'EU SOU BOGOTÁ' Ilustração, Literatura Infantil e Visões da Cidade

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EU SOU BOGOTÁ ILUSTRAÇÃO, LITERATURA INFANTIL E VISÕES DA CIDADE

ILUSTRAÇÃO, LITERATURA INFANTIL E VISÕES DA CIDADE

Trabalho Final de Graduação Universidade1º/2022 de Brasília

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Departamento de Projeto, Expressão e Representação

EU SOU BOGOTÁ

Prof. Dr. Lia Campelo Lima Tostes

Prof. Dr. Flaviana Barreto Lira

BRASÍLIA, 2022

Orientação

Prof. Dr. Maria Cláudia Candeia de Souza Banca Examinadora

HELENA BUSTAMANTE AYALA

내가 나인 게 싫은 날 영영 사라지고 싶은 날 문을 하나 만들자 너의 맘 속에다 그 문을 열고 들어가면 이 곳이 기다릴 거야 믿어도 괜찮아 널 위로해줄 Magic Shop -BTS

Dedico este trabalho e o livro que produzi através dele à minha avó Ephigenia, y a mi abuelita Helena.

Aomim.meu

Aos meus amados amigos Artur Tissiani e Bárbara Subtil, encontro de almas, obrigada por todos os momentos juntos durante estes anos de faculdade, sem a sua ajuda e carinho eu não teria chegado

Ao Érico, técnico 24h da Dell que conseguiu salvar estes arquivos no HD corrompido do meu computador um dia antes da entrega final. Você salvou a minha vida.

À minha tia Regina, pela ajuda e conversas que tornaram este proje to possível.

À minha orientadora Maria Cláudia Candeia, pela paciência e con fiança em mim e neste trabalho. Pelo carinho e por ter me guiado durante este um ano e meio, sou grata por termos cruzado cami

que se dedicam e amam a arte, em especial, à Alessan dra Oliveira, por inspirar a proposta deste projeto através dos seus trabalhos e palavras.

Ànhos.professora

Aos meus amigos da FAU - das salas de aula, dos ateliês e da praci nha - pelos ensinamentos de vida, pelas conversas inspiradoras, pelas risadas, e pelos abraços nos dias difíceis. Foi um privilégio compartilhar esta jornada, e o que aprendi com vocês levarei para o resto da vida.

AGRADECIMENTOS

À professora Ana Julia Pedreira, por ser uma luz em meio ao caos da academia e pela sua incansável dedicação a transformar o espaço educativo em um lugar lindo.

Flaviana Barreto, pelas belas palavras e apontamentos no decorrer deste projeto.

Às minhas amizades de infância, de adolescência, de vida adulta, e para sempre, Luiza Báo, Manoella Campos, e Karina Müller, obriga da por sempre estarem aqui, mesmo a distância, e por acreditarem em mim, ainda quando eu mesma não consegui acreditar. Vocês são preciosas.

Aosaqui.amigos

grande amor em forma de vira-lata branco e caramelo, Brisa, pela companhia fiel nas noites longas, e por me lembrar todos os dias aos passeios da tarde de que mesmo quando tudo parece di fícil, ainda existe um mundo inteirinho lá fora.

Aos meus pais, Mauricio e Mercedes, que, cada um à sua maneira, me inspiram e me incentivaram durante esta jornada.

A Leonardo Prysthon, meu companheiro, pelo carinho, compreen são, apoio, e amor todos os dias. Obrigada também pela ajuda técni ca inestimável nessa reta final e por acreditar neste sonho e em

A BTS, por ressucitar a minha paixão pela arte, e por me mostrar através das suas músicas a importância de me manter firme aos meus sonhos.

Aos professores e educadores, incluindo nestes todos os nomes ci tados acima, que marcaram a minha vida. Agradeço a estes pelo es tímulo à curiosidade e ao encantamento pelo que me cerca, por me ensinar a contestar normas e a entender a educação e a arte como ferramenta de transformação.

À minha irmã, Ana, que mesmo distante está aqui.

À FAU e à UnB, agradeço por todas as oportunidades. Me despeço dessa etapa com o coração tranquilo.

26151109 OAPRESENTAÇÃOARQUITETOCOMO EDUCADOR, E PORQUE FALAR SOBRE A CIDADE COM A CRIANÇA A ILUSTRAÇÃO COMO ARTE NARRATIVA E O LIVRO ILUSTRADO “EU SOU BOGOTÁ” E A NARRATIVA DA MEMÓRIA AFETIVA A Memória Afetiva Método e RepertórioProcessosCriativo e Técnico “EU SOU BIBLIOGRAFIACONSIDERAÇÕESBOGOTÁ”FINAIS SUMÁRIO 01 46 09 06 03 01

Ao analisar os currículos de graduação, pós-graduação e ativi dades de pesquisa em extensão das cinco melhores faculdades de arquitetura e urbanismo no Brasil1, a exceção da FAU-USP, onde o grupo de extensão CoCriança2 é ativo, percebe-se a ausência de dis ciplinas e a limitação de pesquisas que abordem a cidade pela ótica das crianças e pelas suas vivências. Dentro do cenário brasileiro, o tópico não é apresentado como uma problemática para o arquiteto e urbanista em formação, e, dessa forma, mesmo que haja o enten dimento de que o espaço urbano será destas crianças no curto espaço de uma década, estas assumirão o papel de preservar e transformar o espaço urbano que as cerca sem a perspectiva de aprendizagem e direcionamento prévios para compreender sua própria relação com a cidade.

As cidades possuem contextos histórico, cultural e arquitetô nico específicos e caberá às próximas gerações transformar estes es paços a partir dos cenários futuros que em muito vão diferir do atual. Para isso, é necessário conhecer e preservar o legado da cidade, ao mesmo tempo em que se compreende a necessidade de adaptar os espaços e tradições às novas realidades que se apresenta rão. Como, então, apresentar e aproximar o contexto urbano às crianças? Quais métodos e estratégias podemos seguir para que crianças compreendam a cidade como parte da sua vivência? Como iniciar processos de apropriação, responsabilidade e cuidado com os espaços urbanos?

APRESENTAÇÃO

2O projeto de extensão CoCriança é um coletivo que repensa o espaço urbano a partir da participação e protagonismo das crianças, entendendo estas também como influenciadoras a nível de comunida de na ocupação e ressignificação dos espaços públicos da cidade.

1 Segundo o Ranking Universitário da Folha (RUF) as 5 melhores faculdades de Arquitetura e Urba nismo no Brasil no ano de 2019 foram, em ordem, a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Universidade de Brasília (UnB).

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Con tínua, 83,5% das crianças no Brasil vivem em áreas urbanas (IBGE, 2018) e têm suas experiências cotidianas moldadas por este am biente. Apesar desse dado, é possível afirmar que a grande maioria das crianças passa a maior parte da sua infância em ambientes fe chados e não vivenciando a cidade. Quando falamos sobre a cidade com crianças, estamos conversando com indivíduos que vão herdar não somente a manifestação física da cidade, do espaço construído, mas também as manifestações sociais desta. Ao serem impedidas de frequentar ou mesmo compreender seu papel como agentes so ciais ativos na cidade, a criança tem seus direitos e suas experiên cias de aprendizagem consequentes à ela reduzidas.

Em seu livro Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire afirma que “Há uma pedagogicidade indiscutível na materialidade do espaço” (FREIRE, 1996), e que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua cons trução” (FREIRE, 1996). Estas duas afirmações, quando pensadas dentro do contexto da Arquitetura e Urbanismo, permitem enten der a importância do conhecimento dos espaços que nos cercam e das experiências que os permeiam. Sendo a cidade reflexo e mate rialização da sociedade, é essencial compreendê-la também como parte do processo educativo.

A partir da minha experiência pessoal dentro da Universidade de Brasília e através de incentivo à pesquisa, laboratórios e grupos extensionistas, pude estudar e desenvolver métodos alternativos para a educação de crianças e jovens. Produzi em parceria com pro fissionais de diversas áreas das ciências naturais recursos lúdico -pedagógicos para transmitir de forma clara e acessível conheci mentos antes restritos ao ambiente acadêmico, e disseminar os sa beres científicos a uma diversidade de grupos, mas principalmente, a crianças e jovens. No ambiente da Faculdade de Arquitetura e Ur banismo, entretanto, é fácil identificar a escassez de iniciativas de contato e/ou de transmissão dos conhecimentos produzidos no espaço da universidade para a sociedade.

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Para atingir o objetivo apresentado, este trabalho está estrutu rado em quatro seções: sendo a primeira o marco conceitual, O Ar quiteto como Educador e Porque Falar Sobre a Cidade com Crian ças, em que analiso o que existe hoje na literatura sobre a relação entre a educação arquitetônica, crianças e cidades; a segunda seção, A Ilustração como Narrativa e o Livro Ilustrado, na qual justifico a escolha do formato da literatura infantil integrada à arte ilustrativa para falar sobre cidade; em uma terceira seção, ‘Eu Sou Bogotá’ e a Narrativa da Memória Afetiva, discorro sobre a cidade de Bogotá e estabeleço o presente projeto de conclusão de curso, apresento o livro ilustrado, seu processo de evolução e sua estruturação a partir da memória afetiva e as referências teóricas e visuais utilizadas para tal. Por fim, concluo este projeto com a seção Considerações Finais, apresentando uma análise do projeto como recurso lúdico e educa tivo e pensamentos finais sobre as possibilidades de implementa ção de abordagens mais diversas sobre a cidade para o público in fantil em um contexto brasileiro.

Diante deste contexto e enxergando a lacuna educativa quanto à cidade, este trabalho de conclusão de curso explora uma nova ma neira de abordar e representar o espaço urbano, além de buscar através dele examinar os processos de entendimento da cidade como um instrumento educativo e estimular discussões acerca do espaço urbano. O presente projeto, “Eu Sou Bogotá: Ilustração, Lite ratura Infantil e Visões da Cidade”, teve por objeto a criação e cons trução de um Livro Infantil Ilustrado sobre a cidade de Bogotá, capi tal da Colômbia. O livro perpassa aspectos histórico-geográficos (lo calização, paisagens e formação de território), do tecido urbano (temporalidades, diversidades construtivas e materialidades), e so cioculturais (costumes, interações e migração), tendo como pano de fundo memórias coletivas históricas e a minha própria memória afetiva da cidade como cidadã colombiana. O livro produzido tem por objetivo apresentar a cidade de uma perspectiva próxima e íntima, fazendo conexão com as experiências afetivas urbanas, an corando-se nas vivências, sensações e memórias proporcionadas ali. A finalidade do material é oferecer exemplos e incentivar a aprendizagem do patrimônio construído e do patrimônio imaterial de Bogotá.

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A atuação do arquiteto como profissional se estende a muito mais do que apenas compreender o espaço e intervir fisicamente nele, a ele também cabe a competência de expressar, representar e explorar uma educação para a cidade. Em seu livro A Educação Ar quitetônica da Humanidade, o professor e pesquisador Luciano Coutinho escreve:

A tarefa educativa das cidades se realiza também através do tratamento de sua memória, e sua me mória não apenas guarda, mas reproduz, estende, comunica-se às gerações que chegam. (...) Falam de épocas diferentes, de apogeu, de decadência, de crises, da força condicionante das condições mate riais. (FREIRE, 1993, p. 14).

Não aprendemos - nem em casa, nem na escola - a refletir sobre o espaço arquitetônico que habitamos (...). Habitar espaços apenas não é condição suficien te para uma educação da humanidade; (...). A arqui tetura é, sem nenhum esforço, responsável por grande parte da educação da humanidade, seja consciente ou inconscientemente, seja para o melhor ou para o pior, é convivendo o espaço que adquiri mos certos princípios, certas soluções, certos pa drões que irão influenciar diretamente nosso com portamento individual, social, cósmico.

Evidencia-se a importância da arquitetura, esta não só como o ele mento construído, mas, também, como tudo que cerca a vida urbana, como formadora de vínculos entre os espaços construídos e aqueles que habitam estes espaços, e também como a facilitadora das associações que ocorrem nestes e moldam o indivíduo como agente social. Segundo Paulo Freire:

Na obra Morte e Vida de Grandes Cidades (1961), a escritora e jornalista Jane Jacobs estabelece a cidade como o cenário e o impul so de existência de vivências e conflitos diversos, de relações de poder e manifestações socioculturais múltiplas. Para a autora, é a partir dos contatos entre indivíduos e das interações geradas na rua, ou seja, na dimensão humana, que pode “florescer a vida pública exuberante na cidade'' (JACOBS, 1961). Em consonância, o arquite to Richard Rogers afirmava que cidades, assim como livros, podem ser lidas, e, para lê-las, é preciso decodificar e compreender sua lin guagem. É preciso se perguntar sobre a ordenação no tecido urbano e suas construções, como ocorre a apropriação do espaço urbano, quais são as manifestações que ali ocorrem e elas proporcionam.

(COUTINHO, 2021, p. 16)

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Pensar o espaço arquitetônico é, antes, refletir-se no mundo, para (re)cria-lo e (re)criar-se a si próprio. Nesse contexto, recriar-se no mundo significa tor nar-se agente do próprio espaço que convive: em sentido ético, político, moral, metafísico, científico, religioso, etc, e também em sentido estético.

O ARQUITETO COMO EDUCADOR, E PORQUE FALAR SOBRE A CIDADE COM A CRIANÇA

A cidade é de construção e de pertencimento coletivo, sendo denominador comum de mudanças sociais, temporalidades múlti plas, vivências, passagens, encontros, relações de poder, conflitos, manifestações culturais e identidades diversas. O espaço público, então, se caracteriza por reduzir as distâncias sociais, e as diversas experiências e interações que ele proporciona são fundamentais para o processo de socialização dos que habitam a cidade.

Com base nestas reflexões, é possível afirmar que vivenciar e perceber as menores escalas do espaço urbano é essencial para a lei tura da cidade e de suas particularidades. Compreender o espaço urbano é estabelecer uma base para desenvolver conhecimentos sobre as estruturas sociais, políticas e culturais, e de proporcionar

(COUTINHO, 2021, p. 18).

De acordo com o Artigo 3º do Estatuto da Criança e Adolescen te, a criança goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, e, sendo assim, deve ser entendida como indivíduo assim como o adulto, ambos sujeitos de direitos e atores sociais ca pazes de contribuir e construir espaços na sociedade. O pensamen to sociológico em relação à criança e à cidade deriva de estudos da socialização, processo pelo qual um indivíduo reconhece, compre ende e internaliza a sociedade. A Sociologia da Infância considera a criança como um indivíduo social ativo e criativo, de opiniões e de potencial transformador dos espaços que a cercam, e busca enten der a sociedade por meio do estudo da infância como uma categoria socialmente construída, ressaltando a importância da atividade co letiva e conjunta para o desenvolvimento de habilidades sociais. Se utilizando de modelos de socialização, a sociologia da infância com preende e defende a criança como indivíduo capaz de produzir suas próprias e exclusivas culturas infantis, enquanto, simultaneamen te, contribui para a produção das sociedades adultas (CORSARO, 2011).

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3 Compilado em Teoria do Desenvolvimento Intelectual de Piaget (1988) por Herbert P. Ginsburg e Sylvia Opper.

Lev Vygotsky (1980) determina a infância como um período social no qual a criança está em constante processo de trocas, tanto entre seus pares quanto com adultos. A partir destas trocas, ou interações, as crianças adquirem novas competências e conhecimentos, e são capazes de também transformar percepções adquiridas previamente. Para Vygotsky, a criança se apropria gradu almente do espaço social no qual está inserida através de processos conjuntos e de linguagens participativas, pelas quais recebe, cria e codifica a cultura que a cerca. Em adição, o sociólogo William Cor saro (2011) sugere que as crianças, a partir das mesmas interações citadas anteriormente, compartilham e criam normas sociais e cul turais para interpretar o contexto social do qual fazem parte. A criança está, então, propensa a absorver por si só uma grande diver sidade de temas e conhecimentos, e é passível de produzir entendi mentos e conclusões próprias a partir de suas interpretações e das apropriações criativas da cultura social dos adultos.

Assim, há uma necessidade latente de aproximação entre o co nhecimento acadêmico e profissional, advindo da formação do ar quiteto e urbanista, e entre as experiências urbanas casuais, daque les que habitam, transitam e vivenciam os espaços da cidade. O processo de troca de conhecimento, de educar e conscientizar sobre o urbano e o construído torna-se uma tarefa essencial da atuação profissional do arquiteto urbanista e, principalmente, uma iniciati va de educação crítica, histórica, social e cultural. Essa abordagem educativa pode ser integrada à fase inicial de formação da cidada nia, a infância, através dos espaços educativos formais e informais, de ações e recursos voltados à educação de crianças.

Segundo o psicólogo Jean Piaget3 “o desenvolvimento intelec tual não é simplesmente uma acumulação de fatos ou habilidades, mas, na verdade, uma progressão da capacidade intelectual ao longo de uma série de estágios qualitativamente distintos” (COR SARO, 2011). A Teoria de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual determina que desde o início da infância a criança é capaz de se apropriar ativamente da sociedade, dos espaços e costumes que a cercam construindo seu mundo social e seu lugar neste espaço. As crianças não são agentes passivos da sociedade, elas recebem e ab sorvem as informações que lhe são transmitidas através de adultos, e constroem suas próprias interpretações do ambiente, produzindo novas concepções que são qualitativamente diferentes das dos adultos.Opsicólogo

discussões construtivas de fortalecimento das comunidades que compõem a cidade. Esta é construída como um espaço, que ultra passa o físico - das suas ruas, seus edifícios e seus monumentosconstituindo um espaço social, marcado pela diversidade, com di mensões e expressões complexas.

(...) a cidade precisa ser compreendida como territó rio vivo, permanentemente concebido, reconhecido e produzido pelos sujeitos que a habitam. É preciso as sociar a escola ao conceito de cidade educadora, pois a cidade, no seu conjunto, oferecerá intencional mente às novas gerações experiências contínuas e significativas em todas as esferas e temas da vida (MOLL, 2009, p. 15).

A inclusão dos elementos da cidade – o espaço público, as edifi cações, monumentos e equipamentos – em um sistema de apren dizagem, e do estabelecimento destes como objetos de estudo his tórico, da tradição cultural e da estrutura sociopolítica de uma cidade, é parte do processo de formação como indivíduo social da criança que os estuda. Assim como para os adultos, os espaços de interação e vivência da criança também perpassam os cenários da cidade, logo, estimular o envolvimento desde a infância na prática da cidade é uma estratégia educativa para construir conhecimen tos, despertar noções de pertencimento e o interesse de diversas ge rações na preservação do espaço urbano coletivo, além de introdu zir as perspectivas sensíveis, criativas e imaginativas típicas da in fância aos processos de transformação urbana e social.

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Assim, considerando o mundo social das crianças, seu cotidiano e experiências, com base no ambiente urbano, fica evidente a impor tância de estimular desde a infância o desenvolvimento de um olhar apurado sobre os seus espaços físicos e sociais, de convívio e vivência.Paulo

nestas reflexões, a cidade, espaço de existência e relações entre diversos grupos, com manifestações múltiplas de suas heranças culturais e sociais, pode e deve ser entendida como um ambiente educativo e formativo, de desenvolvimento social e aprendizados que somam e complementam a educação dos espa ços formais. Falar sobre a cidade com crianças é, então, também tratar o espaço urbano como território educador e como recurso educacional.

Amparando-seespaço.

Freire afirma que “Ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” (FREIRE, 2017), e, a arquiteta e escritora, Mayumi Lima (1989), que durante os anos 1990 discutiu a relação entre educação e arquitetura, descreve a cidade como lugar de conhecimento de si e do outro e, portanto, fundamental para o desenvolvimento individual e coletivo no espaço urbano, sendo fundamental compreender os espaços da cidade nos quais as crianças se inserem, e como elas os percebem e utilizam (LIMA, 1989), pois é através deles e dos convívios possibili tados por eles que a criança desenvolve seu conhecimento sobre construções sociais, políticas e culturais na sociedade e seu próprio papel neste

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A aprendizagem visual aumenta a compreensão cognitiva de conceitos abstratos para crianças. A percepção de ideias de uma criança pode ser radical mente enriquecida por um exemplo visual. Essa compreensão leva à excelência no pensamento per ceptivo. (ARNHEIM, 1993, p. 94).

As imagens, cujo alcance é sem dúvida universal, não exigem menos do ato de leitura. (...) assim como o texto, a imagem requer atenção, conhecimento de seus respectivos códigos e uma verdadeira interpre tação. (LINDEN, 2018, p. 8).

Durante o desenvolvimento deste projeto busquei métodos, processos e ferramentas com caráter educativo para aproximar a cidade e as crianças. A partir destas pesquisas foi possível conhecer um conceito essencial que guiou muitas decisões deste projeto: a Alfabetização Visual. De acordo com Rudolf Arnheim (1993), psicó logo estudioso da teoria behaviorista e da percepção aplicada à arte, a alfabetização visual se refere ao pensamento visual como a capa cidade da mente de unir a observação e o raciocínio para compreen der assuntos diversos. Esta seria o conjunto de habilidades e com petências adquiridas que permitem que um indivíduo perceba, compreenda e interprete mensagens visuais de maneira a criar e compor seus próprios entendimentos a partir daquilo que lhe é ex

posto.Quando

somos alfabetizados nos são dadas ferramentas de compreensão e interpretação da linguística, sintaxe e gramática. Da mesma forma, a alfabetização visual utiliza ferramentas presentes nas imagens para comunicar e criar um vocabulário imagético de significados (DONDIS, 1973). Segundo pesquisadores, à medida que um indivíduo possui maior contato com produtos visuais que per mitam uma diversidade de interpretações e experiências, o vocabu lário imagético deste se expande, e maior é a maturidade das inter pretações, escolhas e julgamentos acerca de questões estéticas.

A introdução desde a infância de materiais narrativos e pictóri cos contribui para o desenvolvimento linguístico e cognitivo, facili ta a aprendizagem de temas abstratos e contribui para o hábito da leitura por prazer. A ilustração, quando elaborada de forma sensível às narrativas da infância e com qualidade artística, desperta na criança a motivação para atribuir seus próprios significados às his tórias, além de estimular o desenvolvimento da capacidade de per cepção, das habilidades afetivas e criativas e enriquecer o universo cultural da criança. Assim, quando exposta a recursos de qualidade teórica, de pesquisa e conteúdo, e visual, das escolhas estéticas, que abordem temáticas sensíveis às cidades, a criança acaba por de monstrar maior desenvolvimento da leitura do seu e de outros mundos socioculturais, assim como dos espaços físicos que a cercam e dos distantes aos seus também.

A ILUSTRAÇÃO COMO ARTE NARRATIVA E O LIVRO ILUSTRADO

O semiólogo e filósofo francês Roland Barthes (1973) define a linguagem como “(...) todos aqueles sistemas dos quais se podem se lecionar e combinar elementos para comunicar algo”. Para ele, a lin guagem não se limitava somente ao escopo verbal e escrito, mas eram todas as diferentes maneiras de expressar uma mensagem, dentre elas, a arte. O que na literatura é expresso através de esco lhas linguísticas e estruturas semânticas, na representação visual pode ser transmitido por cores, linhas, estruturas compositivas e escolhas estilísticas. Na literatura, a ilustração se posiciona como um meio de comunicação inclusiva, possibilitando a relação entre texto e imagem de forma a enriquecer a narrativa apresentada.

Assim, o livro ilustrado permite que a criança se acostume com novas palavras e construa seu vocabulário pela narrativa da mesma forma que permite que ela construa um repertório cultural e visual a partir das imagens. A linguagem da literatura infantil pode ser considerada simples por seu caráter reduzido, mas, na verdade, este aspecto faz com que o autor tenha que elaborar a escrita do texto de forma cuidadosa, se aproveitando de cada palavra e frase para pro duzir uma narrativa evocativa.

forma cuidadosa, se aproveitando de cada palavra e frase para pro duzir uma narrativa evocativa.

cabe o papel de representar o que está escrito e “ler as entrelinhas”, expandir os significados e adicionar uma outra dimensão à história. O uso de elementos visuais para estabelecer hierarquias visuais, sequências narrativas para manter a atenção da criança e dar ritmo ao fluxo da leitura também são aspectos interes santes da representação ilustrativa. No âmbito da ilustração como ferramenta de representação, o desenvolvimento de imagens

Um fator interessante do livro ilustrado é que este não necessa riamente fará parte de um gênero particular ou será destinado a uma faixa etária específica. O livro ilustrado não é um gênero literá rio, mas uma tipologia de linguagem literária que incorpora e assi mila gêneros, códigos linguísticos e estilos ilustrativos (LEWIS, 2001). Em seu livro, Linden afirma que o livro ilustrado infantil é um formato concebido inicialmente para os não-leitores, as crianças, que, porém, consomem o livro através da leitura oral dos seus me diadores, os adultos. Estes lerão o livro inúmeras vezes, fazendo então com que a maior parte dos criadores e editores orientem seus projetos para suprir as expectativas de ambos os grupos. Assim, o livro ilustrado cumpre a função de dual address, ou destinatário duplo, por possuir apelo tanto aos pequenos quanto aos mediadores da sua leitura, que irão compartilhar a experiência e também suas interpretações.Àilustração,

Com base nestas reflexões, a escolha do formato do livro ilus trado para este projeto se deu por ele possuir o caráter de explicar à criança o mundo antes mesmo de que ela seja alfabetizada. A obra Para Ler O Livro Ilustrado (2018), de Sophie Van der Linden, suple mentou grande parte da pesquisa acerca deste formato:

Na infância, também a escuta das narrativas, sejam as dos livros, sejam as de boca (de improvisos ou de lembranças), é fundamental para que a criança des brave mundos, a começar por seu universo singular.

Abrir um livro com uma criança no colo é uma ma neira positiva de entrar em um espaço cultural que possibilita novas experiências espaciais e visuais. O livro cria um espaço de transição que se interpõe entre o mundo exterior, a criança e o adulto. É espaço de projeção de conteúdos psíquicos de cada um dos atores. (PARRA, 2020, p. 168).

De imediato, o livro ilustrado evoca duas lingua gens: o texto e a imagem. Quando as imagens pro põem uma significação articulada com a do texto, ou seja, não são redundantes à narrativa, a leitura do livro ilustrado solicita apreensão conjunta daquilo que está escrito e daquilo que é mostrado. (LINDEN, 2018, p. 8).

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As histórias ajudam a nomear as coisas, criar reper tório de sentimentos, exercitar a empatia. Elas abrem janelas para muitas paisagens e também funcionam como espelhos que refletem quem somos. Ouvir histórias ajuda a criança a visitar a própria interioridade. Nas vozes da mãe, do pai, de um cui dador, dos avós, de um irmão, o momento é de imer são. (ROMEU, 2020)

Considerando, então, que a percepção da criança acerca da cidade pode ser radicalmente enriquecida através dos exemplos vi suais percebidos nas ilustrações, o formato de livro ilustrado para tratar da cidade estimula crianças a analisar também o que as rodeia e a participar mais ativamente das relações socioculturais proporcionadas pelos espaços urbanos. Através de uma abordagem ampla, descritiva e criativa destes conteúdos, o livro encoraja a compreensão dos espaços urbanos como documentos vivos da me mória histórica social e cultural, e oferece estímulo criativo para que a criança pense no ambiente da cidade de forma lúdica, e pro porciona sentimentos de apropriação por parte da criança dos espa ços representados.

A literatura, assim como também o exercício brin cante, é arte que nos fornece espessura, textura, volume, força e densidade para elaborar outros hori zontes e, principalmente, construir novas moradas, tanto interiores quanto exteriores. Ao criar universos que só existem na linguagem, criamos universos que sustentam também mundos reais. Por isso, mais do que nunca precisamos brincar, ler, contar (e habitar) histórias. (ROMEU, 2020).

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a partir da observação das lógicas da cidade, das vivências e de prá ticas sociais cotidianas, pode estabelecer um processo educativo de apresentação e entendimento dos espaços urbanos.

“EU SOU BOGOTÁ” E A NARRATIVA DA MEMÓRIA AFETIVA

A autora e jornalista Gabriela Romeu, especializada em produ ção cultural para infância, em seu artigo ‘Para Habitar o Quintal (e o Mundo)’ reflete sobre o espaço:

Compreender a cidade é também entrar em contato com as narrativas que a cercam, as memórias do espaço físico e as memó rias dos que já passaram por ali, “A experiência de tornar um espaço em lugar pode ser mediada pela afetividade, que compreende emo ções e sentimentos, e orienta a maneira como os indivíduos habi tam, circulam e sentem a cidade.” (KLEIN, 2016). Assim, o livro ilus trado ‘Eu Sou Bogotá’, tem por objetivo tecer conexões com experi ências afetivas urbanas, tendo seu conteúdo ancorado nas vivên cias, sensações e memórias afetivas proporcionadas pela cidade.

De acordo com a antropóloga francesa Michèle Petir, para que possamos nos inscrever no espaço e para que o mesmo seja habitável, ‘ele deve contar histó rias, ter toda uma espessura simbólica, imaginária. Sem narrativas - nem que seja uma mitologia fami liar, umas poucas lembranças -, o mundo permane ceria lá como está, indiferenciado; ele não nos seria de nenhuma ajuda para habitar os lugares em que vivemos e construir nossa morada interior. (ROMEU, 2020)

Sou brasileira por parte de mãe, e colombiana por parte de pai, e por ter ambas as nacionalidades possuo afinidade e identificação com mais de uma cidade. Apesar de nascer e crescer em Brasília, o distanciamento das relações com a cidade fruto da escala monu mental urbana fez com que as minhas experiências afetivas com o ambiente da cidade não se dessem aqui. Identifico-me com a cidade do Rio de Janeiro, onde mora minha avó materna e onde passei muitas férias escolares, e com a cidade de Bogotá, onde mora a minha família por parte de pai e a minha Abuela, Helena, de quem recebi o mesmo nome. Ambas cidades, cada uma a sua maneira, são exemplos de grandes metrópoles latino americanas, com práti cas urbanas próprias, formações territoriais diversas e dinâmicas culturais e sociais imensamente interessantes. Sendo assim, a deci são se dividiu entre estas duas cidades. A partir da pesquisa biblio gráfica de materiais já existentes pude perceber a baixa produção de livros e materiais para crianças brasileiras que abordem outras ci dades da América Latina, e, dessa forma, tomei por partido ilustrar a cidade de Bogotá.

A MEMÓRIA AFETIVA

Nesse âmbito da narrativa, há uma dimensão mais objetiva, que é a da memória do lugar, das histórias - reais e fictícias -, da consciência territorial; e uma dimensão subjetiva, que é a de nossa própria experi ência. Obviamente, as histórias que um lugar carre ga e a maneira com que são contadas ajudam a en tender onde se está, e a dar sentido para o lugar. Quando entendemos o território, quando sabemos coisas sobre o lugar ou ao menos sabemos nos locali zar, nos sentimos mais à vontade, estamos situados. (POMPEIA, 2021.)

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Tratando da memória afetiva e de identidade, a memória se conforma por acontecimentos pessoais e coletivos, personagens e lugares que perpassam tempos e espaços, enquanto a identidade está diretamente relacionada às noções de pertencimento, percep ção e unificação de um todo (POLLAK, 1992). Os conceitos de me mória e de identidade estarão sempre ligados, de forma que um as segura a existência do outro.

Dessa forma, a escolha da cidade que seria o foco do livro ilus trado se deu a partir de minhas experiências pessoais e afetivas com ambientes urbanos, da reflexão da minha memória e identidade como pessoa e como arquiteta.

PERGUNTA(S)

MÉTODOS E PROCESSOS

MEMÓRIA AFETIVANARRATIVOCAMINHO

Essa pergunta é definida a partir da identificação de lacunas do co nhecimento, ou demandas do conhecimento. No caso deste traba lho, as perguntas se delimitam à formação e função educadora do arquiteto de aproximar a sociedade às discussões sobre espaço urbano e patrimônio, e a como apresentar às crianças um patrimô nio que é delas e ao qual elas pertencem também: a cidade.

Para a criação do livro ilustrado foi então desenvolvida uma metodologia de pesquisa e produção, dividida em 4 etapas. A primeira etapa consiste na definição de uma ou mais perguntas que serão respondidas ou sanadas pelo material a ser produzido.

A partir da familiaridade e das memórias geradas pelo processo repetitivo e lúdico de ler livros infantis, tanto da criança acompa nhada pelos tutores - os leitores iniciantes de 4 a 6 anos - quanto da criança que já consegue ler sem assistência - o leitor independente de 7 a 9 anos e o experiente de 8 a 10 anos - tomei as minhas pró prias memórias para a definição da abordagem e trajetória do con teúdo do livro. As experiências afetivas urbanas a partir da minha percepção da cidade e da forma como experimento e me identifico como sujeito com o que me cerca foram definidoras do conteúdo do livro. Em adição, esta abordagem e a tipologia do livro ilustrado como material de aprendizagem permitem suprir a lacuna na for mação dos arquitetos do entendimento de que é necessário educar desde a infância sobre a cidade a fim de transmitir noções de per tencimento e identificação e de aguçar a leitura dos espaços.

ESTUDO DE DE APRENDIZAGEM

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FERRAMENTASEDUCATIVAS O

MÉTODOS

A identificação das perguntas irá guiar o material através da pesquisa e estudo de ferramentas para melhor suprir os espaços das lacunas do conhecimento estabelecidas. Através de materiais didá ticos e lúdicos é possível educar sobre diversos temas, e o livro ilus trado infantil é capaz de traduzir o conhecimento a diferentes lin guagens: a visual, das imagens e ilustrações; a do texto, do conteúdo e história; e a emocional, da narração e das relações que a leitura do livro podem gerar.

1ª DEFINIÇÃOETAPADOPROBLEMA/PERGUNTADEPESQUISA

DEFINIÇÃO INICIAL DA ABORDAGEM E

COMO APROXIMAR CRIANÇAS DO PATRIMÔNIO E DA CIDADE LIVRO ILUSTRADO

A

IDENTIFICAÇÃO DE LACUNAS E DA LINHA DE PENSAMENTO IRÁ GUIAR O PROJETO FORMAÇÃO DO ARQUITETOEDUCADORCOMO

E AVALIAÇÃO

LITERATURAINFANTIL

REFERÊNCIASLEVANTAMENTOBIBLIOGRÁ-FICASEINSPIRAÇÕESPARAESTÉTICADOLIVROILUSTRADO

REFERÊNCIAS

GRÁFICASREFERÊNCIAS/VISUAIS REFERÊNCIASTEÓRICAS

DIRETRIZES DE ARTE E DE CONTEÚDO DO LIVRO

PATRIMÔNIO CIDADE

MEMÓRIACOLETIVAHISTÓRICA PESSOA A CIDADE CONTA A SUA PRÓPRIA HISTÓRIA

DEFINIÇÃOLIVRO

LINGUAGEMNARRADORDOMEMÓRIAAFETIVAPESSOAL

2ª LEVANTAMENTOETAPA DE REFERÊNCIAS

A segunda etapa consiste no levantamento de referências bi bliográficas. A pesquisa de referências se deu a partir da análise de diferentes materiais para compreender a linguagem gráfica e textu al do livro infantil - livros ilustrados, zines, produções gráficas, etc.e também de referências teóricas que abordam a cidade e o patri mônio como campo de aprendizagem. Inclui-se nesta última pes quisa específica de materiais sobre a cidade de Bogotá, em seus as pectos históricos, arquitetônicos, culturais e sociais. Este material coletado de qualidade teórica, narrativa e visual permite a definição das diretrizes de arte e de conteúdo do livro ilustrado.

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A terceira etapa, de composição do livro, se inicia pela definição do narrador. Neste caso, o narrador é a própria cidade de Bogotá. A definição inicial de uso de apenas as minhas memórias afetivas não poderia suprir a demanda de conteúdos a serem abordados quando a cidade conta sua própria história, e, dessa forma, foram incluídas memórias coletivas históricas convergindo as duas abordagens. A partir destas é possível definir a linguagem e a história do livro, o ritmo da narração, o que será abordado, além de começar a pensar os quadros ilustrados que irão compor o livro a partir de sketches iniciais, ilustrações preliminares e de um storyboard.

ILUSTRADOSLIVROS

A STORYBOARDLIVROCOMPOSIÇÃO3ªHISTÓRIAETAPADOILUSTRADOABORDAGEMSKETCHESINICIAIS

MATERIAIS QUE ABORDEM PATRIMÔNIO E CIDADE, E MATERIAIS ESPECÍFICOS QUE TENHAM COMO PANO DE FUNDO A CIDADE DE BOGOTÁ

PALETA DE CORES FONTE ILUSTRAÇÕES

Finalmente, na quarta e última etapa tem-se a consolidação do livro ilustrado. Nesta etapa é definida a linguagem visual do livro: a paleta de cores, as fontes e as ilustrações que irão compor o livro. A partir destas, são criados protótipos para analisar a fluidez do texto com as imagens, a necessidade de adicionar ou eliminar quadros, melhores composições gráficas e o balanço entre as memórias pes soais afetivas e as memórias coletivas históricas. A partir da avalia ção dos protótipos são feitos ajustes e alterações e a diagramação para o formato de livro. Por fim, é criado o livro ilustrado como pro duto final.

PROTÓTIPOAJUSTES

FORMATAÇÃO IMAGENSBALANÇOETEXTO

BALANÇO CONTEXTO HISTÓRICO E COTIDIANO PRODUTO FINAL

Este processo metodológico foi desenvolvido durante os três semestres que compõem os processos de diplomação em arquitetu ra e urbanismo, e com foco na temática da cidade, patrimônio e me mória afetiva, no entanto, é possível afirmar que o método pode ser traduzido para outras temáticas ou mesmo outras abordagens para desenvolver uma diversidade de materiais educativos e lúdicos vol tados ao ensino da arquitetura e do urbanismo para crianças.

DEFINIÇÃO DA LINGUAGEM VISUAL DO LIVRO ILUSTRADO

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4ª CONSOLIDAÇÃOETAPA

PERGUNTA(S)IDENTIFICAÇÃO DE LACUNAS E DA LINHA DE PENSAMENTO IRÁ GUIAR O PROJETO A FORMAÇÃO DO ARQUITETOEDUCADORCOMO COMO APROXIMAR CRIANÇAS DO PATRIMÔNIO E DA CIDADE FERRAMENTASEDUCATIVAS O LIVRO ILUSTRADO ESTUDO E AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE APRENDIZAGEM MEMÓRIA AFETIVA DEFINIÇÃO INICIAL DA ABORDAGEM E NARRATIVOCAMINHO 1ª DEFINIÇÃOETAPADOPROBLEMA/PERGUNTADEPESQUISA REFERÊNCIASESTÉTICAINSPIRAÇÕESLEVANTAMENTOREFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICASEPARADOLIVROILUSTRADO GRÁFICASREFERÊNCIAS/VISUAIS REFERÊNCIASTEÓRICAS ILUSTRADOSLIVROS DIRETRIZES DE ARTE E DE CONTEÚDO DO LIVRO 2ª LEVANTAMENTOETAPA DE REFERÊNCIAS LITERATURAINFANTIL PATRIMÔNIO CIDADE MATERIAIS QUE ABORDEM PATRIMÔNIO E CIDADE, E MATERIAIS ESPECÍFICOS QUE TENHAM COMO PANO DE FUNDO A CIDADE DE BOGOTÁ DEFINIÇÃOLIVRO LINGUAGEMNARRADORDOMEMÓRIAAFETIVAPESSOAL MEMÓRIACOLETIVAHISTÓRICA 1ª PESSOA A CIDADE CONTA A SUA PRÓPRIA HISTÓRIA A STORYBOARDLIVROCOMPOSIÇÃO3ªHISTÓRIAETAPADOILUSTRADOABORDAGEMSKETCHESINICIAIS DEFINIÇÃO DA LINGUAGEM VISUAL 4ª CONSOLIDAÇÃOETAPA DO LIVRO ILUSTRADO PALETA DE CORES FONTE ILUSTRAÇÕES PROTÓTIPOAJUSTES FORMATAÇÃO IMAGENSBALANÇOETEXTO BALANÇO CONTEXTO HISTÓRICO E COTIDIANO PRODUTO FINAL METODOLOGIA COMPLETA 14

Como estipulado anteriormente na metodologia de projeto, na segunda etapa de desenvolvimento deste trabalho ocorreu o levan tamento de referências bibliográficas. Durante a pesquisa foram analisados materiais gráficos - zines, publicações, literatura teórica e literatura infantil ilustrada - para maior entendimento da lingua gem visual, textual e narrativa do livro infantil, e materiais teóricos - livros, publicações, artigos e outros - que debatem e tratam das ci dades e o patrimônio, com enfoque na cidade de Bogotá.

Os materiais aqui apontados possuem: qualidade de conteúdo teórico quanto às análises comparativas das paisagens urbanas e exploram cidades ou ambientes públicos de convívio social a partir de diferentes perspectivas e vivências; qualidade narrativa através da exploração do universo social das crianças e seus potenciais cria tivo e imaginativo; e, por fim, qualidade artística ao utilizar a ilus tração como auxiliar ou linguagem principal para falar sobre a cidade e o que nos cerca, tornando os conhecimentos a serem transmitidos acessíveis a públicos diversos, desde as crianças até os adultos. Estes materiais gráficos foram considerados bons referen ciais para o desenvolvimento do livro ilustrado "Eu Sou Bogotá", visto que se pode extrair de cada um valores artísticos e de aborda gem de conteúdos históricos, sociais e culturais que permeiam as cidades.

REPERTÓRIO CRIATIVO E TÉCNICO

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As ilustrações são o ponto forte do livro. Com composições coloridas e ricas em elementos e detalhes Jeffers consegue capturar a diversidade e beleza do planeta e es timula o leitor a refletir e observar o que o cerca.

A história aborda conceitos de natureza, cidade, pessoas, relações e vivências diversas, se utilizando da narrativa em primeira pessoa para ensinar e dar conselhos sobre a vida e sobre como interagir com o ambiente.

AUTOR: OLIVER JEFFERS

O livro Aqui Estamos Nós convida o leitor a pensar sobre o planeta e a vida que levamos neste em todas as suas escalas, da maior - do universo - à menor - da casa e família. O narrador é o próprio Jeffers, que assume a voz de um pai conversando com o filho que acaba de nascer, contando sobre tudo o que ele eventualmente irá conhe cer, mostrando vários pontos de vista.

EDITORA: TIPOLOGIASALAMANDRA:LIVROINFANTIL ILUSTRADO

NÓS: NOTAS SOBRE COMO VIVER NO PLANETA TERRA (2017)

AQUIANÁLISEESTAMOS

AUTOR: ARNO VOGEL, MARCO ANTÔNIO DA SILVA MELLO, ORLANDO

EDITORA: TIPOLOGIAEDUFF:LIVRO DE PESQUISA ETNOGRÁFICA

QUANDOANÁLISE

Assim, a partir do quadro comparativo entre as locações, o trabalho de pesquisa explora a Rua, ou o espaço da cidade, como uma extensão da casa e a importância da diversidade de indivíduos, dinâmica de atividades e interações para o entendimento das cidades como espaços vivos de apropriação e articulação de cultura urbana

Este livro é um trabalho etnográfico e pesquisa urbana e arquitetônica do bairro Catumbi e do conjunto Selva de Pedra, ambos no Rio de Janeiro. São explorados estu dos de planejamento, antropologia e sociologia urbana, além de entrevistas, fotografias e ilustrações como métodos de abordagem socioespacial dos espaços públicos e priva dos nas duas locações.

A pesquisa demonstra as apropriações do espaço vivido e as performances do co tidiano por moradores do Catumbi, bairro cujo planejamento urbano não é ordenado ou pré-determinado, no qual as relações entre privado e público se mesclam e há grande diversidade de apropriações da cidade pelos moradores, e da Selva de Pedra, conjunto em que as ideias modernistas de planejamento urbano foram utilizadas, elu cidando as noções de classificação clara dos espaços públicos e privados, gerando ho mogeneização dos modos de se viver e usar a cidade.

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A RUA VIRA CASA: A APROPRIAÇÃO DE ESPAÇOS DE USO COLETIVO EM

MOLLICA [ILUSTRAÇÕES]

UM CENTRO DE BAIRRO (1985)

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TIPOLOGIA: LIVRO INFANTIL, BIBLIOGRAFIA ILUSTRADA

LINA,ANÁLISEAVENTURAS

AUTOR: ÁNGELA LEÓN

DE UMA ARQUITETA (2019)

Apesar disso, já durante a infância fica claro que Lina está fazendo observações de mundo, das cidades e das interações que nelas acontecem. Os mesmos argumentos apresentados pela figura da criança na sua linguagem aparecem novamente no discurso de Lina ao falar sobre a vida urbana e como esta influência suas criações na vida adulta.

As ilustrações de Lina criança possuem indicações verticais, edificações e elementos altos e a figura de Lina sempre sozinha e muito pequena em relação ao que a rodeia. Este recurso de ilustração é utilizado para demonstrar a visão da infância, como aquele pequeno universo ao qual Lina faz parte não foi feito pensando na escala das crianças. Já na fase adulta, as ilustrações têm indicações mais hori zontais, de forma a indicar uma abertura e maior acessibilidade ao universo que a rodeia.

EDITORA: PEQUENA ZAHAR

O livro conta a história de vida da arquiteta e designer Lina Bo Bardi, contextualizando sua obra e seu universo tanto infantil quanto adulto. A leitura acompanha períodos históricos e acontecimentos relevantes na vida da arquiteta, esclarecendo como percepções e vivências da sua infância se interco nectavam com seus projetos.

O trabalho da arquiteta vai além da arquitetura construída, é também sobre a cidade e as pessoas que fazem a cidade. Assim, a narrativa demonstra a sensibilidade e potencialidade criativa da criança como indivíduo que constrói a cidade também e a importância da inclusão dessa criança no espaço urbano.

TIPOLOGIA: ZINE ILUSTRADO

AUTOR: RAFAEL SICA

Assim, as casas são a representação de uma cidade a princípio fictícia, mas que contém ele mentos que podem ser encontrados e interpretados como pertencentes a qualquer cidade do Brasil, seja pelas tipologias das construções, seja pelo abandono e deterioração dos espaços mais tradicionais das cidades.

EDITORA: LOTE 42

As ilustrações representam casas com elementos da construção brasileira do final do século XIX e início do século XX como a arquitetura barroca, neoclássica e eclética que são comumente encon tradas nos centros históricos e bairros mais antigos das cidades. Em adição, as diversas tipologias arquitetônicas ilustradas na obra estão diferentes estágios de conservação e degradação, apresen tam modificações e diversidade de usos e funções.

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Na narrativa visual, as construções residenciais tradicionais contrastam com personagens em situações cotidianas e também situações fantásticas, são explicitados diferentes personagens hu manos ou não e atividades e usos dos mais diversos. Este processo de mostrar a vida das edificações para além da sua arquitetura humaniza o espaço das cidades, demonstra a tênue barreira entre o universo público e o universo residencial/privado de forma a despertar a curiosidade do leitor para as construções que o cercam na cidade.

FACHADASANÁLISE (2017)

A arquitetura abordada não é a monumental e turística típica de guias tradicionais, mas sim a arquitetura doméstica, a cotidiana do dia a dia da cidade. São ilustrados os edifícios residenciais e casas, além de seus nomes, peculiaridades estéticas e até seus interiores. O livro aborda o espaço público através da visão e narrati va do pedestre. As ilustrações acompanham a caminhada pela escala humana mostrando as árvores nas ruas, sacadas com plantas, mobiliário urbano, os viadutos, parques, as atividades reais e as fictícias potenciais, além dos espaços de encontro nos bairros, das manifestações e migrações que compõem a identidade cultural da cidade. Essa abordagem tem por intenção ressaltar a vivência real das pessoas na cidade, vivência esta poucas vezes considerada turística.

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A narrativa é dividida 3 partes: Introdução, Parte 1 - Paisagens (rios, arquitetura, ar livre), e Parte 2 - Cul tura (espaços, cultura material, migrações) e perpassa lugares de São Paulo que existem, mas também mostra o que eles poderiam ser em uma visão mais utópica da cidade. O guia aponta intervenções urbanas sustentá veis, novos usos e equipamentos de forma a sugerir vivências à paisagem, como por exemplo um Rio Tietê limpo, navegável e aberto para banhistas.

GUIAANÁLISEFANTÁSTICO

EDITORA: LOTE 42

TIPOLOGIA: LIVRO ILUSTRADO, SUBVERSÃO DO GUIA TURÍSTICO

AUTOR: ÁNGELA LEÓN

O Guia Fantástico de São Paulo pode ser visto como uma crítica ao guia turístico tradicional, uma subver são do gênero que vai abordar não apenas as paisagens, bairros, arquitetura, cultura e cotidiano da capital pau lista, mas também fantasiar sobre a cidade e cenários possíveis.

DE SÃO PAULO (2018)

DE FRENTE: ARQUITECTURA DE BOGOTÁ (2010)

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LAANÁLISEHISTORIA

AUTOR: ALBERTO ESCOVAR WILSON-WHITE, ANTONIO CASTAÑEDA BURAGLIA [FOTOGRAFIAS]EDITORA:LETRARTE

A publicação enquanto referência se propõe a consolidar cada uma das edificações que repre senta como um marco no tempo e na memória da cidade, estabelecendo a pegada destas na história e dando luz a processos de valorização e conservação ou de apagamento e consequentemente de de saparecimento das construções da cidade.

O livro La Historia de Frente aborda o patrimônio construído de Bogotá a partir das fachadas das edificações. As fotografias tratadas isolam as formas arquitetônicas do contexto vizinho e tempo ral da cidade, permitindo a leitura destas de maneira atemporal. Apesar das fotografias induzirem esta percepção, cada um é acompanhada por textos que estabelecem os contextos históricos, cultu rais e sociais da concepção e construção de cada edificação, estabelecendo o processo histórico e as mudanças que ocorreram na cidade com o passar do tempo.

EDITORES

TIPOLOGIA: LIVRO DE FOTOGRAFIA DE PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO E URBANO

MEU QUINTAL: O BRINCAR DE MENINAS E MENINOS DE NORTE A SUL (2019)

JOÃO

EDITORA[ILUSTRAÇÕES]:PEIRÓPOLISTIPOLOGIA:LIVRODE RELATO DE VIAGEM, ETNOGRAFIA DA INFÂNCIA NO BRASILLÁANÁLISENO

AUTOR: GABRIELA ROMEU, MARLENE PERET, SAMUEL MACEDO [FOTOGRAFIAS], KAMAL

O projeto Lá no Meu Quintal é uma pesquisa etnográfica abordando as culturas de infância a partir das vivências e brincadeiras de crianças no país. O espaço do quintal é o ponto de partida para explorar costumes e o imaginário das crianças. Esclarece-se que “quintal” não é necessariamente um espaço físico diretamente ligado à casa, para as autoras, quintal é um espaço coletivo e de convivência da infância, podendo ser à beira do rio, a varanda do prédio, a floresta, a quadra do bairro, e mesmo a própria rua nas cidades. Ao definir quais são os espaços coletivos utilizados pelas crianças são apresentadas as características geográficas e culturais da região, além dos grupos étnico-raciais e sociais aos quais as crianças fazem parte.

A narrativa explora como as condições regionais e sociais influem nas vivências e como as crianças são agentes ativos na criação de espaços de brincadeira e de brinquedos (ex. no Norte os brinquedos produzidos são de madeira entalhada ou feitos com sementes, enquanto no Nordeste se vê o uso do metal, reciclado de outros usos). Apesar das diferenças sociais e geográficas entre os grupos entrevistados, associações podem ser feitas entre as crianças das regiões brasileiras a partir de brincadeiras que se repetem ou são semelhantes entre si, deixando claro que o brincar é uma linguagem universal da infância.

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Esta publicação do Instituto Distrital de Patrimonio Cultural da Alcaldia de Bogotá aborda uma cate goria essencial da memória histórica das cidades: o comércio tradicional. As lojas são referência da memó ria viva e da identidade da capital Bogotá e a publicação se posiciona de maneira a reconhecer e promover a salvaguarda dos ofícios e atividades associadas ao comércio.

AUTOR: INSTITUTO DISTRITAL DE PATRIMONIO CULTURAL EDITORA: ALCALDIA MAYOR DE BOGOTÁ D.C.

EN

TIPOLOGIA: CATÁLOGO DE MAPEAMENTO DE COMÉRCIO LOCALBOGOTÁANÁLISE EL CENTRO: TIENDAS CON MEMÓRIA (2019)

No centro histórico de Bogotá, o comércio tradicional permaneceu por várias décadas, tanto fisica mente quanto no imaginário da cidade. Padarias e restaurantes, galerias comerciais, praças de mercado, chapelarias e botoeiras, lotéricas, engraxates, cafés, delicatessens e livrarias, entre tantos outros, ainda são referência de práticas e processos históricos em Bogotá. A publicação entende o comércio tradicional como aquele que corresponde a atividades produtivas que têm reconhecimento social e cultural devido a sua con tinuidade temporal no espaço, dos conhecimentos transmitidos, sua relação com os processos históricos, e a representatividade que possuem para algumas pessoas e grupos sociais.

Atualmente, o IDPC dispõe de uma lista de locais de comércio tradicional no centro histórico compos ta por mais de 100 registos. A ação de reconhecer o comércio tradicional como parte do patrimônio presente na cidade significa tornar visível sua importância como referência da memória urbana e reconhecer sua va lidade na vida contemporânea e na revitalização das potencialidades do território.

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O livro é escrito por Sheril Salazar, arquiteta e mestra em estética e história da arte, apresentando as doze zonas da cidade de Bogotá seguindo a ordem cronológica na qual foram surgindo, os diferentes perío dos de crescimento urbano da cidade desde a praça de fundação até a consolidação atual da estrutura urbana. Esta característica torna a publicação não apenas em um mapeamento desta arquitetura marcante, uma leitura cartográfica do espaço, mas também um registro histórico da cidade, abordando as mudanças culturais e sociais pelas quais o espaço urbano passa também.

TIPOLOGIA: MAPEAMENTO DE PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO E URBANOLAANÁLISECIUDAD

EDITORA: ALCALDIA MAYOR DE BOGOTÁ D.C.

Cada elemento edificado possui como identificação: localização na cidade; contexto histórico; datas de início e finalização de sua construção; os arquitetos, engenheiros e artistas envolvidos na sua concepção; e fotografias; tornando o material uma ótima referência bibliográfica para as ilustrações e criação de concei tos para o livro ilustrado.

EN EL TIEMPO: EL PATRIMONIO CONSTRUIDO DE BOGOTÁ (2019)

AUTOR: SHERIL NATALIA SALAZAR BAYONA

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O Instituto Distrital de Patrimonio Cultural (IDPC) se responsabiliza pela identificação, salvaguarda e conservação do patrimônio edificado da cidade de Bogotá, e esta publicação em formato de inventário representa os esforços para consolidar a argumentação de defesa e valorização cultural da arquitetura resi dencial, monumental e urbana da cidade.

O LIVRO ILUSTRADO (2018)

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Esta publicação reflete sobre o livro ilustrado e a literatura infantil como forma de expressão, identificando os pro cessos que a permeiam, da sua criação no século XIX e consolidação no século XX, até os dias atuais. A autora analisa o papel dos fenômenos históricos e técnicos da criação dos livros voltados ao público infantil, trazendo reflexões teóricas de outros teóricos, depoimentos de editores, autores e artistas e diretores de arte para analizar mais de trezentos títulos e quase seiscentas imagens. Em adição, o estudo não se limita a publicações de apenas um país ou região, mas de diversos países e backgrounds.

AUTOR: SOPHIE VAN DER LINDEN

TIPOLOGIA: TEORIA E HISTÓRIA CRÍTICA DA LITERATURA INFANTIL

PARAANÁLISELER

O livro perpassa o conteúdo das histórias infantis, a abordagem, a linguagem, narração, e a arte envolvida na criação do livro infantil, sendo esta dividida em formação gráfica e visual, técnicas de desenho, composição de texto e imagens e até classificação de tipologia de páginas.

Dessa forma, a publicação é grande referência para o estudo do livro ilustrado como ferramenta de expressão e para a ampliação das possibilidades de concepção dessa tipologia de material.

EDITORA: COSAC NAIF, SESI-SP EDITORA

“EU SOU BOGOTÁ”

Para a concepção e definição do livro é necessário compreender a cidade de Bogotá e suas nuances. Com quase 5 séculos de fundação e uma história de povos tradicionais na região que remonta o ano de 800 d.C., Bogotá é uma grande mistura de temporalidades, culturas, práticas sociais e estilos arquitetônicos representati vos da longa história da cidade. A cidade está em um grande planalto cercado pela Cordilheira dos Andes, e o cenário natural contrasta com a grande metrópole que abriga fortes características do urbanismo espanhol em malha e com eixos resul tantes do relevo natural, bairros de arquitetura colonial preservada como patrimô nio histórico, influências das construções mouras, arquitetura moderna em gran des torres residenciais revestidas com o tradicional ladrillo - tijolo avermelhado presente em grande parte das construções da capital -, projetos habitacionais forte mente influenciados pela escola modernista de Le Corbusier além das reformas de re-urbanização e qualificação urbana da cidade que começaram nos primeiros anos do século XXI.

Visto que é o centro administrativo, político, econômico, artístico e cultural da Colômbia, a cidade é um grande polo de oportunidades, e a sua população, os bogo tanos, é composta por descendentes de espanhóis, de povos indígenas tradicionais da região, por colombianos advindos de outras cidades do país e por imigrantes, sendo uma parcela destes de diversas regiões europeias e asiáticas que se assenta ram no país após a segunda guerra. Em adição, os conflitos armados e as cicatrizes do passado de narcotráfico no país fizeram também com que a cidade recebesse uma enorme onda de migração populacional de colombianos deslocados de forma forçada do campo e de grupos populacionais de outros países da América Latina que fugiam dos conflitos internos de seus países e buscavam melhores condições de vida. A cidade não possuía infraestrutura para a grande quantidade de pessoas que se deslocaram para lá, causando um duro processo de periferização e segrega ção socioespacial, típico de cidades latino-americanas.

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Descendentes Muiscas da localidade Suba em Bogotá

A CAPITAL BOGOTÁ

Apesar do inchaço populacional e das desigualdades sociais que apresenta, a rique za cultural da cidade, advinda de seus muitos anos de memórias, e da diversidade de influ ências culturais e de práticas sociais das po pulações que nela habitam é imensurável. Bogotá converge uma diversidade imensa de grupos étnicos, sociais e de dinâmicas cultu rais históricas tradicionais e modernas em seus espaços urbanos. A cidade e suas estru turas permitem refletir sobre questões de mobilidade, acessibilidade, apropriação dos

Visão da cidade com Cordilheira

a

ao fundo

Cidade como cenário e palco de manifestações diversas

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comunidade

Comemorações da LGBTQIA+ na Praça BolívarParo Nacional de 2021

Uma das variações existentes dessa técnica é desenvol vida pela comunidade Guna, presentes no Panamá e em parte da Colômbia, a Mola. As molas são obras que se repro duzem a partir da junção consciente e organizada de vários retalhos de tecido, ilustrações, padrões e até mesmo histó rias.

Assim, entendendo a cidade de Bogotá, sua formação e grande diversidade cultural como um ponto de foco do tra balho, a identidade visual do livro surge da expressão de uma colcha de retalhos e da analogia da Mola como técnica de contar histórias.

COLCHA DE RETALHOS E A IDENTIDADE VISUAL DO LIVRO

A colcha de retalhos então é a expressão da escala macro da cidade, da diversidade da malha urbana - formação terri torial e do tecido urbano -; os tecidos e estampas represen tam a escala mezzo da cidade - arquitetura e edificações -; e as texturas remetem a escala micro - materiais, revestimen tos, fachadas, tipografia vernacular, ofícios urbanos, e mani festações socioculturais -.

Para o livro foi desenvolvida uma estampa que ilustra a colcha de retalhos e que irá aparecer em momentos diversos da história. Na capa do livro, temos dois elementos princi pais, a cadeia de montanhas que define o traçado da cidade e a colcha de retalhos, essa mesma colcha também estampa o fundo do livro, porém agora demonstrando a continuidade da formação da cidade a partir da representação da agulha e linha.

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A colcha de retalhos, quilt ou patchwork é uma técnica milenar de costura presente em muitas culturas em diferen tes formas. A técnica consiste na junção de camadas e peda ços de tecidos de diferentes padrões que terminam por compor uma peça única. Inicialmente o quilt era um ofício prático que garantia proteção e isolamento do frio, porém, com o tempo novas técnicas foram desenvolvidas e elemen tos decorativos foram incorporados ao processos, sendo muitas colchas consideradas peças de arte.

A CADEIA DE

MOLA

TEXTURAS

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ESTAMPACAPAFUNDO MONTANHAS

PADRÕES MODERNOS

CONTINUIDADE E TRANSFORMACOES URBANAS FUTURAS ESTILOS TRADICIONAIS

O STORYBOARD 31

DIVISÃO EM DOIS QUADROS DISTINTOS POR DIAGRAMAÇÃO E MUITO TEXTO

Parte importante da criação de uma história é a definição do ritmo narrativo e visual. Este garante que o que está sendo narrado tenha sentido cronológico e de dinamicidade. O livro ilustrado é ritmado pelas suas ilustrações e, dessa forma, é importante equilibrar as grandes imagens com muitos detalhes, que chamam mais atenção do olhar do leitor, com imagens com menos detalhes e mais dis tribuidas nas páginas, os pontos de pausa e maior reflexão sobre o conteúdo narrado. Este ritmo garante o que o fluxo da leitura perma neça interessante ao leitor, e assim, como forma de auxiliar a visualização destas ilustrações, foi feito um storyboard para o livro.

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QUADRO ELIMINADO

O storyboard é um método muito utilizado na arte nar-rativa para elaborar a sequência visual da história, aqui, cada quadro repre senta uma página dupla do livro, ou seja, duas páginas uma ao lado da outra. Cada quadro representa a diagramação do livro e disposi ção dos desenhos nas páginas, além de alterações que ocorreram ao longo do desenvolvimento do livro. Também acompanha a narra tiva escrita e a fragmentação do texto de cada quadro ou página

Cada quadro do livro é composto por duas páginas lado a lado. O primeiro quadro introduz a história a ser contada e quem irá narrar essa história, no caso, a própria cidade de Bogotá será um narrador personagem, mostrando sua forma ção geográfica, histórica e cultural como quem faz o convite ao leitor para conhecê-la.

QUADRO 2 - INTRODUÇÃO DA COLCHA DE RETALHOS

O segundo quadro introduz as montanhas que delimitam e abraçam a cidade e a colcha de retalhos que irá guiar a histó ria. Também se esclarece o que a colcha representa como ana logia: as diferentes camadas e a mistura construtiva, social, temporal e cultural.

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QUADRO 1 - APRESENTAÇÃO DO NARRADOR

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

Este quadro contextualiza a localização geográfica tanto da Colômbia quanto de Bogotá dentro do país. Também explicita a re levância da geografia para a ocupação pelos povos originários quanto pelos colonizadores europeus.

CAFÉ PRODUTO

COLIBRIINDIASEA

3 -

MAIS IMPORTÂNTE

NACIONAL DE EXPORTAÇÃO A CHIVA: MEIO DE TRANSPORTE E PATRIMÔNIO CULTURAL AS NASCENTES DO AMAZONAS QUE SURGEM A PARTIR DAS MONTANHAS 34

QUADRO

A informação adicional nas páginas permitem que o leitor vizualize os países vizinhos, a Cordilheira dos Andes e sua relevân cia para os países latino americanos que são cortados por ela. Em adição, também apontaroutras grandes cidades da Colômbia e referências visuais como rios, florestas e elementos da cultura e biodiversidade do país.

BIODIVERSIDADE

RIQUEZA DA COLOMBIANA

O

IMPORTÂNCIA CULTURAL DA SALSA DIVERSIDADE DE FLORA NO PAÍS E A RELEVÂNCIA DAS FLORES NA ECONOMIA LOCAL

CARNAVAL DE BARRANQUILA CONSTRUÇÕES FORTIFICADAS DE CARTAGENA DE

A referência para a figura de Bolívar é a estátua localizada na praça central de Bogotá, que também recebe o seu nome.

A partir da análise de outros materiais que se dedicam a contar as histórias de cidades latino americanas, foi possível notar que a abordagem do conteúdo da formação de território tem usualmente como marco inicial a ocupação pelo coloni zador. As estratégias coloniais espanholas de ocupação terri torial se ancoravam na violência extrema e no apagamento simbólico e estrutural das comunidades tradicionais, no en tanto, as comunidades Muiscas atuais seguem lutando pelo reconhecimento de suas terras e de sua cultura.

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Conversando com a composição do quadro anterior, este retrata a figura do colonizador ao fundo e apenas pela sua si lhueta de forma simbólica, e traz a figura de Simón Bolívar à frente para dar a devida importância aos processos de inde pendência e emancipação dos povos latino americanos.

QUADRO 5 - COLONIZAÇÃO E INDEPENDÊNCIA

Assim, ter como início desta história a formação do lugar pela perspectiva dos povos originários é uma ferramenta de ensinar ao leitor sobre a importância de resguardar a memória histórica da cidade, até da memória anterior à própria cidade. Este quadro destaca como se deu a escolha do território atra vés de características do terreno e como as comunidades Muiscas influenciaram culturalmente a cidade de Bogotá.

QUADRO 4 - MUISCAS: FORMAÇÃO TERRITORIAL

O urbanismo colonial espanhol é retratado pela malha, que se repetiu em diversas outras cidades, que surge de uma praça central que guiaria a expansão da cidade. Esta se chama va Plaza España e hoje tem por nome Plaza Bolívar.

Cada uma da ilustrações possui molduras específicas para retratar os diferentes períodos históricos.

QUADRO 7 - O SURGIMENTO DA MALHA URBANA

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Retornando à formação do território as ilustrações aqui representam a importância de diversos fatores para a consoli dação e fundação de Bogotá, como a influência das escolhas Muiscas do terreno, depois seguidas pelos espanhóis, das montanhas e dos Rios San Agustín e San Francisco, hoje ater rados, para a definição da malha urbana.

Este quadro estabelece o relevo como parte importante da formação do território e o Santuário como o ponto mais alto deste. Em questão das memórias afetivas pessoais, o processo de subir a montanha pelo teleférico e de forma gradual obser var cada vez mais da cidade possibilitou a ampliação de pers pectivas e visões do espaço.

QUADRO 6 - O RELEVO

Este quadro introduz o início dos espaços construídos da cidade, o centro histórico e a região de La Candelaria. As construções desse momento inicial possuiam muitas similaridades estruturais, porém, a diversidade das edificações se dava pelas escolhas das cores e elementos decorativos nas fachadas. Estas possuem boiseries, portas e janelas em madeira trabalhadas com entalhes, varan das e sacadas, esquadrias decorativas de ferro entre outros.

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ELEMENTOS DECORATIVOS EM FERRO E ENTALHES EM MADEIRA

IGREJAS EM PEDRA

A diagramação das ilustrações de cada uma das fachadas, e as diferentes tipologias de construção remetem à colcha de retalhos, representando as texturas que podem ser vistas ao caminhar pelas ruas da cidade.

QUADRO - ARQUITETURA COLONIAL

O MUXARABI E A INFLUÊNCIA DA ARQUITETURA MOURA NAS COLÔNIAS ESPANHOLAS

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QUADRO 9 & 10- A COMIDA, MEMÓRIA E IDENTIDADE

Os quadros falam um pouco sobre as dinâmicas sociais da cidade antiga e também sobre as novas dinâmicas existentes hoje. Os desenhos dinâmicos e coloridos chamam a atenção do leitor para ações e ilustram os processos de produção de pratos e recei tas que são marcos da culinária bogotana.

A identidade de um grupo se forma a partir de diversos aspectos, são muitas as camadas que unem as pessoas, porém, uma das mais latentes é a culinária tradicional. A história do La Puerta Falsa, um dos restaurantes mais antigos e tradicionais da cidade, está diretamente ligada à identidade coletiva e à memória afetiva dos bogotanos.

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O centro da cidade é repleto de lojas antigas e armazéns congelados no tempo, são empresas familiares de várias gerações que herda ram o conhecimento sobre a atividade comercial ou o ofício que exercem, sendo várias destas de tradições de migrantes que vieram e se estabeleceram em Bogotá. Estes quadros abordam o comércio que sobrevive às mudanças do tempo e os espaços que eles ocupam na cidade. As ilustrações das vitrines e espaço interno das lojas convidam o leitor a pausar a leitura para observar e perceber todos os deta lhes e pequenos elementos que compõem cada loja.

Os quadros também reconhecem o comércio tradicional como parte do patrimônio cultural imaterial presente no centro histórico de Bogotá e significa não apenas tornar visível sua importância como referência da memória urbana, mas também sua validade na vida contemporânea da cidade.

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QUADRO 11 & 12 -

O COMÉRCIO NO CENTRO E IMIGRAÇÃO

Como apontado no início do livro através da história dos Muiscas e da formação do território, este quadro representa um resgate da cul tura dos povos originários através dos objetos e elementos que foram preservados. Este resgate agrega culturalmente à identidade nacional e gera processos de apropriação de aspectos da memória coletiva ante riormente apagados. O quadro procura representar a tentativa de co nectar o passado e presente através da conservação e educação.

Já os quadros referentes às touradas demonstram como tradições podem ser avaliadas e ressignificadas, a partir da mudança de percep ção, As tradições se alteram com o passar dos anos e com as evoluções dos significados sociais que estas recebem. Apesar disso, a manuten ção e preservação da edificação permitem com que aquele espaço agora seja ressignificado e apropriado por outras atividades sem que se perca a sua história e significado.

13, 14 & 15 -

QUADRO ADAPTAÇÃO E O RESGATE DE TRADIÇÕES

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Como forma de compor o cenário urbano e sua diversida de construtiva, este quadro ilustra algumas das edificações e obras arquitetônicas bogotanas que marcam a colcha de reta lhos da cidade. As obras de Rogelio Salmona - aqui retratadas por Torres del Parque e Biblioteca Virgilio Barco - demarcam o período moderno arquitetura com influências nas constru ções pré colombianas, nas edificações mouras e nos eixos mo dernistas de Le Corbusier, porém sempre utilizando o icônico ladrillo bogotano como identidade regional.

A ressignificação do antigo banco da república para esta belecer o Museo del Oro e as construções mais contemporâ neas são também incorporados à colcha de retalhos como é uma assinatura das diferentes temporalidades, influências sócio culturais e fases da cidade.

QUADRO 16 - A MOBILIDADE URBANA

Parte importante da vida em uma grande metrópole é como transitar nos seus diferentes ambientes. O transporte diverso e acessível permite que pessoas, não importando sua origem, tenham suas experiências urbanas em diversos espa ços da cidade, e que possam acessar e utilizar todas as suas ca madas sem restrições.

QUADRO 17 - A DIVERSIDADE ARQUITETÔNICA DA CIDADE

A mobilidade bem planejada permite o acesso ao patri mônio urbano e edificado da cidade, e as bicicletas que percor rem toda a cidade e que aqui são representadas no quadro são ferramentas para ampliar essa perspectiva do espaço coletivo.

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QUADRO 18 - TRANSFORMAÇÕES DO TECIDO URBANO

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Aqui a narrativa retoma a visão do todo da cidade, des tacando pelo corte longitudinal do território a formação construtiva seguindo a configuração do relevo. Também é possível perceber as diferentes temporalidades e a estratifi cação social de acordo com as tipologias construtivas retra tadas.A

QUADRO 19 - ARQUITETURA RESIDENCIAL E ORGANIZAÇÃO FAMILIAR

da arquitetura residencial e da ilustração de di ferentes tipologias familiares é possível abordar as mudan ças e transformações demográficas que ocorrem em muitas outras cidades latino americanas.

No caso de Bogotá, a urbanização e ocupação acelerada do território, as mudanças nos papéis de gênero, a inversão das pirâmides demográficas, processo pelo qual a parcela da população mais velha é maior do que a parcela da popula ção mais nova e a redução do número de filhos por família, criam novas demandas diferenciadas de habitação. As grandes casas dão lugar a mais edificações verticalizadas que abrigam mais grupos familiares e com menor número de membros.

diagramação das edificações também serve como uma possível visualização da linha do tempo arquitetônica. da esquerda para a direita, tem-se as ocupações coloniais, seguidas das mais modernas até chegar aos processos de periferização mais atual decorrente do inchaço populacio nal típico de intensas migrações em cidades latino ameri

canas.Através

QUADRO 20 - MIGRAÇÃO E A COLCHA DE RETALHOS

Neste quadro a ilustração da colcha de retalhos volta a aparecer, porém agora com a adição de novas figuras adicio nando retalhos à colcha. O quadro mostra como a cidade está também sujeita a dinâmicas externas ao seu espaço, os conflitos dentro e fora do país acabaram por implicar em ondas migratórias mais recentes que agregam cultural mente ao espaço social da cidade, mas também agregam complexidade e impõem novas demandas à área urbana em termos de planejamento, bem estar e distribuição de recur sos.

Esta ilustração, com as figuras “costurando” novas in tervenções no espaço urbano reforça a ideia de que a colcha de retalhos, e a estrutura física, social e cultural da cidade, continua em expansão e passando por mudanças.

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QUADRO 21 - TRADIÇÕES DE RUA E O USO DO ESPAÇO URBANO

O quadro convida o leitor a refletir sobre as presenças que o cercam na cidade e como ele percebe e interage com estas.

O espaço físico da cidade é o cenário de existência e de relações entre diversos grupos, com manifestações múlti plas de suas heranças culturais e sociais. Este quadro ilustra três diferentes usos do espaço urbano, o primeiro de mani festação cultural, tendo como referência o uso do espaço urbano e da rua para festividades culturais como o Festival Iberoamericano de Teatro de Bogotá. Um segundo momen to remonta às atividades urbanas cotidianas do comércio local de rua e dos ofícios que são associados a este, e, por fim, um terceiro momento das tradições culturais e religio sas antigas que seguem existindo no ambiente da cidade, como exemplo do Dia de las Velitas.

QUADRO 23 - A CONTINUIDADE DA COLCHA DE RETALHOS

Aqui, a cidade trata diretamente com o leitor para ex plicar a importância de fazer parte e falar sobre a cidade e o que o

no último quadro do livro, a colcha de re talhos aparece uma última vez e a cidade se despede, dei xando a perspectiva de novas configurações.

Finalmente,cerca.

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QUADRO 22 - MOBILIZAÇÃO SOCIAL E O ESPAÇO DEMOCRÁTICO DA CIDADE

Este penúltimo quadro dá continuidade ao uso da cidade, neste caso, ilustrando como a cidade que passa por muitas transformações sociais e se diversifica demanda mais espaços democráticos nos quais as diferentes vozes que compõem a sociedade possam ser representadas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer dos três semestres que integram o processo de Di plomação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, pude conhe cer e pesquisar projetos e abordagens diversas que visam a inclusão da criança nas cidades. Particularmente, busquei iniciativas de pro dução de material gráfico voltadas ao público brasileiro. Porém, dadas as dimensões geográficas, e as nuances e particularidades do Brasil, é possível afirmar que o país ainda carece de um esforço bem estruturado para o estudo e criação de materiais de ensino e mate riais lúdicos que abordem a cidade, patrimônio e o direito à cidade para um público infantil. Esta pesquisa e os entendimentos gerados ao longo deste trabalho me permitiram refletir sobre o papel da for mação de arquitetos e urbanistas neste contexto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

"Perceber uma paisagem não significa recebê-la passivamente, é vivê-la, recolhê-la, assimilá-la, reencontrar seu sentido (...)." (LIMA, 2017)

sociais, políticas e culturais que a cercam, despertam noções de pertencimento e de preservação do espaço urbano coletivo, além de estimular discussões construtivas de fortalecimento das comuni dades a partir da visão da infância.Em sua biografia, o autor colom biano e Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez escreve:

O livro ilustrado "Eu Sou Bogotá", ancorado na narrativa de memórias e experiências afetivas decorrentes da cidade, e a pesqui sa desenvolvida através dele possuem valor pessoal, de reconheci mento e apreciação de parte importante de história familiar e cul tural própria, e também valor de qualidade teórica, narrativa e artís tica. A fragilização das políticas culturais e de valorização e salva guarda do patrimônio material e imaterial recentemente vivencia das no Brasil reforça a relevância da estruturação e expansão de uma educação para a cidade com o foco na infância para constituir processos de resiliência frente ao apagamento da memória.

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No ensino superior, somos instruídos ao longo do processo for mativo a ler e compreender os espaços urbanos, seus processos físi cos e socioculturais. Aprendemos a conceber e estruturar projetos de natureza diversa, e adquirimos os conhecimentos para materia lizá-los. Entretanto, são poucos os momentos em que a relação da arquitetura e urbanismo com a educação para a cidade é o ponto focal dos diálogos no espaço da academia. O entendimento da cidade como território educativo e a aproximação entre o conheci mento acadêmico e as experiências urbanas vividas no espaço real da cidade devem integrar o repertório do arquiteto urbanista. Em particular, no caso da infância a inclusão em um sistema de apren dizagem dos elementos que compõem a cidade - o espaço público, as edificações, monumentos e equipamentos, e os fenômenos so cioculturais que ali ocorrem - e da vivência urbana da criança pro porcionam a construção de conhecimentos sobre as estruturas

"A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la".

Sendo assim, o produto deste trabalho atinge o seu objetivo de educar através da arte, com ilustrações que prendem a atenção do leitor, sobre a cidade física, das suas estruturas naturais e urbanas, edificações e monumentos, e sobre a cidade social, política e cultu ral, de forma lúdica e dinâmica. Finalmente, o material se coloca como exemplo pois sua elaboração resultou também em um processo metodológico que pode ser replicado na produção de outros materiais gráficos similares dentro da temática da cidade, patrimô nio e memória afetiva urbana.

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