Escudo-marca: O futebol francês na pós-modernidade

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HENRIQUE DA ROZA PETER

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Escudo-marca O futebol francês na pós-modernidade

HENRIQUE DA ROZA PETER

HENRIQUE DA ROZA PETER ORIENTADORA

Profª Drª. Roberta Coelho Barros

PELOTAS, 2014


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Design Gráfico da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Design Gráfico.

BANCA EXAMINADORA Profª M.ª Ana da Rosa Bandeira Prof. M.e Guilherme Carvalho da Rosa Prof. Dr.ª Lúcia Bergamaschi da Costa Weymar Prof. Dr.ª Roberta Coelho Barros (orientadora)


DEDICADO A TODOS QUE ENXERGAM O FUTEBOL COMO ALGO ALÉM DE UMA BOLA E DUAS TRAVES



AGRADECIMENTOS À professora Roberta Barros (Robs), pelas orientações, referência em design francês e melhores ideias para título de capítulo. Ao professor Guilherme da Rosa, pela dedicação no período de rematrícula de 2011, impedindo-me de abandonar o curso logo em seu início. Às professoras Ana Bandeira e Lucia Weymar, pela contribuição na banca avaliatória. À Natássia pela paciência e companheirismo durante este trabalho, e em todos os momentos. Aos companheiros de ABCCC pelo apoio e compreensão ao longo deste trabalho. À minha irmã Marina e meu sobrinho Guilherme, por fazerem parte da base de tudo que eu sou. À minha mãe (que assim como eu, é apaixonada por futebol), pelo seu esforço, cuidados e amor incondicional. A todos que de alguma forma auxiliaram neste trabalho. Obrigado.



RESUMO Este trabalho é uma interpretação do futebol como um fator social, e com isso, tem o objetivo de demonstrar como o processo de evolução da modalidade a partir dos anos 1970 influenciou a identidade dos clubes da França. O estudo tem como ponto inicial o final do século XIX na França, analisando como se desenvolveu o design e o futebol no país até a década de 1970, sendo usado como referências os estudos de Guity Novin (2012) e Michel Wlassikoff (2006). O foco principal da pesquisa se dá a partir dos anos 1970 com as mudanças estruturais sofridas pela sociedade e sobretudo, pelo futebol, utilizando os conceitos de sociedade na pós-modernidade de Stuart Hall (1999) e futebol-empresa de Marcelo Weishaupt Proni (1998). Interpretando as raízes do futebol francês, a evolução da modalidade, e a opinião dos próprios torcedores dos clubes do país é proposto um modelo estilístico comum aos clubes franceses. Auxiliando o estudo, a etapa prática consiste em um infográfico, demonstrando como se deu o desenvolvimento das identidades no futebol francês através da exibição do histórico de escudos de quatro clubes do país.

PALAVRAS-CHAVE: Design de Identidade; Pós-modernidade; Futebol; França;



ABSTRACT This research is an interpretation of football as a social factor, and it has the objective to demonstrate how the process of evolution in modality since 1970 have influenced the identity of the clubs of France. The study starts in the end of XIX century in France, it analyses how the design and the football developed until the 70s, it uses as reference the studies of Guity Novin (2012) and Michel Wlassikoff (2006). The main focus of the research is from 70s, with the strutural changes undergone by the society, mainly the football, it uses the concepts of society in the postmodernity of Stuart Hall (1999) and football-business of Marcelo Weishaupt Proni (1998). Interpreting the roots of the French football, the evolution of the modality, and the opinion of their own supporters clubs of the country, is propose a common stylistic model for French clubs. Assisting the study, the pratical step is an infographic, it demonstrate the development of the identities in the French football by the exhibition of the historic of the shields of four clubs of the country.

KEY WORDS: Identity Design; Post - Modernity; Football; France;


LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Cartaz para extrato de proteína a base de ovo por Henry van der Velde (1898) - pg. 31 FIGURA 2 - Primeiro escudo, Olympique de Marseille (1899) - pg. 32 FIGURA 3 - Cartaz para a marca Martini, por Andrey Brodovitch (1926) - pg.32 FIGURA 4 - Escudo da década de 1930, Olympique de Marseille (1935) - pg.33 FIGURA 5 - Cartaz para evento esportivo, por M. Cassandre (1932) - pg.33 FIGURA 6 - Escudo da década de 1940, Saint-Etienne (1940) - pg.34 FIGURA 7 - Cartaz construtivista para o filme Encoraçado Potenkin, por Alexandr Rodchenko (1925) - pg.34 FIGURA 8 - Cartaz Mechano-Dancer, por Vilmos Huszar (1922) - pg.35 FIGURA 9 - Cartaz para Expo-Bauhaus, por Herbert Bayer(1923) - pg.35 FIGURA 10 - Cartaz francês da Primeira Guerra Mundial - pg.36 FIGURA 11 - Exemplo de livro projetado por Facheux (1954) - pg.37 FIGURA 12 - Exemplo de trabalho do Atelier Populaire (1968) - pg.39 FIGURA 13 - Escudo da década de 1960, Stade-Rennais (1960) - pg.40 FIGURA 14 - Bandeira da Bretanha - pg.40 FIGURA 15 - Capa da revista Opus Internacional, por Roman Ciezlewicz - pg.41 FIGURA 16 - Exemplo de trabalho do Grapus (1981) - pg.42 FIGURA 17 - Cartaz Au Bucheron (1923), por M. Cassandre - pg. 51 FIGURA 18 - Evolução dos escudos do Montpellier - pg.57 FIGURA 19 - Camisa PSG (1977) - pg.58 FIGURA 20 - Figura 20 - Camisa Bordeaux (1992) - pg.58 FIGURA 21 - Gráfico evolutivo de redesigns - pg.59 FIGURA 22 - Comparativo evolutivo de Saint Etienne, Manchester United e Grêmio - pg.61 FIGURA 23 - Escudos franceses nos anos 1990 e 2000 - pg.62 FIGURA 24 - Vórtice - pg.71 FIGURA 25 - Esboço do infográfico - pg.72 FIGURA 26 - Escudo do Barcelona - pg. 74 FIGURA 27: Histórico de escudos Nantes - pg.75 FIGURA 28: Histórico de escudos Lille - pg.77 FIGURA 29: Histórico de escudos Lyon - pg.79 FIGURA 30: Histórico de escudos Toulouse - pg. 81 FIGURA 31: Infográfico - pg. 83


ESCALAÇÃO PRÉ-JOGO

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ESQUEMA TÁTICO - Opções Metodológicas

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1º TEMPO - Design, Modernidade e Futebol: O Início

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SHOW DO INTERVALO - Pós-Modernidade: A Sociedade e o Futebol no Contexto Globalizado

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Parte1 - Globalização e identidas fluidas: A sociedade pós-moderna

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Parte 2 - Mercado e espetáculo: O futebol pós-moderno

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2º TEMPO - Futebol Francês Pós-Moderno: O Escudo-Marca

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Parte 1 - O futebol pós-moderno na França

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Parte 2 – Tendências de Design no Futebol

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Parte 3 – Escudo-marca

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MESA REDONDA - Resumo e comentários do jogo

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Football Club de Nantes

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LOSC Lille

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Olympique Lyonnais

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Toulouse Football Club

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O infográfico

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APITO FINAL - Considerações finais

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COMISSÃO TÉCNICA - Referências

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APÊNDICE A - Catálogo de escudos

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PRÉ-JOGO HENRIQUE DA ROZA PETER

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ste Trabalho de Conclusão de Curso é uma obra desenvolvida por motivações pessoais. O autor, na posição de admirador do futebol, tanto em sua vida pessoal como profissional, sempre procurou observar o futebol sob outro foco, principalmente o design, realizando em seu percurso acadêmico diversos trabalhos utilizando o esporte como tema. A partir disso se revelam as bases deste estudo, sendo o seu tema, o futebol, abordando a sua relação com a sociedade, e seu local de pesquisa, a França, tratando de sua importância tanto na sociedade quanto no mundo esportivo. A história do futebol envolve muito mais que a prática esportiva, ela está intimamente ligada ao desenvolvimento da sociedade. A evolução das atividades físicas para esportes dotados de regras e objetivos reflete o momento econômico que vivia a Inglaterra (país responsável por essas mudanças) no final do século XIX, com “o esporte moderno [representando a] constitucionalização do lazer através de treinamento, trabalho em equipe, codificações e rankiamento, sendo uma analogia às circunstâncias sociais vividas na Inglaterra pré-industrial” (PRONI, 1998, p.62). Em um período econômico onde as práticas mercadológicas se davam através do comércio marítimo, o futebol se difundiu em outros países a partir de cidades portuárias que recebiam embarcações inglesas. Assim como em diversos outros países, a chegada do futebol em terras francesas se dá em uma cidade portuária, sendo fundado o primeiro clube do país em 1872, o Le Havre Athletic Club Football Association, criado por ingleses radicados na região da cidade de Le Havre. (MACEDO,2012, p.4) Enquanto por parte dos ingleses, os esportes na França eram voltados a seus imigrantes ou a membros da elite francesa, coube ao Barão de Coubertin, “[...] conhecido mundialmente como o pai dos Jogos Olímpicos da era moderna, [iniciar] uma campanha nacional para difundir os esportes, inclusive o futebol” (MACEDO, 2012, p.4). Coubertin, famoso por incentivar a prática dos desportos ingleses, conseguiu então iniciar um processo de mundialização destes, acreditando que seriam capazes de fomentar a paz mundial. A postura de Coubertin naquele momento situava o esporte na França como uma ferramenta de fortalecimento dos valores pregados

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na Belle Époque, período histórico do fim do século XIX marcado pela paz entre os povos europeus e valorização dos costumes cosmopolistas que se desenvolviam em Paris, centro cultural da época. O maior passo no desenvolvimento do futebol por parte da França foi dado em 1904, quando em Paris criou-se a Fédération Internationale de Football Association (FIFA), sendo o primeiro presidente o francês Robert Guérin, que já havia presidido Union des Sociétés Françaises de Sports Athlétiques (USFSA), entidade na época organizadora do Campeonato Francês (MACEDO, 2012, p.10). A influência social da França neste período também se observava em outras áreas que não apenas os esportes, como por exemplo, em 1920, quando foi realizada uma conferência internacional com objetivo de se regulamentar e uniformizar os passaportes. Nela ficou acordado que: “deveriam ser emitidos em forma de livretos e redigidos obrigatoriamente em pelo menos duas línguas, sendo uma delas a francesa” (GEUSER apud MACEDO, 2012, p.11). Se à primeira vista falar de futebol francês poderia soar incomum, visto a baixa influência de seu campeonato nacional, retomar as origens da modalidade demonstrou que, apesar de criado na Inglaterra, “ele se mundializ[ou] efetivamente, [somente] após cruzar [o Canal da] Mancha e ser absorvido pelo espírito universal da Belle Époque” (MACEDO, 2012, p.12), através do esforço do Barão de Coubertin e, dentre outras coisas, da criação da FIFA. Com a união dos universos do futebol e do design, este estudo tem como objetivo abordar os escudos dos clubes franceses como a peça gráfica que relaciona estes dois assuntos, pois são o item de maior identificação de um clube, tal como a marca em qualquer empresa. Com base no que já foi descrito até o momento, são desenvolvidos os objetivos deste trabalho:

Objetivo geral: - Estudar de que maneira se deu a evolução dos escudos na França;

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Objetivos específicos: - Apresentar como o design relacionou-se com o futebol francês durante o seu desenvolvimento; - Relativizar a influência das mudanças sociais no futebol francês; - Descrever o papel do capitalismo neste processo evolutivo; - Buscar similaridades estéticas entre os clubes, justificando a escolha do local de pesquisa; - Descobrir os parâmetros estéticos e identitários que são utilizados no processo de redesign de um escudo;

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Autor do livro “Histoire du graphisme en France” (História do Design Gráfico na França), onde é traçada uma linha do tempo do design francês; 2

Artista e professora iraniana, radicada no Canadá, que compilou seus ‘estudos de uma vida’ no site “A History of a Graphic Design”, onde dedica um capítulo inteiramente ao design francês (http:// guity-novin.blogspot.com.br/2012/03/graphic-design-and-french-school.html - acessado em 30 de abril de 2014) 18

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Assim como um jogo de futebol, este trabalho se inicia apresentando a tática em que será jogada a partida, no caso deste trabalho, a metodologia que será empregada em seu desenvolvimento, sendo assim, tem como nome: “ESQUEMA TÁTICO - Opções metodologicas”. Através do esquema tático é apresentado como o projeto foi organizado e quais os principais autores utilizados como referência, tanto na pesquisa teórica, quanto no trabalho prático. O primeiro capítulo deste trabalho, intitulado “1º TEMPO - DESIGN, MODERNIDADE E FUTEBOL: O início”, tal qual o primeiro tempo de uma partida de futebol, tem o objetivo de estudar o jogo antes de propor qualquer ataque mais incisivo. O levantamento bibliográfico realizado tem como ponto de partida o final do século XIX, período da história conhecido como ‘modernidade’, em que ocorreram diversas mudanças sociais e tecnológicas, dentre elas a aparição do termo ‘design’, além da já comentada invenção do futebol. São utilizados como referên1 2 cias Michel Wlassikoff (2006) e Guity Novin (2012). Segundo NOVIN (2012, pte.1), o design francês “tem estado na vanguarda da criatividade desde os anos 1920” [tradução do autor], sendo pertinente sua escolha

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para o desenvolvimento deste trabalho. Através da apresentação dos principais movimentos de design com destaque no país, ainda há o cruzamento com escudos de futebol desenvolvidos entre os clubes franceses criados no período, indicando influência estética dos movimentos na identidade dos clubes. O primeiro capítulo, com foco histórico e bibliográfico, desenvolve sua análise até meados dos anos 1970 quando, segundo autores como Stuart Hall (1999), o mundo passa a viver intensas mudanças sociais e estéticas, marcando a passagem da modernidade para a pós-modernidade. O segundo capítulo do estudo, de nome “SHOW DO INTERVALO - PÓS-MODERNIDADE: A sociedade e o futebol no contexto globalizado”, desloca-se do foco principal da pesquisa, os escudos de futebol na França, e apresenta a situação em que se encontrava a sociedade e o futebol no período em que se encerra o capítulo anterior, norteando o leitor sobre os assuntos que serão abordados no capítulo seguinte, o Segundo Tempo. Sobre o ponto de vista dos clubes de futebol, o capítulo trata de contar como, do mesmo modo que a sociedade foi influenciada pela globalização, “a mercantilização e a espetacularização do esporte – processos que foram iniciados ainda na sociedade burguesa – foram elevados à máxima potência na sociedade de massa” (PRONI, 1998, p.75), influenciando drasticamente a estrutura dos clubes. Interpretando o capitalismo como peça-chave no processo de desenvolvimento do futebol, baseado também na sua relação com a sociedade e o design (sobretudo na França), é proposta a questão-problema deste trabalho:

“Como o fortalecimento do capitalismo no futebol pós-moderno, influenciou a identidade dos clubes no cenário tradicional do futebol francês?” O terceiro capítulo, de nome “2º TEMPO – FUTEBOL FRANCÊS PÓS-MODERNO: O Escudo-marca”, incorpora o modelo de uma partida de futebol encaminhando-se ao final, neste caso, a resolução da questão-problema. Se no primeiro tempo a ênfase da pesquisa se deu no design, neste segundo tempo o futebol ‘equilibra o jogo’, abordando HENRIQUE DA ROZA PETER

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desde seu surgimento na França até os dias atuais, com ênfase no período pós-moderno e sempre mantendo a relação com o design. No decorrer do capítulo são abordadas diversas características comuns a vários clubes franceses, e que tiveram importância no processo de formação de suas identidades. Por fim, com base em todas as características do futebol francês apresentadas, o ‘jogo é definido’ através da proposição de um modelo de desenvolvimento de escudos particular à França intitulado ‘escudo-marca’. O último capítulo do trabalho, assim como em uma transmissão de futebol que comenta o resultado da partida, ganha o nome de “MESA REDONDA: Resumo e comentários do jogo”. É proposto um infográfico que oferece de maneira concisa todo o processo de desenvolvimento de escudos no futebol francês. Na busca de argumentos que demonstrem a opinião da própria sociedade francesa com relação ao escudo de seus clubes, o infográfico reconta a história de quatro clubes relevantes do país, utilizando como referência sites e fóruns de torcedores locais sobre futebol. O meio de veiculação do infográfico será o próprio trabalho impresso, uma vez que sua função é demonstrar os próprios conteúdos obtidos durante a pesquisa. Sua aplicação no trabalho se dará como último elemento antes das conclusões finais do estudo. O que se espera alcançar com este trabalho é propor a existência de um padrão estético de escudos de futebol em um país, no caso a França, nação tradicional tanto no futebol como no design. Através da observação crítica dos escudos do país, utilizando os conceitos de design e identidade, se busca demonstrar a similaridade no processo de desenvolvimento identitário destes.

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ESQUEMA TÁTICO

OPÇÕES METODOLÓGICAS

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fr.wikipedia.org/ 24

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esquema tático, ou melhor dizendo, a pesquisa deste trabalho se traduz em opções metodológicas de abordagem qualitativa. Em poucas palavras, um processo qualitativo tem como característica ser a “passagem de uma qualidade ou de um estado para outro” (MARCONI, LAKATOS, 2003, p.104). Este trabalho utiliza em seus títulos de capítulo termos que pertencem ao universo do futebol. Essa opção se deu com o objetivo de integrar o leitor ao processo em que se realiza a transmissão de um jogo de futebol em televisão, produto que, como pode ser visto nos capítulos seguintes, foi fundamental no desenvolvimento do esporte. O estudo desenvolvido diz respeito ao processo de redesign ocorrido nos escudos de futebol da França a partir da década de 1970. A pesquisa se mostra qualitativa a partir do objetivo principal deste trabalho, que é contextualizar os motivos que levaram a esta prática, tornando-se um processo teórico-prático. O modelo de pesquisa possui caráter bibliográfico e documental. Faz-se necessário recorrer a documentos e outras fontes de conteúdo a partir do momento em que o futebol, como objeto de entretenimento, é um hábito presente na sociedade se tornando válido nesta pesquisa dar importância a textos publicados por torcedores e admiradores da modalidade em geral. O trajeto deste estudo tem como início a coleta de informações dos 20 clubes participantes da 1ª divisão do Campeonato Francês de Futebol, comercialmente chamada de Ligue 1. Através do desenvolvimento de um catálogo (apêndice A) são agrupados todos os escudos da história dos clubes. O desenvolvimento do catálogo se qualifica como uma técnica de pesquisa de documentação já que é uma “ forma de registro e sistematização de dados, informações, colocando-os em condições de análise por parte do pesquisador” (SEVERINO, 2002, p.124). Como o catálogo tem por objetivo listar os escudos sem recorrer a valores estéticos, se utilizou como fonte de busca a Wikipedia Francesa 3. Esta foi escolhida pois nos sites oficiais dos clubes franceses não foram encontradas informações à respeito dos antigos escudos, enquanto que a enciclopédia livre possui artigos contendo o processo evolutivo de praticamente todas as equipes da Ligue 1. A partir dos resultados apresentados pelo catálogo é definido o

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trabalho. Tendo em vista que “o futebol é um fenômeno central na sociedade, com uma importância crescente inclusivamente nos meios de comunicação social” (SILVA, 2002, p.2) se formata a pesquisa qualitativa que consiste no cruzamento entre futebol e história do design na França, sendo utilizado um enfoque histórico, social e mercadológico. O 1º TEMPO desenvolve-se baseado no método histórico promovido por Boas (apud MARCONI, LAKATOS, 2003, p.106) que “consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje”. Dessa forma, esta etapa busca apresentar o design na França a partir do final do século XIX, período de surgimento do termo e chegada do futebol ao país até os anos 1970, quando é percebido, através do catálogo de escudos, o fenômeno dos redesigns. Neste capítulo também são realizados levantamentos baseados no método comparativo empregado por Taylor (apud MARCONI, LAKATOS, 2003, p.107), onde se “realiza comparações, com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências” através da comparação dos principais movimentos estéticos ocorridos no país com os escudos de futebol criados no período. As bases referenciais desta etapa foram os estudos sobre design na França de Guity Novin (2012) e Michel Wlassikoff (2006) além do próprio catálogo desenvolvido pelo autor. O segundo capítulo tem como objetivo abordar o contexto do período de análise do estudo, os anos 1970, tanto na sociedade quanto no futebol. Dessa forma, como um recorte temporal e cultural, o capítulo se oferece como uma área de respiro entre os temas chave, futebol e design, apoiado nisto e, mantendo a temática futebolística, tem como nome “SHOW DO INTERVALO”. Através da leitura de Stuart Hall (1999) são levantados conceitos sobre globalização e pós-modernidade, e como, sob estes paradigmas, se deu o processo de fragilização de identidades reverberando em diversas áreas da sociedade, até mesmo no design. O foco do trabalho volta a ser o futebol na segunda parte do capítulo que, em razão do pequeno número de produções voltadas a área, utiliza como referência três trabalhos acadêmicos: Luis Santos Silva (2011), Antonio Holzmeister Oswaldo Cruz (2005) e Marcelo Weishaupt Proni (1998). Esta parte busca demonstrar o desenvolvimento do futebol como meio de entreHENRIQUE DA ROZA PETER

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tenimento atribuindo a sua evolução à comunicação de massa. Através do processo de popularização o futebol se torna um produto lucrativo, convertendo os clubes em empresas, o que decorre no cruzamento entre futebol e design. O 2º TEMPO do trabalho marca a conclusão da pesquisa teórica. A partir da análise interpretativa do catálogo de escudos, e reunindo todas as informações coletadas nos capítulos anteriores, além de outras características pertencentes ao futebol francês, são demonstradas diversas vertentes que possibilitaram a ele adquirir um novo posicionamento no processo de desenvolvimento de seus escudos, sobretudo a partir dos anos 1970. Como referência, se utiliza os conceitos de marca desenvolvidos por Gilberto Strunk (apud PIRES, 2012) visando demonstrar a postura comercial observada nos clubes. Finalizando o trabalho, no capítulo intitulado “MESA REDONDA”, é apresentado um infográfico que possui como função ser um complemento ao trabalho, contendo, de forma concisa, o processo de desenvolvimento de escudos proposto. O método projetual utilizado é o proposto por Juliana Carvalho e Isabella Aragão (2012). Desenvolvido por elas através de um processo de entrevistas com diversos infografistas, o método se constitui como um modelo de elaboração a partir de três etapas: concepção, execução e acabamento. As informações contidas no infográfico consistem no histórico de escudos de quatro clubes participantes da Ligue 1 (obtidos através do catálogo de escudos), informação da história de cada um destes (obtidos através de pesquisa em sites de futebol da França) e contextualização dos escudos com base nos conteúdos do próprio trabalho, demonstrando o processo evolutivo francês que decorre no modelo de ‘escudo-marca’.

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1ยบ TEMPO

DESIGN, MODERNIDADE E FUTEBOL: O INร CIO

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primeiro tempo deste trabalho tem como objetivo apresentar um perfil do design francês através de levantamento histórico bibliográfico. São apresentadas as principais correntes estilísticas que influenciaram o design na França até o momento escolhido para análise neste projeto, os anos 1970. Além disso, há a relação entre as peças gráficas encontradas no levantamento histórico e o objeto de estudo principal deste trabalho, os escudos dos clubes de futebol franceses.

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Movimento inglês que buscava promover uma maior integração entre projeto e execução, uma relação mais igualitária entre os trabalhadores envolvidos na produção, e uma manutenção de padrões elevados em termos de qualidade de materiais e acabamento (DENIS, 2000, p.75) 5

Atualmente dividida entre República Tcheca e Eslováquia 30

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Tendo em vista que este trabalho interpreta o design como um fator de influência social na formação da identidade dos clubes, a pesquisa histórica se dá a partir do fim do século XIX, período de surgimento do movimento Arts & Crafts 4 que foi pioneiro no ato de encarar o design como agente de transformação (DENIS, 2000, p.68). Com foco no país de análise, este capítulo se limita a apresentar o desenvolvimento do design neste período apenas na França, utilizando como base bibliográfica os trabalhos de Michel Wlassikoff (2006) e Guity Novin(2012). Iniciando a análise a partir do período proposto, em meados de 1885 durante a Belle-Époque, surge o Art Nouveau. O movimento, inspirado pelo Arts & Crafts e seus preceitos de qualidade à frente da quantidade, teve diversas origens, como a Bélgica e Tchecoslováquia5. Porém, em razão da influência cultural de Paris na época, só veio a ganhar destaque em escala mundial na capital francesa. Seu nome, que em português significa “arte nova”, por si só já traduz a importância do movimento para o design. O Art Nouveau representou um momento de ruptura entre o classicismo do século XIX e o modernismo do século XX. Como afirmado por Denis (apud BARROS 2013, p.44) “o surgimento do Art Nouveau reflete todas as deliciosas contradições que caracterizam a era moderna”. Sob o ponto de vista cultural, o Art Nouveau levou ao mundo a representação visual da Belle-Epoque. Suas peças tinham como característica o caráter essencialmente decorativo, fazendo uso de formas botânicas estilizadas, motivos florais, femininos, curvas assimétricas e cores vivas (Figura 1). Também era possível notar, em menor escala, formas geométricas e angulares, linhas de contorno e planos retos (DENIS, 2000, pg. 88) A abstração da funcionalidade citada trouxe aos cartazes do movimento uma grande liberdade autoral. Uma vez que legibilidade

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não era a prioridade, os trabalhos Art Nouveau ganharam liberdade na linguagem visual. Esta liberdade, como pode se ver, é característica do design francês.

FIGURA 1 Cartaz para extrato de proteína à base de ovo por Henry van der Velde (1898) FONTE NOVIN (2012) HENRIQUE DA ROZA PETER

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FIGURA 2 Primeiro escudo, Olympique de Marseille (1899) FONTE Histoire de l’OM 6

O futebol na França, que teve a fundação de seus primeiros clubes naquela época, também foi influenciado pelo Art Nouveau. Como pode ser percebido na Figura 2, o escudo do clube Olympique de Marseille apresenta linhas fluidas e contornos proeminentes, assim como as obras do período. O Art Nouveau passa a perder força com o início da 1ª Guerra Mundial, pois suas obras arquitetônicas eram trabalhosas e faziam grande uso de ferro, material restrito devido à produção de armamentos em tempos de guerra. Adaptando-se às características da época, ou seja, um modernismo mais retilíneo e ágil, surge um novo movimento artístico, o Art Déco. Retrato do período de auge do modernismo, o Art Déco pode ser classificado como um sucessor do Art Nouveau, tendo como características ser “menos ornamentado e mais construtivo, menos floral e mais geométrico, menos orgânico e mais mecânico, menos um entrelaçamento de linhas e mais uma sobreposição de planos” (DENIS, 2000, p.88). Apesar de suas obras manterem o caráter decorativo em detrimento da funcionalidade, o Art Déco posicionou-se como um estilo de massa, sendo fortemente divulgado pelo cinema estadunidense.

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O escudo aplicado não corresponde ao apresentado no catálogo de escudos (apêndice A) em razão deste não apresentar resolução razoável para impressão; FIGURA 3 Cartaz para a marca Martini, por Andrey Brodovitch (1926) FONTE WLASSIKOFF (2012, p.78) 32

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No âmbito do futebol, os escudos continuaram refletindo a evolução do design, sendo possível notá-la na reformulação dos escudos do clube Olympique de Marseille (Figura 4), que adaptou-se a uma linguagem menos ornamentada e sobre planos retilíneos, características do Art Déco. Um exemplo da criatividade francesa à época da transição para o modernismo foram os trabalhos de M.Cassandre (1901- 1968). Nascido na Ucrânia, mas tendo se desenvolvido artisticamente na França, Cassandre apresentava em seus trabalhos linhas diagonais, ângulos agudos e uma grande expressividade quaisquer que fossem os assuntos abordados. Além de Cassandre, Paul Colin, Jean Carlu e Charles Loupot também foram artistas de destaque à época trazendo grandes inovações estéticas. Estes artistas, como comentado por Novin (2012, pte.4), “[...]redefiniram a escola francesa de design gráfico, desenvolvendo um gênero construtivista francês, que foi influenciado principalmente pelo cubismo” [tradução do autor].

FIGURA 4 Escudo da década de 1930, Olympique de Marseille (1935) FONTE Wikipedia Francesa

FIGURA 5 Cartaz de evento esportivo, por M. Cassandre (1932) FONTE NOVIN (2012) HENRIQUE DA ROZA PETER

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FIGURA 6 Escudo da década de 1940, Saint-Etienne (1940) FONTE Wikipedia Francesa

Richard Hollis (2000, p.81), afirma que assim “como acontecera com o Art Nouveau na virada do século, esse estilo [Art Déco] coexistiu com outros [estilos] que apresentavam ilustrações mais diretas e populares e tipos de letras mais informais”. Ou seja, mesmo sendo o centro cultural europeu, a França não possuía o predomínio artístico, na época. Naquele período surgem novos movimentos de design pela Europa, que viriam a ser considerados as vanguardas modernistas, como 7 8 o Construtivismo na União Soviética, o De Stijl na Holanda, e a Bauhaus9 na Alemanha. As obras do período caracterizavam-se por ilustrações agressivas, de violentos contrastes, que eram combinadas com letras desenhadas livremente ou com tipos pesados (HOLLIS, 2000, p.51). Ao contrário de outros períodos da história da arte, um aspecto do modernismo foi a diversidade de movimentos simultâneos. Esta característica, associada à receptividade francesa a outras culturas, permitiu ao design da França, ao longo do tempo, absorver todas as características vanguardistas dos movimentos europeus. No futebol, um exemplo de influência modernista foi o clube Saint-Étienne (Figura 6), que ao atualizar seu escudo, utilizou parâmetros bauhauseanos, como formas simples, uso de círculos, sobreposição de planos, tipografia sem serifa e texto disposto de maneira instável.

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Movimento soviético caracterizado por peças abstratas com uso de figuras geométricas e cores primárias (HOLLIS, 2000, p.47) 8

Movimento holandês de vanguarda na arte e arquitetura, sua principal característica era a retangularidade (HOLLIS, 2000, p.69) 9

Famosa escola de artes e ofícios alemã, responsável por grandes mudanças no design [...], pregando o funcionalismo (HOLLIS, 2000, p.55-56 ) FIGURA 7 Cartaz construtivista para o filme Encoraçado Potenkin, por Alexandr Rodchenko (1925) FONTE Ação e contexto 34

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FIGURA 8 Cartaz Mechano-Dancer, por Vilmos Huszar (1922) FONTE Ookaboo

FIGURA 9 Cartaz para Expo-Bauhaus, por Herbert Bayer(1923) FONTE Sala 17 HENRIQUE DA ROZA PETER

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Assim como a 1ª Guerra Mundial influenciou no surgimento do Art-Déco, a 2ª Guerra também teve sua relevância artística através da criação de peças gráficas que reproduziam mensagens patrioticas. As criações do período, em sua maioria, representavam ilustrações de apoio ao exército e seus países aliados, além dos pilares da Revolução Francesa, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” (NOVIN, 2012, pte.4) [tradução do autor].

FIGURA 10 Cartaz francês da Primeira Guerra Mundial FONTE NOVIN (2012)

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“Spectacle dans la rue”, é também o nome de uma coleção cartazes de M. Cassandre lançada em 1935 (NOVIN,2012) 36

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Com o fim da 2ª Guerra, a capital francesa manteve sua imagem de modernidade acentuada pelas exposições internacionais e pelo Spectacle dans la rue 10 (HOLLIS, 2000, p.81), hábito francês de manter grande número de cartazes expostos à rua, sejam por motivos comerciais ou artísticos. A criatividade dos cartazes de rua franceses já era notável muito antes do modernismo, mais precisamente a partir do século XVII, quando o imperador Luís XV promulgou a lei que proibia a exibição de cartazes sem prévia autorização. O desfecho desta ação foi o surgimento, com o tempo, de cartazes cada vez mais decorativos, visto que estes correriam menor risco de proibição. Mesmo com o passar dos anos a lei seguiu

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em vigor na França, chegando aos anos napoleônicos, quando “os artistas gráficos usaram ​​as ruas de Paris, recém re-projetadas por Napoleão III, como uma galeria de exposição para a sua arte decorativa” (NOVIN, 2012, pte.1) [tradução do autor]. A lei que regula a exposição de cartazes, só viria a sofrer alterações drásticas em 1943; porém, o costume já estava estabelecido e a criatividade cartazista se manteve viva, fazendo com que a sociedade francesa se desenvolvesse próxima ao design e suas tendências, permanecendo viva a característica liberal do seu design até os dias atuais. Retornando à década de 1950 do século XX, nesta época ganharam destaque as produções do Club Français du Livre e Club Français do Disque,11 que contratavam artistas para ilustrar suas capas dando-lhes liberdade de criação. Um dos artistas deste período foi Pierre Faucheux, que trabalhou no Clube do Livro desde sua fundação em 1946, chegando a produzir 500 projetos gráficos. “Entre as inovações,[...] incluem-se contrastes extremos de estilo e tamanho de tipo,[...] e o uso de letras e ornamentos gráficos extravagantes para simbolizar personagens [...]” (HOLLIS, 2000, p.160).

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Na tradução, Clube Francês do Livro e Clube Francês do Disco, respectivamente. FIGURA 11 Exemplo de livro projetado por Facheux (1954) FONTE NOVIN (2012) HENRIQUE DA ROZA PETER

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Durante os anos 1950 o design francês manteve seu desenvolvimento criativo e moderno. Uma prova da importância que o design tinha para a imprensa da época é percebido nos números da equipe de produção da revista Elle. Comandados pelo jovem designer suíço Peter Knapp, o time era formado por catorze designers, dois retocadores, um letrista, cinco assistentes de câmera escura, cinco compositores, cinco ilustradores e seis fotógrafos, cada um deles com um assistente (HOLLIS, 2000, p.162). A partir dos anos 1960, começam a surgir novos movimentos sociais, como parte da contracultura, que disseminava a contestação dos padrões vigentes e propunha grandes mudanças no âmbito político e social ao redor do mundo (BARROS, 2013, p.77). Neste cenário ocorreu a revolta de maio de 1968 que, segundo Novin (2012, pte.13) , foi uma revolução sócio-cultural [tradução do autor]. Iniciada nos corredores das universidades, até a paralisação de indústrias com uma greve geral de estudantes e trabalhadores chegando a 10 milhões de adeptos, o movimento Maio de 68 demonstrava toda a insatisfação popular à época.

Foi uma revolta contra a rigidez do conservadorismo tradicional, onde toda a sociedade começou a reavaliar seus valores fundamentais ou, como André Malraux, escritor, político e ministro da Cultura francês na época sugeriu, era um prenúncio da morte de Deus” (NOVIN, 2012, pte.13) [tradução do autor].

Durante aquele movimento, o design gráfico teve papel fundamental, já que uma das formas de protesto mais utilizadas no período foram cartazes colados pelas ruas. Nas gráficas da faculdade de Belas Artes estudantes e sindicalistas, sob o nome de Atelier Populaire, desenvolveram a estética que marcou o período. Dotados do slogan “é proibido proibir” os manifestantes levaram às ruas cartazes utilizando uma linguagem simples, porém extremamente autoral, retratando a sinceridade nas palavras do grupo (Figura 12). 38

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FIGURA 12 Exemplo de trabalho do Atelier Populaire (1968) FONTE NOVIN (2012) HENRIQUE DA ROZA PETER

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No futebol, as características estéticas dos movimentos populares também podem ter influenciado o redesign do escudo do Stade Rennais (Figura 13). A identidade do clube nos anos 1960 apresenta uma tipografia irregular, característica dos cartazes da época, associada à bandeira da região do clube, a Bretanha (Figura 14), demonstrando, ainda assim, uma ligação com a sua região de origem.

FIGURA 13 Escudo da década de 1960, Stade-Rennais (1960) FONTE Wikipedia Francesa

FIGURA 14 Bandeira da Bretanha FONTE National Flaggen 40

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Apesar de toda a carga idealista de seus trabalhos, o Atelier Populaire tinha forte influência vusual do design polonês, em especial do designer Roman Cieslewicz (1930 - 1996). Nascido em Lviv e graduado em escolas de Belas-Artes de Cracóvia, Cieslewicz mudou-se para Paris nos anos 1960, onde teve destaque em editoração de livros e revistas. O trabalho de maior referência para os movimentos de 1968 foi o design da revista Opus Internacional (Figura 15) que possuía forte posicionamento político. As produções de Cieslewicz influenciaram diretamente alguns dos membros do Atelier Populaire que fundaram, posteriormente, o grupo Grapus.

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Membros dos movimentos sociais da década anterior e do Partido Comunista Francês (PCF), Pierre Bernard, Gerard Paris-Clavel e François Miehe, fundaram, em 1970, o grupo Grapus, um escritório de design que tinha como proposta atuar de forma não-comercial.

FIGURA 15 Capa da revista Opus Internacional, por Roman Ciezlewicz FONTE NOVIN (2012)

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O Grapus se manteve distante do mercado publicitário e trabalhou essencialmente com o domínio social, como associações, sindicatos, municípios. estruturas culturais e institucionais. [...] Seus trabalhos foram exibidos em 20 países na Europa, na América e na Ásia (BARROS, 2013, p.83)

Diretamente relacionado à sua ideologia de não realizar trabalhos comerciais, o estilo gráfico do grupo Grapus apresentou uma grande liberdade autoral, fugindo da tradicional estética publicitária, como pode ser verificado no exemplo abaixo (Figura 16).

FIGURA 16 Exemplo de trabalho do Grapus (1981) FONTE NOVIN (2012)

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Os anos 1970 se iniciavam trazendo consigo mudanças que afetariam severamente a sociedade. E a França, que já havia sido centro da cultura mundial, tendo como berço o seu princípio vanguardista, somado à forte veia criativa de seu design nascido no Spectacle dans la rue e ainda levando em conta a fluidez dos movimentos modernistas do século XX, seria afetada nas mais diversas áreas, inclusive no futebol.

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SHOW DO INTERVALO

PÓS-MODERNIDADE: A SOCIEDADE E O FUTEBOL NO CONTEXTO GLOBALIZADO

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ste capítulo é uma pausa no decorrer do trabalho, e como simulacro de uma partida de futebol ganha o nome de ‘Show do Intervalo’. Caracteriza-se como uma pausa pois não propõe análises estéticas de escudo. O seu objetivo é tratar das alterações culturais e mercadológicas ocorridas na sociedade, em especial no futebol, no século XXI e que adquiriram, por alguns autores, a alcunha de pós-modernidade. Oferecendo uma leitura sobre o paradigma cultural e social em que é ambientada a pesquisa, a primeira parte usa como referência bibliográfica os conceitos de Stuart Hall (1999) sobre sociedade pós-moderna e globalização, visando demonstrar como mudanças comportamentais e sociais ocorridas no período levaram o design gráfico a modificar seus padrões identitários.

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“Futebol, Media e Sociedade: um fenómeno de sucesso”. Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Ciências da Comunicação na vertente de Media e Jornalismo

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“A Nova Economia do Futebol: Uma Análise do Processo de Modernização de Alguns Estádios Brasileiros” Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Antropologia Social.

Mantendo a linha de estudo no qual o capítulo se desenvolve, a segunda parte tem como objetivo contextualizar a transformação do futebol de um simples esporte para uma grande estrutura empresarial a partir dos anos 1970. As bases teóricas deste capítulo são três trabalhos acadêmicos: as dissertações de mestrado de Luis Santos Silva (2011)12 e Antonio Holzmeister Oswaldo Cruz (2005)13 e a tese de doutorado de Marcelo Weishaupt Proni (1998).14 Nestes trabalhos, a foco de pesquisa dos autores se desenvolveu através do cruzamento do futebol com o universo empresarial. Antes de iniciar a pesquisa do capítulo, cabe deixar clara a diferenciação entre os termos pós-modernidade e pós-modernismo. Segundo Terry Eagleton (1998, p.7) “A palavra pós-modernismo refere-se em geral a uma forma de cultura contemporânea, enquanto o termo pós-modernidade alude a um período histórico específico.”

14

“Esporte-Espetáculo e Futebol-Empresa” Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas 46

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Parte1 - Globalização e identidades fluidas A sociedade pós-moderna Os anos 1970 se iniciavam, e mais uma vez os avanços tecnológicos ocasionavam mudanças sociais. A massificação dos meios de comunicação e a modernização dos meios de transporte aproximavam as pessoas. O cidadão que possuía apenas seu bairro como fonte de informação, agora tinha o mundo diante de seus olhos. Esse evento ganhou o nome de globalização, conceito que traduz em palavras a possiblidade de qualquer ação, a partir daquele momento, poder atingir abrangência global numa escala nunca antes vista. Esta alteração na forma de difundir conhecimento trouxe mudanças significativas para a sociedade. De acordo com Stuart Hall (1999, p.87) a globalização “teve um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, e tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas[...]”. O aumento do fluxo de informação tornava muito mais complexo o processo de construção de identidade de uma empresa ou sujeito na sociedade. Outra característica trazida pela globalização é a rapidez na troca de dados, tornando toda e qualquer informação mais frágil e efêmera: o fato que antes era notícia por uma semana, no mundo globalizado, é substituído por outra novidade; o que era tendência por meses, passa a ser relevante apenas por uma semana. Como já comentado, o século XX foi cenário de diversas mudanças sociais e políticas, as quais se deu o nome de modernidade. Tendo em vista que as décadas de 1960 e 1970 trouxeram mudanças ainda maiores, rompendo as estruturas formais da modernidade, esse fenômeno é chamado por alguns autores, como Stuart Hall, de pós-modernidade. Uma de suas principais características é a fragmentação do sujeito que, dentro deste contexto, passa a ser visto como: [...] não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade tornou-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL apud HALL, 1999, p.17). HENRIQUE DA ROZA PETER

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Na esteira das mudanças no sujeito, a sociedade passa a sofrer os reflexos da globalização. Situadas em um cenário de grande fluxo de informações, as identidades nacionais perdem sua força para fatores externos: marcas e produtos vão aos poucos deixando de lado valores tradicionais como o seu local de origem. Os fluxos culturais entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de ‘identidades partilhadas’[...] entre pessoas que estão bastante distantes umas das outras no espaço e no tempo. À medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural. (HALL, 1999, p. 74)

No design gráfico, a pós-modernidade representou uma quebra da estrutura até então existente na modernidade. Ao contrário do percebido no início do século, o design pós-moderno caracteriza-se por não possuir um estilo de maior destaque, mas, sim, uma mescla de estilos, uma releitura do que já foi tendência, sob a ótica do alto fluxo informacional da globalização. A fragilidade das identidades, impulsionada pela globalização e pela ausência de um estilo artístico dominante, trouxe ao design pós-moderno algumas características peculiares como o cultivo à ambigüidade, à indefinição, à indeterminação e à polissemia; oposição ou ironização aos estereótipos visuais da alta cultura; maior proximidade com as mídias visuais do que com museus ou galerias (CAUDURO, 2009, p.115). Retrato dessa era com diferentes concepções de realidade, o design na pós-modernidade tende a valorizar “o efêmero, o eclético, o heterogêneo, a colagem, o híbrido, o tecnológico, caracterizando uma multidimensionalidade e flexibilidade estética” (CAUDURO, 2009, p.114). Tal cenário “[permitiu] um crescimento da influência da marca, ficando cada vez mais presente na vida cotidiana dos indivíduos” (PLASCAK, 2006, p.2). A partir disso, pode-se perceber que, apesar do cenário descrito como design pós-moderno possuir características “muitas vezes com uma gramática esquizofrênica” (CAUDURO, 2009, p.115), o universo das marcas trilhou um caminho tortuoso em razão da fragilidade das identidades, mas com crescimento de importância visto a necessidade de se fixar na memória do público-alvo. A ascenção da marca abrange as mais diversas áreas da sociedade, até mesmo o futebol, como se percebe a seguir. 48

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Parte 2 - Mercado e espetáculo O futebol pós-moderno Assim como a sociedade moderna sofreu alterações durante o século XX, a partir dos anos 1970 as modalidades esportivas, em especial o futebol, passaram por mudanças e tensionamentos na sua estrutura que modificaram suas características básicas, configurando-se em um novo modelo, como explica o filósofo americano Douglas Kellner:

O esporte moderno [...] foi organizado em torno de princípios da divisão social do trabalho e do profissionalismo, celebrando valores modernos de competição e de vitória. O esporte moderno reproduziu a estrutura do local de trabalho, onde tanto a iniciativa individual como o trabalho de equipe eram necessários [...] O esporte pós-industrial, em contraste, transverte o esporte em espetáculo da mídia, desmorona as fronteiras entre atividade profissional e comercialização, e afirma a mercadorização de todos os aspectos da vida na sociedade de consumo e de comunicação de massa (KELLNER apud PRONI, 1998, p.87).

Tomando como base o texto de Kellner pode-se considerar que o futebol pós-industrial, dado o contexto em que se desenvolveu, se caracteriza como um futebol pós-moderno. Um dos grandes agentes responsáveis por esta transformação foi outra criação do período moderno, a comunicação de massa. Embora os esportes já pudessem ser considerados como um fenômeno cultural disseminado por todas as classes sociais, com a difusão da televisão e o desenvolvimento da 15 cultura de massa, a ‘lógica de mercado’ invadiu por completo a organização esportiva (PRONI, 1998, p.77). Nesse cenário, os esportes que na sociedade burguesa já possuíam contornos de mercantilização e espetacularização, na sociedade de massa tiveram suas características elevadas à máxima potência (PRONI, 1998, p.75), e o futebol, na figura de esporte mais popular do mundo, teve sua estrutura fortemente influenciada por estes fatores. Através da popularização das transmissões em televisão os esportes, antes ligados apenas à atividade física, passam, a partir deste período, a ser considerados objetos de entretenimento; vindo à tona o conceito

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Modelo de cultura produzido segundo as normas maciças da fabricação industrial, voltada a um aglomerado gigantesco de indivíduos compreendidos aquém e além da sociedade interna.É cosmopolita por vocação e planetária por extensão (MORIN apud PRONI, 1998, p.71) HENRIQUE DA ROZA PETER

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de esporte-espetáculo, que traduz o novo modo de exibição de atividades esportivas, dentre elas o futebol. Em um mundo globalizado, em que se depende cada vez mais de produtos que captem a atenção do público, o futebol e sua grande quantidade de adeptos encaixam-se como uma luva nos objetivos da mídia, sendo, a partir deste momento, a modalidade transformada em um espetáculo em que os atletas eram as estrelas e os estádios, até então menosprezados, são convertidos nas salas desses espetáculos. Proni, em sua tese, também enfatiza isto, mencionando que:

[...] o que importa ressaltar [no processo evolutivo dos esportes] é que o esporte de alto rendimento se tornou um dos principais espetáculos da media culture contemporânea, estando referido a uma sociedade de consumo e de comunicação de massa crescentemente organizada em torno da produção e difusão de sons, imagens e informações (PRONI, 1998, p.95).

O aumento da visibilidade proporcionou então aos clubes grandes mudanças organizacionais. Silva (2011, p.48) reforça essa ideia, constatando que até os anos 1950, a relação clube-torcedor se realizava apenas com os ingressos para os jogos, sendo que depois dos anos 1970 os lucros surgiriam com a transmissão televisionada, aumentando sua visibilidade. Os patrocinadores, ao ter conhecimento desta visibilidade, passaram a estampar suas marcas nos equipamentos dos clubes, o que também gerou aumento de verba. Dentro deste contexto, passa a

[...]existir uma propensão para a profissionalização dos dirigentes e a adoção do modelo de futebol-empresa, devido não a uma legislação, mas sim pela exigência do próprio mercado, que impõe que o adepto passe a ser visto como consumidor, que o jogo passe a ser encarado como um evento, e que os estádios sejam reestruturados para aliciar consumidores da classe média e alta, concebendo assim um produto que atraia investidores e os meios de comunicação (CRUZ apud SILVA, p.34).

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Este quebra de características apresentada pelo futebol teve seu início na Inglaterra e, assim como na invenção da modalidade, espalhou-se por vários países da Europa, também chegando à França. Com relação ao design, o país desde seus primórdios buscou valorizá-lo em sua produção gráfica, como na forte prática cartazista exemplificada pelo célebre cartaz Au bucheron (Figura 17) desenvolvido para uma loja de móveis parisiense. Neste contexto, o futebol francês, que desde seu início expressou a influência de movimentos estéticos na geração de escudos, passa a desenvolver uma relação cada vez maior com o design e a comunicação, uma vez que seus clubes estavam se adaptando às práticas empresariais.

Como já comentado, a partir dos anos 1970 ocorre o processo de fragilização de identidades, ganhando força a necessidade de gestão de marcas, uma vez que se inicia um processo de envelhecimento e substituição, como afirmado por Andréa Semprini (2006, p.117): “ [na marca pós-moderna] a natureza evolutiva é seu caráter mutável, o fato de estar em contínua evolução”. Ou seja, uma marca, no contexto pós-moderno, tem como mote modificar-se de modo a não ser ultrapassada pela concorrência. Tendo em vista que, supostamente, o futebol francês (nesse momento já inserido no mercado empresarial) tem como prática utilizar as tendências de design, a importância da marca também se reflete nos clubes de futebol.

FIGURA 17 Cartaz Au Bucheron (1923), por M. Cassandre FONTE PlakatGalleri HENRIQUE DA ROZA PETER

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Rafael Nobre Pires, em seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre identidade cultural no futebol (2012), também apresenta argumentos que relacionam a identidade dos clubes a marcas comerciais na atualidade: [...] uma marca discursa sobre a instituição que representa, atribuindo a si valores e negando outras identidades com que mantém contato. Pode ser o caso de empresas concorrentes no mercado: enquanto umas se posicionam de forma séria e dominante, outras mostram um caráter mais impessoal e despojado do ramo. [...] E, da mesma forma, estão associados aos brasões dos clubes: na [pós] modernidade, são também símbolos com valor agregado, são marcas utilizadas para vender, em produtos, camisetas, e batalham por uma parcela do mercado que até então pode não mensurar sua origem comunitária (PIRES, 2012, p.23).

Apesar do futebol-negócio ter se mostrado um movimento internacional, implicando no processo de gestão de marcas para escudos, o cenário dos clubes-empresa na França apresenta peculiaridades não percebidas em outras partes do globo, e é isso que será mostrado no próximo capítulo.

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2º TEMPO

FUTEBOL FRANCÊS PÓS-MODERNO: O Escudo-marca

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(http://www.les-sports.info/football-premier-championnat-de-france-division-1-1932-1933-epr4141.html acessado em 10 de julho de 2014) 17

Medida empregada pela Federação Francesa de Futebol a clubes com grandes dívidas; 18

(http://www.montpellierinteractif.com/histoire acessado em 15 de junho de 2014) 19

(http://uneautrehistoiredufoot.wordpress. com/?p=384&preview=true acessado em 15 de junho de 2014) 56

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segundo tempo deste trabalho retorna aos seus assuntos-chave, futebol e design na França. Utilizando como referência todo o conteúdo já abordado, além de materiais colhidos em sites franceses relacionados a futebol, o capítulo se desenvolve em três partes, sendo as duas primeiras de cunho descritivo, apresentando o processo de desenvolvimento dos clubes do país, e a última, de caráter especulativo, inferindo a existência de um suposto modelo diferenciado de desenvolvimento de escudos de futebol na França. Apesar de ter sido o país responsável por popularizar o futebol a nível mundial, a França só foi realizar campeonatos profissionais a partir do ano de 1932. Dados obtidos através do site francês ‘Les-Sports. 16 info’ revelam que dos 20 clubes participantes da edição 2013-2014 da Ligue 1, apenas 5 possuíam status profissional na primeira edição do campeonato francês em 1932, demonstrando que boa parte dos clubes da atual elite francesa possui pouca idade. A partir disso, é presumível que, quanto mais novo um clube, menos apego às tradições haverá no seu processo de desenvolvimento identitário, tanto por parte de sua diretoria, quanto de sua torcida. Sobre o processo de profissionalização do futebol francês, é preciso comentar que ele trouxe diversas mudanças ao futebol do país, e que acabaram por incidir diretamente no processo de formação identitária nos clubes, passando a ocorrer alterações drásticas na estrutura destes, como fusões e mudanças de cidade, ambas com o objetivo de obter mais recursos, além de mudanças de nome, por opção da própria diretoria do clube, ou como obrigatoriedade ao declarar falência. 17 Um dos maiores exemplos desta prática de alteração de identidade é o clube Montpellier.18Fundado em 1919 com o nome de Stade Olympique de Montpellier (SOM), já em 1927 o clube mudou seu nome para Sports Olympiques Montpelliérains com o objetivo de “enfatizar o caráter esportivo do clube”. 19 Em 1940, por pressão do governo local, fundiu-se com outro clube da cidade, o Union Sportive Montpelliéraine, resultando em uma nova equipe, a Union des Sports Olympiques Montpelliérains. A fusão foi desfeita no ano de 1944 com o SOM retornando ao seu nome de fundação. Uma nova mudança, desta vez mais grave, ocorreria no ano de 1969, quando em razão de problemas financeiros

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o SOM foi rebaixado ao campeonato de amadores da França, sendo reestruturado com um novo nome, Montpellier-Littoral FC . No ano de 1974 há uma nova fusão, desta vez com um clube de uma cidade vizinha, o AS Paillade, alterando o seu nome para Montpellier la Paillade Sport Club Littoral, sendo a última palavra removida no ano de 1976. Finalmente, no ano de 1989, quando o presidente do clube Loiuis Nicollin 20 tornou-se o acionista único, ocorre a mudança para o atual nome, Montpellier Hérault Sport Club. Na Figura 18 pode ser observado como esse intenso processo de mudanças alterou ao longo do tempo a identidade visual do clube. Além do Montpellier, outros clubes franceses também passaram por este processo de falência e/ou fusão como Lille, Evian e PSG; indicando uma tendência à fragilização de identidade em boa parte dos clubes antes mesmo da pós-modernidade.

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( http://fr.wikipedia.org/wiki/Louis_Nicollin acessado em 10 de julho de 2014) Figura 18 Evolução dos escudos do Montpellier Fonte Catálogo de escudos

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Outra característica relacionada à identidade visual é o antigo hábito praticado por alguns clubes na França, e em outros países da Europa, de não estampar o próprio escudo em seus uniformes (Figuras 19 e 20), o que torna a alteração da identidade visual de um clube menos dificultosa, uma vez que não há problemas com aplicação em tecido, além de tornar menos traumático o processo para os torcedores, pois não há interferência no que eles se referem como “o manto sagrado” do clube.

Figura 19 Camisa PSG (1977) Fonte The Vintage Football Club Figura 20 Camisa Bordeaux (1992) Fonte Wikipedia Francesa 58

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Parte 1 - O futebol pós-moderno na França Utilizando como fonte de análise o catálogo de escudos, é possível observar que os clubes franceses têm a tendência de realizar frequentemente o redesign de seus escudos. Este processo pode ser percebido desde o início do futebol no país, porém se acentua na década de 1970, como pode ser percebido no gráfico a seguir.

A interpretação do gráfico demonstra um claro aumento do número de redesigns a partir dos anos 1970, prosseguindo nas décadas seguintes. Claro que, individualmente, a análise quantitativa do gráfico não comprova a existência de uma tendência francesa ao redesign, porém, utilizando como base os capítulos anteriores, pode-se compreender este fenômeno. Primeiramente deve-se lembrar dos clubes exibidos no 1º Tempo do trabalho, que apresentavam atualizações de escudo já nas primeiras décadas do futebol francês, sendo também possível observar uma potencial influência de movimentos estilísticos de design no processo de atualização. Sendo assim, à medida que o futebol e o design evoluíram, a influência do primeiro pelo segundo também cresceu. Contextualizando a prática dos redesigns no conceito de futebol-negócio, trata-se de uma prática mercadológica onde o escudo adquire um tratamento similar à gerência de uma marca, pois, como afirmado

Figura 21 Gráfico evolutivo de redesigns Fonte Imagem produzida pelo autor

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por Gilberto Strunck (apud PIRES, 2012, p.23) “a revitalização das imagens das empresas é uma ferramenta comumente empregada para evitar que elas transmitam pouca competitividade”. Situando este fato no ambiente esportivo, onde decisões são tomadas tendo como base a rivalidade, essa característica se tornou forte no processo de identidade visual dos clubes. O fator mercadológico e competitivo também se justifica dada a circunstância de que várias mudanças de escudo na França estiveram atreladas à troca de presidente ou venda do clube, onde os novos mandatários, buscando representar sua nova gestão, realizavam o redesign do escudo do clube. Tendo o fenômeno dos redesigns iniciado na década de 1970, é necessário observá-lo sob a ótica pós-moderna. Em uma sociedade onde tradições locais se enfraqueceram e as identidades adquiriram fluidez, o futebol francês se desenvolveu. A globalização influenciou diretamente os clubes, uma vez que “quanto mais a vida social se torna[va] mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens,[...] mais as identidades se torna[va]m desvinculadas[...] de tempos, lugares, histórias, e tradições específicas [ parecendo] ‘flutuar livremente.” (HALL, 1999, p.75). Neste paradigma, os escudos do país, que frequentemente utilizavam motivos topográficos, passam a abdicar destas características.

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(http://fr.wikipedia.org/wiki/Association_ sportive_de_Saint-%C3%89tienne#Image_ et_identit.C3.A9 acessado em 21 de junho de 2014) 22

(http://www.dailymail.co.uk/sport/football/article-2373176/Manchester-Unitedchange-club-badge--Premier-League-clubscrest-evolved.html acessado em 21 de junho de 2014) 23

(http://www.gremiolibertador.com/uma-pequena-historia-grafica-do-gremio/ acessado em 21 de junho de 2014)

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É importante frisar que mesmo o futebol-negócio e a pós-modernidade tendo ocorrido por toda a Europa, o redesign de escudos só teve este grau de importância na França, como pode ser observado no gráfico comparativo entre o histórico de escudos do clube francês Saint-Etiénne (FRA) 21, do inglês Manchester United (ING) 22 e do brasileiro Grêmio (BRA).23 (Figura 22) Da comparação do processo evolutivo pode-se perceber que a prática de redesign de escudos é comum aos clubes, porém se desenvolve de maneira impar na França. Enquanto o Manchester United realiza poucas atualizações, mantendo sempre uma similaridade entre os projetos, e o Grêmio realiza diversas mudanças, porém praticamente imperceptíveis, no francês Saint-Etiénne há varias atualizações, cada uma delas incontestavelmente diferente à anterior, induzindo a existência de diferentes referenciais estéticos para cada versão, se fazendo presente mais uma vez a associação entre um escudo de futebol e uma marca, pois “os projetos gráficos também são influenciados pelo período em que são produzidos [e] com o passar do tempo os referenciais podem mudar” (STRUNCK apud PIRES, 2013, p.22).

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Figura 22 Comparativo evolutivo de Saint Etienne, Manchester United e GrĂŞmio Fonte Imagem produzida pelo autor HENRIQUE DA ROZA PETER

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Parte 2 – Tendências de Design no Futebol Como visto, a partir dos anos 1970 houve um aumento desenfreado no número de redesigns de escudos, demonstrando o processo de modernização dos clubes, principalmente em razão do desenvolvimento do futebol-negócio. Nas décadas seguintes, o processo de redesign continuou, ocorrendo de forma similar entre os clubes franceses.

Figura 23 Escudos franceses nos anos 1990 e 2000 Fonte Imagem produzida pelo autor

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Através do recorte temporal de seis clubes a partir dos anos 1980, pode-se observar como tendências de design e comunicação influenciaram diretamente os clubes no seu desenvolvimento visual. Assim como em toda a história do futebol na França, durante o desenvolvimento do futebol-moderno, ocorrem atualizações com referências estéticas, porém, neste período, a influência se dá de maneira muito mais expressiva. Na figura 23, observados os escudos dos anos 1990 e 2000, pode-se notar como em todos os clubes há a criação de novos escudos em datas próximas e com similaridades estéticas.

ESCUDO-MARCA: O futebol francês na pós-modernidade


Naquela época, conforme já falado neste trabalho, houve o fortalecimento da globalização e a criação dos primeiros clubes-empresa. Dessa forma, o que se viu foi o desenvolvimento de escudos utilizando um padrão visual que muito mais se aproximou da marca corporativa do que propriamente do futebol (como pode ser visto na figura 23), se moldando no que Andrea Semprini considera uma marca pós-moderna: [...]uma vez que a marca [na pós-modernidade] é uma entidade complexa, abstrata, instável e multiforme, também pode e deve ser algo simples e facilmente reconhecível (SEMPRINI apud PLASKAC, 2006, p.2).

Ainda nos anos 1990 e intensificando-se na virada do século, há o aparecimento de uma nova tendência entre os clubes franceses, com o retorno a valores tradicionais. Os clubes passam a utilizar neste processo de redesign elementos de sua história, características identitárias à sua região de origem, além de retornarem a um formato de escudo mais conservador. Utilizando neste processo uma linguagem atual, estes escudos emulam a estética retrô, como ilustrado por Beat Schneider : Ao contrário das reedições, [o retrô style] trata-se de uma reinterpretação atual de características históricas do design. Os produtos lembram os seus predecessores, mas, ao mesmo tempo, sua linguagem de produto não deixa dúvidas de que eles provêm da atualidade. De forma simbólica, são referências ao passado e ao presente (SCHNEIDER, 2010, p.206).

Um exemplo desta nova tendência são as palavras de Waldemar Kita, presidente do FC Nantes, justificando a mudança de escudo de seu clube no ano de 2008.24 Segundo ele, a antiga versão “mais parecia uma logo do que um escudo de futebol” [tradução do autor], devendo a nova representar as tradições da entidade. Este processo de reformulação de escudos, utilizando uma estética atual, porém com referências locais, se configura como mais um elemento do paradigma pós-moderno, em que ocorre o choque entre local e global (HALL,1999).

24

http://www.moustachefootballclub.com/ article/2011/8/f.c.-nantes-:-et-vogue-la-galere acessado em 20 de junho de 2014

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Parte 3 – Escudo-marca O processo identitário dos escudos do futebol francês, que desde seu início foi influenciado por correntes estéticas, somado ao processo geral de redesign iniciado na década de 1970, torna-o passível de ser encarado e analisado como um modelo em descompasso com o restante do mundo do futebol. Como observado no gráfico comparativo (Figura 21), apesar da evolução mercadológica que ocorreu no futebol mundial, os escudos em geral permaneceram adotando uma estrutura rígida em seus métodos de redesign, o que não ocorre na França. Na realidade, habitualmente, o que se pode dizer sobre escudos de futebol de outros países é que estes são: [...]símbolos gráficos vinculados aos valores simbólicos mais profundos, ao sagrado, e são venerados dentro da cultura do futebol, que lhes atribui uma aura divina: em síntese, as imagens em si, não são apenas imagens gráficas, artefatos construídos por artistas ou designers, mas o resultado de uma estranha associação que traz sua origem na transcendência do sagrado bem como na realidade (ROCHA, 2008).

Isto posto, surgem dois modelos distintos de escudos de clubes de futebol, os tradicionais e os franceses, ou em outras palavras ‘escudos-brasão’ e ‘escudos-marca’. O escudo-brasão diz respeito ao padrão comumente aplicado no futebol mundial, ou seja, um escudo desenvolvido sob uma ótica tradicionalista, adquirindo ares de brasão, que do ponto de vista heráldico consiste em um “conjunto de peças, figurinos e ornatos, dispostos no campo do escudo ou fora dele e que representam as armas de uma nação, soberano, família, corporação, instituição, estado, cidade, etc“ (BERTELLI, 2004, p.38). Já escudos-marca, que dão nome a este trabalho, dizem respeito a escudos desenvolvidos sob o contexto do futebol pós-moderno, utilizando métodos mercadológicos e adquirindo a postura de, como os próprios franceses chamam seus escudos, um “logo”.25 Abrangendo nesse universo todas as suas variáveis, como a interferência do mercado, uso de tendências, e, sobretudo, o processo de atualização.

25

representação gráfica oficial de uma organização ou de uma marca (HEILBRUNN, 2002, p.9). 64

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MESA REDONDA

RESUMO E COMENTÁRIOS DO JOGO

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O

resumo de um processo de Trabalho de Conclusão de Curso é uma missão complexa de ser compreendida ou visualizada. Para uma melhor interpretação do histórico de desenvolvimento dos escudos na França, esta etapa do trabalho oferece um infográfico que consiste na demonstração visual e de maneira concisa de todo o processo evolutivo dos clubes que, com o passar do tempo leva ao surgimento do modelo ‘escudo-marca’.

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A opção de desenvolver um infográfico se mostra válida a partir do “Princípio do menor esforço”, teoria desenvolvida por Thomas Mann (apud O’GRADY, O’GRADY, 2008, p.86), bibliotecário da Biblioteca do Congresso Americano, que diz que, independentemente da experiência, os usuários naturalmente recorrem a ferramentas familiares e fáceis. Segundo ele, “Muitos pesquisadores (mesmo os estudiosos mais sérios) tenderão a escolher as fontes de informação mais facilmente disponíveis, mesmo que elas sejam objetivamente de baixa qualidade, ao invés de buscar fontes de maior qualidade que exijam um maior esforço despendido” [traduzido pelo autor]. O método utilizado para o processo de criação do infográfico foi 26 27 o desenvolvido por Juliana Carvalho e Isabella Aragão (2012), que consiste em três etapas: Concepção, execução e acabamento. Como o infográfico está ligado ao conteúdo deste trabalho, a primeira fase, de concepção, que “compreende etapas de definição e apropriação do tema que será abordado na peça” (CARVALHO, ARAGÃO, 2012, p.174), utiliza como referência a parte teórica deste estudo, ou seja, os conceitos desenvolvidos nos capítulos e o material contido no catálogo de escudos. A segunda fase, de execução, divide-se em elaboração de conteúdo e arquitetura de informação. O conteúdo deste trabalho tem como objetivo demonstrar, por meios gráficos o desenvolvimento dos escudos de futebol na França. Dessa forma, foram planejados dois modelos de informação: gráfico (através do uso de escudos) e textual (através da contextualização destes escudos). Com o objetivo de dinamizar o trabalho, se optou pelo recorte de quatro clubes (diferentes dos apresentados no capítulo anterior), com distintas origens e histórico de títulos, que, no entanto, apresentavam modos de desenvolvimento de escudos similares. Os clubes escolhidos foram:

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Bacharel em Design pela UFPE; 27

Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP, professora assistente do departamento de Design da UFPE; HENRIQUE DA ROZA PETER

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- FC Nantes, pelo seu passado glorioso nos anos 1960 e 1970 e polêmica envolvendo o último redesign; - LOSC Lille, por ser o clube com o maior número de redesigns dentre todos da Ligue1, com oito atualizações; - Olympique Lyonnais, pelo passado recente de vitórias e vanguarda nos processos identitários; - Toulouse FC, por ter sido fundado na mesma época de início do futebol pós-moderno, apresentando diversas alterações identitárias até hoje;

Os elementos textuais do infográfico dão conta de falar do passado de cada um dos clubes, justificando sua presença na peça gráfica. Além disso, há o comentário acerca de cada um dos períodos estilísticos presentes no infográfico, sendo eles:

- “O início”, onde são demonstrados os primeiros escudos de cada um dos clubes; - “A pós-modernidade”, comentando sobre como o advento do futebol-empresa influiu no processo identitário do futebol francês; - “Tendências”, de caráter mais geral, exibindo como, com o passar do tempo, os clubes passaram por diferentes referenciais estéticos no desenvolvimento de seus escudos; - “Dias atuais”, exibindo o retorno dos clubes à valorização de suas tradições e escudos com formato convencional. 70

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No desenvolvimento da arquitetura de informação do trabalho foi utilizado modelo para organização LATCH, desenvolvido pelo escritor e designer Richard Saul Wurman (O’GRADY, O’GRADY, 2008, p.86). O modelo consiste em propor o agrupamento de conteúdo pelos seguintes parâmetro: localização, alfabeto, tempo, categoria e hierarquia (na sigla LATCH). Como o infográfico tem como objetivo demonstrar dois modelos de informação, os escudos e sua contextualização, sua organização utiliza dois modelos de distribuição: por categoria (separando cada um dos clubes) e por tempo (separando cada um dos períodos estilísticos vividos pelos clubes). Na busca de dinamismo, o infográfico foi desenvolvido com base na figura de um vórtice (Figura 24) que, segundo o dicionário Priberam,26 significa um “movimento rápido e forte de um fluido em volta de eixo ou espiral”. Interpretando o significado da figura podem-se encontrar também as características presentes no estudo realizado onde os clubes da França apresentam identidades fluidas, realizando atualizações frequentes, drásticas, porém sempre em torno de uma estética recorrente. Mantendo a referência ao vórtice e utilizando os princípios de LATCH, surge o primeiro esboço do infográfico (Figura 25), uma figura circular, com cinco eixos verticais (representando os quatro clubes mais a contextualização histórica, e quatro horizontais (representando os períodos estéticos comuns aos clubes).

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Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013 (http://www.priberam.pt/dlpo/ vortice) Figura 24 Vórtice Fonte Vibreleve HENRIQUE DA ROZA PETER

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Figura 25 Esboço do infográfico Fonte Imagem produzida pelo autor 72

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Na etapa de acabamento da peça, quando são realizadas as “etapas de união de texto e projeto gráfico, [com] ajustes, revisões e análise crítica sobre o infográfico” (CARVALHO, ARAGÃO, 2012, p.174), foram definidas as opções estéticas que definiram a legibilidade e identidade do trabalho. Mantendo a relação com o vórtice, numa analogia em que todos os clubes franceses convergem em escudos similares, o fluxo de texto e as imagens são aplicados voltados ao centro da figura. Em razão das limitações geradas pela aplicação do texto em curvas e do pequeno espaço disponível às caixas de texto, foi utilizada a tipografia Myriad Pro, que não possui serifas, facilitando assim a legibilidade.

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Na busca por uma identidade cromática que se relacione com a França, os segmentos que formam o vértice foram dispostos em tons de azul, em uma referência a seleção de futebol do país, conhecida como “Les Bleus” (os azuis). Com cada eixo horizontal tendo a aplicação de um tom de azul, buscou-se uma organização dos escudos por período, desenvolvendo uma escala cromática dos escudos mais antigos (azul escuro) aos mais novos (azul claro). Finalizando o infográfico, são aplicados, externamente à figura do vértice, títulos informando o nome dos clubes e o seu contexto. Uma vez que o infográfico tem como objetivo apresentar o estudo desenvolvido, seu local de aplicação é o próprio trabalho, sendo aplicado ao final deste capítulo com o objetivo de auxiliar o leitor na visualização dos conceitos levantados. Seu diâmetro será de vinte centímetros, com cada escudo medindo no mínimo dois centimetros, buscando assim, uma boa legibilidade. O infográfico tem como função demonstrar o histórico de desenvolvimento estéticos dos clubes, com a apresentação de sua história, além da contextualização do período em que se deu a atualização de escudo. A seguir, cada um dos clubes é apresentado de maneira detalhada através de informações obtidas em sites sobre futebol francês e fóruns de torcedores. Vale frisar que nesta próxima etapa do estudo, os textos foram desenvolvidos pelo autor, utilizando como referência apenas sites franceses, sendo assim, coube a ele a tradução de todas as citações.

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FOOTBALL CLUB DE NANTES

Fundado em 1943, o Football Club de Nantes, de cidade homônima, nasceu da fusão de cinco clubes amadores. Suas cores, o verde e amarelo foram inspiradas pelo primeiro presidente, Marcel Saupin, proprietário de cavalos de corrida, que propôs usar as mesmas cores 29 do uniforme de seus jóqueis. Por influência dessas cores, o clube também é popularmente chamado de “Les Canaris” (Os canários). Com oito títulos nacionais, o Nantes é um dos clubes mais tradicionais da França. Seu período de glórias se deu a partir dos anos 1960, com a conquista de seis campeonatos nacionais entre 1965 a 1983. Nos últimos anos o clube vêm passando por uma crise técnica sofrendo o primeiro rebaixamento de sua história no ano de 2007, fato repetido no ano de 2010. Com relação aos escudos, o Nantes, apesar de ter sido fundado na década de 1940, somente foi aplicar escudos em seus uniformes no ano de 1977. Até então, o clube possuía apenas versões oficiais para documentos, que, por sua vez, já haviam sofrido redesign neste período, como visto na figura 26. Nestes primeiros escudos (tanto do uniforme, quanto da versão oficial) eram utilizados elementos topográficos, no caso, uma escuna e cinco arminhos representando o brasão da cidade de Nantes. No ano de 1987, o escudo do Nantes, sofre a primeira grande mudança, adquirindo uma nova linguagem que o aproximou do padrão de marcas comerciais. O clube deixou então de ostentar elementos locais, exibindo apenas uma onda simbolizando o litoral da cidade, dentro desta ainda eram aplicadas seis estrelas referentes aos títulos nacionais do clube na época. A partir da década de 1990 o clube retornou a um formato mais tradicional de escudo e voltou a exibir a ilustração da escuna, símbolo da cidade. No ano de 2008, com a aquisição do clube por Waldemar Kita, houve uma restruturação identitária. Vindo de um rebaixamento no ano de 2007, Kita propôs um novo escudo, simbolizando um novo momento e uma suposta volta as tradições do clube, se difereciando do modelo criado na gestão anterior. Buscando uma nova identidade para o clube, que não tivesse “cara de logotipo”, o novo escudo de Kita teve que recorrer a vários elementos históricos. Utilizando uma estrutura semelhante ao escudo do FC Barcelona (Figura 26), o escudo se divide em quatro quadrantes, cada um com uma representação histórica do clube. No canto superior esquerdo, encontra-se a já comentada escuna; ao centro, as oito estrelas representando os seus títulos nacionais; na base do escudo, listras verticais representam o uniforme da equipe no ano de 1995; e à direita é exibida a bandeira da Bretanha, mostrando um equívoco geográfico, já que a cidade de Nantes não pertence mais a esta região administrativa.30 .

29

(http://www.fcnantes.com/club/index.php acesso em 11 de junho de 2014) 30

(http://www.moustachefootballclub.com/ article/2011/8/f.c.-nantes-:-et-vogue-la-galere acesso em 11 de junho de 2014)

A avaliação dos torcedores31 sobre o novo redesign foi de total desagrado. Segundo eles, não havia necessidade da mudança pois, antes de desenvolver um redesign, o clube tinha problemas organizacionais mais urgentes a serem resolvidos. Em uma análise geral dos escudos do FC Nantes pode-se notar que as mudanças de escudo no clube foram influenciadas pelas suas mudanças administrativas, e que, na última tentativa de retornar as tradições identitárias houve um exagero por parte de seus criadores, ocasionando até mesmo em um conflito geográfico.

31

(http://www.fcnantais.com/articles/071015LeB lasonCestDuPipeau.php acesso em 11 de junho de 2014)

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Figura 26: Escudo Barcelona Fonte: Wikioso


Figura 27: Hist贸rico de escudos Nantes Fonte: Cat谩logo de escudos HENRIQUE DA ROZA PETER

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LOSC LILLE

Fundado em 1944, resultado da fusão de dois clubes da cidade de Lille, o Lille Olympique Sporting Club (LOSC) tem suas cores e seu escudo baseados no brasão de sua cidade, representado pela figura da flor de lis. Durante a sua história, o escudo do clube ainda passou a ostentar a figura de um cão da raça Mastiff, de origem desconhecida. Segundo o site Moustache Football Club,33 autor de diversas análises estéticas de escudos franceses, o mastiff se justificaria pela presença de um canil perto do estádio do clube, já outros argumentam ser uma homenagem ao histórico presidente do clube do Louis Henno, dono de um cão desta raça. Herdeiro dos resultados de um dos clubes mais vencedores no período anterior a 2ª Guerra Mundial, com dois títulos nacionais e cinco Copas da França, o LOSC não soube dar prossegmento a este legado, passando por sérias dificuldades financeiras durante o século XX e chegando à falência no ano de 1969. A partir do ano de 2002, com a chegada de Michel Seydoux à presidência do clube, o LOSC passou a viver um novo momento financeiro e esportivo, conquistando novamente o título francês e da Copa da França no ano de 2011. Assim como o FC Nantes, Seydoux ao assumir o clube propôs uma nova versão para o escudo, utilizando uma estética comercial, mantendo a linguagem visual que já era presente nos últimos redesigns do clube. Além disso, o novo escudo ainda suprimiu a flor de lis, visando não representar apenas a cidade de Lille, mas sim toda a sua região metropolitana. Apesar do sucesso dentro de campo, em fóruns de torcedores como o Alle Le LOSC,34 ocorreram reclamações relacionadas à identidade e ao escudo do clube. Essas reclamações podem ser compreendidas em razão do descompasso do escudo em relação à tendência estética dos clubes da França no século XXI. No fórum era possível encontrar reclamações como:

- [...]sim, é um escudo de que precisamos, não é um logotipo. - Eu gostava daqueles [escudos antigos]. De qualquer maneira não se pode fazer um pior do que o logotipo atual. - [A referência a cidade de] Lille é a flor de lis, ao LOSC são os mastiffs, tudo o resto [que seja colocado no escudo] é obsoleto. Por influência dos torcedores ou com o objetivo de marcar a inauguração do seu novo estádio, no ano de 2012 o LOSC apresentou um novo logotipo, carregado de significados ambientados no cenário global x local, como visto na carta de apresentação do novo escudo:

33

(http://www.moustachefootballclub.com/article/2011/8/analyse-du-blason-du-losc acesso em 11 de junho de 2014) 34

(http://www.allezlelosc.com/forum/viewtopic. php?f=1&t=91960&st=0&sk=t&sd=a&sid=242 bf2b7ad22b8dd1479faf03640f1ff acesso em 11 de junho de 2014) 35

(http://www.losc.fr/actualite-foot-lille/infos-club/un-blason-nouvelle-generation-pour-le-losc - acesso em 11 de junho de 2014) 76

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Entre a tradição e a modernidade, ele [o novo logo] elogia a forma imaginária de escudo e dá ao projeto um caráter forte, de autoridade. Elegante, ele revisita modelos de estilo heráldico. Essa impressão, destacando a flor de lis, em alinhamento com os primeiros logos do LOSC[...] tem o cuidado de manter as suas raízes, os seus valores fundadores.35 Observando todos os oito escudos da história do clube, se nota que, junto ao início do paradigma pós-moderno, houve a diminuição da importância da flor de lis e aparição do Mastiff, caracterizado como figura de apelo comercial. Calculando a idade do clube pelo número de atualizações chega-se ao número de um novo escudo a cada nove anos. A partir da interpretação da história do clube, pode-se supor que essa variedade de marcas pode estar justificada nas crises financeiras e administrativas que o clube teve no decorrer de do século XX.

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Figura 28: Hist贸rico de escudos Lille Fonte: Cat谩logo de escudos HENRIQUE DA ROZA PETER

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OLYMPIQUE LYONNAIS

O futebol já se fazia presente na cidade de Lyon desde o ano 1899, com o Lyon Olympique, fruto da fusão de outros dois clubes. Este primeiro Olympique chegou a disputar campeonatos profissionais na França na década de 1940, porém a fusão se desfez na década seguinte, dividindo o clube em duas entidades distintas, uma voltada ao rugby e outra ao futebol, que acabaria formando o Olympique Lyonnais (Lyon) que se co36 nhece nos dias atuais. Nos anos 1960 e 1970 o Lyon seu período de glórias, vencendo três Copas da França no período de quinze anos. A partir de 1977, com o fortalecimento do capitalismo no futebol o clube passou a viver dificuldades financeiras que acarretam no rebaixamento a segunda divisão francesa no ano de 1983. O retorno às vitórias se deu com a chegada à presidência de Jean-Michel Aulas, com o clube retornando a primeira divisão no ano de 1989. Sua rota ascendente continuou durante os anos 1990, sendo adquiridas 34% das ações do clube em 1999, pela produtora de cinema Pathé, o que o elevou a umnovo patamar financeiro, culminando na sequência de sete títulos nacionais a partir do ano de 2002 e 2009. Em relação à identidade visual do clube, em quase toda sua história ela esteve intimamente ligada a símbolos locais. O primeiro escudo do clube trata-se de uma adaptação do brasão da cidade de Lyon, sendo acrescidas as iniciais do clube. Caracterizando-se como um clube inovador, já nos anos 1960, o Lyon desenvolveu um escudo que fugiu ao formato tradicional, aproximando-se a estética de um logo. Assim como em outros clubes, a chegada do presidente Jean-Michel Aulas foi marcada por uma atualização de identidade. No primeiro redesign proposto por Aulas em 1989, houve a retirada da figura do leão, se moldando ao paradigma pós-moderno dos escudos franceses. Novamente tendo uma postura inovadora, o clube retornou a um modelo mais tradicional de escudo com valorização dos motivos locais já no ano de 1996, trazendo de volta a figura icônica do leão e utilizando um formato semelhante ao primeiro escudo do clube. 37

Em fóruns de torcedores, pode-se ver que atualmente estes se encontram satisfeitos com o escudo do clube, sendo esta versão, uma das mais longevas da Ligue1. Segundo a opinião dos torcedores:

- Se é para [fazer] um logo moderno e pobre como o do LOSC, não obrigado. É [melhor] o nosso logotipo atual. - Eu acho que [o atual escudo] é o melhor da nossa história. - Sim, [o atual] é o mais bem sucedido de nossos escudos, ele não um logotipo”

36

(http://fr.wikipedia.org/wiki/Olympique_lyonnais - acesso em 11 de junho de 2014)

Nestas palavras, se nota que a simpatia ao escudo está atrelada ao período de sucesso que o clube viveu a partir dos anos 2000, sendo uma representação das glórias deste período. Um processo de renovação de escudo se mostra ainda mais desnecessário uma vez que o escudo ainda pode ser considerado contemporâneo.

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(http://forum.olweb.fr/showthread.php?97335-L-Histoire-de-l-Olympique-Lyonnais acesso em 11 de junho de 2014) 78

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Figura 29: Hist贸rico de escudos Lyon Fonte: Cat谩logo de escudos HENRIQUE DA ROZA PETER

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TOULOUSE FOOTBALL CLUB

O Toulouse FC pode ser considerado um clube novo no cenário francês. Fundado no ano de 1970, o TFC já em seu momento de criação esteve inserido no contexto do futebol pós-moderno, contando ao longo de sua história com diversas atualizações de escudo. Carentes de um clube de futebol desde a fusão do auvi-rubro Toulouse Football Club junto ao Red Star FC de Paris, a comunidade empresarial de Toulouse decidiu fundar uma nova equipe de futebol no ano de 1970, a Union Sportive Toulouse, adotando as cores vermelho e branco do antigo clube da cidade. Assim como todos os outros clubes abordados neste infográfico, no ano de 1977, sob a 38 liderança do novo presidente Daniel Visentin, o clube mudou sua identidade, alterando seu nome para Toulouse FC, em homenagem ao antigo clube da cidade, e suas cores para roxo e branco, em referência à flor violeta, símbolo da cidade. Durante os anos 1980, o clube figurou na elite francesa, obtendo bons resultados a nível nacional e classificando-se para torneios internacionais. O rápido sucesso se dissolvou junto com a década, e a partir dos anos 1990 o clube passou por rebaixamentos e problemas financeiros, culminando no ano de 2001, quando o clube foi rebaixado pela Direção Nacional de Controle de Gestão (órgão da federação francesa) à 3ª divisão nacional, formado por clubes amadores. Com um retorno quase imediato, subindo duas divisões em dois anos, o clube retornou a Ligue1 já no ano de 2003, voltando ao convívio entre os grandes clubes. Apesar de ter realizado diversos redesigns em sua curta história (seis em quarenta anos), os escudos do Toulouse sempre tiveram como referência elementos de sua comunidade. Na sua primeira atualização, o clube, apesar da estética moderna da época, manteve relação com sua localidade através da adoção do tom roxo. A ligação se tornou ainda mais direta nos anos 1980, com a adoção do brasão da cidade no escudo da equipe. No ano de 1994, o clube assumiu uma identidade empresarial e criou um escudo seguindo as tendências francesas da época, o cor roxa também foi abortada, sendo adotada a cor rosa, novamente fazendo referencia a sua cidade, desta vez ao seu slogan que é La Ville Rose 39 (a cidade rosa). Poucos anos depois, em 1995, o clube retornou ao uso de elementos locais, retratando em seu novo escudo a “Cruz dos Condes”, símbolo da cidade. No ano de 2001, certamente marcando o novo momento do clube após seu rebaixamento a 3ªdivisão, foi criado um novo escudo, trazendo de volta a cor roxa.

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(http://www.lesviolets.com/general/histoire acesso em 11 de junho de 2014) 39

O slogan se dá em razão da cor predominante dos prédios históricos da cidade, construídos com tijolos cor de rosa. 80

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Figura 30: Hist贸rico de escudos Toulouse Fonte: Cat谩logo de escudos

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O INFOGRÁFICO Através do levantamento histórico destes quatro clubes, aliado aos conteúdos abordados no capítulo anterior, é oferecido como complemento ao trabalho este infográfico (Figura 31), onde pode-se observar como, apesar de diferentes origens, trajetos e conquistas, os clubes franceses, invariável e inconscientemente, traçaram um mesmo caminho identitário e estético, identificado por este trabalho como modelo ‘escudo-marca’.

Figura 31: Infográfico Fonte: Imagem produzida pelo autor 82

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APITO FINAL

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A

análise final deste estudo é o resultado de um processo evolutivo que desde sua ideia inicial (nos primeiros semestres do ensino superior) até sua conclusão, neste momento, sofreu diversas mudanças de enfoque. O plano inicial, idealizado pelo autor ainda durante o 4ºsemestre do curso, era pesquisar ligas nacionais de futebol de vários países, buscando similaridades internas entre os escudos de seus clubes e apontando identidades locais. No entanto, ao mesmo tempo em que o projeto soou extenso e dificultoso, não poderia ser investigado o suficiente, pois não haveria tempo hábil para uma pesquisa detalhada de cada país, já o período de desenvolvimento de um Trabalho de Conclusão de Curso com orientação é de apenas um semestre. Uma forma lógica e satisfatória de desenvolver este projeto foi a escolha de um único país para investigação. A França, com seu histórico representativo no design, na comunicação e, sobretudo, na história da formação do futebol, mostrou-se um país adequado para o estudo. O próprio conhecimento empírico do autor também já indicava haver peculiaridades nos escudos de futebol do país, no que diz respeito à similaridade de alguns destes com marcas corporativas. A partir da ideia de que existe uma singularidade francesa no futebol, e da noção de que o futebol, mais do que uma atividade física, se comporta como uma ferramenta social, ou seja, influencia e é influenciado pela sociedade, este trabalho desde o início buscou argumentos que defendessem a similaridade estética entre os escudos franceses, referentes ao esporte, à sociedade e à nação francesa. Através do levantamento teórico, tanto do desenvolvimento do futebol (de um esporte para uma prática mercadológica) quando do design (como prática presente na sociedade francesa), foi possível compreender e propor um padrão de desenvolvimento de escudos no país. Buscando as origens do futebol francês, o pontapé inicial do trabalho foi o período de surgimento do futebol e design na França, através da relação das figuras obtidas com o catálogo de escudos e a história do design francês, através de Novin (2012) e Wlassikoff (2006). Com base no conhecimento prévio de Stuart Hall (1999) e seus conceitos de sociedade pós-moderna, cruzando com a observação do aumento

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de redesigns de escudos a partir dos anos 1970, o trabalho realizou em seu segundo capítulo a análise deste paradigma. Com o decorrer do estudo e incorporação da noção de futebol-empresa, trazida por Proni (1998), o trabalho encontra argumentos que reafirmam a relevância do contexto pós-moderno na sociedade, com o próprio futebol adquirindo características de ruptura e ressignificação de suas características. A compreensão de que o futebol havia adotado moldes empresariais nos anos 1970, associada ao uso de novos padrões estilísticos nos escudo da França, norteia a conclusão deste trabalho. Observadas estas características, percebe-se o modelo ‘escudo-marca’, que consiste na ideia dos escudos franceses, de forma inconsciente, seguirem movimentos estéticos, realizando redesigns periódicos e possuindo características identitárias similares a marcas comerciais, indo na contramão de outros países que se mantêm conservadores neste processo evolutivo. O desenvolvimento de um infográfico com as imagens do catálogo de escudos e utilizando como referência a interpretação dos próprios franceses sobre seus clubes, auxilia na observação do modelo ‘escudo-marca’. A parcela de recorrência do modelo é demonstrada ainda através do próprio estudo, uma vez que na necessidade de exemplificar seus argumentos foram utilizados como referência o histórico de escudos de onze clubes do país. A proposição de um modelo de desenvolvimento de escudos na França, com o uso de bases teóricas argumentativas, supera as próprias expectativas formuladas pelo autor há três semestres. Mais do que similaridades estéticas entre escudos de um país, o estudo conseguiu aliar futebol e design, apresentando o cuidado por parte dos clubes franceses aos seus escudos, utilizando tendências, enaltecendo tradições e atentando à concorrência. Este trabalho como um legado acadêmico se torna válido por apresentar pesquisa em design francês, tema pouco abordado no país. Além disso, ele se apresenta como uma oportunidade de estudo, pois se presta como um convite a outros alunos, ou até mesmo ao próprio autor, para estudar as nuances de outras ligas nacionais, como, por exemplo, os escudos topográficos espanhóis, ou o confliHENRIQUE DA ROZA PETER

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to ‘tradicional x moderno’ (GARCIA CANCLINI, 2006), que ocorre nos últimos anos no futebol inglês. Abrangendo as motivações pessoais do autor, este trabalho atinge seu objetivo inicial, que era abordar o futebol sob outro olhar, o do design. Com base na ideia de que o futebol relaciona-se com a sociedade, interpretar que a prática de renovação de um escudo possui desde razões mercadológicas até influência do histórico estético do país, permite lembrar como o design, como ferramenta prática e projetual, incidindo no autor como profissão escolhida para sua carreira, interfere diretamente nas mais diversas áreas da sociedade.

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COMISSÃO TÉCNICA

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A

CATÁLOGO DE ESCUDOS

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E

ste catálogo tem como objetivo observar a evolução dos escudos dos clubes de futebol participantes do Campeonato Francês de Futebol da Primeira Divisão, comercialmente chamada de Ligue 1. Contextualizando-os em seu período de criação, os escudos são apresentados em tabelas referentes a década de seu desenvolvimento. Com o intuito de demonstrar somente o desenvolvimento dos clubes no período de cada tabela, estas possuem dois tons de cor, preto e cinza. Esta separação se deu buscando dar atenção aos clubes que já haviam sido fundados em cada década, sendo estes destacados com a cor preta. Vale frisar também que nas tabelas três clubes não terão destaque em nenhum momento, Ajaccio, Bastia e Monaco. Nos dois primeiros casos, isso se deve ao fato de não ter sido encontrado seus históricos de estudos, já em relação ao Monaco, não foi dado destaque por este ser o único clube do campeonato que não apresenta redesigns siginificativos. Na apresentação dos escudos se optou por apresentar apenas redesigns relevantes, sendo descartados alterações pequenas como “alteração na espessura da tipografia” ou “remoção do contorno da ilustração”. Buscando neste catálogo apenas observar o coeficiente de redesigns de cada clubes, os escudos foram apresentados em pequenas dimensões, cabendo suas análises estéticas para o próprio corpo de texto do estudo. A base de dados do estudo foi o site Wikipedia Francesa, pois foi o único a apresentar o histórico de (quase) todos os clubes do Campeonato Francês.

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ANO DE FUNDAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DOS CLUBES

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DÉCADA DE 1890

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NÚMERO DE CLUBES: 2


DÉCADA DE 1900

NÚMERO DE CLUBES: 3

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DÉCADA DE 1910

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ESCUDO-MARCA: O futebol francês na pós-modernidade

NÚMERO DE CLUBES: 5


DÉCADA DE 1920

NÚMERO DE CLUBES: 5 REDESIGNS: 1

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DÉCADA DE 1930

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ESCUDO-MARCA: O futebol francês na pós-modernidade

NÚMERO DE CLUBES: 10 REDESIGNS: 2


DÉCADA DE 1940

NÚMERO DE CLUBES: 11 REDESIGNS: 2

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DÉCADA DE 1950

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ESCUDO-MARCA: O futebol francês na pós-modernidade

NÚMERO DE CLUBES: 12 REDESIGN: 2


DÉCADA DE 1960

NÚMERO DE CLUBES: 14 REDESIGNS:2

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DÉCADA DE 1970

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ESCUDO-MARCA: O futebol francês na pós-modernidade

NÚMERO DE CLUBES: 18 REDESIGNS: 14


DÉCADA DE 1980

NÚMERO DE CLUBES: 19 REDESIGNS: 16

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DÉCADA DE 1990

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ESCUDO-MARCA: O futebol francês na pós-modernidade

NÚMERO DE CLUBES: 19 REDESIGNS: 23


DÉCADA DE 2000

NÚMERO DE CLUBES: 20 REDESIGNS: 14

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DÉCADA DE 2010

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ESCUDO-MARCA: O futebol francês na pós-modernidade

NÚMERO DE CLUBES: 20 REDESIGNS: 4






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