Instituto da Paisagem | TFG - Arquitetura e Urbanismo

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INSTITUTO DA PAISAGEM

CULTURA + EDUCAÇÃO + MEIO AMBIENTE

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

HELENA CONTIN GUIMARÃES ORIENTADOR: PROF. ME. LUIS ALEXANDRE AMARAL PEREIRA PINTO CAMPINAS, DEZEMBRO DE 2022.

“Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visivel, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.”

- Milton Santos, Metamorfose do Espaço Habitado. São Paulo, 1988.

A todos que fizeram parte desse ano de aprendizagem e pesquisa, deixo aqui minha gratidão pelo apoio e o desejo de fazer com que esse projeto fosse realizado da melhor forma possível, com leveza e intensidade, para que pudesse ser aproveitado ao máximo as ideias que a partir dele foram surgindo a cada discussão.

Aos meus familiares desejo o mesmo amor que carreguei ao longo desse ano ao realizar aquilo que acredito que possa mudar o mundo com novos olhares.

Ao meu professor, orientador e amigo Luis, o meu eterno obrigada, por fazer me enxergar esse mesmo mundo com novos olhos, críticos e atentos ao que o desenho e o espaço fala.

Aos meus amigos de grupos, Ana Laura, Bia, Caio, Isabelle e Juliana, que me ajudaram ao longo dessa jornada, que nossas histórias sejam lembradas e que os bons momentos se repitam.

Aos amigos de faculdade, que viraram minha família, especialmente aqueles que me acolheram no Centro Acadêmico e na Bateria Faucatruz, que conquistem todas as coisas as quais sonhamos aos longos desses anos.

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pg. 10 02 pg. 20 A SERRA 03 pg. 30 O PROJETO
A CIDADE

O trabalho a ser apresentado visa propor um novo olhar sobre a cidade de Poços de Caldas e a relação que a mesma apresenta com os espaços livres, com sua topografia particular, a memória histórica presente e a organização social como consequência dessas características.

Marcada pelas águas termais e pela serra, Poços de Caldas apresenta uma relação única com a paisagem que molda seu entorno, que serve de inspiração para poetas, artistas, músicos, moradores e visitantes. Essa relação estabelecida entre espaço habitado e habitantes moldará a forma com que as interações entre paisagem e transeunte ocorrem. No entanto, a contradição entre a simultaneidade em que ambos ocorrem e a heterogeneidade da forma como espaços são ocupados, fizeram com que o desejo de mudar essa relação ganhasse força em forma de projetos urbanos, que tomam como base a espacialidade do território como um todo.

A partir dessa vontade, o projeto aqui apresentado de forma mais aprofundada almeja renovar essa relação entre paisagem e observador, buscando fazer com que o mesmo pudesse criar laços ainda mais fortes com o lugar que habita.

01 A CIDADE

Localizada ao sul do estado de Minas Gerais, a cidade de Poços de Caldas é um ponto estratégico que se relaciona com as três principais capitais do país, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Esta possui acesso através de três grandes vias, a BR-267 (oeste), BR-146 (sul) e BR-459 (leste) permitindo o escoamento de mercadorias com mais facilidade e a ligando as cidades ao seu entorno, como São João da Boa Vista, Machado, Pouso Alegre e Alfenas.

Por ter um caráter turístico e uma série de equipamentos públicos, Poços de Caldas exerce uma influência nessas cidades em seu entorno imediato e em outras mais distantes, atraindo um contingente populacional passageiro, que busca por suas características turísticas e águas termais, ou um contingente de permanência, atraído pelo equipamentos de saúde e educação e pelas universidades que se localizam na cidade.

Sua área está inserida dentro do complexo da Serra da Mantiqueira e da bacia sedimentar do Rio Paraná, caracterizando-a com uma topografia particular constituída por uma série de morros e afloramentos rochosos e fluviais, dando a seu desenho urbano particularidades. É dessa particularidade que a cidade é implantada em forma de “T”, seguindo o eixo Leste – Oeste –Sul, contornando a série de morros que podem ser observador ao longo de sua extensão e beirando a Serra de São Domingos ao norte.

Historicamente, essa implantação particular entre morros e afloramentos de águas minerais fez com que Poços de Caldas se torna a potência turística pela qual recebeu notoriedade. Seus primeiros povoados foram os indígenas Cataguases, os quais, no século 18, presenciam a chegada de bandeirantes que ao buscarem por pedras preciosas se deparam com a presença de águas termais e ricas em minério, devido a presença de bauxita, argilas aluminosas e potássio, que mais tarde ganham a alcunha de “milagrosas”, atraindo uma série de pessoas que buscavam a cura de doenças e os lucros através da criação das casas de banho e desenvolvimento da cidade entorno da atividade turística ligada aos banhos, que estão presentes na cidade até o presente momento, ainda atraindo turistas que buscam os mais diversos tipos de tratamentos.

Hoje, a economia da cidade ainda gira entono do turismo, porém com menos intensidade do que em seu auge, e do setor de serviços, como a rede hoteleira e comércio. Diferente de anos anteriores, hoje a cidade possui uma forte influência do setor industrial, como indústrias de laticínios e atividades extrativistas de minérios.

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SUL DE MINAS GERAIS SUB-REGIONAL DO SUL DE MINAS GERAIS MG POÇOS DE CALDAS EM RELAÇÃO AO SUL POÇOS DE CALDAS
Fonte: fotos retiradas do site www.pocosdecaldas.mg.gov.br no segundo semestre de 2022.
Fonte: Elaborado pela equipe em 2022.

Para compreender melhor o processo de formação de Poços de Caldas e a atual formação urbana da cidade, alguns mapas se tornam relevantes no processo de estudo e levantamento de dados. Parte da razão pela qual a cidade apresenta esse desenho de “T” está relacionado a essa topografia anteriormente citada, mas assim como a topografia, a vegetação presente em grande parte da cidade, ao mesmo tempo que cria conexões entre algumas áreas, também permite que haja segregações espaciais e socioeconômicas.

A má ocupação dessas áreas, que em grande parte fazem parte de uma área de recarga de aquíferos, causa uma série de prejuízos ambientais e riscos aos próprios moradores dessas regiões, onde a drenagem do solo torna o terreno mais propenso ao deslocamento de massa e a acidentes. O descaso com essas áreas, além de prejudicial aos seus habitantes, evidencia um descaso com os próprios recursos que fazem da cidade um polo do turismo sanitário e um dos principais potenciais econômicos locais.

Através desses pontos observados, combinados com um diagnóstico urbano aprofundado, foi concluida a necessidade de repensar os zoneamentos propostos, fazendo com que as novas zonas, agora reformuladas, passassem a respeitar a topografia e a vegetação existente, mesclando mais os usos residenciais com os comerciais e serviços, permitindo que a cidade utilizasse seu território de forma mais ampla, sem deixar de preservar a relação que possui com a paisagem em seu entorno.

17 16 MAPA DE ALTIMETRIA DE POÇOS DE CALDAS - MG MAPA DE CARICTERIZAÇÃO AMBIELTAL DE POÇOS DE CALDAS - MG MAPA DE ZONEAMENTO PROPOSTO PARA POÇOS DE CALDAS - MG MAPA DA ZONA AMBIENTAL ECOLÓGICA PROPOSTA 1632,19m 859,17m ALTIMETRIA LEGENDA LIMITE URBANO LIMITE MUNICIPAL MUNICÍPIOS VIZINHOS CORPOS D'ÁGUA VEGETAÇÃO NATIVA ZR-5 ZI-2 ZAE ZCE RECARGA DE AQUÍFEROS ZR-10 ZEIS-1 APP ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ZCH ZEIS-2 ZE ZT ZSE ZROC RESERVA LEGAL ZR-3 ZI-1 ZOH ZC LEGENDA LEGENDA MUNICÍPIOS VIZINHOS CORPOS D'ÁGUA LIMITE URBANO LIMITE MUNICIPAL Fonte: Elaborado pela equipe em 2022. Dados da imagem: Topodata Fonte: Elaborado pela equipe em 2022. Fonte: Elaborado pela equipe em 2022.
Elaborado pela equipe
ZAE APP LEGENDA
Fonte:
em 2022. Dados da imagem: Prefeitura Municipal de Poços de Caldas Secretaria de Planejamento e Coordenação, 2008.

DIRETRIZES

Como conclusão das observações feitas durante o processo de estudo urbano, surgem algumas diretrizes nos mais diversos campos em que há a necessidade de mudança nas políticas atualmente aplicadas. Essas abrangem as questões relacionadas a habitação, a ocupação do solo, ao transporte coletivo, a despolarização da cidade, a criação de um sistema integrado de espaços verdes e da utilização da Serra de São Domingos como eixo estruturador do projeto. Essa última diretriz ganha destaque com o trabalho a ser apresentado, uma vez que o mesmo, ao estar localizado na própria serra, servirá em diferentes escalas como um dos polos que fará com que a relação entre habitantes e cidade deixe de ser apenas uma limitante topográfica e de características essencialmente voltadas para o turismo, tonando-se parte do cotidiano de Poços de Caldas.

Garantir a presenvação do patrimônio material, imaterial e paisagístico.

Promover um sistema integrado de espaços verdes.

Desenvolvimento orientado pelo transporte sustentável (D.O.T.S).

Serra São Domingos como eixo estruturador do projeto.

Promover uma urbanização contígua de modo a evitar vazios urbanos.

MAPAS DE PLANO URBANO PARA POÇOS DE CALDAS - MG

Fonte:

Despolarização da área central e polarização da periferia

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AGROVILAS BICICLETÁRIOS RAIO DE DESAPROPRIAÇÃO
TERMINAIS URBANOS ESTAÇÕES DE MONOTRILHO PROPOSTOS (12 16) PARQUE AMBIENTAL INTEGRADO
DE CLAREIRAS TERMINAIS INTERMUNICIPAIS ESTAÇÕES DE MONOTRILHOS EXISTENTES (1 11)
DE CRESCIMENTO REATIVAÇÃO DA ANTIGA FERROVIA
(TIC) TELEPONTOS FINAIS
Elaborado pela equipe em 2022. ZEIS
FONTES
ABERTURA
ANÉIS
MOGIANA
BAIRROS DA FOLIA CICLOVIAS TELEPONTOS COM SEGUIMENTO LEGENDA:
Fonte: Elaborado pela equipe em 2022.
02 A SERRA

EQUIPAMENTOS EXISTENTES

Caracterizada pelo seu papel essencialmente turistico, a Serra de São Domigos apresenta alguns equipamentos que atraem principalmente visitantes ao longo do ano. Atualmente, o local que possui uma das paisagens mais privilegiadas de Poços de Caldas, tem em seu complexo o Cristo, onde sua base em forma de mirante possibilita observar quase toda a extensão da cidade, um pequeno comércio que conta com lanchonetes e loja de suvenir para atender aos visitantes locais, banheiros, um antigo aquário já sem uso, um ponto de teleférico que ligava a área

diretamente ao centro da cidade, uma pista para saltos de voo livre, um antigo observatório também sem uso e uma área privada onde hoje encontram-se dezenas de antenas para sinais de telefone e tv. Além das atividades fixas, o local também recebe atividades temporárias como circuitos de corrida e ciclismo, feiras livres e encontros.

Os moradores da cidade por sua vez, utilizam a área como ponto de chegada e partida para a realização de exercícios físicos, principalmente aos finais de semana, utilizando a via local.

TOPOGRAFIA

Para compreender melhor a área e esse usos é necessário entender a sua topografia e a disposição em que esses dispositivos estão localizados. A partir de alguns cortes é possível observar que a área vária sua morfologia ao longo de um eixo principal (leste – oeste) onde se localiza a via de acesso da área, ganhando uma declividade ao longo do trajeto. É nesse trajeto que encontram-se dispostos, da menor para a maior altitude, o antigo aquário, o comércio, banheiros e cristo, observatório e, por fim, no ponto mais alto, as antenas.

Tendo como base esse eixo principal, a declividade ao longo do morro é bastante variável, possuindo algumas superfícies mais planas e rochosas, como na área da pista de voo livre, ou áreas de maior declividade e com a presença de mata nascente, essas sem ocupações, destinadas ao escoamento das águas pluviais (linhas de drenagem).

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CRISTO
LEGENDA:
TELEFÉRICO ANTENAS AQUÁRIO VOO LIVRE COMÉRCIO
OBESERVATÓRIO
CORTE AA CORTE CC CORTE BB CORTE DD Fonte: imagem retirada do Google Earth em Dezembro de 2022. Fonte: imagem retirada do Google Earth em Dezembro de 2022.

O caminho conhecido como estrada do Alto da Serra é a principal via que liga o centro de Poços de Caldas ao topo da serra de São Domingos. Essa via, como citado anteriormente, além de ser utilizada por veículos, também é usufruída por pedestres que buscam realizar atividades físicas.

Atualmente, seu desenho viário é composto por duas faixas de rolamento simples e não corresponde a demanda que ela necessita. Dessa maneira, a proposta do redesenho viário se baseia nos usos pela qual a via precisa se adequar para que atenda as necessidade de seus usuários.

O novo desenho viário mantem as duas faixas de rolamento, ganhando uma ciclovia bidirecional e uma ampla calçada.

FAUNA E FLORA

A fauna e a flora de Poços de Caldas estão presentes por toda a cidade e são responsáveis por moldurar a paisagem. Esta cidade, caracterizada por sua relação com os recursos naturais hídricos, termais e minerais, também possui uma grande relação com a vegetação, que graças as características de um solo rico desses minérios, capaz de uma alta drenagem de água e uma topografia de altitude considerável, ganha aspectos específicos.

A cidade apresenta dois tipos básicos de vegetação natural, campo e floresta tropical ou mata atlântica. Os campos se constituem de vegetações de pequeno porte, como arbustos e gramíneas, estando presentes em áreas como topo de morros e colinas. A Floresta tropical por sua vez, é caracterizada por uma vegetação pouco densa mas com arbustos e herbáceas, podendo ocorrer a presença de pinheiros.

A mata presente na Serra de São Domingos por sua vez apresenta aspectos de uma vegetação caracterizada pela altitude, clima e relevo. Essa vegetação denominada de “mata nebular” encontrada em florestas de montanhas sofrem grandes variações devido a sua topografia, apresentando desde uma florestas de baixa estatura, em áreas de maior altitude, a uma floresta mais fechada, como no pé da serra.

Quanto a Fauna, a área apresenta particularmente a presença de macacos prego, que habitam a Serra de São Domingos e algumas áreas de habitações localizadas mais próximas ao pé da serra, os quais usam os fios de eletricidade para locomoção. Além desses animais mais notórios, a área também abriga anfíbios, pássaros e mamíferos de pequeno porte.

27 26 NOVO DESENHO VIÁRIO
Fonte: Mapa elaborado por Malcon do Prado Costa para a dissertação de pós-graduação da Faculdade Federal de Lavras “ Ecologia da Vegetação Arbórea na Serra de São Domingos, Poços de Caldas (MG)” em 2010. Fonte: imagem retirada do Google Earth em Dezembro de 2022. Fonte: Elaborado pela equipe em 2022. Fonte: autora

ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO E PRÉ- PROGRAMA

Analisando os dados levantados e entendendo de forma mais aprofundada a área da Serra de São Domingos, é notável a necessidade de um projeto urbano que restaure os usos ali presentes e proponha novos para que o local ganhe um caráter de permanência e atraia mais pessoas. Dessa maneira, o Plano Diretor para a cidade apresenta algumas mudanças na área buscando as melhorias almejadas e reformulando sua estrutura existente.

As mudanças propostas pelo plano abrangem toda a área de caráter público. Começando pela área mais ao oeste, a pista de voo livre apresenta atualmente uma pequena área que serve de apoio para os profissionais e para os turistas que vão realizar as atividades de aventura. Ela, no entanto, não oferece uma boa estrutura para que possa abrigar mais pessoas, sendo assim, necessária uma reformulação do espaço e o projeto de uma nova área que seja capacitada a dar o suporte necessário para os atletas e para os turistas, que podem aproveitar o local realizando as atividades que o local propõem ou aproveitando a paisagem do lado norte da serra.

Continuando esse trajeto, a área onde se encontra o Cristo é responsável por ser o principal atrativo da serra graças ao impacto visual que apresenta em toda a cidade. Ele é composto do conjunto da estátua + mirante e da área com lanchonete e banheiros, mas, sendo o principal ponto de atratividade, sua infraestrutura atual necessita de melhoramentos. Dessa maneira, o plano proposto prevê um novo espaço de comércio e serviços para o local, criando uma área de permanência para receber turistas e moradores afim de que esses utilizem mais frequentemente esse espaço.

Além dos melhoramentos nas áreas pré-existentes, o Plano Diretor proposto visa um novo ponto de chegada para o programa de transporte integrado, entre o cristo e o Instituto e um Hotel Escola localizado próximo a pista de voo, inserido dentro da mata existente. Esse Hotel Escola, assim como os outros projetos da área, visa atrair turistas ao local e qualificar profissionais das áreas voltadas a hotelaria, uma das principais atividades econômicas da cidade.

A parte mais ao leste é o ponto de chegada da serra e hoje possui uma antiga estrutura circular que servia para abrigar um aquário e o antigo ponto de teleférico. Visto que ambas não estão sendo mais utilizadas, a proposta do plano visa a retirada dessas estruturas para a implantação do Instituto da Paisagem, este que será detalhado no próximo capitulo, tornando a área um espaço de permanência composto por uma praça na cota de chegada e um instituto com programas culturais e educacionais.

Dessa maneira, o Instituto da Paisagem apresenta como diagnóstico a necessidade de conectar as pessoas com a paisagem em que ele se localizará, utilizando o projeto como ferramenta para que isso possa ser realizado.

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Fonte: imagem retirada do Google Earth em Dezembro de 2022.
03 O PROJETO

O programa visa instaurar três principais pontos para que a conexão entre habitante e paisagem possa ser realizada: a cultura, a educação e o meio ambiente em que está inserido. A partir desses três pilares, surgem usos como museu, salas de estudo, laboratório e observatório a fim de incentivarem leigos e profissionais tornarem a paisagem seu objeto de estudo e apreciação.

PAISAGEM X VALORIZAÇÃO DA CIDADE

A cidade de Poços de Caldas como apresentado nos estudo urbanos, teve sua formação ao pé da Serra de São Domingo e seu desenvolvimento ocorreu no curso dessa topografia, no entanto a relação entre a serra e os moradores da cidade vai além da organização do desenho urbano. Para reestabelecer essa relação, é importante compreender a importância da Serra de São Domingos na paisagem e consequentemente

o uso que os equipamentos propostos para ela podem gerar no cotidiano dos habitantes da cidade. Desse modo, o projeto do instituto ao ser proposto para estar ligado a essa topografia, apesar de não estar inserido diretamente na malha urbana existente, apresenta grande importância para ela, isso graças ao impacto que ele gera sobre a cidade como um todo.

Dito isso, a intensão de unificar cidade e morro através do projeto se torna mais possível, a medida que, dando a eles usos que fazem com que os moradores usufruam do seu espaço, conecta esses espaços para além das barreiras físicas que ele apresenta. O projeto então passa a ser parte da paisagem de Poços de Caldas e portanto parte do cotidiano de quem habita o local.

TOPOGRAFIA X FORMA

A topografia presente na área de implantação do projeto apresenta características que irão moldar a forma como ele é implantado, seguindo o desejo de se integrar com a serra e impacta-la minimamente. Estabelece-se então o uso de uma ‘malha” que acompanha a forma circular do terreno que vai utilizar de diferentes raios para entender melhor a configuração do local de implantação do projeto.

Ao realizar estudos dessa topografia, nota-se que a oeste a declividade passa a ser maior, já a leste, seguindo os raios estabelecidos, a declividade passa a ser menor. Essa variação na curvatura natural do terreno permite uma implantação que utiliza a variação de níveis para organizar os programas propostos, através de uma forma que segue o raio da serra conforme a declividade ocorre.

Assim, o instituto ganha um desenho curvo que, além de acompanhar a topografia, privilegia a paisagem, fazendo com que ela seja observada de diferentes pontos do projeto, dando à ela a maior amplitude possível, voltando o projeto para a cidade e para a vegetação presente a o seu redor.

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PROGRAMA
Instituto da Paisagem Cultura Museu + Café e Loja + Mirante + Área de Informações Salas de Aulas e Reuniões + Área de funcionários + Acervo do museu Planetário + Laboratório e Observatório
Meio Ambiente Fonte: autora
Educação

SETORIZAÇÃO

Por ter um implantação voltada a cidade de Poços de Caldas e apresentar um desenho circular, o projeto receberá diferentes influencias solares em alguns pontos do projeto. A maior parte dele por estar com a face voltada para leste receberá parcialmente a luz da manhã, a parte mais ao sul recebera uma influência maior da luz incidente no final de tarde. O projeto também recebe ventos vindos do leste durante boa parte do ano, ajudando na ventilação e na circulação de ar. Quanto a vegetação existente, hoje, boa parte do entorno imediato do projeto apresenta uma vegetação rasteiras devido a atividades extrativistas passadas, assim como outras áreas da serra, esse entorno passará por um processo de reflorestamento utilizando de vegetação nativa para reconstituir esses locais de solo mais exposto. Essa vegetação restaurada desempenhará um papel importante do controle de luz incidente principalmente a oste, no segundo pavimento.

O acesso e a circulação presentes no Instituto da Paisagem estão diretamente ligados com a vontade do desenho em fazer com que o visitante experimente a descoberta da paisagem que o aguarda conforme ele realiza seu trajeto. Guiado pelo desenho circular do projeto, o usuário percorrer o local através de rampas que realizam as conexões entre um pavimento e outro, tornando a disposição dos programas mais dinâmica e revelando a paisagem aos poucos. Essas rampas são os principais meios de circulação dentro do projeto e estão ligados ao fluxo de ingresso no projeto, acompanhando a topografia. Há também uma circulação secundária vertical mais interna que conta com elevadores e escadas, esses voltados a rota de fuga e localizados em áreas onde o escoamento de pessoas deve ser facilitado. Alguns usos também apresentam suas circulações internas, como a área de exposições de pé direito duplo do museu e a área de acervo, que conta com um elevador de carga para que as obras possam ser locomovidas.

37 ACESSO
E CIRCULAÇÃO
ESTUDO
DE INSOLAÇÃO E REFLORESTAMENTO
MUSEU ACERVO PLANATÁRIO ÁREA DE INFORMAÇÕES ÁREA DE FUNCIONÁRIOS LANCHONETE LOJA SALAS DE AULA REUNIÕES LABORATÓRIO OBSERVATÓRIO BANHEIROS BANHEIROS LEGENDA: LEGENDA: LEGENDA: PRIMEIRO PAVIMENTO CULTURA SEGUNDO PAVIMENTO EDUCAÇÃO TERCEIRO PAVIMENTO MEIO AMBIENTE CIRCULAÇÃO PRINCIPAL CIRCULAÇÃO PRINCIPAL CIRCULAÇÃO SECUNDÁRIA CIRCULAÇÃO SECUNDÁRIA CIRCULAÇÃO INTERNA LEGENDA: LEGENDA:

A implantação do Instituto da Paisagem está localizada na cota 1590 e criando uma praça de acesso ao projeto, que se localiza nos níveis inferiores. Nela busca-se criar uma área de permanência e convívio, onde poderão ser realizadas atividades de lazer como feiras livres e exposições de arte, essa intensão antecipa o uso do museu trazendo para a cota de entrada uma prévia do que está sendo exposto na área interna do programa.

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IMPLANTAÇÃO
43 42

Localizado na cota 1585, o primeiro pavimento do Instituto possui um programa voltado para a cultura. Nele, encontram-se os usos do museu, do café e loja, mirante e banheiros.

O espaço de exposição possui uma área de aprox. 1317m² e é dividido entre um espaço voltado para exposições temporárias, que podem apresentar diferentes temáticas, e uma exposição fixa dedicada a cidade de Poços de Caldas e sua paisagem. O espaço total apresenta duas configurações, a primeira no mesmo nível da área externa com um pé direito de cinco metros e a segunda a quatro metros abaixo, criando um pé direito de nove metros permitindo instalações maiores. O café e a loja possuem uma área de 74m² e possui um acesso exclusivo de funcionários que se conecta diretamente com a via local.

O acesso principal é feito através de rampa e conta também com um acesso mais direto por uma escada.

CORTE A

45 44
PRIMEIRO PAVIMENTO
CORTE D
47 46

De caráter educacional, o segundo pavimento está localizado na cota 1580 e conta com salas de 80m² voltadas para o uso público. Esses espaços destinados a estudos ligados ao meio ambiente e a paisagem tem como objetivo atrair as escolas locais de ensino fundamental e médio para criarem um conscientização nos alunos sobre o lugar que habitam. Do mesmo modo, essas salas também servirão para a realização de reuniões, debates e estudos realizados por profissionais de áreas como geografia, geologia, biologia, engenharia florestal, paisagistas, entre tantos outros que discutem a paisagem e seus aspectos.

Além desses usos, nesse pavimento está localizado uma área mais privativa destinada aos funcionários que trabalham no local. Nela, está localizado o acervo da área de exposições com 187m², que conta com um elevador de carga para que haja manuseio das obras expostas, e uma área de funcionários que conta com cozinha, sala de reunião, sala de arquivos, monitoramento e banheiros.

O acesso até esse pavimento se realiza através da continuação do percurso da rampas ou através de elevadores e escada.

CORTE C

CORTE F

49 48 SEGUNDO
PAVIMENTO
51 50

O terceiro pavimento possui programas destinados ao meio ambiente, através da sua observação e do seu estudo. Composto por um volume circular solto ente duas lajes que acompanham o desenho do instituto, ele é dividido em dois patamares, o primeiro na cota 1578 possui um planetário, e o segundo pavimento, na cota 1575, encontra-se o laboratório e um observatório. Seguindo a intenção das salas de aula, esses espaços também são destinados ao uso de profissionais e leigos que buscam compreender e conscientizar as pessoas que visitam o projeto, tornando esse aprendizado mais dinâmico e aproximando as pessoas ao objeto de estudo.

O acesso a esses usos é feito através de rampas, que conta com um patamar de transição que permite o ingresso ao planetário e mais adiante ao laboratório.

53 52
TERCEIRO PAVIMENTO
55 54

ESTRUTURA

O sistema estrutural do projeto foi inteiramente realizado em madeira, buscando um material leve e de menor impacto ambiental, possibilitando que o projeto se integrasse de forma natural ao seu entorno. Para isso, a estrutura utiliza três peças chaves que compõem o esqueleto do projeto: vigas em MLC (Madeira Lamina Colada), pilares em MLC com peças metálicas e placas em CLT (Madeira Laminada Cruzada), que constituirão as lajes e os tetos verdes. Esses materiais além de visualmente leves, também possuem uma alta resistência a carga, possibilitando a criação de grandes vão livres e diminuindo a necessidade do uso de matéria prima.

As vedações seguem a lógica da estrutura e utilizam o sistema de wood frame para paredes opacas em áreas mais privadas, placas de policarbonato quando há a necessidade do controle da entrada de luz e vidro em áreas onde se deseja destacar a paisagem ou revela-la ao observador.

O processo de montagem dessa estrutura é realizado através dos encaixes metálicos das peças encontradas nas pontas dos pilares, locados com distancia de 7,5m de eixo a eixo, e em seguida do encaixe das vigas nos espaços entre essas peças metálica. As vigas de apoio são fixadas através de uma cantoneira metálica fixadas nos pilares. Por fim, as placas de CLT que constituem os pisos são fixadas a essa estrutura.

SISTEMA CONSTRUTIVO

CORTE ESQUEMÁTICO

COBERTURAS DE CLT

DETALHE DO SISTEMA ESTRUTURAL

Viga de MLC 750cm x 15cm

Pilar em MLC com peça metálica para encaixe 30cm x 30cm

DETALHE DO TETO VERDE

Placa de CLT 750cm x 0,4cm Substrato e vegetação Seixos

Calha de captação da água Espuma drenante

Membrana impermeabilizante Inclinação de 2%

DETALHE DA VEDAÇÃO

Suporte metálico para encaixe das placas

Placa de policarbonato translúcida

57 56
VIGAS DE MLC PILARES DE MLC ESQUELETO DO PROJETO Pé direito de 5m e balanço de 2,4m

https://pocosdecaldas.mg.gov.br/cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/pocos-de--caldas/pesquisa/23/27652?detalhes=true https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/bibli-cacatalogo?view=detalhes&id=450015#:~:text=-A%20Serra%20de%20S%C3%A3o%20Domingos,o%20

https://www.geo.mg.gov.br/progeo-web/ https://pt.weatherspark.com/y/30339/Clima-caracter%C3%ADstico-em-Po%C3%A7os-de-Caldas-Brasil-durante-o-ano http://www.rbma.org.br/rbma/rbma_fase_vi_06_estados_mg.asp http://www.ief.mg.gov.br/florestas

COSTA, Malcon do Prado. Ecologia da vegetação arbórea na serra de São Domingos, Poços de Caldas (MG). Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, 2010.

COURA, Samuel Martins da Costa. Mapeamento de Vegetação do Estado de Minas Gerais utilizando dados Modis. INPE, São José dos Campos, São Paulo, 2007.

SANTOS, Milton. Metamorfose do Espaço Habitado, fundamentos Teórico e metodológico da geografia. Hucitec. São Paulo, 1988.

https://www.crosslam.com.br www.archdaily.com.br/br/893433/madeira-laminada-cruzada-o-que-e-e-como-utiliza-la www.archdaily.com.br/br/910310/telhados-verdes-quais-sao-as-camadas-e-como-impermeabiliza-los-usando-membranas-liquidas

https://www.archdaily.com.br/br/966598/como-projetar-e-instalar-fachadas-de-policarbonato-translucido

https://www.rodeca.de/produkte/lbe-lichtbauelemente/lichtbauelemente-lbe. html

REFERENCIAS DE PROJETO

Brock Communs Tallwood House, British Columbia, Canada. Acton Ostry Achitects Inc. Disponivél em: https://www.actonostry.ca/project/brock-commons-tallwood-house/

Bundanon Art Museum & Bridge, Austrália. Kerstin Thompson Architects. Disponível em: https://kerstinthompson.com/index.php?id=428

Restaurante Mirante MBL, Monteiro Lobato – SP, Metamoorfose studio. Disponível em: https://www.metamoorfose.com/portfolio/restaurante-mirante-mlb/

ESTRUTURA

LOPES, Shara Carvalho. CARMO, Murilo Elias Rosa do. SERRA, Sheyla Mara Batista. Levantamento de Soluções Construtivas em madeira industrializada. TECSIC. Agosto de 2021.

FORTI, Nádia. BRAZ, João Carlos Rocha. Concepções em Estruturas de Madeira. PUC-Campinas. Primeiro Semestre de 2020.

AZAMBUJA, Eduardo. Mattos, Antônio Patrício. Vigas de madeira laminada e colada submetidas à flexão simples. PUC-RS. Sem data definida.

ABNT. NBR 7190, Projeto em Estrutura de madeira. 29 de Setembro de 1997.

Escola – Fazenda de Canuana no Tocantins – Rosenbaum e Aleph Zero. Disponível em: www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero

Getty Museum – Richard Meier & Partners, Los Angelis, California. Disponível em: www.archdaily.com/103964/ad-classics-getty-center-richard-meier-partners-architects

BIBLIOGRAFIA

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