Maré - Equipamentos Fortalecedores |TFG Belas Artes de São Paulo - Henrique Ferlini Dias

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MARÉ

EQUIPAMENTOS FORTALECEDORES


MARÉ

EQUIPAMENTOS FORTALECEDORES

Henrique Ferlini Dias Orientador: Ricardo Ruiz Martos 2


Trabalho Final de Graduação Centro Universitário Belas Artes de São Paulo Dezembro, 2020

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Agradeço

Ao meu professor e orientador Ricardo Ruiz Martos pela parceria e acompanhamento ao longo do semestre. Ao Thiago Maurelio por aceitar o convite de participar da banca final. Felipe Beltrame por disponibilizar as fotos que complementam este trabalho. À todos os colegas de trabalho que conheci nesses últimos anos, que sempre estavam presentes e dispostos a ajudar e que foram essenciais na base de minha formação como arquiteto e urbanista. Aos meu amigos que me acompanharam durante esses anos e ajudaram a torná-lo mais divertido e leve. A minha namorada Thaila pela ajuda, compreensão e companheirismo nestes anos todos. À minha irmã Giovanna pelo auxilio em diversos momentos. Á minha avó Vera pelo suporte. Aos meus pais por tudo, sem eles nada disso seria possível. Aos moradores do complexo do Dique da Vila Gilda que foram extremamente abertos e solícitos e cuja suas histórias de força e superação inspiraram esse trabalho.

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‘‘José fabricou sua casa sem arquiteto, sem auxílio daqueles escritórios técnicos que só sabem encher a cidade de “finos palacetes” em estilo português e mexicano. Este arquiteto de falamos, esse arquiteto sem compasso, régua T e tecnígrafo; este homem simples e feliz trabalhou dias e dias escolhendo a boa madeira, a mais leve, a mais resistente, a mais útil. José sentiu o prazer da arquitetura, o gosto de planejar, de sistematizar sua via embaixo de um teto: um dos mais nobres prazeres do homem.’’ Lina Bo Bardi, 1952

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Sumário

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Introdução

Capítulo 01 10

O Dique

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As Palafitas

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Pertencimento

Capítulo 02 28

Obstaculos

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As Lideranças

Capítulo 03 34

O Projeto

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Consideracoes Finais

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Bibliografia

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Introdução

Este trabalho final de graduação ensaia um projeto de equipamentos de apoio à comunidade do Dique da Vila Gilda, localizada na cidade de Santos – SP. A escolha do tema e da área de intervenção veio da vontade de explorar tipos de arquiteturas mais simples, no sentido construtivo da palavra, mas que ao mesmo tempo pode ser o início de grandes mudanças e esperança para muitas pessoas. A ideia é buscar uma arquitetura colaborativa que não envolvesse apenas as escolhas impostas do autor. Quando pensamos em um projeto de intervenção em uma região vulnerável, já vem em nossas mentes diversos projetos de edificações, como centros culturais/educacionais, grandes complexos habitacionais, entre outros. Esse pensamento quase que automático, intrínseco em nós arquitetos, se deve em partes aos projetos desenvolvidos durante os anos de graduação, onde, em sua maioria são projetos de grandes edificações em regiões centrais ou vulneráveis onde muitas vezes as necessidades reais dos habitantes não são atendidas ou são deixadas de lado. Uma boa intervenção não se limita apenas a construções complexas, mas também a pequenas ações que transformam aos poucos a vida de quem as frequenta. A função do arquiteto e urbanista vai muito além de simplesmente construir edificações; é visar ações possíveis e em conjunto com os habitantes através de análises e conversas com os mesmos para que o foco principal da ação seja atendido. A partir dessa vontade, foi realizada uma investigação mais aprofundada sobre projetos de intervenção pontuais em regiões vulneráveis, principalmente ações que foram pensadas e projetadas em conjunto com a comunidade local. Após pesquisas sobre a região e diversas conversas com moradores da comunidade do Dique da Vila Gilda, a melhor solução de intervenção seria a construção de diversos equipamentos pontuais que não tirariam o sentimento de pertencer ao local. A ideia é trazer para essas pessoas, mais qualidade de convivência geral. Travessia feita de barco na região do Dique 2018, Felipe Beltrame

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Capítulo 01 O Dique Situada à margem do Rio Bugres na região do Dique da Vila Gilda localizada na cidade de Santos – SP é conhecida como o maior aglomerado sobre palafitas da América Latina, onde se encontra mais de 20 mil famílias que vivem em condições de extrema vulnerabilidade. Segundo o estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, Santos é a segunda cidade entre as brasileiras, com o maior número de palafitas - 26,91% - perdendo apenas para a capital do estado do Amapá, Macapá, que detém 83,9% das moradias sobre palafitas do país. Contudo, Santos que abriga o maior aglomerado dessas moradias onde muitas delas se encontram em condições precárias. São Paulo

Santos - SP

Cubatão

São Paulo - SP

São Vicente

Santos

Localização Dique da Vila Gilda

Largo da Pompeba

ug oB

s re

Ri

Santos

São Vicente

Região do Dique da Vila Gilda 2018, Felipe Beltrame

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Atualmente é fácil descrever a região do Dique da Vila Gilda como uma área degradada e ocupada de uma maneira irregular, porém, todas essas questões se devem a diversos fatores que desencadearam o surgimento dessa comunidade. Durante as décadas de 50 e 60, a cidade de Santos estava passando por um desenvolvimento econômico acelerado devido ao porto da cidade, com esse desenvolvimento desenfreado muitos migrantes foram para a cidade na esperança de emprego e uma vida mais digna, todo esse desenvolvimento deu início a uma especulação imobiliária, aumentando o valor de imóveis locais. Muitos dos que chegaram na cidade não tinham onde se abrigar e muito menos de conquistar moradia própria, forçando centenas de pessoas a se alocarem de maneira irregular. Em meados da década de 60 ocorreram as primeiras invasões na região que hoje conhecemos como Dique da Vila Gilda, em pouco tempo, as casas foram se alojando em direção ao rio até chegarem nas moradias sobre palafitas, essas que são até hoje um fator muito grande de enraizamento entre a comunidade e local. A partir da década de 70 até final da década de 90, a região do Dique sofreu um aumento astronômico de habitantes passando de 3 mil para quase 15 mil pessoas. Essa crescente demostra uma ineficiência de gestão e serviços públicos, que ao longo dos anos não vem demonstrando grandes melhorias. Moradia da região do Dique

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2018, Felipe Beltrame


Crescimento da regiĂŁo

Renda Por FamĂ­lia

R$1.760 a R$2.640

R$2.640 a R$8.800

0,85%

R$220 a R$440

R$440 a R$880

R$880 a R$1.760

Sem Rendimento

2,87%

5,8%

35,7%

19%

24,3%

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Vista do telhado de uma das moradias do Dique 2018, Felipe Beltrame

Barcos de pescados de moradores 2018, Felipe Beltrame

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Estruturas das palafitas 2018, Felipe Beltrame

Passarela entre as palafitas 2018, Felipe Beltrame

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As Palafitas

Essas construções sobre pedaços de madeira fixadas sobre o rio não surgiram divido a uma tradição local, mas sim da pura necessidade de habitar. Muitas vezes as palafitas são construídas a partir de materiais baratos e de fácil acesso nos arredores ou até mesmo pedaços de madeiras encontradas na região ou no próprio rio. Ao adentrar na região do Dique percebe-se que as palafitas erguidas ali não são como as que estamos acostumadas a encontrar e estudar nos livros, suas estruturas não seguem uma modulação exata e muitas vezes pedaços de madeiras e estrutura vão sendo adicionadas ao longo da vida útil de uma palafita. Grande parte do processo de desenvolvimento dos equipamentos arquitetônicos deste trabalho tem referência direta do processo de construção das palafitas erguidas na região do Dique, estas que são feitas por moradores do complexo que muitas vezes são pessoas que trabalham ou tem experiencias no meio da construção e já são conhecidos no complexo por desenvolverem este tipo de serviço. Esses construtores informais muitas vezes não possuem ensino superior, mas mesmo assim são extremamente competentes para realizar uma moradia com matérias locais e de baixo custo, atendendo as necessidades de moradia da população local. A habilidade de construir se desenvolver a partir de erros e acertos além da troca de experiencias entre os construtores. Aglomerados de palafitas, uma visão muito comundo no Dique da Vila Gilda 2018, Felipe Beltrame

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Antes de se construir uma palafita na região há um processo de demarcação de área ‘’lote’’, tal demarcação é feita a partir de pedaços de madeira fincadas na lama, delimitando um certo espaço, assim demostrando que aquele espaço ‘’lote’’ já está reservado para uma futura palafita. O processo de construção de uma palafita lembra-se muito de um processo de um projeto formal de arquitetura e da relação do arquiteto com seu cliente, ao chegar no complexo do Dique da Vila Gilda, o futuro morador entra em contato com as pessoas encarregadas de fazerem os serviços de construção das palafitas para que possam entender o que o mesmo deseja ter em seu novo habitar, quantos quartos, sala, cozinha, claro, tudo dependendo do espaço adquirido para a construção da mesma. O início da construção de uma palafita é determinada pela sua fundação, estacas de madeira entre cinco a seis metros de comprimento são fixadas com marretas ou com o próprio peso do corpo até atingirem a lama no fundo do rio, dois metros deve-se manter acima do nível da água para que não prejudique a palafita nas épocas das altas marés. O valor médio do aluguel de uma palafita é de R$300,00 e o valor final de sua construção pode chegar entrono de 7 mil reais.

Morador reformando sua palafita 2018, Felipe Beltrame

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Demarcação de ‘‘lote’’ 2018, Felipe Beltrame

Fundação e base da palafita concluida 2018, Felipe Beltrame

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Moradores do Dique construindo uma palafita 2018, Felipe Beltrame

Moradores do Dique construindo uma palafita 2018, Felipe Beltrame

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Pertencimento O conceito de pertencimento está associado tanto na parte psicológica do ser quanto na parte física, ao mesmo tempo que possui um vínculo muito grande com o significado de comunidade, tal qual está ligada diretamente as pessoas. Segundo Mc Millan e Chavis este senso de comunidade pode ser sintetizada em quatro elementos: Símbolo, preenchimento de necessidades, influência mútua e emoções compartilhadas ‘‘Símbolo: São os que geram noção de agrupamento de associação - e podem ser palpáveis, como o modo de se vestir, o local onde vive e os lugares frequentados ou impalpáveis, como por exemplo, o sobrenome, uma religião, um dialeto ou uma crença. Preenchimento de necessidades: É um dos pontos mais importantes para que haja senso de comunidade e está ligado a oferta de um meio às necessidades do indivíduo. As pessoas estão a todo o momento, buscando soluções, razões e caminhos para atingirem seus objetivos e conseguirem seguir em frente. Seja buscando segurança, lazer, status ou até mesmo na necessidade de perpetuar ou estimular uma memória Influência mútua: Está ligada a possibilidade de um indivíduo influenciar um outro e da mesma forma, ser influenciado. Dentro de um grupo, é importante que a voz do sujeito seja escutada e seus interesses sejam construídos de forma conjunta. Maria do PT, entendeu isso a partir da prática e passou para seus vizinhos, até transformar a sua causa em um problema comum a todos, influenciando-os a agir em prol do acesso à eletricidade. Emoções compartilhadas: São conexões criadas a partir de histórias em comum, como a da luta de Maria. Desastres naturais, conquistas, vivências boas e ruins colaboram para que o senso de comunidade seja estabelecido’’ (BELTRAME, 2018 apud MC MILLAN e CHAVIS).

Moradora do Dique observando de dentro de sua palafita o movimento 2018, Felipe Beltrame

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o do entrono

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FamĂ­lia que vive na comunidade do Dique 2018, Felipe Beltrame

MĂŁe e filha moradoras do Dique 2018, Felipe Beltrame

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Familiรกres e vizinhos reunidos na calรงada 2018, Felipe Beltrame

Trabalhadores informais connversando ao lado de fora da moradia de um deles 2018, Felipe Beltrame

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Estes quatro pontos apresentados definem de uma forma clara o conceito de pertencimento, principalmente em comunidades mais precária como é o caso da Vila Gilda, alguns pontos de sobressaem mais do que outros mas todos quando colocamos na realidade da região tem uma lógica e são extremamente perceptíveis O tempo é um fator extremamente relevante para que um indivíduo vá cada vez mais se sentindo ou não parte de um local ou grupo, podemos dizer que o tempo e pertencimento andam juntos lado a lado, pois esse sentimento de pertencer pode ser tanto fortalecido quanto diminuiu com o passar do tempo. Este sentimento de pertencimento está muito presente entre as vielas que percorrem as centenas de palafitas da região da Vila Gilda, é nítido que no Dique os moradores tem total foco sobre a transformação do local em que vivem, afinal, são eles que são responsáveis pelas reformas e instalações no local, desde tirar o lixo até a construção de uma passarela entre o vão das casas. Essas ações ocorrem a partir de mutirões ou atos individuais que sempre prezam para o bem do coletivo Moradores mais antigos do local participaram das construções iniciais da comunidade até chegar no que ela é atualmente, ergueram pontes e passarelas onde antes era apenas lama e barro, lutam muito pelos seus direitos de assentamento e construíram juntos um senso grande de comunidade. O que podemos enxergar como um dos pontos mais importantes e chaves para determinar que há um senso de comunidade extremamente presente no Dique são as similaridades que os moradores possuem entre sí, os preenchimentos de necessidades. Muitos que ali vivem buscam por coisas parecidas, materiais melhores para complementarem suas casas, locais de lazer e até mesmo uma oportunidade de uma vida mais digna.

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Morador do Dique em sua palafita 2018, Felipe Beltrame

Interior de uma palafita 2018, Felipe Beltrame

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Capítulo 02 Obstáculos

Para diversos moradores da região do Dique os trabalhos informais são suas únicas fontes de sustento, muitos não possuem carteiras de trabalho assinadas ou perderam seus empregos e por diversas dificuldades não conseguem uma nova oportunidade, forçando-os a procurarem alternativas informais para conseguirem uma renda mínima para viverem. A informalidade está presente quase que a todo o momento na vida dessas pessoas, desde o trabalho, lazer até o modo de falar. Santos é conhecida por sua riqueza portuária, porém, é uma cidade que possui uma divergência social discrepante, onde uma grande parte da população habita esses aglomerados de palafitas que juntos compõem um ecossistema complexo e muitas vezes ignorado pelo poder público. Pescadores relizando suas atividades de trabalho 2018, Felipe Beltrame

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Crianças brincando em um parquinho 2018, Felipe Beltrame

Não é de hoje que há uma insatisfação dos moradores do Dique com a falta de interesse do poder publico em fornecer o mínimo para uma vida digna, desde a consolidação do complexo praticamente todas as melhorias e infraestruturas ali presentes mesmo que mínimas foram conquistadas através dos esforços da comunidade como um todo. Contudo, a região ainda sofre com diversos problemas entre eles e o mais agravante é a falta de infraestrutura básica voltada para as pessoas que ali vivem. Os espaços que provem lazer para os moradores são poucos, quase inexistentes, porem tais espaços raros existentes são entendidos pelas pessoas como algo valioso e de todos. É muito comum se observar em dias mais ensolarados e finais de semana diversos moradores que se juntam e ocupam as passarelas dos becos que levam até as palafitas e crianças que brincam entre si em trechos de ruas cedidas como parquinhos temporários. A falta de equipamentos de lazer na região é um dos pontos que mais chateiam os moradores, pois, muitos dos equipamentos de lazer disponíveis na cidade estão afastados da região, é raro para um morador do Dique poder frequentar a praia, o calçadão da orla ou os shoppings, pois somente o valor do transporte público para chegar nesses locais já não condis com a realidade financeira de muitas pessoas do local. 30


Crianรงas brincando na calรงado 2018, Felipe Beltrame

Crianรงa correndo entre os vรฃos das casas do Dique 2018, Felipe Beltrame

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As Lideranças

Toda essa insatisfação crescente dos moradores do Dique com a falta de interesse do poder público em relação a suas necessidades fez com que moradores do complexo se unissem para criarem lideranças, essas que por sua vez visam em realizar ações coletivas para o bem da comunidade. Contudo, as lideranças sobrem muito com problemas de recursos e infraestruturas, não há um local adequada para se reunirem muito menos para conseguirem arquitetura as futuras ações para o complexo de uma maneira mais eficiente. Após muitos anos de luta e persistência o governo de Santos disponibilizou para a liderança do Dique um pequeno contêiner ao lado da comunidade, contudo, o espaço e a infraestrutura são insuficientes para que possam planejar em conjunto futuras ações e atrair demais moradores para o movimento. Estes movimentos são importantes para incentivar mais moradores a se unirem e exigirem seus direitos, contudo, muitas vezes à falta de infraestrutura fornecida para tais ações faz com que muitas dessas não consigam evoluir da maneira esperada, desincentivando não somente as pessoas da comunidade mas os próprios movimentos e seus planos futuros . Aglomerado de palafitas 2018, Felipe Beltrame

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Capítulo 03 O Projeto

O objetivo do trabalho é desenvolver um projeto conjunto com a comunidade da Vila Gilda, podendo responder alguns problemas sociais e ambientais da região que ao longo prazo vão melhorando a qualidade de vida dos moradores do complexo. O trabalho procura ser uma construção fácil e acessível inspirado no processo de construção das palafitas locais, para que o projeto envolva os moradores em todo seu processo de desenvolvimento, desde seu planejamento e construção até o seu desfrutamento por parte deles. Todo seu programa de necessidades foi pensado através de conversas com diversos moradores do complexo do Dique, após essa troca de conversas percebendo-se que suas necessidades podem ser resumidas em quatro palavras chaves:

Lazer Economia Educação Saúde Além de suprir essas necessidades, o projeto teria que ser algo fragmentado e inserido em diversos pontos da região para que beneficia-se o máximo de pessoas possíveis. Para criar espaços novos no local sua instalação teria que ser realizada sobre a água do rio, pensando nesse ponto foi criado um sistema de flutuação possibilitando que o projeto se adeque a maré com facilidade.

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Implantação A escolha dos locais de implantação dos equipamentos foi pensada de forma a garantir uma integração harmoniosa com o entrono, devido as palafitas não possuírem distancias uniformes e exatas entre sí o projeto e sua inserção teriam que se adequar tal irregularidade. Propõe-se aproveitar essas irregularidade existente através de plataformas de 2,5x2,5 metros que possibilitam se adequar nos locais inseridos de diferentes tamanhos e formas em quase toda os pontos no decorrer do Dique . Essa flexibilização se deu a partir de plataformas modulares que quando juntas formam uma unidade, gerando espaços dedicados aos encontros, lazer, comércio e diversas atividades dos moradores do Dique.

01

2,5

m

02

03

03 Legenda: 01 - Pregos para fixação da plataforma 04

02 - Tábuas de madeira apoiadas 03 - Estruturas de apoio 05 - Tambores plásticos para flutuação

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2,5

m


Cubatão

Ri

o

Bu g

re s

Largo da Pompeba

Santos

São Vicente

Equipamentos Macros Equipamentos Pontuais

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Módulos Para abrigar os programas destinados a comunidade, foi desenvolvido módulos que tem como premissa serem flexíveis e de construção rápida e simples, possibilitando que várias atividades possam ser realizadas em seu interior. O tamanho inicial de um módulo é de 5x5 metro, podendo ser ampliado seguindo essas mesma modulação (5x10, 5x15...) Juntamente com as plataformas, os módulos ficarão espalhados em toda a extensão do Dique com uma grande pluralidade programática (Módulos de comércio, saúde, infantil e lazer) complementando os novos espaços gerados.

Módulo Simples

5,0

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m

5,0

m


Mรณdulo Ampliado

5,0

m

10

m

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Equipamentos O programa proposto foi desenvolvido a partir de pesquisas sobre o local e diversas conversas com moradores da comunidade, onde, suas necessidades foram colocados em primeiro plano. Foi dado ênfase a programas associados a lazer, geração de emprego, renda e evolução.

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É proposto dois tipos de equipamentos, macro e pontuais. Ambos possibilitam uma flexibilização em seus programas e espaços, se adequando as necessidades atuais e futuras da comunidade. Além disso, os equipamentos apresentam amplos espaços externos e de harmonia com as palafitas existentes promovendo a vida em comunidade.


Pontuais:

Macros:

Serão 10 desses equipamentos espalhados pela extensão do Dique, onde cada um funcionara de maneira independente do outro. O programa e metragem de cada equipamento vária conforme o espaço disponível de implantação.

Serão 2 equipamentos localizados entre o Dique o as outras comunidades próximas, o mesmo foi pensado para abrigar o programa educacional e a sede das lideranças pois tais programas não seriam possíveis de serem realizados nos equipamentos pontuais. Sua localização permite que as outra comunidades menores do entorno também possam desfrutar de seus programas.

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Sistema Construtivo

det. 01

det. 02

Devido ao grande número de palafitas da região serem construídas em madeira, a escolha do material principal utilizado na construção de todo o projeto deve-se adequar a sistemas e ferramentas que os habitantes entejam acostumados a trabalhar. Com isso levado em consideração, o material utilizado para a estrutura principal é pinus, madeira de alta durabilidade e resistente a umidade. Para a base, tábuas também de pinus que servem como piso são apoiadas sobre as vigas que além de estruturar todo o equipamento é responsável por receber os tambores de plástico possibilitando a flutuação do equipamento.

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det. 01

Placa de vedação Sarrafo Viga de madeira

Prego

det. 02

Prego

Perfil metálico

Viga de madeira Tambores plásticos

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Isométrica Equipamento Comércio

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Planta Equipamento Comércio Planta variação Escala 1:200

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03

01

01

01

02

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04

03 05 05 05 05

Legenda: 01 - Comércio 02 - Plataformas 03 - Hortas Comunitárias 04 - Banheiros 05 - Palafitas do Entorno

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Equipamento de ComĂŠrcio

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Planta Equipamento Pontual Planta tipologia 01 Escala 1:200

06

01

01

01

02

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03

05 05 05 05

05

Legenda: 01 - ComĂŠrcio 02 - Plataformas 03 - Hortas ComunitĂĄrias 04 - Banheiros 05 - Palafitas do Entorno

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IsomĂŠtrica Equipamento Macro

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Planta Equipamento Macro Planta tipologia 01 Escala 1:200

01

02

01

02

03 05

06

04

Legenda: 01 - Arquivos 02 - Espaços para reniões 03 - Banheiros 04 - Biblioteca 05 - Reniões internas 06 - Reuniões externas 07 - Hortas Comunitárias 49


Banheiros Questões sanitárias na região do Dique são um problemas para quase todos os habitantes da comunidade, muitos não possuem em suas residências encanamentos fazendo com que todo os dejetos sejam descartados direto do rio. É proposta também a construção de módulos de banheiros com um sistema de tratamento de esgoto e reservatório integrado, esses módulos funcionam de maneira independente podendo ser instalados juntos com os equipamentos quanto separadamente.

Legenda: 01 - Uso de energia solar

01

02 - Captação da água da chuva 03 - Reservatório de água pluvial 04 - Uso de água pluvial para vasos sanitários 05 - Tratamento de esgoto

02

03 04

50

05


Habitações Devido o estado degradante atual que diversas palafitas se encontram na região, muitas acabam sendo destruídas por incêndios ou fortes ventos e chuvas, no meio desses desastres, diversas famílias perdem seus lares e com ele tudo oque tinham e conquistaram durante anos. O sistema construtivo do projeto possibilita a rápida construção de habitações modulares visando flexibilidade espacial e qualidade habitacional além de possibilitar diversos tamanhos, possibilitando abrigar famílias com números de membros variados.

01 Legenda: 01 - Uso de energia solar 02 - Captação da água da chuva 03 - Reservatório de água pluvial 04 - Uso de água pluvial para vasos sanitários 05 - Tratamento de esgoto 06 - Gerador de energia 07 - Reservatório de água potável

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03 04

05

06

07

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Planta Moradias Planta tipologia 01 Escala 1:50

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Planta tipologia 02 Escala 1:50

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Equipamento de ComĂŠrcio

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Equipamento Macro

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Habitação

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Mรณdulo Infantil

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Equipamento Pontual

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Considerações Finais

Ao longo do processo da pesquisa e projeto, foi possível compreender mais de perto os a cultura e o dia a dia dos moradores do complexo do da Vila Gilda. Quando realizamos uma intervenção em um local tão enraizado como o Dique, a troca de informações e experiências é mais que necessário, negar essas particularidades é ignorar as pessoas que lá vivem. Torna-se importante o valor e aprendizado que essas pessoas tem a nos mostrar, como as etapas de construção das palafitas, onde diversos processos e sistemas foram incluídos como forma de solução do projeto. Concluísse que uma relação mais aprofundada e a participação da comunidade nos processos projetuais, geram espaços mais adequados e voltados para aquelas pessoas que realmente importam para tal arquitetura, os moradores do Dique.

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Bibliografia

Beltrame, Felipe. Última Ponte. 2018. 64 p. Monografia (Trabalho de conclusão de curso em Arquitetura e Urbanismo) – Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, São Paulo, 2018. Casas do Brasil 2013: Habitação Ribeirinha na Amazônia. São Paulo: Museu da Casa Brasileira, 2013. OLIVEIRA, Marco. A Percepção Ambiental dos Moradores da Vila Gilda. 2019. 31p. Trabalho Final de Conclusão de Curso (Geografia) – Universidade Metropolitana de Santos, Faculdade de Geografia, São Paulo, 2019. Loureira, Sousa. A informalidade do espaço vernacular na cidade contemporânea. 2013. 290 p. Trabalho de Mestrado Integrado em arquitetura – Universidade de Beira Interior, Covilhã, 2013. PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS. Plano Diretor. Disponível em: <http://www.santos. sp.gov.br/?q=portal/plano-diretor> . Acesso em 10 de ago. 2020. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010-Aglomerados subnormais. 2010. Disponível em:<https://censo2010.ibge.gov.br/agsn/>. Acesso em 06 de jun. 2020. PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS. Plano Diretor. Disponível em: <http://www.santos. sp.gov.br/?q=portal/plano-diretor> . Acesso em 10 de ago. 2020. NOVO MILÊNIO. Favelas urbanas e desfavelamento Disponível em: <https://www.novomilenio.inf. br/santos/h0230d4.htm > . Acesso em 25 de nov. 2020. PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS. Plano Diretor. Disponível em: <http://www.santos. sp.gov.br/?q=portal/plano-diretor> . Acesso em 10 de ago. 2020.

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