ANO LV
| N º 632 | OUTUBRO 2014 | T ISHREI 5775
O pássaro símbolo de Israel
HEBRAICA
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palavra do presidente
Votar é bom e faz bem Quando esta edição chegar às mãos dos associados, serão conhecidos os candidatos à presidência da República que disputarão o segundo turno, os deputados federais e estaduais, os senadores, os governadores eleitos no primeiro turno, ou que concorrerão no segundo. E, na mesma época da edição de novembro, se saberá quem vai governar o país. O que conforta a comunidade judaica é que os três candidatos têm firmes e arraigados compromissos contra o antissemitismo, e a nossa esperança é que o vencedor estreite ainda mais os laços com Israel. Em qualquer circunstância, eleição é bom e faz bem para a democracia. É a tentativa de escolher os melhores e de exercitar a paixão por certas causas e a simpatia pelas pessoas por trás destas causas. Na Hebraica também, em dezembro, quando o Conselho Deliberativo, cujos 230 membros os associados elegeram, escolherá o novo presidente da Hebraica para o triênio 2015-2017, dentre os três candidatos atualmente conhecidos, por ordem alfabética: Avi Gelberg, atual vice-presidente de Esportes, Avi Meizler, atual secretáriogeral e Sidney Schapiro, atual vice-presidente Social e Cultural. Estes candidatos têm muitos desafios, precisam montar boas equipes, apresentar plataformas e ideias para a gestão e devem fazer uma campanha limpa na qual se discutam projetos e ideias para o futuro do clube, e com muito mais judaísmo e Israel. Ao mesmo tempo em que evitem ataques pessoais que denigram a imagem dos adversários. Os associados participarão indiretamente, por meio dos conselheiros que elegeram para defender os interesses da maioria, em detrimento dos interesses pessoais. O cargo de presidente de uma entidade como a Hebraica é muito mais significativo que seria se um executivo fosse contratado para gerir e cuidar de uma comunidade de milhares de associados, centenas de funcionários e orçamento de milhões de reais como a Hebraica que, junto com o Hospital Israelita Abert Einstein são a face mais visível e exposta dos judeus de São Paulo e, provavelmente, do Brasil. Por isso, o exercício da presidência da Hebraica, isto é, do poder, também deve ter o sentido dos benefícios que pode trazer para a comunidade judaica e a sociedade de um modo geral. Shalom e Chag Sucot Sameach
Abramo Douek
EM QUALQUER
CIRCUNSTÂNCIA, ELEIÇÃO É BOM E FAZ BEM PARA A DEMOCRACIA. É A TENTATIVA DE ESCOLHER OS MELHORES E DE EXERCITAR A PAIXÃO POR CERTAS CAUSAS E A SIMPATIA PELAS PESSOAS POR TRÁS DESTAS CAUSAS
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sumário
HEBRAICA
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Carta da Redação
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Destaques do Guia A programação de outubro e novembro
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Escola alef No balanço de dois anos em atividade, uma conversa com o diretor pedagógico
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cultural + social
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Galeria de arte Exposição sobre Anne Frank foi aberta para visitação
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Gourmet Espaço completou seis anos e funciona a todo vapor
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Meio-dia Uma tarde de homenagens aos mestres do chorinho
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Clube da leitura Associados receberam o premiado escritor Jacques Fux
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Eventos Agenda de shows está lotada até o fim do ano
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Coluna um / comunidade Os eventos mais significativos da cidade
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Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade
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juventude
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Teatro Foi aberta a temporada semestral de estreias
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Festival carmel Começaram os preparativos para a 34ª. edição
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Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade
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esportes
48
Escola de esportes Foram 31 entidades visitantes na 33ª. Olimpíada
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Fit center O dia-a-dia de uma professora que se mantém em forma
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Trampolim acrobático Próximo mundial terá representante da Hebraica
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Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade
HEBRAICA
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magazine
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História Quem são os subbotniks e por que não são aceitos em Israel?
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Notícias de Israel As histórias mais quentes do universo israelense
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Capa / aves migratórias O que Israel faz para preservar as rotas migratórias?
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A palavra Ninguém fala de outra coisa. Entenda o que significa “Isis”
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Cinema Thomaz Farkas registrou Pixinguinha em momento antológico
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costumes e tradições “Desentendimentos judaicos” e outras histórias
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Viagem Flagrantes do dia-a-dia no verão de Berlim
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Aventura Um passeio pelo deserto mais árido do planeta
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Leituras A quantas anda o mercado de ideias?
96
Música O melhor do pop e do erudito para curtir em casa
98
Ensaio As questões éticas na guerra de Israel contra o Hamas
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diretoria
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Lista da Diretoria Veja quem representa o associado no Executivo
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Conselho Com a chegada de 5775, novos planos e diretrizes
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HEBRAICA
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carta da redação
Muita leitura nesta edição também A palavra subbot, em russo, significa shabat, e subbotniks são os descendentes de camponeses russos convertidos ao judaísmo, há mais de trezentos anos, e que tiveram papel fundamental na formação do Estado de Israel mas que a legislação não os reconhece como judeus e não os quer em Israel. Pode uma coisa dessas? Quando se diz que, em certos aspectos, Israel é meio esquisito, podem acreditar. De repente, aqueles que serviram no exército, em defesa de Israel, agora já não servem mais. Nosso correspondente em Israel, Ariel Finguerman, conta isso em detalhes. E com detalhes, a repórter Magali Boguchwal relata os dois anos da Escola Alef na Hebraica e a integração dos alunos e professores com as coisas e o dia-a-dia do clube. A capa desta edição é um pássaro, a poupa, escolhida ave símbolo de Israel, em concurso promovido por Yossi Leshem, que há anos pesquisa as rotas migratórias de duzentas espécies de pássaros que a herança genética e a bússola natural que possuem os fizeram escolher Israel para caminho de ia e volta da África para a Europa. Vejam as fotos que o publisher Flávio Bitelman fez com o celular no metrô, bonde e REM de Berlim, em recente viagem à capital alemã. E as belezas do deserto de Atacama, aqui perto, no Chile, cujo céu transparente em noites de lua estimulam as pessoas a tentar apanhar as estrelas com a mão. Leiam com atenção o ensaio do professor Asa Kasher, um dos redatores do código de ética das Forças de Defesa de Israel, exatamente a respeito do seu comportamento no último conflito com o Hamas, em Gaza, refutando as acusações de “força desproporcional”, etc.
ANO LV | Nº 632 | OUTUBRO 2014 | TISHREI 5774
DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR)
CLAUDIA MIFANO (COLABORAÇÃO) FLÁVIO M. SANTOS
DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES
ALEX SANDRO M. LOPES
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DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES
IMPRESSÃO E ACABAMENTO ESKENAZI INDÚSTRIA GRÁFICA PUBLICIDADE TEL./FAX: 3814.4629
Boa leitura e Chag Sucot Sameach Bernardo Lerer – Diretor de Redação
3815.9159
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OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE
INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-
calendário judaico ::
PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.
OUTUBRO 2014 Tishrei 5775
NOVEMBRO 2014 Heshvan 5775
dom seg ter qua qui sex sáb
dom seg ter qua qui sex sáb
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Véspera de Iom Kipur | Iom Kipur | Véspera de Sucot
2 9 16 23 30
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Shmini Atzeret – Yizkor | Simchat Torá
A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO
“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800
BRASILEIRA
SÃO PAULO RUA HUNGRIA,
EX-PRESIDENTES LEON FEFFER (Z’l)
- 1953 - 1959 | ISAAC FISCHER (Z’l) - 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTENBERG 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 - 1975 | HENRIQUE BOBROW (Z’l) - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS - 1991 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 - 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | PRESIDENTE ABRAMO DOUEK
VEJA NA PÁGINA 122 O CALENDÁRIO ANUAL 5775
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g HEBRAICA
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por Giovahnna Ziegler
destaques do guia OUTUBRO ESTÁ REPLETO DE ATIVIDADES. O PASSEIO CICLÍSTICO HEBIKE ACONTECE LOGO NO PRIMEIRO DOMINGO DO MÊS, DIA 5/10 E TAMBÉM DIA 19/10, ÀS 8H30. TANTO OS INICIANTES QUE DESEJAM CONHECER UM
POUCO MAIS DA CIDADE, QUANTO AOS JÁ PRATICANTES DO CICLISMO, SÃO BEM VINDOS. FÃS DE BEATLES E BOA MÚSICA NÃO PODEM DEIXAR DE PERDER O MUSICAL “BEATLES SEGUNDO A CIA. FILARMÔNICA”, DIA 11/10, ÀS 21H NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN. COM DIREÇÃO DE MARCOS FERNANDES, O EVENTO É MUITO MAIS DO QUE UM SIMPLES SHOWS, COM ARTEFATOS CÊNICOS E A
PARTICIPAÇÃO DA DUPLA DE HUMORISTAS E
MÚSICOS JICA Y TURCÃO, QUE JÁ ATUAM POR 11 ANOS E FORAM ASSISTIDOS POR MAIS DE 450 MIL PESSOAS. O ATELIÊ HEBRAICA PROMOVE O “DOMINGO COM ARTE” DIA 19/10, NA PRAÇA CARMEL, COM PROFESSORES ENSINANDO CRIANÇAS DE
4 A 12 ANOS A MEXER COM BISCUIT, FAZENDO IMÃS DE GELADEIRAS, ENFEITES, BONEQUINHOS E O QUE A IMAGINAÇÃO PERMITIR. O “CURSO DE CULINÁRIA PARA DOMÉSTICAS” ESTÁ EM SUA 5ª EDIÇÃO, TRAZENDO SOFISTICAÇÃO E NOVAS PRÁTICAS À GASTRONOMIA DO NOSSO DIA A DIA,
ENSINANDO DE ENTRADAS À SOBREMESAS E COM UMA AULA FINAL DE APRESENTAÇÃO
PESSOAL. DIAS 9, 16, 23, 30/10 E 6/11, DAS 15 ÀS 18H, NO ESPAÇO GOURMET.
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7 Dias
Horários do ônibus
ESPORTIVO Hebike 5 e 19/10, domingos, às 8h30 Ponto de encontro: R. Angelina Maffei Vita Inf.: 3818-8903
• Terça a sexta-feira
SOCIAL CULTURAL
Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30
Beatles segundo a Cia. Filarmônica 11/10, sab, 21h Teatro Arthur Rubinstein | Inf.: 3818-8889
Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45
Ateliê Hebraica Domingo com Arte 19/10, dom, 11h às 13h Praça Carmel, em frente ao Parquinho Inf.:3818-8864 Espaço Gourmet Curso de culinária para domésticas Dias: 9, 16, 23, 30/10 e 6/11, das 15 às 18h | Inf.:3818-8773
• Sábados, domingos e feriados Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45
• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30
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escola alef | por Magali Boguchwal
EM JUNHO, ABRAMO DOUEK MOSTROU A ESCOLA ALEF PARA O SECRETÁRIO DE MEIO AMBIENTE RICARDO TEIXEIRA E SEU ASSESSOR LUCAS P. DOS SANTOS
Uma proposta judaica e pluralista A ESCOLA ANTONIETTA E LEON FEFFER COMPLETOU EM SETEMBRO DOIS ANOS DE INSTALAÇÃO NA HEBRAICA E JÁ ATINGIU O LIMITE DE VAGAS. CONVERSAMOS COM O DIRETOR PEDAGÓGICO JOÃO CARLOS GUEDES DA FONSECA E CONSTATAMOS O ACERTO DO PROJETO
S
empre que recebe um visitante no clube e o leva para um tour, um dos lugares que o presidente Abramo Douek apresenta é a Escola Alef (Escola Antonietta e Leon Feffer), instalada no térreo do Poliesportivo. Diante da expressão de admiração do convidado, ele indica a outra extremidade do clube, onde se vê a Escola Maternal e Infantil e explica. “A criança começa a vida escolar no clube com 1 ano e segue até os 18, quando entra na facul-
dade”, declara com orgulho. João Carlos Guedes da Fonseca, diretor pedagógico da Alef, demonstra o mesmo sentimento ao falar das conquistas e da filosofia de ensino da escola. “Somamos à rotina puxada de estudo, um cotidiano com a alegria. A nossa preocupação é oferecer todo o suporte ao nosso aluno para que ele possa andar pela sua jornada escolar com segurança.” João dividiu com a diretora Mariana Gottfried a responsabilidade de conduzir
o processo de transição do antigo Colégio Bialik e a consolidação do novo projeto da Alef. “Creio que parte do sucesso da escola se liga à superação da crise institucional pela qual passamos e da nossa luta para que aquela instituição não desaparecesse. Hoje estudam na Alef, 595 alunos, um aumento de 100 % em relação ao número que tínhamos quando do nascimento da escola. Nos dois últimos anos, tivemos um crescimento de 15% ao ano. A grande mudança numérica exigiu de todos os profissionais da escola muita dedicação e trabalho para acompanhar cada um dos nossos alunos, agora numa escala maior.” Para Guedes, a localização no interior do clube é um dos três fatores responsáveis pelo êxito da escola. “O segundo fator é que criamos uma escola judaica de qualidade, que satisfaz a uma parte da comunidade judaica. O que ambicionamos é oferecer uma educação formal que possibilite aos alunos adquirirem instrumentos que os auxiliem a prosperar no mun-
HEBRAICA
QUANDO HÁ SOL, OS ALUNOS CURTEM A HORA DA LEITURA NA PRAÇA JERUSALÉM
JOÃO GUEDES E MARIANA GOTTFRIED DURANTE A VISITA DO VICE-MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DE ISRAEL
do adulto; o terceiro fator, por sua vez, revela-se no modo como operamos uma escola mediada por uma proposta judaica pluralista.” Ao que completa: “Convidamos as famílias a aderir a esse modelo de convívio”. Guedes ainda dedica-se a explicar o que também considera fundamental para a realização da Alef: “Por último, e não menos importante, é bom frisar que os nossos professores possuem sólida formação acadêmica; há uma organiza-
ção do cotidiano escolar milimétrica, e contamos com avaliações externas regulares que nos oferecem balizas do nosso desenvolvimento acadêmico”. Quanto à inserção da escola no clube, Guedes enfatiza a ocupação dos espaços pelos alunos da Alef. “Usamos as quadras esportivas, o universo de concessionários onde os alunos fazem as refeições e somos frequentadores da Biblioteca. Temos uma relação muito dinâmica com o After School. Os nossos alunos perma-
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necem no clube depois das aulas de maneira tranquila e segura. Eles também frequentam a Escola de Esportes e outras atividades”, descreve. “Creio que somos a única escola do mundo cujas portas abrem literalmente em frente a um local como o Bar do Pedrinho, o que não se configura um problema. Afinal, isso mostra existir uma relação de respeito entre a Hebraica e a escola”, acrescenta. O diretor enfatiza o processo de elaboração do projeto pedagógico, derivado da reflexão baseada na grande fortuna crítica sobre educação formal e processos de avaliação no Ocidente. Viagens e pesquisas sobre sistemas de ensino em outros países também foram positivas. “No Brasil, estamos pouco acostumados a viajar e conhecer modelos de sucesso, que nunca são replicados por completo. Sociedades como a finlandesa, a israelense, americana ou francesa jamais serão iguais à brasileira, todavia você pode implantar alguns processos internos que servem como exemplo” observa. “Na Finlândia, vimos coisas incríveis como, por exemplo, uma escola que não tinha sinal e que nos levou a imaginar como seria uma escola que prescindisse de um barulho cotidiano e invasivo sobre os alunos. Hoje, as cerca de seiscentas crianças orientam-se, e muito bem, pelo relógio. Parece um detalhe, mas demanda muita energia e reflexão até que se consiga que isso ocorra no ambiente escolar. Porque escola implica conteúdo, mas também é um espaço que mimetiza a sociedade de maneira mais ampla.” Enfim, Guedes fala da instalação do Alef na Hebraica com muita satisfação. “Nesses dois anos últimos anos, o que vi na relação do nosso presidente, Alexandre Ostrowiecki com Abramo Douek e da nossa diretora, Mariana Gottfried, e minha com o diretor-superintendente Gaby Milevsky, da Hebraica, é o empenho de todos para que os problemas que a entrada de uma escola num clube como a Hebraica fossem devidamente solucionados. E foram, como se pode ver na interação dos sócios com nossos alunos e vice e versa”, conclui Guedes.
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cul tu ral + social
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cultural + social > galeria de arte
Anne Frank, hoje e sempre “DEPOIS DA GUERRA, QUERO PUBLICAR UM LIVRO COM O TÍTULO O ANEXO. SE SEREI OU NÃO BEM-SUCEDIDA NÃO SE PODE PREVER, MAS MEU DIÁRIO VAI ME SERVIR DE BASE.” ANNE FRANK FOI TEMA DE EXPOSIÇÃO NA GALERIA DE ARTE
O
desejo de Anne Frank tornouse realidade porque desde junho de 1947 quando foi publicada a primeira versão de seu diário com o titulo Het Achterhuis (O Segredo), escrito entre 12 de junho de 1942 e 1º. de agosto de 1944, período em que a família Frank ficou escondida durante a Segunda Guerra, o livro tornou-se best-seller, superado apenas pela Bíblia.
Uma vitrine na Galeria de Arte, como parte da exposição “Anne Frank – Uma História para Hoje”, mostra exemplares do Diário em vários idiomas. Esta vitrine chamou muito a atenção dos visitantes em setembro, principalmente caravanas de alunos da rede pública. Adultos, crianças e jovens escreveram no livro de presença, atestando que
a mostra montada pela primeira vez em 1996 atinge o objetivo do Instituto Plataforma Brasil, representante da Casa Anne Frank da Holanda no país: recordar, refletir e reagir; conhecer o que passou, incorporar o fato e se perguntar: “o que eu teria feito, como reagir e evitar esse fatos hoje?” A exposição trata, de forma educativa, de fatos importantes da vida de Anne Frank no contexto da Segunda Guerra e do Holocausto de modo a fazer o visitante refletir a respeito destes acontecimentos. Para a presidente do Instituto, Joelke Offringa, “esta menina tem um apelo incrível, um potencial interminável na conscientização dos jovens. O que o ser humano é capaz de diferenciar. Esperança, apelo forte para o jovem entender onde tudo começa dentro dele. É um trabalho de atitude, um apelo fantástico. Apesar de todo sofrimento, ela conseguiu amadurecer e acreditar no
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Instituto olha a juventude
A EXPOSIÇÃO SOBRE ANNE FRANK FICOU ABERTA À VISITAÇÃO DAS ESCOLAS DAS REDES PÚBLICA E PARTICULAR
lado bom do ser humano. É a voz de uma adolescente, o que desencadeia a reflexão e a consciência da diferença que o jovem pode fazer”. Na cerimônia de abertura, o diretor de Cultura Judaica Gerson Herszkowicz apresentou Joelke Offringa e Maurício Serebrenic ao público, cantou em ídiche uma poesia escrita por Binem Heller e musicada por Chava Alberstein, hoje canção símbolo em Israel das crianças mortas na Shoá. Depois, Nanette Konig, colega de classe de Anne, fez um relato de vida, desde o banco escolar e o reencontro no campo de Bergen-Belsen, pouco antes de a colega morrer de tifo. “Falo em nome de todos os mortos, que não têm mais voz. Eles devem ser ouvidos, a Shoá existiu. Não basta falar ‘nunca mais’, deve-se perguntar por que aconteceu...”. A jovem Thássyla Jesus Fraga, de Ermelino
Matarazzo, leu a carta que escreveu para Anne contando o presente e dialogando com essa memória. A escola levou alunos e professores para conhecer a mostra. Frases escritas nos painéis chamaram a atenção: “Não sou uma heroína”, de Miep Gies, que salvou o Diário e o entregou ao pai da autora; “Quando tivermos acabado com os judeus, aí vai ser a sua vez”, disseram a Hans Massaquoi, negro de Hamburgo, filho de mãe alemã e pai africano, da Libéria; “Éramos como animais noturnos”, expressou o cigano Hannes Weiss. Otto Frank, pai de Anne, disse: “Perdi tudo que tinha, exceto a vida”. A mostra foi uma realização do Instituto Plataforma Brasil, Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (Ahjb) e Hebraica com o apoio da Fundação Arymax, Construtora Atlântica, Conib e Fisesp. (T. P. T.)
Esta exposição é um dos vários programas do Instituto Plataforma Brasil, desde 2007. Organização sem fins lucrativos, realiza projetos em educação, artes, esportes, gastronomia, turismo, interação com o ambiente. Promove intercâmbio entre profissionais, projetos e ideias, de várias culturas e países. Em mais de quinze anos, cinquenta projetos – de pouca ou muita duração – buscam o diálogo, o encontro com o outro, pelo entendimento mútuo, mudanças de paradigmas e a dinamização da diversidade social. Suas ações geram oportunidades de inclusão sociocultural, esportiva e tecnológica, incentivando a cidadania cultural e participativa. Joelke conheceu Maurício Serebrenic há dois anos e se aproximou da comunidade. “Encontrei nele um parceiro e ele trouxe também outros como a Conib e a Fisesp”, explica. “Alcançamos 140 mil pessoas no primeiro ano, estamos com a exposição no Estado de São Paulo, numa parceria com o Senac nas unidades Santo Amaro, Ribeirão Preto, Campinas. Vamos rodar por outras 56, nesse trabalho voltado à cultura da paz, movimento desenvolvido pela entidade. Estamos felizes de ter a exposição na Hebraica. Uma aproximação maior com a comunidade é fundamental para o trabalho, que cresceu muito de um ano para cá, desde que o Arquivo abraçou nossa causa.” Em Ermelino Matarazzo, o Instituto plataforma Brasil tem um programa de atendimento a 320 crianças e jovens por meio de atividades esportivas, em parceria com a Johan Cruyff Foundation, que tem projetos nessa área. “São ações pontuais que desencadeiam grande impacto e deixam marcas de transformação através de reflexões do passado para o futuro”, diz Joelke. “Desenvolvemos o treinamento de monitores, há corresponsabilidade, o jovem sabe que ele pode fazer, conseguir”, acrescenta.
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cultural + social > espaço gourmet DESDE A INAUGURAÇÃO, HÁ SEIS ANOS, O ESPAÇO GOURMET É PALCO DE NOITADAS SABOROSAS E ESTIMULANTES
A receita para seis anos de sucesso MAIS DE SEISCENTAS PESSOAS PASSARAM SÓ PELAS AULAS DO ESPAÇO GOURMET, UM LUGAR ESPECIAL DENTRO DO CLUBE, ONDE O LAZER E A GASTRONOMIA ANDAM SEMPRE JUNTOS DESDE QUE ELE FOI INAUGURADO HÁ SEIS ANOS
E
sse número torna-se bem maior se computado o público que por lá esteve, usando ou não o bufê, em eventos, festas de aniversário para crianças e adultos, bat-mitzvá, encontros de empresários e até de irmãos maçons, que resolveram mostrar quem fazia o melhor risoto da noite. Em seus seis anos, o Espaço ganhou adeptos e fãs. Os encontros semanais no Espaço Gourmet reúnem amigos, criam novas amizades, são a verdadeira definição do “unir o útil ao agradável”. Chefs convidados para mostrar suas especialidades encantam-se com a disponibilidade do local, a parafernália de uma cozinha completa com tudo que é necessário para fazer pratos, dos mais simples aos sofisticados. Quem vai uma vez, sozinho, com amigos ou casais, torna-se um habitué, um novo mestre-cuca. Pilotaram o fogão chefs como Melão, Sílvia Percussi, Paola Carosella, Andrea Kaufman, Lúcia Sequerra, Rodrigo Oliveira e seus petiscos do Mocotó, entre outros. Receitas japonesas, italianas, vegetarianas, sefaraditas e da ídishe mame são ensinadas passo a passo e seguidas nas apostilas entregues a cada encontro. Mais as dicas anotadas que tornam tão apreciada essa proximidade com os chefs ao redor do fogão. Cursos especiais de cupcakes para crianças, alimentação saudável para as zelosas donas de casa e as turmas concorridas para as empregadas domésticas fazem parte da agenda anual.
O Gourmet fica quase escondido, ao lado do After School e no caminho para os salões de carteado e sinuca. Além da cozinha moderna e aparelhada, tem um forno para pizza, um terraço com churrasqueira e até um telão de mil e uma utilidades. Para os que apreciam harmonizar a comida com o vinho, há uma variedade de tintos e brancos escolhidos na hora. Diego Man é o diretor voluntário do Gourmet. Argentino, tem história com o clube: foi um dos fundadores do Hebraikeinu, foi madrich, fez parte dos grupos de dança Shalom, Hakotzrim e Carmel. Desde os 13 anos, vive no meio gastronômico, segunda geração da família no setor. “Fui intimado a conhecer a Ana”, diz Man ao recordar como recebeu o convite para atuar no Gourmet, referindo-se a Ana Recchia, a profissional que cuida de toda a estrutura e atividades do dia-a-dia, com a colaboração da Val, que completa o staff do local. “Ana tem sensibilidade, sabe o que rola no mercado, trocamos ideias, ela atua e eu faço a curadoria”, diz Man para explicar o bom andamento das atividades. O Gourmet criou asas e ganhou um evento independente, o Mercado Gourmet, que teve a primeira edição em 2013. “Eu trouxe a ideia da Alemanha e tocamos em frente”, explica Man. “Começou pequeno, com poucas barracas. A segunda edição já foi um enorme sucesso. Num domingo chuvoso, no primeiro semestre deste ano, recebemos quase 2.500 pesso-
as, em um só dia e sem custo para o clube. O terceiro Mercado Gourmet está programado para 30 de novembro e esperamos levar muito mais gente à quadra coberta e com um dia de sol”, avisa Man, envolvido com a escolha dos chefs e da variedade de comidas que os sócios terão para se deliciarem. O beabá do sushi e sashimi Thompson Lee é docente da disciplina de culinária asiática das universidades de Joinville, Sagrado Coração e do Vale do Itajaí. A família tinha um restaurante nos Estados Unidos, onde Lee fez o aprendizado inicial e passou pelas cozinhas de cadeias hoteleiras, restaurantes até chegar a sua casa, o Yoshi Culinária Asiática, na pacata São Francisco Xavier, cidade perto de Monte Verde (MG). Lee teve casa cheia num dos encontros de setembro. Gente que queria desvendar os segredos do preparo do sushi e do sashimi, delícias da cozinha japonesa. A aula começou na história da produção dos alimentos e seguiu com as receitas do amasu (vinagre de arroz), o kyuri no sunomomo (salada de pepino agridoce), o gari (gengibre marinado), o shari (arroz de
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Livros
sushi) para chegar ao sushi e sashimi. Passo a passo, com a paciência oriental, chef Lee demonstrou que não há dificuldade, só é preciso se dedicar para chegar a ser um sushiman caseiro. A alma asiática “Meu coração é thai, minha alma o sudeste asiático. É a comida que eu cozinho!”, esta é a máxima de Maurício Santi, um dos próximos chefs a pilotar o fogão do Gourmet. Fez o curso de gastronomia no Senac, em Águas de São Pedro. Mas a carreira começou mesmo em Miami, onde o jovem irrequieto provou uma salada tailandesa, que “funcionou como um divisor de águas para mim”, relembra o começo da sua movimentada história. Foi na cozinha do famoso Sailor’s Thai, em Sidney, Austrália, que o chef ganhou seu sobrenome. “Os cozinheiros tailandeses me chamavam Santi, ‘homem da paz’.” Passou pelo Nahim de Bancoc, no topo da lista das cinquenta melhores casas listadas pela Restaurant, famosa publicação inglesa. Chefiou à cozinha do Kha, em Cingapura, e vasculhou o país no meio de uma tribo nômade, traba-
lhando em barraquinhas de rua e estagiou num restaurante pequeno, aberto há 120 anos. A dedicação de Santi à culinária tailandesa é total. “Ela requer um balanço de diversos sabores numa só mordida”, é a sua explicação para essa sua predileção oriental. “Estou preparando minha ida ao Gourmet, que já visitei e achei ótimo. Dá pra fazer muita coisa, tem muito mais que vários restaurantes”, afirma Santi, com aula agendada para 4 de novembro. “O menu será de três pratos: banh mi, sanduiche vietnamita de frango grelhado com viet pickles e salada com sriracha mayo no pão francês; kuai tiau keak, um noodle curry, ensopado apimentado com folhas de mostarda fermentada, cebola roxa e ervas frescas, servidas em uma bowl; kanom tom, um dumpling de farinha de arroz glutinoso, que envolve uma cocada thai, servido quente numa calda de leite de coco.” Se ficou alguma dúvida quanto aos nomes e ingredientes, o ideal é não perder os ensinamentos de Santi, oportunidade única de ter o chef à disposição para mostrar porque os restaurantes tailandeses são reconhecidos entre os melhores do mundo. (T. P. T.)
Garde Manger Editora Senac / 718 pp. / R$ 239,00 Trata-se de um gigantesco livro contendo, como diz o subtítulo, “A Arte o Ofício a Cozinha Fria”. É uma produção do Instituto Americano de Culinária, considerado um dos mais importantes centros de culinária do mundo. Os editores sugerem que leitores usem a imaginação para substituir os ingredientes que não existem no Brasil. Garde manger, guardar para comer, era ao local reservado nos castelos e casas senhoriais, geralmente o subsolo, mais fresco, onde os alimentos poderiam ficar mais tempo.
Torta de Avó André Boccato / Editora Senac 112 pp. R$ 53,90 A Editora Senac se juntou ao estúdio Cooklovers, de André Boccato, para lançar esta edição dedicada somente a tortas, doces e salgadas, e destinado a mostrar que os netos sabem fazer essas delicias assim como as avós. São cinquenta receitas que André confessa que, embora fáceis, dão trabalho, como misturar a massa e depois abrila. Ali estão a torta suíça de cebolas e o empadão goiano, mas tem também quiche de pinhão ou de cebola roxa e no caso das doces a de espuma de banana com chocolate.
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cultural + social > hebraica meio-dia
OS GRANDES MESTRES DO CHORINHO FORAM HOMENAGEADOS NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN
No ritmo dos mestres do chorinho JACOB DO BANDOLIM FOI UM DOS EXPOENTES DO CHORINHO, A PRIMEIRA MÚSICA URBANA TIPICAMENTE BRASILEIRA. ELE FOI LEMBRADO NO HEBRAICA MEIO-DIA AO LADO DO MESTRE PIXINGUINHA
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ascido Jacob Pick Bittencourt, em 14 de dezembro de 1918, no Rio de Janeiro, filho da judia de origem polonesa Raquel Pick e do capixaba Francisco Gomes Bittencourt, Jacob do Bandolim morou no bairro da Lapa, reduto boêmio carioca, e foi amigo intimo do compositor e maestro Alfredo da Rocha Vianna Filho, o célebre Pixinguinha. Jacob faleceu em 13 de agosto de 1969, após visitar o amigo. Ambos reinaram nas rodas de choro, mistura do lundu africano com gêneros europeus. “O tão cantado chorinho brasileiro tem suas raízes na música de Jacob do Bandolim”, disse o clarinetista João Francisco Correa, do grupo Choristas da Capital, que se apresentou no Hebraica Meio-Dia. “Eternizado por Jacob do Bandolim e Pixinguinha, o ritmo tem adeptos entre os jovens que se reúnem em rodas de choro, revivendo antigos sucessos que se tornaram referência na música brasileira.” O grupo Choristas da Capital foi criado em 2010 e é formado por Joel Katz, ban-
dolim; José Francisco Carvalho Leite, pandeiro; Maiara Moraes, flauta; Paulo Godoy, violão sete cordas; Luís Carlos da Silva e Lázaro Terasaka, cavaquinho, além do clarinetista Correa. Eles procuram preservar a “alma” do choro e de seus mestres, interpretando músicas de Ernesto Nazareth, Abel Ferreira, Waldir Azevedo, Garoto, Chiquinha Gonzaga e dos imortais Pixinguinha e Jacob do Bandolim. A tarde de domingo no Teatro Arthur
Rubinstein teve intensa participação do público. Cada número do programa era explicado em detalhes pitorescos contados por Correa. “Grandes Mestres do Choro”, nome dado ao espetáculo, reviveu clássicos do gênero, nas rodas em que o ritmo é destaque. Como bis, tocaram Carinhoso acompanhados do coro da plateia, que contagiou os músicos, pois não imaginavam tamanha receptividade. (T. P. T.)
Agenda O Hebraica Meio-Dia convida pais e avós para trazer filhos e netos nos encontros de outubro. Os quatro espetáculos dominicais serão dedicados às crianças com a presença de bandas e orquestras formadas por jovens, e repertórios variados que prendem a atenção dos espectadores, uma forma de levar a música clássica e popular para mais perto do público infantil e juvenil, colaborando na formação de novas plateias. 5/10 – Banda Choroblue, Talento Jovem na Boa Música Brasileira 12/10 – Orquestra Jovem Eszterháza do Colégio Santo Américo 19/10 – Orquestra Instituto Grupo Pão de Açúcar 26/10 – Orquestra Vozes do Violão do Lar das Crianças da CIP
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cultural + social > biblioteca
JACQUES FUX E VIVIAN SCHLESINGER RESPONDERAM A PERGUNTAS SOBRE O LIVRO ANTITERAPIAS
Clube da Leitura recebeu Jacques Fux NA SEGUNDA VISITA AO CLUBE, JACQUES FUX CONVERSOU COM OS INTEGRANTES DO CLUBE DA LEITURA SOBRE O PRIMEIRO LIVRO DE FICÇÃO DELE, ANTITERAPIAS, VENCEDOR DO PRÊMIO SÃO PAULO EM 2013
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o início de setembro, o mineiro Jacques Fux trocou a atividade de professor na Universidade Federal de Minas Gerais (Ufmg) por uma agenda de compromissos literários em São Paulo. Durante uma semana, deu aula de escrita criativa na Livraria Martins Fontes, usando como material o livro Hóspede por uma Noite, do israelense S. Y. Agnon. Dias depois, fez uma palestra na Casa das Rosas a respeito de dois temas com os quais trabalha no cotidiano, literatura e mate-
mática. No sábado, ele e seu livro, Antiterapias, ficaram no centro dos debates do Clube da Leitura, mediado por Vivian Schlesinger, na Hebraica. Ao saudar os leitores, Fux – que participou em 2013 de um debate da série “Aonde Vamos?” – agradeceu o convite para esta segunda visita à Hebraica, que ele comparou às entidades judaicas de Belo Horizonte. “São dois mundos diferentes. Tudo na comunidade de Minas é pequeno e res-
trito. Os judeus paulistas estão mais integrados na comunidade maior, enquanto os mineiros passam quase despercebidos no dia-a-dia de Belo Horizonte. Há muitos anos, ensinei matemática em uma escola do interior do estado e quando me identifiquei como judeu, as pessoas se espantaram, pois até ali, só tinham lido sobre os judeus na Bíblia”, contou. Fux recebeu o Prêmio São Paulo de Literatura em 2013 com Antiterapias, escrito na primeira pessoa e repleto de citações e referências a matemáticos e autores da literatura clássica. “Durante meu doutorado e pós-doutorado estudei o trabalho do escritor Georges Perec, e meu personagem cita muito as teorias dele e de outros filósofos”, comentou. Formado em literatura comparada e em matemática, o convidado se revelou profundo conhecedor dessas duas áreas e lançou mão da experiência didática para responder aos comentários em relação a trechos específicos do seu primeiro livro de ficção. “As referências, alusões e recursos literários foram inseridos por razões muito claras, mas os leitores encontram muito mais do que previ durante o ano e meio que levei para escrever Antiterapias. Os trechos em itálico foram acrescentados já com a obra quase pronta, porque senti que ainda faltava algo. Aqueles parágrafos destacados formam uma história à parte, com começo, meio e fim”, explicou. Antiterapias não é um romance. “Penso nele como uma espécie de sessão de terapia, na qual o paciente se põe a falar, pulando de assunto e tirando conclusões diante do terapeuta. Eis como cheguei ao título do livro. Para mim, até hoje, é uma antiterapia”, disse. No final do debate, Fux autografou alguns exemplares e conversou com leitores interessados em conhecê-lo melhor. “Gostei desse bate-papo. Foi bem diferente da palestra de ontem, na Casa das Rosas, onde, depois que falei ninguém se animou a fazer perguntas. Aqui, todos pareciam ter algo a dizer”, afirmou, prometendo breve retorno. (M.B.)
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cultural + social > eventos
COVER DO CONJUNTO AMERICANO AGRADOU À PLATEIA
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ãs do gênero discoteque foram os primeiros beneficiados pela agenda da vice-presidência Social e Cultural, com a promoção do show “One Night Only”, apresentado pelo grupo considerado como o melhor cover dos três irmãos Gibb, mais conhecidos como Bee Gees. Com teatro lotado, os músicos que compõem o grupo Bee Gees Alive abriram o show com Night on Broadway e seguiram com as canções da trilha sonora do filme Os Embalos de Sábado à Noite. Em seguida, atenderam os mais românticos, tocando I Started a Joke e outros sucesso da década de 60. Quando voltaram ao gênero disco, o público que já fazia coro, passou a dançar, ocupando as laterais e o centro do teatro até o número final. Em 11 de outubro, é a vez de passar em revista a discografia dos Beatles, com um show especial da Cia. Filarmônica. O grupo terminou recentemente
Música de qualidade até o fim do ano DEPOIS DO SHOW DO GRUPO BEE GEES ALIVE, FÃS DE MÚSICA TERÃO A CIA. FILARMÔNICA TOCANDO BEATLES E A COMEMORAÇÃO DOS CINQUENTA ANOS DE CARREIRA DE TOQUINHO E IVAN LINS, JUNTOS NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN uma temporada no Teatro Folha em Higienópolis e agora traz o espetáculo que insere quadros humorísticos em meio aos principais sucessos do grupo inglês em um único show na Hebraica. A Cia. Filarmônica é composta por onze músicos, entre eles o vocalista Marcos Hasselman, além de um quarteto de cordas. E no dia 1º de novembro, Ivan Lins e Toquinho farão um show em comemoração aos cinquenta anos de carreira de ambos. Os ingressos para o espetáculo já es-
tão à venda na Central de Atendimento. Os dois músicos já se apresentaram no clube em várias ocasiões, mas sempre separados. A chance de ver esses dois ícones da música popular brasileira, rememorando canções de autoria dos dois será, sem dúvida, uma ocasião inesquecível. Os ingressos para essa apresentação se esgotaram já em setembro e os promotores estudam uma nova data para atender os interessados que não conseguiram garantir lugar para o show. (M. B.)
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por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br
coluna comunidade
Pedalar em Israel pelo Alyn
Luiz Grossman, Robert Landecker, Bernardo Segal, Alexandre Benedek e Rodrigo Carneiro preparam as bikes para a 15a Wheels of Love (Rodas de Amor), de 9 a 13 de novembro, em Israel. O “passeio por uma causa” reunirá quase mil ciclistas de todo mundo e vão percorrer o deserto no sul de Israel para levantar fundos para o Hospital Alyn, importante centro de reabilitação pediátrica e de adolescentes em Jerusalém, Israel. O site www.alynride.org informa a respeito do passeio que se amplia para incluir mais participantes e doadores de mais países. Para quem não pedala, o Wheels of Love oferece a possibilidade de atuar como voluntário durante o passeio. Inscrições abertas para doar, participar ou ser voluntário.
Pela Paz na Catedral da Sé
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o Dia da Independência, cristãos, judeus e muçulmanos realizaram um ato na Catedral da Sé com o tema “Em nome de Deus, juntos pela paz: cristão, judeus e muçulmanos”. O cardeal dom Odilo Scherer recebeu membros das igrejas do Movimento de Fraternidade de Igrejas Cristãs (Mofic), os rabinos Michel Schlesinger e Ruben Sterenchein, da CIP, Rogério Cukierman, do Colégio I. L. Peretz, e Raul Meyer, do Centro da
Cultura Judaica; e o xeque Houssam A. El Boustani, da comunidade muçulmana. Participaram os corais Capela Musical Arquidiocesana da Sé e Canto da Paz, da cantora Fortuna e os Monges Beneditinos, além da leitura do Salmo 133. Depois caminharam até o Pátio do Colégio e o rabino Schlesinger leu o Manifesto pela Paz, texto assinado pelos representantes das três religiões e pela monja Cohen (foto), convidada do cardeal.
Terrorismo na América do Sul O presidente do Congresso Judaico Latino-Americano (CJL) Jack Terpins ficou preocupado com o atentado ao metrô de Santiago, no Chile. “O terrorismo não distingue religião, nem fronteiras, devemos atuar em conjunto contra esse mal. Devemos estar atentos para impedir que as nossas comunidades se vejam aterrorizadas por esse fenômeno. Devemos rechaçar este ato e toda forma de violência.”
Novo embaixador é druso
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afael Eldad deixou a embaixada de Israel e foi para o Chile substituído por Reda Mansour, poeta, historiador e até há pouco representante do Ministério das Relações Exteriores no Colégio Nacional de Defesa de Israel. Foi embaixador no Equador, embaixador-adjunto em Portugal e cônsulgeral em São Francisco, Estados Unidos. Mansour é druso, da cidade de Osfiya, no Monte Carmel, em Israel. Os drusos formam uma comunidade religiosa autônoma, que vive em diversas regiões e são sempre leais ao país que os acolhem. São
118 mil (1.7% da população) e prestam serviço nas Forças de Defesa de Israel. “Hoje, a comunidade judaica enriquece culturalmente a sociedade brasileira, atua como ponte entre Brasil e Israel e contribui em nossa promissora relação bilateral. Pretendo cultivar cada vez mais a amizade entre os povos e potencializar as cooperações já existentes. Quero que a Embaixada de Israel seja a primeira casa israelense e judaica no Brasil”, disse o embaixador em uma mensagem.
HEBRAICA
COLUNA 1
Nesta XXI edição do Salão de Arte, a curadora Vera Chaccur Chadad reservou espaço para expor obras tombadas de Lasar Segall. Sucesso absoluto desde a abertura, que beneficiou o projeto Amigos Einstein da Oncologia e Hematologia (Amigoh). A Fundação Biblioteca Nacional divulgou os três ganhadores do seu prêmio literário anual: Bernardo Kucinski, na categoria conto, com seu Você vai Voltar pra Mim, Editora Cosac Naify; Daniella Bauer, autora de Morada das Lembranças, na categoria literatura juvenil, lançado pela Editora Biruta; e Arthur Nestrovski, com Pelo Nariz, em literatura infantil, também editado pela Cosac Naify. Sandra Goldzveig é autora de um capítulo do livro Socorro! Não Sei mais Educar, e Agora? Coordenação de Rafael Abud e lançado na Livraria Martins Fontes.
Nova diretoria da Beth-El Boa Morte, do hebraico Mitá Tová e do inglês The Farewell Party, recebeu 97,39% dos votos como o melhor filme do Festival de Cinema de Veneza e está cotado para o Prêmio Ofir, da Academia Israelense de Cinema Shaike Ofir.
Brasil, Argentina e Espanha unidos com o casamento de Nicole & Daniel. Arlete e Abramino Schinazi, Ana Mendelberg e Jorge Barmaimon, felizes, receberam os convidados daqui e de além mar. No espaço Villa Verico, em uma cerimônia cheia de surpresas.
Fábio Setton tem, agora, o cargo de business developper para São Paulo e região na Pravda.
Feminismo e Masculinidade, uma nova forma de alerta sobre a violência contra a mulher, é o livro que a ex-senadora Eva Blay acaba de publicar. Fruto de um seminário realizado anteriormente, não será comercializado e, sim, enviado a pessoas ligadas ao tema em todo Brasil e, depois, disposto como e-book.
∂ Em Buenos Aires, Cláudio Epelman, diretor executivo do Congresso Judaico Latino-Americano (CJL) e o padre Norbert Hofmann, encarregado das relações religiosas com o judaísmo da Santa Sé, participaram da conferência anual realizada pelo Conselho Internacional de Cristãos e Judeus cujo tema central foi “Diálogo JudeuCristão: Compromisso e Desafios – Experiências e Perspectivas Latino-Americanas e Internacionais”.
Lançamento da Uma (Rachel Davidowicz) agitou a Vila Madalena. Fruto de parceria com Marília Rocha e o laboratório farmacêutico Naturelle. Antônio Bernardo usou da sensibilidade para criar a coleção “meninas ab”, inteiramente voltada para as teenagers. A Oficina de Cultura Judaica do Chaverim recebeu a visita de Diego Birenbaum para o toque do shofar no mês de Elul.
Dessa vez, Lilian Blanc e Janaína Suaudeau estão no palco do Teatro Aliança Francesa com a peça Não se Brinca com o Amor. Com direção da artista francesa Anne Kessler (Comédie-Française) e cenografia assinada por Ulisses Cohn.
A Congregação Beth-El empossou a nova diretoria presidida por Daniel Leon Bialski e Dalio Sahm e Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, vice-presidentes. Diretores: Yacob Goldenberg, administrativo financeiro; Marlene Mangabeira, de culto; Rodrigo Helcer, de comunicação e marketing; Simone S. Wajman, de desenvolvimento institucional e mobilização de recursos; Ruth Goldberg, de atividades filantrópicas; Harry Kaufmann e Márcio Lewensztajn. Conselho de Administração: Daniel Feffer, David Cytrynowicz, Octávio José Aronis, Richard Barczinski, Eduardo Tabacow Hidal e Miguel Lafer. Jorge Feffer, Percival Lafer e Luiz Cuschnir compõem o Conselho Fiscal.
KKL de casa nova
∂ A união de trabalhos da poeta Basilina Pereira, de Brasília, e a escultora paulistana Adina Worcman teve como resultado a peça em bronze Paraíso das Gaivotas. No evento “Letra e Imagem”, que reuniu trabalhos de dezenove duplas na Cia. Arte Cultura. Resultado das oficinas de arte de Ivald Granato e Mário e Gregório Gruber para crianças e adolescentes com deficiências intelectuais, o Instituto Olga Kos de Inclusão Social promoveu “Pintou a Síndrome do Respeito – Inclusão pela Arte”, em exposição no CEU Cidade Dutra.
A cerimônia de colocação da mezuzá inaugurou a nova sede do Keren Kayemet LeIsrael (KKL) à rua Dr. Alfredo de Castro, na Barra Funda. O presidente Eduardo El Kobbi e a diretoria receberam a visita de Joe Diwan, que elogiou a entidade por sua atuação pelo meio ambiente. “Também quero ser um embaixador do KKL, pois vocês trabalham por uma causa nobre.”
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Dia da Família no Peretz Alunos, pais e professores da educação infantil e ensino fundamental I do Colégio I. L. Peretz comemoraram o Dia da Família. A programação teve integração, oficinas, gincana e o ponto alto foi a montagem de duzentas cestas básicas com alimentos arrecadados na escola e doadas para o Ten Yad e Lar das Crianças da CIP. No final, seguindo um costume do mês de Elul, o rabino Marcelo Borer tocou o shofar, ao lado do diretor-geral Carlos Dorlass e o diretor da área judaica, rabino Rogério Z. Cukierman.
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cultural + social > comunidade+coluna1 Paz e Jihad em debate O Teatro Eva Herz lotou principalmente de jovens interessados em ouvir o rabino Michel Schlesinger, da CIP e representante da Conib para o diálogo interreligioso, e o xeque Houssam Ahmad El Boustani, do Movimento Futuro do Líbano e o sociólogo Demétrio Magnoli como mediador. O tema foi “Ensinamentos de Islamismo e Judaísmo para a Paz”. Magnoli perguntou se, do ponto de vista religioso, há um obstáculo para a paz. Para Schlesinger, os fanáticos fazem “uma leitura possível” dos textos sagrados, mas não há barreiras religiosas para a paz. Para Boustani, o Corão é dogmático apenas para os “interesseiros”: “A paz é para pessoas sinceras; sem sinceridade, não há paz”. O rabino é a favor da solução de dois Estados para a paz; o xeque prefere um Estado binacional. Ao ser indagado sobre “o que significa jihad”, Bustani respondeu que “jihad em português é esforço, não é luta nem guerra, citada 41 vezes relacionada ao debate e o caminho de Deus. É um grande desvio, jihad não significa luta. Tem a jihad menor, esforço contra os inimigos no campo de batalha; e a jihad maior, o esforço e a luta espiritual contra inimigos invisíveis (ódio, satanás, etc.). Combater o vício é jihad, acabar com a miséria é jihad, cultura da paz é jihad. Um esforço, mesmo que tenha diferenças”. E, levantando-se, sugeriu: “Rabino, fazemos jihad agora!” Um abraço selou o diálogo.
Ficaram os bonecos O mundo mágico dos bonecos ficou triste com a morte da sua “rainha”. Suzy Gheler (z’l) vivia, há mais de trinta anos, entre as suas criações, que pareciam ter vida própria. As exposições em shoppings centers, aeroportos e lojas ficaram famosas. Sorte de quem foi presenteado por sua criadora com a magia dos seus personagens.
COLUNA 1 Noite de jantar & música no Quattrino. Mary Nigri recebeu pai e filha, Boris e Ana Karlik, e Juliana Ripke em apresentações mais que especiais. Os premiados Denise Weinberg e Kiko Marques dirigiram Salamaleque, numa realização do Clube do Mecenas para o Projeto Teatro na Mário (Biblioteca Mário de Andrade).
∂ Um lugar para crianças brincarem com e como crianças. David Simon, Jairo Tcherniakovsky e Roberto Farkas Bitelman criaram o Espaço Boo!, na Vila Romana. Tirolesa, arvorismo, tudo feito com madeira certificada, num espaço ideal para convidados se divertirem nesse novo bufê de eventos, um imenso “brinquedão” como eles o chamam.
Perto de três mil especialistas participaram do XIII Congresso Paulista de Urologia com a presença dos especialistas norteamericanos Roger Paul Goldberg e Seth Lerner. Pesquisadores das Universidades de Tel Aviv e Hebraica de Jerusalém comprovaram que diabéticos são beneficiados quando ingerem café-da-manhã reforçado. O estudo foi apresentado no Encontro Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes, em Barcelona. Novidade trazida para o Brasil pelo endocrinologista e nutrólogo Joffre Nogueira Filho. É de Kiko Farkas e Rico Lins a curadoria da Exposição Internacional de Cartazes feita com a Alliance Graphique Internationalle, no Museu da Língua Portuguesa. Em uma das suas edições, Fóruns Estadão Brasil 2018 contou com os conhecimentos de Ricardo Abramovay e José Goldemberg entre seus debatedores.
∂ Cláudia Sender, presidente da TAM, foi a convidada especial do Seminário Lide Mulher. Falou para mais de cem empresários sobre “Mulheres Empreendedoras” e seu desafio de consolidar a empresa em que atua como o maior grupo da América Latina, posicionada entre as três melhores do mundo. Dessa vez, Golda Boruchowsky reuniu escritores, poetas e declamadores para uma Tarde de Arte & Poesia no Tryp Hotel Higienópolis. Parceria de Maurício de Sousa, Sidney Gusman e Editora Online resultou na Coleção Carinhas. Livros que contam de forma cômica as divertidas aventuras da Turma da Mônica. Raquel Kogan é uma das expositoras na Praça Victor Civita até dia 12. Parte da segunda edição do projeto
Sistemas Ecos, que tem coordenação curatorial da artista Sônia Guggisberg numa experiência coletiva para despertar a consciência de participação no processo social. Daniel Grispan e Bruno Romero fizeram uma parceria da sua Guelt Contabilidade com a Caixa Econômica Federal para créditos diferenciados voltados a investimentos, melhora do fluxo de caixa ou maior lucratividade para os clientes. O Instituto Schulman de Investigação Científica participou da 10ª. Beauty Fair – Feira Internacional de Cosméticos e Beleza. Em seu estande, no Expo Center Norte, destaque para a palestra “Laboratório ao Vivo. Desconstrução de Fórmulas: Bases Cosmecêuticas e seus Diferenciais na Produção. Visualização Prática na Fabricação de Creme, Gel e Creme-Gel”. À frente: Marcelo Schulman.
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Noite de Talentos
∂ “Equilíbrio Pessoal e Profissional e seu Impacto na Saúde e Qualidade de Vida” foi a palestra de Artur Zular na Livraria da Vila Higienópolis em promoção do grupo Lehitraot de Na’amat Pioneiras. Na Sinagoga da Hebraica, Victor Yacar reuniu seus amigos e familiares para acompanharem sua primeira leitura da Torá. Gabriela Faermann Korman está entre os felizes focas que participam do 25º.
Charles E. Tawil estava feliz porque o Jewish In recebia gente nova além dos habituais frequentadores dos encontros, de São Paulo, do interior e outros estados. A coach e gestora de talentos Shana Wajntraub fez palestra e provocou os participantes a uma reflexão sobre perfil profissional e possibilidades de transformação. Um novo evento de confraternização foi realizado antes das Grandes Festas.
Curso Estado de Jornalismo. Novas Organizações para uma Nova Economia, livro de Maurício Goldstein lançado pela Elsevier, tem como subtítulo “Um Mundo onde as Empresas, as Pessoas e o Planeta Prosperam Juntos” e é um dos mais vendidos na área de gerência e administração de negócios. Goldstein começou a escrevê-lo há 25 anos, no início da carreira como engenheiro e acrescentou relatos de casos colhidos nas viagens pelo Brasil e exterior nos últimos cinco anos. Este ano, Tiago Abravanel foi um dos destaques do famoso Brazilian Day, em plena Nova York.
Uma dica para você, sócio: o Espaço Prana, novo SPA da Hebraica, está com uma série de descontos e promoções, inclusive para os aniversariantes do mês. Cuide do corpo agendando um horário pelo fone 3818-8735.
Palestra com Luciano Coutinho
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presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) Luciano Coutinho, fez palestra para a Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (Cambici) na residência de Mário Fleck, presidente da Rio Bravo Investimentos e da Fisesp, além de vice-presidente da Câmara. Respondendo ao empresário Avi Meizler, da Advantech Bioscience Farmacêutica, sobre a importância dos acordos de pesquisa e desenvolvimento e a desigualdade de condições entre empresários brasileiros e israelenses, Coutinho destacou Israel como um país onde os investimentos em ciência e
(foto – crédito Eliana Assumpção)
Instituto Ecofuturo comemora quinze anos com o lançamento do portal Consciência é a Nossa Natureza.
tecnologia são exemplares e salientou a figura do “cientista-chefe”, cujo mandato é independente da troca regular de governos. Na foto, Cláudio Lottenberg, Mário Fleck, Jayme Blay, Luciano Coutinho e Sérgio Suchodolski.
De Belo Horizonte a Amsterdã
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illian Junior Moreira de Souza venceu o Concurso Nacional de Redações Anne Frank. Premiado com uma viagem a Amsterdã, para conhecer o mundo da jovem morta na Shoá, o jovem viajou acompanhado pelo irmão Wesley, a professora Rouse, da Escola Anne Frank de Belo Horizonte, Karen Didio, da Conib, e Alberto Milkewitz, diretor Institucional da Fisesp e criador do Programa Anne Frank. Além do roteiro tradicional, o grupo foi recebido no Tribunal Penal Internacional de Haia pela juíza brasileira Sylvia Steiner.
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cultural + social > comunidade
Seminário da Terceira Idade
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Porto Alegre sedia encontro A Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra) recebeu mais de uma centena de pessoas dos Estados Unidos, Israel, Argentina, Chile, Colômbia, Guatemala, Espanha e Panamá além de vários Estados brasileiros para o encontro da World Union for Progressive Judaism (Wupj/LA). Destaque para o Mifgash, que reuniu jovens conscientes de seu papel como futuros líderes, propondo novas ideias de ações a serem levadas a efeito até o próximo encontro, em 2015.
nvelhecimento no Século XXI e Nossos Desafios” foi o tema proposto no IX Seminário da Terceira Idade, realização da área da terceira idade da Fisesp. “A velhice é algo muito novo na evolução da nossa sociedade, as pesquisas nesse campo não têm mais de cinquenta anos, mas as pessoas idosas de hoje são a vanguarda da revolução da longevidade, anunciando uma transformação de toda a estrutura social. Desde que a Fisesp começou a trabalhar pela terceira idade, foram criadas várias leis e ações, mas muito ainda tem de ser feito pelos idosos”, destacou a coordenadora da área da terceira idade da Fisesp, Sueli Schreier.
O forte som do shofar
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cada ano, no mês de Elul, a Divisão Feminina Chabad realiza uma tarde que reúne centenas de senhoras para ouvirem as palavras do rabino Shabsi Alpern e, mais ainda, o som do shofar, como uma mensagem de fé para o novo ano. Com o tema “Ilumine a sua vida! E o mundo ao seu redor”, o evento na Mansão França teve a participação do cantor Micha Gamerman e maestro Marinho.
Conscre homenageia comunidades O Conselho Estadual Parlamentar de Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras (Conscre) realiza, anualmente, uma noite de confraternização e homenagem a representantes comunitários. O rabino Michel Schlesinger foi o escolhido este ano, porém, por se encontrar em viagem, ele foi representado por Alexandre Edelstein, chazan da CIP. Ao receber a placa de prata, Edelstein agradeceu e, no lugar de discursar, cantou e explicou o significado de “Shalom/Salam”, a canção que exalta a paz em hebraico e árabe, sensibilizando o público presente na Assembleia Legislativa.
Palestras na Wizo SP O interesse do público ultrapassou o círculo das chaverot Wizo. Em três noites com casa cheia, Andre Lajst, Shula Djamal e Sérgio Malbergier foram ouvidos atentamente nas apresentações sobre o contra terrorismo, a situação em Israel e o impacto do conflito no Brasil.
Música pela Cura
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saxofonista Patrick Zimmerli, a pianista e regente Sônia Rubinsky (brasileira radicada em Israel), o percussionista Sérgio Reze e a Orquestra Tucca Filarmônica ofereceram uma noite de encantamento para quem foi à Sala São Paulo. A Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca), presidida pelo oncologista pediatra Sidnei Epelman, realiza a série de concertos internacionais, parte do projeto “Música pela Cura”, idealizado para dar sustentabilidade ao trabalho multidisciplinar de excelência na assistência a crianças e adolescentes carentes com câncer, desenvolvido em parceria com
o Hospital Santa Marcelina. Nos quatorze anos da sua existência, foram quase cinquenta concertos e média de mil espectadores por espetáculo. Na foto, Eduardo El Kobbi, Cláudia e Sidney Epelman e Paulo Proushan na Sala São Paulo.
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Papa cria jogo pela paz Três jogadores da seleção de futebol de Israel participaram da “Partida Interreligiosa pela Paz”, disputada no Estádio Olímpico de Roma, Itália, por iniciativa do papa Francisco. Yossi Benayoun, do Israel Macabi Haifa, Tomer Hemed, da União Desportiva Almería da Espanha, e David “Dudu” Aouate, da seleção nacional israelense, estavam ao lado de craques como Maradona, Ronaldinho e Neymar.
Padre da Santa Sé no CJL
Especialista em Cabala
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onsiderada uma das maiores especialistas do mundo em misticismo judaico, a professora Rachel Elior fez uma maratona na visita ao Brasil, assessorada pela Sociedade Brasileira dos Amigos da Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ). Em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, a chefe do Departamento de Pensamento Judaico da UHJ tratou de temas diversos e foi muito aplaudida. Na Hebraica, na Sala da Plenária, falou acerca dos pergaminhos do Mar Morto. Na Universidade Mackenzie, em parceria com o Centro de Estudos Judaicos
da USP, o tema foi “Judaísmo e Hassidismo”; “É prioridade ensinar judaísmo hoje?”, perguntou aos educadores das escolas judaicas, no Bnei Akiva. Palestrou também na Comunidade Shalom, na CIP, Escola São Paulo e Casa do Saber e teve encontros com pequenos grupos como aqueles na residência de Dora Brenner e do casal Tony e Avi Meizler. Em Israel, é considerada uma das mais importantes ativistas em prol das mulheres, estimulando o diálogo permanente que associa tradição e progresso, judaísmo e democracia.
Músicos internacionais no Kleztival
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ários nomes de destaque confirmaram presença no Kleztival 2014, de 1º. a 9 de novembro. Frank London é figura marcante desde a primeira vinda a São Paulo. Também virão a banda inglesa Hamsa; o violinista israelense Sanya Kroitor; o duo da Moldávia, composto por Efim Chorny, cantor e compositor em ídiche, e a pianista Susana Ghergus; do Canadá, o compositor, pianista, acordeonista e cantor Josh Dolgin, conhecido como DJ Socalled; e os já consagrados Polina e Merlin Shepherd. Está previsto um grande show com a cantora Fortuna, no Teatro J. Safra, e a apoteose, no Sesc Pompeia, reunindo Frank London e a Banda Mantiqueira. Além dos vários shows, workshops e as horas no metrô. Nicole Borger prepara o lançamento de um CD gravado em Nova York, com versões das músicas do ídiche para o português. A direção e os arranjos são de Frank London.
O padre Norbert Hofmann, encarregado das relações religiosas com o judaísmo na Santa Sé, visitou a sede do CJL em Buenos Aires e foi recebido pelo diretor-executivo Cláudio Epelman. “Embora o judaísmo se guie pela Halachá e a Igreja pelo dogma, todos somos filhos do mesmo Deus e isso é que nos faz irmãos”, assinalou o padre, lembrando a última década de relações entre a Igreja Católica e a comunidade judaica.
Tributo a Rabin e à paz Movimento juvenil judaico no Brasil desde 1945, o Habonim Dror vai realizar uma exposição sobre o Prêmio Nobel da Paz Itzhak Rabin. Além da biografia do homenageado, haverá uma reprodução da Praça Rabin, em Tel Aviv, onde ele foi morto, e um paralelo entre seu legado e o contexto brasileiro, a partir da reflexão sobre a palavra compromisso diante dos conflitos. A exposição “Rabin – Paz é Compromisso” ficará aberta de 4 a 16 de novembro na sede do Habonim Dror, na rua Bahia, 883, em Higienópolis. De segunda a sexta-feira, das 17 às 22 horas, fins de semana, das 9 às 18 horas. Informações, com Thaís (982-669-840) e Leana (991-321-061).
AGENDA
Torneio de Tranca Viva a Paz!
23 a 26/10 – Inhotim com a Wizo. Com aéreo e pensão completa. Lugares limitados. Informações, 3257-0100 10/11 – Jantar e show com Enrico Macias, na Mansão França. Única apresentação, diretamente da França. Realização do KKL. Réveillon com a Wizo – Sorocaba Park Hotel. Pensão completa, passeios e ceia de Ano Novo. Informações, 3257-0100 (Liane)
Após o êxito do primeiro torneio interclubes na Hebraica, todos pediram uma nova rodada, afinal marcada para 18 de outubro. Sócios do Sírio-Libanês, Paineiras, Homs e outros já se inscrevem para essa noite que terá jantar e rodadas de tranca a partir das 20h30. Os vencedores receberão prêmios, haverá sorteio de brindes e de uma viagem ao Conrad Punta del Este Resort & Casino, do Uruguai.
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1. Presença em evento de decoração: Anette Rivkind, Gabriel Diament e Giselle Rivkind; 2. Dia de lazer de sócios na Estância Santa Isabel; 3, 6 e 7. Fraternidade Cristã-Judaica, Raul Meyer; padres, pastores, rabinos e cardeal Scherer no Ato pela Paz; 4. Meiri Levin, Anita e Carlos Schuartz, Raymond Lutzky, diretor da NYW Politechnic School of Engineering, na exposição sobre Anne Frank; 5. O esperado toque do shofar do rabino Shabsi Alpern
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1 e 6. Em evento do Conscre, Perla Pedroso Yurtz, Rezkalla Tuma, Sérgio e Sandra Serber; Serber e Alexandre Edelstein; 2. Cultura japonesa na Praça Carmel; 3. Daniel Bork no lançamento do livro Diário da Cozinheira, de Carla Pernambuco; 4. Esther Schattan disse presente em almoço da Fundação Dorina Nowill; 5. Rafael Zolko cantou para Na’amat Pioneiras; 7. Chiara Klajmic conferiu com Bob Wolfenson a mostra “Deu na Telha – Olhares”; 8 e 9. Na Galeria de Arte, Joelke Offringa, Maurício Serebrenic, Beirel Zukerman e Nelson Glezer; o público e Gerson Herszkowicz
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1. Feliz Idade participa de debate literario; 2.
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Escolares visitaram a exposição sobre Anne Frank com monitoria e explicações; 3. Jovens da Fisesp na apresentação do embaixador Mansour; 4, 5 e 6. No Itaú/Unibanco, o diretor André Bushatsky, Eva Blay, Nelson Hamerschlak, Audálio Dantas no lançamento do filme sobre o rabino Henry Sobel; 7. Flávia Terpins e Paola de Picciotto no lançamento da coleção Couture Amour; 8. Evento no Colégio I. L. Peretz reuniu a família Steinberg
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1 e 2. Na Sala São Paulo, Dan Guinsburg e Allan Berkiensztat, Marco Epelman e Geni Epelman aplaudiram o “Música pela Cura” da Tucca; 3. Dia da Família no Peretz: Márcia Herchenhorn e filha; 4. A Convite do Congresso Judaico Mundial, rabino Michel Schlesinger participou do encontro com Papa Francisco, em Roma; 5 e 8. Na casa de Dora Brenner: Betty Feffer e Anita Pinkuss, Tony Meizler, a palestrante Rachel Lior e Stella Blay; 6 e 7. Escultora Bia Doria e design de joias Marisa Clerman presentes no Salão de Arte, no Salão Marc Chagall
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juventude > teatro
A PEÇA DE CLARA PARA... FICA EM CARTAZ ATÉ O FINAL DO MÊS
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Montagens “padrão juventude” UM CERTO ROMEU E JULIETA, ENCENADO PELO GRUPO QUESTÃO, E DE CLARA PARA..., COM O GRUPO PRUMO,
SUPERARAM AS EXPECTATIVAS DO PÚBLICO E ABRIRAM A TEMPORADA DE ESTREIAS TEATRAIS NO SEGUNDO SEMESTRE
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uem esperaria ouvir Romeu recitar os versos apaixonados para Julieta do alto de uma escada de serviço? Ou ver atores e atrizes se revezarem nos papéis dos dois amantes adolescentes eternizados por William Shakespeare? Essas e outras surpresas mantiveram os olhos da plateia grudados no palco do Teatro Anne Frank durante as quatro sessões de Um Certo Romeu e Julieta, montagem encenada pelo grupo Questão dirigido por Heitor Goldflus. O elenco estudou e debateu intensamente a versão de Romeu e Julieta traduzida por Bárbara Heliodora e inseriu elementos da realidade atual, o que resultou, por exemplo, no rap cantado pelo frade e na cena atrás de um telão, cap-
tada pela câmera operada por um dos atores e projetada em tempo real para a plateia no mesmo telão. Na dramaturgia assinada pelo diretor e pelo grupo Questão, a briga entre as famílias Capuleto e Montecchio, o romance proibido entre Romeu e Julieta e até a questão da violência em Verona ganham um tratamento leve, assim como o minidocumentário como se fosse um intervalo, um verdadeiro tratado a respeito da sobremesa homônima da peça de Shakespeare. Composto por familiares, amigos e ex-integrantes do Departamento de Teatro, o público sai da plateia convencido de ter visto, ao mesmo tempo, os elementos principais da história que conhe-
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cem e as próprias qualidades recém-descobertas pelos adolescentes que durante quatro meses dividiram o tempo entre a escola e os ensaios. Já o espetáculo infantil De Clara Para... é uma combinação bem-sucedida do cenário criado por Michelle Rolandi e Aristides do Nascimento Júnior, as canções compostas por Che Leal e Ugleston Castro, o texto assinado por Tatiana Schunck, o diretor Henrique Schafer e a interpretação correta do elenco. Segundo Schafer, no dia da estreia não se ouvia na plateia um murmúrio de criança ou comentário de adulto. “Normalmente precisamos elevar a voz para superar os ruídos entre o público, mas pareciam todos hipnotizados pela história”, comentou. Na segunda sessão, Henrique recebeu um desenho com um bilhete nas costas do papel. Era de uma homônima da personagem que, já aos 6 anos, se identificou totalmente com a protagonista. Quando entregou a cartinha, a missivista declarou. “E o irmão da Clara se chama João, como o meu irmãozinho”, revelou a garota. Na peça, Clara vive algumas aventuras até compreender o que para ela significa sua relação com o mundo e o irmão que vai nascer. Para quem não viu Um Certo Romeu e Julieta, azar, mas De Clara Para... fica em cartaz até o final de outubro, com sessões aos domingos, às 16 horas. Informações e ingressos, fone 3818-8800. (M. B.)
UM DESAFIO PARA OS ATORES DE UM CERTO ROMEU E JULIETA FOI ALTERNAR PAPÉIS E DAR PERSONALIDADE A CADA UM DELES
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juventude > festival carmel
Música, coreógrafo! O XXXIV FESTIVAL CARMEL TRAÇARÁ UM PANORAMA DA HISTÓRIA MUSICAL DE ISRAEL E DAS COMUNIDADES JUDAICAS NA DIÁSPORA. O EVENTO SERÁ REALIZADO ENTRE OS DIAS 12 E 14 DE DEZEMBRO
A
maioria dos momentos importantes da vida é marcada por trilhas musicais únicas ou em sequência. Ao trazer à lembrança sentimentos e histórias, os sons sensibilizam o ouvinte. O XXXIV Festival Carmel terá como tema justamente a música, que serve de fundo e dá a cadência para os passos que formam as danças. “É possível estabelecer uma linha do tempo que relaciona as músicas compostas em Israel e o momento político ou social vivido pelo país. Antes da criação do Estado, os judeus cantavam a respeito dos rios, a terra e as flores dos países dos ancestrais. Depois da independência, os compositores se voltaram para temas cotidianos, o sonho de paz, a beleza das cidades”, diz a coordenadora do Centro de Danças e diretora artística da próxi-
ma edição do festival, Nathália Benadiba. Há mais de três meses, as equipes da produção trabalham em propostas e esboços ligados à programação e shows do evento, marcado para 12, 13 e 14 de dezembro. “A noite de sexta-feira ganhou o nome de ‘Galgalatz’ e se destinará às boas-vindas aos grupos visitantes, com um show especial e harkadot, bem ao gosto dos dançarinos que se inscrevem no festival”, exemplifica a coordenadora. No sábado à tarde, a banda curitibana Klezmorim e o grupo de danças Carmel reviverão, ao ar livre, na Praça Jerusalém, uma versão aperfeiçoada do show apresentado no primeiro semestre no Teatro Anne Frank. “Queremos chamar a atenção do público que circula pelo clube e às vezes não se dá conta do que acontece fora
COREOGRAFIAS MASSIVAS SERÃO APRESENTADAS NO SHOW DE SÁBADO NO 34º. CARMEL
das quadras, da piscina ou da Biblioteca. Certamente se aproximarão em função da música e, claro, das coreografias”, observa Nathalia. Ainda no sábado, horas depois, no Centro Cívico, haverá um show de coreografias massivas. “Essas, que reservávamos para o Kabalat Shabat, desta vez serão exibidas para o grande público em um palco decorado especialmente para a ocasião”, adianta a diretora artística do Carmel. A programação no domingo começa com o show “Festigal” apresentado pelas lehakot das escolas e pelos grupos infantis da Hebraica em torno das músicas que inspiram coreografias de temática infantil. No encerramento, um show especial mostrará a importância da música como inspiração para as coreografias, nas quais os grupos folclóricos do Brasil e do exterior trabalharam durante todo o ano para mostrar no Carmel. “Ainda não temos as confirmações das lehakot do exterior, mas pretendemos trazer professores de dança e estimular os grupos que atuam no Brasil a fazerem deste um festival digno de ser lembrado pela beleza das danças e das músicas que se tornaram trilhas sonoras e âncoras para o nosso sentimento judaico”, diz Nathalia. (M. B.)
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1. O jogo de pebolim tornou-se popular entre as crianças que frequentam o After School depois que a nova mesa foi instalada na sala de recreação; 2 e 3. A festa de seis anos do After School teve bolo, brigadeiro e um show do Mad Science; 4. Ao final de cada sessão da peça De Clara Para..., os personagens se encontram com a plateia no saguão do Teatro Anne Frank; 5 e 6. Voluntários do grupo Jovens sem Fronteiras apresentaram o projeto na comunidade Mutirão, no bairro do Jaguaré
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4. 1, 2 e 7. Centro Juvenil Hebraikeinu mobilizou ex-monitores e todos os chanichim na gincana comemorativa do 24º aniversário; 3, 4 e 5. Atores do grupo Questão decoraram os versos de Romeu e Julieta e também serviram o doce homônimo à plateia minutos antes de cada
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uma das quatro sessões; 6. Para Patrick Hollender, Verônica Birenbaum e Allan Jachimowicz, a festa de aniversário do Hebraikeinu foi quase uma despedida. Os três estavam às vésperas de embarcar para Israel, onde iriam cursar o ensino médio
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esportes > olimpíada das escolas de esportes
AS ATLETAS DA GINÁSTICA
ARTÍSTICA FORAM AS ATRAÇÕES DA ABERTURA DA 33ª OLIMPÍADA
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Incubadora de campeões NA ABERTURA DA 33ª OLIMPÍADA DAS ESCOLAS DE ESPORTES, O NADADOR HARRY FINGER ACENDEU A TOCHA OLÍMPICA E PEQUENOS GINASTAS SE EXIBIRAM PARA PAIS E ATLETAS. PARTICIPARAM DESTE ENCONTRO 31 ENTIDADES VISITANTES
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á 33 anos, a cerimônia de abertura da Olimpíada das Escolas de Esportes deixa muitos adultos com os olhos marejados de lágrimas. Na maioria das vezes, são pais que veem os pequenos desfilarem uniformizados, orgulhosos e na expectativa das competições dos dois dias seguintes. Este ano, 31 escolas, clubes e academias esportivas inscreveram os pequenos atletas e estimularam pais e familiares a participarem da abertura e depois acompanharem os jogos e exibições de cada modalidade. Diante da arquibancada lotada, a “delegação” da Academia Competition abriu o desfile e em seguida as entidades participantes entraram portando as bandeiras ou ostentando os logos com orgulho. Em seguida, todos entoaram o Hino Nacional e viram a bandeira olímpica ser carregada pelos alunos Theo Freitas Grunwald, Zak Falbel Mello, Beatriz D. Schor e Rafael Eskenazi. O diretor da Escola de Esportes, Victor Lindenbojm, e o vice-presidente de Esportes, Avi Gelberg, deram as boas-vindas aos atletas e ao público. A atleta de vôlei e futebol feminino Taly Finger foi convidada a fazer o juramento em nome de todos os atletas. A Olimpíada das Escolas de Esportes é mais uma vivência do ambiente competitivo, do que um torneio oficial. Este ano quem acendeu a pira olímpica foi Harry Finger, sem parentesco com a atleta do juramento. Ex-aluno da escola de esportes, aos 39 anos Harry retomou a prática da natação competitiva e em 26
de julho de 2012, aos 55 anos, atravessou o Canal da Mancha, sendo um dos mais idosos a completar o desafio. “Estou mais do que comovido pelo convite. Ao ver as crianças perfiladas e uniformizadas, me lembrei dos anos em que fui aluno da Escola de Esportes e sei como ainda é importante minha ligação com o clube e a modalidade que pratico. Uma curiosidade que poucos sabem é que o número que tenho tatuado – 12:40 – além de ser meu tempo na travessia, é também o meu número de sócio”, declarou Finger emocionado, após descer da pira. Em seguida, ele se uniu à diretoria para assistir a parte artística da cerimônia. Os atletas da ginástica artística e do trampolim acrobático exibiram-
se na quadra, apresentando uma coreografia baseada no tema musical de A Bela e a Fera e demonstraram habilidades no solo e na cama elástica. Da tribuna de honra, Harry elogiou o desempenho dos ginastas e sorriu como se fosse o pai de todos na quadra. “Como é bom sentir que, como ex-aluno da Escola de Esportes, também causei emoção a muitos adultos na arquibancada”, brincou. Encerrada a cerimônia de abertura, professores e atletas foram para as quadras, piscinas e outros locais para o início das competições. Naquele final de semana, as cenas mais comuns eram crianças desfilando orgulhosas com as medalhas, muitas delas obtidas em mais de uma modalidade. (M. B.)
1 HARRY FINGER RECORDOU O PASSADO COMO ALUNO DA ESCOLA DE ESPORTES
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esportes > olimpíada das escolas de esportes
DO JURAMENTO FEITO PELA ATLETA TALY FINGER, AO LADO DO GERENTE GERAL EDUARDO ZANOLLI, À APRESENTAÇÃO DOS GINASTAS NA ABERTURA E ÀS COMPETIÇÕES NAS DEZENAS DE MODALIDADES ESPORTIVAS, A 33ª. OLIMPÍADA DAS ESCOLAS DE ESPORTES SIMULOU O EVENTO MUNDIAL
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esportes > fit center
Ocupada e muito feliz DIVIDIDA ENTRE AS AULAS DO SEGUNDO ANO NA ESCOLA ALEF E OS PACIENTES DO CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA, ESTHER BECKER ENCONTRA TEMPO PARA SE EXERCITAR NO FIT CENTER, CORRER, DEDICAR-SE À CASA E AO NOIVO
ESTHER BECKER ESTÁ EM CONSTANTE APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL
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o final de agosto, Esther Becker comemorava a façanha de completar a Corrida Contra o Câncer de Mama e “meu próximo desafio é correr dez quilômetros em uma prova no final do ano”. Até lá, vai encaixar os treinos em meio às atividades diárias que começam cedo na Escola Alef, onde dá aulas a um grupo de 23 crianças de 7 anos. À tarde, vai para o consultório em Higienópolis, onde é psicóloga. “Na minha opinião, meus dois trabalhos se complementam, de modo a cada um deles me subsidiar para aperfeiçoar o exercício do outro. Nem posso imaginar ficar sem um deles. Gosto tanto de ensinar, que, nas poucas horas vagas, coloco algumas aulas particulares,” responde diante de um questionamento sobre sua preferência. Ela fez parte da equipe de professores do Bialik e participou da transição para o Alef. “Até há pouco tempo, eu lecionava na educação infantil e quando me ofereceram uma classe no segundo ano aceitei o desafio e estou muito satisfeita com a mudança e com os resultados alcançados. Aprendo muito com os meus alunos. Não importa o quanto se está preparada, as crianças te surpreendem, manifestando curiosidade sobre Israel, palavras desconhecidas, posicionamento político e responder a elas exige o melhor de mim e também alinhamento com a filosofia da escola”, descreve. Para dar conta de todos os compromissos, Esther depende da agenda e do relógio. “Além do trabalho, frequento o Fit Center e depois do consultório ainda corro para as aulas da pós-graduação em gestão pedagógica na educação infantil, na Escola Vera Cruz, garantindo um constante aperfeiçoamento profissional. Com essa rotina muito ocupada, ainda consigo arranjar tempo para cuidar da minha vida pessoal.” Para ela, a instalação da Escola Alef na Hebraica acrescentou mais uma dimensão em seu cotidiano. “É no clube que encontro os amigos e relaxo durante os exercícios na academia de ginástica. Nesse momento, não quero mudar nada, só poder curtir cada minuto do meu dia com saúde e alegria”, diz Esther. (M. B.)
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esportes > trampolim acrobático
JOÃO SERRA ESTÁ ANSIOSO COM A VIAGEM À ESPANHA
João do salto no mundial JOÃO SERRA É O TERCEIRO ATLETA DA HEBRAICA A DISPUTAR UM TORNEIO MUNDIAL DE TRAMPOLIM ACROBÁTICO, DESTA VEZ NA ESPANHA. A MODALIDADE SE TORNA CADA VEZ MAIS POPULAR NO BRASIL
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m 2010, Ana Clara di Cesare (campeã brasileira de ginástica de trampolim em 2014) e Tatiana. C. Tragtenberg integraram a delegação brasileira que disputou o mundial de ginástica de trampolim na França. Em novembro, a Hebraica torcerá por um dos seus ginastas, que atingiu o índice para disputar o mundial masculino da modalidade, na Espanha. João Serra tem
17 anos, treina há seis e integra a equipe competitiva do clube. “Nos primeiros três anos, pratiquei ginástica artística, mas mudei para o trampolim acrobático e estou muito satisfeito. Na ginástica, é preciso praticar em seis aparelhos e no trampolim posso me dedicar mais aos saltos e movimentos específicos em apenas três aparelhos: cama elástica, tumbling e
minitrampolim”, explica o jovem. Na disputa do campeonato brasileiro deste ano, ele atingiu a pontuação necessária para a disputa e vai participar do mundial na Espanha, dia 10 de novembro. “Este ano, o Brasil estará muito bem representado, pois os atletas do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, que também alcançaram o índice, têm muita qualidade”, avalia. Antes da viagem à Espanha, João tem na agenda de competições mais um torneio brasileiro. “No trampolim acrobático, nós, atletas, disputamos dois torneios nacionais, o que classifica para o mundial, e o outro, o júnior elite, que é uma espécie de preparação para o mundial”, explica. Quando não está se exercitando na cama elástica orientado pelo técnico Fábio Zuin, João se dedica às matérias do ensino médio. “Fora o esporte, minha atividade predileta é a leitura”, revela o ginasta. (M. B.)
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5. 1 e 5. A equipe sub-15 de basquete venceu a trigésima edição dos Jogos Macabeus Sul-Americanos em Rosário, jogando contra os principais times da comunidade judaica argentina; 3. Eduardo Wainberg seguiu com a seleção brasilei-
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ra adulta de polo para uma temporada de treinamentos na Croácia, com vistas à Olimpíada 2016; 2, 4 e 6. Nadadores da Hebraica se saíram bem no Campeonato Regional Petiz a Jr, realizado na piscina olímpica; 7 e 8. Na viagem à Curitiba, jogadores do sub-15 de futsal conquistaram o título da Copa Top Sports e visitaram a capital paranaense
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A DOAÇÃO DE SANGUE Dra. Cristiane Nakazawa Hemoterapeuta e Dr. José Mauro Kutner Gerente médico da Hemoterapia
Atualmente, cerca de 3,6 milhões de bolsas de sangue por ano são coletadas no país, o que corresponde a um índice de 1,8% da população brasileira. Embora este percentual esteja dentro dos parâmetros recomendados pela Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde tem o objetivo de aumentar o total de doações para o equivalente a 3% da população. Cada bolsa de sangue pode salvar até 4 vidas. Mais do que uma atitude nobre e solidária, a doação é um verdadeiro gesto de amor. Em alguns casos, o sangue doado é a única chance de sobrevivência para o paciente. Algumas informações importantes sobre o sangue • O sangue não pode ser fabricado ou comprado. • A doação é um procedimento seguro e o doador não é exposto a nenhum risco de contaminação. O material utilizado é descartável. • O volume coletado será reposto rapidamente com a ingestão de líquidos após a doação. • O sangue deve ser coletado, preparado, testado e estocado de forma adequada, seguindo padrões de qualidade. • Doar não engorda nem emagrece, não afina nem engrossa o sangue. Entenda como é o processo de doação O processo de doação é fácil, rápido e seguro. A primeira etapa consiste do cadastro de dados de identificação do doador, para o qual é necessária a apresentação de um documento de identidade com foto. A seguir, é submetido a uma entrevista individual, na qual histórico médico, hábitos e condições de saúde são verifica-
Responsável Técnico: Dr. Miguel Cendoroglo Neto - CRM: 48949
dos, com o objetivo de certificar-se de que a doação não será prejudicial ao doador e nem ao receptor. Ao término da entrevista, verificam-se pressão arterial, pulsação e temperatura. Além disso, uma punção digital é feita para determinação rápida da hemoglobina (teste de anemia). A doação é realizada numa cadeira na posição semi-sentada. Uma veia de um dos braços é puncionada e um volume de aproximadamente 450 ml de sangue é coletado. Além disso, cerca de 40 ml de sangue são coletados para execução dos exames laboratoriais para doenças infecciosas transmissíveis por transfusão e tipagem sanguínea. Ao término da coleta, é encaminhado à sala do lanche para alimentar-se e ingerir líquido. Principais pré-requisitos para ser doador • Estar em boas condições de saúde; • Ter entre 16 a 69 anos • De 16 a 18 anos com autorização do responsável; • Idade até 60 anos, se primeira doação; • Pesar mais do que 50 kg; • Não estar em jejum; intervalo de 3 horas após almoço ou jantar; • Intervalo entre doações de sangue de 90 dias para mulheres e 60 dias para homens; • Não estar grávida ou amamentando; • Não ter feito tatuagem ou maquiagem definitiva há menos de 12 meses; • Não ter piercing em cavidade oral ou região genital; • Não ter feito endoscopia ou colonoscopia há menos de 6 • meses; • Não ter feito uso de bebida alcoólica nas últimas 12 horas; • Não ter tido febre, infecção bacteriana ou gripe há menos de 15 dias; • Não ter fator de risco ou histórico de doenças infecciosas transmissíveis por transfusão; • Não ter diabetes em uso de insulina ou epilepsia em tratamento; • Não ter feito uso de medicamentos anti-inflamatórios há menos de 3 dias se doação plaquetas. Lembre-se que outros fatores podem afetar a doação de sangue e são avaliados por ocasião da entrevista individual pré-doação.
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magazine > história | por Ariel Finguerman, em Tel Aviv
CENA DE UM CASAMENTO SUBBOTNIK CELEBRADO POR UM RABINO TAMBÉM SUBBOTNIK EM MOSCOU
Bem-vindos os subbotniks ELES DESCENDEM DE CAMPONESES RUSSOS CONVERTIDOS AO JUDAÍSMO E FORAM VITAIS NA CRIAÇÃO DO ESTADO JUDEU. ENTÃO POR QUE RAZÃO AGORA ISRAEL OS PROÍBE DE MORAR NO PAÍS?
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á trezentos anos, membros da igreja russa começaram a notar um grupo meio esquisito vivendo em meio aos camponeses locais. Eles se recusavam a comer carne de porco, faziam questão de circuncisar os fi lhos e diziam não acreditar em Jesus Cristo. E, principalmente, se recusavam a trabalhar no sábado (subbot, em russo). Daí terem recebido o nome de subbotniks. Esses milhares de simpatizantes do judaísmo provavelmente fo-
ram descendentes de soldados judeus poloneses feitos prisioneiros e que acabaram casando com camponesas russas. Apesar de terem continuado a tradição judaica em casa, eles não podiam converter as esposas porque a lei russa da época proibia isto. Eles teriam passado despercebidos em meio aos milhões de camponeses cristãos, se não fosse o grande papel que tiveram no movimento sionista. Antes mesmo das grandes imigrações sionistas, eles foram se instalando na Galileia. Ali surgiu um dos mais famosos subbotniks da história de Israel: Alexander Zaid, filho de mãe convertida. Ele foi um dos fundadores do Bar Giora, em 1907, a primeira organização moderna de autodefesa dos judeus na Terra de Israel. Dois anos mais tarde, foi um dos signatários do Hashomer, o gru-
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página dele na Wikipedia indica esta suspeita. Também uma recente reportagem do Yedioth Achronot publica uma foto de sua mãe, Vera Schneirov, identificando-a como uma convertida russa ao judaísmo (leia mais na pg. ao lado).
LIVRETO EM CIRÍLICO COM AS REZAS DE SHAVUOT,EDITADO PELA SHAVEI ISRAEL
po militar clandestino precursor do Tzahal. Zaid teve quatro filhos no kibutz Giladi, mas deixou a comunidade para trabalhar como segurança das terras do Keren Kayemet perto do Vale de Jezrael. Ali, durante uma das patrulhas, descobriu o cemitério de Beit Shearim, um dos mais importantes sítios arqueológicos do país. Resistiu a dois ataques árabes, mas acabou sendo morto. Até hoje, na colina conhecida como Sheik Abreik, há um monumento em sua memória, montado em um cavalo de patrulha. Outro memorável descendente de subbotniks foi Rafael Eitan. Também nascido na Galileia, fez carreira militar e foi ferido em seguidas guerras de Israel. Chegou ao generalato e assumiu a chefia do Estado-Maior do Tzahal. Ao se aposentar, entrou para a política, representando a ultradireita. Sobrevivente dos campos de batalha morreu em 2004 num acidente banal: uma onda gigante arrastou-o para o mar quando vistoriava uma obra no porto de Ashdod. A respeito de Ariel Sharon, até hoje existem dúvidas se ele também seria descendente de subbotniks por parte de mãe. Apesar de suas biografias oficiais não mencionarem o fato, a
“Judeus insuficientes” Os subbotniks sofreram na Rússia o mesmo destino reservado aos judeus. Foram perseguidos pelos czares, que os exilou na Sibéria. Depois, assassinados pelos nazistas, que os consideravam judeus como os demais. Isso explica porque chegavam a Israel durante anos, sem parar. Nas décadas de 1970 e 1990, alguns milhares deles estavam em meio à multidão de judeus que deixaram a então União Soviética. Mas toda esta relação estreita dos subbotniks com o Estado de Israel desapareceu em razão de uma decisão do rabinato-chefe. Em 2004, o então rabino-chefe sefaradita, Shlomo Amar, decidiu que os subbotniks não eram “judeus o bastante” para se enquadrarem na Lei do Retorno. Segundo Amar, eles teriam de passar dali por diante por uma conversão rigorosíssima para poderem imigrar para Israel. Mas como na área rural russa, onde vivem, não há rabinos ortodoxos para realizar as conversões, a aliá deles estancou completamente. A decisão foi especialmente dolorosa, pois colocou em dúvida o próprio judaísmo do grupo. Na realidade, eles não gostam de ser chamados de subbotniks, que consideram ofensivo. “Não somos subbotniks, somos judeus”, disse um deles em recente reportagem na imprensa israelense. Hoje, há cerca de dez mil subbotniks na Rússia. Apesar de poucos, eles chamam a atenção especialmente de dois russos: o ministro da Absorção, Sofa Landver, e o chefe da Agência Judaica, Natan Sharansky. A proposta que circula nos corredores do poder israelense para solucionar de vez este drama é impor a qualquer subbotnik que queira imigrar ao Estado judeu um rápido processo de conversão. Os rabinos-chefe indicam que aprovam a ideia >>
Os subbotniks sofreram na Rússia o mesmo destino reservado aos judeus. Foram perseguidos pelos czares, que os exilou na Sibéria. Depois, assassinados pelos nazistas, que os consideravam judeus
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magazine > história Chernin – Ela não era subbotnik. Este boato surgiu porque a maioria dos judeus russos falava ídiche em casa, mas a família Sharon falava russo. Também os subbotniks preferiam o russo. E como naquela geração houve muitos subbotniks que se destacaram na vida do ishuv, algumas pessoas acharam que a mãe de Sharon fosse um deles.
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E N T R E V I S TA “Não temos todo o tempo do mundo” para auxiliar os subbotniks da Rússia, diz Velvl Chernin (foto acima), um dos maiores especialistas mundiais no assunto. Nascido em Moscou, Chernin foi pesquisador dos subbotniks nas universidades Bar-Ilan e Ariel, antes de ser enviado em tempo integral por uma organização judaica à zona rural russa para um contato permanente com esta comunidade. Ele falou à revista Hebraica, em espanhol, língua que aprendeu com soldados cubanos durante o serviço militar no exército da ex-URSS. Hebraica – O senhor acaba de chegar dos vilarejos dos subbotniks da Rússia. O que percebeu ali? Chernin – A proibição de eles fazerem aliá causou um grande prejuízo. Famílias ficaram divididas, parte aqui em Israel, parte na Rússia. Também quem ficou lá percebo que a cada ano cai o interesse pela religião judaica. Conseguimos colocar um rabino num vilarejo e isto despertou claramente um novo interesse, especialmente nos jovens. Como eles vivem na Rússia? Há pobreza? Chernin – Na Rússia se diz que o dinheiro está 80% em Moscou, 10% em São Petersburgo e 10% no restante do país. De modo geral, no campo, onde vivem os subbotniks, a situação não é boa, mas não há fome. Os jovens subbotniks, em particular, são bem educados, moram nas cidades e boa parte tem título acadêmico. As biografias de Ariel Sharon não citam a mãe como subbotnik. Mas assim consta na Wikipedia e numa reportagem recente do Yedioth Achronot. Qual a sua opinião?
Eles não gostam de ser chamados de subbotniks, mas o senhor os chama assim. Chernin – Este nome tem uma conotação de seita para eles, que preferem chamar a si próprios apenas de judeus. Mas a denominação está consagrada no mundo acadêmico, então eu a uso nas minhas pesquisas. Quando estou conversando com eles, não uso, pois soaria ofensivo. Como está o status dos subbotniks como judeus frente ao Estado de Israel? Chernin – É uma situação complexa. Os que imigraram para Israel e hoje vivem aqui são reconhecidos totalmente como judeus, e há ortodoxos e rabinos entre eles. Mas os que ficaram na Rússia, e especialmente depois da decisão do rabino-chefe Amar, não são considerados judeus. É um absurdo. São totalmente judeus ashkenazim, mais religiosos que a média do judeu russo. Em sua opinião, como deveriam ser tratados por Israel? Chernin – Acho necessário organizar a situação. Fazer um levantamento de nomes junto a eles, verificar quem realmente pertence a esta comunidade e deixar que os rabinos tomem a decisão quanto ao judaísmo. E permitir que façam aliá. É um grupo que já deu grande contribuição ao país, mas hoje a Organização Sionista não faz nada pelos subbotniks. A situação na Rússia não está agradável. Boa parte dos subbotniks vive perto da fronteira com a Ucrânia. De um momento para outro aquilo pode virar zona de guerra. Temos de atuar agora por esses membros de nosso povo, antes que seja tarde. Não temos todo o tempo do mundo.
“A situação na Rússia não está agradável. Boa parte dos subbotniks vive perto da fronteira com a Ucrânia. De um momento para outro aquilo pode virar zona de guerra” (Velvl Chemin)
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por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com
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Feliz Aniversário A um dos maiores artistas judeus de nossa época, o cantor e compositor canadense Leonard Cohen completou 80 anos no mês passado e marcou a data lançando um novo álbum, Popular Problems, o décimo terceiro da carreira. Uma das faixas, “Almost like the Blues”, trata da Shoá, a partir das memórias de quando ouviu dos pais as terríveis histórias da Segunda Guerra. Cohen, que namorou Janis Joplin e escreveu canções lindas como “Suzanne”, continua na vida rock’n roll. Desde 2008 está com o pé na estrada numa longa turnê que já passou por 31 países e fez 470 concertos.
12 notícias de Israel
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Sem televisão Quem se lembra da nevasca que caiu em Jerusalém no ano passado, quando a cidade fechou e muitas casas ficaram sem luz e sem televisão? O resultado apareceu em agosto, com um pico de nascimentos nas maternidades de todo o país. O Hospital Kaplan, de Rehovot, registrou duzentos nascimentos a mais que a média. Boa parte dos pimpolhos nasceu em hospitais do norte do país, escolhidos pelos pais para se afastar dos estilhaços do conflito em Gaza. Mas mesmo em Beer-Sheva, em meio às sirenes e em quartos de concreto reforçado, vieram à luz quase duzentos mais nenês que a média mensal.
Menino de Herzlia
Fazendo bonito Enquanto Israel lutava com os militantes do Hamas em Gaza, a judoca Yarden Gerbi combatia as rivais no campeonato mundial da categoria, na Rússia. A brilhante esportista, que em 2013 ganhou a medalha de ouro no mundial de judô no Rio de Janeiro, desta vez ficou com a de prata – que dedicou aos soldados e à população do sul do país. Nas duas finais, enfrentou a mesma lutadora, a francesa Clarisse Agbegnenou. Aos 25 anos, Yarden é uma das esperanças de medalha do Estado judeu nas próximas Olimpíadas, no Rio de Janeiro, em 2016. Mora em Netania, estuda economia e disse ter recebido três propostas de casamento nas últimas semanas.
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Vem aí o mais alto edifício residencial de Nova York, com 107 andares e investimento de US$ 250 milhões, localizado perto do reconstruído World Trade Center. De quem é a façanha? De Michael Shvo, israelense nascido perto de Herzlia, formado na Universidade Bar-Ilan e filho de professores de química. Nos anos 1990, após cumprir serviço militar, imigrou para Manhattan com U$ 3,000 no bolso. O New York Times já o descreveu como “o mais bem-sucedido corretor de imóveis jovem” da cidade. Após ter iniciado a carreira com táxis, hoje ele está associado a investidores de Cingapura e Índia. Não é fácil se destacar numa cidade onde já existem 5.845 arranha-céus.
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Ferinhas da tecnologia A Universidade de Tel Aviv recebeu o nono lugar no mundo entre as academias cujos formandos mais produzem empresas do setor hightech. Nada mal, tendo à frente somente as feras de sempre – Stanford, Berkeley, MIT, Harvard, Yale, Princeton, Columbia. Os graduados da universidade israelense, segundo o relatório PitchBook norte-americano, levantaram U$ 1,25 bilhão nos últimos cinco anos na formação de empresas start-ups. Tel Aviv leva vantagem em Israel por estar localizada no centro do país e absorver boa parte dos soldados da Unidade 8200 do Tzahal, especializada em serviços de informação. Outras academias do país também não fizeram feio: o Technion ficou em décimo oitavo na lista e a Universidade Hebraica de Jerusalém, em trigésimo sexto.
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Crônica policial Tudo começou com uma briga entre dois empregados do Mifal Hapais, a loteria israelense. Uma das envolvidas, alta funcionária da empresa, resolveu procurar um rabino para que a aconselhasse como solucionar o conflito permanente com o colega de trabalho. Ele recomendou comprar uma garrafa especial, enchê-la de uma “água milagrosa” e despejá-la na sala do colega. Resultado: a funcionária foi presa enquanto dirigia seu carro e conduzida algemada à sua casa, onde a aguardava uma equipe policial com mandado de busca. Em seguida foi em cana. O caso somente foi arquivado quando a perícia comprovou que não havia veneno na tal “água milagrosa”.
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Admirável mundo novo Vem aí a primeira linha de ônibus inteiramente movida a eletricidade em Israel. Será em 2015, em Tel Aviv, com veículos que são carregados de energia em apenas de cinco minutos e com autonomia de 25 quilômetros, sem consumir combustível fóssil nem causar poluição ou barulho. A ideia é colocar vinte desses ônibus na cidade no primeiro momento, que serão responsáveis completamente por uma das linhas urbanas – em Tel Aviv não existe linha urbana com mais de dez quilómetros. Cada veículo elétrico custará U$ 470 mil, em comparação aos U$ 295 mil de um movido a diesel. Com a nova tecnologia, os custos de manutenção são bem menores e além disso a eletricidade é 80% mais econômica, comparada ao diesel.
Inspiração tupiniquim No mês passado, a Suprema Corte do Estado judeu liberou a transmissão aberta das discussões da Casa para qualquer emissora de rádio, televisão ou site. As sessões, que serão transmitidas ao vivo, tratarão de temas de interesse público, como o recente caso do alistamento de ortodoxos. Casos que envolvam assuntos exclusivamente pessoais não serão transmitidos. Até agora a lei permitia apenas a presença de repórteres nas sessões, que não podiam usar imagens ou áudio das discussões. Na sessão inaugural transmitida à população, os juízes discutiram um caso de 2008, em que um racha de carros em Jerusalém matou um inocente. Esta ideia democrática já existe no Supremo brasileiro há um bom tempo.
Casa imprópria Comprar casa própria em Israel é uma grande dor de cabeça para a população. A pouca oferta faz os preços irem às alturas, num país historicamente já construído com poucos edifícios. O quadro não tem data para ser revertido, principalmente agora que o governo soltou a informação de que no segundo trimestre deste ano houve uma retração de 20% na entrega de apartamentos em todo o país, em elação a 2013. O Banco Central já assinalou que apenas uma maior oferta de apartamentos poderá fazer os preços baixarem – mas isto ainda é uma miragem no deserto imobiliário local.
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Louca violência Como fazer para apressar a redenção da humanidade? Simples: convencer judias a ter relações sexuais com não judeus, especialmente palestinos e trabalhadores braçais estrangeiros, para assim produzir uma fagulha cabalista que trará os Últimos Dias. Pelo menos é o que pregava o chefão da seita, um pai de quimze filhos de Kiriat Arba, uma colônia ultrarreligiosa perto de Hebron. Cinco mulheres caíram no golpe demoníaco, seduzidas por um misto de conversa fiada, álcool e drogas. A polícia ainda investiga se o pessoal da seita – que recolhia dinheiro dos homens e assistia as relações sexuais – são simples depravados ou puros malucos.
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Pessimismo contagiante
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Jesus de Nazaré, nosso orgulho Meu trabalho de guia de peregrinos e minha carreira acadêmica de pesquisador do judaísmo e cristianismo frequentemente me colocam numa situação em que troco ideias com padres, pastores e cristãos comuns. Recentemente, conversando em Jerusalém com uma médica brasileira – de família católica, mas adepta do espiritismo –, ela me fez a pergunta clássica: “Como vocês judeus veem Jesus?”. Tenho uma resposta mais ou menos pronta, produto de algumas décadas de reflexão: “Primeiro, depende para que judeu você faz a pergunta. Só posso responder em meu nome, e talvez aqui eu represente uma parcela dos judeus liberais. Orgulho é um sentimento que procuro controlar, mas acho que posso aplicar este sentimento ao impacto de Yeshua, Jesus, no mundo, um homem que foi produto da minha cultura. Acho que não precisa haver conflito entre nós judeus e os cristãos em torno da figura de Jesus. Até Yeshua aparecer na história, o monoteísmo ficou confinado durante séculos apenas ao judaísmo, religião que não busca se expandir e tem uma forte tendência a se fechar. A ideia sofisticada de um Deus único e invisível estava restrita a nós, um povo minúsculo na periferia oriental da civilização mediterrânea. Mas com Yeshua e Shaul, o apóstolo Paulo, dois judeus, inspirados pelos profetas hebraicos, esse monoteísmo se espalhou e foi aceito por metade da humanidade. Pena que o cristianismo saiu do judaísmo em meio a conflitos e palavras ásperas, causando muita dor, pois no âmago da questão, as duas religiões têm muita coisa boa em comum”. Aí a médica me perguntou o que um judeu acha da devoção a Nossa Senhora e se o problema com Jesus é ter se declarado o Messias. Neste caso, disse a ela, vamos deixar essas questões para uma próxima oportunidade.
De bermuda e havaianas recém- compradas no Brasil, tomando um café-da-manhã tranquilo, passo os olhos pela edição de fim de semana do Yedioth Achronot. Eis que à página três, leio a manchete que me azeda o dia: “A próxima guerra” (Hamilchamá ha-ba’a, no original), grita o texto de página inteira. Acreditando no texto, vem aí um próximo conflito, desta vez com o Hizbolah na fronteira norte, e não com dois mil mísseis meia tigela do Hamas, mas cem mil. Segundo o repórter, “milhares de combatentes do Hizbolah e uma unidade especial da Síria” já estão preparados para nos atacar. O texto continua dizendo que o Tzahal não está preparado para isto e “o que funcionou contra o Hamas poderá ser insuficiente” neste novo conflito. Respiro fundo e tento fazer minha “meditação budista política”, isto é, pensar o que acontece aqui em Israel com um certo distanciamento. De onde vem esta história de “próxima guerra”, que já escuto há anos em Israel, este pessimismo latente de que em breve começará uma nova catástrofe? Será herança dos nossos tempos de exílio em locais perigosos, como na Rússia czarista ou nos guetos medievais, em que nossos ancestrais estavam sempre à espera do “lobo” os atacarem e os destruírem de surpresa? É realidade ou ficção? Mesmo se fosse verdade esta história de “próxima guerra”, acho que não deveria constar da leitura de fim de semana do israelense recém-saído de um conflito. Os efeitos mentais deste tipo de pressão são terríveis, criando tensão desnecessária e realmente preparando os ânimos para uma próxima guerra. Nada é inevitável, especialmente guerras. Por que não publicar no mesmo espaço, com o mesmo tamanho de letras, um texto a respeito do “próximo acordo de paz”?
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capa | aves migrat贸rias | por Sara Breger
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EM UMA BASE AÉREA DE ISRAEL, LESHEM MOSTRA ROTAS DE PÁSSAROS
O homem que voa com os pássaros COMO SE NÃO LHE FALTASSE MAIS NADA, EXISTE EM JERUSALÉM UM OBSERVATÓRIO DE PÁSSAROS. É PERTO DO EDIFÍCIO DA KNESSET, O PARLAMENTO, E UM DOS RESPONSÁVEIS PELO LOCAL É O ORNITÓLOGO E AMBIENTALISTA YOSSI LESHEM, UM HOMEM ENORME, ACADÊMICO E QUE USA ÓCULOS SEM AROS PENDURADO NO NARIZ
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uando Yossi Leshem anda pelas ruas estreitas da cidade procura se informar a respeito das corujas. O observatório se justifica porque “embora pequeno, Israel se localiza na junção de Ásia, Europa e África”, afirma Leshem, também diretor do Centro Internacional para o Estudo da Migração de Aves em Latrun, uma vila perto de Jerusalém, e professor da Universidade de Tel Aviv. “Se a localização de Israel, do ponto de vista político, é um desastre, o fato de todo ano cerca de quinhentos milhões de aves voarem sobre Israel é um fenômeno mundial.” Duas vezes por ano os céus de Israel se cobrem de duzentas espécies diferentes de aves que voam sete mil quilômetros da rota migratória do Grande Vale do Rift, que vai da Turquia a Moçambique. No outono, os pássaros voam do norte ao sul, e retornam na primavera. Dezenas de milhares de águias imperiais mergulham sobre o Vale de Aravá no caminho da Hungria à Tanzânia, no Índico, enquanto oitenta mil grous eurasianos param no Vale do Hula em busca de água doce. A pequena toutinegra canora se reabastece em Eilat, depois de usar tanta energia para voar que chega a digerir os próprios intestinos. Bandos planam sobre Israel ao se aproveitar das massas ascendentes de ar quente que ocorrem sobre a terra e ajudam os pássaros a se sustentar no ar com mínimo esforço. Para garantir um lugar para descansar e se alimentar, as aves evitam os mares Mediterrâneo e Cáspio, fazendo de Israel um “gargalo” de pássaros, um dos três únicos assim grandes no mundo (os outros são o Estreito de Gibraltar e o Panamá). Leshem tem 67 anos, entusiasmo juvenil, é o rei dos pássaros e o seu principal e incansável defensor. O carro dele está cheio de
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capa | aves migratórias
>> lembranças dos triunfos aviários que conquistou na forma de cartazes de grous, garrafas de vinho decoradas com imagens de pássaros e papéis de conferências recentes. Ele parece fazer questão de que todos, isto é, todos mesmo, saibam das extraordinárias aves de Israel. “Se alguém perguntar a qualquer judeu ou não judeu o que conhecem de Israel, a resposta imediata será o conflito com os palestinos ou as riquezas de arqueologia histórica. Mas nunca ouviram falar dos pássaros.” Ele nasceu em Haifa e é obcecado por aves desde a infância. A mãe, originária de Frankfurt, obrigava Leshem e os irmãos a longas caminhadas pelas partes menos poluídas daquela cidade que tem porto e refinaria de petróleo. Ela queria que, tanto quanto possível, tivessem contato com a natureza. Na adolescência, fazia longos passeios, sozinho ou com amigos, aventurando-se pelo deserto do Negev onde, certa vez, cruzou com o então primeiro-ministro David Ben-Gurion, outro amante da natureza. Desde criança gostava de tudo que se relacionasse a voar e na escola secundária sabia tudo sobre aviões. Aos 16 anos descobriu que precisava de óculos e isso acabou com o sonho de se tornar piloto. Depois do serviço militar, Leshem estudou biologia e genética na Universidade Hebraica de Jerusalém e, em 1971, empregou-se na Sociedade para a Proteção da Natureza em Israel (Spni), a mais antiga e maior organização de preservação do
NOS ÚLTIMOS 25 ANOS, A FORÇA AÉREA ISRAELENSE SOFREU MAIS DE TRÊS MIL COLISÕES COM PÁSSAROS
país. A primeira missão foi salvar o que restou de falcões, urubus e corujas de Israel, aves de incluídas na lista de espécies em risco de extinção em razão do uso de pesticidas, do desenvolvimento e de outros perigos. Algumas, como a águia gritadeira, a águia de cauda branca, o abutre real e o abutre barbudo, já desapareceram de Israel. Foi o trabalho com estas aves que fez Leshem apaixonar-se por pássaros, para decepção da mãe que o queria médico ou advogado, e não um observador de pássaros. Durante 24 anos, Leshem foi guia em uma escola de campo e, de 1991 a 1995, diretor geral da Spni. O mérito dele nesses quatro anos de mandato foi o de despertar o interesse de Israel pelos pássaros: “Yossi Leshem tem sido um dos líderes mais pitorescos do Spni desde os anos 1970”, diz o proeminente ambientalista Alon Tal, no livro Pollution in a Promised Land (Poluição em uma Terra Prometida) e “nos últimos vinte anos, ninguém teve
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tanto êxito em sensibilizar o público acerca de qualquer questão ambiental como ele na campanha para proteger as aves, principalmente as de rapina”. Desastre ecológico Nos anos 1970 e 1980, os israelenses começaram a aprender a ver a sua terra com um novo olhar. Criados de acordo com o lema sionista de “construir e ser construído” – que nas primeiras décadas desenvolveu o país rapidamente–, os israelenses passaram a perceber que certas tentativas de remodelar a paisagem poderiam destruir ecossistemas importantes. O mais conhecido desses desastres ecológicos foi o Vale de Hula, no norte de Israel. Anunciado como um símbolo da imaginação sionista na década de 1950, os pântanos de Hula, onde a malária grassava, foram drenados para neles se erguer fazendas. Mas os custos ambientais ficaram logo evidentes. O solo se deteriorou, as plantas de água doce foram extintas, espécies animais morreram e as aves migratórias forçadas a encontrar outros lugares para se alimentar na rota entre a Europa e a África. O movimento ambientalista de Israel se formou a partir das duras lições do Vale de Hula, que estimulou os jovens israelenses a dar mais e renovada atenção à flora, à fauna e, no caso de Leshem, aos pássaros. No entanto, foi em 1983, quando buscava um tema para dissertação de PhD no Departamento de Zoologia da Universidade de Tel Aviv, que Leshem tropeçou no futuro. Um amigo piloto mostrou-lhe os arquivos da Força Aérea Israelense a respeito de colisões aéreas. Impressionado com os relatos a respeito das “trombadas” de pássaros em aviões israelenses, propôs à Força Aérea analisar as rotas das aves e seus padrões de voo para evitar acidentes. Foi informado que a segurança de Israel tinha outras prioridades, e as aves não eram importantes. Coincidentemente pouco depois, um tartaranhão-apívoro derrubou um avião de combate a oeste de Hebron. O piloto foi ejetado, caiu inconsciente e o avião, de US$ 5 milhões, ficou destruído. Isso mostrou que as aves tam-
bém eram prioritárias e o então comandante da Força Aérea, major-general Amos Lapidot, convocou Leshem. Colisões de pássaros com aviões são tão antigas quanto a própria aviação: o primeiro choque de que se tem notícia ocorreu em 1908, quando o avião de Orville Wright atingiu uma ave perto de Dayton, Ohio. A primeira morte atribuída a um pássaro foi em 1912, quando um avião na Califórnia caiu depois de uma gaivota ser apanhada pelos cabos de controle que naqueles tempos ainda ficavam expostos. Em seis anos, desde 2002, a Organização da Aviação Civil Internacional registrou 42.508 colisões com pássaros, menos os muitos casos não relatados, segundo a maioria dos pesquisadores. Em 2010, houve cerca de cinco mil colisões registradas pela Força Aérea dos Estados Unidos, e mais de nove mil na aviação civil norte-americana, de acordo com a Bird Strike Committee USA, organização que trabalha para prevenir colisões de pássaros com aviões. Em geral, as aeronaves militares são as mais vulneráveis a colisões com pássaros porque viajam em altas velocidades e em altitudes mais baixas, as mesmas rotas da maioria das aves. No caso dos voos comerciais, o maior risco é no pouso e decolagem. De modo geral, as colisões de pássaros com aviões causam poucos prejuízos aos aviões e não perturbam os voos, mas já houve casos graves. Em janeiro de 2009, a turbina de um jato da US Airways sugou um bando de gansos e o avião fez um pouso de emergência no rio Hudson, em Nova York. Os 155 passageiros e tripulantes sobreviveram, graças ao comandante, Chesley “Sully” Sullenberger, que fez uma aterrissagem quase impossível. “Foi realmente um milagre”, diz Leshem, que tentou convencer o discreto piloto a conhecer os sistemas de prevenção de colisão com aves de Israel. Com muitas aves e uma Força Aérea ativa em um espaço aéreo limitado, Israel é mais vulnerável a estas colisões. O pri>>
A POUPA FOI ELEITA, COM 35% DOS VOTOS, A AVE SÍMBOLO DE ISRAEL
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Os pântanos de Hula, onde a malária grassava, foram drenados para neles se erguer fazendas. Mas os custos ambientais ficaram logo evidentes. O solo se deteriorou, as plantas de água doce foram extintas, espécies animais morreram e as aves migratórias forçadas a encontrar outros lugares para se alimentar
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capa | aves migratórias >> meiro acidente grave desse tipo ocorreu em 1974, quando um avião voando sobre o Vale de Hula atingiu um pelicano e o piloto morreu. O acordo de paz com o Egito, em 1979, e a retirada do Sinai, em 1982, impediu a Força Aérea de continuar treinando sobre o extenso deserto, o que limitou ainda mais o espaço aéreo. Ao longo dos últimos 25 anos, a Força Aérea Israelense sofreu mais de três mil colisões aéreas com pássaros, isto é, 258 por ano, a destruição de oito aviões e a morte de três pilotos. Um prejuízo de dezenas de milhões de dólares. “Os pássaros derrubaram mais aviões do que os nossos inimigos”, diz Leshem. Voo com os pássaros Para entender melhor as rotas migratórias das aves, Leshem mobilizou uma rede de seiscentos observadores de pássaros de dezessete países para acompanhar as migrações e relatar com detalhes o que viram. Em Israel, montou 25 postos de observação, e tarefa de cada observador era contar as aves e registrar a direção do voo. Como os observadores não podiam ver as aves que voavam à noite ou fora de seu campo de visão, Leshem conseguiu um velho sistema de radar russo MRL-5 e, claro, um ex-general soviético para operá-lo. Mas embora o radar monitorasse os padrões de voo e a velocidade dos pássaros, era incapaz de identificar as espécies e determinar o tamanho dos bandos. Portanto, Leshem descobriu que o ideal era estar no céu com os pássaros. Para isso, tentou um avião pequeno. Como o barulho assustava as aves construiu um planador motorizado e silencioso, para piloto e passageiro. Agora podia voar entre as aves. Leshem publicou as descobertas na dissertação e explicou que a cada ano as aves migratórias pegavam três “superestradas”. Rastreou onde e quando espécies diferentes voavam, e constatou um padrão segundo o qual cada espécie usava sempre a mesma rota, na mesma altitude e ao mesmo tempo. Existem superestradas semelhantes no Kittatinny Ridge, no leste da América do Norte; as Montanhas Rochosas, no
ACIMA, ISRAEL TEM POTENCIAL PARA DESENVOLVER UMA INDÚSTRIA TURÍSTICA VOLTADA PARA A OBSERVAÇÃO DE PÁSSAROS; ACIMA À DIR.
LESHEM MOBILIZOU CENTENAS DE OBSERVADORES DE PÁSSAROS DE VÁRIOS PAÍSES
oeste e o Vale do Rift, na África Oriental. A partir da pesquisa, recomendou que durante a primavera e o outono fosse proibido voar abaixo dos 3.280 pés em rotas migratórias. “Já que tantos pássaros chegam a Israel, não se pode mudá-los nem convencê-los a alterar a rota. Sabemos exatamente quando eles estão chegando e saindo, a altura que voam e qual a rota.” Em 1985, Leshem lançou a campanha “Take Care, We Share the Airs” (“Cuidado, Compartilhamos os Ares”) para incentivar os pilotos israelenses a evitar as superestradas e criou um sistema de informações em tempo real para os pilotos que no começo ironizaram, mas quando o número de colisões caiu entusiasmaram-se. Anteriormente, colisões com pássaros eram consideradas “um ato de Deus”, diz Nicholas Carter, consultor do Birdstrike Control Program, empresa do Texas que cria sistemas de controle de risco de vida selvagem e de aves. Todos pensaram que procurar estancar as colisões com pássaros seria como “tentar parar o vento”, diz Carter. O trabalho de Leshem provou que essas colisões são evitáveis. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores de Israel, desde 1984 o número de colisões com pássaros caiu 90%. Carter atribui a Leshem – a quem considera o “Jacques Cousteau das aves” – esse conhecimento básico. No quesito “tecnologia de colisão com pássaros”, os Estados Unidos estão quinze anos atrás de Israel e do Panamá, outra rota migratória, diz Carter, que trabalha para as forças aéreas de Israel, Estados Unidos e Canadá na adaptação da tecnologia israelense de interceptação de foguetes por meio de raios infravermelhos para melhorar o rastreamento de aves. Esse trabalho valeu a Leshem o Prêmio Mike Kuhring de 2005 do International Bird Strike Committee e o Prêmio Itzhak Sadé de Escrita Militar em 1994 pelo livro Flying with the Birds (Voando com os Pássaros). O Ministério das Relações Ex-
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teriores estima que as Forças de Defesa de Israel pouparam a vida de muitos pilotos e cerca de US$ 300 milhões em equipamentos. “Um ditado judaico diz que quem salva uma vida, salva o mundo inteiro. Tenho certeza de que salvei mais de uma vida com esses projetos”, diz Leshem Mais do que ocupação, as aves são sua paixão e quer que os israelenses amem estas criaturas extraordinárias tanto quanto ele, que “não tem nada além de pássaros na cabeça”, segundo o diretor de Relações Externas e Desenvolvimento da Spni, Uri Goldflam. “Há muitos ornitólogos em Israel, mas nenhum com a energia e o carisma de Yossi. Falando com ele, a gente também começa a acreditar que tudo gira em torno das aves.” Uma das iniciativas mais bem-sucedidas de Leshem foi a campanha para escolher o pássaro-símbolo para Israel. Em comemoração ao 60º aniversário do Estado, em 2008, promoveu um concurso com duração de cinco meses período em que os israelenses – a maioria estudantes – deveriam escolher a ave que representasse o país. A campanha foi um bem elaborado golpe de marketing. Com 155 mil votos, 35% do total, venceu a pouco atraente poupa, derrotando outros nove finalistas. A poupa – duchifat em hebraico e hud-hud em árabe – é preta e branca com um topete moicano laranja e só aparece na Bíblia na relação de aves “impuras”, ou não kasher. A escolha de um pássaro pequeno e comum surpreendeu. O guia de aves e fotógrafo Lior Kislev ficou triste exatamente porque é uma ave comum e “preferia o abibe-esporado”. A diretora de ecoturismo do kibutz Lotan, Daphna Berger, queria o beija-flor da Palestina, que poderia ser excluída por razões políticas e, por isso, também apostou no abibe-esporado que “é realmente representativo de Israel – um pássaro grande, um tanto agressivo e destemido”. No entanto, a história da poupa no Oriente Médio é rica. No Talmud, a poupa transporta o shamir, o verme milagroso que
pode dividir as pedras do Templo. No Alcorão, a poupa serve como intermediário entre os rivais e amantes rei Salomão e a Rainha de Sabá. O poeta sufi do século 13 Farid al-Din Attar, inspirado na poupa no Alcorão, escreveu um poema épico a respeito da busca da verdade liderado por esta ave. Este escritor, por sua vez, inspirou Salman Rushdie a escolher a poupa como a criatura que conduz o protagonista para cumprir sua missão na novela Haroun e o Mar de Histórias. Leshem está feliz com a escolha da poupa e da publicidade. Em maio de 2008, o velho amigo Shimon Peres anunciou o pássaro vencedor do concurso na residência oficial, em Jerusalém. Leshem conta que Peres, para quem a “ornitologia é um dos principais ativos do nosso pequeno país”, tinha o sobrenome Persky e, em 1945, mudouo quando viu um abutre barbudo (peres, em hebraico) voando alto. O sucesso de Leshem é o seu entusiasmo. “Ele é uma daquelas pessoas bem crescidas, mas se anima como qualquer criança em Chanuká”, segundo Carole G. Vogel, coautora, com Leshem, do livro infantil The Man Who Flies With Birds (O Homem que Voa com os Pássaros). As impressões digitais de Leshem podem ser encontradas em tudo que diz respeito a aves, em Israel, desde a grande procura pela edição limitada de vinho do falcão peneireiro (francelho) a levar Jimmy Carter para observar pássaros, aventura que o ex-presidente dos Estados Unidos conta no livro de memórias. Leshem convenceu a Lufthansa, cujo logotipo é um grou, a doar US$ 140 mil para melhor equipar os transmissores de satélite e mais pesquisas para acompanhamento de aves. A empresa aérea alemã também doou US$ 14.400 para um sistema de alimentação de grous quando param no Vale de Hula. “A cegonha conhece no céu a sua estação, e a rola-brava, o andorinhão e o grou observam o tempo da sua arribação”, segundo Jeremias (Profecias 8:7). Mas, enquanto os antigos israelitas – incluindo o profeta – durante anos pres>>
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capa | aves migratórias >> taram atenção às aves, no Israel moderno poucos perceberam o vasto mundo da vida nos céus. Isso mudou, e observar pássaros é cada vez mais popular, embora Israel ainda esteja muito atrás se comparado a outros países, de acordo com Yoav Perlman, do Centro Ornitológico Israelense. Nos últimos anos, no entanto, o número de pessoas que esquadrinham o céu usando binóculos em busca de aves cresceu exponencialmente, o que Perlman considera uma mudança cultural. “Israel está ficando mais normal e as pessoas têm até tempo para observar pássaros”, diz ele. Corujas, e não pesticidas Para Israel, a observação de aves é um passatempo agradável e que gera recursos financeiros. Estima-se que os observadores de pássaros gastam milhões de dólares com este hobby. “Nas décadas de 1980 e 1990 o país já era um dos principais destinos de observação de pássaros. Na primavera de 2000, havia vinte mil desses observadores na região de Eilat, ou seja, vinte mil pessoas em hotéis, dirigindo carros e em restaurantes. Aqueles foram os anos de glória”, diz Perlman. Os conflitos podem ter interrompido o fluxo de turistas da natureza, mas as aves os estão atraindo de volta. Robert Swann, 63 anos, vive no norte da Escócia e viajou várias vezes a Israel para observar aves. “Você pode ver um grande número de aves em um espaço pequeno”, diz Swann. “Há aves do deserto difíceis de serem vistas em outros lugares, como o bacurau núbio e o canário sírio. Há locais fantásticos de migração para se observar um grande número de pássaros que vêm da Europa.” Dez anos atrás, havia apenas alguns observadores, mas a cada ano o número cresce, e para o guia de aves Lior Kislev, o passatempo vem crescendo em parte porque a internet facilitou encontrar informação instantânea e a conexão com outros observadores. A observação de aves por israelenses ou turistas estrangeiros, desperta mais atenção para o movimento de conservação de Israel, e para projetos em favor dos pássaros. Um dos favoritos de Leshem está no Vale de Hula. Na década de 1990, após as áreas pantanosas terem sido novamente inundadas, a água doce atraiu milhares de grous que começaram a comer as colheitas dos agricultores. Leshem e outros plantam alimentos, como amendoim, longe dos campos cultivados, em áreas onde os grous podem se alimentar. “Agora, os grous gostam de comer amendoins”, diz Leshem. “Eles são como os israelenses: muito barulhentos, gostam de estar juntos e comem amendoim e grão-de-bico.” Os grous agora atraem milhares de amantes de aves para o vale a cada ano. Leshem construiu quinze centros de observação de pássaros em todo o país. Cada um será um destino turístico e estação onde ornitólogos possam estudar e acompanhar as aves, assim como lugar para as aves se reabastecerem. Estes projetos de conservação avançam para além das fronteiras de Israel. “Ao assumir a responsabilidade pelos pássaros,
Israel realmente protege a população de aves da Europa e partes da Rússia”, diz Goldflam, do Spni. “O trabalho da vida de Yossi é importante para o mundo inteiro.” Mas em janeiro passado de 2011, um abutre-fouveiro, com um transmissor e a inscrição “Universidade de Tel Aviv”, aterrissou em uma região rural da Arábia Saudita. Os sauditas acusaram o Mossad de usar o pássaro como espião. As autoridades israelenses explicaram que o abutre era parte de um programa que estuda os padrões migratórios de aves. Os sauditas libertaram a ave. A história desse abutre é reveladora de que os pássaros – ao contrário da maioria das pessoas do Oriente Médio – não estão limitados por religião, ideologia ou fronteiras políticas. Para Leshem, isso significa que as aves podem ser agentes da paz. Ele é autor de um projeto alternativo de uso de pesticidas por agricultores palestinos e israelenses. Em 1983, Leshem colocou quatorze corujas-de-igreja e peneireiros em caixas de ninhadas no kibutz religioso Sde Eliyahu, um dos pioneiros da agricultura orgânica em Israel, de modo a que essas aves de rapina protegessem as lavouras dos roedores, dispensando produtos químicos. A União Europeia deu apoio financeiro de modo a incluir os agricultores palestinos. “O mais difícil foi conseguir convencer os agricultores palestinos, para quem as corujas trazem má sorte, a colocá-las em suas fazendas”, afirma Leshem. Atualmente há milhares de caixas de ninhadas em Israel e cerca de trezentas em toda a Autoridade Palestina, com planos de aumentar para mil. Desta forma, diminuiu a necessidade de uso de pesticidas e aumentou a interação entre agricultores israelenses e palestinos. “Nós realmente pegamos caixas velhas de munição e as transformamos em caixas de ninhadas”, diz Leshem, “em uma nova versão para o versículo de Isaías: ‘Eles transformarão as espadas em arado’. No passado, pensávamos que a pomba traria a paz para o Oriente Médio. Mas confio em que essa tarefa seja da coruja-de-igreja e do peneireiro.”
A partir da pesquisa, Leshem recomendou que durante a primavera e o outono fosse proibido voar abaixo dos 3.280 pés em rotas migratórias. “Já que tantos pássaros chegam a Israel, não se pode mudá-los nem convencêlos a alterar a rota. Sabemos exatamente quando eles estão chegando e saindo, a altura que voam e qual a rota.”
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magazine > a palavra | por Philologos
Mudam os nomes, mesmo objetivo OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NORTE-AMERICANOS E, PORTANTO, OS DE OUTROS PAÍSES, O BRASIL INCLUÍDO, REFEREM-SE AO MOVIMENTO JIHADISTA QUE ASSUMIU UMA GRANDE PARTE DO ORIENTE MÉDIO COMO ISIS, ABREVIAÇÃO DE “ESTADO ISLÂMICO NO IRAQUE E SÍRIA” (NA SIGLA EM INGLÊS)
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as os jornalistas canadenses o chamam de Isil, “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”. A palavra árabe traduzida como “Síria” ou “Levante” é Sham, que designa uma área da qual faz parte Líbano, Jordânia e Israel. Talvez os norte-americanos tenham certeza de que as motivações deste grupo possam ser entendidas a partir da má interpretação dos projetos territoriais implícitos em seu nome. De fato, é uma boa questão, pois o grupo Isis ou Isil tem ajustado o seu nome ao longo dos anos de modo a adequá-lo ao próprio sentido evolutivo. Em 2006, depois de adotar e descartar vários nomes anteriores, o movimento decidiu se chamar Dowlat el-Iraq el-Islamiya, “o Estado Islâmico do Iraque”. Em abril de 2013, mudou para el-Dowlah el-Islamiya fi’l-Iraq wa’lSham (o “l” antes de ambos Dowlah e Sham é mudo), “o Estado Islâmico no Iraque e Síria [ou no Levante]” e, há dois meses, o nome foi alterado novamente para el-Dowlah el-Islamiya, “o Estado Islâmico” (IS). Desta forma, nota-se que frequentemente elimina a ênfase nas fronteiras nacionais de acordo com a sua ideologia pan-islâmica, que considera a divisão do mundo muçulmano em estados nacionais independentes, uma subversão, portanto, dos objetivos originais. A utilização de Isis ou Isil para Sham, no lugar de Suriyya ou Síria se encaixa nessa tendência, pois Sham, em árabe, quando não é usado como sinônimo de Damasco, a capital tradicional da região, representa uma vasta área geográfica, em vez de um país específico e com fronteiras claramente definidas. Quando os árabes falam de bilad el-sham ou “as terras de Sham”, ou de alguém ou algo que é shami ou pertence a essas terras, têm em mente os países da costa oriental do Mediterrâneo e seu interior imediato, tanto quanto o grande Deserto da Arábia – em outras palavras, Líbano, Israel ou Palestina, e grande parte da atual Síria e Jordânia. Iraque, Egito e Arábia Saudita, e menos ainda o Norte de África e o Golfo Pérsico, não fazem parte das terras de Sham, que dividem, além de sua proximidade física, uma cultura comum em culinária, folclore e seu dialeto árabe. Será que Sham tem algo a ver com o Shem bíblico, filho de Noé, a partir do qual as palavras “semita” e “semítico” vieram? Embora os estudiosos digam que não, não tenho tanta certeza. Pode não haver nenhuma maneira de ligar definitivamente Sham a Shem ou Shem a Sham, mas muitos dos nomes pessoais nas genealogias do Gênesis são, também, nomes de locais ou étnicos. O filho de Shem, Ashur, por exemplo, é o suposto pai da Assíria e dos assírios (a origem da palavra Síria), enquanto o segundo filho, Arã, é o suposto pai dos arameus. E suspeito que Shem também foi uma figura topo-
nímica. E embora não se conheça em hebraico um lugar ou povo chamado Shem ou shemiano, o nome poderia ter sobrevivido em árabe como Sham e Shami. Em sua imprecisão, “Levante” pode ser, provavelmente, melhor tradução de Sham do que “Síria”. A palavra é originalmente francesa, a partir do verbo reflexivo se lever, “levantar-se”, que produz le lever du soleil ou “nascer do sol”; Le Levant é, portanto, a direção do sol nascente, isto é, a leste. É um paralelo de “Oriente”, que vem do verbo latino orior, “subir”, e de seu derivado oriens, o “sol nascente”. Até o final do século 19 ou início do 20, “Orient” em inglês designava os mesmos países do Mediterrâneo Oriental que “the Levant”, às vezes até mesmo incluindo Grécia e Turquia. Só mais tarde é que passou a significar Extremo Oriente, em vez de Oriente Médio, de modo que “oriental” tornou-se uma forma de dizer não o árabe, mas o chinês e/ou o japonês. Quanto ao adjetivo “levantino”, embora continue a se referir ao leste do Mediterrâneo, a palavra assumiu uma coloração pejorativa e começou a sugerir uma versão deturpada de um Leste anteriormente mais autêntico, uma mistura desfavorável de traços europeus e árabes, no ponto em que as duas culturas se encontram. E, ainda assim, é preciso dizer que “Síria”, também, já significou mais do que a entidade política em que o Isis ou Isil luta agora. O termo não só inclui Líbano, Palestina e Jordânia no tempo dos romanos, mas na acepção árabe também, até o estabelecimento do Estado moderno da Síria, tirado das ruínas do Império Otomano após a Primeira Guerra, foi sinônimo de Levante. Ao longo da primeira metade do século 20, os nacionalismos libanês e palestino tiveram de lidar com a crítica pan-arábica de que havia uma “Grande Síria” em que tanto Palestina como o Líbano deveriam ser incluídos. Mesmo que não coincidam mais, Suriyya e Sham já significaram praticamente a mesma coisa em árabe. Isis, Isil, ou simplesmente IS é a mesma organização e, como o Ocidente aprendeu muito bem nas últimas semanas, não é uma entidade que possa ser menosprezado.
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magazine > cinema | por Julio Nobre
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cena chamava a atenção pelo ineditismo. Ali estavam Pixinguinha e seus companheiros da velha guarda – os lendários Donga, Almirante, Bide, João da Baiana, Lentini, Benedito Lacerda, Mirim, Alfredinho e outros bambas. Vestidos impecavelmente, como era o costume há pouco mais de sessenta anos, interpretavam “Patrão, Prenda seu Gado”, de autoria do próprio Pixinguinha, João da Baiana e Donga. Foram dez minutos apenas, e do mais puro encantamento para quem estava acostumado a ouvir o grande mestre do chorinho brasileiro. Na entrevista de Farkas ao diretor e roteirista Ricardo Dias, ficamos sabendo que o fato se deu meio por acaso. Era 25 de abril de 1954 e a cidade de São Paulo estava tomada pelas comemorações do quarto centenário. O Parque do Ibirapuera havia sido criado muito recentemente e receberia um show de Pixinguinha e a velha guarda. Com a câmera a tiracolo, lá se foi o jovem fotógrafo Thomaz Farkas registrar aquele momento. A cena foi toda filmada em 16 mm e ficou esquecida em meio a dezenas de negativos até ser resgatada, décadas depois, pelo próprio Farkas durante uma arrumação. O “filminho do coração”, como o fotógrafo e cineasta se referia ao
Pixinguinha, em movimento O CANAL CURTA! EXIBIU O DOCUMENTÁRIO PIXINGUINHA E A VELHA GUARDA DO SAMBA, DE THOMAZ FARKAS (1924-2011), UMA VERDADEIRA PÉROLA E UMA DECLARAÇÃO DE AMOR À MÚSICA E À CULTURA POPULAR DO BRASIL curta, trazia no final uma cena típica de família – os filhos de Thomaz, ainda pequenos, na banheira. Copiado e ampliado, o filme foi sonorizado pelo Instituto Moreira Salles e a Cia. de Áudio e Imagem em parceria com o também diretor Ricardo Dias. Como o filme trazia apenas as imagens, sem som, os dois fizeram uma pesquisa minuciosa para localizar um registro de “Patrão, Prenda seu Gado” de modo a se encaixar o que se via no filme. Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba faz parte da caixa de dvd’s “Projeto Thomaz Farkas”, uma coletânea do importante papel do fotógrafo, cineasta e empresário como produtor de cinema, patrocinando jovens talentos como Geraldo Sarno, Paulo Gil Soares, Sérgio Muniz, Maurice Capovilla, Eduardo Escorel, Manuel Horácio Gimenez, Guido Araújo, Roberto Duarte e Miguel Rio Branco – um verdadeiro mergulho na cultura popular do Brasil profundo numa série de documentários realizada entre os anos 60 e 70. No dvd dedicado à obra do próprio Farkas, estão os documentários Hermeto, Campeão (1981), Paraíso, Juarez (1971) e Todomundo (1980), um eletrizante retrato do futebol brasileiro. A caixa “Projeto Thomaz Farkas”, com sete dvd’s, é um lançamento da Videofilmes.
PIXINGUINHA E A VELHA GUARDA DO SAMBA, NA LENTE DE
THOMAZ FARKAS (ACIMA)
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magazine > costumes e tradições | por Joel Faintuch
Desentendimentos judaicos BRIGAS, CONFLITOS E DESAVENÇAS SÃO TÃO INERENTEMENTE HUMANOS QUANTO O AMOR E CARINHO, E OBVIAMENTE TÃO ANTIGOS QUANTO. SÓ QUE NÃO SE CONSTITUEM EM UM BOM TEMA LITERÁRIO, A NÃO SER PARA APIMENTAR NOVELAS E FILMES
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s temas citados acima tampouco fazem o bom nome de nenhuma etnia, muito menos da israelita que se orgulha da tradição de paz, justiça, caridade e harmonia social entre os próprios correligionários e também no concerto das nações, e também com palestinos, árabes e muçulmanos em geral, apesar de grande parte da imprensa insistir em caracterizar Israel como cruel, agressivo e belicista. Em praticamente todos os países do mundo onde existem judeus, estes estão na faixa populacional de menor criminalidade. Houve poucos mafiosos judeus em Nova York, e nas prisões israelenses viceja uma fauna de pequenos e grandes malfeitores nativos; no entanto, o país ainda tem uma das mais baixas taxas de homicídio do planeta. O que não exclui os atritos do dia-a-dia. Especialmente na época das Grandes Festas (Iamim Noraim, os Dias Temíveis), quando todos querem aparecer bem na fotografia. O que vou contar ocorreu no Bom Retiro há sessenta anos, numa época em que as sinagogas não tinham ar-condicionado nem um simples ventilador de teto. As senhoras se precaviam com leques para vencer a temperatura alta num ambiente onde o ar circulava com dificuldade. Dias antes das festividades, uma dessas senhoras passou na loja do Menachem, e perguntou o preço de um bonito leque. Achou caro, pediu algo mais barato, mas a segunda opção ainda era cara e depois de muita conversa, Menachem vendeu um leque por alguns trocados. Logo após Rosh Hashaná, a senhora voltou à loja e já foi interpelando o Menachem. – O leque que me vendeu quebrou na primeira vez que usei. Passei um Rosh Hashaná horrível. E agora, como faço para Iom Kipur? – Como a senhora utilizou o leque? – Não entendi a pergunta. Ora, como todo mundo, abri o leque e me abanei de um lado e do outro. – Aí está o problema. No caso de um leque tão baratinho como o este, a técnica é outra: segure o leque parado e abane a cabeça de um lado para o outro. Como seria uma rixa tipicamente judaica, afinal? Há dois mil anos a Mishná e a Gemará já registravam muitos episódios de machaloket, ou divergências. A mais famosa e que se estendeu por séculos, ocorreu entre Beit Hilel e Beit Shamai. Os grande sábios Hilel Hazaken (Hilel, o Velho, 60 antes da Era Comum / 9 da Era Comum) e Shamai (50 antes da Era Comum / 30 da Era Comum) conquistaram enorme reputação pelas interpretações espertas e bem fundamentadas das escrituras, mas geralmente an-
tagônicas. Enquanto Hilel procurava atenuar o rigor da lei, facilitando o cumprimento dos mandamentos (mitzvot) e tornando mais flexíveis possíveis infrações, Shamai defendia uma linha mais dura, com preceitos rígidos para todos os aspectos da vida diária. Ambos deixaram respeitáveis discípulos que mantiveram os atritos acesos ao longo dos tratados do Talmud. Formam eles justamente a escola de Hilel (Beit Hilel, “Casa de Hilel”) e a escola de Shamai (Beit Shamai, “Casa de Shamai”). Nos séculos seguintes à compilação do Talmud, autoridades como o Rambam (Maimônides) e os autores do Shulchan Aruch (“Mesa Posta”) definiram a Halachá (código legal), prevaleceu a linha de Hilel, com apenas quatro casos de machaloket (conflito) e vitória da interpretação da escola de Shamai. Há registros ainda mais antigos de conflitos e rebeldias. No livro de Números (Bamidbar) consta a sublevação de Korach e família contra a autoridade do líder Moisés, muito além de pura retórica, mas uma cisão, um brado por uma guerra de secessão com um desfecho trágico: ocorreu um terremoto, a terra se fendeu e Korach e seguidores foram tragados no abismo. Deve-se daí concluir que o judaísmo abomina provocações? Uma velha história reafirma que para cada dois judeus existem três opiniões, e do encontro de três judeus se originam cinco partidos políticos. No capítulo de Pirkei Avot (Ética dos Pais), lê-se: “Kol machaloket shehi leshem shamaim, sofá lehitkaiem.” (“Toda desavença bem intencionada é válida e sobreviverá.”) Claro, existe a posição contrária, condenando brigas maldosas e pecaminosas. A fartura de exegetas (intérpretes) em todas as sagradas escrituras, desde Rashi (1040 - 1105), Ibn Ezra (1093 - 1167), Rambam (1135 - 1204), Ramban (1194 - 1270) e Bartenura (aproximadamente 1450 - 1500), até outros menos conhe-
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AVIÕES ISRAELENSES SEM IDENTIFICAÇÃO AGUARDAM O EMBARQUE DE CENTENAS DE IEMENITAS NO
cidos, indica choques de visões entre os comentaristas. Um exemplo é a sentença em Gênesis (Bereshit, 12) “os canaanitas estavam então no país”, referindo-se à chegada do patriarca Abrahão à Terra Prometida. Se aquela era a Terra de Canaã, eles deveriam estar lá há muito tempo, não somente “então”. Não é o caso de se debruçar aqui sobre a machaloket, e apenas apontar que atravessou gerações. Pouco depois da criação do Estado de Israel e ainda com gravíssimos problemas econômicos e estruturais, uma das prioridades foi oferecer um lar para as comunidades judaicas ameaçadas de extinção. Um caso típico foi a operação “Tapete Mágico” (1950), que resgatou a bela e triste comunidade do Iêmen. Bela, porque era uma das mais antigas e tradicionais, datando de tempos bíblicos ou cerca de 2.500 anos. E triste, pois vivia em condições deploráveis, perseguida e sem futuro. O imam do Iêmen (sultão) Ahmad bin Yahia aprovou a saída deles mas a imigração deveria ser secreta em razão das fortes agitações nacionalistas e antiocidentais, e o povo e as tropas hostis poderiam atacar os judeus se soubessem do acordo. Assim foi montada uma ponte aérea a partir de um campo de pouso na capital, Áden. Cerca de 49.000 pessoas foram transportadas dia e noite em cerca de 380 voos. Os aviões viajavam lotados e as pessoas se sentavam no piso, banheiro e onde houvesse algum mínimo espaço. Eram aviões de transporte, sem identificação israelense para maior segurança e capacidade para algumas dezenas de passageiros, mas viajavam com mais de 130 em média. Quando os primeiros voos aterrissaram para recolher os iemenitas, conta-se que surgiu uma séria machaloket. Muitos judeus iemenitas foram trazidos de fora da capital, e as condições nas vilas eram medievais. Não havia qualquer infraestrutura nem informações do mundo exterior e os únicos veículos eram o jumento e o camelo. Passados tantos anos a si-
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tuação pouco mudou nesta porção da Península Arábica, ainda a região mais miserável do Oriente Médio, apesar de o geógrafo romano Ptolomeu (85-165) a considerasse a Arábia Feliz, porque ao contrário do resto do deserto lá as chuvas são regulares. Não havia como fazer os iemenitas entrarem naquela máquina reluzente de duas asas, bico e cauda que transmitia uma visão apavorante. Para os pilotos e assistentes sociais israelenses o momento era desesperador, e todos começaram a ficar irritados. O cronograma de viagens deveria ser cumprido à risca, pois qualquer adiamento ou remanejamento poderia causar a anulação do acordo com o imam, ou pior, a um sangrento ataque contra as aeronaves e a população indefesa. Consta que um desses israelenses era religioso e carregava um Chumash (Pentateuco). Procurou o rabino iemenita e abriu no capítulo 19 de Exodus (Shemot), onde se relata “Vaessá etchem al kanfei nesharim vaavi etchem elai.” (“Eu os transportarei sobre asas de águias e os trarei para mim.”). O rabino prontamente reconheceu a passagem bíblica. Pensou um instante, e determinou a toda a congregação que o seguisse: “Venham todos atrás de mim. Eu e minha família seremos os primeiros a embarcar”.
Uma velha história reafirma que para cada dois judeus existem três opiniões, e do encontro de três judeus se originam cinco partidos políticos. No capítulo de Pirkei Avot (Ética dos Pais), lêse: “Toda desavença bem intencionada é válida e sobreviverá.”
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magazine > viagem | por Texto e fotos Flรกvio Bitelman
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Berlim, uma cidade civilizada NOSSO PUBLISHER FEZ UMA VIAGEM DURANTE O VERÃO A BERLIM, ONDE FLAGROU FURTIVAMENTE, COM A AJUDA DO CELULAR, A RICA DIVERSIDADE HUMANA DE UMA CIDADE QUE TEVE UM PAPEL FUNDAMENTAL NO SÉCULO 20
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lhem bem para a mulher da foto ao lado, toda arrumada: em minutos ela vai emergir do metrô para a superfície e usar como meio de transporte o patinete aos seus pés. Ela é uma dos 3,5 milhões de habitantes de uma cidade onde, há quase setenta anos, sua população deixava os porões dos edifícios em ruinas e via uma das joias do primeiro quarto do século passado devastada pela guerra. Berlim foi, aliás, várias vezes destruída, e a guerra dos trinta anos, de 1618 a 1648, por exemplo, não deixou pedra sobre pedra Esta mulher se junta a milhares de outras pessoas que se valem de uma fantástica rede de serviços públicos de 147 quilômetros de metrô, 331 de trem, 192 quilômetros de bonde, 1.626 de ônibus e seis linhas de barco no rio Spree. Uma cidade com 715 bicicletas para cada mil habitantes. Em agosto último fiz a quarta visita a Berlim: a primeira, em 1980, dez anos antes da queda do Muro que marcou a reunificação da cidade. Depois, voltei em 2011 e 2013. Nestas viagens, a passeio e a trabalho, conheci os locais que, infelizmente, a historiografia do nazismo nos sugere descobrir como Tiergarten, Unter den Linden, Alexanderplatz, o Reichstag, o Portão de Brandenburgo e, ao seu lado, o Memorial do Holocausto, entre outros. Desta vez, também queria observar e fotografar as pessoas no cotidiano. Para isso, deixei a câmera cuja objetiva pode amedrontar e espantar, e me vali da tecnologia de alta resolução embutida nos modernos celulares. Eu era mais um nas entranhas da cidade, ou nos trens, bondes e barcos, mas cujo celular estava programado para registrar gente envolvida consigo mesma, fechada em seu mundo, absorta sabe-se lá em que pensamentos. São imagens que dispensam legendas e explicações. Cabe ao leitor interpretá-las. >> Boa viagem.
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magazine > viagem
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magazine > aventura | Texto e fotos Bernardo Lerer
Um deserto fantástico,
SITUADO A 2.300 METROS DE ALTITUDE, SAN PEDRO DE ATACAMA É UM DOS DESTINOS MAIS PROCURADOS NO CHILE. ENTRE OS ATRATIVOS, O DESERTO MAIS ÁRIDO DO PLANETA E PAISAGENS DE TIRAR O FÔLEGO
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aqui ao lado A
EIS A PAISAGEM QUE SE VÊ DA GIGANTESCA JANELA QUE OCUPA UM LADO DO QUARTO DO HOTEL
TIERRA ATACAMA
rua Caracoles (“caracóis”, em espanhol) é uma reta de cerca de duzentos metros no fi nal da qual, à esquerda, se alcança a igreja de San Pedro, construída em 1548. Do largo da igreja sai uma viela estreita onde funciona um mercado, um shuk igual àqueles do Oriente Médio. Pela rua Caracoles só passa gente: de todo o mundo, de todos os falares, dos mais diversos gostos e dos olhares mais estranhos encravados em cabeças de quem parece andar meio sem destino, seja dia ou noite. Ostentam uma atitude contemplativa, talvez em busca de algo perdido nesta rua de San Pedro de Atacama, porta de entrada para o deserto, no norte do Chile, a parte mais larga daquele estreito país. As tantas línguas são de muita gente querendo saber e conhecer como é possível existir o deserto mais árido onde em algumas regiões nunca choveu, a mais de 2.300 metros de altitude e no sopé de vulcões e montanhas cobertas de gelo. Como é possível lagos no meio destas formações e em pleno deserto? Como é possível variar tanto de temperatura bastando andar apenas algumas centenas de metros? Como é possível montanhas sem nenhuma vegetação, mas coloridas, como se as terras e rochas que as cobrem tivessem sido pintadas? O fato é que o Chile se aproveita – bem, e em todos os sentidos – do deserto. À margem de um trecho da estrada que liga o Pacífico ao Atlântico, é proibido estacionar e entrar, pois lá se constrói o Observatório Europeu do Sul, o maior telescópio óptico do mundo, com o qual poderão ser vistos planetas que orbitam estrelas distantes. Os turistas são levados a passeios de dia e à noite, à luz da lua, por guias experimentados que parecem conhecer as pedras dos caminhos. Nas partes elevadas dos Valles de la Luna e de la Muerte em noites sem nuvens, que são quase todas as noites, tem-se a impressão de que o céu é transparente e cujas estrelas podem ser apanhadas com as mãos. É preciso fôlego e boa disposição para as longas caminhadas por esta região alta, seca, escura, maravilhosa e de ar muito calmo. Os flamingos “pastam” em lagoas de água salobra, terra e sal se confundem nas planícies, foram contados cerca de quatro mil vulcões entre ativos e inativos, mas todos com as bordas cobertas de neve e os terremotos fazem parte das histórias da paisagem e das vidas das pessoas e servem de referência cronológica. É, enfim, uma viagem inesquecível, e a poucas horas de voo.
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magazine > aventura O Salar de Atacama é o quinto maior do mundo, tem quase cem quilômetros de comprimento por oitenta de largura e uma das atrações é o fantástico pôr-do-sol, e explica porque os turistas visitam a parte central do salar pouco antes do final do dia para apreciar o contraste do céu cor-de-rosa com a brancura da planície. Há passeios de bicicleta às lagunas das imediações de San Pedro de Atacama e um deles, de onze quilômetros, vai até a Laguna Cejar, impossível de ficar de pé, e densa como o Mar Morto. Os salares, no Chile e na Bolívia, contêm cerca de 75% das reservas mundiais de lítio, matéria-prima das modernas baterias Da série “como é possível”, os turistas se perguntam o que fazem flamingos na Laguna Chaxa, a quase 2.500 metros acima do nível do mar. Mas os especialistas dizem que conseguiram se adaptar à altitude e se alimentam dos depósitos de minerais na parte pantanosa das lagunas. Nos Andes vivem três espécies de flamingos, entre eles o James, que se acreditava extinto até uma colônia deles ser descoberta, em 1956. Os turistas só podem caminhar por trilhas delimitadas e a entrada de alimentos é proibida. Fumar, também
O primeiro terremoto registrado no Chile data de 1570 e provocou um tsunami. De lá para cá foram dezenas deles cujas consequências se observam nas paisagens. “As paisagens foram se alterando na razão direta de cada terremoto”, explicam os guias e parecem se encantar com as cores das pedras a cada visita que fazem a estes locais que provavelmente conhecem melhor do que as casas onde vivem. “Vejam, esta duna não existia até o terremoto de dezembro de 2007, de 6,7 graus na escala Richter”, conta em meio a um grupo de turistas que escala uma elevação de quase cem metros por uma trilha que mistura arenito, liparita, pedra e areia vulcânica, e de cujo cume se avista uma paisagem lunar ou marciana, ao gosto astronômico de cada um
No local, há uma pequena piscina natural de água a quase quarenta graus Celsius e interessante proposta de choque térmico. Há umas poucas cabines bem ao lado e de onde as pessoas saem e entram correndo, e que funcionam anexas a uma espécie de cabana cujos vidros estão cobertos de adesivos, a maior parte deles de tribos de motociclistas brasileiros que viajam em grupos aproveitando a boa rede de rodovias na Argentina e no Chile
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Esta é a estrada que liga o porto de Antofagasta, no Chile, a Buenos Aires, na Argentina, e que motoristas consultados não sabem a distância exata de uma cidade a outra por esta via. “É a soma dos quilômetros de várias estradas em cada país”, dizem eles. A unanimidade deles sugere cerca de 1.300 quilômetros excepcionalmente bem conservados e sinalizados percorridos também por caminhões que trazem carga do Brasil e recolhem do Chile e da Ásia, no porto chileno. E por grupos de motociclistas brasileiros
Até há algum tempo os visitantes podiam se aproximar para ver de perto esta formação rochosa a que os nativos deram o nome de Três Marias. Mas muitos se apoiavam em uma delas para aparecer na foto, a da ponta, que não resistiu. E lá se foi por terra um milhão de anos de história geológica. A partir de então pedras no chão delimitam a área até onde os turistas podem chegar. Os guias contam que, apesar disso, um visitante correu para perto de uma das Marias para ser fotografado ao lado dela, mas acabou apedrejado – e ferido, sem gravidade – pelos outros
As muitas empresas de turismo organizam passeios de bicicleta com toda infraestrutura, desde alimentação até o descanso em pousadas ou vans. Neste caso, são pelo menos dois dias e dezenas de quilômetros pedalando. De modo geral, no entanto, os turistas preferem fazer esta viagem sozinhos ou em pequenos grupos pelos trechos planos dos salares do Atacama, como nesta foto da solitária norueguesa e toda a sua bagagem
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magazine > aventura Ao longo da estrada que liga o Atlântico ao Pacífico existem pequenas cidades como Toconao, por exemplo, com população inferior a mil habitantes. As mulheres cuidam das três lojas que atendem os turistas. Os homens trabalham nas minas de lítio da região. As casas, como todas da região, são construídas com pedra vulcânica. O campanário da igreja de São Lucas data de 1750 e foi erguida com pedra de liparita O Lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia, é um gigantesco mar interior, no meio dos Andes, assim como estas lagunas, bem menores, no Chile, às quais os turistas estão proibidos de sequer se aproximar e muito menos alimentar as lhamas que pastam por lá. Conta-se que funcionários de uma mineradora americana, que até os primeiros anos da década de 1970 explorava lítio da região, tinham um grande barco de passeio, afundado pelos mineradores chilenos na onda nacionalista da época. O contraste da água com o cume nevado dos vulcões é maravilhoso O Valle de la Luna e o Valle de la Muerte foram declarados santuário da natureza, formam uma depressão de quatrocentos quilômetros quadrados e elevações de até quinhentos metros. Do dia para a noite, a temperatura pode variar até dezoito graus. O silêncio é absoluto e não se ouve nem o vento que parece ter cumprido sua tarefa, de ao longo de milênios, modelar cânions e figuras estranhas nas pedras. Não há flora nem fauna. É muito seco. Com muita sorte se pode deparar com um exemplar de lagartixa de Fabian, da família das iguanas e típica dos salares andinos O jornalista Bernardo Lerer viajou a convite do Tierra Atacama Hotel & Spa (www.tierraatacama.com) e da companhia aérea Sky Airline (www.skyairline.cl)
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leituras magazine
por Bernardo Lerer
A Segunda Guerra Mundial Martin Gilbert | Leya e Casa da Palavra | 976 pp. | R$ 89,90
Com o subtítulo “Os 2174 dias que Mudaram o Mundo” o autor, um dos mais importantes historiadores da Shoá, faz com maestria o que se propõe: escrever uma espécie de diário da guerra relatando o que aconteceu na manhã, tarde e noite de um determinado dia em todos os pontos onde houve batalhas. A ênfase dele, no entanto, é no relato dos dramas pessoais, principalmente das vítimas civis, a maioria entre as dezenas de milhões de mortos, e a inclusão da narrativa do genocídio com características industriais perpetrado pelos nazistas. É uma nova releitura do conflito mundial.
Garoto Zigue-Zague David Grossman | Companhia das Letras | 414 pp. | R$ 30,00
Este livro fascinante fala de Nono, que acaba de fazer bar-mitzvá e ganha do pai uma viagem de trem de Jerusalém a Haifa, mas ele nunca vai chegar ao destino porque conhece Felix Glick, sujeito de aparência suspeita, com quem vai traçar um roteiro de fantasia e suspense que o fará entrar em contato com segredos e memórias do passado da família, investigar a própria identidade e se perguntar, pela primeira vez “quem sou eu?”, “de onde vim?” e “para onde vou?”.
A Dança dos Deuses Hilário Franco Junior | Companhia das Letras | 433 pp. | R$ 67,00
Com o subtítulo “Futebol, Sociedade e Cultura”, o autor, professor de história social da USP, revela como o futebol, no Brasil, é muito jogado e pouco estudado e sugere que a limitada produção intelectual a respeito do tema pode estar associada ao fato de que, em sua aparente simplicidade, o futebol esconde um universo complexo. Ele quer provar que o futebol é um fenômeno cultural total cujas vastas relações iluminam a prática do esporte e faz entender melhor sociedade em que vivemos.
Militares e Militância Paulo Ribeiro da Cunha | Editora Unesp | 295 pp. | R$ 40,00
Para quem se interessa pela política brasileira um pouco além das pesquisas eleitorais e de quem vai apoiar quem nas eleições deste mês é importante ler o trabalho do autor, considerado o mais importante pesquisador da presença da esquerda nos quartéis que ele analisa neste livro no qual evidencia a efetiva participação de militares de esquerda, seja simplesmente como simpatizantes ideológicos ou membros efetivos de partidos políticos, desde a fase insurrecional, do final do século 19, até a fase da intervenção militar nas causas nacionais, de 1945 a 1964.
As Mulheres do Nazismo Wendy Lower | Editora Rocco | 286 pp. | R$ 34,50
Depois de pesquisar cerca de vinte anos, a autora se julgou em condições de escrever a respeito do papel das jovens nascidas em uma Alemanha derrotada e humilhada pela Primeira Guerra e tomadas por um fervor nacionalista: professoras, enfermeiras, esposas, amantes, secretárias, assistentes sociais, e outras que viam na expansão do império nazista uma oportunidade de carreira e casamento, e que participaram dos saques e da brutalidade contra os judeus nos guetos, dos piqueniques nos campos de concentração e dos assassinatos em massa.
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Direto de Paris Milton Blay | Editora Contexto | 221 pp. | R$ 34,90
Com o subtítulo “Coq au Vin com Feijoada”, o jornalista Milton Blay, atualmente correspondente do grupo Bandeirantes em Paris, conta histórias dos 35 anos que vive na Europa e as coberturas que realizou desde o primeiro trabalho na rádio Jovem Pan, junto com o saudoso Reali Junior. Nesse período também foi redator-chefe da Radio France Internationale e presidente da Associação da Imprensa Latino-Americana na França além de ter concluído o mestrado e doutorado em economia e política pela Universidade de Paris 3. É um livro saboroso de ler também pelo fato de partes da história do Brasil passam por ele.
Pensar com os Pés Allan Percy | Sextante | 123 pp. | R$ 19,90
A Copa do Mundo no Brasil, encerrada há já três meses, fez ressurgir a vasta bibliografia cujo tema é o futebol, e um deles é do mesmo autor de Nietzsche para Estressados, Kafka para Estressados e outros, de autoajuda e desenvolvimento pessoal. Neste, ele trata de cinquenta máximas do mundo do futebol a respeito de temas essenciais como autoestima, desenvolvimento pessoal, carreira, relacionamentos, gerenciamento do tempo e até alimentação.
Intérpretes do Brasil Luís Bernardo Pericás e Lincoln Secco (org.) | Boitempo Editorial | 415 pp. | R$ 58,00
O subtítulo é “Clássicos, Rebeldes e Renegados” e reúne uma coleção de ensaios que representam guia fundamental para entender e conhecer os mais influentes pensadores brasileiros do século 20 e manual básico para estudar a história intelectual e moderna do Brasil. Por isso, estão ali estudadas gente como Leôncio Basbaum, Jacob Gorender e Maurício Tragtenberg para citar apenas os judeus, além de Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Freire, Celso Furtado, Florestan Fernandes, e outros. Leitura obrigatória para ajudar a entender o Brasil de hoje.
O Soprador Michel Gorski e Silvia Zats | Terceiro Nome | 148 pp. | R$ 38,00
Este é o terceiro livro em coautoria de Michel, arquiteto, e Silvia, cineasta, e conta a história do padeiro Berko, que sobrevive ao Holocausto porque tornou-se um mestre no ofício aprendido com os antepassados na fabricação do bialy kuchen, pãozinho tradicional que fez parte da comunidade judaica de Bialystok, no nordeste da Polônia, e que em 1980 ele ainda continua produzindo na Argentina, para onde imigrou e, naqueles dias, vive as agruras da ditadura militar.
O Melhor Guia de Nova York Pedro Andrade | Rocco Editorial | 263 pp. | R$ 59,50
Quem assiste todos os domingos a “Manhattan Connection” gostaria de conhecer pelo menos 10% do que Pedro, ex-modelo de passarelas e contratado da Gucci, conhece daquela cidade, e avançar além dos limites das mais suas mais conhecidas avenidas. Ele acha que quem sabe viajar, viaja antes, durante e depois da viagem. Pedro mora em Nova York desde 1997 quando desembarcou na estação de trem, vindo de uma cidadezinha da Virginia onde fazia curso de intercâmbio. A leitura deste guia é tão importante quanto fazer as malas para viajar.
Necrotério Patrícia Cornwell | Paralela Editora | 381 pp. | R$ 34,90
A autora criou a personagem Kay Scarpetta, médica legista heroína de dezoito livros, todos best-sellers, que retorna à mesma base aérea de Dover onde, vinte anos antes, começou a carreira. Desta vez, é o caso de um jovem soldado que teria morrido de arritmia cardíaca, perto da casa dela em Cambridge, Massachusetts. Mas descobriu que estava vivo, mas com ferimentos incomuns, quando foi colocado na geladeira do necrotério. Ela acredita que se trata de uma conspiração provocada por um inimigo cruel e invisível capaz de provocar mortes em massa.
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músicas magazine
por Bernardo Lerer Ruslan and Lyudmila Philips | R$ 239,90
Uma as obras-primas da música russa, esta ópera mágica em cinco atos só poderia mesmo ser executada pela Orquestra de São Petersburgo e o Coro Kirov. Esta é a segunda ópera de Glinka, escrita a partir de um conto de Alexander Pushkin e cujo libreto foi redigido em quinze minutos por Konstantin Bakhturin que, consta, estava bêbado na ocasião. Glinka influenciou seus músicos e principalmente criou um padrão que se veria mais tarde reproduzido na obra do Grupo dos Cinco que se reunia em São Petersburgo entre 1856-1870: Mily Balakirev, Cesar Cui, Modest Mussorgsky, Nicolai Rimski-Korsakov e Alexander Borodin.
Piano Music for Children Naxos | R$ 29,90
A pianista turca Idil Biret executa 43 composições curtas: as treze cenas infantis escritas por Schumann; outras treze de Tchaikovsky conhecidas como Álbum para os Jovens e quinze de Debussy, O Cantinho das Crianças. Muito a propósito, a ilustração da capa é uma pintura de Idil aos 13 anos. As peças foram escritas na fase adulta dos compositores também como uma forma de transmitir os seus conhecimentos aos mais jovens.
Il Corsaro Giuseppe Verdi | Decca | R$ 145,90
Gravado em 1976, e remasterizado, é uma das grandes interpretações dessa ópera de Verdi, pois junta cantores como José Carreras, Clifford Grant, Jessye Norman e Montserrat Caballé, entre outros, mais o Ambrosian Chorus e a New Philarmonia Orchestra, regida por Lamberto Gardelli. A ópera é em três atos, baseada em um poema de Lord Byron e estreou em outubro de 1848 no Theatro Grande de Trieste.
Italian Clarinet Suites Naxos | R$ 62,90
Para quem pensava que as boas obras para clarineta de compositores italianos se limitavam à produção de Ferrucio Busoni, esse cd apesenta outros três: Alessandro Longo, Antonio Scontrino e Giuseppe Frugatta. As composições reafirmam uma espécie de compromisso da tradição com a modernidade e que se revela no impressionismo típico de Debussy em Antonio Scontrino ou as influências românticas presentes na suíte de Frugatta.
Sacra all’Opera Fabula Classica | R$ 24,90
A sacralidade faz parte do mundo da ópera e isso fica claro nos libretos de algumas delas que contêm um milagre. O selo italiano Fabula Classica escolheu onze trechos de óperas que tratam de temas, digamos, sagrados, como, por exemplo, o “Miserere”, em Il Trovatore, de Verdi, o “Te Deum”, na Tosca, de Puccini, o “Angelus Domini”, em La Gioconda, de Amilcare Ponchielli, e a “Ave Maria”, em Otello, de Verdi, entre outras.
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Concierto de Aranjuez Joaquín Rodrigo | Decca | R$ 72,90
O violonista Pepe Romero é possivelmente um dos maiores intérpretes da obra de Joaquín Rodrigo e principalmente de suas peças mais conhecidas, o Concerto de Aranjuez e Fantasia para um Gentilhombre, esta mais bonita do que aquela. Ele é acompanhado pela orquestra da Academia de Saint Martin in the Fields, mais um violino e um corno inglês. A gravação original é de 1994 e foi remasterizada para este cd.
Mstislav Rostropovich Warner Music | R$ 27,90
Rostropovich foi um dos maiores violoncelistas do século 20 e vários compositores dedicaram obras para as interpretações que faziam e que serviram de guia para os alunos do instrumento, como se os professores dissessem: “É assim que se toca”. Mas é difícil segui-lo na técnica magistral e na via que dava às execuções das peças, como se pode ver nas sete primeiras faixas com as suítes para violoncelo solo de Bach.
The Early Beatles Capitol | R$39,90
É um desses cd’s simples, envolto em uma capa de papelão mas que tem a virtude de mostrar as primeiras obras do conjunto inglês e que o projetou para o mundo, principalmente a partir da turnê que fizeram pelos Estados Unidos, antes da consagração final. Lá estão, por exemplo, Love me Do, Twist and Shout, e outras. Como reproduz, remasterizado, o LP original, as onze músicas estão na forma de lado A e lado B.
The Jazz Age BMG | R$ 79,90
Com a orquestra de Brian Ferry e suas próprias composições a partir de quarenta anos de observações e trabalhos na área de jazz. Brian decidiu retornar às raízes e origens do jazz, principalmente na década de 1920, conhecida com a Era do Jazz. Por isso, as composições e as execuções das músicas obedecem ao estilo e ao jeitão de interpretá-las daqueles tempos a que dá o nome de “período mágico”.
Shine a Light Rolling Stones – Martin Scorsese | Universal Music | R$ 39,90
O grande diretor Martin Scorsese confessa que não havia assistido a nenhum show da banda inglesa até meados dos anos 1970. Mas não tem nada que não se resolva e o laureado diretor, que usou muitas músicas do pessoal de Mick Jagger nos seus filmes, decidiu fazer um documentário a respeito deles e esse álbum é a trilha sonora dele, que abriu o Festival Cinematográfico de Berlim, em 2008.
Viola Brasileira em Concerto Guianna | R$ 37,90
É bem provável que os intérpretes sejam pouco conhecidos e foram reunidos em uma homenagem ao cultor da moda de viola Renato Andrade. O que produzem em seus instrumentos é muito interessante em transcrições para violão de Jesus, Alegria dos Homens, de Bach; A Primavera, de Vivaldi; Moto Perpétuo, de Paganini; Bolero, de Ravel; O Trenzinho do Caipira, de Villa Lobos e Sete Prelúdios para Viola Brasileira, de Theodoro Nogueira.
Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena
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magazine > ensaio | por Asa Kasher
As questões éticas na guerra contra o Hamas “ATÉ OS MEUS AMORES SÃO MEDIDOS POR GUERRAS”, ESCREVEU O POETA ISRAELENSE YEHUDA AMICHAI. DIGO QUE ISSO ACONTECEU APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. NOS CONHECEMOS UM DIA ANTES DA GUERRA DOS SEIS DIAS. EU NUNCA VOU DIZER “ANTES DA PAZ DE 1945-1948” OU “DURANTE A PAZ DE 1956-1967”
FORÇAS ESPECIAIS DE INTELIGÊNCIA COM CÂMERA E VÍDEOS
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A
primeira vez que ouvi sirenas de ataque aéreo foi durante a Guerra da Independência de Israel, em 1948, e mais recentemente no confl ito com o Hamas, em agosto. Em 1948, um avião egípcio jogou bombas no centro da cidade de Rishon Letzion, onde eu vivia. Agora, a ameaça ganhou a forma familiar de foguetes lançados pelo Hamas a partir da Faixa de Gaza e interceptados pelo sistema Domo de Ferro, em outra cidade, perto de Tel Aviv. No ataque aéreo de 1948, vi meu pai, então soldado de uma brigada de infantaria do norte, tratar uma mulher-soldado ferida, que morreria logo depois. Ela foi a primeira baixa de guerra que testemunhei pessoalmente. Desta vez, minha neta, Ahiraz, de 17 anos, ficou frente a frente com a sua primeira vítima: um soldado da tropa de vigilantes do bairro morto por estilhaços de um foguete. Como diz o poeta Yehuda Amichai, “até os meus amores são medidos por guerras”, isto é, nossas vidas em Israel são marcadas pelas guerras que vivemos. Além de, como civil e militar, ao passar os últimos 66 anos em meio a guerras, ações e operações militares, também durante muito tempo pensei a respeito da ética do combate, tanto oficialmente, quando chefiei a equipe que redigiu e fui coautor do código de ética das Forças de Defesa de Israel (IDF), nos anos1990, e não oficialmente, como comentarista. Esse texto foi escrito em fins de agosto, quando os foguetes voltaram a ser lançados de Gaza, e a Operação Margem Protetora foi reiniciada após outro breve cessar-fogo. Apesar de, ou talvez precisamente por isso, as hostilidades estarem em curso, é importante reexaminar os desafios que os terroristas em geral, e do Hamas, em particular, representam
para as Forças de Defesa de Israel e para fazê-lo à luz dos princípios, tanto os da tradicional doutrina da guerra justa como da doutrina militar e valores específicos israelenses. Como qualquer outro Estado, Israel tem o direito e o dever de autodefesa. O direito de um Estado de se defender quando atacado é tão inquestionável quanto o direito do indivíduo à autodefesa quando atacado. Este direito é invocado do ponto de vista das relações internacionais e confirmado pela doutrina da guerra justa, o direito internacional e a Carta das Nações Unidas, além da ética do bom senso. Por sua vez, o dever da autodefesa é a responsabilidade que o Estado tem de proteger os seus cidadãos. Assim, Israel tem o direito internacional e o direito doméstico de responder quando o Hamas ataca os seus cidadãos. O segundo princípio fundamental do Estado de Israel, em geral, e do IDF, em particular, é o dever de respeitar a dignidade humana. Isso significa que as pessoas nunca podem ser tratadas como meros objetos ou instrumentos. Sua liberdade pode ser restringida apenas quando há uma justificativa convincente para fazê-lo. Note-se que este segundo princípio estende-se não apenas aos cidadãos ou a outras pessoas sob o controle efetivo de Israel, como visitantes ou trabalhadores estrangeiros, mas também aos palestinos na Faixa de Gaza que não representam ameaça terrorista. Este princípio faz sentido em relação aos próprios terroristas, quando são cuidadosamente consideradas as opções de captura e morte. No entanto, nenhum estado tem ou deve assumir a mesma responsabilidade pela segurança dos civis inimigos como o faz pelo seu próprio povo. Deveres especiais pertencem à essência das relações dentro de uma família, de uma comunidade e de um estado. Estes dois princípios fundamentais da guerra são aplicáveis conjuntamente em todas as circunstâncias. Na guerra ou no âmbito de qualquer outra atividade militar, o princípio da autodefesa é o que estabelece os fins em questão, ou seja, a defesa eficaz das pessoas e de seu estado, enquanto o segundo princípio impõe restrições sobre os meios utilizados na busca desses fins. De modo geral, este último princípio requer esforços contínuos para diminuir ou “aliviar as calamidades da guerra”, para usar uma expressão muito antiga, mas ainda apropriada, da Declaração de Petersburgo de 1868 renunciando ao uso, em tempos de guerra, de certos projéteis explosivos. Santidade da vida Outros estados democráticos compartilham o princípio básico do respeito pela dignidade humana e dirigem as ativida>>
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Outros estados democráticos compartilham o princípio básico do respeito pela dignidade humana e dirigem as atividades das forças militares de acordo com ele. É, no entanto, digno de nota que o IDF é a única força militar que o incluiu entre os seus valores explicitamente declarados
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magazine > ensaio
>> des das forças militares de acordo com ele. É, no entanto, digno de nota que o IDF é a única força militar que o incluiu entre os seus valores explicitamente declarados. Dois dos valores do seu código de ética, o Ruach Tzahal, (“espírito do Tzahal”, em hebraico) são respeitar e preservar a vida humana e o dever de manter a “pureza das armas”, ou seja, usar a força mínima necessária para subjugar o inimigo. No início de 1990, quando apresentei um rascunho inicial do primeiro código ao chefe do Estado-Maior do IDF, o então tenente-general Ehud Barak, e a cerca de cem grupos de comandantes do IDF, absolutamente ninguém se opôs à inclusão desses valores. Isto se deve ao fato de o código simplesmente codificar partes fortemente entrincheiradas no ethos do IDF. Muitas vezes perguntam acerca do que é judeu no código de ética do IDF. A resposta está nestes dois valores, enraizados nas tradições religiosas e morais judaicas da santidade da vida e da autodisciplina. No entanto, não é difícil imaginar circunstâncias em que os princípios de moderação e respeito pela dignidade humana, em tempos de guerra, possam ser desconsiderados. No famoso discurso ao Parlamento, em 1940, Winston Churchill falou em “vitória a todo o custo; vitória, apesar de todo o terror; vitória, não importa quão longa e difícil a estrada possa ser, pois sem vitória não há sobrevivência”. No entanto, por mais que tais declarações possam ter emocionado e animado as pessoas no passado, agora são obsoletas por razões éticas e estratégicas. Para compreender a natureza da mudança ocorrida no caráter de guerra e seu estado final, pelo menos do ponto de vista de Israel, basta comparar as consequências da Guerra dos Seis Dias com as da
BANDEIRA OFICIAL DAS FOÇAS DE
DEFESA DE ISRAEL (TZAHAL). HÁ MUITAS VARIAÇÕES
Segunda Guerra do Líbano. Em 1967, as forças militares dos inimigos de Israel foram essencialmente destruídas. No Líbano, embora a força militar do Hizbollah tenha sido significativamente reduzida, pôde, e, de fato, continuou por um tempo lançando foguetes contra o norte de Israel. Nas “novas” guerras das últimas décadas, a vitória foi substituída pelo ideal de realizar com êxito as missões determinadas. As missões da Operação Margem Protetora foram definidas durante a luta, como a eliminação da ameaça para Israel representada pelos túneis do Hamas e a redução, ou a eliminação, da ameaça dos foguetes do Hamas para muitas regiões de Israel. As baterias do Domo de Ferro interceptaram mais de 90% dos foguetes, mas isso significa que um em cada dez foguetes continua um perigo mortal para as populaçõesalvo, além do terror provocado por eles. Por isso é necessário destruir as fábricas improvisadas em Gaza que produziram os foguetes, os depósitos onde foram armazenados e as baterias que os lançaram. É de se esperar que a abrangência da resposta militar impeça o Hamas de desferir futuros ataques, mas como um subproduto da operação, e não como um dos seus objetivos militares. Nem as tropas israelenses, nem os civis palestinos devem ser mais ameaçados apenas por uma questão de dissuasão. A clareza com que o IDF tem tratado sua tarefa ficou patente em um dia no início de agosto, durante reunião na Base Rabin do Estado-Maior do IDF, em Tel Aviv. Na entrada do edifício onde se realizou a reunião, estava afixado um boletim com informações a respeito da Operação Margem Protetora. No alto, em destaque, uma mensagem acerca da operação do comandante de uma divisão do IDF, um major-general. Para os objetivos da operação mencionados anteriormente, ele acrescentou
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um item que a cobertura jornalística não mencionou: “Sem escalada”. Em A Arte da Guerra, Sun Tzu disse que “se alguém é vitorioso na batalha e consegue atacar sem explorar as realizações, é desastroso”. Este não é o espírito que orientou a realização da Operação Margem Protetora, e por boas razões. A Operação Margem Protetora se enquadra claramente nos limites da legítima defesa. Mas também terá sido conduzida de modo a aliviar “as calamidades da guerra”? Para responder a esta questão tão importante, devemos considerar se o IDF manteve o dever de respeitar a dignidade humana, mantendo os princípios tradicionais, na guerra justa, de “distinção” e “proporcionalidade”. O primeiro princípio estabelece a distinção entre combatentes e civis; o segundo insiste na ação militar da qual se espera que causar danos colaterais só tem sentido se o ganho esperado do ponto de vista da vantagem militar justifique aquele dano. Normalmente, e por razões óbvias, os estados têm aceitado o princípio da distinção entre civis e combatentes: “Você não ataca meus cidadãos não combatentes e eu não vou atacar os seus”. Mas qual deveria ser a atitude de Israel para com o princípio da distinção quando tal reciprocidade desapareceu? E como se lida com um inimigo que eliminou qualquer traço de distinção entre combatentes e não combatentes, exceto para fins de propaganda? O Hamas ataca os israelenses indiscriminadamente e o faz a partir de áreas residenciais e até mesmo de mesquitas, hospitais e escolas. O grupo produz munição em um campus universitário e armazena foguetes em mesquitas e escolas da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina e do Oriente Próximo (Unrwa, na sigla em inglês). Seus comandantes e seu sistema de comando e controle muitas vezes operam no porão de um hospital, e seus combatentes não lutam de uniforme (exceto, quando convém, com o uniforme do IDF). O Hamas viola inescrupulosamente todas as normas estabelecidas. Como Israel deve responder? A resposta de Israel é, na minha opinião, profundamente judaica. Devemos conduzir nossa guerra contra os terroristas de acordo com os nossos valores, ou seja, doutrinas, procedimentos, regras de engajamento e comandos compatíveis com os princípios fundamentais de Israel, valores e princípios do IDF, e do direito internacional, devidamente interpretado. Escudos humanos Ao aplicar a distinção ética entre combatentes e não combatentes, Israel enfrenta dois grandes problemas. Há, em primeiro lugar, a dificuldade colocada pelo tratamento geral do Hamas para a guerra. Esta “estratégia crassa” foi bem descrita pelo ex-presidente Bill Clinton na televisão indiana, em julho: “O Hamas estava perfeitamente consciente do que aconteceria se começasse a despejar foguetes em Israel... Eles têm uma estratégia para forçar Israel a matar os próprios civis de modo a que o resto do mundo condene Israel”. O que Israel deveria fazer nesta situação? A presença de um
grande número de não combatentes nas proximidades de um edifício diretamente envolvido em assaltos terroristas contra israelenses torna essa construção imune ao ataque de Israel? A resposta é – e deve ser – não. Israel não pode perder a capacidade de proteger seus cidadãos contra ataques terroristas simplesmente porque estes se escondem atrás de não combatentes. Se o fizesse, seria abrir mão de qualquer direito à autodefesa. O IDF usa uma variedade de métodos de alerta com o objetivo de retirar os não combatentes da cena de batalha, incluindo a distribuição de folhetos, telefonemas pessoais e mísseis não explosivos conhecidos como “bate-teto” para uma advertência final. A segunda questão decorre diretamente dessas tentativas de manter os civis fora do caminho do perigo – pode-se chamá-la de a “questão do soldado”. É preciso considerar que a maioria dos combatentes da IDF, em especial do exército e da marinha, são recrutas. Como cidadãos em uniforme militar, eles têm o direito de pedir ao Estado, bem como ao IDF e a seus comandantes, se estão sendo colocados em maior perigo para salvar a vida de inimigos não combatentes avisados repetidamente para deixar o local de batalha. Uma resposta afirmativa seria moralmente inaceitável. Quando é impossível realizar uma missão militar sem colocar em risco a vida dos vizinhos não combatentes de um terrorista, entram em jogo as questões de proporcionalidade. O comandante encarregado de uma missão militar especial geralmente é a pessoa mais apta para avaliar as vantagens militares de se realizar tal missão. No IDF, o comandante é assessorado por um grupo que avalia a extensão dos prováveis danos colaterais. Escudos humanos podem ser atacados junto com os terroristas, mas devem ser feitas tentativas para minimizar os danos colaterais entre eles, mesmo se aqueles que agem de boa vontade sejam, de fato, cúmplices do Hamas. Em todos esses casos, deve se mostrar tanta >>
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O Hamas ataca os israelenses indiscriminadamente e o faz a partir de áreas residenciais e até mesmo de mesquitas, hospitais e escolas. O grupo produz munição em um campus universitário e armazena foguetes em mesquitas e escolas da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina e do Oriente Próximo (Unrwa, na sigla em inglês)
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magazine > ensaio
>> compaixão quanto possível, sem abortar a missão ou aumentar o risco para os soldados israelenses. As normas da proporcionalidade tornam obrigatório para um comandante militar minimizar os danos colaterais, mas elas não proíbem todos os danos colaterais. Nenhuma guerra jamais foi travada sem danos colaterais. Uma exigência da doutrina da guerra justa é que as forças que se opõem façam o possível para evitá-los. Israel age assim, enquanto a estratégia do Hamas visa à morte de ambos os não combatentes israelenses e palestinos. O número exato de civis palestinos que morreram em Gaza durante a Operação Margem Protetora não está claro, mas não há dúvida de que é da ordem de centenas e cada morte foi uma tragédia. Também é certo de que a culpa por essas mortes é do Hamas, que primeiro sacrificou seu bem-estar (com a construção de túneis de ataque, em vez de escolas, etc.) e, em seguida, suas vidas na guerra interminável contra Israel. É verdade que muito menos israelenses morreram, mas comparando simplesmente o número de baixas em ambos os lados do conflito é sempre um erro conceitual para avaliar a justeza das guerras (e, por exemplo, morreram muitos mais civis alemães do que civis norte-americanos na Segunda Guerra), e este é especialmente o caso em guerras assimétricas. No entanto, há aqueles que argumentam que a IDF deve esforçar-se tanto para evitar danos colaterais em Gaza como faria, digamos, em Tel Aviv. No entanto, isso não é uma exigência razoável. Em primeiro lugar porque Israel, como qualquer Estado, tem o dever primário de proteger as vidas do seu próprio povo, algo diferente da responsabilidade em relação a inimigos não combatentes. Além disso, um
território inimigo, como Gaza, não está sob seu efetivo controle. Israel está vinculado aos princípios da guerra justa de distinção, proporcionalidade, e seu forte compromisso em minimizar a perda de vidas. Mas nenhum Estado deve mais do que isso para os cidadãos inimigos a localizados e avisados nas proximidades de terroristas, e nenhum Estado democrático iria eliminar a distinção entre ética militar e ética policial desta forma. A sugestão de atuar em Gaza da mesma forma que agiríamos em Tel Aviv seria o mesmo que pedir a Israel para abandonar o dever de autodefesa. Por sua vez, alguns rabinos israelenses afirmaram recentemente que a tradição da doutrina da guerra justa começou com teólogos cristãos, como São Tomás de Aquino, e, portanto, o Estado judeu não precisa se preocupar com o princípio da proporcionalidade. Os rabinos Ido Rechnitz e Elazar Goldshtein, por exemplo, têm defendido uma concepção da guerra como um confronto entre dois povos, o que justificaria causar danos a não combatentes porque fazem parte do mesmo povo dos combatentes. Mas isso é ultrajante e imoral. De todo modo, essa nunca foi a posição de Israel. É também uma leitura errada da tradição judaica, mas isso é outro assunto. Como no caso da Operação Chumbo Fundido, em 20082009, a Operação Margem Protetora tem dado origem a acusações de que Israel agiu de forma indiscriminada e desproporcional, sem considerar os civis não combatentes. Foi constituída a Comissão de Crimes de Guerra das Nações Unidas e muitos críticos e, talvez, alguns dos seus membros, já sabem algumas das conclusões a que deveria chegar. Não tenho me preocupado com questões políticas. O IDF trata da sua tarefa de legítima defesa com muita moderação. Foi forçado a uma guerra estrategicamente e moralmente assimétrica com o Hamas, o que não significa ter agido perfeitamente em todos os casos, pois nenhum exército o fez – e por isso as acusações contra ele são extremamente injustas. Insisto em que meu interesse em esclarecer esses fatos diz respeito exclusivamente com a conduta do IDF na guerra. Sem tomar partido nos debates políticos em curso, como o futuro dos territórios, Jerusalém, refugiados, etc., convém enfatizar, em conclusão, que também é dever moral de uma democracia buscar a paz. A paz é, pode-se dizer, o Domo de Ferro máximo, a melhor proteção para combatentes e não combatentes de ambos os lados da fronteira das calamidades da guerra. * Asa Kasher é professor emérito de ética profissional e filosofia da prática da cadeira Laura Schwarz-Kipp na Universidade de Tel Aviv. Chefiou a redação do primeiro código de ética do IDF e documentos adicionais a respeito de questões éticas. Ganhou o Prêmio Israel, em 2000, por contribuições à filosofia. Entre seus livros mais recentes estão Military Ethics, Judaism and Idolatry (“Ética Militar, Judaísmo e Idolatria”) e A Small Book on the Meaning of Life (“Um Pequeno Livro sobre o Sentido da Vida”)
A sugestão de atuar em Gaza da mesma forma que agiríamos em Tel Aviv seria o mesmo que pedir a Israel para abandonar o dever de autodefesa
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Siga o site da Glorinha É jornalista profissional e por mais de 25 anos trabalhou na imprensa judaica assinando páginas sociais para a Revista da Hebraica e para os jornais Resenha e Semana Judaica, tendo sido editora do Suplemento Social Espe-
cial da Tribuna Judaica, que circulou até agosto de 2003. Atualmente assina uma página na revista Shalom e coordena seu site pessoal, que tras dicas e notícias sobre a comunidade.
APRESENTADO POR MARKUS ELMAN Confira a programação: www.lehaim.etc.br
A COMUNIDADE EM SP O programa LeHaim é um registro dos eventos sociais e comemorativos da movimentada comunidade judaica de São Paulo. Com uma linguagem moderna, ganhou outras características, divul-
O programa oferece um show de variedades com musicais, reportagens, entrevistas, documentários e comentários em vídeo conferência diretamente de Israel, relacionados com a comunidade judaica e com o povo judeu.
gando os atos e eventos de caráter social e benemérito promovidos pelas entidades que reúnem os membros da sociedade judaica e criando projetos para resgatar a memória da comunidade.
Mosaico na TV conta com uma audiência de aproximadamente 250.000 telespectadores sendo que cerca de 2/3 dessa audiência não pertencem à comunidade judaica.
www.shalombrasil.com.br
O programa tem como proposta cultivar e divulgar as tradições judaicas, não só para os judeus , mas também para o telespectador em geral, que tem interesse em conhecer outras culturas.
Revista Shalom
Shalom Brasil é produzido pela Tama Vídeo , uma produtora e prestadora de serviços de São Paulo, tendo como diretor, o jornalista Marcel Hollender, que atua no mercado há mais de vinte anos.
www.revistashalom.com.br
A Revista da Comunidade Em janeiro de 1998 nascia a Revista Shalom, com o objetivo de valorizar o judaísmo através dos judeus e das instituições judaicas, tendo o Estado de Israel como seu centro.
Nas nossas páginas você encontra notícias, atualidades, e muito mais. Não fique sem a sua! Para assinar ligue (11) 3259-6211 revistashalom@terra.com.br
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di re to ria HEBRAICA
| OUT | 2014
106 HEBRAICA
| OUT | 2014
diretoria
Diretoria Executiva – Gestão 2012-2014 PRESIDENTE
ABRAMO DOUEK
HANDEBOL ADJUNTO
JOSÉ EDUARDO GOBBI DANIEL NEWMAN
PARQUE AQUÁTICO POLO AQUÁTICO NATAÇÃO ÁGUAS ABERTAS
MARCELO ISAAC GUETTA FABIO KEBOUDI BETY CUBRIC LINDENBOJM ENRIQUE MAURICIO BERENSTEIN RUBENS KRAUSZ
DIRETOR SUPERINTENDENTE
GABY MILEVSKY
ASSISTENTE FINANCEIRO ASSESSOR Ͳ ESCOLA ASSESSORA Ͳ FEMININO ASSESSOR Ͳ REVISTA ASSESSOR Ͳ REDES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO DIGITAL ASSESSOR Ͳ SEGURANÇA ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS ACESC ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS RELIGIOSOS CERIMONIAL E RELAÇÕES PÚBLICAS RELAÇÕES PÚBLICAS
MOISES SCHNAIDER BRUNO LICHT HELENA ZUKERMAN FLÁVIO BITELMAN JOSÉ LUIZ GOLDFARB CLAUDIO FRISHER (Shachor) MOYSES GROSS RABINO SAMI PINTO EUGÊNIA ZARENCZANSKI (Guita) ALAN BALABAN SASSON DEBORAH MENIUK GLORINHA COHEN LUCIA F. AKERMAN SERGIO ROSENBERG
GINÁSTICA ARTÍSTICA
HELENA ZUKERMAN
RAQUETES (SQUASH/RAQUETEBOL) BADMINTON
JEFFREY A.VINEYARD SHIRLY GABAY
TRIATHLON CORRIDA
JULLIAN TOLEDO SALGUEIRO ARI HIMMELSTEIN
CICLISMO
BENO MAURO SHETHMAN
VICEͲPRESIDENTE ADMINISTRATIVO
MENDEL L. SZLEJF
TIRO AO ALVO
MAURO RABINOVICH
COMPRAS RECURSOS HUMANOS CONCESSÕES ADJUNTO
HENRI ZYLBERSTAJN CARLOS EDUARDO ALTONA LIONEL SLOSBERGAS AIRTON SISTER
GAMÃO
VITOR LEVY CASIUCH
SINUCA
ISAAC KOHAN FABIO KARAVER
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DEPARTAMENTO MÉDICO CULTURA JUDAICA ASSESSORES DA SINAGOGA
SERGIO LOZINSKY RICARDO GOLDSTEIN GERSON HERSZKOWICZ JAQUES MENDEL RECHTER MAURÍCIO MARCOS MINDRISZ
XADREZ
HENRIQUE ERIC SALAMA
VICEͲPRESIDENTE DE ESPORTES
AVI GELBERG
ASSESSORES
CHARLES VASSERMANN DAVID PROCACCIA MARCELO SANOVICZ SANDRO ASSAYAG YVES MIFANO
GESTÃO ESPORTIVA ESCOLA DE ESPORTES MARKETING/ESPORTIVO
ROBERTO SOMEKH VICTOR LINDENBOJM MARCELO DOUEK FLÁVIA CIOBOTARIU
SAUNA
HUGO CUPERSCHMIDT
VICEͲPRESIDENTE DE PATRIMÔNIO E OBRAS
NELSON GLEZER
MANUTENÇÃO MANUTENÇÃO E OBRAS PAISAGISMO E PATRIMÔNIO PROJETOS
ABRAHAM GOLDBERG GILBERTO LERNER MAIER GILBERT RENATA LIKIER S. LOBEL
VICEͲPRESIDENTE SOCIAL E CULTURAL
SIDNEY SCHAPIRO
CULTURAL SOCIAL FELIZ IDADE RECREATIVO GALERIA DE ARTES SHOW MEIO DIA
SERGIO AJZENBERG SONIA MITELMAN ROCHWERGER ANITA G. NISENBAUM ELIANE SIMHON (Lily) MEIRI LEVIN AVA NICOLE D. BORGER EDGAR DAVID BORGER
VICEͲPRESIDENTE DE JUVENTUDE
MOISES SINGAL GORDON
ESCOLAS
SARITA KREIMER GRAZIELA ZLOTNIK CHEHAIBAR ILANA W. GILBERT
MARKETING/INFORMÁTICA ESPORTIVO
AMIT EISLER
RELAÇÃO ESPORTIVAS COM ESCOLAS
ABRAMINO SCHINAZI
GERAL DE TÊNIS SOCIAL TÊNIS
ARIEL LEONARDO SADKA ROSALYN MOSCOVICI (Rose)
TÊNIS DE MESA
GERSON CANER
SECRETÁRIO GERAL
ABRAHAM AVI MEIZLER
FITͲCENTER
MANOEL K.PSANQUEVICH MARCELO KLEPACZ
SECRETÁRIO DIRETORES SECRETÁRIOS
CENTRO DE PREPARAÇÃO FÍSICA
ANDRÉ GREGÓRIO ZUKERMAN
JAIRO HABER ANITA RAPOPORT GEORGES GANCZ HARRY LEON SZTAJER
JURÍDICO
ANDRÉ MUSZKAT
SINDICÂNCIA E DISCIPLINA
ALEXANDRE FUCS BRUNO HELISZKOWSKI CARLOS SHEHTMAN LIGIA SHEHTMAN TOBIAS ERLICH
JUDÔ JIU JITSU
ARTHUR ZEGER FÁBIO FAERMAN
FUTEBOL (CAMPO/SALÃO/SOCIETY) FUTSAL
FABIO STEINECKE MAURÍCIO REICHMANN
GERAL DE BASQUETE BASQUETE OPEN
AVNER I. MAZUZ DAVID FELDON WALTER ANTONIO N. DE SOUZA
BASQUETE CATEGORIA MASTER ATÉ 60 ANOS BASQUETE HHH MASTER
GABRIEL ASSLAN KALILI LUIZ ROZENBLUM
VOLEIBOL
SILVIO LEVI
TESOUREIRO GERAL
LUIZ DAVID GABOR
TESOUREIRO DIRETORES
ALBERTO SAPOCZNIK SABETAI DEMAJOROVIC MARCOS RABINOVICH
108 HEBRAICA
| OUT | 2014
vitrine > informe publicitário ESPAÇO TRAFFÕ
Grandes eventos com arte Marcelo de Weber produziu um evento de arte em julho 2014 em um castelo da região da Úmbria (Itália) com o apoio do jornal O Estado de São Paulo e de entidades culturais e governamentais italianas. A exposição “I Biganti” foi divulgada por diversos jornais
locais e a inauguração foi transmitida pela RAI. Este evento artístico será montado no próximo ano em São Paulo sob os auspícios do governo italiano. Espaço Traffô marcelo@traffo.com.br
BRAUGARTEN
É impossível resistir... Aproveitar os bons momentos de um almoço em família, curtir a companhia dos amigos e um chopp gelado na happy hour, ou saborear as maravilhosas sensações, de um jantar a dois de um jeito mais que especial, são coisas que só se encontram encontra na
Braugarten. A Brau é sempre uma ótima ideia, com excelência em gastronomia alemã, um cardápio cheio de opções irresistíveis e promoções deliciosas. Conheça o verdadeiro sabor da Alemanha e suas incríveis novidades. www.brau.com.br
COLÉGIO ITACA
O prazer de aprender Há mais de duas décadas, o Colégio Ítaca acolhe famílias e alunos que buscam nas habilidades de investigação e estudo as ferramentas essenciais ao bom desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nas salas de aula ou em atividades extramuros,
estimulam-se as descobertas, o prazer de aprender e as relações entre as várias áreas do saber. Agende uma visita. Av Pirajussara, 4359, Butantã Fone 3751-1633 www.itaca.com.br
ESPAÇO FLORESCER
Terapias e práticas corporais A proposta do Espaço Florescer é trabalhar o autoconhecimento e bem-estar. Idealizado em 2009 pela psicóloga Sofia de Almeida Prado, o espaço funciona em uma linda casa, cercada de natureza. Terapias alternativas, práticas corporais, vivências e workshops
estão no repertório. Entre os profissionais que atuam há tempos estão a médica Adeli Ferreira – referência em homeopatia unicista – e a terapeuta de Feldenkrais Cecilia Gobeth. Rua Tácito de Almeida, 107, Pacaembu Fone 2589-6093 | www.espacoflorescer.com.br
INSTITUTO KORA
Obesidade é uma questão psicológica O método Kora é multidisciplinar e integrado, envolvendo psicologia, nutrição e educação corporal As terapias são em grupos pequenos porque o exercício da fala permite a elaboração e o grupo enriquece este trabalho. O método Kora foi elaborado por uma equipe de
nutricionistas e é acompanhado com bioimpedância. O Instituto dispõe de Estúdio de Pilates, salas de ginástica e massagens. Instituto Kora Rua Prof. Lucas Assunção, 92, Fone 3501-3440 Site www.institutokora.com.br
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HEBRAICA
| OUT | 2014
indicador profissional ADVOCACIA
ADVOCACIA
ANGIOLOGIA
ANTROPOSOFIA
ANGIOLOGIA
ARQUITETURA
CARDIOLOGIA
CASA DE REPOUSO
CIRURGIA PLÁSTICA
110 HEBRAICA
| OUT | 2014
indicador profissional CIRURGIA PLÁSTICA
CIRURGIA PLÁSTICA
CIRURGIA PLÁSTICA
CLÍNICA MÉDICA/GERIATRIA
CLÍNICA HIPERBÁRICA
HEBRAICA
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| OUT | 2014
indicador profissional CLÍNICA
COLOPROCTOLOGIA
DERMATOLOGIA
CONSULTORIA
ENDOCRINOLOGIA
FISIOTERAPIA
COLOPROCTOLOGIA
CURA RECONECTIVA
E
DERMATOLOGIA
112 HEBRAICA
| OUT | 2014
indicador profissional FISIOTERAPIA
MANIPULAÇÃO
NEUROLOGIA
FONOAUDIOLOGIA
MANIPULAÇÃO
GINECOLOGIA
NEUROCIRURGIA
MEDICINA DO ESPORTE
NEUROCIRURGIA
ODONTOLOGIA
HEBRAICA
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| OUT | 2014
indicador proямБssional ODONTOLOGIA
ODONTOLOGIA
OFTALMOLOGIA
OFTALMOLOGIA
ONCOLOGIA
ORTOPEDIA
ORTOPEDIA
114 HEBRAICA
| OUT | 2014
indicador profissional ORTOPEDIA
PSICOLOGIA
PSICOTERAPIA
OTORRINOLARINGOLOGIA
PSICANÁLISE
PNEUMOLOGIA
HEBRAICA
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| OUT | 2014
indicador profissional PSICANÁLISE
PSIQUIATRIA
REPRODUÇÃO
TERAPIAS CORPORAIS
TRATAMENTO
PSIQUIATRIA
QUIROPRAXIA
compras e serviços
UROLOGIA
116 HEBRAICA
| OUT | 2014
compras e serviรงos
HEBRAICA
117
| OUT | 2014
compras e serviรงos
118 HEBRAICA
| OUT | 2014
compras e serviรงos
119
HEBRAICA
| OUT | 2014
roteiro gastron么mico
120 HEBRAICA
| SET | 2014
roteiro gastron么mico
121
HEBRAICA
| SET | 2014
roteiro gastron么mico
122 HEBRAICA
| OUT | 2014
conselho deliberativo
CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL 2014
OUTUBRO
Bem-vindos a 5775 Passadas as grandes festas, quando tivemos oportunidade de nos desculpar pelos erros cometidos e solicitar a inscrição no Livro da Vida por mais um ano, nos preparamos para voltar ao convívio normal em nossas reuniões gerais e nos encontros das todas as comissões. Em nome da Mesa do Conselho, gostaria de me congratular com essas comissões, pois todas estão engajadas e envolvidas, realizando um trabalho ímpar e exemplar se reunindo frequentemente, entre si e com membros do executivo, procurando informações, questionando, conhecendo e se aprofundando cada vez mais nas tarefas feitas, nos objetivos alcançados e as que por algum motivo não puderam ser concretizadas, seus motivos e também ouvindo sugestões de planejamento. É uma época de aparente calmaria, mas nossa instituição não para nunca. Nesses momentos de introspecção está em jogo o futuro diretivo, com deliberação e votação do orçamento para 2015 e as eleições que se aproximam. Estamos falando das escolhas que comandarão nosso país desde a presidência passando pelo senado, câmara federal, governo estadual e câmara estadual e no nosso caso em especial na definição do próximo Executivo. Somos responsáveis por todas e nossa participação é fundamental. Não podemos e ou devemos nos omitir nesses momentos tão importantes para os destinos de nosso país, estado e de nossa instituição, em particular. Com nossa consciência, vamos fazer as melhores escolhas entre os vários que postulam aos cargos em questão, na certeza que somente conhecendo suas propostas poderemos avalizar o trabalho ao qual se dispõem a dar seu tempo e contribuição em prol de um país melhor e de uma Hebraica sempre pujante e participativa Gmar Chatimá Tová Beshaná abá be Yerushalaim Habluiá
**3 **4 8 *9 *10 15
6ª FEIRA SÁBADO 4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 4ª FEIRA
*16 *17
5ª FEIRA 6ª FEIRA
NOVEMBRO 5
16 23
Local Teatro Anne Frank Horário 19h30 17/11 8/12
Mesa do Conselho Presidente Vice-presidente Vice-presidente 1o secretário 2a secretária Assessores
Mauro Zaitz Célia Burd Fábio Ajbeszyc Fernando Rosenthal Vanessa Kogan Rosenbaum Eugen Atias Júlio K. Mandel Silvia L. S. Tabacow Hidal
DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN
3ª FEIRA 3ª FEIRA
AO ANOITECER, 1ª VELA DE CHANUKÁ AO ANOITECER, 8ª VELA DE CHANUKÁ
3ª FEIRA
DIA INTERNACIONAL EM MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO ( ONU )
2015
JANEIRO 27
FEVEREIRO 4
4ª FEIRA
TU B’SHVAT
4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA
JEJUM DE ESTER PURIM SHUSHAN PURIM
3 4 5 10 11 16 23
6ª FEIRA SÁBADO DOMINGO 6ª FEIRA SÁBADO 5ª FEIRA 5ª FEIRA
24
6ª FEIRA
EREV PESSACH- 1º SEDER PESSACH- 2º SEDER PESSACH-2º DIA PESSACH- 7º DIA PESSACH- 8º DIA IOM HASHOÁ- DIA DO HOLOCAUSTO IOM HAZIKARON- DIA DE LEMBRANÇA DO CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL IOM HAATZMAUT- DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 67 ANOS
MARÇO 4 5 6
ABRIL * * * *
MAIO 7 17 23 *24 *25
JULHO
Reuniões Ordinárias do Conselho em 2014
4ª FEIRA
DEZEMBRO
VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT VÉSPERA DE HOSHANÁ RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET - IZKOR SIMCHAT TORÁ
5ª FEIRA DOMINGO SÁBADO DOMINGO 2ª FEIRA
LAG BAÔMER IOM IERUSHALAIM VÉSPERA DE SHAVUOT 1º DIA DE SHAVUOT 2º DIA DE SHAVUOT - IZKOR
5 25
DOMINGO JEJUM DE 17 DE TAMUZ SÁBADO INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO
26
DOMINGO FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO
31
6ª FEIRA
ANOITECER
SETEMBRO ** 13 ** 14 ** 15 ** 22 ** 23 27 * 28 * 29
DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA
ANOITECER
TU BE AV
VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT
* NÃO HÁ AULA NAS ESCOLAS JUDAICAS ** O CLUBE INTERROMPE SUAS ATIVIDADES,
FUNCIONAM APENAS OS SERVIÇOS RELIGIOSOS