Do Brasil à Babilonia

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Do Brasil à Babilônia

Recordações dos cinemas de rua de Campina Grande

Henriette Valéria Necivalda Santos



Do Brasil à Babilônia

Recordações dos cinemas de rua de Campina Grande


Universidade Estadual da Paraíba Prof. Antônio Rangel Junior Reitor Prof. Ethan Barbosa Vice - Reitor

Profª. Mª.Agada Aquino Orientadora Necivalda dos Santos Produção textual Henriette Valéria Produção textual Henriette Valéria Projeto Gráfico

Todos os direitos reservados pelas autoras. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a autorização prévia das autoras.


Henriette Valeria Necivalda Santos

Do Brasil à Babilônia

Recordações dos cinemas de rua de Campina Grande

Campina Grande - PB 2014



Sumário Prefácio 9 Apresentação 11 Capitulo I

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Herança Sagrada

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Capitulo II

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A família do Barulho

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Capitulo III

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Aqui começa a vida

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Capitulo IV

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Aventura Perigosa

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Capitulo V

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A morte ronda o espetáculo

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Capítulo VI

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No tempo dos pioneiros

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Capítulo VII

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O palácio das paixões

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Capitulo VIII

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A meia luz

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Capitulo IX

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Um Drama em Cada Vida

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Capitulo X

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A paixão de uma vida

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Capitulo XI

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Sempre no meu coração

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Capitulo XII

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Àlbum de fotos

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Considerações Finais

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Referências bibliográficas

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Prefácio

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sse livro é uma experiência de paixão: pelo jornalismo e pela cultura de um povo, exemplificada através dos cinemas de bairro que um dia povoaram a cidade de Campina Grande. Ter a oportunidade de ver nascer um livro reportagem como esse, conhecer sua ideia e sua origem, acompanhar sua produção e finalização é uma rara experiência, vivenciada por mim com muito respeito. Porém, mais mágico ainda do que isso, é ter o privilégio de ver surgir e amadurecer duas verdadeiras jornalistas, preocupadas com a verdade, com a apuração e com o respeito aos entrevistados. Nas páginas que você lerá a seguir, terá a chance de compreender que por trás de cada palavra usada existiu esmero, evidenciado pelos títulos cuidadosos e criativos, pelas descrições minuciosas, pela narrativa envolvente. 9


Nesse texto não estarão presentes apenas locais e datas, como uma espécie de cartografia histórica, e sim um verdadeiro relato humano que trás à tona a vida de pessoas que compartilharam a experiência emotiva e intensa de viver esses cinemas de rua de Campina Grande. E esse é o grande mérito do trabalho: contar a história através dos indivíduos que fizeram parte dela, um verdadeiro trabalho jornalístico. Convido você, leitor, a mergulhar na experiência da sétima arte de uma forma incomum, vendo a tela por trás do tecido, que revelará não apenas um mundo de letras ao contrário, mas também a magia que só é possível perceber pelos olhos de quem ama. Quem sabe assim possamos apreender um passado intenso e tirar dele as lições para um futuro com mais telas, pipocas e paixões.

Agda Aquino

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Apresentação

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ra uma manhã de segunda-feira, um semestre qualquer e duas jovens cursando Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba. Durante as aulas do semestre havia a necessidade de construir um pré-projeto para servir de base para o Trabalho de Conclusão de Curso, a ser construído a posteriori. O nosso desejo era elaborar um TCC inusitado, interessante e cultural, algo que chamasse atenção dos leitores por seu conteúdo para o trabalho se tornar válido depois do esforço para a construção do mesmo. Alguns temas foram pensados, mas por algumas dificuldades que surgiram ao longo do semestre, estas possibili-

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dades foram automaticamente descartadas, assim durante uma conversa informal, resolvemos falar de cinema. Este livro-reportagem é fruto dessa escolha, com elaboração Do Brasil à Babilônia, surgiu a necessidade de mostrar a perda da identidade cultural para a cidade com o fechamento dos cinemas de bairro; assim como eram chamadas às salas de exibições cinematográficas de Campina Grande. Através de histórias engraçadas, fatos inéditos e diálogos interessantes fazemos uma ponte entre presente e passado. Além de estabelecer esta relação, procuramos mostrar como os costumes foram se modificando ao longo do tempo, e como isso influenciou e influencia diretamente a cultura de uma cidade, de uma população. Assim registramos através desta plataforma a relevância do tema para a cidade de Campina, além da responsabilidade de ser o primeiro livro-reportagem produzido como TCC no curso de Jornalismo da UEPB. Cada personagem aqui apresentado é uma partícula importante desta obra, pois o nosso objetivo é mostrar e compartilhar as histórias gravadas nas memórias de pessoas que vivenciaram a época dos cinemas de bairro. Convido você agora caro leitor, para viajar conosco no tempo do “auge da sétima arte”, venha assistir por trás da

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tela, sentir o cheiro de pipoca e reviver o tempo em que para ir ao cinema era necessรกrio vestir a melhor roupa.

Boa Leitura!

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Capitulo I Herança Sagrada "O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho." (Orson Welles)

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m 1961, no Cine Avenida, começava o Festival dos Empregados, dia 21 de dezembro, com três sessões: às 15:30, 19:30 e 21 horas. O ingresso com antecedência para o filme “Pintando o 7” já estava no bolso do paletó de José Barreto, empregado da Papelaria Caroca de Campina Grande. Ele aguardava ansioso a hora de começar a primeira sessão, tomando uma Birita no Bar Azul no centro da cidade, quando ouviu o anúncio do show de Dalva de Oliveira. 15


Imediatamente se dirigiu ao local onde ia começar o Show, afim de dar um abraço em Dalva e pedir um autógrafo: - Dalva minha querida, eu te amo! E com um abraço ele pediu que lhe desse o autógrafo, mas lembrou que não tinha papel nem caneta, mas não podia perder esta oportunidade. A única saída encontrada foi pegar o ingresso do cinema que estava no bolso do paletó e arrumar emprestado uma caneta. Ingresso que guarda com muito carinho até hoje. A música e o cinema sempre estiveram entrelaçados, desde muito antes das telonas terem o áudio em suas películas, estas já se faziam presentes. Na época do cinema mudo, como no Cine Fox, a sonorização era feita por tocadores que faziam as trilhas sonoras ao vivo. Orquestra, como se chamava na época, formada pela família Capiba, onde o pai era o maestro, um filho adolescente tocava o piano, a filha um violino e um outro a flauta. Com o passar do tempo as despesas com a orquestra foram sendo altas e como forma de economizar para que os donos dos cinemas tivessem mais lucros, foi necessário substituir a orquestra e adotar uma vitrola que também conseguiu agradar a todos. A música dá vida ao cinema, nos filmes de terror ela gera o suspense, nos românticos trás emoções que embalam a 16


alma. Trilhas sonoras juntas com imagens em movimentos nos levam a sonhar, sentir emoçþes. Trazem lembranças.

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Capitulo II A família do Barulho "O cinema é o espaço acolhedor dos sonhos de todas as pessoas." (Mônica Torres)

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ão era a primeira vez que o filme "Coração de luto", de 1967, do diretor Eduardo Llorrente, estava sendo exibido no Cine Capitólio. Todos choravam ao ver a morte da mãe de Teixeirinha, representado em preto e branco no telão do cinema. O Capitólio havia sido inaugurado em Campina Grande em 20 de novembro de 1934, na rua Irineu Joffily, no centro da cidade. Sempre lotado em seus dias de glória, naquela noite de sábado de 1971, em meio a pouco menos de mil pessoas, tinha uma que não se rendia a emoção que tomava con19


ta da plateia. Lá estava Ornildo Alves de Assis, com seus 21 anos, jovem que já carregava em seus ombros a responsabilidade de ajudar no sustento da família, desamparada pelo pai. Mas que sempre tinha garantido o ingresso do cinema. Com o sorriso no rosto, galanteador e vestindo sua melhor roupa, que comprara para ir ao cinema. Frequentador assíduo dos finais semanas do Cine Capitólio, Ornildo não poderia ser considerado o expectador número um deste cinema, pois segundo o gerente da sala de exibição, em entrevista ao cinéfilo Rômulo Azevedo, disse que havia em Campina Grande um famoso advogado que ia todos os dias sozinho, às 14h, de segunda à sexta. - Doutor quero lhe entrevistar! (falou Rômulo) - Sobre o que? (indaga o advogado) - Sobre cinema. - Cinema? Eu detesto cinema. -Tem alguma coisa errada, porque o gerente do Capitólio disse que o Senhor ia todos os dias e era quem comprava o primeiro ingresso. - Verdade. - E o Senhor não gosta de cinema? - Detesto. - E por que o Senhor ia todos os dias? 20


- Meu filho, eu sou casado, tenho três filhas, então sempre que terminava o almoço lá em casa, minhas filhas e minha esposa ficavam me importunando: "Papai comprar isso! Papai compra aquilo..." e não me deixavam dormir. Por isso eu ia até o cinema dormir a tarde inteira, às 17h eu voltava pra casa. Filme? Eu nunca assisti. Nem me pergunte. Por ironia do destino, o homem que mais ia ao cinema, detestava cinema, passou 10 anos de sua vida dormindo nas confortáveis cadeiras do Cine Capitólio. Em contrapartida ao sentimento de indiferença do advogado, era notável a importância que o cinema recebia das pessoas, em uma época em que frequentar estes ambientes, era a única alternativa de lazer, grandes eram os sacrifícios, por amor a sétima arte. Os preços dos ingressos não eram muito caros 1$600 cruzeiros para entrada adulto, e 1$100 cruzeiros para as crianças, estes eram os valores do Capitólio em 1945. Os cinemas de bairro eram ainda mais baratos, mas tinha aquela parcela da população que não tinha condições para pagar tal quantia. Desafortunados expectadores faziam esforços para poderem assistir aos filmes diariamente. As formas encontradas eram as mais diversas, pagava-se menos se levasse o banquinho de casa, ou sentasse no chão; ou poderia ser ainda mais barato se assistissem por trás da tela. Fato este que levou muitas pessoas a ficarem especialistas

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em leituras de trรกs pra frente. E muitas vezes tinha mais pessoas assistindo por trรกs da tela do que diante dela.

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Capitulo III Aqui começa a vida "Queria que nunca acabasse, que nunca passasse, que tudo ficasse congelado ali, diante da tela iluminada." (Mônica Torres)

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rá, trá, trá, trá ... Era o som que encantava as crianças que sonhavam em ter um cinema em casa. Época em que a TV era sinônimo de luxo, enquanto isso, as latas de lixo dos cinemas de Campina Grande eram alvos de disputas entre as crianças. Cascas de amendoim crocantes misturados a piolas de cigarros, papeis de balas, sacos de pipocas, envelopes de figurinhas amassados, cartazes rasgados e pedaços de pe23


lículas eram revirados logo após cada sessão, principalmente aos domingos quando terminavam as matinês. Os retroprojetores de 35mm, que emitiam estes sons, eram simulados em casa pelas crianças, que usavam da imaginação para recriar as emoções vivenciadas naquelas enormes salas de cinema. " Uma projeção de figuras na parede do quarto com uma caixa de giz transformada em projetor com lâmpada cheia de água servindo de lente, fios, lâmpadas, figuras de papel... as cadeiras perfiladas num ambiente escuro, cujo o lençol branco preso na parede revelava as imagens que prendiam nossos olhos e perpetuaram minhas lembranças" com esta riqueza de detalhes, Mônica Torres nos descreve retalhos de suas memórias de criança brincando de cinema. ''Pelo barulho do projetor eu ficava imaginando o que fazia aquele barulho, por que fazia aquele barulho? Que é justamente a questão da parada de 24 quadros por segundo". Este era o pensamento de Regilson, quando criança, sonhava em ter o próprio cinema. Este som despertou a curiosidade de um menino que cresceu, casou e se tornou um mecânico renomado em sua cidade, Remígio-PB. Hoje ele é dono de um cinema. Já para José Barreto, frequentador assíduo dos cinemas de bairro de Campina, como o Cine Avenida, Cine São José, e Zé Pinheiro; Amante das atrizes Elizabe24


th Taylor, Brigitte Bardot, Marilyn Monroe e Sophia Loren, consideradas por ele deusas sobre humanas. Este amor fez dele um grande colecionador de filmes, a ponto de comprar o acervo de uma distribuidora de Campina Grande, em média de 2000 filmes em películas de 35mm, levando-o a construir em seu lar o próprio cinema, com direito a iluminação adequada e efeitos sonoros.

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Capitulo IV Aventura Perigosa "Eu sentia uma vontade, e uma ânsia muito grande antes de entrar, eu queria entrar." (Ornildo Alves)

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magine você com menos de 18 anos, em uma época em que a censura barrava um simples close de um decote de uma das atrizes do filme. A solução para assistir os filmes censurados era simples... bastava descobrir o ponto fraco do porteiro, para que ele deixasse você entrar. Mas precisaria ficar nas primeiras cadeiras, pois assim que os fiscais entrassem teria que se esconder por trás das cortinas. Era assim que acontecia com os jovens rapazes da época dos cinemas de rua, onde o piso de mosaico, as cadei27


ras acolchoadas e o teto de madeira envernizada, eram um cenário perfeito para as aventuras vividas por eles. Com emoção na voz e lágrimas nos olhos, José Barreto recorda as centenas de vezes que foi ao cinema em tempos de ditadura, onde a censura reprimia as liberdades individuais de expressão e manipulava informações e a vida das pessoas. Hoje, com 77 anos, o amante da sétima arte, desde muito novo ficou profissional em driblar os fiscais que eram responsáveis pelos cinemas, afim de conseguir assistir “aos amados filmes”. De 1964 à 1988, o Brasil estava sob ditadura militar e todas as produções cinematográficas passavam pela inspeção do Ministério da Justiça, no Departamento de Polícia Federal, na Divisão de Censura de diversões Públicas, onde se concentrava a política de cortes de palavrões, cenas picantes, e roupas ousadas para a época. O que garantiu a preservação dos filmes na íntegra foi que os negativos não eram submetidos a censura, mas apenas as cópias dos filmes. Qualquer discordância poderia significar um atentado a segurança nacional e resultando na proibição dos filmes.

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Capitulo V A morte ronda o espetáculo "Se o Capitólio reabrisse eu ia ligeirinho. Por que? Só pra recordar o passado." (Ornildo Alves)

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ua maneira agitada de falar, a camisa entreaberta, sua barba grande. Homem com muitas características fortes em sua personalidade. Assim é Rômulo Azevedo, uma figura marcante na história do cinema de Campina Grande. Em 1972, era costume dos jovens de classe média estudar fora da cidade. Com Rômulo não foi diferente. Ainda na adolescência, estudou no Rio de Janeiro e retornava sempre à sua cidade natal no período das férias de julho. Certa vez, veio acompanhado por dois amigos cariocas que vieram com o objetivo de se divertir e conhecer o Nordeste. 29


Saindo de sua residência, localizada no bairro da Prata, Rômulo e seus amigos foram em direção ao Cine Capitólio para assistirem ao filme "Bem Hur", de William Wayler. Tal feito só foi possível após muita insistência, já que a visão que seus amigos tinham do Nordeste se baseava no estereótipo de existir pelas ruas da cidade cangaceiros armados com suas peixeiras, dispostos a fincar em qualquer fulano, por nada e a qualquer momento. Quando finalmente Rômulo convence seus amigos da segurança e tranquilidade existentes em Campina naquele tempo, um problema à vista ao chegar à Praça Clementino Procópio: deparam-se com um aglomerado de pessoas gritando e mostrando-se preocupadas entre si. - O que aconteceu ali? - pergunta, preocupado, um dos amigos enquanto apontava para a multidão ali presente. - Ah! deve ser algum violeiro ou repentista tocando para ganhar dinheiro. - responde Rômulo. - Então vamos! O que Rômulo não imaginaria é que, na verdade, ali acabara de acontecer um assassinato e por um motivo bem fútil: a disputa por uma cadeira. Um jovem estudante de 17 anos mata um comerciário de 52 anos com uma facada no peito, acertando em cheio o coração. Esse fato marca a única tragédia que assombrou o Capitólio em seus 65 anos de história. 30


Já no Cine Avenida, localizado no bairro da Prata, oito anos antes desse acontecimento, durante uma forte chuva, o teto do cinema desmoronou. Naqueles dias, havia um festival de chanchadas brasileiras. Por ironia, "Sai de Baixo" era o filme que estava em cartaz, com Carequinha e Fred. Mas, pelo menos o desabamento ocorreu durante a madrugada, momento esse que o cinema se encontrava fechado. Então, felizmente, o ocorrido não deixou nenhuma vítima.

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Capítulo VI No tempo dos pioneiros "Cinema é uma arte completa porque é a soma do teatro, da literatura, da música, da pintura, da fotografia, da arquitetura." (Rômulo Azevedo).

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início dos anos 60 foi à época da elegância despojada, moderna e requintada. Ao mesmo tempo em que pobres e ricos eram elegantes simplesmente porque a elegância era artigo farto na nossa cultura e progresso. Não consistia só na forma de se vestir, mas em todo um comportamento paramentado de obséquios, gentilezas e galanteios. Recordações estas que Mônica Torres, hoje com 56 anos, descreve ao falar de sua infância em Campina Grande como frequentadora assídua do

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Cine Capitólio. O cinema, era um lugar de interação social, onde se encontravam os namorados, os amigos, os parentes. Saias godês, tafetás furta cor, vestidos tubinhos. Para as senhoras corpetes, joias caras e vestidos elegantes. Para as meninas vestidos bordados de cambraia ou até organzas (tecido leve, transparente, de brilho discreto) enfeitadas com cachos de flores e laços desfilavam nos finais de semana com a mesma avidez de um pássaro no céu. Os homens vestiam paletós de cores sóbrias. Independente do sexo e da idade, todos se arrumavam assim, atentos às tendências de moda daquele período, inclusive no que se diz respeito aos perfumes. Tendo para todos os gostos. Eram diversas fragrâncias que acabava adquirindo em sua essência uma ferramenta para a sedução. Estar perfumado era obrigatoriamente necessário. Os filmes sempre foram lançadores de moda. Copiavam-se os vestidos usados pelas atrizes principais e, muitas vezes, até as cores eram iguais. Assim, desfilavam as moças pelas ruas de piso vermelho desgastadas da Venâncio Neiva. As casas bem cuidadas e de muros baixos é como se dissessem a todo o momento: vejam que lindo está o meu jardim! Toda essa arquitetura é a manifestação da mais pura beleza. Algumas recordações ficam arquivadas na memória e por ali permanecem pra sempre de forma tão real que torna-se possível observar as mesmas cores, sentir os mesmos cheiros e ouvir as mesmas vozes. São “flashes” 34


de saudades que foram transformadas em lembranças e trabalhadas pelo tempo e aparece como num filme. Na tela das recordações que abrigaram sonhos e sorrisos é possível visualizar não só uma época de momentos bons, mas toda uma vida e todas as dificuldades que contém nela. A exemplo do sofrimento alheio, dos mendigos e desvalidos, que carregavam fardos de angústia, descalços, sem graça e sem ninguém que os valessem.

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Capítulo VII O palácio das paixões "Splish, splash ! fez o beijo que eu dei, nela dentro do cinema..." (Splish Splash - Silvinha)

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alas de exibições cinematográficas, que mesmo em seu silêncio foram grandes parceiros e serviram como cenário para muitos encontros amorosos e cenas de beijos mais ou menos roubados, ou da recusa da menina paquerada, que posteriormente resultaria na gozação dos amigos. Tradicionalmente, os cinemas eram considerados lugares perfeitos para se namorar, ainda mais em uma época em que os pais não davam total liberdade para na37


morar em casa, onde era proibido até pegar na mão. O cinema então era o abrigo perfeito para os corações apaixonados, mesmo que tivesse que levar um irmão mais novo ou uma prima para "vigiar" o casal. Já para a minoria e amantes da sétima arte, o cinema não poderia ser considerado um lugar bom pra namorar, pois estes consideram-no como templo sagrado, onde a atenção tem que estar exclusivamente voltada para a tela, sem se desviar dela por nada, para que assim possam interpretar o filme. Muitas histórias aconteceram dentro destas salas de exibição ou até mesmo fora delas, que marcaram vidas a exemplo de Ornildo Alves, um senhor simpático e desinibido, que relata com muita descontração uma história engraçada que aconteceu certa vez em sua juventude, época em que os cinemas de Campina Grande estavam no auge. - Maria vamos ao cinema sábado? - Vamos! Nos encontramos em frente ao Cine Capitólio. - Combinado então. Três dias depois... - Luíza vamos sábado ao cinema? - Vamos! Passa lá em casa. - Combinado então.

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Assim, Ornildo convidou uma segunda jovem para ir ao cinema esquecendo da primeira. Não imaginava ele a confusão que isso iria lhe causar. Chegando ao cinema, já na fila para comprar os ingressos, ele conversava empolgadamente com Luíza, quando Maria aparece furiosa: - O que significa isso Ornildo? Você marcou de se encontrar comigo aqui no cinema e você está acompanhado com outra? lembrando-se na hora do vacilo, rapidamente encontrou uma solução para o problema propondo o seguinte: - Não se preocupe eu pago sua entrada também e agente fica tudo junto! - Não aceito! Pode ficar com ela que eu vou embora. Constrangida, Luíza, indaga a atitude de Ornildo, e este lhe responde: - Deixa de bobagem, no final das contas você quem ganhou!

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Capitulo VIII A meia luz "A tecnologia é um facilitador a serviço do mundo, mas indiferente às consequências, podem arrasar culturas descuidadas." (Mônica Torres)

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chegada da luz elétrica em Campina Grande, nas décadas de 1920 e 1940, trouxe consigo mudanças significativas para a sociedade. Desde então, a iluminação se apresentou de forma precária. Mas os cinemas inaugurados até o momento possuíam seus próprios geradores, tornando-os independentes. Os fornecimentos elétricos possuíam horários estipulados para desligar a energia das principais ruas e casas do centro da cidade. Em meio à falta de energia das 20h, as pessoas iam para frente do cine-

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ma para aproveitar o único foco de luz existente. Fazendo dos cinemas uma espécie de santuário em meio à escuridão. A luz do luar conduzia as pessoas pelas ruas escuras até a frente do cinema. Ali tinha-se um pouco de tudo: Adultos conversando, crianças correndo e brincando de polícia e ladrão. Era possível ver adolescentes trocando olhares e outros na fila à espera de começar a última sessão. Trocar figurinhas com imagens do rosto dos astros e estrelas do cinema, em frente ao Cine Capitólio era um costume diário. Um hábito muito comum na época de ouro da sétima arte, os colecionadores geralmente chegavam até 2h antes de começar a venda dos ingressos, na ânsia de preencher o álbum que continha em torno de 210 figurinhas. Os colecionadores procuravam completar o álbum com fotos de atores e atrizes famosos e um pequeno texto falando de seu perfil. Comprava-se um envelope com cinco figurinhas ou cromos, muitas vezes vinham figuras repetidas e sempre ficavam faltando muitas para completar o álbum. Na ansiedade de preencher, a solução encontrada era a troca com outros colecionadores. “Estrelas de hoje e de sempre”, era o nome da revista Cine Cromos, que tornou-se a sensação do momento e trazia como lema: "O cinema existe em função do astro ou da estrela. É toda uma engrenagem que depende do volume de po-

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pularidade do artista. E muito raramente um filme é capaz de obter bom resultado financeiro se não tem aquele chamariz”. Durante muito tempo os astros e estrelas “reinaram” em toda a parte do mundo através de suas encenações e personagens que os caracterizavam. Por vezes sua vida particular era exposta ao público, não importando os fatores que podiam ser positivos ou negativos. E a exploração dos escândalos geralmente eram produzidas de forma sensacionalista, que dependendo do caso poderia até contribuir para o artista, para que ele não “caísse no esquecimento”. A publicidade aproveitava-se de tudo, dos bons e dos maus exemplos. Isso ocorre desde quando o cinema se tornou uma instituição industrial, baseada na comercialização, na mercadoria humana, nos artistas, e certamente isso sempre existiu, e existirá para sempre.

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Capitulo IX Um Drama em Cada Vida "Todo mundo queria ter um Capitólio em casa." (Rômulo Azevedo)

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s luzes vão se apagando gradualmente... As cortinas se abrindo, o foco de luz com imagens em movimento faz um convite aos olhos, que já estão fitos na tela, para uma viagem ao desconhecido: capaz de te levar a Paris, Nova York... Ao contato com as mais variadas culturas. A sala de cinema, então, torna-se uma espécie de porto, aeroporto e rodoviária. Uma maneira de viajar mundo afora sem sair de Campina Grande. Embalado pelo tema imortal "Cadência do Sam-

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ba", de Waldir Calmon, o Canal 100 trazia as notícias do Brasil, do mundo e do futebol dando abertura às sessões. As cadeiras estão lotadas! Expectativa no ar vai tomando conta de todos que desejam ver como o mocinho conseguirá, mais uma vez, salvar a mocinha da enrascada. O confeiteiro passa pelos corredores oferecendo balas, amendoins e pipocas, que ajudam a controlar toda ansiedade pelo desenrolar da história. A curiosidade daqueles que esperaram durante toda a semana só cessa após exibição do Canal 100 e o começo de mais um capítulo do seriado tão amado por todos. O cinema sempre encantou multidões em todo o mundo, mas além dos filmes de longa duração, existe ainda outro atrativo, que são os seriados. Estes são uma espécie de filmes curtos, divididos por episódios individuais, que têm o poder de envolver as pessoas, sejam elas adultas ou crianças. Filmes e séries funcionam como perfeitas criações, pois elas fazem a junção de aventura, suspense e fantasia. Uma combinação capaz de atrair olhares que não se desviam da tela. “Mistérios da selva”, “Selvagens do país maravilhoso” e “Rainha das selvas”; estes seriados ofertavam ao público campinense a euforia todas as semanas. A novelinha com duração de 15 minutos, sempre terminava seus episódios com uma cena de perigo a fim de despertar o interesse das pessoas ao próximo episódio. "No finalzinho de cada capítulo, o mocinho ou a mocinha, ou os dois juntos, para ficar 46


mais emocionante, ficavam numa enrascada em que a morte era certa e, pimba! Continua na próxima semana! E tínhamos que voltar para ver como eles se safavam da situação. E voltávamos todas as semanas até o 'The End'." Assim descreveu Jobedis Magno de Brito, historiador e colaborador do blog Retalhos Históricos de Campina Grande, com muito saudosismo dos tempos dourados dos cinemas de rua.

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Capitulo X A paixão de uma vida "O que vale na vida é o sonho" (José Barreto)

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m menino de família humilde e pés descalços, catando latinhas e papelões pelas ruas da cidade de Remígio - que fica a 41,6 km de Campina Grande. O esforço de seu trabalho tinha um objetivo específico: conseguir dinheiro e comprar ingressos para o Cine São José de sua cidade natal. Aquele pequeno menino frequentava assiduamente as matinês que ali aconteciam. Nascia nele, então, um grande amor que não se encerraria nem tão cedo. Hoje, o mecânico Regílson se sente realizado por ter conseguido alcançar seu grande sonho de criança. Sendo uma 49


pessoa corajosa e determinada, ao ver o antigo Cine São José abandonado, decidiu por conta própria reabri-lo. Ao entrar em contanto novamente com o local, surge um sentimento de espanto e decepção: o cheiro de pipoca foi substituído pelo cheiro de poeira. No lugar das cadeiras, entulhos de lixo. O espaço totalmente escuro tinha como seus únicos frequentadores roedores e insetos. As paredes sujas, o projetor enferrujado por falta de manuseio, a tela estragada pela umidade e pelas traças. Enfim, um verdadeiro caos! Parecia que nada fazia sentido, aquela imagem que estava à sua frente não fazia parte das recordações de sua infância. Passado o período de negociações com os herdeiros do Cine São José, o mecânico conseguiu realizar uma reforma no cinema preservando sua estrutura original. Em seguida, a missão foi limpar o projetor, cortar as laterais estragadas da tela, que passou a medir 7 metros de comprimento, por 3,80 de altura, e testar a projeção com os trailers. Mesmo assim, o antigo projetor não aguentou por muito tempo. Quebrou e foi preciso ser substituído. Assim no dia 13 de Janeiro de 2012, renasce o cinema de Remígio, nomeado, dessa vez de Cine RT, em referencia as iniciais do seu novo dono e de sua esposa, Regílson e Tamires. Aquela não era uma sexta feira qualquer. Todos aguardavam ansiosos às portas do cinema novamente se abrirem. Naquela tarde ensola50


rada, o carro de som anunciando a estreia, aumentava cada vez mais as expectativas, a curiosidade do público. Às 19 horas, o cheiro de pipoca já tomava conta do lugar. O projetor ligado e testado, 100 cadeiras prontas para receberem o público. E Regílson? Bem, estava com as mãos tremulas, e com medo de algo dar errado. Era uma mistura de sentimentos, mas em seu interior, a certeza de que tudo sairia do jeito certo. Depois de muito trabalho, finalmente era chegada a hora da realização de um sonho: o de ter seu próprio cinema. Aos poucos, as pessoas começaram a chegar, até que o cinema se viu lotado, ao ponto de ser necessária abrir uma segunda sessão: o filme “Amanhecer” parte 1 foi o escolhido para marcar a reabertura do local. De longe, era possível ver uma multidão que se aglomerava em frente ao cinema à espera da próxima sessão. Para aumentar ainda mais a tensão de Regílson, no meio da primeira exibição, o projetor deu um pequeno apagão, a tela escureceu e a lâmpada de projeção se desligou. Por alguns segundos só foi possível ouvir o áudio, mas as imagens voltaram a funcionar normalmente logo depois. Felizmente, as pessoas nem chegaram a perceber, talvez achando que foi efeito do filme. Apesar desse pequeno imprevisto, a primeira noite do Cine RT foi sucesso garantido, superando todas as expectativas.

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O que antes era sonho de criança, hoje pode ser considerado uma raridade, pois o Cine RT, é um dos pouquíssimos cinema de bairro com portas abertas na Paraíba, contendo a mesma programação de Shoppings. Movido por essa paixão ao cinema, Regílson tem enfrentado muitas dificuldades financeiras para manter o Cine RT aberto. Por vezes, sacrificou o lucro de sua oficina de motos e tirou do próprio sustento familiar, dinheiro para custear os aluguéis dos filmes. Mas sempre confiante, nunca pensou em desistir.

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Capitulo XI Sempre no meu coração "Quando estou com vontade de chorar eu vou assistir. porque me faz voltar ao passado." (José Barreto)

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magens fragmentadas e lembranças fortes vêm com intensidade após uma longa vasculhada no baú de recordações de indivíduos que viveram em uma época tão significativa para a história da cidade de Campina Grande. Hoje, tudo isto está conservado apenas na memória. O Cine São José funcionou durante anos como um dos pontos de encontros sociais nas décadas de 50 e 60, no período em que a cultura se tornara mais evidente na vida e no cotidiano das pessoas. Onde o intelectual era 53


um ponto forte para novas amizades e conquistas amorosas. Um ambiente sadio que demonstrava uma explosão de mistos sentimentos como alegrias, tristezas e vaidade. Com a exibição do filme “Sempre no Meu Coração” com Kay France e Walter Huston, o Cine São José é inaugurado na Rua Lino Gomes, no bairro também São José, no dia 10 de Novembro de 1945. Funcionou também como Cine Theatro. Recebeu caravanas com artistas de todo o Brasil, a exemplo do espetáculo “As Mãos de Eurídice”, com o ator Rodolfo Maya. As divulgações dos filmes eram realizadas por cartazes artesanais, pintados à mão, estes ficavam em pontos estratégicos da cidade para atrair os olhares dos mais diversos expectadores e frequentadores de cinemas. A garrafinha de Ki-suco era uma companheira nos dias de exibições cinematográficas, também não podiam faltar pipoca, amendoim torrado e confeitos que serviam de aperitivos. Tudo era muito simples, e às vezes escasso e precário, mas os jovens daquela época não fumavam crack como muitos hoje, não eram acostumados a conviver com a violência que assombrasse a volta para casa, mesmo que no escuro. Era somente alegria, amor e paz. Brigas? Sim existiam. Qual rapaz nunca deu uns empurrõezinhos em outro para disputar o coração de uma jovem? Mas era uma briga banal. Às vezes até engraçada.

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O Cine São José, antes Cine Teatro São José, também foi palco para grandes atrações teatrais. Construído para as classes mais populares da sociedade, foi além de tudo um dos pioneiros a se instalar e funcionar como cinema de bairro. O São José tinha duas semelhanças com o Capitólio, além de serem propriedades de Olavo Wanderley, exibiam os mesmos filmes. Mas com um diferencial, o preço dos ingressos do São José eram mais acessíveis. Seu público era composto principalmente por pessoas de menor poder aquisitivo, a exemplo de operários e estudantes. O auge do Cine São José foi na década de 50, quando eram exibidas produções cinematográficas de Hollywood, filmes mexicanos e até as famosas chanchadas brasileiras. Este espaço de cultura e lazer conseguiu sobreviver até os anos 70 sem grandes problemas aparentes. Durante muito tempo o São José funcionou como ponto de encontro para a sociedade campinense, e conseguiu encantar várias gerações. Um ambiente de sociabilidade, lazer e diversão para os moradores do bairro São José, que contribuiu na construção da educação e do caráter, do ser social de várias gerações. A Rainha da Borborema, em sua contemporaneidade, armazena pequenos fragmentos de épocas passadas, que de certa forma ainda lhe pertencem, pois compõe em seu aspecto construtivo algo que perpetua vivo na memória de seus habitantes em cada esquina, em cada patrimônio histórico/cultural. 55


A arquitetura faz parte da vida social da cidade e contribui de forma significativa para a construção da história de uma nação, por isso estes espaços são tão importantes para toda a sociedade. Devido às múltiplas opções de entretenimento no período noturno em Campina, com a chegada da televisão e do vídeo cassete, obrigaram o São José fechar suas portas, em 03 de abril de 1983, em uma noite de domingo, as vinte e duas horas e vinte cinco minutos. Certamente era notável o sentimento de tristeza que tomava conta do projetista José Martiníano dos Santos ao ter que desligar aquela máquina pela última vez e também de “Seu Assis” o gerente daquele ambiente de múltiplas singularidades. Após ter acabado a exibição do último filme que tinha karatê como tema. Ao olhar para o prédio do São José muitas pessoas recordam com saudade de um passado que permanece vivo ali. Mas além de levar em consideração o valor sentimental daquele monumento, é preciso pensar nele também com o valor histórico que ele possui, a exemplo de sua arquitetura em Art Déco. O prédio do antigo Cine São José já passou por várias reformas, mantendo sua estrutura original. Mas a falta de ocupação e atividades forma um ciclo que sempre volta à estaca zero, denotando sempre em sua característica de sentimentos como solidão e abandono. Sempre alvo de pichadores, moradores de rua, usuários de substâncias ilícitas, e também das 56


ações do tempo. É possível ver o descaso por parte dos poderes públicos. Sua história vem sendo esquecida, dia após dia. Mas quando tudo parecia estar perdido, no dia 01 de julho de 2014, o Cine São José, reabre suas portas e parece respirar novamente. Uma luta pela sobrevivência se inicia após 31 anos sem atividades. O Governo do Estado entrega a obra pronta para ser novamente um cinema. A reforma contemplou novos camarins, 148 poltronas, sobre um piso e forro novo e acessibilidade que antes não se tinha. Possui agora novas instalações elétricas, hidráulicas e carpetes no chão, além de iluminação e pintura. E como tudo iniciou como um Cine teatro, este volta a ser um espaço versátil misturando os vários segmentos artísticos.

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Capitulo XII Àlbum de fotos “Quem não sentiu a perda de um cinema frequentado durante anos tem memória nublada ou coração de pedra.” Carlos Drummond de Andrade (“Os cinemas estão acabando”, Jornal do Brasil, 19 de janeiro de 1984)

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Cine Babil么nia em 1939

Foto: acervo do blog Retalhos hist贸ricos de Campina Grande Cine Babil么nia

Foto: acervo do blog Retalhos hist贸ricos de Campina Grande 60


Interior do Cine Babilônia

Foto: acervo do blog Retalhos históricos de Campina Grande

Shopping Babilônia em 2014 antigo Cine Babilônia

Foto: Henriette Valéria 61


Cine Capit贸lio

Foto: acervo do blog Retalhos hist贸ricos de Campina Grande

Propaganda do Cine Capit贸lio

Foto: acervo do blog Retalhos hist贸ricos de Campina Grande 62


Cine Capit贸lio em 2014

Foto: Henriette Val茅ria

Lateral do Cine Capit贸lio em 2014

Foto: Henriette Val茅ria

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Cine São José

Foto: acervo do blog Retalhos históricos de Campina Grande

Interior do Cine São José

Foto: acervo do blog Retalhos históricos de Campina Grande 64


Cine São José em 2014

Foto: Henriette Valéria

Cine Fox

Foto: acervo do blog Retalhos históricos de Campina Grande 65


Propaganda do Cine Babilônia

Foto: acervo de José Barreto

Ingresso convite de 1989

Foto: acervo de José Barreto

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Certificado de livre sensura do canal 100

Foto: acervo de Reginilsom Cavalcante

Cine RT em 2014

Foto: Henriette ValĂŠria 67


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Considerações Finais

O

advento das novas tecnologias, talvez tenha sido o principal causador do fechamento dos cinemas de bairro. Campina Grande não está no meio desta problemática isoladamente, este fato ocorreu em várias cidades, a exemplo de João Pessoa. Mas além de novas possibilidades de se conectar com o mundo, outros fatores também influenciaram, obrigando os cinemas de rua a fecharem a suas portas. A perda maior não está propriamente no fechamento dos cinemas de bairro, isto é ruim para sociedade não podemos negar, pois os cinemas de bairro tiveram seu valor cultural. Mas a falta de projetos, ações e propostas para reaproveitar as estruturas físicas desses ambientes que em certo período da história estiveram envolvidos por uma gama de sentimentos, nos entristece. Com o passar dos tempos a sen69


sibilidade vai se perdendo, lá se vão patrimônios históricos que vão se apagando de nossas vistas e de nossas memórias. O cinema de ontem viveu seus dias de glória, considerado como um dos meios de vivenciar novas aventuras, amores e paixões proibidas, vividas no escurinho do cinema. Por isso há uma certa resistência, estranhamento e desconforto por parte de alguns consumidores ao frequentar atualmente as salas de exibições cinematográficas existentes em Shoppings. A sétima arte na atualidade se sustenta principalmente por dois pilares: os efeitos em 3 ou 6D. São eles os responsáveis por oferecer ao cinema da contemporaneidade uma nova roupagem, novos enredos e novos atores. Não se trata de escolher a maneira correta ou preferida de frequentar cinema, o que podemos observar claramente é o fato de ter surgido uma nova maneira de consumir cinema. Esta é prova de que não podemos generalizar gosto pois este é pessoal e intransferível. Além do mais para os jovens da nossa atualidade frequentar locais assim é uma maneira saudável de se divertir. É notável a aceitação de filmes nesses lugares, por parte das novas gerações. Mas também é plausível a opinião dos antigos frequentadores dos cinemas de bairro. Tantos cinemas fecharam suas portas, muitos não resistiram as devastações do tempo e caíram, outros funcionam para comércio. Mas os anos de histórias ainda estão inseridos nas frágeis paredes que restam dos antigos cinemas de 70


bairro, conhecidos e reconhecidos por estarem sempre lotados por indivíduos em busca de muita alegria e aventura. Os monumentos históricos de uma época de ouro, atualmente residem nas lembranças de homens e mulheres que um dia se emocionaram diante das telas cinematográficas. Mas o encanto e a magia ao qual o cinema está envolvido não acabou, ele continua encantando várias pessoas. A sétima arte nunca deixou de conquistar novas gerações... E quando tudo parecia estar fracassado, somos surpreendidos por uma notícia. A reabertura e funcionamento do cine São José, no dia 01 de julho de 2014. Começa assim uma nova e bela história de amor, cheia de encanto. Claro sem deixar de lado a importância que o passado nos ofereceu. Ao frequentar o São José, talvez seja possível o visitante se esforçar um pouco e tentar ouvir os risos e choros, as lágrimas de emoção de tantas pessoas que compartilharam daquele lugar. Talvez, quem sabe, seja possível ouvir o estalo do beijo que Jobedis Magno deu em sua amada durante a exibição do filme “Jamais te esquecerei.”

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Referências bibliográficas

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jornaldaparaiba.com.br/noticia/55862_um-cinema-a-cada-esquina--um-passado-perdido. Acesso em: 06/03/2014. HENDEL, Richard. O design do livro. São Paulo: Ateliê editorial, 2003 LAJE, Nilson. A Reportagem: Teoria e técnica de entrevista. 7.ed. Rio de Janeiro: Record, 2008. LEAL, Willis. Cinema na Paraíba: Cinema da Paraíba. v.1. João Pessoa: Santa Marta, 2007. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 4.ed. São Paulo: Monele, 2009. MACEDO, José Emerson Tavares de. O Cine São José como espaço de lazer, diversão e sociabilidade. Tarairiú revista eletrônica do laboratório de arqueologia e paleontologia da UEPB. v. 1. N. 2. Campina Grande: UEPB, 2011. Disponível em: http:// mhn.uepb.edu.br/revista_tarairiu/n2/art4.pdf. Acesso em: 10/03/2014. PESSOA, Bruno Ravanelli. Livro-reportagem: Origens, conceitos e aplicações. Disponível em: http://pt.scribd.com/ doc/170465278/Livro-reportagem-Origens-Conceitos-e. Acesso em: 15/03/2014.

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RETALHOS HISTÓRICOS DE CAMPINA GRANDE. Disponível em: http://cgretalhos.blogspot.com.br/. Acesso em: 20 de ago. 2013. RODRIGUES, José Edmilson. Meus cinemas, meus amores. Paraíba online. 17 de jan. 2013. Disponível em: http://paraibaonline.com.br/colunista/edmilson/8336-meus-cinemas--meus-amores.html. Acesso em: 10/08/2014.

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Sobre o livro Formato: 14x21cm Mancha Grรกfica: 9,5x16,5 cm Tipografias: Adobe Garamond Trajanus Roman

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Alguns temas não terminam ao serem publicados em jornais e revistas, eles exigem entrevistas, apurações detalhadas, busca de mais informações e consequentemente mais espaços, nascendo desta necessidade o livro-reportagem: “Do Brasil à Babilônia: Recordações dos cinemas de rua de Campina Grande.” Uma viagem de fôlego pelo universo dos cinemas de rua, tendo como protagonistas campinenses que viveram a época de ouro destes famosos cinemas. Começando com o Cine Brasil, sendo o primeiro a abrir as suas portas para a sétima arte em 1909, até o Babilônia, que foi o último a fechar. Apresenta-se como forma de documentar esta história tão importante para nossa cultura, com uma linguagem atraente como é próprio do jornalismo literário.


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