dois filhos, dez netos, 26 bisnetos e dois trinetos.

Terapia virtual O que antes era apenas uma boa ideia agora está virando fato da vida. Um casal israelense lançou uma nova forma de fazer terapia – sem sair de casa, pela internet. Trata-se do Talkspace, que oferece aos internautas uma equipe de quarenta profissionais, que podem ser acessados por meio de textos e enviados de forma anônima. Oren e Roni Frank, que vivem em Nova York, conseguiram atrair U$ 2,5 milhões em investimentos e garantem que a coisa dá certo. “Há cinco anos, um terapeuta de casal salvou nosso casamento”, revelam (realmente sessões de terapia pela internet podem dar certo, eu mesmo já testei e aprovei bons papos psicológicos pelo Skype).


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Cana brava

A coisa ficou realmente feia para o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert. Saiu sua condenação – seis anos de xilindró – por aceitar propina para liberar a construção de um monstruoso condomínio chamado Holyland. Ele teria recebido cerca de US$ 150.000,00 para dar a canetada. Perto do que se ouve por aí, a quantia é risível. Mas, claro, a mensagem não é para Olmert e sim para o cidadão comum. No Talmud isto se chama kal va chomer, “do mais brando ao mais severo”, ou seja, se isto acontece com um ex-premiê, imagine com você, zé mané. Olmert ainda poderá apelar para a Suprema Corte. Enquanto isto, o cantor e astro de música mizrachi, o equivalente local ao sertanejo romântico, Eyal Golan, foi condenado a quatro meses de trabalhos comunitários por ter “esquecido” de emitir notas fiscais referentes a alguns de seus shows milionários. Se liga, mané.

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Santíssima cidade

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Bye-bye raio-X Uma boa notícia para quem já estava acostumado com a abertura de malas no aeroporto de Israel e um belo chá de espera até passar por toda a segurança. Agora tudo isto é coisa do passado. O Ben-Gurion virou um aeroporto padrão norte-americano ou europeu. Você chega ao salão de embarque, fica na fila e vem um segurança te fazer aquele questionamento padrão. Mas acabou toda aquela história de passar a mala por raio-X e depois abri-las para as bonitinhas meninas sabras da segurança. Agora, dizem, isto é feito no subsolo do aeroporto, sem a presença do passageiro. Por isso, favor não trancar a mala com cadeado. Dizem, também, que lá embaixo tudo é filmado. Isto é, se alguém reclamar de algum extravio, vai ser verificado quem manuseou a mala. O novo método é bom para todos, inclusive para os viajantes árabes israelenses que reclamavam de pente fino no aeroporto. A pergunta: o que acontecerá com a mala sem cadeado quando chegar a aeroportos menos confiáveis, onde os maleiros ganham a vida roubando objetos dos viajantes? Êta nóis, nem tudo é perfeito.

O que acontece se você precisa de uma farmácia em Jerusalém, num feriado ou no Shabat? Descobri isto no mês passado, quando eu estava na cidade, no Hospital Shaarei Tzedek, acompanhando uma pessoa internada. A médica passou a receita e, para meu primeiro espanto, informou que não havia farmácia no hospital. E, segundo espanto, que eu deveria me apressar para comprar o remédio antes do anoitecer, quando começariam as comemorações do feriado de Iom Haatzmaut. Tarde demais, a farmácia logo em frente já havia fechado as portas. Consultei o site da prefeitura, onde informam quais farmácias ficam de plantão num feriado na cidade. Resposta: uma única.Não acreditei que em toda Jerusalém, a maior cidade de Israel, com novecentos mil habitantes, somente uma farmácia fica de plantão. Mas é assim. Rumei para o bendito lugar, num bairro afastado do centro, onde um farmacêutico árabe faz este grande favor, a nós, judeus. No caminho, chequei a informação com o taxista. É isso mesmo. Quem precisa de farmácia num feriado em Jerusalém ou corre para este lugar rezando para que o remédio não esteja em falta ou viaja até Abu Gosh – vilarejo árabe na estrada para Tel Aviv – ou tenta a sorte em Jerusalém Oriental. Olhei ao redor: a capital israelense é um respeitoso polo urbano, tem muita vida aqui. Mas imaginem, se você precisa de uma aspirina num Shabat, vai depender da boa vontade do senhor árabe, em sua pequena farmácia, num canto da cidade. Isto é normal ou sou eu quem está pensando além da conta?


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magazine > a palavra | por Philologos

O caminho do inferno está no mapa. Ou no GPS EM INGLÊS, EXISTE A PALAVRA “GEHENNA”, SINÔNIMO PARA “INFERNO” QUE VEM, ATRAVÉS DO GREGO E DO LATIM, DA PALAVRA HEBRAICA GEHINNOM, QUE, POR SUA VEZ, DERIVA DE GEY BEN-HINNOM, “O VALE DO FILHO DE HINOM”)

A

expressão gey ben-hinnom (ou, simplesmente, “o vale de Hinom), é nome bíblico do leito de um rio intermitente, em Jerusalém, que, de fato é lembrado por muitos em sua primeira visita a Israel, como “tão quente como o inferno”. Sem dúvida, era; no entanto, provavelmente não mais quente do que outros lugares em Jerusalém em um dia escaldante de verão. Qualquer um que esteve em Jerusalém, mesmo por um dia ou dois, certamente foi, ou ignorou, Gey Ben-Hinom. Mais uma ravina do que um vale, está situado entre o muro otomano ocidental da Cidade Velha com a Porta de Jafa de um lado, e o bairro nobre judeu de Yemin Moshé e o prédio da Cinemateca de Jerusalém, do outro, antes de mergulhar em direção sudeste passando pelo bairro de Abu-Tor em direção ao deserto da Judeia. Nos tempos bíblicos era um costume, observado no vale de Hinom por adeptos do culto do deus cananeu-fenício Moloch ou Melech, de passar os filhos pelo fogo como parte de um rito de iniciação religiosa. Embora os jovens provavelmente não tivessem mais do que um dedo chamuscado quando passavam rapidamente em meio às chamas, o rito era considerado uma forma particularmente bárbara de adoração de ídolos e que profetas bíblicos sempre condenavam. Dessa forma, quando no início do judaísmo pós-bíblico começou a se desenvolver a ideia de punição pelo pecado após a morte, geralmente lançando ao fogo, é normal que estivesse ligada à ravina – ou, mais precisamente, à terra abaixo dela. Isso porque, no judaísmo bíblico (em que não existia o conceito de inferno como um lugar de castigo), como em muitas religiões pagãs, imaginava-se que as almas dos mortos residissem em um submundo abaixo da superfície da terra, chamado She’ol na Bíblia, e Hades na mitologia grega. Assim, no tratado talmúdico de Eruvin lê-se que o submundo do gehinnom tem três entradas ocultas: “Uma no deserto, uma no mar e uma em Jerusalém”, onde nuvens de fumaça que se erguiam do vale de Hinom marcam os incêndios subterrâneos. Embora a associação do inferno com a ravina tenha sido supostamente reforçada pela sua alegada utilização no período do Segundo Templo como depósito de lixo, onde o refugo de Jerusalém era queimado, de modo que cortinas de fumaça pairavam constantemente sobre ele, não há nenhuma documentação antiga confiável de tal prática. A memória histó-

rica do culto de Moloch é explicação suficiente. De todo modo, a existência do inferno no interior da Terra, com aberturas pelas quais é possível ir e vir, cria o cenário para um conto medieval a respeito do rabino Akiva que ajuda a responder às dúvidas de quem, por exemplo, tenha lido ou ouvido falar acerca de carpideiras dizendo Kadish para os mortos durante onze meses, pois o tempo máximo que os mortos passam no inferno é de um ano, e espera-se que a pessoa para quem se ora não terá que servir a sentença plena. O que seria isso? Trata-se de uma crença cujas raízes se apoiam em um ditado talmúdico e em uma história pós-talmúdica, ambos atribuídos à figura do rabino Akiva, do primeiro século. O ditado está na Mishná, no qual Akiva é citado por ter afirmado que “os ímpios são condenados à gehenna para [não mais] de doze meses”. O conto é citado em vários textos medievais, todos dizendo como, enquanto caminhava por uma estrada solitária, Akiva encontrou um homem coberto de fuligem correndo com uma pesada carga de madeira. Quando lhe perguntavam quem era, respondia que era um grande pecador morador do inferno, e obrigado a trazer o suprimento diário de lenha sobre a qual seria assado. Somente se o filho, a quem ele não circuncidara, louvasse a Deus em oração em uma sinagoga é que poderia ser libertado da provação. A história termina com Akiva à procura do filho do homem, organizando a circuncisão e ensinando-lhe os rudimentos do judaísmo, após o que o jovem fez a oração necessária e o pai foi libertado do inferno e admitido ao paraíso. Com o tempo, esta oração veio a ser identificada com o Kadish, embora este não fosse o caso, para começar. Quanto à história de Akiva e o pecador, só faz sentido se partirmos do princípio que gehenna é um lugar acessível, com saídas e entradas, mesmo que desconhecidas pelos habitantes da Terra. Por isso, a quem for ao Vale de Hinom recomenda-se ficar atento.


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magazine > segunda guerra | por Laura Rosenzweig

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DESFILE DO PARTIDO NAZISTA NORTE-AMERICANO PELAS RUAS DE NOVA YORK EM MEADOS DOS ANOS 1930

Os espiões antinazistas de Hollywood A PUBLICAÇÃO DE DOIS LIVROS A RESPEITO DE HOLLYWOOD E O NAZISMO (HOLLYWOOD E HITLER, 1933-1939, DE THOMAS DOHERTY, E A COLABORAÇÃO: O PACTO DE HOLLYWOOD COM HITLER, DE BEN URWAND), SOBRE RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE HOLLYWOOD E A ALEMANHA NAZISTA É TEMA DE CONTROVÉRSIAS

ocumentos do Conselho das Federações Judaicas da Grande Los Angeles, arquivados na Biblioteca Oviatt da Universidade da Califórnia, revelam um surpreendente, e até agora inédito, contraponto a esse debate, segundo o qual, entre 1934 e 1941, os mesmos judeus proprietários dos grandes estúdios cinematográficos, entre eles Louis B. Mayer, Emmanuel Cohen e Jack Warner, criticados pelos negócios que mantinham com os nazistas, pagavam informantes infi ltrados nas organizações nazistas de Los Angeles. Os executivos judeus da indústria cinematográfica trabalhavam em estreita colaboração com o Congresso americano, o Departamento de Justiça e órgãos policiais para enfrentar o crescimento do nazismo nos Estados Unidos. No final dos anos 1920, os poucos membros e simpatizantes dos partidos nazistas nos Estados Unidos se bastavam a si mesmos. A maioria deles era constituída de imigrantes alemães recém-chegados que criaram pequenos clubes e agremiações nas cidades onde se estabeleceram, e esperavam por aquilo a que chamavam “Der Tag”, o dia em que retornariam à Alemanha, e para redimi-la. Com a ascensão de Hitler, estas fragmentadas células nazistas logo se juntaram em uma organização de amplitude nacional chamada Friends of New Germany (FNG – Amigos da Nova Alemanha) cuja missão era disseminar o ideário nacional socialista e fascista por todo o país, preparando a “Revolução de Hitler” na América. Em março de 1933, a FNG abriu a Livraria Ariana, na esquina de duas movimentadas ruas do centro de Los Angeles, que, claro, especializou-se na venda de livros nazistas, jornais antissemitas, panfletos e livros a respeito do “risco judaico-bolchevique” para os Estados Unidos, a crença no nacional-socialismo e o “Milagre de Hitler” na Alemanha. Nos meses seguintes à inauguração, a organização nazista promoveu manifestações e patrocinou conferências semanais para atrair novos membros. Em 1934, cerca de cinquenta mil pessoas participaram de um ato público pró-nazismo no Madison Square Garden e ficou evidente a ideia de converter à causa os membros da Legião Americana e outros grupos de veteranos norte-americanos da Primeira Guerra da região de Los Angeles. O esforço para recrutar veteranos despertou suspeitas do advogado judeu e também veterano de guerra Leon Lewis, e que fora o primeiro-secretário para todo o país da Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês). Rápida e discretamente, Lewis recrutou veteranos não judeus para se infiltrar na FNG criou normas de informação e um código para seus relatórios, e a sede do FNG em Los Angeles virou 9-Menos (9 minus), a de Nova York, 9-Mais, etc. Os veteranos infiltrados logo perceberam as verdadeiras – e nefastas – intenções políticas do agrupamento nazista. Juntaram testemunhos dos encontros secretos de membros da FNG com integrantes do Partido Nazista em navios mer-

cantes alemães no porto de Los Angeles, da entrada ilegal de muito dinheiro vivo e da importação de muita literatura nazista produzida em Berlim especialmente para a América. Possivelmente a descoberta mais desconcertante tenha sido a de uma milícia de “camisas marrons” que estava sendo treinada em táticas de combates de rua e em tiro nas colinas que cercam Hollywood. Os veteranos também relataram que funcionários da FNG lhes pediram ajuda para se infiltrar na Guarda Nacional da Califórnia (California National Guard) com o propósito de conseguir a planta do depósito de armas da guarda no sul da Califórnia, de modo que estivessem prontos para “Der Tag”, agora que a Revolução de Hitler começaria em Los Angeles. Os veteranos ficaram perplexos com a amplitude da conspiração que descobriram, e, ao perceber que seria necessário espionar e coletar mais informações, Lewis, que até então pagara tudo do próprio bolso, procurou quem custeasse as novas tarefas. Primeiro, bateu às portas da B’nai B’rith, uma organização próxima à ADL. No entanto, com divisões internas e em dúvida sobre quem deveria se apropriar da “espionagem”, a B’nai B’rith não ajudou Lewis, que bateu às portas dos judeus ricos de Los Angeles, isto é, a segunda e terceira gerações dos descendentes dos pioneiros judeus do século 19 da cidade. Ele confiava que eles – banqueiros, comerciantes, juízes, doutores e empresários do setor imobiliário – se engajariam na causa por que “teriam mais a perder e mais a temer (em relação ao perigo nazista) do que todos os membros locais da B’nai B’rith juntos”. Depois de ouvir o relato dos custos de monitorar as atividades nazistas na cidade, prometeram ajuda de US$ 5.000,00. Oito semanas depois, “os homens ricos” deram US$ 1.000,00 e nenhuma disposição de completar os restantes US$ 4.000,00. Lewis contava que Los Angeles “é a pior cidade para angariar dinheiro seja para qual objetivo for”. >>

Em 1939, pouco antes da eclosão da Segunda Guerra, a Warner Brothers lançou o filme Confissões de um Espião Nazista, estrelado por Edward G. Robinson e George Sanders, que mostra os esforços de Berlim no recrutamento de americanos para minar o governo dos Estados Unidos


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magazine > segunda guerra >> Em cena, os magnatas do cinema A partir daí, Lewis procurou os judeus de Hollywood, imigrantes do Leste Europeu e ainda novos na cidade, assim descritos pelo jornalista Neal Gabler: “Recém-chegados do Leste e com a má reputação [do negócio do cinema] grudada neles”. Como eles e seus produtos eram alvos preferenciais da propaganda antissemita da FNG, Lewis esperava que reconhecessem a ameaça do nazismo local e apoiassem a rede de espiões. Os judeus de Hollywood organizaram um grande jantar no Hillcrest Country Club, fundado em 1920 pelos judeus proibidos de entrar ou expulsos de outros clubes. Numa demonstração de força e organização, compareceram donos de estúdios, diretores, atores, roteiristas, produtores, etc., como os chefões da Metro, Louis B. Mayer e Irving Thalberg; o executivo chefe de produção da Columbia, Sam Briskin; o manda-chuva da Paramount, Emanuel Cohen; o produtor executivo da RKO, Pandro Berman, os produtores David O. Selznick, Harry Rapf e Sam Jaffe, os diretores Ernst Lubitsch e George Cukor. Ao discursar, Lewis contou que os oito primeiros meses de investigações lhe custaram cerca de US$ 7.000,00 e a continuidade do trabalho dependeria da disposição de os magnatas do cinema assumir a operação. Os convidados ouviram apreensivos. Afinal, sete meses antes a Igreja Católica organizara um protesto nacional ameaçando a indústria cinematográfica com um boicote se Hollywood não obedecesse a uma espécie de código de conduta. Convocaram os executivos do cinema para uma reunião com o arcebispo de Los Angeles, John Joseph Cantwell, durante o qual o advogado e líder católico Joseph Scott advertiu que alguns grupos na América simpatizavam com as ideias nazistas e se organizavam para atacar os judeus no país. “O que acontece na Alemanha pode se repetir aqui”, disse Scott a Mayer, Cohen, Briskin; ao produtor da Universal, Henry Henigson e ao assessor jurídico da Paramount, Henry Herzbrun, que também participaram daquele jantar de Hillcrest. As palavras de Scott ainda ecoavam enquanto ouviam o relato de Lewis a respeito dos nazistas na cidade. Os líderes da comunidade judaica local – o rabino Edgar Magnin, o juiz Lester Roth e o banqueiro Marco Hellman – apoiavam o programa, mas quem decidia mesmo eram os magnatas da indústria cinematográfica. Louis B. Mayer foi enfático: “Não vou aceitar isso passivamente. São necessários dinheiro e direção inteligente... É dever dos homens aqui presentes ajudar”. Irving Thalberg e todos os participantes apoiaram. O produtor da MGM Harry Rapf sugeriu formar um comitê composto por um representante de cada estúdio e membros proeminentes da comunidade judaica. Thalberg, Emanuel Cohen e Jack Warner se comprometeram a levantar US$ 3.500,00 de seus estúdios. A Universal US$ 2.500.00 e Pandro Berman, da RKO, US$ 1.500,00 – o estúdio tinha apenas oito executivos judeus. Quanto aos menores – Fox, 20th

Century e United Artists –, cada um prometeu US$ 1.500,00. Pediram a Phil Goldstone e a David Selznick que arrecadassem US$ 2.500,00 cada dos agentes e produtores independentes. Em dois meses, foram levantados US$ 22.000,00 (equivalente hoje a cerca de US$ 384.000,00) dos prometidos US$ 24.000,00 pelo novo Comitê da Comunidade Judaica de Los Angeles (Lajcc).

CAPA DO LIVRO DENUNCIANDO A INFILTRAÇÃO NAZISTA NOS

ESTADOS UNIDOS, LOUIS B. MAYER

E CARTAZ

NAZISTA APELANDO AO PATRIOTISMO NORTE-AMERICANO

Um Bund Germano-Americano Entre setembro de 1933 e março de 1934, Leon Lewis arrecadava recursos e buscava a cobertura política de que seus agentes poderiam necessitar. Em março de 1934, o Congresso aprovou investigar nacionalmente a atividade de propaganda nazista subversiva nos Estados Unidos. Um comitê do Congresso viria a se tornar o Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara. Não há registros de eventual aconselhamento de Lewis nos documentos do comitê do Congresso em Washington, mas à medida em que o antissemitismo político nos Estados Unidos aumentava, Lewis e seus colegas judeus se tornavam mais discretos ainda. De todo modo, Lewis viajou para Washington e conversou com parlamentares aos quais deu ciência das informações reunidas pela operação secreta em Los Angeles e acabou nomeado conselheiro do Comitê para a costa oeste. Desta forma, os agentes de Lewis tinham a necessária cobertura política se aquelas atividades secretas se tornassem públicas. Entre novembro de 1933 e agosto de 1934, Lewis forneceu provas das atividades de propaganda nazista em Los Angeles, preparou uma lista de testemunhas para a visita que o Comitê faria à cidade e elaborou as perguntas que o Comitê usou para interrogar essas testemunhas. Quando, no início de 1935, ficou pronto o relatório final do Comitê, Lewis foi convidado a comentar a versão final.

FOTOS DE UM FOLHETO DE PROPAGANDA MOSTRANDO ADEPTOS NORTE-AMERICANOS DO NAZISMO

No entanto, nem Lewis nem o deputado Samuel Dickstein (judeu, de Nova York) tornaram público o trabalho do Lajcc. Em dezembro de 1934, depois de o Comitê da Câmara visitar Los Angeles e completar a investigação nacional das atividades de propaganda nazista suspeitas em todo o país, e de dezesseis meses de trabalho, Leon Lewis informou aos líderes do Lajcc: sua tarefa terminara, os nazistas da cidade haviam se dispersado, a nova legislação federal tornaria muito mais difícil aos agentes estrangeiros divulgarem propaganda subversiva, a luta contra o nazismo em Los Angeles chegou ao fim e voltaria ao escritório de advocacia. No entanto, Lewis estava enganado. Em 1935, a organização FNG ressurgiu como o Bund Germano-Americano e, nos seis anos seguintes, a atividade política nazista e os incidentes antissemitas em Los Angeles aumentaram. O Bund continuou disseminando propaganda nacional-socialista em Los Angeles, associado aos mais de quatrocentos grupos fascistas domésticos que surgiram na cidade entre 1934 e 1941. Leon Lewis fechou o escritório e retomou a espionagem em Hollywood até o final da Segunda Guerra. A informação recolhida pelos espiões de Hollywood, en-

tre 1933 e 1941, foi utilizada em investigações e processos federais, e no Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara em 1938, chamado de Comitê Dies, que, em 1942, indiciou William Dudley Pelley – cujo partido fascista Silver Shirt foi criado nos moldes do Partido Nazista –, por sedição e traição (a acusação de sedição foi retirada, mas foi condenado a quinze anos); 23 agentes estrangeiros nazistas, incluindo o “Gauleiter” (chefe distrital) Herman Schwinn, líder do Bund Germano-Americano em Los Angeles, foram julgados por sedição, em 1944. Nesse período, o apoio do Lajcc e de outras organizações de defesa judaica americana em todo o país em informações a respeito do Bund e aliados domésticos era ignorado pelo público, e durante muito tempo ficou sem o reconhecimento dos historiadores. A Biblioteca Hoover da Universidade de Stanford tem uma cópia do relatório preparado para o Comitê Dies acerca da atividade nazista subversiva no sul da Califórnia, que não menciona suas origens judaicas. Em 1939, pouco antes da eclosão da Segunda Guerra, a Warner Brothers lançou o filme Confissões de um Espião Nazista, estrelado por Edward G. Robinson e George Sanders, que mostra os esforços de Berlim no recrutamento de americanos para minar o governo dos Estados Unidos. O filme reproduz a atividade nazista na América e que os espiões de Hollywood acompanharam durante seis anos: reuniões secretas em navios da marinha mercante, táticas violentas para intimidar americanos de origem alemã e recrutamento de veteranos americanos para a sua causa. Depois de anos de disputas com os censores nacionais e estrangeiros sobre o conteúdo político no filme (e que Urwand e Doherty tratam em seus livros), esta foi a primeira acusação explícita de Hollywood contra o nazismo nos Estados Unidos. Os americanos que assistiram a Confessions não sabiam, no entanto, foi quanto tempo os judeus de Hollywood esperaram para contar essa história.

Em 1935, a organização FNG ressurgiu como o Bund GermanoAmericano e, nos seis anos seguintes, a atividade política nazista e os incidentes antissemitas em Los Angeles aumentaram


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magazine > cinema | por Julio Nobre

Uma janela para o mundo O INSTITUTO MOREIRA SALLES (IMS) ACABA DE LANÇAR DAVID PERLOV DIÁRIO 1973-1983, OBRA DA MAIOR IMPORTÂNCIA NO CINEMA DE ISRAEL, ESPÉCIE DE AUTOBIOGRAFIA DO DIRETOR NASCIDO NO BRASIL

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um certo dia de 1973, David Perlov (1930-2003) resolveu encerrar a carreira como respeitado diretor de cinema profi ssional e passou a se dedicar a outras pesquisas formais. Desde que se mudara para Israel, em 1958, vindo de Paris, já realizara dezenas de fi lmes, nem sempre sob o beneplácito do establishment israelense. O reconhecimento oficial só viria em 1999, quando lhe foi concedido o Prêmio Israel, a maior honraria do governo, pelo conjunto da obra. Perlov escolhia temas pouco palatáveis, mostrando o universo dos despossuídos, do homem comum em toda a sua precariedade, em filmes como Shoemaker’s Alley in Jaffa (1959), Fishermen in Jaffa (1960) ou o melancólico Old Ages Home (1962), a respeito do cotidiano num asilo para idosos. Nada a ver com o heroico pioneiro sabra que o establishment gostaria de mostrar. “O que é o eu? Um homem que se põe à janela para ver os passantes.” É com esta citação, muito apropriada, do filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), que a crítica e pesquisadora Ilana Feldman abre o seu texto “As Janelas de David Perlov”, no esclarecedor encarte de 28 páginas que acompanha a caixa com três dvd’s divididos em seis capítulos: “Parte 1: 1973-1977”, “Parte 2: 1978-1980”, “Parte 3: 1981-

DAVID PERLOV ROMPEU A FRONTEIRA ENTRE PRIVADO E O COLETIVO NOS SEUS DOCUMENTÁRIOS, CRIANDO UM NOVO GÊNERO

1982”, “Parte 4: 1982-1983”, “Parte 5: março-junho de 1983” e “Parte 6; julhosetembro de 1983”. “Maio de 1983. Compro uma câmera 16 mm. Começo a filmar para mim mesmo e por mim mesmo. O cinema profissional não me interessa mais”, diz o cineasta logo no primeiro capítulo. A iniciativa de Perlov lembra a experiência de Michel de Montaigne (1533-1592), inventor do gênero ensaio. A certa altura, cansado da política e das guerras religiosas que assolavam a França, Montaigne retirou-se para a vida privada e passou a registrar as suas reflexões – reunidas nos célebres Ensaios. Assim como Montaigne, Perlov inaugurou um novo gênero: o documentário autobiográfico que oscila na linha tênue entre o público e o privado. Talvez em nenhuma outra sociedade humana o coletivo esteja tão profundamente enraizado na vida privada quanto na sociedade israelense. Perlov escolhe dois focos para a sua câmera 16 mm. Ora está voltada para o núcleo familiar, formado pela mulher Mira e as filhas gêmeas Yael e Naomi; ora está voltada pra a fora, através da janela do seu apartamento na rua Ibn Gabirol, em Tel Aviv. Logo nas primeiras cenas de Diário 1973-1983, eclode a Guerra do Iom Kipur, verdadeiro divisor de águas em Israel. O mito triunfalista da Guerra dos Seis Dias em 1967 começa lentamente a ser erodido, quando as famílias em Israel acompanham aflitas pela tv as imagens dos filhos e maridos na linha de combate. Ao longo dos 340 minutos seguintes, o documentário de Perlov vai oscilar entre as platitudes da vida privada e os reveses de dez anos da vida política, da Guerra do Iom Kipur à desastrada incursão israelense no Líbano, em 1982, ocasião em que Perlov reflete acerca do episódio, folheando as famosas gravuras de Francisco de Goya (1746-1828) em que são mostradas as atrocidades da guerra. Cabe destacar algumas passagens do Diário 1973-1983, como as primeiras decepções amorosas das filhas adolescentes; uma viagem a um kibutz onde os habitantes, distanciados da tradição reli-

giosa, não enterravam os seus suicidas em área separada do cemitério; a visita periódica dos amigos, alguns vindos diretamente do Brasil; o retorno a Paris, onde ele descobriu o amor pelo cinema; o reencontro com velhos amigos como o documentarista Joris Ivens e o cineasta Claude Lanzmann, de Shoah, com quem a filha Yael vai trabalhar na edição e montagem. Em Paris, da janela do apartamento de Yael, Perlov mostra a gênese do seu processo narrativo. Com a câmera voltada para baixo, para o pátio interno de um daqueles velhos edifícios parisienses, vemos a filha do zelador português entrar carregando a boneca. Perlov explica como trabalha: “Vejam. Parece até que a cena está sendo dirigida. Ela vai até a janela...” Como bem esclarece Ilana Feldman no encarte “As Janelas de Perlov”: “A voz que tudo narra, não para reiterar imagens ou totalizar o sentido das experiências, busca esse sentido incessantemente. Perlov desenvolve um projeto estético no qual a narração está comprometida com a própria materialidade sonora das palavras, materialidade que contempla a entonação, a estrutura das sentenças e uma rítmica oral em sintonia com o movimento dos planos e, sobretudo, como o movimento no interior dos planos”. Para as audiências brasileiras, o sexto e último capítulo deDiário 1973-1983 é especialmente envolvente. Mostra o momento em que Perlov volta ao Brasil em 1983, depois de uma ausência de trinta anos, só interrompida por uma rápida visita dez anos antes. A câmera percorre, melancólica, uma São

David Perlov Diário 1973-1983 Instituto Moreira Salles Caixa com encarte e três dvd’s Aproximadamente 340 min. R$ 79,90

Paulo que ele não reconhece mais. Passa pelo Bom Retiro, Parque da Luz, estranha a presença dos coreanos, encontra o amigo árabe dos tempos de escola. Um momento solar é a visita à pianista Clara Sverner no Rio de Janeiro, interpretando peças de Chiquinha Gonzaga. Numa espiral descendente, a viagem continua rumo a Belo Horizonte, passando pelas cidades históricas, sempre mais deprimente, até chegar ao local onde Perlov viveu a primeira infância, desprotegida, com a mãe biológica e outra “mãe de criação”, negra e protestante fervorosa, D. Guiomar, presença que percorre todas as lembranças do cineasta como um anjo da guarda. Perlov se lembra que um dia perguntou a D. Guiomar se existiam anjos negros, como ela, no Paraíso. Ao que ela retrucou: “Pare de perguntar bobagens”. Mas as lembranças que envolvem Ana Perlov – “Perlof”, com “f”, como está gravada equivocadamente na sepultura do cemitério em Belo Horizonte – são dolorosas e silenciadas.

Quem é David Perlov? David Perlov nasceu no Rio de Janeiro em 1930, descendente de uma família hassídica que se estabelecera em Safed, então Palestina sob domínio turco, em 1857. Viveu até os 10 anos em Belo Horizonte com a mãe, depois veio para São Paulo para morar com o avô Perlov, na Vila Mariana. Estudou desenho no ateliê de Lasar Segall e frequentou o movimento juvenil sionista Dror, onde conheceu a futura mulher, Mira. Em 1952, muda-se para Paris, onde vai estudar pintura. Apaixona-se pelo cinema ao assistir Zero de Conduta (1933), de Jean Vigo, evento que o faz abandonar a pintura e se tornar cineasta. Em 1958, resolve se mudar para Israel. As duas filhas, Yael e Naomi, nascem no kibutz Bror Chail, fundado por judeus brasileiros. Foi o primeiro cineasta israelense a realizar um filme a respeito da Shoá: Em teu Sangue, Vive (1962) e premiado no Festival de Veneza pela realização de Em Jerusalém (1963), documentário fortemente influenciado pela nouvelle vague. Paralelamente à realização de Diário 19731983, ministrou aulas no Departamento de Cinema e TV da Universidade de Tel Aviv e desenvolveu vários outros projetos. David Perlov morreu em 13 de dezembro de 2003.

FILMOGRAFIA Tia Chinesa e os Outros (1958) Shoemaker’s Alley in Jaffa (1959) Fishermen in Jaffa (1960) Cinematic Monthly (1960) High Voltage (1961) The Bedbug (1961) Em teu Sangue, Vive (1962) Old Age Home (1962) What a Gang (1962) Em Jerusalém (1963) Tel Aviv (1964) National Water Carrier (1964) Tel Katzir (1964) New Lines (1965) Theater in Israel (1965) Old Pipe Lines (1969) Bedek Aircraft (1969) 42:6 (1969) The Navy (1970)

Settlement 3 (1972) The Pill (1972) A Letter to Mexico (1973) The Delegation (1974) Isaac Stern (1976) Biba (1977) Memórias do Julgamento de Adolf Eichmann (1979) Em Busca do Ladino (1981) Updated Diary 1990-1999 Tel Katzir 1993 Purim Every Day (1993) Shlomi (1994) Yavne Street (1994) The Silver Platter (1995) New Opera (1995) Meetings with Nathan Zach (1996) Revised Diary (1999) My Stills 1952-2002


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magazine > filosofia | por Walter Laqueur

WALTER BENJAMIM ESTÁ NA MODA E OS LIVROS O REVERENCIAM COMO SOCIÓLOGO, ESTETA, CRÍTICO LITERÁRIO E O QUE MAIS COUBER

A brigada Walter Benjamim O INTELECTUAL JUDEU ALEMÃO WALTER BENJAMIN, NASCEU EM BERLIM, EM 1892, SUICIDOU-SE NA FRONTEIRA FRANCO-ESPANHOLA EM 1940. BENJAMIN TOMOU UMA OVERDOSE DE MORFINA QUANDO ACHOU QUE NÃO CONSEGUIRIA CRUZAR OS PIRINEUS

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ivo, Walter Benjamin não se destacou, mas nas últimas décadas vem sendo aclamado como o maior pensador do século 20 em áreas díspares que vão da sociologia à estética, da teoria literária à crítica, e outras tantas. Isso é um mistério. Enquanto a reputação dos intelectuais da Europa Central de meados do século passado, contemporâneos e colegas de Benjamin (com a possível exceção do filósofo da Escola de Frankfurt Theodor Adorno) encolhe, a de Benjamin se expande cada vez mais. É grande o número de livros e artigos dedicados a ele, e agora surge uma nova e enorme biografia, Walter Benjamin: A Cri-

tical Life (“Walter (Benjamin: A Crítica de uma Vida”), de autoria de Howard Eiland e Michael W. Jennings e publicado pela Harvard, é a mais recente do que parece ser um fluxo interminável de publicações a respeito dele. Como explicar a moda Benjamin? Eiland e Jennings citam indicações culturais como o movimento estudantil radical da década de 1960 e o simultâneo ressurgimento do pensamento marxista. Mas se os radicais dos anos 1960 não eram lá grandes leitores, os textos de Benjamin são, no mínimo, impenetráveis e geralmente completamente inacessíveis. E quanto ao seu marxismo, se o principal ponto de atração é esse, então palmas para o herói da cultura real, o seu contemporâneo Herbert Marcuse (1898-1979), que se tornou famoso como o “pai da nova esquerda”, e nos dias de hoje, definitivamente não tem grande influência. É mais provável que a fama de Benjamin se deva à ascensão dos estudos culturais e às várias subdisciplinas acadêmicas: o pós-modernismo, o pós-estruturalismo, estudos a respeito das mulheres e gêneros, e assuntos correlatos. Nessas questões, o estilo de frases concisas e breves de Benjamin pode muito bem contar como algo a mais, um sinal externo de profundidade interior que também convida a voos mais fantasiosos do engenho interpretativo. Aliás, a triste história de sua vida contribui, e muito, para o seu fascínio. Independentemente do fim trágico – ele envenenou-se durante a fuga da França ocupada pelos nazistas –, Benjamin era sempre o tipo de homem marginal, estranho e frustrado. De fato, se tivesse vivido, é difícil imaginá-lo como um soldado feliz entre os acadêmicos dos estudos culturais contemporâneos. Eu próprio me interessei por Benjamin a partir de um trabalho, no início dos anos 1950, a respeito do movimento da juventude alemã anterior à Primeira Guerra Mundial, do qual Benjamin participou ativamente, embora estivesse não fosse um dos líderes. Nessa época, conheci amigos de sua juventude, como o

pedagogo alemão Gustav Wyneken, um dos seus primeiros gurus. Na Itália, reuni-me com antigos companheiros dele na revista da juventude radical Der Anfang. O poeta e bibliotecário Werner Kraft, da Universidade Hebraica de Jerusalém, primeiro foi um amigo e, depois, um crítico e, principalmente, Gershom Scholem, o melhor amigo de Benjamin, em Berlim, e mais tarde, junto com Adorno, o responsável pela disseminação da sua reputação póstuma. Na sala de estar da família Scholem, em Jerusalém, havia um desenho de Paul Klee, de 1920, –Angelus Novus–, agora no Museu de Israel, que pertencera a Benjamin, teve papel importante no seu pensamento, e que Scholem herdara depois da guerra. Na casa de Gershom Scholem, Benjamin, era sempre assunto de conversa: sim, ele tivera educação primorosa, era muito lido e estava envolvido em diversas áreas de pesquisa; de fato, suas ideias, como o conhecido ensaio A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, eram geralmente originais, e emitia lampejos de gênio. Mas em que, exatamente, consiste o seu gênio? Ele produziu uma nova filosofia da história, propôs uma abordagem nova para compreender a cultura europeia do século 19, que era a sua principal área de interesse, ou revolucionou o pensamento a respeito da modernidade? Se as respostas que recebi não foram convincentes, aquelas que fazem parte da vasta literatura secundária das últimas décadas não foram melhores. Para alguns, o problema é que a maioria da grande obra de Benjamin permaneceu inacabada, como principalmente o seu monumental Arcades Project, inspirado em parte pela permanente obsessão com a poesia urbana de Charles Baudelaire (1821-1867). As arcadas em questão eram as passagens de vidro fechadas no centro de Paris quando a cidade era, segundo Benjamin, a capital do século 19. A figura emblemática central, para ele, era a do flâneur, o andarilho ou o explorador urbano que habitava essas áreas. Depois de reunir quantidade fantástica de material, principalmente a obra-prima poética de Baudelaire Les Fleurs du Mal, Benjamin queria mostrar como a urbanização não apenas revolucionou a cultura, o planejamento urbano e as novas ideias de beleza, mas a vida em geral. Segundo Benjamin, as abordagens críticas tradicionais – historiográficas ou filosóficas – eram inadequadas para compreender esta nova época de alto capitalismo e o que ele criara. Era necessária uma teoria nova, materialista com “matizes marxistas”, e que ele, Benjamin, forneceria. Conseguiu? Seus partidários apontam para os problemas que o assaltavam em todas as fases da carreira. Até conseguir a “habilitação” – os estudos e a tese de doutorado, que qualquer pessoa que pretendia uma carreira acadêmica tinha de apresentar – foi rejeitada. Mais tarde, os planos de criar um novo periódico com o dramaturgo Bertolt Brecht deram em nada. Nunca teve emprego fixo, e considerava dever da família e da mulher, de quem estava afastado, sustentá-lo. Depois de 1933, recebia doações da Escola de Frankfurt, de The-

odor Adorno, que sabiamente transferira seus recursos para a Suíça e depois para a América, mas isso não substituía uma fonte de renda constante. Mas, supondo que tivesse conseguido terminar o seu grande projeto, aonde levaria a originalidade de Benjamin? A figura do flâneur fora “descoberta” nos romances de Honoré de Balzac e de outros, e os principais temas dos poemas de Baudelaire foram estudados também por acadêmicos alemães, cujas análises não diferiam muito das de Benjamin. As arcadas parisienses, com ou sem Baudelaire, foram o ponto de partida ideal para uma nova compreensão da modernidade? Mesmo a biografia mais detalhada de Benjamin, de autoria do eminente professor francês Jean Michel Palmier, não chega a nenhuma conclusão satisfatória a respeito. Aliás, o colossal livro de Palmier, com quase 1.400 páginas, é como a obra de Benjamin, inacabado, e isto em si já é um comentário. É sempre mais fácil escrever a respeito da vida de um homem de ação do que acerca de um pensador, e Benjamin era, acima de tudo, um homem de inação e, diante do desafio que isso representa para um biógrafo, Eiland e Jennings estão de parabéns. O livro tem por base principalmente os ensaios e a correspondência de Benjamin. Embora abrangente, notam-se estranhas omissões. Asja Lacis, o grande amor de Benjamin, é pouco citada. Afinal, ela foi a causa do fim do seu casamento e razão fundamental para a conversão dele para um tipo peculiar de marxismo, e o apresentou a Bertold Brecht. Comunista militante, Asja nasceu na Letônia e viveu em Moscou até desaparecer, de repente, em 1938, enviada a um gulag onde passou dez anos. Benjamin soube disso e a perda dela deve ter causado impacto na sua vida, mas nada a respeito é citado no livro, talvez porque não faz parte da correspondência. Desde a morte de Benjamin, em 1940, duas questões têm sido debatidas: a natureza do seu marxismo e a atitude em relação ao judaísmo. Desde 1930, Benja>>

A figura do flâneur fora “descoberta” nos romances de Honoré de Balzac e de outros, e os principais temas dos poemas de Baudelaire foram estudados também por acadêmicos alemães, cujas análises não diferiam muito das de Benjamin


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magazine > filosofia

>> min se considerava um marxista, e desta forma era visto por muitos entre seus admiradores. Mas, para Gershom Scholem, a orientação “materialista” de Benjamin era não apenas errada, mas fruto de uma ilusão, pois, por mais que tentasse, nunca conseguiria se transformar em um materialista e sugeria que essa descrição do filósofo seria um mal-entendido. A principal figura da Escola de Frankfurt, Max Horkheimer, também duvidava, chegando a chamar Benjamin de “místico”. E Brecht denunciou duramente as “aberrações místicas” de Benjamin. Mais recentemente, o teórico literário Terry Eagleton o apelidou de “rabino”. Explica-se facilmente esta confusão política de Benjamin, pois, de todos os intelectuais e eventuais emigrantes da República de Weimar, ele era, talvez, o menos politizado. A leitura dos seus ensaios e correspondência dos anos 1930, impressiona pelo leque de interesses, a profundidade do seu conhecimento e da absoluta falta de política. Enquanto o mundo ardia, Benjamin escrevia a respeito dos temas da poesia de Baudelaire. Ele odiava os nazistas e o que representavam, mas duvido que tenha lido qualquer coisa de autoria de Marx, com exceção das notícias dos jornais citados em As Lutas de Classes na França, que iluminavam a cena de Paris de meados do século19. Quanto à devoção que nutria por Baudelaire, um gran-

MONUMENTO EM SUA HOMENAGEM EM PORT

BOU, FRONTEIRA DA FRANÇA E ESPANHA, ONDE SE ENVENENOU

de reacionário cujo guru era Joseph de Maistre, inimigo jurado da Revolução Francesa, é preciso procurar uma explicação em outro lugar fora da política. Isso também vale para a sua admiração por Marcel Proust – dificilmente um ídolo da esquerda – e o interesse por Franz Kafka. As mesmas inconsistências são encontradas em qualquer tentativa de compreender as atitudes de Benjamin em relação às coisas judaicas. A família dele fazia parte da assimiladíssima classe média alta de Berlim. A profunda amizade com o jovem Scholem foi muito importante para estimular o interesse pelo judaísmo, cuja intensidade e tempo não se conhecem? Em 1921, leu The Star of Redemption (“A Estrela da Redenção”), de Franz Rosenzweig, menos como um texto teológico, e mais como filosófico, e nada influiu em seu pensamento, por exemplo, aproximando-o mais de Deus ou da sinagoga. Scholem mudou-se para Jerusalém em 1923, e durante anos tentou convencer Benjamin a se integrar à Universidade Hebraica. Ele chegou a flertar com a ideia de uma visita ou de imigrar, mas desistiu apesar da expectativa de uma carreira acadêmica, amizades e salário. Esther Leslie, professora de estética política e admiradora de Benjamin, reprova as tentativas de Scholem de atraí-lo para longe de Paris, alegando que ele não tinha qualquer razão para achar o sionismo, ou o deserto, atraentes. Muito certo, pois, afinal, além de que a cultura europeia era infinitamente mais interessante em Jerusalém não havia arcadas e nem chaves para a modernidade em Mea She’arim. O lugar de Benjamin era a Europa, mas infelizmente a Europa não tinha lugar para ele. Independentemente das restrições da professora de estética política, se Benjamin tivesse atendido aos pedidos de Scholem e se juntado a ele no “deserto”, ou seja, o bairro verdejante e agradável de Rehavia, em Jerusalém, teria vivido mais uma ou duas décadas, talvez três. Em vez de morrer a miserável morte autoadministrada na fronteira franco-espanhola, poderia, se quisesse, ter retornado à sua amada Paris depois da guerra. Posso até imaginá-lo em 1944, sentado em um café em Rehavia, discutindo filosofia com Natan Rotenstreich, ou fotografia com Tim Gidal, ou física com Shmuel Sambursky, jogando xadrez com o folclorista Emanuel Olsvanger, e debatendo com os três Hans – Jonas sobre religião gnóstica; Polotsky sobre linguística e Lewy sobre filosofia grega. A maioria dessas figuras pertencia ao Pilegesh (“Concubina”), o círculo de intelectuais e acadêmicos judeus alemães presidido por Scholem. De uma forma ou de outra, Rehavia teria cuidado de Benjamin: não que fosse a existência mais acolhedora, talvez um pouco tediosa depois de Paris –, mas um destino pior do que o suicídio em pânico em um hotel pobre? O memorial feito pelo escultor Dani Karavan na cidade fronteiriça espanhola de Port Bou não é uma forma de compensação. * Walter Laqueur escreveu vários livros a respeito da Europa do período entre-guerras


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magazine > lançamento | por Bernardo Lerer*

O melhor relato de Auschwitz desde Primo Levi OTTO DOV KULKA GANHOU O PRÊMIO JEWISH QUARTERLY-WINGATE, MAS LEVOU SETENTA ANOS PARA CONTAR A PRÓPRIA HISTÓRIA

A RESPEITO DO HOLOCAUSTO. O LIVRO “PAISAGENS DA METRÓPOLE DA MORTE” (160 PP, R$ 37,50) FOI LANÇADO O MÊS PASSADO PELA COMPANHIA DAS LETRAS

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as muitas narrativas de sobrevivência nos campos de concentração nazistas – de judeus ou não –, poucos se comparam ao de Otto Dov Kulka, pela qualidade do texto e tentativa de compreender a natureza da barbárie contemporânea. Landscapes of the Metropolis of Death (“Paisagens da Metrópole da Morte”) foi traduzido para dezessete idiomas desde o lançamento, em 2013, e deverá se tornar um dos livros essenciais da nossa época, entre outras razões porque desde A Tabela Periódica, de Primo Levi, é o mais vigoroso livro de memórias a respeito do Holocausto. Estas memórias atormentam Kulka há mais de setenta anos e a lembrança de cadáveres na neve polonesa está em muitos trechos de um texto que parece tomado de transe, criando comunhão e intimidade com o leitor. Kulka tem 81 anos, é professor emérito de história na Universidade Hebraica de Jerusalém e de cujo gabinete se avista um vale verde e casas de pedra de cor da areia. As estantes transbordam de trabalhos acadêmicos de Kulka a respeito do destino dos judeus da Europa e das ruínas morais e materiais de guerra da Alemanha, e vasta literatura acerca do mesmo tema. No entanto, este livro de memórias é bastante diferente daqueles estudos históricos “estritos e impessoalmente remotos. Levei vinte anos para decidir publicá-lo”, responde a quem lhe pergunta, “porque para mim era difícil abrir estas lembranças pessoais bem guardadas. Ainda assim, devo admitir que uma parte de mim parece espantada com o inesperado sucesso do livro”, diz Kulka. Ele agradece a recepção que o livro teve, “mas nunca imaginei que minhas reflexões mais particulares interessassem aos leitores”.

Kulka nasceu na Tchecoslováquia, em 1933, mesmo ano em que Hitler chegou ao poder e até então os judeus tchecos eram quase indistinguíveis da maioria não judaica. No outono de 1943, Kulka e os pais foram transferidos do gueto de Theresienstadt para Auschwitz-Birkenau, onde um chamado Familienlager (“campo de família”) concedia incrível aparência de “normalidade”. Crianças judias e os pais apresentavam peças de teatro e concertos assistidos por membros do alto escalão da SS, entre eles Josef Mengele. Em um ambiente onde a morte era certeza, Kulka, com 10 anos, era encorajado a acreditar no futuro: “Não senti a mesma discórdia destrutiva, assassina e aguda e o tormento vividos pelos prisioneiros adultos”. Embora cercado da violência nas mais diversas formas, Kulka ignorava o verdadeiro objetivo do campo: a destruição dos judeus e do judaísmo europeu. Ao contrário, queria saber se o arame farpado da cerca era “de fato, eletrificado”. Tocou-o, e por isso até hoje tem as cicatrizes. Só muito depois, Kulka descobriu que o Familienlager fora criação de Eichmann para enganar os inspetores da Cruz Vermelha Internacional. Como no verão de 1944 os russos avançavam do leste pela Europa ocupada, os alemães deram um fim ao Familienlager de Auschwitz e ao “bloco infantil”. Kulka teve sorte e sobreviveu: momentos antes do assassinato de um grupo de meninos do qual fazia parte, ele foi escolhido para trabalhos forçados em um subcampo de Birkenau. Depois, integrou as colunas da “marcha da morte” durante o longo inverno fora do campo à medida que os russos chegavam mais perto. “No começo, eu estava embriagado pela brancura da neve e pela liberdade, mas olhando mais atentamente para as manchas escuras na neve na beira da estrada, percebi que eram corpos humanos”, ele conta. O pai sobreviveu, mas a mãe morreu durante a evacuação do campo. Apesar da beleza lírica da prosa, o texto de Kulka é tenebroso. No Familienla-

res com véu onde gosta de passear e pensar. Em Israel é conhecido como “Dov” (“urso”, em hebraico), mas lá onde nasceu, a atual República Tcheca, é “Otto”. Ele se sente tão bem em meio à cultura poliglota do judaísmo da Diáspora da Europa como entre judeus israelenses. Quase todos os anos visita Praga, cujo filho mais famoso, Franz Kafka, paira sobre Paisagens, como um espírito tutelar. Afinal, a ficção de Kafka parecia prenunciar a Europa totalitária sob Hitler, e as três irmãs de Kafka morreram nas câmaras de gás nazistas, vítimas da grotesca burocracia prenunciada pelo irmão duas décadas antes em O Processo. A linguagem alusiva e metafórica dePaisagenslembra Kafka. Na sua imaginação infantil o campo era a “Metrópole da Morte” onde uma autoridade caprichosa distribuía punições sem sentido. A maior parte dos detentos morre da “Grande Morte” por gás. A irmã mais nova de Kafka, Ottla, fora internada em Theresienstadt, com Kulka, antes de ser transferida para a Polônia. Ela ofereceu-se para acompanhar e cuidar de um grupo de órfãos judeus de Bialystok. “O transporte das crianças terminou nas câmaras de gás de Auschwitz”, disse Kulka.

ger os educadores judeus ensinaram as crianças a cantar a Ode à Alegria, de Beethoven, mas como um dos crematórios estava no campo de visão deles isso pode ser interpretado como exemplo de extrema ironia. Ou terá sido uma forma de o maestro judeu protestar contra a barbárie? Por ser uma criança à deriva no maior mal total de nosso tempo, Kulka esforçou-se para entender o mundo adulto que o rodeava. Um dia testemunhou um soldado da SS chicotear um prisioneiro até a morte, e nos outros sempre topava com esqueletos “amontoados” atrás das barracas. É essa proximidade chocante do mundo infantil com a morte que faz de Paisagens um livro tão forte. Interessante que ele e a mãe se ofereceram para trocar Theresienstadt por Auschwitz acreditando que fosse “menos lotado” do que o gueto. “Prometi aos meus amigos na casa das crianças de Theresienstadt que, se o novo lugar fosse melhor, eu escreveria para eles. Talvez valesse a pena eles virem também”, disse Kulka. Depois de sobreviver a Auschwitz, em 1949 Kulka mudou-se para Israel e viveu a maior parte da vida adulta em Jerusalém. É na Cidade Velha de música árabe, soldados barbudos e mulhe-

OS OLHOS DESTE HOMEM VIRAM

AUSCHWITZ DURANTE 4 ANOS DE SUA INFÂNCIA

Enfim, as lembranças Em 1991, um amigo convenceu Kulka a gravar uma fita e transcrever as memórias em um diário. Pensou seriamente e as memórias enterradas há muito tempo emergiram novamente. A esposa e filha desconheciam as gravações. Kulka não gosta de misturar as reflexões autobiográficas do campo – as “mitologias privadas” – com a investigação histórica profissional. Pouquíssimos colegas e alunos sabiam que ele era sobrevivente do campo ou que testemunhara no primeiro julgamento de Auschwitz, em Frankfurt, em 1964. Mantinha o “eu criança” escondido, e o deixava sair apenas à noite quando fazia as gravações no gabinete da universidade. Em 1997, foi informado que tinha, no máximo, dois ou três anos de vida em razão de um câncer. Dois anos depois, >>


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magazine > lançamento >> na cerimônia de um prêmio literário em Jerusalém, finalmente falou das gravações e dos diários. O câncer recuou com a quimioterapia, e Kulka começou a dar forma de livro ao material, pensando menos em publicá-lo e mais como parte de uma viagem particular de autoexploração. Em 2011, Kulka mostrou fragmentos do diário ao historiador britânico Ian Kershaw, que o incentivou a enviar um rascunho manuscrito à editora Penguin, em Londres, que logo reconheceu a bela elegia à infância destruída e à cultura judaica perdida. A prosa dolorida, mas lúcida, de Kulka procura compreender como a sua memória processou o trauma de Auschwitz. A palavra “Holocausto” nunca é mencionada embora esteja metaforicamente sempre presente no livro como a “Lei Inalterável da Morte” e “A Metrópole da Morte”. Nos trabalhos acadêmicos Kulka também considera o termo “inadequado”. É que, em grego, “holocausto” significa “imolar pelo fogo” em sacrifício para os deuses, e para os padrões bárbaros da antiguidade o genocídio nazista não era propriamente uma oferenda ritual de vítimas, mas a tentativa de mudar o curso da história. No entanto, mesmo em Auschwitz houve controvérsia, humor negro e beleza. Em Paisagens, o azul brilhante do céu sobre o campo é como uma intimação à liberdade. Para Kulka, não se trata da mecânica do assassinato em massa, mas do que restou do rosto humano e de humanidade no campo. Em uma lembrança extraordinária, prisioneiros russos gritam um protesto desafiador quando estão a ponto de serem enforcados publicamente por tentarem fugir. Embora conheça bem a importância de memoriais e museus do Holocausto, Kulka evita fazer comparações com as suas próprias imagens pessoais e memórias da época temeroso de que possam ser “substituídas”. Por isso, provavelmente não vai ler o próximo romance de Martin Amis, The Zone of Interest (“A Zona de Interesse”), uma história de amor ambientada em um Auschwitz sem nome. “Apesar disso, não gostaria de julgar Amis por querer escrever de forma imaginária a respeito de Auschwitz. Ele tem todo o direito de fazê-lo”, diz Kulka. Para outros, no entanto, como Primo Levi, os aspectos mais bestiais do projeto de destruição nazista não devem ser assunto de ficção. Somente aqueles que sobreviveram a Auschwitz teriam o direito de descrever aquele inferno peculiar, e mesmo eles podem não estar devidamente aptos porque os que sondaram as profundezas da degradação humana não voltaram para contar a história. Pelo esmero da lembrança da vida de uma criança em Auschwitz, Kulka talvez tenha ajudado a refutar a promessa cínica de Himmler, segundo a qual a destruição do judaísmo na Europa seria uma “página não escrita da glória”. No entanto,não pretende contestar nada do que Himmler disse no discurso aos oficiais da SS, em 1943, mas compreender sua implicação. Um decreto do governo polonês de 1947 transformou Auschwitz, o maior cemitério da história da humanidade, em um museu nacional completo com santuários comemo-

rativos e, macabra indecência naquele lugar, uma cafeteria. Kulka ficou irritado, mas não se surpreendeu quando as autoridades comunistas de então se apropriaram de Auschwitz como lugar do “martírio” polonês, em vez de judeu. Afinal, eram judeus mais de 90% dos que morreram no campo em câmaras de gás, fome ou trabalhos forçados. O fato não foi exatamente negado pelo governo de Varsóvia. No verão de 1978, ele não se apresentou, como é normal, no centro de visitantes do campo, mas foi direto a Birkenau (Auschwitz II), onde esteve internado com os pais. Nesse terreno baldio de cabanas quebradas e maldade humana foi atingido por um silêncio esmagador. “Nem mesmo o som de um pássaro estava lá... Já não era mais a Metrópole de Morte. Era uma paisagem muito melancólica e repleta de desolação”, lembra Kulka. Fotografou com uma velha Leica, mas perdeu as 36 poses porque o filme estava defeituoso. Do segundo rolo, até que algumas estavam boas, menos as que o motorista tirou dele nos portões do campo porque não conseguia operar a câmera direito e, por isso, Kulka aparece cortado ao meio. (A imagem é reproduzida em Paisagens, juntamente com facsímiles de desenhos e aquarelas de companheiros de infância de Kulka em Theresienstadt.) Para Kulka, a foto dele dividida ao meio é emblemática das duas metades da sua personalidade: a que vive na mitologia particular de Paisagense a do historiador, falando em seminários e palestras. Kulka recebe mensagens de leitores de todo o mundo nas quais expressam admiração pelo livro, mas o autor continua perplexo com essa atenção toda. “Nunca pensei que o livro interessasse a alguém além de mim. Paisagens não deveria servir a qualquer propósito, e menos ainda ter uma mensagem. Como um poema ou um sonho que simplesmente se criou sem que eu pensasse nisso,” ele diz. *A partir de um texto de Ian Thomson, do Telegraph de Londres

Para Kulka, a foto dele dividida ao meio é emblemática das duas metades da sua personalidade: a que vive na mitologia particular de Paisagense a do historiador, falando em seminários


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por Bernardo Lerer

Um Homem Torturado

Monteiro Lobato Livro a Livro: Obra Adulta

Leneide Duarte-Plon e Clarisse Meireles/ Civilização Brasileira | 417 pp. | R$ 37,50

Marisa Lajolo | Editora Unesp | 544 pp. | R$ 69,00

Estas duas jornalistas, mãe e filha, fazem da vida, da tortura e do suicídio do frade dominicano Tito de Alencar, que se enforcou em uma árvore perto do convento onde vivia, em Lyon, na França, que tinha alucinações com o delegado Sérgio Fleury que o torturou, o fio condutor dessa história da ditadura, repleta de informações inéditas e de que não se ocuparam os livros que trataram da luta armada e de sua repressão. É que o livro se ocupa principalmente do papel dos frades dominicanos na luta contra a ditadura e, por isso, denuncia o clero conservador que, na época, negava a existência de tortura.

O Brasil É Bom

A autora, professora da Unicamp, é especialista em Lobato e, por isso, até ganhou um Prêmio Jabuti, em 2009. Mais conhecido pelas obras para crianças, Lobato escreveu Urupês, Cidades Mortas, Escândalo do Petróleo?,e outros que, de infantis, não tinham nada. Mais do que isso, ele surpreendeu e escandalizou com artigos como “Velha Praga” em que apresenta o caipira de cócoras e desencadeou polêmicas, ironias, etc. São 28 artigos de 26 pesquisadores que contam a história das 25 obras de Lobato para adultos. Vale a pena.

Mossad – Os Carrascos do Kidon Eric Frattini | Editora Seoman | 392 pp. | R$ 48,00

É um livro que não se consegue parar de ler e as histórias das operações fluem como se alguém que as protagonizou decidisse contá-las. Além de revelar as origens do grupo de extermínio na estrutura do Mossad, as informações reunidas pelo autor revelam como foram executados, um a um, na Operação Ira de Deus, os mentores e autores do massacre de Munique, o assassinato de Herbert Cukurs, o carrasco de Riga, que vivia tranquilamente no Brasil, o assassinato de cientistas iranianos, etc. e também os fiascos e as indesejáveis consequências diplomáticas.

André Santana | Companhia das Letras | 190 pp. | R$ 39,00

A Negação

São 23 contos escritos do ponto de vista dos seres movidos a todo tipo de preconceito e, portanto, com ironia, a respeito do Brasil atual, nos quais denuncia a pobreza moral da velha classe média apavorada e temerosa com a ascensão da nova classe média e as tensões sociais e raciais em ebulição no Brasil, que muitas pessoas insistem em não ver, e, no entanto, compõem um retrato urgente, atual e necessário. É o retrato do que se lê nos jornais em que aqueles que se consideram “homens de bem” nutrem fantasias dignas dos tempos da ditadura, e das medidas econômicas que fizeram da classe C uma horda de consumidores, etc. Fantástico.

Sigmund Freud | Cosacnaify | 104 pp. | R$ 39,90

Almanaque 1964

A partir da palavra “não”, que foi juntando dos relatos dos pacientes, em 1925, quando já se havia detectado um tumor benigno na boca, Freud escreveu A Negação que ainda provoca debates entre diversas linhas da psicanálise avançando até a filosofia. O livro incorpora a então descoberta da pulsão da morte, discute temas do objetivo-subjetivo, representação–percepção, real-não-real e a própria origem do pensamento. O texto recupera a tradução da psicanalista Marilene Carone (1942-1986), diretamente do alemão.

Ana Maria Bahiana | Companhia das Letras | 251 pp. | R$ 54,50

A Batalha do Autismo

Veterana jornalista, que já era repórter nos dias do golpe civil-militar de 1964, relata “Fatos, Histórias e Curiosidades de um Ano que Mudou Tudo (e nem Sempre para Melhor)”, isto é o que acontecia no Brasil e no mundo além do noticiário político e militar. Para isso, pesquisou os jornais do país daquele ano de notícias a anúncios, e a partir daí contou, por exemplo, que foi o ano do primeiro LP de Jorge Benjor, na época só Jorge Ben, e o aguardado lançamento do Aero Willys 2600, o carro. Vale muito a pena.

Eric Laurent | Zahar | 222 pp.| R$ 49,90

O autismo é tema de debates nos últimos sessenta anos, mas só mais recentemente passou a ser uma questão política capaz de abrir espaços nobres nos meios de comunicação e ser tratado como um desafio social. O autor é um famoso psicanalista francês com experiência clínica, com a vantagem de a edição brasileira revelar os pontos de aproximação entre a realidade do nosso país e o atual estado de coisas analisado pelo autor.

Guerras Sujas Jeremy Scahill | Companhia das Letras | 830 pp. | R$ 69,50

1964 – Visões Críticas do Golpe Caio Navarro de Toledo (org.) | Editora Unicamp | 204 pp. | R$ 40,00

Com o subtítulo “Democracia e Reformas no Populismo” é uma coletânea de textos elaborados especialmente para o seminário “O Golpe de 1964: 30 anos”, realizado em março de 1994 na Unicamp e do qual participaram pesquisadores e militantes dos movimentos sociais e políticos dos anos 1960 e que analisaram as razões e o significado do golpe político-militar de 1964 na economia, na política, nos movimentos sociais e na cultura.

A Ditadura Militar e os Golpes Dentro do Golpe 1964-1969 Carlos Chagas | Record | 487 pp. | R$ 60,00

O autor já era um jornalista famoso quando foi convidado para ser o assessor de imprensa da presidência da República na gestão do general Costa e Silva e, portanto, tinha uma visão privilegiada dos acontecimentos no período inicial da ditadura civil-militar. É um livro fundamental para se acompanhar os eventos daqueles pouco mais de cinco anos, até a edição do Ato Institucional 5 porque se vale de anotações de colegas jornalistas que não as utilizaram nas reportagens. A capa do livro, toda em preto, é significativa.

Jeremy já havia escrito Blackwater, a respeito desta espécie de agência de mercenários empregada pelos Estados Unidos para lhe fazer o serviço sujo em regiões onde não quer arriscar areputação. Aqui ele pesquisa o novo paradigma da política externa americana: a luta longe dos campos de batalha declarados, por unidades que oficialmente não existem e em operações sobre as quais não há dados oficiais. Para isso foi à Somália, Afeganistão, Iraque, Paquistão, Iêmen – não faltam países –, e das entrevistas com agentes, vítimas, funcionários de governo, etc., surge uma nova visão da guerra contemporânea, a partir de histórias aparentemente desconexas.

O Mundo das Copas Lycio Vellozo Ribas | Academia do Livro | 438 pp. | R$ 62,91

É um livro completo a respeito de todas as copas do mundo, desde a primeira, em 1930, vencida pelo Uruguai, em Montevidéu, mas tem a vantagem de mostrar curiosidades como as lotações dos estádios das finais – o Maracanã tinha capacidade para 155.000 pessoas mas na final de 1950 havia 173.830 espectadores – os apelidos dos jogadores, os maiores goleiros, o destino dos jogadores depois das copas, quem jogou mais copas, as táticas, as grandes ausências, os que se contundiram gravemente antes e durante os jogos e os jogos de todas as copas. Vale a pena.


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por Bernardo Lerer

Ernesto Nazareth Maria Teresa Madeira | Sonhos & Sons | R$ 24,90

Embora tivesse recebido influência da música africana por meio dos maxixes e lundus, Nazareth (1863-1934) preferia que suas músicas fossem chamadas de tangos e polcas, formas musicais muito em voga no final do século 19 e começo do 20. De todo modo, ele compôs exatas 211 peças das quais 88 tangos, 41 valsas, 28 polcas e o resto dividido em sambas, choros e até ensaiou o jazz que já começava a aparecer por aqui. As primeiras peças são da adolescência: tinha 17 anos quando se apresentou num certo Mozart Clube.

Bel Ragio Aleksandra Kurzak | Decca | R$ 85,90

A contralto polonesa Aleksandra gosta de cantar peças de Rossini e este cd, inteiramente dedicado ao mestre, abre com uma ária a ópera Semiramide e que dá nome ao álbum. Ela faz questão de demonstrar nas gravações predileção por papéis trágicos, pois, segundo ela, possibilitam a que se revele a voz na amplitude total. Kurzak acha que as peças de Rossini são fundamentais para dar um salto maior na carreira.

Guilty Pleasures Renée Fleming | Decca | R$ 27,90

Mais ópera, e desta vez com a soprano norte-americana que confirmou suas qualidades no primeiro cd Poèmes, somente com peças de compositores franceses. Ela é apresentada como uma cantora capaz de interpretar em oito idiomas e as músicas deste cd, em várias línguas, revela a amplitude da sua voz e a interpretação em tcheco de Smetana e Dvorak, em alemão de Wagner, em russo de Tchaikovsky, em francês e Leo Délibes, etc.

The Columbia Stereo Recordings

Michael Nyman

Leopold Stokowski | Sony Musical | R$ 339,90

Naxos | R$ 25,90

São dez cd’s nos quais Stokowski (1882-1977) conduz as orquestras da Philadelphia, a American Symphony e a National Philharmonic, executando peças que o notabilizaram ao longo a carreira desde quando regeu pela primeira vez na Inglaterra, onde nasceu. Ele foi o primeiro a gravar Carmem e L’Arlesienne, de Bizet, em 1920, e as regravou em 1976, no sistema estéreo, já nonagenário e um ano antes de morrer.

Nyman é compositor de música minimalista, pianista, libretista e musicólogo que admite ter se inspirado ao tocar uma ária de Don Giovanni, de Mozart, ao piano, no estilo de Jerry Lee Lewis, que, segundo ele, “ditou a dinâmica, a articulação e a textura de tudo o que viria a compor mais tarde”. Ele tem o próprio conjunto musical e pesquisou a música folclórica da România. Escreveu trilhas sonoras de filmes dirigidos por Peter Greenaway.

Tafelmusik

Sospiri

Teleman | Deutsche Grammophon | R$ 159,90

Cecilia Bartoli | Decca | R$ 153,90

Os departamentos de marketing das grandes gravadoras são muito criativos. A Archiv Produktion, da Deustche Grammophon, lançou a Collectors Edition, com álbuns de vários compositores. Aqui, um banquete musical de composições de Teleman, com o Musica Antiqua Köln, executando o barroco na sua forma mais tradicional: abertura francesa e suíte, quarteto, concerto, trio e solo de sonata.

Ao presidir a Hebraica pela segunda vez (1993-1995), Marcos Arbaitman confessou a amigos apreciadores do canto lírico que um dos seus sonhos era convidar a soprano italiana Cecilia Bartoli, que surgia para o mundo da ópera, para apresentações no Teatro Arthur Rubinstein. Marcos sabia do que falava, pois La Bartoli tornouse uma das maiores cantoras dos últimos vinte anos.

The Clown

Boris Godunov

Charles Mingus | Atlantic | R$ 24,90

Modest Mussorgsky | Decca | R$ 169,90

Colocaram muito mais texto do que cabia no espaço da contracapa. Mingus (1922-1979) foi um dos mais notáveis contrabaixistas de jazz de todos os tempos. Ele recebeu influências também da música clássica e o que todos admiravam nele era o estímulo que dava à improvisação coletiva ao mesmo tempo em que se recusava a ceder a modismos e reverenciava a figura mítica de Duke Ellington.

Mussorgsky (1839-1881) foi um inovador da música russa no período romântico e um dos que mais resistiram à influência da música ocidental preferindo se ater às raízes do folclore e da história, o que explica ter composto esta ópera centrada em Boris Godunov (1551-1605) que reinou na Rússia de 1585 a 1598, e quando deixou o poder o país entrou numa fase de anarquia.

Richard Galliano

Werther

Deutsche Grammophon | R$ 89,90

Deutsche Grammophon | R$ 159,90

Este cd é dedicado ao fantástico compositor Nino Rota (1911-1979), autor das trilhas de filmes como O Poderoso Chefão, Noites de Cabiria, La Strada, La Dolce Vita e outros, dos principais diretores italianos, sendo que Galliano é um dos maiores acordeonistas de jazz, vencedor de dois prêmios internacionais do instrumento. Ele os disputava sempre com o acordeonista israelense Yehuda Oppenheimer, morto em 2012.

Esta versão da ópera de Jules Massenet, em que o personagem principal é interpretado pelo tenor Rolando Villazon, descoberto por um outro tenor, Arturo Nieto. Ele venceu concursos e em 2007 submeteu-se a uma cirurgia para a retirada de um cisto numa das cordas vocais. Logo depois, fez a grande prova do êxito da cirurgia cantando exatamente Werther na Ópera de Lyon e que depois repetiu em Londres.

Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena


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magazine > ensaio | por Gavriel D. Rosenfeld

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O ARQUIDUQUE FRANCISCO FERDINANDO, AQUI COM A MULHER SOPHIA, ERA CONSIDERADO UM PACIFISTA

E se a Primeira Guerra não tivesse acontecido? NO MÊS EM QUE SÃO LEMBRADOS OS CEM ANOS DO INÍCIO DA PRIMEIRA GUERRA, COM O ASSASSINATO DO ARQUIDUQUE HERDEIRO DO IMPÉRIO DOS HABSBURGOS, UMA HISTÓRIA HIPOTÉTICA IMAGINA O MUNDO SEM O HOLOCAUSTO E ISRAEL

a introdução do livro Archduke Franz Ferdinand Lives! A World Without World War(“O Arquiduque Francisco Ferdinando Está Vivo! Um Mundo sem a Guerra Mundial”, Palgrave Macmillan, 256 pp., US$ 27,00), Richard Ned Lebow revela uma comovente razão pessoal pelo interesse na história hipotética: em 1942, quando criancinha, este professor de teoria política internacional do King’s College escapou de ser deportado de Paris para Auschwitz, porque a mãe pediu a um corajoso policial francês para entregá-lo às judias francesas que organizavam os Kindertransport para outros países. Lebow foi adotado e criado por uma família judia nos Estados Unidos e seguiu a carreira acadêmica. A consciência de que poderia ter morrido em 1942 fez se interessar em saber como a história poderia ter sido diferente. O estudo de Lebow chega exatamente um século após a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Embora nos próximos meses se vai focar nas origens da guerra e nas suas consequências, Lebow especula a respeito de como a sua prevenção teria alterado o curso da história. O autor adota uma perspectiva mais ampla, pois considera que se ela pudesse ter sido evitada moldaria os eventos mundiais e teria desenhado profundamente o curso da história judaica. Para Lebow, se o herdeiro ao trono dos Habsburgos tivesse escapado ao assassinato em 28 de junho de 1914, a Primeira Guerra nunca teria acontecido. Ao contrário de muitos estudiosos, para os quais a guerra (ou algum conflito comparável) era, provavelmente, inevitável devido às poderosas forças do nacionalismo e do imperialismo, Lebow a tem como um evento incerto que poderia ter sido evitado. Lebow está convencido de que a disposição belicista dos líderes políticos e militares da Europa, em 1914, provavelmente alguns anos depois teria desaparecido. Em 1917, a Rússia teria alcançado a Alemanha e o império austro-húngaro em preparação militar, eli-

minando, assim, a tentação dessas potências de explorar o declínio da vantagem em relação à Rússia por meio da ação militar preventiva. Se o arquiduque tivesse conseguido viver o suficiente para suceder o tio, Francisco José (que morreu em 1916), o recémcoroado imperador Francisco Ferdinando, um homem há tempos comprometido com a paz com a Rússia, teria impedido qualquer futura crise diplomática evoluísse para a guerra. Lebow sugere dois cenários distintos para a hipótese de não guerra em 1914: no primeiro, um “mundo melhor”, no segundo, um “mundo pior”, e avalia os dois cada um dependendo do papel do “desenvolvimento político da Alemanha... como o principal fator determinante” (no primeiro caso, o país opta pela democracia; no segundo, rende-seao autoritarismo). Quem se interessa por história mundial e relações internacionais vai apreciar os detalhes geopolíticos dos cenários concorrentes de Lebow, em que o primeiro postula um mundo mais pacífico e multipolar, e o segundo prevê luta internacional contínua, culminando em uma guerra nuclear europeia. Mas os judeus em particular ficarão intrigados ao descobrir como seria a vida judaica nesses dois mundos, cujas consequências mais importantes têm a ver com o Holocausto e a criação do Estado de Israel. Quanto ao primeiro, Lebow concorda com Milton Himmelfarb (sociólogo americano, 1918-2006): “Sem Hitler, sem Holocausto”. Na imaginação de Lebow, sem a Primeira Guerra, as consequências trágicas da derrota da Alemanha – e daí a entrada de Hitler na política, a ascensão do nazismo e a eclosão da Segunda Guerra – nunca teriam acontecido. Claro, raramente a vida judaica foi utópica: havia um persistente antissemitismo na Europa Oriental (fomentando a contínua imigração para a Europa Ocidental e a Palestina), bem como os pogroms. Mas, de um modo geral, “a população judaica da Europa prospera”. Nos Estados Unidos, enquanto isso, os judeus (e os negros, mulheres e outras minorias) levam mais tempo para serem aceitos na sociedade americana, menos tolerante do que viria a ser mais tarde na história real. Lebow aponta, assim, para pontos positivos diante das dificuldades da Segunda Guerra (que promoveu a integração social por meio do serviço militar) e do Holocausto (que salientouo perigo representado pelo ódio racial). E Israel? A posição de Lebow a respeito do destino de Israel em um mundo sem a Primeira Guerra é mais sombria. Ele explora diversos cenários, mas sugere que, sem a guerra (e sua sucessora inevitável, a Segunda Guerra, e o Holocausto), a imigração judaica para o ishuv (a Palestina) teria continuado pequena, as tensões com os árabes brandas e as potências europeias na região teriam condições de conter as aspirações nacionais de judeus e palestinos. Isto é, sem Hitler, sem Israel. No entanto, e ao mesmo tempo, Lebow admite a existência de “outro caminho para Israel”. Nesse cenário sem a Primeira Guerra, o Império Otomano nem sofre uma derrota militar,

nem perde o controle sobre as terras do Oriente Médio para os britânicos. Mas, eventualmente, a erupção de revoltas nacionalistas árabes (semelhantes às dos Bálcãs antes de 1914) empurra os otomanos para fora da Palestina e provoca a entrada de países europeus para preencher o vácuo. Como a Grã-Bretanha é a potência mais influente, suas ações facilitam a criação de um Estado judeu. Ainda que as tensões entre judeus e palestinos levem à guerra, a ausência de uma legião jordaniana (que nunca seria criada, pois depois de 1918 a Grã-Bretanha não controla a Jordânia) e a de uma invasão árabe a partir do Egito (que a Grã-Bretanha ainda domina) permitem aos judeus triunfar. Depois da independência de Israel as tensões persistem, mas com um poderoso aliado britânico a sua segurança está garantida. Isso é especialmente verdade porque, sem o colonialismo franco-britânico, os Estados árabes da região nunca viriam se tornar ditaduras cleptocráticas ou voltadas ao radicalismo islâmico. A fantasia visionária de Lebow de um mundo sem a Primeira Guerra trata da geopolítica e da história social e cultural, mas neste quesito a pesquisa dele é pobre. De todo modo, sobra diversão quando trata das carreiras do judeu alemão acadêmico e consultor político Henry Kissinger; do judeu russo escritor de ficção científica Isaac Asimov e do físico judeu húngaro Edward Teller, porque nenhum imigra para os Estados Unidos. É evidente que se pode contestar qualquer hipótese e duvidar da sua plausibilidade, alguns pontos são mais atraentes que outros e aí está o apelo da história alternativa. Desafiar visões convencionais do passado com perspectivas novas e imaginativas perguntando “e se?”, nos obriga a rever premissas vigentes e testá-las. Ao nos lembrar de possibilidades dramáticas que nunca existiram, podemos compreender melhor aquelas que vieram a acontecer. * Gavriel Rosenfeld leciona história na Universidade de Fairfield

É evidente que se pode contestar qualquer hipótese e duvidar da sua plausibilidade, alguns pontos são mais atraentes que outros e aí está o apelo da história alternativa


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magazine > ensaio II | por Robert Zaretsky

“O Processo”, de Kafka, e a Primeira Guerra TANTO OS EVENTOS DE 1914-1918, SEUS MILHÕES DE MORTOS E JUDEUS LUTANDO CONTRA JUDEUS, COMO O GRANDE E MISTERIOSO ROMANCE DO ESCRITOR TCHECO, DESAFIAM A COMPREENSÃO

D

ois mil e catorze é o centenário de dois marcos da modernidade: a Primeira Guerra e O Processo, de Franz Kafka. Os dois eventos têm suas origens em 1914, mas nenhum terminou de verdade: Kafka morreu em 1924 e deixou um manuscrito inacabado, e os pacificadores saíram do Palácio de Versalhes com uma guerra não resolvida. No entanto, além das naturezas incompletas, os dois acontecimentos têm muito mais em comum entre si e com as pessoas comuns também. Se muitos afirmam que O Processo prevê as ideologias totalitárias que logo engoliriam a Europa, o misterioso dom de clarividência de Kafka também revelou a natureza da guerra que só então começara a se desenrolar. Quando a Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha, em 4 de agosto de 2014, Henry James (1843-1916) escreveu que a crença da era moderna no progresso resultara em uma mentira: “Para aceitar tudo agora por todos os anos traiçoeiros é muito trágico para quaisquer palavras”. Ainda mais forte, no entanto, é o trecho do diário de Kafka, escrito dois dias antes: “A Alemanha declarou guerra à Rússia – Natação no período da tarde”. De certa forma, essa foi a sua resposta para a lamúria de James. Um pouco como a reação de Joseph K. à sua prisão – “É claro que estou surpreso, mas nem por isso muito surpreso” – é uma afirmação paralela à resposta da maioria dos europeus às notícias da guerra. Mas Kafka, ao contrário de James, sabia que era melhor não buscar significados no desenrolar dos acontecimentos. Claro, Kafka não lutou na guerra que descreve no romance. Em vez disso, permaneceu em Praga no posto de advogado de uma companhia de seguros. Quando finalmente tentou se alistar, os médicos olharam o rosto emaciado e a aparência tísica de Kafka e o mandaram de volta. No entanto, a guerra, visitou a sua cidade natal. Das beiradas da multidão, Kafka assistiu a marchas militares e ouviu discursos patrióticos “bem organizados e programados para serem repetidos a cada noite, duas vezes amanhã e domingo”, observou com argúcia. Ele estava cada vez mais isolado e sozinho à medida em que seus amigos deixavam Praga, a maioria de uniforme. O que fazer? Escrever, Kafka disse a si mesmo – só escrevendo poderia ajudar a sua “luta pela autopreservação”. E assim ele

o fez. Enquanto as potências europeias acusavam umas às outras de blefar, o diário de Kafka registrou o nascimento de um personagem chamado “Joseph K.”. O processo de escrever a história de K., que evoluiu para um romance – agora intitulado O Processo–, se assemelhava à sorte do exército austríaco, que recuava tanto quanto avançava. Kafka lamentou que seu texto estava ou em um “impasse”, “[indo] para a frente em um engatinhar miserável”, ou que havia “deparado com a última fronteira”. À medida em que o número de capítulos aumentava, Kafka visitava a trincheira modelo escavada para alguma edificação civil no centro de Praga, e a vala intocada contrastava com “os movimentos de formiga da multidão”, que pululava em torno dela. Na época da visita, em 1915, Kafka havia escrito tudo o que poderia de O Processo. Deu o manuscrito ao amigo Max Brod que se incumbiu de reestruturar um trabalho aparentemente impermeável a uma tarefa dessas. Quando pegamos um livro geralmente somos capazes de reconhecer o que estamos lendo depois de algumas dezenas de páginas,pelo seu tipo e estrutura, a parte que lhe cabe na estante. Este, porém, não é o caso de O Processo, em que o protagonista, acusado por um tribunal sombrio de um crime sem nome, passa o que resta da vida buscando inutilmente descobrir quem e por que pôs as rodas da justiça em movimento. É um mundo que lhe parece familiar, mas terrivelmente estranho, regido por leis – se existem – para além da compreensão moral. Desta forma, o que vale para livros vale também para as guerras: depois de algumas batalhas os estadistas e os generais sabem o tipo de guerra que estão lutando. Esse não foi, no entanto, o caso da guerra de 1914, em que os eventos surgiam de forma monstruosa e sem precedentes, frustrando os planos tão cuidadosamente preparados pelos estados-maiores. Todo mundo imaginava que seria uma guerra de grandes marchas e grandes batalhas, decididas rapidamente. No entanto, na frente ocidental, à me-

COMBATENTES AMERICANOS REGRESSAM FELIZES, MENOS PORQUE VENCERAM A GUERRA E MAIS PORQUE SOBREVIVERAM A ELA

dida em que as forças francesas e alemãs caíam e tentavam flanquear umas às outras, elas ficavam sem saída no Canal. A disputa se solidificou em uma guerra de linhas estáticas, criando uma paisagem totalmente nova. Ou melhor, uma paisagem subterrânea, porque a Primeira Guerra Mundial foi uma guerra subterrânea, pois somente na frente ocidental mais de 25.000 quilômetros de trincheiras foram escavados. Mas como nos envolver com isso? O horizonte real e moral ficaram reduzidos à parte mais alta de uma trincheira – um “mundo fedorento de terra pegajosa e escorregadia, encoberta por uma faixa ameaçadora de céu”, segundo um oficial. A vida, quando não marcada por ataques suicidas em disputa pela terra-de-ninguém, esvaía-se no repelir de ataques semelhantes ou em salvas de artilharia. No final, o adversário não era o alemão ou o austríaco, o francês ou o inglês, mas a própria guerra – um dado básico da vida que parecia eterna e não oferecia mais razões ou justificativas para a existência de um sistema judicial que absorve K. A cidade opressiva que K. atravessa materializa o mundo troglodita da guerra. Ele tropeça em ruas molhadas, com jeito de trincheiras, e cai em tribunais estreitos, mas é frustrado no esforço para entender o motivo da sua situação. Como aqueles enredados em uma guerra aparentemente fora do controle e da compreensão humana, K. não pode escapar de um “organismo judicial que existe em um estado de equilíbrio eterno”.

Em ambos os casos, o indivíduo é impotente e K. percebe que deve “aprender a aceitar condições existentes”; em ambos os casos, segundo um oficial britânico comentou a respeito da guerra, “um homem desaparece sem ninguém perceber”; em ambos os casos, em propaganda de guerra ou em ações judiciais, eis as últimas palavras do padre para K.: “Não é preciso considerar verdadeiro algo que se diz. É preciso considerá-lo apenas necessário”. Em carta a um amigo, Kafka declarou: “Se o livro que estamos lendo não nos acordar com um golpe na cabeça, para que o estamos lendo? Precisamos de livros que nos afetem como um desastre”. Ele escreveu isto em 1904, dez anos antes do desastre da Primeira Guerra. Foi um golpe na cabeça da qual o mundo ainda cambaleia, e que O Processo pode nos ajudar a digerir. * Robert Zaretsky é professor de história na Universidade de Houston

Kafka declarou: “Se o livro que estamos lendo não nos acordar com um golpe na cabeça, para que o estamos lendo? Precisamos de livros que nos afetem como um desastre”


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diretoria

Diretoria Executiva – Gestão 2012-2014 PRESIDENTE

ABRAMO DOUEK

DIRETOR SUPERINTENDENTE

GABY MILEVSKY

ASSISTENTE FINANCEIRO ASSESSOR Ͳ ESCOLA ASSESSORA Ͳ FEMININO ASSESSOR Ͳ REVISTA ASSESSOR Ͳ REDES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO DIGITAL ASSESSOR Ͳ SEGURANÇA ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS ACESC ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS RELIGIOSOS CERIMONIAL E RELAÇÕES PÚBLICAS RELAÇÕES PÚBLICAS

MOISES SCHNAIDER BRUNO LICHT HELENA ZUKERMAN FLÁVIO BITELMAN JOSÉ LUIZ GOLDFARB CLAUDIO FRISHER (Shachor) MOYSES GROSS RABINO SAMI PINTO EUGÊNIA ZARENCZANSKI (Guita) ALAN BALABAN SASSON DEBORAH MENIUK GLORINHA COHEN LUCIA F. AKERMAN SERGIO ROSENBERG

HANDEBOL ADJUNTO

JOSÉ EDUARDO GOBBI DANIEL NEWMAN

PARQUE AQUÁTICO POLO AQUÁTICO NATAÇÃO ÁGUAS ABERTAS

MARCELO ISAAC GUETTA FABIO KEBOUDI BETY CUBRIC LINDENBOJM ENRIQUE MAURICIO BERENSTEIN RUBENS KRAUSZ

TRIATHLON CORRIDA

JULLIAN TOLEDO SALGUEIRO ARI HIMMELSTEIN

CICLISMO

BENO MAURO SHETHMAN

GINÁSTICA ARTÍSTICA

HELENA ZUKERMAN

RAQUETES (SQUASH/RAQUETEBOL) BADMINTON

JEFFREY A.VINEYARD SHIRLY GABAY

VICEͲPRESIDENTE ADMINISTRATIVO

MENDEL L. SZLEJF

TIRO AO ALVO

MAURO RABINOVICH

COMPRAS RECURSOS HUMANOS CONCESSÕES ADJUNTO

HENRI ZYLBERSTAJN CARLOS EDUARDO ALTONA LIONEL SLOSBERGAS AIRTON SISTER

GAMÃO

VITOR LEVY CASIUCH

SINUCA

ISAAC KOHAN FABIO KARAVER

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DEPARTAMENTO MÉDICO CULTURA JUDAICA ASSESSORES DA SINAGOGA

SERGIO LOZINSKY RICARDO GOLDSTEIN GERSON HERSZKOWICZ JAQUES MENDEL RECHTER MAURÍCIO MARCOS MINDRISZ

XADREZ

HENRIQUE ERIC SALAMA

VICEͲPRESIDENTE DE ESPORTES

AVI GELBERG

ASSESSORES

CHARLES VASSERMANN DAVID PROCACCIA MARCELO SANOVICZ SANDRO ASSAYAG YVES MIFANO

GESTÃO ESPORTIVA ESCOLA DE ESPORTES MARKETING/ESPORTIVO

ROBERTO SOMEKH VICTOR LINDENBOJM MARCELO DOUEK FLÁVIA CIOBOTARIU

MARKETING/INFORMÁTICA ESPORTIVO

AMIT EISLER

RELAÇÃO ESPORTIVAS COM ESCOLAS

ABRAMINO SCHINAZI

GERAL DE TÊNIS SOCIAL TÊNIS

ARIEL LEONARDO SADKA ROSALYN MOSCOVICI (Rose)

SAUNA

HUGO CUPERSCHMIDT

VICEͲPRESIDENTE DE PATRIMÔNIO E OBRAS

NELSON GLEZER

MANUTENÇÃO MANUTENÇÃO E OBRAS PAISAGISMO E PATRIMÔNIO PROJETOS

ABRAHAM GOLDBERG GILBERTO LERNER MAIER GILBERT RENATA LIKIER S. LOBEL

VICEͲPRESIDENTE SOCIAL E CULTURAL

SIDNEY SCHAPIRO

CULTURAL SOCIAL FELIZ IDADE RECREATIVO GALERIA DE ARTES SHOW MEIO DIA

SERGIO AJZENBERG SONIA MITELMAN ROCHWERGER ANITA G. NISENBAUM ELIANE SIMHON (Lily) MEIRI LEVIN AVA NICOLE D. BORGER EDGAR DAVID BORGER

VICEͲPRESIDENTE DE JUVENTUDE

MOISES SINGAL GORDON

ESCOLAS

SARITA KREIMER GRAZIELA ZLOTNIK CHEHAIBAR ILANA W. GILBERT

TÊNIS DE MESA

GERSON CANER

SECRETÁRIO GERAL

ABRAHAM AVI MEIZLER

FITͲCENTER

MANOEL K.PSANQUEVICH MARCELO KLEPACZ

SECRETÁRIO DIRETORES SECRETÁRIOS

CENTRO DE PREPARAÇÃO FÍSICA

ANDRÉ GREGÓRIO ZUKERMAN

JAIRO HABER ANITA RAPOPORT GEORGES GANCZ HARRY LEON SZTAJER

JUDÔ JIU JITSU

ARTHUR ZEGER FÁBIO FAERMAN

FUTEBOL (CAMPO/SALÃO/SOCIETY) FUTSAL

FABIO STEINECKE MAURÍCIO REICHMANN

GERAL DE BASQUETE BASQUETE OPEN

AVNER I. MAZUZ DAVID FELDON WALTER ANTONIO N. DE SOUZA

BASQUETE CATEGORIA MASTER ATÉ 60 ANOS BASQUETE HHH MASTER

GABRIEL ASSLAN KALILI LUIZ ROZENBLUM

VOLEIBOL

SILVIO LEVI

JURÍDICO

ANDRÉ MUSZKAT

SINDICÂNCIA E DISCIPLINA

ALEXANDRE FUCS BRUNO HELISZKOWSKI CARLOS SHEHTMAN LIGIA SHEHTMAN TOBIAS ERLICH

TESOUREIRO GERAL

LUIZ DAVID GABOR

TESOUREIRO DIRETORES

ALBERTO SAPOCZNIK SABETAI DEMAJOROVIC MARCOS RABINOVICH


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HEBRAICA

vitrine > informe publicitário MALHAS & CIA

SHARING4YOU

Três endereços em Campos do Jordão

Domésticos profissionais especializados

A Malhas & Cia é uma excelente opção com a sua grande variedade de produtos de fabricação própria. São três endereços em Campos do Jordão para maior conforto da sua clientela.

Com três anos de atuação no mercado de contratação de domésticos profissionais, a Sharing4you inovou o setor oferecendo ao cliente o candidato mais adequado à sua realidade com atendimento personalizado e acompanhamento total do processo do início ao fim.

Malhas & Cia Loja 1 – Av. Dr. Macedo Soares, 126 A

Fone (12) 3663-4576 Loja 2 – Av. Macedo Soares, 320 Fone (12) 3663-4516 Loja 3 – Av. Antônio Joaquim de Oliveira, 345, loja 10 | Fone (12) 3666-1437 site: www.malhaseciacamposdojordao.com.br

PARQUE DA FLORESTA ENCANTADA

A Sharing4you tem no seu quadro de prestadores de serviços domésticas, diaristas, babás, cozinheiras, arrumadeiras, motoristas, governantas, cuidadores de idosos e folguistas. Rua Clemente Álvares, 103, Lapa Fone 2594-2669 | Site www.sharing4you.com.br

CYNTHIA PEITER – PSICÓLOGA E PSICANALISTA

Entre bruxas e fadas O Parque da Floresta Encantada está localizado numa área aproximada de doze mil metros quadrados em Campos do Jordão. É um mundo onde adultos e crianças se divertem em cenários como as casas dos coelhos, da bruxa, dos gnomos, dos anjos, boneca, fantas-

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vitrine > informe publicitário

Terapia para adultos, jovens e orientação de pais ma e Papai Noel. Nos finais de semana, feriados e mês de julho a programação tem a presença de personagens como a Bruxa e a Branca de Neve. Rua Arandi, 270 | Fone (12) 3663-2596 Site www.guiacampos.com/florestaencantada

SÓ QUEIJO

Psicóloga clínica formada pela USP, e psicanalista formada pelo Instituto Sedes Sapientiae, membro filiado à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Cynthia Peiter é autora de diversos artigos em revistas especializadas em clínica psicoterápica e do livro Adoção

– Vínculos e Rupturas. Ministra palestras e cursos profissionais da saúde e educação. Cynthia Peiter Psicóloga e psicanalista Fone 3814-0742 E-mail cynthia.p@terra.com.br

MARCUS CLAUDIO – RETRATOS A ÓLEO

Mil maneiras de apreciar a iguaria

A arte do retrato com toque contemporâneo

Na Só Queijo, há mil maneiras de apreciar a iguaria: pode ser gratinada, com destaque para a soupe au fromage, a prata da casa, ou na forma de fondue. Tudo isso em três ambientes aconchegantes, onde a baguete vem acompanhada de patês de ervas, roquefort, ce-

O artista Marcus Claudio já foi ilustrador publicitário e nos últimos quinze anos dedica-se exclusivamente ao desenho e à pintura do retrato, atendendo a encomendas de empresas e particulares, no Brasil e no exterior, com alta qualidade técnica e excelência artística. Além

bola, alho, funghi e pimentão. Doces, mousses, sorvetes, fondues de chocolate e frutas flambadas arrematam a refeição. Av. Macedo Soares, 642, Capivari Fone (12) 3663-7585 Site www.soqueijo.com.br

disso, ministra aulas regulares no Plein Air Studio. Para ter seu retrato ou homenagear alguém, solicite orçamento sem compromisso. Fone (19) 4119-2257 E-mail marcusclaudio@retratosaoleo.com.br Site retratosaoleo.com.br | pleinairstudio.com.br

CURSO NELVES DE DESENHO A LÁPIS

HOTEL JB

Para desenhar é só aprender a ver

Entre e fique à vontade... Num dos melhores pontos de Capivari, o Hotel JB é uma verdadeira casa de campo instalada no alto da montanha. Nele o hóspede desfruta de amplos e confortáveis apartamentos com tv, frigobar, calefação e aquecimento central de água; sala de estar com lareira, mesas

de carteado e piano; confortável restaurante com café colonial, almoço e jantar com pratos especiais, piscina, sauna e american bar para momentos de lazer e descontração. Av. Dr. Emílio Ribas, 946 Fone (12) 3663-1755/1517 | Site www.hoteljb.com.br

Não depende de dom, basta despertar o artista que já existe dentro de nós ao usarmos o lado direito do cérebro. O curso é feito individualmente, no ritmo e nos horários disponíveis de cada aluno. Nelves forma artistas há quase dez anos pela internet e disponibiliza o

curso presencial em seu ateliê. O artista desenha também por encomenda e pode ser uma boa dica para presentear quem a gente ama. Curso Nelves Fone 3625-1092 Site www.nelves.com

VIA CASTELLI

HOTEL ESTORIL

Um dos preferidos da comunidade

Buffet de sopas para outono inverno

Com sua localização privilegiada, o Estoril é um dos hotéis mais tradicionais e procurados pela comunidade judaica, onde tudo é oferecido para o conforto dos hóspedes. Dispõe de apartamentos e suítes com terraço e vista panorâmica, restaurante, cofre, salão de jo-

Localizado há mais de trinta anos no bairro de Higienópolis, o tradicional Via Castelli está oferecendo um delicioso buffet de sopas para outono/inverno. A novidade vigora de domingo a sexta-feira, das 19 às 24 horas, pelo valor de R$25,90. A cada dia, são oferecidos quatro dife-

gos, american bar e centro de convenções. A localização é privilegiada, em Capivari, bem no centro turístico, gastronômico e comercial de Campos do Jordão. Reservas (12) 3669-9000 Site www.hotelestoril.com.br

rentes sabores, acompanhados de pão torrado, pão com alho, queijo e cheiro verde. A temporada é uma boa oportunidade de conhecer a casa, que se tornou referência na região. R. Martinico Prado, 341, Higienópolis Fone 3662-2999 | Site www.viacastelli.com.br


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indicador profissional ADVOCACIA

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indicador profissional ANGIOLOGIA

CLÍNICA

COLOPROCTOLOGIA

CONSULTORIA FISCAL E CONTÁBIL

DERMATOLOGIA

ARQUITETURA

CONSULTORIA

FONOAUDIOLOGIA

FISIOTERAPIA

CARDIOLOGIA

CASA DE REPOUSO

FISIOTERAPIA

CLÍNICA HIPERBÁRICA

COLOPROCTOLOGIA

CURA RECONECTIVA

GERIATRIA

MANIPULAÇÃO


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HEBRAICA

indicador profissional MANIPULAÇÃO

NEUROCIRURGIA

OFTALMOLOGIA

ORTOPEDIA

PSICOLOGIA

PSICOLOGIA

OTORRINOLARINGOLOGIA

NEUROCIRURGIA

PAISAGISMO

ODONTOLOGIA

PSICOTERAPIA

ONCOLOGIA

NEUROLOGIA

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indicador profissional

ORTOPEDIA

PNEUMOLOGIA

PSICOLOGIA


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HEBRAICA

indicador profissional PSICANÁLISE

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compras e serviços PSICANÁLISE

PSIQUIATRIA

PSIQUIATRIA

QUIROPRAXIA

REPRODUÇÃO

TERAPIA

UROLOGIA


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compras e serviรงos

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HEBRAICA

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compras e serviรงos


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roteiro gastron么mico

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HEBRAICA

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roteiro gastron么mico


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conselho deliberativo

CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL 2014

JUNHO

Ao trabalho

3 *4 *5

No inicio de junho comemoramos Shavuot, a Festa da Colheita e da revelação da Torá. Em Pessach, a liberdade para receber a Torá em Shavuot. Esta é a melhor e a mais oportuna ocasião para tolerar, compreender e ter humildade para atuar dignamente como conselheiro da Hebraica. A reunião de 28 de abril teve assuntos importantes, como apresentação e leitura do Relatório Bienal da Diretoria Executiva. Complexo e diversificado por tratar de várias áreas, o debate durou mais que o previsto e suscitou manifestações de vários conselheiros. E de forma rápida, eficaz e confiável foram escolhidos os sete membros do Conselho Fiscal. Desta vez, os conselheiros usaram celulares e tablets de onde estavam, sem ir ao palco manusear o computador. Em menos de trinta minutos votou-se e apurou-se o resultado dos 150 sufrágios para escolher os membros do Conselho Fiscal. Agora, além deste Conselho, estão constituídas todas as comissões com seus coordenadores, relatores e secretários. Apesar dos feriados nacionais e as festividades do calendário mosaico de abril, maio e início de junho, as comissões se reuniram e a mesa de Conselho participou ativamente com o presidente, vices, secretários e assessores dando credibilidade aos trabalhos. Exemplo: a análise e aprovação do parecer do Conselho Fiscal das contas e balanço de 2013 No item comissões, os fatos apontados no relatório da Comissão Jurídica e as respectivas punições aplicadas causaram controvérsias e debates sobre o caráter educacional do ato punitivo quando e se aplicado a menores. Debate, polêmica e controvérsia revelam o sentido democrático do Conselho Deliberativo aberto às várias opiniões, mas com ordem e respeito mútuo. Com a longa noite de apresentações e debates em torno de um só tema, os pareceres das comissões de Finanças, Judaísmo, Esportes, Obras e Juventude ficaram para a próxima reunião para a qual queremos presença e ativa participação de todos. Shalom Mauro Zaitz

Reuniões Ordinárias do Conselho em 2014 Local Teatro Anne Frank Horário 19h30 11/8 17/11 8/12

Mesa do Conselho Presidente Vice-presidente Vice-presidente 1o secretário 2a secretária Assessores

Mauro Zaitz Célia Burd Fábio Ajbeszyc Fernando Rosenthal Vanessa Kogan Rosenbaum Eugen Atias Júlio K. Mandel Silvia L. S. Tabacow Hidal

3a FEIRA 4a FEIRA 5a FEIRA

VÉSPERA DE SHAVUOT 1O DIA SHAVUOT 2O DIA SHAVUOT - IZKOR

3ªFEIRA

JEJUM DE 17 DE TAMUZ

2ª FEIRA 3ª FEIRA 2ª FEIRA

INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER TU BE AV

JULHO 15

AGOSTO 4 5 11

SETEMBRO **24 **25 **26

4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA

VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ

**3 **4 8 *9 *10 15

6ª FEIRA SÁBADO 4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 4ª FEIRA

*16 *17

5ª FEIRA 6ª FEIRA

VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT VÉSPERA DE HOSHANÁ RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET - IZKOR SIMCHAT TORÁ

OUTUBRO

NOVEMBRO 5

4ª FEIRA

DEZEMBRO 16 23

DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN

3ª FEIRA 3ª FEIRA

AO ANOITECER, 1ª VELA DE CHANUKÁ AO ANOITECER, 8ª VELA DE CHANUKÁ

3ª FEIRA

DIA INTERNACIONAL EM MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO ( ONU )

2015

JANEIRO 27

FEVEREIRO 4

4ª FEIRA

TU B’SHVAT

4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA

JEJUM DE ESTER PURIM SHUSHAN PURIM

3 4 5 10 11 16 23

6ª FEIRA SÁBADO DOMINGO 6ª FEIRA SÁBADO 5ª FEIRA 5ª FEIRA

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6ª FEIRA

EREV PESSACH- 1º SEDER PESSACH- 2º SEDER PESSACH-2º DIA PESSACH- 7º DIA PESSACH- 8º DIA IOM HASHOÁ- DIA DO HOLOCAUSTO IOM HAZIKARON- DIA DE LEMBRANÇA DO CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL IOM HAATZMAUT- DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 67 ANOS

MARÇO 4 5 6

ABRIL * * * *

MAIO 7 17 23 *24 *25

5ª FEIRA DOMINGO SÁBADO DOMINGO 2ª FEIRA

LAG BAÔMER IOM IERUSHALAIM VÉSPERA DE SHAVUOT 1º DIA DE SHAVUOT 2º DIA DE SHAVUOT - IZKOR

* NÃO HÁ AULA NAS ESCOLAS JUDAICAS ** O CLUBE INTERROMPE SUAS ATIVIDADES,

FUNCIONAM APENAS OS SERVIÇOS RELIGIOSOS



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