Revista Setembro 2012

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ESCOLA ABRE O ANO DE

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ANO LIII

| Nยบ 607 | SETEMBRO 2012 | E LUL 5772/T ISHREI 5773

Nova escola abre o ano de 5773


HEBRAICA

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palavra do presidente

Shaná Tová 5773 Uma feliz coincidência fez a inauguração da Escola Antonietta e Leon Feffer nas dependências da Hebraica ocorrer pouco mais de um mês e meio antes deste Rosh Hashaná 5773, que se comemora nos próximos dias. Até se poderá perguntar o que, afinal, uma coisa tem a ver com a outra? Qual a relação entre inaugurar uma escola que se pretende – e será – modelo, com o advento de um novo ano judaico e o seu significado? Aos mais céticos respondo que existe uma relação estreita, e tem tudo a ver. Essa escola é, antes de tudo, um marco na vida da nossa comunidade em São Paulo entre outras razões porque vai dar um impulso no ensino e na educação judaica e, por funcionar na área da Hebraica, vai ensinar às crianças o uso compartilhado dos espaços e educá-las para a prática da cidadania, o respeito ao próximo e ao outro e o sentido da solidariedade. E se em Rosh Hashaná e Iom Kipur nos recolhemos para nos penitenciar dos pecados eventualmente cometidos, também renovamos os votos de êxito e rogamos pela realização dos nossos anseios. Mas para que as crianças, que depois se fazem adultas e adquirem maioridade religiosa, possam se reunir nas sinagogas nas duas datas mais importantes do calendário mosaico é preciso que tenham o conhecimento básico da nossa história, da nossa memória, dos nossos valores e dos nossos princípios. E, para isso, a escola é fundamental. Não é por outra razão, aliás, que desde tempos imemoriais as primeiras letras do hebraico eram ensinadas em casa. E simultaneamente aprendiam a língua do país onde viviam, o que lhes dava uma vantagem qualitativa no confronto com outras crianças. O chinuch, isto é, a educação, o estudo, o ensino, é a base de tudo. Sem ele não existe a tefilá, isto é a oração, a reza, a leitura e o entendimento correto dos livros sagrados.

Shalom Shaná Tová, Chatimá Tová e Chag Sameach

Abramo Douek

PARA QUE AS CRIANÇAS,

QUE DEPOIS SE FAZEM ADULTAS E ADQUIREM MAIORIDADE RELIGIOSA, POSSAM SE REUNIR NAS SINAGOGAS NAS DUAS DATAS MAIS IMPORTANTES DO CALENDÁRIO MOSAICO É PRECISO QUE TENHAM O CONHECIMENTO BÁSICO DA NOSSA HISTÓRIA, DA NOSSA MEMÓRIA, DOS NOSSOS VALORES E DOS NOSSOS PRINCÍPIOS


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sumário

HEBRAICA

HEBRAICA

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Carta da Redação

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Destaques do Guia A programação de setembro e outubro

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Capa Os primeiros dias da Escola Antonietta e Leon Feffer

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Grandes Festas O rabino Jonathan Sacks fala da nossa relação com o divino

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Solidariedade Estão abertas as inscrições para o passeio ciclístico em prol do Hospital Alyn

35

cultural + social

36 82

40

Festival de Cinema A 16ª. edição lotou várias salas de exibição de São Paulo

40

In Concert Série 2012 foi aberta pelo cantor Jair Rodrigues acompanhado de orquestra

42

Kleztival Programe-se! Está chegando o maior evento klezmer da cidade

44

Biblioteca Não perca os próximos encontros do Clube da Leitura

48

Gourmet As mil e uma maneiras de preparar um clássico da cozinha

50

Meio-Dia Músicos israelenses brilham no encontro de domingo

52

Coluna um / comunidade Os eventos mais significativos na cidade

58

Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

67

juventude

68

Teatro Prepare as crianças. Vem aí mais uma produção musical só para elas

70

Brinquedoteca Um recanto todo especial para sócios de 2 a 6 anos

77

esportes

78

Águas abertas A saga de Harry Finger, o nosso homem no Canal da Mancha

82

Parceria Juventude e Esportes, juntos na “Virada Hebraica”

84

Londres 2012 A família Minakawa esteve muito bem representada na Olimpíada 2012

86

Curtas Na pauta do mês, trampolim, polo aquático e tênis

93

magazine

94

Força aérea A piloto mais linda e competente do mundo é israelense

96

Exposição Um balanço histórico do futebol praticado em Israel

100

Espionagem A notável história de Giora Tzahor, homem forte do Mossad

102

Polêmica Prós e contras do projeto musical de Edward Said e Daniel Barenboim

108

Túneis em Gaza Eles movimentam uma economia respeitável e estão no foco das discussões

112

Primavera árabe Por que as monarquias árabes ainda resistem aos ventos de mudança?

122

Ecumenismo Judeus convertidos e o seu papel nas mudanças da Igreja católica

128

Reflexão Shlomo Avineri relê o clássico A Velha Nova Pátria, de Herzl

136

Paraolimpíadas Como o médico judeu alemão Ludwig Guttmann reinventou os Jogos

138

Viagem Aproveite um dos pacotes oferecidos no mercado e conheça a Espanha judaica

140

A palavra O significado do Iom Kipur, o jejum de todos os jejuns

142

Novidade Ariel Finguerman lança livro sobre o Holocausto

144

Leituras Os melhores lançamentos editoriais do mês

146

Música Onze cd’s para aquecer as noites de inverno

150

Com a língua e com os dentes A hora de quebrar o jejum e de manter a tradição

152

Ensaio Uma nova postura sobre as relações entre Israel e a Diáspora

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diretoria

158

Homenagem Arthur Rotenberg ganhou mais um retrato na galeria de presidentes

160

Patrimônio Algumas obras necessárias e fundamentais para o conforto do associado

162

Lista da diretoria Mantenha-se atualizado sobre os integrantes do Executivo

186

Conselho Um projeto para pensar os próximos vinte anos


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carta da redação

ANO LIII | Nº 607 | SETEMBRO 2012 | ELUL 5772 / TISHREI 5773

A doçura do saber

DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN

Como ilustrar a celebração de Rosh Hashaná 5773 e a comemoração do início das atividades da Escola Antonietta e Leon Feffer na Hebraica? A resposta, a síntese, como prefere o senso estético do editor-adjunto Julio Nobre, está na capa desta edição da revista Hebraica: o doce-azedo da maçã, representando Rosh Hashaná e Iom Kipur encimando a pilha de livros do saber e do conhecimento. O texto é da repórter Magali Boguchwal e ela conta como foram os primeiros dias de aula, as expectativas de alunos, professores e os pais, e a forma como a escola integrou-se ao clube como se velhos amigos fossem e respeitassem as respectivas rotinas. Por ser a edição de Rosh Hashaná, é, digamos assim, mais prenhe de páginas, e isso explica a fartura de material do Magazine, e que o Sumário ai do lado detalha em parte. Mas não custa informar: um texto do rabino Jonathan Sacks sempre brilhante na forma como apresenta os temas; a mais jovem piloto de caça de Israel que já foi boxeadora e modelo; a orquestra formada por jovens israelenses e árabes de vários países e regida por Daniel Barenboim; uma reflexão a respeito da persistência das monarquias árabes; a economia dos túneis ligando a Faixa de Gaza ao Egito; como era o futebol na Palestina, antes do advento de Israel; uma releitura de “Nova Velha Pátria”, de Theodor Herzl e o papel dos cardeais de origem judaica na reforma da Igreja, etc. Boa leitura, Shaná Tová e Chatimá Tová Bernardo Lerer – Diretor de Redação

DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE

SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR) FLÁVIO M. SANTOS

DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES EDITORAÇÃO HÉLEN MESSIAS LOPES

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JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700 OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE

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calendário judaico :: festas

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BRASILEIRA

SETEMBRO 2012 Elul 5772 / Tishrei 5773

OUTUBRO 2012 Heshvan 5773

dom seg ter qua qui sex sáb

dom seg ter qua qui sex sáb

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EX-PRESIDENTES

4 5 6 11 12 13 18 19 20 25 26 27

Sucot | Shemini Atzeret | Simchat Torá

véspera de Rosh Hashaná | 1o dia Rosh Hashaná | 2o dia Rosh Hashaná| Iom Kipur - Yizkor | véspera de Sucot

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1975 | HENRIQUE BOBROW - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS - 1991 - 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | PRESIDENTE ABRAMO DOUEK

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por Raquel Machado

destaques do guia EM SETEMBRO, A COMUNIDADE DA HEBRAICA VAI TRADICIONALMENTE CELEBRAR AS GRANDES FESTAS NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN, SALÃO MARC CHAGALL E SINAGOGA. NESTE MÊS, TAMBÉM COMEMORAREMOS OS 4 ANOS DO AFTER SCHOOL, VAMOS REALIZAR O 5º SIMPÓSIO DE ESPORTES E A PRIMEIRA VIRADA HEBRAICA ESPORTES E JUVENTUDE.

cultura + social 12 a 21/10 KLEZTIVAL 2012 Confira programação completa

SHANÁ TOVÁ 5773

juventude

Horários do ônibus

14/9 Comemoração de Rosh Hashaná alunos da Escola Maternal na Sinagoga e Escola Maternal e Infantil

23/9 Dudu Fisher e Convidados

• Terça a sexta-feira Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45

as 19h, no Teatro Arthur Rubinstein

6/10 as 21h e 7/10 as19h Cia de Baile Flamenco Juçara Corrêa - Entre Dois Mundos (a temporada do Sol)

• Sábados, domingos e feriados Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45

no Teatro Arthur Rubinstein

esportes De 29 a 30/9 Virada Hebraica Esportes e Juventude

De 29 a 30/9 5o SIMPÓSIO DE ESPORTES

Diversos espaços das 9h as 17h

Informações no Depto. de Esportes

• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30


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cartas do leitor

Elogio merecido A propósito da Machané Choref realizada em julho, na Hebraica, recebemos a seguinte carta, de Telma Kramer, de Fortaleza, mãe de quatro meninas “Quando minha cunhada me propôs mandar minhas quatro filhas à Machané da Hebraica durante as férias de julho, uma mistura interessante de sentimentos veio chegando ao meu coração: uma avalanche de lembranças das minhas próprias vivências na colônia de férias; as muitas horas suadas na escolinha de esportes da Hebraica; os anos passados no movimento juvenil; e até mesmo a vista do clube nos sábados ensolarados da janela da minha avó, Martha. Ao lado disso, nossa realidade atual, morando em Fortaleza, onde as meninas não têm praticamente nenhum contato com o judaísmo. Nascidas em Israel, após três anos e meio de Brasil elas estão assustadoramente adaptadas à realidade local. Por outro lado, nunca

Fale com a Hebraica

frequentaram a Hebraica, não conhecem a equipe nem as crianças e nunca foram a uma colônia de férias. “Decidi averiguar melhor e perturbei bastante as coordenadoras com 602 perguntas – provavelmente irrelevantes em outro contexto ou outra família. Até o cozinheiro do sítio foi contatado, já que uma delas tem uma restrição alimentar e exige dieta especial. Com paciência e compreensão, todos me deixaram à vontade e aos poucos me acalmei. “Passagens compradas, malas (e que malas!!!) prontas, friozinho na barriga – minha e delas. Naquele domingo o dia estava lindo, e chegamos ao clube. Não posso mentir: meu coração apertou quando conheci a tzevet (“equipe”,

em hebraico) de madrichim. Mas então, essas são as pessoas responsáveis pelas minhas quatro meninas durante uma semana??? Apesar de muito simpáticos, aos meus olhos não tinham mais do que 13 anos!!! “Apesar da organização e o clima tranquilo, eu estava nervosa. As meninas, um pouco encolhidas, me olhavam procurando o encorajamento. A mais nova, Juli, disse que não queria ir, porque só tinha crianças grandes. A mais velha, Maya, fechou a cara, olhando os pequenos à sua volta. Dana, séria, analisava a situação. A única mais relaxada era Noa, já aos abraços com a prima Sofia, da mesma idade. Em quinze minutos meus quatro tesouros sumiram na porta dos ônibus. Durante os próximos dias, meus telefonemas encontravam a mesma resposta: suas filhas não estão na lista (negra?) das crianças que tiveram algum problema, portanto está tudo bem. Pois é, notícia ruim chega rápido portanto, no news, good news”.

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HEBRAICA

capa | por Magali Boguchwal

MOMENTO SOLENE PARA A COLOCAÇÃO DA MEZUZÁ NA PORTA PRINCIPAL DA ESCOLA ANTONIETTA E LEON FEFFER

Lições de convivência e integração OS PRIMEIROS QUINZE DIAS DE FUNCIONAMENTO DA ESCOLA ANTONIETA E LEON FEFFER NO TÉRREO DO POLIESPORTIVO BASTARAM PARA QUE ALUNOS, PAIS E ASSOCIADOS SE INTEGRASSEM

P

rimeiro de agosto de 2012, quarta-feira, vai entrar para a história da Hebraica como o primeiro dia de aulas da Escola Antonieta e Leon Feffer, a única em São Paulo a funcionar dentro das instalações de um clube. Nas duas primeiras horas daquele dia ficou aberta para que pais e alunos satisfizessem a inevitável curiosidade. Circularam pelas salas de aula, laboratórios e corredores. Inspecionaram até os banheiros, admirando móveis e equipamentos raramente vistos em outra escola. Assim que os adultos saíram, ouviu-se o silêncio, dentro e fora da escola. Essa quietude que reina até hoje ao redor do Poliesportivo, onde a escola funciona, e permite aos usuários do Bar do Pedrinho saborearem o cafezinho ou almoço em perfeita tranquilidade, derrubou um dos argumentos dos sócios que se opunham à transferência da Escola Nachman Bialik para a Hebraica. Não se ouve nem o sinal, normalmente estridente, de entrada e saída das aulas. Mas como as crianças sabem qual a hora de sair para o recreio ou quando começa ou termina uma aula? “Instalamos relógios em toda a escola e por intermédio deles até os alunos mais novos se orientam”, revela a diretora da área judaica, Mariana Gottfried. Segundo ela, a decisão de abolir o sinal é um dos resultados da pesquisa que ela, o diretor pedagógico João Guedes e o mantenedor Renato Feder fizeram na Finlândia, país conhecido hoje pela excelência do sistema educacional. “Também implan-

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capa PAIS, PROFESSORES, ALUNOS E DIRIGENTES NO PRIMEIRO DIA DE FUNCIONAMENTO DA ESCOLA NA HEBRAICA

crianças escolherão qual usarão para ir à escola e essa opção definirá sua identidade dentro do grupo”, anunciou João Guedes, diante da surpresa do público. Neste semestre, ainda serão vistas as camisetas do antigo Bialik. A mudança nos uniformes será gradual, assim como o aumento na variedade da letra alef estampada nas camisetas. No próximo ano, serão dez as opções de uniformes.

Foto Andre Nehmad

>> tamos o conceito das bibliotecas espalhadas pelos corredores”, completou, retirando um livro de arte de uma prateleira a um metro do piso. A Escola Antonieta e Leon Feffer trouxe do antigo endereço o sentido de urgência em aproveitar todo o tempo disponível. Então a equipe pedagógica se apressou em estabelecer uma rotina com as crianças. No entanto, na sextafeira, dia 3 de agosto, dois dias depois, ela foi suspensa para que pais e sócios presenciassem a colocação da mezuzá na porta principal. A área entre o Bar do Pedrinho e a portaria da rua Angelina Maffei Vita foi toda ocupada pelo público que se postou diante do prédio reformado, ouvindo a bênção dos rabinos e entoando canções em hebraico. Eram centenas pedindo paz. Naquele primeiro Kabalat Shabat na escola, os alunos receberam as camisetas do uniforme com o logotipo da escola. Aí, outra inovação. Cinco grafismos baseados na letra Alef decoram as blusas. “As

PLAYGROUND É PONTO DE ENCONTRO NA HORA DO RECREIO

O maior número de uniformes e crianças de várias escolas circulando pelo clube é uma realidade. O contato visual dos sócios com os 445 alunos da Escola Antonietta e Leon Feffer ocorre em horários quase britânicos. No meio da manhã, às 10 horas, abre-se uma porta e as crianças do fundamental I seguem calmamente até o playground, onde brincam e fazem o lanche sob o olhar atento das

professoras. Os alunos do fundamental II e do ensino médio utilizam também os concessionários situados na Praça Carmel. Duas vezes por semana, todos os alunos almoçam na Esplanada do Restaurante Kasher. O aumento no consumo de alimentos e bebidas já alterou a rotina em alguns locais. “Se não fosse pelas crianças, hoje eu teria vendido só quatro casquinhas de sorvete e não 54. Acabou o sorvete de chocolate. Só tem baunilha”, justificou-se o funcionário do quiosque do McDonald’s diante da falta de um dos sabores pedidos por um sócio. O Bar do Pedrinho, local mais próximo da escola, criou dois caixas exclusivos para atender às crianças durante o horário das aulas. “Recebemos uma lista dos produtos que podem ou não ser vendidos para os alunos”, informou André Angelitos, o filho de Pedrinho, e dono do bar. A aula de educação física é realizada nas quadras do Poliesportivo e as de música numa sala no Centro de Juventude e a logística no uso é estabelecida em acordo com a Diretoria do clube. As áreas verdes também inspiram os adoles-

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SALAS CONCEBIDAS PARA ATENDER ÀS NECESSIDADES DE CADA DISCIPLINA

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capa

>> centes nos projetos de desenho livre ou fotografia. Paredes sem ouvidos Da porta para dentro, a Escola Antonietta e Leon Feffer é um mundo à parte. A comparação com as instalações antigas é quase impossível. “Assim que começaram as aulas do segundo semestre, todos notaram que o ruído das vozes das crianças e professores diminuiu. Como não temos mais de competir com o barulho externo, como no antigo Bialik, baixamos o tom das conversas. O isolamento das salas também é total. Da porta para fora, não se ouve nada, explica a diretora Mariana Gottfried aos visitantes. As salas realizam os sonhos de qualquer aluno ou professor. O mobiliário foi escolhido de acordo com cada faixa etária. No fundamental I (6 a 10 anos), as carteiras são individuais e no fundamental II (11 a 14) são duplas e os alunos do ensino médio usam bancadas semelhantes às encontradas nas universidades. “A configuração das classes tem a ver com os objetivos pedagógicos para cada ciclo”, observa Mariana.

DO ALMOÇO NO RESTAURANTE KASHER À COLOCAÇÃO DA MEZUZÁ NA ENTRADA DA ESCOLA, O DIFERENCIAL DA VIVÊNCIA JUDAICA

Duas décadas na Hebraica Denise Katz, 26 anos, foi aluna da Escola Maternal e Infantil da Hebraica e cursou o Bialik no que hoje é chamado ensino fundamental e ao mesmo tempo frequentou o Hebraikeinu. Durante o curso de pedagogia, foi assistente na Escola Maternal. Depois de uma temporada em Israel decidiu trabalhar com educação judaica e foi admitida no Bialik como professora de hebraico. Segundo Denise, “a escola valoriza muito a área judaica, sem descuidar das outras disciplinas. Já fiz muitos cursos e há um ano e meio viajo mensalmente à Argentina para assistir aulas e recebo ajuda de custo da escola para alimentação e alojamento e para o curso”. De acordo com ela, a escola hoje é muito mais exigente do que em sua época de estudante. “Outro dia, ainda no prédio antigo, dissemos ao diretor João Guedes que, se hoje, fossemos alunos do ensino médio da escola, talvez não passássemos de ano, pois o nível da escola é muito melhor”, compara Denise.

O PROFESSOR ALEXANDRE LEONE CUMPRIMENTA UM PAI DE ALUNO; SURPRESA DOS VISITANTES DIANTE DA SALA DA ENSINO MÉDIO EM FORMATO DE AUDITÓRIO

Para o aprendizado de línguas, ciência e tecnologia, as salas e laboratórios foram desenhados de acordo com os objetivos de cada disciplina. Para artes plásticas, o fundamental usa duas salas que podem ser unidas. “Se os professores propõem uma atividade para mais de uma classe, movemos uma parede e ganhamos um espaço duplicado”, aponta a diretora. O projeto da Escola Antonietta e Leon Feffer foi idealizado levando em conta diferentes situações. No térreo uma área aparentemente livre transforma-se em

um salão a partir de um simples deslizar de paredes. Foi nesse local que os alunos do fundamental II e do ensino médio receberam as boas-vindas da equipe pedagógica da escola no primeiro dia de aula. “Nossa proposta é fazer desta uma escola de excelência e com as novas instalações, chegamos mais próximos desse objetivo. Temos salas de aula inteligentes e laboratórios em conformidade com as necessidades dos professores. Agora é continuar investindo na parte acadêmica, e para isso, todos – coordenadores, alunos, pais e funcionários – temos

de unir forças”, explicou Mariana. A reação dos alunos surpreendeu os mestres. “Na primeira aula depois das férias, perguntei para a classe como foi o almoço inaugural no Restaurante Kasher. Quase ninguém se preocupou em responder. Os alunos queriam mesmo era partir logo para o conteúdo da aula”, comentou Judith Barocas, da área de hebraico. E já desde o primeiro dia os alunos elogiam as novas instalações. Daniele Murdoch gostou da lousa inteligente. A colega Fernanda Rosenbaum agradece pelas salas climatizadas. “Facilita a concentração. No prédio antigo, os ventiladores eram barulhentos e muitas vezes espalhavam as folhas, além de não ajudarem quando chegávamos suados da aula de educação física”, comparou. Ela e os colegas do fundamental II e do ensino médio têm acesso à mais moderna tecnologia, mas nem por isso abandonam algumas ferramentas tradicionais, como os cadernos, que exercem uma função essencial no projeto pedagógico da escola. O acesso ao conhecimento na Escola Antonietta e Leon Feffer é igualitário, portanto ninguém pode trazer os próprios micros. Mas basta um professor requisitá-los e logo chega um carrinho com laptops para todo. Eles funcionam sintonizados às lousas digitais e são conectados a tomadas no piso ao lado de cada carteira. Denise Katz ensina hebraico para o terceiro, quarto e quinto anos do fundamental I. Ela é mais uma que se apoia nos recursos tecnológicos. “Preparamos apostilas e outros materiais com o conteúdo a ser transmitido. Queremos que aluno tenha prazer em aprender hebraico. Nessas novas salas, por exemplo, usamos os projetores de vídeo e propomos jogos. As crianças utilizam sempre o computador, enviam e-mails. Este ano, estou envolvida com o projeto iichpad li (‘eu me importo’, em hebraico) e na etapa final, as crianças farão uma entrevista com o primo da nossa coordenadora, via Skype”, descreve, referindo-se a um popular programa de conexão por voz e imagem em tempo real. >>


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AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA QUADRA EXTERNA DOS ALUNOS DA ESCOLA ANTONIETTA E LEON FEFFER

O desafio de uma geração Como anfitrião, o presidente da Hebraica Abramo Douek abriu a solenidade de inauguração da Escola Antonietta e Leon Feffer e disse que “este momento vai entrar para a história da comunidade judaica de São Paulo. A Escola Antonietta e Leon Feffer é o começo ou o recomeço. É a primeira letra do alfabeto hebraico e a primeira letra da palavra emet, que significa ‘verdade’, em hebraico. Aqui está sendo erguido um monumento ao conhecimento, ao saber e à informação: enfim, à verdade”. Douek lembrou a participação decisiva do ex-presidente Arthur Rotenberg, seu antecessor, que fez do acordo com o antigo Colégio Bialik “uma das principais metas da administração”. E citou o presidente da escola, Alexandre Ostrowiecki, o Nani, que “colocou à disposição desse projeto o melhor da sua imaginação criadora, convencido de que a sua geração não poderia passar pela história em branco”; e o empresário David Feffer, neto dos patronos da escola, que “aceitou, acreditou e investiu no projeto desde que ficasse marcado pela inovação, pela modernidade, pela revolução nos métodos de ensino e pela preservação dos valores e tradições judaicos”.

PRESIDENTE ABRAMO DOUEK VISITA UMA DAS SALAS Por isso, disse Douek, “a nossa grande missão é manter os filhos e os filhos dos nossos filhos entre irmãos em um ambiente judaico e de preferência desde o nascimento até a formação no ensino fundamental, ocupando-os em atividades cujo pano de fundo será colorido pela história e a memória do judaísmo”.

Judaísmo em porções iguais A área judaica no ensino médio tem o mesmo grau de importância que outras disciplinas do currículo. Em 26 anos como professora na escola, Judith Barocas lecionou em classes do fundamental, e hoje, leciona no sexto e sétimo anos do fundamental II a disciplina de cultura judaica que engloba história, tradições e Tanach. O trabalho que a escola faz desde o ensino fundamental é muito focado na identidade judaica. No fundamental II, são propostas algumas questões, como mostrar as razões e a origem da tradição. “Para mim, o ensino judaico perde o significado se a pessoa não sabe a razão de algo que faz, como por exemplo, porque se beija a mezuzá”, explica Judith. Para o rabino Alexandre Leone, professor responsável pela disciplina “Pensamento Judaico: Convergências e Divergências”, que leciona no segundo ano do ensino médio, a filosofia complementa a formação dos alunos que estudam na Escola Antonietta e Leon Feffer. “A função da escola é conectar o aluno com a tradição no sentido benjaminiano, como diz o diretor João Guedes. Isto é, o aluno deve ler as obras clássicas ou, ao menos, saber do que tratam, para chegar à universidade com esse repertório. E ao optar entre faculdades deve se candidatar às melhores do país ou do exterior”, explica. Ele cita o Projeto Monográfico, realizado pelos alunos do segundo ano do ensino médio. “Para essa pesquisa, o jovem terá um orientador e fará uma exposição diante de uma banca examinadora. Isso dará a ele um conhecimento do mundo acadêmico. Muitas dessas pesquisas são inscritas em feiras de ciências no Brasil e no exterior. Esse alto nível aparece nas aulas”, conta o rabino, e explica que no dia em que foi entrevistado por esta Revista, “estudamos em classe as provas da existência de D’us, segundo os racionalistas medievais. Lemos os argumentos antológicos de Anselmo da Cantuária e debatemos essas questões. É ou não é uma boa maneira de iniciar uma quartafeira?”, questiona.

Honra com emoção

ARTUR ROTENBERG, COMO REPRESENTANTE DA HEBRAICA; MARCELO DAVIDOVICH, DOS PAIS DE ALUNOS; MORÁ BATIA, OS PROFESSORES; PAULA SARUÊ, DOS EX- ALUNOS E ALUNOS; E BORIS BER , DOS DIRIGENTES S E EX-DIRIGENTES DA ESCOLA

As palavras “milagre”, “sonho” e “realidade” foram repetidas em todos os discursos e homenagens na cerimônia de inauguração da Escola Antonietta e Leon Feffer. David Feffer homenageou os avós, que criaram e mantiveram inúmeras instituições dentro e fora da comunidade. Alexandre Ostrowiecki citou todos – ou quase todos – que tiveram alguma participação na trajetória do agora já antigo Colégio Bialik, da mudança de endereço e nome. Foi o ativista Mário Ruhman que, segundo ele, plantou em seu coração a ideia de um colégio na Hebraica. Destacou o papel de Boris Ber e Arthur Rotenberg, ambos irredutíveis na crença de que a instalação da escola na Hebraica seria a solução para ambas as entidades. “Arthur enxergou algo que só veríamos daqui a vinte anos, quando não seria mais possível corrigir os rumos do clube e da escola. Um visionário”, declarou Ostrowiecki. Marcelo Maghidman teve valorizados o apoio e a consultoria pedagógica. Assim, desfilaram os nomes de ex-dirigentes da antiga escola, ex-alunos, funcionários e mantenedores. Nas salas, as placas com nomes e homenagens àqueles que colaboraram para a construção das novas instalações da Escola Antonietta e Leon Feffer. No rosto dos presentes, a admiração por presenciar o milagre e desfrutar da realidade que é a existência de uma escola de alta excelência, concebida e construída em tempo recorde para ajudar na realização dos sonhos das próximas gerações.


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NA INAUGURAÇÃO DA ESCOLA: 1. PLACA É DESCERRADA POR ALEXANDRE OSTROWIECKI, ABRAMO DOUEK E DAVID FEFFER; 2. BETTY FEFFER PRESTIGIOU A INAUGURAÇÃO; 3. SÍLVIA HIDAL E WALTER FELDMAN; 4. SANDRO ASSAYAG, JOSEPH DIWAN, AVI GELBER, GABY MILEVSKY E ALBERTO SAPOCZNIK; 5. ALGUMAS FUNCIONÁRIAS DA ESCOLA ANTONIETTA E LEON FEFFER; 6. EDUARDO WURZMAN E DANIEL FEFFER; 7. TALY OSTROWIECKI; 8. SAMSÃO WOILER, ALBERTO SAPOCZNIK E BEIREL ZUKERMAN; 9. REPRESENTANTES DA FAMÍLIA HARARI DIANTE DE UMAS DAS SALAS

1. CÉLIA E MOISÉS GROSS COM O RABINO HENRY I. SOBEL; 2. OS DIRETORES MARIANA GOTTFRIED E JOÃO GUEDES; 3. EX-ALUNO DO BIALIK, O PRESIDENTE DO KKL EDUARDO EL KOBBI TROUXE O “COFRINHO AZUL” PARA A ESCOLA ANTONIETTA E LEON FEFFER; 4. ALEXANDRE OSTROWIECKI CITOU TODOS COM QUEM ATUOU E ATUA NESSE PROJETO DE ENSINO; 5. A ABERTURA DA ESCOLA AOS VISITANTES; 6. UMA HAMSA PARA AGRADECER A OSTROWIECKI, ENTREGUE POR RENATO FEDER



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grandes festas

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ela terceira vez o chazan Dudu Fischer viaja de Israel ao Brasil para dirigir, em São Paulo o serviço religioso no Teatro Arthur Rubinstein. Ele se une aos chazanim Gerson Herszkowicz e David Kullock que, respectivamente, atuam no Salão Marc Chagall e na Sinagoga. Os preparativos para a chegada do ano de 5773 tornam-se mais evidentes à medida que se aproxima o dia 16 de setembro, erev Rosh Hashaná, quando o clube suspende as atividades cotidianas e se volta exclusivamente para o primeiro dos dez Iamim Noraim (período compreendido entre Rosh Hashaná e Iom Kipur). “A Hebraica registra nesses dias a maior concentração de judeus da cidade. Em alguns horários, somamos cinco mil pessoas nas três sinagogas”, comentou Gerson Herszkowicz, que este ano cumpre dois papéis, um profissional, como chazan, e outro voluntário, como diretor de Cultura Judaica. “Nesta gestão, minha área foi incorporada à vice-presidência Administrativa, cujo titular, Mendel Szlejf, coordena há vários anos o serviço religioso na sinagoga montada no Salão Marc Chagall”, acrescenta Herszkowicz. Este ano, as sinagogas do Teatro Arthur Rubinstein e do Salão Marc Chagall ganham decoração nova, assinada pelo arquiteto Felippe Crescenti, cujo escritório criou dois projetos que englobam desde o Aron Hakodesh (arca que protege os livros da Torá), o púlpito utilizado pelo chazan, além de toda a ambientação que cerca os fiéis. “Tenho certeza de que os frequentadores do teatro e do salão ficarão agradavelmente surpreendidos. Quanto à sinagoga do clube, não creio que ela possa ficar mais linda do que já é”, afirma Gerson. Enquanto as equipes de montagem trabalham na transformação das sinagogas, os corais Litúrgico (regido pelo maestro Leon Halegua) e Zemer (regido pela maestrina Sima Halpern) ensaiam e se preparam para os momentos mais importantes do ano, ou seja, acompanhar e realçar as vozes dos chazanim Dudu Fisher e Gerson Herszkowicz. (M. B.)

Três sinagogas, três serviços religiosos COM INTENSA PROCURA POR LUGARES NAS TRÊS SINAGOGAS, OS PREPARATIVOS PARA AS GRANDES FESTAS ENTRAM EM FASE FINAL. O TEATRO E O SALÃO MARC CHAGALL TERÃO NOVO LAYOUT, ASSINADO PELO ARQUITETO FELIPPE CRESCENTI

O CHAZAN DUDU FUSHER CANTA NA HEBRAICA PELO TERCEIRO ANO CONSECUTIVO

Grandes Festas 5773 16/9 – domingo 18h – Véspera de Rosh Hashaná Celebração das Grandes Festas (acendimento das velas às 17h40) 17/9 – Segunda-feira 9h – Primeiro dia de Rosh Hashaná 17h – Tashlich (na Fonte, junto ao Salão Marc Chagall) 18h – Minchá e arvit (Sinagoga) 18/9 – Terça-feira 9h – Segundo dia de Rosh Hashaná 25/9 – Terça - feira 18h – Kol Nidrei –

Véspera de Iom Kipur (acendimento das velas e início do jejum às 17h43) 26/9 – Quarta-feira 9h –Iom Kipur – Shacharit 11h – Yizkor Iom Kipur 17h – Neilá Iom Kipur 18h42 – Shofar e Kidush Iom Kipur (Término do jejum 18h37) Atividades especiais para as crianças durante o horário das principais rezas


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grandes festas | por Jonathan Sacks

O D’us da Vida e o Livro da Vida O TEXTO ABAIXO É O DÉCIMO OITAVO DO LIVRO CARTAS PARA A PRÓXIMA GERAÇÃO, DE AUTORIA DO RABINO-CHEFE DA INGLATERRA (FOTO), CUJA EDIÇÃO EM PORTUGUÊS É PATROCINADA PELA CONIB PARA SER DISTRIBUÍDA ÀS ENTIDADE FEDERADAS EM TODO O PAÍS. NESSE LIVRO, O RABINO RESPONDE ÀS INDAGAÇÕES E DRAMAS EXISTENCIAIS DE DOIS JOVENS UNIVERSITÁRIOS, RUTE E MICHEL. OS DIREITOS DE PUBLICAÇÃO PERTENCEM À EDITORA SÊFER, CUJO DIRETOR JAIRO FRIDLIN CEDEU UM CAPÍTULO PARA A REVISTA HEBRAICA

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abino, temos muitas outras perguntas, mas decidimos guardá-las por enquanto e perguntar simplesmente: que mensagem o senhor pode nos dirigir para o ano que vem? Rute e Michel, Uma das grandes mensagens das nossas orações, e que consta no Salmo 90, diz: “Ensina-nos com o contar dos nossos dias a alcançar a sabedoria do coração”. Como disse Steve Jobs: “Seu tempo é limitado, portanto não o desperdice vivendo a vida de outro”. Não tente ser o que você não é. Tente ser aquilo para o qual você foi chamado a ser. Tenho visto pessoas alcançarem grande êxito e, contudo, terminarem a vida tristes e solitárias porque sempre pensaram em si mesmos e nunca se preocuparam com os outros. Vejo pessoas de grande talento não realizarem as suas potencialidades porque nunca realmente perceberam que caráter importa mais do que talento, e sabedoria mais do que esperteza. Vejo pessoas acumularem grandes posses e nem por isso encontram a felicidade, porque esqueceram que riqueza é somente um meio, e não um fim. A felicidade é constituída pelo bem que fazemos, as relações que estabelecemos e pela dimensão das melho-

rias que produzimos nas vidas de outros. Segundo uma bem elaborada pesquisa, pessoas religiosas são mais felizes e vivem mais do que outras – nem sempre, pois há muitas exceções, mas na média, sim. A razão para isto é evidente. A religião encoraja a manter o casamento, a reforçar a família, a nos tornarmos parte de uma comunidade e a fazer o bem aos outros por meio de doações, tzedaká, e trabalhos voluntários, chessed. A fé preenche a nossa vida de sentido. Não é minha intenção criticar qualquer um que tenha feito outras escolhas, nem sugerir que as pessoas religiosas estejam menos expostas aos inúmeros choques com os quais nos deparamos na vida, mas concluí que a fé tem ajudado a mim e a muitas outras pessoas a sobreviver às crises, evitar tentações, viver pelas coisas que realmente importam e trabalhar diuturnamente para consertar faltas e erros que sei ter cometido. A fé responde aos melhores reflexos da nossa natureza. Faz diferença cumprir o Shabat e saber que o trabalho é importante, sim, mas que precisa de certos limites. A sociedade muitas vezes os excede. Trata os empregados e os profissionais como se tivessem de ficar a serviço dia e noite, prontos a responder e-mails e telefone-

mas 24 horas por dia, sete dias da semana. A sociedade esquece que há limites para nossa vontade de consumir e para a busca da satisfação dos desejos. Os sábios perguntam por que D’us é também chamado na Torá de Shadai (“eterno”, em hebraico)? Eles respondem: “Porque Ele pronunciou a palavra Dai! (“chega, é o bastante!”). Há momentos em que temos de dizer “Chega!” e não trabalhar ou dispor do nosso tempo para atender ao telefone. Em vez disso, devemos gozar da companhia da família, participar das celebrações da comunidade e agradecer ao Eterno por Suas bênçãos. Faz diferença rezar, manter um contato contínuo com Sua Presença em nosso coração, dar voz às nossas esperanças, agradecer por nossas vidas e expressar nossas emoções, unindo nossa voz ao coral sinfônico do nosso povo quando canta louvores ao Eterno. Faz diferença ter dias como o Iom Kipur, no qual podemos reconhecer as nossas falhas, fazer correções para reparar os nossos erros, pedir perdão e saber que seremos perdoados. Faz diferença partilhar uma fé e uma tradição com nossos filhos e saber que aquilo pelo qual vivemos continuará – e que, de fato, fazemos parte da mais antiga e notável história jamais escrita por uma nação desde que, pela primeira vez, o homem colocou os pés na terra. Afinal de contas, a vida deve ter sentido, e jamais encontramos sentido no isolamento. Pense numa letra do alfabeto. Todas as ideias são expressas por meio de palavras e todas elas são construídas com letras. Mas, sozinha, nenhuma letra faz sentido. Para ter significado, ela deve estar unida a outras para formar palavras, sentenças, parágrafos e histórias. O mesmo acontece com a vida. Nenhuma vida tem significado por si só. Ela deve estar unida a outras vidas, formando famílias, comunidades, povos e suas histórias. Os individualistas se esquecem disto muitas vezes, mas o judaísmo, jamais. É verdade que acontecem coisas ruins no mundo hoje em dia. É verdade que Israel está sendo criticado e até mesmo

isolado, mas ao menos, após dois mil anos de exílio, temos Israel – um país, um lar, um Estado, uma sociedade. É verdade que há antissemitismo. Mas também há filossemitismo. Os judeus e o judaísmo são respeitados como nunca tinham sido anteriormente. Pesquisa recente nos Estados Unidos, por exemplo, mostrou que os americanos sentem-se mais próximos dos judeus do que dos membros de qualquer outro grupo religioso. É verdade que a vida judaica não é sempre fortemente inspiradora como gostaríamos que fosse, mas o meio de mudar isto é participar da vida judaica e torná-la melhor. No momento em que lhes escrevo, meus caros Rute e Michel, também celebro vinte anos no cargo de rabino-chefe. Parece estranho pensar que iniciei esta tarefa quase na mesma época em que vocês nasceram. Durante esses anos, tive a

oportunidade de me encontrar com todos os tipos de judeus em várias partes do mundo. E se gravei alguma coisa desses encontros foi que, de certa forma, os judeus parecem mais vivos, com mais energia e apaixonados, mais ansiosos por viver do que a maioria das outras pessoas. A explicação para isso não é porque os judeus são diferentes, mas porque o judaísmo é diferente. Os judeus encontram D’us na própria vida; não em um céu distante, num mundo que virá, num retiro monástico ou num mundo de autonegação e ascetismo. Moisés nos ensinou que D’us não está distante, mas sim, próximo de nós. Perdoem a expressão, mas os judeus sempre trataram D’us – e pela evidência da Torá, Ele também assim nos tem tratado –, como se fôssemos parte da Sua família, parte da mishpachá (“família”, em hebraico). Talvez por isto discutamos

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tanto com Ele, e Ele conosco. Mas parentes são inseparáveis. Você pode discutir com eles, e nem por isso deixa de ser membro da família. No judaísmo, D’us está perto de nós e nosso laço com Ele é inquebrantável. D’us está perto. D’us está aqui. D’us é a vida. Por isso, celebrem a vida. Santifiquem a vida. Transformem a vida em uma bênção e façam uma bênção sobre a vida. Isto é o judaísmo em poucas palavras. Posso garantir que, independentemente do que resolvam fazer, viver uma vida judaica os ajudará a melhorá-la, com mais equilíbrio, mais sabedoria, mais alegria, um sentimento mais profundo de propósito e um sentimento de terem sido tocados pela eternidade. Queridos Rute e Michel: que o D’us da vida os inscreva no Livro da Vida e que a vida de vocês seja um capítulo abençoado em Seu livro.



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solidariedade CICLISTAS REUNIDOS EM ISRAEL, EM 2011

Pedalar pelo amor e pela vida NOVE CICLISTAS BRASILEIROS SE UNIRÃO AOS QUASE SETECENTOS DE OUTROS PAÍSES PARA ANDAR DE BIKE E LEVANTAR FUNDOS PARA O HOSPITAL ALYN, EM ISRAEL, QUE ATENDE CRIANÇAS COM DOENÇAS CONGÊNITAS, LIMITAÇÕES FÍSICAS, FERIDAS EM ACIDENTES E ATAQUES TERRORISTAS

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XIII Wheels of Love (Rodas de Amor) é um passeio ciclístico anual em Israel que forma uma rede internacional de benemerência. Cada participante estimula família, amigos e colegas de trabalho a colaborar com a causa das crianças especiais atendidas pelo Hospital Alyn. Desta vez, de 11 a 15 de novembro, setecentos ciclistas percorrerão quatro rotas em território israelense de acordo com a escolha de cada um. No último dia, o prefeito de Jerusalém Nir Barkat receberá os atletas na entrada da cidade e juntos farão um tour ao redor das muralhas, a caminho da cerimônia final, na sede do Alyn. A Wheels of Love é preparada por uma equipe de profissionais e voluntários que acompanham os participantes durante os cinco dias, com uma infraestrutura pronta para atender às necessidades de cada um, seja novato ou experiente. Esse cuidado chama a atenção de todos, pois vai aos mínimos detalhes. Até o fechamento desta edição, sete ciclistas de São Paulo estavam inscritos para participar dessa experiência única: Gilberto Lavitez, Luiz Grossman e Bernardo Segal, do HeBike da Hebraica; os empresários Hélio Malagoli, Regina Ueti

e Nuria Casadevall com o técnico Zelito Oliveira. A eles se juntarão, em Israel, os brasileiros Alexandre Benedek e Isac Michaan. Outros deverão se inscrever nos próximos dias. Lavitez e Grossman fizeram o percurso em 2011 e, entusiasmados, voltarão este ano. Os empresários viajarão uma semana antes para conhecer Israel de ponta a ponta. Esse grupo começou a se preparar há alguns meses e além da colaboração pessoal, conseguiu captar o suficiente para levar o técnico e para que mais pessoas participem dessa corrente de solidariedade em prol de crianças com doenças congênitas, limitações físicas, feridas em acidentes e ataques terroristas originárias de várias partes do mundo, independente de sua cor ou credo, os ciclistas estão vendendo camisetas doadas por Yves Mifano, Avi Gelberg e Mauro Bleich. Para Lavitez, “essa jornada não tem igual, pois começa com o patrocínio antes da viagem, emociona a cada etapa do percurso e termina com uma cerimônia reunindo ciclistas, voluntários e crianças, na qual a emoção é indescritível. Só estando lá para sentir e entender o alcance desse passeio diferente de tudo que se imagina”. (T. P. T.)


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cultural + social > XVI festival de cinema judaico FILA PARA A ABERTURA DO FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO NO TEATRO ARTHUR RUBINSTEIN

Sucesso total em seis endereços

O JÚRI POPULAR ELEGEU CRIANÇAS PRODÍGIO, DO ALEMÃO MARKUS ROSENMÜLLER, O MELHOR FILME DE FICÇÃO DO XVI FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO (FCJ), E O DOCUMENTÁRIO

A VIDA ATRAVÉS DAS FOTOS, PRODUÇÃO TEUTO-ISRAELENSE DIRIGIDA POR TAMAR TAL

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árias razões explicam a escolha do drama infantil Crianças Prodígio (Wunderkinder): o carisma dos atores e a perfeita combinação trilha sonora-roteiro. O filme trata do efeito que a chegada dos soldados nazistas à pacifica cidade ucraniana de Poldava provoca na amizade de três crianças com talento musical, duas judias e uma alemã. Quem assistiu às sessões recomendou o filme aos amigos e, por isso, o anúncio da exibição da fita vencedora no domingo, último dia do festival, fez os ingressos se esgotarem rapidamente.

Shandlea Roshovsky ficou na fila para garantir o seu. “Não esperava que este filme superasse David e Kadish para um Amigo, que assisti à tarde, mas Crianças Prodígio mereceu o prêmio”, avaliou. Apontando para o catálogo ela descreveu o roteiro. “Durante a semana vi três outras fitas no Centro da Cultura Judaica e gostei especialmente de A Ponte sobre o Rio Wadi”, referindo-se a um entre os vários documentários produzidos pelos irmãos Barak e Tomer Heymann e incluídos numa retrospectiva. Minutos antes de entrar no teatro

para ver Crianças Prodígio, Guita Rubinsky Elefant elogiou Lea e Derija (Lea/Derija), produção croata dirigida por Branko Ivanka. “Consegui ver aqui mesmo, na Hebraica. Pensei que seria a vencedora”, afirmou. Os dois diretores israelenses Barak e Tomer Heymann participaram do FCJ como convidados e chegaram a São Paulo no terceiro dia da mostra. Perderam o coquetel, a cerimônia de abertura e o discurso do vice-presidente Social e Cultural, Mendel Szlejf, antes da exibição da animação O Gato do Rabino, de Joan Sfar e Antoine Delesvaux, uma das principais atrações do festival. Muitos dos espectadores presentes na

primeira sessão foram vistos depois em diferentes horários e salas de exibição, no esforço de assistir ao maior número possível de filmes. No sábado, Telma Laufer encontrou-se na Hebraica com a filha, Stefanie, 24 anos, para a sessão de A Vida Através das Fotos, no Teatro Anne Frank. “Minha mãe assistiu a alguns filmes durante a semana, mas o documentário será o primeiro da minha lista este ano”, declarou a jovem. Escolha acertada, pois a produção foi a eleita pelo júri popular como a melhor em sua categoria. Segundo a curadora do Festival, Daniela Wasserstein, as salas do Cinemark no Shopping Pátio Higienópolis, CineSesc, do Teatro Eva Herz, do Museu da Imagem

e do Som e do Centro da Cultura Judaica (CCJ) tiveram bom público. “A procura por catálogos foi grande e os responsáveis pelas salas relatavam números satisfatórios, mas só saberemos com exatidão depois da contagem final”, comentou. As salas de exibição na Hebraica tiveram bom movimento nas sessões de ficção e não ficção. A mídia divulgou a programação do Centro de Cultura Judaica e do clube, reservando páginas inteiras nos cadernos culturais para o festival, o que aumentou a procura por ingressos nas bilheterias. O CCJ exibiu com exclusividade o documentário italiano Os Fantasmas do Terceiro Reich, dirigido por Cláudia Erlich >>


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cultural + social > XVI festival de cinema judaico >> Sobral. “Foi um acréscimo inesperado, a grade das outras salas já estava pronta, então descobrimos um horário disponível no CCJ. A maioria dos filmes passou em ao menos duas salas”, esclareceu Daniela. Interesse maior A cada edição do Festival, o público reivindica mais sessões extras para alguns determinados títulos. “Aos sócios que perguntam a razão de não se divulgar os filmes com temática sobre o Holocausto nas escolas, respondo que as cópias são cedidas apenas para o período do Festival e existe o compromisso do clube com um número limitado de exibições”, argumenta a curadora. Os irmãos Heymann acompanharam as sessões no Centro da Cultura Judaica e no Museu da Imagem e do Som, onde os seus filmes foram apresentados. O debate com os sócios foi realizado na quarta-feira seguinte ao Festival, no Teatro Arthur Rubinstein. Barak elogiou a gentileza da plateia que o recebeu no Centro da Cultura Judaica. Ao avaliar a estada em São Paulo, disse que “a Hebraica é linda e muito bem equipada, mas fora a situação é diferente, com muita pobreza, como vi nos trajetos entre uma sala de cinema e outra. Se realizasse um filme aqui no Brasil, eu mostraria a distância entre ricos e pobres”, observou o diretor, cujos documentários tratam justamente de questões delicadas da sociedade israelense. O curta nacional Entre Nós e o documentário Sobre Futebol e Barreiras foram os primeiros a serem exibidos no Teatro Anne Frank, e com a presença dos respectivos diretores. “Rodei algumas cenas aqui nesse teatro e fiz questão de voltar e ver o filme pronto na tela”, declarou Ricardo Reichhardt a respeito de Entre Nós. “A emoção é maior depois da perda recente da minha avó, que é uma das personagens. Espero conseguir trazer o meu avô para a exibição no Teatro Eva Hertz. Ele também está doente e nem sabe a respeito do filme que retrata um momento vivido pelos dois”, contou o jovem diretor.

OS ISRAELENSES BARAK E TOMER HEYMANN CONVERSARAM COM O PÚBLICO EM VÁRIOS MOMENTOS DO FESTIVAL

Já Arturo Hartmann, Lucas Justiniano e José Menezes, de Sobre Futebol e Barreiras, se declararam satisfeitos com a seleção do documentário. “Tivemos boas críticas do público quando o documentário passou na Mostra Internacional de Cinema, em 2011. Agora estamos ansiosos para ouvir o que a plateia do Festival de Cinema Judaico tem a dizer a respeito dos depoimentos de israelenses e palestinos selecionados para o filme”, comentaram. Dias depois foi a vez da cineasta Kátia

Mesel, diretora de O Rochedo e a Estrela, acompanhar a apresentação do seu trabalho no Teatro Arthur Rubinstein. “De fato, é uma reapresentação porque no Festival de 2008 eu trouxe uma cópia ainda em DVD para colher opiniões do público e alterar o necessário para a finalização em 35 mm. Acabei não mudando nada, mas levei muito tempo para captar recursos para concluir o filme. Falta ainda a tradução das legendas para exibir o filme no exterior”, explicou a diretora. (M. B.)


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cultural + social > in concert

JAIR RODRIGUES ESBANJOU ENERGIA E CONTAGIOU A PLATEIA COM MUITA ALEGRIA

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bras de Mozart, Bach e música popular brasileira reunidas em um único espetáculo musical. Esta inusitada combinação surpreendeu agradavelmente o cantor Jair Rodrigues no primeiro show da Série In Concert 2012 realizado no Teatro Arthur Rubinstein. Promovida pela vice-presidência Social e Cultural, a Série In Concert 2012 tem patrocínio do Itaú e apoio do Banco Daycoval, Hospital Israelita Albert Einstein e Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura. O maestro Leon Halegua regeu a execução do primeiro movimento da Sinfonia 40 em Sol Menor, de Mozart, e nos últimos compassos Jair Rodrigues entrou aplaudindo o número de abertura e afirmando que “é um prazer voltar a cantar na Hebraica, onde já estive tantas vezes nesses 53 anos de carreira. Aqui, sinto-me como se estivesse em casa, ainda mais com o acompanhamento de uma orquestra como essa”, elogiou. A partir daí, interpretou criações de Catulo da Paixão Cearense, Noel Rosa, Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri. Uniu a poesia de Eu Sei que Vou te Amar, Tiro ao Álvaro e Você Abusou acompanhado pela

Jair Rodrigues fez todo mundo cantar JAIR RODRIGUES REVIVEU COM O PÚBLICO OS MELHORES MOMENTOS DA CARREIRA E AS FASES ÁUREAS DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA.

ELE FOI A PRIMEIRA ATRAÇÃO DA SÉRIE IN CONCERT 2012 orquestra e por sua banda. Ao interpretar Upa Neguinho, lembrou o dueto com Elis Rodrigues no show “O Fino da Bossa”. Ao descobrir as cinco jovens que formavam o coro, silenciava em alguns estribilhos para realçar as vozes femininas. Da proposta inicial de revisitar a época dos festivais, Rodrigues apresentou Pra não Dizer que Falei das Flores, de Geraldo Vandré, Ponteio, de Edu Lobo e Capinam e Disparada, canção que empatou com A Banda, no Festival da Record, em 1967. A execução da Ária para a Corda Sol, de Bach, pela orquestra ofereceu uma pequena pausa ao cantor, que retomou o show com o mesmo fôlego. Generoso, re-

partiu os aplausos com o maestro, a orquestra, o coro e a banda formada por Marcelo Maita (piano), Paulinho Dafilin (violão), Carlinhos Creck (baixo e viola) e Giba Favery (bateria). Depois de uma hora de show, ninguém queria encerrar a noite. Sob aplausos, cantor, orquestra e coro voltaram para um bis. Rodrigues se despediu da plateia com o que chamou de o primeiro rap, ou seja, a música que se tornou marca registrada em sua carreira: Deixa Isso prá Lá. O próximo show da Série In Concert terá como atração principal o cantor israelense Dudu Fisher, no dia 23, às 19 horas. (M.B.)


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cultural + social > kleztival

Edição 2012 terá campo de estudos EM OUTUBRO, O KLEZTIVAL TOMARÁ CONTA DA CIDADE COM ATRAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS, MUITAS EM SESSÕES GRATUITAS E ABERTAS AO PÚBLICO, ALÉM DE UM KAMP KLEZTIVAL INÉDITO, NA CANTAREIRA

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APLAUDIDO EM 2011, O DUO POLINA E MERLIN SHEPHERD RETORNA AO KLEZTIVAL

e 12 a 21 de outubro, a música judaica será ouvida em clubes, casas de shows, teatros, museus e no Metrô Sé com a apresentação de artistas nacionais e internacionais: o Babel/Ashkenaz, que reúne o trompetista norte-americano Frank London, diretor musical do Kleztival, nome de vanguarda quando se fala de música judaica, jazz e klezmer, o alaudista e violinista Yair Dalal e o percussionista Erez Mounk, ambos israelenses, acostumados a passeios sonoros por paisagens ocidentais e orientais; o duo Polina e Merlin Shepherd, que foi muito aplaudido nas apresentações de 2011, ela cantando e ao piano e ele na clarineta, com um repertório ídiche/klezmer tradicional e contemporâneo; Michael Alpert, um dos criadores da banda Brave Old World, apresenta-se na Europa e nos EUA, cantor, compositor, pianista e acordeonista, além de estudioso do ídiche; Daniel Kahn é um jovem cantor, compositor e multi-instrumentista norte-americano radicado em Berlim que se inspira em compositores do gênero cabaré alemão do período da república de Weimar. Várias bandas já confirmaram – outras devem confirmar – a participação no encontro, como o Trio Shalvá, de Israel, o Beyond the Pale, do Canadá e o Klingon Klezmer, dos Estados Unidos. Artistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba estarão presentes: Klezmorim, Grupo Zemer e outros se apresentarão ao lado de

conjuntos conhecidos como Zamarim, Azdi, Trio In Canto, Patavinas Jazz Club. Os cantores conhecidos da comunidade aderiram ao Kleztival, além dos corais Abanibi, Wizo, Na’amat de Porto Alegre, os de Santos e Santo André. Essa movimentação começou há três anos com a parceria Instituto da Música Judaica – Brasil e a Hebraica, estendendo-se a outros parceiros, para viabilizar a vinda dos conjuntos do exterior e os do Brasil. O êxito dos dois festivais anteriores irá se repetir em 2012, pois cada edição do Kleztival contribui para divulgar e promover os artistas brasileiros que

fazem música judaica e ampliar o intercâmbio com os músicos do exterior, chamando um público novo para se familiarizar com o som do shtetl e dos países orientais. Inovação em 2012: Kamp Kleztival Como nos festivais nos Estados Unidos e na Europa, o encontro musical deste ano terá um retiro de 11 a 14 de outubro, no Centro de Convenções Santa Mônica, na Serra da Cantareira, a apenas meia hora de São Paulo. Destinada a leigos e profissionais de todas as idades, a programação inclui workshops, oficinas de nigunim (canções, em hebraico), aula de danças e um concerto dos artistas internacionais, além do Kabalat Shabat, o clima do local, as opções de lazer e a pensão completa. Não é necessário ser músico, apenas gostar de música judaica e se inscrever. Para informações de como participar dessa jornada musical, Central de Atendimento da Hebraica 38188888/3818-8889. Vagas limitadas.

Programação 12/10, 21h, Centro de Convenções Santa Mônica, na Cantareira 13/10, 15h, Fábrica de Cultura do Belém 13/10, 21h, Sesc Santos 13/10, às 21h, Sesc Pompeia 13/10, 21h, Centro de Convenções Santa Mônica, na Cantareira 14/10, 12h, Hebraica Meio-Dia, Teatro Arthur Rubinstein 14/10, 19h, Museu da Casa Brasileira 15, 16, 17 e 18/10, 18h, Estação Sé do Metrô 15/10, 21h,Escola de Música do Estado de São Paulo – Emesp (Tom Jobim) 16 e 17/10, 20h,

Sesc Pompeia e Sesc Bom Retiro 18/10, 10h30, Faculdade Cantareira de Música 18/10, 20h, Teatro Municipal de Santo André 18/10, 21h, Teatro do Club Athletico Paulistano 20/10, 11h, Teatro do Clube Paineiras do Morumby 20/10, 15h, Fábrica de Cultura de Sapopemba 20/10, 16h, Fundação Ema Klabin 20/10, 21h, Teatro Arthur Rubinstein, Hebraica 21/10, 12h, Hebraica Meio-Dia


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cultural + social > biblioteca

ENTREVISTA Hebraica – Em seu blog na Folha de São Paulo, você diz que “saiu do armário” como escritora. O que fazia antes de lançar seus livros? Vivian Schlesinger – Sou bióloga, formada pela USP há 35 anos. Trabalhei em laboratório, na Unicamp, e em escolas internacionais até 2009 como professora de biologia e matemática para colegial. Eu gostava muito de trabalhar com jovens, mas ao longo dos anos tive uma perda acentuada da audição por causas desconhecidas e tornou-se muito difícil dar aula. Por isso, em 2010, resolvi escrever e ser avó de quatro netos em regime de dedicação exclusiva. Comecei a escrever poesia aos 7 anos, mas somente depois de 43 anos, em 2005, passei a levar isso a sério.

VIVIAN ESTEVE RECENTEMENTE EM ISRAEL E SE ATUALIZOU EM RELAÇÃO AO MERCADO LITERÁRIO NO PAÍS

Um encontro só para leitores DIA 22 DE SETEMBRO, ÀS 16 HORAS, A BIBLIOTECA REALIZA O SEGUNDO ENCONTRO DO CLUBE DA LEITURA NO AUDITÓRIO DA SEDE SOCIAL, PROMOVIDO PELO SINDI-CLUBE E A ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, COM O APOIO DA CIA. DAS LETRAS

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o encontro realizado pela Biblioteca da Hebraica os leitores expõem ideias acerca de uma obra literária com a mediação de um profissional. A iniciativa se baseia em um modelo norte-americano destinado à popularização da literatura. A Hebraica é o primeiro clube esportivo a participar deste novo projeto do Sindi-Clube. Na primeira edição do Clube da Leitura, no final de agosto, foi debatido o livro Dois Irmãos, de Milton Hatoum. Em

setembro, será O Homem em Queda, de autoria de Don DeLillo. Os dois livros estão no acervo da Biblioteca para empréstimo e qualquer um pode participar do Clube da Leitura: basta se inscrever pela página da Hebraica (www. hebraica.org.br) ou pelo telefone 38188826. Convidada pela Biblioteca, a escritora Vivian Schlesinger será a mediadora das reuniões mensais do Clube da Leitura, e concedeu entrevista à revista Hebraica.

É usuária ou frequentadora da Biblioteca? Vivian Schlesinger – Ainda não porque faz pouco tempo que retornei à Hebraica. Meu pai foi um dos sócios fundadores do clube. O número dele era 731 e frequentamos muito o clube até meus 10 anos, mas depois nos afastamos. Casei, morei em Campinas 25 anos, voltamos para São Paulo e, no ano passado, à Hebraica, na esperança de oferecer aos netos tudo que o clube tem. Por esta razão, ainda não tive tempo de desfrutar da Biblioteca. Mas aqui vai um segredo: ao ler um livro, gosto de interagir com ele, anoto ideias nas margens, marco textos em cores brilhantes para depois colecionálos em um arquivo, deixo post-it’s marcando páginas de uma cena de suspense bem construída, ou um personagem bem desenvolvido. Para algumas pessoas, eu estrago os livros. Eu jamais danifico o texto ou o objeto em si, mas entendo que, para muitos, encontrar uma anotação na margem de um livro estraga a experiência da leitura. Para mim, ao contrário, a leitura fica mais rica. Por isso, raramente tomo livros emprestados, e prefiro comprá-los, mesmo que usados. Agora, com o surgimento dos e-

books, compro ainda mais, e se por acaso encontro um livro que quero – poesia, algo para ser relido ou estudado – aí, sim, compro em papel. Mas não me entendam mal: bibliotecas são lugares mágicos. Devo muito do que sei e penso às horas passadas na biblioteca da escola onde estudei. Qual é o seu perfil como leitora? Gosta de romances, prefere poesias? Vivian – Leio romances o tempo todo, vários de cada vez, em média um por semana, e poesia duas ou três vezes por semana. Posso ler um só poeta durante algumas semanas, ou vários em um só dia. Também gosto de livros de história judaica, ficção histórica e jornalismo literário. Leio alguma ficção científica e crônicas, para dar a minha contribuição na oficina literária da qual faço parte, e procuro ler ao menos uma vez por mês um livro de autor brasileiro estreante, poesia ou prosa, para discutir em um grupo de crítica literária da Casa das Rosas. Mas também leio literatura científica, particularmente alguns tópicos em medicina e em astrofísica. Como você prefere ter os seus versos divulgados: por meio do livro em papel ou do livro digital? Vivian– Em papel é ideal para a leitura de poesia, porque permite observar o livro como um todo, em vez de poemas separadamente. Um livro de poemas é um conjunto, uma unidade, na qual as dicas para o melhor entendimento estão presentes tanto nas palavras dos poemas como na escolha da sua sequência, o espaço que ocupa na página, e até na capa. Se isso não é perdido no e-book, é certamente menos evidente. Quanto à prosa, que é o caso de um dos livros que estou escrevendo, pode ser igualmente apreciado na forma física ou eletrônica. Pessoalmente prefiro a forma física, mas tenho amigos leitores tão ou mais ávidos do que eu, e praticamente só os leem em seus i-pads. Adoro tecnologia, mas não como um fim em si mesmo. Imagino que

no Clube da Leitura da Hebraica teremos tanto leitores que preferem uma forma como a outra e isto será ótimo. E como encara o convite do Sindi-Clube para ser mediadora do Clube da Leitura? Vivian– O convite do Sindi-Clube deve-se à indicação de Deborah Goldemberg e de Eunice Lopes, o que muito me lisonjeia. Participei de um curso com a Deborah coordenado pela Biblioteca da Hebraica – “Do Rascunho na Gaveta ao Livro Publicado” – durante o qual foram discutidos muitos livros, pois para ser um bom escritor é imprescindível ser um bom leitor. Acho que ficou claro que gosto muito de ler e de conversar a respeito dos livros, de autores e estilos. Coincidentemente, nessa época surgiu o convite do Sindi-Clube (com a Academia Paulista de Letras e Cia. das Letras) à Hebraica, e quando me perguntaram se gostaria de ser a mediadora, topei na hora. Ler é muito bom, mas poder discutir livros com outros que gostem de ler é melhor ainda. Ademais, para mim, como escritora, é uma oportunidade enriquecedora, porque me possibilita enxergar a percepção de diferentes aspectos de um livro por intermédio de outros leitores. Estou torcendo para o êxito desta iniciativa, tanto pelas entidades envolvidas, como pela minha satisfação pessoal. O que você espera desse projeto? Vivian – O resultado mais importante é formar um grupo, dentro da Hebraica, com afinidade por leitura, em um ambiente social e intelectualmente instigante. O povo judeu é desde a antiguidade conhecido como o “Povo do Livro”. Ler e discutir o texto é algo intrínseco à cultura judaica. Gerar perguntas é mais importante, mais interessante do que as respostas, e o judeu sabe, desde o princípio, que qualquer texto será tanto mais rico quanto mais numerosas forem as possíveis interpretações. Tudo isto deve contribuir para o êxito do Clube da Lei>>


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A ESCRITORA MEDIARÁ OS ENCONTROS DO CLUBE DA LEITURA

>> tura da Hebraica. Espero que os participantes venham à reunião ansiosos por falar e ouvir sobre o livro, mas também que descubram novos amigos, e que o período de noventa minutos que teremos nunca seja o suficiente. E quais obras recomendaria aos principiantes? Vivian– Limitei a lista a quinze títulos, todos de autores que eu já conhecia bem. Propositalmente escolhi títulos que ainda não havia lido, obrigando-me assim a lê-los já com Clube da Leitura em mente. Eliminei um deles logo, porque o autor revelou-se tremendamente antissemita, e dois outros por serem muito longos e densos. Escolhi para setembro Homem em Queda, de Don DeLillo, e para outubro as opções serão A Trama do Casamento, de Jeffrey Eugenides, e Nemesis, de Philip Roth. Destes dois, o primeiro é longo, mas relativamente leve: a his-

tória de três amigos a partir da formatura na faculdade num triângulo amoroso. O segundo é bastante curto, de leitura rápida, mas longa reflexão, a história de um professor que se depara com a epidemia de poliomielite nos Estados Unidos, nos anos 1950, e a crise pessoal que isso desencadeia. Ambos são livros consagrados pela crítica e público, premiados e bestsellers, portanto prometem. Outros livros da lista são Herzog, de Saul Bellow, Diário de um Ano Ruim, de J. M. Coetzee, Tudo Que Tenho Levo Comigo, Herta Muller, Estive em Lisboa e Lembrei de Você, de Luiz Ruffato, O Centauro no Jardim, de Moacyr Scliar, e Cidades da Planície, de Cormac McCarthy. É importante lembrar que quem escolhe os livros é o grupo. Que aspectos você destacaria ao recomendar a leitura de Homem em Queda, título escolhido para o segundo encontro do Clube da Leitura?

Vivian– Gosto muito deste livro, porque me provoca muitos tipos de emoção: raiva, ansiedade, compaixão, solidariedade. A pergunta que me faço, e que proponho é: quem, das personagens, é a melhor pessoa? Quem é a pior? Mas há outras: você se lembra de onde estava quando soube do ataque de 11 de setembro? Há algum evento que tenha marcado sua vida de forma comparável a este? Qual é sua reação à descrição do aspecto físico, psíquico, intelectual dos terroristas; você acha que eles eram assim mesmo? O que faria no lugar de Keith com a valise que ele distraidamente apanhou ao fugir do prédio em chamas? Mesmo para quem ainda não leu o livro, dá para perceber que é riquíssimo em aspectos emocionais, apesar de haver ação e enredo. E se presta perfeitamente ao Clube da Leitura porque há muito a discutir. Mal vejo a hora de conhecer as pessoas e começar. (M. B.)


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O arroz nosso de cada dia O ARROZ GANHA STATUS NA COZINHA DE MÁRCIO SILVA, DONO DO RESTAURANTE PAULISTANO ORYZA COM A SÓCIA DANIELA AMÊNDOLA. ELE APRESENTOU MANEIRAS CRIATIVAS DE PREPARAR O CEREAL

O ARROZ DE PATO FOI O PRATO PRINCIPAL DO MENÚ COMANDADO POR MÁRCIO SILVA

chef Márcio Silva trouxe para o Espaço Gourmet uma refeição com base no arroz: primeiro, arroz de pato e, no final, o riz au lait com calda de caramelo. O arroz ficou de fora só na entrada de ovo mole com espuma de batata e crocante de parmesão. São sete espécies de arroz, todas com a denominação oryza, daí o nome escolhido pela dupla para a casa da rua Mato Grosso, em Higienópolis. O grão alimenta mais da metade da população mundial e é a terceira maior cultura cerealista, atrás do milho e do trigo. Uns dizem que o nome vem do grego, para outros, do sânscrito ou árabe e até do latim. Para Silva, o que vale é a sua relação com o grão: traz o sentido de “conforto, de acolhimento”. Assim, fica fácil entender porque após morar quinze anos em Nova York e trabalhar no badalado Bouley, em Tribeca, no centro de Manhattan, onde aprendeu a ser cozinheiro, resolveu se dedicar a esse grão. “O arroz dá no mundo todo, pesquisei quinze tipos diferentes. A culinária não tem fronteiras e quero ser livre para criar”, conta o chef e foi disso que falou no clube em linguagem acessível à plateia de casais e um grupo de mulheres do grupo Simchá, da Wizo. “Quero transformar os ingredientes numa cozinha mais leve, com menos gordura e mais criatividade”, explicou aos alunos, que apreciaram o jantar. Em agosto, o chef Hamilton Mellão, do restaurante Mello Mellão, retornou às panelas do Espaço Gourmet e como das outras vezes a aula mesclou boa cozinha e humor, e, por isso, ele é um chef querido nas noites gastronômicas do clube. Pratos da cozinha italiana foram preparados, degustados e elogiados. Outro que voltou à Hebraica foi o francês Laurent Scotto, do L’ Aperô. A cada mês, o Espaço Gourmet traz novidades com profissionais que têm prazer em repassar dicas exclusivas. Os encontros reúnem jovens, casais, homens e mulheres que desejam surpreender amigos e companheiros com as receitas aprendidas com o chefs. (T. P. T.)


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OS TRÊS MÚSICOS ISRAELENSES FIZERAM SUCESSO NO CLUBE, NO RIO DE JANEIRO E EM BELO HORIZONTE

Do mundo para o Teatro Arthur Rubinstein

O ORI DAKARI TRIO FOI A ATRAÇÃO INTERNACIONAL DO HEBRAICA MEIO-DIA. OS MÚSICOS ISRAELENSES VIERAM AO BRASIL PARA APRESENTAÇÕES NO RIO, SÃO PAULO E BELO HORIZONTE

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ri Dakari, na guitarra, Eyal Ganor, no contrabaixo, e Dani Benedikt formam o Ori Dakari Trio, convidado a vir ao Brasil para apresentar-se no show do Toninho Horta Septeto no Savassi Festival, em Belo Horizonte. Tocaram também para os cariocas no Santo Scenarium e para os paulistas no Jazz nos Fundos, no Bar Brahma e na Hebraica. Os três músicos integram a melhor safra do jazz israelense e tocam no circuito internacional, festivais nos Estados Unidos, Canadá, Rússia, Sérvia, Tailândia e na Lituânia, onde se

fizeram ouvir numa sinagoga durante o Kaunas Jazz Festival. O guitarrista Dakari, novidade no jazz mundial, estreou com o álbum Entrances. Ele é compositor de peças líricas e poderosas, com raízes no jazz contemporâneo e na música israelense, do Leste Europeu e do Norte da África. Dakari e seus músicos têm um som de personalidade, com improvisos rítmicos intensos, como em Bereshit, composição dele. Esta música fez parte do programa no clube, cujo ponto alto foi Dani Benedikt solando Garota

de Ipanema no pandeiro num arranjo “oriental”. “Gosto do som do pagode, da bossa-nova. Aprendi a tocar com músicos brasileiros meus amigos, em Israel. Amo a música brasileira”, explicou Benedikt para justificar a gingada da batida com sotaque nacional. (T. P. T.) PRÓXIMAS ATRAÇÕES 2/9 – Seis com Casca, banda de música instrumental brasileira 9/9 – Orquestra de Cordas Laetare, sob regência de Muriel Waldman 16 e 23/9 – Não haverá espetáculo (Grandes Festas) 30/9 – Duo Jica & Turcão, humor e música brasileira de qualidade 7/10 – Soli Mosseri & Amigos


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COLUNA 1

coluna comunidade

Embaixador Eldad dá aula magna

O embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad, proferiu a aula magna de abertura do semestre dos cursos de relações internacionais e ciências políticas da Universidade do Distrito Federal (UDF). O tema foi “Israel e suas Questões Diplomáticas” e possibilitou um momento de reflexão dos alunos sobre questões da política interna e externa do país e suas implicações. Eldad também inaugurou a exposição “O Sonho Torna-se Realidade”, no hall da área de convivência da UDF, que retrata em catorze painéis em 3D as seis décadas do Estado de Israel.

Azeite da Terra Santa no Brasil Algumas das oliveiras plantadas em solo israelense têm mais de 2.500 anos e fazem a tradição desse cultivo no país. As azeitonas das Colinas do Golã, colhidas artesanalmente, são a matéria-prima de Keren Or, o “Azeite da Terra Santa” que está sendo trazido ao Brasil por meio da Borges. O produto é certificado pela Ortodox Union, que atesta o plantio, método de colheita, manuseio e produção segundo os preceitos da kashrut e o rótulo é em hebraico e português.

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por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br

NA HEBRAICA, MEIZLER (E), MINISTRO HERSHKOWITZ, CONSUL ILAN SZTULMAN, JACK TERPINS JUNTO DO MONUMENTO AOS ATLETAS MORTOS EM MUNIQUE

Ministro Hershkowitz visita o Brasil

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passagem do ministro da Ciência e Tecnologia de Israel, Daniel Hershkowitz, pelo Brasil foi rápida e intensa. Em Brasília, foi recebido pelos ministros de Educação Aloízio Mercadante e de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, interessados em um acordo de cooperação por intermédio do Programa Ciência sem Fronteiras. Hershkowitz convidou Pimentel a visitar Israel para “conhecer de perto esse milagre, um lugar onde se pode, ao mesmo tempo, ver o passado e tocar no futuro”. “Nosso objetivo é aumentar a co-

operação em inovação e estreitar os laços entre Brasil e Israel como parceiros comerciais e parceiros intelectuais”, afirmou o secretário de Políticas de Informática Virgílio Almeida. Apesar da agenda apertada, o ministro Hershkowitz esteve na Hebraica com a mulher acompanhado do secretário geral Avi Meizler e do assessor da Presidência Gaby Milevsky. Cantou “Eli, Eli” com o grupo que vai participar do Israel Beshirá; no Teatro Arthur Rubinstein ouviu Nicole Borger cantar composições de Naomi Shemer.

Sbpc recebe Nobel israelense

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Prêmio Nobel de Química de 2011, Dan Shechtman proferiu palestra para mais de mil pessoas, na Concha Acústica do campus São Luís da Universidade Federal do Maranhão, na 64ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (Sbpc). Ele tratou dos quasicristais, estrutura considerada impossível em materiais sólidos, cuja existência permitiu a criação de centenas de novos materiais, e lhe deu o Prêmio Nobel. Do evento par-

ticiparam o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação Marco Antônio Raupp, a governadora do Maranhão Roseana Sarney, a secretária de Ciência e Tecnologia do Estado Rosane Guerra, a presidente da Sbpc Helena Bonciani Nader e o reitor da Ufma Natalino Salgado. Shechtman também esteve no Rio de Janeiro e São Paulo. Shechtman esteve no Brasil em 2002 durante a 27ª. Assembleia Geral do Conselho Internacional para a Ciência

Rabino fala de vida, morte e além

O jornalista e professor de literatura hebraica na USP Moacir Amâncio é o tradutor diretamente do hebraico de Badenheim – 1939, de Aharon Appelfeld, aliás, já entrevistado por esta revista Hebraica, há alguns anos, pelo correspondente em Israel Ariel Finguerman. Este livro é um lançamento do selo Amarilys, da Editora Manole.

Júlio Serson foi o anfitrião, em seu Hotel Vila Rica, da palestra de abertura do Fórum Regional de Campinas, realização do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), presidido por João Doria Jr.

Montenapoleone, Poltrona Frau, Cassina, Kartell e Bang & Olufsen participaram pela primeira vez da Design Weekend, que reúne arte, decoração, arquitetura e urbanismo. Sandra e Hélio Bork dirigem o grupo de empresas.

A primeira mostra coletiva de fotografias da Galeria Lourdina Jean Rabieh reuniu catorze artistas, entre eles Cláudia Proushan e Roberta Goldfarb.

De apartamento novo, na alameda Barros, Leo e Rubens Gersztajn cuidam da decoração em todos os detalhes. Vivian Teperman levou a sua Arte Infinita Galeria para um amplo espaço na avenida Cidade Jardim, onde promete muitos encontros de artistas e público.

A estilista Lethícia Bronstein assinou o vestido que Juliana Paes usou no casamento do seu personagem na novela Gabriela.

Um dos fundadores do movimento “Viva Vitão”, surgido após o acidente que matou o jovem Vitor Gurman (z’l), o diretor de cinema Pedro Serrano fez o documentário Luto em Luta, mostrando as barbáries do trânsito no Brasil. O psicoterapeuta Flávio Gikovate comemorou cinco anos do programa “No Divã do Gikovate”, gravado no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura/Conjunto Nacional e transmitido pela rádio CBN.

Elhanan Helpman, professor de comércio exterior na Universidade de Harvard, Alex Cukierman, professor de Economia na Universidade de Tel Aviv, e Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, diretor de política econômica do Banco Central do Brasil, foram os especialistas convidados pelo Insper Instituto de Ensino e Pesquisa para o seminário “Desafios e Perspectivas para a Economia Mundial”. Cláudio Haddad, presidente do Instituto, foi o mediador.

∂ Para mostrar a falta que a primeira refeição faz no rendimento escolar, a atriz Débora Bloch é a estrela da campanha da Nestlé “Café da manhã é + do que você imagina”. Sara Rosenberg orienta o curso nas oficinas de modelagem, construção e escultura do Sesc.

Projeto do vereador Ítalo Cardoso rebatizou a Praça Divina Providência. O local junto à rua Santo Antônio, no centro da cidade, terá o nome do jornalista Vladimir Herzog e receberá uma estátua em bronze criada pelo artista plástico Elifas Andreato. Os trabalhos de Milton Glaser foram expostos na coletiva “Imagem e Violência”, que reuniu dezoito nomes no Senac Itaquera. Mais onze unidades da instituição, no interior e na capital, estão no roteiro da mostra. CEO da Lim’s, braço da Sunny Brinquedos, Alexandre Czitrom é o importador da Jelly Belly, sensação entre as balinhas no mercado norte-americano.

Em setembro acompanhe o curso do rabino Avraham Steinmetz “A Busca da Alma – a Jornada Através da Vida, Morte e Além”. Perguntas como “quem sou eu”, “você já esteve aqui antes” constam do programa. Há duas opções: às segundas-feiras à noite e quintas-feiras pela manhã. Informações, JLIBrasil@ gmail.com.

Editada a história de David Lorber Rolnik Lançamento da Sêfer, As Catorze Vidas de David – O Menino que Tinha Nome de Rei conta a história de um jovem polonês, hoje um senhor radicado em Curitiba e tem o prefácio da coordenadora do Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo (Arqshoah) da Fflch/USP, Maria Luíza Tucci Carneiro. O livro foi escrito pelos filhos do personagem, Blima e Szyja B. Lorber. Houve sessões de autógrafos em Curitiba e São Paulo.

Embaixadora israelense na Etiópia “Estou muito orgulhoso de você e do seu trabalho. Você é a primeira flor da comunidade etíope e toda a nação a felicita”, disse o presidente Shimon Peres a Zevadia Belaynesh, nascida na Etiópia para onde voltou, mas como embaixadora de Israel em Adis Abeba.

Quem também comemora, mas 36 anos atuando na área de família, é a advogada Gilda Gronowicz em dupla com o filho Alexandre Gronowicz Fancio.

Einstein recebe reacreditação

Mariana Elisabetsky está no elenco de Godspell, um dos musicais mais famosos da Broadway e em cartaz no Teatro Commune.

Convite do Grupo Chazak

O Departamento de Hemoterapia e Terapia Celular do Hospital Israelita Albert Einstein recebeu, pela segunda vez, a acreditação pelo College of American Pathologists. A primeira foi em 2010 e o Einstein é o único no Brasil a receber esse reconhecimento.

O Grupo Chazak reuniu quase cem pessoas para assistir, na sede da Wizo, ao filme A Vitória Final, contando a vida de Felix Zandman, refugiado da Segunda Guerra Mundial que vive em Israel, onde é conceituado empresário.


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cultural + social > comunidade+coluna 1

COLUNA 1

DIRIGENTES DE NA’AMAT E OS ATORES MIRIAM MEHLER E ODILON WAGNER

Na’amat no teatro Odilon Wagner é o diretor de Como Ter Sexo a Vida Toda com a Mesma Pessoa, que teve sessão exclusiva para Na’amat Pioneiras. “Gosto do trabalho da Na’amat, e além disso as frequentadoras, acostumadas com arte e cultura, são um excelente termômetro para uma pré-estreia”, disse o ator. No final do espetáculo Marta Pomerankiblum e o vice-presidente da Fisesp, Bruno Laskowsky, ganharam o sorteio.

O Violinista no Telhado em números: a versão nacional foi vista por 147.123 espectadores no Rio de Janeiro e São Paulo. Com José Mayer vivendo Tevie, o Leiteiro, e um elenco de 43 atores. Renato Opice Blum foi convidado para falar sobre “A Prevenção das Fraudes Eletrônicas”, no Auditório Ernesto Igel do Centro de Integração EmpresaEscola.

A artista plástica Ilana Skitnevsky escreveu Viver, Morrer e o Depois, desmistificando temas como morte e vida após a morte. Lançamento da Editora Ágora. Paixão pela moda e por bijuteria levou Fabiana e Patrícia Wissmann Cyon Bitri a criar o site www. bitri.com.br de aneis, pulseiras e outras especialidades da dupla.

Atentado Contra a Amia: 18 Anos O presidente do Congresso Judaico Latino-Americano (CJL) Jack Terpins liderou a delegação brasileira que participou, em Buenos Aires, das cerimônias em homenagem às 85 pessoas mortas no atentado que destruiu o edifício da Asociación Mutual Israelita Argentina (Amia) em 1994. Participaram do grupo Daniel Borger da Conib, membros da Polícia Federal, Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Polícia Militar do Rio de Janeiro e de São Paulo, e assessores de segurança das federações israelitas de vários estados. O grupo se reuniu com parlamentares no senado argentino e discutiram formas concretas de legislar e combater o terrorismo; com sobreviventes do atentado à Embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992, que matou 29 pessoas, e participou de uma manifestação de jovens nascidos no ano do atentado pedindo justiça.

Quem planeja ir a Israel pode programar itinerários, atrações, novidades e informações locais por meio do novo site em português do Ministério do Turismo de Israel, atualizado diariamente: www. goisrael.com.br.

∂ O ensaio fotográfico “Nos Jardins de Arnaldo” integra o Ciclo de Exposições do Centenário da Faculdade de Medicina da USP. Organizado pela Comissão de Cultura e Extensão e pelo Museu Histórico da instituição, a exposição a céu aberto é obra do médico e fotógrafo Arthur Danila, com a curadoria de André Mota (Fmusp) e Bóris Kossoy (ECA/USP).

Henrique Schafer é um dos atores de Augustas, filme de Francisco César Filho. A segunda edição da Lamec-Latin American Meetings & Events Conference reuniu os principais nomes de gestão de eventos do mundo e, entre eles, o paulistano Eduardo Fisher, presidente do Grupo Totalcom, no WTC Convention Center.

Consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento desde 2004, André Leirner foi um dos palestrantes convidados pela Associação dos Comerciantes do Bairro de Santa Ifigênia. “E se Nossas Vozes Fossem Ouvidas?” foi o tema levantado para ouvir os anseios e necessidades dos habitantes da região. Daniel Fisberg completou MBA na London Business School. Emoção de Ester e Sílvio em ritmo londrino. Doutora, o que Faço? Para Rir, Gozar e Amar Muito Mais. Este é o título que Ana Fraiman deu ao seu livro. Com direito a sessão de autógrafos na 22ª. Bienal Internacional do Livro, no estande da Scortecci. A autora criou o site www.maisde50.com. br, onde dialoga com internautas de mais de 50 anos sobre o cotidiano.

Desvendar os caminhos tortuosos por onde passa a mente de um homem que se vê com a primeira filha nos braços, sem saber o que fazer, é a proposta de Renato Kaufmann com o livro Como Nascem os Pais. No estande do Senac Editora, na Bienal do Livro, duas obras em evidência: O Brasil Best-Seller de Jorge Amado – Literatura e Identidade Nacional, da antropóloga Ilana Goldstein, e Uma Ponte para uma Sociedade Sustentável, do economista Henrique Rattner (z’l). Luiz Cuschnir lançou mais um livro. Desta vez é Como Mulheres Poderosas se Tornam Mulheres Conquistadoras. O lançamento, na Fnac Paulista teve bate-papo do autor e da jornalista Mônica Waldvogel.

Referência em gestão para pequenas e médias empresas, a Bit Partner chega à marca de setecentos mil disparos/mês da sua newsletter “PME News”. Na esteira do sucesso, o diretor comercial Sidney Cohen divulga o projeto “Colaborador Motivado, Empresa com Resultado”, para melhorar a gestão associada à produtividade. Antes diretor de negócios, marketing e comunicação da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira, Ricardo Levisky assumiu a superintendência-geral da entidade. Até outubro, Theo Hotz está no Centro da Cultura Judaica com um curso sobre “O Pensamento Judaico Medieval”.

Le Jazz ganhou uma filial. Gil Carvalhosa Leite, Chiquinho Ferreira, Roberto e Paulo Farkas Bitelman, Guilherme Ribeiro, Rodrigo Reif e Guilherme Padilha comandam as duas casas de comida e som de ótima qualidade. Mais de 2.300 estabelecimentos de diferentes segmentos (hotéis, concessionárias, restaurantes, empresas de turismo, etc.) estão no lançamento do portal JusTheBest. com, a primeira investida mundial no hemisfério sulamericano. À frente do empreendimento está Élcio Gaz, diretor para a América Latina da JusTheBest.com Corporation.

Não violência Os ativistas em soluções não violentas para conflitos Yuri Haasz e Sandra Caselato serão os monitores de um encontro internacional para jovens entre 13 e 19 anos focado em Comunicação Não-Violenta, nos Estados Unidos, de 11 a 20 de outubro. Não é necessário ser fluente em inglês e existe a possibilidade de bolsas. Do encontro participarão jovens israelenses, palestinos, japoneses e de outras partes do mundo. Os endereços a seguir mostram como foram os encontros anteriores: http:// www.youtube.com/watch?v=c-_IMVZuec&feature=plcp; Informações e inscrições: http://tiny.cc/j8rjjw

A ENTRADA DOS ROLOS DA TORÁ, DAVID FEFFER (E) À FRENTE

Beth-El em novo endereço

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esde 1929, a Sinagoga Beth-El funcionou na rua Martinho Prado em um edifício que vai ser a sede do Museu Judaico de São Paulo. Em razão disso, os filhos e netos dos fundadores da sinagoga transferiram o Templo, como era conhecido, para um novo endereço, na rua Caçapava, 105. Na inauguração da nova casa de orações, o rabino Iehuda Gitelman tocou o shofar e, em seguida, representantes das famílias fundadoras entraram com os sifrei Torá ao som de músicas cantadas pelo chazan Márcio Besen e a cantora Fortuna. O projeto do arquiteto Felipe Crescenti atende ao objetivo de fazer

desse espaço um lugar moderno, pluralista e inclusivo. O cônsul geral de Israel Ilan Sztulman, os presidentes da Conib Cláudio Lottenberg e da Fisesp Mário Fleck saudaram a inauguração “de uma casa de encontro do espiritual com o educacional”, como disse este. O presidente da instituição Daniel Feffer agradeceu a todos que apoiaram a realização desse sonho. “Iniciar uma sinagoga é maravilhoso. Os judeus sempre tiveram inquietudes, sempre renovaram e o Beth-El está aqui se renovando. A diretoria convida todos a fazerem parte desta nova Casa”, finalizou Feffer, emocionado.

Seminário em Porto Alegre

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om o apoio do governo do estado do Rio Grande do Sul, da Secretaria de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico e do Sebrae realizou-se, no Parque Tecnológico da PUC/RS, o seminário “Culturas de Inovação, os Desafios na Construção de Novas Ideias”. Durante quatro dias, foram mostrados cases vitoriosos de vários países na área do empreendedorismo tecnológico e a experiência de Israel foi a primeira a ser relatada. Entre os palestrantes convidados, estavam o diretor executivo da Yissum, Agência de Transferência de Tecnologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, Yacov Michlin; o diretor do Insti-

tuto de Tecnologia Technion, Benjamin Soffer; a diretora executiva da Incubadora Tecnológica Mofet B’Yehuda Venture Accelerator, Nitza Kardish; e o diretor de desenvolvimento de Negócios de Engenharia e Ciências Físicas – Ramot da Universidade de Tel Aviv, Larry Loev. Posteriormente, a Federação Israelita do Rio Grande do Sul organizou, em sua sede, um painel com a participação dos palestrantes e de representantes do Estado, que pode ser conferido nos links http://firs.com.br/noticias/painel-sobrestartups-lota-auditorio-da-firs-em-portoalegre-.aspx e http://firs.com.br/mural/ painel-israel-e-inovacao.aspx.


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Tons e escalas musicais para cegos “verem” EyeMusic é um sistema que usa tons agradáveis e escalas musicais para auxiliar os cegos a “enxergar” através da música. Assim, distinguem cores e, futuramente, se divertirão com jogos virtuais. Desenvolvido pela Universidade Hebraica de Jerusalém, o EyeMusic converte as imagens em uma combinação de notas musicais ou “paisagens sonoras”. Uma imagem é escaneada e representa os pixels nas posições altas como notas musicais agudas e nos lugares abaixo como notas graves; de acordo com a escala musical, permite diferentes combinações. A notícia completa está em: http://www.ahmedabadmirror.com/ article/30/20120711201207110153427 69f6c3ca57/Colours-converted-to-music-give-blind-sight.html

Descoberta arqueológica Escavações em Tel Beit Shemesh podem ser a prova arqueológica da história bíblica de Sansão. Um carimbo de pedra de 1,5 cm do século 11 antes da Era Comum, mostra um animal grande ao lado de uma figura humana. O período corresponde ao dos juízes bíblicos e a cena se refere à história de Sansão lutando contra um leão.

Sinagoga de Pinheiros tem nova diretoria A Sinagoga Israelita de Pinheiros Beth Jacob, que existe há mais de 75 anos, tem nova diretoria para o biênio 2012/2013: Jacobo Kogan, presidente; David Tarandach e Zeev Tuchmajer, primeiro e segundo vice-presidentes; Hugo Kupershmidt, secretário; Waldemar Gurman, primeiro secretário; Eduardo Stock Sipillivan, tesoureiro; Benjamin Zildo Kaplan, primeiro tesoureiro. Conselho Fiscal, Bernardo Krongold e Luiz David Gabor; Comissão de Culto, Boris Sister, Chyia Szajnbock e Jacques Zitune. O grupo quer restaurar as instalações e lançou uma campanha de doadores.

LOTTENBERG, SECRETÁRIO DE SAÚDE JANUÁRIO MONTONE, JAYME BLAY E PREFEITO GILBERTO KASSAB

Cambici recebeu Cláudio Lottenberg

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refeito Gilberto Kassab, secretário Municipal de Saúde Januário Montone, deputado federal Walter Feldman e o vereador Floriano Pesaro compareceram ao Espaço Adolpho Bloch, onde a Câmara Brasil-Israel de Comércio & Indústria homenageou o presidente da Conib e do Hospital Israelita Albert Einstein Cláudio Lottenberg, também vicepresidente do Conselho Deliberativo da Cambici. Ao falar de “O Futuro da Saúde: Tecnologia e Humanização. O que nos Espera?”, Lottenberg destacou a importância de investir em pesquisa e desenvolvi-

mento e disse que Israel investe 4,3% do PIB e o Brasil 1,2%. O presidente da entidade Jayme Blay lembrou que o pai de Cláudio, Marcos Lottenberg (z’l), foi um dos fundadores e diretor da Cambici. Para o presidente da Embraer Luiz Carlos Aguiar, “eventos assim aproximam e incrementam as relações Brasil e Israel”. E o diretor da HSM Management José Salibi Neto disse que o discurso de Lottenberg “soma a comunidade médica a empresários e homens de negócios”. O evento foi patrocinado pela Qualicorp, Gocil e United Medical.

Unibes faz a 5ª. Ação Cidadã

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ia 23 a Unibes realizará mais uma Ação Cidadã, evento que oferece oficinas e serviços gratuitos em saúde, gastronomia, beleza, lazer, artesanato e assessoria jurídica. A instituição deve receber seis mil pessoas e realizar cerca de doze mil atendimentos nesse mutirão de corte de cabelo, orientação jurídica, primeiros socorros, exame de glicemia e orientação nutricional, oficina de bijuteria e saúde bucal e muito mais que se pode conhecer das 9 às 17 horas na rua Pedro Vicente, 569, Canindé, onde funciona a Área da Criança e do Adolescente da Unibes. Além das secretarias municipais de

UM DOS OFÍCIOS ENSINADOS: CABELEIREIRA

Assistência e Desenvolvimento Social e de Esportes, a Unibes tem trezentos voluntários e o apoio das universidades São Judas Tadeu e Uninove, do Hospital Israelita Albert Einstein, Tozzini & Freire Advogados, Johnson & Johnson, Unilever e institutos de estética. Informações, 3227-9598 e na página oficial da instituição no Twitter: siga@unibesoficial.

COLUNA 1 “Próximos e Distantes: um Estudo sobre as Percepções e Atitudes da Comunidade Judaica Paulista em Relação ao Estado de Israel (20062010)”, este o título da defesa de mestrado de Daniel Douek. Professores Roney Cytrynowicz, Nancy Rozenchan e Marta Topel compuseram a banca examinadora, na Administração da Fflch/USP. Jonas foi chamado à Torá na Sinagoga do clube antes do seu casamento com Roberta. Danívia e Jaques Leiderman, Beatriz e Luiz Schuchmann, felizes papais, receberam os amigos para um kidush muito elogiado.

A professora da ECA Lea Vinocur Freitag é a autora de Momentos da Música Brasileira e enquanto o redigia tocava e cantava as músicas descritas, vivência que lhe permitiu explicar o sentido de cada uma e o contexto em que foram escritas. A obra inclui o papel da Casa Edison, fundada pelo judeu tcheco Frederico Figner (1866-1947), no Rio de Janeiro, onde foi feita a primeira gravação musical no Brasil.

Lançada a “Campanha da Bênção” A Congregação Israelita Paulista (CIP) lançou a “Campanha da Bênção” como parte das comemorações dos 75 anos do Lar das Crianças. Será enviada uma carta explicando como as pessoas podem colaborar com a instituição, acompanhada de um ímã de geladeira com o texto de Birkat Habait, (“bênção do lar”, em hebraico) significando que o doador abençoará o lar ao escolher o valor da contribuição. Os recursos servirão para atender a quase quatrocentos jovens e crianças. “A expectativa é que o Lar possa ser muito abençoado com as doações, para continuar atuando como agente transformador de uma parcela da sociedade que não teve oportunidades, mas mantém a esperança de mudanças em sua história de vida”, segundo a coordenadora de eventos da CIP Eve Pekelman.

MUSEU JUDAICO, UM DOS LOCAIS VISITADOS PELO GRUPO

Escolas Anne Frank em rede

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inco escolas públicas de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Tocantins se chamam “Anne Frank”. A Conib, Fisesp e a ONG holandesa Anne Frank House de Amsterdã firmaram uma parceria por meio da qual essas escolas se comprometem a divulgar e promover os valores de paz, tolerância, combate ao antissemitismo e ao racismo em todas as suas manifestações. O ponto de partida dessa parceria foi a viagem a Amsterdã do secretário de Educação do Estado de São Paulo Ru-

Fotos Eliana Assumpção

cultural + social > comunidade+coluna 1

bens Antônio Mandeta, Karen Didio Sasson, da Conib, Alberto Milkewitz, da Fisesp, Lúcia Chermont, do Arquivo Judaico (Ahjb)e de Joelke Offringa, da Plataforma Brasil-Holanda, mais as diretoras das cinco escolas brasileiras, todos acompanhados de Nanette Koning, sobrevivente da Shoá e amiga de juventude de Anne Frank. Lá, visitaram a Sinagoga Portuguesa, o Museu Judaico e Museu da Resistência, e, claro, a casa de Anne Frank. Caberá ao Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (Ahjb) orientar as atividades educativas.

Bate-papo com Clara Ant

O JOVENS CERCAM CLARA ANT APÓS O BATE-PAPO

Grupo de Novas Gerações do Congresso Judaico Latino-Americano/ Brasil convidou a diretora do Instituto Lula, Clara Ant, para o primeiro encontro do Ciclo de Atividades do segundo semestre de 2012. O presidente do CJL Jack Terpins apresentou a convidada, que explicou o que é o Instituto e fez um retrospecto da sua atuação junto ao ex-presidente Lula antes da criação da entidade, e a relação dela e do governo Lula com a comunidade judaica.


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1. José Otávio Costa Auler Jr., o fotógrafo Arthur Danila e Boris Kossoy, curador da exposição “Nos Jardins de Arnaldo”; 2. Os Manuscritos do Mar Morto revistos pelo israelense curador do Santuário do Livro de Jerusalém, Adolfo Roitman, no Centro da Cultura Judaica; 3. O Prêmio Nobel de Química Dan Shechtman e o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp; 4. Ministro israelense Daniel Hershkowitz canta com associados do clube; 5. Stela Blay recebeu Ida Lottenberg no almoço da Cambici; 6. Antes de pedalar em Israel, Gilberto Levitez usa a camiseta dos ciclistas brasileiros; 7. Achado nas escavações em Tel Beit Shemesh atesta o mito de Sansão; 8. Momento inspirado do bar-mitzvá Victor Jaloto Nossig na Sinagoga da Hebraica

6. 1. Gabriel Chalita recebido por Abramo Douek; 2. Seminário no Insper reuniu Elhanan Helpman, da Universidade de Harvard, Cláudio Haddad, presidente do Instituto, Alex Cukierman, da Universidade de Tel Aviv, e Octávio de Barros, do Bradesco; 3. Em evento da Cambici, Abramo Douek, Jayme Blay e Yaron Littan; 4. Carinho materno, Mona Dorf e a mãe em noite de cinema; 5. e 7. Em Curitiba, Abraham Goldstein fala sobre os oitenta anos da B’nai B’rith, no lançamento de selo comemorativo; 6. Abrão Bober cumprimentou Sônia e Marco Roberto Nurkin na posse no Rotary Club SP Sul; 8. Cláudio Lottenberg recebeu o governador Jaques Wagner em encontro de lideranças

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1, 4 e 7. Nina e Elcan Diesendruck e Naum Rotenberg; Márcia Birman e Christine Liu; Helena e Eva Zukerman assistiram a O Gato do Rabino; 2. Márcio Pitliuk mostrou o filme Marcha da Vida na Sinagoga do Morumbi, a convite do rabino Dovid Goldberg; 3. Ana Fraiman é a autora de Doutora, o que Faço? Para Rir, Gozar e Amar Muito Mais; 5. Grupo Simchá, da Wizo, em torno das panelas no Espaço Gourmet; 8. Coquetel de abertura do Festival de Cinema Judaico aconteceu no Casual Mil; 9. O autor Luiz Cuschnir e Célia Rosset em lançamento na Fnac Paulista

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1. e 6. Antes do show, Leon e Daniel Halegua e Jair Rodrigues; Anita e Ari Nisenbaum; 2. No Festival de Cinema Judaico, Carol Birenbaum e Ilana Schmukler; 3. Encontro com a Fisesp: Clara Ant, Jack Terpins, Fernando Haddad, Nádia Campeão, Lula, Bruno Laskowsky, Ricardo Berkiensztat e Ana Estela Haddad; 4. Momento vovó no Festival de Cinema Judaico: Branca Wasserstein com Bruno e Isadora; 5. Em noite de autógrafos, Arão Perlov cumprimenta Szyja e Blima Lorber;

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1. Café da manhã da Nestlé reuniu os médicos Sílvia Cozzolino e Mauro

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Fisberg e a atriz Debora Bloch; 2. David Feffer, Floriano Pesaro e Abramo Douek na Escola Alef; 3, 6 e 7. Nova Sinagoga Beth El: Walter Feldman e Yael Steiner; Daniel Feffer, Thiago Leifert, Fábio Milnitzky, Marlene Mangabeira; Família Feffer; 4. No comercial da TIM, Renato Kaufman e a filha Lúcia; 5. Odilon Wagner e a fã Rachel Gotlib, na estreia de Como Ter Sexo a Vida Toda com a Mesma Pessoa; 8. Mais de mil pessoas aplaudiram Dan Shechtman em reunião da Sbpc no Piauí

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juventude > teatro GRUPO ENSAIA O PRÓXIMO MUSICAL INFANTIL DA HEBRAICA

Era uma vez uma chalá... CHALABULÁ – ESPETÁCULO INFANTIL QUE ESTREIA DIA 9 DE SETEMBRO, ÀS 16 HORAS, NO TEATRO ANNE FRANK – É UMA CRIAÇÃO COLETIVA COM TEMÁTICA JUDAICA. EM OUTUBRO, O GRUPO QUESTÃO REALIZA MONTAGEM SOBRE O UNIVERSO ADOLESCENTE

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peça é dirigida por Luciane Strul e abre a temporada teatral da vicepresidência de Juventude. A pronúncia do “ch” do título é aspirada e se refere ao elemento principal do enredo: a chalá, o pão trançado e feito especialmente para ser consumido durante o Shabat. Luciane integra a equipe de diretores do Departamento de Teatro, coordenado por Henrique Schafer. “Todos os anos, montamos um espetáculo infantil. No ano passado, apresentamos O Corcunda de Notre-Dame, mui-

to bem recebido nos meios de comunicação e conquistou prêmios no Festival de Teatro Interclubes da Acesc. Além de Chalabulá, teremos também uma peça do grupo Questão que estreia em outubro e um espetáculo do Gesto, formado por atores adultos”, informa Schafer. Segundo Luciane, a opção por um espetáculo de temática judaica não é inédita. “Existe um esforço para alternar adaptações de clássicos da literatura infantil e textos com elementos judaicos. Há alguns anos, o Departamento de Tea-

tro encenou O Golem, que é um clássico, e também apresentou O Circo da Criação, um trabalho coletivo, ambas com referências ao judaísmo.” Na fase de preparação de Chalabulá, o escritor infantojuvenil Ilan Brenman foi convidado para um encontro com o elenco. Ele colaborou na criação da lenda ambientada em uma floresta, que gira em torno do sumiço de uma chalá durante um Shabat. “O papel do Ilan foi até essa etapa. Em seguida, os atores criaram os personagens e fizeram improvisações, que serviram de base para o texto escrito pelo dramaturgo Giuliano Tierno Si’queira”, contou a diretora. Além de Giuliano, a equipe profissional de Chalabulá tem o figurinis-

ta Daniel Infantini e o premiado diretor musical Morris Picciotto que recebeu o Prêmio Coca-Cola pela a trilha sonora de Assembleia dos Bichos. Luciane conta que em 2011 parte do elenco atuou no grupo Prumo e que o restante dos atores trabalhou em outros núcleos teatrais da Hebraica. “A maioria é formada por jovens profissionais de áreas diversas. Eles gostam de atuar e se dedicam aos ensaios e às aulas de canto e dança, elementos importantes no teatro infantil”, revela a diretora. Até outubro, as sessões serão realizadas aos domingos, às 16 horas, no Teatro Anne Frank. Estão previstas apresentações especiais na véspera de Rosh Hashaná, dia 16 de setembro, às 11 horas, e no feriado do Dia da Criança, sexta-feira, 12 de outubro, às 16 horas. Mais informações, 3818-8800, na Central de Atendimento. (M. B.)

Anseios juvenis Com estreia marcada para 13 de outubro, às 12 horas, no Teatro Anne Frank, os responsáveis pelo grupo Questão ainda não sabiam, até o fechamento desta edição, que título dariam a um “enredo que trata das angústias de garotos e garotas entre os 15 e 18 anos, como a escolha profissional, a descoberta do amor, ou a relação com os pais”, explica o diretor Marcelo Klabin. Com dois terços do elenco do grupo Questão renovado porque muitos antigos integrantes já passaram dos 18 anos, Marcelo trabalha agora com garotos e garotas que até 2011 frequentaram o curso mantido pelo Departamento de Teatro. “É um prazer receber esses jovens no grupo. Para eles, é uma mudança e tanto a começar pelos ensaios que, antes, duravam duas horas semanais e agora são aos sábados, das 18 às 22 horas. Além disso, eles atuam em um dos grupos mais antigos do clube”, comenta. O enredo surgiu durante os ensaios a partir das propostas e improvisações dos atores. O dramaturgo Giuliano Tierno Si’queira (o mesmo que assina Chalabulá) acompanhou o processo e escreveu o texto final, acrescentando a cada cena das sete escolhidas, mais uma com a mesma história narrada sob ângulo diferente. “O público verá o direito e o avesso de cada cena”, avisa Klabin.


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juventude > brinquedoteca

COM NOVA CONFIGURAÇÃO, A BRINQUEDOTECAS TEM RECEBIDO MAIS CRIANÇAS

Como manda a imaginação A REFORMULAÇÃO DO LAYOUT DA BRINQUEDOTECA PERMITE A CRIAÇÃO DE ESPAÇOS TEMÁTICOS, ONDE OS BRINQUEDOS SÃO INSTRUMENTOS A SERVIÇO DA CRIATIVIDADE INFANTIL DOS 2 AOS 6 ANOS

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Hebraica possui uma Brinquedoteca dirigida à turma de 2 a 6 anos, que funciona das 13h30 às 18 horas, durante a semana, e das 11 às 16h30, nos finais de semana e feriados. Fica localizada sob a agência do Banco Safra. Com a recente remodelação do espaço, o número de usuários aumentou, assim como a satisfação dos adultos. “Muitas crianças vêm quase diariamente e os pais comentam uns com os outros a respeito do nosso trabalho. Temos horários em que a Brinquedoteca fica bem movimentada”, comenta o coordenador do espaço André Gimenes, o Tato. A reforma deixou a área aberta para a criação de espaços temáticos e estruturas que estimulem a imaginação infantil. “O canto da casinha é tradicional. Com a

substituição dos brinquedos de plástico pelo fogão, geladeira e mesa em madeira, mais pesados e consistentes, as crianças realmente brincam com eles, em vez de jogar ou arremessar como acontecia antes”, observa o coordenador. Segundo Gimenes, a nova proposta une o lúdico ao pedagógico. Brinquedos prontos ou improvisados estão lá para estimular a imaginação e a relação das crianças entre elas e com os objetos. “Muitos brinquedos modernos dispensam a participação da criança. E a graça está em visualizar uma raquete a partir de um bambolê. Isto aconteceu na Brinquedoteca”, revela. Na Brinquedoteca existem elementos que tendem a desaparecer em função do avanço tecnológico. “Revestimos paredes

com uma lousa, que se tornou um dos locais prediletos para desenhar ou escrever as primeiras letras usando giz colorido. A poucos metros da lousa, fica uma estrutura composta por um aro suspenso, e uma cortina ora se transforma em um castelo, ora é usada como se fosse um box para um banho imaginário. Tudo depende do olhar da criança. Temos muitos outros brinquedos com igual multiplicidade de usos”, acrescenta Gimenes. Ele mantém equipes diferentes durante a semana e aos sábados e domingos. “Quando há menos movimento, é possível interagir com os meninos e meninas. Às vezes, alguém da nossa equipe propõe um jogo tão interessante, que eles voltam para repeti-lo”, lembra ele. Tal como no Espaço Bebê, sempre aparecem novidades na Brinquedoteca. Algumas delas inventadas e manufaturadas pelas próprias crianças com auxílio dos profissionais. “No final de semana, a equipe fica mais atenta para garantir que as maiores não prejudiquem a brincadeira das mais novas. A presença dos pais também altera a dinâmica do local, e é comum vermos alguns adultos tão envolvidos com um brinquedo quanto os filhos”, constata Gimenes. (M. B.)


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1. André Gimenes, madrich do Centro Juvenil de presente de um chanich um bigode feito de algodão doce; 2. Renato Ghelfond está no elenco do da peça “Chalabúlá”; 3, 4 e 5. Coordenadores e monitores organizaram na Casa da Juventude uma espécie de quermesse na festa do 22º aniversário do Hebraikeinu; 6. Margot Kullock interpretou o tema de “Fievel, um Conto Americano” no início da sessão infantil, durante o 16º Festival de Cinema Judaico; 7. Cena de uma das palestras da quarta edição do Seminário Hatzad Hasheni, no auditório. O evento foi promovido pela vice-presidência de Juventude e pela Agência Judaica; 8. Jovens esperavam ansiosos para ouvir as opiniões dos convidados Caio Blinder e Diogo Mainardi no evento “Papo de Redação”.

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esportes > águas abertas

ENTREVISTA

BAIXA TEMPERATURA DA ÁGUA NO CANAL DA MANCHA FOI A MAIOR DIFICULDADE SUPERADA PELO NADADOR

Doze horas no Canal da Mancha DEPOIS DE INTENSA PREPARAÇÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA, HARRY FINGER ATRAVESSOU O CANAL DA MANCHA A NADO, COBRINDO OS CERCA DE QUARENTA QUILÔMETROS ENTRE DOVER, NA INGLATERRA, E CALAIS, NA FRANÇA

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lguns sites da Internet noticiaram com primazia o êxito do brasileiro Harry Finger em sua primeira tentativa de atravessar a nado o Canal da Mancha. Finger é arquiteto e o atual secretário de Turismo de Ilhabela, para onde se mudou há onze anos para trabalhar como corretor de imóveis. Mas antes disso tudo estudou educação física em Israel. Primeiro, em 2009, foi secretário do Meio Ambiente de Ilhabela, o que lhe deu experiência para estabelecer que “os principais desafios do trabalho com turismo na Ilhabela é a preservação de cidade, a mata e o parque estadual e manter o fluxo de turistas durante todo o ano”, informou.

Hebraica – Quando você decidiu atravessar o Canal da Mancha? Quais as etapas principais do treinamento e a maior dificuldade quando chegou a hora de entrar na água? Harry Finger – Em 2003 participei da 14 Bis, a prova mais longa da minha carreira de esportista e competição tradicional da natação brasileira, na distância de 24 quilômetros, de Santos a Bertioga. Lá conheci o nadador Percival Milani, que naquele ano atravessara o Canal da Mancha. Pensei em imitá-lo e em algum dia fazer a mesma travessia. Comecei a pesquisar e a me interessar cada vez mais por este desafio. Sabia que precisaria treinar muito e de muito dinheiro, pois é um projeto relativamente caro. Quando se fala de Canal da Mancha é preciso aumentar as distâncias e o tempo de treinamento no mar para muito mais do que os dois a três quilômetros normais. Afinal, são pouco mais de quarenta quilômetros. Desta forma, os treinos específicos para a travessia do Canal começaram em maio de 2011, exatamente quatorze meses antes da prova. No início, eram três a quatro quilômetros diários. Em cinco meses, eu já nadava de cinco a sete quilômetros por dia. A partir desse momento, nove meses antes da travessia, mudou a forma como eu fazia o alongamento e a musculação assumindo uma intensidade inédita até para mim, que cursara uma escola de educação física. Além disso, para me acostumar, eu e o técnico Igor de Souza começamos a treinar em águas mais frias, em lagos e represas. A mais fria delas foi a Billings, na região de São Bernardo, e em horários da madrugada em que a temperatura da água chegava a 17 graus Celsius. O Igor dizia: “Isso aí”, e apontava para a represa, “é café-pequeno porque a água no Canal da Mancha é muito mais fria”.Outro treino muito importante, dois meses antes de embarcar para a Europa, foi ter nadado cerca de doze horas sem parar, tempo que o Igor estimava durar a prova. Entrei numa piscina às 20 horas de uma sex-

ta-feira e nadei até às oito horas da manhã de sábado – período durante o qual foram simuladas as condições do Canal tanto na distância quanto nas paradas para alimentação. A cada trinta minutos eu tinha trinta segundos para me alimentar. Quando terminou, tive pela primeira vez a sensação de que realmente poderia ir até a França nadando. Fiquei quase dez dias esperando até que a temperatura da água subisse até os 16 graus, mas nada. Quando cheguei estava muito fria, 14 graus Celsius, mas em vez de subir baixava, e oscilava entre 13,5 graus e os 13,8 do dia da travessia. De certa forma, tinha me acostumado com a temperatura e sabia que não tinha jeito. Percebi que não teria alternativa e a verdadeira aclimatação foi me convencer de que seria assim, e pronto. Posso confessar que foram doze meses de treinamento intenso durante os quais Igor repetia que esta travessia é formada 60% de cabeça e 40% de preparação física e treinos. Por isso, ele já vinha trabalhando minha mente com muita pressão e para lidar com a dor, a longa distância

a ser percorrida, a hipótese de desistência, etc., fiz terapia, sessões de neurolinguística, com a especialista Marie Josette Brauer. Enfim, a preparação emocional foi fundamental para a travessia. Como é o atendimento prestado por franceses e ingleses aos atletas que se propõem a atravessar o Canal? Finger – Quem presta o atendimento principal são os ingleses, e organizam tudo. A Associação do Canal é superreceptiva e constituída de gente séria, pois dão um certificado e um juiz acompanha a travessia no barco de apoio, anotando tudo que acontece durante o percurso. O atleta sai de Dover, na Inglaterra, e nada até Calais, na França. Depois da chegada, o nadador vai para uma parte seca da praia, toca uma buzina (igual à da saída) e o cronômetro para na conclusão da prova. Em seguida, o atleta sobe no barco e retorna a Dover. É, portanto, toda britânica. Você venceu a prova na sua categoria. Que recomendações você faz aos atletas interessados em tentar a travessia? Exis-

EM OUTUBRO, FINGER FARÁ NA HEBRAICA UMA PALESTRA SOBRE A TRAVESSIA

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esportes > águas abertas

PARA FINGER, O SEGREDO DA TRAVESSIA É FOCO E DISCIPLINA

>> te uma prova anterior que determina se o atleta está em condições de se aventurar no Canal? Finger – Recomendo muito empenho e treino. Quem quiser atravessar o Canal da Mancha precisa saber que vai ter pelo menos um ano de muito sacrifício, muitos treinos, dormir e acordar cedo e nenhuma gota de álcool. Foco, disciplina, trabalhar muito a cabeça. E também dinheiro, muito dinheiro, pois é um projeto caro. Somente o barco que acompanha a travessia, por exemplo, custou cerca de quatro mil libras (cerca de dezessete mil reais), e mais o técnico, um guia experiente para acompanhar a travessia, suplemento alimentar, médico esportivo, psicólogo e muito foco. Não existe uma prova capaz de determinar se o atleta está preparado para atravessar o Canal. Ao longo desses doze meses de treinos, o técnico vai avaliar se o atleta tem condições e possibilidades de ir: os tempos obtidos, a evolução dos treinamentos, a capacidade de permanecer muitas horas na água, participando, por exemplo, de provas como aquela de 24 quilômetros, e de outras semelhantes.

Há alguma prova no Brasil que se compare? Finger – No Brasil, existem várias provas equivalentes em distância, mas a diferença – e aí não existe nada parecido– são as condições do mar e a temperatura da água, pois as águas brasileiras não baixam a 12 ou 13 graus Celsius, como no Atlântico Norte. Os meios de comunicação destacaram que você é o brasileiro mais idoso a completar a prova. O que pesa mais? A conquista pessoal, o aspecto patriótico, o quê? Finger – Quando entrei no barco de apoio, depois de concluída a travessia, o juiz inglês me cumprimentou e disse que eu era o 17º. brasileiro a atravessar o Canal da Mancha, e o mais velho. A conquista pessoal, sem dúvida, é mais importante e embora morando numa ilha e numa cidade relativamente pequena com trinta mil habitantes, muita gente passou a me acompanhar e desejar sorte. Hoje, vejo a importância disso para adultos e crianças de modo a entender o significado de dedicação e disci-

plina. Nesse sentido, este feito que é só meu ganha uma dimensão que eu mesmo desconhecia e, de certa forma, chega a ser apropriado por todos do ponto de vista de uma história de sucesso e superação. Esta travessia é para todos nós, os cinquentões, os sessentões e os de setenta. Nós podemos muito. Qual sua opinião a respeito do desempenho da equipe de águas abertas da Hebraica no Circuito Paulista de Travessias? Finger – A equipe de águas abertas da Hebraica é muito boa e esforçada. Começou pequena, com poucos recursos e pouca gente, mas todos com muita fé e acreditando nela. Aos poucos, obtém resultados e colocações individuais e conquistas por equipe. Percebo que a equipe está crescendo e logo surpreenderá, pois, com pouco mais de dez nadadores vem obtendo resultados por equipe melhores do que outros clubes que inscrevem de trinta a quarenta nadadores. Neste segundo semestre devo me juntar outra vez a esta maravilhosa equipe e espero poder ajudar a Hebraica em novas conquistas. (M. B.)


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esportes > parceria

“VIRADA HEBRAICA” PREVÊ ESPETÁCULOS DE DANÇA

“Virada Hebraica“ une Esportes e Juventude DAS 9 HORAS DE SÁBADO, DIA 29, ATÉ ÀS 18 HORAS DE DOMINGO, 30 DE SETEMBRO, A HEBRAICA SERÁ AGITADA POR ATIVIDADES ARTÍSTICAS E ESPORTIVAS, A EXEMPLO DAS “VIRADAS CULTURAIS” PROMOVIDAS PELA PREFEITURA

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esporte competitivo não existiria sem os atletas, que são minoria, e o público fã de uma ou mais modalidades. Uma parceria entre as vice-presidências de Esportes e Juventude se propõe a atender a ambos na “Virada Hebraica Esportes e Juventude”. Durante 24 horas, a partir da manhã de sábado, dia 29, e ao longo de todo o domingo, 30, os sócios atletas e também aqueles adeptos do sedentarismo acompanharão um torneio brasileiro

de polo aquático ou uma das etapas da IV Liga de Futebol Society. Haverá também aulas abertas de ginástica ministradas por professores do Fit Center, entre outras atividades esportivas a serem ainda divulgadas. Um dos pontos altos da programação será o IV Simpósio de Esportes, no mesmo final de semana, que consiste de uma atividade voltada para a capacitação de professores, técnicos, fisioterapeutas e estudantes interessados em ex-

pandir conhecimentos nas áreas de preparação física, técnicas de ensino de esporte e desenvolvimento de habilidades específicas em algumas modalidades. A participação da Juventude na “Virada Hebraica” garantirá a adesão de adolescentes ligados ao Hebraikeinu, dançarinos, alunos do Centro de Música e ativistas do Jovens sem Fronteiras. A Juventude enriquecerá a programação com uma balada, apresentações teatrais e musicais em vários momentos da “Virada”. “As equipes do Departamento Geral de Esportes e de todos os setores da Juventude estão empenhadas em fazer desta a primeira de muitas viradas bem-sucedidas. Trata-se de um evento conjunto e mais um esforço para estimular os sócios a investir em práticas esportivas, recreativas, lazer, o que lhes dará mais qualidade de vida”, segundo os vice-presidentes de Esportes, Avi Gelberg, e de Juventude, Moysés Gordon. (M. B.)


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esportes > londres 2012 do dia, enquanto nos encaminhávamos para os tatames, vi tanta gente seguindo na mesma direção que me pareceu que o mundo estava todo ali”, lembra. Considerou os atletas russos os grandes vencedores da olimpíada no judô, pois “passaram décadas sem um ouro e nesta edição conquistaram três”, comentou. Edison e Camila dizem que a olimpíada foi uma experiência única e sem comparação com os eventos internacionais dos quais ambos já participaram. “Acompanhar a seleção brasileira me ajudou a crescer como ser humano, atleta e analisar por uma nova ótica o caminho percorrido até aqui”, resume Camila. Sobre o futuro diz que “agora está encerrado o capítulo referente a Londres para o judô brasileiro e todos na seleção nos voltamos para os Jogos de 2016, no Brasil. Como teremos direito às quatorze vagas correspondentes a todas as categorias, tudo vai depender dos critérios para a escolha dos atletas, e em quatro anos muita coisa pode acontecer”.

Minakawas nas olimpíadas EDISON E CAMILA MINAKAWA (FOTO) ACOMPANHARAM DE PERTO A MELHOR ATUAÇÃO DOS JUDOCAS BRASILEIROS EM UMA OLIMPÍADA. ELE COMO ÚNICO ÁRBITRO BRASILEIRO; ELA COMO RESERVA DA SELEÇÃO BRASILEIRA

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judô brasileiro conquistou a primeira medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres com Sarah Menezes e ganhou três medalhas de bronze com Rafael Silva, o Baby, Mayra Aguiar e Felipe Kitadai. Da delegação brasileira fazia parte a judoca Camila Minakawa, que a Hebraica apoia e viu crescer. Além disso, o único brasileiro a arbitrar as lutas era Edison Minakawa, a quem também coube a honra de representar todos os árbitros do judô durante a cerimônia de abertura no camarote oficial.

“Eram 25 árbitros dos cinco continentes: seis das Américas, nove da Europa, três da África, seis da Ásia e um da Oceania. Depois de trinta anos como árbitro, realizei o sonho de atuar numa olimpíada. Um dos momentos mais emocionantes do evento foi ver o nome dos árbitros aparecer em um painel, durante a abertura”, contou ele. Os judocas competiram em um complexo esportivo fora de Londres e o público que acompanhou as lutas deixou Edison surpreso, “porque no segun-

Força de vontade De volta às aulas no Departamento de Judô da Hebraica, Camila dividiu as lições aprendidas nos Jogos Olímpicos com os pequenos alunos. “O mais importante é a atitude correta a ser tomada sobre o tatame. Felipe (Kitadai) não estava entre os cinco melhores no ranking mundial e subiu ao pódio. Eu o conheço desde a infância. Treinamos juntos na Federação Paulista de Judô e quando ele competia pela Hebraica. Chegou ao pódio porque treinou muito, abriu mão de muitas coisas pelo esporte, assim como os outros medalhistas. Eu disse aos garotos que o sonho olímpico é para poucos, é difícil, mas, com muito treino e empenho, é possível”, completa a jovem que sonha com outra participação olímpica em 2016. Um terceiro atleta brasileiro de origem judaica a participar das Olimpíadas de Londres foi o velejador carioca Ricardo Winicki, que competiu na vela e classificou-se em nono lugar na regata classe RSX. (M. B.)


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esportes > curtas

Clínica de polo

O técnico e coordenador de polo aquático Léo Vergara organizou uma clínica esportiva no início do semestre. Antes de caírem na piscina para aperfeiçoar os passes, os garotos ouviram três atletas profissionais com importantes passagens pela seleção brasileira: Emílio Vieira, Danilo Tenenbojm e Cláudio Fonseca. Além das dicas técnicas, os convidados trataram da importância de considerar o esporte como meio para formação universitária no exterior ou a construção de uma carreira profissional na modalidade. Cláudio Fonseca (Big Fio) alertou os garotos para a dependência física e química. Léo diz que “é tarefa do técnico oferecer o máximo de informação para os atletas. Quero que os garotos da Hebraica incorporem os benefícios do esporte hoje e no futuro”.

Nosso técnico comentou olimpíadas

O técnico da equipe de ginástica artística Fábio F. Zuin foi um dos profissionais transformados em comentaristas dos Jogos Olímpicos de Londres. Do estúdio do canal Espn em São Paulo, ele acompanhou as provas de trampolim acrobático e complementou as informações do locutor e da equipe de reportagem, traduzindo para os espectadores as regras de pontuação utilizadas pelos juízes para avaliar os ginastas olímpicos nas provas de tumbling, no minitrampolim e no trampolim. Ao aceitar o desafio da emissora, Fábio deu aos ginastas da Hebraica uma razão a mais para acompanhar as competições desta modalidade pela TV.

Tênis reuniu pais O Departamento de Tênis reuniu 32 sócios em um torneio às vésperas do Dia dos Pais que teve a torcida de familiares e amigos dos competidores. No encerramento, atletas e torcida partilharam um lanche, durante o qual o presidente da Hebraica Abramo Douek distribuiu as medalhas aos vencedores, entre eles Rubens Krausz, Jefferson Flan, Daniel Minerbo, Daniel Lassner, Carol Strull, Elias J. Salomão, Larry Simhá, Isnard Keiserman e Menache Glicenstajn. No competitivo, a Hebraica venceu no Torneio Internacional de Sêniors – 1ª Copa Kirmayr, em Serra Negra. Foram campeãs Sandra Libman (simples), Lúcia Rusu e Suzana Mentone (duplas 55) e vice-campeã Lúcia Rusu (simples). No Slice Tennis Winter Open, a performance de Alberto Scharfstein rendeu um vicecampeonato (simples). (M. B.)


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esportes > fotos e fatos 1.

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1 e 3. A partida entre Hebreus e Pandora abriu a quarta edição da Liga de Futebol Society com grande público; 2. Na aula aberta de trampolim acrobático, os professores descobrem crianças com talento e potencial para a prática da modalidade; 4. Clínica de polo aquático com ex-atletas foi elogiada por pais e adolescentes; 5. A tenista Sandra Libman conquistou mais um título de campeã em Serra Negra; 6. Espaço Adolpho Bloch recebeu muitos jovens enxadristas para o Circuito 21

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espaço saúde

Hipertensão, triglicérides e colesterol: uma combinação fatal

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hipertensão (pressão arterial elevada) e a dislipidemia (alteração nos lipídeos do sangue, como colesterol e triglicérides elevados) figuram entre os principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares que, por sua vez, representam a principal causa de morte no mundo moderno. E quando falamos de doenças cardiovasculares, incluímos não somente o infarto do miocárdio, mas também outras condições como o AVC, o aneurisma de aorta e a doença arterial periférica. Indivíduos com taxas elevadas de colesterol e/ou com níveis elevados de pressão arterial não costumam apresentar nenhuma queixa até a ocorrência do infarto ou de outras doenças cardiovasculares. Por este motivo é um erro grave esperar sentir algo para realizar uma consulta médica que inclua a avaliação destes dois fatores de risco. Os sedentários e com dieta inadequada, geralmente, apresentam pressão alta, níveis altos de açúcar, colesterol total e triglicérides, além de outros achados, como o acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática), por exemplo. A maior preocupação neste caso é com o chamado efeito sinérgico – hipertensão e dislipidemia trabalhando em conjunto, de tal forma, que o risco cardiovascular do indivíduo acaba aumentando consideravelmente. O sobrepeso e a obesidade são considerados a verdadeira causa da hipertensão arterial e de distúrbios de dislipidemia em mais de 90% dos casos. Obviamente, existem exceções, como o caso das dislipidemias de base genética, para as quais as taxas de colesterol ou de triglicérides não são secundárias a questões de peso. Considerando que estes fatores de risco são silenciosos, o diagnóstico requer uma triagem

proativa de toda a população, independentemente de quaisquer sintomas. A grande vantagem é que esta triagem é simples e barata, requerendo tão somente a medição da pressão arterial e um simples exame de sangue que avalie as taxas de colesterol total, frações e triglicérides. Obviamente, esta avaliação incluirá também outros aspectos como, por exemplo, os níveis de glicemia e a indagação sobre o hábito de fumar. O tratamento para indivíduos hipertensos e/ ou dislipidêmicos, que também apresentam sobrepeso ou obesidade (maioria dos casos), é restabelecer o seu equilíbrio calórico, com dieta personalizada e atividade física – o que aumenta as chances de sucesso do tratamento e até mesmo de cura, à medida que o peso e a circunferência abdominal cheguem a seus níveis ideais. Além da recomendação para uma mudança do estilo de vida, o médico também pode optar pelo tratamento à base de medicamentos. Outra forma de ficar longe das doenças cardiovasculares é tomar algumas medidas para combater as chances de aparecimento destes fatores de risco. Uma dieta saudável e atividade física regular são os alicerces da prevenção e dependem inteiramente do próprio indivíduo. O check-up periódico, com a avaliação tanto da pressão quanto dos níveis de colesterol e triglicérides, é fundamental, considerando que a pessoa pode estar em uma situação metabólica de alto risco cardiovascular e não apresentar nenhum sintoma. A predisposição genética é extremamente relevante, de tal forma que pessoas com familiares de primeiro grau hipertensos ou dislipidêmicos precisam redobrar a vigilância em relação a estes fatores de risco.

DR. ANTONIO GABRIELE LAURINAVICIUS, CARDIOLOGISTA DO HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN


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magazine > força aérea| por Ariel Finguerman

ESTE É UM EXEMPLAR DE F-16 DA FORÇA AÉREA DE ISRAEL QUE A., EX-MODELO E EX-PUGILISTA, FOI HABILITADA A PILOTAR

Apertem os cintos, a piloto de caça surgiu LOIRA DE OLHOS AZUIS, A MAIS JOVEM PILOTO DE F-16 DO TZAHAL CONCLUIU A FACULDADE ANTES DE ENTRAR PARA A FORÇA AÉREA, FOI ABANDONADA PELO PAI, TRABALHOU COMO MODELO E LUTA BOXE DESDE OS 10 ANOS

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la não é, com certeza, apenas um rostinho bonito. A., como foi identificada pela imprensa israelense este ano ao concluir o curso mais rigoroso do Tzahal, o de piloto de caças, é o retrato da nova geração de jovens combatentes. Bem educada, bonita, podia destacar-se em várias carreiras, mas se ofereceu como voluntaria para dedicar os melhores anos da vida a serviço do país. A. tem 21 anos e há poucos meses concluiu o curso de piloto

de F-16, o mais avançado caça da força aérea israelense. Por enquanto, foi destacada para ser navegadora e assim cuidar do posicionamento da aeronave em voo. Isto quer dizer que deve estar pronta para interceptar soldados do Hamas disparando mísseis em Gaza ou ser convocada a qualquer momento para missões muito além das fronteiras. “Eu tenho consciência do perigo de ser piloto, de o meu avião ser abatido e de me tornar prisioneira, mas procuro afastar esses pensamentos da minha mente. Nin-

guém acorda de manhã pensando no perigo de atravessar a rua. E a possibilidade de acontecer um acidente na rua é bem maior que em um F-16”, disse A. em entrevista ao Yedioth Achronot. A. nasceu em São Petersburgo, antiga Leningrado, na Rússia, e quando tinha 1 ano os pais imigraram para Israel. A família, incluindo duas irmãs, instalou-se em Ashkelon, antes de se mudar em definitivo para Afula. No novo país, A. ganhou mais três irmãos. Mas aos 10 anos de idade, os pais se divorciaram. O pai voltou para a Rússia e ela nunca mais ouviu falar dele. “Decidimos não ter contato com o meu pai. Nada sei a respeito da vida dele, e ele não sabe que sou piloto da força aérea de Israel. Isto não me magoa e me acostumei a ter apenas minha mãe ao meu lado. Esta é a minha realidade. Não tenho raiva dele, nem curiosidade acerca da via dele”, conta A. A mãe é professora de matemática, criou os seis filhos sozinha em um pequeno apartamento de uma cidade de pouca importância, dedicou a vida à família e colocou bem claro que a prioridade daquele lar seria a educação. Cada um dos irmãos foi orientado a escolher o que mais gostaria de fazer, e se esforçar para ser o melhor. No caso de A., a mãe concluiu bem cedo que ela tinha uma capacidade mental bem acima dos coleguinhas do primário. Quando tinha 6 anos e terminou o segundo ano, a mãe decidiu que ela pularia duas classes, passando a estudar com crianças mais velhas. Isto nunca foi problema para A., que terminou o curso ginasial com 16 anos e, antes de se alistar no exército, já tinha concluído faculdade, algo raro no país. Seguindo a tradição russa, a atividade física também fazia parte do cotidiano da família. Aos 8 anos, A. estava matriculada numa academia de boxe de Afula e, aos 10, subia aos ringues cinco vezes por semana treinando mais de noventa minutos. A irmã também praticava e as duas se exercitavam dando socos uma na outra. Quando a irmã faltava ao treino, A. praticava com os garotos. “Quando me falam que não tenho cara de pugilista, fico irritada”, diz. Modelo por pouco tempo E não tem cara mesmo. Aos 12 anos, quando passeava com duas irmãs numa rua de Afula, o trio foi abordado por um homem que lhes propôs um teste para modelo. Numa foto publicitária da época, e republicada agora, A. aparece ao lado das irmãs. Por razões de segurança o rosto dela está coberto com uma tarja, mas os traços das irmãs – loiras, bonitas, olhos claros e rostos de boneca – dão uma ideia de como ela é. Durante alguns anos A. seguiu a carreira de modelo, mas desde o começo já sabia que isso não era para ela. “Se você me perguntar qual filme prefiro, Million Dollar Baby (Menina de Ouro) ou Pretty Woman (Uma Linda Mulher), com certeza escolheria Clint Eastwood, e não Julia Roberts.” Mas talento é pouco para vencer na sociedade israelense. É necessário também uma boa dose de chutzpá (“audácia”, em hebraico), e isso A. tem de sobra. Perguntada se poderia ser a nova

Bar Rafaeli, se tivesse continuado na carreira de modelo, ela responde que “se tivesse investido nisto, teria conseguido sucesso”. Depois lembra o momento em que comunicou ao treinador de boxe que iria parar e alistar-se na força aérea: “Ele entendeu a situação, mas também ficou decepcionado, pois percebia em mim potencial de Olimpíada”. Durante o curso de piloto, A. era a única garota entre os rapazes. Mas para quem veio de anos de academia de boxe, isto foi moleza e garante que nunca pediu qualquer “desconto” nos treinamentos por ser mulher, pois “olhava para os garotos e via que também para eles era difícil. Mais de uma vez estendi minha mão para um colega para ajudálo durante o treinamento, e até empurrei alguns deles que não conseguiam mais correr”. Desta forma, ela conquistou o respeito dos homens da base aérea e evitou qualquer demonstração de machismo, pelo menos na sua frente. “Quando justo para mim pediam para preparar um cafezinho, fazia numa boa e deixava claro que desta vez eu prepararia, mas na próxima seria um deles. Também quando me pediram para colorir cartazes na preparação de uma festinha, não me opus afinal meninas têm mesmo letra mais bonita. Pode acreditar, meus colegas não veem em mim a modelo A., mas sim a combatente A.” Nos momentos de folga na base aérea A. não escreve e-mails para amigas nem passa o tempo em longas conversas no celular. Veste um agasalho e tênis confortável e sai para o passatempo predileto, a corrida, que só termina depois de dez quilômetros. E isto sem nenhum aparelho de música. Como os demais colegas do curso de piloto, A. comprometeu-se por escrito a dedicar os próximos nove anos à força aérea de Israel. Depois, planeja casar, morar num moshav e ter quatro filhos. Mas isto não é tudo. Perguntada se algum dia haverá uma comandante mulher da força aérea, e se gostaria de se candidatar ao cargo, A. responde. “Todas as possibilidades estão abertas”, diz.

A. comprometeu-se por escrito a dedicar os próximos nove anos à força aérea de Israel. Depois, planeja casar, morar num moshav e ter quatro filhos


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magazine > exposição | por Ariel Finguerman, em Tel Aviv os campeonatos já passaram a ser dominados pelos times do Macabi e do Hapoel Tel Aviv. Essa relativa tranquilidade terminou em 1936 quando a população árabe da Palestina iniciou uma grande revolta armada contra a presença britânica, provocando um caos que durou cerca de três anos. O campeonato foi suspenso e as equipes árabes decidiram se retirar da AFP, criando a sua própria liga, a Federação de Esporte Árabe-Palestina. E entre os times judeus o maior problema era a politização deles. As equipes do Hapoel, ligadas aos comunistas, se consideravam parte da liga internacional de esportistas. O Macabi, que se considerava apartidário, era acusado de “burguês” e vaiado frequentemente pela torcida do Beitar, a equipe da direita sionista. Essas diferenças eram levadas para dentro do campo, terminavam em brigas e boicotes de lado a lado.

CENA DA FINAL DA COPA DA PALESTINA, EM 1938

CARTAZ ANUNCIA PARTIDA ENTRE SELEÇÃO MILITAR BRITÂNICA E O HAPOEL TEL AVIV, EM 1929

Histórias do futebol na Palestina, antes de Israel UMA EXPOSIÇÃO NO MUSEU ERETZ ISRAEL, DE TEL AVIV, CONTA QUE OS JUDEUS NA PALESTINA JOGAVAM FUTEBOL ANTES MESMO DA CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL

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bola começou a rolar cedo na comunidade judaica da Palestina, ainda quando os turcos otomanos governavam a região. A primeira associação de futebol surgiu em 1906, três anos antes da fundação de Tel Aviv, quando judeus viviam em Yafo como uma minoria entre a população árabe. Foi o Rishon Le-Tzion Yafo, que mais tarde mudaria o nome para Macabi Tel Aviv. Um dos primeiros atletas foi David Tidhar, que trabalhava como detetive, e outro, Yosef Yekutieli, o idealizador das Macabíadas. Até hoje os historiadores do esporte de Israel ainda discutem a respeito de quem introduziu o futebol na comunidade judaica local. Alguns dizem que foram os turcos, outros apontam para os imigrantes judeus russos da segunda aliá. Mas sem

dúvida a conquista de Eretz Israel durante a Primeira Guerra Mundial pelos ingleses, os inventores do futebol, levou a um salto de qualidade deste esporte na região. Os ingleses organizaram equipes com o pessoal do exército e criaram os primeiros campeonatos na Terra Santa. Seguindo este exemplo, apareceram os primeiros times nas comunidades judaica e árabe, apesar da clara superioridade técnica dos britânicos. Com o aumento das ondas migratórias (aliot) e o desenvolvimento das cidades judaicas, o futebol passou a ser um fenômeno urbano em Tel Aviv, Petach Tikva e Jerusalém. Em 1927 os britânicos decidiram reduzir a presença militar em Eretz Israel, o que possibilitou o crescimento do esporte local com a criação, no ano seguinte, da Associação de Futebol da Palestina (AFP), que logo se filiou à Fifa. A AFP era integrada principalmente por equipes formadas por judeus, mas naqueles bons tempos havia jogos com times de jogadores árabes da região. O primeiro campeonato de futebol em Eretz Israel foi vencido pela equipe Hamishtará Habritit (“Polícia Britânica”, em hebraico), formada por militares ingleses. Mas a partir do início dos anos 1930 e até a declaração do Estado de Israel, em 1948,

A guerra entra em campo O futebol era usado como instrumento político pelo movimento sionista. Apesar do domínio britânico, a AFP organizou partidas contra as seleções da Áustria, Romênia e Hungria. Foram feitos esforços para se estabelecer contato com países árabes por meio do esporte. A seleção da Palestina, integrada por jogadores judeus e militares ingleses, excursionou ao Cairo e Alexandria nos anos 1930. Nas eliminatórias da Copa de 1934, a seleção da Palestina perdeu para o Egito e a Grécia, mas apesar disso o ishuv comemorou o gol de Avraham Nudelman contra o Egito, o primeiro marcado em um jogo internacional reconhecido pela Fifa. Mas a guerra novamente atrapalhou o esporte. Os jovens judeus foram incentivados a servir no exército britânico na Segunda Guerra Mundial e a AFP chegou a proibir jogadores em idade de alistamento de disputar partidas. A guerra também atrapalhou a trajetória da equipe do Beitar Jerusalém que começou a chamar a atenção por sua boa técnica. Devido à intensificação dos ataques contra os ingleses por parte das organizações clandestinas de direita >>

As equipes do Hapoel, ligadas aos comunistas, se consideravam parte da liga internacional de esportistas. O Macabi, que se considerava apartidário, era acusado de “burguês”


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magazine > exposição >> do Etzhel e do Lehi, o Beitar foi suspenso do campeonato em 1943 e quatro anos depois o clube foi fechado. Em razão do conflito mundial, os ingleses reforçaram a sua presença militar na Palestina, temendo que os nazistas pudessem invadir a região. Militares aliados de várias nacionalidades chegaram a Eretz Israel e por isso foram organizados jogos durante os quais se observavam novas táticas e escolas futebolísticas como a partida entre o Macabi Palestina e a seleção do Exército Polonês Livre, em 1942. Dois anos mais tarde, os ingleses organizaram a Brigada Judaica, com soldados judeus da Palestina treinados para lutar na Itália. Esses soldados organizaram o próprio time de futebol que em uma folga enfrentou a equipe mista de militares aliados em solo italiano. No final da guerra, jogaram contra uma equipe formada por partisans da Iugoslávia, e em seguida contra times de militares da Holanda e Bélgica. Entre o final da Segunda Guerra Mundial e o estabelecimento do Estado de Israel, o campeonato local começou a ser liderado pelas duas equipes que até hoje se destacam: o Macabi Tel Aviv e o Beitar Jerusalém. Times estrangeiros de destaque na época foram convidados a visitar a Terra Santa. Os iugoslavos do Hajduk Split ganharam de lavada do Ma-

cabi Tel Aviv por 7 x 2, mas foram parados pelo Beitar, que derrotou os visitantes por 4 x 2, no que foi considerado o melhor resultado de um time judeu da Palestina em quase cinquenta anos. Às vésperas da votação da ONU pela Partilha da Palestina, em 1947, o Hapoel foi escalado para fazer um tour pelos Estados Unidos com a clara missão de tentar vencer jogos contra equipes locais norte-americanas e, principalmente, chamar a atenção para a votação que se aproximava. O Hapoel foi de cidade em cidade pelos EUA, participando de recepções, jantares para levantar fundos e programas de rádio. Em 29 de novembro de 1947, a ONU votou pela Partilha da Palestina. No dia seguinte, forças árabes atacaram alvos judeus, dando início à Guerra da Independência. O mais longo conflito contra os vizinhos árabes acabou provocando a criação do Estado de Israel, e a uma nova era no futebol local.

ENTREVISTA Kaufman – É verdade. Falava-se em formar aqui um novo judeu, musculoso. Mas não por meio do esporte. Esta ideologia veio da Europa Oriental, onde o futebol não era desenvolvido. Quando se falava em um homem novo, era usando o serviço militar e a agricultura, e não o esporte.

Os momentos mais importantes Depois da independência de Israel começou uma nova era para o futebol local. Eis os grandes marcos deste esporte no Estado judeu

1974 – Em razão da pressão dos países árabes, Israel deixa a chave da Ásia e é transferido para o grupo da Oceania; e no mesmo ano o primeiro jogador árabe-israelense, Ali Othman, é convocado para a seleção.

Anos 1950 – O Tzahal organiza um campeonato de futebol próprio, a Copa do Estado-Maior, que atrai bastante atenção do público, mas após alguns anos não se realiza mais.

1975 – Uma série de eventos violentos no campeonato israelense termina com a morte a facadas do jogador Mordechai Kind, do Maccabi Rehovot, durante uma briga de torcidas.

1959 – A seleção de Israel perde de 7 x 2 para a Polônia, o que foi considerado uma “tragédia nacional”, pela lembrança da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto.

1977 – O Macabi Tel Aviv estampa pela primeira vez o logotipo de uma empresa – uma fabricante de cerveja – na camisa de um time israelense.

1960 – Israel vence a forte seleção da Iugoslávia nas classificatórias para as Olimpíadas.

1986 – Pela primeira vez, um jogo é transmitido ao vivo pela TV israelense.

1968 – Israel chega às quartas-de-final das Olimpíadas do México, depois que Birmânia, Irã e Índia se recusam a jogar contra a seleção sabra.

1989 – A Associação de Futebol de Israel permite a contratação de jogadores estrangeiros para o campeonato local.

1970 – Israel disputa a Copa do Mundo no México. Perde para o Uruguai, mas empata com a depois finalista Itália. Contra a Suécia, marca o único gol numa Copa, num empate de 1 x 1.

Anos 1990 – Israel entra para a chave dos países europeus nas classificatórias para a Copa. 2004 – A equipe árabe Sakhnin, da Galileia, ganha o campeonato nacional.

É difícil Israel se classificar para a Copa 2014 CHAIM KAUFMAN (FOTO) É PROFESSOR DE HISTÓRIA DO ESPORTE NO INSTITUTO WINGATE DE ISRAEL. ELE DEU ENTREVISTA À REVISTA HEBRAICA DIAS ANTES DE VIAJAR PARA O RIO DE JANEIRO, ONDE PARTICIPARIA DE UMA CONFERÊNCIA ACADÊMICA NA ÁREA ESPORTIVA NA UNIVERSIDADE GAMA FILHO Hebraica – O futebol chegou aqui em Israel no começo do século 20, na mesma época em que foi introduzido no Brasil. Então não há desculpa para não ter futebol bom por aqui. Chaim Kaufman – (Risos) É verdade, mas leve em consideração que quando tratamos de futebol judeu em Eretz Israel, naquela época, estamos falando de uma comunidade de cinquenta mil pessoas, sendo metade ortodoxa. Mas é interessante notar que o futebol chegou aqui antes dos ingleses, os inventores deste esporte.

Como assim? Kaufman – O futebol chegou ao Brasil e à Argentina por intermédio dos ingleses. Mas aqui foram os imigrantes judeus da segunda aliá, vindos da Rússia, onde já existia um futebol desenvolvido. Quando os britânicos conquistaram a Palestina, já havia gente jogando bola por aqui. Nos anos seguintes, a ideologia sionista falava de um judeu novo e forte. Isto ajudou na difusão do esporte, em especial o futebol?

Aqui em Israel tudo acaba em política. Isto atrapalhou o futebol? Kaufman – Em Israel sempre houve interferência da política no futebol. Toda organização política tinha a sua equipe de futebol e isto muitas vezes foi negativo e por causa disso a associação de futebol foi dissolvida e reorganizada diversas vezes. Nos anos 1940, a melhor equipe era o Beitar Tel Aviv, mas como estavam ligados ao movimento guerrilheiro Lehi, os ingleses proibiram o time de jogar. Durante muitos anos após a Independência, os jogadores da seleção não foram convocados por méritos pessoais e esportivos, mas sim num acordo que metade deveria vir do comunista Hapoel e metade do liberal Macabi. Israel vai conseguir se classificar para a Copa de 2014? Kaufman – (Risos) Nessa questão não sou especialista, apenas torcedor. Nossa seleção está no nível da Irlanda, a pior colocada na Europa. E na nossa chave estão Portugal e Rússia. Isto é, não temos chance. O sr. gostaria de ver Israel novamente disputando a chave asiática de classificação para a Copa, em vez da europeia? Kaufman – Boa pergunta. Na chave asiática seria mais fácil para nos classificar, o nível é mais baixo. Mas acho que Israel pertence naturalmente ao bloco europeu. A transferência para o grupo asiático seria um retrocesso. É melhor estar no rabo do leão do que no focinho da raposa.


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magazine > espionagem | por Ariel Finguerman

ANÚNCIO DO FUNERAL DE GIORA TZAHOR, EM HADERA

Um homem que sabia demais GIORA TZAHOR, O AGENTE SECRETO QUE COMANDOU A UNIDADE DE ELIMINAÇÃO DO MOSSAD, MORREU NUM ACIDENTE DE BICICLETA. ELE PARTICIPOU DA OPERAÇÃO DE ASSASSINATO DOS TERRORISTAS RESPONSÁVEIS PELO ATAQUE CONTRA OS ATLETAS ISRAELENSES NA OLIMPÍADA DE MUNIQUE

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m uma manhã de julho, Giora Tzahor saiu para passear de bicicleta na cidade onde morava, Hadera (quarenta minutos ao norte de Tel Aviv), mas por um descuido fatal bateu em um caminhão. Levado às pressas para o hospital mais próximo, não resistiu aos ferimentos. Assim morreu um dos mais importantes agentes secretos da história do Mossad. Tzahor, 71 anos, foi um dos mais destacados dirigentes da Unidade Cesareia, responsável por algumas das mais arriscadas ações do serviço secreto israelense. A coragem do jovem Tzahor chamou a atenção durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando do interior de um tanque Sherman comandou

uma pequena força que conquistou a cidade de Nablus, na Cisjordânia. No final do conflito, aos 26 anos, recebeu uma condecoração por bravura. Em 1973, Tzahor participou da dolorosa Guerra do Iom Kipur, que lhe causou um impacto tão profundo que o fez ingressar nas fileiras do Mossad. Segundo um parceiro do serviço secreto, Tzahor disse na época que “nós, a nossa geração, somos a linha de frente da segurança do Estado de Israel”. Tzahor era sobrevivente do Holocausto. Nasceu na França em 1941 e escapou da perseguição porque freiras esconderam o nenê num convento. Os superiores no Mossad logo perceberam

que a coragem inata, aliada à fluência da língua francesa, seria um diferencial do jovem agente. Enviado ao exterior no final dos anos 1970, tornou-se vicecomandante da Kidon, o departamento da Unidade Cesareia responsável pelas ações de eliminação e sequestro movidas pelo Mossad. O público pouco sabe a respeito da Unidade Kidon, cujas ações são todas realizadas com o conhecimento e o apoio direto do primeiro-ministro israelense, como a operação de assassinato dos terroristas responsáveis pelo ataque contra os atletas israelenses na Olimpíada de Munique, em 1972. Segundo os obituários publicados na imprensa, anos após entrar para a unidade foi promovido a chefe de operações. Tzahor comandou o Kidon durante toda a década de 1980, período marcado pelo combate ininterrupto contra os radicais da OLP, antes de a organização palestina assinar os acordos de paz com Israel. Nesse período, vários ataques foram atribuídos ao Mossad, como o assassinato do representante da Fatah na Bélgica, Naim Kader, morto com seis disparos quase à queima-roupa, em junho de 1981. Naquele mesmo ano, um membro graduado da OLP, Abu Magid, foi ferido ao ser atacado em um hotel de Roma, onde estava hospedado. Também Abu Daud, um dos organizadores da chacina de Munique, foi alvo, mas sobreviveu. Dois anos mais tarde, Mamon Marish, um dos mais próximos de Yasser Arafat, também foi alvejado. Outra ação célebre daquele período foi a sabotagem, em fevereiro de 1988, do “Navio do Retorno” um barco que deveria sair de Chipre rumo a Israel. O navio afundou numa ação perfeita que não deixou feridos, ao mesmo tempo em que os organizadores do tal “Navio do Retorno” morreram na explosão do carro que dirigiam em Chipre. Sem rosto Porém a ação mais célebre da Unidade Kidon, quando Tzahor era o chefe, foi a captura de Mordechai Vanunu, o téc-

FUNERAL DO AGENTE GIORA TZAHOR

NA ÉPOCA DA GUERRA DOS SEIS DIAS

nico nuclear israelense da usina de Dimona que fotografou as instalações secretas e as entregou ao jornal inglês Sunday Times. O agente da Kidon recebeu a missão de silenciar Vanunu. O Mossad localizou o espião em Londres, mas com as ordens do governo israelense de não ferir as relações diplomáticas com o governo inglês a solução foi acionar “Cindy”, codinome de Cheryl Bentov, uma atraente agente israelense, que marcou um encontro com o técnico nuclear em Roma. “Fisgado”, ele foi transferido para Israel, cumpriu pena em solitária, libertado mais proibido de deixar o país. Em 1993, após uma longa ficha de serviços prestados ao Mossad em países europeus, na Ásia, África e América do Sul, Tzahor pediu baixa, mas antes de deixar a agência foi condecorado com a mais alta insígnia da organização para agentes de combate, aquela que destaca coragem e capacidade de comando. No enterro, os inconsoláveis colegas do Mossad diziam estar “muito tristes porque justamente um homem como este, que escapou de todos os perigos imagináveis, encontrou a morte justamente devido à falta de atenção de um motorista”. O diretor do Mossad, Tamir Pardo, fez o principal discurso no funeral. “Tzahor prestou serviços durante vinte anos, e ainda mais dez anos, quando ficou na reserva, pois nunca abandonou realmente a organização. Era uma pessoa especial e um comandante único, terno por dentro, mas duro como metal por fora. Sua vida e atuação são a história do Estado de Israel.” O rosto de Tzahor não foi revelado nem mesmo depois da morte. A única foto publicada na imprensa foi quando jovem, como comandante de um tanque durante a Guerra dos Seis Dias. Até mesmo do funeral, com a presença da cúpula do Mossad, só foram publicadas as fotos das flores no túmulo. Tzahor deixou viúva, Ada, e quatro filhos.


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magazine > polêmica | por Kate Wakeling

BARENBOIM NASCEU NA ARGENTINA, ESTUDOU MÚSICA EM ISRAEL, REGEU AS GRANDES ORQUESTRAS E FOI MARIDO DA CELISTA JACQUELINE DU PRÉ

Said, Barenboim

e a West-East Divan Orchestra DESDE QUE FOI FORMADA, EM 1999, A WEST-EASTERN DIVAN

ORCHESTRA CHEGOU A PROVOCAR SENTIMENOS DE ARREBATAMENTO E DE HOSTILIDADE. MAS NÃO FOI ASSIM ÀS VÉSPERAS DOS JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES, QUANDO SÓ GANHOU APLAUSOS E ELOGIOS

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undada pelo maestro e pianista Daniel Barenboim e pelo intelectual e escritor Edward Said, a orquestra é tema de um bom debate pelo elogiado objetivo de reunir jovens músicos árabes e israelenses em um “diálogo musical construtivo”. O que Said e Barenboim dizem a respeito do poder que o cânone clássico ocidental possibilita, de transformação pessoal e coletiva, despertou uma discussão mais aprofundada. O fato é que a West-Eastern Divan Orchestra tornou-se terreno fértil – e instável – para mais discussões, entre elas saber se a experiência da orquestra pode frutificar. Mais recentemente, surgiram novas críticas acadêmicas à orquestra, contestando afirmações de Said e Barenboim de que a música é a única po-

tência ocidental capaz de transfigurar a experiência social. Será a orquestra a “república utópica” viva, como sugeriu Barenboim? Ou é apenas mais uma fantasia de harmonia social, para satisfazer principalmente as audiências liberais de concertos do que lidar com a complexidade e as dificuldades do cenário político em que opera? Atualmente um fenômeno internacional, a orquestra começou em 1999 na forma de oficinas de música para comemorar o 250 º aniversário de nascimento de Goethe. Como parte dos eventos do programa de Weimar de “Capital Cultural da Europa”, convidaram Barenboim a criar uma com jovens músicos de todo o Oriente Médio. Ele ganhou o apoio e o

interesse de Said e convidou jovens do Egito, Jordânia, Líbano, Síria e Israel a se inscrever. A resposta foi surpreendente. Em palestras na BBC, Barenboim disse que “esperava realizar um pequeno fórum de talvez oito ou doze jovens que tocariam juntos e passariam até dez dias em um workshop com a gente, e estou surpreso com os mais de duzentos candidatos apenas no mundo árabe”. Vinte e cinco jovens músicos participaram ao lado de outros famosos e conhecidos, como o violoncelista Yo-Yo Ma, por exemplo, de aulas magnas e música de câmara. O nome de West-Eastern Divan é uma homenagem à coletânea de poemas, de 1819, de Goethe (o Diwan Westöstlicher) inspirada em Hafiz, um poeta persa do século 14. Said e Barenboim chamaram aquele workshop de Weimar de “experimento”, e não foi concebido para ser “uma forma alternativa de fazer a paz”. De fato, sugere Said, o objetivo era avaliar o resultado de juntar pessoas para tocar em Weimar, e no espírito de Goethe, autor de uma fantástica coleção de poemas cujo tema era o Islã. Para Said, assim como a poesia de Goethe iniciou um diálogo aberto com o “outro” cultural, esse workshop possibilitaria aos participantes explorar e atravessar fronteiras provocadas pelas diferenças de nacionalidade, origem e posição política. Said: “Ninguém se sentiu tolhido para se expressar e com tanta diversidade de pessoas, era normal tanto a animosidade como a cordialidade”. Para Barenboim, a Orquestra cria um canal de comunicação e cooperação entre antagonistas declarados. Se “a orquestra não pode trazer a paz”, ela, no entanto, pode “trazer a compreensão, despertar a curiosidade, e, talvez, a coragem de ouvir a narrativa do outro, e, no mínimo, aceitar a sua legitimidade”. A música – mas principalmente a experiência orquestral – é celebrada como o veículo ideal para a interação aberta. Ao descrever jovens músicos sírios e israelenses compartilhando uma estante, Barenboim indica “que eles tentavam tocar a mesma nota, com a mesma dinâmica e o mesmo golpe do arco. Eles tentavam fazer algo juntos e a que davam importância. Depois de ter alcançado aquela nota, mudou a forma de um olhar para o outro, pois tiveram uma experiência comum”. A força dessa imagem e a retórica que a acompanha – jovens músicos árabes e israelenses tocando juntos e deixando a música soar apesar de toda adversidade política – foram notadas pelos anfitriões europeus. O que antes era uma única sessão de workshop logo transformou-se e ganhou recursos para ser uma orquestra itinerante, de cerca de 120 músicos permanentes do Oriente Médio – Israel, Palestina, Líbano, Síria, Jordânia e outros países muçulmanos, e mais o Egito, Irã e Turquia. Desde 2002, o governo regional da Andaluzia patrocina o grupo e serve de base para a orquestra em Sevilha, e, por isso, incluiu jovens músicos espanhóis. A orquestra se reúne a cada verão e ensaia em Sevilha antes de partir para turnê internacional com transmissões ao vivo, apresentações em estádios e gravações.

De pouca valia A mistura de excelência musical e visão aparentemente humanitária da WestEastern Divan Orchestra provou ser uma mistura sedutora para os liberais europeus e os comentários favoráveis dos críticos. Depois de várias apresentações anuais na BBC, os críticos ingleses elogiaram o grupo, um “ato extraordinariamente comovente de convivência criativa” em que “há um poder extra de paixão e motivação, da música significando algo” e que a “magia da orquestra deriva da química única entre os membros, o seu carismático criador, e a tragédia política para a qual é uma resposta desafiadora”. A ideia de que a orquestra é vibrante principalmente devido à sua conexão com a citada “tragédia política” tem sido fonte de discórdia para alguns críticos. Alguns acusam a orquestra de impedir a solidariedade aos palestinos por meio da normalização das relações palestino-israelenses. Outros examinaram a questão do ponto de vista ideológico para saber o que a orquestra realmente oferece aos músicos. Houve quem percebesse que os músicos estavam mais interessados na possibilidade de tocar profissionalmente – e de preferência sob a batuta brilhante de Barenboim – do que pela expectativa de construir pontes por meio da música ou conhecer o “outro”. De fato, os depoimentos de vários músicos a ativistas políticos sugerem que a orquestra não melhorou a visão dos músicos israelenses acerca das realidades políticas que os cercam. Ao análisar esses depoimentos, entendem que “para árabes e israelenses o verdadeiro elo entre esses jovens é a ambição... E não há nada de condenável nisso, mas está muito longe de a orquestra ser um espaço exemplar de reconciliação e entendimento”. É a musicóloga britânica Rachel Beckles Willson quem lidera as críticas, e vai além dos músicos e dos fundadores da orquestra, avançando contra a sua administração, clientes e público, e considerando a orquestra exemplo de “entretenimento utópico”. Ela toma como base o trabalho do teórico de cinema Richard Dyer a respeito de musicais e espectácu>>

Será a orquestra uma fantasia de harmonia social, para satisfazer principalmente as audiências liberais de concertos do que lidar com a complexidade e as dificuldades do cenário político em que opera?


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magazine > polêmica >> los de variedades, estes gêneros musicais que permitem ao público fugir das dificuldades da vida real: “Em vez da escassez, esses espetáculos apresentam abundância; no lugar da exaustão, expressam energia; substituem a monotonia pela intensidade, a manipulação pela transparência, e a fragmentação social pela comunidade”. Segundo Rachel Willson é esta troca da realidade final pela fantasia que a orquestra, tal como criada por Said e Barenboim, é entregue ao público. “Por meio de uma comunhão musical, alguém imagina que inimigos políticos transformem a experiência que vivem em sociabilidade interativa e produtiva, em contraste com o conflito destrutivo em que a maioria vive na vida real”. Willson observa que o sofrimento definido – e, portanto, remediado – pela West-Eastern Divan Orquestra que é sentir-se incompreendido pelo “outro”, acaba negligenciando a realidade da crise econômica e política que aflige a muitos no Oriente Médio. Assim, o sofrimento descrito por Said e Barenboim é o que a orquestra tem mais condições de aliviar. Velho crítico dos assentamentos israelenses e da estratégia militar, Barenboim é também um provocador na música. Já rejeitou o movimento de “atuação historicamente informada” (em que os músicos tentam recriar o estilo de execução das obras como foram tocadas no momento da composição). Barenboim alega que o ritmo de uma peça não deveria ser escolhido pelas marcações originais do compositor, mas ser ouvido e responder apenas ao “conteúdo”. Rejeitou a ideia de uma fidelidade simples do que uma partitura indica e, ao contrário, clamou por “um estado constante de interdependência... Que não se pode separar, porque a velocidade está relacionada com o conteúdo, com o volume, etc”. Segundo Barenboim, “é somente por meio do respeito a essa interdependência (e o valor quase misterioso do ‘conteúdo’) que a música encontra propósito e expressão, um processo que Barenboim liga explicitamente à atividade política”, pois “não importa qual a opínião a respeito do Acordo de Oslo, o fato é que ele perdeu a oportunidade de sucesso quando a sua velocidade tornou-se muito lenta. A música se dissipa quando é tão lenta, assim é também o processo, porque não há separação entre os diferentes elementos... O conteúdo requer uma determinada velocidade e se você tocar na velocidade errada... a coisa se desfaz. Isso aconteceu com o Acordo de Oslo”. A teoria da prática Para Barenboim, a música – e a música como “espelho mágico” da ação humana – só dá resultado por meio de uma interdependência respeitosa entre as partes. A West-Eastern Divan Orchestra foi criada como materialização desta visão da música e da ação humana, e participar de apresentação musical exige que os músicos se expressem como indivíduos e se entreguem à integração total, sem limites. Tocar exige a quebra da “separação” entre todos os parâmetros musicais, e sócio-políticos.

EDWARD SAID FOI UM GRANDE PIANISTA E POSSIVELMENTE O MAIOR TEÓRICO DE ORIENTALISMO; ACIMA (D), O DUO DE PIANO

YARON KHOLBERG, ISRAELENSE, E HARONI

BISHARA, PALESTINO

É uma boa premissa. No entanto, esta perspectiva leva Barenboim a definir a música de uma maneira restrita e bombástica. Falando à BBC, em 2006, Barenboim disse que “na West-Eastern Divan a linguagem metafísica universal da música torna-se a ligação e é a linguagem do contínuo diálogo entre esses jovens. A música é o quadro comum da linguagem abstrata da harmonia”. Barenboim se baseia no velho ditado da música como linguagem universal, acessível, mas abstrata. Ele alega que, ao executar a música clássica um coletivo de indivíduos, músicos árabes e israelenses, pode compartilhar suas “narrativas”, liberto da confusão da complicação política por meio da “linguagem abstrata da harmonia”. Portanto, ao definir a música o maestro admite que ela seja processada de uma vez só, toda-poderosa, e, no entanto, curiosamente em branco, uma conexão, mas despojada de contexto. De acordo com Barenboim, essa noção

libera a música do politicamente específico e, assim, também a apresenta como algo convidativo para o que se pode apontar mensagens e significados alternativos. O “quadro comum” da música a que Barenboim se refere para discutir essa orquestra é especificamente o cânone ocidental clássico. E embora ao longo da carreira tenha sido um notável expoente da música contemporânea, é notável o fato de a orquestra ter se consagrado principalmente pelas interpretações de Beethoven, o garoto-propaganda dos românticos nacionalistas alemães. Para Barenboim ser o campeão dessas obras talvez não tenha sido em si problemático, mas ao enquadrar o seu desempenho à ideologia sombria do universalismo alemão, o maestro aparece minar a própria missão. Como o diálogo aberto pode ocorrer nesse ambiente culturalmente restrito? Se Barenboim deseja que as partes de origens tão diferentes se envolvam com a “narrativa” do outro por meio da participação musical compartilhada sob sua batuta, como isso será possível se a experiência está limitada à sua posição hegemônica e limitada do que é a “música”? Um crítico do The Times observou, ao avaliar a execução de Fidelio nos Proms (o mais importante festival de música erudita do mundo, realizado periodicamente em Londres), de 2009, que “a integridade simbólica desta orquestra e a mensagem de Beethoven de liberdade universal passaram por cima de qualquer falha de passagem vocal”, invocando a utilidade do uni-

versal para encobrir as rachaduras. Edward Said foi um excelente pianista e acreditava que a West-Eastern Divan Orchestra poderia realizar uma mudança positiva, permitindo o contato e derrubando a ignorância entre as partes. Ele sugeriu que a música oferecia um “modelo alternativo para o conflito de identidades” e defendia os benefícios de se participar de outra cultura musical (a música clássica ocidental), lamentando a “concentração atual na afirmação da identidade, na necessidade de raízes... O que tornou muito raro projetar-se a si mesmo para fora para ter uma perspectiva mais ampla”. A experiência musical é sabidamente transgressora porque nos possibilita voar através das fronteiras. Embora a polêmica ideia de Said de que a missão humanista era “aceitar a responsabilidade por manter em vez de resolver a tensão entre o estético e o nacional, utilizando o primeiro como desafio de modo a reexaminar e resistir a esse úl>>

Para Said, assim como a poesia de Goethe iniciou um diálogo aberto com o “outro” cultural, esse workshop possibilitaria aos participantes explorar e atravessar fronteiras provocadas pelas diferenças de nacionalidade, origem e posição política


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magazine > polêmica >> timo”, curiosamente se dissolve a insistência dele de se valer da música sobre a nacionalidade como lugar de disputa. Em vez disso, Said descreve uma “transformação” entre os músicos que tocam sob a batuta de Barenboim nos workshops de 1999: “O que se viu não tinha qualquer conotação política”. Isto é, Said parecia menos preocupado com a contestação ou a resistência às angústias nacionalistas do que com elogios à transcendência mística da música. Que música executar? De fato, Said descreveu a música como um “lugar especial, dotado de status e espaço separados”. Comentaristas notaram a reverência pessoal e quase sagrada de Said pela música clássica ocidental, até porque ele admitia sua concepção “romântica”. Em vez de a orquestra se colocar como “contraponto” à música clássica, como Said tratou a literatura pós-colonial e a apropriação nativa das formas literárias, ele se vale de direitos apolíticos exclusivos que parecem proibir tal diálogo cultural. Said e Barenboim valorizaram muito o poder da música (clássica), uma forma abstrata para encerrar o debate e não se falar mais no assunto. Apesar do sincero esforço pessoal de Said e Barenboim, acredito que as funções da orquestra sejam mais uma fantasia euro-americana de cooperação e veículo para ambições musicais individuais do que uma contribuição positiva para as dinâmicas sociais do Oriente Médio. A questão é: qual, se é que existe, o modelo musical melhor para atender a este objetivo? Como alcançar a normalização das relações entre Israel e os palestinos com a existência de uma Campanha Palestina pelo Boicote Acadêmico e Cultural a Israel, capaz de deixar a viúva de Said, Mariam, desolada. Mas, além das questões de contato cultural palestino-israelense, é uma omissão intrigante que um conjunto baseado na obra West-Eastern Divan, de Goethe, que explora a cultura do Oriente Médio, não se liga a qualquer tipo da música do Oriente Médio. Said foi convicente ao se referir à “falsa autenticidade” de se consolidar as formas culturais da nação ou país, e de fato parece grosseiro sugerir que os músicos tocassem música “indígena” da sua região. No entanto, é estranho que este empreendimento musical desconheça as formas musicais que não sejam do cânone ocidental. Houve outras iniciativas musicais na região que se ocuparam de um território musical mais vasto e podem interessar os meios de comunicação internacionais como, por exemplo, a Israeli Andalusian Orchestra, que infelizmente se desmanchou em longas disputas trabalhistas e era composta por músicos russos e sefaraditas que haviam emigrado do Marrocos, todos emigrados, e que interpretava música da tradição judaica sefaradita. Enquanto isso, o Edward Said National Conservatory of Music oferece instrução de música clássica ocidental e de música árabe para jovens palestinos, e cuida da Palestinian Youth Orchestra. Como o conservatório e Barenboim tinham diuvergências

a respeito dos assuntos da Palestina, o conservatório recusou-se a receber fundos da rica associação andaluza Barenboim-Said Foundation e opera com apoio externo e interesse da mídia limitados. Apesar das dificuldades financeiras, o âmbito local e ponto de vista politizado do conservatório parecem focar no trabalho do grupo mais diretamente a respeito das necessidades próprias da sua comunidade. Algumas das experiências de Said realmente realçam o impacto positivo de explorar uma ampla gama de música. Uma das passagens mais fascinantes que contou acerca dos workshops do West-Eastern Divan de 1999 se referia a uma discussão entre alguns músicos árabes e israelenses sobre quem, na véspera, tinha sido autorizado a participar de uma improvisação informal de música árabe. No lugar da descrição do silêncio e do arrebatamento que ocorriam nos ensaios com Barenboim, esta interação musical, criada pelos próprios músicos, provocou uma acalorada discussão que despertou questões desafiadoras sobre a propriedade e a autenticidade cultural de “quem, afinal, poderia tocar a música”. Como Said admitiu, “foi um momento extraordinário”. Qualquer alegação de que um conjunto musical pode trazer alívio significativo ao conflito Israel-Palestina é uma falsa promessa, que obscurece as dificuldades materiais do cotidiano enfrentadas por muitos na região. No entanto, o incidente do workshop de 1999 pode demonstrar a possibilidade de um maior engajamento musical frutífero: aquele gerado pelos que tanto participam na criação musical como habitam o terreno político, e aquele indisponível para o consumo público internacional mas que procura provocar palavras em vez de silenciá-las. Kate Wakeling é musicóloga e escritora formada na Universidade de Cambridge com PhD em música balinesa da School of Oriental and African Studies. Atualmente faz palestras em etnomusicologia na Universidade de Cambridge

Edward Said foi um excelente pianista e acreditava que a WestEastern Divan Orchestra poderia realizar uma mudança positiva, permitindo o contato e derrubando a ignorância entre as partes


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magazine > túneis | por Avi Issacharoff

ESTE É UM TÚNEL CONSIDERADO PEQUENO NA FAIXA DE GAZA POIS SÓ COMPORTA PESSOAS E PEQUENOS ANIMAIS

A economia subterrânea

entre Gaza e o Egito É POSSÍVEL QUE UM ACORDO DO HAMAS COM AS AUTORIDADES EGÍPCIAS VAI MANTER OS TÚNEIS EM OPERAÇÃO PARA SATISFAZER AS EXIGÊNCIAS DE SEGURANÇA DO EGITO E AS NECESSIDADES ECONÔMICAS DA FAIXA DE GAZA

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ataque terrorista no Sinai que matou dezesseis soldados do Egito, no início de agosto, alertou as autoridades daquele país para a existência e o intenso movimento nas centenas de túneis que ligam a Faixa de Gaza à cidade egípcia de Rafah. O novo governo mandou dezenas de tratores para o lado egípcio da chamada “Rota Filadélfia” local com a orientação de demolir os túneis. Na saída deles, em território do Hamas, seus

líderes mandaram fechar a entrada deles. Trata-se de um duro golpe para cerca de setenta mil palestinos, cuja subsistência depende dos túneis. Ibrahim mora em Rafah e está preocupado. Desde 2008, é “dono” de um desses túneis usados para transferir mercadorias e tampar a saída dele,

no lado de Gaza, é uma tragédia. “Depois daquele ataque os egípcios fecharam tudo. Deram uma trégua e permitiram que ficassem abertos apenas por 24 horas para deixar os nossos bens passarem, mas informaram que seriam novamente fechados”, disse a um jornalista israelense por telefone, de Rafah. Por esses túneis também transitam funcionários administrativos do Hamas. Não se sabe o número exato de túneis. A imprensa árabe e palestina estima em cerca de quatrocentos, mas o próprio Ibrahim calcula que sejam mais de quinhentos. Um alto funcionário egípcio acredita que existam cerca de 1.200 entradas no lado palestino que, isto sim, confluem para 350 túneis. “Isso é um grande negócio”, diz esse funcionário. Com o que Ibrahim concorda, “pois em cada túnel trabalham cerca de trinta pessoas ganhando cada uma cerca de 100 NIS (novos shekels israelenses, o equivalente a 25 dólares). Se os túneis fecharem, como as famílias deles vão sobreviver?” Ibrahim começou literalmente de baixo, como motorista de caminhão transportando mercadorias de Rafah para os mercados de Gaza pelos túneis. Há quatro anos decidiu abrir um túnel próprio, e, para isso, não precisou de nenhuma autorização, apenas o capital suficiente para pagar a mão-de-obra. Mas as coisas mudaram e atualmente é preciso que o chamado “comitê dos túneis” aprove. Construir um túnel custa cerca de setenta mil dólares e o faturamento diário de todos os túneis somados é de aproximadamente 700.000 NIS, o equivalente a 175 mil dólares. Entre 10 e 15% da receita do Hamas são originários dos impostos cobrados aos transportadores. Este “comitê” é formado principalmente por representantes do Hamas, que supervisionam as atividades nos túneis e decidem quem pode abrir um túnel, afinal um negócio muito rentável. Com base numa análise das licenças emitidas, as autoridades do Hamas descobriram que integrantes deste comitê recebiam propinas para permitir a abertura de túneis. Ibrahim conta que o controle de cada túnel é feito por um policial do Hamas, ou membro deste tal comitê, que fica na entrada, ou saída, depende do lado que se está. Eles pesam todos os bens e verificam tudo para evitar a entrada de bebidas alcoólicas, drogas ou cigarros. É proibido contrabandear armas, por exemplo, mas Ibrahim muda de assunto se lhe perguntam a respeito de túneis especiais para contrabandear armas. De todo modo, ao menos oficialmente, quem for apanhado transportando armas terá o túnel lacrado. “Mas é preciso considerar que essas pessoas são também as responsáveis por todas as mercadorias que entram em Gaza e, sem elas, a economia seria seriamente abalada”, segundo Ibrahim. Os supervisores dos túneis são responsáveis pela pesagem de todos os bens que entram na Faixa de Gaza. O supervisor fiscaliza a mercadoria e o peso dela vai determinar o valor do imposto a ser pago pelo transportador ao comitê, isto é, ao governo da Faixa de Gaza. Pagam-se 10 NIS para cada tonelada de cimento e 15 NIS por cada tonelada de cascalho, por exemplo. O túnel de Ibrahim é usado para a pas-

Os túneis em números O custo é de um túnel é de cerca de setenta mil dólares e o faturamento diário de todos os túneis somados é de cerca de 170 mil dólares e contribuem com entre 10 e 15% do orçamento do Hamas. Oficialmente, sabe-se da existência de entre 350 e 400 túneis. Pelo menos setenta mil habitantes de Gaza vivem e trabalham em função dos túneis, cada um com extensão entre 750 e 1.500 metros. Contrabandear um carro custa cerca de quinhentos dólares, e em 2011 passaram por eles cerca de treze mil, muitos dos quais – os usados – as autoridades egípcias alegam serem roubados. Contrabandear uma pessoa varia de 75 a 100 dólares. Cerca de 160 pessoas morreram nos túneis por razões diversas.

sagem de diversas mercadorias, como alimentos, mas a especialidade dele é material de construção. Uma verdadeira cadeia econômica movimenta o funcionamento dos túneis: com boa antecedência, os comerciantes da Faixa de Gaza descobrem os sonhos de consumo e as necessidades básicas da população e fazem os pedidos aos transportadores que têm contatos com os fornecedores egípcios, geralmente famílias, em Rafah, que também controlam a entrada do outro lado dos túneis (egípcio) e encomendam as mercadorias, entre elas, por exemplo, automóveis. De acordo com o jornal egípcio AlAhram, em 2011 pelo menos treze mil veículos entraram em Gaza pelos túneis mas como a polícia do Egito descobriu que muitos desses carros tinham sido roubados no Cairo e Alexandria, o Hamas concordou que apenas carros novos poderiam ser transportados para Gaza. Para Abu Amar, outro proprietário de >>

Com base numa análise das licenças emitidas, as autoridades do Hamas descobriram que integrantes deste comitê recebiam propinas para permitir a abertura de túneis


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magazine > túneis

O EGITO ENVIOU CAMINHÕES E EQUIPAMENTOS PARA FECHAR OS TÚNEIS QUE LIGAM RAFAH À FAIXA DE GAZA

>> túnel, “como o Hamas tem o controle de tudo que transita pelos túneis, o serviço egípcio de informações militares o acusa de facilitar a entrada de terroristas ligados ao Jihad Islâmico no Sinai e em Gaza”. No entanto, as lideranças do Hamas dizem que há outros túneis, a leste do entroncamento com Rafah, sobre os quais não têm controle e por onde, supostamente, também estejam sendo contrabandeados seres humanos e mercadorias ilegais. As autoridades egípcias sabem da existência daqueles túneis a leste do entroncamento de Rafah, e que o Hamas não controla. É consenso entre os transportadores que se o entroncamento de Rafah for aberto para a entrada e saída de mercadorias, os túneis tendem a ser fechados e motoristas como Ibrahim voltam a ser simples transportadores. Tradução de Yossi Turel


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magazine > primavera árabe | por Ludger Kühnhardt *

ESTES SENHORES INTEGRAM O

CONSELHO DE COOPERAÇÃO DO GOLFO, A ENTIDADE QUE AJUDA A SUSTENTAR AS MONARQUIAS

Monarquias A resistem às mudanças POR QUE E COMO AS MONARQUIAS HEREDITÁRIAS PARECEM SER MENOS AFETADAS PELOS PROTESTOS ÁRABES DO QUE OUTRAS FORMAS DE GOVERNO? É PRECISO IR ALÉM DO ÓBVIO E PROCURAR RAZÕES ESTRUTURAIS

s revoluções não são processos mecânicos da engenharia social e se desdobram em um fluxo imprevisível de acontecimentos. Do ponto de vista estrutural, as revoluções têm ciclos, muitas vezes atravessam períodos contraditórios e sempre oscilarão entre a turbulência e a consolidação passando por momentos de estagnação, de avanços surpreendentes e de transformações inesperadas. A natureza do início da Primavera Árabe em 2011 foi assim. Para muitos começou como uma surpresa, tomou direções diferentes em cada país e, no

final daquele ano, como se tem visto, ainda estava longe de acabar. Os países do Ocidente têm consciência das enormes diferenças entre os países árabes e da característica da luta de cada nação pela democracia. No entanto, a tendência é exportar a experiência democrática ocidental como o marco capaz de avaliar o progresso no mundo árabe. Se a inspiração se origina na breve Constituição dos Estados Unidos ou no êxito das revoluções pacíficas na Europa Oriental e Central de 1989 e 1990, é preciso cautela em sugerir sua aplicação à Primavera Árabe. Além disso, a história da Europa dos séculos 19 e 20 revela a possibilidade de fracasso na mudança para um Estado de Direito e de democracia participativa. É por esta razão que já se falou até que à Primavera Árabe se seguiria um outono árabe, ou mesmo um inverno. Certas experiências europeias devem ser lembradas principalmente por aqueles que abandonaram visões pessimistas

por considerá-las profecias autorrealizáveis: na década de 1830, a Alemanha experimentou uma primavera para o pluralismo e a democracia. Esse movimento – Sturm und Drang – era, na essência, uma revolta cultural, sem mudanças políticas. Em 1848, a Europa foi varrida por movimentos revolucionários cujos líderes se moviam pela esperança de parlamentos constitucionais democráticos. Mas, na maioria dos países, o êxito das revoluções foi logo substituído por variações que consolidavam os aspectos restritivos dos regimes antigos. A queda, expulsão e execução de Ceaucescu, o ditador da Romênia, em 1989, representou um único e importante desvio no caráter das revoluções pacíficas da Europa no final dos anos 1980, e durante mais de dez anos camuflou práticas do regime a quem o ditador servira. Assim, enquanto o resto da Europa Central e do Sudeste mudava o regime e se renovava, na Romênia ele persistiu atrofiado e resistente à renovação. Isso é um contraste em relação ao poder pessoal das repúblicas árabes: um presidente corrupto cujo corpo de segurança não lhe era mais leal (Tunísia); a prisão de um presidente que a todos fazia acreditar ter o comando das forças de segurança, mas não conseguia manter o apoio do exército (Egito); a deposição de um governante dividido entre quem apoiar: se as facções de segurança ou a lealdade do exército (Iêmen); o ataque criminoso ao seu próprio povo por forças de segurança leais ao presidente sitiado (Síria); a repressão a qualquer agitação popular em potencial por um regime ainda agarrado ao poder absoluto (Argélia); e a derrota militar de um ditador depois de atacar o próprio povo (Líbia) foram variações, nas repúblicas árabes, de um mesmo e complexo tema, em 2011. O Líbano é um caso especial com a sua Revolução do Cedro, desde 2005. Por que e como as monarquias hereditárias parecem ser menos afetadas pelos protestos árabes do que outras formas de governo? Como é possível explicar o fenômeno quase paradoxal de, ao menos por enquanto, as monarquias he>>


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magazine > primavera árabe >> reditárias parecem ser menos afetadas pela onda de protesto contra o poder pessoal e o autoritarismo patrimonial que ressoa pelo mundo árabe? É inegável, por exemplo, o interesse da Arábia Saudita em apoiar monarquias árabes, e, na verdade, impedir uma profunda democratização naquelas repúblicas. Mas apenas os interesses da família saudita e o poderio financeiro não explicam a razão pela qual as monarquias árabes tendem a ser mais resistentes à atual onda de protesto que varre o mundo árabe. É preciso ir além do óbvio e procurar razões estruturais. Mais evidente – e muito além do mundo árabe – está o fato de que o poder com base na legitimidade tradicional continua a desempenhar um papel estabilizador na transformação das sociedades e seus sistemas políticos. Formalmente republicano, o governo pessoal autoritário do Estado, erigido sobre uma ideologia política (por exemplo, independência, socialismo, nacionalismo, desenvolvimento) só pode ser mantido por meio de um aparato de segurança, e a coerção que este pode exercer se aumentar a pressão popular por mudanças. E, ao contrário, a forma hereditária de transmitir o poder parece ser capaz de mantê-lo com menos violência contra os cidadãos e possivelmente com uma legitimidade adquirida. Mas qual a razão do êxito das monarquias? Não basta lembrar simplesmente as raízes religiosas da legitimidade monárquica árabe, especialmente no caso da Arábia Saudita e do Marrocos. É irrelevante que a sua autoridade derive da religião ou da moral; o fato é que a memória dos confrontos das monarquias combina com a demanda popular por mudanças. A referência às fontes religiosas tradicionais da legitimidade no passado foi insuficiente para algumas monarquias sobreviverem aos ventos de mudança das suas sociedades e as avaliações acerca da natureza dos sistemas hereditários têm resistido ao teste da mudança social. A compreensão deles pode se revelar útil para perceber o futuro ainda em aberto da sucessão hereditária no mundo árabe. A sucessão hereditária Do século 17 (Grã-Bretanha) até o 19 (França, Espanha, Portugal, Brasil, México) e mesmo o 20 (Alemanha, Rússia, Império Austro-Húngaro, Iugoslávia, Etiópia, China, Grécia, Camboja, Pérsia, Nepal, Egito, Líbia, Iraque), sempre que suas respectivas sociedades sofreram mudanças fundamentais mais monarquias caíram do que foram reconstruídas. As atuais monarquias europeias (Reino Unido, Dinamarca, Noruega, Suécia, Holanda, Bélgica, Espanha, Luxemburgo, Mônaco, Liechtenstein), e as não europeias (Japão, Malásia, Tailândia, Brunei, Butão, Camboja, Tonga, Lesoto, Suazilândia, e as monarquias árabes) são exceção à regra, pois a tendência parece favorecer a ordem republicana como resposta à modernização socioeconômica e política – e os monarcas desses países são apenas figurantes políticos. No entanto, as mudanças na Grã-Bretanha (século 17) e na Espanha (século 20), e a transformação do governo imperial

do Japão depois de 1945 indicam o potencial para o renascimento da sucessão hereditária em tempos de agitação popular. O panorama atual da sobrevivência de quase duas dezenas de monarquias e de sistemas hereditários de sucessão apenas destaca a monarquia eleitoral da Igreja Católica que já dura mais de dois mil anos. A comparação vale porque, afinal, o papa também é chefe de Estado da Santa Sé. As principais lições da sobrevivência ou renascimento da sucessão hereditária em outros lugares poderiam ajudar a entender qual o futuro dos países árabes governados por sucessão hereditária. Uma dessas lições inclui prevenir ou cessar a beligerância, ou a ameaça de violência em relação a qualquer vizinho. As monarquias consolidadas em todo o mundo reconheceram a legitimidade das fronteiras e os direitos soberanos dos vizinhos, o que contribuiu para ficarem distantes de disputas internacionais por território ou poder. Para atender aos interesses dessas monarquias árabes, essa experiência revela a importância de aconselhar que reconheçam Israel, procurem a paz e facilitem a solução de dois Estados: o de Israel, em segurança, e um Estado palestino independente, sem disputas de fronteira entre os dois estados, e destes com as monarquias árabes. Entre as lições fundamentais da luta pela sobrevivência monárquica em outros lugares, está a de transformar a monarquia de Estado e de governo que inspira temor em um símbolo de respeito e unidade nacional. Certas monarquias consolidadas conseguiram separar a corte do aparato de segurança nacional, ao mesmo tempo em que faziam do monarca o símbolo benevolente da unidade nacional, às vezes associado a uma certa autoridade religiosa. Para as monarquias árabes, essa experiência global implicaria um controle parlamentar absoluto sobre as forças militares e de segurança e iniciar um processo de purificação de modo a submeter à justiça os crimes cometidos pelo aparato de segurança, mas sem destruí-

sociar a riqueza pessoal daquela do país. Nas monarquias já consolidadas, o orçamento pessoal do monarca e da corte está separado das fontes de riqueza do país. O orçamento dos monarcas de hoje é menos vigiado pelos tribunais de contas do que os outros órgãos públicos, e nessas monarquias a dotação de recursos impede o acesso arbitrário do governante aos bens públicos. Nas monarquias árabes, essa experiência implicaria separar os recursos estatais daqueles colocados à disposição do monarca e seu entourage e instituir o controle do Parlamento sobre eles e um sistema eficaz de prestação de contas e de auditoria dessa dinheirama. É óbvio que o contexto político, social e econômico em que ocorreu a democratização das monarquias da Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica e Espanha, não pode se repetir no atual mundo árabe, cuja transformação vai ocorrer de jeito próprio e diferente das expectativas e aspirações ocidentais.

MANIFESTAÇÕES COMO ESTA, NO IÊMEN, QUE DERRUBOU O PRESIDENTE, NÃO SÃO VISTAS NAS MONARQUIAS ÁRABES

lo. E também fazer valer a legislação sobre as forças de segurança e as autoridades militares, sem, no entanto, marginalizálos da sociedade e da política. Historicamente, a sucessão hereditária deu errado quando confrontada com desafios sociais, políticos ou econômicos. A terceira sugestão é separar a autoridade do poder. Ao aceitarem governo e parlamentos independentes como a principal fonte do poder político nacional, as monarquias consolidadas exercem a sua autoridade tradicional, mas não o cotidiano da política e do poder. Usando sua energia em um governo constitucional essas monarquias conseguiriam preservar a autoridade simbólica e tradicional. Essa experiência, vitoriosa em outros países, implicaria, no caso das monarquias árabes, um governo parlamentarista com a nomeação de um primeiro-ministro e a eleição de deputados com a tarefa de reescrever a Constituição e alcançar um novo consenso nacional, desta vez em torno de uma monarquia parlamentar baseada na Constituição. A quarta – mas certamente não a última – lição manda dis-

Os desafios da Primavera Árabe O caminho que os países percorreram para se transformar, com sucesso, de um governo pessoal para uma monarquia parlamentar, foi geralmente longo e difícil. Originalmente, a base do domínio pessoal era o controle do território e do povo. Aos poucos, criadas pelo governante ou à sua revelia, surgiram elites intermediárias com predominância do governo legal sobre o governo pessoal. No caso das monarquias árabes hereditárias, elas deveriam atender às demandas por liberdade e justiça pelas quais clamam os seus cidadãos respaldados em estruturas legais independentes. A diversificação cada vez maior das atividades econômicas – especialmente o de capital produtivo e da divisão do trabalho – criou elites funcionais (banqueiros, empresários do comércio e indústria) que exigiram participação política e debate das causas nacionais. Por esta razão, as monarquias árabes hereditárias deveriam se empenhar para serem criadas entidades de representação dessas elites funcionais como associa>>

É comum os sistemas monárquicos fracassados terem o apoio de um estado de partido único que se julga capaz de lidar com as preocupações. Só um verdadeiro sistema pluripartidário agrega os interesses sociais e lhes dá lugar na agenda política e na tomada de decisão


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>> ções de classe e sindicatos de trabalhadores, reconhecendo-as como interlocutores no debate de políticas públicas. À inclusão política desta nova burguesia correspondeu a participação democrática, que, por sua vez, estabilizou o sistema social e político. Desta forma, conviria às monarquias árabes hereditárias tratar de ajudar as suas sociedades a se mover para além das estruturas oligárquicas predominantes e eminentemente rentistas. E aqui a experiência turca de desenvolvimento econômico pode servir de modelo para transformar o mundo árabe, para muito além das monarquias. Muitas vezes, o governo parlamentar surge de aspirações pessoais do monarca a partir de questões sociais, culturais e ideológicas. No entanto, nenhum ditador de algum país que ostenta República em seu nome conseguiu exercer o governo durante um período tão longo que lhe permitisse transformar o reinado em sucessão hereditária legítima. Atualmente, as famílias governantes da Coreia do Norte e da Síria – e de forma limitada os regimes de Kabila, no Congo, e de Ali Bongo Ondimba, no Gabão – são exceções. No entanto, essas ditaduras hereditárias contemporâneas foram incapazes de legitimar suas versões de sucessões hereditárias autoritárias ou pseudodemocráticas. Uma exceção democrática a este fenômeno é o de Cingapura: o terceiro primeiro-ministro, Lee Hsien Loong, é filho do primeiro-ministro Lee Kuan Yew. As monarquias árabes hereditárias fariam bem se demitissem qualquer membro da família de cargos públicos. Nas sociedades pós-coloniais a maioria dos governantes re-

NICOLAU E ELENA CEACESCU FORAM ENFORCADOS NA

ROMÊNIA, MAS NADA MUDOU NAQUELE PAÍS

correu a mecanismos semelhantes para se manter no poder: patrimonialismo, clientelismo, roubo, corrupção, crime e violência. E quando os ditadores republicanos carecem dos meios tradicionais para exercer a autoridade recorrem à dominação carismática, à violência e à repressão, instrumentos que dificultam a transição para uma sucessão hereditária legítima. As monarquias árabes hereditárias deveriam promover a abertura política transparente aliada à modéstia pessoal e decência nos gastos pessoais. Por enquanto, a fonte de onde jorra a autoridade das monarquias contemporâneas no mundo árabe (e em outros lugares) é a legitimidade tradicional do seu governo. Além de aprender de outras monarquias consolidadas, os atuais governantes árabes hereditários poderiam pensar em tratar dos principais desafios estruturais, vitais para a transformação pacífica e sustentável das suas sociedades. Uma ideia é criar espaços no debate público nos quais geralmente uma sociedade civil pluralista prospera e estimula a discussão em torno principalmente da reforma constitucional. Outras medidas que estabilizam uma monarquia sob pressão incluem reabilitar a figura do político por meio do pluripartidarismo. É comum os sistemas monárquicos fracassados terem o apoio de um estado de partido único que se julga capaz de lidar com as preocupações sociais, mas na realidade impede a plena expressão de preferências sociais. Só um verdadeiro sistema pluripartidário agrega os interesses sociais e lhes dá lugar na agenda política e na tomada de decisão. A mais importante das reformas é o estímulo ao investimento privado para aumentar as oportunidades de emprego para os jovens. É impossível reformar um sistema político hereditário se a ordem econômica subjacente, e quase sempre intrinsecamente ligada a ele, também não mudar. Para tanto devem ser eliminadas as estruturas monopolistas e oligárquicas, quase sempre muito ligadas ao domínio político hereditário e que controla a economia e os privilégios daí advindos. Essas conexões

remontam ao feudalismo, não estimulam a iniciativa privada e sustentam as elites dominantes. Enfim, em um sistema político hereditário apenas uma classe média estável, de boa educação formal e profissionalmente bem constituída, pode garantir estabilidade a longo prazo, o que parece ser o caso de todas as sociedades árabes hoje. Parceiros europeus e americanos A Primavera Árabe abriu um novo capítulo na história política do mundo árabe que pode variar de país para país e se arrastar, por anos ou décadas, com diferentes velocidades e intensidades. Tudo começou graças à coragem de pessoas não violentas interessadas em revitalizar as suas respectivas sociedades com base na dignidade, liberdade e justiça. Num contexto geopolítico, a Primavera Árabe representa a oportunidade histórica de promover duas reconfigurações fundamentais: por um lado, vai acabar o conceito tradicional segundo o qual a África está dividida entre o Norte da África e a África Subsaariana. Com o fim do domínio pessoal e o começo de uma mudança constitucional a democracia vai emergir na maior parte da África Subsaariana e no mundo árabe. Essas duas regiões revelam as deficiências das políticas pós-coloniais e isso explica por que a Primavera Árabe foi vista com grande esperança na África Subsaariana principalmente pelos jovens, e com preocupação entre a elite pós-colonial. Em Uganda foi assim. É razoável prever que a Primavera Árabe vai ocorrer nos próximos anos em vários países da África Subsaariana. Assim, ela irá apoiar a tendência (e a necessidade) de uma percepção diferenciada da África. Em vez de contínua e erroneamente imaginarmos a África como um todo, a longo prazo a consequência constitucional da Primavera Árabe vai ajudar a distinguir uma África emergente, de transformações políticas bemsucedidas além da era pós-colonial de uma África estagnada e amarrada a estruturas pós-coloniais de domínio pessoal e de patrimonialismo. De outra parte, os parceiros europeus e americanos terão de redefinir as suas estratégias para o mundo árabe pois nem a política de atemorizar somada a estereótipos baseados em noções distorcidas de identidade e nem atitudes de paternalismo benevolente contribuirão para redefinir as relações deles com as sociedades árabes, e suas novas estruturas políticas emergentes. Aqueles parceiros devem se engajar no mundo árabe – e eventualmente também na África – em uma agenda abrangente de transformação. Os Estados Unidos e a União Europeia devem avançar para além do paradigma tradicional de segurança. Durante muito tempo, as monarquias árabes foram consideradas parceiras na segurança ocidental, levando mais em conta questões geopolíticas do que as domésticas. A longo prazo, as monarquias árabes só poderão ser parceiras do Ocidente em questões de segurança se, ao mesmo tempo, houver estabilidade interna. As etapas de transformação serão companhia cons-

tante dos governantes hereditários árabes ainda por muitos anos. Nesse processo de transformação, é papel dos parceiros ocidentais envolver as monarquias árabes em monarquias parlamentares e constitucionais e de que são prova as monarquias do resto do mundo. Se, de fato, as monarquias árabes quiserem prevalecer ao longo do tempo esta pode ser a única opção. E as urnas? Atualmente, os parceiros europeus e americanos seguem estratégias independentes de cooperação com o mundo árabe. Apesar de forte superposição normativa, as estratégias também representam interesses e abordagens diferentes. Os EUA e a União Europeia foram pegos de surpresa no início da Primavera Árabe. Para os EUA, a principal questão era saber qual o impacto da Primavera Árabe para o futuro de Israel e ambos precisam estar certos de que nada vai mudar para melhor no Oriente Médio sem um sério retorno às negociações de dois Estados. Para a União Europeia, a avaliação inicial da Primavera Árabe era tecnocrática, um método consagrado na política de vizinhança da União Europeia em relação aos vizinhos orientais e meridionais. A União Europeia terá de perceber que só fornecer mais programas e apoio aos projetos para a transformação democrática não serve. As primeiras eleições democráticas em países árabes, como Egito, Tunísia e Líbia colocaram o Ocidente diante de novos problemas. Por exemplo, como lidar com os partidos políticos islâmicos legitimados nas urnas? Analistas ocidentais e a imprensa diferenciam os partidos reformistas entre radicais e mais moderados. Os partidos islâmicos que surgiram com a mudança de regime, de fato, começaram a tomar rumos diferentes. Alguns se inspiraram no Partido Justiça e Desenvolvimento da Turquia, que declarou lealdade à Constituição, ao Estado de Direito, à legitimidade do Estado laico e ao desejo de renovar a moral pública com base em normas islâmicas. Outros partidos propuseram conci>>

Os Estados Unidos e a União Europeia devem avançar para além do paradigma tradicional de segurança. Durante muito tempo, as monarquias árabes foram consideradas parceiras na segurança ocidental, levando mais em conta questões geopolíticas do que as domésticas


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magazine > primavera árabe >> liar o constitucionalismo democrático com a shaaria (o código de leis islâmicas) e finalmente, um terceiro grupo está indeciso quando se trata de liberdades constitucionais e pluralismo político. Na maioria dos países árabes em transformação, o mundo ocidental terá de aprender a lidar com governos islâmicos moderados. Para alguns no Ocidente isto é tão desafiador como continuar a cooperar com monarquias árabes onde houve uma transformação gradual. E quando se trata das monarquias árabes, o Ocidente pode acabar com os governantes hereditários e os governos islâmicos. Por isso é urgente formular uma estratégia positiva para lidar com tais situações. Finalmente, a atual abertura do espaço político árabe deve ser vista como uma importante oportunidade para o Ocidente. Estados Unidos e União Europeia seriam sensatos se definissem uma estratégia conjunta em relação ao futuro do mundo árabe com base na transformação, legitimidade, estabilidade, parceria e desenvolvimento da sociedade civil e do setor privado. No passado, algumas monarquias passaram por estágios de transformação que duraram séculos mas talvez os atuais governantes hereditários no mundo árabe não tenham tanto tempo. O que há de realmente novo nos eventos de 2011 é o espírito da Primavera Árabe porque as sociedades árabes, sozinhas, conseguiram dar dignidade e esperança a milhões de cidadãos para agir com orgulho e autoconfiança. Este pode ser apenas o primeiro passo de uma longa e controvertida jornada. Atualmente, o foco principal dos europeus e americanos é especular a respeito do futuro das repúblicas árabes dilaceradas entre extremos. Alguns pensam que as monarquias árabes serão as últimas a se reformar e, portanto, podem ser negligenciadas, mas é o contrário: monarquias árabes que não passaram por reformas poderiam prejudicar qualquer progresso nas repúblicas árabes. Mas se essas monarquias forem reformadas e transformadas se consolidarão na condição de agentes confiáveis para dar legitimidade a um mundo regional renovado. Nesse contexto, até mesmo o futuro dos agrupamentos regionais no mundo árabe tornou-se questão em aberto. Quando a Arábia Saudita convidou Marrocos e Jordânia para se juntar ao Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), os outros parceiros do Conselho não gostaram. Não importa o final, a tendência é a Arábia Saudita fortalecer as monarquias árabes, em prejuízo da coesão e da integração na região do Golfo. Enquanto Marrocos e Jordânia estão engajados em uma nova fase de avançadas reformas internas, a oferta saudita foi entendida como um oposto, isto é, uma forma de coibir e minimizar a importância das reformas capazes de desafiar a atual estrutura de poder naqueles dois países. Em algumas daquelas monarquias uma avaliação realista deve incluir novos períodos de estagnação e resistência às mudanças. Os que acreditam nisso apontam o dedo para o apoio financeiro da Arábia Saudita ao movimento islâmico no Egi-

to, mais tradicional e indicativo do potencial reacionário tanto em repúblicas árabes revolucionárias como nas monarquias não reformistas. Os otimistas louvam o apoio do Qatar aos rebeldes líbios, e a relativa abertura interna simbolizada por abrigar a sede da TV Al Jazira. É difícil prever qual lado irá prevalecer porque são múltiplos os laços que unem monarquias e repúblicas árabes. A instabilidade das repúblicas árabes autocráticas não significa que as monarquias árabes sejam as mais resistentes à mudança no mundo árabe, e que eventualmente elas desapareçam. Não se consegue prever quais os próximos passos da revolução árabe em curso. As esperanças podem falhar e seria prematuro minimizar o potencial das monarquias árabes hereditárias de se transformar em monarquias parlamentares. A vantagem das monarquias do Golfo é sua forte base econômica, embora petróleo e gás sejam finitos. Além disso, a estrutura social das monarquias do Golfo, com mal tratados trabalhadores migrantes, pode influenciar no futuro das suas respectivas sociedades. Mover-se das atuais estruturas de lucro a qualquer preço em direção a economias funcionais complexas, nas quais os jovens sempre têm lugar cativo e legítimo, será tão difícil nas monarquias quanto nas repúblicas árabes. Não convém descartar as surpresas políticas principalmente no processo de sucessão. Mas finalmente a Primavera Árabe abriu as janelas de mudanças naquela parte do mundo e este início promissor possibilita ao Ocidente lançar um novo olhar sobre as sociedades árabes e o seu desenvolvimento pois é no futuro das monarquias árabes que está um dos aspectos mais importantes do novo mapa do mundo árabe. * Ludger Kühnhardt dirige o Centro de Estudos de Integração Europeia (ZEI) na Universidade de Bonn Tradução de Yossi Turel

A instabilidade das repúblicas árabes autocráticas não significa que as monarquias árabes sejam as mais resistentes à mudança no mundo árabe, e que eventualmente elas desapareçam


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Siga o site da Glorinha É jornalista profissional e por mais de 25 anos trabalhou na imprensa judaica assinando páginas sociais para a Revista da Hebraica e para os jornais Resenha e Semana Judaica, tendo sido editora do Suplemento Social Espe-

cial da Tribuna Judaica, que circulou até agosto de 2003. Atualmente assina uma página na revista Shalom e coordena seu site pessoal, que tras dicas e notícias sobre a comunidade.

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O programa oferece um show de variedades com musicais, reportagens, entrevistas, documentários e comentários em vídeo conferência diretamente de Israel, relacionados com a comunidade judaica e com o povo judeu.

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magazine > ecumenismo | por John Connelly*

Os convertidos que mudaram a Igreja CLÉRIGOS DE ORIGEM JUDAICA AJUDARAM A AVANÇAR AS REFORMAS DO CONCÍLIO VATICANO II QUE MUDARAM AS POSIÇÕES DA IGREJA CATÓLICA QUESTÕES CRUCIAIS, INCLUINDO OS ENSINAMENTOS A RESPEITO DOS JUDEUS

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á exatos cinquenta anos, em Roma, no segundo semestre de 1962, os bispos católicos se reuniram em um concílio que traria a Igreja “aos dias de hoje”, ao fazê-la falar mais diretamente com o mundo moderno. Os bispos debateram os temas durante três anos, votaram e decidiram que os fiéis podiam assistir à missa em seus próprios idiomas, incentivaram leigos a ler as Escrituras e apelaram aos católicos para pensar em outras religiões como fontes de verdade e graça. O Concílio referiu-se à Igreja como “povo de Deus” e sugeriu uma forma mais democrática nas relações entre os bispos e o papa. Também aprovou uma declaração a respeito das religiões não cristãs, conhecida pelo título latino, Nostra Aetate (“Em Nosso Tempo”). A quarta parte desta declaração, que diz respeito aos judeus, revelou-se a mais controversa, quase fracassando várias vezes em razão da oposição dos bispos conservadores. Nostra Aetate confirmou que Cristo, a mãe e os apóstolos eram judeus, e que a origem da Igreja estava no Antigo Testamento. O documento negava que os judeus podiam ser considerados coletivamente responsáveis pela morte de Jesus Cristo, e condenou todas as formas de ódio, incluindo o antissemitismo. Citando a Epístola de São Paulo aos Romanos, Nostra Aetate chamou os judeus de os “mais queridos” de Deus. Atualmente estas palavras parecem ser uma questão de bom senso, mas promoveram uma revolução no ensino católico. Apesar da oposição interna, os bispos sabiam que não podiam ficar em silêncio acerca dos judeus. Quando em maio de 1965 o debate do documento chegou a um impasse, um bispo explicou porque era preciso avançar: “O contexto histórico: seis milhões de judeus mortos. Se o Concílio, que se realiza vinte anos após esses fatos permanecer em silêncio, en-

tão inevitavelmente evoca a reação expressa por Hochhuth em The Deputy”. Esse bispo fazia referência à representação feita pelo dramaturgo alemão Rolf Hochhuth de um silencioso e indiferente Pio XII diante do Holocausto. Já não era a essa Igreja que esses bispos desejavam pertencer. O problema era que os bispos não tinham uma linguagem própria para se expressar e romper o silêncio. Muito mais que a maioria das disciplinas acadêmicas, a teologia é um emaranhado complexo no qual cada ramo se vê guardado por uma espinhosa confraria de especialistas. Quem se preocupou em entender a complexidade das relações da Igreja com os judeus teve de estudar escatologia (doutrina relativa aos acontecimentos do fim do mundo), soteriologia (doutrina da salvação da humanidade por Jesus Cristo), patrística, Antigo e Novo Testamentos e a história da Igreja ao longo de todos os seus períodos. Desta forma, os bispos se viram dependentes de pequenos grupos de especialistas interessados o bastante em acumular qualificações intelectuais incomuns para essa tarefa. Como descobri enquanto pesquisava para meu livro recentemente publicado, From Enemy to Brother: The Revolution in Catholic Teaching on the Jews, 1933–1965 (”De Inimigo a Irmão: a Revolução na Doutrina Católica acerca dos Judeus, 1933-1965”), esses especialistas não começaram o trabalho na década de 1960, isto é, simultaneamente ao Concílio. Trabalhando na Áustria e na Suíça, vários deles tentaram formular argumentos católicos contra o antissemitismo à sombra do nazismo três décadas antes. Eles eram tão atípicos no catolicismo quanto se possa imaginar. Como cidadãos da Europa Central não só foram corajosos o suficiente para resistir a Hitler, como nem tinham nascido católicos em sua maioria. Os católicos que ajudaram a Igreja a reconhecer a santidade contínua do povo judeu eram convertidos, muitos deles de famílias judias.

GEZA VERMES “TAMBÉM JUDEU CONVERTIDO” FOI UM EXPOENTE DA CAMPANHA CONTRA O ANTIJUDAÍSMO DOS CATECISMOS DAS ESCOLAS CATÓLICAS

Paixão por Cristo O mais importante desses conversos foi Johannes Oesterreicher, nascido em 1904, filho do veterinário judeu Nathan e a mulher, Ida, em Stadt-Liebau, comunidade de língua alemã no norte da Morávia. Ainda menino, participou dos escoteiros sionistas e foi eleito o representante dos judeus na escola, mas depois, por razões que permaneceram inexplicáveis (mais tarde ele disse que “se apaixonou por Cristo”), Oesterreicher se interessou por textos cristãos do cardeal Newman, Kierkegaard e os próprios Evangelhos e influenciado pelo padre Max Josef Metzger, afinal assassinado pelos nazistas, tornou-se católico e, depois, padre. No início dos anos 1930, Oesterreicher tomou a iniciativa da Diocese de Viena de converter judeus, na esperança de trazer a família e os amigos para a Igreja. Nessa empreitada, o êxito foi limitado. Teve mais sucesso ao reunir outros pensadores católicos para se oporem ao racismo nazista. Surpreso, Oesterreicher descobriu que o racismo fazia parte do trabalho dos principais pensadores católicos para os quais os judeus eram racialmente deficientes e, portanto, não poderiam receber a graça do batismo. Na tarefa a que se propôs teve a ajuda de amigos, entre os quais outros convertidos, como o filósofo Dietrich von Hildebrand, o teólogo Karl Thieme e o filósofo político Waldemar Gurian. Em 1937, Gurian, Oesterreicher e Thieme escreveram

uma declaração católica a respeito dos judeus, argumentando, contra os racistas, que os judeus carregavam uma santidade especial. Embora isso constituísse um ensinamento ortodoxo, nem um único bispo (e muito menos o Vaticano) assinou o documento. Quando os nazistas anexaram a Áustria, em 1938, Oesterreicher fugiu e prosseguiu em sua tarefa de Paris, transmitindo, por rádio para o Reich, sermões em língua alemã, informando os católicos que Hitler era um “espírito impuro” e “antípoda em forma humana”, e descrevendo os crimes nazistas cometidos contra os judeus e poloneses. Na primavera de 1940, escapou por pouco de um grupo avançado de agentes da Gestapo, e, através de Marselha e Lisboa, foi para Nova York e, finalmente, chegou à Seton Hall University, onde tornou-se o maior especialista em relações com os judeus na Igreja Católica da América. Oesterreicher foi gradualmente abandonando a abordagem “missionária” em relação aos judeus e passou a chamar cada vez mais o seu trabalho de “ecumênico”. Ele e outros cristãos com o mesmo pensamento tentaram descobrir como fundamentar a sua crença na vocação contínua do povo judeu nas escrituras cristãs. Se antes da guerra a batalha era contra as suposições superficiais do racismo nazista, após a guerra o foco voltou-se contra as crenças profundamente enraizadas do antijudaísmo cristão. No período anterior, os convertidos argumentavam que, sim, os judeus poderiam ser batizados. No segundo período, mesmo se esses pensadores continuassem a acreditar que os judeus devessem ser batizados para escapar da maldição de rejeitar Cristo, começaram a ponderar a respeito da natureza da suposta maldição. Antijudaísmo no catecismo Se a história era uma série de provações enviadas para castigar os judeus por não aceitarem Cristo, então qual seria o significado de Auschwitz? Foram os nazistas instrumentos da vontade de Deus, destinados a fazer os judeus final>>

Como cidadãos da Europa Central não só foram corajosos o suficiente para resistir a Hitler, como nem tinham nascido católicos em sua maioria. Os católicos que ajudaram a Igreja a reconhecer a santidade contínua do povo judeu eram convertidos, muitos deles de famílias judias


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>> mente se voltarem para Cristo? Se responder “sim” a esta pergunta seria algo obsceno, em 1945 foi a única resposta dada pela teologia católica. Nos anos seguintes, os convertidos tiveram de realizar uma revolução em uma igreja que afirmava ser imutável. Eles o fizeram mudando o ensinamento da Igreja em relação à Epístola de São Paulo aos Romanos, capítulos 9-11, na qual o apóstolo, sem falar em batismo ou conversão, proclama que os judeus continuam a ser “amados de Deus” e que “todo Israel será salvo”. Assim como Oesterreicher, os pensadores autores desse trabalho intelectual preparatório desta revolução eram em sua esmagadora maioria conversos. Logo após a guerra, Thieme juntou-se à sobrevivente de um campo de concentração Gertrud Luckner para publicar o Freiburger Rundbrief, no sudoeste da Alemanha, por meio do qual fizeram importantes avanços teológicos no caminho da conciliação com os judeus. Em Paris, o reverendo Paul Démann, judeu húngaro convertido, começou a publicar a revista Cahiers Sioniens e, com a ajuda dos colegas convertidos Geza Vermes e Renée Bloch, refutou o antijudaísmo nos catecismos das escolas católicas. Em 1961, Oesterreicher foi convocado para trabalhar no comitê do Concílio Vaticano II encarregado da “questão judaica”,

BRUNO HUSSAR E GREGORY BAUM, DOIS PADRES E JUDEUS CONVERTIDOS, JUNTARAMSE A JOHANNNES

OESTERREICHER PARA ESCREVER A PARTE REFERENTE AOS JUDEUS O DOCUMENTO DO

CONCILIO VATICANO II

e que tornou-se o tema mais difícil a ser enfrentado pelos bispos. Houve um momento crítico, em outubro de 1964, e os padres Gregory Baum e Bruno Hussar juntaram-se a Oesterreicher na elaboração do que se tornou o texto final do documento do Concílio a respeito dos judeus, votado pelos bispos um ano mais tarde. Como Oesterreicher, Baum e Hussar eram convertidos de origem judaica. Eles deram continuidade a uma tendência que remonta ao Concílio Vaticano I, em 1870, quando os irmãos Lémann – judeus que se tornaram católicos e sacerdotes – apresentaram um projecto de declaração acerca das relações entre a Igreja e os judeus, afirmando que os judeus “são sempre muito queridos por Deus” por causa dos pais e porque Cristo veio deles “segundo a carne”. Aparentemente, sem os convertidos ao catolicismo a Igreja Católica nunca teria se desembaraçado dos desafios do antijudaísmo racista.

Faz todo o sentido a alta porcentagem de judeus convertidos como Oesterreicher entre os católicos que se opunham ao antissemitismo: nos anos 1930, eles foram alvo de racismo nazista, e não puderam evitar o racismo que havia se infiltrado na Igreja. Ao fazer oposição, eles simplesmente mantiveram o universalismo da própria Igreja. Mas ao se voltarem para as passagens há muito negligenciadas da Epístola de São Paulo aos Romanos, eles também abriram a mentalidade da Igreja para uma nova apreciação do povo judeu. Quais as motivações por trás do compromisso deles após a guerra? Em uma crítica generosa ao meu livro no The New Republic, Peter Gordon sugere que a vontade dos convertidos de advogar em favor do outro foi impulsionada pela preocupação com o eu. Mesmo que na Igreja Católica eles haviam mantido um senso de si próprios como judeus, Gordon lembra-se do ceticismo de Sigmund Freud em relação ao amor ao outro. Freud acreditava que o verdadeiro amor “sempre esteve envolvido com o narcisismo: não é ao outro que amo, mas a mim mesmo, ou pelo menos é só a qualidade do outro que se assemelha a mim ou se assemelha a pessoa que eu era antes”. No entanto, em Oesterreicher vemos uma solidariedade duradoura em relação à comunidade a qual pertencera, e mais

imediatamente à família. Em 1946, ele refletiu a respeito do destino do pai, que morreu de pneumonia em Theresienstadt; a mãe foi assassinada mais tarde em Auschwitz. Ao contrário da antiga ideia cristã de que não há salvação fora da Igreja, Oesterreicher não se desesperou pelo pai. Nathan Oesterreicher fora um homem justo, a quem “se aplicava a bem-aventurança dos pacificadores”. Se Oesterreicher, o filho, fosse um verdadeiro narcisista, ele poderia ter ficado contente na crença de que seria salvo pelo batismo. No entanto, o amor intenso e a falta do pai judeu começaram a abrir a mente de Oesterreicher para a possibilidade de que os judeus pudessem ser salvos por serem judeus. A dádiva duradoura dos conversos que ajudaram a reescrever a doutrina católica acerca dos judeus foi a de alargar o seu sentido de solidariedade familiar para nós, judeus e cristãos. Em 1964, Oesterreicher pessoalmente trabalhou o trecho de Nostra Aetate segundo a qual a Igreja não fala mais de tarefa missionária junto aos judeus, mas aguarda com expectativa o dia em que todos os povos “irão louvar o Senhor em uma só voz” e “servi-lo ombro a ombro” sendo que a última frase foi retirada do profeta Sofonias, 3:9. Com este novo ensinamento, a Igreja desistiu de transformar o outro em si mesma, e depois deste ponto os católicos envolvidos no diálogo judaico-cristão tendem a não fazer mais conversões. O novo entendimento é de que judeus e cristãos são irmãos. Os convertidos atravessaram uma fronteira para o outro, enquanto em algum sentido profundo continuaram a ser eles mesmos; mas ao reconhecer a legitimidade, de fato a bênção, das nossas diferenças, eles ajudaram a derrubar um muro que separava judeus e cristãos. * John Connelly é professor de história na Universidade da Califórnia, Berkeley, e autor de Do Inimigo para o Irmão: a Revolução na Doutrina Católica sobre os Judeus, 1933-1965, (Harvard University Press, 2012). >>

Quando os nazistas anexaram a Áustria, em 1938, Johannes Oesterreicher fugiu e prosseguiu em sua tarefa de Paris, transmitindo, por rádio para o Reich, sermões em língua alemã, informando os católicos que Hitler era um “espírito impuro” e “antípoda em forma humana”


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magazine > ecumenismo II | por Robert Zareytsky * >>

Arcebispo judeu ainda assombra a França O CARDEAL JEAN-MARIE LUSTIGER, NASCIDO ARON DE PAIS POLONESES, TROCOU O JUDAÍSMO PELO CATOLICISMO, FOI UM CRÍTICO SEVERO DO CAPITALISMO E SÓLIDO DEFENSOR DA IGREJA CATÓLICA

N

os Estados Unidos, como no Brasil, ninguém que não seja cidadão nato, pode se tornar presidente. Na França, no entanto, qualquer cidadão pode crescer e se tornar presidente, ou arcebispo de Paris – até mesmo um fi lho de imigrantes judeus da Polônia, como o cardeal Jean-Marie Lustiger, que morreu há cinco anos e deixou o país órfão de uma figura pública cuja ausência pesa sobre uma nação cada vez mais em dúvida a respeito dos seus valores políticos e morais. A biografia de Lustiger escrita por Henri Tincq, recentemente publicada na França, revela que o arcebispo sempre insistiu que a base de uma boa sociedade repousava sobre o reconhecimento da sacralidade da vida. Daí a feroz oposição ao aborto e à eutanásia, além de a razão pela qual rompeu com a política oficial da Igreja Católica no final dos anos 1980, ao incentivar o uso de contraceptivos por pacientes de aids. Lutou incansavelmene contra o racismo da Frente Nacional da França, a qual identificava como o “maior perigo para a consciência da nossa nação”. E protestou energicamente contra a devastação provocada pelo “capitalismo selvagem” e contra uma sociedade onde o consumo material tinha substituído a coesão social. Para Lustiger, essa visão era tanto resultado do seu nascimento quanto da sua conversão ao catolicismo. No final de abril de 1940, enquanto o êxodo maciço dos franceses, mulheres e crianças, começava a avançar para o sul à frente dos panzers (tanques) alemães, Aron Lustiger vagava pela catedral de Orleãs. Os pais, que chegaram a Paris após a Primeira Guerra Mundial, tinham, por precaução, enviado o filho de 13 anos, junto com a irmã mais nova, Arlette Lustiger, a Orleãs no final de 1939, aos cuidados de uma família de não judeus, protestantes e antinazistas. Ao pisar no interior da catedral, Lustiger passou por uma epifania – experiência que,

apesar da resistência dos pais, levou-o a se converter ao catolicismo. Durante a ocupação alemã, Aron Lustiger foi batizado e trocou o Aron por JeanMarie e ficou abrigado em várias instituições católicas. Ele, a irmã e o pai, que fugira para a chamada Zona Livre, no sul da França sobreviveram à guerra. A mãe, Gisèle-Léa Lustiger não escapou: foi capturada pela polícia francesa em Paris, deportada para Auschwitz em fevereiro de 1943 e assassinada logo ao chegar. Pelo próximo meio século, Lustiger tentou dar sentido à experiência de guerra. Assumiu o peso trágico da história de um homem que tinha sido caçado pela SS alemã e pela milícia do governo colaboracionista de Vichy por ser judeu. Que ele assim o tenha feito, primeiro como seminarista e sacerdote, depois como bispo e cardeal, representava um ultraje para alguns – especialmente para os judeus -– e um paradoxo para os outros. Como declarou o rabino-chefe de Paris René-Samuel Sirat “Não se pode ser cristão e judeu ao mesmo tempo”. E, no entanto, Lustiger nunca renunciou à sua dupla identidade. Quando o papa João Paulo II o nomeou arcebispo de Paris, um espantado Lustiger disse a um repórter: “Sempre me considerei judeu, mesmo que os rabinos não concordem comigo. Nasci judeu, e judeu vou continuar”. De fato, durante o seu funeral na catedral de Notre-Dame, um dos seus parentes recitou o Kadish, enquanto os líderes da comunidade judaica da França, incluído o rabino-chefe, oraram ao lado do caixão. Para Lustiger, o paradoxo era um acidente histórico. Ele argumentava que os primeiros gentios convertidos ao cristianismo eram hostis às fontes judaicas da nova fé. O antijudaísmo desses pagãos convertidos, por sua vez, plantou as sementes do antissemitismo cristão. Como resultado, Lustiger declarou nas entrevistas e livros que tanto judeus como cristãos perderam de vista as origens e objetivos comuns. Ele acredita que sua própria vida marcou o retorno ao caminho não tomado dois milênios atrás. Apesar de a interpretação adotada

por Lustiger da história e das Escrituras tenha conquistado poucos adeptos de ambos os lados, ele, no entanto, construiu uma ponte resistente ligando judeus e católicos na França. Partiu dele o estímulo a que Igreja se confrontasse com a sua longa história de antissemitismo e a levasse ao “arrependimento” público pelo silêncio ensurdecedor durante a Segunda Guerra Mundial, à medida que o Estado francês preparava o terreno para a Solução Final. Lustiger também conduziu as difíceis negociações entre a Igreja polonesa e as instituições judaicas a respeito do convento carmelita em Auschwitz. Estado e religião Enquanto não estava construindo pontes para o judaísmo (ou o Islã), Lustiger procurava demolir os muros construídos pelo secularismo da República Francesa. Embora nunca tenha questionado a legitimidade das instituições republicanas, Lustiger insistiu a respeito do papel público da religião. Em 1968, Lustiger era capelão na Sorbonne e, portanto, estava no epicentro das rebeliões estudantis que abalaram a França e quase derrubaram o governo. Enquanto a maioria dos intelectuais e uma boa parte do clero apoiavam a rebelião, Lustiger estava horrorizado. A rejeição do movimento estudantil à autoridade e sua ignorância da história, a aceitação da violência e do cultivo do caos eram para Lustiger trabalho de niilistas. A eloquente insistência de Lustiger acerca do papel funda-

O CARDEAL JEAN-MARIE LUSTIGER, NASCIDO ARON, ARCEBISPO DE PARIS, SENDO RECEBIDO PELO PAPA

JOÃO PAULO II

mental da religião na sociedade despertou admiração e frustração – muitas vezes na mesma pessoa. Durante o grande debate político no início dos anos 1980 a respeito do esforço do governo socialista para supervisionar as escolas católicas, François Mitterrand reuniu-se várias vezes com Lustiger. Miterrand gostava dessas conversas, mas reclamava da inflexibilidade do cardeal. Finalmente, o governo retirou a lei polêmica de impor mais controle sobre as escolas religiosas. Lustiger afirmou com estridência que a Igreja Católica é mais importante para a cultura francesa do que o Louvre. De fato, o catolicismo foi importante para a história da França. No entanto, era ainda maior a crença de Lustiger de que a disseminação desta mesma fé era vital para o futuro da nação. No entanto, zombando dessa crença estava o medo nutrido por Lustiger de um mundo em que a tecnologia e o dinheiro cada vez mais nos permitem influenciar os ritmos da vida e da morte. “Há”, afirmou ele, “algo de perverso quando a pesquisa e o dinheiro se impõem como fins”. Ele apresentou esta mesma crítica à União Europeia, cuja única ambição era a de criar o euro. “Nada contra uma moeda comum”, Lustiger observou, “mas quais são os nossos objetivos comuns?” Esta questão, no que diz respeito tanto à União Europeia quanto às nossas vidas, é mais pertinente do que nunca. Assim como ele nunca negou os erros passados e os crimes cometidos pela Igreja, Lustiger não teria encontrado consolo na situação atual da UE ou nos escândalos de corrupção política na França. Em vez disso, talvez, ele teria visto apenas a confirmação do seu sentido trágico da vida. Mais uma razão, ele concluiria, para a necessidade do sagrado na vida. * Robert Zaretsky é professor de história na The Honors College da Universidade de Houston e autor de Albert Camus: Elements of a Life (“Albert Camus: Elementos de uma Vida”, Cornell University Press, 2010)


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magazine > reflexão | por Shlomo Avineri*

Uma releitura de “A Velha Nova Pátria”, de Herzl ALTNEULAND (“A VELHA NOVA PÁTRIA”, EM ALEMÃO), DE THEODOR HERZL, É UM MAU ROMANCE MAS IMPORTANTE E PROFÉTICO, POIS TRATA DE TRÊS QUESTÕES HOJE NO CENTRO DA POLÍTICA ISRAELENSE E NO DISCURSO PÚBLICO: A CIDADANIA IGUALITÁRIA, A ESTRUTURA SOCIAL E ECONÔMICA DO PAÍS E AS RELAÇÕES ENTRE ESTADO E RELIGIÃO

Q

uando esse texto foi editado, há exatos 110 anos, em 1902, Herzl já liderava o movimento sionista concebido no Primeiro Congresso Sionista em Basileia, em 1897, mas ainda era embrionário e criticado por rabinos ortodoxos e reformistas, e por judeus seculares, liberais e socialistas. Segundo os opositores, a ideia de uma entidade política judaica na Terra de Israel era ao mesmo tempo uma blasfêmia, estranha, fora de moda, escandalosamente perigosa, totalmente maluca, ou a soma de tudo isso. Apesar do seu reiterado fracasso em engajar qualquer um dos muitos estadistas com quem se encontrou à causa sionista, é fato que, do ponto de vista institucional, ele fez algum progresso. Naquele ano já havia uma estrutura concreta do movimento sionista, a saber: um Congresso Anual eleito pelos membros contribuintes de quase trinta países; um Comitê Executivo eleito pelo Congresso e a quem prestava contas; um jornal central (Die Welt – “O Mundo”), muitos jornais locais e regionais e os rudimentos de uma estrutura financeira que vendia bônus, ações e títulos a simpatizantes do movimento, principalmente para comprar terras na Palestina. Juntos, constituíam a infraestrutura do que viria a ser chamado no jargão sionista hamediná baderech, isto é, “o Estado em preparação”. Ao publicar aquele livro Herzl podia se gabar, como, aliás, escreveu no prefácio, que não era “um mero sonho utópico, mas o projeto de um futuro empreendimento histórico que já tinha começado”. Ao contrário de outras utopias sociais da época, como a de Edward Bellamy em sua obra Looking Backwards (“Olhando para Trás”), Velha Nova Pátria era, de fato, a continuação de uma realidade já existente. O livro foi logo traduzido para o inglês, russo, francês, polonês, hebraico, ídiche e ladino. Embora as personagens fossem comuns e o diálogo entre elas meio desajeitado, foi a forma mais popular e de melhor divulgação da visão sionista. A

tradução para o hebraico é do jornalista Nahum Sokolov, que vivia em Varsóvia, e que mais tarde se tornaria o presidente da Organização Sionista. Nahum escolheu o título Tel Aviv (“Colina da Primavera”, em hebraico). Em 1909, este nome foi dado a um novo bairro-jardim que estava sendo urbanizado ao norte de Yafo, e que, depois, seria a Tel Aviv que todos conhecem. A história da publicação do livro acabou por juntar visão e realidade e a ligação de criatividade literária com ação histórica mantém a atualidade do texto. O sionismo é, portanto, um raro movimento nacional que, além de manifestos, programas e declarações a respeito de sua causa, produziu um documento que descreve em detalhes o objetivo final. Herzl não escrevia bem, mas era um pensador sofisticado e politicamente prático, que fora correspondente e editor do Neue Freie Presse (“Nova Imprensa Livre”), de Viena, um dos principais jornais da Europa. De todo modo, Velha Nova Pátria é um texto ainda útil, atual e que também serve para Israel olhar para dentro de si mesmo, fazer um balanço dos feitos e mal feitos e julgar sucessos e fracassos. A comunidade judaica sonhada pela Velha Nova Pátria se baseava no sufrágio universal, que nos tempos de Herzl não existia em nenhuma democracia oci-

HERZL NO BALCÃO DO HOTEL LES TROIS ROIS, EM BASILEIA, CONTEMPLA O RENO

dental à exceção da Nova Zelândia. No entanto, e apesar dos críticos do sionismo, Herzl tinha plena consciência de que na Palestina de então existia uma população árabe considerável e imaginou que ela tivesse não apenas igualdade política, mas também participasse plenamente das conquistas sociais e econômicas proporcionadas pelo novo sistema político. Reshid Bey, engenheiro árabe residente em Haifa, é um dos líderes do novo país e figura principal do livro. Na trama, a questão da igualdade de direitos para a população não judaica é fundamental. Em 1923, a nova sociedade da Velha Nova Pátria está em meio a uma disputada campanha eleitoral. Um recém-chegado imigrante acaba de criar um novo partido político cujo estatuto

determina a cassação dos direitos civis dos habitantes não judeus. O líder desse partido, de caráter racista, é um certo rabino dr. Geyer, e Geyer em alemão, língua usada por Herzl, significa “abutre”; Herzl não era nada sutil. Para Geyer, os direitos de voto e cidadania em um Estado judeu deveriam se restringir aos judeus. Árabes e outros não judeus não devem ser expulsos, mas não devem fazer parte do corpo político. A campanha se transforma em uma batalha pela alma do país. Do núcleo do >>

Herzl não escrevia bem, mas era um pensador sofisticado e politicamente prático, que fora correspondente e editor do Neue Freie Presse (“Nova Imprensa Livre”), de Viena, um dos principais jornais da Europa


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magazine > reflexão

>> livro fazem parte relatos dramáticos dos comícios eleitorais nos quais os liberais do país lutam contra os desafios racistas de Geyer e seguidores. A forma como Herzl interpreta os discursos de ambos protagonistas, os liberais e os racistas, reflete claramente a experiência jornalística de correspondente junto ao parlamento da França e de outros países. Os liberais derrotam o partido de Geyer, que foge do país. Semelhanças, não coincidências Qualquer pessoa familiarizada com a biografia de Herzl e com a história europeia do final do século 19, reconhece imediatamente no rabino Geyer o político vienense dr. Karl Lueger, que emergiu na década de 1890 como líder do antissemita Partido Social Cristão, e, eleito prefeito de Viena, foi um dos que convenceram Herzl da necessidade do sionismo. Ao escrever o livro, Herzl colocou algumas das muitas declarações antissemitas de Lueger na boca de Geyer, mudando apenas o nome do grupo vilipendiado, isto é, os judeus. Em a Velha Nova Pátria, no entanto, os liberais se valem de dois tipos de argumentos: o universalismo da igualdade de direitos civis da tradição europeia e os preceitos judaicos como, por exemplo, “lembre-se de que você foi um estrangeiro nas terras do Egito”, e

THEODOR HERZL NO CONGRESSO DE BASILEIA EM 1903

“você deve ter uma lei para você e para o estrangeiro no interior de tua casa”. A mensagem do episódio Geyer em Velha Nova Pátria é simples e poderosa: o que falhou no liberalismo da Europa – direitos iguais – triunfará em Sion. Se fosse aplicada aos tempos atuais, Herzl defenderia que a Nova Velha Terra deva ser judaica e democrática, isto é, um Estado-nação judaico, mas que preserve a igualdade de direitos para a população não judaica, não apenas por convicção, mas na condição de um fundamento do seu credo político e moral. Embora Herzl imaginasse o ideal da igualdade de direitos para a população árabe e a participação no processo político, ele não previu o surgimento de um movimento nacionalista palestino que tira grande parte do seu vigor ideológico da oposição ao próprio projeto sionista. Ele até pode se culpar pela falta de pre-

visão, mas note-se que na época em que escreveu o livro, não havia movimentos nacionalistas árabes na Palestina e nem em qualquer outro lugar. O nacionalismo árabe, como força política, ocorreu na Primeira Guerra Mundial por obra dos britânicos e sua política de expansão colonial como forma de desgastar o domínio otomano na região. Quanto a isso, Herzl era mais um entre os muitos pensadores liberais ou socialistas na Europa que não pensou na possibilidade ou na legitimidade dos movimentos nacionalistas nos territórios que países europeus mantinham como colônias. Aliás, nem os franceses na Argélia, e tampouco os ingleses na Índia concederam cidadania igualitária ou direito de votar e ser votado aos habitantes locais. O movimento sionista e o Estado emergente de Israel seguiram o caminho traçado por Herzl, que não era fácil nem previsível, ao menos não em razão da oposição árabe. A complexa situação dos cidadãos árabes de Israel hoje, determinada principalmente pela história e o resultado das guerras árabe-israelenses é sabidamente inferior ao ideal que se esperava. No entanto, é verdadeiro que a declaração de independência de Israel concedeu cidadania e direito de voto aos palestinos que permaneceram dentro das fronteiras, mantendo o árabe como segunda língua oficial e permitindo-lhes matricular os filhos em escolas públicas nas quais a instrução era em árabe e com um currículo que respeita – talvez insuficientemente –, a cultura e história árabes. Ninguém deve comparar isso com a maneira como os Estados Unidos tratavam cidadãos de origem japonesa depois do ataque a Pearl Harbor, ou como a Alemanha e a França lidam hoje com as minorias muçulmanas nestes países, para perceber que, em Israel, a situação é muito melhor que na pior das nações democráticas confrontadas com os graves problemas das minorias. Herzl e seu livro têm sido fundamentais na formação e no legado dessa abordagem liberal. Todavia, os recentes eventos políticos em Israel cobram este legado com uma espécie de mortalha tecida com algumas propostas originárias de alguns partidos de direita com representação na Knesset mais na forma de reminiscências do imaginário rabino Geyer do que de Herzl. Embora a maioria desses projetos de lei detestáveis e racistas não seja aprovada pela Knesset, ou, se aprovados, serão anulados pelo Supremo Tribunal Federal, alguns foram adotados, e o próprio fato de que os outros tenham sido sugeridos, transformados em projetos e debatidos foi pernicioso para a política e para a moral do país. É óbvio que se transformam em armas dos inimigos de Israel e é evidente que são antidemocráticos, antissionistas e turvam a visão do Estado-nação judeu como um membro da família das nações. O fato de que Herzl tinha consciência de um potencial racista revela sua notável estatura e a necessidade de Israel ser fiel ao legado dele. Um socialista utópico? Herzl era um burguês liberal típico com uma tendência con-

servadora, e que se distanciou do socialismo, especialmente na sua variante revolucionária, temeroso do potencial de violência e caos que carregava. No entanto, a peça teatral que escreveu, em 1898, Das Neue Ghetto (“O Novo Gueto”), contém uma vigorosa crítica à situação dos trabalhadores em uma mina de propriedade de um corretor da bolsa; e a Velha Nova Pátria expõe a mesma consciência social. Herzl apresenta a estrutura social e econômica da nova sociedade judaica como uma síntese do capitalismo e do socialismo. Os pioneiros fundadores imaginários desta sociedade aprenderam as lições da história social europeia e instituíram um sistema que evita os extremos do capitalismo de livre mercado e os perigos do socialismo. Eles adotaram e conciliaram as virtudes próprias aos dois sistemas a liberdade e a iniciativa do capitalismo e a igualdade e a justiça do socialismo. Esta solução intermediária, que Herzl, da mesma forma que alguns socialistas utópicos, chamou de “mutualismo”, é algo parecido ao que, mais tarde, viria a ser chamado de “Estado do bem-estar social” ou “uma terceira via” entre o capitalismo e o socialismo. Na Nova Sociedade de Herzl, a terra é de propriedade pública, como o são os recursos naturais principalmente aqueles explorados para gerar energia e que tinham papel importante na visão futurista dele; as grandes indústrias são cooperativas de propriedade dos funcionários, assim como as colônias agrícolas, mas o comércio varejista é propriedade privada. A sociedade tem os serviços sociais à disposição, como educação universal e gratuita, atendimento médico gratuito, pensões de aposentadoria, e abrigos para idosos, tudo muito revolucionário para aquele início de século. Embora não previsse a necessidade de serviço militar, na “Velha Nova Pátria” que surgiria por força de um acordo internacional, ratificado pelo soberano otomano, consta o serviço nacional. Assim, aos 18 anos, todos os jovens, homens e mulheres, comprometem-se a dois anos de serviço nacional, nos quais >>

Embora Herzl imaginasse o ideal da igualdade de direitos para a população árabe e a participação no processo político, ele não previu o surgimento de um movimento nacionalista palestino que tira grande parte do seu vigor ideológico da oposição ao próprio projeto sionista


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>> servirão como professores, instrutores, trabalhadores de saneamento, enfermeiras de hospitais, e cuidadores de idosos de modo a devolver à sociedade o que foi investido na educação, e, com antecedência, o que receberiam na velhice, ou fracos e doentes. Curiosamente, e, aliás, de acordo com a crítica que ele fazia ao mercado de capitais que empregava muitos judeus na Europa do final do século 19, na Nova Sion não haveria Bolsa de Valores. Para ele, um projeto de transformação da envergadura do surgimento de uma política judaica na Terra de Israel não poderia se materializar por meio dos conhecidos métodos agressivos e competitivos de economia, próprios do mercado capitalista, capazes de solapar a solidariedade social e a responsabilidade mútua. O desenvolvimento da comunidade judaica na Palestina, e mais tarde no Estado de Israel, ocorreu no marco das linhas gerais da visão de Herzl, menos por qualquer sentimento de amor ao plano-mestre dele e mais em razão de um processo de tentativa e erro somado às exigências dos tempos. Em vez da aquisição individual de terras foram compradas grandes áreas dos árabes e a necessidade de crédito fortaleceu a criação de cooperativas em detrimento da produção individual. A economia socialdemocrata da comunidade pré-Estado judaico foi a soma de solidariedade social com um sistema de salário mais ou menos igualitário, e consequência não apenas da ideologia e da infraestrutura do “Estado a se construir”, e também porque não se poderia erguer um Estado a partir de um pequeno e fraco enclave judaico na Palestina otomana (e depois britânica) com base apenas na motivação por lucro. Esse “Estado do bem-estar social” feito de tentativas e erros foi a estrela que brilhou nos primeiros anos do Estado de Israel, quando o país, sitiado, foi confrontado com a imigração em massa dos sobreviventes miseráveis do Holocausto e dos refugiados depauperados do Oriente Médio, ao mesmo tempo em que transformou Israel em uma espécie de modelo para muitos movimentos socialmente conscientes no Ocidente, e motivo de orgulho para israelenses e judeus da Diáspora que viam no Estado judeu “uma luz para as nações”. No entanto, ao longo das duas últimas décadas, grande parte desse sistema de solidariedade social foi desmantelado e substituído pela adoração acrítica a uma economia de mercado altamente competitiva e caracterizada, entre outras coisas, por um ativo mercado de ações. Muitas empresas de capital aberto – ou estatais ou controladas pela Histadrut – foram privatizadas, às vezes a preço vil; terras públicas entregues a especuladores e empreendedores privados; grande parte da seguridade médica e do sistema hospitalar público igualitário foi substituído pela medicina privada e as diferenças salariais atingiram desníveis altíssimos. A Histadrut deixou de representar os setores mais fragilizados dos trabalhadores. Os kibutzim e os moshavim não são mais estruturas coletivas e nem modelos para a sociedade em geral. Algumas dessas mudanças são causadas pelo neocapitalismo característico da economia globali-

zada e outras resultam das próprias forças locais e da estrutura política do país. Com o desmanche de muito daquele “Estado do bem-estar social”, Israel atualmente ficou bastante semelhante às sociedades capitalistas do Ocidente e bastante longe da sociedade “mutualista” pela qual Herzl se batia. Essas frustrações foram expressas há pouco mais de um ano na forma de importantes protestos sociais de jovens israelenses, independentemente de filiação política ou simpatia ideológica, e explicavam como a sociedade israelense tem evoluído. Ao apelar para uma distribuição mais justa da riqueza nacional, consciente ou inconscientemente estavam revivendo aquela visão sionista de Herzl do romance Velha Nova Pátria. No primeiro manifesto sionista de Herzl, o livro Der Judenstaat (“O Estado Judeu”), consta uma declaração famosa, “enquanto nós respeitamos os nossos rabinos, nós os manteremos nas suas sinagogas, assim como o exército será mantido no seu quartel”. Muitas vezes os israelenses seculares citam esta frase para reforçar a ideia segundo a qual Herzl defendia uma clara separação entre Estado e religião. A posição dele a respeito da questão era mais complexa. Quando Herzl preparava a convocação do Primeiro Congresso Sionista, em Basileia, foi se certificar de que havia um restaurante kasher na cidade. No sábado anterior à abertura do congresso Herzl, que não frequentava regularmente a sinagoga, visitou o templo local, onde o homenagearam convidando para uma aliá, isto é, para “subir” ao local onde está a Torá. Em seu diário ele conta que isso o comoveu mais profundamente do que o discurso de abertura do Congresso, no dia seguinte. Ao visitar a Palestina, em 1898, com uma delegação sionista, Herzl fez questão de demonstrar seu respeito público em relação ao sentimento religioso alheio. Quando o trem que o transportava de Yafo atrasou e chegou à Jerusalém após o pôr-do-sol, na noite de sexta-feira, ele e comitiva fizeram a pé a distância con-

HERZL SE ENCONTRA COM O KAISER GUILHERME II

siderável da estação até o hotel, próximo da Porta de Yafo, na Cidade Velha de Jerusalém. Embora febril e com dificuldades para caminhar, Herzl considerou inaceitável uma delegação sionista entrar em Jerusalém em carruagens, no sábado. Dias mais tarde, em visita ao Kotel Hamaaravi (Muro das Lamentações) ao constatar o abandono do local e a repugnante presença de mendigos, não foi às mesquitas de Omar e de Al Aqsa, no Monte do Templo, alegando “uma interdição rabínica”. Apesar de ter sido basicamente um agnóstico, Herzl distinguiu claramente a devoção pessoal (ou a falta dela) do significado simbólico do respeito pela religião na esfera pública. Isto está evidente em Velha Nova Pátria que, embora um

projeto moderno, altamente tecnológico e basicamente secular, a nova sociedade judaica de que tratava é marcada por características que atestam a conexão espiritual com a tradição religiosa judaica. A própria ideia do sionismo é introduzida pela primeira vez na Velha Nova Pátria por um certo “dr. Weiss, um simples rabino de Morávia” – para escárnio dos judeus sofisticados do fim do século, entre os quais ele. Um dos eventos centrais do livro é um Seder de Pessach, em Tiberíades, presidido pelo presidente da Nova Sociedade, e do qual também participam dignitários não judeus, residentes e turistas. São lidas a Hagadá tradicional e uma detalhada versão do chamado de Novo Êxodo, isto é, a história da imigração em massa de judeus de todo o mundo para a “Velha Nova Pátria”. É o mesmo tratamento que dá à descrição da Nova Jerusalém. Enquanto Haifa é o centro comercial, Jerusalém é a capital, sede do poder legislativo do país, da universidade e de outras instituições. Herzl descreve como a agora movimentada e moderna cidade, lentamente se prepara para o próximo sábado: as lojas são fechadas, as pessoas correm para as refeições em família ou à sinagoga, ou seja, “o sábado evidentemente mora no coração das pessoas”. Além disso, o Templo está sendo construído, mas não no local das mesquitas, cuja silhueta caracteriza o horizonte de Jerusalém. No entanto, Herzl, insiste o Templo foi construído, “porque chegou a hora”. Sua entrada é adornada por duas colunas, Yachin e Boaz, e no seu vestíbulo foi construído o “Mar de Cobre”, como nos velhos tempos, “quando o rei Salomão governava a terra”. Contudo, esta é, claro, uma instituição diferente e moderna. Não há sacrifícios de animais e nem cerimônias sacerdotais e o culto da noite da sexta-feira é uma versão modernizada do tradicional Kabalat Shabat. O religioso e o secular Esta é a mensagem que a sabedoria da comunidade do pré-Estado judaico e do nascente Estado de Israel tentou mais ou menos manter. Na ausência de uma >>

Com o desmanche daquele “Estado do bem-estar social”, Israel atualmente ficou bastante semelhante às sociedades capitalistas do Ocidente e bastante longe da sociedade “mutualista” pela qual Herzl se batia. Essas frustrações foram expressas há pouco mais de um ano na forma de importantes protestos sociais de jovens israelenses


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magazine > reflexão Constituição, Israel tem um contrato social implícito cujas raízes estão fincadas no período do Mandato, e conhecido como o status quo. Essa miscelânea tenta conciliar o respeito pela religião na esfera pública com a preservação da liberdade individual, não apenas da religião, mas também apesar da religião. Assim, não há transporte público no sábado mas, ao mesmo tempo, centenas de milhares de israelenses estão nas praias e viajando de carro. Não há casamento civil, mas as autoridades e os tribunais aceitam uma forma de união estável e acordos prénupciais. Todavia, este equilíbrio complicado desagrada a ortodoxos e seculares. É também um contrato social dinâmico e aberto aos caprichos eleitorais da democracia, com chantagem política e, às vezes, negociatas incômodas. Todo o processo é claramente desagradável, e o país convive com ele na base do compromisso. Apesar de todas as contradições internas, esse mecanismo tem garantido uma estabilidade política relativa e o mínimo de solidariedade. Pode parecer irônico – e até irreverente – mas como Israel não tem uma Constituição, nunca experimentou uma crise constitucional; crises na coalizão, sim, mas uma crise na estrutura constitucional, não. Certa vez, Yeshayahu Leibowitz criticou Israel por ser “um Estado laico levando uma vida de concubinato com a religião”. No entanto, nos últimos anos, este delicado equilíbrio que estava em sintonia com a visão de Herzl parece se desfazer. Isto porque os partidos religiosos estão agora muito mais fortes do que nas primeiras décadas pós-1948, aumentam as exigências religiosas ao Estado em razão de mudanças demográficas; e entes fundamentais da vida de Israel, incluído o exército, estão agora sob pressão para respeitar preceitos religiosos muito mais profundamente. No interior da comunidade religiosa, os elementos mais radicais se sentem mais fortes e poderosos, e têm feito demandas radicais como a separação entre homens e mulheres no transporte público. Esse extremismo fundamentalista da comunidade religiosa contribuiu para uma reação secular na mesma intensidade de segmentos da população não religiosa, evoluindo de um liberalismo tolerante para um anticlericalismo violento, que parece totalmente alienado do judaísmo como tal. Tanto o extremismo fundamentalista como o anticlericalismo são destrutivos. Eles importam para o Estado judeu as divisões históricas da Diáspora, onde não havia nenhuma esfera pública judaica e nem uma única autoridade falando em nome do povo judeu. Foi precisamente esta falta de uma autoridade judaica central e a esfera pública de debate que levou, de um lado, os ultrarreligiosos a se confinarem em guetos e, de outro, a um anticlericalismo e ateísmo radical. Uma autoridade judaica pública só pode sobreviver com compromissos e medidas equilibradas, que não podem satisfazer a nenhum dos lados. Aqui também seria conveniente destacar uma página da Velha Nova Pátria de Herzl. A ideia de escrever um romance futurista ocorreu a Herzl

pela primeira vez em Paris, em 1895, quando ele ainda estava inseguro sobre como transmitir as suas ideias sionistas ao público em geral. Um amigo, o escritor francês Alphonse Daudet, sugeriu que escrevesse um romance, dizendo que A Cabana do Tio Tomás, de Harriet Beecher Stowe, fizera mais pela abolição da escravatura nos Estados Unidos do que muitos textos eruditos. Herzl considerou a ideia mas preferiu apresentar os planos a magnatas judeus, como o barão Hirsch e os Rothschild. Somente quando essa tática falhou publicou o programático O Estado Judeu, e, daí, à convocação do Primeiro Congresso Sionista, em Basileia, em 1897. Ele voltou ao projeto de um romance em 1901, quando suas ideias sionistas já haviam sido incorporadas por instituições e faziam parte das atividades resultantes dos congressos sionistas anuais. E quando afirmou no prefácio que Velha Nova Pátria não era um romance utópico, mas extensão de uma realidade já existente, ele não estava completamente fora da realidade. O famoso lema que Herzl escolheu para o romance “se você quiser, isto não é sonho” significa que nenhum determinismo histórico decide o destino das nações. O principal é a atuação humana, e não as condições “objetivas”. Pergunte a qualquer criança em idade escolar em Israel: quem disse “im tirzu ein zu agadá”? Ela vai logo reconhecer como uma frase de Herzl. Esta insistência sobre o poder criativo e transformador da vontade humana é tão relevante hoje como o foi há 110 anos, quando foi inscrito por Herzl na primeira página da sua grande novela não utópica. * Shlomo Avineri leciona ciências políticas na Universidade Hebraica de Jerusalém e é autor de Herzl: uma Biografia Intelectual (Editora Shazar) e da introdução para a edição em hebraico dos diários de Herzl Inyan HaYehudim: Sifrei Yoman (em português, “Coisas dos Judeus: Textos dos Diários”, editada pela Histadrut). Tradução de Yossi Turel

Tanto o extremismo fundamentalista como o anticlericalismo são destrutivos. Eles importam para o Estado judeu as divisões históricas da Diáspora, onde não havia nenhuma esfera pública judaica e nem uma única autoridade falando em nome do povo judeu


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magazine > esportes | por Blair Thornburgh

POR SUGESTÃO DE GUTTMANN FOI ORGANIZADA UMA CORRIDA DE ATLETAS EM CADEIRAS DE RODAS EM UM DOS ESTÁDIOS DE LONDRES

Um médico judeu criou os Jogos Paraolímpicos QUANDO TERMINAM OS JOGOS OLÍMPICOS, COMEÇAM AS PARAOLIMPÍADAS CRIADAS PELO MÉDICO JUDEU LUDWIG GUTTMAN, FINALMENTE HOMENAGEADO COM A INAUGURAÇÃO DE UM BUSTO EM BRONZE EM LONDRES

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erca de 4200 atletas participaram dos Jogos Paraolímpicos, em Londres, a competição para atletas deficientes e com necessidades especiais, assistida por um milhão e quinhentos mil pagantes nos estádios, acompanhada por 5.600 jornalistas, vista por milhões de telespectadores e pela fi gura muda de Sir Ludwig Guttmann, materializada em um busto de bronze. Guttmann era um médico judeu refugiado da Alemanha nazista e que deu início a tudo com os tratamentos inovadores em paraplegia traumática que serviram de plataforma da Paraolimpíada. O busto de Guttmann foi mostrado ao presidente do Comitê Paraolímpico Internacional Philip Craven, em junho, e será itinerante, isto é, será exibido em todos os eventos Paraolímpicos, como no Rio de Janeiro, em 2016, para ser uma espécie de memória visível do que se tornou um enorme movimento no mundo inteiro. O presidente do Guttmann Poppa Trust (Fundo Guttman Poppa) Mike Mackenzie encomendou o busto para servir de “lega-

do duradouro da contribuição do professor Guttmann, criador do esporte paraolímpico”. O Fundo existe desde 2010 para conscientizar as pessoas a respeito do tratamento da medula de que Guttmann foi pioneiro e também mandou fazer uma estátua em tamanho natural do médico, que ficará em frente do Centro Nacional de Lesões da Coluna do Hospital Stoke Mandeville, em Aylesbury (sul da Inglaterra), onde o médico trabalhou. Guttmann nasceu em 1899 de uma família judia de Tost (Alemanha) e cresceu em Königshütte, cidade conhecida pelas minas de carvão onde, aos 17 anos, trabalhando como voluntário em um hospital viu o primeiro paciente paraplégico, um mineiro de carvão que não resistiu à fratura da coluna e morreu. Tost e Königshütte são os nomes alemães de duas cidades polonesas da região da Silésia e que passavam de mão em mão ao sabor dos vencedores das guerras. Atualmente pertencem à Polônia. Guttmann estudou medicina em

Freiburg e era membro atuante da comunidade judaica local e destacou-se no combate ao antissemitismo nas universidades alemãs, ao mesmo tempo em que estimulava os colegas judeus à prática de esportes e às atividades físicas para aumentar a autoconfiança e, desta forma, se tornarem mais orgulhosos da sua identidade. Guttmann formou-se em 1930, trabalhou como neurocirurgião na Universidade de Hamburgo e tornou-se assistente do maior neurocirurgião da Alemanha em um hospital de Breslau. No entanto, assim que os nazistas tomaram o poder, em 1933, foi demitido porque os judeus foram proibidos de trabalhar em hospitais alemães. Então, logo assumiu o serviço neurológico e neurocirúrgico do Hospital Judaico em Breslau. Em 1938, na véspera dos distúrbios da Kristallnacht e, já diretor médico do hospital, Guttmann determinou que fosse admitido qualquer paciente do sexo masculino, desafiando portanto as leis que segundo as quais somente pacientes judeus podiam ser tratados em um hospital judaico. Na manhã seguinte, foi convocado pela Gestapo para explicar a presença dos 64 novos pacientes do hospital. “Papai fez melhor”, contou a filha Eva Loeffler, “e levou a Gestapo de leito em leito explicando a situação de cada paciente. Ele ficava atrás do agente da Gestapo fazendo toda sorte de caretas para que os pacientes o imitassem. E dizia: ‘Preste atenção, este homem está tendo um ataque’ ”. Naquele dia conseguiu salvar 31 pacientes; três foram levados para campos de concentração. Ele entendeu isso como um sinal de que deveria deixar o país e com a ajuda da Comissão de Assistência a Acadêmicos Refugiados desembarcou na Inglaterra em março de 1939, com a mulher, dois filhos e os bolsos vazios. Letalidade A taxa de mortalidade de soldados britânicos e americanos em razão de lesões da medula nos exércitos britânico e americano naquela época era muito alta, somente uma entre cada cinco vítimas de paraplegia traumática sobrevivia aos ferimentos e apenas por três dolorosos meses, período em que eram rejeitados pela sociedade e desenganados pela medicina. A experiência de Guttmann estimulou a criação de um novo centro para o tratamento desses casos. Ele aceitou ser diretor da primeira unidade do hospital de Aylesbury Stoke Mandeville desde que pudesse empregar os princípios que entendia ideais para a recuperação física e psicológica dos pacientes. Era uma terapia radical na forma de treinamento físico intensivo, e esportivo, de modo a reconstruir o vigor físico e psicológico dos internados. Philip Lewis, antigo paciente de Guttmann, conta que ele costumava dizer algo como “acabou a moleza” e iniciava um período de treinamento que seria considerado intenso para qualquer um e, no caso de Lewis, começou com arco e flecha para fortalecer os músculos dos ombros, depois hidroterapia na piscina e tênis de mesa das 16 às 17 horas, além de terapia ocupacional. Em julho de 1948, com o início dos Jogos Olímpicos de Lon-

dres, os primeiros depois da guerra, dezesseis homens e mulheres atiravam com arco e flecha nos gramados do hospital de Stoke Mandeville e se tornaram os primeiros competidores em jogos para atletas em cadeiras de rodas. Mas Guttmann queria que esses jogos se tornassem uma competição internacional, simultaneamente com os Jogos Olímpicos, igual dedicação e prestígio dos atletas. A notícia correu o mundo: quatro anos depois, em 1952, àqueles dezesseis pioneiros se juntaram veteranos de guerra holandeses e, em 1960, em Roma, foram realizados os primeiros Jogos Paraolímpicos, logo após os Jogos Olímpicos, com a participação de 350 atletas de 24 países, números que aumentavam a cada olimpíada. Em 1956, Guttmann recebeu a Copa Fearnley, um prêmio pela sua excepcional contribuição para o ideal olímpico e em 1966 a rainha Elizabeth II outorgoulhe o título de Sir. Em 1968, Guttmann aceitou a oferta de Israel para realizar os Jogos Paraolímpicos em Tel Aviv como parte das comemorações do 20º aniversário de independência. O número de inscritos aumentava a cada olimpíada, mas ele não viveu o bastante para ver a oficialização dos Jogos Paraolímpicos na edição de Seul, em 1988, pois morreu de insuficiência cardíaca em 1980. Atualmente são vinte modalidades esportivas, algumas das quais disputadas em cadeiras de rodas. O fato de ter sido expulso do seu país por ser judeu, isto é, por ser o outro, o diferente, o tão discriminado como os primeiros lesionados de guerra que tratou, fez Guttmann ampliar as fronteiras da medicina, criando atletas fantásticos que para muitos eram homens fracos. Lewis, que representou a Inglaterra em tênis de mesa na Paraolimpíada de Tóquio, em 1964, lembra a importância de se reconhecer o início do movimento. “A coisa evoluiu muito, mas tinha de começar. E tudo começou no hospital de Stoke Mandeville, em um pedacinho de grama em 1948”, lembrou. Tradução de Yossi Turel .

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Em 1956, Guttmann recebeu a Copa Fearnley, um prêmio pela sua excepcional contribuição para o ideal olímpico e em 1966 a rainha Elizabeth II outorgou-lhe o título de Sir.


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magazine > viagem | por Bernardo Lerer

TOLEDO É A JOIA DA ANDALUZIA, CUJA CIDADE VELHA EXIGE FÔLEGO E BOA DISPOSIÇÃO PARA CAMINHAR

No rastro da história O ROTEIRO DE JUDIARIAS ESPANHOLAS

PASSEIA POR VÁRIAS CIDADES TRANSFORMADAS EM PATRIMÔNIOS NACIONAIS. O VIAJANTE PODERÁ ESCOLHER ENTRE QUINZE DESTINOS

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Espanha, como toda a Europa, está em crise, e o turismo é um dos poucos setores dos países do continente que ainda pode oferecer meios e modos cada vez maiores para atrair turistas de outras regiões ainda não varridas pelos ventos da desaceleração econômica. Lá funciona ativamente a organização não governamental Red de Juderías, que é isto mesmo: uma espécie de associação de cidades onde existem fortes vestígios da importante presença e participação dos judeus na vida da Espanha pré-inquisição. Quinze cidades integram a Red de Juderías de España, organização sem fins lucrativos fundada em 1995 cujo principal objetivo é valorizar esse passado judaico, princi-

palmente por meio do turismo. Agora existe um pacote de viagem que dura dez dias com passeios por oito dessas cidades, misturando cultura e história, montado de olho no mercado brasileiro. As quinze cidades da rede são Ávila, Barcelona, Cáceres, Córdoba, Gerona, Hervás, Jaén, León, Oviedo, Palma de Mallorca, Ribadavia, Segóvia, Toledo, Tortosa e Tudela, e mais seis cidades “concertadas” isto é, admitidas por uma espécie de consenso, a saber: Besalú, Calahorra, Estella-Lizarra, Monforte de Lemos, Plasencia e Tarazona. O bairro judeu de Hervás, por exemplo, tem ruas estreitas e casas com dois ou três pisos, de madeira escura, tijolo e barro, cujas telhas e tábuas laterais ajudam a fixar a estrutura do conjunto secular, bem conservado até hoje. Mas é de Ávila que se parte para uma viagem no tempo. A cidade tem uma das mais bem preservadas muralhas medievais da Europa – com torres e portas espalhadas pelos 2,5 quilômetros de extensão – e lembranças da vida judaica na Calle Reyes Católicos, na Plaza del Pocillo e nos Arrabales de San Segundo y del Puente que guardam vestígios de uma sinagoga e da casa de um rabino. Em Segóvia, uma construção imponente é o aqueduto mandado construir pelo imperador romano César Augusto. No século 11 a cidade tornou-se uma das mais prósperas da Espanha, com a ajuda dos judeus que tinham ali o próprio bairro ainda bem conservado, de casas que misturam pedra, azulejo e madeira nas fachadas, a antiga Sinagoga Maior, hoje Igreja de Corpus Christi, e a Casa del Sol, onde funcionava um dos açougues kasher. A chegada dos árabes no século 8 fez da amuralhada Toledo a cidade das três culturas pois os recém-chegados se juntaram aos judeus e cristãos, daí o patrimônio artístico e arquitetônico que inclui o bairro judeu, a Sinagoga do Trânsito com sua grandiosa sala de oração, a gótica Catedral de Toledo e o Alcázar. A Sevilha da culinária e do flamenco reúne o que sobrou de uma das mais importantes comunidades judaicas espanholas e para aproveitar bem a capital da Andaluzia convém visitar o bairro judaico de Santa Cruz, recuperado no século 19 e um dos destaques do roteiro. Mais ao sul, em Córdoba, o Alcázar dos Reis Cristãos é visita obrigatória com destaque, no patrimônio judaico, para o mercado municipal onde, desde o século 10 se reuniam os comerciantes judeus de especiarias, tecidos e perfumes, e a bem conservada sinagoga de 1315. Há registros da cultura sefaradita em Cáceres, onde existiu uma das judiarias mais populosas e representativas do século 15: 130 famílias formavam o bairro judeu em um povoado de pouco mais de mil habitantes. Atentem para a Ermida de Santo Antônio, antes uma sinagoga e depois templo cristão e para o casario do bairro que homenageia o mesmo santo. O roteiro passa pelas cidades de Ávila, Segóvia, Cáceres, Salamanca, Hervás, Córdoba, Sevilha, Toledo e Madri, com hospedagem em charmosos hotéis quatro estrelas com café-damanhã (bufê) e transporte em van de luxo.

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Serviço Gran Hotel Palacio Valderrábanos (Ávila) – Em um palácio do século 14, faz parte do conjunto protegido pela Unesco. www.palaciovalderrabanoshotel.com Husa Gran Hotel Don Manuel (Cáceres) – A cem metros da Plaza Mayor, conta com spa, restaurante e bar de tapas. www.husa.es Hotel Conquistador (Córdoba) – Tem agradável pátio andaluz e guarda ruínas do século 15. www.hotelconquistadorcordoba.com Hotel Pintor El Greco (Toledo) – No centro histórico, oferece sessenta quartos confortáveis. www.hotelpintorelgreco.com Hotel Mercure Santo Domingo (Madri) – Tem quartos elegantes e uma piscina no último piso, aberta no verão. www.mercure.com Para saber mais www.redjuderias.org www.spain.info Agências Duetour www.duetour.com.br gabi@duetour.com.br 5572-6716 Maringá Turismo ets@maringaturismo.com.br 3156-8047 Sharontur www.sharontur.com.br marcos@sharontur.com.br 3223-8388 Eretz Tur www.eretztur.com.br atendimento@eretztur.com.br 3873-5367


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magazine > a palavra | por Philologos

Iom Kipur: o jejum de todos os jejuns ESSA DATA MÓVEL MARCAVA IMPORTANTE MUDANÇA DAS ESTAÇÕES DURANTE O TEMPO BÍBLICO. UM EPISÓDIO NARRADO PELO APÓSTOLO PAULO MOSTRA QUE A DATA TAMBÉM REGIA A NAVEGAÇÃO NO MEDITERRÂNEO ORIENTAL

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m Rosh Hashaná todos serão inscritos, e no dia do jejum do Kipur todos serão confi rmados”, diz o livro de orações do Grande Dia Santo. “O dia [iom] do jejum do Kipur”, iom tzom kipur, em vez de “o jejum do Iom Kipur”, tzom iom kipur, é uma expressão encontrada na literatura rabínica antiga na qual o Iom Kipur é, às vezes, tratado simplesmente como ha-tzom, “o jejum”. No aramaico do Talmud também encontramos essa expressão como tzoma, “jejum”, ou tzoma rabá, “o grande jejum”. (Em aramaico, o artigo definido recebe o sufixo no final da palavra, em vez de receber prefixo, como no hebraico e na maioria das outras línguas.) E a razão disso não é porque não havia outros jejuns no ano judaico, mas porque Iom Kipur era o “jejum dos jejuns”, cuja importância era muito maior do que qualquer outro. Quando um judeu falava do ha-tzom ou tzoma, não havia necessidade de ser mais específico. Depois de Sucot, o calmo Mediterrâneo tornava-se tempestuoso e pouco confiável para a navegação antiga durante o outono. Um exemplo interessante disso pode ser encontrado no Novo Testamento, no livro Atos dos Apóstolos. Lá existe uma história a respeito de como Paulo, que foi criado como judeu observante, é detido na Palestina por sua pregação cristã e enviado de navio, sob custódia de um centurião romano, para ser julgado na Itália. Ao largo da costa de Creta, o navio enfrenta ventos fortes e contrários e parte em busca de um porto seguro. O texto grego prossegue: “Tendo decorrido muito tempo, e não sendo já segura a navegação, por ter até já passado o jejum, Paulo advertia-os [a tripulação do navio], dizendo: ‘Ó homens, eu vejo que a navegação começa a ser perigosa e com muito dano, não somente da carga e do navio, mas também das nossas vidas’ ”.(Bíblia Sagrada, Edições Paulinas). A que jejum que já tinha “passado” aquele judeu, autor dos Atos dos Apóstolos, se referia? Não poderia ter sido Tishá B’Av, o jejum do luto pela destruição do Segundo Templo, pois nos dias de Paulo o Templo ainda estava de pé. Teoricamente, talvez tivesse sido um dos jejuns menores do ano judaico, como o décimo dia de Tevet, que trata do início do cerco pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor, ao Primeiro Templo; ou Ta’anit Esther, celebrado na véspera de Purim. No entanto, o versículo seguinte dos Atos dos Apóstolos é bastante esclarecedor de que deve ter sido Iom Kipur: “Todavia, o centurião dava mais crédito ao piloto e ao comandante do que ao que Paulo dizia. E, como o porto não

era bom para invernar, a maior parte foi de parecer que se passasse adiante, a ver se d’alguma sorte podiam atingir Fenice, porto de Creta, e passar o inverno lá”. Desta forma, sabemos que o jejum em questão ocorreu quando o inverno se aproximava e que o verão seco e sem tempestade do Mediterrâneo, época em que os navios navegavam com relativa segurança, estava chegando ao fim. Embora tempestades ruins não costumem atingir o Mediterrâneo Oriental nos últimos meses do ano – as primeiras chuvas costumam cair no final de setembro ou no início de outubro – uma alteração no tempo que a tradição judaica também realiza na leitura de Shemoneh Esreh ou “Dezoito Bênçãos”, a oração silenciosa recitada diariamente nos serviços da manhã e tarde/noite. Até o feriado de Sucot, de meados de setembro a meados de outubro, os judeus oram no Shemoneh Esreh pelo orvalho durante a noite para umedecer a terra ressequida. Começando pelo segundo dia do feriado e até a Páscoa, no entanto, eles oram por chuva e vento para trazer a precipitação de inverno da qual depende a colheita da primavera na Terra de Israel. Portanto, “o jejum” a que o livro dos Atos dos Apóstolos se refere, deve ter ocorrido logo antes de Sucot, certamente o jejum de Iom Kipur, que ocorre cinco dias antes. Previsões meteorológicas para dez dias, ou até mesmo dois dias, não existiam nos tempos antigos, quando se poderia prever tempestades com pouca margem de antecedência, e Paulo se preocupava porque o mar já estava perigoso. O piloto e o comandante do navio, no entanto, contando com o fato de que o clima muito ruim ainda era raro em Iom Kipur, decidiram levantar vela logo que o vento se acalmou e se dirigiram para um porto melhor para passar o inverno. De acordo com Atos dos Apóstolos, este foi um erro de cálculo: uma tempestade atingiu o navio que foi desviado para Malta, quase naufragando no caminho antes de encalhar em bancos de areia. Mas mesmo se não o fez, para ele era o jejum. Imagina-se, portato, que o seja para todos.


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magazine > novidade

Editora católica lança livro sobre Holocausto A TEOLOGIA DO HOLOCAUSTO – COMO OS PENSADORES JUDEUS E CRISTÃOS EXPLICARAM AUSCHWITZ, DE ARIEL FINGUERMAN (FOTO) , SERÁ LANÇADO NA SEGUNDA SEMANA DE SETEMBRO NA LIVRARIA DA VILA (HIGIENÓPOLIS)

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jornalista e acadêmico Ariel Finguerman, correspondente da revista Hebraica em Israel, está em São Paulo para lançar o novo livro, A Teologia do Holocausto – Como os Pensadores Judeus e Cristãos Explicaram Auschwitz, pela Editora Paulus, que tem por base a pesquisa para a tese de doutorado que fez na Universidade de Tel Aviv, e defendeu na USP. O livro apresenta pela primeira vez ao público brasileiro, e em português, as discussões que existem há mais de cinquenta anos na Europa, EUA e Israel a respeito das consequências religiosas do Holocausto. A obra trata de questões delicadas, como o status de “povo eleito” dos judeus após o massacre nazista, o “ocultamento da

face” de Deus durante a Shoá, o significado religioso da fundação do Estado judeu após o Holocausto e se houve kidush hashem (“martírio”) numa situação em que os judeus não tiveram oportunidade de escolha, entre outros temas. Finguerman também trata do pensamento cristão a respeito do Holocausto afirmando que “apesar de acharmos que os principais pensadores da Shoá são judeus, o fato é que o massacre nazista causou mais impacto no cristianismo do que no judaísmo, e o diálogo entre as religiões no pós-guerra, incentivado especialmente pelo Vaticano, é decorrência direta do Holocausto”. Ele também destaca que tão importante quanto o conteúdo do livro é o fato de ter sido publicado por uma das maiores editoras católicas do país, a Paulus, “a primeira editora que procurei com o manuscrito nas mãos e eles concordaram em publicálo três semanas depois de eu enviar o texto o que é incomum. Eu e a Paulus entendemos que a publicação, em si, é um ato de aproximação e de diálogo entre as nossas religiões no Brasil”, diz o autor.

LANÇAMENTO A Teologia do Holocausto – Como os Pensadores Judeus e Cristãos Explicaram Auschwitz 10/9, das 18h30 às 21h30, Livraria da Vila – Shopping Pátio Higienópolis Haverá bate-papo com o autor, às 19h, sob o tema “O Holocausto Foi um Castigo Divino contra Algum Pecado do Povo Judeu?”


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por Bernardo Lerer

Ensaios sobre a Crise Urbana do Brasil Wilson Cano | Editora Unicamp | 373 pp. | R$ 58,00

Por um Triz – O Enigma dos Gnomos Pigmeus Michel Gorski e Silvia Zatz | Rocco Jovens Leitores | 287 pp. | R$ 24,90

Escrito na primeira pessoa, esta é uma bem montada e engenhosa incursão pelo fantástico e que se inicia com a visita do narrador ao museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e lá, graças à boa vontade da funcionária, põe as mãos no diário escrito pelo estudante Tadeu Kovalsky, um caderno manuscrito, aparentemente datado de 1931, e que é fundamental para a investigação do narrador e que se vai desenrolar com um final absolutamente surpreendente.

Nos últimos quinze anos, o professor de economia da Unicamp Wilson Cano escreveu dezenas de artigos a respeito de desenvolvimento econômico, as questões regionais e os problemas urbanos. Este livro reúne treze artigos exatamente de urbanismo e o caos do desenvolvimento urbano no Brasil que provocaram favelização, conurbação, transporte precário alguns deles responsáveis por “desastres naturais”, como desmoronamentos e enchentes. Ler esse livro ajuda a entender porque as coisas estão do jeito que estão.

A Bandeira Vermelha – A História do Comunismo David Priestland | LeYa | 790 pp. | R$ 69,90

Para este professor da Universidade de Oxford, as origens do comunismo podem ser encontradas na Revolução Francesa de 1789, época em que foram plantadas as sementes do comunismo moderno e seus apelos pela construção de um Estado que priorizasse a igualdade. O autor passa e repassa por todas as fases do comunismo e suas formas que se espalharam pelo mundo na forma de movimentos insurrecionais, guerrilhas, terrorismo, Cuba, África e América Latina, até a débâcle do movimento no final da década de 1980.

A História Secreta de Paris

Os Russos

Andrew Hussey | Amarilys | 581 pp. | R$ 78,00

Ângelo Segrillo | Editora Contexto | 280 pp. | R$ 47,00

O subtítulo explica o livro: “Como ladrões, vigaristas, cruzados, santas, prostitutas, déspotas, anarquistas, poetas e sonhadores transformaram um povoado gaulês na cidade luz da Europa”. Mas o livro é principalmente um convite a que as pessoas se transformem em flâneurs quando viajarem a Paris de modo a conhecer em cada rua e em cada canto a história que lá se esconde. A história secreta é contada por aquelas pessoas representadas no subtítulo e, por isso, é a história feita pelos homens. E é isso que conta. E vale a pena.

O autor é professor de história contemporânea na USP e viveu muitos anos na Rússia fazendo mestrado no Instituto Pushkin de Moscou. Ficou encantado com o país duas vezes maior que o Brasil, de muitas culturas, mas que já foi maior quando era União Soviética que, sozinha, ocupava a um sexto da superfície terrestre. O livro é fascinante porque desvenda o povo e a terra e, logo no primeiro capítulo vai respondendo à pergunta: quem são os russos, afinal?

Mahatma Gandhi e sua Luta com a Índia

O Cerco de Leningrado Pierre Vallaud | Editora Contexto | 255 pp. | R$ 49,00

Com a experiência de escrever a respeito do apartheid e com esse tema ganhar o prêmio Pulitzer, o autor conta a luta de Gandhi pela satyagraha (“firmeza”, em sânscrito), a resistência civil, a intocabilidade e a união de hindus e muçulmanos. Como ele conseguiu tudo isso acabou por se transformar em símbolo da não violência para libertar os oprimidos de todas as latitudes. O autor liga Gandhi como o advogado dos trabalhadores hindus na África do Sul ao líder que depois se tornou na India.

O livro conta como se deu este cerco que parece nos remeter à Idade Média, e os novecentos dias, isto é, três rigorosos invernos que a população daquela cidade, atual São Petersburgo, viveu e sobreviveu sem comida, sem água e nem munição. Morreram mais um milhão de pessoas das quais oitocentas mil de fome, neste episódio da Segunda Guerra às vezes negligenciado em nome de batalhas épicas e feitos heroicos, como se nenhum dos mortos e sobreviventes fossem heróis de uma verdadeira epopeia. Os nazistas não queriam tomála, mas condenar os russos à inanição e à derrota moral.

Tempo de Reportagem

Os 100 Pensadores Essenciais na Filosofia

Audálio Dantas | LeYa Brasil | 287 pp. | R$ 39,90

Philip Stokes | Difel | 427 pp. | R$ 41,00

Audálio é um dos maiores repórteres do jornalismo brasileiro, um homem de quase 80 anos, embora pareça menos. Mas ele se tornou mais conhecido com o episódio Wladimir Herzog, em outubro de 1975, quando era presidente do Sindicato dos Jornalistas e enfrentou a polícia e os esbirros da ditadura. Mas vale a pena ler essas histórias que marcaram época no jornalismo brasileiro para ver como, no Brasil, houve um tempo em que se faziam reportagens.

O livro faz parte da coleção “Os 100” e, neste caso, introduz de forma didática, clara a e sintética a vida e a obra dos maiores pensadores, filósofos, e cientistas e os situa na escola a que pertencem começando pelos pré-socráticos e acadêmicos, passando pelos estoicos e escolásticos e chegando aos racionalistas, aos liberais e, finalmente, aos novos cientistas, falando de Tales de Mileto, Heráclito, Claude Lévi-Strauss, Marx, Einstein, Sócrates, Platão, Freud e Sartre, entre outros.

Esse É Meu Tipo

Paralelo 10

Simon Garfield | Zahar | 349 pp. | R$ 44,90

Eliza Griswold | Companhia das Letras | 475 pp. | R$ 55,00

Todos os dias, deparamos com elas em vários tamanhos e variações: são as fontes tipográficas, aquelas às quais damos nomes como times new roman, arial, futura, calibri (na qual escrevi esse texto e centenas de outras, tornadas mais acessíveis pela era digital). Desde que foram inventadas há mais de 560 anos por Gutenberg, com o nome de tipos móveis, já foram utilizadas pelo menos cem mil variações de fontes. Mas esse livro é muito mais do que isso e chega a explicar o papel da fonte Gotham na campanha de Obama à presidência.

Paralelo é aquela linha imaginária que aprendemos em geografia. Na África subsaariana, o Paralelo 10 também demarca modos de vida determinados pela crença e pela transição entre o deserto e a floresta tropical e o arbítrio das antigas fronteiras coloniais. Na zona árida predomina o islamismo e no sul fértil uma população cristã. É assim também nas Filipinas, na Indonésia, na Malásia, e outros, na altura do Paralelo 10, onde o acesso à riqueza mineral e agrícola é a real motivação de clérigos e políticos, e não o bem-estar das populações.

Joseph Lelyveld | Companhia das Letras | 476 pp. | R$ 48,00


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por Bernardo Lerer

100 Voix Sacrées

Overtures & Stage Music

Wagram Music | R$ 139,90

Antonio Salieri | Hanssler Classics | R$ 39,90

Para vender mais – e vendem –as gravadoras lançam volumosos álbuns aos quais dão o nome “100” e colocam o gênero musical que desejam. São cinco cd’s assim divididos: os mais belos corais, os mais belos cantos litúrgicos, as mais belas vozes gospel, os mais belos cantos gregorianos e as mais belas vozes sacras do mundo. E é aí que enquadraram a música judaica com cinco composições, das quais duas em ídiche, duas em hebraico e uma em ladino. Mas há muito mais no mesmo cd.

O melhor comentário que se fez a respeito da música de Salieri foi o azar de ter sido contemporâneo de Mozart. Ainda assim, no entanto, ele é autor de obras primorosas para as quais, possivelmente, não se tenha dado o devido valor porque ele sabia como dar vida musical a um simples poema e caracterizar cada situação das suas óperas e inventar serenatas executadas por duas orquestras.

Violin Concerto

Le Nozze di Figaro Deutsche Grammophon | R4 209,90

A diva dessa versão da obra-prima de Mozart é a soprano Anna Netrebko e por esta razão tem sido uma execução muito elogiada pela crítica especializada que também se derramou em adjetivos para o tenor Ildebrando D’Arcangelo. Segundo o Guardian, de Londres, esta apresentação da ópera do mestre austríaco com a Filarmônica de Viena regida por Nikolaus Harnoncourt é possivelmente a melhor de todas.

Mexique Nouvelle Espagne K. 617 | R$ 209,90

Ottorino Respighi (1879-1936) é mais lembrado pela “Trilogia de Roma” – As Fontes de Roma, Os Pinheiros de Roma e Os Festivais de Roma – mas ele também escreveu peças de concerto para violino e conjuntos de cordas dos quais alguns mais conhecidos, como o Concerto para Violino em Lá Maior, opus 49, estão neste cd.

Em outubro e novembro de 2002, durante a realização de um evento a que se deu o nome de Mês Nacional do Barroco Latino-Americano, a fundação que o patrocina decidiu reeditar, na forma de um álbum com três cd’s, gravações feitas quase uma década antes de obras representativas do barroco latino-americano produzidas principalmente no México e quase todas na forma de missas e peças sacras.

Réquiem op. 48

A Retrospective

Gabriel Fauré | Harmonia Mundi | R$ 54,90

Philip Glass Ensemble | Orange Mountain Music | R$ 109,90

Num único cd, duas obras-primas de Fauré, ex-aluno de Camille Saint-Saëns, e que compôs o seu Requiém “para ninguém em especial, simplesmente para o prazer, ouso dizer, com vontade de sair do convencional, tentando exprimir a sensibilidade do artista e sua concepção pessoal da morte como uma entrega feliz”. No mesmo cd, a Messe pour les Pêcheurs de Villerville, isso mesmo, em homenagem aos pescadores.

Em março de 2004, Philip Glass foi convidado a se apresentar em um espetáculo único na cidade de Monterrey, no México, para onde foi com seu conjunto em que desponta Michael Riesman, o produtor. E, lá, mais do que uma retrospectiva, mostrou um resumo da sua produção musical em que despontam peças como The Photographer; um trecho de Powaqatsi; um pedaço de Akhnaten, o terceiro movimento de sua Low Simphony, etc.

Requiem & Messe Chorale

Wrong Way

Charles Gounod | Mirare | R$ 69,90

Conrado Paulino

Charles Gounod é mais conhecido por sua Ave Maria e pelas óperas Fausto e Romeu e Julieta. Mas ele, que era amigo de Fanny Mendelsohn, irmã de Felix Mendelsohn, também se notabilizou por uma Missa de Requiem para quatro solistas, coro misto e orquestra, além de uma Missa Coral com acompanhamento de dois órgãos e muitas canções com piano. Estas duas missas deste cd são muito bonitas.

Violonista e arranjador, Conrado se dá bem nas duas situações, entre outras razões porque é elogiado como um dos mais importantes professores de violão, guitarra e arranjo de jazz do país e conta com alguns dos melhores profissionais entre os seus alunos que classificam seu violão como uma mistura de Joe Pass e Baden Powell. Mais informações, no site www.conradopaulino.com.br ou na distribuidora, www.tratore.com.br

To Rome With Love

Love

Sony Classics / R$ 27,90

The Beatles | R$ 39,90

Woody Allen produz e dirige um filme por ano. Os que não gostam dele dizem que até mais. E os que gostam ou não são unânimes em elogiar as trilhas sonoras, como a de Meia-Noite em Paris e agora este, no qual reabilita canções italianas muitas das quais fizeram sucesso no século passado – Volare, por exemplo, na voz de Domenico Modugno – e excertos de óperas famosas como “Vesti na Giubba”, de I Pagliacci, e outras da mesma peça.

São 26 faixas das músicas mais conhecidas dos meninos de Liverpool e reveladoras da capacidade deles, o que levou a muitos entendidos em música a se perguntar se eles cursaram alguma das mais importantes academias de música da Europa e dos Estados Unidos. Não, não estudaram música e assim mesmo – ou por causa disso – revolucionaram a música popular de tal modo que algumas das canções são transcritas como peças eruditas.

Ottorino Respighi | Naxos | R$ 27,90

“Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena”



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magazine > com a língua e com os dentes | por Breno Raigorodosky ENTRA ANO SAI ANO E O GEFILTE FISH COM A GELATINA E O CHREIN RESISTE, SEMPRE ACOMPANHADO DE ARENQUE

O jantar de Iom Kipur está servido

A TRADIÇÃO MANDA COMER MAIS DO QUE O NORMAL NO DIA ANTERIOR AO JEJUM: CARNES, GRÃOS, MISTURAS DE CARBOIDRATOS E PROTEÍNAS SÃO OS ALIMENTOS MAIS INDICADOS. NA VOLTA DO JEJUM, VEM FOME COM A VONTADE DE COMER

P

ara purificar o corpo e lhe dar condições de acompanhar uma alma renovada pelo perdão, jejua-se; para mostrar a humildade necessária para reconhecer erros cometidos no ano que se vai e seriedade de intenções para se tornar uma pessoa melhor no ano que se inicia, jejua-se; para expor a resistência obstinada às atrações mundanas e a superioridade da alma sobre o corpo, jejua-se; para gozar a comida que vem logo depois do jejum, jejua-se. O ritual manda comer mais do que o normal no dia anterior ao jejum. Comidas de digestão difícil para retardar ao máximo a fome no dia seguinte: carnes, grãos, misturas de carboidratos e proteínas são os alimentos mais indicados, como nos ensinam aqueles que têm pouco o que comer o ano inteiro e que aumentam o sentimento de saciedade misturando, quando podem, arroz, feijão e carnes. Na volta do jejum, junta a fome com a vontade de comer. Com a ajuda da Eliana Rosebaum Didio (http://correiogourmand.com.br/info _%20grandes_datas_festivas_yom_kipur.

htm) observei que o meu bolo de nozes e mel é o mesmo da maioria da população judaica de São Paulo, ideal para acordar o estômago do descanso que acaba de passar. Caldo de galinha quente acompanhado de kreplach costumava ser um must insuperável e, como diz o ditado, caldo de galinha não faz mal a ninguém. A menos que, depois dele, venha aquela bateria infindável de pratos, a começar com peixes recheados e a terminar com carnes ensopadas, farfale e kashe, que punem rapidamente aquele corpo, como se fosse dele a culpa de ter sofrido horas sem comida, num ato de puro sadomasoquismo. O lanche dos sefaradim é mais sábio – um suco de frutas, burekas, berinjela de

forno, pastas de queijo, azeitonas e pães. Eventualmente, um cuscuz de galinha. Os judeus de origem sefaradita (do Oriente e da Península Ibérica), conta Eliana Rosebaum Didio, comem cuscuz e “acelga para remover os inimigos do caminho, a vagem de metro para aumentar as bênçãos recebidas, o doce de abóbora em pedaços para pedir que os nossos pecados sejam também reduzidos a pedaços e a romã para que as nossas virtudes se multipliquem como as sementes da fruta”. Menos exótico, mas de uma simplicidade ímpar, os huevos haminados dos levantinos nada mais são do que ovos assados no tchulent (mijoté, como já escrevemos em artigos anteriores) em fogo aceso na véspera, claro, do Iom Kipur, servido temperado com azeite, sal e pimenta-do-reino moída na hora e cebola assada e seca na véspera. Iom Kipur, no entanto, acaba em comemoração familiar na qual todos se reúnem para colocar a conversa em dia. Longe vai o tempo em que a família se encontrava carregando de importância imprevista o encontro em torno da mesa. E, repa-

re, o jejum é por um dia, nada de mais se comparado com outros tantos, sendo o dos faquires o mais dramático, com eventuais lapsos de semanas sem ingestão de qualquer alimento. A convite da revista Trip, em sua edição de novembro de 2006, o colunista Josimar Melo perdeu 2,5 quilos em apenas 72 horas sem comer. Sua experiência está relatada no http://books.google. com.br/books nos quais o repórter diz que ficar sem comer não enfraquece, não atrapalha em nada, aliás, é moleza. A tirada filosófica mais feliz foi esta: “A chave do calmo enfrentamento do jejum está menos no corpo do que na mente: está em ter um objetivo a alcançar”. Bom jejum, bom jantar.

O lanche dos sefaradim é sábio – um suco de frutas, burekas, berinjela de forno, pastas de queijo, azeitonas e pães. Eventualmente, um cuscuz de galinha


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magazine > ensaio | por Eduardo Gabor *

Em vez de

boicote, o debate A “TURMA DO BOICOTE” PRETENDE IMPEDIR OS ESFORÇOS DE ISRAEL PARA DEFENDER OS SEUS CIDADÃOS, COMO SE O SUPOSTO MAU COMPORTAMENTO DE UM PAÍS IMPLICASSE A OBRIGAÇÃO DE COLOCAR A CABEÇA DOS SEUS CIDADÃOS A PRÊMIO

T

odo mundo sabe que Israel nunca foi uma unanimidade e jamais faltou quem pegasse em armas para tentar pôr fi m ao Estado judeu. No entanto, uma outra estratégia tem se mostrado mais efi ciente, deixando bombas de lado para se concentrar em minar a legitimidade do país. Nos últimos anos, cresceram os movimentos que pregam boicotes e sanções a Israel como meio de sufocar o Estado. Ao mesmo tempo, nas comunidades judaicas fora de Israel, tem prevalecido a ideia de que toda crítica ao país é um ataque inaceitável que precisa ser combatido e rebatido. O resultado é que nós, da Diáspora, não temos conseguido produzir argumentos que dialoguem com a maioria nem ofereçam uma alternativa à imagem do Estado judeu como agressor. Um dos alicerces da “turma do boicote” é que o militarismo israelense, principalmente nos territórios ocupados em 1967, é fruto de um projeto imperialista e cruel em sua essência. O problema dessa visão de mundo é a ideia de que Israel não tem por que se preocupar com segurança – o que não resiste a uma passada de olhos pela realidade da região. A “turma do boicote” pretende impedir os esforços de Israel para defender os seus cidadãos, como se o suposto mau comportamento de um país implicasse a obrigação de colocar a cabeça dos seus cidadãos – homens, mulheres e crianças – a prêmio. Entretanto, este argumento não se sustenta. O direito de existir de Israel não está, de forma alguma, condicionado ao seu comportamento moral. Não há vestígios em nenhum tratado internacional que remetam à ideia de que um Estado possa ter

seu direito à existência cassado por mau comportamento. Qualquer tentativa de pôr fi m ao Estado judeu implicaria desprezar o que se conhece por direitos humanos. Para tirar os milhões de judeus que vivem na Terra Santa, seria necessário realizar uma imensa transferência de pessoas. Ou então, mantidas as pessoas e transformada a política, coloca-se um fi m no Estado judeu e se passa por cima do princípio da autodeterminação dos povos que garante que cada nação deve governar a si própria. Israel é, portanto, parte de um imenso problema que impede os árabes palestinos de exercerem esse direito. Mas isso, de modo algum, deve significar tirar esse mesmo direito de Israel. Muito pelo contrário – se os árabes o têm, o mesmo vale para os judeus. Quando acusados de malfeitores que não deveriam ter um Estado, nossa resposta não deve ser a respeito da moral de Israel. Antes de mais nada, é preciso deixar claro que essa discussão não se refere ao direito inalienável de existência do país. Nessa linha, é possível nos abrir a críticas, condição necessária para a construção de um debate real a respeito do tema, até porque, como crítica e boicote são coisas diferentes, não devem ser tratadas de maneira igual. Se há muito do que se orgulhar de

Israel, também há o que pode ser melhorado, e sem olhar crítico não há evolução. Além disso, contar uma história sem falhas afasta Israel da sua Diáspora. É evidente que a realidade do país é bem mais rica do que uma narrativa perfeita. Enquanto estamos, muitas vezes, obcecados em comprovar as onipresentes virtudes do Estado judeu e em convencer o mundo de que Israel emana apenas paz e justiça, os israelenses lidam com problemas em que não se distinguem o bem e o mal absolutos. Só para ficar em exemplos óbvios, há os refugiados e imigrantes vindos da África, a discussão sobre o alistamento militar de ultraortodoxos, o desafio de integrar a população árabe à força de trabalho, e por aí vai. Ninguém precisa achar Israel bacana porque sua tecnologia é avançada ou porque a parada gay de lá é a maior em

CONTRA AS PROPOSTAS DE BOICOTE ESTE CARTAZ DIZ A ISRAEL QUE

“ESTAMOS COM VOCÊ”

um raio de milhares de quilômetros. Mais importante, ninguém pode achar que Israel tem o direito de existir em razão disso. Defender insistentemente que Israel está certo o tempo todo é o mesmo discurso radical dos que pregam o boicote – apenas com o sinal invertido. Buscar maquiar a realidade, por mais complexa e contraditória que seja, só atende à causa dos radicais. A legitimidade de defesa israelense não diminui a dureza do dia-a-dia sob ocupação vivida pelos palestinos, nem alivia o drama dos que há anos vivem sob o bloqueio imposto à Faixa de Gaza dominada pelo Hamas. E o fato de os palestinos sofrerem as dores da ocupação não reduz a brutalidade de assassinatos como o massacre da família Fogel no assentamento de Itamar em 2011 ou, ainda, o desumano cativeiro vivido pelo soldado Gilad Shalit. Cada um tem o direito de se identificar com a causa que quiser, mas negar a história e tragédia do outro é perpetuar o confl ito. No último mês de julho, o candidato republicano à presidência dos EUA, Mitt Romney, deu uma volta por três países aliados – Reino Unido, Israel e Polônia. No meio de muita retórica vazia e, às vezes, perigosa, Romney disse uma das coisas mais importantes que alguém afi rmou em muito tempo sobre Israel. Romney lembrou que para ouvir críticas ao país, o melhor a fazer é ler um jornal israelense ou sentar-se em um café de Tel Aviv. Bravo, candidato. Poucas coisas fortalecem mais a sociedade israelense do que a capacidade de se colocar sob permanente escrutínio (tem coisa mais judaica do que isso?). As comunidades na Diáspora poderiam fazer o mesmo. A necessidade de oferecer uma resposta eficiente aos movimentos que clamam pelo boicote ao Estado judeu é um excelente motivo para começar. * Eduardo Gabor fez mestrado em conflitos internacionais na Universidade de Tel Aviv



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diretoria > homenagem

A ATUAÇÃO COMUNITÁRIA DA FAMÍLIA ROTENBERG FOI MENCIONADA NA INAUGURAÇÃO DA FOTO DO EX-PRESIDENTE ARTHUR

J

á havia uma foto de Arthur Rotenberg na Sala Plenária desde o final de 2005, quando se encerrou o primeiro mandato dele como presidente da Hebraica. Antes de Arthur, somente os ex-presidentes Naum Rotenberg, seu pai, e Marcos Arbaitman tinham duas fotos na mesma galeria porque foram os únicos a cumprir um segundo mandato. O atual presidente Abramo Douek abriu a solenidade lembrando que “Arthur pertence a uma família intimamente ligada ao clube e, como o seu pai, Naum, exerceu a presidência duas vezes. Eu me orgulho de ter trabalhado nas duas gestões e em saber que muito do que fazemos agora é continuação do que o seu pai e você começaram”. Emocionado, Arthur destacou a presença dos pais e da mulher e confessou a satisfação em “rever antigos amigos e colaboradores do meu Executivo cuja dedicação foi muito importante para o

Rotenberg ganhou segunda foto na galeria UMA NOVA FOTO DE ARTHUR ROTENBERG FAZ PARTE DA GALERIA DE EX-PRESIDENTES DO CLUBE NA SALA PLENÁRIA E A SOLENIDADE DE DESCERRAMENTO DA FOTO TRANSFORMOU-SE EM HOMENAGEM DA ATUAL DIRETORIA AO EX-PRESIDENTE êxito da minha gestão. Alguns prosseguem seu trabalho, assim como os novos ativistas agregam valor a esta diretoria. Agradeço a Beirel Zukerman, hoje representando todos os ex-presidentes”, afirmou. “E hoje atesto o acerto da indicação que fizemos para a sucessão da presidência e torço pelo seu êxito, pois bom líder é aquele que espera que o sucessor o supere. Este é o meu desejo e, mais ainda, que esta diretoria imprima seu estilo e entregue ao próximo presi-

dente um clube ainda maior e melhor do que é hoje.” Em seguida, falaram Naum Rotenberg e Beirel Zukerman, que enfatizou o envolvimento de Arthur Rotenberg com o clube desde a adolescência. “Ele começou no time de futebol, como goleiro, e alguns anos depois ocupou sucessivos cargos na diretoria. Creio que, como ativista, ele será útil e eficiente em qualquer outra entidade judaica em que deseje trabalhar”, elogiou Zukerman. (M. B.)


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diretoria > patrimônio

USUÁRIOS DO ESTACIONAMENTO GANHAM UMA ÁREA DE ESPERA MAIS CONFORTÁVEL

Obras simultâneas e necessárias

A

vice-presidência de Patrimônio e Obras iniciou o segundo semestre alterando a rotina dos clientes do estacionamento e do Restaurante Kasher. Em ambos os locais, o Departamento de Divulgação fi xou cartazes informando as melhorias previstas ao término das obras. Na reunião Plenária de agosto, o vicepresidente de Patrimônio e Obras, Nelson Glezer, detalhou as alterações feitas no estacionamento. “Concentramos o projeto na área de recepção e entrega de veículos para dar mais agilidade no atendimento de quem deixa e retira os carros, assim como oferecer um local com mais iluminação, aumentando o conforto aos que precisam esperar a vez de entrar no carro. A nova recepção terá banheiros, antiga reivindicação dos sócios”, descreveu. Glezer citou duas obras de curta duração. Uma é a do estacionamento, que já estará pronta quando esta edição da Hebraica circular, e a substituição do piso do pátio da Escola Maternal rea-

O ESTACIONAMENTO E O RESTAURANTE KASHER MANTÊM O FUNCIONAMENTO NORMAL, ENQUANTO PASSAM POR REFORMAS

DESTINADAS A DAR MAIS CONFORTO E MELHOR O ATENDIMENTO AO CLIENTE lizada na segunda quinzena de julho. A reforma da doçaria Amor aos Pedaços corre por conta do concessionário e também deve estar pronta antes da chegada do novo ano judaico, em meados de setembro. O vice-presidente mencionou uma série de reformas nos concessionários. “A reforma do Kasher tem entrega prevista para outubro. Ela é mais demorada, porque inclui mudanças na cozinha e a reformulação do espaço do restaurante, assim como a nova decoração”, explicou. “A concessionária Rebeca Zakon e equipe utilizam o Espaço Adolpho Bloch para atender a clientela diária e a Esplanada para servir as refeições aos alunos da Escola Alef”, comentou Glezer. O Sushi Tanabe, vizinho do Kasher, também entrará brevemente em obras. “Vamos ampliar a cozinha para que o

restaurante possa atender à demanda que hoje é maior do que a capacidade do local”, explicou o vice-presidente. Ainda no setor de concessões, diretores e profissionais ligados à área de Patrimônio e Obras preveem a construção de um refeitório infantil sobre a laje do Bar do Pedrinho. “Os alunos da Escola Alef farão as refeições ali, assim como as crianças do Hebraikeinu, que utilizam uma estrutura improvisada na Praça Carmel”, informou. Também para o segundo semestre, Glezer anuncia a entrega do Bar da Piscina, a ser instalado na área elevada do Parque Aquático, a cobertura de duas quadras de tênis e a remodelação da Praça Carmel. “Todas essas obras se somam ao cuidado com a manutenção rotineira do clube, que é muito importante”, resumiu Glezer. (M. B.)


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diretoria

Diretoria executiva – Gestão 2012-2014 PRESIDENTE

ABRAMO DOUEK

VOLEIBOL

SILVIO LEVI

DIRETOR SUPERINTENDENTE

GABY MILEVSKY

ASSESSOR FINANCEIRO ASSISTENTE FINANCEIRO ASSESSOR Ͳ OUVIDORIA ASSESSOR Ͳ ESCOLA ASSESSORA Ͳ FEMININO ASSESSOR Ͳ REVISTA ASSESSOR Ͳ REDES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO DIGITAL ASSESSOR Ͳ SEGURANÇA ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS ACESC ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS RELIGIOSOS DIRETOR DE CAPTAÇÃO DIRETOR DE MARKETING CERIMONIAL E RELAÇÕES PÚBLICAS RELAÇÕES PÚBLICAS

MAURO ZAITZ MOISES SCHNAIDER JULIO K. MANDEL BRUNO LICHT HELENA ZUKERMAN FLÁVIO BITELMAN JOSÉ LUIZ GOLDFARB CLAUDIO FRISHER (SHACHOR) MOYSES GROSS RABINO SAMI PINTO JOSEPH RAYMOND DIWAN CLAUDIO GEKKER EUGENIA ZARENCZANSKI (GUITA) DEBORAH MENIUK LUCIA F. AKERMAN MIRA HARARI PAULETE K. WYDATOR SERGIO ROSENBERG

HANDEBOL ADJUNTOS

JOSÉ EDUARDO GOBBI NICOLAS TOPOROVSKY DRYZUN DANIEL NEWMAN JULIANA GOMES SOMEKH

PARQUE AQUÁTICO POLO AQUÁTICO NATAÇÃO ÁGUAS ABERTAS

MARCELO ISAAC GHETTA FABIO KEBOUDI BETY CUBRIC LINDENBOJM ENRIQUE MAURICIO BERENSTEIN RUBENS KRAUSZ

TRIATHLON CORRIDA CICLISMO

JULLIAN TOLEDO SALGUEIRO ALAIN CLEMENT LESSER LEVY BENO MAURO SHETHMAN

GINÁSTICA ARTÍSTICA

HELENA ZUKERMAN

RAQUETES (SQUASH/RAQUETEBOL) BADMINTON

JEFFREY A.VINEYARD SHIRLY GABAY

TIRO AO ALVO

FERNANDO FAINZILBER

VICEͲPRESIDENTE ADMINISTRATIVO

MENDEL L. SZLEJF

GAMÃO

VITOR LEVY CASIUCH

COMPRAS RECURSOS HUMANOS CONCESSÕES TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DEPARTAMENTO MÉDICO CULTURAͲJUDAICA

HENRI ZYLBERSTAJN CARLOS EDUARDO ALTONA LIONEL SLOSBERGAS SERGIO LOZINSKY RICARDO GOLDSTEIN GERSON HERSZKOWICZ

SINUCA

ISAAC KOHAN FABIO KARAVER

XADREZ

HENRIQUE ERIC SALAMA

SAUNA

HUGO CUPERSCHMIDT

VICEͲPRESIDENTE DE PATRIMÔNIO E OBRAS

NELSON GLEZER

MANUTENÇÃO MANUTENÇÃO E OBRAS PAISAGISMO E PATRIMÔNIO PROJETOS

ABRAHAM GOLDBERG GILBERTO LERNER MAIER GILBERT RENATA LIKIER S. LOBEL

VICEͲPRESIDENTE DE ESPORTES

AVI GELBERG

ASSESSORES

CHARLES VASSERMANN DAVID PROCACCIA MARCELO SANOVICZ YVES MIFANO

GERAL DE ESPORTES GESTÃO ESPORTIVA ESCOLA DE ESPORTES MARKETING/ESPORTIVO

JOSÉ RICARDO M. GIANCONI ROBERTO SOMEKH VICTOR LINDENBOJM MARCELO DOUEK HERMAN FABIAN MOSCOVICI RAFAEL BLUVOL

MARKETING/INFORMÁTICA ESPORTIVO

AMIT EISLER

RELAÇÃO ESPORTIVAS COM ESCOLAS GERAL DE TÊNIS SOCIAL TÊNIS TÊNIS ADJUNTO

VICEͲPRESIDENTE SOCIAL/CULTURAL

SERGIO AJZENBERG

SOCIAL FELIZ IDADE RECREATIVO

SONIA MITELMAN ROCHWERGER ANITA G. NISENBAUM ELIANE SIMHON (Lily)

CULTURAL GALERIA DE ARTES SHOW MEIO DIA

SAMUEL SEIBEL MEIRI LEVIN AVA NICOLE D. BORGER EDGAR DAVID BORGER

ABRAMINO SCHINAZI

VICEͲPRESIDENTE DE JUVENTUDE

MOISES SINGAL GORDON

ARIEL LEONARDO SADKA ROSALYN MOSCOVICI (Rose) BRUNO KORKES

ESCOLAS

SARITA KREIMER GRAZIELA ZLOTNIK CHEHAIBAR ILANA W. GILBERT

TÊNIS DE MESA

GERSON CANER

FITͲCENTER

MANOEL K.PSANQUEVICH MARCELO KLEPACZ

SECRETÁRIO GERAL

ABRAHAM AVI MEIZLER

SECRETÁRIO DIRETORES SECRETÁRIOS

JAIRO HABER ANITA RAPOPORT GEORGES GANCZ

CENTRO DE PREPARAÇÃO FISICA

ANDRÉ GREGÓRIO ZUKERMAN

JURÍDICO

ANDRÉ MUSZKAT

JUDÔ JIU JITSU

ARTHUR ZEGER FÁBIO FAERMAN

SINDICÂNCIA E DISCIPLINA

FUTEBOL (CAMPO/SALÃO/SOCIETY)

CARLO A. STIFELMAN FABIO STEINECKE

ALEXANDRE FUCS BENNY SPIEWAK CARLOS SHEHTMAN GIL MEIZLER LIGIA SHEHTMAN TOBIAS ERLICH

GERAL DE BASQUETE BASQUETE OPEN

AVNER I. MAZUZ DAVID FELDON WALTER ANTONIO N. DE SOUZA

TESOUREIRO GERAL

LUIZ DAVID GABOR

TESOUREIRO DIRETORES

BASQUETE CATEGORIA DE BASE BASQUETE CATEGORIA MASTER ATÉ 60 ANOS BASQUETE HHH MASTER

MARCELO SCHAPOCHNIK GABRIEL ASSLAN KALILI LUIZ ROZENBLUM

ALBERTO SAPOCZNIK SABETAI DEMAJOROVIC YIGAL COTTER MARCOS RABINOVICH


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vitrine > informe publicitário CASA MENORAH

EMPÓRIO ZILANNA

O sabor de Rosh Hashaná

Floriano Pesaro homenageia empresária

Chalot, varenikes, krepalechs, gefilte fish, bolos de mel e outras iguarias que tornam a passagem do ano novo judaico uma experiência tão especial são apenas algumas das opções que a Casa Menorah pode oferecer à clientela neste Rosh Hashaná. Quem segue a kashrut po-

No dia 3 de agosto, o vereador Floriano Pesaro, líder do PSDB na Câmara Municipal, homenageou o estabelecimento comercial judaico Empório Zilanna – leia-se Ana Manoel Gonçalves –, uma das mais tradicionais mercearias da nossa cidade, pela importância e tradição que

derá encontrar na Casa Menorah uma grande variedade de produtos nacionais e importados. Não perca tempo e faça as encomendas para que a entrada de ano seja a mais doce e alegre possível. R. Guarani, 114 | Fones 3228-6105 e 3229-6819

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indicador profissional ALERGOLOGIA

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ANGIOLOGIA

ARTETERAPIA

CIRURGIA GERAL

CIRURGIA PLÁSTICA

CIRURGIA GERAL

CLÍNICA MÉDICA/ENDOCRINOLOGIA

ENDOCRINOLOGIA

DERMATOLOGIA

ENDOSCOPIA DIGESTIVA

ASSISTÊNCIA DOMICILIAR

CLÍNICA HIPERBÁRICA

ENDOCRINOLOGIA


168 HEBRAICA

169

| AGO | 2012

HEBRAICA

indicador profissional

| AGO | 2011

indicador profissional GERIATRIA

FISIOTERAPIA

FISIOTERAPIA

FONOAUDIOLOGIA

GINECOLOGIA/ DERMATOLOGIA

GINECOLOGIA

GINECOLOGIA/ OBSTETRÍCIA

MANIPULAÇÃO

GENÉTICA


170 HEBRAICA

| AGO | 2012

HEBRAICA

indicador profissional

171

| AGO | 2011

indicador profissional ODONTOLOGIA

MEDICINA DA COLUNA

NEUROCIRURGIA E COLUNA VERTEBRAL

ODONTOLOGIA

NEUROPEDAGOGIA/REABILITAÇÃO

OBSTETRÍCIA/GINECOLOGIA

OFTALMOLOGIA


172 HEBRAICA

173

| AGO | 2012

HEBRAICA

indicador profissional OFTALMOLOGIA

| AGO | 2011

indicador profissional ORTOPEDIA

PSICOLOGIA

PSICOTERAPIA

PSIQUIATRIA

OTORRINOLARINGOLOGIA

PSICOPEDAGOGA

QUIROPRAXIA

PEDIATRIA

PSICOTERAPIA

TRAUMATOLOGIA ESPORTIVA

ORTOPEDIA

PSICOLOGIA


175

174 HEBRAICA

| AGO | 2012

HEBRAICA

indicador profissional TREINAMENTO CONSULTORIA

ULTRASSOM

compras e serviços

| SET | 2012

compras e serviços UROLOGIA

YOGA

/ PILATES


176 HEBRAICA

| SET | 2012

compras e serviรงos

177

HEBRAICA

| SET | 2012

compras e serviรงos


178 HEBRAICA

| SET | 2012

compras e serviรงos

179

HEBRAICA

| SET | 2012

compras e serviรงos


180 HEBRAICA

| SET | 2012

compras e serviรงos


182 HEBRAICA

| FEV | 2012

roteiro gastron么mico

183

HEBRAICA

| SET | 2012

roteiro gastron么mico


184 HEBRAICA

| SET | 2012

roteiro gastron么mico

185

HEBRAICA

| SET | 2012

roteiro gastron么mico


186 HEBRAICA

| SET | 2012

conselho deliberativo

Desafios para os próximos vinte anos Na reunião ordinária realizada em agosto, os conselheiros ouviram uma primeira exposição sobre o Projeto Hebraica 2032, apresentada por Bruno Szlak, coordenador da Comissão Permanente de Obras. A partir da experiência adquirida em duas gestões no Executivo nas vice-presidências de Patrimônio e Obras e Social e Cultural, ele propõe uma reflexão sobre o papel do clube em relação ao seu quadro associativo e à comunidade judaica, em geral. Ele desafiou os conselheiros a questionarem as visões particulares do clube e a contribuírem coletivamente para a imagem que ela terá em duas décadas. “Devemos aquilatar o valor da Hebraica e compor os cenários futuros para o clube a partir de um fórum onde as questões serão expostas e debatidas num espectro amplo diversificado de abordagens”, argumentou Szlak. A princípio, a proposta do Projeto Hebraica 2032 foi abraçada pela Comissão de Obras, mas Szkak pretende ir além. “Imagino que a missão de pensar a Hebraica num período vinte anos à frente é tarefa do Conselho, inclusive porque a partir dele poderão se formar novas lideranças tão necessárias na atualidade”, completou o coordenador da Comissão. A Mesa Diretora vê esta iniciativa com muito otimismo. Trata-se de uma ampliação do papel e da interação dos conselheiros com o clube, algo que as comissões permanentes de Administração e Finanças, Jurídica e de Obras já fazem em caráter cotidiano. A reação do Conselho Deliberativo à proposta do Projeto Hebraica 2032 também foi significativa. Na semana da reunião, os membros da Mesa Diretora, especialmente o presidente, receberam vários telefonemas de conselheiros interessados em participar, o que significa a garantia de que este fórum contará com diferentes percepções de cada aspecto do clube. Para a Mesa Diretiva, um projeto visando o futuro do clube nos próximos vinte anos é essencial numa época em que o clube abre espaço para uma escola judaica, reafirmando através desse gesto o peso da educação e da formação judaicas. Sendo esta a última edição desta coluna no ano judaico de 5772, a Mesa do Conselho deseja a todos os conselheiros e associados um Shaná Tová Umetuká.

Reuniões Ordinárias do Conselho em 2012 12 de novembro 10 de dezembro

Mesa do Conselho Peter Weiss Presidente Horácio Lewinski Vice-presidente Cláudio Sternfeld Vice-presidente Luiz Flávio Lobel Secretário Fernando Rosenthal Segundo secretário Sílvia Hidal Assessora da Presidência Célia Burd Assessora da Presidência Ari Friedenbach Assessor da Presidência



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