Encontre a Forma - Novas soluções para fazer Arquitetura na Terceira Revolução Digital

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ENCONTRE A FORMA – Novas soluções para fazer arquitetura na terceira revolução digital OU UTILIZANDO A PROGRAMAÇÃO E A BIOMIMÉTICA COMO M ETO D O LO G IA S P R OJ E T U A I S PA R A UM FUTURO DE COMPLEXIDADES

Trabalho Final de Graduação AUTOR: O R I E N TA D O R :

HENRIQUE ANDRADE S I D N E Y TA M A I



Aos meus pais, Celso e Leia, sem os quais esse trabalho nĂŁo existiria.


Resumo Design paramétrico, Design por programação, Design computacional,

Digital

Design,

Design

Generativo:

desde que o computador se revelou uma ferramenta útil para o desenvolvimento de projetos arquitetônicos diversos termos e supostos novos estilos tem contagiado a disciplina, no entanto, o que estes nomes mais recentes revelam é que, apenas agora, começamos a perceber a real potencialidade do uso da máquina pelo arquiteto. Desta maneira, o Encontre a Forma surge como um trabalho explorativo teórico e prático que visa compreender de modo mais detalhado a influência que o computador, e mais precisamente a programação, terá sobre a produção conceitual e executiva do projeto arquitetônico a partir da próxima década, quando os sistemas de produção virtual e físico poderão se reinventar por completo; E também o modo como esta mesma lógica processual está correlacionada com a inteligência dos sistemas biológicos e outros processos naturais. Na parte prática, o trabalho busca aplicar parte das tecnologias e teorias absorvidas pela etapa explorativa com a finalidade de projetar uma estação de metrô e um parque, no Largo do Taboão, em São Paulo, ao qual estaria conectada a atual linha amarela. Palavras-Chave: Arquitetura Paramétrica, Programação, Design Generativo, Quarta Revolução Industrial, Terceira Revolução Digital, Fab Labs, Estação Largo do Taboão.


ABSTRACT Parametric Design, Programming Design, Computational Design, Digital Design, Generative Design: since the computer proved to be a useful tool on the development of architectural projects many news terms and proclaimed new styles started to surge, however, it is only now that we started to understand the real potentiality of the machine. In this way, Find the Form emerges as a theoretical and practical exploratory work that aims to understand in a more detailed way the influence that the computer, and more precisely the programming, will have on the conceptual and executive production of the architectural project on the next decade, when virtual and physical production systems could be completely reinvented; And also how this same procedural logic behind programming is correlated with the intelligence of biological systems and other natural processes. In the practical part, the work seeks to apply part of the technologies and theories absorbed by the exploratory stage with the purpose of designing a subway station and a park, in Largo do TaboĂŁo, SĂŁo Paulo, to which the current yellow line would be connected. Keywords:

Parametric

Architecture,

Programming,

Generative Design, Fourth Industrial Revolution, Third Digital Revolution, Fab Labs, Largo do TaboĂŁo Station.


ÍNDICE PAG. 1

INTRODUÇÃO

PAG. 2

O ARQUITETO DO SÉCULO XXI

PAG. 7

E B U L I Ç Ã O T R A N S I T I VA

PAG. 11

CAP I - CONTEXTO E DISRUPTURA

PAG. 12

C A I XOT E S DA E R A M O D E R N A

PAG. 29

O Q U E S ÃO R E V O L U Ç Õ E S D I G I TA I S ?

PAG. 35

CAD - COMPUTED AIDED DESIGN

PAG. 39 B I M - B U I L D I N G I N F O R M A T I O N MODELING PAG. 43

ARQ U ITE TU R A PAR AM É TR ICA

PAG. 54

P A R A M E T R I C I S M O E PAR AM E TR ICI S M O 2 .0

PAG. 60

PROGR AMAÇÃO VISUAL

PAG. 63

C A P I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U TAC I O N A I S E P O R Q U E E L A S MUDAM TUDO

PAG. 64

A M A I O R H A B I L I DA D E C O M P U TA D O R

PAG. 67

PORQUE PROGRAMAR

PAG. 79

MODUL ARIDADE

PAG. 83

ARQ U ITE TU R A PAR AM É TR ICA


PAG. 89

O P T I M I Z AÇ ÃO P R O D U T I VA

PAG. 101

SIMUL AÇÃO

PAG. 111

C A P 3 - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R AT Ó R I A

PAG. 113

A L Ò G I C A D O M U N D O N AT U R A L

PAG. 115 IDENTIFICANDO AS LINGUAGENS DA N AT U R E Z A PAG. 123

H O M E O S TA S E A R Q U I T E T Ô N I C A

PAG. 129

N OVA S M E T O D O L O G I A S P R E C I S A M D E N O V O S M AT E R I A I S

PAG. 137 E X . P R O J E T U A L - E S TAÇ ÃO D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B OÃO PAG. 139

O LOCAL DE PROJETO

PAG. 141

I M P L A N TA Ç ÃO R E G I O N A L

PAG. 145

O PARQ U E

PAG. 151

DIAGR AMAS CONCEITUAIS

PAG. 153

MEMBRANA ARQUITETÔNICA

PAG. 157

A E S TAÇ ÃO

PAG. 171

CONCLUSÃO

PAG. 173

AGR ADECIMENTOS

PAG. 175

BIBLIOGRAFIA


INTRODUÇAO

INTRO UÇÃ

Pg. 1


O ARQUITETO DO SÉCULO XXI Em 1419 Filippo Brunelleschi, que não possuía qualquer estudo em arquitetura, foi agente de um dos maiores feitos da história da arquitetura. O ARQUITETO DO SÉCULO XXI

Ao construir a cúpula da Catedral de

Florença,

Brunelleschi

foi

responsável por elevar a arquitetura do período a um novo patamar, não apenas por conta do desenho que se destacava das formas básicas dos

domos

antecessores,

mas

principalmente porque através de novas tecnologias e engenharias construtivas desenvolvidas por ele, a construção foi realizada de forma nunca antes ousada, impulsionando o surgimento de novas técnicas e estilos.

I M G 1 : Vista

interna da Cúpula de Brunelleschi

Embora, até hoje, não exista um consenso a respeito das técnicas utilizadas por Brunelleschi, neste momento histórico pode-se notar uma das qualidades mais fundamentais a toda e qualquer profissão artística e científica: a busca pela inovação. Certamente, a arquitetura, é hoje, uma profissão muito mais complexa e que precisa solucionar problemáticas ainda mais Pg. 2


complexas dos que a da época de Brunelleschi, mas o que este exemplo traz como questionamento é: Quando a arquitetura deixou de ser uma profissão fundamentada na inovação? Quando arquitetos deixaram de ser inventores? Porque a arquitetura já não está mais no hall das profissões que lideram em tecnologia? E porque até hoje arquitetos ainda se rendem a noções preconcebidas de espaço, estilo, método e material? Desde a gênesis da sociedade, mais do que um artista, os melhores arquitetos sempre foram também inventores, engenheiros, pessoas que buscavam novas soluções para o construir, o viver, o habitar; desafiando princípios, através da busca pela renovação dos métodos – afim de repensar o status quo, afim de superar as limitantes INTRODUÇAO

preestabelecidas. Porém com o chegar da era industrial e da modernidade observouse a arquitetura perder seu caráter mais importante como ofício. Atualmente, a profissão arquitetônica passa por crises de identidade, frente a uma sociedade voltada para o consumo e para comunicação globalizada, se encontra incapaz de definir sua posição. Não é incomum se deparar com questionamentos que, surgidos da falta de identidade da categoria, indagam o que um arquiteto “realmente faz”. Esta discussão a respeito do que faz um arquiteto, embora pareça trivial, é importante e precisa ser feita com atenção, pois, observase a crescente desvalorização da profissão, que se encontra em uma posição esquisita, vista de forma indefinida pela sociedade; O fato de que uma parcela considerável da sociedade não entenda o que faz um arqutieto, nao poderia representar o fato de que, talvez, esta nao esteja sendo dispensavel?

Pg. 3


Dados de 2015 do CAU/BR, contam que mais de 85% das obras ainda ocorrem via autoconstrução, sem a participação de um arquiteto ou engenheiro. Embora possam existir múltiplas razões políticas, econômicas e sociais para isto estar a ocorrer, é indispensável que aqueles que preocupam-se com a profissão, e sua posiçao

“No Brasil hoje, mais de 85% das obras ainda ocorrem via autoconstrução”

frente a uma sociedade em constante uma

mudança,

autocrítica

façam

profunda,

especialmente membros de instituições responsáveis pela fomentação

e

manutenção

(ProArchitect 2017)

Diversos profissionais, nao só do Brasil mas também de outros países, creem que parte da razão para que esta desvalorização esteja ocorrendo vem da contínua transferência dos deveres científicos do arquiteto para outras profissões. Afinal, com a chegada da modernidade a profissão se voltou para um papel cada vez mais artístico, enquanto era drenada de todo seu caráter científico e inovador. Outro fator se dá, pois, desde a chegada da internet, as academias

O ARQUITETO DO SÉCULO XXI

desta.

parecem perdidas quanto a formação de profissionais em um mundo interconectado e globalizado. Durante este período de transição, é plangente se deparar com professores que ainda se apresentem resistentes a ideia de revisão na forma de ensinar frente as novas tecnologias – criando um choque com as novas gerações que adentram os cursos adaptados aos novos meios de absorver conteúdo, pesquisar, criar e vivenciar o espaço. Não obstante, as instituições são vistas pelo mercado profissional como insuficientes na formação do profissional - com conteúdo

Pg. 4


generalista, inchado, descentralizado, completamente desprovido de tecnologia e inovação – acabam por entregar profissionais que entendem de tudo um pouco, mas nada de forma aprofundada. À parte a importância da sociologia e da arte, matérias que predominam o ensino da arquitetura hoje no Brasil, é preciso notar que no compasso atual o mercado de trabalho se mostra incapaz de incluir os milhares de sociólogos e artistas que se cadastram para o curso de arquitetura todos os anos, sendo este um fator que amplia outro problema: a arquitetura é hoje uma das profissões, das quais requer diploma, que paga os mais baixos salários. “Esta é a realidade, sobretudo, entre os recém-formados em INTRODUÇAO

arquitetura. Apesar de o rendimento médio de um profissional de arquitetura no país ser de R$ 6.489,00 mensais, para quem acaba de entrar na carreira ele não passa dos R$ 2.700,00 médios. Mas não são apenas os baixos salários que preocupam. A maioria dos escritórios de arquitetura costuma não contratar seus profissionais sob o regime CLT – carteira assinada, o que faz com que muitos dos direitos trabalhistas não sejam levados em consideração para compor a renda. Por exemplo, a maioria dos arquitetos (principalmente recém-formados) não tem 13º salário, fundo de garantia, seguro desemprego ou licença maternidade. A situação, neste sentido, tende a se agravar após a entrada em vigor da nova reforma trabalhista, após novembro de 2017. Com as negociações entre empregadores e empregados prevalecendo sobre a legislação trabalhista, o indicativo é que a atuação dos profissionais se torne ainda mais precária.”

Como consequência, nota-se uma crescente conversão dos profissionais para outras áreas criativas menos desgastadas, como Pg. 5

(Portal 44Arquitetura, 2018)


o design e as novas mídias digitais. No entanto, em um estado de iminente revolução digital a qual se aproxima é importante como arquiteto perceber que o processo construtivo poderá mudar radicalmente novamente. Diante da terceira revolução digital e outras mais já anunciadas, a arquitetura, junto com tantas outras profissões, passará por transformações estruturais que podem levá-la a reascender e provar-se indispensável ou manter-se ainda mais a margem. Para tal será fundamental o resgate da ciência e da inovação surgimento de novas metodologias, porém, é indispensável que se diminua o peso que o passado modernista ainda insere na formação destes profissionais, para então haver um maior incentivo em novos pilares: colaboração, automação, descentralização, pensamento lógico e diagramático entre outros. A forma de reintroduzir o cientificismo e a inovação de volta a profissão será, desta maneira, através de novas noções de tecnologia, sustentabilidade, fabricação digital e comunicação globalizada; Profissionais aptos a lidar com as novas formas de

O ARQUITETO DO SÉCULO XXI

aliadas a tecnologia no exercício da profissão. Para dar espaço ao

pensamento e criação do século XXI – formas estas qualificadas cientificamente e elaboradas visando as problemáticas de um mundo progressivamente mais complexo. Esta pesquisa, portanto, se apresentará como uma busca por metodologias que abdiquem dos conceitos ultrapassados dos séculos antecessores, afim de encontrar soluções favoráveis à compreensão e utilização das novas ferramentas, muitas das quais já começam a dominar as melhores práticas arquitetônicas hoje, enquanto também, visa outras mais que poderão compor a paleta de ferramentas do amanhã. Pg. 6


EBULIÇÃO TRANSITIVA Design paramétrico, design por programação, design computacional, digital design, design generativo: desde que o computador se provou uma ferramenta promissora para o desenvolvimento de projetos criativos, ainda na primeira revolução digital, diversos ramos dentro do campo prático arquitetônico começaram a brotar - evidenciando a importância da tecnologia e da inovação como catalisadores de possíveis novas metodologias. Embora muitos destes termos ainda não estejam completamente INTRODUÇAO

consolidados e muitos outros estejam constantemente a surgir, em conjuntura com novos métodos construtivos - é importante compreendermos a magnitude da transformação que a chegada do computador e da internet impõe ao paradigma da construção e da arquitetura, que se mantinha uniforme até a chegada do século XXI. Mais do que acelerar o processo metodológico modernista, as novas tecnologias surgidas através das revoluções digitais induzem a uma alteração de paradigma para com as lógicas de produção, não só na arquitetura, mas de toda uma sociedade. Porém, para que as transformações nas formas de projetar e construir floresçam de forma produtiva é necessário que as diferenças entre as metodologias do passado e as possibilidades que as tecnologias digitais introduzem sejam corretamente interpretadas, realizando, assim, uma necessária reforma na relação metodológica aplicada até então. Se faz premente que as antigas concepções modernistas,

Pg. 7


fundamentadas e originadas no desenho a mão, quase artesanal, ortogonal e cartesiano cedam espaço para as novas concepções respaldadas pela customização em massa e descentralização. Os profissionais que não compreenderem este processo, correm o risco de muito em breve não se encontrarem aptos para um ambiente competitivo e mercadológico. Computadores, redes de conexão e, porque não, robôs, trazem à mesa a necessidade de clareza quanto a uma nova forma de trabalhar, criar, pensar, fazer e projetar. As gerações anteriores à virada do século presenciaram a transformação ocorrida dentro de empresas e escritórios com a chegada dos computadores e da internet, porém, não atentaram para o fato de que estas mudanças demandavam também mudanças metodológicas em toda a sociedade, desde a receita pedagógica até a forma de se pedir um táxi. Para que de fato as novas tecnologias sejam

eficientemente

aproveitadas,

E B U L I Ç Ã O T R A N S I T I VA

“As novas tecnologias surgidas através das revoluções digitais induzem a uma alteração de paradigma para com as lógicas de produção.”

é necessário abandonar concepções ultrapassadas, que não considerem em sua metodologia as formas de organização sociais contemporâneas, permitindo espaço às vantagens que a automatização e a internet trazem. É necessário observar que a velocidade na troca de informações hoje dispensa papel, caneta e impressora. E a cada ano que passa, se faz mais necessário, também, notar o peso da importância que a fabricação digital trará consigo e como, em muito pouco tempo, transformará o ambiente da construção civil e o exercício da arquitetura completamente.

Pg. 8


Portanto, embora o foco desta pesquisa sejam as tecnologias práticas envolvendo a concepção, a modelagem e as novas formas de planejamento e apresentação envolvendo as potencialidades computacionais, há de ser necessário a compreensão, também, de que as novas ferramentas de produção, fabricação e construção possuem importância crucial neste novo ciclo; em muitos exemplos que serão discutidos aqui, é valido notar como ambas mudanças andam de mãos dadas em direção a uma nova forma de construir e habitar. Um processo de transição já se apresenta de modo evidente em diversos países desenvolvidos, e embora o Brasil, hoje, se apresente mergulhado em um quadro de desindustrialização e desincentivo a INTRODUÇAO

ciência, é iminente que este processo de ruptura ocorrerá em todo o globo, cedo ou tarde, alterando, desta maneira, as formas nas quais a sociedade se organiza e apresenta suas relações de trabalho, novamente. Por exemplo, diante da iminência da realidade virtual, as telas de celular e tablets, que vinham substituindo o papel, muito em breve poderão ser também substituídas. Consequentemente, também, desenhos de duas dimensões e apresentações em papel podem não fazer mais sentido. Experiencias imersivas, aonde se pode experienciar em três dimensões, com sensação de luz, sombra, som, movimento tornariam plantas de elevação um instrumento do passado. Hoje, simulações já permitem a experimentação e a modificação em tempo real de ambientes virtuais; decisões podem ser tomadas a respeito do projeto enquanto se caminha pela projeção dele. Diante da iminência da inteligência artificial, processos repetitivos e matemáticos, em breve serão atividades exclusivas de máquinas Pg. 9


com capacidade de processamento e precisão que excedem a paciência humana. Logo, exercícios que envolvem um esforço intelectual repetitivo, como o detalhamento técnico de pranchas, podem em breve desaparecer, substituídos de um dia para o outro por simples funções ou algoritmos computacionais. Em contrapartida, profissões que envolvem o pensamento criativo, crítico estarão em alta. Diante da iminência de domínio das novas tecnologias de produção como a impressão 3D; as fabricações CNC, por jato de água ou à laser; dos materiais biodegradáveis; e das produções automatizadas em geral; em breve a construção de uma ou diversas construções poderá ser

encomendada

diretamente

do

computador para a fábrica ou máquina que irá levantar a materialidade, utilizando um número muito menor de trabalhadores no processo. Todas

essas

tecnologias

que

se

apresentam a poucos passos de se tornarem a nova matriz produtiva

E B U L I Ç Ã O T R A N S I T I VA

“Simulações já permitem a experimentação e a modificação em tempo real de ambientes virtuais; decisões podem ser tomadas a respeito do projeto enquanto se caminha pela projeção dele.”

não só no campo arquitetônico, mas em muitos outros, portanto, precisam ser entendidas não só em seu contexto separado mas em seu conjunto pois permeiam e podem se complementar em uma nova forma de pensar e fazer a arquitetura do século XXI.

Pg. 10


CONTEXTO E DISRUPTURA

CAPÍTULO I


CAIXOTES DA ERA MODERNA Em 1851 a construção de uma estrutura transitória, nomeada The Crystal Palace (Palácio de Cristal), no Hyde Park, em Londres, estabeleceu as bases que propulsionariam não só a revolução industrial, mas toda a sociedade e a produção de bens da forma que se conhece hoje. O palácio foi uma enorme construção feita de ferro fundido e vidro, levantada com a finalidade de abrigar uma exposição que contaria com mais de 14 mil expositores vindos de todo o mundo.

Pg. 12


I M G 2 : O Palácio de Cristal

visto pelo lado de fora. I M G 3 : Gravura sobre o

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

sucesso da exposiçao; a primeira demonstração histórica do que viriam a ser as lojas de depertamento e os shoppings centers.

Seu sucesso se deu não só pelas

O Palácio de Cristal reverberou

suas qualidades técnicas – mais

de

de 33 metros de altura, 92 mil

arquitetura:

metros quadrados de exposição

trouxe para primeiro plano

e 562 metros de comprimento,

as capacidades da construção

um grande marco para a época

feita com aço e vidro, devido a

– mas, também, porque trazia

competência desses materiais

consigo um novo conceito de

em suportar grandes cargas

utilização do espaço público,

e

inaugurando a sociedade de

construtivo.

forma

muito sua

agilizarem

forte

na

construção

o

processo

consumo, enquanto influência para o que viriam a ser as lojas

A atenção obtida por estes

de departamento e os atuais

materiais foi tamanha que, nos

shopping centers.

anos seguintes a sua construção, outros

Pg. 13

palácios

bastante


“Seu sucesso se deu não só pelas suas qualidades técnicas – mais de 33 metros de altura, 92 mil metros quadrados de exposição e 562 metros de comprimento, um grande marco para a época – mas também porque trazia consigo um novo conceito de espaço público”

semelhantes começam a ser construídos também nos

países

estruturas

vizinhos estas

que

propagam ainda mais a funcionalidade

do

aço

pelo mundo, e serviram de pilar, consequentemente, para outras estruturas até mais emblemáticas que viriam a ser levantadas, como a torre Eiffel. Durante todo o percorrer da revolução industrial o Pg. 14


aço e o vidro passam a ser utilizados de forma massiva, para criar estruturas cada vez maiores e capazes de suportar mais cargas, culminando com a chegada do século XX, aonde se tornariam materiais símbolos da modernidade. Isto posto, conforme a urbanização acelera, e os centros urbanos demandam mais verticalização, vidro e aço são empregados como materiais propícios para a produção de larga escala e, assim, amontados de edifícios espelhados, cada vez mais altos, passam a C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

tomar conta de maneira desvairada dos horizontes das cidades. De maneira interligada, buscando facilitar a produção através de uma padronização ainda maior, invenções para servir estes edifícios, fruto da industrialização e da modernidade, passam a compor de maneira quase inerente o arranjo destas caixas de concreto, contaminando todas as novas construções, independente da cidade, com a mesma aparência homogênea. Mais do que trazer progresso e comodidade, esses recursos simplificaram e impregnaram a arquitetura, visando aumentar a produção e libertar-se das demandas do ambiente externo, estas construções passam a ignorar todas as problemáticas do clima e do ambiente local. Assim, a energia elétrica é vista como substituta da luz solar, e a ventilação artificial, nega

a

de

repente,

necessidade

de

aberturas, culminando em edifícios

completamente

envelopados e dependentes destas Pg. 15

aplicações

I M G 4 : O caixote

modernista e seus serviços.

(Ingels 2015)


mecânicas. Como consequência imediata desta preguiça adquirida, como disciplina a arquitetura passa então a perder seu valor científico e utilitário, não sendo mais responsável por ditar as melhores capacidades

adaptativas

e

possibilidades

de

cada

projeto,

contaminada pelo ambiente de produção em massa, passa a se portar apenas como uma mera roupagem estilística – ou nem isso, dando origem a arquitetos responsáveis apenas por escolher o melhor painel espelhado a combinar com o cinza do concreto.

abandona a Europa e adquire seu caráter internacionalista, edifícios similares passam a ser construídos de forma autônoma nas mais diferentes regiões do globo. Mesmo lugares aonde climas exclusivos de determinada região predominavam, tem suas arquiteturas vernaculares completamente ignoradas em prol do novo caixote modernista. Em outras palavras, séculos de invenção e reinvenção, adaptando técnicas e materiais ao clima de cada região são completamente descartados, em nome de uma receita retangular homogênea e fácil

C A I XOT E S DA E R A M O D E R N A

Outro problema ainda mais sério, é que, conforme o modernismo

de reproduzir, sempre acompanhada de quantidades massivas de aço, concreto e vidro. Esse transplante do modernismo de forma quase predatória para as mais diversas partes do globo gera efeitos drásticos, mesmo nas cidades mais antigas e dotadas de patrimônios culturais históricos, como o Egito e a Grécia. Tal processo de internacionalização e consecutiva homogeneização em torno de um único estilo faz com que as cidades e os edifícios percam também o elo de conexão mais básico com os habitantes da Pg. 16


C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

I M G 5 : Vista

aérea de São Paulo e seus caixotes: mil versões da mesma coisa.

Pg. 17


I M G 6 : Cairo: mesmo uma cidade milenar

vê suas piramides se perder entre um mar de prédios que pouco representa a cultura local.

Revival, 2015)

“A arquitetura modernista é inerentemente global. Não pertence a lugar algum, embora exista em todos os lugares. Ela rejeita a tradição, a beleza e a identidade local.”

C A I XOT E S DA E R A M O D E R N A

(Architectural

Pg. 18


cidade, pois ignora a cultura local, geram cidades que destoam do espaço construído existente e contribuem para um sentimento de não pertencimento – tão comum agora na era digital. Em seu Ted Talk “porque torres de vidro são ruins para a vida na cidade – e o que deveríamos fazer ao invés disso”, Justin Davidson descreve como as cidades contemporâneas, com seus centros repletos de torres envidraçadas, sugerem um desdém para com o exterior e o ambiente cívico. Para Davidson, estes edifícios têm C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

como objetivo enriquecer a vida dos donos e inquilinos a troco do desprezo pelos que o circundam. Davidson expõe: “As cidades estão ficando lisas. Brotam nos novos centros da cidade torres quase sempre feitas de concreto e aço, cobertas de vidro. Observando o horizonte das cidades pelo mundo - Houston, Cantão, Frankfurt - vemos o mesmo exército de robôs reluzentes marchando pelo horizonte. Pensem em tudo o que perdemos quando os arquitetos deixam de usar toda a gama de materiais disponível. Quando rejeitamos o granito, o calcário e o arenito, a madeira e o cobre, a terracota e o tijolo, o vime e o gesso, simplificamos a arquitetura e empobrecemos as cidades.”

Segundo Davidson, as fachadas dos edifícios possuem maior importância do que simplesmente maquiar o envelopamento da estrutura: elas podem e devem adicionar profundidade ao ambiente pelo qual as pessoas percorrem e são capazes de alterar completamente a percepção de quem experiência o âmbito público. Um exemplo grande disso está em sua descrição da Plaza Mayor em Salamanca:

Pg. 19


I M G 7 : Plaza

Mayor, em Salamanca, Espanha.

Plaza Mayor em horários diversos. De manhã cedo, a luz do sol varre as fachadas, aprofundando as sombras e, à noite, a luz dos

C A I XOT E S DA E R A M O D E R N A

“Quando visitei Salamanca, na Espanha, costumava passar pela

lampiões segmenta os edifícios em centenas de áreas diferentes: varandas, janelas e arcadas, cada uma delas com aspectos distintos de atividade visual. Esse detalhe, essa profundidade e glamour dão à praça uma teatralidade. Ela se torna um palco onde as gerações se encontram. Temos adolescentes espalhados pelo chão, idosos monopolizando os bancos, e a vida real se assemelha a um cenário operístico. A cortina sobe em Salamanca. Apesar de eu estar falando do exterior dos edifícios, ou seja, não da forma, nem da função, nem da estrutura, essas superfícies dão textura à nossa vida, porque os edifícios criam os espaços a sua volta, e esses espaços podem tanto (Davidson 2017)

Pg. 20


atrair as pessoas quanto afastá-las.”

Davidson ainda cita outros exemplos de espaços públicos que considera funcionais, como a Federation Square, em Melbourne e a Superkilen, em Copenhague, pois sabem como mesclar o velho e o novo, o rugoso e o liso, as cores neutras com cores vivas e desviam da utilização excessiva de vidro.

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

Ele ainda atenta para a importância dos materiais locais: “Quando usamos materiais que têm significado local, evitamos que as cidades tenham todas o mesmo aspecto.”

Mas a descaracterização das cidades e seu desligamento com a cultura local não é o único problema gerado: a sequela concebida

I M G 8 : Federation Square,

Pg. 21

Melbourne, Australia.


pelo emprego de soluções mecânicas e dependentes da produção constante de energia são catalisadores já conhecidos, também, como responsáveis pelos problemas de insustentabilidade e aquecimento global que continuam emergem agora. Mas

como

conciliar

cultura

local,

questões

climáticas,

sustentabilidade e a necessidade de produção rápida e econômica em torno de uma arquitetura que produza ambientes de qualidade, não só para as pessoas que utilizam o edifício, mas que também influencie o ambiente público externo positivamente?

se compreender as diversas problemáticas, restrições e dificuldades específicas que cada determinado projeto exige, e seguidamente realizando experimentações que busquem extrair das diversas possibilidades, as solução mais eficientes, ao final, se

obtém

um

design

único, que naturalmente se

distancia

das

aparências homogêneas do

modernismo

C A I XOT E S DA E R A M O D E R N A

Em entrevista para o Louisiana Channel, Bjarke Ingels explica que ao

racionalista. Segundo

Ingels,

um

projeto que possui o melhor

lado

performance diferença

de

sua

demanda em

seu

design, pois mesmo que em meio a restrições, ou

possivelmente

até

Pg. 22


mesmo em consequência destas, é que surgem as qualidades mais significativas e distintas de um projeto; como um DNA, aonde cada umas destas problemáticas e elucidações representa um gene que entrega características únicas. Logo, arquitetos devem procurar entender de forma profunda todas as possibilidades e dificuldades de cada projeto, afim de testar múltiplas soluções e selecionar aquelas que melhor respondam a todos estes desafios de forma conjunta. E ao fazer isto, obter-se-ia C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

uma aparência que mais do que estética, é fruto das particularidades locais e gerenciais do projeto. Para Ingels, resultados que muito se assemelham ao padrão racionalista e restrito, que as noções modernistas ainda impõem, representam soluções preguiçosas, mais fáceis de construir, mas não necessariamente mais eficientes – pois não exploram a fundo também suas possibilidades estéticas, sociais, construtivas, estruturais, energéticas, sustentáveis, etc. Ao forçar as diretrizes de um projeto para que este busque o máximo possível de fruição, iluminação solar, ventilação, áreas verdes, uso de materiais locais e sustentáveis, estruturas adaptativas, e outros fatores que um arquiteto precisa considerar em cada projeto, estes acabam, de repente, adquirindo formas e aparências que se afastam, naturalmente, da caixa de vidro e concreto padrão. Ingels defende, portanto, que a arquitetura não se torna interessante e eficiente apenas seguindo uma checklist de itens da moda, tais como linhas ortogonais, telhado verde ou uso de madeira sustentável, para ele, desenhar ao redor das restrições e das possibilidades é o que faz com que o projeto se torne realmente eficiente, interessante, singular e capaz de acrescentar à qualidade do entorno. Pg. 23


Quando questionado sobre o padrão racionalista e ortogonal carregado pelo modernismo, assim ele descreve: “Talvez seja satisfatório, talvez seja melhor do que não o fazer, com certeza. No entanto, [a arquitetura] só começa a cantar, tornandose também arte, apenas quando de alguma forma é forçada a acomodar todas suas problemáticas. Somente assim a arquitetura é capaz de expressar abertamente sua verdadeira natureza; e nesse sentido, se um edifício é excitante e cheio de possibilidades então isso estará visível na sua arquitetura: é aí que a arquitetura se torna interessante.”

convidado a projetar o edifício residencial que ficou conhecido como “courtscraper” (pátio-arranha-céu), precisou lidar com diversas

(Louisiana

“A arquitetura só começa a cantar, tornando-se também arte, apenas quando de alguma forma é forçada a acomodar todas suas problemáticas. Somente assim a arquitetura é capaz de expressar abertamente sua verdadeira natureza.”

tais

problemáticas

como:

iluminação

solar limitada, ruído das ruas

próximas,

relação

custo-benefício (visto que é

um

empreendimento

comercial) do

e

espaço

a por

súplica

C A I XOT E S DA E R A M O D E R N A

Para exemplificar, Ingels descreve que quando seu escritório foi

áreas

verdes. Deste modo, essas limitações, segundo ele, foram

exatamente

os

fatores que concederam ao projeto suas qualidades arquitetônicas. A necessidade de fazer com

que

a

luz

solar

Channel 2017)

Pg. 24


I M G 9 : Vista do projeto pela

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

bahia de Hudson.

alcançasse todo o complexo, descreve ele, foi o agente central que deu forma e qualidade ao projeto: “Forçar o jardim para dentro do projeto foi o que fez com que o edifício tivesse que ser assimétrico e piramidal, permitindo que a luz e a vista entrassem até o jardim. Caso contrário o espaço seria apenas um poço. O caminho para a arquitetura ser o melhor que pode ser, é explorando as formas, materiais e relações.”

Atuando como um edifício híbrido entre arranha-céu e bloco perimetral, o courtscraper é capaz de maximizar a vista adentra o projeto pela extremidade nordeste, aonde também está localizado a orla do rio Hudson. A ponta mais alta do edifício possui 137 metros, aonde atua como uma barreira que separa o interior, aonde está alocado o pátio verde, das ruas laterais, (Sbeghen 2016)

Pg. 25

aonde há maior ruído sonoro criando um oasis de tranquilidade


para os moradores. O

exemplo

de

Salamanca,

trazido por Davidson, e o Courtscraper,

por

ressaltam, a

Ingels, portanto,

necessidade

de

uma

arquitetura que saiba dialogar com o exterior e com as problemáticas Ambos

de

projetos

C A I XOT E S DA E R A M O D E R N A

“Forçar o jardim para dentro do projeto foi o que fez com que o edifício tivesse que ser assimétrico e piramidal, permitindo que a luz e a vista entrassem até o jardim.”

projeto. mostram

como esse diálogo da fachada para com o lado externo é crucial, garantindo qualidade de

vida

aos

frequentadores

moradores das

e

partes

internas, enquanto contribui também para uma cidade mais humana e equilibrada. I M G 1 0 : Pátio

interno do projeto.

Pg. 26


É importante ressaltar, porém, que a crítica feita às tecnologias e serviços incorporados como parte essencial dos edifícios não significa que a solução seja, de forma alguma, abrir mão destes avanços tecnológicos, em busca de preceitos clássicos, ou qualquer bobagem teórica que negue os lados positivos dos avanços técnicos e científicos. Ao contrário, para que se alcance cidades dotadas de mais vida e cultura será necessário ponderar cada vez mais a utilização destas novas ferramentas, porém, de forma direcionada a uma arquitetura que sempre foque na escala humana, na localidade C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

projetual, nas capacidades adaptativas e que, também, busque estar em harmonia com a natureza. Os computadores hoje, quando utilizados de forma experiente, se provam excelentes aliados nesta jornada por uma arquitetura ecologicamente e culturalmente sustentável. Portanto, seguindo esta ideia de progressão tecnológica, Ingels propõe o termo vernacular 2.0: segundo ele, as ferramentas computacionais existentes hoje nos permitem realizar cálculos e construir sistemas paramétricos extremamente complexos, capazes de considerar as mais diversas necessidades de projeto e, assim, entregar resultados ainda mais precisos, uma vez que estes seriam alcançados de maneira objetiva e não mais subjetiva. Múltiplas variáveis poderiam, portanto, ser estudadas de maneira simultânea, separadas em quantas combinações ou testes julgarse necessário, sejam estas a respeito das condições climáticas regionais, dos materiais, ou qualquer outras mais condicionantes que forem inseridas no sistema. O problema é que, desde o surgimento do primeiro computador até os dias atuais, foram poucos os casos aonde a máquina foi utilizada de forma a exprimir sua melhor potencialidade. Muito se

Pg. 27


deve, pois, o computador vem sendo encarado como apenas mais uma ferramenta, que deve ser importa ao processo metodológico de quem o usa. E, como muito da arquitetura que é produzida hoje ainda está associada com os ideais modernistas, que persiste não só na sociedade contemporânea e seus prédios espalhados, mas também nas metodologias projetuais de universidades e escritórios antiquados, a máquina acaba, portanto, por atuar apenas como um combustível fóssil, subestimada e atrelada aos métodos de criação já obsoletos, alicerçados no desenho intuitivo, subjetivo, manual, repetitivo, não responsivo e pouco inteligente.

acadêmicos, que cientes das transformações inevitáveis que as próximas revoluções digitais trarão, compreendem e exploram as possibilidades de ampliação das capacidades computacionais através de metodologias de projeto e produção inovadoras. Muitas, um dia, serao capazes de reinventar a arquitetura da forma que a conhecemos, com edifícios dignos de obras de ficção cientifica. Esta pesquisa, à vista disso, irá explorar nos capítulos seguintes tais técnicas e suas aplicabilidades a fim de proporcionar uma base metodológica que seja capaz de abraçar as potencialidades reais

C A I XOT E S DA E R A M O D E R N A

No entanto, já se existem pequenos grupos, escritórios e centros

do hardware e software hoje disponíveis, enquanto também para muitas outras mais que despertarão. Todavia, é necessário entender porque superados mais de três quartos de século após a invenção do computador, apenas agora tamanha disruptura na forma de projetar se apresenta. Antes de progredir aos assuntos práticos, é preciso compreender os erros cometidos quanto ao uso dos computadores e as origens das técnicas que serão apresentadas – matéria essencial para que se evite cair nos mesmos erros já cometidos.

Pg. 28


O QUE SÃO REVOLUÇÕES DIGITAIS? O software é a ferramenta da mente. Enquanto a revolução industrial produziu ferramentas que alavancavam as funções braçais e mecânicas, como a máquina à vapor e o automóvel, a

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

era da informação permitiu expandir o intelecto. Os recursos computacionais e técnicas existentes hoje permitem produzir e administrar um fluxo cada vez maior de informação. Nota-se agora, porém, que estes softwares e recursos computacionais são capazes de nos ajudar a solucionar problemas ainda mais complexos do que simplesmente lidar com grandes fluxos de informação; eles também podem encorajar novas e diferentes formas de pensar. (Reas,

O termo “alfabetização processual” foi cunhado para definir esse potencial. Michael Mateas, professor associado de ciência computacional

da

Universidade

da

Califórnia,

descreve

a

alfabetização processual como “a habilidade de ler e escrever processos, envolvendo a representação processual e a estética” Um componente importante da alfabetização processual é a ideia de que programação não é uma tarefa estritamente técnica, e sim um ato de comunicação; uma forma simbólica de representar o mundo. Essa representação procedural não é estática, e sim um sistema de regras, que progridem respondem, e definem um escopo de possíveis formas ou ações. A influência do código não se limita à tela e à imagem projetada.

Pg. 29

McWilliams & Lust 2010, p. 17)


Também é sentido no espaço físico. Hoje, a programação é utilizada para controlar aspectos de produtos, serviços, espaços e comunidades inteiras. Empresas de tecnologia, voltadas para aplicativos e sites, como o Google e o Uber, representam uma fatia poderosa do mercado que oferecem um produto que é puramente intelectual: o algoritmo. Mesmo empresas voltadas para a fabricação de produtos físicos produção, cortar custos e aumentar a eficiência de toda uma cadeia produtiva. Poucas linhas de código podem definir cadeias de ações inteiras que vão passar a tomar decisões de maneira automáticas e facilitar processos que demandariam muito mais tempo de outro modo. Hoje, a máquina já gerencia e controla outras máquinas que cortam e montam como numa orquestra. É necessário o despertar da arquitetura para o fato de que o código está se movendo rapidamente para fora dos limites da tela, e em breve, estará controlando todos os aspectos do mundo físico, seja no âmbito publico ou privado. Tudo o que já não pode ser ignorado hoje foi resultado de apenas duas revoluções digitais, desenroladas em poucas décadas. A

P O R Q U E O C O M P U TA D O R M U D A T U D O

encontram na programação uma aliada capaz de acelerar a

primeira chegou com a venda do primeiro computador pessoal, e a segunda nasceu com a internet. Porém, a coisa nao para por aí, cientistas, teóricos e pesquisadores já afirmam: há muitas outras revoluções digitais chegando. Em uma entrevista para a universidade da Pensilvania , Alan e Joel Gershenfeld, autores do livro "Projetando a Realidade - Como Sobreviver e Prosperar na Terceira Revolução Digital", descrevem o impacto e as transformações que a próxima revolução digital trará Pg. 30


e como isso reflete o que já presenciamos: Knowledge @ Wharton: O que começou esta terceira revolução digital? Alan Gershenfeld: Na verdade, é um continuum. Nós tivemos uma revolução na computação digital, tivemos uma revolução na comunicação digital e ambos mudaram o mundo. Usamos o artigo de Gordon Moore, de 1965, como um ponto de partida poderoso, aonde C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

ele analisa os 10 anos anteriores a duplicação do desempenho da computação digital de sua época e projeta o que aconteceria em 10 anos adiante se essa curva exponencial continuasse. Ele previu coisas como telefones celulares e carros inteligentes, não porque ele era Nostradamus. Ele estava simplesmente observando uma tendência passada de duplicação de tecnologia e construindo uma projeção futura. Bem, isso aconteceu por 50 anos com uma melhora de quase um bilhão de vezes. Nosso irmão do meio, Neil, que escreveu o livro 'Fab', também analisou os 10 anos anteriores e previu a duplicação do desempenho da fabricação digital. Quando projetamos para frente 10, 20, 30 ou 40 anos há um potencial de melhora de bilhões de vezes no desempenho da fabricação digital. Essa é a terceira revolução digital. Knowledge @ Wharton: Onde a média das pessoas será capaz de ver essas mudanças? Joel Cutcher-Gershenfeld: Se você está envolvido em um laboratório de fabricação comunitária ou em um espaço para criadores, já está começando a vê-lo. Mas a maioria das pessoas mal a vê, com exceção do que vê na imprensa sobre impressão 3D, que é apenas uma pequena parte do quebra-cabeça. Mas isso vai afetar a maneira como vivemos, Pg. 31


aprendemos, trabalhamos e jogamos. Imagine como seria se as comunidades fossem capazes de projetar e fabricar o que precisam localmente, eliminando as enormes cadeias de fornecimento globais; ainda globalmente conectadas, mas localmente autossuficientes. Há um número crescente de comunidades que já estão adotando estas tecnologias de prototipagem rápida para fazer hidroponia de alimentos, fabricar móveis, fazer outras coisas e assim, finalmente, repensarmos a natureza de quem possui os meios de produção. Tudo em dois países que já estabeleceram a meta de estar globalmente conectadas, mas localmente autossuficientes até 2040. Existem bolsões de conhecimento, mas a terceira revolução digital, muito parecida com as duas primeiras revoluções digitais de 1965, ainda se apresenta em grande parte desapercebida ou não totalmente compreendida. A impressão 3D é uma tecnologia aditiva muito poderosa e um componente essencial de um fab lab. Mas existem outros processos subtrativos importantes, como cortadores a laser e robôs aonde há computação envolvida. Atualmente, o fab lab, é uma integração das tecnologias aditivada e subtrativa incorporadas a uma rede global, que compartilha sistemas semelhantes, não apenas de hardware, mas também software, dando origem assim a uma especie de internet de bits e átomos.

P O R Q U E O C O M P U TA D O R M U D A T U D O

começou com Barcelona há três anos, e agora há cerca de 14 cidades

Em parte, isto é o que permite a propagação exponencial de fab labs globalmente e o compartilhamento da ideia de autossuficiência. No entanto, em meio a todo o hype em torno da impressão 3-D, essa paisagem é mal entendida. O livro dá uma espiada no futuro da fabricação digital, que vai da fabricação da comunidade à fabricação pessoal e à fabricação universal e onipresente. Nesse processo, haverá uma troca dos materiais que serão utilizados.

Pg. 32


C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

"A terceira revolução digital é muito parecida com as duas primeiras revoluções digitais, de 1965, e ainda se apresenta em grande parte desapercebida ou não totalmente compreendida"

Hoje, você usa várias formas de madeira ou MDF e plásticos que

são

ambientalmente

hostis. Mas com o tempo, esses materiais se tornarão mais inteligentes. Você terá materiais que poderão ser compostos

e

decompostos,

fazendo parte de um roteiro sustentável. Assim, embora haja

conscientização

em

torno da impressão 3-D e dos fab labs, as pessoas não necessariamente

entendem

a capacidade total de um fab lab e no que isso pode se transformar nos próximos 10, 20 ou 30 anos.

Knowledge @ Wharton: Como a terceira revolução digital mudará a maneira como trabalhamos? Cutcher-Gershenfeld: Pensamos no trabalho como o ato de ser pago para fazer uma tarefa, ir a um local de trabalho, ter um supervisor, ter uma estrutura hierárquica e ter uma pessoa que é o chefe ou proprietário. Em alguns aspectos, ainda haverá serviços e coisas que você precisará fazer para que seja pago, mas provavelmente será uma economia combinada e mais descentralizada. O que é interessante é que cada vez mais haverá coisas que você mesmo poderá projetar e utilizar para permuta. Assim, será possível se dedicar menos ao que seria um trabalho remunerado, e ao invés disso, consumir menos e criar mais.

Pg. 33


Gershenfeld: Por anos, as comunidades indígenas foram capazes de entender seu ambiente, entender os materiais locais e em grande parte produzir aquilo que consumiam. Eu acho que um movimento global, como o movimento das fab cities, está se voltando novamente para esse tipo de norte verdadeiro. Como podemos usar, cada vez mais, apenas materiais locais para fazer grande parte daquilo que consumimos? Como Joel mencionou, isso leva a uma economia combinada realmente interessante que vai surgir. Há essa ideia de que, se você produzir mais do que consome, talvez possa ter um trabalhando. Knowledge @ Wharton: Como tudo isso afetará as normas sociais? Cutcher-Gershenfeld: Vamos tomar como exemplo uma função do local de trabalho que conhecemos bem: os recursos humanos. Os recursos humanos servem para garantir o tratamento justo no local de trabalho, saúde e segurança, ajuda a definir planos de carreira, atender a treinamentos e contribuir com o desenvolvimento. Tudo isso, porém, depende de haver um local de trabalho em primeiro lugar. Esses fab labs não são um local de trabalho, portanto, não estão sujeitos a regulamentações de saúde e segurança, às leis que regem tratamento justo, discriminação e assim por diante. No entanto, as pessoas passam muito tempo lá, e essas questões e necessidades

P O R Q U E O C O M P U TA D O R M U D A T U D O

estilo de vida mais misto, diferente da dicotomia trabalhando ou não

são reais. Esse é um lugar onde as instituições precisarão ser realinhadas para corresponder às novas realidades e nos proteger contra as partes de nossa natureza humana que nem sempre são a melhor versão de nós mesmos. Ao mesmo tempo, a tecnologia em si acabará saindo do laboratório à medida que avançamos nesse roteiro, se tornando cada mais portátil e pessoal, podendo estar localizada em qualquer lugar. Como podemos desta forma garantir tratamento justo, condições seguras Pg. 34


e outras normas sociais que valorizamos em um mundo onde a capacidade de fazer as coisas estará ao alcance de todos? Gershenfeld: Agora, na sociedade, existe essa grande dicotomia entre o que é global e o que é local. Os Fab Labs serão algo aonde os bits serão globais, e o conhecimento compartilhado, mas os átomos serão locais em prol de uma autossuficiência local. Eu acho que essas questões quebrarão de alguma maneira algumas dessas divisões endurecidas.

(Knowledge@

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

Wharton 2018)

CAD - COMPUTED AIDED DESIGN Em 1963, Ivan Sutherland atuou como pioneiro ao apresentar uma interface gráfica do usuário (Graphical User Interface, GUI) chamada ‘Sketchpad’; a primeira etapa de uma completa mudança de paradigma que introduzia os arquitetos ao computador. Isto pois, o Sketchpad foi o primeiro software a dar aos desenhistas da época a capacidade de manipular objetos na tela sem a necessidade de escrever um código textual. O Sketchpad era composto por uma interface com interruptores, reguladores e uma caneta eletrônica - que permitia apontar e desenhar de maneira mais livre utilizando a tela. Ao pressionar os interruptores o usuário podia instruir o computador a interpretar os movimentos da caneta de diferentes maneiras, como desenhar linhas, arcos, polígonos ou alinhar formas. Porém, o Sketchpad era muito mais do que uma simples transposição da caneta e papel para o computador: ele possibilitava

Pg. 35


uma nova forma de desenhar e pensar. Assim, era possível que regras definidas pelo designer guiassem o desenho e induzisse os elementos a se comportar de maneiras específicas, que não eram possíveis pelo desenho a mão. Por exemplo, o Sketchpad tornava possível, pela primeira vez, desde fixar as extremidades de linhas a outros elementos, manter linhas paralelas ou forçá-las a ter o mesmo comprimento, até relações mais complexas como simular as propriedades de carga de uma ponte. No entanto, apesar do Sketchpad ter oferecido uma oportunidade o projeto, logo que saiu do laboratório, o programa foi perdendo este seu caráter inovador, pois não havia interesse por parte dos usuários em descobrir estas novas possibilidades. Assim, os softwares CAD que foram substituindo o Sketchpad aos poucos foram, também, perdendo parte do que fazia o programa inovador, pois foi se acreditando que seria mais produtivo focar em aprimorar a ferramenta para fazer a simples transposição do papel e caneta para o computador. Conforme a máquina foi se tornando presente em diversos escritórios, os softwares foram então voltando-se para oferecer uma maior eficiência, velocidade e produtividade em comparação

CAD - COMPUTED AIDED DESIGN

única, capaz de transformar a maneira de se desenhar e calcular

aos métodos tradicionais de desenho a mão. Estes permitiam que arquitetos e designers desenhassem usando linhas matemáticas e curvas precisas ao invés de esquadros, réguas e lápis. Desta forma desenhos que levavam dias para serem feitos a mão poderiam ser realizados em poucas horas. (Reas, McWilliams & Lust 2010, P. 29)

Porém, mesmo com esse aumento na produção, desenhos feitos por computador ainda eram considerados substituições insuficientes em comparação aos desenhos técnicos feitos a mão. Isso se dava,

Pg. 36


C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

pois algumas pessoas acreditavam que os softwares CAD eram frios e excessivamente técnicos, preferindo, assim, as

IMG 11: O

Sketchpad de Ivan Sutherland

tradicionais “linhas ligeiramente tortas e as finalizações imperfeitas do desenho a mão”. Ainda houveram outros obstáculos na implementação do CAD pela indústria: algumas pessoas encontravam nestes sistemas uma tentação constante de redesenhar e editar os desenhos já finalizados. Havia também a ideia de que tantas possibilidades no software acabavam por restringir o design. Como resultado destes e outros problemas, computadores foram, por muito tempo, considerados ferramentas insuficientes e incapazes de ajudar na concepção de projetos arquitetônicos e, com o tempo, passaram a ser empregados apenas nos estágios finais do processo de representação técnica. Fenômeno que acabou resultando

Pg. 37


em novas versões de sofware cada vez mais focadas em apenas salvar o tempo de desenho e aumentar a produtividade, enquanto abandonava qualquer funcionalidade de concepção criativa. Assim se manteve a indústria e os softwares arquitetônicos até a chegada da internet, quando o computador passou a ser cada vez mais uma ferramenta de colaboração. Esse fator atraiu ainda mais atenção para a capacidade de armazenagem e distribuição que o computador permite. Contudo, foi necessário a introdução de outros softwares dedicados a industrias diferentes, como o design computador, também, como ferramenta de concepção, exploração e planejamento. O arquiteto e filósofo Bernard Cache resumiu a história do CAD quando afirmou: “[os sistemas CAD] certamente aumentaram a

produtividade

de

representação

da

ideia,

no

entanto,

fundamentalmente estes não oferecem nenhum avanço criativo em relação ao desenho a mão. Agora, enfrentamos uma segunda geração de sistemas aos quais os objetos não mais são desenhados, e sim calculados”. É inerente a natureza representacional de plataformas CAD a

CAD - COMPUTED AIDED DESIGN

e o cinema, para que arquitetos percebessem as possibilidades do

interpretação de projeto de maneira passiva; logo, é necessário despertar para o fato de que muito em breve o CAD desaparecerá dos ambientes projetuais, visto que novas formas mais rápidas e inteligentes de se pensar o projeto estão aflorando em ritmo acelerado, principalmente porque possuem, além de superior eficiência produtiva, capacidades de envolver o computador também para solucionar aspectos que vão além de tecnicalidades representativas, abordando, também, questões de materialidade, adaptação, automação e organização.

Pg. 38


BIM – BUILDING INFORMATION MODELING Embora ainda incompreendido, talvez pela sua complexidade, talvez pela persistente inexperiência dos arquitetos frente as capacidades computacionais, o BIM representa uma das formas mais completas

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

e eficientes de se trabalhar a arquitetura na atualidade. Isto pois o Building Information Modeling (BIM) é a primeira plataforma totalmente planejada para a arquitetura e a construção, capaz de diferenciar os elementos de projeto, compreendendo individualmente todas as peças e partes, com suas funções e propriedades, de maneira informativa e responsiva, e não mais apenas como simples geometrias, superfícies, linhas e pontos. Logo, o BIM se diferencia do CAD por entender que uma superfície não é apenas uma informação geométrica, mas um elemento único, que contém múltiplas informações indispensáveis para a construção, tais como: diferenciação entre parede e piso, entre materiais internos e externos, área, peso, o tempo de construção, custo e o que mais for julgado relevante. Esses dados, assim, são computados e assimilados ao modelo do projeto de modo que seja possível extrair de maneira imediata quaisquer informações necessárias, relacionadas a qualquer propriedade, seja um material (qual a área total de gesso?), um elemento (quantas escadas e degraus?), um custo específico (quanto será gasto com portas?), entre outras coisas. E o melhor, tudo de maneira automática, imediata e responsiva. Isso significa que, caso uma porta seja deletada de um dos cortes, Pg. 39


I M G 1 2 : Mais do que

geometrias, cada elemento dentro de uma plataforma BIM contĂŠm dados importantes a respeito do projeto.

B I M - B U I L D I N G I N F O R M AT I O N M O D E L I N G Pg. 40


ela também será removida das tabelas e de todas as outras vistas, garantindo assim um projeto com menos erros e necessidade de revisões. Cada informação acrescida ou retirada do modelo é compreendida por todas as suas partes. Assim, é possível pensar o projeto por todos os ângulos, alternando entre eles, criando e deletando cortes, plantas ou isométricas, escondendo elementos que atrapalham a visão temporariamente, definindo cores e criando diagramas, tudo C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

sem ter que refazer a mesma tarefa em outros planos ou perdendo qualquer informação acidentalmente. Toda a modelagem ocorre de modo organizado e permite múltiplas classificações, num arranjo que evita, assim, que informações se desencontrem entre inúmeros desenhos e tabelas. Toda essa potencialidade do BIM se torna ainda mais relevante quando se pensa nas transformações sociais que as relações de trabalho vem apresentando desde o surgimento da internet e das novas capacidades de computação, como os arquivos em nuvem e a comunicação instantânea. Logo, indivíduos ou grupos de indivíduos podem trabalhar de maneira integrada sem necessariamente ocuparem o mesmo local de trabalho. O BIM facilita, por exemplo, a possibilidade de que um projeto seja desenvolvido por um escritório de arquitetos em São Paulo, calculado por uma firma de engenheiros na Bahia, e equipado hidraulica e elétricamente por uma empresa de engenharia estrangeira. Mas não é só a relação com o local de trabalho que muda: com diversos envolvidos em projetos cada vez mais complexos - engenheiros, programadores, técnicos hidráulicos, arquitetos, mestres de obras – a chance do desencontro de ideias e a margem de erro que o Pg. 41


CAD permite pode ser fatal. Deste modo, uma ferramenta capaz de ordenar as transformações de projeto garante que aquilo que está sendo modelado e alterado por múltiplas partes no ambiente virtual simultaneamente aproxime-se de modo fidedigno ao que se pretende construir, evitando conflitos e erros.

Madri-Barajas pelo Estudio Lamela + Richard Rogers

B I M - B U I L D I N G I N F O R M AT I O N M O D E L I N G

I M G 1 3 : Desenho técnico, realizado por BIM, do Aeroporto de

Pg. 42


ARQUITETURA PARAMÉTRICA O termo arquitetura paramétrica foi cunhado, da forma como é entendido hoje, em 1940 quando o arquiteto Luigi Moretti usou a expressão ‘Architettura Parametrica’ para definir as relações entre o design arquitetônico e equações matemáticas, ainda sem a facilidade proporcionada pelos computadores. Porém, foi em C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

1960, com a ajuda de um computador 610 IBM que ele foi capaz de exibir modelos paramétricos na XII Triennale di Milano, evento que popularizou o termo. A mesma parametria, que fomentou as ideias que Luigi Moretti para criar o estádio N, permeia hoje experimentos ainda mais ousados, em escalas e complexidades que apenas o computador permite. Em poucas décadas, uma ideia inicial de relacionar variáveis e desenvolver sistemas construtivos inteiros, fundamentados por equações matemáticas, foi responsável por empurrar as fronteiras da inovação científica. O mais marcante porém, é que tais inovações agora estão sendo realizada através de uma nova geração de arquitetos e digital makers – não por cientistas, economistas, advogados ou engenheiros. Para Mario Carpo, professor de história e teoria arquitetônica da University College London (UCL), esta é possivelmente a primeira vez na história que uma profissão ligada ao design – disciplinas que sempre foram retardatárias em questões tecnológicas – está sendo iniciadora e protagonista de um grande avanço científico. Porém, tais técnicas não surgiram do dia para a noite, e ao contrário do que se pode vir a pensar, as bases e origens do projeto paramétrico

Pg. 43

(Carpo 2016)


IMG 14:

Stadium N, por Luigi Moretti, para a XII Trienalle di Milano.

computador não era se quer imaginado. Por exemplo, Vitruvius (Séc. I a.C.) e Leon Batttista Alberti (1402-72) escreviam manuscritos e tratados copiados a mão que descreviam a arquitetura a ser desenvolvida sem quaisquer desenhos como

A R Q U I T E T U R A PA R A M É T R I C A

tem raízes em períodos históricos bastante antigos, aonde um

referência. Portanto, ao explicar como uma coluna seria construída eles precisavam destrinchar de forma verbal e textual cada regra matemática relacionada as dimensões do objeto para que se alcançasse o que era imaginado. Assim, em seu artigo "Notações Paramétricas" Mario Carpo descreve: “Algumas

regras

Vitruvianas

em

particular

eram

bastante

sofisticadas, descritas de forma sequencial e sistemática, semelhante

Pg. 44


ao que hoje chamamos de “algoritmo processual."

Como como o produto final não era visível, tais regras geravam uma gama distinta de formas e objetos – todos diferentes embora similares, já que compartilhavam um mesmo script entre si. Isto acontecia, por conta das leituras e execuções humanas imperfeitas, fator que dava aos edifícios medievais C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

sua

singularidade,

aonde

diversas

partes

dos edifícios, como seus pilares e janelas góticas, eram

frequentemente

parecidos, porém nunca idênticos entre si. Alguém

que

parametria de

e

estude a

programação

a

lógica hoje

notará, portanto, como essas

metodologia

construtivas

medievais,

clássicas e anciãs, dadas e compreendidas as devidas limitações, eram de certa maneira,

generativas

e

baseadas em regras de relação – tais quais as que se observa hoje nos sistemas paramétricos. Tal parametria medieval Pg. 45

IMG 15:

O Homem Vitruviano: sua arquitetura era pautada em princípios de proporção ao corpo e a natureza.


chegou ao fim, porém com o surgimento da prensa, aonde tecnologias de impressão e reprodução em massa permitiram que tais regramentos verbais fossem aposentados junto com seus algoritmos generativos primitivos. Logo, a revolução industrial, foi responsável por extinguir, também, não apenas as metodologias antigas de reprodução e criação, mas também as substituiu pela uniformidade e homogeneidade garantida pelas máquinas. Tal fator seria um dos principais motivos para o surgimento da arquitetura paramétrica no século XXI, que vem em busca dos preceitos de “customização em larga escala”, necessariamente virar as costas para a invenção da máquina e da fabricação, como fez o movimento antagonista “Arts and Crafts”. Porém, antes mesmo da chegada do computador, houveram arquitetos capazes de predizer as vantagens do pensamento paramétrico através da experimentação. Embora nenhum deles jamais tenha utilizado o termo parametria, é possível perceber na execução de suas técnicas, características e fundamentos que viriam a compor essa nova disciplina.

A R Q U I T E T U R A PA R A M É T R I C A

tentando resgatar a ideia de variação e atenção aos detalhes, sem

O arquiteto catalão espanhol Antoni Gaudí, por exemplo, não gostava de desenhos e preferia explorar a concepção de seus projetos - como a inacabada Igreja da Colônia Güell e a Sagrada Família - usando modelos em escala feitos de correntes ou cordas tracionados por pesos. A técnica era utilizada pois Gaudí sabia que poderia otimizar a estrutura de seus edifícios e o arranjo de cargas através da disposição de curvas catenárias invertidas, isto é, curvas geradas pelo peso de saquinhos de areia ou outros objetos tracionando cordas fixadas em suas extremidades. Pg. 46


C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

I M G 1 6 : Experimento

realizado por Gaudí para o projeto da Basílica da Sagrada Família.

“Os modelos físicos de cabeça para baixo de Gaudí levaram anos para serem construídos, mas lhe deram mais flexibilidade para explorar projetos orgânicos, uma vez que cada ajuste acionaria imediatamente a "recomputação física" dos arcos ideais. Ele rotacionaria então o modelo para a vertical por meio de um espelho colocado embaixo ou tirando fotos.”

A gravidade aqui, logo, era a condicionante mais importante pela qual Gaudí iria moldar seus projetos. As cordas catenárias e os pontos aonde eram fixadas eram, assim sendo, seus parâmetros, capazes de dar a forma desejada pelo arquiteto.

Pg. 47

(Dragicevic 2015)


De forma similar, outro arquiteto que buscava relações entre gravidade e formas livres, era Frei Otto. Suas técnicas traziam para a arquitetura, também, experimentações de tração e elasticidade. Com pós-graduação em estruturas leves, um campo bastante

(Murphy 2015)

negligenciado, Otto foi pioneiro ao buscar entender a complexidade das forças atuantes em estruturas de membranas, tópico que demandavam cálculos de engenharia quase impossíveis para a época.

se valeu de metodologias únicas pautadas na expirementação, e projetando a partir da descoberta de formas produzidas pela natureza. Das muitas técnicas de exploração utilizadas por Otto, talvez a mais conhecida se refira ao uso das superfícies de filme de sabão, superficies iguais as ocasionadas por bolinhas de sabão, uma vez que são superfícies perfeitas e equilibradas entre peso, tensão e gravidade.

A R Q U I T E T U R A PA R A M É T R I C A

Afim de tornar sua arquitetura tensionada possível, o arquiteto

IMG 17:

Curvas catenárias geradas por pesos e amarrações.

(Rawn 2017)

"Em várias frentes Otto foi muito além de seu tempo, vislumbrando novos meios de usar o mínimo de material e energia para criar

Pg. 48


espaço, abordando a sustentabilidade muito antes do termo ser empregado na arquitetura. Seu interesse em expandir os limites da disciplina é evidente em sua fascinação pela experimentação quando fala que precisamos compreender os "processos físicos, biológicos e técnicos que dão origem aos objetos." Um ponto importante na carreira de Otto foi o projeto para o Pavilhão Alemão na Exposição Mundial de

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

Montreal em 1967. Esse trabalho demonstra a importância

cada

maior

tecnologia,

da

da e

vez

pré-fabricação da

massa

produção na

em

arquitetura

e, pela primeira vez, atraiu atenção mundial para

suas

estruturas

tensionadas."

Para tornar seus projetos viáveis, Gaudí,

tal Otto

executava carga,

como também

testes

de

fotografando

cuidadosamente mudanças e

na

as deflexão

desempenho

alcançar

para

resultados

construtivos eficientes. E ainda que o termo ainda não se encontrasse cunhado Pg. 49

tal

como

é

IMG 18:

Pavilhão Alemão projetado por Otto para uma exposição em 1967.


IMG 19:

Experimentos de Otto com filme de sabão.

exemplos das capacidades da arquitetura paramétrica, e demonstram como esta não necessariamente está atrelada de modo inseparável ao computador - embora este certamente potencialize e facilite bastante as experimentações, simulações, comparações e extrações de resultado. Consequentemente, muitos projetos contemporâneos ainda se valem do mesmo principio que Gaudí e Otto utilizaram para moldar formas, fundamentadas na experimentação e na manipulação da gravidade e das condicionantes de material,

A R Q U I T E T U R A PA R A M É T R I C A

entendido hoje, os projetos de Gaudí e Frei Otto são sólidos

porém, com o diferencial que a utilização da programação e a rápida resposta de cálculo da máquina permite. “O que faz de Gaudí e Otto atores tão empolgantes no debate sobre Parametricismo é a evidência de novos horizontes para o design que suas intensas experimentações revelam. Ambos nos presenteiam com sua profunda compreensão a respeito da matriz que estrutura e os materiais compõe juntamente com os fundamentos físicos e biotecnológicos do mundo natural - nos níveis macro e microscópico. O que eles conseguiram como agentes precursores essenciais de um parametricismo digitalmente conduzido deveria servir de ajuda para

Pg. 50


IMG 20:

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

Simulações de tensão e gravidade, análogas às de Otto e Gaudí, podem ser feitas através de programação e relações paramétricas.

convencer aqueles que ainda se mantém receosos quanto ao novo e maravilhoso mundo das estratégias de design flexíveis, que embora ainda à beira de emergir completamente, em breve ampliarão bastante seu repertório. Ao trabalhar de forma paramétrica em toda sua gama de possibilidades, abundantes oportunidades para enriquecer a prática surgirão. Com isso, arquitetos terão que encontrar uma maneira de adotar um diálogo mediado pela computação, afim de cobrir uma gama muito mais ampla de variáveis paramétricas que passariam a envolver até mesmo especialistas que não são necessariamente arquitetos.”

No entanto, embora Otto e Gaudí sejam exemplos que deveriam despertar para as potencialidades da arquitetura paramétrica, ainda persistem arquitetos e teóricos que se negam a enxergar as transformações impostas pelo chegar da era digital. Todavia, as próximas décadas poderão provar ser inevitável admitir a influência Pg. 51

(Burry 2016)


das novas formas de projetar

e

e

conseguinte

por

fabricar,

profissionais

que

se

manterem empacados e resistentes a inovação correrão

o

serem I M G 2 1 : As

atropelados

por

estratégias

arquitetônicas vez

de

mais

cada

eficientes,

inteligentes, e integradas em

uma

"internet

das coisas", enquanto todo

o

subjetivismo

das

metodologias

predecessoras mais

estarão

próximos

campo

artístico

do e

pragmático do que de uma

arquitetura

de

ponta.

A R Q U I T E T U R A PA R A M É T R I C A

simulações por computador também viabilizam novas e distantas formas, que dificilmente seriam alcançadas sem as vantagens exclusivas da ferramenta.

risco

De maneira geral, o ser humano é resistente a mudanças, e isso fica evidente, quando

portanto, se

observa

a introdução do computador, do CAD, do BIM, da parametria e de tantas outras formas de tecnologia na sociedade, provando a existência de um fenômeno de inércia, negação e recusa por grande parcela dos profissionais, que só despertam para muitos destes

Pg. 52


processos apenas quando uma inevitável maré já os está arrastando. Computadores estiveram presentes desde a metade do século XX, com demonstrações de arte eletrônica realizadas já em 1960 e 1970, porém, é apenas em 1990, de forma imprevisível, que surgem os primeiros projetos arquitetônicos digitais, e consequentemente, num pico de poucos anos, computadores arrastaram mesmo aqueles que negaram até o ultimo momento possível as vantagens da utilização da máquina. Quantos escritórios que ainda produzem C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

desenhos a mão remanescem em pleno século XXI? Logo, foi neste período de introdução do computador que interfaces gráficas (CAD) favoreceram uma aproximação entre computadores e arquitetos desconstrutivistas - jovens e velhos - que buscavam construir geometrias complexas e objetos não ortogonais.

"Quantos escritórios que ainda produzem desenhos a mão remanescem em pleno século XXI?"

Foi a partir deste interesse em

criar

novas

formas

irregulares que a revolução digital, movimento

incluindo

o

parametricista,

começou a se moldar. Tal espírito cibernético, embora

trivial, foi o divisor de águas que representou a mudança irreversível da arquitetura para o mundo digital. O espírito dessa era transitória e marcante ainda respira nas obras de muitos arquitetos britânicos, como Zaha Hadid, Frank Gehry, Wolf Prix e Peter Eisenman, que optaram por olhar para esta insurgência cibernética ao invés de seguir os ícones modernistas da época, como o Archigram ou o Centre Pompidou.

Pg. 53


PARAMETRICISMO E PARAMETRICISMO 2.0 “Parametricismo é a resposta arquitetônica para a contemporânea sociedade empoderada pela computação, e o único estilo arquitetônico que pode tomar toda vantagem que a revolução computacional (Schumacher 2016, p. 10)

proporciona agora em todos os domínios da sociedade”

dentro do campo arquitetônico, principalmente pela sua aplicação em projetos de escritórios renomados mundialmente – fator que fomentou a ideia de que um estilo neo-desconstrutivista estaria em ascendência. A aplicação das ferramentas e potencialidades paramétricas digitais, porém, é um fenômeno espontâneo que, ao invés de ter sido previamente definido ou anunciado, converge através de uma sucessão de tentativas, explorações e resultados que vem sendo evidenciados e fomentados. Consequentemente,

termos

como

design

paramétrico,

parametricismo e arquitetura paramétrica são comumente associados a projetos que se aproximam da característica “customização em massa” alcançada através da ferramenta,

PA R A M E T R I C I S M O E PA R A M E T R I C I S M O 2 . 0

Nos últimos anos o design paramétrico vem ganhando espaço

gerando equívocos visto que muitos projetos que assim se assemelham - como o Guggenheim Bilbao de F. Gehry, por exemplo não necessariamente são projetos que foram projetados e pensados parametricamente. É importante que tais termos sejam corretamente compreendidos, não só pela sua conotação, mas para que também não se troque a

Pg. 54


I M G 2 2 : Guggenheim Bilbao,

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

pode até parecer paramétrico, ter cheiro de design paramétrico, ter gosto de design paramétrico, mas não é.

ferramenta pelo estilo. Isto pois

foi

o potencial das ferramentas

desenvolver

paramétricas

utilizadas

finalidade é estética, o termo

para chamar a atenção para

acabou ficando cada vez mais

as

conhecido por este propósito.

estéticas

escritórios

singulares

de

renomados

são

espectro

apenas

para

sistemas

cuja

bem

Porém, é imprescindível que

pequeno das possibilidades que

os profissionais que exploram

a aplicação da parametrização

agora a programação e o design

vem a permitir.

computacional

apenas

um

toda

Pg. 55

utilizada

sua

compreendam extensão

de

Por conta do termo arquitetura

possibilidades e utilizem estes

paramétrica

ter

instrumentos

constantemente

associado

sido

também

para

a

a criação de resultados que

projetos aonde esta ferramenta

ultrapassem a mera estilização


I M G 2 3 : Galaxy Soho, projeto do renomado grupo Zaha Hadid Architects. Embora seu design paramétrico chame atenção, é necessário compreender que as potencialidades da ferramenta vão além das questões estéticas.

e culminem em projetos e

do sentido original da palavra

pesquisas que excedam também

parametria.

em inovação técnica, social e No

ambiental.

vem

(Frazer 2016)

livro a

Schumacher

descrever

o

termo

Parte dos equívocos ao redor

parametricismo como um novo

do

quando

estilo a superar o modernismo,

Patrik Schumacher, associado

termo

surgem

dotado de um visual próprio e

sênior do escritório Zaha Hadid

uma metodologia dirigida pelo

Architects, empresta e posiciona

processo:

o termo parametricismo nos dois volumes de 'The Autopoesis

“Além

of

forma

características superficiais

bastante ambígua e aberta para

óbvias, pode-se identificar

interpretações

uma

Architecture'

de

que

desviam

de

série

de

tais

novos Pg. 56


conceitos e métodos que são tão diferentes do repertório da arquitetura tradicional e moderna que se justifica falar do surgimento de um novo paradigma dentro da arquitetura. Novas ferramentas de projeto desempenham um papel crucial para tornar isso possível, estabelecendo todo um novo processo e uma metodologia de projeto. O parametricismo é, portanto, dependente da adoção de técnicas computacionais sofisticadas. No entanto, como um estilo e não como uma mera panóplia de novas técnicas, o parametricismo é caracterizado por seus novos valores e sensibilidades que C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

começaram a surgir antes mesmo de os métodos computacionais estarem prontos para serem usados.”

Dentre as apropriações usadas para forjar o termo estão as características de estilo as quais ele descreve como “complexas e dinâmicas curvilinearidades proliferadas através de diferentes e contínuos componentes”, traço habitualmente visto nos projetos do escritório de Zaha Hadid. Por conta disto, embora 'The Autopoesis of Architecture' abrace o processo e a exploração como partes fundamentais do estilo proposto, a ambiciosa definição inserida por ele, e a maneira como o termo foi empregado para descrever um estilo quase autoral, veio a ser criticada por muitos arquitetos, principalmente porque o uso da parametria não obrigatoriamente precisa resultar em algo geométrico ou de estilo singular. A utilização da parametria muitas vezes não releva estilo algum, já que se vale apenas de um processo descritivo e flexível no qual se alcança resultados, que podem ou não envolver geometrias, através da alteração de dados dentro de um sistema pré-definido de relações. Outra razão pela qual o termo foi mal recebido deu-se, pois, o

Pg. 57


(Burry 2016)

parametricismo

de

Schumacher as

ignorou

principais

e

objetivos

que

razões

de

todos

antecederam

processo

de

o

criação

desenvolvimento

e da

parametria – como Gaudi, John Frazer, Frei Otto, e tantos outros precursores, que buscavam resultados muito para e

mais

voltados

soluções

técnicas

adaptativas

simples

do

que

questões

estilísticas. Para

Mark

Burry,

arquiteto sênior envolvido na construção da Basílica

da Sagrada Família, obra-prima de Antoni Gaudi em Barcelona, a principal razão para as respostas antagônicas recebidas por Schumacher vinha exatamente deste proselitismo ao redor de um novo estilo postulado como modus operandi em detrimento dos preceitos históricos e teóricos das proposições originais.

PA R A M E T R I C I S M O E PA R A M E T R I C I S M O 2 . 0

"A utilização da parametria muitas vezes não releva estilo algum, já que se vale apenas de um processo descritivo e flexível no qual se alcança resultados, que podem ou não envolver geometrias, através da alteração de dados dentro de um sistema pré-definido de relações."

Pelas próprias palavras de Mark Burry, as colocações de Schumacher eram: “[...] uma distração bastante infeliz, levando o pensamento criativo para longe da questão central - pensar e agir parametricamente.”

Por conseguinte, talvez pelas críticas, talvez por notar que o Pg. 58


parametricismo não estava ganhando o reconhecimento esperado como estilo a superar o modernismo, Schumacher ressurge em 2014 com o termo “Parametricismo 2.0” aonde busca realizar um “upgrade” na expressão, se valendo de novas definições que remodelavam o termo em prol de uma “parametria com parâmetros que importam”. Segundo ele, em ordem para que o movimento sobreviva e triunfe é necessário que C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

princípios

formais

e

os

processos de design deixem o primeiro plano e o foco seja direcionado para os princípios funcionais, sociais e ambientais, se valendo de projetos que excedam

tanto

em

técnica

quanto em funcionalidade. Modificar

parâmetros

e

variáveis, buscando resultados que

respondam

a

relações

dentro de sistema processual, é a fundação de toda a computação e suas bases já existiam desde antes do primeiro computador surgir.

Logo,

movimento

para

que

o

"É necessário que princípios formais e os processos de design deixem o primeiro plano e o foco seja direcionado para os princípios funcionais, sociais e ambientais, se valendo de projetos que excedam tanto em técnica quanto em funcionalidade."

parametricista

represente algo realmente novo e capaz de elevar a arquitetura como ciência é necessário impulsionar as capacidades de cálculo da máquina com o propósito de solucionar também problemas sociais e ambientais tais quais se apresentam hoje no mundo.

Pg. 59

(Schumacher 2016)


Se o estilo parametricista tal qual proposto por Schumacher é válido, então as expressões parametricismo e arquitetura paramétrica não podem ser entendidas da mesma maneira, visto que arquitetura paramétrica em seu melhor estado abordará mais do que questões estilísticas, sendo incluída principalmente nos processos de concepção e geração de dados, se valendo da velocidade e precisão singular do computador para alcançar resultados que proferem eficiência, e podendo, mas não inerentemente, culminando num estilo visual.

A programação e a parametria são ferramentas que contém grande potencialidade, porém ainda remanescem dormentes em ampla parcela da prática arquitetônica contemporânea. Parte da razão se

PROGRAMAÇÃO VISUAL

PROGRAMAÇÃO VISUAL

I M G 2 4 : Grasshopper:

ferramenta de programação visual mais utilizada atualmente por arquitetos.

Pg. 60


dá pela dificuldade que as linguagens de programação e os cálculos trigonométricos exigem de quem decide mergulhar neste universo de possibilidades. No entanto, nos últimos anos estas disciplinas passaram a chamar mais a atenção e a despertar a curiosidade de arquitetos e designers graças as facilidades que as interfaces de programação visual permitem.

C A P. I - C O N T E X T O E D I S R U P T U R A

Linguagens de programação visual - também chamadas de linguagens de programação gráfica - providenciam uma forma alternativa de trabalhar e pensar a lógica processual. Isto pois, escrever um código através de uma interface de programação visual esta mais próxima do processo de diagramação do que o processo descritivo textual, contribuindo deste modo para que uma curva de aprendizagem menos íngreme esteja disponível para arquitetos e designers. Estes softwares têm adentrado com cada vez mais força a indústria criativa visto que sua maior facilidade de produção de resultados atraiu designers e arquitetos do que as linguagens descritivas, como C++ ou Python. Além de contribuírem para uma introdução mais fácil àqueles que não possuem conhecimento programático predecessor, a programação visual permite lidar com a alteração de parâmetros e fórmulas utilizando slides e gráficos visuais em tempo real. Isso significa que aspectos visuais e técnicos do projeto podem ser testados e experimentados em tempo real, extraindo-se múltiplas versões e possibilidades, apenas movendo o cursor por sliders ou gráficos que vão alterando as variáveis.

Pg. 61


I M G 2 5 : É interessante observar

que os softwares de programação visual pioneiros (como Max, Pure Data e vvvv) foram influenciados pela maneira tal qual sons são criados usando cabos de conexão em sintetizadores analógicos.

I M G 2 6 : Interface do vvvv,

um dos primeiros softwares de programação visual.

PROGRAMAÇÃO VISUAL

Esta nova lógica introduz, assim, a ideia de que o arquiteto possa navegar entre múltiplas possibilidades de desenho sem ter que necessáriamente refazer o desenho para cada uma delas, bastando apenas deslizar por entre cada uma destas variações.

Pg. 62


CAPĂ?TULO II

Novas METODOLOGIAS computacionais e porque elas mudam tudo


A MAIOR HABILIDADE DO Computador Reduzir a quantidade de tempo necessário para solucionar cálculos matemáticos repetitivos e decifrar mensagens criptografadas durante a segunda guerra mundial foram uma das maiores motivações para o surgimento do computador.

Pg. 64


A capacidade de repetir quantas vezes for necessário um mesmo procedimento incansavelmente é o que dá ao computador uma vantagem enorme em relação ao cérebro humano. Nenhum trabalhador é capaz de realizar cálculos e gerar resultados precisos na mesma velocidade.

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

Assim, quando o computador deixou os laboratórios e se tornou uma ferramenta acessível a todos, transformou completamente a sociedade graças a esta capacidade de resolver de forma repetitiva múltiplos cálculos e subsequentemente outras tarefas. Hoje, na indústria criativa, o computador já é uma ferramenta indispensável, capaz de garantir velocidade de produção e permitir a eliminação de muitas tarefas que eram laboriosas, como o desenho técnico a mão e a reprodução de documentos. Em atividades como a animação, o computador não apenas permitiu uma produção quase cem vezes mais rápida, em comparação com os antigos métodos; Sua velocidade de reprodução e criação liberou aqueles que trabalhariam realizando processos repetitivos para se dedicarem a tarefas com maior ênfase na exploração e na tomada de decisões, provendo resultados melhor finalizados. Não obstante, a repetição sempre foi fator fundamental para qualquer forma de expressão artística. A música por si só dificilmente existiria sem a repetição. Da música clássica ao Jazz, o ritmo e a repetição são fatores primordiais das grades composições. A repetição pode ter um poderoso efeito no corpo e na psique humana. Um dos exemplos mais extremos é a forma como uma latente luz piscando pode despertar um ataque epiléptico. Outro exemplo mais universal é como a batida de uma boa música induz as pessoas a dançar. Ou então como a sobreposição de desenhos é capaz de gerar a ilusão de movimento em uma animação. Pg. 65


Logo, compreende-se que a repetição é parte da composição artística, e não é a sua eliminação como elemento que é almejado, mas o trabalho repetitivo como processo que pode ser melhor executado. Isto posto, a habilidade que computadores possuem para lidar com operações repetidas de modo rápido e preciso é a principal característica que garante sua participação, hoje, no ambiente de trabalho. E diferente do que muitos críticos a chegada do computador capacidades criativas de seus usuários. Na verdade o computador impulsionou-as, uma vez que uma quantidade maior de versões e resultados garante obras melhor revisadas e apresentadas; além das qualidades técnicas e de precisão que a máquina adicionou trazendo consigo novas formas e estilos de expressão artística como o design gráfico e a música eletrônica. É à vista disso que programadores criam softwares tendo sempre em mente duas vantagens únicas do computador para com o processo manual: primeiro e principalmente, a repetição para o cérebro é entediante e demorada, podendo ainda acarretar numa quantidade maior de erros devido a falha humana; A segunda é que, como frequentemente o tempo é uma limitante, há, portanto, um número muito menor de possibilidades aos quais se pode alcançar

A M A I O R H A B I L I D A D E D O C O M P U TA D O R

teorizaram no passado, este não agiu de forma a diminuir as

com um trabalho puramente artesanal. E mesmo usuários que não entendem de programação encontram nos resultados de seus trabalhos realizados por computador qualidades como a precisão como parte da expressão estética, maior velocidade de execução e consequentemente uma maior multiplicidade de resultados para ser comparados. Além da repetição outra qualidade formidável dos computadores é Pg. 66


a capacidade de lidar com uma gama imensamente maior de fatores, dados e ordenamentos – quantidades que muitas vezes a mente e a memória humana são incapaz de reter durante um extensivo período de tempo. Contudo, é evidente que admitir todas as qualidades do computador C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

não significa enxergar apenas vantagens para com o cérebro e o trabalho manual. No entanto, reconhecer tais capacidades de execução que o computador traz, permite justamente que se dedique tempo as tarefas nas quais a mente humana é imbatível: em funções criativas que envolvam abstração, decisão, comunicação e pensamento.

PORQUE PROGRAMAR “Se, em contraste, passarmos a ver o domínio computacional não como algo separado do domínio físico, mas como uma parte inerente a ele, superaremos um dos maiores equívocos comumente associados ao uso do computador nos círculos arquitetônicos, ou seja, de que este é apenas mais uma ferramenta.”

p. 78)

Se existe um problema ocasionado pela inclusão do computador pelas indústrias criativas não é a suposição de que este diminua a criatividade, mas sim o fato de que quem utiliza a maquina sabe muito pouco das suas reais potencialidades. Para que o computador pudesse se tornar a ferramenta rebuscada e repleta de softwares da forma que se conhece hoje muitas camadas de programação e código tiveram que ser criadas de forma a adicionar novas funcionalidades que vão além do código binário

Pg. 67

(Menges 2016,


(embora no fim, na camada mais profunda tudo ainda se resuma a 0 e 1). Diversos softwares foram montados de modo a garantir que mesmo sem qualquer conhecimento a respeito da lógica de processamento interno da máquina ainda sim seja possível se valer das potencialidades de repetição, calculo e armazenagem da máquina. No entanto, mesmo dentro dos mais complexos softwares ainda existem limitações, visto que este nada mais é do que um compilado de funções algorítmicas pré-programadas criadas por algum programador na intenção de atender de forma generalista as

Logo, quando alguém usa um software está na verdade utilizando um cinto de utilidades com múltiplas linhas de códigos préconfiguradas ativadas por botões ou comandos. Além disso, os softwares de design usam vários algoritmos complexos de rotina e automação que muitos arquitetos não entendem a fundo, assim, o uso da ferramenta é limitado e sua eficiência geral reduzida.

PORQUE PROGRAMAR

necessidades de um nicho específico.

Em contrapartida, se designers e arquitetos passam a compreender minimamente a forma como estes algoritmos se sucedem, e como eles influenciam o resultado de uma geometria, decisões mais conscientes e eficientes passam a fazer parte do processo criativo. Aprender a programar significa mergulhar nos espectros algorítmicos e aprender a lógica por trás do computador para que se possa criar suas próprias ferramentas. Esse novo léxico projetual permitiria ao profissional controle sob a geração de resultados baseados em processos calculados e relacionados para com as questões centrais específicas de cada Pg. 68


projeto. Com cursos inteiros dedicados apenas a ciência da computação, este certamente não é um tópico banal; mas da mesma forma que aprender a programar sugere um grande desafio, muitos benefícios

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

também podem emergir deste caminho. Em um mundo aonde a tecnologia parece não frear mais sua inclusão, mesmo perante as situações mais corriqueiras, aprender a programar significa que mais do que novas funcionalidades no software, em breve arquitetos se valerão desta disciplina para desenhar também o ambiente habitado, se valendo das possibilidades de automatização que estarão presentes no nosso meio – com carros que se autodirigem, geladeiras ligadas ao WiFi e janelas que reconhecem a posição do sol, a programação logo deixará de ser um assunto meramente do computador para se tornar a linguagem das coisas. Assim, aprender a codificação pode ajudar a explorar novas formas arquitetônicas e a investigar como a arquitetura pode evoluir e se adaptar à constante progressão tecnológica. Hoje, aprender a programar ainda é uma opção, mas quando o fazer se provar uma vantagem mercadológica inegável, não mais o será. As empresas que se negaram a utilizar o computador, por quaisquer motivos que seja, provavelmente perderam a briga contra a concorrência, o que garante que com a programação também não será assim? Aprender a praticar o scripting hoje é ter a vantagem em uma corrida contra o tempo; em um futuro próximo, saber dialogar com o computador poderá não ser mais uma opção competitivamente viável. Pg. 69


Um designer que entende a lógica por traz do computador também adquire vantagens que surpassam a pura criação de códigos. Steve Jobs certa vez disse que “todos deveriam aprender como programar um computador pois isto ensina como pensar” e provavelmente estava certo. A

lógica

computacional

traz

consigo uma nova forma de pensar as soluções, separando-as em processos simbólicos passo a passo, detalhadamente, num processo diagramático objetivo e conexo – algo que contrasta muito com a abordagem modernista que interpreta o projeto de modo puramente subjetivo e intuitivo.

PORQUE PROGRAMAR

"Com carros que se autodirigem, geladeiras ligadas ao Wi-Fi e janelas que reconhecem a posição do sol, a programação logo deixará de ser um assunto meramente do computador para se tornar a linguagem das coisas."

Em contrapartida, trabalhos antes repetitivos e cansativos, que não dependem de muitas decisões ou são desprovidas de qualquer bagagem crítica ou criativa, se tornarão coisa do passado. Com o conhecimento básico de programação se universalizando a tendência é de que todas as funções repetitivas sejam gradualmente substituidas do funcionário para o computador, que oferece a oportunidade de inserir parâmetros que garantem exatidão e entregam resultados em milésimos de segundos. Assim, a demanda não se dará mais por "executadores de tarefas", mas por pessoas que programam "aquilo que executa a tarefa".

Pg. 70


PROGRAMAR é DIALOGAR POR DIAGRAMAS Tal como os computadores saltaram para dentro dos escritórios C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

no final do século XX, muito em breve outras máquinas, robôs e ferramentas digitais poderão provar sua eficiência frente as I M G 2 7 : Tal

como um diagrama, programar é um ato de descriçao simbólica que engloba processos.

novas complexidades do mundo e se tornarem comuns em todas as esferas e nichos da sociedade. Embora para alguns essa mudança de paradigma ainda pareça distante, há de se recordar como a invasão tecnológica muitas vezes se dá de forma veloz e contagiante, tal como a internet, e os smartphones já fizeram nas primeiras décadas do século XXI. Se a tecnologia continuar a avançar no mesmo ritmo, será questão de tempo até que academias e escritórios de arquitetura percebam que

Pg. 71


o pensamento arquitetônico se

comuns desenhos ortogonais

encontra desatualizado frente

planificados.

aos requerimentos de uma nova forma de pensamento e desenho

Isto pois, para programar a

do mundo.

arquitetura de forma eficiente é necessário saber qual rota seguir; O computador por si só

noções básicas de engenharia

não entrega nenhum resultado

civil,

se o usuário não souber o que

a

a

compreensão

linguagens

busca.

e

lógicas

pode-se até possuir um destino

algorítmicas será indispensável

incerto, mas é necessário saber

a formação do arquiteto. E caso

a direção na qual se pretende

o arquiteto não acabe por ser

caminhar,

o próprio programador, este

de

encontrará no programador o

compreender

“melhor amigo”.

e vantagens de cada projeto,

de

respeito

das

básica

programação

Portanto,

traçar

limitantes, as

de

o

início,

mínimo

condições, dificuldades

para que assim o computador Com a consolidação da "internet

possa trabalhar contornando

das coisas", tudo o que for

estes desde o início junto com as

construído e a forma como será

decisões de quem planeja.

construído passará a envolver de alguma maneira a programação

Assim sendo, esboços e desenhos

e o design computacional e,

simbólicos

deste modo, serão repensados

ganharão maior importância

não apenas as ferramentas e os

na

métodos de criação do modelo

processuais,

sobrepujando

projetual, mas principalmente,

necessidade

do

a forma de pensar e projetar

subjetivo realizado através dos

estará cada vez mais atrelada

laboriosos desenhos técnicos

a

(planta,

uma

lógica

processual

enquanto se distancia dos ainda

forma

e de

corte,

conceituais

PROGRAMAR É DIALOGAR POR DIAGRAMAS

Em um futuro breve, tal como

diagramas a

pensamento

implantação)

ainda cobrado pelas academias,

Pg. 72


I M G 2 8 : Em um diagrama os

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

objetivos de projeto devem ser evidenciados de forma clara e objetiva.

Pg. 73


mesmo em etapas conceituais.

e

muitas

diagramas

outras

atuações,

serão

muito

em

A linguagem processual não

breve o novo léxico do arquiteto.

floresce se atrelada a rigidez

Técnicas restritivas e inflexíveis

das

metodologias

como os desenhos ortogonais

arquitetônica;

agarrados a planos cartesianos

de

antigas concepção

E o arquiteto que procurar

e

entender a lógica computacional

gradualmente

perceberá que a flexibilidade

por novas formas de progredir

e a progressão de ideias será

o

indispensável ao processo de

de maneira mais simbólica e

concepção

processual.

de

pensamento

papel

serão

substituidos arquitetônico

não podendo mais se valer apenas de achismos e processos

Diagramas,

porém,

não

são

descritivos subjetivos.

novidade. Um dos primeiros arquitetos modernos a perceber

Assim, o diagrama surge como

a importância destes, embora

força motor das novas fórmulas

não o tenha utilizado visando as

de projeto, aonde o processo

possibilidades computacionais,

exploratório

pelo menos a primeiro momento,

é

essencial,

auxiliando na organização do

foi Peter Eisenman.

pensamento e permitindo o compartilhamento das ideias

No Livro “Inquietação Teórica

centrais especificas de cada

e Estratégia Projetual”, Rafael

projeto na forma de desenhos e

Moneo

símbolos, geralmente dividido

para Eisenman, “a mudança

em etapas ou processos claros.

clamada pelo espírito moderno

descreve

como

que,

PROGRAMAR É DIALOGAR POR DIAGRAMAS

computacional,

folhas

não deveria ser apenas de estilo, Como o código é um processo

mas uma mudança substancial

continuo que envolve adição,

que, por inclusão, afetasse a

subtração,

linguagem”.

multiplicação,

separação, condição, movimento

Pg. 74


Assim, Eisenman tem como núcleo de sua metodologia projetual o conceito de ‘process’, aonde “entende-se o projeto por meio da sequência no tempo

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

que o tornou possível.” No

capítulo

dedicado

a

Eisenman, Moneo descreve: “O objeto, por si só, não comunica

as

intenções

(ou

se quisermos, as ideias do arquiteto) e por isso, com o intuito de fazê-las perceptíveis, é preciso dar evidencia do processo.

Representar

a

arquitetura não será somente definir o objeto, mas

IMG 29:

"Process" de Peter Eisenman para a casa Guardiola.

prestar contas do que foi o processo. [...] Documentar o processo permite torna-lo visível: o registro das suas distintas etapas possibilita entender o desenvolvimento das operações formais ditadas pela mente no tempo. O objeto em si resiste a isso, já que o vemos somente no seu estado final”.

p. 141)

Sem saber, Eisenman, portanto, através da ideia inicial de process funda ideias que viriam a caber também dentro do contexto do design computacional, aonde o objeto final é apenas o resultado de uma sucessão de intervenções realizadas pelo arquitetoprogramador dentro de uma linha temporal. Dentro da ideia de process, a diagramação é a etapa, o retrato momentâneo da ideia, que parte de uma condição em direção a outra. Logo, o diagrama é um retrato do projeto em movimento.

Pg. 75

(Moneo 2008,


Estas ideias estavam tão

incorporadas

na

arquitetura

de

Eisenman que Moneo acrescenta: “Poderíamos

dizer

que para Eisenman os

importam

resultados.

O

que aqui se busca não

é

um

projeto

pré-determinado, i m a g i n a d o previamente IMG 30:

Diagramas para a casa VI, de Eisenman

ou

sujeito a um modelo do

qual

se

tem

consciência. A arquitetura é, simplesmente, o fim do processo. Por isso poderíamos afirmar que para

projetar […] não se “desenham” nem fachadas nem cortes. Poderiam ter até sido desenhados, mas não quer dizer que tenha sido buscada uma imagem final como meta. Eisenman continua usando os sistemas convencionais – planta, corte, elevação – para representar (MONEO 2008,

a arquitetura, mas não os utiliza como origem do projeto.”

p. 148)

PROGRAMAR É DIALOGAR POR DIAGRAMAS

pouco

E nas palavras do próprio Eisenman: (Moneo 2008, p. 179)

“Genericamente, um diagrama é uma abreviação gráfica. Apesar de ser um ideograma, não é necessariamente uma abstração. É a representação de algo que não é a coisa em si. [...] Diagrama não é somente uma explicação ou alguma coisa que vem a posteriori, mas que atua como intermediário no processo de geração do espaço e do

Pg. 76


tempo real.”

Assim quando o computador passa a ser uma realidade presente nos escritórios de arquitetura, Eisenman busca exportar suas ideias para o computador e é um C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

dos poucos a entender a importancia do pensamento diagramático.

"O diagrama é um retrato do projeto em movimento"

(MONEO 2008,

“Eisenman percebe e entende que

o

computador

p. 180)

oferece

um incrível potencial para a transformação e a manipulação da forma, mas esse potencial precisa de um ponto de partida, de uma abreviação gráfica, de um diagrama.”

Embora predecessoras de uma era computacional, as ideias de Eisenman carregam, portanto, de

forma

embrionária,

uma

nova forma de pensamento e expressão

que

complementa

o que vem a ser um dos componentes fundamentais da lógica processual. Não obstante, de forma até natural, é possível notar como diagramas já tem se tornado mais presentes não só para aqueles que buscam as metodologias

I M G 3 1 : Cores, símbolos, transparência, explosões:

vale tudo para expressar e organizar ideias.

Pg. 77


I M G 3 2 : Exemplo de diagrama sobre o

espaço urbanístico.

computacionais,

mas

também

porque a arquitetura como um todo

está

importância

compreendendo do

tempo

a

como

fundamento de projeto. Pela arquitetura ser um objeto estático, nunca antes se pensou decisão na concepção projetual. Porém, hoje já é possível encontrar apresentações de projetos que exibem distintos diagramas para exemplificar o efeito do processo temporal da arquitetura. Isto se dá, pois, mais do que nunca, se faz evidente que a arquitetura embora fixa, está sujeta a ações resultantes de fatores temporais. Seja pelo processo de concepção do projeto ou pelo processo de experienciação do edifício. Logo,

enquanto

a

tecnologia

PROGRAMAR É DIALOGAR POR DIAGRAMAS

incluir o tempo como fator de

estiver a avançar provavelmente também se notará o continuo desenvolvimento de uma nova linguagem projetual alicerçada no

pensamento

simbólico,

diagramático e processual de novos arquitetos, designers e I M G 3 3 : Diagramas comunicam

urbanistas.

problemas e soluções.

Pg. 78


MODULARIDADE A modularidade em design e arquitetura, representa o agrupamento de múltiplas unidades que se inter-relacionam por aparência e/ou

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

função, de modo a compor um conjunto capaz de se adaptar através da adição ou subtração de suas partes. A modularidade é utilizada em muitos projetos modernistas, visto que foi amplamente difundida pelos manifestos e obras da escola. Dentre as principais vantagens de se trabalhar de forma modular estão a produção padronizada, o potencial de adaptação e a sua identidade como conjunto. Nos períodos de 1960 e 1970 pôde ser observada de modo muito evidente na arquitetura modernista japonesa. Após o período da segunda guerra mundial, arquitetos utilizavam a expressão metabolism para se

referir

a

IMG 34:

Helvetica, a fonte mais utilizada no mundo.

maneira

que edifícios e cidades deveriam ser desenhadas de

modo

a

emular

organismos vivos, num processo de manter suas célular

vivas.

Embora

não tenha prosperado no ocidente, o estilo foi influência para muitos arquitetos como Frank Loyd Wright e Kengo Kuma.

(Craven 2017, Designcurial

As

fontes

tipográficas

também

expressam

nitidamente

características modulares. Isto pois, dentro de um conjunto, cada

Pg. 79

2013)


I M G 3 5 : Nakagin

Capsule Tower, ícone da arquitetura metabolista japonesa

M O D U L A R I DA D E

letra que compõe uma fonte é, muitas vezes, criada através da combinação entre formas comuns entre o conjunto, com o intuito de gerar legibilidade e uma identidade homogênea. Por exemplo: as letras minúsculas p, q e b são construídas através do arranjo das mesmas formas elípticas em diferentes posições. Algumas fontes podem ser mais modulares que outras, mas geralmente fontes mais modulares alcançam maior popularidade em decorrência de sua legibilidade e estética. Um exemplo claro disto é a fonte Helvetica, uma das typefaces mais conhecidas e utilizadas no mundo inteiro, graças as suas formas simples e racionalistas. Em contrapartida, tal como o modernismo na arquitetura,

Pg. 80


C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

Helvética também carrega

toda sua vida a ideia de uma

como

pelo

arquitetura estruturalmente

seu extenso uso universal,

modular, com componentes

a semiótica de algo que por

leves e resistentes capazes de

estar

tudo,

cobrir até mesmo cidades. Seu

também não pertence a nada,

projeto mais icônico foi o domo

não expondo, assim, uma

para o Museu Ambiental da

identidade definida.

Biosfera. Os domos de Fuller

consequência

presente

em

são bastante interessantes Impulsionado propriedades seu o

pelas modulares

potencial arquiteto

Buckminster

e

construtivo, e

visionário

com as novas membranas paramétricas XXI,

representando

século um

estágio embrionário do que

- 1983) promoveu durante

viriam a ser as estruturas

Museu Ambiental da Biosfera, Quebec, Canadá, construído em 1967 por Buckminster Fuller.

Pg. 81

do

(1895

IMG 36:

Fuller

pois se assemelham também

(Martin 2016)


auto-portantes tão

modulares

comuns

em

ícones

entre os elementos e suas condicionantes

relação

contemporâneos, como nas

muitas

obras de Shigeru Ban e Toyo

cálculos, equações e processos

Ito.

algorítmicos.

No

entanto

é

necessário

compreender

que

Todo

vezes

-

design

gerada

por

paramétrico

pode ser modular, porém,

modularidade e parametria

nem

não são a mesma coisa.

modular é necessáriamente

Principalmente

paramétrico.

porque

a

tudo

aquilo Daí

que

é a

modularidade pode ser muitas

importância de acrescentar

vezes

cientifismo ao racionalismo

a

subjetiva,

parametria

enquanto, representa

modernista.

uma relação de dependência

I M G 3 7 : Pompidou Metz, por Shigeru Ban, 2010. Sua estrutura

paramétrica carrega influências do pioneirismo de Buckminster Fuller.

Pg. 82


ARQUITETURA PARAMÉTRICA A parametria sempre existiu na história da arquitetura - das Pirâmides do Egito ao Coliseu Romano - muitas estruturas C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

antigas foram planejadas e construídas de modo a relacionar variadas forças e condições externas, como clima, cultura e tecnologia, ao desenho de projeto. O que faz da parametria uma disciplina em reascenção agora é que, aliada ao computador e os novos meios de produção, esta vem a oferecer o potencial da customização em massa: projetos fabricados de modo industrial, porém adaptados unidade a unidade, visando compor módulos ainda mais adaptativos. Sucintamente, um parâmetro representa qualquer valor ou fator capaz de afetar o resultado final de um processo do qual faz parte. Algo simples como a quantidade açúcar em uma receita de bolo pode ser compreendida como um parâmetro; Até algo mais complexo, como o limite mínimo de serotonina para ativação de determinado comportamento em um neurônio. Parametrização em arquitetura e design, portanto, é o ato de definir e alterar variáveis que compõe os elementos de um sistema algorítmico, programado com o intuito de encontrar resultados que ofereçam soluções matematicamente adaptadas para problemáticas específicas de projeto. Para programar um sistema paramétrico é necessário, assim, que se conheça as problemáticas e os potenciais específicos de cada projeto, consequentemente identificando o que pode ou não ser

Pg. 83


I M G 3 8 : Envelopes paramétricos, um dos

usos mais comuns para a parametria hoje, embora não o único.

alterado e tecendo relações entre os parâmetros dentro de uma ordem de prioridades. Projetar

parametricamente

permite automatizar etapas de desenho e modelagem em qualquer escala, fornecendo, através em

e

complexos

extraídos

tempo

de

simulações real,

distintos

resultados

apenas

pela

alteração de valores. Porém,

embora

o

design

paramétrico possa ser preciso e racional, isto não significa que projetos resultantes da técnica sejam frios

ou

estritamente

demasiadamente

técnicos. Muito pelo contrário: o design paramétrico, hoje, produz

obras

repletas

de curvas e detalhes que impulsionam a arquitetura na direção de novas formas de expressão e arte.

IMG 39:

Dunescape, lounge produzido pelo grupo SHoP Architects para o Museum of Modern Art de Nova York.

Muitas das novas expressões estilísticas surgidas com esta

Pg. 84


nova fase da parametria arquitetônica, inclusive, carregam questionamentos a respeito da funcionalidade da ferramenta. Porém, é fundamental reconhecer que, embora firmas grandiosas utilizem o design paramétrico para alcançar novas formas e composições, a parametria também tem grande potencial de

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

solução para problemas ambientais, sociais e técnicos. Mesmo que padrões de fachadas e envelopes chamem mais atenção, deve-se ter em mente que a parametria hoje já é utilizada, também, como grande aliada na exploração de questões conceituais e técnicas de projeto. Por exemplo, caminhos percorridos por usuários podem ser calculados de forma a serem otimizados parametricamente: escadas, fugas de incêndio e quaisquer pontos estratégicos podem ser utilizados como fatores determinantes no cálculo e na geração do espaço arquitetônico. A incidência solar durante todo o ano pode ser melhor aproveitada através de relações paramétricas traçadas para com a fachada, utilizando esta informação para precisamente garantir maior incidência solar dentro do edifício em países frios, ou menos incidência em países aonde o sol é um problema. O resultado em qualquer caso são projetos aonde serviços como aquecedores ou

I M G 4 0 : A programação e a parametria

introduzem a aleatoriedade de forma realmente nova ao design e a arquitetura.

Pg. 85


I M G 4 1 : Diagramas de Voronoi, padrões

geométricos que aparentam aleatoriedade freqüentemente encontrados na natureza.

ar condicionado são menos necessários, promovendo projetos ambiente. A parametria também permite que arquitetos possam finalmente replicar sistemas e propriedades únicas da natureza, que sempre serviram de inspiração mas que foram reproduzidas, até então, apenas de modo subjetivo. A randomização, por exemplo, é um modo de embaralhar partes e propriedades paramétricas a fim de se obter conjuntos e padronagens

A R Q U I T E T U R A PA R A M É T R I C A

que desperdiçam menos energia e geram menos impacto no meio

menos óbvias e monótonas. Valores aleatórios ajudam a emular os efeitos imprevisíveis da realidade para gerar composições que transpareçam maior naturalidade. Quando

o

comissionado

grupo pela

SHoP

Architects

agencia

federal

foi de

gerenciamento de emergências (FEMA) para projetar uma ponte provisória em Lower I M G 4 2 : Exemplo de padrão

Voronoi na natureza.

Manhattan, a fim de restaurar uma passagem fundamental que foi destruída pela tragédia de Pg. 86


I M G 4 3 : Rector St. Bridge, por SHoP

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

Architects. Destaque para o projeto parametrico se dá pelo seu design único, sua velocidade de construção e custo.

11 de Setembro, eles habilmente utilizaram uma combinação de estruturas pré-moldadas com uma padronagem paramétrica para que fosse possível criar uma estrutura que além de rápida e barata de se construir, atendesse aos requerimentos de projeto sem se tornar monótona ou neutra. A intenção dos designers era produzir uma estrutura que permitisse a entrada de luz durante o dia e possibilitasse visão durante a noite, porém sem que isso distraísse os pedestres e, assim, evitar que as pessoas estacionassem por ali. Portanto, foram justamente estes fatores, variáveis e limitantes, que no final acabaram por contribuir para a geração da estrutura final, composta por um padrão complexo que utiliza elementos estáticos

Pg. 87

I M G 4 4 : Embora

limitados a peças pré-fabricadas, o design aleatório garante um diferencial de projeto.


simples, repetidos de modo aleatório. Tal exemplo demonstra como a aplicação do design paramétrico pode ser um grande aliado na busca por soluções que se mantenham dentro das mais restritas limitações que um projeto pode ter, sem que se abdique de uma arquitetura interessante e diferente. Gregg Pasquarelli, fundador do SHoP Architects, em entrevista para a ArchNews descreve a importância destas ferramentas não só para sua carreira, mas para todo o paradigma da arquitetura: 2013)

"A mudança [de paradigma] está principalmente no relacionamento entre proprietário, arquiteto e construtor. Eu acho que é um grande erro continuar a ver essas três figuras em conflito uma contra a outra. A tecnologia emergente permitiu um maior desfoque dos limites entre esses grupos. Entretanto, se os arquitetos não dominarem a tecnologia e assumirem mais responsabilidades, eles serão empurrados para o lado. Nosso modelo é o seguinte: os arquitetos, que são grandes pensadores criativos, devem ser generalistas e não apenas especialistas. Eles devem começar a se envolver com seus projetos em vários níveis - compreendendo de finanças, investindo dinheiro, envolvendo-se na política, controlando o processo de

A R Q U I T E T U R A PA R A M É T R I C A

(Belogolovsky

construção e visualizando idéias sobre como seus prédios serão, também, mantidos e usados ​​no futuro. Assim, eles não podem ser apenas designers. Para nós, recuperar esses territórios só pode ser feito através do uso de tecnologias emergentes, e é exatamente isso que está sendo feito. Quanto mais engajados e integrados ao processo de construção, mais valiosa nossa contribuição será para o ambiente construído em geral. [...] Para a nova geração de designers, parece ser muito mais fácil programar e chegar a uma solução específica de projeto, com formas que emergem de modo oposto às antigas abordagens por desenho Pg. 88


técnico, construindo, assim, novos modelos e descobrindo diferentes possibilidades. Assim, quando arquitetos das geração mais velha dizem que algo está se perdendo eles estão errados. Ainda estamos desenhando, programando, olhando a forma e examinando como tudo funciona. Mas esses novos métodos são muito mais rápidos. Além disso, o benefício dos sistemas paramétricos é que você pode C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

testar muitas versões muito rapidamente."

OPTIMIZAÇÃO PRODUTIVA A Phare Tower, um projeto de 2008 do grupo de arquitetos Morphosis, é um arranha-céu de 68 andares, em Paris, que exemplifica muitas das potencialidades de se trabalhar com a optimização parametrica. Toda sua fachada e parte de sua estrutura foi desenvolvida a partir de um software criado por Satoru Sugihara, arquiteto integrante do grupo na época. Assim, ao invés de ser arbitrariamente desenhada, a torre se destaca por ter sido gerada interativamente pelo grupo enquanto testava, refinava e buscava atender a multiplos requerimentos

e

complexas

problemáticas

projetuais simultaneamente. Seu scripting parametrico busca aliar elementos programáticos, físicos e estruturais de forma integrada com as idiossincrasias locais. Com licença diferenciada para uma área privilegiada de Paris, a torre incorpora avanços tecnológicos a um marco cultural.

Pg. 89


(Baraona 2009)

As tecnologias integradas na Phare Tower aproveitam o vento e o sol de maneira única. Em seu topo uma coroa de turbinas eólicas produzem energia a partir dos ventos - um verdadeiro jardim metafórico dos céus. Todo seu desenho curvado se fundamenta no caminho que o sol faz ao redor do edificio, e sua fachada norte busca maximizar a luz natural durante todo o ano. Do ponto de vista técnico e construtivo o projeto também não fica para trás. Embora o desenho final do edifício apresente muitas curvas, seus paineis são racionalizados de maneira a utilizar o menor

O P T I M I Z A Ç Ã O P R O D U T I VA

I M G 4 5 : A imagem acima demonstra como o software desenvolvido foi essencial para

analisar e empreender todos os sistemas planejados de modo eficiente; da esquerda para a direita: optimização da incidência de luz solar, optimização das junções entre os painéis, dimensionamento uniforme dos painéis e racionalização das vidraças.

Pg. 90


numero possível de junções e

adapta conforme as mudanças

formatos,

de

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

sua

facilitando,

produção

e

assim,

luz,

tornando-se

montagem.

translúcido ou transparente a

O material utilizado em sua

partir de diferentes ângulos e

fachada norte permite que a luz

pontos de vista. À noite, fitas de

natural não reflexiva invada o

luz engrandecem o edifício para

espaço enquanto uma segunda

animar a forma inconstante do

camada de painéis diagonais

edifício.

nas extremidades sul, leste e oeste minimizam o ganho de

Outro

exemplo

calor e maximizem a eficiência

optimização

energética do edifício.

design

permitido

computacional

de pelo é

o

ressurgimento de envelopes e Não obstante, todo seu envelope

cascas estruturais. Embora este

de alto desempenho também se

seja um campo inerentemente

I M G 4 6 : Produção de formas livres pré-digitais desperdiçavam

Pg. 91

opaco,

grande parte do material utilizado para moldagem.


I M G 4 7 : Restaurante Los Manantiales,

1957, projeto de Félix Candela.

envelopes, conchas e cascas estruturais

autoportantes

sempre apresentaram inúmeras dificuldades

construtivas

e

projetuais.

(Block 2015)

De início, uma das razões vem da sua dificuldade em integrar necessidades

I M G 4 8 : Moldes desperdiçados ao final da construção.

de

programa:

edifícios de múltiplos níveis e

diferentes

complexidades

bem com uma única casca de forma livre. Mas talvez a principal razão venha do fato de que a construção destas estruturas sempre se apresentou histórico, com grandes exemplos

um

desde

metodologicamente.

as

catedrais

góticas

desafio,

fisicamente

e

até as mais recentes obras de Felix Candela e Eduardo

Isto

Toroja, apenas agora este tema

era

está

utilizados para a construção

sendo

suas

reintroduzido

técnicas

e

construtivas

pois,

durante

pré-digital

destas

os

tipologias

toda

a

métodos

O P T I M I Z A Ç Ã O P R O D U T I VA

geralmente não se articulam

envolviam

melhoradas através de novas

custos elevados, sendo, assim,

pesquisas envolvendo técnicas

consideradas estruturas pouco

computacionais.

efetivas dum ponto de vista financeiro. O principal motivo

Isto pois, embora sua estética

para os custos elevados se

ímpar

dava em razão de moldes e

de

tenha

ultrapassar

sido

capaz

séculos

e

diversas escolas estilísticas, os

outros materiais que acabavam desperdiçados

ao

final

da

Pg. 92


construção,

visto

que

eram

podem ousar ir muito além

peças customizadas para um

das tipologias matemáticas do

trabalho único e específico.

século XX, já que a tecnologia

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

digital atual permite formas Contudo, embora a construção

mais

de estruturas similares ainda

uma fluidez estrutural melhor

apresente

únicos,

posicionada e certificada através

agora, graças aos avanços em

de simulações que optimizam os

modelação

digital,

detalhes que mais precisarem

generativas

e

cargas

desafios

técnicas

simulação

estruturais,

de

naturais,

e

garantem

de reforço e atenção.

projetos

cada vez mais organicos e livres

Diversos exemplos promissores

impulsionam

neste

o

surgimento,

campo

têm

sido

também, de novas formas de

promovidos nos últimos anos

se produzir e montar. Logo, é

pelo Block Research Group,

esperado que nos próximos

do instituto de tecnologia em

anos,

arquitetura da ETH Zurich.

levantar

estruturas

similares ou até mais complexas poderá se tornar muito mais

Em 2016 o BRG produziu para a

prático e vantajoso do ponto de

Fábrica de Cultura, uma escola

vista estrutural, financeiro e

de artes em Barranquila, na

construtivo.

Colombia, uma cobertura de telhas

abobadada

para

um

Projetos e pesquisas hoje já

auditório através de um sistema

demonstram que, se pensadas

de

de maneira apropriada, conchas

desenvolvidas com o auxílio da

de concreto e outros materiais

programação.

analises

diagramáticas

rígidos podem ser capazes de cobrir grandes vãos a um custo

A

estrutura

foi

optimizada

mínimo de material.

para ser construída usando apenas materiais e mão de obra

Isto pois estas coberturas, agora,

Pg. 93

locais, além de suprir demandas


I M G 4 9 : Abóboda criada em 2016 pelo

BRG: Baixo custo, materiais e mão de obras locais e sem desperdício.

de isolamento acústico; tudo

De forma similar, outro projeto

dentro do limite orçamentário.

produzido pelo Block Research

Logo,

graças

ao

controle

armado, partiu dos mesmos

preciso das relações de força

princípios de baixo desperdício

e compressão definidos por

de

testes e diagramas, múltiplos

construtiva, enquanto também

critérios puderam ser atendidos

buscava

simultaneamente

durante

de eficiência energética para

o processo de concepção e

produzir a cobertura de uma

produção.

unidade de apartamentos do

materiais

e

solucionar

eficiência questões

campus de Empa-Eawag, na As telhas utilizadas eram peças de

alvenaria

sem

Suíça.

qualquer

reforço, unidas apenas com tijolo

O projeto tinha como finalidade,

e argamassa de assentamento

além de cobrir um vão, servir

rápido. Sem moldes descartáveis

também

de madeira, a construção foi

fachada, isolamento térmico e

planejada de forma a perder o

matriz geradora de energia a

mínimo possível de materiais,

partir da luz solar - com células

resultando

um

fotovoltaicas de alta eficiência

processo muito mais econômico

adicionadas na parte superior

e com menos desperdício.

da casca.

assim

O P T I M I Z A Ç Ã O P R O D U T I VA

Group, desta vez de concreto

em

como

estrutura,

Pg. 94


I M G 5 0 : NEST HiLo, projeto inclui noções de projeto e

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

produçao pós-digitais aliadas a eficiência energética.

O sistema utilizado no projeto conta com uma estrutura duplamente curvada, optimizada para a melhor performance que o concreto permite, possuindo assim uma espessura que varia entre 3 e 12 centímetros. Por conta dessa finura, sua área de superfície também funciona como radiador que, em conjunção com um sistema de aquecimento e resfriamento, ajuda a manter a temperatura ideal no ambiente interno. Do ponto de vista construtivo, graças aos precisos cálculos e simulações computacionais, a estrutura foi capaz de distribuir uniformemente o peso sobre toda sua superfície, de modo que o modelo digital se distinguiu da estrutura física em pouquíssimos milímetros, provando-se outra pesquisa bem sucedida para o grupo BRG. Para que isto ocorresse, o projeto foi produzido através de uma malha

Pg. 95


de aço superleve tracionada tridimensional e posteriormente coberta por um tecido sintético que serviria de base para as grelhas e o concreto. Cada etapa do projeto seguiu, assim, os valores obtidos pelas análises e diagramas computacionais garantindo precisão e menos riscos. “Os pesquisadores, trabalhando no âmbito do Block Research Group,

(Lynch 2017)

acreditam que o sistema desenvolvido para o projeto possa ser adotado rapidamente no setor de construção, pois permite um menor custo de material e uma estruturação menos invasiva - durante a concretagem da cobertura. A área abaixo permaneceu desobstruída, permitindo que o trabalho de interior anos, a equipe também desenvolveu uma técnica de pulverização exclusiva que permite que o concreto seja viscoso o suficiente para aderir às fôrmas

O P T I M I Z A Ç Ã O P R O D U T I VA

continuasse simultaneamente. Em um processo de pesquisa de quatro

I M G 5 1 : Produção utilizou cabos de aço, tecidos e

grelhas para dar forma e base ao concreto.

Pg. 96


I M G 5 2 : Estrutura planejada com scripts de computador. Sua espessura

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

varia entre 3 e 12 centímetros dependendo das cargas atuantes.

(Lynch 2017)

enquanto permanece líquido o suficiente para ser pulverizado através de um bocal.”

O prof. Block, coordenador do Block Research Group, ainda complementa: "Nós mostramos que é possível construir uma interessante estrutura de concha em concreto fino utilizando fôrmas leves e flexíveis,

Pg. 97


demonstrando estruturas de

dificuldade

complexas

concreto

ser

canteiro de obras daqui uma

que

extra:

possam

formadas

desperdiçar

de

mão-de-obra

qualificada,

sem

produção pouco

distante

de

qualquer realidade robótica ou

grandes

inteligência artificial.

quantidades de material para a construção"

No entanto, nem por isso Trabalhos

como

os

que

a

arquitetura

digital

foram produzidos pelo Block

programação

deverão

Research

abandonadas.

Nestes

Group

provam

e

a ser

casos

será ainda mais importante

pode,

das

que o arquiteto considere suas

convencionais,

limitações de construção no

inovações

momento de concepção para

principalmente,

que inclua no planejamento

agora,

ir

formas

além

produzindo reais

e,

demonstrando

que

design

formas

com restrições não significa

se

restringir o progresso.

tipologias

alternativas

trabalhar

estas

ao

de novas

redor

das

dificuldades. A parametria e a programação também podem ser utilizadas

Um bom exemplo de como

de

superar

forma

a

construção o

otimizar e

processo

a

acelerar construtivo

e

aprogramação

observada

encontradas

do

em

o

Brasil.

No

países como

entanto

é

dificuldades

sem abandonar a parametria

considerando as dificuldades subdesenvolvidos

estas

nos

grupo

pode

ser

trabalhos

Archi-Union,

de

Shangai. Em muitos de seus projetos

o

escritório

teve

necessário projetar sabendo

que contornar o fato de que

que arquiteturas que ousem

seria impossível para seus

se valer das novas tecnologias

construtores

digitais

encontrarão

O P T I M I Z A Ç Ã O P R O D U T I VA

que a engenharia estrutural

levantarem

no Pg. 98


I M G 5 3 : Réguas criadas pelos arquitetos ajudaram os construtores a entender o

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

conceito por trás do projeto e a levantar o muro de modo fiel ao planejado.

seus

projetos

parametricamente

assimilados em termos de tempo e custo utilizando apenas o raciocínio construtivo tradicional. Afim de resolver esta problemática os arquitetos pensaram em formas de garantir aos trabalhadores da obra métodos de medir e posicionar os tijolos que seriam empregados na tipologia planejada. Réguas de madeira customizadas para esta situação foram então geradas ainda durante o processo conceitual e então levados para o canteiro a fim de auxiliar os trabalhadores a entenderem o processo construtivo por trás do projeto.

Pg. 99


Assim, estas simples ferramentas criadas direcionadas para esta tarefa em específico foram capazes de garantir a fabricação de uma metodologia digital sem qualquer tecnologia ultra contemporânea. Philip Yuan, Diretor da Archi Union Architects afirmou em seu artigo “Parametricismo Regional”: “A ideia por trás dessa metodologia de fabricação digital de baixa

(Yuan 2016)

tecnologia é fazer a ponte entre a ideologia paramétrica avançada dos arquitetos e a experiência construtiva obsoleta dos construtores locais, e motivá-los a criar uma nova arquitetura performativa dentro O P T I M I Z A Ç Ã O P R O D U T I VA

do contexto regional.”

I M G 5 4 : Silk Wall, por Archi-

Union Architects, Shangai, 2011.

Pg. 100


C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

SIMULAÇÃO

desenvolvendo

capazes de se adaptar a cargas

A capacidade de simular os fenômenos físicos do mundo real em

computador

diversos e

impactaram

campos

científicos,

artísticos

incluindo

a

arquitetura e a engenharia. Essa ferramenta permite que engenheiros,

por

exemplo,

simulem as cargas atuantes em estruturas virtuais até que estas se rompam, conhecendo assim seus limites e melhor

Pg. 101

estruturas

específicas. A CCTV Tower construída em Beijing,

projetada

por

Rem

Koolhaas’s em conjunto com a firma de engenharia Arup, só foi possível de ser levantada graças a anos de simulações realizadas por computador, as quais foram responsáveis por atestar que a estrutura do prédio seria capaz de suportar, além de sua própria carga, também um eventual


I M G 5 5 : CCTV Tower, sua construção só foi possível devido a simulaçoes computacionais

que garantiram a segurança estrutural do edifício mesmo durante um terremoto.

Além disso a complexa forma do edifício requereu que fossem

(DesignBuildNetwork n.d.)

Tais

simulações

pela

Arup

realizadas

construídas as duas metades de

como

forma separadas até que a Arup,

cada um dos 40.000 elementos

em seguida, habilmente através

estruturais do edifício reagiria

de novas simulações, definisse

caso um terremoto de grande

exatamente qual seria a melhor

magnitude ocorresse, e a partir

parte do ano (final do outono)

dos resultados foi ajustando

e hora do dia (as cinco da

o

materiais

manhã) nas quais as condições

para que a construção fosse

ideais estariam presentas para

completamente

segura

conectar as duas metades.

a

do

design

testaram

ou

permanência

certificada.

os

e

SIMULAÇÃO

terremoto.

edifício Porém a simulação não serve apenas para calcular questões

Pg. 102


externas ao projeto, como o clima sazonal ou a incidência solar. Uma das questões levantadas recentemente por Achim Menges, Diretor do instituto de design computacional da Universidade de Stuttgart, uma das mais renomadas quanto ao pioneirismo digital em arquitetura, defende que as metodologias computacionais agora abrem portas para que os materiais ajam também como agentes C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

ativos do processo de design, e não meramente como recipientes da forma. Isto significa que arquitetos podem e devem agora empregar em seus projetos todas as mais profundas características do comportamento de cada material – como elasticidade, resistência, resiliência, forma, refletividade, etc. – a fim de ativa-los como agentes conceituais e projetuais exploratórios. Em outras palavras, o material não precisa agir mais como um passivo receptor de abordagens pré-estabelecidas, e, portanto, deve ser explorado afim de se descobrir novas formas e utilidades, completamente explorando suas capacidades e recursos para o design, considerando tanto os materiais já largamente utilizados quanto os que vem sendo descobertos pela indústria. Em seu artigo “Cultural material-computacional”, Menges explica que apesar da materialidade como fator projetual central não ser uma novidade exclusiva da revolução digital, esta provém agora uma nova perspectiva sobre as capacidades de atuação sob a materialidade. “É claro que o design específico de um material não é de forma alguma um pensamento extraordinário ou mesmo uma ideia nova. De fato, a maioria dos arquitetos provavelmente afirmaria tomar decisões de design diretamente ligadas à materialidade empregada. Mas a relação entre forma, espaço, estrutura e material ainda é Pg. 103

(Menges 2012)


travada pela hierarquia projetual e segue um conjunto estabelecido de regras preconcebidas. Supõe-se a cada material "prós e contras" correspondentes a uma ordem de entendimentos construtivos de “o que pode e não pode" e, no caso da verdade modernista passada aos materiais, um "deve e não deve", que carrega um forte tom moral que ainda ressoa em muitas escolas de arquitetura. Na maioria das vezes, essas convenções de projeto implícitas são expressas tipologicamente, aonde características materiais são pensadas de forma a cumprir um conjunto de tipologias construtivas, espaciais (Menges 2016,

ou estruturais.”

p. 78)

Esta diferença entre a materialidade modernista e pós-digital já pode ser percebida, por exemplo, na forma como projetos tem

buscado utilizar materiais milenares,

como

a

madeira e o tijolo, a fim de alcançar novas tipologias, com formas e estruturas

SIMULAÇÃO

"Arquitetos podem e devem agora empregar em seus projetos todas as mais profundas características do comportamento de cada material – como elasticidade, resistência, resiliência, forma, refletividade, etc. – a fim de ativalos como agentes conceituais e projetuais exploratórios."

contemporâneos

não convencionais. Através da funcionalidade organizacional

e

de

criação de padrões que a programação permite, estes

puderam

ser

utilizados de forma a criar novos

arranjos.

materiais

que

seguiram rígidas

Assim, sempre

tipologias

ganham

novas

roupagens e possibilidades construtivas. Pg. 104


I M G 5 6 : Sstudiomm explora neste projeto novas formas de

C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

utilizar o tijolo atravĂŠs de mĂŠtodos menos tradicionais.

Pg. 105


I M G 5 7 : Pavilhão Zern, a madeira aqui age como

o unico material de um envelope auto-portante.

SIMULAÇÃO

I M G 5 8 : Encaixes pré-planejados garantem que o projeto

seja realizado rapidamente e com menos materiais.

Pg. 106


C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

No entanto, a materialidade

Assim, o Pavilhão ICD/ITKE

da

refere

2010 foi projetado e construído

busca levar esta capacidade

de forma a investigar estes

de

comportamentos de material

qual

Menges

interpretar

se

os

materiais

ainda mais a frente. Aliando-

e

se às capacidades de cálculo

computacional

e

simulação

tipologia composta de finas

o

autor

por

computacional,

sugere

a

busca

de

simulação em

uma

pranchas de madeira.

novas

tipologias

que

incorporem

também

de

Durante a montagem, estas

forma ativa as características

pranchas de madeira foram

comportamentais

interlaçadas

de

cada

material no processo projetual.

em

diferentes

intervalos a fim de construir uma forma toroidal, unidas

Em uma de suas pesquisas

utilizando

apenas

realizada em 2010, por exemplo,

articuladas

que

Menges tomou como matriz

ao

projetual

as

capacidades

capacidades

elásticas

de

deformação,

e

propriedade

conhecida

material

junções permitem

exercer de

elasticidade

suas tensão

tal

como

planejadas.

embora largamente inexplorada das

Assim, envelope e estrutura são

principais razões para isto, ele

ao mesmo tempo criadas por

coloca, é que como apenas formas

elementos

pela

arquitetura;

uma

convencionais e estáticas podiam

ser

desenhadas

de forma precisa através das

metodologias

projetuais

antecessoras,

os

comportamentos

materiais,

sob

o

de

efeito

de cargas deformadoras, sempre explorados Pg. 107

capacidade

foram

pouco

morfologicamente IMG 59:

Desenho 3D demonstrando as conexoes entre duas pranchas paralelas


IMG 60:

Pavilhão ICD/ ITKE 2010 construído.

SIMULAÇÃO

I MG 61 :

Testes realizados para descobrir as propriedades elásticas da madeira utilizada no projeto.

Pg. 108


C A P. I I - N O V A S M E T O D O L O G I A S C O M P U T A C I O N A I S

IMG 62:

Braço robótico cortando as pranchas de madeira.

irregulares. Porém, é justamente esta irregularidade que garante ao pavilhão sua estabilidade uma vez finalizado. “No caso deste pavilhão, o material não é mais apenas um receptor passivo da forma predefinida, mas torna-se um gerador ativo do design.”

É notável ainda como os cálculos computacionais foram responsáveis por garantir que o resultado final se diferenciasse do objeto simulado digitalmente em apenas poucos milímetros, tamanha a eficiência do método. As simulações por computador e os cálculos paramétricos foram, portanto, parte essencial do projeto, não apenas para garantir a precisão estrutural do projeto, mas também porque a questão de comportamento material tornou as potencialidades digitais uma parte indivisível do processo conceitual.

Pg. 109

(Menges 2016, p. 79)


IMG 63:

Vista interna do projeto finalizado.

SIMULAÇÃO Pg. 110


CAPÍTULO III

BiomIMÉTICA como metodologia exploratória


Pg. 112


“Parece-me a coisa mais natural da vida, seguir um caminho evolutivo que carrega a lógica embutida dos princípios naturais de maneira a incrementar o arsenal de formas e ampliar a diversidade de nosso

C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

potencial criativo com beleza e lógica.”

A natureza é o resultado de trilhões de anos de evolução e adaptação. Os mais diversos e complexos sistemas encontrados no universo, desde a forma organizacional de uma colônia de bactérias até o movimento gravitacional de planetas e galáxias representam o mais puro equilíbrio que se pode alcançar nesta dimensão. Não a toa, desde os primórdios da arte e da tecnologia, buscou-se nestes exemplos que o mundo natural oferece encontrar respostas para os problemas mundanos do homem. Apesar de hoje, por conta da crueza dos prédios de concreto e dos carros manufaturados, estar-se a perder este elo de conexão com a natureza, aonde muitos já não se identificam como algo que originou-se desta, o ser humano sempre há de ser uma criação desta e também dependente desta para sobreviver. Logo, mesmo que se atravesse inúmeras revoluções digitais e tecnológicas é necessário que sempre se volte a natureza para encontrar respostas, lógicas, sistemas, e porque não algoritmos, que sejam capazes de ajudar a entender o meio do qual o homem veio e de que forma pode-se altera-lo a fim de se alcançar uma vida ainda mais equilibrada e harmoniosa. Ao contrario do que muitas das ideologias anti-digitais e antiindustriais profetizam, a tecnologia pode e deve ser usada de forma a ampliar a conexão da sociedade com a natureza. A parametria, a robótica, os meios de produção e automação das

Pg. 113

(Lovegrove 2016)


novas revoluções digitais, portanto, devem ser entendidas não como uma fuga do mundo natural, mas como uma oportunidade para resgatar muitos dos valores que deixou-se escapar durante os períodos de intensa industrialização e urbanização. A parametria e a programação trazem pela primeira vez na história da humanidade a oportunidade de replicar as lógicas do meio natural de forma fidedigna e eficiente. Isto pois, a humanidade sempre copiou as formas e adaptações da natureza, porém sempre de maneira puramente formal, subjetiva, superficial e que não

A parametria e a programação trazem pela primeira vez na história da humanidade a oportunidade de replicar as lógicas do meio natural de forma fidedigna e eficiente."

Agora, a

a

parametria,

programação

inteligência podem

e

a

artificial, reproduzir

sistemas

eficientes

baseados nos constantes progressos das ciências físicas,

biológicas,

geográficas,

e

tantas

outras que estudam o meio natural.

A L Ò G I C A D O M U N D O N AT U R A L

carregava seus valores mais intrínsecos de lógica e sistematização.

Os estudos e resultados gerados por estas ciências já podem ser observados sendo implementados em diversos protótipos e experimentos atualmente e, muitos teóricos e profissionais acreditam que, progrediremos cada vez mais para um futuro aonde o ambiente produzido pelo homem carregará gradativamente mais diretrizes organicistas e interconectadas. Não obstante, arquitetos sempre buscaram encontrar na natureza Pg. 114


exemplos e soluções que pudessem ser replicadas em seus projetos. Nomes como Antoni Gaudí e Norman Foster, se inspiraram no design da natureza para criar formas, pensar estruturas, desenvolver novos métodos e aprimorar a eficiência construtiva de maneira C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

geral. Formas, cores, texturas, organizações e padrões. Muitas coisas encontradas na natureza podem servir de inspiração para a arte e a engenharia. A inteligência e a beleza por trás destas podem carregar respostas para a solução de problemas complexos da sociedade contemporânea, indo desde soluções elegantes para a maneira como sustentar um telhado até as formas de se ventilar um espaço, canalizar a luz solar, entre outras coisas. Para tal, no entanto, é necessário que se aprenda a observar a natureza e extrair de seus detalhes as respostas que se precisa.

Identificando a linguagem da Natureza “Nenhum computador na Terra pode se igualar ao poder de processamento mesmo do sistema natural mais simples, sejam moléculas de água sobre uma rocha quente, um sistema enzimático rudimentar ou o movimento de folhas ao vento. O uso mais poderoso e desafiador do computador… é aprender como fazer uma organização simples (o computador) se tornar um modelo do que é intrínseco em uma organização mais complexa, na qual tudo se encontra infinitamente vinculado (o sistema natural ou real).”

Durante o processo de criação de um sistema algorítmico, um programador descreve um conjunto de regras e condições que dão forma e sentido ao que se almeja criar. De forma similar, em um

Pg. 115

(Kwinter 2011)


I M G 6 4 : PadrĂŁo

encontrado na superfĂ­cie de Corais.

I D E N T I F I C A N D O A L I N G U A G E M D A N AT U R E Z A

Pg. 116


I M G 6 5 : Calcareous

Phytoplankton (algas)

Pg. 117

C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A


processo de engenharia reversa, é possível notar como na natureza existem sistemas que, embora parte de variáveis infinitamente mais complexas e interligadas, também constituem uma forma de linguagem universal, aonde as leis da física, química e outras tantas ciências, definem as estruturas e organizações do micro ao macro. Logo, identificar no sistema natural os fatores de formação dos padrões e sistemas que transpareçam um processo generativo expansão do combo léxico do design programador do século XXI. Em seu artigo, “Formação de padrões na natureza: restrições físicas e características auto organizacionais”, Philip Ball examina alguns destes padrões encontrados nos sistemas naturais, explicando como eles são tipicamente formados através de interações locais entre muitos componentes – sugerindo uma forma de “computação física” geradora de sistemas auto-organizacionais, dos quais emergem estruturas e comportamentos. O autor explica que tamanha regularidade, que garante o corte preciso e organizado de cada elemento de um padrão, possui por vezes tamanha beleza e ordenação que não é de se espantar que nos tempos primordiais tenham sido utilizados como evidencias de uma mão divina, a qual haveria planejado e colocado cada peça individualmente em seu lugar.

I D E N T I F I C A N D O A L I N G U A G E M D A N AT U R E Z A

guiado pelas complexas leis do mundo real é fundamental para a

Cientistas de diversos ramos já demonstram hoje, porém, que não há a necessidade de um agente inteligente para que estas ocorram, e que padrões similares podem ser identificados tanto no mundo (Ball 2012)

orgânico quanto no inorgânico. Através das muitas interações entre componentes espontâneos, tais como reações químicas, choque de partículas, aglutinação de Pg. 118


moléculas, propagação de rachaduras, deposição material ou o simples soprar do vento, diversos matizes organizacionais surgem. O estudo de tais padrões compreende, assim, a pesquisa de sistemas C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

complexos, aonde os comportamentos emergentes e os objetos resultantes não podem ser deduzidos a partir da observação das propriedades individuais, visto que seu processo generativo pode ser percebido apenas quando observado como parte de todo um sistema que se auto organiza. Ball traça ainda uma relação entre muitos dos padrões da natureza e os sistemas humanos: “Tais regularidades não são apenas uma característica do mundo natural insensato ou instintivo, mas também podem ser encontradas em sistemas sociais humanos que aparentemente estão sujeitos aos caprichos do livre-arbítrio; por exemplo, nas ondas uniformemente espaçadas de congestionamento que podem aparecer no tráfego em movimento, ou nos ciclos quase-periódicos dos sistemas econômicos. Entender como a formação espontânea de padrões ocorre é, portanto, um esforço que une muitos campos diferentes da ciência, da zoologia à mecânica e da cinética química à sociologia. Muitos padrões na natureza têm um aspecto universal que não respeita as divisões tradicionais entre as ciências naturais, ou mesmo entre o mundo vivo e o não-vivo. Pelo contrário, os padrões naturais parecem vir de uma paleta relativamente limitada, mesmo em sistemas que parecem não ter nada em comum um com o outro.”

Logo, a resposta para os enigmas que permeiam os padrões se encontra na compreensão dos processos que o levaram a ocorrer. Isso é menos óbvio do a sentença pode sugerir: visto que tendemos a compreender uma ponte, um campo de arroz ou um microchip pela sua aparência, e não pelo seu processo construtivo. Pg. 119

(Ball 2012)


I M G 6 6 : Fungi

(Ball 2012)

Pg. 120


I M G 6 7 : Padrões de dunas de areia. Por trás do

C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

desenho, existe todo um processo generativo.

Por exemplo, o que as formas de dunas de areia podem nos contar sobre seu processo generativo? É presumível que assim que qualquer pequena protuberância cresça na superfície plana do deserto, esta aja de forma a bloquear o vento e com ele também os grãos que ele arrasta, assim crescendo. E quanto maior essa protuberância fica, mais grãos ela passa a capturar. Ao mesmo tempo, isso significa que o vento precisará de um mínimo de espaço a fim de superar esta barreira criada; Mas logo que esta barreira é superada, o processo se repete e outra duna surge. Em um conjunto de dunas, portanto, haverá padrões de distância, altura e outras características que estarão atreladas às condicionantes locais, como o vento e a escala dos grãos de areia. Daí a importância de notar que este sistema não é apenas aquilo que se observa superficialmente - e que todo seu processo generativo

Pg. 121


deve ser levado em conta afim de se compreender a complexidade e o processo organizacional por trás de padrões. A compreensão mínima de cada um destes sistemas pode nos levar, assim, a entender como muitos outros acontecem. Será que a formação das camadas celulares de um fungo também não se dá por processos minimamente semelhantes num nível bioquímico de interação? Ou seria a aparência similar uma ilusão? “Apesar das aspirações pelo contrário – Não há nenhuma teoria universal a respeito da formação de padrões na natureza. No entanto, tem sido possível identificar muitos princípios comuns, como a universalidade de certas formas básicas (hexágonos, listras, ramos hierárquicos, formas fractais, espirais).”

De forma geral, estes padrões auto organizacionais podem ser entendidos como uma forma de

processo

programático

computacional

executado

pelas

entre

interações

as

partes. Deste modo, designers e arquitetos podem almejar encontrar nestes muitas das respostas e soluções para seus

I D E N T I F I C A N D O A L I N G U A G E M D A N AT U R E Z A

(Ball 2012)

projetos e sistemas virtuais.

I M G 6 8 : Padrões

encontrados em fungos. Seria seu processo generativo similar ao que ocasiona as dunas do deserto?

Pg. 122


HOMEOSTASE ARQUITETÔNICA C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

Na história recente da humanidade, uma das maiores contribuições da biologia a fim de explicar a origem da vida e a maneira que os sistemas naturais surgem foi realizada por Darwin e sua teoria da evolução. As ideias de Darwin pressupõem que a natureza é inerentemente eficiente em seu uso de materiais e energia, além de engenhosa e elegante na apresentação de suas soluções. Isto pois estaria num constante processo de refino do seu “design” através de repetitiva seleção natural, variação e mutação. As ideias de Darwin hoje certamente influenciam a arquitetura biomimética e a forma como os arquitetos tendem a enxergar natureza, porém, para T. Scott Turner há poucas evidencias de que o design dos seres vivos tenha se dado realmente desta maneira. O biólogo, em contramão, olha para as ideias de um outro contemporâneo francês de Darwin, Claude Bernard, e sua teoria da homeostase, aonde é proposto que os sistemas vivos tenham convergido para um design eficaz muito mais rápido e de forma mais previsível do que um simples regime de seleção natural imporia. Um dos exemplos utilizados por ele para justificar este argumento é a maquinaria envolvida na manutenção de ossos. O biólogo atenta para o fato inquestionável de que os ossos são estruturas muito bem desenhadas, capaz de suportarem tanto cargas estáticas quanto dinâmicas, e o fazem frequentemente sob condições imprevisíveis de maneira eficiente.

Pg. 123

(Turner 2012)


Ossos precisam permitir a locomoção, transmitindo eficientemente o trabalho dos músculos para o ambiente externo, impulsionando animais em movimento, parando-os ou rotacionando em frações de segundo. Se um engenheiro fosse chamado a propor um design de estrutura óssea similar, é difícil acreditar que ele poderia propor algo melhor do que a natureza já entregou. Os longos ossos das pernas e dos braços, por exemplo, são ocos como algumas vigas, e distribuem os materiais para sustentar carga apenas onde estritamente necessário. Desta forma, tecidos minerais se distribuem, com a mesma elegância que os ornamentos que elevou a complexidade dos seres vivos de forma única. Mas como os ossos adquiriram esse incrível design? Isso se deve ao efeito da Homeostase, segundo Turner. Ele explica que os ossos são estruturas vivas, dinâmicas e povoadas por células diversas, que trabalham continuamente no seu remodelamento. Por um lado, há os osteoclastos, pequenos tratores de demolição que removem minúsculas quantidades de fosfato de cálcio, e retornaos a corrente sanguínea; Do outro, há os osteócitos, que retiram do sangue cálcio e fosfato na intenção de aumentar a rigidez dos

H O M E O S TA S E A R Q U I T E T Ô N I C A

de antigas catedrais góticas, para compor uma estrutura do corpo

tecidos ósseos, como uma argamassa. O biólogo argumenta que esta funcionalidade dos ossos é, portanto, uma constante competição, aonde os Osteoclastos estão a remover parte dos ossos enquanto os Osteócitos reconstroem. Se os Osteócitos prevalecem isso significa que os ossos ficam maiores e mais duros, se os esteoclastos, no entanto, superam na corrida, os ossos ficam mais afinados e flexíveis. Tudo ocorre de forma automatizada, através de sinais identificados, por estar células, na corrente sanguínea.

Pg. 124


É justamente esta constante disputa entre as duas células que mantém os ossos em sua condição mais eficiente, uma vez que, através dos monitoramentos destas células, o ponto perfeito de maturação é garantido, mesmo nas mais diversas situações a qual C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

um osso pode ser exposto. Logo, não é isoladamente a especificação genética, ocasionado pela mutação acidental, tal como propõe Darwin, que é responsável pelo excelente design dos ossos, mas sim o perfeito equilíbrio e a manutenção constante, permitido pelo efeito da Homeostase, que possibilita isto ocorrer. Em um senso mais profundo, os ossos possuem um bom design porque eles querem ter um bom design, eles agem de forma a buscar esse ponto de eficiência. Eles percebem por si só quando há problemas e tomam medidas para solucionar eventuais complicações. A teoria da Homeostase, no

entanto,

contradiz

parte do que sugerem as o

ideias

Darwinistas:

mecanismo

descrito

por Bernard traz mais

"Os ossos possuem um bom design porque eles querem ter um bom design"

dúvidas do que respostas, pois reintroduz motivações, desejos e intenção na forma como a natureza se organiza, possibilidade que já havia sido descartada com o Lamarckismo. No entanto, uma vez compreendido o funcionamento da Homeostase, é difícil não notar sua presença em muitos outros processos, como o design do sistema de fluxo e pressão sanguínea, no sistema digestivo e respiratório e até mesmo nas origens da cognição e da consciência. Embora para a Biologia esta teoria apresente novas questões e problemáticas, para o arquiteto, a homeostase pode representar

Pg. 125

(Turner 2012)


uma nova maneira de compreender o mundo dos vivos, visto que estes de forma análoga também buscam realizar projetos aonde se mantém a equidade e a uniformidade, mesmo quando fatores ambientais não se mostram favoráveis. Há certamente muitas maneiras de fazer isso, mas a ideia que a Homeostase traz agora é de que as estruturas vivas fazem isso através da manutenção, aonde elementos reguladores buscam sempre pelo ponto ideal de maturação. Logo, se unirmos a ideia da Homeostase junto as capacidades da designs que se valham das mesmas ideias de manutenção e intenção não só no momento de concepção, mas também durante o período de vida de um projeto. Na verdade, diversos sistemas semelhantes sempre existiram, através de arquiteturas vernaculares que pensavam na atuação passiva do projeto para a manutenção dos ventos, da insolação, da acústica, da coleta da chuva e outras mais possibilidades. A grande novidade talvez seja a possibilidade de realizar este

H O M E O S TA S E A R Q U I T E T Ô N I C A

programação e da parametria, é possível imaginar a criação de

controle através de um processo arquitetônico ativo já que, através de novas tecnologias, seria possível desenvolver sistemas inteligentes que integram edifícios e suas partes a fim de promover uma manuteção ainda mais precisa, automatizada, responsiva e interligada com o todo. Na verdade, essa ideia já pode ser percebida no que tem sido chamada nos últimos anos "arquitetura cinética", que possui este nome devido a sua capacidade de incorporar o tempo como parte do projeto.

Pg. 126


Logo, o grande diferencial deste tipo de arquitetura é que ela não está mais atrelada a um único quadro, se tornando, assim, um projeto temporal, capaz de identificar a necessidade de adaptação

C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

conforme o momento. Um dos recentes e mais famosos exemplos casos deste novo tipo de arquitetura é a Al Bahar Tower, do icônico grupo Aedas Architects. Para enfrentar um clima extremo, que pode chegar aos 40 graus do deserto, diariamente, o projeto precisa suportar, também, os extremos ventos de areia e as probabilidades de chuva próximas de zero. Assim, buscou-se na eficiência da arquitetura

IMG 69:

Desenho dos brises paramétricos, demonstrando sua capacidade de abrir conforme a necessidade.

performática, que se adapta durante o tempo, alcançar uma solução que mantenha o ambiente interno confortável independentemente das condições externas. Toda a fachada em seus 145 metros de altura, contém um sistema de sombreamento, desenvolvido parametricamente e automatizado por um sistema eletrônico, que age como uma cortina que se abre e fecha conforme os raios de sol incidem sobre a superfície. “Estima-se que a tela reduza os raios solares em mais de 50 por

Pg. 127


I M G 7 0 : Al Bahar Tower, concluída em 2012 e projetada pelo grupo Aedas Architects. Sua

fachada monitora a incidência solar e controla a abertura de sua "cortina" paramétrica.

H O M E O S TA S E A R Q U I T E T Ô N I C A

I M G 7 1 : Vista interna.

Pg. 128


cento e também a necessidade do uso de ar condicionado. Além disso, a sua capacidade de filtrar a luz tem permitido aos arquitetos serem mais seletivos na escolha do vidro. "Isso nos permite usar de forma mais natural um vidro fumê, que permite uma entrada maior C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

de luz no interior e diminui necessidade de luz artificial. Trata-se de utilizar uma técnica antiga de uma maneira moderna, que também responde à aspiração do emirado de assumir um papel de liderança no campo da sustentabilidade ", diz Peter Oborn de Aedas. As Torres foram premiadas com o Prêmio Tall Building Innovation 2012 da CTBUH, Council on Tall Buildings and Urban Habitat Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano. "A fachada das torres Al Bahar, controladas por computador para responder às condições ideais solares e de luz, nunca foi alcançada nesta escala antes. Além disso, a expressão dessa pele exterior parece enraizar firmemente o edifício em seu contexto cultural”, explicou Chris Wilkinson, da Wilkinson Eyre Architects, um dos jurados da Premiação.”

Novas metodologias PRECISAM DE novos materiais A produção em massa, fruto da revolução industrial, trouxe consigo uma sociedade que não mais desacelera sua linha de montagem e que se mantém em constante e acelerado crescimento urbano. Uma das consequências mais evidentes desta era terá sido o consumo das matérias-primas de forma descontrolada e o esgotamento dos recursos não renováveis. Por conta disto, vive-se hoje sob o alerta da necessidade de se buscar alternativas menos agressivas ao meio ambiente. Cientistas

Pg. 129

(Franco 2013)


e pesquisadores preocupados com estas questões apostam em soluções assentadas na produção através de recursos renováveis e biodegradáveis. Sendo a indústria construtiva uma das que mais poluem hoje, é fundamental que esta tome frente, também, estando atenta, experimentando e aplicando parte das soluções materiais que se provarem promissoras. Em seu TED “Design na intersecção entre tecnologia e biologia” a designer e arquiteta Neri Oxman expõe a busca na qual está com o mundo biológico. Trabalhando na interseção entre projeto computacional, manufatura aditiva, engenharia de materiais e biologia sintética, seu laboratório é pioneiro de uma nova era de simbiose entre micro-organismos, nossos corpos, nossos produtos e até mesmo nossos edifícios. Ela inicia seu discurso atentando para o fato de que os materiais orgânicos não precisam de juntas, parafusos ou separações. (Oxman 2015)

“Veja a pele humana, por exemplo. Nossas peles faciais são finas

H O M E O S TA S E A R Q U I T E T Ô N I C A

liderando por tecnologias de fabricação digital que interajam

com grandes poros. Já a pele das costas é mais espessa, com poros pequenos. Uma atua em especial como filtro, a outra, em especial como barreira, e ainda é a mesma pele: sem partes, sem montagens. É um sistema que, gradualmente, varia a sua funcionalidade variando a elasticidade.”

Certamente, uma colocação que se alinha muito com as ideias de customização em massa, e a criação de estruturas e camadas paramétricas e adaptativas. “A sua superfície, como na natureza, varia a sua funcionalidade não Pg. 130


pela adição de um outro material ou outra montagem, mas contínua e delicadamente variando a propriedade do material.”

Oxman desenvolve a partir deste exemplo as possibilidades de se C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

utilizar materiais que partam da mesma elegância e inteligência,

Pg. 131

sendo ainda naturais, biodegradáveis, adaptativos e orgânicos. Como exemplo, ela cita a Quitina, um polímero que seria produzido abundantemente por camarões, caranguejos, escorpiões, borboletas e outros organismos; e explica com foi utilizada em sua pesquisa: “Solicitamos muitas cascas de camarões, trituramos e produzimos pasta de Quitosana. Variando as concentrações químicas, fomos capazes de alcançar uma grande variedade de propriedades, do escuro, duro e opaco, até o leve, suave e transparente. A fim de imprimir estruturas em larga escala, construímos um sistema robótico

I M G 7 2 : Material

a base de Quitina, desenvolvido por Oxman e sua equipe.


de extrusão com múltiplos bicos e o robô varia estas propriedades dos materiais em tempo real enquanto desenha estruturas de

4 metros de comprimento feitas de um único material, 100% reciclável. Quando as partes estão prontas, são deixadas para secar e estas alcançam uma forma natural ao entrar em contato com o ar. Então, por que ainda estamos projetando com plásticos?

N O VA S M E T O D O L O G I A S T R A Z E M C O N S I G O N O V O S M AT E R I A I S

IMG 73:

Material pode ser utilizado para criar estruturas que variam do mais duro ao flexível apenas variando a concentração de pigmento.

[...] ao trabalhar com um material antigo, uma das primeiras formas de vida no planeta, utilizando apenas água e um pouco de biologia sintética, fomos capazes de transformar uma estrutura feita de cascas de camarão em uma arquitetura com propriedades similares a de uma árvore. E aqui está a melhor parte: são objetos projetados Pg. 132


C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

para ser biodegradáveis, coloque-os no mar, e eles vão nutrir a vida marinha; coloqueos no solo, e eles vão ajudar a crescer uma

I M G 7 4 : Sacolas feitas de

um material biodegradável a base de água. "Então, porque ainda projetamos com plástico?"

árvore.”

Através deste exemplo, a pesquisadora deixa evidente como a substituição dos materiais utilizados pela indústria hoje, por outros que sejam mais interessantes do ponto de vista sustentável e ecológico, são economicamente possíveis através da tecnologia e da inovação. Eventos como este trazem para o primeiro plano, novamente, a necessidade de que arquitetos, designers e engenheiros procurem descobrir e direcionar-se às inovações acontecendo em todos os campos da concepção, criação, fabricação e construção, visto que, muitas progridem de forma conjunta e correlativa.

Pg. 133


As estruturas experimentais alcançadas com este material a base de Quitina, por exemplo, ocorreram, pois, a robótica e a programação foram compreendidas como ferramentas válidas, exploradas em suas potencialidades de forma inteligente, ajudando, assim, que e

matematicamente

adaptativos

fossem alcançados. Em dias de um futuro próximo, este

e

muitos

outros

materiais

biodegradáveis, frutos de operações

químicas e biológicas que fazem parte de uma natureza em equilíbrio, poderão ser parte integral das nossas roupas, casas, cidades e objetos. Neri Oxman adverte, porém, para o fato de que na natureza o material não é impresso ou construído. Ele cresce, como parte da vida. Assim, por mais que impressoras 3D e braços robóticos possam ser vistos como promissoros meios de ampliar nossos métodos construtivos neste século, a pesquisadora já sugere que estejamos predispostos a caminhar em direção a um futuro aonde os materiais cresçam tal como na natureza, o que ela chama de “ecologia material”: “Para fazer isso, precisamos sempre voltar até a natureza. Hoje, você sabe que uma impressora 3D imprime material em camadas. Você também sabe que a natureza não constrói. Cresce. Acrescenta com sofisticação. O bicho da seda, por exemplo, cria uma arquitetura altamente sofisticada, uma casa para se metamorfosear. Nenhuma

N O VA S M E T O D O L O G I A S T R A Z E M C O N S I G O N O V O S M AT E R I A I S

"Então porque ainda estamos projetando com plásticos?"

resultados mais precisos, uniformes

outra fabricação, hoje em dia, chega perto desse nível de sofisticação. E faz isso por combinar não só dois materiais, mas duas proteínas em diferentes concentrações. Uma atua como a estrutura, a outra é a cola, ou a matriz, que mantém as fibras juntas.”

Pg. 134


C A P. I I I - B I O M I M É T I C A C O M O M E T O D O L O G I A E X P L O R A T Ó R I A

Assim, Oxman utiliza o bicho da seda para explicar como se poderia “crescer” material ao invés de fabrica-lo industrialmente: sua equipe produziu um enorme pavilhão de teia sintética aonde

6500

larvas

foram

cuidadosamente

I M G 7 5 : Bichos-

da-seda sendo posicionados no cásulo gigante projetado para uma produção mais ecológica.

alocadas afim de que produzissem seus casulos ao redor desta. Ao final de 3 semanas, 6500 quilômetros de fios de seda haviam sido produzidos. Assim, ela discute em mais detalhe: “Bichos-da-seda são muitas vezes cozidos até a morte dentro de seus casulos, sua seda desvendada e usada na indústria têxtil. Percebemos que projetar um modelo maior nos permitia dar forma ao casulo, e extrair esta seda de maneira crua sem ferver um único casulo.

Pg. 135


Então, ampliamos esse processo até a escala arquitetônica. Tivemos um robô girando o modelo computadorizado do casulo de seda e o colocando sob a estrutura. Sabíamos que os bichos-da-seda migrariam para áreas mais escuras e mais frias, por isso usamos um diagrama de caminho solar para revelar a distribuição de luz e que travam os raios de luz e calor, distribuindo esses bichos-da-seda na estrutura de maneira uniforme.”

A nova mentalidade, de respeito a natureza e crescimento de matéria ao invés de produção, pode ser sentida aqui na forma como as larvas foram consideradas parte importante do processo. Enquanto em outras linhas de produção esta seria morta por cozimento, aqui nenhuma é perdida, e ainda deixam de herança outros 1.5 milhões de ovos, que poderiam ser utilizados para repetir o mesmo procedimento em outros 250 pavilhões. “Se a fronteira final do design é dar vida aos produtos e aos prédios ao nosso redor, para formar objetos a partir de materiais ecológicos, os projetistas precisam unir essas duas visões de mundo. O que nos traz de volta, é claro, ao começo. Aqui está uma nova era do design, uma nova era da criação, que nos leva de um design inspirado na natureza, a uma natureza inspirada no design, e isso exige de nós pela primeira vez que sejamos a própria mãe natureza.”

N O VA S M E T O D O L O G I A S T R A Z E M C O N S I G O N O V O S M AT E R I A I S

calor em nossa estrutura. Em seguida, criamos orifícios ou aberturas

Pg. 136


EXERCÍCIO PROJETUAL

ESTAÇÃO DE METRÔ NO LARGO DO TABoÃO


Pg. 138


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

O LOCAL DE PROJETO

I M G 7 6 : Largo do Taboão, Zona Sul de São Paulo.

Pg. 139


O local escolhido para este trabalho fica na zona sul de São Paulo, na região entre Taboão da Serra e Campo Limpo. Atualmente o terreno contém um grande hipermercado Extra estendido por um estacionamento de carros. Dentre as principais demandas urbanísticas da região, a principal está na questão viária e de transportes. No limite de São Paulo, Campo Limpo lida diariamente com as dificuldades de ser um bairro dormitório e consequentemente vê boa parcela de sua população transitar para o trabalho nos horários de pico. Deste modo não é incomum à região, que conta com poucas opções dificuldades decorrentes da dependência excessivo do automóvel. O terreno do atual hipermercado e seu estacionamento impermeável asfaltam uma região de vale criando assim também um problema de fluidez e absorção das águas. Não surpreendentemente, em um raio menor que 5km é possível identificar dois piscinões, construídos com a intenção de mitigar os intensos alagamentos que a região recebe

O LOCAL DE PROJETO

de transporte público, problemas de congestionamento e outras

em épocas de muita chuva. Assim, o terreno do atual hipermercado representa

não

apenas

um

local

estratégico do ponto de vista viário e de

planejamento

macrorregional

de

transportes, mas também um espaço que pede urgente equilíbrio entre suas demandas urbanísticas, paisagísticas e arquitetônicas. O local inclusive já vinha sendo cogitado I M G 7 7 : Estacionamento asfaltado do hipermercado.

Pg. 140


para receber uma estação de metrô, numa possível expansão da atual linha amarela, mas devido aos atrasos na construção de outras

E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

estações, mais próximas do centro da cidade, a ideia foi postergada. Atualmente, a provável estação de metrô se encontra oficialmente na fase de projeto executivo e até a finalização deste trabalhou não houveram outras notícias. Assim, este projeto se apresenta como uma alternativa que busca encontrar em todas as dificuldades da região uma solução que produza um efeito de integração entre o micro e o macrorregional, sem ignorar a necessidade de aliviar as tensões de fruição, microclima e drenagem do entorno.

IMPLANTAÇÃo REGIONAL O projeto conta com a necessidade de remaneamento de algumas das principais vias acopladas ao terreno, realizadas com a intenção de produzir um fluxo viário mais inteligente e que permita espaço também ao pedestre e ao transporte público. Toda a área anteriormente asfaltada é substituida por um parque que busca trazer um pequeno respiro de lazer e tranquilidade á uma área que demanda intensa fruição e o constante transitar. Assim toda uma infraestrutura de rampas e calçadões foram criados afim de interligar os principais pontos de entrada e saída de pedestres, de modo a criar caminhos que levam a todos os pontos mais relevantes do projeto enquanto também oferece pequenos pontos de convite a estadia.

Pg. 141


I M P L A N TA Ç Ã O R E G I O N A L

I M G 7 8 : As vias mais próximas do terreno foram repensadas de forma a garantir um fluxo mais inteligente e que garanta mais espaço ao pedestre e ao transporte público.

Pg. 142


Paradas de ônibus internas ao terreno foram criadas para permitir que o processo de embarque

E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

e desembarque seja realizado com mais comforto e menos impacto no trânsito da região. As rampas acessíveis foram planejadas de modo a separar o transito de pedestres que estão apenas transitando entre modais daqueles que utilizam o parque para finalidades esportivas e de lazer. Um núcleo contendo uma rampa circular e um extenso campo gramado foram também criados com a intenção de separar as áreas de transito de um pequeno oasis lúdico para aqueles que desejarem parar por ali. Assim o parque busca unificar em um unico espaço concentrado usos que surpassam as necessidades mais urgentes de transito e abrange também aspectos que envolvem a qualidade de vida dos moradores da região.

Pg. 143


I M P L A N TA Ç Ã O R E G I O N A L

I M G 7 9 : Principais

equipamentos do projeto.

Pg. 144


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

O PARQUE

Pg. 145


O PA R Q U E - PA R A DA D E Ô N I B U S A

I M G 8 0 : Paradas de ônibus integradas ao parque garantem maior

maior comforto a quem usa o transporte público e permitem que o desembarque seja realizado com menos impacto no trânsito viário.

Pg. 146


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O Pg. 147

IMG 81: O parque busca integrar os diferentes modais de transporte público com as demandas locais de microclima e fruição.


O PA R Q U E - PA R A DA D E Ô N I B U S B

Pg. 148


I M G 8 2 : Mobiliários buscam

criar pontos de descanso e microclima entre transeuntes.

Pg. 149

E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O


O PA R Q U E - M O B I L I Á R I O

Pg. 150


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

DIAGRAMAS CONCEITUAIS

Pg. 151

Em ordem para executar a segunda parte projetual deste trabalho fez-se necessário ampliar as perspectivas sobre as possibilidades da programação e da parametria. Os diagramas conceituais expostos ao lado representam parte dos resultados alcançados com as primeiras tentativas de entender a ferramenta. Os desenhos na devida ordem representam a subdivisão e os efeitos obtidos através da manipulação de dados.


I M G 8 3 : Diagramas demonstram parte do processo utilizado para modelagem de diversas partes do projeto realizadas através da programação.

D i AG R A M AS I N I C I A I S - D E SV E N DA N D O A P R O G R A M AÇ ÃO

Embora esta forma específica não tenha sido utiizada no projeto final, foi o melhor resultado dos testes iniciais à servir de sustentação para o entendimento e criação de outras partes posteriores do trabalho.

Pg. 152


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

MEMBRANA ARQUITETÔNICA

O projeto da estação foi realizado através da ideia de membrana arquitetônica. Em oposição a paredes e tetos, pensar o projeto por membranas aliadas ao desenho paramétrico significa trazer a ideia de organismo vivo para a arquitetura, que também é dotada de necessidades de luz, respiro e passagem, assim, podendo ser também suprida através de uma única e contínua superfície inteligente.

Pg. 153


I M G 8 4 : Entrada Sul da estação. Toda a Membrana que separa

interior e exterior foi criada através de cálculos paramétricos.

MEMBRANA ARQUITETÔNICA

Logo, tem-se um desenho que é menos ortogonal e mais direcionado as necessidade de uso e sobrevivência no decorrer de sua vida, resultando também em um visual mais unificado e integrado entre cada parte.

Pg. 154


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O Pg. 155

I M G 8 5 : Detalhes da membrana principal. Foram necessários processos

de programação para todas as peças da imagem. O processo paramétrico empregado também garante que modificações em massa sejam mais simples de realizar e multilplos resultados similares sejam gerados.


MEMBRANA ARQUITETÔNICA

Pg. 156


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

A ESTAÇÃO

Pg. 157


E S TA Ç Ã O - P I S O T É R R E O

I M G 8 6 : Vista do piso térreo da estação. Buscou-se a utilização

de abundante vegetação para a criação de microclimas internos.

Pg. 158


Pg. 159

E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O


E S TA Ç Ã O - C O R T E A

I M G 8 7 : Corte A,

em perspectiva.

Pg. 160


Pg. 161

E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O


I M G 8 8 : Iso das

plantas de piso sobrepostas.

E S TA Ç Ăƒ O - P L A N TA S D E P I S O S Pg. 162


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

CIRCULAÇÃO

Pg. 163


I M G 8 9 : Corte B,

em perspectiva.

E S TA Ç Ã O - C O R T E B Pg. 164


Pg. 165

E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O


E S TA Ç Ăƒ O - P I S O D E E M B A R Q E

I M G 9 0 : Vista do nucleo central do piso de

embarque, aonde se concentram escadas.

Pg. 166


E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O

I M G 9 1 : Vista da área de embarque e das abóbodas geradas

paramétricamente. Iluminação ideal também pode ser resutado do processo.

Pg. 167


Pg. 168


Pg. 169

E X E R C Í C I O P R O J E T U A L - E S TA Ç Ã O D E M E T R Ô N O L A R G O D O TA B O Ã O


E S TA Ç Ã O - Á R E A D E E M B A R Q U E

I M G 9 2 : Vista da área de embarque: buscou-se manter parte da

linguagem pertencente as estações de metro da linha amarela.

Pg. 170


CONCLUSÃO Antes de iniciar este trabalho eu já possuía conhecimento parcial a respeito das capacidades que os novos softwares e as novas tecnologias possuem para melhorar não só a produção de conteúdo, mas também de fornecer novas linguagens para a arte no geral. No entanto, é com a finalização deste trabalho, agora, que me fica mais evidente que tais modificações na forma de pensar, conceituar, projetar, modelar, organizar e modificar se darão de forma cada vez mais intensa em nosso cotidiano.

CONCLUSÃO

Isso significa que com o caminhar da sociedade em direção a um futuro aonde a tecnologia estará em todos os lugares, junto de uma internet das coisas que permitirá uma fluidez de dados gigantesca, o manipular do espaço que arquitetos e urbanistas pensam terá que transitar também por lugares abstratos como data centers e linhas de código, visto que nosso meio físico tenderá a ser cada vez mais modificado pelo virtual. Do ponto de vista exclusivamente arquitetônico, a parametria e a programação, além de uma possibilidade estética agradável e eficiente, se provaram também um caminho viável para incluir na produção e conceptualização da arquitetura uma maior qualidade científica e concreta de resultados. Considerando que a um ano atrás eu não possuía qualquer conhecimento de programação, este trabalho contribuiu para me apresentar novas possibilidades de se projetar, as quais eu nunca havia sido exposto durante meu período universitário. Assim, numa futura carreira profissional, me parece promissora

Pg. 171


a ideia de perseguir outras formas de utilizar estas ferramentas e possibilidades para encontrar resultados ainda mais inteligentes, eficientes e que propiciem resultados nunca antes vistos em função de complexidade e produtividade. Portanto, termino este trabalho com a sensação de que comecei apenas a arranhar toda uma nova forma de pensar o projeto, que não se limita num simples acelerar do processo de desenho, mas que certamente desafia todas as concepções e limitações antecessoras. Certamente há muito o que aprender ainda, porém o contato inicial com a programação foi fundamental para descobrir todo um novo horizonte de possibilidades. Assim, acredito firmemente que uma nova revolução se dará por toda Como arquiteto, esta ideia, de uma sociedade tão interconectada e veloz no processamento de informação, me traz empolgação e medo simultaneamente, visto que, ao caminharmos para um futuro assim, se dará a possibilidade destas tecnologias serem utilizadas

CONCLUSÃO

sociedade quando tamanha automação se tornar predominante.

tanto para o bem quanto para o mal, a depender de nas mãos de quem este poder se concentrar, afinal, certamente criar e manipular de forma tão fácil quantidades massivas de informação poderá resultar em sociedades grandiosas ou distópicas. Logo, desejo que cada vez mais profissionais que se dedicam ao planejamento do ambiente urbano se interessem também minimamente pela programação e pela linguagem das coisas, afim de compreender estas ferramentas e criar demonstrações benéficas de seu uso e evitando, assim, que forças que não possuem tanto interesse no bem comum planejem o espaço do futuro pela simples ausência de profissionais que pensassem nos dados e informações virtuais também como força transformadora do ambiente físico.

Pg. 172


AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Celso e Leia, sem os quais esse trabalho jamais teria acontecido. Devo toda minha formação aos sacrifícios que ambos fizeram para que eu estudasse sempre. Agradeço também aos meus orientadores Sidney Tamai e Dorival Rossi, ambos ótimos professores. Agradeço em especial pela liberdade e confiança creditada na produção deste trabalho, permitindo que a criatividade se mantivesse sempre a frente de

AGRADECIMENTOS

burocracias e outras condições menores. Agradeço ao Ciência Sem Fronteiras, pela oportunidade de intercambio que realizei para a Australia. Foi certamente uma experiencia que mudou minha vida e espero um dia poder retribuir ao Brasil. Agradeço a Unesp e ao Ensino Público que tive aqui. Acredito que serei sempre um crítico quanto as questões internas do curso e da faculdade, visto que os problemas ainda são muitos, mas ainda sim acreditando que um ensino público, para todos e de qualidade seja possível. Agradeço a minha namorada que se manteve ao meu lado durante todo o percurso desse trabalho, e a todos os meus amigos que mesmo que indiretamente tenham contruibuido para a finalização deste. A todos muito obrigado.

Pg. 173


AGRADECIMENTOS

Pg. 174


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