UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES | DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PARQUE JEQUITIBÁ: CRIANDO POSSIBILIDADES DE VIVÊNCIAS COM A NATUREZA NO CENTRO URBANO DE VILA VELHA
HELENA DE ANDRADE BORGES VIEIRA
VITÓRIA | 2019
HELENA DE ANDRADE BORGES VIEIRA
PARQUE JEQUITIBÁ: CRIANDO POSSIBILIDADES DE VIVÊNCIAS COM A NATUREZA NO CENTRO URBANO DE VILA VELHA
Projeto de Graduação apresentado à Universidade Federal do Espírito Santo como requisito obrigatório para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo sob a orientação do Professor Doutor Homero Marconi Penteado.
Aprovado em: 13/12/2019 Comissão examinadora:
________________________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Homero Marconi Penteado ________________________________________________________ Coorientadora: Profa. Dra. Flávia Ribeiro Botechia ________________________________________________________ Avaliador: Profa. Dra. Larissa Leticia Andara Ramos Aprovada com nota final: 10,0
"Na antiguidade, os primeiros arquitetos amassavam a terra com os pÊs, para preparar os tijolos. Arquitetos descalços pisando a terra, uma imagem distante de nossa realidade que se afasta cada vez mais da natureza." Johan Van Lengen
AGRADECIMENTOS
Agradecer significa lembrar, reviver, reunir memórias, pessoas, experiências... E
Viola. À Luiza Coimbra, Flora, João Pedro e David que, em momentos específicos,
são tantas pessoas, tantos momentos, que ao buscar nomear é possível então
tiveram sensibilidade para me ouvir e dialogar.
perceber quantos elos construímos enquanto estudamos, trabalhamos, nos divertimos!!! Por isso, quero agradecer: À minha mãe, Nilceia, por seu infinito apoio, dedicação e por mais que nunca ser a pessoa que me incentiva a perseverar. Ao meu pai, Winder, pelo amparo e compreensão em todos os momentos dessa jornada. À minha irmã, Jhulya, pelo companheirismo de todas as horas e por ser minha melhor amiga. À minha prima, Thaís, colega de profissão, pela troca de experiências e conhecimentos. Aos meus colegas de curso, que de uma forma ou outra, acompanharam comigo essa trajetória. Em especial à Amanda, Ana Catarina, Isabella, Ludmila, Maida e Natalia, pelo convívio e pelas aprendizagens durante a graduação... Sem dúvida vocês também fizeram essa jornada mais leve e divertida. À Victória, que nesse ano compartilhou ideias, alegrias, sucessos e também
À Isa, companheira da Universidade do Algarve, que mesmo de tão longe, torce por mim como se estivesse a meu lado. A todos os Professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Ufes que, de diferentes maneiras, deixaram suas marcas em minha formação acadêmica. Às arquitetas Renata e Paola e à engenheira Tatiana que, ao supervisionar meus estágios, contribuíram significativamente com a minha formação profissional. À Professora Dra. Larissa Leticia Andara Ramos, pela participação como avaliadora do trabalho e pelas valiosas sugestões. À Professora Dra. Flávia Ribeiro Botechia, pela análise do presente trabalho e por suas importantes contribuições.
desafios dessa etapa de elaboração do projeto de graduação. À Luiza Zaché,
Ao professor Dr. Homero Penteado, orientador deste trabalho, pelos aprendizados
por ser uma parceira incrível de projeto e estar sempre disposta a me ajudar. À
durante suas aulas que me inspiraram a optar pela área de paisagismo e pelas
Vivian, minha madrinha de curso, obrigada pelo apoio desde o primeiro período.
indicações e orientações a este projeto.
À Caroline e Daniela, pela presença constante nas mais variadas situações e por
E, por fim, a Deus, por ser fonte de esperança e me permitir acreditar que sempre
acompanharem de perto meu percurso. Aos meus amigos, pela torcida e pelas
podemos dar mais um passo nos caminhos que trilhamos e que são muitos os
mensagens de incentivo: Bruna, Jacob, Marcela, Karin, Natalia, Daniel, João
caminhos possíveis.
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – A cobertura florestal em Vila Velha
15
Figura 20 – Diagrama de outros condicionantes
31
Figura 2 – Mapa do Parque Burle Marx
21
Figura 21 – Diagrama de uso do solo
31
Figura 3 – Oficina de jardinagem para crianças na horta comunitária
22
Figura 22 – Diagrama de zoneamento
32
Figura 4 – Obra O descanso da sala
22
Figura 23 – Corte esquemático zoneamento
32
Figura 5 – Feira orgânica no Parque
22
Figura 24 – Diagrama esquemático do sistema de captação de água de chuva
35
Figura 6 – Mapa Mira Flores
23
Figura 25 – Diagrama de proposição de malha cicloviária e de ponto de ônibus
35
Figura 7 – Horta comunitária do CEA
23
Figura 26 – Diagrama conceitual
37
Figura 8 – Área do pomar e lagoa do CEA
23
Figura 27 – Imagem representativa do conceito
37
Figura 9 – O mapa do Parque Cumberland
24
Figura 28 – Partido
38
Figura 10 – O designer do Parque Cumberland
24
Figura 29 – Implantação
39
Figura 11 – Utilidades da forma do terreno
24
Figura 30 – Corte e implantação
40
Figura 12 – Paredes escaláveis do Parque Cumberland
25
Figura 31 – Diagrama isométrico do Parque
41
Figura 13 – Área molhada com jatos de água
25
Figura 32 – Planta entrada
42
Figura 14 – Localização do terreno
27
Figura 33 – Corte entrada
43
Figura 15 – Mapa de gabarito a partir do zoneamento urbano de Vila Velha
28
Figura 34 – Vista externa da entrada do Parque
44
Figura 16 – Diagrama de ciclovias e pontos de ônibus
29
Figura 35 – Vista corredor verde
44
Figura 17 – Diagrama de hipsometria
30
Figura 36 – Planta estacionamento
45
Figura 18 – Diagrama de declive
30
Figura 37 – Planta administração e apoio
46
Figura 19 – Diagrama de Vegetação
31
Figura 38 – Vista Jardim Sensorial
47
Figura 39 – Planta Jardim Sensorial
47
Figura 58 - Área de recreação
59
Figura 40 – Corte Jardim Sensorial
48
Figura 59 - Vista área de eventos
59
Figura 41 – Planta biblioteca aberta, espaço multiuso e viveiro de mudas
49
Figura 60 - Área molhada.
59
Figura 42 – Vista interna biblioteca aberta
50
Figura 61 – Imagem de referência da horta
60
Figura 43 – Elevação biblioteca aberta
50
Figura 62 – Planta horta
60
Figura 44 – Vista biblioteca aberta e espaço multiuso
50
Figura 63 – Planta pomar
61
Figura 45 – Vista interna do bromeliário e horquidário com borboletário
51
Figura 64 – Vista do bosque
62
Figura 46 – Planta bromeliário e horquidário com borboletário
51
Figura 65 – Vista da trilha
62
Figura 47 – Vista externa do bromeliário e horquidário com borboletário
52
Figura 66 – Vista do mirante
63
Figura 48 – Corte bromeliário e horquidário com borboletário
52
Figura 67 – Imagem de referência da proposta do mirante
63
Figura 49 – Planta auditório
53
Figura 68 – Vista dos módulos de descanso
64
Figura 50 – Corte auditório
53
Figura 69 – Plantas de cortes módulos
64
Figura 51 – Imagem de referência da proposta do anfiteatro
54
Figura 52 – Planta anfiteatro
54
Figura 53 – Corte anfiteatro
55
LISTA DE TABELAS
Figura 54 – Planta área de lazer e eventos
56
Tabela 1 - Análise das zonas do terreno
33
Figura 55 – Corte área de eventos
57
Tabela 2 - Programa e pré-dimensionamento
36
Figura 56 – Corte área de lazer
58
Figura 57 - Passeio área de lazer
59
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. REFERENCIAL TEÓRICO
10
13
2.1 RELEVÂNCIA HISTÓRICA E CULTURAL DA MATA ATLÂNTICA: OS FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS
14
2.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
16
2.3 OS PARQUES URBANOS E A COMUNIDADE
17
3. REFERENCIAL PROJETUAL
19
3.1 PARQUE BURLE MARX
21
3.2 CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL MIRAFLORES
23
3.3 PARQUE CUMBERLAND
24
4. INVENTÁRIO
26
4.1 LOCALIZAÇÃO
27
4.2 CONDICIONANTES LEGAIS
28
4.3 CONDICIONANTES FÍSICOS E BIOLÓGICOS
29
4.4 ANÁLISE
32
5. O PROJETO
34
5.1 DIRETRIZES
35
5.2 PROGRAMA
36
5.3 CONCEITO E PARTIDO
37
5.4 IMPLANTAÇÃO
38
5.5 O PARQUE
41
5.5.1 Entrada
42
5.5.2 Estacionamento
45
5.5.3 Área Administrativa/Apoio
46
5.5.4 Jardim Sensorial
47
5.5.5 Biblioteca Aberta, Espaço Multiuso E Viveiro de mudas
49
5.5.6 Bromeliário e orquidário com borboletário
51
5.5.7 Auditório
53
5.5.8 Anfiteatro
54
5.5.9 Espaço de lazer e eventos
56
5.5.10 Horta urbana
60
5.5.11 Pomar
61
5.5.12 Bosque dos pássaros
62
5.5.13 Trilha pela reserva
63
5.5.14 Mirante
64
5.5.15 Módulos
65
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
65
REFERÊNCIAS
67
APÊNDICES
70
01 introdução 10
introdução
1. INTRODUÇÃO O crescimento das cidades, a gradativa exploração de recursos naturais e
É importante assinalar que o único parque urbano existente em Vila Velha foi
a degradação da biodiversidade em todo o planeta ameaça o bem-estar da
inaugurado em maio de 2016 e está localizado no bairro Cocal, onde a circulação
humanidade e faz com que as temáticas ambientais estejam em debate e façam
de pessoas ocorre principalmente pelos moradores locais, com poucas opções de
parte também da agenda de políticas públicas em diferentes países. Por isso, a
acesso por outros habitantes, devido aos problemas do sistema de mobilidade
busca por preservar, manter e criar áreas verdes tem se intensificado nas últimas
urbana do município (ônibus e ciclovias). Nesse sentido, a proposta de inserção
décadas.
de um novo parque urbano em outra localização, no caso o centro de Vila Velha,
Do ponto de vista da atuação do arquiteto paisagista, se fortalece então o desenvolvimento de ações no sentido de “[...] melhorar a aplicação de princípios
expande as possibilidades de espaços de lazer para a população por atender a outros moradores.
de sustentabilidade, que se refletem, na maioria dos casos, na busca de ampliação
O objetivo geral deste projeto é desenvolver um estudo preliminar de um parque
das áreas verdes, sejam na forma de parques, praças, arborização de vias ou
urbano em um terreno localizado no centro urbano do município de Vila Velha
mesmo incentivo aos jardins particulares” (PENTEADO; ALVAREZ, 2007, p. 57).
com vistas a averiguar a possibilidade de construção de um parque urbano em
Considerando a característica multidisciplinar da arquitetura paisagística, essas
que haja interação da comunidade com o meio ambiente de maneira efetiva,
ações exigem do profissional, além do domínio de conceitos e práticas específicas
ou seja, socialmente inclusiva e ecologicamente responsável. Nesse sentido, a
de sua área, o conhecimento dos processos históricos, ambientais, socioculturais
proposta é projetar uma área em que a população possa se integrar à natureza,
e econômicos que compõem o espaço a ser estudado/transformado.
e que tenha um caráter educacional e formativo de consciência ecológica, isto é,
Situado nesse contexto, o projeto, intitulado “Parque Jequitibá: criando possibilidades de vivências com a natureza no centro urbano de Vila Velha”, se
um parque que, além do lazer e da recreação, promova também a conservação de espécies de flora e fauna e que contribua para conscientização da comunidade.
caracteriza como um estudo preliminar de paisagismo em um terreno localizado
O terreno escolhido para o estudo caracteriza-se como um fragmento de
no centro urbano do referido município. A opção por esta árvore para nomear o
vegetação de Mata Atlântica nativa em estágio inicial de regeneração, localizado
parque, deve-se ao fato de que o Jequitibá Rosa é por lei estadual considerada a
no “coração” da cidade de Vila Velha. A proposta de criação do parque Jequitibá
árvore símbolo do Espírito Santo (lei estadual n° 6.146/2000, de 08 de fevereiro
visa promover um equilíbrio entre as formas de uso desse espaço e a conservação
de 2000).
de seus recursos naturais, contribuindo para a preservação do meio ambiente e
11
introdução
a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Com tais premissas, a arquitetura
uso do solo e outros condicionantes. Em seguida, foi desenvolvido um programa
paisagística assume o papel de contribuir para possíveis soluções frente às
preliminar e uma análise do inventário, que resultou em um zoneamento prévio
problemáticas que envolvem as questões socioambientais. Ciente da necessidade
das funções do parque.
de estabelecer um percurso para o alcance desse objetivo apresenta-se a seguir a metodologia do trabalho.
Ainda como parte da metodologia, foram definidas, com base no estudo de
Para o desenvolvimento deste projeto foi realizada, inicialmente, uma
como o conceito e o partido arquitetônico. A partir dessas etapas prospectivas
pesquisa bibliográfica, com a leitura de livros, artigos, dissertações e teses
foi desenvolvido o projeto de paisagismo para o local. Nesse estágio, o software
que se relacionavam com o tema em questão. Para a localização de teses e
AutoCad foi utilizado para representação gráfica das plantas e cortes, o sketchUp
dissertações, a consulta foi realizada no portal de periódicos da Coordenação de
para perspectivas, o lumion para renderizar e o photoshop para humanização
Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes), através dos mecanismos
das peças.
de busca da própria plataforma. Outras obras também foram consultadas, a partir de referenciais citados nas teses e dissertações localizadas, assim como
Na organização desta proposta, o texto foi estruturado em quatro capítulos,
por meio das indicações do professor orientador.
além dessa introdução e das considerações finais. No primeiro deles, que é o
Além disso, foram estudados precedentes projetuais para a construção de um
que fundamentam o trabalho. Em seguida, é apresentado o referencial projetual,
repertório arquitetônico paisagístico. Considerando que o objetivo do trabalho
com a apresentação de três projetos que, dentre outros estudados, mais se
é a criação de um parque urbano voltado para a conscientização ecológica,
aproximaram dos conceitos e objetivos do projeto de parque proposto. No terceiro
os projetos considerados no estudo de precedentes foram os que: a) possuem
capítulo, destaca-se o inventário, acompanhado da justificativa de escolha do
proposta de educação ambiental; b) têm características de conservação
terreno, do levantamento dos condicionantes legais, físicos e biológicos e de uma
de recursos naturais, contemplação, recreação e educação ambiental; e c)
análise desses dados. O quarto, por sua vez, apresenta o projeto, explicando suas
inspiraram tipologicamente a estética do parque urbano projetado.
diretrizes, o programa, o conceito e partido, a implantação e a descrição dos
No que se refere diretamente a este projeto de paisagismo, como etapa inicial foi realizado o reconhecimento do local de intervenção, que resultou num inventário constituído por levantamento de informações sobre o relevo, a vegetação, o
12
precedentes projetuais e da literatura selecionada, as diretrizes de projeto, bem
referencial teórico, são abordados os principais conceitos e referenciais teóricos
quinze espaços do Parque. Por fim, apresentam-se as considerações finais sobre o projeto, que abarcam suas limitações e possibilidades de implementação.
02 referencial teรณrico 13
referencial teórico
2. REFERENCIAL TEÓRICO As bases teóricas que sustentam mais diretamente a proposta deste projeto são: i) a compreensão da relevância histórica e cultural da Mata Atlântica no Espírito Santo (AMORIM, 1984; SANTIN, 1999; SIMONELLI, 2007; MENDES et al., 2014); ii) o reconhecimento da necessidade de haver um espaço na cidade para vivências da educação ambiental como forma de conscientização ecológica (MARANDOLA JR.; FERREIRA, 2002; MACEDO; SAKATA, 2002; JACOBI, 2005); e, iii) o entendimento de que um parque urbano pode contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas da comunidade (WHYTE, 1980; SAKATA, 2018).
2.1 RELEVÂNCIA HISTÓRICA E CULTURAL DA MATA ATLÂNTICA: OS FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS
No conjunto da cobertura florestal mundial, a Mata Atlântica é considerada um
Considerando os estudos de Amorim (1984) a partir de uma perspectiva
dos mais ricos e ameaçados ecossistemas do mundo. De acordo com Mendes et al.,
geológica, o território do Espírito Santo é composto pela zona dos tabuleiros e
(2014), esse bioma está entre as prioridades para conservação da biodiversidade
pela zona serrana. Esse autor informa que a zona dos tabuleiros faz parte do
devido a seu excepcional nível de diversidade de espécies e sua vulnerabilidade
terraço litorâneo, que é a área onde se localiza o terreno escolhido por este
à constantes ameaças. Com uma área de mais de 46 mil km2, o Espírito Santo
projeto. Na definição de Simonelli (2007, p. 22), “A Floresta de Tabuleiro não é
já foi quase totalmente recoberto pela Mata Atlântica. Entretanto, no contexto
ocupada somente por formações florestais, sendo sim formada por um mosaico
de diferentes ameaças, o estado capixaba, desde o período de sua colonização
constituído por diversos tipos vegetacionais”. Reconhecer a importância dessa
pelos portugueses, apresenta uma história de devastação, na maioria dos casos
diversidade é primordial para entender o que a perda desse bioma tão rico de
em nome do desenvolvimento econômico (SILVA, 1986 apud Simonelli, 2007). O
espécies significa tanto ecológica quanto cultural e socialmente.
autor assinala também que o desaparecimento de inúmeras espécies vegetais da Mata Atlântica é uma trágica realidade, uma situação que está presente em todo o território brasileiro já há muito tempo.
14
referencial teórico
De acordo com um levantamento da cobertura florestal no Espírito Santo
Além disso, essa área de mata nativa e de macega está inteiramente envolvida
desenvolvido em 2018 pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos
por edificações. Desse modo, esse fragmento de Mata Atlântica em meio urbano
Hídricos (SEAMA), é possível observar (Figura 1), que a área escolhida para
pode ser entendido como um fragmento florestal urbano, conceito que, de acordo
o projeto consiste em parte de Mata Atlântica nativa em estágio inicial de
com Santin (1999), define os remanescentes de vegetação nativa circundadas por
regeneração e outra parte em macega[1].
uma matriz urbana. Segundo esse mesmo autor, é de grande importância usar esses fragmentos como espaços de lazer para a comunidade, a exemplo dos parques, para reduzir ações como incêndios, extração de madeira, exploração agrícola, entre outros. Santin (1999) defende também que “É importante a preservação da biodiversidade contida nos fragmentos que ainda sobrevivem, sem menosprezar ou subestimar o valor de nenhum deles por menores que sejam e por mais degradados que se encontrem.” Portanto, é fundamental que sejam desenvolvidas ações de manejo por profissionais específicos da área de Ciências Biológicas para que, considerando os resultados de análise desses locais, essas áreas se tornem efetivamente ecologicamente funcionais e responsáveis. Diante disso, mostra-se importante a preservação e valorização desse fragmento de Mata Atlântica, não só por seu caráter ecológico, mas também por constituir parte valiosa da história capixaba, assumindo um papel de patrimônio cultural para a comunidade. Para isso, todavia, faz-se necessária uma ação pedagógica de conscientização através de processos educativos e formativos sobre o meio ambiente.
Figura 1 - A cobertura florestal em Vila Velha Fonte: Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) (2018, p. 184).
Erva daninha, infestante das searas. Campo natural cujo capim muito amadurecido está grosso e fibroso. A macega-brava é uma erva da família das Poáceas, também chamada de cana-brava (Erianthus saccharoides) (MACEGA, acesso em 10 nov. 2019). [1]
15
referencial teórico
2.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA Na conjuntura do crescimento populacional e da expansão territorial, as
O documento ainda assinala que um dos principais objetivos da educação
transformações cada vez mais aceleradas na sociedade alteram o meio
ambiental “[...] consiste em o ser humano compreender a complexa natureza
ambiente e seu equilíbrio natural. Por isso, diversas espécies vegetais e animais
do meio ambiente, resultante da interação de seus aspectos biológicos, físicos,
estão constantemente ameaçadas e expostas a perigos que muitas vezes são
sociais e culturais” (UNESCO, 1997, p. 31). Ou seja, a educação ambiental precisa
irreversíveis. À medida que esses problemas ambientais se agravam e começam
ser considerada em uma visão ampliada, interligando diferentes aspectos que
a afetar a qualidade de vida da população, os movimentos ambientalistas e as
promovam para os sujeitos e para a sociedade de forma geral, “[...] os meios
iniciativas de conscientização ecológica se multiplicam.
de interpretação da interdependência desses diversos elementos no espaço e no
Diante desse quadro, faz-se necessário destacar que diferentes mobilizações foram realizadas ao longo da história para debater sobre a Educação Ambiental. Uma delas, que representa um marco nessa luta, foi a 1ª Conferência
tempo, a fim de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos recursos do universo para atender às necessidades da humanidade” (UNESCO, 1997, p. 31).
Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada de 14 a 26 de outubro
No contexto brasileiro, tomando por base as normativas legais, o Art. 225 da
de 1977, em Tbilisi, capital da Geórgia, na ex-União Soviética (URSS), e organizada
Constituição Federal assegura, como parte de um processo educativo mais amplo,
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
(UNESCO), em cooperação com o Programa das Nações Unidas sobre Meio
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” no propósito de que
Ambiente (PNUMA). Nessa conferência, foi elaborado um documento com
haja o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do
diretrizes para a organização e o desenvolvimento da educação ambiental no
meio ambiente (BRASIL, 1988, Art. 225). Também segundo a Política Nacional de
mundo. De acordo com essas diretrizes,
Educação Ambiental (BRASIL, 1999, art. 1º), a educação ambiental compreende os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
A educação ambiental é parte integrante do processo educativo.
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
Deve girar em torno de problemas concretos e ter um caráter
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
interdisciplinar. Sua tendência é reforçar o sentido dos valores,
qualidade de vida e sua sustentabilidade. Como parte de um processo educativo
contribuir para o bem estar geral e preocupar-se com a sobrevivência
mais amplo, o Art. 13 dessa mesma normativa esclarece que a educação
da espécie humana. Deve, ainda, aproveitar o essencial da força da
ambiental não-formal está relacionada às ações e práticas educativas voltadas à
iniciativa dos alunos e de seu empenho na ação, bem como inspirar-
sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização
se nas preocupações tanto imediatas quanto futuras (UNESCO, 1997,
e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.
p. 27).
16
referencial teórico
Como pode ser observada na legislação vigente, a concepção de educação
órgãos e departamentos denominados “ambientais” e “ecológicos”, que são
ambiental está relacionada à transformação dos sujeitos em articulação com
responsáveis pelo gerenciamento desses parques. Nesse contexto, são atribuídas
as mudanças coletivas. Nesse contexto, são as ações de educação ambiental
novas atividades e novos objetivos para os parques, como a conservação de
que podem despertar nas pessoas a consciência ecológica, entendida como o
recursos naturais, reaproveitamento da vegetação nativa como elementos de
conhecimento e a compreensão de cada pessoa acerca de sua responsabilidade
composição da paisagem e inserção de práticas ligadas à educação ambiental
em relação à preservação da natureza como um compromisso ético e numa
(MACEDO; SAKATA, 2002).
visão de que a natureza e o ser humano não estão dissociados (MARANDOLA JR.; FERREIRA, 2002, p. 290).
Portanto, diante da possibilidade de integrar a preservação ambiental em
Nessa perspectiva, os parques urbanos podem representar um espaço de
assumem lugar estratégico, pois são espaços ideais para essas ações educativas
práticas e vivências que fomentam discussões e reflexões importantes na
que precisam levar em conta a dinâmica e os aspectos culturais do local em que
formação da consciência ecológica. Tal formação deve promover a participação
se inserem.
e o envolvimento dos cidadãos de maneira que estes “[...] proponham uma nova cultura de direitos baseada na motivação e na co-participação na gestão do
processos de formação da consciência ecológica das pessoas, os parques
2.3 OS PARQUES URBANOS E A COMUNIDADE
meio ambiente, nas suas diversas dinâmicas (JACOBI, 2005, p. 241). Situando mais diretamente a proposta deste trabalho, cabe ressaltar que, de No campo da arquitetura paisagística, essa preocupação com as questões
acordo com Macedo e Sakata (2002, p. 14) o parque urbano é “todo espaço de
ambientais de preservação do meio ambiente pode ser observada em diferentes
uso público destinado à recreação de massa, qualquer que seja o seu tipo [...]”.
aspectos, uma vez que, como afirmam Macedo e Sakata (2002, p. 44-45):
Em um estudo mais atual, Sakata (2018, p. 44) também assinala que “parques são lugares para perceber o espaço aberto, o céu, o sol e a sombra, o calor e o
O pensamento ecológico está presente também na obra de Burle Marx, de Rosa Kliass, Jamil Kfouri, Fernando Chacel, Miranda Magnoli e muitos outros que, influenciados pelo forte ideário nacionalista
frio, o vento e a chuva”, onde os pedestres devem ser privilegiados ao invés de carros. Além disso, ela acredita que parques são lugares para descanso, longe do ambiente de trabalho, onde se possa “revigorar a mente e corpo”.
pós-anos 40, utilizam a vegetação nativa e tropical como elementochave de seus projetos de plantio, conseguindo avançar, de um
Em direção a essa mesma perspectiva, há estudos que, baseados em observações
modo expressivo, nas formas de associação dessa vegetação.
sociais, oferecem recomendações para a construção de um espaço público
Os autores ainda assinalam que no Brasil, a partir do século XX, para atender as necessidades ambientais e a qualidade de vida da população, os parques ganham destaque e assumem novas funções. Assim, surgem desde então
[2]
atrativo e bem sucedido; neste caso, um parque urbano ativo, inclusivo e múltiplo. Sobre isso Whyte (1980, p. 19) afirma que “O que atrai as pessoas, ao que parece, são outras pessoas”. Em seu livro The Social Life of Small Urban Spaces, o autor revela alguns critérios a serem observados para a obtenção do êxito de um
Todas as citações diretas referentes a este autor foram traduzidas do inglês pela autora deste trabalho.
17
referencial teórico
espaço público. Esses critérios priorizam: •
Espaços “sentáveis” que sejam socialmente confortáveis, ou seja, onde a
pessoa possa escolher se prefere sentar de frente, de costas, de lado, no sol ou na sombra, em grupo ou sozinha. Dessa forma, deve haver diferentes tipos de assentos: com e sem encosto, em canteiros e em degraus, móveis e fixos, para os usuários poderem escolher;
Na busca por compreender como se processam essas questões, é relevante dialogar com os estudos de Maslow (1968) que são citados por Carmona et al (2003) e apresentam uma hierarquia de cinco estágios de necessidades humanas básicas. A partir da leitura desse estudo, destacam-se as necessidades que podem ser incorporadas ao projeto em questão. Em seu conjunto, a teoria de Maslow indica as seguintes necessidades, nesta ordem:
•
Disponibilidade de locais expostos ao sol e a sombra, e também ao vento;
•
•
Existência de árvores, uma vez que além de contribuir climaticamente,
e sonoramente);
Necessidades fisiológicas: por conforto físico (por exemplo, termicamente
também traz a sensação de proteção aos usuários do parque;
•
Necessidades de segurança: para se sentir seguro;
•
Acesso à água. De acordo com Whyte (1980, p. 49), é importante haver
•
Necessidades sociais: de pertencimento a uma comunidade, por exemplo;
fontes, cascatas ou espelhos d’água em um espaço público, mas ele adverte: “a
•
Necessidades de estima: sentir-se valorizado pelos outros;
água deve ser acessível, tocável e esguichável”;
•
Necessidades de autorrealização: busca por conhecimento, experiências
•
artísticas.
Espaços dispostos com cafés, carrinhos de comida de rua ou qualquer local
para alimentação. “Se você quiser promover um lugar ativo, coloque comida.” (WHYTE, 1980, p. 50);
De acordo com o autor, à medida que as necessidades básicas, que geram
•
Conexão com a rua: deve haver uma boa conexão entre a rua e o espaço
qualidade de vida, são preenchidas, os desejos para aspirações mais elevadas
público, sem grandes diferenças de nível ou grades entre eles, pois “uma praça
são ampliados. Entende-se, então, que para a necessidade de autorrealização
começa na esquina da rua” (WHYTE, 1980, p. 54).
seja alcançada, devem-se satisfazer todas as necessidades anteriores.
Tendo em vista esses critérios, observam-se inúmeros desafios em relação à
Remetendo ao objetivo principal do parque, que é integrar a população com
complexidade que envolve um projeto como esse, pois ele também depende
a natureza por meio de processos formativos ligados à consciência ecológica,
de como os sujeitos se apropriam dele: “[...] enquanto os arquitetos urbanistas
acredita-se que a proposta deste projeto se relaciona justamente a esse último
podem criar ambientes com potencial, as pessoas criam ambientes eficazes”
patamar de necessidades humanas, a de autorrealização. Diante disso, é
(GANS, 1968 apud CARMONA et al, 2003, p. 107). Por isso, é necessário se atentar
imprescindível a preocupação com o bem estar dos usuários do parque, formando
às necessidades das pessoas, para que, integralmente satisfeitas, possam criar
um ambiente agradável onde se alcancem os objetivos traçados neste trabalho.
ambientes ativos, produtivos e proveitosos.
18
03 referencial projetual 19
referencial projetual
3. REFERENCIAL PROJETUAL Para a criação de um repertório arquitetônico paisagístico, faz-se necessário
Participam, portanto, desse repertório arquitetônico dois projetos de parque e
levar em consideração as distintas realizações arquitetônicas que antecedem o
um projeto de um centro de educação ambiental, sendo um do Brasil, um da
projeto que se pretende desenvolver. Para isso, é primordial compreender que
Espanha e um dos Estados Unidos. Cada projeto desse conjunto agregou soluções
“A formação do repertório, em sentido lato, é por si mesma um projeto, ou seja,
e valores específicos para a proposta de parque que desenvolvida neste trabalho.
uma construção do sujeito que descobre e inventa correspondências (analogias,
Esses referenciais projetuais são apresentados a seguir.
metáforas) entre objetos, inserindo-os em uma totalidade organizada” (OLIVEIRA, 2015, p. 50). Assim, foram pesquisados e estudados diferentes projetos de arquitetura e paisagismo de escritórios nacionais e internacionais. Após análise, foram selecionados – e são apresentados nesta etapa do texto – três dos projetos estudados, por reunirem elementos que mais os aproximam dos conceitos e objetivos do projeto de parque proposto no presente trabalho. Nessa perspectiva, os precedentes são parâmetros comparativos e fonte de inspiração para pensar, repensar, comparar, confirmar ou alterar as ideias elaboradas inicialmente, compondo o projeto proposto.
20
referencial projetual
3.1 PARQUE BURLE MARX O Parque Burle Marx[3] foi escolhido como precedente projetual porque possui características de sítio semelhantes ao de Vila Velha. Além disso, o conceito e objetivo de ambos os parques são bastante similares: expressam um caráter ecológico. Em função disso, o programa de necessidades e as atividades exercidas no Parque Burle Marx também serviram de referência para o ensaio projetual em questão. Esse Parque está localizado na região Oeste da cidade de São Paulo numa área de 15 hectares caracterizada por ser remanescente de vegetação nativa de mata atlântica, assim como o terreno definido para o projeto em Vila Velha. Com um jardim projetado por Burle Marx, esse espaço público teve seu projeto coordenado pela arquiteta paisagista Rosa Kliass, nos anos 90. Dentre os princípios adotados nesse projeto estão os de caráter ecológico. O programa articula áreas de reserva ambiental, pistas de caminhadas e trilhas, áreas contemplativas e de lazer, gramado central, bosques, lagos e nascentes, horta comunitária, viveiro de plantas, compostagem, biblioteca, entre outros (Figura 2). Figura 2: Mapa do Parque Burle Marx. Fonte; website do parque.
As informações aqui registradas foram sistematizadas a partir de pesquisa realizada no site oficial do parque Burle Marx, que se encontra disponível em: http://parqueburlemarx.com.br/oparque. [3]
21
referencial projetual
O parque também conta com diversas atividades e eventos que fazem referência ao compromisso ecológico proposto; são eles: •
Oficina de jardinagem para crianças na horta comunitária (Figura 3);
•
A feira orgânica que acontece todo sábado (Figura 5), atraindo muitas pessoas e estimulando a compra
de produtos orgânicos. Esse tipo de produto, além de ajudar na saúde humana por ser mais saudável (livre de agrotóxicos e hormônios), é uma escolha ecologicamente responsável; • O foodpark, que convida uma seleção de food trucks de diversas vertentes gastronômicas para um espaço específico do parque. Pela variedade de gostos e sabores, esse evento atrai pessoas durante diferentes horários do dia, mantendo ativo o local; •
O Birdwatching, que é uma atividade recreacional cujo objetivo é observar as aves em seu habitat
natural sem interferir no seu comportamento ou ambiente. Para a prática dessa atividade, os visitantes podem retirar binóculos na administração e ter uma incrível experiência; •
O parque também apoia o projeto “Arte na Cidade”, que estimula intervenções artísticas ao ar livre.
Uma dessas intervenções foi a obra O Descanso da Sala, do artista plástico José Spaniol, inaugurada em 2011 (Figura 4). O parque proíbe a entrada de animais de estimação e qualquer tipo de meio de transporte motorizado em sua área interna, pelo fato de haver uma reserva ambiental com espécies da fauna e flora da mata atlântica.
Figura 3 - Oficina de jardinagem para crianças na horta comunitária. Fonte: website do parque.
22
Figura 4 - Obra O Descanso da Sala. Fonte: website do parque.
Figura 5 - Feira orgânica no Parque. Fonte: website do parque.
referencial projetual
3.2 CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL MIRAFLORES Uma vez que o ensaio projetual propõe a criação de um parque urbano em Vila Velha que seja voltado para a formação de conscientização ecológica, foi necessário buscar algum local que se configurasse como referência para tal especificidade. Como a autora já havia visitado[4] o Centro de Educação Ambiental Miraflores (CEAM), ele foi selecionado para ser estudado como precedente projetual. Nesse caso, o CEAM agregou informações principalmente ao conceito de educação ambiental no programa de necessidades e nas possíveis atividades que poderão ser vivenciadas pela comunidade. O Centro de Educação Ambiental Miraflores (CEAM) está localizado no Parque Miraflores (Figura 6), na cidade de Sevilha – Espanha e se configura como um complexo formativo, educativo e de lazer. Ele ocupa aproximadamente 75 mil metros quadrados de área do parque e oferece diversas atividades, espaços e projetos relacionados a questões ambientais. O Centro é gerido pela Associação de Moradores de Pino Montano, bairro onde o Centro se localiza, e possui um programa bem diverso, constituído por diferentes atividades, espaços e projetos. Entre eles, se destacam jardins educativos e de lazer, hortas comunitárias (Figura 7), pomar (Figura 8), programas de ecoturismo, oficinas sobre agricultura orgânica, treinamento florestal e palestras sobre jardinagem.
Figura 7 - Horta comunitária do CEA Fonte: website da instituição.
Cada uma dessas atividades e programas possui um caráter ecológico que remete à conscientização ambiental. Além disso, visando à inclusão social, várias das atividades são voltadas para pessoas com alguma deficiência física.
Figura 8 - Área do pomar e lagoa do CEA. Fonte: website da instituição. As informações foram coletadas de duas formas: durante a visita que ocorreu no segundo semestre de 2018, período em que a autora deste projeto estudou na Universidade de Algarve, em Portugal, por ocasião de uma visita técnica coordenada pelo Professor Desidério Luís Sares Batista, responsável pela disciplina de Projetos de Arquitetura Paisagista IV; e também por meio do site oficial do centro, disponível em: http://www.jardinesdesevilla.es/ fotoplanojardinessevilla/miraflores/entradamiraflores/menumiraflor.html.
[4]
Figura 6 - Mapa do Parque Miraflores. Fonte: website da instituição.
23
referencial projetual
3.3 PARQUE CUMBERLAND O Parque Cumberland, localizado em Nashville, Tennessee, foi selecionado tendo em vista sua característica de demonstrar o compromisso ecológico por meio de diversas soluções sustentáveis, como a preservação da várzea nativa, que também serviu de inspiração para as soluções ecológicas do parque proposto no presente trabalho. O Parque Cumberland (Figura 9) atrai famílias e crianças todos os dias em virtude das diversas brincadeiras criativas desenvolvidas ali. Além de oferecer vários tipos de atividades diferentes, o local possui um design de parque infantil diferente: ao contrário do comum, as áreas de brinquedos não são limitadas; há uma flexibilidade estética (Figura 10 e 11) voltada para a diversão, o que deixa o ambiente interessante e atrativo para os visitantes. Figura 10 - O design do Parque Cumberland. Fonte: website do parque. Disponível em: <http://www.hargreaves.com/work/cumberlandpark/>.
Figura 9 - O Mapa do Parque Cumberland. Fonte: website do parque. Disponível em: <http://www.hargreaves.com/work/cumberland-park/>.
24
Figura 11 - Utilidades da forma do terreno. Fonte: website do parque. Disponível em: <http://www.hargreaves.com/work/cumberlandpark/>.
referencial projetual
Uma singularidade desse parque é que não há nele brinquedos pré-fabricados
Esse Parque também apresenta preocupações ecológicas e sustentáveis: 80% de
comuns, como escorregadores, gangorras, gira-gira e balanços. As áreas de
sua vegetação são espécies nativas do Tennessee e há um cuidado especial com
brincar estão espalhadas pelo parque e não são necessariamente brinquedos:
o rio que o tange. O objetivo do local é fazer da beiro do rio um lugar que celebra
podem ser degraus, uma parede escalável (Figura 12), um jato de água (13) ou
a história cultural e a vida contemporânea da cidade. Em síntese, esse parque
uma corda pendurada. É por isso que essas são consideradas áreas “sem idade”,
leva em consideração três orientadores principais: diversão, estética e soluções
ou seja, qualquer criança pode aproveitar a imaginação para brincar da forma
ecológicas. Todas as soluções remetem a algum (ou mais de um) desses temas.
que quiser, onde quiser. Sendo assim, o estudo do Parque Cumberland sustentou os pontos criativos do parque proposto neste trabalho. Um desses aspectos foi a elaboração do conceito de “parque infantil”, que demonstra uma solução original em relação aos espaços infantis de outros parques.
Considerando esse repertório de exemplos concretos, foi possível estabelecer relações, perceber alternativas importantes e analisá-las em relação às ideias já construídas para o projeto. Desse modo, as soluções desses três projetos apresentados serviram como suporte para decidir sobre quais configurações podem ser pertinentes ao desenvolvimento do projeto de parque urbano em Vila Velha.
Figura 12 - Paredes escaláveis no Parque Cumberland Fonte: website do parque. Disponível em: <http://www.hargreaves.com/work/cumberland-park/>.
Figura 13 - Área molhável com jatos de água. Fonte: website do parque. Disponível em: <http://www.hargreaves.com/work/cumberland-park/>.
25
04 inventรกrio 26
inventário
4. INVENTÁRIO Importante etapa do projeto arquitetônico e paisagístico, o inventário tem por objetivo reunir dados importantes sobre o local de intervenção, visando um diagnóstico das condições do sítio para o desenvolvimento das soluções de um projeto. Sendo assim, são apresentadas neste capítulo inicialmente a localização do terreno e as razões de sua escolha para o projeto; logo depois, são informados os dados relativos à documentação que regulamenta a utilização do terreno; na sequência, são expostos os diagramas de condicionantes físicos e biológicos realizados nessa etapa quanto aos diferentes fatores observados; por fim, é efetuada a análise desse diagnóstico com o zoneamento das características específicas quanto às oportunidades e restrições de cada espaço do sítio.
4.1 LOCALIZAÇÃO A área de implantação do parque localiza-se no Centro de Vila Velha, com acesso pela Avenida Antônio Ataíde, 1077 (Figura 14). A escolha da região para o desenvolvimento deste projeto está relacionada com uma aproximação pessoal da autora que, residindo em Vila Velha e tendo sido estudante do Ensino Médio do Colégio Marista, teve acesso e contato com o terreno no ano de 2011. Essa vivência, na época, despertou-lhe curiosidade e provocou-lhe surpresa diante
Figura 14 - Localização do terreno (destaque em vermelho) Fonte: Elaborado pela autora.
da extensão da área de Mata Atlântica tão próxima das pessoas e, ao mesmo tempo, tão desconhecida. Anos depois, cursando Arquitetura e diante da tarefa
O terreno possui um desnível de 30 metros de altura e aproximadamente 5ha
de escolher um projeto para desenvolver em seu Projeto de Graduação, entendeu
(50.000m2). Seu entorno é caracterizado por uma diversidade de usos (que
que essa seria uma boa oportunidade para projetar algo para sua própria
pode ser conferida no tópico 4.3 desse trabalho), que varia desde comércios
comunidade, valorizando essa reminiscência de Mata Atlântica em um local que
e residências até o uso por instituições, a exemplo do Colégio Marista Nossa
é de fácil acesso para a população residente do entorno e que possui grande
Senhora da Penha, com o qual divide o quarteirão.
valor histórico e ecológico para a região.
27
inventário
4.2 CONDICIONANTES LEGAIS
De acordo com a Lei Complementar, o terreno não possui limite de gabarito definido, no entanto é importante observar o seu entorno, que pode interferir nas
De acordo com o Novo Plano Diretor Municipal de Vila Velha (Lei complementar
visuais externas do Parque. O limite de gabarito ao redor do terreno é baixo, de 8
65/2018, que objetiva a revisão da Lei Municipal nº 4.575/2007), o terreno está
metros, e, além disso, há uma previsão de cones visuais do Convento da Penha,
localizado na Zona de Especial Interesse Público (ZEIP) e, segundo os artigos da
que garante a preservação desse visual (um dos cones passa pela cota mais alta
subseção IV da seção V, esse Plano permite usos que sejam de propriedade ou
do terreno em questão, certificando a possibilidade de vista para o convento).
interesse público, ou seja, que o terreno se configure em um espaço livre de uso público ou voltado à implantação de equipamentos públicos, “[...] de forma que melhor aprouverem as necessidades da região”. Não há parâmetros urbanísticos definidos previamente nessa zona, por isso é de resposabilidade do Conselho Municipal da Cidade a análise a aprovação dos projetos destinados a implantação de empreendimentos nesses locais. No entanto, dada a importância do fragmento florestal urbano, tanto ecológica quanto cultural e socialmente, percebe-se que seria benéfico que o terreno estivesse na Zona de Interesse Ambiental (ZEIA), uma vez que, de acordo com os artigos da subseção I da seção V do plano diretor, nessas zonas “[...] é fundamental a proteção e a conservação dos recursos naturais, com sua adequada utilização visando à preservação do meio ambiente.” Além disso, os objetivos de uso dessa Zona garantem diretrizes imprescindíveis para a conservação do meio ambiente e ao mesmo tempo para o lazer dos moradores. Conforme registra a lei, são propósitos dessas áreas “compatibilizar com as atividades de lazer, turismo e educação ambiental; promover ações conjuntas entre os diversos níveis de governo para a gestão e o manejo sustentável das unidades de conservação instituídas; promover a criação de Parques Urbanos” (VILA VELHA, 2018).
Figura 15 - Mapa de gabarito a partir do zoneamento urbano de Vila Velha. Fonte: Adaptado pela autora da Lei Complementar 65/2018.
28
inventário
4.3 CONDICIONANTES FÍSICOS E BIOLÓGICOS
Sabendo-se da importância que um sistema de mobilidade urbana adequado tem para deslocamento das pessoas, e visto que Vila Velha não possui um Plano Cicloviário, foi feito um levantamento do acesso de bicicleta e ônibus ao terreno
Para a observação e análise dos aspectos físicos e geológicos foram captados
em questão, ou seja, das ciclovias e pontos de ônibus próximos ao terreno. A partir
dados a partir de diferentes aportes, como Google Earth[5], documentos, pesquisa
desses dados, foram propostos novos locais para paradas dos coletivos e para a
de informações acerca de clima[6] e visitas técnicas ao local. De acordo com este
ciclovia, como pode ser observado no diagrama (Figura 16), com a intenção de
levantamento, foram produzidos diagramas de inventário dos condicionantes
melhorar o acesso ao terreno e também a mobilidade urbana municipal.
abióticos, bióticos e culturais inerentes ao terreno e ao seu entorno imediato. No que se refere aos fatores abióticos, alguns dos aspectos observados são a topografia (Figura 17 e 18) e o clima (Figura 20). Já os elementos bióticos envolvem as informações relacionadas à vegetação do local (Figura 19). Por fim, são observadas também as condições culturais nas quais o sítio está inserido, como legislação vigente, uso do solo (Figura 21), aspectos sensoriais de qualidade visual, ruídos e odores, entre outros (Figura 20). Como resultado dessa pesquisa, foi elaborado um diagrama com a síntese das informações coletadas no processo.
Figura 16 - Diagrama de ciclovias e pontos de ônibus Fonte: Elaborado pela autora.
Google Earth é um programa mantido e desenvolvido pelo Google que permite a visualização de imagens reais capturadas por satélite de praticamente qualquer lugar do mundo e de parte do Universo também. [6] Para esta pesquisa, a busca pelos dados referentes ao clima foram acessados em https://pt.weatherspark. com/y/30847/Clima-caracter%C3%ADstico-em-Vila-Velha-Brasil-durante-o-ano. [5]
29
inventário
Figura 17 - Diagrama de hipsometria[7]. Fonte: Elaborado pela autora.
Os mapas de hipsometria representam a elevação de um terreno através de cores que geralmente são graduações de tons que começam com verde escuro para baixa atitude, passando por amarelo e vermelho até o branco para grandes elevações. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv23450.pdf>. Acesso em: 24 set. 2019. [7]
30
Figura 18 - Diagrama de declive[8]. Fonte: Elaborado pela autora.
Os mapas de declividade são uma ferramenta para análise do relevo do terreno, sendo uma forma de representação das diferentes inclinações existentes no local.
[8]
inventĂĄrio
Figura 20 - Diagrama de outros condicionantes. Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 19 - Diagrama de vegetação. Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 21 - Diagrama de uso do solo Fonte: Elaborado pela autora. 31
inventário
4.4 ANÁLISE
A partir da organização apresentada, foi desenvolvida uma análise dos dados, em que se avaliaram os atributos de cada fator. Pensando na disposição dos usos, foi considerado um programa preliminar de necessidades (melhor trabalhado e detalhado em 5.2 deste texto). Nesse contexto, foram previstas as seguintes utilizações para o local do parque: área de preservação ecológica, trilhas, mirante, pomar, bosques, áreas construídas e áreas para atividades de alto impacto, ou seja, locais ativos com grande aglomeração de pessoas. Com base nessa análise, foi possível elaborar um zoneamento com características específicas quanto às qualidades e restrições de cada espaço do sítio (Figuras 22 e 23), o que orientou toda a distribuição espacial do programa do Parque no terreno. Cabe assinalar que a análise dos levantamentos anteriores é importante para a avaliação das limitações e possibilidades da área, a fim de elaborar uma espacialização eficiente do programa do Parque, considerando aproveitamento da declividade, orientação solar adequada, uso e preservação da vegetação nativa já existente, entre outros. A seguir pode ser observado o diagrama de
Figura 22 - Diagrama de zoneamento. Fonte: Elaborado pela autora.
zoneamento em função das características comuns ou distintas de cada área.
zona 6
zona 5
zona 1
zona 2
zona 1 30m 9m 1m
Figura 23 - Corte esquemático zoneamento. Fonte: Elaborado pela autora.
32
inventรกrio
Tabela 1 - Anรกlise das zonas do terreno. Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados coletados.
33
05 o projeto 34
o projeto
5. O PROJETO 5.1 DIRETRIZES Com base nos estudos anteriores associados aos objetivos traçados para este trabalho, as seguintes diretrizes orientaram o desenvolvimento das soluções de projeto. •
Aproveitar os recursos naturais como sol, vento e vegetação, para obter iluminação
e conforto térmico natural; •
Atrair pessoas de diferentes idades e classes sociais da comunidade, em horários
diversos, por meio da proposição de um local que promova atividades e eventos diversos em horas variadas e um programa de necessidades que propicie o lazer e a educação ambiental; •
Figura 24 - Diagrama esquemático do sistema de capitação de água da chuva. Fonte: Elaborado pela autora.
Desenvolver o projeto priorizando a acessibilidade plena, que atenda aos usuários
em geral e possibilite também o acesso de pessoas com deficiência, idosos e crianças; •
Manter ao máximo a declividade natural do terreno;
•
Optar pelo uso de espécies de plantas nativas da Mata Atlântica e preservar a
vegetação nativa já existente no local; •
Pavimentar a menor quantidade possível de solo.
•
Permitir a permeabilidade física e visual dos espaços, de modo a estimular a
interação entre o interior e exterior da construção; •
Promover a preservação da flora e fauna do local, valorizando as áreas ecológicas;
•
Promover gestão e economia de água, por meio da instalação de sistemas de
captação de água da chuva, para ser reutilizada em fins que não exijam água potável. (Figura 24) •
Ampliação da malha cicloviária e pontos de ônibus próximos ao Parque (Figura 25) Figura 25 - Diagrama de proposição de nova malha cicloviária e de ponto de ônibus. Fonte: Elaborado pela autora. 35
o projeto
2 2 2
5.2 PROGRAMA
2 2 2 2 2
O programa de necessidades do Parque foi definido a partir do estudo de diversas
2
referências teóricas e projetuais (discutidas neste trabalho), sempre relacionadas
2
aos usos e funções que que esse local público procura proporcionar. Esses usos
2
revelam a multifuncionalidade do Parque, dividido basicamente em áreas de:
2
contemplação, recreio e lazer, educação, apoio, proteção e produção. Diante
2 2
disso, foi realizado um pré-dimensionamento a fim de auxiliar no processo de
2
criação do projeto, sintetizado na Tabela 2.
2 2 2 2 2 2 2 2 2
2
Tabela 2 - programa e pré-dimensionamento Fonte: Elaborado pela autora.
36
o projeto
5.3 CONCEITO E PARTIDO A proposta do Parque é integrar a comunidade à natureza, incorporando um
Por meio dessa integração, pretende-se também inspirar a valorização da história
caráter educacional e formativo de consciência ecológica ao cotidiano dos
local, tendo em vista que, anteriormente, a Mata Atlântica ocupava uma grande
usuários, no intuito de promover um sentimento de pertencimento ao local.
área e que, atualmente, se encontra reduzida a esse fragmento inserido em meio
O objetivo é que os usuários tenham acesso a um ambiente tranquilo mesmo
totalmente urbano. Nesse sentido, o objetivo é também tornar o parque um ícone
estando em zona urbana, de modo que se percebam parte da natureza. Ao
de resistência ecológica, representando parte da história da cidade, uma vez
vivenciarem experiências de interação e contemplação, eles poderão reconhecer
que a Mata Atlântica participou de sua composição inicial. Nessa perspectiva, é
o valor desse ambiente natural e a necessidade de sua proteção e preservação.
importante destacar que essa mata é o estágio inicial de nossa cidade, ou seja,
Em relação a esse aspecto, a passagem do espaço da cidade para o espaço do
pode ser considerada a raiz de Vila Velha.
Parque requer uma atenção no que se refere a aguçar a percepção dos usuários durante esse percurso. Por isso, a ideia é criar um corredor de transição, a partir do qual os usuários possam captar as diferenças entre os dois espaços e possam, durante o processo, já usufruir de experiências educativas e de lazer, para uma posterior vivência na Mata Atlântica através das trilhas (Figura 26).
Figura 26 - Diagrama conceitual. Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 27 - Imagem representativa do conceito. Fonte: Elaborado pela autora.
37
o projeto
Assim como uma raiz tem função de fixar a planta no solo e de retirar dele a água e os nutrientes dos quais ela precisa como alimento, o parque pode se configurar como uma possibilidade de contribuir para “enraizar” o pertencimento dos usuários a esse espaço natural e “alimentar” seus conhecimentos e experiências com a natureza. É a partir desse pensamento que surge o traçado do projeto (Figura 28). O acesso ao terreno se inicia com um passeio sinuoso formado pelo caminho principal, remetendo à feição de uma raiz axial[9] de onde se originam diversas ramificações, que caracterizam os caminhos secundários. Esses caminhos secundários conduzem a diversas células[10], que são os fragmentos de espaços que integram o Parque, representadas por formas circulares. A proposta é que cada célula tenha uma função específica com atividades voltadas para a educação, a formação, o lazer ou a contemplação.
Figura 28 - Partido. Fonte: Elaborado pela autora.
5.4 IMPLANTAÇÃO A implantação dos espaços foi realizada a partir das análises e do partido do projeto, visando a criar espaços específicos para cada função do Parque. Na implantação a seguir, é possível perceber o traçado exposto no partido.
Formada por raiz primária, cujo comprimento é maior que o das outras, e por suas ramificações, também chamadas de raízes secundárias. [10] É a menor parte viva de um organismo, constituindo, assim, a parte fundamental de todo ser vivo. Disponível em: <https://www.biologianet.com/botanica/raiz.htm>. Acesso em: 3 nov. 2019. [9]
38
o projeto
rua antônio
ataíde
Figura 29 - Implantação.
alç a
ter cei
ra
po nt
e
11
lix de a rua fe zevedo
r val mo
rua sin
ru
aa
rm
an
aes
do
ro sem
ber g
implantação esc: 1/1000
1 - entrada 2 - estacionamento 3 - centro de informações 4 - administração/apoio 5 - sanitários 6 - Biblioteca aberta es 7 - espaço multiuso 8 - viveiro de mudas 9 - auditório 10 - anfiteatro 11 - orquidário e bromeliário com borboletário 12 - jardim sensorial
13 - área de eventos 14 - gramado multiuso 15 - área molhada 16 - área para piquenique 17 - espaço das pedras 18 - área de recreação 19 - horta urbana 20 - pomar 21 - bosque dos pássaros 22 - trilha 23 - mirante 24 - vegetação nativa existente - módulos - árvore nativa existente 39
o projeto
corredor verde corte implantação esc.: 1/1000
40
estacionamento
área de lazer
área de eventos
horta urbana
pomar
área de reserva ambiental
Figura 30 - Corte implantação. Fonte: Elaborado pela autora.
o projeto
ÁRVORES
5.5 O PARQUE Como já analisado na etapa de inventário, os espaços do Parque onde serão realizadas as atividades de alto impacto foram implantados onde a topografia é menos acentuada, visando uma melhor solução para a acessibilidade plena. Onde a topografia é mais acentuada e, portanto, o acesso é limitado, pretendeu-se implantar vegetação mais densa (Figura 31).
HERBÁCEAS E ARBUSTOS
No projeto, foi proposta a implantação de aproximadamente 400 árvores de 32 espécies nativas da Mata Atlântica com o objetivo de proporcionar conforto térmico, valorizar áreas ecológicas, delimitar e orientar as circulações, organizar os espaços, e demarcar limites. Além dessas árvores, foram inseridos arbustos e herbáceas de 16 espécies diferentes ao longo do parque, compostas num plantio irregular para uma diversificação de cores, texturas e camadas (de acordo com as alturas de cada espécie). As espécies utilizadas
PERCURSOS
no projeto estão identificadas nas plantas por siglas conforme apêndices A e B. Foi considerada, nesse processo, a necessidade específica de cada espaço e também foram analisadas a morfologia e as características físicas e biológicas do local e das espécies. A distribuição vegetal foi definida a partir das linhas de percursos, do contorno das células, da demarcação de ambientes e do isolamento entre determinados espaços (como o estacionamento e a área de lazer).
TERRENO
Foram desenvolvidas, além dos percursos (o principal, as ramificações e os secundários), células onde as atividades acontecem. Para apresentar melhor essas áreas, a implantação foi dividida em 15 espaços, que são apresentados a seguir. Figura 31 - Diagrama isométrico do Parque. Fonte: Elaborado pela autora.
41
o projeto
planta-chave
5.5.1 Entrada Para que a entrada seja convidativa e atraia as pessoas para o Parque, foram utilizados dois recursos com foco na dimensão visual: árvores e piso. Primeiro, foi definida uma linha de árvores da espécie jequitibá-rosa no corredor de entrada, uma vez que
EPa
essa espécie atinge em torno de 25 metros, a fim de demarcar o caminho para quem está posicionado fora do Parque, chamando a atenção para o local, que possui acesso reduzido a um terreno de 12 +1,50
metros de testada, ou seja, uma entrada estreita e escondida em meio às edificações da rua. Outra questão foi conectar o Parque com a rua através do piso. Foi proposta a continuação do piso de entrada do Parque para a calçada, a fim de induzir o transeunte da rua a entrar no local. Além disso, a entrada de 25 metros de comprimento é um corredor de transição entre a cidade e o Parque – o meio urbano e o meio natural – por isso, foi proposto
CLe
CPi
uma espécie de corredor verde que serve como uma imersão na natureza, a fim de distinguir bem o ambiente externo da cidade com o ambiente interno do parque.
42
Figura 32 - Planta entrada.
o projeto
Figura 33 - Corte entrada,
jequitibá
canelado-brejo canela-chapéu
cipresteazul
CORTE ENTRADA
Entrada de automóveis e bicicleta
Entrada de pedestres
43
o projeto
Figura 34 - Vista externa da entrada do Parque.
Figura 35 - Vista corredor verde.
44
o projeto Figura 36 - Planta estacionamento.
planta-chave
5.5.2 Estacionamento No propósito de não haver tráfego de automóveis e bicicletas dentro do Parque, o estacionamento foi inserido em local estratégico, isolado e próximo à entrada, para que não haja interação com o ambiente interno do Parque. O acesso de automóveis é independente do de pedestres, ou
28 vagas para carros
seja, os transeuntes não precisam se preocupar com o tráfego de automóveis. Foi também pensada uma entrada específica para ônibus, considerando que haverá visitas monitoradas
de
diferentes
grupos,
como
estudantes, idosos e também excursão de turistas
+1,80
ao Parque. Esse acesso acontece por um terreno,
saída
atualmente baldio, que possui ligação direta entre
ANe
rota acessível
a rua e o local de estacionamento do parque.
22 vagas para bicicleta
O piso proposto para a área do estacionamento foi o concregrama, devido à permeabilidade,
CPi
LBa
resistência e estética. Entretanto, considerando a intenção do Parque possuir acessibilidade plena, foi proposto uma rota acessível Ao redor de todo
entrada
o espaço, árvores e arbustos foram inseridos no intuito de isolar fisicamente o espaço de automóveis
acesso para o parque
do ambiente natural interno do parque.
PLANTA estacionamento
45
o projeto
planta-chave
Figura 37 - Planta administração e apoio.
5.5.3 Área administrativa e apoio As células das áreas administrativas e de apoio foram inseridas logo
1
no início do Parque para facilitar o acesso de funcionários e também
TPa
de usuários. A primeira célula conta com uma recepção, sala administrativa, sala de reunião, copa, área de serviço e acoplada a ela está a célula de sanitários de funcionários. Esses ambientes
+1,00
foram planejados para constituir a sede do complexo educacional
2
e administrativo do Parque. Além disso, logo na entrada pode-se
3
encontrar um centro de informações, com um totem informativo e
8
4
local para guarda de volumes (pensado principalmente devido às visitas monitoradas).
5
HSa
7
6
CBi
9
Seguindo no caminho principal, há a primeira ramificação à direita, que dá acesso à célula dos sanitários. Esse local possui
CMi
dois acessos: um pelo caminho ramificado e outro por um caminho secundário, todos com inclinação mínima para fácil acesso. A célula dos sanitários é uma das que reaproveitam a água da chuva
+1,00
através do sistema de captação da água pluvial para as descargas sanitárias.
STe
PLANTA administração / apoio
46
10
1 - CENTRO DE INFORMAÇÕES 2 - RECEPÇÃO 3 - ADMINISTRAÇÃO 4 - sala gerência 5 - sala de reuniao 6 - copa área de serviço/almoxarifado 7 - ár 8 - circulação 9 - vestiário de funcionários 10 - sanitários
o projeto
planta-chave
5.5.4 Jardim Sensorial O acesso ao Jardim Sensorial foi previsto para ocorrer por meio da segunda ramificação do caminho principal. Esse tipo de jardim, além de poder ser contemplado esteticamente, dada a beleza de diversas espécies de plantas, permite às pessoas que possuem algum tipo de deficiência conhecer o lugar e participar dessa atividade do parque. A partir dos conceitos de Kobayashi (1991), Osório (2018, p. 12) afirma que “[...] a mudança da percepção em relação à natureza passa pela experiência direta do
GMa STr
TPa
indivíduo pelo contato com os elementos naturais por meio dos sentidos básicos da percepção humana: saída
visão, tato, paladar, olfato e audição”.
entrada
A ideia desse jardim, portanto, é trabalhar todos os sentidos por meio do estímulo a que o usuário experimente novas sensações e isso renove a sua capacidade de perceber as diferenças. Com foco mais específico no sentido auditivo, uma cascata aguça a percepção do som da água corrente. Em relação às
+1,70
CBi
plantas, foram definidas como primeiras as aromáticas; na sequência, as plantas com texturas variadas
CBr
e, depois, as que apresentam cores exuberantes nas flores e folhagens.
CMi
PLANTA jardim sensorial
Figura 39 - Planta Jardim Sensorial.
Figura 38 - Vista Jardim Sensorial.
47
o projeto
GMa STr saída
GUARIBU-AMARELO
entrada
+1,70
CBr SAPUCAINHA
CASCATA
MAPUÁ
MAPUÁ
+1,70
CORTE jardim sensorial Figura 40 - Corte Jardim Sensorial.
48
o projeto
planta-chave
5.5.5 Biblioteca Aberta, Espaço Multiuso e Viveiro de mudas As células da biblioteca aberta e do espaço multiuso são de
JSc
CBr
extrema importância para o processo formativo dos usuários no que se refere à consciência ecológica, que é um dos objetivos da
TPa
implantação do Parque. A proposta é que a biblioteca mantenha
CRe
CCe
ECu
disponível aos usuários um acervo de livros com temas relacionados principalmente à educação ambiental e à história da cidade de Vila Velha. Com a intenção de que esse espaço contribua para que
1
os usuários permaneçam mais tempo no parque, o projeto prevê que os livros fiquem a plena disposição através do conceito aberto. O Parque dispõe de diversos locais tranquilos para leitura, além da possibilidade de utilizar o espaço da própria biblioteca, que no seu centro possui um banco circular central.
+0,90
STe
+0,90
2
A sala multiuso destina-se a atividades específicas em grupo e guiadas pelos monitores do centro de educação ambiental do Parque. Nesse local é possível reunir grupos de até de 30 pessoas
APr
HSa
+2,00
3
e criar atividades como dinâmicas, exercícios práticos, ateliês, cursos, workshops, etc. Por objetivar uma variedade de usos, esse espaço não possui mobiliário fixo. Foi proposto, também, um viveiro com finalidade de produzir
1 - biblioteca aberta
mudas florestais para atender ao programa de reflorestamento
2 - espaço multiuso
do parque e também promover atividades de educação ambiental
3 - viveiro de mudas
relacionadas ao manejo e produção de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica. Figura 41 - Planta biblioteca aberta, espaço multiuso e viveiro de mudas
49
o projeto
Essas células exploram a relação com o exterior e permitem a permeabilidade física e visual dos espaços pois não possuem paredes, apenas uma cobertura de estrutura paramétrica feita em aço e fechamento em policarbonato.
Figura 42 - Vista interna biblioteca aberta.
elevação biblioteca
Figura 43 - Elevação biblioteca aberta
50
Figura 44 - Vista biblioteca aberta e espaço multiuso
o projeto
planta-chave
5.5.6 Bromeliário e orquidário com borboletário Existem diversas espécies nativas de bromélias e orquídeas na Mata Atlântica.
STr
Sabendo disso, foi criado um espaço no Parque para cultivo, armazenamento
CCo
e contemplação dessas espécies. Junto do bromeliário e do orquidário foi proposto um borboletário, para apreciação e transmissão de informações sobre espécies nativas de borboletas. O interessante desse local é que ele permite a associação de algumas espécies de bromélias e orquídeas com espécies de borboletas, quando estas são suas polinizadoras.
+2,00
CBr
CRe VEDÉLIA
PLANTA orquidário CORTE Figura 46 - Planta bromeliário e orquidário com borboletário. Figura 45 - Vista interna do bromeliário e orquidário com borboletário.
51
o projeto
O objetivo desse espaço é possibilitar o conhecimento e a apreciação de espécies que são nativas da Mata Atlântica, por isso ele dispõe de informação e descrição de cada espécie de planta e de borboleta. Arquitetonicamente, essa célula compreende uma cúpula geodésica, feita por um sistema estrutural em aço que dialoga com a linguagem arquitetônica do resto
SAPUCAINHA
SAPUCAINHA
do parque.
STr
+2,00
CCo
CBr CLOROFITO CRe VEDÉLIA
DINHEIROEM-PENCA
PLANTA orquidário Figura 47 - Vista externa do bromeliário e orquidário com borboletário.
CORTE orquidário Figura 48 - Corte bromeliário e orquidário com borboletário.
52
o projeto
5.5.7 Auditório
planta-chave
Seguindo pelo Parque, chega-se ao auditório, que foi implantado numa área um pouco mais afastada das outras atividades, a fim de aproveitar a topografia. Foi proposto um auditório de 48 lugares com uma área técnica prevista para equipamentos. Considerando as condições topográficas, foi projetado um telhado verde que pode ser usado como um terraço, mais afastado para contemplação e
LBa descanso, com uma vista para a cidade e para o próprio Parque. LBa LBa
rampa de acesso a cobertura
ra I=8,3 mpa 3%
rampa de acesso a cobertura
LBa
bosque bosque
canela-chapéu
ra I=8,3 mpa 3%
ASq
canela-chapéu ASq
proj cobe eç ão rtur a
+8,00
proj cobe eç ão rtur a
2 1
3 1 - foyer
2
+4,00
+8,00
+7,00
3
1 +4,00
+7,00
2 - auditório 3 - área técnica
PLANTA auditório
+5,20
1 - foyer 2 - auditório 3 - área técnica
PLANTA auditório
+4,90
+4,60 +5,20
30°
+4,30 +4,90
+4,00 +4,60
+4,30
30°
+4,00
perfil nat do terren u r al o perfil nat do terren u r al o
CORTE auditório CORTE auditório
Figura 50 - Corte auditório.
Figura 49 - Planta Auditório. 53
o projeto
planta-chave
5.5.8 Anfiteatro
JSc
TPa
CRe
HPs
Esse espaço destina-se a apresentações, concertos, espetáculos ou apenas para reunião de pessoas. O anfiteatro tem formato circular que dialoga com o traçado das células do parque, porém a arquibancada foi disposta de forma não convencional e “desconstruída”, com bancos alternados de tamanhos diversos de se sentarem na própria grama ou nos blocos dispostos no aclive. Por ser uma
ECu +8,45
r I: 8a, mpa 33%
organizados nas curvas de nível já existentes. Os usuários também têm a opção área de permanência, a fim de promover conforto térmico, foram dispostas árvores em torno do espaço num plantio regular em círculo, além do uso das
GLi
ra I: 8,3mpa 3%
árvores já existentes no local.
+4,00
CCo +5,00 +6,50
LBa
ASq PLANTA anfiteatro
APr
GMa
Figura 52 - Planta anfiteatro.
Figura 51 - Imagem de referência da proposta do anfiteatro: Anfiteatro Colina de Camões. Fonte: ACB arquitetura paisagista. Disponível em: http://www.acbpaisagem.com/projectos/ espacos-publicos/anfiteatro-colina-de-camoes.htm
54
o projeto
GUARIBÚ-AMARELO
GUARIBÚ-AMARELO CHEIRO-DE-BARATA
+9,00 +8,45
HELICÔNIAPAPAGAIO
+7,00
perfil natu ral do terreno
Figura 53 - Corte anfiteatro.
CORTE anfiteatro
55
o projeto
TMu
EEd
Figura 54 - Planta área de lazer e eventos
gramado multiuso planta-chave
espaço de recreação
5.5.9 Espaço de lazer e eventos
O espaço de lazer e eventos se encontra no
arquibancada molhada
início do parque e dispõe de vários usos: lazer,
+7,00
contemplação, recreio, descanso e até mesmo formativo (entendendo a área de eventos como
HPs
meio de formação cultural). Nesse espaço é i=1%
proposto: •
Área molhada com jatos de água interativos
área molhada
que proporciona diferentes experiências com a agua, tanto para brincadeiras quanto para se
espaço das pedras
refrescar em dias quentes; •
Gramados multiuso que podem servir de
espaço para piqueniques, descanso, encontros
ECu
+2,00
CPi
gramado central
ou até mesmo atividades guiadas como yoga e meditação; •
STr +4,00
Espaço de recreação para crianças de
diferentes idades com um design de playground
ANe +4,00
que possibilita diversas maneiras de brincar e testar as habilidades. Essa área aproveita a
APr
inclinação natural do terreno para dispor seus brinquedos e conta com cordas, redes, bolhas e pinos escaláveis, escorregador e pisos ondulados com mini trampolins;
56
área de eventos
LBa HSa
%
,33
i=8
TPa
+2,00 +1,50
SPa
o projeto
• Espaços e
para
contemplação:
guapuruvu
descanso
recanto
das
pedras, bancos do gramado central e
arquibancada
molhada,
que
possibilitam o usuário escolher como e onde prefere se sentar; •
Área
de
eventos:
destinado
à realização de eventos, feiras e exposições do Parque. Foi projetada uma estrutura paramétrica feita em aço com fechamento em policarbonato
canela-chapéu
como forma de demarcar o espaço e também servir de cobertura para os eventos do local. Além disso, no centro desse espaço foi inserida a árvore Guapuruvu a fim de sombrear e chamar atenção para o local.
confete
+4,00
CORTE área de eventos
Figura 55 - Corte área de eventos
57
o projeto
juçara
canela-chapéu manacá-da-serra canela-chapéu +7,00
helicôniapapagaio +4,00
cipreste-azul
piteira agapanto
passeio corte espaço de lazer
58
área molhada
arquibancada molhada
área de recreação Figura 56 - Corte área de lazer.
o projeto
Figura 57 - Passeio área de lazer.
Figura 59 - Vista área de eventos..
Figura 58 - Área de recreação.
Figura 60 - Área molhada.
59
o projeto Figura 62 - Planta horta.
MEd
planta-chave
5.5.10 Horta urbana A proposta da horta urbana integrando o Parque Jequitibá, assim como em outros espaços, se alinha ao conceito do projeto que pretende favorecer a relação da comunidade com a natureza e se constitua como mais uma estratégia para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental.
EVe
Quanto à forma, a opção foi por canteiros circulares que apresentam vantagens no sentido
+5,50
de aproveitar melhor os espaços, economizar água, trabalhar com as diversidades das
PGr
plantas, além da facilidade de acesso e adaptação às forças naturais (D'ÁVILA, 2008). Nessa perspectiva, a horta se apresenta como espaço educativo, com objetivo de troca de conhecimentos e ensino às crianças sobre os cuidados com a terra e com plantas medicinais, ervas e hortaliças (verduras, temperos) no sentido de valorizar a integração do ser humano como parte do ambiente.
LBa
CCo STr
CMi
PLANTA horta Figura 61 - Imagem de referência da horta. Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/805581452068047950/
60
o projeto
CPh
MGi
Figura 63 - Planta pomar.
PGu
MCa
MEd
AOc
EPy
planta-chave
EUn
5.5.11 Pomar +8,00
O pomar foi uma solução para reflorestar essa área e ao mesmo tempo promover o desfrute dela pelos usuários. Foi proposto o plantio de árvores frutíferas nativas da mata atlântica como jabuticabeira, pitangueira, cajueiro,
goiabeira,
cambucizeiro,
cambucazeiro, uvaieira, cabeludinha num plantio regular em quadrícula. O acesso é feito por um caminho praticamente plano até o centro do pomar, onde foi inserido um módulo de descanso (ver 5.5.15) para permitir o repouso e apreciação do pomar e de suas frutas.
PLANTA pomar
61
o projeto
planta-chave
5.5.12 Bosque dos pássaros
5.5.13 Trilha
Após toda experiência educativa e recreativa anterior, chega-se ao bosque,
A trilha pela área de reserva se inicia no bosque dos pássaros e vai até um
que é a fase inicial da trilha proposta na área de uso extensivo do Parque.
dos pontos mais altos do terreno, na cota de 29 metros. Durante o percurso de
Essa área corresponde à Mata Atlântica em estágio de regeneração inicial e
0,5km pela mata estão localizados módulos de descanso, a fim de permitir que
por isso foi proposta a inserção de novas espécies nativas que, além de serem
o usuário possa repousar e apreciar a natureza. A trilha também será meio
especificas para reflorestamento heterogêneo, são também espécies frutíferas
para atividades guiadas na mata, para práticas educativas, como observação
para pássaros. Nesse contexto, é possível propiciar um agradável bosque com
de pássaros e ensinamento sobre as espécies de flora e fauna ali presentes.
pássaros ao mesmo tempo que se promove a restauração da mata.
Figura 64 - Vista do bosque.
62
Figura 65 - Vista do trilha.
o projeto
planta-chave
5.5.14 Mirante O mirante está localizado no final da trilha, no ponto mais alto do terreno, onde é possível ter o visual do Convento da Penha. A intenção é que a estrutura do mirante ultrapasse a copa das árvores existentes e, do alto, o usuário pode observar vegetação do parque, além da vista para a cidade de Vila Velha, proporcionando a percepção do contraste entre o natural e o edificado.
Figura 67 - Imagem de referência da proposta do mirante: Torre de Observação (projeto por Arvydas Gudelis). Fonte: Archdaily.
Figura 66 - Vista do mirante.
63
o projeto
5.5.15 Módulos A idéia de criar um módulo é para justamente haver um modelo único de
Esses módulos contam com iluminação independente inserida na sua estrutura
linguagem estética para o parque, mas que ainda assim possibilite integrar novos
que acendem automaticamente quando anoitece, servindo também de iluminação
usos (Figura 69). É um modelo que primeiramente tem função de cobertura, mas
para o parque.
que pode ser adaptado para diferentes práticas. Foram criados módulos de descanso ao longo de todo parque, que fogem do padrão de bancos comuns de madeira e seguem uma linguagem estética diferenciada (Figura 68). O material utilizado para esses módulos foi aço e policarbonato, que pode ser usado com cores diversas ou transparente. Propõem-se quatro possibilidades de módulos de descanso, com bancos de diferentes formas: suspensos; circulares; com ou sem encosto. Além do módulo de descanso, foi criado um módulo de oficina, que servirá para atividades recreativas e educacionais realizadas no Parque. Essa alternativa foi pensada para as atividades de pequenos grupos, pois, para grupos com maior número de pessoas, recomenda-se a utilização da sala multiuso. Figura 68 - Vista dos módulos de descanso.
MÓDULO DE OFICINA
MÓDULO DE DESCANSO
MÓDULO DE DESCANSO
MÓDULO DE DESCANSO
MÓDULO DE DESCANSO
Figura 69 - Plantas e Cortes módulos. 64
06 consideraçþes finais 65
considerações finais
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A arquitetura paisagística como campo de atuação e intervenção na sociedade,
As diferentes espécies nativas desse fragmento de Mata Atlântica e também as
tem importante papel na busca de alternativas frente às problemáticas que
que foram inseridas a partir do projeto, rememoram a vegetação original de Vila
envolvem as questões socioambientais. Nesse sentido, a elaboração deste
Velha e realçam a importância da preservação e da valorização considerando seu
projeto de estudo preliminar de paisagismo, com a criação do Parque Jequitibá
aspecto ecológico, histórico, social e cultural. Trata-se de um parque que, além
em um fragmento florestal no centro urbano de Vila Velha, apresenta inúmeras
dos espaços de lazer e de recreação, tenha responsabilidade com a conservação
possibilidades de contribuição com a comunidade local. Contribuições que
de espécies de flora e fauna, fomentando a conscientização da comunidade. A
precisam levar em consideração as necessidades de incentivar as interações
captação de água de chuva é um dos exemplos que reafirma o princípio do projeto
entre a comunidade e a natureza, de valorizar a história e a cultura capixaba, e de
com uma atitude ecologicamente responsável que visa promover um equilíbrio
promover a formação de consciência ecológica através da educação ambiental.
entre as formas de uso do parque e a conservação de seus recursos naturais.
No ritmo acelerado e no contexto conturbado que vivem grande parte dos
Desse modo, a implementação do projeto do Parque Jequitibá, ainda que possa
moradores de áreas urbanas, essas necessidades podem passar despercebidas.
ter desafios, tem grande potencial para melhorar a qualidade de vida das
Por isso, o acesso ao Parque Jequitibá é uma oportunidade de adentrar
pessoas da comunidade, em especial na perspectiva da educação ambiental.
um espaço que, de diferentes formas, mobilize os sentidos, impulsione os
Os variados espaços projetados podem favorecer a compreensão das pessoas
movimentos com o corpo, convide aos encontros com outras pessoas, desafie
acerca da indissociabilidade entre a natureza e o ser humano e do compromisso
a novos conhecimentos. Ao experimentar essas vivências, cada sujeito em sua
ético de cada um com a preservação dessa relação numa visão de unidade e de
singularidade pode redescobrir a importância dessa conexão das pessoas com
complementação.
os vários elementos da natureza como água, sol, flores, árvores, areia, pedras...
66
referĂŞncias 67
referências
REFERÊNCIAS BRASIL, Lei 9.795 de 27 de abril de 1999, dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm >. Acesso em: 23 ago. 2019.
KOBAYASHI, T. A. Suggestion about Enviaronment Education Using the Five Senses. Marine Pollution Bulletin, 1991. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/ science/article/pii/0025326X9190. Acesso em: 05 jun. 2018
BRASIL. Constituição [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 2002. DF: Senado; 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 22 jun. 2019.
LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, volume 01. Nova Odessa, SP. 1992
BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei 9795/99. Brasília, 1999. CARMONA, M.; HEATH, T.; OC, T.; TIESDELL, S. Public Places, urban Spaces: the dimensions of urban design. Kidlington, Oxford OX5 IGB, UK:. Elsevie30 Corporate DriveBurlington, MA, USA, 2003. D’ÁVILA, F. B. Conceitos e Técnicas para assentamentos na perspectiva da Sustentabilidade. 2005. 222 f. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) - Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, 2008. Disponível em: <http://tede. bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/bitstream/tede/66/1/Flavia%20 Blaia%20dAvila.pdf>. Acesso em: 12 out. 2019. INSTITUTO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS ( IEMA). Atlas da Mata Atlântica do Espírito Santo. , 2018. Disponível em: https://seama.es.gov.br/ Media/seama/Documentos/Reflorestar/Atlas/Cobertura%20Florestal%20por%20 por%20municipios%20V.pdf. Acesso em: 17 jul. 2019. JACOBI, P. R. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005. http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n2/a07v31n2.pdf
68
LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, volume 02. Nova Odessa, SP. 1998 MACEDO, Silvio Soares.; SAKATA, Francine Gramacho. Parques urbanos no Brasil. São Paulo: Edusp[S.l: s.n.], 2002. MACEGA. Dicionário informal da Língua Portuguesa online, 10 nov. 2019. Disponível em: <https://www.dicionarioinformal.com.br/macega/>. Acesso em 10 nov. 2019. MARANDOLA JR., Eduardo.; FERREIRA, Yoshiya. Nakagawara. Da educação ambiental à consciência ecológica: horizontes geográficos. Geografia , - Volumev. 11, - Númeron. 2, p. 283-295, 2 - Jul/Dez. 2002. Disponível em: http://www.uel. br/revistas/uel/index.php/geografia/article/download/6731/6073. Acesso em: 28 ago. 2019. MENDES, S. L.; et al. O muriqui: símbolo da Mata Atlântica. 2 ed. Vitória, ES: Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica, 156p, 2014.
referências
OLIVEIRA, R. C. de. Os usos do precedente: a construção do repertório arquitetônico
SAKATA, F. G. Parques Urbanos no Brasil (2000-2017). Tese (Doutorado em
no ambiente pedagógico do atelier de projetos, 2015. InSitu (São Paulo), Vol.v. 1,
(Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo , Universidade
N.n. 2, p. 41-54, 2015. Disponível em: http://www.revistaseletronicas.fiamfaam.br/
de São Paulo, São Paulo, 2018. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/
index.php/situs/article/download/326/pdf. Acesso em: 17 jun. 2019.
disponiveis/16/16135/tde-20092018-143928/publico/TEfrancinegramachosakata_
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA
rev.pdf. Acesso em: 14 jul. 2019.
E A CULTURA (UNESCO). Educação ambiental: as grandes diretrizes da
SANTIN, D. A. A vegetação remanescente do município de Campinas (SP):
Conferência de Tbilisi. / organizado pela UNESCO. — Brasília: Instituto Brasileiro
mapeamento, caracterização fisionômica e florística, visando a conservação.
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 1997. 154p. — (Coleção
1999. 502 p. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Universidade Estadual de
meio ambiente. Série estudos educação ambiental; edição especial, ISSN
Campinas, Campinas, 1999.. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/
0104-7892).
handle/REPOSIP/315525>. Acessado Acesso em 26 de outubro de 2019.
Disponível
em:
https://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/livros/
educacaoambientalasgrandesdiretrizesdaconferenciadetblisidigital.pdf. Acesso em: 25 jul. 2019.
SIMONELLI, M. Diversidade e conservação das florestas de Tabuleiro no Espírito
OSÓRIO, Maria Gabriela Waiszczyk. O jardim sensorial como instrumento para
costeiros do Espírito Santo: conservação e preservação. Vitória:. EDUFES, 2007.
educação ambiental, inclusão e formação humana. Monografia. Universidade Federal de Santa Catarina, 2018. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/
Santo, 2007. In: MENEZES, F. T.; PIRES, F. R.; PEREIRA, O. J. (Org.) Ecossistemas
VILA VELHA. Lei complementar 65/2018. Institui a revisão decenal da Lei municipal
handle/123456789/192871>. Acesso em: 04 nov. 2019.
nº 4575/2007 que trata do plano diretor municipal no âmbito do município de
PENTEADO, H. M.; ALVAREZ, C. E. de. Corredores verdes urbanos: estudo da
br/legislacao/Arquivo/Documents/legislacao/html/C652018.html. Acesso em: 19
viabilidade de conexão das áreas verdes de Vitória. Paisagem Ambiente: ensaios,
jun. 2019.
- n. 24, - São Paulo - p. 57 -– 68, – 2007. Disponível em: http://www.revistas.usp. br/paam/article/view/85688/88448. Acesso em: 29 out. 2019.
Vila Velha e dá outras providências. Disponível em: http://www.vilavelha.es.gov.
WHYTE, W. H. The Social Life of Small Urban Spaces. Michigan: Printed em United States of America by Edwards Brothers, Inc. Ann Arbor, Michigan, 1980.
69
apĂŞndices 70
apêndices
APÊNDICE A
φ
71
apêndices
APÊNDICE B
72