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T E M P O , P E S O , M AT E R I A L I D A D E int enç ões em a r q uitetur a
HELENA TRANCOSO
orie n tador : ce s ar s h un di iw amiz u 2015
T E M P O , P E S O , M AT E R I A L I D A D E i n ten ç õ es em arquit et ura
HELENA TRANCOSO
orie n tador : ce s ar s h un di iw amiz u 2015
índ ice ag r a d e c i m entos i ntro du ç ão
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PRIME I R A PA RT E lugar
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SEGU NDA PA RT E nó
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AGRADECIMENTOS Gostaria imensamente de agradecer aos orientadores que me acompanharam e fizeram parte do desenvolvimento do trabalho: A Marta Bogéa por aceitar o convite de fazer parte da banca final. Ao professor Marcos Boldarini e a todo grupo do EV, a paciência, bom humor e dedicação ao trabalho. A professora Carol Tonetti por seus valiosos conselhos. Ao professor André Vainer e sua imensa sensibilidade. Um especial agradecimento ao professor José Guilherme Pereira Leite por compreender minhas inquietações e por acreditar nos que não só querem alinhar, mas também erguer. Gostaria também de agradecer aos queridos amigos que foram insubstituíveis e fizeram todo o processo mais feliz: Elisa, João, Marcelo e Nina. E gostaria principalmente de agradecer meu orientador e professor Cesar Shundi Iwamizu por ter sido, não só durante o último semestre, mas ao longo dos seis anos de aprendizado na Escola da Cidade, uma constante fonte de inspiração e por ter me feito acreditar no meu trabalho. Obrigada! E por último, gostaria de dedicar este trabalho, que conclui um incrível processo, às duas mulheres que me dão força e coragem todos os dias e me fazem perseguir com amor e convicção meus sonhos e ideais: Teresa e Marina.
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Este trabalho está dividido em duas partes, a primeira delas é referente ao trabalho desenvolvido em grupo durante o Estúdio Vertical : Tempo Livre no Campo Limpo que ocorreu no primeiro semestre do ano de 2015. Já a segunda parte foi desenvolvida individualmente em paralelo ao E.V. e aprofundada durante o último semestre do mesmo ano como trabalho de conclusão de curso.
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INTRODUÇÃO Fevereiro - Junho 2015 Morro do Índio - Campo Limpo
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“En realidad, trabajar en filosofía - como en muchos sentidos en arquitectura - no es más que trabajar sobre uno mismo, sobre la propia interpretación de uno mismo, sobre cómo uno ve las cosas” Ludwig Wittegenstein
O tempo gasto, as discussões e as relações desenvolvidas durante o Estúdio Vertical: Tempo Livre no Campo Limpo (1º semestre 2015), entrelaçadas fortemente com questões e intenções pessoais de pesquisa, pulsantes desde o ano anterior, foram fundamentais para o desdobramento e aprofundamento do trabalho de conclusão de curso. Ao longo do último ano, me debrucei sobre uma bibliografia que transitava entre a filosofia, a fenomenologia da arquitetura, o existencialismo e a analise e estudo das obras de alguns arquitetos que evidenciam a riqueza e profundidade que se atinge ao produzir uma arqui-
tetura que leva em si, em cada elemento da sua concepção, uma constante reflexão sobre sua própria essência e o verdadeiro papel do arquiteto. O objetivo do trabalho de conclusão foi justamente esse: como de fato produzir uma arquitetura consistente, que não só solucione problemáticas concretas e práticas, mas que sirva como exercício para desenvolver e aprofundar a discussão sobre a arquitetura como disciplina e sua produção no mundo contemporâneo, e por ultimo, repensar o papel do arquiteto hoje em dia. Tendo essas questões presentes ao longo de todo o processo, para dar con-
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tinuidade ao trabalho foram elencados 4 eixos de aprofundamento: Material, Teoria, Projeto e Produto. A partir dos 4 eixos norteadores, foram selecionadas 3 variações de cada um deles (img.1) com o objetivo de explorar e experimentar diversas soluções projetuais e discussões teóricas já presentes no projeto desenvolvido no Estúdio Vertical. A riqueza desse processo foi justamente o entrelaçamento destes eixos e suas variantes, que como um quebra-cabeça ao serem misturados constantemente, de cada combinação algo novo surgia ou se tornava presente, permitindo assim que a própria arquitetura/projeto se revelasse e tomasse as rédeas do processo. O desenvolvimento de cada um dos elementos, em suas diversas escalas, teve seu próprio ritmo e sua devida atenção e dedicação. Cada um deles exigiu/ pediu um tipo de reflexão projetual e representação. Foi necessário sair das propostas e soluções habituais para explorar novas ligações e métodos de pensar e desenvolver um projeto arquitetônico. O trabalho busca explorar a tectônica e cada material pelo que é, sem enganos, sem superficialidades, assumindo o
seu peso, seu tempo e silenciosamente conquistando seu espaço no mundo/ entorno. A intenção não é perceber esses espaços e atmosferas através do intelectual, é o simples sentir. É resgatar a potência da sinceridade, muitas vezes perdida, base da relação entre arquitetura e indivíduo. É através da experiência da arquitetura que surge a reflexão e o entendimento/sentimento de pertencer a um lugar. Como toda expressão artística, um dos elementos que a caracteriza é sua potência transformadora e sua capacidade de ampliar nossa visão do mundo e de nossa própria existência. Se apropriar do espaço, se estabelecer num lugar é o primeiro passo para criar um “peso” existencial, e a arquitetura, a Arte da Construção, é a ferramenta.
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material
água
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teoria
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projeto
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testes
img.1
Estúdio Ve r t i c a l
Parte Primeira
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LUGAR Fevereiro - Junho 2015 Morro do Ă?ndio - Campo Limpo
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TEMPO LIVRE Hoje não habitamos o tempo e sim a velocidade. Mergulhados em um excesso de tecnologia e de estímulos visuais, a percepção da passagem do tempo é suspensa. Nossa relação com os espaços do entorno é fragmentada e o contato com nossa sensibilidade é deixada de lado para acompanhar a frenética velocidade da vida urbana. Pausas que capturam a passagem natural e livre do tempo.
PERCEPÇÃO SENSORIAL “Minha percepção é [portanto] não só uma soma do sentido visual, tátil, e auditivo: eu percebo de forma total, com todo o meu ser; Eu compreendo uma estrutura única da coisa, uma forma única de ser, que fala a todos os meus sentidos ao mesmo tempo.” Maurice Merleau-Ponty.
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O LUGAR
Durante a primeira visita ao Campo Limpo nos deparamos com situações que chamaram fortemente nossa atenção, sendo a principal delas a experiência espacial da favela mais próxima a estação de metrô Campo Limpo, onde subindo por uma viela muito estreita e densa, de forma repentina se chegava a um campo de futebol de grandes dimensões (40mx20m) completamente aberto no topo no morro. A riqueza nas texturas das casas, a presença marcante de um caminho de água no cimento do piso, as marcantes entradas de luz que geravam diversas atmosferas ao local e as inúmeras atividades
que ocorriam no espaço público de circulação da viela capturaram nossa atenção e marcaram a nossa memória desse lugar. Tentando explorar e descobrir mais possibilidades onde essas situações ocorressem, voltamos para o mapa em busca de outras situações semelhantes a da vielacampo nas favelas do Campo Limpo. Após elencar cada uma delas, foi feita uma nova visita onde encontramos o local ideal para a implantação do projeto, o Morro do Índio, onde todas as questões descritas à cima pareciam estar em sua máxima potência.
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CAMPO LIMPO
favelas c贸rrego percurso
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MORRO DO INDIO
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MORRO DO INDIO
Entre a estação Campo Limpo e Vila das Belezas da linha lilás do metrô, a favela do Morro do Índio tem apenas 2 acessos. Na cota mais alta, o acesso é feito por uma entrada semiprivada na Rua Júlio Frank, e na cota mais baixa, próximo ao córrego na Avenida Carlos Caldeira Filho, o acesso só é possível através da rua sem saída Vila Caiz. Com um desnível de mais de 30 metros de altura entre um acesso e outro, a circulação da favela é extremamente estreita, variando de 60cm à 80cm, e labiríntica, onde ao adentrar, se perde qualquer relação com o território ou com o entorno da cidade. Encontramos também duas situações surpreendentes, a primeira se encontra 26 metros acima da cota do córrego, perto do acesso da rua Júlio Frank, onde após caminhar alguns metros de descida em um caminho mais amplo o pedestre se depara com uma situação de mirante, onde se tem uma vista completa e é possível identificar o território e a localização do morro. A segunda se en-
contra logo abaixo desse desnível de 12 metros onde está localizado o campinho de futebol dos moradores do morro. A descida e acesso do campo à avenida principal, onde passa o metrô e o corredor de ônibus, é visível e necessária de acordo com os moradores, porém o grande desnível de 12 metros entre as 2 cotas inviabilizou até o momento sua implantação e para chegar aos 2 pontos é necessário voltar a entrar nas vielas da favela que vencem o desnível com escadas estreitas e irregulares. A situação atual do local é de extremo abandono e precariedade, e a sua beleza, característica desse tipo de ocupação (favela), é oculta pela falta de sensibilidade em ler os ricos elementos espaciais e sensoriais já presentes no local e em ver o potencial do lugar de se tornar um espaço público de qualidade, fortalecendo as dinâmicas sociais da comunidade do morro e a identidade e relação dos moradores com o lugar em que vivem.
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FERRAMENTAS: video รกudio fotografia levantamento
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LEITURA Fevereiro - Junho 2015 Morro do Ă?ndio - Campo Limpo
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P R O P O S TA
A partir de discussões teóricas sobre o tema proposto, voltadas á filosofia e a fenomenologia da arquitetura em paralelo com uma leitura do modo de vida urbano contemporâneo, se chegou a uma proposta, após inúmeras visitas ao Campo Limpo, de atuar com intervenções arquitetônicas sensíveis e consistentes que criassem novas conexões urbanas e pausas no percurso que revelassem a potência espacial já presente no local escolhido, estimulando assim uma percepção sensorial da arquitetura que incorporasse nela a passagem livre do tempo e colocasse em evidência a sua transformação, enriquecendo as experiências espaciais do dia-a-dia dos habitantes do Campo Limpo. A intenção é semelhante a de lapidar um diamante bruto, para assim revelar sua verdadeira beleza e demonstrar como uma arquitetura receptiva e com base em uma reflexão sobre a própria essência da disciplina é capaz transformar e fortalecer a relação dos indivíduos com o espaço em que habitam.
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EIXO
forte eixo visual: descida que direciona o olhar a um ponto claro da paisagem do Campo Limpo mirante: reconhecimento do território campinho: espaço amplo com acesso exclusivo pela viela novo acesso: terreno vazio na cota da rua próxima ao córrego com possivél acesso ao campinho
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terra pedra cimento madeira
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material local mutir達o sociabilidade identidade
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P R O P O S TA Fevereiro - Junho 2015 Morro do Ă?ndio - Campo Limpo
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PONTOS DE INTERESSE
1.
acesso público a cota mais alta do terreno. elemento coletor de água marca o inicio do novo percurso.
2.
plataformas amplas que cumprem sua função como acesso às vielas e gera novos espaços de permanência para os moradores do morro do indio.
3.
mirante: novo acesso de caráter público que conecta o campinho à praça central, viabilizando o novo eixo de circulação pública proposto pelo projeto.
4.
novo acesso ao campinho conectado por plataformas que criam uma continuidade do espaço até a margem do córrego, reforçando o uso já existente do local de lazer e permanência.
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CAMINHO D’ÁGUA
peças que vencem os desníveis de água necessários para manter o fluxo contínuo da água através do percurso. concreto
ponto de coleta de água na cota mais alta do terreno e elemento que marca o deságue no córrego. concreto e gabião
pontos de desnível do percurso da água. a altura e desenho do elemento favorecem a sonoridade da água.
peças que funcionam como jardins de chuva com vegetação, para o aumento da captação de água/ drenagem no topo do morro e também como elemento paisagístico.
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CAMINHO D’ÁGUA tijolos de cimento
proposta de largura dos caminhos de acordo com o seu posicionamento dentro do projeto e sua função espacial. o desenho incorpora questões práticas como a drenagem e a viabilidade do percurso contínuo da água e questões de âmbito mais sensível como a sonoridade, a sensação térmica e tátil. diferentes configurações de módulos permitem a variação das larguras e profundidades ao longo de todo o percurso, com exceção das peças que viabilizam as viradas do fluxo d’água.
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largura para caminhos d’agua próximos a escadas ou que cruzem eixos de circulação
largura para caminhos d’agua em espaços mais amplos ou que acompanham o sentido da circulação
largura para caminhos d’agua em espaços de permanência ou quando aparecem próximos a muros de pedra (elemento vertical)
acesso bairro
praça / acesso à favela
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desnível 12m
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campinho
acesso / área de permanência
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TRÊS ELEMENTOS
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PROCESSO Fevereiro - Junho 2015 Morro do Ă?ndio - Campo Limpo
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GRUPO Helena Trancoso - 6 ano Helena Kozuchowicz - 5 ano Camila Campos - 4 ano Juliana Deeke - 4 ano Karina Rebello - 3 ano
ORIENTADOR Marcos Boldarini
CO-ORIENTADORES Shundi Iwamizu AndrĂŠ Vainer
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Tr a b a l h o d e Conclus達o de Curso
Parte Segunda
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NĂ“ Julho - Dezembro 2015 Morro do Ă?ndio - Campo Limpo
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Como nosso caminho, sua chegada é feita pelo ponto mais alto do território. Ao ver esse elemento formado por fortes ângulos, já se percebe a calma de estar em casa, e passar por ele é sentir que se deixa atrás o caos da vida urbana, sua rapidez e constante exigência, por uma calma interna muitas vezes esquecida ou até mesmo afogada. Ao descer as escadas, essa frágil correnteza te leva pela mão para um lugar onde o tempo é constante, resguardado da nossa vontade de controle (ou de ausência). Sua temperatura e seu cheiro úmido nos toca como um todo, e a certeza de haver chegado ao seu lugar surge com a mesma tranqüilidade que seu sutil fluir. Seu caminho sensível e determinado relembra a leveza que existe em soltar por um instante a negação da experiência do fluxo das horas e se deixar estar presente. O sussurro das águas acalma nossa mente e na medida em que aos poucos nos abandona, finalmente vemos a beleza do comúm, beleza do simples estar.
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1. Rog茅lio Salmona - Col么mbia Biblioteca Virgilio Barco
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2. Teresa Moller - Chile Casablanca II
3. Jorge Yazpik - México Escultura em pedra vulcânica
4. Carlo Scarpa - Italia Cemitério Brion
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“numa pedra, há a memória da pedra, num homem, há a memória da sua criação” lo ui s k a hn
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CONCRETO
histórico Utilizado em sua primeira versão por romanos (pozzolana) No século XIX começa a ser pesquisado e desenvolvido
definição mistura de cimento, areia, pedra e água
variantes proposção entre os materiais da mistura tamanho utilizado da brita quantidade de água durante a mistura e cura
utilização material mais utilizado na construção civil
interesses 1. fácil execução 2. facilidade em se adaptar a fôrmas 3. riqueza em tipos de acabamentos 4. alta durabilidade 5. impermeabilidade
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GRANULOMETRร A E TESTES Cada material foi utilizado em uma determinada camada da peรงa.
AREIA
BRITA 1
1 - 2,4 mm
12,5 - 22 mm
Para testar as diversas texturas e acabamentos das peรงas de concreto, foram feitos ensaios com cada um dos materiais acima no protรณtipo da peรงa escolhida do projeto.
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BRITA 2
VIDRO
22 - 32 mm
2 - 15 mm
Camada 1 - AREIA Camada 2 - VIDRO Camada 3 - BRITA 1 Camada 4 - BRITA 2 e BRITA 1
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ESCADA Julho - Dezembro 2015 Morro do Ă?ndio - Campo Limpo
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Os muros de pedra que contém e rasgam o solo, silenciam seu enorme peso. Ao mesmo tempo que com firmeza evidenciam sua própria existência, é através do seu calmo silêncio que revelam seu entorno e o transforma ao nosso olhar. Com superfícies porosas e uma consistente justaposição de planos que se destaca por sua clara construção, o muro de pedra acolhe a natureza, que invade e se entrelaça com o elemento. Subindo pelo irregular relevo, essa constante transformação natural através do tempo modifica o espaço e reforça o caráter dessa arquitetura silenciosa que nunca morre. Esse marco na paisagem permite o reconhecimento do território que chamamos de nosso porém não o vemos. As pedras se moldam aos movimentos do solo e nos revelam a poderosa força sob a qual toda realidade está submetida: a gravidade. Após a passagem dos anos após sofrer o seu próprio abandono e seu inevitável esquecimento, aquela arquitetura continuará lá, misteriosamente presente, por ela mesma.
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1. Rafael Iglesia - Argentina Escada Casa del Grande
2. Ă lvaro Siza - Portugal Piscinas das MarĂŠs
3. Teresa Moller - Chile Punta Pite
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4. Construção transatlânticos Olympic (Belfast) - 1910
5. Restauração Pirâmede de Sakkara (Egito) - 2014
6. Jean Nouvel - França Instituto do Mundo Árabe
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“El silencio en la arquitectura es un silencio receptivo, que hace recordar. Una experiencia arquitectónica potente silencia todo el ruido exterior; centra nuestra atención sobre nuestra propia existencia y, como ocurre con el arte, nos hace conscientes de nuestra soledad esencial.” J u h a n i Pa lla sma a l os oj o s de la pi e l
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legenda 1
mirante +12
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mobiliário urbano
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M贸dulo grande : 1,80 x 1,05 cm M贸dulo pequeno : 0,90 x 1,05 cm
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ESTRUTURA DE MADEIRA peรงas utilizadas
1. Treliรงa de madeira : Sarrafo 2,5 x 10 cm + Caibro 6 x 5 cm 2. Caibro 6 x 5 cm 3. Sarrafo 2,5 x 7 cm 4. Prancha 30 x 4 cm 5. Pontalete 5 x 7,5 cm 6. Caibro 6 x 5 cm
Dimensรฃo degrau: 30 x 0,175 cm
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GABIÃO
histórico utilizado de maneira rudimentar por egípcios e chineses desde antes de cristo, já a utilização de gaiolas metálicas data de final do século XIX na Itália
definição muro de gravidade feito por gaiolas de aço zincado preenchidas com pedras de entre 2 e 5 kilos. Para filtragem é necessária a instalação de manta geotextil
variantes tamanho e colocação das pedras geometria do muro aterramento cauteloso resistência do solo
utilização muros de contenção / proteção de margens e canalização de córregos
interesses 1. fácil e rápida execução - baixo custo 2. sem necessidade de fundações profundas 3. alta permeabilidade alivia pressão hidroestática do talude 4. integração com o meio ambiente 5. estrutura monolítica, flexível, prmeável, autodrenante e durável 6. se adapta aos movimentos do solo sem preder a sua resistência
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MADEIRA
interesses 1. custo reduzido 2. facilidade de aperfeiçoamento e simplicidade de ligações, trabalhado com ferramentas simples 3. resistência mecânica elevada 4. peso próprio reduzido 5.utilização de peças com dimensões industriais. (prancha, vigota, caibro, sarrafo)
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É o lugar intermediário que transita entre o mundo construído e o mundo recebido. Ao voltar a entrar em contato e reconhecer os diversos elementos naturais que nos rodeiam, que estão sempre presentes porém não vistos, é na terra onde nos vemos, sendo ela o elemento mais próximos a nós. Nesse lugar pulsante, o que rege é a simplicidade e a beleza pura dos materiais, que mesmo estando transformados pelas mãos humanas, se revelam em seu estado mais honesto e fiel a sua própria essência. Não só o tempo imprime sua passagem no material, mas também nossos movimentos, nossas mãos e pés, nossos corpos esculpem o espaço através da experiência. Como um veludo a terra acolhe o corpo, o sente e o deixa sentir, o marca e o deixa marcar. É o estar que a define, é o desgaste. É o estar sempre presente porém sempre calada, nunca se impondo, nunca no singular, mas sendo o principio, a origem, a primeira matéria. É o que nos conecta ao primitivo. Nessa atmosfera coberta por calor deixamos nosso interior de lado para sentir o que realmente nos transforma: as relações. É nela onde nos vemos refletidos em outros, onde vivenciamos a mudança e onde encontramos nossa identidade social. Dentro desse ambiente sentimos a potência do estar juntos, onde verdadeiramente nos conhecemos. Esse espaço sutil, primitivo, não nos nega, mas nos acolhe da forma mais sincera, permitindo a compreensão de que somos parte dele, somos sua razão para estar.
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1. Peter Zumthor - Suiรงa Detalhe corredor interior Termas de Vals
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2. Carles Correa - India Centro de Artes Jawahar Kala Kendra
3. Nicolas Feldmeyer - Suiça Breaking Point (Video)
4. Frida Escobedo - México Pavilhão Museo Eco 2010
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“La arquitectura se ha hecho para nuestro uso. En este sentido, no es un arte libre. Creo que la tarea más noble de la arquitectura es justamente ser un arte útil. Pero lo más hermoso es que las cosas hayan llegado a ser ellas mismas, a ser coherentes por si mismas. Entonces todo hace referencia a ese todo y no se puede escindir el lugar, el uso y la forma. La forma hace referencia al lugar, el lugar es así y el uso refleja tal y cual cosa.” Peter Zumthor atmo s f e ras
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legenda 1
campinho
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praça
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infra de apoio
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SOLO-CIMENTO histórico século III. Muralha da China - primeira utilização
definição mistura bem proporcionada entre solo com aglomerantes hidráulicos artificiais (cimento portland)
variantes dosagem cimento natureza do solo % umidade do solo compactação/presnsagem
utilização pavimentação paredes monolíticas construção civil (diversas formas)
interesses 1. boa durabilidade e resistência ao desgaste 2. aproveitamento da materia-prima da região 3. baixo custo 4. pode ser feito em mutirões/pela comunidade no próprio local de obra, favorecendo a sociabilidade e o envolvimento com a obra 5. fácil execução, dispensa mão de obra especializada 6. dispensa o uso de revestimento
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P O R C E N TA G E N S E T E S T E S
Os solos arenosos requerem, quase sempre, menores quantidades de cimento do que os argilosos e siltosos ressalta-se, entretanto, que a presença de argila na composição do solo é necessária para dar à mistura de solo e cimento, quando umedecida e compactada, coesão suficiente que permita a desmoldagem e o manuseio dos tijolos logo após a prensagem.
P R E PA R A Ç Ã O
P R E PA R A Ç Ã O
FABRICAÇÃO
DO SOLO
DA MISTURA
prensagem
peneiramento
teste do bolo
cura por 7 dias
1:10 cimento:solo
1:12 cimento:solo
1:14 cimento:solo
tijolos pavimentação dimensão tijolo: 10 cm x 15cm x 25 cm
blocos mobiliario urbano dimensão bloco: 45cm x 42cm x 42 cm
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imagem: Diébédo Francis Kéré fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND.Fabricação de tijolos de solo-cimento com a utilização de prensas manuais. 3.ed.rev. atual. São Paulo, ABCP, 2000
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EIXO Julho - Dezembro 2015 Morro do Ă?ndio - Campo Limpo
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PONTOS DE INTERESSE
1.
acesso público a cota mais alta do terreno. elemento coletor de água marca o inicio do novo percurso.
2.
plataformas amplas que cumprem sua função como acesso às vielas e gera novos espaços de permanência para os moradores do morro do indio.
3.
mirante: novo acesso de caráter público que conecta o campinho à praça central, viabilizando o novo eixo de circulação pública proposto pelo projeto.
4.
plataforma intermediária que permite uma vista superior do campo para assistir a jogos e permanência.
5.
novo acesso ao campinho conectado por plataformas que criam uma continuidade do espaço até a margem do córrego, reforçando o uso já existente do local de lazer e permanência.
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praça / acesso à favela desnível 6m
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desnível 12m
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acesso / área de permanência desnível 12m
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CONCLUSÃO Julho - Dezembro 2015 Morro do Índio - Campo Limpo
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Acho que mais que uma conclusão, fechada em si, momento que espero nunca chegue, este texto parte do coração, da identificação sincera de sentimentos puros, uma declaração de amor a arquitetura e um lembrete da minha verdadeira paixão pelo que faço. O dia está nublado e a chuva intensa ao mesmo tempo que com seu toque úmido unifica a paisagem, acalma a mente, deixando a atmosfera perfeita para através de palavras, desvendar os segredos e dar nome as coisas que surgiram de forma espontânea e que fizeram todo esse processo mais significativo. Mais do que um período de realização de um trabalho que fecharia um processo de aprendizagem, esse período de um ano foi um mergulho intenso em reflexões que não se diferenciam entre pessoal e profissional, elas são sempre as mesmas, sempre interligadas, sempre sendo reflexo uma das outras. Tudo começou com a pergunta: “Como o pensar a arquitetura se traduz no fa-
zer Arquitetura?”, como entender o que vem de dentro e como achar um caminho para realizar um trabalho real, consistente, que tenha não só qualidade, mas profundidade. Uma arquitetura que não reflita o ego do próprio arquiteto e sim seu entorno, as pessoas que a utilizam, quem a vive, quem a sente. O tema dado pela matéria do Estúdio Vertical se alinhou completamente com questões internas que vinha tentando desvendar, em uma intensa busca em conseguir identificar ideias que afloram e entender o caminho até então inconsciente do ato de projetar. “Tempo Livre no Campo Limpo” O tema proposto permitia e incentivava a ideia que antes de começar a desenvolver um partido ou esboçar uma proposta, era necessária uma discussão, entre os grupos e orientadores, sobre possíveis leituras a respeito do significado do conceito de tempo livre nos dias de hoje. A flexibilidade do tema ao mesmo tempo que instigava, possibilitava uma
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ampliação sem limites do tema que poderia desviar os grupos de um embatimento com questões mais concretas e projetuais. Como integrante do sexto ano do grupo e com vontade de unir o Estúdio Vertical com o Trabalho de Conclusão para conseguir desenvolver um trabalho consistente, senti uma grande responsabilidade em de alguma forma guiar o grupo e deixar ser guiada, manobrando e equilibrando vontades próprias com as intenções de trabalho das demais integrantes. Embora sendo uma pessoa que valoriza o estar só e tenha independência para atuar sozinha, percebo agora o quão importante é o trabalho desenvolvido em grupo. Isso se mostrou evidente desde as primeiras visitas a área. O estar em grupo num mesmo lugar, o reconhecer semelhanças e diferenças na percepção do lugar de cada uma e respeitá-las, enriqueceu profundamente o trabalho e a experiência. O trabalho caminhou com uma tranquilidade intencional (mais uma vez questões profissionais permeando a vida pessoal e vice-versa) e o tempo parecia ser a essência não só da proposta do projeto, mas do ato de projetar, de entender que há passos a seguir e que cada um
deles exige calma e tranquilidade. Uma arquitetura lenta, que desafia as datas fixas de entrega, a correria do dia-a-dia e o processo habitual desenvolvido ao longo dos anos na faculdade. No inicio, a leitura da área, a identificação de elementos de interesse, o levantamento de texturas, fotografias, vídeos, medições, desenhos e as discussões que isso gerou tomou parte necessária do tempo, e facilitou o desenvolvimento do projeto já que antes de propor, antes de intervir com ideias pré-concebidas, o absorver emocionalmente esse local e sentir o espirito do lugar nos guiou naturalmente para um método de projeto mais sincero onde de fato se pensa/ respeita o entorno e quem o habita. O processo projetual finalmente fez sentido para mim. Primeiro o sentir, logo o pensar e só assim, com o tempo a seu favor, propor. Foi ai onde tudo se encaixou. Foi ai onde por fim decifrei a voz do projetar que vinha de dentro e minha paixão tomou novas dimensões. Ao “finalizar” o trabalho do EV, percebi que ali poderia estar tudo o que eu acreditava como arquitetura, ali estava eu mesma e decidi dar um passo além, e dar continuidade ao projeto como trabalho que concluiria meu curso de graduação.
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Como dito da introdução, a base do trabalho desenvolvido individualmente, o diagrama dos 4 eixos de pesquisa, se desdobrou em inimagináveis questões, e trouxe a luz interesses pessoais e curiosidades que espero nunca se esgotem e continuem se transformando, fazendo sempre desse processo de projetar uma experiência rica, significativa, envolvente e única. Ao mesmo tempo que o projeto ia se revelando, eu como arquiteta fui me descobrindo, me percebendo, entendendo que questões me intrigavam, que problemáticas me moviam e como seria uma possível postura ao enfrentar esse e outros, novos desafios que estão por vir. Foi uma experiência muito forte e significativa perceber como questões e posturas desenvolvidas e adotadas no trabalho permeiam de fato minha vida e quem eu sou e evidenciam a verdade que existe na ideia que me guiou até agora, quase de forma intuitiva: eu sou meu trabalho, eu sou minha arquitetura. Todo esse processo só afirma a teoria/ ideia da arquitetura como entendimento existencial, por ela eu me entendo no mundo, por ela eu encontro minha forma de expressão e por ela o outro se revela.
A intenção desde o principio foi tentar de alguma forma explorar e traduzir todas essas questões em respostas e soluções espaciais concretas e ao entrar num momento individual do trabalho, foi necessário mergulhar de corpo e alma no aprofundamento do projeto/teoria, ou seja, mergulhar dentro de mim mesma. Acredito que tenha chegado de forma satisfatória no meu objetivo; ao ver as peças, escolhas e o produto completo, me vejo a mim mesma e não há palavras que descrevam a felicidade e satisfação que sinto ao concluir este trabalho. Não teria chegado aqui sem uma abertura e sinceridade, muitas vezes exigida, do coração e da mente a novas experiências, ao desconhecido, e nada teria sentido sem as pessoas que fizeram parte do processo, porque para mim isso é arquitetura. Essa conclusão não é o fim de algo, o ponto final, o objetivo alcançado é o começo. É a afirmação e a clareza em acreditar no que faço. É a convicção no meu trabalho e é minha primeira declaração de amor verdadeira que faço, porque não há outra palavra que descreva o sentimento que tenho pela Arquitetura senão, amor.
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