E d i t o r a Música & Tecnologia
R$ 8,00 ANO XV - abr il 2012 - Nº 153
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SHOW DE LUZES
Tudo sobre a gravação do DVD da banda de forró Garota Safada
GUSTAVO CARVALHO
Estilista fala da relação de suas criações com a arquitetura
LUZ NATURAL
Fotografia de clipe de Patrícia Mellodi dispensa recursos artificiais
FINAL CUT
Aprenda a trabalhar com a ferramenta Color Correction
sumรกri o
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abril 2012 foto capa: fábio Nunes
26 figurino Gustavo Carvalho revela influência de arquitetura, cinema, geometria e música em suas peças por rodrigo Sabatinelli
24 capa Garota Iluminada
32 videoclipe
Luz é destaque na gravação de DVD de banda de forró
Luz natural garante fotografia em clipe de Patrícia Mellodi
por Fernando Barros
por rodrigo Sabatinelli
eDitorial ..................................... 4
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proDutoS ............................................ 6 DeStaQue ......................................... 10 eM foco ............................................. 12 Direção De fotografia para vÍDeo .... 40 operação De vÍDeo .......................... 42 eDição De vÍDeoS coM fiNal cut pro ........ 48 iluMiNaNDo ............................................. 52
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galeria Justiça seja feita por luiz lima
edi tori al
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AnO XV - nº 153 - ABrIL 2012
eDitor Marcio teiXeira (marcio@luzecena.com.br)
Luz, pediu o repórter!
gerêNcia fiNaNceira luciNDa DiNiz
COLABOrArAM nEStA EDIçãO farlleY Derze, glauco pagaNotti, lÉo MiraNDa e ricarDo hoNÓrio
reDação FErnAnDO BArrOS rODrIGO SABAtInELLI E BrunO BAuZEr (redacao@luzecena.com.br)
Quem tem o costume de ler nossa revista deve me conhecer. Ao menos pelo nome. Sou rodrigo Sabatinelli, jornalista, publicitário e, há dez anos, faço parte desta editora. Entrei aqui ainda na faculdade e, na época, sequer imaginei que pudesse construir uma história tão bacana dentro de um mesmo veículo. Ao longo de todos esses anos, trabalhei com diversos editores. Perdi a conta de quantos. Mas, certamente, com eles, aprendi muito do que sei. Cintia Laport, Ligia Diniz, Elisa Menezes, tatiana de Queiroz e Sandro Carneiro foram, sem dúvida, o “mix perfeito” de chefia e amizade que poderia encontrar num ambiente de trabalho o qual me identifico por completo. no comercial, Moniquinha, Karlinha, Eric e muitos outros amigos. na diretoria, Lucinda Diniz e o eterno Sólon do Valle, dois responsáveis diretos pela minha chegada e permanência. Por eles dois, tenho uma “dívida” maravilhosa, a qual tento honrar nesta edição, como substituto do amigo/irmão Marcio teixeira de Mello, que, no mês passado, saiu, merecidamente, para umas férias num desses badalados arquipélagos do nosso país. Esta foi a primeira vez em que assumi tamanha responsabilidade – responder pela revista – e espero, de coração, ter correspondido. Como editor, apostei na bagagem de nosso companheiro Fernando Barros, autor da matéria de capa, a gravação do DVD do grupo Garota Safada, que contou com um aparato tecnológico “sem tamanho”, incluindo centenas de moving lights e, claro, muitos LEDs. no papel de jornalista, acompanhei a gravação do novo clipe da cantora Patrícia Mellodi – dirigido por Alexia Maltner e fotografado por Daniel Leite, que não utilizou uma sequer fonte artificial de luz, trabalhando somente com luzes naturais – e fui atrás do estilista carioca Gustavo Carvalho, jovem talento que vem mostrando seu valor em criações que têm relação direta com a arquitetura, a geometria, a música e o cinema. Coube a mim, ainda, dialogar com nossos queridos colaboradores, os quais, todo mês, nos alimentam com tutoriais que visam atender de aspirantes a profissionais. Me perdoem, por favor, se, em alguma destas linhas, houver algum deslize meu. A responsabilidade é grande, maior do que imaginava, e a experiência só me fez dar ainda mais valor a tudo o que vivi e vivo aqui e, acima de tudo, às pessoas com as quais divido mesas, cadeiras, alegrias, tristezas e, sobretudo, informação. Boa leitura a todos, foi um prazer, até o ano que vem, nas próximas férias do Marcio!
rodrigo Sabatinelli
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produtos Nova tecnologia LED O novo moving head PLS 300, da PLS-Lighting, se diferencia de seu antecessor, o PLS 600, devido a sua tecnologia LED. Indicado para casas noturnas, teatros, bandas e DJs, o PLS 300 é uma opção econômica, pois proporciona grande saída de luz sem demandar toda energia de uma lâmpada de vapor metálico. De acordo com o fabricante, o equipamento pode ser operado de três maneiras: via 11 canais DMX, mestre e escravo ou por ativação sonora. O PLS 300 conta, ainda, com seis gobos rotativos, além de um disco de oito cores mais o branco. Seus movimentos incluem pan de 540º e tilt de 270º.
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Luz para TV A luminária Comer CM-LED5500K é indicada para transmissões broadcast, estúdios e externas devido a sua gama variável de temperatura de cores, que vai de 3200K a 5600K, e tecnologia LED. O refletor aceita baterias estilo Sony Li-ion V-Mount ou BP-C910S. E sua interface também pode ser substituída para aceitar conexão de bateria Anton Bauer.
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Seus LEDs têm vida útil de 50 mil horas e consomem apenas 75W de potência máxima com eficiência luminosa equivalente a 500W de luz tungstênio. Com alta iluminação de 5.500 lux a um metro, a luminária conta ainda com difusor branco para iluminação ampla e homogênea.
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produtos zooM liNear total
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A empresa Martin desenvolveu o Mac III Wash com um sistema óptico totalmente renovado em relação ao seu antecessor, o Mac 2000 Wash. O novo moving head, segundo a fabricante, permite um zoom linear total com um sistema simples de aletas internas. Seu sistema de shutter permite aos iluminadores controlar, com bastante precisão, o formato da luz projetada, seja em um palco ou em qualquer elemento cenográfico. Ao contrário de outros equipamentos da categoria, a luz do Mac III permanece com a mesma intensidade, não importando o zoom aplicado. O Wash conta ainda com 48 mil lumens de saídas, sistema CMY de mistura de cores, dimmer, lente Fresnel de nove polegadas ou lente PC como opcional. www.proshows.com.br
aceSSÓrio preciSo A rosco Íris DMX é um acessório que permite o controle completo do foco de luz do refletor elipsoidal. A nova íris é silenciosa e possui 24 lâminas motorizadas compatíveis com o EtC Source Four, o Selecon Pacific e com a maioria dos elipsoidais de última geração. Diferente de outros modelos de íris que possuem apenas 18 lâminas, as 24 lâminas da rosco Íris DMX propiciam uma abertura perfeitamente circular até nos menores diâmetros. Com o sistema DMX512, o movimento de abertura ou fechamento é suave, mesmo em faders mais lentos. O equipamento também pode ser usado sem o controlador DMX, através de um botão manual. A rosco Íris DMX requer somente um circuito não dimerizável e sua alimentação é universal (de 100 a 240 volts).
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VR-3 ROLAND APRESENTA SWITCHER DE VÍDEO COMPACTO
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projeto do Vr-3, switcher de vídeo compacto lançado pela roland, incorpora mixer de áudio, visualizador de monitores e streaming via uSB, tudo na mesma unidade. O equipamento é bastante leve e compacto, com medidas que se equiparam a uma folha de papel A4. Por este motivo, é de fácil encaixe e se adapta a mesas de sala de aulas, púlpitos para seminários e conferências e a pequenos estúdios, podendo ser, ainda, usado ao lado de consoles de iluminação em teatros. Alimentado pela fonte que o acompanha ou por baterias externas, o Vr-3 tem tela sensível ao toque, que facilita a mudança de fontes de vídeo e o acesso aos seus menus. A conectividade com computadores e projetores faz do switcher uma boa opção para treinamentos e palestras. Com o equipamento, é possível alternar e transmitir imagens para toda a plateia através de telões e projetores. Isto inclui imagens de PC, como PowerPoint ou Keynote, uma câmera de vídeo e DVDs, entre outros. Para utilizar os serviços de streaming ao vivo, basta conectá-lo via computador a sites como uStream, Livestream e Justin.tv, por exemplo. Pesando cerca de 3 Kg, o Vr-3 utiliza uma bateria externa de 9v, que pode operar por duas de forma autônoma. Equipado com quatro entradas de vídeo e seis entradas de áudio, ele permite efeitos de composição de vídeo como key in, split screen, picture-in-picture.
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www.roland.com
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fo c o veM aÍ a eXpoluX Será realizada no Expo Center norte, em São Paulo, entre os dias 24 e 28 de abril, a 13ª edição da Expolux, principal mostra do mercado para profissionais que, em suas atividades, necessitam entrar em contato com tendências e novas tecnologias do universo da iluminação. no evento bienal, também chamado de Feira Internacional da Indústria da Iluminação, estarão presentes arquitetos, engenheiros, lojistas, compradores da indústria da construção e decoradores, entre outros. Em sua edição passada, a Expolux teve 729 expositores e foi visitada por cerca de 175 mil pessoas. neste ano, a tendência é que os bons números se repitam.
NovoS curSoS De vÍDeo No iatec
Durante o mês de maio, o Instituto de Artes e técnicas em Comunicação (IAtEC), com sede no rio de Janeiro, realizará uma série de cursos voltados para técnicas de vídeo. O primeiro deles, After Effects, com carga horária de 40 horas, terá início no dia 7 e será ministrado por rodolfo Miró. Destinado a profissionais que já trabalham ou pretendem trabalhar no segmento audiovisual, o curso apresentará as ferramentas de edição e composição presentes no software. nele, serão abordados temas como formatos de vídeo, técnicas de animação, correção de cor, uso e controle da luz, manipulação de cãmeras, criação e ajustes de efeitos visuais e formatos de exportação. no dia 15, terá início o curso de Edição Digital em Final Cut. E, por fim, dia 16, inicia-se o curso técnicas em Operação de Câmera, este último, ministrado por robson Maia, levará ao público conhecimentos diversos sobre o processo de construção de imagens, tanto no estúdio como em filmagens externas. Mais informações em www.iatec.com.br ou pelos telefones (21) 2493-9628 e (21) 2486-0629
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fo c o
Festival de Curtas de São Paulo recebe inscrições Estão abertas as inscrições para o 23º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, um dos maiores e mais tradicionais eventos dedicados a exibição de curtas-metragens no mundo. O prazo para a entrega de filmes finalizados em 2011 terminou no dia 31 de março. Mas aqueles que foram finalizados em 2012 têm até o dia 31 de maio para serem oficialmente apresentados. As inscrições podem ser feitas pelo sistema Short Film Depot. O evento, que neste ano será realizado entre os dias 23 e 31 de agosto, chegou a São Paulo em 1990 e, aos poucos, se tornou um marco na agenda cultural da cidade, graças à sua programação, ampla, diversificada e gratuita. Para informações, acesse: http://www.kinoforum.org.br/curtas/2012/
Março foi o mês da primeira edição de 2012 do Merlin Road Show
O Resort JP, em Ribeirão Preto, São Paulo, recebeu, entre os dias 6 e 8 de março, a primeira edição no ano do Merlin Road Show, evento que leva novas tecnologias e soluções do mercado de vídeo-produção a profissionais, empresas, jornalistas, cineastas, produtores e publicitários. Realizado pela Merlin Video, em parceria com outras marcas do setor de eletrônicos, o Merlin Road Show teve, entre outras atrações, uma série de palestras informativas sobre o segmento. Além das palestras, o seminário promoveu diversos cursos. Ministrado no segundo dia de evento, o curso para operadores de câmera, certificado pela Sony do Brasil, levou ao público informações sobre equipamentos e soluções diversas. Já no terceiro e último dia, a grande atração foi o curso de produção de clipes de casamento. O encontro, intermediado por Guilherme Riguetti, teve como tema principal mudar a percepção do público sobre o vídeo cerimonial, estimulando a sensibilidade e o lado criativo dos profissionais, independente do tipo de câmera usada por eles.
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hol o f ot e
Bruno Bauzer
Sérgio
Alcione Ferreira dos Santos
“Pezão” E
m 25 anos de experiência, o iluminador Sérgio Roberto Leite Valença já trabalhou com grandes nomes do cenário musical brasileiro, dentre eles, seu primo, o cantor e compositor Alceu Valença. Mas antes de enveredar pelo universo das luzes, cursou Direito na Faculdade de Direito do Recife. “Odiava o curso e queria uma desculpa para abandoná-lo”, lembra.
Em 1986, durante um show do primo em Pernambuco, “Pezão”, como também é conhecido, começou a dar seus primeiros passos na iluminação. “Ele havia tocado no Centro de Convenções no Recife e, ao fim do show, caminhei até o palco. Lá, durante a desmontagem, fiquei perguntando coisas a todo mundo. No dia seguinte, Alceu me chamou para acompanhar parte da turnê”, conta. Quem o ajudou, naquele momento, foi Juarez Farinon, então iluminador do cantor pernambucano. Com ele, Sérgio aprendeu, por exemplo, a operar um canhão seguidor. E com os demais companheiros passou a conhecer o funcionamento de sistema de racks e de afinação de luzes. Por oito anos, Sérgio viajou ao lado do primo. Depois dele, vieram outros artistas, todos pernambucanos. “Com Chico Science & Nação Zumbi passei dois anos na estrada. O mesmo tempo com Lenine. Foram muitas turnês pelo Brasil, e algumas por Europa, Japão, África e Estados Unidos”, conta .
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Metodologia de trabalho:
Elipsoidais. Muitos.
balhar, ir a ensaios e conversar muito com ele. O resto vem natural-
o melhor e o pior da profissão:
Preciso ouvir exaustivamente o disco do artista com o qual vou tramente. As músicas entram pelo ouvido e a mão rabisca o que pode
e deve ser feito no show, que, na verdade, fica pronto depois de quatro ou cinco apresentações. A estrada “ajusta” os defeitos e abre a cabeça para novas ideias. Principais influências:
Juarez Farinon foi a primeira. É meu amigo até hoje. Depois, nelson Martini Filho, que me ensinou a fazer luz com alegria, me di-
vertindo. Césio Lima, um pai. E os amigos de casa: Jathyles Miranda, roberto riegert e Álvaro Artur “Bomba”. Projeto especial que já realizou:
Fiz várias versões do [festival] Abril Pro rock. A de 1996 foi a melhor, porque foi imortalizada em clipe de Chico Science. O
Afinar uma luz em cima da hora, na pressão, é péssimo. Viajar é a melhor das coisas.
Sonho de consumo profissional:
realizei todos, não tenho mais isso em mente. talvez uma titan Avolites na bolsa, e só. Planos para o futuro:
Dou aulas de produção executiva e luto por uma escola aqui no
recife, num espaço conhecido como torre Malakoff. A escola deve sair do papel esse ano. dica para quem começa:
vídeo foi premiado em Los Angeles.
responsabilidade com horários (para entregar um trabalho, para
A melhor luz é aquela que:
um esporro por conta de um atraso numa passagem de som. Ele
realizar um...). Quando eu comecei a trabalhar com Alceu, levei
Atua como principal coadjuvante do artista
me olhou e disse: “rapaz, o artista aqui sou eu. uso esse cabelão,
Um projeto de luz não pode faltar:
Aprendi. Detesto atrasos. De qualquer tipo.
mas sou responsável e adoro cumprir horários. Faça o mesmo”.
ca pa
Fernando Barros
GAROTA ILUMINADA LUZ É DESTAQUE NA GRAVAÇÃO DE DVD DE BANDA DE FORRÓ
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fábio Nunes
A
banda Garota Safada reuniu 18 mil pessoas no Chevrolet Hall de recife, no último mês de março, para a gravação de seu primeiro DVD, que teve a participação de convidados mais que especiais, dentre eles, a atriz-mirim Carolina Oliveira, protagonista da série Hoje é Dia de Maria, da tV Globo, e os cantores Léo Santana, do grupo Parangolé; Aline rosa, da banda Cheiro de Amor; Bruno & Marrone e Dorgival Dantas. O DJ João Brasil, que vive na ponte aérea Londres – rio de Janeiro, também participou da apresentação. A mega produção, dirigida pela Apple Produções, contou com mais de 100 moving lights da marca robe, além de dezenas de equipamentos, entre refletores, canhões seguidores, luz & cena
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GAROTA IL fábio Nunes
ca pa
O lighting designer Pincel se inspirou na grandiosidade do show da cantora Madonna para criar as cenas do DVD
máquinas de fumaça e painéis de LED. na
“O cenário, criado por Zé Carratu, nos permitia
mentos de alta tecnologia, como, por exemplo,
iluminação mudava, ele se ‘transformava’ em
captação de imagens foram usados equipacâmeras de cinema.
Francisco Gabriel, o Pincel, que tem em sua ba-
gagem trabalhos com artistas como rebeldes,
a mudança de cores. Assim, toda vez que a
um novo ambiente. nele, usamos todas as cores possíveis, pois as câmeras HD admitiam a leitura no vídeo com perfeição”, explicou.
Calcinha Preta, Limão com Mel, Malla 100 Alça, Grupo Sou Muleke e rogério & regiane, entre
Moving lights Robe no rider
acordo com ele, que criou as cenas inspirado
Algumas semanas antes da gravação, o pro-
no intervalo do Super Bowl – o maior evento
Vinícius, começaram a programar – por meio
outros, foi o responsável pela luz do show. De na mais recente aparição da cantora Madonna, esportivo dos Estados unidos, transmitido para todo o mundo –, a luz deveria estabelecer relação entre a música, o público e as câmeras.
“Optei por usar muitos contrastes. Moving lights
dos tipos spot e beam formaram desenhos,
que seria usado na ocasião. Juntos, eles formularam as ideias das cenas entre iluminação e
imagens, garantindo, com isso, a tranqüilidade da equipe do grupo.
O ponto inovador no projeto foi, segundo Pincel,
da. Para os elementos do cenário e a escada,
pixel mapping –, possibilitando, assim, a trans-
usamos ribaltas e diversas PAr LED de 3 W”, disse, destacando, ainda, a integração de iluminação e cenografia. luz & c e n a
de um simulador 3D – e a configurar o console
enquanto os wash e LEDs wash 600 formaram ‘massas’ e deram contrastes no balé e na ban-
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gramador Paulo Lebrão e seu auxiliar técnico,
o uso de 80 ribaltas de LED nas escadas – em
posição de imagens. Outra coisa interessante,
de acordo com ele, foi a aplicação de telas ortofônicas pintadas à mão.
LUMINADA
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GAROTA IL ca pa
“Por trás delas [das telas] havia 10 baterias com seis PAr LED de 3 W, cada. Quando acendiam, elas formavam um visual muito bacana. e quando apagavam, os refletores sumiam, já que estavam atrás do cenário e só a luz passava pela tela”, disse. O lighting designer também ressaltou a importância dos moving lights robe na qualidade do projeto. Segundo ele, os aparelhos, que são bastante usados em grandes turnês internacionais, mostraram-se, o tempo todo, muito confiáveis, principalmente, por não apresentarem defeitos durante o trabalho. “Ele possuem bons efeitos, velocidade de movimento, dimmer, CMY e operação silenciosa. A robe é uma marca que, após algumas ten-
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No projeto do DVD foram usados mais de 100 moving lights Robe
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tativas, no ano passado, finalmente, conseguiu entrar no mercado nacional. E, hoje, no Brasil, é possível encontrar equipamentos da marca em grandes shows”, disse.
LEDs da New LED também marcaram presença O projeto de luz de Pincel teve, além da grande quantidade de moving lights, alguns painéis de LED. Ao fundo do palco, por exemplo, havia uma enorme tela de altíssima resolução, com 6 mm de distanciamento entre pixels, enquanto outras duas menores e de menor resolução (10 milímetros entre pixels) preenchiam as laterais, e,
fรกbio Nunes
LUMINADA Oitenta ribaltas de LED foram aplicadas nas escadas do palco
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fábio Nunes
GAROTA ILUM ca pa
Dezenas de painéis de LED da empresa New Led coloriram o palco e os camarotes do Chevrolet Hall
do lado de fora da caixa cênica, seis colunas de painéis flex, de 20mm de distanciamento, faziam o complemento.
nos camarotes, 140 placas de painel de 18 mm. todos os painéis foram fabricados pela new LED, marca distribuída no Brasil pela Elo Iluminação.
todo o conteúdo passado nos painéis de LED foi criado especialmente para o DVD. O servidor de vídeo usado foi o grandMA VPu. Para a transmissão simultânea de imagens, foram usados mais dois painéis de 12 mm, e, fazendo a volta
O chão do palco também foi utilizado pelo iluminador, que o cobriu com piso de LED, de 30mm de distanciamento entre pixels, equipamento jamais usado no Brasil em um DVD de forró, segundo o iluminador, que também rasgou
Moving lights:
60 PAr LED newLED
24 ColorSpot 1200E At Profile robe
12 LEDBlinder 196 Lt robe
12 colorSpot 700e at robe 24 colorwash 1200e at robe
Painéis de Led:
10 ColorBeam 2500E At robe
01 Painel de LED 6mm LED SMD de 10m x 4,20m new LED
14 ColorBeam 700E At robe
02 Painéis de LED 10mm LED SMD de 3,20m x 4,40m new LED
12 robin 300E Beam robe
06 Colunas em painel flex de 20mm LED SMD de 0,64cm x
20 robin 600 leDwash robe
Refletores de Led: 100 ribaltas de LED new LED 26
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6,40m new LED
02 Painéis de LED de 12mm LED SMD de 5m x 4m new LED 01 Piso de LED de 30mm SMD de 55mts quadrados new LED 140 Placas painel de LED de 18mm LED rGB de 0,60cm x 0,60cm new LED
MINADA
elogios ao grande elevador construído especialmente para a gravação do DVD. “Com nove metros de altura, ele [o elevador] se encarregou de trazer ao palco o vocalista da banda, Wesley Safadão, que desceu do teto do Chevrolet Hall na abertura do espetáculo. Fizemos isso, justamente, para o início do show ser impecável.Ainda bem que tudo saiu como planejamos”, encerrou. •
Consoles: 02 consoles grandMA2 Light 03 VPu servidor de video MA Lighting
Canhões seguidores: 04 canhões seguidores MSr-1.200 Holle, de frente 02 canhões seguidor Lycian 400 de contra, na cadeirinha
Maquinas de fumaça: 02 máquinas de fumaça haze robe 04 máquinas de fumaça faze robe luz & cena
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Rodrigo Sabatinelli
O fabuloso mundo de
André Batista
Designer de moda fala de sua relação com a arquitetura, a geometria, o cinema e a música
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Gustavo Carvalho G
ustavo Carvalho é um nome que vem despontando no universo das passarelas brasileiras. Mas, não, ele não é nenhum badalado modelo que atraiu os holofotes em alguma edição recente do Fashion Rio ou do São Paulo Fashion Week. Formado pelo SENAI-Cetiqt, o jovem carioca vem sendo apontado como um dos grandes nomes do design de moda no pais. Influenciado por Alexander Mcqueen e Gareth Pugh, ele tem, entre suas ambições, o sonho de vestir ninguém menos que Lady Gaga. E, para chegar lá, já começa a traçar planos. “Minha ideia é cursar a Central Saint Martin, em Londres, considerada a melhor faculdade de moda do mundo, de onde saíram praticamente todos os gênios da moda contemporânea. Na verdade, quero estudar, mas, mais do que isso, respirar novos ares, já que a Europa é o berço maior da cultura e lá eu terei a oportunidade de pesquisar bastante tudo o que diz respeito a este universo pelo qual sou apaixonado”, diz.
um ensaio baseado no espetáculo Lago dos Cisnes. A geometria também é muito presente em seus projetos. Qual é a sua verdadeira relação com esta ciência? Sim, sempre gostei de geometria, das formas geométricas, da matemática. Tive aulas de desenho geométrico no Colégio Pedro II, onde estudei, e, de lá para cá, busco sempre trazer para as minhas peças um pouco do que falávamos em sala. No fundo, eu vejo a moda como um desenho geométrico mesmo. Quando vou desenhar algo, acho interessante agregar formas que saem do corpo e que não são totalmente equilibradas entre si.
Na sequência, alguns dos croquis de Gustavo
Em entrevista à Luz & Cena, Gustavo fala sobre o processo de criação de suas peças e de como a arquitetura e a geometria, assim como o cinema e a música, exercem influência sobre suas ideias. Luz & Cena: Gustavo, as peças que você desenha têm uma ligação forte com a arte, em especial com o cinema e a música. Fale um pouco sobre o seu processo de criação.
Reprodução
Reprodução
Gustavo Carvalho: O cinema, sem dúvida alguma, tem grande influência em meu trabalho. A cartela de cores, a fotografia e a direção de arte dos filmes de Tim Burton, por exemplo, são sempre usados como fontes de pesquisa, assim como a estética de Xavier Dolan, jovem diretor canadense, que fez, recentemente, Amores Imaginários, e a música de Lady Gaga, entre outros. Na faculdade, tive a oportunidade de usar essas e outras referências como ponto de partida para alguns trabalhos, como no caso de
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Alex Santana
e a arquitetura?
no detalhe, mais uma das criações do designer
Meu trabalho de conclusão de curso no SEnAI-Cetiqt teve como tema a arquitetura, na verdade, a desconstrução arquitetônica. nele, uma das abordagens tinha relação direta com a questão da identidade, algo também questionado no último filme do Almodóvar, A Pele Que Habito, outra fonte de inspiração. E esse questionamento me mostrou que tenho diversas “identidades”, como a do estilista, do, do costureiro, e, claro, do espectador. Aliás, modelar, cortar e costurar são etapas distintas de um processo que, geralmente, é realizado por diversas pessoas. No entanto, você se encarrega de fazer todos eles em suas peças. Porque algo tão incomum? Acho que o envolvimento com todo o processo nos oferece resultados mais próximos daqueles que concebemos inicialmente em nossas mentes. É uma maneira de a execução seguir, com grande fidelidade, a criação. não é algo comum no universo da moda, mas é uma maneira segura de se trabalhar. Certa vez, assistindo ao programa Project Runway, vi que os estilistas trabalhavam dessa forma, então decidi fazer o mesmo. e, na prática, como se dá essa centralização de tarefas? normalmente, quando tenho uma ideia para uma peca, ela já vem nítida na minha mente. Mais do que isso, eu vejo, na pré-produção, como quero passá-la ao público. Portanto, essa saudável ambição de participar de tudo acontece naturalmente, sem muito planejamento. no fundo, eu gosto de estar por perto para assegurar que aquilo que criei não vai ser dissipado de sua essência durante a execução. e você costuma desenhar suas ideias no papel ou no computador? Geralmente, uso folhas de papel no padrão A4; uma aquarela, que é bastante usada, pois permite aos estilistas visualizarem melhor suas obras, e tinta nanquim. a aquarela nos oferece a possibilidade de trabalhar com as cores, enquanto a tinta
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gustavo, na foto com a modelo nicolle lobo, costuma modelar, cortar e costurar suas próprias peças: “É uma maneira de a execução seguir, com grande fidelidade, a criação”, diz
nanquim nos volta para o preto e o branco, monocromático. Desenhar é sempre bom para registrar a ideia, no entanto, como eu sempre corto e costuro as minhas peças, nem sempre é essencial ter um croqui. Por vezes, olhar para o tecido e imaginar a modelagem é o suficiente para sair cortando as peças. Quais foram seus primeiros trabalhos encomendados? A primeira peça que desenhei sob-encomenda foi usada pela cantora Pin Boner, vocalista da banda tipo uísque, daqui do rio. Depois, produzi diversos figurinos para a DJ Giordanna Forte e para um grupo de bailarinos que dançam no Chá da Alice, tradicional festa, também realizada na cidade. Estes projetos foram especiais. Adorei fazê-los, mas, nesse momento, quero me voltar totalmente para a moda. Quero mostrar meu trabalho como estilista nesse meio. No futuro, possivelmente voltarei a criar figurinos como esses que fiz, mas, por hora, o foco é outro. e que tipos de material você costuma utilizar em suas criações? Eu tenho um gosto bem diferente para materiais. Adoro tecnologia e adoro experimentações. E a moda eu vejo como um projeto experimental. Quando crio um conceito, não tenho limite para o que vou fazer. É um momento em que posso buscar o inusitado para mostrar que sou capaz de criar em cima disso. um momento em que posso mostrar para as pessoas em quantas coisas interessantes um simples tecido pode se transformar.
Carlos Fernando Castro
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o uso de materiais alternativos é algo marcante nas obras do jovem estilista
no dia a dia, costumo trabalhar com plásticos, acetatos, fitas e lonas, pois gosto muito do resultado proporcionado pelo uso desses materiais. E não tenho medo de usá-los. Quando vou criar algo, faço uma pesquisa pesada para chegar a determinada escolha. E sempre que vou às compras, procuro encontrar materiais diferentes, que nunca tenha utilizado, para que, com eles, possa chegar a “lugares” também não explorados anteriormente. uma das minhas peças mais bacanas é um vestido de fitas de cetim, aquelas que são usadas para embrulhar presentes. A forma como o construí fez com que essas fitas, juntas, se parecessem a uma verdadeira engrenagem.
respeito a este universo pelo qual sou apaixonado.
Quais são as suas fontes de pesquisa?
Olha, durante o curso, tive muitos problemas. As pessoas não entendiam muito bem as minhas ideias, os meus conceitos, e, por muitas vezes, duvidavam que eu fosse capaz de dar forma a eles. tanto professores quanto companheiros de sala. no mercado, algumas pessoas também não conseguiam captar o que eu pensava e muitas delas diziam coisas como “seu trabalho é bom, mas precisa de uma identidade brasileira”. Se eu desse ouvido a todas essas críticas, provavelmente já teria desistido, mas optei por seguir meu caminho e confiar em mim.
Dentro das minhas pesquisas, trabalho com referências para todos os meios. não somente a moda, que é a maior expressão de individualidade de um ser humano, mas o vídeo, a fotografia, etc. Isso me dá a oportunidade de gerar produtos paralelos e complementares, como um vídeo-arte que fiz para mostrar algumas de minhas peças. Ao meu ver, imagens estáticas e em movimento dão “leituras” diferentes de uma mesma criação. Com elas, é possível mostrar a mesma obra de diversas maneiras. Quais são os seus planos para o futuro? Me formei em dezembro passado e, agora, pretendo fazer uma pós no exterior. Minha ideia é cursar a Central Saint Martin, em Londres, considerada a melhor faculdade de moda do mundo, de onde saíram praticamente todos os gênios da moda contemporânea. na verdade, quero estudar, mas, mais do que isso, respirar novos ares, já que a Europa é o berço maior da cultura e lá eu terei a oportunidade de pesquisar bastante tudo o que diz 32
luz & c e n a
Carlos Fernando Castro
Carlos Fernando Castro
ent rev is t a
Morando no rio de Janeiro, eu já tenho um largo acesso a arte, e isso me ajudou a criar peças que vêm sendo elogiadas por pessoas de todo o mundo. Estando na Europa, onde a cultura está em ebulição o tempo todo, certamente terei a oportunidade de ampliar meu senso criativo e, com isso, criar peças cada vez mais modernas e elaboradas. É inquestionável o fato de que, lá fora, as pessoas enxergam a arte de outra maneira. do ponto de vista da criação, você se sente compreendido ou incompreendido?
Sempre tive muita fé no meu trabalho. não sou melhor que ninguém, mas acredito que posso realizar tudo o que sonho. E eu trabalho muito para isso. na verdade, sou muito grato àqueles que riram e duvidaram de mim. Graças a essas pessoas, sou o que sou. Mas eu entendo o lado delas. nem todo mundo está aberto ao novo. Existe uma resistência tremenda ao inusitado, ao diferente. E quando você consegue ir além, quando consegue inovar, incomoda muita gente. Particularmente, sempre tive adoração pelo novo e é esse “novo” que quero mostrar para as pessoas. •
luz & cena
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vi deoc lipe
rodrigo Sabatinelli
Natural fotografia De novo clipe De patrĂ?cia melloDi Dispensa luZ artificial
34
luz & c e n a
Divulgação
como o amor
N
ão, a nova música de trabalho da cantora Patrícia Mellodi, fala de um amor impossível de ser esquecido. tema romântico dos atores Grazi Massafera e ricardo Pereira na novela global Aquele Beijo, ela acaba de ganhar uma bela versão em videoclipe.
“Com a música sendo bem divulgada na tV, seria mais fácil seguir o caminho do folhetim e contar uma história romântica, mas resolvi explorar outra vertente e desenvolvi um roteiro falando do amor através da solidão”, conta a diretora Alexia Maltner.
luz & cena
35
Divulgação
vi deoc lipe
Observado por Alexia Maltner, Daniel Leite opera a Sony F3
Partindo dessa premissa, ela revela que as ideias deram lugar a imagens nas quais a artista, num ambiente nostálgico, recorda um amor que ficou no tempo. “Essas imagens, eu chamo de ‘fragmentos das lembranças de quem ama’”, diz. Gravado no hotel Mamma ruísa, localizado em Santa tereza, no rio de Janeiro, o clipe tem, ainda, direção de fotografia de Daniel Leite, que se beneficiou da existência de diversas janelas com belíssimas entradas de luz para, propositalmente, abrir mão de fontes artificiais de iluminação.
-se levar pelo ambiente descontraído do set”, lembra
a diretora. “A cada estrofe, o sentimento que a música
emanava fazia com que nos envolvesse com seu olhar e
seus gestos. A síntese do meu trabalho foi captar esses sentimentos e registrá-los com delicadeza”, completa ela.
IMAGENS CAPTADAS EM FULL HD Diretor de fotografia do clipe, o carioca Daniel Leite registrou as imagens em padrão Full HD utilizando, para isso, duas câme-
DIREÇÃO CAPTA SENTIMENTOS SEM IMPOSIÇÃO Alexia faz questão de dizer que não impôs nenhuma interpretação à cantora, pois o objetivo, segundo ela, era conduzi-la de modo que se declarasse para a câmera, como uma mulher apaixonada, dividindo com o público sua solidão e seu desejo. “Extremamente extrovertida e espirituosa, Patrícia embarcou, de primeira, em cada sugestão oferecida, deixando36
luz & c e n a
ras, uma Sony F3 complementada por um kit de lentes primes da Carl Zeiss, e uma Canon 5D Mark II, com uma Zeiss ZF.
O organograma de gravação foi, segundo ele, bastante
intenso. utilizando travellings e skaters em alguns dos
muitos planos de imagens, Daniel conseguiu construir mais de oito seetings diferentes em cima das distintas ideias propostas pela diretora do filme.
“nosso conceito era o de chegar a um look bastante simples, bonito, que circulasse no universo de uma beleza,
bem próximo à moda, e nos levasse a sentir
que estávamos participando do cotidiano da personagem representada”, conta.
para chegar ao objetivo, ele tinha algumas pistas, que eram bem evidentes, como por exemplo, a contemplação e o espaço-tempo
de uma mulher que vive cercada por uma espécie de nostalgia. “um passado, muitas
vezes, representado por planos poéticos e com movimentos suaves”, diz.
FOTOGRAFIA SE UTILIZA DE LUZ NATURAL Acostumado a trabalhar com diversas fontes
de luz, Daniel utilizou, no clipe de Patrícia Mellodi, somente iluminação natural. “A op-
ção”, diz o fotógrafo, “se deu por conta da locação, um lugar bastante interessante e com belas entradas de luz”.
A referência principal, a qual Daniel se avalizou,
foram as janelas do hotel onde o clipe foi gravado. “Durante a produção, realizamos um estudo
de movimento e inclinação do sol e adequamos nossas ideias à essas posições”, lembra ele.
Alexia, a diretora, reforça o comentário do amigo e diz que a fotografia explorou o décor do ambiente de maneira a transportar a personagem ao encontro de algo íntimo. Segundo ela, ambos chegaram à melhor maneira de sua beleza, doçura e sutileza.
“Com movimentos sutis de câmera e deixando vazios nas composições, ela foi levada a um
Divulgação
apresentar a artista, de forma a transparecer
passado nostálgico que habita na atmosfera da música”, diz.
O discurso da fotografia, de acordo com Daniel esteve presente nos movimentos da câmera, nas composições e na utilização
A fotografia do clipe se utilizou de luz natural. Iluminação artificial, dessa vez, foi deixada de lado.
dos valores focais. Isso foi, segundo ele, um trabalho de preparação no qual foi observado que o roteiro impunha tal look.
luz & cena
37
Divulgação
vi deoc lipe
As imagens captadas mostram um look bem natural, algo bastante discutido entre Alexia e Daniel
“Foi neste momento que resolvemos fazer um investimento
mais importante para o setor de câmera, à busca de um formato mais sólido, como a Sony F3”, diz, lembrando que a chegada
de Fernando Fernandes, da Bros Filmes, para co-produzir o filme, fez com que o projeto ganhasse mais qualidade estética.
da Alexia, que sabia exatamente o tipo de clipe que queria realizar, chegamos a conclusão de que não estávamos exatamente em um tempo presente, mas, sim, em um universo de passado, um passado doce e de boas memórias. Por isso, usamos os tons quentes, que trazem essa ‘esperança’. A excentricidade do amarelo, por sua vez, traz vida e
TONALIDADES QUENTE E FRIA SE COMPLEMENTAM Sobre a tonalidade das imagens do clipe, o fotógrafo diz que,
ao mesmo tempo em que se trata de um look bem natural, apresenta aspectos de beleza mais intencionados, como peles
bem quentes e brancos beirando a superexposição, assim como predominam os tons beges, amarelo e madeira.
“Durante minha preparação e em consulta às referências 38
luz & c e n a
circulação ao quadro”, diz. Alexia, por sua vez, lembra que pesquisou bastante e alimentou o imaginário de Daniel com referências de imagens, fragmentos e fotos. “tivemos uma preparação sólida, desde a visita à locação, dias antes, até escolha do formato de gravação. uma vez, no set, fui tendo novas visões e, em seguida, apresentei a ele, que, em cima das minhas visões, embarcou e transformou aquilo em algo cativante de se ver”, encerra ela.
•
luz & cena
39
Direção de Fotografia PARA
VÍDEO
Léo Miranda
Câmeras Profissionais (Parte 3)
Mês passado, vimos os Primeiros Ajustes (2ª Parte) nas Câmeras Profissionais. Agora veremos mais alguns ajustes, que iremos chamar de 3ª Parte.
O
entendimento de cada função da câmera em relação à fotografia nos faz perceber que não somente devemos saber sobre a luz, que é o fator principal, mas como também devemos regular o nosso “olho” artificial (câmera) para que tenhamos a imagem regulada e mais próxima do que enxergamos na vida cotidiana.
em que fechamos toda a abertura do diafragma/Iris, mas, mesmo
Ajustado o Viewfinder, como vimos na edição anterior, seguimos com o ND.
com a distância focal primordialmente, mas a abertura do diafragma/
O que vem a ser estas duas letras?
olhos, colocamos óculos escuros e, assim, conseguimos relaxar a nossa visão, sendo que, na câmera, colocamos o ND.
Um fator de utilização do ND nas câmeras é quando queremos alterar
a profundidade de campo, ou seja, a profundidade de campo é alterada Iris também atua no aumento ou diminuição da profundidade.
O problema é que, quando abrimos o diafragma, aumentamos a
ND = Neutral Density, em bom português, Densidade Neutra.
quantidade de luz que entra, causando estouro de alguns pontos da
O ND nestas câmeras profissionais é regulado no primeiro anel, no qual estão os números que, normalmente, vão de 1 a 4.
Resultado final: Iris aberta = menor profundidade de campo, es-
imagem. Para controlarmos esta superexposição, colocamos o ND. touro de imagem corrigida com ND.
Para que serve esta regulagem? Ela nada mais é do que colocar ou tirar óculos escuros na frente dos “olhos”. É chamada assim por não alterar a densidade e muito menos colocar ou alterar as cores do que está sendo captado.
Quanto mais ND (se tiver luz suficiente para tal), menor a profun-
Quando utilizar este recurso?
extra no mesmo local, com controle em anel diferente, chamado
A intensidade da luz, por vezes, incomoda os nossos olhos e, por mais que fechemos as pálpebras e fiquemos com a pupila bem fechada, mesmo assim, ainda tem muita luz entrando e incomodando; o mesmo se dá para com a câmera. Chega num ponto
abertura diafragma f-11 sem ND
40
assim, a imagem captada ainda fica “estourada”. No caso dos
luz & c e n a
didade e, por conseqüência, teremos um fundo mais desfocado.
Nas câmeras profissionais de broadcast é apresentado um recurso
de CC (color correction). Este microfiltro, que atua antes do target (CCD, CMOS, etc), tem a função de corrigir a cor de acordo com o que está sendo captado.
Comparando, mais uma vez, com os óculos escuros, diria que ele
abertura diafragma f-5.6 com ND 3
abertura diafragma f-2.8 com ND 6
funciona como a parte da cor destes “óculos” da câmera. Apresentado por letras de “A” a “D”, ele tem as respectivas e pré-determinadas classificações e utilizações abaixo a
5600º K
utilizado quando a luz predominante é a luz do dia ou 5600ºK
B
3200ºK
utilizado quando a luz predominante é a incandescente ou 3200ºK
c
4300ºK
utilizado quando a luz predominante está misturada e tendendo para 4300ºK
D
6300º K
utilizado quando a luz predominante está misturada e tendendo para 6300ºK
Lembrando que este filtro deve ser utilizado de acordo com a temperatura de cor apresentada após ajustar o balanço do branco (white balance = “bater o branco”), fora disso, se torna um recurso artístico.
Os ajustes aqui apresentados e posicionamentos de botões são relacionados à câmera HDW da Sony, mas isso não quer dizer que outras câmeras não tenham estas funções. Muito pelo contrário, algumas dela podem ter até mais recursos. tomamos como exemplo esta por conta da facilidade de visualização. Consulte o manual de cada câmera que for manusear, cheque onde estes “botões” se encontram, procure no Menu caso eles não estejam aparentes, pois, o ajuste não muda e é necessário; o que muda é o posicionamento de acordo com o fabricante, ou, até mesmo, de modelos do mesmo fabricante. Mês que vem, em Luz & Cena, veremos Vtr, Gain, Output e WB. até lá e abraços,
fotos: Pro-Motion, HDW-F900
Léo Miranda
ND 1: sem atuar – ND 4: o mais forte.
Léo Miranda é diretor de fotografia e lighting designer. Há 19 anos atuando na área de iluminação, é especializado em gravações externas e eventos, já dirigiu a fotografia de comerciais e programas de TV e também ministra treinamento técnico e operacional a grandes empresas. Quer tirar dúvidas e propor temas para a coluna? envie uma mensagem para leomiranda@ luzecena.com.br. Seu e-mail poderá ser publicado na revista.
luz & cena
41
o p er a ç ã o d e vídeo
Glauco Paganotti
S
empre que começo a escrever um novo artigo, me faço a seguinte pergunta: como escrever sobre um assunto que tem poucas fontes de consulta? Encontrar conteúdo
didático para confirmar ou negar as atitudes tomadas
Glauco Paganotti
OPERADOR DE VÍDEO X OPERADOR DE CÂMERA por um operador de video no seu dia a dia é uma
missão quase impossível, pois essas atitudes são resultado somente da experiência vivida. Não existe uma fórmula exata para uma conclusão imediata. O
que existe são as hipóteses que podem nos levar a uma conclusão parcial, através do conhecimento empírico. Por isso, ter sensibilidade e bom senso
é fundamental para o desenvolvimento técnico e artístico de um operador de vídeo.
Antes de começar a escrever, quero deixar claro aos leitores que não desejo explicar fenômenos científicos
nestes artigos, nem afirmar que existe uma verdade
absoluta. Minha intenção sempre será descrever as
situações vividas pelo operador de vídeo, identificando possíveis problemas que os profissionais podem encontrar durante a captação da imagem.
Quem faz o quê? Nas produções com mais de uma câmera de vídeo,
recomenda-se um operador de vídeo para ajustá-las, compensando as variações de luz do ambiente cap-
tado. O operador de vídeo vai equilibrar as imagens
de todas as câmeras mantendo as cores, e outras ca-
O operador de vídeo equilibrando as imagens de cinco câmeras ao mesmo tempo, durante uma transmissão ao vivo de vôlei
racterísticas, iguais entre si, ou da maneira desejada. Já o operador de câmera é o responsável pela captação de imagens, utilizando os recursos de aproximação através da lente (zoom) e ajuste de foco na área de interesse. Para captar boas imagens, ele cria 42
luz & c e n a
ou simplesmente executa vários enquadramentos diferentes, tendo, com isso, que movimentar a câmera para diversas posições no set.
luz & cena
43
Glauco Paganotti
o p er a ç ã o d e vídeo
Aos operadores de vídeo Entender as dificuldades de um operador de câmera no set é o primeiro – e, para mim, o mais importante – passo para uma boa comunicação durante uma gravação. Lembro-me de uma situação em que o operador de câmera não respondia na comunicação aos pedidos feitos, e o diretor de imagem, percebendo o problema, tentou uma comunicação, também sem sucesso.
Nesta foto, o operador de câmera ajusta o foco da câmera enquanto desloca-se em um travelling com o suporte mini jibi Agora que já definimos quem faz o que, podemos perceber que uma função completa a outra, visto
que, ao corrigir a imagem das câmeras, o operador de vídeo viabiliza a possibilidade de o operador de
câmera criar ou executar seus enquadramentos com mais liberdade e, portanto, sem maiores possibilida-
des. Com as câmeras bem ajustadas e seus ângulos
exatos, o resultado do produto será uma narrativa com unidade de imagem homogênea, devido ao sincronismo desses profissionais.
Nesta imagem, quatro câmeras são monitoradas simultaneamente pelo operador de vídeo 44
luz & c e n a
Quando entrou o intervalo, ouvimos a voz do operador de câmera dizendo que não podia se mexer para abrir a comunicação, pois a câmera estava muito alta, e, com isso, não era fácil alcançar o botão da comunicação. Para conseguir bater a chave para “on”, ele precisava fazer movimentos que refletiriam a sua imagem na janela de vidro que fazia parte do cenário. Com essa situação, o operador de câmera se tornou imóvel durante toda a gravação ao vivo, só se comunicando no momento em que ele, sabiamente, julgou ser o ideal. Os operadores de vídeo também devem compreender que, em muitas situações, os operadores de câmera “colam a lente”, (ou seja, diminuem o ângulo de visão fechando toda a teleobjetiva) para conseguir capturar uma reação bem íntima de um personagem, por exemplo. Os enquadramentos mais fechados, geralmente, são os
preferidos da maioria dos operadores de câmera, pois, quando bem feitos, resultam em ótimas composições.
Portanto, os operadores de vídeo precisam ter a sensibilidade, ajudando o operador de câmera, corrigindo o diafragma, desligando a função shutter, verificando se
há algum filtro nD, por exemplo, ou, até mesmo, dando somente um step de ganho nas câmeras. Melhorando
a imagem o máximo que puderem, os operadores de vídeo também são os responsáveis para o sucesso do take que o operador de câmera deseja executar.
Aos operadores de Câmera A intenção do operador de vídeo é sempre tornar a imagem melhor. Para isso, ele lança mão de vários
recursos. Muitos desses recursos são conhecidos pelos operadores de câmeras, que, portanto, podem sugerir ideias para algumas situações, mas, em mui-
tos casos, o que vemos é a resistência aos comandos da operação de vídeo.
Alguns operadores de câmera precisam entender que o operador de vídeo estará sempre em condições me-
lhores para avaliar a imagem, pois, em seu ambiente
glauco paganotti
de trabalho, ele possui instrumentos de medição bem
luz & cena
45
o p er a ç ã o d e vídeo
mais eficientes. Dentre eles, o vector, que monitora
Outra dica muito importante é o cuidado com o ajuste do
intensidades dos níveis de luz.
está disponível geralmente no canto inferior esquerdo,
as cores da cena, enquanto o waveform indica as Trabalhando em um ambiente escuro, onde os monitores são devidamente alinhados, é possível gerar imagens com uma resposta muito mais precisa que
o view finder das câmeras, e, portanto, com maior fidelidade nas cores, entre outras características.
Outro ponto importante é que o operador de vídeo geralmente monitora várias câmeras ao mesmo tem-
po, tendo, assim, uma possibilidade muito maior de
comparação entre elas. Portanto, se a operação de vídeo solicitar uma correção de foco, por exemplo, suspeite de que seu foco possa realmente estar
botão peaking do viewfinder das câmeras. Essa função
abaixo do monitor do viewfinder da maioria das câmeras
de vídeo. Se ele estiver muito aberto (virado para a direita), vai detalhar demais os contornos da imagem gerada pelo viewfinder, alterando a percepção real da correção
do foco, confundindo muito a comunicação entre o operador de câmera e o operador de vídeo.
O problema se torna ainda mais crítico quando este botão está em seu ajuste máximo, causando uma falsa aparência do foco, pois a imagem vai parecer
estar em foco, mesmo estando totalmente fora, tornando equivocada a opinião do operador de câmera.
“doce” (ligeiramente fora), pois, comparando com todas as outras câmeras, o operador de vídeo vai perceber mais facilmente essa diferença.
Nessa situação em que se percebe a imagem fora de
foco, deve se acionar, por diversas vezes, no remote da câmera o botão chamado call. Esse botão acende o tally
na câmera, e, quando ele pisca várias vezes, a maioria dos operadores de câmera entende o sinal, corrigindo rapidamente o foco sem que o operador de vídeo precise
A tecnologia de alta definição (HDTV) leva ao telespectador uma imagem com muito mais detalhe, porém,
para a imagem ser reproduzida com alta definição, é necessário que as pessoas ou os objetos estejam bem iluminados, pois é possível perceber que, nas regiões onde a luz não está tão presente, a definição da ima-
gem fica um pouco comprometida, causando alguns problemas como a percepção do foco.
Luiza Mello
anunciar o problema na comunicação.
A captação da luz com a nova tecnologia
46
luz & c e n a
Na figura da esquerda, o peaking está correto. Na da direita, ele está em seu ajuste máximo
luz & cena
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o p er a ç ã o d e vídeo
enquanto a região dos olhos, naturalmente sombreada, fica “ligeiramente doce”, mesmo estando no mesmo plano. Alguns engenheiros acreditam que a culpa está nos sistemas ópticos de algumas câmeras de vídeo, enquanto outros discordam, dizendo ser culpa dos circuitos eletrônicos responsáveis pela formação da imagem nessa recente tecnologia implantada no Brasil.
Divulgação
O uso equivocado do duplicador
O corte feito nesta câmera expõe os diversos componentes internos da objetiva As regiões brancas da cena rebatem muito mais luz do que qualquer outra cor, e, portanto, estas também estarão mais bem definidas. Mas elas não são as únicas que ficam mais detalhadas no vídeo HD. Os brilhos de algumas superfícies, como metais, vidros e objetos envernizados, também ficam muito evidentes.
Divulgação
Um exemplo prático é a armação cromada ou dourada de um par de óculos, que fica incrivelmente detalhada,
Outra solução difícil é a utilização inadequada do duplicador em situações em que a lente zoom não consegue a aproximação desejada. O duplicador só seria recomendado, na minha opinião, nas situações jornalísticas em que o tamanho de uma lente zoom é operacionalmente inviável e o furo da matéria é mais importante do que a qualidade da imagem, visto que, ao duplicar a lente, perde-se muita luz, definição, e até a fidelidade das cores, entre outros aspectos da imagem. Isso, sem falar que, ao colocar o duplicador na câmera sem o operador de vídeo ser avisado, a imagem pode ser utilizada pelo diretor de imagens ou gravada sem as devidas correções. Portanto, o ideal, nessas situações, seria optar por uma teleobjetiva (zoom) com maior aproximação, e custos financeiros
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luz & c e n a
Nesta figura, é possível ver os formatos côncavos e convexos e também as distâncias das lentes de cristal que compõem a teleobjetiva
equivalentes à qualidade da imagem captada por ela. Vamos imaginar a seguinte situação: ao desenvolver
uma teleobjetiva, o fabricante combina diferentes lentes de cristal, que permitem que a luz atravesse-as sem perder tanto as suas características. Com isso, as distâncias entre esses cristais são medidas com
precisão para que a imagem formada pela lente não seja distorcida e se aproxime da real.
O duplicador, no entanto, seria uma única lente (que costu-
mo comparar grosseiramente como um fundo de garrafa), que amplia a imagem sem nenhum compromisso com a qualidade. Como podemos perceber, então, duplicar a
lente não é a situação ideal em eventos como transmis-
sões de jogos de futebol ou gravações de DVDs, entre outros, nos quais a qualidade da imagem é fator primordial.
O melhor resultado: a união Como vimos, então, existem grandes diferenças entre um operador de vídeo e um operador de câmera, e
essas diferenças, quando somadas, resultam na mesma intenção: captar as imagens da melhor maneira
possível, ou seja, de forma clara, conforme a orientação do roteiro proposto. Para isso, se comunicar de forma eficaz, entendendo as dificuldades específicas
de cada profissional, é fundamental para o resultado final de uma boa imagem.
Agradecimentos: Laís Piubel e José Cláudio Campos
Com quatro registros profissionais (Drt), Glauco Paganotti atua como operador de câmera, iluminador, operador de vídeo e fotógrafo em diversos programas ao vivo, como transmissões de futebol, vôlei e natação, além de gravações de DVD, entre outros eventos. Dúvidas ou sugestões, mande um e-mail para glaucop@globosat.com.br
luz & cena
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PRO
EDIÇÃO DE VÍDEOS cOm
Final cut
Ricardo Honório
Tutorial Final Cut
Color Correction: Máscaras
Pro X N
este tutorial, vamos aprender a trabalhar um pouco com a ferramenta Color Correction e suas máscaras. Para começar, separamos um video da VegeTv (www.vegetv.com.br) – uma entrevista
realizada em uma fazenda, com um problema muito comum com equipamentos de baixa latitude.
Utilizamos uma câmera Canon EOS 7D, com uma lente 50mm fixa 1.4f, e com ela gravamos e controlamos a expo-
sição para o entrevistado, no entanto, o segundo plano ficou super exposto. Usaremos, então o Color Corretion e a sua
máscara para isolar dentro ou fora da máscara e aplicar as correções separadamente. Vamos lá! Começando!
vamos redimencionar. Nas próximas, faremos máscaras com movimentos.
Agora que a máscara está aplicada e redimencionada, entre no Color Board. Na seta do lado direito do Corretion 1 abrirá
o Color Board, e, lá embaixo, temos a opção de trabalhar
“In Side” ou “Out Side”, o que nos permite ajustar apenas o primeiro e o segundo plano. No caso dessa imagem, repare
que os ajustes são independentes, podendo fazer “In Side” na exposição e “Out Side”, por exemplo, na cor. Isso representa uma grande ferramenta, incorporada no Final Cut Pro X.
Agora que já corrigimos e chegamos na melhor imagem
tion.com.br. Agora que temos uma imagem nas mesmas
xima imagem da seguinte forma: no menu superior, clique
características, vamos começar as correções: Ao marcar
In e Out na entrevista e leva-la para a timeline com a tecla “E”, temos a imagem no ponto certo.
Disponha mais dois pedaços da entrevista na sequência
– isso, por que, neste tutorial, também aprenderemos a copiar e a colar atributos de correção de cor, especificamente
possível, vamos copiar e colar os ajustes para uma próem “Edit”, “Copy” e, por fim, na imagem que deseja repetir
a correção de cor. Clique na imagem e, em seguida, vá
no menu superior e clique em “Paste Effects”. Pronto! Aprendemos, neste tutorial, a corrigir a super exposição
do segundo plano de nossa imagem e também colar o ajuste para as demais imagens.
a sua mascara – e clique na imagem na timeline. Observe
Nesta versão do Final Cut, temos uma boa lista de saídas de
o Inspector (botão “I”), localizado no lado direito da tela.
Report e Vimeo. A vantagem dos formatos online é que já
que ela aparece em amarelo. Como está selecionada, abra
Pronto! Agora que temos acesso aos ajustes, clique em
Color Correction e acrescente ao Corretion 1 uma más-
cara. Em seguida, clique na seta que nos levará ao color board, com o qual será possível corrigir separadamente
as esferas como preto, médio e branco em suas caracteriscticas como exposição, cor e saturação. Repare que luz & c e n a
e também criar key frames nela. Bem, nesta aula, só
Coloque uma imagem em sua timeline. Se quiser baixar
essa imagem do Studio Motion, entre no www.studiomo-
50
você pode redimencionar a máscara, mudar sua forma
vídeo, como, por exemplo, para Facebook, YouTube, ICNN dá para criar o formato específico com qualidade boa e otimizada, sendo que o Final Cut já faz o processo de upload direto, eliminando a necessidade de esperar criar o codec e depois subir para a internet separadamente.
Além dos formatos online, a Apple preparou as principais opções de vídeos do mercado, sendo possível gerar um
luz & cena
51
Quicktime Movie para uma mídia específica e remeter vídeos direto pelo e-mail da Apple. Além de distribuição online do conteúdo, também é possível fazer direto um DVD ou blu-ray. neste tutorial vamos aprender a dar saída para o formato Youtube. veja como: - Após selecionar o vídeo editado da timeline, clique no menu Share (Figura 2) e escolha “Youtube” (observação: é preciso criar uma conta no Youtube antes dessa etapa). - Clique no formato “Youtube” (Figura 3). preencha todos os campos, pois, caso contrário, não será possível prosseguir com a publicação (Figura 4). - Agora é só clicar em next. Concorde com os termos de publicação e clique em “Publicar” (Figura 5). - Pronto: agora ele vai começar a encodar (Figura 6), para, em seguida, publicar nosso vídeo direto na nossa conta. - repita este mesmo procedimento com outros formatos específicos para internet. Se for fazer um formato para DVD ou mídias físicas específicas, é só seguir os mesmos passos.
Ricardo Honório é editor de vídeo e professor do Studio Motion, em São Paulo. 52
envie suas sugestões e dúvidas para ricardo@studiomotion.com.br. Seu e-mail poderá ser publicado na revista.
luz & c e n a
luz & cena
53
Iluminando
Farlley Derze
A LUZ NO CENTRO DA EXPERIÊNCIA HUMANA Biodisponibilidade
transmitirão ao cérebro uma informação do tipo “deter-
Os cinco primeiros artigos que escrevi nessa coluna
diante de você não poderia ser visto se você estivesse
foram inspirados nos cinco sentidos biológicos do ser humano: o cheiro da luz, a cor da luz, o toque da luz,
o som da luz e o sabor da luz. É através das sensa-
ções que o ser vivo estabelece contato com o meio
ambiente onde se encontra, quando seu corpo reage a odores, cores, temperaturas, sons e sabores. É assim com brasileiros, chineses, africanos e europeus.
isto é, na mais completa escuridão. Então, o invisível
existe: é a escuridão. O visível existe: é a iluminação. Trevas e luz são sensações visuais que correspondem
às condições biológicas do órgão da visão. Vamos chamar isso de biodisponibilidade do indivíduo.
O homem pode ter criado as palavras trevas e luz para
nome”. É assim com cada um de nós, portadores de
de dos objetos, isto é, das coisas materiais do mundo.
cada um de nossos ancestrais pré-históricos “sem
comunicar a ideia de ausência ou presença de visibilida-
sensações biológicas.
Visibilidade seria uma conseqüência do reflexo da luz
existe luz iluminando o texto que está diante de você. É a luz refletida que viaja em direção ao interior de seus
olhos. No interior dos olhos, a luz prossegue sua viagem oriunda do mundo exterior para sensibilizar células que
luz & c e n a
trancado em um lugar sem janelas, sem portas, sem luz,
Foi assim com Arquimedes, Madalena, Copérnico ou
Se você está lendo estas palavras agora é porque
54
minado objeto se encontra lá fora”. O texto que está
que, depois de incidir em determinado objeto (o espaço, uma superfície), direcionou-se para o interior dos olhos
biologicamente adaptados para receber este estímulo. Os olhos possuem células em sua composição. Algu-
mas dessas células que capturam a luz também são
luz & cena
55
objetos. São estruturas vivas, células microscópicas,
ao longo do tempo, serão vários grupos específicos
mulo luminoso. Tais respostas biológicas envolvem
em geração, “a coisa invisível” – as ideias produzidas
projetadas para responder biologicamente ao estíum exército de outras microestruturas químicas, que viajam em fluxo, feito um pacote veloz, para levar
mensagens ao cérebro de que certa quantidade de luz entrou nos olhos, de forma a traduzir o mundo exterior
pela quantidade de objetos refletidos para o interior dos olhos na carona da luz. Tal sensação biológica tem seu auge mecânico e bioquímico na retina quando se dá o contato entre luz e estruturas biológicas.
a consolidar, pelo método da repetição, de geração e defendidas pelo grupo.
Resultado: surge a tradição cultural, isto é, a repetição
metódica, e até institucionalizada, das ideias, das crenças, dos conceitos, dos valores que cada cultura criou, adotou e defendeu por meio de sua linguagem particular, dos símbolos criados para lhe representar. Se
a luz que adentra o olho humano atravessa a retina com mensagens químicas do mundo exterior que chegam
A retina é uma espécie de cortina localizada no fundo
ao cérebro, a linguagem de cada cultura encontra na
depositam os eventos sensoriais que se desdobram
çário de conceitos. Carl Jung dizia: “nascemos originais
pressa na retina será decodificada quimicamente por
humanos haja uma coincidência biológica (sensorial), a
nosso ciclorama, cujas ramificações se comunicam em
-me com quem andas e te direi quem és”.
do globo ocular. Uma espécie de ciclorama no qual se
mente humana o ambiente ideal para instalar seu ber-
no espaço cênico – o interior do olho. A imagem im-
e morremos cópia”. Ou seja, ainda que entre os seres
uma rede de tentáculos dos neurônios situada atrás do
cultura onde cada um nasce faz valer a máxima “diga-
rede com outras do cérebro, que receberá a “imagem
Resultado: somos vítimas culturais. Isso não é uma
química” correspondente à “imagem externa” que a luz levou para o interior dos olhos.
queixa, apenas uma constatação. Afinal, o que
explicaria a quantidade de instituições nas cidades
(medievais ou atuais), cada qual em seu esforço para
Sociodisponibilidade
a produção, a circulação e a função dos conceitos
onde o dono do olho nasceu e se desenvolveu. Por
ou um menino na Sumatra pensamos sobre “luz”
olhos de um brasileiro que olha para o céu noturno es-
é, da disponibilização de ideias que se faz circular no
de “céu azul”. A mesma sensação visual (biológica) para
conceitos, palavras que classificam a experiência
“ciel bleu” para os franceses. Agora, imaginemos quais
Uma luz que rasga o céu noturno poderá significar,
exemplo, a sensação visual (biológica) que entra nos
em determinado grupo. Assim, o que você ou eu, (“light”) pode depender da sociodisponibilidade, isto
trelado, vai receber o nome dado pela cultura brasileira
grupo do qual se está inserido, vitimados de ideias,
o inglês será chamada pelos ingleses de “blue sky”, ou
desde a infância, ou na vida profissional.
seriam os nomes atribuídos para “céu azul” em cada tribo africana ou tribos indígenas das Américas antes das invasões européias, ou que nome seria no vocabulário de
grunhidos e gestos de nossos ancestrais das cavernas. Quando uma criança nasce e cresce, aqui ou acolá,
também vê “a cor azul”, “the blue color”, “la couleur
bleue”. Conclusão: os nomes são artificiais, são invenções culturais daqui e dali para comunicar ou classificar fenômenos naturais (biológicos). Os even-
tos biológicos, tais quais ocorrem com a luz e a visão
de cada ser humano, independem da cultura e seu berçário de conceitos. Contudo, cada cultura vai dar
nomes não apenas a situações visíveis (sensoriais),
para alguém de uma época, “a ira de deus”, mas outra
pessoa, em outro lugar, ou em outra época, poderá dizer que “é uma descarga elétrica com temperatura
de 27.000 graus centígrados”. Você pode ter aprendido em sua cultura que “um raio é um tipo de luz” e que “a
luz tem uma velocidade”. Naturalmente, a mesma cul-
tura precisa fornecer a você o conceito de velocidade.
Quando o dia amanhece, depois da tempestade noturna, você percebe, ao abrir a janela, um efeito colorido
no céu, que, na cultura brasileira, se chama “arco-íris” (“raibown” em inglês; “arc en ciel”, em francês), mas
em qualquer cultura são cores que penetram nos olhos biológicos devido à sua biodisponibilidade.
mas, também, a situações invisíveis (ideológicas): “os
Tendo em vista que já aprendemos os nomes das cores
como heranças dentro de um grupo específico. E,
luz, sua mente curiosa quer saber: “como e por que se
valores”, “os conceitos”, “as crenças” transmitidas
luz & c e n a
Acho que podemos chamar isso de fato sociológico:
Em diferentes lugares do planeta, um mesmo fenômeno biológico recebe diferentes nomes, conforme a cultura
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representar a seu modo o conjunto de conceitos?
de um arco-íris e já ouvimos falar da velocidade da
forma um arco-íris?”; “por que são várias cores e não
nei que esse texto em suas mãos se encontra visível
em 1311, também teve a mesma curiosidade que você
de” como forma de compreensão do mundo através
apenas duas ou três”? Thierry de Freiberg, que morreu e resolveu buscar explicações sobre o arco-íris. Passo a palavra ao francês Bernard Maitte, na página 32 de
seu livro, Lumière, editado em 1981, na França, a nos contar o que Freiberg descobriu.
por causa da luz, propus a ideia de “biodisponibilida-
dos sentidos biológicos (de humanos e animais). Foi pensando nos cinco sentidos que elaborei os cinco
artigos publicados aqui nas edições anteriores. A partir desse ponto, venho propor a ideia de “socio-
As cores de um arco-íris são resultantes da mudança
disponibilidade” como forma de compreensão do
e outra na água. A atmosfera possui incontáveis gotas
diferenças de valores e a produção de conceitos e
viaja no ar penetra no interior da gota e do interior da
em relação à outra.
da velocidade da luz. A luz tem uma velocidade no ar
mundo pelo método da herança cultural, no qual as
de água suspensas no ar após uma chuva. A luz que
significados vão diferenciar e caracterizar uma cultura
gota retorna ao ar. Ao atravessar de um meio ao outro a
É curioso que, em qualquer tempo e lugar, as cinco
luz tem sua velocidade alterada. Você e eu sabemos a diferença entre correr ao ar livre e correr dentro do mar. Thierry de Freiberg chamou de “refração” essa mudan-
ça na velocidade da luz quando trafega por diferentes meios. Medir a velocidade da luz deve ter requerido a
composição combinada de conceitos, produzidos ou
herdados ou disponibilizados no âmbito da cultura. Aliás, qual o conceito de velocidade?
Que elementos materiais, ou palavras, são necessários para se construir o conceito (ou ideia) de velocidade?
A ideia de velocidade envolve o tempo que passa?
Será que envolve o espaço percorrido? No momento em que se decidiu que o tempo de um dia duraria 24h, parece ter sido possível se criar um método que
sensações permaneçam, já que nossos corpos as têm por milhões de anos a experimentar essa “arca
de Nóe” que é nosso planeta, que flutua no espaço
sideral e abriga nossos corpos biogenuínos, bioseme-
lhantes, biocorrespondentes, bioequiparáveis. Mas,
se cada corpo é capaz de reconhecer a diferença
entre quente e gelado, doce e salgado, escuro e iluminado, a maneira de se interpretar e codificar cada
experiência vai resultar na produção de significados
e valores que serão transmitidos pelos códigos das linguagens que diferenciam um povo de outro, uma
geração de outra, um grupo profissional de outro. E,
dentro de cada grupo profissional, haverá diferenças que vão particularizar e representar o estilo de cada
permitisse medir o tempo de determinado evento. Mas
um, o método de cada um, a história de cada um, o
Enquanto pensamos sobre quem decidiu sobre tantas
É sobre essa riqueza que se origina na variedade das
quem decidiu o tamanho do tempo, como e por quê?
coisas que, por herança cultural, adotamos quando
nos comunicamos com nossos pares culturais, ou quando elogiamos ou estranhamos o que foi adotado
em culturas diferentes, passo a palavra outra vez ao Bernard Maitte, que, na página 29 do mesmo livro,
nos informa que, para Aristóteles, a observação da vida era a chave da compreensão do mundo.
sonho de cada um.
inúmeras sociodisponibilidades que eu gostaria de tratar nos próximos artigos. Gostaria de falar sobre
a luz no centro da experiência humana. Já escolhi
seu nome. Será “o significado da luz”. Se você quer
compartilhar a sua, se quer dizer o que pensa sobre o significado da luz em sua mente, em sua cultura, em sua trajetória, isso faz parte da memória, faz parte da
vida profissional, faz parte da luz e cena. Meu e-mail
A luz no centro da experiência humana
é: diretoria@jamiletormann.com
Em nossa conversa, que teve início quando mencio-
Abraços e até lá.
Farlley Derze é professor do Instituto de Pós-Graduação, diretor de Gestão e Pesquisa da empresa Jamile Tormann Iluminação Cênica e Arquitetural e membro do Núcleo de Estética e Semiótica da UnB. Doutorando em Arquitetura. E-mail: diretoria@jamiletormann.com
luz & cena
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g al e ria
luiz lima
Justiça seja feita A
primeira e única passagem do duo eletrônico francês, Justice, pelo rio de Janeiro, em apresentação realizada, há alguns anos, no Circo Voador, tradicional casa de shows da cidade, me gerou belas imagens. na verdade, tudo o que sabia deles era que fariam um show de música eletrônica e suja com muitos ruídos e características herdadas do rock’ n roll. E, por mais que conhecesse seu repertório, a possibilidade da criação de imagens durante a apresentação me deixou muito atento. Desta vez, fotografei em todos os espaços e campos do local, tentando captar a maior variação possível da energia entre o palco e o público. A luz e, principalmente, o cenário eram meu interesse. O cenário tinha, basicamente, caixas de som típicas das bandas de rock e uma grande cruz, usada como símbolo da dupla. A foto que você tem nesta página contém alguns dos elementos citados. nela, destaca-se, ainda, o público “recebendo” o som com as mãos erguidas ao céu, diante da cruz, como numa santificação do próprio Justice. Para mim, este foi um grande momento de uma situação inusitada. tecnicamente falando, na hora do click – feito com uma Sony F828 em 15’ ou 20’ de velocidade de obturador e white balance para luz do dia; e uma lente 28-35mm com diafragma em 2.8 –, estive firme, para que a imagem não tremesse. E, aí, está uma grande foto!
Luiz Lima é fotógrafo atuante na área musical e instrutor de fotografia na Escola de Arte e tecnologia Spectaculu, no rio de Janeiro.